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“Métodos Epidemiológicos para Programação e Avaliação em Saúde”

Cenário de análise da situação sanitária na estratificação epidemiológica da malária:

Seguindo um desenho de estudo prospectivo, foi realizado um estudo


epidemiológico operacional sobre o risco de malária em Malarianda. A Tabela 1
mostra o número de indivíduos que apresentaram algum dos seis fatores de risco
estudados, bem como aqueles nos quais foi observada presença ou ausência de
malária.
Tabela 1

Número de indivíduos com malária que apresentaram algum dos seis


primeiros factores de risco estudados, localidade X, Malarianda 2002.

Fator de Risco Número de Malária


Indivíduos SIM NÃO
1. Ocupação camponesa 433 52 381

2. Renda familiar
na linha da pobreza 654 70 584

3. Tipo de moradia sem


proteção externa
(mosquiteiros)
Nas janelas e portas 598 121 477

4. Escolaridade < 6 años 302 33 269

5. Moradia sem banheiro


intradomiciliar 505 59 446

6. Presença de criadouros
a menos de 500 m 714 190 524

Total de individuos
no estudo 9878 633 9245
QUESTÃO 1:
Utilizando as informações da Tabela 1, complete as análises necessárias e com base nos
resultados obtidos indique quais dos fatores de risco têm maior importância estatística.

Cálculo de RISCO RELATIVO e RISCO ATRIBUÍVEL.

Uma vez concluídos os testes de significância estatística, a equipa de investigação


operacional dispõe de uma lista de factores estatisticamente associados à malária. O próximo
passo é quantificar o grau ou força de cada uma das associações encontradas. A importância
de um determinado factor de risco depende do grau de associação e determinação que tem
com a malária, da frequência que esse factor de risco tem na comunidade e da possibilidade
de o prevenir ou controlar.

Portanto, a próxima tarefa é calcular o risco relativo para cada um dos fatores de risco
considerados estatisticamente significativos. Lembremos que na nossa investigação, o risco
relativo é uma medida da probabilidade de contrair malária, que aqueles indivíduos com
qualquer um dos factores de risco estudados têm em comparação com aqueles que não têm
tais factores.

Esta medida diz-nos que o risco de contrair malária é maior naqueles que apresentam a
característica ou factor de risco em comparação com aqueles que não o têm.

O risco relativo mede a FORÇA DE ASSOCIAÇÃO entre a malária e cada um dos factores de
risco postulados.

O risco relativo, bem como o risco atribuível, são medidas de associação do excesso de risco
devido à exposição ou presença de um determinado fator de risco.

O risco atribuível mede o risco excessivo de malária que pode ser atribuído à exposição a um
fator, por exemplo, a exposição a habitações desprotegidas (redes mosquiteiras).

O risco atribuível na população total é uma medida de associação influenciada pela


prevalência do fator na população total. O risco atribuível na população mede a diminuição
percentual no número de casos de malária que poderiam ser evitados se o factor causal fosse
completamente eliminado ou neutralizado.

Após as sessões do primeiro curso de epidemiologia e as sessões do Módulo 4, recorda-se


que os cálculos necessários para estimar o risco relativo e o risco atribuível são os seguintes:

RISCO RELATIVO = Incidência dos expostos ao fator


Incidência dos não expostos ao fator

RISCO ATRIBUÍVEL = Incidencia de expuestos - Incidencia em não expostos


NOS EXPOSTOS
PORCENTAGEM DE Incidência dos expostos -
RISCO ATRIBUÍVEL = Incidência dos não expostos X 100
NOS EXPOSTOS Incidência de expostos

PORCENTAGEM DE Incidência no total da


RISCO ATRIBUÍVEL = população - Incidência de não expostos X 100
NA POPULAÇÃO Incidência no total da população

Uma fórmula alternativa é a seguinte:

PORCENTAGEM DE
RISCO ATRIBUÍVEL = P (RR-1) x 100
NA POPULAÇÃO 1 + P (RR-1)

onde P é igual à proporção do fator de risco na população; RR é igual a risco relativo.

A Tabela 2 apresenta os dados referentes a outros fatores de risco estudados na localidade


X de Malarianda: a relutância dos habitantes em participar na luta antimalárica. Com base
nos dados aqui contidos são apresentados os cálculos de Risco Relativo e Risco Atribuível.

Quadro 2
Relação entre Malária e participação social na luta antimalárica
dos habitantes da localidade X, Malarianda, 2002.

M A L Á R I A
Característica SIM NÃO Total

Relutância na
colaboração 152 1313 1465
antimalárica
----------------------------
Colaboração 481 7932 8413
antimalárica
----------------------------
Total 633 9245 9878

Total de incidência em expostos: 152/1465 = 103.75 x 1000


Total de incidência em não expostos: 481/8413= 57.17 x 1000
Proporção de exposição do fator na população: 1465/9878=0.148

RISCOO RELATIVO = 103.75 = 1.81


57.17

RISCO ATRIBUÍVEL = 103.75 - 57.17 = 46.58


(em expostos)
% RISCO ATRIBUÍVEL = 103.75 - 57.17 x 100 = 44.89 %
NOS EXPOSTOS 103.75

% RISCO ATRIBUÍVEL = O.148 (1.81-1) x 100 = 10.76%


NA POPULAÇÃO 1 + 0.148 (1.81-1)

De acordo com os resultados apresentados na análise anterior, para esta população e no


tempo determinado, o risco de adoecer com malária é 1,81 vezes maior naqueles indivíduos
que mostram relutância em lutar contra a malária, em comparação com aqueles que
participam na luta contra malária.

Para os expostos (aqueles que mostram relutância em relação ao programa), 44,89% do seu
problema de malária seria explicado por este fator de risco. Por outro lado, 10,76% do
problema da malária em toda a comunidade seria resolvido se este fator de risco fosse
eliminado. É importante destacar que existem outras explicações possíveis para estes
resultados, e que a presença de outros fatores concomitantes pode interferir na atuação do
fator de risco na determinação da ocorrência de malária. Para a correta determinação dos
resultados, esses fatores concomitantes devem ser reconhecidos e levados em conta na
análise.

Em resumo, o risco relativo e o risco atribuível são medidas que permitem identificar e
reconhecer a contribuição que cada um dos fatores de risco estudados tem no risco de
desenvolver malária. Da mesma forma, oferecem informações sobre a proporção de malária
que seria controlada se cada um dos fatores de risco causais fosse eliminado da comunidade.
Estas medidas permitem à equipa de saúde calcular o nível esperado de redução da malária
que seria alcançado se o programa de saúde fosse especificamente orientado para a
modificação dos fatores de risco causais estudados. A equipa responsável pela
implementação das ações esperaria que a redução dos níveis de malária fosse proporcional
ao excesso de risco eliminado. Da mesma forma, como resultado da informação
epidemiológica local e do conhecimento adquirido, poderão surgir novas estratégias de
controlo da malária, melhorando os objetivos operacionais de eliminação dos fatores de risco
que determinam a distribuição local da malária.

QUESTÃO 2:
Utilizando o risco relativo, classifique os fatores de risco na Tabela 1 de acordo com a
sua importância e relação com a malária.

PERGUNTA 3: Calcule o risco atribuível para cada um dos fatores de risco listados na
Tabela 1.

PERGUNTA 4:
Estruture uma nova lista de fatores de risco, classificando-os de acordo com o risco
atribuível à população.

PERGUNTA 5:
Discuta as diferenças encontradas nas duas listas de fatores de risco. Saliente a
importância do risco relativo e do risco atribuível a um determinado indivíduo e à
comunidade.
PERGUNTA 6:
Quais dos fatores de risco podem ser modificados?
a) Para o setor saúde:
b) Intersetorialmente

PERGUNTA 7:
Salientar a importância da investigação epidemiológica e da medição destas duas
medidas de risco para a programação de intervenções para o controlo da malária.

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