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Aula 9 - Teoria das Grelhas, Método de Marcus e Geralmente, admite-se que o material seja elástico

Linhas de Ruptura e Flechas nas Lajes linear, mas é possível incluir a não linearidade física
sem maiores dificuldades.
Cálculo de lajes armadas em cruz
O grande inconveniente do método está na dificuldade
As denominadas lajes armadas em cruz são aquelas de generalização das condições de contorno e de
em que a relação entre os vãos é inferior a 2, conforme carregamento, motivos pelos quais ele tem sido
a classificação dada anteriormente. abandonado.

Para essas lajes, o cálculo dos esforços deve ser feito F - Método dos elementos finitos
levando-se em conta sua flexão biaxial, o que aumenta
consideravelmente a complexidade do problema. É um método numérico muito empregado atualmente.

Diversos métodos de cálculo são disponíveis na Nesse método, podem-se considerar as não
bibliografia, podendo-se citar os seguintes: linearidades física e geométrica, as diferentes
condições de contorno e de carregamento, formas
A - Teoria das Grelhas diversificadas, etc.

É um método simplificado bastante útil para o projeto Entretanto, a formulação não é tão simples e o trabalho
das lajes de concreto armado. computacional pode se tomar exaustivo.

Nesse método, admite-se um comportamento elástico Teoria das grelhas para lajes sobre apoios rígidos
linear do material da laje.
O cálculo das lajes armadas em cruz que não possuam
Da teoria das grelhas, deriva o conhecido Método de rigidez à torção, ou que não sejam suficientemente
Marcus. ancoradas nos cantos para evitar o seu levantamento,
pode ser feito de maneira simplificada por meio da
B - Teoria das linhas de ruptura denominada “Teoria das Grelhas”.

Nessa teoria, admite-se que o material apresente um Esse método também pode ser empregado paras as
comportamento rígido-plástico. lajes usuais, concretadas monoliticamente com as
vigas, quando não são usadas armaduras de canto na
O equilíbrio é garantido pela aplicação do princípio dos face superior da laje.
trabalhos virtuais, desprezando-se totalmente a
contribuição das deformações elásticas. Esses casos são ilustrados na fig. 3.1.1.

C - Teoria de flexão de placas

Esta é a teoria "exata" dentro dos princípios da teoria


da elasticidade.

A solução do problema é obtida resolvendo-se uma


equação diferencial de quarta ordem, juntamente com
as condições de contorno.

Admite-se que o material apresente um comportamento


elástico linear. Nas lajes concretadas monoliticamente com as vigas,
deve-se verificar se a ocorrência de eventuais fissuras
D - Analogia da grelha equivalente nos cantos simplesmente apoiados, como
consequência da ausência das armaduras de canto na
É um dos métodos numéricos mais utilizados para face superior da laje, pode comprometer a durabilidade
análise de lajes de concreto armado, estando da estrutura.
implementado em diversos softwares comerciais.
Isto é particularmente importante quando a laje está ao
O método pode ser utilizado para a análise de lajes ar livre, sujeita à ação da chuva.
poligonais de formas diversas, incluindo também as
vigas de apoio. Para as lajes situadas no interior dos edifícios
residenciais e de escritório, essas fissuras, quando
A laje é associada a uma grelha equivalente, a qual é existem, ficam protegidas pelo piso.
analisada com um programa baseado no método da
rigidez. Nesses casos, podem-se omitir as armaduras de canto,
para simplificar a execução.
E - Método das diferenças finitas
De todo modo, em lajes com grandes vãos, é
É um método numérico que foi bastante empregado no recomendável empregar uma armadura mínima nos
passado.

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cantos simplesmente apoiados para controle da sendo o quinhão de carga correspondente.
fissuração.
Uma vez que a flecha no centro da laje tem um valor
Considere-se, para exemplificar, a laje simplesmente único, a condição de continuidade é escrita na forma
apoiada nos quatro lados, indicada na fig. 3.1.2.
=
A laje é submetida a uma carga , uniformemente
distribuída por unidade de área. Introduzindo
Os vãos são e e os apoios são considerados
indeformáveis. = e =

na equação da condição de continuidade, chega-se

Da equação

= +

tem-se que

= −

Substituindo
Inicialmente, consideram-se duas faixas de largura
unitária, uma em cada direção, as quais se cruzam no = − em =
centro da laje.
resulta
A carga total é dividida nos quinhões de carga e
, correspondentes às direções e ,
respectivamente. =
+
Os quinhões de carga devem obedecer à relação As equações
= +
= − e =

permitem calcular os quinhões de carga.

Definindo a relação entre os vãos como

= ⁄

pode-se escrever

= ; =

onde

A flecha no centro da faixa da direção , sob a ação da = ; =1−


carga , é dada por
Observa-se que os quinhões de carga dependem
5 apenas da relação entre os vãos da laje.
=
384
Uma vez conhecidos esses quinhões, podem-se
onde é a rigidez à flexão da faixa de largura unitária. calcular os momentos fletores nas duas direções.

Analogamente, a flecha no centro da faixa da direção O momento máximo na direção é dado por
é dada por

5 =
8
=
384
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e substituindo , =2 +

= =2 +
,

resulta
onde e são os momentos positivos no centro da
laje.
= ; = /8
Fazendo as substituições necessárias, comprova-se
Analogamente, o momento máximo na direção pode que os resultados são os mesmos da equação
ser escrito na forma

= ; = /8 , =
8
Observa-se que, nas expressões dos momentos
fletores, ο termo comum é . =
,
8
Os coeficientes adimensionais e dependem
apenas do parâmetro (relação entre os vãos da laje). Logo, se as vigas forem dimensionadas para as cargas
uniformes e , e se as armaduras da laje forem
A flecha no centro da laje pode ser calculada por distribuídas uniformemente ao longo dos vãos e , o
meio das expressões momento total resistente será igual ao momento total
solicitante.
= ou = A formulação demonstrada para a laje simplesmente
apoiada nos quatro lados pode ser facilmente estendida
Empregando a equação para outros casos de condições de contorno.

5 Os casos possíveis são indicados na fig. 3.1.3.


=
384
pode-se escrever

= , onde =5 ⁄384

As reações de apoio e , nos lados e ,


respectivamente, são dadas por

= ; =

onde

= ⁄2 = ⁄2

Essas reações são consideradas uniformemente


distribuídas nas vigas de apoio da laje. A seguir, apresentam-se as expressões para o cálculo
das lajes da fig. 3.1.3 por meio da teoria das grelhas,
Com essa distribuição uniforme das reações, garante- considerando apoios rígidos.
se o equilíbrio do momento total nas duas direções.
Para todos os casos, emprega-se a seguinte notação:
Isto é demonstrado como a seguir, onde se admite que
as vigas de borda sejam simplesmente apoiadas em = ⁄
quatro pilares situados nos cantos da laje.
= 1−
Os momentos fletores máximos e nas vigas
das direções e , são dados por Flecha:

= ; = =
8 8
Considerando as duas vigas de cada direção, e
incluindo a colaboração da laje, obtêm-se os momentos ℎ
totais resistentes =
12(1 − )

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Momentos fletores no centro da laje: = ⁄14,22 ; = /14,22

= ; = =− /8 ; =− /8
Momentos fletores negativos: =3 ⁄8 ; =5 ⁄8
= ; =
=3 ⁄8 ; =5 ⁄8
Reações nos lados apoiados:
- Caso 5:
= ; =
2
=
Reações nos lados engastados: 1+2

= ; = = ⁄384

- Caso 1: = ⁄24 ; = /14,22

=− /12 ; =− /8
=
1+
=3 ⁄8 ; =5 ⁄8
=5 ⁄384
= ⁄2
= ⁄8 ; = /8
- Caso 6:
= ⁄2 ; = ⁄2
=
- Caso 2: 1+

5 = ⁄384
=
1+5
= ⁄24 ; = /24
=2 ⁄384
=− /12 ; =− /12
= ⁄14,22 ; = /8
=3 ⁄8 ; = ⁄2
=− /8
Com as expressões anteriores, pode-se facilmente
= ⁄2 ; =3 ⁄8 ; =5 ⁄8 elaborar um programa de computador para o cálculo de
lajes retangulares através da teoria das grelhas.
- Caso 3:
Essas expressões foram utilizadas na confecção das
5 tabelas A2.22 a A2.27, constantes do Apêndice 2.
=
1+5 Observando essas expressões, verifica-se que o valor
absoluto do momento negativo varia de 1,78 a 2,00
= ⁄384 vezes o valor do momento positivo na mesma direção
da laje.
= ⁄24 ; = /8
As tabelas A2.22 a A2.32 correspondem a lajes
=− /8 retangulares apoiadas ao longo de todo o contorno
(sem bordo livre), submetidas a uma carga
= ⁄2 ; = ⁄2 uniformemente distribuída.

- Caso 4: As tabelas fornecem coeficientes que permitem calcular


a flecha no centro da laje, os momentos fletores
positivos nos vãos, os momentos negativos nos bordos
= engastados e as reações de apoio.
1+
O parâmetro de entrada é a relação entre os lados
=2 ⁄384 ⁄
=

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As tabelas foram elaboradas com base na Teoria das Momentos fletores:
Grelhas.
As tabelas A2.22 a A2.27 correspondem à teoria das = 0,001 ; = 0,001 ; .
grelhas para lajes sobre apoios rígidos.
Reações de apoio:
As tabelas A2.28 a A2.32 correspondem à teoria das
grelhas para lajes sobre apoios flexíveis. = 0,001 ; = 0,001 ; .
Na fig. A2.4, indicam-se as grandezas correspondentes
ao caso da tabela A2.25.

Nessas tabelas, adota-se a seguinte convenção:

- flecha no centro da laje;

, - momentos positivos no centro da laje nas


direções dos vãos e , respectivamente;

, - momentos negativos nos engastes nas


direções dos vãos e , respectivamente;

- reação de apoio por unidade de comprimento no


lado , quando este lado for um apoio simples;

- reação de apoio por unidade de comprimento no


lado quando este lado for um engaste;

- reação de apoio por unidade de comprimento no


lado , quando este lado for um apoio simples;

- reação de apoio por unidade de comprimento no


lado , quando este lado for um engaste.

Quando não há necessidade de fazer distinção entre


e , as duas reações são denotadas por .

O mesmo é válido para e .

Entrando nas tabelas com a relação entre os lados


⁄ , obtêm-se os diversos coeficientes com os quais
se calculam:

Flecha:

= 0,001

onde


=
12(1 − )

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A solução pode ser obtida por meio das equações ou
utilizando a tabela A2.22 do Apêndice 2.

Os resultados são os seguintes:

- flecha no centro da laje:

- momentos fletores:

- reações de apoio:

Pode-se demonstrar facilmente que as soluções da


teoria das grelhas garantem o equilíbrio dos momentos
totais nas duas direções, para todos os seis casos
analisados.

Desse modo, as reações de apoio podem ser


consideradas uniformemente distribuídas para o
cálculo das vigas.

Exemplo: Quando se tratar de lajes contínuas, adota-se o


procedimento indicado na seção 1.4 do capítulo 1.
Calcular a laje apresentada a seguir, empregando a
teoria das grelhas. Onde há continuidade entre duas lajes, considera-se
um engaste perfeito e empregam-se as tabelas A2.22 a
Considere-se a espessura de ℎ = 10 cm. A2.27 para o cálculo da flecha, momentos fletores e
reações de apoio.
A laje corresponde ao piso de um dormitório de
apartamento. O momento negativo em um bordo comum é igual à
média dos valores obtidos para as duas lajes vizinhas,
ou 80% do maior deles em valor absoluto.

( + )/2
=
0,8 ( , )

Método de Marcus

O método de Marcus é um método simplificado que


procura adaptar a teoria das grelhas para incluir os
efeitos da torção da laje.
O carregamento é constituído das seguintes parcelas:
Devido à rigidez à torção, os momentos fletores
positivos e a flecha da laje ficam reduzidos em relação
aos valores fornecidos pela teoria das grelhas.

Assim, no método de Marcus, os momentos fletores


positivos no centro da laje, e , são dados por

Os vãos da laje são dados na fig. 2.6.1. = ; =


Escolhendo, onde e são os momentos fletores positivos
calculados através da teoria das grelhas para lajes
sobre apoios rígidos.

resulta

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Os coeficientes < 1 e < 1 dependem das condições Na prática, essa condição só se verifica no caso de
de contorno e da relação entre os vãos da laje, sendo lajes apoiadas em paredes (em edifícios de alvenaria
dados por estrutural) ou em vigas de grande rigidez (com relação
vão/altura menor do que 7, aproximadamente).
20 20
=1− ; =1− Assim, se os apoios são rígidos, os momentos torçores
3 3 nos cantos simplesmente apoiados são importantes,
não se podendo prescindir das armaduras de canto.
onde e são os coeficientes que definem os
quinhões de carga e = ⁄ . Caso as armaduras superiores de canto sejam
eliminadas, para facilitar a concretagem, poderão
Os coeficientes e dependem das condições de ocorrer fissuras nas faces superiores da laje.
apoio nas duas direções.
Essas fissuras ocasionarão um aumento da flecha e
Para uma direção genérica, tem-se dos momentos positivos no centro da laje, em relação
àqueles obtidos através da teoria de placas.
- faixa biapoiada: α = 8;
- faixa engastada e apoiada: α = 14,22; Finalmente, se a teoria de placas for empregada para o
- faixa biengastada: α = 24. cálculo de lajes isoladas, é necessário considerar que
as reações de apoio tenham variação triangular e
O método de Marcus é bastante atrativo devido à sua trapezoidal para o cálculo das vigas.
simplicidade e, principalmente, pela disponibilidade de
soluções analíticas, o que facilita a implementação Teoria das linhas de ruptura
computacional.
A teoria das linhas de ruptura, introduzida por K. W.
Entretanto, deve ser observado que o método Johansen, é uma alternativa para o cálculo de esforços
considera a rigidez à torção das lajes. e reações em lajes.

Se a laje for calculada pelo método de Marcus, as Empregando esse método, é possível determinar os
reações de apoio não devem ser consideradas momentos de ruína que serão utilizados para o
uniformemente distribuídas sobre as vigas. dimensionamento das lajes de diferentes formas,
condições de contorno e carregamentos.
Neste caso, as vigas devem ser calculadas com as
distribuições de reações de apoio dadas na teoria de Em seu surgimento, o método teve uma grande
placas. aceitação pela possibilidade de se calcular lajes de
formas irregulares, o que era praticamente impossível
Além disso, é necessário dimensionar as armaduras de à época.
canto, nos cantos simplesmente apoiados das lajes.
A teoria das linhas de ruptura, também denominada
Em geral, basta adotar uma armadura de canto com teoria das charneiras plásticas, considera o equilíbrio
área igual à da maior armadura positiva existente no da laje no momento que antecede a ruína, ou seja, no
centro da laje. estado limite último.

Teoria de Flexão das Placas A teoria não permite analisar o comportamento da laje
nas condições de utilização, o que é uma das
Na Teoria de flexão de placas as soluções obtidas são desvantagens em relação às soluções elásticas.
válidas desde que sejam verificadas as seguintes
condições, dentre outras: A NBR-6118 permite o emprego da teoria das linhas de
ruptura quando as deformações das seções da laje
• apoios rígidos; estiverem nos domínios 2 ou 3 (peças subarmadas ou
normalmente armadas).
• emprego das armaduras de canto;
Para a garantia de uma ductilidade apropriada, deve-se
• consideração de cargas triangulares e trapezoidais, ter ⁄ ≤ 0,30, onde é a profundidade da linha neutra
ou cargas parcialmente distribuídas, para o cálculo das e é a altura útil das seções da laje.
vigas de apoio.
De acordo com a NBR-6118, para as lajes retangulares
A condição de apoios rígidos é fundamental, já que, nas com cargas uniformemente distribuídas, as reações de
soluções teóricas, admite-se que = 0 no contorno da apoio podem ser calculadas considerando-se as áreas
placa. dos triângulos ou trapézios obtidos traçando-se, a partir
dos vértices, na planta da laje, retas inclinadas de:
Assim, para compatibilizar a solução teórica com a
situação real, os apoios da laje devem possuir elevada - 450 entre dois apoios do mesmo tipo;
rigidez.
- 600 a partir do apoio engastado, quando o outro for
simplesmente apoiado;

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Adotando essas inclinações para as linhas de ruptura,
- 90 a partir do apoio, quando a borda vizinha for livre. podem-se calcular as reações de apoio de lajes de
formas irregulares como, por exemplo, a laje em forma
Essas situações são representadas na fig. 3.4.7. de indicada na fig. 3.4.8.

A correta determinação dos esforços nas lajes e nas


Por exemplo, a carga atuante numa laje retangular com vigas de um pavimento de concreto armado é uma
bordos livres é subdividida em quatro partes tarefa extremamente complexa.
proporcionais às áreas de 2 triângulos e 2 trapézios
como mostrado na figura a seguir. Mesmo que se disponha de um software que faz a
análise acoplada do pavimento, considerando as
interações entre as vigas e as lajes, fica-se,
invariavelmente, sem saber qual é a resposta correta.

De fato, não existe a "solução exata" desse problema,


pois os resultados são muito dependentes dos
parâmetros de rigidez adotados para as lajes e as
vigas.

Fazendo uma análise não linear acoplada do


pavimento, chega-se o mais próximo possível da
"solução exata", porém, esses resultados também são
muito influenciados pelos parâmetros do modelo não
linear.

Quando se emprega uma análise elástica linear, deve-


A parcela referente a cada figura é aplicada como carga se adotar uma rigidez equivalente, para levar em conta
distribuída uniforme sobre a vigas de apoio daquele a fissuração do concreto.
bordo da laje.
Essa rigidez equivalente é uma incógnita, pois ela
As parcelas correspondentes aos triângulos estarão depende das armaduras (que ainda não são
sobre as vigas de apoio dos bordos menores da laje, e conhecidas) e depende, também, do nível do
as dos trapézios sobre os bordos maiores. carregamento.

De acordo com a figura mostrada (laje com bordos Para as cargas de serviço, tem-se uma rigidez maior do
livres), para a carga total (p) atuando sobre a laje, tem- que no estado limite último.
se:
Além disso, os efeitos que a fissuração provoca nas
. lajes são diferentes do que ocorre com as vigas.
= ∙ =
2 × 2 4
Na faixa das cargas de serviço, pode-se admitir que as
+ − lajes se encontrem no estádio I, enquanto as vigas
= ∙ ∙ estão no estádio II.
2 2
No estado limite último, ambas estão totalmente
= 2− fissuradas, porém, cada uma delas experimenta uma
4 diferente queda de rigidez.

As lajes também possuem uma maior capacidade de


= 2−
redistribuição de esforços do que as vigas, o que
influencia na distribuição dos esforços no estado limite
último.

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Apesar das dificuldades de avaliação aqui discutidas,
sem dúvida alguma, o ideal é fazer a análise do
pavimento como um todo, empregando-se um software
que considera o sistema lajes-vigas acoplado.

Na indisponibilidade de um software desse porte, pode-


se empregar algum processo simplificado.
Espessura mínima das lajes maciças
Outro fator que altera os resultados é a posição das
vigas em relação ao plano médio das lajes, como Após o cálculo dos esforços, o dimensionamento é feito
conforme indicado no Volume 1. Por último, deve-se
ilustrado na fig. 3.9.1.
fazer o detalhamento das armaduras.
Na situação usual (viga sob a laje), há um
De um modo geral, o projeto não pode se limitar a um
enrijecimento produzido pela excentricidade , entre o
cálculo preciso das solicitações e das dimensões dos
eixo da viga e o plano médio da laje.
elementos estruturais.
Assim, se o software considerar as vigas como
Além disso, devem ser tomadas algumas medidas que
elementos lineares situados no plano médio das lajes,
facilitem a execução, possibilitando uma maior
como na situação , haverá um erro que pode ser
uniformidade na concretagem da estrutura e uma
importante.
adequada proteção das armaduras contra a corrosão.

Assim, o detalhamento das armaduras toma-se uma


etapa de fundamental importância no projeto estrutural.
De um correto detalhamento, dependerá o sucesso ou
o fracasso do projeto.

As lajes devem ser projetadas com uma espessura


mínima suficiente para limitar suas deformações, além
de evitar vibrações que causem desconforto aos
usuários da edificação.

EXERCÍCIO 1: Além disso, do ponto de vista construtivo, é


conveniente que as lajes sejam projetadas com
1 - Calcular o piso da figura a seguir utilizando: armadura simples, para evitar o uso de armadura
superior ao longo dos vãos.
a) tabelas A2.1 a A2.6 (teoria das placas);
Assim, a espessura adotada deve ser tal que o
b) tabelas A2.22 a A2.27 (teoria das grelhas). dimensionamento recaia no caso de armadura simples,
conforme os critérios indicados no Volume 1.

Segundo a NBR-6118, a espessura das lajes maciças


de concreto armado não deve ser menor que os
seguintes limites:

a) 7 cm para lajes de cobertura não em balanço;


b) 8 cm para lajes de piso não em balanço;
c) 10 cm para lajes em balanço;
d) 10 cm para lajes que suportem veículos de peso total
menor ou igual a 30 kN;
e) 12 cm para lajes que suportem veículos de peso total
maior que 30 kN;
f) 16 cm para lajes lisas e 14 cm para lajes cogumelo.

2 - Fazer um croqui do piso com as lajes mostrando os Para as lajes em balanço com espessura com
momentos positivos e negativos calculados por meio de espessura h < 19 cm, deve-se considerar o coeficiente
cada um dos métodos. adicional.

3 - Fazer comparação dos resultados encontrados por = 1,95 − 0,005ℎ ≥ 1


meio dos dois métodos utilizados. (comentário a partir
dos resultados dos momentos. onde ℎ ≥ 10 é a espessura da laje em cm.

Considerar o seguinte carregamento sobre as lajes: O coeficiente n deve majorar os esforços de cálculo
finais, quando do dimensionamento das lajes em
balanço.

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Cálculo de flechas em lajes no estádio I para o nível das cargas quase
permanentes.
A NBR-6118 estabelece diversos limites para os
deslocamentos dos elementos estruturais. Eventuais fissuras que possam surgir em pontos
localizados da laje não são suficientes para desviar o
Esses limites são valores práticos, determinados de seu comportamento global do estádio I, como se
modo a evitar que os deslocamentos da estrutura não comprova a partir da análise de resultados
causem sensações desagradáveis aos usuários, não experimentais e por meio de uma análise não linear.
impeçam a utilização adequada da construção, nem
causem danos em elementos não estruturais. A flecha inicial W0 é calculada através dos
procedimentos apresentados nos capítulos anteriores:
Além disso, esses limites devem garantir a validade da expressões analíticas para lajes armadas em uma
hipótese de pequenos deslocamentos, usualmente direção, tabelas da teoria de placas, teoria das grelhas
admitida na análise estrutural. para lajes sobre apoios rígidos e sobre apoios flexíveis,
além da possibilidade de cálculo através de métodos
Assim, o limite a ser adotado para um deslocamento é numéricos.
função do dano que se quer evitar.
Em todos os casos, considera-se a rigidez à flexão da
Por exemplo, se o objetivo é evitar vibrações que laje dada por
possam ser sentidas no piso, a flecha devida à carga
acidental não deve ultrapassar um determinado limite. ℎ
=
12(1 − )
Por outro lado, o objetivo pode ser evitar danos em
paredes. Neste caso, o acréscimo na flecha da laje,
ocorrido após a construção da parede, deve ser onde = 0,2 é o coeficiente de Poisson do concreto e
limitado. Ecs é o módulo secante.

No caso dos edifícios residenciais e de escritórios, Adotando-se a relação do CEB, tem-se:


basta limitar a flecha provocada pela totalidade das
/
cargas. Isto se deve ao fato de que a carga acidental é +8
pequena em relação à carga permanente. = 0,85 21500 ,
10
Assim, as flechas das lajes não devem ultrapassar o onde fck é a resistência característica à compressão do
limite L / 250, onde L é o menor vão da laje. concreto em MPa.
Para as lajes em balanço como as marquises, a flecha Assim, para atender as exigências quanto ao estado
na extremidade livre deve ser limitada em L / 125, onde limite de deformações excessivas, deve-se ter
L é o comprimento do balanço.
≤ ⁄250 , ã ç
As flechas devem ser calculadas para a combinação
quase permanente do carregamento, dada para os
edifícios por: ≤ ⁄125 , ç

= + 0,3 No caso das lajes em balanço, / é o comprimento


teórico e nos outros casos, / é o menor vão da laje.
onde se subentende que a carga permanente e a
O carregamento típico de uma laje de edifício
carga acidental são tomadas com seus valores residencial é composto das seguintes parcelas (em):
característicos.
a) Carga permanente (g)
A flecha final, W∞ , incluindo a fluência do concreto,
pode ser obtida através da relação - peso próprio: 25 h kN/m2 (com h em metros)
= (1 + ) - revestimento: 0,8 kN/m2

onde φ é o coeficiente de fluência e W0 é a flecha inicial b) Carga acidental: q = 1,5 kN/m2


calculada para a carga dada em
Nessas condições, o carregamento quase permanente
= + 0,3 é dado por:

Na equação, admite-se a ocorrência do estádio I, tanto = (25ℎ + 0,8) + 0,3 1,5 = 1,25 + 25ℎ, /
para o cálculo da flecha inicial, quanto para a inclusão
da fluência. Considerando esse carregamento, é possível
determinar a espessura da laje para atender as
Esse procedimento de cálculo é válido para as lajes exigências quanto à flecha.
maciças dos edifícios, pois as mesmas se encontram

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Na tabela 4.3.1, são indicados os resultados
correspondentes a lajes retangulares simplesmente
apoiadas nos quatro lados.

Nessa tabela, adotou-se fck = 20 MPa e φ = 2,5, sendo


utilizada a tabela A2.1 do Apêndice 2 para o cálculo da
flecha inicial.

Os parâmetros de entrada são a relação entre os vãos


e o valor do menor vão de cálculo em metros.

A tabela 4.3.1 deve ser usada apenas para a estimativa


da espessura das lajes.

Essa tabela fornece os valores corretos da espessura,


se o carregamento for igual ao carregamento
considerado na sua elaboração, se os apoios da laje
forem indeformáveis e se forem utilizadas armaduras
de canto.

É necessário relembrar que, se as vigas de apoio forem


flexíveis, a flecha da laje será maior.

No caso das lajes contínuas, esse efeito é compensado


pelo engastamento parcial com as lajes vizinhas.

De qualquer maneira, devem-se respeitar as


espessuras mínimas indicadas.

Para o cálculo da flecha inicial W0 utiliza-se o parâmetro


wc retirado da tabela A.2.1 mostrada a seguir através
da expressão:

= 0,001

No caso 1: < 1 → parte superior da tabela.

No caso 2: < 1 → parte inferior da tabela.

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