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WBA1046_V1.

TERAPIA COGNITIVO-
COMPORTAMENTAL, DEMANDAS
E TENDÊNCIAS ATUAIS
2

Talita Fernanda da Silva


Melina Paula Sales

TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL,
DEMANDAS E TENDÊNCIAS ATUAIS
1ª edição

São Paulo
Platos Soluções Educacionais S.A
2022
3

© 2022 por Platos Soluções Educacionais S.A.

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Beatriz Meloni Montefusco
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


_____________________________________________________________________________
Silva, Talita Fernanda da
Terapia cognitivo-comportamental, demandas e
S586t
tendências atuais / Talita Fernanda da Silva, Melina Paula
Sales. – São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A.,
2022.
34 p.

ISBN 978-65-5356-352-0

1. Psicologia. 2. Terapia. 3. Terapia comportamental.


I. Sales, Melina Paula. II. Título. 3. Técnicas de speaking,
listening e writing. I. Título.
CDD 616.891
_____________________________________________________________________________
Evelyn Moraes – CRB: 010289/O

2022
Platos Soluções Educacionais S.A
Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César
CEP: 01418-002— São Paulo — SP
Homepage: https://www.platosedu.com.br/
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TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL,
DEMANDAS E TENDÊNCIAS ATUAIS

SUMÁRIO

Apresentação da disciplina ___________________________________ 05

Terapia Cognitivo-Comportamental para casais e famílias____ 07

O diálogo entre a abordagem cognitivo-comportamental e os


temas suicídio, luto e espiritualidade__________________________ 19

Interface entre a abordagem cognitivo-comportamental e a


Terapia de Aceitação e Compromisso_________________________ 32

Terapia Cognitivo-Comportamental e a Psicologia Positiva____ 43


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Apresentação da disciplina

A disciplina Terapia Cognitivo-Comportamental, demandas e tendências


atuais busca com que o aluno compreenda as demandas e tendências
atuais em terapia cognitivo-comportamental, ou seja, compreender as
atuais aplicações práticas dessa abordagem.

Desse modo, a proposta dessa disciplina é desenvolver competências


e habilidades, como: estudar as demandas e tendências atuais em TCC;
refletir criticamente sobre as demandas e tendências atuais em TCC e
conhecer abordagens e perspectivas atuais em TCC. Isto por meio dos
seguintes conteúdos, TCC para casais e famílias; TCC, suicídio, luto e
espiritualidade; TCC – Terapia de Aceitação e Compromisso e TCC e a
Psicologia Positiva.

No primeiro tema, nomeado Terapia Cognitivo-Comportamental para


casais e famílias, o aluno apreenderá sobre área da Psicologia Clínica e
suas abordagens na história da Psicologia enquanto ciência e profissão,
e assim, retomará os aspectos históricos relevantes da trajetória da
Teoria Cognitivo-Comportamental (TCC). Estudará e refletirá criticamente
sobre as demandas e tendências atuais em TCC, além de conhecer sua
aplicação no atendimento psicológico a casais e famílias.

No segundo tema, será abordada a temática de suicídio, luto e


espiritualidade na perspectiva da TCC, demonstrando os principais
conceitos teóricos sobre esses temas, bem como a prática do psicólogo
que utiliza essa abordagem para trabalhar com esses temas. Já o
terceiro tema discutirá sobre a Terapia de Aceitação e Compromisso.
6

E, por fim, no quarto tema, chamado Terapia Cognitivo-Comportamental


e a Psicologia Positiva, o objetivo será abordar a respeito da área da
Psicologia Positiva, e assim fazer o aluno reconhecer e compreender
a movimentação da Psicologia Positiva dentro da Psicologia enquanto
ciência, bem como a importância dessa área, e enfim conhecer a relação
e as possibilidades com a TCC.
7

Terapia Cognitivo-
Comportamental para
casais e famílias
Autoria: Talita Fernanda da Silva
Leitura crítica: Mariane Lopez Molina

Objetivos
• Retomar os aspectos históricos relevantes da
trajetória da Teoria Cognitivo-Comportamental (TCC).

• Estudar e refletir criticamente sobre as demandas e


tendências atuais em TCC.

• Compreender as demandas e tendências atuais em


Terapia Cognitivo-Comportamental no atendimento
psicológico à casais e famílias.
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1. Terapia Cognitivo-Comportamental

A Psicologia, em sua prática profissional, em especial na Psicologia


Clínica, pode trabalhar com diferentes públicos, como: crianças;
adolescentes; jovens; adultos; casais; famílias, entre outros. Nesse
material, abordaremos a respeito de casais e famílias, na perspectiva da
abordagem psicológica da Teoria Cognitivo-Comportamental (TCC).

Primeiramente, serão retomados os principais aspectos históricos


da trajetória da Teoria Cognitivo-Comportamental, assim, como seus
principais autores, com o objetivo de refletir sobre o desenvolvimento
dessa abordagem. E, a partir disso, discutiremos sobre as demandas e
tendências atuais em TCC, em especial neste tema sobre o atendimento
psicológico a casais e famílias.

1.1 Teoria Cognitivo-Comportamental: aspectos


históricos, conceituais e perspectiva de indivíduo

A Psicologia, no Brasil, enquanto profissão foi regulamentada em 1962,


por meio da Lei nº 4119 de 27 de agosto, pelo presidente da República
João Goulart, possibilitando a concessão do diploma de formação de
psicólogos (BRASIL, 1962). Lisboa e Barbosa (2009) complementam que,
no mesmo ano, por meio de um Parecer nº 403/62, o Conselho Federal
de Educação (CFE) atribuiu a duração mínima e o currículo dos cursos
de Psicologia, sendo isso o que contribuiu para os direcionamentos de
construção do curso.

Posteriormente, os cursos voltados para a formação do psicólogo


passaram a ser instaurados em diferentes partes do país. Foi nesse
período, na década de 1970 que cresceu o número de graduações de
Psicologia, principalmente nas faculdades e universidades privadas,
bem como avançou a procura pelos serviços de Psicologia (ANTUNES,
2012; PEREIRA; PEREIRA NETO, 2003; VILELA, 2012). Mas, nesse início, a
9

formação era voltada para a área clínica, ou seja, constituída por meio de
disciplinas com conteúdos relacionados às abordagens psicoterápicas,
os psicodiagnósticos, a avaliação psicológica etc., e a prática profissional
também era voltada para a Psicologia Clínica (MELLO, 1978 apud SOUZA,
2009; OLIVEIRA; MARINHO-ARAUJO, 2009).

Nesse sentido, a Psicologia Clínica sempre foi a área de destaque


dentro da Psicologia, tanto a nível nacional quanto internacional. Mas,
ao adentrar pela área da Psicologia Clínica, importante destacar as
abordagens que ganham um papel de extrema relevância até os tempos
atuais na formação do psicólogo. Assim, as três grandes abordagens do
enfoque clínico foram: Psicanálise; Humanista; e Comportamental.

Assim, a maioria das pessoas e estudantes antes de aprofundar


seus estudos em Psicologia conhecem que, a Psicanálise pode ser
representada por Sigmund Freud, enquanto a Humanista por Carl
Rogers, e a Comportamental por Skinner. Porém, existem muitas
outras abordagens e representantes, ou seja, há diferentes abordagens
e teóricos, para auxiliar os psicólogos a compreender o indivíduo
e o mundo que o cerca. Aqui se dará destaque para abordagem
Comportamental, especialmente, para a abordagem da Teoria Cognitiva-
Comportamental, conhecida também como TCC. Para Bahls e Navalar
(2004, p. 3) “a Terapia Cognitivo-Comportamental integra técnicas e
conceitos vindos de duas principais abordagens tais como a cognitiva e a
comportamental”.

Em relação à trajetória histórica da Teoria Cognitivo-Comportamental


(TCC), iniciou-se em 1950, por meio do modelo do estudioso Albert Ellis,
sendo chamado de cognitivo comportamental. Já no início dos anos
1960, com o teórico Aaron T. Beck (2013) teve início a Teoria Cognitiva-
Comportamental, assim, pode-se dizer que as terapias cognitivas
começaram a surgir ao final dos anos 1960.
10

Importante destacar que as terapias cognitivas também surgiram


no final dos anos 1960, devido à insatisfação com os modelos
comportamentais, os quais não reconheciam os processos cognitivos,
mas apenas o comportamento.

Assim, participaram desse movimento, Albert Bandura (que propôs uma


compreensão da aprendizagem sem tentativa, apresentando conceito
de modelação); Michael Mahoney; e Lev Semenovich Vygotsky (Rangé;
Falcone; Sardinha, 2007).

Em nossos estudos será dado enfoque ao personagem Aaron Beck,


nascido em 18 de julho de 1921, na cidade de Rhode Island, nos Estados
Unidos. Seus pais eram judeus, imigrantes russos. Ele estudou na Brown
University (EUA), assim foi graduado em 1942, nas áreas de inglês e
Ciência Política. Posteriormente, estudou na Yale Medical School (EUA),
e por volta de 1946 se formou em Medicina (IPTC, 2022). Após formado,
ministrou aulas de psiquiatria na University of Pennsylvania (EUA), e,
com isso, realizou pesquisas a respeito de depressão, focando seus
estudos no tratamento da depressão, e ainda, nesse período passou a
questionar o tratamento e o uso de fármacos.

Figura 1 – Aaron Beck

Fonte: https://citacoes.in/autores/aaron-temkin-beck/?o=popular.
Acesso em: 21 ago. 2022.
11

Dessa maneira, Beck ficou conhecido como o pai da Terapia Cognitivo-


Comportamental, e desenvolveu a sua teoria após perceber que os
métodos antes utilizados, não eram tão eficientes, principalmente no
tratamento da depressão (DOBSON; DOBSON, 2010).

Os resultados das intervenções psicoterápicas para pacientes com


depressão, fizeram com que ele desenvolvesse técnicas e passasse a
utilizar técnicas similares para o tratamento e intervenção com outras
doenças, por exemplo, ansiedade e transtornos de personalidade. Além
da teoria, Aaron Beck desenvolveu um instituto, junto com sua filha,
a psicóloga Judith Beck. Este instituto foi fundado com o objetivo de
estudar as doenças psíquicas e realizar formação em Terapia Cognitivo-
Comportamental para profissionais (DOBSON; DOBSON, 2010; IPTC,
2022).

Com isso, Aaron Beck, era psicanalista, porém, em 1957 passou a


questionar a Psicanálise, e isso iniciou, segundo Beck et al. (1982) citado
por Rangé, Falcone e Sardinha (2007) quando verificou que a hipótese
da raiva retrofletida não se confirmara em seu estudo com pacientes
deprimidos. Assim, a partir de seu contato com pacientes com sintomas
de depressão, o estudioso passou a considerar a depressão por uma
outra perspectiva. Nesta perspectiva, Beck acreditava ser possível
mensurar a depressão, e com o tempo desenvolveu o Inventário de
Depressão de Beck (avalia os sintomas da depressão, e segue critérios
diagnósticos da DSM-5 e CID-10, podendo ser usado com pacientes de
13 anos até a terceira idade, importante consultar o SATEPSI, caso ocorra
interesse em usar).

Dessa maneira, a terapia cognitiva de Beck e a terapia racional emotivo-


comportamental de Ellis focalizam-se nas cognições para promover
mudanças emocionais e comportamentais. Conforme Rangé, Falcone
e Sardinha (2007, [s.p.]) “os modelos cognitivo-comportamentais têm
origem mais clara nas terapias comportamentais, que incluem as
estratégias de solução de problemas”.
12

Além disso, os autores ainda destacam que o tratamento sempre


esteve baseado nas crenças específicas e padrões de comportamento,
nesse sentido o terapeuta busca produzir mudanças (cognitivas), sendo
relacionadas com o pensamento do paciente, bem como suas crenças. E
isto acabará produzindo mudanças emocionais e comportamentais.

As abordagens cognitivas compreendem que um processo interno e


oculto de cognição acaba mediando o comportamento do indivíduo, com
isso um mesmo evento pode ser considerado como agradável para uma
pessoa, gerando um comportamento de aproximação, ou ameaçador
para outra, provocando ansiedade, esquiva, entre outros. Portanto,
segundo Knapp (2004), a interpretação do evento que gera emoções e
comportamentos e não o evento em si.

Sendo assim, ao abordar a TCC, o profissional está aceitando


as cognições e mediações, ou seja, passa a aceitar cognições
(percepções, pensamentos, crenças) como tendo uma influência
direta no comportamento (BECK, 1963). Segundo Kerbauy (1983, p.
12) “efetivamente, ao se aceitar cognições decorre a aceitação da
mediação na aprendizagem, com a inclusão de processos simbólicos
como a percepção e interpretações de eventos do meio em um sistema
de crenças ou instruções verbais”. Portanto, o mesmo autor destaca
que, “para a TCC os indivíduos fariam interpretações estereotipadas,
que seriam empregadas em várias situações, causando distúrbios de
comportamento” (id., p.12). Então, estaria ocorrendo nessa situação
a interação dos processos cognitivos do indivíduo com os eventos do
meio, permitindo a compreensão dos comportamentos.

Conforme Bahls e Navalar (2004, p. 3) a Terapia Cognitiva utiliza


“biopsicossocial na determinação e compreensão dos fenômenos
relativos a psicologia humana, no entanto constitui-se como uma
abordagem que focaliza o trabalho sobre os fatores cognitivos da
psicopatologia”.
13

A perspectiva de indivíduo da TCC é que:

[...] os indivíduos atribuem significado a acontecimentos, pessoas,


sentimentos e demais aspectos de sua vida, com base nisso comportam-se
de determinada maneira e constroem diferentes hipóteses sobre o futuro
e sobre sua própria identidade. (BAHLS; NAVALAR, 2004, p. 3)

Por isso, Beck (1963) explica que uma estrutura cognitiva é um


componente da organização cognitiva em contraste com os processos
cognitivos que são passageiros. Com isso, Bahls e Navalar (2004) e Beck
(2013) apontam que a TCC tem como objeto de estudo a natureza e a
função dos aspectos cognitivos, ou seja, o processamento de informação
que é o ato de atribuir significado a algo, assim ela busca descrever
a natureza de conceitos (resultados de processos cognitivos) que
direcionam para uma possível psicopatologia, e dessa forma buscam
estratégias para levar a correção.

Portanto, o papel do terapeuta na TCC “é auxiliar o cliente a identificar


seus pensamentos aberrantes e aprender maneiras mais realistas de
formulá-los” (Kerbauy,1983, p. 14). Ainda, “atribui a aceitação fácil dessa
premissa por parte do cliente à sua experiência anterior em corrigir
interpretações errôneas. O paciente estaria aplicando as mesmas
técnicas de resolução de problemas” (ibidem).

E, por fim, para aplicação dessas perspectivas e das técnicas de análise,


os psicólogos que aplicam a TCC mencionam a respeito de alguns
princípios básicos. Conforme Beck (2013), são: 1) Conceitualização
cognitiva; 2) Aliança terapêutica sólida; 3) Colaboração e participação
ativa de ambos; 4) Foco nos problemas e objetivos; 5) Ênfase
inicialmente no presente; 6) Psicoeducação; 7) Tempo limitado; 8)
Sessões estruturadas; 9) Ensinar o paciente a identificar e avaliar
seus pensamentos e crenças disfuncionais e a responder a estes; e
10) Utilização de técnicas para mudar o pensamento, o humor e o
comportamento.
14

Portanto nesse tópico, você pode compreender a respeito da história


da TCC, teóricos de destaque, bem como os principais conceitos,
perspectiva de homem, intervenção, e técnicas de trabalho. A seguir,
você compreender o trabalho da TCC aplicado em casais e famílias,
de modo a relacionar técnicas e formato de trabalho verificados no
primeiro tópico.

2. TCC para casais e famílias

A Terapia Cognitivo-Comportamental pode ser utilizada com diferentes


públicos, bem como ser aplicada em distintas queixas apresentadas
pelos indivíduos, e assim contribuir com diferentes comportamentos
apresentados pelos indivíduos.

Isto é realizado por meio das intervenções, com diferentes técnicas,


e aqui nesse tópico será aprofundado o contexto que cerca o tema
casais e famílias, e como a TCC compreende as situações problemas
vivenciadas por casais e famílias e como aplica seus conceitos e técnicas.

2.1. TCC para casais

No Brasil e em outros países, os índices de separação ou divórcio


cresceram de maneira significativa nos últimos anos, e isto está
relacionado às mudanças sociais que impactam na forma de viver
dos indivíduos. Nesse sentido, Peçanha e Rangé (2008, p. 9) destacam
que, “em nossa sociedade, um número expressivo de casais enfrenta
problemas por conta de relações disfuncionais e conflituosas”. Segundo
os mesmos autores, esta questão pode “influenciar no desenvolvimento
e manutenção de transtornos psíquicos, como a depressão e a
ansiedade” (ibidem).

Os dados aqui apresentados anteriormente são informações


que segundo Epstein e Schlesinger (1995) são relevantes para os
15

profissionais da área de saúde, como psicólogos, médicos, entre outros.


Quando ocorre o rompimento de relações amorosas, isto acaba sendo
um fator de estresse que pode contribuir para o impacto de aspectos da
saúde.

Segundo Peçanha e Rangé (2008) a abordagem da TCC teve influência


no desenvolvimento de técnicas para a intervenção em atendimentos
de casais. Assim, no processo terapêutico buscava-se identificar crenças
ou pensamentos inadequados, que levava a mudanças emocionais e
comportamentais nos parceiros, e, portanto, buscava-se modificar o
comportamento identificado. Com isso, a “terapia cognitiva com casais
envolve auxiliar os membros do casal a tomarem consciência dos
pensamentos disfuncionais que praticam na sua relação, os quais levam
a conflitos nas suas interações” (VIZZONI, 2012, [s.p.]).

Para que isto ocorra, a TCC com casais utiliza um conjunto de princípios
e técnicas para alterar e até mesmo aumentar as perspectivas dos
cônjuges na interpretação que fazem dos significados e causas dos seus
comportamentos, ou seja, será por meio destas técnicas que os casais
aprendem a corrigir as suas interações menos corretas e a melhorar o
seu relacionamento.

De acordo com Dattilio (2011), as técnicas iniciais usadas na TCC com


casais para avaliar as situações vivenciadas, são: a) entrevistas iniciais
conjuntas; b) entrevistas iniciais individuais; c) instrumentos psicológicos,
do tipo inventário e questionário, para coletar informações, como
por exemplo: Inventário de Crença Sobre Relacionamento; Medida da
Atribuição nos Relacionamentos; Escala de Ajustamento Diádico (DAS);
Escala de Satisfação Conjugal (ESC), Inventário de Habilidades Sociais
Conjugais (IHSC) etc.; d) Identificação das áreas problemáticas; e)
Identificação de pensamentos automáticos, das crenças intermediárias e
das crenças básicas; f) Influência das famílias de origem.
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E, assim, por meio das técnicas, o psicólogo irá coletar as informações


para avaliar, com isso analisar as informações e relacioná-las, e
concomitante ou posteriormente intervirá, também, utilizando de
técnicas como, modificação de padrões de comportamento; intervir
nas reações emocionais, bem como seguir as etapas da reestruturação
cognitiva, e também realizar o treinamento em comunicação,
treinamento em resolução de problemas, término e prevenção de
recaídas.

2.2. TCC para famílias

A família pode ser organizada de diferentes maneiras e tem um papel de


extrema relevância quando diz respeito à vida de qualquer indivíduo. A
família pode ser definida como um agrupamento de indivíduos formado
por duas ou mais pessoais, as quais possuem ligações biológicas,
ancestrais, legais e/ou afetivas, que podem viver na mesma casa ou
que em algum momento já viveram na mesma casa (SILVA; CARMO;
OLIVEIRA, 2021).

Esse grupo considerado família pode ser formado por indivíduos


solteiros, casais heterossexuais, casais homossexuais, entre outras
composições presentes em contextos sociais. Nas últimas décadas, a
sociedade vem apresentando novas características e novas dinâmicas
sociais nas relações, e a família também teve seus impactos frente às
mudanças sociais.

Conforme Oliveira, Braga e Prado (2017, p. 34 apud SILVA; CARMO;


OLIVEIRA, 2021):

[...] o conceito de família foi se modificando ao longo da história da


humanidade, onde cada sociedade tem sua concepção de família [...]
passou a ser definido de várias maneiras, assumindo as características
de cada povo e região, e consequentemente adquirindo um significado
17

muito amplo. (OLIVEIRA; BRAGA; PRADO, 2017, p. 34 apud SILVA; CARMO;


OLIVEIRA, 2021)

Com isso, na família existem os membros que compõem o grupo,


normalmente pai, mãe, filhos e seus descendentes, os quais
compartilham do mesmo sobrenome, vindo herdado dos ascendentes
diretos. A família é unida por múltiplos laços, os quais são capazes de
manter os membros de forma moral, material e recíproca durante a vida
e, também, durante as gerações.

Dessa maneira, o núcleo familiar é um dos locais para os indivíduos


desenvolver suas potencialidades enquanto ser humano, sendo seu
desenvolvimento integral, ou seja, intelectual, físico, emocional etc.

Diante de todo exposto, vale ressaltar que, no atendimento de família, a


abordagem da TCC visa alterar e expandir as perspectivas dos membros
familiares, sendo: pais, filhos, entre outros. E, nesse sentido de aumentar
repertórios o terapeuta utilizará de técnicas, para que seus pacientes
aprendam a corrigir as suas interações menos corretas e a melhorar o
seu relacionamento, impactando, assim, na interação, comunicação e
vínculo afetivo.

Referências
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perspectivas. Psicologia Escolar e Educacional, v. 12, n. 2, p. 469-475, 2008.
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BRASIL. Presidência da República. Decreto nº 53.464, de 21 de janeiro de 1964.
Regulamenta a Lei nº 4.119, de 27 de agosto de 1962, que dispõe sôbre a profissão
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18

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Disponível em https://iptc.net.br/. Acesso em: 19 set. 2022.
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VIZZONI, Edson. Terapia cognitivo-comportamental para casais. Rio de Janeiro:
UNESA, 2012.
19

O diálogo entre a abordagem


cognitivo-comportamental
e os temas suicídio, luto e
espiritualidade
Autoria: Melina Paula Sales
Leitura crítica: Mariane Lopez Molina

Objetivos
• Apresentar os pilares da Teoria Cognitivo-
Comportamental.

• Conhecer as perspectivas dos temas suicídio, luto


e espiritualidade sob a ótica da Terapia Cognitivo-
Comportamental.

• Discutir as técnicas comportamentais e cognitivas


que se mostram promissoras no âmbito clínico noo
tratamento das demandas atuais.
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1. Relembrando os pilares da Teoria Cognitivo-


Comportamental para relacioná-los
às demandas atuais

Neste material, você retomará os principais pilares da Terapia Cognitivo


Comportamental, bem como as suas bases teóricas. Para Beck et al.
(1997), a terapia cognitiva pode ser descrita como uma ferramenta na
qual o profissional atua de maneira ativa e estruturada, sendo uma de
suas principais características, um trabalho delimitado no tempo.

Para Knapp (2004), os três pilares que estão sedimentados na Teoria


Cognitivo Comportamental são válidos desde a origem até os dias atuais.
É importante que todo terapeuta cognitivo comportamental desenvolva
o seu raciocínio clínico considerando tais premissas: operação da
cognição refletindo no comportamento; operação cognitiva passível
de controle e modificação; o comportamento motivado por meio de
alteração do processo de cognição.

De acordo com Knapp (2004), o modelo cognitivo-comportamental tem


sido aplicado em diversas pesquisas clínicas e resultado em respostas
promissoras para o tratamento dos transtornos psiquiátricos. Este
mesmo autor define a psicoterapia cognitivo-comportamental como um
auxílio psicológico com bases na ciência e filosofia, uma vez que defende
que a premissa do afeto e comportamento serem determinados de
acordo como o indivíduo estrutura o mundo.

O modelo cognitivo-comportamental possui um manejo característico,


sendo o tratamento psicoterápico marcado pela relevância da relação
terapêutica. O terapeuta precisa adotar determinadas atitudes como
empatia, comunicação assertiva, visto que o relacionamento envolve
fatores que são foco das mudanças comportamentais no processo
psicoterápico.
21

Atualmente, há diversos modelos de terapias cognitivos


comportamentais, como: Terapia racional-emotivo-comportamental,
Terapia Cognitiva, Terapia Estrutural, Terapia Construtivista e Terapia
Comportamental Dialética (KNAPP, 2004).

Nesta disciplina, você também compreenderá como a Terapia Cognitivo


Comportamental tem atuado no manejo de demandas atuais, como:
luto; suicídio; e a espiritualidade.

A espiritualidade exerce impactos relevantes em diferentes âmbitos


da vida do paciente, e tem um papel importante nos mecanismos de
enfrentamento de grande parte dos processos difíceis advindos de
questões inevitáveis, como o luto. Aspectos espirituais e psicológicos
devem ser considerados no tratamento do paciente que está em
processo de luto, visto que o ser humano é bio-psico-social-espiritual
(MARBACK; PELISOLI, 2014). No que se refere à demanda de suicídio,
o terapeuta cognitivo-comportamental tem o desafio de promover
por meio da relação terapêutica, apoio e esperança para auxiliar o
paciente a enfrentar as situações conflituosas, almejando a diminuição
do comportamento suicida. Existem diversas teorias da Psicologia que
olham para o tema da espiritualidade, como a Psicologia Positiva e a
Logoterapia, e nesta disciplina você, aluno, entenderá como a Teoria
Cognitivo-Comportamental considera e entende a espiritualidade.

2. Teoria Cognitivo-Comportamental: bases


históricas e pilares que sustentam o modelo

De acordo com Rangé (2011), a expressão terapia cognitivo-


comportamental contempla inúmeros enfoques que estão incluídos
em dois padrões: o cognitivo e o cognitivo-comportamental. Os estudos
identificados como pioneiros na relação entre a teoria cognitivo
comportamental e os transtornos mentais datam de 1960, período e
22

que Aaron Beck, médico psiquiatra da Filadélfia (EUA) que, até então, era
adepto da Psicanálise, deu início ao desenvolvimento de sua teoria.

A abordagem beckiana emerge em um contexto em que a teoria


psicanalítica se sobressaía. Inicialmente, Beck, conforme Cordiolli (2008),
focou seus estudos no transtorno da depressão e pode-se observar que
atualmente as técnicas desenvolvidas por este médico são empregadas
também em outros transtornos, como: transtornos ansiosos;
transtornos de personalidade; e transtornos alimentares.

Knapp (2004) define a psicoterapia cognitivo-comportamental como um


auxílio psicológico com bases na ciência e filosofia, uma vez que defende
a premissa do afeto e comportamento serem determinados de acordo
como o indivíduo estrutura o mundo.

As ideias de Knapp (2004) surgem para evidenciar a existência


de diversas condutas inseridas nos escopos da Teoria Cognitivo-
Comportamental. No entanto, destaca-se um denominador comum
entre elas: a cognição, que é um processo que, apesar de encoberto,
é real e modificação dos comportamentos são permeados por este
processo de cognição. A cognição é um conjunto de habilidades que
envolvem atenção, memória, linguagem, funções executivas, que se
configuram em pensamentos. Para se tratar um paciente na abordagem
cognitivo-comportamental, os processos cognitivos são essenciais
(CORDIOLLI, 2011).

As técnicas da abordagem cognitivo-comportamental são capazes de


modificar estas crenças e pensamentos, trazendo novo repertório
comportamental para o paciente, juntamente com os outros
tratamentos usualmente aplicados pelas áreas: Farmacologia; Educação
Física; Neuropsicologia (OLIVEIRA; GONÇALVES, 2020).

A Figura 1 apresenta o esquema cognitivo de maneira simplificada,


indicando como o modelo cognitivo pode ser representado.
23

Figura 1 – Modelo cognitivo

Fonte: Knapp (2004, p. 21)

Para que se faça a modificação das crenças do paciente, é fundamental


conhecê-las e valorizá-las. Portanto, faz-se necessário que as abordagens
psicoterápicas identifiquem maneiras de abordar os conceitos sobre a
espiritualidade em suas intervenções, para que se atinja os objetivos
terapêuticos.

3. O processo de luto e a abordagem cognitivo-


comportamental

Para Zwielewski e Sant’Ana (2016), a morte é concebida pelos pacientes


sob várias óticas, entretanto, encontra-se pontos em comum no discurso
24

do paciente que está enlutado: fala-se em tristeza. Para se compreender


como o ser humano vivencia o processo de luto, é necessário voltarmos a
conceitos como: cultura; religião; espiritualidade.

Outras questões importantes a serem consideradas pelo terapeuta no


tratamento do luto do paciente são: grau de parentesco; gênero; o tipo
de morte; e o vínculo. Além disso, torna-se relevante compreender o
papel que esta pessoa exercia na dinâmica familiar, no qual cada paciente
apresentará seus recursos internos para expressar a tristeza e a situação
do luto.

A morte é um tema abordado com diferentes conotações de acordo com


a história da civilização. Sob a ótica histórica, a morte já foi concebida
como um fenômeno natural, no qual as pessoas expressavam seus
diversos sentimentos vinculados à perda. Já para a religião, o olhar sobre a
morte é relacionado a cultura, como por exemplo: budismo (continuação
de um ciclo) e cristianismo (morte é o fim da vida terrena e outra vida
acontecerá após a vinda de Cristo) (ZWIELEWSKI; SANT’ANA, 2016).

Independente da cultura e religião, observa-se que os sintomas


associados à perda são: os emocionais (tristeza profunda, culpa,
ansiedade e solidão), os comportamentais (falta de concentração,
choro, sonhos com a pessoa falecida, o apego ainda maior a objetos
pertencentes ao falecido), os cognitivos (descrença, preocupações,
alucinações e confusão mental) e os físicos (falta de ar, maior sensibilidade
aos ruídos, falta de energia e despersonalização).

O tratamento psicoterápico do paciente enlutado sob a abordagem


cognitivo comportamental seguirá o protocolo comum a teoria: um
processo estruturado, segmentado em fases, com participação ativa do
terapeuta. No processo de luto, o modelo cognitivo comportamental
comumente adota as etapas: avaliação inicial, psicoeducação e
readaptação do paciente a rotina após o a perda da pessoa.
25

Vale ressaltar que a psicoterapia na abordagem cognitivo comportamental


é um processo ativo, quando há participação ativa do paciente e o
psicoterapeuta. Sendo o terapeuta a peça que irá ajudá-lo a detectar os
entendimentos deformados, apontar pensamentos negativos e pensar em
alternativas, para que ocorra a reestruturação cognitiva.

A fase da avaliação inicial é composta pelo acolhimento, levantamento


da queixa e estabelecimento da aliança terapêutica. Neste momento, é
cabível utilizar instrumentos que mensurem em que nível o paciente está
apresentando depressão, ansiedade e sentimentos de desesperança, por
exemplo, as escalas de Beck de depressão e as entrevistas clínicas, como
a anamnese. (ZWIELEWSKI; SANT’ANA, 2016). A fase da psicoeducação,
que é realizada neste segundo momento é fundamental para contemplar
os efeitos das distorções cognitivas do paciente e suas consequências na
emoção e no comportamento. Na última fase do protocolo, o terapeuta
aborda a readaptação do paciente a sua rotina, sem a presença da pessoa
que partiu. Neste momento, terapeuta e paciente organizam uma rotina
funcional e elaboram planos e projetos a curto, médio e longo prazo.

Os protocolos terapêuticos para o tratamento do paciente enlutado


sob a ótica da abordagem cognitivo comportamental têm mostrado
resultados promissores, indicando novas interpretações do paciente sob
a morte, estabelecimento de capacidade de reavaliação e readaptação a
uma nova rotina. Cada paciente deverá ser tratado considerando a sua
singularidade, observando aspectos da pessoa que se foi como: papel na
dinâmica familiar; idade; gênero; dentre outros.

4. A abordagem cognitivo-comportamental
e a espiritualidade

Ribeiro et al. (2019) destaca que para a Terapia Cognitivo-


Comportamental, o foco está voltado para como o paciente interpreta
26

os eventos por meio de pensamentos e crenças disfuncionais e/


ou distorcidas. Estas interpretações podem ser adaptativas ou
desadaptativas, sendo papel do terapeuta cognitivo comportamental
auxiliar o paciente a reestruturar estas crenças disfuncionais, uma vez
que que contribuem para a expressão de transtornos emocionais.

A espiritualidade exerce impactos relevantes em diferentes âmbitos da


vida do paciente, e tem um papel relevante no perfil cognitivo, na visão
e interpretação de fenômenos. Para Ribeiro et al. (2019), a vida do ser
humano é permeada de incertezas e buscas, que o levam a proteger-se
de ameaças, e é neste cenário que a espiritualidade se configure como
um recurso de enfrentamento e flexibilização.

O tema espiritualidade nem sempre foi olhado com a devida


importância na Psicologia, entretanto, isso se modificou ao longo dos
anos e hoje órgãos, por exemplo, o Conselho Regional de Psicologia
de São Paulo, reforçam que a religião e a Psicologia precisam dialogar,
uma vez que transitam em um campo de interesse comum (RIBEIRO et
al., 2019). Como exemplo de direcionamento da conduta do psicólogo,
podemos citar o Código de Ética Profissional do Psicólogo (2005), no qual
elencada na sessão das responsabilidades do psicólogo, onde consta
que é vedado ao psicólogo induzir convicções, dentre elas a religiosa,
portanto, é crucial abordar o tema da espiritualidade de maneia ética.

Segundo Araújo Alves et al., (2016), o termo espiritualidade contempla as


crenças que dão sentido à vida, e a Psicologia é uma ciência que tem se
voltado à investigação de questões como espiritualidade e religiosidade.
Destacando o quanto é importante reconhecer e valorizar esta parte
da vida do paciente, visto como um recurso que pode ser valorizado e
contribuir para a saúde mental.

Em casos como depressão, ansiedade e adição, a literatura tem


indicado que a espiritualidade está relacionada a índices de saúde,
como a maior longevidade, habilidades de manejo e qualidade de
vida, assim como menor ansiedade, depressão e suicídio (RIBEIRO
27

et al., 2019). O tratamento do paciente que apresenta a demanda de


ansiedade, por exemplo, seguirá o protocolo definido pela abordagem
cognitivo comportamental: avaliação inicial (acolhimento e definição dos
objetivos da psicoterapia por meio de técnicas como o questionamento
socrático; a seta descendente; o registro de pensamento automático; a
elaboração de cartão de enfrentamento; e a resolução de problemas.
Fase intermediária: foco na flexibilização das crenças intermediárias; e
treino de assertividade. E, na fase final, o terapeuta centraliza a atenção
na prevenção de recaída, fazendo o feedback dos ganhos da terapia,
recursos adquiridos e a identificação de possíveis gatilhos.

É fundamental para o profissional da saúde, principalmente o que busca


a saúde mental do paciente, que investigue a influência da prática da
espiritualidade na flexibilização das crenças centrais nos casos clínicos
que seus pacientes apresentam, visto que o enfrentamento espiritual
(coping) oferece recursos para a adaptação enfrentamento de diversas
situações de estresse.

5. A abordagem cognitivo comportamental


e o suicídio

Para Vieira e Franco (2020), o suicídio é um fenômeno presente ao longo


da história e denota diversas interpretações de acordo com a cultura
e época, pois se configura como um fenômeno complexo de etiologia
multicausal com origem na combinação entre fatores biológicos,
culturais, psicológicos e sociais. O suicídio se configura como uma
questão de saúde pública mundial e pode ser definido como um ato de
violência autodirigido com intenção de extinguir a própria vida.

A ideação suicida é caraterizada por pensamentos, crenças, imagens,


vozes, ou seja, processos de cognição nos quais o paciente indica a
possibilidade de encerrar a sua própria vida (WENZEL; BROWN; BECK,
28

2010). A ideação suicida pode acometer pessoas de diferentes faixas


etárias, principalmente as que apresentam transtornos psiquiátricos ou
que passam por algum evento estressor, como o diagnóstico de doenças
crônicas graves (VIEIRA; FRANCO, 2020).

Já a tentativa de suicídio diz respeito a comportamentos que contêm


autoagressividade não fatal, que refletem efeitos não fatais, que podem
ser preocupantes ou não. No suicídio, encontra-se intencionalidade,
planejamento e comportamento que implica em morte (WENZEL;
BROWN; BECK, 2010).

A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é uma abordagem que


tem publicado inúmeras pesquisas com resultados promissores no
tratamento de diversos transtornos como a depressão, ansiedade,
transtornos de personalidade, dentre outros. Para a TCC, o sofrimento
psíquico é originado pela interpretação distorcida da realidade, sendo o
comportamento influenciado pelas cognições (VIEIRA; FRANCO, 2020).

Conforme os autores referidos, o modelo cognitivo do suicídio


defende que a origem deste tipo de comportamento se dá por meio
da ativação de esquemas disfuncionais relacionados ao suicídio,
que se desenvolvem a partir de eventos estressores. Diante destes
eventos estressores, observa-se um déficit de repertório por parte do
paciente na resolução de problemas, onde se instalam sentimentos de
desesperança e impulsividade, que influenciam na ideação suicida.

Para Marback e Pelisoli (2014), o processo de tratamento da Terapia


Cognitivo-Comportamental na demanda de pacientes com ideação
suicida possui similaridade com o tratamento de pacientes com quadros
depressivos e ansiosos. No entanto, o foco da abordagem será a
promoção de estratégias que alterem as crenças de desesperança para
possibilidades de pensamentos de esperança com a vida futura.

Uma questão de extrema relevância quando se aborda o tema suicídio,


são os fatores de risco, que contemplam: traços de personalidade;
29

histórico familiar com o suicídio; vulnerabilidade psicológica;


transtornos psiquiátricos como a depressão e situações pontuais com
carga emocional estressante o suficiente para ativar a predisposição
(VIEIRA; FRANCO, 2020).O modelo cognitivo do suicídio considera
elementos gerais da TCC a elementos específicos, como desesperança,
impulsividade e pensamentos distorcidos. Estes elementos podem estar
presentes por determinados períodos, com diferentes intensidades
e é variável, onde cada paciente terá influência da vulnerabilidade ao
suicídio, esquemas disfuncionais.

Para Beck et al. (1997), o aspecto cognitivo seria central ao suicídio,


no entanto, a presença de elementos como desespero e disforia,
misto de sentimentos de raiva, angústia, tristeza, medo, vergonha,
desejo de morrer estão presentes neste perfil de paciente. Os fatores
comportamentais como o engajamento em ações como planejamento,
ensaios e tentativas, também são detectados neste perfil de paciente.

Os métodos cognitivos utilizados na terapia cognitivo comportamental


provocam a identificação de pensamentos e crenças negativas por parte
do paciente e como estes pensamentos interferem nos sentimentos,
provocando determinados comportamentos (WENZEL; BROWN; BECK,
2010). A estratégias de coping afetivo também é desenvolvida durante
o processo terapêutico, com a meta de aprimorar a regulação das
emoções do paciente.

O tratamento do paciente com ideação suicida por meio da abordagem


cognitivo comportamental se desenvolve com intervenções focadas
e segmentadas em fases: inicial (atenção aos aspectos cognitivos
distorcidos); a segunda fase é dirigida na identificação de questões como
isolamento social, desregulação emocional e resolução de problemas
interpessoais); e a última fase coloca como centro os esquemas de
suicídio. Vale ressaltar que a fase inicial é o momento adequado para
realizar a aplicação de instrumentos e no caso de pacientes com ideação
suicida, usualmente utiliza-se as ferramentas primárias de avaliação da
30

ideação: The Beck Scale for Suicidal ideation (BSS); The Adult Suicidal
Ideation Questionnaire (ASIQ); The Suicide Probability Scale (SPS).

Ao longo deste material você, teve a oportunidade de conhecer os


pilares da Teoria Cognitivo-Comportamental. Esta base é fundamental
para que o raciocínio clínico seja aprimorado e que as demandas de
suicídio, luto e espiritualidade, que estão atualmente em crescente
número, sejam tratadas de maneira adequada pelo terapeuta da Terapia
Cognitivo-Comportamental. As diversas técnicas das comportamentais
e cognitivas apresentadas ao longo deste material, são as que tem
mostrado resultados promissores no âmbito clínico, no tratamento
destas demandas.

Referências
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Prevenção de Tentativas de Suicídio: Um Ensaio Controlado Randomizado. J Am
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ncbi.nlm.nih.gov/28545756/. Acesso em: 19 set. 2022.
ARAÚJO. A. D.; GOMES S. L. de. Cuidador de criança comenfrentamento. Rev Cuid
[online], Bucramanga, 7(2), p. 1318-24, jul./2016. Disponível em: https://revistas.
udes.edu.co/cuidarte. Acesso em: 19 set. 2022.
BECK, A. T.; RUSH, J. A.; SHAW, B. F. Terapia Cognitiva da Depressão. Porto Alegre:
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CORDIOLI, A.V. Psicoterapias: abordagens atuais. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.
KNAPP, P. Terapia cognitivo-comportamental na prática psiquiátrica. Porto
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MARBACK, R. F.; PELISOLI, C. Terapia cognitivo-comportamental no manejo da
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10, n. 2, p. 122-129, dez./2014. Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.
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em: 29 jul. 2022.
OLIVEIRA, L.; GONÇALVES, J. R. Depressão em idosos institucionalizados: uma
revisão de literatura. Revista JRG de Est. Acad., Águas Claras, v. 3, n. 6, p. 110–122,
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Acesso em: 17 abr. 2022.]
31

RANGÉ, B. P. Psicoterapias cognitivo-comportamentais: um diálogo com a


psiquiatria. Porto Alegre: Artes Médicas, 2011.
RIBEIRO, L.C. P. JACINTHO, M. et al. A espiritualidade na flexibilização de
pensamentos e crenças de uma paciente ansiosa. Rev. bras.ter. cogn., Rio de
Janeiro, v. 15, n. 2, p. 126-131, dez./2019. Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/
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Acesso em: 9 jul. 2022.
VIEIRA, A. M. S. JR.; FRANCO, F. D. V. A terapia cognitivo-comportamental como
tratamento para o paciente suicida. Rev. Enc. Cient. Univs, Icó, v. 2, n. 2, p. 78-
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WENZEL, A.; BROWN, G. K.; BECK, A. T. Terapia cognitivo-comportamental para
pacientes suicidas. Porto Alegre: Artmed, 2010.
ZWIELEWSKI, G.; SANT’ANA, V. Detalhes de protocolo de luto e a terapia cognitivo-
comportamental. Rev. bras.ter. cogn., Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, p. 27-34, jun./2016.
Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-
56872016000100005&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 9 jul. 2022. Disponível em:
http://www.rbtc.org.br/detalhe_artigo.asp?id=227. Acesso em: 5 jul. 2022.
32

Interface entre a abordagem


cognitivo-comportamental
e a Terapia de Aceitação e
Compromisso
Autoria: Melina Paula Sales
Leitura crítica: Mariane Lopez Molina

Objetivos
• Apresentar o movimento histórico da Teoria
Cognitivo-Comportamental.

• Identificar os conceitos e ideias principais da Terapia


de Aceitação e Compromisso.

• Conhecer as intervenções psicoterápicas da Terapia


de Aceitação e Compromisso.

• Apresentar os principais termos e conceitos que


contemplam a Terapia da Aceitação e Compromisso.
33

1. Teoria Cognitivo-Comportamental e a
Terapia de Aceitação e Compromisso

Neste material, você relembrará os momentos que marcaram o


desenvolvimento histórico da Teoria Cognitivo-Comportamental e como
hoje esta abordagem interage com aspectos da Terapia de Aceitação e
Compromisso.

A Terapia Comportamental está fundamentada na Análise do


Comportamento, com bases de conceitos filosóficas do Behaviorismo.
Os três itens, behaviorismo radical, análise do comportamento e terapia
comportamental, estão entrelaçados em conceitos e se encontram na
interpretação dos fenômenos psicológicos (BOAVISTA, 2012).

As terapias comportamentais se desenvolveram e passaram por


alterações significativas os últimos anos. Pode-se citar a primeira
geração do ano de 1913, com autores como Watson; a segunda onda,
com estudos de Aaron Beck, dotada de rigor metodológico e terceira
onda, em que o construtivismo e behaviorismo radical se tornaram
o foco. Hoje esta terceira onda é denominada Análise Clínica do
Comportamento, abordada por autores como Hayes, e contempla os
modelos: “Psicoterapia Analítico Funcional (FAP), Terapia de Aceitação e
Compromisso (ACT), Terapia Comportamental Dialética (DBT) e Terapia
Comportamental Integrativa de Casal (ICBT)” (BOAVISTA, 2012, p. 17).

A Terapia de Aceitação e Compromisso surgiu em um momento


simultâneo a Teoria dos Quadros Relacionais, que pesquisou os temas
linguagem e cognição humana. Ela se caracteriza pela relação entre a
sequência de aceitação e estabelecimento de um compromisso. Esta
estratégia tem a finalidade de provocar alterações no comportamento
que resulta em flexibilidade psicológica (HAYES; PISTORELLO; BIGLAN,
2008).
34

Esta característica e outras serão exploradas nos próximos tópicos,


para que você aprimore seus conhecimentos sobre este modelo de
psicoterapia.

2. O movimento histórico da teoria cognitivo-


comportamental

Segundo Knapp (2004), a expressão Terapia Cognitivo-Comportamental


contempla inúmeros enfoques que estão incluídos em dois padrões: o
cognitivo e o cognitivo-comportamental. Os estudos identificados como
pioneiros na relação entre a Teoria Cognitivo-Comportamental e os
transtornos mentais datam de 1960, período e que Aaron Beck, médico
psiquiatra da Filadélfia (EUA) que, até então, era adepto da Psicanálise,
deu início ao desenvolvimento de sua teoria.

A abordagem beckiana emerge em um contexto em que a teoria


psicanalítica se sobressaía. Inicialmente, Beck focou seus estudos
no transtorno da depressão e pode-se observar que, atualmente, as
técnicas desenvolvidas por este médico são empregadas também em
outros transtornos, como: os ansiosos; de personalidade; alimentares.

Historicamente, a terapia comportamental atravessou três fases, nas


quais reformulações foram concebidas. São as denominadas gerações
ou ondas, na qual a primeira se destacou pela força metodológica,
uma vez que nesta época, a falta de evidências instigou os terapeutas
a fazerem experimentos de comprovação; a segunda onda direcionou
seus esforços na explicação de sentimentos e pensamentos, sendo os
processos psicológicos mensurados por meio de sistemas subjacentes;
e a terceira onda foi marcada por releituras do Behaviorismo Radical
(MEDEIROS, 2019).
35

A terceira geração da terapia comportamental impactou diretamente


o manejo e atuação clínica realizada atualmente. A relevância da
relação terapêutica tornou a psicoterapia uma metodologia onde é
possível o desenvolvimento de um novo repertório, sendo este o cerne
das intervenções. A partir da terceira onda, os temas pensamentos,
sentimentos e demais cognições, assim como o mundo das relações
simbólicas passou a ser alvo dos terapeutas comportamentais na
atuação clínica (MEDEIROS; HARTMANN; SPENCER, 2019). Este novo
foco, no mundo interno do paciente, já havia sido considerado por
Skinner (2007), uma vez que quando começou a realizar as análises
comportamentais, concebeu a relevância do mundo interno e da
capacidade do paciente de acessar os eventos de interesse. Para os
autores, os eventos internos e os comportamentos observáveis são fruto
da interrelação do indivíduo com o ambiente.

Outro fator de grande importância que marca a terceira geração, é o


elemento relação terapêutica. Esta relação assume uma configuração
além de um simples cenário, visto então, como uma ferramenta de
alterações comportamentais, já que as relações são interações e
aprendizagens, em que o paciente poderá continuar aprendendo e se
relacionando fora do enquadre terapêutico.

3. Conceitos e principais ideias da Terapia da


Aceitação e Compromisso

A Terapia da Aceitação e Compromisso pode ser configurada como


uma vertente da Terapia Cognitivo-Comportamental, uma vez que
esta abordagem realiza intervenções comportamentais a partir
das contingências. Elementos como o reforçamento positivo estão
presentes, assim como o repertório composto pelo chamado evento
encoberto (pensamentos, emoções, reações fisiológicas permeadas de
significado social) (MEDEIROS; HARTMANN; SPENCER, 2019).
36

Um dos principais nomes e pioneiro na Terapia da Aceitação e


Compromisso foi o psicólogo americano Steven Hayes. O nascimento
dessa terapia foi simultâneo ao lançamento do livro de Hayes, fruto
de seu intenso compromisso com o seu programa de pesquisa,
denominado Teoria dos Quadros Relacionais (RFT), centralizada no
estudo da cognição e linguagem.

A terceira onda da Terapia Cognitivo-Comportamental foi precursora


da Terapia da Aceitação e Compromisso, uma vez que a ACT agrega
princípios advindos da TCC e, também, do mindfulness. Para Medeiros,
Hartmann e Spencer (2019), a Terapia da Aceitação e Compromisso é
uma tratativa não aversiva que promove a possibilidade de aceitação
dos pensamentos desagradáveis.

A Terapia da Aceitação e Compromisso possui objetivos específicos e


itens que se configuram como centrais e mandatórios para o terapeuta
que pretende trabalhar nesta abordagem. Estes elementos estão
expostos no Quadro 1:

Quadro 1 – Principais fatores da Terapia da Aceitação e


Compromisso

Terapia da Aceitação e Compromisso – Fatores principais

Auxilia o paciente a desenvolver uma vida com sentido enquanto se aceita questões inevitá-
veis.

Utiliza-se do conceito de mindfulness, sendo uma forma de atenção plena, concentrando-se


atualmente.

Direciona a atenção para definir e esclarecer os valores que norteiam o paciente no modo
atual de funcionamento no mundo (ainda o único modo que o paciente consegue viver).

O foco no contato total no momento presente produz diminuição de prejuízos advindos dos
pensamentos intrusivos e sentimentos aversivos do paciente.

A mente é considerada uma categorização da linguagem, o que leva aos comportamentos.


37

Os eventos encobertos são os pensamentos, emoções e memórias

Os eventos encobertos sofrem intervenções comportamentais.

Medeiros, Hartmann e Spencer (2019) afirmam que a Terapia de


Aceitação e Compromisso tem demonstrado resultados promissores,
visto que a compreensão de fatores encobertos e abertos estão
no cerne do tratamento e as bases teóricas da ACT são alinhadas à
possibilidade de inovação nas intervenções. A compreensão destes
eventos encobertos e abertos são necessários para o terapeuta que
trabalhará com esta abordagem, pois cada evento será experenciado
de maneira livre e singular por cada paciente. A aceitação parte do
princípio de experimentar desconfortos, próprios da existência humana,
e a Terapia da Aceitação e Compromisso centralizará seus esforços
em traçar caminhos para que o paciente aprenda a enfrentar tais
desconfortos de forma funcional. Vale ressaltar que nessa terapia, não
há foco na alteração das crenças nucleares, mas no estabelecimento
de uma maneira flexível de enfrentamento do desconforto (MEDEIROS;
HARTMANN; SPENCER, 2019).

Portanto, destaca-se a existência de inúmeros contextos clínicos em


que a terapia da aceitação e compromisso se aplica, desde transtornos
mentais, até questões como o luto, mudanças inesperadas e outras
condições emocionais, que serão explorados no tópico a seguir.

4. Aplicações da Terapia de Aceitação


e Compromisso

A Terapia da Aceitação e Compromisso é uma abordagem utilizada


na prática clínica para tratar diversas demandas e patologias. Para
Saban (2015), o foco interventivo se constrói por meio da aplicação de
exercícios que estão inseridos no contexto nomeado de hexagrama
38

de flexibilidade psicológica, que contempla seis elementos, conforme


apresentados na Figura 1.

As intervenções em ACT são propostas por meio do exercício de seis


componentes do chamado “hexagrama de flexibilidade psicológica”, a
saber: aceitação; desfusão; contato com o momento presente; self como
contexto; valores; e ação com compromisso

Figura 1 – Elementos do hexagrama de flexibilidade psicológica

Fonte: adaptada de Saban (2015).

Ainda para Saban (2015), os elementos que originam os


comportamentos, como os pensamentos, memórias e emoções são
segmentados em três modelos de resposta comportamental: aberto
(aceitação e desfusão); centrado (contato com o momento presente
e self como contexto); e engajado (valores e ação com compromisso).
Cada estilo deverá ser foco do tratamento na ACT, para que haja uma
diversidade maior de repertório comportamental e equilíbrio entre eles,
para que assim, o paciente atinja níveis de flexibilidade.
39

A ACT tem como objetivo fomentar o contato do paciente com os


eventos psicológicos, conforme estes acontecem, permitindo que o
paciente vivencie as situações de forma direta e resulte em flexibilidade
comportamental (HAYES; PISTORELLO; BIGLAN, 2008).

Outro fator que ganha destaque na Terapia da Aceitação e Compromisso


é o mindfulness, visto que nesta abordagem, a técnica de focalizar a
atenção do paciente no momento presente tem papel fundamental. Por
meio das técnicas do mindfulness, objetiva-se que o paciente adquira
recursos para alcançar o sucesso terapêutico. Saban (2015) reforça
ainda, que, a própria conceitualização de mindfulness está entrelaçada ao
conceito da ACT, fazendo com que ambos se cruzem. Os aspectos que
convergem nas duas técnicas são: valorização do contato direto com as
contingências, a redução do controle verbal, diminuição da reatividade
cognitiva diante de mudanças emocionais (MEDEIROS; HARTMANN;
SPENCER, 2019). Assim, na Figura 2, os conceitos de mindfulness para o
autor Kabat-Zinn (1982) autores são expostos.

Figura 2 – Conceito de mindfulness segundo Kabat-Zinn (1982)

Fonte: adaptada de Kabat-Zinn (1982).


40

Na psicoterapia que utiliza a Terapia da Aceitação e Compromisso como


abordagem teórica, a atenção total no momento presente tem um
significado e importância referente aos objetivos que se pretende atingir
com o paciente. Dentre eles: a diminuição da esquiva experiencial, que é
o cerne do sofrimento; a exclusão do contexto de literalidade; a redução
do que origina a evitação; diminuição do contexto de controle, que seria
a tendência do paciente a lutar contra eventos privados; extinção das
tentativas de encontrar explicações para os problemas do paciente e o
incentivo a transcendência de vivência do self.

Os elementos contidos no mindfulness (observar, descrever e participar


plenamente) podem ser vistos como as metas a serem atingidas na
psicoterapia da aceitação e compromisso (SABAN, 2015). A observação
que o mindfulness proporciona traz a possibilidade de o paciente estar
atento ao próprio comportamento e a descrição é a possibilidade de
elaboração do que foi observado dos comportamentos. O participar é
concernente a ação do paciente alinhada a seus valores.

As aplicações da Terapia da Aceitação e Compromisso em diferentes


demandas clínicas tem mostrado indicadores positivos, segundo as
pesquisas de Vandenberghe e Sousa (2006 apud SABAN, 2015). Os casos
com resultados promissores identificados em pesquisas contemplam:
transtornos; como o transtorno de ansiedade generalizada; Transtorno
Obsessivo-Compulsivo, pacientes psicóticos, dentre outros.

5. Conceitos fundamentais que compõem o


glossário da terapia da aceitação
e compromisso

A Terapia da Aceitação e Compromisso dispõe de conceitos chaves


que são essenciais para a compreensão e planejamento das técnicas
que serão aplicadas, assim como para cada a elaboração das sessões.
41

A seguir, a explanação de cada conceito chave, para que você aprenda


cada termo e possa alinhá-los à sua prática clínica.

Quadro 2 – Glossário dos principais conceitos da Terapia da


Aceitação e Compromisso
Termo Conceito
Cognição Processo de pensamentos, memórias, atenção.

Compromisso Contrato de responsabilidade com a alteração comportamental.

Processo que distancia o paciente de uma vida direcionada de


Desfusão Cognitiva acordo com seus valores. Inclui cognições como memória e
pensamentos.

Respostas comportamentais que são afetadas pelas variáveis


Evento Psicológico
ambientais.

Fusão Cognitiva Paciente não se discerne das suas cognições.

Controle Emocional Investidas para manejar eventos privados.

Fonte: elaborado pelo autor.

A Terapia da Aceitação e Compromisso pode ser entendida como


uma abordagem focada, alinhada a conceitos da Terapia Cognitivo-
Comportamental, por razões já elencadas neste material. A prática desta
abordagem tem ganhado espaço entre os terapeutas, visto que suas
técnicas podem ser aplicadas no tratamento de diferentes demandas
clínicas.

Na Terapia da Aceitação e Compromisso, o paciente tem a chance de


entender as maneiras disponíveis em seu repertório comportamental
atual para enfrentar seu sofrimento. Além disso, esta modalidade
proporciona uma visão de acordo com o contexto do paciente, sobre
seus eventos, o que resulta em aceitação de sua parte.

Por fim, neste material, buscamos apresentar a Terapia da Aceitação


e Compromisso, suas técnicas, alinhadas a diferentes demandas, bem
como, às psicopatologias. Pôde-se observar que as bases históricas
42

da terapia da aceitação e compromisso são advindas dos principais


conceitos da Terapia Cognitivo-Comportamental. Os conceitos e
explanações acerca de cada ideia e meta da Terapia da Aceitação e
Compromisso foram reforçados, pois, a partir do domínio técnico
destes itens, o terapeuta poderá aprimorar o seu background técnico,
para então obter o olhar clínico sobre cada demanda. Além disso, as
aplicações da Terapia da Aceitação e Compromisso são vastas e tem
indicado ótimos resultados em diversos contextos clínicos.

Referências
BOAVISTA, R.R.C; Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT): Mais uma
possibilidade para a clínica comportamental. Santo André: Esetec Editores
Associados, 2012.
HAYES, S. C.; PISTORELLO, J.; BIGLAN, A. Terapia de Aceitação e Compromisso:
modelo, dados e extensão para a prevenção do suicídio. Rev. bras. ter. comport.
cogn., São Paulo, v. 10, n. 1, p. 81-104, jun./2008. Disponível em: http://pepsic.
bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-55452008000100008&lng=pt&
nrm=iso. Acesso em: 14 ago. 2022.
KABATZINNN, J. Um programa ambulatorial em medicina comportamental
para pacientes com dor crônica com base na prática de meditação mindfulness:
Considerações teóricas e resultados preliminares. Hospital Geral de Psiquiatria,
v.4, p. 33-47. São Paulo, 1982.
KNAPP, P. Terapia cognitivo-comportamental na prática psiquiátrica. Porto
Alegre: Artes Médicas, 2004.
MEDEIROS, A. G. A. P.; HARTMANN J., SPENCER, J. A. Terapia de aceitação e
compromisso em idosos: revisão sistemática. Rev. bras.ter. cogn., Rio de Janeiro, v.
15, n. 2, p. 112-119, dez./2019. Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S1808-56872019000200005&lng=pt&nrm=iso. Acesso
em: 12 jul. 2022. Disponível em: http://www.rbtc.org.br/edicoes_anteriores.asp.
Acesso em: 19 set. 2022.
SABAN, M. T. Introdução à terapia de aceitação e compromisso. 2. ed. Belo
Horizonte: Artesã, 2015.
43

Terapia Cognitivo-
Comportamental e a
Psicologia Positiva
Autoria: Talita Fernanda da Silva
Leitura crítica: Mariane Lopez Molina

Objetivos
• Apresentar os aspectos históricos relevantes da
trajetória da Psicologia Positiva.

• Compreender a área da Psicologia Positiva.

• Entender as formas de aplicação e atuação da


Psicologia Positiva (PP) junto aos seus objetivos.

• Estudar as demandas e tendências atuais em TCC.

• Refletir criticamente sobre as tendências atuais da


PP em TCC.
44

1. Terapia Cognitivo-Comportamental e
Psicologia Positiva

Em relação à Psicologia Positiva, primeiramente serão apresentados


os principais aspectos históricos da Psicologia Positiva, com o objetivo
refletir sobre momentos que consolidaram e impactaram nessa área
que é nova e vem se desenvolvendo e ganhando destaque na Psicologia
enquanto ciência.

Assim, a partir da trajetória histórica discutirá e refletirá a respeito da


área e as formas de aplicação e atuação da Psicologia Positiva junto aos
objetivos da área, para, assim, posteriormente, compreender sobre a
relação da Psicologia Positiva e a Teoria Cognitiva-Comportamental.

1.1 Psicologia Positiva: dos aspectos históricos à


compreensão da área

Segundo Paludo e Koller (2007), o movimento da Psicologia Positiva


iniciou em 1998, quando o psicólogo Martin Seligman assumiu a
presidência da American Psychological Association (APA) e destacou que,
a Psicologia enquanto ciência ao longo dos anos vinha negligenciando
o estudo dos aspectos virtuosos do ser humano, e isto poderia ser
confirmado com uma simples busca de pesquisas no banco de dados da
PsycInfo. Exemplificou que, ao inserir como palavra-chave “depressão”
eram encontrados na época 110.382 artigos científicos entre os anos
de 1970 e 2006. Por outro lado, ao inserir a palavra-chave “felicidade”
o banco demonstrava apenas 4.711 artigos científicos publicados
no mesmo período, ou seja, menos da metade. Por meio dessa fala
o estudioso Martin Seligman queria demonstrar que por décadas o
foco da Psicologia enquanto ciência na maior parte do tempo foi na
fragilidade humana, nos aspectos de dificuldade, e no que diferenciava
um indivíduo dos demais.
45

Galinha e Ribeiro (2005, [s.p.]) relatam também que Martin Seligman


definiu naquele ano para a APA “explorar a região norte do nível zero,
procurar o que ativamente faz as pessoas sentirem-se preenchidas,
envolvidas e significativamente felizes”. Isto porque a saúde mental
deveria ser muito mais do que a ausência daquilo que é frágil, ou seja,
muito mais do que a ausência de doença, e precisava olhar para as
questões positivas.

Nesse mesmo sentido do discurso de 1998, no ano de 2000, a revista


científica American Psychologist dedicou uma edição especial para uma
nova área de estudos da Psicologia, a chamada Psicologia Positiva,
e assim os estudos foram voltados para emoção positiva do ser
humano, bem como caráter positivo e instituições positivas (SELIGMAN;
CSIKSZENTMIHALYI, 2000). A edição demonstrava a importância de
pesquisas na área de Psicologia Positiva, sendo algo inovador para
aquele momento dentro da história da Psicologia, isto a nível mundial.

Nunes (2007) aponta que desses aspectos históricos, a qual destaca


que a Psicologia Positiva é um movimento da Psicologia, e que nos
últimos anos tem ganhado espaço e força dentro das ciências sociais
e do comportamento. Ainda destaca que a Psicologia Positiva vem
demarcando o quanto pretende ser uma disciplina científica, baseada
na evidência, e que busca demonstrar as formas de intervenções que
promovam o bem-estar e a qualidade de vida dos indivíduos. Além
disso, Calvetti, Muller e Nunes (2007) relatam que em 1998, surge, com
Martin Seligman, uma discussão a respeito dos aspectos voltados para
a proteção da saúde, ou seja, surge uma preocupação com os aspectos
relacionados à saúde.

Dessa maneira, para Passareli e Silva (2007), o foco em estudos que


verificassem as forças e as potencialidades do ser humano também
era algo novo nesse momento da história, pois, até 2000, os interesses
eram voltados, na maioria das vezes, para as emoções negativas. Assim,
a mudança também está em um novo grupo de pesquisa, que passa
46

a ter os seus interesses e olhares para as emoções positivas dos seres


humanos.

Assim, pode-se entender que, Psicologia enquanto ciência sempre teve


um interesse por aquilo que era o estudo do comportamento humano,
porém pelo que era improvável e diferente nos indivíduos (PALUDO;
KOLLER, 2007). Muitas vezes se interessando pelo que era frágil e de
dificuldade. Nesse sentido, segundo Nunes (2007, p. 1) “o movimento
da Psicologia Positiva emerge como tentativa de romper o viés negativo
sobre o desenvolvimento humano através do estudo dos aspectos
positivos presentes nos indivíduos”.

Pacico e Bastianello (2014, p. 13) destacam que “percebe-se que tanto


a psicologia voltada à cura e à reparação do que precisa ser mais bem
ajustado quanto a psicologia que se volta ao estudo das qualidades e
das características positivas do ser humano são aspectos importantes
e merecem atenção”, isto porque faz-se necessário o equilíbrio. A
Psicologia não pode olhar e cuidar apenas do que é frágil, mas também
daquilo que é positivo no ser humano, precisa olhar para as fortalezas
do ser humano.

Em relação à teoria e à maneira de olhar para o indivíduo, ao longo da


história a Psicologia teve estudiosos da área humanista como, Abraham
Maslow (1954) e Carl Rogers (1959), que eram comprometidos com uma
visão e perspectiva mais positiva do ser humano.

Mas, de acordo com Paludo e Koller (2007, p. 11), e Seligman e


Csikszentmihalyi (2000) a falta de destaque desses autores como
visão para aquilo que é potencial está relacionado à forma como foi
trabalhado essa visão pelos autores e, assim, “apontam a falta de
rigor metodológico e a inconsistência dos resultados como principais
responsáveis pelo enfraquecimento da Psicologia Humanista”, mas,
também destacam que esses estudiosos poderiam estar à frente de seu
47

tempo e, por isso, suas colocações não foram reconhecidas naquele


determinado momento.

Dessa maneira, pode- se dizer que “existem importantes discussões


sobre as interlocuções e as aproximações teóricas e conceituais entre a
Psicologia Humanista e a Psicologia Positiva” (PALUDO; KOLLER, 2007, p.
11), mas nem todos os estudiosos da Psicologia Humanista reconhece
tal apontamento, e pode-se considerar que “o movimento da Psicologia
Positiva compartilha e resgata conceitos e objetivos propostos pela
terceira força em Psicologia”.

Segundo Nunes (2007), o que ocorreu na Psicologia foi o surgimento


de um “novo”, sendo a mudança de visão, do negativo para o positivo.
Ainda, a Psicologia Positiva aborda o funcionamento positivo da
personalidade, do bem-estar subjetivo e oeEnsino da resiliência. E, nesse
sentido, os sentimentos e as emoções possuem um papel relevante na
maneira com que as pessoas agem e reagem no contexto social.

Nesse sentido, Seligman e Cskiszenrmihalyi (2000) explicam que a


Psicologia não deve focar apenas no estudo da doença, ou daquilo
que frágil, mas a atenção deve ser dada os estudos das fortalezas e
virtudes humanas. Os autores ainda complementam, relatando que
um tratamento psicológico não deveria ser baseado apenas no reparo
daquilo que está fragilizado, mas também daquilo que é de melhor em
cada ser humano.

Outro aspecto relevante mencionado por Seligman e Cskiszenrmihalyi


(2000) é que a Psicologia não deveria ser como a Medicina, a qual está
voltada e preocupada com a doença ou a saúde, pois a Psicologia é
ampla, uma vez que ela abrange aspectos que estão relacionados à
educação, ao trabalho, ao desenvolvimento (crescimento), ao amor e
tantos outros aspectos.
48

A completar, segundo Paludo e Koller (2007, p. 10) “de acordo com essa
nova visão, o conhecimento das forças e virtudes poderia propiciar o
“florescimento” (flourishing) das pessoas, comunidades e instituições”.
Keyes e Haidt (2003) explicam que o “florescimento” seria como uma
condição para que o desenvolvimento ocorra de forma plena, saudável
e positivo em relação aos aspectos psicológicos, biológicos e sociais dos
seres humanos.

Com isso, o “florescimento” significa um estado que o indivíduo sente


uma emoção positiva pela vida, apresentando um funcionamento ótimo
emocional e social e não possuem problemas relacionados à saúde
mental, o que não quer dizer ser um “super-homem” ou “super-mulher”,
mas indivíduos que vivem intensamente e não apenas existem.

Dentre as variáveis positivas, tem-se estudado e pesquisado, “o


otimismo, a espiritualidade, a criatividade e a imagem corporal, que têm
sido associados ao bem-estar e à qualidade de vida de pessoas doentes
e não-doentes e os seus cuidadores” (SILVA, 2006 apud CALVETTI;
MULLER; NUNES, 2007, p. 709). Isto porque, ainda segundo os autores, a
“psicologia positiva tem sido um movimento dos pesquisadores para o
enfoque nos aspectos potencialmente sadios da pessoa” (ibid., p. 710).

Para compreendermos mais as teorias e os objetivos da Psicologia


Positiva, vamos compreender alguns representantes e teóricos da área e
alguns conceitos de emoções positivas.

Martin Seligman é psicólogo, professor universitário, e é considerado


como um dos grandes representantes do movimento da Psicologia
Positiva, assim, em diversas pesquisas e estudos, ele menciona a
respeito da relevância de ensinar ao ser humano aspectos como: a
resiliência; a esperança; o otimismo. Com isso, torna o ser humano mais
resistente à depressão, e assim, contribui para o ser humano tornar a
sua própria vida mais produtiva e feliz (NUNES, 2007; PALUDO; KOLLER,
2007).
49

Martin Seligman, como um professor universitário, dedicou cerca de


trinta anos de sua vida ao estudar e atender pacientes com depressão e,
por isso, em um determinado momento, resolveu inverter o curso dos
seus estudos, ou seja, ao invés de continuar entendendo as fraquezas
humanas e os motivos que levam a depressão, ele buscou por respostas
para compreender as raízes da felicidade (NUNES, 2007; PALUDO;
KOLLER, 2007).

O interesse em compreender felicidade estava relacionado que muitos


eram os estudos sobre depressão e, com isso, muito se sabia sobre
depressão. Assim, buscou investigar a essência comum das pessoas
felizes. Inicialmente, levou a muitas críticas, como se fosse uma busca de
compreensão por algo que é superficial. Mas, por meio de investigação
científica, Seligman passou a compreender que conquistar felicidade
está relacionado a um exercício diário de gentileza, originalidade, humor,
otimismo e generosidade (NUNES, 2007; PALUDO; KOLLER, 2007).

Nesse sentido, conforme Hutz (2014), Seligman passou a realizar


diversos estudos, nos quais sempre destacou que a Psicologia
convencional estava voltada para entender aquilo que torna um
indivíduo neurótico, deprimido, ansioso, de mal com o mundo. Então,
fora necessário compreender outros aspectos do ser humano, os quais
não tivesse essa visão, pois Seligman tem realizado nos últimos anos
pesquisas voltadas para temáticas como: satisfação da vida social de
homens e mulheres; felicidade; felicidade e longevidade; felicidade e
amizade; felicidade e relacionamentos.

Hutz (2014) afirma que que por meio de pesquisas, Seligman


compreendeu que a Psicologia Positiva apresenta três pilares, sendo:

A) Estados positivos de bem-estar subjetivo: estão relacionados à


satisfação com a vida, felicidade, otimismo. Neste nível, considerado
subjetivo, o interesse concentra-se nas experiências subjetivas do
indivíduo, ou seja, experiências de valor, como bem-estar subjetivo
50

e satisfação de vida (no passado), otimismo e esperança (no futuro),


felicidade e flow (no presente).

B) Traços individuais/psicológicos positivos: estão relacionados a


criatividade, coragem, compaixão, integridade, sabedoria, autocontrole,
espiritualidade. Neste nível, seria o individual, no qual busca-se
compreender os traços positivos, mas relacionados às características e ao
funcionamento de cada pessoa, como a capacidade para o amor, talentos,
habilidades interpessoais, generosidade, perdão e sabedoria.

C) Instituições Positivas: estão relacionados às famílias saudáveis,


comunidade, escola, ambientes de trabalho. Neste nível, considerado e
nomeado como grupal, são analisadas as virtudes cívicas e as instituições
que contribuem para que os indivíduos tornem-se cidadãos, assim, estão
com foco em responsabilidade, altruísmo, tolerância e ética no trabalho.

A complementar a respeito da Psicologia Positiva, Fredrickson (2001)


considera que é necessário compreender e promover aspectos que
permitam aos indivíduos, comunidades e sociedades, florescer, uma
vez que o ser humano vive em uma época em que não se pode evitar as
emoções negativas, pois vive em um contexto social que impacta em sua
vida de diferentes formas, positivas e negativas.

Nunes (2007) destaca as emoções positivas que são do interesse


da Psicologia Positiva, e que são consideradas como fatores que
contribuem para a proteção de doenças, isto porque de maneira
complexa, elas fortalecem o sistema imunitário. Ou seja, aquele sistema
responsável pela proteção do organismo contra qualquer corpo
estranho que entra em contato com o organismo humano, bem como é
possível ensinar o ser humano a compreender essas emoções e, assim
treinar a desenvolver mais essas emoções.

Nesse sentido, faz-se aqui uma compreensão a respeito das emoções


positivas que interessam a área da Psicologia Positiva, e que são
pesquisadas:
51

A) Alegria: muitos estudos têm sido realizados a respeito de alegria, e


pode-se entender que, “alegria provém do vocábulo latino alecritas (fogo,
ardor, vivacidade). Trata-se de um sentimento de contentamento e de
satisfação interior proveniente de algum facto positivo que a pessoa
provou” (NUNES, 2007, p. 15).

B) Amor: é um fenômeno complexo, difícil defini-lo, e pode ser


considerado como “uma emoção particular, que não prescinde da cognição
e que se expressa numa grande variedade” (NUNES, 2007, p. 16). Muitos
estudiosos, poetas, filósofos falaram a respeito do amor, como Serrano
Martinez (1993) que menciona a respeito das três dimensões fundamentais
no amor, propondo a “teoria triangular do amor”. Assim, o autor explica
que em cada vértice do triângulo há um dos elementos principais do amor,
como: intimidade; paixão; decisão/compromisso.

C) Bem-estar: é um conceito que envolve diversos os aspectos do


indivíduo, como a manutenção de uma boa nutrição, exercícios físicos,
boas relações pessoais, familiares e sociais, bem como envolve o controle
do estresse (NUNES, 2007; PASSARELI; SILVA, 2007).

D) Contentamento: o contentamento está relacionado às emoções de


serenidade, tranquilidade e alívio, as quais estarão presentes em situações
que o ser humano sinta segurança e não precise de esforço na situação
(NUNES, 2007).

E) Esperança: trata-se de uma atitude, de uma emoção, de um valor,


de uma virtude, ou como lhe quisermos chamar, das mais positivas
ou necessárias para o ser humano, pois é necessário para se poder
viver, e ela não é uma ilusão que compensa as frustrações ou uma
alienação, mas uma necessidade que está relacionada à possibilidade de
resultados positivos a respeito de situações, eventos e/ou circunstâncias
da vida pessoal do indivíduo. A esperança também está relacionada a
perseverança (NUNES, 2007).

F) Felicidade e caminho para a felicidade: a felicidade está relacionada


com a qualidade ou estado de estar feliz, é uma situação, circunstância,
momento no estado de uma consciência satisfeita do ser humano, ou
52

seja, uma satisfação, um contentamento, um bem-estar. Assim, tem


estudos que irão discutir que além da felicidade como estado, que existe
os caminhos para a felicidade, sendo apresentado três caminhos para a
felicidade: A) Vida de prazer (pleasant life); B) Vida boa (good life or engaged
life); ou C) Vida com sentido/significado (meaningful life) (SELIGMAN, 2004).

G) Otimismo: “é uma característica ou dimensão importante da


personalidade e mais em concreto um estilo cognitivo-afectivo sobre como
o sujeito processa a informação quanto ao futuro” (NUNES, 2007, p. 25).
Dessa forma, pode-se dizer a respeito de otimismo, como: A) Otimismo
pessoal, o qual é uma expectativa relacionada à pessoa, ou seja, ao seu
comportamento ou relacionada a saúde; B) Otimismo social, relacionado
ao ambiente social e/ou ecológico.

H) Perdão: está relacionado a um tema transversal dentro das religiões e


no que diz respeito à espiritualidade e, com isso, já foi muito abordado na
teologia e na filosofia. Perdão também está relacionado com sabedoria e
com a aplicação do conhecimento do bem comum por meio do equilíbrio
dos interesses pessoais e das condições ambientais (ROBALO, 2010).

Diante de todo exposto sobre as emoções positivas, pode-se dizer que


nessas quase duas décadas de existência da Psicologia Positiva, o seu
interesse é nos estudos das emoções e das características individuais
e das instituições positivas centrado na prevenção e na promoção da
saúde mental (PACICO; BASTIANELLO, 2014).

O principal interesse na Psicologia Positiva, nessa perspectiva, é


compreender de maneira científica as forças e vivências humanas com
foco na felicidade e nas possíveis intervenções, no sentido de aliviar
as dores e desenvolver o bem-estar (PACICO; BASTIANELLO, 2014;
SELIGMAN et al., 2005).

Portanto, é importante destacar que a Psicologia Positiva não ignora


o sofrimento do ser humano e os problemas que vivenciamos, e não
desvaloriza os estudos até hoje realizados a respeito de transtornos
mentais. Mas, o objetivo desse novo movimento é complementar.
53

Sendo assim, conforme Hutz (2014), ampliar e estudar aspectos


que a Psicologia até hoje não tenha estudado, uma vez que desde o
nascimento da Psicologia seu foco ficou na fragilidade do ser humano.

A partir disso, os estudos científicos da Psicologia Positiva visam


compreender as características, forças e virtudes humanas positivas
para prevenir doenças mentais e físicas. Com isso, os psicólogos
poderão desenvolver técnicas e métodos para contribuir com indivíduos
e comunidades com os seus níveis de felicidade e bem-estar.

Em relação à aplicação e intervenção, Hutz (2014) afirma que a Psicologia


Positiva propõe um exercício teórico e metodológico no sentido
de orientar a visão que é dada sobre os fenômenos investigados e
estudados pela Psicologia, visando priorizar a prevenção ao tratamento.

Diante do exposto, pode-se considerar que houve uma grande expansão


dos estudos da Psicologia Positiva em pouco tempo, pois é grande o
número de artigos científicos, livros publicados relacionados à área, e
também muitas são as conferências, os cursos, os financiamentos e os
prêmios oferecidos a pesquisadores do mundo inteiro relacionadas a
área e a subtemas da área.

Internacionalmente, a área tem ganhado destaque na mídia


internacional como Time, Newsweek, U.S. News, World Report, New York
Times, e na mídia nacional como TV UOL, programas da Rede Globo de
televisão, artigos em revistas como Isto É, Veja, e outras (APPAL, 2021).

Ainda, a Psicologia teve a criação de diversas associações de Psicologia


Positiva no mundo e na América Latina, como a Internacional Positive
Psychology Association (IPPA), com a qual a Associação de Psicologia
Positiva da América Latina (APPAL) tornou-se afiliada desde 2012, tem
associados de mais de 70 países.

No Brasil, vale destacar a Associação Brasileira de Psicologia Positiva


(ABPP), que realizou eventos científicos no Brasil (APPAL, 2021). Segundo
54

Pacico e Bastianello (2014, p. 18), “é difícil localizar exatamente qual


teria sido o primeiro estudo publicado sobre psicologia positive”. Mas
em 1996, “Hutz, Koller e Bandeira, publicaram o artigo “Resiliência
e vulnerabilidade em crianças em situação de risco” (ibid., p.19), um
construto estudado em Psicologia Positiva, porém, desde então, com o
interesse vários estudos já foram publicados no Brasil, em relação às
temáticas: resiliência; bem-estar; autoeficácia; entre outros que vem
sendo explorados em estudos científicos.

No Brasil, o crescimento da área é grande, e o Laboratório de


Mensuração da UFRGS tem sido um dos principais centros de pesquisa
em Psicologia Positiva, assim, tem produzido instrumentos de avaliação
e estudos teóricos e de aplicação, além de treinar pesquisadores na
área, o que tem sido de grande relevância, pois visa contribuir para o
avanço da área no país (PACICO; BASTIANELLO, 2014).

Com isso, pode-se dizer que, a Psicologia Positiva está em processo de


expansão dentro da ciência psicológica, a qual possibilita a avaliação
das potencialidades e virtudes humanas, bem como a orientação
e intervenção relacionada as potencialidades humanas (CALVETTI;
MULLER; NUNES, 2007; HUTZ, 2014; PALUDO; KOLLER, 2007; NUNES,
2007).

1.2 Terapia Cognitiva-Comportamental e Psicologia


Positiva: qual a relação?

A Psicologia Positiva tem seu enfoque relativamente recente, a nível


nacional, aproximadamente 20 anos, e está baseada na convergência
de linhas teóricas e de investigações diversas. Assim, apresenta no seu
movimento que a Psicologia, enquanto ciência e profissão não devem
ficar restritas apenas no que é frágil, ou seja, apenas reparando o que
está errado ou ruim, frágil, mas (re) construir e potencializar qualidades
positivas, sendo assim, evidenciar, florescer o que é positivo (bom,
55

potencial) no indivíduo. Portanto, a Psicologia Positiva está focada no


estudo e intervenção das forças do indivíduo do que nas fraquezas.

Nesse sentido, a Terapia Cognitiva-Comportamental é um modelo


e apresenta em sua teoria de tratamento/intervenção a busca por
melhorar e intervir nos transtornos, com conceitos que compreendem
que esse indivíduo pode aprender, melhorar, buscar novas
compreensões do que está ocorrendo.

Com isso, a integração, a relação da Psicologia Positiva com a TCC


acontece por meio da perspectiva que as teorias entendem o indivíduo
e, assim, também constroem seus conceitos e formas de trabalhar,
então, há aproximação na identificação, reforço, uso das forças e
virtudes pessoais do indivíduo, bem como perspectiva de valorizar os
potenciais, as motivações e capacidades humanas.

Ainda na intervenção se trabalha a reorganização das prioridades,


distinguindo áreas que estão sob controle, daquelas que estão fora de
sua ingerência, buscando definir objetivos viáveis e razoáveis de melhora
para cada prioridade/paciente.

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BONS ESTUDOS!

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