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Clínica Médica:

Estomatologia
Cárie Dentária
Objectivos de Aprendizagem
• Até ao fim da aula os alunos devem ser capazes de:
• 1. Descrever a cárie dentária.
• 2. Enumerar as causas da cárie dentária.
• 3. Descrever os sinais e sintomas mais comuns de um dente cariado.
• 4. Descrever a conduta que deve ser tomada num paciente com cárie dentária.
• 5. Descrever as medidas preventivas, incluindo:
• a. Enumeraçao dos alimentos bons e os alimentos maus para os dentes e para a gengiva
• b. Falar sobre a importância de consultar o dentista
• 6. Descrever e demonstrar técnicas de escovagem correctas e divulgar materiais de
escovagem acessíveis (comercias ou tradicionais), para uma higiene oral adequada. Isto
inclui:
• a. Demonstrar as técnicas de escovagem
• b. Demonstrar como fazer escovas de dentes com materiais locais e substituir substâncias
naturais por pasta dentífrica.
• c. Aconselhar acerca de produtos locais que devem ou não devem ser usados para a
escovagem dentária.
• d. Aconselhar acerca de periodicidade de escovagem dos dentes.
CÁRIE DENTÁRIA
• Definição
• A cárie dentária é uma doença microbiana dos tecidos calcificados dos
dentes que se caracteriza pela desmineralização da porção inorgânica e
a destruição da substância orgânica do dente.
• A cárie dentária é uma das patologias dentárias mais antigas e bem
estudada. A ciência que se dedica exclusivamente ao estudo da cárie, é
a Cariologia.

• Epidemiologia
• A cárie dentária é o distúrbio bucal crónico mais comum. Normalmente
ocorre em crianças e jovens, mas pode afectar qualquer pessoa,
independentemente da faixa etária, raça ou extracto social. Praticamente
não existe área geográfica no mundo cujos habitantes não mostrem uma
prova de cárie dentária.
• As pessoas que não têm cárie são designadas “livres de cárie”.
• Etiologia
• Trata-se de uma doença infecto-contagiosa do dente. Nela flora microbiana
oral é muito abundante e com uma grande variedade de espécies de
bactérias. As bactérias Lactobacilus e o Streptococus mutans são apontadas
como as grandes causadoras da cárie dentária.

• Factores de risco
• Má higiene bucal (facilita a formação da placa bacteriana – camada fina e
pegajosa- composta por bactérias e material proveniente da saliva que se
forma continuamente);
• Maus hábitos alimentares (consumo excessivo de açucares refinados e
hidratos de carbono);
• Falta de cálcio, fósforo, e flúor na dieta.
• A falta de vitaminas e proteínas
• Natureza das superfícies oclusais no dente: Fossas, fóssulas e fissuras
nos dentes (situação anátomo-fisiologica) que dificultam a higiene oral e
nesses locais há proliferação de bactérias e de seus produtos metabólicos.
• Doenças sistémicas como diabetes, malnutrição, HIV, malignidades, etc.
Patogenia

• A cárie dentária resulta da interacção entre os dentes, os factores orais do


hospedeiro, a saliva e a sua microflora e o factor externo do regime alimentar.
• Esta doença é uma forma específica de infecção em que as estirpes
bacterianas específicas se acumulam na superfície do esmalte, onde
elaboram produtos ácidos e proteolíticos que desmineralizam a superfície e
digerem a sua matriz orgânica. Depois de penetrar no esmalte, o processo
patológico progride pela dentina até a polpa. Se este processo não for
travado, o dente é completamente destruído.
• Embora a cárie esteja limitada ao tecido duro do esmalte, à dentina e ao
cemento, se não for tratada, pode chegar ao canal pulpar (causando pulpite),
e, para além do dente, entrar no tecido mole adjacente onde vai iniciar uma
reacção inflamatória dolorosa e destrutiva causando abcessos dentários.
Nesse local, pode mesmo espalhar-se até aos espaços medulares do osso e
eventualmente, aos tecidos moles e músculos faciais e do pescoço causando
condições mais graves como a angina de Ludwig ou a trombose do seio
cavernoso.
Classificação

• A cárie pode ser classificada, segundo:


• A sua evolução em:

• o Aguda: Segue um curso clínico de desenvolvimento rápido, e resulta em


comprometimento precoce da polpa dental. Ocorre mais frequentemente em
crianças e adultos jovens. Evolui com dor de dente de intensidade variável. A
cárie rampante é um exemplo típico de cárie dentária aguda. A cárie
rampante é uma doença que acomete a dentição decídua (“dentes de leite”)
dos bebés e está relacionada principalmente à ingestão de líquidos
açucarados através de biberons durante a noite.
• o Crónica: É de evolução lenta, leva à esclerose dos canalículos dentinários,
com consequente menor permeabilidade dentinária e formação de dentina de
reacção (ou dentina secundária). Possui, frequentemente, coloração
castanho-escura. A dor não é característica comum na cárie crónica, ao
contrário da cárie aguda.
• A sua localização em:
• o Cárie de fossas, fóssulas e fissuras: Estão localizadas nas
superfícies oclusais de molares e pré-molares; nos terços
oclusais das superfícies palatina dos incisivos e caninos
superiores, abaixo do cíngulo, e na superfície palatina dos
molares superiores.
• o Cárie das superfícies lisas: estão localizados no terço cervical
das superfícies vestibular e lingual de todos os dentes, sendo
denominados de lesões de superfícies lisas e livres, nas
superfícies proximais de incisivos e caninos.
• A sua ocorrência em:
• o Primária: Que têm seu início nas cicatrículas, fissuras e
superfícies lisas do dente.
• o Secundária: A cárie secundária (recidivante ou recorrente), é
detectada ao redor das margens das restaurações. Estas últimas
têm como causas principais: má adaptação, contracção dos
materiais restauradores, restaurações com margens rugosas ou
com excessos, fracturas das bordas da restauração e do esmalte
das margens cavitárias.
Quadro Clínico

• Sintomas
• Na fase inicial da cárie, esta é assintomática.
• A sintomatologia da cárie dentária inicia a partir do momento em que esta
atinge a dentina e as estruturas mais abaixo do seguinte modo:
• Dor no dente ao beber algo frio ou comer algo doce, que melhora quando
se remove o estímulo. O qual indica que a polpa está ainda sã
• Dor no dente persistente, mesmo depois do estímulo (por exemplo, água
fria). Ou dor também sem qualquer estímulo (dor de dentes espontânea)
quando a cárie atinge a polpa.
• Quando as bactérias atingem a polpa dentária e esta morre, a dor pode
cessar temporariamente. Mas em breve (de horas a dias), o dente volta a
doer, tanto ao morder como ao pressioná-lo com a língua ou com um
dedo, porque a inflamação e a infecção se propagaram para além da
extremidade da raiz, causando um abcesso (uma acumulação de pus).
• Sinais
• O primeiro sinal da cárie são manchas esbranquiçadas ou acastanhadas
no dente afectado.
• Nas fases mais avançadas podem se observar cavitações ou orifícios
nos dentes, a superfície dental pode mostrar-se mole quando tocada com
um instrumento pontiagudo e com dor ao toque
• Complicações
• Abcesso dentário
• Angina de Ludwig
• Trombose do seio cavernoso
• Septicémia

• Meios auxiliares e Diagnóstico


• O diagnóstico da cárie ao nível do TMG é essencialmente clínico
(anamnese e exame físico).
• Os meios auxiliares são efectuados pelos técnicos e médicos
estomatologistas. Nestes casos deve-se referir o paciente.
Conduta

• O tratamento da cárie dentária é feito pelo estomatologista. O Técnico de


Medicina Geral (TMG), deve referir o paciente, mas antes de referir deve
garantir o bem-estar do doente, dando-lhe medicamentos para o alívio da dor
se este apresentar dor e informações acerca da prevenção da cárie.
• Alívio de dor:
• Dependendo da intensidade da dor, e da condição médica do doente o seu
alívio pode ser conseguido seguindo a escala de alívio da dor:
• 1) Não opiáceos – uso de Paracetamol, Acido acetilsalicílico e Ibuprofeno:
• o Paracetamol comprimido de 500 mg: 0.5-1gr de 4/4 ou 6/6h oral (dose
máxima 4g/dia) até a dor aliviar
• ou
• o Acido Acetilsalicílico comprimido de 500 mg: 0.5-1gr de 4/4 ou 6/6h oral
(dose máxima 4 g/dia). até a dor aliviar
• ou
• o Ibuprofeno comprimidos de 200 ou 400 mg: 200-400 mg comprimido,
oral 8/8 h até a dor aliviar (dose máxima 2,400mg/dia).
• Efeitos secundários do ibuprofeno:
• Contra-indicações do ibuprofeno:
• Notas e precauções: é recomendável tomar com os alimentos para
reduzir os efeitos irritantes gastrointestinais. O uso durante a gravidez
não é recomendado e sua administração no 3º trimestre da gravidez está
associado a prolongamento da gestação e trabalho de parto, risco
aumentado de hemorragia ante-parto e pós-parto e encerramento
prematuro do canal arterial.
• Ao usar a aspirina é necessário associar um anti-ácido (hidróxido de
alumínio ou omeprazol) para reduzir os efeitos gastroerrosivos da
aspirina.
• Nota: A referência do paciente com suspeita de cárie dentária para o
estomatologista deve ser feita para todos os pacientes incluindo os que
não apresentam nenhuma sintomatologia (dor).
PREVENÇÃO DA CÁRIE
DENTÁRIA
• A chave para a prevenção da cárie baseia-se nas seguintes estratégias
gerais:
• Higiene bucal adequada;
• Alimentação saudável
• O flúor
• Visitas regulares ao dentista

• Higiene adequada da cavidade oral.


• A higienização oral deve iniciar assim que surge o broto do 1º dente na boca
do bebé. Uma dentição decidual saudável ajuda a ter uma dentição
permanente saudável, pois desde pequenos, os bebés são ensinados a ter
cuidados com a boca
• Este processo de higienização pode ser alcançado a partir dos seguintes
métodos:
• Escovagem correcta dos dentes
• Ao contrário do que se pode pensar, escovar os dentes não é tarefa simples. Apesar de
fazer isso todos os dias, a maior parte das pessoas não sabe escovar os dentes. Uma
escovagem dentária adequada, ajuda a remover a placa em todas as superfícies do
dente, incluindo as da mastigação (faces oclusais).
• 1º Passo: segure a escova de modo que ela fique em um ângulo de 45 graus em
relação aos dentes. Concentre-se na região de junção entre a gengiva e os dentes, pois
é aí que se concentram os resíduos;
• 2º passo: Faça movimentos verticais suaves numa situação de doença periodontal, por
exemplo na recessão gengival, vibrando as cerdas, ou faça movimentos circulares
suaves, se gengiva e dente saudáveis
• 3ºPasso: Fique por volta de 10 segundos em cada região que deve cobrir no máximo
dois dentes;
• 4º Passo: Com os dentes ocluídos comece por escovar em simultâneo a parte de fora
dos dentes superiores e inferiores, sempre seguindo os movimentos e angulação
recomendados acima;
• 5º Passo: Escove as superfícies internas dos dentes de trás superiores e inferiores
também, seguindo os movimentos e angulação recomendados;
• 6º Passo: Limpe a superfície de mastigação dos dentes de trás com movimentos para
frente e para trás. Comece pelos dentes póstero-superiores e somente depois passe
aos póstero- inferiores;
• 7º Passo: Por último escove a língua: coloque a escova perpendicularmente à língua e
escove suavemente
• 8º Passo: Bocheche no fim com água, lave a escova e deixe-a secar ao ar livre para a
próxima escovagem.
• Recomendações
• Escolha uma escova de dentes com cerdas macias e que tenham as pontas
arredondadas e polidas para não criar fissuras no esmalte dos dentes e com uma
cabeça proporcional à sua arcada dentária.
• Prefira um dentífrico fluoretado, este fortifica os dentes, aumentando deste modo
a sua resistência contra a cárie;
• Escove os seus dentes pelo menos duas vezes ao dia: após as grandes refeições
e antes de deitar.
• Nos intervalos das refeições ao ingerir algum alimento, bocheche depois com
água para remover os restos de alimentos, ou use a língua para auto limpeza.
• Se em certas ocasiões não for possível escovar os dentes, faça pelo menos
bochechos.
• Não escove os dentes logo após o consumo de refrigerantes pois os mesmos
"retiram" o esmalte, a escovação pode acabar desgastando-o. Espere pelo menos
15 minutos.
• Uso do fio Dental
• Depois de fazer a escovagem e o gargarejo, use o fio dental;
• 1) Enrolar entre os dedos aproximadamente 40 cm do fio dental
mantendo-o esticado.
• 2) Com movimentos de cima para baixo, deslize o fio dental entre os
dentes e a gengiva suavemente.
• 3) Os movimentos devem ser realizados nos espaços interproximais de
todos os dentes, curvando o fio para que sejam removidos todos os
resíduos;
• 4) Inicia-se a limpeza pelos dentes do fundo, que é onde surge a cárie
com mais frequência.
• Outro material local que pode ser usado para escovagem dos dentes
nos locais sem acesso a escovas e pasta dentífricas:
• Embora as pastas dentífricas contendo com flúor e cálcio sejam amplamente
difundidas e com vários preços, existe ainda, uma parte da população que
não tem o poder de compra. Alternativamente para garantir a higiene bucal,
pode-se recorrer a algumas fórmulas caseiras para a higiene. São elas:
• o Mulala: é uma raiz com que quando usada confere aos lábios, uma
coloração amarelada. É amplamente conhecida em Moçambique e em outras
regiões do continente Africano. Ela é usada para limpeza oral e demonstrou
ser eficaz no combate a cárie e halitose.
• o Cinza: é apontada como uma boa opção para higiene oral. Mistura-se a
cinza com um pouco de sal e água e forma-se uma cataplasma que passa-se
na escova de dentes e usa-se como uma pasta dentífrica.
• o Folhas de eucaliptos: depois de secar as folhas numa sombra, esmaga-se
e forma-se um pó. Usa-se como uma pasta dentífrica.
• o Raminho de árvore de goiabeira, masca-se suavemente uma das
extremidades e usa-se como se usa a mulala.
• Alimentação saudável
• Modificação da dieta:
• Na prevenção da cárie, em relação a ingestão de hidratos de carbono,
devemos observar os seguintes princípios:
• o Diminuir a ingestão de alimentos ricos em hidratos de carbono refinados e
eliminar por exemplo a sacarose.
• o Evitar componentes da dieta com propriedades adesivas contendo
sacarose por exemplo as pastilhas elásticas;
• o Evitar a ingestão de alimentos açucarados sólidos como por exemplo
caramelos e doces caseiros;
• o Usar açúcares menos cariogênicos do que a sacarose, por exemplo
pastilhas contendo xilitol.
• o Dar preferência a frutas e vegetais;
• o Beber 3 litros de água diariamente no mínimo;
• Uso do flúor
• O flúor proporciona aos dentes, e ao esmalte em particular, uma maior
resistência contra o ácido que contribui para a cárie. Em alguns países a
água já contém flúor suficiente para reduzir a cárie dentária. Mas existem
ainda algumas áreas no nosso país (por exemplo Tete) em que a água
usada não contém fluor. As principais formas aquisição do flúor para o
organismo são:
• Ingestão a partir dos seguintes alimentos contendo flúor: agrião, no
alho, na aveia, na beterraba, no brócolis, na cebola, na couve, na couve-
flor, no espinafre, no feijão, no ovo, na maçã e no trigo. O flúor ingerido é
particularmente eficaz até aos 11 anos de idade, aproximadamente,
quando se completa o crescimento e o endurecimento dos dentes.
• A fluoração da água é o modo mais eficaz de administrar o flúor às
crianças.
• Visitas regulares ao dentista
• As visitas regulares ao dentista, não são uma forma de prevenção de
patologias orais, mas sim, uma útil ferramenta para o diagnóstico
precoce.
• A visita ao dentista é imprescindível. Idealmente, dever-se-ia fazer visitas
de 6 em 6 meses para uma avaliação geral da boca. Isto garante uma
detecção precoce de qualquer processo cariogénico ou doenças da
gengiva.
PONTOS - CHAVE
• A cárie dentária é uma doença microbiana dos tecidos calcificados dos
dentes que se caracteriza pela desmineralização da porção inorgânica e
a destruição da substância orgânica do dente.
• A cárie é um distúrbio comum e pode afectar todas as pessoas,
independentemente da sua raça, idade, sexo ou estatuto social.
• Os principais factores de risco para a cárie, são: a falta de higiene bucal
e alimentação rica em açúcares refinados e em hidratos de carbono
refinados.
• O diagnóstico da cárie ao nível do TMG é clínico e o seu tratamento deve
ser feito pelo estomatologista, devendo o TMG previamente tomar
medidas que visam o alívio da dor e o conforto do doente.
• A chave para a prevenção da cárie dentária, baseia-se
fundamentalmente na higiene oral adequada, alimentação adequada, uso
do flúor e visitas regulares ao dentista.
• A higiene adequada da cavidade oral, é feita através da escovagem
correcta dos dentes associado ao uso do fio dental
• Embora as pastas dentífricas contendo flúor e cálcio estejam
amplamente difundidas, existem outras fórmulas caseiras que ajudam na
higienização oral na população que não tem poder de compra, como são
os casos de mulala, cinza e folhas de eucaliptos.

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