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desfibrilar um paciente
que apresenta atividade
elétrica sem pulso?
12.1 INTRODUÇÃO
Nenhuma situação clínica supera a prioridade de atendimento da
parada cardiorrespiratória (PCR). A rapidez e a eficácia das
intervenções adotadas são cruciais para o bom resultado no
atendimento. Dados obtidos pelo DATASUS apontam que 35%
das mortes no Brasil são por causas cardiovasculares, que
perfazem 300 mil casos anuais. A PCR é desencadeada, na sua
maioria, por fibrilação ventricular associada a evento isquêmico
miocárdico ou distúrbio elétrico primário.
As novas diretrizes recomendam o uso de cadeias de
sobrevivência distintas que identifiquem as diferentes vias de
cuidado dos pacientes que sofrem uma PCR no hospital daqueles
acometidos no ambiente extra-hospitalar (Figura 12.1), uma vez
que os fatores envolvidos no atendimento desses pacientes até a
admissão na UTI são muito diferentes para os dois ambientes. No
extra-hospitalar, os pacientes dependem da assistência da
comunidade, ao passo que, na PCR intra-hospitalar, os pacientes
dependem de um sistema de vigilância adequado e da interação
harmoniosa de vários departamentos e setores da instituição. Na
última revisão, publicada em 2020, foi adicionado mais um elo na Fonte: adaptado de Highlights of the 2020 American Heart Association Guidelines
for CPR and ECC, 2020.
cadeia de sobrevida, em que os cuidados extra-hospitalares e de
continuidade de reabilitação destes pacientes é enfatizado.
Em 2020, foi publicado o novo consenso da American Heart
Association, que reforçou algumas recomendações já existentes
#importante e promoveu algumas mudanças, descritas a seguir.
O sucesso na reanimação
cardiopulmonar (RCP) depende da O algoritmo de suporte básico de vida no adulto foi modificado de
rapidez com que se ativa a cadeia de modo a refletir o fato de que os socorristas podem acionar o
sobrevida, tanto no ambiente hospitalar serviço médico de emergência, utilizando o telefone celular, por
quanto fora dele. exemplo, sem sair do lado da vítima.
Figura 12.1 - Cadeias de sobrevivência para o atendimento de parada
Para os socorristas leigos, a RCP deve ser iniciada imediatamente
cardiorrespiratória intra-hospitalar (superior) e extra-hospitalar (inferior) se a vítima não responde nem respira, sem checar o pulso. Devem
realizar somente compressões torácicas, sem ventilação, que
devem ser continuadas até a chegada do serviço médico de
emergência. O serviço de emergência deve fornecer apenas
instruções de compressões torácicas quando o auxílio for
telefônico.
A sequência recomendada para um único socorrista treinado foi
confirmada: devem-se iniciar as compressões torácicas antes das
ventilações de resgate para reduzir o tempo para a primeira
compressão (sequência C-A-B, iniciando-se com 30
compressões para, somente então, abrir as vias aéreas e aplicar
duas ventilações), e a ênfase no fornecimento de compressões
torácicas de alta qualidade continua a ser essencial. Os
socorristas devem comprimir o tórax sobre uma superfície rígida,
determinando depressão de 5 a 6 cm no esterno, à frequência de
100 a 120 compressões por minuto, permitindo o retorno do tórax
à posição de repouso após cada compressão. Os resgatistas
treinados devem fornecer ventilação assistida na relação de duas
ventilações intercaladas com 30 compressões torácicas.
12.2 MANOBRAS DE SUPORTE BÁSICO DE sanguíneo cerebral (como no choque hipovolêmico). A ausência
de resposta da vítima demonstra maior probabilidade de
VIDA condição crítica, como a PCR.
O suporte básico de vida visa ao reconhecimento e ao Figura 12.2 - Checagem do nível de consciência da vítima
atendimento de situações de emergência, como obstrução aguda
de via aérea, infarto agudo do miocárdio, acidente vascular
cerebral e PCR. A abordagem inicial por meio dessas manobras
visa instituir as condições mínimas necessárias para manutenção
ou recuperação da oxigenação e perfusão cerebral, já que é a
viabilidade neurológica que define, em grande parte, o
prognóstico da vítima de PCR. Disso depende o respeito às
prioridades da abordagem inicial: ABC
(Airway/Breathing/Cardiovascular).
A seguir, enumeram-se e discutem-se os passos que constituem
o suporte básico de vida.
12.2.1 Avaliar o nível de consciência (responsividade)
A vítima de um evento agudo precisa ser abordada rapidamente.
No entanto, a segurança do resgatista é prioritária. Quando Fonte: Claudio Van Erven Ripinskas.
considerada segura a cena para o resgatista, pode-se iniciar o
atendimento. A checagem do nível de consciência fornece, em
pouco tempo, informações valiosas. Se o paciente responde ao 12.2.2 Verificar respiração efetiva
chamado, mesmo que a resposta seja incompreensível ou se
apresenta respiração e movimentos espontâneos, isso Na avaliação da respiração recomendada anteriormente, era
demonstra fluxo sanguíneo cerebral suficiente para manter dedicado um tempo muito longo ao processo de abertura das vias
alguma atividade do Sistema Nervoso Central (SNC), ou seja, a aéreas e à avaliação da presença de ventilação espontânea (ver,
situação se afasta da condição de PCR (Figura 12.2). ouvir, sentir), o que retardava o início da RCP. A recomendação
atual orienta que, concomitantemente à avaliação do nível de
A checagem do nível de consciência deve ser feita por meio do consciência, deve ser realizada avaliação rápida e objetiva da
chamado verbal e do contato físico com a vítima. Se não houver respiração, por meio apenas de observação direta do paciente,
resposta, assume-se que a função do SNC está prejudicada, por para definir a ausência de movimentos respiratórios.
exemplo, por hipóxia (como na parada respiratória) ou baixo fluxo
#importante
A presença de gasping não caracteriza
ventilação espontânea e deve ser
interpretada como ritmo respiratório
indicativo de PCR.
#importante
Para cada minuto de retardo do
procedimento, a probabilidade de
sobrevida de uma vítima de PCR em
FV/TV, sem pulso, cai de 7 a 10%.
#importante
A vasopressina não é mais recomendada
como alternativa à epinefrina no
tratamento da PCR por ter a mesma
efetividade e custo muito maior.