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A ACELERAÇÃO INFLACIONÁRIA E O NEOLIBERALISMO: OS

ANTECEDENTES DO PLANO REAL (1974 – 1993)


Aceleração da inflação > as nossas questões:
Por que a inflação cresceu gradualmente entre 1974 e 1979?
Por que ocorreu significativa aceleração da inflação entre 1979 e 1985?
Quais as teorias explicativas?
Como a inflação se relaciona com a crise econômica da década de 1980?
Em que medida é causa e em que medida é consequência da crise?

Começou especialmente por choque exógenos nos preços. Em particular o choque no


petróleo, sentido no Brasil a partir de 74. Há também uma elevação dos juros e um
choque agrícola. O choque do petróleo afetou não só o preço de importação do
petróleo, mas também o custo de bens manufaturados importados (finais e
intermediários). Esse aumento de custo foi parcialmente compensado 1) pela
apreciação cambial que ocorre no período 2) pelo atraso da variação dos preços e
tarifas públicas (fim da verdade tarifária) e 3) pela ampliação do crédito subsidiado ao
capital privado nacional, por parte do BC, BB e BNDE.
De qualquer forma, há elevação do patamar da inflação em 74, 76 (juro e preços
agrícolas) e 1979 (mais importante > inicio do agravamento do endividamento, pós 2º
choque do petróleo)
A reação da política econômica no Brasil de 1979-1980 é realizar uma grande
desvalorização cambial. Maxidesvalorização cambial (30%) em dezembro de 1979,
aumentando os preços das importações e incentivando as exportações. Isso ocorre,
importante lembrar, num momento em que os preços do petróleo também estão
aumentando! Grande aceleração da inflação.
A reação de política econômica em 1980 é a de prefixar as taxas de câmbio (40%) e
juros (45%), de maneira a criar expectativa nos empresários de que seriam essas as
taxas. Porém, os empresários, sempre que tinham poder de mercado, buscavam elevar
os seus preços acima dessas taxas, de forma a diminuir o peso da dívida externa e
interna. As empresas começam em 1980 a realizar uma desalavancagem:
desendividando perante o sistema bancário privado e buscando acumular títulos da
dívida pública, se tornando credoras e não mais devedoras.
Há um crescimento do juro para capital de giro bastante substancial até 80.
Câmbio nominal entre 78 e 79: variação de 103,3
Joga para cima a inflação, sobretudo em 1980, no momento em que as empresas estão
elevando os preços para reagir à desvalorização cambial anterior e procurando se
desalavancar, elevando os preços acima da taxa de juro e da taxa de câmbio pré-
fixada.
Até 1982, a inflação fica num patamar de 100% e pula em 1983 para um patamar de
200%. Há de 82 para 83 uma desvalorização cambial forte, principal responsável pela
inflação.
Os juros para capital de giro se tornam muito elevados a partir do inicio da década de
80 e o juro real (dos títulos da dívida) levemente estável. As empresas e bancos
ganham muito dinheiro fazendo movimento no floating da dívida pública, que pagam
juros reais muito baixo, mas perante o juro real negativo para depositantes a vista,
grande rentabilidade.

INTERPRETAÇÕES DA INFLAÇÃO
ORTODOXA (MONETARISTAS E INTÉRPRETES OFICIAIS) - DELFIM, SIMONSEN,
FERNANDO HOLANDA BARBOSA
É neoclássica e fortemente monetarista. Vem tanto do governo quanto de centros
universitários muito próximos da linha do governo no período, como Holanda barbosa
da FGV.
Para esses, há um excesso de oferta de moeda que produziu uma demanda de bens e
serviços muito menor que a oferta.
Principal motivo para o excesso de moeda: déficit público, incapacidade do governo
financiar seus gastos com impostos. Argumento complicado porque 1) o governo se
financiava com dívida pública; 2) o aumento da inflação ocorria em um momento
recessivo (a demanda agregada não estava aumentando e sim caindo). Assim não
haveria como explicar a inflação pela escassez de oferta agregada perante um excesso
de demanda (inexistente). De maneira arbitrária, os ortodoxos admitem que o choque
cambial teve impacto inflacionário no Brasil, mas que seria excepcional e temporário.
A solução seria conter a demanda agregada: controlar o déficit público e provocar
recessão. Assim, a desinflação seria questão de tempo.

INERCIALISTAS (ESTRUTURALISTAS DA PUC-RJ E FGV-SP) – PÉRSIO ARIDA, ANDRÉ


LARA REZENDE, CHICO LOPES, BRESSER PEREIRA E NAKANO

Apontam corretamente que depois que o patamar da inflação aumentou após o


choque cambial, ele não se reduziu, independentemente do que ocorreu com a
demanda agregada: a taxa de crescimento do pib no período variou muito sem que
isso produzisse redução da inflação. Argumento contra os ortodoxos. Não é demanda.
Não é ignorado que pode haver na economia choques inflacionárias de demanda, mas
este é um caso particular e não geral. Mas o caso geral são choques de oferta
(elevação de custos. Ex: caso do petróleo: tentativa dos produtores de modificar os
preços relativos em seu favor. Isso pode ser generalizado: choque agrícola, tentativa
de empresas líderes elevarem seus mark-ups) e esses choques de oferta provocados
pelo conflito distributivo tendem a produzir mudança do patamar da inflação.

Inercialismo: uma vez que esse patamar aumentou, mesmo que o motivo que produziu
esse aumento do patamar da inflação desapareça, ele permanece. Há uma tendencia
inercial na inflação brasileira. Os agentes econômicos buscam se proteger do aumento
dos preço > tentam recompor a renda real que diminuiu desde o último reajuste de
preços e salários. Repor a variação da inflação para seus próprios preços. E ao fazer
isso, inercializam/reiteram aquele patamar da inflação. Tendência inercial: inflação
alta tende a ser reproduzida por tentativas de recomposição da renda real. Diferença
entre os autores:

Chico Lopes: agentes buscam recompor o pico da renda real a cada reajuste

Larida: buscam recompor a média.

Diferença pouco importante

As diferenças de propostas são realmente relevantes:

Persio Arida e Andre Lara (Larida): moeda indexada à própria inflação > daria
origem ao plano real futuramente

Chico Lopes: congelamento de preços e salários

Vários planos recorreram ao congelamento. A interpretação de seu fracasso, pela


corrente inercialista, foi a de que o congelamento da estrutura de preços e salários
congelava uma estrutura de preços relativos desequilibrada num determinado dia: os
agentes econômicos não costumam ajustar seus preços à inflação do passado no
mesmo dia. As datas dos reajustes são aleatórias, portanto, em qualquer data haverá
desequilíbrio. Isso implica que alguns estão com preços sobrestimados e outros com
preços superestimados. Logo, quando o congelamento fosse relaxado, haveria
tendência de aceleração dos preços à medida que os agentes com preços represados
por muito tempo, reajustariam seus preços + tentativas de burlar o congelamento via
mercado paralelo.
PÓS-KEYNESIANOS – FRENKEL, BELLUZZO, TAVARES, KANDIR, CARDIM DE CARVALHO
Os pós-keynesianos criticam os inercialistas alegando que a tendência da inflação
brasileira não era inercial, mas sim aceleracionista. Um regime de alta inflação traz
muitas incertezas e riscos para os agentes econômicos formadores de preço
(sobretudo para as empresas)> dois riscos fundamentais: 1) risco de renda: agente
econômico eleva muito seu preço por superestimar a inflação futura e não consegue
vender toda sua produção. Não consegue transformar seus custos em renda. Acumula
estoques, mas não perde capital. Pode vender seus estoques depois; 2) risco de
capital: é mais sério. Ocorre quando a decisão de preços faz o movimento inverso: os
custos futuros ou inflação futura é subestimado. Agentes colocam preço abaixo da
inflação verificada. Vendem a produção e auferem renda, mas não é suficiente para
repor o mesmo nível da produção anterior, porque os custos de produção e/ou
salariais aumentaram mais do que o previsto, de modo que o agente econômico possui
perda de capital. Isso é mais sério que risco de renda temporário.
Assim, sempre que houver incerteza sobre a inflação futura, os agentes tentarão
diminuir os seus riscos de capital: farão um overshooting na margem de lucro. É
melhor errar para cima e incorrer em risco de renda do que errar para baixo e incorrer
em risco de capital.
Portanto, quando não se há certeza sobre o patamar da inflação, os agentes não
apenas repõem a inflação do passado (ação inercial), mas também elevam as suas
margens de lucro. Processo de aceleração inflacionária.
Os pós-keynesianos – em particular, Tavares e Belluzzo, alegam que as incertezas que
produzem o comportamento aceleracionista por parte dos empresários estão
enquadradas num problema estrutural: o financiamento da economia brasileira,
provocado pela crise da dívida externa. Portanto, a inflação não resulta de um choque
exógeno, temporário e excepcional, mas envolve um conjunto de incertezas associadas
à instabilidade financeira e cambial trazida pela crise da dívida externa brasileira. Essa
crise provocou enorme incerteza sobre o comportamento das taxas de câmbio, juro,
tarifas públicas, subsídios etc. Riscos e incertezas associados a um problema estrutural
da economia brasileira. Logo, não basta um controle administrativo dos preços
(congelamento dos preços ou domínio das expectativas de mercado) para resolver a
inflação). O problema da inflação é subordinado a um problema maior, o da dívida
externa. Problema do Balanço de Pagamentos.
Logo, a solução política depende da resolução estrutural desse problema:
financiamento da dívida interna e externa.
o principal problema é a dívida interna ou externa
O fracasso dos planos de estabilização não advém apenas da incapacidade de congelar
os preços relativos. É a incapacidade de controlar o preço relativo mais
influente/importante: a taxa de câmbio. Isso é impossível por conta da dívida externa e
das políticas de ajuste da dívida externa.
Nessa circunstância de grande incerteza, tentativa dos empresários de buscarem
convenção coletiva que diminuísse incerteza sobre comportamento da inflação no
futuro. Supondo que agentes acumulam estoques, há financeirização dos preços
(agentes olham para as expectativas de inflação então inerentes à definição das taxas
de juros dos títulos overnight. Logo, uma expectativa coletiva de aumento da inflação
irá se refletir numa exigência de juro maior na rolagem da dívida pública federal
diária). Empresas buscarão ajustar rentabilidade dos seus estoques de bens de acordo
com a rentabilidade de seus estoques de ativos financeiros (em títulos da dívida
pública). Numa circunstância em que é o mercado que define a taxa de juro. Se os
dealers que revendem os títulos públicos para o mercado não conseguem revender à
taxa esperada, há uma zeragem automática: eles devolvem essa posição ao governo,
que revende a posição aos dealers com um juro maior para atender a demanda do
mercado. É o mercado, de acordo com as suas expetativas de inflação, que passa a
determinar as taxas de juros e não mais o governo.
É a chamada zeragem automática. Carneiro: “zeragem automática” e que consistia na
recompra dos estoques de títulos públicos não colocados no mercado pelos bancos.
Open market ajusta overnight às expectativas de inflação <-> “zeragem automática” de
ORTNs vincula juros futuros à taxa overnight diária.
Assim, há uma moeda indexada. Os títulos da dívida pública funcionam como quase-
moedas, mas estão sendo corrigidos de acordo com o índice de inflação. Por outro
lado, há financeirização dos preços, porque os juros futuros que valorizam esses
títulos da dívida pública que são rolados diariamente sinalizam a expectativa de
inflação que deve ser seguida pelos agentes que buscam valorizar também estoques
de bens físicos de acordo com a inflação embutida no mercado financeiro dos títulos
da dívida pública.
É por isso que se fala em financeirização do processo de formação de preços no
brasil.
Como esse comportamento empresarial se relaciona com a crise econômica?
Articulação entre ajuste micro e macro

Aceleração da inflação é causa e consequência da crise econômica. As empresas


acabam fugindo dos riscos de descapitalização e procuram sinais de inflação futura no
overnight. Valorizam os estoques acumulados superando ao menos a taxa do
overnight. E tomam decisões muito mais curto-prazistas: à medida em que possuem
acesso à fonte de valorização segura no mercado de títulos da dívida pública e a sua
própria ação perante a inflação torna esta muito instável, fogem de investimentos de
longo prazo.
Assim como a crise econômica produziu esse comportamento empresarial que
provocou aceleração da inflação, a própria aceleração da inflação reforça o
comportamento empresarial curto-prazista de retração de iv e preferência pela
liquidez e reitera a própria crise econômica.
Por outro lado, para garantir o próprio superávi comercial, é preciso juros altos,
câmbio alto, salários baixos, preços públicos baixos. Porém isso prejudica o
crescimento e o próprio controle da inflação, porque quando há pressão para elevar os
juros, aumenta o patamar de referencia para a valorização dos estoques de bens
físicos. Quando os exportadores exigem cambio melhor, produz-se choques de custos
que eleva a inflação. Quando o FMI exige ajuste fiscal, há o maior risco de elevação de
tarifas ou de impostos. Logo, a própria incerteza sobre os preços relativos, em especial
câmbio e juros, e tributos e subsídios, produz grande incerteza que reitera
comportamento curto-prazista de preferência pela liquidez e rentista (de títulos da
dívida pública), reiterando o baixo crescimento. Desaceleração do investimento
privado de longo prazo.
O impacto da crise da dívida sobre o investimento público reforça a queda do iv
privado e o componente rentista das aplicações financeiras.
Isto é assim como a crise econômica associada a uma crise estrutural produzida pela
crise da dívida, provoca a aceleração da inflação, esta por si mesmo é um problema
que reforça a crise econômica e prende as decisões empresariais no curto prazo.
A mmt não concordaria com essa afirmação, certo? Leria de outra maneira?

É à luz desses problemas estruturais que explicam a economia brasileira nos anos 80 é
que se pode entender o fracasso dos planos de estabilização baseados no
congelamento de preço e salários para combater a aceleração da inflação.
Se a inflação fosse apenas inercial, o congelamento teria tido sucesso.

Problemas do congelamento:
1) Represa artificialmente inconsistências distributivas. Assim que o
congelamento acaba, as inconsistências distributivas são desrepresadas e o que
vai se seguir a uma grande aceleração de preços e salários.
2) Não é possível congelar preços básicos como tarifas públicas, câmbio, juros,
impostos diante da crise do financiamento público interno e externo. É um
problema estrutural que não pode ser reduzido a um maior ou menor
desequilíbrio ou descoordenação no reajuste de preços. Ex: se congelasse a
taxa de câmbio, haveria problema no pagamento da dívida externa; se
congelasse as tarifas públicas ou impostos, problema para o financiamento do
setor público.
Isto é, há elementos estruturais que impedem o congelamento ou mesmo a
redução de certos preços básicos na economia que são pressões de custos.
A partir do fracasso do primeiro plano, o Plano Cruzado, os seguintes já tendiam a
falhar. E a cada rumor de novo congelamento, os agentes rápida e aceleradamente
reajustavam os preços.

Depois do plano Collor ii, marcílio assume a economia e afirma que não haveria mais
congelamento. Ocorreu de fato um descongelamento, sem regras de saída, o que
puxou os preços lá para cima.
A partir de novembro de 91, estabilização da alta inflação, vai caindo. Por que?

1) Promessa do fim do congelamento: segurou de fato por 6 meses


2) Acordo com FMI e expectativa de financiamento compensatório
3) Principal: entrada de capitais externos
a. Primeiro ciclo de expansão da chamada liquidez financeira (taxas de
juros extremamente baixas nos países centrais) > capital vai buscar
rendimento em ativos arriscados na periferia. Neste momento, muitas
países da periferia estão executando planos neoliberais vinculados ao
consenso de Washington, como amplas privatizações, o que traz ainda
mais oportunidades de enriquecimento nos países da AM. LATINA.
Neste contexto, Brasil abre o mercado de capitais tanto para títulos
públicos quanto para ações. Há também aumento de juros (91), que
permite arbitragem de agentes que contratam dívida no exterior a juro
baixo e compram títulos públicos aqui a juro bem mais elevados e
podem adiantar contrato de câmbio. Isso tudo vai produzir apreciação
cambial. Privatizações começam em outubro de 1991, com a
USIMINAS, pouco antes da estabilização da taxa de câmbio.
EFEITOS DAS ABERTURAS (FINANCEIRA E COMERCIAL)
Aumento das reservas cambiais; estabilização do câmbio real; pressão sobre
preços internos; aumento grande da concorrência no mercado de bens com a
apreciação cambial; processo de dolarização dos preços industriais (antes havia
incerteza de mercado e agora ela é menor que a incerteza de câmbio) > os agentes não
podem subir muito os preços para não perderem mercado e podem estabilizar seus
preços em dólar porque a incerteza de câmbio é muito menor dada a inundação de
capitais externos. Taxa de câmbio flutua pari passu à taxa de inflação.
Há estabilização da inflação por conta dos efeitos sobre as políticas de preços
dos agentes treadeables. Essa é a base da estabilização do plano real. O que o plano
real irá fazer é criar uma nova moeda tendo por base a variação da taxa de câmbio
prévia.
Plano de estabilização com Âncora cambial = vincular sua moeda ao dólar
Integração virtuosas entre:
1) Ideologia liberal nos países periféricos (defesa da concorrência e da
desregulamentação de mercados) e;
2) Transbordamento de capitais no países centrais.
Aprecia a moeda local que pode até ser fixada ao dólar durante certo, podendo criar
novas moedas indexadas ou estabilizar a antiga em dólar, controlando a inflação.
Depois dessa onda, teremos ondas em que o k internacional vai sumir, provocando
crises.

O acirramento da concorrência mundial expressava capacidade ociosa industrial.


Pressão deflacionária sobre preços industriais. Queda dos preços industriais no mundo
+ queda da taxa de câmbio = maior diminuição da inflação. Deflação em parte,
portanto, é importada.
É nesse contexto que surge o consenso de W, como condicionalidades de reformas
estruturais para refinanciar dívidas anteriores. E também funcionam como
credibilidade à entrada de capitais estrangeiros.
São condicionamentos para o refinanciamento da dívida bancária, que entrara em
crise nos anos 80. Tem que fazer o programa do consenso de w.

Boa parte das privatizações possuirá como acionistas majoritários grandes nomes da
burguesia local.
Na abertura comercial, haverá um posterior embate.
Grande euforia no começo: rebaixamento do endividamento externo, privatização com
uso de recusos do bndes.
É esse o cenário que está por trás da grande estabilização de preços a partir de 1992
no Brasil, com a grande apreciação cambial e dolarização dos preços industriais. Base
do Plano Real, que começa a ser executado em 1993.

NEOLIBERALISMO E PLANO REAL: CICLO E CRISE

O governo Itamar se inicia em 29 de dezembro de 1992, mas não representa ruptura


com o governo Collor, i.e., há um compromisso na continuidade no programa de
reformas neoliberais e do conjunto de privatizações de estatais. Naquela conjuntura, o
neoliberalismo de Collor já atraía muito k estrangeiro seja para mercado de capitais,
renda e privatizações. Em geral, junto com a burguesia associada e com a burguesia
interna.
Reafirmação dos compromissos neoliberais resultou em mais entrada de recursos
financeiros e estabilização do câmbio real. Dolarização de preços dos produtos
treadeables
Há sucessão de ministros da Fazenda
O curioso é que o ministro das relações exteriores, FHC, acaba sendo chamada para o
ministério da Fazenda e traz consigo um conjunto de economistas vinculados ao PSDB.
Muitos deles eram economistas estruturalistas até a década de 1980 e que se
converteram ao neoliberalismo. FHC se comprometeu a dar autonomia a esses caras e
a insular o ministério da fazenda para executar o que supostamente fosse necessário
para assegurar a estabilização monetária.
O plano real nasce com um diagnóstico que foi popularizado por Edmar Bacha, que
alegava que:
1) A inflação brasileira tinha um componente estrutural que era o déficit
orçamentário ex-ante (efeito Tanzi às avessas), que seria revelado se a inflação
fosse controlada, pois o Estado brasileiro já havia criado mecanismos para
conviver com a inflação, de maneira a indexar monetariamente suas receitas e
atrasar os seus gastos.
O contrário do efeito Tanzi, que prevê agravamento do déficit fiscal com o
aumento da inflação, por conta da incapacidade dos governos de indexarem
monetariamente suas receitas.
Segundo o Bacha, isso não ocorria no Brasil. Se o componente inercial da
inflação fosse combatido, esse déficit iria aparecer.
Esse componente inercial era explicado geralmente pela descoordenação do
ajuste de preços.
Mas era fundamental caminhar em direção à proposta do Larida de criar uma
moeda indexada que facilitasse a desindexidação dos preços. Isso era facilitado
pela dolarização dos preços naquela conjuntura.

A proposta de estabilização era de 3 fases


1) Ajuste orçamentário crível
2) Indexação plena dos preços, levando a uma reforma monetária (criação de uma
nova moeda) que desindexaria a inflação prévia
3) Os controles fiscais e monetários iniciais seriam consolidados por reformas
estruturais (neoliberais)
PAI
- conjunto de cortes no orçamento de 1993
- renegociação das dívidas dos estados e municípios em troca de cortes orçamentários
- Decretação do Imposto provisório sobre movimentações financeiras – foi julgado
inconstitucional em setembro e virou uma contribuição (pode ser decretada e passar a
vigorar no mesmo ano ao contrario do imposto, que só passa a vigorar no ano
seguinte)
- revisão constitucional

Em setembro, a taxa de juros foi elevada, contribuindo para o acumulo de reservas, o


que preparou o anuncio do plano real em dez. de 1993.

O Plano real leva adiante o corte orçamentário com um fundo “social” de


emergência, com um corte de 20% das destinações orçamentárias e majorou a cpmf
em 0,25%.
Em março de 1994, é iniciado o projeto de desindexação monetária com a
criação da Unidade Real de Valor, que coordenaria o reajuste de preços por meio da
indexação diária da URV à média da inflação de um conjunto de índices de inflação e
que seria ainda vinculada à variação do dólar. A ideia era ter um indicador que
expressasse a média diária de variação da inflação. Logo, se todos os agentes
passassem a regular/ajustar seus preços de acordo com a variação da URV, todos
estariam indexando perfeitamente os seus preços à inflação corrente no mesmo ritmo.
Depois, seria possível transformar a URV numa nova moeda, transferindo os preços
cotados em URV e que variavam de acordo com a inflação para a nova moeda, o real,
desaparecendo a indexação de preços à inflação passada.
Para reforçar a adesão voluntária, foi decretada a adesão compulsória para preços e
tarifas públicas; dólar; salários; alugueis e mensalidades escolares. Tudo o que
envolvesse os consumidores e insumos do setor privado (cotados em dólar ou
ofertados pelo setor publico). O objetivo era indexar os custos dos non-tradables.
Como o dólar servia como ancora dos serviços tradables no contexto de
abertura comercial e apreciação cambial, haveria o conjunto de preços indexados à
inflação diária.
A desvantagem era que o cálculo era feito com defasagem de dez dias, o que
poderia causar alguma perda se a inflação acelerasse.
A terceira fase era a criação da nova moeda e uma desindexação lenta (jul. 94 –
jun.95)

O plano real teve sucesso assim como outros planos na América Latina, mas que não
criaram essa engenharia complexa. Contou com o que outros programas neoliberais
contaram:
1) Abertura comercial > provocou pressão sobre os mark-ups móveis (junto com
altos juros reais); ajuste defensivo da planta produtiva; sustentação do saldo
comercial por um tempo por conta da recessão interna e importância do
adiantamento dos contratos de câmbio (exportadores, antes de receber dos
compradores, faziam descontos das notas promissórias de recebimento de
receitas no sistema bancário , as quais sofriam desconto, mas ganhavam um
valor melhor aplicando os recursos no mercado financeiro com juros elevados.
Sustentava as exportações à despeito do atraso no câmbio).
2) Abertura financeira > estimula muito a entrada de capitais de portfólio (bolsas,
títulos, empréstimos comerciais) e produz acumulação de reservas e apreciação
leve do câmbio, reforçando pressão anti-inflacionária da abertura comercial.
Além disso, desde o final de 91, os preços industriais estavam relativamente
estabilizados em dólar, por conta do aumento incerteza de mercado devido ao
aumento da concorrência e da maior certeza da variação futura do dólar, dada a
entrada de capitais e acumulo de reservas. Variação crível do cambio tornou-se
indexador de preços.

Foi isso que permitiu oferecer uma ancora para sustentar a variação de tradables locais
muito antes da urv.

A transição para uma reforma monetária era anunciada previamente e fica com um
gradualismo.
Essa regra de coordenação era mais inteligente que o congelamento de preços, porque
evitava o desequilíbrio de preços relativos num momento em que o congelamento é
anunciado, considerando que os agentes não coordenava o reajuste de seus preços.
A incerteza levou a reajustes em URV acima do novo cruzeiro, o que poderia
contaminar a reforma monetária. Porém, quando ocorre a reforma em julho de 1994,
ela é acompanhada por uma forte apreciação cambial e reforço da abertura comercial.
Gustavo franco era um combatente dos lucros extraordinários da indústria > queria
baratear o preço das importações a qualquer custo. Permitiu limitar a aceleração
inflacionária dos tradables no período da urv, mas com o custo de produzir grande
apreciação cambial > vai gerar déficit comercial depois do plano real.
Leitura crítica: a âncora cambial inviabilizava a âncora monetária: a medida que
entrava reserva, o governo emitia moeda local, enxugando moeda com emissão de
títulos para manter a taxa de juro. Elevação da taxa de juro e impacto ruim sobre a
dívida pública.
Vulnerabilidade financeira: se os agentes percebessem algum risco e quisessem sair,
teria que subir muito o juro para manter a âncora cambial.
Marcar reunião semana que vem
Dividir o programa com o PCB

AULA 16/11
Como as duas regiões serão impactadas
America Latina: Exclusao dos fluxos voluntários de crédito bancário
Asia: eua e jp > bancos não interromperem fluxo de recursos para a Ásia, por contade
questões geopolíticas. URSS continuava e China se integrava.
Década de 1980: do ponto de vista das grandes corporações
1. Mudança tecnológica profunda: microeletrônica e comunicação a longa
distância a preço muito baixo. Pouco tempo depois, infraestrutura de
transporte global. 1988 e inovação tecnológica na coreia do sul, dobrando o
tamanho dos navios cargueiros. Aumentou a coordenação da escala e
velocidade do comércio. Design de produtos vai para sudeste e leste asiático.
Explicado também a partir da política do dólar forte (produziu desestruturação
financeira na américa latina – poupada no leste asiático por motivos
geopolítico). A América Latina: interrupção da capacidade das empresas que já
estavam lá de realizarem investimento (crise da dívida: redução do gasto
público, hiperinflação etc. > aumento da incerteza e endividamento das estatais
(menos coordenação) + austeridade fmi. Enquanto gasto público aumentava,
lucro do setor privado aumentava. Quando aumenta taxa de juro, ganho de
floating do sistema bancário (títulos de liquidez diária, com juros garantidos) e
capacidade de calcular a inflação a longo prazo.

Grande incentivo de restrição do crédito bancário: desemprego, hiperinflação,


grandes empresas cortaram suas dívidas (aumentaram mark-ups para isso) com
a pre-fixação dos anos 80 das taxas de cambio e de juro. Elas fogem do longo-
prazo e passam a buscar instrumentos financeiros mais flexíveis e diversificação
produtiva. As tesourarias passam a ser mais importantes. Financeirização.
Neste contexto, a capacidade da economia crescer é reduzida. Empresas
não possuem incentivo para investir por conta da incerteza do longo prazo e a
alternativa do curto prazo é muito mais rentável e segura. É esse o contexto
que exclui as possibilidades de integração do capitalismo brasileiro ao
dinamismo do capitalismo internacional, ao contrário da Ásia (demanda
internacional, infraestrutura de empresas de produção – outsourcing -).
O que está ocorrendo é exatamente o inverso do que ocorre na
economia brasileira entre 30 e 80. Em meados dos 50, a economia brasileira
que já tinha saído na frente deu um salto à frente das outras da am. Latina:
industrialização pesada pioneira. Devido à integração regional, isso barrou a
industrialização dos demais países, porque o Brasil virou o centro para a
instalação de filiais das multinacionais. Industria de transformação brasileira =
indústria de transformação da China + India. Brasil era de longe a economia
emergente mais importante. Grande esperança quanto ao futuro do país.
A crise da dívida externa – na medida em que coincide com a
transformação das cadeias produtivas do pós-fordismo – torna a economia
brasileira totalmente atrasadas em 15 anos (de 80 ao real).
2008: aumento da capacidade de investimento global e deslocamento
do investimento para a asia, com repercussão para a américa do sul inteira.
É todo o oeste da américa do sul – de meio de são Paulo ao sul do
equador – que exporta commodities para a asia. Muito integração com a Asia.
Num primeiro momento, significa grande expansão para a indústria brasileira
de transformação. Num segundo, o complexo de indústria de transformação
asiático, com ganho de escala enorme, empresas asiáticas tomam a produção
de certas empresas latino-americanas antes voltadas ao mercado interno. É a
China subimperializando toda a am. Latina. Aprofundamento da
desindustrialização na américa latina.

Forma de inserção do capitalismo


Até 30, integrada pelo complexo agrocafeicultor. Após, complexo
industrial.
Estado Brasileiro media a escolha da forma de dependência.
Década de 60 e 70, forma de dependência se superpõe a anterior.
Década de 80: transformação do capitalismo global, ao qual o Brasil se
integra depois de 15 anos de crise, nos anos 90.

O plano real não é só um plano de combate à inflação, mas um novo


modo de integração do brasil na economia mundial, uma nova forma de
dependência, do qual ainda não saímos. Mesmo as disputas entre neoliberais,
social-desenvolvimentistas e novo-desenvolvimentas não alterou esse quadro.
Pelo contrário, ocorreu dentro desse quadro.
É o legado institucional deixado pelo golpe que impede o Lula III de
repetir os seus primeiros governos. Além disso, as condições externas
(economia mundial e disputa geopolítica) são muito mais complicadas. A
interna também (golpismo e legado do golpe). Oeste brasileiro cresce a 6% ao
ano. São Paulo está estagnado.

O que que permite o Plano Real?


Para os weberianos, classe dominante não faz sentido. FHC como marxista.

FHC apenas o convite partindo do Estado para atrair o k internacional bastaria. É


preciso que hajam reformas para um ambiente para atrair o k internacional e um
presidente que faça esse convite. O principal risco dos países é ficar fora da
globalização e não dentro. É preciso ser amigável e se integrar à globalização.

Muda forma de dependência: atração de capitais de curto prazo, dado excesso de


liquidez. Expulsa a outra forma: o investimento produtivo que depende do longo prazo
é prejudicado, sobretudo se vem junto com bruta abertura comercial que não é
compensada com política de desenvolvimento industrial com metas de inserção
internacional.
Neoliberalismo progressista da década de 90 – FHC com boas relações Bill Clinton,
Tony Blair.
Lábia e institucionalidade favorável ao mercado não são suficientes. Desvaloriza os
elementos estruturais e supervaloriza os elementos de atração do k internacional, que
vai para privatizações, ações para empresas rentáveis (petrobras e vale,
especialmente). Uma coisa é a riqueza nova, que cria nova capacidade produtiva, outra
é a capacidade velha, a ser redistribuída e renegociada. A globalização brasileira se fez
revalorizando a riqueza em detrimento da diversificação e integração investimento
produtivo.
Isso não quer dizer que na Ásia não tenha ocorrido especulação financeira, em parte
porque esses países estavam vinculados ao dólar. Superapreciação do IENE em 10
anos. Empresas industriais japonesas se mantiveram no core business, mas exportam
bens de capital (que demandam seus engenheiros, instrumentos etc.). Transferir
capacidade produtiva para a Ásia e exportar da ásia para os eua. Aí empresas
subcontratadas na asia se desenvolvem muito.

Desindustrialização: aprecia o cambio. Urv: dólar cai para 84 centavos de real. Nos
últimos meses, os agentes já estavam acelerando inflação na moeda antiga e em dólar,
o contrário do objetivo que era coordenar os preços.
Ciro Gomes acelera queda tarifária e permite desvalorização para combater a inflação
Controle da inflação seria requisito para retomar crescimento/produção, mas havia
uma contradição.
As empresas também cortam as linhas de produção que não conseguiriam competir
com o estrangeiro
O setor de produção de bens de k – II pnd e que deveria ser o que puxa o capitalismo
brasileiro – fica desmontado.
As empresas começam a importar muito bens de k para tentar competir com as
empresas concorrentes advindas da abertura comercial.
Especialização regressiva da estrutura industrial.
1950: filial multidoméstica, com grande grau de integração vertical da indústria.
Bangladesh e maquiladoras mexicanas: só montagem e grande exportação. Não há
nenhum encadeamento para frente ou para trás na cadeia produtiva. Integração nas
cadeias globais de valor. Isso vai acontecendo no Brasil com especialização regressiva:
nosso encadeamento do parque produtivo nacional vai sendo muito menor.
Automóveis: exceção, mas o valor agregado diminui muito porque o coeficiente de
importação aumenta muito. Desaparece nossa indústria de autopeças.

Superávit comercial vira déficit comercial com variação de 20bi de 93 a 97. Vira um
déficit estrutural.
Não é um problema de preços relativos. É uma questão de integração das estruturas
produtivas a nível mundial.
Interpretação cepalista da inflação: pesquisar.
A dinâmica cíclica mudou também:
30 – 54: industrialização restringida. Aumenta produção industrial e diminui
capacidade de importação. Esgota quando as possibilidades para onde a
industrialização pode seguir, tem novos ramos com indústria de bens de capital que
nem estão disponíveis. Não dava para importar estaleiro, siderúrgica, automobilista,
química etc.
Crescimento do mercado interno e substituição de importações que se esgotava a cada
crise no BP
50 – 80: diferente. Industrialização pesada
80: enorme incerteza, crise cambial, política de estabilização. Sintoma do fim de uma
estrutura que foi responsável pelo crescimento econômico por no mínimo 30 anos.
A nova estrutura ficou muito dependente das oscilações do mercado mundial.
2003 – 2008: retomada do crescimento das economias periféricas.
Sai da crise um grande crescimento asiático e grande retomada do iv público aqui, mas
industrialização se aprofunda por conta do aumento da concorrência internacional.

AULA QUE VEM: MARCO ANTONIO ROCHA


CC5 – conta corrente que virão de mov. De capitais na prática – autorizado pelo
Armínio Fraga

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