Você está na página 1de 1

Lapidando Talentos

Evaristo Marzabal Neves


Outubro 2002
Na missão de educador/orientador acredito que venho tendo mais acertos do que erros. Os acertos
vão na direção de lapidar talentos. De que forma?
Cada orientado é um universo diferente; desta forma, não existe uma única receita. Como pedra
bruta não se faz a lapidação em um dia; são necessários dias, meses e, às vezes, anos.
De saida, nos primeiros contatos, é importante ouvi-lo, captando suas sensações e expectativas, suas
virtudes e defeitos (isto é difícil, mas vamos lá!), o que realmente ele é e como se sente. É estabelecido
um clima de confiança e credibilidade. Como norma, com o tempo passando, evita-se azucriná-lo,
ressaltando seus defeitos, pois isto é extremamente prejudicial. O orientado fica com raiva e aí é que
a coisa emperra. Desiste. Aliás, sob minha ótica, posso estar vendo como defeito aquilo que meu
orientado não enxerga como tal, pois meu quadro de referência é outro. Antes, tento valorizar e
edificar suas virtudes na crença de que, no seu crescimento, ele diminuirá seus defeitos.
Um passo seguinte é definir sua(s) vocação(ões) e estabelecer motivação(ões) e possíveis recompensas
no aprendizado daquilo que ele gosta e lhe é prazeroso. Por quê? Porque não adianta você trabalhar
e estimular alguém com 2,15 metros de altura, lento e pesadão, para ser ala em basquete, se sua
aptidão é para ser pivô; ou outro, com 1,65m de altura, para ser cortador em volley, quando sua
estatura recomenda ser um levantador. Ele, também, precisa aprender de que não pode querer ser
aquilo que não pode ser e que não mostra aptidão. Pode sonhar em ser, mas não tem aptidão nem
habilidade para tal. Como agir? Primeiro, é preciso detectar sua(s) aptidão(ões) que é (são)
habilidade(s) em potencial, para depois criar motivações e condições para trabalhar suas habilidades,
que são aptidões que se desenvolvem. Caso contrário, incentivá-lo ao que causa desprazer e desgosto
e estimulá-lo àquilo que não pode ser, têm efeitos negativos. Não insista, é perda de tempo. “Nunca
ensine um porco a assobiar. Primeiro que não vai conseguir, e segundo, que vai deixá-lo irritado”.
Por quê é importante começar a lapidar o talento no início do curso universitário? Porque vai sendo
treinado e vai absorvendo aquilo de que gosta, que massageia seu ego e que valoriza sua auto-estima.
Sobram-lhe motivação e prazer. Uma vez motivado, ninguém o segura. Vem atropelando.
Neste momento, coloco para o orientado, para sua reflexão, frases como: “Ninguém é tão bom que
não possa melhorar, nem tão ruim que não possa ficar bom” (L. Navarro), lembrando, ainda, que “O
ser humano é o único que pode mudar sua história, pois tem inteligência e criatividade. Basta
acrescentar a motivação” (I. Tiba). E têm efeito, encontra eco. Experimente.
Mais tarde, já no mercado de trabalho, irá compreender que as empresas/organizações estão
interessadas em pessoas que tenham atitude, conscientes de suas competências e habilidades, capazes
de reconhecer seus pontos de maior brilho (vocações) e extrair deles o melhor.
Segundo M.P. Sampaio é preciso compreender que “em alguma medida, todos somos talentosos. O
que difere é esta medida, e as oportunidades que surgem para o desenvolvimento do talento. A
escolha da carreira é feita muito precocemente. É necessário ser bem orientado para desenvolver
seus talentos naquilo que você gosta. Dificilmente terá êxito o profissional infeliz com seu trabalho,
que não está utilizando suas competências. Porque o sucesso está relacionado ao prazer (que o mestre
deve ajudar a viver e desenvolver alimentando e motivando a curiosidade do aluno para o treinamento e
conhecimento - grifo nosso) que pressupõe envolvimento e comprometimento da alma. A pessoa tem
que estar consciente de suas habilidades especiais e aprimorá-las”.
“Creio que, como na escultura, há um limite. Uma pedra bruta traz em si mesma a essência, a
vocação, e já tem um talento embutido. O esmeril, a grosa e a lixa podem trabalhá-la, mas até um
limite. Se não for um diamante, de nada adiantará lapidá-lo a exaustão, porque nunca irá brilhar
como tal. Um rubi fazendo o papel de brilhante é desastroso e vice-versa. Isto porque não cumpre o
seu destino, que é ser vermelho e reluzir como rubi”.
Para se realizar, as pessoas também precisam cumprir seu destino, e a grande dificuldade é
identificá-lo. Um navio no deserto não afunda, mas também renuncia a seu destino, que é ganhar os
mares. Fica parado, estacionado, sem deixar fluir seu potencial. É preciso atender ao chamado. A
carreira não deve ser uma resposta a um ouvido externo, mas a um desejo intrínseco. Só evolui quem
busca o autoconhecimento, tem autocrítica e desenvolve a capacidade de receber feedback. E, acima
de tudo, quem vincula prazer àquilo que faz”.

Você também pode gostar