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Avaliação Educacional: formas de uso na prática pedagógica

Sirley Leite Freitas*


Michele Gomes Noé da Costa**
Flavine Assis de Miranda***

Resumo

Neste artigo discutiremos sobre abordagens avaliativas. Apresenta conceitos


relacionados à avaliação diagnóstica, formativa e somativa, de acordo com autores
diversos. Analisa as abordagens de avaliação em seu aspecto tradicional no qual a
avaliação é usada para fins de controle punitivo e social. Também apresenta a visão de
mediação da aprendizagem em um processo contínuo de ação‐reflexão‐ação em relação
à prática pedagógica. Finalmente, propõe‐se superar a visão classificatória e punitiva da
avaliação como uma medida para a classificação do conhecimento e da exclusão social.
Palavras‐chave: Abordagens avaliativas. Prática pedagógica. Exclusão Social.

Introdução

O tema avaliação é por si só complexo, pois quando em debate, logo o conecta a


escola, provas, indicadores de desempenho e outros temas polêmicos que permeiam o
universo educacional. Porém, o termo avaliação é algo que vai muito além do universo
da educação sendo parte da própria condição humana. A avaliação pode ser tratada por
diferentes dimensões, e pode ser usada em vários níveis do sistema educacional, de
diversas formas e finalidades.
Numa visão lato senso a avaliação pode ser classificada como avaliação informal e
como avaliação formal, sendo a informal uma expressão da ação trivial e instintiva do
ser humano, e a formal uma ação sistemática na busca da compreensão do processo de
desenvolvimento de atividades, fatos e conhecimentos previamente estabelecidos
(BELLONI, MAGALHÃES, SOUSA, 2001).

*
Mestranda em Educação Escolar, Universidade Federal de Rondônia-UNIR. E-mail: sirleitefreitas@gmail.com
**
Mestranda em Educação Escolar, Universidade Federal de Rondônia-UNIR. E-mail: michele.noe@ifor.edu.br.
***
Doutora em Educação Escolar, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho; Professora Adjunta, Universidade
Federal de Rondônia-UNIR. E-mail: flavinea@hotmail.com.
86 Sirley Leite Freitas, Michele Gomes Noé da Costa e Flavine Assis de Miranda

A avaliação também pode ser disposta em vários níveis como: internacional,


nacional, institucional, curricular e de sala de aula.
Em nível internacional procura estabelecer um padrão que possa nortear diretrizes
e metas para os sistemas educacionais em diferentes países. A avaliação em nível
nacional procura examinar a qualidade de ensino de um país para fixar padrões e
normas gerais para o sistema de ensino. Já a avaliação institucional é direcionada as
instituições de ensino e propõem verificar o desenvolvimento de todos os componentes
do processo educacional, que vão desde o currículo, desempenho de professores,
materiais didáticos, infraestrutura, até os recursos econômicos e cursos de formação. A
avaliação curricular procura examinar o próprio currículo, e em sala de aula a avaliação
é aquela que se aproxima do aluno para nortear seu processo de aprendizagem
(CARMINATTI, BORGES, 2012).
Assim a avaliação deve ser entendida num contexto amplo servindo em cada nível
ao seu preceito. Entretanto, neste artigo o foco é refletir sobre a avaliação educacional
concentrada na avaliação da aprendizagem, seus tipos, sua função e seu uso na prática
pedagógica.

1. Tipos de Avaliação

Compreender os tipos e as diferentes concepções de avaliação é algo que se torna


relevante devido à complexidade do tema. Uma vez que, o ato de avaliar consiste em
emitir valor sobre algo, julgar, assunto, objeto ou pessoa.
A avaliação educacional voltada para o processo de ensino se propõe a avaliar
continuamente a aprendizagem, atribuindo valores em escalas relacionadas aos
aspectos quantitativos e qualitativos. Sendo assim, a avaliação tem como finalidade se
reportar aos objetivos que foram traçados logo ao início da etapa, no planejamento do
ensino. A intenção é que estas, no seu decorrer, não estejam dissociadas do que foi
pretendido, interligado assim a sua finalidade inicial.
Luckesi (2011) afirma que para saber avaliar é preciso conhecer os conceitos
teóricos sobre avaliação e o mais importante aprender a prática da avaliação, pois para
saber conceitos teóricos é só buscar as fontes e estudar, mas a prática é algo mais

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complexo. Passar da teoria para a prática requer experimento, análise, compreensão e


acima de tudo a busca de novas formas do saber fazer.
Nesse sentido torna‐se relevante conceituar os tipos de avaliação, assim como suas
formas de uso, para pode compreender e refletir sobre seu conceito e também sobre
como avaliar na prática pedagógica.
Bloom e outros autores (1983) classificaram a avaliação em três tipos, sendo eles:
avaliação diagnóstica; avaliação formativa e avaliação somativa.
Haydt (2008) na mesma linha de Bloom nos apresenta alguns conceitos sobre os
tipos de avaliação, classificando a avaliação diagnóstica como aquela que deverá ser
realizada ao início do curso, semestre, ano letivo ou unidade, contribui para a
identificação prévia da turma, para um momento de tomada de decisão e para possíveis
modificações no plano de ensino inicial.
Desse modo, a avaliação diagnóstica visa verificar a existência, ou ausência, de
habilidades e conhecimentos pré‐estabelecidos, esta é uma ação que inicia o
processo avaliativo e verifica se os alunos dominam os pré‐requisitos necessários
para novas aprendizagens.
A avaliação formativa é realizada ao longo do processo, é contínua, e dá parâmetros
ao professor para verificar se os objetivos foram alcançados, podendo interferir no que
pode estar comprometendo a aprendizagem.
Assim, por meio da avaliação formativa é possível constatar se os objetivos
estabelecidos foram atingidos pelos alunos, como também levantar dados para que o
professor possa realizar um trabalho de recuperação e aperfeiçoar seus procedimentos
(HAYDT, 2008).
A avaliação somativa visa classificar os resultados da aprendizagem alcançados
pelos alunos ao final do processo tendo a função de classificar o aluno e quantificar este
processo avaliativo (HAYDT, 2008).
Cada um dos tipos de avaliação tem uma função específica que pode ser usado em
diferentes momentos do processo avaliativo. Suas funções dependem da forma de uso e
dos objetivos que se busca atingir.

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2. Formas de Uso da Avaliação: visão tradicional

A prática avaliativa se funda no contexto escolar e ainda hoje em muitas escolas


suas formas de uso se baseiam em concepções pedagógicas tradicionais. Dentro de uma
visão tradicional a avaliação é usada como instrumento de controle, de medida, de
comparação e de classificação.
Segundo Libâneo (1994) a prática da avaliação utilizada nas escolas, em sua maioria,
está reduzida a uma função de controle mensurado num resultado quantitativo obtido
por meio de provas.
Nessa visão tradicional o professor restringe a avaliação a um instrumento de
controle que é utilizado para medir os conteúdos memorizados pelo aluno. Assim, a
prática avaliativa toma contornos de uma prática que reproduz um sistema pré‐
estabelecido onde o professor e a escola exercem um papel de autoridade do saber e o
aluno um mero receptor de conteúdos.
Outro fator relevante utilizado pela escola é a instauração do medo. O medo é uma
variante decisiva para o controle disciplinar e social. Para implantar uma onda de medo
se usa o instrumento castigo e esse vem por meio da ameaça, que nesse caso, é usado
para controlar a situação. A avaliação em nossas escolas tem sido usada com esse
intuito. Quando a prova é usada como meio de intimidação, aos educandos, esse
instrumento pede sua função no processo avaliativo e passa a ser um instrumento de
controle social, punitivo e disciplinador (LUCKESI, 2011).
Num processo avaliativo tradicional a avaliação é comumente usada como forma de
classificação, comparação, punição e de controle social.
Na avaliação usada numa concepção classificatória, a qualidade refere‐se a padrões
preestabelecidos, em bases comparativas: critérios de promoção, gabaritos de respostas
às tarefas, padrões de comportamento ideal.

Frequentemente a avaliação feita pelo professor se fundamenta na


fragmentação do processo ensino/aprendizagem e na classificação das
respostas de seus alunos e alunas, a partir de um padrão
predeterminado [...] a avaliação escolar, nesta perspectiva excludente,
silencia as pessoas, suas culturas e seus processos de construção de
conhecimentos; desvalorizando saberes fortalece a hierarquia que está
posta, contribuindo para que diversos saberes sejam apagados,
percam sua existência e se confirmem como a ausência de
conhecimento (ESTEBAN, 2001, p. 16 ‐ 17).

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Como pode ser percebido ao utilizar a avaliação com a função de medir ou


classificar, perde‐se o princípio básico de sua função, causando uma forma de
“descontinuidade, de fragmentação, de segmentação, ou seja, de parcelarização do
conhecimento” (CARMINATTI; BORGES, 2012, p. 171).
Conforme Moretto (2010) a avaliação no modelo classificatório, é isolada do processo
de ensino e surge como um recorte da aprendizagem. Neste tipo, a avaliação é
categorizada como controle das condutas, atua de forma excludente, no qual os que não
sabem são colocados para fora. O erro neste caso é associado a fracasso, e o instrumento
prova, é utilizado pelo professor como um momento para “acerto de contas”.
A avaliação a serviço da aprendizagem tem o ensino como processual, dinâmico, e
constante, o controle neste modelo é utilizado para atuação na dinâmica do processo. É
includente, pois aceita a situação posta e trabalha para a superação, acolhe a situação
tal qual se apresenta, a aprendizagem é um processo de conquista, e a prova um
momento privilegiado de estudos. A prova como instrumento de avaliação, pode e deve
ser utilizada, para que o aluno faça deste momento, construção de conhecimento.
A escola muitas vezes é cruel quando todos fundam suas atenções na promoção, ou
reprovação do aluno. O sistema quer resultados quantitativos positivos, os pais querem
a aprovação, os professores na busca de resultados ameaçam com a prova e os alunos
pensam apenas na nota que precisam para serem aprovados. A aprendizagem e o
processo avaliativo são colocados em segundo plano, pois o que realmente interessa,
nesse caso, é aprovar o maior número de educandos possível (LUCKESI, 2011).
A avaliação também é usada como forma de punição e hierarquização. Todavia,
quando usada como um meio de punição ou como uma via excludente, ela se torna um
instrumento de controle e de reprodução. É possível compreender essa problemática da
avaliação como punição ou sistema de medida quando se percebe que tais fatores são
heranças históricas que se iniciam na formação dos professores e se perpetuam na
reprodução destes quando se tornam docentes (CARMINATTI, BORGES, 2012). O
professor avalia segundo foi avaliado, inspirando‐se em seus professores ao longo de
sua escolaridade, e desta forma, a avaliação se mantem como a repetição de um
modelo decadente.

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Ao estabelecer a avaliação como um instrumento de exclusão, também se


estabelece um sistema de controle social, em que só tem acesso a determinados
privilégios os que se adequarem ao sistema definido por aqueles que detêm o poder de
ditar o que é ensinado e o que cobrado.

É possível compreender que os fatores associados ao controle se


estenderam de tal forma à educação que seus dispositivos tornaram‐se
indissociáveis a toda prática pedagógica. Instituem‐se, então, valores,
normas, hierarquias, poderes que ao longo dos tempos foram
alterando suas performances, mas ao mesmo tempo enraizaram‐se nos
terrenos férteis da educação, fortificando segundo controversos
interesses educativos, sociais e políticos de cada época. Tal trajetória
tem incidências reais no processo avaliativo instaurado a partir dessa
organização escolar administrativa e pedagógica, cujas consequências
também estão presentes no paradigma educacional contemporâneo
(CARMINATTI, BORGES, 2012, p. 163).

A avaliação, na prática tem sido usada muita mais como uma forma de mensuração
e punição do que como instrumento de auxílio na transformação da educação. Desse
modo avaliação classificatória nega a dinâmica do processo de conhecimento ao ter um
fim em si mesma.
Como já mencionado os resquícios de uma avaliação tradicional estão presentes de
forma muita expressiva nas escolas brasileiras onde a prova ainda é o principal meio de
coleta de dados no processo avaliativo. Isso quando não é o único instrumento utilizado
para esse fim.
A avaliação tradicional foi utilizada durante praticamente todo processo educativo e
na maior parte da história da avaliação tem sua representação em duas linhas
primordiais: a avaliação classificatória e avaliação punitiva.
A avaliação classificatória, aplicada para constatar se o ensino foi transmitido. Aqui
a avaliação é utilizada como um instrumento rígido, verificando se o aluno memorizou o
que foi ensinado. Em bases comparativas aplica‐se como critérios de promoção,
gabaritos de respostas às tarefas e padrões de comportamento ideal. Existe a
necessidade de politização do educador quanto ao conceito de avaliação, pois um
processo que se destina apenas a classificar, selecionar, medir, julgar e excluir
desconsidera o papel original que é ensinar, Carmo (2003) ao tratar de avaliação
classificatória destaca que “a questão não tem sido a de intervir para qualificar, mas a
de rotular para excluir”.

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A avaliação punitiva é usada como controle social e hierarquização. Nesse tipo, a


avaliação é instrumento para amedrontar, e nos quais os erros são enfatizados, pois é
uma avaliação direcionada a punir.
Quanto ao modelo de avaliação excludente, Luckesi apresenta que:

A avaliação da aprendizagem não é e não pode continuar sendo a


tirana da prática educativa, que ameaça e submete a todos. Chega de
confundir avaliação da aprendizagem com exames. A avaliação da
aprendizagem, por ser avaliação, é amorosa, inclusiva, dinâmica e
construtiva, diversa dos exames, que não são amorosos, são
excludentes, não são construtivos, mas classificatórios. A avaliação
inclui, traz para dentro; os exames selecionam, excluem, marginalizam
(2000, p.17).

A defesa de uma avaliação inclusiva considera principalmente o fim maior de


qualquer prática educativa, o ensino emancipador, participativo, a aprendizagem
valorizada e condizente com os objetivos estipulados, assim, a avaliação é vista como
uma visão política de atuação, que propõe e atua para ser inclusiva.

3. Formas de Uso da Avaliação: avaliação numa visão mediadora da aprendizagem

Em contraposição a concepção tradicional da avaliação surge uma concepção de


avaliação como mediadora da aprendizagem. A avaliação aqui é vista como um processo.
É necessário compreender que a verificação é um ato que tem um fim em si
mesmo, já a avaliação deve direcionar uma nova ação. (LUCKESI, 2011). Destarte, deve‐
se sempre buscar novos caminhos para se alcançar a melhoria na qualidade do ensino.
As novas concepções de aprendizagem sugerem proposições na busca de novos
conhecimentos. Desta forma a visão do avaliador deve ir além da observação, mas também
deve intervir na situação de forma a contribuir como o desenvolvimento do educando. A
avaliação entre outros contribui para que professor e aluno reflitam sobre os objetivos
alcançados, enfatizando medidas a serem adotadas para a superação das dificuldades.
Nesse sentido, a avaliação está ligada a própria ação humana, que por meio da
reflexão busca soluções para os erros cometidos e elabora uma nova ação. Assim, ela
serve de auxilio a várias ciências e as atividades cotidianas sociais na construção de
conhecimentos (CARMINATTI, BORGES, 2012).

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De tal modo,

A avaliação é uma tarefa complexa que não se resume à realização de


provas e atribuição de notas. A mensuração apenas proporciona dados
que devem ser submetidos a uma apreciação qualitativa. A avaliação,
assim, cumpre funções pedagógico‐didáticas, de diagnóstico e de
controle em relação às quais se recorre a instrumentos de verificação
do rendimento escolar (LIBÂNEO, 1994, p. 195).

Segundo Luckesi (2011, p. 64). “o ato de avaliar dedica‐se a desvendar impasses e


buscar soluções”. O autor ressalta que a avaliação por si mesma, sem uma ação
intencional, torna‐se vazia. Nesse sentido, a avaliação é o ponto inicial e contínuo para a
tomada de decisão. Aliás, em avaliação, diagnóstico e decisão caminham juntas e
interdependentes, a primeira para conhecer e o outro para atuar em prol do objeto
avaliado. A avaliação, assim, é uma compilação de ações e intenções de ensino.
Numa dimensão mais ampla pode se compreender a grande complexidade que
permeiam o tema avaliação, e também é possível entender que a avaliação é um
processo contínuo e que abarca todo processo de ensino‐aprendizagem. Portanto, o
processo avaliativo não pode ser compreendido e nem usado de forma isolada
(CARMINATTI, BORGES, 2012).
Dessa forma, não basta para a escola criar mecanismos de controle
que se limitem à construção de avaliações que apresentam dados
referentes ao quanto os alunos aprenderam individualmente, ou que
consigam expressar como a instituição está conseguindo efetivar sua
função (SOUZA, DITTRICH, 2012, p. 31).

Seja qual for o conceito usado o tema avaliação é problemático. As teorias relativas
à avaliação avançaram bastante, mas a prática avaliativa ainda está impregnada de
resquícios de uma avaliação mensuradora e coercitiva. Assim sendo, o grande problema
da educação é o de superar os erros e práticas do passado ressignificando e construindo
um novo conceito e prática de avaliação (CARMINATTI, BORGES, 2012).
A avaliação deve ser entendida como processo, como meio e não como fim.
Não se pode conceber a avaliação fora de um contexto e nessa perspectiva a
avaliação deve ser mediadora.
Na perspectiva de uma avaliação mediadora, é possível desenvolver
uma proximidade e intimidade maior com o processo ensino‐
aprendizagem, transformando a ação avaliativa em um momento de
ação da aprendizagem e ainda em um momento de ação‐reflexão‐ação
que apoiará futuras intervenções no que diz respeito ao currículo e
seus desdobramentos no projeto político pedagógico de um curso
(CARMINATTI, BORGES, 2012, p. 174).

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Entretanto, implantar a avaliação mediadora exige um esforço conjunto em que o


diálogo e a reflexão são indispensáveis. A avaliação pode oferecer subsídios para a ação‐
reflexão‐ação transformando as práticas pedagógicas e consequentemente a educação.
“Quando almejamos a efetiva mudança da avaliação, entendemos também que esta
mudança exige a revisão das concepções de aprendizagem e das práticas de ensino”
(VASCONCELLOS, 2013, p. 145).
Para que se possa efetuar qualquer mudança na educação, o professor é peça chave
nesse contexto, mas para que o professor possa desenvolver uma avaliação mediadora,
a formação continuada é imprescindível. “A ideia é, então, “cuidar do professor”,
literalmente, contanto que ele possa cuidar do estudante, pois “ser professor” é cuidar
que o aluno aprenda” (DEMO, 2012, p. 8).

“Podemos pensar na avaliação mediadora como um processo de


permanente troca de mensagens e de significados, um processo
interativo, dialógico, espaço de encontro e de confronto de ideias
entre educador e educando em busca de patamares qualitativamente
superiores de saber”. (HOFFMANN, 2009, p. 76).

Segundo Hoffmann (2009) a avaliação mediadora se desenvolve em benefício ao

educando e dá‐se fundamentalmente pela proximidade entre quem educa e quem é

educado. É a busca de mudanças, no qual há uma constante ação – reflexão – ação.

Deste modo o professor passa a ser um investigador que reflete sobre a própria

prática pedagógica e sobre o desenvolvimento de seu educando e partindo dessa

reflexão recria alternativas pedagógicas que melhor sirvam para orientar o educando na

construção de seu saber.


A avaliação não deve ser construída isoladamente do processo de
aprendizagem e, ainda mais, ela deve oportunizar um momento de
aprendizagem desconstruindo os mitos que historicamente foram
acumulados pela sociedade escolar. Ou seja, a avaliação não deve ser
percebida como um apêndice do processo de ensino‐aprendizagem,
como algo que tem algum contato com o processo, mas cuja função
ainda não se sabe ao certo. Ela deve ser entendida e utilizada de
maneira a estar apropriada pelo processo, como algo integrado, do qual
se sabe o verdadeiro propósito (CARMINATTI, BORGES, 2012, p. 174).

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O processo avaliativo mediador se destina a acompanhar, entender e favorecer a

contínua progressão do aluno em todas as etapas. Assim, “a dinâmica da avaliação é

complexa, pois necessita ajustar‐se aos percursos individuais de aprendizagem que se dão

no coletivo e, portanto, em múltiplas e diferenciadas direções” (HOFFMANN, 2009, p. 78).

A avaliação como processo não se limita a aplicação de prova todo dia, mas sim um

acompanhamento contínuo do professor em relação ao rendimento, desenvolvimento e

apropriação do conhecimento do aluno, em uma ação conjunta no qual se mostram e

contribuem para o progresso na aprendizagem.

Vasconcellos (2013, p. 142) afirma que “Ensinar é preciso. Classificar não é preciso”.

Muito mais que uma visão classificatória da avaliação sua finalidade deve ser de

mobilizar e direcionar novos rumos na resolução de situações problemas.

O processo avaliativo não pode ser delimitado em etapas, com começo meio e fim,

tendo em vista que essa deve ser um processo dialético contínuo e analisado como um

todo. Portanto, “todo o trabalho pedagógico direciona‐se á busca de novos

conhecimentos [...] mediar a experiência educativa significa acompanhar o aluno em

ação‐reflexão‐ação” (HOFFMANN, 2009, p. 91‐ 92).

Toda intervenção docente gera tanto no aluno como no professor uma

compreensão diferente, destarte, é preciso que ambos façam uma reflexão sobre as

novas descobertas e reflitam sobre os novos passos.

O desafio de mudança da prática pedagógica é sempre algo penoso, pois exige uma

mudança de postura e muitas vezes de concepções pedagógicas arraigadas em nossa

práxis. “A mudança da concepção e da prática não se dará nos isolando do cotidiano


para dedicarmo‐nos exclusivamente ao estudo, ou deixando de lado as teorias e

mergulhando de cabeça na prática; estes caminhos são equivocados por romperem a

unidade dialética entre ação e reflexão” (VASCONCELLOS, 2013, p. 25).

Segundo Hoffmann (2009) estudiosos contemporâneos como Demo, Luckesi,

Perrenoud, Vasconcellos e outros se demonstram preocupados em transpor essa visão

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positivista classificatória da avaliação para então implantar uma visão num sentido

ético, estético, consciente das diferenças e comprometido com a formação do cidadão.

O Sistema educacional, escola, professores, pais e alunos precisam compreender

que a mudança de postura nas práticas avaliativas é algo necessário quando se busca

uma melhor qualidade na educação. Nesse caso, o papel do avaliador não é mensurar o

sucesso, ou o fracasso do educando, mais sim auxiliá‐lo no desenvolvimento do seu

processo de aprendizagem.

Conclusão

Como pode ser observado, mesmo que o tema avaliação seja tratado por diferentes

abordagens, esses se fundem em um só contexto, determinando a grandeza do tema

avaliação, seja ela analisada sob o enfoque da sala de aula ou analisada como meio de

nortear o sistema educacional. É evidente a complexidade que traz em si o tema

avaliação. Todavia, também é notória sua importância para que se alcance uma

educação de qualidade.

A avaliação se faz presente em todos os momentos da vida e em sociedade,

avaliar é ato de julgar, de analisar, conceituar e classificar, mas principalmente é

através da avaliação que se toma decisões. Contribui para a melhora da prática


pedagógica potencializando a busca de soluções de problemas. Ao se discutir a
avaliação ressalta‐se a importância da reflexão sobre a prática pedagógica na

reestruturação do ensino e consequentemente ao se refletir sobre a prática

pedagógica se constrói um novo conhecimento.

A construção de novos conhecimentos é algo que deve ser constante na vida

profissional de um professor. Mas manter‐se atualizado e em permanente formação não

é fácil, todavia, é necessário, pois para refletir sobre a própria prática pedagógica e

buscar as mudanças necessárias na construção do processo avaliativo, é preciso ir em

busca de novas competências e habilidades que serão adquiridas com estudos, troca de

experiências e a prática.

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É evidente que não existe uma receita pronta para o processo avaliativo, mas

avaliar é antes de tudo um ato de investigação, de reflexão, de intervenção e de

interação em que cada sujeito envolvido deve desenvolver da melhor forma possível

o seu papel, visando, o que lhes é primordial, uma aprendizagem significativa,

consistente e autônoma.

Referências

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avaliação em políticas públicas: uma experiência em educação profissional. 2. ed. São
Paulo: Cortez, 2001.

BLOOM, Benjamim S. et. al. Manual de avaliação formativa e somativa do aprendizado


escolar. São Paulo: Livraria Pioneira Editora, 1983.

CARMO, Josué Geraldo Botura do. Avaliação Classificatória X Avaliação Progressiva.


Maio/2003. Disponível em http://www.educacaoliteratura.com/index%2098.htm.
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http://www.fcc.org.br/pesquisa/publicacoes/eae/arquivos/1734/1734.pdf. Acesso em:
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Ano 3, n. 12 fev./abr. 2000. Disponível em
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VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Avaliação da aprendizagem: Práticas de mudança –


por uma práxis transformadora. 13. ed. São Paulo: Libertad, 2013.

Recebido em: 01/08/2014

Aceito para publicação em: 10/09/2014

Educational Evaluation: forms for use in pedagogical


practice

Abstract

In this article we discuss some evaluation approaches. It presents concepts related to


diagnostic, formative and summative evaluation according to several authors. It reviews the
traditional approach in which evaluation is used
with punitive and social control purposes. It also presents the mediating view of learning in
a continuous process of action‐reflection‐action in relation to the pedagogical practice.
Finally, it proposes to overcome the classificatory and punitive view of evaluation as a
measure for classification of knowledge and social exclusion.
Keywords: Evaluation approaches. Pedagogical practice. Social exclusion.

Sistema de Enseñanza Integral: uno estudio evaluativo

Resumen

En este artículo se discuten algunos enfoques de evaluación. Presenta conceptos


relacionados con la evaluación diagnóstica, formativa y sumativa de acuerdo a varios
autores. Se revisa el enfoque tradicional en el que se utilice la evaluación con fines de
control punitivas y sociales. También se presenta la vista de mediación del aprendizaje en
un proceso continuo de acción‐reflexión‐acción en relación con la práctica pedagógica.

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Por último, se propone superar la vista clasificatorio y punitivo de la evaluación como una
medida para la clasificación de los conocimientos y la exclusión social.
Palabras clave: Métodos de evaluación. La práctica pedagógica. La exclusión social.

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