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UNICE – ENSINO SUPERIOR

IESF – INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR DE FORTALEZA


IEV – INSTITUTO DE ENSINO VISION

A INFLUÊNCIA DA PSICOLOGIA NA SAÚDE MENTAL DOS


MOTORISTAS DE TRANSPORTE COLETIVO URBANO

CLÁUDIA CÂMARA MARQUES

Manaus-AM
2020.2
2

CLÁUDIA CÂMARA MARQUES

A INFLUÊNCIA DA PSICOLOGIA NA SAÚDE MENTAL DOS


MOTORISTAS DE TRANSPORTE COLETIVO URBANO

Artigo Científico apresentado a UNICE/IESF/IEV


como requisito parcial para obtenção do título de
Pós-Graduação em Psicologia do Trânsito, sob
orientação da Profª. Dr.ª Fabiane Veloso Soares.

Manaus-AM
2020.2
3

INTRODUÇÃO

O transporte coletivo é o principal meio de deslocamento das pessoas de uma


cidade, sendo utilizado para as viagens de estudos, lazer, saúde, negócios e
trabalho, entre outras. Nesse contexto, o principal meio de transporte dos
trabalhadores é o transporte coletivo, e a distância percorrida entre a residência e o
local de trabalho, ou a outro local de destino, é acompanhada de inúmeros fatores
que podem desencadear situações de estresse e que podem afetar, não apenas o
motorista desse meio de locomoção, como também o usuário.

O setor de transportes, enquanto serviço de utilidade pública tem como


principal característica possibilitar o deslocamento da população pelas vias e
cidades. No entanto, apresenta também uma outra característica, altamente
significativa, que é a de ostentar elevados índices de acidentes, é onde a vida
humana se encontra mais exposta. Esse fato preocupa, no mundo todo, as
autoridades competentes pela gerência da segurança, já que a causalidade dos
acidentes é freqüentemente atribuída a fatores humanos.

Hoje, quem usa o transporte coletivo ou quem dirige um carro nas grandes
cidades, pode comprovar que o trânsito se torna a cada dia mais difícil, isto se deve
ao fato do crescente número de veículos nas vias, favorecido pela facilidade de
aquisição de um automóvel. Assim também o comportamento dos motoristas que
quando em contato com o ambiente do trânsito potencializa os fatores de estresse
associados às questões de ordem pessoal, os quais são geradores de
comportamentos inadequados no trânsito.

No Brasil, o desenvolvimento urbano, é caracterizado pelo aumento


desordenado das cidades, por ocupações irregulares do solo e por precárias
regulamentações, que gerou sérias demandas nos transportes. Embora, com o
crescente uso de automóveis nas últimas décadas, que aparecem como uma
alternativa mais eficaz de transporte para as pessoas que têm melhores condições
financeiras, ainda é grande a parcela da população que utiliza o transporte coletivo
via ônibus nos centros urbanos brasileiros para o seu deslocamento e para a
realização de atividades profissionais e sociais.

As condições de saúde e de trabalho de motoristas de transporte coletivo


urbano podem ser consideradas um importante fator de dimensionamento da
qualidade de vida dos centros urbanos, visto que diferentes fatores ambientais e de
interação social contribuem para o aumento do estresse, dentre eles o trânsito. O
caos do trânsito nas cidades de médio e grande porte é um fator de grande
influência no estresse das pessoas residentes, principalmente, em áreas urbanas.
Estas condições de trabalho interferem no estado psicofisiológico do motorista,
traduzindo-se em irritabilidade (que pode levar a um comportamento agressivo na
direção), insônia (podendo resultar em sonolência nas horas de trabalho, diminuindo
os reflexos) e, em especial, distúrbios na atenção (fator essencial para a direção
segura).
4

Através da realização de uma revisão integrativa da literatura, o objetivo deste


artigo é compreender a influência da psicologia na saúde mental dos motoristas do
transporte coletivo urbano.

1. O TRANSPORTE COLETIVO URBANO

O ser humano, no decorrer da história, já utilizou diversos meios para se


locomover, tanto individual quanto coletivamente. Com o aumento da urbanização, e
a intensa densidade demográfica dos centros urbanos, o transporte vem assumindo
cada vez maior importância na vida das pessoas com consequências diretas sobre a
saúde de seus usuários e trabalhadores. Ainda nas grandes cidades, muitos optam
por locomover-se de carro, metrô, ou outro meio de transporte público. Contudo, no
quesito de transporte coletivo municipal e intermunicipal, o ônibus ainda é o
transporte coletivo mais popular e utilizado entre as cidades. Assim o transporte
público urbano então é a peça que movimenta a engrenagem das cidades,
possibilitando seu abastecimento, movimentação e desenvolvimento.

Segundo ARAÚJO:

A primeira empresa oficial de transporte coletivo moderno foi a


Enterprise Génerale des Omnibus de Stanislas Baudry, criada por
Stanislas Baudry, em 1828 em Paris. A companhia recebeu
autorização para funcionar em 30 de janeiro de 1828, podendo
utilizar no máximo cem viaturas todas puxadas por cavalos. No
Brasil, a história começa em 1837 com a chegada, ao Rio de Janeiro,
do ônibus de dois andares, importado da França e puxado por
burros. No ano seguinte, foi fundada a primeira empresa de
transporte coletivo do país, a companhia de ônibus. Só muito mais
tarde, em 1900, o transporte coletivo entraria na modernidade com a
instalação, em São Paulo, da primeira linha de bondes elétricos.1

Quando se fala em transporte coletivo urbano, refere-se a um serviço que


atende a boa parte da população e sua iminente qualidade reflete na melhoria de
vida da população urbana que utiliza diretamente esse serviço ou que, de alguma
maneira, sofre suas interferências. O que norteia o problema do sistema de
transporte urbano referente às vias públicas e a gestão do trânsito são as enormes
limitações existentes, o que leva em consideração o fato de que devido ao
desenvolvimento acelerado das cidades, grande parte delas cresceu sem
planejamento/estrutura e isso provocou, de certa forma, a desordem urbana,
sobretudo nos países periféricos.

1
ARAÚJO, Maria do Socorro Clementino de. Saúde mental e trabalho: estratégias dos motoristas de
ônibus frente à insegurança. Dissertação (Mestrado) – UFPb. João Pessoa, 2008. Disponível em:
https://repositorio.ufpb.br/jspui/bitstream/tede/6943/1/arquivototal.pdf. Acesso em: 25/08/2020.
5

De acordo com MOURA NETO e SILVA:

O setor de transporte coletivo urbano por ônibus brasileiro


geralmente trata-se de um serviço público realizado pelo setor
privado em vista de concessão do governo. Além do fator social,
outro aspecto relevante para o uso massivo do transporte público é
uma ocupação mais racional do solo urbano, contribuindo, dessa
forma, para tornar as cidades mais humanas e mais eficientes com
relação ao transporte, sistema viário e infraestrutura de serviços
públicos. Contudo, mesmo com essa concessão e passagem de
poder para o setor privado, as condições de trabalho impostas aos
motoristas do transporte coletivo urbano ainda são extremamente
precárias, influenciando diretamente no serviço prestado e na saúde
do trabalhador.2

Os transportes, tanto público quanto privado, impactam diretamente em


diversas esferas, sejam estas econômicas, energéticas, climáticas, sociais e de
segurança, pois os problemas ambientais das cidades ultrapassam as fronteiras
físicas e devem ser observados a partir de uma visão sistêmica e global. Dessa
forma, o planejamento e a gestão ambiental tem profunda importância na garantia
do processo de desenvolvimento urbano sustentável. E neste cenário os
funcionários do transporte coletivo urbano constituem uma das categorias
profissionais mais relevantes, haja vista não somente a quantidade de trabalhadores
que atuam nessa área, expostos a diversos tipos de riscos, condições de trabalho
precárias, fatores sociais e econômicos bastante peculiares, mas também, pela
responsabilidade ao qual é designada sua atividade.

Os funcionários do transporte coletivo urbano constituem uma das categorias


profissionais mais relevantes, haja vista não somente a quantidade de trabalhadores
que atuam nessa área, expostos a diversos tipos de riscos, condições de trabalho
precárias, fatores sociais e econômicos bastante peculiares, mas também, pela
responsabilidade ao qual é designada sua atividade. As empresas operadoras são
os agentes do sistema de transporte coletivo por ônibus responsáveis pela operação
dos serviços, incluindo a alocação dos veículos e das tripulações. Cabe às
empresas operadoras a determinação do número de veículos e de tripulantes
necessários para operar cada linha de ônibus e a execução das viagens diárias
conforme estabelecido pelo poder concedente.

Outro grande problema de um sistema de transporte público é a definição de


sua política tarifária, a qual visa determinar o preço dos serviços prestados pelos
agentes operacionais, isto é, determinar a contrapartida financeira do usuário. Esta
contrapartida depende da forma como o Estado e os empregadores participam do
financiamento dos serviços e da forma como certos grupos de usuários (idosos,
estudantes, deficientes físicos) tenham direito a concessões de descontos e

2
MOURA NETO, A. B.; SILVA, M. C. Diagnóstico das condições de trabalho, saúde e indicadores do
estilo de vida de trabalhadores do transporte coletivo da cidade de Pelotas/RS. Revista Brasileira de
Atividade Física e Saúde, 2012. 17(5).
6

gratuidades. Outro fator relevante e retratado na Constituição Brasileira em vigor,


artigo 30, diz que legalmente, no Brasil, cabe aos governos municipais organizar e
prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços
públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter
essencial, além de promover, no que couber, o adequado ordenamento territorial,
mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo
urbano.

2. AS CONDIÇÕES DE TRABALHO DOS MOTORISTAS DE


TRANSPORTE COLETIVO

Com a urbanização e o crescimento das cidades, a população em geral


necessita cada vez mais do transporte coletivo para se deslocar e satisfazer suas
necessidades básicas de trabalho, estudo, saúde e lazer. E desta forma torna-se
mais importante conhecer a realidade do trabalho dos motoristas de ônibus, já que
as condições de saúde e bem estar destes profissionais poderão afetar a vida
daqueles que dependem dos ônibus para se deslocarem nas cidades. Os inúmeros
fatores de pressão existentes no cotidiano do trabalho dos motoristas podem
contribuir para uma maior incidência de comportamentos inadequados no trânsito e
conseqüentemente um alto nível de acidentes, além de causar prejuízos à saúde
dos motoristas.

De acordo com TAVARES:

A profissão de motorista de ônibus tem sido identificada como uma


das mais estressantes, devido à própria natureza do trabalho. Existe
um conflito entre três fontes de pressão: conseguir cumprir os
horários das escalas apertadas de trabalho, dirigir com segurança e
atender bem os passageiros. Enquanto, por outro lado, o motorista
tem pouco controle quanto ao ambiente externo.3

A análise do trabalho dos motoristas pode ser considerada a partir de


diversos pontos, dentre eles os aspectos estruturais ou objetivos, os gerenciais e os
subjetivos, estes últimos mais negligenciados. Do ponto de vista descritivo, como
visto, segundo a CBO-81, o motorista de ônibus é aquele profissional que dirige
veículos de empresas, acionando comandos de marcha e direção e conduzindo o
veículo no itinerário, de acordo com as regras de trânsito, para transportar
passageiros dentro de uma localidade a outra. Na profissão de motorista de
transporte coletivo, a condução segura significa não apenas a segurança das
pessoas que estão no interior do ônibus, mas ainda daquelas que embarcam e
desembarcam do veículo a cada nova parada. Acrescido à segurança desta
população, existe a segurança do pedestre, daquele que se aproxima do ônibus e
daquele que faz parte desse contexto de alguma forma.

3
TAVARES, Flávia de Andrade. Estresse em motoristas de transporte coletivo urbano por ônibus.
Instituto de Psicologia, Universidade Federal de Uberlândia: 2010. Disponível em:
https://repositorio.ufu.br/bitstream/123456789/17095/1/Diss%20Flavia.pdf. Acesso em: 25/08/2020.
7

São observados no trabalho dos motoristas de ônibus consideráveis custos


psicofisiológicos. Altos níveis de pressão sanguínea têm sido registrados entre eles,
além de altas taxas de adrenalina, noradrenalina e cortisol, sentimentos de fadiga,
tensão e sobrecarga mental também são registrados. Dentre os aspectos
geralmente relacionados a esses custos, encontram-se aqueles relativos a
deficiências ergonômicas do posto de trabalho tais como; - a qualidade dos bancos,
- altas temperaturas e irregularidades no esquema de trabalho e, situações de
conflito com os passageiros e outros profissionais no transito.

OLIVEIRA e PINHEIRO também afirmam que:

O ruído pode ocasionar distúrbios como irritação e dificuldades de


concentração, dores de cabeça, aumento da pressão arterial,
problemas digestivos e cardiovasculares, decorrentes do estresse e,
até mesmo, a perda auditiva. Outra condição que pode interferir na
qualidade de vida do trabalhador são a temperatura e a ventilação
internas do ônibus, o motor localizado do lado do motorista faz com
que aumenta a temperatura, e a quantidade de passageiros contribui
para a elevação da temperatura e a diminuição da ventilação.4

Segundo os mesmos autores, outro fator que afeta a saúde dos condutores é
a violência. Esse risco é aumentado para os motoristas, devido ao contato direto
com os usuários. O ônibus de transporte coletivo é um potencial ambiente para a
disseminação da violência, resultando em aspectos negativos, causando
desconforto, insatisfação e sofrimento no trabalho.

3. PSICOLOGIA E A SAÚDE MENTAL DOS MOTORISTAS DE


TRANSPORTE COLETIVO URBANO

A condição de trabalho interfere no estado psicofisiológico do motorista,


sendo traduzida em irritabilidade (que neste caso pode levar a um comportamento
agressivo na direção), insônia (resultando em sonolência nas horas de trabalho e
diminuindo os reflexos) e, em especial, distúrbios na atenção, fator essencial para
uma direção segura. quem mais sofre com todas essas situações advindas da
profissão de condutor, são os motoristas de ônibus, pois além de estarem expostos
a inúmeros fatores que interferem no rendimento do trabalho e principalmente na
saúde do dia-a-dia, tem uma rotina de deslocamento contínuo e o ambiente de
trabalho extremamente mutável como o trânsito.

4
OLIVEIRA, A. C. & PINHEIRO, J. Q. (2007). Indicadores psicossociais relacionados a acidentes de
trânsito envolvendo motoristas de ônibus. Psicologia em Estudo, 12(1), 171-178.
8

Segundo dados apresentados pela Federação dos trabalhadores em


transportes rodoviários do estado do Paraná:

Transtornos mentais e comportamentais são a terceira maior causa


de incapacidade que atinge os trabalhadores brasileiros, com
668.927 mil casos em 2016, de acordo com dados de um estudo
realizado pela Fetropar. Mesmo com esse dado alarmante, ainda há
resistência em se reconhecer a relação entre o trabalho realizado e a
doença mental. Em inúmeros casos, a empresa não admite que sua
atividade é disfuncional e provoca danos psíquicos aos
trabalhadores.5

Uma das categorias que mais sofre com esse tipo de doença do trabalho é a
dos motoristas de transporte coletivo. São recorrentes as notícias e casos de
trabalhadores que vivenciam situações de medo e terror, quando os veículos são
alvos de assaltos violentos, inclusive com tiroteios, agressões e pessoas feridas.
São traumas que podem gerar sequelas futuras nos trabalhadores. Esses
trabalhadores estão desenvolvendo doenças psíquicas, pois além da sobrecarga
laboral, com jornadas longas, pressão dos patrões e prazos apertados, estão
expostos à violência urbana, que acomete os motoristas diariamente. Nos casos de
ocorrências graves de violência, como assaltos a mão armada, são comuns
diagnósticos de estresse pós-traumático, depressão e transtorno do pânico.

Além desses aspectos psicossociais, uma abrangente medida da qualidade


do emprego deve considerar, por sua vez, fatores físicos que podem ter impacto
sobre a saúde, como a movimentação manual, a exposição a substâncias perigosas,
horas de trabalho e condições ambientais. Relaciona-se, também, à importância de
demonstrar que a melhoria da qualidade nos empregos é uma boa decisão de
negócios.

Segundo BATTISTON:

No trânsito a atenção do motorista deve ser ininterrupta, visando a


condução segura e prevenindo riscos de acidentes, protegendo a
população no interior do veículo quanto aos riscos para o outro e
para si próprio. Ainda segundo os autores, devem ser considerados
no contexto, as sobrecargas do organismo humano, tendo vários
fatores que interferem na qualidade de vida no trabalho, sendo estes
desconhecidos ou não percebidos pelos profissionais do transporte.
A integridade psicofisiológica destes trabalhadores sofre
constantemente com danos que podem acarretar agravos à saúde,
estresse, aborrecimentos e insatisfações.6

5
FETROPAR. Motoristas do transporte coletivo adoecem e sofrem cada vez mais com transtornos
mentais. SINTTROL, 2018. Disponível em: https://fetropar.org.br/motoristas-do-transporte-coletivo-
adoecem-e-sofrem-cada-vez-mais-com-transtornos-mentais. Acesso em: 21/09/2020.
6
BATTISTON, Márcia; CRUZ, Roberto Moraes; HOFFMANN, Maria Helena. Condições de trabalho e
saúde de motoristas de transporte coletivo urbano. Estud. psicol.(Natal) v.11 n.3 Natal, 2006.
Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S1413-294X200600030 0011. Acesso em: 21/09/2020.
9

Os estressores organizacionais podem ser de natureza física - por exemplo


(barulho, ventilação e iluminação do local de trabalho) ou psicossocial. Os
psicossociais têm despertado maior interesse nos psicólogos organizacionais. Entre
os estressores psicossociais, destacam-se os baseados nos papéis, os fatores
intrínsecos ao trabalho, os aspectos do relacionamento interpessoal no trabalho, a
autonomia, o controle no trabalho e os fatores relacionados ao desenvolvimento da
carreira. Os estressores podem ser fatores intrínsecos ao trabalho, os quais se
referem a aspectos como repetição de tarefas, pressões de tempo e sobrecarga.

Outro fator que pode afetar prejudicialmente o desempenho do condutor é a


utilização de substâncias psicoativas, visando diminuir o sono ou lidar melhor com
as angústias, ansiedades decorrentes do trânsito. No entanto estas melhoras
caracterizam-se como paliativos, comprometendo-lhe a capacidade de atenção e
concentração, podendo originar situações de acidente que comprometem sua
saúde.
10

CONCLUSÃO

A questão do transporte coletivo é muito complexa em decorrência das


condições conflituosas que cercam este serviço. Se por um lado existem as
demandas dos motoristas, por outro existe má qualidade do serviço oferecido e a
dependência da maioria das pessoas que utilizam como meio de transporte o
ônibus. Este artigo priorizou a saúde mental dos motoristas dos transportes
coletivos, por se compreender que o seu estado de saúde física e mental implica
diretamente na capacidade de realização do trabalho. Considerando, ainda, que este
profissional é responsável por muitas vidas, incluindo a dele e a do cobrador, em
cada deslocamento que realiza.

O trânsito tem se revelado como um dos principais ambientes de violência e


agressividade. Os acidentes e as consequências negativas das ocorrências de
trânsito estão sendo apontados como um problema de saúde pública. O transporte
coletivo de uma cidade é o segmento que mais transita nesse ambiente e o que
insere uma parte significativa da população – no Distrito Federal, aproximadamente
um milhão de usuários por dia. Uma ocorrência com um ônibus coletivo pode causar
a morte ou a doença de várias pessoas ao mesmo tempo. Embora a psicologia tente
encontrar respostas para os aspectos psicológicos dos condutores e dos usuários do
trânsito, a gravidade do assunto, ainda não levou as autoridades a tratarem do
motivo dessa violência ou a realizarem ações concretas para a diminuição do
estresse desse setor, primordial à população de uma cidade.

O ambiente de trabalho dos motoristas de ônibus é rico em ofertar situações


de riscos ergonômicos e psicossociais. Entendendo por riscos ergonômicos aqueles
decorrentes da inadaptação ou ajustamento imperfeito da máquina ao trabalhador. E
como psicossocial as variáveis relativas ao indivíduo como a personalidade, a falta
de autonomia e a dificuldade em estabelecer relações interpessoais satisfatórias.
Apesar do ajuste realizado na cadeira do motorista, outros fatores como calor, ruído,
movimentos repetitivos, longa jornada de trabalho com intervalos mínimos podem
contribuir para o adoecimento do trabalhador. Todo o contexto citado ao longo do
artigo, surge não apenas como fonte de sofrimento, mas como ameaça afetiva,
expondo estes profissionais à situações que afetam não só o físico, mas
principalmente o psicológico. Tais situações os obrigam a usar de estratégias
defensivas para minimizar o comprometimento da saúde e manter o equilíbrio
psíquico.

É de grande importância que sejam realizadas intervenções cuidadosas não


somente no sentido da preservação do direito social ao acesso a um transporte de
boa qualidade e, mais barato, mas também no sentido da preservação do direito dos
motoristas de transportes coletivos à sua saúde. Tendo um trabalho de prevenção
haverá mais qualidade de vida para o trabalhador assim como para os usuários e
diminuirá os impactos na saúde psicológica e física destes profissionais.
11

BIBLIOGRAFIAS

MOURA NETO, A. B.; SILVA, M. C. Diagnóstico das condições de trabalho,


saúde e indicadores do estilo de vida de trabalhadores do transporte coletivo
da cidade de Pelotas/RS. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde, 2012.
17(5).

OLIVEIRA, A. C. & PINHEIRO, J. Q.Indicadores psicossociais relacionados a


acidentes de trânsito envolvendo motoristas de ônibus. Psicologia em Estudo,
12(1), 2007.

FONTES ONLINE

ARAÚJO, M. S. C.. Saúde mental e trabalho: estratégias dos motoristas de


ônibus frente à insegurança. Dissertação (Mestrado) – UFPb. João Pessoa, 2008.
Disponível em: https://repositorio.ufpb.br/jspui/bitstream/tede/6943/1/arquivototal.pdf.
Acesso em: 25/08/2020.

BATTISTON, M.; CRUZ, R. M. ; HOFFMANN, M. H.. Condições de trabalho e


saúde de motoristas de transporte coletivo urbano. Estud. psicol.(Natal) v.11 n.3
Natal, 2006. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S1413-294X200600030 0011.
Acesso em: 21/09/2020.

BIGATTÃO, M. A.. O Stress em Motoristas no Transporte Coletivo de Ônibus


Urbano em Campo Grande. Dissertação (Mestrado em Psicologia). Campo Grande
– MS: Universidade Católica Dom Bosco – UCDB, 2005. Disponível em: http://site.
ucdb.br/public/md-dissertacoes/7746-o-stress-em-motoristas-no-transporte-coletivo-
de-onibus-urbano-em-campo-grande.pdf. Acesso em: 21/09/2020.

FETROPAR. Motoristas do transporte coletivo adoecem e sofrem cada vez


mais com transtornos mentais. SINTTROL, 2018. Disponível em:
https://fetropar.org.br/motoristas-do-transporte-coletivo-adoecem-e-sofrem-cada-vez-
mais-com-transtornos-mentais. Acesso em: 21/09/2020.

TAVARES, F. A.. Estresse em motoristas de transporte coletivo urbano por


ônibus. Instituto de Psicologia, Universidade Federal de Uberlândia: 2010.
Disponível em: https://repositorio.ufu.br/bitstream/123456789/17095/1/Diss
%20Flavia.pdf. Acesso em: 25/08/2020.

ZORZETTO, R. Sono afeta motoristas de ônibus no horário de trabalho. Jornal


da Paulista– pesquisa, 2005. Disponível em: http://www.unifesp.br/comunicacao.
Acesso em: 21/09/2020.

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