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CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

CAMPUS RURAL DE ALEGRETE

I. ÓRGÃOS LINFÓIDES
1. INTRODUÇÃO

Com o passar do tempo, dentro de uma escala de seleção e evolução


das espécies, muitas foram estintas e outras sobreviveram.
As espécies que sobreviveram foram capazes de gerar sua subsistência
e de se defender das hostilidades da competição por espaço e alimentação.
Por outro lado, do ponto de vista ecológico, esta defesa não poderia ser
perfeita, para não causar desequilíbrios no ecossistema, às custas da
superpopulação de uma determinada espécie. Assim, para garantir sua
sobrevivência, cada espécie conta com uma série de mecanismos de ataque e
defesa, que incluem características anatômicas, celulares e bioquímicas
próprias.
O meio ambiente contém uma grande variedade de microorganismos
potencialmente hostis como: vírus, bactérias, fungos, protozoários e parasitas.
Quando ocorre uma infecção por um destes agentes, o organismo desencadeia
imediatamente vários processos bioquímicos e celulares, para controlar a ação
e a multiplicação dos germes, sendo auxiliado pelos órgãos, células e
moléculas responsáveis pela defesa às infecções, que constituem o SISTEMA
IMUNOLÓGICO, que tem a responsabilidade de eliminar os germes, evitando
as infecções e suas conseqüências potenciais (quanto mais evoluído é o
animal, mais especializado é o seu sistema de defesa).
A primeira condição para que o sistema imunológico inicie um ataque
aos agentes estranhos que penetram no organismo é de ser capaz de discernir
quais estruturas devem ser consideradas diferentes das próprias do organismo,
como também é fundamental reconhecer as próprias proteínas celulares e ser
tolerante a elas, caso contrário haveria ataques constantes contra os próprios
tecidos.
O sistema imunológico é ativado também quando um enxerto ou
transplante é realizado entre dois animais incompatíveis, cuja a identidade da
membrana celular é diferente, o que desencadeia o processo de rejeição do
órgão doador. Uma situação semelhante parece envolver as células dos
tumores malignos, onde certas substâncias expressas ou produzidas pelas
células neoplásicas podem provocar uma resposta imune contra o tumor.
A IMUNOPATOLOGIA pode ocorrer quando todo processo
desencadeado com o objetivo de defender o organismo dos agentes
agressores provocar danos às próprias estruturais, provocando sintomas, e,
inclusive, doenças. Ex.: Hepatite viral  para destruir o vírus é necessário
destruir os hepatócitos infectados, que caso seja um grande número pode levar
o animal a morte por insuficiência hepática.
Os agentes conhecidos como estranhos ao organismo são denominados
de ANTÌGENOS, que são moléculas capazes de provocar uma resposta
imunológica, ou seja, ativar o sistema imune. O EPITOPO (ou
DETERMINANTE ANTIGÊNICO) é a parte do antígeno (Ag) responsável pela
promoção da resposta.
Com isso o sistema imune tem de ser capaz de distinguir os Ag próprios
dos Ag não-próprios, referindo-se ao reconhecimento e ataque das moléculas
estranhas e à tolerância às próprias células e proteínas. No caso de perda da
tolerância, o sistema imune passa a reagir contra os Ag próprios do organismo,
resultando no aparecimento das DOENÇAS AUTO-IMUNES.

2. TECIDO LINFÓIDE
As células que participam da resposta imunológica são basicamente
derivadas do sangue: leucócitos e plaquetas. A hematopoiese inicia-se no
período embrionário da gestação no saco vitelínico. Conforme progride o
desenvolvimento intra-uterino, as células do sangue passam a ser produzidas
também no fígado fetal. Depois disso, a hematopoiese passa a ser função da
medula óssea (animal adulto).
A fim de otimizar as interações celulares necessárias para iniciar e
propagar uma resposta imunológica, as células do sistema imune devem
localizar-se e concentrar-se em tecidos e órgãos anatomicamente definidos.
Estes locais também são os sítios para onde os Ag são transportados e
concentrados. Os órgãos linfóides são compostos por três tipos histológicos
diferentes de tecido linfóide. O que os diferencia é a proporção de células fixas
e livres dentro do tecido conjuntivo. Os macrófagos e as células dendríticas
permanecem fixos. As células livres são aquelas que vêm da circulação ou que
recirculam constantemente em direção ao sangue. Entre as células livres,
estão os linfócitos, os macrófagos livres e as demais células envolvidas com os
sistemas de defesa, incluindo os plasmócitos.
Conforme a quantidade de cada um destes componentes, pode-se
dividir os tecidos linfóides presentes nos órgãos linfóides em FROUXO,
DENSO e NODULAR.
- Tecido linfóide frouxo  predominam as células fixas e há pouca
concentração de células livres.
- Tecido linfóide denso  predominam as células livres e verifica-se maior
concentração celular.
- Tecido linfóide nodular  também predominam as células livres, mas há uma
organização entre elas, criando uma conformação arquitetônica particular,
conhecida como FOLÍCULO LINFÁTICO.
O linfonodo é um órgão no qual os três tipos de tecidos estão presentes.

3. ÓRGÃOS LINFÓIDES
Os órgãos linfóides são classificados funcionalmente em PRIMÁRIOS e
SECUNDÁRIOS. Os órgãos linfóides primários (centrais) são os principais
sítios de linfopoiese. Nestes órgãos os linfócitos são produzidos, sofrem
diferenciação, proliferação, maturação e tornam-se células funcionais. É nos
órgãos linfóides primários que os linfócitos adquirem seus receptores de
superfície e a capacidade de reagir diante de um estímulo antigênico. Também
nos órgãos linfóides primários, os linfócitos específicos contra Ag próprios são
destruídos ou inativados.
Os órgãos linfóides primários dos mamíferos são a medula óssea, onde
todos os linfócitos são inicialmente produzidos, o fígado durante o período fetal,
quando apresenta função semelhante à da medula em termos de
hematopoiese e o timo, onde os linfócitos T amadurecem e atingem um estágio
de competência funcional. Os linfócitos T são timo-dependentes, responsáveis
pela resposta imune celular. Nas aves, a Bursa de Fabrícius, localizada
próxima à cloaca, é onde os linfócitos B tornam-se imunocompetentes, e a qual
eqüivale a medula óssea dos mamíferos. Os linfócitos B são responsáveis pela
resposta imune humoral.
A produção de células do sistema imunológico dos órgãos linfóides
primários não depende da presença de estímulo antigênico direto, mas sim da
influência microambiental destes órgãos.
Os órgãos linfóides secundários (periféricos) incluem os linfonodos, baço
e a própria medula óssea, assim como acúmulos não encapsulados de tecido
linfóide distribuídos pelo organismo. Os acúmulos de tecido linfóide situados
sob uma superfície epitelial são denominados MALT (tecido linfóide associado
as mucosas), que tem como ex.: as amígdalas do anel de Waldeyer e as
placas de Peyer do intestino delgado.
Os linfócitos produzidos na medula óssea, fígado fetal e timo migram até
os órgãos linfóides secundários, onde irão interagir entre si e com Ag,
provocando uma reação conhecida como expansão clonal, que é a
multiplicação dos linfócitos específicos contra os Ag em questão, com o
objetivo de aumentar o número de células combatentes e melhorar a
possibilidade de controle do agente agressor. Assim, os órgãos linfóides
secundários dependem da presença de estímulo antigênico direto, ao contrário
dos órgãos linfóides primários.

BARREIRAS IMUNOLÓGICAS
Os órgãos linfóides secundários estão localizados estrategicamente.
Para proteção do tubo digestivo, o organismo conta com as tonsilas faríngeas,
tubárias, palatinas e lingual do anel de Waldeyer. Seguindo o trajeto do trato
gastrointestinal encontram-se as placas de Peyer do intestino (MALT). Os Ag
que ainda ultrapassam estas barreiras, antes de chegarem a circulação
sanguínea, aindapassam pelos linfonodos mesentéricos que recebem a linfa
proveniente do intestino.
Cada partícula estranha que penetra na pele, devido a uma lesão, será
levada através da linfa para os linfonodos, que distribuem-se amplamente pelo
corpo.
O aparelho respiratório também conta com a defesa inicial do anel de
Waldeyer para partículas inaladas ou aspiradas. A defesa é complementada,
internamente, pelo BALT (tecido linfóide associado aos brônquios), que são
agregados linfóides dos brônquios. Mais profundamente encontram-se os
linfonodos mediastino-pulmonares.
Praticamente todos os órgãos e ainda vários tecidos de sustentação
possuem agregados pouco definidos de tecido linfóide, exceto o SNC.

BARREIRAS IMUNOLÓGICAS

TGI PELE T.RESP.
  
ANEL DE LINFONODOS ANEL
DE
WALDEYER REGIONAIS
WALDEYER
  
PLACAS DE  BALT
PEYER(MALT)  
  
LINFONODOS 
LINFONODOS
MESENTÉRICOS  MED.-
PULM.
  
CIRCULAÇÃO SANGUÍNEA

3.1. MEDULA ÓSSEA


A medula óssea do osso esternal, das vértebras e da bacia são os
principais sítios hematopoiéticos do indivíduo adulto. As células do sangue que
se encontram em diferentes estágios de maturação preenchem a porção mais
central destes ossos, a medula.

3.2. TIMO
É um órgão torácico dividido em dois lobos anatômicos, que entra em
involução durante a puberdade. Origina-se de dois folhetos embrionários: o
mesoderma (timócitos e tecido conjuntivo de sustentação) e o endoderma
(Quarta bolsa faríngea).
A porção cortical do timo é composta por células imaturas. Conforme
migram dentro do timo em direção a porção medular, amadurecem e vão
adquirindo os marcadores celulares característicos das células maduras.
Na camada medular do timo também é possível observar a presença de
estruturas arredondadas e eosinofílicas, os CORPÚSCULOS DE HASSAL, que
parecem constituir agregados de células epiteliais em degeneração.

3.3. LINFONODOS
Os linfonodos, conforme mencionado, estão localizados
estrategicamente. São estruturas arredondadas que se encontram distribuídas
pelo corpo, ao longo dos canais linfáticos. Os Ag coletados na linfa são então
levados aos linfonodos, que acabam recebendo uma amostra do que está
sendo drenado.
É interessante observar que os linfócitos T e B encontram-se separados
em compartimentos antômicos bem distintos. Na periferia do linfonodo,
localizam-se os FOLÍCULOS LINFÁTICOS, constituindo a ZONA CORTICAL,
rica em linfócitos B.
Próximo aos folículos situa-se a ZONA PARACORTICAL, rica em
linfócitos T, contendo também células interdigitantes apresentadoras de Ag, as
quais possuem grande quantidade de proteínas de classe II do MHC na
superfície.
No centro, a ZONA MEDULAR DO LINFONODO é composta por
linfócitos B, T, plasmócitos e macrófagos distribuídos nos tecidos linfóides
denso (cordões medulares) e frouxo (seios medulares). Os linfonodos são os
sítios onde a resposta imune celular, mediada por linfócitos T, é iniciada.
3.4. BAÇO
Localiza-se na região do hipocôndrio esquerdo. Diferente dos outros
órgãos linfóides, a cápsula do baço é constituída por fibras de músculo liso,
além do tecido conjuntivo habitual. As fibras musculares penetram em direção
do parênquima do órgão, formando trabéculas.
O parênquima do baço se divide em polpa branca (tecido linfóide) e
polpa vermelha (seios venosos e hemocaterese). Os folículos linfáticos (polpa
branca) possuem áreas de linfócitos T e B.
O baço é o maior sítio de resposta imune para Ag provenientes da
circulação sanguínea.
O baço é uma fonte importante de linfócitos B e, consequentemente, de
Ac.

3.5. AGREGADOS LINFOCITÁRIOS ASSOCIADOS A MUCOSAS


(MALT)
O tubo digestivo, a árvore respiratória e o trato gênito-urinário são
localizações frequêntes dos agregados linfóides não-encapsulados. O conjunto
desses agregados é chamado MALT. Estes localizam-se em regiões onde há
portas abertas para a entrada de potenciais agentes agressores.
Além da função de defesa, o tecido linfóide associado ao tubo digestivo
(GALT) também é importante para o desenvolvimento de tolerância aos Ag
ingeridos.
O BALT tem papel importante na defesa contra Ag inalados ou
aspirados. As amígdalas do anel de Waldeyer também podem ser
consideradas agregados linfóides sob superfície epitelial.
II. CÉLULAS DO SISTEMA IMUNE

1. INTRODUÇÃO
A resposta imunológica conta com a participação de vários tipos
diferentes de células e com a produção de inúmeros fatores solúveis úteis na
ativação e modulação desta resposta. Estas células estão presentes
normalmente como células circulantes no sangue e na linfa, como agregados
linfóides anatomicamente definidos nos órgãos linfóides e ainda espalhadas
nos diferentes tecidos, à exceção do SNC. A distribuição anatômica destas
células e a sua capacidade de circular entre o sangue, a linfa e os tecidos é de
importância crítica no desenvolvimento de uma resposta imune eficaz.
As principais células que compõe o sistema imunológico são os
leucócitos. Eles podem ser classificados morfologicamente conforme a
presença de grânulos citoplasmáticos em: granulócitos ou agranulócitos. Outro
critério de classificação dos leucócitos é a forma de seu núcleo, sendo dividido
em polimorfonucleares e monomorfonucleares.

2. CÉLULAS DO SISTEMA IMUNE


As células envolvidas na resposta imune pertencem à linhagem
hematopoiética, ou seja, provêm da CÉLULA TRONCULAR DA MEDULA
ÓSSEA ou HEMOCITOBLASTO. Esta célula localiza-se na maior parte do
tempo na medula óssea e pode dar origem a qualquer célula da linhagem
hematopoiética.
As células mais importantes para a resposta imune são os leucócitos,
que diferenciam-se em duas linhagens principais: a linfóide e a mielóide.
A linhagem linfóide produz os diferentes tipos de linfócitos. A linhagem
mielóide é responsável pela população de monócitos, macrófagos, neutrófilos,
eosinófilos e basófilos. As hemáceas e as plaquetas também podem ter uma
participação menor nos fenômenos imunológicos, sendo provenientes da
linhagem eritrocitária e megacariocítica, respectivamente. Outras células que
não fazem parte da linhagem hematopoiética, como os fibroblastos ou células
epiteliais, também podem atuar dentro da resposta imune, produzindo, por ex.:
o interferon (IFN).
As ações imunológicas contra um agente estranho potencialmente
perigoso podem ser divididos conforme aspectos fisiológicos em dois tipos
principais: a resposta inespecífica e a resposta específica. Cada uma das duas
ocorre provavelmente de forma simultânea, mas as células envolvidas e a
comunicação bioquímica entre elas é diferente. A resposta inespecífica é
também denominada imunidade inata, enquanto que a resposta específica é
denominada imunidade adaptativa.

2.1. LINFÓCITOS
Todos os linfócitos são derivados das células tronculares da medula
óssea. Desenvolvem-se nos órgãos linfóides primários (timo e medula óssea),
podendo migrar pela circulação até os órgãos linfóides secundários. Alguns
linfócitos podem ter vida longa e permanecer circulando por anos como
CÉLULAS DE MEMÓRIA. A especificidade da resposta imune é devida aos
linfócitos. Eles são as únicas células capazes de reconhecer especificamente
os diferentes determinantes antigênicos.
Entretanto, não é possível diferenciar os linfócitos T dos linfócitos B, nem
identificar os linfócitos T-auxiliar, citotóxico ou supressor. O critério de distinção
destas células é o estudo de seus marcadores de superfície.
Todas as células expressam um grande número de moléculas
diferentes em sua superfície. Estas moléculas, quando identificadas, podem ser
utilizadas para distinguir diferentes populações de células. Por isso, estas
moléculas foram denominadas genericamente de MARCADORES DE
SUPERFÍCIE. Cada subtipo de linfócitos apresenta marcadores característicos,
que nos permitem identificar de que tipo ele é. A maioria destes marcadores de
superfície podem ser identificados através de técnicas sofisticadas que
empregam Ac monoclonais e citometria de fluxo.
O sistema de CD (cluster of differentiation) foi criado em referência aos
grupos de Ac monoclonais que se ligavam especificamente a cada marcador
de superfície leucocitário. Assim, os Ac monoclonais dos diferentes centros de
pesquisa que se ligavam a um marcador em particular foram agrupados de
acordo com características bioquímicas, recebendo um número identificador
(ex.: CD1, CD4 etc). Desta forma, os marcadores moleculares foram definidos
conforme a informação que eles ofereciam.
Além dos linfócitos T e B, um terceiro subgrupo de linfócitos foi
reconhecido. Inicialmente, esta população recebeu a denominação de células
nulas, porque não expressam marcadores característicos de células T ou B.
Atualmente, estes linfócitos são conhecidos como NATURAL KILLER CELLS
(células NK). Eles reconhecem diretamente alterações protéicas presentes na
membrana das células, destruindo-as de forma inespecífica.
Os linfócitos em geral sofrem uma seqüência de alterações após serem
ativados.

2.1.1. LINFÓCITOS T
Existem vários tipos de linfócitos T. Os linfócitos T-auxiliares coordenam
todo resposta imune, reconhecendo o agente agressor (Ag) e ativando as
diferentes funções efetoras necessárias. Os linfócitos T-citotóxicos atuam
destruindo diretamente células reconhecidas como estranhas, como
transplantes incompatíveis, células parasitadas por vírus e células neoplásicas.
Atualmente, a distinção entre linfócitos T e B é feita pela presença do
RECEPTOR ANTIGÊNICO DE CÉLULAS T (RCT) nos linfócitos T.
Aproximadamente, 90-95% dos linfócitos T circulantes são TCR-2+. Os
5 a 10% restantes são TCR-1+. Os linfócitos T-auxiliares e citotóxicos
reconhecem somente Ag peptídicos ligados a proteínas codificadas pelo
COMPLEXO DE HISTOCOMPATIBILIDADE PRINCIPAL (MHC) e expressos
na superfície de outras células. Portanto, os linfócitos T reconhecem e
respondem a Ag associados à superfície celular, mas não a Ag solúveis livres.
Os linfócitos T TCR-2+ podem ainda ser subdivididos entre CD4 e CD8.
Os que expressam o marcador CD4 são os que auxiliam e ativam a resposta
imune, portanto, denominados de linfócitos T-auxiliares (CD4+). Estes linfócitos
reconhecem o Ag em combinação com proteínas de classe II do MHC. Os
linfócitos que expressam a molécula CD8 são predominantemente citotóxicos.
Eles reconhecem o Ag em conjunção com proteínas de classe I do MHC. A
maioria dos linfócitos T TCR-1+ não expressam o CD4 nem o CD8.
Em resposta ao estímulo antigênico, os linfócitos T-auxiliares e
citotóxicos secretam substâncias chamadas CITOCINAS. A função das
citocinas é promover a proliferação e a diferenciação dos linfócitos T, assim
como das outras células, incluindo linfócitos B e macrófagos.

2.1.2. LINFÓCITOS B
Os linfócitos B ativados pela resposta imunológica proliferam e se
diferenciam em plasmócitos. Os plasmócitos produzem uma grande quantidade
de Ac específicos (imunoglobulinas - Ig) contra o agente agressor envolvido.
Os linfócitos B podem ser identificados pela presença de
imunoglobulinas em sua superfície. O próprio linfócito B produz estas Ig e
insere-as em sua membrana, onde agem como receptores específicos para os
Ag. Somente as células da linhagem B podem produzir Ac.
A maioria dos linfócitos B expressam as proteínas de classe II do MHC,
o que é importante na cooperação célula T - célula B. Os marcadores mais
utilizados na atualidade para identificar as células da linhagem B são o CD19, o
CD20 e o CD22.
Quando uma célula precursora comprometida com a linhagem B se
diferencia, começa a produzir Ac. Esta diferenciação progride e origina os
plasmócitos. Eles são responsáveis pela produção de Ac em concentrações
adequadas para a resposta imune. Algumas células da linhagem B, entretanto,
não desenvolvem retículo endoplasmático rugoso, não chegando até o estágio
de plasmócitos. Elas permanecem localizadas nos centros germinativos dos
folículos, provavelmente como células de memória do sistema imunológico.
Elas garantem uma resposta rápida e eficiente em um segundo contato com
determinado Ag proporcionando imunidade duradoura. Além de linfócitos B,
entre as células de memória também estão possivelmente linfócitos T.

2.1.3. CÉLULAS NK (NATURAL KILLER)


A célula NK é um linfócito grande e granular. O seu marcador é o CD16.
Entretanto, este marcador não é específico das células NK, podendo ser
encontrado também em neutrófilos, em alguns macrófagos e em alguns
linfócitos T (em geral quando TCR-1+).
A principal função das células NK é destruir células parasitadas por vírus
e células neoplásicas. Aparentemente, as células NK são capazes de
reconhecer glicoproteínas de alto peso molecular que aparecem na superfície
de células infectadas por vírus. A ativação das células NK leva ao
deslocamento intracitoplasmático de seus grânulos em direção à célula alvo em
poucos minutos. Em seguida, ocorre a liberação destes grânulos para o meio
extracelular, no espaço entre a NK e a célula alvo. A destruição da célula alvo
pela ação da célula NK acontece por ativação da apoptose. Este é o
mecanismo pelo qual a morte da célula é provocada por ativação genética do
seu processo de autodestruição.
Além disso, através de seu receptor para IgG, a célula NK pode ligar-se
a alvos que estejam cobertos de IgG, em uma atividade denominada de
CITOTOXIDADE CELULAR DEPENDENTE DE ANTICORPOS.
Quando entram em contato com a interleucina 2 (IL-2), uma citocina, as
células NK tornam-se ativadas, adquirindo propriedades citotóxicas mais
intensas.

2.2. MACRÓFAGOS E MONÓCITOS


São derivados das células tronculares da medula óssea e têm como
principais funções a FAGOCITOSE de partículas estranhas e a
APRESENTAÇÃO DE ANTÍGENO para os linfócitos T-auxiliares.
Os monócitos que saíram para os tecidos, tornando-se fixos, passam a
se chamar macrófagos, que podem permanecer por semanas ou meses.
Conforme o tecido ou órgão em que se encontram, os macrófagos recebem
um nome distinto:

NOME LOCALIZAÇÃO
Células de Langerhans Epiderme
Histiócito Derme
Célula de Kupffer Fígado
Osteoclasto Osso
Macrófago alveolar Pulmão
Micróglia SNC
Célula mesangial do glomérulo Rim
Para ocorrer fagocitose é necessário que o microorganismo ou partícula
estranha fique aderido à superfície do macrófago através de receptores. Os
macrófagos apresentam receptores para Ac do tipo IgG na sua superfície:
- Fc R I (CD64) de alta afinidade
- Fc R II (CD32) de afinidade intermediária
- Fc R III (CD16) de baixa afinidade
Esses três receptores para IgG provavelmente possuem funções
diferentes, incluindo o estímulo para destruição por mecanismos extracelulares,
opsonização e fagocitose.
Outro receptar importante para a apreensão do microorganismo para
fagocitose é o CR1 (receptor para a fração C3b do complemento; CD35).
Alguns macrófagos/monócitos expressam proteínas de classe II do
MHC, as quais são importantes no processo de apresentação do Ag. Os
macrófagos expressam ainda receptores para fatores estimulantes
provenientes de linfócitos. Entre eles estão os receptores para interleucina 2
(IL-2) e interferon  (IFN-). Os macrófagos ativados, por sua vez, liberam
citocinas como IFN, IL-1 e fator de necrose tumoral (TNF-).

2.3. CÉLULAS APRESENTADORAS DE ANTÍGENOS (CAA)


As células apresentadoras de antígeno (CAA) são uma população
heterogênea de leucócitos com capacidade imunoestimulatória. Algumas
outras células que não são fagócitos, tais como células epiteliais e endoteliais,
também são capazes de apresentar Ag para os linfócitos, quando estimuladas
por citocinas.
As CAA encontram-se principalmente na pele e nos órgãos linfóides.
Acredita-se que as células de Langerhans da epiderme, ricas em
determinantes de classe II do MHC, capturam o Ag na epiderme, carregam-no
através da pele, entram na circulação linfática e migram até a região
paracortical dos linfonodos pelos vasos linfáticos aferentes. Na paracortical,
estas CAA interagem com os linfócitos T-auxiliares ali presentes, apresentando
o Ag e dando início a uma série de reações cujo objetivo final é destruir o
elemento estranho. Outra população especializada de CAA são as células
dendríticas foliculares, as quais se encontram em áreas de tecido linfóide ricas
em linfócitos B, como o baço e os folículos dos linfonodos. Estas CAA
apresentam os Ag diretamente aos linfócitos B, não expressam determinantes
da classe II do MHC na superfície, mas sim receptores para imunoglobulinas
(FcR) e para frações do sistema complemento (CR1 e CR2).
As CAA também estão presentes em grande número no timo. São ricas
em Ag próprios, incluindo as moléculas de classe II do MHC. As células
interdigitantes parecem ter como função deletar os clones de linfócitos que
reagiriam contra Ag próprios.

2.4. CÉLULAS DENDRÍTICAS


São células que derivam provavelmente dos precursores medulares e
são relacionados à linhagem dos fagócitos mononucleares. Apresentam
projeções membranosas do citoplasma, que lembram espinhos. Entre elas
estão as CÉLULAS DENDRÍTICAS INTERDIGITANTES e as CÉLULAS
FOLICULARES DENDRÍTICAS. As células dendríticas interdigitantes estão
presentes no interstício de vários órgãos. São abundantes nas áreas ricas em
células T dos linfonodos e do baço. Na epiderme recebem a denominação de
células de Langerhans. São células muito eficientes na apresentação de Ag
aos linfócitos T-auxiliares. Parecem ser capazes de carregar os Ag desde a
epiderme até o linfonodo mais próximo, onde a resposta imune inicia.
As células foliculares dendríticas estão presentes no centro germinativo
dos folículos linfáticos dos linfonodos, do baço e dos agregados linfocitários
associados a mucosas (MALT). As células foliculares dendríticas não parecem
ser derivadas de precursores medulares.

2.5. POLIMORFONUCLEARES (PMN)


Os granulócitos polimorfonucleares (PMN) são leucócitos que
apresentam o citoplasma rico em grânulos e o núcleo de múltiplas formas. Sua
permanência no sangue costuma ser pequena, em média de 6 a 8 horas,
enquanto que os monomorfonucleares podem durar meses nos tecidos.
Os PMN representam normalmente 60-70% dos leucócitos do sangue
periférico. A função predominante dos PMN é a fagocitose.

2.5.1. NEUTRÓFILOS
São os leucócitos granulócitos dominantes da circulação sangüínea
(90%). Não são capazes de se dividirem e tem vida curta.
Eles originam-se no compartimento de formação da medula óssea, a
partir da maturação da linhagem mielóide.
Encontram-se aumentados (número) no sangue frente a processos
inflamatórios. O derramamento de neutrófilos na circulação tem como
conseqüência uma leucocitose às custas de neutrofilia detectável no
hemograma.

2.5.2. EOSINÓFILOS
Representam cerca de 2 a 5% dos leucócitos circulantes.
Sua principal função é a destruição de organismos patogênicos que são
muito grandes para serem fagocitados, como é o caso dos helmintos. Neste
caso, o eosinófilo ativado procura a superfície do parasito e provoca a extrusão
de seus grânulos citoplasmáticos na superfície (desgranulação), causando
danos na parede do parasita.
Os eosinófilos são atraídos por produtos como ECF-A (fator quimiotático
dos eosinófilos na anfilaxia) liberado por linfócitos T, mastócitos e basófilos. A
proximidade com o agente agressor é maior quando o mesmo está coberto por
Ac da classe IgG ou IgE, pois os eosinófilos expressam receptores para a
porção Fc de ambas Ig em sua superfície.
Os eosinófilos liberam uma toxina conhecida como proteína básica
principal sobre os parasitas. Eles também podem liberar histaminase, que
inatiava a histamina produzida pelos mastócitos. Os efeitos dos fatores
liberados pelos eosinófilos são parte de uma modulação inibitória da reação
inflamatória, impedindo a migração de granulócitos para o sítio infeccioso.

2.5.3. BASÓFILOS
São encontrados com pouca freqüência na circulação sangüínea. Os
grânulos do seu citoplasma contêm compostos de heparina, SRS-A (substância
de reação lenta da anafilaxia) e ECF-A.
Os basófilos, a exemplo dos mastócitos, exibem em sua superfície o
receptor de alta afinidade para IgE (Fc RI).
Quando em contato com um ALERGENO (Ag que provoca reação
alérgica), pode haver desgranulação, com a liberação do conteúdo dos
grânulos, como a histamina, que é responsável pelos efeitos clínicos da alergia.
A principal função dos basófilos é provavelmente participar da defesa contra
parasitas do tubo digestivo.

2.5.4. MASTÓCITOS
Os mastócitos não são encontrados no sangue, mas suas propriedades
são muito semelhantes às dos basófilos. É uma célula globosa, grande, sem
prolongamentos e com o citoplasma cheio de grânulos basófilos. A liberação de
mediadores químicos armazenados nos mastócitos promove recrutamento de
neutrófilos e de frações do sistema complemento presentes no plasma em
direção do sítio inflamatório. Isto provoca relaxamento das paredes arteriolares,
com conseqüente aumento do fluxo sangüíneo e dilatação venular, ao mesmo
tempo em que ocorre contração do endotélio capilar no foco inflamatório,
permitindo, então, exsudação das proteínas plasmáticas. Os neutrófilos
recrutados sofrem marginação no endotélio dos capilares do foco inflamatório,
seguindo-se sua diapedese. Já nos tecidos eles continuam a sofrer a ação
quimiotática dos mediadores liberados. Eles migram até o foco inflamat[orio por
gradiente de concentração dos mediadores, até chegar ao microorganismo
coberto por frações do sistema complemento.
A desgranulação dos mastócitos provoca também reações alérgicas
denominadas reações de hipersensibilidade imediata. Esta reação é assim
denominada porque acontece minutos após a penetração do Ag em indivíduo
sensibilizado previamente.

2.5.5. PLAQUETAS
As plaquetas derivam dos megacariócitos da medula óssea.
Quando examinamos na microscopia eletrônica observam-se grânulos
no interior das plaquetas, junto com organelas citoplasmáticas. As plaquetas
não contêm núcleo. Expressam proteínas de classe II do MHC, receptores para
IgG e IgE (FcRII e FcRII, respectivamente), receptores para o fator VIII da
coagulação e para a citoadesina, responsável pela adesão ao fibrinogênio e
fibronectina.
Após dano endotelial, as plaquetas aderem-se à superfície do tecido
danificado. Os agregados plaquetários aumentam a permeabilidade, ativam a
sistema complemento e atraem leucócitos.

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