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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

Centro de Tecnologia - CTC


Departamento de Engenharia Civil - DEC

• Graduação em Engenharia Civil


• Disciplina: Estruturas de Concreto I

CAPÍTULO 05:
Cálculo da armadura de vigas sob flexão normal
Docente: Prof. Dr. Vladimir José Ferrari

vladimirjf@hotmail.com @vladimirjoseferrari
vjferrari2@uem.br


Cálculo da armadura longitudinal de vigas sob flexão normal
• O cálculo da quantidade de armadura longitudinal, para seções retangulares,
conhecidos (fck, b, d e fyd), é feito de maneira simples pelo equilíbrio das forças que
atuam na seção transversal;

• A flexão normal pura e simples é representada pelos Domínios 1, 2, 3 e 4 


porém, o item 14.6.4.3 da NBR 6118 (2014), permite o uso de apenas uma parte
do Domínio 3, eliminando-se parte do Domínio 3 e o todo o 4;

• Sabemos que no Domínio 4 a ruína é do tipo frágil e deve ser evitada;


Nos Domínios 2 e 3 a ruína é do tipo dúctil, o que é
desejável.

• Segue a transcrição do item 14.6.4.3 da NBR 6118:


• Com o uso de concretos cada vez mais resistentes, torna necessário maior
cuidado com o tipo de ruína das vigas;

 Impõe-se restrições maiores para a profundidade da


linha neutra (x/d) para se ter maior deformação na
armadura;


Equacionamento para concretos até C50
• Na figura que segue tem-se uma seção retangular submetida à flexão simples, com
as deformações possíveis, para concretos de classe até C50, sem considerar a
ductilidade (limite  x/d);
3,5 c 0,85.f cd
Rc
3 x
y=0,8.x

d Md 2
h z

As As Rs
10 yd s

Seção retangular e diagramas de deformações e tensões para concretos até C50

• Sendo conhecidos (fck, b, d e yd)  deseja-se determinar a área da armadura


longitudinal necessária (As) para que um elemento de concreto armado de seção
transversal retangular resista com segurança ao momento fletor solicitante de
cálculo (Md);


• Equilíbrio das forças atuantes normais à seção transversal  como não há força
externa, a força resultante no concreto (Rc) deve ser igual à força resultante
atuante na armadura (Rs):

• Equilíbrio dos momentos  o momento das forças internas em relação a qualquer


ponto da seção (no caso, o CG de As) deve ser igual ao momento fletor solicitante
de cálculo:

• De (1) e (2):

• A posição da LN é importante para saber o Domínio em que a seção está


trabalhando e também para calcular as resultantes de força e o braço de alavanca
(z)  da Eq. (2) temos: 

• Com o valor da LN é possível calcular As  da Eq. (3), temos:


EQUACIONAMENTO PARA CONCRETOS DE QUALQUER CLASSE DE RESISTÊNCIA
• Na figura segue a seção retangular submetida à flexão simples, com as
deformações possíveis, para concretos de qualquer classe;

Seção retangular e diagramas de deformações e tensões para concretos de qualquer classe de


resistência

• O equacionamento é feito da mesma forma que no caso anterior;

 O que difere é o aparecimento dos termos “c e ”;

 Na figura também o termos “yd” foi substituído pelo


termo “limite” que corresponde ao valor x/d = 0,45;


• As equações deduzidas anteriormente, agora ficam sendo:


MOMENTO LIMITE DA SEÇÃO: máximo momento fletor resistente
• Seja agora o problema que consiste em calcular o maior momento fletor que uma
seção conhecida (b, d e fck) consegue resistir (a armadura não é conhecida);

• Para isso, toma-se a Eq. (2) como segue:

 x=1,25.d  não é solução para flexão simples


(LN fora da seção);
• Entretanto, como as Equações (2) e (7 – equação indicada acima do segundo grau)
são funções contínuas e crescentes, o valor do maior momento fletor será
alcançado quando o valor da LN for o maior possível;
• Porém, o valor da LN deve ser limitado pelo limite x/d; 

Conhecida a armadura As: cálculo do momento resistente da seção
•Esta é uma situação bastante comum na prática;

•Sendo conhecidos  b, d, fck, tipo de aço e As;

•Qual é o valor do momento que a seção transversal resiste?

•No item anterior, a armadura não era inicialmente conhecida, mas agora, ao fixar a
área de aço, a posição da LN fica automaticamente determinada e o valor
encontrado não deve ser maior do que: x = 0,45.d;

•A solução consiste em considerar que a seção poderá trabalhar


entre o início do Domínio 2 até o limite “x = 0,45.d” do Domínio
3;

• Em qualquer desses domínios  o aço tracionado está escoado


 s  yd e fs = fyd;

•Da eq. (1) de igualdade das forças resultantes na seção transversal e considerando
concreto até C50, temos:



• Calculado o valor de “x”, deve-se verificar se ele é
inferior ao limite “0,45.d”;

•Caso positivo  confirma que fs = fyd;

•Caso negativo, compara-se o valor de “x” com os


limites do Domínio 3 para 4 no sentido de obter a
tensão na armadura conforme o valor de “x” e o
Domínio correspondente;

•Tendo-se o valor de “x”, o momento fletor resistente pode ser calculado usando-se
a eq. (3):



Fórmulas adimensionais para o dimensionamento de seções retangulares
•Por meio de fórmulas adimensionais, para concretos até a classe C50, as equações
ficam sendo:

•A equação só tem termos adimensionais e KX só pode variar entre 0 e 1


(x=0 e x=d);
• x=0  início dom 2  KX = x/d = 0  KMD = 0;

•x=d  fim do dom 4  KX = x/d = 1  KMD = 0,408;
•Tomando-se a equação que fornece o braço de alavanca (z), temos:

•Equação para o cálculo da armadura:


•Equação que relaciona as deformações com a altura da LN:


•KX só admite valores entre 0 e 1  então, é possível construir um Quadro em que
a cada valor de KX arbitrado  calcula-se um KMD, um KZ e, conhecendo-se “c”,
calcula-se “s”:

•O Quadro que segue é o Quadro 3.1 da página 142 de Carvalho (2021)  no


quadro, por praticidade, foram dados valores a KMD e calculados os demais,
mantidos os limites de validade do KX;
•O quadro contém os valores referentes até ao limite de ductilidade, ou
seja:
•O limite KX = x/d = 0,45  corresponde a KMD  0,25;

•O mesmo raciocínio indicado anteriormente pode ser aplicado a concretos das


classes acima de C50 e até C90 para seções retangulares  o quadro resultante é
também indicado na sequência e apresentado em Carvalho (2021):

Quadro 3.1
Seção retangular e concreto até C50
Carvalho (2021)


Seção retangular e concreto
acima de C50 e até C90;
Carvalho (2021)


Seção retangular e concreto
acima de C50 e até C90;
Carvalho (2021)


Seção retangular e concreto
acima de C50 e até C90;
Carvalho (2021)


Cálculo de seções com armadura dupla
• Sendo conhecido o momento fletor solicitante (M d), é importante, para efeito de
dimensionamento, calcular o momento limite (Mlim) que é  o momento que a
seção consegue resistir com armadura simples;

 Se Md  Mlim  dimensionamento é feito com armadura simples;

 Se Md  Mlim  dimensionamento é feito com armadura dupla  um banzo


com armadura tracionada e o outro com armadura comprimida.

• O momento limite (Mlim)  é o máximo momento resistente da seção como já


calculado anteriormente para a seção trabalhando no domínio 3 no limite da
relação x = 0,45.d;
• No caso em que: Md  Mlim  calcula-se M2  M2 = Md – Mlim;

•M2  será resistido por uma armadura comprimida (A’s) , posicionada no


banzo comprimido e, para manter o equilíbrio, por uma armadura
adicional tracionada (As2);

•As1 é calculada para o valor de Mlim;

• A figura que segue ilustra o problema: 


 

Seção transversal com armadura dupla (Carvalho, 2021)




Durabilidade de estruturas de concreto e especificações de projeto
•Pela NBR 6118 (2014), a agressividade do ambiente pode ser classificada de acordo
com a tabela 6.1 da referida norma:

São 4 classes de agressividade que variam de


agressividade “fraca” a “muito forte” conforme o tipo
de ambiente em que o elemento estrutural será

exposto.
•Da nota “a” da tabela, verifica-se que para todos os elementos situados no interior
dos apartamento residenciais e conjunto de apartamentos comerciais é possível
considerar como sendo de Classe de agressividade I (agressividade mais branda);

Nesse mesmo sentido, pela nota “b”, é possível considerar como


sendo de Classe I as edificações situadas na orla marinha ou em
zona industrial, desde que seja em regiões de clima seco,
umidade média relativa ≤ 65% e partes da estrutura protegidas
da chuva;

•Para evitar a deterioração prematura da estrutura e satisfazer as exigências quanto


à durabilidade, devem ser observados diversos critérios, nas fases de projeto, de
execução e de utilização a estrutura;
Na fase de projeto temos a possibilidade de incluir a
especificação de um concreto com qualidade apropriada, de
cobrimento mínimo para a armadura, verificação de abertura de
fissuras e o correto detalhamento da armadura;

•A qualidade do concreto está diretamente relacionada com a relação a/c, pois é


essa relação que determina a porosidade da massa endurecida e, portanto, a maior
ou menor facilidade de penetração de água ou de gases no concreto;

•A NBR 6118 (2014) apresenta a tabela 7.1 que permite escolher a resistência à
compressão do concreto (fck) em função da Classe de agressividade ambiental;

Com o aumento da Classe de agressividade, tem-se uma


diminuição do valor da relação a/c e um aumento do valor do fck;

•Além das exigências de qualidade do concreto, é necessário especificar um


cobrimento mínimo para a armadura (cmin);

Para garantir o valor do “cmin”  projeto e a execução devem


considerar o cobrimento nominal (cnom). 
•O cnom é o cmin acrescido da tolerância “c”;

Quando houver um adequado controle de qualidade e rígidos


limites de tolerância da variabilidade das medidas durante a
execução, pode ser adotado c = 0,5 cm;
Em caso contrário, nas obras correntes: c = 1,0 cm;

•Na Tabela 7.2 da NBR 6118 (2014) são indicados os cobrimentos nominais em
função da classe de agressividade ambiental, para casos usuais em que c = 1,0 cm;

Valores do
cobrimento (cnom)
para vigas em
função da classe de
agressividade

Nos casos em que o controle de qualidade seja rigoroso, os valores


podem ser reduzidos de 0,5 cm;
Se for empregado concreto de resistência superior ao mínimo exigido,
os cobrimentos também podem ser reduzidos de até 0,5 cm; 
ARMADURA LONGITUDINAL EM MAIS DE UMA CAMADA

 Para que a armadura longitudinal, comprimida ou tracionada, possa ser calculada


admitindo-a concentrada em seu centro de gravidade, a distância (a) desse centro ao
ponto da seção da armadura mais afastado da linha neutra, medida normalmente a
esta, deve ser menor que 10% de h (Item 17.2.4.1 da ABNT NBR 6118, 2014);

 Toda teoria que até agora foi desenvolvida, considerou que a armadura longitudinal
estava concentrada no seu CG (em um único nível), portanto com a < 0,1h;

 Se isso não for possível, deve-se considerar a deformação específica do aço de cada nível;


SEÇÃO TRANSVERSAL EM FORMA DE “T”
• Em um piso de laje maciça de concreto armado apoiado em vigas de seu contorno,
a laje e as vigas não são independentes umas das outras (Carvalho, 2021);
• As estruturas de concreto são monolíticas (a não ser que,
construtivamente, sejam tomadas medidas para que isso não
ocorra) e seus elementos (lajes e vigas) trabalham em
conjunto;

• Então, quando a viga sofre deformação, parte da laje adjacente a ela (em um ou
em dois lados) também se deforma, comportando-se como se fosse parte da viga,
colaborando com sua resistência, passando a ter a forma de um “T” ou de um “L”
invertido;
• Na figura é mostrado o corte transversal em um pavimento
formado por lajes e vigas  observe que o pavimento é formado
de um conjunto de vigas com a forma de um “T” trabalhando lado
a lado;

Corte A-A do piso e conjunto de


vigas com a forma de um “T”
(Carvalho, 2021)


• A parte vertical da seção da viga é chamada de alma (nervura) e a parte horizontal
é chamada de mesa que é composta por duas abas laterais  é possível utilizar as
seguintes notações:

Seção transversal em forma de “T”


(Araújo, 2014)

• bw: largura da nervura;


• bf: largura da mesa;
• h: altura total da seção;
• hf: espessura da mesa;
• As e A’s: área da seção das armaduras tracionada e comprimida


• Uma viga de concreto armado (formada por uma nervura e duas abas) somente
será considerada como seção “T” quando a mesa e parte da alma estiverem
comprimidas  como mostrado no detalhe “a” da figura que segue:
caso contrário, dependendo do sentido de atuação do momento fletor, apenas
a parte superior da mesa ou inferior da alma estarão comprimidas (essas
partes têm a forma retangular), e como as regiões tracionadas de concreto
não trabalham, ou seja, não colaboram na resistência, a viga será calculada
como tendo seção retangular:

Viga de seção “T” e viga de seção retangular


(Carvalho, 2021)
• Como consequência, nos trechos de momentos negativos junto aos apoios (vigas
contínuas), provavelmente a seção da viga será retangular (é o caso de viga abaixo
da laje), pois apenas parte da alma estará comprimida; 
• Outra consequência é que, no caso de momentos positivos, a viga só será
considerada de seção “T” se a linha neutra estiver passando pela alma; caso
contrário, a região de concreto comprimida será retangular, com largura igual a bf,
e não haverá colaboração da alma e de parte da mesa, que estarão tracionadas:

Viga de seção “T” ou retangular conforme posição da linha neutra


(Carvalho, 2021)


Determinação da largura efetiva da mesa de uma seção T
• Temos na figura que segue uma seção transversal típica dos pisos de edifícios
constituídos por vigas e por lajes maciças;
Havendo ligação entre a laje e a nervura da viga, uma
parte da laje irá colaborar para a resistência e para a
rigidez da viga por meio da largura da mesa bf (largura
colaborante)

Seção “T” típica de edifícios (Araújo, 2014)

• Considerando-se a flexão do conjunto formado pelas nervuras e pela laje do piso,


temos uma distribuição variável das tensões de compressão na mesa, como segue
indicado na figura; 

 

Distribuição das tensões de compressão na mesa de uma viga “T”


(Araújo, 2014; Carvalho e Filho, 2014)
• Como se observa, a tensão de compressão máxima ocorre na nervura onde pode
alcançar o valor de cálculo cd;
• O dimensionamento da seção é realizado com a tensão máxima de compressão
(cd), então deve-se definir a largura efetiva da mesa (bf) de tal forma que a
resultante das tensões de compressão seja igual ao valor obtido considerando-se
as variações de redução da resistência que ocorre quando um pouco mais
afastado da nervura (x);
Para que isso ocorra, é necessário que:


• De modo análogo, é possível obter a dimensão b3 e, consequentemente a largura
efetiva (bf) será calculada por:

• Para a determinação da largura efetiva (bf), a NBR 6118 apresenta a seguinte


ilustração:

Largura da mesa colaborante (NBR 6118, 2014 – Figura 14.2) 


 bw: largura da nervura real;
 ba : largura da nervura fictícia, obtida aumentando-se a largura real para cada lado de
valor igual ao menor cateto da mísula correspondente;
 b2: distância entre as faces das nervuras fictícias sucessivas;

• Os trechos b1 e b3, medidos a partir da face da nervura fictícia, são dados por:

• A distância “a”, representa a distância entre os pontos de momento fletor nulo e,


pode ser estimada em função do comprimento “l” do tramo considerado:
 a = l (viga simplesmente apoiada);
 a = 0,75.l (tramo com momento em uma só extremidade);
 a = 0,60.l (tramo com momentos nas duas extremidades);
 a = 2.l (tramo em balanço).

• Alternativamente, a determinação da distância “a” pode ser feita pela análise dos
diagramas de momentos fletores na estrutura;

DIMENSIONAMENTO DA ARMADURA DE SEÇÕES DO TIPO T
• Na determinação das armaduras de flexão, três situações distintas podem ocorrer
conforme a profundidade da linha neutra:
 y ≤ hf  somente a mesa fica comprimida;

 hf < y ≤ ylim  mesa e nervura ficam comprimidos;

 y > ylim  seção com armadura dupla;

• A situação (y ≤ hf) ocorre quando o momento fletor solicitante (M d) é menor ou


igual ao momento (M0) que comprime toda a espessura da mesa e é calculado
como segue:

Seção T quando apenas a mesa fica comprimida (Camacho, 2015) 



• Se Md ≤ M0  a seção T trabalha como seção retangular de largura “bf” e altura


útil “d”;
O dimensionamento é feito como aquele já
mostrado para seção retangular com
armadura simples;

• A situação (hf < y ≤ ylim) representa a condição em que a mesa e parte da nervura
ficam comprimidos, porém, a seção está trabalhando no domínio 2 ou 3, dentro
do limite de ductilidade;
Para o dimensionamento da armadura, pode-
se dividir a seção como segue indicado:


Seção T com mesa e nervura comprimidos (Camacho, 2015)

• Substituindo-se os termos nas equações de equilíbrio, chega-se a equação para o


cálculo da linha neutra e da armadura da seção:


• Fazendo-se (y = ylim) na equação anterior de equilíbrio de forças, chega-se a
equação do momento fletor limite para a seção T (Mlim-T):


• Para a situação (y > ylim) representa a condição em que a seção deve ser armada
com armadura dupla, para subir a linha neutra e retornar a condição de
atendimento de dimensionamento dentro do limite de ductilidade;
Para isso deve ser adicionada uma armadura na região
comprimida e providenciar um acréscimo da armadura
tracionada;

As equações para dimensionamento ficam sendo:




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