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14.

2 Paragem Cardio-Respiratória na Diálise


Nesta sessão serão tratados os seguintes tópicos:
 Factores de risco na doença cardíaca.
 Causas da paragem cardio- respiratória (PCR).
 A cadeia de sobrevivência.
 Sinais de iminente paragem cardio-respiratória.
 Actuação em situação de PCR na diálise.
 Cuidados após a RCP.

14.3 Factores de risco


Antes de falarmos da paragem cardíaca, devemos destacar os factores de risco cardiovasculares gerais. Estes podem
ser classificados como:
 Controláveis.
 Não controláveis.
 Relacionados com a diálise.

14.4 Factores de risco controláveis


Os factores de risco gerais controláveis são bem conhecidos:
 Hipertensão.
 Hábitos tabágicos.
 Obesidade.
 Sedentarismo.
 Colesterol elevado.
 Hiperglicémia.
Devemos ensinar os nossos doentes a evitar e controlar estes tipos de risco.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, um ano após deixar de fumar o risco de cardiopatia desce 50% e após 15
anos aproxima-se do de um não fumador durante toda a vida. Todos estes seis factores podem ser controlados. A
nossa obrigação é comunicar estes factos aos doentes.

14.5 Factores de risco não controláveis


Os factores de risco não controláveis são:
 Vulnerabilidade genética: - a história familiar não pode ser evitada.
 Sexo: - os homens correm maior risco de doença cardíaca. Mesmo assim, ultimamente as mulheres estão a
recuperar terreno rapidamente nesta área. Além disso, as mulheres têm prognóstico mais desfavorável
quando está em causa uma cirurgia cardíaca.

14.6 A prevalência da Doença Cardio-Vascular (DCV) é muito elevada na DRC


Muitos doentes com doença renal crónica apresentam disfunção cardíaca. A disfunção cardíaca constitui a principal
causa de morte nestes doentes. Como podemos ver no presente estudo, a prevalência de todos os tipos de cardiopatia
é elevada na DRC estádio 4, comparativamente com a população em geral:
 Doença arterial coronária (DAC).
 Hipertrofia ventricular esquerda (HVE).
 Insuficiência cardíaca congestiva (ICC).
Na DRC no estádio 5 a prevalência é ainda maior.

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14.7 Doentes em diálise têm factores adicionais
Os doentes com DRC estádio 5 estão sujeitos a factores de risco específicos da doença e do tratamento que
exacerbam a sua predisposição para a doença cardíaca. Assim, a incidência de insuficiência cardíaca é muito mais
elevada nos doentes dialisados do que na população em geral. Os doentes em diálise apresentam factores de risco
adicionais de doença cardíaca por muitas razões, incluindo:
 Hipertensão persistente, como consequência da nefropatia primária.
 Sobrecarga hídrica, causando disfunção diastólica ou sistólica.
 Oscilação rápida entre hipertensão e hipotensão.
 Fistula AV, especialmente fistula braquial ou enxerto, se for desviado demasiado fluxo para o acesso.
 Arteriosclerose coronária.
 Anemia, que normalmente causa HVE.
 Doença valvular adquirida.
Um doente que apresente qualquer uma destas manifestações deve ser alvo de uma atenção especial.

14.8 Outros factores de risco relacionados com a diálise


Ao examinar esta lista que se refere apenas à insuficiência renal, podemos começar a avaliar porque é que os
doentes em diálise estão sujeitos a uma sobrecarga cardíaca significativamente maior do que os que têm rins
saudáveis. Outros factores de risco relacionados com a diálise incluem:
 Diálise inadequada, que pode dar origem a pericardite/tamponamento cardíaco.
 Sobrecarga de alumínio.
 Sobrecarga de ferro.
 Hiperparatiroidismo.
 Produto cálcio x fósforo elevado..
 Deposição de B2microglobulina.
 Envelhecimento e Diabetes.

14.9 MIA: análise combinada 100 doentes


Os doentes podem ter um síndroma inflamatório crónico chamado MIA, que demonstrou contribuir para uma maior
prevalência da doença cardíaca (DCV). Amplos estudos realizados na população em geral indicam que a proteína C
reactiva elevada (PCR), entre 5 a 50 mg/l, está associada a um maior risco de doença cardiovascular e de diabetes.
Na insuficiência renal crónica, a PCR elevada está significativamente associada a malnutrição, inflamação e
ateroesclerose (MIA). Este estudo incidiu sobre 100 doentes insuficientes renais crónicos (IRC pré-estádio 5). 90%
destes doentes apresentavam sinais clínicos de ateroesclerose, ou seja, placas ateromatosas carotídeas, 60%
malnutrição e aproximadamente 40% sinais de inflamação. Combinando estas análises, torna-se óbvio que a maioria
dos doentes com placas carotídeas também revelava sinais de malnutrição, inflamação ou ambas. Isto demonstra
claramente que a malnutrição, a inflamação e a aterosclerose estão fortemente associadas na insuficiência renal
crónica, mesmo antes do início do tratamento dialítico.

14.10 Causas de paragem cardio-respiratória


As causas de PCR podem ser divididas em duas categorias: primárias e secundárias:
 Os problemas cardíacos primários são a causa mais comum de PCR nos doentes fora do contexto da
assistência médica.
 Os problemas secundários são frequentemente apresentados por doentes já internados ou admitidos no
hospital.

14.11 PCR primária


A PCR é normalmente causada por uma arritmia como resultado de enfarte do miocárdio. O ritmo inicial mais
comum na PCR é a fibrilhação ventricular (FV). Os enfermeiros devem ser capazes de a reconhecer e comunicar
precocemente ao médico, de modo que este possa intervir imediatamente. A avaliação do doente pré-diálise é
fundamental. Os enfermeiros devem conhecer e reconhecer os sinais de enfarte do miocárdio que o doente apresente
ao ser admitido na clínica:
 Arritmias.
 Dor torácica/aperto no peito.
Por vezes, o doente pode queixar-se de «desconforto vago no meio do peito», indigestão ou dor noutras áreas da
parte superior do corpo (num ou nos dois braços, costas, pescoço, maxilar ou estômago). Outros sinais podem
incluir suores frios, náuseas ou tonturas.

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14.12 Sinais e sintomas de doença cardíaca
Como já vimos, os doentes dialisados apresentam maior incidência de insuficiência cardíaca. Por isso, é importante
identificar os doentes que estão em risco. A doença cardíaca pode predispor para o início de um episódio mais
grave, pelo que é importante conhecer os sinais e sintomas indicativos:
 Dispneia/ taquipneia (frequência respiratória aumentada).
 Taquicardia/bradicardia/arritmias.
 Hipotensão.
 Má perfusão periférica.
 Alterações do estado de consciência.
 Síncope (p. ex., desmaio).
A identificação precoce dos problemas, permite, iniciar um tratamento adequado. Segundo os procedimentos da sua
clínica e a presença / ausência de um médico nas instalações, deve seguir os protocolos estabelecidos.

14.13 PCR secundária


Neste caso, o coração é afectado por alterações do organismo, por exemplo, paragem respiratória primária, anemia
grave, hipotermia, choque séptico grave que, afectam a função cardíaca. Os doentes em diálise apresentam maior
risco de PCR devido a problemas secundários, daí que seja importante conhecer estes riscos.

14.14 Aumento da frequência com o processo de diálise


O processo de diálise propriamente dito pode causar problemas adicionais devido a desequilíbrios existentes no
organismo. A exposição dos doentes susceptíveis à hemodiálise pode ter como consequência graves complicações
hemodinâmicas. Observou-se um aumento da frequência da PCR nos doentes dialisados:
 Após o fim-de-semana, em que o potencial de desequilíbrio e/ou hipotensão sintomática aumenta.
 Com um nível de potássio no líquido de diálise de 0 a 1,0 mmol/l, o que pode causar arritmias.
 Após descida da pressão arterial sistólica > 30mmHg.
 Com CVC como acesso vascular, possivelmente devido a problemas infecciosos ou embolismo gasoso.

14.15 Paragem cardíaca: causas relacionadas com a diálise


As causas de paragem cardíaca durante a diálise podem estar relacionadas com:
 Desequilíbrio electrolítico K+, Ca++.
 Grave desequilíbrio dialítico.
 Hipotensão severa.
 Reacções de hipersensibilidade.
 Hemorragia.
 Embolia gasosa.
 Hemólise grave.
 Reacção pirogénica grave.
É importante conhecermos e reconhecermos estas causas e preveni-las sempre que possível. Já tratámos destes
assuntos nas sessões anteriores.

14.16 Primeiras indicações de PCR


A maioria das PCR no contexto clínico não constituem episódios súbitos ou imprevisíveis. Em aproximadamente
80% dos casos, os sinais clínicos detectados deterioram-se ao longo de algumas horas antes da paragem. Os doentes
apresentam frequentemente deterioração fisiológica progressiva e a presença de hipóxia e hipotensão é muito
comum. O reconhecimento e o tratamento eficaz precoces podem prevenir algumas PCR e mortes.

14.17 Cadeia de sobrevivência


As intervenções que contribuem para a sobrevivência após a PCR podem ser vistas como uma cadeia – a cadeia da
sobrevivência. A cadeia é apenas tão forte como o seu elo mais fraco: os quatro elos da cadeia devem ser fortes.
São:
 Reconhecimento e pedido de ajuda - precoces para prevenir a paragem cardíaca.
 Ressuscitação cardiopulmonar precoce (RCP) - para ganhar tempo.
 Desfibrilhação precoce - para reanimar o coração.
 Cuidados pós-RCP para restabelecer a qualidade de vida.
Conselho de Ressuscitação RU 2006.

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14.18 Reconhecer situações críticas
Em geral, os sinais clínicos de uma situação crítica são idênticos independentemente do processo subjacente, na
medida em que reflectem dificuldades respiratórias e sintomas cardiovasculares e neurológicos. Uma intervenção
precoce pode contribuir para prevenir a paragem cardíaca, o que significa que os doentes que apresentam esses
sintomas não devem ser dialisados mas sim transferidos para unidades especializadas logo que possível.

14.19 Sinais iminentes de paragem cardio-respiratória


À medida que os doentes se aproximam da paragem cardíaca, os seguintes sintomas agravam-se:
 Alterações da consciência.
 Sudorese.
 Palidez.
 Tonturas/vertigens.
 Respirações mínimas / ausentes.
 Perda de consciência.
Se o doente experimentar um ou mais destes sintomas, o médico deve ser imediatamente informado. Telefone para
os serviços de emergência e actue em conformidade com o procedimento da sua clínica.

14.20 Princípios básicos: ABCDE


O método de avaliação e tratamento de qualquer doente em estado crítico é o mesmo. Como a sequência de passos é
importante, estes podem ser descritos como ABCDE. Os princípios subjacentes são:
A. Vias aéreas - manter as vias aéreas desobstruídas.
B. Respiração - assegurar respirações apropriadas.
C. Circulação - manter a circulação e o débito cardíaco.
D. Incapacidade - avaliar as causas subjacentes e tratar.
E. Exposição - manter a dignidade do doente e garantir a sua segurança e a do pessoal.
Conselho de Ressuscitação RU 2006.

14.21 Avaliação e tratamento: princípios gerais


Para avaliar e tratar um doente em estado crítico é necessário seguir os princípios abaixo indicados:
 Completar a avaliação inicial e reavaliar regularmente.
 Tratar os problemas potencialmente fatais.
 Avaliar os efeitos do tratamento.
 Pedir ajuda precocemente.
 Recorrer a todos os membros da equipa, distribuir tarefas. Isto permitirá intervenções simultâneas como
avaliação, ligação do equipamento de monitorização ECG e acesso IV.
 Comunicar eficientemente.
 O objectivo do tratamento inicial é manter o doente com vida e conseguir uma evolução favorável do seu
estado clínico. Isto permitirá ganhar tempo para a continuação do tratamento e a obtenção da ajuda de
especialistas.
 Lembre-se – o tratamento pode levar alguns minutos a actuar.

14.22 Primeiros passos


Garantir a segurança pessoal:
 Verificar se o ambiente circundante é seguro.
 Usar EPI.
 Tomar as precauções standard.

Avaliar o doente:
 Em geral – verificar se parece não estar a sentir-se bem.
 Avaliar a reactividade – recorrer a estímulos visuais e físicos. A falta de resposta é um indicador claro de
doença crítica.

14.23 Intervenções de primeira linha


 Obter ajuda.
 Deitar o doente com a cabeça num nível mais baixo e os pés erguidos.
 Avaliar e registar os sinais vitais.

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 Administrar oxigénio.
 Verificar a permeabilidade do acesso IV – se o doente estiver em diálise, manter o acesso; se não estiver,
assegurar que seja colocado um acesso IV.
 Administrar as soluções salinas / IV normais.
 Ligar a monitorização ECG e de medição da pressão arterial logo que possível. Se dispuser de um oxímetro
de pulso, ligá-lo, também.
Os doentes em diálise respondem frequentemente a estas intervenções iniciais sobretudo se não estiverem em PCR
estabelecida.

14.24 O doente não responde!


Se o doente não responder às intervenções iniciais, as medidas a tomar são:
A. Certificar-se de que as vias aéreas não estão obstruídas.
B. Procurar sinais de dificuldade respiratória.
C. Considerar a hipótese de hipovolémia - é uma das causas mais prováveis; administrar líquido IV a qualquer
doente com extremidades frias e elevada frequência cardíaca, avaliar a temperatura axilar, administrar
líquidos cristalóides IV.
D. Incapacidade - considerar a possibilidade de hipoxia, hipercapnia, hipotensão; rever as primeiras 3 medidas,
examinar as pupilas, medir a glucose no sangue e corrigir o factor que está a causar/contribuir para o
problema.
E. Exposição - respeitar a dignidade dos doentes; para examinar o doente é necessário a exposição total do
corpo; reduzir a exposição ao mínimo.

14.25 Avaliar a resposta do doente


Se o doente não responder ao tratamento inicial são necessárias medidas adicionais.

14.26 Vias aéreas


 Permeabilizar as vias aéreas: inclinar a cabeça e levantar o queixo.
 Verificar a boca e narinas para detectar possíveis obstruções.
 Manter as vias abertas: olhar, ouvir e sentir durante não mais de 10 segundos.
 Tratar a obstrução das vias aéreas, administrar oxigénio, utilizar a via aérea orofaríngea.

14.27 Respirar
O doente está a respirar? Uma respiração ocasionalmente ofegante ou lenta, esforçada e ruidosa, não é normal:
 Verificar os movimentos respiratórios.
 Procurar qualquer outro movimento ou sinais de vida.
 Ouvir os sons da respiração na boca do doente.
 Sentir o ar na sua face.
Se a respiração tiver parado, utilize a máscara de bolso para permitir a ventilação boca – máscara ou máscara e
ressuscitador manual (Ambu) até que chegue ajuda.

O que é que está disponível na clínica?

14.28 Circulação
Avalie a pulsação carotídea durante não mais de 10 segundos. Se:
 Não houver sinais de pulsação.
 Não houver sinais de vida.
 Tiver dúvidas.
Inicie a RCP imediatamente

14.29 Paragem cardio-respiratória


A ressuscitação é um processo contínuo baseado no senso comum. Se o doente não tiver respondido ao tratamento
inicial e a pulsação e respirações estiverem ausentes, trata-se de uma PCR. Numa PCR é importante:
 Reconhecê-la precocemente.
 Pedir imediatamente ajuda - incluindo pedir o desfibrilhador, activar a chamada de emergência, alertar a/o
equipa/transporte de emergência.
 Iniciar a RCP utilizando acessórios das vias aéreas se estiverem indicados (cânula, máscara, etc.).

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 Tentar a desfibrilhação logo que possível, no máximo dentro de três minutos.

14.30 Durante o suporte avançado de vida


A desfibrilação precoce e uma RCP eficaz melhoram a sobrevivência após a PCR. Assim, durante o suporte de vida
avançado a atenção concentra-se na desfibrilhação precoce e numa RCP ininterrupta de alta qualidade.

14.31 Objectivo da RCP


O objectivo da RCP é manter a perfusão cardiopulmonar de sangue oxigenado até à chegada de ajuda/transporte de
emergência.
Não pare a RCP até os serviços de emergência chegarem e tomarem conta da situação ou o doente recuperar as
respirações espontâneas.

14.32 Ao iniciar a RCP


Quando se inicia a RCP, a diálise deve ser interrompida: se não se suspeitar que a causa possa ser hemólise ou uma
reacção pirogénica, deve tomar-se a decisão de proceder ao retorno do sangue a partir do circuito extra-corporal.
Assegure-se da viabilidade do acesso, visto que este vai ser utilizado para administração de fármacos. Coloque o
doente sobre uma superfície rígida, utilizando um painel ou o chão. Verifique se o monitor, o desfibrilhador e o
oxigénio estão a funcionar correctamente. Encarregue alguém de registar todos os fármacos administrados, todos os
sinais vitais medidos e todas as acções realizadas durante o processo de ressuscitação.

14.33 Aplicar os princípios ABCDE


Mais uma vez, é importante considerar os passos a dar. Durante a RCP, deve ter-se em consideração o seguinte:
A. Manter ou obter vias aéreas eficientes – intubação.
B. Assegurar ventilações adequadas.
C. Manter o débito cardíaco - compressões torácicas.
D. Avaliar o ritmo - desfibrilhar se estiver indicado.
E. Dar atenção à segurança.

14.34 RCP execução


Para iniciar a RCP aplique 30 compressões torácicas seguidas de duas ventilações. Comece as compressões e a
ventilação imediatamente. A RCP permite ganhar tempo e aumentar as probabilidades de sucesso da desfibrilhação.
Continue este procedimento até o ritmo cardíaco poder ser avaliado e o doente intubado.

14.35 RCP eficaz


Para que a RCP seja eficaz, tanto as compressões torácicas como as ventilações devem ser devidamente
administradas.

14.36 Compressão torácica


Se o débito cardíaco parar, a lesão hipóxica cerebral estabelece-se dentro de três minutos. As compressões torácicas
externas precoces ininterruptas são cruciais e devem ser correctamente aplicadas. A posição correcta da mão para a
compressão torácica é o centro da metade inferior do externo. Comprima até uma profundidade de 4-5 cm. Deixe
que o tórax retorne completamente à posição inicial após cada compressão. Dedique aproximadamente o mesmo
tempo à compressão e à descompressão. Sempre que reiniciar as compressões coloque as mãos sem demora no
centro do tórax. Não recorra às pulsações carotídeas ou femorais durante as compressões.

14.37 Ventilação assistida


Uma avaliação imediata, com permeabilização das vias aéreas e ventilação são essenciais para ajudar a prevenir
lesões secundárias no cérebro e outros órgãos vitais. Sem oxigenação adequada o coração parado não pode
recomeçar a funcionar. Considere um tempo inspiratório de cerca de um segundo. Dê volume suficiente para causar
uma subida visível do tórax. Administrar oxigénio, logo que possível. Evite ventilações rápidas ou forçadas.

14.38 Após intubação


Depois do doente intubado, continue as compressões torácicas ininterruptamente, excepto durante a desfibrilhação
ou a observação do doente. Continue ao ritmo de 100/min e ventile os pulmões numa frequência aproximada 10
ventilações por minuto. Evite a hiperventilação. O ideal é que o socorrista que efectua as compressões torácicas seja
substituído de dois em dois minutos. Verifique a circulação mais ou menos de minuto a minuto.

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14.39 Diagnosticar o ritmo
Para ser bem sucedida, a desfibrilhação deve ser realizada rapidamente. Quanto menor for o intervalo entre o início
de certos ritmos e o choque, maior é a possibilidade de sucesso da desfibrilhação. Portanto, o ritmo inicial deve ser
diagnosticado o mais cedo possível. Após a chegada do desfibrilhador/monitor, aplique os eléctrodos e analise o
ritmo. As palhetas ou os eléctrodos auto-adesivos do desfibrilhador permitem uma avaliação mais rápida do ritmo
cardíaco do que os eléctrodos do ECG. O médico de serviço fará o diagnóstico. Podemos facilitar este processo se já
tivermos o doente ligado a um monitor cardíaco/desfibrilhador e o desfibrilhador carregado.

14.40 Avaliação do ritmo cardíaco


A análise das anomalias do ritmo cardíaco requer experiência. No entanto, aplicando alguns princípios básicos, a
maioria dos ritmos cardíacos pode ser suficientemente interpretada para permitir a selecção do tratamento adequado.
Avalie:
 Assistolia.
 Actividade eléctrica sem pulsação (AESP).
 Fibrilhação ventricular (FV).
 Taquicardia ventricular (TV).
Se o desfibrilhador for automático (DEA), o ritmo é analisado pelo equipamento e basta cumprir as ordens vocais
que o orientam ao longo da sequência correcta de acções.

14.41 Ritmos desfibrilháveis


Os ritmos cardíacos associados à PCR dividem-se em dois grupos: ritmos desfibrilháveis e não desfibrilháveis. A
fibrilhação ventricular (FV) e a taquicardia ventricular sem pulsação (TV) são ritmos desfibrilháveis . Se o ritmo
inicial for FV/TV e estiver disponível um desfibrilhador, aplique primeiro um choque. Comece a RCP
imediatamente após o choque. As interrupções das compressões torácicas diminuem a possibilidade de um choque
restabelecer a circulação espontânea. Se o ritmo for FV ou TV e não dispuser imediatamente de um desfibrilhador
pode aplicar um murro precordial, no doente.

14.42 Após a desfibrilhação


Após a desfibrilhação, recomece as compressões torácicas imediatamente, sem verificar o ritmo ou a pulsação. É
muito raro o pulso ser imediatamente palpável após a desfibrilhação. O atraso na continuação da RCP comprometerá
o miocárdio se o ritmo de perfusão não tiver sido restabelecido. Continue a RCP durante 2 minutos e verifique o
ritmo. Se persistir um ritmo desfibrilhável aplique um outro choque. Administre os fármacos prescritos pelo médico
e documente-os.
Nota: os medicamentos que devem de estar sempre disponíveis são: adrenalina, a amiodarona, a atropina e o sulfato
magnésio.

14.43 Atenção à segurança


Não coloque as pessoas que executam a ressuscitação em risco:
 Durante a utilização do desfibrilhador não deve tocar nas placas.
 Não entrar em contacto directo ou indirecto com o doente durante a desfibrilhação
 Evite superfícies ou vestuários molhado.
 O corpo do doente deve estar limpo e seco.
 Não entrar em contacto directo ou indirecto com equipamento e cadeirão do doente durante a desfibrilhação.
 Aplicar o gel sempre nas placas.
 Durante a desfibrilhação a fonte de oxigénio deve ser desligada.
 Antes da desfibrilhação confirmar sempre a descarga para não colocar em risco os outros profissionais.

14. 44 Durante a RCP


Não se esqueça dos outros doentes: eles também necessitam da sua atenção. Encarregue alguém de os controlar e
tranquilizar. Nesta altura, não necessita de mais nenhum problema.

14.45 Durante o processo de RCP:


 Verifique as causas reversíveis.
 Verifique a posição e o contacto do eléctrodo.
 Verifique o acesso IV, as vias respiratórias e o oxigénio.
 Aplique compressões ininterruptas.

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 Administre medicamentos.

14.46 Transferência do doente


O seu objectivo deve ser transferir o doente em segurança da clínica para a unidade hospitalar. Isto pode significar
que a RCP continue até chegar uma ambulância e o doente ser entregue à equipa médica e paramédica, que irá
prosseguir a ressuscitação e transferir o doente para o hospital. O outro cenário é que o doente seja estabilizado na
clínica antes da transferência. Seja qual for o caso, o doente necessita de ser transferido para ter acesso a um
tratamento apropriado.

14.47 Sinais de vida


Durante a RCP se forem observados sinais de vida, como esforço respiratório regular ou movimento, ou se as
leituras dos monitores do doente sugerirem que existe um retorno espontâneo da circulação, nomeadamente aumento
do dióxido de carbono exalado e pressão arterial satisfatória, suspenda a RCP e verifique rapidamente o monitor. Se
não se verificar um ritmo organizado, verifique a pulsação: se esta for identificável, continue o tratamento de pós-
ressuscitação. Se não houver sinais de vida nem pulsação ou em caso de dúvida continue a RCP.

14.48 Cuidados após RCP


As capacidades de suporte imediato de vida podem ser bem sucedidas em alguns doentes antes de chegar a ajuda de
especialistas. O regresso da circulação espontânea é um primeiro passo importante, mas o principal objectivo da
ressuscitação é devolver o doente a uma situação estável: ritmo cardíaco estável, hemodinâmica e função cerebral
normais. A fase pós-ressuscitação tem início quando o débito cardíaco espontâneo recomeça mas, uma vez este
estabelecido, o doente deve ser transferido para a área mais apropriada com vista à continuação do tratamento. A
qualidade da terapêutica na fase pós-ressuscitação determina o resultado final.

14.49 Manutenção da RCP


Na fase pós-ressuscitação imediata, enquanto se aguarda a transferência para uma área de tratamento apropriada, é
importante assegurar uma prioritização adequada do tratamento:
A. Manter a via aérea desobstruída.
B. Ajudar o doente a respirar.
C. Monitorizar a função cardíaca.
D. Avaliar as funções neurológicas.
E. Excluir outras patologias.

14.50 Após RCP: via aérea e respiração


Os doentes que tiveram uma breve paragem cardíaca e que responderam imediatamente ao tratamento, por exemplo
que presenciaram a FV, regressando ao ritmo sinusal após a desfibrilhação precoce, podem regressar imediatamente
a uma função cerebral normal. Estes doentes não necessitam de intubação nem ventilação, mas deve ser-lhes
administrado oxigénio através de uma máscara. Outros doentes podem não recuperar a função neurológica
imediatamente, mesmo após uma ressuscitação rápida e bem sucedida. Tanto a hipoxia como a hipercapnia
aumentam a probabilidade de uma nova paragem cardíaca e podem contribuir para uma lesão cerebral secundária.
Estes doentes podem necessitar de intubação, sedação e ventilação controlada.
O doente deve ser observado quanto a:
 Sons respiratórios de ambos os lados; se não forem iguais, podem indicar que o tubo endotraqueal está mal
colocado.
 Sons respiratórios reduzidos ou ausentes - podem indicar um pneumotórax.
 Sinais de edema pulmonar ou de aspiração pulmonar do conteúdo gástrico.
Se um doente intubado recuperar a consciência e estiver a respirar normalmente pouco depois de reatar a circulação
espontânea, deve ponderar-se a possibilidade de extubação.

14.51 Após RCP: circulação


O ritmo cardíaco e a hemodinâmica estão provavelmente instáveis após uma paragem cardíaca. A monitorização
contínua do ECG é essencial. Registe a pulsação e a pressão arterial e avalie a perfusão periférica: dedos cor-de-rosa
e quentes, com reposição capilar rápida, indicam uma perfusão adequada.

Procure outros sinais e sintomas: as veias do pescoço excessivamente distendidas quando o doente está na posição
semi-levantada podem revelar insuficiência ventricular direita. A insuficiência ventricular esquerda é indicada por

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finas crepitações inspiratórias que se ouvem na auscultação pulmonar e pela produção de expectoração cor-de-rosa
espumosa.

14.52 Após RCP: incapacidade e exposição


Tente avaliar a função neurológica e assegurar que a PCR não está associada a outras patologias que requerem
tratamento imediato. Embora a PCR seja frequentemente causada por cardiopatia primária, há outras patologias que
devem ser excluídas. Avalie os outros sistemas orgânicos rapidamente para que possam ser consideradas outras
intervenções que sejam apropriadas para a necessidade do doente.

14.53 Responsabilidades
 É importante conhecer o seu papel numa situação de paragem cardíaca: um outro membro do pessoal deve
trazer o equipamento de emergência para o doente (ao pedir ajuda, peça também o equipamento).
 Conheça o seu equipamento: o equipamento de emergência deve ter medicamentos, soluções IV, oxigénio,
aspirador de secreções, ambu, máscara de RCP, laringoscópio e tubos endotraqueais e outros, desfibrilhador e
electrocardiograma, se estiver disponível.
 Nunca deixe o doente sozinho: alguém deve estar disponível para ir buscar mais equipamentos.

14.54 Follow-up
Quando o suporte de emergência chega é importante comunicar a situação de forma exacta e completa à equipa de
emergência e dar-lhe apoio.
Documente a ocorrência, o tratamento, a resposta do doente, os fármacos e a administrações IV.

A seguir a uma paragem cardíaca é necessário registar o incidente. O Director Clínico, se não estiver presente
na clínica no momento da paragem cardíaca, deve ser notificado. Toda a documentação deve ser preenchida antes do
final do dia de trabalho.

O carro de emergência deve ser limpo e reposto e colocado no seu local definido. NADA NOS GARANTE que não
possa ser necessário nas próximas horas ou no dia seguinte. Por isso, deve estar preparado.

14.55 Resumo
Resumindo:
 Devemos avaliar o doente quanto a sinais e sintomas de paragem cardio-respiratória.
 Peça ajuda.
 Pratique a sequência ABCDE.
 Saiba quais são as suas responsabilidades.
 Mantenha-se calmo e NÃO ESQUEÇA os outros doentes.

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