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O QUE VOCÊ VAI

ENCONTRAR POR AQUI?


É bem possível que você já tenha ouvido falar sobre a ciência
dos quatro temperamentos. Eles constituem uma ferramenta
de autoconhecimento muito poderosa, apta a resolver a gran-
de maioria dos problemas de relacionamento que as pessoas
enfrentam com os amigos, no trabalho e, na maior parte das
vezes, até com a própria família.

Seja este seu primeiro contato com o assunto, seja o milési-


mo, aprender sobre os quatro temperamentos humanos nunca
é demais.

O e-book que você está prestes a ler foi pensado com esmero
para te fazer compreender o sanguíneo, o fleumático, o melan-
cólico e o colérico de maneira decisiva, mas também sucinta
e reconhecível no seu dia-a-dia. Não apenas isso: você enten-
derá melhor a relação entre esses temperamentos e os vícios
que você, eu, e o resto do mundo carregamos.

E, é claro, ao final do e-book, você vai ver também o antídoto


para cada um desses venenos que existem dentro de nós.

Vamos lá?

Coloque o celular no silencioso por 15 minutos, e...

Boa leitura!
POR QUE CONHECER
OS TEMPERAMENTOS?
Os temperamentos constituem um assunto que merece trata-
mento especial, por se tratar de uma ferramenta simples e po-
derosíssima para quem realmente a compreende e a aplica no
dia-a-dia. Muita gente já compreendeu e está vendo os resul-
tados que isso gera nos seus relacionamentos interpessoais
e no seu próprio conhecimento individual. A coisa é realmente
muito poderosa.

Quando você conhece a ferramenta dos


quatro temperamentos e a coloca em
prática, a sua vida fica muito mais fácil.
Uma série de problemas de relacionamento entre marido e
mulher, pais e filhos, líderes e liderados, entre outros, sim-
plesmente evapora. Eu sei que isso é uma afirmação forte.
Você pode estar pensando assim: “Mas se a pessoa não qui-
ser resolver o problema ela não resolve, se ela não quiser me-
lhorar ela não melhora”. E eu concordo plenamente com você:
ninguém pode melhorar contra a própria vontade. Mas mesmo
a vontade sem os meios de realizá-la gera problemas — o ca-
minho vai ser mais difícil, e o risco de desânimo é bem maior.
Eu posso ter a maior vontade do mundo de pregar um prego
na tábua, porém ter um martelo vai tornar tudo mais fácil.
Então não basta ter a maior boa vontade do mundo para com
minha esposa ou com meu chefe, por exemplo, se a qualquer
momento eu posso me indignar quando eles agirem deste ou
daquele jeito, como se vivessem em um mundo diferente do
meu. Isso acontece porque falta a ferramenta.
Ora, se você tiver uma ferramenta que o ajuda a compreender
os tipos humanos de uma forma simples e eficaz, a sua vida
será muito mais fácil e feliz. Você vai aprender aqui essa fer-
ramenta. Aqui, você vai começar a caminhar no assunto. Você
vai descobrir quais são os temperamentos, quais as suas
características e algumas orientações valiosas sobre como se
relacionar com cada um deles. Você vai sair daqui com uma
parte da ferramenta dos quatro temperamentos.
Apesar de ser quase tão antigo quanto a filosofia, os
temperamentos são um assunto com escassas referências
bibliográficas. Há poucos livros, poucos tratados que falam
especificamente sobre o tema. Por isso, vou começar fazendo
uma pequena introdução, já bastante prática. São quatro os
temperamentos. Por que quatro? Por que não são oito ou
doze? Na verdade, os temperamentos podem ser quantos
você quiser, assim como as direções do espaço. De onde
você está, você pode se mover um pouquinho mais para a
esquerda, um pouquinho mais para a direita, um pouquinho
para frente ou para trás. Existem referenciais muito claros:
norte, sul, leste e oeste. Uma vez que eu tenha conhecimento
desses referenciais, eu posso pegar 20° ao sul e ao leste e
seguir meu caminho. A ciência dos temperamentos funciona
mais ou menos assim também. Os quatro temperamentos são
como que quatro balizas por meio das quais conseguimos nos
orientar muito melhor tanto no caminho do autoconhecimento
quanto no aperfeiçoamento do trato com as pessoas do
nosso convívio.

Mesmo se você já tiver lido os livros ou tiver assistido


aos cursos, ainda podem ter restado dúvidas quanto à
constatação do próprio temperamento ou do temperamento
de alguém que você conhece. Talvez você já saiba qual é
o seu temperamento, mas gostaria de saber qual o do seu
filho ou do seu colega de trabalho. Vamos clarear as coisas.
Poderíamos aprofundar o assunto tanto quanto quiséssemos,
explorando o conteúdo simbólico dos quatro temperamentos,
mas o nosso objetivo aqui é tornar isso tudo muito prático,
fazendo dessa ciência tradicional uma ferramenta concreta,
para ser usada hoje mesmo. Portanto, esta não é um daqueles
conteúdos profundos, pesados. Vamos fazer uma coisa um
pouco mais prática e divertida.
ENTENDENDO A
FERRAMENTA
Vamos começar imaginando duas dimensões. Uma é o domí-
nio da velocidade de reação — se somos rápidos, explosivos
ou lentos. A outra é o domínio do tempo de permanência das
coisas que os outros nos falam ou fazem conosco, do impacto
que sofremos — se ficamos remoendo, às vezes por semanas
ou por anos, tentando achar motivos, conceitos e explicações,
ou pelo contrário, se somos afetados por uma alegria, tristeza
ou desesperança sem que essas coisas se prolonguem. Quem
tem filho ou convive com criança sabe muito bem que é a
ssim. Existe criança que leva uma bronca e fica amuada, en-
quanto outras até ficam tristonhas e choram, mas em pouco
tempo agem como se nada tivesse acontecido. Não consegui-
mos perceber que é mais ou menos assim que funciona, que
todo mundo é mais ou menos assim? Já começamos a fazer
a nossa categorização dos temperamentos. De um lado, rea-
ções rápidas ou reações lentas; do outro, impressões do mun-
do que me afetam duradouramente ou reações e impressões
mais fugazes e mais superficiais.

Se você reage mais prontamente, se você explode de modo


mais fácil, se você costuma tomar a dianteira ou ser o primei-
ro a falar, temos alguns indicativos de que você está no pólo
superior, sendo provavelmente sangüíneo ou colérico. Se você
é uma pessoa que percebe o que está acontecendo em volta
sem que isso o afete instantaneamente, temos um indicativo
agora de que você está no pólo inferior, sendo provavelmente
melancólico ou fleumático. Muita gente acha que eu sou co-
lérico, porque me viu xingando um ou outro na internet. Mas
eu garanto para vocês que esses xingamentos são calcula-
dos. Depois que as coisas chegam até mim, ainda demora um
tempo até que eu reaja a elas. Por isso, eu tenho um tempera-
mento que está para baixo nesse vetor. O meu temperamento
é fleumático.
Além disso, você pode ter uma reação interior mais superfi-
cial, com menos duração, ou você pode ter uma reação inte-
rior com mais duração. No primeiro caso, você é sangüíneo
ou fleumático; no segundo, você é colérico ou melancólico. É
assim que fazemos a distribuição. Quem reage rapidamente,
mas de modo superficial, é sangüíneo. Quem reage rapida-
mente, e de modo duradouro, é colérico. Quem é lento e su-
perficial nas reações, fleumático. Quem é lento e profundo,
melancólico.

Essas categorias já nos são muito úteis, esclarecendo grande


parte dos problemas em relação ao temperamento. Há muita
serventia em saber qual é o seu temperamento ou o da pes-
soa com quem você convive. Desde logo, porque o tempera-
mento não passa pela nossa vontade. Muitas características
que de algum modo nos constituem não passam pela nossa
vontade, como a nossa altura ou a nossa língua nativa.
À minha altura eu não consigo
acrescentar um centímetro,
mas eu posso, pela minha
vontade, me tornar mais ágil,
eu posso criar mecanismos, por assim dizer,
compensatórios. Da mesma forma, eu pos-
so aprender outros idiomas além da minha
língua nativa. Portanto, nascemos com
algumas características, todavia a elas
podemos acrescentar mais qualidade. O
temperamento é muito semelhante a isso
tudo. Eu nasço com um temperamen-
to, mas ele não pode ser justificativa
para nossa falta de educação, nossa
falta de compromisso ou nossos
desvios morais. Se há alguma pre-
dominância natural de certos vícios
em relação aos temperamentos, isso
não pode ser usado como desculpa.
É importante saber que certas coisas
não vão mudar. E não é que seja bom
nem mau — há um monte de coisa na
vida que é indiferente. A nossa consci-
ência reta aprova o bom, rejeita o mau e
permite o indiferente. Se você conhece o
temperamento do outro, você percebe que
muita coisa que ele faz não é por maldade,
não é para implicar com você.

Por exemplo, pode ser que eu conviva com alguém do traba-


lho que seja um pouco mais lento que eu na proposição de
temas e na proposição de soluções. Isso não significa que a
pessoa não está se importando com a empresa. Você tem de
reparar em outros domínios da vida dela: se ela age assim no
trabalho e também na família, você começa a perceber que aqui-
lo não é nada pessoal, é apenas um modo de funcionar dessa
pessoa. Por outro lado, você pode notar que, quando ela toma
uma coisa para si, quando ela pega uma coisa mesmo para fazer,
ninguém a segura, ela vai mais fundo que você. Estamos aqui
vendo a relação de um sangüíneo com um melancólico, ou seja, a
relação de alguém que reage rapidamente, mas sem persistência
na proposição daquela tarefa, com alguém que, apesar de reagir
de modo mais lento, quando assume a tarefa como sua, vai até o
fim.

Esse olhar melhora a nossa


relação com as outras pessoas.
Com ele, passamos a julgar menos e nos tornamos imediata-
mente mais pacientes. A paciência é fruto do amor, e para amar
precisamos conhecer. Por isso, costumo chamar a ciência dos
temperamentos de ciência do Amor, porque ela trata da base do
amor, não um amor elevado, alto, mas um amor de início: você
começa a amar mesmo os defeitos do outro, porque várias coi-
sas que denominamos como defeitos são apenas característi-
cas. Assim, é natural que a paciência comece a aparecer dentro
de você, pois você passa a conhecer melhor o seu filho, o seu
marido, a sua esposa. Então, se um deles é sangüíneo não é
que ele não persista nas coisas por má vontade ou por falta de
compromisso, essa é uma coisa contra a qual ele terá de lutar
sempre. Assim como o fleumático vai lutar sempre para reagir de
modo mais rápido às decisões da vida que exigem mais agilida-
de e mais presteza.
Não entenda isso como o assentimento de
uma fatalidade, de algo impossível de mudar.

Entender o temperamen-
to de alguém é entender
o seu ponto de partida, e
não o seu destino.
Conhecendo os temperamentos, aprendemos a respei-
tar melhor a liberdade do outro. E a liberdade é a capa-
cidade de escolher o melhor, a capacidade de escolher
o bem, de modo que respeitar a liberdade do outro é se
colocar como um guia gentil e dócil a fim de acompa-
nhá-lo pelo melhor caminho. Esse é o mecanismo do
Amor. Então, quando eu falo que alguém é colérico, eu
não estou simplesmente o deixando solto à sua ira ou
ao seu gênio explosivo, eu estou me colocando à dis-
posição para ajudá-lo a se desenvolver, a controlar os
impulsos. Essa é a essência do amor. Os temperamen-
tos são a mais simples ferramenta de compreensão do
outro, sem a qual fica muito difícil sabermos o que é
ser gente.
VÍCIOS VS.
TEMPERAMENTOS
A partir de agora
vamos aprofundar
um pouco mais o tema.

Ninguém é ruim de
um modo totalmente
inovador. Desde Adão,
ninguém inventa uma
maldade completamen-
te original, todos come-
temos os mesmos erros.
E, além da diferença de
escala de uma pessoa
para outra, alguns tendem
a manifestar mais um vício do
que outro. Talvez vocês já tenham ouvido
falar dos sete pecados capitais. Na simbólica, sempre que de-
paramos com uma ordem de sete elementos, o que se encon-
tra no centro e o que se encontra no fim são os pontos mais
importantes, como se fossem combustíveis que alimentam
todos os outros. Dito de outro modo, o quarto e o sétimo vício
têm uma prevalência em todos nós. Todos temos o quarto e o
sétimo vício, de modo que, se um deles está muito alto, os ou-
tros vícios também estarão. Mas ainda sobraram cinco vícios.
E aqui entra a ferramenta dos temperamentos. O sangüíneo
tem mais facilidade ou mais tendência a ter os dois primeiros
vícios, que estão agrupados aqui por serem muito parecidos
entre si. O fleumático tem uma tendência a ter mais o terceiro
vício; o colérico a ter mais o quinto; o melancólico a ter mais o
sexto. Agora vamos dar nome às coisas.
Quais são os sete vícios?

O primeiro vício
chama-se luxúria
e consiste em ceder muito rapidamente à sensibilidade do
mundo, ao brilho, ao gosto, ao cheiro das coisas. O segundo,
que de certo modo é muito semelhante ao primeiro, é a gula,
que é colocar para dentro mais do que cabe — como eu estou
achando o mundo muito legal, eu estou colocando o mundo
para dentro, eu já estou me confundindo com ele. Luxúria e
gula são, portanto, vícios com os quais o sangüíneo precisa
tomar muito cuidado. Em geral, o sangüíneo tem dificuldade
de progredir na vida, seja profissional, familiar ou espiritual-
mente, porque ele é muito disperso com as coisas do mundo.

Se o seu filho é sangüíneo e não está progredindo na escola,


por exemplo, você pode perceber que a sua capacidade de
concentração, de se manter em uma atividade, varia muito em
função da fome que está sentindo, da roupa que está usando,
do barulho do ambiente etc. Ele distrai-se mais com essas
coisas porque ele se confunde mais com o mundo exterior.
Sabendo disso, podemos aplicar alguns remédios compor-
tamentais para ordenar esse temperamento e tentar diminuir
as dificuldades e os vícios provenientes dele, ao mesmo tem-
po em que aprimoramos aquilo que lhe é forte. O sangüíneo
é alegre, divertido porque ele é amigo do mundo — o mundo
para ele não é estranho. Estar no mundo para o sangüíneo não
é uma dificuldade. Assim, o sangüíneo vai ter facilidade de
resolver problemas materiais: se quebrou, conserta; se perdeu,
acha. Essa afinidade do mundo enquanto dados do sensível,
no entanto, pode torná-los muito sensuais e gulosos.
O terceiro vício
é a avareza,
e o temperamento fleumático é o mais sensível a ele. Por
reagir de modo mais lento e não ter a capacidade natural de
fazer com que as impressões permaneçam nele, é como se o
mundo para o fleumático entrasse e logo saísse. Ele é como
a água. Se você joga um objeto na água e tira em seguida,
esse objeto não vai deixar nenhuma marca de que esteve ali.
A água não tem a capacidade de reter o que o mundo deu para
ela. O fleumático tem uma tendência maior à avareza porque,
como o mundo não o impacta e lhe deixa marcas, as coisas
para ele evaporam e somem. Por isso, quando ganha algo
ele não vai querer largar aquilo nunca mais. Ele vai se apegar
àquilo que não sumiu de uma vez. E é propriamente a isto que
o vício da avareza se refere: o sujeito adquire o medo de per-
der as coisas. Ao contrário do que muitos imaginam, não é a
preguiça o maior vício do
fleumático. A preguiça está
presente para todos, ela é
como um sol maligno que
aquece os outros vícios.
Quanto mais preguiçoso
um sujeito é, mais longe
ele está da perfeição da
conduta, da perfeição
do amor. Amar pede
esforço. Amar é
servir aos outros.
O amor exige pron-
tidão e presteza. The
readiness is all, diria
Shakespeare.
O quinto vício
é a ira,
cuja suscetibilidade é mais comum ao
temperamento colérico. A ira vem da
tentação de querer atacar primeiro
antes de ser atacado, porque, se eu
não reagir de imediato ao mundo,
ele me marca antes. O símbolo do
colérico é o fogo. E o fogo tende a
se espalhar, a consumir tudo o que
está em volta. Da mesma forma,
um colérico que não estiver atento
às suas tendências pode se tornar
uma pessoa descontrolada. Não
é que o colérico seja uma pessoa
ruim. Ninguém é bom ou mau por
conta do temperamento, e sim por
conta das escolhas que faz na vida,
por conta das decisões que toma
diante das circunstâncias. O que pre-
tendemos aqui é dar algumas pistas.
Muita gente me pergunta sobre defeito
dominante. Se você conhece o seu tempe-
ramento, então provavelmente você já tem
uma pista de qual seria o seu defeito dominan-
te. Você já sabe que em todos nós predominam a
preguiça e a soberba, o quarto e o sétimo vício. Disse
o místico que a soberba só vai embora 48 horas de-
pois que morremos. Ou seja, até no último segundo da
nossa vida, na cama do hospital, estamos sujeitos a agir
com soberba, talvez simulando alguma nobreza ou pieda-
de diante das testemunhas.
O sexto vício, que é mais natural
ao melancólico, é a inveja.
Para que uma inveja seja verdadeira, é necessária a observa-
ção. Você precisa ter uma capacidade de observar uma di-
ferença específica entre a sua conduta e a conduta do outro,
entre os seus bens e os bens do outro. Uma pessoa distraída
não vai ter uma tendência tão grande à inveja porque ela não
repara muito nessas coisas. Podemos notar que nos sangüí-
neos, por exemplo, a inveja aparece de um modo muito super-
ficial. Isso acontece porque ter inveja requer uma certa aten-
ção da diferença entre a sua virtude moral e a virtude moral
do outro. Se você notou que não é uma pessoa tão engraçada
quanto aquele outro sujeito, que é a alma da festa, e se essa
impressão ficou guardada dentro de si, então aí temos um
cenário propício para o surgimento da
inveja. O movimento interior foi
o seguinte: a pessoa captou
uma impressão sobre si
que ela tirou do mundo
lá fora, guardou-a e co-
meçou a conversar in-
teriormente com outras
impressões já acumu-
ladas. Nesse sentido, a
inveja pode ter como ob-
jeto tanto os bens intrínse-
cos, como a inteligência ou a
alegria alheias, quanto os bens
extrínsecos, como o dinheiro. O
melancólico tende a prestar mais
atenção aos bens intrínsecos.
COMBATENDO O
BOM COMBATE
Lembrando que, independentemente do temperamento, to-
dos nós estamos sujeitos aos sete vícios. E o que estamos
mostrando aqui é uma tendência maior de um temperamento
com este ou aquele vício. Dito isso, vamos apresentar a partir
de agora alguns passos concretos para melhorar as nossas
tendências. Então, se eu sou sangüíneo, eu tenho de vencer a
sensualidade, ou seja, eu tenho de vencer o apelo ao chamado
do mundo e à inconstância. Por que o sangüíneo é inconstan-
te? Porque ele está a todo momento suscetível às impressões
do mundo, que mudam a cada instante. O que é o mundo? A
sua casa? Mas a sua casa é diferente da casa da sua mãe, que
por sua vez é diferente da faculdade, do escritório e da igreja.

Se você for uma pessoa inconstante, você não vai muito lon-
ge, não só no sentido profissional, de juntar dinheiro, mas
também não vai muito longe no propósito de melhorar inte-
riormente, de amar mais, de servir mais, de ser uma pessoa
digna, correndo o risco de não saber, na hora da morte, se foi
você quem viveu a sua vida ou se foi o mundo. O remédio para
isso é uma técnica chamada plano de vida e outra chamada
exame de consciência. Quer dizer que só o sangüíneo precisa
fazer isso? Não. Todos precisa-
mos, mas o sangüíneo, particu-
larmente, precisa abraçar isso
como se fosse a última tábua
de salvação e sua vida depen-
desse desse negócio.

O plano de vida são normas que vão


colocar ordem no seu dia. Se o colérico e
o melancólico intuem melhor o andamento de
uma rotina, o sangüíneo vai precisar se esforçar
mais para adquirir esse senso. O sangüíneo vai precisar ter a
grade de horários colada em cima da escrivaninha, na tela do
computador, no porta-luvas do carro e no armário do banheiro
para ele visualizar repetidas vezes como que vai ser o seu dia.
Se fizer isso por cinco anos, ele vai notar a sua progressão. E
é importante fazer isso sem perder a alegria. Não adianta des-
fazer-se de um defeito se você perder uma qualidade. A ale-
gria, o sorriso no rosto, a boa disposição, o olhar para o outro
são sinais de que você está no caminho certo.

E esse plano de vida deve contemplar sobretudo as suas prá-


ticas espirituais. Isso não é conversa de religioso. Ter práti-
cas espirituais é manter contato com a beleza, com a justiça,
manter uma relação com Deus. O sangüíneo precisa ter ati-
vidades espirituais bem marcadas no seu dia, porque ele é
um sujeito afeito naturalmente às coisas do mundo, e não às
coisas do espírito. E uma questão que o sangüíneo tem de se
colocar é se as atividades que ele toma por espirituais, como
ir ao culto ou à missa, são feitas visando a sua relação de in-
timidade com o próprio Deus ou se são feitas apenas para se
sentir bem. Se o objetivo delas é você se sentir bem, se sentir
mais em paz, isso ainda não é exatamente vida espiritual, isso
é a vida do bem-estar, que são coisas bem distintas.
Portanto, a primeira preocupação do plano de vida é
estipular meios de você manter o contato constante
com a beleza, com as boas leituras, com a oração, com
a esmola e com o jejum. Você pode estabelecer metas
como “uma vez por semana eu vou jejuar”, “duas vezes
por dia eu vou rezar”, “duas vezes por
dia vou fazer a leitura de algum livro
cujo tema trata de coisas superiores,
transcendentais”, e assim por diante.
É muito importante, para o sangüíneo,
que essas coisas estejam muito bem
definidas. Depois disso, vêm
outros afazeres, como ligar
para a avó que mora sozinha
de tanto em tanto tempo, o
horário de usar o computa-
dor etc. É importantíssimo
que o sangüíneo organize
uma agenda clara para adqui-
rir firmeza e vencer a incons-
tância.

Já o fleumático tem uma


tendência à passividade.
Também não é difícil notar
que uma pessoa passiva não
tende a ir muito longe. É fácil
para o fleumático ser empurrado
pela vontade dos outros, e é isso
que ele tem de vencer. Lembram
que falamos da água? Se você co-
locar um limão em um copo d’água
e retirá-lo em seguida, como já dis-
semos, a água não vai ficar marcada
pelo limão, porém, se o deixarmos ali
por um bom tempo, a água do copo vai ficar
flavorizada.
Então, o fleumático é um sujeito que tem de estar em contato
com grandes ideais por muito tempo. As grandes convicções
transformam a sua naturalidade e transformam não só a na-
tureza mas a reação dessa natureza. Perceba que a água pode
ser líquida, gasosa ou um bloco de gelo. Ela pode ser uma
pequena poça na calçada, mas também pode ser um tsunami,
que destrói cidades.

O fleumático é um sujeito que precisa de fato estar colado


a grandes convicções, um sujeito que precisa rever as suas
motivações com freqüência, e aprofundar nelas, estudando
e conhecendo gente que faz a mesma coisa que ele preten-
de fazer. Isso vai deixar um sabor dentro dele. E não adianta
o fleumático ter pressa, porque o mundo não lhe deixa uma
marca permanente e porque ele demora para reagir. Ele vai
precisar de calma para fundamentar os motivos das suas es-
peranças e convicções. Sendo assim, o fleumático, mais do
que os de outros temperamentos, precisa ter contato com
os livros e com as grandes personalidades. Esse é o remédio
para a sua passividade.
O melancólico, por sua vez, tem certa
inclinação para a desesperança, que
o impede de prosseguir. As pessoas
com tal temperamento são mais dadas
à introspecção, as coisas dentro delas
ressoam por mais tempo. Diferentemente
como acontece com o fleumático, o mundo
deixa muitas impressões no melancólico. E
o mundo muda muito e nos contraria mui-
tas vezes. Com isso, nós podemos começar
a achar que ele é mau. A desesperança faz
com que desistamos das coisas. Para com-
bater essa tendência, o melancólico precisa ter
um contraponto, uma oposição a essa inclinação
natural, que aparece dentro dele, por meio da ob-
servação da bondade no mundo. O melancólico tem
de querer se informar das coisas boas que existem
no mundo, porque são muitas. A primeira coisa boa
é a própria criação. Deus criou o mundo porque quis
e viu que o mundo era bom. Depois, as personalida-
des boas que passam por este mundo, e deixam a
sua marca, deixam o seu rastro de amor, que apaga
aquelas marcas de ódio e de desesperança. O me-
lancólico precisa olhar para isso querendo amar. Um
bom exercício para um melancólico fazer é listar as
coisas boas com as quais ele depara no dia-a-dia,
e assim vai vencendo essa desesperança.
Ainda falta o temperamento colérico. A sua má inclinação é a
auto-suficiência. Seu erro é acreditar que só ele basta, que ele
não precisa de mais ninguém. Para derrubar essa idéia, vou
dar o seguinte exemplo trivial e prosaico. Eu não conseguiria
dar esta aula se não fosse toda a equipe, se não fosse a pes-
soa que fez roupa que estou usando, se não fosse a tecnolo-
gia ao meu dispor, e só para citar alguns exemplos. Ninguém
é auto-suficiente. Você não é a última bolacha do pacote, meu
filho, nem a primeira. O colérico tem de duvidar muito dos
seus primeiros impulsos. Esse é o grande alarme que precisa
estar na sua cabeça. Ele precisa duvidar das suas primeiras
idéias e dos seus primeiros impulsos porque, em geral, o co-
lérico vai ter uma tendência a crer que a primeira idéia que
passar pela sua cabeça já é boa o suficiente, à qual todos
os outros devem se curvar. Outra coisa que o colérico
precisa aprender a fazer é não atropelar os outros nas
conversas. Atropelar alguém na conversa é não deixar
o outro concluir a sua fala, o seu raciocínio. Isso é um
termômetro de que você acha que é a origem e o fim
de tudo, de que você é auto-suficiente. Essa auto-
-suficiência não deixa você enxergar as falhas que
impedem o seu progresso pessoal. O exercício para
o colérico controlar essa tentação de achar que
é auto-suficiente é falar menos e prestar mais
atenção nos outros.
CHEGAMOS
AO FIM
A idéia foi demonstrar a relação entre os vícios e os
temperamentos e também apresentar alguns remé-
dios muito práticos para controlarmos as más inclina-
ções do nosso temperamento. Espero que o conteúdo
tenha sido útil e que tenha um grande efeito no rela-
cionamento com sua família, na sua vida profissional
e na sua relação de intimidade com Deus. Então, é
isso. Fiquem com Deus, um abraço e até a próxima.

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