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imposto sobre o rendimento das pessoas coletivas

ou também de atividades sujeitas, e neste último caso, se essas atividades


estão ou não isentas. Neste último ponto, sublinhamos que a isenção do
artigo 54.º do EBF poderá não vir a ser prorrogada no futuro. Efetivamente,
dispõe o artigo 2.º da Lei n.º 43/2018, de 9 de agosto: “1 – A vigência do
artigo 28.º, da alínea b) do artigo 51.º e dos artigos 52.º a 54.º, 63.º e 64.º
do EBF é prorrogada até 31 de dezembro de 2019, sendo a mesma avaliada
anualmente após essa data.”
Relativamente à obrigatoriedade de entrega da declaração periódica
de rendimentos, de acordo com o artigo 117.°, n.º 1, al. b) e n.º 6 do CIRC,
conjugado com o artigo 120.º, números 1 e 2 do mesmo Código, todos os
sujeitos passivos de IRC residentes em território português, com exceção
das entidades isentas ao abrigo do artigo 9.° do CIRC (Estado, Regiões
Autónomas, autarquias locais, e restantes entidades aí mencionadas) que
não estejam sujeitas a uma qualquer tributação autónoma, estão obrigados
ao envio da declaração periódica de rendimentos (Modelo 22 e respetivos
anexos) até ao último dia do mês de maio, independentemente de esse dia
ser útil ou não útil, ou, no caso de entidades que adotem um período de tri-
butação diferente do ano civil, até ao último dia do 5.º mês seguinte à data
do termo desse período, independentemente de esse dia ser útil ou não útil.
Por conseguinte, as entidades que não exerçam, a título principal, uma
atividade de natureza comercial, industrial ou agrícola, como é o caso da
Associação Cultural ABC, ainda que beneficiem de alguma isenção ou
ainda que, no período de tributação, apenas tenham obtido rendimentos
não sujeitos, estão obrigadas à apresentação da declaração periódica de
rendimentos (Modelo 22).
Por último, considerando que, em 2018, a Associação Cultural ABC
beneficiou das isenções previstas no artigo 11.º, n.º 1 do CIRC (receita
dos ingressos) e no artigo 54.º, n.º 1 do EBF (receita do bar) também deve
preencher o anexo D da Declaração de Rendimentos Modelo 22.

Caso prático n.º 13

João, sócio da sociedade XYZ, Lda., efetuou, em julho de 2018, a


doação de um imóvel a essa sociedade. O imóvel tinha o valor de mercado
de 70 000,00 euros e um valor patrimonial tributário de 75 000,00 euros.
No mesmo ano, a sociedade XYZ, Lda. disponibilizou, a título de-

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direito tributário em ação – casos práticos resolvidos

finitivo e de forma gratuita, um computador ao filho de João.


João pensa que, pela doação do imóvel, a sociedade não pagará mais
de IRC no final do exercício dado que não se trata de um rendimento
da sociedade, mas da adição de um novo ativo.
Relativamente à disponibilização do computador a título gratuito,
João considera que a sociedade não fica prejudicada, dado que o com-
putador raramente era utilizado e já só tinha um valor contabilístico
de 150 euros.
Em relação a ambas as doações não foi movimentada qualquer conta
de resultados, mas sim contas de capital próprio, tendo sido registada
uma variação patrimonial positiva no caso do imóvel e uma variação
patrimonial negativa no caso do computador. Deverá a sociedade levar
estas variações à declaração periódica de rendimentos de 2018?

Resolução:

Nos termos do artigo 17.º, n.º 1 do CIRC o lucro tributável das pes-
soas coletivas “é constituído pela soma algébrica do resultado líquido do
período e das variações patrimoniais positivas e negativas verificadas no
mesmo período e não refletidas naquele resultado, determinados com base
na contabilidade e eventualmente corrigidos nos termos deste Código”.
O resultado líquido é apenas uma das componentes da situação líquida
da sociedade e existem variações patrimoniais quantitativas, que alteram
o seu valor, e que podem ser positivas ou negativas, pelo que o Código do
IRC prevê o regime fiscal a ser aplicado a estas variações patrimoniais nos
seus artigos 21.º e 24.º.
Assim, nos termos do artigo 21.º do CIRC as variações patrimoniais
positivas não refletidas no resultado líquido do período concorrem para a
formação do lucro tributável, exceto:
– As entradas de capital, incluindo os prémios de emissão de ações ou
quotas, as coberturas de prejuízos, a qualquer título, feitas pelos
titulares do capital, bem como outras variações patrimoniais
positivas que decorram de operações sobre ações, quotas e
outros instrumentos de capital próprio da entidade emitente,
incluindo as que resultem da atribuição de instrumentos
financeiros derivados que devam ser reconhecidos como instru-
mentos de capital próprio;
– As mais-valias potenciais ou latentes, ainda que expressas na
contabilidade, incluindo as reservas de reavaliação ao abrigo
de legislação de carácter fiscal;
– As contribuições, incluindo a participação nas perdas do asso-

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ciado ao associante, no âmbito da associação em participação


e da associação à quota;
– As relativas a impostos sobre o rendimento;
– O aumento do capital próprio da sociedade beneficiária de-
corrente de operações de fusão, cisão, entrada de ativos ou
permuta de partes sociais, com exclusão da componente que
corresponder à anulação das partes de capital detidas por esta
nas sociedades fundidas ou cindidas.

Assim, a regra é que todas as variações patrimoniais positivas têm rele-


vância para efeitos de determinação do lucro tributável. Apenas podem ser
excluídos desta regra os casos especificamente previstos no n.º 1 do artigo
21.º do CIRC e que estão acima referidos.
Deste modo, a doação do imóvel constituiu uma variação patrimonial
positiva e dado que, contabilisticamente não ficou inscrita numa conta de
rendimentos, não afetando por isso o resultado líquido do período, deve ser
inscrita, pelo seu valor de aquisição, no campo 702 do quadro 7 da declara-
ção periódica de rendimentos Modelo 22, de modo a que essa quantia possa
assim relevar fiscalmente.
Nos termos do n.º 2 do artigo 21.º do CIRC considera-se como valor
de aquisição do imóvel o seu valor de mercado não podendo ser inferior
ao que resultar da aplicação das regras de determinação do valor tributável
previstas no Código do Imposto do Selo. Conjugada esta disposição com o
n.º 1 do artigo 13.º do Código do Imposto do Selo, que regula o valor tribu-
tável dos imóveis nas transmissões gratuitas, e que dispõe que “o valor dos
imóveis é o valor patrimonial tributário constante da matriz nos termos do
CIMI à data da transmissão”, temos que o valor a considerar será o valor de
mercado, a não ser que o valor patrimonial tributário seja superior. Assim,
temos que a sociedade XYZ deverá acrescer o valor de 75 000,00 euros,
correspondente ao valor patrimonial tributário do imóvel doado, por este
valor ser superior ao valor de mercado.
Relativamente à disponibilização do computador a título gratuito, o
desreconhecimento deste ativo do património da sociedade não foi realizado
por contrapartida de uma conta de gastos, não afetando o resultado líquido
do período, mas constituiu uma variação patrimonial negativa que afeta o
património da sociedade.
A este propósito dispõe o artigo 24.º do CIRC que nas mesmas condições
referidas para os gastos e perdas, concorrem ainda para a formação do lucro
tributável as variações patrimoniais negativas não refletidas no resultado
líquido do período de tributação, exceto:
– As que consistam em liberalidades ou não estejam relacionadas
com a atividade do contribuinte sujeita a IRC;

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– As menos-valias potenciais ou latentes, ainda que expressas na


contabilidade;
– As saídas, em dinheiro ou em espécie, em favor dos titulares
do capital, a título de remuneração ou de redução do mesmo,
ou de partilha do património, bem como outras variações pa-
trimoniais negativas que decorram de operações sobre ações,
quotas e outros instrumentos de capital próprio da entidade
emitente ou da sua reclassificação;
– As prestações do associante ao associado, no âmbito da asso-
ciação em participação;
– As relativas a impostos sobre o rendimento;
– A diminuição do capital próprio da sociedade beneficiária
decorrente de operações de fusão, cisão ou entrada de ativos,
com exclusão da componente que corresponder à anulação das
partes de capital detidas por esta nas sociedades fundidas ou
cindidas.

Na presente hipótese, dado que esta liberalidade constituiu uma variação


patrimonial negativa que não poderia concorrer para a formação do lucro
tributável, na medida em que a lei expressamente a exclui no artigo 24.º, n.º 1,
alínea a) do CIRC, não haveria lugar a qualquer dedução na declaração pe-
riódica de rendimentos, pelo que não seria de incluir o valor do computador
no campo 704 do Quadro 7 da Modelo 22.
Sublinhe-se que, se em vez de inscrever a doação do computador como
uma variação patrimonial negativa, a sociedade XYZ tivesse desreconhecido
esse ativo do seu balanço por contrapartida de uma conta de gastos (conta
6), afetando assim, para menos, o resultado líquido do período – dado que
este se apura pela dedução aos ganhos de todos os gastos num determinado
período – então, haveria lugar a um acréscimo no quadro 7 da Modelo 22,
como forma de “anular” esse gasto, não relevando assim fiscalmente.
A este propósito, refere a jurisprudência 8: “Para efeitos fiscais, as
liberalidades não são consideradas como indispensáveis à realização
dos proveitos ou ganhos sujeitos a imposto e para a manutenção da fonte
produtora, e daí que não sejam consideradas custos nem variações patri-
moniais negativas, a menos que a lei expressamente as qualifique de outro
modo, como sucede relativamente a algumas liberalidades de cariz social,
que, por razões de política fiscal, a lei qualifica como custos (cfr. artigo
40.º do CIRC).

8
Acórdão do Tribunal Central Administrativo Sul proferido no âmbito do processo n.º
00184/03, de 12 de outubro de 2004 e em que foi relator o Desembargador FRANCISCO
AREAL ROTHES.

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