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Vantagens e desvantagens no uso da telemedicina pela atenção primária à saúde no

período pandêmico da COVID-19: uma revisão.

SANTOS NETO, MANOEL GOUVEIA

RESUMO
INTRODUÇÃO: A pandemia de COVID-19 lançou diversos desafios. Por meio do
distanciamento social, as consultas presenciais em ambulatório da atenção primária a saúde
foi suspensa pelo risco de contaminação da doença. Dessa forma, a telemedicina foi utilizada
por grande parte dos serviços de saúde como forma de contornar tal limitação. Embora já
tenha sido colocada em prática antes da pandemia por conta das suas vantagens, as consultas
domiciliares online apresentam diversas dificuldades. O intuito dessa revisão é observar como
a atenção primária a saúde fez uso da telemedicina para suas consultas domiciliares online.
OBJETIVOS: Analisar a utilização da telemedicina pela atenção primária à saúde no período
pandêmico da COVID-19. METODOLOGIA: O trabalho consiste em uma revisão
integrativa da literatura, realizada nas bases de dados PubMed e SciELO. Os critérios de
inclusão utilizados foram: atualidade (2022), texto completo, pesquisas do tipo ensaio clínico
e adequação temática em título e resumo. Após a aplicação de filtros e análise crítica, 31
artigos foram encontrados, 14 foram lidos e 6 foram selecionados. RESULTADO: A
telemedicina foi considerada como controversa. A maior parte dos estudos validou o uso
dessa modalidade como consulta domiciliar. Porém, alguns consideraram-na imprecisa e
insegura, especialmente as pesquisas voltadas às áreas da medicina que necessitam de contato
físico. Além disso, a benefícios da telemedicina foram apontados por quase todos os estudos.
A pontualidade, o menor tempo de espera e de consulta foram os principais destacados. No
entanto, desvantagens foram citadas, sendo citada principalmente a dificuldade em utilizar o
ambiente virtual. A insegurança, resistência à modalidade e analfabetização foram outros
pontos destacados. Contudo, a maior parte dos estudos levantaram sugestões como
capacitação dos profissionais e pacientes. As principais limitações dessa pesquisa foram a
escassez de estudos e a possibilidade de viés. CONCLUSÃO: A telemedicina tem resultados
controversos. Estudos apontam sua efetividade, mas outros destacaram as grandes
dificuldades que essa modalidade oferece à atenção primária à saúde. Além disso, o uso da
telessaúde tem pontos positivos e negativos. Todavia, ações podem ser tomadas para
contornar as dificuldades das consultas domiciliares online.

Palavras-chave: “COVID-19”; “Home nursing”; “pandemic”; “primary health care”;


“telemedicine”.

1 INTRODUÇÃO

A telemedicina parte do princípio de utilizar o espaço virtual para oferecer cuidado à


distância. Durante a pandemia de COVID-19, a adoção de medidas sanitaristas globais como
o isolamento social e o distanciamento coletivo dificultou a continuidade das consultas
presencialmente. Porém, a população continuou adoecendo, forçando os serviços de saúde a
encontrar alguma solução para a falta de contato humano. Além disso, a atenção primária a
sáude (APS) se constrói no modelo universal de assistência à saúde. Assim, o
acompanhamento contínuo é outra parte essencial das consultas na APS, sendo dificultado na
pandemia por conta do distancialmento. Nesse sentido, a telemedicina ganhou espaço
(VICENTE et al, 2022; WARE et al, 2022).
Vale destacar que essa modalidade de consulta já vinha sendo praticada, especialmente
em países desenvolvidos. O uso de aplicativos e conversas em redes sociais era mais utilizada
pelos pacientes com doenças que necessitava de cuidado contínuo como as doenças crônicas
não transmissíveis. Dessa forma, a transição para a telessaúde em vários serviços no mundo
não foi uma tarefa tão drástica (VICENTE et al, 2022; WARE et al, 2022).
Todavia, a telemedicina enfrenta diversos desafios para sua maior utilização. Grande
parte dos pacientes consideram esse tipo de consulta inválida e não confiável. A falta de
contato físico é apontada como maior justificativa, uma vez que parte do processo médico
requer examinação física. Outro empecilho apontado é a dificuldade na utilização do meio
virtual. Vale destacar que muitos pacientes não possuem familiaridade com esse espaço
(WARE et al, 2022).
Em países subdesenvolvidos, a telessaúde, também, enfrenta outros desafios que estão mais
relacionados a escassez de recursos. Grande parte da população não possui acesso à internet e
outra parte não possui formação técnica suficiente para utilização de plataformas virtuais de
cuidado domiciliar. Ressalta-se que a atenção primária à saúde busca o cuidado integral e
universal. Assim, o acompanhamento deve ser para todos os pacientes, sem exclusão de
pessoas (MUSCHOL et al, 2022).
O intuito desta revisão é observar como a atenção primária à saúde se organizou em
relação as consultas durante o período de pandemia, momento em que o distanciamento social
era medida necessária a ser tomada.
2 MATERIAIS E MÉTODOS

Esse estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura, cujos descritores foram
“pandemic”; “primary health care”; “telemedicine”. Utilizou-se as bases de PubMed e
SciELO. Os critérios de inclusão foram estudos que foram publicados em inglês, estudos
sendo ensaios clínicos, publicados no ano de 2022, artigos com texto completo e adequação
temática em título, subtítulo e resumo.
Após a aplicação de filtros e análise crítica, 31 artigos foram encontrados nas duas
bases de dados a partir dos descritores utilizados. Do total, 14 estudos foram lidos e 6 artigos
foram selecionados. Os artigos excluídos não possuíam similaridade com a temática do título
dessa revisão.
O objetivo norteador desse estudo foi: “analisar a utilização da telemedicina pela
atenção primária à saúde no período pandêmico da COVID-19”.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A telemedicina foi uma estratégia positiva por parte dos autores, embora houve estudo que
apontou o inverso. A maior parte dos estudos apontaram que essa modalidade de consultas
tem boa validação, apresentando poucas desvantagens em relação ao contato presencial. Tan
et al (2022) afirma que 85,7% dos pacientes disseram que seu problema foi entendido pelo e
89,3% dos pacientes consideraram adequada a comunicação por telemedicina. A segurança e
bons resultados foram enfatizados pelos estudos (WARE et al, 2022). Vicente et al (2022)
afirma que a telemedicina é um ambiente positivo e seguro para a atenção primária à saúde,
trazendo resultados seguros e alta efetividade para as consultas domiciliares.
O estudo de Sloan et al (2022), porém, aponta que a telemedicina não trouxe
resultados precisos e adequados. O diagnóstico se tornou inadequado pela dificuldade na
realização de exames físicos. A consulta online verbal foi considerada insuficiente. Além
disso, a falta de capacitação de parte dos pacientes e médicos foi apontada como o maior
desafio para a telemedicina. Porém, o próprio estudo aponta que o enfoque na reumatologia
tenha sido um limitador para essa conclusão, visto que outras áreas da medicina podem se
beneficiar das consultas domiciliares online.
A saúde mental foi destacada por parte das pesquisas como a área da medicina que mais se
beneficiou da telessaúde. Isso porque essa área necessita de contato contínuo, além de
privacidade entre paciente e profissional, duas particularidades que a telemedicina pode
oferecer. Além disso, a menor necessidade de exames físicos e complementares foi outro
ponto destacado (SLOAN et al, 2022; VICENTE et al, 2022). Todavia, essa mesma
característica foi apontada como um fator negativo em outro estudo. Chua et al (2022)
apontou que a falta de um acompanhante em algumas consultas online a pacientes em cuidado
paliativo foi vista como negativa por parte dos pesquisadores. Isso porque essa área da
medicina é muito beneficiada com a presença de um colaborador, já que, em muitos casos, o
paciente precisa do auxílio de outra pessoa. Nesse sentido, entende-se que a telemedicina,
apesar de trazer benefícios, deve ser relativizada às áreas da medicina.
Outros pontos positivos da telessaúde apontada pelos pesquisadores foram a pontualidade,
menor tempo de espera e consultas mais direcionadas, velhos problemas nos centros de
atenção primária a sáude. Sobre a pontualidade, Tan et al (2022) infere que o tempo de
consulta foi, em geral, 26,2% em comparação ao tempo de consulta presencial. Porém, com as
consultas domiciliares onlines, os pacientes, principalmente, destacaram essas características,
além de se sentirtem mais confortáveis no ambiente familiar em relação aos consultórios
físicos (MUSCHOL et al, 2022; VICENTE et al, 2022).
Porém, várias desvantagens foram levantadas em relação à telemedicina. A dificuldade
técnica foi o maior desafio. Grande parte da população mundial não tem acesso ao meio
virtual e outra parcela não tem capacitação para utilização dessa modalidade, principalmente
os usuários da atenção primária a saúde. A menor escolaridade e a resistência ao ambiente
virtual foram relacionados com essa dificuldade técnica, dificultando a utilização da
telemedicina por parte dos pacientes (CHUA et al, 2022; MUSCHOL et al, 2022; VICENTE
et al, 2022). Muschol et al (2022) ainda afirma que os médicos foram a população que mais
reclamou dessa limitação técnica, visto que isso influencia diretamente no tempo e efetividade
da consulta.
Nesse sentido, vários estudos elencam sugestões para maior efetivação da telemedicina na
atenção primária a saúde. Vicente et al (2022) destaca a alfabetização em informação de saúde
como algo necessário para maior efetivação da telemedicina. Além disso, esse estudo afirma
que a melhor modalidade é mista, visto que as consultas domiciliares presenciais são algo
importante no processo de cuidado e o retorno às consultas físicas devem ser graduais.
Dentre as limitações deste estudo, deve-se mencionar a escassez de estudos sobre a temática
na literatura, visto que muitas produções científicas do período da pandemia ainda estão sendo
produzidas. Além disso, possíveis limitações desta revisão são os riscos de viés nos estudos
primários como o viés de seleção e o de escolha.
4 CONCLUSÃO
A telemedicina foi considerada controversa. Parte dos estudos consideram-na positiva, segura
e eficiente no processo de cuidado do paciente usuário da atenção primária à saúde. Porém,
outros estudos trouxeram dados negativos, especialmente pesquisas relacionadas a áreas da
medicina que precisam do contato físico. Ademais, as consultas domiciliares online tem
vantagens e desvantagens, apesar dos estudos concordarem que as empecilhos podem ser
contornados com ações efetivas.

REFERÊNCIAS
CHUA, I. S. et al. Desafios da prestação de cuidados paliativos em vídeo e presencial antes e
durante a pandemia de COVID-19. J Tratamento de sintomas de dor. v. 64, n. 6, p. 577-
587, 2022. 
MUSCHOL, J. et al. Avaliação da eficiência da telemedicina no acompanhamento com
consultas por vídeo para pacientes em cirurgia ortopédica e de trauma na Alemanha : Teste
controlado e aleatório. J Med Internet Res, v. 24, n. 7, p. 1-14, 2022.
SLOAN, M. et al. Telemedicina em reumatologia: um estudo de métodos mistos explorando
aceitabilidade, preferências e experiências entre pacientes e médicos. Reumatologia (Oxford,
v. 61, n. 6, p. 2262-2274, 2022. 
TAN, N. G. et al. Atendimento virtual para aumentar a capacidade do centro médico militar
no ambiente de cuidados primários de saúde: um estudo piloto prospectivo autocontrolado de
coleta de sintomas e telemedicina. J Telemed Teleassistência. v. 28, n. 8, p. 603-612, 2022.
VICENTE, M. A. et al. Engajamento do paciente usando telemedicina na atenção primária
durante a pandemia de COVID-19: um estudo experimental. Int J Environ Res Saúde Pública.
v. 19, n. 22, p. 1-14, 2022. 
WARE, P. et al. Desafios dos Programas de Telemonitoramento para Condições Crônicas
Complexas: Ensaio Controlado Randomizado com um Estudo Qualitativo Incorporado. J Med
Internet Res, v. 24, n. 1, p. 1-16, 2022. 

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