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Ciê nc ia e nã o c iê nc ia

Prof. Thia g o Da b oit a d a pta d a d a s nota s d o p rofe s s or Thia g o Corrê a


Ra c iona lis m o x Re la tivis m o
Ciência e não-ciência?

Avaliação de teorias?

Racionalismo x Relativismo

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Racionalismo
 Existe um critério único, atemporal e universal com
referência ao qual se podem avaliar os méritos relativos
de teorias rivais.

o Para um indutivista, o critério universal é o grau de


corroboração indutiva que uma teoria recebe dos fatos aceitos.

o Para um falsificacionista, o critério universal é o grau de


falsificabilidade de teorias não falsificadas.

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Racionalismo
o São científicas apenas as teorias
capazes de ser claramente avaliadas em
termos do critério universal e que
sobrevivem ao teste.

 INDUTIVISMO: a astrologia não é


ciência por não ser derivada indutivamente
dos fatos da observação.

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Relativismo – Análise de Teorias Rivais

Nega que haja um padrão de racionalidade universal não-


histórico, em relação ao qual possa se julgar que uma teoria é
melhor que outra. 5
Relativismo – Análise de Teorias Rivais

Compreender Compreender
escolhas feitas por escolhas feitas por
um cientista uma comunidade

• Compreender • Compreender
aquilo que ele aquilo que ela
valoriza; valoriza;
• Investigação • Investigação
psicológica. sociológica.

As decisões e escolhas feitas por cientistas serão governadas por


aquilo a que estes indivíduos (enquanto grupo) atribuem valor. → 6
não há um critério universal.
Relativismo – Análise de Teorias Rivais

Ciência

Depende dos
valores do
indivíduo ou
da
comunidade
Não-
ciência

Os critérios para julgar os méritos das teorias dependerão dos valores ou 7


dos interesses do indivíduo ou da comunidade que os nutre.
Lakatos como Racionalista – Critério Universal

 “problema central da filosofia da ciência é (...) o


problema de explicitar condições universais sob as
quais uma teoria seja científica”

 “[um problema que é] ligado intimamente ao


problema da racionalidade da ciência”

 “[e cuja solução] deveria nos oferecer orientação


quanto a quando é ou não racional a aceitação de
uma teoria científica”

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Lakatos como Racionalista – Critério Universal

 Lakatos critica posições relativistas onde não há


“maneira alguma de julgar uma teoria a não ser
avaliando o número, fé e energia vocal de seus
partidários” e onde o progresso científico se resume a
um “efeito de adesão aos vitoriosos”;

 Neste caso, sem critérios racionais que guiem a


escolha de teorias, sua mudança aproxima-se da
conversão religiosa.

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Lakatos como Racionalista – Critério Universal

Critério Universal de Lakatos

 Metodologia dos programas de pesquisa;

 Nos permite avaliar o quanto nos aproximamos da


verdade;

 Progressividade;

 “a metodologia dos programas de pesquisa pode


nos ajudar a arquitetar leis para refrear (...) a poluição
intelectual”.

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Kuhn como Relativista – Critério Universal
Critérios para avaliar uma teoria segundo Kuhn:

 “precisão de previsão, especialmente da previsão quantitativa; o


equilíbrio entre os assuntos esotéricos e os cotidianos; o número de
problemas diferentes resolvidos”;

 “simplicidade, escopo e compatibilidade com outras especialidades”;

 Estes critérios constituem os valores da comunidade científica, e suas


especificações “devem, em última análise, ser psicológicos ou
sociológicos. Isto é, devem ser uma descrição de um sistema de
valores, de uma ideologia, juntamente com uma análise das instituições
por meio das quais o sistema é transmitido e executado”;
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 “Não há padrão mais alto que o assentimento da comunidade
relevante”.
Kuhn como Relativista – Critério Universal

 Kuhn: a ciência progride, mas não podemos dizer se ela progride em


direção a alguma verdade em qualquer sentido bem definido;

 “Não há algoritmo neutro algum para a escolha de teorias, nenhum


procedimento sistemático de decisões que, corretamente aplicado, deva
levar cada indivíduo num grupo à mesma decisão”.

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Conclusão

Lakatos “Eu dou critérios de progressão ou de estagnação dentro de um


programa e também regras para a ‘eliminação’ de programas de pesquisa
completos”

objetivava dar um relato racionalista da ciência, e fracassa.

Kuhn “As teorias científicas mais recentes são melhores que as antigas
para a resolução de enigmas nos ambientes frequentemente bastante
diferentes em que são aplicadas. Essa não é a posição de um relativista, e
demonstra o sentido em que sou um crente convencido do progresso
científico”.

não objetivava dar um relato relativista da ciência, mas deu.


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Alan Sokal e o pós-modernismo

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Alan Sokal e o pós-modernismo

Para um pensador pós-moderno a ciência é:

● Instrumento ideológico a serviço de interesses;

● Discurso ou narrativa cuja “verdade” está relacionada


com seu papel nas relações sociais de poder;

● Construção social.

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Alan Sokal e o pós-modernismo
Seu artigo:

➔Temperou com um enorme número de


citações e referências bibliográficas;

➔Desta forma se privava de argumentar, se


apoiando na força da autoridade;

➔Uso frequente de termos “pós-modernos”


(complexidade, não-linearidade, não-
localidade, incerteza, relatividade, etc).

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Alan Sokal e o pós-modernismo
Abusos cometidos por pós-modernos nas ciências exatas:

● “Falar abundantemente de teorias das quais se tem, no máximo, uma vaga


ideia”;

● “Importar noções das ciências exatas para as ciências humanas sem dar a
menor justificação empírica ou conceitual”;

● “Exibir uma erudição superficial ao jogar, sem escrúpulos, termos


especializados na cara do leitor, num contexto em que eles não têm
pertinência alguma”;

● “Manipular frases desprovidas de sentido e se deixar levar por jogos de


palavras”.
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“A equação E = mc² é uma
equação sexuada? Talvez.

Consideremos a hipótese como


afirmativa na medida em que se
privilegia a velocidade da luz
sobre outras velocidades que são
vitais para nós. O que me faz
pensar na natureza sexuada da
equação não é, diretamente, sua
utilização nos armamentos
nucleares, mas por ter se
privilegiado a que vai mais
depressa.” 18
Significados utilizados para a palavra “ciência”:

●Esforço intelectual destinado a uma compreensão


racional do mundo natural e social;

●Corpo de conhecimento aceito em vários campos


da ciência ;

● Comunidade científica;

● Aplicações tecnológicas 19
No entanto, nem todos aceitam uma visão
científica do mundo…

● Acadêmicos pós-modernistas;

● Construtivistas sociais extremistas.

Insistem que o conhecimento científico não é


conhecimento objetivo, mas sim uma construção
social, assim como mitos e religiões.
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Exemplos:
● “A validade de proposições teóricas nas ciências não são de
forma alguma afetadas pela evidência factual” (Kenneth Gergen,
psicólogo);

● “O mundo natural tem um pequeno ou inexistente papel na


construção do conhecimento científico” (Harry Collins,
sociólogo);

● “Para o relativista, como nós somos, não há sentido na ideia


de que algumas normas ou crenças são realmente racionais,
diferenciadas das que são meramente aceitas localmente como
tal” (Barry Barnes e David Bloor, sociólogos) 21
A pós modernidade acaba fornecendo munição a
correntes que buscam negar ou obscurecer o pensamento
científico, minando consensos sobre assuntos
importantes:

● Aquecimento global;
● Evolução;
● Formato da Terra;
● Etc.

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Étic a na Ciê nc ia

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A seguir são apresentadas normas de conduta recomendadas ao físico e ao técnico do
laboratório de física, em seu trabalho profissional.

ERROS PROPOSITAIS E PLÁGIO

Entre as faltas mais graves que um físico pode cometer em um artigo


científico estão a introdução de resultados falsos e o plágio. Resultados falsos
são aqueles introduzidos, pela elaboração fictícia de dados, ou a omissão
consciente de dados existentes, com a finalidade de comprovar ou reprovar
teorias e/ou experiências. O plágio, na forma mais fácil de ser descoberta,
consiste na publicação, sob o nome do físico plagiário, de trabalho, ou partes
de trabalho publicado anteriormente por outro. O plágio pode também
apresentar-se sob a forma de exploração de uma ideia que lhe tenha sido
revelada, sem apontar a fonte. Muitas ideias são descobertas
simultaneamente e não se trata então de plágio, mas é recomendável que um
dos autores reconheça prontamente a prioridade do outro quando lhe for
apontado ser esse o caso. O reconhecimento dos resultados de pesquisas de
outros, utilizados no artigo publicado é sempre necessário.
CLAREZA NA EXPOSIÇÃO DOS FUNDAMENTOS
EXPERIMENTAIS.

Os fundamentos teóricos e experimentais, assim como os métodos e técnicas


usadas em um trabalho publicado devem ser expostos com clareza para
permitir sua repetição por outros cientistas ou revisores. Algumas exceções
são admitidas no caso de ser necessário preservar a privacidade para
proteção de patente ou razões semelhantes. Os métodos, técnicas e tabelas
de dados e de resultados devem ser mantidos disponíveis, por um tempo
razoável, de maneira a permitir verificação por outros cientistas e revisores.
De outra parte, é recomendável evitar a multiplicação de publicações que não
acrescentem conhecimento. Os autores de artigos devem estar cientes de que
não é ético publicar resultados científicos praticamente idênticos em revistas
diferentes.
AUTORIA DE ARTIGOS

A todos que tenham feito uma contribuição significativa à concepção, projeto,


execução e interpretação da pesquisa, deve ser dada a oportunidade de
constar como autores. A autoria deve ser limitada a esses; nenhum outro
nome deve ser incluído entre os autores com a finalidade de enriquecer
currículos. Outras pessoas, pesquisadores ou técnicos, que de alguma forma
contribuíram para o trabalho, devem constar de uma lista de agradecimentos.
O chefe de laboratório, ou diretor de instituição, que não tenha contribuído
diretamente nas fases de concepção, execução e interpretação do trabalho,
não deve exigir, ou mesmo sugerir, que seu nome apareça entre os autores de
uma pesquisa feita em seu laboratório ou instituto. As fontes de financiamento
não devem ser escondidas e devem ser sempre citadas claramente.
RESPONSABILIDADE SOBRE OS ARTIGOS
Deve ser dada oportunidade a todos co-autores de rever o artigo completo,
antes de sua submissão para publicação. Enquanto um, ou alguns autores,
devem ser responsáveis pelo artigo completo, colaboradores, que fizeram
contribuições limitadas e específicas, assumem responsabilidade apenas por
essas contribuições. No entanto, todos devem assumir responsabilidade por
suas contribuições e aceitar fazer as correções devidas, no caso em que
sejam apontadas falhas no artigo.
JULGAMENTO POR PARES

O julgamento por pares é um processo essencial às atividades científica e


acadêmica e requer, por isso, que seja feito de forma criteriosa e com
honestidade intelectual. Nas revisões, por precaução, para evitar conflito de
interesses, o revisor deve evitar artigo que trate de tema coincidente com
trabalho seu em andamento, e cujo conhecimento possa beneficiá-lo;
sobretudo não deve atrasar uma revisão para publicar seus resultados antes
do artigo revisto. Ao participar de bancas de julgamento para posições
acadêmicas, ou públicas em geral, bem como de comitês avaliadores de seus
pares e/ou de projetos de pesquisa, o físico não deve beneficiar candidatos ou
projetos de seu próprio grupo de pesquisa ou departamento, ou parente
próximo, em prejuízo de outro candidato ou projeto de pesquisa melhor. Da
mesma forma, deve ser evitada a prática do lobby em benefício de candidatos
nas mesmas condições anteriores. Essa atitude, além de ser exigência ética,
é essencial ao progresso das ciências no país.
CONFLITOS DE INTERESSES

Muitas atividades científicas têm se revelado fontes potenciais de


conflitos de interesse. Qualquer relação profissional com empresas ou
pessoas que possa resultar em conflito de interesses com atividade
em função pública deve ser exposta claramente e examinada desse
ponto de vista. Se o exame da situação mostra um conflito, a
relação deverá ser interrompida, ou, de alguma forma, anulado o
conflito.
DEFESA DA SOCIEDADE E DO MEIO AMBIENTE

É fato reconhecido que a aplicação da física tem impacto notável sobre o


ambiente, sobre a vida na Terra e sobre a sociedade humana. O físico deve
envidar esforços para que seu trabalho resulte em menor desigualdade social,
maior estabilidade ambiental, e segurança para a vida humana. A pesquisa
deve criar segurança mútua para indivíduos, grupos e nações e não deve
violar convenções internacionais destinadas a assegurar a paz. A falta de
conhecimento científico sobre as possíveis consequências da pesquisa não
deve ser utilizada como justificativa para atividade que possa ter
consequências graves para o meio-ambiente ou para a humanidade: é dever
ético do físico analisar no melhor de suas possibilidades os riscos envolvidos.
Atividades que coloquem em risco o ser humano e possivelmente a vida na
Terra devem ser por ele evitadas; se atividades desse teor vierem a ser por
ele conhecidas, devem, se possível, ser denunciadas publicamente.
ENSINO E DIVULGAÇÃO DE CIÊNCIA

O conhecimento científico não deve ser privilégio de alguns, e é importante


para a sociedade, e em particular para o Brasil, que tenha divulgação honesta,
clara e ampla. É obrigação do físico contribuir para tal, promovendo e
fomentando a difusão da ciência. É ainda obrigação do físico, como educador,
transmitir a seus alunos um ensino competente e honesto, baseado nos
valores éticos incorporados nestas normas de conduta. Deve ser incentivada
nos seus alunos uma atitude positiva de reflexão sobre os problemas éticos
que podem advir de seu trabalho profissional.
Questionário

1. Para você, a ciência deve ser encarada de maneira racionalista ou


relativista?

1. É possível dizer que em todos os seus estágios a ciência progride


para uma verdade?

1. Você acha que existe um(ou mais) critério(s) que distingue(m) teorias
científicas de não-científicas? Que critério(s) seria(m) este(s)?

1. Você acredita que seja possível estabelecer um método que auxilie


na escolha de caminhos tomados pelos cientistas?
Questionário
Ét ica n a Ciê n cia (víd e o 1, víd e o 2 , víd e o 3, víd e o4 )

1.De acordo com os Padrões de Ética na Ciência da FAPESP, visto no vídeo,


o cientista deve ter “liberdade para realizar pesquisa sobre qualquer
problema ou hipótese”, salvas algumas restrições. No entanto, para realizar
pesquisa, é preciso financiamento. Na sua opinião, além de um projeto estar
bem fundamentado, que outros critérios deve preencher para receber
financiamento público de pesquisa?

2.O auto plágio, a autoria indevida de artigos, o “fracionamento” de


publicações com um mesmo resultado, dentre outros, são práticas que ferem
a ética na ciência. Você acha que estas práticas estão presentes no meio
acadêmico? Por quê?

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