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O aborto

O debate sobre o aborto tem sido um tema de grande controvérsia e discussão em muitas
sociedades. Em países como Portugal, a legislação em torno do aborto tem evoluído ao
longo do tempo, refletindo uma compreensão mais ampla dos direitos das mulheres e das
questões de saúde reprodutiva. Neste texto, vamos explorar os argumentos a favor do
aborto, destacando a importância da legalização para garantir a segurança e os direitos das
mulheres.

Uma das razões mais urgentes para a legalização do aborto é a necessidade de acabar
com as clínicas clandestinas e os procedimentos inseguros que colocam em risco a vida e a
saúde das mulheres. Antes da legalização do aborto em Portugal, muitas mulheres eram
forçadas a recorrer a métodos clandestinos e perigosos para interromper a gravidez
indesejada. Esses métodos incluíam o uso de ervas medicinais, inserção de objetos
pontiagudos no útero e até mesmo consultas com pessoas sem qualificações médicas. A
legalização do aborto permite que as mulheres tenham acesso a procedimentos seguros e
realizados por profissionais de saúde qualificados, reduzindo significativamente os riscos à
sua saúde e vida.

Outro argumento fundamental a favor do aborto é o direito das mulheres de terem controle
sobre os seus corpos e as suas vidas. A decisão de prosseguir com uma gravidez deve ser
uma escolha pessoal e autónoma, tomada com base em circunstâncias individuais e
familiares. Restringir o acesso ao aborto é uma violação dos direitos reprodutivos das
mulheres e perpetua a desigualdade de género, privando-as do direito fundamental à
autonomia e à liberdade de escolha.

Além disso, é importante reconhecer que existem circunstâncias em que uma gravidez é
insustentável para a mulher, seja por motivos de saúde, económicos, sociais ou emocionais.
Em tais casos, a opção pelo aborto pode ser a única escolha razoável e compassiva. Negar
às mulheres o direito ao aborto nessas situações é cruel e desumano, forçando-as a
enfrentar consequências físicas e emocionais devastadoras.

Um dos principais contra-argumentos contra o aborto é baseado em considerações morais


e religiosas, que defendem a sacralidade da vida desde a concepção. No entanto, é
importante respeitar a diversidade de crenças e valores em uma sociedade pluralista,
reconhecendo que nem todos compartilham as mesmas convicções sobre o início da vida e
o status moral do feto. Além disso, impor visões religiosas específicas sobre questões de
saúde pública viola o princípio da separação entre Estado e religião.

Outro argumento frequentemente levantado contra o aborto é o seu suposto impacto


negativo na sociedade e na família. No entanto, estudos têm mostrado que a legalização do
aborto não leva a um aumento da taxa de abortos, mas sim a uma redução da mortalidade
materna e a uma melhoria geral na saúde reprodutiva das mulheres. Além disso, é
importante reconhecer que as restrições ao aborto afetam desproporcionalmente as
mulheres mais vulneráveis, aumentando as desigualdades sociais e de saúde.
Alguns argumentam que em vez de legalizar o aborto, devemos concentrar nossos esforços
em fornecer apoio e recursos para mulheres que enfrentam gravidezes indesejadas.
Embora seja verdade que programas de planejamento familiar e educação sexual são
importantes, essas medidas não são suficientes para abordar todas as circunstâncias
complexas em que uma mulher pode se encontrar. O aborto seguro e legal deve ser uma
opção disponível para aquelas que precisam, garantindo que todas as mulheres tenham
acesso a cuidados de saúde reprodutiva de qualidade.

Em conclusão, a legalização do aborto é um passo crucial para garantir a saúde, a


segurança e os direitos das mulheres. O aborto continuará a ser praticado, quer seja seguro
ou não, devido a razões e circunstâncias que escapam ao nosso controlo. Reconhecer a
sua importância ajuda a promover a justiça, a igualdade e o respeito pela dignidade
humana. É tempo de deixar de lado os preconceitos e as restrições baseadas em ideologias
ultrapassadas, e garantir que todas as mulheres tenham acesso a cuidados de saúde
reprodutiva seguros e de qualidade.

Bibliografia:

https://www.sns24.gov.pt/tema/saude-da-mulher/interrupcao-voluntaria-da-gravidez/
https://www.dn.pt/sociedade/aborto-portugal-viola-direitos-sociais-europeus-16396508.html/
https://www.dn.pt/opiniao/do-aborto-e-da-liberdade-14974854.html/
https://www.pcp.pt/actpol/temas/ivg/no20040127.htm
https://www.esquerda.net/opiniao/despenalizacao-do-aborto-oito-anos-depois/35734
https://www.publico.pt/multimedia/interactivo/15-anos-aborto-portugal
https://expresso.pt/geracao-e/2023-05-22-As-varias-dimensoes-do-aborto-desejado-1d99c4
bb
https://www.publico.pt/2007/02/05/jornal/a-despenalizacao-da-ivg-argumentos-e-contraargu
mentos-119955
https://observador.pt/opiniao/o-aborto-nunca-se-esquece/
https://www.esquerda.net/opiniao/aborto-13-anos-depois-da-lei-que-desafios/65836

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