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Simpósio: EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS

Capítulo VII

Par ada car


arada díaca em crianças
cardíaca
Cardiac arrest in children

Alessandra Kimie Matsuno

RESUMO
Este texto apresenta uma revisão da epidemiologia, das causas, do diagnóstico e do manejo da parada
cardíaca em crianças. Ao contrário do adulto, a parada cardíaca súbita de origem cardíaca é um evento
raro na criança. Geralmente, é causada por insuficiência respiratória e/ou choque. Portanto, o reconhe-
cimento precoce e o tratamento imediato destas condições podem evitar a parada cardíaca e melhorar
o desfecho desses pacientes.

Palavras-chave: Parada Cardíaca. Criança. Diagnóstico. Tratamento.

Definição cardíacas pediátricas pré-hospitalares; esta incidên-


cia deve ser um pouco mais alta em pacientes acima
Ritmo de colapso, parada cardiopulmonar ou de 12 anos. Nos pacientes internados que sofreram
simplesmente parada cardíaca são situações clínicas parada cardíaca, haverá um ritmo chocável (TV/ FV)
caracterizadas pela interrupção da circulação do san- em algum momento durante a tentativa de ressuscita-
gue causada por ausência ou ineficácia da atividade ção em aproximadamente 27% das crianças, sendo
mecânica cardíaca. que 10% apresentarão estes ritmos como manifesta-
ção inicial.1,2
Incidência
Sobrevivência à alta hospitalar
A parada cardíaca súbita em crianças é pouco
comum. O que ocorre nas crianças, geralmente, é a As taxas de sobrevivência estão relacionadas
parada cardíaca decorrente da progressão da insufi- à localização onde ocorreu a parada cardíaca e o tipo
ciência respiratória e/ou do choque, associada à hipo- de ritmo de colapso presente. A sobrevivência à alta
xemia e acidose, sendo bem menor a incidência de hospitalar na parada cardíaca dentro do hospital é maior
parada cardíaca por arritmias cardíacas na faixa etária quando comparada à parada cardíaca fora do hospi-
pediátrica do que no adulto. O colapso súbito devido à tal, assim como a sobrevivência sem sequelas neuro-
fibrilação ventricular (FV) ou taquicardia ventricular lógicas. Nos últimos 30 anos, a sobrevivência dentro
(TV) sem pulso ocorre como manifestação clínica ini- do hospital aumentou de 9 para 27%, enquanto que a
cial em aproximadamente 5-15% de todas as paradas sobrevida em pacientes tratados fora do hospital se

Professora Colaboradora do Departamento de Puericultura e Correspondência:


Pediatria da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Univer- Avenida dos Bandeirantes 3900
sidade de São Paulo 14049-900 / Ribeirão Preto - SP.
matsuno@fmrp.usp.br

Artigo recebido em 11/04/2012


Aprovado para publicação em 20/06/2012

Medicina (Ribeirão Preto) 2012;45(2): 223-33


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mantém a mesma, 6% (3% para lactentes e 9% para ou irregular e bradicardia. O modelo de avaliação
crianças e adolescentes). A sobrevivência também é pediátrica permite que se reconheça e trate a falência
maior quando o ritmo inicial é chocável (25%-33%) cardiopulmonar imediatamente. A parada cardíaca é
comparado ao ritmo não-chocável à apresentação reconhecida por ausência de sinais da função cardior-
(7%-11%). Entretanto, quando um ritmo chocável se respiratória (sem movimentação, sem ventilação e sem
desenvolve durante a parada cardíaca em crianças pulso). Clinicamente, o paciente em parada cardíaca
hospitalizadas, o prognóstico é pior (sobrevida de 11% se apresenta com apneia ou respiração agônica, sem
vs. 27% com ritmo não-chocável). De qualquer for- pulsos detectáveis e não responsivo (inconsciente). A
ma, a sobrevida é baixa e, portanto, enfoque maior monitorização do ritmo cardíaco não é mandatória para
deve ser dado à prevenção, pelo reconhecimento das o reconhecimento clínico da parada cardíaca, mas
situações de emergência que potencialmente podem serve para direcionar a terapêutica.6
levar à parada cardíaca.1,3,4,5 Os ritmos de colapso ou de parada cardíaca
são: assistolia, atividade elétrica sem pulso (AESP),
Apresentação da parada cardíaca FV e TV sem pulso. Enquanto que a assistolia e a
AESP são os ritmos iniciais mais comumente obser-
De acordo com a etiologia, a apresentação da vados na parada cardíaca em crianças abaixo de 12
parada cardíaca em crianças pode ser de dois tipos: anos, a FV e a TV são os ritmos iniciais observados
parada cardíaca hipóxica ou por afixia e parada car- em crianças que apresentam colapso súbito.7
díaca súbita. A parada hipóxica é o mecanismo
fisiopatológico mais comum de parada cardíaca na Identificação dos ritmos de colap-
criança e ocorre como evento terminal de hipóxia te- so no eletrocardiograma (ECG)
cidual progressiva e acidose, secundárias à insufici-
ência respiratória, choque ou insuficiência cardiopul- • Assistolia: Ritmo de parada cardíaca associado à
monar. A parada cardíaca súbita em crianças é geral- ausência de atividade elétrica detectável pelo ECG
mente associada a arritmias cardíacas, especificamen- e representado por uma linha reta (Figura 2). Deve-
te a FV e a TV sem pulso. As causas de parada car- se confirmar clinicamente este diagnóstico para
díaca estão relacionadas na Figura 1. descartar artefato ou derivações mal-fixadas do
Qualquer que seja o evento inicial ou o proces- ECG.8
so patológico envolvido no tipo de parada, os pacien- • Atividade Elétrica sem Pulso (AESP): Qualquer
tes desenvolvem falência cardiopulmonar imediata- atividade organizada observada no monitor cardía-
mente antes da parada cardíaca. A falência cardio- co ou no ECG em paciente sem pulso central pal-
pulmonar se caracteriza por oxigenação, ventilação e pável; esta definição exclui FV, TV e assistolia. O
perfusão tecidual inadequadas, e clinicamente o paci- ECG pode mostrar a presença de complexo QRS
ente se apresenta cianótico, com respiração agônica normal ou alargado, ou outras anormalidades como

Figura 1: Tipos de apresentação e causas de parada cardíaca em crianças.

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Figura 2: Assistolia

onda T com baixa ou alta amplitude, intervalo PR e e a atividade elétrica é caótica; portanto, o coração
QT prolongados e dissociação atrioventricular ou tremula e não bombeia sangue (Figura 3). A FV
bloqueio cardíaco total. O ECG pode fornecer da- pode ser causada por doenças cardíacas, intoxica-
dos importantes para determinar a etiologia da pa- ções, choques elétricos, acidentes por submersão e
rada cardíaca. Geralmente, quando o QRS é inici- traumas, e geralmente se associa com colapso sú-
almente normal, a AESP pode ter sido causada por bito. Os pacientes que apresentam FV ou TV sem
problemas de curta duração, como hipovolemia ou pulso como ritmo de colapso inicial têm taxa de so-
hemorragia, embolia pulmonar maciça, pneumotó- brevivência maior do que aqueles com assistolia e
rax hipertensivo ou tamponamento cardíaco. Por AESP, principalmente se o diagnóstico for precoce
outro lado, a AESP com ritmo lento e com comple- e o tratamento iniciado o mais rápido possível. Se
xos QRS largos é observada em processos de mai- houver demora no reconhecimento da FV ela pode
or duração, como hipóxia tecidual e acidose. A AESP evoluir para fibrilação de baixa voltagem, que apre-
pode ser causada por condições reversíveis e, por- senta um pior prognóstico com menor resposta ao
tanto, durante a reanimação cardíaca deve-se sem- tratamento (Figura 4).8
pre procurar e tratar suas causas.8 • Taquicardia ventricular (TV) sem pulso: Carac-
• Fibrilação ventricular: O coração não apresenta teriza-se por complexos QRS organizados e largos.
ritmo organizado, não tem contrações coordenadas Ao ECG, apresenta-se com frequência ventricular

Figura 3: Fibrilação ventricular de alta voltagem.

Figura 4: Fibrilação ventricular com atividade elétrica reduzida ou de baixa voltagem.

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de pelo menos 120/min, QRS > 0,08 segundos de váveis e tratá-las. Há um método mnemônico que aju-
duração, ondas P geralmente não identificadas, ou da a lembrar das causas mais comuns dos ritmos car-
quando presentes, podem não estar correlaciona- díacos de colapso. São os 6 Hs e os 5 Ts 7:
das ao QRS, e ondas T geralmente de polaridade • Hipovolemia
oposta ao QRS. As causas podem estar associadas • Hipóxia
à doença cardíaca de base (ou pós-operatório de • Hidrogênio (distúrbios do H+ – o mais comum é a
cardiopatia), síndrome do QT longo, miocardite, acidose)
miocardiopatias, distúrbios hidroeletrolíticos • Hipo/hiperpotassemia
(hiperpotassemia, hipocalcemia, hipomagnesemia) • Hipoglicemia
e intoxicações (antidepressivos tricíclicos e cocaí- • Hipotermia
na). A TV sem pulso pode ser monomórfica, quan- • Tóxicos (intoxicações em geral)
do os complexos QRS têm aparência uniforme (Fi- • Tamponamento cardíaco
gura 5) ou polimórfica, quando os complexos QRS • Tensão no tórax (Pneumotórax)
não são uniformes (Figura 6). Um exemplo de TV • Trombose coronariana
polimórfica é a chamada torsades de pointes (“tor- • Trombose pulmonar
ção dos pontos”), caracterizada por uma alteração
de polaridade e de amplitude dos complexos QRS, Tratamento dos ritmos de cola pso
colapso
que parecem rodar ao redor de uma linha isoelétrica
do ECG. As condições que predispõem à torsades A alta qualidade da ressuscitação cardiopulmo-
de pointes incluem a síndrome do QT longo, hipo- nar (RCP) e a sistematização do atendimento são ba-
magnesemia, intoxicação por antiarrítmicos (Clas- ses fundamentais para o sucesso do tratamento da
se IA: quinidina, procainamida e disopiramida; Clas- parada cardíaca, tanto no suporte básico como no su-
se III: sotalol, amiodarona), intoxicação por antide- porte avançado de vida.7
pressivos tricíclicos, bloqueadores de canais de cál-
cio e fenotiazina.8 Suporte básico de vida
Em todos os ritmos de colapso é necessário, O suporte básico de vida (suporte dado fora do
além do tratamento do ritmo, procurar as causas pro- hospital) inclui o reconhecimento dos sinais de parada

Figura 5: Taquicardia ventricular monomórfica.

Figura 6: Taquicardia ventricular polimórfica.

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cardíaca, a realização da RCP de qualidade e o uso da - Técnica: Em crianças abaixo de 1 ano, a melhor
desfibrilação com desfibrilador externo automático técnica é a aquela que usa os dois polegares com
(DEA). Na recomendação de 2010, os profissionais as mãos circundando o corpo; se houver apenas
de saúde e leigos devem considerar no atendimento um profissional, pode-se tentar a técnica dos dois
das crianças as seguintes faixas etárias: lactentes como dedos (segundo e terceiro dedos da mão). Em
aqueles menores que 1 ano e crianças como aquelas crianças maiores, deve-se realizar a massagem
de 1 ano até a idade do início da puberdade (adoles- com a palma de uma mão (região tênar e
cência) definida como desenvolvimento de mamas nas hipotênar) na região intermamilar ou com a se-
meninas e pelos axilares nos meninos; a partir daí, o gunda mão por cima.
tratamento é igual ao ofertado aos adultos.3 - Frequência da compressão: 100/min.
- Relação compressão: ventilação: Como dito
Considerando o cenário fora do hospital anteriormente, deve ser de acordo com o número
de socorristas, o conhecimento do socorrista e a
Cenário 1. Se um paciente pediátrico estiver faixa etária do paciente. Se os socorristas forem
com sinais de parada cardíaca (inicialmente inconsci- leigos (1 ou 2) ou se for um profissional de saúde
ente, em apneia ou com respirações agônicas) e a sozinho, esta relação será sempre 30:2 para to-
parada não foi testemunhada, deve-se realizar a RCP, das as faixas etárias. Se forem 2 socorristas e
da seguinte maneira: “CAB”, ou seja: C - checar o um deles for profissional de saúde, esta relação
pulso, se ele não for palpável ou for difícil a sua
palpação (não demorar mais do que 10 segundos
com as tentativas de sentir o pulso) iniciar ime-
diatamente a massagem cardíaca e, subse-
quentemente, faz-se o A e o B.
A- Posicionar e garantir a abertura das vias aé-
reas, usando manobra de extensão do pesco-
ço e elevação da mandíbula.
B- Fornecer duas ventilações e continuar a mas-
sagem cardíaca, conforme relação descrita a
seguir.

A relação deve ser de 30 compressões: 2


ventilações, se houver um socorrista; caso mais
um socorrista esteja ajudando, esta relação é de
Figura 7: Técnica de massagem cardíaca em lactentes.
15:2 em crianças. Estudos demonstraram que a
qualidade da massagem cardíaca é imprescindí-
vel para o retorno da circulação; portanto, a par-
tir das recomendações das diretrizes de 2005 e
2010 tem-se dado ênfase à qualidade da técnica
da massagem, que deve ser feita da seguinte for-
ma:9
- Local: Terço inferior do esterno, evitando o
apêndice xifoide ou as costelas. Nas crian-
ças abaixo de 1 ano, o local recomendado é
1 cm abaixo da linha inter-mamilar (Figura
7) e nas crianças acima de 1 ano, o local
recomendado é na linha inter-mamilar (Figu-
ra 8).3
- Profundidade: No mínimo, 1/3 do diâmetro
anteroposterior ou 4 cm em lactentes e 5 cm
em crianças.3 Figura 8: Técnica de massagem cardíaca em crianças maiores de 1 ano.

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será 15:2 até adolescentes, e 30:2 acima desta fora do hospital, se o socorrista for leigo, assim que
faixa etária. A quantidade maior de ventilações detectar inconsciência, ausência de respiração ou res-
na faixa etária pediátrica decorre do fato de que piração agônica da vítima, ele deverá iniciar a massa-
a hipóxia é causa comum de parada cardíaca nes- gem cardíaca sem verificação do pulso.
tes pacientes.
- Interromper a massagem cardíaca, o míni- Suporte avançado de vida
mo possível, apenas durante a ventilação, pois No cenário intra-hospitalar, provavelmente o
estudos demonstram que toda a vez que se para atendimento não será feito por um único profissional.
a massagem cardíaca, ao reiniciá-la, demora-se Portanto, assim que se detectar que o paciente apre-
um tempo para chegar novamente em uma pres- senta parada cardíaca, deve-se pedir para que se tra-
são ótima para a perfusão coronariana (necessá- ga o carrinho de emergência com o desfibrilador e a
ria para o retorno da circulação).3 monitorização e, enquanto isso, inicia-se a RCP. A meta
- Trocar as funções de compressor e fornece- das intervenções terapêuticas é o retorno da circula-
dor da ventilação a cada 2 minutos, pois have- ção espontânea, definido como a restauração de rit-
rá um cansaço natural do compressor, prejudican- mo cardíaco espontâneo (ao monitor é o aparecimen-
do a qualidade da massagem. Caso haja apenas to de atividade elétrica organizada) com perfusão (pul-
um socorrista neste cenário (colapso súbito não sos centrais palpáveis e pressão arterial mensurável).
testemunhado), deve-se fazer um ciclo de RCP O tratamento dos ritmos de colapso inicia-se sempre
(massagens cardíacas e ventilações) por 2 minu- com o “CAB”:
tos antes de chamar o serviço de emergência ou C- Se houver ausência de pulso central, inicia-se a
de conseguir um DEA; se houver mais de uma massagem cardíaca de alta qualidade seguindo as
pessoa, deve-se pedir a ela que chame o serviço mesmas recomendações anteriormente expostas
de resgate ou que busque o DEA imediatamente, e depois, faz-se o A e o B. 7
após verificar que o paciente está inconsciente.3 A- Abertura de vias aéreas pelo posicionamento cor-
reto da cabeça e aspiração.
Cenário 2. Se o paciente tiver um colapso sú- B- Oferta de oxigênio, que neste caso será através da
bito testemunhado e se encontrar com sinais de para- bolsa-valva e máscara, pois o paciente em parada
da cardíaca, antes de iniciar a RCP na sequência cita- cardíaca não apresenta respiração espontânea ou
da anteriormente, deve-se acionar o serviço de emer- quando apresenta, ela é totalmente ineficaz (respi-
gência ou conseguir um DEA, se você estiver sozi- ração agônica). A intubação orotraqueal deverá ser
nho. O DEA é programado para avaliar o ECG da feita assim que possível, quando diminuir a efetivi-
vítima e verificar se o ritmo é chocável ou não; se for dade da ventilação com bolsa-valva e máscara. O
um ritmo chocável, ele orienta o socorrista em rela- momento adequado para a intubação dependerá
ção ao momento ideal para dar o choque por meio de da experiência do socorrista, pois ela deve ser fei-
mensagens sonoras e visuais. Nas novas diretrizes ta rapidamente e durante a sua realização, é ne-
de 2010 sobre o DEA, recomenda-se utilizar um cessário parar as manobras de RCP.
atenuador de carga elétrica pediátrico para crianças
de 1 a 8 anos, mas na ausência deste, pode ser utiliza- Se dois socorristas estiverem atendendo crian-
do o DEA com carga padrão. Em crianças menores ças até a adolescência, a relação compressão: venti-
de 1 ano, recomenda-se em primeiro lugar a utilização lação deve ser 15:2 e em adolescentes e adultos, 30:2.
do desfibrilador manual, mas na ausência deste, pode Após a intubação, a maneira como se ventila e mas-
ser utilizado o DEA com atenuador de carga elétrica sageia muda, deixando de ser sincronizada e passa a
pediátrico e se caso este também faltar, pode-se usar ser 8-10 ventilações por minuto (6 segundos entre uma
o DEA com carga padrão. Esta mudança ocorreu, pois ventilação e outra) e a massagem se torna contínua
não se sabe a carga mínima eficaz nem a carga máxi- sem interrupções. Esta mudança se deve a estudos
ma prejudicial na desfibrilação das crianças, mas sabe- que mostram que durante a parada cardíaca, o fluxo
se, por estudos de modelos animais pediátricos, que sanguíneo para os pulmões é de somente 25% a 33%
cargas acima de 4 J/kg (até 9 J/kg) não têm efeitos do normal; isso significa que durante a ressuscitação
adversos significativos. 3 é necessário menos ventilação para satisfazer a per-
Observação: Nos casos de parada cardíaca fusão.

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As manobras de abertura de vias aéreas e ven- mesmas doses administradas por via intravenosa
tilação, principalmente na parada cardíaca em crian- ou intraóssea; 5) a dose recomendada de epine-
ças, cuja principal causa é a hipóxia, são extrema- frina por via endotraqueal é dez vezes maior que
mente importantes e não podem ser retardadas, pois aquela administrada por via intravenosa e para
um estudo recente com pacientes pediátricos mostrou as outras medicações, é duas a três vezes maior.
que há melhor desfecho, nestes casos, quando se com- A técnica de administração consiste em instilar
bina a massagem cardíaca com a ventilação do que as drogas no tubo traqueal diluídas em 5 ml de
apenas com a massagem cardíaca. Teoricamente, o solução fisiológica, aplicando-se 5 ventilações com
início da ventilação não poderá demorar mais que 18 pressão positiva após a instilação.
segundos após o início da massagem com um socorrista
e se forem dois socorristas, este tempo deverá ser Após a identificação do ritmo pelo ECG, deve-
ainda menor (18 segundos é o tempo que o socorrista se iniciar o tratamento apropriado de acordo com o
leva para aplicar 30 compressões, a 100/min). tipo de ritmo (chocável ou não-chocável).
O acesso venoso deve ser estabelecido as-
sim que se detectar uma situação de emergência. A Tratamento dos ritmos não-chocáveis
prioridade para o estabelecimento do acesso vascular Constituem ritmos não-chocáveis a assistolia e
deve ser na seguinte sequência: intravenoso, intraós- a AESP. Assim que se detectar a ausência de pulso
seo e endotraqueal.8 central, deve-se iniciar a massagem cardíaca de alta
- Veia periférica: Este acesso é preferível como qualidade e administrar epinefrina durante as mano-
primeira tentativa, pois além de ser mais fácil de bras de RCP, ou seja, enquanto se faz a massagem
ser obtido que o acesso central (que precisa de cardíaca. A cada 5 ciclos ou 2 minutos de RCP, verifi-
habilidades específicas), durante a sua aquisição ca-se o ritmo. A dose de epinefrina por via intravenosa
não é necessário interromper as manobras de RCP. ou intraóssea é de 0,01 mg/kg ou 0,1 mL/kg da solu-
Caso o paciente já esteja com um acesso central ção 1:10.000 (1 ampola diluída para 10 mL), podendo
antes do início das manobras de RCP, esta via ser repetida em intervalos de 3 a 5 minutos. A dose
deve ser utilizada para medicações, porque pos- pela via endotraqueal deve ser 10 vezes maior, ou seja,
sibilita início de ação mais rápido e concentra- 0,1 mg/kg (0,1mL/kg da solução 1:1.000). Não exis-
ções mais elevadas do que a veia periférica. tem benefícios quanto à sobrevivência que justifiquem
- Via intraóssea: Caso não se consiga o acesso o uso de altas doses de epinefrina (0,1 a 0,2 mg/kg);
periférico, deve-se dar preferência à via intraós- isto pode ser até mesmo prejudicial, principalmente
sea (IO), que pode ser estabelecida em qualquer em casos de parada hipóxica.10 No entanto, o uso de
faixa etária, inclusive nos pacientes adultos. Cons- altas doses pode ser considerado em algumas situa-
titui acesso fácil, frequentemente obtido em 30 a ções especiais, como na intoxicação por β-bloquea-
90 segundos, onde podem ser feitos quaisquer ti- dores. Ressalta-se que a epinefrina é a única droga
pos de medicação ou de fluido administrados nor- indicada na RCP dos ritmos não-chocáveis em crian-
malmente por via endovenosa, pois a canulação ças. Após iniciar a massagem cardíaca, devem-se as-
IO fornece um acesso não colapsável para o plexo segurar as vias aéreas e fornecer oxigenação rapida-
venoso da medula óssea. mente. É necessário também tratar as condições re-
- Via endotraqueal: Deve ser utilizada apenas na versíveis associadas a estes ritmos (pensar nos 6Hs e
impossibilidade de obtenção da via intravenosa 5Ts). Os ritmos assistolia e AESP nunca devem ser
ou intraóssea, pois ela possui algumas restrições: tratados com choque elétrico.3
1) Só podem ser administradas medicações
lipossolúveis como atropina, naloxona, epinefrina Tratamento dos ritmos chocáveis
e lidocaína (“ANEL”); 2) a dose ideal da maioria Constituem ritmos chocáveis a FV e a TV sem
das medicações é desconhecida; 3) a absorção pulso. Inicialmente, faz-se a sequência de massagem
das medicações pela árvore traqueobrônquica é cardíaca, abertura das vias aéreas e oxigenação apro-
imprevisível e, portanto, seus níveis e efeitos tam- priada.7 Após 5 ciclos ou 2 minutos de RCP, verifica-
bém serão imprevisíveis; 4) a administração se o ritmo.
endotraqueal das medicações resulta em níveis Ao chegar o desfibrilador, que no cenário intra-
sanguíneos inferiores quando se compara com as hospitalar provavelmente será um desfibrilador ma-

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nual, faz-se a preparação e a aplicação do choque da reiniciam-se imediatamente as manobras de ressus-


seguinte forma:7,8, 11 citação, começando pela massagem cardíaca, que
• Escolha das pás adequadas: Para crianças < 10 deve ser feita por dois minutos. Subsequentemente,
kg ou menores de 1 ano recomendam-se pás pe- verifica-se o pulso central e o ritmo, e se este ainda
quenas ou pediátricas, enquanto que para crianças for chocável, prepara-se para um novo choque com
> 10 kg ou maiores de 1 ano, recomenda-se o uso 4 J/kg. A partir do terceiro choque, esta carga será
de pás grandes ou de adultos. Os locais apropria- de 4 J/kg, ou poderá ser aumentada até 9 J/kg, de-
dos para a colocação das pás são o lado superior vendo-se considerar a administração de epinefrina.
direito do tórax, abaixo das clavículas e à esquerda • Administração de medicamentos: Assim que se
do mamilo esquerdo, na linha axilar anterior (no ápice detecta que o ritmo chocável não reverteu após o
do coração); as pás devem estar distantes pelo primeiro choque e dois minutos de RCP, deve-se
menos 3 cm e nunca devem se tocar. Caso só este- administrar epinefrina. Embora não tenha sido de-
jam disponíveis pás de tamanho grande e seja ne- terminado um momento exato para a administração
cessário desfibrilar uma criança menor de 10 kg, de epinefrina, recomenda-se que ela deva ser feita
deve-se utilizar uma posição alternativa, que con- durante as compressões torácicas ou imediatamen-
siste em colocar uma pá na região anterior do tórax te antes do início das compressões, pois a droga
(à esquerda do esterno) e a outra posterior, nas cos- deve “circular” para agir. As doses da epinefrina
tas. são as mesmas utilizadas no tratamento dos ritmos
• Podem-se utilizar pás autoadesivas ou conven- não-chocáveis.
cionais. Caso sejam utilizadas pás convencionais, • Outras medicações: Logo após o segundo choque,
deve-se colocar gel, pasta ou creme condutor entre inicia-se a massagem cardíaca e faz-se a RCP por
as pás e a pele do paciente para reduzir a impedância dois minutos, verificando-se novamente o pulso e o
transtorácica. As pás NÃO DEVEM SER embebi- ritmo. Se a TV sem pulso ou a FV ainda persisti-
das em solução salina ou gel para ultrassom, muito rem, prepara-se um novo choque com 4 J/kg, po-
menos em compostos à base de álcool. dendo-se usar novamente a epinefrina ou algum
• A desfibrilação não deve ser sincronizada. antiarrítmico como amiodarona, lidocaína ou sul-
• Escolher a carga: Inicialmente deve ser de 2 J/kg. fato de magnésio (para torsades de pointes), cujas
• Colocar as pás na posição adequada. doses recomendadas são: Amiodarona 5 mg/kg IV
• Carregar o aparelho. ou IO (dose máxima única 300 mg); lidocaína 1mg/
• Para garantir a segurança da desfibrilação, deve- kg IV ou IO, sendo que por via endotraqueal deve
se realizar uma verificação visual do paciente e da ser feita 2-3 vezes esta dose; sulfato de magnésio
equipe de ressuscitação, avisando com voz firme e 25 a 50 mg/kg IV ou IO, dose única máxima de 2 g.
forte antes de cada choque: “Vou aplicar o cho- O algoritmo da parada sem pulso encontra-se na
que no três: um, estou fora (afastado do contato Figura 9.
físico com o paciente, com a maca e com outro
equipamento; dois, vocês estão fora; e três, oxi- Motivos da mudança da abordagem “ABC”
gênio fora (que deve estar fora da área ao redor para “CAB”
do tórax durante a desfibrilação).” Há outras si- Durante a parada cardíaca, a RCP de alta qua-
tuações especiais, além do uso de oxigênio, que exi- lidade e, particularmente as compressões torácicas são
gem cuidados durante a desfibrilação: se o paciente essenciais para enviar fluxo sanguíneo para os órgãos
estiver molhado, ele deve ser secado; na presença vitais e, desta forma, fazer com que retorne a circula-
de marca-passo, deve-se colocar as pás a 2,5 cm ção espontânea. Os argumentos a favor de começar
de distância dos dispositivos; e na presença de me- pela massagem cardíaca são os seguintes: 1) A maio-
dicamentos em adesivos transdérmicos, as pás não ria das paradas cardíacas ocorre em adultos e o ritmo
devem ser colocadas diretamente sobre estes ade- mais frequente é a fibrilação ventricular, em que a
sivos (se necessário, devem ser removidos). compressão torácica é mais importante que a ventila-
• O tempo desde o preparo do desfibrilador até a ad- ção; estes casos têm um melhor desfecho quando a
ministração do choque não deve ultrapassar 10 se- massagem cardíaca se inicia o mais precocemente
gundos; enquanto se prepara a desfibrilação, deve- possível. 2) Para todos os socorristas é mais fácil e
se continuar a RCP. Após aplicação do choque, rápido iniciar com a massagem cardíaca, do que ini-

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Algoritmo de Parada sem Pulso do PALS

PARADA SEM PULSO


Algoritmo de BLS: “CAB”: C – Iniciar a massagem cardíaca,
1
A – Vias aéreas e B – Ventilação.
Conecte o monitor/desfibrilador, quando disponível

2 9
3 Chocável Cheque o ritmo Não Chocável
Ritmo Chocável ?
FV/TV Assistolia/AESP

4 10
Dê 1 choque Reinicie a RCP imediatamente
*Manual: 2 J/kg Dê epinefrina
*DEA: todas as idades *IV/IO: 0,01 mg/kg
Use sistema pediátrico, se (1:10.000: 0,1 mL/kg)
disponível, até 8 anos *Tubo endotraqueal: 0,1 mg/kg
Reinicie a RCP imediatamente (1:1.000: 0,1 mL/kg)
Repita a cada 3 a 5 min
5 Faça 2 minutos de RCP
11 Faça 2 minutos de RCP
Cheque o ritmo Não Chocável
Ritmo Chocável ? Cheque o ritmo
Ritmo Chocável ?
Chocável
6
12 Não Chocável Chocável 13
Continue a RCP enquanto o desfibrilador carrega
Aplique 1 choque
* Manual: 4 J/kg *Se assistolia, vá para a Caixa 10
* DEA: todas a idades
*Se atividade elétrica, cheque o pulso.
Reinicie a RCP imediatamente Vá para a
Dê epinefrina Se não houver pulso, vá para a Caixa 10 Caixa 4
* IV/IO: 0,01 mg/kg *Se houver pulso, inicie cuidados
(1:10.000: 0,1 mL/kg) pós- ressuscitação
* Tubo endotraqueal: 0,1 mg/kg
(1:1.000: 0,1 mL/kg)
Repita a cada 3 a 5 minutos

7 Faça 2 minutos de RCP


Durante a RCP
Cheque o ritmo Não Chocável
Ritmo Chocável ? * Comprima forte e rápido (100/min) Procure e trate possíveis
* Garanta o retorno completo do tórax causas associadas:
Chocável
8 * Minimize as interrupções nas
compressões torácicas - Hipovolemia
* Um ciclo de RCP: 15 compressões e - Hipóxia
Continue a RCP enquanto o desfibrilador carrega
2 ventilações: 5 ciclos ~ 1 a 2 min - Hidrogênio (acidose)
Aplique 1 choque
* Evite hiperventilação - Hipo/hipercalemia
*Manual: 4 J/kg
* Assegure a via aérea e confirme a posição - Hipoglicemia
*DEA: todas as idades
* Após assegurar a via aérea, os socorristas - Hipotermia
Reinicie a RCP imediatamente
não mais realizam “ciclos” de RCP - Tóxicos
Considere antiarrítmicos
Faça compressões torácicas contínuas - Tamponamento cardíaco
(p.ex., amiodarona 5 mg/kg IV/IO ou
sem pausas para ventilar. Faça 8 a 10 - Tensão no tórax
lidocaína 1 mg/kg IV/IO)
ventilações por minuto (pneumotórax)
Considere magnésio 25 a 50 mg/kg IV/IO, máx
Cheque o ritmo a cada 2 minutos - Trombose coronária
2 g para torsades de pointes
* Rodizie o compressor a cada 2 min, na - Trombose pulmonar
Aplique 2 minutos de RCP*,
vá para a Caixa 5 acima verificação do ritmo

Figura 9: Algoritmo de Parada sem Pulso do PALS

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Medicina (Ribeirão Preto) 2012;45(2): 223-33
Matsuno AK. Parada cardíaca em crianças http://www.fmrp.usp.br/revista

ciar com as manobras de abertura de vias aéreas e garantindo o tempo de recolhimento e minimizando as
técnicas de ventilação; em muitos casos, houve retardo interrupções.
do início da massagem em decorrência de dificuldade A. Abrir as vias aéreas, posicionando o pacien-
técnica nos primeiros passos. 3) Ainda não se sabe se te com coxim sob os ombros, entre as escápulas e
para as crianças, esta sequencia “CAB” tem diferen- aspirar as vias aéreas (houve saída de grande quanti-
ças em relação à abordagem antiga “ABC”, mas ela dade de leite).
está sendo recomendada para simplificar o treinamento B. Fornecer oxigenação, que neste caso, deve
do socorro às vítimas de parada cardíaca e amplificar ser sob a forma de ventilação com pressão positiva
a RCP adequada nas vítimas de colapso súbito, me- com bolsa-valva e máscara. A relação da compres-
lhorando, desta forma, o seu prognóstico.3,7,12,13 são: ventilação, com dois socorristas, deve ser de 15:2.
Após garantir as vias aéreas com a intubação traque-
Quando parar a RCP? al, a ventilação não deve ser sincronizada, que deve
Ainda não há consenso sobre o momento em ser 8 -10/min e a massagem cardíaca deve ser contí-
que se devem interromper os esforços de ressuscita- nua. Assim que chegar o monitor, deve-se analisar o
ção, tanto nos ritmos chocáveis como nos não-chocá- ritmo, que neste caso se encontra da seguinte forma:
veis. A decisão de parar a RCP é influenciada
pela causa provável da parada, pelos recursos dis-
poníveis e pela probabilidade da presença de quais-
quer condições reversíveis. Normalmente, o tem-
po de RCP varia de 20 a 30 minutos. Esforços
prolongados devem ser feitos em lactentes e em
crianças com FV ou TV recorrente ou refratária,
toxicidade por drogas (até que se possa fazer o
tratamento toxicológico adequado) e hipotermia
(até que as medidas de reaquecimento adequado te- Pergunta-se: Quais são o diagnóstico e a con-
nham sido realizadas). A evolução da parada cardíaca duta?
em pacientes pediátricos é geralmente ruim. Assim, o
pronto reconhecimento dos ritmos de colapso e a RCP Resposta: O diagnóstico é assistolia e a con-
imediata e de alta qualidade, além da rápida correção duta é manter RCP com massagem cardíaca e venti-
dos fatores contribuintes oferecem melhores chances lação. Após o estabelecimento de acesso venoso ou
de sobrevivências para estes pacientes.14 intraósseo, deve-se administrar epinefrina 0,01 mg/kg
ou 0,1 mL/kg da solução 1:10.000, sempre infundindo
bolus de 3-5 mL de soro fisiológico após a administra-
Casos clínicos ção da medicação para ela circular e chegar até o
coração, devendo-se administrar o medicamento sem-
Caso 1 pre durante a massagem cardíaca. Deve-se reavaliar
Criança de 7 meses de vida, previamente sau- o ritmo e o pulso a cada dois minutos, sendo que esta
dável, é encontrada pela mãe no berço inconsciente e reavaliação também deve incluir a efetividade da ven-
cianótica, após a mamada da madrugada. A criança tilação, verificando se as vias aéreas ainda permane-
chega à sala de emergência inconsciente, cianótica, cem pérvias e procurando tratar as causas reversí-
em apneia e com pulsos centrais ausentes. veis (lembrar dos 6Hs e 5Ts).

Pergunta-se: Quais são o diagnóstico e a con- Caso 2


duta? Paciente de 7 anos, 30 kg, internado na enfer-
Resposta: O diagnóstico é de parada cardior- maria de cardiologia pediátrica no pós-operatório tar-
respiratória. A conduta é inicialmente pedir para tra- dio de cirurgia cardíaca, apresenta síncope com perda
zer a monitorização / desfibrilador e iniciar o “CAB”: da consciência. É levado à sala de emergência e ao
C. Quando os pulsos centrais estão ausentes, chegar lá, você encontra a criança inconsciente, em
deve-se iniciar massagem cardíaca de alta qualidade, apneia, e apresentando o seguinte ritmo na monitori-
comprimindo forte e rápido (100 movimentos por min), zação cardíaca:

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gar, realiza-se um choque com 2 J/kg e logo após,


reinicia-se a RCP começando pela massagem cardía-
ca. Após dois minutos, verifica-se novamente o pulso
central e o ritmo, e se a fibrilação ventricular persistir,
prepara-se o próximo choque com 4 J/kg e adminis-
Pergunta-se: Quais são o diagnóstico e a con- tra-se epinefrina 0,01 mg/kg (0,1 mL/kg da solução
duta? 1:10.000) enquanto se prepara o próximo choque, du-
Resposta: O diagnóstico é fibrilação ventricu- rante a massagem cardíaca ou logo após o choque,
lar e a conduta é checar o pulso central e iniciar a antes de iniciar a massagem. Se o ritmo persistir após
massagem cardíaca, abrir as vias aéreas com posicio- 2 minutos de RCP e o segundo choque, prepara-se
namento da cabeça pela colocação de coxim sob o para o terceiro choque com 4 J/kg e inicia-se antiarrít-
occipício, aspirar as vias aéreas (se necessário) e for- mico (amiodarona, lidocaína ou sulfato de magnésio).
necer oxigênio com bolsa-valva e máscara, até a che- Lembrar de procurar e tratar as causas reversíveis
gada e o preparo do desfibrilador. Assim que ele che- (“6Hs e 5 Ts”).

ABSTRACT
This paper presents a review of the epidemiology, causes, diagnosis and management of cardiac arrest
in children. In contrast to adults, cardiac arrest in children rarely results from a primary cardiac and
sudden cause. It’s usually due to respiratory failure and/or shock. Therefore, early recognition of these
conditions and prompt treatment may prevent cardiac arrest and improve outcome of these patients.

Keywords: Cardiac Arrest. Child. Diagnosis. Therapeutics.

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