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DIRETORIA DE ENSINO
DEPARTAMENTO DE ENSINO FUNDAMENTAL

Meu aluno escreve tudo junto! O que fazer?


Segundo Ferreiro e Teberosky, é a partir dos 7, 8 anos que a criança passa a criar hipóteses sobre
o que são as palavras. O primeiro movimento é validar os substantivos, adjetivos e verbos como
“palavras”, ou melhor, como “coisas que podem ser lidas”. As preposições, conjunções e artigos são
considerados “outras coisas”, ou seja, elas (as crianças) sabem que elas (preposições, conjunções e
artigos) estão nos textos (embora não saibam nomeá-las nessas classes gramaticais), mas não
legitimam sua existência como algo a ser lido, com sentido. E isso tem a ver com as hipóteses de
leitura que as crianças vão construindo ao longo do seu processo de apropriação da língua.
Nesse contexto, é comum que crianças recém-alfabéticas, ou mesmo aquelas já alfabéticas há
algum tempo, mas que tiveram problemas em seu processo de alfabetização ― muitas vezes por
desconhecimento do professor em relação à construção da escrita pelo aluno ― demonstrarem
ausência de separabilidade nos textos. Os primeiros espaçamentos em branco estão - num certo
sentido - mais relacionados ao conhecimento que os alunos possuem a respeito de textos escritos,
tratando-se de, num primeiro momento, um conhecimento mais visual do que conceitual. A ausência
de segmentação não tem relação direta com o domínio da escrita alfabética e sim com o fato dos
alunos se pautarem na cadeia falada para produzir a escrita.
As primeiras tentativas nesse sentido podem mostrar crianças que escrevem com ausência de
segmentação no texto inteiro ou apenas entre algumas palavras e, a isso, chamamos de
hipossegmentação (“demanhã”). Há outros casos nos quais os alunos segmentam onde não deveriam.
Nesse caso, dizemos que cometem hiperssegmentação (“bos que”). É comum também que o aluno
apresente os dois casos em um mesmo texto.
Essa é uma longa discussão, com causas que precisam ser investigadas e compreendidas mais a
fundo, olhando, por exemplo, para os “grupos de força” das palavras; uma conversa mais complicada,
do campo da linguística. Para quem tiver interesse, indico o livro “A segmentação na escrita infantil”,
de Cristiane Capistrano, Ed. Martins Fontes.

Mas, para ajudá-los nessa questão, sugiro intervenções do tipo:


1. Ditado comparativo (com foco na segmentação): nessa atividade, o professor dita um
pequeno trecho de um texto conhecido dos alunos (um conto, por exemplo). Depois, solicita que, em
duplas, os alunos comparem suas escritas e verifiquem quantas palavras há no texto de cada um.
Coletivamente, o professor questiona a turma sobre quantas palavras eles escreveram no trecho
ditado. Como, provavelmente, esse número será diferente (visto que cada um segmentou o texto de
uma forma), ele problematiza essas escritas no quadro, discutindo e ajudando as crianças a refletirem
a esse respeito.
2. Leitura com focalização: o professor oferece um trecho de um texto para os alunos e solicita
que as crianças analisem as palavras grifadas e pensem como as escreveriam se as fizessem
autonomamente. É importante que o professor selecione e grife aquelas palavras que sabe que sua
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turma tem dificuldade na hora de segmentar no texto, como por exemplo, de repente, convidado, amor,
ou artigos que precedem substantivos. Na discussão coletiva, é importante que o professor ajude os
alunos a pensarem sobre o significado das palavras quando escrevem COM VIDADO, por exemplo.
3. Jogo dos 7 erros: o professor entrega um pequeno texto com sete erros de segmentação. O
aluno deve transcrever o texto corrigindo tais equívocos.
4. Revisão coletiva de textos: essa é sempre uma situação privilegiada para ajudar aos alunos a
refletirem não só sobre a linguagem que se usa para escrever, como também sobre as convenções
de nossa língua, dentre elas, a segmentação.
5. Recorte e colagem de frases para trabalhar em dupla: um aluno dita e o outro realiza a
colagem da frase.
6. Observar a reprodução de uma obra de arte: elaborar uma frase em dupla e uma vai até o
quadro escrever.
7-Varal de frase: escrever palavras separadas, colocá-las num pedaço de barbante e solicitar que
o aluno coloque a frase de forma que sua escrita tenha coerência.
8- Trilha de frase: distribuir para cada aluno uma palavra e solicitar que montem a trilha de forma
que a frase tenha coerência.
9- Dado de palavras: fazer um dado com 6 faces, e em cada uma delas escrever uma palavra,
solicitar que o aluno jogue o dado e escreva uma frase com as palavras que saíram no dado.
10-Seleção cuidadosa: selecionar um material que a classe conheça de memória. Para os
pequenos, pode ser uma parlenda ou uma adivinha. Reproduza-o sem deixar espaços entre as
palavras e faça cópias.
11-Separação de palavras: organize a classe em duplas, distribua a cópia do texto e proponha
que discutam como devem ser separadas as palavras, marquem as separações e façam a contagem
das palavras encontradas.
12-Hora da discussão: peça que cada dupla diga quantas palavras encontrou e justifique a
resposta. Coloque os resultados em discussão e ajude o grupo todo a entender a origem das dúvidas.
13-Consulta ao texto fonte: retome o material original e instrua os alunos a observarem como é a
segmentação convencional.
14-Escrita de bilhetes: oriente a produção individual, selecione alguns textos para discutir como
foram separadas as palavras, considerando as dificuldades apresentadas pela maioria da turma.
Vale lembrar que as atividades devem ser elaboradas ajustando-as a realidade da turma, sendo
necessário não só a elaboração, como também seja feito a intervenção do professor no
desenvolvimento das mesmas, a fim de que os alunos possam avançar no estágio que se encontram.
A utilização do computador também pode ser um elemento que estimule os alunos na escrita de
textos, podendo por exemplo: ditar para o aluno escrever seu texto, é importante que o professor
esteja junto da criança para que possa fazer as problematizações.
Fonte:https://discutindopraticaspedagogicas.blogspot.com/2014/08/meu-aluno-escreve-tudo-junto-o-que-fazer.html

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