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SUMÁRIO

1. Introdução...................................................................... 3
2. Quadro Clínico.............................................................. 9
3. Tratamento..................................................................10
Referências bibliográficas..........................................21
FIBRILAÇÃO ATRIAL 3

1. INTRODUÇÃO a arritmia mais presente no depar-


tamento de emergência. Por conta
A fibrilação atrial (FA) é uma arrit-
do envelhecimento da população e
mia supraventricular caracterizada
de uma melhor sobrevida de distúr-
eletrocardiograficamente por osci-
bios como o infarto agudo do miocár-
lações basais de baixa amplitude
dio, prediz-se que a prevalência será
(ondas fibrilatórias ou f dos átrios
maior ainda no futuro.
fibrilantes) e ritmo ventricular irregu-
larmente irregular. As ondas f, de 300 O risco para o desenvolvimento de fi-
a 600 batimentos/min, são variáveis​​ brilação atrial durante a vida é de cer-
em amplitude, forma e tempo (Figu- ca de 25% em homens e mulheres
ra 1). Em alguns pacientes, as ondas com 40 anos ou mais. A presença de
f possuem amplitudes muito peque- FA aumenta de forma independente
nas e não são perceptíveis no eletro- o risco de mortalidade e morbidade
cardiograma (ECG), e o diagnóstico por acidente vascular cerebral, bem
de FA é baseado no ritmo ventricular como tromboembolismo, insuficiên-
irregularmente irregular (Figura 2). cia cardíaca congestiva e redução da
qualidade de vida, resultando em um
alto custo para o tratamento e mane-
SE LIGA! O ritmo ventricular durante
jo.
a FA pode parecer mais regular quan-
do a frequência é extremamente rápida No Reino Unido, estudos mostraram
(>170 bpm), exigindo uma análise mais uma prevalência de FA de 0,7 a 2%
cuidadosa para a observação da irre-
gularidade do ritmo ventricular (Figura em pacientes com 65 anos ou mais,
3). Quando há bloqueio atrioventricular com um aumento da prevalência em
(AV) total associado à FA (Figura 4), se homens e naqueles com 75 anos ou
o ritmo de escape for regular, teremos
mais. Dados norte-americanos mos-
uma FA com resposta ventricular regu-
lar! Nestes casos, o diagnóstico de FA é tram prevalência de 1% de FA em
baseado na presença de ondas f. adultos, com 70% dos casos ocorren-
do em idosos.
Epidemiologia
A FA é o distúrbio do ritmo cardíaco
sustentado mais comum, além de ser
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Figura 1. Fibrilação Atrial


Fonte: ECG Mave Waven. Harvard. 2001.

Figura 2. ECG demonstrando uma Fibrilação Atrial


Fonte: ECG Mave Waven. Harvard. 2001.

Figura 3. Fibrilação Atrial com frequência atrial > 170bpm


Fonte: ECG Mave Waven. Harvard. 2001.
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Figura 4. Fibrilação Atrial associada à um bloqueio atrioventricular total


Fonte: Zipes (2018)

Classificação Alguns pacientes com FA paroxística


ocasionalmente podem ter episódios
A fibrilação atrial que termina espon-
persistentes e vice-versa. A forma
taneamente dentro de 7 dias é de-
predominante de FA determina como
nominada paroxística, e a FA pre-
deve ser categorizada. Um fator de
sente continuamente por mais de 7
confusão na classificação da FA é a
dias é denominada persistente. A
cardioversão e a terapia com drogas
FA que persiste por mais de um ano
antiarrítmica (DAA). Por exemplo, se
é denominada persistente de longa
um paciente é submetido a cardio-
data, enquanto a FA de longa data
versão transtorácica 24 horas após o
refratária à cardioversão é denomi-
início da FA, não se sabe se a FA per-
nada permanente. No entanto, “FA
sistiria por mais de 7 dias. Além disso,
permanente” não é necessariamente
a terapia com DAA pode transformar
permanente no sentido literal, por-
FA persistente em FA paroxística. Ad-
que pode ser eliminado com sucesso
mite-se geralmente que a classifica-
pela ablação cirúrgica ou por cateter.
ção da FA não deve ser alterada com
A FA que por decisão do paciente ou
base nos efeitos da cardioversão elé-
do médico optou-se por não ser re-
trica ou da terapia com DAA.
alizada tentativa de controle do seu
ritmo também é considerada “perma- A fibrilação atrial isolada refere-se à
nente”. FA na ausência de estenose FA que ocorre em pacientes com me-
mitral reumática, uma prótese valvar nos de 60 anos que não apresentam
cardíaca mecânica ou bioprotética ou hipertensão ou qualquer evidência
valvoplastia prévia é denominada FA de doença cardíaca estrutural. Essa
não-valvar. designação é clinicamente relevan-
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te porque pacientes com FA isolada de início. Em alguns, o álcool pode ser


apresentam menor risco de complica- um precipitante.
ções tromboembólicas, eliminando a
necessidade de anticoagulação. Eles
também podem ser mais propensos Fisiopatogenia
a ter causas familiares ou genéticas. Os mecanismos responsáveis pela ​​
Além disso, a ausência de doença FA são complexos. Os eventos de
cardíaca estrutural permite o uso se- disparo podem diferir dos mecanis-
guro de drogas de controle de ritmo, mos de manutenção. Além disso, os
como a flecainida, em pacientes com fenótipos clínicos de paroxístico, per-
FA isolada. sistente e persistente de longa data
A FA paroxística também pode ser têm características eletrofisiológicas
classificada clinicamente com base diferentes devido à remodelação e
no cenário autonômico em que ocorre diferentes moduladores clínicos que
com mais frequência. Aproximada- afetam o substrato eletrofisiológico,
mente 25% dos pacientes com FA como a insuficiência cardíaca, o esti-
paroxística têm FA vagotônica, duran- ramento dos miócitos atriais, presen-
te a qual a FA é iniciada no cenário de ça de isquemia, influências simpáti-
tônus ​​vagal alto, geralmente à noite, co-vagais, inflamação e fibrose.
quando o paciente está relaxando ou A fisiopatologia da FA é multifatorial,
durante o sono. Drogas que exercem sendo os principais responsáveis: al-
um efeito vagotônico (por exemplo, terações atriais anatômicas (dilatação
digital) podem agravar a FA vagotô- e fibrose) secundárias às cardiopa-
nica, e drogas com efeito vagolítico tias, remodelamento eletroanatômi-
(por exemplo, disopiramida) podem co secundário à própria FA (“FA gera
ser particularmente apropriadas para FA”), gatilhos locais (principalmente
terapia profilática. A FA adrenérgica em veias pulmonares). Tais alterações
ocorre em aproximadamente 10% a geram múltiplos microcircuitos de re-
15% dos pacientes com FA paroxísti- entrada, o que resulta na estimulação
ca no cenário de tônus simpático
​​ alto, atrial caótica por inúmeros focos ec-
como durante o esforço extenuan- tópicos (Figura 5).
te. Em pacientes com FA adrenérgi- Em muitos estudos, o átrio esquerdo
ca, os betabloqueadores não apenas contém o local de disparo de frequ-
fornecem controle da taxa, mas tam- ência dominante, com um gradiente
bém podem impedir o aparecimento da esquerda para a direita. Focos de
da FA. A maioria dos pacientes tem descargas rápidas das veias pulmo-
uma forma mista ou aleatória de FA nares são os gatilhos mais comuns da
paroxística, sem padrão consistente FA e também podem desempenhar
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um papel perpetuador, mais frequen- patia hipertensiva, as anormalidades


temente na FA paroxística do que na cardíacas mais comuns associadas
FA persistente. É por isso que o iso- à FA são cardiopatia isquêmica, do-
lamento das veias pulmonares é par- ença valvar mitral, cardiomiopatia
ticularmente eficaz para a eliminação hipertrófica e cardiomiopatia dilata-
da FA paroxística. Na FA persistente, da. As causas menos comuns de FA
alterações no substrato atrial, incluin- são cardiomiopatias restritivas, como
do fibrose intersticial podem dar ori- amiloidose, pericardite constritiva e
gem à múltiplas áreas atriais reentra- tumores cardíacos. A hipertensão
da. Portanto, o isolamento das veias pulmonar grave geralmente está as-
pulmonares por si só muitas vezes é sociada à FA.
insuficiente para eliminar a FA persis- A apneia obstrutiva do sono e a obe-
tente. sidade estão associadas uma à ou-
tra, e ambas aumentam independen-
temente o risco de FA. Os possíveis
mecanismos da FA em pacientes com
apneia do sono incluem hipóxia, au-
mento do tônus ​​autonômico e hiper-
tensão. Os dados disponíveis suge-
rem que a dilatação atrial e o aumento
de fatores inflamatórios sistêmicos
são responsáveis ​​pela relação entre
obesidade e FA. A obesidade tam-
bém está associada ao aumento dos
depósitos de gordura epicárdica. Os
mecanismos mais prováveis pelos ​​
quais a gordura epicárdica predispõe
à FA são a condução lenta ou aniso-
trópica causada pela infiltração de
Figura 5. Mecanismo eletrofisiológico da FA adipócitos no músculo atrial, fibrose
atrial causada por adipocinas secre-
tadas pela gordura epicárdica e se-
Causas da fibrilação atrial creção local de fatores pró-inflamató-
A maioria dos pacientes com FA rios (por exemplo, IL-6, IL-8, TNF-α).
apresenta hipertensão (geralmente A FA pode ter causas temporárias ou
com hipertrofia ventricular esquer- reversíveis. As causas temporárias
da) ou alguma outra forma de doença mais comuns são ingestão excessiva
cardíaca estrutural. Além da cardio- de álcool (“holiday heart”), cirurgia
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cardíaca ou torácica aberta, infarto do que degenera em FA. A FA em um


miocárdio, pericardite, miocardite e paciente com histórico de palpita-
embolia pulmonar. A causa corrigível ções rápidas e regulares antes do
mais comum é o hipertireoidismo. Às início de palpitações irregulares ou
vezes, a FA é causada por taquicar- com um padrão eletrocardiográfico
dia. Pacientes com FA induzida por WPW (Figura 6) deve sugerir FA in-
taquicardia geralmente apresentam duzida por taquicardia. O tratamento
taquicardia reentrada nodal AV ou da taquicardia que desencadeia a FA
taquicardia relacionada à síndrome frequentemente impede recorrências
de Wolff-Parkinson-White (WPW) de FA.

Figura 6. Padrão de Wolff-Parkinson-White


Fonte: ECG Wave-Maven – Harvard. 2001.

SAIBA MAIS!
Os pacientes possuidores de via acessória de condução atrioventricular, além do sistema de
condução fisiológico, podem manifestar em seu eletrocardiograma basal uma pré-excitação
ventricular, manifestada no eletrocardiograma como um empastamento inicial do complexo
QRS (onda delta) (Figura 6). Isto ocorre, pois a condução anterógrada pela via acessória pode
começar a despolarizar os miócitos ventriculares antes do tempo esperado, ou seja, antes da
progressão do estímulo pelo sistema de condução normal do coração. Como resultado, além
da onda delta, observa-se um intervalo PR encurtado. Este acho eletrocardiográfico é chama-
do de padrão de Wolff-Parkinson-White (WPW).
Quando é observado o padrão de WPW associada a uma arritmia, tem-se a Síndrome de
Wolff-Parkinson-White (perceba que Padrão de WPW é diferente da Síndrome de WPW).
As principais arritmias associadas à Síndrome de WPW são taquicardia por reentrada atrio-
ventricular e a FA, esta última sendo a mais perigosa.
Diante de uma FA associada ao WPW, é proscrito o uso de drogas que atuam lentificando a
condução pelo nodo atrioventricular (AV) (como a adenosina, digoxina, bloqueador de canais
de cálcio, betabloqueadores). Tal conduta interromperia a condução pelo nodo AV, de modo
que todo o estímulo fibrilatório atrial chegaria aos ventrículos diretamente pela via acessória,
o que gera um risco proibitivo de induzir uma fibrilação ventricular.
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2. QUADRO CLÍNICO da FA em um paciente com a síndro-


me do seio doente (Síndrome Stroke-
Os sintomas da FA variam de ne-
-Adams). A síncope também pode
nhum a grave e funcionalmente inca-
ocorrer durante a FA com uma rápi-
pacitante. Os sintomas mais comuns
da taxa ventricular devido à síncope
são palpitações, fadiga, dispneia, in-
neurocardiogênica (vasodepressora)
tolerância ao esforço e tontura. A po-
desencadeada pela taquicardia ou
liúria pode ocorrer devido à liberação
por causa de uma queda acentuada
do peptídeo natriurético atrial. Muitos
da pressão arterial causada por uma
pacientes com FA paroxística sinto-
redução no débito cardíaco.
mática também apresentam episó-
dios assintomáticos, e alguns pacien- Pacientes com FA assintomáticos
tes com FA persistente apresentam ou minimamente sintomáticos não
sintomas apenas de forma intermi- costumam procurar atendimento
tente, dificultando a avaliação precisa médico e podem apresentar uma
da frequência e duração da FA com complicação tromboembólica, como
base nos sintomas. Estima-se que acidente vascular cerebral ou o início
25% dos pacientes com FA são as- insidioso de sintomas de insuficiên-
sintomáticos, mais frequentemente cia cardíaca, eventualmente apre-
pacientes idosos e pacientes com FA sentando insuficiência cardíaca con-
persistente. Às vezes, esses pacien- gestiva florida.
tes são classificados erroneamente A característica marcante da FA
como tendo FA “assintomática”, ape- no exame físico é um pulso irregu-
sar de apresentarem sintomas de fa- larmente irregular. Intervalos R-R
diga ou intolerância ao esforço. Como curtos durante a FA não permitem
a fadiga é um sintoma inespecífico, tempo adequado para o enchimen-
pode não ser claramente causada por to diastólico do ventrículo esquerdo,
FA persistente. resultando em um baixo volume sis-
Uma “cardioversão diagnóstica” pode tólico e na ausência de pulso periféri-
ser útil, mantendo o ritmo sinusal por co palpável. Isso resulta em um “dé-
pelo menos alguns dias para determi- ficit de pulso”, durante o qual o pulso
nar se um paciente se sente melhor periférico não é tão rápido quanto a
no ritmo sinusal. Isso pode fornecer frequência cardíaca real. Outras ma-
uma base para buscar uma estratégia nifestações de FA no exame físico
de controle de ritmo versus controle são pulsações venosas jugulares ir-
de frequência. A síncope, um sintoma regulares e intensidade variável do
incomum de FA, pode ser causada por primeiro som cardíaco, além da aus-
uma longa pausa sinusal no término culta de bulhas arrítmicas.
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3. TRATAMENTO 1. Controle de frequência cardíaca


(FC) ou
Tratamento no departamento
de emergência 2. Controle de ritmo (cardioversão
associada à terapia antiarrítmica).
No departamento de emergência,
o médico frequentemente se depa-
ra com pacientes com FA de início Controle de FC implica no uso de medi-
recente (< 48 horas) ou FA perma- cações para manter a resposta ventri-
nente que apresentam alguma piora cular adequada associado a anticoagu-
no quadro clínico. Geralmente esses lação plena por tempo indeterminado
pacientes procuram ou são referen- (continuamente). Controle de ritmo é
ciados para assistência hospitalar a estratégia de reversão da FA ao rit-
de urgência por conta de sintomas mo sinusal, além de evitar a recidiva
mais intensos, instabilidade clíni- da arritmia. Diversos estudos de boa
ca (isquemia cardíaca, hipotensão, qualidade foram publicados e demons-
síncope ou sinais e sintomas de IC) traram que nenhuma das duas estra-
ou evidência de pré-excitação ven- tégias é superior a outra, devendo a
tricular (síndrome de Wolff-Parkin- decisão sobre qual adotar ser individu-
son-White). alizada para cada paciente (Tabela 1).
O tripé de atuação no tratamento CONTROLE

da FA é a redução da FC (controle Instabilidade clínica ocasionada pela FA

da frequência), o controle do ritmo FA associada a pré-excitação (SWFW) ou em pa-


cientes jovens com ablação da arritmia programada
(reversão da arritmia) e a anticoagu-
Cardiomiopatia induzida pela taquicardia
lação de acordo com sua indicação.
Primeiro episódio de FA ou quando a sua etiologia
No seu manejo inicial, o controle de é reversível
frequência (a não ser naqueles pa- Falha na estratégia de controle de FC ou quando o
cientes que necessitem de cardio- paciente persiste sintomático
versão imediata por instabilidade CONTROLE DA FREQUÊNCIA CARDÍACA
clínica), a avaliação da necessidade Idosos oligo ou assintomáticos com múltiplas
do uso de anticoagulantes e a pes- comorbidades

quisa por causas reversíveis de FA Pacientes com doenças de prognóstico ruim, em que
os riscos da cardioversão são maiores que os benefí-
devem ser feitas em todos os pa-
cios relacionados a manutenção do ritmo sinusal
cientes.
Baixa chance de reversão da FA ou alta proba-
O próximo passo é a decisão de qual bilidade de recidiva da arritmia, tais como: FA
de longa data ou aumento significativo de átrio
estratégia será utilizada no tratamen-
esquerdo no paciente com cardiopatias
to dos pacientes:
Tabela 1. Fatores analisados para escolha da estratégia
terapêutica do paciente com FA
Fonte: Martins (2017)
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Controle de Frequência Cardíaca: meia- vida média em adultos é de


Paciente com FA e taquicardia, es- 9 minutos.
tável hemodinamicamente, pode se
• Metoprolol: dose de ataque: 2,5 a
beneficiar da estratégia inicial de con-
10 mg EV em bolus, repetir con-
trole da FC, com a finalidade de ten-
forme necessidade. Dose oral é de
tar melhorar os sintomas e o quadro
100 a 200 mg ao dia.
clínico, até melhor definição da estra-
tégia a ser adotada (se será realiza- • Outras opções:
da a reversão para ritmo sinusal, ou • Verapamil: bolus EV 0,075-0,15
se assumirá a FA como permanente, mg/kg (por volta de 5 a 10 mg) em
e será realizada a anticoagulação e o 2 minutos e dose de manutenção
controle de FC cronicamente). de 5 mg/h.
Existe pouca evidência sobre qual é
• Diltiazem: bolus EV 0,25 mg/kg em
a melhor medicação para controle de
2 minutos e dose de manutenção
frequência cardíaca. As considera-
de 5-15 mg/hora. Dose oral de ma-
ções para a escolha de longo prazo
nutenção de 120 a 360 mg ao dia.
de agentes bloqueadores do nodo
AV para controle da frequência ven-
tricular devem incluir estilo de vida e Em pacientes sem resposta adequa-
as comorbidades do paciente. Parti- da que mantêm a taquicardia, pode-
cularmente, é importante saber se o -se considerar o uso associado de
paciente apresenta disfunção ven- digoxina, segundo as diretrizes do
tricular esquerda associada quando consenso europeu de manejo de fibri-
se indica a terapia com controle de lação atrial, mas geralmente se reser-
frequência ventricular. Em pacientes va o seu uso adjuvante para pacientes
com fração de ejeção >40%, tanto com disfunção cardíaca. O objetivo é
os betabloqueadores como os blo- atingir uma FC < 110 bpm.
queadores dos canais de cálcio são
Em pacientes com FE < 40%, a droga
escolhas adequadas. O esmolol é
inicial recomendada é usualmente a
opção interessante, pois tem meia-
amiodarona, embora exista o risco de
-vida muito curta, e se a hemodinâ-
conversão para o ritmo sinusal (risco
mica do paciente responder adver-
pequeno), sendo outra opção a digo-
samente, basta suspender a infusão.
xina, que pode ser adicionada se con-
Assim:
trole de FC inadequado com a amio-
• Esmolol: dose de ataque (opcio- darona. As doses são:
nal), 0,5 mg/kg em 1 minuto. Dose
• Amiodarona: dose de ataque 150
de manutenção: 50 μg/kg/min até
mg EV em 10 minutos. Dose de
um máximo de 200 μg/kg/min. A
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manutenção: 0,5 a 1 mg/min. A leve ou síndrome coronariana aguda,


dose necessária chega a 1,2 a 1,8 uma opção possível é o Vernakalant,
g nas primeiras 24 horas. que é uma nova classe de fármacos
antiarrítmicos com propriedades se-
• Digoxina: bolus EV 0,25-0,5 mg
letivas atriais por bloqueio de corrente
até um máximo de 1 mg ( dose
de potássio que é expressa principal-
máxima por peso: 8-12 μg/kg).
mente nos átrios. que foi aprovado na
Europa para rápida conversão de FA.
SE LIGA! Na FA com pré-excitação (sín-
drome de Wolff-Parkinson-White), nun-
Em pacientes sem doença cardía-
ca usar digoxina, betabloqueadores e ca estrutural, a estratégia “pill in the
bloqueadores de canal de cálcio. Essas pocket” com medicações orais é uma
medicações bloqueiam mais a condução boa opção. Entre possíveis opções,
pelo nó AV do que pelo feixe acessório,
trazendo o risco de condução de fre- temos:
quência muito alta pelo feixe acessório
e evolução para fibrilação ventricular.
• Propafenona: dose para cardiover-
Nesses casos, deve-se proceder com são: 450 mg (< 70 kg) e 600 mg
cardioversão elétrica de urgência. (≥ 70 kg). Não repetir por pelo me-
nos 24 horas. Por causa dos efei-
tos pró-arrítmicos, no primeiro uso,
Controle do Ritmo: Em pacientes
manter sob monitorização por pelo
com FA inédita, deve-se tentar pelo
menos 6 horas. Pode provocar
menos uma vez a conversão para
taquicardia ventricular, fibrilação
ritmo sinusal. São exceções aqueles
ventricular, assistolia e torsades
pacientes muito idosos e assintomáti-
des pointes.
cos, ou aqueles com múltiplas comor-
bidades. Em pacientes com indicação • Fleicainida: dose de 100 a 150 mg
de controle agudo de ritmo, uma das duas vezes ao dia por via oral. Outra
primeiras considerações é se o pa- opção é o comprimido de liberação
ciente apresenta ou não instabilidade lenta em dose de 200 mg ao dia.
hemodinâmica. Pacientes com insta- Pode ser decidida em pacientes sem
bilidade hemodinâmica têm indicação doença cardíaca estrutural a cardio-
urgente de cardioversão usualmente versão química endovenosa. Nesses
elétrica. casos, são opções fleicainida, ibutili-
No caso de pacientes estáveis, porém de, propafenona e Vernakalant.
com disfunção cardíaca significativa,
a amiodarona é a medicação de es-
A cardioversão elétrica (CVE) sincro-
colha em doses similares às utilizadas
nizada direta é um modo rápido e efe-
para controle da FC. Em pacientes
tivo de converter o ritmo de FA para
com disfunção cardíaca moderada a
FIBRILAÇÃO ATRIAL 13

ritmo sinusal. O procedimento pode canais de cálcio (BCC) ou betablo-


ser realizado com segurança com se- queadores. Costuma-se optar pela
dação, usualmente com midazolam CVE para esses pacientes, devido ao
ou propofol. O uso de cardioversores baixo risco tromboembólico de uma
bifásicos é um pouco mais eficaz que FA de início muito recente. Após car-
os cardioversores monofásicos. O uso dioversão, é necessário anticoagular
prévio de outros antiarrítmicos antes o paciente por um período mínimo de
da cardioversão elétrica aumenta a 4 semanas (RNI 2,0 - 3,0), reavalian-
chance de sucesso. Pode -se consi- do posteriormente a necessidade de
derar bolus de magnésio (1-2 g) an- anticoagulação crônica pelos critérios
tes de cardioversão. de risco tromboembólico, como vere-
Deve-se lembrar que: mos a seguir.

• Quanto mais tempo em ritmo de


FA, maior a chance de falha da car- FA de duração > 48h
dioversão ou de recorrência. Na FA de duração maior que 48h (ou
• O risco de embolização sistêmica de duração indeterminada) e está-
é baixo quando a duração da FA é vel, também se opta pelo controle da
menor que 48 horas e sem cardio- FC com BCC ou betabloqueadores e
patia estrutural. a anticoagulação com heparinização
(HNI) + anticoagulação oral imediata
• Nos casos de FA por mais de 48 (warfarina ou novos anticoagulan-
horas ou indeterminada, pode-se tes orais). A CVE nesses pacientes,
aguardar período de anticoagula- contudo, é considerada de alto risco
ção de 3 semanas ou excluir a pre- tromboembólico e só deve ser efe-
sença de trombo com ecocardio- tuada após 3 semanas de anticoa-
grafia transesofágica. gulação plena com RNI terapêutico
• Aparelho bifásico: recomendação (entre 2,0 e 3,0) ou após ser sub-
de energia de choques sucessiva metido ao Ecocardiograma Transe-
de 120 J → 200 J → 200 J. sofágico, sem evidência de trombos
intracavitários. Após cardioversão, é
• Aparelho monofásico: 200 J →
necessário anticoagular o paciente
300 J → 360 J.
por um período mínimo de 4 sema-
nas (RNI 2,0 - 3,0), reavaliando pos-
FA de duração < 48h teriormente a necessidade de anti-
coagulação crônica pelos critérios
Na FA de duração menor que 48h de risco tromboembólico.
e estável, opta-se inicialmente pelo
controle da FC com bloqueadores dos
FIBRILAÇÃO ATRIAL 14

Tratamento no âmbito que a terapia medicamentosa seja


ambulatorial considerada bem-sucedida quando
os pacientes são lembrados de que o
Vários estudos randomizados com-
objetivo da terapia não é a supressão
pararam uma estratégia de controle
completa da FA, mas uma redução cli-
de taxa com uma estratégia de con-
nicamente significativa na frequência,
trole de ritmo em pacientes com FA.
duração e gravidade dos episódios.
No geral, esses estudos demonstra-
ram uma taxa significativamente me- Uma estratégia farmacológica de
nor de reinternação com uma estra- controle de ritmo não requer neces-
tégia de controle de taxa, mas não sariamente terapia diária com DAA.
houve diferenças significativas em A terapia medicamentosa episódi-
outros desfechos importantes, como ca (a abordagem “pill in the pocket”
mortalidade por todas as causas, aci- explicada anteriormente) é útil para
dentes vasculares cerebrais, eventos pacientes cujos episódios de FA são
hemorrágicos, piora da insuficiência relativamente pouco frequentes. A
cardíaca ou qualidade de vida. terapia medicamentosa episódica é
uma opção razoável para pacientes
Controle de Ritmo: O objetivo mais
que estão claramente cientes do iní-
realista da terapia com drogas antiar-
cio e do término dos episódios de FA
rítmicas (DAA) em pacientes com FA
e que apresentam FA isolada ou ape-
persistente é atrasar o início do pró-
nas uma doença cardíaca estrutural
ximo episódio por pelo menos vários
mínima. Um regime típico de DAA
meses, não por vários anos. Muitas
nesta estratégia pill in the pocket”
vezes, é apropriado continuar a tera-
consiste em um fármaco de classe Ic
pia com um DAA específico em uma
(flecainida ou propafenona) mais um
dosagem constante se as recorrên-
betabloqueador de ação curta (por
cias de FA forem limitadas a aproxi-
exemplo, propranolol) ou bloqueador
madamente um episódio por ano.
dos canais de cálcio (por exemplo,
Em pacientes com FA paroxística verapamil) para controle
sintomática, a agressi- da FC. Muitos pacien-
vidade com a qual uma tes com episódios pou-
estratégia de controle co frequentes preferem
de ritmo é seguida deve essa abordagem, pois
ser ditada pela frequ- elimina os inconvenien-
ência e gravidade dos tes, os custos e os pos-
sintomas e quão bem é síveis efeitos colaterais
tolerada a terapia com da terapia profilática di-
DAA. É mais provável ária.
FIBRILAÇÃO ATRIAL 15

No entanto, pacientes que são incapa- ciente teria em um determinado nível


citados por sintomas graves durante de esforço durante o ritmo sinusal. O
a FA podem preferir terapia profilática controle da frequência cardíaca deve
diária, mesmo que os episódios se- ser avaliado tanto em repouso quan-
jam pouco frequentes. Os resultados to durante o esforço. Em repouso, a
de estudos publicados sobre a eficá- frequência ventricular ideal durante
cia dos DAA para FA sugerem que a FA está na faixa de 60 a 80 bpm.
todos os medicamentos disponíveis, Durante esforço leve a moderado (por
exceto a amiodarona, têm eficácia se- exemplo, caminhada rápida), a taxa
melhante e estão associados a uma alvo deve ser de 90 a 115 bpm. Du-
redução de 50% a 60% nas chan- rante exercícios extenuantes, a taxa
ces de FA recorrente durante 1 ano ideal está na faixa de 120 a 160 bpm.
de tratamento. O único medicamento A avaliação ideal do grau de controle
que se destaca por ter maior eficácia da frequência cardíaca é fornecida por
que os outros é a amiodarona. Em es- um registro ambulatório de Holter de
tudos que compararam diretamente 24 horas ou por um teste de esforço.
a amiodarona com sotalol ou drogas Os agentes orais disponíveis para
de classe I, a amiodarona foi 60% a o controle da frequência cardíaca a
70% mais eficaz na supressão da FA. longo prazo em pacientes com FA
No entanto, devido ao risco de toxi- são digitálicos, betabloqueadores,
cidade de órgãos, a amiodarona não bloqueadores dos canais de cálcio e
é terapia medicamentosa de primeira amiodarona. Os agentes de primei-
linha apropriada para muitos pacien- ra linha para o controle da FC são os
tes com FA. betabloqueadores e os bloqueadores
Como a eficácia de outros agentes de dos canais de cálcio verapamil e dil-
controle de ritmo que não a amioda- tiazem. Uma combinação é freqeen-
rona está na mesma faixa geral, a se- temente usada para melhorar a efi-
leção de um DAA para prevenir a FA cácia ou limitar os efeitos colaterais,
geralmente é ditada pelas questões permitindo o uso de doses menores
de segurança e efeitos colaterais, de dos medicamentos individuais.
modo que as melhores opções de te- Os digitálicos podem controlar ade-
rapia medicamentosa para suprimir a quadamente a frequência em repou-
FA dependem das comorbidades do so, mas geralmente não fornecem
paciente. controle adequado da frequência du-
Controle de Frequência Cardíaca: A rante o esforço. No entanto, seu uso
FC alvo durante o controle de taxa da para o controle da FC de FA é con-
FA permanente varia com a idade e troverso, porque foi demonstrado que
deve ser semelhante à FC que um pa- o digital aumenta o risco de mortali-
FIBRILAÇÃO ATRIAL 16

dade por todas as causas, principal- eventos tromboembólicos é apropria-


mente entre pacientes com FA. da para todos os pacientes em trata-
A amiodarona é muito menos fre- mento de FA recorrente, seja persis-
quentemente usada para controle da tente ou paroxística, independente
taxa do que os outros agentes dro- se for empregada uma estratégia de
motrópicos negativos, devido ao risco controle de ritmo ou controle de FC.
de toxicidade de órgãos associado à A escolha de se não realizar nenhu-
terapia a longo prazo. A amiodarona ma terapia anticoagulante, uso de
pode ser uma escolha apropriada para anticoagulante oral, uso de aspirina
o controle da FC se os outros agentes ou aspirina mais clopidogrel deve ser
não forem tolerados ou forem inefica- determinada pela análise dos fatores
zes. Por exemplo, a amiodarona seria de risco.
uma escolha apropriada para um pa- Embora a FA aumente o risco de AVC
ciente com FA persistente, insuficiên- em cinco vezes, esse risco não é ho-
cia cardíaca e doença reativa das vias mogêneo e muda cumulativamente
aéreas que não pode tolerar um blo- com a presença de outros fatores de
queador dos canais de cálcio ou um risco para AVC. Conforme os escores
betabloqueador e que tenha uma FC de risco, pode-se dividir os pacientes
elevada, apesar do tratamento com em risco baixo, moderado e alto para
digitálicos. tromboembolismo. Esses escores de
risco são importantes no manejo do
paciente. A Tabela 2 exibe o escore
Anticoagulação de risco CHA2DS2-VASc.
A contração fibrilatória dos átrios é LETRA DESCRIÇÃO PONTUAÇÃO
ineficaz em ejetar o sangue; desta C Insuficiência Cardíaca 1
forma, a estase sanguínea nos átrios H Hipertensão 1
de um paciente com FA propicia a A Idade ≥ 75 anos 2
formação de trombos. Uma das mais D Diabetes 1
importantes decisões no paciente S2 AVC ou AIT prévio 2

com FA é a necessidade de anticoa- V


Doença vascular coro-
1
nariana ou periférica
gulação, pois a complicação mais co-
A Idade 65-74 anos 1
mum e relevante da arritmia é o trom-
Sc Sexo feminino 1
boembolismo cerebral.
Tabela 2. Escore de risco para AVC CHA2DS2-VASc
Muitos pacientes com FA sintomá- Fonte: Velasco (2019)
tica também apresentam episódios
assintomáticos. Portanto, a terapia
antitrombótica diária para prevenir O escore é considerado de alto risco
caso a pontuação seja de 2 ou mais
FIBRILAÇÃO ATRIAL 17

pontos; intermediário se 1 ponto, e de CHA2DS2-VASc de 1 em homens e


baixo risco se zero ponto. O escore 2 em mulheres, pode-se considerar
serve para tomar a decisão tanto no a prescrição de um anticoagulante
âmbito ambulatorial como no depar- oral para reduzir o risco de acidente
tamento de emergência (DE). vascular cerebral tromboembólico.
No DE, um fator importante em rela- Para pacientes com FA e um escore
ção à decisão de anticoagular é o tem- CHA2DS2-VASc elevado, de 2 ou
po da arritmia. Se FA > 48 horas, reco- maior em homens ou 3 ou maior em
menda-se pelo menos três semanas mulheres, são recomendados antico-
de anticoagulação após cardioversão. agulantes orais.
Se FA < 48 horas, avalia-se o risco Atualmente, os anticoagulantes orais
usando o escore CHA2DS2-VASc diretos (DOACs) (dabigatrana, rivaro-
com as seguintes recomendações: xabana, apixabana, edoxabana), são
considerados como de primeira esco-
• Um escore CHA2DS2-VASc ≥ 2 re-
lha. Eles não devem ser utilizados nas
presenta indicação de anticoagular
seguintes situações:
por pelo menos quatro semanas.
• Pacientes que não possuem boa
• CHA2DS2-VASc de 0: não antico-
adesão à apixabana e debigatrana
agular.
(por serem tomados duas vezes ao
• CHA2DS2- VASc de 1: usar o jul- dia);
gamento clínico e considerar um
• Pacientes que não podem custear
antiagregante (aspirina). O julga-
a terapêutica com os DOACs;
mento clínico é importante e deve
ser contrabalanceado com o risco • Portadores de doença renal crôni-
de sangramento. ca com taxa de filtração glomerular
< 30ml/min (apixabana é aprovada
nos EUA para este uso);
No contexto ambulatorial, para pa-
cientes com FA persistente ou paro- • Uso de drogas antiepiléticas indu-
xística, (exceto com estenose mitral toras de enzimas ou inibidores da
moderada a grave ou uma válvu- protease;
la cardíaca mecânica) e um escore • Pacientes com FA valvar (uso de
CHA2DS2-VASc de 0 em homens valvas cardíacas mecânicas, este-
ou 1 em mulheres, é razoável omitir nose mitral moderada ou grave);
a terapia anticoagulante. Para pa-
cientes com FA (exceto com esteno- • Pacientes que já vêm em uso de
se mitral moderada a grave ou vál- warfarina com RNI controlado em
vula cardíaca mecânica) e um escore mais de 65% das vezes em 01 ano.
FIBRILAÇÃO ATRIAL 18

Se a anticoagulação for realizada com maior redução absoluta no risco de


antagonista da vitamina K - warfarina AVC com a warfarina, que supera o
-, o alvo de RNI é entre 2 e 3. O efeito pequeno aumento absoluto em gran-
da warfarina é afetado por muitos fa- des eventos hemorrágicos.
tores, como genética, dieta, drogas e A importância do escore de risco de
álcool; o que pode, portanto, restringir sangramento HASBLED, entretan-
o número de pacientes elegíveis que to, é grande, pois faz médicos e pa-
podem ter sucesso com esse trata- cientes avaliarem os fatores de risco
mento. O tempo na faixa terapêutica para hemorragia corrigíveis, como
de RNI é um determinante importan- uso de aspirina concomitante ou hi-
te de proteção contra AVC isquêmico pertensão mal controlada, que pode
e o risco de hemorragia grave é baixo ser modificada para reduzir o risco de
quando o paciente faz bom controle sangramento. Assim, o escore é uma
da anticoagulação (tempo em inter- importante ferramenta para enten-
valo terapêutico ≥ 70%). der o risco de sangramento, mas não
contraindica a anticoagulação.
Risco de sangramento: Uma outra H ipertensão sem controle (PAS ≥ 160mmHg)
consideração importante no pacien- A
lteração da função renal (Cr ≥ 2,6) ou hética
te é seu risco de sangramento. Para (↑BD ou TGO/TGP)

essa avaliação, um instrumento útil é S troke (AVC prévio)

o escore HAS-BLED (Tabela 3). Os B


leeding predisposition (antecedente ou pre-
disposição)
pacientes com escore maior que 3
L ábil RNI (pacientes em uso de warfarina)
apresentam alto risco de sangramen-
E derly (idoso ≥ 65 anos)
to, mas isso não significa que tenham
D rogas ou uso de álcool
contraindicação a anticoagulação,
Tabela 3. Escore de risco para sangramentos HASB-
pois estes mesmos pacientes pos- LED
suem também, na maioria das vezes, Fonte: Adaptado de Velasco (2019)
maior risco para eventos embólicos.
Em um estudo, pacientes com uma Ablação por cateter da FA
pontuação alta no escore HASBLED
ou com antecedente de sangramento A ablação por cateter elimina de ma-
cerebral tiveram um benefício clínico neira confiável e permanente vários ti-
maior com a warfarina do que pa- pos de arritmias, como taquicardia re-
cientes com escore HASBLED menor, entrada nodal atrioventricular (TRN) e
uma vez que aqueles com maior ris- taquicardias mediadas pela via aces-
co de hemorragia também estão em sória (TRAV). Taxas de sucesso supe-
risco elevado de AVC, e teriam uma riores a 95% são atingíveis quando o
substrato da arritmia é bem definido,
FIBRILAÇÃO ATRIAL 19

localizado e estável temporalmente. tural mínima. A recomendação para


Por outro lado, o substrato da arritmia a ablação por cateter deve depender
da FA não é bem conhecido, geral- da gravidade dos sintomas, respos-
mente é amplo, é variável entre os pa- tas prévias à terapia medicamento-
cientes e pode ser progressivo. Além sa ou cardioversão transtorácica e
disso, vários fatores que promovem probabilidade estimada de sucesso.
a FA não podem ser abordados sim- É menos provável que a ablação por
plesmente pela ablação por cateter, cateter seja bem-sucedida quando o
incluindo comorbidades (por exemplo, átrio esquerdo estiver extremamente
hipertensão, obesidade, apneia obs- dilatado ou se a FA persistir por mais
trutiva do sono), remodelação estru- de 3 ou 4 anos.
tural dos átrios, fatores inflamatórios A ablação por cateter da FA geral-
e fatores genéticos. Portanto, embora mente é contraindicada em pacientes
as recorrências tardias da TRN ou da com trombo atrial esquerdo ou que
via acessória sejam muito raras, a FA não podem tolerar anticoagulação
pode recorrer em 2 ou 3 anos após por pelo menos 6 a 8 semanas após
um procedimento de ablação inicial- a ablação. A ablação por cateter ge-
mente bem-sucedido. ralmente também é inadequada em
indivíduos assintomáticos com uma
Seleção de pacientes: Dadas as li- pontuação CHA2DS2-VASc maior
mitações da ablação por cateter da que 1, cuja única motivação para se
FA, geralmente é apropriado tratar o submeter ao procedimento é eliminar
paciente com pelo menos um medi- a necessidade de anticoagulação.
camento para controle do ritmo antes Embora geralmente reservada para
de considerar a ablação por cateter. pacientes que não responderam ade-
Isso é particularmente verdadeiro se quadamente ao tratamento com DAA,
a FA for persistente porque a eficácia a ablação por cateter da FA também
da ablação por cateter é menor para pode ser uma terapia de primeira linha
FA persistente do que para FA paro- apropriada em pacientes com menos
xística. Os candidatos mais adequa- de 35 anos com FA sintomática, pa-
dos para a ablação por cateter têm cientes com disfunção do nó sinusal
FA sintomática que afeta a qualida- nos quais a terapia com DAA prova-
de de vida e não responde adequa- velmente criará a necessidade para
damente à terapia medicamentosa. o uso de marcapasso permanente e
O candidato ideal tem FA isolada ou pacientes que expressam forte pre-
apenas uma doença cardíaca estru- ferência pela ablação por cateter em
vez de terapia medicamentosa.
FIBRILAÇÃO ATRIAL 20

MAPA MENTAL FIBRILAÇÃO ATRIAL

Controlar a FC
Reverter em até 7 dias
Taquicardiomiopatia

Tremor na linha de Paroxística


TEV sistêmico Ausência de Onda P
base ou linha reta

Isquemia mesentérica > 7 dias para reverter

Ritmo irregular
Embolia Arterial em MMII Persistente

AVE isquêmico FA
Reversão não será + tentada

Diminui o risco de trombo em AE


Complicação Classificação Permanente
Inicio FA < 48 Horas; ECO – TE
sem trombo. Anticoagulado: pelo
menos 3 sem --> CVES: 4 Sem Arritmia sustentada +
Tratamento Epidemiologia
frequente
Ablação
Quadro Clínico Idosos
Cardioversão Eletrica
Sincronizada (CVES)
Assintomático Exame físico Jovens: drogas em
excesso; hipertireoidismo
Controle do Rtimo antiarritmico
Palpitações Anisocardiosfigmia. Sem contração
atrial efetiva --> Ausência de sinais Estenose Mitral
Amiodarona Propafenona
que dependem da contração: Onda
A do pulso venoso. Reforço pré-
sistólico do sopro ruflar. B4
Controle de FC

BB Verapamil Diltiazem Digoxina


FIBRILAÇÃO ATRIAL 21

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
Manning WJ et al. Atrial fibrillation: Anticoagulant therapy to prevent thromboembolism. Up-
ToDate, 2019.
Martins HS. Medicina de emergências. 12. ed. Barueri, SP: Manole, 2017
Velasco IT, Brandão-Neto RA, Souza HP et al. Medicina de emergências. 13ª ed. Barueri, SP:
Manole, 2019
Zipes DP, Libby P, Bonow RO et al. Braunwald’s Heart Disease: A Textbook of Cardiovascu-
lar Medicine 11th. Elsevier, 2018.
FIBRILAÇÃO ATRIAL 22

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