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A angina estável é a forma de apresentação de cerca de 50% dos 4.

Irradiação: eventualmente, para membros superiores


casos de insuficiência coronariana crônica. É definida como (direito, esquerdo ou ambos), ombro, mandíbula, pescoço, dorso
uma síndrome clínica caracterizada por dor ou desconforto e região epigástrica;
em quaisquer das seguintes regiões: tórax, epigástrio,
mandíbula, ombro, dorso ou membros superiores, sendo 5. Intensidade: variada, podendo levar o indivíduo à
tipicamente desencadeada ou agravada por atividade física imobilidade por alguns minutos ou ser menos pronunciada, em
ou estresse emocional e atenuada com repouso e uso de especial em alguns grupos com neuropatia associada
nitroglicerina e derivados. Com base nessas características, (diabéticos, por exemplo);
pode ser classificada como típica, atípica ou de origem não
6. Fatores desencadeantes (e de piora): precipitação por
cardíaca.
esforço físico e estresse emocional;
A maioria apresenta estenose (estreitamento) de, ao menos,
7. Fatores de melhora: alívio característico com repouso ou
70% de uma das principais artérias coronarianas ao manifestar
uso de nitratos;
sintomas clínicos. Pode, entretanto, ocorrer naqueles com
doença cardíaca valvar, cardiomiopatia hipertrófica e 8. Sintomas associados: possibilidade de náuseas, vômitos e
hipertensão não controlada. Pacientes com coronárias normais palidez mucocutânea.
podem, ainda, ter isquemia miocárdica relacionada a
vasoespasmo ou à disfunção endotelial, apresentando-se sob a EXAME FÍSICO
forma de angina.
O exame físico costuma ser normal nos pacientes com angina
A angina precordial (lado esquerdo do torax) acontece quando a estável. Contudo, se realizado durante o episódio anginoso, a
demanda de oxigênio pelo miocárdio supera a oferta, e a dor é presença de terceira ou quarta bulha cardíaca, sopro de
indicativa de isquemia miocárdica transitória. regurgitação mitral e estertores pulmonares sugere doença
coronariana.
FISIOPATOLOGIA
O achado de aterosclerose em outros locais (pulsos arteriais de
A angina acontece quando há isquemia miocárdica regional, membros inferiores diminuídos, endurecimento arterial,
devido à perfusão coronariana inadequada, usualmente aneurismas de aorta abdominal) costuma ter boa correlação
associada a situações em que o consumo de oxigênio aumenta, com a doença coronariana, assim como a existência de múltiplos
como estresse emocional e atividade física. Uma característica fatores de risco cardiovascular, como hipertensão arterial,
dessa situação é a reversibilidade dos sintomas após a tabagismo, dislipidemia, diabetes mellitus e antecedente
interrupção do fator estressante e/ou o uso de nitratos (pois familiar de doença cardiovascular, os quais aumentam a
gera vasodilatação coronariana). probabilidade diagnóstica.

A angina pectoris ocorre como consequência da evolução da CLASSIFICAÇÃO DA DOR TORÁCICA


aterosclerose coronariana. Nesse processo inicialmente
aparecem estrias gordurosas, que são formações planas De acordo com suas características clínicas, a dor torácica pode
amareladas sem repercussão clínica; posteriormente, podem ser classificada em angina típica, angina atípica, e dor
aparecer placas fibrolipídicas. Estas são formações elevadas na torácica não cardíaca (1 ou nenhuma das características).
superfície da íntima que podem se associar a complicações,
como fissuras, trombose, roturas, calcificação e necrose. As
placas fibrolipídicas podem ser divididas em estáveis e instáveis.
Quando ocorrem fissuras e roturas, pode haver instabilidade da
placa, de forma que o paciente evolui com síndrome coronariana
instável. Por sua vez, quando o indivíduo apresenta calcificação,
com obstrução fixa ao fluxo coronariano, há evolução para
angina estável.

ANAMNESE

A história clínica é um dos passos mais importantes, pois DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL


possibilita a caracterização adequada da dor torácica. Algumas
características devem ser cuidadosamente questionadas com o A dor tipo anginosa pode ser causada por outras doenças,
objetivo de verificar a probabilidade da presença de angina: sendo nesses casos denominada angina funcional. Esta
também se relaciona à isquemia miocárdica, mas na ausência de
1. Caráter: em pressão, aperto, constrição ou peso;
obstrução significativa ao fluxo coronariano. Pode ser causada,
2. Duração: alguns minutos (usual – pacientes com quadro de por exemplo, pelo aumento no consumo de oxigênio associado à
aparecimento repentino e duração fugaz, ou com várias horas de hipertermia, ao hipertireoidismo e ao uso de cocaína.
evolução, raramente apresentam angina);
A dor torácica pode, ainda, associar-se a afecções pulmonares
3. Localização: subesternal (podendo ocorrer, ainda, no ombro, como pleurite (mas, neste caso, a dor costuma ter caráter
no epigástrio, na região cervical, no hemitórax e no dorso);

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ventilatoriodependente), tromboembolismo pulmonar, esquerda secundária à hipertensão, distúrbios
pneumotórax e outras condições que cursam com hipoxemia. hidroeletrolíticos, entre outras. Deve-se acrescentar ainda que o
ECG normal não exclui a presença de obstrução
Na avaliação do quadro de dor anginosa, também devem ser coronariana.
lembrados, como diagnósticos diferenciais, quadros de
distúrbios ansiosos, depressivos e somatoformes. ∘ Teste Ergométrico

São fatores secundários desencadeantes de angina: Na ausência de contraindicação, o teste ergométrico costuma
intoxicação por cocaína ou agentes catecolaminérgicos; ser o método de escolha para confirmação do diagnóstico
hipertensão não controlada; cardiomiopatia hipertrófica; de doença arterial coronariana. O teste de esforço ou
estenose aórtica; anemia. ergométrico é utilizado tanto para diagnóstico quanto para
estratificação do risco de pacientes com doença coronariana,
DIAGNÓSTICO sendo o método não invasivo mais comumente empregado,
tornando-se a abordagem mais custo-efetiva nessa população.
A história e o exame físico apresentam ótima acurácia no
diagnóstico de doença arterial coronariana. Mesmo assim, **Indicações do teste de esforço para o diagnóstico da
diversos exames são necessários, não apenas para confirmar a condição segundo a American Heart Association e a Diretriz
hipótese diagnóstica, mas também para estratificar a gravidade de Doença Coronária Estável**
e o prognóstico do quadro.

A angina estável apresenta uma classificação clínica, da


Canadian Cardiovascular Society (CCS), adotada tanto pelo
consenso da AHA quanto pela Diretriz de Doença Coronariana
Estável.

**O teste ergométrico deverá ser feito naqueles com


sintomas de angina e probabilidade pré-teste
intermediária para DAC**
🠖 Exames Complementares ∘ Cateterismo cardíaco
Aqueles com suspeita diagnóstica de angina estável, são A cineangiocoronariografia (CAC), ou cateterismo cardíaco, é
necessários exames mínimos, segundo as recomendações da considerada padrão-ouro para o diagnóstico de doença
AHA, os quais incluem hemoglobina, glicemia de jejum, perfil coronariana. Apesar disso, os testes não invasivos são preferidos
lipídico, função tireoidiana, raios X de tórax e eletrocardiograma ao diagnóstico inicial.
de repouso.
Entretanto, situações em que o tratamento clínico demonstra
∘ Laboratório resultados insatisfatórios ou em que os pacientes apresentam
fatores de mau prognóstico constituem a principal indicação de
O hemograma, principalmente a dosagem de hemoglobina,
cateterismo.
ajudará a descartar a presença de anemia, enquanto a glicemia
de jejum e o perfil lipídico objetivam avaliar os fatores de risco
associados à doença coronariana. É importante, também, a
avaliação da função tireoidiana, já que o hipertireoidismo
pode ser um fator etiológico e agravante, assim como o
hipotireoidismo pode contribuir para o surgimento de
alterações metabólicas que predispõem à aterosclerose.

∘ Radiografia de tórax

A radiografia de tórax pode auxiliar na diferenciação com causas


de dor torácica, como fraturas de costelas e pneumotórax, sendo
de grande importância em pacientes com suspeita de doença
coronariana e sinais/sintomas sugestivos de insuficiência
cardíaca, além de auxiliar naqueles casos com possível doença TRATAMENTO
pulmonar associada.
🠖 Não Farmacológico
∘ Eletrocardiograma
- Adequadas informações ao paciente sobre a natureza da angina
O eletrocardiograma (ECG) tem utilidade limitada para o pectoris e suas implicações para que ele entenda a importância
diagnóstico de doença arterial crônica, pois alterações da de aderir ao tratamento que será recomendado.
repolarização, observadas em alguns anginosos, também podem
ocorrer em outras situações, como sobrecarga ventricular

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- Quando ocorrer dor, o paciente deverá ser orientado a - Apresentação sublingual deve ser usada como primeira linha no
repousar e a parar as atividades que estiver fazendo e a estar tratamento do quadro anginoso
apto a autoadministrar nitrato sublingual para alívio imediato
dos sintomas. - Nos pacientes com angina aos esforços, o uso crônico de nitrato
de meia-vida longa melhora a tolerância ao esforço e retarda o
- É importante esclarecer sobre os efeitos colaterais da início da dor.
medicação, como hipotensão e cefaleia, além do risco da
associação com outras drogas vasodilatadoras. **Nitratos causam um aumento transitório da frequência cardíaca
e contratilidade miocárdica, que normalmente aumentaria o
- O paciente também precisa ser alertado a procurar serviço consumo de oxigênio pelo miocárdio, mas o nitrato diminui a
médico caso a dor persista por mais de 10 a 20 minutos. tensão da parede ventricular resultando em uma redução na
- Cessar o tabagismo. demanda de oxigênio pelo miocárdio e melhora
da angina pectoris.**
- Mudanças dietéticas: frutas, vegetais, cereais, grãos, derivados
lácteos desnatados, peixes e carnes “magras” devem ser ***VACINAÇÃO: A vacinação anual para influenza deve ser
estimulados. recomendada a pacientes com doença cardiovascular (classe
I).***
- Perda de peso

- A atividade física deve ser recomendada de forma


individualizada, respeitando as limitações e a capacidade
funcional de cada paciente

- Controle dos fatores de risco como hipertensão arterial


sistêmica (HAS), diabetes e outros elementos da síndrome
metabólica (SM).

🠖 Farmacológico

O tratamento medicamentoso da AE objetiva, em primeira


análise, o controle rigoroso da glicemia e dos níveis lipídicos
(LDL, HDL e TG) e a prevenção de eventos trombóticos mediante
o uso de antiagregante plaquetário (AAS). Além disso, deve-se
dar atenção especial ao ajuste do duplo produto pressão arterial
(PA) x frequência cardíaca.

O tratamento antianginoso deve ser inicialmente em


monoterapia, reservando a adição de uma segunda droga
àqueles que persistem sintomáticos

∘ Ácido Acetilsalicílico

O ácido acetilsalicílico (AAS) em dose de 75 mg/d reduz em


cerca de 34% os eventos cardiovasculares primários e diminui
em 32% a recorrência destes. Àqueles com contraindicação ao
uso, deve-se considerar o uso de ticlopidina ou clopidogrel. A
ação antiagregante reduz a probabilidade de, na vigência de
instabilização de uma placa aterosclerótica, ocorrer progressão
significativa do trombo, levando a oclusão coronariana.

∘ Betabloqueadores

Considerando o maior benefício com os betabloqueadores na


angina instável, essa classe se torna a primeira linha para terapia
antianginosa. A dose dos betabloqueadores deve ser ajustada
para manter a frequência cardíaca em torno de 60 bpm. São
efetivos no controle da dor e tolerância ao esforço nos pacientes
com AE. Reduz o risco de IAM. São usados o atenolo e
metoprolol.

∘ Nitratos

- Alívio dos sintomas agudos

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