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Resumo: É crescente nos nossos dias a quantidade de pessoas com distúrbios vocais. No
Conservatório Estadual de Música Lorenzo Fernândez de Montes Claros/MG, o número de
alunos que apresentam distúrbios vocais é significativo. O presente artigo apresenta os
resultados de uma pesquisa que teve como objetivo geral identificar as principais conexões
existentes entre o ensino do canto no Conservatório e os problemas vocais apresentados pelos
alunos. A pesquisa levantou os alunos que durante o ano de 2008 estiveram em algum
momento em tratamento fonoaudiológico e foram realizadas entrevistas e observações das
aulas destes, a fim de se obter dados para a solução do problema proposto. Concluiu-se que o
ensino do canto no Conservatório tem contribuído para o tratamento de patologias e
problemas vocais estéticos de seus alunos. Através da pesquisa podemos perceber que em sua
maioria os professores encaminharam seus alunos sob suspeita de problemas vocais para os
profissionais competentes, a fim de que fosse feito o diagnóstico correto sobre os problemas e
mais da metade dos alunos presentes no universo estudado estavam satisfeitos com a atuação
de seus professores com relação ao seu problema vocal.
Palavras chave: problemas vocais; fonoaudiologia; ensino do canto.
Introdução
- Técnico, de nível médio, com duração de três anos, duas aulas semanais
individuais.
A pesquisa foi desenvolvida nos últimos três meses do ano de 2008 e teve com
pretensão induzir uma maior interação entre professores de canto e fonoaudiólogos, numa
tentativa de se qualificar melhor o ensino do canto não apenas no estabelecimento estudado,
mas servindo também de exemplo para outras instituições.
Revisão de Literatura
De acordo com Costa e Silva (1998), como a voz é o meio mais espontâneo e
artístico de se fazer música com o corpo humano, o canto é a expressão mais universal dentre
os tipos de música mundial. “A laringe foi o primeiro instrumento musical do qual a
humanidade fez uso” (Silva & Duprat, 2004, p.178).
No Brasil, nós podemos dividir a produção do canto em erudita, que requer anos de
aprendizagem, exigindo ajustes musculares distantes da voz falada, e popular, que exige
menos ou nenhum tempo de aprendizagem, empregando ajustes mais próximos da fala
(Behlau, 2005, p.334).
Atualmente o ensino do canto tem como aliados os avanços tecnológicos e
científicos que proporcionam um maior e mais criterioso desenvolvimento da pedagogia
vocal. O professor deve ter uma visão holística sobre seu objeto de trabalho. Pedroso (1997)
aponta algumas das características dos professores de canto da realidade brasileira:
musical, também pode cuidar de sua saúde vocal junto ao fonoaudiólogo” (Muniz & Palmeira,
2008, p. 56).
Metodologia
O Universo da pesquisa realizada foi formado por alunos do curso de canto, em nível
de Educação Musical e Técnico, do Conservatório Estadual de Música Lorenzo Fernândez de
Montes Claros/MG (estudo de caso) que apresentavam problemas vocais e que durante o ano
de 2008 passaram por um tratamento fonoaudiológico.
Tratou-se de uma pesquisa exploratória e foram utilizados os seguintes instrumentos
de coleta de dados:
- Pesquisa bibliográfica;
- Entrevista semi-estruturada com os alunos pesquisados;
- Observação não-participante de uma aula de cada aluno pesquisado.
A partir dos relatórios das observações e dos resultados das entrevistas, foram
analisados os motivos dos problemas vocais dos alunos e se estes apresentaram alguma
melhora ou piora em seu tratamento que possa ter alguma relação com o curso de canto do
Conservatório, para se atingir o objetivo da pesquisa.
Com relação ás faixas etárias, quatro alunos (45%) possuem de 15 a 25 anos, três
deles (33%) de 25 a 35 anos, um (11%) de 35 a 45 anos e um (11%) de 55 a 65 anos:
Até a data da realização da pesquisa, seis alunos (67%) haviam feito de um a seis
meses de tratamento fonoaudiológico, um (11%) de seis meses a um ano e dois (22%) acima
de um ano de tratamento:
100% dos alunos disseram que praticavam uma atividade vocal anterior ao início do
curso de canto. Oito deles (89%) afirmaram cantar em igrejas (duas ainda afirmaram ser
professoras) e uma (11%) afirmou cantar em um grupo de música raiz:
Questionados sobre a preocupação dos professores com seus problemas vocais, sete
alunos (78%), responderam sim, e dois (22%) responderam que não houve diferença em sala
de aula. O tratamento fonoaudiológico era considerado algo a parte:
Por parte dos fonoaudiólogos, foi unânime o conhecimento sobre as aulas de canto
de seus pacientes, sendo que todos estes profissionais deram conselhos para que os alunos
pudessem aproveitar melhor e não se prejudicarem durante as aulas de canto.
Ao final, interrogados se durante o tratamento perceberam um intercâmbio entre
professor e fonoaudiólogo, cinco alunos disseram que sim, sendo que alguns colocaram que
seus professores e fonoaudiólogos chegaram até a trocar telefones. Os quatro alunos restantes
disseram que não:
Conclusão
Através da análise dos dados pode-se afirmar que o ensino do canto no Conservatório
Lorenzo Fernândez tem contribuído para o tratamento de patologias e problemas vocais
estéticos de seus alunos. Através da pesquisa pudemos perceber que a maioria dos professores
encaminhou seus alunos sob suspeita de problemas vocais aos profissionais competentes, a
fim de que fosse feito o diagnóstico correto dos problemas. Desta maneira, mais da metade
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dos alunos presentes no universo estudado estavam satisfeitos com a atuação dos professores
com relação ao seu problema vocal.
Todos os alunos afirmaram ter tido uma atividade vocal anterior ao ingresso no curso
de canto, o que pode ter contribuído para a formação de suas patologias. Sem o curso,
provavelmente não perceberiam os problemas até que estivessem em um nível de gravidade
muito maior.
A revisão de literatura, que afirmou ser o mau uso e abuso vocal os principais
responsáveis pelas patologias vocais entre cantores, foi enfatizada. Comprovou-se também,
que a fenda glótica é uma patologia presente em pessoas que abusam ou utilizam-se da sua
voz de maneira incorreta. Confirmou-se ainda uma maior incidência de patologias vocais em
mulheres e possuidoras de vozes mais agudas.
A presente pesquisa tem sua importância tanto para a área do canto e da música
como para a fonoaudiologia, uma vez que enfatiza a importância das duas áreas na formação
de um cantor e a necessidade de não se trabalhar isoladamente. Apesar deste trabalho dizer
respeito apenas ao caso estudado, por ter apresentado resultados positivos, estes devem ser
levados adiante a fim de influenciar outras escolas a conscientizarem seus alunos e
professores da importância de estarem atentos a qualquer problema vocal apresentado, para
que possam se tratar e livrarem desta patologia.
Preocupar-se com a saúde vocal de seus alunos é o principal dever social do
professor de canto. Somente com uma voz saudável será possível ao aluno atingir todos os
seus anseios e objetivos.
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Referências
BEHLAU, M.; FEIJÓ, D.; MADAZIO, G.; REHDER, M. I.; AZEVEDO R.; FERREIRA, A.
E. Voz profissional: Aspectos gerais e atuação fonoaudiológica. In. BEHLAU, Mara (Org.)
Voz – O livro do especialista. Rio de Janeiro: Revinter, 2005. Vol II
COSTA Henrique O, SILVA Marta AA. Voz cantada – evolução, avaliação e terapia
fonoaudiológica. São Paulo: Lovise; 1998.
DINVILLE, Clair. Os distúrbios da voz e sua reeducação. Trad. De Denise Torreão. 2ª ed.
Rio de Janeiro : Enelivros, 2001.
MUNIZ, Maria Cláudia Mendes Caminha; PALMEIRA, Charleston Teixeira. Ciência e arte –
Teoria e vivência musical como auxilia à formação de fonoaudiólogos. Música Hodie, Vol. 8,
Nº 1, p. 55-74, 2008.
PEDROSO, Maria Ignez de Lima. Técnica vocal para profissionais da voz. São Paulo,
CEFAC, 1998.