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UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ

CURSO DE PEDAGOGIA

ÉRICA VIRGINIA PAIVA MACIEL

A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL: EM


FOCO A CRECHE NOSSA SENHORA DE FÁTIMA NO MUNICÍPIO
DE GROAÍRAS – CEARÁ

SOBRAL – 2013
ÉRICA VIRGINIA PAIVA MACIEL

A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL: EM


FOCO A CRECHE NOSSA SENHORA DE FÁTIMA NO MUNICÍPIO
DE GROAÍRAS – CEARÁ

Trabalho de conclusão de curso apresentado


ao curso de Pedagogia da Universidade
Estadual Vale do Acaraú como requisito
parcial para obtenção do título de Licenciada
em Pedagogia.

Orientadora: Prof.ª Edna Lúcia Brito

SOBRAL - 2013
A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL: EM
FOCO A CRECHE NOSSA SENHORA DE FÁTIMA NO MUNICÍPIO
DE GROAÍRAS - CEARÁ

Artigo apresentado ao curso de Pedagogia da Universidade Estadual


Vale do Acaraú como requisito parcial para obtenção do título de
Licenciada em Pedagogia.

___________________________________________________
Érica Virginia Paiva Maciel

Artigo aprovado em: _____/____/_____

Orientadora: __________________________________________________________
Prof.ª Especialista Edna Lúcia Brito

1º Examinadora: ___________________________________________________
Prof.ª Mestre Maria Neusita Tabosa
2º Examinadora: ___________________________________________________
Prof.ª Especialista Aurilene Marcelo da Silva
DEDICATÓRIA

Aos meus pais, Edilson e Geci, que mais do que me proporcionar uma
boa infância e vida acadêmica, formaram os fundamentos do meu
caráter. Obrigada por serem a minha referência de tantas maneiras e
estarem sempre presentes na minha vida de uma forma indispensável.
Ao meu esposo, Jociano Almeida, que representa minha segurança em
todos os aspectos, meu companheiro incondicional, o abraço
espontâneo e tão necessário. Obrigada por me fazer sentir tão amada,
também nos momentos mais difíceis da nossa vida. A minha filha,
Anna Lívia, a quem dedico essa conquista e que é, sem dúvida, a
maior de todas as minhas vitórias. A minha professora e orientadora
deste trabalho, Edna Lúcia Brito, pelo desprendimento ao escolher me
dar apoio nesse trabalho. Muito obrigada nunca será suficiente para
demonstrar a grandeza do que recebi de cada um de vocês. Peço a
Deus que os recompense à altura. E é a Ele que dirijo minha maior
gratidão. Deus, mais do que me criar, deu propósito à minha
vida. Vem Dele tudo o que sou o que tenho e o que espero.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................... 5
2 CONCEITO DE INFÂNCIA.............................................................................. 7
3 A HISTÓRIA DO BRINCAR............................................................................ 9
4 O BRINCAR E AS BASES LEGAIS................................................................ 11
5 A IMPORTÂNCIA DA BRINCADEIRA PARA O DESENVOLVIMENTO
INFANTIL..................................................................................................... 13
6 O BRINCAR NO ÂMBITO ESCOLAR....................................................... 14
7 ENTRE O DISCURSO E A PRÁTICA........................................................ 15
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................ 19
9 REFERÊNCIAS.............................................................................................. 21
10 ANEXO............................................................................................................. 23
5

A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL: EM


FOCO A CRECHE NOSSA SENHORA DE FÁTIMA NO MUNICÍPIO
DE GROAÍRAS – CEARÁ¹

Érica Virginia Paiva Maciel²

Edna Lúcia Brito³

RESUMO

O presente artigo trata de um dos temas mais relevantes da Educação Infantil – o brincar
como proposta pedagógica, com o objetivo de identificar a inserção das brincadeiras infantis
para o desenvolvimento integral das crianças nas práticas docentes na Creche Nossa Senhora
de Fátima no município de Groaíras – CE. Para aprofundamento das discussões sobre a
importância do brincar no universo escolar infantil recorreu-se a alguns teóricos, tais como:
Ariès (1978), Borba (2006), Brasil (1998), Gomes (2006), Kishimoto (2009), Machado
(2007), Moyles (2002), Vygotsky (2007), Wajskop (2007), Winnicott (1975),
complementando com uma pesquisa de natureza qualitativa realizada por meio das técnicas de
observações realizadas na turma do Infantil V e das entrevistas semiestruturadas com as
respectivas professoras. Através da pesquisa constatou-se a necessidade da elaboração de uma
proposta pedagógica que desenvolva as características da infância, considerando-as como o
alicerce do trabalho educativo e eficaz.

Palavras-chave: Brincar; Desenvolvimento cognitivo; Educação Infantil;

1 INTRODUÇÃO

Ao longo de sua história a educação tem passado por mudanças no pensar sobre a
criança e o seu modo particular de ver e compreender o mundo, bem como agir sobre ele. É
nessa perspectiva que se apresenta a Educação Infantil, como espaço para proporcionar as

1. Trabalho de conclusão do curso de graduação em Pedagogia pela Universidade Estadual Vale do


Acaraú
2. Estudante Graduanda de Pedagogia da UVA.
3. Professora do Curso de Pedagogia da UVA – Orientadora deste trabalho.
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vivências significativas da infância, infância esta que deve ser respeitada em seus interesses e
especificidades, em que a criança deve brincar muito, e, através da brincadeira desenvolver
suas potencialidades, ou seja, o seu aprendizado.
Sabe-se que a criança possui necessidades e características peculiares e a escola
desempenha um importante papel nesse aspecto, que é propiciar um espaço favorável às
aprendizagens considerando aí a importância da brincadeira e associando-a a situações de
aprendizagem que sejam significativas, contribuindo de forma agradável e, portanto
motivadora para o enriquecimento do ato de aprender.
O momento da brincadeira possui grande importância, pois contribui para o
desenvolvimento integral da criança sendo também o espaço que proporciona liberdade
criadora, oportunidades de socialização, afetividade e um encontro com o seu próprio mundo,
descobrindo-se de maneira prazerosa.
A opção por esse tema surgiu através de uma observação realizada na creche Nossa
Senhora de Fátima no município de Groaíras – CE, de que a atividade lúdica como fonte de
aprendizagem ainda não é prática efetiva no cotidiano escolar, inclusive na Educação Infantil
com obtenção de notas no Estágio Supervisionado: Ação Docente nos Anos Iniciais no 7º
período do curso de Pedagogia na Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA.
A partir das observações feitas no estágio propunha-se então, um aperfeiçoamento da
prática docente, através da criação de momentos que oportunizem a criança o exercício do seu
direito de ser criança, direito de brincar, contribuindo assim, para uma série de fatores
importantes para o seu desenvolvimento físico, emocional, cognitivo, linguístico e social,
pontuando alguns questionamentos motivadores para a realização dessa pesquisa: Como a
brincadeira deve ser introduzida no planejamento docente da Educação Infantil para cumprir
sua utilidade pedagógica? Pode a brincadeira ser aproveitada na prática pedagógica da
Educação Infantil, respeitando e valorizando a natureza da criança e contribuindo para o seu
desenvolvimento?
O presente trabalho tem por objetivo principal identificar a inserção das brincadeiras
infantis como proposta pedagógica para o desenvolvimento integral das crianças nas práticas
docentes na Creche Nossa Senhora de Fátima no município de Groaíras – CE. Mostrar que o
brincar é uma atividade de estimulação capaz de contribuir para o desenvolvimento cognitivo,
físico, social e emocional da criança em idade pré-escolar. Visa ainda, levantar informações
sobre o modo como é vista e tratada à brincadeira na turma do Infantil V e conscientizar os
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educadores da importância da prática do lúdico, pois assim eles conseguirão alcançar seus
objetivos com sucesso. Isto é, fazer com que o aluno aprenda o conteúdo, fazendo o que ele
mais gosta: brincando.
Para fundamentar teoricamente a importância do brincar tivemos a colaboração de,
Ariès (1978), Borba (2006), Brasil (1998), Gomes (2006), Kishimoto (2009), Machado
(2007), Moyles (2002), Vygotsky (2007), Wajskop (2007), Winnicott (1975).
Para o desenvolvimento deste trabalho, foram necessárias observações realizadas na
turma do Infantil V na creche Nossa Senhora de Fátima, seguidas de entrevistas
semiestruturadas com as professoras e por fim análise do material observado. (Vide anexos).
Assim, com base nas informações obtidas, torna-se possível elaborar uma proposta que
sugere uma nova prática pedagógica onde a brincadeira infantil não é apenas valorizada como
um aspecto natural da criança, mas como um excelente meio de promover a aprendizagem.
Nesse contexto, o artigo pretende enfatizar alguns elementos considerados de grande
relevância para a aprendizagem das crianças, por meio do brincar. Alinhando-se por essa
perspectiva, este trabalho apresenta os temas: Conceito de infância; A história do brincar; O
brincar e as bases legais; A importância da brincadeira para o desenvolvimento infantil; O
brincar no âmbito escolar: Entre o discurso e a prática;

2 CONCEITO DE INFÂNCIA

O homem é um ser historicamente social, que constrói sua história no decorrer dos anos
a partir da interação com o outro e com o meio que o cerca. A partir desse pressuposto a
concepção sobre infância vem sendo construída e reformulada ao longo da história.

Recorrendo-se ao seu significado literal, a palavra infância oriunda do latim infantia


significa “incapacidade de falar”, pois se considerava que antes dos sete anos a criança era
incapaz de falar e expressar seus pensamentos e desejos.

Percebemos grandes mudanças em relação ao sentimento de infância no decorrer dos


tempos. A humanidade nem sempre viu a criança como um ser em particular e por muito
tempo a tratou como um adulto em miniatura. Na Idade Média assim que pudesse realizar
algumas tarefas, ela era inserida no mundo adulto, sem nenhuma preocupação em relação à
sua formação enquanto ser específico, sendo exposta a todo tipo de experiência.
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Até o século XVII a sociedade não dava muita atenção às crianças. Devido às más
condições sanitárias, a mortalidade infantil alcançava níveis alarmantes, por isso a criança era
vista como um ser ao qual não se devia apegar, pois a qualquer momento ela poderia deixar
de existir. Muitas não conseguiam ultrapassar a primeira infância. O índice de natalidade
também era alto, o que ocasionava uma espécie de substituição das crianças mortas. De
acordo com Áries (1978, p. 22) “a perda era vista como algo natural e as pessoas não deviam,
portanto, se apegar muito a algo que era considerado uma perda eventual”.

Já no século XVIII passamos a encontrar na família dois elementos importantes: a


preocupação com a higiene e a saúde física, o que contribuiu para a redução da mortalidade
infantil na época, assim como, para a mudança do sentimento da infância. Tudo o que se
referia às crianças e à família tornara-se um assunto sério e digno de atenção; a criança passou
a assumir um lugar central dentro da família.

Com o passar do tempo, o desenvolvimento infantil tornou-se objeto de estudo para


muitos estudiosos que agregaram significativa importância para esta fase. A infância passou a
ser considerado um período de construção social, em que as crianças eram concebidas como
produtoras de conhecimento e preparadas para tornarem-se adultos capazes de atuarem na
sociedade de acordo com os valores morais existentes.

Portanto, enquanto na Antiguidade as crianças aprendiam tudo através das relações


diárias com os mais velhos, a realidade no período medieval comprovava que não havia muito
tempo por parte dos pais para dar carinho e atenção aos filhos. Não conseguiam perceber
nelas a capacidade de pensar, querer e sentir. Apenas no início da Idade Moderna, começa a
existir uma separação dessa criança havendo, inclusive ambientes diferentes, ou seja, aqueles
destinados aos adultos e outros às crianças. A concepção da infância nesse período remete a
questão que, para ter uma boa educação, as crianças precisavam afastar-se do convívio social
apenas com adultos e passa a socializar-se com outras crianças ainda que sob orientação dos
adultos.

Assim, a visão contemporânea de infância se depara com uma série de mudanças, novos
olhares e algumas rupturas com o modelo de infância concebido até então. A nova visão de
infância possui características que não existiam antes, a criança é vista como um sujeito de
direitos, situado historicamente e que precisa ter as suas necessidades físicas, cognitivas,
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psicológicas, emocionais e sociais supridas e algumas dessas necessidades estão atreladas ao


novo sistema vigente, o capitalismo, o consumismo e a globalização.

Por muitos anos a escola e a família eram os grandes responsáveis pela socialização e
interação da criança com o mundo, nos dias de hoje a mídia como a televisão e a internet são
responsáveis por essa função. Outro fator que convém ressaltar na mudança da concepção de
infância está ligado à nova característica da sociedade contemporânea, a individualização das
pessoas. A rotina profissional dos pais acaba deixando seus filhos aprisionados em suas casas,
com a babá ou até mesmo sozinhos por um algum tempo. Com isso a televisão por sua vez
invade a vida das crianças pregando determinado estilo de vida, com modismos e ideais,
ditando regras, brincadeiras, diferentes formas de ver o mundo, estimulando a consumir cada
vez mais, transformando as crianças em consumidores desenfreados.

Nesse aspecto a mídia constrói um significado diferente de infância, deixando de ser


uma fase natural da vida, sendo então objeto de manipulação. Diferentemente da visão que
prega a da criança feliz, protegida, educada, segura. Ou seja, o que vemos hoje é a simulação
da noção de infância.

É necessário que haja uma mudança por parte dos pais, pois precisam estar mais
presentes no dia-a-dia de seus filhos proporcionando-lhes mais atenção e carinho já que a
ausência resulta em dificuldade na vida social das crianças.

3 A HISTÓRIA DO BRINCAR

O brincar está presente em diferentes tempos e lugares e de acordo com o contexto


histórico e social que a criança está inserida, a brincadeira é recriada com seu poder de
imaginação e criação.
As brincadeiras de outros tempos estão presentes na vida das crianças, com diferentes
formas de brincar, porque hoje, nós temos diferentes espaços geográficos e culturais. Mas que
relação se pode fazer do brincar com o desenvolvimento, a aprendizagem, a cultura e como
incorporar a brincadeira em nossa prática?
O brincar é natural na vida das crianças por suas características. É algo que faz parte do
seu cotidiano e se define como espontâneo, prazeroso e sem comprometimento.
As brincadeiras são universais, estão na história da humanidade ao longo dos tempos,
fazem parte da cultura de um país, de um povo. Achados arqueológicos do século IV a.C., na
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Grécia, descobriram bonecos em túmulos de crianças. Há referências a brincadeiras e jogos


em obras tão diferentes como a Odisséia de Ulisses e o quadro jogos infantis de Pieter
Brughel, pintor do século XVI. Nessa tela, de 1560, são apresentadas cerca de 84 brincadeiras
que ainda hoje estão presentes em diversas sociedades. Dentre as quais podemos citar: pipa,
amarelinha, bambolê, bolinha de gude, peteca, pião, pula corda, entre outras.
Segundo Wajskop (2007), a brincadeira, desde a antiguidade, era utilizada como um
instrumento para o ensino, contudo, somente depois que se rompeu o pensamento românico
passou-se a valorizar a importância do brincar, pois antes, a sociedade via a brincadeira como
uma negação ao trabalho e como sinônimo de irreverência e até desinteresse pelo que é sério.
Mas mesmo com o passar do tempo o termo brincar ainda não está tão definido, pois
ele varia de acordo com cada contexto, e por vezes os termos brincar, jogar e atividades
lúdicas serão usados como sinônimos indistintamente.
Machado (2003) diz que a mãe também brinca com seu bebê mesmo antes de ele
nascer, quando fica imaginando como será ser mãe, e associa as lembranças de quando
brincava com sua boneca. Assim, quando o bebê nasce, já há uma relação criada da mãe para
com o bebê e do bebê para com a mãe, pois esse já reconhece sua voz.
No princípio, a relação acontece como se o bebê fosse o brinquedo de sua mãe e ao
interagir com ele diariamente, a criança vai aprendendo a linguagem do brincar e se
apropriando dela.
Nessa relação contínua, o bebê vai se diferenciando de sua mãe e começa a criar outros
parceiros, que são os outros adultos com quem ela irá interagir. Esses parceiros precisam lhe
propiciar um ambiente que permita a criança, ser criança e desenvolver-se utilizando o corpo
e os seus sentidos, sentindo-se livre para criar o seu brincar.
Dessa forma, a criança se desenvolve através das interações que estabelece com os
adultos desde muito cedo. A sua experiência sócio-histórica inicia-se nessa interação entre
ela, os adultos e o mundo criado por eles. Sendo assim, quando os pais estimulam seus filhos
durante a brincadeira, se tornam mediadores do processo de construção do conhecimento,
facilitando com que seus filhos passem de um estágio de desenvolvimento para outro.
Para Winnicott (1975, p. 39), “o lugar em que a experiência cultural se localiza está no
espaço potencial existente entre o indivíduo e o meio ambiente (originalmente, o objeto)”.
Dessa mesma forma ocorre o brincar, pois para o autor a experiência criativa começa quando
se pratica essa criatividade e isso se manifesta primeiro através da brincadeira.
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No entanto, para esse autor é importante que o adulto não interfira nesse momento, pois
as descobertas e o amadurecimento que o bebê desenvolverá nesse processo serão
fundamentais para o começo de sua atividade cultural. Mas, paradoxalmente, Winnicott
(1975), afirma que, será necessário que o adulto esteja sempre disponível e atento ao bebê,
pois a autonomia e a capacidade criadora são desenvolvidas em longo prazo, e para isso o
adulto deverá estar presente sempre que solicitado, mas não de forma retaliativa nem invasiva.
É por isso que não se deve pensar que a criança é apenas aprendiz, reprodutora de
cultura e conhecimento, um ser frágil e vulnerável, mas, na verdade, ela é tão sujeito quanto o
adulto, ela é co-construtora de seu processo de aprendizagem.

4 O BRINCAR E AS BASES LEGAIS

Mesmo sabendo que o brincar é um espaço de apropriação e constituição pelas crianças


de conhecimentos e habilidades no âmbito da linguagem, da cognição de valores e da
sociabilidade, e apesar de todo aporte teórico que tem surgido sobre o tema, afirmando a
importância da brincadeira, ainda assim, encontramos ideias e práticas que reduzem o brincar
a uma atividade de menos importância no cotidiano escolar e isso se dá à medida que se
avançam os segmentos escolares.
O discurso se faz mais forte e presente na Educação Infantil, pois se nos pautarmos
apenas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, onde nos Referenciais
Curriculares documento redigido para a Educação Infantil, a questão da ludicidade encontra-
se no artigo 3°, inciso I, alínea c e diz o seguinte:
“Art. 3° São as seguintes as Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação Infantil:
1-As propostas pedagógicas das instituições de Educação Infantil devem
respeitar os seguintes fundamentos norteadores:
(...)
c) “os princípios estéticos da sensibilidade, da criatividade, da ludicidade e
de manifestações artísticas e culturais”.

Também encontramos referência ao brincar no Estatuto da Criança e do Adolescente, no


artigo 16, inciso IV, dizendo que:
“Art. 16 O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos:
(...)
IV. “Brincar, praticar esportes e divertir-se”.
12

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) – Lei Federal n° 8069/1990, deixa claro


a proibição do trabalho para menores de quatorze anos de idade, salvo na condição de
aprendiz e aponta o direito a liberdade, incluindo o brincar, a prática de esportes e a diversão.
Mas, ainda é na Educação Infantil, único nível de ensino que a escola deu “passaporte
livre”, aberto à iniciativa, criatividade e inovação por parte de seus protagonistas, que a
brincadeira pode assumir sua forma específica.

A brincadeira é uma linguagem infantil que mantém um vínculo essencial


com aquilo que é o “não brincar”. Se a brincadeira é uma ação que ocorre no
plano da imaginação, isto implica que aquele que brinca tenha o domínio da
linguagem simbólica. Isto quer dizer que é preciso haver consciência da
diferença existente entre brincadeira e a realidade imediata que lhe forneceu
conteúdo para realizasse.
Nesse sentido, para brincar é preciso apropriar-se de elementos da realidade
imediata de tal forma a atribuir-lhes novos significados. Essa peculiaridade
da brincadeira ocorre por meio da articulação e imitação da realidade. Toda
brincadeira é uma imitação transformada, no plano das emoções e das ideias,
de uma realidade anteriormente vivenciada. (...) A brincadeira favorece a
autoestima das crianças, auxiliando-as a superar progressivamente suas
aquisições de forma criativa. Brincar contribui, assim, para a interiorização
de determinados modelos de adulto, no âmbito de grupos sociais diversos.
Essas significações atribuídas ao brincar transformam-no em um espaço
singular de constituição infantil. (RCNEI, 2002, p. 27).

Neste documento, a brincadeira é considerada um meio que favorece a autoestima das


crianças, auxiliando-as a superar progressivamente suas aquisições de forma criativa,
transformando os conhecimentos que já possuíam em conceitos gerais com os quais brinca.
As crianças podem acionar seus pensamentos para a resolução de problemas que lhes
são importantes e significativos, pela oportunidade de vivenciar brincadeiras imaginativas e
criadas por elas mesmas.
Portanto, propiciando a brincadeira cria-se um espaço na qual as crianças podem
experimentar o mundo e internalizar uma compreensão particular sobre as pessoas, os
sentimentos e os diversos conhecimentos vivenciados.
Porém, todo esse aparato legal não garante na prática o direito de brincar. E assim, entre
o discurso e a realidade, o tempo e o espaço do brincar vão sendo reduzidos ou negligenciados
em favor de uma suposta aprendizagem.
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5 A IMPORTÂNCIA DA BRINCADEIRA PARA O DESENVOLVIMENTO


INFANTIL

Segundo estudos da Psicologia baseados numa visão histórica e social dos processos de
desenvolvimento infantil, que tem em Vygotsky (2007) um dos seus principais representantes,
o brincar é uma atividade humana criadora, na qual imaginação, fantasia e realidade
interagem na produção de novas possibilidades de interpretação, de expressão e de ação pelas
crianças, assim como de novas formas de construir relações sociais com outros sujeitos,
crianças e adultos.

É importante enfatizar que o modo próprio de comunicar do brincar não se


refere a um pensamento ilógico, mas a um discurso organizado com lógica e
características próprias, o qual permite que as crianças transponham espaços
e tempos e transitem entre os planos da imaginação e da fantasia explorando
suas contradições e possibilidades. Assim, o plano informal das brincadeiras
possibilita a construção e a ampliação de competências e conhecimentos nos
planos da cognição e das interações sociais, o que certamente tem
consequências na aquisição de conhecimentos nos planos da aprendizagem
formal. (BORBA, 2007, p. 38).

O brincar é um importante processo psicológico, fonte de desenvolvimento e


aprendizagem. Ele envolve complexos processos de articulação entre o já dado e o novo, entre
a experiência, a memória e a imaginação, entre a realidade e a fantasia, sendo marcado como
uma forma particular de relação com o mundo, distanciando-se da realidade da vida comum,
ainda que nela referenciada. A brincadeira é de fundamental importância para o
desenvolvimento infantil, na medida em que a criança pode transformar e produzir novos
significados. O brincar não só requer muitas aprendizagens como também constitui um espaço
de aprendizagem.

Brincar é também um grande canal para o aprendizado, senão o único canal


para verdadeiros processos cognitivos. Para aprender precisamos adquirir
certo distanciamento de nós mesmos, e é isso o que a criança pratica desde
as primeiras brincadeiras transicionais, distanciando-se da mãe. Através do
filtro do distanciamento podem surgir novas maneiras de pensar e de
aprender sobre o mundo. Ao brincar, a criança pensa, reflete e organiza-se
internamente para aprender aquilo que ela quer, precisa, necessita, está no
seu momento de aprender; isso pode não ter a ver com o que o pai, o
professor ou o fabricante de brinquedos propõem que ela aprenda.
(MACHADO, 2003, p. 37).
14

Vygotsky (2007) defende que nesse novo plano de pensamento, ação, expressão e
comunicação, novos significados são elaborados, novos papéis sociais e ações sobre o mundo
são desenhados e novas regras e relações entre os objetos e os sujeitos, e desses entre si, são
instituídas.
A brincadeira de faz-de-conta estimula a capacidade de a criança respeitar regras que
valerão não só para a brincadeira, mas também para a vida. Ela também ativa a criatividade,
pois através da escolha dos papéis terá que reproduzir e criar a representação na brincadeira. É
assim que cabos de vassoura tornam-se cavalos e com eles as crianças cavalgam para outros
tempos e lugares; pedaços de pano transformam-se em capas e vestimentas de príncipes e
princesas; pedrinhas em comidinhas; cadeiras em trens; crianças em pais, professores,
motoristas, monstros, super-heróis etc.
O brincar envolve múltiplas aprendizagens. Vygotsky (2007, p. 122), afirma que na
brincadeira “a criança se comporta além do comportamento habitual de sua idade, além de seu
comportamento diário; no brinquedo, é como se ela fosse maior do que ela é na realidade”.
Isso porque a brincadeira, na sua visão, cria uma zona de desenvolvimento proximal,
permitindo que as ações da criança ultrapassem o desenvolvimento já alcançado
(desenvolvimento real), impulsionando-a a conquistar novas possibilidades de compreensão e
de ação sobre o mundo.
Portanto, pode-se concluir que a brincadeira auxilia o desenvolvimento da criança de
forma tão intensa e marcante que a criança leva todo o conhecimento adquirido nesta fase
para o resto de sua vida.

6 O BRINCAR NO ÂMBITO ESCOLAR

Reconhecendo que o ato de brincar exercita as potencialidades das crianças, o


funcionamento do pensamento, a aquisição de conhecimento, o desenvolvimento da
sociabilidade, cabe à escola abrir espaço para ele, valorizando-o e englobando nas atividades
pedagógicas. Assim, de uma forma alegre e divertida, as crianças vão se envolver no sentido
de aprender coisas novas relativas a qualquer área do conhecimento.

Educar significa, portanto propiciar situações de cuidados, brincadeiras e


aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o
desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e de
estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança,
15

e o acesso pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade


social e cultural. (RCNEI, 1998, p. 23)

Desse modo, essa ligação entre o brincar e as atividades desenvolvidas em sala de aula,
favorecerá meios para que a criança estruture sua relação com os conhecimentos, e por outro
lado colaborar para a formação de um ambiente acolhedor, onde as crianças se conheçam e
respeitem umas as outras. Certamente, o brincar no âmbito escolar, pode ser visto como um
meio que dá a oportunidade ao professor de conhecer seus alunos, pois eles revelam parte de
si mesmo quando brincam.
A partir do momento em que o docente passa a ter um entendimento maior sobre seus
alunos, tem maior facilidade para planejar suas aulas, isso porque conhece as necessidades de
cada um, todavia, ele deve se colocar como um transmissor da aprendizagem, isto é, procurar
encaminhar as crianças para que os objetivos didáticos sejam alcançados. Do ponto de vista
de Moyles (Idem 2002, p. 36-37) “parte da tarefa do professor é proporcionar situações do
brincar livre e dirigido que tentem atender às necessidades das crianças e, neste papel o
professor poderia ser chamado de um iniciador e mediador da aprendizagem”.
Com esse propósito, o papel do educador centra-se em buscar meios para proporcionar
novos conhecimentos às crianças e uma forma consiste em propor as atividades lúdicas em
sala de aula.
Em meio a todos esses aspectos levantados, observa-se que as instituições de Educação
Infantil, que procuram envolver o brincar em suas atividades didáticas, proporcionam uma
aprendizagem mais eficaz e prazerosa. Nesse contexto, cabe citar a opinião de Moyles (Apud
JOWET e SILVA 1986, p. 43), que demonstra que, “um ambiente de escola de Educação
Infantil que oferece um brincar desafiador resulta em um maior potencial para futuras
aprendizagens”.
As atividades lúdicas devem sempre ter como propósito, levar às crianças algum
conhecimento, pois são recursos que o professor pode utilizar para alcançar certo grau de
desenvolvimento em seus alunos.

7 ENTRE O DISCURSO E A PRÁTICA


Ao longo de todo o trabalho, procurei levantar pontos importantes sobre a brincadeira.
Utilizei-me do termo brincadeira (de modo geral), conforme Gisela Wajskop em seu livro
16

Brincar na Pré-Escola, que a define como um fato social, espaço privilegiado de interação e
constituição do sujeito.
Procurando respostas aos questionamentos que deram origem a esta pesquisa, foram
realizadas observações realizadas na turma do Infantil V e entrevistas semiestruturadas com
as respectivas professoras, a fim de confrontar a teoria e a prática do brincar na Educação
Infantil.
A instituição escolhida foi à Creche Nossa Senhora de Fátima que fica localizada no
município de Groaíras, a mesma funciona em dois turnos (manhã e tarde) e atende a Educação
Infantil (3 a 5 anos). A instituição possui um total de 04 salas de aula, atende o quantitativo de
cerca de oitenta (80) alunos e a proposta pedagógica da Creche baseia-se na concepção sócio
construtivista.

Figura 1 – Fachada da Creche Nossa Senhora de Fátima

Ao perguntar as professoras o que elas achavam sobre a prática do brincar na escola, foi
possível perceber no discurso de todas a importância que elas dão a essa questão. Mas antes
achamos necessário perguntar se elas frequentaram a Educação Infantil. Duas profissionais
entrevistadas não cursaram. Uma respondeu simplesmente que não cursou. Mas a última
relatou que:
“Infelizmente não cursei e sei o quanto me fez falta, principalmente sobre a
questão do desenvolvimento social. Eu precisava muito me relacionar com
outras crianças, com outras pessoas, pois era muito tímida”. (S. A. 36).

Comparamos o relato anterior com o de uma professora que apresentava a mesma


dificuldade de relacionamento, mas que cursou Educação Infantil. Vejamos:

“Eu comecei a frequentar a escola com 2 anos e meio de idade e sempre fui
muito tímida e fechada. Chorava com frequência e me sentia insegura para
17

me expressar com palavras. Apesar disso sempre me destacava no que


gostava de fazer. A brincadeira era o que mais me marcava na escola, pois
era nesse momento que eu podia fantasiar, falar (mesmo que fazendo uma
personagem), me libertar dos meus medos. As brincadeiras e histórias eram
meus momentos preferidos”. (A.29 anos).

Podemos perceber como o brincar, através da fantasia, proporcionou a pessoa do último


relato, liberdade e confiança para se sentir à vontade e poder se relacionar com outras
crianças. Quando as crianças brincam se sentem livres para ser o que desejam e se libertam de
barreiras que as impedem de serem como são ou como querem ser.
De acordo com Vygotsky (1991), “Ao brincar, a criança age além do seu
comportamento do cotidiano habitual. A brincadeira também propicia à criança a capacidade
de lidar com os limites, a atenção, a concentração e a cooperação e interação com outras
crianças”.
Durante as observações a professora da turma do Infantil V realizou o jogo da
amarelinha para trabalhar a dificuldade na matemática com as crianças.

Figura 2 – Crianças aprendendo matemática através do jogo da amarelinha.

À medida que todos foram brincando, a professora ia lançando perguntas ao grupo e a


maioria das respostas foi respondida com êxito.
Por onde começamos a jogar? Por quê? Qual o maior número da amarelinha? E o
menor? Quantos números têm a amarelinha? Quem sabe onde está o número 5? Que número
está depois do 7 e antes do 4? Saindo dos 10, por quais casas passamos para chegar no 2?
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Quando perguntadas se as crianças são apoiadas e incentivadas a participar das


atividades lúdicas, as profissionais responderam que sim. Mas apontaram algumas
dificuldades que têm se colocado como obstáculo na realização das atividades: 1) competição
com os conteúdos programáticos, pois cada vez mais as crianças chegam à escola com
dificuldades de aprendizagem; 2) medo de perder o controle, já que a indisciplina está tão
presente nas instituições; 3) a falta de olhar a criança como criança e não como aluno e de
reconhecer a brincadeira como um direito dela.
Na fala das professoras, as práticas que limitam o brincar estão relacionadas ao próprio
ritmo que a educação está sujeita. Apesar das observações feitas elas demonstraram, ainda
assim, certo reconhecimento da importância da brincadeira na Educação Infantil.
Para finalizar a entrevista, foi perguntado às professoras se elas acreditam que o brincar
é uma prática importante na Educação Infantil. Todas foram unânimes em dizer que sim, e
uma das repostas resume bem o discurso de todas:

“Acredito que sim, pois é o sistema de educação mais completo que já


conheci onde existem regras de convivência, de sobrevivência, envolve áreas
como cognitivo, linguagem oral, corporal, gestual, hábitos e atitudes,
desenvolvimento psicomotor, o lúdico,... tudo! É essencial para a formação
de qualquer indivíduo. É uma relação de amor deles, com eles, para eles e
por eles, que marcam por toda a vida e colaboram para a construção do ser
adulto”. S.M (21 anos).

Portanto, para as professoras entrevistadas a brincadeira é uma situação privilegiada de


aprendizagem onde o desenvolvimento pode alcançar níveis mais complexos, exatamente pela
possibilidade de interação entre os pares em uma situação imaginária e pela negociação de
regras de convivência e de conteúdos experimentados e aprendidos.
Na creche observada, foi possível perceber a presença das duas práticas: atividade
dirigida e o lúdico. No entanto, a importância dada à primeira, era mais notada. Os
professores devem colocar no planejamento diário as atividades que devem ser realizadas
sempre de acordo com os temas que estão sendo desenvolvidos na aula. Enquanto isso, as
brincadeiras livres, não devem preencher um horário muito extenso no planejamento. Além
disso, ela só deve ocorrer 2 vezes na semana, já que as atividades dirigidas precisam ser
realizadas 3 vezes na semana, dando a sensação de que só elas proporcionam aprendizado.
Outra questão percebida é a situação dos brinquedos. Muitos deles estão sucateados,
pois são de qualidade inferior e ter uma durabilidade menor, ainda mais quando dezenas de
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crianças os manuseiam. O ideal é que sempre fosse oferecido a essas crianças brinquedos
variado e de qualidade, para que a segurança delas jamais fosse colocada em risco e também
isso demonstra pouco caso com o brincar.

Cabe à creche e pré-escola, espaços institucionais diferentes do lar, educar a


criança de 0 a 5 anos e 11 meses com brinquedos de qualidade, substituindo-
os, quando quebram ou não despertam mais o interesse. Para adquirir
brinquedos selecionar aqueles com o selo do INMETRO (Instituto Nacional
de Metrologia) que já foram testados em sua qualidade com critérios
apropriados às crianças. (KISHIMOTO, 2009, p. 2).

A seleção de brinquedos envolve diversos aspectos: ser durável, atraente e adequado,


apropriado a diversos usos, garantir a segurança, ampliar oportunidades para brincar, atender
à diversidade racial, não estimular a violência e incluir diversidade de materiais.
Enfim, é preciso deixar que as crianças brinquem, é preciso aprender com eles a rir, a
inverter a ordem, a representar, a imitar, a sonhar, a imaginar e a criar.

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa realizada sobre “A importância do brincar na Educação Infantil” foi de


grande importância, enriquecendo minha vida acadêmica e meu futuro profissional bem como
de todos os envolvidos na pesquisa.
Nesse trabalho, conseguimos aprofundar nossos conhecimentos sobre o brincar na
Educação Infantil e começamos essa trajetória falando sobre o conceito de infância. Foi
possível perceber que o homem é um ser historicamente social e sociável, que constrói sua
história no decorrer dos anos, a partir da interação com seus semelhantes e com o seu habitat
através do seu fazer histórico.
Muitos são os desafios que a educação precisa ainda enfrentar e um deles é fazer com
que a criança seja reconhecida em toda sua especificidade como sujeito de direitos, cidadã.
Neste sentido, é necessário assegurar à criança condições para o seu desenvolvimento,
não só na lei, mas no plano real onde entre outros, o direito de brincar seja legitimado e
reconhecido assim como o seu tempo e o seu espaço sejam respeitados e promovidos dando a
este, sua devida importância.
A partir do exposto foi possível concluir que os educadores entrevistados detêm pouco
conhecimento sobre o tema, e que precisam desmistificar o papel do “brincar”, que não deve
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ser visto apenas como um mero passatempo, mas sim um objeto de grande valia na
aprendizagem e no desenvolvimento das crianças.
O brincar na creche estudada não é uma prática efetiva devido aos desafios impostos
pela educação, ou seja, pelo sistema de ensino que cada vez exige que as crianças sejam
alfabetizadas precocemente visando somente resultados, em dar título para a escola sem dar a
devida atenção ao desenvolvimento cognitivo, físico, emocional ainda em formação das
crianças como também pela falta de conhecimento dos atores sobre a importância do brincar.
Sendo assim, ela deveria considerar o lúdico como parceiro e utilizá-lo amplamente para atuar
como método, pois é na atividade do brincar que as capacidades das crianças são
desenvolvidas e alfabetizar precocemente significa empurrar a criança para o mundo adulto
para o qual ela não está preparada.
Partindo desse pressuposto, e por acreditar que, nem sempre, as brincadeiras têm feito
parte do currículo escolar, sendo muitas vezes ignoradas no planejamento diário, propõe-se
uma reflexão acerca da utilização da brincadeira em seu aspecto pedagógico nas escolas de
Educação Infantil, tais como: Inclusão da temática para estudo nos planejamentos da creche;
Formação continuada em serviço para professores visando o aprimoramento da prática
pedagógica e consequente melhoria na qualidade do atendimento as crianças de forma lúdica;
Oficina de contação de estórias, jogos e dinâmicas pedagógicas com professores e pais;
Inclusão do direito ao brincar no Projeto Político Pedagógico – PPP, bem como na Proposta
Pedagógica na referida Creche.
Trabalhar os desafios do cotidiano exige cada vez mais práticas reflexivas e críticas em
torno da realidade que nos cerca, pois muitos são os problemas enfrentados pelos professores
da rede municipal, mas, se olharmos apenas para os problemas não iremos buscar soluções, e
estas, é claro, não vem de forma instantânea nem mágica. É necessário, portanto,
contemplarmos as possibilidades, inclusive aquelas que se pode possibilitar, pois só assim
tornaremos a vida uma constante e estimulante brincadeira de aprender a conhecer, conviver e
ser.
Quer brincar comigo?
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REFERÊCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARIÈS, Philippe. História Social da Criança e da Família. 2. ed. Rio de


Janeiro: LTC, 1981.

BORBA, Ângela Meyer. O brincar como um modo de ser e estar no mundo. In: Brasil,
MEC/SEB. Ensino fundamental de nove anos: orientações para a inclusão da criança de seis
anos de idade/ organização Jeanete Beauchamp, Sandra Denise Rangel, Aricélia Ribeiro do
Nascimento _ Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007.

BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Resolução 02/98. Institui Diretrizes Curriculares


para o Ensino Fundamental. Câmara de Educação Básica, Brasília, 1998.

BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei n° 8069, de 13 de julho de 1990.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei n° 9394, de 20 de dezembro


de 1996.

BRASIL. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Volume 1:


Introdução. Brasília, 1998.

GARCIA 2003 apud, GOMES, Jani Célia Santos. Brincar: uma história de ontem e hoje.
Campinas, SP, 2006.

KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Jogos Infantis: O jogo, a criança e a educação. 15ª. ed.
Petrópolis: Ed. Vozes, 2009.

MACHADO, Marina Marcondes. O brinquedo-sucata e a criança. São Paulo: Loyola,


1994. 5ª edição.

MOYLES, Janet R. (cols). Só brincar? O papel do brincar na educação infantil. Porto


Alegre: Artmed, 2002.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

WAJSKOP, Gisela. Brincar na pré-escola. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2007.


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WINNICOTT, D. W. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.


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ANEXO

Questionário para as professoras

1. As crianças têm sido apoiadas e incentivadas a brincar?


2. Em sua opinião, que fatores levam à perda do tempo e do espaço da brincadeira na escola?
3. Por que as práticas voltadas para o ensino cada vez mais limitam a brincadeira?
4. No seu planejamento, você inclui a brincadeira como atividade?

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