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ECONOMIA

BRASILEIRA
CONTEMPORÂNEA
SEXTA EDIÇÃO

AMAURY PATRICK GREMAUD


MARCO ANTONIO SANDOVAL DÊ VASCONCGLLOS
RUDINÊI TONÊTO JÚNIOR

B5H35I3S

n tln x
5

Um último aspecto a ser analisado nesta parte descritiva sobre a eco­


nomia é a inflação. A inflação, junto com o desemprego, compõe os proble­
mas ditos fundamentais da macroeconomia. O Brasil, nas últimas duas dé­
cadas, enfrentou problemas bastante graves ligados à inflação e foi apenas
nos últimos anos que se conseguiu debelar o processo inflacionário. Neste
capítulo, procura-se definir o conceito de inflação e os tipos de inflação,
além de mostrar como ela é calculada por meio dos índices de preço. A
análise do processo inflacionário será'feita mais detidamente na Parte III.

5.1 INFLAÇÃO E ALGUNS CONCEITOS RELACIONADOS

A in fla ç ã o é definida como um aumento generalizado e contínuo dos


preços. Quando, ao contrário, ocorre uma baixa generalizada e contínua
dos preços, tem-se o conceito inverso ao de inflação: a d e fla ç ã o .
É importante notar que o aumento do preço de algum bem ou servi­
ço em particular não constitui inflação, que ocorre apenas quando há um
aumento generalizado dos preços. Se a maioria dos bens e serviços se tor­
nam mais caros, tem-se inflação. Essa inflação será tanto maior quanto
maiores os aumentos nos preços nas mercadorias. Normalmente, esses
aumentos de preços não ocorrem de forma sincronizada, ou seja, não há
um aumento igual do preço de todas as mercadorias e serviços; desse modo,
INFLAÇAO 117

há um problema para calcular o tamanho da inflação. A forma como isso


é resolvido é fazer uma média ponderada da elevação dos preços, o que
será visto mais adiante.

I n fla ç ã o - A u m e n t o g e n e r a l i z a d o e c o n t í n u o n o n í v e l
g e ra l d e p re ç o s.

A contrapartida desse aumento dos preços é a perda de poder aquisiti­


vo da moeda, ou seja, uma mesma unidade monetária pode adquirir menos
bens e serviços, pois estes estão mais caros.
É im portante diferenciar inflação da a c e le r a ç ã o in f la c io n á r ia .
Quando ocorre um aumento dos preços temos a inflação. Quando se diz
que a inflação foi de 10% em determinado mês (ou ano) está-se dizendo
que naquele período os preços em ínédia aumentaram 10%. Se essa taxa se
mantém constante nos meses (ou anos) seguintes, isso significa que os pre­
ços continuam a subir em média 10% por mês (ou ano). A inflação está
estabilizada em 10%, mas não os preços. Se a inflação passa para 15% no
mês seguinte, 20% no subseqüente, existe uma aceleração inflacionária,
em que os preços estão em média subindo e subindo cada vez mais - a
inflação é cada vez mais alta.
Dependendo do tamanho da inflação, pode-se dizer que é m o d e r a d a
(ou r a s te ja n te ) ou que ocorre uma h ip e r in fla ç ã o . Quando os aumen­
tos de preços são pequenos, a inflação é dita rastejante ou moderada: se são
muito grandes, utiliza-se o conceito de hiperinflação.
Não há um ponto certo para se dizer quando deixamos uma situação
com inflação moderada e passamos para uma de hiperinflação. Algumas
pessoas consideram, por exemplo, que uma inflação de 50% ao mês pode
ser considerada hiperinflacionária, outras colocam esse patamar mais abaixo
ou mais acima. De forma geral, pode-se dizer que a hiperinflação é uma
situação em que a inflação é tão alta que a perda do poder aquisitivo da
moeda faz com que as pessoas abandonem aquela moeda. Passam a utili­
zar outra moeda como unidade de conta, isto é, como forma de definir os
preços das mercadorias; e também como meio de pagamento, isto é, como
instrumento para realizar os pagamentos. Por exemplo, em momentos de
hiperinflação, as pessoas abandonam a moeda local e passam a usar a moeda
de um outro país, como o dólar, para fazer suas transações dentro de seu
país.
118 PANORAMA DESCRITIVO DA ECONOMIA BRASILEIRA E CONCEITOS BÁSICOS

Gráfico 5.1 Conceitos relativos à inflação.

5 .2 TIPOS DE INFLAÇÃO

Se se tomar as causas da inflação, encontrar-se-ão dois tipos básicos:


inflação de demanda e inflação de custos.
A in fla ç ã o d e d e m a n d a deve-se à existência de excesso de deman­
da em relação à produção disponível. Nesse sentido, essa inflação aparece
quando ocorre aumento da demanda não acompanhado pela oferta; por­
tanto, é mais provável que ela apareça quanto maior for o grau de utiliza­
ção da capacidade produtiva da economia, isto é, quanto mais próximo
estiver-se do pleno emprego.
Esse excesso de demanda pode ser ocasionado por expansão monetá­
ria decorrente de déficit público não financiado por poupança privada (co­
locação de títulos do governo junto ao público). Nesse caso, os indivíduos
vêem seus saldos monetários aumentar e, com isso, vão ampliar a deman­
da; como a oferta é relativamente rígida a curto prazo, os preços tendem a
subir. É importante destacar que o aumento do estoque de moeda gera au­
mento no nível geral de preços, que só se tomará um processo inflacionário
caso o processo de emissão monetária continue, isto é, persista o déficit
público. Sendo assim, o combate à inflação de demanda implica eliminar o
déficit público, de modo a estancar a emissão monetária.
INFLAÇAO 119

Tanto a cham ada c o r r e n t e m o n e t a r i s t a , como a c o r r e n t e


f is c a lis t a , partem de um diagnóstico de inflação de demanda, diferindo
na forma de combatê-la: os monetaristas enfatizam a política monetária e
os fiscalistas priorizam políticas fiscais e de rendas (exemplo: congelamen­
to de preços e salários).
A in fla ç ã o d e c u s t o s pode ser considerada uma inflação de oferta,
que decorre do aumento de custos das empresas repassados para preços.
Várias podem ser as pressões de custos:
i aumento no preço das matérias-primas e de insumos básicos de­
correntes de quebra de safra agrícola, por exemplo, ou desvalori­
zação cambial que aumenta o preço da matéria-prima importada;
ii aumentos salariais, via negociações ou política governamental, sem
estarem ancorados em aumentos de produtividade do trabalhador;
iii elevações nas taxas de juros etc.

Tipos de inflação:
in fla çã o de d e m a n d a - ocorre quando a dem anda agregada é m aior
que a oferta agregada.
in fla çã o de cu sto s - ou in flação d e oferta, é d ecorren te da elevação
d o s cu sto s n a econ om ia, p or exem p lo, aum ento n o s salários.

A chamada c o n c e p ç ã o e s tr u t u r a lis t a de inflação pode ser consi­


derada um exemplo de inflação de custos. De acordo com essa corrente,
nascida na América Latina, a inflação é vista como decorrência de proble­
mas associados ao processo de industrialização dos países latino-america­
nos. Segundo essa linha, a agricultura não havia acompanhado o desenvol­
vimento industrial. Sendo assim, o processo de urbanização e crescimento
industrial pressionava a demanda por produtos agrícolas, sem que a oferta
respondesse de forma adequada. Com isso, geram-se alguns pontos de es­
trangulamento, que elevam os preços dos produtos primários (c h o q u e s
d e o fe r ta ), repassados aos preços dos produtos finais. As taxas de inflação
tenderíam a perpetuar-se, devido aos diversos m e c a n is m o s d e p r o p a ­
g a ç ã o : a política protecionista do governo para estimular a indústria que
permitia o repasse da elevação dos custos aos salários e aos produtos indus­
triais, e a estrutura oligopólica do mercado, pela qual as empresas repassa­
vam quaisquer aumentos de custos aos preços de seus produtos.
120 PANORAMA DESCRITIVO DA ECONOMIA BRASILEIRA F. CONCEITOS BÁSICOS

P ontos de estra n g u la m en to - situ ação na qual a oferta de deter­


m inado bem ou serviço n ão p o d e ser am pliada a curto prazo, sen d o
in su ficien te para aten d er à dem anda existen te, lim itand o a produ­
ção d e ou tros se to r es e provocando elevação n o preço d esta s m er­
cad orias e, portanto, elevan d o o s cu sto s dos d em ais seto res q ue a
u tilizam (choque de oferta).
M eca n ism o s de p ro p a g a ç ã o - in stru m en tos que p erm item que
os ch oq u es d e oferta d ecorren tes dos p o n to s d e estran gu lam en to
se transform em em p ro cesso inflacionário, isto é, perm item que os
ch oq u es de oferta sejam rep a ssa d o s para o s p reços, fazen d o com
que a inflação se p erp etu e.

Quando a inflação tende a se manter permanentemente no mesmo


patamar, sem aceleração inflacionária, e quando essa inflação estagnada
decorre de mecanismo de indexação, diz-se que há uma in fla ç ã o in e r c ia l.
Os m e c a n is m o s d e in d e x a ç ã o podem ser mecanismos formais ou in­
formais. Esses mecanismos atrelam os preços do presente à inflação passa­
da. Formalmente, os contratos, como aluguéis, carnês escolares etc., podem
(ou podiam, no Brasil) ter cláusulas de indexação, de modo que os preços
de hoje são reajustados de acordo como o que ocorre com os preços do
passado (com a inflação passada). Assim, paga-se hoje um valor x (acerta­
do no início do contrato) reajustado pela inflação que ocorreu durante o
período. Esses são m e c a n is m o s fo r m a is d e in d e x a ç ã o que se espa­
lharam na economia'brasileira entre os anos 70 e 90. Também existem
m e c a n is m o s in fo r m a is d e in d e x a ç ã o , ou seja, as pessoas aumentam
os preços porque os outros também o fizeram.
Se esses mecanismos de indexação estiverem amplamente disseminados
pela economia, dificilmente existe queda na inflação, pois a inflação passada
se perpetua por meio de aumentos de preços no presente. A inflação, nesse
caso, tende a ser constante (ou in e r c ia l) se não existirem novos choques (de
oferta ou de demanda) que façam os preços aumentar mais do que ocorrería
se apenas os mecanismos de indexação estivessem operando. Nesse caso, a
inflação acelera-se em função de choques de demanda ou de custos.

5.3 CONSEQÜÊNCIAS DA INFLAÇÃO

Várias são as conseqüências advindas de taxas de inflação elevada.


O primeiro efeito é provocar distorções na alocação de recursos da
economia, uma vez que os preços relativos deixam de ser sinalizadores da
INFLAÇAO 121

escassez e dos custos relativos de produção. Sem inflação, sabe-se que um


produto custa x reais e outro y reais; o preço relativo desses produtos é x/y.
Esses preços relativos são a base das tomadas de decisão dos agentes. Quando
alguém passa a comprar algo vendo o preço, toma a base dos preços de
outros produtos para saber se aquele está caro ou não e decide, assim,
comprá-lo ou não, o que por sua vez também afeta as decisões de produção
(em função das vendas ou não do produto). Com inflação, especialmente
quando ela é elevada e está em aceleração, perde-se a noção de preços rela­
tivos, não se sabe se as coisas estão caras ou baratas. O papel dos preços
relativos, de indicar produção excessiva ou cara de determinados produtos,
deixa de existir, comprometendo a chamada eficiência dos mecanismos de
alocacão de recursos do mercado.
Nesse sentido, um efeito negativo geralmente ocorre sobre o incentivo
a investir, uma vez que os agentes terão dificuldades para prever o retorno
dos imvestimentos, dada a instabilidade dos preços no futuro.
O processo inflacionário também pode gerar efeitos negativos sobre o
Balanço de Pagamentos por obscurecer o valor da moeda nacional e da
taxa de câmbio. Pode, inclusive, levar a uma busca da moeda estrangeira
como reserva de valor e provocar fuga de capitais.
Outro efeito é sobre a distribuição de renda, uma vez que com a infla­
ção a média dos preços está subindo, mas não necessariamente todos os
preços estão subindo no mesmo ritmo ou ao mesmo tempo. Assim, se al­
guns preços, como os salários de determinadas categorias,1 não sobem no
mesmo ritmo que outros, existe uma tendência de perda para aqueles que
recebem os preços em atraso e um ganho para aqueles que recebem os
preços que estão subindo mais rapidamente. Er.tão, existem alguns grupos
de pessoas que tendem a perder com o processo inflacionário. São aquelas
que não têm como se proteger desse processo, ou seja, têm os preços relati­
vos a seus gastos subindo mais que aqueles relativos a seus recebimentos.
Esse problema de proteção frente a perdas da inflação está associado ao
primeiro efeito levantado, pois parte dos agentes passa a buscar proteger o
poder de compra da moeda que possui, por exemplo, passa a fazer apenas
aplicações com cláusulas de indexação, ou aplicações de curto prazo com
taxas de juros nominais elevadas. Outro aspecto desse problema pode dar-se
sobre as finanças públicas. Segundo o chamado E fe ito O livera-T an zi, a
inflação tende a corroer o valor da arrecadação fiscal do governo, pela defa-
sagem entre o fato gerador e o recolhimento dos impostos.

1. Pode-se considerar o salário como o preço do trabalho.


122 PANORAMA DESCRITIVO DA ECONOMIA BRASILEIRA E CONCEITOS BÁSICOS

Associado a esses pontos, tem-se um aumento dos custos em que pes­


soas e empresas incorrem para saber o preço (e o preço relativo) dos bens e
serviços. Assim, normalmente, quando há inflação, as pessoas gastam mui­
to mais tempo pesquisando preços para encontrar os melhores, a elabora­
ção de contratos é bem mais complicada, as empresas montam estruturas
apenas para lidar com o processo inflacionário, a fim de definir e redefinir
(remarcar) seus próprios preços e comparar os de fornecedores e concor­
rentes. Tecnicamente, diz-se que com a inflação aumentam os c u s t o s d e
t r a n s a ç ã o da economia.
O Brasil tem longa tradição de elevadas taxas de inflação. Com isso,
foram desenvolvidos vários mecanismos para facilitar o convívio com elas,
e vários planos econômicos visando à estabilização foram elaborados, espe­
cialmente na segunda metade da década de 80 e ao longo da década de 90.
Na Parte III do livro, será dedicada uma seção ao estudo da inflação brasi­
leira e dos planos recentes de combate à inflação.

5 .4 MEDIDAS DE INFLAÇÃO NO BRASIL

Não havería dificuldades em se medir a inflação se a questão fosse


conhecer a variação de preços de um único bem. A necessidade de constru­
ção dé. ín d ic e s d e p re ç o s aparece quando se precisa saber a variação
conjunta de bens que são fisicamente diferentes, e/ou que variam a taxas
diferentes.2 Fxistem vários tipos de. índices de preços: índices de Preços por
Atacado (indústria e agricultura) e índices de Preços de Varejo (consumi­
dor e construção civil). Nessas notas, vamos considerar como base de refe­
rência os índices de Preços ao Consumidor (IPC), também chamados índi­
ces de Custo de Vida (ICV).
Suponha-se que existam apenas três bens na economia, cujos preços
em dois meses são dados a seguir:

2. Existem diferentes tipos de índices, por exemplo: índices de preços e índices de quantida­
de. Os índices de preços são mais difundidos, dada sua utilidade para deflacionar (tirar o
efeito da inflação) séries econômicas, e para o acompanhamento da taxa de inflação. Os
ín d ic e s d e q u a n tid a d e (o u d e q u a n t u m ) são úteis para determ inar a variação física
de séries compostas por produtos diferentes (por exemplo, o produto real).
INFLAÇÃO 123

V ariação d e preço P eso relativo do


Produto
n o p erío d o (%) produto
Carne 10 30
Arroz 10 60
Fósforo 100 10
Peso total 100

Qual foi a inflação do período? Para responder, utiliza-se um índice de


preços que agrega as diferentes variações de preços por meio dos pesos rela­
tivos de cada produto. Em geral, esses pesos relativos estão relacionados à
importância relativa de cada um deles. Os pesos relativos são de grande
importância para o índice. Normalmente, um IPC (índice de Preço ao Con­
sumidor) utilizará como base desses pesos uma pesquisa denominada P e s ­
q u is a d e O r ç a m e n to F a m ilia r (POF), que procura determinar a im­
portância relativa dos bens e serviços no padrão de consumo das famílias.
Aqui, outras questões aparecem: que famílias? Famílias pobres ou ridas,
que moram onde? Esses pesos diferentes, respondendo de maneira diferen­
te a essas perguntas, são a principal diferença dos diferentes índices de pre­
ços que calculam a inflação.
Definidos esses pesos, faz-se a média (nesse caso, aritmética) pondera­
da das variações de preços para se obter a inflação:

(0,1 x 0,3) + (0,1 x 0,6) + (1 x 0,1)


Média Aritmética Ponderada = ----------------- —=---------------------------
1(1, pesos)

= 0,03 + 0,06 + 0,1


= 0,19 ou 19%
A fórmula mais utilizada, devido a sua operacionalidade, é o ín d ic e
d e L a sp e y r e s, representado pela média aritmética ponderada, com pesos
na época base, criada pelo francês Etienne Laspeyres, expressa a seguir:3

3. Outra opção seria um índice com os pesos definidos, não em uma época base, mas na época
atual. Por exemplo, o ín d ic e d e P a a sch e, que é uma média harmônica ponderada na
cpoca atual.
124 PA N O RA M A DESCRITIVO DA ECONOMIA BRASILEIRA E CONCEITOS BÁSICOS

X w'

Variação Participação relativa


de preços do bem i no total, na
época-base

sendo:

P: = preço do bem ou serviço i na época “t”.


pò = preço do bem ou serviço i na época “o” (base).

,_ Pò _ gasto do consumidor com o bem “i”


w° ~ £ pi qi ~ gasto do consumidor com todos os “n” bens

Esse exemplo revela que o cálculo da inflação depende de três compo­


nentes:
a) V a ria ç ã o d e p r e ç o s n o p e r ío d o , que envolve a escolha:
• do período no qual os preços devem ser coletados;
• de quais produtos devem constar da amostra:
• da região abrangida.
b) I m p o r tâ n c ia r e la tiv a ( p e s o ) d e c a d a b e m , que depende:
• da época de pesquisa do padrão de consumo;
• das classes de renda a serem consideradas.
c) F ó r m u la d e c á lc u lo , que também envolve a escolha:
• de uma média aritmética, harmônica ou geométrica pondera­
da;
• do peso dos bens: na época base ou na época atual.
Esses componentes explicam por que os índices no Brasil, para um
mesmo mês, diferem entre os vários institutos de pesquisas, como pode ser
observado na Tabela 5.1.
INFLAÇÃO 125

Tabela 5.1 Principais índices de preços no Brasil.

O rça m en to
P e r ío d o d e L ocal d e fa m ilia r e m
ín d ic e / c o le ta d e U tiliz a ç ã o
E n tid a d e p e s q u is a s a lá r io s
preços
m ín im o s
IPCA/iBGE Mês Completo 11 regiões 1 a 40 s.m. Genérico
INPC/íBGE Mês Completo 11 regiões 1 a 8 s.m. Genérico
1 a 33 s.m.
RJ/SP e 10 (inclui preços Contratos
IGP/FGV Mês Completo regiões por atacado e
construção civil)
1 a 33 s.m.
IGP-M/FGV* RJ/SP e 10 (inclui preços Contratos
Dias 21 a 20 regiões por atacado e
construção civil)
1 a 33 s.m.
RJ/SP e 10 (inclui preços Tendência do
IGP-10/FGV Dias 11 a 10 regiões por atacado e IGP
construção civil)
Impostos
Município de Estaduais e
IPC-FIPE** Mês Completo 1 a 20 s.m. Municipais
São Paulo
(SP)
Região Referência
1CV/DIÉESE*** Mês Completo M etropolitana 1 a 30 s.m. para Acordos
de São Paulo Salariais
ín d ic e s: In stitu iç õ e s: N otas:
IP CA IBGE * Divulga prévias de 10
índice de Preços ao Instituto Brasileiro de Geugtafia e em 10 dias.
Consumidor Estatística * * Divulga taxas
Amplo quadrissemanais.
FGV *** Pesqu isa também para
INPC Fundação Gctúlio Vargas famílias com renda de 1
a 3 s.m. e de 1 a 5 s.m.
índice Nacional de Preços
ao Consumidor FIPE
Fundação Instituto de Pesquisas
IGP Econômicas
índice Geral de Preços
DIEESE
Departamento Inrersindical de
Estatística c Estudos
Socioeconômico?

Tomando como exemplo o índice de Preços ao Consumidor (IPC) da


FIPE-USI? a importância relativa dos vários grupos de bens e serviços, obti­
da para a faixa de renda entre 1 e 20 salários mínimos na cidade de São
Paulo, a partir de pesquisa realizada no final da década de 90, pode ser vista
na Tabela 5.2. Vê-se por ela que, por exemplo, os livros didáticos possuem
um peso de 0,15% no consumo dessa população, enquanto os aluguéis re-
126 PANORAMA DESCRITIVO DA ECONOMIA BRASILEIRA E CONCEITOS BÁSICOS

presentam quase 9% dos gastos dessas famílias. Nessa mesma tabela, vê-se
que em São Paulo, no mês de julho/2000, apesar de os preços dos produtos
in natura terem aumentado 4,7%, a inflação medida foi de apenas 1,4%.

/ / Estrutura do 1PC-FIPE e da inflação de julho/2000.


______ ._____ __ _______. . . . .
P o n d er a ç ã o M en sal (%) N o a n o (%)
G rupos e su b g r u p o s
% Jul./OO - Jun./OO Jul./OO - D e z ./9 9
ÍNDICE GERAL 100,00 1,40 2,28
I - HABITAÇÃO 32,79 0,48 1,99
1. m anut. do domic. 15,73 0.50 1,73
2. aluguel 8,97 - 0 ,1 5 - 0,66
3. equip. do domic. 4,40 0,06 2,24
4. serviço? de comunic. 3,69 2,47 9,59
;II - ALIMENTAÇÃO 22,73 2,51 - 0 ,0 9
1. industrializados 9,09 1,02 - 0 ,0 2
2. semi-elaborados 6,93 4,73 - 1 ,5 2
3. produtos in natura 4,00 3,57 0,40
4. alim. fora do domic. 2,71 0,40 2,73
III -TRANSPORTES 16,03 2.83 5,44
1. veículo próprio 8,69 5,01 8,41
2. transportes coletivos 5.86 0,00 0,15
3. outras desp. transporte 1,48 1,57 10,02
IV - DESPESAS PESSOAIS 12,30 1,18 1,61
1: fumo e bebidas 4,32 0,40 2,01
2. recreação e cultura 3,70 2,42 1,26
3. higiene e beleza 2,74 0,91 2,16
4. serviços pessoais 0,80 0,54 0,13
5. despesas diversas 0,74 1,34 0,59
V-SAÚDE 7,08 0,88 2,85
1. contrato de assist. médica 3,10 0,33 2,40
2. sen-, médicos e labor. 1.17 0,30 3,21
3. remédios e prod. farmac. 2,53 1,86 3,12
4. aparelhos corretivos 0,28 0,68 4,03
y i - VESTUÁRIO 5,29 0,12 1,50
1. roupa de m ulher 1,77 - 0 ,4 3 0,20
2. roupa de homem 1,12 0,40 1,45
3. roupa de criança 0,65 - 2 ,1 7 - 0 ,7 5
4. calçados e acess. de vest. 1,44 1,63 4,15
5. tecido, lã e aviamento 0,10 0,56 2,07
6. relógios, jóias e bijuterias 0,21 - 0 ,1 6 1,39
VII - EDUCAÇÃO 3,78 0,09 8,49
1. ensino escolar 3,30 0,04 9,38
2. m aterial escolar 0,34 0,57 2,80
3. livros didáticos 0,15 ^ 0 ,0 1 2,45

F o n te : Informações FIPE.
INFLAÇAO 127

As diferenças de cálculo dos índices de preços levam a medidas dife­


rentes de inflação. Estas podem ser observadas no Gráfico 5.2 e na Tabela
5.3, que comparam duas formas diferentes de calcular a inflação: o já refe­
rido índice de Preços ao Consumidor (calculado pela FIPE) e o índice de
Preços por Atacado - disponibilidade interna (calculado pela FGV). Como
os próprios nomes mostram, os dois índices de preços na verdade procuram
medir “inflações” diferentes. O primeiro, a elevação de preços sentida pelos
consumidores, e o segundo reflete a inflação sentida pelos produtores em
sua estrutura de custos.
Se, como visto em julho de 2000, a inflação medida pela FIPE foi de
1,4%, a medida pelo IPA-FGV foi praticamente o dobro. Pela Tabela 5.3,
podem-se observar as diferenças mês a mês das taxas de inflação.

Tabela 5.3 Evolução mensal da inflação brasileira no pós-real: IPC x IPA.

IPC IPA-DI j IPC IPA-DI IPC IPA-DI


M ês M ês M ês
(FIPE) (FGV) | (FIPE) (FGV) (FIPE) (FGV>-
aga/94 1,95% 4,40% | ago/96 0,34% -0,05% a#x/9S -1.00% -0,04%
set/94 0,81% 1,79% set./96 0,07% 0,41% s«l/9S -0,66% 0,06%
outr'94 3,17% 2,71% out/96 o.ssr. 0,24% cnsL/98 0,02% -0,19%
nov.94 3,03% 2,18% nov/96 0,34% 0,24' L ncv.-'9S -0,44% - 0,20%
dez,-94 1,24% 0,17% dez./96 0,17% 1,21% dez./9$ -0,12% 1,74%
jaiu'95 0,80% 0,87% jan./97 1,23% 1,67% jan/99 0,50% 1,58%
fev./95 1,32* ó 0.5S ó ÍCV./97 0,01% 0,34% fcvs/99 1,41% 6,99%
mar.'95 2,16% 1,08% mar%97 0,21% 1.59% maiv99 0.56% 2,84%
abr./95 2.40% 1.99% abr.-'97 0,64% 0.53% abr./99 0,47% -0,34%
makv'95 1,97% - 2,03% maio/97 0,55% 0,14% ir.ak>/99 -0,36%. -0,82%
raiv'95 2,66%- 1,55% | jun./97 1,41% 0,24% jun./99 -0,08% 1,35%
jül./95 3.72% 2,24% jul 797 0,11% -0,09% jul./99 0,64% 2,03%
sgo., 95 1,43% 1,73% ago./97 - 0,76% - 0.15% ago/99 1,19% 2,15%
set./95 0.74% -2,42% sety 97 0,01% 0.92% ser ,/99 0.91% 2,30%
out./95 1,48% -0,14% our./97 0,22% 0,41% oue/9 9 1,13% 2.58%
r.cv, -'?5 1,17% 1,49% nov./97 0.53% 1,08% nov. /99 1,48% 3,59%
dez..'95 I£l% - 0,61% dez.. 97 0,57% 0,87% dez/99 0,49% 1,60%
jan/96 1,82%. 1,31% jan./93 0,24% 0.75% jan./OO 0 57% 1,02%
(evJ96 0,40% 0.47% fev./9$ -0,16% -0,15% fev./00 -0,23% 0,17%
mar796 0,23% -0 .0 “% mar. -93 -0,23% 0,13% mar./ÔO 0,23% - 0,05%
abr./96 1,62% 0.41% abr./9$ 0,62% - 0.28% abryOO 0,09"% -0,02%
maio/96 1.34% 1,34% maio/98 0,52% 0,13% maio.'00 0.03% 0,6996
1,41% 0.94% jun%98 0,19%. 0,17% jun./OO 0,18% 1,45%
jui%96 1,31% 1,38% jul/96 - 0,77% -0,61% jul/00 1,40% 2,79%

F on tes: Informações FIPE e Conjuntura Econômica.


128 PANORAMA DESCRITIVO DA ECONOMIA BRASILEIRA E CONCEITOS BÁSICOS

Pelo Gráfico 5.2, vê-se como a evolução desses índices acabou sendo
diferente ao longo dos últimos anos. Em meados do ano 2000 a inflação
acumulada desde agosto de 1995 era de quase 100%, tomando os preços no
atacado, mas de 75% se se levarem em consideração os preços sentidos pelo
consumidor em São Paulo. Essa diferença, porém, ocorre no período pós-
desvalorização cambial (janeiro/99), pois em dezembro de 98 a inflação
acumulada era de 54% pelo IPC e de 40% pelo IPA.

IPC-FIPE

IPA-DI CFGV0
o
'—•
r—• 180,00
U
O 160*00
*~5
iA
O
'■J 140.00
"O
r-1
120,00

100.00

Fonte: Conjuntura Econômica e Inforinaçàes FIPE

Gráfico 5.2 Evolução dos índices de preços no Brasil pós-real

• A celeração in flacio n ária • ín d ice de Laspeyres


• C hoques de oferta • ín d ic e de Paasche
• C o rren te fiscalista • índices de preços
• C orrente m o n etarista • ín d ice de Preços ao C o n su m id o r (IPC)
/

• C ustos de transição • índices d e q u a n tid a d e 0quantum), 118


• D eflação • ín d ice G eral d e Preços (IGP)
• E feito O linera-Tanzi • Inflação
• H iperinflação • Inflação d e custos
INFLAÇÃO 129

• Inflação de demanda • Mecanismos de propagação


• Inflação inercial • Pesquisa de orçamentos familiares
• Mecanismos de indexação • Pontos de estrangulamento

QUESTÕES

Q l. Diferencie inflação de hiperinflação.


Q2. Compare a inflação de demanda e a inflação de custo.
Q3. Quais as diferentes medidas de combate à inflação, supondo os dife­
rentes tipos de inflação?
Q4. Aponte algumas conseqüências de inflações elevadas.
Q5. Por que existem diferentes taxas de inflação?

TEMA PARA DEBATE

T l. Faça uma análise de sua estrutura pessoal de gastos e compare com a


ponderação do índice de Preços ao Consumidor da FIPE. A inflação
medida pela FIPE reflete os impactos das mudanças de preço sobre
você em particular?
130 PANORAMA DESCRITIVO DA ECONOMIA BRASILEIRA E CONCEITOS BÁSICOS

APÊNDICE - TRABALHANDO COM NÚMEROS-ÍNDICES

Em economia, como visto neste capítulo, trabalha-se muito com índi­


ces. Procura-se, neste apêndice, construir alguns desses índices a partir de
exemplos. Depois, ver-se-á como encadear séries de índices iguais, mas com
bases diferentes e, por fim, será deflacionada uma série de dados usando
esses índices.
Suponha-se que se tenha uma série de dados de inflação, como a colo­
cada a seguir, e se quer transformá-la em um índice com base fixa num
dado mês. Note-se que a inflação é uma taxa de variação. Para se construir
um índice, deve-se escolher um período específico. Por exemplo, janeiro de
99, o qual será denominado período base; a esse período atribuiremos o
valor 100. O período de fevereiro de 99 no índice será formado multiplican­
do-se o valor de janeiro de 99 (100) por 1 mais a taxa de inflação. Março
será feito da mesma maneira: toma-se o período imediatamente anterior -
fevereiro (pois está-se trabalhando com uma série original de taxas men­
sais de variação) - e multiplica-se por 1 mais a taxa de variação.

índice de inflação
Inflação (%) Inflação
base jan./99 = ÍOO
ján./99 0.50% 0,0050 100,00
fev./99 1,41% 0,0141 101,41
mar./99 0,56% 0,0056 101,98
abr./99 0,47% 0,0047 102,46
maio/99 -0,36% - 0,0036 102,08
jun../99 - 0,08% -0,0008 102,00
jul./99 0,64% 0,0064 102,66
ago,/99 1,19% 0,0119 103,87
set./99 0,91% 0,0091 104,82
out./99 1,13% 0,0113 106,00
nov./99 1,48% 0,0148 107,57
dez./99 0,49% 0,0049 108,10

Se a série escolhida fosse não a de taxas de variação, mas de valores


absolutos, a sistemática seria ainda mais simples. Toma-se novamente um
ano como base e atribui-se o valor 100 (1990, no exemplo da tabela a se­
guir) e faz-se a regra de três para os outros anos. Se se quiser trocar de base
o índice construído, basta chamar a nova base (por exemplo, 1994) de 100
e novamente aplicar a regra de três.
INFLAÇÃO 131

Im portações Im portações
Im portações
ín d ice-b a se ín d ice-b a se
US$ m ilh õ es
19 9 0 = 100 1 9 9 4 = 100
1990 20,7 100,00 62,54
1991 21 101,45 63,44
1992 20,6 99,52 62,24
1993 25,5 123,19 77,04
1994 33,1 159,90 100,00
1995 49,8 240,58 150,45
1996 53,2 257,00 160,73
1997 61,4 296,62 185,50
1998 57,6 278,26 174,02
1999 49,2 237,68 148,64

Agora, suponha-se duas séries para a mesma coisa, mas com anos
bases diferentes como encadear, completando uma delas. Para fazer isso,
tem-se que ter um período com os dados nas duas séries. Com base neste
período, novamente aplica-se a regra de três. No exemplo a seguir tem-se
duas séries de um mesmo índice (IPA) com bases diferentes. Usando o mês
de janeiro de 1999 como referência e fazendo a regra de três, pode-se re­
construir uma série inteira.
132 PA NO RA M A DESCRITIVO DA ECONOMIA BRASILEIRA E CONCEITOS EASICOS

IPA b a se IPA b a se IPA b a se


ju n ./9 4 = 100 a g o ./9 4 = 100 ju n ./9 4 .== 100
abr./98 133,22 133,22
maio/98 133,40 133,40
jun./98 133,62 133,62
jul./98 132,81 132,81
ago./98 132,77 132,77
set./98 132,85 132,85
out./98 132,60 132,60
nov./98 132,33 132,33
dez./98 134,64 134,64
jan./99 136,77 142,79 136,77
fev./99 152,76 146,33
mar./99 157,11 150,49
abr./99 156,57 149,98
maio/99 155,29 148,75
jun./99 157,39 150,76
jul./99 160,59 153,82
ago./99 164,04 157,13
set./99 167,81 160,74
out./99 172,14 164,89
nov./99 178,32 170,81
dez./99 181,18 173,55

Por fim, o problema de se deflacionar as séries. Suponha-se um índice


de valores nominais. Quer-se, como no caso do produto visto no Capítulo 2,
calcular a variação real dessa série, ou seja, a variação desse índice descon­
tada a inflação. Para isso, precisa-se primeiro escolher uma série de infla­
ção, ou um número índice de inflação, no caso o IPC-FIPE. Uma forma de
proceder é, dado que as bases dos dois índices é a mesma (para conseguir
isso pode-se proceder como mostrado anteriormente), dividir o índice a ser
deflacionado pelo índice de preços no mesmo período e multiplicar-se por
100, obtendo assim um novo índice agora deflacionado e com base igual ao
dos dois outros índices. Para achar a taxa real de variação, basta dividir um
período pelo anterior e retirar a unidade. A tabela a seguir ilustra esse pro­
cedimento.
IN F L A Ç A O 133

T axa de
ín d ic e d e C â m b io v a ria ç ã o
M ês c â m b io I P C -flP E d e fla c io n a d o re a l d a
n o m in a l p e l o IP C -F T P E ta x a d e
c â m b io
jul./94 100 100,00 100
ago./94 96,46 101,95 94,61 - 5,39%
set./94 93,02 102,78 90,50 - 4,34%
out./94 90,76 106,04 85,59 - 5,42%
Í10V./94 90,44 109,25 82,78 - 3,28%
dez./94 91,30 110,61 82,54 - 0,29%
jan./95 90,98 111,50 81,59 -1,15%
fev./95 90,33 112,97 79,96 - 2,00%
mar./95 95,60 115,41 82,83 3,59%
abr./95 97,42 118,18 82,44 - 0,48%
maio/95 96,46 120,51 80,04 - 2,91%
jun./95 98,17 123,71 79,36 - 0,85%
jul./95 99,79 128,31 77,77 - 2,01%
ago./95 101,18 130,15 77,74 - 0,03%
set./95 102,36 131,11 78,07 0,42%
our./9S 103,08 133,05 77,48 - 0,77%
nov./95 103,46 134,61 76,86 - 0,80%
dez./95 104,03 136,24 76,36 - 0,65%

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