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O computador pessoal, bem como os programas de tratamento de U-vio, l Hirante muito tempo, o método comparativo foi considerado pela

omparativo foi considerado pela socio-


de bases de dados e de tratamento da informação (programas de bibliografia, logia como um substituto do método experimental. Nesta linha, a esperança
de contabilidade, de estatística, etc.) podem prestar muitos serviços em ciências 11 n sociologia foi a pesquisa das determinantes e das regularidades do dado
humanas. Assim, os quadros, os gráficos, a análise e a apresentação estatística • MI u roto, isto é histórico (no que parece ter sido substituída pelas ciências
podem ser facilitados pela utilização desta tecnologia. Para o estudante que tenha romportamentalistas), para alcançar uma explicação sociológica (comparar a
recebido uma formação em programação, podem abrir-se outras possibilidades lisura 4.3 com o texto n.Q 2.7). Este método, que pretendia ser também uma
informáticas à pesquisa em ciências humanas. Se Madeleine Lanthier possuísse iivnica de observação, foi descrito por Duverger (1964, pp. 375-399), Grawitz
um computador pessoal, poderia desde já definir os seus próprios directórios e (l l »86, parágrafos 265-269 e 355-359) e Loubet dei Bayle (1986, pp. 180-188).
ficheiros de pesquisa a partir de programas adequados. Por exemplo, poderia
criar uma base de dados bibliográficos comentados de acordo com as suaH
necessidades. Imaginem o valor de um tal banco bibliográfico dentro de 10 anos! CAIXA N.Q 8.1
Importa não esquecer nunca que as «técnicas de observação» e a «observa^.»< *
quantitativa» são utilizadas para efectuar a recolha de dados ou de informações A ENTREVISTA COMO TÉCNICA DE OBSERVAÇÃO
necessárias à solução do problema colocado (e daí a importância dos capítulos E DE RECOLHA DE INFORMAÇÃO
6 e 7 sobre a inferência e a hipótese). Neste domínio, deve fixar-se o facto de
existirem ou não possibilidades de controlar a situação que é objecto da
experimentação. No caso de o experimentador não se encontrar num quadro
estrito de aplicação do esquema experimental (cf. quadro 8.3: «Três caracterfsrk.is
fundamentais de uma pesquisa experimental»), não poderá entregar-se a
manipulações de variáveis a fim de observar os seus efeitos. Contudo, ainda que es
o observador não possa controlar as condições da experimentação, a observação
pode fazer-se nas condições de existência de um mundo real. Por exemplo, é o
caso da localização de um estabelecimento comercial no cruzamento X ou Y.
É possível recolher uma quantidade de informação no meio mais ou menos ime- Dados
a um regresso junto
diato, a fim de escolher a melhor localização de um estabelecimento comercial. do entrevistado
A decisão será tomada em função das condições reais da situação observada.
Por outro lado, uma pesquisa pode visar a descoberta das condições mais
favoráveis ou «ideais» para a melhoria dos meios de produtividade de uma
determinada empresa industrial. Nesse caso, o controlo, a manipulação e a obser-
vação de certas variáveis são possíveis numa certa medida. A decisão será
tomada em função dos resultados observados depois da experiência, ou seja na
sequência da aplicação das condições ideais previamente determinadas para
realizar a experimentação. Nesta linha, as técnicas de avaliação de situações
(incluindo a tomada de decisão) constituem uma variedade ou uma especiali- Fonte: W. C. Schluter, How to Do Itesearch Work, A Manual cf Research Procedure Presenting a Simple Explanation cf the Principie
zação das técnicas gerais de observação (cf. quadro 8.5). Underlyíng Research Methods, Nova Iorque, Prentice-HalI, 1929, p. 82.
No caso da exploração da técnica do questionário de entrevista (cf. quadro
8.2), o investigador deve tomar em consideração dois factores importantes: A diversidade das técnicas de observação coloca o problema dos modos
l.fi a sua própria personalidade, isto é as suas qualidades de tacto, de cortesia de exploração de tipo quantitativo e qualitativo. Aktouf (1987) distinguiu
e de civilidade; 2.Q a personalidade do entrevistado, ou seja a sua capacidade entre o modelo «clássico» (de tipo mais estatístico/quantitativo) e um
de reagir à personalidade do entrevistador12. Schluter (1929, p. 82) ilustrou modelo «mais humanista» (de tipo qualitativo). A segunda parte da sua obra
de uma maneira eloquente as relações que se estabelecem entre o entrevista- intitula-se «Vers un modele plus humaniste dans 1'approche qualitative?».
dor e o entrevistado no quadro das técnicas vivas de observação em indi- Ary e col. (1979, cap. 10 e 11), por seu lado, tentaram estabelecer urna ponte
víduos. Reproduzimos no texto em quadro n.c 8.1 o gráfico que nos propõe. entre estes dois modos de abordagem, descrevendo as técnicas descritivas
de pesquisa (ex post facto, estudos de caso, survey, etc.) e atribuindo um lugar
12 Aprende-se muito sobre esta questão do processo de comunicação em David K. Berlo, The particular à abordagem histórica. Porém, no conjunto, esses autores perma-
Process cf Communication (Toronto, Holt, Ririehart and Winston, 1960, vii * 318 pp.). Consultar
o interessante artigo de Edgar Morin em Sociologie (Paris, Fayard, 1984): «III. L'interview necem fiéis à abordagem estatística da resolução de problemas. Howard
dans lês sciences sociales et à Ia rádio-télévision», pp. 181-197. (1985) inscreve-se na mesma corrente quantitativa, embora apresente um

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capítulo sobre a metodologia qualitativa (cap. 14) e outro sobre o proMcm.i
das pesquisas que têm por objecto um sujeito humano (cap. 16: «Qn Studying TENDÊNCIAS
Quib lê Solei/, domingo, 28 de JanolrodoJ9VO
Hurnans»). Além disso, consagra o Appendice D ao problema do método nas
outras ciências sociais por comparação com a psicologia. Quanto a Grawitz Um em cada dois adultos possui
(1986, parágrafos 279-281 e 293-299), levanta a questão sob o ângulo da um fundo de pensão no trabalho
utilidade e da complementaridade dos dois tipos de pesquisa. Formula duas Um pouco mais do que um em cada doi>
Tem um fundo
questões: Será que a quantificação «acrescenta qualquer coisa, se for adaptada de pensão no
adubt que habitam na cidade do
Quebeque possui um fundo de pensão no

ao que se investiga e se não tivermos de pagar muito por ela» (parágrafo 294)? seu trabalho? Irabalho, mu 72,3% desses Irabalhodoras
acham que esse investimento nSo lhes
Será que a escolha da abordagem não deve ser avaliada segundo a validade proporcionará um rendimento suficiente

da sua aplicação a este ou àquele fenómeno, nesta ou naquela circunstância NÃO


na altura da reforma.
Este sentimento é sobretudo expresso por
(parágrafo 298)? Para o mundo da educação, Elliot W. Eisner (1985) estabeleceu 43,7% pessoal com idades compreendidas entre
os 18 e os 34 anos. Oito em cada dez
uma técnica de «crítica educativa» baseada em cinco funções da avaliação12bu l Acha que esse Não sobem 4,6% frabalhadorei pertencentes a eito faixa

considerada sob o modo da observação qualitativa. Digamos, de passagem, FUNDO DE PENSÃO etária e possuindo um Fundo de pensão
fundo de pensão
colectiva acham que o rendimento gerado
que esta técnica se aplica igualmente a outros domínios das ciências humanas. Esta sondagem foi realizada na região metropolitana lhe fornecerá um por este investimento será insuficiente no
do Quebeque para l» Sofeíl pelo Inifítut québecoi)
Eisner não rejeita os métodos quantitativos, mas reconhece a existência de um de 1'opinion publique de 12 a U de Dezembro
rendimento suficiente momento da reforma. Porá as pessoas
com idades compreendidas entre o» 35
na altura da sua
lugar certo para as abordagens qualitativas válidas de observação. As subti- do 193°. 450 pessoas com 18 anos de idade ou maii
responderam oo questionano telefónico que abordava l retorma?
e os 54 anos, constala-se que 70,6%

lezas que fornece nos capítulos 10 e 11 da sua obra têm um enorme valor dinerentes temas reiocionodos com inabitas de vido*
sofrem do mesmo receio.

metodológico relativamente a esta questão tão acerbamente discutida entre as


Acha que o seu nível de
ciências e as ciências humanas13. vida diminuirá muito,
pouco ou nada depois da
sua reforma?

C - APRESENTAÇÃO DE UM INQUÉRITO
Tendo em conta a diversidade das técnicas de exploração, detenhamo-nos Figura 8.1 - Unto sondagem 0*0 IQOP (Dezembro de 1989f*
numa situação de pesquisa que se apresenta com muita frequência em
ciências humanas, desde os primeiros trabalhos de sondagem de George Nota: Cada vez mais os inquéritos de opinião assumem o aspecto de uma sondagem global.
Gallup sobre a opinião pública. Este tipo de sondagem procede de wn questionário diversificado sobre vários temas aos
quais se ligam determinadas questões a fim de captar as tendências da opinião pública.
Para iniciar Madeleine Lanthier nas técnicas científicas de exploração, A entrevista pode durar entre 20 a 30 minutos. A sondagem do IQOP incidia sobre diversos
decidimos apresentar uma sondagem efectuada pelo IQOP para o jornal Lê temas, como finanças pessoais, tempos livres e passatempos, a conservação da energia, a
Solai do Quebeque. Os resultados são dados na figura 8.1. estética, os [REER], os cartões de crédito, a construção do Coliseu no Quebeque, etc.

1. UM EXEMPLO DE QUESTIONÁRIO Primeira questão:


«Tem um fundo de pensão no seu trabalho?»
Madeleine Lanthier lê atentamente os resultados desta sondagem. Repara
nos principais elementos da metodologia; observa os diversos tipos de Segunda questão:
gráficos que ilustram as três questões da sondagem; dá uma vista de olhos
às conclusões respeitantes aos «hábitos de vida» dos quebequenses da região «Acha que esse fundo de pensão lhe fornecerá um rendimento suficiente
metropolitana do Quebeque; a seguir, interroga-se sobre a metodologia dos na altura da sua reforma?»
inquéritos de opinião. Para começar a sua análise, detém-se nos enunciados
das três questões contidas no questionário. Terceira questão:
«Acha que o seu nível de vida diminuirá muito, pouco ou nacii
12bis l.Q de diagnóstico; 2.° de revisão; 3.° de comparação; 4.fi de antecipação de necessidades; da sua reforma?»
5.° de conformidade com os objectivos.
13 Ver cap. 10: «The Functions and Forms of Evaluation», e cap. 11: «The Fornis and Functíons
of Educational Connoisseurship and Educational Criticism». 14 Ver «Un adulte sur deux détient un fonds de pension à son travail», Lê Soleil, < l i m m .
de Janeiro de 1990, p. B3.

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Madeleine nota que a primeira questão diz respeito a uma situação do da lista telefónica da região do Quebeque. Neste caso, corresponde à unidade
facto; as outras duas referem-se a percepções (opiniões ou crenças) qu.mio <U> análise ou a qualquer ambiente do território com a extensão da aglome-
à eventualidade de um acontecimento. Esta diferença é importante; exijx, ração metropolitana do Quebeque. Nesta ordem de ideias, o «retrato socio-
além disso uma escolha mais variada de respostas. Madeleine tamhrm económico» já foi estabelecido para uma parte das municipalidades pela
repara na escolha das respostas sugeridas. Para a primeira questão, a res- Communauté urbaine de Québec17. Esta soma de informações sobre a
posta do entrevistado é um sim ou um não. No caso da segunda resposi.i, população-alvo pode ser completada agora com outro estudo mais recente,
acrescenta—se uma terceira opção, do tipo: «Não sabem». Quanto à última Québec, publicado na Série d'Atlas métropolitains (Statistique Canada)18.
questão, a escolha das respostas exprime-se em quatro categorias, a saber;
«muito», «pouco», «nada» e «já reformados» (ou seja, em linguagem esta-
tística, variáveis categóricas de tipo ordinal). No espírito de quem reali/a QUADRO 8.6
a sondagem, as três questões referem-se a uma dimensão do questio-
nário geral consagrado aos «hábitos de vida» das pessoas da região do Uma base de sondagem
Quebeque.
SUMÁRIO DOS RESULTADOS ADMINISTRATIVOS

Amostra Amostra não Amostra Entrevistas Entrevistas Taxa de Margem


2. UM EFECTIVO DE AMOSTRAGEM inicial admissível efectiva incompletas completas resposta de erro
(OU BASE DE SONDAGEM) (A) (B) (A-B) (C) C/CA-B) (a 95%).
980 224 756 306 450 59,5% ± 4,6%
A fim de fazer uma ideia sobre «os hábitos de vida», os investigadores
escolheram, entre outros, um indicador15 respeitante à aquisição de fundos de
pensão por adultos na região de Quebeque. Para poder verificar esse indi-
cador, os investigadores estabeleceram uma base de sondagem. Foi sobre esta CAIXA N.2 8.2
amostra que as informações pertinentes foram posteriormente coligidas.
Antes de avançarmos, é bom saber como a sondagem foi efectuada. O «sumá- POPULAÇÃO - ALGUMAS DEFINIÇÕES
rio dos resultados administrativos» comunicado pelo IQOP ao jornal Lê Soleil AKTOUF: «Designa-se por «população» o conjunto indiferenciado de elementos entre
é o seguinte (cf. quadro 8.6)16- os quais serão escolhidos aqueles sobre quem se efectuarão as observações. É o que
A partir da amostra inicial de 980 pessoas, os investigadores conservaram se designa igualmente por população-alvo.» (1987, p. 72)
450 entrevistas completas (coL O, ou seja, uma taxa de resposta de 59,5 por COCHRAN: «A palavra população é utilizada para indicar o agregado a partir do
cento (450/756). Foram essas pessoas que serviram de base de sondagem qual é escolhida a amostra.» (1977, p. 5) [Ver figura 8.2.]
neste inquérito de opinião. O apuramento dos resultados forneceu as infor- DESMAIES: Este conceito designa um conjunto de indivíduos ou de unidades
mações tratadas na figura 8.1 (ver a distribuição relativa das respostas). elementares a partir do qual se pode retirar uma amostra. Por exemplo: grãos de
semente, automóveis, passageiros, ciclistas, alunos, profissões, genes, pregos, eleitores,
heróis, ampolas, células, etc.
REDON: «O termo «população» designa um conjunto cujos elementos são escolhidos
3. A POPULAÇÃO (POPULAÇÃO-ALVO porque possuem todos uma mesma propriedade e têm uma mesma natureza. [,..] Por
OU UNIDADE DE ANÁLISE) analogia, cada um dos constituintes de uma população será chamado um indivíduo.»
(/n Grawitz, 1986, parágrafo 911bis, p. 1006.)
VESSEREAU: «O termo população aplica-se ao conjunto das observações feitas
Relativamente a esta amostra, a população-alvo (target population)
sobre diferentes unidades de um grupo de pessoas, objectos ou mesmo conceitos mais
representa o meio englobanté- No caso da presente sondagem, a população ou menos abstractos, estando o próprio grupo definido por condições bem precisas.»
abrange todas as pessoas com 18 ou mais anos de idade da região metro- (1986, p. 8)
politana do Quebeque. Concretamente, compõe-se dos indivíduos constantes

15 Um indicador é um instrumento que permite um objecto (no caso concreto, «os hábitos de 17 Service de promotion industrielle (C.U.Q.), Portrait socio-économique de Ia Communauté urbaine
vida»). Trata-se de uma tradução concreta de um elemento (por exemplo, os fundos de pen- de Québec. Dados dos censos de 1971,1976,1981. Carnets de Ia CUQ, n.Q l (Quebeque, CUQ,
são) da conceptualização geral de uma qualquer categoria (por exemplo, «os hábitos de vida»). 1986), 78 pp.
Sobre a noção de indicador, ver André Blais in Gauthier, dir., Recherche sociale (1990), cap. 7. 18 In Recensement Canada 1986 (Ottawa, Ministère dês Approvisionnements et Services Canada,
16 No relatório IQOP/Le Soleíl, «Lês habitudes de vie», Dezembro de 1989, p. 3. 1989, 86 pp., n.Q de catálogo 98-103).

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rir,? As perguntas devem ser abertas ou fechadas? Qual o objecto geral que
4. A ENTREVISTA TELEFÓNICA i K» vê orientar as perguntas? Sobre que temas (ou factores) se devem
ivagrupar as perguntas? Que método usar para reagrupar os dados? Etc. São
As estatísticas que aparecem na figura 8.1 devem corresponder a uma certa » H u-stões que exigem uma atitude rigorosa e que supõem bons conhecimentos
ideia de exploração, uma vez que, como diz Aktouf, «sem hipóteses [...] sem nobre as técnicas de observação quantitativa (cf. quadro 8.7).
objectivos [...], não é possível [...] ter uma ideia exacta do tipo de observações
que se deve efectuar para recolher os dados necessários» (1987, p. 71). A pre-
sente sondagem tem por finalidade o retrato dos «hábitos de vida» das pessoas I. A OBSERVAÇÃO QUANTITATIVA
da região metropolitana do Quebeque. Para esse efeito, o IQOP utilizou a Ao analisar esta sondagem, Madeleine Lanthier não tarda a dar conta de
técnica do questionário por meio da entrevista telefónica. Esta exploração ilustra que deve compreender bem as técnicas de observação quantitativa. O quadro
um método de trabalho que permite obter, por um lado, dados e informações 8.7 apresenta de uma maneira sinóptica e sinalética a variedade de tipos de
sobre uma questão previamente encarada e, por outro, favorece a compreensão possibilidades no domínio da observação quantitativa. Cada tipo é acom-
de uma situação num dado momento, definido no tempo e no espaço. (O tem- panhado por uma descrição sumária e referências precisas a uma bibliografia
po: de 12 a 14 de Dezembro de 1989; o espaço: a região do Quebeque; a numerada, imediatamente a seguir ao quadro. Se Madeleine consultar as
população: todas as pessoas com 18 ou mais anos de idade; amostra: 450 referências na coluna da direita, poderá obter informações mais porme-
pessoas que responderam integralmente à entrevista telefónica.) norizadas sobre cada tipo de observação quantitativa segundo dois grandes
métodos de sondagem: uma chamada por «quotas» ou ao acaso e outra
probabilista ou aleatória no sentido da teoria das probabilidades. A maior
5. PRINCIPAIS CONDIÇÕES DA TÉCNICA DE SONDAGEM parte dos manuais de estatística tratam desses dois métodos.
Esta ilustração de um inquérito sociológico numa colectividade mostra que
a técnica de sondagem obriga: 1.° no plano estatístico, a definir uma população, QUADRO 8.7
a seleccionar uma amostra e a garantir a sua representatividade (cf. figura A observação quantitativa
8.2); 2.s no plano do conteúdo, a determinar o objecto da observação a medir,
os indicadores susceptíveis de caracterizar esse objecto e o número e tipo de A OBSERVAÇÃO QUANTITATIVA20
questões a formular; 3.Q no plano dos meios, a formular questões precisas e «À pergunta "Qual é a melhor técnica?", a única resposta que se pode dar é:
"Depende!"» Q.-P. Beaud m Gauthier, Recherche sociale, 1990, p. 197.)
claras, a determinar o tipo de respostas apropriadas e a escolher a forma de
entrevista mais adaptada às circunstâncias (cf. quadro 8.2). Deste exemplo REFERÊNCIAS
TIPO DESCRIÇÃO SUMÁRIA
concreto, passemos à variedade de técnicas de sondagem.
A. Ou ao acaso (que não é neces- A. 4:177-82; 5:§ 502,
A. - Não
piobabilista sariamente aleatória); ou empírica, 515-17bis; 7:15-16.
D - A VARIEDADE DAS TÉCNICAS quer dizer a partir de uma adequa-
ção entre a amostra e a população
DE SONDAGEM segundo determinados critérios.
A questão que Madeleine Lanthier coloca a si própria há muito tempo é 20 Ou a metodologia quantitativa clássica. Consultar: François Béland, «La mesure dês attitudes», in
a seguinte: que é necessário fazer para chegar finalmente à figura 8.1? Poderia Benoit Gauthier, dir., Recherche sociale, Montreal, PUQ, 1990, cap. 15, parágrafo 3.1: «La théorie
responder simplesmente: «Interrogar as pessoas19!» Ora é justamente esse o classique de Ia mesure» (pp. 373-385); Albert Jacquard, Au péril àe Ia science? Inierrogations â'im
problema. Que meio escolher? Nesse meio seleccionado, quem interrogar? génétiáen, Paris, Seuil, 1982, 220 pp., cap. 2: «Lês pièges du nombre»; Irving Lorge, «The
Que método de amostragem utilizar? Como garantir a representatividade da fundamental nature of measurement», in E. F. Lindquist, dir., Educational Measurement, Washington,
American Council on Education, 1963, pp. 533-559; S. S. Stevens, «On the Theory of Scales of
amostra? Que técnica de sondagem se deve seguir ou adoptar? Entrevista Measurement», Science, 7 de Junho de 1946, vol. 103, n.Q 2684, pp. 677-680; Paul D. Leedy, Practical
na rua? Questionário escrito? Análise da página de leitores dos jornais? Etc. Research, Planning and Design, 4.a ed., Nova Iorque, Macmillan, 1989, cap. 2, 8 e 9. Numerosos
Dever-se-á considerar a idade, o sexo, o rendimento, o local de habitação, exemplos «de observação quantitativa» resumidos sob a forma de fichas sinaléticas pelo Conseil
québécois de Ia Recherche sociale, em Répértoire thêtnatique dês rapports finais de recherche et dês
subuentions 1982-1989 (Quebeque, Mínistère de Ia Santé et dês Services sociaux, 1987-1990,4 voL).
19 Madeleine Grawitz estabelece neste ponto uma distinção judiciosa. «Sondagem», escreve Do ponto de vista da medida e da estatística, a história das pesquisas sobre a velocidade da luz
ela, «não significa entrevista. Existem entrevistas que não precedem qualquer sondagem é interessante. Mostra a que ponto a ciência atinge o conhecimento por aproximações imperfeitas
(entrevista numa vila) e sondagens que não necessitam de qualquer entrevista (sondagem e sucessivas. É notável que as exigências de medida sejam tão importantes como as necessidades
por documentos).» Acrescenta a seguir em nota de rodapé: «Confusão frequente no espírito de instrumentos de medida (tf. Kooprnans, 1981, pp. 221-222 e 238-240).
dos estudantes.» (1979, § SITbis, p. 581).

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1. Acidental 1. Ou ao acaso na acepção comum 4:183-85;6:52-53.
por oposição ao acaso probabilis- |IM>H utili/ando uma tabela de
ta, ou ainda «à sorte», sem mui- selecção preestabelecida; será
to método e rigor. Ex.: Interrogar probabilista ou não probabilista?
consumidores à saída de um su- a questão mantém-se em aberto.
permercado.
l. - Probabilista B. Ou aleatória (tiragem à sorte), ou B. 4:332-33; 5:§ 499-
2. Emparelhada 2. Ou de comparação entre duas 2. 1:80; 2:225-270; ;\; 4:141-4' método da lotaria (ou randomiza- -501. 506ss; 7:13-16.
amostras constituídas por ele- tiori); diz respeito ao cálculo e às
mentos idênticos; convém a um 328-29, 861-64; 6:56- distribuições de probabilidade.
«esquema experimental» (experi- -60. M) Aleatória simples
mental design). 10. Verdadeira tiragem à sorte; cada 10. 2:131-33; 4:190-92,
unidade da população tem uma 332-33; 5:§ 506; 7:13-
3. Com escolha racio- 3. Ou a priori ou típica (ou juâge- probabilidade, não nula, de per-
nal (cf. A.-8) 3. 4:186-88 e 195; 5:§ -16.
mental sample), ou um subgrupo 812-15, 21, 828-45; 7; tencer à amostra.
da população como tipo ideal, 26-35. 11. Com vários graus
ou ainda, do género bola de neve 11. Tanto para a amostra por aglo- 11. 1:81; 3:179-80; 4:
(cf. B.-16 e B.-19) merados como para a amostra 194-95; 5:§ 509; 7:21.
(com um sistema de relações co-
estratificada; a uma primeira
muns: negócios, o sindicato, etc),
ou seja, sondagens contextuais. triagem probabilista ou não, se-
gue-se uma segunda, uma ter-
4. Com grupo de con- 4. Convém a um «esquema experi- ceira ou ainda outros graus de
trolo 4.1:80; 2:249-55; 3:356-
mental», uma vez que existem -60, 369-73; 4:141-45; triagem, mas de tipo probabi-
dois tipos estratégicos: um gru- lista sobre as quais incidirão
5:§ 275-78,328-29,861- finalmente as análises.
po experimental e um grupo de -64; 6:40-47, 56-60.
controlo (cf. quadro 8.3). 12. Com várias fases 12. Quer dizer, a combinação de vá- 12. 3:179-80; 4:1-95;
5. Com voluntários 5. Cf. os «relatórios» Kinsey (sobre rias sondagens; l.â fase: uma gran- 5:§ 512.
5. 1:91-93; 2:174; 3: de amostra; 2.a fase: uma amostra
a sexualidade masculina - 1948), 250-255; 4:185-86; 5:§
Hite (sobre a sexualidade feminina mais pequena que é objecto de
633-36; 6:19-21. um inquérito aprofundado.
- 1976), Stud Terékel (sobre a sa-
tisfação no trabalho - 1972); apro- 13. Areolar (cf. B.-16) 13. Ou por área geográfica ou topo- 13. 3:178; 4:194; 5:§
xima-se da amostra «acidental». gráfica (área sampling)-, um caso 508; 7:22.
6. Com «painel» 6. O grupo observado é constante particular do método de amostra-
6. 1:81; 3:258-60; 4- gem por aglomerados (cf, B.-16).
(utilizado pelas agências de mar- 333-35; 5:§ 805-11.
keting). 14. Com amostra-mes- 14. Quer dizer uma amostra adequa- 14. 1:81; 3:183-85; 5:§
7. Experimental tre da retirada numa amostra muito 513; 7:33-35.
7. Supõe as condições de controlo, 7. 1:80; 2:237-59; 3: mais ampla que serve de base de
de manipulação, de observação 369-73; 4:145-47; 5:§ sondagem e que permite realizar
e de repetição da experiência; 00 ° nri "'"
328-29, " 6:40-
861-64; inquéritos específicos (técnicas
torna mais estanques os meios 47, 56-60.
de verificação. dos institutos de sondagem).
8. Por quotas (cf. A.- 15. Itinerários 15. Para designar, por exemplo, amos- 15. 5:§ 505.
8. Quer dizer segundo os estratos 8. 1:81; 3:172-76; 4: tras de lares ou de fogos; de-
-3 e B.-ll) na esperança de obter a repro- 188-90; 5:§ 502-04; 6: pende amplamente do plano de
dução mais fiel da população a 53-54; 7:14-15. sondagem.
estudar; as condições da amostra
são previamente estabelecidas 16. Por aglomerados 16. Quer dizer, em conjuntos de uni- 16. 180-81; 2:134; 4:
segundo certos critérios (idade, (cf. B.-ll) dades vizinhas, pela sua proxi- 194-95; 5:§ 510.
sexo, etc.). midade física ou geográfica; as
9. Sistemática unidades de cada área são sub-
9. Ou público-alvo; escolha de in- 9. 1:80-81; 4:186, 193- metidas ao questionário; ausência
divíduos tomados a intervalos 94; 5:§ 507-08; 7:20-22. de repertório sobre as unidades
elementares (ou cluster samplè).

324
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- de apreciação l ) Kr:,|>i-il.iii|i- |niiHip,ilinrnl«- .1 .111,1
17. Por repertórios 17. Ou anuários, listas, ficheiros, 17. 3:177-78. lisr til- uma única categoria de com-
etc.; o repertório da população portamentos (observação de grupos).
pode ser ou não numerado.
1. A escala de Guetz- 1. Retém cinco tipos de compor- 1. 5:§ 834.
18. Estratificada (cf. 18. Ou estratos ou subpopulações, 18. 2:133; 3:180-83; 4: kow tamentos relativos aos traços re-
B.-ll) quer dizer, em categorias a prio- 196-97; 7:20-21. veladores do egocentrismo, que
ri, ou seja o elemento não pro- classifica de O a 10.
babilista; determinar, escolher e
combinar os estratos. 2. A escala de Heyns 2. Incide sobre vários tipos de com- 2. 5:§ 834.
portamentos possíveis dos mem-
19. Sistemática 19. Cf. A.-9, desde que se faça sobre 19. 2:134-35; 4:193-94; bros de um grupo.
as bases da sondagem aleatória 7:21.
(cf B. - Probabilista e C.-2). 3. O sistema de Bales 3. Estuda o processo de resolução 3. 5:§ 837.
de problemas num grupo.
C. - Dois métodos de C. A amostra pode ser ou não pro- C. Todas as referên-
sondagem babilista. cias (+ manuais de E. - Os testes E. De rendimento, de inteligência, E. 2:179-82; 3:267-77;
estatística). projectivos, de habilidade, de apti- 5:§ 726-66.
1. Quotas 1. Ou empírica ou de bom senso, 1. 3:267; 5:§ 502-04; dão, de comportamento, de perso-
ou de modelo reduzido 6:53-54. nalidade, etc.; em número consi-
(cf. A. - Não probabilista) derável e de todos os tipos.
2. Probabilista 2. Ou aleatória ou leis dos grandes 2. 3:176-85; 5:§ 506-
1. Teste de Binet-Si- 1. Ou escala métrica respeitante ao 1. 2:32-33; 3:269; 5:§
números, ou ao acaso 07; 6:54-56; 7:14-16.
mon atraso pedagógico. 730.
(cf B. - Probabilista)
2. Teste de Rorschach 2. De tipo projectivo, quer dizer, 2. 2:185; 3:271-72; 5:§
D. - As escalas D. Por exemplo, em geografia a D. 2:186-90; 3:277-85; para o diagnóstico de pessoas 755.
escala de Richter, a escala de Beau- 4:359-87; 5:§ 775-804. que sofram de distúrbios emo-
- de atitudes fort, etc.; numerosas escalas em cionais.
ciências humanas.
3. Teste Guilford Mar- 3. Teste de perfil de temperamento. 3. 5:§ 754.
1. A escala de Gutt- 1. «Método da análise hierárquica» 1. 2:188-89; 3:289-97; tin
man ou «escalograma» (cumuhtive tech- 4:368-70; 5:§ 797.
nique); visa circunscrever uma di- 4. O método de Car- 4. Conjunto de testes apropriados 4. 5:§ 750-51.
mensão precisa das atitudes sobre rard ao estudo das aptidões (sobre-
um qualquer tema (por exemplo, tudo reveladores do comporta-
o militantismo político). mento).
2. A escala de Likert 2. «Método das classificações adi- 2. 2:186-87; 3:288-89; E - As análises de F. Ou método sistemático (e quan- F. 1:117-27; 3:148-71;
cionadas» (method qf summated 4:367-68; 5:§ 795-96, conteúdo titativo) de análise do conteúdo das 4:295-315; 5:§ 58-9bis-
ratings); sobre o grau de acordo comunicações. -632; 6:222-23.
ou de desacordo.
3. A escala de Thurs- 3. «Escala de intervalos iguais» (me- 3. 2:187-88; 3:286-88; G. - O questionário G. Ou instrumento geral de medida G. a) o instrumento:
tone thod qf equal-appearing intervale); 4:366-67; 5:§ 793-94. para uma observação directa extensiva 1:97-106; 2:173-79; 3:
sobre o grau das atitudes favo- por oposição à observação directa inten- 199-233; 4:340-51; 5:§
ráveis (por exemplo, a guerra), siva (entrevistas, testes, escalas de 672-725.
atitudes, observação-participação).
4. A análise das va- 4. Escalas de diferenciador semân- 4. 2:189-90; 4:370-71; b) a medida : 1:63-69;
riáveis latentes tico (Semantic differential scales); 5:§ 798. 2:196-221 e 238-46; 4:
sobre as atitudes e os comporta- NB - Esta técnica de observação quan- 168-70 e 373-83; 5:§
titativa aplicada às ciências humanas 714-25; 6:25-30, 98-115
mentos perante um objecto, um coloca a questão espinhosa da validade
sujeito ou acontecimento. e 148-63.
e da fidelidade ou fiabilidade (ou vali-
5. A escala de Bogar- 5. «Escala de distância social» (de 5- 3:284-85; 5:§875. dity e reliability) do instrumento.
dus tipo ordinal).

327
326
BIBLIOGRAFIA NUMliRADA:
nos mesmas águas? ( onímlo, .il^um conhecimento é possível. Ter um espirito
fino em vez de um espírito geométrico não exclui nem o rigor nem os preceitos
1. AKTOUF (1987)
2. ARY (1979)
5. GRAWTTZ (1979/1986) <ie controlo e de verificação do procedimento científico (Barzun e Graff, 1985,
6. HOWARD (1985)
3. DUVERGER (1964) 7. LÉVY (1979)
cap. 5). Se acreditarmos, como Pascal (texto n.° 2.2), que nenhum desses
4. GAUTHIER (1990) rtipfritos é mais profundo ou mais brilhante do que o outro, mas que, em vez
disso, são dois modos diferentes de apreensão da realidade, deixamos de ter
NOTAS: escrúpulos em colocar em pé de igualdade esses dois tipos de conhecimento.
1 As referências da coluna 3 dizem respeito a cada um dos autores da bibliografia numerada
Assim, 1:80 designa Aktouf (1987), página 80. Contudo, para Grawitz (1979/86), indicamos
os números dos parágrafos da seguinte forma: parágrafo 372 em vez das páginas, porque O vocabulário respeitante à observação quantitativa nas ciências sociais
esses números valem tanto para a edição de 1979 como para a 7.a edição de 1986. e na investigação social não está completamente estabelecido. A linguagem
2 A descrição bibliográfica completa de cada referência encontra-se na bibliografia no fim do ó muitas vezes fluida. Os tipos de amostragem sobrepõem-se ou, por vezes,
capítulo. Se uma ou outra dessas obras não está disponível, o «tipo» das diversas técnicas tomam-se distintos mantendo a mesma designação. Ê o caso da observação
de observação quantitativa pode então servir de pista para a consulta de outros manuais quantitativa de tipo sistemático classificada simultaneamente na categoria não
de metodologia. Esta terminologia está suficientemente generalizada hoje em dia mas im-
porta prestar atenção a uma certa evolução semântica da linguagem respeitante a estas probabilista e na categoria probabilista. Também é possível constatar que a
diversas técnicas de medida. observação do tipo por quotas é por vezes chamada escolha racional na
3 A escolha do tipo de observação quantitativa pode exigir a utilização, com maior ou menor categoria não probabilista. Contudo, trata-se sistematicamente de dois tipos
competência, dos conhecimentos estatísticos. Para os métodos quantitativos aplicados às de amostragem: 1.° o método de quotas; 2.Q o método probabilista. Importa
ciências humanas, a obra de Jean-H. Guay (1991) poderá ter utilidade
assinalar que os especialistas em sondagens são muito imaginativos. Não
hesitam, nos seus trabalhos, em combinar diversos tipos de observação quan-
titativa a fim de atingir correlações significativas. Tudo isto para dizer que
COMENTÁRIOS SOBRE A OBSERVAÇÃO Madeleine Lanthier deve ter consciência das armadilhas numa tal orientação
QUANTITATIVA de pesquisa. Deve definir bem, desde início, a técnica de observação quan-
titativa que pretende utilizar para realizar a sua exploração. (Isso supõe as
etapas da inferência sistemática de que se falou nos textos n.08 5.2, 6.5 e 7.2 e
A observação quantitativa opõe-se à observação corrente (ou observação
passiva) no sentido em que o seu objectivo é verificar, com a ajuda de também nas figuras 4.4, 5.2, 5.3, 6.2 e 7.1.)
métodos de medida e de instrumentos de medida, as suposições formuladas O engenho dos investigadores é abundantemente ilustrado nos tratados
sobre a natureza de um objecto de conhecimento numa dada situação. Por de metodologia das ciências humanas21. É mesmo impossível, como men-
essa via, o investigador tenta efectuar observações sem recorrer neces- cionámos desde o capítulo 3, estabelecer o inventário dos métodos, dos proce-
sariamente à experimentação (observação activa ou experimentação provo- dimentos, das técnicas e de tudo o que o espírito fecundo dos investigadores
cada). Contudo, recorre-se à experimentação em ciências humanas quando cria para resolver os problemas para os quais pretendem encontrar uma
isso é possível (por exemplo no caso das experiências de laboratório em resposta ou fornecer uma explicação satisfatória, a ponto de «hoje em dia,
psicologia humana). ninguém ser capaz de dominar inteiramente, sozinho, a aparelhagem da
Todavia, são os imensos problemas éticos e também o respeito pelos pesquisa em ciências sociais» (Gauthier, 1990, p. 14).
sujeitos da observação (para não falar da opinião pública) que travam a Os numerosos tipos de observação quantitativa fornecem possibilidades
experimentação «estrita» nas ciências humanas (4:203-221; 6:45-47 e 225-235) muito grandes de pesquisa. Apoiam-se em técnicas de sondagem mais ou menos
Recordemo-nos de O Príncipe de Maquiavel: no entanto, não se tratava de complexas. Porém, no essencial, como escreve Michel Lévy, a sondagem consiste
experimentação! «em estimar a proporção de uma população dotada de um certo carácter (possuir
É possível afirmar que a imensa maioria das pesquisas em ciências um automóvel, ter um certo rendimento, preferir um partido político, etc.),
humanas não pode ser realizada integralmente segundo os procedimentos medindo essa proporção numa parte da população, chamada amostra» (1979,
científicos do esquema experimental. Dito isto, a inferência sistemática pode p. 14), É o sentido que assume o quadro 8.8 que incide sobre a «classificação
colmatar essa lacuna. Nesta linha, consideremos o texto n.Q 7.3 sobre a crise das variáveis». Este quadro ilustra um certo número de conceitos relativos à
cubana em 1962 e interroguemo-nos sobre a possibilidade de estudar essa estatística. Fundamentalmente, não é diferente, enquanto tal, do incluído no texto
«crise» do ponto de vista experimental. Como avaliar experimentalmente a
noção de «crise» em história? Será mensurável? Será passível de verificação? 21 Ver a secção E da bibliografia deste capítulo: «Tabela de referência para certos métodos em
De comparação? De reconstituição? Será possível banharmo-nos duas vezes ciências humanas».

325 329
n.u 6.3, para o qual Madeleine Lanthier criou dois quadros pessoais sobre «as l- ' l . t V U l l l .11,.H» !.rf.Nll'l" • .11.K h - M - h - .1 . -.'l.. , IKI1.I.I.I-. riu iii.liviillln:. M.l | > ( > l > 1 l l . K , . I M ..M 11.1 .HUO'.lt,1. | H H l r -,rl

comunidades linguísticas no Quebeque, em 1986» (cap. 6, pp. 181-182). Todos vista sob dois ângulos: A. - Segundo dolt critérios; B. - Segundo o uso (cf quadro 8.10). Atençflo! o domínio
estes dados poderiam ser submetidos a diversos tratamentos estatísticos. da variável (V.) pode ser complexo (consultar o texto em quadro n.° 8.2).
c Ou ID. = Identificação de cada Indivíduo; ou ainda OBS - N.0* de observação (constatação). Os 36 casos
A observação quantitativa dos resultados do inquérito do IQOP (cf. figura constituem a base experimental neste exemplo. A título ilustrativo, só foram seleccionados cinco casos,
8.1) levanta outra questão importante relacionada com a utilização da estatística, il Dicotomia útil com o uso do computador: a soma dos valores de l dá o número dos casos assinalados
uma vez que, se se deve fazer a recolha de dados, também importa, em contra- para o algarismo l, ou seja o número de mulheres.
L» Modalidade de característica ou valores apurados para cada indivíduo em cada caso e para cada variável
partida, prever as modalidades de tratamento dos mesmos. É por isso que esta ou categoria ou segundo a classificação previamente estabelecida,
parte não estatística do processo de investigação científica consagrada à se- f Um erro cometido aquando do registo. Deve ser feita uma verificação.
lecção de variáveis (ou de características consideradas de interesse para a g . A análise estatística exploratória revelou uma anomalia em relação ao registo da coluna 5: 64 polegadas
pesquisa) constitui um momento crucial num estudo que pressupõe a explo- em vez de 54 polegadas.
h n=36, ou seja o número de CASO pertencente à amostra numa população N.
ração de observações quantitativas (cf. quadro 8.8). i Existência de uma unidade de medida para as colunas 5 e 6 (polegadas e libras).
O quadro 8.8 é um exemplo de «quadro multivariado» de uma amostra j Seis classes de ensino - V, com uma ordem (ex.: «l = freshman, 2 = sophomore; 3 = júnior, 4 = sénior, 5 =
= graduate, 6 ~ other»), O questionário de opinião com respostas de tipo 1) fraco, 2) médio, 3) bom e 4)
de uma população. Importa notar sobretudo o tratamento das variáveis. Que forte pertence ao mesmo género de variável (cf. as sondagens de opinião),
variáveis serão conservadas e com que fins? Eis uma questão com duas ver- k Necessidade de um instrumento de medida e de uma unidade de medida. Implicitamente, supõe-se um
tentes que deve ser colocada no início da pesquisa. No caso da sondagem ponto de origem: um valor zero, um «O» absoluto,
l A medida da temperatura na escala Fahrenheit ou Celsius difere das medidas de altura e de peso no ponto
do IQOP, as variáveis seleccionadas respeitavam ao «sexo», à «idade» e ao de origem, e daí a noção de escala de intervalo, visto que o valor «O» é arbitrariamente estabelecido. No .
«rendimento» dos inquiridos. A figura 8.1 apenas representa os resultados caso da altura e do peso, o ponto de origem da medida está localizado num ponto fixo (o «O» absoluto).
globais. No entanto, a recolha segmentada dos dados segundo as três categorias • Base experimental: O conjunto de unidades elementares que constituem o material
mencionadas mais acima fornece outras estatísticas sobre as características desta
amostra. Ora, a inferência estatística dependerá fortemente do carácter verda- de experiência.
• Caso: Este quadro multivariado é composto por 36 casos, quer dizer que cada
deiramente representativo da amostra e do método de sondagem empregue indivíduo é caracterizado pelos dados agrupados sob cinco características ou variáveis.
(cf. quadro 8.7), o que nos leva à questão das técnicas de amostragem. • Amostra: Uma parte ou subconjunto da população.
• Indivíduo: Este termo compreende todas as unidades elementares que são objecto
QUADRO 8.8 do estudo estatístico (no caso concreto, trata-se de estudantes).
• Multivariado: Mais de uma variável registada por cada caso.
Classificação das variáveis • N.s de identificação (ou n.e de observação); Registo dos dados para cada indivíduo
ou caso particular.
Quadro multívariadoa AMOSTRA DE UMA POPULAÇÃO • Estatística: Conjunto de métodos de tratamento da informação quantitativa de acordo
com certos procedimentos matemáticos a fim de tornar significativa a informação.
[ As características ou variáveis* ]\3 4 5 f i
• Estatísticas: Censo dos indivíduos na população e daí a noção básica e fundamental
de enumeração. Em resumo, a recolha de dados.
NÚMERO DE IDADE SEXO ALTURA
• Univariado: Estudo das propriedades da distribuição de uma variável.
CLASSE PESO
IDENTIFICAÇÃOC (anos) (0= cm= 9)d (polegadas) (libras)6 • Variabilidade: Exprime-se pelas variáveis observadas (sejam elas categóricas ou
1 28
medidas em função quer dos indivíduos de um a outro, quer das classes pela
0 3 72 180
2 18 i 1 66 114
distribuição dos valores em cada classe.
20 20 (2)f 2 68 140 NOTA - «De uma maneira geral, a estatística interessa-se pelo estudo, a descrição e a mani-
27 19 1 2 54 190(5 pulação da variabilidade. A variabilidade é vista sob diversos aspectos: os resultados
36h 20 1 2 57* de uma sucessão de cara ou coroas [...]; a altura de um grupo de estudantes [...]. No
82
domínio da investigação científica, as características ou variáveis, seleccionadas são
Número de Variável (= V) V categórica V ordinal V. mensurável V. mensurável1" quantificadas quer segundo uma classificação de variáveis categóricas quer por
identificação medida ou V discreta V categórica ordinal métodos de medida. As modalidades da variável são então exibidas pelas diferentes
dos indivíduos V. discreta V. com dois valores e contínua classificações ou métodos de medida de um indivíduo a outro, as quais, relativamente
ou dos assuntos dois valores ou dicotómica ao grupo estudado, pertencem a uma distribuição de valores para cada variável. Essas
e também Escala de intervalos1 Escala racional Escala racional distribuições são representações quantitativas da variabilidade pela qual estamos
V. nominal («O» relativo) («O» absoluto) («O» absoluto) interessados. Por conseguinte, para descrever mais precisamente a estatística, válida
num tal contexto, diríamos que a estatística é uma ciência (e uma arte) que se
a Este exemplo de classificação das variáveis inspira-se no manual de estatística de Koopmans (1981),
constituiu para estudar as distribuições de frequência [...]. Em estatística, estamos inte-
pp. 3-10, 13-14. ressados simultaneamente pelas propriedades da distribuição das variáveis individuais
e pelas interrelações entre as variáveis.» (Koopmans, 1981, pp. 4-5).

330
331
Z AS TÉCNICAS DE AMOSTRAGEM A amostragem coloca o problema fundamenta] das condições científicas da
Kt-ncralização a toda uma população dos resultados observados numa amostra.
A técnica das sondagens aplica-se a numerosos domínios, por exemplo A i"iU- respeito, a teoria das probabilidades vem corroborar este procedimento,
os respeitantes à rendibilidade de uma produção, ao valor de uma j a/.i t U nn medida em que tende a demonstrar ou a provar o grau de confiança que se
mineira ou ao mercado de emprego e, evidentemente, às ciências humana» podo ter na realização de um acontecimento, isto é as razões para crer nas
(história, sociologia, psicologia, etc). Todas essas pesquisas baseiam-se geral- < -| "• H i unidades objectivas de as generalizações assumidas se revelarem exactas.
mente na selecção de uma amostra que poderá permitir «minimizar a probabi- l - i n suma, trata-se de saber como fazer para reportar os dados estatísticos ou os
lidade de um determinado desvio entre o valor estimado, relativo à amostra, M.ditados do inquérito à população seleccionada, a fim de inferir as conse-
e o valor verdadeiro mas desconhecido, relativo à população total. Minimiza- quências que poderão ser aceites ou rejeitadas. Resta então, a partir desse ponto,
-Io, dizemos nós, mas não anulá-lo: nunca existe a certeza de que o valor "•inpreender como será possível generalizar as conclusões do inquérito à
obtido seja rigorosamente igual ao valor verdadeiro» (Lévy, 1979, p. 14)22. Os l n »l M i lação-alvo, o que é a coisa mais difícil e frequentemente conjecturai. A este
dois grandes problemas desta técnica científica de exploração dizem respeito rvNpeito23, o conhecimento da estatística e das probabilidades impõe-se clara-
à dimensão e ao grau de representatividade da amostra. Para esse efeito, os mente. Trata-se, pois, de ter consciência disso e, sobretudo, de não o esquecer
estatísticos aperfeiçoaram numerosas técnicas de amostragem essencialmente quando se trata de tirar conclusões gerais a partir de observações limitadas.
baseadas em dois métodos: 1.° o método das quotas; 2.Q o método das pro- Ao reler o quadro 8.7, Madeleine Lanthier interroga-se cada vez mais
babilidades (cf, quadro 8.7, figura 8.2 e o apêndice no fim deste capítulo), Nobre as sondagens. Até esse momento, acreditava que elas estavam reser-
O funcionamento desta parte da lógica estatística poderia ser esquemati- vndas unicamente aos inquéritos de opinião. Compreende, como Michel Lévy,
camente ilustrado da seguinte maneira.
i j i i c «isso é um grave erro» (1979, p. 13). Dados quantitativos como os
PRINCIPAIS CONCEITOS
tontidos no Recensement du Canada podem igualmente ser submetidos a
TÉCNICA DE AMOSTRAGEM nondagens. O seu estudo sobre a cidade do Quebeque poderia ser encarado
UMA QUESTÃO: «Quais são os gostos de leitura dos l M n meio de técnicas de observação quantitativa. Porém, antes de avançarmos
estudantes do colégio Unívers?» iu?sta linha, detenhamo-nos por um momento na análise dos resultados das
POPULAÇAO-ALVO*
Nondagens de opinião, de que somos todos consumidores, voluntariamente
PROCEDIMENTO ESTATÍSTICO: ou não. Num tal caso, realizar um exercício de análise crítica, ao menos uma
(target population)
l .fi Delimitar o universo do inquérito. vez, não seria uma boa maneira de aprender? Para as necessidades da demons-
l - A população estudantil total do colégio. tração, utilizaremos uma sondagem que foi publicada nos jornais.
POPULAÇÃO
2.9 Garantir que todas as unidades do universo possam
SELECCIONADA x
ter uma oportunidade igual de pertencer à amostra.
(população acessível)
(sampled population)
- Ter em conta cada sector de formação. 3. UMA FICHA DE ANÁLISE DAS SONDAGENS
3.9 Assegurar-se da dimensão e da representatividade da
amostra. A ficha de análise das sondagens que se segue traça um retrato sumário
AMOSTRA - Escolher o método para determinar a dimensão da do método geralmente seguido nos inquéritos de opinião ou sondagens
(sample) amostra.
Gallup. Para ter uma ideia do que pode ser uma sondagem, Madeleine
- Determinar o tipo de amostragem (cí auadro 8.7)
e assegurar-se da sua representatividade.
l .anthier utilizou esta ficha relativa a uma sondagem realizada em Março de
DADOS 1990, no Quebeque, sobre a eutanásia. O método de inquérito foi sumaria-
4.2 Seleccionar as variáveis (cf. quadro 8.8 e 8.10) suscep-
ESTATÍSTICOS x
tíveis de resolver o problema (verificação da hipótese).
mente descrito em Lê Soleil. Depois da leitura e do estudo deste texto,
(findíngs) Madeleine preencheu a ficha de análise (cf. quadro 8.9 que se segue). O resul-
NOTA Nesta parle das técnicas científicas de exploração, entra em tado do seu trabalho está inscrito na rubrica «método». Por seu lado, o pro-
linha de conta o papel do estatístico. Por conseguinte, se fessor inscreveu na coluna «comentários» algumas notas pessoais, a fim de
Madeleine Lanthíer quer persistir nesta orientação, deverá
iniciar-se sem falta na estatística e nas probabilidades. fazer com que Madeleine reflicta sobre alguns problemas das sondagens de
opinião. Além disso, acrescentou informações técnicas marcadas por um
«A palavra população é empregue para designar um conjunto ou um agregado a partir do qual uma asterisco, mas que se referem a uma outra sondagem, a do IQOP sobre os
amostra é seleccionada. [...] A amostragem da população (a população seleccionada) deve coincidir
«hábitos de vida» dos habitantes da região do Quebeque.
com a população sobre a qual se procuram informações (a população-alvo).» (Cochran, 1977, p. 5)
Figura 8.2 -- A amostragem fsamplingj 23 As noções de estatística expostas neste capítulo servem apenas para chamar a atenção do
estudante para as exigências metodológicas de qualquer estudo que pretenda basear-se em
22 Itálico da nossa responsabilidade. métodos estatísticos ou quantitativos.

332 333
QUADRO 8.9 1.1.2.1.2 outra escolha:
Ficha de análise das sondagens2

FICHA DE ANÁLISE DAS SONDAGENS

MÉTODO COMENTÁRIOS
1.1.2.2 aleatória ou probabilista
FONTE: SORÉCOM (As notas do professor.) 1.1.2.2.1 aleatória simples
TIPO DE SONDAGEM: OMNIBUS SORÉCOM Empresa de sondagem.
RESPONSÁVEIS: Soucy D. Gagné e Claire Laliberté Questionário com várias vertentes.
POR CONTA DE: Lê Soleil - CKAC Jornal, Rádio
RECOLHA POR: INCI = Institut de cueillette d'information A comparar com outra sondagem Gallup 1.1.2.2.2 outra escolha
DATAS DA SONDAGEM: 16 a 26 de Março de 1990 de Julho de 1989.
OBJECTO DA SONDAGEM: A eutanásia
PLANO TÉCNICO DA SONDAGEM:
1 Método utilizado: Entrevista telefónica da central do INCI Tipo de observação directa extensiva
1.2 Resultados administrativos 324 casos classificados como não admissíveis No caso dos inquiridos depois de vá-
2 Língua da sondagem: francês («técnicas vivas»).
1.° Nenhuma resposta ao cabo de 6 chamadas telefónicas ou + (5%). rias solicitações, qual é o valor das
3 Tratamento dos dados: [* Com a ajuda do programa SPSS PC]
2.° Recusa em responder (28%). respostas?
4 Registo dos dados: [* Em fita magnética segundo os padrões IBM]
3.° Taxa de resposta da amostra fina]: 1619 nomes (60%).
5 Âmbito da sondagem: Todo o Quebeque
NB - 4 chamadas telefónicas para solicitar a colaboração das pessoas
6 Verificação: [* 1.° para eliminar os falsos códigos; 2.° despiste
ausentes e para obter a colaboração dos que se recusaram a colaborar
das questões comportando erros típicos.]
aquando dos 1.° e 2.° contactos.
7 Notas suplementares: Debate em tomo do testamento biológico.
1.3 Erro de amostragem (Amostra - Taxa de variação)
No caso de uma criança,
Numa população de l 000 pessoas, o erro situa-se entre 1,38 e 3,16 pontos
ver a relação pai/médico/
percentuais com um limiar de probabilidade de 95%. Os resultados foram
/doente/opinião pública/direito
ponderados (em função das regiões, da idade, do sexo dos inquiridos)
PLANO DE AMOSTRAGEM:
de modo a corrigir as distorções devidas à taxa variável de resposta: foram
l Tipo de observação quantitativa
controladas 36 unidades sododemográficas.
1.1 Amostra
1.4 As questões e as opções de respostas (o questionário) Que sentimento pode ter um inqui-
1.1.1 representativo (tipo de população) Todas as pessoas
I. «Quando se provoca a morte de um doente incurável para o libertar rido ao escutar a palavra «criminoso»?
com direito de voto: 18 anos + ; cidadania canadiana do sofrimento, trata-se a seus olhos de um gesto humanitário
ou de um acto criminoso?»
NB - Uma das nove questões sobre a eutanásia.
1.1.2 tipo de amostragem 2. RESPOSTAS PROPOSTAS PROPORÇÃO DAS RESPOSTAS:
1.1.2.1 não probabilista A. Um gesto humanitário 73% Variável categórica, discreta e con-
1.1.2.1.1 ao acaso sistemático listas telefónicas; B. Um acto criminoso 15% tínua (quer dizer, medida).
todas as regiões administrativas do Quebeque; 1943 nomes Que técnica de escolha sistemática foi C. Não sabem 11% A comparar com a figura 8.1.
seleccionados. adoptada? (Cf. quadro 8.7)

24 Esta ficha de análise do método das sondagens permitirá iniciar Madeleine Lanthier na
realização das suas próprias pesquisas. Como é sabido por todos, os grandes jornais e revistas
do Quebeque apresentam-nos quase quotidianamente inquéritos de opinião sobre diversos
assuntos. Bastaria que Madeleine escolhesse um e o estudasse a fundo, tendo o cuidado de
aprofundar as noções de estatística e a construção das questões ou do questionário.

334 335
ESQUEMA EXPERIMENTAL (segundo o caso): II.ANO DE AMOSTRAÍ;I;M:
1. Grupo experimental: 1 h| >" de observação quantitativa
1.1 Amostra
1.1.1 representativo
2. Grupo de controlo:

INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS: Título de Lê Soleil: 1.1.2 tipo de amostragem


É uma análise e uma conclusão sufi-
«73% dos Quebequenses acham humanitária a eutanásia.» 1.1.2.1 não probabilista
ciente da sondagem?
1.1.2.1.1 ao acaso sistemático

DIFUSÃO:
Lê Soleil, quinta-feira, 29 de Março de 1990, pp. Al e A2. 1.1.2.1.2 outra escolha:

NOTAS PESSOAIS:
Exemplo da sondagem do IQOP por conta do jornal
Lê Soleil, 28 de Janeiro de 1990 (cf, figura 8.1) 1.1.2.2 aleatória ou probabilista
1.1.2.2.1 aleatória simples

QUADRO 8.9 1.1.2.2.2 outra escolha


Ficha de análise das sondagens
FICHA DE ANÁLISE DAS SONDAGENS 1.2 Resultados administrativos
MÉTODO COMENTÁRIOS
FONTE: (As notas do professor)
TIPO DE SONDAGEM:
RESPONSÁVEIS: ZZI
POR CONTA DE:
RECOLHA POR:
1.3 Erro de amostragem (Amostra - Taxa de variação)
DATAS DA SONDAGEM:
OBJECTO DA SONDAGEM:

PLANO TÉCNICO DA SONDAGEM:


1 Método utilizado
2 Língua da sondagem
3 Tratamento dos dados 1.4 As questões e as opções de respostas (o questionário)
4 Registo dos dados
5 Âmbito da sondagem
6 Verificação
2. RESPOSTAS PROPOSTAS PROPORÇÃO DAS RESPOSTAS;
7 Notas suplementares

336 337
INCLUSÃO
Pescar baleias com uma rede para caçar borboletas não é um meio apropriado para
alcançar o fim pretendido.
(BRUNO DESHAIES).

Do ponto de vista da metodologia, os diversos domínios das ciências


I n i numas prestam-se muito melhor à inferência sistemática, isto é à obser-
ESQUEMA EXPERIMENTAL (segundo o caso): vação metódica bem como aos métodos de verificação que não implicam ipso
1. Grupo experimental:
{titio a possibilidade de aplicar os mesmos procedimentos que nos casos da
Investigação experimental, quer dizer as técnicas de controlo, de manipulação
P de observação das variáveis. Dito isto, existem, no entanto, situações, ainda
2. Grupo de controlo:
i|iio pouco numerosas, nas quais as possibilidades de experimentação ou de
!|ii.ise experimentação são praticamente realizáveis. Porém, nos dois casos,
I1 existência de uma situação constitui o ponto de partida do procedimento
• K-ntífico (cf. quadro 8.3).
INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS:
A problemática geral dos nossos modos pessoais de observação (perso-
nalidade, cultura, saber, formação, estatuto social, sensibilidade, experiência,
rir., do investigador) influi na nossa capacidade de reconhecer, em primeiro
lugar, e de analisar, em seguida, tuna situação problemática (cf. figura 4,4).
DIFUSÃO:
Perante o desfecho de uma situação incerta, o investigador (tal como o
agricultor, o médico, o advogado, o agrónomo, o contabilista, o administrador,
ti t omerciante, o director de uma empresa, etc.) interroga-se. Isso resume-se,
NOTAS PESSOAIS:
praticamente, à questão simples: «Que vale mais fazer?» A urgência de tratar
modos de acção que a situação requer constitui o desafio particular não
npenas ao trabalho intelectual mas também aos modos de controlo da situa-
Vflo. À excepção dos casos em que se pretende tomar uma decisão de maneira
arbitrária e cega, só se pode chegar a transformar a situação incerta por ope-
rações que nos evitem «perder a cabeça», e reconstruir o mais objectivamente
possível a indeterminação da situação observada num todo unificado que
A partir de semelhante ficha de análise, Madeleine Lanthier poderia forneça uma solução ao problema perspectivado.
o quadro 8.7 na perspectiva de utilização das diversas técnicas de am< «O que vale mais fazer» depende de um conjunto de factores e de decisões
tragem, porque os resultados do inquérito valem o que vale a amostragí ijue o investigador tem de tomar em consideração, após o que deve julgar ou
Um bom questionário submetido a uma má amostra nunca poderá signifit avaliar o que convém mais fazer na prática quanto à investigação hic et nunc.
nada de válido. Do mesmo modo, um mau instrumento ou uma técnica d< Deve decidir que pesquisas é preferível empreender e como devem ser
observação que não seja apropriada ao seu objecto também não será válida. conduzidas (método de observação, recolha de dados, tipos de medida, base
Como sublinhava com humor Paul D. Leedy: «Não podeis inquirir sobi teórica, etc.) Tudo isto implica, pois, escolhas entre as diferentes técnicas
cromossomas por meio de um questionário» (1989, p. 83) científicas de exploração de que se falou neste capítulo.
Se as estatísticas dependem fundamentalmente da validade da amoí Na medida em que urna situação é transformada num objecto quantificável,
tragem, a observação, por seu lado, depende dos factos ou dos dados. A é a via da observação quantitativa que se aplica com tudo o que isso comporta
quisa e a observação dos factos fazem parte integrante dos estudos ei de conhecimentos matemáticos e estatísticos. Por outro lado, um certo número
ciências humanas. Embora seja observável, será o objecto das ciências de técnicas de observação, em particular as técnicas documentais (à excepção
humanas sempre mensurável? Deverá ser sempre medido? Por ocasião de de certas técnicas de análise de conteúdo), procedem diferentemente segundo
uma pesquisa, continuam a ser úteis os esclarecimentos sobre a escolha das nm modo que poderíamos chamar qualitativo. Porém, nos dois casos, o objec-
técnicas de observação. tivo é o mesmo. Para retomar a metodologia de John Dewey, trata-se de
converter uma situação problemática indeterminada numa situação resolvida

335
339
e determinada. Todas as operações intelectuais, técnicas e de observação são, BIBLIOGRAFIA
nesse aspecto, as mesmas, quer se esteja no domínio das ciências experimentais
quer no das ciências humanas. É no que toca aos procedimentos de experi-
mentação, quer dizer de manipulação ou de intervenção sobre as variáveis, que A. Obras gerais
urge distinguir mais finamente. De qualquer modo, mesmo nas pesquisas com
utilização dos métodos estatísticos, por exemplo, a parte não estatística do AKTOUF, Ornar. Méthodologie dês sciences sociales et approche qualitative dês organisations,
Une introduction à Ia démarche classique et une critique, Montreal, PUQ e HEC Presses,
processo de pesquisa foi reconhecida pela maioria dos investigadores. Por si 1987, xvi + 213 pp.
só, a escolha de variáveis que servirão de base às observações e à exploração A i,RX ANDRÉ, Victor. Lês échelles d'attitude, Paris, Éditions universitaires, 1971, 181 pp.
torna suspeita a impermeabilidade absoluta do método experimental. Todavia, AKY, Donald, Lucy Cheser JACOBS e Asghar RAZAVIEH. introduction to Research in
importa reconhecer que este método é exemplar pelos mecanismos de controlo Education, Montreal, Holt, Rinehart & Winston, 1979, xii + 388 pp. Sobre os fun-
que criou para diminuir o erro de apreciação, de contaminação ideológica e de damentos da ciência, noção de problema, análise estatística em educação,
incoerência no processo de investigação. (Reler o texto n.e 2.6 de Jean Piaget utensílios de investigação, métodos e comunicação dos resultados.
para uma visão mais ampla deste problema epistemológico.) IJouRDiEu, Pierre. «Uopinion publique», In Lês Temps Modernes, Janeiro de 1973, vol. 29,
Todo este trabalho de recolha, de análise, de verificação, de controlo, de n.Q 318, pp. 1292-1309. Uma crítica das funções da sondagem.
manipulação ou de cálculo dos dados não encerra o empreendimento da CLAVAL, Paul. La nouvelle géographie, 2.â ed. actualizada, Paris, PUF, 1982, 128 pp.
(col. «Que sais-je?», n.e 1693).
pesquisa. Resta ainda um processo de síntese, que permitirá a descoberta de Columbia Associates in Philosophy. An Introduction to Reflexive Thinfàng, Nova Iorque,
factos até então ocultos ao nosso espírito e à nossa observação. Trata-se agora Houghton Mifflin Company, 1923, vii + 351 pp. Livro escrito em colaboração por
de reflectir em presença dos factos. Como explicar tudo o que pôde ser nove membros do Departamento de Filosofia da Universidade de Columbia. Um
observado? Como garantir que a explicação possa resistir aos factos e à crítica? clássico sobre a questão do pensamento reflexivo ou do pensamento crítico. Diver-
Como organizar os factos para os tornar acessíveis, comunicáveis e compre- sos capítulos ainda hoje nos podem interessar.
ensíveis? Esse trabalho de integração exige a imaginação do investigador: é o DAVAL, Roger, François BOURRICAULD, Yves DELAMOTTE e Roland DORON. Traité de
momento da síntese. psychologie sociale, tomo I: Sciences humaines et psychologie sociale. Lês méthodes,
Madeleine Lanthier é chamada agora a mobilizar todas as suas capaci- prefácio de Jean Stoetzel, Paris, PUF, 1963, 530 pp. (col. «Logos»). Os métodos:
dades pessoais, intelectuais, cognitivas e outras, para gerar o seu próprio psicanalítico, escalas de atitudes, teste sociométrico, análise de conteúdo.
DEWEY, John. Logique, La théorie de l'enquête, trad. de Yvon Deladalle, Paris, PUF,
pensamento. O capítulo 9 convida-a a fazer a sua própria síntese «pensando 1967, 686 pp., 2 vol. (l.« ed. americana: 1938). Capítulo XXIV: «Uenquête sociale»
em presença dos factos». O último capítulo recorda-lhe a necessidade de estru- (pp. 589-616).
turar o seu relatório de investigação em função do problema, da hipótese ou DUVERGER, Maurice. Méthodes dês sciences sociales, 3.a ed., Paris, PUF, 1964, 501 pp.
da ideia orientadora, do objectivo da pesquisa e das exigências da comunica- (col. «Thémis»). Um clássico no domínio das ciências sociais.
ção científica. Além disso, ela terá de se servir do utensílio mais temível do EISNER, Elliot W. The Educational Imagination, On the Design and Evaluation of Schools
pensamento: a palavra. A composição do relatório, a redacção e a publicação Programs, 2.â ed., Nova Iorque, Macmillan, 1985, viu + 386 pp. Obra original que
do texto completarão finalmente o trabalho de investigação. obriga o leitor ou a leitora a reflectir (ver p. 3). Abordagem nova baseada numa
técnica qualitativa de avaliação em educação («Educational criticism») que pode
ser alargada a outros domínios.
GAUTHIER, Benoit, dir., Recherche sociale, De Ia problématique à Ia collecte dês données,
Montreal, PUQ, 1990, xii + 535 pp. Em colaboração com 16 investigadores com
experiências diversas em análise social Bibliografia selectiva e comentada no fim
de cada capítulo. Léxico (pp. 513-525). Bibliografia geral (pp. 489-512). Consultar:
- Danielle Boisvert, «La recherche documentaire» (cap. 4);
- Isabelle Lasvergnas, «Théorie et compréhension sociale» (cap. 5);
- Benoit Gauthier, «Lês stratégies de vérification» (cap. 6);
- André Blais, «Lês indicateurs» (cap. 7);
- J.-P. Beaud, «Lês techniques d'échantillonnage» (cap. 8);
- André Blais, «Lê sondage» (cap. 14);
- François Beland, «La mesure dês attitudes» (cap. 15).
GRAWITZ, Madeleine. Méthodes dês sciences sociales, 7.â ed., Paris, Dalloz, 1986, XLVTI
+ 1104 pp. (col. «Précis Dalloz»). ANEXOS: I - Éléments de statistique; H - Lê
calcul dês probabilités; III - Méthodes de présentation graphique en sciences
sociales; IV - Exemple d'analyse de données: Tanalyse factorielle dês correspon-

340 341
dances. Bibliografias, biografias, pequeno léxico, índice alfabético. Cada secção
do volume é acompanhada por uma bibliografia selectiva de imenso valor. H. Obras de estatística39
A bibliografia respeitante à sociologia como disciplina das ciências sociais < I K IIRAN, William G. Sampling Techniques, 3." ed., Toronto, John Wiley & Sons, 1977,
comporta 256 títulos (pp. 174-194). wvi + 428 pp. Para trabalhos avançados em amostragem.
NB -Indicamos para GRAWITZ (1979) os números de parágrafos da seguinte ( ;UAY, Jean-H. Sciences humaines et méthodes quantitatives, Lês príncipes d'application et
forma: § 372; estes números também são válidos para a 7,a ed. de 1986, mas Ia pratique de Ia recherche, Montreal, Beauchemin, 1991, xii + 412 pp. Manual
a paginação mudou e o texto pode variar ligeiramente de uma edição a concebido para estudantes de ciências humanas. Comporta numerosos exemplos
outra; no entanto, mantém-se o mesmo no essencial (salvo excepção). retirados de contextos quebequenses e canadianos.
HOWARD, George S. Basic Research Methods in the Social Sciences, com um apêndice dr JACQUARD, Albert. Lês probabilités, Paris, PUF, 1974, 128 pp. (col. «Que sais-je?»,
Paul R. Solomon, Glenview (El.), Scott, Foresman and Company, 1985, 249 pp. + n.B 1571). Introdução aos fundamentos da teoria das probabilidades. Cada capítulo
A5, B41, C14, D4, E5 e R5. [Diferentes paginações alfabéticas para cada apêndice.] é acompanhado de exercícios.
APÊNDICES: A - Conducting an Experiment; B - Writing the Research Report, por KCXJPMANS, Lambert H. An Introduction to Contemporary Statistics, Boston (Mass.), Dus-
Paul R. Solomon, C - Rival Hypotheses; D - Differences Among the Social Sciences. bury Press, 1981, xx + 599 pp.
JACQUARD, Albert. Au péril de Ia science? Interrogations d'un généticien, Paris, Seuil, 1982, l.tívY, Michel Louis. Comprendre lês statistiques, Paris, Éd. du Seuil, 1979, 190 pp.
220 pp. (col. «Science ouverte»). Ver o capítulo 2: «Lês pièges du nombre» (pp. 34- (col. «Points/Économie», n.c E12). Ver em particular o capítulo 1: «Uinvestigation
-35), mas sobretudo «l/analyse de Ia variance et sés pièges» (pp. 49-55). scientifique». O autor define e descreve sumariamente a terminologia francesa
LEEDY, Paul D. Practical Research, Planning and Design, 4.a ed., Nova Iorque, Macmillan, fundamental dos conceitos de estatística. Essencial.
1989, xi + 318 pp. A tese do autor baseia-se na ideia de que são os factos que VI-SSEREAU, André. La statistique, Paris, PUF, 1986,128 pp. (col. «Que sais-je?», n.c 281).
determinam os métodos de investigação. O autor trata do conjunto do processo Visão geral da estatística descritiva.
de investigação. Consultar mais particularmente os capítulos:
2: «The Tools of Research» C. Obras de ciências humanas
[Biblioteca, medida, estatística, computador, línguas.] A bibliografia relativa às diversas disciplinas ou domínios das ciências humanas
7: «The Historical Method» t* demasiado considerável para ser objecto de uma apresentação sistemática neste
[Os documentos ou os dados de natureza histórica. Historiografia e cronologia.] manual. Contudo, devemos ter presente que a maioria das obras de metodologia
8: «The Descriptive Survey Method» citadas já contém bibliografias selectivas. O estudante poderá recorrer a elas com
[Os dados que decorrem da observação das situações fazem apelo ao método das facilidade. No entanto, em Gauthier (1990), encontra-se um artigo de Danielle Boisvert
probabilidades.] sobre «La recherche documentaire» (cap. 4).
9: «The Analytical Survey Method» A consulta de enciclopédias, grandes dicionários, grandes colecções e dicionários
[Os dados quantitativos tratados como conceitos numéricos: papel da estatística.] ou enciclopédias especializadas nas diversas disciplinas deveria tornar-se um hábito
10: «The Experimental Method.» de trabalho intelectual da parte dos estudantes. Aliás, é nesse espírito que Madeleine
[O controlo experimental entre duas situações tendo em vista a análise compara- Lanthier iniciou o seu trabalho sobre epistemologia das ciências humanas no primeiro
tiva dos dados experimentais recolhidos.] capítulo. Recordam tudo o que pôde descobrir, numa primeira fase, ao consultar o
LOUBET DEL BAYLE, J.-L. Introduction aux méthodes dês sciences sociales, Toulouse, Privat, Grand Larousse encyclopédique? A experiência poderia ser retomada sobre outro tema
1978/1986, 234 pp. Um bom manual e bem estruturado. Bibliografia actualizada. (ver a crise cubana, a guerra da conquista, os exemplos de problema no capítulo 5,
MACE, Gordon. Guide d'élaboration d'un projet de recherche, Quebeque, PUQ, 1988, xv etc.) Provavelmente, seria útil reler ainda uma vez o texto n.2 5.2 relativo às «regras
+ 119 pp. Exemplos em ciência política. de conduta anteriores à investigação».
OUELLET, André. Processus de recherche, Une approche systémique, Quebeque, PUQ, 1987, Além disso, a categoria das «técnicas documentais» do quadro 8.1 apresenta
xi + 268 pp. Aprendizagem por módulos consagrada à abordagem experimental sugestões ou pistas que permitem utilizar com discernimento o catálogo da biblioteca
e às estatísticas. da escola secundária ou da universidade. No catálogo, sob a rubrica «matéria», seria
REUCHLIN, Maurice. Lês méthodes en psychologie, Paris, PUF, 1989, 128 pp. (col. «Que possível descobrir numerosas fontes de informação. Trata-se de utilizar as palavras
sais-je?», n.fi 1359). em vedeta adequadas, à maneira das do dicionário. A descoberta destas primeiras
[Os Métodos em Psicologia, Lisboa, Ed. Teorema, 1.» ed. 1989 (col. Teorema, 10).] pistas deveria permitir preparar a fase exploratória da pesquisa.
SCHLUTER, W. C. How to Do Research Work,, A Manual of Research Procedure Presenting Os serviços da biblioteca da Universidade Lavai prepararam uma série de guias
a Simple Explanation of the Principies Underlying Research Methods, Nova Iorque, bibliográficos, os «Biblioguides», sobre diferentes temas de interesse para as ciências
Prentice-Hall, 1929, vii + 137 pp. Ver o capítulo 10: «Collecting the Data and the humanas e a metodologia. Eis um certo número de títulos que poderiam interessar
Information». a professores e estudantes.
SMTTH, John M. Financial Analysis and Business Decisions on the Pocket Calculator, A Wiley-
-Interscience Publication, Toronto, John Wiley & Sons, 1976, xii + 317 pp. Obra 25 A produção de manuais de estatística é considerável, tanto em língua francesa como inglesa,
evidentemente! O conselho que poderíamos dar a Madeleine Lanthier seria começar por
principalmente orientada para o processo de decisão e a análise do risco em adoptar um e estudá-lo a fundo. Os conteúdos são comparáveis; o que difere, na maior
negócios. Exposição convincente. parte das vezes, é o estilo e a apresentação. A escolha deve ser feita de acordo com os seus
interesses, a sua maneira de pensar e os seus hábitos de trabalho.

342
343
Lista selectiva de fontes de informação
M . l >on,iM, l,ury ('ht",«'i \.\. < HC; »• As^lur KA/.AVIKH. Introtittction to Rrat-arch in
• Ordenamento do território 2.* cd., Montreal, Holt, Rinohart & Winston, 1979, xii + 388 pp. Boa abordagem
• Ordenamento do território no Quebeque • irnlífica clássica apoiada na noção de problema de investigação (pp. 41-56).
• Antropologia MMUIIIÍ, Earl R. The Practice of Social Research, 2.a ed., Belmont (Calif.), Wadsworth Pub.
• Classes sociais Coy, Inc., 1979, xxvii + 596 pp. Bibliografia anotada e índice.
• Documentos parlamentares Therese L. Doing Social Research, Nova Iorque, McGraw-Hill (EUA), 1988, xxvi
• Economia + 483 pp.
• Geografia l»- 'n 'i'M-AU, Yvan. Comprendre et développer lês organisations, Méthodes d'analyse et inter-
• Geografia, publicações periódicas crntion, Montreal, Agence d'ARC, 1988, xvii + 297 pp. (col. «Psychologie indus-
• Psicologia 11 íolle et organisationnelle»). Bibliogr. pp. 289-297. Ver também de Yvan Bordeleau
• Psicólogos - Biografias c col., Comprendre Vorganisation. Approches de recherche, Montreal, Agence d'ARC,
• Religião 1982, xiv + 198 pp. (col. «Psychologie industrielle et organisationnelle»).
• Ciência política H " I I I K > N , Raymond. Lês méthodes en sociologie, 7.a ed., Paris, PUF, 1988, 128 pp.
• Sociologia (col. «Que sais-je?», n.s 1334).
• Estatística [Métodos em Sociologia, Colecção Prima, n.Q 132, Lisboa, Rolim, 1982 (N. T.).]
• Teses e trabalhos. Redacção e apresentação l ÍIIVKKGER, Maurice. Méthodes dês sciences sociales, 3.â ed., Paris, PUF, 1964, 501 pp.
(col. «Thémis»).
D. Obras relativas à ética GAUTHIER, Benoit, dir., Recherche sodale. De Ia problématique à Ia collecte dês données,
Montreal, PUQ, 1990, xii + 535 pp. Por um grupo de dezasseis colaboradores.
CRETE, Jean. «l/éthique de Ia recherche sociale», in Recherche sodale, De Ia problématique Léxico (pp. 513-525); bibliografia selectiva e comentada no fim de cada capítulo;
à Ia cottecte dês données, Sillery, Presses de 1'Université du Québec, 1990, pp. 201- bibliografia geral (pp. 489-512).
-221 e 501-502. ( ÍKAWITZ, Madeleine. Méthodes dês sciences sociales, 7.a ed., Paris, Dalloz, 1986, xvi +
CRM. Lignes directrices concernant Ia recherche sur dês sujets humains, 1, David Marshal, 1104 pp. (col. «Précis Dalloz») ANEXOS: I - Éléments de statistique; H - Lê calcul
pres., juiz, Supremo Tribunal dos T.N.-O., Yellowknife, Ottawa, Ministères dês dês probabilités; Hl - Méthodes de présentation graphique en sciences sociales;
Approvisiormements et Services Canada, 1987, xi + 67 pp. Documento facilmente IV - Exemple d'analyse de données: 1'analyse factorielle. índices pormenorizados,
acessível junto do Conseil de recherches médicales du Canada (CRM). bibliografias selectivas, biografias, pequeno léxico, índice alfabético.
CRSH. Lê traitement objectif dês sexes dans Ia recherche, por Jeanne Lapointe e Margrit l IOWARD, George S. Basic Research Methods in the Social Sciences, com um apêndice de
Eíchler, Ottawa, [1958], 31 pp. Edição bilingue. Bibliogr. (pp. 29-31). Exemplos Paul R. Solomon, Glenview (111.), Scott, Foresman and Company, 1985, 249 pp. +
de discriminação sexual a evitar. Documento facilmente acessível junto do Conseil A5, B41, C14, D4, E5 e R5. [Diferentes paginações alfabéticas para cada apêndice.]
de recherches en sciences humaines du Canada (CRSH). APÊNDICES: A - Conducting an Experiment; B - Writing the Research Report,
CTSH. Enquêtes-sondages, relatório do Groupe consultatíf sur lês enquêtes-sondages, por Paul R. Solomon; C - Rival Hypotheses; D - Differences Among the Social
Raymond Breton, pres., sociologia, Urúversité de Toronto, Conseil dês Arts du Sciences.
Canada, 1976, xi + paginação diversa [170 pp.]. Cap. XIV; «Enquêtes consultées KIDDER, Louise H., ed., Research Methods in Social Relations, 4.a ed. reformulada,
dans notre étude», (pp. 2.102 a 2.120). Montreal, Holt, Rinehart & Winston, 1981, xii + 483 pp. l.â ed.: 1951 por Selltiz,
CRSH. Déontologie, relatório do Groupe consultatif de déontologie, J. A. Corru, pres., Wrightsman & Cook. Em 1979, 900 utilizadores deste manual de investigação
Kingston, Ottawa, 1977, viii + 36 pp. Bibliogr. (pp. 35-36). social responderam a um questionário incidindo sobre a terceira edição e tendo
HOWARD, George S. Basic Research Methods in the Social Sciences, Glenview (HL), Scott, em vista a revisão de 1981.
Foresman and Co., 1985, cap. 15: «Ethical Principies in Research». O autor cita LEEDY, Paul D. The Practical Research. Planning and design, 4.a ed., Nova Iorque, Mac-
extractos do guia da American Psychological Association respeitante a investigações millan, 1989, xi + 318 pp. Síntese inteligente.
sobre sujeitos humanos (pp. 226-229). LOUBET DEL BAYLE, J.-L. introduction aux méthodes dês sciences sociales, Toulouse, Privat,
1986, 234 pp.
E. Tabela de referências para certos métodos em ciências humanas QUIVY, Raymond e Luc CAMPENHOUDT, Manuel de recherche en sciences sociales, Paris,
1. Fontes bibliográficas Dunod, 1988, 271 pp. Particularmente interessante para as 7 etapas da procedi-
mento metodológico e a construção do modelo de análise (pp. 99-144).
[Manual de Investigação em Ciências Sociais, trad. de João Marques e Maria Amália
AKTOUF, Ornar. Méthodologie dês sciences sociales et approche qualitative dês organisations, Mendes, Colecção Trajectos, n.Q 17, Lisboa, Gradiva, 1992 (N. T.).]
Une introduction à Ia démarche classique et une critique, Montreal, PUQ e HEC SIMON, Julian L., e Paul BURSTEIN. Basic Research Methods in Social Science, 3.a ed.,
Presses, 1987, xvi + 213 pp. Sobre os modelos clássicos de investigação e as técni- rev., Nova Iorque, Random House, 1985, xviii + 487 pp. Os autores defendem
cas de exploração.
que o método deve ajustar-se ao problema e não a inversa.

344 345
2. Tabela de referências ..Resulta da diversidade do» problemas e dos objectos da sociologia uma diversidade
ilo» seus métodos. É impossível realizar um inventário geral deles [...]» (R. Boudon,
NOTAS: l« Os algarismos sublinhados e seguidos de uma indicação de páginas remetem l'WH, p. 16). «A ideia da exploração supõe a existência de problemas, o objectivo da
para um capítulo inteiro (por exemplo: 2:225-270 = Are 1979 cap 9) exploração exige que sejam formulados» (M. Grawitz, 1986, § 520).
2." As referências a GRAWTTZ dizem respeito aos números de parágrafos do
texto, que são válidos tanto para a 4.a ed. (1979), como para a 7.a ed. (1986).
Selltiz/
Nome do método Akouf Ary Babbie Baker Bordeleau Boudon Duvcrger Gauthier Grawitz Howard Leedy Loube, Quivy |™°°ein
/Kidder
1. Análise clínica 1275-278
Z Análise de conteúdo 12117-127 2:233-266 261-267 121-134 MH 171 13:295-315 1588-632 222 111-120 216-221 193-194 287-289
506
3. Análise de documentos 304 2:233-266 12:252-280 1 512 222-223 2:125-139 &102-120 40-60 185-193 283-287
Análise de dados 192-195

4. Análise funcional 11363-366


106-118
5. Comparativa 375-399 1265-270 5:180-188
86-96
1355-359
6. Estudo de caso 191-193 2:205-232 2:228-251 75-99 10:225-246 1812-820 155-156 37-38 264-279
(case studies) 502-504 187-192
investigação no terreno
fàldnsearch)
(observação directa)
16:389415 13-200-211 4849 5:82-100
7. Avaliação 11:291-314 11:281-298 266-280 509-510
.156-375 1275-278 21-24 12:217-232 4.:163-179 1Q:126-138 2:1541
8. Experimental 2:225-270 lfí:267-290 8:200-227 2:35-54 1238-239 117-163 11:139-152 2:42-57
(laboratório, terreno) 1tfl91
sȣ*
1822-849
1861-910b.
367-369 12:277-291; 1868 227-228 175-178
9. Expostfado 10.271-294 504-505
221-222
10. Relatos de vida
(Life histories)
250-266 11:247-275; 1633-671 215-217 148-149 2:3645 62-80 176-178 2:144-178
11. Entrevista 91^94 173-179 18M89 99-120 504-505 1708-725 184-187
(observação indirecta)
277-289 15:359-387; 1775-804 85-94 205-209 2:198-227
12. Medida das atitudes 186-190 15395-422 378-391 162-186 508-509 1811 16:213-222
(ou as «escalas») 72-78
297-317 12:225-246; 1842-827 217-219 97-98 179-180 6:101-117;
13. Observação participante 163 Sprà, 502-504 99-100 280-282
258-261 333-335 1805-811 161-162 63-64
14. Painel (técnica do) 81 22,103 4647 199-233 168-170 1672-725 25-30 142-148 56-71 156-174 167-177 2:144-178
15. Questionário 12:97-106; 1™-W 7:165-199 186-206 340-351 98-115 181-184
(observação indirecta; 113-114 2:196-221 148-163 4:101-144
tipo survey) 238-246
361-365 18:453468; 1882-910b 20-22 83-85 458-81
16. Psicossocial 511-512
W*»* 137-161
(sociodrama, intervenção
psicossociológica)
267; 176-185 8:175-200; 1499-514 53-56 2:36-77 2:107-125
17. Sondagem 129-140 12:315353 £137-161 186-206 500-501 1812-815
(atómica; contextuai; 3947
297-301 88-89 14:317-357;
instantânea; painel) 507-508
18. Testes 32-33; 185 269 1726-766 78-85 12:227-261
2:196-221 271-272

346 347
EXERCÍCIOS vamente à primrii.i i*ise, sem ser no entanto menos importante. Tem
uma natureza diferente, ou seja a aplicação das regras do método,
1. Defina a noção de sondagem e estabeleça as distinções entre oa que são, no espírito da racionalidade complexa, a sede do controlo
diferentes tipos de sondagem. objectivo (cf. figura 3.2).
2. Enumere as etapas a seguir no caso de um tipo de inquérito por NB - Esta segunda fase respeita igualmente a outras técnicas de observação (as técni-
amostra. cas documentais, as técnicas do meio e as técnicas vivas de natureza quali-
3. Escolha uma sondagem que comporte o seu método e preencha a tativa). A quantificação da realidade é substituída pela análise qualitativa ou
«ficha de análise das sondagens» (quadro 8.9). descritiva da realidade.
4. Reconsidere a exploração de Madeleine Lanthier sobre a cidade do
Quebeque servindo-se de uma das técnicas de observação enu- . A observação quantitativa pode ser de tipo probabilista ou não
meradas nos quadros 8.1 a 8.5. probabilista.
5. Em concordância com o seu curso de metodologia quantitativa das • Nos métodos de sondagem, a amostra pode ser não probabilista
ciências humanas, formule testes de hipóteses sobre um objecto das (pelo método das quotas) ou probabilista (segundo as leis dos
ciências humanas à sua escolha. grandes números ou aleatória).
6. Redija um questionário sobre um tema à sua escolha inspirando- • Na utilização das técnicas de amostragem, urge supervisionar dois
-se nas técnicas vivas do quadro 8.2. problemas: um diz respeito à dimensão e o outro à representativi-
7. Consulte dados estatísticos (por exemplo em geografia, em econo- dade da amostra. «A amostragem coloca o problema fundamental
mia, em história ou em psicologia) e prepare um quadro multi- das condições científicas da generalização a toda uma população dos
variado de dados (cf. quadro 8.8). resultados observados numa amostra.» (p. 333).
8. Faça uma apreciação do texto sobre a crise cubana (texto n.0 7.3) . Os inquéritos submetidos à análise estatística implicam dados quanti-
na perspectiva de uma análise geopolítica das relações americano- tativos, uma população e uma amostra, a identificação das variáveis,
-soviéticas no início dos anos 60. dos instrumentos de medida e dos métodos de medida, o uso da
9. Escolha uma pesquisa de ciências humanas para efectuar uma estatística descritiva ou da inferência estatística, os testes de hipóteses
análise no plano da aplicação das regras metodológicas. e a escolha da regra de decisão.
10. Prepare um plano de pesquisa no espírito da secção B. 4 do pre- • Segundo a natureza da informação a tratar, as técnicas de observação
sente capítulo. podem ser de cinco tipos:
l.Q as técnicas documentais;
2.Q as técnicas vivas;
MADELEINE LANTHIER RECAPITULA A MATÉRIA 3.2 o esquema experimental;
• As técnicas científicas de exploração devem apoiar-se: l.Q numa 4.Q as técnicas do meio (físico e humano);
reflexão prévia; 2.e num trabalho de pesquisa enquanto tal. 5.Q a avaliação das situações.
• A reflexão prévia diz respeito ao plano de pesquisa. Esse plano assenta • A técnica do questionário ou da entrevista põe em causa dois factores
nos interesses do investigador, num bom inventário dos meios a utilizar, importantes: de um lado, a personalidade do entrevistador e, do
num problema bem definido e em hipóteses claramente expressas, numa outro, a do seu interlocutor, isto é o entrevistado. O uso desta técnica
«revisão da literatura», em conhecimentos do meio e da natureza das efectua-se segundo as características do processo de comunicação
informações a recolher, na maneira de o fazer ou na escolha das estraté- entre pessoas (a codificação e a descodificação de mensagens, entre
gias de pesquisa a adoptar a fim de resolver o problema. Esta primeira outras). Por outro lado, coloca o problema ético das explorações com
fase da pesquisa é tão essencial como a segunda.
sujeitos humanos.
• O trabalho de pesquisa respeita ao material de observação ou de ex- • As técnicas qualitativas de observação que não implicam métodos
perimentação e aos procedimentos de análise das informações. No quantitativos e instrumentos de medida mas que se apropriam das
modelo clássico da metodologia da pesquisa (sobretudo da observa- condições gerais de pesquisa do método científico não são, por isso,
ção quantitativa), fala-se de universo da exploração, quer dizer do menos científicas.
meio englobante, da população e da amostra. Esta segunda fase da • As fontes são de dois tipos: as fontes primárias e as fontes secundá-
pesquisa põe as ideias em contacto com o mundo da realidade (os rias. O importante é indicar a partir de que tipo de fontes se efec-
dados, os factos, as informações, os fenómenos). É contingente relati- tuaram as análises e as interpretações.

348 349
n) V. discreta Conjunto de modalidades enumeráveis; alga-
. A avaliação de situações como técnica de observação em ciências rismo.
(ou descontínua):
humanas é frequentemente utilizada quando se trata de perseguir
objectivos de comparação, de transformação ou de confirmação. Pode Se o conjunto das modalidades que a variável
ser muito útil no caso de processos administrativos de decisão. pode assumir é um conjunto enumerável, geral-
• Algumas palavras-chave: amostra/ análise de conteúdo, base de mente finito, de números.
sondagem, característica, entrevista, escala, estatística, estudo de caso, Ex.: Número de filhos de uma família, de
estudo de terreno, fonte, fonte primária, fonte secundária, grupo de pétalas de uma flor; o sexo, a classe A, a classe B.,
controlo, grupo experimental, medida, não probabilista, observação etc., o número de pessoas reprovadas no exame de
directa, observação indirecta, observação participante, população, condução, o número de casamentos numa cidade.
população-alvo, população seleccionada, probabilista, psicodrama, b) V. contínua O conjunto de modalidades constitui pelo
qualitativo, quantitativo, questionário, semiologia, sociodrama, (ou medida): menos um intervalo de reais (não enumerável),
sondagem, teste de hipótese, universo do inquérito, variável. uma idealização matemática, um valor num qual-
• Escolha de leituras: Aktouf, Bourdieu, Gauthier, Guay, Lévy ou Ouellet. quer ponto de um continuam de valores possíveis.
Se o conjunto das modalidades que a variável
pode assumir é um intervalo do conjunto dos
APÊNDICE números.
QUADRO 8.10 Ex.; Envelhecimento, altura, peso, idade; a cor
dos olhos (uma apreciação qualitativa), um volu-
Algumas noções de estatística me de negócios; o preço real de um produto, o
Q.I. de um aluno.
NOÇÕES BREVES EXPLICAÇÕES
2. Critérios da ESCALA DE ME- São variáveis.
A POPULAÇÃO: Quer dizer, um grupo ou um conjunto de DIDA:
indivíduos sobre o qual o estatístico pode fazer a) V. categórica: Que não faz obrigatoriamente referência a
observações e medidas. Tratar-se-á, portanto, de cate- quantidades.
gorizar os dados e de observar as modalidades
assumidas pelas variáveis. i nominal Limita-se a distinguir os indivíduos segundo
as classes (o sexo, a religião, o número de um
A) As variáveis, quer dizer as características jogador de hóquei, a classe A, a classe B, etc.);
seleccionadas. classificação em categorias mutuamente exclusivas.
(V. discreta apenas)
B) As modalidades, quer dizer, os valores
assumidos pela V, ou seja a distribuição do valor. OPERAÇÕES PERMITIDAS —^ igualdade (sim/não)
XA ~ yB (ind. = indivíduo)
Para esse efeito, o estatístico deve converter (nenhuma operação , x) ind. = ind.
numericamente os dados segundo determinadas
regras. É o ponto de partida da interpretação dos Distingue as classes e ordena as modalidades.
U. - ordinal
dados e da determinação dos procedimentos estatísticos Não é possível assumir intervalos iguais. Clas-
apropriados ao objectivo da pesquisa. sificação na base da sua posição relativa.
(V. discreta e contínua)
DISTRIBUIÇÃO Quer dizer, o conjunto de valores assumidos O questionário de opinião que propunha as
NA POPULAÇÃO: pela característica na população (valor a priori ou seguintes respostas: 1) fraco; 2) médio; 3) bom; 4)
DISTRIBUIÇÃO DE a posteriori).
forte. Ex.: 6 classes de ensino
PROBABILIDADE: É um modelo matemático. Muito útil no caso - V com uma ordem: «l -freshman, 2 = sopho-
da avaliação dos riscos ou da tomada de decisão. more; 3 - júnior, 4 = sénior, 5 = graduate, 6 = other»
CLASSIFICAÇÃO DAS
VARIÁVEIS: (Koopmans, 1981)

A. SEGUNDO DOIS CRITÉRIOS OPERAÇÕES PERMITIDAS =/*/>/<


1. Critérios das MODALIDA- Quer dizer, o conjunto dos valores assumidos (nenhuma operação +,-,*, x)
DES: pela variável.

350 351
b) V. medida: Que faz naturalmente referência a quantidade a V. independente. Existe pois uma relação de
uma situação antecedente a uma situação conse-
i. - com intervalo: Zero relativo. É possível fazer uma compa- quente. No caso das experiências por observa-
ração de intervalo ou de desvio; a medida do ção apenas (por exemplo, as sondagens em
tempo (por exemplo o calendário) é do mesmo ciências humanas), como não é possível con-
género. trolar a V. independente, é, por conseguinte,
Ex.: o Q.L, onde não existe «O»; a temperatura, difícil associar categoricamente a V. depen-
noção de desvio. dente ao facto da existência da V. indepen-
dente. Por exemplo, a relação de causa e
OPERAÇÕES PERMITIDAS »»>,<,r efeito entre o tabagismo e o cancro do pulmão.
- diferença (XA - yB) É a V. consequente que, no esquema expe-
rimental, representa o efeito de uma causa dada.
ii. - racional (ou de relação): Zero absoluto e intervalos iguais. Ausí Como sabemos, a determinação das causas
física de característica. nem sempre é fácil, como nos recordam fre-
quentemente os diagnósticos em medicina.
Ex.: Altura em polegadas ou em metros (l
2 m: 2 vezes maior).
1'KOBLEMAS ESTATÍSTICOS: Dois tipos:
OPERAÇÕES PERMITIDAS = , > , < , - diferença,
A) DE COMPARAÇÃO: Diz respeito a uma mesma variável em várias
* por relação (quocientt
populações.
das modalidades).
Ex.: Característica «altura» em várias populações
B. SEGUNDO O USO (homens/mulheres).
Quer dizer, segundo a maneira como a pes-
quisa será conduzida. Esta questão não é simples B) DE ASSOCIAÇÃO: Diz respeito a uma única população, mas várias
porque existe uma ambiguidade quanto ao uso variáveis.
dos dois tipos de variáveis. Ex.: Relação entre características: altura/peso,
escolaridade/ salário, etc.
1. V. independente a) Na perspectiva das distribuições condicio-
nais, a V. independente é aquela sobre a NB - Atenção! A associação não determina necessa-
qual se calculam os valores da V. depen- riamente uma relação de causa e efeito.
dente.
OS TESTES DE HIPÓTESES: «Um teste de hipótese é uma regra de decisão que
Ex.: Quantas mulheres e homens tiraram carta de permite determinar qual das duas hipóteses respei-
condução em 1990? A obtenção da carta de con- tantes ao valor de um parâmetro é a mais plau-
dução constitui a V. independente. sível.» (Bélisle e Desrosiers, 1983, p. 173.) O objec-
A expressão matemática desta relação é a se- tivo principal dos testes de hipóteses é permitir uma
guinte: generalização ou inferir conclusões sobre popula-
y = f (x), ou ainda: ções a partir de constatações medidas em amostras.
x (V. independente) X3 •» *n
ANÁLISE ESTATÍSTICA: O estudo estatístico comporta geralmente três etapas principais:
y (V. dependente)
. ORGANIZAR » SINTETIZAR Etapa 1 Etapa 2 Etapa 3
b) Na perspectiva dos problemas de associação,
duas variáveis são independentes quando as Escolher Organizar Utilizar as técnicas
distribuições de uma população de uma V, INFERIR uma população os dados, a fim de inferência
sendo dada outra V, são iguais para todos oa (inferência estatística) amostra ou uma de fazer a síntese estatística
valores da outra variável. representativa de ou a redução para fins
uma população estatística de interpretação
c) Na perspectiva das relações de causa e efeito, para recolher dados dos dados
quer dizer, no caso do esquema experimental/
a V. independente é a que o experimentador
2. V. dependente controla. Por conseguinte, a V. dependente é A análise estatística comporta um trabalho de organização dos
dados que é distinto do trabalho de síntese sobre os dados.
aquela que é função das manipulações sobre

^352 353
. LÓGICA DOS TESTES Organizar »>-. dados corresponde geralmente a uma classificai
DE HIPÓTESES de agrupamento dos dados, a fim de servir para a inu-i pn-i-n,
a síntese faz apelo às noções de probabilidades e à lógica c
l.fl Análise crítica do problema; testes de hipóteses, ou seja às técnicas de inferência estatístl
2.Q Formulação da questão para
a qual uma escolha de res-
posta se impõe;
3.Q Formulação das hipóteses a
submeter à prova «experi-
mental».

COMENTÁRIO:
Referências:
• Embora o estudante de ciên-
cias humanas não seja neces- BÉLISLE, Jean-Pierre, e Jacques DESROSIERS, Intro-
sariamente chamado a utilizar duction à Ia statistique, Montreal Gaétan Morin, editor,
a estatística e as probabilida- 1983,296 pp.; CHRISTENSEN, Howard B. La statistique:
dêmarche pédagogique programmée, título original: Statistict
des para fazer os seus traba- Step by Step (1977), traduzido do inglês por Françoya
lhos, confrontar-se-á inevita- GAGNÉ e Robert PROULX, Montreal, Gaétan Morin,
velmente com o problema do editor, 1986, xvi + 682 pp.; GUAY, Jean-H., Sciences
«consumo» das estatísticas (cf, humaines et mêthodes quantitatives, Montreal, Beau-
Michel Lévy, 1979). chemin, 1991, xii + 412 pp. O RELATÓRIO 1:
ESBOÇO E SÍNTESE

PLANO

A - A organização das ideias tendo em vista o relatório


B - Um trabalho de concepção e de verificação
C - «Pensar em presença dos factos»

354
APRESENTAÇÃO

INTRODUÇÃO

«As ideias são operacionais pelo facto de provocarem e dirigirem


Entre o material bruto da pesquisa e a síntese, a distância é tanta como as operações ulteriores da observação; são propostas e planos para agir
entre desejar qualquer coisa e conseguir alcançá-la. O sujeito deve efectuai sobre as condições existentes deforma a trazer novos factos à luz e a
duas acções primordiais: uma diz respeito ao seu material de experiência e organizar todos os factos escolhidos num todo coerente»
a outra à ideia que tem sobre a pesquisa. O trabalho de pesquisa exige a (DEWEY, Logique, 1967, p. 178.)
clarificação do conteúdo e da organização do plano de pesquisa. Isto foi dito
«Uma biblioteca é um entreposto de munições desactivadas prestes a
no capítulo 8. Por outro lado, o investigador deve pretender que os seus explodir justamente no momento em que um leitor atento abre um livro.»
leitores o compreendam. A organização e a interpretação dos resultados da (BARZUN e GRAFT, The Modern Researcher, 1985, p. 145.)
observação exigem «pensar em presença dos factos» (cf. texto n.s 9.1).
A estruturação da informação e sobretudo a sua análise constituem um «O conhecimento humano, ao adoptar uma opinião [...], arrasta
trabalho capital no momento de preparar a síntese dos resultados da pes- atrás de si todo o resto, para confirmar e aceitar essa opinião.»
quisa. Ambas obrigam o investigador a proceder a múltiplas verificações, (BACON, The New Organon, p. 50.)
que são de dois tipos; fundamentais e técnicas. Contudo, são a concepção e
simbolização do real que devem merecer o maior cuidado. Por fim, certas «Construir livros sem ciência e sem arte não será o mesmo que
erguer uma muralha sem pedra, ou outra coisa semelhante?»
qualidades do espírito devem tornar-se uma espécie de segunda natureza.
(MoNTAiGNE, Essais, ffl, 2.)
Por outro lado, a pesquisa levanta problemas deontológicos, que dizem
respeito, entre outros, às competências do investigador (formação, estudos, «A interpretação ê, com efeito, uma reconstrução.»
etc.), ao tratamento do objecto de pesquisa (sobretudo se se trata de um (BERGSON, Oeuvres, 1963, p. 944).
sujeito humano) e a regras de ética incluindo a honestidade, a preocupação
da objectividade, etc.
A síntese implica um trabalho simultâneo de crítica e de autocrítica. A difícil arte da síntese exige toda a energia intelectual de seja quem for
Importa saber tratar e manipular correctamente a informação e também que empreenda um trabalho de investigação. Exige igualmente uma actividade
avaliar o seu próprio pensamento para não se ficar prisioneiro das ideias criadora na qual a imaginação ocupa um lugar importante. Essa actividade
pessoais. A descoberta científica exige estes dois tipos de controlo. É neces- faz apelo tanto à experiência como aos conhecimentos, tanto à memória como
sário saber o que se procura e, ao mesmo tempo, estar permanentemente às capacidades de investigação, tanto ao gosto pela exactidão como ao desejo
aberto à experiência. de expressão e tanto à objectividade como à subjectividade. A sua característica
intrínseca está ligada à originalidade das ideias do investigador.
Se determinadas tarefas forem realizadas com método e rigor, não é
impossível alcançar os fins pretendidos. Para isso, deve fazer-se o esforço

356
357
de hierarquização lógica das partes num todo unificado. O produto final 0 sou ponto de vista e discuti-lo, para que o seu leitor capte distintamente
deste esforço intelectual poderá concretizar-se num relatório. A sua carac- a adequação entre os factos e as ideias, entre os resultados obtidos ou
terística intrínseca está ligada à arte de pensar. Em resumo, essa difícil art« • >l'sorvados e os resultados desejados ou esperados.
aprende-se com paciência, calma e tenacidade. O capítulo 8 foi consagrado à descrição dos métodos e dos meios de
É normal que o espírito se sinta perplexo no momento de conceber a .iK,inçar um fim. Se o problema está mal definido e foram adoptados meios
realidade que conseguiu identificar. A reflexão isolada não o consegue; a precisos (métodos e técnicas de investigação), ainda que sem se saber bem
vontade, só por si, não basta; os procedimentos exploratórios ou o plano de n finalidade da mobilização de todo o dispositivo exploratório, pode muito
experiência não preenchem inteiramente o fosso existente entre a pesquisa 1 M-m acontecer que haja um resultado no fim; contudo, o seu significado será
e a descoberta; para exprimir o desconhecido, a inteligência, por desenvol- difícil de compreender. Elaborar um mapa não basta para explicar a
vida que seja, não pode passar sem a coragem e a tenacidade. Isso explica paisagem; a erudição não desencadeia ipso facto a interpretação histórica;
o momento de perturbação emocional perante a dificuldade. onumerar os resultados eleitorais desde a Confederação não explica os
comportamentos dos eleitores canadianos e quebequenses; ou ainda,
descrever o modo de vida dos Ameríndios não explica a sua civilização.
Existe um longo caminho entre a percepção dos fenómenos, a observação
A - A ORGANIZAÇÃO DAS IDEIAS TENDO dos factos e a sua explicação. Se a investigação tende a resolver um enigma,
EM VISTA O RELATÓRIO u desenredar uma intriga, a fornecer uma explicação, em suma a descobrir
uma resposta razoável para um determinado problema, deve consequente-
Os sentimentos de Madeleine Lanthier perante o método científico estão mente manifestar-se como tal, quanto se trata de comunicar os resultados.
muito divididos. Muitas ideias empurram-se, entrechocam-se, contradizem-se Este ponto é crucial, uma vez que, para manter o interesse do leitor ou do
ou recusam-se a surgir na sua mente. Ela procura uma resposta. Contudo, não interlocutor, importa implicá-lo no nosso próprio procedimento de investi-
consegue pôr em ordem a miríade de pensamentos presentes no seu espírito e gação, para que possa, também ele, por sua vez e à sua maneira, descobrir
os múltiplos sentimentos que a animam. Relê o texto n.Q 1.12 de Santo Agostinho. o seu interesse nela, integrá-la na sua visão dos factos1.
Detém-se nesta frase: «De resto, não são as próprias coisas que entram na
memória, mas as imagens das coisas sensíveis, para se porem às ordens do
pensamento que as evoca. [...] É em mim próprio que tudo isto ocorre, no imenso 2. VISAR A SÍNTESE CIENTÍFICA
palácio da minha memória.» Será a sua memória que fará todo o trabalho que
falta realizar? Como conseguirá ela combinar os factos, as ideias, as percepções, Em proveito de Madeleine Lanthier, iremos esboçar um «esquema de
as sugestões, as suposições, as proposições, as hipóteses, os dados recolhidos, produção do relatório de investigação». Ao analisar este esquema, ela poderá
os primeiros tratamentos, etc, num todo susceptível de ser compreensível para reparar nos nexos que se estabelecem entre: 1.° os problemas teóricos e gerais
qualquer outra pessoa? É esse o seu próximo desafio. de investigação; 2.Q a actividade de pesquisa enquanto tal e as condições de
utilização do método científico; 3.Q as obrigações do investigador rela-
tivamente à comunicação dos seus conhecimentos a um leitor determinado
1. FAZER O PONTO ou a um público desconhecido. Madeleine Lanthier deve ter consciência de
tudo isto se está decidida a fazer uma investigação, visto que a redacção de
Por conseguinte, ela deve, sem desvios nem complacências, colocar a si um relatório de investigação compreende inevitavelmente estas três vertentes.
própria algumas questões precisas. É o momento privilegiado em que deve O esquema de produção do relatório de investigação a seguir descrito
ser empreendido um esforço particular para fazer o ponto tanto sobre si pretende situar o método científico em relação ao ambiente da investigação e
própria como sobre o objecto da sua pesquisa. Quanto a si própria, deve à síntese científica. O autor científico precisa, portanto, de ter uma ideia clara
ainda interrogar-se sobre o que procura realmente e sobre as suas intenções. e completa do seu relatório de investigação. Consequentemente, em nenhum
Em relação ao seu objecto, quer dizer, ao que delimitou como sendo a momento deve deixar o seu leitor na dúvida. Para o efeito, deve clarificar as
finalidade ou o objectivo da sua pesquisa, deve interrogar-se com rigor pelo suas ideias desde o início. Por exemplo, deve distinguir entre o que é central
menos sobre quatro pontos. O primeiro respeita à natureza do problema a no estudo e o que é auxiliar, entre o que é fundamental e secundário ou
resolver. Por outras palavras, deve interrogar-se com perspicácia sobre o que
provocou a pesquisa. Em segundo lugar, deve poder ser capaz de explicar l Grawitz (1986) expõe o mesmo ponto de vista da maneira seguinte: «Não se trata apenas de
o método que escolheu para a levar a cabo. Em terceiro lugar, as técnicas comunicar elementos precisos ou números, mas também de transmitir uma atmosfera, hipóteses
de observação (quantitativa, qualitativa ou de avaliação) devem ser objecto que, à partida, são impressões. O conjunto só será convincente, só interessará ao leitor, na
medida em que este participe nessa experiência vivida pelo investigador.» (§ 552, pp. 633).
de uma apresentação clara. Em quarto lugar, ser-lhe-á necessário fazer valer

359
355
|M>riférico, entiv um plano de ataque reflectido e a improvisação auto-suficiente,
I. Ambiente II. O método III. A síntese ontre o que é investigar e responder a uma questão de pesquisa ou inicial.
da investigação cientifico científica
A síntese científica vem completar e atribuir um sentido a qualquer esforço
de pesquisa desenvolvido desde as primeiras observações, mas sobretudo no
• Domínio de conhecimento A. - Duas vias possíveis: A. - Definição clara dos ob-
jectivos da investigação
momento da formulação do problema. A síntese científica conduz à orgam-
• Problema a escolher 1. A inferência •/,ivão final do relatório, quer dizer à sua estrutura e apresentação ((f. ultimo
• Procura das evidências B. - Historiografia do proble- capítulo). É só então que termina o trabalho do investigador.
• «Revisão da literatura» ou ma (se ror caso disso)
leituras a fazer (escolha bi- • Verificações de ordem:
bliográfica) a. fundamental C. - Apresentação lógica da
b. técnica resposta ao problema es-
• O problema: colhido (ou plano do re- B - UM TRABALHO DE CONCEPÇÃO
2. A hipótese
- Definição
- Delimitação
latório) E DE VERIFICAÇÃO
• Verificação das afirmações 1. relatório experimental
- Hierarquização das difi- ou das soluções ou das res- 2. relatório de exploração «O pensamento não se separa de um processo que mantemos connosco próprios.»
culdades postas propostas
D. - Qualidades do texto: (GurrroN, Apprenâre à vime et à penser, Paris, Fayard, 1957, p. 50.)
• Âmbito, objecto e finalidade
B. - Técnicas de observação:
da investigação - Do ponto de vista da língua
1. documental (observação - Do ponto de vista dos con- Nenhuma obra é fruto de geração espontânea, mas o resultado de uma
• Lucidez relativamente às suas indirecta) «ruminação intelectual» orientada para uma finalidade. Existiria uma teoria de
intenções ceitos
2. viva (observação directa e - Do ponto de vista dos mé- motivos a elaborar sobre a investigação científica (ver Barzun, 1974, cap. 4), uma
indirecta) todos estatísticos (se for caso vez que, fundamentalmente, não há pesquisa que não seja intencional. De facto,
• Importância da investigação 3. experimental (observação disso) o que move o investigador (ou mesmo Madeleine Lanthier) a estudar e a
e controlo} - Do ponto de vista da co-
• As «normas» aceites 4. do meio (abordagem geo- escrever sobre esta questão ou aquele assunto? A finalidade visada, o desígnio
municação das ideias
gráfica) - Do ponto de vista da com- de uma pesquisa, relacionam-se com o investigador. Ele é animado por motivos
• Avaliação das possibilida- 5. de avaliação de situações
des de resolução do problema: posição pessoalíssimos. Tem razões para agir. Possui móbiles2 que o impelem à acção.
- No plano do aparelho téc- O que espera mostrar, demonstrar ou apoiar? Se tenciona fornecer uma expli-
- O tempo C. - Recolha de dados e ve- nico
- As tarefas rificação do seu valor - No plano da publicação
cação, há mais do que as técnicas científicas de investigação, do que a lógica
- Os recursos (materiais, con- (segundo métodos quan- da validade dos processos de inferência e de hipóteses ou do que a aplicação
ceptuais e técnicos) titativos ou qualitativos) E. - Exigências da investiga- dos métodos de investigação; há tudo o que rodeia a subjectividade do sujeito
• As atitudes de espírito na D. - Tratamento da informa- ção: enquanto investigador. Foi destes aspectos que tratou o primeiro capítulo
investigação ção em função da rela- - Precisão nos factos consagrado a Madeleine Lanthier: «Um sujeito interroga-se.»
ção circular análise/crí- - Solidez das evidências Chegou o momento crucial. O investigador tem de realizar um primeiro
tica/síntese - Multiplicidade das verifica- balanço, que deve ser ao mesmo tempo global e específico. E global no que res-
ções
E. - Organização das ideias peita ao procedimento de pesquisa empreendido. Supõe uma reflexão sobre os
e aos factos
F. - Tipos de apresentação das próprios pressupostos, a sua posição epistemológica, a concepção da disciplina
F. - Controlos de conformi- informações: e da ciência bem como a natureza do problema formulado. E específico devido
dade com o real - Técnicas matemáticas ao método científico adoptado e à escolha das técnicas científicas de pesquisa.
G. - Avaliar os limites do seu - Técnicas gráficas Para o investigador, trata-se de se implicar concretamente na pesquisa, quer dizer
trabalho de pesquisa - Técnicas cartográficas de realizar o tratamento das observações. Tudo o que foi acumulado deve ser
- Construção de quadros classificado, tratado, avaliado, organizado, em suma, preparado e pronto para
- Reproduções fotográficas
ser explorado em função dos resultados previsíveis. As medidas de controlo
G. - Interpretação dos resul- intervirão no decurso do caminho. A crítica vigilante do pensamento deverá
tados ou da informação seguir como uma sombra o andamento do trabalho intelectual3.
H. - Conclusões e recomenda-
ções (se for caso disso) 2 O Dictionnaíre de Ia langue française (1963, tomo 4) de Paul Robert sublinha o seguinte:
«O móbil é um impulso que desencadeia e determina a vontade, sendo simultaneamente da
ordem do sensível, do afectivo ou do passional. A reflexão, pelo contrário, pesa os motivos,
aprecia-os, transforma-os em razões para actuar ou abster-se de o fazer [...].»
Figura 9.1 - Esquema de produção do relatório de investigação

362
360
Por fim, nada pode escapar às obrigações do investigador no momento científico. É um momento difícil na pesquisa, uma vez que se trata de
de passar o seu trabalho de investigação da observação para o esboço, do proceder a numerosas verificações, umas mais fundamentais, outras mais
esboço para o projecto e, finalmente, do projecto para a síntese. Tudo está técnicas. Esta distinção permitirá a Madeleine Lanthier exercer melhor o seu
relacionado, num processo que poderia chamar-se observação discriminante sentido crítico.
Trata-se de trabalhar com as ideias ligadas a um conjunto de factos, de dados,
de actos, de comportamentos, de variáveis ou ainda em presença de uma
situação mais ou menos complexa. Não existem receitas miraculosas ou
panaceias que permitam transformar os factos brutos em ideias claras. Esta
2. AS VERIFICAÇÕES FUNDAMENTAIS
fase difícil da investigação supõe a reflexão. Tentemos resumir este trabalho
complexo conducente à redacção de um relatório de investigação. Qualquer trabalho de pesquisa implica verificações mais ou menos
complexas das informações brutas segundo o nível de elaboração do projecto
de síntese. É pela sistematização e organização da informação recolhida que
é possível explorar o seu material de pesquisa, que servirá de base às gene-
1. A VISÃO DAS PARTES E DO TODO ralizações. Esta fase muito importante na aplicação do método científico não
é exclusiva da ciência experimental. Caracteriza igualmente qualquer
A experiência humana incita-nos a crer que o produto do pensamento se conhecimento que procure objectivar-se em relação ao real. Porém, é verdade
elabora numa alquimia muito complexa que geralmente chamamos «criação» que, em muitas disciplinas das ciências humanas, o esquema experimental
(Veraldo, 1973). Madeleine Lanthier pode reler e analisar atentamente a figura não pode funcionar de modo algum. Poder-se-á afirmar que não são tomadas
6.1: nela descobrirá as ideias do historiador Frégault respeitantes não apenas quaisquer precauções no processo de pesquisa e de exploração? Se o
aos acontecimentos históricos mas também às suas relações e suas signi- conhecimento se limitasse apenas aos processos experimentais, as ciências
ficações no que toca à conquista. Os resultados deste trabalho histórico pro- humanas permaneceriam na Idade da Pedra! Desde Heródoto, Tucídides,
vêm de uma construção do espírito. Encontram-se sumariamente expressos no Maquiavel, Adam Smith, Voltaire, Michelet, J.-S. Mill, Marx e muitos outros,
índice. A observação discriminante chegou finalmente a um juízo, a uma o espírito humano inventou muitos caminhos para tentar apreender as
decisão. O que foi sopesado foi-o em função da síntese. realidades sociais, históricas e culturais. Abordemos alguns destes problemas
O ajustamento da nossa visão de uma experiência, de uma observação, importantes de verificação fundamental na aplicação do método científico.
de leituras interessadas, ávidas ou mórbidas ou ainda de um estudo dirigido
e intencional nunca é repentino. O esboço servirá para desbastar o todo, de
modo a fazer aparecer as partes. Esta primeiríssima visão das coisas A. O PROBLEMA E A HIPÓTESE
permitirá o aparecimento das tentativas iniciais de classificação das informa-
ções e das ideias. O esboço será grosseiro. Apesar do seu carácter rudimentar, A complexidade do problema desempenha um papel importante nas
será útil à organização do trabalho de investigação. O cuidado que se tiver técnicas de verificação. Abordar o lugar da política na sociedade ou da religião
a distinguir, a classificar e a ordenar virá apoiar a estrutura geral que, por nos comportamentos humanos e estudar uma personagem política num dado
sua vez, se apoiará na organização lógica e na interpretação dos factos. momento ou uma instituição religiosa em particular não colocam as mesmas
Para alcançar tal objectivo, o esboço deve inscrever-se num projecto, ou dificuldades de verificação. O estudo de Lucien Febvre (de que se falará mais
seja na finalidade a atingir. Trata-se de transformar um certo caos de adiante), Lê próblème de Yincroyance au xvf sièck, desencadeia um conjunto de
informação numa certa ordem susceptível de ser compreensível. Esta verificações muito complexas que põem em causa não apenas uma pessoa,
primeira ideia que se tiver da exploração virá orientar a elaboração da um autor, mas também as ideias e as crenças de um século. Também põe
pesquisa. De facto, este projecto nada mais é do que a representação mental em jogo a mentalidade do próprio historiador e da época em que vive.
do objecto a explorar. Ora, esse objecto deverá ser submetido a um processo (A subjectividade não existe apenas no entrevistador ou no psicoterapeuta, mas
de verificação. O projecto manter-se-á, cairá ou transformar-se-á, conforme também no historiador, no geógrafo, no economista, no antropólogo, etc).
o objecto resista ou não à exploração. Por conseguinte, não basta ter uma A reflexão respeitante à natureza do problema a resolver é da maior
ideia, possuir uma boa documentação ou ter acumulado ou analisado importância. Não existem receitas particulares que permitam escolher um
estatísticas para satisfazer uma das exigências mais fundamentais do método «bom» problema. A dificuldade de formular um problema é a mesma, tanto
em sociologia, como em história, em psicologia, em antropologia ou noutra
3 Simon e Burstein (1985, cap. 18 a 23) elaboraram uma teoria das restrições (em inglês, obstacles) disciplina das ciências humanas. Essa questão foi tratada no capítulo 5. Logo
do conhecimento em ciências sociais e dos meios de as ultrapassar. [Ver a bibliografia para que se tenha o problema em mente, impõe-se uma primeira verificação
obter os títulos dos seis capítulos, p. 390.] quanto às possibilidades de o resolver.

362 363
Em presença de um problema determinado, trata-se de verificar se a sua mento histórico, geográfico, económico, antropológico ou político. Maquiavel
formulação é adequada; se, no estado actual dos conhecimentos, podem s<-i não o terá demonstrado, a propósito do poder político e dos políticos? Marx
perspectivadas soluções; se os elementos do problema são susceptíveis de não o terá revelado quanto à infraestrutura e à superstrutura económicas?
ser apoiados por outras informações específicas e pertinentes; se é possível Piaget não terá mostrado todas as possibilidades do método clínico aplicado
perspectivar um tratamento científico; se pode ser fornecida uma explicação de uma forma sistemática ao estudo das crianças? As ciências humanas não
baseada em evidências estabelecidas ou a estabelecer possivelmente; se os são desprovidas de meios de conhecimento.
objectivos da exploração não se tornam conclusões prematuras e se, final- Um grande estudo como o de Lucien Febvre, Lê problème de Vincroyance au
mente, o esboço e o projecto não transformam a exploração num processo xvi6 siècle, La religion de Rabelais pode servir de exemplo para um método
de autojustificação e de racionalização. Os obstáculos metodológicos próprio das ciências humanas7. Henri Berr resume admiravelmente a obra ao
colocados por todas estas condições podem tornar a exploração vã, ainda escrever: «Entre o problema e a solução, a exploração será caracterizada por
que ela possa ter todas as aparências do método científico. um rigor paciente» (p. x). Com efeito, dez anos de pesquisas terão decorrido
A questão não é mais simples no que respeita às hipóteses. Formular uma até ao seu aparecimento na «Bibliothèque de synthèse historique» fundada por
«boa» resposta, isto é responder a uma boa questão, exige sagacidade4. Henri Berr. Este «rigor paciente» aplicar-se-á à vontade de compreender (p. 18),
O espírito deve estar alerta, vigilante, aberto, mas crítico e apto a formular escreve Febvre, mas tomando um conjunto de precauções, entre as quais a mais
claramente uma sugestão para responder a uma dificuldade. A hipótese ser- importante será evitar o «anacronismo» - «o pecado absolutamente irremissí-
virá de instrumento para a resolução do problema. Esta orientação metodo- vel» (p. 6). De facto, a introdução geral e a nota prévia sobre o problema e o
lógica exige bons conhecimentos das teorias existentes no domínio escolhido; método proporcionam um questão metodológica essencial de grande valor.
exige também que se conheça os procedimentos de controlo do material expe- Questões a debater sobre a crença, a ausência de crença, o ateísmo, o
rimental; exige ainda uma manipulação das variáveis, de acordo com um cristianismo, etc., e sobre o homem Rabelais, sobre o espírito humano, são
método apropriado ao domínio; requer sobretudo um esquema experimental outros tantos temas susceptíveis de ser objecto de observação noutras épocas
bem estabelecido no início, que servirá de guia à experimentação5. Impõem- e com outros meios. Não será correcto afirmar que uma tal conduta de
-se verificações em todos estes aspectos. Elas revestem-se da maior importância. observação exige imaginação, perspicácia e também .perseverança?
A variedade das técnicas de observação (cf. os quadros 8.1 e 8.5 e o
B. A CONDUÇÃO DA OBSERVAÇÃO6 quadro 8.7 sobre os métodos de «observação quantitativa») proporciona à
conduta de observação diversas disposições, quer dizer medidas a seguir,
Qualquer exploração científica supõe um procedimento sistemático de com as quais é preciso «ter cautela». Essas precauções elementares exprimem-
observação. O grande mérito da ciência experimental é ter estabelecido se quer pela crítica externa ou interna em história, quer pelo método no
protocolos de experimentação comprovados, que servem de lembretes terreno em geografia, quer pelas condições de redacção de um questionário,
metodológicos. Esta prática «experimental» nas ciências humanas é limitada. quer pela preparação de uma entrevista em sociologia ou ainda pelas
Realizaram-se numerosas adaptações por intermédio da observação quan- medidas de validade interna e externa, quando se usam métodos estatísticos
titativa. Contudo, não é menos verdade que amplos domínios das ciências e esquema experimental. Cada técnica engendrou o seu modo de emprego,
humanas não podem pretender assemelhar-se à ciência experimental dos cuja aprendizagem importa fazer. Além disso, conforme se trata de obser-
Pasteur, dos Curie, dos Monod, e dos Jacob. Contudo, é possível um conheci- vação indirecta (pelas técnicas documentais) ou de observação directa,
extensiva ou intensiva (pelas técnicas vivas), devem ser respeitadas precau-
4 O Dictionnaire de Ia langue française (1963, tomo 6) de Paul Robert dá a seguinte definição: ções especiais. Nas técnicas vivas de observação, a relação entre observador
«Penetração feita de intuição, de finura e de vivacidade de espírito.» Ver: clarividência, finura, e observado apresenta inúmeras consequências no plano metodológico.
perspicácia; antónimo: cegueira. A condução da observação requer uma vigilância acrescida não apenas das
5 O quadro 8.3, acompanhado por referências precisas, expõe um resumo do esquema atitudes do observador mas também das reacções dos sujeitos observados8.
experimental. Os «princípios de experimentação científica» foram magistralmente expostos
por Walter T. Federer no capítulo, que ele próprio qualifica de não-estatístico, de introdução
à sua obra Experimental Design, Theory and Application, Nova Iorque, Macmillan, 1955, xix + 7 Na colecção «Uévolution de ITiumanité» (n.Q 53), dirigida por Henri Berr (ed. revista, Paris,
544 pp. -í- 47 pp. Este livro chegou ao meu conhecimento por intermédio do Prof. Claude A. Albin Michel, 1962, xxvii + 547 pp.). Prefácio de H. Berr sobre o tema «Psychologie collective
St-Pierre, do departamento de Fitologia da Universidade Lavai. et raison individuelle» (pp. vii-xxvii). Notemos de passagem que a Société Radio-Canada
6 Ao mesmo tempo que defendia uma verdadeira teoria da indução (texto n.c 2.1), Francis Bacon consagrou, na série «Actuelles», cinco emissões de trinta minutos, em 1984, a «Notre Rabelais»,
elaborou, em The New Organon, uma teoria dos ídolos, que continua a ser pertinente. Separa com André Belleau (entrevistador Wilfrid Lemoyne).
esses ídolos em quatro classes: os ídolos da Tribo, da Caverna, do Mercado e do Teatro (ou seja 8 Para a psicologia, ver Howard (1985), cap. 10: «Contamination Problem and Control
as influências da natureza e da cultura do homem, dos preconceitos pessoais, do discurso e Procedures», e cap. 16: «On Studying Humans»; no caso da sociologia, Grawitz (1986). § 254
da razão e, finalmente, da acomodação individual às ideias convencionais e aos sistemas bis-261, pp. 336-348, e § 313-316, pp. 413-416. Ver o texto em quadro n.fi 8.1 sobre esta questão
filosóficos transmitidos e estabelecidos que aprisionam o espírito humano). fundamental entre o investigador e o entrevistado.

364 365
C. A ORIENTAÇÃO ESTATÍSTICA ('orno tratá-los objccluwHt-iiir:' Almal, o observador é de crucial importância.
'Ioda a sua subjectividade penetra na interpretação que faz dos factos que
A estatística recorre a técnicas de cálculo específicas expostas em muitos Isolou no real, que seleccionou, que organizou de acordo com a ordem que
manuais de estatística. Porém, em si, a estatística não garante, ipso facto, a lhe convém e que dá a conhecer, como outras tantas evidências, ao inter-
objectividade que sonhamos obter. A estatística trabalha com dados obtidos locutor: o leitor ou o público (a relacionar com o texto n.fi 5.1). O ditado
de diversas fontes e de diversas maneiras. Estes dados podem provir de popular recorda-nos de uma forma admirável que «Os factos não falam por
censos, de sondagens oficiais (nas administrações públicas ou nos depar- NÍ próprios.» Por conseguinte, é falacioso afirmar que se deve deixar falar
tamentos de estatísticas) ou podem ter sido recolhidos no seguimento de ON factos. Uma simples cronologia de acontecimentos contém em si uma
«observação quantitativa» (cf. quadro 8.7). É por isso que os estatísticos Interpretação da realidade histórica. Em relação a esse problema fundamental
insistem muito nas relações entre a estatística e os princípios da expe- entre o objecto observado e o observador, que precauções particulares é
rimentação científica. Crêem que o experimentador deveria responder a um conveniente tomar?
determinado número de questões prévias antes de iniciar a sua pesquisa. Segundo Maurice Séguin (1987, p. 92), «as normas [subentendido, as do
Entre essas questões, umas não relevam da estatística (por exemplo, a historiador] suplantam em excelência o método». Esta afirmação de princípio
formulação das questões ou das hipóteses e problemas a resolver), ao passo visa realçar a importância das concepções, dos pressupostos, dos postulados
que outras dependem mais ou menos directamente dela (nomeadamente as do investigador. Essas normas implícitas ou explícitas «são como leis do agir
técnicas de amostragem, a escolha de instrumentos de medida, a inferência humano, tiradas da observação dos factos» (Séguin, 1987, p. 94). É «o
estatística ou a interpretação dos resultados). Porém, nos dois casos, é problema supremo» que Piaget nomeia (cf. texto n.Q 2.6). Em vez de questões
altamente desejável que essas questões sejam bem estudadas antes de se como «Que sei?» ou «Quem sou?», importa perguntar «Que é pensar?» Por
proceder à experimentação enquanto tal ou à observação quantitativa. Essas outras palavras, é preciso procurar saber «como pensar bem», segundo a
verificações só podem aumentar a validade dos resultados da pesquisa. Saber expressão de Edgar Morin (cf texto n.2 2.7). Aqui, as receitas escapam-se-nos.
que o erro experimental deve ser minimizado antes da experiência constitui O pensamento encontra-se em contacto com os factos. Trata-se agora de
uma das melhores garantias para assegurar o progresso das pesquisas seja ganhar o hábito de pensar em presença dos factos. Este confronto exige uma
em que domínio for. reflexão crítica e, da parte do investigador, uma tomada de consciência do
Este parágrafo muito sumário sobre a questão da orientação estatística de seu próprio processo de pensamento. A fim de fornecer algumas pistas de
uma pesquisa sublinha, perante os estudantes em ciências humanas, que o uso reflexão a Madeleine Lanthier, o seu professor poderia sugerir-lhe leituras,
da estatística coloca certos problemas de verificações prévias sem as quais a como estas ou outras, à sua escolha, para que ela pudesse afinar o pensa-
pesquisa corre o risco de ser completamente nula. O número não é garantia mento e desenvolver o sentido crítico (cf. quadro 9.1).
de objectividade nem de conhecimento científico. Por outro lado, o uso da Seja qual for o domínio escolhido em ciências humanas, a abertura às
estatística exige uma competência nessa disciplina, uma vez que, na condução outras disciplinas surge como uma expressão do alargamento do saber, tão
das análises e das interpretações estatísticas, importa dominar os métodos fundamentalmente necessário à compreensão do homem nas suas mani-
estatísticos utilizados e saber explicar por que razão foram escolhidos. festações mais diversas e surpreendentes. Por conseguinte, a primeira
verificação a fazer em ciências humanas diz respeito mais particularmente
à cultura pessoal do investigador. É pelo menos o que as técnicas documen-
D. A ORIENTAÇÃO DOCUMENTAL tais evidenciam de uma forma singular. A este respeito, Marrou (1960) chega
mesmo a escrever, a propósito do historiador, que «a sua competência será
A quantidade de material documental em ciências humanas é variável definida pela [...] sua equação pessoal [...] [e que] ele conhecerá do passado
segundo as épocas históricas, mas, no conjunto, é monumental, gigantesco, o que se revelar capaz de compreender9» (p. 239).
até monstruoso. A ele soma-se, desde o desenvolvimento da geografia
humana, a paisagem com a marca do homem e que é, à sua maneira, resultado
da acção humana. Não será também outro domínio das ciências humanas?
Esse «documento» vivo, activo e dinâmico é muitas vezes representado por E. O CONTROLO DO OBJECTIVO DA INVESTIGAÇÃO
mapas de todos os tipos. Podemos afirmar que é menos histórico do que a
declaração do general de Gaulle na varanda dos Paços do Concelho de O esboço e o projecto de pesquisa estão geralmente sob a dependência
Montreal em 1967? Essa visão do «documento» só pode alargar o campo das do objectivo da exploração. Na sua exploração sobre Lê problème de Vincroy-
técnicas de observação em ciências humanas.
O quadro 8.1 apresenta um sumário do âmbito de testemunhos do homem. 9 Trata-se da própria noção de «demarcação do horizonte dos nossos conhecimentos» segundo
Que podemos fazer com essa massa de testemunhos? Para que podem servir? Kant m Logique (1979), pp. 43-47.

366 367
QUADRO 9.1 au xvf $iècle, l riu K- define sem rodeios e com precisão o seu objectivo:
l mleneionuInu-nU' t- IM sua ambiciosa modéstia, um ensaio sobre o sentido
Leituras sugeridas sobre o processo de síntese i* o espírito do nosso século xvi» (1962, p. 1). Como é possível constatar, o
Inior não é avisado deste objectivo no meio do estudo ou na conclusão ou
Arendt, Hannah 1972 La crise de Ia culture, Huit exeràces de pensée folijlt
t-n
que, trad. do inglês sob a direcção de Patrick 1 ,rw \, Gallimard, 381 pp.i qualquer outra
(col. «Idées», n.°parte,
263). numa nota de rodapé, por exemplo, mas desde a
mitodução e na primeira página. É assim que se escrevem grandes livros e
Berr, Henri 1953 La synthèse en histoire, Son rapport avec Ia synthèse x<;'/«' M redigem excelentes relatórios!
rale, nova ed., revista e actualizada, Paris, Albin Ml Verificar a natureza dos seus objectivos de exploração ou as finalidades
chel, xvi + 318 pp. (col. «Uévolution de rhumanilc>") >|iio se pretende atingir representa uma etapa importante no processo de
Corbin, Henry 1964 Histoire de Ia philosophie islamique. 1: Dês originic-i interpretação dos resultados. Quer se trate do trabalho do historiador ou do
jusqu'à Ia mort d'Averroês (1198), Paris, Galliman.l, í'(cógrafo, do sociólogo ou do psicólogo, do administrador ou do economista,
383 pp. (col. «Idées», n.Q 38). do antropólogo ou do especialista em ciência política, a questão continua a
Cuvillier, A. 1960 Introâuction à Ia sociologie, 6.â ed., revista e t -u u ser a mesma: «Por que diabo recolher todas estas informações (factos,
rígida, Paris, Armand Colin, 224 pp. (col. «Aki opiniões, dados, etc.)?» O objectivo vem, pois, orientar a escolha do tempo,
mand Colin», n.Q 198). do lugar, da população, do sujeito, do grupo, numa palavra, do objecto e,
Dumont, Louis 1983 Essais sur Vinãiviâualisme. Une perspective anthnti l>or conseguinte, do esboço e do projecto. Mas também serve para determinar
pologique sur 1'idéologie moderne, Paris, Seuil, 272 os meios de pesquisa mais apropriados a adoptar e as técnicas diversas de
pp. (col. «Esprit»). observação a escolher, de acordo com o objectivo visado.
Duvignaud, Jean 1966 Introduction à Ia sociologie, Paris, Gallimard, 187 pp, Dito isto, torna-se imperioso sujeitarmo-nos a certas regras de conduta
(col. «Idées», n.e 115). que preparam a pesquisa (cf. texto n.Q 5.2). Esta maneira de proceder
Febvre, Lucien 1949 La terre et l'évolution humaine, Introduction géogint assegurará um melhor domínio sobre o objecto da exploração e o objectivo
phique à 1'histoire, com a colaboração de Lioniel que seria desejável perseguir. Assim, o objectivo seleccionado decorrerá de
Bataillon, Paris, Albin Michel, xxx + 475 pp. (anl uma escolha do problema que não virá confundir-se com as conclusões da
«Uévolution de 1'humanité», n.e 4). exploração. O objectivo proporcionará uma direcção ou uma orientação aos
George, Pierre 1968 Uaction humaine, Étude géographique, Paris, PUJ', trabalhos de pesquisa. Restará ver se a investigação científica permite apoiar
1968, 246 pp. (col. SUP). o fim a atingir previsivelmente. Ora, é nesse ponto que a pesquisa reserva
Granger, G. G. 1967 «Épistémologie économique», m Jean Piaget, diir, muitas vezes um maior número de surpresas. Como saber antes o que só
Logique et connaissance scientipque, Paris, Gallimard, depois foi possível compreender? Só retrospectivamente e depois de esforços
pp. 1019-1055 («Encydopédie de Ia Plêiade»). de análise e de crítica, a síntese poderá elaborar-se e tomar uma forma
Marrou, Henri-I. 1960 De Ia connaissance historique, 4.â ed., revista e cor definitiva. Porém, antes, o objectivo devidamente expresso servirá de baliza
rígida, Paris, Seuil, 317 pp. (col. «Esprit»). ao grande número de erros do pensamento e da pesquisa.
Morazé, Charles 1952 Introduction à 1'histoire économique, 3.â ed., Pariw, O objectivo desta secção foi sublinhar alguns pontos fundamentais no pro-
A. Colin, 216 pp. (col. «Armand Colin», n.2 238), cesso de verificação em pesquisa. Como Madeleine Lanthier pôde aperceber-
Moscovici, Serge 1977 Essai sur 1'histoire de Ia nature, Paris, Flammarion, se, essas verificações ultrapassam o plano técnico. Dizem mais respeito às
569 pp. (col. «Champ philosophique», n.c 10). precauções relacionadas com o processo de conhecimento do que às disposi-
Piaget, Jean 1965
ções diversas das técnicas científicas de exploração. Aliás, as leituras sugeri-
Psychologie de rintelligence, Paris, A. Colin, 212 pp.
(col. «Armand Colin», n.e 249). das no quadro 9.1 vão claramente nesse sentido. Visam a consciencialização
dos numerosos paradigmas (psicológico, filosófico, sociológico, epistemoló-
Séguin, Maurice 1987 Maurice Séguin, historien du pays québécois vu par
sés contemporains, seguido de Lês normes de Mau gico) que influenciam todo o conhecimento. A investigação científica não é
rice Séguin, Robert Corneau, dir., Montreal, VLB mais do que uma modalidade entre outras deste processo. Todavia, a dife-
Éditeur, 306 pp. (col. «Études québécois»). rença essencial assenta no facto de ela pretender ser objectiva e estar afastada
das influências pessoais e outras. Nesse plano, as ciências humanas percorre-
NB - O objectivo destas sugestões de leitura não é convidar Madeleine Lanthier a ler todas estas obrai
mas escolher uma ou duas a seu gosto e estudá-las a fundo. Por seu lado, o colega Alain teve a idelj
ram um longo caminho desde o século xvi. Porém, as reflexões sobre os
de consultar cada referência, mas estudando a fundo o índice de cada obra e comparando-as umai postulados, os métodos e as grandes hipóteses orientadoras devem manter-
com as outras. Em suma, o objectivo consiste principalmente em despertar nos estudantes a ideia d< -se constantemente actuais.
construção de um sistema tendo em mente certos exemplos em ciências do homem.

368 369
3. AS VERIFICAÇÕES TÉCNICAS Jade dos aconUviim-nlo:. IMO fornece as mesmas garantias. Os cientisUis
falam cada vez mais em acaso. Quando uma situação não pode ser inteira-
As verificações técnicas somam-se às verificações fundamentais como mente controlada, é impossível aplicar integralmente o modelo experimental.
complementos necessários à condução de uma pesquisa científica. São mais No sentido desta reflexão, a figura 4.2 respeitante ao sistema escolar poderia
práticas, mais concretas e mais imediatamente sujeitas à observação quan- proporcionar a Madeleine Lanthier uma oportunidade de reflectir sobre o
titativa e às técnicas de observação e de crítica. Exigem conhecimento» modelo experimental e o modelo de inferência sistemática.
particulares frequentemente muito precisos. Os manuais de metodologia para Sem querer entrar no pormenor de qualquer dos modelos, é possível
cada uma das disciplinas das ciências humanas consideradas separadamente afirmar que, em ambos os casos (figuras 9.2 e 9.3), os problemas de
fornecem um conjunto de técnicas particulares. O capítulo 8 apresenta uma fidelidade, de validade e de controlo de conformidade com o real são
visão rápida de um certo número de técnicas de observação aplicadas em semelhantes. A abordagem metodológica e as estratégias de observação são
ciências humanas. O inventário está longe de ser exaustivo, mas revela duas diferentes, evidentemente, mas as preocupações de objectividade, de rigor,
grandes orientações: uma corresponde ao modelo experimental e a outra à de honestidade, etc, são as mesmas.
inferência sistemática. Estas duas orientações são representadas esque-
maticamente pelas duas figuras seguintes.
A. A FIDELIDADE
É fácil encontrar, entre os investigadores em ciências humanas, esta preo-
cupação de fidelidade. Por exemplo, o historiador assegura-se da autentici-
OBSERVAÇÃO CONTROLO
dade das suas fontes; o sociólogo procura a constância na aplicação das suas
medidas; o psicólogo pretende controlar experimentalmente ou por análise
MANIPULAÇÃO
a «verdade» do sujeito; o economista estabelece a solidez dos seus dados
económicos através de métodos de análise precisos; o antropólogo vai
procurar no terreno as informações necessárias à sua análise segundo certas
Figura 9.2 - O modelo experimental maneiras de actuar junto dos grupos observados; etc. Em resumo, em cada
domínio, para garantir o processo de observação, aperfeiçoaram-se «mé-
todos». Em caso de recurso à estatística, a fidelidade tem um sentido bem
preciso. Na observação quantitativa, trata-se de saber se o instrumento de
OBSERVAÇÃO SITUAÇÃO medida utilizado permite realmente obter todas as informações numa base
comparável e de uma maneira constante. As questões respeitantes à fide-
lidade visam eliminar o mais possível as fontes de distorção.
VERIFICAÇÃO

B. A VALIDADE
Figura 9.3 - A inferência sistemática
O investigador não deseja apenas apoiar-se em dados ou informações
autênticas, precisas ou bem medidas, mas também pretende obter toda a
Qualquer das orientações metodológicas apoia-se na observação. Quanto informação possível, pertinente e necessária ao objectivo que persegue ou
a isso, Maquiavel não é inferior a Newton, e Marx e Freud não são menos àquilo que procura. Isso significa que os procedimentos de pesquisa ou os
científicos do que Laplace ou Einstein. Contudo, há cerca de um século, a instrumentos de medida que utiliza devem realmente atingir aquilo para que
auréola da ciência experimental suplantou ideologicamente as outras aborda- foram criados. Medir a temperatura com uma balança é tão estúpido como
gens do conhecimento. Contudo, a evolução das ciências humanas mostra a medir a velocidade do vento com um termómetro ou pretender conhecer
que ponto a preocupação da verificação fez progressos consideráveis desde Napoleão estudando Hitler! Em ciências humanas, tal como nas ciências
o século xix. Apesar de tudo, as ciências experimentais conservam uma grande «puras», urge procurar, por todos os meios concebíveis, maneiras de actuar
vantagem sobre as ciências humanas, visto tirarem proveito da manipulação para atingir o objectivo que se deseja conhecer. As questões respeitantes à
das variáveis e do controlo dos efeitos produzidos ou previstos da experiên- validade levantam a questão da prova. Por esse intermédio, o que se procura
cia. O esquema de experimentação estrita é, pois, o das causas e dos efeitos. é saber se a representação que se pode ter da realidade é a mais conforme
Nos sistemas fechados, esse esquema funciona muito bem; nos sistemas possível com o real. Nunca se deve perder de vista este objectivo, ainda que
abertos ou extremamente complexos, o determinismo radical ou a causali- se saiba que ele não é completamente acessível.

370 372
Perante este problema, os investigadores em ciências humanas A informação recolhida, acumulada, agrupada e reunida não fornece
coaram numerosas técnicas de medida (os testes, as escalas de atitudes, •inútil o produto dn investigação. Todo esse material bruto deve agora ser
análise de conteúdo, a sondagem, etc.). Estas técnicas desenvolveram-s* ff «ilidido, quer dizer, junto, tendo em vista uma síntese. Os elementos do
tal ponto que as medidas quantitativas invadiram as disciplinas mais li. u li 1'Nboço devem servir para discernir o que é pertinente do que não o é; o
cionais, como a história. Presentemente, para se ser científico, é preciso medii projecto precisa a importância que deveria ser concedida aos diversos
Por conseguinte, importa aprender a simbolizar o real para que, desta forma, elementos conservados e o peso da informação necessária à elaboração do
ele se torne mensurável. E, se prosseguirmos nesta via, é a aplicação do juízo fundado em asserções garantidas. É aqui que se inicia esse trabalho
modelo experimental, com o contributo da estatística e dos testes de hipóte- !<•• 11 iço de verificação minuciosa.
ses. Nesta linha, a adopção de um plano experimental reveste-se de uma
importância capital, porquanto esse plano utiliza procedimentos de validmlr
interna e externa a que o investigador deve submeter-se, enquanto realiza a I. A primeira ordenação ao material inicial
sua experimentação. Acresce que o controlo dos métodos estatísticos anda a
par do objecto, do tipo de experimentação e da interpretação dos resultados10. As técnicas de observação e a observação quantitativa permitem acumular
As questões de fidelidade e de validade levantam grandes problemas mi .1 informação sobre uma questão ou outra, tendo em conta um certo objecto
ciências humanas, visto que o alcance e o âmbito da observação quantitativa de estudo*. Uma vez na posse da informação, trata-se de a analisar. A pri-
é restrito, (Contudo, em certas disciplinas como a economia, ela é omni- meira ordenação decorrerá da compreensão que é possível ter dessa recolha
presente.) Apesar da popularidade das sondagens de opinião, não nos ^ de informações, O esboço e o projecto permitirão «joeirar» a informação
possível esquecer a existência de um grande número de outras técnicas da bruta, tendo em vista um primeiro esclarecimento do problema ou da
observação em ciências humanas que não são de tipo mensurável. Os autorei questão prevista à partida. No capítulo 7, Madeleine Lanthier começou um
de metodologia em ciências humanas parecem concordar neste ponto. Aliás, trabalho sobre a cidade do Quebeque no quadro do seu curso sobre O espaço
a tendência actual dos investigadores para o desenvolvimento de um. t urbano. A ausência de uma hipótese clara não lhe permitiu delimitar o
metodologia qualitativa na análise de situações ou de problemas em ciem i. IN suficiente a informação que foi recolher nos Paços do Concelho. Contudo,
humanas demonstra a que ponto a medida quantitativa é incapaz de essa documentação poderia ser reconsiderada numa perspectiva muito mais
responder a todas as questões. Em contrapartida, a ideia de verificação nflo estrita, a propósito do ordenamento do centro da cidade do Quebeque. Por
deve perder de vista a finura da sensibilidade discriminativa. exemplo, teria podido estudar o impacte de um dos objectivos de ordena-
mento urbano do Quebeque, a saber o de «consolidar e desenvolver a função
habitacional», sobre a revitalização do centro da cidade pela melhoria da
C OS CONTROLOS DE CONFORMIDADE COM O REAL qualidade do ambiente. Partindo daí, o trabalho de ordenação da informação
poderia orientar o género de observações que seria importante pôr em relevo.
Cada pesquisa acarreta o seu lote de dificuldades maiores ou menores Na observação indirecta, é muitas vezes possível retroceder e corrigir uma
que exigem medidas eficazes de controlo. Esse trabalho de verificação não lacuna existente sem trair o objectivo da exploração. A primeira ordenação
pode ser contornado de modo algum. Na medida em que não podemos das informações não condena necessariamente a pesquisa, mas obriga fre-
apreender imediatamente as coisas, somos obrigados a proceder pela quentemente a corrigir as deficiências na pesquisa ou a colmatar as lacunas,
mediação de instrumentos, de objectos, de documentos ou por intermédio por vezes incríveis, de informação.
de técnicas vivas ou de observação directa. Todas estas técnicas visam As técnicas vivas não permitem tão facilmente o retrocesso. Quando a
acumular informação em torno de uma questão ou de um problema que se sondagem está terminada, não é fácil retomar os temas que foram objecto
colocou. A verificação exige justamente que essa informação seja passada dela. Daí a importância de prever correctamente o género de informação que
pelo crivo da pertinência, da exactidão, da coerência, da exaustividade, da é desejável coligir. Os dados recolhidos devem ser objecto de um primeiro
verosimilhança, da comparação ou ainda do discernimento. São muitas tratamento, que exige sobretudo uma apresentação das informações num
exigências a respeitar mas, de facto, trata-se muito mais de um estado de quadro susceptível de permitir uma análise estatística. O quadro estatístico
espírito que condiciona uma atitude de exploração ou de informação. que pode resultar poderá posteriormente assumir diferentes formas. De mo-
Tentemos ver com o que podem assemelhar-se os controlos de conformidade mento, o que importa é verificar se, na primeira ordenação da informação,
a que uma investigação deve sujeitar-se. os dados necessários são suficientes para satisfazer as condições de solução
do problema. No caso do modelo experimental, a verificação da hipótese dá
10 A título de ilustração, o livro de Jean-Jacques Bernier. Théorie dês tests, Príncipes et technique*
de base, Boucherville, Gaêtan Morin, editor, 1984, xii + 275 pp. No problema escolhido e da natureza dos próprios dados.

372 373
indicações sobre a natureza dos meios a adoptar para garantir uma boa inter- III. A verificação inlmm
pretação dos resultados. Não é nada recomendável a modificação do pkino
inicial durante a sua execução. Aqui, os dados devem ser tratados sob o A organização e a sistematização da documentação e dos dados permitem
ângulo das variáveis independentes e dependentes que foram definidas. verificar se o material corresponde aos objectivos da exploração, ao problema a
A ordenação deverá fazer-se de acordo com as regras do método estatístico. i csolver ou às hipóteses a controlar. Em caso de emprego do questionário como
Em todos os aspectos e em todos os pontos, a primeira ordenação deve l * H-nica de observação, importa garantir o significado das respostas, o número
permitir uma ideia sumária do que foi encontrado e procurado no decurso do respostas dadas, as anomalias ou incoerências detectadas nas respostas, em
de uma primeira recolha de informações ou de dados. A exploração progre- suma controlar todo o material sobre o qual incidirão as analises estatísticas.
dirá se essa primeira verificação se revelar suficientemente positiva. Caso l ísse é um aspecto crucial em ciências humanas. Se se recorre à estatística, devem
contrário, o projecto pode ser abandonado, modificado ou submetido a novas ser respeitadas condições particulares antes da interpretação dos resultados.
pesquisas, a fim de serem colmatadas as lacunas. É uma etapa crucial, Vimos no capítulo 8, a propósito das técnicas de sondagem, as condições
uma vez que impõe ao investigador o sentido da precisão e da honestidade. mínimas a seguir se for adoptada essa via de investigação.
Quando não são utilizados métodos estatísticos, é necessário tomar
II. A classificação do material de exploração como ponto de referência os diferentes métodos das ciências humanas,
como o método histórico, o método geográfico, as abordagens qualitativas
A classificação da documentação ou dos dados deve ser objecto de uma em psicologia, em sociologia ou em antropologia. A verificação interna
verificação de pertinência. À medida que se vai aprofundando as observações incide mais sobre a validade dos testemunhos recolhidos ou sobre o con-
recolhidas de diferentes maneiras, deve-se aprender a controlar as fontes de teúdo das observações obtidas. A preocupação de rigor traduz-se por um
informação, visto que não basta acumular informação para satisfazer as intercâmbio frequente com a documentação, de modo a conseguir com-
exigências de uma pesquisa. Qualquer que seja o género da exploração, a preendê-la enquanto tal. Esse esforço de objectividade deve tornar o
documentação ou os dados acumulados devem ser classificados. Ordenar o investigador capaz de entrar em comunicação com o Outro sob a categoria
material de pesquisa não consiste apenas em construir belos quadros ou em do Próprio, ou seja numa dialéctica do Próprio e do Outro. Por outras
seguir a ordem das notas, mas em relacionar entre si as informações perti- palavras, os testemunhos devem chegar à consciência do investigador sob
nentes, agrupando-as para apoiar a classificação adoptada ou os eventuais uma forma analógica e, por conseguinte, em termos que possam corres-
testes de hipóteses. Se a classificação não for suficientemente apoiada pelo ponder aos que foram realmente expressos12. É evidente que este trabalho
material de exploração, urge colocar interrogações e procurar encontrar o que está longe de ser fácil. Os problemas inerentes à compreensão entram nesta
pode faltar. Este trabalho é mais ou menos complexo e também mais ou categoria da verificação interna.
menos demorado, segundo as diversas disciplinas das ciências humanas.
Em economia, por exemplo, a agregação de dados só se torna interessante
se estiverem claramente estabelecidas as definições ou as nomenclaturas (ou os IV. As verificações externas
indicadores, como os índices da Bolsa) das diversas características da popula-
ção11. O exemplo clássico do problema frequentemente citado é o da mulher As informações recolhidas para fins de análise estatística devem ser siste-
maticamente controladas. Por exemplo, se uma base de dados for criada na
doméstica. Faz ou não parte da população activa? Para resolver este problema,
sequência de uma sondagem, importa garantir que esteja completa. E, ainda que
Michel L. Lévy sugere que se distinga entre a actividade profissional e a
actividade familiar. Para ser praticável, o sistema de classificação exige definições os dados estejam completos, também é necessário saber se são exactos. Por outro
bem fixadas e palavras associadas a sentidos bem precisos. Por conseguinte, a lado, é preciso conhecer bem a natureza das entradas de dados, por exemplo saber
terminologia do investigador ou do estatístico nem sempre corresponde à ideia se sofreram um qualquer tratamento antes de surgirem na base de dados.
que o público pode ter de uma palavra. Assim, a palavra desempregado, para É igualmente necessário colocar diversas questões, do tipo das que se seguem.
ser compreendida estatisticamente, deve ser verdadeiramente considerada no Os quadros estatísticos constituídos a partir dessa base de dados representam
sentido definido à partida pelos investigadores. O mesmo acontece para a bem os dados brutos? A informação foi codificada a partir de fontes secundárias?
definição das categorias socioprofissionais, quer dizer da nomenclatura de Nesse caso, importa saber por que razão foram estabelecidas. Importa com-
actividades individuais ditas profissões. Perante tais classificações, o investigador preender como se constituíram. Importa saber como controlar a reorganiza-
deve conhecer bem o sentido das palavras às quais justapõe realidades. ção dessas fontes para os fins da exploração. Em resumo, importa conhecer o que
essas fontes podem oferecer-nos, tendo em conta explicações fornecidas pelos
11 Ver Michel L. Lévy, Comprenâre lês statistiques, Paris, Seuil, 1979, pp. 26-33 (col. «Points/Éco-
nomie», n,Q E12). 12 Marrou estudou este problema no seu livro De Ia connaissance historique, 4.a ed., revista e corri-
gida, Paris, Seuil, 1960, cap. Hl: «Uhistoire se fait avec dês documents» (col. «Esprit»).

374
375
autores desses bancos de informação. Estas são as precauções mínimas a lom.ir / / ichciro inicial de l i t o /V>( //
em caso de emprego de dados quantificados para fins de tratamento estatístico.
As observações quantitativas e as análises estatísticas fazem parte dos TOTAL003494.85003584.88003910.78004475.13004488.08
()l);u<)00708.53000686.68000774.76000856.11000815.90
métodos de investigação em ciências humanas. Todavia, numerosos domínios v»;W000752.26000738.12000754.30000781.61000731.95 Porção do ficheiro explorado
das ciências humanas permanecem no campo da análise qualitativa. Por isso, •1044000901.65000931.65000979.90001091.11001042.28
as verificações são de outra natureza. Trata-se muitas vezes de um trabalho 4549000581.51000644.51000726.37000946.55001031.72
de minúcia. As referências aos documentos terão sido bem indicadas? A* Ml 'S4000319.68000336.73000410.00000498.39000563.07
55-99000231.22000247.19000265.45000301.36000303.16
notas de leitura terão sido suficientemente exaustivas a ponto de não traírem
o texto original? As respostas anotadas durante uma entrevista serão A l ITRTOTAL002466.68002520.65002582.11002924.35002933.92
A l ITROO-34000613.13000584.61000648.46000719.35000708.07
suficientemente claras? Os resultados obtidos num trabalho de terreno (por AUTR35-39000555.09000555.18000530.57000558.68000505.62
exemplo, um inquérito numa empresa) poderão ser corroboradas por outras AUTR40-44000562.48000596.39000599.96000652.27000660.57
fontes (o salário dos empregados, o texto da convenção colectiva, o volume AUTR45-49000356.21000379.96000392.90000519.61000549.31
de negócios da empresa, etc), a fim de não ficarem apenas ao nível das A l ITR50-54000205.46000219.70000234.41000275.03000302.34
A l )TR55-99000174.30000184.81000175.80000199.41000208.01
percepções? As evidências ou os factos decorrentes das observações serão 2104TOTAL001028.17001064.23001328.67001550.78001554.16
apoiadas por fontes dignas de confiança? Em resumo, as técnicas documen-
(Ficheiro impresso a partir de um extracto de um banco de dados informatizados)
tais desencadeiam um bom número de verificações quanto à origem da fonte,
ao difusor da informação, à própria técnica de recolha da informação, à
amplitude da documentação a recolher e também a outras questões mais 2. Segundo ficheiro
banais como a indicação de uma data exacta, de um nome próprio ou de TOTAL 3494.85 3584.88 3910.78 4475.13 4488.08
00-34 708.53 686.68 774.76 856.11 815.9
um lugar escrito correctamente, etc. Todas estas verificações se realizam em 752.26 738.12 754.3 781.61 731.95
35-39
diversos planos, sem que seja claramente estabelecida uma técnica específica 30-44 901.65 931.65 979.9 1091.11 1042.28
de controlo. É por isso que a prática e a experiência vêm esclarecer maneiras 45-49 581.51 644.51 726.36 946.55 1031.72
de actuar num caso ou noutro, segundo a natureza das verificações a 50-54 319.68 336.73 410 498.39 536.07
55-59 231.22 247.19 265.45 301.36 303.16
efectuar. Se existem casos em que as verificações são fáceis de fazer, outros AUTR TOTAL 2466.68 2520.65 2582.11 2924.35 2933.07
há que exigem imensa paciência e perspicácia. Por fim, as verificações AUTR 00-34 613.13 584.61 648.46 719.35 708.07
externas supõem um conhecimento pormenorizado do tema, um julgamento AUTR 35-39 555.09 555.18 530.57 558.68 505.62
AUTR 40-44 562.48 596.39 599.96 652.27 660.57
sólido, imaginação e obstinação. AUTR 45-49 356.21 379.96 392.9 519.61 549.31
AUTR 50-54 205.46 219.7 234.41 275.03 302.34
AUTR 55-59 174.3 184.81 175.8 199.41 208.01
2104 TOTAL 1028.17 1064.23 1328.67 1550.78 1554.16
4. A ELABORAÇÃO SUMÁRIA DE DADOS (Inicialização do ficheiro ASCH a partir do scftware QUATTRO PRÓ 3)
INFORMATIZADOS
3. Terceiro ficheiro
Já não é possível ignorar a informação que nos chega por intermédio dos TODOS OS PNE DAS CS
bancos de dados oficiais ou pelo apuramento informatizado dos resultados ANOS
de uma investigação. Em ambos os casos, importa conhecer a verdadeira
natureza dos dados utilizados para poder tratá-los de uma forma adequada IDADES 87-88 88-89 89-90 90-91 91-92
e interpretá-los correctamente. -de 35 708,53 686,68 774,76 856,11 815,90
35-39 752,26 738,12 754,30 781,61 731,95
Um exemplo servirá para ilustrar este trabalho de «limpeza» e do 931,65 979,90 1 091,11 1 042,28
40-44 901,65
organização da informação. Por ocasião de uma pesquisa sobre o pessoal não 45-49 581,51 644,51 726,37 946,55 1 031,72
docente da rede de comissões escolares (C.S.) do Quebeque, obteve-se um 50-54 319,68 336,73 410,00 49839 563,07
ficheiro informático respeitante aos grupos etários do pessoal profissional 55 e + 231,22 247,19 265,45 301,36 303,16
(também designado PNE). Eis o ficheiro inicial e as transformações que TOTAL 3 494,85 3 584,88 3 910,78 4 475,13 4 488,08
sofreu no decurso do estudo. (Adaptação do ficheiro sob a forma habitual de um quadro)

376 377
4. Quarto ficheiro
' - «PENSAR EM PRESENÇA DOS FACTOS»
a) O PESSOAL PROFISSIONAL
Evolução dos grupos etários
1200 O autor do texto n.Q 9.1 convida Madeleine Lanthier a tentar ultrapassar-
1100 •M a si própria. Para o efeito, apela a «um esforço prodigioso de reflexão
1000 • in presença dos factos». Assim, tudo o gue faz parte da pesquisa deve estar
•ml» o controlo vigilante de Madeleine. E aqui que a sua presença será mais
900
omnipresente. Nada poderá realizar-se sem ela. Contudo, Madeleine deverá
800 • onlrontar o seu pensamento com os factos, submeter a imaginação a
700 .ou l rolos rigorosos e progredir com método na análise da informação,
000 <|iMiititativa ou qualitativa. Para isso, deverá impregnar-se de certas atitudes
500
tu* espírito. Por outro lado, deverá submeter-se a algumas características
inirinsecas da composição de um relatório de investigação científica.
400
300
200 1. ADVERTÊNCIA
100
o. A síntese que poderá decorrer da exploração passa pela análise e a inter-
87-88 88-89 89-90
I Mctação das informações obtidas no decurso da pesquisa. É por isso que a
90-91 91-92
ANOS organização das ideias tendo em vista o relatório de investigação exige muito
trabalho. Essa organização das ideias virá eventualmente dar um sentido ao
que foi investigado. Porém, importa que esse esforço de síntese se ligue a
lodo o procedimento do método científico. Será importante que Madeleine
O PESSOAL PROFISSIONAL Lanthier reveja as notas pessoais sobre a metodologia das ciências humanas
Distribuição dos grupos etários e que examine as oito figuras seguintes:

Figura 1.1 Epistemologia geral


Figura 1.3 As etapas vulgares da investigação
Figura 3.2 A racionalidade complexa
Figura 4.4 O trabalho de investigação (histórico)
Figura 5.2 Três fases essenciais do trabalho preparatório
Figura 5.3 Um acto de reflexão (segundo J. Dewey)
Figura 6.2 O processo geral da pesquisa
Figura 7.1 O processo de verificação de hipóteses

Ao fazer este trabalho de reflexão, poderá descobrir até que ponto o


esforço de síntese é um acto de pensamento individual. Aliás, as suas
«notas pessoais» do capítulo 6, sobre «Três aspectos do procedimento meto-

l NOTA
O quadro e os gráficos criados com o sqftware QUATTRO PRÓ 3 podem ser importados
para um software de processamento de texto (ex.: WordPerfect 5.1) e a seguir integrados
simplesmente [seguindo as regras informáticas de importação de ficheiros] no relatório de
investigação. Com o QUATTRO PRÓ 3 e o WordPerfect 5.1, é até possível criar «ligações»
entre uma folha de cálculo e o tratamento de texto, o que permite a actualização dos dados
(Composição de dois gráficos com recurso ao modo gráfico do QUATTRO PRÓ 3) transferidos e reflecte as modificações introduzidas na folha de cálculo original.

378 379
dológico» (cf. texto 9.1) já despertaram a sua atenção. Aprenderá, por . A IMAGINAÇÃO e oiHi is ao problema e aos dados e devem estar sujeitas
experiência própria, que as técnicas científicas de exploração (cap. 8) não qualidades vitais: às exigências da manipulação, da análise e da
bastam só por si para resolver o enigma do processo complexo que, dal interpretação dos dados. Sem verificações e testes
- o pensamento reflexivo, o apropriados, o «uso da imaginação» pode tornar-
observações científicas, conduz à descoberta (ver Beveridge, 1957). O ca- sonho, o devaneio;
minho é sinuoso; as regras são imprecisas; as etapas conducentes àl -se desesperadamente desligado do problema e
- os processos a priori, como dos factos e conduzir, desse modo, a ilusões
generalizações dependem tanto da imaginação do investigador como do a dedução ou a formulação pessoais ou a «projectos quiméricos».
seu plano de investigação, por pormenorizado que seja. O texto n.Q 9.1 de hipóteses;
fornece uma boa base de reflexão sobre este problema fundamental tudo isso desempenha um pa- Excerto de W. C. Schluter, How to do Research Work, Nova
respeitante ao esboço, ao projecto e à síntese. pel importante na pesquisa. Iorque, Prentice-Hall, 1929, pp. 104-105.
• Sem a imaginação, falta à pes-
quisa essa qualidade vital que
as ideias originais fornecem.
TEXTO N.2 9.1 - O REAL, O SIMBÓLICO E O IMAGINÁRIO • Essas funções mentais de-
vem, no entanto:
SUMARIO TEXTO - ajustar-se ao problema e aos
. CONFRONTO DO PENSA- Pensar em presença dos factos. - Esta etapa factos;
MENTO COM OS FACTOS da metodologia da investigação [cap. xiii: «Ana- - adaptar-se às exigências da
lisar e interpretar os dados»] exige um esforço manipulação e da análise
• Uma fase importante do mé- prodigioso de reflexão em presença dos factos; dos dados e à sua interpre-
todo de pesquisa mas é igualmente importante pensar nos método* tação;
• Pensar na maneira (ways) e e nos meios que servem para tratar os factos. • O emprego da imaginação
nos meios (means) de tratar Nenhuma inteligência, por brilhante que seja, deve ser controlado, verifi-
os factos. pode servir infalivelmente para descobrir as zonas cado (checks or tests):
• A desordem dos dados não obscuras dos dados não decompostos e não anã l i
pode ser resolvida apenas por sados. Em contrapartida, uma análise metódim - para não se afastar do pro-
um espírito alerta e perspicaz. dos dados poderá fazer surgir sugestões quanto blema e dos dados brutos;
• Contudo, uma análise metó- aos seus significados, que poderão servir de basr - sem o que a imaginação iso-
dica dos dados fornecerá su- às inferências e, portanto, mostrar a evidência. lada pode conduzir:
gestões quanto ao significado Como se disse anteriormente, as inferências levam (1) a ilusões;
dos dados: a construir ideias; as ideias estão ligadas nas sua» (2) a projectos quiméricos.
- das evidências às inferên- concepções, e as concepções conduzem a defini- NB - A astronomia fornece exem-
cias; ções que, por sua vez, são transformadas em
plos ilustres deste fenómeno do pen-
- das inferências à formação abstracções e em generalizações. Este exposto, samento (cf. texto n.Q 7.4). Ao estudar
das ideias; expresso sem demasiadas subtilezas, é apresen- a sociedade canadiana-francesa, o
- das ideias às concepções; tado com a finalidade de evidenciar a importân- historiador Michel Brunet sublinhou
- das concepções às defini- cia, para o investigador, de estar atento ao sen «três características dominantes do
ções; próprio processo cognitivo, ou de estar consciente pensamento canadiano-francês: o
- das definições às signifi- dele, durante esta etapa da pesquisa, contraria- agriculturismo, a atitude anu—Estado
cações; mente à ideia que pretende que se suprima do e o messianismo». Entre meados do
processo de investigação todas as formas de século XDC e finais da década de 1950,
- e às generalizações. o imaginário colectivo canadiano-
expressão da reflexão meditativa. O pensamento
• Que o investigador esteja cons- reflexivo, o sonho diurno, o devaneio, o raciocínio francês conseguira, em certa medida,
ciente do seu próprio pro- a priori, também chamado dedução ou formulação substituir ou transformar o passado
cesso de pensamento durante de hipóteses - todas estas formas de pensar histórico. No espaço de cerca de um
século, uma colectividade tornara-se
esta fase de pesquisa. muitas vezes descritas «como recorrendo à imagi- incapaz de voltar a «pensar em pre-
• Esta fase de pesquisa não nação» - ocupam um lugar útil na investigação, sença dos factos»13.
deve ser considerada como porque sem isso faltam à investigação as quali-
capaz de eliminar qualquer dades essenciais das ideias originais. Porém, todas
13 Em La présence anglaise et lês Canadiens, Études sur 1'histoire et Ia pensée dês deux Canada, Mon-
forma de meditação. estas disposições do pensamento devem ligar-se treal, Beauchemin, 1958, pp. 113-166

380 351
2 A REFLEXÃO • '•. apuramentos necetutárloH depois de ter avaliado uma situação a partir de
uma lista de controlo ou identificar as palavras-chave e o seu significado
i H i loxto n.c 6.4 de La Guerre de Ia Conquête de Guy Frégault são outras tantas
A compreensão do problema a resolver ocupa um lugar importante n- h u mas particulares de tratar a informação. As primeiras análises podem
momento em que as informações acumuladas foram preparadas para ser objei i<
i r velar certos índices, mas muitas vezes têm de ser retomadas sob novos
de uma análise sistemática. Esta analise mobiliza um duplo processo que v.H
do material de observação às reacções do sujeito e deste último a tod,v; . itn^ulos ao mesmo tempo que se manipulam ou voltam a utilizar os dados
informações susceptíveis de fornecer finalmente os elementos de soluça' > ttrolhidos no decurso da pesquisa.
trabalho de conceptualização é um dos mais difíceis da pesquisa. Todaf Quando as observações devem incidir sobre factos e ideias, a síntese da
ideias que se formam no nosso espírito, tanto por antecipação como por pix informação implica, por um lado, uma atitude crítica perante testemunhos que
são chamadas a comparecer perante as teorias e os factos. À medida q M podem eventualmente revelar-nos evidências. Esse trabalho delicado supõe
aumenta a compreensão das observações, que aparecem relações e associaço muitas verificações. Todos os testemunhos devem ser avaliados e depois
numerosas, que surgem sugestões mais precisas de significação e qut- interligados. A crítica dos testemunhos deve recorrer às palavras, aos seus
pensamento constrói um conjunto de ideias, é possível que se vá destacam i> significados e às ideias que se destacam. Em muitas disciplinas das ciências
progressivamente uma certa concepção do próprio objecto da pesquisa. humanas, pensar em presença dos factos não se dissocia das ideias e das
Este movimento de conceptualização, quando se assemelha ao procesi.-- interpretações veiculadas pelas palavras. Por outro lado, se nos colocarmos
dedutivo, corresponde bem à hipótese estatística. Nesse quadro, os testes d> do lado do investigador, este deve submeter-se a uma autocrítica permanente,
hipóteses aplicam-se e os métodos estatísticos de análise e de interpretacin uma vez que, se pensar em presença dos factos impõe restrições relativamente
devem ser seguidos rigorosamente (<f. quadro 8.10). A reflexão deve incidi• no objecto, pensar o seu pensamento implica o hábito de dominar as ideias e
principalmente sobre as possibilidades de erro do controlo das hipóteses « ns palavras da comunicação com o maior rigor. De facto, como recomendam
sobre os limites da interpretação dos resultados. De facto, trata-se de garanl n Harzun e Graff (1985, pp. 150-155), cada palavra deve ser considerada como
efectivamente que as afirmações e as generalizações estão bem apoiadas pela. uma palavra técnica. O universo das palavras é tão complexo que exige uma
implicações quer da experimentação quer da inferência estatística. vigilância permanente. Dito de outro modo, a parte do discurso tem tanta
No caso de explorações não estatísticas, o processo indutivo consiste em importância, ou mais, do que a parte consagrada à minúcia da verificação dos
fazer ressaltar, a partir da documentação acumulada, as características do factos (trabalho de erudição, como dizem os historiadores, mas não de
objecto da exploração. Neste quadro, a reflexão exerce-se não apenas sobn- história14). A dinâmica que resultará das relações entre a crítica e a autocrítica
o material estudado, mas também sobre as ideias que permitirão organi/m preparará a síntese na qual o significado expresso e o significado desejado
os factos. O juízo crítico torna-se muito importante neste trabalho d» poderão confundir-se na interpretação dos resultados da exploração.
Quando se trata de observação quantitativa, a estatística descritiva per-
compreensão do material seleccionado para fins de exploração. Em suma, « >
espírito não deve, por um lado, afastar-se completamente da documentaçiV > mite «pôr ordem» na amálgama de dados ao mesmo tempo que garante uma
apresentação clara e condensada das observações. Esse primeiro apuramento
(quer dizer da sua parte objectiva, a saber as informações, os sinais e os facto-
possibilita um certo número de medidas que os estatísticos designam por
conhecidos), nem, por outro, afastar-se demasiado da sua vertente subjectiv.i
medidas de tendência central, de dispersão e de posição. Assim, os censos
(a saber o objecto da exploração, quer dizer o problema estudado e <r.
e as sondagens podem ser submetidos a tais medidas. Além disso, a utiliza-
sugestões que podem permitir resolvê-lo ou elucidá-lo). Este campo d< ção das apresentações gráficas pode permitir uma análise dos dados estatís-
reflexão é amplo, mas é absolutamente necessário ao esforço de objectividad- ticos com vista a extrair as informações neles contidas15. É um primeiro nível
que o investigador deve desenvolver em relação à sua documentação ou m >
seu material de exploração ou de experimentação. 14 Ver o texto curto, mas incisivo, de Guy Frégault, «Antiquaires et historiens», in La revue de
1'école normale, Dezembro de 1966, vol. 3, n.e 2, pp. 109-113.
15 Os manuais de estatística contêm geralmente informações sobre a apresentação gráfica e a
construção de quadros. Para mais informações, poder-se-ia consultar: Jacques Bertin, La
3. O TRATAMENTO E A SÍNTESE DA INFORMAÇÃO graphique et lê traitement de Vinformotion, Paris, Flarnmarion, 1977,277 pp.; Maurice Duverger,
Méthodes dês sciences sociales, Paris, PUF, 1964, pp. 435-478; Grawitz (1979), Anexo m, pp. 997-
Preparar um mapa da repartição geográfica dos alófonos na granderegia»> -1004. Para os adeptos do computador pessoal, existem programas de tratamento de dados
de Montreal (cf. texto n.Q 6.3), construir um quadro estatístico das cinquenl.i que fornecem a possibilidade de apresentar sob diferentes formas gráficas os dados
introduzidos numa folha de cálculo. Em geral, permitem igualmente fazer uma análise de
maiores empresas do Quebeque, fazer um gráfico da «crise cubana» (cf dados pela exploração das funções matemáticas ou estatísticas. Para os utilizadores de
figura 7.3), analisar as respostas de crianças a partir de uma classificação d< Macintosh, o artigo de Brita Meng, «Get to the Point», MacWorld, Abril de 1988, pp. 138-
cinco reacções típicas observáveis como o fez Piaget, reagrupar documento:, -143, apresenta certas vantagens do controlo dos utensílios e das técnicas de apresentação
sob diferentes rubricas relacionadas com a ideologia de um político, fazei gráfica nos modos de comunicação. É um artigo estimulante e convincente.

352 353
ilo análise. O simulo nívi-l é mais teórico. Trata-se ou da utili/.u.-.io <!UM
métodos de probabilidade ou da inferência estatística16. O importaiiir d mentos técnicos de análise ou de exploração), correm o risco de conduzir
descobrir em que medida as características observadas numa amostra podtflj . H I pânico e à improvisação contínua. A utilização do computador pessoal
ser encontradas na população e com que grau de certeza (e daí a imporl.im i.t itíU> resolve todos os problemas neste aspecto. È preciso saber sujeitar-se à
entre outras, das técnicas de amostragem e dos testes de hipóteses). Ato < nu Ir danificação dos seus directórios e dos seus ficheiros de maneira metódica
essas análises devem ser conduzidas depende do género de prova à qual M r sistemática. Também aí é possível a desorientação! Por conseguinte, a
deseja sujeitar os dados. organização do trabalho exige calma, paciência e pertinência. Supõe uma
vontade de evitar qualquer forma de desinteresse e mesmo de negligência.
O sentido da «lógica». A questão que se coloca aqui diz respeito à maneira
4. AS CONDIÇÕES GERAIS i lê descodificar a lógica dos outros, quer dizer, a que se apresenta de maneira
prática nas suas obras. O nosso próprio sistema de referências nem sempre se
n pi iça aos sistemas de referências estabelecidos nos dicionários, nas enciclopédias
Para fazer investigação, é preciso tempo e energia. Nada é dado à par! u 1.1 e nas outras obras de referência ou nas classificações das bibliotecas ou outros
Madeleine Lanthier não tarda a aperceber-se de que deverá revelar porte locais de documentação (museus, depósitos de arquivos, bibliotecas nacionais,
verança, tenacidade, minúcia, esforço, reflexão e imaginação. Devord índice de publicações, etc.) No calor da pesquisa, o investigador deve conseguir
igualmente pôr à prova todos os seus conhecimentos, uma vez que a síni* •-• descobrir rapidamente esta «lógica» prática. A título de experiência, Madeleine
resultante será o produto do seu pensamento. Perante a sua tarefa di Lanthier poderia consultar État du monde™ para verificar em que medida, por
investigadora, deverá pois manifestar certas qualidades pessoais.
exemplo, poderia descobrir rapidamente uma informação sobre os Contra e o
papel dos Estados Unidos nesse assunto ou sobre o levantamento popular na
A. ALGUMAS ATITUDES DE ESPÍRITO praça de Tiananmen e o seu desfecho. Se não encontrasse respostas, teria de
recomeçar a sua leitura, porque as respostas estão lá! Outros testes deste tipo
É muito possível que Madeleine Lanthier tenha aprendido, durante i-.ii deveriam ser feitos com outras fontes de referência. Os hábitos adquiridos neste
curso de metodologia, um certo número de coisas sobre as exigem i.r. domínio facilitarão muito as pesquisas posteriores, Madeleine aperceber-se-á,
pessoais na condução de uma investigação, visto que, se fizer o balanço ih -. pelo caminho, de que os bibliotecários não estão lá para fazer a pesquisa por
oito primeiros capítulos e os discutir com outras pessoas, poderá deccriu ela. Se para tudo há um começo, mais vale começar já!
aperceber-se de que o método científico, no sentido lato do termo, apela .1 O sentido da honestidade. As descobertas são muitas vezes descon-
certas qualidades pessoais do investigador. Tentemos resumir algumas de: certantes. A surpresa está sempre à espreita do investigador. Aquilo que, no
qualidades essenciais do investigador17. modelo, hipótese ou ideia geral, pode parecer aceitável à primeira vista,
O sentido da exactidão e da precisão. Importa aprender a não deixai torna-se muitas vezes mais subtil e complexo na realidade. A honestidade
nada ao acaso. Os dados, as referências, os nomes, as datas, os lugares vai consistir na adaptação às evidências. Ora, os pressupostos, os precon-
ceitos, as concepções
quadros e, evidentemente, os cálculos devem ser exactos. Nenhum in\r pode escapar a certos erros mas, quando esses hábitos científicas ou as são
concepções do mundo ou ainda tudo
adquiridos,
isso ao mesmo tempo podem ser mais tenazes do que poderíamos imaginar
é mais fácil concentrar a atenção em numerosos pormenores e também de início. Nesse espírito, o texto n.Q 1.10 de Arthur Koestler sobre a psicologia
noutras questões, que não nos teriam provavelmente interessado se c da descoberta bem como o de Ivar Ekland sobre a ciência e a sociedade (texto
hábito não tivesse sido adquirido. n.Q 7.4) mereceriam uma nova leitura. A honestidade conduz à tomada de
consciência não apenas da preocupação da precisão no pormenor mas
O sentido da ordem. Não se trata de uma mania, mas de um gosto pela
organização a fim de assegurar a eficácia do trabalho. Pensem só no que também nas concepções de conjunto. Não é possível aceitar factos bem
estabelecidos e, por outro lado, defender candidamente hipóteses contra-
Madeleine Lanthier deveria fazer se quisesse preparar um questionário ou
ditórias. Recordemos que o que caracteriza uma hipótese é ser demolida e
ainda se pretendesse abordar o problema racial em Montreal. Em cada tipi >
de pesquisa, existem leituras, notas a tirar, verificações a fazer, dados a reconstruída para melhor se adequar à realidade.
explorar, notas bibliográficas a classificar e muitas outras questões práticas O sentido da autocrítica. Como nos ensina o ditado popular, «De boas
intenções está o inferno cheio.» Não basta pensar que se é honesto, também
que, se não se adoptar nenhum sistema (pondo de parte certos procedi
é necessário ver um pouco mais longe à sua volta ou, como diria Kant, «Não
16 Ver o interessante livro de Jean-H. Guay, Sciences humaines et mêthodes quantitatives, Montro.il.
se deve limitar o horizonte.» A melhor forma de desenvolver esta atitude
Beauchemin, 1991. mental seria tornar claros os próprios pressupostos. Os Ensaios de Montaigne
17 Os parágrafos seguintes são inspirados em Barzun e Graff (1985), pp. 55-59. Contudo, avis.i
mós o leitor de que não seguimos sempre, nem na íntegra, o mesmo raciocínio.
18 Édition 1989-1990. Annuaire êconomique et géopolitique monãial, Montreal, Boreal, 1989, 637 pp.

354
355
constituem uma fonte implacável e impiedosa de juízos antropóloga
levados a um elevado grau de refinamento. O mesmo se passa com as Li'IH> Os trôs primeiros |>onlos tor.tm objecto dos capítulos precedentes em
persanes de Montesquieu (cf. o prefácio de Paul Valéry no texto n.c 4.1), < • In rrsos aspectos; o último capítulo aflorará a questão da redacção e da
que a distância das culturas provoca incompreensões duradouras, e sobi apivHentação científica do relatório.
qual se impõe uma reflexão crítica. Uma das tarefas das ciências human; No fundo, são estes quatro pontos que Madeleine Lanthier deve recordar
precisamente ver o problema com clareza e daí a necessidade de desenvol \m si próprio • <oinstantemente durante um quer
sentido da autocrítica, trabalho
dizerde ainvestigação.
capacidade Procurará
de í aplicar o
( M . i i l o n.c l no momento de estabelecer, por exemplo, a sua bibliografia ou
descentrar e de se auto-analisar. Essa autocrítica é provavelmente o sentia dr fazer a recolha de dados; o ponto n.Q 2 obrigá-la-á a fazer análises, a
mais profundo da obra de Edgar Morin La mêthode. Em suma, não basta i onírontar numerosas ideias e hipóteses e por vezes até a praticar a auto-
também é necessário VER-SE A VER (cf. o texto n.Q 2.7.). l • i Mira, mas sobretudo a reflectir em presença dos factos; o ponto n.e 3 res-
A imaginação. Não saberíamos dizer até que ponto esta atitude de espírHirt peita à amplitude das verificações, que vão das questões mais elementares,
está associada à personalidade de um indivíduo. Contudo, ela não é car.i.f ivlutivas, por exemplo, à justeza de um título para um quadro, até à exacti-
terística exclusiva dos génios. Porém, é possível acreditar que as convenço" i dflo das citações e das referências e outros questões mais complexas, como
e os hábitos rotineiros podem ocultar uma ideia nova e mesmo impedi-la d- 11 organização do índice, a maneira de estabelecer o dispositivo experimental,
estimular a pesquisa em direcção ao objectivo visado, Na investigação, es.-••• tir prever os métodos estatísticos apropriados, etc.; o ponto n.s 4 levanta
objectivo é simultaneamente prático e abstracto. É o que quer dizer realmeini<- numerosos problemas relativos à composição do relatório, que será objecto
pensar em presença dos factos. Esse lado abstracto consiste em imaginar sob» • ilo último capítulo.
uma questão, sem se saber muito o que existe. Quanto ao lado prático, traii-> As características intrínsecas do relatório relacionam-se, finalmente, com a
se de descobrir esse lugar de possíveis19. É neste equilíbrio engenhoso entre - < - nrte de pensar. Com efeito, o esforço intelectual será de Madeleine Lanthier e
papel do desejo e da razão que se encontra a verdadeira imaginação. Não* • de mais ninguém, uma vez que é a ela que cabe a obrigação de adequar o seu
a última palavra sobre a questão, mas recordemo-nos de que a imaginac.it. pensamento ao real. Isso pode levá-la às questões de fundo do capítulo 4, rela-
não se destila em pequenas ou grandes doses segundo leis diferentes. Eu M tivas à distinção entre o real, o simbólico e o imaginário. Considerando o seu
investigação, imaginar é pensar com a sua razão. carácter didáctico, esta distinção levanta um certo número de interrogações que
põem em causa fundamentalmente o sujeito do conhecimento. Por conseguinte,
quando Madeleine tiver chegado ao estádio da síntese, não lhe bastará apresentar
B. CARACTERÍSTICAS INTRÍNSECAS DO RELATÓRIO os «suores» do seu trabalho, quer dizer os resultados brutos, mas ser-lhe-á
necessário ainda esforçar-se por os representar. Trata-se de uma tarefa difícil, mas
Se o investigador deve manifestar certas qualidades intelectuais e pessoaiss, também muito reconfortante, quando o trabalho está realmente acabado, quer
também deve revelar-se capaz de produzir um relatório de investigação segund<o dizer levado a bom porto e de uma maneira satisfatória.
as práticas acumuladas, estabelecidas e frequentemente experimentadas por um.íi
longa tradição de investigação pelos próprios cientistas. E mais frequente julgai'
o investigador a partir da sua capacidade de empreender uma pesquisa e de .-» CONCLUSÃO
comunicar claramente aos outros. Para esse efeito, o relatório de investigaçãt >
deve responder a algumas características fundamentais que, regra geral, podem Depois deste trabalho de estruturação da informação e de múltiplas veri-
ser reconduzidas a quatro. Enumeremo-las imediatamente: ficações, a pesquisa aproxima-se do fim. Durante todo esse tempo, a expe-
l.fi a precisão nos factos; riência e os conhecimentos pessoais de Madeleine Lanthier foram submetidos
2.e a solidez das evidências; a rude prova. A inquietação normal do início transforma-se gradualmente
3.e a multiplicidade das verificações; numa segurança pessoal susceptível de motivar a acção até ao fim, a saberz
4.B a qualidade da composição. a composição do relatório. Serão necessárias etapas para lá chegar! Este
capítulo pôde esclarecer a que ponto a visão do todo está ligada às intenções
19 Sem jogos de palavras, ler de François Jacob, Lejeu dês possibles, Essai sur Ia diversité du vivant do investigador e aos motivos que o incitam a agir. O sentido de uma
(Paris, Fayard, 1981,125 pp.), ou ainda Lewis Thomas, La méduse et 1'escargot (prefácio de Andrt1 pesquisa é o que o investigador lhe quer atribuir.
Lwoff, traduzido do americano por Hervé Denès, Paris, Pierre Belfond, 1980). Há sempre Henrl No fundo, todo este capítulo incidiu sobre a informação e o seu trata-
Bergson, «l/effort intellectuel» e «Lê cerveau et Ia pensée: une illusion philosophique», in mento, ou seja, sobre a organização e a sistematização dos dados observados
UÉnergie spirítuelle (1919), e «Lê possible et lê réel», in La pensée et lê mouvant (1934), em Oeuvreí e das informações obtidas. Como já explicámos, os dados e as informações
(Édtions du Centenaire, 2.a ed.. Paris, PUF, 1963, pp. 930-974 e pp. 1331-1365); e ainda John
Dewey, Hwnan Nature and Conduct (Nova Iorque, Random House, 1957, xiv + 306 pp.). devem ser organizados depois de muitas verificações, após o que é possível
o investigador aventurar-se no labirinto das generalizações. A sua prudência

356
387
deve, no entanto, manifestar-se constantemente. Nenhuma afirmação se BIBLIOGRAFIA
mantém sem ser adequadamente apoiada. A verificação das hipóteses baseia-
-se justamente nesse fundamento. O mesmo se passa no caso da inferOm u
sistemática (cf. capítulo 6). Quer o ponto de partida de uma pesquisa se r.n,,i
segundo o método dedutivo, isto é uma solução prévia que será poste-
riormente objecto de um controlo metódico, quer se faça segundo o método
indutivo, isto é a observação sistemática que permite chegar a generalizações,
a preocupação da verdade implica, em ambos os casos, controlos entre 01
factos e as ideias gerais tendo em vista atingir o que se crê ser o real.
Porém, resta ainda uma etapa a franquear, a apresentação científica do
relatório. A síntese científica tem necessidade de urna forma para satisfazer
as necessidades da comunicação. A mensagem deve ser codificada de tal
modo que o interlocutor possa descodificá-la tão facilmente quanto possível.
Em suma, o que deve ser dito tem de ser dito agora. Esta última etapa
comporta, pois, urna vertente de redacção e outra de respeito pelos critérios
próprios da metodologia da investigação científica. A forma, a estrutura e a
apresentação da investigação devem servir para tornar acessíveis aos outro»
os resultados e a interpretação dos factos. Comunicar é desejar fazer-se
compreender e procurar ser compreendido. É esse o objectivo do último
capítulo e também da investigação levada ao seu derradeiro destino. AKTOUF, Ornar. Méthodologie dês sáences sociales et approche qualitative dês organisations, Une
introduction à Ia démarche classique et une critique, Montreal, PUQ e HEC Piesses, 1987,
xvi + 213 pp. Ver os capítulos 8, «Lês données dans lê modele classique» (pp. 83-90),
e 13, «Lês étapes fínales dans lê modele classique» (pp. 12-137).
ARY, Donald, Lucy JACOBS e Asghar RAZAVIEH. Introduction to Research in Education,
2.a ed., Montreal, Holt, Rinehart & Winston, 1979, xii + 398 pp. Ver os capítulos
8, «Validity and Reliability» (pp. 196-221), e 9, «Experimental Research in Educa-
tion» (pp. 225-270).
BARZUN, Jacques, e Henry GRAFF. The Modern Researcher, The Classic Work on Research
and Writing, Newly Revised and Expanded, 4.a ed., Nova Iorque, Harcourt Brace Jova-
novich, 1985, xxiii + 450 pp. Ver os capítulos 5: «Verification» (pp. 109-144);
6: «Handling Ideas» (pp. 145-161); 7: «Truth and Causation» (pp. 163-191); e
8: «Pattern, Bias and the Great Systems» (pp. 193-215).
BARZUN, Jacques. Clio and the Doctors, Psycho-History, Quanto-History & History,
Chicago, University of Chicago Press, 1974, xi + 173 pp. Ver o capítulo 4: «The
Question of Motive» (pp. 60-88).
BERTIN, Jacques. Sémiologie graphique, Lês diagrammes, lês réseaux, lês caries, Paris,
Gauthier-Villars, 1967, 431 pp.
BERTTN, Jacques. La graphique et lê traitement graphique de Vinformation, Paris, Flamma-
rion, 1977, 273 pp. Existe uma tradução inglesa intitulada; Graphics and Graphic
Information-Processing (Berlim e Nova Iorque, Walter de Gruyter, 1981).
BEVERIDGE, W. L B. The Art of Sáentific Investigation, ed. rev., Nova Iorque, Random
House, 1957, xiv + 233 pp. (col. «A Vintage Book V-129»).
GHENT, Arthur W. «On the Anatomy of Explanation»:
Part I: «The Roles of Inductive and Deductive Reason», Bios, 1962, vol. 33, n.Q 2,
pp. 74-81.
Part 2: «Dependence on Process Pattern, and Time», Bios, 1962, vol. 33, n.0 3,
pp. 133-144.
Part 3. «Sequential and Hierarchical Description», Bios, 1963, vol. 34, n.fl l,
pp. 11-23.

388 389
GKAWITZ, Madeleine. Méthodcs dês sciences sodales, 7* ed., Paris, Dalloz, 1986, XLVI t 5. Sob a direceflo dou HOUS professores, escolha um tema de pesquisa
1104 pp. (Col. «Précis Dalloz»). Os problemas de fidelidade e de validade são e ponha em pr.uica as etapas da investigação científica e da arte
estudados para as diferentes técnicas ao serviço das ciências sociais. de pensar (cf. texto n.c 6.5).
GumroN, Jean. Apprenáre à vivre et à penser, Paris, Fayard, 1957, 111 pp. Boa exposição
sobre o espírito do sistema e o espírito do método (pp. 60-61). 6. Sob a direcção dos seus professores, escolha um tema de pesquisa
SCHLUTER, W. C. How to Do Research Work, Â Manual of Research Procedure Presentin^ n e ponha em prática as etapas da pesquisa segundo a metodologia
Simple Explanation of the Principies Underlying Research Methods, Nova lorqu», hipotético-dedutiva (cf. texto n.Q 7.1).
Prentice-Hall, 1929, vii + 137 pp. Ver os capítulos X, XII, XIH e XIV 7. Trabalha para um instituto de investigação em ciências política e o
SIMON, Julian L., e Paul BURSTEIN. Basic Research Methods in Social Science, 3.a ed., director do instituto pede-lhe que prepare um relatório sobre as
Nova Iorque, Random House, 1985, xviii + 487 pp. Ver a 3.â parte do volume: diferenças e as semelhanças entre as noções de «conselho» e de
«The obstacles to social-science knowledge and ways to overcome them». «secretariado» a propósito de organismos governamentais ou outros.
18: The concept of obstacles in the search for empirical knowledge (pp. 235-239), O director fornece-lhe a seguinte lista:
19: Obstacles created by the humanness of the observer (pp. 240-255).
20: Complexities and intractability of the human mind (pp. 256-262). Lista dos conselhos:
21: Obstacles to the search for causal relationships (pp. 282-291).
23: The master obstacle: cost (pp. 292-296). 1. Conselho da Família
VERALDI, Gabriel e Brigitte. Psychologie de Ia création, Paris, Éd. Gerard, 1973, 312 pp. 2. Conselho da Língua Francesa
(col. «Marabout Service», n.Q 230). índice. Orientações bibliográficas muito úteis. 3. Conselho da Saúde e dos Serviços Sociais
Sobre as bases, os factores, as técnicas, os mestres, os imperativos e o ambiento 4. Conselho da Ciência e da Tecnologia
físico da criação. 5. Conselho dos Assuntos Sociais
WHITEHEAD, Alfred North. The Aims of Education, and Other Essays. Nova Iorque, The 6. Conselho dos Colégios
New American Library, 1958, 166 pp. (col. «A Mentor Book»). Ver os capítulos 7. Conselho dos Serviços Essenciais
8, «The Organisation of Thought», e 9, «The Anatomy of Some Scientific Ideas». 8. Conselho das Universidades
9. Conselho do Estatuto da Mulher
NB - Acrescentar a esta bibliografia as leituras sugeridas no quadro 9.1.
10. Conselho Executivo
11. Conselho Permanente da Juventude
12. Conselho Superior da Educação
EXERCÍCIOS 13. Conselho da Cooperação do Quebeque
14. Conselho Canadiano das Normas
1. Como exercício de síntese pessoal, retome a leitura deste capítulo 15. Conselho Attikamek Montagnais
e redija um resumo de uma página (três parágrafos no máximo) que 16. Conselho de Cooperativismo Estudantil da Região do Quebeque
possa dar a conhecer a outra pessoa o essencial deste capítulo. 17. Conselho da Investigação Florestal do Quebeque
2. Escolha um capítulo numa obra especializada ou um artigo de uma 18. Conselho de Imprensa do Quebeque
publicação científica no seu domínio e construa o plano pormeno- 19. Conselho das Profissões Artísticas do Quebeque
rizado do capítulo ou do artigo. 20. Conselho do Patronato do Quebeque
21. Conselho do Lazer Científico do Quebeque
a) Interrogue-se se a apresentação do conteúdo e das ideias está bem 22. Conselho em Educação das Primeiras Nações
organizada. 23. Conselho 6416 dos Cavaleiros de Colombo
b) Descreva sucintamente o objectivo que o autor estabeleceu para 24. Conselho Regional de Pastoral
si próprio. 25. Conselho Provincial do Quebeque da Construção
3. Releia o primeiro capítulo e interrogue-se sobre o que faltou a Ma- 26. Conselho de Colocação Profissional
deleine Lanthier na sua primeira pesquisa sobre a metodologia.
Lista dos secretariados:
a) Terá ela atingido realmente o seu objectivo?
b) Neste momento, que faria no lugar dela? 1. Secretariado da Condição Feminina
c) Redija um texto de uma página sobre a palavra «metodologia». 2. Secretariado da Família
3. Secretariado da Juventude
4. Se pretendesse saber se um livro foi escrito e apresentado de uma 4. Secretariado do Ordenamento, Desenvolvimento Regional e
maneira científica, que verificações precisas faria para o efeito? Ambiente

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5. Secretariado da Política • O esboço das partes e do todo deve apoiar-se no projecto, quer dizer
6. Secretariado dos Assuntos Autóctones na finalidade a alcançar.
7. Secretariado dos Assuntos Culturais e Sociais • A síntese da pesquisa conduz a numerosas verificações: umas são
8. Secretariado dos Assuntos Intergovernamentais Canadianos fundamentais e outras técnicas.
9. Secretariado da Capital • Os controlos de conformidade com o real dizem respeito à mani-
10. Secretariado Regional de Acolhimento e de Referência (SRAK) pulação ou tratamento a que será sujeita a informação recolhida (seja
11. Secretariado-Socorro ela quantitativa ou qualitativa). A preocupação com o rigor e a
12. Secretariado das Primeiras Nações precisão anda a par de qualquer trabalho de investigação científica.
13. Secretariado Permanente dos Povos Francófonos • A imaginação desempenha um papel na elaboração da síntese, mas
14. Secretariado Margem Sul deve ajustar-se ao problema e aos factos e adaptar-se às exigências
da manipulação e da análise dos dados e da sua interpretação.
O director pede-lhe, numa primeira fase, que prepare uma síntest • Pensar em presença dos factos exige um trabalho de concep-
das suas ideias sobre esta questão antes de passar à etapa final, ou tualização e de generalização ligado ao tratamento da informação.
seja a estrutura, redacção e apresentação final do relatório. • A síntese científica exige do investigador certas qualidades essen-
Para fazer o seu trabalho, pode colocar a si próprio certas questões , ciais, como:
metodológicas:
l.Q o sentido da exactidão e da precisão;
a) Qual o sentido exacto do pedido do director? 2.Q o sentido da ordem;
b) Que ideia tenho da minha pesquisa? 3.Q o sentido da «lógica»;
c) Que método deverei empregar? 4,Q o sentido de honestidade;
d) Que material de pesquisa quero ou posso obter? 5.Q o sentido da autocrítica;
e) Que objectivo devo visar? 6.Q a imaginação.
f) Que problema procuro resolver?
g) Terei interesse em consultar um tratado de direito administrativo? • O relatório de investigação científica deve responder a certas carac-
H) Em que plano pretendo realizar a minha pesquisa? terísticas intrínsecas, como:
- Plano jurídico? l.fl a precisão nos factos;
- Plano das composições dos conselhos? 2,Q a solidez das evidências;
- Plano dos mandatos? 3.Q a multiplicidade das verificações;
- Plano dos estatutos?... 4.Q a qualidade da composição.
Redija o texto que apresentará ao seu director. • Algumas palavras-chave: análise, autocrítica, compreender, concep-
tualização, discriminante, esboço, exactidão, explicação, fidelidade,
móbil, motivo, observação, parte, precisão, projecto, relatório, rigor,
MADELEINE LANTHIER RECAPITULA A MATÉRIA síntese, todo, validade.
. Escolhas de leituras: Aktouf, Ary e col, Barzun e Graff, Bertin (1977),
. No momento de preparar a síntese, importa dar a compreender Beveridge, Guitton.
as suas intenções e os seus objectivos de pesquisa.
• O relatório de investigação deve evidenciar:
l.e a natureza do problema;
2.c o método utilizado;
3.Q as técnicas de observação empregues;
4.c o ponto de vista apoiado nos factos e nas ideias.
• O esquema de produção de um relatório de investigação co]
preende, por ordem, as três vertentes seguintes, que são indisso
ciáveis: o ambiente da pesquisa, o método científico, a síntest
científica (cf. figura 9.1).

392 393
O RELATÓRIO II: ESTRUTURA
E APRESENTAÇÃO

PLANO

A- A estrutura do relatório
B - A forma técnica do relatório
C- A elaboração do relatório
D- A redacção do texto
E - A publicação do texto
F - A revisão do trabalho
APRESENTAÇÃO 10
INTRODUÇÃO

«Foi nos livros que encontrei o universo: assimilado, classificado,


A versão final do relatório é o fruto de um processo de investigação « rotulado, pensado, ainda temível; e confundi a desordem das minhas
experiências livrescas com o curso aleatório dos acontecimentos reais.
de esforço, de análise e de reflexão, de crítica e de síntese. Para ser aceitável Dai vem esse idealismo do qual levei trinta anos a libertar-me.»
cientificamente, deve estar em conformidade com as exigências reconhecúl.»-.
(f.-P. SAKIKE, Lês Mote, Paris, GaUimaid, col. «Folio», n.° 607,1981, p. 461.)
tanto quanto à forma científica como quanto à composição geral dos relatou» >-.
de investigação. Por isso, expomos neste último capítulo a estrutura e l «Guardava na memória uma grande quantidade de coisas, mas
apresentação do relatório. nada estava ordenado, de modo que a minha cabeça se achava simul-
O objectivo visado é principalmente a comunicação da investigação, taneamente vazia e inchada, como uma esponja.»
O texto em quadro n.c 10.1 resume os seis elementos fundamentais relacio (ALFRED DE MUSSET, La Confession d'un enfant du siècle, Paris, Gal-
nados com a apresentação científica do relatório. limard, «Bibliothèque de Ia Plêiade», 1951, p. 105.)
A estrutura do relatório variará conforme a investigação seja de tipo
experimental ou siga o modelo de inferência sistemática (cf. os textos r m A comunicação dos resultados de uma investigação é o derradeiro objectivo
quadro nos 10.2 e 10.4). Porém, importa ter sempre a preocupação de comp« >i do investigador. Um investigador que não tenha gosto em comunicar os seus
rever e apresentar bem o relatório. A redacção do texto deve merecer um resultados de investigação mais não faz que meditar. Nesta etapa final, trata-se
cuidado especial. de fazer valer as suas ideias ou, por outras palavras, a sua tese, o seu ponto de
As regras a seguir são muitas e adquirem-se com o tempo e a prática, vista; em suma, trata-se de comunicar o seu conhecimento da realidade pelas
O produto final deverá ser um relatório elegante, claro, preciso, coereni*- vias reconhecidas do simbolismo e do imaginário próprio. As ideias serão tanto
original e completo. melhor comunicadas quanto mais bem expressas, representadas e apresentadas
forem. Por outras palavras, a expressão do pensamento do investigador deve
conseguir convencer o leitor, a representação do material que serviu para a
investigação deve suportar a interpretação perspectivada e, finalmente, a
apresentação geral do texto deve apoiar a exposição dos factos e das ideias de
uma maneira clara e precisa. Estas três palavras-chave (expressão, representação
e apresentação) deveriam orientar o investigador no momento em que passa
do estádio da investigação e da análise dos seus próprios pensamentos para o
da comunicação, isto é, a sua maneira de entrar em contacto com o interlocutor.
O esforço consagrado a este aspecto da apresentação científica do relatório de
investigação representa muitas vezes a grande diferença entre um trabalho bem
feito e uma investigação apressada e mal feita.

396
397
É imperioso ter consciência de que o tipo de observação privilegiada vi Para ajudar a ixvonl.ir, resumamos os elementos fundamentais de um
condicionar simultaneamente a estrutura e a apresentação do relatório de n > relatório de investigação. Comporta os seis pontos seguintes:
tigação. No caso da estrutura do relatório, não há dúvida de que dependeu
ou das condições de aplicação do modelo experimental ou das condiçtn l.Q a estrutura do relatório;
2.Q a forma técnica do relatório;
realização da inferência sistemática. Quanto à apresentação, isto é, à fomu
3.e a composição das partes num todo;
material do relatório, deverá ajustar-se às necessidades técnicas reconheci 11. r. 4.e a redacção do texto;
pela preparação dos trabalhos científicos em cada uma das duas grai
5.Q a publicação do texto;
orientações de investigação; além disso, deverá ter em conta as exigênciai
6.Q a revisão do trabalho.
particulares de cada uma das disciplinas. Respeitadas estas regras gerais, n. i. •
é menos importante ter presente que qualquer relatório de investigação . O texto em quadro n.Q 10.1 apresenta um plano sumário para cada um
igualmente um escrito. Por conseguinte, a redacção do texto e a composição do desses pontos. O conteúdo desse texto permite a Madeleine Lanthier interro-
conjunto do relatório devem ser objecto de um cuidado inteligente e de uma gar-se sobre a apresentação final do seu relatório. Por exemplo, deve interrogar-
apresentação particular. A produção de um relatório será de boa qualidade* se, em primeiro lugar, sobre a estrutura do seu relatório. Deverá corresponder
se este satisfizer o conjunto de exigências acima enumeradas. ao modelo experimental ou à inferência sistemática? Deve preocupar-se com
Como é sabido, a investigação científica segue geralmente duas grandei' o «estilo» da apresentação do aparelho técnico do seu relatório (revisão da
vias, uma indutiva e a outra dedutiva. A primeira corresponde à via da inh literatura, bibliografia, referências, etc.) e assim sucessivamente para todos os
rência sistemática; a segunda assemelha-se à do esquema experimental ou outros elementos fundamentais de um relatório de investigação. De facto, trata-
da hipótese. Ambas as vias de investigação implicam procedimentos d« se de um lembrete que lhe recorda as tarefas a realizar ou as coisas em que
trabalho comuns e outros distintos. Contudo, coloca-se um problema impoi deverá pensar. A qualidade do relatório depende disso. Esse esboço global é
tantíssimo: é ou não necessário medir? Por que razão se deve medir? Com geralmente válido para todos os relatórios, mas com variantes particulares,
que finalidade se deve medir? Como se deve medir? Que instrumento do como no caso do relatório de experiência (cf. texto em quadro n.Q 10.2).
medida se deve escolher? São questões que importa colocar, uma vez qui- .1
observação quantitativa acarreta o seu quinhão de restrições das quais n , i < >
podemos escapar. Em contrapartida, as técnicas de observação aperfeiçoada
nas ciências humanas exigem, mutatis mutandis, um conjunto de precauç- CAIXA N.e 10.1
passíveis de garantir o rigor do pensamento sem que, no entanto, sejam A APRESENTAÇÃO CIENTÍFICA DO RELATÓRIO
necessariamente do tipo experimental ou de amostragem. Poderemos d i:,
pensá-las em ciências humanas (cf. os quadros 8.1 e 8.2, 8.4 e 8.5)? A ser CSM I. - A estrutura do relatório
o caso, teríamos de eliminar muita gente, desde Heródoto e Tuicídides a S.i< -
A. - No caso do modelo experimental
Tomás, Maquiavel, Diderot e d'Alembert, Humboldt, Darwin, Marx, Fremi, B. - No caso da inferência sistemática
Piaget, Lacan, Morin e muitos outros. É com um novo olhar e um novo es pi C. - Três modos de investigação:
rito em ciências humanas que Madeleine Lanthier poderá reler os texl<>-. - em biblioteca, em laboratório e no «terreno»
n.08 1.11, 1.12, 2.1 a 2.7, 4.1, 4.2, 5.1, 6.1, 6.2, 6.4, 7.2 e 7.4.
O estudo iniciado por Madeleine Lanthier sobre o planeamento urbano d« l H. - A forma técnica do relatório
cidade do Quebeque nunca será de tipo experimental, a despeito de ela In A. - Bibliografia
optado pelo método da hipótese. Ainda que lhe seja difícil seguir à letra a estru B. - Referências e notas
tura do relatório de tipo experimental, pode inspirar-se imenso nele. Desse moei» > C. - Citações
poderia adaptar, a seu jeito, as regras mais geralmente aceites na publicação d* D. - Abreviaturas e símbolos
um relatório experimental (cf. texto em quadro n.Q 10.2). Se compreender a SIM E. - Apêndices
lógica, só terá de a transpor para o seu procedimento de investigação. F. - Lista das figuras, quadros, diagramas, ilustrações, etc.
A apresentação científica de uma investigação é o culminar do «esquema
de produção do relatório de investigação» (cf. figura 9.1). Não é uma soluça. > III. - A composição do relatório
de recurso à falta de melhor. Faz parte de um conjunto global e unificado A. - Regras gerais (ou saber exprimir as suas ideias)
proveniente da imaginação do investigador, das suas competências, das sua:. 1. Clareza 1. Claramente
capacidades e aptidões pessoais para revelar o essencial do seu conhecimenii > 2. Precisão 2. Correctamente
e das suas descobertas. É o remate normal da investigação. 3. Concisão 3. Eficazmente

398 399
B. - A organização A - A ESTRUTURA DO RELATÓRIO
1. Partes
2. Capítulos «A estrutura do relatório deve ser concebida de modo a integrar o conteúdo do
3. Divisões dos capítulos que se pretende dizer.»
4. Parágrafos
5. Frases (estrutura, pontuação, estilo) (CooFER, Writing Technical Reports, Baltimore, Penguin, 1964, p. 48.)
6. Vocabulário (conceitos, noções, palavras)
C. - O plano Se o estudo visa fazer a análise de um conteúdo mensurável e, além disso,
1. Unidade são possíveis o controlo e a manipulação da variável independente, o relató-
2. Coerência rio de investigação deverá seguir certas regras particulares. Nesse caso, é
3. Realismo importante descrever o método experimental utilizado. Porém, no quadro
mais geral da inferência sistemática, a estrutura do relatório dependerá mais
IV. - A redacção do texto
directamente das fontes de informação seleccionadas e analisadas, e daí a
A. - Regras gerais obrigação de permitir ao leitor ou ao crítico o ^controlo das fontes e das evi-
1. Quem é o interlocutor (o público e o ponto de vista)? dências nas quais se apoia a investigação. É a prática mais corrente em
2. Com que finalidade e em que tom? geografia, em história, em ciência política, em administração, em antropolo-
B. - A língua e o estilo gia e nas outras ciências humanas. No fundo, a estrutura do relatório
1. As preocupações ortográficas e gramaticais depende das regras de objectividade, de honestidade, de precisão, de clareza,
2. O vocabulário (evitar a gíria; escolher a palavra certa) de respeito pelos outros e pela verdade.
3. As qualidades da frase: clareza, ordem, lógica, unidade, etc.
4. A pontuação (o ritmo)
C. - Algumas partes especiais
1. A introdução (o sujeito e o assunto) 1. NO CASO DO MODELO EXPERIMENTAL
2. A conclusão
3. Páginas especiais: sumário, agradecimentos, resumo, curricu/um vitae «[...] um relatório de investigação medíocre pode destruir o valor de uma
investigação bem sucedida.»
V. - A publicação do texto (ou a composição)
(OUELLET, Processus de recherche, Quebeque, PUQ, 1987, p. 203.)
A. - A página de título
B. - O índice e a lista de figuras O relato de uma experiência segue geralmente as quatro etapas seguintes:
C. - A bibliografia
D. - O texto do relatório 1.° a revisão da literatura;
1. As subdivisões 2,Q a descrição da experiência;
2. Apresentação dos títulos 3.e a apresentação dos resultados;
3. Formato de página 4.e a crítica dos resultados.
4. Paginação
5. As margens Estas quatro etapas permitem, entre outras, a repetição da experiência bem
6. Os espaços como a verificação dos resultados e das conclusões. Apresentada sob esta forma,
7. Sublinhados a experimentação fornece uma maior garantia de objectividade e de rigor.
8. Os apêndices
Quando a análise estatística é exigida no decurso de uma autêntica
9. Os parênteses
10. As abreviaturas
experiência, é necessário garantir que se segue bem a lógica dos testes de
11. Os sistemas de medida hipóteses e da análise estatística (cf. quadro 8.10). Esta etapa é essencial, uma
12. O aspecto exterior vez que condiciona toda a experimentação. Formula-se uma hipótese
estatística HO, ou hipótese «nula», e concebe-se imediatamente uma hipótese
VI. - A revisão do trabalho Ha, ou alternativa. A apresentação desta formulação de hipóteses deve fazer
parte do relatório de investigação. Deve ser igualmente acompanhada da
A. - Revisão lógica
B. - Revisão da redacção
regra de decisão quanto à probabilidade de erro de tipo I e de tipo II
C. - Revisão técnica conducente à aceitação ou rejeição da HO. Esses esclarecimentos devem ser
comunicados ao leitor no início do relatório.

400 401
Para todos os relatórios de experiência, recomenda-se seguir as quatro relativos às van.nn . . ! > • | > r i n l « - n i i v , , .1 t|u<irt<i, finalmente, tem n vor com a
etapas atrás enumeradas. Analisemos cada uma delas na perspectiva das apresentação do cHyHMlitto c-xperimental que permite clarificar certos aspectos
responsabilidades e da ética do investigador. respeitantes à experiência real e aos métodos de observação sistemática. Estes
são de dois tipos: de observação exclusivamente ou de estudos de correlação
e de inferência estatística2.
A A REVISÃO DA LITERATURA1 No que respeita aos sujeitos da experiência, importa descrever pormenori-
zadamente a natureza da amostra em relação à população sobre a qual
É fútil formular hipóteses sobre problemas que já foram estudados e pai incidirão as generalizações. Esta descrição deverá indicar o número, as
os quais já se realizaram experiências. Por isso, a consulta de especialista! características ad hoc e o método de selecção dos participantes. Em caso de
de obras gerais e especializadas e de publicações consagradas ao domíi ter havido participantes que não tenham terminado a experiência com o gru-
fazem parte do trabalho de investigação. Os frutos desta exploração devei po da amostra, esse facto deve ser assinalado e devem ser indicadas as razões.
ser comunicados sob uma forma pertinente e esclarecedora do problema, dí No caso de um dispositivo experimental em que a aparelhagem e o
hipóteses e dos objectivos da investigação. material não são conhecidos, é imperioso fazer a descrição do que permitiu
A recensão de escritos deve ser exaustiva no sentido de conservar o qi a realização da experiência. O mesmo não acontece, por exemplo, quando
convém ao objecto da investigação científica e mostrar as lacunas observai os instrumentos ou os equipamentos de laboratório são conhecidos. Assim,
que conduziram à escolha da investigação. Se se trata de um domínio quaí não será necessário fazer a descrição de um teste de aptidão padronizado.
virgem, é preciso assinalá-lo, mostrando como todos os antecessores evitar; Neste tipo de investigação, o leitor tem curiosidade em conhecer os
o problema, de uma fornia consciente ou não. Se se trata de um domíi procedimentos, isto é a maneira como as coisas se passaram no decurso da
conhecido, a recensão das referências deve patentear com clareza os conru experiência. Em suma, trata-se de dizer claramente o que foi feito e de que
cimentos que se tem das pesquisas existentes. A apresentação da revisão maneira. Por conseguinte, as informações devem ser o mais completas possível,
literatura deve mostrar as investigações mais recentes em primeiro lugí de modo a permitir a qualquer pessoa que não esteja familiarizada com este
Uma classificação cronológica descendente basta por vezes. Porém, aconfo género de experiência poder repeti-la com o máximo de hipóteses de êxito.
com mais frequência ser necessário classificar tipos de investigação, pi Seria importante dar a conhecer de que forma se procedeu à manipulação da
blemas estudados e filiações científicas das investigações, de acordo quer c< variável independente. Também seria útil dar a conhecer o modo como os
teorias conhecidas, quer com pressupostos diversos ou ainda com object< dados foram recolhidos no que respeita às variáveis dependentes.
conexos sobre um mesmo tema de investigação. Em suma, essa revisão A quarta subdivisão, ou seja a vertente do «método», diz respeito ao
literatura deve ser uma revisão crítica e exaustiva. A preocupação da obj< dispositivo experimental. Esta subdivisão não é habitualmente assinalada
vidade e da honestidade intelectual orienta a apresentação de uma revisai como tal nos relatórios de investigação. Contudo, Paul R. Solomon3 recomen-
da literatura, cuidada, bem feita e respeitadora tanto dos autores sobre da ao jovem investigador que faça uma secção distinta. Esta recomendação
quais incide como dos seus leitores eventuais. é importante para mostrar de que maneira foram tomadas as diferentes
medidas de controlo da experiência. Tratar-se-á de dois grupos escolhidos
aleatoriamente, de três grupos, de dois grupos emparelhados ou ainda de
B. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA um estudo de correlação, etc.? Estas primeiras indicações podem ser acom-
panhadas por outras informações. Por exemplo, seria útil explicar a formação
O ponto central desta etapa consiste em descrever o material e o mete dos grupos, o número de participantes por grupo, a maneira como foram
utilizados para levar a cabo a experiência. Trata-se, pois, de fornecer todi afectados a cada um dos grupos (de uma forma aleatória ou de outro modo),
as indicações úteis passíveis de permitir a qualquer pessoa efectuar a mesi ou ainda fornecer as instruções que foram comunicadas aos participantes da
experiência segundo o mesmo método e em condições análogas. Na vertent experiência. A extensão das explicações neste domínio pode variar considera-
«método», conviria distinguir quatro subdivisões: a primeira diz respeito a< velmente, mas deve-se evitar os dados supérfluos. É possível recorrer a uma
sujeitos da experiência; a segunda, ao dispositivo ou aparelhagem e materii descrição prévia. De facto, a haver uma regra, seria a seguinte: «Será que
que permitiram efectuar a experiência; a terceira, aos procedimentos seguid< qualquer outra pessoa pode realizar a mesma experiência, se estiver na posse
quanto à manipulação da variável independente e da recolha de dadi dos elementos descritivos do «método», e só desses?»

2 Boa exposição destes dois tipos de métodos em Leedy, Practical Research, Nova Iorque,
l Consultar Ouellet (1987), módulo XI: «La recension dês écrits», incidindo mais particularme n t Macmillan, 1989, cap. 2: «The Tools of Research», cap. 8: «The Descriptive Survey Method»,
sobre as ciências de educação; Ary e col. (1979), pp. 57-58, 68-70,321-322 e 355; Leedy (19T e cap. 9: «The Analytical Survey Method»; ver também Ouellet, op. cit.
cap. 4: «The Review of the Related Literature» (pp. 66-78). 3 In Howard, Basic Research Methods in the Social Sciences, 1985, pp. B10 a B13.

402 403
Uma vez que, em ciências humanas, a verdadeira experimentação não é, as duas superpotências e Cuba, um antigo país «satélite» dos Estados Unidos
regra geral, possível, impõe-se um último comentário. Como se trata geral- que, após a revolução liderada por Fidel Castro, passou para o campo comu-
mente de observação sistemática, apenas por observação sem manipulação nista. Quanto à duração da crise, de 22 a 28 de Outubro de 1962, a figura
de variáveis ou estudos de correlação, urge pois adaptar a descrição da 7.3 apresenta o desenrolar dos acontecimentos entre os dois «K», Kennedy
experiência de tipo experimental a esse outro tipo de experiência ou de quase
e Kruchtchev. É possível dar outro exemplo relacionado com o texto n.Q 6.3.
experimentação. Aqui, o que conta sobretudo é descrever bem o desenrolar
da observação com os meios de controlo utilizados para garantir a objec- Um mapa da distribuição dos grupos linguísticos na região de Montreal
permitirá decerto tornar mais significativos os dados contidos nesse artigo
tividade das observações. No caso dos estudos de correlações, importa não
confundir a noção de relações entre as variáveis com a de causa e efeito, de imprensa.
quer dizer de dependência causal de um fenómeno em relação a outro. (Esses No caso da observação quantitativa, os resultados obtidos podem ser
apresentados sob diversas formas e de diversas maneiras. Por exemplo, uma
problemas são geralmente bem tratados nos manuais de investigação
experimental e de estatística4.) parte da informação da sondagem do IQOP foi apresentada na figura 8.1.
Noutros casos, os quadros podem resumir os dados estatísticos descritivos
(médias, percentagens, desvios padrões, etc). As análises estatísticas que
C. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS partem da inferência estatística (testes de significância, estimativas, previsões,
etc.) deverão ser apresentadas na linguagem própria da estatística, quer dizer
Formularam-se hipóteses. Realizou-se uma experiência, estabeleceram-se nas fórmulas estatísticas apropriadas.
procedimentos de controlo e obtiveram-se, finalmente, observações que, Não há dúvida de que esta etapa é altamente estatística. A sua realiza-
devem agora ser analisadas e, a seguir, apresentadas. Ocorrem duas questões; ção exige uma base de conhecimentos estatísticos ou o recurso a um esta-
Que dados devem ser apresentados? E como? Estas duas questões devem ser tístico. Se essa segunda via for adoptada, é desejável que o contributo do
interpretadas no sentido de uma verificação das hipóteses e de uma boa estatístico tenha sido previsto logo na preparação do plano de investigação
apresentação da análise dos dados. Essas duas condições irão orientar quer necessário à resolução dos testes de hipóteses. O estatístico deve conhecer
a escolha da apresentação das tabelas (de correlação ou de contingência), dos bem os objectivos e a natureza dos dados recolhidos no decurso da investi-
quadros, das figuras e dos gráficos, quer o tratamento estatístico a que os gação e, sobretudo, se será consultado apenas ou se se tomará co-autor do
dados serão sujeitos. É esse resultado que deve ser apresentado, uma vez relatório.
que o objectivo primordial do investigador consiste em valorizar os dados Para todas as técnicas de observação, é evidente que o texto deve adaptar-
significativos da sua investigação. O leitor não pretende procurar a pérola -se à apresentação dos resultados e fornecer todas as explicações necessárias
numa meda de feno! à sua compreensão. Não tem cabimento, por exemplo, apresentar quadros
Esta etapa é, portanto, a mais importante do relatório. O investigador da base de dados brutos ou das fichas de dados ou ainda a transcrição
deve revelar as suas capacidades de análise, de domínio da documentação completa das fontes utilizadas. No entanto, se isso se revelasse necessário,
(escrita, numérica ou quantificada), de síntese e de comunicação. É nesse seria preferível colocá-los em apêndice ao texto do relatório.
momento que deve dar a conhecer o modo de raciocínio e de tratamento
estatístico empregue, mas também que deve apresentar de maneira suficien-
temente convincente os resultados que poderão apoiar as conclusões. Até é D. CRÍTICA DOS RESULTADOS
aconselhável que refira os resultados que não apoiam a hipótese. Esse
problema poderá ser objecto de uma análise apropriada aquando da terceira «A estatística é demasiadas vezes um alibi. Graças a ela, fornece-se resultados e
etapa consagrada à crítica dos resultados. evita-se assim a procura de explicações.»
No caso da orientação documental e do estudo do meio, a documentação, (GRAWITZ, Méthodes dês sdences sociales, Paris, Dalloz, 1986, parágrafo 319, p. 419.)
a informação ou os fenómenos que traduzem a acção humana devem ser
sujeitos à crítica para seguidamente serem dispostos de uma maneira A crítica dos resultados é o exame e a avaliação das análises que incidem
inteligível para o leitor. Se se considerar, a título de exemplo, o texto de sobre a apresentação dos dados. Conduz à interpretação dos resultados e à
Kennedy sobre a crise cubana de 1962 (cf. texto n.Q 7.3), perguntar-se-á de exposição das implicações sobre as teorias e as aplicações possíveis na
que modo será possível apresentar o ponto de vista americano e o ponto de prática. Por conseguinte, permite comparar os resultados com experiências
vista soviético nesta história de relações internacionais, em que contracenam anteriores (se existirem) e propor sugestões para investigações posteriores.
A interpretação dos resultados é certamente a tarefa mais difícil e o
4 Ver Jean-H. Guay, Sciences humaines et méthodes quantitatives, Montreal, Beauchemin, 1981, aspecto mais crítico do relatório. Neste ponto, é crucial estabelecer clara-
cap. 7: «Lês príncipes de Ia relation causale».
mente, desde o início da crítica, se a hipótese inicial foi ou não apoiado.

404
405
No decurso de uma investigação, nem tudo funciona necessariamente de
uma forma perfeita. Neste caso, as lacunas e as dificuldades da experimen- CAIXA N.s 10.2
tação devem ser sublinhadas, uma vez que podem influenciar mais ou
menos directamente os resultados da investigação e, portanto, a interpre- A PUBLICAÇÃO DO RELATÓRIO DE EXPERIÊNCIA
tação que pode ser dada deles. Depois de se ter reconhecido as condições
reais da experimentação, importa enfrentar o problema da inferência Regras mais geralmente aceites
estatística. Os testes de hipóteses previstos devem ser levados até ao fim. 1. Titulo (curto, significativo, preciso)
Devem ter em conta a regra da decisão que permitirá aceitar ou rejeitar a 2. Autor(es) (local a que pertencem ou organismo representado)
hipótese nula. Isso faz parte dos princípios de interpretação estatística (ver
as referências ao quadro 8.10), 3. Resumo (um parágrafo de cerca de 200 palavras cobrindo 5 pontos)
A reflexão sobre as implicações dos resultados da investigação diz 3.1 O racional (fundamentos, razão, problemática, justificações)
respeito às teorias implícitas ou explícitas. Que teorias podem ser suportadas 3.2 Os objectivos e o domínio coberto
pelos resultados observados? Que outras teorias poderão contrariar a 3.3 Os métodos (conhecidos ou novos: procedimentos e instrumentos)
interpretação proposta? Que sugestões poderão ser feitas logicamente para 3.4 Os resultados (observações obtidas da experiência)
melhorar as teorias aceites? É recomendável situar os resultados empíricos 3.5 As conclusões (fazer valer o que foi descoberto)
numa perspectiva teórica. O quadro conceptual permitirá generalizações que 4. Introdução (dar a conhecer de uma forma clara e sucinta o assunto sobre o
poderão ser confrontadas com os resultados empíricos e vice-versa. qual incide a investigação)
As aplicações possíveis dos resultados de uma experiência merecem ser 4.1 Estado do problema que conduziu às hipóteses
objecto de uma tomada de posição. Assim, a apresentação das aplicações vem 4.2 Orientações da investigação à luz das investigações existentes
clarificar de uma maneira muito mais significativa as implicações teóricas 4.3 Tratamento do problema e objectivos visados (métodos de análise)
dos resultados. Na realidade, trata-se de avaliar a influência que a análise 5. Material e métodos (instrumentos, equipamentos, meios científicos)
das consequências da exploração pode ter quer sobre uma tomada de decisão
quer sobre a realização de um qualquer produto para fins práticos, visto que, 6. Apresentação dos resultados (tratamento e análise apenas: o que se obteve
com a investigação)
na realidade, é o investigador quem está em melhor posição para fazer
sugestões práticas, devido à compreensão que tem da sua investigação. 7. Crítica dos resultados (conduz à interpretação dos resultados, a procurar o
Portanto, não se deve presumir forçosamente que o leitor captará todo o que pode ser esclarecedor)
alcance prático das conclusões de uma investigação. 8. Conclusão (mostra os aspectos em que a investigação conduziu às consequên-
A comparação dos resultados obtidos com outras investigações seme- cias observadas)
lhantes pode conduzir a sugestões sobre investigações futuras ou sobre outras 9. Referências (e notas)
experiências. Pode igualmente mostrar as lacunas nas teorias existentes, mas
isso exigirá outras experiências. A crítica dos resultados deve tornar clara 10. Quadros e gráficos
para o leitor a resposta às interrogações iniciais do investigador. Que contri-
buto fornece essa investigação? A investigação terá permitido a resolução
do problema estudado? Quais podem ser as implicações teóricas e práticas F. ALGUMAS REFERÊNCIAS DE CONSULTA
dos resultados obtidos? Esse processo sem fim inscreve a investigação num No caso do modelo experimental, Madeleine Lanthier poderia consultar
continuum composto de teorias, deduções e experiências, e de observações, com proveito as diferentes obras que se seguem: Aktouf (1987), A.P.A. (1974),
induções e generalizações. Na prática, trata-se de mostrar onde pode situar A.S.A. (1988), Ary e col. (1979), Grawitz (1979), Howard (1985), Leedy (1989)
-se a investigação concreta e que contributo fornece ao edifício da ciência. e Ouellet (1987). Não seria inútil consultar as obras de estatística indicadas
na bibliografia do capítulo 8 bem como os manuais de estatística assinalados
no quadro 8.10. Terminamos assim a secção consagrada ao modelo experi-
E. A PUBLICAÇÃO DO RELATÓRIO mental; passemos agora ao caso da inferência sistemática.
Finalmente, a investigação assumirá a forma de uma publicação de
investigação científica. O seguinte texto em quadro apresenta surnariament 2. NO CASO DA INFERÊNCIA SISTEMÁTICA
as regras mais geralmente aceites no que toca à publicação de um relatóri
de experiência. As regras de conduta relativamente à estrutura do relatório no caso da
inferência sistemática não são tão definidas como no modelo experimental.

406
407
Tirando o caso dos inquéritos baseados mais particularmente na observação B. REUNIR AS INFORMAÇÕES (ÚTEIS E PERTINENTES)
quantitativa e nas técnicas de amostragem que recorrem muito à estnilm.i
do relatório de experiência, a maioria dos trabalhos em ciências hum.m.is A documentação recolhida não deve ficar num estado caótico. Para se
obedecem antes a um procedimento mais complexo e mais matizado. Isso tornar significativa, deve ser sujeita a um primeiro tratamento de apro-
deve-se, em particular, à grande quantidade de variáveis implicadas num.i ximação, pelo que se impõe um trabalho de classificação e de agrupamento.
dada situação e cujo isolamento satisfatório é praticamente impossível, a As notas acumuladas no decurso do trabalho não devem ser incluídas no
menos que se mutile simplesmente a realidade. Este facto reflectir-se-á, aliás, relatório de uma forma desordenada. A organização dos factos e das ideias
na apresentação científica do relatório. (Neste espírito, Madeleine Lanthior faz parte da técnica de avaliação do material de investigação. É preciso
poderia rever o texto n.Q 6.4 de Guy Frégault e o índice de La Guerre de In procurar saber se foram encontradas todas as peças do quebra-cabeças. Essa
Conquête, reproduzido na figura 6.1.) tarefa capital só se realiza desde que se veja claramente o problema a resol-
Á fim de chegar a uma apresentação científica da investigação, o invrs ver, bem como os meios a utilizar para garantir a solução. Por outras pala-
tigador tomará o cuidado de franquear cada uma das quatro etapas abaixo vras, trata-se de descobrir as filiações entre os factos e as ideias que podem
enumeradas. São as etapas essenciais que o conduzirão ao relatório final. apoiar uma explicação válida do fenómeno estudado.
Para lá chegar, deverá:
A adopção de um quadro conceptual de análise pode justamente garantir
à massa de dados heteróclitos uma coesão que, sem ele, seria inexistente. Não
l.e circunscrever o domínio das suas investigações; é supérfluo dar a conhecer explicitamente os elementos do vigamento
2.s reunir as informações (úteis e pertinentes); intelectual que servirá de suporte à estruturação das ideias e dos factos.
3.s organizar logicamente a informação; Grande trabalho esse em que a reflexão se misturará com os dados, com os
4,B compor o relatório.
acontecimentos e com as ideias, transformando-se por sua vez em contacto
com o real: tal é o trabalho do pensamento reflexivo. A procura de nexos
Se cada etapa for examinada no momento da redacção do relatório dt? passíveis de fornecer um sentido às informações acumuladas continua a ser
investigação, o leitor poderá apreciar melhor as qualidades científicas dn um momento crucial da investigação. É assim, por um processo de decantação,
exploração.
de sedimentação e de selecção dos factos, que se prepara a ordem considerada
conveniente para os elementos que podem servir para resolver o problema,
estabelecendo a organização lógica da informação a fim de reconstruir a
A. CIRCUNSCREVER O DOMÍNIO DAS SUAS INVESTIGAÇÕES realidade dos factos. (É esse o espírito do texto n.Q 6.1 de Freud sobre a
actividade científica. Certas citações de Poincaré, no primeiro capítulo, vão
Em primeiro lugar, trata-se de indicar ao leitor o domínio sobre o qual nesse sentido. Madeleine Lanthier poderia procurar sublinhá-los.)
vai incidir a investigação. A partir daí, é necessário precisar claramente a
natureza do objecto de investigação. Assim, o investigador deve ser capaz
de responder com à-vontade a uma questão como a seguinte, por parte do C. ORGANIZAR LOGICAMENTE A INFORMAÇÃO
um leitor: «De que se trata?» ou «Que pretende estudar?» A resposta deveria
permitir captar os limites entre os quais se inscreve o processo de invés O laborioso trabalho de assimilação da informação não é de modo algum
tígação. Depois de estes aspectos terem sido explicitamente apresentados, suficiente para a apresentação científica de uma investigação. Resta conceber
seguem-se certas consequências sobre a utilização das fontes de informação, logicamente a informação. Como ordenar a realidade sem a destruir? Como
É indubitável que a escolha das fontes de informação fornece uma ilumi atingir a realidade, conservando um mínimo de organização das nossas
nação muito nítida sobre o domínio da exploração. Por exemplo, no caso ideias? Como fornecer a realidade de um modo conceptual, sem nos afas-
exploração das técnicas vivas (inquéritos, questionários, testes), a fonte v. tarmos dela? Existe em primeiro lugar uma ideia de conjunto que importa
informação será um sujeito humano a partir do qual serão recolhidas infoi alcançar. Qual poderia ser o nexo unificador? Qual poderia ser a ideia
mações precisas. O modo como essas informações serão recolhidas deven orientadora, que Marx designava por fio condutor? O conteúdo do relatório
ser descrito da mesma maneira que no esquema experimental. Quanto deve ser, neste aspecto, o mais claro possível. Não é passeando-nos nas trevas
observação indirecta que é praticada a partir das técnicas documentaii que podemos alcançar a luz! O que sustenta o edifício merece ser posto a
importa descrever com precisão e exactidão as fontes que serviram para claro. É absolutamente aconselhável não hesitar em descrever a posição
investigação. A natureza das fontes utilizadas revelará, à sua maneira, adoptada quanto à interpretação geral dos factos. Esta preocupação de
limites da exploração. Geralmente, trata-se da bibliografia ou da recensi honestidade intelectual serve tanto os interesses do leitor como os do
de fontes e de escritos. investigador. Por que razão ocultar os fundamentos da síntese quando eles

408 409
são conhecidos e captados pelo espírito? Não será isso que faz a ercn^i
entre uma obra acabada e um esboço ou um trabalho preliminar? Por qut D. ELABORAR O RELATÓRIO
razão não nos afirmaremos, depois de termos cumprido todo o trabalho Um dos pontos mais importantes para a composição do relatório é a
exposto no capítulo 9? compreensão por parte do eventual leitor. Em qualquer comunicação, há um
Uma vez reconhecida a ideia orientadora, trata-se de descobrir uma locutor e um interlocutor; num relatório de investigação, trata-se de um autor
maneira prática de organizar a soma das informações, das ideias e dos facl» •-. e de um leitor. Como suscitar o interesse do seu leitor para uma questão que
segundo um esquema apropriado. É a isso que, na composição francês; i não é necessariamente a dele? Essa deve ser uma preocupação fundamental
chama geralmente a forma por oposição ao fundo. Por outras palavras, com n do investigador: enquanto escreve, deve pensar no leitor. Agir desse modo é
comunicar, segundo as regras da linguagem, o produto do pensamento e da assegurar-se de uma crítica constante sobre o que será comunicado e sobre o
investigação? Só um intercâmbio constante com a documentação, as notas <>n modo como o será. Contudo, isso não significa que se seja complacente.
os dados pode responder às exigências da organização lógica. Nesse momento, Importa aprender a fazer-se compreender, ao mesmo tempo que se exprime
diversas modalidades de apresentação podem ocorrer ao espírito, mas haverá claramente a sua própria compreensão do objecto estudado.
sempre necessidade de recortar e de colar, para juntar todas as ideias nos sítios Esta compreensão do objecto da investigação concretizar-se-á na configuração
certos. O trabalho de organização lógica dos resultados da investigação implica dos diversos elementos conservados, que podem constituir um todo. A reunião
escolhas. Não existem respostas já prontas para este problema. É necessário e a disposição das divisões e das subdivisões do texto constituirão a ossatura
imaginar a solução mais económica do ponto de vista da exposição da do relatório. O cuidado necessário na composição da estrutura do relatório deve
compreensão adquirida pela investigação e a reflexão. O ideal é encontrar a valorizar o produto da investigação, mas também o da reflexão. A unidade que
forma que permitirá reunir e agrupar o maior número possível de informaçòc'. poderá adquirir a organização das ideias decorrerá do tratamento a que será
num quadro tão englobante e explicativo quanto possível. sujeito o material da experiência ou da pesquisa. Esta arte da apresentação é a
As estratégias mais conhecidas para garantir a organização lógica da arte da composição. Implica o cuidado em precisar e completar as partes em
informação referem-se a diversos modos de apresentação, de que exporemos função da ideia central, assim como corrigir a estrutura geral, se ela não
os mais generalizados (ver Cooper, 1964, pp. 34-41 e 61; Turabian, 197í>, corresponder inteiramente aos elementos constitutivos das partes do relatório.
pp. 41-44). Segundo as necessidades e as circunstâncias, pode ser preferívi-l Concretamente, todo este trabalho de organização conduz à realização de
optar entre: um plano que se tornará, no relatório final, um índice. A título de ilustração,
damos um exemplo de um plano pormenorizado. O texto em quadro n.B 10.3
l.c a ordem cronológica (segundo a sucessão dos acontecimentos); apresenta simultaneamente as divisões e subdivisões do plano de um
2.e a ordem lógica (segundo a implicação mútua das ideias); relatório respeitante à cidade do Quebeque. Os títulos e subtítulos são em
3.e a ordem espacial (segundo a distribuição dos fenómenos no negrito e os pontos técnicos em itálico; todos os títulos iniciados por um
espaço); número designam a ideia de um parágrafo. Compor o relatório é, pois,
4.e a ordem do geral para o particular (sob a forma de uma hipótese); ordenar e juntar todos os elementos a fim de apresentar um todo unificado,
5.e a ordem do particular para o geral (por ilustrações significativas); o que, no caso presente, põe em jogo uma ideia central sobre a dicotomia
6.s a ordem das causas e dos efeitos (segundo uma sequência expli- do Quebeque enquanto cidade museu e cidade moderna.
cativa);
7,Q a ordem das correlações (das relações prováveis entre as variá- CAIXA N.2 10.3
veis);
8.s a ordem temática (segundo diferentes aspectos sobre um mesmo UM EXEMPLO DE PLANO
assunto);
QUEBEQUE: UMA CIDADE MUSEU E UMA CIDADE MODERNA
9.s a ordem comparativa (pondo em paralelo situações análogas);
10.s a ordem panorâmica (o exame rápido ou o quadro do estado de A. - INTRODUÇÃO
uma situação).
1. O estado inacabado
2. A percepção dos habitantes de Montreal
3. Quebeque: um pólo económico
Porém, qualquer dessas opções deve inscrever-se no plano geral que visa B. - ONDE É O CENTRO DA CIDADE?
compor o conjunto do relatório. Não é contra-indicado combinar uma orden 4. Um centro da cidade pulverizado
com outra na elaboração de um plano. O que conta é descobrir a disposiçãi 5. Articular a parte baixa e a parte alta da cidade
mais passível de ser compreendida. 6. Um calendário a respeitar

410
421
C. - CARACTERÍSTICAS DOS MELHORAMENTOS 6. Texto do relatório (organização lógica e forma do discurso)
7. Três características e quatro opções prioritárias 6.1 As partes (um começo, um meio e um fim)
8. Um urbanismo activo 6.2 Os capítulos (um começo, um meio e um fim)
9. Concepções do espaço 6.3 As subdivisões (um começo, um meio e um fim)

D. - OS MOTIVOS DESTA OPÇÃO 7. Conclusão


(a) Restabelecer uma actividade humana permanente 8. Referências e notas (rodapé ou fim do documento)
10. O despovoamento do centro da cidade
9. Apêndices
11. Combinar os cenários l B e IA
12. Porque não habitação na ilhota de Aiguillon?
(b) Limitar a ocupação dos espaços para escritórios A observação rigorosa e metódica destas regras condiciona a prática da
13. Os espaços para escritórios concentrados no centro da cidade exploração, se elas não forem seguidas simplesmente quanto à forma, mas
14. O plano económico de Lebourgneuf
também no respeito pelos seus fundamentos científicos (cf. o capítulo 6 e mais
15. A taxa de não-ocupacão de espaços para escritórios
16. Grandes projectos desde há mais de 20 anos: um desastre
particularmente o texto n.c 6.5).
(c) Aumentar o número de quartos de hotel
18. Aumentar o parque hoteleiro na colina parlamentar F. ALGUMAS REFERÊNCIAS DE CONSULTA
E. - CONCLUSÃO
19. Um quadro de desenvolvimento harmonioso No caso da inferência sistemática, Madeleine Lanthier poderia ter
20. Uma cidade moderna vantagem em consultar Barzun e Graff (1985), Carrière (1961), Grawitz (1979),
21. Oferecer como exemplo uma colina parlamentar renovada Poirier (1964), Schmitz (1962), Turabian (1965) ou ainda qualquer outra obra
22. O primeiro desafio do mesmo género que se pudesse encontrar na biblioteca da vossa instituição
23. Uma cidade do ano 2000 de ensino. O mais importante nisto tudo é conseguir fazer uma ideia tão
F. - RECOMENDAÇÕES completa quanto possível das condições da inferência sistemática na pers-
REFERÊNCIAS pectiva da apresentação científica do relatório de investigação
BIBLIOGRAFIA
ANEXOS
3. TRÊS MODOS DE INVESTIGAÇÃO
E. PUBLICAR O RELATÓRIO DE EXPLORAÇÃO A grande maioria dos relatórios de investigação no collégial realiza-se a
partir da pesquisa em biblioteca, quer dizer utilizando uma documentação
As regras mais geralmente aceites na preparação de um relatório de escrita. Um pequeno número de investigações poderão fazer-se em labora-
investigação que não seja de tipo experimental ou de amostra reduzem-se tório e outras «no terreno». Conforme o tipo de investigação, a estrutura do
principalmente aos nove pontos enumerados no seguinte texto em quadro. relatório seguirá o modelo experimental ou a inferência sistemática.
A pesquisa em biblioteca exige um bom conhecimento das técnicas
documentais, concretamente dos recursos da biblioteca do estabelecimento
de ensino (enciclopédias, dicionários, colecções, revistas, obras gerais, livros
CAIXA N.2 10.4 especializados, etc.). Trata-se de fazer uma exploração judiciosa dos recursos
A PUBLICAÇÃO DO RELATÓRIO DE EXPLORAÇÃO disponíveis e de tirar o melhor proveito de todas essas formas de informação.
A pesquisa em laboratório suporá um conhecimento do equipamento
Regras mais geralmente aceites disponível e dos procedimentos e das técnicas apropriadas a pesquisas deste
1. Página de título (título, autor, instituição ou organismo, local, data) tipo, que exigem uma experimentação.
A pesquisa «no terreno», que faz apelo às técnicas de inquérito, de análise
2. Sumário (o que é coberto pelo relatório; 30 a 50 linhas)
ou de pesquisa social, é provavelmente muito mais facilmente realizável do
3. índice e lista de figuras que a pesquisa em laboratório. Entre outras, as técnicas de marketing, de loca-
4. Bibliografia e fontes lização comercial ou de análise de opinião poderão praticar-se num tempo
5. Introdução determinado com uma certa economia de meios.

413
412
Destes três modos de pesquisa, o que há a reter no plano da apre investigador e dos seus objectivos. Contudo, o que não se deve perder de vista
científica é o facto de exigirem uma estruturação do material de pesqu ó a sua utilidade para os que aprenderão a partir dela, visto que tem uma
segundo condições precisas, conforme se trate do modelo experimentai função instrutiva (cf. a bibliografia no fim de cada capítulo deste manual).
da inferência sistemática. Foi disso que tratámos. Passemos agora à for Foram utilizadas, ao longo deste manual, diversas maneiras de indicar
técnica do relatório.
fontes de documentação. Por exemplo, colocaram-se sistematicamente referên-
cias em rodapé. Por outro lado, incluíram-se no corpo do texto outras
referências [por exemplo: Barzun e Graíf (1985), p. 203]. Além disso, utilizámos
B - A FORMA TÉCNICA DO RELATÓRIO o método de reenvio para uma bibliografia numerada (cap. 8). Nesse caso, a
referência completa aos autores encontra-se na bibliografia. Madeleine Lanthier
Uma investigação não se realiza isoladamente. Inscreve-se, regra grui pode notar que, na bibliografia, são sempre mencionados o autor, o título, a
numa corrente de ideias ou recorre a uma ou várias teorias. Pertence rmiii.i.- origem da fonte (sobretudo quando se trata de organismos públicos), o local
vezes a um meio, aos modos de pensar de uma época e às sensibilid.hl» de edição, a editora e a data de publicação, bem como a indicação das páginas.
individuais e colectivas perante a realidade. Não exprime ideias «puras» Porém, por vezes pode acontecer que uma referência dê lugar a uma explica-
uma representação «incarnada» do real. Por conseguinte, nunca é o produto ção ou a uma informação particular para o leitor. Então, nesse caso, trata-se
de um desapego absoluto nem o resultado de uma geração espontânea verdadeiramente de uma nota de rodapé, isto é de uma «referência» de outro
adesões sociais, políticas, religiosas, cognitivas, espirituais, emoli tipo. Em geral, as notas de rodapé visam fornecer esclarecimentos particulares,
inconscientes e outras modelam a investigação. Para tornar esta bagaj^m uma informação mais específica ou uma explicação suplementar a propósito
individual o mais transparente possível, o investigador científico consenti- de um ponto especial que não caberia normalmente no corpo do texto. Essas
em dar a conhecer as suas fontes, em indicar as suas referências e em explicai notas nem sempre são indispensáveis à leitura do texto corrente. (Madeleine
as suas posições pessoais. Se nem sempre o faz directamente, mostra-o p» u Lanthier poderia rever as notas incluídas neste manual para fazer uma ideia
aquilo que não diz ou por aquilo que apresenta. Por vezes, existem esque da sua natureza e alcance.) Se necessário, num relatório, é sempre possível
cimentos que são mais significativos do que as afirmações. combinar «referências e notas».
No plano científico, pede-se ao investigador que proceda com rigor no Este manual comporta numerosas citações. Madeleine Lanthier poderia
que respeita ao aparelho técnico, que cobre geralmente os seguintes pontoi! consultar, entre outros, todos os textos de Poincaré citados no primeiro capítulo
l.fl bibliografia; com as suas referências no fim de cada texto. São citações textuais respeitantes
2.s referências e notas; aos problemas de conhecimento e de metodologia. As notas pessoais de
3.fi citações; Madeleine sobre La science et l'hypothè$e poderiam ser consideradas como
4.Q abreviaturas e símbolos; citações de ideias, se ela se permitiu resumir o pensamento de Poincaré sob
5.Q apêndices; um aspecto ou outro. Nos dois casos, se pretende servir-se de tais citações,
6.Q lista de figuras, quadros, diagramas, ilustrações, etc. deverá indicar as suas referências com precisão. Quanto ao emprego de
citações, é preciso recordar constantemente que devem integrar-se facilmente
A bibliografia fornece ao leitor informações sobre as mais diversas fontM no texto, não ser excessivamente longas (de preferência algumas linhas) nem
respeitantes a um determinado assunto, questão ou problema particular. P;n,i numerosas, e apoiar, clarificar ou mesmo contradizer o que é objecto de uma
o investigador, trata-se de fazer a triagem entre o que pode ser pertinente - referência ou de uma afirmação. A arte da citação é uma arte difícil. Madeleine
que não o é. Uma bibliografia não é uma lista de obras ou de artigos alinli.i pode avaliá-lo, analisando o teor das citações colocadas em epígrafe aqui e
dos de urna maneira arbitrária e sem uma finalidade precisa. Estabelecer um.i ali neste manual ou consultando um dicionário de citações5.
bibliografia supõe um sentido crítico e um pouco de imaginação. No caso *i< • As abreviaturas e os símbolos multiplicam-se cada vez mais no mundo
modelo experimental, fala-se mais geralmente de «revisão da literatura». Com da investigação e da actividade social. Que podem querer dizer, por exemplo,
efeito, pede-se ao investigador que mostre o que sabe sobre as investiga^
as abreviaturas seguintes: Mt 18, RHAF, XXM, PDF, HH, APC, TR, ACP, G-7,
anteriores respeitantes à sua hipótese e à sua orientação metodológica. Iv
ou ainda s.l.n.d.? Eis os significados: Mt 18 = Mateus, capítulo 18 (do Evan-
recensão dos escritos deve poder mostrar em que medida ele domina o assunto gelho segundo S. Mateus), RHAF = Revue d'histoire de 1'Amérique française
que deseja tratar. É no decurso da investigação que se «aperfeiçoa» a biblio
XXM = índice da Bolsa de Montreal, PDF = pessoal docente francófono, HH =
grafia, mas é no fim que se torna possível determinar a forma da bibliografia
= Homo hierarchicus (Louis Dumont), APC = Arquivos públicos do Canadá,
que melhor se adaptará às circunstâncias. Deverá tratar-se de uma bibliogra-
fia alfabética, cronológica, temática, numerada, selectiva, classificada conforme
a natureza e a origem das fontes, etc.? Isso depende das intenções tio 5 Karl Petit, Lê dictionnaire dês citations du monde entier, Verviers, Gerard & Cp., c. 1960, 478 pp.
(col. «Marabout», n.fi MS 16).

414 415
.., - ^lufii ui- retenção, A(JJJ * acto completo tio jH-ns.mtrnto (John Dewey),
G-7 = grupo dos sete países mais induslriaJi/ados, s.l.n.d. = sem local nem 3." a subdivisflo dos capítulos;
data. Em cartografia, os símbolos são numerosos e generalizados; a correcção 4.u a criação dos parágrafos;
de provas emprega muitos símbolos; os ícones desenvolvem-se considerável 5.Q a redacção das frases;
mente na linguagem da informática; nas ciências naturais, são empregues 6.c a escolha das palavras.
símbolos como os seguintes: Q" e 9 para designar os machos e as fêmeas. Nfl
apresentação de um relatório científico, é necessário indicar numa secção As palavras constitutivas da frase e que exprimem uma ideia justapor-
especial o sentido das abreviaturas e dos símbolos particulares utilizados. -se-ão umas às outras na frase; a sucessão das frases exprimirá uma ideia
Se o investigador pode achar úteis esses signos por uma questão de econoinu um pouco mais geral formando o parágrafo; a união dos parágrafos virá
de discurso, o leitor, por seu lado, tem necessidade de tais informações para compor as subdivisões do capítulo; depois, num quadro mais amplo, os
poder seguir a exposição do investigador. capítulos integrar-se-ão nas partes de um conjunto mais vasto: o livro. Deverá
Por vezes, certas informações suplementares merecem ser comunicadas. existir uma filiação de ideias entre as partes e o todo e vice-versa, o que
Porém, se figurassem no corpo do texto, tornariam a exposição inútil ou dema- permitirá garantir a unidade, a coerência e a clareza do relatório.
siado pesada, sem a tornarem forçosamente mais clara. Nesse caso, é possível A noção de parte pode, no entanto, ter um sentido mais amplo se se
colocá-las em apêndice. Acrescentados com discernimento, os apêndices podem pretender aludir aos diferentes níveis de organização do discurso. Assim,
fornecer um ponto de vista novo ou oportuno sobre certas questões que se a palavra é uma parte da frase, que é, ela própria, uma parte do parágrafo,
mantêm insuficientemente desenvolvidas, explicadas ou conhecidas. Podem que é, por sua vez, uma parte de uma divisão de um texto e assim suces-
ainda permitir um desenvolvimento que não teria sido conveniente no corpo sivamente. A complexidade aumenta com a extensão do discurso e daí a
de um texto. Foi nesse espírito, por exemplo, que acrescentámos como apêndice importância de delimitar bem cada parte do discurso, começando pela
ao capítulo 7 dois textos e ao capítulo 8 algumas noções de estatística. É útil escolha das palavras, utensílios básicos das ideias. As palavras isoladas não
distinguir os apêndices por letras ou números romanos (assim: Apêndice A ou têm muito sentido: necessitam de um contexto. A palavra «contexto», se
Apêndice I). É igualmente preferível atribuir-lhes títulos.
for comparada com a palavra «texto» quer dizer «combinação», isto é
Um relatório bem feito deve estabelecer uma lista de figuras, de gráficos, associação, encadeamento, composição, de que o pensamento se serve para
de quadros, de diagramas, de ilustrações, de mapas, de esquemas, de comunicar eficazmente. É nesse espírito que se pode dizer que a estrutura
fotografias ou de organigramas. Tais listas permitem uma consulta mais do discurso tem um princípio, um desenvolvimento e um fim. Desta
rápida dos elementos do relatório, facilitando ao mesmo tempo as compa- maneira, é possível exprimir o pensamento e conservar o interesse do
rações transversais entre os sujeitos. Notemos de passagem que as figuras, leitor6.
os quadros, etc, devem possuir títulos adequados, de modo a tornar as listas
o mais significativas possível. Em resumo, a composição do relatório resume-se a organizar de uma
maneira clara, correcta e eficaz as ideias que suportam as conclusões, o que
implica, para o investigador, a necessidade de perseguir um triplo objectivo:
a clareza da organização da estrutura, a precisão das ideias orientadoras e
C - A ELABORAÇÃO DO RELATÓRIO a concisão da linguagem que visa globalmente a unidade do relatório. A isso
se chama um PLANO.
Organizar o seu pensamento é dar-lhe uma forma. No caso do relatório, Quanto às principais características do plano, devem reflectir as noções
trata-se essencialmente de um escrito. O Robert diz-nos que um escrito é um.i de unidade, de coerência e de realismo: a unidade sob uma ideia orientadora
«obra do espírito». Se é esse o caso, o relatório deve tornar-se realmente .1 que faça ressaltar o equilíbrio das partes; a coerência pelas associações e as
expressão do que foi possível descobrir da realidade. Essa obra de espírito convergências de ideias; o realismo, evitando as generalidades abstractas e
supõe um trabalho considerável de organização do que o investigador con permanecendo nos limites da investigação. (Rever a maneira como Madeleine
seguiu compreender sobre o conteúdo da sua exploração, em relação com
organização das suas diferentes partes (cf. A. - 2 e D atrás referidos). É Lanthier pôde estabelecer o plano das ideias sugeridas pela bibliografia da
palavra «ciência» [texto n.e 1.1] no capítulo 3. Reexaminar a lista das palavras
que reside o grande problema da composição do relatório. Em ternu
concretos, isso exige uma análise crítica de todos os elementos que conl sugeridas por Lê Robert e a Encyclopaedia Britannica em relação à palavra
buem para a técnica do discurso, a saber: «inferência» no capítulo 6.)

l.e a definição das partes; 6 Sobre a utilização das palavras, ver as reflexões pertinentes de Albert Jacquard em Au pêril
de Ia science? Interrogations d'un génêticien (Paris, Seuil, 1982), páginas 12, 33, 57, 78-79, 194-
2.Q a delimitação dos capítulos; -195; do ponto de vista linguístico, consultar J. Brun e col. L'art de composer et de rédiger (s.d.),
capítulos III e IV.

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D - A REDACÇÃO DO TEXTO7 questões pode decorrer um estilo particular de escrita do relatório ou da
comunicação. Porém, um relatório de investigação nunca pode ser escrito de
«[...] muitas vezes, é quando procuramos exprimir-nos que o conhecimento dá um
um jacto. Deve reflectir as dificuldades das diversas situações em que é
passo em frente, realizando um progresso decisivo [...].» preparado e do público ao qual se dirige (quer se trate do professor, dos colegas
de turma ou de um público mais vasto). Para resumir, o investigador que é um
{MARROU, De Ia connaissance historique, Paris, Seuil, 1960, pp. 281-282.)
eu, uma pessoa, enfrenta um público (o ouvinte ou o leitor), os resultados que
tem para comunicar (o conteúdo, a substância) e o problema da atitude que será
O acto de escrever um texto coloca questões linguísticas que poderíamos conveniente adoptar (o ponto de vista do investigador, do autor).
enumerar da seguinte forma: Quando essas questões receberam uma resposta satisfatória, convém que
o investigador se empenhe na redacção do texto, o que coloca o problema
l.a o problema da relação de um autor com o seu leitor; da língua e do estilo. Assinalemos os pontos mais importantes neste domínio:
2,B os problemas da língua e do estilo;
3.Q os problemas de certas partes especiais do texto. l.Q as preocupações ortográficas e gramaticais;
2.Q o vocabulário (evitar a gíria; escolher a palavra certa);
Em resumo, trata-se da forma de apresentação do texto. Do mesmo modo 3.s as qualidades da frase: clareza, ordem, lógica, unidade, etc.;
que o pintor utiliza pincéis, tinta e uma técnica para realizar a sua obra, o
4.Q a pontuação (o ritmo).
investigador deve, à sua maneira, empregar os utensílios da língua para
realizar o seu relatório de investigação. Isso exige ainda um trabalho parti-
cular. A investigação não está acabada enquanto as ideias estiverem em nós Essas preocupações linguísticas não devem de modo algum ser perdidas
de vista durante a redacção do texto. Como se assinalou anteriormente, um
ou enquanto os conhecimentos se empilharem numa pasta de arquivo ou
ainda nos directórios ou nos ficheiros dos computadores. texto é um encadeamento, um produto do pensamento que deve ser «tecido»,
Consideremos o primeiro ponto: a relação de um autor com o seu leitor isto é que deve ser estudado, harmonioso, cuidado, equilibrado, belo e com-
ou com um público desconhecido. A situação concreta orienta a redacção pleto. Para lá chegar, é necessário escrever, rever, rasurar, cortar, corrigir,
do relatório, uma vez que, antes de começar a escrever, o autor ou o verificar, modificar, reescrever e, depois, afinar sem restrições, sem com-
investigador devem definir o género de público que visam, a atitude que placência e sem negligência. A arte de escrever implica certas aptidões técnicas,
desejam adoptar e a finalidade que perseguem. Excepto ao escrever o seu mas implica, certamente, imaginação, invenção, perseverança. São três
diário íntimo ou ao monologar, o investigador dirige-se a alguém. Por isso, qualidades essenciais a desenvolver no que toca aos relatórios de investigação.
deve mostrar-se capaz de informar, de convencer e sobretudo de interessar, Em cada disciplina, impõem-se correcções técnicas que dependem do
a fim de manter a atenção do seu leitor conhecido, previsível ou desconhe- dicionário, da gramática e dos tratados especializados. Basta o esforço
cido. A melhor forma de eu o fazer é interrogar-me se outra pessoa com o constante de empregar abundantemente os utensílios convenientes. É por isso
espírito formado, sem que por isso seja um especialista no meu domínio, é que a utilização de um dicionário, de uma gramática, de um bom dicionário
capaz de compreender o que digo. A este primeiro critério, poderia justapor- de sinónimos e de antónimos ou de dificuldades lexicológicas e gramaticais
-se o sentido da autocrítica, por meio do qual tudo o que é escrito é encarado pode permitir evitar os escolhos linguísticos. A procura da palavra certa e
com desconfiança e cepticismo. Daí a instauração legítima de um processo da expressão clara reflectirá afinal o grau de reflexão que tiver sido
de controlo pessoal da expressão do pensamento, visto que, afinal, o que o consagrado à redacção do texto.
autor deseja verdadeiramente é dizer com exactidão o que pretende dizer, Não basta polir a forma externa do texto (ortografia, vocabulário e
exprimir o que lhe vai no espírito: nem mais nem menos. gramática); convém igualmente cuidar os componentes da frase (enunciado,
Com que finalidade e em que tom será dito o que tem de ser dito? Que pontuação, palavra certa). Sustentáculo da expressão escrita, a frase é o
mensagem será comunicada e por que meio? Qual o efeito desejado? São elemento linguístico estruturante por excelência. Associa as palavras e as
três questões importantes relativas à língua e ao estilo. A gama de possibi ideias e unifica o parágrafo num todo coerente. Para o fazer, é necessário
lidades é muito grande no que toca à redacção do texto. Dever-se-á ser mai que nos agarremos à nossa ideia, ao nosso assunto e à construção do nosso
respeitador da forma, mais desapegado que interessado, mais sério qu< pensamento. Não se trata de as palavras se tornarem fins mas antes de
humorístico, mais intelectual ou racional que pessoal ou simpático, ou anu servirem de meios para exprimir o pensamento. Esse combate com as pala-
mais desinteressado que empenhado? Da resposta a este grande número d< vras junta-se aos esforços a desenvolver para construir os enunciados que
compõem a frase. Os epítetos que descrevem as qualidades de uma boa frase
7 Palavra cuja etimologia latina, textus, significa «tecido, trama»; daí «encadeamento de são numerosíssimos. Como lembrete, conservemos os seguintes: clareza,
relato, de um texto»; de texere, «tecer» (ver Lê Petit Robert 1). ordem, lógica, desembaraço, unidade, coerência, ritmo, força, vigor, profun-

428 419
didade, concisão, simplicidade, naturalidade, graça, inteligência, movinu-nio Depois ilri.ii- | > i < M m l u i l o bastante simples, o leitor é convidado a tomar
e variedade. Dito isto, não se trata de aplicar a lista de controlo às f 7\ •,<-.. conhecimento do im-iodo, do âmbito e dos limites do assunto. A visão de
mas de estar consciente dela, de modo que as ideias se aguentem e que as conjunto da investigação ou do relatório pode ser exposta sumariamente. No
palavras comuniquem o que devem comunicar. Uma frase deve conter ao caso do modelo experimental, será apropriado precisar as variáveis sobre as
mesmo tempo informação e sentido. Para ser bem sucedido, o trabalho de quais incidiu a investigação e definir claramente a hipótese que é objecto
redacção impõe sentido crítico e sentido de realismo. Não basta contentarmo- do processo de verificação científica. No caso do relatório de exploração, o
-nos com um primeiro jacto, tal como não convém estar sempre a mexer no enunciado do assunto deverá situar o problema na sua ordem própria em
texto. A comunicação científica exige, em suma, um compromisso entre a relação a noções ou ideias muito mais amplas. Dito isto, não se trata de ficar
linguagem correcta e directa e a estética pura. por considerações gerais, mas de precisar aquilo a que se pretende chegar
Algumas partes especiais do texto merecem uma atenção particular. sem, no entanto, antecipar as conclusões. Um conselho: «Mostre onde quer
Vamos referi-las sucintamente: chegar.»
A introdução, considerada como uma parte especial de um texto, deve
l.fi a introdução; ser objecto de uma atenção muito particular. Não se pode redigi-la antes de
2.Q a conclusão; se ter escrito o texto ou pelo menos antes de se ter uma boa ideia do plano
3.Q as páginas especiais: sumário, agradecimentos, resumo, biografia. que será seguido no decurso da redacção do relatório de investigação. A intro-
dução assumirá uma dimensão apropriada ao grau de conhecimento
É indubitável que a introdução e a conclusão são uma espécie de duo atribuído ao leitor relativamente ao assunto. À laia de preceito: «Confie no
Essas duas partes do discurso merecem uma atenção verdadeiramente' seu leitor, mas tenha em conta a sua situação particular.»
especial. As outras páginas especiais não têm a mesma importância, mas são A conclusão. Esta outra parte especial de um texto é sempre tão importante
muitas vezes úteis para fins administrativos. como a introdução9. É uma espécie de duplo, uma vez que ambas se devem
A introdução. Esta parte de uma exposição (composição, dissertação ou completar mutuamente. Se a introdução pôde levantar o problema que
relatório) sempre ocupou um lugar crucial na redacção do texto8. A sn.i interessava ao investigador, a conclusão permite assinalar a que ponto a
importância decorre principalmente do facto de indicar ao leitor o sentido pesquisa, a reflexão, a experimentação ou a exploração puderam conduzir.
da investigação ou da exploração, explicitando principalmente o título. Qual-
Como se trata do último momento com o seu leitor, importa não esquecer o
quer que seja a estrutura do relatório (modelo experimental ou relatório de «fecho». Urge, mais uma vez, fazer todo o esforço necessário para apresentar
exploração), o leitor deve abarcar de uma forma clara, simples e directa o
a frase-chave que ficará gravada na memória do leitor.
problema estudado. Um bom redactor zelará por uma introdução trabalhado
A «supersíntese» do relatório encontra-se na conclusão, que constitui o
e com uma qualidade impecável. O que conta é dizer qual é a verdadeini
fecho da abóbada, encerrando o todo sobre si próprio. Não pode ser um
finalidade da investigação. Agir desse modo é respeitar o seu leitor. A intro
resumo ou uma simples recapitulação do trabalho. Pelo contrário, deve mos-
dução deve, pois, ser escrita de tal maneira que suscite rapidamente a
curiosidade do leitor. Em seguida, evidentemente, importa saber mante-lo trar como a pesquisa pôde conduzir ou levar às consequências observadas.
Nesse sentido, deve descobrir o seu suporte na apresentação das evidências
em suspenso e conservar o seu interesse e a sua motivação para continuar testadas e na composição do relatório. A conclusão deve manter-se nos
a leitura. Não será esse o objectivo pretendido de qualquer boa comunicação'
limites das análises suscitadas pelo material experimental ou existencial.
O segundo momento da introdução visa clarificar o problema pers
À laia de preceito: «Evitar a tentação de extrapolar».
pectívado em relação aos conhecimentos existentes e às lacunas observadas Uma boa maneira de escrever a conclusão consiste em reler atentamente
quanto à nossa compreensão da realidade. Neste aspecto, o contributo d.i o seu próprio texto para dele extrair o essencial, quer dizer para reter o que
investigação deve ser claramente expresso desde o início. É desejável que merece ser conservado. O ponto derradeiro representará a sua posição. Seja
as posições reconhecidas sejam apresentadas sucintamente; por outro lado, claro, preciso e conciso. A partir daí, é permitido mostrar as novas orienta-
é normal valorizar a compreensão nova ou a explicação mais correcta qur ções que poderiam decorrer das conclusões a que chegou. Porém, elas não
poderia eventualmente prevalecer. Não se trate de empreender imedia- devem ultrapassar as possibilidades que os limites da exploração podem
tamente uma polémica, situação que deve ser evitada. subentender. À laia de preceito: «Agarrar-se aos resultados objectiva e
8 Sobre a exposição, ver Roland Mousnier e Denis Huisman, L'art de Ia dissertation historique (Pariu, logicamente verificados.»
Société d'Edition d'Enseignement Supérieur, 1960), pp. 66-71; consultar os diferentes pontos d«
vista expressos em A.RA. (1974), p. 16; A.S.A. (1988), p. 23; Ary e col. (1979), p. 349; Barzun o 9 Sobre a exposição, ver Mousnier e Huisman, op. cit., pp. 71-74; consultar os diferentes pontos
Graff (1985), p. 289, nota 11 e pp. 329-330; Brun e col. (s.d.), pp. 97-98,122,130,146,149-1!.d, de vista expressos por Aktouf (1987), pp. 136-137; Ary e col. (1979), pp. 351-352; Barzun e
155, 204-205 e 244; Carrière (1961), p. 114; Cooper (1964), pp. 58-61; Howard (1985), pp. B4 o Graff (1985), p. 330; Brun e col. (s.d.), pp. 112, 123-124, 131-132,147-148, 156, 205-206 e 246;
B5 e Poirier (1964), p. 102. Carrière (1961), pp. 111-112 e 114 e Cooper (1964), p. 61.

420 422
Outras partes do relatório de investigação podem ser objecto « l . n u , , bibliografia e as páginas de texto; pode comportar também outras páginas
atenção particular, segundo as circunstâncias e o lugar onde a prsqm .-..i • especiais, como as destinadas ao sumário, ao resumo, os agradecimentos, ao
apresentada. Trata-se do sumário, do resumo, dos agradecimentos e do t um curriculum vitae, às referências e às notas (quando estas são colocadas no fim
culum vitae. O sumário e o resumo são geralmente apresentados no imo.. do relatório), e depois aos apêndices, se for caso disso.
do relatório. O sumário sublinha o valor do problema estudado e mosh.i .1 Relativamente aos diferentes aspectos da apresentação material do relatório,
originalidade dos meios utilizados para o resolver. As conclusões e as iniri o estudante deve formular as questões apropriadas e responder-lhes, em
pretações devem ser claramente evidenciadas. Em contrapartida, o resumo primeiro lugar em função das exigências da natureza da sua pesquisa e, em
visa mais proporcionar uma análise breve do próprio relatório. A síntese do segundo lugar, em conformidade com as regras de composição particulares
índice apresenta o conteúdo essencial do relatório. Em suma, trata-se dr m» »•• de cada uma das partes do relatório estabelecidas pelo estabelecimento de
trar a organização geral das ideias contidas no relatório. Os agradecimento* ensino, pelo empregador, pela publicação científica ou pela editora.
dirigem-se às pessoas que colaboraram na pesquisa ou ajudaram a ale. m*,, n A preocupação com uma apresentação material cuidada e elegante mani-
os objectivos estabelecidos pelo investigador. O currículunt vitae fornece mu festa o interesse de um estudante pelo seu trabalho. Se aplicar com rigor as
resumo biográfico da carreira escolar do investigador e algumas coordcn.n l.i regras da apresentação material de um relatório científico, deverá necessaria-
pessoais (residência, idade, local de trabalho, etc.). mente submeter-se a um processo de investigação rigoroso, o que implica o
conjunto dos elementos metodológicos apresentados neste manual11. A título
de exemplo, tomemos o caso da página de título. Esta página pressupõe que o
E - A PUBLICAÇÃO DO TEXTO estudante se tenha interrogado sobre o objecto preciso da sua pesquisa; que
tenha explorado o seu domínio para descobrir o assunto de pesquisa; que
A apresentação material do relatório levanta um certo número de qu< tenha reflectido sobre a finalidade e a orientação da sua pesquisa; que tenha
técnicas. O investigador deve ainda enfrentar esses problemas com o rm-.-.m. • perguntado a si próprio se a questão que coloca foi abordada por outros inves-
espírito com que conduziu toda a pesquisa. Eles dizem respeito à ord<-m . tigadores; que tenha dominado a tal ponto o assunto que seja capaz de lhe
organização das páginas do relatório, bem como à apresentação da biblio^i.i atribuir um título em conformidade com os seus objectivos; que tenha revisto
fia, das citações, das referências e das notas10. Em linhas gerais, um reLitoi i, . várias vezes o enunciado do título para delimitar o melhor possível o que
deve respeitar os diferentes aspectos de composição que se seguem: pretende dizer; finalmente, que tenha feito uma escolha reflectida e que esteja
1.° a página de título em posição de explicar o conteúdo do seu relatório e as suas conclusões.
2,s o índice e as listas de figuras O título do relatório deve ser considerado como a síntese da síntese. Não
3.Q a bibliografia escapa a uma boa dose de imaginação e de reflexão.
4.s o texto do relatório:
• as subdivisões (as articulações lógicas),
• a apresentação dos títulos (numeração, títulos, subtítulos), F - A REVISÃO DO TRABALHO
• o formato de página (dimensão do papel),
• a paginação (números romanos e árabes), Um relatório não está terminado enquanto não for revisto. São necessários
• as margens (enquadramento interno do texto), três tipos de revisão12:
• os espaços (linhas, títulos, citações), l.c a revisão lógica;
• os sublinhados, 2.e a revisão da redacção;
• os apêndices, 3.c a revisão técnica.
• os parênteses,
• as abreviaturas, Idealmente, cada uma destas revisões do relatório deve ser objecto de uma
• o sistema de medida (notação) leitura separada. Porém, o nosso espírito vagabundo nem sempre nos
• o aspecto exterior (dactilografia, ilustrações, capa). permite a concentração necessária para executar separadamente cada tipo
de revisão. São, pois, hábitos intelectuais a adquirir, pela sujeição a um
Um relatório completo compreende OBRIGATORIAMENTE uma método de trabalho intelectual rigoroso.
de título, um índice (e por vezes uma lista de figuras, de quadros, etc.),
11 Esta abordagem didáctica foi exposta em Marc Blackburn e col., op. dt, extratexto: «Travaux de
10 Para todas estas questões de apresentação material, recomendamos a brochura de Marc Blm1 recherche» e «Processus du travail intellectuel appliqué à Ia rédaction dês rapports de recherche».
burn e col., Comment rêdiger un rapport de recherche, 5.â ed., Montreal, Leméac, 1974. 12 Ver Poirier (1964), pp. 26-29, e Ehrlich e Murphy (1966), pp. 43-47.

422 423
A revisão lógica assemelha-se à de um crítico. Incide exclusivamente sobre nuidade desse procenso. Chegou a hora da avaliação. Quem não teme a
o âmbito da argumentação e do encadeamento das ideias no material da aproximação deste momento? E quantos não a quiseram por medo do jul^i
experiência. A crítica da organização do índice é um dos primeiros combali «s mento dos outros e do público? O que a metodologia nos pode ensinar é
a levar a cabo. Os raciocínios que suportam as análises e as interpretações que é possível, com bons meios, chegar a um fim com um grau elevado de
devem ser objecto de um controlo apertado. Sobretudo, e constantemente, segurança e de autoconfiança.
importa que nos interroguemos se a ideia orientadora ou a hipótese perma- Madeleine Lanthier acaba de compreender como pode ser longa a dis-
necem no ângulo de mira. Por outras palavras: teremos em vista o nosso tância entre o momento da escolha de um objecto de pesquisa e o momento
assunto? Teremos feito uma bifurcação? Teremos mantido o rumo do nosso da apresentação final do relatório. Por um lado, pode compreender o prazer
objectivo? Se não conseguirmos responder adequadamente a tais questões, de saber que pôde descobrir sozinha essa ideia, suportar rigorosamente uma
é bem possível que o trabalho necessite de pesquisas suplementares, de uma hipótese ou ainda chegar a um conhecimento dos factos relacionados com
revisão do plano, de uma releitura das notas ou de uma nova análise dos uma situação em que pôde inferir algumas evidências diferentes da sua
dados, ou ainda de uma reavaliação completa da própria orientação da opinião inicial. Porém, sobretudo, terá aprendido que pode confiar em si
pesquisa. Nesse ponto, entram em linha de conta a objectividade e a hones- própria, que é capaz de tomar uma iniciativa sozinha, que pode dotar-se de
tidade do investigador. meios para alcançar o seu fim, que pode comunicar mais claramente o seu
A revisão àa redacção incide exclusivamente sobre a forma, quer dizer o pensamento, que se enriquece com a sua própria experiência e que pode
estilo, incluindo a gramática, o vocabulário e a ortografia. Essa tarefa não é engrandecê-la, atingindo a dimensão da experiência dos outros e da
a menos importante. É uma luta desapiedada contra a gíria, a ambiguidade, humanidade inteira. Está satisfeita por saber que, a partir deste momento,
a imprecisão, os erros sintácticos, em suma, tudo o que diz respeito aos sabe o que pode significar «o mundo das ciências humanas»; a partir deste
elementos linguísticos da comunicação escrita. Além disso, essa revisão toca momento, sabe o que esse mundo não é.
o conteúdo, o significado, o encadeamento e a ordem das palavras, das frases
e dos parágrafos. O revisor não deve deixar nada ao acaso. Como referem
Barzun e Graff13, cada palavra deve ser considerada uma palavra técnica.
Uma boa revisão concentra-se nas próprias exigências da redacção de um
texto (cf. secção D supra).
A revisão técnica respeita exclusivamente a todas as regras relativas à
publicação do texto. Em suma, trata-se de verificar a cópia final. Se as
revisões lógicas e de redacção foram realizadas correctamente, esta última
revisão deverá alcançar facilmente o seu objectivo: a apresentação de um
relatório impecável. Esta última revisão deve ser consagrada à verificação
da exactidão dos dados, dos cálculos, dos quadros e das figuras, das citações,
das referências e das notas, à bibliografia, à paginação, à numeração das
figuras e dos quadros, à continuidade do texto, à ordem e à disposição do
relatório, etc. De facto, esta última revisão tem a sua assinatura. Quer ou
não assinar o seu relatório?

BIBLIOTECA
CONCLUSÃO M U 14 ! C

A apresentação do relatório de investigação encerra o ciclo da pesquisa.


Assegura a comunicação do seu pensamento conforme as regras da síntese
científica, essa terceira vertente do «esquema de produção de um relatório
de investigação». Chegado a este estádio, o investigador tem à sua frente
um objecto que vem dele, mas que agora lhe é externo. Doravante será, em
seu nome, o instrumento do diálogo com os outros. O leitor assegura a conti-

13 In The Modern Researcher, Nova Iorque, Harcourt Bruce Jovanovich, 1985, pp. 150-155.

424 425
BIBLIOGRAFIA HQWARD, Geoi>;rs S. /ÍH.-./V Kcí/v/rr// Mcthods in the Social Sciences, Glenview (111.), Scott,
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HUBBEL, George Shelton. Writing Term papers and reports, Nova Iorque, Barnes & Noble,
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LEEDY, Paul D., Practical Research, Planning and Design, 4.a ed., Nova Iorque, Macmillan,
1989, xi + 318 pp. Ver os capítulos 11 e 12.
OUELLET, André. Processus de recherche, Une approche systémique, Quebeque, PUQ, 1987,
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lês résultats de Ia recherche?» (pp. 201-243)». Desenvolvimento pormenorizado
sobre as regras mais geralmente admitidas quanto à publicação de um relatório
experimental (cinco módulos).
SCHLUTER, W. C. How to Do Research Work, A Manual of Research Procedure Presenting a
Simple Explanation ofthe Principies Underlying Research Methods, Nova Iorque, Pren-
tice-Hall, 1929, vii + 137 pp. Ver os capítulos XIV, XV e XVI.
THUILLIER, Guy, e Jean TULARD. La méthode en histoire, Paris, PUF, 1986, 127 pp. (col.
«Que sais-je?», n.s 2323). Ver a terceira parte: «Comment écrire?» (pp. 95-124).

A. A estrutura do relatório
B. A forma técnica do relatório
AKTOUF, Ornar. Méthodologie dês sciences sociales et approche Cjualitative dês organisatiom,
Une introduction à Ia démarche classique et une critique, Montreal, PUQ e H l < BLACKBURN, Marc, e col., Comment rédiger un rapport de recherche, 5.â ed., Montreal,
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American Psychological Association [APA]. Publication Manual 2.a ed., Washington, cessus du travail intellectuel appliqué à Ia rédaction dês rapports de recherche».
D. C., American Psychological Association, 1974. Ver as secções l, 2 e 3. Pedagogia fundamental das relações de investigação.
American Society of Agronomy [ASA]. Publications handbook and Style Manual, Madison, HURT, Peyton. Bibliography and Footnotes, A Style Manuel for College and University
ASA, 1988, 92 pp. Ver o capítulo 4: «Preparing the manuscript» (pp. 19-31). Students, rev. e aumentado, por Mary L. Hurt Richmond, Berkeley, University of
ARY, Donald, Lucy JACOBS e Asghar RAZAVIEH. Introduction to Research in Education, Califórnia Press, 1963. xii + 167 pp.
2.â ed., Montreal, Holt, Rinehart & Winston, 1979, xii + 398 pp. Ver o capítulo Modern Language Association. The MLA Style Sheet, ed. rev. por William Riley Parker,
Xffl: «Analyzing, Interpreting, and Reporting Results» (pp. 339-359). Nova Iorque, Materials Center, MLA, 1967, 32 pp.
BARZUN, Jacques, e Henry GRAFF. The Modern Researcher, The Classic Work on Research POIRIER, Léandre, O. F. M. Au service de nos écrivains. Directives pratiques pour publica-
and Writing, Newly Revised and Expanded, 4.a ed,, Nova Iorque, Harcourt Bi.i. > tions, 3.a ed. inteiramente revista, Montreal, Fides, 1964, 193 pp.
Jovanovich, 1985, xxiii + 450 pp. Ver principalmente os capítulos 2: «The ABC' < > l SCHMITZ, Robert M., e John P. MCDONALD. Preparing the Research Paper, A Handbook,
Technique», 6: «Handling Ideas»; 7: «Truth and Causation»; e 11: «Organi/iiií-, 4.a ed., Toronto, Holt, Rinehart and Winston, 1962, 74 pp. Os autores consideram
Paragraph, Chapter, and Part». o relatório de investigação como um resumo dos processos fundamentais da
CARRIÈRE, Gaston, O.M.I. Initiation au travail scientifique, Ottawa, Éd. de 1'Universitá educação e da maneira de adquirir uma formação. Boa orientação psicocientífica.
d'Ottawa, 1961,140 pp. Ver a terceira parte: «L/élaboration du travail scientifiqut»» TURABIAN, Kate L. A Manual for Writers ofTerm Papers, Theses, and Dissertations, Chicago,
(capítulos 10, 11 e 12). The University of Chicago Press, 1966, vii + 110 pp. (col. «Phoenix Books», n.Q 946).
COOPER, Bruce M. Writing Technical Reports, BaltimOre, Pengúin Books, 1964 (col. «IVIi Um clássico. Sobre a forma de apresentação geral de um relatório: os quadros, as
can Book», n.c A674). Particularmente interessante a propósito da noção e dft citações, as referências e as notas, os apêndices, a bibliografia, o índice, etc.
composição dos relatórios.
EHRLICH, Eugene, e Daniel MURPHY. Writing and Researching Term Papers and Reporin C. As questões linguísticas
A New Guidefor Students, Nova Iorque, Bantam Books, 1966, viii + 149 pp. Vn
os capítulos 4 a 8 e 10, mas mais especialmente os capítulos 6: «From First D i . i t i BARZUN, Jacques, e Henry GRAFF. The Modern Researcher, 4.â ed., Nova Iorque, Harcourt
to Final Copy» (pp. 43-47), e 10: «A Sample Research Paper» (pp. 100-146). Brace Jovanovich, 1985, xxiii + 450 pp. Ver principalmente os capítulos 11:
GRAWITZ, Madeleine. Méthodes dês sciences sociales, 4.ã ed., Paris, Dalloz, 1979, x -f- l H)-* «Organizing: Paragraph, Chapter, and Part», 12: «Plain Words: The War on Jargon
pp. (Col. «Précis Dalloz»). Livro Hl, capítulo ffl: «Étapes communes à tous !•• and Clichés» e 13: «Clear Sentences: Right Emphasis and Rhythm».
types d'enquête» parágrafo 2. - «Étapes terminales de Ia recherche» (§ BRUN, J., A DOPPAGNE e J.-M. CHEVALIER, L'art de composer et de rédiger, Baude (Bruxelas),
pp. 593-610). Lês Éditions Sdentifiques et Littéraires, s.d., 295 pp. (col. «Bien écrire et bien parler»).

426 427
DESONAY, Fernand. Lê rapport, Comment 1'élaborer, Comment lê rédiger, Baude (Bruxelas), Li 7. Sobre um assunto determinado e preciso numa ou noutra das
Éditions Scientifiques et Littéraires, [1949], 294 pp. (col. «Bien écrire ot bicn | MI In disciplinas de ciências humanas, prepare uma bibliografia comen-
DAUZAT, Albert. Dictionnaire étymologique de Ia langue française, 6.fl ed., Paris, LarouHi tada expondo, na sua opinião, o estado dos conhecimentos sobre a
1954, xxxvii + 824 pp.
questão.
HAGEGE, Claude. L'homme de paroles, Contribution linguistique aux sciences hunnuni".
Paris, Fayard, 1986, 410 pp. (col. «Folio/Essais», n.Q 49). 8. Compare métodos e resultados de pesquisa sobre temas ou proble-
HAGEGE, Claude. Lefrançais et lês sièdes, Paris, Éd. Odile Jacob, 1987, 266 pp. mas semelhantes a partir de relatórios de investigação já publicados.
HANSE, Joseph. Nouveau dictionnaire dês âifficultés dufrançais moderne, 2.fl ed. actualí/.iiL Avalie as vantagens e os limites dos métodos empregues.
e enriquecida, Paris, Duculot, 1987, 1031 pp.
MAQUET, Charles. Dictionnaire analogique, Répertoire moderne dês mots par lês idées dn
idées par lês mots, Paris, Larousse, 1962, viii + 591 pp. MADELEINE LANTHIER RECAPITULA A MATÉRIA
MARROU, Henri-Irénée. De Ia connaissance historique, 4.â ed. rev. e corrigida, Paris, Seull,
1960 (col. «Esprit»). Ver a conclusão: «L/oeuvre historique» (pp. 277-289). A apresentação científica do relatório de investigação
ROUAIX, Paul. Dictionnaire-manuel dês idées suggérées par lês mots..., 26* ed., Paris, A • O caso do modelo experimental
Colin, 1962, 538 pp.
SARTRE, Jean-Paul. Qu'est-ce que Ia littérature?, Paris, Gallimard, 1948/1964, 375 pp. (rol Quatro etapas:
«Idées», n.Q 58). A obra divide-se em quatro partes: I. - «Qu'est-ce qu'écrire?» I I . l.Q A «revisão da literatura»
«Pourquoi écrire?» Dl. - «Pour qui écrit-on?» IV - «Situation de 1'écrivain en 1947», 2.e A descrição da experiência
SCHAFF, Adam. Langage et connaissance, trad. do polaco por Claire Brendel, Paris, Smil,
1974, 251 pp. (col. «Points», n.e 58). Excelente livro onde o autor coloca o problrm.t
a. Os sujeitos da experiência
fundamental do materialismo e do idealismo em linguística e daí a trilo^i.i b. O dispositivo experimental
pensamento <-> linguagem <->• realidade. Escreve: «Qualquer comportamenlo «Ir c. Os procedimentos seguidos
um organismo vivo é função de uma certa orientação no mundo» (p. 167). d. A apresentação do dispositivo experimental
3.fi A apresentação dos resultados
a. Que dados apresentar?
EXERCCIOS b. Como apresentá-los?
4.Q A crítica dos resultados ou das consequências
1. Consulte o dicionário Lê Robert (6 vol.) na palavra «introdução-
Compare as explicações do dicionário com os diferentes pontos d
a. A avaliação das análises
vista expressos pelos autores citados na nota de rodapé n
b. A interpretação dos resultados
Estabeleça a sua própria lista de ideias para uma boa introdução.
c. As implicações dos resultados
2. Escolha «introduções» em diferentes obras de ciências humanai d. As aplicações possíveis
Redija o plano dessas introduções. Faça a crítica da apresentaçí
e. A comparação dos resultados obtidos
dessas introduções. • O caso da inferência sistemática
3. Faça o mesmo exercício com a conclusão. Quatro etapas:
4. Consulte o índice remissivo dos livros escolhendo certas palavraí
-chave. Compare os resultados. l.Q Circunscrever o domínio das suas investigações
5. Compare diversos índices de acordo com os seguintes critérios: 2.Q Reunir as informações (úteis e pertinentes)
a. Classificação e agrupamento das informações
a) o enunciado dos títulos; b. Utilização de um quadro conceptual de análise
b) a estrutura das partes;
c) o estilo dos títulos; 3.Q Organizar logicamente a informação
d) a organização do conjunto (ordem lógica escolhida); a. Papel da ideia orientadora
e) o próprio título do livro ou do artigo. b. Estratégias de organização mais conhecidas
4.e Compor o relatório
6. Escolha um dos textos citados no manual e faça a análise das pala
vras, das frases e da estrutura dos parágrafos. a. Ter em conta o leitor potencial
b. Construir um plano
a) Se tivesse de mudar qualquer coisa, que mudaria no texto? - títulos
b) Verifique no dicionário o sentido das palavras de que não está - subtítulos

425 429
• Três modos de investigação:
4.fl O texto do relatório
1.° em biblioteca; . As subdivisões (as articulações lógicas)
2.° em laboratório; • Apresentação dos títulos (numeração, títulos, subtítulos)
3.D no «terreno». • Formato de página (dimensão do papel)
• Paginação (números romanos e árabes)
• A forma técnica do relatório • Margens (enquadramento interno do texto)
• Os espaços (linhas, títulos, citações),
l.fl Bibliografia . Os sublinhados,
2.c Referência e notas • Os apêndices,
3.Q Citações • Os parênteses,
a. textuais • As abreviaturas,
b. de ideias • O sistema de medida (notação)
4.2 Abreviaturas e símbolos • O aspecto exterior (dactilografia, ilustrações, capa).
5,Q Apêndices
6.Q Lista de figuras, quadros, diagramas, ilustrações, etc. A revisão do trabalho

• A composição do relatório l.Q A revisão lógica


2,2 A revisão da redacção
l.Q A definição das partes 3.Q A revisão técnica
2.fi A delimitação dos capítulos
3.fi As subdivisões dos capítulos A apresentação do relatório de investigação encerra o ciclo da inves-
4.Q A criação dos parágrafos tigação. Assegura a comunicação do pensamento segundo as regras
5.Q A redacção das frases da síntese científica - a terceira vertente do «esquema de produção
6.fi A escolha das palavras de um relatório de investigação».
Algumas palavras-chave: abreviatura, apêndice, aplicação, apresen-
• A redacção do texto tação, avaliação, bibliografia, citação, comparação, composição,
conclusão, crítica, diagrama, escrito, estilo, estrutura, figura, frase,
l.c O problema da relação de um autor com o seu leitor ideia orientadora, ilustração, interpretação, introdução, palavra,
a. Com que finalidade e em que tom será dito o que tem de s\ parágrafo, plano, pontuação, publicação, redacção, referência,
revisão, quadro, texto.
b. Que mensagem será comunicada e por que meio? Escolha de leituras: Ary e col., Carrière, Blackburn e col., Poirier,
c. Que efeito se deseja? Turabian, Desonay e Sartre.
2.e Os problemas da língua e do estilo
a. As regras ortográficas e gramaticais
b. O vocabulário (evitar a gíria; escolher a palavra certa)
c. As qualidades da frase: clareza, ordem, lógica, unidade
d. A pontuação (o ritmo)
3.Q Os problemas de certas partes especiais do texto
a. A introdução
b. A conclusão
c. As páginas especiais: sumário, agradecimentos, resumo, etc,

A publicação do texto
1.° A página de título
2.fi O índice e as listas de figuras
3.c A bibliografia

v 430
431
CONCLUSÃO

«Ainda que o génio exija muita paciência*, a descoberta cientifica


contém um elemento irracional, imprevisível, que escapa ao domínio
da metodologia.»
(GRAWTTZ, Méthoâe dês sciences sociales, Paris, Dalloz, 1979, § 18, p. 211.)

«O universo da experiência é a condição prévia do universo do


discurso.»
(DEWEY, Logique, Paris, PUF, 1967, p. 130.)

A obra científica obedece a exigências complexas que nenhum método


pode satisfazer completamente. Depende tanto do sujeito que coloca questões
como da sua capacidade para observar e formular um problema, bem como
da sua aptidão para descobrir os meios de o resolver. Decorre também de
outros factores imponderáveis, como a sorte, quer dizer essa capacidade de
aproveitar as ocasiões que um espírito aberto está em condições de captar.
E impossível limitarmo-nos à técnica pela técnica. A obra de arte é mais uma
conquista da inspiração do que o simples produto de uma capacidade
técnica. Em contrapartida, não é possível passarmos sem ela. Nas ciências,
à semelhança do domínio das artes, o controlo das técnicas garante à explo-
ração a sua realização, sem o que a pesquisa acabaria por depender
exclusivamente do sonho, razão pela qual nunca se realizaria. Foi provavel-
mente nesse sentido que Paul Valéry pôde escrever que «mesmo aquele que
quer escrever o seu sonho tem de estar infinitamente desperto» (Variété,
Gallimard, 1957, p. 476).

* Lê génie est une langue patience, frase atribuída ao naturalista francês Buffon. [NT]
l Esta citação, extraída da edição de 1979, foi suprimida na 7.a edição, de 1986. Belo tema de análise!

433
Apesar dos esforços desenvolvidos pelos especialistas de ciou» M . Im
manas, o objecto das ciências humanas não está claramente esiahrlrt iJu
A tentativa do capítulo 4 consistiu principalmente em mostrar o objn ti • < la-i
ciências humanas baseando-o nas relações homem/natureza/sociíxf.utt u»
continuum tempo/espaço/universo. Este complexo indescritível escapa tos
nossas categorias mentais. A enorme quantidade de variáveis possú
inimagináveis sidera-nos. De uma forma tímida e geralmente estúpida,
procuramos respostas positivas, satisfatórias, encorajadoras e reconforta 1 1 1 « .
Queremos atribui-lhes uma ordem a qualquer preço: procuramos a
rança. Não podemos aceitar que o real nos seja inacessível. Porém, coloca-
-se aí um dos problemas mais sérios das ciências humanas. Ou estas tf
orientam na via da intervenção prática (análise social ou investigação sói ial)
ou conduzem a uma reflexão sobre o homem na sua dimensão mais vasta,
Nesse caso, visam alimentar principalmente a cultura individual e cokvhv.i
Nesse momento, o carácter «humanista» das disciplinas das ciências
humanas distingue-as radicalmente das ciências da natureza e das ciência! QUADRO SINÓPTICO
«formais» ou lógico-dedutivas. Contudo, as ciências humanas, na medida mi
que podem recorrer à via da inferência sistemática ou da inferência estatísiii a
(a dos testes de hipóteses) e que incidem sobre objectos que evidenciam n» AS ETAPAS METOI K )| SM
actividades humanas enquanto tal, podem surgir como ciências empíricas
da acção, visando simultaneamente o acto de deliberação e de decisão.
DAINVESTI(ÍA(,
Na prática, as ciências humanas procedem segundo corpus metodológu <>• EM CIÊNCIAS l U l M
de investigação científica muito engenhosos e muito variados. A aprendi/a
gem desses «métodos» fornece garantias de objectividade razoável, desdi
que a etapa de verificação seja aplicada na sua maior extensão possível,
tarefa de desenvolver capacidades intelectuais deste tipo constitui, para
adeptos das ciências humanas, um meio de controlar a sua subjectividad)
em contacto com a realidade. Não se trata de nos isolarmos num sistemi
de pensamento e de submetermos o real às nossas particularidades 01
injunções pessoais, ideológicas, filosóficas ou outras. O espírito de sínte?
não deve ser confundido com o espírito de sistema. Neste tratado d<
metodologia, pretendemos sobretudo sublinhar a importância do método,
quer dizer da direcção do pensamento no cumprimento de um acto comp]
do pensamento. Semelhante acto cognitivo implica o reconhecimento de
dificuldade no início e um processo reflexivo e de decisão que pode condi
a evidências. Este percurso é impossível sem um movimento de vaivém
as ideias e os factos, entre as percepções e a realidade, em suma, sem um
processo de objectivação. Daí a complexidade das relações entre o sujeito e
o objecto e, portanto, do conhecimento.
Á comunicação faz parte integrante do procedimento científico. Negligen-
ciar a arte de exprimir o seu pensamento é mutilar a força das suas ideias.
A pesquisa sistemática não se detém na acumulação de uma documentação
ou na recolha de dados. Culmina com a preparação do material da experiên-
cia numa organização, numa composição e numa redacção adaptada ao seu
objecto e ao seu público. Em larga medida, o limite do conhecimento situa-
-se na fronteira da capacidade de o revelar.

435
434
AMBIENTE DA INVESTIGAÇÃO ETAPAS DA INVESTIGAÇÃO

1.g etapa
O SUJEITO (ou seja, o investigador)
- Observação geral
- Leituras
• Tipo de atitudes de espírito (cí texto n.2 2.2}
- Interrogação
• Concepções pessoais e paradigmas científicos
- Definição do objecto de investigação
• Interesses (cí figuras 5.2 e 5.3)
- Domínio do conhecimento
- por um problema (a curiosidade)
• Tema
- por um domínio do conhecimento
• Objecto particular
- por um objecto de pesquisa
• Campo
- por fazer investigação (cí textos n.05 5.1 e 5.2)
- O problema
• Âmbito
O REAL • Objecto
• Finalidade

Objecto de observação
E a realidade (os níveis de conhecimento)
Uma construção do espírito (dialéctica sujeito/objecto)

O SABER

Organização
- das teorias
- dos conceitos
- dos modelos
- das ideias
- das disciplinas

AS CIÊNCIAS HUMANAS: Domínios, modelo, aspectos |

DOMÍNIOS DE CONHECIMENTO 1 MODELO DE BASE 1

i —| Pessoa
O HOMEM RELACIONAL —| Sociedade H° mem Natureza Sociedade

'—| Mental \
A COMPLEXIDADE

O HOMEM E O ESPAÇO
i—| Natureza
—[i Campo/liaaae|
f if~"Às jj<-il / \o
H Ffífiripn

i —1 Passado

0 HOMEM E O TEMPO —| Presente


'—| Futuro

CINCO ASPECTOS
|
O campo O objecto da investigação é uma construção do espírito
Os factos - Que estudar?
As representações - Segundo que aspecto?
A prax/s - Sob que ângulo?
A axiologia - Em que orientação?
FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ETAPAS DA INVESTIGAÇÃO

2.g etapa
Delimitação Definição Terminologia Hierarquização - A formulação do problema tendo
dos elementos em vista a experiência ou a exploração
- A escolha da orientação geral
DUAS ORIENTAÇÕES GERAIS da investigação

3.B etapa
- A recolha de dados
- Escolha do método de observação
- Avaliação das vantagens
e inconvenientes
- Questões relativas
• ao tempo disponível
• às exigências científicas
• aos recursos à disposição
- As técnicas de observação
são adaptadas aos dados
da experiência
ou da exploração
TÉCNICAS DE OBSERVAÇÃO

1. documental (observação indirecta)


2. viva (observação directa e indirecta)
3. experimental (observação e controlo)
4. do meio (abordagem geográfica)
5. de avaliação de situações

TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO

4.g etapa

— Quantitativo - Uma escolha ou uma combinação


de escolhas das técnicas
de observação e de tratamento
• Cálculo matemático da informação
• Estatística descritiva
DUAS VERTENTES • Inferência estatística • Observação quantitativa
a. probabilista
D. não-probabilista
- Qualitativo • Lógica das hipóteses
1 — 1 • A inferência sistemática
r i
Organização lógica Apresentação Os métodos o. etapas da investigação científica
da informação da informação disciplinares b. arte de pensar

- Ordem cronológica - Técnicas matemáticas - Geografia (cí figura 6.2 e texto n.s 6.5.)
- Ordem lógica - Técnicas gráficas - História
- Ordem espacial - Técnicas cartográficas - Economia
- Ordem do geral - Construção - Ciência política
ao particular de quadros - Sociologia/ etc.
- Ordem do particular - Reproduções
ao geral fotográficas
- Ordem das causas
e dos efeitos
- Ordem
das correlações
- Ordem temática
- Ordem comparativa
- Ordem panorâmica
DOIS TIPOS DE VERIFICAÇÃO
ETAPAS DA INVESTIGAÇÃO

|
Fundamental Técnica 5.g etapa

- A etapa das verificações conducentes


Problema e hipóteses Fidelidade à síntese científica
Condução da observação Validade - A necessidade de fazer um primeiro
Métodos estatísticos Controlos balanço
Tratamento dos documentos de conformidade
Objectivo da investigação com o real a. do procedimento de investigação
b. do tipo de tratamento das observações

«PENSAR EM PRESENÇA DOS FACTOS»

• A reflexão (crítica e autocrítica) 6.g etapa


• Papel e controlo da imaginação
• Pôr à prova e ordenar - A necessidade do processo de objectivação
- A necessidade de conceptuafização
a ideias - A relação circular
b. informações

• Representação e interpretação do material experimental Análise


ou de exploração
• Algumas qualidades do espírito
Crítica Síntese
- o sentido da exactidão e da previsão
- o sentido da ordem (cf. figura 9.1 e texto n.s 9.1)
- o sentido da «lógica»
- o sentido da honestidade
- o sentido da autqcrítica
- a imaginação

O RELATÓRIO DE INVESTIGAÇÃO

Algumas características 7.g etapa


intrínsecas
- A estruturação e a apresentação
do relatório de investigação
- As exigências da comunicação científica
A precisão nos factos
A solidez das evidências
[cí textos em quadro n.os 10.1 a 10.4]
A multiplicidade das verificações
A qualidade da composição

As partes e o todo

• Síntese dos dados


• Síntese das ideias
• Construção do espírito

Elementos fundamentais

A estrutura do relatório
A forma técnica do relatório
A composição das partes num todo
A redacção do texto
A publicação do texto
A revisão do texto
Dois tipos de estrutura

Relatórios de experiência Relatório de exploração/pesquisa

. Título
• Página de título
• Autor(es)
• Sumário
• Resumo
• índice e lista de figuras
• Introdução
• Bibliografia e fontes
• Material e métodos
• Introdução
• Apresentação dos resultados
• Texto do relatório
• Crítica dos resultados
• Conclusão
• Conclusão
• Referências e notas
• Referências e notas
• Apêndices
• Quadros e gráficos

O texto e a sua apresentação

Forma técnica Composição Redacção Publicação

Bibliografia Definição das partes Relações autor/leitor Página de título


Referências e notas Delimitação Ortografia e gramática índice e lista
Citações dos capítulos Vocabulário das figuras
- textuais Subdivisões Qualidades da frase Bibliografia
- de ideias dos capítulos (estilo) Texto do relatório
Abreviaturas e símbolos Criação dos parágrafos Pontuação (articulações lógicas
Apêndices Redacção das frases Páginas especiais e apresentação material)
Lista de figuras, Escolha das palavras Introdução
quadros, diagramas, Conclusão
ilustrações, etc.

A revisão do trabalho

Revisão lógica Revisão da redacção Revisão técnica

Qualidades do relatório

Unidade Objectividade Originalidade Clareza Coerência Precisão Elegância

Co
LISTA DAS CAIXAS

Caixa n.Q 1.1


- Algumas noções relacionadas com a epistemologia geral 27
Caixa n.Q 1.2
- A noção de sujeito: Uma distinção a estabelecer 28
Caixa n.c 2.1
- Palavras associadas às teorias do conhecimento 65
Caixa n.s 3.1
- Algumas noções relacionadas com o método 111
Caixa n.fi 4.1
- O sistema das ciências (segundo Jean Piaget) 144
Caixa n.c 7.1
- A noção de hipótese 252
Caixa n.Q 7.2
- Questões metodológicas 260
Caixa n.Q 7.3
- Um momento de reflexão (cf. figura 6.2) 263
Caixa n.a 7.4
- Noções de geografia 264
Caixa n.a 8.1
- A entrevista como técnica de observação e de recolha de informação 317
Caixa n.Q 8.2
- População - Algumas definições 321
Caixa n.Q 10.1
- A apresentação científica do relatório 399
Caixa n.c 10.2
- A publicação do relatório de experiência 407
Caixa n.a 10.3
- Um exemplo de plano 411
Caixa n,Q 10.4
- A publicação do relatório de exploração 412

445
LISTADAS l -K i U RÃS LISTA DOS QUADROS

Figura 1.1 - Epistemologia geral Quadro 8.1 - As técnicas documentais 304


Figura 1.2 - Ficha bibliográfica Quadro 8.2 - As técnicas vivas 306
Figura 1.3 - As etapas vulgares da investigação Quadro 8.3 - O esquema experimental 309
Figura 2.1 - Variedade das correntes epistemológicas Quadro 8.4 - As técnicas do meio 313
Figura 3.1 - Os problemas de método im Quadro 8.5 - A avaliação das situações 314
Figura 3.2 - A racionalidade complexa i 'n Quadro 8.6 - Uma base de sondagem 321
Figura 3.3 - Duas grandes formas de raciocínio 123 Quadro 8.7 - A observação quantitativa 323
Figura 4.1 - Um modelo de investigação em ciências humanas l-l 1 ' Quadro 8.8 - Classificação das variáveis 330
Figura 4.2 - A escola como subsistema social 152 Quadro 8.9 - Ficha de análise das sondagens 334
Figura 4.3 - Quadro de análise das relações internacionais r> i Quadro 8.10 - Algumas noções de estatística 350
Figura 4.4 - O trabalho de investigação (histórico) 161 Quadro 9.1 - Leituras sugeridas sobre o processo de síntese 368
Figura 4.5 - Os domínios das ciências humanas !<»<•
Figura 4.6 - Os domínios das ciências humanas li- 1 '
Figura 5.1 - Arborescência de ideias l'11
Figura 5.2 - Três fases essenciais do trabalho preparatório 193
Figura 5.3 - Um acto de reflexão (segundo J. Dewey) .MH
Figura 6.1 - A Guerra da Conquista (Guy de Frégault) 226
Figura 6.2 - O processo geral da pesquisa
Figura 7.1 - O processo de verificação de hipóteses
Figura 7.2 - Orientações gerais do Plano Director do Quebeque
Figura 7.3 - A crise cubana (22 a 28 de Outubro de 1962)
Figura 8.1 - Uma sondagem do I.Q.O.P. (Dezembro de 1989) 319
Figura 8.2 - A amostragem 332
Figura 9.1 - Esquema de produção do relatório de investigação 360
Figura 9.2 - O modelo experimental 370
Figura 9.3 - A inferência sistemática 370

446 447
LISTA DOS TEXTOS ÍNDICE

Texto n.fi 1.1 - Ciência............................................................................................m


Texto n.Q 1.2 - Experiência ..................................................................................... 11
Texto n.Q 1.3 - A verdade em ciência ..................................................................
Texto n.fi 1.4 - Crítica da experiência «como fonte única da verdade» ....... -In PARTE I
Texto n.° 1.5 - Necessidade de ideias preconcebidas ....................................... 1 1
Texto n.fi 1.6 - Necessidade de hipótese novas.................................................42 OS FUNDAMENTOS TEÓRICOS
Texto n.Q 1.7 - Verificação da hipótese ................................................................
Texto n.Q 1.8 - Geometria e factos experimentais ............................................. 1 1 CAPÍTULO l - UM SUJEITO INTERROGA-SE -
Texto n.° 1.9 - O juízo a priori em matemática.................................................l i Madeleine Lanthier
Texto n.c 1.10 - Os pressupostos do investigador..............................................Mi
Texto n.Q 1.11 - O sábio e a ciência ....................................................................... Apresentação
Texto n.fi 1.12 - Para lá do conhecimento sensível: a memória ....................... A - O sujeito na epistemologia geral
Texto n.fi 2.1 - BACON...........................................................................................75 B -O sujeito no processo de investigação
Texto n.fl 2.2 - PASCAL..........................................................................................77 C - Madeleine Lanthier perante a metodologia
Texto n.a 2.3 - LOCKE............................................................................................79
Texto n.B 2.4 - DESCARTES...................................................................................81 D - Delimitação do objecto de investigação
Texto n.Q 2.5 - KANT..............................................................................................84 E - O trabalho de investigação começa
Texto n.fi 2.6 - PIAGET...........................................................................................88 F -O procedimento metodológico 47
Texto n.fl 2.7 - MORIN...........................................................................................94 G -O ponto de vista epistemológico
Texto n.fi 4.1 - Liberdade e ordem social...........................................................147 H-Angústia pessoal e experiência individual 52
Texto n.2 4.2 - A interacção sujeito/objecto.......................................................156 Conclusão
Texto n.Q 5.1 - «A estátua interior»......................................................................186 Bibliografia
Texto n.a 5.2 - Regras de conduta precedendo a investigação ...................... 192
Texto n.Q 6.1 - A actividade científica.................................................................214 Exercícios
Texto n.fi 6.2 Madeleine Lanthier recapitula a matéria 58
- «Evidência e inferência».............................................................216
Texto n.fi 6.3 - Os alófonos no Quebeque..........................................................218
Texto n.Q 6.4 - A conquista do Canadá..............................................................228 CAPÍTULO 2 - AS TEORIAS DO CONHECIMENTO
Texto n.Q 6.5 - A inferência sistemática..............................................................240 62
Texto n.Q 7.1 - O espaço urbano...........................................................................254 Apresentação
Texto n.Q 7.2 - A economia política clássica: hipóteses consideradas como A-Os principais obstáculos ao conhecimento 64
verdades ......................................................................................... 267
Texto n.° 7.3 - A crise cubana...............................................................................282 1. O ponto de vista kantiano
Texto n.fi 7.4 - Ciência, sociedade e teoria.........................................................290 2. O ponto de vista de Piaget
Texto n.Q 9.1 - O real, o simbólico e o imaginário .... 380 3. O nó górdio de Pascal 67

448 449
B - Empirismo, racionalismo e CAPÍTULO 4 - O OBJECTO DAS CIÊNCIAS HUMANA*
1. Entre o realismo e o idealismo Apresentação 140
2. Três teorias do conhecimento ... Introdução 141
a. O caso Descartes A - A classificação das ciências 141
b. O empirismo B - O objecto material das «ciências humanas» 144
c. O idealismo C - Os conceitos fundamentais ... 145
1. A complexidade dos conceitos de base 146
C -Sete testemunhos 2. Um quadro conceptual exploratório 149
D - Recapitulação
a. O modelo trilógico de base '. 149
1. Os pressupostos ideológicos ou filosóficos b. Uma aplicação em economia 150
2, O papel da lógica c. Uma aplicação em educação 151
Bibliografia 102 3. Uma perspectiva dialectizante 152
Exercícios 103 a. Nível do sujeito (o racionalismo e o idealismo) 153
Madeleine Lanthier recapitula a matéria 104 b. Nível do objecto (o realismo) 154
c. Dialéctica do sujeito e do objecto (o construtivismo) 155
CAPÍTULO 3 - OS PROBLEMAS DE MÉTODO D - Os níveis de conhecimento de J. Lacan 157
1. A primeira distinção , 157
Apresentação
Introdução a. O real 158
b. A realidade...., 158
A -Os fundamentos dos métodos 113
Z A segunda distinção 158
1. As condições prévias epistemológicas do pensamento Ill 159
a. O real
a. A influência das teorias do conhecimento 114 b. O simbolismo 159
b. O esquema metodológico de Poincaré 113 c. O imaginário. 160

2. A regra da razão 3. Síntese das duas distinções 160


llf,
E - As «ciências humanas»: uma tentativa de explicação 162
a. Descartes:
RAZÃO 1 MÉTODO, 1. Os dois problemas fundamentais 162
2. Duas dimensões específicas 162
b. Kant e os princípios da lógica clássica 118 a. A dimensão histórica 163
c. Da lógica clássica à racionalidade 119 b. A dimensão social 164
c. O dilema sociológico 164
3. «Que regras comandam o pensamento?» (Morin) 121 3. Cinco aspectos das ciências humanas 165
4. As tendências naturais do espírito 123
F -Os três domínios indissociáveis 166
B -A essência do método 126
Conclusão 167
1. A direcção do pensamento 126 Bibliografia 170
2. As características fundamentais 128 Exercícios 171
Madeleine Lanthier recapitula a matéria, 171
C -Os limites do método científico em ciências humanas 131
Conclusão 134 CAPÍTULO 5 - A FORMULAÇÃO DO PROBLEMA
Bibliografia 135
Exercícios .....„..?.... 136 Apresentação 176
Madeleine Lanthier recapitula a matéria 136 Introdução 177

450 451
A - A origem dos problemas ti. A ÍMvrsli)',.i<;do n r n t i l i r n 237
b, A arte de pensar 239
1. A experiência i c. Dois movimentos complexos 242
2. Os modos de aprendizagem if-<
3. Alguns exemplos de problemas n Conclusão 243
Bibliografia 244
a. A representação do mundo na criança u Exercícios 244
b. História do pudor IM; Madeleine Lanthier recapitula a matéria 246
c. A inteligência desperdiçada IHU
d. Coisas ocultas desde a fundação do mundo IH1
e. Elogio da diferença. A genética e os homens IH4 CAPÍTULO 7 - 0 MÉTODO CIENTÍFICO II: A HIPÓTESE
B -As raízes psicológicas IH4 Apresentação 248
Introdução 249
1. A motivação pessoal IH4
Z A imaginação criadora IH^ A - Um método de resolução de problemas 250
3. O acto de pensar IHf. B -Madeleine Lanthier em acção 252
C -«Um acto completo de pensamento» (J. Dewey) 1H7 1. Que objecto de investigação escolher? 253
D -Os imperativos do trabalho preparatório para a investigação l'Nl 2. Que devo fazer? 254
1. Três critérios preliminares a. Ler o programa de ciências humanas 254
Z As bases pessoais da escolha a fazer b. Escolher um curso 255
3. Delimitar o domínio a explorar c. Desbastar no programa do curso 255
4. Precisar o âmbito, o objecto e a finalidade do problema d. Tomar a decisão final 256
5. Um exemplo em sociologia
C - Quebeque ou o ordenamento de uma cidade 256
Conclusão 200
Bibliografia 204 1. Os dados e as informações recolhidas 256
Exercícios 204
Madeleine Lanthier recapitula a matéria 205 a. Leituras a fazer 257
b. Uma visita aos Paços do Concelho 257
c. Consulta de mapas 259
d. Os dados estatísticos 259
PARTE II
2. Compulsar a informação 259
A PRÁTICA CIENTÍFICA 3. O esquema de ordenamento 261
a. Os resultados da consulta 261
CAPÍTULO 6 - O MÉTODO CIENTÍFICO I: A INFERÊNCIA b. As zonas especiais de ordenamento 261
Apresentação 208 c. Os bairros 262
Introdução 2W d. A tripla vocação da cidade 263

A - Maquiavel e o pensamento científico 211 4. Um aperfeiçoamento metodológico 264


B -O carácter recursivo do raciocínio científico 213 5. Uma hipótese a formular 265
C -A evidência e a inferência 215 D - A hipótese: o seu papel metodológico 266
1. Uma primeira explicação 1. A importância das consequências 266
2. Uma tentativa de aplicação e de verificação 217 2. Dever-se-á aceitá-las ou rejeitá-las? 267
3. Classificação dos conceitos 222 3. Um método exigente 270
4. Clarificação dos conceitos 224
a. Formular a hipótese no início da pesquisa 270
D - A inferência sistemática 224 b. A função heurística da hipótese 271
1. Ilustração da inferência sistemática 225 c. A validade da hipótese 272
2. Teoria da pesquisa científica 234 d. O enunciado da hipótese 275

452 453
E -Uma prática necessária 277 CAPÍTULO 9 - 0 RUATÓRU ) /: /.S/tOÇO /; S / N / / , S / .
Conclusão
Bibliografia Apresentação 356
Exercícios 180 A - A organização das ideias tendo em vista o relatório 358
Madeleine Lanthier recapitula a matéria
Apêndice 1. Fazer o ponto 358
2. Visar a síntese científica 359
B -Um trabalho de concepção e de verificação ...................................... 361
CAPÍTULO 8 - AS TÉCNICAS CIENTÍFICAS DE EXPLORAÇÃO
1. A visão das partes e do todo ...................................................... 362
Apresentação Z As verificações fundamentais ...................................................... 363
A - A noção de observação a. O problema e a hipótese .................................................. 363
fc. A condução da observação .............................................. 364
1. Dois tipos de observação.. c. A orientação estatística ..................................................... 366
Z A experimentação d. A orientação documental ................................................. 366
3. Observações e observação 298 e. O controlo do objectivo da investigação ....................... 367
B — A classificação das técnicas de observação 299 3. As verificações técnicas
1. Alguns exemplos de pesquisa 299 a. A fidelidade 371
Z A diversidade das técnicas de observação 301 b. A validade 371
3. Que técnica adoptar para qual objecto? 301 c. Os controlos de conformidade com o real 372
4. Sumário de cinco conjuntos de técnicas de observação 303 L A primeira ordenação do material inicial 373
C -Apresentação de um inquérito 318 ii A classificação do material de exploração 374
iii. A verificação interna 375
1. Um exemplo de questionário 318 iv. As verificações externas 373
2. Um efectivo de amostragem (ou base de sondagem) 320
3. A população (população-alvo ou unidade de análise) 4 A elaboração sumária de dados informatizados 376
320
4. A entrevista telefónica 322 C - «Pensar em presença dos factos» 379
5. Principais condições da técnica de sondagem 322
1 Advertência :!'/'>
D - A variedade das técnicas de sondagem , 322 Z A reflexão 382
1. A observação quantitativa 3. O tratamento e a síntese da informação 382
323 4. As condições gerais 384
Z As técnicas de amostragem 332
3. Uma ficha de análise das sondagens 333 a. Algumas atitudes de espírito 384
Conclusão.. b. Características intrínsecas do relatório 1H<»
339
Bibliografia 341 Conclusão 387
Bibliografia
A - Obras gerais 341 Exercícios
B -Obras de estatística 343 Madeleine Lanthier recapitula a matéria 392
C -Obras de ciências humanas 343
D-Obras relativas à ética 344
E - Tabela de referências para certos métodos em ciências humanas 344 CAPÍTULO 10 - O RELATÓRIO //: ESTRUTURA E APRESENTAÇÃO
1. Fontes bibliográficas 344
2. Tabela de referências 346 Apresentação
Introdução ,
Exercícios 348
Madeleine Lanthier recapitula a matéria A - A estrutura do relatório "»
348
Apêndice 350 1. No caso do modelo experimental

454 455
a. A revisflo da literatura 402
b. Descrição da experiência 402
c. Apresentação dos resultados 404
d. Crítica dos resultados 405
e. A publicação do relatório 406
/. Algumas referências de consulta 407
2. No caso da inferência sistemática 407
a. Circunscrever o domínio das suas investigações 408
b. Reunir as informações (úteis e pertinentes) 409
c. Organizar logicamente a informação 409
d. Elaborar o relatório 411
e. Publicar o relatório de exploração 412
/. Algumas referências de consulta 413
3. Três modos de investigação 413
B -Aforma técnica do relatório 414
C - A elaboração do relatório 416
D - A redacção do texto 418
E -A publicação do texto 422
F -A revisão do trabalho 423
Conclusão 424
Bibliografia 426
A - A estrutura do relatório 426
B -A forma técnica do relatório 427
C - As questões linguísticas 427
Exercícios 428
Madeleine Lanthier recapitula a matéria 429
Conclusão 433
Quadro sinóptico 435
Lista dos textos em quadro 445
Lista das figuras 446
Lista dos quadros 447
Lista dos textos 448

456

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