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Apontamentos de Direito Penal
Apontamentos de Direito Penal
Definição de crime: Como é que se decide a aplicação da lei penal aos casos concretos na
perspectiva da confrontação directa do caso com a lei já identificada? Como é que se decide o
caso de acordo com o Direito?
É esta teoria da decisão do caso em face da lei penal e do Direito que a doutrina tem buscado
na teoria geral da infracção, propondo uma ordenação lógico-valorativa da determinação
da responsabilidade penal e a partir do confronto do facto concreto com os tipos legais de
crime.
Estamos aqui a falar de uma teoria sobre a definição de crime. Assim, o que a teoria
europeia de inspiração germânica costuma propor é o estudo da essência do crime a partir
das características comuns a todas as figuras de crime contidas num código penal.
Admite-se que todas as figuras previstas no CP como crimes (ex: homicídios, roubos,
violações) justificam a aplicação da pena respectiva, na medida em que são espécies de um
mesmo género: crime. O que é o crime?
2. Acção:
O crime é necessariamente uma acção – Comportamento voluntário, dominando ou
dominável pela vontade. Ex: Não será matar o disparo de uma arma contra uma
pessoa devido a um choque eléctrico que produziu no agente um acto reflexo.
Quem tender a atribuir menor relevância ao requisito da acção poderá aceitar uma
responsabilidade criminal a partir do ficcionamento de comportamentos ou generalizar
como base do comportamento criminoso a mera violação de deveres de conduta. Ou seja, se
o sentido social, o significado desvalioso do acontecimento, for um critério absorvente da
própria objectividade do facto será possível equiparar generalizadamente as acções ou
omissões e admitir como relevantes comportamentos de duvidosa voluntariedade, como os
automatismos ou inconscientes.
Esta ruptura com a relevância de uma acção factual sobrepondo-se a ela o
significado social de um comportamento está associada a concepções que
prescindem da acção como elemento da definição de crime (concepção bipartida do
crime)
o Para estas concepções: A questão prioritária na definição de crime é a
correspondência entre o significado do facto e a negação dos valores que a
norma penal visa proteger.
A acção como elemento do crime tem um valor garantístico, porque a prova no processo
penal incide sobre um tipo de acontecimento cujo conhecimento e identificação não está
A acção tem uma função sistemática na definição de crime – O próprio juízo de ilicitude
não pode ser concebido apenas como lesão de bens jurídicos (momento objectivo da acção),
mas tem de incluir um momento de contrariedade da vontade da acção (momento
subjectivo da acção) ao dever jurídico emanado da norma. E a própria culpa pressupõe a
censurabilidade do comportamento previamente à censurabilidade da personalidade do
agente: Só é culpa da pessoa na medida em que seja referida a um facto censurável.
Os comportamentos negligentes (art. 15.º do CP) não revelam um projecto do sujeito, mas
assumem-se como desvios indesejados de uma direcção inicial. São ainda
comportamentos voluntários, na medida em que poderiam ser evitados pelos seus
autores se estes tivessem tido outra atitude no controlo das consequências dos seus actos.
3. Tipicidade:
O papel da tipicidade é central e comanda a ordem de valorações
o A ilicitude e a culpa são necessariamente enquadradas pela tipicidade.
Beling
Autor clássico.
Teorizou a tipicidade como um verdadeiro juízo autónomo.
Crime = facto (acção) análogo ou correspondente ao facto descrito na norma que se
idealizou como ilícito (contrário ao Direito) e culposo (censurável ao seu autor).
A tipicidade seria uma qualificação do facto criminoso, ainda não valorativa, mas
apenas lógica e classificatória.
Numa primeira fase do seu pensamento, a tipicidade (autónoma da ilicitude)
consistiria numa verificação da correspondência do aspecto externo-objectivo
do facto à lei.
o O tipo também era descritivo de modo a que a constatação da adequação do
facto à lei era um mero juízo de facto sem ponderação valorativa. Ex:
Homicídio – A tipicidade consistiria na correspondência ao tipo de
homicídio do facto externo e objectivo pelo qual se poderia descrever a
acção de matar.
Depois desta fase seguia-se, para o autor, a verificação da anti-juridicidade ou da
ilicitude do facto típico: Constatação da contrariedade do facto à ordem jurídica
no seu conjunto, designadamente por não existirem causas de justificação.
Finalmente seguia-se a fase da culpa – Valorar-se-ia os momentos subjectivos do
facto, a relação de vontade psicológica do autor com o facto.
Numa segunda fase do pensamento, Beling reconhecer que a tipicidade não era uma
valoração ou uma qualidade do facto criminoso era apenas um enquadramento ou
delimitação da ilicitude.
o O tipo passou a ser visto como a necessária referência de ilicitude – um
quadro legal da descrição do facto. A tipicidade seria o enquadramento e a
concretização das valorações da ilicitude e culpa.
FALTA: Pag. 22 – 52
II – A acção
A acção como limite de responsabilidade e pressuposto geral de responsabilidade
penal
O pensamento finalista permite que se chegue a esta posição, apesar de não este ponto de
partida.
MFP: A acção tem sido o conceito que exprime o pressuposto básico da responsabilidade
por culpa, condicionando o tipo de comportamento que pode ser designado por crime. A
necessidade de um conceito que cumpra esta função parece impor-se para quem entenda
como questão fundamental do sistema penal a garantia de uma atribuição de
responsabilidade, baseada na autonomia dos destinatários das normas (não se bastando
com a legitimidade derivada da prossecução de fins preventivos, de fins sociais, associada à
protecção de quaisquer bens jurídicos).
A acção é um critério essencial de um sistema que faz depender a responsabilidade
penal de uma ideia de autonomia e responsabilidade pessoal.
o Este conceito básico na construção dos pressupostos de responsabilidade
penal correspondem à legitimidade de responsabilização conferida
apenas pelos fins supra-individuais da intervenção penal.
Uma resposta para estas questões tem sido procurada a partir de dois prismas:
1. Corresponde ao conhecimento científico e foi acentuado pelo próprio pensamento
finalista – A finalidade caracterizadora da acção não exigiria uma consciência
reflexiva e controladora de todo o desenrolar de um comportamento.
o As acções desenvolvidas com alguma automaticidade seriam também
acções finais. Esta finalidade inconsciente seria caracterizadora de uma
acção humana por constituir um produto de experiência e de aprendizagem.
Portanto, seria controlável normativamente.
A prof. entende que estes dois prismas suscitam problemas e alternativas dogmáticas
importantes. Há uma contraposição notória: Posição de generalizada responsabilização
penal de comportamentos automáticos e de algumas perturbações vs posição mais
moderada que, nos casos de falta de consciência (ex: provocada pela embriaguez), restringe
a intervenção penal a certos tipos de casos em função de um critério distintivo.
1. Automatismos: