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públicas, as ações dos diversos atores passará a ser valorizada, tendo em vista que o papel
desempenhado pelos indivíduos dentro do sistema terá um significado e importância.
Sendo assim, Barroso (2006) enfatiza que o papel do Estado deve ser o de “regulador
das regulações” ou de “metarregulação”. Esta mudança no papel do Estado que deixaria de
exercer a regulação para empreender uma “metarregulação”, proporcionaria uma nova
organização e condução de suas estratégias e políticas públicas, pois seria necessário
reconhecer a importância de abrir diferentes canais de comunicação e decisão.
Nesta perspectiva, inferimos que para ocorrer uma possível mudança na forma do
Estado regular o sistema educacional, seria necessário reorientar e romper com a estrutura e
condução hierarquizada da própria política de avaliação por ele coordenada. Existindo uma
negociação da avaliação entre governo federal, estadual, municipal, distrital e escolas, a
Prova Brasil, ao invés de acabar centrada na classificação das melhores ou piores instituições,
buscaria estratégias para se articular com todos os atores educacionais, no intuito de instaurar,
em parceria com as instâncias gestoras, uma prática pedagógica de qualidade, a partir da
investigação das especificidades de cada escola e rede. Desta forma, tal como aponta Esteban
(2003), as avaliações deixariam de ter como meta um ideal homogêneo de escola e passaria a
valorizar a heterogeneidade real.
Com base nessas reflexões, consideramos que para entendermos como a Prova Brasil
despontou no contexto da regulação do “Estado-avaliador brasileiro” e, mais precisamente, da
SEE/DF, é relevante discutirmos aspectos da própria ação avaliadora. Sendo assim, nas seções
seguintes nossa intenção é abrir um debate sobre o conceito de avaliação e as características
da avaliação educacional.
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O termo “objeto” diz respeito ao que está sendo avaliado. Ele pode ser um tipo de fenômeno, produto,
organização, pessoa, situação etc..
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Entendemos que objeto pode ser: um indivíduo, fenômeno físico ou social, um material concreto etc..
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Com base em seus estudos Clímaco (2005) apresenta oito pares de conceitos que descrevem as dimensões ou
características mais comuns nos projetos de avaliação de maneira geral, não se limitando aos projetos de
avaliação educacional. Os pares de conceitos apresentados são: formativa/somativa; formal/informal; casos
singulares/casos exemplares; produto/processo; descrição/juízo de valor; estruturados/não estruturados;
global/focada; interna/externa.
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Algumas escolas adotam conceitos ao invés de notas numéricas. Tais conceitos expressam uma categorização
de um intervalo de notas numéricas. Por exemplo, em uma escola onde a média para aprovação do aluno é a
nota 5 podemos ter: SS – superior satisfatório (9-10); MS – médio satisfatório (7-8,9); MM – médio
satisfatório (5-6,9); MI – mínimo insatisfatório (0-4,9) etc.
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para que a avaliação assuma sua real função é fundamental que as instituições sigam três
passos: (i) ter um posicionamento pedagógico claro e explícito; (ii) promover uma tomada de
consciência de todos os atores escolares sobre os novos rumos da prática educacional; e (iii)
resgatar que o sentido da avaliação, no contexto de uma pedagogia transformadora, deve ser
um julgamento de valor sobre a realidade detectada para uma tomada de decisão. Assim, a
avaliação escolar seria, de fato, utilizada como um instrumento de diagnóstico da situação,
voltada para o desenvolvimento da aprendizagem do aluno, a serviço de uma pedagogia ética
e democrática, comprometida com a transformação social.
Apesar desse estudioso se reportar à avaliação escolar, concretizada no cotidiano do
processo de ensino-aprendizagem, podemos transpor os passos citados para o contexto das
avaliações externas, como o da Prova Brasil. Para que os resultados dessa avaliação promovam
um processo de autorregulação, na perspectiva da autoavaliação, das escolas é necessário que
os seus objetivos, os de monitoramento do sistema de ensino e os pedagógicos, estejam
explícitos e claros para educadores e sociedade. Caso contrário, teremos apenas uma verificação
sendo realizada, para que o Estado tenha elementos para desempenhar uma regulação
institucional, meramente para fiscalizar e controlar o cumprimento de suas determinações.
De maneira geral, as avaliações externas passaram a ser utilizadas nos EUA a partir
do desenvolvimento das metodologias avaliativas no século XX. Com o passar do tempo os
Estados viram nessa avaliação um suporte para a definição de políticas que regulem a área
educacional, pois podiam obter os mais variados dados sobre as instituições escolares que
administravam. No entanto, diante da ideologia estatal predominante, na avaliação externa, tal
como na interna, prevaleceu a ênfase no controle e classificação das escolas. Com a
contribuição dos avanços de outras áreas do conhecimento, como a psicometria 64 e a
estatística, as notas da avaliação interna cederam lugar para as médias de proficiência 65 e
indicadores de desempenho geradas pela externa, mas que ainda são utilizadas para apontar as
escolas “melhores” ou “piores”.
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A psicometria é um ramo da estatística que estuda fenômenos psicológicos. Para os psicólogos, ela deve ser
concebida como um ramo da psicologia que faz interface com a estatística. A psicometria não trata apenas de
métodos; ela se insere na teoria da medida que trata do uso de números no estudo dos fenômenos naturais
(BRAGA, CRUZ, 2007).
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Apesar de também ser chamada de média de desempenho, a proficiência vai além do valor expresso em um
número. Ela é construída por meio da aplicação de testes, construídos e analisados pela Teoria de Resposta ao
Item (TRI). Essa proficiência, no término das análises, é comumente apresentada em uma escala de
desempenho, a qual, em cada nível, descreve as habilidades e competências que os alunos demonstram ter
desenvolvido, no momento em que responde corretamente a um determinado item que compõe a prova.
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A partir deste debate podemos demarcar dois papéis assumidos pela avaliação interna
e externa: (a) formativo; e (b) somativo 66. Conforme debatem Worthen, Sanders e Fitzpatrick
(2004), a avaliação com papel formativo oferece informações úteis para a melhoria de um
programa ou projeto no decorrer de suas diferentes fases. Assim, ela orienta possíveis
tomadas de decisões sobre o desenvolvimento do programa ou projeto, como mudanças,
revisões, aperfeiçoamento etc., no decorrer do processo. Nas avaliações com função somativa
os resultados são disponibilizados aos responsáveis pelo processo decisório e demais
interessados, como pais, professores, alunos, de maneira que possam julgar o mérito dos
programas ou projetos desenvolvidos. Ela, então, possibilita conhecer os efeitos das ações
realizadas, para acompanhar os resultados, subsidiar decisões a respeito da continuidade,
encerramento ou ampliação dos trabalhos empreendidos.
Tanto os autores, como Clímaco (2005), apontam que não é tarefa fácil demarcar, na
prática, esses dois papéis da avaliação e ressaltam que ambos são essenciais, para promover a
melhoria nas diferentes fases de um projeto ou programa. A dificuldade em distinguir o papel
de cada atividade avaliativa decorre do fato de, muitas vezes, os dados das avaliações sobre os
efeitos dos programas (somativa) serem também utilizados para basilar decisões e corrigir o
desenvolvimento de atividades no futuro (formativo).
Diante disso, percebemos a importância dos processos avaliativos conjugarem os
papéis formativo e somativo. Porém, ante a perspectiva de controle que tem acompanhado as
avaliações, elas tendem a enfatizar apenas o papel somativo, voltando a atenção para os
resultados finais expressos por notas (avaliação interna) ou proficiências (avaliação externa).
Com isso, o desenvolvimento de ações, sejam métodos de ensino dos professores ou
programas governamentais, sem o uso das avaliações formativas tornam-se incompletas ou
ineficientes.
No entendimento de Soares, Alves e Mari (2003), à palavra avaliação pode ser dado o
significado de “preparação para a ação”. Desta forma, ao se avaliar não basta centralizar o
debate no resultado final obtido pelo estudante ou escola. Também é necessário mostrar seus
pontos positivos e os pontos a serem melhorados, indicando o caminho a ser seguido para a
superação das dificuldades encontradas, estimulando a escola a encontrar a melhor estratégia
para realizar com eficiência e eficácia as funções que lhe são demandadas pela sociedade.
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De acordo com Worthen, Sanders e Fitzpatrick (2004), esta distinção de papéis foi realizada pelo britânico
Michael Scriven, em 1967, estudioso da área de avaliação.
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Acreditamos, então, que a avaliação externa deve ser um processo contínuo que tem o
papel fundamental de fornecer informações, com base em procedimentos sistematizados,
sobre a complexa realidade educacional (alunos, professores, recursos etc.), de modo que os
agentes escolares (gestores públicos e escolares, comunidade escolar) decidam sobre as
intervenções e mudanças necessárias para garantir a aprendizagem do aluno. Também
acreditamos que essas avaliações, como parte integrante do processo de regulação, tal como
aponta Kells (1999a; 1999b), a partir das informações geradas, deve fomentar a
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autorregulação das instituições de ensino e, por sua vez, a metarregulação dos gestores
públicos. A partir da autorregulação as escolas podem refletir e negociar, constantemente, o
aperfeiçoamento do processo de ensino-aprendizagem em benefício dos estudantes. Os
gestores públicos, por meio da metarregulação também têm a possibilidade de monitorar a
rede de ensino, propondo intervenções e negociando com os demais atores as metas que
devem ser perseguidas.
Para compreender porque existe uma tendência na utilização da avaliação para
controlar, medir e classificar, abordaremos alguns elementos de sua evolução, buscando
demarcar o período em que as avaliações externas adentram ao campo dos sistemas
educacionais.
Este exame, longe de um caráter educativo, tinha como meta medir o desempenho de
um homem em relação ao outro, selecionando o melhor. Podemos, então, dizer que os exames
eram instrumentos de controle das autoridades chinesas que requeriam um determinado perfil
de servidores, para ingressar na burocracia.
Para Dias Sobrinho (2003), esta pode ser considerada a origem da dimensão social
das avaliações. O autor menciona que os chineses e, também, os gregos criaram, há milênios,
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exames que estabeleciam critérios no intuito de selecionar os indivíduos com boas aptidões
morais, para assumir determinados cargos públicos. Porém, cabe assinalar que “[...] nenhum
desses exames/testes eram escritos, mas pode-se observar que esses procedimentos
avaliativos, ainda pouco elaborados, carregavam certo sentido de interesse público.” (p. 15).
Com relação à prática do exame na realidade educacional, Garcia (2003) destacou o
século XVII e XVIII, pois neles surgem duas formas distintas de institucionalização dos
exames: (i) a primeira, com João Amós Comênio (1592 – 1670), que ao criar a Didactica
Magna, em 1657, fixa alguns princípios para orientar a disseminação da educação a todos,
dentre os quais está o exame; e (ii) a segunda, defendida por João Batista de La Salle (1651-
1719), no “Guia das Escolas Cristãs”, publicado em 1720.
Para Comênio (1985), o exame é um problema metodológico e teria o papel de
contribuir para a melhoria do ensino ministrado pelos professores. Na Didactica Magna, esse
educador propunha ensinar tudo a todos, de forma que o ser humano pudesse se adaptar e
harmonizar com o, novo e conturbado, modelo produtivo de seu século. Sendo assim, a
finalidade do exame não estava relacionada à classificação do estudante, mas sim, à
possibilidade do professor repensar o método de ensino para que todos pudessem aprender.
De acordo com Garcia (2003), La Salle considerava o exame uma possibilidade de
supervisionar a aprendizagem, a partir do estudante. Dessa forma, com a utilização do exame
era possível controlar se os alunos estavam aprendendo o que deviam. Além disso, eles eram
responsabilizados pelo resultado que alcançavam na aprendizagem, sendo convidados a fazer
um “exame de consciência” do porque não tinham aprendido conforme o esperado.
Com a evolução da sociedade, a prática do exame vai se estreitando com a do
controle. A partir da Revolução Industrial, nos séculos XVIII e XIX, uma nova estrutura surge
no mundo da produção, a qual requer disciplina, ordem, conhecimentos específicos para lidar
com as máquinas, e, sobretudo, um controle rígido de todas as etapas do trabalho. Sendo
assim, os gerentes das empresas precisam criar instrumentos para selecionar mão de obra e
controlar a produtividade do trabalhador em cada etapa do trabalho.
De acordo com Barriga (2003), a entrada no século XX trouxe as condições para que
mecanismos científicos de controle fossem instaurados. Em suas primeiras décadas havia uma
pressão para que a improvisação nas ações fossem substituídas por processos objetivos e
racionais, influência do positivismo científico que tudo media, calculava e previa.
Em tal contexto, era necessário racionalizar o processo de produção para aumentar a
eficiência e competência das organizações, na crescente competição econômica mundial.
Desta necessidade surge a teoria da administração científica do americano Frederick Taylor
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[...] teoria dos testes imprimia a ideia de estabelecer um novo debate sobre o
exame, a teoria da administração científica trazia uma justificativa para
implantar um controle sobre a prática educativa. Isto é, sobre os docentes e
os estudantes. (p. 71).
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Nenhum outro país teve tamanho interesse e investimentos na área da avaliação educacional como os Estados
Unidos. Este país possui uma experiência de quase dois séculos na área de avaliação aplica à educação.
(CLÍMACO, 2005; VIANNA, 2005)
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comprovar que o tempo dedicado a exercícios no processo de alfabetização dos estudantes era
insuficiente. Para Worthen, Sanders e Fitzpatrick (2004) e Vianna (2005), o trabalho de Rice,
diante da amplitude e dos procedimentos inovadores, pode ser considerado a primeira
avaliação de sistema educacional.
Mas a expressão “avaliação educacional” só foi cunhada em 1934 pelo educador
Ralph Tyler, considerado por vários estudiosos como o pai da avaliação educacional e de
estudos sobre currículo 68. Para esse educador, a avaliação era um processo utilizado para
determinar em que medida os objetivos de um programa tinham sido alcançados. Este tipo de
prática passou a ser conhecida como avaliação por objetivo, visto que verificava se os
objetivos educacionais expressos nos programas curriculares eram cumpridos. De acordo com
Tyler (1979), a conexão entre desempenho dos estudantes e os objetivos curriculares
possibilitavam a correção de falhas, contribuindo para eficiência do ensino escolar.
Um dos trabalhos pioneiros de Tyler é o Eight-Year Study – Estudo de Oito Anos
(1932-1940), considerado pelos autores como a primeira experiência de avaliação em larga
escala longitudinal na área da educação. O estudo apresentava uma proposta inovadora de
estabelecer uma correspondência entre a medida dos resultados da avaliação com aqueles
desejados para a aprendizagem.
Os autores Stufflebeam e Shinkfield (1987) classificam cinco momentos básicos da
evolução das avaliações educacionais, e colocam os trabalhos de Tyler como ponto chave.
Consideramos relevante apresentar as principais características de cada período, para
dimensionar como a avaliação foi se configurando na dinâmica social.
O primeiro período da avaliação é denominado de pré-Tyler, e se constitui das
experiências do final do século XIX e dos primeiros trinta anos do século XX. Para os
autores antes dos anos 1930 a avaliação sistemática não era conhecida. Temos nessa fase o
auge da utilização dos testes, que passaram por vários setores sociais. Os testes representam
um progresso para a época, visto que era possível medir, com base científica, as capacidades
mentais e comportamentais dos indivíduos.
A avaliação nesta fase estava fundada na psicologia comportamental, na qual os testes
eram a técnica predominante. Segundo Dias Sobrinho (2003), Worthen, Sanders e Fitzpatrick
(2004) e Vianna (2005), o psicólogo americano Edward Lee Thorndike (1874–1949), com
seus estudos sobre utilização de teste contribuiu para que estes instrumentos fossem utilizados
para selecionar e classificar os indivíduos, sendo empregado em distintos setores da
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Antes de Tyler, diante da influência da psicologia, os educadores se reportavam mais aos termos exame e teste.
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sociedade. Esse psicólogo introduziu elementos novos na tecnologia dos testes como as
questões objetivas baseadas nas normas de referência dos programas curriculares e a
interpretação de resultados em escalas. Um exemplo da possibilidade de emprego dos testes
de Thorndike foi a seleção, de forma rápida e eficaz, de recrutas nos Estados Unidos, para a
Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
Todos esses avanços no campo de estudo dos testes possibilitaram o surgimento da
psicometria, que mais tarde passou a ser utilizada nas avaliações externas para medir o
rendimento dos estudantes a partir de respostas dadas em testes. Nesse contexto, a avaliação e
as medidas por meio dos testes se confundem e, por vezes, são utilizadas como sinônimo.
Sendo assim, as atividades avaliativas não estavam associadas ao desenvolvimento
pedagógico, ou ao aprofundamento dos processos cognitivos envoltos no processo ensino-
aprendizagem. Os investimentos dos estudos estavam voltados para o aperfeiçoamento das
técnicas para melhor medir e quantificar o rendimento e comportamento individual dos
sujeitos e pouco se relacionavam com programas ou projetos educacionais.
O segundo período da avaliação demarcado por Stufflebeam e Shinkfield (1987) está
compreendido entre os anos 1930 e 1945, e foi denominado de época tyleriana, pois tem
como marco os trabalho de Ralph Tyler. O foco da avaliação, nesse momento, se deslocou do
rendimento individual dos estudantes para os objetivos educacionais, expressos nos
programas curriculares. Em sua principal obra, intitulada “Princípios Básicos do Currículo e
Ensino”, publicada em 1949, Tyler (1979), chama a atenção para que os conteúdos
curriculares estejam voltados para as exigências da sociedade, visto que os alunos se
deparariam com essas demandas ao sair da escola. A avaliação é, então, considerada um
instrumento que permitia regular o conhecimento dos estudantes, controlando se as metas
estipuladas estavam sendo aplicadas e cumpridas pelas escolas. Segundo Arredondo e Diago
(2009), a fase tyleriana coincide com a do desenvolvimento tecnológico nas sociedades, e,
por esse motivo, buscava-se mudar a conduta dos estudantes a partir da instrução curricular.
Na época tyleriana, diante da influência da teoria da administração científica, existiu
uma preocupação da política educacional em responder as expectativas da sociedade. A
gestão científica adentra o ambiente escolar, introduzindo as ideias de sistematicidade das
ações, normas, padrões e eficiência. Sendo assim, as informações produzidas pelas avaliações
eram consideradas fundamentais para regular e controlar a rentabilidade e eficiência das
escolas, possibilitanto realizar ajustes para alcançar melhores resultados.
Os estudos para aperfeiçoar os testes também foram realizados nestas duas décadas,
pois se acreditava na possibilidade de bons instrumentos de medida descreverem os padrões e
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decisões precisas, com relação aos currículos. Apesar do pouco impacto das proposições de
Cronbach para seus contemporâneos, elas abriram um espaço de debate que ampliou a
concepção de avaliação nos anos 1970.
Outro estudo citado pelos autores, por sua importância para o campo da avaliação
educacional é o de Michael Scriven, um dos mais renomados estudiosos da avaliação. Em
1967, na obra The Methodology of Evaluation (Metodologia da Avaliação), Scriven
considerou que além das técnicas, a avaliação tinha uma descrição com julgamento, “função”,
que acarretava uma tomada de decisão, “objetivos”. Entendia, assim, que a avaliação devia
estar presente em todo o processo de ensino-aprendizagem, elaborando os conhecidos
conceitos de avaliação somativa e formativa. Essa “categorização da avaliação – formativa e
somativa –, que hoje já se tornou clássica, trouxe para a teoria da avaliação uma maior
complexidade dos métodos avaliativos.” (SOUSA, 1998, p. 163).
No final da década de 1960, os resultados de duas pesquisas, o Relatório Coleman, nos
EUA, e o Relatório Plowden, apresentados no primeiro capítulo, abrem uma nova fase nos
estudos educacionais. Vários debates e estudos foram estimulados com a publicação desses
relatórios, com destaque para o Coleman, considerado precursor do crescimento na área da
avaliação educacional.
No campo político, podemos também citar o grande investimento nas políticas sociais,
como a educação, iniciadas no governo do presidente norte-americano John Kennedy (1961-
1963), posteriormente consolidadas na gestão de Lyndon Johnson (1963-1969), voltadas para
a promoção da equidade de oportunidades educacionais. Vale assinalar, que em 1965, o
senador Robert Kennedy institui a avaliação sistemátia e obrigatória da educação, de maneira
que as instituições apresentassem os resultados dos altos recursos investidos pelo governo.
Considerava-se que o baixo desempenho dos estudantes era resultado da má utilização dos
recursos públicos. Surge, assim, a partir da influência do referido senador, o conceito de
responsabilização em educação (accountability).
Na década de 1970, temos, também, uma forte presença das taxonomias de objetivos
educacionais na elaboração das avaliações. Um dos estudos mais conhecidos é a “Taxonomia
de Bloom”, de Benjamin S. Bloom (1913-1999), que hierarquiza os objetivos educacionais e
busca uniformizar a linguagem dos educadores para que cada símbolo atribuído aos alunos
tenha o mesmo significado (BARRIGA, 2003; ARREDONDO, DIAGO, 2009).
Percebemos, assim, que a época do realismo foi importante para o campo avaliativo,
sendo caracterizada pelo aparecimento de novas teorias, métodos, incorporação de elementos
de outras disciplinas e na transformação do conceito de avaliação. Em especial, os estudos de
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