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PREVENTIVA

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EPIDEMIOLOGIA

Sumário
Prevalência/importância
1. Estudos epidemiológicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
2. Medicina baseada em evidências e bioestatística . . . . .
3. Testes diagnósticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
4. História natural das doenças e os níveis de prevenção . .
5. Endemia e epidemia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
6. História do SUS e leis orgânicas da saúde . . . . . . . . . . . . .
7. Financiamento e funcionamento do SUS . . . . . . . . . . . . .
8. Programas e políticas de saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
9. Atenção primária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
10. Ferramentas da atenção primária. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
11. Declaração de óbito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
12. Vigilância em saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
13. Notificação compulsória . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
14. Indicadores de saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
15. Ética médica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
16. Saúde do trabalhador. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Capítulo
ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS
1

IMPORTÂNCIA/PREVALÊNCIA

O QUE VOCÊ PRECISA SABER?

u Variável independente é aquela que independe de um fator anterior, sendo considerada o fator de risco,
ou a causa, da variável dependente.
u Variável dependente é aquela que depende de um fator anterior, sendo considerada o desfecho, ou a con-
sequência, da variável independente.
u As características dos Estudos Epidemiológicos podem ser divididas em Distinção de Indivíduos, Objetivo
do Estudo, Análise Temporal, Direcionamento de Variáveis e Papel do Pesquisador.
u Os principais desenhos de estudo são os seguintes: Séries de Casos, Ecológico, Coorte, Caso-Controle e
Ensaio Clínico.
u As principais Medidas de Associação são as seguintes: Risco Relativo, Odds-Ratio e Número Necessário
ao Tratamento.

DICA
1. INTRODUÇÃO  Siga esse passo a passo e você vai aumentar
bastante a sua proporção de acertos. Mesmo nas
questões aparentemente mais simples, não deixe
u Na medicina, quando dizemos que há evidência de aplicar esse método.
a favor ou contra alguma conduta específica, ou
que determinado fator aumenta o risco para al-
gum desfecho, adquirimos esses conhecimentos
a partir de estudos epidemiológicos. Nos estu- 2. 1º PASSO: IDENTIFICAR
dos epidemiológicos pesquisadores avaliam uma AS VARIÁVEIS
amostra da população e orientam a conduta para
a população geral a partir dos resultados obti-
dos com essa amostra estudada. Os estudos u Variável independente: representa o fator de
não são todos iguais, e precisamos conhecer risco, ou a causa, no estudo. É aquilo que existe
suas características para podermos compreen- independentemente da outra variável que está
der que tipo de evidência cada estudo está nos sendo analisada.
proporcionando. Para além da análise de estu- u Variável dependente: representa o desfecho,
dos no nosso dia a dia, precisamos conhecer de ou a consequência. É aquela que depende da
forma mais detalhada os principais desenhos de presença da outra variável estudada para existir.
estudo que caem nas provas. Esse é um assunto W Exemplo 1: Em um estudo que está querendo
muito prevalente, sendo um dos 3 assuntos mais avaliar o surgimento de câncer de pulmão em
cobrados na maioria das provas. Neste capítulo, pacientes tabagistas, estamos olhando para
vamos lhe ensinar um passo a passo que deve ser duas variáveis: câncer de pulmão e tabagismo.
seguido para que você seja capaz de responder Segundo a hipótese do estudo, a presença de
à maioria das questões. tabagismo aumenta a chance de surgir o cân-

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Estudos epidemiológicos Epidemiologia

cer de pulmão. O câncer de pulmão, portan-


to, depende da presença do tabagismo para 3. 2º PASSO: IDENTIFICAR
existir, enquanto o tabagismo existe por si só, AS CARACTERÍSTICAS
independentemente do câncer. O câncer de
pulmão virá depois por conta da exposição ao u São 5 “blocos” de características. Vamos apre-
tabagismo. Nesse caso, tabagismo será nos-
sentar cada bloco separadamente, com as suas
sa variável independente, enquanto o câncer
duas respectivas características.
será a variável dependente.
W Exemplo 2: Em um estudo que está querendo
3.1. OBJETIVO DO ESTUDO:
avaliar o impacto dos transtornos de ansieda-
DESCRITIVO X ANALÍTICO
de sobre o início do hábito de fumar, agora o
tabagismo torna-se desfecho, sendo o trans-
torno de ansiedade o fator de risco. Dessa
u Descritivo: Os estudos descritivos são aqueles
forma podemos avaliar como uma mesma que simplesmente descrevem uma realidade, a
variável, nesse caso o tabagismo, pode ser prevalência ou a evolução de determinada situa-
tanto independente quanto dependente a de- ção (doença, agravo etc.), de modo individual ou
pender do estudo. coletivo. Os estudos descritivos apenas geram
hipóteses.
W Exemplo 3: Parece ser bem fácil, correto?
Vamos dar um exemplo um pouco mais difí-
u Analítico: O estudo analítico não se limita a des-
cil. Um estudo avalia gestantes que tiveram crever o ocorrido. Há algum tipo de análise do
doença pelo Zika vírus durante a gestação, processo saúde-doença em que são feitas as-
cujos bebês nasceram com microcefalia. Os sociações entre variáveis dependentes e inde-
pesquisadores querem avaliar a gravidade da pendentes, por exemplo.
microcefalia e a sobrevida do bebê. Se você
avalia esse estudo rapidamente, pode pensar DICA
 Se há comparação entre grupos ou alguma
que a variável independente é a infecção pelo medida de associação descrita (Risco relativo,
Zika vírus e que a dependente é a microcefalia. Odds-ratio, Número necessário ao tratamento), pro-
Errado. O estudo quer avaliar a relação entre a vavelmente você está diante de um estudo analítico.
gravidade da microcefalia e a sobrevida. A mi-
crocefalia, portanto, é a variável independente,
e a análise de sobrevida é que é a dependente. 3.2. DISTINÇÃO DE INDIVÍDUOS:
Isso muda completamente a sua análise do AGREGADO X INDIVIDUAL
estudo. Não pule esse primeiro passo.
u Para diferenciar os estudos agregados dos indivi-
DICA duais (ou individuados), pense em uma prova na
 Se você tiver muita dificuldade para distinguir
faculdade. Podemos fazer a prova individualmen-
a variável independente de uma variável depen-
dente, é possível que você esteja diante de um te ou em grupo. Se você fizer a prova individual-
estudo transversal, em que tudo é avaliado em um mente, sua nota vai refletir o seu estudo e o seu
único momento, ou descritivo, em que talvez não desempenho. Se a prova for em grupo, isso não
haja variáveis apresentadas como fator de risco e é necessariamente verdade. Você pode não ter
desfecho. estudado nada, mas se um colega do seu grupo
tiver estudado bem, seu professor nunca saberá
o seu real desempenho.

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Estudos epidemiológicos Cap. 1

u Agregado: No estudo agregado, avaliamos gru- 3.4. ANÁLISE TEMPORAL: TRANSVERSAL


pos ou populações. É impossível distinguir os X LONGITUDINAL
indivíduos.
W Exemplo: Se dizemos que a cidade A tem mais u Transversal: Nos estudos transversais temos
fumante e mais câncer de pulmão que a cida- informações sobre apenas um momento espe-
de B, podemos garantir que as pessoas com cífico. São fotografias de uma realidade em um
câncer de pulmão eram fumantes? Não! Como determinado momento.
só estamos vendo a população sem distinção W Exemplo: Um grupo de pesquisadores realiza
individual, é possível que os pacientes com um questionário perguntando para 200 pessoas
câncer de pulmão sejam distintos dos fuman- sobre alguns hábitos de vida e a presença de
tes. Não há como saber. determinadas doenças. Ao final, a proporção
u Individual: No estudo individual, ou individuado, de hipertensos era três vezes maior entre os
conseguimos fazer essa distinção. Cada indi- pacientes sedentários. Perceba que o estudo
víduo é importante como objeto de estudo. Se não está dizendo que os pacientes sedentários
algum paciente desenvolve câncer de pulmão, desenvolveram hipertensão. O sedentarismo e a
temos como saber se esse era fumante ou não. hipertensão estão sendo avaliados em um mesmo
momento. É impossível saber quem veio antes.
DICA
Esse mesmo estudo seria longitudinal caso per-
 Vamos aprender que o estudo ecológico é guntássemos às pessoas hipertensas e às não
um tipo de estudo agregado, mas cuidado porque
hipertensas se elas eram sedentárias na infância,
muitas provas trazem ecológico e agregado como
por exemplo. Nesse caso, teríamos informações
sinônimos.
sobre mais de um momento específico.

3.3. PAPEL DO PESQUISADOR: DICA


 Como não sabemos qual variável é independen-
OBSERVACIONAL X INTERVENÇÃO te e qual é dependente, ou seja, não sabemos qual veio
antes e qual veio depois, não há como determinarmos
u Observacional: Quando o pesquisador não rea- causalidade a partir de um estudo transversal, já que a
liza nenhum tipo de intervenção nos pacientes, causa necessariamente vem antes da consequência.
como a administração de um medicamento, um
procedimento cirúrgico ou alguma orientação, o u Longitudinal: Nos estudos longitudinais, há infor-
estudo é observacional. mações sobre mais de um momento específico.
u Intervenção: Essa é a distinção mais fácil de ser W Exemplo: Um estudo acompanha 300 pacien-
feita. Se o pesquisador está dando algum medi- tes, sendo 150 deles sedentários e 150 prati-
camento ou realizando algum tipo de interven- cantes de atividades físicas regulares. Após 20
ção nos indivíduos (ou populações), esse é um anos, observa-se que o grupo de sedentários
estudo de intervenção. desenvolveu hipertensão numa proporção 3
vezes maior do que o grupo de pacientes ati-
DICA
 Há outros estudos de intervenção, mas, na sua
vos. Nesse exemplo fica claro que o sedenta-
prova, praticamente o único estudo de intervenção rismo antecedeu a hipertensão, sendo possível
que cai é o ensaio clínico. estabelecer a relação de causalidade.

DICA
 Para um estudo ser longitudinal não é obri-
gatório que haja acompanhamento do grupo de
pacientes ao longo do tempo. Se analisarmos re-
gistros de prontuários de mais de um momento já
teremos um estudo longitudinal.

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Estudos epidemiológicos Epidemiologia

3.5. DIRECIONAMENTO DE
VARIÁVEIS: PROSPECTIVO X 4. 3º PASSO: DETERMINAR OS
RETROSPECTIVO (APLICÁVEL A DESENHOS DE ESTUDO
ESTUDOS LONGITUDINAIS)

4.1. ESTUDOS ECOLÓGICOS


u Prospectivo: RISCO DESFECHO. Esse é o estudo
prospectivo. Não confunda isso com olhar para
o futuro. O que define um estudo prospectivo é u Os estudos ecológicos são agregados, obser-
o fato de ele começar com a exposição e avaliar vacionais e transversais. Dentre essas caracte-
o surgimento do desfecho, ou da consequência. rísticas, o fato de ser um estudo agregado é o
mais importante.
W Exemplo: Um estudo acompanhou 400 pa-
cientes, sendo 200 deles tabagistas e 200 não W Exemplo: Um estudo observacional e agregado,
tabagistas. Após 20 anos, observou-se que realizado com base em dados populacionais,
entre os 200 não tabagistas 2 desenvolveram observou que em Salvador há, proporcional-
câncer de pulmão, enquanto que entre os 200 mente, menos pessoas fumantes e menos
tabagistas foram 35 pacientes. pessoas com câncer de pulmão do que na
cidade de São Paulo.
DICA
 Se o estudo está dividindo os grupos que
serão analisados conforme exposição ou ausên- DICA
 Por ser agregado e transversal, não podemos
cia de exposição ao fator de risco, provavelmente realizar inferências acerca de causalidade, nem
trata-se de um estudo prospectivo. inferências na esfera individual.

u Retrospectivo: DESFECHO RISCO. No estudo u Falácia ecológica: realizar inferências individuais


retrospectivo, avaliamos pacientes que já têm a a partir de um estudo agregado.
doença, ou o desfecho, e observamos se havia, W Exemplo: em cidades com mais casas com
previamente, a exposição ao fator de risco.
piscinas há mais afogamentos. Se inferirmos
W Exemplo: Um estudou avaliou 400 pacien- que piscina é fator de risco para afogamento,
tes, 200 com câncer de pulmão e 200 sem a cometeremos a falácia ecológica, já que não
doença. Observou-se que, entre os pacientes podemos garantir que os afogamentos acon-
doentes, 95% tinham fumado por pelo menos teceram dentro das piscinas. As pessoas po-
5 dos últimos 20 anos. Entre os não doentes dem estar se afogando nas praias ou nos rios,
essa proporção era de 15%. por exemplo.
W a) Vantagens:
DICA
 Se o estudo está dividindo os grupos que se- V Baixo custo;
rão analisados conforme a presença ou a ausência
do desfecho, provavelmente trata-se de um estudo
V Realizado em pouco tempo.
retrospectivo. W b) Desvantagens:
V Apenas gera hipóteses;
DICA
 Não misture os “blocos” de características.
V Não determina causalidade.
Muita gente pergunta a diferença entre transversal W Observação: há outros estudos agregados que
e analítico, por exemplo. Transversal se contrapõe raramente caem nas provas. São eles:
ao longitudinal, enquanto analítico se contrapõe ao V Série temporal: estudo agregado, observa-
descritivo. Podemos ter estudos analíticos transver- cional e longitudinal. Parece com o estudo
sais e longitudinais, então analítico não é “diferente” ecológico, mas há análises em diferentes
de transversal, já que faz parte de outro “bloco” de
momentos.
características. Lembre dos 5 blocos e de seus
respectivos componentes.

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Estudos epidemiológicos Cap. 1

V Ensaio comunitário: estudo agregado, lon- W Exemplo: A partir de registros em prontuários


gitudinal e de intervenção. Existe alguma de 10 instituições do ano de 1990, avaliamos
intervenção na esfera populacional, como 5000 pacientes entre 30 e 40 anos, sendo que
colocar flúor na água de uma cidade e ob- 2500 eram fumantes e 2500 não fumantes.
servar a queda no número de pessoas com Em 2010, observamos que 500 pacientes do
cárie. grupo dos fumantes e 200 pacientes do grupo
dos não fumantes haviam falecido.
DICA
 Vamos repetir a dica para que você não
W Observe que a partir do estudo de coorte po-
esqueça: muitas provas consideram ecológico demos aprender sobre a história natural das
como sinônimo de agregado. Via de regra, se você doenças, já que observamos a doença surgir
perceber que a questão está apresentando um e evoluir em pessoas que eram saudáveis an-
estudo agregado, você deve entender como sendo teriormente. Além disso, podemos estimar
um estudo ecológico, mesmo que não preencha os incidência, prognóstico, identificar fatores de
outros critérios (a menos, é claro, que haja algum risco e até de proteção, inclusive estudando
outro estudo agregado em outras alternativas, o múltiplos desfechos de forma secundária.
que é bastante raro). Acaba não sendo um estudo tão bom para
eventos raros, já que há o risco de estudarmos
pessoas por anos e ninguém adoecer, deixando
4.2. ESTUDOS DE COORTE o estudo inconclusivo. É bom, entretanto, para
doenças potencialmente fatais, porque, caso a
u Os estudos de coorte são analíticos, individuais, doença tenha alta letalidade, não temos como
longitudinais, prospectivos e observacionais. selecionar as pessoas já doentes para estudar,
O mais importante é lembrar que são estudos visto que muitas já teriam evoluído para óbito.
prospectivos. u a) Vantagens:
W Exemplo: Um estudo acompanhou 5000 pa- W História natural das doenças;
cientes, 2500 fumantes e 2500 não fumantes, W Estabelece bem os fatores de risco;
durante 20 anos. Ao término do estudo, obser-
W Doenças potencialmente fatais.
vou-se que 125 pacientes fumantes desenvol-
veram câncer de pulmão, enquanto apenas 5 u b) Desvantagens:
não fumantes adoeceram. W Custo;
W Duração;
DICA Doenças raras.
 Os estudos de coorte, como são prospectivos, W

dividem os indivíduos a partir da exposição (fuman-


tes e não fumantes) e observam o surgimento do DICA
 Se você vir “análise de sobrevida” na sua prova,
desfecho (câncer de pulmão).
muito provavelmente irá se tratar de um estudo de
coorte.
W Coorte Histórica: A coorte histórica procura a
exposição ao fator de risco no passado, dividin-
do os grupos a partir dessa exposição prévia. 4.2.1. Risco relativo
O desfecho pode estar em um passado mais
u Risco relativo é a principal medida de associação
próximo ou até no presente. Esse estudo tam-
dos estudos de coorte.
bém é chamado de coorte retrospectiva, mas
continua sendo um estudo prospectivo, já que u O risco relativo responde à seguinte pergunta:
partimos do fator de risco para o desfecho. quantas vezes maior é a probabilidade de os in-

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Estudos epidemiológicos Epidemiologia

divíduos expostos apresentarem o desfecho em W Interpretamos, então, o risco relativo da se-


relação aos indivíduos não expostos? guinte forma:
u Para calcularmos o risco relativo, precisamos W Se RR = 1: ser exposto não interfere no desen-
identificar duas coisas: volvimento do desfecho.
W 1. Qual o risco de um paciente exposto desen- W Se RR > 1: o fator é de risco, visto que a ex-
volver o desfecho? Ou seja, qual a incidência posição aumentou a incidência do desfecho.
do desfecho nos expostos? Chamaremos esse W Se RR < 1: o fator é de proteção, já que a expo-
risco de IE (Incidência nos Expostos). sição reduziu a incidência do desfecho.
W 2. Qual o risco de um paciente não exposto de-
senvolver o desfecho? Ou seja, qual a incidência 4.3. ESTUDOS DE CASO-CONTROLE
do desfecho nos não expostos? Chamaremos
esse risco de INE (Incidência nos não expostos).
u Os estudos de caso-controle são analíticos,
u Fórmula do Risco Relativo RR = IE /INE individuais, longitudinais, retrospectivos e ob-
W Exemplo: Um estudo de coorte avalia 2000 mil servacionais. O mais importante é lembrar que
pacientes, 1000 fumantes e 1000 não fuman- são estudos retrospectivos. No estudo de ca-
tes. Dos 1000 fumantes, 200 desenvolveram so-controle, observamos pacientes que já de-
câncer de pulmão. Dos 1000 não fumantes, senvolveram o desfecho e pacientes que não o
10 desenvolveram câncer de pulmão. Qual o desenvolveram, e vasculhamos o passado do
risco relativo? paciente para avaliar se havia exposição a de-
W Risco ou incidência nos expostos (IE) = 200/1000 terminado fator de risco. Percebeu a diferença
= 20%. para o estudo de coorte? Na coorte, separamos
W Risco ou incidência nos não expostos (INE) = os pacientes em dois grupos: um exposto ao fa-
10/1000 = 1%. tor de risco e outro não exposto. A partir desses
grupos, observamos o surgimento da doença,
W Risco relativo = 20%/1% = 20.
ou do desfecho. No caso-controle, separamos
W O que isso significa? Significa que o risco de os pacientes em dois grupos distintos: um com
desenvolver câncer de pulmão na população o desfecho, ou a doença, e um sem. Olhamos en-
estudada é 20 vezes maior naqueles expostos tão para o passado desses pacientes à procura
ao tabagismo quando comparados aos não do fator de risco.
expostos. Podemos concluir que o tabagismo
aumenta em 20 vezes a chance de se adquirir
DICA
câncer de pulmão.  Os estudos de caso-controle, como são retros-
pectivos, dividem os indivíduos a partir do desfecho
W E se o risco relativo for menor do que 1? Isso
(Pessoas com câncer de pulmão e sem câncer de
significa que a exposição reduziu o risco, e não
pulmão) e observam se havia a presença do fator
que aumentou. Se for igual a 1, significa que a de risco (tabagismo).
exposição não exerceu nenhuma influência no
desfecho. Devemos sempre analisar o inter-
valo de confiança, mas aprenderemos sobre DICA
 Para nunca mais confundir Coorte e Caso-
essa análise no capítulo “Medicina Baseada -controle:
em Evidências”.

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Estudos epidemiológicos Cap. 1

Coorte Caso-controle

Doentes Expostos

Expostos Casos

Não doentes Não expostos

Doentes Expostos

Não expostos Controles

Não doentes Não expostos

Passado Presente Futuro

Seleção de grupos a partir


Avaliação de desfecho
da exposição ao fator

Coorte

Seleção de grupos a partir


Avaliação de desfecho
da exposição ao fator

Coorte histórica

Seleção de casos e
Avaliação do fator
controles a partir da
de risco
existência do desfecho

Caso controle
Fonte: O autor.

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Estudos epidemiológicos Epidemiologia

W Esses estudos mostram resultados mais rápi- Tabela 1. Calculando o Odds Ratio.
dos, já que não precisamos esperar anos para Ocorrência Sem
vermos o surgimento da doença. Além disso, do desfecho desfecho
é muito bom para estudar doenças raras, já
Com exposição A B
que já estamos avaliando os pacientes divi-
didos em grupos de doentes e não doentes. Sem exposição C D
Há 2 problemas: no estudo de caso-controle, Fonte: Gordis.1
podemos apenas estimar o risco, e não deter-
minar, como na coorte; além disso, a memória W Qual a sua hipótese inicial? Acreditamos que
dos pacientes e a clareza e completude dos a exposição está ligada ao desfecho. Então,
registros médicos são essenciais para ava- quais desses pacientes vão a favor da sua hi-
liarmos o passado médico e a presença dos pótese? Os pacientes A e D. Por quê? Porque
fatores de risco. o paciente A tem exposição e tem desfecho,
u a) Vantagens: mostrando que há associação entre os dois.
W Fácil execução; O paciente D, como não tem exposição, tam-
bém não tem desfecho, mais uma vez com-
W Custo;
provando a sua hipótese. Os pacientes B e C,
W Doenças raras. por outro lado, são aqueles que vão contra a
u b) Desvantagens: hipótese. O paciente B tem a exposição, mas
W Documentação; não tem o desfecho, e o paciente C tem o
W Vieses de memória e de seleção. desfecho sem nunca ter tido exposição. Ou
seja, os pacientes A e D corroboram a favor
W Esse tipo de estudo também é analítico, visto
da relação entre exposição e desfecho e os
que analisa se há correlação com um fator de
pacientes B e C, contra.
risco provável. Diferentemente da coorte, que
determina o risco, o caso-controle é capaz
u O odds-ratio é exatamente a relação entre os pa-
apenas de estimar o risco, por meio da sua cientes A e D sobre os pacientes B e C.
medida de associação, o Odds-Ratio.
ODDS-RATIO = AxD/BxC = AD/BC
4.3.1. Odds-ratio
W Como podemos lembrar? Tem a dica do “peixi-
u A medida de associação do estudo de caso-con- nho”. Basta desenhar um peixe sobre a tabela
trole é o odds-ratio, razão de chances ou razão de que a fórmula vai “aparecer” AD/BC
possibilidades. O conceito por trás do odds-ratio
é semelhante ao do risco relativo: ele informa Ocorrência Sem
quantas vezes a mais – ou a menos – um evento do desfecho desfecho
ocorre em um grupo em relação a outro. Serve, Com exposição A B
entretanto, apenas para estimar o risco, não o
Sem exposição C D
determinando.
u Como calculamos o Odds-ratio? Precisamos
montar uma tabelinha com os pacientes expos- DICA
 O odds-ratio apenas estima o risco e não
tos, não expostos, doentes e não doentes. Veja é exclusivo dos estudos de caso-controle. Não é
a Tabela 1. porque a questão lhe mostrou um odds-ratio que
necessariamente tem que ser um estudo de caso-
-controle. Procure sempre as características do
estudo.

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Estudos epidemiológicos Cap. 1

4.4. ENSAIO CLÍNICO u Fase III: Avaliação em larga escala do tratamento,


confirmando a eficácia do tratamento e compa-
u O ensaio clínico é um estudo individual, analíti- rando a grupos-controle. Nessa fase, o objetivo
co, longitudinal e de intervenção. O mais impor- é fornecer evidências definitivas que corroborem
tante é o fato de ser um estudo de intervenção. a favor da comercialização do fármaco.
O ensaio clínico é praticamente o único estudo u Fase IV: Medicamento já está à venda. É a hora
de intervenção que cai na sua prova. Que tipo de de ver se ele realmente funciona no “mundo real”,
intervenção? Pode ser a introdução de um medi- fora das condições controladas de um estudo.
camento, a orientação acerca de um hábito de Em médio e em longo prazo podem surgir com-
vida ou até um procedimento cirúrgico. plicações ou efeitos colaterais tardios não rela-
tados inicialmente.
DICA
 O pesquisador deve estar realizando a in-
W Usamos medicamentos para a maioria dos
tervenção. Há estudos de coorte que comparam nossos exemplos, mas se lembre que pode-
pacientes que fizeram uso do medicamento A e do mos estar avaliando intervenções não far-
medicamento B, porém não são os pesquisadores macológicas, cirúrgicas, utilização de testes
do estudo que realizam a introdução ou o teste do diagnósticos etc.
medicamento. Certifique-se de que é o estudo que u Efeito Hawthorne: Imagine que você sabe que
está realizando a intervenção. terá seu exame de sangue colhido toda segun-
da-feira. Você iria tomar aquela cerveja no chur-
W Exemplo: 2000 pacientes idosos são selecio- rasco do domingo? Provavelmente não. Pois
nados para avaliar o uso da aspirina como pre- bem, esse é o efeito Hawthorne. Esse efeito diz
venção primária de eventos cardiovasculares. respeito à tendência dos indivíduos de mudarem
1000 recebem aspirina e 1000 não recebem. seu comportamento simplesmente por serem
Após 10 anos, observa-se que não houve di- alvo de interesse e atenção. Acontece que tanto
ferença relevante entre os grupos no que diz o grupo-controle quanto o grupo de intervenção
respeito à mortalidade, IAM ou AVC, mas que apresentam esse efeito, geralmente não sendo
houve maior proporção no desenvolvimento relevante ao final do estudo.
de câncer nos pacientes que fizeram uso crô-
nico de aspirina. 4.4.2. Medidas de associação
dos ensaios clínicos
W Perceba que o estudo deu aspirina para um
grupo de pacientes. Não houve simplesmente 4.4.2.1. Redução do risco relativo (RRR)
uma observação de pacientes que já faziam uso.
u Risco é a probabilidade de ocorrência de certo
4.4.1. Fases dos ensaios clínicos desfecho. Risco relativo indica quantas vezes
maior é a chance de indivíduos expostos a um
u Fase I: Envolve um pequeno número de pacientes determinado fator desenvolverem um desfecho
apenas para verificar a segurança da substância se comparados com indivíduos não expostos. Em
para uso em seres vivos. Observa-se a tolerância um ensaio clínico, o fator avaliado é a intervenção.
da droga, assim como seus efeitos colaterais e W Exemplo: Estudo avalia a eficácia de uma va-
reações adversas. Geralmente, os indivíduos são
cina para covid-19. 1000 pacientes recebem
pacientes saudáveis.
a vacina e 1000 pacientes recebem placebo.
u Fase II: Envolve um pequeno número de pacien- Após 4 meses de acompanhamento, 20 pa-
tes, porém geralmente portadores da doença cientes do grupo intervenção (vacinados de
estudada. Tem como objetivo analisar a relação fato) receberam o diagnóstico de covid-19 (2%),
dose-efeito da droga. enquanto 50 pacientes do grupo controle (pla-

33
Estudos epidemiológicos Epidemiologia

cebo) foram diagnosticados (5%). Qual o risco Com o tratamento, foram 98. Nesse caso, mes-
relativo? A incidência nos expostos foi de 2%, mo 98 pacientes tendo sobrevivido, apenas 3 so-
enquanto a incidência nos não expostos foi breviveram “por causa” do medicamento novo.
de 5%. Risco relativo = 2%/5% = 0.4. A vacina, Assim, a cada 100 pacientes que você tratou, o
portanto, agiu como fator protetor. tratamento foi responsável pela sobrevivência
u Redução do Risco Relativo = 1 – Risco Relativo de 3. Ou seja, 1 vida é salva a cada 33 pacientes
tratados. O número de pessoas que você precisa
W Voltando ao exemplo: RRR = 1 – 0,4 = 0.6.
tratar para salvar uma vida é 33.
A redução do risco relativo, nesse caso, foi de
60%. Isso quer dizer que, ao tomar a vacina, u O número necessário ao tratamento nos diz o nú-
um indivíduo reduz em 60% sua chance de mero médio de pacientes que precisam sofrer a
adoecer. Isso não quer dizer que há 40% de intervenção estudada para que tenhamos o des-
chance de adoecer. Isso quer dizer que houve fecho esperado em um. Acontece que temos que
uma queda de 5% para 2% de chance de adoe- levar em consideração o número de pacientes que
cimento após a vacinação, correspondendo a já evoluem para o desfecho esperado indepen-
uma redução de 60% nesse risco. dentemente da intervenção, como no exemplo
apresentado, em que o desfecho foi a sobrevida.
DICA
u Número necessário ao tratamento = 1/RAR
 A eficácia de um tratamento ou de uma me-
dida de prevenção corresponde à sua redução do
risco relativo. NNT = 1/RAR

W Exemplo: Vamos voltar ao exemplo apresen-


4.4.2.2. Redução absoluta do tado. RAR = 98-95 = 3%. NNT = 1/RAR = 1/3%
risco (RAR ou RRA) = 1/0,03 = 33,3. Ou seja, devemos tratar 33,3
pacientes para que uma vida seja salva pelo
u RAR = Risco no grupo-controle – risco no grupo
tratamento.
de intervenção
W Exemplo: Voltando ao exemplo da vacinação,
DICA
tínhamos um risco de adoecimento de 5% no  Quanto menor o NNT, melhor.
grupo-controle e de 2% no grupo de interven-
ção. A Redução Absoluta do Risco, nesse caso, DICA
 Quando a intervenção aumentar o desfecho
seria simplesmente 5% – 2% = 3%.
negativo, a RAR será negativa. Nesse caso, você
4.4.2.3. Número necessário ao deve inverter os valores, calcular qual foi o acrés-
cimo absoluto de risco por conta da intervenção,
tratamento (NNT)
e por fim calcular o NNH, ou Número Necessário
u Exemplo: Vamos começar com um exemplo bem ao Dano (Harm).
simples. Avaliamos 200 pacientes portadores
de uma doença crônica. 100 recebem placebo
e 100 recebem um medicamento novo. Dos 100
que receberam placebo, 5 evoluíram a óbito. Dos 5. ERROS E VIESES
100 que receberam o medicamento, 2 evoluíram
a óbito. Quantos pacientes você precisou tratar u Vieses são erros sistemáticos, ou seja, erros que
para salvar uma vida? Ora, a cada 100 pacientes,
decorrem de algum problema na metodologia
95 sobrevivem sem necessidade de tratamento.
do estudo, que podem envolver coleta, registro,

34
Estudos epidemiológicos Cap. 1

análise, interpretação, publicação ou utilização


de dados, assim como seleção de participantes. 6. ESTRATÉGIAS PARA
REDUZIR VIESES
W Viés de seleção: viés decorrente dos proce-
dimentos utilizados para selecionar os pa-
cientes do estudo. O resultado é uma relação u Cegamento: Aplicado a ensaios clínicos.
entre exposição e desfecho diferente entre os W Simples-cego: nesses estudos, o paciente não
grupos analisados.
sabe a que grupo pertence.
W Fator de confusão: fatores que não são obje- W Duplo-cego: além do paciente, o avaliador tam-
tos dos estudos, mas que podem exercer in-
bém não sabe, evitando que seu julgamento
fluência sobre o fator ou o desfecho avaliado.
interfira no estudo.
W Viés de informação: erros na coleta de infor- W Triplo-cego: os outros profissionais envolvidos,
mações dos participantes. Problemas envol-
como aqueles que analisam exames de ima-
vendo memória dos pacientes, registros em
gem, também não sabem a que grupo cada
prontuário, métodos diagnósticos utilizados,
paciente pertence.
avaliação do entrevistador etc.
W Viés de publicação: preferência pela publica-
DICA
ção de estudos que detectam associações em  Há estudos em que o cegamento é impossível,
oposição aos que não detectam. como aqueles que comparam a eficácia de uma
intervenção cirúrgica com o tratamento clínico.

u Aleatorização: os pacientes são alocados em


diferentes grupos de forma aleatória. Isso evita
que o pesquisador “crie” grupos-controle e de
intervenção distintos.

7. RESUMÃO DOS ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS

Tabela 2. Principais desenhos de estudo.

Desenho de
Características Medida de Associação Observações
Estudo

Agregado, Observacional, • Não estabelecem causalidade


Ecológico • Avaliação de Frequências
Transversal • Falácia ecológica

Individual, Observacional, • Determina risco


Coorte • Risco Relativo
Longitudinal, Prospectivo, Analítico • Coorte histórica

Individual, Observacional, • Apenas estima risco


Caso-controle Longitudinal, Retrospectivo, • Odds-ratio • Odds-ratio pode estar presen-
Analítico te em outros estudos

• Redução do Risco Relativo


Individual, Intervenção, (Eficácia) • Cuidado com o Número Ne-
Ensaio Clínico
Longitudinal, Analítico • Número Necessário ao Tra- cessário ao Dano
tamento
Fonte: O autor.

35
Estudos epidemiológicos Epidemiologia

Tabela 3. Diferenças entre caso-controle e coorte.

Estudo Caso-Controle Estudo de Coorte

Baixo custo Custo alto

Demanda pouco tempo Demanda muito tempo

Um desfecho: múltiplos fatores de risco Um fator de risco: vários desfechos

Divide os grupos segundo o desfecho Divide os grupos segundo a exposição

Fonte: O autor.

REFERÊNCIAS

1. Gordis L. Epidemiology. 5th ed. Baltimore: Elsevier; 2014.


2. Bedaque HP, Bezerra ELM. Descomplicando MBE: uma
abordagem prática da medicina Baseada em evidências.
Natal: Editora Caule de Papiro; 2018.
3. ESF Coutinho, GM Cunha. Conceitos básicos de epide-
miologia e estatística para a leitura de ensaios clínicos
controlados. Rev Bras Psiquiatr. 2005; 27(2): 146-51.
4. Aragão J. Introdução aos estudos quantitativos utilizados
em pesquisas científicas. Rev práxis. 2013; 3(6): 59-62.
5. Rouquayrol MZ, Almeida Filho N. Epidemiologia e saúde.
6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2006.
6. Szumilas M. Explicando razões de chances. J Acad Can
psiq infan adol. 2010; 19(3): 227.
7. Botelho F, Silva C, Cruz F. Viéses. Acta Urologica. Setembro
de 2010; 3: 47–52.

36
MEDICINA BASEADA EM Capítulo

EVIDÊNCIAS E BIOESTATÍSTICA 2

IMPORTÂNCIA/PREVALÊNCIA

O QUE VOCÊ PRECISA SABER?

u Medicina Baseada em Evidências significa o uso consciente da melhor evidência disponível para a tomada
de decisão no âmbito da medicina.
u As revisões sistemáticas de ensaios clínicos randomizados apresentam nível 1A de evidência.
u As revisões sistemáticas são investigações científicas, com metodologia definida por protocolo, que avaliam
estudos originais como seu objeto de estudo, sintetizando resultados de estudos primários.
u Para decidirmos se devemos confiar na conclusão apresentada por determinado estudo precisamos,
sempre, avaliar o intervalo de confiança.
u A média é muito afetada por valores extremos. A mediana não é afetada por valores extremos. Uma amostra
pode ter nenhuma, uma ou mais de uma moda.

1. INTRODUÇÃO W Efetividade: Medicamento manteve resulta-


dos positivos na população mesmo fora dos
“muros” de um ensaio clínico, provando que,
u De forma abrangente, compreendemos a medi- no mundo real, longe do controle dos pesqui-
cina baseada em evidências (MBE) como o uso sadores, ele também traz benefícios.
consciente da melhor evidência disponível para a
W Eficiência: Vale a pena, pelo custo do medica-
tomada de decisão no âmbito da medicina. A MBE
mento, utilizar ele em vez de outros disponíveis.
representa um novo paradigma da medicina, visto
que põe, de forma objetiva, as evidências adquiri-
das por estudos científicos em um patamar dife- DICA
 A intervenção analisada não precisa ser um
rente da experiência do médico em nível individual. medicamento. Podemos estar falando de uma vaci-
na e seu poder em reduzir o risco de adoecimento,
DICA por exemplo.
 A MBE não menospreza ou nega o valor da
experiência do médico. Seu objetivo é coibir práticas
que não estejam embasadas em dados e estimular u A partir desses três conceitos, podemos com-
aquelas que estão. preender outros dois que, às vezes, aparecem
em alguns enunciados:
u Vamos iniciar apresentando 3 conceitos a partir W Validade interna: extensão em que os resul-
do exemplo de um medicamento novo que está tados observados representam uma verdade
sendo testado: para a população sendo estudada e, portanto,
não se devem a erros metodológicos.
W Eficácia: Medicamento demonstrou resultados
melhores que o placebo no estudo, ou seja, W Validade externa: refere-se à extensão em que
dentro das condições ideais e controladas do os resultados de um estudo são aplicáveis aos
ensaio clínico. pacientes em nossa prática diária.

45
Medicina baseada em evidências e bioestatística Estatística

V Essa probabilidade é considerada “aceitável”


2. HIPÓTESE NULA X quando inferior a 10-20%. O poder do teste
HIPÓTESE ALTERNATIVA reflete sua capacidade de encontrar dife-
rença de desfecho entre os grupos quando
essa diferença realmente existe.
u Outros conceitos que, às vezes, são apresenta-
dos nas questões são os seguintes: V Poder do teste = 1 – erro beta.
W Hipótese nula: Hipótese de que não existe dife-
rença entre os grupos estudados. No exemplo
do medicamento, isso iria significar que o me- 3. NÍVEIS DE EVIDÊNCIA E
dicamento não melhorou em nada o desfecho. GRAUS DE RECOMENDAÇÃO
W Hipótese alternativa: Hipótese de que existe
diferença no desfecho entre os dois grupos. u Considerando todos os possíveis erros, hipóte-
Ou seja, o uso do medicamento interferiu no ses e, principalmente, desenhos de estudos, há
desfecho. uma hierarquia das evidências.

2.1. ERRO ALFA X ERRO BETA 3.1. NÍVEIS DE EVIDÊNCIA

u A partir da hipótese nula, surgem dois tipos de u Trata-se de uma hierarquia das evidências apre-
erros possíveis. Já falamos sobre erros e vieses sentadas por cada tipo de estudo.
no capítulo “Estudos Epidemiológicos”, mas apre-
sentaremos outra abordagem agora. Tabela 1. Níveis de evidência.
W Erro alfa (tipo I): Probabilidade de rejeitar a hi-
Qualidade Tipo de evidência
pótese nula quando ela é verdadeira. Ou seja,
é a probabilidade de enxergar no estudo uma A: revisão sistemática de ECRs
diferença entre os grupos avaliados que não 1 B: ECR individual com IC estreito
existe na vida real. C: série de casos “tudo ou nada”
V Essa probabilidade é considerada aceitável A: revisão sistemática de estudos de coorte
quando inferior a 5%. Por isso, em muitos 2
B: estudo de coorte individual. ECR com
estudos, falamos de um nível de confiança dropouts > 20%
= 95%. C: estudos ecológicos

V Nível de confiança = 1 – erro alfa. A: revisão sistemática de caso-controle


3
B: caso-controle individual

DICA
 O valor de “p”, nos estudos, reflete o erro alfa. 4 Séries de casos
p < 0,05 significa que a probabilidade de o estudo 5 Opinião do especialista
estar errado quando considera desfechos diferentes
ECR: ensaio clínico randomizado. Adaptado de Levels os
entre os grupos é menor que 5%. Consideramos, evidence of the Oxford Centre for Evidence-Based Medicine.
a partir disso, que há relevância estatística e que
Fonte: Oxford Centre for Evidence-Based Medicina.1
podemos confiar com certo grau de segurança
naquilo que o estudo está concluindo.
3.2. GRAUS DE RECOMENDAÇÃO
W Erro beta (tipo II): Probabilidade de aceitar a
hipótese nula quando essa é falsa. Ou seja, é u A partir desses níveis de evidência, surgem os
a probabilidade de não encontrar no estudo graus de recomendação:
uma diferença entre dois grupos quando na W A = Conduta apresenta benefício comprovado.
verdade essa diferença existe. V Nível de evidência 1.

46
Medicina baseada em evidências e bioestatística Cap. 2

W B = Conduta provavelmente apresenta bene- DICA


 Em um estudo epidemiológico primário, como
fício, devendo ser estimulada.
coorte ou ensaio clínico, nós estudamos pessoas
V Níveis de evidência 2 e 3. e populações. Em uma revisão sistemática, nós
W C = Benefício incerto. estudamos esses estudos. Compilamos vários
V Nível de evidência 4. estudos que analisam o mesmo tema, avaliando a
“soma” dos seus resultados.
W D = Conduta não deve ser realizada porque
não há evidência confiável.
V Nível de evidência 5. 4.2. METANÁLISE
u Há variações para os níveis de evidência e graus
de recomendação. Estamos demonstrando a divi- u Definição: síntese estatística de dados colhidos
são utilizada pelo Oxford Centre for Evidence-Ba- no maior número possível de estudos, com o
sed Medicine, que é a mais cobrada nas provas. objetivo de sumarizar a informação. Métodos
estatísticos são utilizados para compilar os
resultados de diversos estudos em uma única
4. REVISÃO SISTEMÁTICA medida. Os resultados da metanálise podem ser
E METANÁLISE vistos em uma representação gráfica chamada
forest plot.
4.1. REVISÃO SISTEMÁTICA
DICA
 Basicamente, uma metanálise realiza uma
u Definição: investigações científicas, com metodo- análise estatística complexa para tirar de vários
logia definida por protocolo, que avaliam estudos estudos uma conclusão uniforme. O  que mais
originais como seu objeto de estudo, sintetizando importa para a sua prova é conseguir identificar
resultados de estudos primários. essa conclusão a partir do forest plot.

Tabela 2. Exemplo de Forest plot.

Fonte: Castro.2

47
Medicina baseada em evidências e bioestatística Estatística

u Nesse exemplo, estamos avaliando estudos que u A conclusão da metanálise se resume àquele
compararam a mortalidade neonatal por deter- losango embaixo de todos os quadrados, deno-
minada complicação em pacientes que fizeram minado “subtotal (95%CI)”. Esse losango corres-
uso de corticosteroides versus pacientes que fi- ponde ao compilado gráfico de todos os estudos
zeram uso de placebo ou de nenhum tratamento. avaliados. Se o losango estiver à esquerda da
A primeira coluna corresponde à identificação dos linha vertical, a metanálise concluiu que o fator
estudos que foram avaliados. A segunda coluna avaliado é um fator de proteção. Se estiver à di-
demonstra a mortalidade nos grupos expostos à reita, trata-se de um fator de risco. Se o losango
intervenção avaliada (Expt); no caso, o corticoi- tocar a linha vertical, isso significa que a meta-
de. A terceira coluna mostra a mortalidade nos nálise concluiu que o fator não interfere de forma
grupos-controle (Ctrl), ou seja, nos grupos que relevante no desfecho.
fizeram uso de placebo ou de nenhum tratamen- u A metanálise apresentada, portanto, concluiu
to. O gráfico acima representa o Hazard-ratio de que o corticoide reduz mortalidade no agravo
cada estudo (análise estatística utilizada), de- avaliado, devendo ser utilizado.
monstrando intervalos de confiança.
u A linha vertical traçada à direita representa o Ha- 4.3. INTERVALO DE CONFIANÇA
zard-ratio = 1. Lembra-se que, quando apresenta-
mos o risco relativo, falamos que um risco relativo
u Quando realizamos um estudo científico, chega-
= 1 significava não haver associação entre o fator
mos a uma determinada conclusão. É possível
e o desfecho? Pois bem, os pequenos quadrados
que essa conclusão represente o que acontece
que vemos são os resultados dos estudos indi-
no mundo real, mas é possível, também, que es-
vidualmente. Quando o quadrado está em cima
teja equivocada.
da linha vertical, isso quer dizer que não houve
associação entre o fator estudado e o desfecho u Quando jogamos uma moeda para cima apenas
avaliado naquele estudo. 10 vezes, é possível que a discrepância entre cara
e coroa seja bastante grande. Se jogamos 1000
u A linha horizontal que passa pelo quadrado de
vezes, entretanto, começaremos a ver um equilí-
cada estudo é o intervalo de confiança. Para a
brio maior. Esse conceito de repetição da análise
gente considerar que um estudo realmente teve
se aplica aos estudos epidemiológicos. Quando
êxito em demonstrar uma associação estatisti-
fazemos um estudo epidemiológico apenas uma
camente relevante entre fator e desfecho, o in-
vez, ele nos dá um determinado resultado. Se re-
tervalo de confiança não pode conter o número
petirmos esse estudo 100 vezes, ele dará vários
1 nele, ou seja, a linha horizontal não pode cruzar
resultados distintos. A principal informação que
a linha vertical.
queremos ter é a seguinte: ao repetirmos o es-
u Resultados dessa análise: observe que nos es- tudo 100 vezes, continuamos tendo conclusões
tudos “Auckland 1972”, “Amsterdam 1980”, “Pa- semelhantes? Se em um momento observarmos
pageorgiou 1979” e “Doran 1980” o intervalo de que o fator aumenta o risco do desfecho em 5
confiança não cruza a linha vertical. Esses estu- vezes, e em outro momento vemos que aumen-
dos, portanto, demonstraram associação entre o ta apenas 3 vezes, ao menos percebemos que
uso do corticoide e a mortalidade. Como todos nas duas oportunidades o fator é considerado
eles contêm valores abaixo de 1, eles concluíram de risco. O grande problema está quando um
que o corticoide é fator protetor de mortalidade mesmo fator é considerado como risco em uma
na situação estudada. repetição, e como proteção em outra.

48
Medicina baseada em evidências e bioestatística Cap. 2

u O intervalo de confiança representa todos os re-


sultados do estudo após essa “repetição esta- 5. BIOESTATÍSICA
tística” ser efetuada, geralmente admitindo um
“erro” de até 5%.
5.1. MEDIDAS DE AÇÃO CENTRAL
u Um exemplo: estudamos 1000 pacientes fuman-
tes e 1000 pacientes não fumantes, avaliando o
u Média = média aritmética dos valores encontrados.
risco de desenvolverem câncer de pulmão após
20 anos. Concluímos que fumar aumenta o risco
de câncer em 20 vezes. Replicamos esse estudo DICA
 A média é muito afetada por valores extremos.
estatisticamente e chegamos à conclusão que,
em algumas dessas replicações, esse risco foi
u Mediana = medida que está no centro da amostra.
de apenas 8 vezes, enquanto em outras chegou
a 50 vezes. Segundo o intervalo de confiança,
portanto, fumar aumenta a chance de adquirir DICA
 A mediana não é afetada por valores extremos.
câncer de pulmão entre 8 e 50 vezes.
u Algumas observações sobre o intervalo de con- u Moda = valor que mais aparece na amostra.
fiança são importantes:
W O intervalo de confiança não pode passar DICA
 Pode haver mais do que uma moda. Se ne-
pelo número 1. 1 significa ausência de rela-
nhum valor se repetir, não há moda.
ção. Ou seja: os grupos avaliados tiveram os
mesmos desfechos. Dentro de um intervalo
de confiança, não posso ter replicações do
5.2. MEDIDAS DE DISPERSÃO
meu estudo dizendo, ao mesmo tempo, que
ele é fator de risco e fator de proteção, ou que
é fator de proteção em alguns momentos e
u Variância = mostra o quão distante cada valor
em outros não exerce influência. Assim, um está do valor central.
intervalo de confiança só demonstra relevân- u Desvio-Padrão = raiz quadrada da variância.
cia estatística se ele for todo abaixo de 1 ou W Indica o quanto o conjunto é uniforme.
todo acima.
W Quanto mais estreito o intervalo de confian- DICA
 Um desvio-padrão baixo indica que os dados
ça, mais confiável é o estudo. Você confiaria são mais próximos da média.
mais em um estudo que conclui que o risco
de adquirir câncer de pulmão é entre 8-50 ve-
zes maior no fumante ou um que conclui que 5.3. DISTRIBUIÇÃO NORMAL
é 18-22 vezes maior?
u Por distribuição entendemos o espalhamento
DICA
 Sabemos que essa parte de metanálise,
das variáveis por um gráfico cartesiano (eixo ×
interpretação de gráfico e intervalo de confiança e eixo y).
é um pouco confusa. Não deixe de ver a aula. Fica u Para considerarmos que os valores em uma po-
muito mais fácil de entender depois da aula. pulação estudada representam uma distribuição
normal, alguns critérios devem ser preenchidos:
W a) A distribuição deve ser simétrica em torno
da média.

49
Medicina baseada em evidências e bioestatística Estatística

W b) Média = Mediana = Moda. 5.4. VARIÁVEIS QUANTITATIVAS


W c) σ = engloba 68% da amostra; 2σ = 95%; 3σ E QUALITATIVAS
= 99,7% (σ = um desvio-padrão).
5.4.1. Variáveis quantitativas
u A Curva de Gauss é a representação gráfica de
uma distribuição normal. Observe, na figura a u São quantidades. Simples assim. Números que
seguir (Figura 1), como os desvios-padrão repre- representam alguma quantidade.
sentam determinada porcentagem da amostra.
W Contínuas: Incluem valores fracionários.
Figura 1. Curva de Gauss.
V Ex.: peso, temperatura.
W Descontínuas (Discretas): Não incluem valo-
res fracionários.
V Ex.: frequência cardíaca.

5.4.2. Variáveis qualitativas

u Não são quantidades. São características.


W Ordinais: Há ordem entre as categorias.
V Ex.: escolaridade.
W Nominais: Não há ordem entre as categorias.
V Ex.: sexo.
Fonte: UFSC.3

u Qual a aplicação da curva de Gauss e da distribui- REFERÊNCIAS


ção normal? Há um teorema, o teorema do limite
central, que afirma que quando o tamanho de uma
amostra aumenta a sua distribuição amostral se 1. Oxford Centre for Evidence-based Medicine – Levels of
Evidence disponível em http://www.cebm.net/oxford-cen-
aproxima cada vez mais de uma distribuição nor-
tre-evidence-basedmedicine-levels-evidence-march-2009
mal. Assim, temos como saber se a amostra que
2. Castro AA. Revisão Sistemática com ou sem metaná-
estamos avaliando é representativa o suficiente
lise. Curso online. [Internet]. [acesso em 13 abr. 2021].
da população geral. Disponível em: https://aprender.ead.unb.br/pluginfile.
php/116366/mod_resource/content/5/Destaques_Apos-
tila_Revisao_Sistematica.pdf.
3. UFSC. Distribuição Normal (Gaussiana). [S.d.]. [acesso
em: 13 abr. 2021]. Disponível em: https://www.inf.ufsc.
br/~andre.zibetti/probabilidade/normal.html.
4. Bedaque HP, Bezerra ELM. Descomplicando MBE: uma
abordagem prática da medicina Baseada em evidências.
Natal: Editora Caule de Papiro; 2018.
5. Patino CM, Ferreira JC. Internal and external validity: can
you apply research study results to your patients? J bras
pneumol. 2018; 44(3): 183.
6. Guia Prático de Medicina Baseada em Evidências [recurso
eletrônico]/ organização Regina El Dib. – 1. ed. – São Paulo:
Cultura Acadêmica, 2014. recurso digital: il.

50
Capítulo
TESTES DIAGNÓSTICOS
3

IMPORTÂNCIA/PREVALÊNCIA

O QUE VOCÊ PRECISA SABER?

u Sensibilidade é a capacidade de detectar os verdadeiro-positivos.


u Especificidade é a capacidade de detectar os verdadeiro-negativos.
u Sensibilidade e especificidade são características inerentes aos testes, não variando conforme a preva-
lência da doença.
u Os valores preditivos variam conforme a prevalência da doença.
u Em uma curva ROC, a área abaixo da curva corresponde à acurácia do teste diagnóstico.

1. INTRODUÇÃO u Todo paciente pode se encaixar em 2 situações:


doente ou não doente.
u Assim, um paciente doente pode ter o teste po-
u O conceito de Testes Diagnósticos não se limita
sitivo (verdadeiro-positivo) ou negativo (falso-
a exames complementares. Achados no exame
-negativo). Um paciente não doente pode ter o
físico e sintomas descritos na anamnese, por
teste positivo (falso-positivo) ou negativo (ver-
exemplo, também são testes diagnósticos.
dadeiro-negativo).
u Todo teste diagnóstico pode ter 2 resultados:
positivo e negativo.

Tabela 1. Interpretações possíveis para o resultado de um teste diagnóstico.

Doença
Teste Total
Presente Ausente

Positivo Verdadeiro-Positivo (a) Falso-Positivo (b) Total de positivos

Negativo Falso-Negativo (c) Verdadeiro-Negativo (d) Total de negativos

Total Total de Doentes Total de Não Doentes Total de Pacientes


Fonte: O autor.

u Você precisa entender que, na vida real, não sa- pacientes, 40 serão doentes. É importante que
bemos quem é doente e quem não é. Na prova, você adquira a capacidade de entender, a partir
esses valores terão que ser “pescados” do enun- do enunciado, quantos pacientes são verdadeiro-
ciado. Por vezes, a questão só diz que a preva- -positivos, verdadeiro-negativos, falso-positivos
lência da doença na população é de 40%. Com e falso-negativos. Esses valores raramente serão
isso, você já é capaz de concluir que a cada 100 todos entregues pela questão. Será preciso ir

59
Testes diagnósticos Estatística

preenchendo as lacunas a partir do conhecimento nenhum doente, a sensibilidade continuará sen-


sobre conceitos de sensibilidade, especificidade do de 80%. Ou seja, a variação na prevalência da
e valores preditivos. doença não afeta os valores de sensibilidade e
especificidade, visto que esses são inerentes ao
teste diagnóstico.
2. SENSIBILIDADE E
ESPECIFICIDADE 2.1. SENSIBILIDADE

u Sensibilidade e especificidade são característi-


u Definição: capacidade de detectar os verdadei-
cas do teste. Se aplicarmos um teste com 80% ro-positivos entre os doentes.
de sensibilidade a uma população em que to- u Em outras palavras, sensibilidade é a proporção
dos são doentes, a sensibilidade será de 80%. de acertos entre os doentes. Ou seja, sensibili-
Se aplicarmos a uma população em que não há dade significa a probabilidade de um indivíduo
doente ter o teste positivo. Vamos olhar a tabela?

Tabela 2. Sensibilidade.

Interpretações possíveis para o resultado de um teste diagnóstico

Doença
Teste Total
Presente Ausente

Positivo Verdadeiro-Positivo (a) Falso-Positivo (b) Total de positivos

Negativo Falso-Negativo (c) Verdadeiro-Negativo (d) Total de negativos

Total Total de Doentes Total de Não Doentes Total de Pacientes

Fonte: O autor.

DICA
u Quando falamos em sensibilidade, olhamos ape-  Sempre que falamos de sensibilidade, esta-
nas para os pacientes doentes. Quando o teste mos avaliando apenas a população doente.
acerta nesse grupo, temos os verdadeiro-positivos.
Quando o teste erra, temos os falso-negativos.
2.2. ESPECIFICIDADE
u Um teste muito sensível vai ter uma proporção
alta de verdadeiro-positivos e baixa de falso-ne-
gativos. Só isso. Os outros valores (falso-posi- u Definição: capacidade de detectar os verdadei-
tivo e verdadeiro-negativo) não fazem parte da ro-negativos entre os não doentes.
análise dos doentes. W Em outras palavras, especificidade é a propor-
u Exemplo: Um teste com 90% de sensibilidade ção de acertos entre os não doentes. Ou seja,
aplicado em 100 pacientes doentes vai resultar especificidade significa a probabilidade de um
em 90 verdadeiro-positivos e 10 falso-negativos. indivíduo não doente ter o teste negativo. Va-
mos olhar a tabela?

60
Testes diagnósticos Cap. 3

Tabela 3. Especificidade.

Interpretações possíveis para o resultado de um teste diagnóstico

Doença
Teste Total
Presente Ausente

Positivo Verdadeiro-Positivo (a) Falso-Positivo (b) Total de positivos

Negativo Falso-Negativo (c) Verdadeiro-Negativo (d) Total de negativos

Total Total de Doentes Total de Não Doentes Total de Pacientes

Fonte: O autor.

u Quando falamos em especificidade, olhamos vos, já que indiretamente conclui-se que o teste
apenas para os pacientes não doentes. Quan- é pouco específico.
do o teste acerta nesse grupo, temos os verda- u Essa noção não está completamente correta.
deiro-negativos. Quando o teste erra, temos os O doppler, por exemplo, tem sensibilidade de vir-
falso-positivos. tualmente 100% e especificidade de 98% para o
u Um teste muito específico vai ter uma proporção diagnóstico de TVP proximal. Essa alta sensibi-
alta de verdadeiro-negativos e baixa de falso-po- lidade resultará em muitos falso-positivos? Não.
sitivos. Só isso. Os outros valores (verdadeiro- A especificidade de 98% garante que apenas 2%
-positivo e falso-negativo) não fazem parte da dos pacientes não doentes tenham resultados
análise dos não doentes. falso-positivos. Como visto nas tabelas acima,
u Exemplo: Um teste com 90% de especificidade a sensibilidade só interfere nas proporções de
aplicado em 100 pacientes não doentes vai resultar verdadeiro-positivos e falso-negativos, enquan-
em 90 verdadeiro-negativos e 10 falso-positivos. to a especificidade só interfere nas proporções
de verdadeiro-negativos e falso-positivos. Tes-
tes diagnósticos podem ser ruins, com valores
DICA
 Sempre que falamos de especificidade, es- baixos tanto de sensibilidade quanto de espe-
tamos avaliando apenas a população não doente. cificidade, ou muito bons, com sensibilidade e
especificidade elevadas.

2.3. SENSIBILIDADE X ESPECIFICIDADE


DICA
 Como nos livramos dessa armadilha? Se
u Para a prova, é muito comum pensarmos que a questão está lhe perguntando o que acontece
a partir de um teste com alta sensibilidade, por
quando elevamos a sensibilidade de um teste
exemplo, primeiro avalie as alternativas que falam
diagnóstico, reduzimos sua especificidade, e vi-
sobre verdadeiro-positivos e falso-negativos, que
ce-versa. Como falamos, um teste muito sensível
são valores diretamente influenciados pela sensibi-
vai ter uma proporção alta de verdadeiro-positi-
lidade. Se nenhuma alternativa correta sobre essas
vos e baixa de falso-negativos. Nada além disso.
características estiver presente, é possível que a
Acontece que, como a elevação da sensibilidade questão esteja considerando que um teste muito
leva a uma redução da especificidade, muitas sensível é, automaticamente, pouco específico, e
questões consideram que um teste muito sen- a resposta será alguma característica de um teste
sível é, automaticamente, pouco específico. Um pouco específico. Quando falamos que um teste
teste pouco específico tem uma proporção baixa muito sensível apresenta muitos falso-positivos,
de verdadeiro-negativos e alta de falso-positivos. tem prova que considera essa afirmação falsa, e
Por isso há questões que consideram que um prova que considera verdadeira. Tudo depende da
teste muito sensível gera muitos falso-positi- presença, ou não, de uma alternativa mais correta.

61
Testes diagnósticos Estatística

u Vamos apresentar algumas afirmações sobre W B+D = Não Doentes


testes sensíveis e específicos. W A+B = Positivos
u Sobre testes com alta sensibilidade W C+D = Negativos
W Apresentam alta proporção de verdadeiro- u A partir dessa tabela, podemos calcular os valo-
-positivos. res de sensibilidade e especificidade.
W Apresentam baixa proporção de falso-negativos. W Sensibilidade = A / A+C
W Geralmente são indicados para triagem/ras- W Especificidade = D / B+D
treamento de doenças. u Além disso, há outros valores que podemos
W Podem apresentar alta proporção de falso-po- avaliar, como os valores preditivos e a acurácia.
sitivos (caso haja baixa especificidade). W Valor preditivo positivo (VPP) = A / A+B
u Sobre testes com alta especificidade: W Valor preditivo negativo (VPN) = D / C+D
W Apresentam alta proporção de verdadeiro- W Acurácia = A+D / A+B+C+D
-negativos.
u Observações importantes:
W Apresentam baixa proporção de falso-positivos.
W Para calcular sensibilidade Proporção de
W Geralmente são indicados para confirmação
acertos entre os doentes.
diagnóstica.
W Para calcular especificidade Proporção de
W Podem apresentar alta proporção de falso-ne-
acertos entre os não doentes.
gativos (caso haja baixa sensibilidade).
W Para calcular VPP Proporção de acertos en-
tre os positivos.
3. TABELA DE CONTINGÊNCIA 2X2 W Para calcular VPN Proporção de acertos en-
tre os negativos.
W Para calcular Acurácia Acerto geral do teste.
u Para praticamente toda questão sobre testes
diagnósticos será necessário montar a tabela
DICA
de contingência 2x2. Veja a Tabela 4.  Não adianta só saber montar a tabela de
contingência 2x2 sem conhecer os conceitos apre-
Tabela 4. Tabela de Contingência 2x2. sentados até o momento. Mesmo assim, sugerimos
que você tente montar uma tabela sempre que se de-
Teste parar com uma questão sobre testes diagnósticos.
Doente Não Doente Total
Diagnóstico

Positivo A B A+B

Negativo C D C+D
4. VALORES PREDITIVOS
Total A+C B+D A+B+C+D
Fonte: O autor.
4.1. VALOR PREDITIVO POSITIVO (VPP)
u Relembrando:
W A = Verdadeiro-positivo u Definição: Proporção de verdadeiro-positivos
entre os positivos.
W B = Falso-positivo
W Em outras palavras, Valor Preditivo Positivo é a
W C = Falso-negativo
proporção de acertos entre todos os resultados
W D = Verdadeiro-negativo
positivos. Ou seja, VPP significa a probabilida-
W A+C = Doentes de de um teste positivo realmente pertencer
a um indivíduo doente. Vamos olhar a tabela?

62
Testes diagnósticos Cap. 3

Tabela 5. Valor preditivo positivo.

Interpretações possíveis para o resultado de um teste diagnóstico

Doença
Teste Total
Presente Ausente

Positivo Verdadeiro-Positivo (a) Falso-Positivo (b) Total de positivos

Negativo Falso-Negativo (c) Verdadeiro-Negativo (d) Total de negativos

Total Total de Doentes Total de Não Doentes Total de Pacientes


Fonte: O autor.

u Quando falamos em valor preditivo positivo, olha- 4.2. VALOR PREDITIVO NEGATIVO (VPN)
mos apenas para os nossos resultados positivos.
Quando o teste acerta nesse grupo, temos os u Definição: Proporção de verdadeiro-negativos
verdadeiro-positivos. Quando o teste erra, temos entre os negativos.
os falso-positivos. W Em outras palavras, Valor Preditivo Negativo
u Um teste com alto VPP vai ter uma proporção alta é a proporção de acertos entre todos os re-
de verdadeiro-positivos e baixa de falso-positivos. sultados negativos. Ou seja, VPN significa a
probabilidade de um teste negativo realmente
DICA pertencer a um indivíduo não doente. Vamos
 Sempre que falamos de valor preditivo po-
olhar a tabela?
sitivo, estamos avaliando apenas os resultados
positivos.

u VPP = A / A+B

Tabela 6. Valor preditivo negativo.

Interpretações possíveis para o resultado de um teste diagnóstico

Doença
Teste Total
Presente Ausente

Positivo Verdadeiro-Positivo (a) Falso-Positivo (b) Total de positivos

Negativo Falso-Negativo (c) Verdadeiro-Negativo (d) Total de negativos

Total Total de Doentes Total de Não Doentes Total de Pacientes


Fonte: O autor.

DICA
u Quando falamos em valor preditivo negativo,  Sempre que falamos de valor preditivo ne-
olhamos apenas para os nossos resultados gativo, estamos avaliando apenas os resultados
negativos. Quando o teste acerta nesse grupo, negativos.
temos os verdadeiro-negativos. Quando o teste
erra, temos os falso-negativos. u VPN = D / C+D
u Um teste com alto VPN vai ter uma proporção
alta de verdadeiro-negativos e baixa de falso-
-negativos.

63
Testes diagnósticos Estatística

4.3. SOBRE OS VALORES PREDITIVOS u Sensibilidade: eixo vertical.


u Especificidade: eixo horizontal.
u Os valores preditivos variam conforme a pre- u Acurácia: área sob a curva.
valência.
u Quanto maior a prevalência da doença, maior seu DICA
 Na curva ROC, fica evidente que o aumento da
VPP e menor seu VPN.
sensibilidade vem com redução da especificidade,
u Quanto menor a prevalência da doença, maior e vice-versa. A melhor relação entre essas duas
seu VPN e menor seu VPP. características se encontra no ponto mais próximo
u O aumento da especificidade geralmente leva a ao canto superior esquerdo do gráfico.
um acréscimo mais acentuado do VPP.
u O aumento da sensibilidade geralmente leva a Gráfico 1. Curva ROC.
um acréscimo mais acentuado do VPN.

DICA
 Monte uma tabela 2x2 em um papel ofício e
invente os valores de Sensibilidade, Especificida-
de e Prevalência com que vai preencher a tabela.
Depois da tabela preenchida, altere a sensibilidade
e veja o que acontece com os valores preditivos.
Faça o mesmo com a especificidade. Por fim, au-
mente e reduza a prevalência. Esse exercício é
importante para que você visualize os conceitos
que apresentamos.

5. ACURÁCIA E CURVA ROC


Fonte: Moraes.1

5.1. ACURÁCIA u Sobre a Curva ROC:


u No eixo vertical, quanto mais alto, maior a sen-
u Definição: Proporção de acertos do teste diag-
sibilidade.
nóstico.
u No eixo horizontal, quanto mais à esquerda, maior
u Acurácia = A+D / A+B+C+D.
a especificidade.
u Melhor relação entre Sensibilidade e Especifici-
u Com a Curva ROC estabelecemos o ponto que
dade Maior acurácia.
nos trará melhor relação sensibilidade × especi-
u Maior VPP Maior acurácia. ficidade do teste e, consequentemente, melhor
u Maior VPN Maior acurácia. acurácia.
u Esse ponto deverá ser o ponto de corte do teste
5.2. CURVA ROC diagnóstico (Glicemia de 126, por exemplo).

u Definição: Representação gráfica da sensibi- DICA


 Quando aumentamos o ponto de corte, per-
lidade, especificidade e acurácia de um teste demos sensibilidade. Quando reduzimos, perde-
diagnóstico. mos especificidade. A Curva ROC demonstra isso
graficamente.

64
HISTÓRIA NATURAL DAS DOENÇAS Capítulo

E OS NÍVEIS DE PREVENÇÃO 4

IMPORTÂNCIA/PREVALÊNCIA

O QUE VOCÊ PRECISA SABER?

u No período pré-patogênico ainda não há doença.


u A prevenção primária ocorre no período pré-patogênico.
u Diagnóstico precoce é exemplo de prevenção secundária.
u Reabilitação do paciente é exemplo de prevenção terciária.
u A prevenção quaternária visa reduzir prejuízos causados pela atuação médica.

1. PERÍODOS PRÉ-PATOGÊNICO to. A exposição a fatores de risco, a predisposição


E PATOGÊNICO genética, os determinantes sociais: tudo isso pode
estar protegendo ou expondo o indivíduo. Apro-
veitando o exemplo da pneumonia, há um período
u A história natural da doença refere-se à evolução em que o agente etiológico infecta a pessoa sem
de uma doença no indivíduo através do tempo, que essa manifeste sintomas. Após algum tempo,
na ausência de intervenção. Ou seja, como se espera-se que os sintomas surjam. Depois disso,
comporta uma determinada doença, uma pneu- a pessoa pode adquirir imunidade e se curar, pode
monia, por exemplo, se nós não fizermos nada ficar com algum tipo de comprometimento por
a respeito e simplesmente observarmos? Qual um longo período (até pelo resto da vida) ou pode
seria o curso natural do adoecimento? falecer. Essas são as possibilidades expostas no
u Temos que entender que, antes mesmo de a pessoa modelo que apresentaremos a seguir:
adoecer, já há fatores interferindo no adoecimen-

Figura 1. Período Pré-Patogênico e Patogênico.

Indivíduo suscetível Fase pré-clínica Fase clínica

Período pré-patogênico Período patogênico

Fonte: O autor.
73
História natural das doenças e os níveis de prevenção Epidemiologia

DICA
1.2. PERÍODO PATOGÊNICO
 Todo o modelo que apresentaremos de perío-
dos pré-patogênico e patogênico e de prevenções
primária, secundária e terciária foi proposto por
u No período patogênico a doença já existe. Po-
Leavell e Clark. Quando as questões trouxerem os demos dividir esse período em 2 grandes fases:
nomes desses dois pesquisadores não se assuste, W 1. Adoecimento:
é exatamente o modelo que você está prestes a V Doença subclínica: já há doença, mas sinais
conhecer. e sintomas ainda não são perceptíveis. Por
exemplo: o agente etiológico já infectou o
paciente, mas ainda não produziu sintomas.
1.1. PERÍODO PRÉ-PATOGÊNICO
V Doença manifesta: há sintomatologia.
W 2. Desfecho:
u Ainda não há doença. Há, entretanto, determinan-
tes que potencializam o surgimento da doença. V Recuperação: o paciente se recupera dos
Fatores de risco, de diversas naturezas, que tor- sintomas e da doença sem sequelas.
nam o indivíduo mais suscetível ao adoecimento, V Imunidade: no que diz respeito às doenças
e de proteção, que o tornam menos suscetível. infecciosas, o paciente pode adquirir imu-
W Fatores relativos ao agente. nidade ao agente etiológico.
W Fatores relativos ao hospedeiro. V Incapacidade: a doença não leva o pacien-
te a óbito, mas deixa algum tipo de sequela
W Fatores relativos ao meio.
importante.
u O agente mórbido existe e está em interação
V Morte: paciente não se recupera e evolui
com o meio ambiente e com o indivíduo. O meio
a óbito.
permite ao indivíduo que ele adoeça. O indivíduo
apresenta fatores próprios que permitem seu W Podemos considerar a doença subclínica como
adoecimento. Há um contrabalanço com fato- um período pré-clínico, a doença manifesta
res de proteção. A chance de a doença ocorrer como um período clínico (patologia precoce
é definida pela existência de fatores de risco e ou doença avançada) e as outras como pos-
proteção em processo dinâmico. A observância sibilidades de desfecho.
desses fatores de risco e de proteção configura
o período pré-patogênico. Para prevenir o sur- DICA
 Podemos associar esses marcos do período
gimento da doença, deve-se atuar promovendo patogênico a níveis de prevenção. Quando atuamos
saúde, através de hábitos de vida mais saudáveis, na doença subclínica, buscando o diagnóstico pre-
por exemplo, e realizando algum tipo de proteção coce antes que a doença se manifeste em estágios
específica, como vacinação. avançados, estamos falando de prevenção secun-
dária. Quando atuamos no desfecho, buscando,
DICA principalmente, a prevenção de incapacidade ou a
 Ações de prevenção no período pré-patogêni-
reabilitação do paciente, estamos exercendo ações
co são consideradas ações de prevenção primária.
de prevenção terciária.
Promoção de saúde e proteção específica são as
principais formas de prevenção possíveis nesse
período.

74
História natural das doenças e os níveis de prevenção Cap. 4

Figura 2. Esquema com o modelo teórico de História Natural da Doença e Níveis de Prevenção.

Fonte: Adaptado de Demarzo.1

2. NÍVEIS DE PREVENÇÃO W Proteção específica Combate a problema es-


pecífico: Vacinação, uso de EPI, flúor na água.

2.1. PREVENÇÃO PRIMÁRIA DICA


 O exemplo mais comum de prevenção pri-
mária na prova é a vacinação.
u A doença ainda não existe!
u Objetivo: evitar que a doença apareça.
u Atua no fator de risco. 2.2. PREVENÇÃO SECUNDÁRIA
u Exemplos: Hábitos de vida mais saudáveis, me-
didas educativas, uso de EPI (capacete, cinto de u Doença já existe, mas ainda não avançou.
segurança, equipamentos em ambiente hospita- u Objetivo: impedir evolução desfavorável.
lar), colocar flúor na água, vacinação, ácido fólico u Atua no diagnóstico precoce ou limitação de
para gestantes, saneamento básico. incapacidade (tratamento imediato visando à
u Podemos dividir a prevenção primária em dois evolução favorável).
tipos: u Exemplos: Qualquer diagnóstico precoce, princi-
W Promoção de Saúde Manter bem-estar ge- palmente rastreamentos (sangue oculto nas fezes,
ral: Hábitos de vida mais saudáveis, medidas citopatológico de colo de útero, mamografia, do-
educativas, campanhas contra o uso de álcool sagem de colesterol), aferição de pressão arterial,
e tabaco. aplicação de questionários visando ao diagnóstico.

75
História natural das doenças e os níveis de prevenção Epidemiologia

DICA
W Obstinação terapêutica: praticar distanásia,
 O exemplo mais comum de prevenção se-
encaminhar pacientes em cuidados paliativos
cundária na prova é o rastreamento.
para UTI, insistir em tratamentos de doenças
intratáveis.
2.3. PREVENÇÃO TERCIÁRIA
u Exemplos: cuidados paliativos, ortotanásia, revi-
sar medicamentos em uso pelo paciente, evitar
intervenções desnecessárias, evitar supermedi-
u Doença e prejuízos já estabelecidos.
calização, evitar polifarmácia, coordenação do
u Objetivo: fazer com que limitações impostas pela cuidado, abordagem centrada na pessoa.
doença prejudiquem minimamente a qualidade
de vida do paciente.
DICA
u Atua na reabilitação e/ou reintegração do paciente.  O exemplo mais comum de prevenção qua-
ternária na prova é cuidado paliativo.
u Exemplos: fisioterapia pós-AVC, betabloqueador
pós-IAM, controle glicêmico no paciente com
Diabetes mellitus, colocação de prótese após
amputação, apoio de caráter psicoemocional
após traumas, apoio de caráter social, readap- REFERÊNCIAS
tação ao trabalho.

1. Demarzo MMP. Reorganização dos sistemas de saúde:


DICA
 A grande “palavra” da prevenção terciária na promoção da saúde e atenção primária à saúde. São
sua prova é a REABILITAÇÃO. Fisioterapia após AVC Paulo: Universidade Federal de São Paulo; 2011.
ou acidente é o exemplo mais cobrado. 2. Ministério da Saúde (BR). Política Nacional de Promoção
da Saúde. 3. ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2010.
3. Puttini RF, Pereira Junior A, Oliveira LR. Modelos expli-
2.4. PREVENÇÃO QUATERNÁRIA cativos em saúde coletiva: abordagem biopsicossocial
e auto-organização. Physis Rev Saúde Coletiva. 2010;
u Prejuízos causados pela atuação médica. 20(3):753–67.
4. Cruz MM. Concepção de saúde-doença e o cuidado em
u Objetivo: reduzir iatrogenia.
saúde. Qualif dos Gestores do SUS [Internet]. 2012;21–33.
u Problemas que fizeram com que a discussão
5. Gusso G, Lopes JMC, Dias LC. Tratado de medicina de
sobre prevenção quaternária fosse necessária: família e comunidade: princípios, formação e prática. 2.
W Medicalização: considerar e abordar proble- ed. Porto Alegre: Artmed; 2019.
mas não médicos como se fossem médicos. 6. Organização Pan-Americana de Saúde. Módulo de prin-
W Condutas diagnósticas e terapêuticas desne- cípios de epidemiologia para o controle de enfermidades
(MOPECE). Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde;
cessárias: exames diagnósticos, rastreamentos,
Ministério da Saúde; 2010.
“check-ups”, medicamentos e até orientações
podem ser desnecessários.

76
Capítulo
ENDEMIA E EPIDEMIA
5

IMPORTÂNCIA/PREVALÊNCIA

O QUE VOCÊ PRECISA SABER?

u A transmissão direta de agentes etiológicos dispensa a necessidade de veículos, enquanto a transmissão


indireta ocorre mediante veículos ou vetores.
u Endemia é a presença regular e constante de uma doença em determinado território.
u Epidemia é a elevação progressivamente crescente, inesperada e descontrolada dos coeficientes de
incidência de determinado agravo.
u Surto epidêmico é uma ocorrência epidêmica em local muito restrito.

1. CONCEITOS INICIAIS 1.3. PODER INVASIVO

u É a capacidade que tem um agente de se di-


1.1. INFECTIVIDADE fundir através de tecidos, órgãos e sistemas do
hospedeiro.
u É a capacidade de o agente etiológico alojar-se
e multiplicar-se no organismo do hospedeiro e
1.4. VIRULÊNCIA
transmitir-se deste para um novo hospedeiro.
u É a capacidade de um agente infeccioso de
DICA
 Infectividade só tem a ver com a infecção, ou causar quadros graves, especialmente no que
seja, a presença do agente etiológico. Um agente diz respeito à letalidade e à proporção de casos
com alta infectividade é aquele que tem grande com sequelas.
capacidade de infectar, não necessariamente de
causar doença.
DICA
 É a virulência que está associada à gravidade
da doença causada pelo agente infeccioso.
1.2. PATOGENICIDADE

1.5. IMUNOGENICIDADE OU
u É a capacidade de um agente biológico causar
PODER IMUNOGÊNICO
doença em um hospedeiro suscetível.

u É a capacidade do agente biológico de estimular


DICA
 Agora estamos falando em doença. Pato- a resposta imune no hospedeiro. Conforme as
genicidade tem a ver com a capacidade de gerar características desse agente, a imunidade obti-
sinais e sintomas. da pode ser de curta ou longa duração e de grau
elevado ou baixo.

85
Endemia e epidemia Epidemiologia

1.6. IMUNIDADE 1.9. PERÍODO DE LATÊNCIA

u É a resistência usualmente associada à presen- u Intervalo de tempo que transcorre desde que
ça de anticorpos (imunidade humoral), que têm se produz a infecção até que a pessoa se torne
o efeito de inibir microrganismos específicos ou infecciosa.
suas toxinas responsáveis por doenças infeccio-
sas particulares. 1.10. PERÍODO DE INCUBAÇÃO

1.7. RESISTÊNCIA u Intervalo de tempo que transcorre entre a expo-


sição a um agente infeccioso e o surgimento do
u É o conjunto de mecanismos específicos e ines- primeiro sinal ou sintoma da doença.
pecíficos do organismo que servem de defesa
contra a invasão ou multiplicação de agentes 1.11. PERÍODO DE TRANSMISSIBILIDADE
infecciosos, ou contra os efeitos nocivos de seus
produtos tóxicos.
u Intervalo de tempo durante o qual o agente in-
feccioso pode ser transferido direta ou indireta-
1.8. SUSCETIBILIDADE mente de uma pessoa infectada a outra pessoa,
de um animal infectado ao ser humano ou de
u Situação de uma pessoa ou animal que se ca- um ser humano infectado a um animal, inclusi-
racteriza pela ausência de resistência suficiente ve artrópodes.
contra um determinado agente patogênico que
a proteja da enfermidade, na eventualidade de 1.12. PERÍODO PRODRÔMICO
entrar em contato com esse agente.
u Intervalo de tempo entre surgimento de sinais e
DICA sintomas inespecíficos até o início de um quadro
 Suscetibilidade e Resistência têm a ver com o
hospedeiro (no caso, o ser humano), diferentemente clínico mais específico, com o qual o diagnóstico
das outras características descritas, que dizem clínico possa ser estabelecido.
respeito ao agente etiológico. u A imagem a seguir apresenta uma associação
entre alguns dos conceitos apresentados e a
História Natural da Doença. Esse modelo exato
não se aplica a todas as doenças, mas permite
a visualização do comportamento de algumas
das características discutidas.

86
Endemia e epidemia Cap. 5

Figura 1. História Natural da Doença.

Fonte: Bortman.1

2. CLASSIFICAÇÃO DOS CASOS 2.4. CASO CONFIRMADO

u Há confirmação da presença do agente etiológico.


2.1. CASO AUTÓCTONE

u Caso é oriundo da própria localidade. 3. MODOS DE TRANSMISSÃO

2.2. CASO ALÓCTONE


3.1. TRANSMISSÃO DIRETA
u Caso é “importado”.
u Definição: transferência direta do agente etioló-
gico de uma pessoa para a outra, sem necessi-
DICA
 Com relação à covid-19, inicialmente tínha- dade ou interferência de veículos.
mos apenas casos alóctones. Pacientes adoeciam W Imediata: sem contato com o meio ambiente.
porque tiveram contato com o vírus fora do Brasil
e apresentaram o quadro clínico posteriormente. V Ex.: Infecções sexualmente transmissíveis,
Depois, passamos a ter pacientes se infectando doenças transmitidas pelo toque.
em território nacional, ou casos autóctones. W Mediata: há contato prévio com o meio am-
biente.
V Ex.: Dispersão de gotículas ou aerossóis
2.3. CASO SUSPEITO (tossir, falar, espirrar).

u Obviamente, um caso é suspeito quando não há


3.2. TRANSMISSÃO INDIRETA
confirmação, laboratorial por exemplo, da doen-
ça, mas há sintomatologia e/ou características
epidemiológicas sugestivas.
u Definição: mediante veículos ou vetores.
W Ex.: transmissão por vetores animais, fômites.

87
Endemia e epidemia Epidemiologia

DICA
u Eliminação: redução da incidência a zero em de-
 A principal via de transmissão da covid-19
terminada localidade, geralmente país ou conti-
é respiratória, o que caracteriza uma transmissão
nente. A doença continua existindo em outro lo-
direta mediata.
cal. Por isso, medidas de controle são mantidas.
u Erradicação: redução da incidência a zero em
todos os continentes. A manutenção dessa inci-
4. VETORES dência zero independe, portanto, da continuidade
da aplicação das medidas de prevenção.

u Definição: inseto ou qualquer portador vivo que


transporta um agente infeccioso. O agente pode 6. ENDEMIA, EPIDEMIA
ou não se desenvolver, propagar ou multiplicar E PANDEMIA
dentro do vetor. Os vetores podem ser classifi-
cados como mecânicos ou biológicos.
W Mecânicos: simples traslado do agente infec- 6.1. ENDEMIA
cioso por um inseto, por contaminação de suas
patas ou pela passagem por seu trato intesti- u Definição: Presença regular e constante de uma
nal, por exemplo, sem haver multiplicação ou doença em determinado território.
desenvolvimento cíclico do microrganismo.
W Biológicos: o agente deve propagar-se e/ou desen- DICA
 Se a incidência da doença naquele ano está
volver-se ciclicamente no vetor antes que possa
seguindo seu padrão habitual, então há um com-
transmitir a forma infectante ao ser humano. portamento endêmico.

5. CONTROLE DAS DOENÇAS 6.1.1. O nível endêmico

u Podemos explicar o que é uma endemia de forma


u Controle: reduzir ou regular a incidência/preva- gráfica. Observe o gráfico a seguir:
lência de uma doença.

Gráfico 1. Comportamento Endêmico.

Fonte: Adaptado de Bortman.1

88
Endemia e epidemia Cap. 5

u A faixa vermelha mais clara (segunda de baixo para na zona de alerta. Ou seja, se a doença, naquele
cima) mostra a variação normal de uma doença ano, cursar com um comportamento dentro da
ao longo das semanas do ano. Essa zona está faixa de variação esperada, ela está apresentan-
descrita como zona de segurança. Claramente, do um comportamento endêmico.
há menos casos da doença entre as semanas u Por outro lado, para termos comportamento epi-
19 e 49. A doença apresenta sazonalidade, mas dêmico, a doença precisa apresentar um número
essa sazonalidade já é esperada, visto que re- de casos maior do que 1,96 desvios-padrão do
flete seu comportamento habitual. Se a doença seu comportamento endêmico (geralmente ar-
apresentar valores abaixo do esperado, ela entra redondamos para 2 desvios-padrão), como de-
na zona de controle. Se apresentar acima, entra monstrado na figura a seguir:

Figura 2. Diagrama de Controle.

Fonte: Waldman.2

u Os gráficos utilizados para definir o nível endê- comportamento endêmico, temos uma epide-
mico e o limiar epidêmico são chamados de Dia- mia. Esse valor é chamado de limiar epidêmico.
gramas de Controle. u Como calculamos o nível endêmico esperado
para a doença naquele ano? Simplesmente faze-
6.2. EPIDEMIA mos uma média da incidência daquela doença
nos últimos 10 anos (podemos dividir por sema-
u Definição: Elevação progressivamente crescente, na epidemiológica, mês, trimestre etc.). Excluí-
inesperada e descontrolada dos coeficientes de mos dessa conta, entretanto, os anos em que a
incidência de determinado agravo. doença apresentou comportamento epidêmico.
Após essa média, consideramos como compor-
u Como visto, existe uma forma gráfica e mate-
tamento endêmico se o número de casos estiver
mática de entender o que é uma epidemia. Se o
dentro da faixa de 1,96 desvios-padrão para cima
número de casos da doença cruzar aquele valor
ou para baixo, e comportamento epidêmico se
limítrofe de 1,96 desvios-padrão acima do seu
tiver cruzado o limiar epidêmico.

89
Endemia e epidemia Epidemiologia

6.2.1. Características de uma epidemia u Egressão: todo o intervalo que envolve a elevação
(progressão), a incidência máxima e a redução
u Progressão: período que corresponde à fase ini- de casos (regressão). Ou seja, a egressão se ca-
cial do processo de elevação do número de casos racteriza a partir do momento em que o número
até a incidência máxima. de casos cruzou o limiar epidêmico até o retorno
u Regressão: última fase na evolução de uma epi- ao comportamento endêmico.
demia, representando redução do número de u Esses conceitos podem ser visualizados na Cur-
casos após a incidência máxima. va Epidêmica, demonstrada a seguir:
u Incidência máxima: o famoso “pico” da epidemia.
Corresponde ao momento com maior número de
casos novos da doença por intervalo de tempo.

Figura 3. Curva Epidêmica.

Fonte: Gonçalves.3

6.2.2. Tipos de epidemia u Epidemia de fonte comum: fator extrínseco vei-


culado por alimento ou água contaminados, por
u Epidemia explosiva: apresenta uma progressão exemplo, conferindo um crescimento abrupto.
muito acelerada, refletindo alta velocidade de
propagação. 6.2.3. Surto epidêmico
u Epidemia lenta: muito tempo é decorrido para
que se alcance a incidência máxima, refletindo u Definição: “epidemia de proporções reduzidas”.
baixa velocidade de propagação. Podemos caracterizar como uma ocorrência
epidêmica em local muito restrito, como escola,
u Epidemia progressiva ou propagada: transmissão
rua ou bairro.
pessoa a pessoa, ou seja, transmissão direta, o
que confere uma transmissão sustentada e com
crescimento mais linear.

90
Endemia e epidemia Cap. 5

6.3. PANDEMIA

u Definição: Epidemia de grandes proporções,


que se espalha a vários países, em mais de dois
continentes.

DICA
 Epidemia não significa mais casos do que
endemia. Podemos ter a dengue com milhares de
casos apresentando comportamento endêmico
e a raiva humana com centenas apresentando
comportamento epidêmico. Lembre-se sempre
dos conceitos. Em nenhum momento falamos em
quantidade absoluta de casos sendo determinante.

REFERÊNCIAS

1. Bortman M. Módulo de Princípios de Epidemiologia para


o Controle de Enfermidades (MOPECE). 1999.
2. Waldman EA, Saro APS. Departamento de Epidemiologia
[Internet]; 2020. [acesso em 6 set. 2020]. Disponível em:
www.edisciplinas.usp.br.
3. Gonçalves MW. Processo Endêmico e Epidêmico. Pontifí-
cia Universidade Católica de Goiás. Slides de PowerPoint.
[Internet]; 2020. [acesso em 5 set. 2020]. Disponível em:
http://professor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin/
arquivosUpload/18497/material/Aula%2008.%20Epide-
mia%20e%20Endemia.pdf.
4. Organização Pan-Americana da Saúde Módulos de Prin-
cípios de Epidemiologia para o Controle de Enfermidades.
Módulo 2: Saúde e doença na população / Organização
Pan-Americana da Saúde. Brasília: Organização Pan-A-
mericana da Saúde; Ministério da Saúde, 2010.
5. Ministério da Saúde (BR). Guia de Vigilância em Saúde:
volume único [recurso eletrônico]. 3. ed. Brasília: Ministério
da Saúde; 2019.
6. Rouquayrol MZ, Silva MGC. Rouquayrol epidemiologia &
saúde. 7. ed. Rio de Janeiro: MedBook; 2013.

91
HISTÓRIA DO SUS E LEIS Capítulo

ORGÂNICAS DA SAÚDE 6

IMPORTÂNCIA/PREVALÊNCIA

O QUE VOCÊ PRECISA SABER?

u A saúde no Brasil, antes do SUS, era centralizada, privatista, curativista, hospitalocêntrica e excludente.
u A Reforma Sanitária e a VIII Conferência Nacional de Saúde de 1986 nortearam os princípios que incor-
porariam o SUS.
u Os princípios doutrinários do SUS são Universalidade, Integralidade e Equidade.
u A Lei n. 8080 dispõe sobre o funcionamento do SUS e as competências das diferentes esferas (federal,
estaduais e municipais).
u A Lei n. 8142 dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do SUS e a transferência de recursos.

1. A HISTÓRIA DA SAÚDE PÚBLICA 1.2. REPÚBLICA VELHA

u Condições de saúde:
u As provas cobram pouco, de forma direta, pontos
do apanhado histórico que faremos neste capítulo,
W Mortes por doenças infecciosas.
mas o conhecimento sobre a história da saúde V Febre amarela, Tuberculose, Varíola, Peste,
no Brasil ajuda no entendimento da legislação Cólera, Malária.
do SUS, seus princípios, seu funcionamento etc. W Pouco saneamento básico.
Esses pontos, por sua vez, são cobrados com W Aglomerações urbanas.
certa frequência nas provas.
W Crescimento da indústria.
u A indústria ganhava força e começamos a ter
1.1. DESCOBRIMENTO AO IMPÉRIO
aglomerações em centros urbanos. As demandas
da população, portanto, passaram a ser outras.
u Como eram as condições de saúde da época? Surgiram as primeiras greves e reivindicações
W Falta de saneamento básico. acerca de legislações trabalhistas e previden-
W Mortes por doenças infecciosas. ciárias. Assim surgiram as Caixas de Aposen-
tadorias e Pensões.
u Como era a assistência à saúde?
W Curandeirismo. 1.2.1. Caixas de Aposentadorias
W Medicina liberal. e Pensões (CAPS)
W Medicamentos importados.
u O trabalhador recebia seu salário, separava uma
parte e “depositava” nessas caixas. Esse valor
DICA
 O que é medicina liberal? seria utilizado para cuidados médicos, funerários
Quem tem dinheiro paga um atendimento médico. e para pagamento de aposentadorias dos traba-
lhadores contribuintes daquela empresa. Ou seja,

99
História do SUS e leis orgânicas da saúde Saúde coletiva

a assistência ainda era liberal e excludente, visto 1.4.1. Instituto Nacional de Previdência Social
que só alguns tinham acesso às caixas. Pode-
mos dizer que as CAPS representam o início da u Criado a partir da reforma previdenciária. Apenas
Previdência Social no Brasil. os trabalhadores formais contemplados pelos
antigos IAPS tinham acesso à assistência forne-
W Implementadas pela Lei Eloy Chaves.
cida pelo INPS. Outros trabalhadores precisariam
W Custeavam serviços funerários, urgências e contribuir por fora com um valor superior àquele
medicamentos. cobrado comumente.
W Forneciam assistência para acidentes de tra- u Sobre o INPS:
balho.
W Ainda excludente.
u Além das CAPS e da medicina liberal, as Santas
W Rede de assistência insuficiente.
Casas forneciam alguma assistência aos mais
necessitados, porém em uma abrangência muito W Financiava o setor privado.
menor do que o SUS oferece hoje. W Fornecia verba pública para expansão do se-
u E o Estado? Basicamente se preocupava com tor privado.
algumas medidas de saneamento e vacinação. W Comprava serviços do mesmo setor privado.
W Recursos eram usados para outros fins, como
1.3. ERA VARGAS a ponte Rio-Niterói.
W Descobertas fraudes no uso do dinheiro.
u Marcada por maior centralização política. As u O dinheiro estava sendo mal investido, o que fez
CAPS viraram os Institutos de Aposentadorias com o que INPS ficasse sem verba. Surgiu en-
e Pensões (IAPS). tão o Instituto Nacional da Assistência Médica
e Previdência Social (INAMPS).
1.3.1. Institutos de Aposentadorias
e Pensões (IAPS) 1.4.2. Instituto Nacional da Assistência
Médica e Previdência Social (INAMPS)
u Agora tínhamos grandes caixas de categorias in-
teiras de trabalhadores. Tornaram-se autarquias u Pouca coisa mudou. “Pacotes” de serviços eram
federais controladas pelo Estado, mas se tratava, contratados do setor privado, que continuava
ainda, do mesmo tipo de assistência. sendo financiado pelo poder público. Fraudes
u CAPS se “aglomeraram” em IAPS. continuaram e o modelo não se sustentou.
u Representavam categorias de trabalhadores (ban- u Por fim, como era o modelo assistencial nesse
cários e comerciários, por exemplo). momento?
u Autarquias federais. W Excludente.
u E a Saúde Pública? W Privatista.
W Combate a doenças transmissíveis. W Hospitalocêntrico.
W Medicina excludente. W Curativista.
W Criação do Ministério da Saúde em 1953 W Centralizado.

1.4. DITADURA MILITAR 1.5. REFORMA SANITÁRIA

u Os IAPS se “unificaram”, tornando-se o Instituto u Movimento ocorrido na década de 1970 que en-
Nacional de Previdência Social (INPS). volveu, além de profissionais da área de saúde,
ampla participação popular. Inicialmente, a mu-
dança no modelo assistencial era o foco. Algumas
das principais mudanças foram as seguintes:

100
História do SUS e leis orgânicas da saúde Cap. 6

W Excludente Universal.
2. AS LEIS ORGÂNICAS DA SAÚDE
W Privatista Participação social.
W Curativista Preventiva.
W Centralizado Descentralização. 2.1. LEI N. 8080/1990

1.6. VIII CONFERÊNCIA u Podemos afirmar que o SUS foi efetivamente


NACIONAL DE SAÚDE criado a partir da Lei n. 8080, em 1990. Essa lei
inicia reforçando o que já tinha sido apresentado
u O principal marco desse movimento foi a VIII na Constituição de 1988:
Conferência Nacional de Saúde de 1986. Sobre W “A saúde é um direito fundamental do ser hu-
essa conferência: mano, devendo o Estado prover as condições
W Houve participação de usuários, não só de indispensáveis ao seu pleno exercício”.
profissionais. u Do que trata essa lei?
W Formulou-se um novo modelo de sistema de W “Dispõe sobre as condições para a promoção,
saúde. proteção e recuperação da saúde, a organiza-
W Saúde como dever do Estado e direito do ci- ção dos serviços correspondentes e dá outras
dadão. providências”.
W Financiamento setorial.
u Estabelece os seguintes deveres do Estado:
W O sistema a ser formulado deve ser nacional
W Reduzir riscos de agravos.
Sistema Nacional de Saúde. W Estabelecer condições para acesso universal,
W Discutiu-se a necessidade de reformar a legis- promoção, proteção e recuperação.
lação vigente e o próprio conceito de saúde. u Determina, também, alguns objetivos do SUS:
W Identificar fatores determinantes e condicio-
1.7. CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 nantes.
W Assistência (promoção, proteção e recupe-
u Estabeleceu a saúde como direito social. ração).
W Direito de todos e dever do Estado. u Estabelece algumas atribuições do sistema:
u Implementou um sistema de saúde nacional, W Vigilância sanitária.
único e organizado. W Vigilância epidemiológica.
u Formulou os princípios, o modelo de financia- W Saúde do trabalhador.
mento e de gestão. W Assistência terapêutica.
W Proteção do meio ambiente.
DICA
 A Constituição estabeleceu que teríamos um u Institui os Princípios do SUS.
sistema unificado e nacional de saúde. O Sistema
Único de Saúde, entretanto, só foi efetivamente 2.1.1. Princípios do SUS
fundado e operacionalizado pelas Leis Orgânicas
da Saúde em 1990 (Lei n. 8080 e Lei n. 8142). u 1. Universalidade: todos têm acesso aos serviços
em qualquer nível de assistência.
u 2. Integralidade: conjunto articulado de ações
e serviços curativos e preventivos, individuais e
coletivos. Basicamente, deve considerar todos
os aspectos que podem influenciar a saúde de
um indivíduo.

101
História do SUS e leis orgânicas da saúde Saúde coletiva

u 3. Autonomia: as pessoas têm autonomia na de- u Complementariedade do setor privado.


fesa de sua integridade física e moral. u Descentralização.
u 4. Igualdade: assistência sem preconceitos ou u Regionalização: busca da melhor disposição e
privilégios. distribuição técnica e espacial dos serviços de
u 5. Direito à informação: as pessoas têm direito saúde. Foco na epidemiologia e nas prioridades
à informação sobre sua saúde. da região.
u 6. Divulgação de informações: sociedade tem u Hierarquização: divisão da assistência em níveis de
direito de saber sobre políticas e serviços. atenção: atenção primária, secundária e terciária.
u 7. Utilização da epidemiologia para estabelecer
prioridades: são os dados da própria população 2.1.2. Da Organização, Direção e Gestão
que devem guiar as ações. u Outras atribuições da Lei n. 8080 dizem respeito
u 8. Participação da comunidade: usuários devem à organização do SUS, tais como:
participar das decisões (melhor explorado na W Determinou os responsáveis em cada esfera.
Lei n. 8142).
V União Ministério da Saúde.
u 9. Descentralização: esferas estaduais e muni-
cipais atuam ativamente.
V Estados Secretarias Estaduais de Saúde.
u 10. Integração saúde-ambiente-saneamento.
V Municípios Secretarias Municipais de
Saúde.
u 11. Conjugação de recursos: conjugação entre
esferas do poder de recursos tecnológicos, fi-
W Iniciou a discussão sobre os consórcios en-
nanceiros, humanos etc. tre municípios (municípios trocando serviços
ou utilizando de uma rede de assistência in-
u 12. Resolubilidade.
terligada).
u 13. Evitar duplicidade de meios: evitar meios di- W Iniciou discussão sobre Comissões e Conse-
ferentes para alcançar a mesma finalidade.
lhos de Saúde (haverá mais detalhamento na
u 14. Atendimento específico para mulheres e ví- Lei n. 8142).
timas de violência.
u O princípio da equidade foi discutido posterior- 2.1.3. Da Competência e Das Atribuições
mente. Por equidade, entende-se a necessidade de
2.1.3.1. Comuns (União, Estados e Municípios)
tratar os diferentes de forma diferente. O objetivo
desse princípio é a redução das desigualdades, u Controle e avaliação da qualidade da assistência.
reconhecendo as diferenças nas condições de
u Gestão de recursos.
vida e de saúde das pessoas, devendo o sistema
ser capaz de atender à diversidade. u Saúde do trabalhador.
u Como são organizados os princípios do SUS? u Proteção ao meio ambiente.

2.1.1.1. Princípios doutrinários 2.1.3.2. União

u Universalidade. u Formular políticas sobre meio ambiente, sanea-


mento, alimentação, trabalho.
u Integralidade.
u Definir e coordenar os sistemas de saúde.
u Equidade.
u Definir normas sobre meio ambiente, trabalho,
2.1.1.2. Princípios organizativos vigilância epidemiológica e sanitária, qualidade
de serviços, produtos e profissionais.
u Participação social. u Promover descentralização.
u Resolubilidade. u Elaborar planejamentos futuros.

102
História do SUS e leis orgânicas da saúde Cap. 6

u Executar vigilância em portos, aeroportos e 2.2.1. As Conferências de Saúde


fronteiras.
u Reunião a cada 4 anos.
u Pode executar ações de vigilância em circuns-
tância especiais (covid-19, por exemplo). u Representação de vários segmentos.
u 50% de usuários do sistema de saúde.
DICA u Avaliar situação de saúde.
 A União basicamente ELABORA e DEFINE.
Lembre-se, entretanto, de que a vigilância de por- u Propor e formular políticas de saúde.
tos, aeroportos e fronteiras é realizada pela União u Convocada pelo poder Executivo.
através da ANVISA. u Extraordinariamente convocada pelos Conse-
lhos de Saúde.
2.1.3.3. Estados u Temos conferências em âmbito municipal, esta-
dual e nacional.
u Descentralização para municípios.
u Apoio técnico e financeiro aos municípios. DICA
 Essa participação de 50% dos usuários é
u Coordenar ações de vigilância epidemiológica o que chamamos de representação paritária de
e sanitária, alimentação e saúde do trabalhador. usuários, ou da comunidade.

DICA
 Os estados, basicamente, AUXILIAM E COOR- 2.2.2. Os Conselhos de Saúde
DENAM.
u Representação de vários segmentos.

2.1.3.4. Municípios
u 50% de usuários do sistema de saúde.
u Reuniões mensais.
u Gerir e executar os serviços públicos de saúde. u Formulação de estratégias.
u Controlar e fiscalizar o serviço privado. u Controle da execução das políticas de saúde.
u Temos conselhos em âmbito local, municipal,
DICA
 Os municípios PARTICIPAM E EXECUTAM. estadual e nacional.

2.2.3. O Conselho Nacional de Saúde


2.2. LEI N. 8142/1990
u Representação:
u A Lei n. 8142 de 1990 “Dispõe sobre a participa- W CONASS = Conselho Nacional de Secretários
ção da comunidade na gestão do SUS e sobre as de Saúde.
transferências intergovernamentais de recursos W CONASEMS = Conselho Nacional de Secretá-
financeiros na área da saúde e dá outras provi- rios Municipais de Saúde.
dências”. W 50% de usuários.
u Ou seja, os dois principais pontos dessa lei são:
W Participação da comunidade. 2.3. FUNDO NACIONAL DE SAÚDE
W Transferência de recursos.
u Sobre participação na comunidade: u Além da participação popular, a Lei n. 8142 dis-
u Art. 1º: O SUS contará com: põe sobre algumas regulamentações dos recur-
sos destinados ao SUS. O Fundo Nacional de
W O Conselho de Saúde.
Saúde, por exemplo, foi implementado a partir
W As Conferências de Saúde. dessa lei. É nesse fundo que fica o dinheiro que
deve ser usado para:

103
História do SUS e leis orgânicas da saúde Saúde coletiva

W Despesas de custeio e capital do Ministério 3.1.2. Da participação complementar


da Saúde.
u Art. 24. Quando as suas disponibilidades forem
W Cobertura de ações e serviços de saúde a serem
insuficientes para garantir a cobertura assisten-
implementados por Municípios, Estados e DF.
cial à população de uma determinada área, o
W Repasse regular e automático. Sistema Único de Saúde (SUS) poderá recorrer
W 70% devem ser destinados aos municípios. aos serviços ofertados pela iniciativa privada.
u Critérios para repasse desse valor: W Parágrafo único. A participação complemen-
W Perfil demográfico e epidemiológico da po- tar dos serviços privados será formalizada
pulação. mediante contrato ou convênio, observadas,
W Características da rede de saúde na área. a respeito, as normas de direito público.
W Desempenho técnico, econômico e financeiro
u Art. 25. Na hipótese do artigo anterior, as entida-
no período anterior. des filantrópicas e as sem fins lucrativos terão
preferência para participar do Sistema Único de
Saúde.

3. SISTEMA DE SAÚDE
DICA
SUPLEMENTAR  Contratos e convênios com entidades com
fins lucrativos não são proibidos, mas devem ser
feitos após a realização desses com entidades
u O setor de saúde suplementar é composto por filantrópicas e sem fins lucrativos.
operadoras de planos privados de assistência à
saúde, por uma rede de prestadores de serviços
(hospitais, clínicas, laboratórios e consultórios) e 3.2. MARCOS REGULATÓRIOS
pelos beneficiários de planos de saúde.
u Lei n. 9.656/1998
DICA
 O setor de saúde suplementar não é desvin- W Na década de 1990, o setor suplementar cres-
culado do Sistema Único de Saúde, visto que atua ceu desordenadamente. Isso levou à aprova-
de forma complementar. ção da Lei n. 9.656/1998, que dispõe sobre a
regulamentação dos planos e seguros privados
de assistência à saúde.
3.1. LEI N. 8080 – EM RELAÇÃO
AOS SERVIÇOS PRIVADOS DE
u Lei n. 9.961/2000
ASSISTÊNCIA À SAÚDE W Criação da Agência Nacional de Saúde Suple-
mentar (ANS), autarquia vinculada ao Ministé-
3.1.1. Do funcionamento rio da Saúde que defende o interesse público
na assistência à saúde suplementar.
u Art. 21. A assistência à saúde é livre à iniciativa W Algumas das competências da ANS são:
privada.
V Definição e regulamentação da conceitua-
u Art. 22. Na prestação de serviços privados de ção de doenças e lesões preexistentes, para
assistência à saúde, serão observados os prin- fins de planos e seguros de saúde.
cípios éticos e as normas expedidas pelo órgão
V Definição de rol de procedimentos de co-
de direção do Sistema Único de Saúde (SUS)
bertura mínima obrigatória.
quanto às condições para seu funcionamento.

104
História do SUS e leis orgânicas da saúde Cap. 6

V Definição de regras para ressarcimento ao


SUS, dos eventos cobertos pelos produtos
comercializados que foram financiados
pelo SUS.
V Definição de faixas etárias para fins de rea-
juste, regulamentando preços em função
da idade.
V Regulamentação dos reajustes nos preços
dos planos de saúde.

REFERÊNCIAS

1. Brasil. Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe


sobre as condições para promoção, proteção e recupe-
ração da saúde, a organização e o funcionamento dos
serviços correspondentes e dá outras providências. Diário
Oficial da União. 20 set 1990a.
2. Brasil. Lei n. 8.142, de 28 de dezembro de 1990. Dispões
sobre a participação da comunidade na gestão do Sis-
tema Único de Saúde – SUS e sobre as transferências
intergovernamentais de recursos financeiros na área da
saúde e dá outras providências. Diário Oficial da União.
31 dez 1990b. Seção 1; p. 25694.
3. Chagas J, Torres R. Oitava Conferência Nacional de Saúde:
o SUS ganha forma. EPSJV/FIOCRUZ. [Internet]; 2018.
[acesso em 11 abr. 2021]. Disponível em: http://www.
epsjv.fiocruz.br/noticias/reportagem/oitava-conferen-
cia-nacional-de-saude-o-sus-ganha-forma.
4. Menicucci TMG. História da reforma sanitária brasileira e
do Sistema Único de Saúde: mudanças, continuidades e
a agenda atual. História, Ciências, Saúde – Manguinhos.
2014; 21(1): 77-92.
5. Souza RR. O Sistema Público de Saúde Brasileiro. Brasília:
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6. Santos NR. SUS 30 anos: o início, a caminhada e o rumo.
Ciênc saúde coletiva [online]. 2018; 23(6): 1729-36.
7. Cohn A. A reforma sanitária brasileira após 20 anos do
SUS: reflexões. Cad Saúde Públ. 2009; 25: 1614-9.
8. Viana A, Dal Poz MR. A reforma do sistema de saúde no
Brasil e o Programa de Saúde da Família. Physis. 2005;
15 Suppl: 225-64.
9. Rolim LB, Cruz RSBLC, Sampaio KJAJ. Participação
popular e o controle social como diretriz do SUS: uma
revisão narrativa. Saúde em debate. 2013; 37: 139-47.

105
FINANCIAMENTO E Capítulo

FUNCIONAMENTO DO SUS 7

IMPORTÂNCIA/PREVALÊNCIA

O QUE VOCÊ PRECISA SABER?

u Bloco de custeio tem como finalidade manutenção dos serviços e ações já vigentes.
u Bloco de investimentos tem como finalidade aquisição de equipamentos e realização de obras.
u A lei complementar 141 (Antes chamada Emenda Constitucional 29) estabeleceu que os gastos da União
com saúde seriam iguais aos do ano anterior acrescidos da variação do PIB.
u A NOB 91 forneceu instruções para o retorno temporário a uma gestão centralizada na esfera federal.
u A NOB 93 regulou o processo de descentralização e regulamentou as comissões intergestores.
u A NOB 96 instituiu o piso da atenção básica e os modelos de gestão municipal da atenção básica.

1. FINANCIAMENTO DO SUS 1.3. APLICAÇÃO DOS RECURSOS

u Várias emendas e leis diferentes foram criadas


1.1. CONSTITUIÇÃO DE 1988 ao longo do tempo. Vamos focar nas mais im-
portantes e naquelas que se mantêm em vigor.
u Art. 198, § 1º: “O sistema único de saúde será fi-
nanciado, nos termos do art. 195, com recursos 1.3.1. Portaria n. 3.992/2017
do orçamento da seguridade social, da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municí-
u Estabeleceu os seguintes blocos de recursos:
pios, além de outras fontes”. W Bloco de custeio.
W Bloco de investimento.
1.2. FONTES DE RECURSOS W Antes, o município recebia a verba já destinada
para determinado serviço, como saneamento,
u CPMF: Imposto sobre transações econômicas assistência na atenção básica, farmácias etc.
que era destinado à saúde. Esse imposto não Não havia, portanto, autonomia dos municípios
existe mais. para a aplicação dos recursos.
u COFINS: Contribuição sobre o faturamento das
empresas. DICA
 A divisão da alocação dos recursos em apenas
u CSLL: Contribuição sobre o lucro líquido das dois blocos conferiu aos municípios maior liberdade.
empresas.
u Seguridade Social: Contribuição para aposenta- u Para que servia cada um desses blocos?
dorias e pensões. u Bloco de custeio.
W Manutenção das ações e serviços já vigentes.

113
Financiamento e funcionamento do SUS Saúde coletiva

W Funcionamento dos órgãos e estabelecimen- W Assistência à saúde que não seja universal.
tos onde tais serviços ocorrem. W Saneamento básico.
W É vedado usar recursos desse bloco para: W Limpeza urbana.
V Servidores. W Obras de infraestrutura.
V Gratificações. W Ações de assistência social.
V Assessorias ou consultorias. W Preservação do meio ambiente.
V Obras.
u Bloco de investimentos. DICA
 No caso da Emenda Constitucional 29 e da Lei
W Aquisição de equipamentos. 141, é importante lembrar seus números. Algumas
W Obras. provas cobram diretamente “Segundo a EC 29” ou
“Segundo a Lei Complementar 141”.
W É vedado usar os recursos desse bloco para:
V Órgãos e unidades voltados para atividades
administrativas. 1.6. EMENDA CONSTITUCIONAL N. 95/2016

1.4. EMENDA CONSTITUCIONAL N. 29/2000 u Estabeleceu que o repasse da União siga a se-
guinte fórmula:
u A Emenda Constitucional n. 29 estabeleceu o W Valor investido no ano anterior + valor do IPCA
seguinte: (inflação).
W Percentuais mínimos para cada esfera de go-
verno no que diz respeito à alocação de recur- DICA
 No momento, é a EC n. 95 que está em vigor,
sos para a saúde.
não a lei complementar 141. Mesmo assim, a lei
W O valor de responsabilidade da União iria au- complementar 141 continua sendo cobrada em
mentar junto com a variação do PIB. provas.
W O valor de responsabilidade dos Estados e
Municípios iria variar conforme uma tabela
preestabelecida. 1.7. O FINANCIAMENTO NA
ATENÇÃO BÁSICA

1.5. LEI COMPLEMENTAR N. 141/2012


1.7.1. Piso da Atenção Básica Fixo (PAB fixo)

u Os percentuais estabelecidos pela Emenda 29 u Valor baseado per capita (valor fixo para cada
nunca foram efetivamente postos em prática. A Lei pessoa do município).
n. 141 veio para, finalmente, iniciar esse modelo. u Outras variáveis sociais (esse valor vai depender
u O que a lei estabelecia: de condicionantes sociais do município).
W União teria de investir em saúde o mesmo do
ano anterior + variação do PIB. 1.7.2. Piso da Atenção Básica
Variável (PAB variável)
W Estados aumentam sua proporção de gastos
com saúde por 5 anos até atingirem 12%. u Valor destinado para estratégias específicas.
W Municípios aumentam sua proporção de gas-
tos com saúde por 5 anos até 15%. 1.7.3. Piso da Atenção Básica
u Essa lei também estabeleceu que deixam de ser ampliado (PAB ampliado)
considerados despesas com a saúde os seguintes: u Procedimentos mais específicos.
W Pagamento de aposentadorias e pensões. u Não existe mais.

114
Financiamento e funcionamento do SUS Cap. 7

DICA
2.2. NORMA OPERACIONAL
 Importante lembrar que o PAB fixo depende BÁSICA N. 93 (NOB 93)
da quantidade de pessoas no município e que o PAB
variável é destinado para estratégias específicas
(combate à violência contra a mulher, saúde bucal,
u A municipalização é efetivada a partir da NOB
saúde do idoso etc.). 93, que:
W Regula o processo de descentralização.
W Regulamenta a criação da Comissão Inter-
1.7.4. Previne Brasil
gestores Tripartite.
u Em 12 de novembro de 2019, a portaria n. 2.979 V A Comissão Intergestores Tripartite é com-
do Ministério da Saúde instituiu o programa Pre- posta pelo Ministério da Saúde, CONASS
vine Brasil, que estabelece um novo modelo de (Conselho Nacional de Secretários de Saú-
financiamento de custeio da Atenção Primária à de) e CONASEMS (Conselho Nacional de
Saúde. Essas informações serão apresentadas Secretarias Municipais de Saúde).
no capítulo “Atenção Primária”. W Regulamenta a criação da Comissão Inter-
gestores Bipartite.
V As Comissões Intergestores Bipartite são
2. FUNCIONAMENTO DO SUS compostas pela Secretaria Estadual de
Saúde e Secretarias Municipais de Saúde.
u Nessa sessão iremos focar em alguns marcos
legais que fizeram com que o SUS funcionasse DICA
 As Comissões Intergestores são espaços
da forma que ele funciona hoje. Começaremos intergovernamentais, políticos e técnicos em que
pelas Normas Operacionais, que são leis criadas ocorrem o planejamento, a negociação e a im-
após as Leis Orgânicas da Saúde para ajudar a plementação de políticas de saúde pública. As
acertar e adequar o funcionamento do SUS frente decisões se dão por consenso. Visam assegurar a
às dificuldades e incertezas desse sistema que gestão compartilhada entre as esferas de governo
era recém-criado. para evitar duplicidade ou omissão na execução de
ações. A comissão tripartite é do âmbito federal,
incluindo estados e municípios. A comissão bipartite
2.1. NORMA OPERACIONAL é do âmbito estadual, incluindo municípios.
BÁSICA N. 91 (NOB 91)

u A NOB 91 fornece instruções para implantação 2.3. NORMA OPERACIONAL


do SUS: BÁSICA N. 96 (NOB 96)
W Gestão centralizada na esfera federal.
W Municípios apenas como prestadores de ser- u A NOB 96 tem como objetivo consolidar o pleno
viços. exercício da função de gestor do município. Es-
tabelece que o município pode decidir que tipo
u Houve um planejamento, a partir da NOB 91, para
de gestão pretende fazer:
que a Municipalização se efetivasse sem maio-
res dificuldades. W Gestão plena da Atenção Básica; ou
W Gestão plena do Sistema Municipal (incluindo
DICA outros níveis de atenção).
 Um ano após as Leis Orgânicas da Saúde,
os municípios ainda não estavam preparados para W Se não aderir a nenhum modelo, mantém-se
gerir a saúde de forma descentralizada. A NOB 91 como prestador de serviço.
foi um passo atrás, de volta ao modelo centralizado, u Outras atribuições dessa norma são:
para que os municípios pudessem se preparar para W Institui o Piso de Atenção Básica.
uma gestão descentralizada.

115
Financiamento e funcionamento do SUS Saúde coletiva

W Incentivo ao Programa de Saúde da Família e V Estruturação das regiões sanitárias.


de Agentes Comunitários de Saúde. V Fortalecimento das Comissões Intergesto-
res Bipartites.
2.4. NORMA OPERACIONAL
DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE 2.7. PACTO PELA VIDA (2008)
2001 (NOAS 2001)
u Em 2008, novas prioridades foram discutidas,
u Conclui descentralização com 100% dos muni- tais como:
cípios habilitados.
W Promoção da Saúde.
W Fortalecimento da Atenção Básica.
2.5. NORMA OPERACIONAL
DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE
W Saúde do Trabalhador.
2002 (NOAS 2002) W Saúde mental.
W Fortalecimento da capacidade de resposta do
u Cria estratégias para ampliação da Atenção Básica. sistema de saúde às pessoas com deficiência.
W Criação do PAB ampliado. W Atenção integral às pessoas em situação ou
risco de violência.
DICA
 O PAB ampliado já foi extinto, mas algumas
W Saúde do homem.
questões ainda querem que você saiba que sua
instituição ocorreu a partir da NOAS 2002. DICA
 De toda essa parte de funcionamento do
SUS, é importante que você tente memorizar os
principais pontos das Normas de Atenção Básica
2.6. PACTO DA SAÚDE 2006 (NOBs).

u O Pacto da Saúde de 2006 trouxe novas priori-


dades aos agentes do SUS. São elas:
W Pacto em Defesa do SUS.
REFERÊNCIAS
V Implementar projeto permanente de mobi-
lização social.
V Elaborar e divulgar a carta dos direitos dos 1. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria n. 545, de 20 de maio
usuários do SUS. de 1993. Estabelece normas e procedimento reguladores
do processo de descentralização da gestão das ações e
W Pacto pela Vida. serviços de saúde, através da Norma Operacional Básica
V Saúde do idoso. – SUS 01/93. Diário Oficial da União. 24 maio 1993. Seção
1; p. 6.961.
V Controle do câncer de colo de útero e de
2. Brasil. Ministério da Saúde. Resolução n. 258, de 7 de
mama.
janeiro de 1991. Aprova a Norma Operacional Básica/SUS
V Redução da mortalidade infantil e materna. nº 01/91. Diário Oficial da União. 10 jan. 1991.
V Fortalecimento da capacidade de respostas 3. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria n. 2.203, de 5 de
às doenças emergentes e endemias. novembro de 1996. Aprova a Norma Operacional Básica
do Sistema Único de Saúde – NOB-SUS 01/96. Diário
V Promoção da saúde e fortalecimento da
Oficial da União. 6 nov. 1996. Seção 1; p. 22932-22940.
atenção primária.
4. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria n. 95, de 26 de janeiro
W Pacto de Gestão do SUS. de 2001. Diário Oficial da União. 29 jan. 2001.
V Desburocratização dos processos norma-
tivos.

116
Financiamento e funcionamento do SUS Cap. 7

5. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria n. 373, de 27 de feve-


reiro de 2002. Aprova a Norma Operacional da Assistência
à Saúde/SUS – NOAS-SUS 01/02. Diário Oficial da União.
28 fev. 2002. Seção 1; p. 79-82.
6. Confederação Nacional de Municípios; Conselho Nacional
de Secretarias Municipais de Saúde. Mudanças no Finan-
ciamento da Saúde. In: CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE
MUNICÍPIOS. Mudanças no Financiamento da Saúde. [S.
l.], 2018. [Acesso em: 5 maio 2020]. Disponível em: https://
www.conasems.org.br/wp-content/uploads/2018/08/
Mudan%C3%A7as-no-Financiamento-da-Sa%C3%BAde.
pdf.
7. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria n. 3.992, de 28 de
dezembro de 2017. Altera a Portaria de Consolidação nº
6/GM/MS, de 28 de setembro de 2017, para dispor sobre
o financiamento e a transferência dos recursos federais
para as ações e os serviços públicos de saúde do Sistema
Único de Saúde. Diário Oficial da União. 2017.
8. Brasil. Ministério da Saúde. Resolução n. 1, de 29 de
setembro de 2011. Estabelece diretrizes gerais para a
instituição de Regiões de Saúde no âmbito do Sistema
Único de Saúde (SUS), nos termos do Decreto nº 7.508,
de 28 de junho de 2011. Diário Oficial da União. 2011.
9. Brasil. Emenda Constitucional n. 95, de 15 de dezembro
de 2016. Altera o Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias, para instituir o Novo Regime Fiscal, e dá
outras providências. Diário Oficial da União. 2016.
10. Brasil. Lei complementar n. 141, de 13 de janeiro de 2012.
Regulamenta o parágrafo 3º do art. 198 da Constituição
Federal para dispor sobre os valores mínimos a serem
aplicados anualmente pela União, Estados e Distrito
Federal e Municípios em ações e serviços públicos de
saúde; estabelece os critérios de rateio dos recursos de
transferências para a saúde e as normas de fiscalização,
avaliação e controle das despesas com saúde nas 3 (três)
esferas de governo; revoga dispositivos das Leis nº 8.080,
de 19 de setembro de 1990, e 8.689, de 27 de julho de
1993; e dá outras providências. Diário Oficial da União.
16 jan. 2012. Seção 1; p. 1.
11. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria n. 399, de 22 de
fevereiro de 2006. Divulga o Pacto pela Saúde 2006 –
Consolidação do SUS e aprova as Diretrizes Operacionais
do Referido Pacto. Diário Oficial da União. 2006.

117
PROGRAMAS E POLÍTICAS Capítulo

DE SAÚDE 8

IMPORTÂNCIA/PREVALÊNCIA

O QUE VOCÊ PRECISA SABER?

u A Política Nacional de Humanização (PNH) estimula a participação de usuários e trabalhadores da saúde


no processo decisório da gestão de programas e unidades de saúde.
u A clínica ampliada se opõe à fragmentação do conhecimento e das ações de saúde.
u A intersetorialidade, conceito importante da Política Nacional de Promoção da Saúde, se refere ao processo
de articulação de saberes, potencialidades e experiências de sujeitos, grupos e setores na construção de
intervenções compartilhadas, estabelecendo vínculos, corresponsabilidade e cogestão para objetivos
comuns.
u A Política Nacional de Saúde Mental, quando instituída em 2001, incentivava o cuidado extra-hospitalar
em detrimento da internação em hospitais psiquiátricos e tinha como prioridade a reinserção do paciente
no seu contexto social e familiar.
u Alguns dos principais objetivos do Programa Mais Médicos foram: diminuir a carência de médicos em regiões
prioritárias para o SUS, fortalecer os serviços de atenção básica e a política de educação permanente.

1. POLÍTICA NACIONAL DE u Humanização é considerada, portanto, como a


HUMANIZAÇÃO (PNH) inclusão das diferenças nos processos de ges-
tão e de cuidado.

1.1. INTRODUÇÃO
1.2. PRINCÍPIOS

u A Política Nacional de Humanização (PNH) foi 1.2.1. Transversalidade


lançada em 2003 com o objetivo de incluir os
princípios do SUS no cotidiano dos serviços de u A PNH deve se fazer presente e estar incluída em
saúde, principalmente no que diz respeito aos todas as políticas e programas do SUS.
modos de gerir e cuidar. u Transversalidade passa pelo reconhecimento de
u A PNH estimula: que todas as ações em saúde devem conversar
W Comunicação entre gestores, trabalhadores com a experiência do usuário e das diferentes
e usuários. especialidades envolvidas na assistência.
W Construção de processos coletivos de en-
1.2.2. Indissociabilidade entre
frentamento de relações de poder, trabalho e
atenção e gestão
afeto que produzam atitudes e práticas desu-
manizadoras. u A gestão interfere diretamente na atenção à saúde.
W Autonomia e corresponsabilidade dos profis- u Usuários e trabalhadores devem conhecer como
sionais de saúde em seu trabalho e dos usuá- funciona a gestão dos serviços de saúde.
rios no cuidado de si.

123
Programas e políticas de saúde Saúde coletiva

u Usuários e trabalhadores devem participar dos u A clínica ampliada se opõe à fragmentação do


processos decisórios da gestão. conhecimento e das ações de saúde.
u Necessário considerar múltiplas variáveis além
1.2.3. Protagonismo, corresponsabilidade do enfoque orgânico e qualificar o diálogo.
e autonomia dos sujeitos e coletivos
1.3.5. Valorização do trabalhador
u Usuários não são só pacientes. O usuário e sua
rede social e familiar devem se corresponsabili- u Dar visibilidade aos trabalhadores da saúde e
zar pelo cuidado, assumindo protagonismo com incluí-los na tomada de decisão.
relação à sua saúde. u Importante assegurar a participação dos traba-
u Trabalhadores não devem só cumprir ordens. lhadores nos espaços coletivos de gestão.
u Mudanças acontecem com o reconhecimento
do papel de cada um. 1.3.6. Defesa dos direitos dos usuários
u Cada pessoa é detentora de direitos e deve ter u Incentivar o conhecimento dos direitos dos usuá-
sua atuação na produção de saúde incentivada.
rios e assegurar que esses sejam cumpridos.

1.3. DIRETRIZES DICA


 Lembre-se que a Política Nacional de Humani-
zação cita, em diferentes momentos, a importância
1.3.1. Acolhimento
de os trabalhadores e usuários serem inseridos
u Primeiro passo para o acolhimento é reconhe- como participantes na gestão dos serviços de
cer que o que o outro traz é uma necessidade saúde.
de saúde singular e legítima.
u Pode-se acolher por meio de escuta qualificada 1.4. OBJETIVOS
às necessidades do usuário. O acolhimento tam-
bém é praticado a partir da garantia de acesso
u Redução de filas e de tempo de espera, com am-
oportuno, considerando as prioridades a partir da
pliação de acesso.
avaliação de vulnerabilidade, gravidade e risco.
u Atendimento acolhedor e resolutivo baseado em
1.3.2. Gestão participativa e cogestão prioridades.
u Modelo de atenção com responsabilização e
u Cogestão inclui a participação de novos sujeitos vínculo.
nos processos de análise e decisão e a amplia-
u Garantia dos direitos dos usuários.
ção das tarefas da gestão.
u Valorização do trabalho na saúde.
u Estimula um espaço coletivo de gestão, em que
interesses de usuários, trabalhadores e gestores u Gestão participativa nos serviços.
são levados em consideração.

1.3.3. Ambiência 2. POLÍTICA NACIONAL DE


PROMOÇÃO DE SAÚDE (PNPS)
u Fornecer espaços saudáveis, acolhedores, con-
fortáveis e que respeitem a privacidade.
2.1. INTRODUÇÃO
1.3.4. Clínica ampliada e compartilhada

u Abordagem do adoecimento e do sofrimento que u Promoção de saúde consiste em um conjunto de


considere singularidade do sujeito e complexida- estratégias e formas de produzir saúde.
de do processo saúde/doença.

124
Programas e políticas de saúde Cap. 8

u A Política Nacional de Promoção de Saúde foi aos seus determinantes e condicionantes – mo-
implementada em 2006 através da Portaria n. dos de viver, condições de trabalho, habitação,
687, de 30 de Março de 2006, influenciada pelo ambiente, educação, lazer, cultura, acesso a
Pacto pela Saúde firmado no mesmo ano. bens e serviços essenciais.
u A PNPS foi redefinida em 2014, pela Portaria n. u Diretrizes
2.446, de 11 de Novembro de 2014. W Estimular as ações intersetoriais, buscando
parcerias que propiciem o desenvolvimento
2.2. PORTARIA N. 687, DE 30 integral das ações de Promoção da Saúde.
DE MARÇO DE 2006 W Promover mudanças na cultura organizacio-
nal, com vistas à adoção de práticas horizon-
u Antes do texto específico acerca dos objetivos, tais de gestão e estabelecimento de redes de
diretrizes e atribuições de cada esfera do gover- cooperação intersetoriais.
no na implementação da política, há uma apre-
sentação do tema que traz pontos importantes, 2.3. PORTARIA N. 2.366, DE 11 DE
tais como: NOVEMBRO DE 2014
W Reafirmação das prioridades do Pacto em
Defesa da Vida: fortalecimento e qualificação u Essa portaria redefiniu a Política Nacional de Pro-
estratégica da Saúde da Família; A Promoção, moção da Saúde. Traremos alguns dos artigos
Informação e Educação em Saúde com ênfase mais importantes dessa portaria para as provas.
na Promoção de atividade física, na Promoção u Art. 4º A PNPS adota como princípios:
de hábitos saudáveis de alimentação e vida,
controle do tabagismo; controle do uso abu-
W Equidade.
sivo de bebida alcoólica; cuidados especiais W Participação Social.
voltados ao processo de envelhecimento. W Autonomia.
W Enfoque nos aspectos que determinam pro- W Empoderamento.
cesso saúde-adoecimento, como: violência, W Intersetorialidade, que se refere ao processo
desemprego, subemprego, falta de saneamen- de articulação de saberes, potencialidades e
to básico, habitação inadequada e/ou ausen- experiências de sujeitos, grupos e setores na
te, dificuldade de acesso à educação, fome, construção de intervenções compartilhadas,
urbanização desordenada, qualidade do ar e estabelecendo vínculos, corresponsabilidade
da água ameaçada, deteriorada; e potenciali- e cogestão para objetivos comuns;
zar formas mais amplas de intervir em saúde.
W Intrassetorialidade, que diz respeito ao exercício
permanente da desfragmentação das ações
DICA
 Um conceito citado algumas vezes ao lon- e serviços ofertados por um setor, visando à
go desse documento é o da intersetorialidade. construção e articulação de redes cooperati-
Compreende-se a intersetorialidade como uma vas e resolutivas;
articulação das possibilidades dos distintos se- W Sustentabilidade.
tores de pensar a questão complexa da saúde, de
corresponsabilizar-se pela garantia da saúde como
W Integralidade.
direito humano e de cidadania e de mobilizar-se na W Territorialidade.
formulação de intervenções que a propiciem. u Art. 6º A PNPS tem por objetivo geral promover
a equidade e a melhoria das condições e modos
u Objetivo de viver, ampliando a potencialidade da saúde
individual e da saúde coletiva, reduzindo vulne-
W Geral: Promover a qualidade de vida e reduzir
rabilidades e riscos à saúde decorrentes dos
vulnerabilidade e riscos à saúde relacionados

125
Programas e políticas de saúde Saúde coletiva

determinantes sociais, econômicos, políticos,


culturais e ambientais. 3. POLÍTICA NACIONAL
DE SAÚDE MENTAL
u Art. 7º São objetivos específicos da PNPS:
W Estimular a promoção da saúde como parte da
integralidade do cuidado na Rede de Atenção u A Política Nacional de Saúde Mental foi propos-
à Saúde (RAS), articulada às demais redes de ta pela Lei n. 10.216, de 6 de Abril de 2001. Os
proteção social; Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) foram
W Promover a cultura da paz em comunidades, estabelecidos pela Portaria n. 336, de 19 de Fe-
territórios e municípios; vereiro de 2002. A Nota Técnica n. 11/2019 do
Ministério da Saúde trouxe algumas mudanças
W Valorizar os saberes populares e tradicionais
à Política que precisam ser debatidas. Apresen-
e as práticas integrativas e complementares;
taremos esses 3 marcos legais.
W Promover processos de educação, formação
profissional e capacitação específicas em pro-
moção da saúde, de acordo com os princípios 3.1. LEI N. 10.216, DE 6 DE ABRIL DE 2001
e valores expressos nesta Portaria, para tra-
balhadores, gestores e cidadãos; u Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas
portadoras de transtornos mentais e redireciona
u Art. 8º São temas transversais da PNPS, en-
o modelo assistencial em saúde mental.
tendidos como referências para a formação de
agendas de promoção da saúde, para adoção u Parágrafo único – São direitos da pessoa porta-
de estratégias e temas prioritários, operando dora de transtorno mental:
em consonância com os princípios e valores do W Ser tratada com humanidade e respeito e no
SUS e da PNPS: interesse exclusivo de beneficiar sua saúde,
W Determinantes Sociais da Saúde (DSS), equi- visando alcançar sua recuperação pela inser-
dade e respeito à diversidade. ção na família, no trabalho e na comunidade;
W Desenvolvimento sustentável. W Ter livre acesso aos meios de comunicação
disponíveis;
W Produção de saúde e cuidado.
W Receber o maior número de informações a
W Ambientes e territórios saudáveis.
respeito de sua doença e de seu tratamento;
W Vida no trabalho.
W Ser tratada em ambiente terapêutico pelos
W Cultura da paz e direitos humanos. meios menos invasivos possíveis;
u Art. 10. São temas prioritários da PNPS: W Ser tratada, preferencialmente, em serviços
W Formação e educação permanente. comunitários de saúde mental.
W Alimentação adequada e saudável.
W Práticas corporais e atividades físicas. DICA
 A Política Nacional de Saúde Mental, quando
W Enfrentamento do uso do tabaco e seus de- instituída em 2001, apresentava dois pontos muito
rivados. importantes: o cuidado extra-hospitalar era clara-
W Enfrentamento do uso abusivo de álcool e mente incentivado e a reinserção do paciente nos
outras drogas. contextos familiar e social era uma prioridade.
W Promoção da mobilidade segura.
u A internação, em qualquer de suas modalidades,
W Promoção da cultura da paz e de direitos hu-
só será indicada quando os recursos extra-hos-
manos.
pitalares se mostrarem insuficientes.
W Promoção do desenvolvimento sustentável.
W O tratamento visará, como finalidade perma-
nente, a reinserção social do paciente em seu
meio.

126
Programas e políticas de saúde Cap. 8

W O tratamento em regime de internação será 3.2. PORTARIA N. 336, DE 19 DE


estruturado de forma a oferecer assistência FEVEREIRO DE 2002
integral à pessoa portadora de transtornos
mentais, incluindo serviços médicos, de as- u Art.1º Estabelecer que os Centros de Atenção
sistência social, psicológicos, ocupacionais, Psicossocial poderão constituir-se nas seguin-
de lazer, e outros. tes modalidades de serviços: CAPS I, CAPS II e
CAPS III, definidos por ordem crescente de por-
DICA te/complexidade e abrangência populacional,
 Basicamente se estabeleceu que pacientes
conforme disposto nesta Portaria;
psiquiátricos têm direitos como quaisquer outros
pacientes e que o tratamento intra-hospitalar é W Os CAPS deverão constituir-se em serviço
exceção, não regra. ambulatorial de atenção diária que funcione
segundo a lógica do território;
W Os 5 tipos diferentes de CAPS que foram apre-
sentados nessa portaria, assim como suas es-
pecificações, estão listados no quadro a seguir:

Quadro 1. Centros de Atenção Psicossocial.

Abrangência Características Atividades Recursos Humanos

• 01 médico com formação


• Atendimento individual, em em saúde mental
• Supervisionar e capacitar
20.000 – grupo, em oficinas terapêu- • 01 enfermeiro
equipes da atenção básica
CAPS I 70.000 ticas, visitas domiciliares, • 03 profissionais de nível
habitantes • Funcionar de 08:00 às 18:00, atendimento em família e superior*
durante 5 dias atividades comunitárias • 04 profissionais de nível
médio**

• 01 médico psiquiatra
• Supervisionar e capacitar
• 01 enfermeiro com forma-
equipes da atenção básica • Igual ao CAPS I
70.000 – ção em saúde mental
CAPS II 200.000 • Funcionar de 08:00 às 18:00, • Atendimento de 30 pacien-
• 04 profissionais de nível
habitantes durante 5 dias, podendo tes por turno (máximo de
superior*
comportar um 3º turno até 45 pacientes/dia)
21:00 • 06 profissionais de nível
médio

• Todas as atribuições do
CAPS I
• Acolhimento noturno, nos • 02 médicos psiquiatras
• Supervisionar e capacitar feriados e finais de sema- • 01 enfermeiro com forma-
equipes da atenção básica na, com no máximo 5 leitos ção em saúde mental
• Constituir-se em serviço am- para eventual repouso e/ou
observação. • 05 profissionais de nível
Acima de bulatorial de atenção contí-
superior*
CAPS III 200.000 nua, durante 24 horas, todos • A permanência de um mes-
habitantes os dias. mo paciente no acolhimen- • 08 profissionais de nível
to noturno fica limitado a 7 médio**
• Estar referenciado a um ser-
viço de atendimento de ur- dias corridos ou 10 dias in- • Há composições distintas
gência/emergência tercalados em um período de equipe para acolhimen-
de 30 dias. to noturno.
• 40 pacientes por turno. Má-
ximo de 60 pacientes/dia

127
Programas e políticas de saúde Saúde coletiva

Abrangência Características Atividades Recursos Humanos

• Constituir-se em serviço am- • 01 médico psiquiatra, ou


bulatorial de atenção diária neurologista ou pediatra
200.000 destinado a crianças e ado- com formação em saúde
lescentes com transtornos • Todas as atribuições do
habitantes mental.
mentais CAPS I, porém voltados ao
CAPS i II ou outro
cuidado de crianças e ado- • 04 profissionais de nível
parâmetro • Funcionar de 08:00 às 18:00, lescentes. superior*
populacional durante 5 dias, podendo
comportar um 3º turno até • 05 profissionais de nível
21:00 médio**

• Constituir-se em serviço am-


bulatorial de atenção diária, • 01 médico psiquiatra
de referência para área de
• 01 enfermeiro com forma-
abrangência populacional
ção em saúde mental
Acima de definida pelo gestor local. • Todas as atribuições do
CAPS I. • 01 médico clínico
CAPS ad II 70.000 • Manter de 2 a 4 leitos para
habitantes desintoxicação e repouso • Atendimento de desinto- • 04 profissionais de nível
xicação superior*
• Funcionar de 08:00 às 18:00,
durante 5 dias, podendo • 06 profissionais de nível
comportar um 3º turno até médio**
21:00

* Psicólogo, assistente social, terapeuta ocupacional, pedagogo ou outro profissional necessário ao projeto terapêutico.
** Técnico e/ou auxiliar de enfermagem, técnico administrativo, técnico educacional e artesão.
Fonte: Adaptado da Portaria n. 336/2002.

3.3. NOTA TÉCNICA N. 11/2019 – u Ministério da Saúde passa a financiar a compra


CGMAD/DAPES/SAS/MS de equipamentos para Eletroconvulsoterapia
(ECT) para pacientes com determinados trans-
u Algumas lógicas apresentadas durante a reforma tornos mentais graves e refratários.
psiquiátrica e consolidadas na Política Nacio-
nal de Saúde Mental sofrem alterações a partir DICA
 A grande mudança proposta por essa norma
dessa nota técnica do Ministério da Saúde, que
técnica diz respeito à reintrodução do Hospital Psi-
mistura justificativas, recomendações e opiniões.
quiátrico na RAPS, havendo estímulo à expansão
Focaremos naquilo que realmente difere do que de leitos nessa modalidade de atenção, diferente
já foi apresentado. da Política anterior, que visava sua redução e subs-
u A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) foi am- tituição por outros serviços.
pliada, e passa a contar com hospitais psiquiá-
tricos especializados, hospitais-dia, unidades
ambulatoriais e o CAPS IV AD, além dos serviços 3.4. RESOLUÇÃO N. 32, DE 14 DE
já existentes. DEZEMBRO DE 2017
u O CAPS IV AD, criado a partir dessa nota técni-
ca, tem como objetivo atuar nas regiões de cra- u Alguns dos pontos presentes nessa resolução já
colândias. foram apresentados na discussão sobre a Nota
u Atendimento ambulatorial com especialistas de Técnica N. 11/2019. Há mais uma informação,
psiquiatria passa a ser incentivado. presente nessa resolução, que é importante que
você saiba:
u Estímulo à expansão de leitos qualificados em
Hospitais Gerais, dentro de Unidades Psiquiátri-
cas Especializadas.

128
Programas e políticas de saúde Cap. 8

u Art. 1º Estabelecer as diretrizes para o fortale- W II – fortalecer a prestação de serviços de aten-


cimento da RAPS. Considera-se como compo- ção básica em saúde no País;
nentes da RAPS os seguintes pontos de atenção: W III – aprimorar a formação médica no País e
W 1.Atenção Básica; proporcionar maior experiência no campo de
W 2.Consultório na Rua; prática médica durante o processo de formação;
W 3.Centros de Convivência; W IV – ampliar a inserção do médico em formação
nas unidades de atendimento do SUS, desen-
W 4.Unidades de Acolhimento (Adulto e Infan-
volvendo seu conhecimento sobre a realidade
to-Juvenil);
da saúde da população brasileira;
W 5.Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT) I e II;
W V – fortalecer a política de educação perma-
W 6.Hospital Dia; nente com a integração ensino-serviço, por
W 7.Unidades de Referência Especializadas em meio da atuação das instituições de educação
Hospitais Gerais; superior na supervisão acadêmica das ativida-
W 8.Centros de Atenção Psicossocial nas suas des desempenhadas pelos médicos;
diversas modalidades; W VI – promover a troca de conhecimentos e
W 9.Equipe Multiprofissional de Atenção Espe- experiências entre profissionais da saúde bra-
cializada em Saúde Mental; sileiros e médicos formados em instituições
W 10.Hospitais Psiquiátricos Especializados. estrangeiras;
W VII – aperfeiçoar médicos para atuação nas
políticas públicas de saúde do País e na orga-
4. PROGRAMA MAIS MÉDICOS nização e no funcionamento do SUS; e
W VIII – estimular a realização de pesquisas apli-
cadas ao SUS.
u O Programa Mais Médicos, instituído em 2013,
sofreu algumas mudanças, mas continua sen-
DICA
do cobrado nas provas. A maioria das provas  Desses objetivos, é essencial que você lembre
pergunta diretamente sobre os objetivos desse que o Programa Mais Médicos tinha como obje-
Programa, enquanto algumas questões ainda são tivos diminuir a carência de médicos em regiões
feitas sobre seus impactos e sobre as mudan- prioritárias para o SUS, fortalecer os serviços de
ças na formação médica que foram propostas. atenção básica e fortalecer a política de educação
permanente.
u Traremos alguns dos artigos mais importantes
e mais cobrados da lei que instituiu o programa.
u Art. 2º Para a consecução dos objetivos do Pro-
grama Mais Médicos, serão adotadas, entre ou-
4.1. LEI Nº 12.871, DE 22 DE
tras, as seguintes ações:
OUTUBRO DE 2013
W I – reordenação da oferta de cursos de Medi-
4.1.1. Disposições gerais cina e de vagas para residência médica, prio-
rizando regiões de saúde com menor relação
u Art. 1º É instituído o Programa Mais Médicos, de vagas e médicos por habitante e com es-
com a finalidade de formar recursos humanos trutura de serviços de saúde em condições
na área médica para o Sistema Único de Saúde de ofertar campo de prática suficiente e de
(SUS) e com os seguintes objetivos: qualidade para os alunos;
W I – diminuir a carência de médicos nas regiões W II – estabelecimento de novos parâmetros para
prioritárias para o SUS, a fim de reduzir as de- a formação médica no País; e
sigualdades regionais na área da saúde; W III – promoção, nas regiões prioritárias do
SUS, de aperfeiçoamento de médicos na área

129
Programas e políticas de saúde Saúde coletiva

de atenção básica em saúde, mediante inte- 4.1.3. Eixos fundamentais


gração ensino-serviço, inclusive por meio de
intercâmbio internacional. u O Programa Mais Médicos apresenta três eixos
fundamentais, ou pilares:
DICA
W Eixo Educacional:
 Um dos impactos do Programa Mais Médicos
foi a abertura de novos cursos de medicina, tanto
V Expansão do número de vagas para os cur-
em grandes cidades quanto em cidades com menor sos de medicina e residência médica.
oferta de médicos, essas últimas consideradas, V Implantação de um novo currículo com for-
pelo programa, como prioridade. mação voltada para o atendimento humani-
zado, com foco na valorização da Atenção
Básica.
4.1.2. Do Projeto Mais Médicos pelo Brasil
W Eixo de Estruturação da Rede de Serviços Bá-
u Art. 13. É instituído, no âmbito do Programa Mais sicos de Saúde:
Médicos, o Projeto Mais Médicos para o Brasil, V Ações voltadas para a infraestrutura da
que será oferecido: Atenção Básica.
W I – aos médicos formados em instituições de W Eixo de Provimento Emergencial:
educação superior brasileiras ou com diploma V Contratação emergencial de médicos.
revalidado no País; e
W II – aos médicos formados em instituições de
educação superior estrangeiras, por meio de
intercâmbio médico internacional. REFERÊNCIAS
W III – médicos estrangeiros com habilitação
para exercício da Medicina no exterior. 1. Ministério da Saúde, Política Nacional de Humanização –
W § 2º Para fins do Projeto Mais Médicos para HumanizaSUS, publicado em 22/10/2015 [Acesso em 8
mar. 2021]. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/
o Brasil, considera-se:
acesso-a-informacao/acoes-e-programas/humanizasus.
V I – médico participante: médico intercam- 2. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.
bista ou médico formado em instituição de Política Nacional de Humanização. Formação e interven-
educação superior brasileira ou com diplo- ção / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde,
ma revalidado; e Política Nacional de Humanização. Brasília: Ministério da
Saúde, 2010. 242 p. – (Série B. Textos Básicos de Saúde)
V II – médico intercambista: médico forma-
(Cadernos HumanizaSUS; v. 1).
do em instituição de educação superior
3. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Núcleo
estrangeira com habilitação para exercício
Técnico da Política Nacional de Humanização. Humaniza-
da Medicina no exterior. SUS: Política Nacional de Humanização: a humanização
u Art. 16. O médico intercambista exercerá a Me- como eixo norteador das práticas de atenção e gestão
dicina exclusivamente no âmbito das atividades em todas as instâncias do SUS / Ministério da Saúde,
Secretaria-Executiva, Núcleo Técnico da Política Nacional
de ensino, pesquisa e extensão do Projeto Mais
de Humanização. Brasília: Ministério da Saúde, 2004.
Médicos para o Brasil, dispensada, para tal fim,
4. Brasil, Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Porta-
nos 3 (três) primeiros anos de participação, a
ria n. 2.446, de 11 de Novembro de 2014. Arthur Chioro.
revalidação de seu diploma Ministério da Saúde.
u As questões envolvendo a participação de mé- 5. Malta DC, Reis AAC d., Jaime PC, Neto OL d. M; Silva
dicos estrangeiros no programa são mais raras. MMA d.; Akerman M. O SUS e a Política Nacional de
Por isso não ofereceremos maior detalhamento. Promoção da Saúde: perspectivas, resultados avanços
e desafios em tempos de crise. Ciência & Saúde Coletiva,
23(6):1799-1809, 2018.

130
Capítulo
ATENÇÃO PRIMÁRIA
9

IMPORTÂNCIA/PREVALÊNCIA

O QUE VOCÊ PRECISA SABER?

u A Atenção Primária à Saúde tem alta complexidade e baixa densidade tecnológica.


u Os atributos essenciais da Atenção Primária são: acesso, coordenação do cuidado, integralidade e
longitudinalidade.
u A equipe de Saúde da Família é composta por, no mínimo, médico, enfermeiro, técnico ou auxiliar de enfer-
magem e agente comunitário de saúde.
u A primeira ação a ser realizada segundo a Estratégia de Saúde da Família é a territorialização.
u O Núcleo Ampliado de Saúde da Família oferece apoio matricial, não constituindo porta de entrada ao
serviço de saúde.

1. INTRODUÇÃO 1.1. NÍVEIS DE ATENÇÃO

u Atenção Primária ou Básica: primeiro ponto de


u “A atenção básica caracteriza-se por um con-
atenção à saúde. Tem como objetivo o alcance de
junto de ações de saúde, no âmbito individual e
certo grau de resolução dos problemas, algo em
coletivo, que abrange a promoção e a proteção
torno de 80% a 90% dos problemas de saúde da
da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico,
população. Atua com maior ênfase na prevenção
o tratamento, a reabilitação, a redução de danos
de aparecimento e evolução de agravos. Apresenta
e a manutenção da saúde com o objetivo de de-
baixa densidade tecnológica (discutido adiante).
senvolver uma atenção integral que impacte na
situação de saúde e autonomia das pessoas e
u Atenção Secundária: formada pelos serviços es-
nos determinantes e condicionantes de saúde das pecializados em nível ambulatorial e hospitalar.
coletividades.” – Princípios e Diretrizes Gerais da Apresenta densidade tecnológica intermediária.
Política Nacional de Atenção Básica. Compreende serviços médicos especializados,
de apoio diagnóstico e terapêutico e atendimento
de urgência e emergência.
DICA
 A Atenção Primária não se limita à prevenção u Atenção Terciária: designa o conjunto de tera-
e promoção de saúde. Há resolubilidade, diagnóstico
pias e procedimentos de elevada especialização.
e tratamento entre as suas atribuições. Nas ques-
Contém serviços que envolvem alta tecnologia e/
tões de provas, alternativas que trazem atribuições
ou nível de especialização, como oncologia, car-
muito limitadas da Atenção Primária geralmente
diologia, oftalmologia, transplantes, parto de alto
estão erradas.
risco, trauma, cirurgias de grande porte, hemo-
diálise etc. Há serviços ambulatoriais compondo
a atenção terciária, como ressonâncias magné-
ticas, medicina nuclear e serviços excepcionais,
como próteses ósseas.

139
Atenção primária Saúde coletiva

DICA
u Coordenação do cuidado
 Não confundir níveis de atenção com níveis
de prevenção. A prevenção primária não é exclusiva
W Os profissionais da APS são responsáveis pela
da atenção primária. Podemos ter prevenção pri- coordenação do cuidado do paciente em toda
mária (ex: vacinas), secundária (ex: rastreamentos), Rede de Atenção à Saúde. Diz respeito à con-
terciária (ex: reabilitação social) e quaternária (ex: tinuidade de informações dentro do sistema,
revisão de medicamentos em uso) sendo pratica- muitas vezes evidenciada pelos relatórios de
das na atenção primária. Não ache que existe uma Referência e Contrarreferência.
associação entre o nível de atenção e o nível de u Integralidade
prevenção. W Assim como o princípio do SUS, a integralida-
de diz respeito ao cuidado mais abrangente
do indivíduo, a partir da ampla oferta de ser-
1.2. DENSIDADE X COMPLEXIDADE
viços multiprofissionais e da observância de
determinantes e condicionantes de saúde em
u Densidade tecnológica se refere ao nível de todos os aspectos biopsicossociais.
tecnologia dos equipamentos utilizados. Obvia-
u Longitudinalidade
mente, usamos ferramentas de tecnologia mais
avançada dentro de um hospital (máquinas de W A APS deve fornecer aos pacientes fontes re-
tomografia ou ressonância magnética) do que gulares de atenção, que não necessariamente
na atenção básica. precisam ser ofertadas pelo mesmo profissional.
u Complexidade significa conhecimento necessá-
rio. O profissional que atua na atenção primária 2.2. DERIVADOS
precisa de um conhecimento muito abrangente.
Não podemos afirmar, portanto, que é um nível u Foco na família
de atenção de baixa complexidade. W Compreensão de que o foco da atenção não
se dá, exclusivamente, no indivíduo, mas em
DICA
 A atenção básica tem alta complexidade e toda a família, tanto para processos de adoe-
baixa densidade tecnológica. cimento quanto de cuidado.
u Orientação Comunitária
W Conhecimento de características da comunida-
de que tenham influência no processo saúde-
2. ATRIBUTOS DA ATENÇÃO -doença, dos recursos disponíveis na comuni-
PRIMÁRIA dade e de suas necessidades, a fim, inclusive,
de proceder com intervenções coletivas.
u Competência cultural
2.1. ESSENCIAIS W Reconhecimento das características culturais
de determinados grupos sociais ou comuni-
u Acesso dades e compreensão da influência dessas
W A Atenção Primária à Saúde (APS) é a porta de características no processo saúde-doença.
entrada preferencial para o sistema, devendo
ser nesse nível de atenção o primeiro contato
do paciente com o SUS. 3. POLÍTICA NACIONAL DE
ATENÇÃO BÁSICA (PNAB)
DICA
 A APS não é a porta de entrada exclusiva, já
que um paciente pode ter seu primeiro atendimen- u A Política Nacional de Atenção Básica revisou,
to numa unidade de urgência e emergência, por
através de sua última portaria em 2017, as dire-
exemplo.

140
Atenção primária Cap. 9

trizes para organização da Atenção Básica no do SUS. Territorialização significa o processo de


âmbito do SUS. delimitação e reconhecimento desse território,
assim como de seus condicionantes e determi-
3.1. PRINCÍPIOS E DIRETRIZES nantes de saúde. As pessoas e coletividades que
constituem aquele espaço estão adscritos a ele.
3.1.1. Princípios u População Adscrita: população presente no ter-
ritório determinado como sendo de responsabi-
u Universalidade: possibilitar acesso universal e lidade da Unidade de Saúde.
contínuo a serviços de saúde, caracterizados u Cuidado Centrado na Pessoa: ações de cuidado
como a porta de entrada aberta e preferencial de forma singularizada. O Método Clínico Centra-
da Rede de Atenção à Saúde – RAS (primeiro do na Pessoa será discutido de forma detalhada
contato). no capítulo “Ferramentas da Atenção Primária”.
u Resolutividade: sim, a Atenção Básica tem que
DICA ser resolutiva. Na verdade, deve ser o nível de
 A Atenção Básica é a PORTA DE ENTRADA
preferencial do SUS. O primeiro contato do paciente atenção mais resolutivo de todos, sendo capaz,
com os serviços de saúde deve ser feito na aten- idealmente, de fornecer a devida assistência a
ção básica. Não esqueça disso. Muitas questões mais de 80% dos problemas de saúde.
cobram esse conceito simples. u Longitudinalidade: pressupõe a continuidade da
relação de cuidado. Envolve construção de vín-
u Equidade: oferta o cuidado, reconhecendo as dife- culo do usuário com os profissionais de saúde
renças nas condições de vida e saúde de acordo e a unidade.
com as necessidades das pessoas, considerando
que o direito à saúde deve atender à diversidade. DICA
 Tempo e vínculo são os principais pontos da
longitudinalidade. Acompanhar por longo período e
DICA
 Lembre-se do princípio da equidade com a se- observar os resultados das intervenções aplicadas
guinte frase: tratar os diferentes de forma diferente. são exemplos da relação temporal. Saber o nome
e conhecer a família são exemplos de vínculo.

u Integralidade: conjunto de serviços visando pro-


moção e manutenção de saúde, prevenção de u Coordenar o cuidado: elaborar, acompanhar e
doenças e agravos, cura, reabilitação, redução organizar o fluxo dos usuários entre os pontos
de danos e cuidados paliativos. Além disso, há de atenção da RAS.
a responsabilização da Atenção Primária pela
oferta de serviços de saúde em outros pontos DICA
 A Atenção básica é a responsável pela expe-
da RAS. Reconhecer as necessidades biológicas, riência do usuário em toda a rede. Por isso, deve
psicológicas, ambientais e sociais é um ponto produzir a gestão compartilhada da atenção integral
crucial do princípio da integralidade. ao paciente.

3.1.2. Diretrizes
u Ordenar as redes: reconhecer as necessidades
u Regionalização e Hierarquização: regiões dizem da população e atuar de forma que o planejamen-
respeito a recortes espaciais da rede de atenção, to das ações de saúde em toda a rede atente a
enquanto hierarquização lida com os diferentes essas necessidades.
níveis de atenção (primária, secundária e terciária). u Participação da comunidade: estimular a parti-
u Territorialização e Adscrição: considera-se territó- cipação dos usuários na organização da rede e
rio a unidade geográfica de ação descentralizada no planejamento das ações.

141
Atenção primária Saúde coletiva

DICA
u Equipe de Atenção Básica:
 A PNAB reconhece a Estratégia de Saúde da
Família como prioritária para expansão e consoli-
W Composta no mínimo por médico, enfermeiro e
dação da Atenção Básica, mas reconhece outras técnico de enfermagem. Outros profissionais,
estratégias, desde que sigam os princípios e dire- inclusive ACS, podem fazer parte das equipes.
trizes acima descritos. W Carga horária mínima por categoria profissio-
nal é de 10 horas/semana, com no máximo de
3 (três) profissionais por categoria, devendo
3.2. INFRAESTRUTURA, AMBIÊNCIA somar no mínimo 40 horas/semana.
E FUNCIONAMENTO DA
ATENÇÃO BÁSICA
DICA
 As provas perguntam mais sobre as equipes
de Saúde da Família do que sobre as Equipes de
u Carga horária: Recomenda-se que as Unidades
Atenção Básica.
Básicas de Saúde (UBS) tenham seu funciona-
mento com carga horária mínima de 40 horas/
semana, 5 dias/semana e 12 meses/ano.
3.4. NÚCLEO AMPLIADO DE SAÚDE
u População adscrita: 2.000 a 3.500 pessoas, tan- DA FAMÍLIA E ATENÇÃO
to para equipes de Atenção Básica quanto para BÁSICA (NASF-AB)
equipes de Saúde da Família.
u Número de equipes: 4 (quatro) equipes por unida- u Equipe multiprofissional complementar às equi-
de (de Atenção Básica ou de Saúde da Família). pes que atuam na Atenção Básica. Não se consti-
W Em um município com menos de 2000 habi- tuem como serviços com unidades físicas e não
tantes, só poderá haver uma equipe. são de livre acesso para atendimento individual
ou coletivo.
3.3. TIPOS DE EQUIPES
u Compete à Equipe do Nasf-AB:
W Participar do planejamento conjunto com as
u Equipe de Saúde da Família: equipes que atuam na Atenção Básica.
W Composta no mínimo por médico, enfermeiro, W Contribuir ao cuidado dos usuários por inter-
técnico de enfermagem e agente comunitário médio da ampliação da clínica, aumentando
de saúde (ACS). Outros profissionais podem a capacidade de análise e intervenção.
fazer parte das equipes. W Realizar discussão de casos, atendimento
W Número máximo de 750 pessoas por ACS. individual, compartilhado, interconsulta, edu-
cação, construção de projetos, intervenções
W Para Equipe de Saúde da Família há obrigato-
no território, ações de prevenção e promoção
riedade de carga horária de 40 horas/semana
de saúde etc.
para todos os profissionais de saúde. Assim,
cada profissional só pode estar vinculado a
uma unidade. DICA
 O Nasf-AB não é porta de entrada da rede de
atenção à saúde, já que não oferece porta aberta
DICA para o usuário. Os profissionais desse núcleo au-
 Pergunta manjada das provas: dentista e
xiliam as equipes que atuam na Atenção Básica
auxiliar de saúde bucal não fazem parte da equipe
oferecendo um modelo de assistência denominado
mínima. Lembre-se: médico, enfermeiro, técnico
apoio matricial, ou matriciamento.
de enfermagem e agente comunitário de saúde.

142
Atenção primária Cap. 9

3.5. ESTRATÉGIA DE AGENTES 3.6.3. Médico


COMUNITÁRIOS DE SAÚDE
u Realizar consultas clínicas, pequenos procedi-
mentos cirúrgicos, na unidade e/ou em domicílio.
u Essa estratégia prevê a implantação dos Agen-
tes Comunitários de Saúde (ACS) nas Unidades u Encaminhar, quando necessário, usuários a ou-
Básicas de Saúde (UBS) como uma possibilida- tros pontos de atenção.
de de reorganizar a Atenção Básica, visando à u Indicar a necessidade de internação hospitalar
implantação gradual da Estratégia de Saúde da ou domiciliar.
Família.
3.6.4. Agente comunitário de saúde
3.6. ATRIBUIÇÕES DOS PROFISSIONAIS u Realizar diagnóstico demográfico, social, cultural,
DE ATENÇÃO BÁSICA
ambiental, epidemiológico e sanitário do territó-
rio em que atuam.
u Vamos selecionar algumas atribuições que podem u Trabalhar com adscrição de indivíduos e famílias
cair na sua prova. Na PNAB há outras atribuições
em base geográfica definida e cadastrar todas
para cada uma das categorias profissionais quem
as pessoas de sua área.
compõem a equipe.

3.6.1. Atribuições comuns a todos


os membros das equipes que 4. A ESTRATÉGIA DE
atuam na atenção básica SAÚDE DA FAMÍLIA

u Participar do processo de territorialização e ma-


peamento da área de atuação da equipe. u Trata-se da principal estratégia de expansão da
atenção básica. Os seus princípios são os mes-
u Cadastrar e manter atualizados o cadastramen-
mos dos já expostos nesse capítulo. Vamos apre-
to e outros dados de saúde das famílias e dos
sentar alguns detalhes específicos da estratégia.
indivíduos no sistema de informação da Aten-
ção Básica. u Territorialização:
u Realizar o cuidado integral da população adscrita. W Primeira ação a ser realizada.
u Participar do acolhimento dos usuários. u Adscrição de clientela:
u Articular e participar das atividades de educação W Segunda ação a ser realizada.
permanente. u As duas grandes diferenças entre uma unidade
u Promover a mobilização e a participação da co- básica de saúde (UBS) e uma unidade de saúde
munidade. da família (USF) são as seguintes:
W Em uma USF, há uma população adscrita. Essa
3.6.2. Enfermeiro população tem acesso a todos os serviços da
unidade. Quem não está oficialmente vincula-
u Realizar consulta de enfermagem, procedimen- do a um posto tem direito a muitos serviços
tos, solicitar exames complementares, prescrever (vacinação, farmácia, pré-natal), mas não a
medicações conforme protocolos, observadas todos (consultas clínicas, visitas domiciliares).
as disposições legais da profissão.
W O Agente Comunitário é presença obrigatória
na equipe de Saúde da Família. A equipe da
UBS pode contar com um ACS, mas não existe
equipe de USF sem um ACS.

143
Atenção primária Saúde coletiva

segunda a sexta e mais 5 horas no final de


5. NOVIDADES NA semana.
ATENÇÃO PRIMÁRIA W 75 horas semanais, com 15 horas diárias inin-
terruptas de segunda a sexta ou 14 horas de
segunda a sexta e mais 5 horas no final de
5.1. EQUIPE DE ATENÇÃO PRIMÁRIA (EAP)
semana.
u Já apresentamos as equipes de Saúde da Famí-
DICA
lia (ESF) e de Atenção Básica (EAB). Em 2019 foi  Por um lado, amplia-se o tempo de funcio-
instituído um novo modelo de equipe, denomina- namento da APS, ampliando, assim, seu alcance.
do equipe de Atenção Primária (EAP). Por outro, há priorização de demanda espontânea
e flexibilização de carga horária dos profissionais
W Composição mínima: médico e enfermeiro.
e de formação da equipe atuante, podendo levar
W Profissionais não podem integrar mais de a atenção primária a atuar como um “desafogo” a
uma equipe. serviços de urgência.
W Há duas modalidades:
V Modalidade 1: carga horária mínima indi-
vidual de 20 horas semanais e população 5.4. NOVO FINANCIAMENTO
adscrita correspondente a 50% daquela DA APS – PREVINE BRASIL
designada a uma ESF. (PORTARIA N. 2.979 DE 2019)

V Modalidade 2: carga horária mínima indi-


u Estabelece novo modelo de financiamento de
vidual de 30 horas semanais e população
custeio da Atenção Primária, constituído por:
adscrita correspondente a 75% daquela de-
signada a uma ESF. W Capitação Ponderada:
V Passa a ser considerada a população ca-
5.2. NASF dastrada nas equipes de Saúde da Família
(eSF) e de Atenção Primária (eAP).
u Extinção do credenciamento de novas equipes V Perfil demográfico e vulnerabilidade so-
e financiamento federal do NASF. cioeconômica da população são levados
em consideração.
u Credenciamento de equipes multidisciplinares
passa a ocorrer diretamente na equipe pelo ges- V Classificação geográfica estabelecida pelo
tor local. IBGE também é considerada.

DICA
DICA
 Cuidado: o NASF não “acabou”. O cadastra-  Antes, o financiamento da Atenção Primária
mento de novas equipes foi suspenso e, nesse novo se baseava na população do município. Agora, a
modelo, há um enfraquecimento do componente base do cálculo é a população já adscrita e suas
multidisciplinar na atenção primária, mas o NASF características.
não está completamente extinto.
W Pagamentos por Desempenho:
V Ministério da Saúde realizará cálculo de
5.3. PROGRAMA SAÚDE NA HORA
indicadores de desempenho que estarão
atrelados ao repasse de recursos à Aten-
u Incentivo à expansão dos horários de funciona- ção Primária.
mento das unidades.
W Incentivo para Ações Estratégicas:
W 60 horas semanais, com 12 horas diárias inin-
V Programa Saúde na Hora.
terruptas de segunda a sexta ou 11 horas de
V Equipe de Consultório de Rua.

144
Atenção primária Cap. 9

V Programa Saúde na Escola.


V Incentivo aos municípios com residência
médica e multiprofissional.
V Estratégia de Agentes Comunitários de Saúde.

DICA
 Trouxemos apenas algumas das ações es-
tratégicas que podem receber financiamento.

W Suspensão da Transferência dos Incentivos


Financeiros
V No caso de irregularidades, o incentivo finan-
ceiro da capitação ponderada será suspenso.

REFERÊNCIAS

1. Gusso G, Lopes JMC. Tratado de medicina de família e


comunidade princípios, formação e prática. 2. ed. Porto
Alegre: Artmed; 2019.
2. Duncan BB, Schmidt MI, Giugliani ERJ. (org.). Medicina
Ambulatorial: condutas de atenção primária baseada em
evidências. 4. ed. Porto Alegre: Artmed; 2013.
3. Demarzo MMP. Reorganização dos Sistemas de Saúde:
Promoção da Saúde e Atenção Primária à Saúde. UNA-
SUS. [Internet]; 2013. [acesso em 5 set. 2020]. Disponível
em: https://ares.unasus.gov.br/acervo/handle/ARES/167.
4. Oliveira NRC. Redes de Atenção à Saúde: a atenção à saúde
organizada em redes. UNASUS. [Internet]; 2016. [acesso
em 4 set. 2020]. Disponível em: https://ares.unasus.gov.
br/acervo/handle/ARES/7563.
5. Ministério da Saúde (BR). Política Nacional de Atenção
Básica (Série E. Legislação em Saúde) / Ministério da
Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento
de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde; 2012.
6. Brasil. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção Pri-
mária à Saúde, Departamento de Saúde da Família. Nota
Técnica Nº 3/2020-DESF/SAPS/MS, de 20 de janeiro de
2020. Define o Núcleo Ampliado de Saúde da Família e
Atenção Básica (NASF-AB) e Programa Previne. Diário
Oficial da União. 2020.
7. Starfield B. Atenção primária: equilíbrio entre necessida-
des de saúde, serviços e tecnologia. Brasília: UNESCO,
Ministério da Saúde; 2002.

145
FERRAMENTAS DA Capítulo

ATENÇÃO PRIMÁRIA 10

IMPORTÂNCIA/PREVALÊNCIA

O QUE VOCÊ PRECISA SABER?

u O principal componente do Método Clínico Centrado na Pessoa diz respeito à experiência da pessoa frente
à sua doença.
u O genograma expressa graficamente a dinâmica familiar, enquanto o ecomapa inclui as relações com a
comunidade e com outros componentes externos à família.
u O método SOAP é composto por dados Subjetivos, Objetivos, Avaliação e Planos.
u Os pacientes devem participar ativamente da construção do Projeto Terapêutico Singular.

1. MÉTODO CLÍNICO V b) Contexto: família, emprego, comunidade,


CENTRADO NA PESSOA suporte social.
W 3. Elaborando um projeto comum de manejo.
u O método clínico centrado na pessoa (MCCP) V a) Avaliar, junto com paciente, quais são as
se contrapõe ao método centrado na doença, prioridades.
propondo uma abordagem que valorize mais as V b) Estabelecer responsabilidades do paciente
percepções e experiências do paciente. e do profissional nos tratamentos.
u O MCCP propõe uma abordagem mais focada W 4. Incorporando a prevenção e a promoção
no paciente, englobando, além de suas queixas de saúde.
e experiências para com sua saúde, o seu con- W 5. Fortalecendo a relação médico-paciente.
texto familiar, condições de trabalho, condição W 6. Sendo realista.
social, saúde mental etc.

DICA
 A nova versão do MCCP inclui apenas 4 com-
1.1. OS 6* COMPONENTES DO MÉTODO
ponentes, não estando mais presentes os núme-
CLÍNICO CENTRADO NA PESSOA
ros 4 (Incorporando a prevenção e a promoção de
saúde) e 6 (Sendo realista).
u Como garantir uma abordagem mais centrada
na pessoa? Há 6 recomendações (fontes mais
recentes consideram apenas 4 – ver DICA) u Há evidências que demonstram benefícios na
aplicação desse método, tais como:
W 1. Explorando a doença e a experiência da
pessoa com a doença. W Maior adesão ao tratamento.
V a) Avaliar dimensão da doença: sentimen- W Melhora da saúde mental.
tos, ideias, medos, expectativas. W Diminuição na utilização de outros serviços
W 2. Entendendo a pessoa como um todo. de saúde, como UPAs e hospitais.
V a) História de vida, aspectos pessoais. W Maior satisfação do paciente.
W Redução da ansiedade para com a doença.

153
Ferramentas da atenção primária Saúde coletiva

Figura 1. Método Clínico Centrado no Paciente.

Fonte: Gusso et al.4

2. INSTRUMENTOS DE um genograma, é necessário incluir pelo menos


ABORDAGEM FAMILIAR 3 gerações na representação gráfica (nas provas,
nem sempre temos 3 gerações representadas).
u O paciente e seu núcleo familiar devem ser des-
2.1. GENOGRAMA tacados no genograma. Além dos símbolos
apresentados, há símbolos capazes de identi-
u O genograma demonstra a dinâmica familiar. ficar abuso físico e/ou sexual, relacionamento
Serve como uma árvore genealógica que iden- de cuidador etc. O detalhamento desses símbo-
tifica, além dos vínculos sanguíneos ou de ma- los não é o principal ponto cobrado nas provas.
trimônio entre as pessoas, alguns detalhes dos A compreensão e intepretação do genograma e,
relacionamentos entre as mesmas. Para termos principalmente, do ecomapa, é o que mais cai.

154
Ferramentas da atenção primária Cap. 10

Figura 2. Símbolos usados no genograma.

Fonte: Freitas et al.2

2.2. ECOMAPA

u O Ecomapa engloba todos os símbolos do geno- u Há, portanto, representação gráfica de suas rela-
grama. O genograma como um todo pode estar ções com escola dos filhos, profissão, vizinhança,
incluído no ecomapa. O seu foco, entretanto, é religião, além da própria unidade de saúde. Qual-
demonstrar as relações e possíveis redes de apoio quer relação significativa da vida do paciente deve
do paciente, tanto dentro da família quanto fora. estar representada graficamente no ecomapa.

155
Ferramentas da atenção primária Saúde coletiva

u Há alguns outros símbolos utilizados no ecoma- W O = Objetivo: Dados objetivos adquiridos pelo
pa, tais como: examinador, como achados no exame físico
W ______ linhas contínuas = ligações forte, rela- ou resultados de exames complementares.
ções sólidas. W A = Avaliação: Avaliação realizada pelo profis-
W --------- – linhas tracejadas = ligações frágeis. sional sobre os problemas apresentados pelo
paciente, que pode ser compilada na forma de
W __//__ linhas com barras (ou em ziguezague)
uma lista de problemas.
= relações conflituosas.
W P = Planos: Condutas propostas.
W , ou = setas = indicam o fluxo de energia
e/ou de recursos. V Plano diagnóstico: investigação diagnósti-
ca necessária.
W Ausência de linhas = ausência de qualquer
tipo de relação. V Plano terapêutico: intervenções terapêuti-
cas propostas (medicamentos, orientações
específicas etc.).
DICA
 Sempre que você for responder uma questão V Plano de seguimento: estratégias de segui-
de genograma e/ou ecomapa, tente interpretar
mento longitudinal.
todo o instrumento antes de responder à questão.
Durante a prova isso pode ser importante para não V Plano educacional: informações e orien-
errar nenhuma besteira, mas isso é ainda mais tações.
importante quando você estiver estudando para a
prova. Você corre o risco de não ver tantos desses
instrumentos na sua prática antes de realizar a 4. PROJETO TERAPÊUTICO
prova, então tire o máximo proveito de todos que SINGULAR (PTS)
você encontrar para estar se sentindo confiante.

u O projeto terapêutico singular (PTS) é um con-


junto de terapêuticas articuladas, seja para um
3. REGISTRO CLÍNICO ORIENTADO paciente ou sua família, com resultado da dis-
POR PROBLEMAS cussão em equipe multidisciplinar. É realizado
geralmente para casos complexos e contém as
seguintes partes:
u Basicamente o que é cobrado em prova é o
W O diagnóstico: Avaliação orgânica, psicológica
preenchimento correto do método SOAP, que é
e social que possibilite uma conclusão a res-
a estrutura das notas de evolução do paciente,
peito dos riscos e vulnerabilidades do usuário.
formada por 4 partes:
W Definição de metas: Propostas de curto, mé-
W S = Subjetivo: Informações recolhidas na anam-
dio e longo prazos que serão negociadas com
nese. Sentimentos, impressões, funcionali-
o paciente pelo membro da equipe de maior
dades e expectativas que estão diretamente
vínculo.
relacionadas à experiência da pessoa com a
doença. Pode se ater simplesmente à queixa
W Divisão de responsabilidades: Como é um tra-
trazida pelo paciente, como “dor de cabeça”, balho em equipe, cada membro deve se res-
ou envolver aspectos mais profundos, como ponsabilizar pelas etapas que cabem às suas
“medo de morrer”. responsabilidades e capacidades técnicas.
W Reavaliação: Momento em que se discutirá a
evolução e, se necessário, correções de rumo.

156
Ferramentas da atenção primária Cap. 10

REFERÊNCIAS

1. Gusso G, Lopes JMC. Tratado de medicina de família e


comunidade – princípios, formação e prática. 2. Ed. Porto
Alegre: Artmed; 2019.
2. Freitas BC, Teixeira PEU. Manual Prático da Atenção
Primária. Salvador: Sanar; 2020.
3. Chapadeiro CA, Andrade HYSOA, Araújo MRN de. A família
como foco da Atenção Primária à Saúde. Belo Horizonte:
Nescon/ UFMG; 2011.
4. Ministério da Saúde (BR). Clínica ampliada, equipe de
referência e projeto terapêutico singular (Série B. Textos
Básicos de Saúde) / Ministério da Saúde, Secretaria de
Atenção à Saúde, Núcleo Técnico da Política Nacional de
Humanização 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2008.
5. Granja M, Outeirinho C. Registo médico orientado por
problemas em medicina geral e familiar: atualização
necessária. Rev Port Clínica Geral. 2018; 34(1): 40-4.
6. Demarzo MMP, Kolchraiber FC, Otaviano J, Oliveira GC de,
Vasconcelos E. Gestão da prática clínica dos profissionais
na Atenção Primária à Saúde. Módulo Político Gestor.
UNA-SUS, Unifesp;

157
Capítulo
DECLARAÇÃO DE ÓBITO
11

IMPORTÂNCIA/PREVALÊNCIA

O QUE VOCÊ PRECISA SABER?

u A emissão da Declaração de Óbito é um ato médico.


u Devemos emitir a D.O. sempre que houver um óbito.
u Óbitos fetais > 20 semanas, 500g ou 20cm devem ter D.O.
u Nos óbitos decorrentes de causas externas, quem deve emitir a D.O. é o médico perito legista no IML ou
o perito eventual designado pela justiça.

1. A DECLARAÇÃO DE ÓBITO W A via amarela fica com a família. Com essa


via a família consegue a certidão de óbito no
cartório.
u A Declaração de Óbito é o documento base do
W A via rosa fica no estabelecimento de saúde
Sistema de Informação sobre Mortalidade. Tra-
onde o óbito ocorreu.
ta-se de um modelo único utilizado em todo
território nacional. Todo óbito ocorrido no país W A via branca é enviada para a secretaria de
deve gerar uma declaração de óbito. Tem por saúde.
objetivo coletar informações sobre mortalidade,
documentando as causas do óbito, assim como Quadro 1. Destinos das vias da declaração de óbito.
informações sobre o indivíduo. Além disso, a Rosa Estabelecimento de saúde → prontuário
partir de uma das vias da declaração de óbito é
Amarela Família → cartório de registro civil
que a família, em cartório, recebe a certidão, ou
certificado de óbito, documento necessário para Branca Secretaria de Saúde
o sepultamento. É, portanto, um documento de Fonte: O autor.
caráter epidemiológico e jurídico.

DICA
 A causa básica do óbito é a utilizada nas 2. O PAPEL DO MÉDICO
estatísticas de mortalidade.

u A emissão da D.O. é um ato médico. Apenas


u Três vias: A declaração de óbito é emitida em 3 médicos podem preencher e assinar uma D.O.
vias – Rosa, Amarela e Branca. A depender das
u Vamos além: o médico tem a obrigação de emi-
condições e local do óbito, o destino das vias
tir a D.O.
rosa e branca pode se alterar, mas geralmente
temos o seguinte:

165
Declaração de óbito Saúde coletiva

u O que o médico deve fazer? u Criança que nasce viva e morre após o nascimento.
W Preencher os dados do indivíduo a partir de W Se a criança teve algum batimento cardíaco
um documento de identificação. ou incursão respiratória fora do útero da mãe,
W Revisar todos os campos antes de assinar. então ela esteve viva. Se esteve viva e morreu,
é óbito, e todo óbito merece uma D.O. Não im-
W Constatar o óbito examinando o corpo.
porta quanto tempo a criança viveu. Se nasceu
viva e morreu depois, a D.O. deve ser emitida.
DICA
 Nunca devemos assinar uma Declaração de u Óbito fetal, se:
Óbito sem exame direto do corpo. Nunca. Podemos,
W > 20 semanas de gestação OU
até, não ter presenciado o óbito no exato momento
em que ocorreu, mas temos que examinar o corpo. W > 500 g OU
W > 25 cm
u O que o médico não deve fazer? W Basta uma dessas características.
W Assinar D.O. em branco.
Quadro 2. Quando emitir a declaração de óbito.
W Preencher D.O. sem exame direto do corpo.
Quando emitir a declaração de óbito
W Cobrar pela emissão da D.O.
TODOS os óbitos
DICA Quando a criança nascer viva e morrer
 Se você não for o médico que tem a obrigação
logo após o nascimento.
de emitir a D.O. de determinado paciente, você pode
cobrar pela “consulta” realizada para o exame do Óbito fetal > 20 semanas OU feto > 500 g OU > 25 cm.
corpo, porém nunca cobrar pela emissão da D.O. Fonte: Ministério da Saúde.1

u No caso de óbitos fetais que não preencham


nenhuma dessas características, a declaração
3. QUANDO EMITIR A de óbito não é obrigatória. Se a família quiser
DECLARAÇÃO DE ÓBITO realizar o sepultamento do feto, o médico pode
emitir a D.O.
u Se houve óbito, deve ter declaração de óbito.
DICA
W Parece óbvio, mas algumas questões trazem  Não devemos emitir D.O. para peças anatô-
histórias mirabolantes, cheias de detalhes que micas amputadas. Caso o paciente queira realizar
podem lhe confundir. No final das contas, se o sepultamento do membro, você pode emitir um
teve óbito, precisa ter declaração de óbito. relatório médico com papel timbrado.

166
Declaração de óbito Cap. 11

4. QUEM DEVE EMITIR A D.O.

Quadro 3. Quem deve emitir a declaração de óbito.

MORTE NATURAL (DOENÇA)


Óbito por causa natural é aquele cuja causa básica é uma doença ou estado mórbido prévio

Com assistência médica Sem assistência médica

• Sempre que possível, em todas as situações: o médico


que vinha prestando assistência ao paciente.
• Óbitos de pacientes internados sob regime hospitalar: o
médico assistente e, na sua falta, o médico substituto ou
plantonista. • Localidades com SVO: o médico do SVO.
• Óbitos de pacientes sob regime ambulatorial: o médico • Localidades sem SVO: o médico do serviço público de
designado pela instituição que prestava assistência. saúde mais próximo do local onde ocorreu o evento e, na
• Pacientes em tratamento sob regime domiciliar: o médi- sua ausência, por qualquer médico.
co do Programa de Saúde da Família, Programa de Inter- • Localidades sem médico: um responsável do cartório de
nação Domiciliar. registro, junto com duas testemunhas, emite a DO.
• Atenção: O SVO pode ser acionado para emissão da DO,
em qualquer das situações acima, caso o médico não con-
siga correlacionar o óbito com o quadro clínico registrado
nos prontuários ou fichas médicas dessas instituições.

MORTE NÃO NATURAL (CAUSAS EXTERNAS)


Óbito por causa externa (ou não natural) é aquele que decorre de lesão provocada
por violência (homicídio, suicídio, acidente ou morte suspeita), qualquer que
tenha sido o tempo entre o evento lesivo e a morte propriamente.

Em localidade com IML Em localidade sem IML

Qualquer médico (ou mesmo outros profissionais) da lo-


O médico legista, qualquer que tenha sido o tempo entre o
calidade, investido pela autoridade judicial ou policial, na
evento violento e a morte propriamente.
função de perito legista eventual (ad hoc).
Fonte: Ministério da Saúde.1

5. COMO PREENCHER A D.O.

u A parte mais importante no preenchimento cor- para tal, além das circunstâncias do acidente ou
reto da D.O. é a causa da morte. Para determi- da violência que produziram essas lesões. Pre-
narmos corretamente a causa do óbito, é impor- cisamos determinar desde a causa básica da
tante observar as doenças, estados mórbidos ou morte até a causa imediata, conforme a imagem
lesões que produziram a morte ou contribuíram abaixo (Figura 1):

167
Declaração de óbito Saúde coletiva

Figura 1. Parte VI da declaração de óbito.

Fonte: Ministério da Saúde.1

u Em teoria, devemos começar a preencher pela nia nosocomial, evoluindo com sepse e choque
causa básica da morte, mas vamos começar ex- séptico, vindo a óbito. A causa imediata é bem
plicando a partir da causa imediata. É o final da simples: choque séptico. Qual a causa básica?
linha da cascata de eventos que produziu o óbito. Nesse caso, queda de própria altura, ou seja, o
O choque séptico, a insuficiência respiratória, o paciente deve ser encaminhado para o IML. Se
edema agudo de pulmão, ou seja, aquela última a pneumonia é nosocomial, o paciente precisa
complicação que levou efetivamente ao óbito. estar internado para adquiri-la, então a causa
básica é aquela que o levou ao internamento, no
DICA caso o próprio mecanismo da lesão ou do trauma.
 Parada cardiorrespiratória e falência múltipla
de órgãos não devem constar como causas ime-
diatas de óbito. O manual oficial de preenchimento DICA
 Gestação e intervenções cirúrgicas não são
da D.O. traz esses dois exemplos como erros no causas de óbito, então não devem entrar na linha de
preenchimento, e as provas seguem a mesma linha. “produção” do óbito. A gestação, entretanto, deve
entrar na Parte II.
u A causa básica é aquela que iniciou a sequência
de eventos que levou ao óbito. u Na Parte II, devemos incluir outras condições
W Exemplo: paciente hipertenso cursa com infar- patológicas que possam ter contribuído para o
to agudo do miocárdio. Permanece internado óbito, sem necessariamente fazer parte da se-
por conta de insuficiência cardíaca, evoluindo quência de eventos que levou ao óbito.
com edema agudo de pulmão refratário e óbi- W Exemplo: um paciente diabético pode não se
to. Qual a causa básica? Tudo começou por recuperar tão bem de um quadro infeccioso
causa da hipertensão arterial. A causa básica, quanto um não diabético. Uma gestante que
portanto, é essa. vem a óbito por conta de uma complicação da
gestação deve ter a própria gestação como
DICA condição clínica que contribuiu ao óbito.
 Na parte I do campo 49 da Declaração de
Óbito, há 4 linhas a serem preenchidas, mas não é u Observe que há duas colunas a serem preenchi-
obrigatório usar todas elas. das: “Tempo aproximado entre o início da doença
e a morte” e “CID”. Devemos preencher a primei-
ra. Caso você não saiba o tempo exato, pode es-
u IMPORTANTE: Um paciente sofreu uma queda
crever “Ignorado” no local. O CID, entretanto, não
de própria altura, sendo internado para correção
deve ser preenchido pelo médico.
de fratura em colo de fêmur. Adquiriu pneumo-

168
Declaração de óbito Cap. 11

6. ESCLARECENDO AS REFERÊNCIAS
DÚVIDAS MAIS COMUNS
1. Ministério da Saúde (BR). A declaração de óbito: docu-
Quadro 4. Dicas para situações mento necessário e importante. Ministério da Saúde,
especiais e dúvidas comuns! Conselho Federal de Medicina, Centro Brasileiro de Clas-
sificação de Doenças. 3. ed. Brasília: Ministério da Saúde;
Condições Especiais da Declaração de Óbito 2009.

1. Quem emite a D.O.? – Ambulância COM Médico


Médico!!! Tá na chuva… é para se molhar!

2. Quem emite a D.O.? – Ambulância SEM Médico SVO


(sem violência) ou IML (morte violenta).

3. Recém-nascido de 450 g que nasceu vivo e morreu


Recebe D.O.

4. Morte sem assistência médica D.O. + Causa: “óbito


sem assistência médica” ou “causa desconhecida”

5. Chegou “parado” no PS Violência (IML); Dúvida (SVO);


Sem dúvida = D.O.!

6. Idoso caiu, fraturou o fêmur e morreu de pneumonia


Causa Externa = IML!

7. Não tem IML na cidade, juiz escolhe você para perito


examinar corpo e fornecer D.O.!

8. Só tem você de médico na cidade: Não sabe do que


morreu D.O. “Causa da morte desconhecida”. Mencionar
ausência de sinais de violência.

9. Morreu na ambulância SEM MÉDICO com relatório


D.O. preenchida por médico que recebeu ou que enviou.
Não sabe causa (SVO). Causa Violenta (IML);
*Morte sem relatório médico o responsável é quem
enviou o paciente.

10. Morte de paciente do PSF Examinar o cadáver e


fornecer a D.O.

11. Peça anatômica (“Perna Amputada”). Não faz D.O. – Se


paciente quiser, pode fornecer relatório médico.

12. Errou preenchimento de D.O. Anular (Nunca rasgue!)


e preencher nova.

13. Não pode cobrar para preencher D.O. Pode cobrar


para constatar o óbito se não for sua obrigação.

14. Médico charlatão deu atestado falso 1 mês a 1 ano


de cadeia! Se lucrou em cima, paga multa adicional!
Fonte: Autor.

169
Capítulo
VIGILÂNCIA EM SAÚDE
12

IMPORTÂNCIA/PREVALÊNCIA

O QUE VOCÊ PRECISA SABER?

u A Vigilância em Saúde tem alguns componentes, tais como: Vigilância Sanitária, Vigilância em Saúde
Ambiental, Vigilância Epidemiológica, Vigilância de Zoonoses e Saúde do Trabalhador.
u A Vigilância Sanitária é responsável pela produção e circulação de bens e pela prestação de serviços de
interesse da saúde.
u A principal fonte de informações da Vigilância Epidemiológica é a Ficha de Notificação Compulsória.
u As provas cobram, em sua maioria, as recomendações de rastreamentos oncológicos do Ministério da Saúde.
u O Ministério da Saúde não orienta o rastreamento para câncer de próstata.

1. VIGILÂNCIA EM SAÚDE u Atuação: Meio ambiente; produção e circulação


de bens e serviços de interesse à saúde.

u Entende-se Vigilância em Saúde como o proces-


DICA
so sistemático e contínuo que envolve coleta,  A ANVISA (Agência Nacional de Vigilância
consolidação, análise e disseminação de dados Sanitária) compõe a esfera federal na Vigilância
sobre eventos relacionados à saúde, visando ao Sanitária. É da ANVISA a responsabilidade do con-
planejamento e à implementação de medidas de trole sanitário de portos, aeroportos e fronteiras.
saúde pública. A melhor forma de compreender
a Vigilância em Saúde é descrevendo seus com-
ponentes, visto que se trata de uma área muito 1.2. VIGILÂNCIA EM SAÚDE AMBIENTAL
abrangente.
u Apresentaremos os seguintes componentes: Vigi-
u Definição: “A Vigilância em Saúde Ambiental
lância Sanitária, Vigilância em Zoonoses, Vigilân- (VSA) consiste em um conjunto de ações que
cia em Saúde Ambiental, Saúde do Trabalhador proporcionam o conhecimento e a detecção de
e, claro, Vigilância Epidemiológica. mudanças nos fatores determinantes e condi-
cionantes do meio ambiente que interferem na
saúde humana, com a finalidade de identificar as
1.1. VIGILÂNCIA SANITÁRIA medidas de prevenção e controle dos fatores de
risco ambientais relacionados às doenças ou a
u Definição: “Entende-se por vigilância sanitária um outros agravos à saúde” (Ministério da Saúde).
conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou u Objetivo:
prevenir riscos à saúde e de intervir nos proble-
W Vigilância da qualidade da água para consumo
mas sanitários decorrentes do meio ambiente,
humano (VIGIÁGUA).
da produção e circulação de bens e da prestação
de serviços de interesse da saúde” (Lei n. 8080). W Vigilância em saúde de populações expostas
a poluentes atmosféricos (VIGIAR).
u Objetivo: Eliminar, diminuir ou prevenir riscos.

177
Vigilância em saúde Epidemiologia

W Vigilância em saúde de populações expostas a u Objetivo: vigilância e controle das doenças trans-
contaminantes químicos (VIGIPEQ ou VIGIQUIM). missíveis, não transmissíveis e agravos, princi-
W Vigilância em saúde relacionada aos riscos palmente daqueles de notificação compulsória, e
decorrentes de desastres (VIGIDESASTRES). organização da rede de saúde para melhor atuar
sobre tais agravos.
W Vigilância em saúde ambiental relacionada
aos fatores físicos (VIGIFIS).
DICA
 A Vigilância Epidemiológica é a mais abran-
DICA
 Controle de agrotóxicos abrange a Vigilância gente das “divisões” da vigilância em saúde. Sua
em Saúde Ambiental, mas envolve Vigilância Sanitá- principal fonte de informação é a Ficha de No-
ria e Saúde do Trabalhador. Caso haja contaminação, tificação Compulsória, discutida no capítulo de
a Vigilância Epidemiológica também é envolvida. Notificação Compulsória.
Esse exemplo demonstra como essas diferentes
áreas de atuação da Vigilância em Saúde podem
atuar em conjunto.
2. SISTEMAS DE INFORMAÇÃO

1.3. VIGILÂNCIA DE ZOONOSES


u Definição: instrumentos de coleta e monitora-
u Definição: desenvolve ações, atividades e estra- mento de dados.
tégias para a vigilância e o controle das zoono- u Objetivo: fornecer informações sobre os proble-
ses, das doenças transmitidas por vetores e dos mas de saúde da população.
agravos causados por animais peçonhentos.
u Os agentes do CCZ (Centro de Controle de Zoo- DICA
 Para a prova, você precisa saber 2 coisas
noses) que vão à casa das pessoas para com- sobre os Sistema de Informação: o nome e qual
bater reservatórios do Aedes aegypti atuam na documento o “alimenta”.
vigilância de zoonoses.
u 1. SIM = Sistema de Informações sobre Morta-
1.4. SAÚDE DO TRABALHADOR
lidade.
W a) Declaração de Óbito.
u Definição: “conjunto de atividades que se destina
à promoção e proteção da saúde dos trabalha-
u 2. SINASC = Sistema de Informações de Nas-
dores, assim como visa à recuperação e reabili- cidos Vivos.
tação da saúde dos trabalhadores submetidos W a) Declaração de Nascido Vivo.
aos riscos e agravos advindos das condições de W b) Observação: Monitora a saúde da criança
trabalho” (Lei n. 8080). e da mulher.
u A saúde do trabalhador será discutida em capí- u 3. SIH = Sistema de Informações Hospitalares.
tulo à parte. W a) Autorização de Internação Hospitalar (AIH).
u 4. SIA = Sistema de Informações Ambulatoriais.
1.5. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA
W a) Boletim de Procedimento Ambulatorial (BPA).
u Definição: “conjunto de ações que proporcionam
W b) Autorização de Procedimento de Alta Com-
o conhecimento, a detecção ou prevenção de plexidade (APAC).
qualquer mudança nos fatores determinantes e u 5. SINAN = Sistema de Informações de Agravos
condicionantes de saúde individual ou coletiva, de Notificação.
com a finalidade de recomendar e adotar as me- W a) Ficha de Notificação Compulsória.
didas de prevenção e controle das doenças ou
agravos” (Lei n. 8080).

178
Vigilância em saúde Cap. 12

u 6. SIAB = Sistema de Informações da Atenção de 25 anos sem vida sexual iniciada não deve
Básica. iniciar o rastreamento. Uma mulher com vida
W a) Ficha A = Cadastro Familiar. sexual iniciada e menos de 25 anos também não.
W b) Ficha B = Diabetes, Hipertensão, Tubercu- u Periodicidade: A cada 3 anos, após 2 anuais
lose, Hanseníase e Gestantes. negativos.
W c) Ficha C = Controle de Vacinação da Criança. W Fazemos o primeiro exame aos 25 anos. Re-
petimos aos 26. Se os dois forem negativos,
W d) Ficha D = Registro de Atividades, Procedi-
só realizamos o rastreamento a cada 3 anos.
mentos e Notificações.
Essa periodicidade só irá mudar em caso de
u 7. SI-PNI = Sistema de Informações do Programa alguma lesão que precise ser investigada.
Nacional de Imunizações.
u Término: em condições normais, finalizamos o
u Pronto, agora você é capaz de responder prati- rastreamento aos 64 anos.
camente todas as perguntas sobre Sistemas de
Informações. As relações entre SIM e Declaração
3.3. MAMA
de Óbito, e SINAN e Ficha de Notificação Com-
pulsória são as mais cobradas.
u Exame: Mamografia.
u Início: 50 anos.
3. RASTREAMENTOS W Há critérios para início mais precoce.
u Periodicidade: A cada 2 anos.
u O que cai na sua prova, via de regra, é o que o Minis- W A depender do BIRADS, pode haver necessi-
tério orienta. Algumas provas estão começando a dade de reduzir esse intervalo.
incluir recomendações da US Preventive Task Force, u Final: em condições normais, finalizamos o ras-
mas ainda é algo muito menos cobrado do que as treamento aos 69 anos.
recomendações clássicas do Ministério da Saúde.
3.4. COLORRETAL
3.1. CRITÉRIOS PARA RASTREAMENTO
u Exame: Sangue oculto nas fezes.
u Para implantação de um programa de rastreamen- W Há recomendações divergentes que orientam,
to, os seguintes critérios devem ser preenchidos: também, a colonoscopia. A maioria das provas
W Magnitude: dimensão coletiva e epidemiológica orienta realizar colonoscopia apenas para con-
do problema. Altas prevalência e incidência. firmação em caso de sangue oculto positivo.
W Transcendência: impacto produzido na co- u Início: 50 anos.
munidade. u Periodicidade: a cada 1-2 anos.
W Vulnerabilidade: capacidade de se evitar o u Final: em condições normais, finalizamos o ras-
problema. treamento aos 75 anos.
W Deve haver benefício do tratamento precoce.
3.5. PRÓSTATA
3.2. COLO DO ÚTERO
u Exame: PSA e toque retal.
u Exame: Citopatológico do colo do útero (Papa- u Esse é o rastreamento que está mais sendo cobra-
nicolau). do. O Ministério da Saúde e o INCA não orientam
u Início: 25 anos e vida sexual ativa. mais o rastreamento para o câncer de próstata.
W Isso mesmo, a paciente precisa ter iniciado a Ou seja, segundo essas recomendações, PSA e
vida sexual e ter mais de 25 anos. Uma mulher toque retal não devem mais ser realizados em

179
Vigilância em saúde Epidemiologia

pacientes assintomáticos. O paciente que apre- 6. Brasil. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Lei Orgâ-
sente queixas ainda deve ser investigado, mas nica da Saúde. Dispõe sobre as condições para a promo-
ção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o
isso foge ao escopo do rastreamento.
funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras
u A conduta correta é conversar com o paciente providências. Brasília, set. 1990.
sobre riscos e benefícios, orientar que o Ministé- 7. Brasil. Fundação Nacional de Saúde. Guia de vigilância
rio da Saúde não recomenda mais esse rastrea- epidemiológica / Fundação Nacional de Saúde. 5. ed.
mento, mas respeitar a decisão do paciente caso Brasília (DF), 2002.
ele mantenha interesse em realizar os exames. 8. Brasil. Fundação Nacional de Saúde. Guia de vigilância
epidemiológica / Fundação Nacional de Saúde. 6. ed.
Brasília (DF), 2005.
DICA
 Pode ter coragem no que diz respeito ao 9. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria n. 204, de 17 de
câncer de próstata. As questões estão querendo fevereiro de 2016. Define a Lista Nacional de Notificação
que você responda que não há mais recomendação Compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde
para esse rastreamento. pública nos serviços de saúde públicos e privados em
todo o território nacional, nos termos do anexo, e dá outras
providências. Diário Oficial da República Federativa do
Brasil, Brasília (DF), 2016.
10. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em
Saúde. Departamento de Análise em Saúde e Vigilância
REFERÊNCIAS de Doenças não Transmissíveis. Vigitel Brasil 2018. Secre-
taria de Vigilância em Saúde, Departamento de Análise
em Saúde e Vigilância de Doenças não Transmissíveis.
1. Abath M de B et al. Avaliação da completitude, da consis-
– Brasília (DF), 2018.
tência e da duplicidade de registros de violências do Sinan
em Recife, Pernambuco, 2009-2012*. (*Este artigo é um 11. Costa ZGA et al. Evolução histórica da vigilância epide-
dos produtos da tese de Doutorado em Saúde Pública, a miológica e do controle da febre amarela no Brasil. Rev
ser defendida no primeiro semestre de 2014 pela autora Pan-Amaz Saude, Ananindeua, v. 2, n. 1, p. 11-26, mar.
principal do artigo junto ao Centro de Pesquisas Aggeu 2011. [Acesso em 12 abr. 2021]. Disponível em http://
Magalhães da Fundação Instituto Oswaldo Cruz, Recife- scielo.iec.gov.br/pdf/rpas/v2n1/v2n1a02.pdf.
-PE. Epidemiologia e Serviços de Saúde [online]. 2014, 12. Malta DC et al. A implantação do Sistema de Vigilância de
v. 23, n. 1.) Doenças Crônicas Não Transmissíveis no Brasil, 2003 a
2015: alcances e desafios. Revista Brasileira de Epidemio-
2. Albuquerque MIN de, Carvalho EMF de, Lima LP. Vigilân-
logia [online]. 2017, v. 20, n. 04, pp. 661-675. [Acesso em 12
cia epidemiológica: conceitos e institucionalização. Rev.
abr. 2021]. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1980-
Bras. Saude Mater. Infant., Recife, v. 2, n. 1, p. 7-14, abr.
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2002. [Acesso em 12 abr. 2021]. Disponível em: http://
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519- 13. Pinto LF, Freitas MPS de; Figueiredo AWS de. Sistemas
38292002000100002&lng=en&nrm=iso. Nacionais de Informação e levantamentos populacionais:
algumas contribuições do Ministério da Saúde e do IBGE
3. Guimarães RM et al. Os desafios para a formulação,
para a análise das capitais brasileiras nos últimos 30
implantação e implementação da Política Nacional de Vigi-
anos. Ciência & Saúde Coletiva [online]. 2018, v. 23, n. 6.
lância em Saúde. Ciência & Saúde Coletiva [online]. 2017, v.
22, n. 5, pp. 1407-1416. [Acesso em 12 abr. 2021]. Disponível 14. Senna M de CM. Vigilância sanitária: desvendando o
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3, p. 3625-3626, nov. 2010. [Acesso em 12 abr. 2021].
4. Barcellos C, Quiterio LAD. Vigilância ambiental em saúde e Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?scrip-
sua implantação no Sistema Único de Saúde. Rev. Saúde t=sci_arttext&pid=S1413-81232010000900037.
Pública, São Paulo, v. 40, n. 1, p. 170-177, Feb. 2006. [Acesso
15. Silva Junior JB da. 40 anos do Programa Nacional de
em 12 abr. 2021]. Disponível em: https://www.scielo.br/
Imunizações: uma conquista da Saúde Pública brasileira.
scielo.php?pid=S0034=89102006000100025-&script-
Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, v. 22, n. 1, p. 7-8, mar.
sci_abstract&tlng=pt.
2013. [Acesso em 12 abr. 2021]. Disponível em http://
5. Brasil. Decreto 78.231 de 12 de agosto 1976. Regulamenta scielo.iec.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-
a Lei nº 6.259, de 30 de outubro de 1975, que dispõe sobre 49742013000100001.
a organização das ações de Vigilância Epidemiológica,
16. Freitas BC, Teixeira PEU. Rastreamentos. In: Freitas BC,
sobre o Programa Nacional de Imunizações. Brasília,
Teixeira PEU. Manual Prático da Atenção Primária. Sal-
ago. 1976.
vador: Sanar; 2020.

180
Capítulo
NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA
13

IMPORTÂNCIA/PREVALÊNCIA

O QUE VOCÊ PRECISA SABER?

u Conhecer os 48 agravos de notificação compulsória da Lista Nacional.


u Estados e municípios podem adicionar agravos à Lista Nacional, mas não podem subtrair.
u Segundo a Portaria 204 de 2016, todos os agravos devem ser notificados a partir da suspeita.
u Além de médicos, outros profissionais de saúde e responsáveis pelos serviços de saúde que prestam
assistência ao paciente têm obrigação de notificar esses agravos.
u Há agravos de notificação semanal e imediata, e as provas estão cobrando esses detalhes.

1. INTRODUÇÃO interpessoais, como agressões e maus tratos,


e lesão autoprovocada.
W Evento de Saúde Pública: situação que pode
u Quando falamos de notificação compulsória,
constituir potencial ameaça à saúde pública,
estamos, basicamente, falando sobre a Porta-
como a ocorrência de surto ou epidemia, doen-
ria n. 204, de 17 de fevereiro de 2016. Ela define
ça ou agravo de causa desconhecida, alteração
a Lista Nacional de Notificação Compulsória de
no padrão clínico-epidemiológico das doenças
doenças, agravos e eventos de saúde pública nos
conhecidas, considerando o potencial de dis-
serviços de saúde públicos e privados em todo
seminação, a magnitude, a gravidade, a seve-
o território nacional. Durante essa introdução,
ridade, a transcendência e a vulnerabilidade,
traremos alguns conceitos importantes a serem
bem como epizootias ou agravos decorrentes
discutidos, e o primeiro já apareceu: o que deve-
de desastres ou acidentes.
mos notificar?

DICA
1.1. O QUE NOTIFICAR?  Estados e municípios podem criar suas pró-
prias listas! Em todo o território nacional a Lista
Nacional tem que ser seguida, mas estados e muni-
u Doenças, agravos e eventos de saúde pública.
cípios podem incorporar outros agravos de interesse
W Doença: enfermidade ou estado clínico, inde- local, tornando-os de notificação compulsória para
pendente de origem ou fonte, que represente aquela região.
ou possa representar um dano significo para
os seres humanos.
W Agravo: qualquer dano à integridade física ou 1.2. QUEM NOTIFICA?
mental do indivíduo, provocado por circuns-
tâncias nocivas, tais como acidentes, intoxi- u A notificação compulsória é obrigatória para os
cações por substâncias químicas, abuso de médicos, outros profissionais de saúde ou res-
drogas ou lesões decorrentes de violências ponsáveis pelos serviços públicos e privados
de saúde, que prestam assistência ao paciente.

187
Notificação compulsória Epidemiologia

u Qualquer cidadão pode notificar. 1.4. QUANDO NOTIFICAR?


W O profissional de saúde tem a obrigação de
notificar, mas qualquer cidadão pode fazê-lo. u Devemos notificar diante da suspeita ou confir-
No caso do profissional, a ficha de Notificação mação. Ou seja, basta suspeitar da doença para
Compulsória deve ser preenchida. No caso do notificá-la.
cidadão comum, a notificação pode ser por
telefone ou até à mídia. DICA
 Há documentos que orientam a notificação de
algumas doenças após sua confirmação. Esqueça
DICA esses documentos. A maioria das questões de prova
 Lembre-se que a notificação não é ato médico.
Qualquer profissional de saúde tem a obrigação de quer que você saiba o que está escrito na Portaria
notificar. 204, e lá está explícito que, independente da doença,
a notificação deve ser feita desde a suspeita.

1.3. POR QUE NOTIFICAR? u A notificação pode ser classificada como sema-
nal ou imediata:
u Potencial de disseminação, magnitude, gravi- W Imediata: deve ser feita em até 24 horas pe-
dade, severidade, transcendência e vulnerabi- los responsáveis pelo primeiro atendimento.
lidade são algumas características que fazem
W Semanal: feita em até uma semana do aten-
com que determinado agravo seja de notificação
dimento do paciente.
compulsória.
u Infelizmente temos que saber quais agravos são
W Potencial de disseminação: expresso pela
de notificação semanal e quais são de notifica-
transmissibilidade da doença, através de ve-
ção imediata. Como lembrar?
tores e demais fontes de infecção.
W Faça essas perguntas sobre o agravo:
W Magnitude: elevado impacto nas populações,
por alta incidência, prevalência, mortalidade V 1. É uma doença “vacinável”?: praticamente
ou anos potenciais de vida perdidos. todas as doenças presentes na caderneta
de vacinação que são de notificação com-
W Severidade: taxas de letalidade, hospitaliza-
pulsória são de notificação imediata. Tuber-
ções e sequelas.
culose e Hepatites virais são as exceções.
W Transcendência: relevância do agravo para a
V 2. Oferece risco iminente de morte?: Aci-
população, o que envolve severidade, impac-
dentes e doenças graves, que precisam de
tos sociais e econômicos.
tratamento rapidamente, geralmente são de
W Vulnerabilidade: disponibilidade de instrumen- notificação imediata. Doenças de evolução
tos de prevenção e controle. mais crônica, como HIV e Hanseníase, ge-
u Além dessas características, há doenças de im- ralmente são semanais.
portância sanitária internacional que são incluídas u É uma doença muito estranha?: Febre do Nilo
na lista por conta de compromissos adotados Ocidental, Ebola, Lassa, Tularemia, Síndrome da
com outros países. Paralisia Flácida Aguda. Muitas dessas doenças
são de importância internacional, o que as torna
DICA
 O sistema de informação alimentado pelas de notificação imediata. Cuidado: Creutzfeldt-Ja-
fichas de notificação é o SINAN (Sistema de Infor- kob é o nome mais estranho que temos na lista,
mação de Agravos de Notificação). mas é de notificação semanal.
W Se você respondeu “sim” para alguma dessas
perguntas sobre o agravo apresentado na sua
questão, provavelmente a notificação deve ser

188
Notificação compulsória Cap. 13

imediata. Isso é apenas um macete. A melhor u 09 meses: Febre Amarela Febre Amarela –
forma é respondendo dezenas de questões Imediata
sobre o assunto até se acostumar com as u 15 meses: Tetraviral Sarampo, Rubéola, Vari-
doenças que mais caem. cela (caso grave internado ou óbito) – Imediatas
W Caxumba não é de notificação compulsória.
u Outras idades: Influenza Influenza humana pro-
2. LISTA NACIONAL DE
duzida por novo subtipo viral – Imediata
NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA
u Apenas Tuberculose e Hepatites Virais são de
notificação semanal. Todas as outras são de
u Vamos dividir todos os 48 agravos em alguns notificação imediata.
grupos. Não deixe de assistir à aula. A divisão u Falamos em Febre Amarela, o que nos dá a “dei-
fica muito mais fácil de acompanhar pela aula. xa” para nosso próximo grupo.
Depois dessa divisão, você vai ver que esse as-
sunto vai ficar fácil, fácil. Vai ser mel na chupeta.
2.2. MOSQUITOS
Opa! Cuidado! Mel é perigoso para recém-nasci-
dos por causa do risco de Botulismo. (Algumas
dicas serão toscas assim mesmo. Não tem para u Febre Amarela: já apresentado
onde correr.) Você acaba de ser apresentado(a) u Aedes aegypti Dengue, Zika e Chikungunya.
à nossa primeira doença. W Casos são de notificação semanal.
W Botulismo – imediata W Óbitos são de notificação imediata.
W Zika: em gestantes, são de notificação imediata.
2.1. CALENDÁRIO VACINAL W Chikungunya: em locais sem transmissão, são
de notificação imediata.
u O primeiro grupo é aquele das doenças presentes u Malária Malária.
no nosso calendário vacinal. Vamos apresentar
W De notificação semanal na região amazônica
as vacinas que são dadas por faixa etária e, logo
e imediata fora dela.
em seguida as doenças, que são de notificação
compulsória: u Leishmaniose Leishmaniose Tegumentar Ame-
ricana e Leishmaniose visceral – semanais.
u Vacinas Eventos Adversos ou óbito pós-vaci-
nal – Imediata. u A Leishmaniose é transmitida por mosquito, mas
pode infectar animais, nos levando ao próximo
u Ao nascer: BCG e Hepatite B Tuberculose e
grupo.
Hepatites Virais – Semanais.
u 02 meses: Pentavalente, VIP, Pneumo-10 e Ro-
tavírus: Difteria, Tétano, Coqueluche, Doença 2.3. ANIMAIS
Invasiva causada por H. influenzae, Poliomielite
por poliovírus selvagem e cólera – Imediatas u Barbeiro Doença de Chagas Aguda – Imediata
W Rotavírus causa diarreia, porém é muito comum (A partir de 2020, Doença de Chagas crônica tor-
e geralmente autolimitada. Cólera causa uma nou-se de notificação compulsória. Discutiremos
diarreia mais grave. Por isso, forçamos a barra ao final do capítulo).
nessa “substituição” aqui no grupo das vacinas. u Cobra/Escorpião/etc. Acidente por Animal Pe-
W Pneumonia também é muito comum para que çonhento – Imediata.
notifiquemos todas. u Cachorro (e alguns outros) Raiva humana e
u 03 meses: Meningocócica Meningites, Doença Acidente por animal potencialmente transmis-
Meningocócica – Imediatas sor da raiva – Imediata.

189
Notificação compulsória Epidemiologia

u Caramujo Esquistossomose – Semanal. 2.5. OUTRAS DOENÇAS


u Carne infectada Toxoplasmose gestacional
ou congênita, Febre tifoide e Creutzfeldt-Jakob. u Agora temos muitas daquelas doenças que nem
W Toxoplasmose gestacional ou congênita e conhecemos direito e que, ainda bem, caem me-
Creutzfeldt-Jakob são semanais. nos na prova. A partir daqui, quase todas serão
memorização pura e simples. Só faltam 10 agra-
W Febre tifoide é imediata.
vos. Temos um macete no final para 3 delas. As
u Na nossa lista de animais, temos 2 exemplos de outras 7, caso você encontre na sua prova, você
acidentes (com animal peçonhento e potencial- lembrará de tê-las visto aqui. Vamos lá!
mente transmissor da raiva). Com isso, vamos
u Doenças febris hemorrágicas emergentes e ree-
apresentar o próximo grupo.
mergentes (Arenavírus, Ebola, Marburg, Lassa e
Febre purpúrica brasileira) – Imediata.
2.4. ACIDENTES E VIOLÊNCIA u Febre do Nilo Ocidental e outras arboviroses de
importância em saúde pública – Imediata.
u Acidentes de trabalho Acidente de Trabalho u Febre Maculosa e outras Ricketisioses – Imediata.
com Material Biológico, Acidente de Trabalho
grave ou fatal, Acidente de trabalho envolvendo
u Peste – Imediata.
criança ou adolescente. u Síndrome da Paralisia Flácida Aguda – Imediata.
W Com material biológico, é de notificação se- u Agora faltam só 5. Uma delas, com certeza, es-
manal. Os outros 2 exemplos são de notifica- tará na sua prova.
ção imediata. u Coronavírus Síndrome Respiratória Aguda
u IST HIV/AIDS, Sífilis. Grave associada a Coronavírus: SARS-COV e
W Teve HIV, é para notificar. Gestante, criança, MERS-COV – Imediata.
com AIDS ou sem = notificação semanal. W Esses foram os coronavírus anteriores. O SAR-
W Teve sífilis, é para notificar. Adquirida, congê- S-COV2 ainda não apareceu na Lista Nacional
nita ou em gestante = notificação semanal. formalmente, mas a recomendação, no mo-
mento, é de notificação de todo caso suspei-
to de forma imediata, evoluindo ou não para
DICA
 Muita prova lhe apresenta situações específi- SRAG. É importante se manter atualizado so-
cas envolvendo sífilis e HIV para que você considere bre o que será considerado caso suspeito na
como sendo de notificação imediata. Não são. Sífilis data da prova.
e HIV sempre são de notificação semanal. u Óbitos Óbitos Infantil e Materno – Semanal.
W Sim, além da Declaração de Óbito, temos que
u Intoxicação exógena Intoxicação Exógena (por fazer a notificação desses óbitos.
substâncias químicas, incluindo agrotóxicos,
u A pior de todas. O macete que vamos apresentar
gases tóxicos e metais pesados) – semanal.
agora é o mais tosco de todos, mas vai te ajudar.
u Violência: Estão faltando 3 doenças, e esperamos que você
W Violência doméstica e/ou outras violências nunca mais esqueça.
– Semanal. W Hanseníase______ Leptospirose
W Violência sexual e tentativa de suicídio – W Han(xxxxxxx) ___ (xxxxxxx)irose
Imediata.
W Han _________________________irose
u Doenças com suspeita de disseminação inten-
W Han __ irose
cional Antraz pneumônico, Tularemia e Varío-
la – imediata.
W Hantavirose

190
Notificação compulsória Cap. 13

u Isso mesmo, você não entendeu errado. Pega- u Hanseníase – Semanal.


mos Hanseníase e “fundimos” com leptospiro- u Leptospirose – Imediata.
se. O resultado foi Hantavirose. Essas são as 3 u Hantavirose – Imediata.
doenças que estavam faltando.
u Abaixo está a Lista Nacional de Agravos de No-
tificação (Tabela 1).

Tabela 1. Lista de notificação compulsória.

Periodicidade de notificação

Imediata
Nº Doença ou agravo (ordem alfabética) Outros
(até 24 horas) para* Semanal*
documentos
MS SES SMS

a. Acidente de trabalho com exposição a material biológico X


1 b. Acidente de trabalho: grave, fatal e em crianças e adoles-
X
centes

2 Acidente por animal peçonhento X

3 Acidente por animal potencialmente transmissor da raiva X

4 Botulismo X X X

5 Cólera X X X

6 Coqueluche X X

a. Dengue – Casos X
7
b. Dengue – Óbitos X X X

8 Difteria X X

a. Doença de Chagas Aguda X X


9
b. Doença de Chagas Crônica X

10 Doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ) X

a. Doença Invasiva por Haemophilus Influenza X X


11
b. Doença Meningocócica e outras meningites X X

Doenças com suspeita de disseminação intencional: a. Antraz


12 X X X
pneumônico b. Tularemia c. Varíola

Doenças febris hemorrágicas emergentes/reemergentes: a.


13 Arenavírus b. Ebola c. Marburg d. Lassa e. Febre purpúrica X X X
brasileira

a. Doença aguda pelo vírus Zika X

14 b. Doença aguda pelo vírus Zika em gestante X X

c. Óbito com suspeita de doença pelo vírus Zika X X X

15 Esquistossomose X

16 Evento de Saúde Pública (ESP) X X X

17 Eventos adversos graves ou óbitos pós-vacinação X X X

191
Notificação compulsória Epidemiologia

Periodicidade de notificação

Imediata
Nº Doença ou agravo (ordem alfabética) Outros
(até 24 horas) para* Semanal*
documentos
MS SES SMS

18 Febre Amarela X X X

a. Febre de Chikungunya X

19 b. Febre de Chikungunya em áreas sem transmissão X X X

c. Óbito com suspeita de Febre de Chikungunya X X X

Febre do Nilo Ocidental e outras arboviroses de importância


20 X X X
em saúde pública

21 Febre Maculosa e outras Riquetisioses X X X

22 Febre Tifoide X X

23 Hanseníase X

24 Hantavirose X X X

25 Hepatites virais X

HIV/AIDS – Infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana


26 X
ou Síndrome da Imunodeficiência Adquirida

Infecção pelo HIV em gestante, parturiente ou puérpera e


27 X
criança exposta ao risco de transmissão vertical do HIV

28 Infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) X

29 Influenza humana produzida por novo subtipo viral X X X

Intoxicação Exógena (por substâncias químicas, incluindo


30 X
agrotóxicos, gases tóxicos e metais pesados)

31 Leishmaniose Tegumentar Americana X

32 Leishmaniose Visceral X

33 Leptospirose X

a. Malária na região amazônica X


34
b. Malária na região extra-amazônica X X X

35 Óbito: a. Infantil b. Materno X

36 Poliomielite por poliovírus selvagem X X X

37 Peste X X X

38 Raiva humana X X X

39 Síndrome da Rubéola Congênita X X X

40 Doenças Exantemáticas: a. Sarampo b. Rubéola X X X

41 Sífilis: a. Adquirida b. Congênita c. Em gestante X

42 Síndrome da Paralisia Flácida Aguda X X X

Síndrome Respiratória Aguda Grave associada a Coronavírus


43 X X X
a. SARS-CoV b. MERS – CoV

192
Notificação compulsória Cap. 13

Periodicidade de notificação

Imediata
Nº Doença ou agravo (ordem alfabética) Outros
(até 24 horas) para* Semanal*
documentos
MS SES SMS

44 Tétano: a. Acidental b. Neonatal X

45 Toxoplasmose gestacional e congênita X

46 Tuberculose X

47 Varicela – caso grave, internado ou óbito X X

a. Violência doméstica e/ou outras violências X


48
b. Violência sexual e tentativa de suicídio X
Fonte: Brasil.3

2.6. ATUALIZAÇÕES 2020 Tabela 2. Lista Nacional de Doenças e Agravos a serem


monitorados pela Estratégia de Vigilância Sentinela.
u Em 2020, o Ministério da Saúde incluiu a Doença Nº Doença ou agravo
de Chagas crônica à lista nacional: I. Vigilância em Saúde do Trabalhador
u Doenças de Chagas crônica – Semanal. 1 Câncer relacionado ao trabalho
u Outros três agravos haviam sido adicionados, 2 Dermatoses ocupacionais
mas foram retirados logo em seguida. Foram
Lesões por Esforços Repetitivos/
eles: criptococose, paracoccidioidomicose e
3 Distúrbios Osteomusculares Relacionados
esporotricose humana. ao Trabalho (LER/DORT)
Perda Auditiva Induzida por Ruído
4
2.7. UNIDADES SENTINELA – PAIR relacionada ao trabalho
5 Pneumoconioses relacionadas ao trabalho
u O que são unidades sentinela? A Vigilância Sen- 6 Transtornos mentais relacionados ao trabalho
tinela é um modelo de vigilância que utiliza es-
II. Vigilância de doenças de transmissão respiratória
tabelecimentos de saúde estratégicos. Ou seja,
em determinadas unidades (ou municípios), al- 1 Doença pneumocócica invasiva
guns outros agravos, além daqueles presentes na 2 Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG)
lista discutida acima, podem ser de notificação
3 Síndrome Gripal (SG)
compulsória. Observe a lista abaixo (Tabela 2).
III. Vigilância de doenças de transmissão
hídrica e/ou alimentar

1 Rotavírus
2 Doença Diarreica Aguda
3 Síndrome Hemolítica Urêmica
IV. Vigilância de doenças
sexualmente transmissíveis

1 Síndrome do Corrimento Uretral Masculino


V. Síndrome neurológica pósinfecção
febril exantemática

Fonte: Brasil.1

193
Notificação compulsória Epidemiologia

REFERÊNCIAS

1. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria n. 205, de 17 de


fevereiro de 2016. Define a lista nacional de doenças e
agravos, na forma do anexo, a serem monitorados por
meio da estratégia de vigilância em unidades sentinelas
e suas diretrizes. Diário Oficial da União. 2016.
2. Fundação Nacional de Saúde (BR). Guia de vigilância
epidemiológica / Fundação Nacional de Saúde. 5. ed.
Brasília: FUNASA; 2002.
3. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria n. 264, de 17 de
fevereiro de 2020. Altera a Portaria de Consolidação n. 4/
GM/MS, de 28 de setembro de 2017, para incluir a doença
de Chagas crônica, na Lista Nacional de Notificação
Compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde
pública nos serviços de saúde públicos e privados em
todo o território nacional. Diário Oficial da União. 2020.
4. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria n. 204, de 17 de
fevereiro de 2016. Define a Lista Nacional de Notificação
Compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde
pública nos serviços de saúde públicos e privados em
todo o território nacional, nos termos do anexo, e dá
outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 18
fev. 2016. Seção 1, p. 23-24.
5. Brasil. Lei n. 13.685, de 25 de junho de 2018. Altera a Lei
n. 12.732, de 22 de novembro de 2012, para estabelecer
a notificação compulsória de agravos e eventos em
saúde relacionados às neoplasias, e a Lei n. 12.662, de
5 de junho de 2012, para estabelecer a notificação com-
pulsória de malformações congênitas. Diário Oficial da
União – Seção 1. 2018.
6. Ministério da Saúde (BR). Sistema de Informação de Agra-
vos de Notificação – Sinan: normas e rotinas / Ministério da
Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento
de Vigilância Epidemiológica. 2. ed. Brasília: Ministério
da Saúde; 2007

194
Notificação compulsória Epidemiologia

a Doença de Chagas Crônica foi adicionada efeti-


vamente à lista. Malária, violência sexual e violên-
cia doméstica já faziam parte da lista. covid-19 foi
notificada de forma compulsória, mas não houve
portaria efetivando sua adição à Lista Nacional.
✔ RESPOSTA: 

200
Capítulo
INDICADORES DE SAÚDE
14

IMPORTÂNCIA/PREVALÊNCIA

O QUE VOCÊ PRECISA SABER?

u Prevalência diz respeito ao número total de casos.


u Incidência diz respeito ao número de casos novos em determinado intervalo de tempo.
u O denominador do coeficiente de mortalidade materna é o número total de nascidos vivos.
u Os dados atualizados de 2020 (os mais recentes disponíveis no DATASUS) indicam que a principal causa
de óbitos no Brasil são as doenças do aparelho circulatório.

1. INDICADORES DE MORBIDADE W Maior capacidade diagnóstica Aumenta o


número de diagnósticos da doença.
W Controle da doença Pessoas com a doença
1.1. PREVALÊNCIA vivem mais tempo e continuam na estatística
de prevalência.
u Definição: Número total de casos. Retrato / u O que diminui a prevalência de uma doença?
Somatório.
W Obviamente, redução na incidência, imigração,
u Exemplo: 38 milhões de pessoas viviam com HIV capacidade diagnóstica e controle.
no mundo em 2019.
W Alta letalidade Pessoas morrem pela doen-
W Sabemos o número total de casos. Não esta- ça e deixam de fazer parte da estatística de
mos informando quantas pessoas adquiriram prevalência.
a doença naquele ano.
W Aumento na emigração de doentes Reduz o
u O que aumenta a prevalência de uma doença? número total de casos.
W Aumento na incidência Aumenta o número W Descoberta da cura Pessoas deixam de ter
de casos novos. a doença.
W Aumento na imigração de doentes Aumenta W Melhor prevenção Menos pessoas adoecem.
o número de casos novos.

201
Indicadores de saúde Preventiva

Figura 1. Eventos que influenciam adquiriram a doença entre janeiro e dezembro de


a prevalência de doenças. 2021? Doenças mais agudas, de rápida resolu-
ção, como dengue, gripe e resfriado, geralmente
apresentam incidência maior que prevalência.
O mesmo ocorre para doenças com alta letali-
dade, como a raiva humana.

2. OUTROS CONCEITOS

2.1. LETALIDADE

u Definição: Proporção de mortes por determina-


da doença.
u Exemplo: De 1.000 pessoas que adoecem, 100
evoluem a óbito. Letalidade = 10%.

2.2. MORTALIDADE

Fonte: Acervo Sanar.


2.2.1. Geral

1.2. INCIDÊNCIA u Definição: Número total de mortes em determi-


nada população.
u Definição: Número de casos novos da doença u Exemplo: No ano de 2018, a mortalidade geral no
na população avaliada em determinado interva- Brasil foi de 6,7 mortes/1.000 habitantes.
lo de tempo.
u Exemplo: Em 2019, 1,7 milhão de pessoas foram DICA
 Mortalidade geral não é um bom indicador
diagnosticadas com HIV no mundo. das condições de saúde de uma determinada po-
W Ou seja, a prevalência de HIV em 2019 era de pulação, visto que não sabemos nada sobre os
38 milhões de casos, enquanto sua incidência óbitos, como causa ou faixa etária.
foi de 1,7 milhão de casos novos para o perío-
do de janeiro a dezembro de 2019.
2.2.2. Proporcional
u O que aumenta a incidência de uma doença?
W Aumento na imigração de doentes. u Definição: Realizamos algum tipo de distinção
W Maior capacidade diagnóstica. (geralmente a causa).
u O que reduz a incidência de uma doença?
u Exemplo: No ano de 2021, a cidade X, cuja po-
pulação é de 100 mil pessoas, apresentou 1.000
W Melhor prevenção.
óbitos, sendo 500 de doenças respiratórias. Ti-
vemos, portanto, 5 mortes por doenças respira-
1.3. PREVALÊNCIA X INCIDÊNCIA tórias para cada 1.000 habitantes.

u Prevalência é sempre maior que incidência? 2.2.3. Materna


NÃO!!! Pense no coronavírus em 2021. Qual nú-
u Definição: “Morte de uma mulher durante a ges-
mero é maior – pessoas vivendo com a doença
tação ou até 42 dias após o término da gestação,
no dia 31 de dezembro de 2021 ou pessoas que

202
Indicadores de saúde Cap. 14

independente da duração ou da localização da u a) COEFICIENTE DE LETALIDADE


gravidez, devida a qualquer causa relacionada W Letalidade = Nº total de óbitos por determina-
com ou agravada pela gravidez ou por medidas da doença/Nº total de doentes.
em relação a ela, porém não devida a causas u b) COEFICIENTE DE MORTALIDADE GERAL
acidentais ou incidentais” (CID-10).
W Mortalidade geral = Nº total de óbitos/Popu-
u Simplificando a definição para ser morte ma-
lação avaliada.
terna, precisa preencher os seguintes critérios:
u c) COEFICIENTE DE MORTALIDADE POR CAUSA
W Morte durante a gestação ou até 42 dias após
o parto.
W Mortalidade por AVC = Nº total de óbitos por
AVC/População avaliada.
W Causada pela gravidez ou por comorbidade
agravada pela gravidez.
u d) COEFICIENTE DE MORTALIDADE MATERNA
V Causa direta: Problema que ocasionou o
W Mortalidade materna = Nº total de óbitos por
óbito foi gerado pela gestação. causas maternas/Nascidos vivos.
t Ex.: descolamento de placenta, eclâmpsia.
DICA
V Causa indireta: Problema já existia e foi  Não esqueça que o denominador do coe-
agravado pela gestação. ficiente de mortalidade materna é o número de
nascidos vivos.
t Ex.: Complicações do Lúpus Eritemato-
so Sistêmico.
W Não pode ter sido morte acidental ou incidental.
u e) COEFICIENTE DE MORTALIDADE INFANTIL
W Mortalidade infantil = Nº total de óbitos em
2.2.4. Infantil menores de 1 ano/Nascidos vivos.

u Definição: Morte de crianças no primeiro ano


DICA
de vida.  Mortalidade na infância não é a mesma coi-
sa que mortalidade infantil. Para mortalidade na
W Neonatal Até 27 dias.
infância, consideramos crianças até os 5 anos de
W Neonatal precoce Até 6 dias. idade.
W Neonatal tardia 7-27 dias.
W Pós-neonatal > 27 dias.
3.2. ÍNDICES

DICA
 Mortalidades materna e infantil são indica- u Índice: Numerador = Denominador.
tivos da situação de saúde de uma determinada
localidade.
W Ex.: Numerador trata de óbitos e denomina-
dor também óbitos em menor de 1 ano/
total de óbitos.
u O índice mais cobrado na sua prova é o seguinte:
3. COEFICIENTES E ÍNDICES u SWAROOP-UEMURA OU RAZÃO DE MORTALI-
DADE PROPORCIONAL
W Mortalidade ≥ 50 anos/Mortalidade Geral.
3.1. COEFICIENTES

DICA
u Coeficiente: Numerador ≠ Denominador.  O índice de Swaroop-Uemura traduz a si-
tuação de saúde de uma população, visto que, em
u Ex.: Numerador trata de óbitos e denominador
uma sociedade com bons indicadores de saúde,
de população mortes por causa materna/nas-
esperamos que a maior parte dos óbitos se dê em
cidos vivos.
pessoas mais idosas.

203
Indicadores de saúde Preventiva

4. CURVAS DE NELSON MORAES

u As curvas de Nelson Moraes, ou curvas de mor- leiro que idealizou essas curvas nos anos 1950,
talidade proporcional, são representações gráfi-
associou cada um dos 4 formatos de curva a um
cas da distribuição proporcional dos óbitos por
faixas etárias. Nelson Moraes, sanitarista brasi- “nível de saúde”.

Figura 2. Evolução esquematizada do nível de saúde avaliado pelas curvas de mortalidade proporcional.

Fonte: Laurenti et al.1

W Tipo IV: Nível de saúde elevado Número bai- por exemplo, sociedades com conflitos arma-
xo de mortes em crianças e adultos jovens, dos, em que os adultos jovens são incapazes
aumentando exponencialmente com a idade. de sobreviver. Por isso, não há aumento da
mortalidade nas idades mais avançadas, vis-
W Tipo III: Nível de saúde regular A mortalidade
to que a população não “consegue” alcançar
na infância (até 5 anos de idade) já se mostra
idades mais avançadas.
maior do que no nível IV, mas no geral conti-
nuamos tendo um aumento mais expressivo
da mortalidade nos pacientes mais velhos.
W Tipo II: Nível de saúde baixo A mortalidade 5. TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA
em crianças é a mais expressiva de todas, ha- E EPIDEMIOLÓGICA
vendo um leve aumento na população de mais
idade. Reflete sociedades com saneamento
básico muito precário e pobreza extrema. 5.1. TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA
W Tipo I: Nível de saúde muito baixo Temos uma
alta mortalidade infantil, mas o pico ocorre nos u Descreve a dinâmica do crescimento populacio-
adultos jovens, havendo queda da mortalida- nal. Basicamente, falamos sobre as alterações na
de entre aqueles de mais idade. Por que essa expectativa de vida, que culminam nas mudanças
curva é pior que a tipo II? Essa curva reflete, da pirâmide etária de determinada localidade.

204
Indicadores de saúde Cap. 14

Figura 3. Pirâmides populacionais do Brasil em 1900, 1950, 1980, 2000 e 2050.

Fonte: ONU.2

u Em 1900, uma parcela muito significativa da W Melhora do saneamento básico Menos mor-
população era composta por crianças e ado- tes por doenças infecciosas.
lescentes, enquanto poucas pessoas tinham 70 u Por conta de todas essas mudanças, passamos
anos ou mais. Nos anos 2000, passamos a ter a ter uma população mais idosa e proporcional-
uma parcela maior de pessoas entre 15-59 anos. mente menos assolada por doenças infecciosas,
Para 2050, a previsão é de uma “pirâmide” mais o que resultou em:
distribuída, com redução do número de crianças
W Aumento de Doenças Crônicas não transmis-
e aumento significativo do número de idosos.
síveis e mortes provocadas por elas;
W Aumento de mortalidade por causas externas
5.2. TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA (principal causa em adultos jovens).

u Entende-se por transição epidemiológica as alte-


rações nos indicadores de saúde, como mortali- 6. PERFIL DE MORBIMORTALIDADE
dade e natalidade. É a transição epidemiológica
que causa a transição demográfica. O que vem
u Outro aspecto muito cobrado nas provas é o per-
ocorrendo no Brasil nas últimas décadas que
fil de morbimortalidade da sociedade brasileira.
culminou na alteração da pirâmide etária?
O que isso quer dizer? Basicamente quais são
W Redução da natalidade. as principais causas de óbito e de adoecimento
W Redução da mortalidade infantil. na população, divididos por sexo e faixa etária.
u Apresentaremos os indicadores referentes a dois
W Redução da mortalidade materna.
momentos distintos: 2019 (antes da pandemia
W Aumento da esperança de vida ao nascer. da Covid-19) e os dados do DATASUS de 2020.

205
Indicadores de saúde Preventiva

Observe como tivemos um aumento expressivo V 1. Doenças do aparelho circulatório.


nos óbitos por “Algumas Doenças Infecciosas e V 2. Algumas doenças infecciosas e parasi-
Parasitárias”, grupo ao qual pertence a Covid-19. tárias.
V 3. Neoplasias.
DICA
 Os dados referentes a 2021 só ficam dispo- u INFANTIL (ATÉ 1 ANO)
níveis no segundo semestre de 2022, mas prova- W 2019
velmente as doenças infecciosas representarão a
principal causa de óbito no Brasil, superando as
V 1. Afecções do período perinatal.
doenças do aparelho circulatório. Em 2021, essas V 2. Malformações e cromossomopatias.
atualizações “em cima da hora” praticamente não V 3. Doenças do aparelho respiratório.
foram cobradas, mas é importante que você esteja
W 2020
vigilante, e nós ajudaremos com qualquer atualiza-
ção ao longo do ano." V 1. Afecções do período perinatal.
V 2. Malformações e cromossomopatias.
V 3. Algumas doenças infecciosas e parasi-
6.1. MORTALIDADE POR CAUSA
tárias.
u GERAL
u NEONATAL (ATÉ 27 DIAS)
W 2019
W 2019
V 1. Doenças do aparelho circulatório.
V 1. Afecções do período perinatal.
V 2. Neoplasias.
V 2. Malformações e cromossomopatias.
V 3. Doenças do Aparelho Respiratório.
V 3. Algumas doenças infecciosas e parasi-
tárias.
W 2020
W 2020
V 1. Doenças do aparelho circulatório.
V O mesmo padrão se manteve.
V 2. Algumas doenças infecciosas e parasi-
tárias.
u PÓS-NEONATAL (28 DIAS-1 ANO)
V 3. Neoplasias.
W 2019
u SEXO MASCULINO
V 1. Malformações e cromossomopatias.
W 2019
V 2. Afecções do período perinatal.
V 1. Doenças do aparelho circulatório.
V 3. Doenças do aparelho respiratório.
V 2. Neoplasias.
W 2020
V 3. Causas externas.
V 1. Malformações e cromossomopatias.
W 2020
V 2. Afecções do período perinatal.
V 1. Doenças do aparelho circulatório.
V 3. Algumas doenças infecciosas e parasi-
tárias.
V 2. Algumas doenças infecciosas e parasi-
tárias.
u MATERNA
V 3. Neoplasias.
V 1. Hipertensão.
u SEXO FEMININO
V 2. Hemorragia.
W 2019
V 3. Infecção.
V 1. Doenças do aparelho circulatório.
DICA
V 2. Neoplasias.  Em 2019, a principal causa de óbito na po-
pulação entre 1-49 anos era o grupo das causas
V 3. Doenças do aparelho respiratório.
externas, como acidente, violência e suicídio. Em
W 2020

206
Indicadores de saúde Cap. 14

2020, causas externas permaneceram como prin- W 2. Próstata.


cipal causa de óbito entre 1-39 anos. u SEXO FEMININO
W 1. Mama.
6.2. PRINCIPAIS NEOPLASIAS W 2. Pulmão.

u SEXO MASCULINO DICA


 Parece muita coisa para memorizar, mas
W 1. Próstata. não é tão difícil, desde que você não se contente
W 2. Colorretal. em simplesmente ler essas listas. Realmente se
W 3. Pulmão. esforce para memorizar e se teste para ter a certeza
de que o conteúdo foi memorizado.
u SEXO FEMININO
W 1. Mama.
W 2. Colorretal.
W 3. Colo do útero.
REFERÊNCIAS

DICA
 Sempre que falamos das principais neopla-
sias, estamos excluindo as neoplasias de pele não 1. Laurenti R, Buchalla CM. Estudo da morbidade e mortali-
dade perinatal em maternidades: II - Mortalidade perinatal
melanoma.
segundo o peso ao nascer, idade materna, assistência
pré-natal e hábito de fumar da mãe. Rev Saúde Púb.
1985; 19: 225-32.
6.3. NEOPLASIAS COM MAIOR
2. ONU (dados da revisão 2004). [Internet]. [acesso em 10
MORTALIDADE out. 2019]. Disponível em: http://esa.un.org/unpp.
3. Almeida Filho N, Barreto ML. Epidemiologia & Saúde: fun-
u SEXO MASCULINO damentos, métodos e aplicações. São Paulo: Guanabara
W 1. Pulmão. Koogan; 2012.

207
Capítulo
ÉTICA MÉDICA
15

IMPORTÂNCIA/PREVALÊNCIA

O QUE VOCÊ PRECISA SABER?

u Os princípios basilares da bioética são a não-maleficência, a beneficência, o respeito à autonomia e a justiça


u A Eutanásia é proibida, a distanásia deve ser evitada e a ortotanásia é encorajada pelo Código de Ética Médica
u É vedado ao médico prescrever tratamento ou outros procedimentos sem exame direto do paciente
u É vedado ao médico revelar fato de que tenha conhecimento em virtude do exercício de sua profissão,
salvo por motivo justo, dever legal ou consentimento, por escrito, do paciente.

1. O NOVO CÓDIGO DE ou moral, para o extermínio do ser humano ou


ÉTICA MÉDICA para permitir e acobertar tentativas contra sua
dignidade e integridade.

u Destacaremos pontos importantes de cada ca-


DICA
pítulo do Código de Ética Médica. Quando ne-  O princípio da não maleficência está presente
cessário, realizaremos comentários ou traremos nesse artigo.
exemplos para garantir melhor preparação para
as questões de prova. u VII – O médico exercerá sua profissão com au-
tonomia, não sendo obrigado a prestar serviços
1.1. PREÂMBULO que contrariem os ditames de sua consciência
ou a quem não deseje, excetuadas as situações
u III – Para o exercício da medicina, impõe-se a de ausência de outro médico, em caso de urgên-
inscrição no Conselho Regional do respectivo cia ou emergência, ou quando sua recusa possa
estado, território ou distrito federal. trazer danos à saúde do paciente.
u V – A fiscalização do cumprimento das normas
u XI – O médico guardará sigilo a respeito das
estabelecidas neste Código é atribuição dos informações de que detenha conhecimento no
Conselhos de Medicina, das comissões de ética desempenho de suas funções, com exceção dos
e dos médicos em geral. casos previstos em lei.
u XVIII – O médico terá, para com os colegas,
respeito, consideração e solidariedade, sem se
1.2. CAPÍTULO 1 – PRINCÍPIOS
eximir de denunciar atos que contrariem os pos-
FUNDAMENTAIS
tulados éticos.
u VI – O médico guardará absoluto respeito pelo
u XXI – No processo de tomada de decisões pro-
ser humano e atuará sempre em seu benefício, fissionais, de acordo com seus ditames de cons-
mesmo depois da morte. Jamais utilizará seus ciência e as previsões legais, o médico aceitará
conhecimentos para causar sofrimento físico as escolhas de seus pacientes, relativas aos
procedimentos diagnósticos e terapêuticos por

215
Ética médica Ética médica

eles expressos, desde que adequadas ao caso DICA


 Pacientes com prognósticos muito reserva-
e cientificamente reconhecidas.
dos, sem possibilidade de reversão do quadro ou
u XXII – Nas situações clínicas irreversíveis e ter- reabilitação para uma vida com qualidade, muitas
minais, o médico evitará a realização de procedi- vezes são deixados dias em ventilação mecânica,
mentos diagnósticos e terapêuticos desnecessá- numa UTI, com drogas vasoativas. Podemos consi-
rios e propiciará aos pacientes sob sua atenção derar a distanásia como um exemplo de obstinação
todos os cuidados paliativos apropriados. terapêutica.
u A partir desse artigo XXII, podemos discutir três
conceitos que caem com certa frequência nas u Voltando ao Código de Ética.
provas de residência:
W Eutanásia: prática para abreviar a vida, a fim
1.3. CAPÍTULO 2 – DIREITOS DOS MÉDICOS
de aliviar ou evitar sofrimento do paciente.
V A Eutanásia é proibida. u É direito do médico:
u IV – Recusar-se a exercer sua profissão em insti-
DICA
 Forma fácil de lembrar: eutanásia é ajudar tuição pública ou privada onde as condições de
um paciente que está sofrendo a morrer. Realizar trabalho não sejam dignas ou possam prejudicar
uma ação para facilitar ou promover a morte. a própria saúde ou a do paciente, bem como a
dos demais profissionais. Nesse caso, comuni-
W Ortotanásia: não promover o adiamento do cará imediatamente sua decisão à comissão de
óbito, permitindo uma morte sem sofrimen- ética e ao Conselho Regional de Medicina.
to. Dispensa utilização de métodos despro-
porcionais de prolongamento da vida, como DICA
 Por conta da covid-19 e dos EPIs necessários
procedimentos invasivos. para atendimento dos pacientes suspeitos e/ou
V A Ortotanásia é o que queremos realizar (res- confirmados, esse artigo pode ser cobrado na sua
peitando a decisão do paciente e da família). prova.
V Ex.: Fornecer analgesia e sedação a um pa-
ciente oncológico em fim de vida em vez de u IX – Recusar-se a realizar atos médicos que,
proceder com intubação, transferência para embora permitidos por lei, sejam contrários aos
UTI e manutenção de drogas vasoativas é ditames de sua consciência.
um exemplo de ortotanásia.
1.4. CAPÍTULO 3 – RESPONSABILIDADE
DICA PROFISSIONAL
 Forma fácil de lembrar: ortotanásia é permitir
que a morte natural aconteça, fornecendo confor-
to. Trata-se de evitar o adiamento da morte, sem, u É vedado ao médico:
entretanto, provocá-la. u Art. 1º: Causar dano ao paciente, por ação ou
omissão, caracterizável como imperícia, impru-
W Distanásia: conceituada como morte difícil ou dência ou negligência.
penosa. Indica o prolongamento do processo u Sabe as diferenças entre esses três termos?
da morte, por meio de tratamento que apenas W Imperícia: falta de habilidade para executar.
prolonga a vida biológica do paciente, sem
qualidade de vida e sem dignidade.
W Imprudência: agir sem precaução, atenção
ou cuidado.
V A Distanásia deve ser evitada.
W Negligência: falta de cuidado através da omis-
são.

216
Ética médica Cap. 15

u Art. 8º: Afastar-se de suas atividades profissio- u Parágrafo único. O atendimento médico a dis-
nais, mesmo temporariamente, sem deixar outro tância, nos moldes da telemedicina ou de outro
médico encarregado do atendimento de seus pa- método, dar-se-á sob regulamentação do Con-
cientes internados ou em estado grave. selho Federal de Medicina.

1.5. CAPÍTULO 4 – DIREITOS HUMANOS DICA


 Lembre: você não pode prescrever nada
sem exame direto do paciente. Aquela “ajudinha”
u É vedado ao médico: prescrevendo o medicamento de pressão para a
u Art. 22: Deixar de obter consentimento do paciente mãe da funcionária do hospital, sem examiná-la,
ou de seu representante legal após esclarecê-lo caracteriza conduta antiética. Isso só está autori-
zado em caso de risco iminente de morte ou nos
sobre o procedimento a ser realizado, salvo em
moldes da Telemedicina.
caso de risco iminente de morte.

DICA 1.7. CAPÍTULO 6 – DOAÇÃO E


 Em praticamente todas as situações que não
envolvem risco iminente de morte, a autonomia do TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS
paciente deve ser preservada.
u É vedado ao médico:
u Art. 24: Deixar de garantir ao paciente o exercício u Art. 43: Participar do processo de diagnóstico da
do direito de decidir livremente sobre sua pessoa morte ou da decisão de suspender meios artifi-
ou seu bem-estar, bem como exercer sua autori- ciais para prolongar a vida do possível doador,
dade para limitá-lo. quando pertencente à equipe de transplante.
u Art. 26: Deixar de respeitar a vontade de qualquer
pessoa, considerada capaz física e mentalmente, 1.8. CAPÍTULO 7 – RELAÇÃO
em greve de fome, ou alimentá-la compulsoria- ENTRE MÉDICOS
mente, devendo cientificá-la das prováveis com-
plicações do jejum prolongado e, na hipótese de u É vedado ao médico:
risco iminente de morte, tratá-la. u Art. 57: Deixar de denunciar atos que contrariem
os postulados éticos à comissão de ética da insti-
1.6. CAPÍTULO 5 – RELAÇÃO COM tuição em que exerce seu trabalho profissional e,
PACIENTES E FAMILIARES se necessário, ao Conselho Regional de Medicina.

u É vedado ao médico: DICA


 Pois é, você tem a obrigação de reportar à
u Art. 31: Desrespeitar o direito do paciente ou de Comissão de Ética ou ao Conselho as violações
seu representante legal de decidir livremente sobre éticas dos seus colegas de trabalho. Se não reportar,
a execução de práticas diagnósticas ou terapêu- quem está violando o Código é você.
ticas, salvo em caso de iminente risco de morte.
u Art. 32: Deixar de usar todos os meios disponíveis
de diagnóstico e tratamento, cientificamente reco- 1.9. CAPÍTULO 8 – REMUNERAÇÃO
nhecidos e a seu alcance, em favor do paciente. PROFISSIONAL
u Art. 37: Prescrever tratamento ou outros proce-
dimentos sem exame direto do paciente, salvo u É vedado ao médico:
em casos de urgência ou emergência e impos- u Art. 58: O exercício mercantilista da Medicina.
sibilidade comprovada de realizá-lo, devendo,
nessas circunstâncias, fazê-lo imediatamente
após cessar o impedimento.

217
Ética médica Ética médica

1.10. CAPÍTULO 9 – SIGILO PROFISSIONAL u Art. 75: Fazer referência a casos clínicos identifi-
cáveis, exibir pacientes ou seus retratos em anún-
u É vedado ao médico: cios profissionais ou na divulgação de assuntos
médicos, em meios de comunicação em geral,
u Art. 73: Revelar fato de que tenha conhecimento
mesmo com autorização do paciente.
em virtude do exercício de sua profissão, salvo
por motivo justo, dever legal ou consentimento,
por escrito, do paciente. DICA
 Mesmo que o paciente autorize que você o
u Parágrafo único. Permanece essa proibição: identifique numa postagem em rede social, você não
W a) mesmo que o fato seja de conhecimento pode identificá-lo. Sabe aquela foto no Instagram
com a criança que seu colega atendeu? Também
público ou o paciente tenha falecido;
não pode.
W b) quando de seu depoimento como testemu-
nha. Nessa hipótese, o médico comparecerá
perante a autoridade e declarará seu impedi-
u Art. 76: Revelar informações confidenciais ob-
mento; tidas quando do exame médico de trabalhado-
res, inclusive por exigência dos dirigentes de
W c) na investigação de suspeita de crime o mé-
empresas ou de instituições, salvo se o silêncio
dico estará impedido de revelar segredo que
puser em risco a saúde dos empregados ou da
possa expor o paciente a processo penal.
comunidade.
u Art. 78: Deixar de orientar seus auxiliares e alu-
DICA
 Um exemplo de dever legal é a notificação nos a respeitar o sigilo profissional e zelar para
de agravos de notificação compulsória. que seja por eles mantido.

u Art. 74: Revelar sigilo profissional relacionado a 1.11. CAPÍTULO 10 – DOCUMENTOS


paciente menor de idade, inclusive a seus pais ou MÉDICOS
representantes legais, desde que o menor tenha
capacidade de discernimento, salvo quando a u É vedado ao médico:
não revelação possa acarretar dano ao paciente.
u Art. 80: Expedir documento médico sem ter pra-
ticado ato profissional que o justifique, que seja
DICA tendencioso ou que não corresponda à verdade.
 Esse é o exemplo mais cobrado em prova.
Não é porque o paciente é menor de idade que
você tem que contar o teor da consulta para os DICA
pais. Adolescente com DST, por exemplo, deve ser  Ou seja, nada de fornecer aquele atestado
devidamente orientado e, caso haja capacidade para o seu amigo que quer enforcar o feriado. Essa
de discernimento e de se cuidar, o sigilo deve ser nem precisávamos dizer, não é?
preservado.
u Art. 82: Usar formulários institucionais para
DICA
atestar, prescrever e solicitar exames ou proce-
 Nos casos em que o sigilo for relacionado a dimentos fora da instituição a que pertençam
paciente menor de idade e a não revelação possa tais formulários.
acarretar dano ao paciente, o médico pode quebrar
o sigilo médico.
DICA
 Se você atende em um hospital, você não
pode pegar o papel de solicitação de exame que
tem o nome da unidade e utilizar para solicitar exa-
me de um paciente que você atendeu fora daquela
unidade.

218
Ética médica Cap. 15

u Art. 83: Atestar óbito quando não o tenha ve- 1.13. CAPÍTULO 13 – PUBLICIDADE MÉDICA
rificado pessoalmente, ou quando não tenha
prestado assistência ao paciente, salvo, no úl- u É vedado ao médico:
timo caso, se o fizer como plantonista, médico u Art. 112: Divulgar informação sobre assunto mé-
substituto ou em caso de necropsia e verifica-
dico de forma sensacionalista, promocional ou
ção médico-legal.
de conteúdo inverídico.
u Art. 113: Divulgar, fora do meio científico, proces-
DICA
 Essa questão do atestado de óbito foi discu- so de tratamento ou descoberta cujo valor ainda
tida no capítulo que trata do assunto. não esteja expressamente reconhecido cientifi-
camente por órgão competente.
u Art. 85: Permitir o manuseio e o conhecimento dos
prontuários por pessoas não obrigadas ao sigilo DICA
 Mais um artigo que pode ser cobrado associa-
profissional quando sob sua responsabilidade. do ao coronavírus. Vimos muitos tratamentos sendo
u Art. 88: Negar, ao paciente, acesso a seu pron- noticiados como úteis no combate ao SARS-COV2.
tuário, deixar de lhe fornecer cópia quando soli- O médico não pode veicular informações que não
citada, bem como deixar de lhe dar explicações sejam reconhecidas cientificamente por órgãos
necessárias à sua compreensão, salvo quando competentes acerca de possíveis tratamentos.
ocasionarem riscos ao próprio paciente ou a
terceiros. u Art. 115: Participar de anúncios de empresas
u Art. 91: Deixar de atestar atos executados no comerciais, qualquer que seja sua natureza, va-
exercício profissional, quando solicitado pelo lendo-se de sua profissão.
paciente ou por seu representante legal.
1.14. CAPÍTULO 14 – DISPOSIÇÕES GERAIS
DICA
 Não há obrigatoriedade de incluir o CID no
atestado médico, a menos que seja solicitado pelo u IV – As omissões deste Código serão sanadas
paciente. O empregador não pode cobrar do fun- pelo Conselho Federal de Medicina.
cionário que apresente atestado com CID.
DICA
 O Código de Ética Médica não está descrito
1.12. CAPÍTULO 12 – ENSINO E em sua totalidade neste capítulo. Demos destaque
PESQUISA MÉDICA para os artigos que consideramos mais importan-
tes para sua prática profissional e para as provas.
Sugerimos que você leia o texto integralmente.
u É vedado ao médico:
u Art. 102: Deixar de utilizar a terapêutica correta,
quando seu uso estiver liberado no País. 1.15. RESOLUÇÃO CFM N. 1.851/2008
W Parágrafo único. A utilização de terapêutica – ATESTADO MÉDICO
experimental é permitida quando aceita pelos
órgãos competentes e com o consentimento u Art. 1º: O atestado médico é parte integrante do
do paciente ou de seu representante legal, ato médico, sendo seu fornecimento direito ina-
adequadamente esclarecidos da situação e lienável do paciente, não podendo importar em
das possíveis consequências. qualquer majoração de honorários.

219
Ética médica Ética médica

u Art. 2º: Ao fornecer o atestado, deverá o médico u Perceba que essa portaria regulamenta a Tele-
registrar em ficha própria e/ou prontuário médico medicina somente enquanto durar a pandemia
os dados dos exames e tratamentos realizados, da covid-19.
de maneira que possa atender às pesquisas de u Art. 2º: As ações de Telemedicina de interação
informações dos médicos peritos das empresas à distância podem contemplar o atendimento
ou dos órgãos públicos da Previdência Social e pré-clínico, de suporte assistencial, de consulta,
da Justiça. monitoramento e diagnóstico, por meio de tecno-
u Art. 3º: Na elaboração do atestado médico, o logia da informação e comunicação, no âmbito do
médico assistente observará os seguintes pro- SUS, bem como na saúde suplementar e privada.
cedimentos: W Parágrafo único. O atendimento de que trata o
W I – especificar o tempo concedido de dispen- caput deverá ser efetuado diretamente entre
sa à atividade, necessário para a recuperação médicos e pacientes, por meio de tecnologia da
do paciente; informação e comunicação que garanta a inte-
W II – estabelecer o diagnóstico, quando expres- gridade, segurança e o sigilo das informações.
samente autorizado pelo paciente; u Art. 4º: O atendimento realizado por médico ao
W III – registrar os dados de maneira legível; paciente por meio de tecnologia da informação
e comunicação deverá ser registrado em pron-
W IV – identificar-se como emissor, mediante
tuário clínico, que deverá conter:
assinatura e carimbo ou número de registro
no Conselho Regional de Medicina. W I – dados clínicos necessários para a boa con-
dução do caso, sendo preenchido em cada
u Art. 5º: Os médicos somente podem fornecer
contato com o paciente;
atestados com o diagnóstico codificado ou não
quando por justa causa, exercício de dever legal, W II – data, hora, tecnologia da informação e
solicitação do próprio paciente ou de seu repre- comunicação utilizada para o atendimento; e
sentante legal. W III – número do Conselho Regional Profissional
u Art. 6º: Somente aos médicos e aos odontólogos, e sua unidade da federação.
estes no estrito âmbito de sua profissão, é facul- u Art. 5º: Os médicos poderão, no âmbito do aten-
tada a prerrogativa do fornecimento de atestado dimento por Telemedicina, emitir atestados ou
de afastamento do trabalho. receitas médicas em meio eletrônico.
u Art. 6º: A emissão de receitas e atestados médi-
DICA
 O carimbo não é obrigatório. Para qualquer cos à distância será válida em meio eletrônico,
ato médico que necessite de identificação, basta a mediante:
assinatura e número do conselho regional em que W I – uso de assinatura eletrônica, por meio de
está inscrito. certificados e chaves emitidos pela Infraestru-
tura de Chaves Públicas Brasileira – ICP-Brasil;
W II – o uso de dados associados à assinatura
1.16. PORTARIA Nº 467/2020 DO do médico de tal modo que qualquer modifi-
MINISTÉRIO DA SAÚDE – cação posterior possa ser detectável;
TELEMEDICINA E TELECONSULTA

u Dispõe, em caráter excepcional e temporário,


sobre as ações de Telemedicina, com o objetivo REFERÊNCIAS
de regulamentar e operacionalizar as medidas de
enfrentamento da emergência de saúde pública
1. Conselho Federal de Medicina (BR). Código de Ética
de importância internacional previstas no art. 3º Médica: Resolução CFM nº 2.217, de 27 de setembro de
da Lei nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020, de- 2018. Brasília: Conselho Federal de Medicina; 2019.
corrente da epidemia de covid-19.

220
Capítulo
SAÚDE DO TRABALHADOR
16

IMPORTÂNCIA/PREVALÊNCIA

O QUE VOCÊ PRECISA SABER?

u Os riscos físicos são aqueles relacionados a formas de energia, como ruídos, temperaturas extremas,
vibração, radiação etc.
u Uma doença relacionada ao trabalho pode ser considerada um acidente de trabalho
u A empresa (ou os empregadores) é que tem a obrigação de emitir a Comunicação do Acidente de Trabalho
(CAT)
u É obrigação do médico contribuir para a identificação e erradicação do trabalho infantil e das situações
análogas ao trabalho escravo

1. INTRODUÇÃO u QUÍMICO: exposição a compostos químicos


nocivos, gases prejudiciais à saúde, alérgenos
como poeira.
u Por saúde do trabalhador entende-se todo o
u ERGONÔMICO: posições inadequadas, levanta-
conjunto de ações que visam à prevenção, pro-
mento de peso, jornadas de trabalho muito longas.
moção, proteção, assistência e reabilitação da
saúde do trabalhador.

2. A SEGURIDADE SOCIAL
1.1. OS RISCOS OCUPACIONAIS

u ACIDENTES (MECÂNICOS): um trabalhador pode u Definição: consiste em um conjunto de políticas


se acidentar por indisponibilidade de equipamen- sociais que tem o objetivo de prestar assistên-
tos de proteção individual (EPI), pelo trabalho en- cia aos cidadãos. No Brasil, a seguridade tem
volvendo máquinas em precário estado de con- três pilares:
servação, por estados inadequados de higiene W Previdência Social: mecanismo público de
ou, até, pelo contato com animais peçonhentos. proteção social mediante contribuição. Ou
u FÍSICO: exposição a ruídos, temperaturas extre- seja, quem contribui tem direito aos benefícios.
mas, radiação, variações de pressão. W Assistência Social: mecanismo de proteção
u BIOLÓGICO: contato com material biológico social gratuito direcionado aos que mais pre-
como vírus, bactérias, fungos ou algum micror- cisam. Nesse caso, não há nenhuma relação
ganismo nocivo. com contribuição prévia.
W Saúde Pública: assistência universal e gratui-
ta à saúde.

227
Saúde do trabalhador Saúde coletiva

DICA
motoristas e entregadores de aplicativos, por
 Neste capítulo, falaremos dos benefícios
exemplo. Algumas
previdenciários, devidos a contribuintes da Previ-
dência Social. Algumas categorias profissionais
u decisões judiciais estão comparando seus direi-
são contribuintes da previdência, como os traba- tos aos do trabalhador formal.
lhadores formais (carteira assinada), trabalhadores u Segurado especial: trabalhadores rurais que
domésticos e segurados especiais (trabalhadores produzem em regime de economia familiar, sem
rurais em regime de economia familiar, pescadores mão de obra assalariada, pescadores artesanais
artesanais e indígenas). O trabalhador autônomo e índios que exercem atividade rural.
pode contribuir de forma individual. u Contribuinte individual: trabalhador autônomo,
sem carteira assinada e sem vínculo empregatício,
que contribui individualmente para a previdência
social. Tem menos direitos a benefícios se com-
3. LEGISLAÇÃO
parados às categorias acima. Não recebem, por
exemplo, auxílio-acidente.
u Diferentemente do capítulo de legislação do SUS, u Segurado facultativo: pessoas físicas que não
na saúde do trabalhador o conhecimento sobre possuem remuneração, como bolsistas, donos
o conceito é mais importante do que o conheci- de casa, estudantes, etc., maiores de 16 anos,
mento sobre a lei. Aqui não precisamos saber, que querem ingressar no Regime Geral da Pre-
necessariamente, quais são os “marcos legais” ou vidência Social.
em que lei está escrito cada um dos pontos abor- u Servidores públicos: os servidores públicos estão
dados. Por isso, não espere ver tantos números sujeitos a regimes diferentes de previdência social.
e anos de leis quanto nos capítulos sobre o SUS.

3.2. ACIDENTES DE TRABALHO


3.1. CATEGORIAS DE TRABALHADORES
u Definição: qualquer acidente, decorrendo em
u Os trabalhadores são divididos em diferentes ca- doença, lesão ou morte, que ocorre por conta
tegorias a depender do seu vínculo empregatício do exercício do trabalho. Um acidente pode de-
e da sua situação perante a Previdência Social. correr de agentes físicos, químicos, biológicos
u Segurado obrigatório: empregado rural ou urba- ou até por dinâmicas da própria organização do
no, empregado doméstico, trabalhador avulso, trabalho (ergonômicos, por exemplo).
segurado especial e contribuinte individual. Ou W Doenças profissionais e do trabalho devem ser
seja, se o indivíduo tem uma atividade remune- consideradas acidentes de trabalho. Mesmo
rada e contribui para a previdência social, de não se tratando de acidente típico (lesão agu-
forma compulsória (carteira assinada) ou não da durante exercício profissional), os trâmites
(contribuinte), ele é um segurado obrigatório. e as consequências legais são os mesmos.
São segurados obrigatórios: u Doença profissional: decorrente da atividade
W Trabalhador formal (urbano ou rural): traba- realizada no trabalho.
lhador com carteira assinada. u Doença do trabalho: decorrente das condições
W Trabalhador doméstico: direitos equivalentes em que o trabalho é realizado.
ao trabalhador formal.
W Trabalhador avulso: não tem carteira assina- 3.2.1. A Comunicação do Acidente
da, mas presta serviço a algum “empregador” de Trabalho (CAT)
de forma pontual e recebe por esse serviço.
Há discordâncias com relação aos direitos
u O que é a CAT?
dessa classe de trabalhadores, que engloba W A CAT é um documento que deve ser emitido
sempre que identificamos algum acidente de

228
Saúde do trabalhador Cap. 16

trabalho. Lembre-se que doenças profissio- W A CAT deve ser emitida até 24 horas após a
nais ou do trabalho devem ser consideradas identificação do acidente ou doença.
acidentes de trabalho. u Qual o papel do médico?
u Quem tem direito à CAT? W Identificar o acidente de trabalho, emitir rela-
W Todo trabalhador formal deve ter a CAT emitida. tório orientando a emissão da CAT, orientar
W Trabalhadores avulsos podem ter a CAT emiti- o trabalhador sobre sua situação de saúde e
da, mas ainda há discordâncias jurídicas sobre sobre a emissão da CAT e, se necessário, for-
essa categoria. necer atestado para afastamento.
u Quem deve emitir a CAT?
DICA
W Quem tem obrigação de emitir a CAT é a em-  A CAT é obrigatória para qualquer acidente
presa (ou os empregadores) para a qual o fun- de trabalho, não apenas para aqueles que causem
cionário trabalha. incapacidade. Não é obrigatório comprovar o nexo
causal para emitir a CAT. Ela pode ser emitida e,
W Médicos, sindicatos, familiares e até o próprio
posteriormente, haver a avaliação se houve mesmo
paciente PODEM emitir a CAT, mas quem DEVE
ou não relação com o trabalho.
emitir é a empresa.

3.3. OS BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS

Quadro 1. Benefícios Previdenciários.

Benefícios Condições Público-alvo

• Segurados obrigatórios e facultativos.


• Empregadores arcam com os primeiros 15 dias no
caso de trabalhadores formais, que tornam-se ap-
Incapacidade temporária tos a receberem o auxílio-doença pelo INSS após
Auxílio-Doença
para o trabalho perícia a partir do 16º dia.
• No caso de trabalhador avulso, contribuinte indivi-
dual ou empregado doméstico, o auxílio é devido a
partir da data da incapacidade.

Acidente que resulte em sequela • Empregado urbano, rural, doméstico, trabalhador


Auxílio-acidente
redutora da capacidade de trabalho avulso e segurado especial

• Segurados obrigatórios e facultativos.


Aposentadoria Incapacidade permanente
por invalidez para o trabalho • Trabalhador pode estar em gozo ou não do auxí-
lio-doença.

Pensão por morte Morte do segurado • Dependentes do segurado


Fonte: Brasil.1; Gusso et al.2

3.4. POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE DO para o desenvolvimento da atenção integral à


TRABALHADOR E DA TRABALHADORA saúde do trabalhador, com ênfase na vigilância,
visando à promoção e à proteção da saúde dos
u Objetivo: “definir os princípios, as diretrizes e as trabalhadores e à redução da morbimortalidade
estratégias a serem observados pelas três esfe- decorrente dos modelos de desenvolvimento e
ras de gestão do Sistema Único de Saúde (SUS), dos processos produtivos.”

229
Saúde do trabalhador Saúde coletiva

u Art. 3º Todos os trabalhadores, homens e mulheres,


independentemente de sua localização, urbana 4. DOENÇAS E AGRAVOS
ou rural, de sua forma de inserção no mercado RELACIONADOS AO TRABALHO
de trabalho, formal ou informal, de seu vínculo
empregatício, público ou privado, assalariado, u Para determinar a relação entre a condição de
autônomo, avulso, temporário, cooperativado,
saúde do indivíduo e seu trabalho, é necessário
aprendiz, estagiário, doméstico, aposentado ou
questionar sobre o surgimento dos sintomas e
desempregado são sujeitos desta Política.
o ambiente e as atividades no trabalho. Algumas
u Os princípios e diretrizes dessa política são pra- vezes, a inspeção do ambiente de trabalho se faz
ticamente os mesmos do SUS. Entre seus obje- necessária para estabelecer esse nexo causal.
tivos, podemos destacar alguns:
u Art. 8º São objetivos da Política Nacional de Saú- 4.1. CLASSIFICAÇÃO DAS DOENÇAS
de do Trabalhador e da Trabalhadora: SEGUNDO SUA RELAÇÃO
W II – promover a saúde e ambientes e proces- COM O TRABALHO
sos de trabalhos saudáveis, o que pressupõe:
V f) contribuição na identificação e erradicação 4.1.1. Critérios de Schilling
de situações análogas ao trabalho escravo;
Quadro 2. Classificação das doenças
V g) contribuição na identificação e erradi-
relacionadas ao trabalho.
cação de trabalho infantil e na proteção do
trabalho do adolescente; Grupo Exemplo

Intoxicação por chumbo


DICA I – Trabalho como
 É dever, portanto, da saúde do trabalhador, Silicose
causa necessária
combater o trabalho análogo à escravidão e o tra-
Acidentes de trabalho
balho infantil, o que, consequentemente, torna-se
dever de todo médico, visto que a saúde do traba- Doenças osteomusculares
lhador não é responsabilidade apenas dos médicos II – Trabalho como
Varizes de membros
do trabalho. fator contributivo, mas
inferiores
não necessário
Câncer

3.5. RENAST E CEREST Asma


III – Trabalho como
provocador ou agravador Dermatite de contato
u RENAST: Rede Nacional de Atenção Integral à de doenças já existentes
Doenças mentais
Saúde dos Trabalhadores.
Fonte: Ministério da Saúde/OPAS.3
W A RENAST integra a rede de serviços do SUS
e inclui as ações de saúde do trabalhador na
atenção básica. 4.2. DISTÚRBIOS OSTEOMUSCULARES
RELACIONADOS AO TRABALHO
u CEREST: Centros de Referência em Saúde do
(DORT) OU LESÕES POR
Trabalhador.
ESFORÇOS REPETITIVOS (LER)
W Responsáveis pela retaguarda técnica para as-
suntos de prevenção, promoção, diagnóstico, u Quadro Clínico: dor crônica, parestesias e fadiga,
tratamento, reabilitação e vigilância em saúde
principalmente em membros superiores, região
dos trabalhadores.
cervical e escapular. Sintomas apresentam, ge-
ralmente, piora progressiva e podem causar in-
capacidades.

230
Saúde do trabalhador Cap. 16

u Fatores de Risco: Relacionados aos ritmos de DICA


 Outras doenças respiratórias que podem
trabalho, à ausência de EPIs, às ferramentas
estar associadas ao trabalho, como neoplasias,
inadequadas, ao uso repetitivo dos membros
enfisema, asma e DPOC, não são consideradas
superiores, sendo, às vezes, oriundo da própria
pneumoconioses.
atividade realizada.
u Diagnóstico: eminentemente clínico, resultando
da associação entre o quadro clínico e a história 4.4.1. Silicose
ocupacional.
u Definição: pneumoconiose que decorre da ina-
u São as mais notificadas. Entre as mais comuns,
lação de partículas de sílica.
estão aquelas de compressão nervosa, como
síndrome do túnel do carpo, e as musculotendi-
u Quadro clínico: A dispneia aos esforços é o prin-
nosas, como tendinite do ombro. cipal sintoma, mas pode haver tosse associada.
u Tratamento: Afastamento do trabalho, sintomá-
u Fatores de risco: mineração, indústria de cerâ-
ticos, fisioterapia, mudanças comportamentais, mica, jateamento de areia (proibido atualmente),
como pausas de pelo menos 10 minutos a cada indústria de vidro, algumas atividades na cons-
hora trabalhada, e possíveis alterações no am- trução civil.
biente de trabalho. u Diagnóstico: história ocupacional, quadro clínico
e radiografia e/ou tomografia computadorizada
do tórax. A espirometria pode ser utilizada para
4.3. PERDA DE AUDIÇÃO INDUZIDA
PELO RUÍDO (PAIR) avaliar a magnitude da incapacidade provocada
pela doença, mas não é necessária para o diag-
nóstico.
u Quadro clínico: diminuição gradual da audição,
geralmente bilateral, que se manifesta inicial-
u Tratamento: afastamento de forma definitiva da
mente nas frequências mais altas, ou seja, aos exposição à poeira de sílica. Não há tratamen-
sons mais agudos. to específico. A doença pode progredir mesmo
após a cessação da exposição.
u Diagnóstico: além da anamnese e do exame clínico,
recomenda-se a realização de audiometria tonal. 4.4.2. Asbestose
u A lesão é permanente e irreversível. Na ausência
do ruído, entretanto, a lesão não progride. u Definição: pneumoconiose que decorre da ina-
u Tratamento: afastamento do ruído, através de lação de asbesto ou amianto.
alterações no ambiente de trabalho (EPIs, isola- u Quadro clínico: semelhante à silicose.
mento acústico) ou da própria transferência do u Fatores de risco: mineração, indústria de cimen-
trabalhador. to, tecelagem de fibras, pastilhas de freios, cons-
trução marítima.
4.4. PNEUMOCONIOSES
DICA
 O amianto também pode provocar derrame,
u As pneumoconioses são pneumopatias decor- espessamento e placas pleurais, além de câncer
rentes de fibroses intersticiais causadas pela de pulmão e mesotelioma de pleura.
reação do organismo à presença de poeiras. São
as doenças respiratórias ocupacionais mais no-
DICA
tificadas no Brasil.  A extração, assim como a manipulação e a
comercialização do amianto, foi proibida no Brasil
em 2017 pelo STF.

231
Saúde do trabalhador Saúde coletiva

u Diagnóstico: quadro clínico, história ocupacional 4.6.2. Chumbo – saturnismo


e radiografia e/ou tomografia de tórax.
u Fatores de risco: principais atividades são aquelas
u Tratamento: assim como a silicose, não há tra-
que envolvem fabricação e reforma de baterias.
tamento para a asbestose.
Outras são: indústria de plástico, fabricação de
tintas, tiro esportivo, fundição de sucatas e utili-
DICA zação de soldas à base de chumbo.
 A realização de espirometria não é obrigató-
ria. Para o diagnóstico das pneumoconioses, basta u Quadro clínico: cefaleia, irritabilidade, cansaço,
quadro clínico, história ocupacional e exame de sintomas gastrointestinais, além da clássica li-
imagem. nha de Burton (linha azul na gengiva).

4.6.3. Mercúrio – hidrargirismo


4.5. DERMATOSES OCUPACIONAIS
u Fatores de risco: garimpo, fabricação de termô-
u Definição: alterações tanto da pele quanto das metros (hoje os termômetros são digitais), barô-
mucosas e anexos que sejam influenciadas pela metros, lâmpadas fluorescentes.
atividade de trabalho. u Quadro clínico: neuropatias, síndrome nefrítica,
u Fatores de risco: a maioria das dermatoses ocorre diarreia e gengivite.
por conta de contato com agentes químicos que
podem irritar ou sensibilizar a pele. Em alguns 4.7. SÍNDROME DE BURNOUT
casos, pode haver dermatites por sensibilização,
nas quais o paciente desenvolve alergia ao agen- u Definição: reação de tensão emocional crônica
te a que se expôs no trabalho. gerada a partir do contato direto, excessivo e es-
tressante no ambiente de trabalho.
4.6. INTOXICAÇÕES EXÓGENAS u Fatores de risco: pouca autonomia no desempe-
nho profissional, problemas de relacionamento
4.6.1. Agrotóxicos com as chefias, sentimentos de desqualificação,
pressões por produtividade, ter que lidar direta-
u Organofosforados e carbamatos: inibidores das mente com o público.
colinesterases são responsáveis pelo maior nú-
u Quadro clínico:
mero de intoxicações por agrotóxicos no Brasil.
W Manifestações físicas: Fadiga constante, dis-
W Quadro clínico: síndrome colinérgica (sudo-
túrbios do sono, falta de apetite e dores mus-
rese, sialorreia, miose, tosse, hipersecreção
culares generalizadas ou inespecíficas.
brônquica, diarreia e bradicardia).
W Manifestações psíquicas: Falta de atenção, al-
W Diagnóstico: essencialmente clínico, mas se
terações de memória, ansiedade e frustração.
pode realizar a dosagem de atividade da ace-
tilcolinesterase. W Alterações comportamentais: Negligência no
trabalho, irritabilidade ocasional e instantânea,
W Tratamento: o tratamento inespecífico é feito
diminuição da capacidade de concentração,
com atropina. Como tratamento específico,
aumento de incidentes conflitivos com os
temos a pralidoxina.
colegas de trabalho, necessidade de longas
pausas para o descanso e o cumprimento ir-
regular da carga horária de trabalho.
W Comportamento defensivo: Tendência ao iso-
lamento, sentimento de impotência e empo-
brecimento da qualidade do trabalho prestado.

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