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8.1 INTRODUÇÃO
A síncope é definida como perda súbita, transitória e completa da
consciência, associada à incapacidade de manter o tônus
postural, com recuperação espontânea, rápida e sem sequelas
neurológicas. Quase todas as formas cursam com diminuição ou
interrupção transitória do fluxo sanguíneo cerebral. A causa mais
frequente é a neurocardiogênica (ou vasovagal). A pré-síncope é
caracterizada pelos sintomas que antecedem a síncope, como
visão em túnel, visão desaparecendo progressivamente, com
alteração da consciência em diversos graus, sem perda completa
da consciência. Pode evoluir para síncope ou ser interrompida
sem a ocorrência de síncope.
A síncope é responsável por mais de 3% de todas as consultas no
pronto-socorro. Cerca de 20% da população adulta já
experimentou um episódio que pudesse ser descrito como
síncope e de 1 a 6% das internações hospitalares nos Estados
Unidos são causadas por síncope. Na maioria das vezes, é um
evento limitado e benigno, mas pode causar injúrias (descritas em Os homens têm maior probabilidade de
até 30%), aflição e complicações psicológicas em pacientes e apresentar síncope por causa
familiares. Na avaliação, deve-se ter em mente que existem cardiológica.
quatro principais fatores envolvidos no risco de eventos adversos:
▶ Idade maior ou igual a 45 anos; 8.3 ETIOLOGIA
▶ História de insuficiência cardíaca; A chamada síncope vasovagal, ou neurocardiogênica, é a
▶ História de arritmias ventriculares; principal. Os pacientes apresentam profunda vasodepressão, em
razão da falência abrupta da modulação autonômica sobre o
▶ Eletrocardiograma (ECG) anormal (exceto alterações de aparelho cardiovascular, além de importante diminuição da
repolarização inespecíficas). frequência cardíaca por reflexos neuromediados. Alguns autores
subdividem esses casos em síncope vasodepressora ou síncope
Os pacientes que não apresentam nenhum desses fatores têm de cardioinibitória.
4 a 7% de risco de apresentar eventos adversos, enquanto os
Quadro 8.1 - Causas mais frequentes de síncope
pacientes com três ou quatro fatores de risco têm de 58 a 80%
de chance de apresentá-los.
8.2 EPIDEMIOLOGIA
O maior estudo epidemiológico sobre o assunto consistiu em um
seguimento de 822 pacientes no estudo de co-orte de
Framingham. Por 17 anos, o estudo verificou que a taxa de
eventos sincopais aumentava de cerca de cinco eventos a cada
1.000 pessoas/ano, no grupo entre 20 e 29 anos, para cerca de
20 a cada 1.000 pessoas/ano, no grupo com mais de 80 anos,
mostrando aumento considerável com a idade, que se tornava
muito importante a partir dos 70 anos. Ainda nesse estudo, a
incidência não foi diferente a depender do sexo, embora outros
tenham demonstrado diferenças, com incidência um pouco maior
no sexo feminino.
#importante
diagnósticos, como o tilt table test, diminuiu significativamente
esses números.
Entre os medicamentos que podem levar à doença, estão
antiarrítmicos, antidepressivos, anti-hipertensivos (especialmente
betabloqueadores, diuréticos, inibidores da enzima conversora de
angiotensina, antagonistas dos canais de cálcio e bloqueadores
alfa-2-adrenérgicos, com risco particular em idosos),
antiparkinsonianos, anti-psicóticos e fenotiazinas e
bromocriptina.
8.4 ACHADOS CLÍNICOS
A anamnese e o exame físico minucioso são os principais
instrumentos para o diagnóstico da causa da síncope.
O principal objetivo é detectar pacientes com risco aumentado de
óbito ou de complicações que necessitarão de investigação
adicional imediata ou de internação. São sinais de alerta na
apresentação clínica que demandam internação:
Outras causas importantes de síncope incluem anemia, débito ▶ Síncope durante exercício físico;
cardíaco extremamente baixo, como no Infarto Agudo do
Miocárdio (IAM) extenso e no tamponamento cardíaco, estenose ▶ Síncope em posição supina;
aórtica (a síncope está associada a mortalidade de 50% em 5
anos) e estenose mitral, hipersensibilidade do seio carotídeo, ▶ Palpitações que ocorrem no momento da síncope;
hipoglicemia, hipotensão ortostática, hipoxemia, insuficiência
adrenal e síncope situacional (precipitada por tosse, defecação e ▶ História familiar de morte súbita;
micção com esforço), considerada variante da síncope vasovagal. ▶ Doença arterial coronariana (IAM ou cateterismo prévio),
A síncope apresenta causa desconhecida em 5 a 20% dos casos, especialmente se associada à insuficiência cardíaca;
mas estudos antigos relatam que mais de 30% não têm causa ▶ Insuficiência cardíaca de qualquer etiologia, especialmente se
detectável (31% no estudo de Framingham e 34% em análise de baixa fração de ejeção;
cinco estudos publicada em 1997). O uso de novos métodos
▶ Doença cardíaca estrutural (tumor intracardíaco, doença valvar,
cardiomiopatia hipertrófica);
▶ Achados do ECG: taquicardia ventricular não sustentada, ondas
delta, intervalo QT corrigido curto ou longo, síndrome de Brugada,
presença de ondas épsilon sugestivas de displasia arritmogênica
do ventrículo direito.
Quadro 8.2 - Tipos de síncope
#importante
Na maioria dos pacientes com ECG
normal e sem doença cardíaca, a síncope
neuromediada é a principal hipótese
diagnóstica.
#importante
Em jovens e pacientes com provável
síncope neurocardiogênica, o teste de
escolha para avaliação é o tilt table test,
o qual também pode ser útil a idosos
com síncope inexplicada.
Também chamado de teste da inclinação, é um exame mas apenas estenose aórtica severa, dissecção aórtica, tumores
desenvolvido para identificar a síncope neurogênica, que cardíacos obstrutivos, tamponamento pericárdico e anomalias
acomete pacientes de todas as idades, mas principalmente congênitas das artérias coronárias podem ser diagnosticados
adultos jovens e adolescentes. Para realizá-lo, o paciente é como causa de síncope, com certeza, por meio desse exame.
colocado sobre uma mesa basculante especial que permite
avaliá-lo em diversas inclinações (80o e -30o). Simultaneamente, Estudos eletrofisiológicos podem ser realizados em pacientes
é monitorizado com ECG, e é realizada medida não invasiva da selecionados, principalmente se apresentarem doença cardíaca
pressão arterial a cada 2 minutos. O princípio é promover estrutural. A ESC considera avaliar os pacientes em que a arritmia
sobrecarga adaptativa ao sistema nervoso autônomo do é sugerida pela avaliação inicial ou que apresentem doença
indivíduo e avaliar sua resposta (Figura 8.1). cardíaca estrutural associada a história de palpitações ou
antecedente familiar de morte súbita. Condições que
Figura 8.1 - Tilt test possivelmente se beneficiam desses estudos envolvem a
bradicardia sinusal assintomática (suspeita de parada sinusal),
bloqueio de ramo bifascicular e taquicardia suspeita. Com a
progressão de novos métodos, como o Holter, a indicação deste
exame tem diminuído e é realizado de 3 a 5% dos casos de
síncope.
O peptídio natriurético cerebral foi avaliado em um estudo que
demonstrou a capacidade para ajudar na diferenciação de
síncopes cardiogênicas de não cardiogênicas, com sensibilidade e
especificidade de 82 e 92%, respectivamente, mas ainda não faz
parte do manejo habitual. Testes de esforço e de Holter também
apontaram benefícios em alguns estudos e podem ser feitos com
Fonte: Rumruay.
indivíduos selecionados.
Como diferenciar as
causas de síncope que
Homem, 65 anos, previamente saudável e assintomático,
apresentou perda de consciência durante a micção, após acordar.
Não houve liberação esfi ncteriana. Recuperou-se prontamente
ao cair no chão. Procurou serviço de pronto--atendimento logo
após. O primeiro exame indicado neste caso é:
a) eletrocardiograma
b) Holter de 24 horas
c) teste ergométrico
d) glicemia
Gabarito: a
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Comentários:
Universidade de São Paulo
a) Paciente com quadro de síncope caracterizada por perda da
Para a revalidação do seu diploma na USP será necessário o envio consciência sem liberação esfi ncteriana e sem período pós-ictal.
de documentos, entre eles histórico escolar e diploma. Se você Descreve quadro de síncope vasovagal pós micção. Trata-se de
notar a falta de algum conteúdo essencial no seu curso de origem, causa benigna de síncope e, normalmente recomenda-se
pode solicitar a realização de uma prova. A aprovação ou acompanhamento ambulatorial. No PS, devemos excluir arritmias
reprovação de um candidato será então decidida pela Comissão com eletrocardiograma (ECG).
de Graduação.
b) O Holter é indicado em síncopes sem causa defi nida ou ainda
Se você solicitar a realização da prova, prepare-se para duas naquelas que apresentarem arritmias ao ECG.
avaliações, uma teórica e outra prática. A primeira poderá ser uma
avaliação cognitiva, com questões abertas, e uma avaliação c) O teste ergométrico é recomendado para estratifi cação de
objetiva com testes. Já na prova prática serão avaliadas as risco de pacientes com angina e baixo risco cardiovas-cular. A
habilidades do candidato para exercer a profissão, podendo realização do teste ergométrico no paciente com síncope pode
envolver a participação de pacientes. Essa prova também pode inclusive aumentar o risco de queda e trauma.
ser substituída por uma avaliação oral do conteúdo das disciplinas
ou uma apresentação crítica de um artigo científico. d) O paciente não apresenta sintomas de hipoglicemia descritos
pré-síncope.
FMRP-USP | 2019