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A Inflação

vs
Criptomoedas

Economia II
Faculdade de Direito de Lisboa – 2022/2023

2º Semestre, Turma TAN, Subturma 1,


Eduardo Magalhães Santos, aluno n.º 67615
Índice

Introdução: ....................................................................................................................................... 3

Capitulo I – Inflação: ....................................................................................................................... 4


1. O que é a inflação: ................................................................................................................4
2. Causas da inflação: ...............................................................................................................5
3. Como é medida a inflação: ...................................................................................................9
4. Efeitos da inflação: .............................................................................................................11
5. Inflação Portugal-UE 2004-2023: ......................................................................................14

Capitulo II – Criptomoedas ........................................................................................................... 15


6. Criptomoedas – O que são? Como funcionam? Vantagens vs Desvantagens:...................15
7. Criptomoedas e a inflação: .................................................................................................18

Capitulo III – Conclusão................................................................................................................ 19


8. Conclusão: ..........................................................................................................................19

Bibliografia: ................................................................................................................................... 21

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Introdução:
O presente trabalho foi realizado com vista a apresentar o tema da Inflação na disciplina de
Economia II, tendo como objetivo servir de elemento avaliativo para o segundo semestre do 1º
ano da Licenciatura em Direito – Faculdade de Direito de Lisboa.

De modo sucinto, vou procurar explicar o que é a inflação, as suas causas, a forma como a
mesma é calculada e os seus efeitos.

Irei também explicar de forma resumida, uma vez que nos encontramos limitados em número de
páginas, o que são criptomoedas, de que forma funcionam e que correlação podem estas ter
ou não com a inflação. Esta apreciação foi feita tendo por base predominantemente o Bitcoin,
uma vez que é o criptoactivo mais antigo, mais conhecido e que apresenta uma consolidação
mais sólida.

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Capitulo I – Inflação:
1. O que é a inflação:

A inflação consiste numa subida generalizada e sustentada dos preços dos bens e serviços
consumidos pelas famílias.
Numa economia de mercado, o preço dos bens e serviços pode variar em qualquer momento:
alguns preços sobem, outros descem. Existe inflação quando os preços dos bens e serviços
aumentam de forma generalizada, não apenas o preço de alguns itens específicos, e esse
aumento é continuado ao longo do tempo.

A inflação influencia-nos a todos porque, com o incremento continuado dos preços, a moeda vai
desvalorizando ao longo do tempo, passando a ser necessário mais dinheiro do que seria
necessário antes para comprar exatamente os mesmo produtos e serviços.

Uma inflação elevada dificulta a atividade económica pois reduz a previsibilidade necessária
às transações e à celebração de contratos, implicando um acréscimo de custos, concretamente
com atualizações mais frequentes dos preços.

Contudo, atentemo-nos que as taxas de inflação negativas também prejudicam a atividade


económica pois, num contexto de descida prolongada e generalizada dos preços (deflação), as
famílias e as empresas tendem a adiar parte do consumo e do investimento na expetativa de
que o custo dessas atividades diminua. Se a generalidade das famílias e das empresas adiar as
decisões de consumo e investimento, a economia contrai-se devido à redução da procura
agregada1, reforçando o contexto de deflação.

Preços estáveis são, por isso, benéficos para a economia. Na área do euro, compete ao BCE e
aos outros bancos centrais manter a estabilidade de preços. No entanto, estabilidade de preços
não significa que os preços não aumentam. Pelo contrário, o Conselho do BCE considera que a

1
A Procura Agregada (ou AD, do inglês Agregate Demand) é a quantidade total (ou agregada) do produto que é possível adquirir para um
determinado nível de preços, mantendo-se tudo o resto constante (coeteris paribus). Representa, portanto, a despesa desejada pelo conjunto de
agentes económicos, nomeadamente: consumo das famílias, investimento das empresas, gastos do estado e exportações líquidas.

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estabilidade de preços é assegurada mais eficazmente com um objetivo de 2% para a inflação a
médio prazo.

2. Causas da inflação:

As causas da inflação podem variar ao longo do tempo pelo que se torna necessário ter em conta
o contexto específico do momento da análise, recorrendo-se a fontes confiáveis e atualizadas.

Algumas das causas de inflação são:

Aumento da procura, na medida em que havendo um aumento da procura de bens e serviços,


pode conduzir ao aumento de preço, uma vez que os produtores tentam dar resposta a essa
procura crescente;

 Inflação pela Procura2: O excesso de procura, segundo a perspectiva keynesiana ocorre


quando a procura agregada aumenta mais rapidamente que o produto potencial da
economia. O excesso de procura pode resultar de um aumento da capacidade de
consumo das famílias, de um aumento do investimento das empresas para um nível
superior à sua capacidade de auto-financiamento, ou até de um agravamento do saldo
orçamental com as despesas públicas a cresceram mais que as receitas.
Como tal o aumento da procura é acompanhado pela criação de moeda e/ou pelo
aumento da sua velocidade de circulação. A procura agregada aumenta para um
nível superior ao produto potencial e para equilibrar o mercado os preços sobem
(Mankiw, 1997; Pinto, 1999).
A inflação pela procura pode ser combatida através da política orçamental,
aumentando os impostos (o que reduz o rendimento disponível para o consumo e
investimento) e/ou através do corte na despesa pública; ou pela política monetária com o
aumento da taxa de juro (tornando o dinheiro mais caro e de acesso mais difícil) e/ou
limitando o crédito bancário (diminuindo a procura sobre os bens duradouros e sobre o
investimento).

2
https://repositorio.iscte-iul.pt/bitstream/10071/4389/1/Tese%20de%20Mestrado%20-%20Ana%20Paula%20Diogo.pdf

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Contudo, o uso da política orçamental é problemático dado que não é fácil um governo
aumentar os impostos e reduzir as despesas.
Resta por isso a utilização da política monetária apesar dos seus efeitos negativos sobre o
investimento e sobre o crescimento futuro (Amaral, 1996).

Aumento dos custos de produção, o que pode levar os produtores a transferir esses custos para
os consumidores, praticando preços mais altos;

 Inflação pelos Custos3: A inflação pelos custos resulta do aumento dos custos de
produção sem que haja excesso de procura durante períodos de grande desemprego e
fraca utilização dos recursos. Deste modo a inflação pelos custos justifica um aumento
dos preços pela subida dos próprios componentes dos preços dos produtos, isto é,
aumentos nos custos salariais, nos preços dos produtos importados, nos encargos
financeiros, nos impostos e nas margens de lucro.
Os custos, o aumento/diminuição dos preços dos produtos importados podem
eventualmente ser resultado da subida/descida dos preços internacionais dos bens ou da
variação da taxa de câmbio, traduzindo-se no incremento dos custos de produção das
empresas; as obrigações financeiras dos financiamentos espelham-se no preço dos
produtos pois são consideradas custos de produção, logo, quanto mais os encargos,
maior será a subida do preço do produto; no que aos impostos diz respeito, a subida dos
indirectos ocorre uma única vez sobre os preços e não se reflecte numa inflação
persistente, contudo ao contrário os impostos directos são um custo para a empresa que
se repercute normalmente na subida dos preços; por último, mas nem por isso com
menos importância, o aumento das margens de lucro, pela natureza das empresas
(monopolistas ou oligopolistas) ou por contratos entre empresas, também se traduz na
subida do preço do produto para o consumidor (Bootle, 1999; Mankiw, 1997; Pinto,
1999).
Como forma de pode combater a inflação pelos custos, pode-se efectuar ao nível do
controlo dos custos salariais, aplicando medidas administrativas (como a fixação de
salário mínimo e dos vencimentos da função pública) ou através de negociações da
concertação salarial. E para controlar os custos das matérias-primas e dos produtos
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https://repositorio.iscte-iul.pt/bitstream/10071/4389/1/Tese%20de%20Mestrado%20-%20Ana%20Paula%20Diogo.pdf

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importados é possível apreciar a moeda em termos reais com o aumento da taxa de juro,
excepto em situações de câmbios fixos (caso da União Monetária e Económica) (Pinto,
1999).

Políticas fiscais e económicas adotadas pelo governo português e pelo Banco Central Europeu,
podem ter repercussão direta na variação da inflação;

 Políticas fiscais e económicas adoptadas pelo governo podem contribuir para a inflação:
Política fiscal expansionista - Quando o governo gasta mais do que arrecada em
impostos, cria-se um déficit fiscal. Para financiar esse déficit, o governo pode recorrer à
emissão de dívida, que aumenta a oferta de dinheiro em circulação. Se a procura por
bens e serviços permanecer constante, mas a oferta de dinheiro aumentar, os preços
podem subir, causando inflação.
Política monetária expansionista: O Banco Central de Portugal pode adoptar políticas
monetárias expansionistas, como reduzir as taxas de juros e aumentar a oferta de
dinheiro em circulação. Isso pode estimular o crescimento económico, mas também pode
levar a um aumento na procura de bens e serviços, o que pode resultar em inflação.
Em resumo, as políticas fiscais e económicas adoptadas pelo governo podem contribuir
para a inflação em Portugal. É importante que as políticas sejam cuidadosamente
planeadas e implementadas para minimizar os efeitos negativos na inflação e promover o
crescimento económico sustentável.

Eventos externos como desastres naturais, conflitos políticos e alteração de políticas comerciais,
as quais podem de alguma forma influenciar a oferta e a procura de bens e serviços;

 Eventos externos também podem ter um impacto significativo na inflação de um


país, especialmente numa economia aberta como Portugal. São exemplos de eventos
externos que podem afectar a inflação os seguintes:
Aumento nos preços de commodities - Quando os preços de matérias-primas
importantes, como petróleo, ouro ou alimentos, aumentam, os custos de produção podem
aumentar. As empresas podem tender a transferir esses custos para os consumidores,
aumentando os preços dos bens e serviços e contribuindo para a inflação.

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Taxas de câmbio - A flutuações nas taxas de câmbio podem afectar a inflação de um
determinado país, especialmente se a economia for muito dependente de importações. Se
a moeda local se enfraquece em relação a outras moedas, os preços das importações
podem aumentar, o que pode levar a um aumento geral nos preços.
Condições climáticas adversas – Condições como secas ou inundações, podem afectar
a produção de alimentos e matérias-primas, contribuindo para o aumento dos preços e
bem assim contribuindo para a inflação.
Instabilidade política e económica global: A instabilidade política e económica global
pode levar à volatilidade nos mercados financeiros e aumentar os preços das
commodities, aumentando os custos de produção e contribuindo para a inflação.
Em suma, eventos externos podem ter um impacto significativo na inflação em Portugal.
O impacto dependerá da natureza e gravidade do evento e da dependência da
economia portuguesa em relação aos produtos ou serviços afectados pelo evento.

Aumento dos impostos sobre bens e serviços, o que poderá fazer variar a inflação;

 Aumento dos impostos sobre bens e serviços pode contribuir para a inflação e isso
ocorre porque o aumento dos impostos pode levar a um aumento nos preços dos bens e
serviços, o que por sua vez, pode levar a um aumento geral nos preços, contribuindo para
a inflação. Além disso, se as empresas não conseguirem absorver totalmente o aumento
dos impostos, elas podem transferir os custos para os consumidores, aumentando os
preços dos bens e serviços. Contudo, o impacto do aumento dos impostos sobre a
inflação dependerá de vários factores, como a magnitude do aumento, a elasticidade da
procura e a concorrência no mercado. Por exemplo, se o aumento dos impostos sobre
bens e serviços for pequeno e a concorrência no mercado for alta, as empresas podem
não conseguir transferir totalmente os custos para os consumidores, reduzindo assim o
impacto sobre a inflação. Além disso, os aumentos de impostos podem ser compensados
por outras políticas fiscais ou económicas que visem reduzir a inflação, como reduzir os
gastos do governo ou aumentar a oferta de dinheiro em circulação. Dessa forma, o
aumento dos impostos pode não ser a principal causa de inflação em Portugal, mas pode
ser apenas um factor que contribui para a inflação, especialmente se não for
acompanhado por outras políticas económicas eficazes.

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Aumento da oferta de dinheiro, na medida em que, se a oferta de dinheiro aumentar
rapidamente em relação à oferta de bens e serviço, pode levar a um aumento dos preços.

 Aumento da oferta de dinheiro pode ser uma causa de inflação em Portugal e em


outros países.
Quando a quantidade de dinheiro em circulação aumenta mais rapidamente do que a
produção de bens e serviços, isso pode levar a um aumento geral nos preços, uma vez
que há mais dinheiro disponível para comprar os mesmos bens e serviços. Isso ocorre
porque, quando há mais dinheiro em circulação, os consumidores têm mais poder de
compra e as empresas podem aumentar seus preços sem reduzir a procura pelos seus
produtos. Além disso, o aumento da oferta de dinheiro pode levar a um aumento da
procura por bens e serviços, o que pode levar a um aumento nos preços.
No entanto, o impacto do aumento da oferta de dinheiro na inflação dependerá de vários
factores, como a velocidade de circulação do dinheiro, a elasticidade da oferta e da
procura e as expectativas dos agentes económicos.
Por exemplo, se a velocidade de circulação do dinheiro for baixa, o impacto do aumento
da oferta de dinheiro na inflação pode ser limitado. Além disso, as políticas monetárias
do Banco Central podem afectar o impacto do aumento da oferta de dinheiro na inflação.
Contudo, se o Banco Central adoptar políticas de aperto monetário, como aumentar as
taxas de juros, isso pode reduzir a velocidade de circulação do dinheiro e limitar o
impacto do aumento da oferta de dinheiro na inflação.
Em suma, o aumento da oferta de dinheiro pode ser uma causa de inflação em Portugal e
noutros países, mas o impacto dependerá de vários factores, incluindo a velocidade de
circulação do dinheiro e as políticas monetárias adoptadas pelo Banco Central.

3. Como é medida a inflação:

A inflação mede-se tipicamente com recurso a um índice de preços no consumidor para


comparar os preços atuais dos bens e serviços com os preços dos mesmos bens e serviços em
períodos precedentes.

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Um cabaz de compras composto pelos itens que são usualmente comprados pelas famílias para
consumo (e.g bens alimentares, vestuário, comunicações móveis, combustíveis, bilhetes de
transportes públicos ou despesas com rendas de casa, eletricidade e água), passou a ser utilizado
para fazer essa medição.

Os principais índices de preços são o Índice de Preços no Consumidor (IPC) e o Índice


Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC).

O IHPC é o índice utilizado na área do euro. Ao designar-se de "harmonizado" significa que a


totalidade dos países da zona euro têm as mesmas categorias de bens e serviços nos seus cabazes
e utilizam os mesmos métodos de cálculo. A constituição do IHPC foi concebido de forma a que
o cabaz de compras geral seja representativo em todos os países. Para além da despesa
realizada pelos residentes num determinado território (país ou área do euro), o IHPC inclui
também as despesas realizadas por turistas nesse território.
Se calcularmos a taxa de variação do IHPC de um período para outro, calculamos a taxa de
inflação, ou seja, quanto é que os preços se alteraram (em percentagem) entre diferentes
períodos. Como o cálculo da taxa de inflação pode ser baseado em comparações entre diferentes
períodos, é possível analisar vários tipos de taxas de inflação:
 Inflação em cadeia: apresenta a taxa de variação entre um mês e o mês anterior;
Tvc = (IHPCt/IHPCt-1 - 1) * 100, onde t corresponde ao mês de referência

 Inflação homóloga: apresenta a taxa de variação entre um mês e o mesmo mês do ano
anterior;
Tvh = (IHPCt/IHPCt-12 - 1) * 100, onde t corresponde ao mês de referência

 Inflação média: apresenta a taxa de variação entre a média dos valores do índice no
último ano e a média do ano imediatamente anterior;
Tvm= (IHPC ma/IHPC ma-1 - 1) * 100, onde ma corresponde à média do IHPC nos
últimos 12 meses e ma-1 à média do IHPC nos 12 meses imediatamente anteriores

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4. Efeitos da inflação:

A inflação pode ter um conjunto variado de efeitos na economia, assim como:

 Redução do poder de compra – A inflação pode ter um efeito negativo sobre o poder de
compra das pessoas, pois o aumento dos preços pode reduzir o valor real do dinheiro que
as pessoas possuem.
Quando os preços sobem, as pessoas precisam gastar mais dinheiro para comprar os
mesmos bens e serviços que antes podiam ser adquiridos por um valor menor. Isso
conduz a uma redução do poder de compra das pessoas, pois o mesmo valor de
dinheiro agora pode comprar menos do que antes.
Quando o poder de compra das pessoas é reduzido, isso pode afectar sua qualidade
de vida, pois elas precisam gastar mais dinheiro para manter seu padrão de vida anterior.
Além disso, a inflação pode afectar negativamente os investimentos, pois a taxa de
retorno real de um investimento pode ser reduzida quando os preços estão a subir. Isto
pode conduzir a um aumento do custo de oportunidade de manter dinheiro parado e,
portanto, incentivar as pessoas a gastar seu dinheiro em vez de investi-lo.
A inflação pode ainda afectar negativamente a economia de um país, pois pode levar a
uma redução na confiança dos consumidores e dos investidores, bem como a uma
redução do investimento e do crescimento económico. Desta forma, a inflação pode ter
efeitos negativos não apenas no poder de compra das pessoas, mas também na economia
como um todo.

 Aumento do custo de vida – é um dos efeitos mais perceptíveis da inflação para as


pessoas. A inflação pode aumentar os preços dos bens e serviços, conduzindo a um
aumento no custo de vida das pessoas. Isso significa que as pessoas precisam gastar mais
dinheiro para manter o mesmo padrão de vida anterior.
Por exemplo, se a inflação estiver em torno de 5%, isto significa que os preços dos bens e
serviços estão aumentando em média 5% ao ano. Se uma pessoa gasta € 100 em
alimentos por semana, no final do ano, ela necessitará gastar cerca de € 105 para comprar
os mesmos alimentos que comprava por € 100 antes da inflação.

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O aumento do custo de vida tende a ter um impacto especialmente mais acentuado nas
pessoas que têm uma renda fixa, tais como reformados e pensionistas, pois estes,
maioritariamente não têm a possibilidade de aumentar a sua renda para acompanhar o
aumento dos preços.
A inflação pode aind afectar negativamente as pessoas que possuem dívidas, pois o valor
real das dívidas pode diminuir com o tempo, contudo o valor nominal permanece o
mesmo.
Por fim, o aumento do custo de vida pode afectar a qualidade de vida das pessoas, pois
pode levar a uma redução do poder de compra, um aumento da pobreza e um desestimulo
ao consumo e investimento.
É importante que os governos e bancos centrais adoptem políticas económicas para
controlar a inflação e evitar um aumento excessivo do custo de vida.

 Redistribuição da renda – A inflação pode ter um efeito sobre a redistribuição da renda


numa sociedade.
Quando a inflação está elevada, os preços dos bens e serviços aumentam, e as pessoas
com renda fixa, como reformados e pensionistas, podem sentir uma redução no poder de
compra. Por outro lado, as pessoas que possuem activos financeiros, como acções e
imóveis, podem ver-se a beneficiar, pois os preços desses activos tendem a aumentar
juntamente com a inflação. Além disso, a inflação pode levar a uma redistribuição da
renda entre diferentes sectores da economia. Por exemplo, os sectores que têm preços
mais flexíveis, como o sector de serviços, podem aumentar seus preços mais rapidamente
do que os sectores que têm preços mais rígidos, como o sector agrícola. Isto pode levar a
uma redistribuição da renda dos sectores agrícolas para os sectores de serviços. Por outro
lado, os governos podem adoptar políticas para mitigar os efeitos da inflação sobre a
redistribuição da renda. Por exemplo, podem adoptar políticas fiscais e monetárias para
controlar a inflação e, ao mesmo tempo, implementar políticas sociais para apoiar os
grupos mais vulneráveis da sociedade, como programas de assistência social, programas
de transferência de renda e aumento de salários mínimos.
Em resumo, a inflação pode ter um efeito sobre a redistribuição da renda na sociedade,
mas os governos podem implementar políticas para controlar a inflação e mitigar os seus
efeitos sobre os grupos mais vulneráveis da sociedade.
12 | P á g i n a
 Aumento dos juros – É uma das formas mais comuns de combater a inflação, e pode ter
um efeito significativo na economia e na vida das pessoas.
Quando a inflação aumenta, os bancos centrais podem decidir aumentar as taxas de
juros para desacelerar o aumento dos preços dos bens e serviços.
Este aumento dos juros pode ter um efeito negativo na economia a curto prazo, pois pode
levar a uma redução do consumo e do investimento, o que pode afectar o crescimento
económico. Além disso, o aumento dos juros pode tornar o crédito mais caro, o que pode
afectar negativamente as empresas e as famílias que têm dívidas.
Por outro lado, pode ter um efeito positivo a longo prazo, pois pode controlar a inflação e
manter a estabilidade económica.
Quando a inflação está controlada, as pessoas podem planear melhor os seus gastos e
investimentos, uma vez que os preços dos bens e serviços serão mais previsíveis. Além
disso, a estabilidade económica pode incentivar o investimento e a criação de empregos.
Em suma, o aumento dos juros é uma das formas mais comuns de combater a
inflação, mas pode ter um efeito negativo na economia em curto prazo. No entanto, a
estabilidade económica a longo prazo é importante para o bem-estar da sociedade e,
portanto, é importante que os bancos centrais adoptem políticas monetárias
responsáveis para manter a estabilidade económica.

 Instabilidade económica – A inflação alta e persistente pode levar à incerteza


económica, o que pode prejudicar o investimento, o crescimento e o emprego.
Quando os preços dos bens e serviços aumentam rapidamente, as pessoas podem perder a
confiança na economia e nos mercados financeiros, e isso pode levar a uma saída de
investidores e ao enfraquecimento da moeda. Além disso, a inflação pode levar a uma
redução do poder de compra da população e a uma redução da procura por bens e
serviços, o que pode levar a uma desaceleração económica e ao aumento do desemprego.
A inflação também pode levar a uma redução na capacidade do governo de implementar
políticas económicas eficazes.
Por exemplo, se a inflação está alta, o governo pode ter que dedicar recursos para
combater a inflação em vez de investir em programas sociais ou em projectos de infra-
estruturas. Por outro lado, a estabilidade económica é importante para o bem-estar da
população e para o desenvolvimento sustentável a longo prazo.
13 | P á g i n a
Para manter a estabilidade económica, os governos podem adoptar políticas fiscais e
monetárias responsáveis para controlar a inflação e incentivar o crescimento económico.
Além disso, é importante que as instituições económicas, como os bancos centrais, sejam
independentes e tenham autonomia para tomar decisões que visem manter a estabilidade
económica a longo prazo.

5. Inflação Portugal-UE 2004-2023:

Abaixo apresentam-se os dados estatísticos relativamente à variação da taxa de inflação no


espaço da União Europeia, bem como de Portugal em períodos homólogos, desde Março de 2004
até Março de 2023.

GEO União
Portugal
(Labels) Europeia
TIME
2004-03 1,5 2,3
2005-03 2,2 2,2
2006-03 2,1 3,8
2007-03 2,3 2,4
2008-03 3,7 3,2
2009-03 1,4 -0,6
2010-03 2,0 0,6
2011-03 3,1 3,9
2012-03 2,9 3,1
2013-03 1,9 0,7
2014-03 0,6 -0,4
2015-03 -0,1 0,4
2016-03 0,0 0,5
2017-03 1,7 1,4
2018-03 1,6 0,8
2019-03 1,6 0,8
2020-03 1,2 0,1
2021-03 1,7 0,1
2022-03 7,8 5,5
2023-03 8,3 8,0

1 – Variação da taxa de inflação (IHPC) correlacionada, entre Portugal e a União Europeia4, à esquerda, e à direita
dados nominais.

Fonte: Eurostat5

Este período de 19 anos permite-nos apenas ter a percepção da oscilação da taxa de inflação em
períodos homólogos entre Portugal e a União Europeia.

4
Apesar de na base do gráfico ser apresentado -01 à frente do ano, os dados reportam todos eles aos meses de Março de cada ano.
5
https://ec.europa.eu/eurostat/databrowser/view/PRC_HICP_MANR__custom_5889157/settings_1/table?lang=en

14 | P á g i n a
Será possível contrariar os efeitos da inflação e blindar o valor do nosso dinheiro?!

Capitulo II – Criptomoedas

6. Criptomoedas – O que são? Como funcionam? Vantagens vs Desvantagens:

Acerca da criptomoedas muito se pode dizer, contudo, começaremos por explicar que forma
sucinta o que são e como funcionam de uma forma geral.
Criptomoedas são um activo digital, não existem fisicamente, tendo sido criadas em 2008 e
lançadas em 2009, após a crise económica mundial e que funcionam utilizando a blockchain6.
A primeira e a mais conhecida é o Bitcoin.

As criptomoedas são uma forma alternativa de pagamento criada usando algoritmos de


criptografia. O uso de tecnologias de criptografia significa que as criptomoedas funcionam
tanto como moeda quanto como sistema de contabilidade virtual. Para usar cripto moedas, é
necessário dispor de uma carteira de criptomoedas, podendo essas mesmas carteiras ser um
software que é um serviço baseado numa nuvem ou armazenado nos nossos computadores ou
dispositivos moveis.
As carteiras são a ferramenta através da qual se armazenam as nossas chaves de criptografia que
confirmam a nossa identidade e vinculam nossas criptomoedas.

Elas têm como objectivo estabelecer melhorias na segurança e eficiência das “trocas” de
activos, podendo ser utilizadas para fazer transacções financeiras ou como forma de
investimento e especulação no mercado financeiro.

Quais são as vantagens das criptomoedas?

 Descentralização – não são controladas por um governo centralizado ou por uma


autoridade financeira, sendo mantidas po r uma rede descentralizada de utilizadores, o
que significa que as transacções são mais seguras e menos susceptíveis a fraudes e
manipulações;
6
Espécie de sistema compartilhado e imutável que facilita o processo de registro de transacções e rastreamento de activos em uma rede.

15 | P á g i n a
 Anonimato – permite que as transacções sejam feitas anonimamente, sem a necessidade
de revelara identidade do remetente ou do destinatário, sendo isto especialmente útil a
quem pretende manter a sua privacidade financeira.
 Facilidade de uso – podem ser facilmente transferidas de uma pessoa para outra, sem
necessidade de intermediários, como bancos, tornando por isso as transações mais
rápidas, mais baratas e mais convenientes;
 Segurança – sendo criptografadas e verificadas pela rede descentralizada, torna-as muito
seguras. A demais estas são armazenadas em carteiras digitais protegidas por criptografia
de ultima geração, o que torna muito difícil roubarem tais criptomoedas;

Além disso, diversos activos digitais passaram por grandes valorizações desde a sua criação.
Desse modo, o investimento em criptomoedas se tornou atractivo, atraindo diversas pessoas
interessadas em ampliar o património aproveitando as movimentações desse mercado.

Quais são as desvantagens destes activos?

 Volatilidade – conhecidas por serem bastante voláteis, o que significa que os seus preços
podem flutuar rapidamente em curtos períodos de tempo, podendo torna-las um
investimento arriscado e instável;
 Falta de regulamentação – sendo uma tecnologia relativamente nova, muitos países
ainda não dispõem de regulamentação clara acerca do seu uso e negociação, podendo de
alguma forma tornar este mercado vulnerável tendendo a gerar insegurança e
preocupação;
 Uso ilegal – embora muitos usos legítimos possam-lhes estar associados, certo é que elas
também podem estar associadas a actividades ilegais como branqueamento de capitais,
bem como financiando actividades criminosas;

A carência de regulamentação deste segmento de mercado induz a um completo movimento


errático do mesmo. O uso indevido deste meio financeiro, visando o financiamento de
actividades ilícitas, servindo como elemento de lavagem de dinheiro, não pode ser
desconsiderado.

16 | P á g i n a
Entenda-se que o Bitcoin foi criado para obedecer apenas às leis de mercado, (oferta e
procura).

Assim, quem busca maior protecção para os recursos não costuma adequar-se a esta alternativa.
Mais, o mercado é bastante recente (cerca de 15 anos) e altamente volátil.
Em 2022, por exemplo, as criptomoedas passaram por quedas expressivas. Isso fez com que
muitos investidores optassem por vender esses activos, realizando prejuízos.
Logo, é importante considerar os riscos envolvidos e, principalmente, ter controlo
emocional para lidar com a volatilidade desse mercado.
Não existem garantias de bons resultados e os activos podem passar por altas e quedas
expressivas em cursos períodos.

2 – Variação do preço do Bitcoin ao longo dos anos, concretamente entre 28 de agosto de 2013 e 13 de Maio de
2023 (1 Bitcoin = 24547.67€)

Fonte: Coinmarket.com7

No gráfico apresentado é possível constatar a grande oscilação que tem ocorrido ao longo dos
tempos no preço da Bitcoin. Actualmente o valor de 1 BTC situa-se nos 24547.67€ (13.05.2023).

O valor mais baixo foi de 51.30€ sendo o mais elevado de 59717.00€ registado em Abril de
2021.

7
https://coinmarketcap.com/pt-br/currencies/bitcoin/

17 | P á g i n a
Atente-se que apesar de me estar a referir especificamente a uma criptomoeda, certo é, que a
grande maioria das criptos têm apresentado um comportamento semelhante no que respeita a
estas oscilações.

A Bitcoin é considerada, unanimemente, sinónimo de criptomoedas, o que significa que se pode


comprar e vender em praticamente todos os operadores de criptomoedas — tanto com dinheiro
fiat8 quanto com outras criptomoedas.

7. Criptomoedas e a inflação:

A inflação tem sido uma ameaça constante ao valor guardado em fiat, motivo pelo qual as
pessoas estão cada vez mais preocupadas em proteger-se, procurando investir em activos que
mantenham o seu valor ao longo do tempo e que não seja depreciado.
Historicamente o ouro vem sendo utilizado com protecção contra a inflação, contudo, no últimos
anos as criptomoedas têm tornado uma alternativa mais popular.

Segundo algumas publicações, o Bitcoin é fundamentalmente um activo deflacionário9, motivo


pelo qual cada vez mais se está a utilizar o mesmo, com vista a constituir reserva de valor para
protecção contra a inflação e o aumento dos custos de bens e serviços do quotidiano.

Ao contrário da fiat, as criptomoedas não podem ser manipuladas da mesma maneira, não se
mostrando por isso possível realizar alterações de taxas de juros e aumento da impressão
de dinheiro na mesma.
O facto do fornecimento do Bitcoin nunca vir a exceder os 21 milhões, torna-o uma excelente
reserva e resistente à inflação.

Pese embora o Bitcoin esteja bastante popularizado ainda se revela um tópico polarizador, uma
vez que o mercado das criptomoedas até então se revela bastante volátil.

8
Moeda fiduciária – emitida pelos governos e Bancos Centrais.
9
A deflação consiste na redução contínua e generalizada dos preços dos produtos e serviços na economia.

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Capitulo III – Conclusão
8. Conclusão:

Conforme decorre dos dados apresentados, a inflação consiste numa subida generalizada e
sustentada dos preços dos bens e serviços consumidos pelas famílias, ao mesmo tempo que a
moeda vai desvalorizando ao longo do tempo, passando a ser necessário mais dinheiro do que
seria necessário antes para comprar exactamente os mesmo produtos e serviços.

Uma alta taxa de inflação para as moedas fiduciárias pode conduzir as pessoas a aplicar mais
em dinheiro digital uma vez que os euros/dólares que colocam nas suas contas à ordem/poupança
estão a perder valor ao longo do tempo.

O que poderá fundamentar esta decisão prende-se com o facto de as criptomoedas terem em si
alguns “mecanismos” que as podem fazer resistir à inflação convencional, como a conhecemos,
senão veja-se:

A criptomoeda não pode ser manipulada pelos governos através da variação das taxas de
recompensa ou da emissão de mais moeda, com vista a alcançar fins políticos.

É uma forma bastante conveniente de armazenar e transmitir valor do que o ouro, podendo de
forma simples ser enviada pela internet para qualquer parte do mundo.

A escassez é também um factor fulcral para tornar o armazenamento de um valor resistente à


inflação, sendo que não existirá mais do que 21 milhões de Bitcoin, por se tratar do limite
possível própria da rede.
Isto poderá querer dizer que o poder de compra da moeda aumenta com o passar do tempo.
A partir do momento em que o último bitcoin for lançado em rede, a lei de oferta e procura
deve passar a imperar, reforçando a característica deflacionária desse tipo de activo.

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Como ilustração, podemos referir o caso ocorrido na américa do sul, que aumentou em 510% as
suas transacções com o Bitcoin entre os anos de 2014 e 2015, enquanto ocorria a crise
económica na Argentina que causou uma crescente inflação na sua moeda nacional.

Para um mundo globalizado e digitalizado, a mais racional escapatória para uma inflação é uma
moeda digital, que não pode ser alterada por uma instituição privada. Admitindo que os
algoritmos das criptomoedas permaneçam inalteradas, possui a capacidade se tornar o ouro do
futuro (LEMIEUX, 2013).

As criptomoedas ainda não foram colocadas à prova se possuem a real capacidade de evitar
a ocorrência de inflação.
Entretanto, as suas características apresentam-se como bastante promissoras.

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Bibliografia:

AMARAL, João (1996), Política Económica: Metodologia, Concepções e Instrumentos de


Actuação, Edições Cosmo, Viseu;

BOOTLE, Roger (1999), O Fim da Inflação, Edições Dom Quixote, Lisboa

LEMIEUX, Pierre. Who Is Satoshi Nakamoto?. Regulation, 2013 -


https://www.proquest.com/openview/d4a8239364a34037f1c9e832fa61b853/1.pdf?pq-
origsite=gscholar&cbl=38212

MANKIW, Nicholas (1997), Macroeconomics, Worth Publishers, Universidade de Harvard

OLIVEIRA Francisco Cardoso; GIBRAN Sandro Mansur; MORAES Felipe Américo -


BITCOIN: O POTENCIAL DISRUPTIVOS DAS CRIPTOMOEDAS NA ECONOMIA
http://revista.unicuritiba.edu.br/index.php/admrevista/article/view/4139/371372485

PINTO, António (1999), Política Económica em Portugal e na Zona Euro, Edições Principia,
Cascais;

EUROSTAT - https://ec.europa.eu/eurostat/statistics-
explained/index.php?title=Beginners:Inflation/pt#Como_.C3.A9_medida_a_infla.C3.A7.C3.A3o
.3F

BANCO DE PORTUGAL - https://bpstat.bportugal.pt/conteudos/paginas/1492

https://www.dadosmundiais.com/europa/portugal/inflacao.php

https://www.ecb.europa.eu/stats/macroeconomic_and_sectoral/hicp/html/index.pt.html

https://ec.europa.eu/eurostat/databrowser/view/PRC_HICP_MANR__custom_5889157/settings_
1/table?lang=en

OSWEGO State University of New York – The Basics about cryptocurrency -


https://www.oswego.edu/cts/basics-about-cryptocurrency

https://coinmarketcap.com/pt-br/currencies/bitcoin/

https://www.admfacil.com/moeda-fiat-ou-fiduciaria/

https://www.binance.com/

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