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Supremo Tribunal Administrativo

Rua de São Pedro de Alcântara 75, 1200-459


Lisboa

Exmo. Senhor Juiz de Direito do Supremo Tribunal Administrativo,

Rui Duarte Feijão, solteiro, portador do cartão de cidadão, Nº 876 548 989, emitido
pela República Portuguesa e válido até 31-10-2022,com o contribuinte fiscal N.º 234
675 289, residente na Avenida dos Legumes, Nº3, 3ºDto, 2780-562, Lisboa,

Raquel Água das Pedras, solteira, portador do cartão de cidadão, Nº234 567 389,
emitido pela República Portuguesa e válido até 31-10-2022, com o contribuinte fiscal
N.º 345 678 546, residente na Rua da Azia, N.º16, R/C Dto, 2800-560 Porto,

João Maria Cozido, solteiro, portador do cartão de cidadão Nº 123 098 356, emitido
pela República Portuguesa e válido até 31-10-2022, com o contribuinte fiscal N.º 956
111 782, residente na Rua do Azeite, nº17, 4ºESQ, 1657-076, Lisboa,

representados judicialmente por Ana Fontoura, Beatriz Almeida, Bruna Chaves,


Carolina Rosa, Gabriela Carneiro, Leonor Burguete, Mariana Castro e Patrícia Guedes,
da FDL & Associados - Sociedade de Advogados, com sede na Rua do Castigo, N.º18,
1º Andar, 1250-400 Lisboa, vem pela presente petição inicial intentar:

AÇÃO ADMINISTRATIVA URGENTE DE IMPUGNAÇÃO DE NORMA


REGULAMENTAR

Contra

Conselho de Ministros

I - DOS FACTOS

Os autores são representantes de empresários e trabalhadores da restauração


e turismo.

No dia 8 de novembro é decretado o regulamento de aplicação do estado de


emergência decretado pelo Presidente da República onde se estabelece a
proibição de circulação na via pública diariamente no período compreendido
entre as 23:00 h e as 05:00 h, bem como aos sábado e aos domingos no
período compreendido entre as 13:00 h e as 05:00 h.

Com a pandemia existiram vários cortes e dificuldades acrescidas no setor da


restauração e turismo.

No grupo afetado, estão profissionais de áreas que sofreram as consequências causadas


pela pandemia e pelas novas medidas mais restritivas impostas em virtude do estado de
emergência.

Com a suspensão de direitos constantes do Estado de emergência, há uma


promoção que causa a falência das empresas e despedimentos.

Com a permissão de abertura dos estabelecimentos foram criadas expectativas


de uma possível evolução, apesar de com rígidas medidas que colocam
entraves ao lucro normal das empresas.

Com a entrada em vigor do novo estado de emergência foi barricada a


possibilidade de abertura das empresas dos autores ou exercício de profissões,
o que leva novamente a uma promoção de despedimentos e falências: os
lucros diminuíram drasticamente e os impostos e taxas mantiveram-se iguais, o
que leva a um reduzido volume de negócios que não é coincidente com as
taxas fixas.

O primeiro-ministro já admitiu que a restauração vai ser particularmente


penalizada pelas novas restrições do estado de emergência.

Os empresários acreditam que se as medidas se prolongarem no tempo, serão


muitos os restaurantes a fechar. Não concordam com o encerramento às
22h30, mas é a proibição de circulação aos fins de semana que mais preocupa.

10º

A AHRESP alertou o primeiro-ministro que "a cada quinzena que passa, os


agentes económicos veem alteradas as regras do jogo, com toda a incerteza e
insegurança que essa situação gera, a que acrescem todos os custos com que
se confrontam e lhes têm vindo a ser exigidos", de acordo com a carta.

11º

Na data presente já sabemos que a Restauração, Similares e Alojamento


perderam mais de 49.000 postos de trabalho no 3º trimestre de 2020 (período
normal de maior empregabilidade) e de acordo com o último inquérito da
AHRESP (Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal), 41%
das empresas de Restauração e Similares ponderam ir para insolvência e 19%
do Alojamento Turístico vai no mesmo sentido; 43% das empresas de
restauração estão com quebras homólogas superiores a 60% e 47% das
empresas já tiveram que recorrer a despedimentos. No que toca ao alojamento
turístico, cerca de 36% estão com quebras de faturação homólogas superiores
a 90% e muito deste setor encontra-se encerrado. No Algarve, onde se acentua
o dano, por não terem o impulso da sazonalidade nesta altura, foi originada
uma quebra de 70%. Acrescentando, já foram perdidos quase 50 mil postos de
trabalho no setor da restauração e alojamento, de acordo com dados do
Instituto Nacional de Estatística. Estes são dados do mês de outubro, o que faz
debater sobre os impactos das novas medidas aos setores. Segundo Carlos
Moura, vice-presidente da AHRESP, há mais de 20 hotéis temporariamente encerrados.
Na região do Porto calcula-se que 70% dos hotéis vão fechar até ao final do ano, para
evitar a falência. Alguns hotéis recusam-se a abrir porque as despesas que iam ter em
termos da organização e higienização do estabelecimento perante as medidas da DGS
não compensam, comparando com os ganhos obtidos. E se abrissem, acabariam de ter de
despedir os funcionários porque não teriam meios para lhes pagar o salário. Deste modo,
são obrigados a fechar para evitar despedimentos porque não têm condições para manter
tudo em segurança. Porém, mesmo que não despeça pessoal por se encontrarem
encerrados, não há entrada de capital, pelo que não conseguem de qualquer modo, pagar
aos funcionários. Torna-se um ciclo vicioso, onde nenhum plano é capaz de gerar a
mínima vantagem, antes pelo contrário.

12º

De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), em setembro o índice


de volume de negócios nos setores do alojamento, restauração e similares
registou uma redução homóloga de -38,9%, tendo sido o que mais contribuiu
para a redução do índice de volume de negócios do total dos serviços (-12,3%).
O alojamento contraiu -64,4% e a restauração e similares teve uma variação
homóloga de -29,2%.

13º

De acordo com o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), o


número total de desempregados nas atividades de Alojamento, Restauração e
Similares aumentou 83,1% em outubro de 2020, comparativamente a outubro
de 2019.

14º

A nível nacional, o total de desempregados situou-se nos 403.554, traduzindo-


se num aumento de 34,5% relativamente a outubro de 2019. A nível regional, o
aumento homólogo mais pronunciado deu-se na região do Algarve: +134,2%

15º
A decisão da aplicação dessas medidas faz com que os envolvidos se sintam e
sejam efetivamente esquecidos. A imposição de medidas mais restritivas acaba
por se tornar num modo de demonstração de desprezo face a estes setores,
que lidam com uma situação mais danosa que nunca. Nas palavras dos
autores do movimento, estão a “matar quem não tem Covid-19”.

16º

No que diz respeito à medida específica da proibição de circulação aos fins de


semana a partir das 13h: há muitos restaurantes que dependem em grande
parte das receitas obtidas dos clientes que os frequentam ao fim de semana,
sendo que é nessa altura que têm maior afluência. Agora, as receitas e os
apoios não são suficientes para cobrir todas as despesas inerentes à
propriedade ou arrendamento de um estabelecimento. É inconcebível manter
as operações com o nível de clientes e apoio com que se enfrentam, sendo
que do outro lado, temos a perda pelo encerramento, que é absoluta.

17º

Segundo um estudo apresentado pelo Infarmed, apenas 2% dos contágios


acontecem na restauração. Os dados revelam que os restaurantes não são
considerados locais de risco elevado para a contaminação. Com isto, devem
ser avaliadas as médias com impacto muito negativo nas atividades.

18º

Os restaurantes são dos espaços mais seguros para serem frequentados:


todos os trabalhadores utilizam máscara na duração total do tempo de serviço,
praticam o distanciamento das mesas exigido pela DGS e a sua desinfecção
antes e após utilização, incluindo a limitação do espaço, que obriga à
diminuição no número de pessoas no restaurante. Os trabalhadores seriam
capazes de seguir as medidas necessárias para poderem funcionar com toda a
segurança, desde que lhes tivesse continuado a ser fornecida oportunidade
para tal.

19º

É preciso haver um equilíbrio entre as medidas restritivas de saúde pública e controlo da


economia, e as medidas económicas, que não estão a ser robustas suficientemente para
assegurar as empresas.

20º

O controlo da pandemia não se versa pelo impedimento das pessoas de sair de casa
depois das 13h. Ao estabelecer-se essa restrição, poderia eventualmente haver um
aumento da concentração do número de pessoas antes dessa hora, o que talvez ajudasse
na obtenção de receitas. Não é de todo comum almoçar antes das 13h, e mesmo que
assim fosse, acabaria por levar a que a fruição decorresse com alguma rapidez para
permitir às pessoas deslocarem-se a casa antes da hora de recolhimento obrigatório, o
que não é desejável.
21º

Outro problema prende-se com as rendas: os funcionários estão a trabalhar de forma


condicionada a 50%, com horários restringidos, fins de semana cortados, e têm de pagar
rendas a 100%. Consequentemente, os proprietários ou arrendatários não conseguem
pagar as suas contas e, como resultado, não conseguem manter os postos de trabalho. Se
apenas obtêm lucros de forma insuficiente, não alcançando nem metade do que é usual,
como vão pagar as despesas por completo? Não é possível assegurar o setor desta forma.

22º

23º

24º

25º

26º

27º

28º

29º

30º

Bruna:

1 – No dia 8 de novembro é decretado o regulamento de aplicação do estado de


emergência decretado pelo Presidente da República onde se estabelece a proibição de
circulação na via pública diariamente no período compreendido entre as 23:00 h e as
05:00 h, bem como aos sábado e aos domingos no período compreendido entre as 13:00
h e as 05:00 h.

2 – Os autores são empresários e trabalhadores da restauração e turismo.

3 – Com a pandemia houve vários cortes no setor e dificuldades acrescidas.

4 – Com a suspensão de direitos constantes do Estado de emergência, há uma


promoção que causa a falência das empresas e despedimento.

Com a permissão de abertura dos estabelecimentos foram criadas expectativas de uma


possível evolução, apesar de com rígidas medidas que colocam entraves ao lucro normal
das empresas.

Com a entrada em vigor deste novo estado de emergência foi barricada a possibilidade
de abertura das empresas dos autores ou exercício de profissões leva novamente a uma
promoção de despedimentos e falências. Pois, apesar de os lucros terem diminuído
drasticamente, os impostos e taxas continuam iguais. Ou seja, há um reduzido volume
de negócios que não é coincidente com as taxas fixas.
O primeiro-ministro já admitiu que a restauração vai ser particularmente penalizada
pelas novas restrições do estado de emergência. Os empresários acreditam que se as
medidas se prolongarem no tempo, serão muitos os restaurantes a fechar. Não
concordam com o encerramento às 22h30, mas é a proibição de circulação aos fins de
semana que mais preocupa.

A AHRESP alerta o primeiro-ministro que "a cada quinzena que passa, os agentes
económicos veem alteradas as regras do jogo, com toda a incerteza e insegurança que
essa situação gera, a que acrescem todos os custos com que se confrontam e lhes têm
vindo a ser exigidos", de acordo com a carta.

Na data presente já sabemos que a Restauração, Similares e Alojamento perderam mais


de 49.000 postos de trabalho no 3º trimestre de 2020 (período normal de maior
empregabilidade) e de acordo com o último inquérito da AHRESP, 41% das empresas
de Restauração e Similares ponderam ir para insolvência e 19% do Alojamento
Turístico vai no mesmo sentido.

De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), em setembro o índice de


volume de negócios nos setores do alojamento, restauração e similares registou um
redução homóloga de -38,9%, tendo sido o que mais contribuiu para a redução do índice
de volume de negócios do total dos serviços (-12,3%). O alojamento contraiu -64,4% e
a restauração e similares teve uma variação homóloga de -29,2%

De acordo com o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), o total de


desempregados nas atividades de Alojamento, Restauração e Similares aumentou 83,1%
em outubro de 2020, comparativamente a outubro de 2019.
A nível nacional, o total de desempregados situou-se nos 403.554, traduzindo-se num
aumento de 34,5% relativamente a outubro de 2019. A nível regional, o aumento
homólogo mais pronunciado deu-se na região do Algarve: +134,2%

A regra de proibição da circulação na via publica entre as 13h e as 5h traduziu-se no


reflexo do desespero que os empresários da restauração e turismo se encontram que,
depois de tantos meses em espírito de sacrifício, não têm pão para pôr na mesa. No
grupo afetado, estão profissionais de áreas que sofreram as consequências causadas pela
pandemia e pelas novas medidas mais restritivas impostas em virtude do estado de
emergência. As medidas tomadas pelo governo não só promovem a falência das
empresas nos casos mais extremos como, quando não se afigura necessário chegar a um
nível tão penoso, levam ao despedimento dos trabalhadores. Nas palavras dos autores do
movimento, estão a “matar quem não tem Covid-19”. A decisão da aplicação destas
medidas faz com que os envolvidos se sintam e sejam efetivamente esquecidos, ainda
que indiretamente, e injustiçados face às mesmas. A imposição de medidas mais
restritivas acaba por se tornar num modo de demonstração de desprezo face a estes
setores, que lidam com uma situação mais danosa que nunca.

Pode-se perguntar, como é possível que um negócio, estando fechado e sem data de
abertura prevista, possa fazer uma gestão eficaz dos seus recursos e ao mesmo tempo
suportar encargos inerentes ao mesmo? Os prejuízos acumulados são de uma dimensão
que já se afigura impossível de aceder, tendo em conta as receitas, praticamente nulas.

Ora, em primeiro lugar, o setor da restauração é o mais afetado pelas medidas de


restrição, sofrendo um impacto duríssimo, sendo que se encontra num segmento que já
tem vindo a suportar as consequências da crise económica. No que diz respeito à
medida especifica da proibição de circulação aos fins de semana a partir das 13h, pode-
se afirmar que há muitos restaurantes que dependem em grande parte das receitas
obtidas dos clientes que os frequentam ao fim de semana, sendo que é nessa altura que
têm maior afluência. Agora, as receitas e os apoios não são suficientes para cobrir todas
as despesas inerentes à propriedade ou arrendamento de um estabelecimento. É
inconcebível manter as operações com o nível de clientes e apoio com que se enfrentam,
sendo que do outro lado, temos a perda pelo encerramento, que é absoluta.

Em segundo lugar, cabe referir que segundo um estudo apresentado pelo Infarmed,
apenas 2% dos contágios acontece na restauração. Os dados revelam que os restaurantes
não são considerados locais de risco elevado para a contaminação. Com isto, devem ser
avaliadas as medias com impacto muito negativo nas atividades.

Estes são setores que já há muitos anos praticam regras apertadas na área da saúde e
segurança, até do ponto de vista da segurança alimentar, através de imposições legais.
Sempre estiveram habituados a cumprir regras apertadas nesta matéria, que na
generalidade têm vindo a ser cumpridas. Será que é mesmo necessária esta
intensificação das medidas, que na verdade, apesar de aparentemente parecer trazer
benefícios, na realidade, apenas se traduz em prejuízo, tendo em conta que sempre
estiveram acostumados a cumprir regras de higienização e segurança alimentar e geral?
Os restaurantes são dos espaços mais seguros para serem frequentados. Além de todos
os trabalhadores utilizarem máscara na duração total do tempo de serviço, já praticavam
o distanciamento das mesas exigido pela DGS e a sua desinfeção antes e após
utilização, incluindo a limitação do espaço, que obriga à diminuição no número de
pessoas no restaurante. Eram perfeitamente capazes de seguir as medidas necessárias
para poderem funcionar com toda a segurança, desde que lhes tivesse continuado a ser
fornecida oportunidade para tal.

O que importa salientar é preciso haver um equilíbrio entre as medidas restritivas de


saúde publica e controlo da economia, e as medidas económicas, que não estão a ser
robustas suficientemente para assegurar as empresas. No que diz respeito ao controlo da
pandemia, não começa nem acaba por impedir as pessoas de sair de casa depois das
13h, impedindo assim de frequentar restaurantes, somente piorando a situação
económica que estes setores já passavam. Ao estabelecer-se essa restrição, nem podia
eventualmente levar até ao aumento da concentração do numero de pessoas antes dessa
hora, o que talvez ajudasse na obtenção de receitas, porque não é de todo comum
almoçar antes das 13h, e mesmo que assim fosse, acabaria por levar a que a fruição
decorresse com alguma rapidez para permitir às pessoas deslocarem-se a casa antes da
hora de recolhimento obrigatório, o que não é desejável.

Para demonstrar o concreto prejuízo que afeta estes setores, a Associação de Hotelaria,
Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) tem feito monitorização constante a
estes setores por via de inquéritos mensais, e o último inquérito feito, reportado ao mês
de outubro, revela dados preocupantes. Verificou-se que 41% das empresas não têm
condições para continuar com portas abertas, tendo que abrir mão a processos de
insolvência, 43% das empresas de restauração estão com quebras homólogas superiores
a 60% e 47% das empresas já tiveram que recorrer a despedimentos. No que toca ao
alojamento turístico, cerca de 36% estão com quebras de faturação homologas
superiores a 90% e muito deste setor encontra-se encerrado. No Algarve, onde se
acentua o dano, por não terem o impulso da sazonalidade nesta altura, foi originada uma
quebra de 70%. Acrescentando, já foram perdidos quase 50 mil postos de trabalho no
setor da restauração e alojamento, de acordo com dados do Instituto Nacional de
Estatística. Se isto se encontrava assim já em outubro, imagine-se o que as novas
medidas vão trazer aos setores, podendo-se prever e até comprovar num futuro próximo,
o grau de lesão e impacto negativo das mesmas.

Um dos grandes problemas prende-se com as rendas. Os funcionários estão a trabalhar


de forma condicionada a 50%, com horários restringidos, fins de semana cortados, e têm
de pagar rendas a 100%. É necessário pagar todas as obrigações como se os
estabelecimentos estivessem abertos, apesar de obterem receitas praticamente nulas
porque as pessoas não podem sair, não podem frequentar os restaurantes.
Consequentemente, os proprietários ou arrendatários não conseguem pagar as suas
contas e, como resultado, não conseguem manter os postos de trabalho. Se apenas
obtêm lucros de forma insuficiente, não alcançando nem metade do que que é usual,
como vão pagar as despesas por completo? Não é possível assegurar o setor desta
forma.

Incidindo agora mais no turismo, cabe referir que são os setores da restauração,
comercio e hotelaria que mais têm contribuído para a taxa turística. Segundo Carlos
Moura, vice-presidente da AHRESP, há mais de 20 hotéis temporariamente encerrados.
Na região do Porto calcula-se que 70% dos hotéis vão fechar até ao final do ano, para
evitar a falência. Alguns hotéis recusam-se a abrir porque as despesas que iam ter em
termos da organização e higienização do estabelecimento perante as medidas da DGS
não compensam, comparando com os ganhos obtidos. E se abrissem, acabariam de ter
de despedir os funcionários porque não teriam meios para lhes pagar o salário. Deste
modo, são obrigados a fechar para evitar despedimentos porque não têm condições para
manter tudo em segurança. Porém, mesmo que não despeçam pessoal por se
encontrarem encerrados, não há entrada de capital, pelo que não conseguem de qualquer
modo, pagar aos funcionários. Torna-se um ciclo vicioso, onde nenhum plano é capaz
de gerar a mínima vantagem, antes pelo contrário.

5 – Desproporcionalidade das medidas constantes da referida declaração, que são


manifestamente, mais gravosas para o setor da restauração e turismo do que para
os outros setores da atividade.

Não podemos compreender que sejam estabelecidas uma série de exceções, algumas de
natureza comparável, como é o caso da exceção de circulação para efeitos de
deslocação, por exemplo, a supermercados que, saliente-se, frequentemente têm no seu
interior estabelecimentos em tudo idênticos aos de restauração"

Referimo-nos a estas regras como um ataque sem precedentes por todas as razões
apontadas, mas sobretudo porque não podemos compreender que sejam estabelecidas
uma série de exceções, algumas de natureza comparável, como é o caso da exceção de
circulação para efeitos de deslocação, por exemplo, a supermercados que, saliente-se,
frequentemente têm no seu interior estabelecimentos em tudo idênticos aos de
Restauração. Por outro lado, não existe qualquer fundamento para que se possa circular
para deslocação a mercearias e outros estabelecimentos de venda de produtos
alimentares, mas não a restaurantes e similares.
Estas restrições, se realmente são absolutamente fundamentais à atual conjuntura,
matéria sobre a qual não temos competência para refutar, então também as medidas
devem respeitar o princípio da proporcionalidade ao impacto das limitações que nos são
impostas, com a revisão e o reforço urgente dos apoios que estão previstos, tendo por
base as 10 medidas que a AHRESP identificou e apresentou como sendo as únicas
possíveis para que se evitem insolvências em massa, com a consequente perda de
milhares de postos de trabalho, que levarão inevitavelmente a uma crise social.

Quanto à proporcionalidade, das medidas constantes da declaração, as mesmas são


mais gravosas para eles do que para outros setores de atividades. O princípio da
proporcionalidade é uma clara manifestação constitutiva do princípio do Estado de
Direito, conforme consta do art. 2º CRP, ou seja as medidas dos poderes públicos não
devem exceder o estritamente necessário para a realização do interesse público. Este
princípio, está igualmente estatuído no art. 266º/2 CRP, como corolário da conduta
administrativa. Significa, pois, que a "submissão da Administração Pública ao princípio
da proporcionalidade implica uma dupla consideração: a da necessidade de adequação
das medidas administrativas aos objetivos a serem prosseguidos, e a necessidade de
equilíbrio entre os interesses públicos e privados, não podendo ser infligidos sacrifícios
desnecessários, aos destinatários das decisões administrativas" (Código de
Procedimento Administrativo Anotado, Almedina, 4ª edição, 2003).

A desproporcionalidade das medidas não é difícil de compreender na medida em que


estes setores sobrevivem exclusivamente através da atividade económica, e para haver
essa atividade económica, é necessário que, de facto, as pessoas participem na mesma.
Os setores não subsistem sozinhos. Precisam que as pessoas os apoiem e invistam nos
seus serviços e se nem podem sair de casa a partir das 13h, esse objetivo é muito
dificilmente alcançado. Estes setores e estas pessoas vivem do comércio, e o mesmo
faz-se através de trocas entre os comerciantes e aos consumidores, sendo que no caso
dos restaurantes e do turismo, essa troca é realizada presencialmente e através de um
aproveitamento físico nos respetivos locais, pelo que é necessária uma deslocação por
parte das pessoas, que se tornou proibida. É verdade que podem funcionar em take
away, mas nem todos os restaurantes estão dotados de capacidades e, para mais, nem
todas as pessoas estão dispostas a fazer encomendas e deslocar-se ao restaurante apenas
para ir buscar as mesmas, por pressuporem que já não vale tanto a pena o esforço.

Apesar desta discrepância entre setores, todavia, as medidas podem ainda, do mesmo
modo, trazer consequências para outros setores como a indústria alimentar, uma vez
que, ao não serem comprados produtos que estão incluídos em refeições, os mesmos
não vão ser produzidos em tantas quantidades e, no seguimento, não vão ser vendidos.
A produção decresce e ficam com excedentes que não conseguem escoar, diminuindo os
valores das receitas obtidas.

6 – Violação do princípio da igualdade, pois os “os mercadinhos e as pequenas


superfícies de vendas de alimentos também vendem refeições e não estão sujeitas
às limitações do “take away”.
No tocante às atividades de restauração (como restaurantes e similares, cafeterias, casas
de chá e afins, bares e afins), foram estas também suspensas. Todavia, os
estabelecimentos de restauração podem manter a sua atividade, desde que limitada à
confeção destinada a consumo fora do estabelecimento ou entrega no domicílio. Nestes
casos, estão estes estabelecimentos dispensados de obter a licença para confeção
destinada a consumo fora do estabelecimento ou entrega no domicílio, que seria
necessária não fosse a atual situação pandémica. Estes estabelecimentos podem ainda
determinar a participação nas atividades de entrega por parte dos seus trabalhadores,
ainda que as mesmas não integrassem o objeto dos respetivos contratos de trabalho.

são "um ataque sem precedentes", tendo em conta que "muitos estabelecimentos de
restauração e similares realizam grande parte da sua faturação, precisamente, ao fim de
semana".

7 - Secretária-geral da AHRESP pede que, tendo em conta as conclusões do estudo


apresentado no Infarmed que dizia que só 2% dos contágios acontecia na restauração, o
Governo alivie as medidas impostas.
(https://observador.pt/programas/resposta-pronta/esperamos-que-aliviem-as-medidas-
na-restauracao/)

ANA

As medidas são ainda violadoras do principio da igualdade, dado que os mercados e as


pequenas superfícies de vendas de alimentos mantém-se abertos e muitos deles também
vendem refeições, não estando sujeitos às limitações do take away, podendo as pessoas
deslocar-se lá depois das 13h e adquiri-las sem constrangimentos. O princípio da
igualdade configura um direito diretamente ligado ao valor da dignidade humana na sua
longa luta contra discriminações arbitrárias, sendo tido como um princípio estruturante
do sistema de direitos fundamentais e encontrando-se refletido no conteúdo da maioria
dos restantes direitos de liberdade e direitos sociais. Na sua vertente negativa, encontra-
se presente no art. 13º/1 da Constituição da República Portuguesa (CRP) e proíbe aos
poderes públicos discriminações arbitrárias de caráter favorável (privilégios) ou
desfavorável (tratamentos desiguais desfavoráveis). A igualdade admite situações
fundamentadas de tratamento desigual, radicadas em critérios de justiça, que atinjam
objetivos legítimos e sejam proporcionadas no preenchimento desses objetivos, o que
não sucede no caso. Não se percebe como se trata conjunturas iguais de maneira
diferente na medida em que tanto os restaurantes como os mercados e pequenas
superfícies vendem refeições, e apenas os primeiros estão sujeitos a limitações do take
away, podendo as pessoas deslocar-se lá para adquirir e usufruir das mesmas após o
período de confinamento obrigatório aos fins de semana (13h), já não o podendo fazer
nos restaurantes. Cumpre ainda acrescentar que os restaurantes dependem somente da
venda das refeições para adquirir lucro, ao passo que os mercados e pequenas
superfícies vendem igualmente outro tipo de produtos, como alimentos, podendo
arrecadar despesas a partir daí, não estando dependentes das vendas de refeições.
Por esta razão, e para a defesa dos argumentos invocados, pretende-se impugnar a
decisão governamental regulamentadora do estado de emergência, que viola a
Constituição (art. 13º/1 e 266º/2 (e 58º/2 ????)).

LEONOR

1- Pão e água - O porta-voz do movimento "A Pão e Água" classificou esta sexta-feira
os desacatos durante a manifestação na Avenida dos Aliados, no Porto, como o reflexo
do "desespero" em que os empresários da restauração, bares e comércio se encontram.
"Isto [desacatos] é o exemplo claro do estado de desespero em que as pessoas se
encontram neste momento", afirmou à Lusa Miguel Camões, porta-voz do movimento
"A Pão e Água" e presidente da Associação de Bares e Discotecas da Movida do Porto.
"Convém não perder o foco de que o setor está em grande desespero. Tanto, que se vê
em situações destas", referiu, acrescentando que para a manifestação cada pessoa trouxe
os objetos com que "se identificava mais para manifestar".
Os ânimos acabaram por se acalmar, ainda antes da chegada do reforço policial.
"Costa: faz outra proposta", "Estão a matar quem não tem covid" e "Nove meses para
nascer, nove meses para morrer" são alguns dos cartazes hasteados nas escadarias da
Câmara Municipal do Porto e que mostram o descontentamento do setor.

2- “É indispensável renovar o estado de emergência, para que certas medidas restritivas


possam

ser também renovadas, mas mais adaptadas à experiência da realidade e mais


diferenciadas em função da situação e heterogeneidade em cada município, esperando-
se que possam em breve produzir efeitos positivos”, refere o decreto presidencial.

- público

3- O dirigente comunista Jorge Pires - o setor da restauração é responsável por


apenas 2% dos contágios com o novo coronavirus, citando um estudo, mas sem
precisar qual.
"Já se falou aqui nos restaurantes quando o estudo diz que apenas 2% dos casos de
transmissão acontecem nos restaurantes, mas fecham-se os restaurantes. Atira-se para
a ruína milhares de pequenas empresas da restauração e vai-se atirar para o
desemprego dezenas de milhares de pessoas, mas pelos vistos não é ali que está o
problema", afirmou.

"Estivemos muitas horas a ouvir medidas e mais medidas, todas nos sentido de
condicionar os direitos e mobilidade das pessoas, apontando muito no sentido do
confinamento e não ouvimos nada sobre medidas no plano sanitário que são
fundamentais para combater a doença", lamentou o dirigente do PCP.
4- Em conferência de imprensa, Catarina Martins defendeu que o apoio ao setor seja
feito com base na faturação de 2019 e não de 2020, a criação de um programa de apoio
às rendas para esses espaços comerciais e que os apoios se efetivem imediatamente.
O Bloco considera que as medidas restritivas têm de ser acompanhadas com apoios, e
Catarina Martins frisa que “os apoios são precisos e necessários agora”.
Para isso é necessário que “os apoios que estão em curso não tenham em conta a
comparação com a faturação de 2020, mas sim com a faturação de 2019. Nós
estamos já com 9 meses em que este setor está a perder, em que este setor não ganha o
suficiente para os seus custos fixos”, prosseguiu Catarina.
Outra das propostas é a existência de um programa sobre as rendas destes
estabelecimentos, já que “90% dos estabelecimentos de restauração são arrendatários e
embora a sua atividade esteja a zero ou a 50% estão a pagar as rendas a 100%. Os
custos desta pandemia devem ser repartidos de forma justa e o governo deve ter
um programa que permita reduzir as rendas tendo em conta a redução da faturação e
também criar apoios aos senhorios onde seja necessário”, diz Catarina Martins.
A coordenadora nacional do Bloco considera que os apoios devem ser implementados já
e lembra que “as medidas anunciadas no Orçamento de Estado como o e-voucher são
medidas de recuperação e só começará depois das restrições. Nós ainda estamos num
período de enormes restrições e as medidas que o setor precisa agora não é para
recuperar, mas sim para manter o emprego e proteger a continuidade dos
estabelecimentos”.
“Se o governo tem a disponibilidade para pensar medidas fiscais, teria mais sentido
fazer uma redução fiscal para já e não apenas para o futuro”, concluiu Catarina Martins.
5- Gonçalo Santos, sócio-gerente do restaurante Tabique, “Já estamos a ter um ano
complicado e os fins de semana são as alturas em que faturamos mais e cortarem-nos
isso torna tudo mais difícil”, realça Gonçalo, não escondendo a frustração. E
salvaguarda: “a restauração não é o setor onde há mais contágio”.
Gonçalo acredita que o setor da restauração foi o mais afetado por esta pandemia,
tendo sido obrigado a adaptar-se constantemente: “nós somos o setor a quem, desde o
início, exigiram mais regras para nos adaptarmos, quando já praticávamos normas de
higiene bastante rígidas”, diz.
Relembra ainda que os restaurantes já tinham uma redução de lotação em 50% e “se
há essa redução, supostamente já cria alguma segurança nos espaços”
. Considera também que obrigarem os restaurantes a fechar na hora em que começam
a faturar é “uma medida para atirar poeira para os olhos” de modo a não terem de
ajudar com apoios financeiros. “Deixam-nos estar abertos até à uma, o que para nós é
irrelevante, uma vez que abrimos ao meio dia. O facto de estarmos abertos faz com que
não tenham de nos dar apoios, porque não nos fecham totalmente”, sublinha Gonçalo
Santos.
O gerente do Tabique defende que o Governo devia confiar que as medidas de
segurança e de higiene são cumpridas em todos os estabelecimentos. “Preocupámo-nos
com os nossos clientes e, acima de tudo, com a nossa saúde. O facto de estarmos abertos
a servir pessoas é um risco, mas também estamos a minimizá-lo da melhor maneira
possível”, garante.
Em relação à contribuição do Estado com 20% das perdas da restauração nestes dois
fins de semana, Gonçalo refere que “a medida é um bocado malfeita porque o apoio é
feito de uma média dos 44 fins de semana do ano”. “Não é justo se forem contabilizados
os quatro fins de semana em que a restauração esteve fechada e em que a faturação é
zero”, explica. É “injusto a medida ser referente a este ano” e, por isso, acha que “devia
ser referente ao ano 2019, que foi um ano mais normal”.
Durante a pandemia o gerente viu-se obrigado a “pôr alguns empregados em lay-off” e
mais tarde, quando o restaurante reabriu, “passaram a part-time”. Este é um ano atípico
e particularmente difícil para este estabelecimento, pois abriram apenas em janeiro e
tiveram de fechar durante 22 dias em março. Desde a abertura do mesmo tiveram de se
adaptar constantemente para não terem de fechar. “Ou nos obrigam a fechar e dão-nos
apoios para isso ou então deixem-nos trabalhar”, avisa Gonçalo Santos.

6- presidente da Câmara do Porto afirmou que a situação no setor da restauração e


similares é "completamente dramática" e que são "necessários mais apoios",
considerando que antes de março ou abril "dificilmente as circunstâncias voltam ao
normal".
"Aquilo que se passa neste setor é uma situação completamente dramática, estamos a
falar de dezenas de milhares de postos de trabalho perdidos ou em vias de ser perdidos,
medidas de financiamento que foram dadas a pequenas empresas que não resolvem
nada, apenas adiam o problema", afirmou Rui Moreira.
O autarca, que esteve presente na manifestação do movimento "A pão e água", que
reuniu mais de mil empresários do setor da restauração, bares, discotecas, cultura e
organização de eventos e originou momentos de tensão com a PSP, afirmou que "são
precisos mais apoios".

Sobre as entregas ao domicílio, Ana Jacinto afirma que “não é de todo a salvação
para este setor, porque é um mecanismo caro e pouco rentável para a maioria dos
estabelecimentos”. “O princípio está correto, o que não está correto é a dotação. Um
apoio a fundo perdido de 7.500 euros para as micro empresas, dada a dimensão do
problema que temos em mãos, é curto. Uma empresa que está encerrada há oito meses,
com rendas e salários para pagar, com taxas e impostos para pagar, acha que é suficiente
um apoio a fundo perdido com esta dotação? É insuficiente”, desabafa Ana Jacinto.

II - DE DIREITO

Da Forma do Processo

O presente processo urgente (artigo 97.º do Código de Procedimento dos Tribunais
Administrativos – de agora em diante, CPTA), carateriza-se pela sua celeridade e prioridade,
tendo em conta a convicção de que certas questões são merecedoras de uma resolução definitiva
em tempo curto (intimação para proteção de direitos, liberdades e garantias).

Estando em causa um pedido de intimação para proteção de direitos, liberdades e garantias, tal
como consta no n.º 5 do artigo 20.º da Constituição da República Portuguesa, de agora em
diante, CRP, (são assegurados aos cidadãos procedimentos judiciais caracterizados pela
celeridade e prioridade, de modo a obter uma tutela efetiva e em tempo útil contra ameaças ou
violações desses direitos). O conteúdo do pedido consiste na condenação da adoção de uma
conduta positiva ou negativa por parte da administração (109º, n.º1 e n.º3 do CPTA).

Os pressupostos desta matéria encontram-se estipulados no artigo 109.º do CPTA, sendo que a
respectiva intimação pode ser requerida quando a emissão célere de uma decisão de mérito do
processo que imponha à administração uma conduta positiva ou negativa seja indispensável
para assegurar o exercício em tempo útil de um direito, liberdade ou garantia. É igualmente
exigida a urgência da decisão para evitar a lesão ou inutilização do direito.

Da Competência do Tribunal

Em razão da jurisdição, o critério para aferir da competência é o da natureza da relação


jurídica concreta subjacente ao litígio, devendo essa assumir natureza administrativa, e
o litígio que lhe subjaz situar-se no âmbito do artigo 4.º do Estatuto dos Tribunais
Administrativos e Fiscais (de agora em diante ETAF). Nesta situação, o Autor elabora
um pedido de impugnação da decisão governamental regulamentadora do Estado de
Emergência, correspondente à alínea b) do artigo 4.º do ETAF, sendo competente a
jurisdição administrativa e fiscal.

Em razão da matéria de Direito Administrativo, são competentes os Tribunais


Administrativos. Em razão da hierarquia, aplicar-se-á o 24º/1/a) ETAF e será
competente o Supremo Tribunal Administrativo.

Em razão do território, a ordem dos tribunais administrativos e fiscais é constituída


pelos tribunais de Primeira instância, de Segunda instância e pelo Supremo Tribunal
Administrativo. Deve então atender-se aos critérios de repartição das competências
presentes nos artigos 16.º e seguintes do CPTA, nomeadamente os artigos 16.º/1, 18.º/1,
19.º/1, portanto Lisboa.

Uma vez identificado o local adotado como ponto de referência, é necessário identificar
qual o tribunal em concreto, cujo âmbito de jurisdição abrange o local em causa, sendo
essencial recorrer ao Decreto-Lei n.º 325/2003, de 29 de dezembro.

Da Personalidade e Capacidade Judiciária

Dispõe o artigo 8.º-A, nº1, do CPTA, que a personalidade e capacidade judiciárias


consistem, respetivamente, na suscetibilidade de ser parte e na de estar por si em juízo, e
acrescenta o n.º2 que tem personalidade judiciária quem tenha personalidade jurídica e
capacidade judiciária quem tenha capacidade de exercício de direitos. O grupo “Pão e
Vinho” é constituído por um conjunto de empresários e de trabalhadores da restauração
e turismo, não havendo qualquer impedimento à existência de personalidade e
capacidade judiciária dos mesmos.

Legitimidade ativa do Autor



Sendo um pedido de impugnação da decisão governamental regulamentadora do Estado de
Emergência, formulado no processo urgente, a ação tem como fundamento essencial o facto de
essa mesma decisão ser violadora da Constituição, por força do artigo 281º/1 da CRP (é
invocado o fundamento da inconstitucionalidade da norma).
Por sua vez, o artigo 73.º, n.º2 do CPTA, reconhece legitimidade para pedir a declaração e
ilegalidade de normas imediatamente operativas com efeitos circunscritos ao caso do
impugnante a quem seja diretamente lesado ou possa vir previsivelmente a sê-lo em momento
próximo, caso a ação seja proposta com algum dos fundamentos previstos no artigo 281º, nº1,
da CRP.
Assim, o artigo 73º, nº2, reconhece legitimidade à “Pão e Vinho” para requerer esta declaração
de ilegalidade, limitando-se à sua situação em específico.

Legitimidade Passiva

Neste âmbito deve ser aplicado o artigo 10.º, n.º1 do CPTA, por estar em causa uma relação
material controvertida entre o Autor e os Réus, sendo que a Presidência do Conselho de
Ministros e o Ministério Público dispõem de legitimidade passiva. Ainda assim, deverá
identificar-se sempre a autoridade competente para que possa ser diretamente citada e intimada.
Coligação entre Autores

Nesta ação estamos perante uma coligação ativa, devido aos vários autores que desencadearam
um único processo contra um ou vários demandados, por pedidos diferentes. As pretensões são
individualizáveis, uma vez que terão sofrido perdas de diversos tipos.
A coligação só pode suceder quando respeite um dos requisitos de conexão objetiva presentes
no n.º1 do artigo 12.º do CPTA. Assim, a causa de pedir é a mesma e única, existindo uma
unidade da fonte das relações jurídicas controvertidas, podendo existir uma coligação ativa, nos
termos do artigo 12.º, n.º1, alínea a) do CPTA.
Do Patrocínio Judiciário

Segundo o artigo 11.º, n.º1, do CPTA, a constituição de advogado é obrigatória nos processos
da competência dos tribunais administrativos, nos termos regulados pelos artigos 43.º e
seguintes do Código de Processo Civil (CPC). Os poderes de representação em juízo são
conferidos ao advogado pela parte, por meio de mandato judicial, à luz do artigo 43.º do CPC,
pelo que o Autor atribui poderes ao mandatário para representar a parte em todos os atos e
termos do processo inicial, declarando na procuração que concede poderes forenses ao
mandatário, como determinam os artigos 44.º, n.º1 e 45.º, n.º1 do CPC. O mandato judicial está
conforme e anexado à Petição Inicial.

Da Impugnação de Normas Regulamentares



Nas pretensões respeitantes a normas regulamentares, então em causa litígios relacionados com
as normas emanadas no exercício da função administrativa, designadas como normas
regulamentares. Estas compreendem toda e qualquer norma cuja emissão se processa no
exercício de poderes conferidos pelo Direito Administrativo (cabe aos tribunais administrativos
fiscalizar a observância dessas regras).

Quando um particular é objeto de uma decisão concreta que lhe aplica uma norma regulamentar
que considera ilegal, pode e deve reagir contra essa decisão concreta, suscitando o incidente da
ilegalidade da norma regulamentar aplicada (se o tribunal julgar procedente o incidente, recusa
aplicar a norma regulamentar que considera ilegal e, com esse fundamento, anula ou declara
nula a decisão impugnada).

No entanto, estamos no âmbito da impugnação de normas regulamentares imediatamente
operativas e em relação a estes casos, o artigo 73.º do CPTA possibilita a impugnação direta da
norma regulamentar. Segundo a alínea a) do n.º1 deste preceito, a declaração de ilegalidade com
força obrigatória geral deste tipo de normas pode ser requerida “por quem seja diretamente
prejudicado pela vigência da norma ou possa vir previsivelmente a sê-lo em momento próximo,
independentemente da prática de ato concreto de aplicação”; segundo a alínea b), “pelo
Ministério Público e por pessoas e entidades nos termos do n.º 2 do artigo 9.º”; segundo a alínea
c), “pelos presidentes de órgãos colegiais, em relação a normas emitidas pelos respetivos
órgãos”; e segundo alínea d), “Pelas pessoas referidas no n.º 2 do artigo 55.º”.

Impugnam-se assim as normas regulamentares, tendo em conta os factos enunciados no ponto
de matéria de facto(?)

------------------------------------------------------------------------------------

Processo urgente? Página 146 final


Artigo 97º CPTA : processos principais urgentes – caracterizam-se pela sua celeridade
[1]

ou prioridade, radicados na convicção de que certas questões, em função de


circunstâncias próprias são merecedoras de uma resolução definitiva em tempo curto.
São “processos que visam a pronúncia de sentenças de mérito, onde a cognição seja
tendencialmente plena, mas com tramitação acelerada ou simplificada, tendo em
consideração a natureza dos direitos ou dos bens jurídicos protegidos (quando esteja
em causa a proteção de bens especialmente importantes – direitos fundamentais) ou
outras circunstâncias próprias das situações ou até das pessoas envolvidas)”
4 espécies de processos principais urgentes: impugnações relativas aa eleições
administrativas e à formação de determinados contratos; intimações para prestação de
informações e, em determinadas condições, as intimações para proteção de direitos,
liberdades e garantias (seria este o caso?)
Artigo 36º - a enumeração não tem de ser taxativa; 121º + 132/7 – abertura do sistema
para criação ad hoc de novos processos urgentes, sempre que tal se afigure necessário e
possível.
Intimação para proteção de direitos, liberdades e garantias: na sequência do artigo 20º/5
Constituição da República Portuguesa (nesta matéria é assegurada aos cidadãos
procedimentos judiciais caracterizados pela celeridade e prioridade, de modo a obter
tutela efetiva e em tempo útil contra ameaças ou violações desses direitos. A utilização
desta ação deve limitar-se às situações em que esteja em causa direta e imediatamente o
exercício do próprio direito, liberdade ou garantia ou direito análogo.
Pressupostos (109º CPTA): quando a e emissão célere de uma decisão de mérito do
processo que imponha à administração uma conduta positiva ou negativa seja
indispensável para assegurar o exercício em tempo útil de um direito, liberdade ou
garantia. É exigida a urgência da decisão para evitar a lesão ou inutilização do direito. a
utilização deste meio pressupõe a imposição de uma conduta negativa ou positiva à
administração. Não pode ser possível ou suficiente o decretamento de uma providencia
cautelar (131º) – faria sentido porque também é um processo célere mas o sentido
perde-se quando a questão de fundo deva ser resolvida de imediato.
A legitimidade para esta intimação pertence ao titular do direito, liberdade ou garantia
em questão (pão e vinho). A legitimidade passiva pertence à PC ou MP, mas, ainda
assim, deverá identificar-se sempre a autoridade competente para que possa ser
diretamente citada e intimada.
Conteúdo do pedido será a condenação na adoção de uma conduta positiva ou negativa
por parte da administração (109º/1/3)
Processo favorecedor a nível económico – não há pagamento de custas - 73º/2 Código
das Custas Judiciais.
Tramitação: processos simples/urgência normal (110º/1/2); processos complexos de
urgência normal (110º/3); situações de especial urgência (111º - o juiz pode optar por
uma tramitação acelerada, com encurtamento pelo juiz do prazo de resposta do
requerido, ou então pode optar por uma tramitação simplificada, realizando uma
audiência oral em julgamento para decisão no prazo de 48h).

Da competência do tribunal

Em matéria de pressupostos respeitantes ao tribunal, é necessário averiguar os requisitos


de cujo preenchimento depende a competência do tribunal para julgar a causa que é
submetida à sua apreciação.
De acordo com o artigo 5º do ETAF, a competência dos tribunais fixa-se no momento
da sua propositura da ação, sendo irrelevantes as modificações de facto ou de direito
que ocorram posteriormente.
Na competência em razão da jurisdição, pretende-se saber quando é que uma ação deve
ser proposta perante a jurisdição administrativa e fiscal, e não perante os tribunais
judiciais, tendo em conta um critério de especialização em função da natureza dos
litígios a dirimir. A delimitação do âmbito da jurisdição administrativa e fiscal vem
regulada no artigo 4º do Estatuto dos Tribunais Administrativos e Fiscais (doravante
ETAF). O Autor pretende impugnar, nesta ação, a decisão governamental
regulamentadora do Estado de Emergência, que entende ser violadora da Constituição,
pelo que está em causa um problema correspondente à alínea b), “fiscalização da
legalidade das normas e demais atos jurídicos emanados por órgãos da Administração
Pública, ao abrigo de disposições de direito administrativo ou fiscal”. Como refere
MÁRIO AROSO DE ALMEIDA, “tem-se aqui em vista o núcleo duro da jurisdição
administrativa, que tem por objeto a fiscalização dos atos administrativos e
regulamentos”. O artigo 4º ETAF concretiza o disposto no artigo 212º, nº3 da
Constituição da República Portuguesa, aplicando-se o critério de existência de um
litígio sobre uma relação jurídica administrativa ou fiscal.
Na competência em razão da matéria, o que separa os tribunais administrativos dos
tribunais tributários é a especialização em razão da matéria, a circunstância de a lei lhes
fazer corresponder competências materialmente distintas, na medida em que os
primeiros são competentes em matéria administrativa e os segundos em matéria
tributária ou fiscal. Segundo o artigo 44º do ETAF, são apenas competentes para julgar
os processos em matéria administrativa os tribunais administrativos, com exclusão dos
que têm por objeto litígios emergentes de relações jurídicas tributárias ou fiscais.
Na competência em razão da hierarquia, ETAF confia a generalidade das competências
em primeiro grau de jurisdição aos tribunais administrativos de primeira instância. De
acordo com o disposto no artigo 44º, compete aos tribunais de primeira instância
conhecer, em primeiro grau de jurisdição, de todos os processos em matéria
administrativa, à exceção daqueles que se encontrem reservados aos tribunais
superiores. De acordo com o artigo 24º ETAF, é reservada ao Supremo Tribunal
Administrativo a competência para conhecer, em primeiro grau de jurisdição, dos
processos relativos a ações ou omissões das entidades elencadas nas diversas alíneas. A
presente ação é proposta contra o Conselho de Ministros, pelo que, por via da alínea a)
do nº1 do artigo 24º ETAF, a ação deve ser proposta perante o Supremo Tribunal
Administrativo.
Na competência em razão do território, segundo o artigo 1º, nº1, do Decreto-Lei
nº325/2003 de 29 de dezembro, o STA tem sede em Lisboa e jurisdição em todo o
território nacional.

Da personalidade e capacidade judiciárias

Dispõe o artigo 8º-A, nº1, do CPTA, que a personalidade e capacidade judiciárias


consistem, respetivamente, na suscetibilidade de ser parte e na de estar por si em juízo, e
acrescenta o nº2 que tem personalidade judiciária quem tenha personalidade jurídica e
capacidade judiciária quem tenha capacidade de exercício de direitos. O grupo “Pão e
Vinho” é constituído por um conjunto de empresários e de trabalhadores da restauração
e turismo, pelo que aqui não havendo qualquer impedimento à existência de
personalidade e capacidade judiciária dos mesmos.

Do patrocínio judiciário
Segundo o artigo 11º, nº1, do CPTA, a constituição de advogado é obrigatória nos
processos da competência dos tribunais administrativos, nos termos regulados pelos
artigos 43º e seguintes do Código de Processo Civil. Os poderes de representação em
juízo são conferidos ao advogado pela parte por meio de mandato judicial, por via do
artigo 43º CPC, pelo que o Autor atribui poderes ao mandatário para representar a parte
em todos os atos e termos do processo inicial, declarando na procuração que concede
poderes forenses ao mandatário, como determinam os artigos 44º, nº1 e 45º, nº1 do
CPC. O mandato judicial está conforme e anexado à Petição Inicial.

Da legitimidade ativa

O CPTA assume a legitimidade como um pressuposto processual e não como uma


condição de procedência da ação, cuja titularidade se afere por referência às alegações
produzidas pelo autor. Possui, assim, legitimidade ativa quem alegue a titularidade de
uma situação cuja conexão com o objeto de ação proposta o apresente como em
condições de nela figurar como autor e possui legitimidade passiva quem deva ser
demandado na ação com o objeto configurado pelo autor.
O CPTA dedica dois artigos à matéria da legitimidade ativa e passiva: os artigos 9º e
10º, respetivamente. O regime do artigo 9º, nº1, determina que, salvo disposição em
sentido contrário, a regra é a de que a legitimidade para discutir qualquer relação
jurídica controvertida em juízo corresponde a quem alegue ser parte nessa relação
jurídica.
Todavia, no que respeita à legitimidade ativa, cumpre advertir que esta não se esgota no
artigo 9 do CPTA, existindo um amplo conjunto de soluções especiais noutros artigos,
que derrogam o critério do artigo 9º, nº1. Daqui resulta que o critério comum do artigo
9º, nº1, é de aplicabilidade residual, correspondendo apenas aos casos em que não são
objeto de um regime especial próprio.
Os regimes especiais alargam a legitimidade ativa, além dos limites reportados à
alegada titularidade da relação material controvertida definida no artigo 9º, nº1. Este
alargamento é necessário porque há situações em que o litígio não pressupõe a pré-
existência de uma relação jurídica entre as partes.
Deste modo, no que toca à legitimidade para impugnar normas regulamentares, o artigo
73º do CPTA identifica as categorias de pessoas e entidades legitimadas a pedir a
declaração da ilegalidade de normas emanadas no exercício da função administrativa,
ou seja, normas regulamentares.
O artigo 73º, nº1, reconhece legitimidade para pedir a declaração de ilegalidade com
força obrigatória geral de normas imediatamente operativas a quem alegue ser
prejudicado pela aplicação da norma ou possa previsivelmente vir a sê-lo em momento
próximo.
O artigo 73º, nº2, reconhece legitimidade para pedir a declaração e ilegalidade de
normas imediatamente operativas com efeitos circunscritos ao caso do impugnante a
quem seja diretamente lesado ou possa vir previsivelmente a sê-lo em momento
próximo pela aplicação da norma cujos efeitos e produzam imediatamente, sem
dependência de atos concretos de aplicação, se a ação for proposta com algum dos
fundamentos previstos no artigo 281º, nº1, da CRP.
O artigo 72º, nº2 do CPTA, estabelece que fica excluída deste regime a declaração de
ilegalidade com força obrigatória geral com qualquer dos fundamentos previstos no nº1
do artigo 281º/1 da CRP.
No caso, tendo a ação como fundamento essencial, o facto de a decisão governamental
reguladora do estado de emergência ser violadora da Constituição, está a ser invocado
um dos fundamentos que vêm previstos no artigo 281º/1 da CRP, designadamente, a
inconstitucionalidade de uma norma.
Todavia, em concordância com o que foi explicitado supra, quem seja diretamente ou
possa vir previsivelmente a sê-lo em momento próximo pela aplicação de norma
imediatamente operativa e que incorra num dos fundamentos de ilegalidade previstos no
nº1 do artigo 281º da CRP, pode obter a desaplicação da norma, pedindo não a
declaração da sua ilegalidade com força obrigatória geral, mas sim a declaração de
ilegalidade com efeitos circunscritos ao seu caso. Assim, o artigo 73º, nº2, reconhece
legitimidade à parte para pedir esta declaração de ilegalidade, mas se for com efeitos
limitados à sua situação em específico.

Da coligação
A coligação é uma situação de pluralidade de partes que assenta numa pluralidade de
relações jurídicas, havendo vários autores a desencadear um único processo contra um
ou vários demandados (coligação ativa); ou um autor desencadeia um único processo
conjuntamente contra vários demandados, por pedidos diferentes, com fundamento em
diferentes relações jurídicas intercorrentes entre uns e outros (coligação passiva). Se
cada um dos pedidos for formulado por cada um dos autores ou contra cada um dos
demandados, é coligação.
Na ação estamos perante uma coligação ativa, visto que temos vários autores a
desencadear um único processo contra um ou vários demandados, por pedidos
diferentes. As pretensões são individualizáveis, uma vez que terão perdido quantidades
diferentes.
A coligação só pode suceder quando respeite um dos requisitos de conexão objetiva
presentes no nº1 do artigo 12º do CPTA. Na ação, a causa de pedir é a mesma e única,
ou seja, existe uma unidade da fonte das relações jurídicas controvertidas em virtude de
os pedidos se fundarem numa mesma causa de pedir, pelo que pode existir coligação
ativa, nos termos do artigo 12º, nº1, alínea a).

Da impugnação de normas regulamentares

Nas pretensões respeitantes a normas regulamentares, então em causa litígios


relacionados com as normas emanadas no exercício da função administrativa,
designadas como normas regulamentares . Estas compreendem toda e qualquer norma
[2]

cuja emissão de processa no exercício de poderes conferidos pelo Direito


Administrativo, uma vez que, seja qual for o ramo do direito em que as normas
regulamentares irão ser aplicadas, as regras sobre a sua produção são de Direito
Administrativo, pelo que cabe aos tribunais administrativos fiscalizar a observância
dessas regras.
Quando um particular é objeto de uma decisão concreta que lhe aplica uma norma
regulamentar que considera ilegal, ele pode e deve reagir contra essa decisão concreta,
suscitando o incidente da ilegalidade da norma regulamentar aplicada. Se o tribunal
julgar procedente o incidente, recusa-se a aplicar a norma regulamentar que considera
ilegal e, com esse fundamento, anula ou declara nula a decisão impugnada. Deste modo,
evitam-se as consequências da norma regulamentar ilegal não imediatamente operativa,
cujos efeitos não se projetam imediatamente, mas apenas através de atos administrativos
de aplicação.
Todavia, não estamos no âmbito da impugnação de normas regulamentares não
imediatamente operativas, mas sim da impugnação de normas regulamentares
imediatamente operativas. Há casos em que a norma regulamentar lesa diretamente os
destinatários, sem necessidade de um ato concreto de aplicação, como ilustra MÁRIO
AROSO DE ALMEIDA, o “exemplo das normas que impõem a proibição de uma
conduta, que fixam horários de funcionamento de estabelecimentos comerciais ou
tabelas de preço a observar na comercialização de determinados produtos” . [3]

Em relação a estes casos, da impugnação de normas regulamentares imediatamente


operativas, o artigo 73º do CPTA possibilita a impugnação direta da norma
regulamentar. Segundo o nº1 deste preceito, a declaração de ilegalidade com força
obrigatória geral de norma imediatamente operativa pode ser pedida, segundo a alínea
a), “por quem seja diretamente prejudicado pela vigência da norma ou possa vir
previsivelmente a sê-lo em momento próximo, independentemente da prática de ato
concreto de aplicação”; segundo a alínea b), “pelo Ministério Público e por pessoas e
entidades nos termos do n.º 2 do artigo 9.º”; segundo a alínea c), “pelos presidentes de
órgãos colegiais, em relação a normas emitidas pelos respetivos órgãos”; e segundo
alínea d), “Pelas pessoas referidas no n.º 2 do artigo 55.º”.
No que concerne aos fundamentos em que se pode basear este pedido de declaração de
ilegalidade com força obrigatória geral, de acordo com o que dispõe o artigo 72º, nº2,
do CPTA, não são invocáveis fundamentos previstos no nº 1 do artigo 281º da
Constituição da República Portuguesa.
O artigo 281º, nº1, da Constituição da República Portuguesa refere que o Tribunal
Constitucional aprecia e declara, com força obrigatória geral, a inconstitucionalidade de
quaisquer normas; a ilegalidade de quaisquer normas constantes de acto legislativo com
fundamento em violação de lei com valor reforçado; a ilegalidade de quaisquer normas
constantes de diploma regional, com fundamento em violação do estatuto da região
autónoma; e a ilegalidade de quaisquer normas constantes de diploma emanado dos
órgãos de soberania com fundamento em violação dos direitos de uma região
consagrados no seu estatuto. Só ao Tribunal Constitucional compete declarar, com força
obrigatória geral, a inconstitucionalidade de quaisquer normas.
No entanto, o artigo 73º, nº2, do CPTA, prevê a possibilidade da declaração de
ilegalidade sem força obrigatória geral de normas regulamentares imediatamente
operativas, nos casos que são abrangidos pelas limitações previstas no artigo 72º, nº2,
juntamente com o artigo 281º, nº1, da CRP. Pode haver uma declaração deste género
quando o autor invoca a existência de inconstitucionalidade da norma impugnada e está
vedada aos tribunais administrativos a declaração de ilegalidade dessa norma com força
obrigatória geral.
Já concluímos que compete apenas ao Tribunal Constitucional declarar, com força
obrigatória geral, a inconstitucionalidade de quaisquer normas, inclusive as normas
regulamentares, mas é necessário frisar que a restrição prevista no artigo 72º, nº2, só
vale para a declaração de ilegalidade com força obrigatória geral.
Assim sendo, conforme o que dispõe o artigo 73º, nº2, do CPTA, quem diretamente seja
prejudicado ou que possa vir previsivelmente a sê-lo em momento próximo pela
aplicação de norma imediatamente operativa e que caia num dos fundamentos de
ilegalidade que vêm previstos no nº1 do artigo 281º da Constituição da República
Portuguesa, pode obter a desaplicação da norma, pedindo a declaração da sua
ilegalidade com efeitos circunscritos ao seu caso, isto é, pode pedir a declaração de
ilegalidade sem força obrigatória geral.
O tribunal procede à desaplicação da norma e essa decisão é passível de recurso para o
Tribunal Constitucional, sendo esse obrigatório para o Ministério Público, no caso de
estar em causa um decreto regulamentar, como tal promulgado pelo Presidente da
República (que é este o caso).
Como esclarece, MÁRIO AROSO DE ALMEIDA, o regime do CPTA pressupõe que a
reserva constitucional de jurisdição do Tribunal Constitucional apenas compreende a
declaração de inconstitucionalidade de normas com força obrigatória geral, e não
situações de desaplicação, ainda que a título principal, e não incidental, como aquela
que é contemplada no nº2 do artigo 73º. No mesmo sentido, VIEIRA DE ANDRADE,
[4]

A Justiça Administrativa, p. 208.


Em relação aos prazos de impugnação, o artigo 74º, nº1, do CPTA, estabelece que a
declaração de ilegalidade de normas pode ser pedida a todo o tempo.
O juiz não está limitado, na sua apreciação, pelos argumentos que possam ser invocados
contra a norma impugnada, podendo decidir “com fundamento na ofensa de princípios
ou normas jurídicas diversos daqueles cuja violação haja sido invocada”, segundo o
artigo 75º do CPTA.

ANDRADE, Vieira de – A Justiça Administrativa (lições) – página 254


[1]

ALMEIDA, Mário Aroso de. Manual de Processo Administrativo, 4ª edição,


[2]

Almedina. Página 111.


ALMEIDA, Mário Aroso de. Manual de Processo Administrativo, 4ª edição,
[3]

Almedina. Páginas 112-113.


ALMEIDA, Mário Aroso de. Manual de Processo Administrativo, 4ª edição,
[4]

Almedina. Página 116.

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