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Projeto Pós-graduação

Curso Saúde Pública com ênfase em Saúde Da Família


Disciplina Políticas Públicas de Saúde
O SUS e a política nacional de Atenção Primária à
Tema
Saúde
Professor Tânia Maria Santos Pires

Introdução
Olá aluno! Seja bem-vindo ao terceiro tema da disciplina Políticas
Públicas de Saúde! Neste tema, falaremos sobre o SUS e a política nacional
de Atenção Primária à Saúde.
A criação de um sistema nacional de saúde acessível a todos os
brasileiros e até aos estrangeiros que vivem no país era o sonho dos líderes do
movimento sanitário e de todos os brasileiros que sonhavam com um sistema
de saúde mais justo e cidadão.
Estudaremos a implantação do SUS e a política nacional de atenção
primária à saúde, que é a política pública de saúde mais importante para a
saúde pública do país no período pós-constitucional recente.

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Problematização
São Paulo, capital, ano de 1986. Antonia Giovanetti dos Santos é
médica, sanitarista e professora da Universidade de São Paulo na disciplina
saúde comunitária. Aos 56 anos ela é uma das pessoas que luta por mudanças
no sistema de saúde, fazendo parte de um grupo de discussão e de
mobilização que se iniciou devido à indignação de outras pessoas que
igualmente cansaram-se de ter medo e de esperar que algo mudasse. Vários
professores estavam envolvidos com o objetivo de discutir as injustiças na
saúde e fazer proposições que pudessem implementar mudanças.
O movimento estendeu-se entre os professores dos cursos de saúde,
sindicalistas e as igrejas, principalmente a ala mais envolvida nas questões
sociais e de influência de esquerda, alinhados ao arcebispo Dom Helder
Câmara. Dra. Zilda Arns iniciou a Pastoral da Criança e conseguiu mobilizar
muitas pessoas, com ótimos resultados, trazendo a ideia de um modelo que
poderia funcionar em todo o país.
Este seria o ano de eleição da Assembleia Nacional Constituinte. Os
deputados e senadores eleitos terão a tarefa de reformular a constituição e o
sistema de saúde, por isso é um ano de muita mobilização. Prepara-se a VIII
Conferência Nacional de Saúde e os representantes de todos os municípios se
reunirão em Brasília para delinear as reformas no sistema de saúde, tornando-
o acessível para todos os brasileiros.
Neste momento, Antônia chega na casa de seus pais na periferia de São
Paulo, onde eles moram desde que se casaram. Ambos, aos 86 anos, são um
fenômeno pela sua lucidez e saúde, apesar de tudo o que já passaram na vida.
Antônia lembra-se de que na infância divertia-se em notar os sotaques
diferentes dos dois. Sua mãe até que fala parecido com os paulistas, mas seu
pai parece que acabou de chegar do Nordeste.
Antônia então entra na casa dos pais e encontra seu pai deitado na rede
no quintal. Ela está ansiosa para contar-lhe os resultados das últimas

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discussões, os acordos firmados nos grupos. Animadamente eles conversam.
Seu João conta para a filha que, no ano do seu nascimento, em 1930, havia
também no país uma grande pressão para mudanças, o que rendeu a criação
de leis trabalhistas e de saúde, mas de fato as leis precisam sempre mudar
para o benefício das pessoas.
Enquanto conversavam, ouviu-se um barulho alegre na cozinha e é claro
que já souberam de cara que chegou o “Seve”, o neto mais velho, alegria pura,
bagunceiro, forrozeiro, fã de Elba Ramalho e xodó do avô, Severino Giovanetti
dos Santos Filho, que terminará a faculdade de Medicina no final do semestre.
No lastro da tia comunista, como gosta de chamá-la para provocá-la, ele
também discute os problemas que vê, das pessoas sem assistência, dos
indigentes que não têm onde procurar ajuda exceto no Hospital de Caridade,
etc.
Depois de formado, ele já disse que quer trabalhar no interior ou em
algum lugar onde precisem mesmo de médico. Ele defende a proposta do
médico generalista, embora seja muito criticado pelos seus colegas por pensar
assim. Quer fazer especialização e seguir carreira em Medicina Comunitária e
já soube que em Porto Alegre, no Centro de Saúde Escola Murialdo, existe
essa especialidade.
Dona Gema chama a todos para tomar um café com bolo cuca e tapioca
e, na cozinha, tia e sobrinho conversam sobre o que seria uma metodologia de
atendimento em que as pessoas pudessem ter acesso ao serviço de saúde
sem precisar recorrer ao pronto socorro. Antônia conversa com Seve, seu
sobrinho, sobre o conceito de Atenção primária à Saúde que foi discutido em
1978 em Alma-Ata, mas até o momento não conseguiu ser implementado no
Brasil. Essa é uma das propostas que eles desejam levar à VIII Conferência
Nacional de Saúde.
Será que é possível transformar as propostas de Alma-Ata para todos os
brasileiros? Reflita sobre o caso, mas não responda agora! Voltaremos a
conversar ao final deste tema!

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O SUS e a política nacional de Atenção Primária à Saúde
A segunda metade da década de 1980 foi um período de mobilizações
importantes que propulsionaram as mudanças ansiadas para o país. Foi o
período considerado de transição do regime militar para o regime democrático,
contexto que ensejava a oportunidade de alterações e reformulações.
Em 1985 assume o primeiro presidente civil, mesmo sem eleição direta,
o vice de Tancredo Neves, o senador José Sarney. Em 1986 aconteceram as
eleições diretas para deputados e senadores que dariam ao Brasil a nova
constituição e em 1988 ela se concretiza, sendo denominada constituição
cidadã.
O motivo da constituição ser assim denominada deveu-se à atenção
dada aos direitos das pessoas. Na sua abertura, no capítulo chamado
Princípios Fundamentais, a cidadania e o respeito à dignidade do ser humano
são reconhecidos como direitos constitucionais.
Neste sentido, houve modificações com ganhos importantes aos direitos
trabalhistas, como diminuição da carga horária de trabalho, ampliação da
licença maternidade e o direito de greve. Outros destaques demonstram-se no
direito do acesso à justiça e à educação.
Porém, com relação à saúde, houve o ganho mais abrangente para o
povo brasileiro, já que a assistência à saúde é uma necessidade de todas as
faixas etárias, gêneros, raça ou tribo, em qualquer condição que a pessoa
esteja, rica ou pobre, livre ou aprisionada, na cidade ou no campo, nacional ou
estrangeiro: as pessoas precisam ser assistidas e amparadas quando
estão doentes e fragilizadas.
A Constituição reconhece esse direito do povo brasileiro e afirma no
capítulo II, artigos 196 a 200, que é dever do estado cuidar da saúde do
povo brasileiro de modo que aconteça a sua promoção, proteção e
recuperação.
Ao destacar os três maiores objetivos das ações de saúde, o texto
constitucional ainda reconhece que, para que estes sejam alcançados, há

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necessidade de modificação de outros fatores que são determinantes para a
produção do binômio saúde/doença, como alimentação, moradia, educação e
trabalho. Isso significou uma grande mudança na forma de pensar
saúde/doença, um novo olhar e um novo conceito que impactaria nas ações de
saúde. A regulamentação desse direito veio através da lei 8.080/1990 que criou
o Sistema Único de Saúde (SUS).
Se quiser conhecer melhor o texto da lei 8.080/1990, você pode
consultá-la na íntegra em:
http://ftp.medicina.ufmg.br/osat/legislacao/Lei_8080_12092014.pdf

O Sistema Único de Saúde


Para que possamos compreender melhor o sentido do SUS precisamos
entender seus princípios fundamentais, porque eles expressam a ideologia
mais do que a operacionalidade do sistema. Destacamos os três primeiros, que
ficaram conhecidos como princípios doutrinários: universalidade, equidade e
integralidade.
A universalidade corresponde ao direito que era negado aos brasileiros
na medida em que apenas os trabalhadores contribuintes do sistema
previdenciário poderiam ter acesso aos serviços de saúde. A universalidade
coloca o acesso à saúde como direito de todos os brasileiros e estrangeiros
que vivem no país.
A equidade, conhecida como “justiça justa”, estabelece que a prioridade
deve ser dada aos mais vulneráveis e deve ser o ponto norteador das políticas
públicas e ações governamentais.
A integralidade, apesar de estar entre os princípios doutrinários, traz
consigo a diretiva operacional. Significa não gerenciar separadamente as
ações de saúde, mas planejá-las e aplicá-las dentro de uma lógica operacional
que as integre e potencialize, tais como as ações de prevenção, assistência e
atenção primária que acontecem nas unidades de saúde relacionadas às ações
da rede hospitalar.

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A operacionalidade do sistema deveria ainda provocar mudanças
profundas nos formatos de gestão e financiamento. Os princípios operacionais
trouxeram este alinhamento quando destacam a necessidade de
regionalização e descentralização da gestão que anteriormente estava
totalmente centrada na esfera federal; hierarquização das ações de saúde e
a complementaridade do setor privado, regulada por legislação específica.
Todo esse sistema deveria ter a participação da população, que deveria opinar
e de certa forma fiscalizar os serviços através de conselhos de saúde, desde o
bairro até o grande município, segundo o princípio do controle social.
Para entender melhor, assista a um rápido vídeo sobre os princípios
fundamentais do SUS:
https://www.youtube.com/watch?v=PzVxQkNyqLs
A ideologia do SUS representa o momento político e social em que ele
foi concebido, ou seja, a redemocratização do país, abertura política com livre
expressão do pensamento e direcionamento das políticas públicas para o foco
social.
Neste contexto, a grande questão a ser resolvida era o acesso da
imensa maioria da população aos serviços de saúde. Naquele momento, o
único acesso eram os prontos-socorros dos hospitais do INAMPS para os
conveniados e a caridade das Santas Casas a todos os restantes, e isso ainda
apenas nas capitais e cidades maiores.
O resultado dessa política de desassistência demonstra-se na elevada
mortalidade materno-infantil daquela época e na curta estimativa de vida do
brasileiro.
A professora discorre sobre a criação e os princípios doutrinários do
SUS no material on-line!

Atenção Primária à Saúde


Após a mudança do sistema de saúde, havia necessidade de encontrar-
se uma metodologia que atendesse ao maior objetivo do SUS, que era dar

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acesso ao serviço. Esse problema não era uma situação vivida unicamente no
Brasil. Outros países, inclusive mais desenvolvidos, estavam nessa busca, o
que levou a OMS (Organização Mundial de Saúde) a promover a primeira
Conferência Internacional de Saúde, em Alma-Ata no Kazakistão, no ano de
1978, que trazia uma nova proposta de abordagem que seria seguida por
muitos países.
Saiba mais sobre a conferência no vídeo a seguir:
https://www.youtube.com/watch?v=Eq0arxXfOiA
A Atenção Primária à Saúde (APS), ou Primary Care, que é o termo em
inglês constante nos artigos internacionais, foi definida pela conferência como
um “conjunto integrado de ações básicas, articulado a um sistema de
promoção e assistência integral à saúde” (OMS, 1978, grifo da professora).
Na prática:
“Os cuidados primários em saúde são cuidados essenciais de saúde
baseados em métodos e tecnologias práticas, cientificamente bem
fundamentadas e socialmente aceitáveis, colocados ao alcance de
indivíduos e famílias da comunidade, mediante sua plena
participação, a um custo que a sociedade e o país possam manter em
cada fase do seu desenvolvimento” (OMS, 1978).

A conferência estabeleceu um lema que depois tornou-se meta: “saúde


para todos no ano 2000” e também elencou ações que seriam consideradas
prioritárias:

 Tratamento das doenças;

 Provisão de medicamentos;

 Métodos de prevenção de doenças;

 Imunização;

 Combate às endemias;

 Educação em Saúde;

 Alimentação;

 Abastecimento de água;

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 Saneamento Básico;

 Políticas de emprego e renda;

 Integração ao Sistema Nacional de Saúde;

 Divisão do Sistema de Saúde em Níveis de atenção;

 Políticas de distribuição de Renda aos desassistidos;

 Participação e controle da Sociedade.

A professora comenta sobre a atenção primária à saúde no material on-


line!

A Estratégia Saúde da Família


A proposta da OMS foi norteadora das discussões brasileiras tanto para
a criação do SUS quanto para a implementação da Atenção Primária, que no
Brasil foi oficialmente organizada em 1994 com a criação do PSF (Programa
Saúde da Família).
Em 2005, a estratégia Saúde da Família deixou de ser um programa de
governo para tornar-se oficialmente uma estratégia de governo. Essa mudança
de status governamental trouxe maior segurança quanto à continuidade das
ações de APS no Brasil, porque garantia investimentos e evitava as mudanças
ao sabor dos interesses políticos.
Junto com o PSF, foi também criado o PACS (Programa dos Agentes
Comunitários de Saúde), que pode ser entendido como o outro braço da APS
no Brasil.
O PACS é representativo das principais características da metodologia
adotada pelo Brasil para a organização da Atenção Primária à Saúde (APS), ou
seja, o trabalho em equipe e o direcionamento comunitário.
Quando em 1994 iniciou-se o PSF, a rede de Unidades Básicas de
Saúde era ainda pequena e restrita, embora já tivesse experimentado uma
melhora que iniciou-se ainda no final da década de 1980, quando houve a

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transição do sistema de saúde do INAPMS para o SUS.
Havia, portanto, a necessidade de expansão da rede básica. Além de
aumentar o número de unidades de saúde, era necessário também uma
metodologia de trabalho que conseguisse mudar a lógica da atenção, que era
totalmente voltada para os eventos agudos, sem a menor conexão com as
ações de vigilância à saúde, portanto, centrada na atuação do médico. Embora
outros profissionais já fizessem parte da rede, suas atuações eram limitadas às
demandas trazidas pelo atendimento médico.
O funcionamento dentro do modelo conhecido como “Unidade Básica”
ainda era predominante, ou seja, centrado no modelo das especialidades
médicas básicas de clínica de adultos, ginecologia e pediatria.
A implementação do PACS foi o primeiro passo para a mudança da
lógica da atenção. Os agentes eram pessoas da comunidade, que traziam
informações das condições gerais de saúde daquela população para o
enfermeiro que os coordenava. Essas informações transformavam-se em um
banco de dados que permitia um diagnóstico da situação de saúde da
população. Nesse momento, a ação do enfermeiro foi potencializada dentro da
APS.
Apesar do resultado positivo do PACS, a grande mudança de fato veio
com a Estratégia Saúde da Família em 1994.
O modelo de trabalho da Unidade de Saúde da Família fundamenta a
sua lógica. A equipe contendo um médico, um enfermeiro, um técnico ou
auxiliar de enfermagem e quatro agentes comunitários de saúde trabalha em
conjunto dentro de um território previamente delimitado, cada um em sua
função específica, mas com ações coordenadas e planejadas.
Delimitar o território é o primeiro passo para a implantação da ESF em
uma determinada área. Em seguida os agentes comunitários de saúde (ACS)
fazem o mapeamento da área, através de um levantamento de dados dentro de
um formulário específico.
Este formulário inclui dados dos moradores da área, como seu histórico

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pessoal de saúde, as doenças previamente reconhecidas por ele, seu número
de filhos, a constituição familiar, sua condição social, se está trabalhando, filhos
na escola, faixa de renda e outros dados relevantes. Também são anotadas as
condições de moradia, do bairro e sua infraestrutura, como asfalto, iluminação,
presença de esgoto e equipamentos sociais de apoio como escolas, creches,
centros comunitários, grupos atuantes, ONGs, projetos sociais.
Essas informações são registradas no SIAB, Sistema de Informação da
Atenção Básica, e podem ser acessadas por todos os cidadãos. Essa base de
dados foi implantada em 1998 e está sendo reformulada pela equipe técnica do
Ministério da Saúde para melhor atender seus objetivos.
Para mais detalhes sobre o funcionamento do SIAB, acesse o site a
seguir. Alguns links são acessíveis apenas com login e senha, mas outros
estão disponíveis para todos os cidadãos, como os dados de sua cidade.
http://www2.datasus.gov.br/SIAB/index.php?area=01
Faça um exercício procurando, por exemplo, quantas crianças nasceram
vivas na sua cidade em dezembro do ano anterior, quantas foram pesadas na
Unidade de Saúde, quantas estão com as vacinas em dia, etc. Você pode
verificar também outros indicadores de saúde importantes, como mortalidade
materna.
O vínculo criado pela comunidade com o seu médico, enfermeiro e toda
equipe é estimulante e o planejamento deve atender as características e
necessidades daquele território de abrangência, contemplando as ações de
promoção, proteção e recuperação da saúde.
A ESF contempla os atributos ou características internacionais de
APS por ser constituir na porta de entrada ao sistema de saúde:

 Trabalhar de acordo a longitudinalidade da atenção, ou seja,


acompanhar o paciente por longo tempo, conhecê-lo e também
conhecer as suas doenças;

 Integralidade da atenção significa um olhar abrangente sobre todos os

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componentes do processo saúde e doença, dentro dos princípios da
medicina centrada na pessoa;

 A coordenação dos cuidados significa que, mesmo quando o paciente


for encaminhado para complementação do tratamento em outro ponto
da rede de atenção, ainda assim ele continua sob a responsabilidade e
acompanhamento da equipe de APS da sua unidade de saúde;

 A orientação familiar e comunitária entende que ninguém adoece


sozinho. O processo saúde-doença é um fenômeno familiar e
comunitário, que afeta a todos de diferentes maneiras.
A ESF alinha-se aos princípios do SUS, principalmente quando se foca
na universalidade. Foi a ESF que permitiu a universalidade, abrindo o acesso à
assistência fora do pronto socorro. Desde então, o cidadão não precisa “estar
morrendo” para ser atendido. Por sinal, o que se deseja é exatamente o
contrário, e pode ser traduzido como: “venha antes! ...e se você não vier eu vou
atrás de você”.
Ao iniciar pelas populações mais carentes e desfavorecidas
financeiramente a ESF atende ao princípio da equidade, que está
fundamentado na lógica da justiça social.
No foco da gestão, a ESF trouxe a participação e comprometimento dos
municípios que aderiram ao novo modelo, porque apesar de ter a participação
das outras esferas de governo, o município é o principal provedor da ESF.
Os resultados da política de atenção primária à saúde são animadores.
O principal deles é a queda do indicador mortalidade infantil em todo o país,
embora ainda haja diferenças importantes entre as regiões sul e norte.
Assista a seguir a um rápido vídeo elaborado em conjunto por
professores do Reino Unido e o governo de Pernambuco. O professor inglês
Matheus Harris trabalhou no Nordeste do Brasil e traz uma análise do trabalho
desenvolvido no Brasil, que serve de modelo para os renomados serviços de
APS do Reino Unido: https://www.youtube.com/watch?v=7e3BTrR-Q-I

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A professora Tânia acrescenta:
“Ouvi pessoalmente o depoimento do professor Matheus Harris no
congresso Sul Brasileiro de Medicina de Família em 2010, e me lembro do
sentimento de orgulho que tive no momento em que ele falou, por me sentir
parte de tudo isso, como trabalhadora da saúde pública do Brasil. Nós ainda
temos algumas coisas para nos orgulharmos nesse país. ”
Para saber o que mais a professora tem a dizer sobre esse tópico,
acesse o material on-line!

Revendo a problematização
Lembra-se da história narrada no início do tema? Vamos refletir sobre ela! De
que forma as propostas da conferência de Alma-Ata, em 1978, se
concretizaram nas políticas públicas de saúde no Brasil? Considere as
alternativas a seguir:
a. Após a criação do SUS em 1988, o Brasil elaborou o PSF como
estratégia de implementação da APS em 1994, abrindo o acesso a todos
os brasileiros à Atenção Primária à Saúde.

b. O Brasil organizou um novo plano de gestão de transferência de


recursos para a saúde, favorecendo os municípios financeiramente para
que pudessem fortalecer e expandir a rede de Unidades de Saúde.

c. O Brasil organizou o PSF como uma resposta social às necessidades da


população desfavorecida, em atenção ao foco humanitário da
conferência de Alma-Ata.

Para consultar o feedback de cada uma das alternativas, acesse o


material on-line!

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Síntese
Estudamos como o Sistema Único de Saúde foi organizado e sua base
ideológica demonstrada nos seus princípios doutrinários: universalidade,
integralidade e equidade. O sistema necessitava também de um
direcionamento operacional que mudasse a tendência centralizadora de
recursos e pudesse oferecer oportunidade para que os municípios
desenvolvessem a sua rede de atenção, o que se expressa nos princípios da
descentralização, hierarquização e regionalização, com prestação de contas à
população, oportunizando a participação e controle da sociedade.
Vimos que a Estratégia Saúde da Família implantada no Brasil em 1994,
inicialmente como programa de governo e programa dos agentes comunitários
de saúde, tornou-se a base da política nacional de atenção primária e tem se
mostrado eficaz, trazendo melhoria nos indicadores de saúde e ampliando o
acesso da população aos serviços de saúde.
Entendemos que a Atenção Primária à Saúde é uma importante política
de atenção à saúde e que foi proposta pela Organização Mundial da Saúde na
Conferência Internacional de Alma-Ata em 1978.
Para finalizar, acompanhe o vídeo de síntese da professora no material
on-line!

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Referências
BRASIL (a). Ministério da Saúde. Fundação Osvaldo Cruz. Biblioteca Virtual
Sérgio Arouca. Oitava Conferência. Disponível em:
<http://bvsarouca.cict.fiocruz.br/sanitarista06p.htm>. Acesso em 05 de abril de
2015.

BRASIL (b). Ministério da Saúde. Fundação Osvaldo Cruz. Biblioteca Virtual


Sérgio Arouca. Reforma Sanitária. Disponível em:
<http://bvsarouca.cict.fiocruz.br/sanitarista06p.htm>. Acesso em 05 de abril de
2015.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento


de Atenção Básica. Política nacional de atenção básica / Ministério da
Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção à Saúde. –
Brasília: Ministério da Saúde, 2006.

DUNCAN, B. B e col. Medicina Ambulatorial: condutas de Atenção primária


baseadas em evidências. 4ª Edição. Porto Alegre: Artmed, 2013.

PIRES, T. A Reforma Sanitária e a criação do SUS. In. A Residência médica


em medicina de família e comunidade: um compromisso com a
consolidação do SUS. Itajaí, 2006. Dissertação de Mestrado (Saúde e Gestão
do trabalho) – Setor de Ciências da Saúde, Universidade do Vale do Itajaí.

VARGAS, D. J. História das Políticas Públicas de Saúde no Brasil: revisão


da literatura. Monografia apresentada como Trabalho de Conclusão de Curso
(especialização) – Escola de Saúde do Exército, Programa de Pós-Graduação
em Aplicações Complementares às Ciências Militares.) - Rio de Janeiro, 2008.

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Atividades

O contexto social e político do Brasil na época da criação do SUS


influenciou a formulação das diretrizes ideológicas do sistema. Assinale
a alternativa que melhor expressa essa relação:

a. O SUS tem influência da ideologia social da esquerda como forma de


oposição à visão de extrema direita do regime militar, mas sem
influência sobre a organização dos serviços de saúde.

b. O contexto político determinou a criação de um sistema totalmente


público sem a participação da iniciativa privada.

c. A influência da ideologia de esquerda do SUS direcionou o sistema para


os pobres, excluindo as pessoas que têm recursos.

d. A diretriz de participação da comunidade está em oposição ao contexto


político de falta de liberdade de expressão.

A complementaridade do setor privado é um dos princípios operacionais


do SUS. A respeito deste princípio, assinale a alternativa correta:

a. Os serviços prestados pelas instituições privadas são regidos por meios


de contratos, segundo as normas do direito público.

b. O serviço privado conveniado ao SUS funciona segundo as suas


próprias regras e diretrizes e não está sujeito às normativas do SUS.

c. As instituições religiosas não podem ser prestadoras de serviço ao SUS


pelo fato de serem consideradas sem fins lucrativos.

d. Os serviços privados conveniados ao SUS não estão sujeitos ao


controle social.

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O princípio da equidade está baseado no atendimento daquele que tem
maior necessidade. De acordo com essa definição, assinale a alternativa
correta:

a. Esse princípio reforça a lógica da urgência e não pode ser aplicado na


APS.

b. A gestão dos serviços de saúde deve obedecer a esse princípio.

c. Esse princípio aplica-se exclusivamente aos desfavorecidos


economicamente.

d. A legislação do SUS não sofre influência direta desse princípio pelo fato
de ser aplicado na prática dos profissionais.

O conceito de Atenção Primária à Saúde e seus princípios devem ser


norteadores das práticas. Assinale a alternativa que melhor se relaciona
a essa afirmação.

a. A longitudinalidade da atenção prevê o acompanhamento do paciente


por longo tempo e está muito bem colocado nas situações crônicas.

b. A longitudinalidade da atenção não se inclui nas ações de prevenção.

c. As ações de APS são práticas tecnológicas e não sofrem influência da


cultura comunitária local.

d. As ações de APS são ações simplificadas com o objetivo único de


economizar recursos em saúde.

A Estratégia Saúde da Família foi a metodologia brasileira para


implementação da APS. Assinale a alternativa que melhor caracteriza
sua ação.

a. A ESF trabalha sob a lógica da demanda reprimida.

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b. A ESF atua sob a lógica da territorialização, com delimitação
populacional ou área adstrita.

c. A ESF trabalha com a baixa complexidade, ou seja, com os casos


fáceis, encaminhando os casos difíceis para as especialidades.

d. Os profissionais da ESF não têm planejamento comum porque atuam


em suas áreas específicas.

Para conferir o feedback das atividades, acesse o material on-line!

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