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O que é e como acontece a inflação?

Não é de hoje o conhecimento que o povo brasileiro tem sobre a inflação.


Um tanto quanto conhecida e participante do dia a dia de muitos povos
em todo mundo, a inflação é bastante utilizada na explicação do aumento
de preço de salários e preços dos produtos e também da diminuição do
poder de compra do dinheiro.

Mas porque existe a inflação? O que é de fato, a inflação? Inflação alta é


sinal de que a economia vai mal? Como a inflação pode ser controlada?

Essas são perguntas que a maioria das pessoas desconhece as respostas e


acabam aceitando qualquer argumento como resposta, por não terem
nenhuma noção do funcionamento da economia.

Trocando em miúdos, a inflação é o sinal de um aumento dos preços dos


produtos tangíveis e intangíveis, ou melhor, de bens e serviços
importantes nas vidas das pessoas de forma generalizada.

Em economia, os bens e serviços considerados como básicos para a


população (como alimentação, habitação, educação, vestuário, segurança,
transporte, dentre outros), são classificados por categorias e o conjunto
dessas categorias leva o nome de cesta de produtos. Assim sendo, se a
inflação for medida como, por exemplo, em 3% no período de um ano,
isso significa que os bens e serviços que compõem a cesta de produtos
tiveram um aumento médio em seus preços, de 3% no período, no caso
desse exemplo, um ano.

Como a cesta é composta por vários “produtos” e esses produtos


pertencem às diversas categorias, os preços podem variar de uma
maneira uniforme ou não uniforme. Um exemplo uniforme disso foi a
greve dos caminhoneiros em 21 de maio de 2018. Como a sociedade
depende do transporte terrestre dos caminhões, desde os combustíveis até
os alimentos, ou seja, praticamente tudo, a inflação sofreu uma alta por
conta do aumento da grande maioria dos produtos. Outro exemplo, agora
não uniforme, foi a alta do tomate em janeiro de 2018. Enquanto alguns
itens da mesma categoria tiveram uma queda de mais ou menos 3%, o
preço do tomate subiu perto de 50% e elevou a inflação de uma média de
0,54% para o patamar de 0,74%.

No Brasil a inflação é medida pelo IPCA, Índice de Preços para o


Consumidor Amplo. Esse indicador é calculado mensalmente
pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nas diversas
regiões metropolitanas das maiores capitais do país e embora não seja
calculado em todo o país, vale para todo o território nacional.
O que proporciona a inflação?
Diversas são as possíveis causas da inflação. Podemos ter um fato
específico em apenas um único mês, como foi a alta do tomate em um
curto espaço de tempo citada anteriormente, como podemos ter uma crise
mundial do petróleo que faça o preço dos combustíveis aumentarem
continuamente por um período mais longo, o que interferiria nos preços
de praticamente todos os produtos e serviços no mesmo período.

Dessa forma, podemos perceber que tais acontecimentos são cíclicos e


dentro da economia uma coisa pode acabar afetando a outra, tanto no
curto quanto no longo prazo como podemos ilustrar com os seguintes
exemplos:

No curto prazo:
 Aumento na demanda

Quando a demanda por um determinado produto aumenta


repentinamente, isso pode comprometer o fornecimento, pois a oferta e a
demanda se desequilibram (mesmo que seja momentaneamente) o que
promove um aumento do preço “desnecessário” promovendo assim a
inflação. Outro fator que pode provocar um aumento da inflação é uma
“disponibilidade de crédito” maior do que o necessário no mercado, ou
seja, se as pessoas tiverem um poder de compra maior do que o equilíbrio
com a oferta, aumentando assim a demanda de uma maneira geral,
haverá um gasto maior do que o ideal e isso provocará um aumento da
inflação.

 Aumento nos custos de produção

O aumento repentino nos custos de produção de um determinado produto


ou serviço é outro fator que provoca a elevação da inflação, pois, com um
custo maior de produção por “n” motivos, certamente o preço final
também será maior do que deveria ser, e isso promoverá um aumento da
inflação. Um exemplo de tal fato é o caso do tomate citado anteriormente,
pois com o excesso de chuva ocorrido na época, a produção de tomates
diminuiu, o custo (que permaneceu o mesmo) de toda a produção teve
que ser diluído sobre uma quantidade pequena, o que provocou um
aumento do custo por quilo, elevando assim o preço final do produto e,
por conseguinte a inflação.

No longo prazo:
 Emissão de dinheiro

O governo, exatamente, o próprio governo pode ser o causador da


inflação no longo prazo, ou seja, quando os gastos ultrapassam a
arrecadação e o governo é obrigado a emitir moeda sem ter tido
crescimento (lastro) para isso para poder pagar as suas despesas. (Obs.: no
caso do Brasil, quem tem o controle atual deste fato é o Banco Central,
pois ganhou autonomia para primar pela economia do país e não pelo
governo.)

Na verdade, o governo só deveria poder emitir moeda conforme o


crescimento do Produto Interno Bruto - P.I.B. (que é o somatório de tudo
aquilo que foi produzido internamente no país em um determinado
período de tempo, no caso, um ano), ou melhor, se a economia do país tem
“X” quantidade de dinheiro em circulação e teve, por exemplo, 1,5% de
crescimento do P.I.B., o governo somente deveria se necessário, emitir até
1,5% do valor “X” em moeda corrente. Portanto, se o governo não teve
crescimento e acaba tendo que imprimir moeda para cobrir seus custos,
resolve um problema e causa outro, pois injeta uma quantia de dinheiro
no mercado, maior do que a quantidade de produtos e serviços ofertados
no período, provocando um aumento nos preços para absolver esse
excesso colocado em circulação indevidamente (economicamente
falando).

Diminuição da taxa de juros


A taxa SELIC, que é a chamada taxa básica de juros da economia nacional,
é a principal “ferramenta” de política monetária utilizada pelo governo,
por intermédio do Bacen (Banco Central do Brasil) para manter o controle
da inflação. Quando o Bacen diminui a taxa básica de juros, as taxas de
juros que remuneram a poupança e os títulos públicos também ficam
menores. Assim sendo, o “preço” dos empréstimos de um modo geral fica
mais barato, o que promove um aumento na demanda dos produtos e
serviços no mercado e isso no longo prazo pode proporcionar uma
elevação da taxa de inflação.
Entenda como a inflação pode afetar o seu bolso
Pelo apresentado até então, além da SELIC, como dito anteriormente,
principal mecanismo de controle da inflação (que interfere nas taxas de
retorno de investimentos), dá para perceber que o seu dinheiro perde
valor com a presença da inflação, pois ele nunca segue as elevações dos
preços. Além do mais, com a presença da inflação, os preços estão sempre
instáveis, o que promove uma dificuldade para pessoas identificarem se
estão caros ou baratos acarretando ainda mais inflação. O Brasil já viveu
um cenário de hiperinflação na década de 80 e o dinheiro perdia o valor
diariamente. Chegava-se ao absurdo de termos produtos com um preço no
início do dia e outro no fechamento do mesmo dia, o que colaborou para
uma desvalorização astronômica da moeda brasileira.

Como a inflação pode ser controlada?


Inflação é um termo utilizado na área econômica e significa “aumento
generalizado nos preços dos produtos e/ou serviços, de uma maneira
contínua”. Desconstruindo a palavra inflação – inflação vem de inflar e
inflar significa encher, aumentar de tamanho, inchar ou ainda fazer
avolumar. Por isso o termo inflação é utilizado para representar um
inchaço, um aumento de volume dos preços em um sistema econômico.

Embora o governo possua algumas “ferramentas um tanto quanto


eficientes” para o controle da inflação, ele não tem um controle 100%
sobre ela, ou seja, o governo consegue atuar sobre a inflação de maneira
paliativa e não de maneira efetiva. Um exemplo de tal fato é a chamada
taxa básica de juros praticada pelas Instituições Financeiras, também
conhecida por taxa SELIC.

Outro exemplo é o aumento dos impostos que quando praticado, eleva os


preços dos produtos e serviços o que retira (consome) certa quantidade de
dinheiro em circulação na economia, fazendo assim o “preço” da moeda
aumentar, afetando assim a demanda desse mercado e assim
proporcionando um “freio” na inflação.

Como a taxa SELIC pode controlar a Inflação?


Para entendermos essa “ferramenta” de controle da inflação, é preciso
compreender primeiramente o que é a taxa SELIC. Então vamos lá: Todos
os dias as pessoas sacam e depositam dinheiro nos bancos e dependendo
das quantidades depositadas e sacadas durante o dia, no término do
expediente os bancos podem ficar com quantidades de dinheiro sobrando
ou faltando no caixa, ou seja, o saldo pode ficar “positivo” ou “negativo”.
Como existe um mínimo obrigatório que deve permanecer no caixa de
cada instituição financeira, se o saldo fica inferior, os bancos são
obrigados a recorrerem a outros bancos “pegando” um empréstimo de
apenas um dia, pagando assim uma determinada diferença na hora da
devolução do dinheiro, os juros. A taxa média de juros usada para cobrar
esses empréstimos entre os bancos durante um período medido, no caso,
um mês, é chamada de taxa SELIC, isso porque os bancos oferecem como
garantia do negócio, títulos do governo que pagam essa mesma taxa. O
nome vem do Sistema Especial de Liquidação e Custódia, que é o lugar
onde ficam registrados esses papéis.

Como a taxa SELIC é definida?


Pode-se dizer que o Comitê de Política Monetária do Banco Central -
COPOM é quem define a taxa SELIC, mas o que ele determina na verdade
é uma meta para a SELIC, ou seja, o Banco Central não estabelece por
mando a taxa a ser adotada, o que ele faz na verdade é influenciar o
mercado por intermédio da compra ou venda de títulos.

Exemplo: Vamos dizer que um título público esteja custando hoje no


mercado, $800,00, e que o governo promete pagar $1.000,00 nesse mesmo
título daqui a um ano o que quer dizer então, que os juros desse título são
de $200,00 ou 20% em um ano. Se o Banco Central quer fazer com que
essa taxa suba, ele aumenta a quantidade de títulos ofertados no mercado
e, assim sendo, pela lei da oferta e da procura, vamos dizer que o preço do
título caia para $700,00. Dessa forma, com a baixa do valor, a demanda
pelo título aumenta, pois afinal de contas está bem mais barato, o que
atrai a atenção do mercado. Como a diferença entre o dinheiro investido e
o que vai ser recebido no futuro aumenta, o Banco Central induz assim
uma taxa SELIC mais alta. Se o Banco Central quer baixar a taxa, ele vai
ao mercado e compra títulos públicos, com isso aumenta a demanda e o
preço sobe, passa digamos para $900,00 e os novos juros portanto vão
ficar mais baixos.
Por que é que a taxa Selic afeta a vida das pessoas?
De acordo com o funcionamento do mercado financeiro, a taxa de juros
aplicada em um empréstimo varia conforme o risco do negócio. Quanto
mais longo o tempo do empréstimo e quanto menor for a probabilidade
do credor ter o seu dinheiro de volta, maior é a taxa de juros cobrada. Os
empréstimos entre os bancos para a cobertura de caixa de apenas um dia
são operações de baixíssimo risco, por isso a SELIC é chamada de taxa
básica da economia. Os Bancos usam essa taxa para calcularem os
empréstimos de riscos mais elevados e, por conseguinte, se sobe a SELIC,
as outras taxas também sobem e se cai a SELIC, as outras também caem. A
taxa juros aplicada no seu empréstimo do banco é necessariamente maior
que a SELIC, pois você não pode dar títulos do tesouro nacional como
garantia e os seus empréstimos não são somente de um dia.

De que forma a taxa SELIC interfere na inflação?


No Brasil, a taxa SELIC é o principal mecanismo de controle da inflação,
de uma forma funciona assim: o dono de uma loja tem 10 bicicletas e à
vista elas custam $1.000,00 cada. Num cenário que a economia vai bem,
existem 15 pessoas na vizinhança dispostas a pegarem um empréstimo
para comprarem a bicicleta, o dono da loja então tem um incentivo para
aumentar o preço, ele vai cobrar o máximo que puder até ter 10
compradores para as 10 bicicletas. Esse aumento, quando acontece em
vários setores da economia, é chamado de inflação. Quando o banco
central sobe os juros aumentando a taxa SELIC, os financiamentos ficam
mais caros e isso desestimular o consumo das famílias e os investimentos
das empresas; com os juros mais altos, a bicicleta vai sair a 12 parcelas de
$100,00 aí em vez de 15 pessoas querendo comprar, só vai ter 8. Se falta
comprador, o dono da loja não vai ter motivo algum para aumentar o
preço, pode até ter que diminuir. É assim que o Banco Central usa a taxa
SELIC para controlar a inflação.

Ter inflação significa que as coisas vão mal?


Não necessariamente. Uma inflação sob controle pode ser interpretada
como uma coisa boa, ou seja, ela é sinônimo de que a economia está
saudável e em crescimento em qualquer lugar do mundo. Via de regra os
países estabelecem uma meta periódica para a inflação, no caso um ano, e
o Brasil da mesma forma também faz igual, pois além de ficar mais fácil
se programar para atingir uma meta bem como para dar confiança aos
investidores externos e internos no médio e longo prazo.

Quando a inflação não é ou está controlada e atinge patamares muito


elevados, dá-se o nome de hiperinflação. Essa situação gera muitas
incertezas por conta da falta de metas e controles e afasta investidores, o
que é muito ruim para a economia de qualquer país.

O que é uma hiperinflação?


Como citado anteriormente, o Brasil já teve momentos de convivência
com a hiperinflação nas décadas de 80 e 90 onde os índices de inflação
registrados em um único mês atingiam facilmente as casas de dois dígitos.
De acordo com os dados da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas –
FIPE tivemos uma média anual de 233,5%. Foram por volta de 15 anos de
convivência com a hiperinflação por conta de motivos internos e externos
como os citados a seguir:

 Gastos públicos muito elevados – o governo começou a gastar muito


mais do que arrecadava e a casa da moeda foi um dos
departamentos governamentais que mais trabalhou no período;

 Os preços do petróleo no mercado mundial interferiram seriamente


na economia do Brasil nesse período, pois o nosso país não era
autossuficiente na produção de petróleo o que promoveu um maior
endividamento externo da economia;

 Baixa taxa de expansão da economia.

Tudo isso fez com que a hiperinflação, também chamada de processo


inflacionário irracional acontecesse, o que promovia um cenário de total
descontrole dos preços dos produtos e serviços terminando somente com
a implantação do Plano Real.

O que é a deflação?
Contrariamente ao mecanismo da inflação é o da deflação, ou seja,
opostamente a uma elevação continua dos preços, há uma diminuição
contínua dos mesmos.
Assim como a inflação pode retratar uma expansão (aquecimento) da
economia, a deflação comumente retrata um encolhimento da economia,
ou seja, uma recessão, o que não é visto como uma coisa boa. Nesse
cenário ocorre uma elevação da oferta de produtos e serviços no mercado
e uma falta de demanda dos mesmos. Dessa forma, os consumidores
tendem a diminuírem o consumo de uma forma generalizada e conforme
a lei da oferta e da procura forçam os produtores a diminuírem os preços
para conseguirem vender.

Quando a deflação é uma coisa pontual, não necessita ser encarada de


uma maneira alarmante, ou seja, um produto ou serviço pode ter a sua
oferta aumentada em um determinado período de tempo e a demanda
pode não acompanhar tal crescimento, fazendo com que em um momento
posterior, para que ocorra um equilíbrio natural da economia, o mercado
daquele produto ou serviço, aconteça a deflação.

Por que a deflação não é vista com bons olhos para a


economia?
Porque significa que a economia está andando para trás, ou seja, está
encolhendo. É tão ruim quanto uma inflação sem controle.

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