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Universidade Eduardo Mondlane

Faculdade de Medicina
Ginecologia Obstetrícia

DOENÇAS
CARDIOVASCULARES NA
GRAVIDEZ
Catarina Maguni
Nuno da Silva
Xarifo Gentivo

4º ano
Cardiopatia e Gravidez

Introdução
A importância dos estudos no âmbito da Cardiopatia e
Gravidez fundamenta-se em dois aspectos:
1. universalmente, a cardiopatia é considerada a maior
causa indireta obstétrica de morte materna no ciclo
gravídicopuerperal.
2. Constitui a quarta causa de morte materna no geral,
vindo após infecções, hemorragias e hipertensão.
Adaptação cardiovascular à gravidez

Coração e grandes vasos


 O miocárdio sofre hipertrofia e aumento da

contractilidade.
 ↑O volume tele- diastólico.

 O choque de ponta desloca-se lateralmente.

 Na auscultação cardíaca pode surgir um reforço de

S1, com desdobramento por encerramento precoce


da mitral. O S2 não se altera, geralmente. Em cerca
de 90% das grávidas pode surgir o S3.
Adaptação cardiovascular à gravidez

 Algumas grávidas apresentam um sopro contínuo


proveniente das artérias mamárias internas identificado,
geralmente, a nível do 2º espaço intercostal
 95% das grávidas apresentam sopros sistólicos de

ejecção por volta da 20ª semana.


 ↑Débito cardíaco 40%.

 ↑volume de ejecção (25-30)

 ↑frequencia cardiaca
Adaptação cardiovascular à gravidez

Pressão arterial
 vasodilatação provocada pela diminuição da sensibilidade às

substâncias vasopressoras
 ↓ resistencia vascular periferica

 ↓ pressão arterial sistémica mais a diastólica que reduz-se 5 a

10mmHg entre as 12 e 26 semanas. Regresando aos valores


normais aproximar-se o termo
 Pressão venosa ↑significativamente na extremidade inferior e

mantem-se na superior.
Diagnóstico

Muitas alterações fisiológicas da gravidez normal tendem a dificultar


o diagnostico da gravidez, no entanto o medico deve ser cuidadoso para
não diagnosticar cardiopatia quando ela não existe e ao mesmo tempo
deixar de o fazer e tratar apropriadamente se esta estiver presente.

Para o diagnostico correcto :


Historia clinica
 Anamnese : palpitações,dispneia progressiva, tosse seca nocturna,
hemoptise, ortopneia, DPN, sincope, dor precordial(angina).

Exame Objectivo: sopro superior a 2/6, sopro diatolico ou com


irradiação para aorta, cianose, baqueteamento dos dedos, ↑venoso
jugular.
Classificação

2 criterios:
 NYHA classifica em 4 classe baseado na clinica:
Classe I, classe II, classe III e classe IV.

 American college of obstetricians and gynecologists


classificou em 3 grupos baseado no risco de morte
materna:
Grupo I, grupo II (A e B), grupoIII.
Exames complementares de
diagnostico

Electrocardiograma – Corresponde a um registo

dos potencias eléctricos gerados pelo coração.


Durante a gravidez podem haver alterações em
alguns segmentos.
Ecg com HVE e DAE
Radiografia do tórax – As radiografias ântero-

posterior e lateral do tórax podem ser muito úteis


quando há suspeita de uma cardiopatia.
Ecocardiografia – É um exame em que se utilizam

ondas da ultra sonografia para se observar imagens


do coração. É extremamente importante para o
diagnóstico de cardiopatias, assim como alterações
hemodinâmicas, durante a gravidez.
ECOCARDIOGRAFIA
Valvulopatias
Estenose mitral

É a redução da área de superfície da válvula mitral. A

causa mais comum é a endocardite reumática


A pré-carga aumentada durante a gravidez normal pode

causar insuficiência ventricular com edema pulmonar em


mulheres com estenose mitral.
25% das mulheres com estenose mitral desenvolvem uma

insuficiência cardíaca pela 1ª vez durante a gravidez.


Tratamento da E.M

Actividade física limitada e diminuição do sódio na

dieta.
Diuréticos

Β-bloqueadores

Administração de analgésicos durante o trabalho de

parto.
Correcção cirúrgica
Insuficiência mitral

É o refluxo do sangue do ventrículo esquerdo para o átrio

devido a incompetência da válvula mitral.


É causada principalmente por febre reumática, prolapso

da válvula mitral ou dilatação ventricular esquerda.


A insuficiência mitral é bem tolerada durante a gravidez e

raramente se desenvolve insuficiência cardíaca.


Estenose aórtica

É a redução do orifício aórtico devido a lesões

congénitas ou adquiridas. A causa mais comum é a


febre reumática.
Durante a gravidez graus leves e moderados da

doença podem ser tolerados, mas em situações


graves pode haver diminuição acentuada do debito
cardíaco podendo levar a morte.
Tratamento da E.A

O tratamento faz se apenas em mulheres


sintomáticas inclui limitação das actividades.
Durante o trabalho do parto é importante uma

monitorização intensiva e administração de


analgésicos para a dor.
Insuficiência aórtica

É o fluxo sanguíneo diastolico da aorta para o ventrículo

esquerdo. A causa mais comum é a febre reumática e a

endocardite bacteriana.
Geralmente é bem tolerada durante a gravidez

Em mulheres com sintomas recomenda-se repouso,

diminuição do sódio na dieta e, em casos mais graves,

diuréticos.
Cardiopatia congênita

• incidência: 8/1000 lactentes nascidos vivos (EUA)

• 1/3 possuem doença grave e necessitam cateterismo

ou cirurgia cardíaca ou morrem no primeiro ano


• As lesões cardíacas congênitas que complicam a
gravidez estão divididas em três grupos:
Cardiopatias Congenitas
Cardiopatia congênita

 Sobrecarga de volume ou shunts esquerda-direita:

CIA e CIV;
 Sobrecarga de pressão: estenose aortica e
pulmonar, coartação da aorta, estenose subaortica
hipertrofica;
 Lesões cianóticas ou shunts direita-esquerda:
Tetralogia de Fallot, síndrome de Eisenmenger
1. Defeitos septais

a) Comunicação interatrial
 2° anormalidade cardíaca mais comum nos adultos

depois da valvula aortica bicúspide


 Muitas dessas lesões sao assintomáticas

 Os achados de dilatação do atrio e do ventrículo

direitos não têm consequência clínica,excepto se a lesão


for grave
 A gravidez é bem tolerada,excepto se houve
desenvolvimento de hipertensão pulmonar
1. Defeitos septais

• É raro, porque as pressões na arteria pulmonar são baixas na

CIA
• Se houver desenvolvimento de ICC ou de uma arritmia é

administrado tratamento

b) Comunicação interventricular
• 4° anomalia mais comum em adultos (valvula aortica

bicuspide,CIA,estenose pulmonar)
• Os distúrbios fisiológicos estão relacionados com o tamanho

da comunicação
1. Defeitos septais

Quando o defeito não é reparado precocemente,há

desenvolvimento de hipertensão pulmonar e alta


incidência de endocardite bacteriana
Em geral, se o defeito for menor que 1,25mm2,não

há desenvolvimento de hipertensão pulmonar e de


IC
A gravidez é bem tolerada com shunts esquerda-

direita pequenos a moderados


1. Defeitos septais

• Mas quando as pressões arteriais pulmonares


alcançam niveis sistêmicos→ inversão ou fluxo
bidirecional ou síndrome de Eisenmenger
• Quando isto acontece,a mortalidade materna é de

30% a 50%
• assim, a gravidez é contra-indicada e é aconselhado o

aborto terapêutico quando a contracepção falha.


• A endocardite bacteriana é comum nos defeitos não

reparados,sendo recomendada profilaxia antibiótica


2. Cardiopatia cianotica

Lesoes cardíacas associadas a desvio de sangue

direita-esquerda
Há desenvolvimento de cianose

Lesão mais comum: Tetralogia de Fallot


a) Tetralogia de Fallot

grande comunicação interventricular

hipertrofia ventricular direita,

aorta que se sobrepõe a CIV (cavalgamento da

aorta)
obstrução a via de saida do VD
a) Tetralogia de Fallot

A magnitude do shunt varia inversamente com a

resistência vascular sistêmica:


 quanto menor a resistência vascular periférica,maior será o
shunt→ a cianose agrava, como acontece na gravidez
Mulheres que foram submetidas a reparo e nas

quais a cianose não reapareceu têm boa evolução


na gravidez
a) Tetralogia de Fallot

• Mulheres com cardiopatia cianótica apresenta má


evolução durante a gravidez
• Qualquer doença complicada por hipoxemia materna

grave tende a levar:


 aborto,
 trabalho de parto e parto pre termo ou
 morte fetal

• Na correção cirúrgica antes da gravidez,os riscos


maternos são diminuidos e o ambiente fetal é melhorado
b) Sindrome de Eisenmenger

Desenvolve-s em qualquer lesao cardiaca na qual a

resistencia vascular pulmonar torna-se maior que a


resistencia vascular sistemica
O pronostico e sombrio na gravidez complicada
por essas lesoes,assim como ocorre sempre que ha
hipertensao pulmonar por qualquer causa
Outras Cardiopatias na Gravidez
Outras Cardiopatias na Gravidez

Outros disturbios:
 HTA pulmonar
 Prolapso da valva mitral
 Cardiopatia Periparto
 Endocardite Infecciosa
 Cardiopatia Isquemica
 Cardiomiopatia Hipertofica
 Sindrome de Marfan
 Cardiopatia Cifoescoliotica
HTA PULMONAR

 É o aumento anormal da tensão arterial pulmonar;

Pode ser primaria ou secundaria sendo que a mortalidade Materna é


independentemente do tipo.
 Na doenca grave a gravidez é contra-indicada.

 Bem tolerada a gravidez e parto nos casos leves a moderados

 O tratamento da gestante sintomática inclui repouso, e evitar a posição

de decubito dorsal, bloqueadores dos canais de calcio e ß-bloqueadores.


 O tratamento do trabalho de parto e do parto é particularmente

problematico.
CARDIOMIPATIA PERIPARTO

 Disfunção ventricular no periodo entre o ultimo mês de gravidez e o 5 o


mês pós-parto.
 Relativamente rara (incidência 1/3000-4000 NV)

 Taxa de mortalidade: (18-56%)

Etiologia não esclarecida


 Miocardites?
 Resposta imune anormal à gravidez?
 Maladaptação ao stress hemodinâmico da gravidez?
 Inibição prolongada das contracções durante o trabalho de parto prematuro

Asociado a HTA cronica(40%) e pre-eclampsia(50%)


CARDIOMIPATIA PERIPARTO

As mulheres com CMPP apresentam sinais e sintomas de

ICC.
O achado carcteristico ao Rx do torax é a cardiomegalia

acentuada, confirmada com eco doppler que revelam


dilatação biventricular e hipocinesia.
Tratamento
 Digitálicos
 Diuréticos
 Redutores da pós-carga
Cardiopatia Hipertrofica

 Desordem cardiaca de transmissão genética + comum.

(50% transmissão autossómica dominante), embora haja comumente


hipertrofia ventricular esquerda concentrica nos casos de HTA cronica.
 Na maioria das mulheres é assintomatica mas pode urgir sintomas

como dispneia, angina, fibrilação Atrial e nalguns caso morte


subita
 Tratamento: Bloquedores -adrenérgicos, Bloquedores dos canais de

cálcio
 A via de parto é determinada pelo gineco-obstetra.
Coatação da Aorta

Uma das mais graves cardiopatia associada a gravidez do Grupo III

na american college of obstetricians and ginecologists.


As principais complicaçoes são ICC, Endocardite.

O achado caracteristico e HTA nos membros superiores e TA normal

nas extremidades inferiores.


Em caso de ICC pode indicar a interup çao terapeutica da gravidez .

 Alguns especialistas recomendam cesariana para evitar elevaçao transitoria

da TA.
 Cerca de 2% dos lactantes nascem com esse defeito.
Tratamento geral

• Na maioria dos casos, o tratamento é feito com uma abordagem

em equipe, envolvendo o cardiologista, obstetra e outras


especialidades como anestesiologia
Prevenção e reconhecimento precoce de IC,durante toda a

gravidez e o puerpério
- Infecção: precipita a IC

Evitar contacto com pessoas que possuem infecções respiratórias

Vacinas pneumocócica e contra influenza


Tabagismo: proibido

Efeitos cardíacos e tendência a causar infecções


respiratórias altas

Drogas: prejuãdicial

Efeitos cardiovasculares da cocaina e propensão do


uso intravenoso de drogas de causar endocardite
infecciosa
Trabalho de parto e parto
O parto deve ser por via vaginal,excepto se houver

indicações obstétricas de cesariana→ menor morbi-


mortalidade
Durante o parto, a mulher deve ser mantida numa

posiço semisentada
Determinação frequente dos sinais vitais entre as

contrações
Evidência de descompensação cardíaca→ tratamento

clínico imediato
O parto não necessariamente melhorará a condição

materna

Insuficiência cardíaca intraparto


Pode manifestar-se como edema pulmonar e

hipóxia,hipotensao ou ambos
A conduta terapêutica apropriada dependerá do

estado hemodinâmico específico e da lesão cardíaca


subjacente
Puerpério
Pode haver descompensação após o parto

Varios factores actuam em conjunto para precipitar IC

pós-parto em mulheres com doença subjacente:


 hemorragia pós-parto;

 Anemia;

 Infecções

 Tromboembolismo

Portanto é importante que seja mantida assistência

cuidadosa no puerpério
Obrigado pela atenção…

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