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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUÍZ (A) DE

DIREITO DE UMA DAS VARAS CIVÍL DA COMARCA DE


FRANCA, ESTADO DE SÃO PAULO.

ALINE DE OLIVEIRA BUCK, brasileira, divorciada, autônoma,


portadora do RG de número 46708992 - SSP/SP, inscrita no CPF de
número 334.977.518-71, residente e domiciliada à Rua Caetano Lombardi,
2120, Jardim Alvorada, na cidade de Franca, estado de São Paulo, por seu
advogado, vem, com habitual vênia à presença de Vossa Excelência, propor
a presente

AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS MORAIS

em face de SANTA CASA DE FRANCA, pessoa jurídica de direito


privado, inscrita no CNPJ sob nº 47.969.134/0001-89, estabelecida na rua
Praça D. Pedro II, 1826. Centro - Franca/SP. CEP: 14400-715 - Fone: (16)
3711-4000

MARIA IZABEL LE GRAZIE, pessoa física, brasileira, médico, inscrito


no CRM 163021, estabelecida na Rua Praça D. Pedro II, 1826. Centro -
Franca/SP. CEP: 14400-715 em razão das justificativas de ordem fática de
direito abaixo delineadas.
I – DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA:

Inicialmente, requer a concessão dos benefícios da Gratuidade da


Justiça, nos termos do artigo 98 e seguintes, da Lei nº 13.105/ 2.015, artigo
5º, inciso LXXIV, da Constituição Federal e artigo 4º, da Lei nº 1.060/ 50,
por não possuírem condições financeiras para arcar com as despesas e
custas processuais, sem prejuízo do próprio sustento e de seus familiares
(declaração anexa).

II – DOS FATOS

No dia 04 de outubro de 2021, a autora foi internada na Santa Casa


de Franca para um parto cesariano, enfrentando uma gravidez de risco com
idade avançada, pressão alta e diabetes.

A opção pelo parto particular se deu em virtude da carência do


convênio e, sobretudo, devido às recomendações da Dra. Maria Izabel Le
Grazie, que havia acompanhado a gestação da Autora desde o início.

Ademais, desde o início das consultas pré-natais, a autora se sentiu


pressionada a pagar pelo parto, justificado pelos riscos envolvidos e a
pandemia.

Além disso, a Dra. Maria Izabel recomendou a realização da


laqueadura, à qual a autora consentiu prontamente.

Entretanto, em 4 de outubro, após efetuar o pagamento pelo


procedimento, a autora, Sra. Aline, foi encaminhada para a sala de cirurgia,
onde a equipe médica liderada pela Dra. Maria Izabel Le Grazie a
aguardava. Contudo, o início da cirurgia foi marcado por uma série de
incidentes, incluindo a entrada constante de pessoas na sala, a manutenção
das portas abertas (diferentemente de outras experiências anteriores de
cesarianas, que ocorreram com as portas fechadas, proporcionando maior
privacidade à autora) e uma crescente sensação de desrespeito com a
autora, que pagou para um procedimento eficiente e profissional.

Durante o procedimento, a Dra. Maria Izabel demonstrou agitação e


discutiu intensamente com uma enfermeira presente na sala. A enfermeira,
finalmente, saiu da sala, deixando a médica sozinha com a instrumentadora.
Em um momento crucial, a Dra. Maria Izabel declarou que planejava
realizar uma histerectomia, alegando que o útero da Autora não estava em
condições de suportar outra gravidez e que a laqueadura poderia causar
hemorragia. Essa súbita mudança de planos enquanto a Sra. Aline Buck já
estava em procedimento na mesa de cirurgia a deixou em estado de choque.

A despeito do que estava previamente contratada durante o pré-


natal, a laqueadura não foi realizada, resultando em profunda insegurança e
desconforto da autora, Sra. Aline. O médico responsável pela cirurgia
posteriormente adentrou na sala e demonstrou desinteresse, preocupando-se
unicamente se a autora ainda estava viva (imaginável o que estaria
ocorrendo neste parto diante do nível de profissionalismo da médica e
enfermeira demonstrado durante o procedimento).

Não satisfeitos em fazer a autora passar por todo esse


constrangimento, no momento da alta hospitalar, a pediatra informou que o
filho da Autora precisaria de um período adicional de internação devido à
icterícia neonatal, exigindo pagamento por uma diária adicional.

A Reclamante solicitou transferência para a ala do Sistema Único


de Saúde (SUS) devido à impossibilidade financeira, mas a equipe médica
se recusou a conceder a transferência, impondo a assinatura de um termo de
responsabilidade a Sra. Aline Buck.

Essa sequência de eventos constitui uma clara violação da ética e


dos padrões de cuidados médicos, comprometendo a integridade física e
emocional da Autora, além de representar uma experiência desastrosa em
um momento que deveria ser de tranquilidade.

Desse modo, diante da falta de ética e respeito demonstrados


durante o parto e internação, além do não cumprimento de acordos
prévios relacionados à cirurgia de laqueadura e, pior, falta de
assistência médica em virtude da incapacidade financeira da autora, a
Sra. Aline Buck, busca apoio do poder judiciário pleiteando
indenização por danos morais destinando a compensar a dor,
sofrimento e abalos morais experimentados e, reflexamente, valer de
paradigma didático para coibir tais condutas danosas.

III – DO DIREITO

A)DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA

A violência obstétrica é um problema relevante, apesar da ausência


de legislação específica. Essa forma de violência se manifesta em situações
constrangedoras e, muitas vezes, traumatizantes durante o parto, um
momento que deveria ser o mais especial na vida de uma mulher.

A definição de violência obstétrica é abrangente e não se limita à


violência física. Ela engloba também a violência psicológica, moral e
abusos que ocorrem no pré-natal, parto e pós-parto, frequentemente
perpetrados por profissionais de saúde. De acordo com a definição de
Andrade, na p.1 no seu livro “Violência obstétrica: a dor que cala” de 2014:

"Entende-se por violência obstétrica


qualquer ato exercido por profissionais da
saúde que afete o corpo e os processos
reprodutivos das mulheres, manifestando-se
através de uma atenção desumanizada,
abuso de intervenções médicas,
medicalização e transformação patológica
dos processos de parto naturais."

A Organização Mundial da Saúde amplia essa definição, incluindo


abusos verbais, restrições à presença de acompanhantes, procedimentos
médicos não consentidos, violações de privacidade e recusas em
administrar analgésicos como exemplos de violência obstétrica.

Posto isso, a violência obstétrica viola uma série de direitos da


mulher, como a dignidade, liberdade, segurança, são condutas que
desrespeitam os direitos humanos das mulheres que deveriam ser
assegurados.

Além disso, é crucial destacar que a violência obstétrica não apenas


viola os direitos fundamentais das mulheres, mas também tem sérias
consequências para a saúde física e emocional das gestantes e parturientes.

Essa forma de abuso muitas vezes resulta em traumas, complicações


médicas evitáveis e, em alguns casos extremos, perdas de vidas. Portanto, é
fundamental que a sociedade, os profissionais de saúde e as autoridades
reconheçam a gravidade desse problema e trabalhem ativamente para
erradicar a violência obstétrica, garantindo que todas as mulheres recebam
cuidados respeitosos, seguros e dignos durante a gestação e o parto.

B) DA VIOLAÇÃO À DIGNIDADE DA PESSOA


HUMANA

Conforme preceitua o inciso III do art. 1º da Constituição Federal, a


dignidade da pessoa humana é um dos fundamentos garantidos pela nossa
Carta Magma.
Diante das condutas da parte Ré e da sua equipe médica, imperativo
demonstrar que feriram diversos dispositivos constitucionais, portanto,
imprescindível trazer à tona os incisos III, V e X do art. 5º da Constituição
Federal, que tratam da inviolabilidade da honra das pessoas, a garantia de
que nenhuma pessoa será submetida à tortura ou tratamento desumano ou
degradante, e que assegura o direito de indenização pelo dano moral
decorrente de sua violação.

 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de


qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
[...]
 III – ninguém será submetido a tortura ou a tratamento
desumano ou degradante;
[...]
 V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao
agravo, além da indenização por dano material, moral
ou à imagem;
[...]
 X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a
honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a
indenização pelo dano material ou moral decorrente de
sua violação;
A violação do dano moral, de fato, ocorreu devido à má prestação do
serviço contratado pela autora. Além disso, houve a violação dos
dispositivos de tratados internacionais que asseguram o respeito à
integridade física, psicológica e moral.

Portanto, é evidente o descumprimento da Constituição Federal, o


desrespeito aos direitos humanos e direitos fundamentais mencionados
acima. Não se pode permitir que tal ilegalidade prospere.

C)DA APLICAÇÃO DO CÓDIGO DO CONSUMIDOR

Além disso, considerando que houve uma contratação de serviço, o


fornecedor de serviços deve respeitar e fazer cumprir as leis elencadas no
Código de Defesa do Consumidor.

Nesse sentido, é pertinente destacar o art. 14 do referido código, que


trata da responsabilidade objetiva dos réus.

 Art. 14. O fornecedor de serviços responde,


independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores por
defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como
por informações insuficientes ou inadequadas sobre
sua fruição e riscos.
 § 1º O serviço é defeituoso quando não fornece a
segurança que o consumidor dele pode esperar,
levando-se em consideração as circunstâncias
relevantes, entre as quais:
I - o modo de seu fornecimento;
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se
esperam;
III - a época em que foi fornecido.
 § 2º O serviço não é considerado defeituoso pela
adoção de novas técnicas.
 § 3º O fornecedor de serviços só não será
responsabilizado quando provar:
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
 § 4º A responsabilidade pessoal dos profissionais
liberais será apurada mediante a verificação de culpa.

Nessa perspectiva, é fundamental destacar a responsabilidade do


fornecedor de serviços, independentemente da culpa, e a necessidade de
reparação dos danos causados aos consumidores.

A má prestação de serviços médicos deve ser tratada com a


seriedade que merece, respeitando os direitos dos pacientes e cumprindo as
leis aplicáveis.

D) DO DANO MORAL E DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA

Considerando o dano moral como afronta ao princípio fundamental


da dignidade da pessoa humana, consagrado no artigo 1º, inciso III da
Constituição Federal, violando, portanto, a integridade física, psicológica e
moral da parturiente, que foi exposta a situações humilhantes e
constrangedoras pelos profissionais de saúde que a acompanharam durante
o trabalho de parto, sua realização e o pós-parto.

A violência obstétrica é o conjunto de atos desrespeitosos,


comissivos e omissivos, abusos e maus-tratos que negligenciam a vida e o
bem-estar da mulher e do bebê. Isso fere direitos básicos de ambos, como a
dignidade, saúde, integridade física e autonomia sobre o próprio corpo,
configurando um ato ilícito passível de indenização por dano moral.
Não se pode afirmar que o sofrimento experimentado pela Aurora
seja um simples dissabor da vida contemporânea, uma vez que ela se
encontrava em estado de extrema vulnerabilidade, apreensão e angústia.

Era dever de a Ré fornecer-lhe a segurança necessária para a chegada


de seu filho.

Neste contexto, a autora relata ter passado por momentos


extremamente constrangedores. No que deveria ser um momento perfeito
para o nascimento de seu filho, o parto não transcorreu como esperado,
devido à falta de profissionalismo, que se traduziu em imprudência e
negligência médica.

Alega a autora que a sala permaneceu completamente aberta, com


entrada e saída de pessoas constantes, além de uma intensa discussão entre
a médica e a enfermeira. O que ocasionou no tratamento totalmente fora
dos padrões de excelência médica e com o que havia sido pactuado
previamente entre as partes.

O trauma vivenciado pela autora deturpou completamente sua moral.


Ela se sentiu violada ao se encontrar no meio de uma cirurgia, exposta com
a sala aberta, diante de outros pacientes, familiares e demais profissionais
presentes no plantão. Isso resultou em uma prestação de serviço deficiente
e inadequada por parte da ré.

O dano moral experimentado pela autora é inquestionável, in re ipsa,


o que significa que independe de comprovação do grande abalo psicológico
sofrido pela vítima. Neste caso, inclusive, não se faz necessária a
demonstração, visto que o abalo moral está presumivelmente evidente.
Portanto, é relevante mencionar os artigos 186, 927 e 932, inc. III,
além do art. 949 e seguintes do Código Civil, que são pertinentes a esta
situação, a fim de que a justiça seja feita.

 Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária,


negligência ou imprudência, violar direito e causar
dano a outrem, ainda que exclusivamente moral,
comete ato ilícito.
[...]
 Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187),
causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
 Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados
em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua
natureza, risco para os direitos de outrem.
[...]
 Art. 949. No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o
ofensor indenizará o ofendido das despesas do
tratamento e dos lucros cessantes até ao fim da
convalescença, além de algum outro prejuízo que o
ofendido prove haver sofrido.
 Art. 951. O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplicam-
se ainda no caso de indenização devida por aquele que,
no exercício de atividade profissional, por negligência,
imprudência ou imperícia, causar a morte do paciente,
agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para
o trabalho.

No caso em tela, a responsabilidade é objetiva, portanto inexiste a


necessidade de comprovar a culpa. No entanto, diante da briga entre as
equipes médicas, necessário realizar uma análise criteriosa para determinar
se houve imprudência ou negligência, a fim de avaliar a extensão do dano
causado.

De todo modo, deve-se considerar que houve uma ação ou omissão


que causou um dano, in re ipsa (evidente por si só). Além disso, fica
claramente estabelecido o nexo causal entre a conduta médica e o
sofrimento moral experimentado pela autora. Portanto, surge o dever de
indenização, conforme estabelecido pelas leis vigentes mencionadas.

A negligência é caracterizada quando é possível demonstrar que


médicos, enfermeiros ou qualquer profissional de saúde não seguem os
protocolos e normas técnicas aplicáveis à situação. Na realidade, pode ser
vista como uma espécie de preguiça psicológica, pela qual o agente deixa
de antecipar o resultado que poderia e deveria ter sido previsto.

A imprudência, por outro lado, está relacionada à negligência, mas


envolve ações precipitadas ou a falta de cautela por parte dos profissionais
de saúde. Isso ocorre quando um profissional age sem o devido cuidado e
atenção, mesmo que esteja ciente das normas e protocolos aplicáveis. É
uma falta de consideração pelas possíveis consequências de suas ações, que
poderiam ter sido evitadas com a devida prudência.

No caso em questão, a Autora foi submetida a constrangimentos


diante de outros pacientes, familiares e demais profissionais que estavam
presentes no plantão. Além de ser surpreendida com mudanças na prestação
de serviço após brigas reiteradas entre a enfermeira e a médica.

Além disso, a entidade hospitalar é, em decorrência, responsável


pelas ações de seus prepostos (médicos, enfermeiros, funcionários em
geral, etc.), bem como pelos eventos que ocorrem em suas dependências
(conforme o artigo 37, § 6° da Constituição Federal e a Súmula nº 341 do
STF), estabelecendo, assim, a responsabilidade objetiva.

 "Procede a ação de indenização contra esta instituição


hospitalar por erro profissional de sua equipe médica.
Uma vez que o médico é considerado preposto, no
exercício de sua profissão, configura-se culpa
presumida do empregador" (RT 559/193).
Isso ressalta o que está prescrito na Constituição Federal de 1988 e
súmulas do STF.

Ademais, a autora busca explicações sobre o fato de não ter


realizado a laqueadura conforme o contratado, pois, analisando o laudo
médico, nem sequer abordam sobre o tema, ou sequer justificaram o não
cumprimento do serviço contratado.

E) DA DESCONTINUIDADE DO TRATAMENTO EM
VIRTUDE DA INCAPACIDADE FINANCEIRA E O
CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA

No caso de uma interrupção de tratamento devido à falta de


recursos financeiros, a equipe hospitalar deve buscar soluções alternativas
para garantir a continuidade do tratamento do paciente. Isso pode incluir a
busca por programas governamentais de assistência médica, orientação
sobre direitos do paciente, encaminhamento a instituições de caridade ou
beneficentes e outras medidas para garantir que o tratamento não seja
interrompido devido à incapacidade financeira do paciente.

A interrupção do tratamento médico devido à falta de dinheiro pode


ser considerada uma negligência médica e uma violação dos direitos do
paciente. Portanto, os médicos e profissionais de saúde têm a
responsabilidade de tomar medidas para garantir que o paciente receba o
tratamento necessário, independentemente de sua situação financeira.
Desse modo, fazendo uma análise no Código De Ética Médica, há
de se encontrar vários artigos pertinentes ao caso, dentre os quais, os mais
importantes seriam os arts. 3º, 4º, 25º, 27º, 28º, 32º, 33º, 36º, 40º, 66º.

 Art. 3º Deixar de assumir responsabilidade sobre


procedimento médico que indicou ou do qual participou,
mesmo quando vários médicos tenham assistido o paciente.
 Art. 4º Deixar de assumir a responsabilidade de qualquer
ato profissional que tenha praticado ou indicado, ainda que
solicitado ou consentido pelo paciente ou por seu
representante legal.
 Art. 25. Deixar de denunciar prática de tortura ou de
procedimentos degradantes, desumanos ou cruéis, praticá-
las, bem como ser conivente com quem as realize ou
fornecer meios, instrumentos, substâncias ou
conhecimentos que as facilitem.
 Art. 27. Desrespeitar a integridade física e mental do
paciente ou utilizar-se de meio que possa alterar sua
personalidade ou sua consciência em investigação policial
ou de qualquer outra natureza.
 Art. 28. Desrespeitar o interesse e a integridade do paciente
em qualquer instituição na qual esteja recolhido,
independentemente da própria vontade.
 Parágrafo único. Caso ocorram quaisquer atos lesivos à
personalidade e à saúde física ou mental dos pacientes
confiados ao médico, este estará obrigado a denunciar o
fato à autoridade competente e ao Conselho Regional de
Medicina.
 Art. 32. Deixar de usar todos os meios disponíveis de
promoção de saúde e de prevenção, diagnóstico e
tratamento de doenças, cientificamente reconhecidos e a
seu alcance, em favor do paciente.
 Art. 33. Deixar de atender paciente que procure seus
cuidados profissionais em casos de urgência ou emergência
quando não houver outro médico ou serviço médico em
condições de fazê-lo.
 Art. 36. Abandonar paciente sob seus cuidados.
 § 1° Ocorrendo fatos que, a seu critério, prejudiquem o bom
relacionamento com o paciente ou o pleno desempenho
profissional, o médico tem o direito de renunciar ao
atendimento, desde que comunique previamente ao paciente
ou a seu representante legal, assegurando-se da
continuidade dos cuidados e fornecendo todas as
informações necessárias ao médico que o suceder.
 § 2° Salvo por motivo justo, comunicado ao paciente ou à
sua família, o médico não o abandonará por este ter doença
crônica ou incurável e continuará a assisti-lo e a propiciar-
lhe os cuidados necessários, inclusive os paliativos.
 Art. 40. Aproveitar-se de situações decorrentes da relação
médico paciente para obter vantagem física, emocional,
financeira ou de qualquer outra natureza.
 Art. 66. Praticar dupla cobrança por ato médico realizado.
 Parágrafo único. A complementação de honorários em
serviço privado pode ser cobrada quando prevista em
contrato.

Portanto, necessário se faz a análise minuciosa do caso concreto


para determinar a condenação do quantum indenizatório no intuito de
salvaguardar a dignidade da paciente além de coibir tais práticas
inaceitáveis com outros pacientes.

F) DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Quanto à inversão do ônus da prova, esta deve ser deferida desde


que satisfeitos os requisitos legais elencados no art. 6º, VIII, do CDC: a
hipossuficiência dos Autores e a verossimilhança das alegações.

Considerando as desigualdades econômicas, jurídicas e sociais, e o


fato de o Código de Defesa do Consumidor prever a medida da inversão do
ônus da prova como um meio de promover maior igualdade no processo,
cujo objetivo principal é facilitar a defesa dos consumidores, que
geralmente possuem menos recursos financeiros e até jurídicos para provar
suas alegações.

Na doutrina e jurisprudência, é consenso que o consumidor é a parte


mais fraca na relação processual, sendo, na maioria das vezes, inferior ao
fornecedor. Portanto, a lei busca restaurar o equilíbrio entre as partes.

No caso em análise, é evidente que a autora, é hipossuficiente em


relação à Ré, não apenas economicamente, mas também tecnicamente,
dada a disparidade óbvia entre um profissional médico e leigo em
medicina, especialmente no que diz respeito à apresentação de provas
relacionadas a técnicas médicas.

Além disso, o próprio Código de Processo Civil entende a


possibilidade de dinamizar a incumbência do ônus probatório dentro da
lide, dando abertura ao Magistrado de definir a partir das peculiaridades do
caso se aquele recairá sobre o pólo passivo ou ativo da relação processual,
vejamos:

 Art. 357. Não ocorrendo nenhuma das hipóteses deste


Capítulo, deverá o juiz, em decisão de saneamento e de
organização do processo:
[...]
 III - definir a distribuição do ônus da prova, observado
o art. 373;
[...]
 Art. 373. O ônus da prova incumbe:
[...]
 II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo,
modificativo ou extintivo do direito do autor.
 § 1º Nos casos previstos em lei ou diante de
peculiaridades da causa relacionadas à impossibilidade
ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos
termos do caput ou à maior facilidade de obtenção da
prova do fato contrário, poderá o juiz atribuir o ônus
da prova de modo diverso, desde que o faça por
decisão fundamentada, caso em que deverá dar à parte
a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi
atribuído.

Portanto, visando estabelecer um equilíbrio de equidade entre as


partes, levando em consideração a condição de hipossuficiência da autora,
que poderia enfrentar dificuldades na comprovação de possíveis erros
médicos, é apropriado que este respeitável magistrado adote a inversão do
ônus da prova, transferindo-a para a parte ré.
Isso visa assegurar uma defesa mais justa para a parte Autora,
especialmente quando se considera que a obtenção dessa prova não requer
qualquer ação ou documentação sob seu controle.

IV - DOS REQUERIMENTOS:

Ante o exposto, respeitosamente REQUER a Vossa Excelência se


digne em:

1. A concessão da Assistência Judiciária Gratuita, nos termos


do art. 98 do Código de Processo Civil;

2. A notificação da reclamada para apresentar defesa, se


quiser, sob pena de revelia e confissão;

3. Reconhecer e aplicar ao caso em comento as regras do


Código de Defesa do Consumidor e, determinar, sendo
melhor a autora parte hipossuficiente, a inversão do ônus da
prova;

4. Seja a ação julgado totalmente PROCEDENTE, condenando


os Réus ao pagamento de indenização por danos morais a
Autora, em valor fixado por este D. Juízo, não inferior a
R$126.000,00 (cento e vinte e seis mil reais), pela violência
obstétrica sofrida pela Autora e seu filho, nos termos da
fundamentação supra;
5. Desde já, informa que a Autora não tem interesse em ação
de conciliação.

6. A condenção dos réus ao pagamento de honorários


advocatícios nos parâmetros previstos no Art. 85, § 2º, do
CPC.

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em Direito


admitidas, depoimento pessoal do requerido, sob pena de confesso, ouvida
de testemunhas, pericias, vistorias, arbitramentos.

Atribui-se à causa o valor de R$126.000,00 (cento e vinte e seis mil reais).

Termos em que, pede deferimento.

Franca – São Paulo, 24 de outubro de 2023.

p. Carlos Alberto Fernandes


OAB/SP 61.447 e MG 762A
ROL DE TESTEMUNHAS:

01 - FATIMA DE JESUS BUCK, brasileira, solteira, CPF nº 196.319.718.64,


residente na Rua Alceu Amoroso de Lima, nº 1922, Bairro Jardim Aeroporto II,
Cidade Franca, Estado São Paulo, CEP: 14404-099.

02 – ELAINE CRISTINA CORREIA, brasileira, solteira, portadora da carteira


de identidade RG nº 45.699.430-0 SSP/SP, CPF nº 344.749.988-55, residente na
Av. Jaime Telline, nº 4672, Bairro Jardim Paraty, Cidade Franca, Estado São
Paulo, CEP: 14412-285.

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