Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
i{DACIDADE
Sentido
8
Por sentido de um-aglomerado populacional
pretenclo
dizer a clarezacom que ele pode ,". upr""ndido
e identificado,
e a faciiidade com que os seus elementos
podem r", tiguaàs ;
outros acontecimentos e locais numa representação
mental
coerente do tempo e do espaço, e o modo
como essa
representação pode ser ligada a conceitos
e val0res não
espaciais. Esta é a união entre a forma do
ambiente e os
processos humanos de percepção e de
cognição. Demasiadas
vezes ma1 definida e, portanto omitida
com alguns lamentos
piedosos, esta qualidade está na base dos sentim"entos
pessoais
aceÍca das cidades. Não pode ser analisada
,"r_rao
é um"o*o
interacção entre a pessoa ã o local. A percepção
acto
criativo e não uma recepção passiva.
sentldo depende da forma
. .O. da cultura,
também
e cia qualidade espaciais, mas
do temperamento, do eitatuto, da
experiência e do objectivo actuar do observador.
Assim, o
sentido de determinado local varia consoante
os diferentes
observadores, tai como a capacidade de determir-r^d^
se aperceber da for,ra'aria co.soante t;;;;
os locais. Apesar dã tudo,
existem algumas características constantes,
significativas e
fundamentais na experiência de um mesmo
locil por p"rrãu,
diferentes. Estas características constantes
têm origem n^ burà
biológica comum da nossa percepção e cognição,
em certas
experiências comuns.do mlurdo reai
igravidaáe, rnercia, a;;i;,
incêndio e perspicácia, só parano*"ã. algumas)
e nas normas
comuns que se pà.1"rr-, encontraientre as pessoas
5uJturals que
habitualmente utiiizam um local específico.
Os locais têm um
sentido maior ou menor, tat codo os acontecimentos.
As
actividades e as celebrações associadas a um
iocai apoiam a
sua percepção, desde que sejam elas própria,
p".."p.io.,ud.-,_.
como vívidas e coerentes
A forma mais simples de sentido é a identidade,
nc,
sig.ificado'mitado desse termo colrrum: "um
sentido do rocar,.
A identidade é o nível a que uma pessoa consegue
reconhecer
ou recordar um locai como sendó distinto
de ãutuos locais -
como tendo um carácter próprio vívido, único,
ou pelo rr€i_rrrs
particular. É uma qualidaàe frequentemenã
ambicionada per:,.
designers e acaloradamente d'iscutida entre
eles. Tem ,-l::"..:
função prática óbvia e quase banal, uma
vez que a capa.r;:::
de reconhecimento dos ãlementos é
a base de uma ac.ãit, Ê:-, -..:
.
Mas tern significados mais profundos e mais
;r;;..._ =_
maioria das pessoas já r..ir.eu a experrência ;.
.::...r .- r. -
tocal lnluto etspeci.rl e preza esse local e ia::..e:-.::.
habitual a qr-re fica sulôita qr_rar.rclo Se crij.:l:..
: :-:. . -.
-r:.: a ,
prazer enorÍne em sentir o muncjlt: Lr j.. -.
ra {,-,
odor do verrto. oj roque:. o- > ,n- t_ .. .-.r . . .-. .- _
L.om e àCÊ:St\ €l a tocln- oi :L t.ti.-j - : -:.
*_]
.{CIDADE
51 No Park Güel, em Barcelona,
Gaudí conÍeriu uma identidade
rÍnica a um velho protótipo - a
escadaria barroca formal - através
da utilização extremamente
imaginativa da forma e dos
materiais.
, :.,,,
: ::-- -: .:-..
:.
-.,.::. :'.H,..-.-:Hl.:.,11i:::Li*:
.-. r _ --:,1..-;_....nlr.Faraaidentidade.
\ CIDADE -\TIDO
131
53 Uma habitante dc
Chappaquiddick, na extremidade
oriental de Martha's Vinevard,
-"Ê apresenta um esboço do seu
conceito da i1ha. Compare-se com
um mapa norrnal 11e contornos:
alargam-se os locais familiares e
,1 amontoam-se os nomes, todavia,
preservam-se as características
específicas, especialmente as
naturais.
?rltü,""
á^1
.iÍtmidade
: É,. a rlf,
::Lr-SC Colll
:.: !rÍ1t os:
:rlinres e
! :trdavia,
:ísticas
:'rie as
za dell'Oiio, em
iachada de San
I \-escovo (cerca de
ntegrada no Palácio do
ierca de 1580), e torna
ei a evoiução histórica
ôana. Por outro lado,
rerado populacional
pência da construção
:l o fufuro.
-L
A BOA FORMA DA CIDADE
:" :,.,ii-iencla é o terreno perceptual de um ambiente
:,:-. -:-:::1,. .r e no seu sentido global é uma questão muito mais
- -::-:--;ada, À congruência pode ser testada através da
j---::r:,:.ão ou da esquematização das partes, das ligações e das
--:.:.:-i.ades de um local, e da observação do modo como
-- ::esDondem a abstracções similares de função, de economia,
:. ,..credade ou de processo natural desse local. podem
::n;irmar-se esses testes pedindo à população locai que
j=screr,a a correspondência formal entre local
e função.
Atransparência ou"proximidade,, é um outro componente
:elativamente simples da sensibilidade.* por transparência
qrero dizer, o grau em que cada um pode compreender
ilrectamente a operação das várias funções técnicas, actirridade,
e processos sociais e naturais que acontecem no seio do
aglomerado populacional. Será que podemos realmente ver as
pessoas a trabalhar? ouvir as ondas a atingir a costa? observar
o curso de uma discussão familiar? veÍ o carregamento de um
;amrão ou como funciona uma rede de esgotos? tocar no que Ver fig. 55
está para venda ou ver quando o parque de estacionar.l".,to
está cheio? ver as transferências de dinheiro e de mensagens?
-{lguns destes processos sào importantes, alguns são
rnteressantes, alguns são triviais e outros repugnantes.
Trarrsmitem um "sentido de vida" em qualquer aglomerado
':opulacionai e, com congruência, são a base perceptual directa,
Je significados mais profundos. As funções que se apresentam
-rrediatamente aos nossos sentidos ajudam-nos a compreender
: niundo. Deste modo, ganhamos competência prática e
::ratundade. Certos processos são básicos e a capacidade de os
,:cntir é uma satisfação fundamental: por exemplo, a acção e o
-:-.-.r'imento das pessoas; os processos de produção; as provas
-r: manutenção, do cuidado e do controlo; os conflitos de grupo
. i .ooperação; a educação das crianças; o afecto humano; o
::.:imento e a morte; as transformações das plantas; os
:'. - ,, rmentos do Sol. Outros processos têm que ser visíveis para
- .- -:''-r jarenl a desempenhar as nossas funções diárias normais.
.-::-= aLnda, é melhor continuarem ocultos. Uma queixa
.:' ,.:'. .1.erca da cidade moderna é que é opaca, é impessoal,
: .' :--:: Je proxirniclade. Todavia, motivos de privácidade,
: -, . ,. - - : e de controlo podem levar-nos a manter essa
- : ,r_r-t: i-) assunto pode ser delicado, mas a nossa cultura
- : : - -: : - - ..::-,, rüar-se para uma maior aberfura. A transparência
-'
'. , _ , .: -.
- -: ait^i lara a cidade, quando a ouvem/ tocam
§I
![
u-rbano é um meio de comunicação que exibe
:,-x e irtplícitos: bandeiras, relvados/ cruzes,
ft
Ifl
capacidade de ser captado pelos
IF
I
l
.],
55Um pescador remenda as redes
numa rua periférica de Veneza.
Uma actividade económica básica
apresenta-se imediatamente aos
sentidos, um acontecimento raro
na cidade contemporânea.
Í.*t
56 Os cidadãos conversam
r-rtilizando as superÍícies da cidade.
Mas é necessário conhecer os
símbolos para compreender a
conversa.
I -
-
::),]TIDO l5/
da as redes
\-eneza. a forma do aglomerado populacional e os conceitos e valores
nica básica não espaciais. Mas existe um nível de ligação mais profurrdo,
tente aos um nível muito mais difícil de especificar e de avaliar, ao quai
rento raro podemos chamar o significado expressivo ou simbólico de r-rm
€a.
Iocal. Em que grau, na mente dos seus utilizadores, é a forma
de qualquer aglomerado populacional um símbolo complexo
de valores fundamentais, de processos de vida, de
acontecimentos históricos, de estrutura social fundamental, ou
'- l1 de natureza do universo? Este é o significado holístico de uma
cidade, por oposição à série de significados transmi.tidos pelos
seus diversos elementos simbólicos. Por vezes, pode ser o
cenário da existência, outras vezes pode ser apenas uma
referência retórica.
Se um aglomerado populacional det'e ou não ser concebido
para significar este sentido é utna questão polémica. Por vezes,
tem sido a função suprema de uma grande cidade. Nesse caso,
a primeira tarefa do construtor de uma cidade seria l'er se uma
cidade representava para a sua sociedade um símbolo vír'ido
s .ia cidade.
CEI OS
da concepção de si própria e clo universo. A cidade islâmjca,
nder a : -976 por exemplo, pretendia ser, e era amplamente entendida como,
uma expressão dos conceitos religiosos fur-rdamentais dessa
sociedade. Em outras ocasiÕes, essa ter-itativa parecer-l ridícuia.
Qualquer simbologia profunda fica ao critério do indivíduo que
actua sobre as características acidentais da forma. Apesar de
tudo, consideramos que se estabelecem sempre algumas
ligações simbó1icas entre o ambiente de uma Pessoa e as suas
crenças essenciais. Essa pessoa pode optar por se concentrar
nos símbolos da casa, ou nos da nação, do bairro, da natureza,
da divindade, da história ou do ciclo da vida, mas a segurança
e a profundidade destas associações simbólicas enriquecem a
sua vida. Por isso, arrisco uma proposta geral: um local bom é
aquele que, de algum modo adequado à pessoa e à sua cultura,
consegue tornar essa pessoa consciente da sua comunidade,
do seu passado, da teia da vida e do universo do tempo e do
espaÇo em que estes se integram. Estes símbolos são específicos
da cultura em causa, mas também assentam em experiências
da vida comum como o calor e o frio, o seco e molhado, o escuro
e o luminoso, o alto e obaixo, o grande e o pequenL), o I'it'o e o
morto, o movimento e a quietude, o cuidzrclo e a negirgêr-rcia, o
limpo e o sujo, a liberdade e a restrição.
E difícil especificar devidamente qual a rmport;t-rcia de um
local, que pode variar consoante as pessoas e as culturas. Ainda
assim, existem efectir-amente signiii.cados comlrns que são
comunicados. Inevitar.elmente, são um elemento do design do
aglomerado popuiacronal. E necessario compreendê-los para
se poder analisar o rmpacto de um 1oca1 sobre a sua população.
Têm sido desenvolr'idos dispositivos padrão de entrevista para
determinar estas ligações, como o diferencial semântico, a grell-ra
de repertório, a apercepção temática, o término da história e
outras técnicas que vão desde as caracterizações cle superfície
até às estruturas subjacentes do significado: até dimensoes como
A BOA FORMA DA CIDADE
, r i- -- .i,r: ., aue é bom etc. Estas técnicas que
- : -.-:. -:i:1irrS estabelecer as suas próprias
. - -I .- --i :.ensÍr'eis.Todassebaseiam,emgrande
' : --: -- - :t:: .,-erbars convencionais e, na sua busca de
- :'.: -- '-t:.:.., ,iôtre1t1 de uma certa superficialidade. Estes
-- i,: - : '-..r jenl ser melhor explorados em discussoes mais
- .:: :.ril. rrs habitantes, vivendo com eles, ou, em certa
': -.- ,i ,itra\-és da empatia. Uma análise do conteúdo das
-'-r,: lrrs mitos, da arte e da poesia, ou um estudo das
. :-r-- riâS urdividuais ou fotográficas são também avenidas
- l,-. :. itrlllPleensãO.
- r. i.lentidade e a estrutura são os componentes "formais,,
-.*
gryt
lGE
E
\*
lr-J
I
'' - ra sequência visual que se
. :-r.1e erperimentada em
[,i
i,.ual acidental
1-. f
:oderoso. Num
estÍeitas ruas !
:o serve de lr-,
lue se avança
;paços abertos.
À
lr I
I
I
a
--f*'q
I
í
E V
i
Ê
ü
5.*! :
r&,-r8l'Âú x À
--,.1-
fu
7
--.âr-
A BOA FORMA DA CIDADE
- t':- -: : r-..iiS os reglstos, os códigos simbólicos e
:- :-:-. -,s :Éitlelllal1tes podem aumentar o nível de
9
_-
rr'- .. : - =. Jr.p.,nír-e1-q e tornar o cenário mais inteligível.
:, .; ,1;.5 slras manipuiações simbólicas, os artistas e os
:- r-i- ris .rram no'os significados ambientais e ensinarn_nos
...: :.,rmas de olhar. Paris tomou-se
mais legível depois de
.- :-i. pmtada pelos irnpressionistas e para a actual [eraçao
..::' : icado de metal numa sucata já não é úm objecto ,"rrifor*^.
-',-rÉr1S ajr-rdou a criar a cidade
de Londres que conhecemos, de
--:r-. modo tão seguro quanto os seus construtores.
Indirectamente, o sentido é afectado pela nature za d,o
.rrntrolo e pela adequação da forma ao comportamento. A
propriedade local tende a fortalecer o sentido mÀtd de ligação.
Urna boa correspondência funcional normalmente sigliiica
uma paisagem mais congruente, e frequentemente (embora
nem sempre) uma paisagem mais transparente, mais
:i gnificativa e mais identificável.
No passado, a consideração do sentido baseava_se apenas
numa análise do ambiente físico. Conceitos como a harÁonia,
a beleza, a variedade e a ordem têm sido considerados
como
atributos do próprio objecto. Os designers confiaram
inconscientemente nos seus próprios valores e percepções
implícitos, projectando-os sobre o mundo físico como se fôs.rur,.,
qualidades inerentes. Não é bem assim _ comeca_se com as
imagens e com as prioridades dos utilizadores de um local
e
tem de se olhar para o local e para a pessoa em corrjurto.
Pode ser uma política púbiica explícita o aumento de certos
tipos de sentido para certos grupos de pessoas, medindo a
concretização através de alguns dos iestes ,,objectivos,,
anteriormente mencionados. O sentido de um agiomerado
populacional pode ser comparado com o de oirtro, para
determinado grupo. As questões políticas devem revolver em
torno da importância relativa da sensibilidade para outros fins,
para quem necessita mais dela e para os limites que lhe devem
.er unpostos. Apluralidade de utilizadores em qrãIqr". grande
.rslomerado populacional originará sempre problemas técnicos.
!rc:te modo, a sensibilidade será maii fail de alcancar em
..-;,edac1es mais estáveis e homogéneas. É provável qre
,e1u
:r':(\itànte tanto em aglomerados populacionais ricos como
'- ---r':.:,
uma \rez qLle a peÍcepção Àumana é uma constante,
i'.:1 :nelos para a aicançar devem ser diferentes. Existe
--'1
:: '--r: ' -:erigo de o sentido poder ser utilizado como um
--- :-. -- para obter o domínio ou para fixar o status quo.
- : , :: : _rle rrão é inerente à qualidade e taivez u, qr"rio",
.- - ..:.::::tt-.rrÊS .1o design tenham a ver com a concrêtização
-: -:. -t.,,1 e en-L sociedades plurais, dinâmicaÁ e
. '-- : ^:,.ailtárias. A identidade, a estrutura,
a
_- : - ... . : ::-.:-,r:éncia e a iegibilidade são aspectos do