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Secretaria de Fazenda do Estado de Minas Gerais

SEFAZ-MG
Auditor Fiscal

NV-003JL-22
Cód.: 7908428802592
Obra

SEFAZ - MG - Secretaria de Fazenda do Estado de Minas Gerais


Auditor Fiscal

Autores

LÍNGUA PORTUGUESA • Monalisa Costa, Ana Cátia Collares, Giselli Neves e Isabella Ramiro

RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO • Sérgio Mendes e Kairton Batista (Prof. Kaká)

DIREITO ADMINISTRATIVO E LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA (ON-LINE) • Aline Costa, Fernando Paternostro


Zantedeschi, Kamila Gomes e Marília Cunha

LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA • Jonatas Albino

DIREITO CONSTITUCIONAL • Ana Philippini, Giovana Marques e Samara Kich

DIREITOS HUMANOS • Aline Borges e Camila Cury

DIREITO CIVIL I • Ana Carolina Silva Severino, Felipe Garcia e Eduardo Gigante

DIREITO EMPRESARIAL I • Andréia Lina

DIREITO PENAL • Renato Philippini e Rodrigo Gonçalves

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 • Ana Philippini e Bia Nogueira

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL NO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL • Andreia Lina e André Fantoni

CONTABILIDADE GERAL (ON-LINE) • Danielle Guimarães, Elaine dos Anjos e Vinicius Nascimento

ECONOMIA • Jean Talvani

MATEMÁTICA FINANCEIRA • Danielle Guimarães e Kairton Batista (Prof. Kaká)

ISBN: 978-65-87525-67-9

Edição: Julho/2022

Todos os direitos autorais desta obra são reservados e protegidos


pela Lei nº 9.610, de 1998. É proibida a reprodução parcial ou total,
por qualquer meio, sem autorização prévia expressa por escrito da
editora Nova Concursos.

Esta obra é vendida sem a garantia de atualização futura. No caso Dúvidas


de atualizações voluntárias e erratas, serão disponibilizadas no site
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Retificações”, no rodapé da página, e siga as orientações. sac@novaconcursos.com.br
APRESENTAÇÃO
Um bom planejamento é determinante para a sua preparação
de sucesso na busca pela tão almejada aprovação. Por isso, pen-
sando no máximo aproveitamento de seus estudos, este livro foi
organizado de acordo com o Edital Concurso Público – 2022 para
o cargo de Auditor Fiscal da Secretaria de Estado de Fazenda de
Minas Gerais - SEFAZ-MG.

O conteúdo programático foi sistematizado em um sumário, faci-


litando a busca pelos temas do edital, no entanto, nem sempre
a banca organizadora do concurso dispõe os assuntos em uma
sequência lógica. Por isso, elaboramos este livro abordando os
principais itens do edital e reorganizando-os quando necessá-
rio, de uma maneira didática para que você realmente consiga
aprender e otimizar os seus estudos.

Ao longo da teoria, você encontrará boxes – Importante e Dica


– com orientações, macetes e conceitos fundamentais cobrados
nas provas, e seção Hora de Praticar, trazendo exercícios gabari-
tados da banca FGV, organizadora do certame.

A obra que você tem em suas mãos é resultado da competência


de nosso time editorial e da vasta experiência de nossos profes-
sores e autores parceiros – muitos também responsáveis pelas
aulas que você encontra em nossos Cursos Online – o que será
um diferencial na sua preparação. Nosso time faz tudo pensando
no seu sonho de ser aprovado em um concurso público. Agora é
com você!

Intensifique ainda mais a sua preparação acessando os conteú-


dos complementares disponíveis on-line para este livro em nos-
sa plataforma: Conteúdo de Direito Administrativo e Legislação
Específico e Contabilidade Geral disponível em pdf para download.
Para acessar, basta seguir as orientações na próxima página.
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line materiais especiais e exclusivos, selecionados e planejados de acordo com a proposta
deste livro. São conteúdos que tornam a sua preparação muito mais eficiente.

BÔNUS:

• Curso On-line.
à Língua Portuguesa: Interpretação e Compreensão de Textos
à Raciocínio Lógico-matemático: Tabela Verdade
à Direito Administrativo: Atributos do Ato Administrativo
à Direito Constitucional: Conceitos Iniciais dos Direitos e Garantias Fundamentais
à Sistema Tributário Nacional na Constituição Federal de 1988: Sistema Tributário
Nacional
à Contabilidade Geral: Demonstração do Resultado do Exercício

CONTEÚDO COMPLEMENTAR:

• Direito Administrativo e Legislação Específico – disponível em pdf para download


• Contabilidade Geral - disponível em pdf para download

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VERSO DA APOSTILA
SUMÁRIO

LÍNGUA PORTUGUESA....................................................................................................13
INTERPRETAÇÃO DE TEXTO: DECODIFICAÇÃO DOS DIVERSOS TIPOS DE MENSAGEM........... 13

COMPREENSÃO DE TEXTO: OBSERVAÇÃO DOS PROCESSOS QUE CONSTROEM OS SIGNIFICADOS


TEXTUAIS...........................................................................................................................................................13

A LINGUAGEM E A LÓGICA...............................................................................................................................15

AS ESTRUTURAS LINGUÍSTICAS NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE MENSAGENS


ADEQUADAS........................................................................................................................................ 15

A PRAGMÁTICA NA LINGUAGEM: O SIGNIFICADO CONTEXTUAL............................................... 19

A SEMÂNTICA VOCABULAR: ANTÔNIMOS, SINÔNIMOS, HOMÔNIMOS, PARÔNIMOS E


HETERÔNIMOS..................................................................................................................................................19

OS MODOS DE ORGANIZAÇÃO DISCURSIVA: A DESCRIÇÃO, A NARRAÇÃO, A EXPOSIÇÃO


INFORMATIVA E A EXPOSIÇÃO ARGUMENTATIVA........................................................................................21

A ORGANIZAÇÃO DAS FRASES NAS SITUAÇÕES COMUNICATIVAS: A COLABORAÇÃO E A


RELEVÂNCIA; OS ATOS DE FALA....................................................................................................... 24

A LINGUAGEM LÓGICA E A FIGURADA............................................................................................. 40

OS DIVERSOS NÍVEIS DE LINGUAGEM............................................................................................................40

OS TIPOS DE DISCURSO: DIRETO, INDIRETO E INDIRETO LIVRE .................................................. 41

AS FUNÇÕES DA LINGUAGEM........................................................................................................... 43

RACIOCÍNIO LÓGICO-MATEMÁTICO.........................................................................49
LÓGICA: PROPOSIÇÕES, CONECTIVOS, EQUIVALÊNCIAS LÓGICAS, QUANTIFICADORES E
PREDICADOS....................................................................................................................................... 49

CONJUNTOS E SUAS OPERAÇÕES, DIAGRAMAS........................................................................... 64

NÚMEROS INTEIROS, RACIONAIS E REAIS E SUAS OPERAÇÕES, PORCENTAGEM


E JUROS............................................................................................................................................... 69

PROPORCIONALIDADE DIRETA E INVERSA..................................................................................... 79

MEDIDAS DE COMPRIMENTO, ÁREA, VOLUME, MASSA E TEMPO............................................... 83

ESTRUTURA LÓGICA DE RELAÇÕES ARBITRÁRIA ENTRE PESSOAS, LUGARES, OBJETOS


OU EVENTOS FICTÍCIOS; DEDUÇÃO DE NOVAS INFORMAÇÕES DAQUELAS RELAÇÕES.......... 85
COMPREENSÃO E ANÁLISE DA LÓGICA DE UMA SITUAÇÃO, UTILIZANDO AS FUNÇÕES
INTELECTUAIS: RACIOCÍNIO VERBAL, RACIOCÍNIO MATEMÁTICO, RACIOCÍNIO
SEQUENCIAL, ORIENTAÇÃO ESPACIAL E TEMPORAL, FORMAÇÃO DE CONCEITOS,
DISCRIMINAÇÃO DE ELEMENTOS.................................................................................................... 87

COMPREENSÃO DE DADOS APRESENTADOS EM GRÁFICOS E TABELAS................................... 87

RACIOCÍNIO LÓGICO ENVOLVENDO PROBLEMAS ARITMÉTICOS, GEOMÉTRICOS E


MATRICIAIS......................................................................................................................................... 93

PROBLEMAS DE CONTAGEM E NOÇÕES DE PROBABILIDADE....................................................................121

GEOMETRIA BÁSICA: ÂNGULOS, TRIÂNGULOS, POLÍGONOS, DISTÂNCIAS,


PROPORCIONALIDADE, PERÍMETRO E ÁREA................................................................................126

NOÇÕES DE ESTATÍSTICA: MÉDIA, MODA, MEDIANA E DESVIO PADRÃO.................................136

PLANO CARTESIANO: SISTEMA DE COORDENADAS, DISTÂNCIA.............................................139

PROBLEMAS DE LÓGICA E RACIOCÍNIO........................................................................................140

LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA........................................................................................... 145


ESTATUTO DOS SERVIDORES PÚBLICOS DO ESTADO DE MINAS GERAIS:
LEI Nº 869, DE 1952 E ALTERAÇÕES POSTERIORES.....................................................................145

CÓDIGO DE ÉTICA PÚBLICA DO ESTADO DE MINAS GERAIS: DECRETO


Nº 46.644, DE 2014...........................................................................................................................154

DIREITO CONSTITUCIONAL....................................................................................... 159


CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988...........................................159

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS........................................................................................................................159

APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS: NORMAS DE EFICÁCIA PLENA, CONTIDA E


LIMITADA.........................................................................................................................................................162

NORMAS PROGRAMÁTICAS..........................................................................................................................163

DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS.....................................................................................163

DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS.......................................................................................163

DIREITOS SOCIAIS...........................................................................................................................................177

DIREITOS DE NACIONALIDADE......................................................................................................................184

DIREITOS POLÍTICOS......................................................................................................................................186

PARTIDOS POLÍTICOS.....................................................................................................................................188

ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO ESTADO.........................................................191


ESTADO FEDERAL BRASILEIRO, UNIÃO, ESTADOS, DISTRITO FEDERAL, MUNICÍPIOS
E TERRITÓRIOS................................................................................................................................................191

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.............................................................................................................199

DISPOSIÇÕES GERAIS.....................................................................................................................................199

SERVIDORES PÚBLICOS.................................................................................................................................208

PODERES DO ESTADO: NOÇÕES GERAIS.......................................................................................212

PODER EXECUTIVO.........................................................................................................................................212

PODER LEGISLATIVO......................................................................................................................................214

PODEER JUDICIÁRIO.......................................................................................................................................222

ORDEM ECONÔMICA E FINANCEIRA..............................................................................................226

PRINCÍPIOS GERAIS DA ATIVIDADE ECONÔMICA.......................................................................................226

DIREITOS HUMANOS..................................................................................................... 233


CONCEITO E FUNDAMENTAÇÃO.....................................................................................................233

DIREITOS HUMANOS E RESPONSABILIDADE DO ESTADO..........................................................235

DIREITOS HUMANOS NA CRFB, DE 1988.......................................................................................239

DIREITO CIVIL I................................................................................................................. 249


PESSOAS NATURAIS .......................................................................................................................249

CONCEITO E INÍCIO DA PESSOA NATURAL..................................................................................................249

PERSONALIDADE E CAPACIDADE..................................................................................................................250

DIREITOS DA PERSONALIDADE.....................................................................................................................255

DOMICÍLIO........................................................................................................................................................263

PESSOAS JURÍDICAS.......................................................................................................................265

DISPOSIÇÕES GERAIS, CONSTITUIÇÃO, EXTINÇÃO, SOCIEDADES DE FATO, ASSOCIAÇÕES E


FUNDAÇÕES.....................................................................................................................................................265

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA.................................................................................267

BENS IMÓVEIS, MÓVEIS E PÚBLICOS............................................................................................269

FATO JURÍDICO.................................................................................................................................273

NEGÓCIO JURÍDICO..........................................................................................................................274

DISPOSIÇÕES GERAIS.....................................................................................................................................274
DEFEITOS.........................................................................................................................................................278

INVALIDADE.....................................................................................................................................................282

ATOS ILÍCITOS...................................................................................................................................283

PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA: NOÇÕES GERAIS..........................................................................284

PROVA................................................................................................................................................286

OBRIGAÇÕES.....................................................................................................................................290

CARACTERÍSTICAS.........................................................................................................................................290

ADIMPLEMENTO PELO PAGAMENTO............................................................................................................291

INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES: DISPOSIÇÕES GERAIS E MORA...................................................294

CONTRATOS......................................................................................................................................295

PRINCÍPIOS, CONTRATOS EM GERAL, DISPOSIÇÕES GERAIS....................................................................295

RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA E SUBJETIVA...................................................................300

OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR E DANO MATERIAL..........................................................................................300

DIREITO EMPRESARIAL I............................................................................................. 309


EMPRESA E EMPRESÁRIO...............................................................................................................309

EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA........................................................................310

MICROEMPRESA E EMPRESA DE PEQUENO PORTE....................................................................................310

ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL..............................................................................................................311

DIREITO SOCIETÁRIO.......................................................................................................................313

SOCIEDADES EMPRESÁRIAS E SIMPLES......................................................................................................313

SOCIEDADES NÃO PERSONIFICADAS...........................................................................................................314

Sociedade em Comum................................................................................................................................... 314


Sociedade em Conta de Participação........................................................................................................... 315

SOCIEDADES PERSONIFICADAS....................................................................................................................316

SOCIEDADE LIMITADA....................................................................................................................................318

SOCIEDADES POR AÇÕES...............................................................................................................................323

Ações, Debêntures, Partes Beneficiárias, Administradores, Diretores, Assembleia Geral, Conselho


de Administração e Conselho Fiscal............................................................................................................. 323

TRANSFORMAÇÃO, FUSÃO, INCORPORAÇÃO E CISÃO...............................................................................334

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA.................................................................................336


RELAÇÕES ENTRE SOCIEDADES....................................................................................................................337

Controladoras, Controladas, Coligadas e Consórcios.................................................................................. 337

RESPONSABILIZAÇÃO OBJETIVA E SUBJETIVA DE PESSOA JURÍDICA...................................................337

DIREITO PENAL................................................................................................................ 345


APLICAÇÃO DA LEI PENAL..............................................................................................................345

PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE E DA ANTERIORIDADE..................................................................................345

LEI PENAL NO TEMPO.....................................................................................................................................345

TEMPO DO CRIME...........................................................................................................................................348

LEI PENAL NO ESPAÇO...................................................................................................................................349

LUGAR DO CRIME............................................................................................................................................350

CRIME.................................................................................................................................................351

CONCEITO E TEORIAS DO CRIME...................................................................................................................351

CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES.......................................................................................................................352

DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ........................................................................353

ARREPENDIMENTO POSTERIOR....................................................................................................................354

DOLO E CULPA.................................................................................................................................................354

PRESCRIÇÃO.....................................................................................................................................356

CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA.....................................................................................................359

FALSIDADE DE TÍTULOS E OUTROS PAPÉIS PÚBLICOS...............................................................................359

FALSIDADE DOCUMENTAL.............................................................................................................................360

FRAUDES EM CERTAMES DE INTERESSE PÚBLICO.....................................................................................365

CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA..........................................................................366

CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO E POR PARTICULAR CONTRA A


ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA............................................................................................................................366

LEI FEDERAL Nº 8.137, DE 1990 E SUAS ALTERAÇÕES (CRIMES CONTRA A ORDEM


TRIBUTÁRIA).....................................................................................................................................384

LEI FEDERAL Nº 10.028, DE 2000 (CRIMES CONTRA AS FINANÇAS PÚBLICAS)......................387


SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
DE 1988................................................................................................................................ 397
DOS PRINCÍPIOS GERAIS.................................................................................................................397

TRIBUTO E SUAS ESPÉCIES (IMPOSTOS, TAXAS, CONTRIBUIÇÕES DE MELHORIA,


EMPRÉSTIMOS COMPULSÓRIOS E CONTRIBUIÇÕES DIVERSAS).............................................399

DAS LIMITAÇÕES DO PODER DE TRIBUTAR..................................................................................405

DOS IMPOSTOS DA UNIÃO; DOS IMPOSTOS DOS ESTADOS E DO DISTRITO FEDERAL


E DOS IMPOSTOS DOS MUNICÍPIOS..............................................................................................407

DA REPARTIÇÃO DAS RECEITAS TRIBUTÁRIAS............................................................................410

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL NO CÓDIGO TRIBUTÁRIO


NACIONAL.......................................................................................................................... 423
TRIBUTO.............................................................................................................................................423

CONCEITO E ESPÉCIES (IMPOSTOS, TAXAS E CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA).......................................423

COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA...........................................................................................................426

LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA (CONSTITUIÇÃO, EMENDAS À CONSTITUIÇÃO, LEIS


COMPLEMENTARES, LEIS ORDINÁRIAS, MEDIDAS PROVISÓRIAS, LEIS DELEGADAS,
DECRETOS LEGISLATIVOS, RESOLUÇÕES DO SENADO FEDERAL, DECRETOS E NORMAS
COMPLEMENTARES)........................................................................................................................429

VIGÊNCIA.........................................................................................................................................................435

APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA..................................................................................................436

INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA..............................................................437

OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA................................................................................................................438

PRINCIPAL E ACESSÓRIA...............................................................................................................................438

HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA E FATO GERADOR DA OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA.............................................439

SUJEIÇÃO ATIVA E PASSIVA E CONTRIBUINTE............................................................................441

SOLIDARIEDADE..............................................................................................................................................442

CAPACIDADE TRIBUTÁRIA.............................................................................................................................443

DOMICÍLIO TRIBUTÁRIO.................................................................................................................................443

RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA.................................................................................................444

CONCEITO E SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA...................................................................................................444

RESPONSABILIDADES DOS SUCESSORES....................................................................................................445


RESPONSABILIDADE DE TERCEIROS.............................................................................................................446

RESPONSABILIDADES POR INFRAÇÕES.......................................................................................................447

CRÉDITO TRIBUTÁRIO......................................................................................................................448

CONCEITO........................................................................................................................................................448

CONSTITUIÇÃO...............................................................................................................................................448

LANÇAMENTO (MODALIDADES DE LANÇAMENTO)....................................................................................450

HIPÓTESE DE ALTERAÇÃO DO LANÇAMENTO)............................................................................................451

SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE E SUAS MODALIDADES............................................................................452

EXTINÇÃO E SUAS MODALIDADES................................................................................................................454

PAGAMENTO INDEVIDO..................................................................................................................................459

EXCLUSÃO E SUAS MODALIDADES...............................................................................................................460

GARANTIAS E PRIVILÉGIOS DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO...............................................................461

ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA.......................................................................................................463

CARACTERÍSTICAS, PRERROGATIVAS E FISCALIZAÇÃO...........................................................................463

DÍVIDA ATIVA...................................................................................................................................................466

CERTIDÕES NEGATIVAS.................................................................................................................................466

NOÇÕES DA FUNÇÃO SOCIAL DO TRIBUTO..................................................................................................467

ECONOMIA......................................................................................................................... 475
NOÇÕES DE ECONOMIA DO SETOR PÚBLICO...............................................................................475

EQUILÍBRIO COMPETITIVO E EFICIÊNCIA ECONÔMICA..............................................................................475

O Conceito de Ótimo de Pareto..................................................................................................................... 475

NOÇÕES SOBRE TEOREMAS DE BEM-ESTAR................................................................................476

INCIDÊNCIA DE IMPOSTOS E SUBSÍDIOS......................................................................................477

BENS PÚBLICOS................................................................................................................................479

EXTERNALIDADES............................................................................................................................480

MATEMÁTICA FINANCEIRA....................................................................................... 485


JUROS SIMPLES, JUROS COMPOSTOS E MONTANTE.................................................................485

JUROS SIMPLES..............................................................................................................................................485
JUROS COMPOSTOS.......................................................................................................................................486

MONTANTE......................................................................................................................................................487

TAXA REAL E TAXA EFETIVA..........................................................................................................................488

TAXAS EQUIVALENTES...................................................................................................................................489

CAPITAIS EQUIVALENTES — CAPITALIZAÇÃO CONTÍNUA.........................................................489

DESCONTOS: SIMPLES E COMPOSTO ...........................................................................................491

DESCONTO RACIONAL E DESCONTO COMERCIAL......................................................................................491

AMORTIZAÇÕES...............................................................................................................................497

SISTEMA FRANCÊS (TABELA PRICE)............................................................................................................497

SISTEMA DE AMORTIZAÇÃO CONSTANTE (SAC)........................................................................................498

SISTEMA DE AMORTIZAÇÃO MISTO (SAM).................................................................................................499

FLUXO DE CAIXA...............................................................................................................................499

VALOR ATUAL ...................................................................................................................................500

TAXA INTERNA DE RETORNO — TIR...............................................................................................501


COMPREENSÃO DE TEXTO: OBSERVAÇÃO DOS
PROCESSOS QUE CONSTROEM OS SIGNIFICADOS
TEXTUAIS

Inferência: Estratégias de Interpretação


LÍNGUA PORTUGUESA A inferência é uma relação de sentido conhecida
desde a Grécia Antiga e que embasa as teorias sobre
interpretação de texto.

INTERPRETAÇÃO DE TEXTO: Dica


DECODIFICAÇÃO DOS DIVERSOS TIPOS
Interpretar é buscar ideias e pistas do autor do
DE MENSAGEM texto nas linhas apresentadas.
INTRODUÇÃO Apesar de, parecer algo subjetivo, existem “regras”
para se buscar essas pistas.
A interpretação e a compreensão textual são A primeira e mais importante delas é identificar a
aspectos essenciais a serem dominados por aque- orientação do pensamento do autor do texto, que fica
les candidatos que buscam a aprovação em seleções perceptível quando identificamos como o raciocínio
e concursos públicos. Trata-se de um assunto que dele foi exposto, se de maneira mais racional, a partir
abrange questões específicas e de conteúdo geral nas da análise de dados, informações com fontes confiáveis
provas; conhecer e dominar estratégias que facilitem ou se de maneira mais empirista, partindo dos efeitos,
a apreensão desse assunto pode ser o grande diferen- das consequências, a fim de se identificar as causas.
cial entre o quase e a aprovação. Por isso, é preciso compreender como podemos
Além disso, seja a compreensão textual, seja a interpretar um texto mediante estratégias de leitura.
interpretação textual, ambas guardam uma relação Muitos pesquisadores já se debruçaram sobre o tema,
de proximidade com um assunto pouco explorado que é intrigante e de grande profundidade acadêmica;
neste material, selecionamos as estratégias mais efica-
pelos cursos de português: a semântica, que incide
zes que podem contribuir para sua aprovação em sele-
suas relações de estudo sobre as relações de sentido
ções que avaliam a competência leitora dos candidatos.
que a forma linguística pode assumir.
A partir disso, apresentamos estratégias de leitura
Portanto, neste material você encontrará recursos que focam nas formas de inferência sobre um texto.
para solidificar seus conhecimentos em interpretação Dessa forma, é fundamental identificar como ocorre
e compreensão textual, associando a essas temáticas o processo de inferência, que se dá por dedução ou
as relações semânticas que permeiam o sentido de por indução. Para entender melhor, veja esse exemplo:
todo amontoado de palavras, tendo em vista que qual- O marido da minha chefe parou de beber.
quer aglomeração textual é, atualmente, considerada Observe que é possível inferir várias informa-
texto e, dessa forma, deve ter um sentido que precisa ções a partir dessa frase. A primeira é que a chefe do
ser reconhecido por quem o lê. enunciador é casada (informação comprovada pela
Assim, vamos começar nosso estudo fazendo uma expressão “marido”), a segunda é que o enuncia-
breve diferença entre os termos compreensão e dor está trabalhando (informação comprovada pela
interpretação textual. expressão “minha chefe”) e a terceira é que o marido
Para muitos, essas palavras expressam o mesmo da chefe do enunciador bebia (expressão comprovada
sentido, mas, como pretendemos deixar claro neste pela expressão “parou de beber”). Note que há pistas
material, ainda que existam relações de sinonímia contextuais do próprio texto que induzem o leitor a
entre palavras do nosso vocabulário, a opção do autor interpretar essas informações.
por um termo ao invés de outro reflete um sentido Tratando-se de interpretação textual, os processos
de inferência, sejam por dedução ou por indução, par-
que deve ser interpretado no texto, uma vez que a
tem de uma certeza prévia para a concepção de uma
interpretação realiza ligações com o texto a partir
interpretação, construída pelas pistas oferecidas no
das ideias que o leitor pode concluir com a leitura. texto junto da articulação com as informações acessa-
Já a compreensão busca a análise de algo exposto das pelo leitor do texto.
no texto, e, geralmente, é marcada por uma palavra ou A seguir, apresentamos um fluxograma que repre-
uma expressão, e apresenta mais relações semânticas senta como ocorre a relação desses processos:
e sintáticas. A compreensão textual estipula aspectos
linguísticos essencialmente relacionados à significa-
DEDUÇÃO → CERTEZA → INTERPRETAR
ção das palavras e, por isso, envolve uma forte ligação
LÍNGUA PORTUGUESA

com a semântica. INFERÊNCIA


Sabendo disso, é importante separarmos os con-
INDUÇÃO → INTERPRETAR → CERTEZA
teúdos que tenham mais apelo interpretativo ou
compreensivo.
Esses assuntos completam o estudo basilar de A partir desse esquema, conseguimos visualizar
semântica com foco em provas e concursos, sempre melhor como o processo de interpretação ocorre.
de olho na sua aprovação. Por isso, convidamos você Agora, iremos detalhar esse processo, reconhecendo
a estudar com afinco e dedicação, sem esquecer de as estratégias que compõem cada maneira de inferir
praticar seus conhecimentos realizando a seleção de informações de um texto. Por isso, vamos apresentar
exercícios finais, selecionados especialmente para nos tópicos seguintes como usar estratégias de cunho
que este material cumpra o propósito de alcançar sua dedutivo, indutivo e, ainda, como articular a isso o nos-
aprovação. so conhecimento de mundo na interpretação de textos. 13
A INDUÇÃO ele estará também postulando uma possível estru-
tura textual; na predição ele estará ativando seu
As estratégias de interpretação que observam conhecimento prévio, e na testagem ele estará enri-
métodos indutivos analisam as “pistas” que o texto quecendo, refinando, checando esse conhecimento.
oferece e, posteriormente, reconhecem alguma certe-
za na interpretação. Dessa forma, é fundamental bus- Fique atento a essa informação, pois é uma das
car uma ordem de eventos ou processos ocorridos no primeiras estratégias de leitura para uma boa inter-
texto e que variam conforme o tipo textual. pretação textual: formular hipóteses, a partir da
Sendo assim, no tipo textual narrativo, podemos macroestrutura textual; ou seja, antes da leitura inicial,
identificar uma organização cronológica e espacial no o leitor deve buscar identificar o gênero textual ao qual
desenvolvimento das ações marcadas, por exemplo, o texto pertence, a fonte da leitura, o ano, entre outras
pelo uso do pretérito imperfeito; na descrição, pode- informações que podem vir como “acessórios” do texto
mos organizar as ideias do texto a partir da marcação e, então, formular hipóteses sobre a leitura que deverá
de adjetivos e demais sintagmas nominais; na argu- se seguir. Uma outra dica importante é ler as questões
mentação, esse encadeamento de ideias fica marcado da prova antes de ler o texto, pois, assim, suas hipóteses
pelo uso de conjunções e elementos que expõem uma já estarão agindo conforme um objetivo mais definido.
ideia/ponto de vista. O processo de interpretação por estratégias de dedu-
No processo interpretativo indutivo, as ideias são ção envolve a articulação de três tipos de conhecimento:
organizadas a partir de uma especificação para uma
generalização. Vejamos um exemplo: z Conhecimento Linguístico;
z Conhecimento Textual;
Eu não sou literato, detesto com toda a paixão essa z Conhecimento de Mundo.
espécie de animal. O que observei neles, no tempo
em que estive na redação do O Globo, foi o bastante O conhecimento de mundo, por tratar-se de um
para não os amar, nem os imitar. São em geral de assunto mais abrangente, será abordado mais adiante.
uma lastimável limitação de ideias, cheios de fór-
Os demais, iremos abordar detalhadamente a seguir.
mulas, de receitas, só capazes de colher fatos deta-
lhados e impotentes para generalizar, curvados aos
fortes e às ideias vencedoras, e antigas, adstritos a Conhecimento Linguístico
um infantil fetichismo do estilo e guiados por con-
ceitos obsoletos e um pueril e errôneo critério de Esse é o conhecimento basilar para compreensão
beleza (BARRETO, 2010, p. 21). e decodificação do texto, envolve o reconhecimento
das formas linguísticas estabelecidas socialmente por
O trecho em destaque na citação do escritor Lima uma comunidade linguística, ou seja, envolve o reco-
Barreto, em sua obra “Recordações do escrivão Isaías nhecimento das regras de uma língua.
Caminha” (1917), identifica bem como o pensamento É importante salientar que as regras de reconheci-
indutivo compõe a interpretação e decodificação de mento sobre o funcionamento da língua não são, neces-
um texto. Para deixar ainda mais evidentes as estraté- sariamente, as regras gramaticais, mas as regras que
gias usadas para identificar essa forma de interpretar, estabelecem, por exemplo, no caso da língua portuguesa,
deixamos a seguir dicas de como buscar a organiza- que o feminino é marcado pela desinência -a, que a ordem
ção cronológica de um texto. de escrita respeita o sistema sujeito-verbo-objeto (SVO) etc.
Ângela Kleiman (2016) afirma que o conhecimento
linguístico é aquele que “abrange desde o conhecimento
A propriedade vocabular leva
sobre como pronunciar português, passando pelo conhe-
o cérebro a aproximar as pa-
PROCURE SINÔNIMOS cimento de vocabulário e regras da língua, chegando até
lavras que têm maior asso-
ciação com o tema do texto o conhecimento sobre o uso da língua” (2016, p. 15).
Um exemplo em que a interpretação textual é preju-
Os conectivos (conjunções, dicada pelo conhecimento linguístico é o texto a seguir:
preposições, pronomes)
ATENÇÃO AOS
são marcadores claros de
CONECTIVOS
opiniões, espaços físicos e
localizadores textuais

A DEDUÇÃO

A leitura de um texto envolve a análise de diversos


aspectos que o autor pode colocar explicitamente ou
de maneira implícita no enunciado.
Em questões de concurso, as bancas costumam
procurar nos enunciados implícitos do texto aspectos
para abordar em suas provas.
No momento de ler um texto, o leitor articula seus
conhecimentos prévios a partir de uma informação
que julga certa, buscando uma interpretação; assim,
ocorre o processo de interpretação por dedução. Con-
forme Kleiman (2016, p. 47):

Ao formular hipóteses o leitor estará predizendo


14 temas, e ao testá-las ele estará depreendendo o tema; Fonte: <https://bit.ly/3kCyWoI>. Acesso em: 22 set. 2020.
Como é possível notar, o texto é uma peça publici- A LINGUAGEM E A LÓGICA
tária escrita em inglês, portanto, somente os leitores
proficientes nessa língua serão capazes de decodificar A Semântica é a área da Linguística que se dedica
e entender o que está escrito; assim, o conhecimento ao estudo do significado das palavras, bem como da
linguístico torna-se crucial para a interpretação. Essas sua relação com o significante. Ao se debruçar sobre o
são algumas estratégias de interpretação em que significado das palavras, investiga, também, o signifi-
podemos usar métodos dedutivos. cado de estruturas maiores, isto é, das frases e orações
que compõem o período.
Conhecimento Textual Entende-se por significado o conceito que é atrelado à
palavra, tratando-se, portanto, de um elemento abstrato.
Esse tipo de conhecimento atrela-se ao conheci- Já o significante pode ser entendido como um elemento
mento linguístico e se desenvolve pela experiência concreto, visto que corresponde à forma da palavra —
leitora. Quanto maior exposição a diferentes tipos de impressão psíquica — associada ao significado.
textos, melhor se dá a sua compreensão. Nesse conhe- Cumpre destacar que o significado das palavras
cimento, o leitor desenvolve sua habilidade porque nunca é fixo. A depender do contexto, da intencionali-
prepara sua leitura de acordo com o tipo de texto que dade dos falantes, entre outros fatores, institui-se o sig-
está lendo. Não se lê uma bula de remédio como se lê nificado das palavras utilizadas no ato comunicativo.
uma receita de bolo ou um romance. Não se lê uma Por fim, à Semântica estuda as relações de sentido
reportagem como se lê um poema. que as palavras estabelecem entre si, como as relações
Em outras palavras, esse conhecimento relaciona- de sinonímia, antonímia, paronímia, entre outras. A
-se com a habilidade de reconhecer diferentes tipos de seguir, uns tópicos a frente, em “A SEMÂNTICA VOCA-
discursos, estruturas, tipos e gêneros textuais. BULAR: ANTÔNIMOS, SINÔNIMOS, HOMÔNIMOS,
PARÔNIMOS E HETERÔNIMOS”, veremos alguns desses
Conhecimento de Mundo conceitos.

O uso dos conhecimentos prévios é fundamental


para a boa interpretação textual, por isso, é sempre
importante que o candidato a cargos públicos reserve
um tempo para ampliar sua biblioteca e buscar fontes
AS ESTRUTURAS LINGUÍSTICAS NO
de informações fidedignas, para, dessa forma, aumen- PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE
tar seu conhecimento de mundo. MENSAGENS ADEQUADAS
Conforme Kleiman (2016), durante a leitura, nosso
conhecimento de mundo que é relevante para a com- MORFOLOGIA – ESTRUTURA E FORMAÇÃO DAS
preensão textual é ativado; por isso, é natural ao nosso PALAVRAS
cérebro associar informações, a fim de compreender
o novo texto que está em processo de interpretação. No dia a dia, usamos unidades comunicativas
A esse respeito, a autora propõe o seguinte exer- para estabelecer diálogos e contatos, formando enun-
cício para atestarmos a importância da ativação do ciados. Essas unidades comunicativas chamamos de
conhecimento de mundo em um processo de interpre- palavras. Elas surgem da necessidade de comunica-
tação. Leia o texto a seguir e faça o que se pede: ção e os processos de formação para sua construção
são conhecidos da nossa competência linguística, pois
Como gemas para financiá-lo, nosso herói desa- como falantes da língua, ainda que não saibamos o
fiou valentemente todos os risos desdenhosos que
significado de antever, podemos inferir que esse ter-
tentaram dissuadi-lo de seu plano. “Os olhos enga-
mo tem relação com o ato de ver antecipadamente,
nam” disse ele, “um ovo e não uma mesa tipificam
dado o uso do prefixo diante do verbo ver.
corretamente esse planeta inexplorado.” Então as
três irmãs fortes e resolutas saíram à procura de Reconhecer os processos que auxiliam na forma-
provas, abrindo caminho, às vezes através de imen- ção de novas palavras é essencial para o estudante da
sidões tranquilas, mas amiúde através de picos e língua. Esse assunto, como dissemos, já é reconhecido
vales turbulentos (KLEIMAN, 2016, p. 24). pelo nosso cérebro, que identifica os prefixos, sufixos e
palavras novas que podem ser criadas a partir da estru-
Agora tente responder as seguintes perguntas tura da língua; não é à toa que, muitas vezes, somos
sobre o texto: surpreendidos com o uso inédito de algum termo.
Quem é o herói de que trata o texto? Porém, precisamos ter consciência de que nem todo
Quem são as três irmãs? contexto é apropriado para o uso de novas estruturas
Qual é o planeta inexplorado? vocabulares; por isso, neste capítulo, iremos estudar os
LÍNGUA PORTUGUESA

Certamente, você não conseguiu responder nenhu- processos de formação de palavras e as consequências
ma dessas questões, porém, ao descobrir o título des- dessas novas constituições, focando nesse conteúdo;
se texto, sua compreensão sobre essas perguntas será sempre cobrado pelas bancas mais exigentes.
afetada. O texto se chama “A descoberta da América
por Colombo”. Agora, volte ao texto, releia-o e busque ESTRUTURA DAS PALAVRAS
responder às questões; certamente você não terá mais
as mesmas dificuldades. Radical e Morfema Lexical
Ainda que o texto não tenha sido alterado, ao vol-
tar seus olhos por uma segunda vez a ele, já sabendo As palavras são formadas por estruturas que,
do que se trata, seu cérebro ativou um conhecimen- unidas, podem se modificar e criar novos sentidos
to prévio que é essencial para a interpretação de em contextos diversos. Os morfemas são as menores
questões. unidades gramaticais com sentido da língua. Para 15
identificá-los é preciso notar que uma palavra é for- z Prefixos: afixos que são anexados na parte ante-
mada por pequenas estruturas. rior do radical.
Para isso, podemos imaginar que uma palavra Exs.:
é uma peça de um quebra-cabeça no qual podemos In: infeliz.
juntar outra peça para formar uma estrutura maior; Anti: antipatia.
porém, se você já montou um quebra-cabeça, deve se Pós: posterior.
lembrar que não podemos unir as peças arbitraria- Bi: bisavô.
mente, é preciso buscar aquelas que se encaixam. Contra: contradizer;
Assim, como falantes da língua, reconhecemos z Sufixos: afixos que são anexados na parte poste-
essas estruturas morfológicas e os seus sentidos, pois, rior do radical.
a todo momento estamos aptos a criar novas pala- Exs.:
vras a partir das regras que o sistema linguístico nos mente: Felizmente.
oferece. dade: Lealdade.
Tornou-se comum, sobretudo nas redes sociais, o eiro: Blogueiro.
surgimento de novos vocábulos a partir de “peças” ista: Dentista.
existentes na língua, algumas misturando termos de gudo: Narigudo.
outras línguas com morfemas da língua portuguesa
para a formação de novas palavras, como: bloguei- É importante destacar que essa pequena amostra,
listando alguns sufixos e prefixos da língua portugue-
ro (blogger), deletar (delete); já algumas palavras
sa, é meramente ilustrativa e serve apenas para que
ganham novos morfemas e, consequentemente, novas
você tenha consciência do quão rico é o processo de
acepções nas redes socias como, por exemplo, biscoi-
formação de palavras por afixos.
teiro, termo usado para se referir a pessoas que bus-
Além disso, não é interessante que você decore esses
cam receber elogios nesse ambiente.
morfemas derivacionais, mas que você compreenda
As peças do quebra-cabeças que formam as pala-
o valor semântico que cada um deles estabelece na
vras da língua portuguesa possuem os seguintes língua, como os sufixos -eiro e -ista que são usados,
nomes: comumente, para criar uma relação com o ambiente
profissional de alguma área, como: padeiro, costureiro,
Radical, Desinência, Vogal Temática, Afixos, blogueiro, dentista, escafandrista, equilibrista etc.
Consoantes e Vogais de Ligação Os sufixos costumam mudar mais a classes das
palavras. Já os prefixos modificam mais o sentido dos
O radical, também chamado de semantema, é o vocábulos.
núcleo da palavra, pois é o detentor do sentido ao qual
se anexam os demais morfemas, criando as palavras Desinências ou Morfemas Flexionais
derivadas. Devido a essa importante característica, o
radical é também conhecido como morfema lexical, Os morfemas flexionais, mais conhecidos como
pois se trata da significação própria dos vocábulos, desinências, são os mais estudados na língua portu-
designando a sua natureza lexical, ou seja, o seu senti- guesa, pois são esses os morfemas que organizam as
do propriamente dito. estruturas no singular e no plural, os verbos em tem-
Alguns exemplos de radicais: pos e conjugações e as relações de gênero em femini-
Ex.: pastel – pastelaria – pasteleiro; no e masculino.
pedra – pedreiro - pedregulho; Para facilitar a compreensão, podemos dividir os
Terra – aterrado – enterrado - terreiro. morfemas flexionais em:

z Aditivos: adiciona-se ao morfema lexical. Ex.: pro-


Importante! fessor/professora; livro/livros;
z Subtrativos: elimina-se um elemento do morfema
Palavras da mesma família etimológica, ou seja, lexical. Ex.: Irmão/irmã; Órfão/órfã;
que apresentam o mesmo radical e guardam o z Nulos: quando a ausência de uma letra indica uma
mesmo valor semântico no radical, são conheci- flexão. Ex.: O singular dos substantivos é marcado
das como cognatas. por essa ausência, como em: mesa (0)1 /mesas.

Não confunda:
Afixos ou Morfemas Derivacionais Morfema derivacional: afixos (prefixos e sufixos);
Morfema flexional: aditivos, subtrativos, nulos;
A partir dos morfemas lexicais, a língua ganha Morfema lexical: radical.
outras formas e sentidos pelos morfemas derivacio- Morfema gramatical: significado interno à estrutu-
nais, que são assim chamados pois auxiliam no pro- ra gramatical, como artigos, preposições, conjunções
cesso de criação de palavras a partir da derivação, ou etc.
seja, a inclusão de prefixos e sufixos no radical dos
vocábulos. Vogais Temáticas
Vale notar que algumas bancas denominam os afi-
xos de infixos. A vogal temática liga o radical a uma desinência,
São morfemas derivacionais os afixos, estruturas que estabelece o modo e o tempo da conjugação ver-
morfológicas que se anexam ao radical das palavras e bal, no caso de verbos, e, nos substantivos, junta-se ao
auxiliam o processo de formação de novos vocábulos. radical para a união de outras desinências.
Os afixos da língua portuguesa são de duas categorias: Ex.: Amar e Amor.
16 1 O morfema flexional nulo é mais conhecido como morfema zero nas gramáticas; sua marcação é feita com a presença do numeral 0 (zero).
Nos verbos, a vogal temática marca ainda a conju-
� Prefixal � Justaposição
gação verbal, indicando se o verbo pertence à 1º, 2º ou
� Sufixal � Aglutinação
3º conjugação: � Prefixal e sufixal
Exs.: � Parassintética
Amar – 1º conjugação; � Regressiva
Comer – 2º conjugação; � Imprópria ou conversão
Partir – 3º conjugação.
É importante não se confundir: a vogal temática Como é possível notar, os dois processos de forma-
não existe em palavras que apresentam flexão de ção de palavras são a derivação e a composição. As
gênero. Logo, as palavras gato/gato possuem uma palavras formadas por processos derivativos apresen-
desinência e não uma vogal temática! tam mais classes a serem estudas. Vamos conhecê-las
Caso a dúvida persista, faça esse exercício: Igreja agora!
(essa palavra existe); “Igrejo” (essa palavra não exis-
te), então o -a de igreja é uma vogal temática que irá PROCESSOS DE DERIVAÇÃO
ligar o vocábulo a desinências, como -inha, -s.
Note que as palavras terminadas em vogais tônicas As palavras formadas por processos de derivação
são classificadas a partir de seis categorias:
não apresentam vogais temática: Ex.: cajá, Pelé, bobó.
z Prefixal ou prefixação;
Tema
z Sufixal ou sufixação;
z Prefixal e sufixal;
O tema é a união do radical com a vogal temática. z Parassintética ou parassíntese;
A partir do exposto no tópico sobre vogal temática, z Regressiva;
esperamos ter deixado claro que nem toda palavra irá z Imprópria ou conversão.
apresentar vogal temática; dessa forma, as palavras
que não apresentem vogal temática também não irão A seguir, iremos estudar a diferença entre cada
possuir tema. uma dessas classes e identificar as peculiaridades de
Exs.: cada uma.
Vendesse – tema: vende;
Mares – tema: mare. Derivação Prefixal

Vogais e Consoantes de Ligação Como o próprio nome indica, as palavras forma-


das por derivação prefixal são formadas pelo acrésci-
mo de um prefixo à estrutura primitiva, como:
As consoantes e vogais de ligação têm uma função
Pré-vestibular; disposição; deslealdade; super-ho-
eufônica, ou seja, servem para facilitar a pronúncia de
mem; infeliz; refazer.
palavras. Essa é a principal diferença entre as vogais Pré-vestibular: prefixo pré-;
de ligação e as vogais temáticas, estas unem desinên- Disposição: prefixo dis-;
cias, aquelas facilitam a pronúncia. Deslealdade: prefixo des-;
Exs.: Super-homem: prefixo super;
Gas - ô - metro; Infeliz: prefixo in-;
Alv - i - negro; Refazer: prefixo re-.
Tecn - o - cracia;
Pe - z - inho; Derivação Sufixal
Cafe - t- eira;
Pau - l - ada; De maneira comparativa, podemos afirmar que
Cha - l - eira; a formação de palavras por derivação sufixal refere-
-se ao acréscimo de um sufixo à estrutura primitiva,
Inset - i - cida;
como em:
Pobre - t- ão;
Lealdade; francesa; belíssimo; inquietude; sofri-
Paris - i - ense; mento; harmonizar; gentileza; lotação; assessoria.
Gira - s - sol; Lealdade: sufixo -dade;
Legal - i - dade. Francesa: sufixo -esa;
Belíssimo: sufixo -íssimo;
PROCESSO DE FORMAÇÃO DAS PALAVRAS Inquietude: sufixo -tude;
Sofrimento: sufixo -mento;
LÍNGUA PORTUGUESA

A partir do conhecimento dos morfemas que auxi- Harmonizar: sufixo -izar;


liam o processo de ampliação das palavras da língua, Gentileza: sufixo -eza;
podemos iniciar o estudo sobre os processos de for- Lotação: sufixo -ção;
mação de palavras. Assessoria: sufixo -ria.
As palavras na língua portuguesa são criadas a
Derivação Prefixal e Sufixal
partir de dois processos básicos que apresentam clas-
ses específicas. O quadro a seguir organiza bem os
Nesse caso, juntam-se à palavra primitiva tanto
processos de formação de palavras:
um sufixo quanto um prefixo; vejamos alguns casos:
Inquietude (prefiro in- com sufixo -tude); infeliz-
FORMAÇÃO DE PALAVRAS mente (prefixo in- com sufixo -mente); ultrapassagem
(prefixo ultra- com sufixo -agem); reconsideração
DERIVAÇÃO COMPOSIÇÃO (prefixo -re com sufixo -ção). 17
Derivação Parassintética para apreender o sentido de alguns desses radicais e
prefixos.
Na derivação parassintética, um acréscimo simul-
tâneo de afixos, prefixos e sufixos é realizado a uma
estrutura primitiva. É importante não confundir, con- RADICAIS E PREFIXOS GREGOS
tudo, com o processo de derivação por sufixação e RADICAL/
SENTIDO EXEMPLO
prefixação. Veja: PREFIXO
Se, ao retirar os afixos, a palavra perder o senti- Acro Alto Acrofobia/acrobata
do, como em “emagrecer” (sem um dos afixos: “ema-
gro-” não existe), basta fazer o seguinte exercício para Agro Campo Agropecuária
estabelecer por qual processo a palavra foi formada: Algia Dor Nevralgia
retirar o prefixo ou o sufixo da palavra em que paira
Bio Vida Biologia
dúvida. Caso a palavra que restou exista, estaremos
diante de um processo por derivação sufixal e prefi- Biblio Livro Biblioteca
xal; caso contrário, a palavra terá sido formada por Crono Tempo Cronologia
derivação parassintética.
Caco Mau Cacofonia
Ex.: Entristecer, desalmado, espairecer, desgelar,
entediar etc. Cali Belo Caligrafia
Dromo Local Autódromo
Derivação Regressiva
Além dos radicais e prefixos gregos, as palavras da
Já na derivação regressiva, a nova palavra será língua portuguesa também se aglutinam a radicais e
formada pela subtração de um elemento da estrutura prefixos latinos.
primitiva da palavra. Vejamos alguns exemplos:
Almoço (almoçar);
Ataque (atacar); RADICAIS E PREFIXO LATINOS
Amasso (amassar). RADICAL/PREFIXO SENTIDO EXEMPLO
A derivação regressiva, geralmente, forma subs-
Arbori Árvore Arborizar
tantivos abstratos derivados de verbos. É possível
que alguns autores reconheçam esse processo como Beli Guerra Belicoso
redução. Cida Que mata Homicida

Derivação Imprópria Des- dis Separação Discordar


Equi Igual Equivalente
A derivação imprópria, a partir de seu processo de Ex- Para fora Exonerar
formação de palavras, provoca a conversão de uma
classe gramatical, que pode passar de verbo a subs- Fide Fé Fidelidade
tantivo, por exemplo. Mater Mãe Materno
A seguir, apresentamos alguns processos de con-
versão das palavras por derivação imprópria: Processos de Composição

z Particípio do verbo - substantivo: Teria passado As palavras formadas por processos de composi-
- O passado; ção podem ser classificadas em duas categorias: justa-
z Verbos - substantivos: Almoçar - O almoço; posição e aglutinação.
z Substantivos - adjetivos: o gato - mulher gato; As palavras formadas por qualquer um desses pro-
z Substantivos comuns - substantivos próprios: cessos estabelecem um sentido novo na língua, uma
leão - Nara Leão; vez que nesse processo há a junção de duas palavras
z Substantivos próprios - comuns: Gillete - gilete; que já existem para a formação de um novo termo,
Judas - ele é o judas do programa.
com um novo sentido.
Sufixos e formação de palavras: Alguns sufixos
z Composição por justaposição: nesse processo,
são mais comuns no processo de formação de deter-
as palavras envolvidas conservam sua autonomia
minadas classes gramaticais, vejamos:
morfológica, permanecendo a tonicidade original
de cada palavra. Ex.: Pé de moleque, dia a dia, faz
z Sufixos nominais: originam substantivos, adjeti-
vos. Ex.: -dor, -ada, -eiro, -oso, -ão, -aço; de conta, navio-escola, malmequer;
z Sufixos verbais: originam verbos. Ex.: -ear, -ecer, z Composição por aglutinação: na formação de
-izar, -ar; palavras por aglutinação, há mudanças na toni-
z Sufixos adverbiais: originam advérbios. Ex.: cidade dos termos envolvidos, que passam a ser
-mente. subordinados a uma única tonicidade. Ex.: Petró-
leo (petra + óleo); aguardente (água + ardente);
LISTA DE RADICAIS E PREFIXOS vinagre (vinho + agre); você (vossa + mercê).

Apresentamos alguns radicais e prefixos na lis- Palavras Compostas e Derivadas


ta a seguir que podem auxiliar na compreensão do
processo de formação de palavras. Novamente, aler- Agora que já conhecemos os processos de forma-
tamos que essa lista não deve ser encarada como ção de palavras, precisamos identificar as palavras
18 uma “tabuada” a ser decorada, mas como um método que são compostas e as palavras que são derivadas.
z São compostas: planalto, couve-flor, aguardente Importante!
etc;
z São derivadas: pedreiro, floricultura, pedal etc. A reforma ortográfica de 2009 eliminou o hífen
das palavras compostas por justaposição com
Palavras derivadas são aquelas formadas a partir um termo de ligação. Assim, palavras como Pé
de palavras primitivas, ou seja, a partir de palavras de moleque, que antes contavam com o hífen,
que detêm a raiz com sentido lexical independente.
agora já não utilizam mais. Porém, não foram
São palavras primitivas: porta, livro, pedra etc.
todas as palavras justapostas que foram atin-
A partir das palavras primitivas, o falante pode
gidas pela reforma; palavras justapostas que
anexar afixos (sufixos e prefixos), formando as pala-
designam plantas ou bichos ainda são escritas
com hífen. Ex.: Cana-de-açúcar; pimenta-do-rei-
vras derivadas, assim chamadas pois derivam de um
no; castanha-do-Pará; João-de-barro; bem-te-vi;
dos seis processos derivacionais.
porco-da-Índia.
Já as palavras compostas guardam a independên-
cia semântica e ortográfica, unindo-se a outras pala-
vras para a formação de um novo sentido.

USO DO HÍFEN CONFORME O NOVO ACORDO


ORTOGRÁFICO A PRAGMÁTICA NA LINGUAGEM: O
SIGNIFICADO CONTEXTUAL
O hífen é um sinal diacrítico cujo uso foi reformu-
lado com a reforma ortográfica da língua que entrou CONOTAÇÃO
em vigor em 2009 no Brasil.
A reforma uniformizou o uso do hífen em muitos O sentido conotativo compreende o significado
contextos, o que podemos ver como uma facilitação figurado e depende do contexto em que está inserido.
do aprendizado de quando usá-lo ou não. A conotação põe em evidência os recursos estilísticos
A regra básica para o aprendizado do uso do hífen, dos quais a língua dispõe para expressar diferen-
tes sentidos ao texto de maneira subjetiva, afetiva e
conforme o novo acordo ortográfico, é esta:
poética. A conotação tem como finalidade dar ênfase
à expressividade da mensagem de maneira que ela
z Palavras com final em vogais iguais: Usa-se hífen. possa provocar sentimentos ou diferentes sensações
Ex.: micro-ondas, anti-inflamatório. no leitor. Por esse motivo, é muito utilizada em poe-
sias, conversas cotidianas, letras de músicas, anúncios
Porém, é preciso ficar atento às exceções a essa publicitários e outros.
regra geral. Por isso, iremos apresentar alguns exem- Ex.: “Amor é fogo que arde sem se ver”.
plos para organizar o uso desse diacrítico e facilitar Você mora no meu coração.
seu aprendizado.
A SEMÂNTICA VOCABULAR: ANTÔNIMOS,
z Exceções: os prefixos Pre, Pro, Co, Re não serão SINÔNIMOS, HOMÔNIMOS, PARÔNIMOS E
unidos por hífen quando o segundo termo apre- HETERÔNIMOS
sentar vogal, seja igual seja diferente. Ex.: Coo-
rientador, coautor, preenchimento, reeleição, Quando escolhemos determinadas palavras ou
reeducação, preestabelecer; expressões dentro de um conjunto de possibilidades
z Nos prefixos Sub, Hiper, Inter, Super, o hífen de uso, estamos levando em conta o contexto que
deve permanecer caso a palavra seguinte seja ini- influencia e permite o estabelecimento de diferentes
relações de sentido. Essas relações podem se dar por
ciada pelas consoantes H ou R. Ex.: Sub-hepático,
meio de: sinonímia, antonímia, homonímia, paroní-
hiper-requintado, inter-racial, super-racional;
mia, polissemia, hiponímia e hiperonímia.
z Hífen com os dígrafos RR e SS: o hífen não é mais
utilizado em palavras formadas de prefixo termi-
nado em vogal seguido de palavra iniciada por R Importante!
ou S. Ex.: Antessala, autorretrato, contrarregra,
antirrugas etc; Léxico: conjunto de todas as palavras e expres-
z É importante esclarecer que em prefixos termina- sões de um idioma;
dos em vogais, aplicados a palavras cuja primeira Vocabulário: conjunto de palavras e expressões
letra seja H, o hífen permanece. Ex.: Anti-herói; que cada falante seleciona do léxico para se
anti-higiênico; extra-humano; semi-herbáceo; comunicar.
z Já os prefixos Pré, Pró, Pós (quando acentuados),
LÍNGUA PORTUGUESA

Ex, Vice, Soto, Além, Aquem, Recém, Sem devem


Sinonímia
ser empregados sempre com hífen. Ex.: Pré-natal;
pró-democrata; pós-graduação; ex-prefeito; vice-
São palavras ou expressões que, empregadas em
-governador; soto-mestre; além-mar; aquém-ocea-
um determinado contexto, têm significados seme-
no; recém-nascido; sem-teto;
lhantes. É importante entender que a identidade dos
z Palavras formadas por Circum e Pan, adicionadas sinônimos é ocasional, ou seja, em alguns contextos
a palavras iniciadas por vogal, H, M ou N, usam uma palavra pode ser empregada no lugar de outra,
hífen. Ex.: Circum-navegação; pan-americano; o que pode não acontecer em outras situações. O
z Também devemos empregar hífen em palavras uso das palavras “chamar”, “clamar” e “bradar”, por
formadas pelos sufixos de origem tupi-guara- exemplo, pode ocorrer de maneira equivocada se uti-
ni, como Açu, Guaçu, Mirim. Ex.: Amoré-guaçu; lizadas como sinônimos, uma vez que a intensidade
capim-açu. de suas significações é diferente. 19
O emprego dos sinônimos é um importante recur- cito (forma do verbo citar) sito (situado)
so para a coesão textual, uma vez que essa estratégia concertar (ajustar, combinar) consertar (reparar, corrigir)
revela, além do domínio do vocabulário do falante, a
concerto (sessão musical) conserto (reparo)
capacidade que ele tem de realizar retomadas coesi-
coser (costurar) cozer (cozinhar)
vas, o que contribuiu para melhor fluidez na leitura
do texto. exotérico (que se expõe em
esotérico (secreto)
público)
espectador (aquele que expectador (aquele que tem
Antonímia
assiste) esperança, que espera)
esperto (perspicaz) experto (experiente, perito)
São palavras ou expressões que, empregadas em
um determinado contexto, têm significados opostos. espiar (observar) expiar (pagar pena)
As relações de antonímia podem ser estabelecidas em espirar (soprar, exalar) expirar (terminar)
gradações (grande/pequeno; velho/jovem); reciproci- estático (imóvel) extático (admirado)
dade (comprar/vender) ou complementaridade (ele é esterno (osso do peito) externo (exterior)
casado/ele é solteiro). Vejamos o exemplo a seguir: extrato (o que se extrai de
estrato (camada)
algo)
estremar (demarcar) extremar (exaltar, sublimar)
incerto (não certo, impreciso) inserto (inserido, introduzido)
incipiente (principiante) insipiente (ignorante)
laço (nó) lasso (frouxo)
ruço (pardacento, grisalho) russo (natural da Rússia)
tacha (prego pequeno) taxa (imposto, tributo)
tachar (atribuir defeito a) taxar (fixar taxa)

Fonte: <https://www.soportugues.com.br/secoes/seman/seman6.
php>. Acessado em: 17 out. 2020.

Parônimos

Parônimos são palavras que apresentam sentido


diferente e forma semelhante, conforme demonstra-
mos nos exemplos a seguir:
Fonte: <https://bit.ly/3kETkpl>. Acesso em: 16 out. 2020.

A relação de sentido estabelecida na tirinha é z Absorver/absolver


construída a partir dos sentidos opostos das palavras
“prende” e “solta”, marcando o uso de antônimos, nes- „ Tentaremos absorver toda esta água com
se contexto. esponjas (sorver);
„ Após confissão, o padre absolveu todos os fiéis
Homonímia de seus pecados (inocentar).

Homônimos são palavras que têm a mesma pro- z Aferir/auferir


núncia ou grafia, porém apresentam significados dife-
rentes. É importante estar atento a essas palavras e a „ Realizaremos uma prova para aferir seus
seus dois significados. A seguir, listamos alguns homô- conhecimentos (avaliar, cotejar);
nimos importantes: „ O empresário consegue sempre auferir lucros
em seus investimentos (obter).
acender (colocar fogo) ascender (subir)
acento (sinal gráfico) assento (local onde se senta) z Cavaleiro/cavalheiro
acerto (ato de acertar) asserto (afirmação)
apreçar (ajustar o preço) apressar (tornar rápido) „ Todos os cavaleiros que integravam a cavala-
bucheiro (tripeiro) buxeiro (pequeno arbusto) ria do rei participaram na batalha (homem que
bucho (estômago) buxo (arbusto) anda de cavalo);
caçar (perseguir animais) cassar (tornar sem efeito) „ Meu marido é um verdadeiro cavalheiro, abre
cegar (deixar cego) segar (cortar, ceifar)
sempre as portas para eu passar (homem edu-
cado e cortês).
sela (forma do verbo selar;
cela (pequeno quarto)
arreio)
censo (recenseamento) senso (entendimento, juízo)
z Cumprimento/comprimento
céptico (descrente) séptico (que causa infecção)
„ O comprimento do tecido que eu comprei é de
cerração (nevoeiro) serração (ato de serrar)
3,50 metros (tamanho, grandeza);
cerrar (fechar) serrar (cortar)
„ Dê meus cumprimentos a seu avô (saudação).
cervo (veado) servo (criado)
chá (bebida) xá (antigo soberano do Irã) z Delatar/dilatar
cheque (ordem de xeque (lance no jogo de
pagamento) xadrez)
„ Um dos alunos da turma delatou o colega que
20 círio (vela) sírio (natural da Síria) chutou a porta e partiu o vidro (denunciar);
„ Comendo tanto assim, você vai acabar dilatan- z Ações (para o clímax): acontecimentos que am-
do seu estômago (alargar, estender). pliam a tensão;
z Resolução: momento de solução da tensão;
z Dirigente/diligente z Situação final: retorno da situação equilibrada;
z Avaliação: apresentação de uma “opinião” sobre
„ O dirigente da empresa não quis prestar decla- a resolução;
rações sobre o funcionamento da mesma (pes- z Moral: apresentação de valores morais que a his-
soa que dirige, gere); tória possa ter apresentado.
„ Minha funcionária é diligente na realização de
suas funções (expedito, aplicado). Esses sete passos podem ser encontrados no
seguinte exemplo, a canção “Era um garoto que como
z Discriminar/descriminar eu...” Vamos lê-la e identificar essas características,
bem como aprender a identificar outros pontos do
„ Ela se sentiu discriminada por não poder tipo textual narrativo.
entrar naquele clube (diferenciar, segregar);
„ Em muitos países se discute sobre descrimi- Era um garoto que como eu Amava os
nar o uso de algumas drogas (descriminalizar, Beatles e os Rolling Stones
inocentar). Girava o mundo sempre a cantar
As coisas lindas da América Situação inicial:
Fonte: <https://www.normaculta.com.br/palavras-paronimas/>. Não era belo, mas mesmo assim predomínio de
Acessado em 17 out. 2020. Havia mil garotas afim equilíbrio
Cantava Help and Ticket to Ride
Polissemia (Plurissignificação) Oh Lady Jane e Yesterday
Cantava viva à liberdade

Multiplicidade de sentidos encontradas em algu- Mas uma carta sem esperar


mas palavras, dependendo do contexto. As palavras Da sua guitarra, o separou
Complicação: início
Fora chamado na América
polissêmicas guardam uma relação de sentido entre Stop! Com Rolling Stones
da tensão
si, diferenciando-as das palavras homônimas. A polis- Stop! Com Beatles songs
semia é encontrada no exemplo a seguir:
Mandado foi ao Vietnã
Clímax
Lutar com vietcongs
Era um garoto que como eu
Amava os Beatles e os Rolling Stones
Resolução
Girava o mundo, mas acabou
Fazendo a guerra no Vietnã
Cabelos longos não usa mais
Não toca a sua guitarra e sim
Fonte: <https://bit.ly/3jynvgs>. Acessado em: 17 out. 2020. Um instrumento que sempre dá
A mesma nota,
Situação final /
Hipônimo e Hiperônimo ra-tá-tá-tá
Avaliação
Não tem amigos, não vê garotas
Só gente morta caindo ao chão
Relação estabelecida entre termos que guardam Ao seu país não voltará
relação de sentido entre si e mantém uma ordem gra- Pois está morto no Vietnã [...]
dativa. Exemplo: Hiperônimo – veículo; Hipônimos –
No peito, um coração não há
carro, automóvel, moto, bicicleta, ônibus... Moral
Mas duas medalhas sim

OS MODOS DE ORGANIZAÇÃO DISCURSIVA:


Disponível em: <https://www.letras.mus.br/engenheiros-do-
A DESCRIÇÃO, A NARRAÇÃO, A EXPOSIÇÃO
hawaii/12886/>. Acesso em: 30 ago. 2021.
INFORMATIVA E A EXPOSIÇÃO ARGUMENTATIVA
Essas sete marcas que definem o tipo textual nar-
Narrativo
rativo podem ser resumidas em marcas de organiza-
Os textos compostos predominantemente por ção linguística que são caracterizadas por:
sequências narrativas cumprem o objetivo de contar
uma história, narrar um fato. Por isso, precisam man- z Presença de marcadores temporais e espaciais;
ter a atenção do leitor/ouvinte e, para tal, lançam mão z Verbos, predominantemente, utilizados no passado;
LÍNGUA PORTUGUESA

de algumas estratégias, como a organização dos fatos z Presença de narrador e personagens.


a partir de marcadores temporais e espaciais, a inclu-
são de um momento de tensão (chamado de clímax)
e um desfecho que poderá ou não apresentar uma Importante!
moral.
Os gêneros textuais que são predominantemen-
Conforme Cavalcante (2013), o tipo textual narrati-
te narrativos apresentam outras tipologias tex-
vo pode ser caracterizado por sete aspectos. São eles:
tuais em sua composição, tendo em vista que
z Situação inicial: envolve a “quebra” de um equilí- nenhum texto é composto exclusivamente por
brio, o que demanda uma situação conflituosa; uma sequência textual. Por isso, devemos sem-
z Complicação: desenvolvimento da tensão apre- pre identificar as marcas linguísticas que são pre-
sentada inicialmente; dominantes em um texto, a fim de classificá-lo. 21
Para sua compreensão, também é necessário saber Note que apesar da presença pontual da sequência
o que são marcadores temporais e espaciais. São narrativa, há predominância da descrição do cenário
formas linguísticas como advérbios, pronomes, locu- e dos personagens, evidenciada pela presença de adje-
ções etc. Utilizadas para demarcar um espaço físico tivos (galantes, preto, vermelho, nuas, tingida, desco-
ou temporal em textos. Nos tipos textuais narrativos, bertas etc.). A carta de Pero Vaz constitui uma espécie
esses elementos são essenciais para marcar o equilí- de relato descritivo utilizado para manter a comuni-
brio e a tensão da história, além de garantirem a coe- cação entre a Corte Portuguesa e os navegadores.
são do texto. Exemplos de marcadores temporais e Considerando as emergências comunicativas do
espaciais: Atualmente, naquele dia, nesse momento, mundo moderno, a carta tornou-se um gênero menos
aqui, ali, então... usual e, aos poucos, substituído por outros gêneros,
Outro indicador do texto narrativo é a presença do como, por exemplo, o e-mail.
narrador da história. Por isso, é importante apren- A sequência descritiva também pode se apresentar
dermos a identificar os principais tipos de narrador de forma esquemática em alguns gêneros, como pode-
de um texto: mos ver no cardápio a seguir:

Narrador: também conhecido como foco narrativo, é o


responsável por contar os fatos que compõem o texto
Narrador personagem: verbos flexionados em 1ª pes-
soa. O narrador participa dos fatos
Narrador observador: verbos flexionados em 3ª pessoa.
O narrador tem propriedade dos fatos contados, porém,
não participa das ações
Narrador onisciente: os fatos podem ser contados na
3ª ou 1ª pessoa verbal. O narrador conhece os fatos e
não participa das ações, porém, o fluxo de consciência
do narrador pode ser exposto, levando o texto para a 1ª
pessoa

Alguns gêneros conhecidos por suas marcas pre-


dominantemente narrativas são notícia, diário, conto,
fábula, entre outros. É importante reafirmar que o
fato de esses gêneros serem essencialmente narrati-
vos não significa que não possam apresentar outras
sequências em sua composição.
Para diferenciar os tipos textuais e proceder na
classificação correta, é sempre essencial atentar-se às
marcas que predominam no texto.
Após demarcarmos as principais características do
tipo textual narrativo, vamos agora conhecer as mar-
cas mais importantes da sequência textual classifica-
da como descritiva.

Descritivo

O tipo textual descritivo é marcado pelas formas


nominais que dominam o texto. Os gêneros que uti- Disponível em: <https://g1.globo.com/sp/sorocaba-jundiai/
lizam esse tipo textual geralmente utilizam a sequên- noticia/2020/07/12/filha-de-dono-de-cantina-faz-desenhos-para-
cia descritiva como suporte para um propósito maior. divulgar-cardapio-e-ajudar-o-pai-a-vender-na-web.ghtml>. Acesso
em: 30 ago. 2021.
São exemplos de textos cujo tipo textual predominan-
te é a descrição: relato de viagem, currículo, anúncio,
classificados, lista de compras. Note que há a presença de muitos adjetivos, locu-
Veja um trecho da Carta de Pero Vaz de Caminha, ções, substantivos, que buscam levar o leitor a ima-
que relata, no ano de 1500, suas impressões a respeito ginar o objeto descrito. O gênero mostrado apresenta
de alguns aspectos do território que viria a ser chama- a descrição das refeições (pão, croissant, feijão, carne
do de Brasil. etc.) com uso de adjetivos ou locuções adjetivas (de
queijo, doce, salgado, com calabresa, moída etc.). Ele
Ali veríeis galantes, pintados de preto e vermelho, e está organizado de forma esquematizada em seções
quartejados, assim pelos corpos como pelas pernas, (salgados, lanches, caldos e panquecas) de maneira a
que, certo, assim pareciam bem. Também andavam facilitar a leitura (o pedido, no caso) do cliente.
entre eles quatro ou cinco mulheres, novas, que
assim nuas, não pareciam mal. Entre elas andava Expositivo
uma, com uma coxa, do joelho até o quadril e a
nádega, toda tingida daquela tintura preta; e todo
o resto da sua cor natural. Outra trazia ambos os O texto expositivo visa apresentar fatos e ideias
joelhos com as curvas assim tintas, e também os a fim de deixar claro o tema principal do texto. Nes-
colos dos pés; e suas vergonhas tão nuas, e com se tipo textual, é muito comum a presença de dados,
tanta inocência assim descobertas, que não havia informações científicas, citações diretas e indiretas,
nisso desvergonha nenhuma. que servem para embasar o assunto do qual o texto
Disponível em: <https://www.todamateria.com.br/carta-de-pero-vaz- trata. Para lustrar essa explicação, veja o exemplo a
22 de-caminha/>. Acesso em: 30 ago. 2021. seguir:
Os textos expositivos são comuns em gêneros cien-
tíficos ou que desencadeiam algum aspecto de curiosi-
dade nos leitores, como o exemplo a seguir:

VEJA 10 MULHERES INVENTORAS QUE REVOLUCIO-


NARAM O MUNDO
08/03/2015 07h43 - Atualizado em 08/03/2015 07h43

Hedy Lamarr - conexão wireless

Além de atriz de Hollywood, famosa pelo longa “Ecstasy”


(1933), a austríaca naturalizada norte-americana Hedy
Lamarr foi a inventora de uma tecnologia que permitia
controlar torpedos à distância, durante a Segunda Guer-
ra Mundial, alterando rapidamente os canais de frequên-
cia de rádio para que não fossem interceptados pelo ini-
migo. Esse conceito de transmissão acabou, mais tarde,
permitindo o desenvolvimento de tecnologias como o
Wi-Fi e o Bluetooth.
Fonte: <https://glo.bo/2Jgh4Cj>. Acessado em: 07 set. 2020.
Adaptado.

Instrucional ou Injuntivo

O tipo textual instrucional, ou injuntivo, é carac-


terizado por estabelecer um “propósito autônomo”
(CAVALCANTE, 2013, p. 73) que busca convencer o
leitor a realizar alguma tarefa. Esse tipo textual é pre-
Fonte: <https://www.boavontade.com/pt/ecologia/infografico-
dados-mostram-panorama-mundial-da-situacao-da-agua>. dominante em gêneros como: bula de remédio, tuto-
riais na internet, horóscopos e também nos manuais
O infográfico acima apresenta as informações per- de instrução.
tinentes sobre o panorama mundial da situação da A principal marca linguística dessa tipologia é a
água no ano de 2016. O gênero foi construído com o presença de verbos conjugados no modo imperati-
objetivo de deixar o leitor informado a respeito do vo e também em sua forma infinitiva. Isso se deve
tema tratado, e para isso, o autor dispõe, além da lin- ao fato de essa tipologia buscar persuadir o leitor e
guagem clara e objetiva, de recursos visuais para atin- levá-lo a realizar as ações mencionadas pelo gênero.
gir esse objetivo. Para que possamos identificar corretamente essa
Assim como os tipos textuais apresentados ante- tipologia textual, faz-se necessário observar um gêne-
riormente, os textos expositivos também apresentam ro textual que apresente esse tipo de texto, como o
uma estrutura que mistura elementos tipológicos de exemplo a seguir:
outras sequências textuais, tendo em vista que, para
apresentar fatos e ideias, utilizamos aspectos descriti- Como faço para criar uma conta do Instagram?
vos, narrativos e, por vezes, injuntivos. Para criar uma conta do Instagram pelo aplicativo:
É importante destacar que os textos expositivos 1. Baixe o aplicativo do Instagram na App Store (iPhone)
podem, muitas vezes, serem confundidos com textos ou Google Play Store (Android).
argumentativos, uma vez que existem textos argumenta- 2. Depois de instalar o aplicativo, toque no ícone
tivos que são classificados como expositivos, pois utilizam para abri-lo.
exemplos e fatos para fundamentar uma argumentação. 3. Toque em Cadastrar-se com e-mail ou número de
Outra importante diferença entre a sequência telefone (Android) ou Criar nova conta (iPhone) e insira
expositiva e a argumentativa é que esta apresenta uma seu endereço de e-mail ou número de telefone (que exigi-
opinião pessoal, enquanto aquela não abre margem rá um código de confirmação), toque em Avançar. Tam-
para a argumentação, uma vez que o fato exposto bém é possível tocar em Entrar com o Facebook para se
é apresentado como dado, ou seja, o conhecimento cadastrar com sua conta do Facebook.
sobre uma questão não é posto em debate. 4. Se você se cadastrar com o e-mail ou número de te-
Apresenta-se um conceito e expõem-se as caracte- lefone, crie um nome de usuário e uma senha, preencha
LÍNGUA PORTUGUESA

rísticas desse conceito sem espaço para opiniões. as informações do perfil e toque em Avançar. Se você
Marcas linguísticas do texto expositivo: se cadastrar com o Facebook, será necessário entrar na
conta do Facebook, caso tenha saído dela.
z Apresenta informações sobre algo ou alguém, pre-
sença de verbos de estado; Fonte: <https://www.facebook.com/help/instagram/>. Acessado em:
07 set. 2020.
z Presença de adjetivos, locuções e substantivos que
organizam a informação;
z Desenvolve-se mediante uso de recursos enumera- No exemplo acima, podemos destacar a presença
tivos; de verbos conjugados no modo imperativo, como: bai-
z Presença de figuras de linguagem como metáfora xe, toque, crie, além de muitos verbos no infinitivo,
e comparação; como: instalar, cadastrar, avançar. Outra caracte-
z Pode apresentar um pensamento contrastivo ao rística dos textos injuntivos é a enumeração de pas-
final do texto. sos a serem cumpridos para a realização correta da 23
tarefa ensinada e também a fim de tornar a leitura grupos morfológicos. Ao combinar as palavras em fra-
mais didática. ses, nós construímos um painel morfológico.
É importante lembrar que a principal marca As palavras normalmente recebem uma dupla
linguística dessa tipologia é a presença de verbos classificação: a morfológica, que está relacionada à
conjugados no modo imperativo e em sua forma infi- classe gramatical a que pertence, e a sintática, rela-
nitiva. Isso se deve ao fato de essa tipologia buscar cionada à função específica que assumem em deter-
persuadir o leitor e levá-lo a realizar as ações mencio- minada frase.
nadas pelo gênero.
Frase
Argumentativo
Frase é todo enunciado com sentido completo.
O tipo textual argumentativo é sem dúvidas o mais
complexo e, por vezes, pode apresentar maior dificul- Pode ser formada por apenas uma palavra ou por um
dade na identificação, bem como em sua análise. conjunto de palavras.
O texto argumentativo tem por objetivo a defesa Ex.: Fogo!
de um ponto de vista, portanto, envolve a defesa Silêncio!
de uma tese e a apresentação de argumentos que “A igreja, com este calor, é fornalha...” (Graciliano
visam sustentar essa tese. Alguns exemplos de tex- Ramos)
tos argumentativos são artigos, monografias, ensaios
científicos e filosóficos, dentre outros. Oração
Outro aspecto importante dos textos argumentati-
vos é que eles são compostos por estruturas linguís- Enunciado que se estrutura em torno de um verbo
ticas conhecidas como operadores argumentativos, (explícito, implícito ou subentendido) ou de uma locu-
que organizam as orações subordinadas, estruturas
ção verbal. Quanto ao sentido, a oração pode apresen-
mais comuns nesse tipo textual.
tá-lo completo ou incompleto.
A seguir, apresentamos um quadro sintético com
algumas estruturas linguísticas que funcionam como Ex.: Você é um dos que se preocupam com a
operadores argumentativos e que facilitam a escrita e poluição.
a leitura de textos argumentativos: “A roda de samba acabou” (Chico Buarque)

OPERADORES ARGUMENTATIVOS Período

É incontestável que... Período é o enunciado constituído de uma ou mais


Tal atitude é louvável / repudiável / notável... orações.
É mister / é fundamental / é essencial... Classifica-se em:

Observe o exemplo a seguir: � Simples: possui apenas uma oração.


Ex.: O sol surgiu radiante.
O governo gasta, todos os anos, bilhões de reais no Ninguém viu o acidente;
tratamento das mais diversas doenças relacionadas � Composto: possui duas ou mais orações.
ao tabagismo; os ganhos com os impostos nem de Ex.: “Amou daquela vez como se fosse a última.”
longe compensam o dinheiro gasto com essas doen- (Chico Buarque)
ças. Além disso, as empresas têm grandes prejuízos Chegou em casa e tomou banho.
por causa de afastamentos de trabalhadores devido
aos males causados pelo fumo. Portanto, é mis-
ter que sejam proibidas quaisquer propagandas de PERÍODO SIMPLES – TERMOS DA ORAÇÃO
cigarros em todos os meios de comunicação.
Os termos que formam o período simples são dis-
Disponível em: <http://educacao.globo.com/portugues/assunto/ tribuídos em: essenciais (Sujeito e Predicado), inte-
texto-argumentativo/argumentacao.html>. Acesso em: 30 ago. 2021. grantes (complemento verbal, complemento nominal
Adaptado.
e agente da passiva) e acessórios (adjunto adnominal,
adjunto adverbial e aposto).
Essas estruturas, quando utilizadas adequadamen-
te no texto argumentativo, expõem a opinião do autor,
ajudando na defesa de seu ponto de vista e construin- Termos Essenciais da Oração
do a estrutura argumentativa desse tipo textual.
São aqueles indispensáveis para a estrutura básica
da oração. Costuma-se associar esses termos a situa-
ções analógicas, como um almoço tradicional brasi-
leiro constituído basicamente de arroz e feijão, por
A ORGANIZAÇÃO DAS FRASES NAS exemplo. São eles: Sujeito e Predicado. Veremos a
SITUAÇÕES COMUNICATIVAS: A seguir cada um deles.
COLABORAÇÃO E A RELEVÂNCIA; OS
ATOS DE FALA SUJEITO

CONCEITOS BÁSICOS DA SINTAXE É o elemento que faz ou sofre a ação determinada


pelo verbo.
Ao selecionar palavras, nós as escolhemos entre O sujeito pode ser:
os grandes grupos de palavras existentes na língua,
24 como verbos, substantivos ou adjetivos. Esses são � O termo sobre o qual o restante da oração diz algo;
� O elemento que pratica ou recebe a ação expressa z Determinado: quando se identifica a pessoa, o
pelo verbo; lugar ou o objeto na oração. Classifica-se em:
� O termo que pode ser substituído por um pronome
do caso reto; „ Simples: quando há apenas um núcleo.
� O termo com o qual o verbo concorda. Ex.: O [aluguel] da casa é caro.
Ex.: A população implorou pela compra da vacina Núcleo: aluguel
da COVID-19. Sujeito simples: O aluguel da casa;
„ Composto: quando há dois núcleos ou mais.
No exemplo anterior a população é: Ex.: Os [sons] e as [cores] ficaram perfeitos.
Núcleos: sons, cores.
z O elemento sobre o qual se declarou algo (implo- Sujeito composto: Os sons e as cores;
rou pela compra da vacina); „ Elíptico, oculto ou desinencial: quando não
z O elemento que pratica a ação de implorar; aparece na oração, mas é possível de ser identi-
z O termo com o qual o verbo concorda (o verbo ficado devido à flexão do verbo ao qual se refe-
implorar está flexionado na 3ª pessoa do singular); re. Ex.: Vi o noticiário hoje de manhã. Sujeito:
z O termo que pode ser substituído por um pronome (Eu)
do caso reto.
(Ela implorou pela compra da vacina da COVID-19) z Indeterminado: quando não é possível identificar
o sujeito na oração, mas ainda sim está presente.
Núcleo do Sujeito Encontra-se na 3ª pessoa do plural ou representa-
do por um índice de indeterminação do sujeito, a
O núcleo é a palavra base do sujeito. É a principal partícula “se”.
porque é a respeito dela que o predicado diz algo. O
núcleo indica a palavra que realmente está exercen- „ Colocando-se o verbo na 3ª pessoa do plural,
do determinada função sintática, que atua ou sofre não se referindo a nenhuma palavra determi-
a ação. O núcleo do sujeito apresentará um substan- nada no contexto.
tivo, ou uma palavra com valor de substantivo, ou Ex.: Passaram cedo por aqui, hoje.
pronome.
Entende-se que alguém passou cedo;
„ Colocando-se verbos sem complemento direto
z O sujeito simples contém apenas um núcleo.
(intransitivos, transitivos diretos ou de ligação)
Ex.: O povo pediu providências ao governador.
na 3ª pessoa do singular acompanhados do pro-
Sujeito: O povo
nome se, que atua como índice de indetermina-
Núcleo do sujeito: povo
ção do sujeito.
z Já no sujeito composto, o núcleo será constituído
Ex.: Não se vê com a neblina.
de dois ou mais termos.
Entende-se que ninguém consegue ver nessa
As luzes e as cores são bem visíveis.
condição.
Sujeito: As luzes e as cores
Núcleo do sujeito: luzes/cores
Sujeito Inexistente ou Oração sem Sujeito

Dica Esse tipo de situação ocorre quando uma oração


Para determinar o sujeito da oração, colocam-se não tem sujeito mas tem sentido completo. Os verbos
as expressões interrogativas quem? Ou o quê? são impessoais e normalmente representam fenôme-
Antes do verbo. nos da natureza. Pode ocorrer também o verbo fazer
Ex.: A população pediu uma providência ao ou haver no sentido de existir.
governador. Geia no Paraná.
Quem pediu uma providência ao governador? Fazia um mês que tinha sumido.
Resposta: A população (sujeito). Basta de confusão.
Ex.: O pêndulo do relógio iria de um lado para o Há dois anos esse restaurante abriu.
outro.
Classificação do Sujeito Quanto à Voz
O que iria de um lado para o outro?
Resposta: O pêndulo do relógio (sujeito).
z Voz ativa (sujeito agente)
Tipos de Sujeito Ex.: Cláudia corta cabelos de terça a sábado.
Nesse caso, o termo “Cláudia” é a pessoa que exer-
Quanto à função na oração, o sujeito classifica-se em: ce a ação na frase;
LÍNGUA PORTUGUESA

z Voz passiva sintética (sujeito paciente)


Simples Ex.: Corta-se cabelo.
DETERMINADO Composto Pode-se ler “Cabelo é cortado”, ou seja, o sujeito
“cabelo” sofre uma ação, diferente do exemplo do
Elíptico item anterior. O “-se” é a partícula apassivadora da
Com verbos flexionados na 3ª pes- oração.
soa do plural
INDETERMINADO Importante notar que não há preposição entre
Com verbos acompanhados do se
(índice de indeterminação do sujeito) o verbo e o substantivo. Se houvesse, por exemplo,
“de” no meio da frase, o termo “cabelo” não seria mais
Usado para fenômenos da natureza sujeito, seria objeto indireto, um complemento verbal.
INEXISTENTE
ou com verbos impessoais Precisa-se de cabelo. 25
Assim, “de cabelo” seria um complemento verbal, Predicativo do sujeito: bastante feliz.
e não um sujeito da oração. Nesse caso, o sujeito é Ex.: Seu batom é muito forte.
indeterminado, marcado pelo índice de indetermina- Verbo de ligação: é.
ção “-se”. Predicativo do sujeito: muito forte.

z Voz passiva analítica (sujeito paciente) Predicado Verbal


Ex.: A minha saia azul está rasgada.
O sujeito está sofrendo uma ação, e não há presen- Ocorre quando há dois núcleos significativos: um
ça da partícula -se. verbo (transitivo ou intransitivo) e um nome (predi-
cativo do sujeito ou, em caso transitivo, predicativo do
PREDICADO objeto). Da natureza desse verbo é que decorrem os
demais termos do predicado.
É o termo que contém o verbo e informa algo sobre O verbo do predicado pode ser classificado em
o sujeito. Apesar de o sujeito e o predicado serem ter- transitivo direto, transitivo indireto, verbo transi-
mos essenciais na oração, há casos em que a oração tivo direto e indireto ou verbo intransitivo.
não possui sujeito. Mas, se a oração é estruturada em
torno de um verbo e ele está contido no predicado, é z Verbo transitivo direto (VTD): é o verbo que exi-
impossível existir uma oração sem sujeito. ge um complemento não preposicionado, o objeto
O predicado pode ser: direto.
Ex.: “Fazer sambas lá na vila é um brinquedo.”
z Aquilo que se declara a respeito do sujeito. Noel Rosa
Ex.: “A esposa e o amigo seguem sua marcha.” Verbo Transitivo Direto: Fazer.
(José de Alencar) Ex.: Ele trouxe os livros ontem.
Predicado: seguem sua marcha; Verbo Transitivo Direto: trouxe;
z Uma declaração que não se refere a nenhum sujei- z Verbo transitivo indireto (VTI): o verbo transiti-
to (oração sem sujeito): vo indireto tem como necessidade o complemen-
Ex.: Chove pouco nesta época do ano. to acompanhado de uma preposição para fazer
Predicado: Chove pouco nesta época do ano. sentido.
Ex.: Nós acreditamos em você.
Para determinar o predicado, basta separar o Verbo transitivo indireto: acreditamos
sujeito. Ocorrendo uma oração sem sujeito, o predica- Preposição: em
do abrangerá toda a declaração. A presença do verbo Ex.: Frida obedeceu aos seus pais.
é obrigatória, seja de forma explícita ou implícita: Verbo transitivo indireto: obedeceu
Ex.: “Nossos bosques têm mais vidas.” (Gonçalves Preposição: a (a + os)
Dias) Ex.: Os professores concordaram com isso.
Sujeito: Nossos bosques. Predicado: têm mais vida. Verbo transitivo indireto: concordaram
Ex.: “Nossa vida mais amores”. (Gonçalves Dias) Preposição: com;
Sujeito: Nossa vida. Predicado: mais amores. z Verbo transitivo direto e indireto (VTDI): é o
verbo de sentido incompleto que exige dois com-
Classificação do Predicado plementos: objeto direto (sem preposição) e objeto
indireto (com preposição).
A classificação do predicado depende do significa- Ex.: “Ela contava-lhe anedotas, e pedia-lhe ou-
do e do tipo de verbo que apresenta. tras.” (Machado de Assis)
Verbo transitivo direto e indireto 1: contava
z Predicado nominal: ocorre quando o núcleo sig- Objeto direto 1: anedotas
nificativo se concentra em um nome (corresponde Objeto indireto 1: lhe
a um predicativo do sujeito). Verbo transitivo direto e indireto 2: pedia
O verbo deste tipo de oração é sempre de ligação. Objeto direto 2: outras
O predicado nominal tem por núcleo um nome Objeto indireto 2: lhe;
(substantivo, adjetivo ou pronome). z Verbo intransitivo (VI): É aquele capaz de cons-
Ex.: “Nossas flores são mais bonitas.” (Murilo truir sozinho o predicado, que não precisa de com-
Mendes) plementos verbais, sem prejudicar o sentido da
Predicado: são mais bonitas. oração.
Ex.: “As estrelas estão cheias de calafrios.” (Olavo Ex.: Escrevia tanto que os dedos adormeciam.
Bilac) Verbo intransitivo: adormeciam.
Predicado: estão cheias de calafrios.
Predicado Verbo-Nominal
É importante não confundir:
Ocorre quando há dois núcleos significativos:
z Verbo de ligação: quando não exprime uma ação, um verbo nocional (intransitivo ou transitivo) e um
mas um estado momentâneo ou permanente que nome (predicativo do sujeito ou, em caso de verbo
relaciona o sujeito ao restante do predicado, que é transitivo, predicativo do objeto).
o predicativo do sujeito; Ex.: “O homem parou atento.” (Murilo Mendes)
z Predicativo do sujeito: função exercida por subs- Verbo intransitivo: parou
tantivo, adjetivo, pronomes e locuções que atri- Predicativo do sujeito: atento
buem uma condição ou qualidade ao sujeito. Repare que no primeiro exemplo o termo “atento”
Ex.: O garoto está bastante feliz. está caracterizando o sujeito “O homem” e, por isso, é
26 Verbo de ligação: está. considerado predicativo do sujeito.
Ex.: “Fabiano marchou desorientado.” (Olavo Convidaram-na para o almoço de despedida. (=
Bilac) “Convidaram quem? Ela”)
Verbo intransitivo: marchou Depois de terem nos recebido, abriram a caixa. (=
Predicativo do sujeito: desorientado “Receberam quem? Nós”)
No segundo exemplo, o termo “desorientado” indi- Os pronomes demonstrativos o, a, os, as podem
ca um estado do termo “Fabiano”, que também é sujei- ser objetos diretos. Normalmente, aparecem antes do
to. Temos mais um caso de predicativo do sujeito. pronome relativo que.
Ex.: “Ptolomeu achou o raciocínio exato.” (Macha- Ex.: Escuta o que eu tenho a dizer. (Escuta algo:
do de Assis) esse algo é o objeto direto)
Verbo transitivo direto: achou Observe bem a que ele mostrar. (a = pronome
Objeto direto: o raciocínio feminino definido)
Predicativo do objeto: exato
No terceiro exemplo, o termo “exato” caracteriza z Objeto direto preposicionado
um julgamento relacionado ao termo “o raciocínio”,
que é o objeto direto dessa oração. Com isso, podemos Mesmo que o verbo transitivo direto não exija
concluir que temos um caso de predicativo do obje- preposição no seu complemento, algumas palavras
to, visto que “exato” não se liga a “Ptolomeu”, que é requerem o uso da preposição para não perder o sen-
o sujeito. tido de “alvo” do sujeito.
O que é o predicativo do objeto? Além disso, há alguns casos obrigatórios e outros
É o termo que confere uma característica, uma facultativos.
qualidade, ao que se refere.
A formação do predicativo do objeto se dá por um Exemplos com Ocorrência Obrigatória de
adjetivo ou por um substantivo. Preposição:
Ex.: Consideramos o filme proveitoso. Não entendo nem a ele nem a ti.
Predicativo do objeto: proveitoso Respeitava-se aos mais antigos.
Ex.: Chamavam-lhe vitoriosa, pelas conquistas. Ali estava o artista a quem nosso amigo idolatrava.
Predicativo do objeto: vitoriosa Amavam-se um ao outro.
Para facilitar a identificação do predicativo do “Olho Gabriela como a uma criança, e não mulher
objeto, o recomendável é desdobrar a oração, acres- feita.” (Ciro dos Anjos).
centando-lhe um verbo de ligação, cuja função especí-
fica é relacionar o predicativo ao nome. Exemplos com Ocorrência Facultativa de
O filme foi proveitoso. Preposição:
Ela era vitoriosa. Eles amam a Deus, assim diziam as pessoas daque-
Nessas duas últimas formas, os termos seriam pre- le templo.
dicativos do sujeito, pois são precedidos de verbos de A escultura atrai a todos os visitantes.
ligação (foi e era, respectivamente). Não admito que coloquem a Sua Excelência num
pedestal.
TERMOS INTEGRANTES DA ORAÇÃO Ao povo ninguém engana.
Eu detesto mais a estes filmes do que àqueles.
São vocábulos que se agregam a determinadas No caso “Você bebeu dessa água?”, a forma “des-
estruturas para torná-las completas. De acordo com sa” (preposição de + pronome essa) precisa estar pre-
a gramática da língua portuguesa, esses termos são sente para indicar parte de um todo, quando assim
divididos em: for o contexto de uso. Logo, a pergunta é se a pessoa
bebeu uma porção da água, e não ela toda.
Complementos Verbais
z Objeto direto pleonástico: É a dupla ocorrência
São termos que completam o sentido de verbos dessa função sintática na mesma oração, a fim de
transitivos diretos e transitivos indiretos. enfatizar um único significado.
Ex.: “Eu não te engano a ti”. (Carlos Drummond de
z Objeto direto: revela o alvo da ação. Não é acom- Andrade);
panhado de preposição. z Objeto direto interno: Representado por palavra
Ex.: Examinei o relógio de pulso. que tem o mesmo radical do verbo ou apresenta
Gostaria de vê-lo no topo do mundo. mesmo significado.
O técnico convocou somente os do Brasil (os = Ex.: Riu um riso aterrador.
aqueles). Dormiu o sono dos justos.
LÍNGUA PORTUGUESA

Pronomes e sua Relação com o Objeto Direto Como diferenciar objeto direto de sujeito?
Já começaram os jogos da seleção. (sujeito)
Além dos pronomes oblíquos o(s), a(s) e suas Ignoraram os jogos da seleção. (objeto direto)
variações lo(s), la(s), no(s), na(s), que quase sempre O objeto direto pode ser passado para a voz passi-
exercem função de objeto direto, os pronomes oblí- va analítica e se transforma em sujeito.
quos me, te, se, nos, vos também podem exercer essa Os jogos da seleção foram ignorados;
função sintática.
Ex.: Levou-me à sabedoria esta aula. (= “Levaram z Objeto indireto: É complemento verbal regido de
quem? A minha pessoa”) preposição obrigatória, que se liga diretamente a
Nunca vos tomeis como grandes personalidades. verbos transitivos indiretos e diretos. Representa
(= “Nunca tomeis quem? Vós”) o ser beneficiado ou o alvo de uma ação. 27
Ex.: Por favor, entregue a carta ao proprietário da Categorias morfológicas que podem funcionar
casa 260. como adjunto adnominal:
Gosto de ti, meu nobre.
Não troque o certo pelo duvidoso. z Artigos;
Vamos insistir em promover o novo romance de z Adjetivos;
ficção; z Numerais;
z Pronomes;
z Objeto indireto e o uso de pronomes pessoais z Locuções adjetivas.

Pode ser representado pelos seguintes pronomes Ex.: Aqueles dois antigos soldadinhos de chumbo
oblíquos átonos: me, te, se, no, vos, lhe, lhes. Os pro- ficaram esquecidos no quarto.
nomes o, a, os, as não exercerão essa função. Iam cheios de si.
Ex.: Mostre-lhe onde fica o banheiro, por favor. Estava conquistando o respeito dos seus.
Todos os pronomes oblíquos tônicos (me, mim, O novo regulamento originou a revolta dos
comigo, te, ti, contigo) podem funcionar como objeto funcionários.
O doutor possuía mil lembranças de suas viagens;
indireto, já que sempre ocorrem com preposição.
Ex.: Você escreveu esta carta para mim?;
z Pronomes oblíquos átonos e a função de ajunto
adnominal: os pronomes me, te, lhe, nos, vos, lhes
z Objeto indireto pleonástico: Ocorrência repetida
exercem essa função sintática quando assumem
dessa função sintática com o objetivo de enfatizar
valor de pronomes possessivos;
uma mensagem. Ex.: Puxaram-me o cabelo (Puxam meu cabelo).
Ex.: A ele, sem reservas, supliquei-lhe ajuda. z Como diferenciar adjunto adnominal de com-
plemento nominal?
COMPLEMENTO NOMINAL
Quando o adjunto adnominal for representado
Completa o sentido de substantivos, adjetivos e por uma locução adjetiva, ele pode ser confundido
advérbios. É uma função sintática regida de preposi- com complemento nominal. Para diferenciá-los, siga
ção e com objetivo de completar o sentido de nomes. A a dica:
presença de um complemento nominal nos contextos
de uso é fundamental para o esclarecimento do senti- „ Será adjunto adnominal: se o substantivo ao
do do nome. qual se liga for concreto.
Ex.: Tenho certeza de que tu serás aprovado. Ex.: A casa da idosa desapareceu.
Estou longe de casa e tão perto do paraíso. Se indicar posse ou o agente daquilo que
Para melhor identificar um complemento nomi- expressa o substantivo abstrato.
nal, siga a instrução: Ex.: A preferência do grupo não foi respeitada;
Nome + preposição + quem ou quê „ Será complemento nominal: se indicar o alvo
Como diferenciar complemento nominal de com- daquilo que expressa o substantivo.
plemento verbal? Ex.: A preferência pelos novos alojamentos não
Ex.: Naquela época, só obedecia ao meu coração. foi respeitada.
(complemento verbal, pois “ao meu coração” liga-se Notava-se o amor pelo seu trabalho.
diretamente ao verbo “obedecia”) Se vier ligado a um adjetivo ou a um advérbio:
Naquela época, a obediência ao meu coração pre- Ex.: Manteve-se firme em seus objetivos.
valecia. (complemento nominal, pois “ao meu cora-
ção” liga-se diretamente ao nome “obediência”) Adjunto Adverbial

Agente da Passiva Termo representado por advérbios, locuções


adverbiais ou adjetivos com valor adverbial. Relacio-
É o complemento de um verbo na voz passiva ana- na-se ao verbo ou a toda oração para indicar variadas
circunstâncias.
lítica. Sempre é precedido da preposição por, e, mais
raramente, da preposição de.
z Tempo: Quero que ele venha logo;
Forma-se essencialmente pelos verbos auxiliares
z Lugar: A dança alegre se espalhou na avenida;
ser, estar, viver, andar, ficar.
z Modo: O dia começou alegremente;
z Intensidade: Almoçou pouco;
Termos Acessórios da Oração z Causa: Ela tremia de frio;
z Companhia: Venha jantar comigo;
Há termos que, apesar de dispensáveis na estrutu- z Instrumento: Com a máquina, conseguiu lavar as
ra básica da oração, são importantes para compreen- roupas;
são do enunciado porque trazem informações novas. z Dúvida: Talvez ele chegue mais cedo;
Esses termos são chamados acessórios da oração. z Finalidade: Vivia para o trabalho;
z Meio: Viajou de avião devido à rapidez;
Adjunto Adnominal z Assunto: Falávamos sobre o aluguel;
z Negação: Não permitirei que permaneça aqui;
São termos que acompanham o substantivo, z Afirmação: Sairia sim naquela manhã;
núcleo de outra função, para qualificar, quantificar, z Origem: Descendia de nobres.
especificar o elemento representado pelo substantivo.
28
Não confunda! � Distributivo: dispõe os elementos equitativamente.
Para conseguir distinguir adjunto adverbial de Ex.: Separe duas folhas: uma para o texto e outra
adjunto adnominal, basta saber se o termo relacio- para as perguntas.
nado ao adjunto é um verbo ou um nome, mesmo que Sua presença era inesperada, o que causou
o sentido seja parecido. surpresa.
Ex.: Descendência de nobres. (O “de nobres” aqui
é um adjunto adnominal) Dica
Descendia de nobres. (O “de nobres” aqui é um
adjunto adverbial) � O aposto pode aparecer antes do termo a que
se refere, normalmente antes do sujeito.
Aposto Ex.: Maior piloto de todos os tempos, Ayrton Sen-
na marcou uma geração.
Estruturas relacionadas a substantivos, pronomes � Segundo o gramático Cegalla, quando o apos-
ou orações. O aposto tem como propósito explicar, to se refere a um termo preposicionado, pode ele
identificar, esclarecer, especificar, comentar ou apon-
vir igualmente preposicionado.
tar algo, alguém ou um fato.
Ex.: Renata, filha de D. Raimunda, comprou uma Ex.: De cobras, (de) morcegos, (de) bichos, de
bicicleta. tudo ele tinha medo.
Aposto: filha de D. Raimunda � O aposto pode ter núcleo adjetivo ou adverbial.
Ex.: O escritor Machado de Assis escreveu gran- Ex.: Tuas pestanas eram assim: frias e curvas.
des obras. (adjetivos, apostos do predicativo do sujeito)
Aposto: Machado de Assis. Falou comigo deste modo: calma e maliciosa-
Classifica-se nas seguintes categorias: mente. (advérbios, aposto do adjunto adverbial
de modo).
z Explicativo: usado para explicar o termo anterior.
Separa-se do substantivo a que se refere por uma z Diferença de aposto especificativo e adjunto
pausa, marcada na escrita por vírgulas, travessões adnominal: normalmente, é possível retirar a
ou dois-pontos. preposição que precede o aposto. Caso seja um
Ex.: As filhas gêmeas de Ana, que aniversariaram
adjunto, se for retirada a preposição, a estrutura
ontem, acabaram de voltar de férias.
fica prejudicada.
Jéssica, uma ótima pessoa, conseguiu apoio de
Ex.: A cidade Fortaleza é quente.
todos;
(aposto especificativo / Fortaleza é uma cidade)
� Enumerativo: usado para desenvolver ideias que
foram resumidas ou abreviadas em um termo O clima de Fortaleza é quente.
anterior. Mostra os elementos contidos em um só (adjunto adnominal / Fortaleza é um clima?);
termo. z Diferença de aposto e predicativo do sujeito: o
Ex.: Víamos somente isto: vales, montanhas e aposto não pode ser um adjetivo nem ter núcleo
riachos. adjetivo.
Apenas três coisas me tiravam do sério, a saber, Ex.: Muito desesperado, João perdeu o controle.
preconceito, antipatia e arrogância; (predicativo do sujeito; núcleo: desesperado – ad-
z Recapitulativo ou resumidor: é o termo usado jetivo)
para resumir termos anteriores. É expresso, nor- Homem desesperado, João sempre perde o con-
malmente, por um pronome indefinido. trole.
Ex.: Os professores, coordenadores, alunos, todos (aposto; núcleo: homem – substantivo).
estavam empolgados com a feira.
Irei a Moçambique, Cabo Verde, Angola e Guiné- Vocativo
-Bissau, países africanos onde se fala português;
� Comparativo: estabelece uma comparação O vocativo é um termo que não mantém relação
implícita. sintática com outro termo dentro da oração. Não per-
Ex.: Meu coração, uma nau ao vento, está sem tence nem ao sujeito, nem ao predicado. É usado para
rumo; chamar ou interpelar a pessoa que o enunciador dese-
� Circunstancial: exprime uma característica ja se comunicar. É um termo independente, pois
circunstancial. não faz parte da estrutura da oração.
Ex.: No inverno, busquemos sair com roupas Ex.: Recepcionista, por favor, agende minha
apropriadas;
consulta.
� Especificativo: é o aposto que aparece junto a um
Ela te diz isso desde ontem, Fábio.
LÍNGUA PORTUGUESA

substantivo de sentido genérico, sem pausa, para


especificá-lo ou individualizá-lo. É constituído por
substantivos próprios. z Para distinguir vocativo de aposto: o vocati-
Exs.: O mês de abril. vo não se relaciona sintaticamente com nenhum
O rio Amazonas. outro termo da oração.
Meu primo José; Ex.: Lufe, faz um almoço gostoso para as crianças.
z Aposto da oração: é um comentário sobre o O aposto se relaciona sintaticamente com outro
fato expresso pela oração, ou uma palavra que termo da oração.
condensa. A cozinha de Lufe, cozinheiro da família, é impe-
Ex.: Após a notícia, ficou calado, sinal de sua cável.
preocupação. Sujeito: a cozinha de lufe.
O noticiário disse que amanhã fará muito calor – Aposto: cozinheiro da família (relaciona-se ao
ideia que não me agrada; sujeito). 29
PERÍODO COMPOSTO Orações Coordenadas Sindéticas

Observe os exemplos a seguir: As orações coordenadas podem aparecer ligadas


A apostila de Português está completa. às outras através de um conectivo (elo), ou seja, atra-
Um verbo: Uma oração = período simples vés de um síndeto, de uma conjunção, por isso o nome
Português e Matemática são disciplinas essen- sindética. Veremos agora cada uma delas:
ciais para ser aprovado em concursos.
Dois verbos: duas orações = período composto z Aditivas: exprimem ideia de sucessibilidade ou
O período composto é formado por duas ou mais simultaneidade.
orações. Num parágrafo, podem aparecer misturado Conjunções constitutivas: e, nem, mas, mas tam-
períodos simples e período compostos. bém, mas ainda, bem como, como também, se-
não também, que (= e).
Ex.: Pedro casou-se e teve quatro filhos.
PERÍODO SIMPLES PERÍODO COMPOSTO Os convidados não compareceram nem explica-
ram o motivo;
O povo levantou-se cedo
Era dia de eleição
para evitar aglomeração z Adversativas: exprimem ideia de oposição, con-
traste ou ressalva em relação ao fato anterior.
Para não esquecer: Conjunções constitutivas: mas, porém, todavia,
Período simples é aquele formado por uma só contudo, entretanto, no entanto, senão, não obs-
oração. tante, ao passo que, apesar disso, em todo caso.
Período composto é aquele formado por duas ou Ex.: Ele é rico, mas não paga as dívidas.
mais orações. “A morte é dura, porém longe da pátria é dupla a
Classifica-se nas seguintes categorias: morte.” (Laurindo Rabelo);
z Alternativas: exprimem fatos que se alternam ou
z Por coordenação: orações coordenadas assindé- se excluem.
ticas; Conjunções constitutivas: (ou), (ou ... ou), (ora ...
ora), (que ... quer), (seja ... seja), (já ... já), (talvez
„ Orações coordenadas sindéticas: aditi- ... talvez).
vas, adversativas, alternativas, conclusivas, Ex.: Ora responde, ora fica calado.
Você quer suco de laranja ou refrigerante?
explicativas.
z Conclusivas: exprimem uma conclusão lógica
sobre um raciocínio.
z Por subordinação:
Conjunções constitutivas: logo, portanto, por con-
seguinte, pois isso, pois (o “pois” sem ser no início
„ Orações subordinadas substantivas: subjeti-
de frase).
vas, objetivas diretas, objetivas indiretas, com-
Ex.: Estou recuperada, portanto viajarei próxima
pletivas nominais, predicativas, apositivas;
semana.
„ Orações subordinadas adjetivas: restritivas,
“Era domingo; eu nada tinha, pois, a fazer.” (Paulo
explicativas; Mendes Campos);
„ Orações subordinadas adverbiais: causais, z Explicativas: justificam uma opinião ou ordem
comparativas, concessivas, condicionais, con- expressa. Conjunções constitutivas: que, porque,
formativas, consecutivas, finais, proporcionais, porquanto, pois.
temporais. Ex.: Vamos dormir, que é tarde. (o “que” equivale
a “pois”)
z Por coordenação e subordinação: orações for- Vamos almoçar de novo porque ainda estamos
madas por períodos mistos; com fome.
z Orações reduzidas: de gerúndio e de infinitivo.
PERÍODO COMPOSTO POR SUBORDINAÇÃO
Período Composto por Coordenação
Formado por orações sintaticamente dependentes,
As orações são sintaticamente independentes. Isso considerando a função sintática em relação a um ver-
significa que uma não possui relação sintática com bo, nome ou pronome de outra oração.
verbos, nomes ou pronomes das demais orações no Tipos de orações subordinadas:
período.
Ex.: “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.” z Substantivas;
(Fernando Pessoa) z Adjetivas;
Oração coordenada 1: Deus quer z Adverbiais.
Oração coordenada 2: o homem sonha
Oração coordenada 3: a obra nasce. Orações Subordinadas Substantivas
Ex.: “Subi devagarinho, colei o ouvido à porta da
sala de Damasceno, mas nada ouvi.” (Machado de São classificadas nas seguintes categorias:
Assis)
Oração coordenada assindética: Subi devagarinho z Orações subordinadas substantivas conectivas:
Oração coordenada assindética: colei o ouvido à são introduzidas pelas conjunções subordinativas
porta da sala de Damasceno integrantes que e se.
Oração coordenada sindética: mas nada ouvi Ex.: Dizem que haverá novos aumentos de
30 Conjunção adversativa: mas nada impostos.
Não sei se poderei sair hoje à noite; z Orações subordinadas adjetivas restritivas:
z Orações subordinadas substantivas justapostas: especificam ou limitam a significação do termo
introduzidas por advérbios ou pronomes interroga- antecedente, acrescentando-lhe um elemento
tivos (onde, como, quando, quanto, quem etc.); indispensável ao sentido. Não são isoladas por
z Ex.: Ignora-se onde eles esconderam as joias vírgulas.
roubadas. Ex.: A doença que surgiu recentemente ainda é
Não sei quem lhe disse tamanha mentira; incurável;
z Orações subordinadas substantivas reduzidas:
não são introduzidas por conectivo, e o verbo fica Dica
no infinitivo. Como diferenciar as orações subordinadas adje-
Ex.: Ele afirmou desconhecer estas regras; tivas restritivas das orações subordinadas adje-
z Orações subordinadas substantivas subjetivas: tivas explicativas?
exercem a função de sujeito. O verbo da oração Ele visitará o irmão que mora em Recife.
principal deve vir na voz ativa, passiva analítica (restritiva, pois ele tem mais de um irmão e vai
ou sintética. Em 3ª pessoa do singular, sem se refe- visitar apenas o que mora em Recife)
rir a nenhum termo na oração. Ele visitará o irmão, que mora em Recife.
Ex.: Foi importante o seu regresso. (sujeito) (explicativa, pois ele tem apenas um irmão que
Foi importante que você regressasse. (sujeito ora- mora em Recife)
cional) (or. sub. subst. subje.);
z Orações subordinadas substantivas objetivas � Orações subordinadas adverbiais: exprimem
diretas: exercem a função de objeto direto de um uma circunstância relativa a um fato expresso em
verbo transitivo direto ou transitivo direto e indi- outra oração. Têm função de adjunto adverbial.
reto da oração principal. São introduzidas por conjunções subordinativas
Ex.: Desejo o seu regresso. (OD) (exceto as integrantes) e se enquadram nos seguin-
tes grupos:
Desejo que você regresse. (OD oracional) (or. sub.
subst. obj. dir.); „ Orações subordinadas adverbiais causais: são
z Orações subordinadas substantivas completi- introduzidas por: como, já que, uma vez que, por-
vas nominais: exercem a função de complemento que, visto que etc. Ex.: Caminhamos o restante do
nominal de um substantivo, adjetivo ou advérbio caminho a pé porque ficamos sem gasolina;
da oração principal. „ Orações subordinadas adverbiais compa-
Ex.: Tenho necessidade de seu apoio. (comple- rativas: são introduzidas por: como, assim
mento nominal) como, tal qual, como, mais etc. Ex.: A cerve-
Tenho necessidade de que você me apoie. (com- ja nacional é menos concentrada (do) que a
plemento nominal oracional) (or. sub. subst. com- importada;
„ Orações subordinadas adverbiais concessi-
pl. nom.);
vas: indica certo obstáculo em relação ao fato
z Orações subordinadas substantivas predicati-
expresso na outra oração, sem, contudo, impe-
vas: funcionam como predicativos do sujeito da
di-lo. São introduzidas por: embora, ainda que,
oração principal. Sempre figuram após o verbo de mesmo que, por mais que, se bem que etc. Ex.:
ligação ser. Mesmo que chova, iremos à praia amanhã;
Ex.: Meu desejo é a sua felicidade. (predicativo do „ Orações subordinadas adverbiais condicio-
sujeito) nais: são introduzidas por: se, caso, desde que,
Meu desejo é que você seja feliz. (predicativo do salvo se, contanto que, a menos que etc. Ex.: Você
sujeito oracional) (or. sub. subst. predic.); terá sucesso desde que se esforce para tal;
z Orações subordinadas substantivas apositivas: „ Orações subordinadas adverbiais conforma-
funcionam como aposto. Geralmente vêm depois tivas: são introduzidas por: como, conforme,
de dois-pontos ou entre vírgulas. segundo, consoante. Ex.: Ele deverá agir con-
Ex.: Só quero uma coisa: a sua volta imediata. forme combinamos;
(aposto) „ Orações subordinadas adverbiais consecu-
Só quero uma coisa: que você volte imediata- tivas: são introduzidas por: que (precedido na
mente. (aposto oracional) (or. sub. aposi.); oração anterior de termos intensivos como tão,
z Orações subordinadas adjetivas: desempenham tanto, tamanho etc.) de sorte que, de modo que,
função de adjetivo (adjunto adnominal ou, mais de forma que, sem que. Ex.: A garota riu tanto,
raramente, aposto explicativo). São introduzidas que se engasgou;
LÍNGUA PORTUGUESA

„ “Achei as rosas mais belas do que nunca, e tão


por pronomes relativos (que, o qual, a qual, os
perfumadas que me estontearam.” (Cecília
quais, as quais, cujo, cuja, cujos, cujas etc.) As
Meireles);
orações subordinadas adjetivas classificam-se em:
„ Orações subordinadas adverbiais finais:
explicativas e restritivas;
indicam um objetivo a ser alcançado. São intro-
z Orações subordinadas adjetivas explicativas: duzidas por: para que, a fim de que, porque e
não limitam o termo antecedente, e sim acrescen- que (= para que) Ex.: O pai sempre trabalhou
tam uma explicação sobre o termo antecedente. para que os filhos tivessem bom estudo;
São consideradas termo acessório no período, „ Orações subordinadas adverbiais propor-
podendo ser suprimidas. Sempre aparecem isola- cionais: são introduzidas por: à medida que,
das por vírgulas. à proporção que, quanto mais, quanto menos
Ex.: Minha mãe, que é apaixonada por bichos, etc. Ex.: Quanto mais ouço essa música, mas
cria trinta gatos; a aprecio; 31
„ Orações subordinadas adverbiais tempo- Orações Reduzidas de Gerúndio
rais: são introduzidas por: quando, enquanto,
logo que, depois que, assim que, sempre que, Podem ser coordenadas aditivas, substantivas apo-
cada vez que, agora que etc. Ex.: Assim que sitivas, adjetivas, adverbiais.
você sair, feche a porta, por favor.
z Coordenada aditiva: Ex.: Pagou a conta, ficando
Para separar as orações de um período composto, é livre dos juros;
necessário atentar-se para dois elementos fundamen- z Substantiva apositiva:
tais: os verbos (ou locuções verbais) e os conectivos
(conjunções ou pronomes relativos). Após assinalar
Ex.:
esses elementos, deve-se contar quantas orações ele
Não mais se vê amigo ajudando um ao outro.
representa, a partir da quantidade de verbos ou locu-
(subjetiva)
ções verbais. Exs.:
[“A recordação de uns simples olhos basta] – 1ª Agora ouvimos artistas cantando no shopping.
oração (objetiva direta);
[para fixar outros] – 2ª oração
[que os rodeiam] – 3ª oração z Adjetiva: Ex.: Criança pedindo esmola dói o
[e se deleitem com a imaginação deles]. – 4ª ora- coração;
ção (Machado de Assis) z Adverbial: Ex.: Temendo a reação do pai, não
Nesse período, a 2ª oração subordina-se ao verbo contou a verdade.
basta, pertencente à 1ª (oração principal).
A 3ª e a 4ª são orações coordenadas entre si, porém Orações Reduzidas de Particípio
ambas dependentes do pronome outros, da 2ª oração.
Podem ser adjetivas ou adverbiais.
Orações Reduzidas
� Adjetiva: Ex.: A notícia divulgada pela mídia era
z Apresentam o mesmo verbo em uma das formas falsa.
nominais (gerúndio, particípio e infinitivo); Nosso planeta, ameaçado constantemente por
z As que são substantivas e adverbiais: nunca são nós mesmos, ainda resiste;
iniciadas por conjunções; � Adverbiais: Ex.: Aceitas as condições, não have-
z As que são adjetivas: nunca podem ser iniciadas
ria problemas. (condicional)
por pronomes relativos;
Dada a notícia da herança, as brigas começaram.
z Podem ser reescritas (desenvolvidas) com esses
(causal/temporal)
conectivos;
z Podem ser iniciadas por preposição ou locução Comprada a casa, a família se mudou logo.
prepositiva. Ex.: Terminada a prova, fomos ao (temporal).
restaurante;
z O. S. Adv. reduzida de particípio: não começa com O particípio concorda em gênero e número com os
conjunção; termos referentes.
z Quando terminou a prova, fomos ao restaurante. Essas orações reduzidas adverbiais são bem fre-
(desenvolvida); quentes em provas de concurso.
z O. S. Adv. Desenvolvida: começa com conjunção.
Períodos Mistos
Orações Reduzidas de Infinitivo
São períodos que apresentam estruturas oracio-
Podem ser substantivas, adjetivas ou adverbiais. nais de coordenação e subordinação.
Se o infinitivo for pessoal, irá flexionar normalmente. Assim, às vezes aparecem orações coordenadas
dentro de um conjunto de orações que são subordina-
z Substantivas: Ex.: É preciso trabalhar muito. (O. das a uma oração principal.
S. substantiva subjetiva reduzida de infinitivo)
Deixe o aluno pensar. (O. S. substantiva objetiva
direta reduzida de infinitivo) 1ª oração 2ª oração 3ª oração
A melhor política é ser honesto. (O. S. substantiva
O homem entrou na que todos
predicativa reduzida de infinitivo) e pediu
sala calassem
Este é um difícil livro de se ler. (O. S. substantiva
completiva nominal reduzida de infinitivo) verbo verbo verbo
Temos uma missão: subir aquela escada. (O. S.
substantiva apositiva reduzida de infinitivo);
1ª oração: oração coordenada assindética.
z Adjetivas: Ex.: João não é homem de meter os pés
pelas mãos. 2ª oração: oração coordenada sindética aditiva em
O meu manual para fazer bolos certamente vai relação à 1ª oração e principal em relação à 3ª oração.
agradar a todos; 3ª oração: coordenada substantiva objetiva direta
z Adverbiais: Ex.: Apesar de estar machucado, em relação à 2ª oração.
continua jogando bola. Resumindo: período composto por coordenação e
Sem estudar, não passarão. subordinação.
Ele passou mal, de tanto comer doces. As orações subordinadas são coordenadas entre si,
ligadas ou não por conjunção.
32
z Orações subordinadas substantivas coordena- Há verbos que admitem mais de uma regência sem
das entre si que o sentido seja alterado.
Ex.: Espero que você não me culpe, que não culpe Ex.: Aquela moça não esquecia os favores
meus pais, nem que culpe meus parentes. recebidos.
Oração principal: Espero. V. T. D: esquecia
Oração coordenada 1: que você não me culpe. Objeto direto: os favores recebidos.
Oração coordenada 2: que não culpe meus pais. Aquela moça não se esquecia dos favores
Oração coordenada 3: nem que culpe meus recebidos.
parentes. V. T. I.: se esquecia
Objeto indireto: dos favores recebidos.
No entanto, na Língua Portuguesa, há verbos que,
Importante! mudando-se a regência, mudam de sentido, alterando
seu significado.
O segredo para classificar as orações é per- Ex.: Neste país aspiramos ar poluídos.
ceber os conectivos (conjunções e pronomes (aspiramos = sorvemos)
relativos). V. T. D.: aspiramos
Objeto direto: ar poluídos.
Os funcionários aspiram a um mês de férias.
� Orações subordinadas adjetivas coordenadas
(aspiram = almejam)
entre si
V. T. I.: aspiram
Ex.: A mulher que é compreensiva, mas que é
Objeto indireto: a um mês de férias
cautelosa, não faz tudo sozinha.
A seguir, uma lista dos principais verbos que
Oração subordinada adjetiva 1: que é compreensiva
geram dúvidas quanto à regência:
Oração subordinada adjetiva 2: mas que é
cautelosa;
� Abraçar: transitivo direto
� Orações subordinadas adverbiais coordenadas Ex.: Abraçou a namorada com ternura.
entre si O colar abraçava-lhe elegantemente o pescoço;
Ex.: Não só quando estou presente, mas também � Agradar: transitivo direto; transitivo indireto
quando não estou, sou discriminado. Ex.: A menina agradava o gatinho. (transitivo dire-
Oração subordinada adverbial 1: quando estou to com sentido de “acariciar”)
presente A notícia agradou aos alunos. (transitivo indireto
Oração subordinada adverbial 2: quando não no sentido de “ser agradável a”);
estou; � Agradecer: transitivo direto; transitivo indireto;
� Orações coordenadas ou subordinadas no mes- transitivo direto e indireto
mo período Ex.: Agradeceu a joia. (transitivo direto: objeto não
Ex.: Presume-se que as penitenciárias cumpram personificado)
seu papel, no entanto a realidade não é assim. Agradeceu ao noivo. (transitivo indireto: objeto
Oração principal: Presume-se personificado)
Oração subordinada subjetiva da principal: as Agradeceu a joia ao noivo. (transitivo direto e indi-
penitenciárias cumpram seu papel reto: refere-se a coisas e pessoas);
Oração coordenada sindética adversativa da ante- � Ajudar: transitivo direto; transitivo indireto
rior: no entanto a realidade não é assim. Ex.: Seguido de infinitivo intransitivo precedido da
preposição a, rege indiferentemente objeto direto
REGÊNCIA e objeto indireto.
Ajudou o filho a fazer as atividades. (transitivo
Regência é a maneira como o nome ou o verbo se direto)
relacionam com seus complementos, com ou sem pre- Ajudou ao filho a fazer as atividades. (transitivo
posição. Quando um nome (substantivo, adjetivo ou indireto)
advérbio) exige complemento preposicionado, esse Se o infinitivo preposicionado for intransitivo,
nome é um termo regente, e seu complemento é um rege apenas objeto direto:
termo regido, pois há uma relação de dependência Ajudaram o ladrão a fugir.
entre o nome e seu complemento. Não seguido de infinitivo, geralmente rege objeto
O nome exige um complemento nominal sempre direto:
iniciado por preposição, exceto se o complemento Ajudei-o muito à noite;
vier em forma de pronome oblíquo átono. � Ansiar: transitivo direto; transitivo indireto
Ex.: Os discípulos daquele mestre sempre lhe
LÍNGUA PORTUGUESA

Ex.: A falta de espaço ansiava o prisioneiro. (tran-


foram leais. sitivo direto com sentido de “angustiar”)
Observação: Complemento de “lhe”: predicativo Ansiamos por sua volta. (transitivo indireto com
do sujeito (desprovido de preposição) sentido de “desejar muito” – não admite “lhe”
Pronome oblíquo átono: lhe como complemento);
Foram leais: complemento de “lhe”, predicativo do � Aspirar: transitivo direto; transitivo indireto
sujeito (desprovido de preposição). Ex.: Aspiramos o ar puro das montanhas. (transiti-
vo direto com sentido de “respirar”)
Regência Verbal Sempre aspiraremos a dias melhores. (transitivo
indireto no sentido de “desejar”);
Relação de dependência entre um verbo e seu � Assistir: transitivo direto; transitivo indireto
complemento. As relações podem ser diretas ou indi- Ex.: - Transitivo direto ou indireto no sentido de
retas, isto é, com ou sem preposição. “prestar assistência” 33
O médico assistia os acidentados. � Pagar: transitivo direto; transitivo indireto; transi-
O médico assistia aos acidentados. tivo direto e indireto
- Transitivo direto no sentido de “ver, presenciar” Ex.: Você já pagou a conta de luz? (transitivo direto)
Não assisti ao final da série; Você pagou ao dono do armazém? (transitivo
indireto).
O verbo assistir não pode ser empregado no Vou pagar o aluguel ao dono da pensão. (transitivo
particípio. direto e indireto);
É incorreta a forma “O jogo foi assistido por milha- � Perdoar: transitivo direto; transitivo indireto;
res de pessoas.” transitivo direto e indireto
Ex.: Perdoarei as suas ofensas. (transitivo direto)
� Casar: intransitivo; transitivo indireto; transitivo A mãe perdoou à filha. (transitivo indireto)
direto e indireto Ela perdoou os erros ao filho. (transitivo direto e
Ex.: Eles casaram na Itália há anos. (intransitivo) indireto);
A jovem não queria casar com ninguém. (transiti- � Suceder: intransitivo; transitivo direto
vo indireto) Ex.: O caso sucedeu rapidamente. (intransitivo no
O pai casou a filha com o vizinho. (transitivo dire- sentido de “ocorrer”).
to e indireto); A noite sucede ao dia. (transitivo direto no sentido
� Chamar: transitivo direto; transitivo seguido de de “vir depois”).
predicativo do objeto
Ex.: Chamou o filho para o almoço. (transitivo dire- Regência Nominal
to com sentido de “convocar”);
Chamei-lhe inteligente. (transitivo seguido de pre- Alguns nomes (substantivos, adjetivos e advér-
dicativo do objeto com sentido de “denominar, bios) exigem complementos preposicionados, exceto
qualificar”); quando vêm em forma de pronome oblíquo átono.
� Custar: transitivo indireto; transitivo direto e indi-
reto; intransitivo Advérbios Terminados em “Mente”
Ex.: Custa-lhe crer na sua honestidade. (transitivo
indireto com sentido de “ser difícil”) Os advérbios derivados de adjetivos seguem a
A imprudência custou lágrimas ao rapaz. (transiti- regência dos adjetivos:
vo direto e indireto: sentido de “acarretar”) análoga / analogicamente a
Este vinho custou trinta reais. (intransitivo); contrária / contrariamente a
� Esquecer: admite três possibilidades compatível / compativelmente com
Ex.: Esqueci os acontecimentos. diferente / diferentemente de
Esqueci-me dos acontecimentos. favorável / favoravelmente a
Esqueceram-me os acontecimentos; paralela / paralelamente a
� Implicar: transitivo direto; transitivo indireto; próxima / proximamente a/de
transitivo direto e indireto relativa / relativamente a
Ex.: A resolução do exercício implica nova teoria.
(transitivo direto com sentido de “acarretar”) Proposições Semelhantes a Primeira Sílaba dos
Mamãe sempre implicou com meus hábitos. Nomes a que se Referem
(transitivo indireto com sentido de “mostrar má
disposição”) Alguns nomes regem preposições semelhantes a
Ele implicou-se em negócios ilícitos. (transitivo sua primeira sílaba. Vejamos:
direto e indireto com sentido de envolver-se”); dependente, dependência de
� Informar: transitivo direto e indireto inclusão, inserção em
Ex.: Referente à pessoa: objeto direto; referente à inerente em/a
coisa: objeto indireto, com as preposições de ou descrente de/em
sobre desiludido de/com
Informaram o réu de sua condenação. desesperançado de
Informaram o réu sobre sua condenação. desapego de/a
Referente à pessoa: objeto direto; referente à coi- convívio com
sa: objeto indireto, com a preposição a convivência com
Informaram a condenação ao réu; demissão, demitido de
� Interessar-se: verbo pronominal transitivo indi- encerrado em
reto, com as preposições em e por enfiado em
Ex.: Ela interessou-se por minha companhia; imersão, imergido, imerso em
� Namorar: intransitivo; transitivo indireto; transi- instalação, instalado em
tivo direto e indireto interessado, interesse em
Ex.: Eles começaram a namorar faz tempo. (intran- intercalação, intercalado entre
sitivo com sentido de “cortejar”) supremacia sobre
Ele vivia namorando a vitrine de doces. (transitivo
indireto com sentido de “desejar muito”) CONCORDÂNCIA
“Namorou-se dela extremamente.” (A. Gar-
ret) (transitivo direto e indireto com sentido de Na elaboração da frase, as palavras relacionam-se
“encantar-se”); umas com as outras. Ao se relacionarem, elas obede-
� Obedecer/desobedecer: transitivos indiretos cem a alguns princípios: um deles é a concordância.
Ex.: Obedeçam à sinalização de trânsito. Observe o exemplo:
34 Não desobedeçam à sinalização de trânsito; A pequena garota andava sozinha pela cidade.
A: Artigo, feminino, singular; pluralizada, o verbo fica no plural. Caso não haja
Pequena: Adjetivo, feminino, singular; esse artigo, o verbo fica no singular.
Garota: Substantivo, feminino, singular.
Tanto o artigo quanto o adjetivo (ambos adjuntos Ex.:
adnominais) concordam com o gênero (feminino) e o Os Estados Unidos continuam uma potência.
número (singular) do substantivo. Estados Unidos continua uma potência.
Na língua portuguesa, há dois tipos de concordân- Santos fica em São Paulo. (Corresponde a: “A cida-
cia: verbal e nominal. de de Santos fica em São Paulo.”);

Concordância Verbal
Importante!
É a adaptação em número – singular ou plural –
e pessoa que ocorre entre o verbo e seu respectivo Quando se aplica a nomes de obras artísticas, o
sujeito. verbo fica no singular ou no plural.
“De todos os povos mais plurais culturalmente, o Os Lusíadas imortalizou / imortalizaram
Brasil, mesmo diante de opiniões contrárias, as quais Camões.
insistem em desmentir que nosso país é cheio de ‘bra-
sis’ – digamos assim –, ganha disparando dos outros,
pois houve influências de todos os povos aqui: euro- z Quando o sujeito é formado pelas expressões mais
peus, asiáticos e africanos.” de um, cerca de, perto de, menos de, coisa de,
Esse período, apesar de extenso, constitui-se de obra de etc., o verbo concorda com o numeral. Ex.:
um sujeito simples “o Brasil”, portanto o verbo cor- Mais de um aluno compareceu à aula.
respondente a esse sujeito, “ganha”, necessita ficar no Mais de cinco alunos compareceram à aula.
singular.
Destrinchando o período, temos que os termos A expressão mais de um tem particularidades:
essenciais da oração (sujeito e predicado) são apenas se a frase indica reciprocidade (pronome reflexivo
“[...] o Brasil [...]” – sujeito – e “[...] ganha [...]” – predi- recíproco se), se houver coletivo especificado ou se
cado verbal. a expressão vier repetida, o verbo fica no plural. Ex.:
Veja um caso de uso de verbo bitransitivo: Mais de um irmão se abraçaram.
Ex.: Prefiro natação a futebol. Mais de um grupo de crianças veio/vieram à
Verbo bitransitivo: Prefiro festa.
Objeto direto: natação Mais de um aluno, mais de um professor esta-
Objeto indireto: a futebol vam presentes.

Concordância Verbal com o Sujeito Simples z Quando o sujeito é formado por um número per-
centual ou fracionário, o verbo concorda com o
Em regra geral, o verbo concorda com o núcleo do numerado ou com o número inteiro, mas pode
sujeito. concordar com o especificador dele. Se o numeral
Ex.: Os jogadores de futebol ganham um salário vier precedido de um determinante, o verbo con-
exorbitante. cordará apenas com o numeral. Ex.: Apenas 1/3
Diferentes situações: das pessoas do mundo sabe o que é viver bem.
z Quando o núcleo do sujeito for uma palavra de
Apenas 1/3 das pessoas do mundo sabem o que é
sentido coletivo, o verbo fica no singular. Ex.: A
viver bem.
multidão gritou entusiasmada;
Apenas 30% do povo sabe o que é viver bem.
z Quando o sujeito é o pronome relativo que, o
Apenas 30% do povo sabem o que é viver bem.
verbo posterior ao pronome relativo concorda
Os 30% da população não sabem o que é viver
com o antecedente do relativo. Ex.: Quais os limi-
mal;
tes do Brasil que se situam mais próximos do
Meridiano?;
z Quando o sujeito é o pronome indefinido quem, o � Os verbos bater, dar e soar concordam com o
verbo fica na 3ª pessoa do singular. Ex.: Fomos nós número de horas ou vezes, exceto se o sujeito for a
quem resolveu a questão. palavra relógio. Ex.: Deram duas horas, e ela não
chegou (Duas horas deram...).
Por questão de ênfase, o verbo pode também con- Bateu o sino duas vezes (O sino bateu).
Soaram dez badaladas no relógio da sala (Dez
LÍNGUA PORTUGUESA

cordar com o pronome reto antecedente. Ex.: Fomos


nós quem resolvemos a questão. badaladas soaram).
Soou dez badaladas o relógio da escola (O relógio
z Quando o sujeito é um pronome interrogativo, da escola soou dez badaladas);
demonstrativo ou indefinido no plural + de nós / z Quando o sujeito está em voz passiva sintética, o
de vós, o verbo pode concordar com o pronome no verbo concorda com o sujeito paciente. Ex.: Ven-
plural ou com nós / vós. Ex.: Alguns de nós resol- dem-se casas de veraneio aqui.
viam essa questão. / Alguns de nós resolvíamos Nunca se viu, em parte alguma, pessoa tão
essa questão; interessada;
z Quando o sujeito é formado por palavras plu- z Quando o sujeito é um pronome de tratamento, o
ralizadas, normalmente topônimos (Amazonas, verbo fica sempre na 3ª pessoa. Ex.: Por que Vossa
férias, Minas Gerais, Estados Unidos, óculos etc.), Majestade está preocupada?
se houver artigo definido antes de uma palavra Suas Excelências precisam de algo?; 35
z Sujeito do verbo viver em orações optativas ou � Em indicações de horas, datas, tempo, distância
exclamativas. Ex.: Vivam os campeões! (predicativo), o verbo concorda com o predicativo
Ex.: São nove horas.
Concordância Verbal com o Sujeito Composto É frio aqui.
Seria meio-dia e meia ou seriam doze horas?
� Núcleos do sujeito constituídos de pessoas grama- � O verbo fica no singular quando precede termos
ticais diferentes como muito, pouco, nada, tudo, bastante, mais,
Ex.: Eu e ele nos tornamos bons amigos; menos etc. junto a especificações de preço, peso,
� Núcleos do sujeito ligados pela preposição com quantidade, distância, e também quando seguido
Ex.: O ministro, com seus assessores, chegou/che- do pronome o
garam ontem; Ex.: Cem metros é muito para uma criança.
� Núcleos do sujeito acompanhados da palavra cada Divertimentos é o que não lhe falta.
ou nenhum Dez reais é nada diante do que foi gasto;
Ex.: Cada jogador, cada time, cada um deve man- � Na expressão expletiva “é que”, se o sujeito da ora-
ter o espírito esportivo; ção não aparecer entre o verbo ser e o que, o ser
� Núcleos do sujeito sendo sinônimos e estando no ficará invariável. Se o ser vier separado do que, o
singular verbo concordará com o termo não preposiciona-
Ex.: A angústia e a ansiedade não o ajudava/aju- do entre eles.
davam (preferencialmente no singular); Ex.: Eles é que sempre chegam cedo.
� Gradação entre os núcleos do sujeito São eles que sempre chegam cedo.
Ex.: Seu cheiro, seu toque bastou/bastaram para É nessas horas que a gente precisa de ajuda. (cons-
me acalmar (preferencialmente no singular); trução adequada)
� Núcleos do sujeito no infinitivo São nessas horas que a gente precisa de ajuda.
Ex.: Andar e nadar faz bem à saúde; (construção inadequada)
� Núcleos do sujeito resumidos por um aposto resu-
mitivo (nada, tudo, ninguém) CASOS ESPECIAIS DE CONCORDÂNCIA VERBAL
Ex.: Os pedidos, as súplicas, nada disso o comoveu;
� Sujeito constituído pelas expressões um e outro, Concordância do Infinitivo
nem um nem outro
Ex.: Um e outro já veio/vieram aqui; z Exemplos com verbos no infinitivo pessoal:
� Núcleos do sujeito ligados por nem... nem Nós lutaremos até vós serdes bem tratados. (sujei-
Ex.: Nem a televisão nem a internet desviarão meu to esclarecido)
foco nos estudos; Está na hora de começarmos o trabalho. (sujeito
� Entre os núcleos do sujeito, aparecem as palavras implícito “nós”)
como, menos, inclusive, exceto ou as expressões Falei sobre o desejo de aprontarmos logo o site.
bem como, assim como, tanto quanto (dois pronomes implícitos: eu, nós)
Ex.: O Vasco ou o Corinthians ganhará o jogo na Até me encontrarem, vocês terão de procurar
final; muito. (preposição no início da oração)
z Núcleos do sujeito ligados pelas séries correlativas Para nós nos precavermos, precisaremos de luz.
aditivas enfáticas (tanto... quanto / como / assim (verbos pronominais)
como; não só... mas também etc.) Visto serem dez horas, deixei o local. (verbo ser
Ex.: Tanto ela quanto ele mantém/mantêm sua indicando tempo)
popularidade em alta; Estudo para me considerarem capaz de aprova-
ção. (pretensão de indeterminar o sujeito)
z Quando dois ou mais adjuntos modificam um úni- Para vocês terem adquirido esse conhecimento,
co núcleo, o verbo fica no singular concordando foi muito tempo de estudo. (infinitivo pessoal com-
com o núcleo único. Mas, se houver determinante posto: locução verbal de verbo auxiliar + verbo no
após a conjunção, o verbo fica no plural, pois aí o particípio);
sujeito passa a ser composto. z Exemplos com verbos no infinitivo impessoal:
Ex.: O preço dos alimentos e dos combustíveis Devo continuar trabalhando nesse projeto. (locu-
aumentou. Ou: O preço dos alimentos e o dos ção verbal)
combustíveis aumentaram. Deixei-os brincar aqui. (pronome oblíquo átono
sendo sujeito do infinitivo).
Concordância Verbal do Verbo Ser
Quando o sujeito do infinitivo for um substantivo
� Concorda com o sujeito no plural, usa-se tanto o infinitivo pessoal quanto o
Ex.: Nós somos unha e carne; impessoal. “Mandei os garotos sair/saírem”.
� Concorda com o sujeito (pessoa) Navegar é preciso, viver não é preciso. (infinitivo
Ex.: Os meninos foram ao supermercado; com valor genérico)
� Em predicados nominais, quando o sujeito for São casos difíceis de solucionar. (infinitivo prece-
representado por um dos pronomes tudo, nada, dido de preposição de ou para)
isto, isso, aquilo ou “coisas”, o verbo ser concor- Soldados, recuar! (infinitivo com valor de
dará com o predicativo (preferencialmente) ou imperativo)
com o sujeito
Ex.: No início, tudo é/são flores; � Concordância do verbo parecer
� Concorda com o predicativo quando o sujeito for Flexiona-se ou não o infinitivo.
que ou quem Pareceu-me estarem os candidatos confiantes.
36 Ex.: Quem foram os classificados? (o equivalente a “Pareceu-me que os candidatos
estavam confiantes”, portanto o infinitivo é flexio- z O problema do sistema é/são os impostos;
nado de acordo com o sujeito, no plural) z Hoje é/são 22 de agosto;
Eles parecem estudar bastante. (locução verbal, z Devemos estudar muito para atingir/atingirmos
logo o infinitivo será impessoal); a aprovação;
� Concordância dos verbos impessoais z Deixei os rapazes falar/falarem tudo.
São os casos de oração sem sujeito. O verbo fica
sempre na 3ª pessoa do singular. Silepse de Número e de Pessoa
Ex.: Havia sérios problemas na cidade.
Fazia quinze anos que ele havia se formado. Conhecida também como “concordância irregular,
Deve haver sérios problemas na cidade. (verbo ideológica ou figurada”. Vejamos os casos:
auxiliar fica no singular)
Trata-se de problemas psicológicos. z Silepse de número: usa-se um termo discordando
Geou muitas horas no sul; do número da palavra referente, para concordar
� Concordância com sujeito oracional com o sentido semântico que ela tem. Ex.: Flor tem
Quando o sujeito é uma oração subordinada, o vida muito curta, logo murcham. (ideia de plurali-
verbo da oração principal fica na 3ª pessoa do dade: todas as flores);
singular. z Silepse de pessoa: o autor da frase participa do
Ex.: Ainda vale a pena investir nos estudos. processo verbal. O verbo fica na 1ª pessoa do plu-
Sabe-se que dois alunos nossos foram aprovados. ral. Ex.: Os brasileiros, enquanto advindos de
Ficou combinado que sairíamos à tarde. diversas etnias, somos multiculturais.
Urge que você estude.
Era preciso encontrar a verdade Concordância Nominal

Casos mais Frequentes em Provas Define-se como a adaptação em gênero e número


que ocorre entre o substantivo (ou equivalente, como
Veja agora uma lista com os casos mais abordados o adjetivo) e seus modificadores (artigos, pronomes,
em concursos: adjetivos, numerais).
O adjetivo e as palavras adjetivas concordam em
� Sujeito posposto distanciado gênero e número com o nome a que se referem.
Ex.: Viviam no meio de uma grande floresta tropi- Ex.: Parede alta. / Paredes altas.
cal brasileira seres estranhos; Muro alto. / Muros altos.
� Verbos impessoais (haver e fazer)
Ex.: Faz dois meses que não pratico esporte. Casos com Adjetivos
Havia problemas no setor.
Obs.: Existiam problemas no setor. (verbo existir z Com função de adjunto adnominal: quando o
vai ter sujeito “problemas”, e vai ser variável); adjetivo funcionar como adjunto adnominal e esti-
� Verbo na voz passiva sintética ver após os substantivos, poderá concordar com
Ex.: Criaram-se muitas expectativas para a luta; as somas desses ou com o elemento mais próximo.
� Verbo concordando com o antecedente correto Ex.: Encontrei colégios e faculdades ótimas. /
do pronome relativo ao qual se liga Encontrei colégios e faculdades ótimos.
Ex.: Contratei duas pessoas para a empresa, que
tinham experiência; Há casos em que o adjetivo concordará apenas
� Sujeito coletivo com especificador plural com o nome mais próximo, quando a qualidade per-
Ex.: A multidão de torcedores vibrou/vibraram; tencer somente a este.
� Sujeito oracional Ex.: Saudaram todo o povo e a gente brasileira.
Ex.: Convém a eles alterar a voz (verbo no singular); Foi um olhar, uma piscadela, um gesto estranho
� Núcleo do sujeito no singular seguido de adjun- Quando o adjetivo funcionar como adjunto adno-
to ou complemento no plural minal e estiver antes dos substantivos, poderá con-
Ex.: Conversa breve nos corredores pode gerar cordar apenas com o elemento mais próximo. Ex.:
atrito (verbo no singular). Existem complicadas regras e conceitos.
Quando houver apenas um substantivo qualifica-
Casos Facultativos do por dois ou mais adjetivos pode-se:
Colocar o substantivo no plural e enumerar o ad-
z A multidão de pessoas invadiu/invadiram o jetivo no singular. Ex.: Ele estuda as línguas inglesa,
estádio; francesa e alemã.
LÍNGUA PORTUGUESA

z Aquele comediante foi um dos que mais me fez/ Colocar o substantivo no singular e, ao enumerar
fizeram rir; os adjetivos (também no singular), antepor um artigo
z Fui eu quem faltou/faltei à aula; a cada um, menos no primeiro deles. Ex.: Ele estuda a
z Quais de vós me ajudarão/ajudareis? língua inglesa, a francesa e a alemã.
z “Os Sertões” marcou/marcaram a literatura
brasileira; z Com função de predicativo do sujeito
z Somente 1,5% das pessoas domina/dominam a
ciência. (1,5% corresponde ao singular); Com o verbo após o sujeito, o adjetivo concordará
z Chegaram/Chegou João e Maria; com a soma dos elementos.
z Um e outro / Nem um nem outro já veio/vieram Ex.: A casa e o quintal estavam abandonados.
aqui; Com o verbo antes do sujeito o predicativo do su-
z Eu, assim como você, odeio/odiamos a política jeito acompanhará a concordância do verbo, que por
brasileira; sua vez concordará tanto com a soma dos elementos 37
quanto com o nome mais próximo. Pimenta é bom? / A pimenta é boa?;
Ex.: Estava abandonada a casa e o quintal. / Esta- � Menos / pseudo
vam abandonados a casa e o quintal. São invariáveis.
Como saber quando o adjetivo tem valor de adjun- Ex.: Havia menos violência antigamente.
to adnominal ou predicativo do sujeito? Substitua os Aquelas garotas são pseudoatletas. / Seu argumen-
substantivos por um pronome: to é pseudo-objetivo;
Ex.: Existem conceitos e regras complicados. � Muito / bastante
(substitui-se por “eles”) Quando modificam o substantivo: concordam com
Fazendo a troca, fica “Eles existem”, e não “Eles ele.
existem complicados”. Quando modificam o verbo: invariáveis.
Como o adjetivo desapareceu com a substituição, Ex.: Muitos deles vieram. / Eles ficaram muito
então é um adjunto adnominal. irritados.
Bastantes alunos vieram. / Os alunos ficaram bas-
z Com função de predicativo do objeto tante irritados.
Se ambos os termos puderem ser substituídos por
Recomenda-se concordar com a soma dos substan- “vários”, ficarão no plural. Se puderem ser substi-
tivos, embora alguns estudiosos admitam a concor- tuídos por “bem”, ficarão invariáveis;
dância com o termo mais próximo. � Tal qual
Ex.: Considero os conceitos e as regras complicados. Tal concorda com o substantivo anterior; qual,
Tenho como irresponsáveis o chefe do setor e com o substantivo posterior.
seus subordinados. Ex.: O filho é tal qual o pai. / O filho é tal quais os
pais.
Algumas Convenções Os filhos são tais qual o pai. / Os filhos são tais
quais os pais.
� Obrigado / próprio / mesmo z Silepse (também chamada concordância
Ex.: A mulher disse: “Muito obrigada”. figurada)
A própria enfermeira virá para o debate. É a que se opera não com o termo expresso, mas o
Elas mesmas conversaram conosco. que está subentendido.
Ex.: São Paulo é linda! (A cidade de São Paulo é
linda!)
Dica
Estaremos aberto no final de semana. (Estaremos
O termo mesmo no sentido de “realmente” será com o estabelecimento aberto no final de semana.)
invariável. Os brasileiros estamos esperançosos. (Nós, brasi-
Ex.: Os alunos resolveram mesmo a situação. leiros, estamos esperançosos.);
� Possível
z Só / sós Concordará com o artigo, em gênero e número, em
Variáveis quando significarem “sozinho” / “sozinhos”. frases enfáticas com o “mais”, o “menos”, o “pior”.
Invariáveis quando significarem “apenas, somente”. Ex.: Conheci crianças o mais belas possíveis. /
Ex.: As garotas só queriam ficar sós. (As garotas Conheci crianças as mais belas possíveis.
apenas queriam ficar sozinhas.)
A locução “a sós” é invariável.
Ex.: Ela gostava de ficar a sós. / Eles gostavam de PLURAL DE COMPOSTOS
ficar a sós;
� Quite / anexo / incluso Substantivos
Concordam com os elementos a que se referem.
Ex.: Estamos quites com o banco. O adjetivo concorda com o substantivo referen-
Seguem anexas as certidões negativas. te em gênero e número. Se o termo que funciona
Inclusos, enviamos os documentos solicitados; como adjetivo for originalmente um substantivo fica
� Meio invariável.
Quando significar “metade”: concordará com o Ex.: Rosas vermelhas e jasmins pérola. (pérola
elemento referente. também é um substantivo; mantém-se no singular)
Ex.: Ela estava meio (um pouco) nervosa. Ternos cinza e camisas amarelas. (cinza também é
Quando significar “um pouco”: será invariável. um substantivo; mantém-se no singular)
Ex.: Já era meio-dia e meia (metade da hora);
� Grama Adjetivos
Quando significar “vegetação”, é feminino; quan-
do significar unidade de medida, é masculino. Quando houver adjetivo composto, apenas o últi-
Ex.: Comprei duzentos gramas de farinha. mo elemento concordará com o substantivo referente.
“A grama do vizinho sempre é mais verde.”; Os demais ficarão na forma masculina singular.
� É proibido entrada / É proibida a entrada Se um dos elementos for originalmente um subs-
Se o sujeito vier determinado, a concordância do tantivo, todo o adjetivo composto ficará invariável.
verbo e do predicativo do sujeito será regular, ou Ex.: Violetas azul-claras com folhas verde-musgo.
seja, tanto o verbo quanto o predicativo concorda- No termo “azul-claras”, apenas “claras” segue o
rão com o determinante. plural, pois ambos são adjetivos.
Ex.: Caminhada é bom para a saúde. / Esta cami- No termo “verde-musgo”, “musgo” permanece no
nhada está boa. singular, assim como “verde”, por ser substantivo.
É proibido entrada de crianças. / É proibida a Nesse caso, o termo composto não concorda com o
38 entrada de crianças. plural do substantivo referente, “folhas”.
Ex.: Calças rosa-claro e camisas verde-mar. � Nos substantivos compostos grafados ligada-
O termo “claro” fica invariável porque “rosa” tam- mente, sem hífen:
bém pode ser um substantivo. girassol – girassóis;
O termo “mar” fica invariável por seguir a mesma pontapé – pontapés;
lógica de “musgo” do exemplo anterior. mandachuva – mandachuvas;
fidalgo – fidalgos.
Dica � Nos substantivos compostos formados com
grão, grã e bel:
Azul-marinho, azul-celeste, ultravioleta e qual- grão-duque – grão-duques;
quer adjetivo composto iniciado por “cor-de” são grã-fino – grã-finos;
sempre invariáveis. bel-prazer – bel-prazeres.
O adjetivo composto pele-vermelha tem Não flexão dos elementos.
os dois elementos flexionados no plural � Em alguns casos, não ocorre a flexão dos elementos
(peles-vermelhas). formadores, que se mantêm invariáveis. Isso ocor-
re em frases substantivadas e em substantivos
Lista de Flexão dos Dois Elementos compostos por um tema verbal e uma palavra
invariável ou outro tema verbal oposto:
� Nos substantivos compostos formados por pala- o disse me disse – os disse me disse;
vras variáveis, especialmente substantivos e o leva e traz – os leva e traz;
adjetivos: o cola-tudo – os cola-tudo.
segunda-feira – segundas-feiras.
matéria-prima – matérias-primas. FUNÇÕES DO SE
couve-flor – couves-flores.
guarda-noturno – guardas-noturnos. Embora já tenhamos abordado esse tema anterior-
primeira-dama – primeiras-damas; mente, deixamos aqui uma síntese das funções mais
� Nos substantivos compostos formados por cobradas desse vocábulo.
temas verbais repetidos:
corre-corre – corres-corres. Funções Morfológicas
pisca-pisca – piscas-piscas.
pula-pula – pulas-pulas. z Pronome;
Nestes substantivos também é possível a flexão z Conjunção.
apenas do segundo elemento: corre-corres, pisca-
-piscas, pula-pulas. Funções Sintáticas

Flexão Apenas do Primeiro Elemento � Pronome reflexivo com a função sintática de obje-
to direto
z Nos substantivos compostos formados por subs- Ex.: Elas não se encontram na redação;
tantivo + substantivo em que o segundo termo � Pronome reflexivo com a função sintática do obje-
limita o sentido do primeiro termo: to indireto
decreto-lei – decretos-lei. Ex.: Ele atribuía-se o direito de julgar;
cidade-satélite – cidades-satélite. � Pronome reflexivo recíproco com a função sintáti-
público-alvo – públicos-alvo. ca do objeto direto
elemento-chave – elementos-chave. Ex.: Admiravam-se de longe;
Nestes substantivos também é possível a flexão � Pronome reflexivo recíproco com a função sintáti-
dos dois elementos: decretos-leis, cidades-satélites, ca do objeto indireto
públicos-alvos, elementos-chaves; Ex.: Eles retribuíram-se as respectivas malvadezas;
z Nos substantivos compostos preposicionados: � Pronome reflexivo com a função de sujeito de um
cana-de-açúcar – canas-de-açúcar. infinitivo
pôr do sol – pores do sol. Ex.: Ela deixou-se ir;
fim de semana – fins de semana. � Pronome apassivador
pé de moleque – pés de moleque. Ex.: Compram-se jornais;
� Pronome de realce
Flexão Apenas do Segundo Elemento Ex.: O mestre da outra escola sorriu-se da tradução;
� Índice de indeterminação do sujeito
� Nos substantivos compostos formados por tema Ex.: Assistiu-se a um belo espetáculo;
� Parte integrante dos verbos essencialmente
LÍNGUA PORTUGUESA

verbal ou palavra invariável + substantivo ou


adjetivo: pronominais
bate-papo – bate-papos; Ex.: Queixou-se muito da vida;
quebra-cabeça – quebra-cabeças; � Conjunção subordinativa integrante
arranha-céu – arranha-céus; Ex.: Ela queria ver se conseguiria;
ex-namorado – ex-namorados; � Conjunção subordinativa condicional
vice-presidente – vice-presidentes. Ex.: Se eles vierem, serão bem-vindos.
� Nos substantivos compostos em que há repeti- FUNÇÕES DO QUE
ção do primeiro elemento:
zum-zum – zum-zuns; Funções Morfológicas
tico-tico – tico-ticos;
lufa-lufa – lufa-lufas; z Pronome;
reco-reco – reco-recos. z Substantivo; 39
z Preposição; FUNÇÕES DO SEM QUE
z Advérbio;
z Interjeição; Locução conjuntiva com valor de condição, con-
z Conjunção. cessão, consequência, negação de consequência,
negação de causa, modo. Essa locução pode ser subs-
Funções Sintáticas tituída para formar orações subordinadas reduzidas
de infinitivo.
Ex.: “Empurrava a cadeira sem que a mãe corresse
� Pronome relativo (igual a “o qual”, “a qual”)
atrás.”
Ex.: A curiosidade é um vício que desconhece Poderia ser reescrita como “Empurrava a cadeira
termos; sem a mãe correr atrás”, e então teríamos uma ora-
� Pronome substantivo indefinido (igual a “que coi- ção reduzida de infinitivo.
sa”) ligado ao verbo Ex.: “A democracia não será efetiva sem liberda-
Ex.: Elas não sabiam o que fazer; de de informação e não será exercida sem que esta
� Pronome adjetivo indefinido (igual a “quanto”, esteja assegurada a todos os veículos de comunicação
“quanta”) ligado ao substantivo visual.”
Poderia ser reescrita como “A democracia não será
Ex.: Que alegria!
efetiva sem liberdade de informação e não será exer-
� Pronome interrogativo (no final de frase é cida sem esta estar assegurada a todos os veículos
acentuado) de comunicação visual”, formando agora uma oração
Ex.: Por que não vai conosco? reduzida de infinitivo.
Não vai conosco por quê?
� Substantivo (quando é antecedido de artigo) (é
acentuado)
Ex.: Havia em seus olhos um quê de curiosidade; A LINGUAGEM LÓGICA E A FIGURADA
� Preposição (a depender do contexto, pode ser subs-
tituído por “de”) DENOTAÇÃO
Ex.: A gente tem que explicar com franqueza cer-
tas coisas; O sentido denotativo da linguagem compreende
� Advérbio de intensidade (igual a “muito”, ligado ao o significado literal da palavra independente do seu
adjetivo) contexto de uso. Preocupa-se com o significado mais
objetivo e literal associado ao significado que aparece
Ex.: Que bela tarde!
nos dicionários. A denotação tem como finalidade dar
� Interjeição (sempre acentuado) ênfase à informação que se quer passar para o recep-
Ex.: Quê! Você tem coragem? tor de forma mais objetiva, imparcial e prática. Por
� Partícula expletiva isso, é muito utilizada em textos informativos, como
Ex.: Que experto que é teu irmão! notícias, reportagens, jornais, artigos, manuais didá-
� Faz parte da locução expletiva ticos, entre outros.
Ex.: Ele é que sabe das coisas! Ex.: O fogo se alastrou por todo o prédio. (fogo:
� Conjunção causal (igual a “porque”) chamas)
O coração é um músculo que bombeia sangue para
Ex.: Disse que não iria, que não tinha roupas
o corpo. (coração: parte do corpo)
adequadas;
� Conjunção integrante OS DIVERSOS NÍVEIS DE LINGUAGEM
Ex.: Suponhamos que elas viessem;
� Conjunção comparativa A língua não é uma, ou seja, não é indivisível;
Ex.: Uma era mais esperta que a outra; ela pode ser considerada um conjunto de dialetos.
� Conjunção concessiva (igual a “embora”) Alguém já disse que em país algum se fala uma língua
Ex.: Que não seja rico, sempre me casarei com ele; só, há várias línguas dentro da língua oficial. E no Bra-
� Conjunção condicional (igual a “se”) sil não é diferente: pode-se até afirmar que cada cida-
Ex.: Que você pague a promissória, hão de entre- dão tem a sua. A essa característica da língua damos
o nome de variação linguística. De forma sintética,
gar a mercadoria;
podemos dividir de duas formas a língua “brasileira”:
� Conjunção conformativa (igual a “conforme”) padrão formal e padrão informal; cada um desses
Ex.: Aos que dizem, os exames serão dificílimos; tipos apresenta suas peculiaridades e espécies deriva-
� Conjunção temporal das. Vejamos:
Ex.: Chegados que foram à cabana, reviraram
tudo; PADRÃO FORMAL
� Conjunção final
Ex.: Fiz-lhe sinal que se calasse; Norma Culta
� Conjunção consecutiva
Ex.: Falou tanto que ficou rouco; A norma culta da língua portuguesa é estabelecida
pelos padrões definidos conforme a classe social mais
� Conjunção aditiva
abastada, detentora de poder político e cultural. As
Ex.: Anda que anda e nada encontra; pessoas cujo padrão social lhe permite gozar de pri-
� Conjunção explicativa vilégios na sociedade têm o poder de ditar, inclusive,
Ex.: Fique quieto, que eu quero dormir. as regras da língua, direcionando o que é considerado
40 permitido e aquilo que não é.
Norma Padrão E falar “Houveram menas percas” no lugar de
“Houve menos perdas” é variação diastrática
A norma padrão diz respeito às regras organizadas sintática.
nas gramáticas, estabelecendo um conjunto de regras
e preceitos que devem ser respeitados na utilização z Variação diafásica ou estilística
da língua. Essa norma apresenta um caráter mais abs-
trato, tendo em vista que também considera fatores A variação diafásica, como ocorreu com a diató-
sociais, como a norma culta. pica e com a diastrática, pode ser também fonética,
lexical e sintática. Dizer “veio”, com o e aberto, não
Língua Formal por morar em determinado lugar nem porque todos
de sua camada social usem, é usar a variação diafá-
A língua formal não está, diretamente, associada sica fonética. Um padre, em um momento de descon-
a padrões sociais. Embora saibamos que a influência tração, brincando com alguém, dizer “presunto” para
social exerce grande poder na língua, a língua formal representar o “corpo de pessoa assassinada”, usa a
busca formalizar em regras e padrões as suas normas variação diafásica lexical. E, finalmente, um advo-
a fim de estabelecer um preceito mais concreto sobre gado dizer “Encontrei ele”, também em momento
a linguagem. de descontração, no lugar de “Encontrei-o” é usar a
variação diafásica sintática.
PADRÃO INFORMAL
VARIAÇÃO DIAFÁSICA
Coloquialismo
Mudança no som, como
Diz respeito a qualquer traço de linguagem (foné- veio (pronúncia com E
tico, lexical, morfológico, sintático ou semântico) que aberto) e more (pronúncia
Diafásica fonética
apresenta formas informais no falar e/ou escrever. com E fechado, asseme-
lhando-se quase a pronún-
Oralidade cia de i)
Ocorre em contextos de
A oralidade marca as maneiras informais de se informalidade, em que há
comunicar. Tais formas não são reconhecidas pela Diafásica lexical mais liberdade para usar
norma formal, e, por isso, são chamadas de registros gírias e expressões lexicais
orais ou coloquiais, embora nem sempre sejam reali- diferentes
zados apenas pela linguagem oral. Ocorre com a alteração
Diafásica sintática dos elementos sintáticos,
Linguagem Coloquial ocasionando erros

A linguagem coloquial marca formas fora do z Variação diacrônica


padrão estabelecido pela gramática. Como sabemos,
existem alguns tipos de variação linguística, dentre Diz respeito à mudança de forma e/ou sentido
elas, as mais comuns em provas de concurso são: estabelecido em algumas palavras ao longo dos anos.
Podemos citar alguns exemplos comuns, como as
z Variação diatópica ou geográfica palavras Pharmácia – Farmácia; Vossa Mercê – Você.
Além dessas, a variação diacrônica também marca a
A variação diatópica pode ocorrer com sons dife- presença de gírias comuns em determinadas épocas,
rentes. Quando isso acontece, dizemos que ocorreu como broto, chocante, carango etc.
uma variação diatópica fonética, já que fonética sig-
nifica aquilo que diz respeito aos sons da fala. Temos
também o exemplo das variações que ocorrem em
diversas partes do país. Em Curitiba, PR, os jovens cha-
mam de penal o estojo escolar para guardar canetas e
OS TIPOS DE DISCURSO: DIRETO,
lápis; no Nordeste, é comum usarem a palavra cheiro INDIRETO E INDIRETO LIVRE
para representar um carinho feito em alguém. O que
em outras regiões se chamaria de beijinho. Macaxei- Nos textos narrativos, existem dois tipos de discur-
ra, no Norte e no Nordeste, é a mandioca ou o aipim. so que podem ser utilizados ao tratar de diálogos ou
LÍNGUA PORTUGUESA

Essa variação denominamos diatópica lexical, já que “falas” dos personagens. São eles o discurso direto e o
lexical significa algo relativo ao vocabulário. discurso indireto, explicaremos as características de
cada um a seguir.
z Variação diastrática ou sociocultural
DISCURSO DIRETO
A variação diastrática, como também ocorre com
a diatópica, pode ser fonética, lexical e sintática, É a reprodução exata ou literal da fala das perso-
dependendo do que seja modificado pelo falar do indi- nagens, sem participação do narrador. Ele é bastante
víduo: falar adevogado, pineu, bicicreta, é exemplo de comum em muitos textos exatamente por transcrever
variação diastrática fonética. Usar “presunto” no literalmente as palavras do outro, além disso, aproxi-
lugar de corpo de pessoa assassinada é variação dias- ma o leitor da história.
trática lexical. 41
Características: As mudanças ocorrem em diversos aspectos, como
destacaremos a seguir:2
z Introduzido por um verbo de elocução;
z Usa dois-pontos; z Mudança das pessoas do discurso
z Há mudança de linha para um novo parágrafo;
z É iniciado por um travessão, que indica a mudança DISCURSO
da voz do narrador para a voz da personagem; DISCURSO DIRETO MUDANÇA
INDIRETO
z O discurso em si está na primeira pessoa do discur-
1ª pessoa passa para 3ª pessoa
so (eu/nós).
pronomes (ele, ela,
pronomes (eu, nós) passam para
eles, elas)
Importante! pronomes (ele, ela,
pronomes (me, mim, eles, elas, lhe, lhes,
Cabe relembrar aqui o que são e quais são os passam para
comigo, nos, conosco) se, si, consigo, o, os,
verbos de elocução. a, as)
Os verbos de elocução são aqueles que introdu- pronomes (meu, meus,
zem as falas dos personagens. pronomes (seu,
minha, minhas, nosso, passam para
seus, sua e suas)
Os principais são: nossos, nossa, nossas)
Falar, contar, destacar, ressaltar, dizer, afirmar,
perguntar, declarar, indagar e questionar. z Mudança nos tempos verbais

DISCURSO
DISCURSO INDIRETO DISCURSO DIRETO MUDANÇA
INDIRETO
Neste discurso, o narrador traz, em suas palavras, presente do indicativo passa para
pretérito imperfeito
as falas das personagens. do indicativo
Características: pretérito mais-
pretérito perfeito do
passa para que-perfeito do
z É introduzido por um verbo de elocução; indicativo
indicativo
z Logo após há um termo (geralmente “que”), que futuro do presente do futuro do pretérito
mostra a mudança da voz do narrador para a men- passa para
indicativo do indicativo
sagem da personagem;
presente do pretérito imperfeito
z Não há mudança de linha ou de parágrafo, o texto passa para
subjuntivo do subjuntivo
corrido;
z O discurso em si está na terceira pessoa do discur- pretérito imperfeito
futuro do subjuntivo passa para
so (ele, ela, eles, elas). do subjuntivo
pretérito imperfeito
imperativo passa para
MUDANÇA ENTRE OS DISCURSOS do subjuntivo

Em questões de concurso, geralmente é aborda- z Mudança na pontuação das frases


da a mudança de um discurso para o outro. Seja do
direto para o indireto ou do indireto para o direto, há
mudanças principalmente nos verbos, e elas devem DISCURSO
DISCURSO DIRETO MUDANÇA
ser observadas para manter a correção gramatical. INDIRETO
frases interrogativas frases
Passagem de Discurso Direto para Discurso Indireto passam para
(?) declarativas (.)
No caso da passagem do discurso direto para o dis- frases exclamativas frases
passam para
curso indireto, é necessário acrescentar informações (!) declarativas (.)
como um pronome ou o nome do autor da mensagem frases imperativas frases
e mudar o tempo verbal. Além disso, são eliminadas passam para
(! ou .) declarativas (.)
as pontuações como travessão e dois-pontos, já que o
texto é corrido.
z Mudança dos advérbios e adjuntos adverbiais
Por exemplo:
Discurso direto: João afirmou:
— Comecei minha faculdade na semana passada. DISCURSO DISCURSO
MUDANÇA
Discurso indireto: João afirmou que começou sua DIRETO INDIRETO
faculdade na semana anterior. ontem passa para no dia anterior
Discurso direto: Luna e Ana disseram:
— Nós viajaremos amanhã. hoje passa para naquele dia
Discurso indireto: Elas disseram que viajariam agora passa para naquele momento
no dia seguinte. amanhã passa para no dia seguinte
aqui, aí, cá passam para ali, lá
aquele, aquela,
este, esta, isto passam para
aquilo

2 NEVES, F. Discurso direto e indireto. Norma Culta, 2022. Disponível em: <https://www.normaculta.com.br/discurso-direto-e-indireto/>. Acesso
42 em: 28 mar. 2022.
DISCURSO INDIRETO LIVRE FUNÇÃO METALINGUÍSTICA OU
METALINGUAGEM
Para finalizar, é importante mencionar o discurso
indireto livre, que é mais dinâmico. Nele, as falas das Acontece quando a linguagem é usada para expli-
personagens (na 1ª pessoa) estão inseridas dentro do car a própria linguagem. Dessa maneira, o emissor
discurso do narrador (na 3ª pessoa). Ou seja, há uma explica o código utilizando o próprio código. Na cate-
mistura dos dois tipos anteriores. Neste tipo, nem goria de textos, merecem destaque as gramáticas e os
sempre há o uso dos verbos de elocução. dicionários.
Esse tipo de discurso não apresenta uma estrutura
fixa, mas também não há indício da introdução das FUNÇÃO POÉTICA
falas das personagens no texto.
Não é muito indicado porque as duas vozes são Preocupa-se com a maneira como a mensagem
confundidas dentro da narração, já que ele funciona será transmitida. Essa função, embora seja comum
como se o narrador assumisse o papel do personagem, em poesias, também pode ser encontrada em slogans
mostrando o seu ponto de vista. publicitários, piadas, músicas, conversas cotidianas
Exemplo de Discurso Indireto Livre: etc. O uso de figuras de linguagem para explorar o
Juliana estava revoltada com o namorado e com ritmo, a sonoridade, a forma das palavras realçam o
a briga que tiveram. Como Paulo foi capaz de falar sentido da mensagem que se quer passar ao receptor,
aquelas coisas? Quem é que ele pensa que é? que a interpreta de maneira subjetiva.

Importante!
AS FUNÇÕES DA LINGUAGEM Observe que, quando se trata de identificar uma
determinada função em um texto, dizemos que
FUNÇÃO EMOTIVA OU EXPRESSIVA ela predomina naquele texto (ou em grande par-
te dele). Isso porque dificilmente uma função
Tem como objetivo transmitir sentimentos, emo- ocorre isoladamente: o mais comum é que em
ções e objetividades do emissor. O uso de verbos na
um texto se combinem duas ou mais funções de
primeira pessoa do singular evidencia seu mundo
linguagem.
interior; também é comum o uso de interjeições, reti-
cências, ponto de exclamação e interrogação para
reforçar a expressividade do emissor. Essa função é
comum em poemas, diários, conversas cotidianas e
narrativas de teor romântico ou dramático.
HORA DE PRATICAR!
1. (FGV — 2022) Texto 2
FUNÇÃO APELATIVA OU CONATIVA
“O alfabeto? É um pouco difícil saber exatamente o
Tem como objetivo convencer e influenciar o
que o ‘o’ significa, porque existem vários assim cha-
comportamento do receptor da mensagem. Essa fun-
mados alfabetos que não começam por a e b. Ogham,
ção caracteriza-se pela presença das formas tu, você,
o sistema do irlandês antigo, começava com BLF; a
vocês (explícitas ou subtendidas no texto), de vocati-
escrita medieval alemã, o rúnico, cujos caracteres se
vos e de formas verbais no imperativo que expressam
chamavam runas, começavam com seis letras que
ordem, sugestão, apelo etc. Essa função é predomi-
lhe deram o nome. O etíope começava com h-l. (....)
nante em textos publicitários, propagandas, horósco-
Porém, apesar das modificações, persistia um ideal
pos, manuais de advertências, tutoriais etc.
comum: captar os sons da fala por meio de um con-
junto de duas ou três dúzias de sinais únicos, cada um
FUNÇÃO REFERENCIAL
dos quais correspondendo a um som falado. Na verda-
de, como veremos, trata-se de uma vã esperança.”
Objetiva informar, referenciar algo. O foco é o pró-
A falta de correspondência perfeita entre os sons e as
prio assunto, o que faz dela uma função predominan-
letras aparece em nossa língua numa série de pontos.
te nos noticiários, jornais, artigos, nas revistas, nos
Assinale a opção em que isso não aparece comprova-
livros instrucionais, contratos etc. A linguagem, nes-
do nos exemplos.
se caso, transmite uma mensagem direta, objetiva e
impessoal, que pode ser entendida pelo leitor em um
a) a presença do H mudo em alguns vocábulos: honra,
sentindo específico.
herói.
LÍNGUA PORTUGUESA

b) a possibilidade de duas letras representarem o mes-


FUNÇÃO FÁTICA
mo som: asa, azar.
c) a existência de sons que podem ser representados de
Essa função serve para estabelecer ou interromper formas diferentes: roupa, carro.
a comunicação com o interlocutor. Pode ser encontra- d) a dupla grafia de uma mesma palavra: alevantar/
da em expressões de cumprimento, saudações, discur- levantar.
sos etc. e) a presença de uma grafia única para diferentes pro-
núncias como nas de Brasil e Portugal; fazê (BR),
fazeire (PT).

43
2. (FGV — 2021) Texto 1 Nesse segmento, o verbo sublinhado indica mudança
de estado; a frase abaixo que indica estado transitório
“A instituição policial brasileira, segundo documenta- e não mudança de estado é:
ção existente no Museu Nacional do Rio de Janeiro,
a) O Brasil anda às voltas com o coronavírus;
data de 1530, quando da chegada de Martim Afonso
b) A epidemia pode passar a pandemia;
de Sousa enviado ao Brasil – Colônia por D. João III. A
c) A epidemia virou caso diplomático;
pesquisa histórica revela que no dia 20 de novembro
d) A discussão sobre o vírus acabou em bate-boca;
de 1530, a polícia brasileira iniciava as suas ações, pro-
e) O Congresso transformou as medidas em leis.
movendo justiça e organizando os serviços de ordem
pública, como melhor entendesse nas terras conquis-
6. (FGV — 2021) Um estudante e um professor, que haviam
tadas do Brasil. A partir de então a instituição policial
marcado uma reunião de estudos após as aulas, se
brasileira passou por seguidas reformulações nos
encontram no corredor e travam o seguinte diálogo:
anos de 1534, 1538, 1557, 1565, 1566, 1603, e, assim,
sucessivamente. Somente em 1808, com a chegada — Estudante: Oi, Paulo, você vai estar no seu gabinete
do príncipe Dom João ao Brasil, a polícia começou a amanhã às três horas, não é?
ser estruturada, comandada por um delegado e com- — Professor: Bom, não sei...
posta por escrivães e agentes.” — Estudante: Mas, o senhor... (se afasta, contrariado)

A frase abaixo em que há ERRO no emprego ou na Sobre essa conversação, é correto afirmar que:
ausência do artigo definido é:
a) o estudante mostra não dominar o uso correto da lín-
a) Não importa se o gato é preto ou branco, desde que gua, ao misturar os tratamentos “você” e “senhor”;
ele pegue os ratos; b) o emprego de “você” na primeira frase do estudante
b) As grandes ideias sempre encontram os homens que mostra descortesia, já que se trata de um professor, a
as procuram; quem se deve dirigir um tratamento respeitoso;
c) As ideias concordam bem mais entre si do que os c) o tratamento de “senhor” mostra um distanciamento
homens; em relação ao professor, em função da situação criada;
d) Todo o dia em que se trabalha é um dia perdido; d) as reticências ao final da fala do professor indicam
e) A virtude premeditada é a virtude do vício. que algo não foi registrado no texto;
e) as reticências ao final da segunda fala do estudante
3. (FGV — 2021) Observe as seguintes frases de e-mails, indicam dúvida sobre o que pensar.
prestando atenção ao emprego de diminutivos:
7. (FGV — 2022) Todas as frases abaixo mostram locu-
1. João está bem, mas deve tomar cuidadinho. ções adverbiais sublinhadas; a frase em que a locução
2. Estou um pouquinho cheio deste trabalho. destacada foi substituída de forma adequada é:
3. Ela faz uma coisinha qualquer e logo a mãe baba.
4. Pouco a pouco vou aprendendo um pouquinho mais. a) Nenhum banco morre de repente / repentinamente;
b) As mudanças nunca ocorrem sem inconvenientes, até
O que se pode depreender do emprego desses diminu- mesmo do pior para o melhor / complexamente;
tivos é que há em: c) Repreende o amigo em segredo e elogia-o em público
/ descaradamente;
a) (1) uma recomendação ao comportamento de João; d) Um homem muito lido nunca cita com precisão /
b) (2) uma maior intensidade na afirmação; necessariamente;
c) (2) e (4) idêntico valor; e) O sol se põe de novo a cada noite / repetidamente.
d) (3) um valor afetivo;
e) (4) um valor irônico. 8. (FGV — 2021) Texto 4

4. (FGV — 2021) Sobre expressões como “Uma mãe é O transporte público


uma mãe”, “Uma mulher é uma mulher”, “A Amazônia
é a Amazônia”, é correto afirmar que: “O responsável primário pelo transporte público urba-
no é o poder público municipal. É isso que prevê o inci-
a) o primeiro termo está no sentido figurado e o segundo, so V do artigo 30 da Constituição Federal:
no sentido próprio; ‘[Cabe ao município] organizar e prestar, diretamente
b) o primeiro termo é substantivo comum e o segundo, ou sob regime de concessão ou permissão, os servi-
substantivo próprio; ços públicos de interesse local, incluído o de transpor-
c) o primeiro termo aponta as qualidades enquanto o te coletivo, que tem caráter essencial’.
segundo indica a pessoa; Entretanto, como você pode observar, esse dispositivo
d) os dois termos apresentam rigorosamente o mesmo da Constituição dá liberdade aos municípios quanto a
significado; como ofertar esse serviço. Primeiro, o município pode
e) o segundo termo é considerado adjetivamente. escolher cuidar do transporte coletivo por conta própria.
A prefeitura se responsabiliza diretamente pela ges-
5. (FGV — 2021) A questão desta prova teve por base tão do sistema e desembolsa 100% dos recursos para
textos jornalísticos, retirados de jornais das grandes mantê-lo.
capitais brasileiras. É claro que o modelo direto é pouco adotado, já que
o orçamento municipal costuma ser apertado e há
“Há 160 anos, o então reino da Prússia, que veio outras áreas que as prefeituras devem suprir (saúde
a se tornar o principal Estado-membro do Império e educação, por exemplo). Nesse caso, quais opções
44 Alemão...” restam?
A saída mais comum é contratar empresas para 11. (FGV — 2022) Atenção: O texto a seguir refere-se à
desempenhar essa função. Para fazer isso, é preciso questão.
realizar uma licitação, procedimento padrão para que
uma empresa desempenhe um serviço público. As “Quando nada parece ajudar, eu vou e olho o corta-
empresas vencedoras da licitação atuam sob regime dor de pedras martelando sua rocha talvez cem vezes
de concessão ou permissão. A diferença entre os dois sem que nem uma só rachadura apareça. No entanto,
é sutil e pouco relevante; o que importa saber é que a na centésima primeira martelada, a pedra se abre em
empresa firma um contrato com a prefeitura por certo duas, e eu sei que não foi aquela que a conseguiu mas
período de tempo, para administrar a maior parte do todas as outras que vieram antes.”
sistema de transporte coletivo municipal.” (Politize!,
30/05/2021) Nesse texto há uma falha na escritura. Assinale a
opção que apresenta tal falha.
“O responsável primário pelo transporte público urba-
no é o poder público municipal. É isso que prevê o inci- a) O emprego inadequado de “No entanto” em lugar de
so V do artigo 30 da Constituição Federal:” “Logo”.
b) A forma reflexiva “se abre” em lugar de “abre”.
Temos, nesse caso (texto 4), o emprego de dois núme- c) A informação redundante de “em duas”.
ros: inciso V e artigo 30; a frase independente abaixo d) A forma verbal “a conseguiu” em lugar de “o conseguiu”.
em que a grafia do algarismo arábico é INADEQUADA é: e) A falta de vírgula antes de “mas todas as outras”.

a) O caminhão trouxe 1.356 caixas; 12. (FGV — 2022) A questão desta prova é elaborada a
b) O Grêmio ganhou de 2 X 1; partir de pequenos textos e pretendem avaliar sua
c) O ônibus viajou por 2.150 quilômetros; capacidade em interpretar e compreender textos,
d) 328 passageiros chegaram de avião; assim como em redigir de forma correta e adequada.
e) O ônibus 747 passou atrasado.
Assinale a frase a seguir em que a dupla possibilidade
9. (FGV — 2021) Assinale a opção em que o conteúdo do de construção proposta é errada.
cartaz não se estrutura em antônimos.
a) Chegou / chegaram 1 milhão de doses de vacinas.
a) “Olhe sempre para o céu, mas não esqueça os buracos b) Um milhão de pessoas foi / foram à passeata.
da terra.” c) A peça apresentava personagens novos / novas.
b) “Deixe sempre pra trás o que não te leva pra frente.” d) Os egípcios utilizavam hieróglifos / hieroglifos.
c) “Altos estão os preços, baixos estão os salários.” e) Ficou bêbedo / bêbado após a festa.
d) “Não me traga verdades; me traga dúvidas.”
e) “Diga-me de onde vem e para onde vai.” 13. (FGV — 2021) O poeta italiano Leopardi escreveu: “O
sentimento de vingança é tão agradável, que muitas
10. (FGV — 2022) Texto 2 vezes o homem deseja ser ofendido para poder se vin-
gar, e não falo apenas de um inimigo habitual, mas de
“Um homem acusado de tráfico de drogas e associa- uma pessoa indiferente, ou até mesmo, sobretudo em
ção para o tráfico foi preso, neste sábado (13/11), por alguns momentos de humor negro, de um amigo”.
policiais civis da 110ª DP (Teresópolis) e militares.
Esse pensamento mostra uma série de distintos
Contra ele foi cumprido um mandado de prisão.
conectivos; a opção em que se indica o valor correto
O criminoso foi capturado após informações de inteli-
do conectivo sublinhado é:
gência. Ele foi encaminhado para o sistema prisional,
onde ficará à disposição da Justiça.”
a) “que muitas vezes o homem deseja ser ofendido” /
consequência;
No texto 2 há a ocorrência de três vocábulos que pode-
b) “para poder se vingar” / explicação;
riam ser confundidos com seus parônimos: tráfico/
c) “e não falo apenas de um inimigo habitual” / conclusão;
tráfego, cumprido/comprido, mandado/mandato.
d) “mas de uma pessoa indiferente” / adição;
e) “ou até mesmo” / retificação.
A frase abaixo em que o vocábulo destacado está bem
empregado é:
14. (FGV — 2022) O texto a seguir refere-se a questão.
a) absolver / absorver – O juiz decidiu absorver todo o
“Os deuses certamente não revelaram tudo aos mor-
grupo já que todas as provas eram circunstanciais;
tais desde o princípio, mas, procurando, os homens
LÍNGUA PORTUGUESA

b) aprender / apreender – O grupo de policiais apren-


encontram pouco a pouco o melhor”. (Xenófanes, poe-
deu uma grande quantidade de drogas no galpão da
ta e filósofo grego)
empresa;
Nessa mesma frase, a primeira oração – Os deuses cer-
c) delatar / dilatar – O delegado resolveu delatar o prazo
tamente não revelaram tudo aos mortais desde o princí-
da investigação a fim de ajudar o trabalho dos agentes;
pio – apresenta seus termos em ordem direta, ou seja,
d) despensa / dispensa – A administração do presídio
sujeito + verbo + complementos + adjunto adverbial.
guardava numa espécie de dispensa todas as frutas;
e) fluir / fruir – Após o conserto a água fluía da torneira
Assinale a frase a seguir cujos termos também se
com toda a facilidade.
apresentam em ordem direta.

a) A guerra, assim como é a madrasta dos covardes, é


mãe dos corajosos.
45
b) Nunca houve uma guerra boa nem uma paz ruim. “Nesta, a imaginação vai levando as palavras belas e
c) A guerra é menos provável se somos mais fortes. brilhantes, faz imagens sobre imagens, adjetiva tudo,
d) Em meio às armas, as leis calam. usa e abusa de reticências, se o autor gosta delas.” O
e) A guerra, quase sempre, nutre a si mesma. pensamento culinário abaixo que exemplifica a elabo-
ração de “imagens sobre imagens”, como diz Macha-
15. (FGV — 2022) Observe o segmento de texto abaixo, do de Assis no texto 1, é:
retirado de um jornal carioca:
a) “Há mais simplicidade na pessoa que come caviar por
“No túnel Rebouças, a quantidade de motoboys é impulso do que em alguém dedicado a comer cereais
imensa e os motoristas devem ter atenção redobrada matinais por princípio”;
para que não ocorram graves acidentes.” b) “A cozinha de sua casa é feliz, um casamento de pro-
dutos naturais, um com o outro”;
A palavra motoboys é um estrangeirismo de amplo c) “Aprendi que esparramar as ervilhas no prato dá a
emprego na língua portuguesa, assim como todos os impressão de que você comeu mais”;
que estão destacados nas frases abaixo; a opção em d) “Um avião é lugar perfeito para fazer dieta”;
que o estrangeirismo empregado tem um substituto e) “Restaurante sofisticado é o que serve sopa fria de
adequadamente indicado é: propósito”.

a) O policial tinha em seu quarto um poster de Sherlock 18. (FGV — 2021) Numa escola de São Paulo, a Direção
Holmes / quadro; mandou exibir o seguinte cartaz:
b) A delegacia não tinha como fazer backup dos arquivos
/ compartilhamento; Não ao bullying!
c) Mandava todas as mensagens por e-mail / correio Sim à harmonia!
eletrônico;
d) Procurou as informações necessárias num site espe- Com esse cartaz, a Direção pretende
cializado / noticiário;
e) O restaurante não tinha serviço de delivery / pagamen- a) evitar problemas de disciplina.
to com cartão de crédito. b) estimular os valores do estudo.
c) incentivar os estudos em grupo.
16. (FGV — 2021) Texto 1 d) inserir as famílias no ambiente escolar.
e) desenvolver a solidariedade entre os alunos.
Machado de Assis, em Diálogos e reflexões de um
relojoeiro, alude ao Carnaval na seguinte frase: “Car- 19. (FGV — 2021) A questão desta prova teve por base
naval à porta. Já lhe ouço os guisos e tambores. Aí textos jornalísticos, retirados de jornais das grandes
vem o carro das ideias... felizes ideias que durante três capitais brasileiras.
dias andais de carro! O resto do ano ides a pé, ao sol
ou à chuva, ou ficais no tinteiro, que é ainda o melhor “O envelhecimento da população brasileira e a fal-
dos abrigos”. ta de dinamismo econômico deixam cada vez mais
municípios dependentes da renda de aposentadorias,
Esse trecho do texto 1 pode ser dividido em dois seg- pensões e demais benefícios do INSS, como o auxílio
mentos, divisão marcada pelas reticências; o segundo a idosos de baixa renda. Em 693 cidades do país, os
segmento mostra a seguinte mudança em relação ao pagamentos do INSS já superam 25% do PIB local. O
primeiro: número de municípios nessa situação quase dobrou
nos últimos 15 anos.”
a) do passado para o presente; “O envelhecimento da população brasileira e a falta de
b) da linguagem lógica para a figurada; dinamismo econômico deixam cada vez mais municí-
c) do texto descritivo para o narrativo; pios dependentes da renda de aposentadorias, pen-
d) da visão geral para a individual; sões e demais benefícios do INSS, como o auxílio a
e) do otimismo para o pessimismo. idosos de baixa renda.”

17. (FGV — 2021) Texto 1 Sobre esse segmento de texto, a única afirmação INA-
DEQUADA à sua estruturação é:
Vejamos, agora, o que nos diz Machado de Assis
sobre a autópsia: “Li um termo de autópsia. Nunca dei- a) o envelhecimento da população brasileira e a falta de
xo de ler esses documentos, não para aprender anato- dinamismo econômico são apontados como razões
mia, mas para verificar ainda uma vez como a língua para a dependência de muitos municípios das rendas
científica é diferente da literária. Nesta, a imaginação do INSS;
vai levando as palavras belas e brilhantes, faz imagens b) o termo “dependentes da” se liga semanticamente a
sobre imagens, adjetiva tudo, usa e abusa de reticên- “renda de aposentadorias, pensões e demais benefí-
cias, se o autor gosta delas. Naquela, tudo é seco, exa- cios do INSS”;
to e preciso. O hábito externo é externo, o interno é c o termo “como o auxílio a idosos de baixa renda” fun-
interno; cada fenômeno, cada osso, é designado por ciona como um exemplo dos “demais benefícios do
um vocábulo único. A cavidade torácica, a cavidade INSS”;
abdominal, a hipóstase cadavérica, a tetania, cada um d) os termos “O envelhecimento da população brasileira”
desses lugares e fenômenos não pode receber duas e “a falta de dinamismo econômico” podem trocar de
apelações, sob pena de não ser ciência.” (Adaptado. A posição sem modificação de sentido;
Semana, 1830) e) o termo “O envelhecimento da população brasileira” é apon-
46 tado como causa da “falta de dinamismo econômico”.
20. (FGV — 2021) Um teólogo russo, V. S. Soloviev, decla-
rou: “Sinto vergonha, logo existo”.

A afirmação INADEQUADA sobre essa frase:

a) é parte de um silogismo em que falta a conclusão;


b) mostra intertextualidade com uma frase famosa;
c) emite uma opinião pessoal do seu autor;
d) exemplifica um texto de caráter argumentativo;
e) não traz as duas premissas de um silogismo.

9 GABARITO

1 D

2 D

3 A

4 E

5 A

6 C

7 A

8 D

9 D

10 E

11 E

12 A

13 A

14 C

15 C

16 B

17 B

18 E

19 E

20 A

ANOTAÇÕES LÍNGUA PORTUGUESA

47
ANOTAÇÕES

48
Toda proposição pode ser representada simbolica-
mente pelas letras do alfabeto, veja no exemplo:

z p: Sabino é um pintor esperto;


z r: Kate é uma mulher alta.
RACIOCÍNIO
Na situação temos duas proposições sendo repre-
LÓGICO-MATEMÁTICO sentadas pelas letras p e r.
Bom! Agora que já sabemos o que são proposições
lógicas, fica tranquilo distinguir o que não são pro-
posições. Isto é fundamental, pois várias questões de
prova perguntam exatamente isso – são apresentadas
LÓGICA: PROPOSIÇÕES, CONECTIVOS, algumas frases e você precisa identificar qual delas
EQUIVALÊNCIAS LÓGICAS, não é uma proposição. Vejamos os casos em que mais
aparecem:
QUANTIFICADORES E PREDICADOS
� Perguntas: são as orações interrogativas.
VALORES LÓGICOS
Exemplo: Que horas vamos ao cinema?
Essa pergunta não pode ser classificada como ver-
Na lógica temos apenas dois valores lógicos – ver-
dadeira ou falsa;
dadeiro ou falso. Quando temos uma declaração ver-
� Exclamações: são frases exclamativas.
dadeira, o seu valor lógico é Verdade (V) e quando é
Exemplo: Que lindo cabelo!
falsa, dizemos que seu valor lógico é Falso (F).
Essa exclamação não pode ser valorada, pois apre-
sentam percepções subjetivas;
PROPOSIÇÕES LÓGICAS SIMPLES
� Ordens: são orações com verbo no imperativo.
Exemplo: Pegue o livro e vá estudar.
Vamos começar nosso estudo falando sobre o que
é uma proposição lógica. Observe a frase a seguir:
Uma ordem não pode ser classificada como verda-
Ex.: Paula vai à praia.
deira ou falsa. Muito cuidado com esse tipo de oração,
Para saber se temos ou não uma proposição, preci-
pois pode ser facilmente confundida com uma propo-
samos de três requisitos fundamentais:
sição lógica.
Não são proposições – perguntas, exclamações e
z Ser uma oração: ou seja, são frases com verbos; ordens.
z Oração declarativa: a frase precisa estar apresen- Temos um outro caso menos cobrado em provas,
tando uma situação, um fato; mas que também não é proposição lógica, sendo o
z Pode ser classificada como Verdadeira ou Falsa: paradoxo. Para ficar mais claro, veja o exemplo a
ou seja, podemos atribuir o valor lógico verdadeiro seguir:
ou o valor lógico falso para a declaração. Ex.: Esta frase é uma mentira.
Quando atribuímos um valor de verdade para a
Tendo isso em vista, podemos afirmar claramen- frase, então na verdade, ele mentiu, uma vez que a
te que a frase “Paula vai à praia” é uma proposição própria frase já diz isso, e se atribuirmos o valor falso,
lógica, pois temos a presença de um verbo (ir), uma então a frase é verdade, pois ela diz ser uma mentira
informação completa (temos o sujeito claro na oração) e já sabemos que isso é falso.
e podemos afirmar se é verdade ou falsa. Perceba que sempre que valoramos a frase ela nos
resulta um valor contrário, ou seja, estamos diante de
uma frase que é contraditória em si mesma. Isso é a
Importante! definição de um paradoxo.
Proposição Lógica é uma oração declarativa que
admite apenas um valor lógico: V ou F. SENTENÇA ABERTA

Dizemos que uma sentença é aberta quando não RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
Ou então podemos também esquematizar o que é conseguimos ter a informação completa que a oração
uma proposição lógica assim: nos mostra. Veja o exemplo a seguir:
Chama-se proposição toda sentença declarativa
que pode ser valorada ou só como verdadeira ou só Ex.: Ele é o melhor cantor de rock.
como falsa. A presença do verbo é obrigatória junta- Perceba que há presença do verbo e que consegui-
mente com o sentido completo (caráter informativo). mos parcialmente entender o que a frase quer dizer.
Todavia, logo surge a pergunta: Ele quem? Aqui nossa
Verdadeira informação não consegue ser completa e por isso temos
mais um caso que não é proposição lógica. Observe ou-
Sentença
Sentido tros exemplos:
Declarativa Ou
completo
X + 5 = 10
Falsa Aquele carro é amarelo.
5+5
Obrigatório X – Y = 20

Verbo
49
Todos os exemplos acima são sentenças abertas, Exemplos:
então podemos resumir da seguinte forma:
As variáveis: Ele, aquele ou variáveis matemáti- z Na linguagem natural:
cas (X ou Y) tornam a sentença aberta.
Sempre será uma proposição lógica na escrita „ O macaco bebe leite e o gato come banana;
matemática e podemos notar que há verbos nos casos „ Maria é bailarina ou Juliano é atleta;
a seguir: „ Ou o elefante corre rápido ou a raposa é lenta;
„ Se estudar, então vai passar;
z = (é igual); „ Bino vai ao cinema se e somente se ele receber
z ≠ (é diferente); dinheiro.
z > (é maior);
z < (é menor); z Na linguagem simbólica:
z ≥ (é maior ou igual);
z ≤ (é menor ou igual); „ p ^ q;
„ p v q;
Esquematizando o que não são proposições lógicas: „ p v q;
„ p → q;
„ p ⟷ q.
Sentenças Interrogativas(?)

Agora que conhecemos os conectivos lógicos,


Sentenças sem Verbo
NÃO SÃO vamos ver algumas camuflagens dos operadores lógi-
PROPOSIÇÕES cos que podem aparecer na prova. Veja:
Sentenças com Verbo no Imperativo
� Conectivos “e” usando “mas”:
Sentenças Abertas Exemplo: Jurema é atriz, mas Pedro é cantor;
� Conectivo “ou...ou” usando “...ou..., mas não
Paradoxo
ambos”:
Exemplo: Baiano é corredor ou ele é nadador, mas
PRINCÍPIOS DA LÓGICA PROPOSICIONAL não ambos;
� Conectivo “Se então” usando “Desde que, Caso,
É fundamental que você conheça três princípios Basta, Quem, Todos, Qualquer, Toda vez que”:
para deixarmos tudo alinhado com as proposições Exemplos: Desde que faça sol, Pedrinho vai à
lógicas. Veja: praia;
Caso você estude, irá passar no concurso;
z Princípio do terceiro excluído: uma proposição Basta Ana comer massas, e engordará;
deve ser Verdadeira ou Falsa, não havendo outra Quem joga bola é rápido;
possibilidade. Não é possível que uma proposição Todos os médicos sabem operar;
seja “quase verdadeira” ou “quase falsa”; Qualquer criança anda de bicicleta;
Toda vez que chove, não vou à praia.
z Princípio da não-contradição: dizemos que uma
mesma proposição não pode ser, ao mesmo tempo,
É importante saber que na condicional a primeira
verdadeira e falsa;
proposição é o termo antecedente e a segunda é o
z Princípio da Identidade: cada ser é único, ou seja,
termo consequente.
uma proposição não assume o significado de outra
proposição lógica.
P→Q
PROPOSIÇÕES COMPOSTAS P = antecedente
Q = consequente
Temos proposições compostas quando há duas ou
mais proposições simples ligadas por meio dos conec- TABELA VERDADE
tivos lógicos. Veja os exemplos:
Trata-se de uma tabela na qual conseguimos
z Sabino corre e Marcos compra leite; apresentar todos os valores lógicos possíveis de uma
z O gato é azul ou o pato é preto; proposição.
z Se Carlinhos pegar a bola, então o jogo vai acabar.
Números de Linhas de Tabela Verdade
Cada conectivo tem sua representação simbólica e
sua nomenclatura. Veja a relação de conectivos: Neste momento, vamos aprender a construir tabe-
las verdade para proposições compostas.
CONECTIVOS NOMENCLATURA SIMBOLOGIA
z 1º passo: contar a quantidade de proposições
e Conjunção ^
envolvidas no enunciado.
ou Disjunção v
Disjunção v Exemplo: P v Q (temos duas proposições).
ou...ou
Exclusiva
se...então Condicional → z 2º passo: calcular a quantidade de linhas da tabela
usando a fórmula 2n = 2proposições (onde n é o número
se e somente se Bicondicional ⟷
50 de proposições).
Exemplo: P v Q = 22 = 4 linhas.
P ~P ~(~P)
V F V
P Q PVQ
F V F

Conectivo Conjunção “E” (^)

Só teremos uma resposta verdadeira quando todos


os valores lógicos envolvidos forem verdadeiros.

z 3º passo: dispor os valores “V” e “F” na primeira P Q P^Q


coluna fazendo o agrupamento pela metade do V V V
número de linhas da tabela.
V F F
Exemplo: P v Q = 2 = 4 linhas = (agrupamento da
2 F V F
primeira coluna de 2 em 2 – V V / F F). F F F

P Q PVQ Conectivo Disjunção “Ou” (v)


V
Teremos resposta verdadeira quando, pelo menos,
V
um dos valores lógicos envolvidos for verdadeiro.
F
F P Q PVQ
V V V
z 4º passo: preencher as demais colunas com agru- V F V
pamento de valores lógicos (V ou F) sempre pela F V V
metade do agrupamento anterior. F F F

Exemplo: primeira coluna de 2 em 2 (a próxima Conectivo Disjunção Exclusiva “Ou...ou” ( v )


será de 1 em 1).
Teremos resposta verdadeira quando os valores
P Q PVQ lógicos envolvidos forem diferentes.
V V
V F P Q PVQ

F V V V F

F F V F V
F V V
Pronto! A nossa tabela já está montada, agora precisa- F F F
mos aprender qual o resultado que teremos quando com-
binamos os valores lógicos usando os conectivos lógicos. Conectivo Bicondicional “Se e Somente Se” ()
Número de linhas da tabela verdade:
2n = 2proposições (onde n é o número de proposições). Teremos resposta verdadeira quando os valores
Bom! Vamos caminhar mais um pouco e apren- lógicos envolvidos forem iguais.
der todas as combinações lógicas possíveis para cada RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
conectivo lógico. P Q PQ
V V V
Negação (~P)
V F F
Uma proposição, quando negada, recebe valores F V F
lógicos opostos ao da proposição original. O símbolo F F V
que iremos utilizar é ¬ p ou ~p.
Conectivo Condicional “Se..., Então” (→)
P ~P
V F Especialmente nesse caso, vamos aprender quan-
do teremos o resultado falso, pois o conectivo con-
F V
dicional só tem uma possibilidade de tal ocorrência
Dupla Negação ~(~P) Somente teremos resposta falsa quando o valor lógico
do antecedente for verdadeiro e o consequente falso.
A dupla negação nada mais é do que a própria pro-
posição. Isto é, ~(~P) = P 51
z Tautologia: uma proposição que é sempre verdadeira;
P Q P→Q
z Contradição: uma proposição que é sempre falsa;
V V V z Contingência: uma proposição que pode assumir
V F F valores lógicos V e F, conforme o caso.
F V V
A seguir, exercite seus conhecimentos realizando
F F V alguns dos exercícios comentados abaixo.

Condicional falsa: Vai Ficar Falsa 1. (CEBRASPE-CESPE — 2019) Acerca da lógica senten-
cial, julgue o item que segue.
VF=F Se uma proposição na estrutura condicional — isto é, na
TAUTOLOGIA forma P→Q, em que P e Q são proposições simples — for
falsa, então o precedente será, necessariamente, falso.
É uma proposição cujo valor lógico é sempre
verdadeiro. ( ) CERTO ( ) ERRADO
Exemplo 1: A proposição P ∨ (~P) é uma tautologia,
pois o seu valor lógico é sempre V, conforme a tabela Veja que P→Q foi considerado falso pelo enunciado
verdade. da questão. Assim na condicional para ser falso a
regra é que o Precedente (antecedente) seja verda-
deiro o seguinte (consequente) falso. Lembre-se da
P ~P P V ~P dica: Vai Ficar Falso = V  F. Resposta: Errado.
V F V
F V V 2. (AOCP — 2019) Considere a proposição: “O contingen-
te de policiais aumenta ou o índice de criminalidade
irá aumentar”. Nesse caso, a quantidade de linhas da
Exemplo 2: A proposição (P Λ Q) → (PQ) é uma
tabela verdade é igual a:
tautologia, pois a última coluna da tabela verdade só
possui V.
a) 2.
b) 4.
P Q (P^Q) (PQ) (P^Q)→(PQ) c) 8.
V V V V V d) 16.
e) 32.
V F F F V
F V F F V O número de linhas da tabela verdade depende do
F F F V V número de proposições e é calculado pela fórmula:
2ⁿ. Assim,
CONTRADIÇÃO O contingente de policiais aumenta (1º proposição)
O índice de criminalidade irá aumentar (2°
É uma proposição cujo valor lógico é sempre falso. proposição)
Exemplo: A proposição P ^ (~P) é uma contradição, 22 = 4 linhas. Resposta: Letra B.
pois o seu valor lógico é sempre F, conforme a tabela
verdade. 3. (FUNDATEC — 2019) Trata-se de um exemplo de tau-
tologia a proposição:
P ~P P ^ (~P)
a) Se dois é par então é verão em Gramado.
V F F
b) É verão em Gramado ou não é verão em Gramado.
F V F c) Maria é alta ou Pedro é alto.
d) É verão em Gramado se e somente se Maria é alta.
CONTINGÊNCIA e) Maria não é alta e Pedro não é alto.

Sempre que uma proposição composta recebe Você precisa guardar essa dica: A proposição que
valores lógicos falsos e verdadeiros, independente- contiver uma afirmação com o conectivo ou mais a
mente dos valores lógicos das proposições simples negação dessa mesma afirmação (ou vice-versa) será
componentes, dizemos que a proposição em questão é sempre uma tautologia. Então,
uma contingência. Ou seja, é quando a tabela verda- É verão em Gramado ou não é verão em Gramado.
de apresenta, ao mesmo tempo, alguns valores verda- A proposição p ∨ (~p) é uma tautologia, pois o seu
deiros e alguns falsos. valor lógico é sempre “verdadeiro”. Resposta: Letra B.
Exemplo: A proposição [P ^ (~Q)] v (P→~Q)] é uma
contingência, conforme a tabela verdade. 4. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Julgue o seguinte
item, relativo à lógica proposicional e à lógica de
P Q [P^(~Q)] (P→~Q) [P^(~Q)]V(P→~Q) argumentação.
Se P e Q são proposições simples, então a proposição
V V F F F [P→Q]∧P é uma tautologia, isto é, independentemente
V F V V V dos valores lógicos V ou F atribuídos a P e Q, o valor
F V F V V lógico de [P→Q]∧P será sempre V.
F F F V V
52 ( ) CERTO ( ) ERRADO
Basta perceber que o conectivo em questão é o “E” z Conjunção (conectivo “e”): Sua representação
(Conjunção), que só é verdadeiro quando as duas simbólica é ^.
são verdadeiras, sendo assim se P for falso, já irá
invalidar o argumento. Resposta: Errado. Exemplo:

5. (VUNESP — 2018) Seja M a afirmação: “Marília gosta „ Na linguagem natural: O macaco bebe leite e o
de dançar”. Seja J a afirmação “Jean gosta de estu- gato come banana;
dar”. Considere a composição dessas duas afirma- „ Na linguagem simbólica: p ^ q.
ções: “Ou Marília gosta de dançar ou Jean gosta de
estudar”. A tabela verdade que representa corretamen- z Disjunção Inclusiva (conectivo “ou”): sua repre-
te os valores lógicos envolvidos nessa situação é: sentação simbólica é v.

TABELA - VERDADE Exemplo:


M J Ou M ou J
V V 1 „ Na linguagem natural: Maria é bailarina ou
V F 2 Juliano é atleta;
F V 3 „ Na linguagem simbólica: p v q.
F F 4
z Disjunção Exclusiva (conectivo “ou...ou”): sua
Os valores 1, 2, 3 e 4 da coluna “Ou M ou J” devem ser representação simbólica é: v.
preenchidos, correta e respectivamente, por:
Exemplo:
a) V, F, V e F.
b) F, V, V e F. „ Na linguagem natural: ou o elefante corre rápi-
c) F, F, V e V. do ou a raposa é lenta;
d) V, F, F e V. „ Na linguagem simbólica: p v q.
e) V, V, V e F.
z Condicional (conectivos “se, então”): sua repre-
Veja que precisamos saber quando o resultado das
sentação simbólica é →.
combinações lógicas do conectivo “ou...ou” dá ver-
dade. Lembrando da nossa parte teórica, sempre
Exemplo:
que tivermos valores lógicos diferentes, o resultado
será verdadeiro. Sabendo disso,
„ Na linguagem natural: Se estudar, então vai
M J Ou M ou J passar;
V V F „ Na linguagem simbólica: p → q.
V F V
F V V z Bicondicional (conectivo “se e somente se”): sua
F F F representação simbólica é ⟷.

Resposta: Letra B. Exemplo:

CONECTIVOS LÓGICOS „ Na linguagem natural: Bino vai ao cinema se e


Conceito somente se ele receber dinheiro;
„ Na linguagem simbólica: p⟷q.
Os conectivos lógicos ou operadores lógicos, como
também podem ser chamados, servem para ligar duas z Negação: uma proposição quando negada, recebe
ou mais proposições simples e formar, assim, propo- valores lógicos opostos dos valores lógicos da pro-
sições compostas. posição original. O símbolo que iremos utilizar é
¬p ou ~p. RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
Temos 05 (cinco) operadores lógicos no total e cada
um tem sua nomenclatura e representação simbólica.
Veja a tabela abaixo: Exemplos:
Tabela de Conectivos
„ p: O gato é amarelo;
„ ~p: O gato não é amarelo;
CONECTIVO NOMENCLATURA SÍMBOLO LEITURA „ q: Raciocínio Lógico é difícil;
e Conjunção ^ peq „ ~q: É falso que raciocínio lógico é difícil;
„ r: Maria chegou tarde em casa ontem;
ou Disjunção v p ou q
„ ~r: Não é verdade que Maria chegou tarde em
Disjunção casa ontem.
ou...ou v Ou p ou q
exclusiva

se...,então
Condicional
→ Se p, então q Dica
(implicação)
A negação além da forma convencional, pode
p se e
se e Bicondicional ser escrita com as expressões a seguir:
somente
somente se (bi-implicação) É falso que ...
se q
Não é verdade que... 53
A representação simbólica apresentada para julgar-
Agora que já fomos apresentados aos conectivos
mos é de uma conjunção. E na questão foi apresen-
lógicos, vamos ver algumas “camuflagens” dos opera-
dores lógicos que podem aparecer na prova. Veja: tada uma proposição composta pela condicional na
forma “camuflada” dentro de uma relação de causa
z Conectivo “e” usando “mas” e consequência “ Dado que...”. Resposta: Errado.

„ Exemplo: Jurema é atriz, mas Pedro é cantor; 3. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Considere as seguintes
proposições: P: O paciente receberá alta; Q: O paciente
z Conectivo “ou...ou” usando “...ou..., mas não receberá medicação; R: O paciente receberá visitas.
ambos” Tendo como referência essas proposições, julgue o
item a seguir, considerando que a notação ~S significa
„ Exemplo: Baiano é corredor ou ele é nadador, a negação da proposição S.
mas não ambos;
A proposição ~P→[Q∨R] pode assim ser traduzida: Se
o paciente receber alta, então ele não receberá medi-
z Conectivo “Se então” usando “Desde que, Caso,
Basta, Quem, Todos, Qualquer, Toda vez que” cação ou não receberá visitas.

„ Exemplos: ( ) CERTO ( ) ERRADO

Desde que faça sol, Pedrinho vai à praia; P: O paciente receberá alta;
Caso você estude, irá passar no concurso; ~P: O paciente não receberá alta;
Basta Ana comer massas, e engordará; Q: O paciente receberá medicação;
Quem joga bola é rápido; R: O paciente receberá visitas.
Todos os médicos sabem operar; A proposição ~P→[Q∨R] pode assim ser traduzida:
Qualquer criança anda de bicicleta;
Se o paciente NÃO receber alta, então ele receberá
Toda vez que chove, não vou à praia.
medicação ou receberá visitas. Resposta: Errado.
Dica
EQUIVALÊNCIA LÓGICA E MATERIAL,
Na condicional a 1° proposição é o termo ante- PROPRIEDADES DA RELAÇÃO DE EQUIVALÊNCIA
cedente e a 2° é o termo consequente. LÓGICA
PQ
P = antecedente Equivalência Lógica Notável
Q = consequente
Afirma-se que uma proposição P é logicamente
Coloque seus conhecimentos em prática realizan-
equivalente ou equivalente a uma proposição Q se as
do alguns exercícios comentados.
tabelas verdade dessas duas proposições são iguais. E
1. (CEBRASPE-CESPE — 2018) As proposições P, Q e R a o que isso significa? Ora, duas proposições são equiva-
seguir referem-se a um ilícito penal envolvendo João, lentes quando elas dizem exatamente a mesma coisa;
Carlos, Paulo e Maria: quando elas têm o mesmo significado; quando uma
P: “João e Carlos não são culpados”. Q: “Paulo não é pode ser substituída pela outra. Para indicar que são
mentiroso”. R: “Maria é inocente”. equivalentes, usaremos a seguinte notação:
Considerando que ~X representa a negação da propo-
sição X, julgue o item a seguir. P⟺Q
A proposição “Se Paulo é mentiroso então Maria é
culpada.” pode ser representada simbolicamente por
Distribuição (Equivalência pela Distributiva)
(~Q)↔(~R).

( ) CERTO ( ) ERRADO z p ∧ (q ∨ r) ⇔ (p ∧ q) ∨ (p ∧ r)

Veja que temos uma proposição condicional (se P (P ∧ Q)


então) e a representação simbólica apresentada é de P Q R Q∨R ∧ P∧Q P∧R ∨
uma bicondional. Representação da condicional (). (Q ∨ R) (P ∧ R)
Resposta: Errado.
V V V V V V V V
2. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Julgue o seguinte V V F V V V F V
item, relativo à lógica proposicional e à lógica de V F V V V F V V
argumentação.
A proposição “A construção de portos deveria ser V F F F F F F F
uma prioridade de governo, dado que o transporte F V V V F F F F
de cargas por vias marítimas é uma forma bastante
F V F V F F F F
econômica de escoamento de mercadorias.” Pode ser
representada simbolicamente por P∧Q, em que P e Q F F V V F F F F
são proposições simples adequadamente escolhidas. F F F F F F F F

( ) CERTO ( ) ERRADO
54
z p ∨ (q ∧ r) ⇔ (p ∨ q) ∧ (p ∨ r) P P P∨P
V V V
P (P ∨ Q) F F F
P Q R Q∧R ∨ P∨Q P∨R ∧
(Q ∧ R) (P ∨ R)
Pela Exportação-Importação
V V V V V V V V
V V F F V V V V z [(p ∧ q) → r] ⇔ [p → (q → r)]
V F V F V V V V
V F F F V V V V (P ∧ Q) P→
P Q R P∧Q Q→R
→R (Q → R)
F V V V V V V V
V V V V V V V
F V F F F V F F
V V F V F F F
F F V F F F V F
V F V F V V V
F F F F F F F F
V F F F V V V
Associação (Equivalência pela Associativa) F V V F V V V
F V F F V F V
z p ∧ (q ∧ r) ⇔ (p ∧ q) ∧ (p ∧ r)
F F V F V V V
F F F F V V V

P (P ∧ Q) Proposições Associadas a uma Condicional (Se,


P Q R Q∧R ∧ P∧Q P∧R ∧ Então)
(Q ∧ R) (P ∧ R)
Podemos dizer que as três proposições condicio-
V V V V V V V V nais que contêm p e q são associadas a p → q. Veja a
V V F F F V F F seguir:
V F V F F F V F
z Proposições recíprocas: p → q: q → p;
V F F F F F F F z Proposição contrária: p → q: ~p → ~q;
F V V V F F F F
F V F F F F F F ~P → ~Q →
P Q ~P ~Q P→Q Q→P
~Q ~P
F F V F F F F F
V V F F V V V V
F F F F F F F F V V F V F V V F

z p ∨ (q ∨ r) ⇔ (p ∨ q) ∨ (p ∨ r) V F V F V F F V
V F V V V V V V
P (P ∨ Q)
P Q R Q∨R ∨ P∨Q P∨R ∨ z Proposição contrapositiva: p → q: ~q → ~p.
(Q ∨ R) (P ∨ R)
Vale ressaltar que olhando para a tabela, a condi-
V V V V V V V V cional p → q e a sua recíproca q → p ou a sua contrária
~p → ~q não são equivalentes.
V V F V V V V V
V F V V V V V V Implicação Material RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
V F F F V V V V
Na lógica proposicional, temos uma regra de subs-
F V V V V V V V tituição que diz que é válido que uma sentença con-
dicional seja substituída por uma disjunção em que
F V F V V V F V
o antecedente é negado e essa é a Implicação Mate-
F F V V V F V V rial. A regra determina que P implica Q é logicamente
equivalente a não ~P ou Q e pode substituir o outro
F F F F F F F F
em provas lógicas: P → Q ⟺ ~P v Q.
Onde “⟺” é um símbolo que representa “pode ser
Idempotência substituído em uma prova com.”
Ou seja, sempre que uma instância de “P → Q” é
z p ⇔ (p ∧ p) exibida em uma linha de uma prova, ela pode ser
substituída por «~P v Q”.
P P P∧P Exemplo:
V V V Se ele é um tigre P, então ele pode correr Q.
Assim, ele não é um tigre ~P ou ele pode correr Q.
z p ⇔ (p
F ∨ p) F F 55
Se for descoberto que o tigre não podia correr, A B ~A ~B A→B ~B → ~A ~A V B
escrito simbolicamente como P v ~Q, ambas as sen-
V V F F V V V
tenças são falsas, mas caso contrário, elas são ambas
verdadeiras. V F F V F F F
F V V F V V V
Transposição F F V V V V V

A transposição é uma regra de substituição válida


para “P → Q” onde é permitido trocar o antecedente EQUIVALÊNCIA BICONDICIONAL
P pelo consequente Q de um enunciado condicional
Geralmente aprendemos somente a equivalência
em uma prova lógica se eles estão ambos negados. É
básica desse conectivo (a comutação), mas precisa-
a inferência verdadeira de “A implica B”, a verdade
mos ficar atentos para os casos especiais. O conectivo
do “Não-B implica não-A”, e vice-versa. É a regra que:
“se e somente se” tem mais duas equivalências lógicas
quando interpretamos de maneira mais minuciosa o
P→Q⟺~Q→~P seu significado e sua tabela verdade. A seguir veremos
esses detalhes que estão aparecendo cada vez mais
Onde “⟺” é um símbolo que representa “pode ser nas provas. Então vamos lá!
substituído em uma prova com.”
Ou seja, sempre que uma instância de “P → Q” é Comutação
exibida em uma linha de uma prova, ela pode ser
substituída por ~ Q → ~ P “. Exemplo: A ⟷ B ⇔ B ⟷ A
Exemplo: O céu ficará azul se e somente se hoje não chover.
Se ele é um tigre P, então ele pode correr Q. ⇔ Hoje não choverá se e somente se o céu ficar azul.
Assim, Se ele não pode correr ~Q, então ele não é
um tigre ~P. z Com o conectivo “e” e “se...então”

Para fazer essa equivalência vamos interpretar o


EQUIVALÊNCIA CONDICIONAL
conectivo “se e somente se”. Na sua nomenclatura
temos uma bicondicional e o quê isso significa exa-
Agora vamos tratar duas equivalências impor- tamente? Significa que temos duas condicionais (se...
tantes desse conectivo que tem a maior incidência então). E, pensando nisso, podemos dizer então que
nas provas de concursos. A primeira delas ensina temos uma condicional indo e uma condicional vol-
como transformar uma proposição composta pelo tando; repare que a simbologia (⟷) são duas setas.
“se…então” em outra proposição composta pelo “se… Agora vamos traduzir isso tudo com um exemplo.
então”. A outra ensina como transformar uma propo- Exemplo: A ⟷ B ⇔ (A → B) ^ (B → A)
sição composta pelo “se…então” em uma composta O céu ficará azul se e somente se hoje não chover.
pelo conectivo “ou” (e vice-versa). Vamos lá! ⇔ Se o céu ficará azul, então hoje não vai chover e se
hoje não vai chover, então o céu ficará azul.
Contrapositiva
z Com o conectivo “ou” e “tabela verdade”
Para fazermos essa equivalência devemos inverter
Já para entendermos essa equivalência, precisa-
as proposições e depois negar todas as proposições.
mos lembrar dos casos na tabela verdade do conetivo
Inverte e nega tudo mantendo o se então “se e somente se” quando temos resultados verda-
Exemplo: A → B ⇔ ~B → ~A deiros, ou seja, quando os valores lógicos são iguais.
Se Marcos estuda, então ele passa. ⇔ Se Marcos Sabendo disso, podemos dizer, então, que o conectivo
não passa, então ele não estuda. “se e somente se” terá resultado verdadeiro quan-
Estas duas proposições são equivalentes. Percebeu do as proposições forem todas verdadeiras ou
o processo de construção da segunda a partir da pri- quando forem todas falsas (vale lembrar que a nega-
meira? Você deve inverter a ordem das proposições e ção de “V” será “F”). Logo, veja o exemplo de como
negar ambas. ficará essa equivalência:
Exemplo: A ⟷ B ⇔ (A ^ B) v (~A ^ ~B)
z “se...então” vira “ou” O céu ficará azul se e somente se hoje não chover.
⇔ O céu ficará azul e hoje não vai chover ou o céu não
ficará azul e hoje vai chover.
Essa equivalência é feita negando a primeira pro-
Agora observe a tabela verdade envolvendo todas
posição, trocando o conectivo “se...então” pelo conec- as equivalências da Bicondicional:
tivo “ou”, repetindo a segunda proposição.
Nega ou Repete.
(A→B) (A ^ B)
Exemplo:
A B ~A ~B A ⟷ B B⟷A ∧ V
(B→A) (~A ^ ~B)
A → B ⇔ ~A v B.
V V F F V V V V
Se o urso é ovíparo, então o macaco voa. ⇔ O urso V F F V F F F F
não é ovíparo ou o macaco voa. F V V F F F F F
Observe a tabela a seguir e veja que os resultados
F F V V V V V V
56 são iguais, ou seja, equivalentes:
COMUTAÇÃO a) Marcos está prestando esse concurso se, e somente
se, ele é formado no Curso de Serviço Social.
Leis Comutativas b) Se Marcos é formado no Curso de Serviço Social,
então ele está prestando esse concurso.
z Conjunção “e”: c) Marcos está prestando esse concurso e ele é formado
no Curso de Serviço Social.
„ Exemplo: A ^ B ⇔ B ^ A
d) Se Marcos não é formado no Curso de Serviço Social,
„ Joana é magra e Maria é baixa. ⇔ Maria é baixa
então ele não está prestando esse concurso.
e Joana é magra.
e) Marcos não é formado no Curso de Serviço Social e
ele está prestando esse concurso.
A B A^B B^A
V V V V Veja que não temos a presença do “OU” nas alter-
nativas e isso facilita, pois usamos a ‘’contraposi-
V F F F
tiva’’. Basta inverter e negar, mantendo o mesmo
F V F F conectivo:
F F F F Se Marcos não é formado no Curso de Serviço
Social, então ele não está prestando esse concurso.
Resposta: Letra D.
z Disjunção Inclusiva “ou”:

„ Exemplo: A v B ⇔ B v A 2. (CEBRASPE-CESPE — 2020) No argumento seguinte,


„ João anda de barco ou Sabrina vai à praia. ⇔ as proposições P1, P2, P3 e P4 são as premissas, e C
Sabrina vai à praia ou João anda de barco. é a conclusão.

z Disjunção Exclusiva “ou...ou”: P1: “Se há carência de recursos tecnológicos no setor


Alfa, então o trabalho dos servidores públicos que
„ Exemplo: A v B ⇔ B v A atuam nesse setor pode ficar prejudicado.”.
„ Ou Romeu compra uma moto ou ele vende o P2: “Se há carência de recursos tecnológicos no setor
carro. ⇔ Ou Romeu vende o carro ou ele com- Alfa, então os beneficiários dos serviços prestados
pra uma moto. por esse setor podem ser mal atendidos.”.
P3: “Se o trabalho dos servidores públicos que atuam no
setor Alfa fica prejudicado, então os servidores públi-
A B A⊻B B⊻A
cos que atuam nesse setor padecem.”.
V V F F P4: “Se os beneficiários dos serviços prestados pelo setor
V F V V Alfa são mal atendidos, então os beneficiários dos ser-
viços prestados por esse setor padecem.”.
F V V V
C: “Se há carência de recursos tecnológicos no setor
F F F F Alfa, então os servidores públicos que atuam nesse
setor padecem e os beneficiários dos serviços presta-
„ Bicondicional “se e somente se” dos por esse setor padecem.”.
„ Exemplo: A ⟷ B ⇔ B A
„ O céu ficará azul se e somente se hoje não cho- Considerando esse argumento, julgue o item seguinte.
ver. ⇔ Hoje não choverá se e somente se o céu A proposição P3 é equivalente à proposição “Se os
ficar azul. servidores públicos que atuam nesse setor não pade-
cem, então o trabalho dos servidores públicos que
atuam no setor Alfa não fica prejudicado.”.
A B A⟷B B⟷A
V V V V ( ) CERTO ( ) ERRADO
V F F F
Proposição: P3: “Se o trabalho dos servidores
F V F F RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
públicos que atuam no setor Alfa fica prejudicado,
F F V V então os servidores públicos que atuam nesse setor
padecem.”.
z Condicional “Se então”: é o único conectivo lógi- Equivalência:
co que não aceita a propriedade de comutação, (Inverte e nega tudo mantendo “se então”)
pois o seu antecedente não pode ser o consequente “Se os servidores públicos que atuam nesse setor
e vice-versa. não padecem, então o trabalho dos servidores públi-
A→B≠B→A cos que atuam no setor Alfa não fica prejudicado.”
Resposta: Certo.
Agora vamos treinar o que aprendemos na teo-
ria com exercícios comentados de diversas bancas. 3. (CEBRASPE-CESPE — 2020) Considerando a proposi-
Vamos lá! ção P: “Se o servidor gosta do que faz, então o cida-
dão-cliente fica satisfeito”, julgue o item a seguir.
1. (VUNESP — 2020) Considere a seguinte afirmação: Se A proposição P é logicamente equivalente à seguinte
Marcos está prestando esse concurso, então ele é for- proposição: “Se o cidadão-cliente não fica satisfeito,
mado no Curso de Serviço Social. então o servidor não gosta do que faz”.
Assinale a alternativa que contém uma afirmação
equivalente para a afirmação apresentada. ( ) CERTO ( ) ERRADO 57
Proposição: P  Q Negação de uma Conjunção (Lei de Morgan)
Equivalência: ~Q  ~P
Logo, “Se o servidor gosta do que faz, então o cida- Para negarmos a conjunção, devemos trocar pela
dão-cliente fica satisfeito” disjunção ou e negar todas as proposições envolvidas.
“Se o cidadão-cliente não fica satisfeito, então o ser- Veja: ~ (A ^ B) ⇔ ~A v ~B
vidor não gosta do que faz”. Exemplo: Vou comprar um carro e vou ganhar di-
nheiro.
Resposta: Certo.
Proposição 1: vou comprar um carro.
Proposição 2: vou ganhar dinheiro.
4. (CEBRASPE-CESPE — 2019) Assinale a opção que
1º : trocar o “e” pelo “ou”.
apresenta a proposição lógica que é equivalente à
2º : negar todas as proposições.
seguinte proposição:
Negação:
“Se Carlos foi aprovado no concurso, então Carlos
~P1: Não vou comprar um carro.
possui o ensino médio completo.” ~P2: Não vou ganhar dinheiro.
Assim temos, Não vou comprar um carro ou não
a) “Carlos não foi aprovado no concurso ou Carlos pos- vou ganhar dinheiro.
sui o ensino médio completo.”
b) “Se Carlos não foi aprovado no concurso, então Carlos
A B ~A ~B A^B ~(A ^ B) ~A V ~B
não possui o ensino médio completo.”
c) “Carlos possuir o ensino médio completo é condição V V F F V F F
suficiente para que ele seja aprovado no concurso” V F F V F V V
d) “Carlos ser aprovado no concurso é condição neces- F V V F F V V
sária para que ele tenha o ensino médio completo.”
e) “Carlos possui o ensino médio completo e não foi F F V V F V V
aprovado no concurso.”
Negação de uma Disjunção (Lei de Morgan)
Precisamos fazer a equivalência do conectivo “se
então” Para negarmos a disjunção, devemos trocar pela
Portanto para resolver basta trocar o conectivo “se conjunção e e negar todas as proposições envolvidas.
então” por “ou” e depois negar a primeira proposi- Veja: ~ (A v B) ⇔ ~A ^ ~B
ção e manter a segunda proposição. Veja: Exemplo: Vou pegar a bola ou Pedro vai chutar a lata.
“Se Carlos foi aprovado no concurso, então Carlos Proposição 1: vou pegar a bola.
possui o ensino médio completo.” Proposição 2: Pedro vai chutar a lata.
“Carlos não foi aprovado no concurso ou Carlos 1º - trocar o “ou” pelo “e”.
possui o ensino médio completo.” 2º - negar todas as proposições.
Resposta: Letra A. Negação:
~P1: Não vou pegar a bola.
5. (CEBRASPE-CESPE — 2019) Acerca da lógica senten- ~P2: Pedro não vai chutar a lata.
cial, julgue o item que segue. Assim temos:
Se P, Q, R e S forem proposições simples, então as pro- Não vou pegar a bola e Pedro não vai chutar a lata.
posições PvR → QʌS e (~Q)V(~S) → (~P) ʌ (~R) serão
equivalentes. A B ~A ~B AvB ~(A v B) ~A ^ ~B
V V F F V F F
( ) CERTO ( ) ERRADO
V F F V V F F
Trata-se da equivalência contrapositiva da condicional. F V V F V F F
PvR → QʌS F F V V F V V
1º: Inverte as proposições, mantendo a condicional
QʌS →PvR
Negação de uma Disjunção Exclusiva
2º: nega tudo.
- Negação do QʌS = ~Q v ~S (Negação do ʌ troca pelo
Para negarmos a disjunção exclusiva, devemos
v e nega tudo)
apenas trocar o conectivo “ou...ou” pelo “se e somente
- Negação do PvR = ~P ʌ ~R (Negação do v troca pelo
se”. Isso mesmo! Trocamos um conectivo pelo outro e
ʌ e nega tudo) Logo, (~Q) v (~S) → (~P) ʌ (~R).
o restante é só deixar igual. Veja um exemplo: ~ (A ⊻ B)
Resposta: Certo.
⇔ A ⟷ B Ou faz sol ou chove muito.
Negação: Faz sol se e somente se chove muito.
LEIS DE MORGAN

Quando fazemos a negação de uma proposição A B A⊻B ~ (A ⊻ B) A⟷B


composta primitiva, geramos outra posição que tam- V V F V V
bém é composta e equivalente à sua primitiva. É V F V F F
recorrente em provas a cobrança para que você res-
ponda qual a equivalência da negação de determina- F V V F F
da proposição. F F F V V

58
Negação de uma Bicondicional DUPLA NEGAÇÃO (TEORIA INVOLUTIVA)

A bicondicional pode ser negada das seguintes z De uma proposição simples: ~ (~A) ⇔ A
maneiras, veja:
A ~A ~ (~A)
z Trocando pelo conectivo “ou... ou”
V F V
Exemplo: ~ (A ⟷ B) ⇔ A v B F V F
Marta viaja se e somente se Paulo não vai ao cinema.
Negação: Ou Marta viaja ou Paulo não vai ao z De uma condicional:
cinema;
Vamos fazer duas negações lógicas para o conec-
z (Mantém e Nega) ou (Mantém e Nega) tivo se, de forma que sua resposta seja equivalente à
sua proposição primitiva. Veja:
Essa negação é feita vindo da equivalência lógica Proposição Primitiva: A → B:
que usa o conectivo “se..., então”. 1ª negação: ~ (A → B) ⇔ A ^ ~B;
Exemplo: 2ª negação: ~ (A ^ ~B) ⇔ ~A v B;
~ (A ⟷ B) ⇔ (A → B) ^ (B → A); Logo, A → B ⇔ ~A v B.
~[(A → B) ^ (B → A)] ⇔ (A ^ ~B) v (B ^ ~A).
A: Marta viaja se e somente se Paulo não vai ao 1ª 2ª
cinema. negação negação
Negação: Marta viaja e Paulo vai ao cinema ou A B ~B A→B ~ (A → B) A ^ ~B ~A v B
Paulo não vai ao cinema e Marta não viaja;
V V F V V F V
z Mantendo o conectivo “se e somente se” V F V F F V F
F V F V V F V
Para fazermos essa negação vamos manter o
conectivo “se e somente se” e negar apenas uma das F F V V V F V
proposições.
Exemplo:
1: ~ (A ⟷ B) ⇔ ~A ⟷ B. Agora vamos treinar o que aprendemos na teo-
2: ~ (A ⟷ B) ⇔ A ⟷ ~B. ria com exercícios comentados de diversas bancas.
A: Passo se e somente se estudo muito. Vamos lá!
Negação:
1: Não passo se e somente se estudo muito. 1. (VUNESP — 2016) Considere falsa a seguinte afirmação:
2: Passo se e somente se não estudo muito.
“Fulano está realizando essa prova e pretende ser um
técnico em informática.”
A A (A ^ ~B) ~A A
Com base nas informações apresentadas, é necessa-
A B ~A ~B ⟷ ~(A ⟷ B) ⊻ V ⟷ ⟷
riamente verdadeiro que
B B (B ^ ~A) B ~B
V V F F V F F F F F a) Fulano não está realizando essa prova ou não preten-
V F F V F V V V V V de ser um técnico em informática.
b) Fulano não está realizando essa prova.
F V V F F F V V V V
c) Fulano não está realizando essa prova e não pretende
F F V V V V F F F F ser um técnico em informática.
d) Fulano não pretende ser um técnico em informática.
Negação de uma Condicional e) Fulano não está realizando essa prova, mas pretende
ser um técnico em informática. RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
A negação de uma proposição composta por uma
condicional é uma das mais cobradas em provas e, Para negar a conjunção devemos trocar pela disjun-
por esse motivo, devemos aprendê-la e resolver mui- ção e negar todas as proposições envolvidas. Sendo
tas questões sobre o assunto. Então, a sua negação é assim,
feita repetindo a primeira proposição E negando a “Fulano está realizando essa prova e pretende ser
segunda proposição. um técnico em informática”.
Exemplo: ~ (A → B) ⇔ A ^ ~B Negação:
Se o gato late, então o cachorro mia. “Fulano não está realizando essa prova ou não pre-
Negação: O gato late e o cachorro não mia. tende ser um técnico em informática”.
Resposta: Letra A.
A B ~B A→B ~ (A → B) A ^ ~B
2. (CEBRASPE-CESPE — 2017) Assinale a opção que cor-
V V F V F F responde a uma negativa da seguinte proposição: “Se
V F V F V V nas cidades medievais não havia lugares próprios para
F V F V F F o teatro e as apresentações eram realizadas em igrejas
e castelos, então a maior parte da população não era
F F V V F F excluída dos espetáculos teatrais”. 59
a) Nas cidades medievais havia lugares próprios para o a) “Os recursos foram aplicados em finalidade diversa da
teatro ou as apresentações eram realizadas em igre- prevista ou a obra foi superfaturada, mas a prestação
jas e castelos e a maior parte da população era excluí- de contas da prefeitura foi aprovada”.
da dos espetáculos teatrais. b) “Os recursos foram aplicados em finalidade diversa da
b) Se a maior parte da população das cidades medievais prevista e a obra foi superfaturada, mas a prestação
era excluída dos espetáculos teatrais, então havia de contas da prefeitura foi aprovada”.
lugares próprios para o teatro e as apresentações c) “Os recursos não foram aplicados em finalidade diver-
eram realizadas em igrejas e castelos. sa da prevista e a obra não foi superfaturada, mas a
c) Se nas cidades medievais havia lugares próprios para prestação de contas da prefeitura foi aprovada”.
o teatro e as apresentações não eram realizadas em d) “Se os recursos não foram aplicados em finalida-
igrejas e castelos, então a maior parte da população de diversa da prevista e a obra não foi superfatu-
era excluída dos espetáculos teatrais. rada, então a prestação de contas da prefeitura foi
d) Se nas cidades medievais havia lugares próprios para aprovada”.
o teatro ou as apresentações eram realizadas em igre- e) “Se a prestação de contas da prefeitura foi aprovada,
jas e castelos, então a maior parte da população era então os recursos não foram aplicados em finalidade
excluída dos espetáculos teatrais. diversa da prevista e a obra não foi superfaturada”.
e) Nas cidades medievais não havia lugares próprios
para o teatro, as apresentações eram realizadas em Negação do “se então”:
igrejas e castelos e a maior parte da população era Repete E Nega
excluída dos espetáculos teatrais. P1: “Se os recursos foram aplicados em finalidade
diversa da prevista OU se a obra foi superfaturada,
Para negar a condicional você deve Repetir E Negar. então a prestação de contas da prefeitura NÃO foi
Veja: ~(A → B) = A ∧ ~B aprovada.”
A = nas cidades medievais não havia lugares pró- Negação:
prios para o teatro e as apresentações eram realiza- Os recursos foram aplicados em finalidade diversa
das em igrejas e castelos da prevista ou a obra foi superfaturada (Repete a
B = a maior parte da população não era excluída primeira) MAS a prestação de contas da prefeitura
dos espetáculos teatrais. Fica: foi aprovada (nega a segunda).
Nas cidades medievais não havia lugares próprios Resposta: Letra A.
para o teatro, as apresentações eram realizadas em
igrejas e castelos e a maior parte da população era 5. (CEBRASPE-CESPE — 2018) A respeito de lógica pro-
excluída dos espetáculos teatrais. posicional, julgue o item que se segue.
Resposta: Letra E. A negação da proposição “Se o fogo for desencadea-
do por curto-circuito no sistema elétrico, será reco-
3. (CEBRASPE-CESPE — 2020) Considerando esse argu- mendável iniciar o combate às chamas com extintor à
mento, julgue o item seguinte. base de espuma.” é equivalente à proposição “O fogo
A negação da proposição “Os servidores públicos que foi desencadeado por curto-circuito no sistema elétri-
atuam nesse setor padecem e os beneficiários dos co e não será recomendável iniciar o combate às cha-
serviços prestados por esse setor padecem.” é cor- mas com extintor à base de espuma.”
retamente expressa por “Os servidores públicos que
atuam nesse setor não padecem e os beneficiários ( ) CERTO ( ) ERRADO
dos serviços prestados por esse setor não padecem.”.
P  Q negando dica P ^ ~Q
( ) CERTO ( ) ERRADO Se o fogo for desencadeado por curto-circuito no siste-
ma elétrico (P), então será recomendável iniciar o com-
Para responder a essa questão, bastava lembra de bate às chamas com extintor à base de espuma. (Q)
que para negar a conjunção “E” você deve trocar Negando:
pela disjunção “OU” e negar tudo. Veja que isso não O fogo foi desencadeado por curto-circuito no sistema
aconteceu. Logo, questão errada. elétrico (P) e não será recomendável iniciar o combate
Resposta: Errado. às chamas com extintor à base de espuma. (~Q).
Resposta: Certo.
4. (CEBRASPE-CESPE — 2019) Argumento CB1A5-II
No argumento seguinte, as proposições P1, P2 e P3
são as premissas, e C é a conclusão. PRIMEIRA ORDEM - PROPOSIÇÃO CATEGÓRICA

P1: Se os recursos foram aplicados em finalidade diver- Lógica de 1° ordem é igual a Quantificadores Lógi-
sa da prevista ou se a obra foi superfaturada, então cos, então, toda vez que você vir esse tema no edi-
a prestação de contas da prefeitura não foi aprovada. tal, terá que saber três coisas fundamentais sobre os
P2: Se a prestação de contas da prefeitura não foi apro- quantificadores:
vada, então a prefeitura ficou impedida de celebrar
novos convênios ou a prefeitura devolveu o dinheiro z Negação;
ao governo estadual. z Equivalência;
P3: A obra não foi superfaturada, e a prefeitura não devol- z Representação por diagramas.
veu o dinheiro ao governo estadual.
C: A prefeitura ficou impedida de celebrar novos convênios. Quantificadores Lógicos ou Proposições Categó-
Com relação ao argumento CB1A5-II, assinale a opção ricas são elementos que especificam a extensão da
correspondente à proposição equivalente à negação validade de um predicado sobre um conjunto de cons-
60 da proposição P1. tantes individuais, ou seja, são palavras ou expressões
que indicam que houve quantificação. São exemplos z Algum A não é B: é verdadeira.
de quantificadores as expressões: “existe”, “algum”,
“todo”, “pelo menos um” e “nenhum”. QUANTIFICADOR PARTICULAR (AFIRMATIVO):
“ALGUM” / “PELO MENOS UM” / “EXISTE”
CLASSIFICAÇÃO DAS PROPOSIÇÕES CATEGÓRICAS
Exemplo:
Estes quantificadores podem ser classificados em Algum A é B;
dois tipos: Algum homem joga bola.
Perceba que temos dois conjuntos envolvidos no
z Quantificador Universal: “todo” e “nenhum”; exemplo, o do homem e o de jogar bola. Vale lembrar
z Quantificador Existencial (particulares): “pelo que “Algum A é B” significa que o conjunto A tem pelo
menos um”, “existe um” e o “algum”. menos um elemento em comum com o conjunto B, ou
seja, há intersecção entre os círculos A e B. Logo, pode-
QUANTIFICADOR UNIVERSAL “TODO” (AFIRMATIVO) mos fazer representação com diagrama:

Exemplos: A B
Todo A é B;
Todo homem joga bola.
Perceba que temos dois conjuntos envolvidos no
exemplo, o do homem e o de jogar bola. Vale lembrar
que “Todo A é B” significa que todo elemento de A
também é elemento de B. Logo, podemos representar
com o diagrama:
Os dois conjuntos possuem uma parte em comum
B
Veja que a representação de A e B possui intersecção.
A Então, quando “Algum A é B” é verdadeira, os valores
lógicos das outras proposições categóricas, interpretan-
do o diagrama, serão os seguintes:

z Todo A é B: é indeterminado;
z Nenhum A é B: é falsa;
O conjunto A dentro do conjunto B z Algum A não é B: é indeterminado.

Quando “Todo A é B” é verdadeira, os valores lógi- QUANTIFICADOR PARTICULAR (NEGATIVO):


cos das outras proposições categóricas, interpretando “ALGUM” / “PELO MENOS UM” / “EXISTE” + A
os diagramas, serão os seguintes: PARTÍCULA “NÃO”

z Nenhum A é B: é falsa; Exemplo:


z Algum A é B: é verdadeira; Algum A não é B;
z Algum A não é B: é falsa. Algum homem não joga bola.
Perceba que temos dois conjuntos envolvidos no
QUANTIFICADOR UNIVERSAL “NENHUM” (NEGATIVO) exemplo, o do homem e o de jogar bola. Vale lem-
brar que “Algum A não é B” significa que o conjunto
Exemplos: A tem pelo menos um elemento que não pertence ao
Nenhum A é B; conjunto B. Logo, podemos fazer representação com
Nenhum homem joga bola. diagramas:
Perceba que temos dois conjuntos envolvidos no
exemplo, o do homem e o de jogar bola. Vale lembrar
que “Nenhum A é B” significa que A e B não tem ele- RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
mentos em comum, logo, temos apenas uma represen-
tação com diagrama:

A B
Os dois conjuntos possuem uma parte em comum, mas não há
contato de alguns elementos de A com B

Veja que na representação o conjunto A tem pelo


Não há intersecção entre o conjunto A e o conjunto B menos um elemento que não pertence ao conjunto
B. Então, quando “Algum A não é B” é verdadeira, os
Quando “Nenhum A é B” é verdadeira, os valores valores lógicos das outras proposições categóricas,
lógicos das outras proposições categóricas, interpre- interpretando o diagrama, serão os seguintes:
tando o diagrama, serão os seguintes:
z Todo A é B: é falsa;
z Todo A é B: é falsa; z Nenhum A é B: é indeterminada;
z Algum A é B: é falsa; z Algum A não é B: é indeterminado. 61
NEGAÇÃO DOS QUANTIFICADORES LÓGICOS OU PROPOSIÇÕES CATEGÓRICAS

Você vai aprender de uma vez por todas como negar proposições quantificadas, ou seja, proposições que uti-
lizam expressões como “todo”, “algum” e “nenhum”. Podemos, então, dizer que negar uma proposição significa
trocar o seu valor lógico. Em outras palavras, a negação de uma proposição verdadeira é uma proposição falsa; a
negação de uma proposição falsa é uma proposição verdadeira.
Tudo que você precisa para negar uma proposição quantificada é saber como classificá-la, então, veja alguns
exemplos:

QUANTIFICADOR CLASSIFICAÇÃO EXEMPLO

Todo Universal Afirmativo Todo homem joga bola


Nenhum Universal Negativo Nenhum homem joga bola
Algum Particular Afirmativo Algum homem joga bola
Algum + Não Particular Negativo Algum homem não joga bola

Sabendo disso, é muito simples negar proposições quantificadas.

Universal Negação Particular

Particular Negação Universal

Verbo Negação Verbo Negativo


Afirmativo

Verbo Verbo
Negação Afirmativo
Negativo

z Se o quantificador utilizado for universal, a negação utilizará um quantificador particular;


z Se o quantificador utilizado for particular, a negação utilizará um quantificador universal;
z Se o verbo for afirmativo, a negação utilizará um verbo negativo;
z Se o verbo for negativo, a negação utilizará um verbo afirmativo.

Esquematizando tudo:

QUANTIFICADOR NEGAÇÃO EXEMPLO


p: Todo homem joga bola
Universal afirmativa “todo” Particular negativa “algum + não”
~p: Algum homem não joga bola
p: Nenhum homem joga bola
Universal negativa “nenhum” Particular afirmativa “algum”
~p: Algum homem joga bola
p: Algum homem joga bola
Particular afirmativa “algum” Universal negativa “nenhum”
~p: Nenhum homem joga bola
p: Algum homem não joga bola
Particular negativa “algum + não” Universal afirmativa “todo”
~p: Todo homem joga bola

Olhando para as iniciais de cada quantificador lógico particular (Pelo menos / Existe / Algum), podemos escre-
ver o lembrete abaixo para negação:

Todo Negação PEA + Não

Nenhum Negação PEA

EQUIVALÊNCIA LÓGICA DE QUANTIFICADORES

z Todo
„ “Todo A é B” é equivalente a dizer “nenhum A não é B”.

62 Vemos aqui que troca-se “todo” por “nenhum”, ou seja, a primeira sentença é mantida e nega-se a segunda.
Exemplo: “Todo gato pula alto” = “Nenhum gato e) Pelo menos um assistente social não acompanhou o
não pula alto”. julgamento.

„ “Todo A é B” equivale a “Se é A, então é B”. A questão pede a negação do “algum” – quantifica-
dor particular afirmativo. Já aprendemos que, para
Exemplo: “Todo pato é amarelo”. = “Se é pato,
fazer essa negação, usamos um quantificador uni-
então é amarelo”.
versal. Qual, professor? O quantificador “nenhum”,
z Nenhum pois o mesmo é universal negativo. Assim, a nossa
sentença ficará:
„ “Nenhum A é B” é equivalente a dizer “Todo A p: “Algum assistente social acompanhou o
não é B”.
julgamento”
Vemos aqui que troca-se “nenhum” por “todo”, a ~p: “Nenhum assistente social acompanhou o
primeira sentença é mantida e nega-se a segunda. julgamento”
Exemplo: “Nenhum macaco é branco” = “Todo Resposta: Letra D.
macaco não é branco”.
3. (FUNDATEC — 2019) Assinale a alternativa que corres-
Equivalência
ponde à negação de “Todos os analistas de tecnologia
da informação são bons desenvolvedores”.
Negação
AéB A Não é B A Não é B
a) Pelo menos um analista de tecnologia da informação
Todo Algum Nenhum não é bom desenvolvedor.
A Não é B AéB AéB b) Nenhum analista de tecnologia da informação é bom
Negação
desenvolvedor.
Equivalência
c) Todos os analistas de tecnologia da informação não
são bons desenvolvedores.
d) Alguns analistas de tecnologia da informação são
Agora vamos treinar o que aprendemos na teo- bons desenvolvedores.
ria com exercícios comentados de diversas bancas.
e) Todos os desenvolvedores não são analistas de tecno-
Vamos lá!
logia da informação.
1. (FGV — 2019) Considerando que a afirmação “Nenhum
pescador sabe nadar” não é verdadeira, é correto con- A negação do “todo” pode ser feita usando o lem-
cluir que brete que aprendemos: “todo nega com PEA + não”,
onde o PEA são as iniciais dos quantificadores
a) “Há, pelo menos, um pescador que sabe nadar”.
lógicos particulares – “Pelo menos um” / “Existe” /
b) “Quem não é pescador não sabe nadar”
c) “Todos os pescadores sabem nadar”. “Algum” – seguidos pelo modificador lógico “não”,
d) “Todas as pessoas que sabem nadar são pescadores”. deixando-os, assim, particulares negativos. Logo,
e) “Ninguém que sabe nadar é pescador”. p: “Todos os analistas de tecnologia da informação
são bons desenvolvedores”
Veja que a questão pede a negação do quantificador
~p: “Pelo menos um / Existe / Algum analista de tec-
“nenhum”, e como já aprendemos, nunca devemos
negar o “nenhum” usando o quantificado “todo” e nologia da informação não é bom desenvolvedor.
vice-versa. Sabendo disso, podemos eliminar estra- Resposta: Letra A.
tegicamente as alternativas C, D e E. Como temos
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
um quantificador universal negativo e sabemos que 4. (VUNESP — 2019) A alternativa que corresponde à
para negar precisamos de um particular afirmativo,
negação lógica da proposição composta: “todos os
só nos resta a letra A como resposta, pois a letra B
não está de acordo com a regra. Você também pode- cantores são músicos e existe advogado que é can-
ria usar o lembrete “nenhum nega com PEA”. tor”, é:
Resposta: Letra A.
a) Nenhum cantor é músico e não existe advogado que
2. (FUNDATEC — 2019) A negação da sentença “algum seja cantor.
assistente social acompanhou o julgamento” está na
b) Pelo menos um cantor não é músico ou não existe
alternativa:
advogado que seja cantor.
a) Algum assistente social não acompanhou o c) Há cantores que são músicos e existe advogado que
julgamento. não é cantor.
b) Todos os assistentes sociais acompanharam o d) Nenhum cantor é músico ou não existe advogado que
julgamento.
seja cantor.
c) Nem todos os assistentes sociais acompanharam o
julgamento. e) Pelo menos um cantor não é músico ou existe advoga-
d) Nenhum assistente social acompanhou o julgamento. do que é cantor. 63
Só podemos negar um Quantificador Universal
(“Todo” / “Nenhum”) com um Quantificador Existen- CONJUNTOS E SUAS OPERAÇÕES,
cial (“Existe” / “Algum” / “Pelo menos um”), assim, DIAGRAMAS
eliminamos as letras A, C e D, ficando, assim, apenas
as letras B e E para análise. Segundo a Lei de Mor- INTRODUÇÃO À TEORIA DE CONJUNTOS
gan – devemos trocar o “e” por “ou” e negar tudo.
Então, negando a proposição P ^ Q, fica ~ P v ~Q: Conjunto é uma reunião de elementos ou pessoas
P: todos os cantores são músicose (^) que possuem a mesma característica, por exemplo,
Q: existe advogado que é cantor. numa festa pode haver o conjunto de pessoas que só
Negando: bebem cerveja ou o conjunto daquelas que só gostam
~P: alguns cantores não são músicos (pelo menos de músicas eletrônicas.
Representamos um conjunto da seguinte forma:
um não é = algum não é) ou (v)
~Q: não existe advogado que é cantor. (Não existe = Conjunto X
nenhum) “Pelo menos um cantor não é músico ou
não existe advogado que seja cantor”.
Resposta: Letra B. y

5. (VUNESP — 2019) Considere como verdadeira a pro- x


posição: “Nenhum matemático é não dialético”. Laura
enuncia que tal proposição implica, necessariamente,
que:
Podemos afirmar que no interior do círculo há
I. Se Carlos é matemático, então ele é dialético. todos os elementos que pertencem (compõem) ao con-
II. Se Pedro é dialético, então é matemático. junto X, já na parte externa do círculo estão todos os
III. Se Luiz não é dialético, então não é matemático. elementos que não fazem parte de X, ou seja, “y” não
IV. Se Renato não é matemático, então não é dialético. pertence ao conjunto X.
No gráfico acima podemos dizer que o elemen-
Das implicações enunciadas por Laura, estão corretas to “x” pertence ao conjunto X e o elemento “y” não
apenas: pertence.
Matematicamente, usamos o símbolo Є para indi-
a) I e III. car essa relação de pertinência. Isto é: x Є X, já o ele-
b) I e II. mento “y” não pertence ao conjunto X, onde usamos
c) III e IV. o símbolo ∉ para essa relação de não pertinência.
d) II e III. Matematicamente:
e) II e IV.
y ∉ X.
Você precisa lembrar das equivalências para res-
ponder essa questão. Complemento de um Conjunto
“Nenhum matemático é não dialético” equivale a
“Todo Matemático é Dialético”; O complemento de X é o conjunto formado por
“Todo Matemático é Dialético” equivale a “Se é todos os elementos do Universo e o elemento “y” faz
matemático, então é Dialético”. parte dele, claro que com exceção daqueles que estão
Agora, vamos analisar as afirmações feitas por presentes em X. Representamos o complemento ou
Laura: complementar pelo símbolo XC. Podemos afirmar que
I. Se Carlos é matemático, então ele é dialético (Cor- “y” não pertence à X, mas pertence ao conjunto com-
reta, pois está de acordo com a equivalência acima). plementar de X: matematicamente: y Є XC.
II. Se Pedro é dialético, então é matemático. (Incor-
reta, pois há dialéticos que não são matemáticos). Interpretando Regiões e Conhecendo a Interseção e
União de Conjuntos
Dialético
Uma outra situação é quando temos dois conjuntos
(X e Y), podemos representar da seguinte forma, no
geral:
Mat.
X Y

III. Se Luiz não é dialético, então não é matemáti-


co (Correta, pois todo matemático é dialético. Veja
também que temos um dos casos de equivalência
lógica do conectivo “se... então” – a contrapositiva).
IV. Se Renato não é matemático, então não é dialéti-
co (Incorreta, pois nem todo dialético é matemático a b c
como vimos nos diagrama da alternativa II).
Resposta: Letra A.
64 d
Interpretando os conjuntos anterior temos: Relação de “Contém”/“Não Contém” e “Está
Contido”/“Não Está Contido” entre Conjuntos
z O elemento “a” pertence apenas ao conjunto X,
pois ele está numa região que não tem contato com Em algumas situações, a intersecção entre os con-
o conjunto Y; juntos X e Y pode ser todo o conjunto Y, por exemplo.
Isso acontece quando todos os elementos de B são
z O elemento “c” faz parte somente ao conjunto Y;
também elementos de A. Veja isso no gráfico a seguir:
z O elemento “b” pertence aos dois conjuntos, ou seja,
faz parte da interseção entre os conjuntos X e Y.
X
A representação simbólica é feita por X ∩ Y. Como o
elemento “b” faz parte dessa região, temos:

„ b Є (X ∩ Y) – o elemento “b” pertence à interse-


ção dos conjuntos X e Y; Y
z O elemento “d” não faz parte de nenhum dos dois
conjuntos. Logo, podemos dizer que “d” não per-
tence à União entre os conjuntos X e Y. A união é
a junção das regiões dos dois conjuntos e é repre-
Perceba que realmente X ∩ Y = Y. Quando temos
sentada simbolicamente por X ∪ Y. Assim, d ∉ (X
a situação acima, podemos dizer que o conjunto Y
∪ Y) – o elemento “d” não pertence à união entre
está contido no conjunto X, representado matemati-
os conjuntos X e Y.
camente por Y ⊂ X. Ou podemos dizer, ainda, que o
conjunto X contém o conjunto Y, representado mate-
Vamos analisar uma outra situação: maticamente por X ⊃ Y.

X Y
Importante!
Entenda a diferença:
X–Y X∩Y Y–X ● Falamos que um elemento pertence ou não
pertence a um conjunto;
● Falamos que um conjunto está contido ou não
está contido em outro conjunto.

Nesta representação, podemos interpretar a região Representação de Conjunto usando Chaves


X – Y (diferença de conjuntos) como sendo a região
formada pelos elementos de X que não fazem parte do Geralmente usamos letras maiúsculas para repre-
conjunto Y. Veja o exemplo: sentar os nomes de conjuntos e minúsculas para
representar elementos. Ex.: A = {4, 6, 7, 9}; B = {a, b,
c, d} etc. Ainda podemos utilizar notações matemáti-
X = {2, 3, 4, 5, 6, 7, 8}
cas para representar os conjuntos. Veja o exemplo a
Y = {5, 6, 7, 9, 10}
seguir:
X – Y = basta tirar de X os elementos que estão nele
A = {∀ x Є Z | x ≥ 0}
e também em Y, ou seja, X – Y = {2, 3, 4, 8}
Já no caso da região Y – X, temos: Podemos entender e fazer a leitura do conjunto
anterior da seguinte maneira: o conjunto A é compos-
X = {2, 3, 4, 5, 6, 7, 8} to por todo x pertencente ao conjunto dos números
Y = {5, 6, 7, 9, 10} inteiros, tal que x é maior ou igual a zero. RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
Y – X = {9, 10} Agora, veja um outro exemplo:

Podemos falar, também, da região de interseção B = {∃ x Є Z | x > 5}


dos conjuntos X ∩ Y.
Uma interpretação para o conjunto é: no conjunto
X = {2, 3, 4, 5, 6, 7, 8} B existe x pertencente ao conjunto dos números intei-
Y = {5, 6, 7, 9, 10} ros, tal que x é maior do que 5.
X ∩ Y = {5, 6, 7} Agora vamos esquematizar todas as simbologias
para que você possa gravar mais facilmente e aplicar
E por fim, vamos identificar a união entre os na hora de resolver as questões. Observe a tabela a
conjuntos X e Y. Observe que vamos juntar todos os seguir:
elementos dos dois conjuntos, mas sem repetir os ele-
mentos presentes na interseção. Veja:

X = {2, 3, 4, 5, 6, 7, 8}
Y = {5, 6, 7, 9, 10}
X ∪ Y = {2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10} 65
SÍMBOLO NOME EXPLICAÇÃO Siga os passos abaixo:

chaves Ex: X = {a,b,c} representa z Identifique os conjuntos;


{,} o conjunto X composto z Represente em forma de diagramas;
por a, b e c z Preencha as informações de dentro para fora (da
interseção para as demais informações);
conjunto Significa que o conjunto z Preencha as demais informações no diagrama;
{ } ou ∅ vazio não tem elementos, é um z Some todas as regiões e iguale ao total de elemen-
conjunto vazio tos envolvidos.
para todo Significa “Para todo” ou
∀ Vamos à resolução:
“Para qualquer que seja”

pertence Indica relação de perti- z Identifique os conjuntos;


Є nência de elementos z Represente em forma de diagramas:
não pertence Indica relação de não Matemática Português

pertinência de elementos

existe Indica relação de



existência.

não existe Indica que não há rela-



ção de existência

está contido Indica que um conjunto


⊂ está contido em outro
conjunto

não está Indica que um conjunto


⊄ contido não está contido em ou- z Preencha as informações de dentro para fora (da
tro conjunto interseção para as demais informações):

contém Indica que determinado Matemática Português


⊃ conjunto contém outro
conjunto

não contém Indica que determinado


⊅ conjunto não contém ou-
tro conjunto

tal que Serve para fazer a liga-


10
ção entre a composição
|
de um conjunto na “re-
presentação em chaves”

união de Lê-se como “X união Y”. z Preencha as demais informações no diagrama:


A∪B
conjuntos
Matemática (20) Português (30)
interseção Lê-se como “X intersec-
A∩B
de conjuntos ção Y”

diferença de Lê-se como “diferença


A-B
conjuntos de A com B”

complemen- Refere-se ao comple-


XC
tar mento do conjunto X 20 – 10 = 10 10 30 – 10 = 20

Diagrama de VENN

Vamos entender como se resolve questões que 5


envolvem Operações com Conjuntos se relacionan-
do. Acompanhe os exemplos a seguir e a maneira Total = X
como desenvolvemos suas resoluções: 20 gostam de Matemática;
30 gostam de Português;
z Em uma sala de aula, 20 alunos gostam de Mate- 10 gostam dos dois;
mática, 30 gostam de Português, e 10 gostam das 10 gostam apenas de Matemática;
duas matérias. Sabendo que 5 alunos não gostam 20 gostam apenas de Português;
de nenhuma dessas duas matérias, quantos alunos 5 não gostam de nenhuma.
existem nessa sala de aula?

66
z Some todas as regiões e iguale ao total de elemen- André Bernardo
tos envolvidos:

Matemática (20) Português (30)

20 – 10 = 10 10 30 – 10 = 20

Carol
5

10+10+20+5 = X
X = 45 alunos é o total dessa sala. z Preencha as informações de dentro para fora (da
interseção para as demais informações):
Também seria possível resolver esse tipo de ques-
André Bernardo
tão usando a seguinte fórmula:

n(X ∪ Y) = n(X) + n(Y) – n(X ∩ Y)

Esta fórmula nos diz que o número de elementos


da União entre os conjuntos X e Y (X ∪ Y) é dado pelo
número de elementos de X, somado ao número de ele-
mentos de Y, subtraído do número de elementos da 10
interseção (X ∩ Y). Aplicando no exemplo, temos:
Matemática (M)
Português (p)
Carol
n(M ∪ P) = n(M) + n(P) – n(M ∩ P)
n(M ∪ P) = 20 + 30 – 10
n(M ∪ P) = 40
z Preencha as demais informações no diagrama:
Temos 40 alunos que gostam de Matemática ou
Português (aqui já está incluso quem gosta das duas André Bernardo
matérias). Para finalizar a resolução, devemos apenas
somar os 5 alunos que não gostam das duas matérias.
Assim, 40 + 5 = 45 alunos no total dessa sala.
Assim como nos problemas com 2 conjuntos, quan-
do nós tivermos 3 conjuntos será possível resolver
o problema por meio de Diagramas de Venn ou por 0 0
12
meio de fórmula. Acompanhe a resolução do exemplo:
André, Bernardo e Carol ouviram certa quantidade
de músicas. Nenhum deles gostaram de seis músicas 10
e os três gostaram de dez músicas. Além disso, hou-
9 4
ve doze músicas que só André e Bernardo gostaram,
nove músicas que só André e Carol gostaram e quatro RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
0 Carol
músicas que só Bernardo e Carol gostaram. Não houve
música alguma que somente um deles tenha gostado.
6
O número de músicas que eles ouviram foi?
Siga os passos a seguir:

z Identifique os conjuntos; Colocamos o número 10 bem no centro, pois sabe-


z Represente em forma de diagramas; mos que os três gostaram de dez músicas, depois
z Preencha as informações de dentro para fora (da preenchemos com as demais informações:
interseção para as demais informações);
z Preencha as demais informações no diagrama; z 12 músicas que somente André e Bernardo gosta-
z Some todas as regiões e iguale ao total de elemen- ram (na interseção entre os 2 apenas);
tos envolvidos. z 9 que somente André e Carol gostaram;
z 4 que somente Bernardo e Carol gostaram;
Vamos à resolução: z 6 músicas que ninguém gostou (de fora dos três
conjuntos);
z Identifique os conjuntos; z Os “zeros” representam o fato de que não houve
z Represente em forma de diagramas: música que somente um deles tenha gostado. 67
Logo, vem a última etapa: exportação. Esses produtos foram distribuídos em
800 contêineres, da seguinte forma: nenhum contêiner
z Some todas as regiões e iguale ao total de elemen- foi carregado com os três produtos; 300 contêineres
tos envolvidos; foram carregados com carne bovina; 450, com carne
suína; 100, com frango e carne bovina; 150, com carne
Total = X suína e carne bovina; 100, com frango e carne suína.
6+0+12+10+9+0+4+0=X Nessa situação hipotética,
X = 41 músicas 50 contêineres foram carregados somente com carne
bovina.
Questões com três conjuntos podem ser resolvidas
usando a seguinte fórmula: ( ) CERTO ( ) ERRADO

n(X ∪ Y ∪ Z) = n(X) + n(Y) + n(Z) – n(X ∩ Y) – n(X Vamos extrair as informações e colocar dentro dos
∩ Z) – n(Y ∩ Z) + n(X ∩ Y ∩ Z) diagramas:
800 contêineres distribuição;
Traduzindo a fórmula: 0 contêineres com os 3 produtos;
Total de elementos da união = soma dos conjuntos 300 contêineres carne bovina;
– interseções dois a dois + interseção dos três 450 contêineres carne suína;
Bom! Já vimos a teoria e precisamos praticar o que 100 contêineres com frango e carne bovina;
aprendemos, não é mesmo? Vamos praticar! 150 contêineres com carne suína e carne bovina;
100 contêineres com frango e carne suína.
1. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Determinado porto rece-
beu um grande carregamento de frango congelado, Bovina Frango

carne suína congelada e carne bovina congelada, para


50 100 X
exportação. Esses produtos foram distribuídos em
800 contêineres, da seguinte forma: nenhum contêiner
foi carregado com os três produtos; 300 contêineres
foram carregados com carne bovina; 450, com carne 0
suína; 100, com frango e carne bovina; 150, com carne
suína e carne bovina; 100, com frango e carne suína. 150 100
Nessa situação hipotética,
250 contêineres foram carregados somente com car- 200 Suína
ne suína.

( ) CERTO ( ) ERRADO
Veja que exatamente 50 contêineres foram carrega-
Vamos extrair as informações e colocar dentro dos dos somente com carne bovina. Resposta: Certo.
diagramas:
800 contêineres distribuição; 3. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Determinado porto rece-
0 contêineres com os 3 produtos; beu um grande carregamento de frango congelado,
300 contêineres carne bovina; carne suína congelada e carne bovina congelada, para
450 contêineres carne suína; exportação. Esses produtos foram distribuídos em
100 contêineres com frango e carne bovina; 800 contêineres, da seguinte forma: nenhum contêiner
150 contêineres com carne suína e carne bovina; foi carregado com os três produtos; 300 contêineres
100 contêineres com frango e carne suína. foram carregados com carne bovina; 450, com carne
suína; 100, com frango e carne bovina; 150, com carne
Bovina Frango suína e carne bovina; 100, com frango e carne suína.
Nessa situação hipotética,
50 100 X 400 contêineres continham frango congelado.

( ) CERTO ( ) ERRADO

Com as informações colocadas nos diagramas na


0
questão anterior, podemos somar todas as informa-
ções que não possuem contato com o conjunto de
150 100 frango e subtrair do total. Veja:
50 (só bovinos);
200 Suína 150 (bovinos e suínos);
200 (só suínos).
Somando tudo isso, teremos 400 contêineres com
outras carnes, o que sobrou do total será a resposta
Veja que apenas 200 contêineres foram carregados para a questão.
somente com carne suína. Resposta: Errado. 800-400= 400 contêineres contêm franco. (Lembre-se, a
banca não perguntou somente frango). Logo, 400 con-
2. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Determinado porto rece- têineres continham frango congelado. Resposta: Certo.
beu um grande carregamento de frango congelado,
68 carne suína congelada e carne bovina congelada, para
4. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Em um aeroporto, 30 Somando tudo, temos 49 + 60 = 109. Passou o total de
passageiros que desembarcaram de determinado 96, porque estamos contando 2x vezes os estabeleci-
voo e que estiveram nos países A, B ou C, nos quais mentos que estão na interseção. Logo, descontamos
ocorre uma epidemia infecciosa, foram selecionados o que passou do total. 109 - 96 = 13 estabelecimentos
para ser examinados. Constatou-se que exatamente que são classificados como Bar e como Restaurante
25 dos passageiros selecionados estiveram em A ou ao mesmo tempo. Resposta: Errado.
em B, nenhum desses 25 passageiros esteve em C e 6
desses 25 passageiros estiveram em A e em B.
Com referência a essa situação hipotética, julgue os
itens que se seguem
Se 11 passageiros estiveram em B, então mais de 15 NÚMEROS INTEIROS, RACIONAIS
estiveram em A. E REAIS E SUAS OPERAÇÕES,
PORCENTAGEM E JUROS
( ) CERTO ( ) ERRADO
Números Inteiros
Dos 30 passageiros, são 25 que estiveram apenas
em A ou B, de modo que os outros 5 passageiros esti-
Os números inteiros são os números naturais e
veram apenas em C. Veja ainda que 6 passageiros
seus respectivos opostos (negativos). Veja:
estiveram A e B, de modo que os outros 19 estiveram
Z = {..., -7, -6, -5, -4, -3, -2, -1, 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, ...}
somente em um desses dois países. Logo,
O símbolo desse conjunto é a letra Z. Uma coisa
A B importante é saber que todos os números naturais
são inteiros, mas nem todos os números inteiros são
naturais. Logo, podemos representar através de dia-
gramas e afirmar que o conjunto de números naturais
X 6 25 – 6 – x =
está contido no conjunto de números inteiros ou ain-
da que N é um subconjunto de Z. Observe:
19 – x

Z N
C 5

Podemos destacar alguns subconjuntos de núme-


Sabemos que o número de pessoas que estiveram em
B é dado pela soma 6 + (19 – X). Ou seja, ros. Veja:
11 = 6 + (19 – X)
11 = 25 – X z Números Inteiros não negativos = {4,5,6...}. Veja
X = 25 – 11 que são os números naturais;
X = 14 z Números Inteiros não positivos = {… -3, -2, -1, 0}.
Logo, as pessoas que estiveram em A são X + 6 = 14 Veja que o zero também faz parte deste conjunto,
+ 6 = 20. Resposta: Certo. pois ele não é positivo nem negativo;
z Números inteiros negativos = {… -3, -2, -1}. O zero
5. (CEBRASPE-CESPE — 2016) Situação hipotética: A não faz parte; RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
ANVISA realizará inspeções em estabelecimentos z Números inteiros positivos = {5, 6, 7...}. Novamen-
comerciais que são classificados como Bar ou Res- te, o zero não faz parte.
taurante e naqueles que são considerados ao mesmo
tempo Bar e Restaurante. Sabe-se que, ao todo, são 96 Operações com Números Inteiros
estabelecimentos a serem visitados, dos quais 49 são
classificados como Bar e 60 são classificados como Há quatro operações básicas que podemos efetuar
Restaurante. Assertiva: Nessa situação, há mais de 15 com estes números são: adição, subtração, multiplica-
estabelecimentos que são classificados como Bar e ção e divisão.
como Restaurante ao mesmo tempo.
z Adição: é dada pela soma de dois números. Ou
( ) CERTO ( ) ERRADO seja, a adição de 20 e 5 é: 20 + 5 = 25

Extraindo os dados: Veja mais alguns exemplos:


total: 96; Adição de 15 e 3: 15 + 3 = 18
bar: 49; Adição de 55 e 30: 55 + 30 = 85
restaurante: 60.
69
Principais Propriedades da Operação de Adição Algo que é muito importante e você deve lembrar
sempre, são as regras de sinais na multiplicação de
z Propriedade comutativa: a ordem dos números números.
não altera a soma.
SINAIS NA MULTIPLICAÇÃO
Ex.: 115 + 35 é igual a 35 + 115.
Operações Resultados
z Propriedade associativa: quando é feita a adição
+ + +
de 3 ou mais números, podemos somar 2 deles, pri-
meiramente, e depois somar o outro, em qualquer - - +
ordem, que vamos obter o mesmo resultado.
+ - -
Ex.: 2 + 3 + 5 = (2 + 3) + 5 = 2 + (3 + 5) = 10 - + -

z Elemento neutro: o zero é o elemento neutro da


adição, pois qualquer número somado a zero é Dica
igual a ele mesmo.
� A multiplicação de números de mesmo sinal
Ex.: 27 + 0 = 27; 55 + 0 = 55.
tem resultado positivo.
Ex.: 51 × 2 = 102; (-33) × (-3) = 99
z Propriedade do fechamento: a soma de dois núme- � A multiplicação de números de sinais diferen-
ros inteiros sempre gera outro número inteiro. tes tem resultado negativo.
Ex.: 25 × (-4) = -100; (-15) × 5 = -75
Ex.: A soma dos números inteiros 8 e 2 gera o
número inteiro 10 (8 + 2 = 10). As principais propriedades da operação de
multiplicação.
� Subtração: subtrair dois números é o mesmo que
diminuir, de um deles, o valor do outro. Ou seja, z Propriedade comutativa: A x B é igual a B x A, ou
subtrair 7 de 20 significa retirar 7 de 20, restando seja, a ordem não altera o resultado.
13: 20 – 7 = 13.
Ex.: 8 x 5 = 5 x 8 = 40.
Veja mais alguns exemplos:
z Propriedade associativa: (A x B) x C é igual a (C x B)
Subtrair 5 de 16: 16 -5 = 11
x A, que é igual a (A x C) x B.
30 subtraído de 10: 30 – 10 = 20
Ex.: (3 x 4) x 2 = 3 x (4 x 2) = (3 x 2) x 4 = 24.
As Principais Propriedades da Operação de
Subtração
z Elemento neutro: a unidade (1) é o elemento neu-
tro da multiplicação, pois ao multiplicar 1 por
z Propriedade comutativa: como a ordem dos núme-
qualquer número, este número permanecerá
ros altera o resultado, a subtração de números não
inalterado.
possui a propriedade comutativa.
Ex.: 15 x 1 = 15.
Ex.: 250 – 120 = 130 e 120 – 250 = -130.
z Propriedade do fechamento: a multiplicação de
z Propriedade associativa: não há essa propriedade números inteiros sempre gera um número inteiro.
na subtração.
z Elemento neutro: o zero é o elemento neutro da Ex.: 9 x 5 = 45
subtração, pois, ao subtrair zero de qualquer
número, este número permanecerá inalterado. z Propriedade distributiva: essa propriedade é
exclusiva da multiplicação. Veja como fica: Ax(B+C)
Ex.: 13 – 0 = 13. = (AxB) + (AxC)

z Propriedade do fechamento: a subtração de dois Ex.: 3x(5+7) = 3x(12) = 36


números inteiros sempre gera outro número Usando a propriedade:
inteiro. 3x(5+7) = 3x5 + 3x7 = 15+21 = 36

Ex.: 33 – 10 = 23. z Divisão: quando dividimos A por B, queremos


repartir a quantidade A em partes de mesmo
Multiplicação valor, sendo um total de B partes.

A Multiplicação Funciona Como se Fosse uma Ex.: Ao dividirmos 50 por 10, queremos dividir 50
Repetição de Adições. Veja: em 10 partes de mesmo valor. Ou seja, nesse caso tere-
A multiplicação 20 x 3 é igual à soma do número 20 mos 10 partes de 5 unidades, pois se multiplicarmos 10
três vezes (20 + 20 + 20), ou à soma do número 3 vinte x 5 = 50. Ou ainda podemos somar 5 unidades 10 vezes
70 vezes (3 + 3 + 3 + ... + 3). consecutivas, ou seja, 5+5+5+5+5+5+5+5+5+5=50.
Algo que é muito importante e você deve lembrar c) 400.
sempre, são as regras de sinais na divisão de números. d) 380.
e) 340.
SINAIS NA DIVISÃO
Dividendo = 18 x n + 15
Operações Resultados Dividendo = 17 x (n+2) + 1
18 x n + 15 = 17 x (n+2) + 1
+ + + 18n + 15 = 17n + 34 + 1
18n – 17n = 35 – 15
- - +
n = 20
+ - - Logo, n.(n+2) = 20.(20+2) = 20.22 = 440. Resposta:
Letra A.
- + -
2. (FGV — 2019) O resultado da operação 2+3×4−1 é:

Dica a) 13.
� A divisão de números de mesmo sinal tem b) 15.
resultado positivo. c) 19.
Ex.: 60 ÷ 3 = 20; (-45) ÷ (-15) = 3; d) 22.
e) 23.
� A divisão de números de sinais diferentes tem
resultado negativo.
Primeiro vamos fazer a multiplicação e depois as
Ex.: 25 ÷ (-5) = -5; (-120) ÷ 5 = -24 demais operações:
2 + 3 × 4 − 1 = 2 + 12 − 1 = 13
Esquematizando: Resposta: Letra A
Dividendo
Divisor 3. (INSTITUTO AOCP — 2018) O total de números que
estão entre o dobro de 140 e o triplo de 100 é igual a:
30 5
0 6 a) 17.
b) 19.
Resto Quociente c) 21.
d) 23.
Dividendo = Divisor × Quociente + Resto e) 25.
30 = 5 · 6 + 0
Dobro de 140 = 280
Triplo de 100 = 300
As principais propriedades da operação de divisão.
Total de números entre 280 e 300:
281 até 291 = 10 números
z Propriedade comutativa: a divisão não possui essa
291 até 299 = 9 números
propriedade;
10 + 9 = 19 números.
z Propriedade associativa: a divisão não possui essa
Resposta: Letra B.
propriedade;
z Elemento neutro: a unidade (1) é o elemento neu-
5. (INSTITUTO CONSULPLAN — 2019) Os símbolos das
tro da divisão, pois ao dividir qualquer número
operações que deverão ser inseridos nos quadrados
por 1, o resultado será o próprio número. para que o cálculo seja verdadeiro são, respectivamen-
te: 4_3_2_1 = 10:
Ex.: 15 / 1 = 15.
a) + / x / +
z Propriedade do fechamento: aqui chegamos em b) x / – / ÷
uma diferença enorme dentro das operações de RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
c) + / ÷ / –
números inteiros, pois a divisão não possui essa d) x / + / +
propriedade, uma vez que ao dividir números
inteiros podemos obter resultados fracionários ou 4 * 3 – 2/1=
decimais. 4 * 3 = 12
–2/1= –2 =
Ex.: 2 / 10 = 0,2 (não pertence ao conjunto dos 12 – 2 = 10
números inteiros). Resposta: Letra B.

NÚMEROS RACIONAIS
1. (VUNESP — 2015) Dividindo-se um determinado
número por 18, obtém-se quociente n e resto 15. Divi- São aqueles que podem ser escritos na forma da
dindo-se o mesmo número por 17, obtém-se quociente divisão (fração) de dois números inteiros. Ou seja,
(n + 2) e resto 1. Desse modo, é correto afirmar que n(n escritos na forma A/B (A dividido por B), onde A e B
+ 2) é igual a: são números inteiros.
Exemplos: 7/4 e -15/9 são racionais. Veja, também,
a) 440. que os números 87, 321 e 1221 são racionais, pois são
b) 420. divididos pelo número 1. 71
Dica Para podermos praticar um pouco mais sobre esse
Qualquer número natural é também inteiro e todo assunto, analisaremos algumas questões comentadas
número inteiro é também racional. de concursos.

O símbolo desse conjunto é a letra Q e podemos 1. (FGV — 2010) Julgue as afirmativas a seguir:
representar por meio de diagramas a relação entre os
conjuntos naturais, inteiros e racionais, veja: a) 0,555... é um número racional.

( ) CERTO ( ) ERRADO
Q
Repare que o número 0,555... é uma dízima periódi-
ca. Vimos na teoria que as dízimas periódicas são
um tipo de número RACIONAL. Resposta: Certo.
Z N
b) Todo número inteiro tem antecessor.

( ) CERTO ( ) ERRADO

Qualquer número inteiro é possível obter o seu ante-


cessor. Basta subtrair 1 unidade. Veja: o antecessor
de 35 é o 34. O antecessor de 0 é -1. E o antecessor de
Representação Fracionária e Decimal -299 é o -300. Resposta: Certo.

Há 3 tipos de números no conjunto dos Números 2. (FCC — 2018) Os canos de PVC são classificados de
Racionais: acordo com a medida de seu diâmetro em polegadas.
Dentre as alternativas, aquela que indica o cano de
z Frações: maior diâmetro é:

Ex.: 8 3 7 etc.
a) 1/2.
3 , 5 , 11
b) 1 ¼.
z Números decimais. c) 3/4.
d) 1 ½.
Ex.: 1,75 e) 5/8.

z Dízimas periódicas. Vamos deixar todos na forma decimal. Ou seja,


vamos dividir o numerador pelo denominador da
Ex.: 0,33333... fração. Veja:
5/8 = 0,625
Operações e Propriedades dos Números Racionais ½ = 0,5
1 ¼ = 1 + 0,25 = 1,25
z Adição de números decimais: segue a mesma lógi- ¾ = 0,75
ca da adição comum. 1 ½ = 1 + 0,5 = 1,5
Logo, o maior diâmetro será 1 ½ polegadas, que
Ex.: 15,25 + 5,15 = 20,4 corresponde a 1,5 polegadas. Resposta: Letra D.

z Subtração de números decimais: segue a mesma 3. (FCC — 2017) Sabendo que o número decimal F é
lógica da subtração comum. 0,8666 . . . , que o número decimal G é 0,7111 . . . e que
o número decimal H é 0,4222 . . . , então, o triplo da
Ex.: 57,3 – 0,12 = 57,18 soma desses três números decimais, F, G e H, é igual a:

z Multiplicação de números decimais: aplicamos o a) 6,111 . . .


mesmo procedimento da multiplicação comum.
b) 5,888 . . .
c) 6
Ex.: 4,6 × 1,75 = 8,05
d) 3
e) 5,98
z Divisão de números decimais: devemos multipli-
car ambos os números (divisor e dividendo) por
uma potência de 10 (10, 100, 1000, 10000 etc.) de Podemos resolver de forma aproximada, somando:
modo a retirar todas as casas decimais presentes. 0,8666 + 0,7111 + 0,4222 = 1,9999 (aproximadamente 2)
Após isso, é só efetuar a operação normalmente. A soma é aproximadamente 3×2 = 6. Resposta: Letra C.

Ex.: 5,7 ÷ 1,3 4. (FGV — 2016) Durante três dias, o capitão de um navio
5,7 × 100 = 570 atracado em um porto anotou a altura das marés alta
1,3 × 100 = 130 (A) e baixa (B), formando a tabela a seguir.
72 570 ÷ 130 = 4,38
A B A B A B A B A B A que a (b < a). A mesma ideia é válida para as noções
de maior ou igual que (≥) e menor ou igual que (≤).
1,0 0,3 1,1 0,2 1,3 0,4 1,4 0,5 1,2 0,4 1,0
A seguir, veja algumas propriedades principais
dessas relações, considerando w, x, y e z como núme-
A maior diferença entre as alturas de duas marés con- ros reais.
secutivas foi
z Se x ≤ y e w ≤ z, então ≤ y + z.
a) 1,0.
b) 1,1. Exemplo: Sendo 1 ≤ 2 e 3 e ≤ 4, teremos que 1+3 ≤
c) 1,2. 2+4⟺4≤6.
d) 1,3.
e) 1,4. z Se 0 ≤ x ≤ y e 0 ≤ z ≤ w, então 0 ≤ xy ≤ yw.

Vamos calcular as diferenças entre os valores da Exemplo: Sendo 0 ≤ 2 ≤ 3 e 0 ≤ 4 ≤ 5, teremos que 0


tabela. Veja: ≤ 2 4 ≤ 3 ‧ 5 ⟺ 0 ≤ 8 ≤ 15.
0,3 – 1 = -0,7
1,1 – 0,3 = 0,8 z Se , então .
0,2 – 1,1 = -0,9
1,3 – 0,2 = 1,1 Exemplo: Sendo –4 ≤ 0, teremos que – (-4) ≥ 0 ⟺
0,4 – 1,3 = -0,9 4 ≥ 0.
1,4 – 0,4 = 1
0,5 – 1,4 = -0,9
RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS
1,2 – 0,5 = 0,7
0,4 – 1,2 = -0,8
1. (CPCAR — 2021) A tabela de preços para refeições em
1,0 – 0,4 = 0,6
um restaurante indica quatro opções como descritas
Note que a maior diferença é 1,1. Resposta: Letra D.
a seguir:
CONJUNTO DOS NÚMEROS REAIS —
REPRESENTAÇÃO NA RETA REAL VALOR DE
OPÇÃO ACORDO COM A
Na geometria plana, as retas são consideradas OPÇÃO
entidades primitivas, ou seja, não necessitam de 1ª Self service livre (por pessoa) R$ 35,00
definição formal, pois são intuitivamente concebidas
pelos seres humanos. Em geral, elas são representa- Self service com balança
2ª R$ 50,00
das graficamente por meio de um traço contínuo sem (por kg)
lacunas e sem pontos em suas extremidades. Prato feito pequeno
3ª R$ 15,00
O que se estipula para elas, no entanto, são as (máximo de até 350 g)
consequências de existirem, como colocam Dolce e Prato feito grande (máximo
Pompeo (2013, p. 2): “Numa reta, bem como fora dela, 4ª R$ 30,00
de até 700 g)
há infinitos pontos.”. Ora, bem assim são os números
reais, infinitos, não só positiva e negativamente, como Fonte: Iezzi e Murakami (2013).
também entre si, pois entre e 2, por exemplo, temos
o 1,5; 1,23; 1,0001; √2 = 1,412..., entre outros. Portanto, O cliente faz a escolha ao entrar no estabelecimento
podemos representá-los graficamente em uma reta à sem que possa alterá-la posteriormente e servindo-
qual daremos o nome de reta real. A seguir, acom- -se uma única vez. Naturalmente, os clientes desejam
panhe a representação básica desse elemento gráfico. escolher a opção que lhes faça pagar um menor valor
5
para uma refeição com quantidade x, em kg. Assim, é
– correto afirmar que
–3 2 –2 –1 0 1 2 3
3 11 π
–5 –1 1 9
a) se x = 0,29, então a melhor escolha é a 3ª opção. RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
3 4 2 2 2 4 4
– √3 – √2
3 b) a 2ª opção é a melhor escolha para todo .
c) se x > 0,7, então a 1ª opção é a melhor escolha.
Fonte: Iezzi e Murakami (2013). d) qualquer que seja x tal que 0,35 < x < 0,7, a 4ª opção é
a melhor escolha.
Note a presença dos exemplos de números irra-
cionais, √2 e π, mas também de números inteiros, O item “a” é incorreto, pois, considerando x = 0,29,
0, ,1 , –3 entre outros. Também podemos identificar teremos que essa quantidade na 2ª opção equivale
alguns dos números racionais presentes entre dois ao valor de 0,29 ‧ 50 = R$ 14,50, o que é R$ 0,50 mais
inteiros quaisquer, como 1 e 9 , por exemplo. barato do que a opção 3.
2 4
O item “b” é incorreto, pois se x = 0,30, afinal 0,30,<
RELAÇÃO DE ORDEM 0,35, teríamos que na opção 2 o consumidor pagaria
0,31 ‧ 50 = R$15,50, o que faria dela menos vantajosa
A relação de ordem que incide sobre o conjunto do que a 3ª opção.
dos números reais fornece-nos uma ferramenta para O item “d” é incorreto, uma vez que se x = 0,36,
podermos compará-los de forma direta quanto a sua por exemplo, teremos que o valor da refeição na 2ª
magnitude. Sejam a e b números reais, dizer que a é opção será dado por 0,36 ‧ 50 = R$ 18,00, fazendo ela
maior que b (a > b) equivale a afirmar que b é menor ser mais vantajosa do que a 4ª. 73
O item “c” é correto, pois se x = 0,7, então, na 2ª Sendo assim, a razão 30% pode ser escrita de
opção, a pessoa pagaria 0,7 ‧ 50 = R$35,00, fazendo várias maneiras:
com que qualquer valor acima de x = 0,7 fique mais
caro do que R$ 35,00 logo, a 1ª opção seria de fato 30 3
30% = = 0,3 =
mais vantajosa para x > 0,7. Resposta: Letra C. 100 10

2. (CPCAR — 2019) Sobre o conjunto solução, na variá- Também é possível fazer a conversão inversa, isto
vel x, x, ∈ ℜ, da equação x2 + 2 = √x2 + 2 √4x2 + 8x + 2 é, transformar um número qualquer em porcentual.
pode-se afirmar que: Para isso, basta multiplicar por 100. Veja:

a) é vazio. 25 x 100 = 2500%


b) possui somente um elemento. 0,35 x 100 = 35%
c) possui dois elementos de sinais iguais. 0,586 x 100 = 58,6%
d) possui dois elementos de siniais opostos.
Número Relativo
Primeiramente, devemos realizar as seguintes pas-
sagens com foco maior nas radiciações, de modo a A porcentagem traz uma relação entre uma parte e
simplificar a expressão: um todo. Quando dizemos 10% de 1000, o 1000 corres-
x2 + 2 = √x2 + 2 √4x2 + 8x + 2
ponde ao todo. Já o 10% corresponde à fração do todo
x2 + 4x + a = x2 + 2√4x2 + 8x + 2
que estamos especificando. Para descobrir a quanto
x2 + 4x + 4 – x2 = 2√4x2 + 8x + 2
isso corresponde, basta multiplicar 10% por 1000.
4x + 4 = 2 √4x2 + 8x + 2
2x + 2 = √4x2 + 8x + 2
10 x 1000 = 100
(2x + 2) = 4x2 + 8x + 2 10% de 1000 =
100
(x + 2)2 =x2 + 2√4x2 + 8x + 2
4x2 + 8x + 4 = 4x2 + 8x + 2
Dessa maneira, 1000 é todo, enquanto 100 é a parte
4x2 + 8x + 4 = 4x2 + 8x = 2
4=2 que corresponde a 10% de 1000.
O que é nitidamente contraditório, uma vez que 4
≠ 2. Logo, não existe nenhum valor de x capaz de Dica
satisfazer a equação dada. Portanto, o conjunto
Quando o todo varia, a porcentagem também
solução será vazio. Resposta: Letra A.
varia!
3. (CPCAR — 2017) Considere a = 1150, b = 4100 e e assina-
Veja um exemplo:
le a alternativa correta.
Roberto assistiu 2 aulas de Matemática Financeira.
a) c<a<b Sabendo que o curso que ele comprou possui um total
b) c<b<a de 8 aulas, qual é o percentual de aulas já assistidas
c) a<b<c por Roberto?
d) a<c<b O todo de aulas é 8. Para descobrir o percentual,
devemos dividir a parte pelo todo e obter uma fração.
Como a = 4100 = (22)100 = 2200, então b = 2200, logo 2200 >
2150, ou seja, b > c. Como c = (22)75 = ((22)5)15 = (((22)5)5)3 2 1
=
= (250)3 = (23)50 =850, portanto, c = 850. Não somente, 8 4
como 11 > 8, teremos que 1150 > 850, ou seja, a > c.
Por fim, como b = (22)100 = ((22)4)25 = ((22)4)25 = (24)50 = Precisamos transformar em porcentagem, ou seja,
1650 , teremos que b = 1650. Para tanto, como 16 > 11, vamos multiplicar a fração por 100:
teremos que 1650 > 1150, ou seja, b > a. Assim, c < a.
Resposta: Letra A. 1 × 100 = 25%
4
PORCENTAGEM
Soma e Subtração de Porcentagem
A porcentagem é uma medida de razão com base
100. Ou seja, corresponde a uma fração cujo denomi- As operações de soma e subtração de porcentagem
nador é 100. Vamos observar alguns exemplos e notar são as mais comuns. É o que acontece quando se diz
como podemos representar um número porcentual. que um número excede, reduziu, é inferior ou é supe-
rior ao outro em tantos por cento. A grandeza inicial
30 corresponderá sempre a 100%. Então, basta somar ou
30% = (forma de fração)
100 subtrair o percentual fornecido dos 100% e multipli-
car pelo valor da grandeza.
30
30% = = 0,3 (forma decimal) Exemplo 1:
100
Paulinho comprou um curso de 200 horas-aula.
30% =
30
=
3
(forma de fração simplificada) Porém, com a publicação do edital, a escola precisou
100 10 aumentar a carga horária em 15%. Qual o total de
horas-aula do curso ao final?
74
Inicialmente, o curso de Paulinho tinha um total plenária estavam presentes somente 20% das deputa-
de 200 horas-aula que correspondiam a 100%. Com o das e 10% dos deputados, perfazendo-se um total de 7
aumento porcentual, o novo curso passou a ter 100% + parlamentares presentes à sessão.
15% das aulas inicialmente previstas. Portanto, o total Infere-se da situação apresentada que, nessa assem-
de horas-aula do curso será: bleia legislativa, havia:
(1 + 0,15) x 200 = 1,15 x 200 = 230 horas-aula
a) 10 deputadas.
Dica b) 14 deputadas.
c) 15 deputadas.
A avaliação do crescimento ou da redução per- d) 20 deputadas.
centual deve ser feita sempre em relação ao e) 25 deputadas.
valor inicial da grandeza.
50 parlamentares
-
Variação percentual = Final Inicial Deputadas = X
Inicial Deputados = 50-X
Veja mais um exemplo para podermos fixar melhor. Compareceram 20% x e 10% (50-x), totalizando 7
Exemplo 2: parlamentares. Não sabemos a quantidade exata de
Juliano percebeu que ainda não assistiu a 200 cada sexo. Vamos montar uma equação e achar o
aulas do seu curso. Ele deseja reduzir o número de valor de X.
aulas não assistidas a 180. É correto afirmar que, se 20% x + 10% (50-x) = 7
Juliano chegar às 180 aulas almejadas, o número terá 20/100 . x + 10/100 . (50-x) = 7
caído 20%? 2/10 . x + 1/10 . (50-x) = 7
A variação percentual de uma grandeza corres- 2x/10 + 50 - x/10 = 7 (faz o MMC)
ponde ao índice: 2x + 50 - x = 70
2x - x = 70 - 50
Final - Inicial 180 - 200 x = 20 deputadas fazem parte da Assembleia
Variação percentual = = =
Inicial 200 Legislativa.
Resposta: Letra D.
20
– = - 0,10
200
3. (VUNESP — 2016) Um concurso recebeu 1500 ins-
crições, porém 12% dos inscritos faltaram no dia da
Como o resultado foi negativo, podemos afirmar prova. Dos candidatos que fizeram a prova, 45% eram
que houve uma redução percentual de 10% nas aulas
mulheres. Em relação ao número total de inscritos, o
ainda não assistidas por Juliano. O enunciado está
número de homens que fizeram a prova corresponde a
errado ao afirmar que essa redução foi de 20%.
uma porcentagem de:
Agora vamos treinar o que aprendemos na teo-
ria com exercícios comentados de diversas bancas.
a) 45,2%.
Vamos lá!
b) 46,5%.
c) 47,8%.
1. (CEBRASPE-CESPE — 2020) Em determinada loja,
d) 48,4%.
uma bicicleta é vendida por R$ 1.720 à vista ou em
e) 49,3%.
duas vezes, com uma entrada de R$ 920 e uma par-
cela de R$ 920 com vencimento para o mês seguinte.
Caso queira antecipar o crédito correspondente ao Veja que se 12% faltaram, então 88% fizeram a
valor da parcela, a lojista paga para a financeira uma prova.
taxa de antecipação correspondente a 5% do valor da Pessoas presentes (88%) e dessas 45% eram mulhe-
parcela. res e 55% eram homens. Portanto, basta multiplicar
Com base nessas informações, julgue o item a seguir. o percentual dos homens pelo total:
Na compra a prazo, o custo efetivo da operação de finan- 55% de 88% das pessoas que fizeram a prova; ou
ciamento pago pelo cliente será inferior a 14% ao mês. 0,55 x 0,88 = 0,484.
Transformando em porcentagem RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
( ) CERTO ( ) ERRADO 0,484 x 100 = 48,4%.
Resposta: Letra D.
Valor da bicicleta =1720,00
Parcelado = 920,00 (entrada) + 920,00 (parcela) 4. (FCC — 2018) Em uma pesquisa 60% dos entrevista-
Na compra a prazo, o agente vai pagar 920,00 dos preferem suco de graviola e 50% suco de açaí.
(entrada), logo vai sobrar (1720-920 = 800,00) Se 15% dos entrevistados gostam dos dois sabores,
No próximo mês é preciso pagar 920,00 ou seja então, a porcentagem de entrevistados que não gos-
800,00 + 120,00 de juros. Agora é pegar 120,00 tam de nenhum dos dois é de:
(juros) e dividir por 800,00 resultado:
120,00/800,00 = 0,15% ao mês. a) 80%.
A questão diz que seria inferior a 0,14%, ou seja, b) 61%.
está errada. c) 20%.
Resposta: Errado. d) 10%.
e) 5%.
2. (CEBRASPE-CESPE — 2019) Na assembleia legislati-
va de um estado da Federação, há 50 parlamentares, Vamos dispor as informações em forma de conjun-
entre homens e mulheres. Em determinada sessão tos para facilitar nossa resolução: 75
Graviola Açai
CAPITAL
EMPRESTADO VALOR REAJUSTADO
(1000,00)
1° mês = 1000,00 1000,00 + (5% de 1000,00) = 1050,00
60% – 15% = 15% 50% – 15% =
2° mês = 1050,00 1050,00 + (5% de 1000,00) = 1100,00
45% 35%
3° mês = 1100,00 1100,00 + (5% de 1000,00) = 1150,00
Nenhum = X 4° mês = 1150,00 1150,00 + (5% de 1000,00) = 1200,00
5° mês = 1200,00 1200,00 + (5% de 1000,00) = 1250,00
Vamos somar todos os valores e igualar ao total que
é 100%: 45% + 15% + 35% + X = 100% Ao final do 5° mês você terá recebido 250,00 reais
95% + X = 100% de juros.
X = 5%. Fórmulas utilizadas em juros simples
Resposta: Letra E.

5. (FUNCAB — 2015) Adriana e Leonardo investiram R$ J=C·i·t


20.000,00, sendo o 3/5 desse valor em uma aplicação
que gerou lucro mensal de 4% ao mês durante dez M=C+J
meses. O restante foi investido em uma aplicação,
que gerou um prejuízo mensal de 5% ao mês, durante M = C · (1 + i ·J)
o mesmo período. Ambas as aplicações foram feitas Onde,
no sistema de juros simples.
J = juros
Pode-se concluir que, no final desses dez meses, eles
C = capital
tiveram:
i = taxa em percentual (%)
t = tempo
a) prejuízo de R$2.800,00.
M = montante
b) lucro de R$3.200,00.
c) lucro de R$2.800,00.
d) prejuízo de R$6.000,00 TAXAS PROPORCIONAIS E EQUIVALENTES
e) lucro de R$5.000,00.
Para aplicar corretamente uma taxa de juros, é
3/5 de 20.000,00 = 12.000,00 importante saber a unidade de tempo sobre a qual
12.000,00 · 4% = 480,00 a taxa de juros é definida. Isto é, não adianta saber
480 · 10 (meses) = 4.800 (juros) apenas que a taxa de juros é de “5%”. É preciso saber
O que sobrou 20.000,00 - 12.000,00 = 8.000,00. Apli- se essa taxa é mensal, bimestral, anual etc. Dizemos
cação que foi investida e gerou prejuízo de 5% ao que duas taxas de juros são proporcionais quando
mês, durante 10 meses: guardam a mesma proporção em relação ao prazo.
8.000,00 · 5% = 400,00 Por exemplo, 12% ao ano é proporcional a 6% ao se-
400 · 10 meses= 4.000 mestre, e também é proporcional a 1% ao mês.
Portanto 20.000,00 + 4.800(juros) = 24,800,00 - Basta efetuar uma regra de três simples. Para
4.000= 20.800,00 /10 meses= 2.080,00 lucros. obtermos a taxa de juros bimestral, por exemplo, que
Resposta: Letra C. é proporcional à taxa de 12% ao ano:

JUROS SIMPLES E COMPOSTO 12% ao ano ----------------------- 1 ano


Taxa bimestral ------------------ 2 meses
Juros Simples
Podemos substituir 1 ano por 12 meses, para dei-
A premissa que é a base da matemática financeira xar os valores da coluna da direita na mesma unidade
é a seguinte: as pessoas e as instituições do mercado
temporal, temos:
preferem adiantar os seus recebimentos e retardar
os seus pagamentos. Do ponto de vista estritamente
racional, é melhor pagar o mais tarde possível caso 12% ao ano ---------------------- 12 meses
não haja incidência de juros (ou caso esses juros Taxa bimestral ------------------ 2 meses
sejam inferiores ao que você pode ganhar aplicando
o dinheiro). Efetuando a multiplicação cruzada, temos:
“Juros” é o termo utilizado para designar o “preço
do dinheiro no tempo”. Quando você pega certa quan- 12% x 2 = Taxa bimestral x 12
tia emprestada no banco, o banco te cobrará uma Taxa bimestral = 2% ao bimestre
remuneração em cima do valor que ele te emprestou,
pelo fato de deixar você ficar na posse desse dinhei- Duas taxas de juros são equivalentes quando são
ro por um certo tempo. Esta remuneração é expressa capazes de levar o mesmo capital inicial C ao montan-
pela taxa de juros. te final M, após o mesmo intervalo de tempo.
Nos juros simples a incidência recorre sempre sobre Uma outra informação muito importante e que
o valor original. Veja um exemplo para melhor entender. você deve memorizar é que o cálculo de taxas equi-
Exemplo 1: valentes quando estamos no regime de juros simples
Digamos que você emprestou 1000,00 reais, em um pode ser entendido assim: 1% ao mês equivale a 6%
regime de juros simples de 5% ao mês, para um amigo ao semestre ou 12% ao ano, e levarão o mesmo capital
e que o mesmo ficou de quitar o empréstimo após 5 inicial C ao mesmo montante M após o mesmo perío-
76 meses. Então temos o seguinte: do de tempo.
Importante! Significa que o logaritmo de A elevado ao expoente
B é igual a multiplicação de B pelo logaritmo de A.
No regime de juros simples, taxas de juros propor-
Uma outra propriedade bastante útil dos logarit-
cionais são também taxas de juros equivalentes.
mos é a seguinte:

Juros Compostos log bAl = 𝑙𝑜𝑔𝐴 − 𝑙𝑜𝑔B


B
Imagine que você pegou um empréstimo de
R$10.000,00 no banco, cujo pagamento deve ser rea- Isto é, o logaritmo de uma divisão entre A e B é
lizado após 4 meses, à taxa de juros de 10% ao mês. igual à subtração dos logaritmos de cada número.
Ficou combinado que o cálculo de juros de cada mês Também é importante ter em mente que “logA”
será feito sobre o total da dívida no mês anterior, e significa “logaritmo do número A na base 10”.
não somente sobre o valor inicialmente emprestado.
Neste caso, estamos diante da cobrança de juros com- Observe um exemplo:
postos. Podemos montar a seguinte tabela: No regime de juros compostos com capitalização
mensal à taxa de juros de 1% ao mês, a quantidade de
meses que o capital de R$100.000 deverá ficar investi-
MÊS DO EMPRÉSTIMO 10.000,00
do para produzir o montante de R$120.000 é expressa
1º MÊS 11.000,00 por:
2º MÊS 12.100,00
log2, 1
3º MÊS 13.310,00
log1, 01
4º MÊS 14.641,00

Logo, ao final de 4 meses você deverá devolver Temos a taxa j = 1%am, capital C = 100.000 e mon-
ao banco R$14.641,00 que é a soma da dívida inicial tante M = 120.000. Na fórmula de juros compostos:
(R$10.000,00) e de juros de R$4.641,00.
Fórmula utilizada em juros compostos M = C x (1+j)t
120000 = 100000 x (1+1%)t
M = C · (1 + i)t 12 = 10 x (1,01)t
1,2 = (1,01)t
Poderíamos ter utilizado a fórmula no nosso exem-
plo. Veja:
Podemos aplicar o logaritmo dos dois lados:
M = 10000 x (1 + 10%) 4
log1,2 = log (1,01)t
M = 10000 x (1 + 0,10)4
log1,2 = t · log 1,01
M = 10000 x (1,10)4
M = 10000 x 1,4641 log1, 1
t=
log1, 01
M = 14.641,00 reais
Logo, questão errada.
Podemos fazer a comparação entre juros simples e
compostos. Observe a tabela a seguir: Agora vamos treinar o que aprendemos na teo-
ria com exercícios comentados de diversas bancas.
Vamos lá!
JUROS SIMPLES JUROS COMPOSTOS
Mais onerosos se t < 1 Mais onerosos se t > 1 1. (FEPESE — 2018) Uma TV é anunciada pelo preço
Mesmo valor se t = 1 Mesmo valor se t = 1 de R$ 1.908,00 para pagamento em 12 parcelas de RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
159,00. A mesma TV custa R$ 1.410,00 para paga-
Juros capitalizados no final Juros capitalizados perio- mento à vista. Portanto o juro simples mensal incluído
do prazo dicamente (“juros sobre na opção parcelada é:
juros”)
Crescimento linear (reta) Crescimento exponencial a) Menor que 2%.
Valores similares para Valores similares para b) Maior que 2% e menor que 2,5%.
prazos e taxas curtos prazos e taxas curtos c) Maior que 2,5% e menor que 2,75%.
d) Maior que 2,75% e menor que 3%.
z Juros compostos – cálculo do prazo: e) Maior que 3%.

Nas questões em que é preciso calcular o prazo 1.908 - 1.410 = 498 (juros durante 12 meses)
você deverá utilizar logaritmos, visto que o tempo “t” J=C·I·t
está no expoente da fórmula de juros compostos. A 498 = 1410 · 12 · i / 100
propriedade mais importante a ser lembrada é que, 49800 = 16920i
sendo dois números A e B, então: i = 49800/16920
i = 2,94%.
log AB = B x log A Resposta: Letra D. 77
2. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Uma pessoa atrasou em 15 a) R$ 1.200,00.
dias o pagamento de uma dívida de R$ 20.000, cuja taxa b) R$ 1440,00.
de juros de mora é de 21% ao mês no regime de juros c) R$ 620,00.
simples. d) R$ 1820,00.
Acerca dessa situação hipotética, e considerando o e) R$ 240,00.
mês comercial de 30 dias, julgue o item subsequente.
No regime de juros simples, a taxa de 21% ao mês é J=C·i·t
equivalente à taxa de 252% ao ano. J= 5000 · 0,03 · 8
J= 150 · 8
( ) CERTO ( ) ERRADO J = 1200 de lucro
Montante do aplicado com lucro M= C + J
No regime simples, sabemos que taxas propor- M=5000 + 1200
cionais são também equivalentes. Como temos 12 M = 6200 montante inicial e lucro
meses no ano, a taxa anual proporcional a 21%am Nova aplicação de metade que lucrou 6200 / 2 =3100
é, simplesmente: J=C·i·t
21% x 12 = 252% ao ano J = 3100 · 0,05 · 4
Esta taxa de 252% ao ano é proporcional e também J = 155 · 4
é equivalente a 21% ao mês. Portanto, o item está J = 620 lucro da nova aplicação
certo. Resposta: Certo. Somatório dos lucros:
M = 1200 + 620 = 1820 dos lucros
3. (FUNDATEC — 2020) Qual foi a taxa mensal de uma Resposta: Letra D.
aplicação, sob regime de juros simples, de um capital
de R$ 3.000,00, durante 4 bimestres, para gerar juros 6. (FCC — 2017) A Cia. Escocesa, não tendo recursos
de R$ 240,00? para pagar um empréstimo de R$ 150.000,00 na data
do vencimento, fez um acordo com a instituição finan-
a) 8%. ceira credora para pagá-la 90 dias após a data do
b) 5%. vencimento. Sabendo que a taxa de juros compostos
c) 3%. cobrada pela instituição financeira foi 3% ao mês, o
d) 2%. valor pago pela empresa, desprezando-se os centa-
e) 1%. vos, foi, em reais:

J = 240 a) 163.909,00.
C = 3.000 b) 163.500,00.
i=? c) 154.500,00.
t = 4 bimestres, ou seja, 4 * 2 = 8 meses. d) 159.135,00.
Substituindo: e) 159.000,00.
J=C·i·t
240 = 3000 · i · 8 Temos uma dívida de C = 150.000 reais a ser paga
240 = 24000 · i após t = 3 meses no regime de juros compostos, com
i = 240 / 24000 a taxa de j = 3% ao mês. O montante a ser pago é
i = 0,01 ou 1% dado por:
Resposta: Letra E. M = C x (1+j)t
M = 150.000 x (1+0,03)3
4. (VUNESP — 2020) Um capital de R$ 1.200,00, aplicado M = 150.000 x (1,03)3
no regime de juros simples, rendeu R$ 65,00 de juros. M = 150.000 x 1,092727
Sabendo-se que a taxa de juros contratada foi de 2,5% ao M = 15 x 10927,27
ano, é correto afirmar que o período da aplicação foi de: M = 163.909,05 reais
Resposta: Letra A.
a) 20 meses.
b) 22 meses. 7. (FCC — 2017) O montante de um empréstimo de 4
c) 24 meses. anos da quantia de R$ 20.000,00, do qual se cobram
d) 26 meses. juros compostos de 10% ao ano, será igual a:
e) 30 meses.
a) R$ 26.000,00.
J = c. i. t/100 b) R$ 28.645,00.
65 = 1.200 x 2,5 x t/100 c) R$ 29.282,00.
65 = 30t d) R$ 30.168,00.
t = 65/30 x 12 e) R$ 28.086,00.
t = 26 meses
Resposta: Letra D. Temos um prazo de t = 4 anos, capital inicial C =
20000 reais, juros compostos de j = 10% ao ano. O
5. (IBADE — 2019) Juliana investiu R$ 5.000,00, a juros montante final é: M = C x (1+j)t
simples, em uma aplicação que rende 3% ao mês, M = 20000 x (1+0,10)4
durante 8 meses. Passados 8 meses, Juliana retirou M = 20000 x 1,14
todo o dinheiro e investiu somente metade em uma M = 20000 x 1,4641
outra aplicação, a juros simples, a uma taxa de 5% ao M = 2 x 14641
mês por mais 4 meses. O total de juros arrecadado por M = 29282 reais
78 Juliana após os 12 meses foi: Resposta: Letra C.
8. (FGV — 2018) Certa empresa financeira do mundo
real cobra juros compostos de 10% ao mês para os PROPORCIONALIDADE DIRETA E
empréstimos pessoais. Gustavo obteve nessa empre- INVERSA
sa um empréstimo de 6.000 reais para pagamento,
incluindo os juros, três meses depois. RAZÃO E PROPORÇÃO COM APLICAÇÕES
O valor que Gustavo deverá pagar na data do venci-
mento é: A razão entre duas grandezas é igual a divisão
entre elas, veja:
a) 6.600 reais.
b) 7.200 reais. 2
c) 7.800 reais. 5
d) 7.986 reais.
e) 8.016 reais. Ou podemos representar por 2 ÷ 5 (Lê-se 2 está
para 5).
Aqui foram dados C = 6000 reais, i = 10% a m e t = 3 Já a proporção é a igualdade entre razões, veja:
meses. Aplicando a fórmula, temos:
M = C x (1 + j)t 2 4
M = 6000 x (1,1)³ =
3 6
M = 6000 x 1,331
M = 7986 reais Ou podemos representar por 2 ÷ 3 = 4 ÷ 6 (Lê-se 2
Resposta: Letra D. está para 3 assim como 4 está para 6).
Os problemas mais comuns que envolvem razão e
9. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Um indivíduo investiu a proporção é quando se aplica uma variável qualquer
quantia de R$ 1.000 em determinada aplicação, com dentro da proporcionalidade e se deseja saber o valor
taxa nominal anual de juros de 40%, pelo período de 6 dela. Veja o exemplo:
meses, com capitalização trimestral. Nesse caso, ao
final do período de capitalização, o montante será de: 2 x
= ou 2 ÷ 3 = x ÷ 6
3 6
a) R$ 1.200.
b) R$ 1.210. Para resolvermos esse tipo de problema devemos
c) R$ 1.331. usar a Propriedade Fundamental da razão e propor-
d) R$ 1.400. ção: produto dos meios pelos extremos.
e) R$ 1.100. Meio: 3 e x;
Extremos: 2 e 6.
Temos a taxa de 40% a. a. com capitalização trimes- Logo, devemos fazer a multiplicação entre eles
tral, o que resulta em uma taxa efetiva de 40%/4 = numa igualdade. Observe:
10% ao trimestre. Em t = 6 meses, ou melhor, t = 2
trimestres, o montante será: 3·X=2.6
M = C x (1+j)t
M = 1.000 x (1+0,10)2 3X = 12
M = 1.000 x 1,21 X = 12/3
M = 1.210 reais
Resposta: Letra B. X=4

10. (CEBRASPE-CESPE — 2017) Julgue o item seguinte, Lembre-se de que a maioria dos problemas en-
relativo à matemática financeira. volvendo esse tema são resolvidos utilizando essa
Considere que dois capitais, cada um de R$ 10.000, propriedade fundamental. Porém, algumas questões
tenham sido aplicados, à taxa de juros de 44% ao acabam sendo um pouco mais complexas e pode ser
mês — 30 dias —, por um período de 15 dias, sendo útil conhecer algumas propriedades para facilitar. Va- RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
um a juros simples e outro a juros compostos. Nessa mos a elas.
situação, o montante auferido com a capitalização no
regime de juros compostos será superior ao montan- Propriedade das Proporções
te auferido com a capitalização no regime de juros
simples. z Somas Externas

( ) CERTO ( ) ERRADO a c a+c


= =
b d b+d
Veja que a taxa de juros é mensal, e o prazo da apli-
cação foi de t = 0,5 mês (quinze dias). Vamos entender um pouco melhor resolvendo
Quando o prazo é fracionário (inferior a 1 unida- uma questão-exemplo:
de temporal), juros simples rendem MAIS que juros Suponha que uma fábrica vai distribuir um prê-
compostos. Logo, o montante auferido com a capi- mio de R$10.000 para seus dois empregados (Carlos
talização no regime de juros compostos será infe- e Diego). Esse prêmio vai ser dividido de forma pro-
rior ao montante auferido no regime simples. porcional ao tempo de serviço deles na fábrica. Carlos
Resposta: Errado. está há 3 anos na fábrica e Diego está há 2 anos na
fábrica. Quanto cada um vai receber? 79
Primeiro, devemos montar a proporção. Sejam C
a quantia que Carlos vai receber e D a quantia que Importante!
Diego vai receber, temos: Vale lembrar que essa propriedade também ser-
ve para subtrações internas.
C D
=
3 2
z Soma com Produto por Escalar
Utilizando a propriedade das somas externas:
a c a + 2b c + 2d
C D C+D = = =
b d b d
= =
3 2 3+2
Vejamos um exemplo para melhor entendimento:
Perceba que C + D = 10.000 (as partes somadas), Uma empresa vai dividir o prêmio de R$13.000
então podemos substituir na proporção: proporcionalmente ao número de anos trabalhados.
São dois funcionários que trabalham há 2 anos na
C D C+D 10.000
= = = = 2.000 empresa e três funcionários que trabalham há 3 anos.
3 2 3+2 5
Seja A o prêmio dos funcionários com 2 anos e B
o prêmio dos funcionários com 3 anos de empresa,
Aqui cabe uma observação importante!
temos:
Esse valor de 2.000, que chamamos de “Constante
A B
de Proporcionalidade”, é que nos mostra o valor real =
2 3
das partes dentro da proporção. Veja:

C Porém, como são 2 funcionários na categoria A e 3


= 2.000 funcionários na categoria B, podemos escrever que a
3
soma total dos prêmios é igual a R$13.000.
C = 2000 x 3
C = 6.000 (esse é o valor de Carlos) 2A + 3B = 13.000
D
= 2.000 Agora, multiplicando em cima e embaixo de um
2
lado por 2 e do outro lado por 3, temos:
D = 2.000 x 2
2A 3B
D = 4.000 (esse é o valor de Diego) =
4 9
Assim, Carlos vai receber R$6.000 e Diego vai rece-
Aplicando a propriedade das somas externas,
ber R$4.000.
podemos escrever o seguinte:
z Somas Internas
2A 3B 2A + 3B
= =
a c a+b c+d 4 9 4+9
= = =
b d b d
Substituindo o valor da equação 2A + 3B na pro-
É possível, ainda, trocar o numerador pelo deno- porção, temos:
minador ao efetuar essa soma interna, desde que
o mesmo procedimento seja feito do outro lado da 2A 3B 2A + 3B 13.000
= = = = 1.000
proporção. 4 9 4+9 13

a
=
c
=
a+b
=
c+d Logo,
b d a c
2A
= 1.000
Vejamos um exemplo: 4

x 2 2A = 4 x 1.000
=
14 - x 5 2A = 4.000
x + 14 - x 2+5 A = 2.000
=
x 2
14 7 Fazendo a mesma resolução em B:
=
x 2 3B
= 1.000
7 . x = 2 · 14 9

14 · 2 3B = 9 × 1.000
x= =4
7
3B = 9.000
80 Portanto, encontramos que x = 4. B = 3.000
Sendo assim, os funcionários com 2 anos de casa 2–5–3|2
receberão R$2.000 de bônus. Já os funcionários com 3 1–5–3|3
anos de casa receberão R$3.000 de bônus.
O total pago pela empresa será: 1–5–1|5
1 – 1 – 1 | 2 x 2 x 3 x 5 = 60
2.2000 + 3.3000 = 4000 + 9000 = 13000
Assim, dividindo o M. M. C. pelo denominador e
REGRA DA SOCIEDADE multiplicando o resultado pelo numerador temos:

Diretamente Proporcional 15x 12x 10x


+ +
60 60 60 = 740.000
Um dos tópicos mais comuns em questões de prova
37x
é “dividir uma determinada quantia em partes propor- = 740.000
cionais a determinados números. Vejamos um exemplo 60
para entendermos melhor como esse assunto é cobrado: X = 1.200.000
Exemplo:
A quantia de 900 mil reais deve ser dividida em Agora basta substituir o valor de X nas razões para
partes proporcionais aos números 4, 5 e 6. A menor achar cada parte da divisão inversa.
dessas partes corresponde a:
Primeiro vamos chamar de X, Y e Z as partes pro- x 1.200.000
porcionais, respectivamente a 4, 5 e 6. Sendo assim, X = = 300.000
4 4
é proporcional a 4, Y é proporcional a 5 e Z é propor-
cional a 6, ou seja, podemos representar na forma de x
=
1.200.000
= 240.000
razão. Veja: 5 5
x 1.200.000
X Y Z = = 200.000
= = = constante de proporcionalidade. 6 6
4 5 6
Logo, as partes dividas inversamente proporcio-
Usando uma das propriedades da proporção,
nais aos números 4, 5 e 6 são, respectivamente 300K,
somas externas, temos:
240K e 200K.
Agora vamos treinar o que aprendemos na teo-
X+Y+Z 900.000
= 60.000 ria com exercícios comentados de diversas bancas.
4+5+6 15
Vamos lá!

A menor dessas partes é aquela que é proporcional 1. (FAEPESUL — 2016) Em uma turma de graduação
a 4, logo: em Matemática Licenciatura, de forma fictícia, temos
que a razão entre o número de mulheres e o número
X
= 60.000 total de alunos é de 5/8. Determine a quantidade de
4
homens desta sala, sabendo que esta turma tem 120
X = 60.000 x 4 alunos.

X = 240.000 a) 43 homens.
b) 45 homens.
Inversamente Proporcional c) 44 homens.
d) 46 homens.
É um tipo de questão menos recorrente, mas não e) 47 homens.
menos importante. Consiste em distribuir uma quan-
tia X a três pessoas, de modo que cada uma receba um A razão entre o número de mulheres e o número
quinhão inversamente proporcional a três números. total de alunos é de 5/8: RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
Vejamos um exemplo:
Exemplo: M
=
5
Suponha que queiramos dividir 740 mil em partes T 8
inversamente proporcionais a 4, 5 e 6.
A turma tem 120 alunos, então: T = 120
Vamos chamar de X as quantias que devem ser dis-
tribuídas inversamente proporcionais a 4, 5 e 6, res- Fazendo os cálculos:
pectivamente. Devemos somar as razões e igualar ao M 5
total que dever ser distribuído para facilitar o nosso =
T 8
cálculo, veja:
M 5
=
X X X 120 8
+ + = 740.000
4 5 6
8 x M = 5 x 120
Agora vamos precisar tirar o M.M.C (mínimo múl- 8M = 600
tiplo comum) entre os denominadores para resolver- 600
mos a fração. M=
8

4–5–6|2 M = 75 81
A quantidade de homens da sala: D + 36 + D + D – 8 = 721
120 - 75 = 45 homens. 3D + 28 = 721
Resposta: Letra B. 3D = 721 - 28
D = 693/3
2. (VUNESP — 2020) Em um grupo com somente pessoas D = 231
com idades de 20 e 21 anos, a razão entre o número Substituímos o valor de D nas outras:
de pessoas com 20 anos e o número de pessoas com A = D + 36
21 anos, atualmente, é 4/5. No próximo mês, duas pes- A= 231+36= 267
soas com 20 anos farão aniversário, assim como uma W = A - 44
pessoa com 21 anos, e a razão em questão passará a W= 267-44
ser de 5/8. O número total de pessoas nesse grupo é: W= 223
Logo, os valores em ordem crescente que Wander-
a) 30. son, Darlan, Arley recebem são, respectivamente,
b) 29. R$ 223,00, R$ 231,00 e R$ 267,00.
c) 28. Resposta: Letra D.
d) 27.
e) 26. 4. (CEBRASPE-CESPE — 2018) A respeito de razões, pro-
porções e inequações, julgue o item seguinte.
A razão entre o número de pessoas com 20 anos e o Situação hipotética: Vanda, Sandra e Maura receberam
número de pessoas com 21 anos, atualmente, é 4/5. R$ 7.900 do gerente do departamento onde trabalham,
para ser divido entre elas, de forma inversamente propor-
120
=
4x total de 9x cional a 1/6, 2/9 e 3/8, respectivamente. Assertiva: Nes-
121 5x sa situação, Sandra deverá receber menos de R$ 2.500.
No próximo mês, duas pessoas com 20 anos farão
( ) CERTO ( ) ERRADO
aniversário, assim como uma pessoa com 21 anos, e
a razão em questão passará a ser de 5/8.
6x 9x 8x
+ + = 7.900
120 4x - 2 1 2 3
= = 5
121 5x + 2 - 1 8
Tirando o MMC entre 1, 2 e 3 vamos achar 6. Temos:
4x - 2 5 36x 27x 16x
5x + 1
=
8 6
+
6
+ 6
= 7.900

8 (4x - 2) = 5 (5x + 1) 79x


= 7.900
32x – 16 = 25x + 5 6

7x = 21 x = 600

x=3 Sendo assim, Sandra está inversamente proporcio-


nal a:
Para sabermos o total de pessoas, basta substituir o
9x
valor de X na primeira equação:
2
9x = 9 x 3 = 27 é o número total de pessoas nesse
grupo. Basta substituirmos o valor de X na proporção.
9x 9 x 600
Resposta: Letra D. = = 2.700
2 2
3. (IBADE — 2018) Três agentes penitenciários de um (valor que Sandra irá receber é maior que 2.500).
país qualquer, Darlan, Arley e Wanderson, recebem
Resposta: Errado.
juntos, por dia, R$ 721,00. Arley recebe R$ 36,00 mais
que o Darlan, Wanderson recebe R$ 44,00 menos que
5. (IESES — 2019) Uma escola possui 396 alunos matri-
o Arley. Assinale a alternativa que representa a diária
culados. Se a razão entre meninos e meninas foi de
de cada um, em ordem crescente de valores.
5/7, determine o número de meninos matriculados.
a) R$ 249,00, R$ 213,00 e R$ 169,00.
a) 183
b) R$ 169,00, R$ 213,00 e R$ 249,00.
b) 225
c) R$ 145,00, R$ 228,00 e R$ 348,00.
c) 165
d) R$ 223,00, R$ 231,00 e R$ 267,00
d) 154
e) R$ 267,00, R$ 231,00 e R$ 223,00.
Total de alunos = 396
D + A + W = 721
A = D + 36 Meninos = H
W = A - 44 Meninas = M
Substituímos Arley em Wanderson:
W= A - 44 Razão: H + 5x
W= 36+D-44 M 7x
W= D-8 Agora vamos somar 5x com 7x = 12x
Substituímos na fórmula principal:
82 D + A + W = 721 12x é igual ao total que é 396
12x = 396 Exemplo: Converter 5,3 m2 para cm2:
x = 33 Para sair do metro quadrado e chegar no cen-
Portanto o número de meninos será: tímetro quadrado devemos multiplicar por 10000
Meninos = 5X = 5 x 33 = 165. (100x100), pois “andamos” duas casas até chegar em
Resposta: Letra C. centímetro quadrado. Logo, 5,3m2 = 5,3 x 10000 =
53000 cm2.

Medidas de Volume (Capacidade)


MEDIDAS DE COMPRIMENTO, ÁREA,
VOLUME, MASSA E TEMPO A unidade principal tomada como referência é o
metro cúbico. Além dele, temos outras seis unidades
UNIDADES DE MEDIDA diferentes que servem para medir dimensões maiores
ou menores. A conversão de unidades de superfície
Métrica, Áreas, Volumes, Estimativas e Aplicações segue potências de 1000. Veja o esquema a seguir

Quando estudamos o sistema de medidas, nos Km3 hm3 dam3 m3 dm3 cm3 mm3
atentamos ao fato de que ele serve para quantificar (quilômetro
cúbico)
(hectômetro
cúbico)
(decâmetro
cúbico)
(metro
cúbico)
(decímetro
cúbico)
(centímetro
cúbico)
(mlímetro
cúbico)
dimensões que podem ter uma variação gigantesca.
Porém, existem as conversões entre as unidades para
uma melhor interpretação e leitura. ×1.000 ×1.000 ×1.000 ×1.000 ×1.000 ×1.000

Medidas de Comprimento Km3 hm3 dam3 m3 dm3 cm3 mm3

A unidade principal tomada como referência é o


:1.000 :1.000 :1.000 :1.000 :1.000 :1.000
metro. Além dele, temos outras seis unidades dife-
rentes que servem para medir dimensões maiores ou
menores. A conversão de unidades de comprimento Exemplo: Converter 5,3 m3 para cm3:
segue potências de 10. Veja o esquema abaixo: Para sair do metro cúbico e chegar no centímetro
cúbico devemos multiplicar por 1000000 (1000x1000),
Km hm dam m dm cm mm pois “andamos” duas casas até chegar em centímetro
(quilômetro) (hectômetro) (decâmetro) (metro) (decímetro) (centímetro) (mlímetro)
cúbico. Logo,

×10 ×10 ×10 ×10 ×10 ×10 5,3m3 = 5,3 x 1000000 = 5300000 cm3.

Km mm Veja, agora, algumas relações interessantes e que


hm dam m dm cm
você precisa ter em mente para resolver a diversas
questões.
:10 :10 :10 :10 :10 :10

UNIDADE RELAÇÃO DE UNIDADE


Exemplo: Converter 5,3 metros para centímetros:
Para sair do metro e chegar no centímetro deve- 1 quilograma (kg) 1000 gramas (g)
mos multiplicar por 100 (10x10), pois “andamos” duas 1 tonelada (t) 1000 quilogramas (kg)
casas até chegar em centímetro. Logo,
1 litro (l) 1 decímetro cúbico (dm3)
5,3m = 5,3 x 100 = 530 cm. 1 mililitro (ml) 1centímetro cúbico (cm3)
1 hectare (ha) 1 hectômetro quadrado (hm2)
Medidas de Área (Superfície)
1 hectare (ha) 10000 metros quadrados (m2)
A unidade principal tomada como referência é o RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
Medidas de Tempo
metro quadrado. Além dele, temos outras seis unidades
diferentes que servem para medir dimensões maiores
ou menores. A conversão de unidades de superfície Medindo intervalos de tempos temos (hora – minu-
segue potências de 100. Veja o esquema a seguir: to – segundo) que são os mais conhecidos. Veja como
se faz a relação nessa unidade.
Para transformar de uma unidade maior para a
Km2 hm2 dam2 m2 dm2 cm2 mm2
(quilômetro (hectômetro (decâmetro (metro (decímetro (centímetro (mlímetro unidade menor, multiplica-se por 60. Veja:
quadrado) quadrado) quadrado) quadrado) quadrado) quadrado) quadrado)

1 hora = 60 minutos
×100 ×100 ×100 ×100 ×100 ×100 h = 4 x 60 = 240 minutos

Km2 hm2 dam2 m2 dm2 cm2 mm2 Para transformar de uma unidade menor para a
unidade maior, divide-se por 60. Veja:
:100 :100 :100 :100 :100 :100
20 minutos = 20 / 60 = 2/6 = 1/3 da hora ou 1/3h.

83
Para medir ângulos a unidade básica é o grau. Veja os exemplos a seguir:
Temos as seguintes relações:
Exemplo 1: Transformar 250 K para °C:
1 grau equivale a 60 minutos (1º = 60’)
TK = ToC + 273
1 minuto equivale a 60 segundos (1’ = 60”)
250 = ToC + 273
ToC = 273 – 250
Aqui vale fazer uma observação que os minutos e
os segundos dos ângulos não são os mesmos do sistema ToC = –23°
(hora – minuto – segundo). Os nomes são semelhantes,
mas os símbolos que os indicam são diferentes, veja: Exemplo 2: Transformar 85 oC para oF:

1h32min24s é um intervalo de tempo ou um instante ToC / 5 = (ToF-32) / 9


do dia. 85/5 = (ToF-32) / 9
1º 32’ 24” é a medida de um ângulo. 17 = (ToF-32) / 9

Medidas de Massa 17 × 9 = ToF-32


153 + 32 = ToF
As unidades a seguir são as mais utilizadas quando
estamos trabalhando a massa de uma matéria. Veja ToF = 185°
quais são:
Veja, agora, algumas relações que você precisar ter
z Tonelada (t); em mente para resolver diversas questões:
z Quilograma (kg);
z Grama (g) e; UNIDADE RELAÇÃO DE UNIDADE
z Miligrama (mg).
1 quilograma (kg) 1000 gramas (g)
Vamos tomar como base as relações a seguir para 1 tonelada (t) 1000 quilogramas (kg)
converter uma unidade em outra. Observe: 1 litro (l) 1 decímetro cúbico (dm3)

z 1 t = 1000 kg (uma tonelada tem mil quilogramas); 1 mililitro (ml) 1centímetro cúbico (cm3)
z 1 kg = 1000 g (um quilograma tem mil gramas); 1 hectare (ha) 1 hectômetro quadrado (hm2)
z 1 g = 1000 mg (uma grama tem mil miligramas). 1 hectare (ha) 10000 metros quadrados (m2)

Observe o exemplo a seguir de uma conversão: Resolução de Problemas Envolvendo Grandezas

Vamos transformar 3,5 kg em gramas. Após olharmos toda a parte teórica, vamos resolver
Sabemos que 1 kg equivale a 1000 gramas, logo:
algumas questões de diversas bancas que envolvem
as grandezas de comprimento, volume, capacidade,
1 kg — 1000 g
tempo, massa, temperatura e área.
3,5 Kg — x
1. (ENCCEJA — 2019) Tonel é um recipiente utilizado
x = 3,5 × 1000
para armazenar líquidos. Uma vinícola utiliza tonéis
x = 3500 g com capacidade de 1 000 litros cada um, para armaze-
nar sua produção de 50 m³ de vinho.
Então, podemos dizer que 3,5 kg equivalem a 3500 g. Quantos tonéis serão necessários para armazenar
toda a produção dessa vinícola?
Medidas de Temperatura
a) 50.
O instrumento para a medição de temperatura é o b) 20.
termômetro, que é um tubo graduado com um líquido c) 5.
em seu interior (mercúrio ou álcool). As escalas mais d) 2.
comuns para medir temperatura são:
Para responder à questão, é necessário que lembre-
z Celsius: Medida em graus centígrados; mos da seguinte relação:
z Kelvin: Medido em Kelvin; 1 m³ = 1000 l. Logo, 50 m³ = 50000 l. Então, a quan-
z Fahrenheit: Medida em graus Fahrenheit. tidade de tonéis é de: 50000 / 1000 = 50 tonéis. Res-
posta: Letra A.
As conversões entre essas escalas termométricas
são dadas pelas fórmulas a seguir: 2. (ENCCEJA — 2019) De acordo com dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produ-
„ De graus Celsius para Kelvin: TK = ToC + 273; ção brasileira de café, no segundo semestre de 2014,
„ De graus Celsius para Fahrenheit: ToC / 5 = (ToF- foi estimada em 47 milhões de sacas de 60 kg cada.
32) / 9.
Disponível em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em: 20 jul. 2014
84 (adaptado).
A produção brasileira de café, em milhão de quilogra-
mas, segundo essa estimativa, foi de: ESTRUTURA LÓGICA DE RELAÇÕES
ARBITRÁRIA ENTRE PESSOAS,
a) 107.
b) 282. LUGARES, OBJETOS OU EVENTOS
c) 2 420. FICTÍCIOS; DEDUÇÃO DE NOVAS
d) 2 820.
INFORMAÇÕES DAQUELAS RELAÇÕES
Para responder à questão, basta fazermos a seguin-
Neste tipo de conteúdo, intitulado Estrutura lógi-
te multiplicação: 47 milhões × 60 kg.
ca de relações arbitrárias, você notará a presença
Como a resposta é pedida em milhão de quilogra-
de situações diversas do mundo real, nas quais, a par-
mas, faremos uma multiplicação direta:
47 × 60 = 2820 milhões de quilogramas. Resposta: tir de um conjunto de hipóteses, ou seja, informações
Letra D. previamente conhecidas, será requisitada uma infor-
mação implícita ao problema.
3. (ENCCEJA — 2018) Uma comunidade rural de um Os enunciados irão fornecer o mínimo possível de
estado brasileiro possui 4 hectares de terra, em forma afirmações sobre os objetos de estudo, sejam frases de
quadrada, para plantação de cana. Sabe-se que 1 hec- negação, do tipo: “Maria não é a mais nova”, ou, ain-
tare equivale a uma área de 10 000 m2. da, afirmações, como “João é o mais velho.” Você per-
Dessa forma, a medida do lado, em metro, das terras ceberá, também, que frases de afirmação te dão mais
dessa comunidade é: conclusões do que frases negativas, uma vez que, no
primeiro tipo, as relações são mutuamente excluden-
a) 200. tes, ou seja, em um mesmo problema, se João é o mais
b) 400. velho, então ele não é o mais novo e não há nenhuma
c) 20 000. outra pessoa mais velha do que ele.
d) 40 000. Como, muitas vezes, os enunciados trazem uma
gama de informações, recomenda-se o uso de uma
Extraindo os dados, temos: tabela simples que deve ser preenchida de acordo com
1ha ------ 10 000m2 as interpretações do problema. Cabe ressaltar, ainda,
4ha ------- x que a tabela não será completamente preenchida logo
x = 4 × 10000 no primeiro momento, no qual o uso da interpretação
x = 40 000 m2 será necessário para finalização dos exercícios.
Como o terreno é quadrado, então sabemos que sua Acompanhe os exemplos a seguir e perceba a cons-
área é calculada elevando um lado ao quadrado, ou trução da tabela com os indivíduos do problema e
seja: suas possíveis características.
l2 = 40000
l = √40000 1. (CONSULPLAN — 2021) Adriana, Bruna e Cléo são pro-
l = 200 metros. fessoras em uma escola pública e lecionam as disci-
Logo, a medida do lado é de 200 metros. Resposta: plinas de português, matemática e ciências, mas não
Letra A. necessariamente nessa ordem. Verificando a idade
das três, a professora de português, que é prima de
4. (ENEM — 2020) É comum as cooperativas venderem
Bruna, é a mais nova. Além disso, considere que a pro-
seus produtos a diversos estabelecimentos. Uma
fessora de ciências é mais nova do que Cléo. Nesse
cooperativa láctea destinou 4 m3 de leite, do total
contexto, é necessariamente correto afirmar que:
produzido, para análise em um laboratório da região,
separados igualmente em 4 000 embalagens de mes-
a) Cléo é professora de português.
ma capacidade.
Qual o volume de leite, em mililitro, contido em cada b) Bruna é a professora mais velha.
embalagem? c) Adriana é professora de português.
d) Cléo não é professora de matemática.
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
a) 0,1
b) 1,0 Primeiramente, podemos dispor uma tabela simples
c) 10,0 com as características principais do problema:
d) 100,0 1º: Foi dito que a professora de português é prima
e) 1 000,0 de Bruna e é a mais nova dentre as três, logo, pode-
mos marcar com um “x” as lacunas que relacionam
Vamos fazer as devidas conversões: 4 m3 = 4 × 103 Bruna com as características de professora de por-
dm3 = 4 000 dm3 = 4 000 litros tuguês e ser a mais nova, já que não são caracterís-
O volume de leite, em litros, contido em cada emba- ticas dela, mas sim de sua prima.
lagem é (4000 litros) ÷ 4000 = 1 litro. 2º: Como o problema diz que a professora de ciên-
Logo, 1 litro = 1000 ml. Resposta: Letra E. cias é mais nova do que Cléo, sabemos então que Cléo
também não é professora de ciências e não é a mais
nova. Isso nos leva ao fato de que se nem Bruna e
nem Cléo são as mais novas, então Adriana que é.
3º: Portanto, como a professora mais nova é tam-
bém professora de português, temos que Adriana é
a professora de português.
85
4º: Com isso, já podemos completar os espaços da tabela e analisar as alternativas da questão. Note que as
lacunas em destaque são frutos das interpretações apresentadas nos passos anteriores.

MAIS NOVA DO MEIO MAIS VELHA PORTUGUÊS MATEMÁTICA CIÊNCIAS

ADRIANA V X X V X X

BRUNA X V X X X V

CLÉO X X V X V X

“Cléo é professora de português.”: Não é uma afirmação correta, pois ela é de matemática.
“Bruna é a professora mais velha.”: Não é uma afirmação correta, pois Bruna é a do meio.
“Adriana é professora de português.”: É uma afirmação correta, como vimos na tabela.
“Cléo não é professora de matemática.”: Não é uma afirmação correta como vimos na tabela. Resposta: Letra D.

2. (FUNRIO — 2012) Os carros X, Y e Z possuem 100, 110 e 150 cavalos de potência, não necessariamente nessa ordem.
Sabe-se que um deles é de fabricação nacional e que os outros dois são importados, sendo um de fabricação alemã
e o outro de fabricação japonesa. Porém não se sabe qual a correta associação entre carros e países de fabricação.
No entanto, sabe-se que: o carro X possui 100 cavalos de potência; o carro que possui 150 cavalos de potência é de
fabricação alemã; o carro que possui 110 cavalos de potência não é nacional; e que o carro Y não é de fabricação
japonesa.

Qual o país de fabricação e a potência do carro Y?

a) Alemanha e 150 cavalos.


b) Alemanha e 110 cavalos.
c) Japão e 100 cavalos.
d) Japão e 110 cavalos.
e) Brasil e 100 cavalos.

Primeiramente, podemos dispor uma tabela simples com as características principais do problema. Note que as
marcações nas lacunas em destaque se referem às informações retiradas a partir do enunciado.
1º: Se o carro de 150 cavalos é alemão e o de 110 não é nacional, então o de 110 cavalos só pode ser japonês.
2º: Se o carro Y não é japonês e o carro X tem 100 cavalos, então o alemão de 150 cavalos será o carro Y.

100 110 150 BRASIL ALEMANHA JAPÃO

X V X X V X X

Y X X V X V X

Z X V X X X V

Portanto, o carro Y é de fabricação alemã e tem 150 cavalos. Resposta: Letra A.

3. (FUNRIO — 2012) André, Paulo e Raul possuem 30, 35 e 40 anos de idade, não necessariamente nessa ordem. Eles são
engenheiro, médico e psicólogo, porém não se sabe a correta associação entre nomes e profissão. Sabe-se, porém,
que André não tem 40 anos de idade nem é engenheiro, que Paulo possui 35 anos de idade, que Raul não é médico, e
que o médico não possui 30 anos de idade.

Respectivamente, as profissões de André, Paulo e Raul são:

a) psicólogo, engenheiro e médico.


b) psicólogo, médico e engenheiro.
c) médico, psicólogo e engenheiro.
d) médico engenheiro e psicólogo.
e) engenheiro médico e psicólogo.

Novamente, podemos dispor uma tabela simples com as características principais do problema. Perceba que as
marcações nas lacunas em destaque se referem às informações retiradas a partir do enunciado.
1º: Se André não tem 40 anos de idade e Paulo possui 35, então sobra apenas a idade de 30 anos para André.
2º: Se André não é engenheiro e o médico não tem 30 anos, então sobra apenas a profissão de psicólogo para
André.
3º: Se Raul não é médico e André é psicólogo, então Raul é engenheiro, portanto, Paulo é médico.
86
30 35 40 ENGENHEIRO MÉDICO PSICÓLOGO

ANDRÉ V X X X X V

RAUL X X V V X X

PAULO X V X X V X

Respectivamente, as profissões de André, Paulo e Raul é psicólogo, médico e engenheiro. Resposta: Letra B.

COMPREENSÃO E ANÁLISE DA LÓGICA DE UMA SITUAÇÃO, UTILIZANDO AS


FUNÇÕES INTELECTUAIS: RACIOCÍNIO VERBAL, RACIOCÍNIO MATEMÁTICO,
RACIOCÍNIO SEQUENCIAL, ORIENTAÇÃO ESPACIAL E TEMPORAL, FORMAÇÃO DE
CONCEITOS, DISCRIMINAÇÃO DE ELEMENTOS
A fim de ofertar um material de estudos o mais didático e organizado possível, optou-se por não repetir o
conteúdo sobre COMPREENSÃO E ANÁLISE DA LÓGICA DE UMA SITUAÇÃO, UTILIZANDO AS FUNÇÕES INTELEC-
TUAIS: RACIOCÍNIO VERBAL, RACIOCÍNIO MATEMÁTICO, RACIOCÍNIO SEQUENCIAL, ORIENTAÇÃO ESPACIAL E
TEMPORAL, FORMAÇÃO DE CONCEITOS, DISCRIMINAÇÃO DE ELEMENTOS, tendo em vista que ele foi amplamen-
te abordado no primeiro assunto, LÓGICA: PROPOSIÇÕES, CONECTIVOS, EQUIVALÊNCIAS LÓGICAS, QUAN-
TIFICADORES E PREDICADOS.

COMPREENSÃO DE DADOS APRESENTADOS EM GRÁFICOS E TABELAS


LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TABELAS E GRÁFICOS APRESENTADOS EM DIFERENTES LINGUAGENS E
REPRESENTAÇÕES

A apresentação de dados estatísticos por meio de tabelas e gráficos fazem parte do ramo da Estatística Descri-
tiva. Esta tem por objetivo descrever um conjunto de dados, resumindo as suas informações principais. Para isso,
as tabelas e gráficos estatísticos são ferramentas muito importantes.

Tabelas

Para descrever um conjunto de dados, um recurso muito utilizado são tabelas, como essa a seguir, referente à
observação da variável “Sexo dos moradores de São Paulo”:

VALOR DA VARIÁVEL FREQUÊNCIAS (Fi)


Masculino 34
Feminino 26

Observe que na coluna da esquerda colocamos as categorias de valores que a variável pode assumir, ou seja,
masculino e feminino, e na coluna da direita colocamos o número de Frequências, isto é, o número de observa-
ções (ou repetições) relativas a cada um dos valores. Veja, ainda, que foi analisada uma amostra de 60 pessoas,
das quais 34 eram homens e 26 mulheres. Estes são os valores de frequências absolutas. Podemos, ainda, repre- RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
sentar as frequências relativas (percentuais): sabemos que 34 em 60 são 56,67%, e 26 em 60 são 43,33%. Portanto,
teríamos:

VALOR DA VARIÁVEL FREQUÊNCIAS RELATIVAS (Fri)


Masculino 56,67%
Feminino 43,33%

Note que a frequência relativa é dada por Fi / n, onde Fi é o número de frequências de determinado valor da
variável, e n é o número total de observações.
Agora, vamos analisar uma tabela onde a variável pode assumir um grande número de valores distintos.
Vamos representar na tabela a variável “Altura dos moradores de Campinas”:

VALOR DA VARIÁVEL FREQUÊNCIAS (Fi)


1,51m 12
1,54m 17
1,57m 4 87
VALOR DA VARIÁVEL FREQUÊNCIAS (Fi)
1,60m 2
1,63m 10
1,67m 5
1,75m 13
1,81m 15
1,89m 2

Quando isto acontece, é importante resumir os dados de maneira que fique mais fácil para uma leitura e inter-
pretação da tabela. Na ocasião, vamos criar intervalos que chamaremos de “Classes”.

CLASSE FREQUÊNCIAS (FI)


1,50 | - 1,60 33
1,60 | - 1,70 17
1,70 | - 1,80 13
1,80 | - 1,90 17

O símbolo “|” significa que o valor que se encontra ao seu lado está incluído na classe. Por exemplo, 1,50 | - 1,60
nos indica que as pessoas com altura igual a 1,50 são contadas entre as que fazem parte dessa classe, porém as pes-
soas com exatamente 1,60 não são contabilizadas.
Veja novamente a última tabela, agora com a coluna de frequências absolutas acumuladas à direita:

CLASSE FREQUÊNCIAS (FI) FREQUÊNCIAS ABSOLUTAS ACU-


MULADAS (FCA)
1,50 | - 1,60 33 33
1,60 | - 1,70 17 50
1,70 | - 1,80 13 63
1,80 | - 1,90 17 80

A coluna da direita exprime o número de indivíduos que se encontram naquela classe ou abaixo dela. Ou seja,
o número acumulado de frequências do valor mais baixo da amostra (1,50m) até o valor superior daquela classe.
Perceba que, para obter o número 50, bastou somar 17 (da classe 1,60| - 1,70) com 33 (da classe 1,50| - 1,60). Isto é,
podemos dizer que 50 pessoas possuem altura inferior a 1,70m (limite superior da última classe). Analogamente,
63 pessoas possuem altura inferior a 1,80m.

Gráficos Estatísticos

Uma outra maneira muito utilizada para a Estatística Descritiva são os gráficos. Vejamos a seguir alguns tipos.

z Colunas ou barras justapostas

Utilizamos o gráfico de colunas ou barras justapostas para dados agrupados por valor ou por atributo. Vamos
supor que estamos interessados nas idades de alguns alunos. O gráfico relaciona as idades com as respectivas
frequências.

Idade X Frequência
25
Frequência Absoluta Simples

20

15

10

0
20 23 27 30 33

Agora suponha, por exemplo, que queremos saber a cidade natal de alguns alunos. Como algumas cidades
88 possuem nomes muito grandes, poderíamos optar em usar um gráfico de barras justapostas. Veja:
Cidade Natal X Frequência SALÁRIOS EM FREQUÊNCIA
MILHARES DE REAIS
Salvador 10 – 15 15
15 – 20 17
Florianópolis
20 – 25 13

Rio de Janeiro
25 - 30 7

Esses dados podem ser resumidos com um histo-


São Paulo
grama, como mostra o gráfico a seguir.
0 2 4 6 8 10 12 14
Salário dos Funcionários da Empresa de Cosméticos X Em
Milhares de Reais
18
z Gráfico de Setores (ou de Pizza)
16
14
Esse gráfico tem a vantagem de mostrar rapida-
mente a relação com o total de observações. Vamos 12

supor que analisamos as notas trimestrais de alguns 10


alunos. Veja como fica a disposição usando o gráfico 8
de pizza. 6
4
2
0
(10 - 15) (15 - 20) (20 - 25) (25 - 30)

É importante destacar que a área de cada retângu-


lo é proporcional à frequência.

CÁLCULO DE MÉDIAS E ANÁLISE DE DESVIOS DE


CONJUNTOS DE DADOS

Média Aritmética

A média aritmética é um valor que pode substituir


Média de Notas Escolares Trimestrais todos os elementos de uma lista sem alterar a soma
dos elementos dessa lista. Considere que há uma lista
z Gráfico de Linha de n números (x1, x2, x3, ..., xn). A soma dos termos des-
ta lista é igual a (x1 + x2 + x3 + ... + xn).
São mais utilizados nas representações de séries Para calcular a média aritmética de uma lista de
temporais. Vamos analisar a evolução de um ano para números, basta somar todos os elementos e dividir
o outro, se houve um crescimento ou um decréscimo pela quantidade de elementos. Ou seja,
no número de alunos dentre as séries que estão em
evidência para estudo dentro da escola. Observe: X1+X2+ ⋯ +Xn
X=
Evolução anual no número de alunos do sétimo ao nono anos n
35
30 Veja um exemplo: Calcular a média aritmética dos
números 5, 10, 15, 20, 50:
25
20
5+10+15+20+50 100
15 X= = = 20 RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
5 5
10 .
5
A média aritmética é igual a 20.
0
2017 2018 2019 2020
Média Ponderada
sétimo ano oitavo ano nono ano

Para o cálculo da média aritmética ponderada (em


Histograma que levamos em consideração os pesos de cada parte),
devemos multiplicar cada parte pelo seu respectivo
É muito utilizado na representação gráfica de dados peso, somar tudo e dividir pela soma dos pesos. Veja:
agrupados em classes (distribuição de frequências).
Imagine que realizamos uma pesquisa sobre os salá- X1P1+X2P2+ ⋯ +XnPn
rios dos funcionários de uma empresa de cosméticos e X=
obtivemos a seguinte distribuição de frequências: P1+P2+ ⋯ +Pn

Interpretando a fórmula, temos uma lista de


números (x1, x2, x3, ..., xn) com pesos respectivos (p1, p2,
89
p3, ..., pn), então, a média aritmética ponderada é dada Na tabela acima, a maior frequência (15) está asso-
pela fórmula apresentada acima. ciada à altura 1,77. Portanto, a moda é 1,77.
Veja um exemplo: um aluno prestou vestibular
para Engenharia e realizou provas de matemática, Mediana
Física, Química, História e Biologia. Suponha que o
peso de Matemática seja 4, de Física seja 4, de Química Uma outra medida que estudamos em Estatística
seja 2, de História seja 1 e de Biologia seja 1. Suponha, é a mediana (ou valor mediano), que é definida como
ainda, que o estudante obteve as seguintes notas: número que se encontra no centro de uma série de
números, estando estes de forma organizada segundo
MATÉRIAS NOTAS (XI) PESO (PI) um padrão. Ou seja, é o valor situado de tal forma no
Matemática 9,7 4 conjunto que o separa em dois subconjuntos de mes-
mo número de elementos. Veja os exemplos:
Física 8,8 4
Química 7,3 2 A: {2;2;3;8;9;9} = a mediana é 3.
História 6,0 1 B: {1;5;5;7;8;9;9;9} = a mediana é a média entre os
Biologia 5,7 1 dois termos centrais, ou seja, (7+8)/2 = 7,5.

Agora, observe esse outro exemplo e perceba que


Vamos calcular a média ponderada das notas des- os dados não estão ordenados.
se aluno:
C: {2;3;;7;6;6;8;5;5;5}
9,7 × 4 + 8,8 × 4 + 7,3×2 + 6,0×2 + 5,7×1
X= Para acharmos a mediana é necessário ordenar
4+4+2+1+1 os números primeiro e depois fazer a média entre os
dois termos centrais, pois o número de elementos é
38,8 + 35,2 + 14,6 + 6 +5,7
X= par. Vejamos:
5
C: {2;3;3;5;5;5;6;6;7;8} = a mediana é a média entre
100,3 os termos centrais, ou seja, (5+5)/2 = 10.
X= = 20,06
5
Moda Dica
Moda: elemento(s) que mais aparece(m).
A moda é definida como sendo aquele valor ou Mediana: elemento central de um conjunto de
valores que ocorrem com maior frequência em um números.
rol. É interessante saber que a moda pode não existir � Se a quantidade de elementos for ímpar, então,
e, quando existir, pode não ser única. Veja os exem-
a mediana é o termo do centro;
plos a seguir:
� Se a quantidade de elementos for par, então, a
A: {1;1;2;3;3;4;5;5;5;7} = Mo = 5 mediana será a média entre os dois elementos
centrais.
B: {3;4;6;8;9;11} = não tem moda
C: {2;3;3;3;5;6;6;7;7;7;8;9;10} = tem duas modas, ou Desvio
seja, M1 = 3 e M2=7.
Vejamos o seguinte conjunto de dados X = {x1, x2, x3,
Caminhando um pouco mais dentro do nosso … xn} e um número real qualquer m. O desvio de um
estudo de Estatística, vejamos, agora, um exemplo de número qualquer do conjunto X em relação ao núme-
quando temos os dados dispostos em uma tabela com ro m é a diferença entre eles, que pode ser represen-
frequências e não agrupados em classes. Quando isso tada pela fórmula:
acontece, a localização da moda é imediata, bastando
para isso, verificar na tabela, qual o valor associado à di = xi – m
maior frequência. Observe:
z A soma dos desvios tomados em relação à média
ESTATURA (M) FREQUÊNCIA aritmética é sempre nula;
z A soma dos quadrados dos desvios é mínima quan-
1,53 3 do os desvios são calculados em relação à média
aritmética;
1,64 7 z A soma dos módulos (valores absolutos) dos des-
vios é mínima quando os desvios são calculados
1,71 10
em relação à mediana.
1,77 15
Vamos analisar uma questão de concurso para
1,80 5 sabermos como esse assunto é cobrado nas provas.

1,81 2 1. (VUNESP — 2015) Uma pequena empresa que empre-


ga apenas cinco funcionários paga os seguintes salá-
1,89 1
90 rios mensais (em mil reais):
Variância
0,9 1,2 1,4 1,5 2,0
Ʃ(x - x)²
σ² =
N
Considerando a média dos salários, o valor do desvio
do salário de quem ganha R$ 1.400,00 mensais é:
A variância é a média aritmética dos quadrados
a) −1.000. dos desvios. Ou seja, para calcular a variância, deve-
b) −400. mos elevar cada um dos desvios ao quadrado, somar
c) 0. todos os valores, e dividir por “n”, que é a quantidade
d) 200. de elementos. A variância é representada simbolica-
e) 400. mente por 2.

Primeiro, vamos calcular a média salarial (Ms): Desvio Padrão

900+1200+1400+1500+2000 O desvio padrão está inteiramente ligado à variân-


Ms = = 1400 cia. O desvio padrão é a raiz quadrada da variância. A
5
sua representação simbólica é dada por σ.
Como estamos estudando e aprendendo sobre o O desvio padrão é a raiz quadrada da variância(√σ²
assunto, vou fazer o cálculo de todos os desvios em = σ). A variância é o quadrado do desvio padrão σ²).
relação à média, mas podemos calcular apenas o Só há dois casos em que a variância e o desvio
valor do desvio de quem ganha R$ 1400,00 e achar padrão são iguais, sendo ela quando ambos valem
o gabarito mais rápido. Usamos a nossa relação, zero ou ambos valem 1, isso porque 02 = 0 e 12 = 1.
temos: Vale ressaltar, também, que a variância e o desvio
padrão só serão iguais a zero se todos os elementos
di = xi - m forem iguais. Se os elementos forem todos iguais,
d1 = 900 – 1400 = -500 todos os desvios serão iguais a zero. Consequentemen-
te, a variância será nula e também o desvio padrão.
d2 = 1200 – 1400 = -200
d3 = 1400 – 1400 = 0
Importante!
d4 = 1500 – 1400 = 100
Quando os dados são todos iguais, não há dis-
d5 = 2000 – 1400 = 600
persão. Todas as medidas (desvio médio, variân-
O valor do desvio de quem ganha R$ 1400,00 é d3 = cia, desvio padrão etc.) são iguais a zero.
1400 – 1400 = 0.
Resposta: Letra C. Vamos analisar dois exemplos em que foram
cobrados esses tópicos em concurso público. Observe:
Desvio Absoluto Médio
1. (VUNESP — 2019) O desvio padrão dos valores 2, 6, 4,
O desvio absoluto médio também pode ser cha-
3, e 5 é, aproximadamente:
mado de desvio médio. Para calcularmos, usamos a
seguinte fórmula:
a) 2,00.
b) 1,83.
Ʃ|xi - x| c) 1,65.
DM =
n d) 1,41.
e) 1,29.
O desvio médio é uma medida de dispersão que
leva em consideração todos os valores. Vamos calcular a média dos valores: RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
É importante lembrarmos que quando os dados
estiverem agrupados, precisamos calcular a média
ponderada dos desvios, em que os pesos são as fre- 2+6+4+3+5
x = =4
quências. Veja como fica a fórmula:
5

Agora, vamos calcular a média dos quadrados:


22+62+42+32+52
x =
2
= 18
O cálculo do desvio médio com dados agrupados é 5
feito multiplicando cada desvio (em módulo) pela sua
respectiva frequência, somando os resultados e divi- Aplicando a fórmula da variância:
dindo por n. σ2 = (Média dos quadrados) – (Média)2
σ2 = 18 – 42 = 18 – 16 = 2
O desvio padrão é a raiz quadrada da variância:
σ = √σ² = √2 ≅ 1,41.
Resposta: Letra D. 91
2. (UFMT — 2017) Um conjunto de dados sobre a plaque- A média diária do número de funcionários que falta-
topenia de pacientes com dengue tem variância igual ram ao trabalho na 2a e 6a feiras, desta semana, supera
a zero. Pode-se concluir que também vale zero: a média diária do número de funcionários que falta-
ram na 3a, 4a e 5a feiras, da mesma semana, em:
a) a média.
b) o desvio padrão. a) 7.
c) a mediana. b) 8.
d) a moda. c) 9.
d) 10.
e) 11.
O desvio padrão é a raiz quadrada da variância. Se
a variância é igual a zero, então, o desvio padrão
Vamos calcular a média de segunda e sexta:
vale σ = √σ² = √0 = 0. (13 + 23) / 2 = 18 funcionários que faltaram ao
Resolução: Letra B. trabalho.
Agora, vamos calcular a média de terça a quinta:
Coeficiente de Variação (9 + 6 + 18) / 3 = 11 funcionários que faltaram ao
trabalho.
O coeficiente de variação é a razão entre o desvio Como a questão quer a diferença, fica:
padrão e a média, o qual pode ser calculado usando a 18 – 11 = 7.
seguinte fórmula: Cv = σ / x. Resposta: Letra A.
É muito comum que o coeficiente de variação seja
expresso em porcentagem. 2. (CEBRASPE-CESPE — 2015) A equipe de atendentes
Logo, se de um serviço de telemarketing é constituída por 30
empregados, divididos em 3 grupos, que trabalham de
σ = 1 cm e x = 10 cm, temos: acordo com a seguinte escala.
Cv = 1 / 10 = 0,10 = 10%.
Grupo I: 7 homens e 3 mulheres, que trabalham das 6
Variância Relativa h às 12 h.
Grupo II: 4 homens e 6 mulheres, que trabalham das 9
Uma outra medida de dispersão que podemos fa- h às 15 h.
lar, ainda, é a variância relativa. A variância relativa é Grupo III: 1 homem e 9 mulheres, que trabalham das
simplesmente o quadrado do coeficiente de variação. 12 h às 18 h. A respeito dessa equipe, julgue o item
Pode ser representada simbolicamente por Vr = (Cv)2. que se segue.
Usando o mesmo exemplo anteriormente, temos:
Se Se, nesse serviço de telemarketing, a média das ida-
des das atendentes for de 21 anos e a média das ida-
des dos atendentes for de 31 anos, então a média das
σ = 1 cm e x = 10 cm
idades de todos os 30 atendentes será de 26 anos.
Temos:
( ) CERTO ( ) ERRADO
Cv = 1 / 10 = 0,10 = 10% Total de Homens: 7 + 4 + 1 = 12.
Média dos homens = 31.
Logo, Média = Soma de todas as idades dos homens/Quan-
tidade de homens
Vr = (1/10)2 = 1/100 = 0,01 = 1%. 31 = Soma total / 12
Soma total = 372
Agora vamos treinar o que aprendemos na teo- Total de mulheres é 3 + 6 + 9 = 18.
ria com exercícios comentados de diversas bancas. Média das mulheres = 21
Vamos lá! Média = Soma de todas as idades das mulheres /
Quantidade de mulheres
1. (VUNESP — 2018) A tabela a seguir mostra o núme- 21 = Soma total / 18
ro de funcionários que faltaram ao trabalho nos cinco Soma total = 378
dias de uma semana em determinada empresa. Média de todos os atendentes = (372 + 378) /30 = 25
A média das idades de todos os 30 atendentes será
de 25 anos.
NÚMERO DE Resposta: Errado.
DIAS DA SEMANA FUNCIONÁRIOS
FALTANTES 3. (CEBRASPE-CESPE — 2018)
2ª feira 13
3ª feira 9 DIA
4ª feira 6 1 2 3 4 5
5ª feira 18
X (QUANTIDADES
6ª feira 23
DIÁRIA DE DROGAS 10 22 18 22 28
APRESENTADAS, EM KG)
92
Tendo em vista que, diariamente, a Polícia Federal d) Gráfico de Linhas – Gráfico de Pizza – Gráfico de
apreende uma quantidade X, em kg, de drogas em Barras.
determinado aeroporto do Brasil, e considerando os e) Gráfico de Tendência – Gráfico de Setores – Gráfico de
Linha.
dados hipotéticos da tabela precedente, que apre-
senta os valores observados da variável X em uma
O primeiro gráfico é um gráfico de colunas ou de
amostra aleatória de 5 dias de apreensões no citado
barras. O segundo gráfico é um gráfico de setores,
aeroporto, julgue o item.
que também é chamado de “gráfico de pizza”. O
terceiro gráfico é um gráfico de linha. Utilizamos o
( ) CERTO ( ) ERRADO gráfico de linha para representar séries temporais.
Resposta: Letra C.
A moda da distribuição dos valores X registrados na
amostra foi igual a 22 kg.
Veja que o número 22 (a quantidade diária de dro-
gas apreendidas) aparece 2 vezes (frequência = 2),
enquanto todos os outros números aparecem apenas RACIOCÍNIO LÓGICO ENVOLVENDO
uma vez (frequência = 1). Logo, a moda é igual a 22. PROBLEMAS ARITMÉTICOS,
Resposta: Certo. GEOMÉTRICOS E MATRICIAIS
4. (IESES — 2019) Assinale a alternativa que representa a
PROBLEMAS ARITMÉTICOS
nomenclatura dos três gráficos a seguir, respectivamente.

PIB Brasil - Variação Anual Vamos relembrar alguns conceitos e fórmulas


8 7,5
sobre aritmética para que possamos resolvermos
7 questões sobre esse tópico. Como o próprio nome já
6,1
6
5,7 diz “Problemas de Raciocínio Lógico envolvendo Arit-
5,2
5
mética”. Então, vamos fazer várias questões ao longo
4,3
4
4,0 da teoria para entender e praticar mais ainda sobre
2,7 3,2 2,7 esse assunto.
3 2,3
2
1,3 1,2 0,9 RAZÃO E PROPORÇÃO COM APLICAÇÕES
1
0,3
0
A razão entre duas grandezas é igual a divisão
-1
00

/ja 1

/ja 2
01 /03

/ja 4

/ja 5
01 /06

01 /07

01 /08

01 /09

/ja 0
01 /11

01 /12

13

entre elas, veja:


0
01 n/0

01 n/0

01 n/0

01 n/1
n/

n/

n/
n

n
/ja

/ja

/ja

/ja

/ja

/ja

/ja

/ja

/ja
01

01

01

2
GRÁFICO 1 5
Cia. Rio do Sul - Destino das Vendas - 2012
Ou podemos representar por 2 ÷ 5 (Lê-se “2 está
15% 20% para 5”).
Região Sul Já a proporção é a igualdade entre razões, veja:
Região Sudeste
10% 2 4
Região Centro Oeste =
Região Nordeste 3 6
5%
Região Norte
Ou podemos representar por 2 ÷ 3 = 4 ÷ 6
40% (Lê-se “2 está para 3 assim como 4 está para 6”).
GRÁFICO 2 Os problemas mais comuns que envolvem razão
e proporção é quando se aplica uma “variável” qual-
Evolução dos Preços do Produto Y quer dentro da proporcionalidade e se deseja saber o
35,00 valor dela. Veja o exemplo: RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
30,00 30,30
30,00 28,20
27,40 2 x ou 2 ÷ 3 = x ÷ 6
25,00 25,30 24,20 =
20,20 20,00 3 6
20,00 18,20 28,20
15,00 15,60
14,70 Para resolvermos esse tipo de problema devemos
12,20
10,00
usar a Propriedade Fundamental da razão e propor-
5,00
ção: “produto dos meios pelos extremos”.
Meio: 3 e x
14
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12
13

Extremos: 2 e 6
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20

Logo, devemos fazer a multiplicação entre eles


GRÁFICO 3
numa igualdade. Observe:
a) Gráfico de Setores – Gráfico de Barras – Gráfico de
Linha. 3·X=2·6
b) Gráfico de Pareto – Gráfico de Pizza – Gráfico de 3X = 12
Tendência.
c) Gráfico de Barras – Gráfico de Setores – Gráfico de X = 12/3
Linha.
X=4 93
Lembre-se de que a maioria dos problemas en- É possível, ainda, trocar o numerador pelo deno-
volvendo esse tema são resolvidos utilizando essa minador ao efetuar essa soma interna, desde que
propriedade fundamental. Porém, algumas questões o mesmo procedimento seja feito do outro lado da
acabam sendo um pouco mais complexas e pode ser proporção.
útil conhecer algumas propriedades para facilitar. Va-
mos a elas. a c a+b = c+d
= =
b d a c
Propriedade das Proporções
Vejamos um exemplo:
� Somas Externas:
x 2
=
a c a+c -
14 x 5
= =
b d b+d
x + 14 - x 2+5
=
Vamos entender um pouco melhor resolvendo x 2
uma questão-exemplo: 14 7
Suponha que uma fábrica vai distribuir um prê- =
x 2
mio de R$10.000 para seus dois empregados (Carlos
e Diego). Esse prêmio vai ser dividido de forma pro- 7 · x = 2 · 14
porcional ao tempo de serviço deles na fábrica. Carlos 14 · 2
está há 3 anos na fábrica e Diego está há 2 anos. Quan- x= =4
7
to cada um vai receber?
Primeiro, devemos montar a proporção. Sejam C Portanto, encontramos que x = 4.
a quantia que Carlos vai receber e D a quantia que
Diego vai receber, então temos: Observação: vale lembrar que essa propriedade
também serve para subtrações internas;
C D
=
3 2 z Soma com Produto por Escalar:

Utilizando a propriedade das somas externas: a c a + 2b c + 2d


= = =
b d b d
C D C+D
= =
3 2 3+2 Vejamos um exemplo para melhor entendimento:
Uma empresa vai dividir o prêmio de R$13.000
Perceba que C + D = 10.000 (as partes somadas), proporcionalmente ao número de anos trabalhados.
então podemos substituir na proporção: São dois funcionários que trabalham há 2 anos na
empresa e três funcionários que trabalham há 3 anos.
C D C+D Seja A o prêmio dos funcionários com 2 anos e B
= = = 10.000 = 2.000
3 2 3+2 5 o prêmio dos funcionários com 3 anos de empresa,
temos:
A B
Aqui cabe uma observação importante: esse valor =
2 3
2.000, que chamamos de “Constante de Proporcionali-
dade”, é que nos mostra o valor real das partes dentro
da proporção. Veja: Porém, como são 2 funcionários na categoria A e 3
funcionários na categoria B, podemos escrever que a
C soma total dos prêmios é igual a R$13.000.
= 2.000
3
2A + 3B = 13.000
C = 2000 x 3
Agora, multiplicando em cima e embaixo de um
C = 6.000 (esse é o valor de Carlos)
lado por 2 e do outro lado por 3, temos:
D
= 2.000
2 2A 3B
=
4 9
D = 2.000 x 2
D = 4.000 (esse é o valor de Diego) Aplicando a propriedade das somas externas,
podemos escrever o seguinte:
Assim, Carlos vai receber R$6.000 e Diego vai rece-
ber R$4.000; 2A 3B 2A + 3B
= =
4 9 4+9
z Somas Internas:
Substituindo o valor da equação 2A + 3B na pro-
a c a+b c+d porção, temos:
= = =
b d b d
2A 3B 2A + 3B 13.000
= = = = 1.000
94 4 9 4+9 13
Logo, Inversamente Proporcional

2A É um tipo de questão menos recorrente, mas, não


= 1.000 menos importante. Consiste em distribuir uma quan-
4
tia X a três pessoas, de modo que cada uma receba um
2A = 4 x 1.000 quinhão inversamente proporcional a três números.
Vejamos um exemplo:
2A = 4.000 Suponha que queiramos dividir 740 mil em partes
inversamente proporcionais a 4, 5 e 6.
A = 2.000 Vamos chamar de X as quantias que devem ser dis-
tribuídas inversamente proporcionais a 4, 5 e 6, res-
pectivamente. Devemos somar as razões e igualar ao
Fazendo a mesma resolução em B:
total que dever ser distribuído para facilitar o nosso
3B
= 1.000 cálculo, veja:
9
X X X
3B = 9 x 1.000 + + = 740.000
4 5 6
3B = 9.000
Agora vamos precisar tirar o M.M.C (mínimo múl-
B = 3.000
tiplo comum) entre os denominadores para resolver-
mos a fração.
Sendo assim, os funcionários com 2 anos de casa
receberão R$2.000 de bônus. Já os funcionários com 3
4–5–6|2
anos de casa receberão R$3.000 de bônus.
O total pago pela empresa será: 2–5–3|2
1–5–3|3
Total = 2.2000 + 3.3000 = 4000 + 9000 = 13000
1–5–1|5
Agora vamos estudar um tipo de problema que
1 – 1 – 1 | 2 x 2 x 3 x 5 = 60
aparece frequentemente em provas de concursos
envolvendo razão e proporção.
Assim, dividindo o M. M. C. Pelo denominador e
multiplicando o resultado pelo numerador temos:
REGRA DA SOCIEDADE
15x 12x 10x
Diretamente Proporcional + + = 740.000
60 60 60
Um dos tópicos mais comuns em questões de pro- 37x
= 740.000
va é dividir uma determinada quantia em partes 60
proporcionais a determinados números. Vejamos um
X = 1.200.000
exemplo para entendermos melhor como esse assun-
to é cobrado. Agora basta substituir o valor de X nas razões para
Exemplo: achar cada parte da divisão inversa.
A quantia de 900 mil reais deve ser dividida em
partes proporcionais aos números 4, 5 e 6. A menor x 1.200.000
dessas partes corresponde a: = = 300.000
4 4
Primeiro vamos chamar de X, Y e Z as partes pro-
x 1.200.000
porcionais, respectivamente a 4, 5 e 6. Sendo assim, X = = 240.000
5 5
é proporcional a 4, Y é proporcional a 5 e Z é propor-
cional a 6, ou seja, podemos representar na forma de x 1.200.000
= = 200.000
razão. Veja: 6 6
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
X Y Z Logo, as partes dividas inversamente proporcio-
= = = constante de proporcionalidade
4 5 6 nais aos números 4, 5 e 6 são, respectivamente 300K,
240K e 200K.
Usando uma das propriedades da proporção, Agora, pratique um pouco do conteúdo estudado
somas externas, temos: realizando os exercícios de bancas variadas dispostos
abaixo.
X+Y+Z 900.000
= 60.000
4+5+6 15 1. (FAEPESUL — 2016) Em uma turma de graduação
em Matemática Licenciatura, de forma fictícia, temos
A menor dessas partes é aquela que é proporcional que a razão entre o número de mulheres e o número
a 4, logo: total de alunos é de 5/8. Determine a quantidade de
homens desta sala, sabendo que esta turma tem 120
X
= 60.000 alunos.
4
a) 43 homens.
X = 60.000 x 4
b) 45 homens.
X = 240.000 c) 44 homens. 95
d) 46 homens. 3. (IBADE — 2018) Três agentes penitenciários de um
e) 47 homens. país qualquer, Darlan, Arley e Wanderson, recebem
juntos, por dia, R$ 721,00. Arley recebe R$ 36,00 mais
A razão entre o número de mulheres e o número que o Darlan, Wanderson recebe R$ 44,00 menos que
total de alunos é de 5/8: o Arley. Assinale a alternativa que representa a diária
de cada um, em ordem crescente de valores.
M 5
=
T 8
a) R$ 249,00, R$ 213,00 e R$ 169,00.
A turma tem 120 alunos, então: T = 120 b) R$ 169,00, R$ 213,00 e R$ 249,00.
c) R$ 145,00, R$ 228,00 e R$ 348,00.
Fazendo os cálculos:
d) R$ 223,00, R$ 231,00 e R$ 267,00.
M 5 e) R$ 267,00, R$ 231,00 e R$ 223,00.
=
T 8
D + A + W = 721
M 5
= A = D + 36
120 8
W = A - 44
8 x M = 5 x 120 Substituímos Arley em Wanderson:
W= A - 44
8M = 600 W= 36+D-44
600 W= D-8
M=
8 Substituímos na fórmula principal:
D + A + W = 721
M = 75 D + 36 + D + D – 8 = 721
A quantidade de homens da sala: 3D + 28 = 721
3D = 721 - 28
120 - 75 = 45 homens. Resposta: Letra B. D = 693/3
D = 231
2. (VUNESP — 2020) Em um grupo com somente pessoas Substituímos o valor de D nas outras:
com idades de 20 e 21 anos, a razão entre o número A = D + 36
de pessoas com 20 anos e o número de pessoas com A= 231+36= 267
21 anos, atualmente, é 4/5. No próximo mês, duas pes- W = A - 44
soas com 20 anos farão aniversário, assim como uma W= 267-44
pessoa com 21 anos, e a razão em questão passará a W= 223
ser de 5/8. O número total de pessoas nesse grupo é: Logo, os valores em ordem crescente que Wander-
son, Darlan, Arley recebem são, respectivamente,
a) 30. R$ 223,00, R$ 231,00 e R$ 267,00. Resposta: Letra D.
b) 29.
c) 28. 4. (CEBRASPE-CESPE — 2018) A respeito de razões, pro-
d) 27. porções e inequações, julgue o item seguinte.
e) 26. Situação hipotética: Vanda, Sandra e Maura receberam
R$ 7.900 do gerente do departamento onde trabalham,
A razão entre o número de pessoas com 20 anos e o para ser divido entre elas, de forma inversamente propor-
número de pessoas com 21 anos, atualmente, é 4/5. cional a 1/6, 2/9 e 3/8, respectivamente. Assertiva: Nes-
120 4x sa situação, Sandra deverá receber menos de R$ 2.500.
=
121 5x Total de 9x
( ) CERTO ( ) ERRADO
No próximo mês, duas pessoas com 20 anos farão
aniversário, assim como uma pessoa com 21 anos, e 6x 9x 8x
a razão em questão passará a ser de 5/8.
+ + = 7.900
1 2 3
120 4x - 2 Tirando o MMC entre 1, 2 e 3 vamos achar 6. Temos:
= = 5
121 5x + 2 - 1 8 36x 27x 16x
6
+
6
+ 6
= 7.900
4x - 2 5
=
5x + 1 8 79x
= 7.900
6
8 (4x - 2) = 5 (5x + 1)
x = 600
32x – 16 = 25x + 5 Sendo assim, Sandra está inversamente proporcio-
7x = 21 nal a:

x=3 9x
2
Para sabermos o total de pessoas, basta substituir o
valor de X na primeira equação: Basta substituirmos o valor de X na proporção.

9x = 9 x 3 = 27 é o número total de pessoas nesse 9x 9 x 600


= = 2.700
grupo. Resposta: Letra D. 2 2
(Valor que Sandra irá receber é MAIOR que 2.500).
96 Resposta: Errado.
5. (IESES — 2019) Uma escola possui 396 alunos matri-
DIRETAMENTE
culados. Se a razão entre meninos e meninas foi de PROPORCIONAL
Multiplica cruzado
5/7, determine o número de meninos matriculados.
INVERSAMENTE
a) 183 PROPORCIONAL
Multiplica na horizontal
b) 225
c) 165
d) 154 Vejamos alguns exemplos para fixarmos um pouco
mais como isso tudo funciona.
Total de alunos = 396 Exemplo 1: Um muro de 12 metros foi construído uti-
lizando 2 160 tijolos. Caso queira construir um muro de
Meninos = H 30 metros nas mesmas condições do anterior, quantos
Meninas = M tijolos serão necessários?
Primeiro vamos montar a relação entre as gran-
H 5x dezas e depois identificar se é direta ou inversamente
Razão: +
M 7x proporcional.
Agora vamos somar 5x com 7x = 12x
12 m -------- 2 160 (tijolos)
12x é igual ao total que é 396 30 m -------- X (tijolos)
12x = 396
Veja que de 12m para 30m tivemos um aumen-
x = 33 to (+) e que para fazermos um muro maior vamos
Portanto o número de meninos será: precisar de mais tijolos, ou seja, também deverá ser
aumentado (+). Logo, as grandezas são diretamente
Meninos = 5X = 5 x 33 = 165. Resposta: Letra C. proporcionais e vamos resolver multiplicando cruza-
do. Observe:
REGRA DE TRÊS SIMPLES E COMPOSTA
12 m -------- 2.160 (tijolos)
Regra de Três Simples
30 m -------- X (tijolos)
A Regra de Três Simples envolve apenas duas
grandezas. São elas: 12 · X = 30 . 2160
12X = 64800
z Grandeza Dependente: é aquela cujo valor se
deseja calcular a partir da grandeza explicativa; X = 5400 tijolos
z Grandeza Explicativa ou Independente: é aque-
la utilizada para calcular a variação da grandeza Assim, comprovamos que realmente são necessá-
dependente. rios mais tijolos.
Exemplo 2: Uma equipe de 5 professores gastou 12
Existem dois tipos principais de proporcionalida- dias para corrigir as provas de um vestibular. Consi-
des que aparecem frequentemente em provas de con- derando a mesma proporção, quantos dias levarão 30
cursos públicos. Veja a seguir: professores para corrigir as provas?
Do mesmo jeito que no exemplo anterior, vamos
z Grandezas Diretamente Proporcionais: o aumen- montar a relação e analisar:
to de uma grandeza implica o aumento da outra;
z Grandezas Inversamente Proporcionais: o aumen- 5 (prof.) --------- 12 (dias)
to de uma grandeza implica a redução da outra. 30 (prof.) -------- X (dias)

Vamos esquematizar para sabermos quando será Veja que de 5 (prof.) para 30 (prof.) tivemos um
direta ou inversamente proporcionais: aumento (+), mas como agora estamos com uma equi-
pe maior o trabalho será realizado mais rapidamente. RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
DIRETAMENTE Logo, a quantidade de dias deverá diminuir (-). Des-
PROPORCIONAL + / + OU - / - sa forma, as grandezas são inversamente proporcio-
nais e vamos resolver multiplicando na horizontal.
Observe:
Aqui as grandezas aumentam ou diminuem juntas
(sinais iguais)
5 (prof.) 12 (dias)
30 (prof.) X (dias)
PROPORCIONAL + / - OU - / +
30 · X = 5 · 12
30X = 60
Aqui uma grandeza aumenta e a outra diminui
(sinais diferentes) X=2
Agora vamos esquematizar a maneira que iremos
resolver os diversos problemas: A equipe de 30 professores levará apenas 2 dias
para corrigir as provas.
Abaixo, realize alguns exercícios para fixar seus
conhecimentos. 97
1. (CEBRASPE-CESPE — 2019) No item seguinte apre- 2 guardanapos por dia -------- x+15
senta uma situação hipotética, seguida de uma asser- São valores inversamente proporcionais, quanto
tiva a ser julgada, a respeito de proporcionalidade, mais guardanapos por dia, menos dias durarão.
porcentagens e descontos. Assim, multiplicamos na horizontal:
No primeiro dia de abril, o casal Marcos e Paula com- 3x = 2 . (x+15)
prou alimentos em quantidades suficientes para que
3x = 30+2x
eles e seus dois filhos consumissem durante os 30
3x-2x = 30
dias do mês. No dia 7 desse mês, um casal de amigos
x = 30
chegou de surpresa para passar o restante do mês
Podemos substituir em qualquer uma das duas
com a família. Nessa situação, se cada uma dessas
situações:
seis pessoas consumir diariamente a mesma quan-
3 guardanapos x 30 dias= 90
tidade de alimentos, os alimentos comprados pelo
casal acabarão antes do dia 20 do mesmo mês. 2 guardanapos x 45(30+15) dias = 90.
Resposta: Letra D.
( ) CERTO ( ) ERRADO
4. (FUNDATEC — 2017) Cinco mecânicos levaram 27
4 Pessoas ------- 24 Dias minutos para consertar um caminhão. Supondo que
6 Pessoas ------- x Dias fossem três mecânicos, com a mesma capacidade e
Temos grandezas inversas, então é só multiplicar ritmo de trabalho para realizar o mesmo serviço, quan-
na horizontal: tos minutos levariam para concluir o conserto desse
6x = 4 . 24 mesmo caminhão?
6x = 96
x = 96/6 a) 20 minutos.
x = 16 b) 35 minutos.
Como já haviam comido por 6 dias é só somar: c) 45 minutos.
6 dias (consumidos por 4) + 16 dias (consumidos por d) 50 minutos.
6) = 22 dias (a comida acabará no dia 22 de abril). e) 55 minutos.
Resposta: Errado.
Mecânicos ------ Minutos
2. (CEBRASPE-CESPE — 2018) O motorista de uma 5 ---------------- 27
empresa transportadora de produtos hospitalares 3 ---------------- x
deve viajar de São Paulo a Brasília para uma entrega Quanto menos mecânicos, mais minutos eles gas-
de mercadorias. Sabendo que irá percorrer aproxima- tarão para finalizar o trabalho, logo a grande-
damente 1.100 km, ele estimou, para controlar as des- za é inversamente proporcional. Multiplica na
pesas com a viagem, o consumo de gasolina do seu horizontal:
veículo em 10 km/L. Para efeito de cálculos, conside- 3x = 27.5
rou que esse consumo é constante. 3x = 135
Considerando essas informações, julgue o item que x = 135/3
segue. x = 45 minutos.
Nessa viagem, o veículo consumirá 110.000 dm3 de Resposta: Letra C.
gasolina.
5. (IESES — 2019) Cinco pedreiros construíram uma casa
( ) CERTO ( ) ERRADO em 28 dias. Se o número de pedreiros fosse aumenta-
do para sete, em quantos dias essa mesma casa fica-
Com 1 litro ele faz 10 km. ria pronta?
Sabendo que 1 L é igual a 1dm³, então podemos
dizer que com 1dm³ ele faz 10km
a) 18 dias.
Portanto,
b) 16 dias.
10 km -------- 1dc³
c) 20 dias.
1.100 km --------- x
d) 22 dias.
10x = 1.000
x = 110dm³ (a gasolina que será consumida).
Resposta: Errado. 5 (pedreiros) ---------- 28 (dias)
7 (pedreiros) ------------- X (dias)
3. (VUNESP — 2020) Uma pessoa comprou determinada Perceba que as grandezas são inversamente propor-
quantidade de guardanapos de papel. Se ela utilizar 2 cionais, então basta multiplicar na horizontal.
guardanapos por dia, a quantidade comprada irá durar 5 . 28=7 . X
15 dias a mais do que duraria se ela utilizasse 3 guarda- 7X = 140
napos por dia. O número de guardanapos comprados foi: X = 140/7
X = 20 dias.
a) 60. Resposta: Letra C.
b) 70.
c) 80. Regra de Três Composta
d) 90.
e) 100. A Regra de Três Composta envolve mais de duas
variáveis. As análises sobre se as grandezas são direta-
x = dias mente e inversamente proporcionais devem ser feitas
98 3 guardanapos por dia -------- x cautelosamente, levando em conta alguns princípios:
z As análises devem sempre partir da variável As três impressoras produziriam 2000 panfletos
dependente em relação às outras variáveis; em 160 minutos, que correspondem há 2 horas e 40
z As análises devem ser feitas individualmente. Ou minutos.
seja, deve-se comparar as grandezas duas a duas, Para fixarmos mais ainda nosso conhecimento,
mantendo as demais constantes; vamos analisar mais um exemplo.
z A variável dependente fica isolada em um dos Exemplo 2: Um texto ocupa 6 páginas de 45 linhas
lados da proporção. cada uma, com 80 letras (ou espaços) em cada linha.
Para torná-lo mais legível, diminui-se para 30 o
número de linhas por página e para 40 o número de
Vamos analisar alguns exemplos e ver na prática
letras (ou espaços) por linha. Considerando as novas
como isso tudo funciona. condições, determine o número de páginas ocupadas.
Exemplo 1: Se 6 impressoras iguais produzem Já aprendemos o passo a passo no exemplo ante-
1000 panfletos em 40 minutos, em quanto tempo 3 des- rior. Aqui vamos resolver de maneira mais rápida.
sas impressoras produziriam 2000 desses panfletos?
Da mesma forma que na regra de três simples, 6 (pág.) -------- 45 (linhas) -------- 80 (letras)
vamos montar a relação entre as grandezas e analisar
X (pág.) -------- 30 (linhas) -------- 40 (letras)
cada uma delas isoladamente duas a duas.
6 ? ?
= #
6 (imp.) -------- 1000 (panf.) -------- 40 (min) X ? ?
3 (imp.) -------- 2000 (panf.) -------- X (min)
Analisando isoladamente duas a duas:
Vamos escrever a proporcionalidade isolando a
parte dependente de um lado e igualando às razões da 6 (pág.) -------- 45 (linhas)
seguinte forma – se for direta vamos manter a razão, X (pág.) -- ----- 30 (linhas)
agora se for inversa vamos inverter a razão. Observe:
Perceba que de 45 linhas para 30 linhas o valor
40 ? ? diminui ( - ) e que o número de páginas irá aumentar
= #
X ? ? ( + ). Logo, as grandezas são inversas e devemos inver-
ter a razão.
Analisando isoladamente duas a duas:
6 30 ?
= #
6 (imp.) -------- 40 (min) X 45 ?
3 (imp.) ---- ---- X (min)
Analisando isoladamente duas a duas:
Perceba que de 6 impressoras para 3 impressoras
o valor diminui ( - ) e que o tempo irá aumentar ( + ), 6 (pág.) -------- 80 (letras)
pois agora teremos menos impressoras para realizar X (pág.) ------- 40 (letras)
a tarefa. Logo, as grandezas são inversas e devemos
inverter a razão. Veja que de 80 letras para 40 letras o valor diminui
( - ) e que o número de páginas irá aumentar ( + ). Logo,
40 3 ? as grandezas são inversas e devemos inverter a razão.
= #
X 6 ?
6 30 40
= #
X 45 80
Analisando isoladamente duas a duas:
6 2 1
= #
1000 (panf.) -------- 40 (min) X 3 2
2000 (panf.) ------ -- X (min) 6 2
=
X 6
Perceba que de 1000 panfletos para 1200 panfle- RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
tos o valor aumenta ( + ) e que o tempo também irá 2X = 36
aumentar ( + ). Logo, as grandezas são diretas e deve- X = 18
mos manter a razão.
O número de páginas a serem ocupadas pelo texto
40
=
3
#
1000 respeitando as novas condições é igual a 18.
X 6 2000 Exercite o conteúdo estudado realizando os exercí-
cios dispostos a seguir.
Agora basta resolver a proporção para acharmos
o valor de X. 1. (CEBRASPE-CESPE — 2020) Determinado equipamen-
to é capaz de digitalizar 1.800 páginas em 4 dias, fun-
40 3000 cionando 5 horas diárias para esse fim. Nessa situação,
X
= 12000 a quantidade de páginas que esse mesmo equipamen-
to é capaz de digitalizar em 3 dias, operando 4 horas e
3X = 40 x 12 30 minutos diários para esse fim, é igual a:
3X = 480
a) 2.666.
X = 160 b) 2.160. 99
c) 1.215. 3 caixas - 12 clientes - 10 minutos
d) 1.500.
e) 1.161. 5 caixas - 20 clientes - x minutos
10 5 12
= #
Primeiro vamos passar para minutos: X 3 20
5h = 300min.
5 · 12 · X = 10 · 3 · 20
4h30min= 270min.
60x = 600
min.-----Dias-----Pag.
X = 10.
300 -------4-------1800
Os 5 caixas atenderão em exatamente 10 minutos.
270 -------3-------X Não em menos de 10 como a questão afirma.
Resolvendo temos: Resposta: Errado.

300 (Simplifica por 30) 4. (VUNESP — 2020) Das 9 horas às 15 horas, de trabalho
1800
=
4
# ininterrupto, 5 máquinas, todas idênticas e trabalhan-
X 3 270 (Simplifica por 30) do com a mesma produtividade, fabricam 600 unida-
1800 4 10 des de determinado produto. Para a fabricação de 400
= # unidades do mesmo produto por 3 dessas máquinas,
X 3 9
trabalhando nas mesmas condições, o tempo estima-
4 · X · 10 = 1800 · 3 · 9 do para a realização do serviço é de
X = 1215 páginas que esse mesmo equipamento é
a) 5 horas e 54 minutos.
capaz de digitalizar.
b) 6 horas e 06 minutos.
Resposta: Letra C. c) 6 horas e 20 minutos.
d) 6 horas e 40 minutos.
2. (VUNESP — 2016) Em uma fábrica, 5 máquinas, todas e) 7 horas e 06 minutos.
operando com a mesma capacidade de produção,
fabricam um lote de peças em 8 dias, trabalhando 6 Das 9h às 15h = 6 horas = 360 min
horas por dia. O número de dias necessários para que 360 min ------ 5 maquinas ----- 600 unidades (corta os zeros iguais)
4 dessas máquinas, trabalhando 8 horas por dia, fabri-
quem dois lotes dessas peças é: x ------------- 3 maquinas ---- 400 unidades (corta os zeros iguais)
360 3 6
= #
a) 11. X 5 4
b) 12.
c) 13. x·3·6 = 360·5·4
d) 14.
e) 15. x·18 = 7.200
x = 7200/18
5 máquinas -------1 lote --------- 8 dias ------------ 6 horas
4 máquinas -------2 lotes --------x dias -------------8 horas x = 400
Quanto mais dias para entrega do lote, menos Logo, transformando minutos para horas novamen-
horas trabalhadas por dia (inversa), menos máqui- te temos:
nas para fazer o serviço (inversa) e mais lotes para
serem entregues (direta). X = 400min
Resolvendo: X = 6h40min
8/x = 1/2 * 8/6 * 4/5 (simplifique 8/6 por 2)
8/x = 1/2 * 4/3 * 4/5 Resposta: Letra D.
8/x = 16/30 (simplifique 16/30 por 2)
8/x = 8/15 5. (VUNESP — 2020) Em uma fábrica de refrigerantes, 3
8x = 120 máquinas iguais, trabalhando com capacidade máxima,
x = 120/8 ligadas ao mesmo tempo, engarrafam 5 mil unidades de
x = 15 dias. refrigerante, em 4 horas. Se apenas 2 dessas máquinas
Resposta: Letra E. trabalharem, nas mesmas condições, no engarrafamen-
to de 6 mil unidades do refrigerante, o tempo esperado
para a realização desse trabalho será de:
3. (CEBRASPE-CESPE — 2018) No item a seguir é apre-
sentada uma situação hipotética, seguida de uma
assertiva a ser julgada, a respeito de proporcionalida- a) 6 horas e 40 minutos.
de, divisão proporcional, média e porcentagem. b) 6 horas e 58 minutos.
c) 7 horas e 12 minutos.
Todos os caixas de uma agência bancária trabalham
d) 7 horas e 20 minutos.
com a mesma eficiência: 3 desses caixas atendem 12
e) 7 horas e 35 minutos.
clientes em 10 minutos. Nessa situação, 5 desses cai-
xas atenderão 20 clientes em menos de 10 minutos.
3 máquinas ------------ 5 mil garrafas ------------ 4 horas
( ) CERTO ( ) ERRADO 2 máquinas ------------ 6 mil garrafas ------------ x
Veja que se aumentar o tempo de trabalho quer dizer
100 que serão engarrafados mais refrigerantes (direta) e
se aumentar o tempo de trabalho quer dizer que são Precisamos transformar em porcentagem, ou seja,
menos máquinas trabalhando (inversa). vamos multiplicar a fração por 100:
4 5000 2
= # 1 x 100 = 25%
X 6000 3
4
2·X·5 = 4·6·3
10X = 72 Soma e Subtração de Porcentagem
x = 7, 2 horas (7 horas + 0,2 horas = 7 horas + 0,2 ×
60 min = 7 horas e 12 minutos) As operações de soma e subtração de porcentagem
Obs: Para transformar horas em minutos, basta são as mais comuns. É o que acontece quando se diz
multiplicarmos o número por 60 min. Logo, 0,2 que um número excede, reduziu, é inferior ou é supe-
horas = 0,2 x 60 = 120/10 = 12 min. rior ao outro em tantos por cento. A grandeza inicial
corresponderá sempre a 100%. Então, basta somar ou
Resposta: Letra C.
subtrair o percentual fornecido dos 100% e multipli-
car pelo valor da grandeza.
PORCENTAGEM Exemplo 1: Paulinho comprou um curso de 200
horas-aula. Porém, com a publicação do edital, a esco-
A porcentagem é uma medida de razão com base la precisou aumentar a carga horária em 15%. Qual o
100. Ou seja, corresponde a uma fração cujo denomi- total de horas-aula do curso ao final?
nador é 100. Vamos observar alguns exemplos e notar Inicialmente, o curso de Paulinho tinha um total
como podemos representar um número porcentual. de 200 horas-aula que correspondiam a 100%. Com o
aumento porcentual, o novo curso passou a ter 100%
30% = 30 (forma de fração) + 15% das aulas inicialmente previstas, portanto,, o
100 total de horas-aula do curso será:
30
30% = = 0,3 (forma decimal) (1 + 0,15) x 200 = 1,15 x 200 = 230 horas-aula.
100
30 3
30% =
100
=
10
(forma de fração simplificada) Dica
A avaliação do crescimento ou da redução per-
Sendo assim, a razão 30% pode ser escrita de centual deve ser feita sempre em relação ao
várias maneiras: valor inicial da grandeza.
Final - Inicial
30 3 Variação percentual =
30% = = 0,3 = Inicial
100 10
Também é possível fazer a conversão inversa, isto Veja mais um exemplo para podermos fixar
é, transformar um número qualquer em porcentual. melhor.
Para isso, basta multiplicar por 100. Veja: Exemplo 2: Juliano percebeu que ainda não assis-
tiu a 200 aulas do seu curso. Ele deseja reduzir o
25 x 100 = 2500% número de aulas não assistidas a 180. É correto afir-
0,35 x 100 = 35% mar que, se Juliano chegar às 180 aulas almejadas, o
0,586 x 100 = 58,6% número terá caído 20%?
A variação percentual de uma grandeza corres-
Número Relativo ponde ao índice:
Variação percentual =
A porcentagem traz uma relação entre uma parte e
um todo. Quando dizemos 10% de 1000, o 1000 corres- Final - Inicial 180 - 200 20
= =– = - 0,10
ponde ao todo. Já o 10% corresponde à fração do todo Inicial 200 200
que estamos especificando. Para descobrir a quanto
Como o resultado foi negativo, podemos afirmar RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
isso corresponde, basta multiplicar 10% por 1000.
que houve uma redução percentual de 10% nas aulas
10 ainda não assistidas por Juliano. O enunciado está
10% de 1000 = 100 x 1000 = 100 errado ao afirmar que essa redução foi de 20%.
A seguir, analise os exercícios que seguem para
Dessa maneira, 1000 é o todo, enquanto 100 é a fixar seus conhecimentos acerca do assunto.
parte que corresponde a 10% de 1000.
Quando o todo varia, a porcentagem também 1. (CEBRASPE-CESPE — 2020) Em determinada loja,
varia, veja um exemplo: uma bicicleta é vendida por R$ 1.720 à vista ou em
Roberto assistiu 2 aulas de Matemática Financeira. duas vezes, com uma entrada de R$ 920 e uma par-
Sabendo que o curso que ele comprou possui um total cela de R$ 920 com vencimento para o mês seguinte.
de 8 aulas, qual é o percentual de aulas já assistidas Caso queira antecipar o crédito correspondente ao
por Roberto? valor da parcela, a lojista paga para a financeira uma
O todo de aulas é 8. Para descobrir o percentual, taxa de antecipação correspondente a 5% do valor da
devemos dividir a parte pelo todo e obter uma fração. parcela.
Com base nessas informações, julgue o item a seguir.
2
=
1 Na compra a prazo, o custo efetivo da operação de finan-
8 4 ciamento pago pelo cliente será inferior a 14% ao mês. 101
( ) CERTO ( ) ERRADO Resposta: Letra D.

Valor da bicicleta =1720,00 4. (FCC — 2018) Em uma pesquisa 60% dos entrevista-
Parcelado = 920,00 (entrada) + 920,00 (parcela) dos preferem suco de graviola e 50% suco de açaí.
Na compra a prazo, o agente vai pagar 920,00 Se 15% dos entrevistados gostam dos dois sabores,
(entrada), logo vai sobrar (1720-920 = 800,00) então, a porcentagem de entrevistados que não gos-
No próximo mês é preciso pagar 920,00 ou seja tam de nenhum dos dois é de:
800,00 + 120,00 de juros. Agora é pegar 120,00
(juros) e dividir por 800,00 resultado: a) 80%.
120,00/800,00 = 0,15% ao mês. b) 61%.
A questão diz que seria inferior a 0,14%, ou seja, c) 20%.
está errada. d) 10%.
Resposta: Errado. e) 5%.
2. (CEBRASPE-CESPE — 2019) Na assembleia legislati-
Vamos dispor as informações em forma de conjun-
va de um estado da Federação, há 50 parlamentares,
tos para facilitar nossa resolução:
entre homens e mulheres. Em determinada sessão
plenária estavam presentes somente 20% das deputa- Graviola Açaí
das e 10% dos deputados, perfazendo-se um total de 7
parlamentares presentes à sessão.
Infere-se da situação apresentada que, nessa assem-
60% - 15% = 15% 50% - 15% =
bleia legislativa, havia:
45% 35%
a) 10 deputadas.
b) 14 deputadas. Nenhum = x
c) 15 deputadas.
Vamos somar todos os valores e igualar ao total que
d) 20 deputadas.
é 100%: 45% + 15% + 35% + X = 100%
e) 25 deputadas.
95% + X = 100%
X = 5%.
50 parlamentares
Resposta: Letra E.
Deputadas = X
Deputados = 50-X
Compareceram 20% x e 10% (50-x), totalizando 7 5. (FUNCAB — 2015) Adriana e Leonardo investiram R$
parlamentares. Não sabemos a quantidade exata de 20.000,00, sendo o 3/5 desse valor em uma aplicação
cada sexo. Vamos montar uma equação e achar o que gerou lucro mensal de 4% ao mês durante dez
valor de X. meses. O restante foi investido em uma aplicação,
20% x + 10% (50-x) = 7 que gerou um prejuízo mensal de 5% ao mês, durante
20/100 . x + 10/100 . (50-x) = 7 o mesmo período. Ambas as aplicações foram feitas
2/10 . x + 1/10 . (50-x) = 7 no sistema de juros simples.
2x/10 + 50 - x/10 = 7 (faz o MMC) Pode-se concluir que, no final desses dez meses, eles
2x + 50 - x = 70 tiveram:
2x - x = 70 - 50
x = 20 deputadas fazem parte da Assembleia a) prejuízo de R$2.800,00.
Legislativa. b) lucro de R$3.200,00.
Resposta: Letra D. c) lucro de R$2.800,00.
d) prejuízo de R$6.000,00.
3. (VUNESP — 2016) Um concurso recebeu 1500 ins- e) lucro de R$5.000,00.
crições, porém 12% dos inscritos faltaram no dia da
prova. Dos candidatos que fizeram a prova, 45% eram 3/5 de 20.000,00 = 12.000,00
mulheres. Em relação ao número total de inscritos, o 12.000,00 · 4% = 480,00
número de homens que fizeram a prova corresponde a 480 · 10 (meses) = 4.800 (juros)
uma porcentagem de: O que sobrou 20.000,00 - 12.000,00 = 8.000,00. Apli-
cação que foi investida e gerou prejuízo de 5% ao
a) 45,2%. mês, durante 10 meses:
b) 46,5%. 8.000,00 · 5% = 400,00
c) 47,8%. 400 · 10 meses= 4.000
d) 48,4%. Portanto 20.000,00 + 4.800(juros) = 24,800,00 -
e) 49,3%. 4.000= 20.800,00 /10 meses= 2.080,00 lucros.
Resposta: Letra C.
Veja que se 12% faltaram, então 88% fizeram a
prova. JUROS SIMPLES E COMPOSTO
Pessoas presentes (88%) e dessas 45% eram mulhe-
res e 55% eram homens. Portanto, basta multiplicar Juros Simples
o percentual dos homens pelo total:
55% de 88% das pessoas que fizeram a prova; ou A premissa, base da matemática financeira é a
0,55 x 0,88 = 0,484. seguinte: as pessoas e as instituições do mercado
Transformando em porcentagem preferem adiantar os seus recebimentos e retardar
102 0,484 x 100 = 48,4%. os seus pagamentos. Do ponto de vista estritamente
racional, é melhor pagar o mais tarde possível caso Podemos substituir 1 ano por 12 meses, para dei-
não haja incidência de juros (ou caso esses juros xar os valores da coluna da direita na mesma unidade
sejam inferiores ao que você pode ganhar aplicando temporal, temos:
o dinheiro).
“Juros” é o termo utilizado para designar o “preço 12% ao ano ---------------------- 12 meses
do dinheiro no tempo”. Quando você pega certa quan- Taxa bimestral ------------------ 2 meses
tia emprestada no banco, o banco te cobrará uma
remuneração em cima do valor que ele te emprestou, Efetuando a multiplicação cruzada, temos:
pelo fato de deixar você ficar na posse desse dinhei-
ro por um certo tempo. Essa remuneração é expressa 12% x 2 = Taxa bimestral x 12
pela taxa de juros. Taxa bimestral = 2% ao bimestre.
Nos juros simples, a incidência recorre sempre
sobre o valor original. Veja um exemplo para melhor Duas taxas de juros são equivalentes quando são
entender. capazes de levar o mesmo capital inicial C ao montan-
Exemplo 1: te final M após o mesmo intervalo de tempo.
Digamos que você emprestou 1000,00 reais, em um Uma outra informação importante e que você deve
regime de juros simples de 5% ao mês para um ami- memorizar é que o cálculo de taxas equivalentes
go,, o qual ficou de quitar o empréstimo após 5 meses. quando estamos no regime de juros simples pode ser
entendido assim: 1% ao mês equivale a 6% ao semes-
Dessa forma, teremos o seguinte:
tre ou 12% ao ano e levarão o mesmo capital inicial
C ao mesmo montante M após o mesmo período de
CAPITAL tempo.
EMPRESTADO VALOR REAJUSTADO
(1000,00)
É relevante também você saber que no regime de
juros simples, taxas de juros proporcionais são, tam-
1° mês = 1000,00 1000,00 + (5% de 1000,00) = 1050,00 bém, taxas de juros equivalentes.
2° mês = 1050,00 1050,00 + (5% de 1000,00) = 1100,00 Abaixo, realize alguns exercícios para colocar seus
3° mês = 1100,00 1100,00 + (5% de 1000,00) = 1150,00 conhecimentos em prática.
4° mês = 1150,00 1150,00 + (5% de 1000,00) = 1200,00
1. (FEPESE — 2018) Uma TV é anunciada pelo preço
5° mês = 1200,00 1200,00 + (5% de 1000,00) = 1250,00 de R$ 1.908,00 para pagamento em 12 parcelas de
159,00. A mesma TV custa R$ 1.410,00 para paga-
Ao final do 5° mês você terá recebido 250,00 reais mento à vista. Portanto o juro simples mensal incluído
de juros. na opção parcelada é:
Fórmulas utilizadas em juros simples:
a) Menor que 2%.
b) Maior que 2% e menor que 2,5%.
J=C·i·t c) Maior que 2,5% e menor que 2,75%.
d) Maior que 2,75% e menor que 3%.
M=C+J e) Maior que 3%.

M = C · (1 + i ·J) 1.908 - 1.410 = 498 (juros durante 12 meses)


Onde, J=C·I·t
498 = 1410 · 12 · i / 100
z J = juros; 49800 = 16920i
z C = capital; i = 49800/16920
z i = taxa em percentual (%); i = 2,94%. Resposta: Letra D.
z t = tempo;
z M = montante. 2. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Uma pessoa atrasou em
15 dias o pagamento de uma dívida de R$ 20.000, cuja
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
Taxas Proporcionais e Equivalentes taxa de juros de mora é de 21% ao mês no regime de
juros simples.
Acerca dessa situação hipotética, e considerando o
Para aplicar corretamente uma taxa de juros, é im-
mês comercial de 30 dias, julgue o item subsequente.
portante saber a unidade de tempo sobre a qual a taxa
No regime de juros simples, a taxa de 21% ao mês é
de juros é definida. Isto é, não adianta saber apenas
equivalente à taxa de 252% ao ano.
que a taxa de juros é de “5%”, é preciso saber se essa
taxa é mensal, bimestral, anual etc. Dizemos que duas ( ) CERTO ( ) ERRADO
taxas de juros são proporcionais quando guardam a
mesma proporção em relação ao prazo. Por exemplo, No regime simples, sabemos que taxas propor-
12% ao ano é proporcional a 6% ao semestre, e tam- cionais são também equivalentes. Como temos 12
bém é proporcional a 1% ao mês. meses no ano, a taxa anual proporcional a 21%am
Basta efetuar uma regra de três simples. Para é, simplesmente:
obtermos a taxa de juros bimestral, por exemplo, que 21% x 12 = 252% ao ano
é proporcional à taxa de 12% ao ano: Esta taxa de 252% ao ano é proporcional e também
é equivalente a 21% ao mês. Portanto, o item está
12% ao ano ----------------------- 1 ano certo.
Taxa bimestral ------------------ 2 meses Resposta: Certo. 103
3. (FUNDATEC — 2020) Qual foi a taxa mensal de uma M = 1200 + 620 = 1820 dos lucros
aplicação, sob regime de juros simples, de um capital Resposta: Letra D.
de R$ 3.000,00, durante 4 bimestres, para gerar juros
de R$ 240,00? Juros Compostos

a) 8%. Imagine que você pegou um empréstimo de


b) 5%. R$10.000,00 no banco, cujo pagamento deve ser rea-
c) 3%. lizado após 4 meses, à taxa de juros de 10% ao mês.
d) 2%. Ficou combinado que o cálculo de juros de cada mês
e) 1%.
será feito sobre o total da dívida no mês anterior, e
não somente sobre o valor inicialmente emprestado.
J = 240 Neste caso, estamos diante da cobrança de juros com-
C = 3.000
postos. Podemos montar a seguinte tabela:
i=?
t = 4 bimestres, ou seja, 4 · 2 = 8 meses.
Substituindo: MÊS DO EMPRÉSTIMO 10.000,00
J=C·i·t 1º MÊS 11.000,00
240 = 3000 · i · 8
240 = 24000 · i 2º MÊS 12.100,00
i = 240 / 24000 3º MÊS 13.310,00
i = 0,01 ou 1% 4º MÊS 14.641,00
Resposta: Letra E.
Logo, ao final de 4 meses você deverá devolver
4. (VUNESP — 2020) Um capital de R$ 1.200,00, aplicado ao banco R$14.641,00 que é a soma da dívida inicial
no regime de juros simples, rendeu R$ 65,00 de juros.
(R$10.000,00) e de juros de R$4.641,00.
Sabendo-se que a taxa de juros contratada foi de 2,5% ao
Fórmula utilizada em juros compostos:
ano, é correto afirmar que o período da aplicação foi de:

a) 20 meses. M = C · (1 + i)t
b) 22 meses.
c) 24 meses. Poderíamos ter utilizado a fórmula no nosso exem-
d) 26 meses. plo. Veja:
e) 30 meses.
M = 10000 x (1 + 10%)4
J = c. i. t/100
65 = 1.200 x 2,5 x t/100 M = 10000 x (1 + 0,10)4
65 = 30t M = 10000 x (1,10)4
t = 65/30 x 12
t = 26 meses M = 10000 x 1,4641
Resposta: Letra D.
M = 14.641,00 reais
5. (IBADE — 2019) Juliana investiu R$ 5.000,00, a juros
Podemos fazer a comparação entre juros simples e
simples, em uma aplicação que rende 3% ao mês,
compostos. Observe a tabela abaixo:
durante 8 meses. Passados 8 meses, Juliana retirou
todo o dinheiro e investiu somente metade em uma
outra aplicação, a juros simples, a uma taxa de 5% ao JUROS SIMPLES JUROS COMPOSTOS
mês por mais 4 meses. O total de juros arrecadado por Mais onerosos se t < 1 Mais onerosos se t > 1
Juliana após os 12 meses foi:
Mesmo valor se t = 1 Mesmo valor se t = 1
a) R$ 1.200,00. Juros capitalizados no final Juros capitalizados periodi-
b) R$ 1440,00. do prazo camente (“juros sobre juros”)
c) R$ 620,00. Crescimento linear (reta) Crescimento exponencial
d) R$ 1820,00.
e) R$ 240,00. Valores similares para pra- Valores similares para pra-
zos e taxas curtos zos e taxas curtos
J=C·i·t
J= 5000 · 0,03 · 8 Juros Compostos – Cálculo do Prazo
J= 150 · 8
J = 1200 de lucro Nas questões em que é preciso calcular o prazo,
Montante do aplicado com lucro M= C + J você deverá utilizar logaritmos, visto que o tempo “t”
M=5000 + 1200 está no expoente da fórmula de juros compostos. A
M = 6200 montante inicial e lucro propriedade mais importante a ser lembrada é que,
Nova aplicação de metade que lucrou 6200 / 2 =3100 sendo dois números A e B, então:
J=C·i·t
J = 3100 · 0,05 · 4 log AB = B × log A
J = 155 · 4
J = 620 lucro da nova aplicação Significa que o logaritmo de A elevado ao expoente
104 Somatório dos lucros: B é igual a multiplicação de B pelo logaritmo de A.
Uma outra propriedade bastante útil dos logarit- 2. (FCC — 2017) O montante de um empréstimo de 4
mos é a seguinte: anos da quantia de R$ 20.000,00, do qual se cobram
juros compostos de 10% ao ano, será igual a:

log bAl = 𝑙𝑜𝑔𝐴 − 𝑙𝑜𝑔B a) R$ 26.000,00.


B
b) R$ 28.645,00.
Isto é, o logaritmo de uma divisão entre A e B é c) R$ 29.282,00.
igual à subtração dos logaritmos de cada número. d) R$ 30.168,00.
Também, é importante ter em mente que “logA” e) R$ 28.086,00.
significa “logaritmo do número A na base 10”.
Observe um exemplo: Temos um prazo de t = 4 anos, capital inicial C =
No regime de juros compostos com capitalização 20000 reais, juros compostos de j = 10% ao ano. O
mensal à taxa de juros de 1% ao mês, a quantidade de montante final é:
meses que o capital de R$100.000 deverá ficar investido M = C x (1+j)t
para produzir o montante de R$120.000 é expressa por:
M = 20000 x (1+0,10)4
M = 20000 x 1,14
log2, 1
M = 20000 x 1,4641
log1, 01 M = 2 x 14641
M = 29282 reais
Temos a taxa j=1% am, capital C=100.000 e mon- Resposta: Letra C.
tante M=120.000. Na fórmula de juros compostos:
3. (FGV — 2018) Certa empresa financeira do mundo
M = C x (1+j)t real cobra juros compostos de 10% ao mês para os
120000 = 100000 x (1+1%)t empréstimos pessoais. Gustavo obteve nessa empre-
sa um empréstimo de 6.000 reais para pagamento,
12 = 10 x (1,01)t incluindo os juros, três meses depois.
1,2 = (1,01)t O valor que Gustavo deverá pagar na data do venci-
mento é:
Podemos aplicar o logaritmo dos dois lados:
a) 6.600 reais.
log1,2 = log (1,01)t b) 7.200 reais.
c) 7.800 reais.
log1,2 = t · log 1,01 d) 7.986 reais.
log1, 1 e) 8.016 reais.
t=
log1, 01
Aqui foram dados C = 6000 reais, i = 10% a m e t = 3
meses. Aplicando a fórmula, temos:
Logo, questão errada. M = C x (1 + j)t
A seguir, pratique um pouco mais sobre o conteú- M = 6000 x (1,1)³
do estudado analisando as questões de bancas varia- M = 6000 x 1,331
das que seguem. M = 7986 reais
Resposta: Letra D.
1. (FCC — 2017) A Cia. Escocesa, não tendo recursos
para pagar um empréstimo de R$ 150.000,00 na data
4. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Um indivíduo investiu a
do vencimento, fez um acordo com a instituição finan-
quantia de R$ 1.000 em determinada aplicação, com
ceira credora para pagá-la 90 dias após a data do
taxa nominal anual de juros de 40%, pelo período de 6
vencimento. Sabendo que a taxa de juros compostos
meses, com capitalização trimestral. Nesse caso, ao
cobrada pela instituição financeira foi 3% ao mês, o
final do período de capitalização, o montante será de
valor pago pela empresa, desprezando-se os centa-
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
vos, foi, em reais:
a) R$ 1.200.
a) 163.909,00. b) R$ 1.210.
b) 163.500,00. c) R$ 1.331.
c) 154.500,00. d) R$ 1.400.
d) 159.135,00. e) R$ 1.100.
e) 159.000,00.
Temos a taxa de 40% a. a. com capitalização trimes-
Temos uma dívida de C = 150.000 reais a ser paga após tral, o que resulta em uma taxa efetiva de 40%/4 =
t = 3 meses no regime de juros compostos, com a taxa 10% ao trimestre. Em t = 6 meses, ou melhor, t = 2
de j = 3% ao mês. O montante a ser pago é dado por: trimestres, o montante será:
M = C x (1+j)t M = C x (1+j)t
M = 150.000 x (1+0,03)3 M = 1.000 x (1+0,10)2
M = 150.000 x (1,03)3 M = 1.000 x 1,21
M = 150.000 x 1,092727 M = 1.210 reais
M = 15 x 10927,27 Resposta: Letra B.
M = 163.909,05 reais
Resposta: Letra A. 105
5. (CEBRASPE-CESPE — 2017) Julgue o item seguinte, c) 15.
relativo à matemática financeira. d) 12.
Considere que dois capitais, cada um de R$ 10.000, e) 21.
tenham sido aplicados, à taxa de juros de 44% ao
mês — 30 dias —, por um período de 15 dias, sendo Seja x a quantidade de alunos matriculados no cur-
um a juros simples e outro a juros compostos. Nes- so, sabemos que 2/3 são mulheres. Assim, temos
sa situação, o montante auferido com a capitalização 2x/3 mulheres e x/3 homens. Sabemos que 2/5 das
no regime de juros compostos será superior ao mon- mulheres e todos os homens estavam presentes,
tante auferido com a capitalização no regime de juros totalizando 27 pessoas. Temos:
simples.
2 2x x
# + = 27
( ) CERTO ( ) ERRADO 5 3 3
4x x
Veja que a taxa de juros é mensal, e o prazo da apli- + = 27
15 3
cação foi de t = 0,5 mês (quinze dias).
Quando o prazo é fracionário (inferior a 1 unida- 5x + 4x
= 27
de temporal), juros simples rendem MAIS que juros 15
compostos. Logo, o montante auferido com a capi-
talização no regime de juros compostos será INFE- 9x = 27 × 15
RIOR ao montante auferido no regime simples. 9x = 405
Resposta: Errado.
x=45
PROBLEMAS ARITMÉTICOS O total de homens é igual a x/3 = 45/3 = 15. Resposta:
Letra C.
Vimos no início dessa apostila toda a parte teóri-
ca que nos dá suporte para que cheguemos até aqui
3. (FGV — 2017) Fernando teve três filhos em três anos
e consigamos resolver mais algumas questões sobre
seguidos. Quando ele fez 39 anos reparou que essa
esse tópico. Todavia antes disso, lembre-se que, geral-
sua idade era igual à soma das idades dos seus três
mente, os tópicos como fração, razão e proporção e
filhos. Nesse dia, o seu filho mais velho tinha:
porcentagem são os mais cobrados e por isso este é o
nosso foco principal. Mãos à obra.
a) 12 anos.
1. (FGV — 2015) Francisco vendeu seu carro e, do valor b) 13 anos.
recebido, usou a quarte parte para pagar dívidas, fican- c) 14 anos.
do então com R$ 21.600,00. Francisco vendeu seu car- d) 15 anos.
ro por: e) 16 anos.

a) R$ 27.600,00. Perceba que os filhos nasceram em anos seguidos,


b) R$ 28.400,00. então, podemos dizer que o mais novo tem X anos,
c) R$ 28.800,00. os demais têm X+1 e X+2 anos de idade. Sabemos
d) R$ 29.200,00. que a idade de Fernando (39) é igual à soma das ida-
e) R$ 29.400,00. des dos filhos, ou seja,
39 = X + X+1 + X+2
Aqui temos uma questão clássica sobre problemas 39 = 3X + 3
com frações. Para resolver, você precisa ficar atento 3X = 39 – 3
ao enunciado da questão para extrair os dados da 3X = 36
melhor maneira possível. Veja: X = 12
Se Francisco usou 1/4 do valor recebido para pagar O filho mais velho tem X+2 = 12+2= 14 anos.
dívidas, a fração restante é igual a 3/4, pois essa é Resposta: Letra C.
a fração complementar para completar um inteiro
¼ + ¾ = 1. 4. (VUNESP — 2018) Três quartos do total de uma ver-
Assim, 3/4 do valor do carro equivalem a R$
ba foi utilizada para o pagamento de um serviço A, e
21.600,0. Qual o valor do carro todo?
um quinto do que não foi utilizado para o pagamento
3/4x = 21600
desse serviço foi utilizado para o pagamento de um
4x * 21600 = 3
serviço B. Se, da verba total, após somente esses
x = 28800.
Resposta: Letra C. pagamentos, sobraram apenas R$ 200,00, então, é
verdade que o valor utilizado para o serviço A, quando
2. (FCC — 2016) Em um curso de informática, 2/3 dos alu- comparado ao valor utilizado para o serviço B, corres-
nos matriculados são mulheres. Em certo dia de aula, ponde a um número de vezes igual a:
2/5 das mulheres matriculadas no curso estavam pre-
sentes e todos os homens matriculados estavam pre- a) 13.
sentes, o que totalizou 27 alunos (homens e mulheres) b) 14.
presentes na aula. Nas condições dadas, o total de alu- c) 15.
nos homens matriculados nesse curso é igual a: d) 16.
e) 17.
a) 18.
106 b) 10
Seja “X” o valor da verba. O serviço A foi pago com Caso S3 complete 40 anos de idade em 2020, S1 seja
¾ dessa verba: ¾ de x = 3x/4. Não foi utilizado, por- 8 anos mais novo que S3 e S2 seja 2 anos mais velho
que S4, se em 2020 a soma de suas idades for igual a
tanto, ¼ de x = x/4.
140 anos, então é correto afirmar que S2 nasceu antes
O serviço B foi pago com um quinto do que não foi
de 1984.
utilizado do serviço A.
Logo: 1/5 de x/4 = x/20. ( ) CERTO ( ) ERRADO
Após esses dois pagamentos, restaram 200 reais.
Portanto: S3 tem 40 anos em 2020. S1 é 8 anos mais novo que
x - 3x - x = 200 S3, ou seja, em 2020 sabemos que S1 terá 32 anos de
4 20 idade. Como S2 é 2 anos mais velho que S4, podemos
20x - 15x - x
= 200 dizer que:
20 Idade de S2 = Idade de S4 + 2
4x Usando X1, X2, X3 e X4 para designar as respectivas
= 200
20 idades no ano de 2020, podemos escrever que:
4x = 200 × 20 X2 = X4 + 2
4x =4000 Sabemos que a soma das idades, em 2020, é igual a
x =1000 140 anos:
X1 + X2 + X3 + X4 = 140
Os valores usados para pagar os serviços A e B
32 + (X4+2) + 40 + X4 = 140
foram:
74 + 2X4 = 140
Serviço A = 3000/4 = 750 reais 2. X4 = 66
Serviço B = 1000/20 = 50 reais X4 = 33
Logo, o valor de A em relação a B é: 750/50 = 15 Logo, X2 = X4 + 2 = 33 + 2 = 35 anos em 2020.
vezes maior. E S2 deve ter nascido em 2020 – 35 = 1985. Não
Resposta: Letra C. podemos afirmar que S2 nasceu antes de 1984.
Resposta: Errado.
5. (CEBRASPE-CESPE — 2017) Em um tanque A, há uma
mistura homogênea de 240 L de gasolina e 60 L de PROBLEMAS GEOMÉTRICOS E MATRICIAIS
álcool; em outro tanque B, 150 L de gasolina estão
misturados homogeneamente com 50 L de álcool. Antes de começar a resolver exercícios sobre esse
assunto, é necessário ter o entendimento adequado
A respeito dessas misturas, julgue os itens
sobre geometria e matrizes. Para isso, vamos expla-
subsequentes.
nar a parte teórica sobre geometria e matriz e logo em
Para que a proporção álcool/gasolina no tanque A seguida iremos resolver algumas questões envolven-
fique igual à do tanque B é suficiente acrescentar no do problemas geométricos e matriciais.
tanque A uma quantidade de álcool que é inferior a 25
L. GEOMETRIA

( ) CERTO ( ) ERRADO Ponto, Reta e Plano

A proporção álcool/gasolina do tanque B é de 50/150 Quando falamos sobre ponto, reta e plano, deve-
= 1/3. mos ficar atentos que a parte mais importante é em
relação à sua representação geométrica e espacial.
Suponha que precisamos acrescentar uma quanti-
dade X de álcool no tanque A para ele chegar nesta
z Representação Simbólica:
mesma proporção. A quantidade de álcool passará
a ser de 60 + X e a de gasolina será 240, de modo que „ Os pontos são representados por letras maiús-
ficaremos com a razão: culas do nosso alfabeto, ou seja, A, B, C etc;
1/3 = (60+X) / 240 „ As retas são representadas pelas letras minús-
Como o 240 está dividindo o lado direito, vamos culas do nosso alfabeto, ou seja, a, b, c etc; RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
passá-lo para o lado esquerdo multiplicando: „ Os planos são representados pelas letras gregas
240 × 1/3 = 60 + X minúsculas, ou seja, β, ∞, α etc.
80 = 60 + X
60 + X = 80 z Representação Gráfica:
X = 80 - 60
r
X = 20 litros.
Resposta: Certo. P
α
ponto
6. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Os indivíduos S1, S2, S3
e S4, suspeitos da prática de um ilícito penal, foram
interrogados, isoladamente, nessa mesma ordem. No reta plano
depoimento, com relação à responsabilização pela
prática do ilícito, S1 disse que S2 mentiria; S2 disse
Vamos, agora, há alguns pontos interessantes:
que S3 mentiria; S3 disse que S4 mentiria.
A partir dessa situação, julgue os itens a seguir.
107
„ Passando por um ponto “P” qualquer podemos Por duas retas distintas
traçar infinitas retas e dois pontos determinam
uma única reta. Veja: α
Pelo ponto P podemos Os pontos A e B definem a
traçar infinitas retas posição de uma reta
S

A
P r

B z Razão entre Segmentos de Reta:

Quando dois pontos delimitam um conjunto de


pontos numa mesma reta, chamamos de segmento de
„ Pontos colineares são aqueles que pertencem à reta e podemos representar por duas letras como, por
mesma reta. exemplo AB. O início do segmento é em A e termina
em B. Veja a seguir:

C Reta s
B s
A B

A c Segmento de Reta AB
A B t
r
COLINEARES
r
Semirreta AB
NÃO COLINEARES
A B u

„ Um plano pode ser determinado de algumas z Feixe de Retas Paralelas:


maneiras. Veja:
Um conjunto de três ou mais retas paralelas num
Três pontos não colineares: plano é chamado feixe de retas paralelas. Temos,
ainda, uma reta que corta a reta de feixe que é chama-
C α da de reta transversal. Veja:

s t

B a
A
b

c
Por uma reta e um ponto fora dela:
d
P α

z Teorema de Tales:

Quando temos um feixe de retas paralelas sobre


r A B
duas transversais quaisquer, determinamos segmen-
tos proporcionais. Veja a figura a seguir para entender
um pouco mais:
Por duas retas concorrentes:
s t

α A D a

S C B E
b

r A B C F
c

D G
d
108
Vamos destacar algumas proporções: Observação: os ângulos de 0 e 180º são denomina-
dos de ângulos rasos.
z AB ⁄ BC = DE ⁄ E F; Outra classificação de ângulos é em relação à
z BC ⁄ AB = EF ⁄ DE; medida:
z AB ⁄ D E = BC ⁄ E F;
z D E ⁄ AB = EF ⁄ BC. z Ângulos congruentes: são congruentes (iguais)
quando possuem a mesma medida;
Ângulos z Ângulos complementares: são complementares
quando a soma entre os ângulos é 90o. Ex.: 60° +
Ângulo é a medida de uma abertura delimitada 30° = 90°. Os ângulos 30° e 60° são complementares
por duas semi-retas. Veja na figura a seguir o ângulo um do outro;
A, que é a abertura delimitada pelas duas semi-retas z Ângulos suplementares: são suplementares quan-
do a soma entre os ângulos é 180o. Ex.: 110° + 70°
desenhadas:
= 180°. Os ângulos 70° e 110° são suplementares
entre si.

A semi-reta que divide um ângulo em duas partes


iguais é denominada Bissetriz. Veja:
A

A/2
O ponto desenhado acima no encontro entre as
duas semi-retas é denominado “Vértice do ângulo”. A/2
Um ângulo é medido de acordo com a sua abertura.
Dizemos que uma abertura completa mede 360 graus
(360º). Veja: Agora observe esse cruzamento de retas. Vamos
tirar algumas conclusões interessantes.

A A
C
D

Os ângulos formados pelo cruzamento das retas


são denominados ângulos opostos pelo vértice e tem
Como 360o representam uma volta completa, 180º o mesmo valor, ou seja, A = C e B = D.
representam meia-volta, como você pode ver a seguir Os ângulos A e B são suplementares, pois a soma
entre eles é de 180o, assim como a soma dos ângulos B
180° e C, C e D, e D e A.
Ângulos opostos pelo vértice têm a mesma medida.
Uma outra unidade de medida de ângulos é cha-
mada de “radianos”. Dizemos que 180o correspondem
a π (“pi”) radianos. Vamos usar uma regra de três sim-
ples para convertermos qualquer ângulo em radia-
Por sua vez, 90o representa metade de meia-volta, nos. Veja, vamos converter 60o para radianos:
isto é, ¼ de volta. Esse ângulo é conhecido como ângu-
lo reto e tem uma representação bem característica: 180° ---------------------------------- π radianos RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
60° ------------------------------------ x radianos
180x = 60 π
60r r
x= = radianos
180 3

90° Polígonos

Polígono é qualquer figura geométrica fechada for-


mada por uma série de segmentos de reta. Observe:
Os ângulos podem ser classificados quanto ao
valor do ângulo em relação à 90°:

z Ângulos agudos: são aqueles ângulos inferiores à


90°. Ex.: 30o, 42o, 63o;
z Ângulos obtusos: são aqueles ângulos superiores
à 90o. Ex.: 100o, 125o e 155o. 109
Os elementos de qualquer polígono são: 1. (IDECAN — 2013) No triângulo a seguir, o lado KL é
paralelo ao segmento DE.
z Lados: são os segmentos de reta que formam o
J
polígono (a figura a seguir, um pentágono, possui 5
segmentos de reta, isto é, 5 lados);
z Vértices: são os pontos de junção de dois segmen-
tos de reta consecutivos. Estão marcados com x
letras maiúsculas na figura seguir; D E
z Diagonais: são os segmentos de reta que unem 115°
dois vértices não consecutivos. São as retas verme-
lha traçadas no polígono a seguir:
a 55°
A
K L

A soma dos valores dos ângulos “x” e “a” é


B E
a) 170°.
b) 180°.
c) 185°.
d) 190°.
C D
e) 195°.

Para calcular o número de diagonais de um polí- J


gono, vamos precisar levar em consideração os vér-
tices (lados). Dessa forma, chegaremos na seguinte
fórmula:
55° x
a
D E
n # (n - 3)
D= 115°
2

Veja que o pentágono (n = 5) possui 5 diagonais.


a 55°

z A soma do ângulo interno e do ângulo externo de K L


um mesmo vértice é igual a 180º;
z A soma dos ângulos internos de um polígono de n Veja que podemos colocar o ângulo “a” como suple-
lados é: mentar de 115°, pois os segmentos KL e DE são
paralelos. Assim como o ângulo 55° é suplementar
S = (n – 2) × 180° do ângulo “x”. Assim,
a + 115 = 180
Dica a = 65º
------------------
A soma dos ângulos internos de um triângulo (n =
x + 55 = 180
3) é 180º e nos quadriláteros (polígonos de 4 lados) x = 125º
esta soma é 360º. Logo, x + a = 190º.
Resposta: Letra D.
Os polígonos que possuem todos os lados iguais
e todos os ângulos internos iguais (congruentes) são 2. (CONSULPLAN — 2018) A soma dos ângulos internos
chamados de polígonos regulares. Conheça algumas de um polígono regular que tem 20 diagonais é:
nomenclaturas dos principais polígonos regulares e
os seus números de lados. a) 495.
b) 720.
Nº DE Nº DE c) 990.
NOME NOME d) 1080.
LADOS LADOS
3 Triângulo 9 Eneágono
Vamos aplicar a fórmula das diagonais de um polí-
4 Quadrilátero 10 Decágono gono para descobrir o número de lados:
5 Pentágono 11 Undecágono
n # (n - 3)
6 Hexágono 12 Dodecágono D=
2
7 Heptágono ... ...
2
n - 3n
8 Octógono 20 Icoságono 20 =
2
A seguir, exercite seus conhecimentos realizando 40 = n2 - 3n
os seguintes exercícios comentados.
n2 – 3n - 40 = 0
110 Vamos achar as raízes da equação do 2° grau:
a) 40°.
- (-3) ± √(-3)2 -4 · 1 · (- 40) b) 70°.
n= c) 75°.
2·1 d) 80°.
e) 90°.
3 ± √9 + 160 Se os ângulos do triângulo se encontram na razão
n=
2:3:4, podemos chamá-los de 2x, 3x e 4x e a soma
2
dos ângulos de um triângulo qualquer é sempre
180º.
3 ± 13 Assim, 2x + 3x + 4x = 180°
n= 9x = 180°
2 x = 20°
O maior ângulo é 4x = 4 ∙ 20° = 80°
Como “n” é o número de diagonais, precisamos ape- Resposta: Letra D.
nas pegar o resultado positivo. Logo,
GEOMETRIA PLANA
3 + 13
n= = 8 lados Retângulo
2
Chamamos de retângulo um paralelogramo (polí-
Aplicando a fórmula da soma dos ângulos internos gono que tem 4 lados opostos paralelos) com todos os
de um polígono, temos: ângulos internos iguais à 90°.
S = (n – 2) × 180°
b
S = (8 – 2) × 180°
S = 1080°.
Resposta: Letra D.
h h
3. (FEPESE — 2019) Na figura abaixo, as retas r e s são
paralelas.

r
α
b

Chamamos o lado “b” maior de base, e o lado


menor “h” de altura.
β
θ Área do Retângulo
s
Para calcularmos a área, vamos fazer a multipli-
Se o ângulo α mede 44°30’ e o ângulo θ mede 55°30’, cação de sua base (b) pela sua altura (h), conforme a
então a medida do ângulo β é: fórmula:

a) 100°. A=b×h
b) 55°30’.
c) 60°. Exemplo: um retângulo com 10 centímetros de
d) 44°30”. lado e 5 centímetros de altura, a área será:
e) 80°.
A = 10cm × 5cm = 50cm2 RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
r
α
Quando trabalhamos o conceito e cálculo de áreas
das figuras geométricas, usamos a unidade ao quadra-
do que no nosso exemplo tínhamos centímetros e pas-
α samos para centímetros quadrados, que neste caso é a
β unidade de área.
θ θ
s Quadrado

β=α+θ Nada além de um retângulo no qual a base e a altu-


β = 44°30’ + 55°30’ = 99°60’ = 100° ra têm o mesmo comprimento, ou seja, todos os lados
do quadrado têm o mesmo comprimento, que chama-
Resposta: Letra A. remos de L. Veja:

4. (ESAF — 2003) Os ângulos de um triângulo encon-


tram-se na razão 2 : 3 : 4. O ângulo maior do triângulo,
portanto, é igual a:
111
L Assim, a área do losango é dada pela fórmula a
seguir:

D#d
L L A=
2

Paralelogramo

L É um quadrilátero (4 lados) com os lados opostos


paralelos entre si. Esses lados opostos possuem o mes-
mo tamanho.
A área também será dada pela multiplicação da
base pela altura (b x h). Como ambas medem L, tere- b
mos L x L, ou seja:
h
A = L2

Trapézio
b
Temos um polígono com 4 lados, sendo 2 deles
paralelos entre si, e chamados de base maior (B) e
A área do paralelogramo também é dada pela mul-
base menor (b). Temos, também, a sua altura (h) que
tiplicação da base pela altura:
é a distância entre a base menor e a base maior. Veja
na figura a seguir A=b×h

b Triângulo

Trata-se de uma figura geométrica com 3 lados.


Veja-a a seguir:
h

B
a c
Conhecendo b, B e h, podemos calcular a área do
trapézio por meio da fórmula abaixo:

(B + b) # h
A=
2
b
Losango
Para calcular a área do triângulo, é preciso conhe-
É um polígono com 4 lados de mesmo comprimen- cer a sua altura (h):
to. Veja a seguir:

L L

a c

L L h

Para calcular a área de um losango, vamos preci-


sar das suas duas diagonais: maior (D) e menor (d) de b
acordo com a figura a seguir:
O lado “b”, em relação ao qual a altura foi dada, é
chamado de base. Assim, calcula-se a área do triângu-
L L lo utilizando a seguinte fórmula:
d
b#h
A=
D 2
L L
112
Vamos conhecer os tipos de triângulos existentes: z Triângulo retângulo: possui um ângulo de 90°.

z Triângulo isósceles: é o triângulo que tem dois


lados iguais. Consequentemente, os 2 ângulos
internos da base são iguais (simbolizados na figu- B
ra pela letra A): c
a

A
a a b
c
Temos as seguintes nomenclaturas para cada lado
do triângulo. Veja:
O ângulo marcado com um ponto é o ângulo reto
A A (90º). Oposto a ele temos o lado “c” do triângulo, que
chamaremos de hipotenusa. Já os lados “a” e “b”,
C que são adjacentes ao ângulo reto, são chamados de
catetos.
O Teorema de Pitágoras nos dá uma relação entre
z Triângulo escaleno: é o triângulo que possui os a hipotenusa e os catetos, dizendo que a soma dos
três lados com medidas diferentes, tendo também quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipote-
os três ângulos internos distintos entre si: nusa: a2 = b2 + c2.
Agora vamos falar sobre algumas métricas interes-
santes que estão presentes no triângulo retângulo.

a B c

b h c
C A

b n m
C H B
z Triângulo equilátero: é o triângulo que tem todos
a
os lados iguais. Consequentemente, ele terá todos
os ângulos internos iguais:
Devemos nos atentar em relação a algumas fórmulas
que são extraídas do triângulo acima que poderão nos aju-
dar com a resolução de algumas questões. Veja quais são:
A
a a h2 = m×n
h b2 = m×a
c2 = n×a
A A
b×c = a×h
a
Essas fórmulas são chamadas de relações métricas
do triângulo retângulo. RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
Podemos calcular a altura usando a seguinte fórmula:
Círculo
a 3
h=
2 Todos os pontos estão a uma mesma distância em
relação ao centro do círculo ou circunferência. Cha-
Para calcular a área do triângulo equilátero usan- mamos de raio e geralmente é representada por “r”.
do apenas o valor da medida dos lados (a), usamos a Veja na figura a seguir:
fórmula a seguir:

2
a 3
A=
4
r

113
A área de um círculo é dada pela fórmula: A = π × círculo ( π × r2). Vejamos como calcular a área do setor
r . Na fórmula, a letra π (“pi”) representa um número
2
circular, em função do ângulo central “α”:
irracional que é, aproximadamente, igual a 3,14.
Vejamos um exemplo para calcular a área de um 360° ---------------------- π × r2
círculo com 10 centímetros de raio:
α ------------------------- Área do setor circular
A=π×r 2
Logo, área do setor circular =
A = π × (10)2
2
A = π × 100 a # rr
360c
Substituindo π por 3,14, temos:
Usando a mesma ideia, podemos calcular o com-
A = 3,14×100 = 314cm2 primento do segmento circular entre os pontos A e B,
cujo ângulo central é “α” e que o comprimento da cir-
O perímetro de uma circunferência que é a mesma cunferência inteira é 2 πr. Confira abaixo:
coisa que o comprimento da circunferência é dado por:
360° --------------------- 2 πr
C=2×π×r
α -------------------------- Comprimento do setor circular
Para exemplificar, vamos calcular o perímetro
daquela circunferência com 10cm de raio: Logo, comprimento do setor circular =

C = 2 × 3,14 × 10 a # 2rr
360c
C = 6,28 × 10 = 62,8 cm

O diâmetro (D) de uma circunferência é um seg- GEOMETRIA ESPACIAL


mento de reta que liga um lado ao outro da circun-
ferência, passando pelo centro. Veja que o diâmetro Poliedros
mede o dobro do raio, ou seja, 2r.
São figuras espaciais formadas por diversas faces,
cada uma delas sendo um polígono regular. Vamos
conhecer os principais poliedros, destacando alguns
pontos importantes como área e volumes.

D = 2r Paralelepípedo Reto-Retângulo e Cubo

c a

b
a a
Repare na figura a seguir:
O cubo é um caso particular do paralelepípedo re-
A
to-retângulo, ou seja, basta que igualemos os valores
de a = b = c.
α Para calcular o volume de um paralelepípedo reto-
-retângulo, devemos multiplicar suas três dimensões.
C B
Veja:
V=a×b×c

No caso do cubo, o volume fica:

V = a × a × = a3
Note que formamos uma região delimitada dentro
do círculo. Essa região é chamada de setor circular. As faces do paralelepípedo são retangulares,
Temos ainda um ângulo central desse setor circular enquanto as faces do cubo são todas quadradas.
simbolizado por α. Com base neste ângulo, consegui- A área total do cubo é a soma das 6 faces quadra-
mos determinar a área do setor circular e o compri- das. Ou seja,
mento do segmento de círculo compreendido entre os
pontos A e B. Sabemos que o ângulo central de uma AT = 6a2
volta completa no círculo é 360º. E também sabemos
114 a área desta volta completa, que é a própria área do
Agora, no paralelepípedo reto-retângulo, temos 2
retângulos de lados (a, b), dois retângulos de lados (b,
c) e dois retângulos de lados (b, c). Portanto, a área
total de um paralelepípedo é:
H H
AT = 2ab + 2ac + 2bc

Prismas R C

Vamos estudar os prismas retos, ou seja, aqueles R


que têm as arestas laterais perpendiculares às bases.
Os prismas são figuras espaciais bem parecidas com A área da superfície lateral do cilindro é igual a
os cilindros. O que os difere é que a base de um pris- 2πℎ e o volume do cilindro é o produto da área da
ma não é uma circunferência. base pela altura: V = πr2 × ℎ.
O prisma será classificado de acordo com a sua
base. Por exemplo, se a base for um pentágono, o pris- Esfera
ma será pentagonal.
Quando estamos estudando a esfera, precisamos
lembrar que tudo depende e gira em torno do seu raio,
ou seja, é o sólido geométrico mais fácil de trabalhar.

Prisma triangular Prisma Prisma Prisma


Pentagonal Hexagonal Quadrangular

O volume para qualquer tipo de prisma será sem-


pre o produto da área da base pela altura. Veja:

V = Ab × h

A área total de um prisma será a soma da área late-


ral com duas bases. O raio é simplesmente a distância do centro da es-
fera até qualquer ponto da sua superfície.
AT = Al + 2Ab O volume da esfera é calculado usando a seguinte
fórmula:
Cilindro 4 3
V = 3 # rr

Vamos estudar o cilindro reto cujas geratrizes são


perpendiculares às bases. Observe a figura a seguir: E a área da superfície pela fórmula a seguir:

A = 4 × πr2

Cone

Observe a figura a seguir:


base (círculo)

Altura
Geratriz RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
Geratriz
A distância entre as duas bases é chamada de altu-
ra (h). Quando a altura do cilindro é igual ao diâmetro
da base, o cilindro é chamado de equilátero.

Cilindro equilátero: ℎ = 2r
Base
A base do cilindro é um círculo. Portanto, a área da
base do cilindro é igual a πr2.
Perceba que se “desenrolarmos” a área lateral e Vamos extrair algumas informações:
““abrirmos” todo o cilindro, temos o seguinte: A base de um cone é um círculo, então a área da
base é πr2.

115
Quando “abrimos” um cone, temos seguinte figura:

m'

R
m

Temos, também, a área lateral que é dada pela fór-


A área lateral da pirâmide é dada por:
mula πrg , onde “g” é o comprimento da geratriz do
cone. Aℓ = pm′
Para calcularmos o volume de um cone, basta
sabermos que equivale a 1/3 do produto entre a área A área total da pirâmide é dada por:
da base pela altura. Veja: AT = Ab + Aℓ
2
V=
rr h O volume da pirâmide é calculado da mesma for-
3 ma que o volume do cone: 1/3 do produto da área da
base pela altura. Veja:
Em um cone equilátero a sua geratriz será igual ao
diâmetro, ou seja, 2r. Ab # h
V=
3
Pirâmides Agora, pratique um pouco mais sobre o que apren-
deu analisando as questões comentadas abaixo.
A base de uma pirâmide poderá ser qualquer polí-
gono regular, no caso estamos falando apenas de pirâ- 1. (VUNESP — 2018) Uma praça retangular, cujas medi-
mides regulares. das em metros, estão indicadas na figura, tem 160m
de perímetro.

Pirâmide Pirâmide Pirâmide


Triangular Quadrangular Pentagonal
× + 20
Figura fora de escala

Sabendo que 70% da área dessa praça estão recobertos


de grama, então, a área não recoberta com grama tem

a) 450 m2.
b) 500 m2.
c) 400 m2.
d) 350 m2.
e) 550 m2.
Pirâmide Pirâmide
Hexagonal Heptagonal Foi dado o perímetro dessa praça, que corresponde
à soma de todos os lados. Logo:
O segmento de reta que liga o centro da base a um 2x + 2(x + 20) = 160
ponto médio da aresta da base é denominado “apó- 2x + 2x + 40 = 160
tema da base”. Por sua vez, indicaremos por “m” 4x = 120
o apótema da base. E o segmento que liga o vértice x = 30 m
da pirâmide ao ponto médio de uma aresta da base A área, portanto, será:
é denominado “apótema da pirâmide”. Indicaremos Área = 30 x (30 + 20)
por m′ o apótema da pirâmide. Veja: Área = 30 x 50 = 1500 m²
Como 70% está recoberta por grama, 100 – 70 = 30%
não é recoberta. Logo:
Área não recoberta = 0,3 x 1500 = 450 m². Resposta:
116 Letra A.
2. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Os lados de um terreno Temos 4 vértices A, B, C e V. Também sabemos que
quadrado medem 100 m. Houve erro na escrituração, e temos 4 faces. O número de arestas pode ser conta-
ele foi registrado como se o comprimento do lado medis- do ou, então, obtido pela relação:
se 10% a menos que a medida correta. Nessa situação, V+F=A+2
deixou-se de registrar uma área do terreno igual a 4+4=A+2
A = 6 arestas .
a) 20 m². Resposta: Letra D.
b) 100 m².
c) 1.000 m².
5. (VUNESP — 2018) Em um reservatório com a forma
d) 1.900 m².
de paralelepípedo reto retângulo, com 2,5 m de com-
e) 2.000 m².
primento e 2 m de largura, inicialmente vazio, foram
despejados 4 m³ de água, e o nível da água nesse
A área de um quadrado é L². Inicialmente os lados
reservatório atingiu uma altura de x metros, conforme
do quadrado deveriam medir L = 100 m, portanto a
mostra a figura.
área seria A = 100² = 10000 m². Porém, L foi regis-
trado com 10% a menos, ou seja, 100 – 10% x 100 =
90 m. Logo, a área passou a ser 90² = 8100 m².
Então, a área que deixou de ser registrada foi de:
10000 – 8100 = 1900 m². Resposta: Letra D.

3. (IDECAN — 2018) A figura a seguir é composta por


losangos cujas diagonais medem 6 cm e 4 cm. A área ×
da figura mede:

2,5

Sabe-se que para enchê-lo completamente, sem trans-


a) 48 cm2. bordar, é necessário adicionar mais 3,5 m³ de água.
b) 50 cm2. Nessas condições, é correto afirmar que a medida da
c) 52 cm2.
altura desse reservatório, indicada por h na figura, é,
d) 60 cm2.
em metros, igual a
e) 64 cm2.
a) 1,25.
Sendo D e d as diagonais de um losango, sua área é
b) 1,5.
dada por:
c) 1,75.
Área = D x d / 2 = 6 x 4 / 2 = 12cm2
d) 2,0.
Como ao todo temos 5 losangos, a área total é:
5 x 12 = 60cm2. Resposta: Letra D. e) 2,5.

4. (IBFC — 2017) A alternativa que apresenta o número O volume total do reservatório é de 4 + 3,5 = 7,5m3.
total de faces, vértices e arestas de um tetraedro é: Usando a fórmula para calcular o volume, ou seja,
Volume = comprimento x largura x altura
a) 4 faces triangulares, 5 vértices e 6 arestas. 7,5 = 2,5 x 2 x h
b) 5 faces triangulares, 4 vértices e 6 arestas. 3=2xh
c) 4 faces triangulares, 4 vértices e 7 arestas. h = 1,5m
d) 4 faces triangulares, 4 vértices e 6 arestas. Resposta: Letra B.
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
e) 4 faces triangulares, 4 vértices e 5 arestas.
MATRIZES E DETERMINANTES
Um tetraedro é uma figura formada por 4 faces ape-
nas, veja: Matrizes

V Uma matriz Mmxn é uma tabela com “m linhas e n


colunas”. Os elementos desta tabela são representa-
dos na forma aij, onde “i representa a linha e j repre-
a senta a coluna” deste termo. Veja um exemplo de uma
a
matriz A2x2:
C
; E
5 -3
A A=
1 7
a
a

B Veja que temos 2 linhas e 2 colunas, ou seja, Aij =


A2x2. 117
O termo a12, por exemplo, é igual a -3. z Matriz de ordem 3
É importante saber que dizemos que a ordem des-
ta matriz é 2x2. A partir dela, podemos criar a matriz Em uma matriz quadrada de ordem 3, o determi-
transposta AT, que é construída trocando a linha de nante é calculado da seguinte forma:
cada termo pela sua coluna, e a coluna pela linha.
Repare que a ordem de AT é 2x2:
RS 1 1 2V
W
SS W
Se A = SS- 2 3 5W
W WW
< 3 7F
5 1 SS 0
AT = 7 - 1W
- T X
Então, veja o passo a passo como calcular o det(A).
Uma matriz é quadrada quando possui o mesmo
número de linhas e colunas. Foi o que aconteceu no „ Repetir as duas primeiras colunas:
nosso exemplo.
Uma matriz possui uma diagonal principal, que no 1 1 2 1 1
nosso exemplo da matriz A2x2 é formada pelos núme- -2 3 5 -2 3
ros 5 e 7. A outra diagonal é dita secundária, formada
pelos números -3 e 1. 0 7 -1 0 7

„ Multiplicar os termos no sentido da diagonal


; E
5 -3
A= principal (retas pontilhadas) e subtrair a mul-
1 7 tiplicação dos termos no sentido da diagonal
secundária (retas lisas):
Secundária Principal

Falamos que há uma matriz de identidade de or- 1 1 2 1 1


dem “n” quando a matriz quadrada possui todos os -2 3 5 -2 3
termos da diagonal principal iguais a 1 e todos os de-
0 7 -1 0 7
mais termos iguais a zero. Veja a matriz identidade de
ordem 3:
RS1 0 0VW [(1 × 3 × (-1) +1 × 5 × 0 + 2 × (-2) × 7)] - [(2 × 3 × 0 + 1 ×
SS W
SS0 1 0W
W 5 × 7 + 1 × (-2) × (-1))]
SS0 WW
0 1W (-3 + 0 – 28) – (0 + 35 + 2) =
I3 = T X
-31 – 37 = -68.

Dada uma matriz A, chamamos de inversa de A, ou Logo, o det(A) = -68.


A-1, a matriz tal que:
z Matriz de ordem 4 ou superior
A x A-1 = I (matriz identidade)
Siga os seguintes passos:
Determinantes
„ Escolher uma linha ou coluna da matriz (dê
O determinante de uma matriz é um número a ela preferência para a que tiver mais zeros);
associado. Vejamos como calcular. „ Calcular o cofator relativo a cada termo da
linha ou coluna escolhida;
z Matriz de ordem 1 „ Multiplicar cada termo da linha ou coluna
escolhida pelo seu respectivo cofator e, então,
Em uma matriz quadrada de ordem 1, o determi- somar tudo.
nante é o próprio termo que forma a matriz. Exemplo:
„ Cofator
Se A = [4], então det(A) = 4.
O cofator de uma matriz de ordem n ≥ 2 é definido
z Matriz de ordem 2 como:
Aij = (-1) i + j. Dij
Em uma matriz quadrada de ordem 2, o determi-
nante é dado pela subtração entre o produto da dia- Veja um exemplo:
gonal principal e o produto da diagonal secundária.
Veja: JK1 2 1 0N
O
KK O
KK2 3 1 0O
O
Se A = O
; E KK2 1O
5 -3
Se A =
KK
-3 2 OO
4O
1 7
2 1 1
L P
Então det(A) = 5×7 – (-3) × 1 = 38.
118
Então, devemos seguir os passos apresentados A44 = (-1)8 × (-7)
acima:
A44 = 1 × (-7)
„ Escolher uma linha ou coluna da matriz (dê A44 = -7.
preferência para a que tiver mais zeros);
Agora, podemos calcular o determinante da matriz
JK1 2 1 0N original:
KK O O Determinante = a14× A14 + a24× A24 + a34 × A34 + a44× A44
KK2 3 1 0O
O Determinante = 0A14 + 0A24 + 1.2 + 4 (-7)
KK2 O
3 2 1O
OO Determinante = 0 + 0 + 2 - 28
KK Determinante = -26
2 1 1 4O
L P As principais propriedades do determinante são:

„ Calcular o cofator relativo a cada termo da z O determinante de A é igual ao de sua transposta AT


linha ou coluna escolhida; z Se uma fila (linha ou coluna) de A for toda igual a
zero, det(A) = 0;
Os termos da quarta coluna são o a14, a24, a34 e a44, e z Se multiplicarmos todos os termos de uma linha
chamaremos os respectivos cofatores de A14, A24, A34 e ou coluna de A por um valor “k”, o determinante
A44. Como os termos a14 e a24 são iguais a zero, eu não pre- da matriz será também multiplicado por k;
ciso calcular os cofatores A14 e A24, pois eles serão multi- z Se multiplicarmos todos os termos de uma matriz
plicados por zero e o resultado final será igual a zero. por um valor “k”, o determinante será multiplica-
O cofator A34 será: do por kn, onde n é a ordem da matriz;
z Se trocarmos de posição duas linhas ou colunas de A,
„ Escolher uma linha ou coluna da matriz (dê o determinante da nova matriz será igual a –det(A);
preferência para a que tiver mais zeros); z Se A tem duas linhas ou colunas iguais, então
det(A) = 0;
JK1 2 1 0N z Sendo A e B matrizes quadradas de mesma ordem,
KK O O det(AxB) = det(A)det(B);
KK2 3 1 0O
O O z Uma matriz quadrada A é inversível se, e somente
KK2 3 2 1O
OO se, det(A) ≠ 0;
KK
2 1 1 4O z Se A é uma matriz inversível, det(A-1) = 1/det(A).
L P
PROBLEMAS GEOMÉTRICOS E MATRICIAIS
Olhando somente para os termos que sobraram,
veja que temos uma matriz com 3 linhas e 3 colunas Agora que já relembramos a parte teórica sobre
apenas, cujo determinante sabemos calcular: geometria e matrizes, chegou o momento de resolver-
Determinante = 1.3.1 + 2.1.2 + 2.1.1 – 1.3.2 – 2.2.1 mos mais questões sobre esses tipos de problemas.
– 1.1.1 Assim, saberemos exatamente como as questões são
Determinante = -2 cobradas em provas.
O cofator A34 será:
1. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Os lados de um terreno
A34 = (-1)3+4 × determinante quadrado medem 100 m. Houve erro na escrituração,
A34 = (-1)7 × (-2) e ele foi registrado como se o comprimento do lado
medisse 10% a menos que a medida correta. Nessa
A34 = (-1) × (-2) situação, deixou-se de registrar uma área do terreno
A34 = 2 igual a

Agora, vamos calcular o cofator A44. Para isso, a) 20 m².


devemos excluir a quarta linha e a quarta coluna da b) 100 m². RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
matriz original, ficando com: c) 1.000 m².
d) 1.900 m².
JK1 2 1 0N e) 2.000 m².
KK O O
KK2 3 1 0O
O A área de um quadrado é L². Inicialmente, os lados
KK2 O
-3 2 1O
OO do quadrado deveriam medir L = 100 m, portanto a
KK área seria A = 100² = 10000 m². Porém, L foi regis-
2 1 1 4O
L P trado com 10% a menos, ou seja, 100 – 10% x 100 =
90 m. Logo, a área passou a ser 90² = 8100 m².
Calculando o determinante 3x3 que restou, temos: Então, a área que deixou de ser registrada foi de:
Determinante = 1.3.2 + 2.1.2 + 2.(-3).1 – 1.3.2 – 1.(- 10000 – 8100 = 1900 m². Resposta: Letra D.
3).1 – 2.2.2
Determinante = -7 2. (FCC — 2017) Um terreno tem a forma de um trapézio.
Assim, o cofator A44 é: Os lados não paralelos têm a mesma medida.
A base maior desse trapézio mede 12 m, a base menor
A44 = (-1)4+4× determinante mede 6 m e a altura mede 4 m. A área e o perímetro
desse terreno são, respectivamente, iguais a: 119
a) 32 m² e 28 m. Preço = 0,32 x 120.000
b) 36 m² e 28 m. Preço = 38.400 reais. Resposta: Letra E.
c) 36 m² e 24 m.
d) 32 m² e 24 m. 4. (IBFC — 2016) Considerando as matrizes:
e) 36 m² e 26 m.

; E e B = < 1 2F
3 -2 1 4
Extraindo os dados temos B = 12 m, b = 6 m e H = A=
4m. Vamos chamar os lados não paralelos de “L”. 1 2 -
Veja como fica esse trapézio:
6m
Então, o resultado da expressão

L L detA
4m
detB
3m 3m

12 m É igual a:

Para descobrir o valor de L, basta aplicar o Teore- a) 4/3.


ma de Pitágoras no triângulo formado pelo lado L b) -2.
com a altura de 4m e o trecho de 3m. Veja: c) 3/4.
L² = 4² + 3² d) 2.
e) ½.
L² = 16 + 9
L² = 25 Para encontra a resposta da questão, você precisa
achar o determinante de cada matriz. Sendo assim:
L=5m
3 2
O perímetro do trapézio é dado pela soma de seus det A = = 3 × 2 – (-2 × 1) = 6 + 2 = 8
1 2
quatro lados. Logo:
L + L + 6 + 12 = 5 + 5 + 18 = 28 m 1 4
det B = = 1 × 2 – 4 × (-1) = 6
1 2
A área é dada por:
(B + b) # h Logo,
A=
2
detA 8 4
(12 + 6) # 4 = =
detB 6 3
A=
2
Resposta: Letra A.
18 # 4
A=
2 5. (VUNESP — 2017) Uma peça de madeira tem o for-
72 mato de um prisma reto com 15 cm de altura e uma
A= = 36m2 base retangular com 6 cm de comprimento, conforme
2
mostra a figura.
Resposta: Letra A.

3. (CEBRASPE-CESPE — 2018) O preço do litro de deter-


minado produto de limpeza é igual a R$ 0,32. Se um 15 cm
recipiente tem a forma de um paralelepípedo retângu-
lo reto, medindo internamente 1,2 dam × 125 cm × 0,08
hm, então o preço que se pagará para encher esse reci-
x
piente com o referido produto de limpeza será igual a:
6 cm
(Figura fora de escala)
a) R$ 3,84.
b) R$ 38,40.
Sabendo que o volume dessa peça é 720 cm3, a área
c) R$ 384,00.
da base é
d) R$ 3.840,00.
e) R$ 38.400,00. a) 40 cm2.
b) 48 cm2.
Devemos colocar todas as medidas na mesma uni- c) 44 cm2.
dade. Veja que: d) 36 cm2.
1,2 dam = 12m = 120dm = 1200 cm e) 52 cm2.
0,08hm = 0,8dam = 8m = 80dm = 800cm
Assim, o volume total é de: O volume é dado pela multiplicação das dimensões,
V = 1200 x 125 x 800 ou seja,
V = 120.000.000 cm3 720 = 15 . 6 . x
V = 120.000 dm3 120 = 15 . x
V = 120.000 litros 40 = 5 . x
120 Se cada litro custa 0,32 reais, o preço total será de: 8=x
A área da base é: Exemplo: Para fazer uma viagem São Paulo-For-
Área = 6.x = 6.8 = 48 cm2. taleza-São Paulo, você pode escolher como meio de
Resposta: Letra B. transporte ônibus, carro, moto ou avião. De quantas
maneiras posso escolher os transportes?
PROBLEMAS DE CONTAGEM E NOÇÕES DE Resolução: Usando o lembrete acima:
PROBABILIDADE
z Identificar as etapas do enunciado;
Noções Básicas de Contagem e Probabilidade Escolher o meio de transporte para ida e para a
volta;
Para estudarmos probabilidade é necessário uma z Calcular todas as possibilidades em cada etapa;
boa base em noções básicas de contagem, ou seja, você Na ida temos 4 possibilidades de escolha (ôni-
precisa saber muito bem o Princípio Fundamental da bus, carro, moto ou avião) e para a volta temos 4
Contagem e é isso que vamos estudar agora. possibilidades de escolha (ônibus, carro, moto ou
Primeiro, vamos aprender uma ferramenta impor- avião);
tante para o nosso estudo: Fatorial. z Multiplicar:

Fatorial de um Número Natural 4 · 4 = 16 maneiras.

Serve para facilitar e acelerar resolução de ques- E se o problema dissesse que você não pode voltar
tões. Veja sua representação simbólica: no mesmo transporte que viajou na ida. Qual seria a
resolução? O desenvolvimento é o mesmo, apenas vai
Fatorial de N = n! mudar na quantidade de possibilidades de escolhas
para voltar. Veja:
Sendo “n” um número natural, observe como Resolução: Usando o lembrete:
desenvolver o fatorial de n:
z Identificar as etapas do enunciado;
n! = n · (n-1) · (n-2) · ... · 2 · 1, para n ≥ 2 z Escolher o meio de transporte para ida e para a
volta;
1! = 1 z Calcular todas as possibilidades em cada etapa;
0! = 1 Na ida temos 4 possibilidades de escolha (ônibus,
carro, moto ou avião) e para a volta temos 3 possi-
Exemplos: bilidades de escolha (não posso voltar no mesmo
meio de transporte);
3! = 3 · 2 · 1= 6 z Multiplicar:

4! = 4 · 3 · 2 · 1 = 24 4 · 3 = 12 maneiras.
5! = 5 · 4 · 3 · 2 · 1 = 120
Permutação Simples
Agora, veja esse outro exemplo:
Imagine que temos 5 livros diferentes para serem
ordenados em uma estante. De quantas maneiras é
Calcular 6!
4! possível ordenar? Para questões envolvendo permu-
tação simples, devemos encarar de um modo geral
Resolução: que temos n modos de escolhermos um objeto (livro)
que ocupará o primeiro lugar, n-1 modos de escolher
6! 6·5·4·3·2·1 = 6 · 5 = 30
4!
=
4·3·2·1 um objeto (um outro livro) que ocupará o segundo
lugar, ..., 1 modo de escolher o objeto (um outro livro)
Poderíamos, também, resolver abrindo o 6! até 4! e que ocupará o último lugar. Então, temos: RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
depois simplificar. Veja: Modos de ordenar:

6! 6·5·4! n · (n-1) · ... 1 = n!


4! = 6 · 5 = 30
=
4!
Então, resolvendo, teremos 5! = 5·4·3·2·1 = 120
Princípio Fundamental da Contagem maneiras de ordenar os livros na estante.
Agora, observe um outro exemplo:
Podemos, também, encontrar como princípio mul- Quantos são os anagramas da palavra CAJU?
tiplicativo. Vamos esquematizar uma maneira que vai Resolução:
ser bem simples para resolvermos problemas sobre o Cada anagrama de CAJU é uma ordenação das
tema, observe o lembrete: letras que a compõem, ou seja, C, A, J, U.

z Identificar as etapas do enunciado; CAJU CUJA ACJU AUJC


z Calcular todas as possibilidades em cada etapa;
z Multiplicar. CAUJ CJUA ACUJ ...

CUAJ CJAU AUCJ ...


121
Desta maneira, o número de anagramas é 4! = Para a primeira cadeira temos 5 pessoas disponí-
4·3·2·1 = 24 anagramas. veis, isto é, 5 possibilidades. Já para a segunda cadei-
ra, restam-nos 4 possibilidades, dado que uma já foi
Dica utilizada na primeira cadeira. Por último, na terceira
Anagrama é a ordenação de maneira distinta das cadeira, poderemos colocar qualquer das 3 pessoas
letras que compõem uma determinada palavra. restantes. Observe que sempre sobrarão duas pessoas
em pé, pois temos apenas 3 cadeiras. A quantidade de
formas de posicionar essas pessoas sentadas é dada
Permutação com Repetição
pela multiplicação a seguir:
Formas de organizar 5 pessoas em 3 cadeiras =
Quantos anagramas tem na palavra ARARA? O
problema é causado por conta da repetição de letras
5 · 4 · 3 = 60
na palavra ARARA.
Veja que temos 3 letras A e 2 letras R. De maneira
O exemplo acima é um caso típico de arranjo sim-
tradicional, faríamos 5! (número de letras na palavra),
ples. Sua fórmula é dada a seguir:
mas é preciso que descontemos as letras repetidas.
Assim, devemos dividir pelo número de letras fatorial,
n!
ou seja, 3! e 2!. A(n, p) =
(n - p) !
5! 5·4·3! = 5·4
= = 10
3!·2! 3!·2·1 2 Lembre-se de que pretendemos posicionar “n” ele-
mentos em “p” posições (p sendo menor que n), e onde
Temos, então, 10 anagramas na palavra ARARA. a ordem dos elementos diferencia uma possibilidade
Na permutação com repetição devemos descontar da outra.
os anagramas iguais, por isso dividimos pelo fatorial Observe a resolução do nosso exemplo usando a
do número de letras repetidas. fórmula:

Permutação com Repetição A(5, 3) =


5!
=
5!
= 5·4·3·2·1 = 60
(5 - 3) ! 2! 2·1
Vamos imaginar que temos uma mesa circular com
5 lugares e queremos ordenar 5 pessoas de maneiras Uma outra informação muito importante é que
distintas. Observe as duas disposições das pessoas A, nos problemas envolvendo arranjo simples a ordem
B, C, D, e E ao redor da mesa: dos elementos importa, ou seja, a ordem é diferente
de uma possibilidade para outra. Vamos supor que as
5 pessoas sejam: Ana, Bianca, Clara, Daniele e Esme-
E
A ralda. Agora observe uma maneira de posicionar as
pessoas na praça:
B A
E D
MESA CADEIRA 1ª 2ª 3ª
MESA
OCUPANTE Ana Bianca Clara

D C C B Perceba que Daniele e Esmeralda ficaram em pé


nessa disposição.

Diante do conceito de permutação, essas duas


disposições são iguais, ou seja, a pessoa A tem à sua CADEIRA 1ª 2ª 3ª
direita E, e à sua esquerda B, e assim sucessivamente). OCUPANTE Clara Bianca Ana
Não podemos contar duas vezes a mesma disposição.
Repare ainda que, antes da primeira pessoa se sentar A Daniele e a Esmeralda continuam de fora e a
à mesa, todas as 5 posições disponíveis são equivalen- Bianca permaneceu no mesmo lugar. O que mudou
tes. Isto porque não existe uma referência espacial foi a posição da Ana em relação a Clara. Assim, uma
(ponto fixo determinado). Nestes casos, devemos uti- simples mudança na posição da ordem gera uma nova
lizar a fórmula da permutação circular de n pessoas, possibilidade de posicionamento.
que é:
Combinação
Pc (n) = (n-1)!
Para entendermos esse tema, vamos imaginar
Em nosso exemplo, o número de possibilidades de que queremos fazer uma salada de frutas e precisa-
posicionar 5 pessoas ao redor de uma mesa será: mos usar 3 frutas das 4 que temos disponíveis: maçã,
banana, mamão e morango. Cortando as frutas maçã,
Pc(5) = (5-1)! = 4! = 4 · 3 · 2 · 1 = 24 banana e morango e depois colocando em um prato.
Agora cortando as frutas banana, morango e maçã
Arranjo Simples para colocar em um outro prato.
Você percebeu que a ordem aqui não importou?
Imagine agora que quiséssemos posicionar 5 pes- É exatamente isso, a ordem não importa e estamos
soas nas cadeiras de uma praça, mas tínhamos apenas diante de um problema de Combinação. Será preciso
3 cadeiras à disposição. De quantas formas podería- calcular quantas combinações de 4 frutas, 3 a 3, é pos-
122 mos fazer isso? sível formar.
Para resolvermos é necessário usar a fórmula: por: 7 x 5 x 4 = 140 possibilidades (conjuntos de
brinquedos diferentes).
n!
C(n, p) = (n - p) !p! Resposta: Letra D.

3. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Em um aeroporto, 30


Substituindo na fórmula, os valores do exemplo, passageiros que desembarcaram de determinado
temos: voo e que estiveram nos países A, B ou C, nos quais
ocorre uma epidemia infecciosa, foram selecionados
C(4, 3) =
4! para ser examinados. Constatou-se que exatamente
(4 - 3) !3! 25 dos passageiros selecionados estiveram em A ou
em B, nenhum desses 25 passageiros esteve em C e 6
4·3·2·1
C(4, 3) = desses 25 passageiros estiveram em A e em B.
1·3·2·1
Com referência a essa situação hipotética, julgue o
C(4, 3) = 4 item que segue.
A quantidade de maneiras distintas de se escolher 2
Dica dos 30 passageiros selecionados de modo que pelo
menos um deles tenha estado em C é superior a 100.
No arranjo a ordem importa.
Na combinação a ordem não importa. ( ) CERTO ( ) ERRADO

Agora vamos treinar o que aprendemos na teo- Se 25 passageiros tiveram em A ou B e nenhum deles
ria com exercícios comentados de diversas bancas. em C, então, C teve 5 passageiros (é o que falta para
Vamos lá! o total de 30). Vamos escolher 2 passageiros, de
modo que pelo menos um seja de C, teremos:
1. (VUNESP — 2016) Um Grupamento de Operações Podemos achar o total para escolha dos 2 passagei-
Especiais trabalha na elucidação de um crime. Para ros que seria:
investigações de campo, 6 pistas diferentes devem C30,2 = 30.29/2 = 15.29 = 435
ser distribuídas entre 2 equipes, de modo que cada Agora, tiramos a opção de nenhum deles ser de C,
equipe receba 3 pistas. O número de formas diferen-
que seria:
tes de se fazer essa distribuição é:
C25,2 = 25.24/2 = 25.12 = 300
Então, pelo menos um deles é de C, teremos:
a) 6.
435 - 300 = 135.
b) 10.
Resposta: Certo.
c) 12.
d) 18.
4. (IBFC — 2015) Paulo quer assistir um filme e tem dis-
e) 20.
ponível 5 filmes de terror, 6 filmes de aventura e 3 fil-
Vamos descobrir o número de formas de escolher 3 mes de romance. O total de possibilidades de Paulo
pistas em 6, visto que ao escolher 3 pistas, restarão assistir a um desses filmes é de:
outras 3 pistas que vão compor o outro grupo de
pistas. Dessa maneira, de quantas formas podemos a) 90.
escolher 3 pistas em um grupo de 6? Aqui a ordem b) 33.
não é relevante, então, vamos usar a combinação: c) 45.
d) 14.
C(6, 3) = 6!
= 6 · 5 · 4 · 3! =
6·5·4
=
6·5·4
=
(6 - 3) !3! 3!3! 3! 3·2·1
Paulo tem disponível 14 filmes no total, 5 de terror, 6
5 · 4 = 20. de aventura e 3 de romance; e dentre esses 14 filmes
disponíveis tem que escolher um, portanto o total
Resposta: Letra E.
de possibilidades será dado pela combinação de 14
elementos, tomados um a um. RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
2. (IDECAN — 2016) Felipe é uma criança muito bagun-
ceira e sempre espalha seus brinquedos pela casa. C(14,1) = 14 possibilidades.
Quando vai brincar na casa da sua avó, ele só pode Resposta: Letra D.
levar 3 brinquedos. Felipe sempre escolhe 1 carrinho,
1 boneco e 1 avião. Sabendo que Felipe tem 7 carri- 5. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Em um processo de cole-
nhos, 5 bonecos e 4 aviões diferentes, quantas vezes ta de fragmentos papilares para posterior identifica-
Felipe pode visitar a sua avó sem levar o mesmo con- ção de criminosos, uma equipe de 15 papiloscopistas
junto de brinquedos já levados antes? deverá se revezar nos horários de 8 h às 9 h e de 9 h às
10 h.
a) 100 vezes. Com relação a essa situação hipotética, julgue o item
b) 115 vezes. a seguir.
c) 130 vezes. Se dois papiloscopistas forem escolhidos, um para
d) 140 vezes. atender no primeiro horário e outro no segundo horá-
rio, então a quantidade, distinta, de duplas que podem
Perceba que Felipe tem 7 carrinhos para escolher 1, ser formadas para fazer esses atendimentos é supe-
5 bonecos para escolher 1 e 4 aviões para escolher rior a 300.
1, queremos formar grupos de 3 brinquedos, sendo
um de cada tipo. O total de possibilidades será dado ( ) CERTO ( ) ERRADO 123
Quantos servidores há para escolher que ficará no Logo,
1° horário? 15.
Agora, já para escolher o que ficará no 2° horário, Probabilidade do Evento = 3 = 1 = 0,50 = 50%
temos apenas 14, pois um já foi escolhido para ficar 6 2
no 1° horário. Multiplicando as possibilidades =
15x14 = 210. Se A é um evento qualquer, então 0 ≤ P(A) ≤ 1.
Resposta: Errado. Se A é um evento qualquer, então 0% ≤ P(A) ≤ 100%.

PROBABILIDADE Eventos Independentes

Conceito Qual seria a probabilidade de, em dois lançamen-


tos consecutivos do dado, obtermos um resultado
A teoria da probabilidade é o ramo da Matemáti- ímpar em cada um deles? Veja que temos dois expe-
ca que cria modelos que são utilizados para estudar rimentos independentes ocorrendo: o primeiro lança-
experimentos aleatórios, ou seja, estimar uma previ- mento e o segundo lançamento do dado. O resultado
são do resultado de determinado experimento. do primeiro lançamento em nada influencia o resulta-
do do segundo.
Espaço Amostral e Evento Quando temos experimentos independentes, a
probabilidade de ter um resultado favorável em um e
Chamamos de espaço amostral o conjunto de todos um resultado favorável no outro é feita pela multipli-
os resultados possíveis do experimento. cação das probabilidades de cada experimento:
Imagine que você possui um dado e vai lançá-lo
uma vez. Os resultados possíveis são: 1, 2, 3, 4, 5 ou 6, P(2 lançamentos) = P(lançamento 1) · P(lançamento 2)
isso é o que chamamos de espaço amostral, ou seja, o
conjunto dos resultados possíveis de um determinado Em nosso exemplo, teríamos:
experimento aleatório (não se pode prever o resul-
tado que será obtido, apenas podemos tentar achar P(2 lançamentos) =0,50 0,50 = 0,25 = 25%
algum padrão).
Agora, pense que você só tem interesse nos núme- Assim, a chance de obter dois resultados ímpares
ros ímpares, isto é, 1, 3 e 5. Esse subconjunto do espa- em dois lançamentos de dado consecutivos é de 25%.
ço amostral é o que chamamos de Evento – composto Generalizando, podemos dizer que a probabilidade de
dois eventos independentes A e B acontecerem é dada
apenas pelos resultados que são favoráveis. Conhe-
pela multiplicação da probabilidade de cada um deles:
cendo esses dois conceitos, podemos chegar na fórmu-
la para calcular a probabilidade de um evento de um
P (A e B) = P(A) x P(B)
determinado experimento aleatório, é o que podemos
chamar de probabilidade de um evento qualquer.
Sendo mais formal, também é possível escrever
P(A ∩ B) = P(A) · P(B), onde ∩ simboliza a intersecção
Dica entre os eventos A e B.
Espaço amostral é igual a todas as possibilida-
des possíveis e o evento é um subconjunto do PROBABILIDADE CONDICIONAL
espaço amostral.
Neste tópico, vamos falar sobre um tema bem
recorrente em questões de concursos. Imagine que
PROBABILIDADE DE UM EVENTO QUALQUER
vamos lançar um dado, e estamos analisando 2 even-
tos distintos:
n (evento) A – sair um resultado ímpar
Probabilidade do Evento = B – sair um número inferior a 4
n (espaço amostral) Para o evento A ser atendido, os resultados favo-
ráveis são 1, 3 e 5. Para o evento B ser atendido, os
Na fórmula acima, n(Evento) é o número de ele- resultados favoráveis são 1, 2 e 3. Vamos calcular rapi-
mentos do subconjunto Evento, isto é, o número damente a probabilidade de cada um desses eventos:
de resultados favoráveis; e n(Espaço Amostral) é o
3 1
número total de resultados possíveis no experimento P(A) = = 0,5 = 50%
6 2
aleatório.
Por isso, costumamos dizer também que: 3 1
P(B) = = 0,5 = 50%
6 2
número de resultados favoráveis
Probabilidade do Evento = E se caso tivéssemos o seguinte questionamento:
números total de resultados
no lançamento de um dado, qual é a probabilidade
de obter um resultado ímpar, dado que foi obtido um
Agora, voltando ao exemplo que apenas os núme- resultado inferior a 4? Em outras palavras, essa per-
ros impares que nos interessam, temos: gunta é: qual a probabilidade do evento A, dado que o
evento B ocorreu? Matematicamente, podemos escre-
z n(Evento) = 3 possibilidades; ver P(A/B) – leia “probabilidade de A, dado B”.
124 z n(Espaço Amostral) = 6 possibilidades.
Aqui, já sabemos de antemão que B ocorreu. Por- z P(A) = probabilidade de o número ser múltiplo de 3
tanto, o resultado do lançamento do dado foi 1, 2 ou 3
(três resultados possíveis). Destes resultados, apenas Múltiplos de 3 (3, 6, 9, 12, 15, 18) = 6 possibilidades
dois deles (o resultado 1 e 3) atendem o evento A. Por-
tanto, a probabilidade de A ocorrer, dado que B ocor- 6
P(A) =
reu, é simplesmente: 20

2 z P(B) = probabilidade de o número ser múltiplo de 5


P (A\B) = = 66,6%
3
Múltiplos de 3 (5, 10, 15, 20) = 4 possibilidades
Uma outra forma de calculá-la é por meio da
seguinte divisão: P(B) =
4
20
P (A k B)
P (A\B) =
P (B) z P(A ∩ B) = probabilidade do número ser múltiplo
de 3 e 5
A fórmula nos diz que a probabilidade de A ocor-
rer, dado que B ocorreu, é a divisão entre a proba- Somente o número 15 é múltiplo de 3 e 5 ao mesmo
bilidade de A e B ocorrerem simultaneamente e a tempo.
1
probabilidade de B ocorrer. Para que A e B ocorram P(A ∩ B) =
20
simultaneamente (resultado ímpar e inferior a 4),
temos como possibilidades o resultado igual a 1 e 3.
Isto é, apenas 2 dos 6 resultados nos atende. Aplicando na fórmula, temos:
Logo,
P (A ∪ B) = P (A) + P (B) - P (A ∩ B)
2 1 6 4 1 6+4-1 9
P (A∩B) = 6 = 3 P (A ∪ B) = 20 + 20 - 20 = =
20 20

Para que B ocorra (resultado inferior a 4), já vimos PROBABILIDADE DA INTERSEÇÃO DE DOIS
que 3 resultados atendem. EVENTOS
Portanto,
Sejam A e B dois eventos de um espaço amostral. A
P (A∩B) =
3
=
1 probabilidade de A ∩ B é dada por:
6 2
P (A ∩ B) = P (B\A) · P (A) = P (B) · P (A\B)
Usando a fórmula acima, temos:
Vale lembrar que P (B\A) é a probabilidade de
1 ocorrer o evento B, sabendo que já ocorreu o evento A
P (A\B) =
P (A + B)
=
3 = 1 2 = 2 = 66,6%
· (probabilidade condicional).
P (B) 1 3 1 3 Se a ocorrência do evento A não interferir na pro-
2 babilidade de ocorrer o evento B, ou seja, forem inde-
pendentes, a fórmula para o cálculo da probabilidade
PROBABILIDADE DA UNIÃO DE DOIS EVENTOS da intersecção será dada por:

Dados dois eventos A e B, chamamos de A ∪ B P (A ∩ B) = P (A) · P (B)


quando queremos a probabilidade de ocorrer o even-
to A ou o evento B. Podemos usar a fórmula: Imagine que você vai lançar dois dados sucessi-
vamente. Qual a probabilidade de sair um número
P (A ∪ B) = P (A) + P (B) - P (A∩B) ímpar e o número 5? RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
O “e” que aparece na pergunta é que determina a
A fórmula pode ser traduzida como a probabilida- utilização da fórmula da interseção, pois queremos “a
de da união de dois eventos é igual a soma das pro- probabilidade de sair um número ímpar e o número
babilidades de ocorrência de cada um dos eventos, 5”. Perceba que a ocorrência de um dos eventos não
subtraída da probabilidade da ocorrência dos dois interfere na ocorrência do outro. Temos, então, dois
eventos simultaneamente. eventos independentes.
Neste caso, quando temos A ∩ B = ϴ, ou seja, even- Evento A: sair um número ímpar = {1, 3, 5};
tos mutuamente exclusivos, tem-se que P (A ∪ B) = P Evento B: sair o número 5 = {5};
(A) + P (B). Espaço Amostral: S = {1, 2, 3, 4, 5, 6}.
Imagine que você tem uma urna contendo 20 bolas Logo,
numeradas de 1 a 20. Quando uma bola é retirada ao 3 1
P(A) = =
acaso, qual é a probabilidade de o número ser múlti- 6 2
plo de 3 ou de 5?
1
Ora, veja que temos a palavra “ou” na pergunta e P(B) =
6
isso nos remete à ideia de “união” dos eventos. Sen-
do assim, podemos extrair os dados para aplicar na 1 1 1
P (A ∩ B) = P (A) · P (B) = · =
fórmula: 2 6 12 125
Agora vamos treinar o que aprendemos na teo- Múltiplos de 8: {0, 8, 16, 24, 32, 40, 48, 56, 64, 72...}
ria com exercícios comentados de diversas bancas. Números da Mega Sena: 1 a 60.
Vamos lá! Os múltiplos de 8 na Mega Sena são: 8, 16, 24, 32, 40,
48, 56, ou seja, 7 números.
1. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Em um grupo de 10 Logo 7/60 = 11%. Resposta: Errado.
pessoas, 4 são adultos e 6 são crianças. Ao se sele-
cionarem, aleatoriamente, 3 pessoas desse grupo, a 4. (CEBRASPE-CESPE — 2017) Em um jogo de azar, dois
probabilidade de que no máximo duas dessas pes- jogadores lançam uma moeda honesta, alternada-
soas sejam crianças é igual a: mente, até que um deles obtenha o resultado cara. O
jogador que detiver esse resultado será o vencedor.
a) 1/6. A probabilidade de o segundo jogador vencer o jogo
b) 2/6. logo em seu primeiro arremesso é igual a:
c) 3/6.
d) 4/6. a) 2/3.
e) 5/6. b) 1/2.
c) 1/4.
Basta calcular a probabilidade de vir 3 crianças (o d) 1/8.
que a gente não quer). Depois subtrair de 1, para e) 3/4.
obter os casos favoráveis.
Probabilidade de sortear 3 crianças: 6/10 · 5/9 · 4/8 = 1/6 Precisamos calcular a probabilidade do primeiro joga-
1 – 1/6 = 5/6. dor tirar coroa e o segundo jogador obter cara. Pro-
Resposta: Letra E. babilidade de o primeiro tirar coroa: 1/2 e o segundo
tirar cara: 1/2. Logo, 1/2 · 1/2 = 1/4. Resposta: Letra C.
2. (VUNESP — 2017) Um centro de meteorologia infor-
mou ao CIPM que é de 60% a probabilidade de chuva 5. (CEBRASPE-CESPE — 2017) Cinco mulheres e quatro
no dia programado para ocorrer a operação. Mediante homens trabalham em um escritório. De forma aleató-
essa informação, o oficial no comando afirmou que as ria, uma dessas pessoas será escolhida para trabalhar
probabilidades de que a operação seja realizada nesse no plantão de atendimento ao público no sábado. Em
dia são de 20%, caso a chuva ocorra, e de 85%, se não seguida, outra pessoa será escolhida, também aleato-
houver chuva. Nessas condições, a probabilidade de riamente, para o plantão no domingo.
que a operação ocorra no dia programado é de: Considerando que as duas pessoas para os plantões
serão selecionadas sucessivamente, de forma aleató-
a) 59%. ria e sem reposição, julgue o próximo item.
b) 46%. A probabilidade de os dois plantonistas serem homens
c) 41%. é igual ou superior a 4/9.
d) 34%.
e) 28%. ( ) CERTO ( ) ERRADO

Se a probabilidade de chover é de 60%, então, a Sábado: Há 4 homens possíveis, em 9 pessoas no


probabilidade de não chover é de 40%. Para que a total = 4/9
operação ocorra no dia programado, temos duas Domingo: Há 3 homens possíveis, de 8 pessoas no
situações: total (uma já foi escolhida no sábado) = 3/8
chove (60%) e ocorre a operação (20%) = 60% x 20% Como queremos que seja escolhido um homem no
= 12% sábado e um homem no domingo, multiplicamos as
não chove (40%) e ocorre a operação (85%) = 40% probabilidades: 4/9 x 3/8 = 12/72 = 4/24.
x 85% = 34% A questão é errada, pois 4/24 não é igual ou maior
Somando as probabilidades desses dois cenários, que 4/9. Resposta: Errado.
temos: 12% + 34% = 46%.
Resposta: Letra B.
GEOMETRIA BÁSICA: ÂNGULOS,
3. (CEBRASPE-CESPE — 2019) A sorte de ganhar ou per-
der, num jogo de azar, não depende da habilidade do
TRIÂNGULOS, POLÍGONOS,
jogador, mas exclusivamente das probabilidades dos DISTÂNCIAS, PROPORCIONALIDADE,
resultados. Um dos jogos mais populares no Brasil é PERÍMETRO E ÁREA
a Mega Sena, que funciona da seguinte forma: de 60
bolas, numeradas de 1 a 60, dentro de um globo, são Ponto, Reta e Plano
sorteadas seis bolas. À medida que uma bola é retira-
da, ela não volta para dentro do globo. O jogador pode Quando falamos sobre ponto, reta e plano, deve-
apostar de 6 a 15 números distintos por volante e rece- mos ficar atentos que a parte mais importante é em
berá o prêmio se acertar os seis números sorteados. relação à sua representação geométrica e espacial.
Também são premiados os acertadores de 5 números
ou de 4 números. z Representação Simbólica:
A partir dessas informações, julgue o item que se segue.
A probabilidade de a primeira bola sorteada ser um „ Os pontos são representados por letras maiús-
número múltiplo de 8 é de 10%. culas do nosso alfabeto, ou seja, A, B, C etc.;
„ As retas são representadas pelas letras minús-
126 ( ) CERTO ( ) ERRADO culas do nosso alfabeto, ou seja, a, b, c etc.;
„ Os planos são representados pelas letras gregas Por duas retas concorrentes:
minúsculas, ou seja, β, ∞, α etc.
α
z Representação Gráfica:

r S C
P
α r A B
ponto

reta plano Por duas retas distintas

Vamos, agora, há alguns pontos interessantes: α

„ Passando por um ponto “P” qualquer podemos


traçar infinitas retas e dois pontos determinam
uma única reta. Veja: S

Pelo ponto P podemos Os pontos A e B definem a


traçar infinitas retas posição de uma reta r

A z Razão entre Segmentos de Reta:

P Quando dois pontos delimitam um conjunto de


pontos numa mesma reta, chamamos de segmento de
B reta e podemos representar por duas letras como, por
exemplo AB. O início do segmento é em A e termina
em B. Veja a seguir:

Reta s
„ Pontos colineares são aqueles que pertencem à s
mesma reta.

Segmento de Reta AB
C A B t
B
A B Semirreta AB
A B u
A c
r
COLINEARES z Feixe de Retas Paralelas:
r
NÃO COLINEARES
Um conjunto de três ou mais retas paralelas num
plano é chamado feixe de retas paralelas. Temos,
„ Um plano pode ser determinado de algumas ainda, uma reta que corta a reta de feixe que é chama-
maneiras. Veja: da de reta transversal. Veja:

Três pontos não colineares: s t

C α a
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
b

B c
A
d

Por uma reta e um ponto fora dela:


z Teorema de Tales:
P α
Quando temos um feixe de retas paralelas sobre
duas transversais quaisquer, determinamos segmen-
tos proporcionais. Veja a figura a seguir para entender
um pouco mais:

r A B
127
s t

A D a

B E
b

F 90°
C
c

D G
d Os ângulos podem ser classificados quanto ao
valor do ângulo em relação à 90°:

Vamos destacar algumas proporções: z Ângulos agudos: são aqueles ângulos inferiores à
90°. Ex.: 30o, 42o, 63o;
z AB ⁄ BC = DE ⁄ E F; z Ângulos obtusos: são aqueles ângulos superiores
z BC ⁄ AB = EF ⁄ DE; à 90o. Ex.: 100o, 125o e 155o.
z AB ⁄ D E = BC ⁄ E F;
z D E ⁄ AB = EF ⁄ BC. Observação: os ângulos de 0 e 180º são denomina-
dos de ângulos rasos.
Ângulos Outra classificação de ângulos é em relação à
medida:
Ângulo é a medida de uma abertura delimitada
por duas semi-retas. Veja na figura a seguir o ângulo z Ângulos congruentes: são congruentes (iguais)
A, que é a abertura delimitada pelas duas semi-retas quando possuem a mesma medida;
desenhadas: z Ângulos complementares: são complementares
quando a soma entre os ângulos é 90o. Ex.: 60° +
30° = 90°. Os ângulos 30° e 60° são complementares
um do outro;
z Ângulos suplementares: são suplementares quando
a soma entre os ângulos é 180o. Ex.: 110° + 70° = 180°.
A Os ângulos 70° e 110° são suplementares entre si.

A semi-reta que divide um ângulo em duas partes


iguais é denominada Bissetriz. Veja:
O ponto desenhado acima no encontro entre as
duas semi-retas é denominado “Vértice do ângulo”.
Um ângulo é medido de acordo com a sua abertura.
Dizemos que uma abertura completa mede 360 graus A/2
(360º). Veja:
A/2

Agora observe esse cruzamento de retas. Vamos


A tirar algumas conclusões interessantes.

A
C

Como 360o representam uma volta completa, 180º D


representam meia-volta, como você pode ver a seguir
Os ângulos formados pelo cruzamento das retas
180° são denominados ângulos opostos pelo vértice e tem
o mesmo valor, ou seja, A = C e B = D.
Os ângulos A e B são suplementares, pois a soma
entre eles é de 180o, assim como a soma dos ângulos B
e C, C e D, e D e A.
Ângulos opostos pelo vértice têm a mesma medida.
Por sua vez, 90o representa metade de meia-volta,
Uma outra unidade de medida de ângulos é cha-
isto é, ¼ de volta. Esse ângulo é conhecido como ângu-
mada de “radianos”. Dizemos que 180o correspondem
lo reto e tem uma representação bem característica:
a π (“pi”) radianos. Vamos usar uma regra de três sim-
ples para convertermos qualquer ângulo em radia-
nos. Veja, vamos converter 60o para radianos:

180° ---------------------------------- π radianos


128 60° ------------------------------------ x radianos
180x = 60 π Nº DE Nº DE
NOME NOME
LADOS LADOS
60r r
x= = radianos 3 Triângulo 9 Eneágono
180 3
4 Quadrilátero 10 Decágono
Polígonos 5 Pentágono 11 Undecágono
6 Hexágono 12 Dodecágono
Polígono é qualquer figura geométrica fechada for-
mada por uma série de segmentos de reta. Observe: 7 Heptágono ... ...
8 Octógono 20 Icoságono

Exercite seus conhecimentos realizando os seguin-


tes exercícios.

1. (IDECAN — 2013) No triângulo a seguir, o lado KL é


paralelo ao segmento DE.

J
Os elementos de qualquer polígono são:

z Lados: são os segmentos de reta que formam o x


polígono (a figura a seguir, um pentágono, possui 5 D E
segmentos de reta, isto é, 5 lados); 115°
z Vértices: são os pontos de junção de dois segmen-
tos de reta consecutivos. Estão marcados com
letras maiúsculas na figura seguir;
a 55°
z Diagonais: são os segmentos de reta que unem
K L
dois vértices não consecutivos. São as retas verme-
lha traçadas no polígono a seguir:
A soma dos valores dos ângulos “x” e “a” é:
A
a) 170°.
b) 180°.
B E c) 185°.
d) 190°.
e) 195°.
J

C D
55° x
a
Para calcular o número de diagonais de um polí- D E
gono, vamos precisar levar em consideração os vér- 115°
tices (lados). Dessa forma, chegaremos na seguinte
fórmula:
n # (n - 3) a 55°
D=
2 K L

Veja que o pentágono (n = 5) possui 5 diagonais.


Veja que podemos colocar o ângulo “a” como suple-
mentar de 115°, pois os segmentos KL e DE são RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
z A soma do ângulo interno e do ângulo externo de
paralelos. Assim como o ângulo 55° é suplementar
um mesmo vértice é igual a 180º;
do ângulo “x”. Assim,
z A soma dos ângulos internos de um polígono de n
lados é: a + 115 = 180
a = 65º
S = (n – 2) × 180° ------------------
x + 55 = 180
Dica x = 125º
Logo, x + a = 190º.
A soma dos ângulos internos de um triângulo (n = Resposta: Letra D.
3) é 180º e nos quadriláteros (polígonos de 4 lados)
esta soma é 360º. 2. (CONSULPLAN — 2018) A soma dos ângulos internos
de um polígono regular que tem 20 diagonais é:
Os polígonos que possuem todos os lados iguais
e todos os ângulos internos iguais (congruentes) são a) 495.
chamados de polígonos regulares. Conheça algumas b) 720.
nomenclaturas dos principais polígonos regulares e c) 990.
os seus números de lados. d) 1080. 129
Vamos aplicar a fórmula das diagonais de um polí- β=α+θ
gono para descobrir o número de lados:
β = 44°30’ + 55°30’ = 99°60’ = 100°
n # (n - 3)
D= Resposta: Letra A.
2
2
n - 3n 4. (ESAF — 2003) Os ângulos de um triângulo encon-
20 = tram-se na razão 2 : 3 : 4. O ângulo maior do triângulo,
2
portanto, é igual a:
40 = n2 - 3n
n2 – 3n - 40 = 0 a) 40°.
Vamos achar as raízes da equação do 2° grau: b) 70°.
c) 75°.
- (-3) ± √(-3)2 -4 · 1 · (- 40) d) 80°.
n= e) 90°.
2·1
Se os ângulos do triângulo se encontram na razão
3 ± √9 + 160 2:3:4, podemos chamá-los de 2x, 3x e 4x e a soma
n= dos ângulos de um triângulo qualquer é sempre
2 180º.
Assim, 2x + 3x + 4x = 180°
9x = 180°
3 ± 13 x = 20°
n=
O maior ângulo é 4x = 4 ∙ 20° = 80°
2 Resposta: Letra D.
Como “n” é o número de diagonais, precisamos ape-
GEOMETRIA PLANA
nas pegar o resultado positivo. Logo,

3 + 13 Retângulo
n= = 8 lados
2 Chamamos de retângulo um paralelogramo (polí-
Aplicando a fórmula da soma dos ângulos internos gono que tem 4 lados opostos paralelos) com todos os
de um polígono, temos: ângulos internos iguais à 90°.
S = (n – 2) × 180° b
S = (8 – 2) × 180°
S = 1080°.
Resposta: Letra D.
h h
3. (FEPESE — 2019) Na figura abaixo, as retas r e s são
paralelas.

r
α b

Chamamos o lado “b” maior de base, e o lado


menor “h” de altura.
β
Área do Retângulo
θ
s
Para calcularmos a área, vamos fazer a multipli-
Se o ângulo α mede 44°30’ e o ângulo θ mede 55°30’, cação de sua base (b) pela sua altura (h), conforme a
então a medida do ângulo β é: fórmula:
A=b×h
a) 100°.
b) 55°30’. Exemplo: um retângulo com 10 centímetros de
c) 60°. lado e 5 centímetros de altura, a área será:
d) 44°30”.
e) 80°. A = 10cm × 5cm = 50cm2

r
α Quando trabalhamos o conceito e cálculo de áreas
das figuras geométricas, usamos a unidade ao quadra-
do que no nosso exemplo tínhamos centímetros e pas-
α samos para centímetros quadrados, que neste caso é a
β unidade de área.
θ θ
s
130
Quadrado
L L
Nada além de um retângulo no qual a base e a altu- d
ra têm o mesmo comprimento, ou seja, todos os lados
do quadrado têm o mesmo comprimento, que chama- D
remos de L. Veja: L L

L
Assim, a área do losango é dada pela fórmula a
seguir:

L L D#d
A=
2

Paralelogramo
L
É um quadrilátero (4 lados) com os lados opostos
paralelos entre si. Esses lados opostos possuem o mes-
A área também será dada pela multiplicação da
mo tamanho.
base pela altura (b x h). Como ambas medem L, tere-
mos L x L, ou seja: b

A = L2
h
Trapézio

Temos um polígono com 4 lados, sendo 2 deles


paralelos entre si, e chamados de base maior (B) e b
base menor (b). Temos, também, a sua altura (h) que
é a distância entre a base menor e a base maior. Veja
A área do paralelogramo também é dada pela mul-
na figura a seguir
tiplicação da base pela altura:
b
A=b×h

Triângulo

h Trata-se de uma figura geométrica com 3 lados.


Veja-a a seguir:

Conhecendo b, B e h, podemos calcular a área do


trapézio por meio da fórmula abaixo: a c
(B + b) # h
A=
2

Losango
b RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
É um polígono com 4 lados de mesmo comprimen-
to. Veja a seguir:
Para calcular a área do triângulo, é preciso conhe-
cer a sua altura (h):
L L

L L
a c

Para calcular a área de um losango, vamos preci- h


sar das suas duas diagonais: maior (D) e menor (d) de
acordo com a figura a seguir:

b
131
O lado “b”, em relação ao qual a altura foi dada, é z Triângulo retângulo: possui um ângulo de 90°.
chamado de base. Assim, calcula-se a área do triângu-
lo utilizando a seguinte fórmula:

b#h B
A=
2 c
a
Vamos conhecer os tipos de triângulos existentes:

z Triângulo isósceles: é o triângulo que tem dois A


lados iguais. Consequentemente, os 2 ângulos
b
internos da base são iguais (simbolizados na figu-
ra pela letra A):
Temos as seguintes nomenclaturas para cada lado
do triângulo. Veja:
O ângulo marcado com um ponto é o ângulo reto
a a (90º). Oposto a ele temos o lado “c” do triângulo, que
chamaremos de hipotenusa. Já os lados “a” e “b”,
c que são adjacentes ao ângulo reto, são chamados de
catetos.
O Teorema de Pitágoras nos dá uma relação entre
A A a hipotenusa e os catetos, dizendo que a soma dos
quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipote-
C nusa: a2 = b2 + c2.
Agora vamos falar sobre algumas métricas interes-
z Triângulo escaleno: é o triângulo que possui os santes que estão presentes no triângulo retângulo.
três lados com medidas diferentes, tendo também
os três ângulos internos distintos entre si:

b h c

a B c
n m
C H B
C A a
b
Devemos nos atentar em relação a algumas fórmulas
z Triângulo equilátero: é o triângulo que tem todos que são extraídas do triângulo acima que poderão nos aju-
os lados iguais. Consequentemente, ele terá todos dar com a resolução de algumas questões. Veja quais são:
os ângulos internos iguais:
h2 = m×n
b2 = m×a
c2 = n×a
A
a a b×c = a×h
h
Essas fórmulas são chamadas de relações métricas
do triângulo retângulo.
A A

a Círculo

Todos os pontos estão a uma mesma distância em


Podemos calcular a altura usando a seguinte fórmula: relação ao centro do círculo ou circunferência. Cha-
mamos de raio e geralmente é representada por “r”.
a 3 Veja na figura a seguir:
h=
2

Para calcular a área do triângulo equilátero usan-


do apenas o valor da medida dos lados (a), usamos a
r
fórmula a seguir:

2
a 3
A=
4
132
A área de um círculo é dada pela fórmula: A = π × círculo ( π × r2). Vejamos como calcular a área do setor
r . Na fórmula, a letra π (“pi”) representa um número
2 circular, em função do ângulo central “α”:
irracional que é, aproximadamente, igual a 3,14.
Vejamos um exemplo para calcular a área de um 360° ----------------------------------------------- π × r2
círculo com 10 centímetros de raio: α ------------------------- Área do setor circular

A = π × r2 Logo, área do setor circular =

A = π × (10) 2
2
a # rr
A = π × 100 360c

Substituindo π por 3,14, temos: Usando a mesma ideia, podemos calcular o com-
primento do segmento circular entre os pontos A e B,
A = 3,14×100 = 314cm2 cujo ângulo central é “α” e que o comprimento da cir-
cunferência inteira é 2 πr. Confira abaixo:
O perímetro de uma circunferência que é a mesma
coisa que o comprimento da circunferência é dado por: 360° --------------------- 2 πr
α -------------------------- Comprimento do setor circular
C=2×π×r
Logo, comprimento do setor circular =
Para exemplificar, vamos calcular o perímetro
daquela circunferência com 10cm de raio:
a # 2rr
C = 2 × 3,14 × 10 360c

C = 6,28 × 10 = 62,8 cm GEOMETRIA ESPACIAL

O diâmetro (D) de uma circunferência é um seg- Poliedros


mento de reta que liga um lado ao outro da circun-
ferência, passando pelo centro. Veja que o diâmetro São figuras espaciais formadas por diversas faces,
mede o dobro do raio, ou seja, 2r. cada uma delas sendo um polígono regular. Vamos
conhecer os principais poliedros, destacando alguns
pontos importantes como área e volumes.

Paralelepípedo Reto-Retângulo e Cubo

D = 2r

c a

b
a a

O cubo é um caso particular do paralelepípedo re-


Repare na figura a seguir: to-retângulo, ou seja, basta que igualemos os valores
de a = b = c.
A
Para calcular o volume de um paralelepípedo reto-re-
tângulo, devemos multiplicar suas três dimensões. Veja:
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
α V=a×b×c
C B No caso do cubo, o volume fica:

V = a × a × = a3

As faces do paralelepípedo são retangulares,


enquanto as faces do cubo são todas quadradas.
A área total do cubo é a soma das 6 faces quadra-
Note que formamos uma região delimitada dentro das. Ou seja,
do círculo. Essa região é chamada de setor circular. AT = 6a2
Temos ainda um ângulo central desse setor circular
simbolizado por α. Com base neste ângulo, consegui- Agora, no paralelepípedo reto-retângulo, temos 2
mos determinar a área do setor circular e o compri- retângulos de lados (a, b), dois retângulos de lados (b,
mento do segmento de círculo compreendido entre os c) e dois retângulos de lados (b, c). Portanto, a área
pontos A e B. Sabemos que o ângulo central de uma total de um paralelepípedo é:
volta completa no círculo é 360º. E também sabemos
a área desta volta completa, que é a própria área do AT = 2ab + 2ac + 2bc 133
Prismas A área da superfície lateral do cilindro é igual a
2πℎ e o volume do cilindro é o produto da área da
Vamos estudar os prismas retos, ou seja, aqueles base pela altura: V = πr2 × ℎ.
que têm as arestas laterais perpendiculares às bases.
Os prismas são figuras espaciais bem parecidas com
Esfera
os cilindros. O que os difere é que a base de um pris-
ma não é uma circunferência.
Quando estamos estudando a esfera, precisamos
O prisma será classificado de acordo com a sua
base. Por exemplo, se a base for um pentágono, o pris- lembrar que tudo depende e gira em torno do seu raio,
ma será pentagonal. ou seja, é o sólido geométrico mais fácil de trabalhar.

Prisma triangular Prisma Prisma Prisma


Pentagonal Hexagonal Quadrangular

O volume para qualquer tipo de prisma será sem-


pre o produto da área da base pela altura. Veja:
O raio é simplesmente a distância do centro da es-
V = Ab × h
fera até qualquer ponto da sua superfície.
A área total de um prisma será a soma da área late- O volume da esfera é calculado usando a seguinte
ral com duas bases. fórmula:
4 3
V = 3 # rr
AT = Al + 2Ab

Cilindro E a área da superfície pela fórmula a seguir:

Vamos estudar o cilindro reto cujas geratrizes são A = 4 × πr2


perpendiculares às bases. Observe a figura a seguir:
Cone

Observe a figura a seguir:

Altura
Base (círculo)

Geratriz
Geratriz

A distância entre as duas bases é chamada de altu-


ra (h). Quando a altura do cilindro é igual ao diâmetro
da base, o cilindro é chamado de equilátero.
Base
Cilindro equilátero: ℎ = 2r
Vamos extrair algumas informações:
A base do cilindro é um círculo. Portanto, a área da A base de um cone é um círculo, então a área da
base do cilindro é igual a πr2.
base é πr2.
Perceba que se “desenrolarmos” a área lateral e
Quando “abrimos” um cone, temos seguinte figura:
““abrirmos” todo o cilindro, temos o seguinte:

H H

R C

R R
134
Temos, também, a área lateral que é dada pela fór- A área lateral da pirâmide é dada por:
mula πrg , onde “g” é o comprimento da geratriz do
cone. Aℓ = pm′
Para calcularmos o volume de um cone, basta
sabermos que equivale a 1/3 do produto entre a área A área total da pirâmide é dada por:
da base pela altura. Veja:
AT = Ab + Aℓ
2
rr h
V= O volume da pirâmide é calculado da mesma for-
3
ma que o volume do cone: 1/3 do produto da área da
Em um cone equilátero a sua geratriz será igual ao base pela altura. Veja:
diâmetro, ou seja, 2r.
Ab # h
V=
3
Pirâmides
Exercite seus conhecimentos realizando os seguin-
A base de uma pirâmide poderá ser qualquer polí- tes exercícios.
gono regular, no caso estamos falando apenas de pirâ-
mides regulares. 1. (VUNESP — 2018) Uma praça retangular, cujas medi-
das em metros, estão indicadas na figura, tem 160m
de perímetro.

×
Pirâmide Pirâmide Pirâmide
Triangular Quadrangular Pentagonal

× + 20
Figura fora de escala

Sabendo que 70% da área dessa praça estão recober-


tos de grama, então, a área não recoberta com grama
tem

a) 450 m2.
b) 500 m2.
Pirâmide Pirâmide c) 400 m2.
Hexagonal Heptagonal d) 350 m2.
e) 550 m2.
O segmento de reta que liga o centro da base a um
ponto médio da aresta da base é denominado “apótema Foi dado o perímetro dessa praça, que corresponde
da base”. Por sua vez, indicaremos por “m” o apótema à soma de todos os lados. Logo:
da base. E o segmento que liga o vértice da pirâmide ao 2x + 2(x + 20) = 160
2x + 2x + 40 = 160
ponto médio de uma aresta da base é denominado “apó-
4x = 120
tema da pirâmide”. Indicaremos por m′ o apótema da
x = 30 m
pirâmide. Veja: RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
A área, portanto, será:
Área = 30 x (30 + 20)
Área = 30 x 50 = 1500 m²
Como 70% está recoberta por grama, 100 – 70 = 30%
não é recoberta. Logo:
Área não recoberta = 0,3 x 1500 = 450 m². Resposta:
Letra A.
m'
2. (CEBRASPE-CESPE — 2018) Os lados de um terreno
quadrado medem 100 m. Houve erro na escrituração,
e ele foi registrado como se o comprimento do lado
medisse 10% a menos que a medida correta. Nessa
situação, deixou-se de registrar uma área do terreno
m igual a

a) 20 m².
b) 100 m².
c) 1.000 m². 135
d) 1.900 m². 5. (VUNESP — 2018) Em um reservatório com a forma
e) 2.000 m². de paralelepípedo reto retângulo, com 2,5 m de com-
primento e 2 m de largura, inicialmente vazio, foram
A área de um quadrado é L². Inicialmente os lados despejados 4 m³ de água, e o nível da água nesse
do quadrado deveriam medir L = 100 m, portanto a reservatório atingiu uma altura de x metros, conforme
área seria A = 100² = 10000 m². Porém, L foi regis- mostra a figura.
trado com 10% a menos, ou seja, 100 – 10% x 100 =
90 m. Logo, a área passou a ser 90² = 8100 m².
Então, a área que deixou de ser registrada foi de:
10000 – 8100 = 1900 m². Resposta: Letra D.

3. (IDECAN — 2018) A figura a seguir é composta por


losangos cujas diagonais medem 6 cm e 4 cm. A área ×
da figura mede:

2,5

Sabe-se que para enchê-lo completamente, sem trans-


bordar, é necessário adicionar mais 3,5 m³ de água.
a) 48 cm2. Nessas condições, é correto afirmar que a medida da
b) 50 cm2. altura desse reservatório, indicada por h na figura, é,
c) 52 cm2. em metros, igual a:
d) 60 cm2.
e) 64 cm2. a) 1,25.
b) 1,5.
Sendo D e d as diagonais de um losango, sua área é c) 1,75.
dada por: d) 2,0.
Área = D x d / 2 = 6 x 4 / 2 = 12cm2 e) 2,5.
Como ao todo temos 5 losangos, a área total é:
5 x 12 = 60cm2. Resposta: Letra D. O volume total do reservatório é de 4 + 3,5 = 7,5m3.
Usando a fórmula para calcular o volume, ou seja,
4. (IBFC — 2017) A alternativa que apresenta o número Volume = comprimento x largura x altura
total de faces, vértices e arestas de um tetraedro é: 7,5 = 2,5 x 2 x h
3=2xh
a) 4 faces triangulares, 5 vértices e 6 arestas. h = 1,5m. Resposta: Letra B.
b) 5 faces triangulares, 4 vértices e 6 arestas.
c) 4 faces triangulares, 4 vértices e 7 arestas.
d) 4 faces triangulares, 4 vértices e 6 arestas.
e) 4 faces triangulares, 4 vértices e 5 arestas. NOÇÕES DE ESTATÍSTICA: MÉDIA,
MODA, MEDIANA E DESVIO PADRÃO
Um tetraedro é uma figura formada por 4 faces ape-
nas, veja: MÉDIA, MEDIANA E MODA

V As medidas de posição ou de tendência central


constituem uma forma mais sintética de apresentar
os resultados contidos nos dados observados, pois
a representam um valor central em torno dos quais
a
os dados se concentram, ou seja, o termo medida de
posição é usado para indicar, ao longo da escala de
C medidas, onde a amostra ou a população está locada.
A As medidas de posição mais empregadas são a média,
a a mediana e a moda. Esses parâmetros são úteis, pois
a descrevem propriedades da população, ou seja, carac-
terizam a população. A média aritmética é a medida
B de posição mais conhecida e aplicada. No entanto,
nem sempre é a mais adequada.
Temos 4 vértices A, B, C e V. Também sabemos que
temos 4 faces. O número de arestas pode ser conta- Média Aritmética
do ou, então, obtido pela relação:
V+F=A+2 A mais usada das três medidas de posição mencio-
4+4=A+2 nadas, por ser a mais comum e compreensível delas,
A = 6 arestas . bem como pela relativa simplicidade do seu cálculo,
136 Resposta: Letra D. além de prestar-se bem ao tratamento algébrico.
A média aritmética ou simplesmente média de um
conjunto de n observações, é definida como:
n 30
Ʃxi
i=1
Ʃxi
i=1
1,87 + ... + 1,78
x= = = = 1,720m ;
n
Ʃxi
i=1 n 30 30
x=
n
n 30
Onde n é o número de valores observados ou tama-
Ʃxi
i=1
Ʃxi
i=1
5 + ... + 2
x= = = = 2, 2 irmãos .
nho amostral e:
n 30 30

n O valor encontrado (x = 2,2 irmãos) não é um resul-


Ʃxi = x + x + ⋯ + x (soma dos valores observados).
i=1
1 2 n
tado possível (nesse caso, poderiam ser 2 irmãos, 3
irmãos, mas não 2,2 irmãos). No entanto, esse valor
representa a média geral ou o todo, e permite inter-
Usa-se para denotar uma medida de média amos- pretar que a tendência geral foi de pouco mais de dois
tral o x, que também é conhecido como um estimador irmãos por aluno.
da média. Já a notação para média populacional é a
letra grega, que representa o parâmetro média popu-
Mediana
lacional. Então, percebam que falando de amostras
dizemos estimativas e para população são parâme-
A mediana é uma medida típica de tendência cen-
tros. Para a população teríamos:
tral, sendo definida em um conjunto de dados ordena-
dos como o valor central, ou seja, para um conjunto
n de dados ordenados (Rol) a mediana é o valor que é
Ʃxi
µ= i=1 =
x1 + x2 + ... + xN precedido e seguido pelo mesmo número de dados
(observações), isto é, 50% dos dados são superiores à
mediana e 50% são inferiores. A mediana amostral é o
N N melhor estimador da mediana populacional (FERREI-
RA, 2005).
Cálculo da mediana:
Em que µ é a média populacional, Ʃxi é a soma de
todos os elementos da população e N é o número de z Quando o número de dados (n) for ímpar, a media-
elementos na população. na é dada por:
Para os dados da Tabela 1 e 2, podemos calcular a
média das variáveis altura e número de irmãos: Md== x n1++1n x = dM
Md n + 1
 
 222 
z Tabela 1: rol das alturas dos alunos da disciplina
de Estatística e Probabilidade do curso de Mate-
mática da Universidade Federal de Uberlândia no Onde:
semestre 01 do ano de 2002.
Md = x nn+1+1+1n x = dM
1,51 1,53 1,56 1,62 1,63 1,64 1,65   2 
1,67 1,67 1,67 1,68 1,70 1,70 1,72  22 
1,72 1,73 1,73 1,75 1,75 1,75 1,76
É o índice ou posição da variável (X).
1,78 1,78 1,78 1,80 1,83 1,87 1,87
1,88 1,88
z Quando o número de dados (n) for par, a mediana
é dada por: RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
z Tabela 2: rol do número de irmãos dos alunos da
disciplina de Estatística e Probabilidade do curso
de Matemática da Universidade Federal de Uber-
Md =Mdx n=++x1 x= nn 1d+++1M
 1+ n n2

x = dM
     
lândia no semestre 01 do ano de 2002.  2 2 2    222  
Md =
2
0 0 0 1 1 1 1
1 1 1 1 1 1 1 Onde:

x 1+nnn+=1x x= nnd+1+1M+2n x = dM


Md =Md
1 2 2 2 2 2 2
3 3 3 4 5 5 6
6 6    e  2 2 
 222  2

São índices ou posição da variável (X).


Seja a variável X1 = [0, 1, 2, 3, 4] ordenada, sabe-se
que o n = 5, ou seja, n é ímpar logo a mediana é dada
por:
137
Md xMd
Md== x ==x xx= 5n d
 1+++1n1 
n
n
M=x x=3 =d2.
1+++1n1 
M Para as Tabelas 1 e 2, Rol das alturas e número de
 
  222  
 
  222   irmãos, tem-se, respectivamente, as modas, Mo = 1,67,
1,75 e 1,78 metros (polimodal) e Mo = 1.
Já para a variável X2 = [0, 1, 2, 3] ordenada, sabe-se
que o n = 4, ou seja, n é par logo a mediana é dada por: Posição Relativa da Média, Mediana e Moda

Segundo Crespo (1999), quando uma distribuição


Md =Mdx n=++x1 x= nn 1d+++1M
 1+ n n2

x = =Md
Md x1+ n4=++x1 x= 4n 1d+++1M
dM n2 
x = dM é simétrica, as três medidas coincidem. Porém, a assi-
= =
           
Md =  2 2 2    222    2 2 2    222   metria as torna diferentes de modo que quanto maior
a assimetria, maior será essa diferença entre as três
2 2
medidas. Assim, em distribuições simétricas e assimé-
tricas, temos:
x(2) + x(3) 1+2
= = 1,5. z x = Md = Mo, no caso de distribuição simétrica;
2 2
z x > Md > Mo, no caso de distribuição assimétrica
positiva (assimétrica à direita);
Fazendo o mesmo para os dados da Tabela 1 e 2, z x < Md < Mo, no caso de distribuição assimétrica
Rol das alturas e número de irmãos, respectivamente, negativa (assimétrica à esquerda).
tem-se que n = 30, ou seja, n é par logo as medianas
são:

1,51 1,53 1,56 1,62 1,63 1,64 1,65


1,67 1,67 1,67 1,68 1,70 1,70 1,72
1,72 1,73 1,73 1,75 1,75 1,75 1,76
1,78 1,78 1,78 1,80 1,83 1,87 1,87
1,88 1,88

Md =Mdx =+x x= dMxMd


 1+ n
n+  1+++1n2
1  n
n 
= d=Md
Mx1+30=+xx=n+d
nn+1  30
Mx = dM
11++n2 
           
 2 2 2    222    222   222 
Mdalturas = = =
2 2

x(15) + x(16) 1,72 + 1,73


= = 1,725m
2 2

a)
0 0 0 1 1 1 1
1 1 1 1 1 1 1
1 2 2 2 2 2 2
3 3 3 4 5 5 6
6 6

Como as duas variáveis têm o mesmo tamanho de


amostra, perceba que as posições da mediana para as
duas variáveis são as mesmas, posição 15 e 16, mos-
trando então que a mediana depende do tamanho da
amostra (n).

Moda

A moda é o valor que ocorre com maior frequên-


cia (que mais se repete) em uma série de dados. Uma
melhor definição poderia ser dada por aquele valor
da variável em que há a mais densa concentração
de valores na sua proximidade (FERREIRA, 2005). A
moda amostral (Mo) é o melhor estimador da moda b)
populacional (µ0). A moda não é afetada pelos extre-
mos e também é uma medida muito utilizada na eco-
nomia e quando desejamos obter uma medida rápida
e aproximada de posição ou quando a medida de posi-
ção deve ser o valor mais típico da distribuição. Para
um conjunto de dados a moda pode não ser única,
bem como pode não existir.
138
PLANO CARTESIANO E A DISTÂNCIA ENTRE DOIS
PONTOS

Observe o plano cartesiano a seguir e a reta que


liga os dois pontos A e B.

Y
B
Yb

A
Ya

c) No plano apresentado, a menor distância entre pon-


to A e o ponto B é o que chamamos de distância entre
Figura 2: Relação das medidas de posição para diferentes dois pontos. Para calcular essa distância, vamos consi-
distribuições: (a) distribuição simétrica, (b) distribuição assimétrica derar os pontos traçados dentro do plano cartesiano.
à direita e (c) distribuição assimétrica à esquerda.
Sendo eles A(xa, ya) e B(xb, yb), a fórmula é a seguinte:

D² = (Xb – Xa)² + (Yb – Ya)²

PLANO CARTESIANO: SISTEMA DE √D2 = √(Xb – Xa)2 + (Yb – Ya)2

COORDENADAS, DISTÂNCIA D = √(Xb – Xa)2 + (Yb – Ya)2

DISTÂNCIA ENTRE DOIS PONTOS Vejamos um exemplo:

Para entendermos um pouco mais sobre a dis- Dados os pontos A (3,5) e B (2,6), determine a dis-
tância entre dois pontos, vamos observar a seguinte tância entre eles.
situação: em uma viagem, quando estamos passando
por uma estrada, temos algumas placas de sinalização D = √(2 – 3)2 + (6 – 5)2
que marcam o quilômetro ou a posição em que esta-
mos naquele instante. Em um ponto inicial, passamos D = √(– 1)2 + (1)2
pela placa km 13; em seguida, passamos pela placa km D = √1+1
67. E se quiséssemos saber qual a distância percorrida
até o momento? É muito simples saber qual a distân- D = √2
cia entre esses dois pontos.
Primeiro, vamos pensar uma reta numérica (igual Logo, a distância entre os pontos A e B é igual a √2.
a uma régua mesmo). Para sabermos quanto já anda-
mos, é preciso considerar as duas placas: a do km 13 BARICENTRO
e a do km 67. Desse modo, calculamos o módulo da
diferença entre esses dois pontos para obtermos a dis- Conceito
tância percorrida, assim:
O baricentro (G) é o ponto de encontro das três
Placa km 13 Placa km 67 medianas do triângulo. Podemos chamá-lo, também, de
centro de gravidade do triângulo. Veja a sua construção: RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

|13 – 67| = |– 54| = 54 km (toda operação dentro


de um módulo terá seu resultado positivo).

Logo, a distância entre os dois pontos é igual a 54


km.

Dica
B C
Toda operação que envolve módulo sempre terá Ma
seu resultado positivo.

139
A
Logo, para encontrar as coordenadas do baricen-
tro G(xG, yG), utilizamos a fórmula:

G (XG, YG)
Mb
xa+xb+x�
XG = 3
Ya+Yb+Y�
YG = 3
B C
A

PROBLEMAS DE LÓGICA E RACIOCÍNIO


Mc
PROBLEMAS ENVOLVENDO LÓGICA E RACIOCÍNIO
LÓGICO

Dentro de toda a teoria que já foi estudada sobre


B C
os diversos conceitos de Raciocínio Lógico, vamos
agora resolver algumas questões que envolvem pro-
Nas figuras apresentadas, temos as três medianas blemas com lógica e raciocínio. Aqui não tem teoria,
do triângulo. A união delas é que dá origem ao bari- pois como disse: esse tópico reúne diversos conceitos
centro. Entenda: já estudados, tais como Diagrama de Venn, Associação
Lógica, Equivalências, Negações, etc. Logo, devemos
A
resolver questões para entendermos como são cobra-
das em provas.
Para podermos praticar um pouco mais sobre esse
assunto, analisaremos algumas questões comentadas
de concursos.
Mc Mb
1. (FUNDATEC — 2020) Em shopping da cidade, foram
G entrevistadas 320 pessoas para apurar quem gosta de
séries ou quem gosta de filmes. Dos dados levanta-
dos, tem-se que 256 gostam de séries e 194 gostam
de filmes. Sabendo que todos preferem pelo menos
uma das duas opções e que ninguém disse que não
B C gosta de nada, quantas pessoas gostam de séries e
Ma filmes ao mesmo tempo?

Cálculo do Baricentro a) 110.


b) 130.
Para calcularmos o Ponto do Baricentro, devemos c) 150.
desenhar o triângulo no plano cartesiano, pois é mais d) 170.
fácil de encontrar as coordenadas do baricentro do e) 190.
triângulo. Para isso, vamos calcular a média aritmé-
tica dos valores de x e também dos valores de y. Veja: Temos uma questão que relaciona os conceitos de
conjuntos de Venn, pedindo a interseção. Vamos
somar todos os valores e descontar do total. Fica:
Ya A Total = 320.
Séries = 256.
Filmes = 194.
Resolução = 256 + 194 = 450 - 320 = 130 gostam de
filmes e séries ao mesmo tempo. Resposta: Letra B.
G
Yg 2. (FCC — 2019) Antônio, Bruno e Carlos correram uma
B maratona. Logo após a largada, Antônio estava em
Yb
primeiro lugar, Bruno em segundo lugar e Carlos em
terceiro lugar. Durante a corrida Bruno e Antônio tro-
Yc C caram de posição 5 vezes, Bruno e Carlos trocaram de
posição 4 vezes e Antônio e Carlos trocaram de posi-
Xb Xg Xa Xc ção 7 vezes. A ordem de chegada foi:

a) Antônio (1º), Carlos (2º) e Bruno (3º).


b) Bruno (1º), Carlos (2º) e Antônio (3º).
Temos as seguintes coordenadas: c) Bruno (1º), Antônio (2º) e Carlos (3º).
d) Carlos (1º), Bruno (2º) e Antônio (3º).
140 A(xA, yA), B(xB, yB) e C(xC, yC) e) Carlos (1º), Antônio (2º) e Bruno (3º).
Para resolver essa questão basta saber que: se o III. Evandro não está antes de todos os outros, mas está
número de trocas for PAR (não importa a quantida- mais próximo da primeira posição do que da última;
de) as posições vão ser mantidas, se for ímpar (não IV. Flávio está em uma posição anterior à de Bruno;
importa a quantidade), serão trocadas. V. Bruno não ocupa a quarta posição da fila.
Logo,
1º Antônio Com base nessas informações, julgue o item a seguir,
2º Bruno considerando a ordenação da esquerda para a direita.
3º Carlos Bruno e Dani estão, necessariamente, em posições
Bruno e Antônio trocaram 5 vezes  número ímpar, consecutivas.
então, Antônio trocará de lugar com Bruno: 1º Bru-
no 2º Antônio 3º Carlos ( ) CERTO ( ) ERRADO
Bruno e Carlos trocaram 4 vezes  número par,
cada um ficará no seu lugar: 1º Bruno 2º Antônio A primeira informação nos diz que Bruno está antes
3º Carlos de Carla.
Antônio e Carlos trocaram 7 vezes  número ímpar, Da esquerda para a direita;
então, Antônio trocará de lugar com Carlos: ____Bruno___Carla___
1º Bruno 2º Carlos 3º Antônio. Resposta: Letra B. No espaço pode conter outros amigos ou não;
O item II deixa claro que Carla está logo após Dani,
sem ninguém entre elas.
3. (VUNESP — 2019) Três moças, Ana, Bete e Carol, tra-
___Dani-Carla___
balham no mesmo ambulatório. Na segunda-feira, Ana
Juntando à anterior, fica:
chegou depois de Bete, e Carol chegou antes de Ana.
___Bruno___Dani-Carla___
Nesse dia, Carol não foi a primeira a chegar no serviço.
Item IV fala que Flávio está antes de Bruno:
A primeira, a segunda e a terceira moça a chegar no
__Flávio___ Bruno___ Dani-Carla___
serviço nesse dia foram:
Falta Alberto e Evandro, lembrando que:
Só a Dani pode ser a quarta pessoa ou não:
a) Bete, Ana e Carol. Flávio – Evandro – Bruno – Alberto – Dani – Carla
b) Bete, Carol e Ana. Obedecendo todas as regras, o quarto pode ser Alber-
c) Ana, Carol e Bete. to ou Bruno, então, necessariamente deixa o item
d) Ana, Bete e Caro. errado, pois tem outra forma.
e) Carol, Bete e Ana. Resposta: Errado.

Ana chegou depois de Bete  Então, Ana não foi a


primeira a chegar, elimine as alternativas C e D.
Carol chegou antes de Ana  Se Carol chegou antes HORA DE PRATICAR!
de Ana, e Ana não foi a primeira a chegar, então Ana
foi a última a chegar, elimine a alternativa A. 1. (FGV — 2021) ATENÇÃO: tomando por base a tabela,
Carol não foi a primeira a chegar no serviço.  Já responda a questão a seguir.
que Carol não foi a primeira a chegar, elimine a
alternativa E. Consumo de um produto ao longo de 4 meses.
Conclusões: 1º Bete, 2º Carol e 3º Ana.
Resposta: Letra B.
MÊS CONSUMO PESOS ME TE P
4. (IBADE — 2020) Numa avenida em linha reta, a agên-
1 100 0,1 ... 20 100
cia dos correios fica entre a escola e o restaurante, e
a escola fica entre o restaurante e a ótica. Então, con- 2 120 0,2 ... ... ...
clui-se que:
3 132 0,3 ... ... ...
a) a ótica fica entre o restaurante e a agência dos correios.
4 156 0,4 ... ... ...
b) o restaurante fica a escola e agência dos correios.
c) a escola fica entre a agência dos correios e o restaurante. RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
5 170 ... ... ... ?
d) a agência dos correios fica entre a ótica e a escola.
e) a escola fica entre a ótica e a agência dos correios. Dados:

Primeiro: Escola__Correios__Restaurante � Me é a média exponencial;


Segundo: A escola fica entre o restaurante e a ótica. � Te é a tendência exponencial;
Ótica__Escola__Correios__Restaurante � P é a previsão de consumo no mês.
(A escola está entre a ótica e o restaurante, nessa
representação). Considerando os métodos da média simples e da
Resposta: Letra E. média ponderada, as previsões de consumo no mês 5
seriam, respectivamente, de
5. (CEBRASPE-CESPE — 2020) Seis amigos — Alberto,
Bruno, Carla, Dani, Evandro e Flávio — estão enfileira- a) 127 e 127
dos, da esquerda para a direita, e dispostos da seguin- b) 127 e 136
te forma: c) 127 e 142
d) 136 e 127
I. Bruno está em uma posição anterior à de Carla; e) 136 e 142
II. Carla está imediatamente após Dani; 141
2. (FGV — 2021) Uma lista de 2021 números inteiros 7. (FGV — 2019) Sabe-se que o número N é 50% maior do
positivos tem uma única moda (estatística) que ocor- que o número M .
re exatamente 15 vezes. O número mínimo de inteiros
distintos que ocorre nessa lista é É correto afirmar que

a) 141. N
a) M =
b) 142. 2
c) 143. b) M = 2N
d) 144.
e) 145. N
c) M =
3
3. (FGV — 2021) Considere os números 1, 2, 3, 6, 8. 2N
d) M =
3
O desvio padrão dessa lista de números é, aproxima- 3N
damente, igual a e) M =
4

a) 1,7. 8. (FGV — 2019) Um hospital realizou um concurso ofe-


b) 2,1. recendo vagas para os cargos de técnico em enferma-
c) 2,6. gem e de administração hospitalar. Inscreveram-se
d) 3,0. 120 candidatos, sendo que o número de mulheres foi
e) 3,4. o dobro do número de homens.

4. (FGV — 2022) Treze cadeiras numeradas consecuti- O quadro incompleto a seguir mostra os números de
vamente de 1 a 13 formam uma fila. Quatro pessoas candidatos aos dois cargos:
devem sentar-se nelas e o número da cadeira em que
cada uma deve se sentar será decidido por sorteio. TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO
Para as três primeiras pessoas foram sorteados os ENFERMAGEM HOSPITALAR
números 3, 8 e 11 e será feito o sorteio para a última
cadeira a ser ocupada. Homens 12

A probabilidade de que a quarta pessoa NÃO se sente Mulheres 35


ao lado de nenhuma pessoa já sentada é:
O número total de candidatos para técnico em enfer-
a) 1/2; magem era de
b) 1/4;
c) 2/5; a) 57.
d) 7/10; b) 59.
e) 4/13. c) 61.
d) 63.
5. (FGV — 2022) Considere uma operação entre números e) 65.
inteiros maiores do que zero, representada pelo sím-
bolo & e definida como: 9. (FGV — 2021) Em certa cidade, verificou-se que a
quantidade de assaltos ocorridos em cada mês era
a&b =3a+b, sendo a e b números inteiros positivos. inversamente proporcional ao número de policiais pre-
sentes no patrulhamento das ruas nesse mês.
Considere também o conjunto C cujos elementos são
os números inteiros x, maiores do que zero, tais que Sabe-se que, em abril, 400 policiais estiveram presen-
x&2 seja múltiplo de 4 e menor do que 40. tes no patrulhamento e 30 assaltos ocorreram, e que,
em maio, o número de assaltos caiu para 24.
O número de elementos do conjunto C é igual a
O número de policiais que estiveram presentes no
a) 1. patrulhamento no mês de maio foi
b) 2.
c) 3. a) 320.
d) 4. b) 360.
e) 5. c) 420.
d) 460.
6. (FGV — 2021) Assinale a opção que mostra o maior e) 500.
dos números abaixo.
10. (FGV — 2021) Em nosso país, as áreas de terrenos são
a) 0,559. medidas com unidades diversas, como, por exemplo, o
b) 0,568. hectare que corresponde a 10.000 m2; o alqueire paulis-
c) 0,74. ta, a 24.000 m2; e o alqueire do Norte, a 27.000 m2.
d) 0,2021.
e) 0,57. Um terreno de 17 alqueires do Norte excede um de 18
alqueires paulistas em:

142 a) 1,8 hectare;


b) 2,2 hectares; O perímetro do polígono é de 132 cm.
c) 2,5 hectares;
d) 2,7 hectares; A área desse polígono, em cm2, é igual a (
e) 3,1 hectares.
a) 468.
11. (FGV — 2019) O triângulo ABC, figura a seguir, é retân- b) 504.
gulo em A, e D é um ponto do lado AB. Sabe-se que AC c) 540.
= 40 m e que os ângulos CBA e CDA medem, respecti- d) 576.
vamente, 30° e 45°. e) 612.

C 15. (FGV — 2019) A figura a seguir mostra dois polígonos


regulares iguais, com um vértice em comum e apoia-
dos em uma mesma reta.

B D A α

Considerando √3 = 1, 73, a medida do segmento BD é


de, aproximadamente,
Sabe-se que a soma dos ângulos internos de um polí-
gono de n lados é dada por S = 180º (n – 2).
a) 27 m.
b) 29 m.
A medida do ângulo assinalado com a letra α é
c) 31 m.
d) 33 m.
a) 32º.
e) 35 m.
b) 36º.
c) 40º.
12. (FGV — 2021) Dois lados de um triângulo medem 6
d) 48º.
e 12. A medida da altura relativa ao terceiro lado é a
e) 72º.
média aritmética das medidas das alturas relativas
aos lados dados.
16. (FGV — 2019) A figura a seguir mostra uma circunfe-
rência de centro O, um diâmetro AB e uma corda CD,
A medida do terceiro lado é
perpendicular em M ao segmento AB.
a) 12. A
b) 11.
c) 10.
d) 9. C M D
e) 8.
O
13. (FGV — 2019) Os lados de um retângulo têm, respecti-
vamente, 20m e 32m. Aumentando-se 2m na medida
de cada lado, a área do retângulo aumentará B
a) 4m . 2
Sabe-se que OM = 2 cm e que MA = 4 cm.
b) 16m2.
c) 64m2.
A área em cm² do triângulo BCD é
d) 108m2.
e) 128m2. RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO
a) 16 2.
14. (FGV — 2022) A figura abaixo mostra um polígono b) 18 2.
sombreado desenhado sobre um quadriculado (papel c) 24 2.
coberto com linhas horizontais e verticais formando
pequenos quadrados iguais). d) 32 2.
e) 36 2.

17. (FGV — 2012) Sabe-se que a sentença “Se o sapato é


preto, então a meia é preta ou o cinto é preto” é FALSA.

É correto concluir que

a) o sapato é preto, a meia não é preta, o cinto não é


preto.
b) o sapato é preto, a meia é preta, o cinto não é preto.
c) o sapato é preto, a meia é preta, o cinto é preto.
143
d) o sapato não é preto, a meia não é preta, o cinto não é
10 D
preto.
e) o sapato não é preto, a meia é preta, o cinto é preto. 11 B

18. (FGV — 2022) Sabe-se que a sentença “Se a camisa é 12 E


azul, então a calça não é branca ou o boné é preto” é
13 D
FALSA.
14 C
É correto então concluir que
15 B
a) a camisa não é azul, a calça não é branca, o boné não
16 D
é preto.
b) a camisa é azul, a calça não é branca, o boné é preto. 17 A
c) a camisa não é azul, a calça não é branca, o boné é
preto. 18 D
d) a camisa é azul, a calça é branca, o boné não é preto.
19 D
e) a camisa não é azul, a calça é branca, o boné é preto.
20 C
19. (FGV — 2022) Considere a sentença:

“Se Amazonino é amazonense e Reno não é alagoano,


então Carlota não é carioca”.
ANOTAÇÕES
Uma sentença logicamente equivalente à sentença
dada é

a) Se Carlota não é carioca, então Amazonino é amazo-


nense e Reno não é alagoano.
b) Se Amazonino não é amazonense e Reno é alagoano,
então Carlota é carioca.
c) Se Amazonino não é amazonense ou Reno é alagoano,
então Carlota é carioca.
d) Se Carlota é carioca, então Amazonino não é amazo-
nense ou Reno é alagoano.
e) Se Carlota é carioca, então Amazonino não é amazo-
nense e Reno não é alagoano.

20. (FGV — 2021) A frase a seguir é um conhecido ditado


popular:

“Se não tem cão então caça com gato”.

Uma frase logicamente equivalente é:

a) Se tem cão então não caça com gato;


b) Se caça com gato então não tem cão;
c) Tem cão ou caça com gato;
d) Tem cão e caça com gato;
e) Tem cão ou não caça com gato.

9 GABARITO

1 B

2 E

3 C

4 C

5 C

6 C

7 D

8 A

9 E
144
Por sua vez, um conjunto de carreiras forma um
quadro, conforme colocado pelo art. 8º.

Art. 8º Quadro é um conjunto de carreiras, de car-


gos isolados e de funções gratificadas.
LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA Não haverá equivalência entre as diferentes carrei-
ras, nem entre cargos isolados ou funções gratificadas,
conforme art. 9º.
A seguir, apresentamos um esquema hipotético
ESTATUTO DOS SERVIDORES para facilitar o seu entendimento da correlação dos
PÚBLICOS DO ESTADO DE MINAS conceitos abordados.
GERAIS: LEI Nº 869, DE 1952 E
ALTERAÇÕES POSTERIORES QUADRO

Neste tópico conheceremos o Estatuto dos servido- Carreira B Carreira A


res do Estado. Abordaremos os tópicos que têm maior Classe 1: Padrões Classe 1
probabilidade de serem cobrados em provas, pois se Classe 1: Padrões Classe 1
Classe 2: Padrões Classe 2
trata de uma lei bastante extensa. Entretanto, assim
como todo e qualquer estudo que seja pautado em
DO PROVIMENTO
uma lei específica, aconselhamos que você se planeje,
de forma que possa ler a letra fria da Lei, tendo conta-
to com a norma na sua forma original e integral. O art. 12 traz a forma de provimento dos cargos.
Ao longo do texto, você perceberá a ausência de inci- Vejamos:
sos ou parágrafos eventualmente. Por ser muito antiga a
Lei, são muitos os dispositivos revogados, o quais foram Art. 12 Os cargos públicos são providos por:
I – Nomeação;
omitidos para que a sua leitura fosse mais leve.
II – Promoção;
III – Transferência;
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES IV – Reintegração;
V – Readmissão;
O Estatuto regula as condições do provimento dos VI – Reversão;
cargos públicos, os direitos e as vantagens, os deveres VII – Aproveitamento.
e responsabilidades dos funcionários civis do Estado,
sendo suas disposições aplicáveis ao Ministério Públi- Esses dispositivos riscados ainda constam da Lei,
co e ao Magistério, conforme art. 1º. mas são inconstitucionais. Portanto, é improvável que
Os arts. 2º e 3º trazem conceitos basilares, impor- sejam cobrados em prova.
tantes para sua prova. Em seguida, temos o art. 13, que traz os requisitos
para ocupar o cargo público. Trata-se de um conteúdo
Art. 2º Funcionário público é a pessoa legalmen- bastante cobrado e, por isso, merece atenção.
te investida em cargo público.
Art. 3º Cargo público, para os efeitos deste estatuto,
Art. 13 Só poderá ser provido em cargo público
é o criado por lei em número certo, com a denomina-
quem satisfizer os seguintes requisitos:
ção própria e pago pelos cofres do Estado.
I – ser brasileiro;
Parágrafo único. Os vencimentos dos cargos públicos
II – ter completado dezoito anos de idade;
obedecerão a padrões previamente fixados em lei.
III – haver cumprido as obrigações militares fixa-
Os cargos podem estar organizados em carreira ou das em lei;
IV – estar em gozo dos direitos políticos;
não. No entanto, para entendermos o dispositivo que trata
V – ter boa conduta;
desse assunto, é importante vermos os conceitos de classe
VI – gozar de boa saúde, comprovada em inspeção
e carreira primeiramente, constantes nos arts. 5º e 6º.
médica;
Art. 5º Classe é um agrupamento de cargos da mes- VII – ter-se habilitado previamente em concurso,
ma profissão e de igual padrão de vencimento. salvo quando se tratar de cargos isolados para os
Art. 6º Carreira é um conjunto de classes da mes- quais não haja essa exigência;
ma profissão, escalonadas segundo os padrões de VIII – ter atendido às condições especiais, inclusi-
LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA

vencimentos. ve quanto à idade, prescrita no respectivo edital de


concurso.
Padrão de vencimento nada mais é do que o parâ-
metro estabelecido em Lei para remunerar o agente NOMEAÇÕES
público. São subdivisões dentro das classes.
Agora, poderemos compreender melhor o conteú- O art. 14 trata das nomeações, as quais podem ser
do do art. 4º, que dispõe sobre os cargos a serem isola- em caráter efetivo ou em comissão. Vejamos:
dos ou organizados em carreira.
Art. 14 As nomeações serão feitas:
Art. 4º Os cargos são de carreira ou isolados. I – em caráter efetivo, quando se tratar de cargo
Parágrafo único. São de carreira os que se inte- de carreira ou isolado que, por lei, assim deva ser
gram em classes e correspondem a uma profissão; provido;
isolados, os que não se podem integrar em clas- II – em comissão, quando se tratar de cargo isola-
ses e correspondem a certa e determinada função. do que, em virtude de lei, assim deva ser provido; 145
IV – em substituição no impedimento legal ou tem- Os dispositivos que tratavam, especificamente, da
porário de ocupante de cargo isolado de provimen- promoção foram todos revogados, portanto nada res-
to efetivo ou em comissão. ta a abordar.
Em relação aos arts. 44 a 48, trata-se do instituto
O art. 16 impõe que a primeira investidura em cargo da transferência, também incompatível com a CF, de
de carreira e em outros que a Lei determinar efetuar-se- 1988, o que torna remota sua chance de cobrança.
-á mediante concurso, precedida de inspeção de saúde. Vejamos, agora, a reintegração, constante do art.
Art. 16 A primeira investidura em cargo de carreira e 50 do Estatuto.
em outros que a lei determinar efetuar-se-á mediante
concurso, precedida de inspeção de saúde. Art. 50 A reintegração, que decorrerá de decisão
Parágrafo único. Os concursos serão de provas e, administrativa ou sentença judiciária passada em
subsidiariamente, de títulos. julgado, é o ato pelo qual o funcionário demitido
reingressa no serviço público, com ressarcimento
No entanto, aqui, temos uma possível incompatibili- dos prejuízos decorrentes do afastamento.
dade com a CF, de 1988, pois abre-se o caminho para que § 1º A reintegração será feita no cargo anteriormente
haja uma mudança de carreira sem concurso. No entan- ocupado se esse houver sido transformado, no cargo
to, o aprofundamento desse tema não é nosso objetivo. resultante da transformação; e, se provido ou extinto,
em cargo de natureza, vencimento ou remuneração
ESTÁGIO PROBATÓRIO equivalentes, respeitada a habilitação profissional.
§ 2º Não sendo possível fazer a reintegração pela for-
No que diz respeito ao estágio probatório, o art. ma prescrita no parágrafo anterior, será o ex-funcio-
23 traz o período de 2 (dois) anos de efetivo exercício nário posto em disponibilidade no cargo que exercia,
para o servidor nomeado por meio de concurso em com provento igual ao vencimento ou remuneração.
dissonância tanto com a Constituição Federal, quanto § 3º O funcionário reintegrado será submetido a ins-
com a Constituição Estadual, que trazem o período de 3 peção médica; verificada a incapacidade será apo-
(três) anos. Ainda, traz o período de 5 (cinco) anos para sentado no cargo em que houver sido reintegrado.
demais casos, o que, também, não é mais possível.
Vejamos o dispositivo com o devido cuidado, uma vez A readmissão, além de ser inconstitucional, tam-
que os requisitos são assuntos recorrentes em provas. bém teve os dispositivos a ela relacionados revogados.

REVERSÃO
Dica
Veremos, a seguir, a reversão, cujas principais
Use o mnemônico “IDADE” para memorizar:
informações constam do art. 54.
ID oneidade moral
A ssiduidade Art. 54 Reversão é o ato pelo qual o aposentado
D isciplina reingresse no serviço público, após verificação,
E ficiência em processo, de que não subsistem os motivos
determinantes da aposentadoria.
Art. 23 Estágio probatório é o período de dois anos de § 1º A reversão far-se-á a pedido ou «ex-officio”.
efetivo exercício do funcionário nomeado em virtude § 2º O aposentado não poderá reverter à atividade
de concurso, e de cinco anos para os demais casos. se contar mais de cinqüenta e cinco anos de idade.
§ 1º No período de estágio apurar-se-ão os seguin- § 3º Em nenhum caso poderá efetuar-se a reversão,
tes requisitos: sem que mediante inspeção médica fique provada a
I – idoneidade moral; capacidade para o exercício da função.
II – assiduidade; § 4º Será cassada a aposentadoria do funcionário
III – disciplina; que reverter e não tomar posse e entrar em exercí-
IV – eficiência. cio dentro dos prazos legais.
§ 2º Não ficará sujeito a novo estágio probatório o
funcionário que, nomeado para outro cargo públi- O art. 57 traz o instituto do aproveitamento, que é
co, já houver adquirido estabilidade em virtude de o reingresso no serviço público do funcionário em dis-
qualquer prescrição legal. ponibilidade. Em resumo, a situação de disponibilida-
de é quando o servidor fica “em casa”, aguardando ser
ESTÁGIO aproveitado pela Administração Pública.
PROBATÓRIO Conforme art. 61, posse é o ato que investe o cida-
dão em cargo ou em função gratificada. As autoridades
Requisitos competentes para dar posse ao agente público são:

Art. 62 São competentes para dar posse:


I - o Governador do Estado;
Idoneidade II - os Secretários de Estado;
Assiduidade Disciplina Eficiência
Moral
III - os Diretores de Departamentos diretamente
subordinados ao Governador;
SUBSTITUIÇÃO IV - as demais autoridades designadas em regulamentos.

Sobre a substituição, a Lei impõe que ela ocorre- POSSE


rá no impedimento do ocupante de cargo isolado, de
provimento efetivo ou em comissão e de função gra- A posse ocorrerá mediante a lavratura de um termo que,
tificada, sendo automática ou dependente de ato da assinado pela autoridade que a der e pelo funcionário, será
146 Administração. arquivado no órgão de pessoal da respectiva Repartição,
depois dos competentes registros (art. 63), podendo ser b) nos casos de desajustamento funcional no exer-
tomada por procuração, quando se tratar de funcionário cício das atribuições do cargo isolado de que for
ausente do Estado, em missão do Governo ou, em casos titular o funcionário ou da carreira a que pertencer.
especiais, a critério da autoridade competente (art. 64).
O art. 68 traz informações a respeito do exercício, TEMPO DE SERVIÇO
que é muito importante devido a sua íntima ligação
com a aquisição de numerosos direitos pelo agente O art. 87 define a apuração do tempo de serviço em
público. Por isso, a necessidade de seu registro nos dias e eventual conversão em anos. Vejamos:
casos de início, interrupção e suspensão.
Art. 87 A apuração do tempo de serviço, para efei-
EXERCÍCIO to de aposentadoria, promoção e adicionais, será
feita em dias.
Art. 68 O início, a interrupção e o reinício do exer- § 1º Serão computados os dias de efetivo exercício,
cício serão registrados no assentamento individual à vista de documentação própria que comprove a
do funcionário. freqüência, especialmente livro de ponto e folha de
Parágrafo único. O início do exercício e as altera- pagamento.
ções que neste ocorrerem serão comunicados, pelo § 2º Para efeito de aposentadoria e adicionais, o
chefe da repartição ou serviço em que estiver lota- número de dias será convertido em anos, conside-
do o funcionário, ao respectivo serviço de pessoal e rados sempre estes como de trezentos e sessenta e
às autoridades, a quem caiba tomar conhecimento. cinco dias.
§ 3º Feita a conversão de que trata o parágrafo
anterior, os dias restantes até cento e oitenta e dois
Conforme art. 69, o chefe da repartição ou do servi-
não serão computados, arredondando-se para um
ço para que for designado o funcionário é a autoridade
ano quando excederem esse número.
competente para lhe dar exercício, sendo o prazo de 30
dias contados dos seguintes parâmetros:
Como dito anteriormente, a contagem do tempo
de exercício é importante para vários direitos. Por
z Da data da publicação oficial do ato, nos casos de
isso, há algumas situações que, ainda que o servidor
promoção, remoção, reintegração e designação
não esteja efetivamente trabalhando, são considera-
para função gratificada;
das efetivo exercício para todos os efeitos legais. Elas
z Da data da posse, nos demais casos. (Incisos I e II
constam do art. 88.
do art. 70).
Art. 88 Serão considerados de efetivo exercício
REMOÇÃO para os efeitos do artigo anterior os dias em que o
funcionário estiver afastado do serviço em virtu-
A remoção poderá acontecer a pedido ou “ex officio”, de de:
que é por impulso da própria Administração Pública. I – férias e férias-prêmio;
II – casamento, até oito dias;
Art. 80 A remoção, que se processará a pedido do III – luto pelo falecimento do cônjuge, filho, pai,
funcionário ou “ex-officio”, dar-se-á: mãe e irmão até oito dias;
I – de uma para outra repartição ou serviço; IV – exercício de outro cargo estadual, de provi-
II – de um para outro órgão de repartição, ou mento em comissão;
serviço. V – convocação para serviço militar;
§ 1º A remoção só poderá ser feita respeitada a VI – júri e outros serviços obrigatórios por lei;
lotação de cada repartição ou serviço. VII – exercício de funções de governo ou adminis-
§ 2º A autoridade competente para ordenar a remo- tração em qualquer parte do território estadual,
ção será aquela a quem estiverem subordinados os por nomeação do Governador do Estado;
órgãos, ou as repartições ou serviços entre os quais VIII – exercício de funções de governo ou adminis-
ela se faz. tração em qualquer parte do território nacional,
§ 3º Ficam asseguradas à professora primária casa- por nomeação do Presidente da República;
da com servidor federal, estadual e militar as garan- IX – desempenho de mandato eletivo federal, esta-
tias previstas pela Lei nº 814, de 14/12/51. dual ou municipal;
X – licença ao funcionário acidentado em servi-
ço ou atacado de doença profissional;
a pedido XI – licença à funcionária gestante;
XII – missão ou estudo de interesse da admi-
LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA

REMOÇÃO nistração, noutros pontos do território nacional


ex officio ou no estrangeiro, quando o afastamento houver
sido expressamente autorizado pelo Governador
do Estado.
READAPTAÇÃO Parágrafo único. Para efeito de promoção por anti-
güidade, computar-se-á, como de efetivo exercício,
Vejamos os casos em que ocorrerá a readaptação o período de licença para tratamento de saúde.
do servidor, constantes do art. 81.
FREQUÊNCIA E HORÁRIO
Art. 81 Dar-se-á readaptação:
a) nos casos de perda da capacidade funcional A frequência será apurada por meio do ponto,
decorrente da modificação do estado físico ou das segundo o art. 94. De acordo com o art. 95, ponto é o
condições de saúde do funcionário, que não justifi- registro pelo qual se verificarão, diariamente, as entra-
quem a aposentadoria; das e saídas dos funcionários em serviço. 147
De acordo com o art. 99, o funcionário perderá: Duas considerações são importantes a fazer sobre
o dispositivo exposto. Primeiramente, a nomeação
Art. 99 [...] em caráter interino foi revogada (art. 14), portanto é
I - o vencimento ou remuneração do dia, se não improvável a sua cobrança em prova. Já em relação
comparecer ao serviço; à hipótese da alínea “c”), perceba que não se trata de
II - 1/5 do vencimento ou remuneração, quando
sanção, mas apenas de consequência do não cumpri-
comparecer depois da hora marcada para início do
mento das condições do estágio probatório.
expediente, até 55 minutos;
III - o vencimento ou remuneração do dia, quando
comparecer na repartição sem a observância do
limite de 55 minutos; Importante!
IV - 4/5 do vencimento ou remuneração, quando se reti- A exoneração não é uma hipótese de sanção
rar da repartição no fim da segunda hora do expediente;
disciplinar.
V - 3/5 do vencimento ou remuneração, quando se
retirar no período compreendido entre o princípio e
o fim da terceira hora do expediente;
DEMISSÃO
VI - 2/5 do vencimento ou remuneração, quando se
retirar no período compreendido entre o princípio e
o fim da quarta hora; O art. 107 é o único dispositivo que trata desse con-
VII - 1/5 do vencimento ou remuneração, quando se texto, sendo as demais informações abordadas no tre-
retirar do princípio da quinta hora em diante. cho do Estatuto referentes ao processo administrativo.

Art. 107 A demissão será aplicada como penalidade.


1/5 Até 55 min
Atraso
APOSENTADORIA
Total Mais que 55 min

O art. 108 traz as hipóteses de aposentadoria. Veja-


PERDA DA mos o dispositivo com atenção especial aos detalhes.
REMUNERAÇÃO 4/5 Fim da 2ª hora

Art. 108 O funcionário, ocupante de cargo de provi-


3/5 Fim da 3ª hora mento efetivo, será aposentado:
Saída mais a) compulsoriamente, aos setenta anos de idade;
cedo b) se o requerer, quando contar 30 anos de serviço;
2/5 4ª hora
c) quando verificada a sua invalidez para o serviço
público;
1/5 5ª hora em diante d) quando inválido em conseqüência de acidente ou
agressão, não provocada, no exercício de suas atri-
buições, ou doença profissional;
VACÂNCIA e) quando acometido de tuberculose ativa, aliena-
ção mental, neoplasia maligna, cegueira, cardiopa-
A vacância, como o próprio significado da palavra tia descompensada, hanseníase, leucemia, pênfigo
expõe, são as situações em que o cargo se torna vago, foliáceo, paralisia, síndrome da imunodeficiência
adquirida – AIDS-, nefropatia grave, esclerose múl-
desocupado. O art. 103 traz as hipóteses de ocorrência.
tipla, doença de Parkinson, espondiloartrose anqui-
Art. 103 A vacância do cargo decorrerá de: losante, mal de Paget, hepatopatia grave ou outra
a) exoneração; doença que o incapacite para o exercício da função
b) demissão; pública.
c) promoção; § 1º Acidente é o evento danoso que tiver como cau-
d) transferência; sa mediata ou imediata o exercício das atribuições
e) aposentadoria; inerentes ao cargo.
f) posse em outro cargo, desde que dela se verifique § 2º Equipara-se a acidente a agressão sofrida e não
acumulação vedada; provocada pelo funcionário no exercício de suas
g) falecimento. atribuições.

EXONERAÇÃO Conforme imposto pelo art. 115, os vencimentos


da aposentadoria não poderão ser superiores ao ven-
Vejamos a exoneração, que tem suas peculiarida- cimento ou remuneração da atividade, nem inferiores
des previstas no art. 106. a um terço (1/3).
Art. 106 Dar-se-á exoneração:
DIREITOS, VANTAGENS E CONCESSÕES
a) a pedido do funcionário;
b) a critério do Governo quando se tratar de ocu-
pante de cargo em comissão ou interino em cargo Disposições Gerais
de carreira ou isolado, de provimento efetivo;
c) quando o funcionário não satisfizer as condições O art. 118 lista as vantagens que poderão ser aferi-
de estágio probatório; das pelo servidor com base no Estatuto.
d) quando o funcionário interino em cargo de car-
reira ou isolado, de provimento efetivo, não satis- Art. 118 Além de vencimento ou da remuneração
fizer as exigências para a inscrição, em concurso; do cargo o funcionário poderá auferir as seguintes
e) automaticamente, após a homologação do resul- vantagens:
tado do concurso para provimento do cargo ocupa- I – ajuda de custo;
148 do interinamente pelo funcionário. II – diárias;
III – auxílio para diferença de caixa; Diárias
IV – abono de família;
V – gratificações; A diária é devida ao servidor por deslocamento
VI – honorários; eventual em face do serviço. É importante você não
VII – quotas-partes e percentagens previstas em lei; a confundir com a ajuda de custo, que é paga quan-
VIII – adicionais previstos em lei. do ocorrida uma mudança de domicílio. As hipó-
teses de vedações estão no art. 130. Mas as hipóteses
Vencimento e da Remuneração de pagamento não, a não ser as elencadas no próprio
caput, que é uma regra geral.
z Vencimento: é a retribuição paga ao funcionário pelo
efetivo exercício do cargo correspondente ao padrão Art. 139 O funcionário que se deslocar de sua sede,
fixado em lei, conforme previsão do art. 120; eventualmente e por motivo de serviço, faz jus à
z Remuneração: é a retribuição paga ao funcionário percepção de diária, nos termos de regulamento.
pelo efetivo exercício do cargo correspondente ao § 1º A diária não é devida:
padrão de vencimento e mais as quotas ou porcen- 1) no período de trânsito, ao funcionário removido
tagens, que, por lei, lhe tenham sido atribuídas (art. ou transferido.
121). 2) quando o deslocamento do funcionário durar
menos de seis horas;
3) quando o deslocamento se der para a localida-
Art. 123 O funcionário nomeado para exercer cargo
de onde o funcionário resida;
isolado, provido em comissão, perderá o vencimen-
4) quando relativa a sábado, domingo ou feria-
to ou remuneração ao cargo efetivo, salvo opção.
do, salvo se a permanência do funcionário fora da
Art. 124 O vencimento ou a remuneração dos
sede nesses dias for conveniente ou necessária ao
funcionários não poderão ser objeto de arresto,
serviço.
sequestro ou penhora, salvo quando se tratar:
§ 2º Sede é a localidade onde o funcionário tem
I - de prestação de alimentos, na forma da lei civil;
exercício.
II - de dívida à Fazenda Pública.

O dispositivo confirma o que vimos anteriormen-


te a respeito da diferença entre a ajuda de custo e a
diária.
Vencimento Vantagens Remuneração A seguir, temos a descrição da finalidade no caput
do art. 140, que traz importantes parâmetros de paga-
mento em seus parágrafos.

Art. 140 O pagamento de diária, que pode ser feito


antecipadamente, destina-se a indenizar o funcio-
Ajuda de Custo nário por despesas com alimentação e pousada,
devendo ocorrer por dia de afastamento e pelo
O tema da ajuda de custo é recorrente em provas, valor fixado no regulamento.
portanto é importante que vejamos as suas disposi- § 1º A diária é integral quando o afastamento se der
ções. O art. 132 traz as hipóteses de sua concessão. por mais de doze horas e exigir pousada paga pelo
funcionário.
Art. 132 Será concedida ajuda de custo ao funcio- § 2º Ocorrendo afastamento por até doze horas,
nário que, em virtude de transferência, remoção, é devida apenas a parcela da diária relativa a
designação para função gratificada, passar a ter alimentação.
exercício em nova sede, ou quando designado para
serviço ou estudo fora do Estado. Conforme comando do art. 141, é vedado o paga-
§ 1º A ajuda de custo destina-se a indenizar o funcio- mento de diária cumulativamente com qualquer
nário das despesas de viagem e de nova instalação. outra retribuição de caráter indenizatório de des-
§ 2º O transporte do funcionário e de sua família pesa com alimentação e pousada.
correrá por conta do Estado.
Gratificações
Perceba que a ajuda de custo tem a finalidade de
indenizar uma despesa que o servidor tenha em razão O art. 143 lista as gratificações que podem ser
de uma mudança de residência. A ajuda de custo não pagas ao agente público. Vejamos:
poderá ser inferior à importância correspondente a um
LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA

mês de vencimento e nem superior a três, salvo quan- Art. 143 Será concedida gratificação ao funcionário:
do se tratar do funcionário designado para serviço ou a) pelo exercício em determinadas zonas ou locais;
estudo no estrangeiro (§ 1º, art. 133). b) pela execução de trabalho de natureza especial,
O art. 135 traz as hipóteses em que possivelmente com risco de vida ou saúde;
ocorrerá a mudança de domicílio, mas não ocorrerá o c) pela elaboração de trabalho técnico ou científico
pagamento. de utilidade para o serviço público;
d) de representação, quando em serviço ou estudo
Art. 135 Não será concedida a ajuda de custo: no estrangeiro ou no país;
I – quando o funcionário se afastar da sede, ou a ela e) quando regularmente nomeado ou designado
voltar, em virtude de mandato eletivo; para fazer parte do órgão legal de deliberação cole-
II - quando for posto à disposição do Governo tiva ou para cargo ou função de confiança;
Federal, municipal e de outro Estado; f) pela prestação de serviço extraordinário;
III – quando for transferido ou removido a pedi- g) de função de chefia prevista em lei;
do ou permuta, inclusive. h) adicional por tempo de serviço, nos termos de lei. 149
§ 1º A gratificação a que se refere a alínea «e» deste por serviços extraordinários, e sem perda da con-
artigo será fixada no limite máximo de um terço do tagem de tempo para todos os efeitos, como se esti-
vencimento ou remuneração. vesse em exercício.
§ 2º Será estabelecido em decreto o quanto das gra- § 2º Para tal fim, não se computará o afastamento
tificações a que se referem as alíneas «a» e «b» deste do exercício das funções, por motivo de:
artigo. a) gala ou nojo, até 8 dias cada afastamento;
b) férias anuais;
Função Gratificada c) requisição de outras entidades públicas, com
afastamento autorizado pelo Governo do Estado;
Função gratificada é a instituída em lei para aten- d) viagem de estudo, aperfeiçoamento ou representa-
der os encargos de chefia e outros que a lei determinar, ção fora da sede, autorizada pelo Governo do Estado;
conforme previsão do art. 150. e) licença para tratamento de saúde até 180 dias;
f) júri e outros serviços obrigatórios por lei;
Não perderá a gratificação o funcionário que deixar
g) exercício de funções de governo ou administra-
de comparecer ao serviço em virtude de férias, luto,
ção em qualquer parte do território estadual, por
casamento, doença comprovada e serviços obrigató- nomeação do Governo do Estado.
rios por lei (art. 151). § 3º O servidor público terá, automaticamente, con-
tado em dobro, para fins de aposentadoria e van-
Férias tagens dela decorrentes, o tempo de férias-prêmio
não gozadas.
Outro tema importante para fins de prova é o rela-
tivo às férias. Vejamos o conteúdo do art. 152. Licenças

Art. 152 O funcionário gozará, obrigatoriamente, Vejamos, agora, as licenças que podem ser conce-
por ano vinte e cinco dias úteis de férias, obser- didas com base no Estatuto.
vada a escala que for organizada de acordo com
conveniência do serviço, não sendo permitida a Art. 158 O funcionário poderá ser licenciado:
acumulação de férias. I – para tratamento de saúde;
§ 1º Na elaboração da escala, não será permitido que II – quando acidentado no exercício de suas atribui-
entrem em gozo de férias, em um só mês, mais de um
ções ou atacado de doença profissional;
terço de funcionários de uma seção ou serviço.
III – por motivo de doença em pessoa de sua família;
§ 2º É proibido levar à conta de férias qualquer
IV – no caso previsto no art. 175;
falta ao trabalho.
V – quando convocado para serviço militar;
§ 3º Ingressando no serviço público estadual, somente
VI – para tratar de interesses particulares;
depois do 11º mês de exercício poderá o funcionário
VII – no caso previsto no art. 186.
gozar férias.
Os casos previstos nos arts. 175 e 186 são, respecti-
Durante as férias, o funcionário terá direito ao ven-
vamente, “licença à funcionária gestante” e “licença à
cimento ou remuneração e a todas as vantagens, como
funcionária casada com funcionário”.
se estivesse em exercício exceto a gratificação por ser-
Aos funcionários em comissão não será concedida
viço extraordinário (art. 153).
licença para tratar de interesses particulares (art. 159).
A licença para tratamento de saúde será concedida
25 dias úteis a pedido do funcionário ou ex officio, sendo indispensá-
vel a inspeção médica em qualquer dos casos (art. 168).
O funcionário licenciado para tratamento de saúde
Proibida não poderá dedicar-se a qualquer atividade remunera-
FÉRIAS cumulação da, conforme art. 169.
Quando licenciado para tratamento de saúde, aciden-
Proibido te no serviço de suas atribuições, ou doença profissional,
descontar faltas o funcionário receberá, integralmente, o vencimento ou
a remuneração e demais vantagens (art. 170).
Ao funcionário licenciado para tratamento de saúde
Férias-Prêmio poderá ser concedido transporte, inclusive para as pes-
soas de sua família, por conta do Estado, fora da sede
Você deve se lembrar do que vimos sobre o exercí- de serviço, se assim o exigir o laudo médico oficial, con-
cio e a sua importância para a aquisição de determi- forme art. 202.
nados direitos pelo servidor. Aqui, teremos um bom As informações referentes à licença à funcioná-
exemplo disso. ria gestante se resumem ao constante no art. 175.
As férias-prêmio são adquiridas a cada 10 anos de Vejamos, atentando-nos aos destaques.
efetivo exercício. Muita atenção ao parágrafo segun-
do, no qual são listadas situações em que, na prática, Art. 175 À funcionária gestante será concedida,
o servidor não está em efetivo exercício, mas não afe- mediante inspeção médica, licença, por três meses,
tarão a aquisição. com vencimento ou remuneração e demais vantagens.
§ 1º A licença só poderá ser concedida para o
Art. 156 O funcionário gozará férias-prêmio cor- período que compreenda, tanto quanto possível,
respondente a decênio de efetivo exercício em car- os últimos quarenta e cinco dias da gestação e
gos estaduais na base de quatro meses por decênio. o puerpério.
§ 1º As férias-prêmio serão concedidas com o ven- § 2º A licença deverá ser requerida até o oitavo mês
cimento ou remuneração e todas as demais vanta- da gestação, competindo à junta médica fixar a
150 gens do cargo, excetuadas somente as gratificações data do seu início.
§ 3º O pedido encaminhado depois do oitavo mês Dica
da gestação será prejudicado quanto à duração da
licença, que se reduzirá dos dias correspondentes Atente-se para o que indica a Constituição
ao atraso na formulação do pedido. Federal de 1988: “o prazo para que o funcioná-
§ 4º Se a criança nascer viva, prematuramente, rio adquira estabilidade é de 3 anos”, conforme
antes que a funcionária tenha requerido a licença, explicado anteriormente.
o início desta será a partir da data do parto.
Disponibilidade
Em seguida, temos a licença por motivo de doença
em pessoa da família, que poderá ser obtida pelo fun- Vejamos o conceito de disponibilidade. Conforme
cionário por motivo de doença nas pessoas de pai, mãe, o art. 190, quando se extinguir o cargo, o funcionário
filhos ou cônjuge, de que não esteja legalmente separa- estável ficará em disponibilidade remunerada, com
do (art. 176). Será provada a doença mediante inspeção vencimento ou remuneração integrais e demais vanta-
médica, na forma prevista em Lei, conforme art. 176. gens, até o seu obrigatório aproveitamento em outro
A licença para tratar de interesses particulares, que cargo de natureza, vencimentos ou remuneração com-
é uma das licenças mais cobradas, está prevista no art. 179. patíveis com o que ocupava.

Art. 179 Depois de dois anos de exercício, o funcioná- Direito de Petição


rio poderá obter licença, sem vencimento ou remune-
ração, para tratar de interesses particulares. Art. 191 É assegurado ao funcionário o direito de
§ 1º A licença poderá ser negada quando o afasta- requerer ou representar.
mento do funcionário for inconveniente ao interes- Sendo o requerimento:
se do serviço. Art. 192 O requerimento será dirigido à autoridade
§ 2º O funcionário deverá aguardar em exercício a competente para decidi-lo e encaminhado por inter-
concessão da licença. médio daquela a que estiver imediatamente subordi-
nado o requerente.
O art. 186 dispõe que a licença para funcionária
casada com funcionário estadual, federal ou militar, É possível o pedido de reconsideração:
terá direito à licença, sem vencimento ou remuneração,
quando o marido for mandado servir, independente- Art. 193 O pedido de reconsideração será dirigido à
mente de solicitação, em outro ponto do Estado ou do autoridade que houver expedido o ato ou proferido
território nacional ou no estrangeiro. a primeira decisão, não podendo ser renovado.
Parágrafo único. O requerimento e o pedido de recon-
Art. 186 [...] sideração deverão ser despachados no prazo de cin-
§1º A licença será concedida mediante pedido, devi- co dias e decididos dentro de trinta, improrrogáveis.
damente instruído e vigorará pelo tempo que durar
a comissão ou nova função do marido. Além do pedido de reconsideração, que é encami-
nhado à própria autoridade que proferiu a decisão, há
Estabilidade a possibilidade dos recursos.

Em relação à estabilidade, que está prevista nos arts. Art. 194 Caberá recurso:
187 e seguintes, temos as ressalvas quanto à incompati- I – do indeferimento do pedido de reconsideração;
bilidade com as Constituições federal e estadual. II – das decisões sobre os recursos sucessivamente
interpostos.
Art. 187 O funcionário adquirirá estabilidade § 1º O recurso será dirigido à autoridade imedia-
depois de: tamente superior à que tiver expedido o ato ou
I – dois anos de exercício, quando nomeado em vir- proferido a decisão e, sucessivamente, em escala
tude de concurso; ascendente, às demais autoridades.
II – cinco anos de exercício, o efetivo nomeado sem § 2º No encaminhamento do recurso observar-se-á
concurso. o disposto na parte final do art. 192.
Parágrafo único. Não adquirirão estabilidade, qual- Art. 195 Os pedidos de reconsideração e os recur-
quer que seja o tempo de serviço o funcionário interino sos que não têm efeito suspensivo; os que forem
e no cargo em que estiver substituindo ou comissiona- providos, porém, darão lugar às retificações neces-
do, o nomeado em comissão ou em substituição. sárias, retroagindo os seus efeitos à data do ato
impugnado, desde que outra solução jurídica não
determine a autoridade, quanto aos efeitos relati-
LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA

Ainda, temos o art. 189, que traz os casos de perda


vos ao passado.
de cargo pelos servidores.

Art. 189 Os funcionários públicos perderão o cargo: Concessões


I – quando vitalícios, somente em virtude de senten-
ça judiciária; São duas as hipóteses, trazidas pelo art. 201, nas
II – quando estáveis, no caso do número anterior, quais o agente público poderá afastar-se sem qual-
no de extinguir o cargo ou no de serem demitidos quer prejuízo.
mediante processo administrativo em que se lhes
tenha assegurada ampla defesa. Art. 201 Sem prejuízo do vencimento, remune-
Parágrafo único. A estabilidade não diz respeito ao ração ou qualquer outro direito ou vantagem
cargo, ressalvando-se à administração o direito de legal, o funcionário poderá faltar ao serviço até
readaptar o funcionário em outro cargo, removê-lo, oito dias consecutivos por motivo de:
transferi-lo ou transformar o cargo, no interesse do a) casamento;
serviço. b) falecimento do cônjuge, filhos, pais ou irmãos. 151
DOS DEVERES E DA AÇÃO DISCIPLINAR VIII – levar ao conhecimento da autoridade superior
irregularidade de que tiver ciência em razão do cargo;
Das Responsabilidades IX – zelar pela economia e conservação do material
que lhe for confiado;
Começaremos a adentrar à parte disciplinar do X – providenciar para que esteja sempre em ordem no
Estatuto. Para isso, primeiramente, temos a indepen- assentamento individual a sua declaração de família;
dência das esferas de responsabilidades do servidor, XI – atender prontamente:
podendo a apuração ocorrer de forma independente. a) às requisições para a defesa da Fazenda Pública;
b) à expedição das certidões requeridas para a defe-
sa de direito.
Art. 208 Pelo exercício irregular de suas atribuições, o
funcionário responde civil, penal e administrativamente.
Art. 209 A responsabilidade civil decorre de pro- Vejamos as proibições, que também são bastante
cedimento doloso ou culposo, que importe em pre- intuitivas, pois são condutas que se distanciam do que
juízo da Fazenda Estadual, ou de terceiro. se espera de um agente público:

A responsabilidade penal abrange os crimes e con- Art. 217 Ao funcionário é proibido:


I – referir-se de modo depreciativo, em informa-
travenções imputados ao funcionário nessa qualidade,
ção, parecer ou despacho, às autoridades e atos da
conforme art. 210.
administração pública, podendo, porém, em traba-
lho assinado, criticá-los do ponto de vista doutriná-
Art. 211 A responsabilidade administrativa resul- rio ou da organização do serviço;
ta de atos ou omissões praticados no desempenho do II – retirar sem prévia autorização da autoridade com-
cargo ou função. petente qualquer documento ou objeto da repartição;
III – promover manifestações de apreço ou desapre-
SUSPENSÃO PREVENTIVA ço e fazer circular ou subscrever lista de donativos
no recinto da repartição;
O Estatuto traz a possibilidade de suspensão pre- IV – valer-se do cargo para lograr proveito pessoal
ventiva, desde que necessária para apuração das fal- em detrimento da dignidade da função;
tas cometidas pelo servidor. V – coagir ou aliciar subordinados com objetivos de
natureza partidária;
Art. 214 Poderá ser ordenada, pelo Secretário de Esta- VI – participar da gerência ou administração de
do e Diretores de Departamentos diretamente subordi- empresa comercial ou industrial, salvo os casos
nados ao Governador do Estado, dentro da respectiva expressos em lei;
competência, a suspensão preventiva do funcioná- VII – exercer comércio ou participar de sociedade comer-
rio, até trinta dias, desde que seu afastamento seja cial, exceto como acionista, quotista ou comandatário;
necessário para a averiguação de faltas cometidas, VIII – praticar a usura em qualquer de suas formas;
podendo ser prorrogada até noventa dias, findos os IX – pleitear, como procurador ou intermediário,
quais cessarão os efeitos da suspensão, ainda que o junto às repartições públicas, salvo quando se tra-
processo administrativo não esteja concluído. tar de percepção de vencimentos e vantagens, de
parente até segundo grau;
Ocorrido o afastamento, o funcionário terá direito, X – receber propinas, comissões, presentes e vanta-
conforme art. 215: gens de qualquer espécie em razão das atribuições;
XI – contar a pessoa estranha à repartição, fora dos
Art. 215 [...] casos previstos em lei, o desempenho de encargo
I - à contagem de tempo de serviço relativo ao perío- que lhe competir ou a seus subordinados.
do da prisão ou da suspensão, quando do processo
não resultar punição, ou esta se limitar às penas de APURAÇÃO DE IRREGULARIDADES
advertências, multa ou repreensão;
II - à diferença de vencimento ou remuneração e à O Estatuto divide o processo administrativo em
contagem de tempo de serviço correspondente ao duas fases, conforme dispõe o art. 220:
período de afastamento excedente do prazo de sus-
pensão efetivamente aplicada.
z Inquérito administrativo;
z Processo administrativo propriamente dito.
DEVERES E PROIBIÇÕES
Dispensa-se a fase do inquérito administrativo, que
Veremos, agora, os deveres e proibições, o que se trata de uma averiguação sumária e sigilosa, quando
abrirá caminho para que cheguemos às sanções disci- forem evidentes as provas que demonstrem a responsa-
plinares. Os deveres são bastante intuitivos, destaca-
bilidade do indiciado ou indiciados (§ 1º, art. 220).
mos a menção à possibilidade de descumprimento de
O inquérito administrativo deverá ser concluído
ordem quando manifestamente ilegais.
em prazo improrrogável de 30 dias, só podendo, em
caso de infração, dele decorrer as sanções de repreen-
Art. 216 São deveres do funcionário:
são multa e suspensão (§ 2º).
I – assiduidade;
II – pontualidade; A autoridade que determinar a instauração deverá
III – discrição; designar comissão com três funcionários estáveis para
IV – urbanidade; apuração, que ficarão afastados das suas respectivas fun-
V – lealdade às instituições constitucionais e admi- ções, dedicando-se, exclusivamente, à apuração dos fatos.
nistrativas a que servir;
VI – observância das normas legais e regulamentares; Art. 224 A comissão procederá a todas as dili-
VII – obediência às ordens superiores, exceto gências que julgar convenientes, ouvindo, quando
152 quando manifestamente ilegais; necessário, a opinião de técnicos ou peritos. [...]
Art. 225 Ultimado o processo, a comissão manda- A destituição de função é prevista no art. 248 e é apli-
rá, dentro de quarenta e oito horas, citar o acusado cável em duas hipóteses apenas, que são as seguintes:
para, no prazo de dez dias, apresentar defesa.
Art. 248 [...]
Em seguida, a comissão apresentará seu relatório I - quando se verificar a falta de exação no seu
em 10 dias. desempenho;
Após a apresentação do relatório à autoridade, o pra- II - quando se verificar que, por negligência ou
zo para julgamento será de 60 dias, conforme art. 229. benevolência, o funcionário contribuiu para que se
não apurasse, no devido tempo, a falta de outro.
Art. 229 Entregue o relatório da comissão, acom-
panhado do processo, à autoridade que houver Restam, ainda, as hipóteses de aplicação de pena
determinado à sua instauração, essa autoridade de demissão e demissão a bem do serviço público.
deverá proferir o julgamento dentro do prazo Vejamos, primeiramente, o art. 249, que traz as hipó-
improrrogável de sessenta dias. teses de demissão.
Parágrafo único. Se o processo não for julgado no
prazo indicado neste artigo, o indiciado reassumirá, Art. 249 A pena de demissão será aplicada ao ser-
automaticamente, o exercício de seu cargo ou fun- vidor que:
ção, e aguardará em exercício o julgamento, salvo I – acumular, ilegalmente, cargos, funções ou
o caso de prisão administrativa que ainda perdure. cargos com funções;
II – incorrer em abandono de cargo ou função
PENALIDADES pública pelo não comparecimento ao serviço sem
causa justificada por mais de trinta dias conse-
O art. 244 lista as penalidades que podem ser apli- cutivos ou mais de noventa dias não consecuti-
cadas ao servidor. Vejamos: vos em um ano;
III – aplicar indevidamente dinheiros públicos;
IV – exercer a advocacia administrativa;
Art. 244 São penas disciplinares:
V – receber em avaliação periódica de desempenho:
I – Repreensão;
a) dois conceitos sucessivos de desempenho insatis-
II – Multa; fatório;
III – Suspensão; b) três conceitos interpolados de desempenho insa-
IV – Destituição de função; tisfatório em cinco avaliações consecutivas; ou
V – Demissão; c) quatro conceitos interpolados de desempenho
VI – Demissão a bem do serviço público. insatisfatório em dez avaliações consecutivas.
Parágrafo único. A aplicação das penas disciplina- Parágrafo único. Receberá conceito de desempenho
res não se sujeita à seqüência estabelecida neste insatisfatório o servidor cuja avaliação total, consi-
artigo, mas é autônoma, segundo cada caso e con- derados todos os critérios de julgamento aplicáveis
sideradas a natureza e a gravidade da infração e os em cada caso, seja inferior a 50% (cinqüenta por
danos que dela provierem para o serviço público. cento) da pontuação máxima admitida.

O art. 245 traz as penalidades aplicáveis em caso A advocacia administrativa é quando o servidor,
de desobediência ou falta de cumprimento de deveres. aproveitando-se da sua posição, defende interesse
particular indevidamente.
Art. 245 A pena de repreensão será aplicada por Vejamos, agora, as hipóteses de demissão a bem do
escrito em caso de desobediência ou falta de cum- serviço:
primento de deveres.
Parágrafo único. Havendo dolo ou má-fé, a falta de Art. 250 Será aplicada a pena de demissão a bem
cumprimento de deveres, será punida com a pena do serviço ao funcionário que:
de suspensão. I – for convencido de incontinência pública e
escandalosa, de vício de jogos proibidos e de
Em seguida, temos os casos de aplicação da pena embriaguez habitual;
II – praticar crime contra a boa ordem e adminis-
de suspensão.
tração pública e a Fazenda Estadual;
III – revelar segredos de que tenha conhecimen-
Art. 246 A pena de suspensão será aplicada em to em razão do cargo ou função, desde que o
casos de: faça dolosamente e com prejuízo para o Estado ou
I – Falta grave; particulares;
II – Recusa do funcionário em submeter-se à inspe- IV – praticar, em serviço, ofensas físicas contra
LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA

ção médica quando necessária; funcionários ou particulares, salvo se em legí-


III – Desrespeito às proibições consignadas neste tima defesa;
Estatuto; V – lesar os cofres públicos ou delapidar o patri-
IV – Reincidência em falta já punida com repreensão; mônio do Estado;
V – Recebimento doloso e indevido de vencimento, VI – receber ou solicitar propinas, comissões,
ou remuneração ou vantagens; presentes ou vantagens de qualquer espécie.
VI – Requisição irregular de transporte;
VII – Concessão de laudo médico gracioso. O art. 252 traz as autoridades competentes para
§ 1º A pena de suspensão não poderá exceder de aplicar as penalidades previstas no Estatuto. A corre-
noventa dias. lação é a seguinte:
§ 2º O funcionário suspenso perderá todas as van-
tagens e direitos decorrentes do exercício do cargo. z O chefe do Governo — demissão;
z Os Secretários de Estado e Diretores de Departa-
O Estatuto não definiu as hipóteses para a pena de mentos diretamente subordinados ao Governador
multa, deixando que seja feito por regulamento próprio. do Estado — suspensão por mais de trinta dias; 153
z Os chefes de Departamentos — repreensão e sus- Nas disposições preliminares do decreto, uma
pensão até trinta dias; importante informação é o conceito de agente público
z Destituição de função — autoridade que houver para os fins do Código de Ética, uma vez que define o
feito a designação. grupo de agentes públicos que a ele estará submetido.

Terá cassada a licença e será demitido do cargo o fun- Art. 3º Para fins deste Código de Ética considera-
cionário licenciado para tratamento de saúde que se dedi- -se agente público todo aquele que exerça, ainda
car a qualquer atividade remunerada, conforme art. 256. que transitoriamente e sem remuneração, por
Há, também, a possibilidade de sanção a quem estiver eleição, nomeação, designação, convênio, contrata-
aposentado ou em disponibilidade, conforme art. 257. ção ou qualquer outra forma de investidura ou
vínculo, mandato, cargo, emprego ou função públi-
Art. 257 Será cassada, por decreto do Governador ca em órgão ou entidade da Administração Pública
do Estado, a aposentadoria ou disponibilidade, Direta ou Indireta do Poder Executivo Estadual,
se ficar provado, em processo, que o aposentado ou inclusive os integrantes da Alta Administração do
funcionário em disponibilidade: Poder Executivo Estadual de que trata o Capítulo II
I – praticou, quando em atividade, qualquer dos atos do Título IV deste Código de Ética.
para os quais é cominada neste Estatuto a pena de Parágrafo único O agente público deve prestar
demissão, ou de demissão a bem do serviço público; compromisso solene de acatamento e observância
II – aceitou ilegalmente cargo ou função pública; ao disposto neste Código de Ética, em formulário
III – aceitou representação de Estado estrangeiro, próprio estabelecido pelo Conselho de Ética Pública
sem prévia autorização do Governador do Estado; – Conset, a ser arquivado juntamente com os docu-
IV – praticou a usura, em qualquer de suas formas. mentos comprobatórios de seu vínculo com o Poder
Parágrafo único. Será igualmente cassada a dispo- Executivo no respectivo órgão ou entidade.
nibilidade do servidor que não assumir, no prazo
legal, o cargo ou função em que for aproveitado.
Ao falar em agente público, deve-se considerar:
De acordo com o art. 258, as penas de repreensão, multa
z Vínculo transitório ou permanente;
e suspensão prescrevem no prazo de dois anos e a de demis-
z Eleição, nomeação, designação, convênio, contra-
são, por abandono do cargo, no prazo de quatro anos.
tação ou outra forma;
z Mandato, cargo, emprego ou função pública;
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS z Administração direta ou indireta, inclusive Alta
Administração.
O art. 288 diz respeito estritamente aos funcioná-
rios da PCMG: Perceba que o dispositivo é bastante abrangen-
te, procurando a ele submeter, na prática, qualquer
Art. 288 Os funcionários da Polícia Civil, que traba-
agente público no âmbito do estado.
lhem em serviço de natureza estritamente policial,
terão direito à aposentadoria com o vencimento
O art. 4º impõe que as condutas elencadas no Códi-
integral e a incorporação das vantagens a que se go de Ética, ainda que tenham descrição idêntica à
refere o art. 116 desta lei, quando completarem 25 de outros estatutos, com eles não concorram nem se
anos de serviço dedicado exclusivamente às aludi- confundam. A consequência prática de tal comando é
das atividades policiais. a apuração independente das que venham a ocorrer
Parágrafo único – Consideram-se atividades poli- em outras esferas em relação a um determinado ato
ciais, para os fins deste artigo, as exercidas por: cometido pelo agente público.
a) Delegados de polícia; Encerrando as disposições preliminares, o art. 5º
b) médicos legistas; informa que o Código de Ética não impede a criação e
c) investigadores; a existência de códigos de ética específicos, desde que
d) guardas civis; esses não o contrariem.
e) fiscais e inspetores de trânsito;
f) escrivães e escreventes da polícia;
g) peritos do Departamento da Polícia Técnica. DA CONDUTA ÉTICA

O capítulo referente aos princípios e valores fun-


damentais é correspondente ao art. 7º, que traz os
princípios que regerão a atuação do agente público.
CÓDIGO DE ÉTICA PÚBLICA DO A partir daqui, veremos artigos que trazem numero-
ESTADO DE MINAS GERAIS: DECRETO sos incisos; por isso, atente-se à leitura para facilitar a
Nº 46.644, DE 2014 memorização e entendimento. No caso do art. 7º, per-
ceba que ele lista qualidades como princípios:
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Art. 7º A conduta do agente público integrante
da Administração Pública do Poder Executivo Esta-
A seguir, conheceremos normas que estão ligadas à dual deve reger-se pelos seguintes princípios:
apuração da conduta de agentes públicos. Você deve ter I – boa-fé;
em mente que as esferas de responsabilidade, em regra, II – honestidade;
são independentes. São elas: administrativa, cível e penal. III – fidelidade ao interesse público;
Portanto, o agente público poderá ser responsabili- IV – impessoalidade;
zado simultaneamente nessas esferas, exceção feita à V – dignidade e decoro no exercício de suas funções;
sentença penal que concluir pela inexistência do fato VI – lealdade às instituições;
ou negativa da autoria, caso em que influenciará as VII – cortesia;
154 demais no sentido de não responsabilizar o servidor. VIII – transparência;
IX – eficiência; XIII – manter-se atualizado com instruções, nor-
X – presteza e tempestividade; mas de serviço e legislação pertinentes ao órgão ou
XI – respeito à hierarquia administrativa; entidade de exercício;
XII – assiduidade; XIV – facilitar atividades de fiscalização pelos
XIII – pontualidade; órgãos de controle;
XIV – cuidado e respeito no trato com as pessoas, XV – exercer função, poder ou autoridade de acor-
subordinados, superiores e colegas; e do com a lei e regulamentações da Administração
XV – respeito à dignidade da pessoa humana. Pública, sendo vedado o exercício contrário ao inte-
resse público; e
Em seguida, temos os direitos e garantias no XVI – divulgar e estimular o cumprimento deste
ambiente de trabalho, constantes do art. 8º, corres- Código de Ética.
pondente ao capítulo seguinte. Perceba que, aqui,
todos os incisos trazem espécies de benefícios ou pro- A seguir, tem-se as vedações, que são ações
teções ao servidor: indesejáveis:

Art. 8º Como resultantes da conduta ética que deve Art. 10 É vedado ao agente público:
imperar no ambiente de trabalho e em suas relações I – utilizar-se de cargo, emprego ou função, de faci-
interpessoais, são direitos e garantias do agente lidades, amizades, posição e influências para obter
público: favorecimento para si ou para outrem;
I – igualdade de acesso e oportunidades de crescimento II – prejudicar deliberadamente a reputação de
intelectual e profissional em sua respectiva carreira; subordinados, colegas, superiores hierárquicos ou
II – liberdade de manifestação, observado o respeito à pessoas que dele dependam;
imagem da instituição e dos demais agentes públicos; III – ser conivente com erro ou infração a este Códi-
III – igualdade de oportunidade nos sistemas de afe- go de Ética ou ao Código de Ética de sua profissão;
rição, avaliação e reconhecimento de desempenho; IV – usar de artifícios para procrastinar ou dificul-
IV – manifestação sobre fatos que possam prejudi- tar exercício de direito de qualquer pessoa;
car seu desempenho ou reputação; V – deixar de utilizar conhecimentos, avanços técni-
V – sigilo a informação de ordem pessoal; cos e científicos ao seu alcance no desenvolvimento
VI – atuação em defesa legítima de seu interesse ou de suas atividades;
direito; e VI – permitir que perseguições, simpatias, anti-
VII – ciência do teor da acusação e vista dos autos, patias, caprichos, paixões ou interesses de ordem
quando estiver sendo investigado. pessoal interfiram no trato com o público ou com
colegas hierarquicamente superiores ou inferiores;
VII – pleitear, solicitar, provocar, sugerir ou rece-
Vejamos agora os deveres e vedações impostos ao ber ajuda financeira, gratificação, prêmio, comis-
agente público. Perceba que o dispositivo traz ações são, doação ou vantagem, para si ou outra pessoa,
desejáveis a serem promovidas pela agente público. visando ao cumprimento de sua atribuição, ou para
O art. 9º impõe que são deveres éticos fundamentais influenciar outro servidor;
do agente público: VIII – alterar ou deturpar teor de documentos;
IX – iludir ou tentar iludir pessoa que necessite de
Art. 9° [...] atendimento em serviços públicos;
I – agir com lealdade e boa-fé; X – desviar agente público para atendimento a inte-
II – ser justo e honesto no desempenho de funções resse particular;
e no relacionamento com subordinados, colegas, XI – retirar de repartição pública, sem autoriza-
superiores hierárquicos, parceiros, patrocinadores ção legal, documento, livro ou bem pertencente ao
e usuários do serviço; patrimônio público;
III – observar os princípios e valores da ética pública; XII – usar informações privilegiadas obtidas em
IV – atender prontamente às questões que lhe forem âmbito interno de seu serviço, em benefício próprio,
encaminhadas; de parentes, amigos ou de terceiros;
V – ser ágil na prestação de contas de suas atividades; XIII – apresentar-se embriagado ou drogado para
VI – aperfeiçoar o processo de comunicação e con- prestar serviço;
tato com o público; XIV – permitir ou contribuir para que instituição
VII – praticar a cortesia e a urbanidade e respeitar que atente contra a moral, honestidade ou digni-
a capacidade e as limitações individuais de colegas dade da pessoa humana tenha acesso a recursos
de trabalho e dos usuários do serviço público, sem públicos de qualquer natureza;
preconceito ou distinção de raça, sexo, nacionalida- XV – exercer atividade profissional antiética ou
de, cor, idade, religião, preferência política, posição ligar seu nome a empreendimentos que atentem
LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA

social e outras formas de discriminação; contra a moral pública;


VIII – representar contra atos que contrariem as XVI – permitir ou concorrer para que interesses
normas deste Código de Ética; particulares prevaleçam sobre o interesse público;
IX – resistir a pressões de superiores hierárqui- XVII – exigir submissão, constranger ou intimi-
cos, contratantes, interessados e outros que visem dar outro agente público, utilizando-se do poder
a obter favores, benesses ou vantagens ilegais ou que recebe em razão do cargo, emprego ou função
imorais, denunciando sua prática; pública que ocupa; e
X – comunicar imediatamente aos superiores todo XVIII – participar de qualquer outra atividade que
ato ou fato contrário ao interesse público, para pro- possa significar conflito de interesse em relação à
vidências cabíveis; atividade pública que exerce.
XI – participar de movimentos e estudos relaciona-
dos à melhoria do exercício de suas funções, visan- O art. 11 traz uma vedação específica para o rece-
do ao bem comum; bimento de presentes, independentemente do valor,
XII – apresentar-se ao trabalho com trajes adequa- listado a situação da pessoa, empresa ou entidade que
dos ao exercício da função; possa de enquadrar no dispositivo: 155
Art. 11 Para os fins deste Código de Ética, ao agente Art. 17 Em todos os órgãos e entidades da Adminis-
público é vedada ainda a aceitação de presente, tração Pública Direta e Indireta do Poder Executivo
doação ou vantagem de qualquer espécie, indepen- Estadual haverá uma Comissão de Ética com a fina-
dente do valor monetário, de pessoa, empresa ou lidade de divulgar as normas deste Código de Ética
entidade que tenha ou que possa ter interesse em: e atuar na prevenção e na apuração de falta ética
I – quaisquer atos de mero expediente de responsa- no âmbito da respectiva instituição.
bilidade do agente público;
II – decisão de jurisdição do órgão ou entidade de Conforme comando do art. 18, as comissões de éti-
vínculo funcional do agente público; e ca terão as seguintes competências:
III – informações institucionais de caráter sigiloso
a que o agente público tenha acesso. Art. 18 Compete à Comissão de Ética:
Conforme artigo 12, o agente público que fizer I – orientar e aconselhar o agente público sobre éti-
denúncia infundada estará sujeito às sanções do ca profissional no respectivo órgão ou entidade;
Código de Ética.
II – alertar agentes públicos quanto à conduta no
ambiente de trabalho, especialmente no tratamento
DO CONSELHO E DA COMISSÃO DE ÉTICA com as pessoas e com o patrimônio público;
III – adotar formas de divulgação das normas éti-
O art. 13 do decreto submete o Conselho de Ética cas e de prevenção de falta ética;
Pública aos seus comandos, definindo como suas fun- IV – registrar condutas éticas relevantes;
ções o seguinte: V – decidir pela instauração e conduzir processo
ético, observadas as normas estabelecidas no Títu-
Art. 13 [...] lo V deste Decreto e em Deliberações do Conset;
I – assessorar o Governador e os Secretários de VI – elaborar seu regimento interno, observadas
Estado em questões que envolvam normas deste normas e diretrizes expedidas pelo Conset; e
Código de Ética; VII – exercer outras atividades que lhe forem atri-
II – receber denúncias sobre atos de autoridade pra- buídas ou delegadas pelo Conset.
ticados em contrariedade às normas deste Código de
Ética e proceder à apuração de sua veracidade, desde Perceba que há uma lógica que nos permite não
que devidamente instruídas e fundamentadas; confundir as atribuições do Conset com as das comis-
III – instaurar, após as apurações pertinentes, pro- sões de ética. As atribuições do Conset são mais gerais,
cesso ético que envolva conduta de integrante da por se tratar de um órgão próximo ao próprio Gover-
Alta Administração Estadual, assim como decidir
nador. No caso das comissões de ética, temos atribui-
sobre recursos contra decisão sua ou proferida em
ções próximas das rotinas dos agentes públicos.
processos instaurados pelas Comissões de Ética do
Poder Executivo;
As comissões de ética são compostas por 3 titulares
IV – submeter ao Governador do Estado sugestões e 2 suplentes, escolhidos pelo dirigente máximo para
de aprimoramento do Código de Ética; mandatos de três anos, permitida uma recondução
V – dirimir dúvidas a respeito da interpretação das por igual período e não havendo remuneração para a
normas do Código de Ética e deliberar sobre os atuação (artigo 19).
casos omissos;
VI – promover ampla divulgação deste Código de DA CONDUTA ÉTICA DO GESTOR PÚBLICO
Ética;
VII – convocar qualquer autoridade ou agente O Código dedica um título especialmente para o ges-
público do Poder Executivo para prestar esclareci- tor público, trazendo sua definição no art. 20. Vejamos:
mento sobre denúncias em desfavor da respectiva
instituição ou de seus dirigentes; Art. 20 Para fins deste Código de Ética considera-se
VIII – responder consultas de autoridades e de agentes gestor público, o agente público que por força do
públicos em matéria regulada pelo Código de Ética; cargo, emprego ou função recebe poder público
IX – emitir parecer acerca de enquadramento em para coordenar e dirigir pessoas e trabalhos.
hipóteses de impedimento para fins de nomeação,
designação ou contratação, a título comissionado,
O art. 21 impõe que a atuação do gestor público deve
de pessoas para o exercício de funções, cargos e
empregos no Poder Executivo Estadual; e se pautar nas condutas abaixo. Perceba que todas elas
X – elaborar o seu regimento interno. estão intrinsecamente ligadas a um papel de comando e
gestão, o que facilita o entendimento para fins de prova.
Conforme disposto no art. 14, o Conset é composto
por 7 membros, escolhidos e designados pelo Gover- Art. 21 [...]
I – adotar medidas para evitar conflitos de inte-
nador do Estado, entre brasileiros de reconhecida
resse privado com o interesse público;
idoneidade moral, reputação ilibada e dotados de
II – tratar respeitosamente subordinados e
notórios conhecimentos de Administração Pública.
demais colegas de trabalho;
O exercício da função de conselheiro, no âmbito do
III – combater práticas que possam suscitar qual-
Conset, não enseja qualquer espécie de remuneração, quer forma de abuso de poder;
sendo permitido o pagamento de verbas indenizató- IV – utilizar, exclusivamente, o poder institu-
rias para despesas com deslocamento, hospedagem e cional que lhe é atribuído por meio do cargo, fun-
alimentação. O Governador escolherá o Presidente do ção ou emprego público que ocupa, para viabilizar
Conselho dentre seus membros, que exercerão man- o atendimento ao interesse público;
datos de 3 anos, admitida uma recondução. V – buscar a excelência na qualidade do traba-
O art. 17 impõe uma comissão de ética em todos os lho, utilizando a crítica, quando necessária, de for-
órgãos e entidades da Administração Pública direta e ma construtiva e em caráter reservado, focando o
156 indireta estadual. Vejamos. ato ou fato e não a pessoa; e
VI – apoiar a divulgação e adoção de condutas Parágrafo único Compete ao Conset, por meio de
éticas no ambiente de trabalho. Deliberação, a regulamentação da forma de enca-
minhamento da declaração, os critérios de atua-
É permitida a participação em eventos, desde que lização das informações, a documentação a ser
tornada pública qualquer remuneração, bem como anexada, as medidas em razão do descumprimento
pagamento de despesas de viagem pelo promotor do envio e demais questões pertinentes ao cumpri-
do evento, que não poderá ter interesse em decisão a mento do disposto neste artigo.
ser proferida pelo gestor, conforme art. 22.
De acordo com o art. 24, o gestor público deverá O art. 33 impõe uma espécie de “quarentena” para
informar a existência de eventual conflito de inte- quando o gestor público deixar o cargo, função ou
resses, bem como comunicar qualquer circunstância emprego:
ou fato impeditivo de sua participação em decisão
Art. 33 Após deixar o cargo, função ou empre-
coletiva ou em órgão colegiado.
go público, a autoridade pública não poderá:
O art. 25 traz matérias sobre as quais o gestor não
I – atuar em benefício ou em nome de pessoa físi-
poderá opinar publicamente:
ca ou jurídica, inclusive sindicato ou associação de
classe, em processo ou negócio do qual tenha par-
Art. 25 É vedado ao gestor público opinar publica- ticipado, em razão do cargo, emprego ou função; e
mente sobre: II – prestar consultoria a pessoa física ou jurídica,
I – honorabilidade e desempenho funcional de inclusive sindicato ou associação de classe, valen-
outro gestor público estadual; do-se de informações não divulgadas publicamente
II – mérito de questão a ele submetida, para a respeito de programas ou políticas do órgão ou
decisão individual ou em órgão colegiado; e da entidade da Administração Pública Estadual a
III – matérias não atinentes a sua área de que esteve vinculado ou com que tenha tido relacio-
competência. namento direto e relevante nos seis meses anterio-
res ao término do exercício de função pública.
A Alta Administração, que também se submete ao
Código de Ética, está definida no art. 26: O art. 34 traz um prazo mínimo para o período de
quarentena. Observe, no entanto, que o inciso II acima
Art. 26 A Alta Administração do Poder Execu- traz o período de 6 meses para a hipótese lá tratada.
tivo Estadual compõe-se dos seguintes gestores
públicos: Art. 34 Na ausência de lei que estabeleça outro
I – Governador e Vice-Governador; prazo, será de quatro meses, contados da saída
II – Secretários de Estado, Secretários-Adjun- da Administração Pública do Poder Executivo Esta-
tos, Subsecretários, Chefes de Gabinete e equi- dual, o período de interdição para atividade incom-
valentes hierárquicos de órgãos da Administração patível com cargo, função ou emprego público
Direta do Poder Executivo Estadual, bem como anteriormente exercido, obrigando-se a autoridade
titulares de unidades administrativas ligadas dire- a observar, nesse prazo, as seguintes regras:
tamente ao dirigente máximo ou ao subsecretário e I – não aceitar cargo, emprego ou função de admi-
equivalentes hierárquicos; nistrador ou conselheiro, ou estabelecer vínculo
III – Dirigentes e Vice-Dirigentes de entidades profissional com pessoa física ou jurídica com a
da Administração Indireta do Poder Executivo qual tenha mantido relacionamento oficial direto e
Estadual, seus Chefes de Gabinete e titulares de relevante nos seis meses anteriores à da saída do
unidades administrativas ligadas diretamente ao Poder Executivo; e
dirigente máximo; II – não intervir, em benefício ou em nome de pes-
IV – ocupantes de cargo de direção e assessoria soa física ou jurídica, junto a órgão ou entidade da
direta ao Governador, Vice-Governador e diri- Administração Pública Estadual com que tenha tido
gente máximo de órgão ou entidade da Administra- relacionamento oficial direto e relevante nos seis
ção Pública Direta e Indireta do Poder Executivo meses anteriores à da saída do Poder Executivo.
Estadual;
V – Presidentes de órgãos colegiados delibera- DO PROCEDIMENTO E DAS SANÇÕES ÉTICAS
tivos de empresas públicas e sociedades de eco-
nomia mista do Poder Executivo; O art. 37 traz comandos sobre a averiguação preli-
VI – Presidentes de Conselhos Estaduais; e
minar que poderá dar origem a um processo ético ou
VII – outros agentes públicos, conforme deliberado
arquivamento. Acompanhe:
pelo Conset.
LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA

Parágrafo único Para efeito deste Código de Ética,


Art. 37 A apuração de fato com indícios de des-
o termo “autoridade pública” equivale aos gestores
respeito a este Código de Ética será instaurada em
públicos da Alta Administração.
razão de denúncia fundamentada ou de ofício
pela Comissão de Ética ou pelo Conset.
Para fins de acompanhamento da evolução patri- § 1º A apuração será conduzida pela Comissão de
monial dos gestores, o art. 29 impõe a entrega decla- Ética ou pelo Conset, segundo respectivas compe-
ração com informações patrimoniais quando do início tências, e poderá ocorrer mediante averiguação
do exercício: preliminar ou processo ético.
§ 2º A averiguação preliminar pode culminar
Art. 29 A autoridade pública enviará ao Conset, em processo ético ou arquivamento com ou sem
no prazo de dez dias contados do início do exer- recomendação.
cício no cargo, emprego ou função, declaração de § 3º O processo ético será instaurado quando a
informações sobre sua situação patrimonial e Comissão ou o Conset entender que a conduta seja
de trabalhos exercidos anteriormente. passível de sanção. 157
As possíveis sanções, constantes do art. 38, são as seguintes: advertência ou censura.

Dica
Da decisão final em Processo Ético, caberá:
I – pedido de reconsideração à instância responsável pela abertura do processo ético;
II – recurso ao Conset.

ANOTAÇÕES

158
Estado. Além disso, servem como norte para outras
normas e estão localizados no título I da CF, de 1988, o
qual é composto por quatro artigos.
Note que é nesses artigos que se proclama o regime
político democrático com fundamento na soberania
DIREITO popular e garantia da separação de função entre os
governos. Bem como, também se determina os valores
CONSTITUCIONAL e diretrizes para o ordenamento constitucional.

Fundamentos

Salienta-se, antes de adentrar especificamente


CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA nos referidos artigos, que muitas questões de prova
FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 cobram do examinando um conhecimento prévio
correlacionando a distinção do que são fundamentos
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS (art. 1º), objetivos (art. 3º) e princípios (art. 4º).
Repare que no parágrafo anterior não foi exposto
Conceito e Natureza o art. 2º, mas isso se deu de forma proposital, tendo
em vista que o examinador, muitas vezes, tenta con-
Antes de adentrarmos propriamente no tema, é fundir o candidato com o rol dos artigos anteriormen-
importante esclarecer um ponto que já foi objeto de pro- te mencionados.
va: princípios, regras e normas se distinguem. Tem-se o Para tanto, utilizaremos alguns mnemônicos ao
gênero normas, do qual decorre as espécies regras e prin- longo das explicações, começando logo pelo FOP
cípios. As normas são amplas, abarcando assim a nature- (fundamentos, objetivos, princípios). Observe que
za abstrata dos princípios e a concretude das regras. este mnemônico obedece a ordem alfabética, estando
também em conformidade com a ordem dos artigos
da constituição (F-1º; O-3º; P-4º).
Regras Assim, quando a questão mencionar algo relacio-
nado a fundamentos lembre-se que estará se referin-
do ao exposto no art. 1º; quando mencionar objetivos,
NORMAS art. 3º; e, quando mencionar princípios, art. 4º. Não se
esqueça também que o art. 2º não entra como referên-
cia nesse mnemônico!
Os fundamentos contidos no art. 1º da CF, de 1988, ser-
Princípios
vem como base para todo o ordenamento jurídico, pois
se referem aos valores de formação da República Federa-
tiva do Brasil. Veja a importância do artigo, não somente
Os princípios são um alicerce de um sistema, uma em relação à Constituição, mas como para toda a ordem
estrutura básica do ordenamento jurídico, trazendo jurídica do Estado. Assim, vejamos o referido dispositivo:
também uma melhor orientação à interpretação de um
texto constitucional que não pode ser feita de forma iso- Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada
lada, mas sim levando em consideração todo o contexto. pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e
Os princípios constitucionais podem ser explíci- do Distrito Federal, constitui-se em Estado Demo-
tos ou implícitos. Os princípios explícitos são aqueles crático de Direito e tem como fundamentos:
que estão de forma expressa no texto constitucional I - a soberania;
(escritos), já os implícitos são obtidos por meio de uma II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
construção lógica, ora, estão subentendidos no texto
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
mesmo não aparecendo expressamente.
V - o pluralismo político.
Como exemplo de princípios explícitos, podemos Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que
citar os princípios do art. 37 da CF, os quais dizem o exerce por meio de representantes eleitos ou dire-
respeito à Administração Pública. Já quanto aos prin- tamente, nos termos desta Constituição.
cípios implícitos, podemos citar o princípio da supre-
macia do interesse público, o qual, apesar de não
Dica
DIREITO CONSTITUCIONAL

ser encontrado expressamente na CF, é estritamente


observado pelo Poder Público. Para auxiliá-lo na memorização dos mencionados fun-
damentos guarde o mnemônico SO-CI-DI-VA-PLU.
EXPLÍCITOS Soberania
PRINCÍPIOS Cidadania
IMPLÍCITOS Dignidade
Valores sociais do trabalho e da livre iniciativa
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS Pluralismo político

Os princípios fundamentais são mandamentos que A Soberania


vão influenciar em toda ordem jurídica. Por exemplo,
é nesse momento que o texto constitucional formaliza Como preleciona José Afonso da Silva (2017), a
a relação entre povo, governo e território, elemen- soberania é um poder supremo e independente,
tos estes que são requisitos para constituição de um ainda, é fundamento do próprio conceito de Estado, 159
diante disso, não precisaria ser mencionada no texto Os Valores Sociais do Trabalho e da Livre Iniciativa
constitucional1.
A demonstração do poder soberano pode ser vis- Dispositivo que objetiva a proteção ao trabalho,
ta de forma interna (poder do Estado, sendo, neste pois é por meio deste que o homem garante sua sub-
caso, exteriorizada pela prevalência de suas normas sistência e o crescimento do Brasil. Aqui não se faz
e decisões sobre todas as demais proferidas) ou exter- menção somente ao “trabalhador CLT3”, mas tam-
na (quando nos relacionamos com entidades inter- bém aos autônomos, empresários, empreendedores e
nacionais, sendo, neste caso, exteriorizado pela não empregadores.
subordinação a nenhum outro Estado, decidindo pela
subordinação a determinada regra somente quando O Pluralismo Político
livremente manifestado).
O legislador originário se preocupou em afirmar a
A Cidadania ampla participação popular nos destinos políticos do
Brasil, com a inclusão da sociedade na participação dos
processos de formação da vontade geral da nação, garan-
Podemos considerar cidadania como um objeto de
tindo a liberdade e a participação dos partidos políticos.
direito fundamental, pois é a participação do indiví-
Ainda, podemos conceituar o pluralismo como a
duo no Estado Democrático de Direito. No texto consti-
garantia de que todo aquele que vive em sociedade terá
tucional, em sentido amplo, a existência da cidadania
direito a sua própria convicção política e partidária.
está atrelada à vivência social, na construção de rela-
ções, na mudança de mentalidade, na reivindicação
Separação dos Poderes
de direitos e no cumprimento de deveres.
Assim, podemos concluir que a cidadania pode
O art. 2º da Constituição, ao definir a independên-
ser exercida não somente com o direito de voto, mas
cia e a harmonia entre os poderes, consagra o chama-
também com a participação do cidadão em conselhos
do princípio da separação dos poderes, ou princípio
de temas importantes, como saúde, educação, compa-
da divisão funcional do poder do Estado.
recimento em audiências públicas e participação nas
reuniões referentes ao orçamento participativo.
Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmô-
Atenção, nem toda pessoa é considerada cidadã. nicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
Em provas de concurso é importante observar que
cidadão é todo ser humano que está em condição Assim, cada poder tem suas funções e organização
de votar e ser votado. Assim, podemos concluir que definidas, vejamos:
uma criança e os estrangeiros não naturalizados não
podem ser considerados cidadãos. z Poder executivo: exerce as funções de governo e
administração. Como exemplo de administração,
podemos mencionar o inciso I, art. 84 da CF, que
Importante! define como competência do Presidente da Repú-
blica nomear e exonerar Ministros;
Cuidado para não confundir cidadania com z Poder legislativo: é exercido pelo Congresso
nacionalidade: Nacional. Tem a função de legislar (função primária)
Nacionalidade é o vínculo jurídico político que e fiscalizar (função secundária, entretanto, típica). Ao
une uma pessoa a um Estado e a cidadania é a que diz respeito à principal função, tem o condão de
participação do indivíduo no Estado. Inclusive a elaborar as normas jurídicas gerais e abstratas. Por
nacionalidade é requisito para ser cidadão, ou exemplo, é de competência do Congresso Nacional
a votação para aprovação de lei complementar (art.
seja, para ser cidadão o indivíduo deve ser brasi-
69 da CF). Já como exemplo da função secundária
leiro nato ou naturalizado. (fiscalizar), podemos citar a de julgar, anualmente,
as contas prestadas pelo Presidente da República;
z Poder judiciário: cabe o exercício da jurisdição,
A Dignidade da Pessoa Humana
por exemplo, a aplicação do Direito a um caso con-
creto através de um processo judicial.
A dignidade da pessoa humana é um valor que
influencia o conteúdo de todos os direitos fundamentais A Teoria da tripartição de poderes foi idealizada
do homem consagrados no texto constitucional, é uma por Montesquieu e determina a composição e divisão
proteção não somente do indivíduo em face do Estado, do Estado, a teoria objetiva que cada poder deve ser
mas também perante a toda sociedade. Nesse sentido, independente e harmônico entre si, como forma de
considera Alexandre de Moraes (2011), a dignidade da dividir as funções do Estado, entre poder executivo,
pessoa humana é valor espiritual e moral, que se mani- poder legislativo e poder judiciário, entendimento
festa na autodeterminação da própria vida e traz consi- esse também chamado de teoria dos freios e contrape-
go a busca pelo respeito por parte das demais pessoas2. sos (checks and balances), já que cada um dos poderes
Note que, a dignidade da pessoa humana é o direi- exerce as funções dos outros poderes de forma atípica.
to de titularidade universal, isto é, todos têm acesso
a esse direito pelo simples fato de ser pessoa, assim, Objetivos da República Federativa do Brasil
a nacionalidade e/ou capacidade não são fatores que
possibilitam maior proteção, mas sim o fato de ser O art. 3° da Constituição Federal apresenta os obje-
cidadão, seja ele nacional ou estrangeiro. tivos fundamentais do Estado brasileiro, ou seja, dita
1 SILVA, op. cit, p. 106
2 MORAES, op. cit, p. 24.
160 3 Trabalhador CLT – Termo vulgar utilizado para definir trabalhador/funcionário regido pela CLT (carteira assinada).
os compromissos que o Estado tem em relação aos cidadãos, em especial na garantia plena de igualdade entre
todos os brasileiros.
José Afonso da Silva observa (2017) observa que é a primeira vez que uma Constituição relaciona especifica-
mente os objetivos do Estado brasileiro, que valem como base para as prestações positivas que venham a concre-
tizar a democracia econômica, social e cultural4.

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:


I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação.

Dica
Para auxiliar na memorização disponibiliza-se a seguir duas dicas:
� Regra do verbo: observe que todas as primeiras palavras do rol são verbos no infinitivo.
� Mnemônico: CON-GA ER PRO

O rol dos objetivos fundamentais relacionados no art. 3º da CF é um rol meramente exemplificativo, pois se
refere a metas, ou seja, objetivos que o Estado busca alcançar.

Princípios das Relações Internacionais

O art. 4º da Constituição enumera os princípios fundamentais orientadores das relações internacionais; consa-
gra, ainda, a não subordinação no plano internacional e a igualdade estre os Estados. Vejamos:

Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:
I - independência nacional;
II - prevalência dos direitos humanos;
III - autodeterminação dos povos;
IV - não-intervenção;
V - igualdade entre os Estados;
VI - defesa da paz;
VII - solução pacífica dos conflitos;
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
X - concessão de asilo político.
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos
povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.

Dica
É possível a elaboração de um mnemônico para o referido rol, contudo, nota-se que, por ser extenso o rol, o
mnemônico fica consequentemente também extenso. Assim, fica a seu critério adotar o que for passado aqui.
Mnemônico: A-IN-Da NÃO COm-PRE-I RE-CO-S
A – autodeterminação dos povos
In – independência nacional
D – defesa da paz
Não – não intervenção
Co – cooperação entre os povos para o progresso da humanidade
Pre – prevalência dos direitos humanos
I – igualdade entre os Estados
Re – repúdio ao terrorismo e ao racismo
DIREITO CONSTITUCIONAL

Co – concessão de asilo político


S – solução pacífica dos conflitos

Os princípios enumerados no mencionado dispositivo reconhecem a soberania do Estado no plano internacio-


nal, ou seja, não deve haver subordinação entre os Estados. Sob esse mesmo entendimento temos o princípio da
não-intervenção e o princípio da autodeterminação dos povos, assegurando que internamente o Estado não deve
sofrer nenhum tipo de interferência sobre assuntos de interesse interno.
O repúdio ao terrorismo e a concessão de asilo político têm relação com o princípio da prevalência dos direitos huma-
nos relacionado no inciso II; este último deve ser rigorosamente respeitado. Nesse sentido, em caso de extrema violação
da prevalência dos direitos humanos, pode até levar a interferência de outros Estados naquele, com o apoio do Brasil.
Ainda a Constituição determina que o Brasil buscará integração econômica, política, social e cultural dos povos
da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.
Vejamos no infográfico um resumo do Título I da Constituição Federal:
4 SILVA, op. cit, p. 107. 161
TÍTULO I — DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
Art. 1º Art. 2º Art. 3º Art. 4º

FUNDAMENTOS SEPARAÇÃO DOS PODERES OBJETIVOS PRINCÍPIOS DAS RELAÇÕES


FUNDAMENTAIS INTERNACIONAIS
“SO.CI.DI.VA.PLU” JUDICIÁRIO: “CON.GA.ER.PRO” Independência nacional
Aplica as leis Prevalência dos direitos humanos
SOberania CONstruir uma sociedade livre,
LEGISLATIVO: justa e solidária Autodeterminação dos povos
CIdadania
Elabora as leis GArantir o desenvolvimento Não intervenção
DIgnidade da pessoa humana nacional
Igualdade entre os Estados
EXECUTIVO: ERradicar a pobreza e a margina-
VAlores sociais do trabalho e
Administra o Estado lização e reduzir as desigualda- Defesa da paz
da livre iniciativa
des sociais e regionais Solução pacífica dos conflitos
PLUralismo Político
PROmover o bem de todos, sem Repúdio ao terrorismo e ao
preconceitos de origem, raça, racismo
sexo, cor, idade e quaisquer outras
formas de discriminação Cooperação entre os po-
vos para o progresso da
humanidade
X - concessão de asilo político

APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS: NORMAS DE EFICÁCIA PLENA, CONTIDA E LIMITADA

Todas as normas constitucionais tem eficácia jurídica independente de regulamentação, segundo a doutrina,
são classificadas em normas de eficácia plena, contida e limitada, conforme veremos a seguir.

Normas de Eficácia Plena

São as normas que não dependem de regulamentação, ou seja, não depende de lei.
Para identificar facilmente se a norma é de eficácia plena, note que na frase aparecerão termos como “é ou
são”. Neste caso, jamais aparecerá expressões como: “nos termos da lei”.
Exemplo: vejamos o art. 13 da CF e art. 18, § 1º da CF.

Art. 13 A língua portuguesa é o idioma oficial da República Federativa do Brasil.


Art. 18 A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição.
§ 1º Brasília é a Capital Federal.

Normas de Eficácia Contida

São normas que tem aplicabilidade imediata, não dependem de regulamentação, mas admitem redução do
direito pelo legislador originário.
Para identificar facilmente se a norma é de eficácia contida, note que na frase aparecerão expressões com a
palavra “lei”, visando reduzir um direito.
Exemplo: vejamos o art. 5°, XIII da CF.

XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei
estabelecer;

Normas de Eficácia Limitada

São normas de dependem de regulamentação. Normas cuja aplicabilidade é indireta e reduzida.


Para identificar facilmente se a norma é de eficácia limitada, note que na frase aparecerão expressões com a
palavra “lei ou nos termos da lei”, mas neste caso, visando detalhar um direito.
Exemplo: observe o art. 29 da CF e art.153, VII da CF:

Art. 153 Compete à União instituir impostos sobre:


VII - grandes fortunas, nos termos de lei complementar.
Art. 29 Enquanto não aprovadas as leis complementares relativas ao Ministério Público e à Advocacia-Geral da
União, o Ministério Público Federal, a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, as Consultorias Jurídicas dos Minis-
térios, as Procuradorias e Departamentos Jurídicos de autarquias federais com representação própria e os membros
das Procuradorias das Universidades fundacionais públicas continuarão a exercer suas atividades na área das res-
pectivas atribuições.
[...]
§ 2º Aos atuais Procuradores da República, nos termos da lei complementar, será facultada a opção, de forma irre-
162 tratável, entre as carreiras do Ministério Público Federal e da Advocacia-Geral da União.
Atualmente não existe o imposto sobre grandes for- incisos, como, por exemplo, do direito à vida, decor-
tunas no Brasil, mas há uma autorização constitucional rem o direito à integridade física e moral, a proibição
para criação do mesmo, conforme art. 153 da CF, deve da pena de morte e a proibição de venda de órgãos.
existir uma lei complementar para regular o mesmo. Quando a Constituição fala “brasileiros e estrangei-
ros residentes no país”, não significa que o estrangei-
“Análise Covid-19” ro não residente não possua direitos, pois os direitos
fundamentais são destinados a qualquer pessoa que
Visto como uma potencial fonte de arrecadação se encontre em território nacional.
para o país, o imposto sobre grandes fortunas (IGF) A CF, de 1988, adota o critério quantitativo para
é tema de alguns projetos em tramitação no Senado. definir os titulares dos direitos fundamentais, ou seja,
Dois deles foram apresentados após o início da pande- a população brasileira — todos aqueles que residem
mia do covid-19 — e citam essa calamidade sanitária em território brasileiro.
como motivo de suas medidas. Além disso, o caput traz o princípio da isonomia
Segundo regras constitucionais, um novo imposto só ou da igualdade (“todos são iguais perante a lei, sem
pode valer a partir do ano seguinte à sua criação. Des- distinção de qualquer natureza”). Tal princípio tem,
se modo, mesmo que um desses projetos seja aprovado como fundamento, o fato de que todos nascem e vivem
durante a crise do Covid-19, ele não poderá ser cobrado com os mesmos direitos e obrigações perante o Estado
a tempo de trazer recursos imediatos. Mesmo assim, os brasileiro. São destinatários do princípio da igualdade
senadores citam a justiça social e os custos futuros da tanto o legislador como os aplicadores da lei.
pandemia como fatores que justificam suas iniciativas.
z Igualdade na lei: direcionado ao legislador, de modo
a vedar a elaboração de dispositivos que estabele-
EFICÁCIA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS çam desigualdades ou privilégio entre as pessoas;
z Igualdade perante a lei: direcionado aos aplica-
dores da lei, uma vez que não é possível utilizar
CONTIDA LIMITADA
critérios discriminatórios na aplicação da norma,
PLENA salvo nos casos em que a própria norma consti-
Aplicabilidade ime- Aplicabilidade indire-
Não depende de
diata ta/reduzida
tucional estabelece a aplicação desigual. Como
regulamentação
exemplo, podem-se citar o caso da exclusão de
Exemplo: Exemplo:
Exemplo: mulheres e eclesiásticos do serviço militar obriga-
Art. 1º da CF.
Inciso VIII, art. 5° Inciso XXVIII, art. 5° tório em tempo de paz, ou os casos de existência
da CF. da CF.
de um pressuposto lógico e racional que justifique
a desequiparação efetuada, como a existência de
NORMAS PROGRAMÁTICAS assentos reservados para gestantes, idosos e pes-
soas com deficiência nos transportes coletivos.
De modo geral, pode-se dizer que a Constituição de
1988 é programática. Isso porque grande parte de suas Art. 5º [...]
normas traçam, na verdade, princípios para serem I - homens e mulheres são iguais em direitos e
cumpridos pelos seus órgãos em longo prazo. São ver- obrigações, nos termos desta Constituição;
dadeiras metas a serem atingidas pelo Estado e seus
programas de governo na realização de seus fins sociais. O inciso I decorre do direito à igualdade. Trata-se
da igualdade entre homens e mulheres. Inicialmen-
te, há de se esclarecer que os direitos das mulheres são
relativamente recentes, de modo que grande parte da
legislação anterior à CF, de 1988, estabelecia situações
DIREITOS E GARANTIAS diferenciadas entre homens e mulheres, como, por
FUNDAMENTAIS exemplo, a necessidade de autorização marital para
que a esposa ocupasse cargo público ou exercesse a
DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS profissão fora do lar e o fato de o marido ser tido como
o chefe da sociedade conjugal, competindo a ele, entre
Os direitos individuais e coletivos estão disciplina- outros deveres, a administração dos bens do casal.
Assim sendo, esse inciso foi direcionado tanto
dos no art. 5º, da CF, de 1988. Muito cobrado em provas
ao legislador, para que corrigisse tais desigualdades
de concursos públicos, esse dispositivo é o mais exten-
legais, como aos operadores do direito, para que não
so dessa norma, sendo composto pelo caput (capítulo),
DIREITO CONSTITUCIONAL

fossem mais estabelecidos critérios discriminatórios.


por 78 (setenta e oito) incisos e 4 (quatro) parágrafos.
Atenção! Existem dois tipos de igualdade: a for-
Vejamos cada uma de suas partes:
mal e a material. A igualdade formal consiste em tra-
tar a todos de maneira igual, independentemente de
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distin- qualquer condição. Já a igualdade material busca a
ção de qualquer natureza, garantindo-se aos bra- igualdade de fato, para que todos tenham os mesmos
sileiros e aos estrangeiros residentes no País
direitos e obrigações. Trata-se, portanto, da igualdade
a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade,
efetiva, real, concreta ou situada. Assim, a igualdade
à igualdade, à segurança e à propriedade, nos
nada mais é que tratar igualmente os iguais, com os
termos seguintes:
mesmos direitos e obrigações, e desigualmente os
desiguais, na medida de sua desigualdade.
O caput do art. 5º traz os cinco pilares dos direitos
individuais e coletivos, quais sejam: vida, liberdade,
Art. 5º [...]
igualdade, segurança e propriedade. Deles decor- II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de
rem todos os demais direitos estruturados nos seus fazer alguma coisa senão em virtude de lei; 163
O inciso II decorre do direito à segurança. Trata-se, do anonimato, por exemplo. Portanto, ao mesmo tem-
portanto, da segurança em matéria pessoal estampa- po que a Constituição assegura a liberdade de mani-
da pelo princípio da legalidade. Em síntese, todas as festação de pensamento, ela obriga que as pessoas
pessoas estão submetidas ao império da lei, de modo assumam a responsabilidade pelo que exteriorizam.
que somente a lei pode obrigar alguém a fazer ou Além disso, a vedação ao anonimato é aplicada,
deixar de fazer algo. Assim sendo, somente a lei pode também, às denúncias. Segundo o STF, é vedado o
limitar a vontade do indivíduo e obrigá-lo a fazer ou recebimento de denúncias anônimas, contudo, isso
não fazer algo, como, por exemplo, o uso obrigatório não impede que o Estado apure de forma sumária a
de máscaras faciais de proteção. verossimilhança das alegações.
Ressalta-se que o princípio da legalidade possui
duas facetas, sendo uma delas destinada aos parti- Art. 5º [...]
culares e a outra destinada à Administração. A lega- V - é assegurado o direito de resposta, proporcio-
lidade aplicada ao particular difere-se da legalidade nal ao agravo, além da indenização por dano mate-
aplicada à Administração, tendo em vista que ao par- rial, moral ou à imagem;
ticular tudo pode se não proibido por lei. Já em rela-
ção à Administração, seus atos são engessados, sendo A expressão do pensamento é livre, porém, não
assim, somente pode praticar atos dispostos em lei. é absoluta. Assim, a pessoa é livre para expor sua
opinião, porém, atingindo-se a honra de alguém,
Art. 5º [...] por exemplo, ela poderá ser responsabilizada civil e
III - ninguém será submetido a tortura nem a tra- penalmente. Além disso, a CF, de 1988, estabelece o
tamento desumano ou degradante; direito de resposta, ou seja, o exercício do direito de
defesa da pessoa que foi ofendida em razão da mani-
O inciso III decorre do direito à vida, por decor- festação do pensamento de outra, como, por exemplo,
rer da violação à integridade humana, tanto física no caso de notícia inverídica ou errônea. Salienta-se
como psicológica. Torturar5 é causar ao indivíduo por fim que o direito de resposta é aplicado tanto à
sofrimento físico ou mental como forma de intimida- pessoa física quanto à jurídica.
ção ou castigo. É, também, utilizar-se de métodos como
forma de anular a personalidade ou diminuir a capa-
cidade física ou metal, mesmo que sem dor. Assim, a Importante!
CF, de 1988, veda tanto a tortura como qualquer tipo
de tratamento desumano ou degradante. Temos como O inciso V prevê a indenização por dano material,
exemplo prático de tal inciso a Súmula Vinculante nº moral ou à imagem. De acordo com a Súmula nº
11, a qual dispõe sobre o uso de algemas, que, se for de 37, do Superior Tribunal de Justiça6, esses danos
forma arbitrária, pode acarretar em tratamento desu- são acumuláveis.
mano ou degradante.

Súmula Vinculante nº 11 Só é lícito o uso de alge- Art. 5º [...]


mas em casos de resistência e de fundado receio de VI - é inviolável a liberdade de consciência e de
fuga ou de perigo à integridade física própria ou crença, sendo assegurado o livre exercício dos
alheia, por parte do preso ou de terceiros, justifi- cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a
cada a excepcionalidade por escrito, sob pena de proteção aos locais de culto e a suas liturgias;
responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente
ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato A liberdade de consciência abrange a liberdade
processual a que se refere, sem prejuízo da respon- de consciência em sentido estrito, ou seja, a liber-
sabilidade civil do Estado. dade de pensamento de foro íntimo em questões não
religiosas, tais como convicções de ordem ideológica
Art. 5º [...] ou filosófica. Abrange, ainda, a liberdade de crença,
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo isto é, a liberdade de pensamento de foro íntimo em
vedado o anonimato; questões de natureza religiosa. Com relação à religião,
o inciso VI assegura tanto a liberdade de crença (foro
Todas as pessoas possuem direito atinentes à íntimo), ou seja, de ter uma religião, como a liberdade
liberdade de foro íntimo, ou seja, de ter convicções de expressão, isto é, de culto. Além disso, estabelece
religiosas, filosóficas, políticas, entre outras, possuin- a liberdade religiosa, ou seja, de mudar de crença ou
do, portanto, o direito de pensar. Além disso, possuem religião e de manifestação.
direito de expressar livremente esses pensamentos.
Assim, o direito à expressão do pensamento, que Art. 5º [...]
decorre do direito à liberdade de expressão (sendo VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação
este fundamento do Estado Democrático de Direito), de assistência religiosa nas entidades civis e
está disciplinado no inciso IV. militares de internação coletiva;
O pensamento em si é absolutamente livre, por ser
uma questão de foro íntimo. O indivíduo pode pen- O inciso VII é decorrência do direito à liberdade
sar em que quiser, sem que o Estado possa interferir. de crença e culto, de modo a garantir aos internados
No entanto, quando este pensamento é exteriorizado, em estabelecimentos prisionais e de saúde o acesso à
passa a ser possível a tutela e proteção do Estado. assistência espiritual e religiosa; contudo, lembre-se
Cumpre mencionar que é da liberdade de expres- de que essa admissão não influi no fato de o Estado
são que decorrem a proibição de censura e a vedação ser laico.
5 Conceito em conformidade com o art. 2º, da Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura.
164 6 Súmula nº 37 (STJ) São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato.
Art. 5º [...] A inviolabilidade do domicílio está prevista no
VIII - ninguém será privado de direitos por moti- inciso XI, do art. 5º, e decorre do direito à segurança.
vo de crença religiosa ou de convicção filosófi- O dispositivo traz a regra de que a casa é inviolável
ca ou política, salvo se as invocar para eximir-se e o ingresso nela deve ser feito com o consentimento
de obrigação legal a todos imposta e recusar-se do morador. Considera-se casa o lugar, não aberto ao
a cumprir prestação alternativa, fixada em lei; público, em que uma pessoa vive ou trabalha. Trata-
-se, portanto, de um conceito amplo, o qual se refere
O inciso VIII traz a chamada escusa de consciência ao lugar reservado à intimidade e à vida privada do
ou objeção de consciência. Trata-se do direito de não indivíduo.
cumprir um serviço obrigatório por razões relaciona- O conceito jurídico de casa está previsto nos §§ 4º e
das a sua consciência ou crença, de modo a assegurar 5º, do art. 150, do Código Penal. Vejamos:
que não ocorrerá a perda dos direitos civis ou políticos
em decorrência de tal recusa. Por exemplo: a pessoa Art. 150 (Código Penal) [...]
que, por questão religiosa, seja contrária ao serviço § 4º A expressão «casa» compreende:
militar poderá alegar tal imperativo de consciência em I - qualquer compartimento habitado;
seu alistamento militar. No entanto, a CF, de 1988, esta- II - aposento ocupado de habitação coletiva;
belece que, mesmo que dispensada da prática dessa ati- III - compartimento não aberto ao público, onde
vidade, ela terá que cumprir serviço alternativo. alguém exerce profissão ou atividade.
§ 5º Não se compreendem na expressão «casa»:
Art. 5º [...] I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habita-
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, ção coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do
artística, científica e de comunicação, indepen- n.º II do parágrafo anterior;
dentemente de censura ou licença; II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero.

O inciso IX trata da liberdade de expressão das O dispositivo traz três exceções à regra. A primei-
atividades intelectual, artística, científica e de comu- ra exceção é a possibilidade de ingresso no caso de fla-
nicação. Assim, a CF, de 1988, veda, expressamente, grante delito ou desastre, ou seja, é possível ingressar
qualquer atividade de censura ou licença, inclusive a no local se um crime estiver ocorrendo ou tiver aca-
proveniente de atuação jurisdicional. bado de ocorrer, por exemplo. A segunda exceção per-
Cumpre esclarecer os conceitos de censura e mite a entrada no local para prestar socorro, como,
licença: por exemplo, no caso de o imóvel estar pegando fogo e
ter alguém em seu interior. Por fim, é possível ingres-
z Censura é a verificação da compatibilidade ou não sar na casa mediante autorização judicial, como, por
entre um pensamento que se pretende expressar exemplo, quando o juiz expede um mandado judicial
com as normas legais vigentes; para busca de algum(a) objeto/pessoa no local.
z Licença é a exigência de autorização para que o É importante consignar que, mesmo com autoriza-
pensamento possa ser exteriorizado. ção judicial, o ingresso deve ocorrer apenas durante
o dia, ou seja, durante o período noturno, dependerá
Art. 5º [...] do consentimento do morador. Assim sendo, durante
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, o dia, exibindo-se o mandado judicial, a busca pode
a honra e a imagem das pessoas, assegurado o ser realizada mesmo sem a concordância do morador,
direito a indenização pelo dano material ou moral sendo possível, inclusive, o arrombamento de porta se
decorrente de sua violação; houver necessidade.
Atenção! O inciso III, do art. 22, da Lei nº 13.869,
O inciso X decorre do direito à vida e traz a pro- de 2019, estabelece como dia o período compreendido
teção dos direitos de personalidade, ou seja, o direi- entre as 5h e 21h.
to à privacidade. Trata-se dos atributos morais que
devem ser preservados e respeitados por todos, uma Art. 5º [...]
vez que a vida não deve ser protegida apenas em seus XII - é inviolável o sigilo da correspondência e
aspectos materiais. das comunicações telegráficas, de dados e das
Aqui, torna-se necessário explicar alguns termos: comunicações telefônicas, salvo, no último caso,
intimidade é o direito de estar só, ou seja, de não ser por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que
perturbado em sua vida particular; vida privada refe- a lei estabelecer para fins de investigação criminal
re-se ao relacionamento de um indivíduo com seus ou instrução processual penal;
DIREITO CONSTITUCIONAL

familiares e amigos, quer em seu lar quer em locais


fechados; honra é o atributo pessoal que compreende A inviolabilidade das comunicações pessoais
tanto a autoestima (honra subjetiva) quanto a reputa- está disciplinada no inciso XII e também decorre do
ção de que goza a pessoa no meio social (honra objeti- direito à segurança. O dispositivo considera comuni-
va); imagem é a expressão exterior da pessoa, ou seja, cações pessoais:
seus aspectos físicos (imagem-retrato), bem como a
exteriorização de sua personalidade no meio social z As correspondências: comunicações recebidas
(imagem-atributo). em casa, como, por exemplo, as cartas, as contas,
os comunicados e avisos comerciais;
Art. 5º [...] z A comunicação telegráfica: comunicados mais
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém rápidos, que podem ser enviados tanto na forma
nela podendo penetrar sem consentimento do escrita como pela internet, tais como o telegrama;
morador, salvo em caso de flagrante delito ou z A comunicação de dados: comunicação feita por
desastre, ou para prestar socorro, ou, durante meio de rede de computadores, como, por exem-
o dia, por determinação judicial; plo, a compra de produtos online ou homebank; 165
z As comunicações telefônicas: ligações feitas e Art. 5º [...]
recebidas por meio de telefone fixo ou móvel. XV - é livre a locomoção no território nacional
em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos
Embora não conste do inciso, o sigilo foi estendido termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair
aos dados telemáticos por meio da Lei nº 9.296, de 1996. com seus bens;
Assim, estão protegidas as mensagens trocadas por meio
de Skype, e-mail, WhatsApp, Messenger, entre outros. A liberdade de ir e vir encontra-se disciplinada no
É importante mencionar que as violações de cor- inciso XV, do art. 5º, da CF, de 1988. Trata-se, portan-
respondência e de comunicação telegráfica são cri- to, do direito de locomoção, que é um dos desdobra-
mes previstos no art. 151, do Código Penal, e na Lei nº mentos do direito à liberdade. Observa-se, no entanto,
6.538, de 1978, a qual dispõe sobre os serviços postais. que a liberdade de locomoção é restrita a tempo de
Cabe consignar, ainda, que a quebra das comuni- paz, ou seja, no caso de decretação de guerra, passa a
cações telefônicas é admitida mediante autorização viger a lei marcial, de modo que o ir e vir dos indiví-
judicial (“salvo no último caso”) para fins de investiga- duos pode sofrer limitações.
ção criminal ou instrução processual penal. Portanto, A garantia constitucional que objetiva assegurar o
somente para fins penais. direito de locomoção é o habeas corpus, que será tra-
Atenção! Como não existe direito absoluto, é pos- tado adiante.
sível a quebra do sigilo das demais comunicações
mediante autorização judicial. Art. 5º [...]
XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem
armas, em locais abertos ao público, indepen-
Art. 5º [...]
dentemente de autorização, desde que não
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofí-
frustrem outra reunião anteriormente convoca-
cio ou profissão, atendidas as qualificações profis-
da para o mesmo local, sendo apenas exigido pré-
sionais que a lei estabelecer;
vio aviso à autoridade competente;
O direito de exercício de qualquer atividade
O inciso XVI traz outro desdobramento do direito
profissional decorre do direito à liberdade. Trata-se
à liberdade: o direito de reunião. Por reunião, enten-
da faculdade de escolher o trabalho que se pretende
exercer. No entanto, é necessário atender às qualifica- de-se o agrupamento organizado de pessoas de cará-
ções profissionais exigidas pela lei, como, por exem- ter transitório e voltado para determinada finalidade.
plo, para ser médico, um dos requisitos é ter feito Portanto, é preciso que o evento seja organizado e
faculdade de Medicina em território nacional ou ter preencha os seguintes requisitos: reunião pacífica e
sido aprovado em exame de revalidação no caso de sem armas; fins lícitos; aviso prévio à autoridade com-
faculdade estrangeira. petente e local aberto ao público.
Essa é uma norma constitucional de eficácia con- O STF, quanto à “Marcha da Maconha”, entendeu
tida, ou seja, uma norma que produz todos os efeitos. que a passeata é constitucional, assim, compatível
No entanto, cabe destacar que uma norma infracons- com o direito de reunião. Contudo, é inadmissível a
titucional (lei) pode conter o seu alcance ao fixar incitação ao uso de entorpecentes.
condições ou requisitos para o pleno exercício da pro- Atenção! Aviso prévio não se confunde com auto-
fissão, como, por exemplo, a regra de que, para advo- rização. Para se reunir, é preciso, apenas, comunicar
gar, é necessária a aprovação no exame da Ordem dos à autoridade local, a fim de evitar, por exemplo, que,
Advogados do Brasil. no mesmo local, dia e hora, coincidam agrupamentos
de pessoas com posicionamentos distintos (exemplo:
Art. 5º [...] manifestações pró-aborto e contrária ao aborto).
XIV - é assegurado a todos o acesso à informação
e resguardado o sigilo da fonte, quando necessá- Art. 5º [...]
rio ao exercício profissional; XVII - é plena a liberdade de associação para fins
lícitos, vedada a de caráter paramilitar;
O inciso XIV disciplina o direito de informação, que
é um dos desdobramentos do direito à liberdade. O direi- A liberdade de associação encontra-se disciplina-
to à informação possui tríplice alcance, por englobar o da no inciso XVII. Diferentemente da reunião, a asso-
direito de informar, de se informar e de ser informado. ciação não possui caráter transitório. Portanto, se o
caráter do agrupamento for permanente, tem-se uma
associação. É importante mencionar que tanto a reu-
Importante! nião como a associação devem possuir fins pacíficos.
No Brasil, é proibida a associação para fins ilícitos,
A liberdade de informação jornalística está prevista como, por exemplo, a associação para fins contrários
no § 1º, do art. 220, da CF, de 1988, e é mais abran- à lei penal. Também é vedada a associação de caráter
gente que a liberdade de imprensa, que assegura o paramilitar, ou seja, a associação civil e desvinculada
direito de veiculação de impressos sem qualquer do Estado, que se encontra armada e com estrutura
tipo de restrição por parte do Estado. similar às instituições militares, de modo a se utilizar
de táticas e técnicas policiais ou militares para alcan-
çar os seus objetivos.
Ressalta-se, ainda, que o dispositivo resguarda o
sigilo da fonte quando necessário ao exercício profis- Art. 5º [...]
sional. Deste modo, por exemplo, nenhum jornalista XVIII - a criação de associações e, na forma da lei,
poderá ser obrigado a revelar o nome de seu infor- a de cooperativas independem de autorização,
mante ou a fonte de suas informações. Além disso, seu sendo vedada a interferência estatal em seu
166 silêncio não poderá sofrer qualquer sanção. funcionamento;
O inciso XVIII disciplina o direito de associação. De acordo com o art. 1.228, do Código Civil, o direi-
Trata-se da possibilidade de criação de sindicatos sem to de propriedade consiste na faculdade de usar, gozar
a interferência do Estado. e dispor da coisa, assim como o direito de reavê-la do
poder de quem quer que, injustamente, a possua ou a
Art. 5º [...] detenha.
XIX - as associações só poderão ser compulso- Observa-se, no entanto, que, em termos constitu-
riamente dissolvidas ou ter suas atividades cionais, o direito de propriedade é mais amplo que no
suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no direito civil, por abranger qualquer direito de conteú-
primeiro caso, o trânsito em julgado; do patrimonial ou econômico, ou seja, tudo aquilo que
possa ser convertido em dinheiro, alcançando crédi-
O inciso XIX, que também disciplina o direito de tos e direitos pessoais.
associação, estabelece que as associações somente
poderão ter suas atividades suspensas ou encerra- Art. 5º [...]
das compulsoriamente (a força) por decisão do Poder XXIII - a propriedade atenderá a sua função
Judiciário. Salienta-se, por necessário, que, no caso de social;
dissolução da associação, esta somente poderá ocor-
rer após o trânsito em julgado, ou seja, quando não O inciso XXIII traz um limite ao direito de pro-
couber mais recursos. priedade. Assim, a utilização de um bem deve ser fei-
ta de acordo com a conveniência social da utilização
da coisa, ou seja, atendendo a sua função social. Por-
Importante! tanto, o direito do dono deve ajustar-se aos interesses
� Dissolução das associações: decisão judicial da sociedade.
+ trânsito em julgado;
Art. 5º [...]
� Suspensão das associações: decisão judicial.
XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para
desapropriação por necessidade ou utilidade
Art. 5º [...] pública, ou por interesse social, mediante justa
XX - ninguém poderá ser compelido a associar- e prévia indenização em dinheiro, ressalvados
-se ou a permanecer associado; os casos previstos nesta Constituição;

O inciso XX, que também disciplina o direito de O inciso XXIV trata da hipótese mais drástica do
associação, estabelece que não é possível obrigar poder de intervenção do Estado na economia: a desa-
qualquer pessoa a se associar, ou seja, o indivíduo tem propriação. A desapropriação é o ato pelo qual o
liberdade de escolha, podendo optar por fazer parte do Estado toma para si ou para outrem (terceira pessoa)
grupo ou não. Além disso, uma vez associado, ele será bens de particulares, por meio do pagamento de jus-
livre para decidir se permanece ou não associado. Por- ta e prévia indenização. Portanto, trata-se de uma das
tanto, compreende o direito de associar-se a outras pes- hipóteses de aquisição originária da propriedade. É
soas para formação de uma entidade, como também de cabível a desapropriação nas seguintes hipóteses:
deixar de participar quando for de seu interesse.
z Por necessidade pública: hipótese na qual o bem
Art. 5º [...] a ser desapropriado é imprescindível para a reali-
XXI - as entidades associativas, quando expressa- zação de uma atividade essencial do Estado;
mente autorizadas, têm legitimidade para repre- z Por utilidade pública: hipótese na qual o bem não
sentar seus filiados judicial ou extrajudicialmente; é imprescindível, mas é conveniente para a reali-
zação de uma atividade estatal;
O inciso XXI é o último dispositivo que trata do z Por interesse social: hipótese na qual a desapro-
direito de associação. Ele se refere à representação do priação é conveniente para o desenvolvimento da
filiado pela associação, quer em âmbito judicial quer sociedade.
em âmbito extrajudicial, isto é, ele se refere à legitima-
ção da associação para atuar em nome dos associados. Atenção! Não confundir com desapropriação
Cabe esclarecer que representante é aquele que sancionatória, hipótese em que o bem não respeita a
age em nome alheio, defendendo direito alheio. No
função social da propriedade. Nela, a indenização não
caso das associações, para que estas atuem na condi-
é prévia, sendo o prazo de resgate (Títulos da Dívida
ção de representantes, é preciso autorização expressa
DIREITO CONSTITUCIONAL

Pública) de 10 (dez) anos para bens urbanos e de 20


dos filiados, não bastando que exista autorização em
estatuto. Assim sendo, só poderão atuar se devida- (vinte) anos para bens rurais. Ainda, não confunda
mente autorizadas pelos associados. desapropriação com expropriação, que consiste na
Além disso, ao contrário da representação, a subs- perda da propriedade no caso de cultivo de substân-
tituição judicial ou extrajudicial da associação inde- cias entorpecentes ou de trabalho escravo. Nela, não
pende de autorização, uma vez que, na substituição, a há pagamento de indenização.
associação atua em nome próprio, defendendo direito
alheio (dos associados). Art. 5º [...]
XXV - no caso de iminente perigo público, a auto-
Art. 5º [...] ridade competente poderá usar de propriedade
XXII - é garantido o direito de propriedade; particular, assegurada ao proprietário indeniza-
ção ulterior, se houver dano;
O direito de propriedade encontra-se disciplina-
do no inciso XXII, do art. 5º. Tratam-se dos direitos A requisição temporária da propriedade está
pessoais de natureza econômica. disciplinada no inciso XXV. Trata-se da possibilidade 167
de o Poder Público, em momentos de calamidade (já a) a proteção às participações individuais em
ocorrida ou prestes a ocorrer), ingressar na posse de obras coletivas e à reprodução da imagem e voz
bem particular, para assegurar a preservação de direi- humanas, inclusive nas atividades desportivas;
tos mais importantes que a propriedade, tais como a b) o direito de fiscalização do aproveitamento
vida e a integridade das pessoas. Por exemplo, no caso econômico das obras que criarem ou de que parti-
de uma enchente em um determinado local, o Poder ciparem aos criadores, aos intérpretes e às respecti-
Público fazer de um imóvel privado, próximo ao local, vas representações sindicais e associativas;
um hospital de atendimento às vítimas.
A requisição temporária é uma exceção ao princí- O inciso XXVIII também protege a propriedade
pio da indenização prévia, uma vez que o pagamento intelectual. Deste modo, o dispositivo assegura a
está condicionado à existência de danos. proteção de tais direitos ao indivíduo que participou
de obra coletiva, além de proteger a reprodução da
Art. 5º [...] imagem e voz humanas. Ainda, assegura o direito de
XXVI - a pequena propriedade rural, assim defi- fiscalização do aproveitamento econômico tanto nas
nida em lei, desde que trabalhada pela família, obras individuais como nas coletivas.
não será objeto de penhora para pagamento de
débitos decorrentes de sua atividade produtiva, Art. 5º [...]
dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos indus-
desenvolvimento; triais privilégio temporário para sua utilização, bem
como proteção às criações industriais, à propriedade
O inciso XXVI disciplina a impenhorabilidade da das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos
pequena propriedade rural, por ser esta considerada distintivos, tendo em vista o interesse social e o desen-
bem de família e, portanto, insuscetível de penhora, de volvimento tecnológico e econômico do País;
modo a ficar a salvo de execuções por dívidas decorren-
tes da atividade produtiva. Além disso, a CF, de 1988, O último dispositivo que trata da propriedade inte-
estabelece que esta deverá receber os recursos previstos lectual é o inciso XXIX, garantindo aos autores de inven-
em lei que financiem o seu desenvolvimento. tos industriais os privilégios para sua utilização, ainda
Embora o dispositivo não conceitue pequena pro- que de forma temporária. Além disso, assegura a pro-
priedade rural, o entendimento mais amplo é de que teção às criações industriais, à propriedade das marcas,
esta possui área entre 1 (um) e 4 (quatro) módulos fis- aos nomes de empresas e a outros signos distintivos.
cais, na qual a família trabalha, consistindo, pois, na
sua única fonte de sobrevivência. Art. 5º [...]
XXX - é garantido o direito de herança;
Art. 5º [...]
XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo O direito de herança, que decorre do direito à pro-
de utilização, publicação ou reprodução de suas priedade, está disciplinado no inciso XXX. Trata-se da
obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo modificação da titularidade do bem em decorrência do
que a lei fixar; falecimento (sucessão hereditária). Assim, o patrimônio
do de cujus transmite-se aos seus herdeiros, os quais se
O inciso XXVII disciplina o direito de proprieda- sub-rogam nas relações jurídicas do falecido, tanto no
de intelectual, ou seja, a proteção legal e o reconheci- ativo como no passivo, até os limites da herança.
mento de autoria em produções. Existem três tipos de
propriedade intelectual, quais sejam:
Importante!
z Propriedade industrial: criações que movimen-
O direito de sucessão está regulado no Código Civil.
tam o mercado e são empregadas para manter a
competitividade. Seu foco é voltado para a área
empresarial. São exemplos: as patentes, marcas, Art. 5º [...]
desenhos, indicações geográficas, entre outros; XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situa-
z Direitos autorais: criações artísticas, culturais e dos no País será regulada pela lei brasileira em
científicas, como, por exemplo, as obras intelec- benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sem-
tuais, literárias e artísticas; pre que não lhes seja mais favorável a lei pes-
z Proteção sui generis: são as criações híbridas, isto é, soal do de cujus;
aquelas que se encontram em um estado intermediá-
rio entre a propriedade industrial e os direitos auto- Ainda com relação ao direito de herança, o inciso
rais. Exemplos: a topografia dos circuitos integrados XXXI estabelece a lei que deverá ser aplicada caso a
(mask works), a proteção de Cultivares (obtenções sucessão envolva bens de estrangeiros situados no Bra-
vegetais ou variedades vegetais) e conhecimentos tra- sil. Assim, a regra é que se aplica a lei brasileira sempre
dicionais associados aos recursos genéticos. que esta beneficiar cônjuge ou filho brasileiro. No entan-
to, caso a lei estrangeira (lei do país do de cujus) seja mais
Neste sentido, a CF, de 1988, garante aos autores o benéfica a estas pessoas, ela é que será aplicada.
direito exclusivo de utilização, publicação ou repro-
dução de suas obras, sendo esse direito transmitido Art. 5º [...]
aos herdeiros do autor (direitos sucessórios) pelo tem- XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a
po que a lei fixar. defesa do consumidor;

Art. 5º [...] O inciso XXXII traz a proteção ao consumidor como


168 XXVIII - são assegurados, nos termos da lei: um dos direitos e deveres individuais e coletivos.
Como consequência, a defesa do consumidor será pro- Art. 5º [...]
movida por meio do Estado. Vale lembrar que é a Lei XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder
nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, conhecida como Judiciário lesão ou ameaça a direito;
Código de Defesa do Consumidor (CDC), que estabele-
ce as regras de proteção ao consumidor. O princípio da inafastabilidade de jurisdição
ou do controle do Poder Judiciário está disciplina-
Art. 5º [...] do no inciso XXXV. Tal princípio é um desdobramento
XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públi- do direito à segurança (garantias jurisdicionais). Esse
cos informações de seu interesse particular, ou princípio garante que todas as pessoas tenham acesso
de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas ao Poder Judiciário.
no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressal-
vadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à Art. 5º [...]
segurança da sociedade e do Estado; XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido,
o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;
O inciso XXXIII decorre do direito de informação.
Trata-se de assegurar aos indivíduos o conhecimento O inciso XXXVI é, também, um desdobramento do
de informações relativas à sua pessoa, quando cons- direito à segurança. Trata-se da garantia constitucio-
tantes de banco de dados de entidades governamen- nal de que as novas leis não retirem das pessoas os
tais ou abertas ao público, bem como de informação direitos que elas adquiriram por meio de lei antiga, de
de interesse da coletividade. Aqui, vale mencionar modo que as situações disciplinadas por uma norma
que não óbice à divulgação da remuneração de ser- devem continuar protegidas por esta mesmo depois de
vidor público. sua revogação ou substituição por outra em três casos7:

Art. 5º [...] z Direito Adquirido: é o direito assegurado à pessoa


XXXIV - são a todos assegurados, independente- quando esta cumpriu todos os requisitos para a sua
mente do pagamento de taxas: concessão pela norma anterior antes de ocorrer a
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em alteração legal. Exemplo: uma pessoa completou o
defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso tempo de contribuição previsto pela lei para apo-
de poder;
sentar, mas optou por permanecer trabalhando. Se
b) a obtenção de certidões em repartições públi-
nova lei alterar os requisitos para aposentadoria,
cas, para defesa de direitos e esclarecimento de
de modo a aumentar o tempo de contribuição, essa
situações de interesse pessoal;
pessoa não será prejudicada, pois adquiriu o direi-
to pela lei anterior;
O inciso XXXIV disciplina o direito de petição e o
direito de certidão. O dispositivo assegura aos indi-
Atenção! Direito adquirido não se confunde com
víduos o direito de formular pedidos para a Adminis-
expectativa de direito. Se a pessoa não completou
tração Pública em defesa de seus direitos e, quando
todos os requisitos para a concessão do direito, ela
cabível, de terceiros, bem como de formular reclama-
não tem direito adquirido e, sim, expectativa de direi-
ções contra atos ilegais e abusivos cometidos pelos
to. Exemplo: falta, para o indivíduo, um mês para que
agentes do Estado. Assegura, ainda, o direito de plei-
se complete o tempo de contribuição previsto pela lei
tear, do Estado, documento expedido por este, que,
para se aposentar. Antes de preencher tal requisito,
por possuir fé pública, é utilizado para comprovar a
a lei é alterada e o tempo majorado. Esta pessoa não
existência de um fato. Deste modo, assegura ao indi-
poderá se aposentar, pois tinha apenas expectativa
víduo a obtenção de certidão para a defesa de direitos
de direito, uma vez que todos os requisitos não foram
ou esclarecimento de situações de interesse pessoal.
preenchidos para a sua concessão;
O exercício de tais direitos é gratuito, ou seja, inde-
pendem de qualquer pagamento. Importante men-
cionar que, embora o dispositivo empregue o termo z Ato jurídico Perfeito: trata-se do ato realizado
“taxas”, esta foi utilizada em sentido amplo, visto que validamente sob a vigência de uma lei, mesmo que
proíbe a cobrança de qualquer importância (taxa, tarifa esta tenha sido posteriormente revogada ou modi-
ou preço público). A função da gratuidade é não obstar ficada. Exemplo: adolescente que se casou antes
ou dificultar o exercício do direito, uma vez que pessoas de ter completado a idade núbil nas hipóteses per-
sem recursos financeiros teriam dificuldades de exercer mitidas pelo Código Civil terá seu casamento como
seu direito se este fosse condicionado ao pagamento. válido mesmo após a alteração da lei civil, pela Lei
DIREITO CONSTITUCIONAL

nº 13.811, de 2019, que proibiu, expressamente, o


casamento de menor de 16 (dezesseis) anos, pois
seus efeitos são protegidos pela lei anterior;
Importante!
z Coisa Julgada: é a autoridade dada às decisões
Fique atento ao remédio constitucional aplicado do Poder Judiciário quando destas não caiba mais
para sanar ilegalidade quanto ao direito de certidão recurso, de modo a impedir a modificação ou dis-
— Mandado de Segurança —, pois as bancas cos- cussão da decisão de mérito. Exemplo: uma ação de
tumam tentar confundir o candidato, dizendo que paternidade foi julgada procedente após o supos-
o remédio constitucional cabível é o habeas data. to pai ter se recusado a realizar o exame de DNA.
Assim, não é possível que, tempos depois, o suposto
7 Em conformidade com o art. 6º, do Decreto Lei nº 4.657, de 1942 (Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro). Veja: “A Lei em vigor terá
efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. § 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consu-
mado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. § 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ale,
possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. § 3º
Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso”. 169
pai resolva fazer o exame para se eximir da paterni- seja, será aplicada a lei do tempo da ação ou omissão.
dade, pois a decisão não pode ser mais modificada. É possível, no entanto, aplicar lei posterior caso esta
seja mais benéfica ao réu. Exemplo: nova lei deixa de
considerar o fato como crime ou diminui a sua pena.
Importante! A retroatividade da lei penal mais benéfica é abso-
luta, isto é, ela desconstituirá, inclusive, condenações
A coisa julgada divide-se em coisa julgada mate- já transitadas em julgado. Exemplo: sujeito que cum-
rial — quando impede a discussão em qualquer pre pena por um crime que lei posterior deixou de
processo — e coisa julgada formal — quando considerar respectivo ato como crime (caso de abolitio
impede a discussão no mesmo processo. criminis) será colocado em liberdade.

Art. 5º [...]
Art. 5º [...]
XLI - a lei punirá qualquer discriminação atenta-
XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;
tória dos direitos e liberdades fundamentais;
A proibição dos tribunais de exceção, que decor-
O inciso XLI decorre do direito à igualdade.
re do direito à segurança, encontra-se prevista no inci-
Trata-se da necessidade de reconhecer que todos os
so XXXVII. Busca-se proibir que os tribunais ou juízos
indivíduos possuem os mesmos direitos e as mesmas
sejam criados especialmente para julgar determina-
proteções. Além disso, a lei não só não poderá ser apli-
dos crimes ou pessoas (nos casos concretos).
cada de modo discriminatório, como também deverá
Atenção! Tribunal de exceção não se confunde
punir tais discriminações com base em qualquer con-
com Justiças especializadas e foro privilegiado.
dição pessoal, como sexo, cor, origem, entre outras.
Art. 5º [...]
Art. 5º [...]
XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a
XLII - a prática do racismo constitui crime
organização que lhe der a lei, assegurados:
inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de
a) a plenitude de defesa;
reclusão, nos termos da lei;
b) o sigilo das votações;
c) a soberania dos veredictos;
d) a competência para o julgamento dos crimes O inciso XLII trata da prática de racismo. Embora
dolosos contra a vida; a Constituição não tipifique o crime, ela manda crimi-
nalizar a conduta de racismo. Além disso, estabelece
Outro desdobramento do direito à segurança é a a não concessão de fiança ao racismo (inafiançável)
garantia do julgamento pelo Tribunal do Júri em e, ainda, que o ato pode ser julgado a qualquer tempo,
crimes dolosos contra a vida, ou seja, homicídio (art. independentemente da data em que foi cometido, pois
121, CP), induzimento, instigação ou auxílio a suicídio não se sujeita ao decurso do tempo (imprescritível).
ou à automutilação (art. 122, CP), infanticídio (art. 123, Vale lembrar, aqui, que a Lei nº 7.716, de 1989, é a Lei
CP) e aborto (arts. 124 a 128, CP); contudo, salienta-se do Racismo, e a Lei nº 12.288, de 2010, estabelece o
que lei ordinária poderá ampliar a competência do Estatuto da Igualdade Racial.
Tribunal do Júri, não havendo qualquer ofensa quan-
to ao disposto na CF. XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e
Trata-se de direito do indivíduo de ser julgado por insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tor-
seus pares e, não, por um juízo de critério eminente- tura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
mente técnico. afins, o terrorismo e os definidos como crimes
hediondos, por eles respondendo os mandantes, os
executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;
Súmula Vinculante nº 45 A competência consti-
tucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro
por prerrogativa de função estabelecido exclusiva- O inciso XLIII estabelece os crimes em que não
mente pela Constituição Estadual. cabe fiança nem perdão, ou seja, graça, indulto e
anistia. Embora o dispositivo não mencione o indulto,
Art. 5º [...] ele também não é cabível nos crimes elencados.
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defi- Dica: Para lembrar dos crimes, memorize: T T T
na, nem pena sem prévia cominação legal; H ou 3TH: Tortura; Tráfico; Terrorismo; Hediondos.
A graça e o indulto são modalidades de perdão
Os princípios da anterioridade e da reserva concedidas pelo Presidente da República, de modo a
da lei penal (nullum crimen, nulla poena, sine lege) extinguir a punibilidade do agente. Enquanto, na gra-
encontram-se disciplinados no inciso XXXIX. Em sín- ça, o perdão é concedido de forma individual por meio
tese, pelo princípio da reserva legal, não há crime sem de decreto e mediante provocação do interessado, no
lei que o defina, nem pena sem cominação legal. Já indulto, o perdão é coletivo e concedido por decreto, o
pelo princípio da anterioridade, a lei que estabelece o qual não possui destinatário certo e independe de pro-
crime e a pena deve ser anterior a sua prática. vocação. O indulto pode ser total ou parcial (comutação).
Já a anistia é o perdão concedido pelo Congresso
Art. 5º [...] Nacional, por meio de lei, aos crimes e atos adminis-
XL - a lei penal não retroagirá, salvo para bene- trativos. Na anistia, exclui-se o crime, rescinde-se a
ficiar o réu; condenação e extingue-se totalmente a punibilidade.
Cabe destacar que a anistia pode ser concedida pelas
O princípio da irretroatividade da lei penal mais Assembleias Legislativas, porém se restringe aos atos
gravosa está disciplinado no inciso XL. Em termos de administrativos, como, por exemplo, às transgres-
170 direito penal, a regra é a lei do tempo do crime, ou sões disciplinares de servidores estaduais.
É importante mencionar que esses crimes são a) privação ou restrição da liberdade;
prescritíveis, além de ser cabível a liberdade provi- b) perda de bens;
sória. Ainda, a Lei nº 9.455, de 1997, trata dos crimes c) multa;
de tortura; a Lei nº 11.343, de 2006, dos crimes de dro- d) prestação social alternativa;
gas; a Lei nº 13.260, de 2016, do terrorismo; a Lei nº e) suspensão ou interdição de direitos;
8.072, de 1990, cuida dos crimes hediondos.
Dica: A fim de auxiliá-lo na memorização, guarde
Art. 5º [...] o mnemônico 3PMS (RI):
XLIV - constitui crime inafiançável e imprescri-
tível a ação de grupos armados, civis ou milita- 3P — Privação ou restrição da liberdade (não esque-
res, contra a ordem constitucional e o Estado ça que no primeiro “p” há, implícito, um “r” da
Democrático;
pena de restrição); perda de bens; prestação social
O inciso XLIV também traz hipóteses de não con- alternativa;
cessão de fiança, cuja ação ou omissão pode ser julga- M — Multa;
da a qualquer tempo, independentemente da data em S — Suspensão ou interdição de direitos (lembre-se de
que foi cometido. Tratam-se dos crimes desenvolvidos que aqui também há, implícito, um “i” de interdição).
pelas organizações criminosas contra a ordem consti-
tucional e democrática, como, por exemplo, no golpe O inciso XLVI disciplina o princípio da individualiza-
de Estado. Cabe lembrar que a Lei nº 12.850, de 2013, ção da pena, uma vez que as penas devem ser previstas,
é que trata das organizações criminosas. impostas e executadas, em conformidade com as con-
dições pessoais de cada réu. Para tanto, a individualiza-
Dica ção deve operar-se em três fases distintas: legislativa, no
momento em que elabora a norma; judicial, no momento
Para auxiliá-lo na memorização do conteúdo da dosimetria da pena; executiva, na execução penal.
dos últimos 3 incisos, leve em consideração o
seguinte mnemônico: RAAÇÃO 3TH. Art. 5º [...]
RA — racismo XLVII - não haverá penas:
AÇÃO — ação de grupos armados a) de morte, salvo em caso de guerra declarada,
3TH — tortura, tráfico, terrorismo, hediondos nos termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
Esquematizando todo o conteúdo relacionado c) de trabalhos forçados;
ao mnemônico, temos: d) de banimento;
e) cruéis;
Inafiançáveis  RAAÇÃO 3TH
Imprescritíveis  RAAÇÃO
O inciso XLVII, que decorre tanto do direito à vida
Insuscetíveis de graça ou anistia  3TH
como do direito à segurança, estabelece a proibição
de determinadas penas. Assim, é vedada a pena de
Art. 5º [...]
morte em tempos de paz. Isso porque, quando decla-
XLV - nenhuma pena passará da pessoa do
condenado, podendo a obrigação de reparar rada a guerra pelo Presidente da República após a
o dano e a decretação do perdimento de bens autorização do Congresso Nacional, vigora a parte ati-
ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores nente aos tempos de guerra8 do Código Penal Militar
e contra eles executadas, até o limite do valor do (CPM) e do Código de Processo Penal Militar (CPPM),
patrimônio transferido; que estabelece, em determinados casos, a pena de
morte. Exemplo: traição (art. 355, CPM)9.
O princípio da intranscendência ou personali-
zação da pena está disciplinado no inciso XLV. Tra- Art. 5º [...]
ta-se da impossibilidade da pena ser aplicada a outra XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimen-
pessoa que não o delinquente, uma vez que somente tos distintos, de acordo com a natureza do deli-
o autor da infração penal pode ser responsabiliza- to, a idade e o sexo do apenado;
do. Com a morte do condenado, declara-se extinta a
punibilidade do crime. Assim, a pena não poderá ser O inciso XLVIII traz um dos princípios relativos
cumprida, por exemplo, pelos familiares ou herdeiros à execução da pena privativa de liberdade. Trata-
do autor do crime se este houver falecido. No entanto, -se da exigência de que o cumprimento da pena seja
refere-se apenas à esfera penal, ou seja, a obrigação feito de acordo com a natureza do crime, a idade e
DIREITO CONSTITUCIONAL

civil de reparar os danos pode ser estendida aos seus o sexo do apenado. É por essa razão que os adoles-
sucessores até o limite do valor do patrimônio trans- centes ficam em estabelecimentos distintos dos adul-
ferido (herança). tos, assim como as mulheres permanecem em local
Atenção! Multa é uma espécie de pena (art. 32, CP) diverso dos homens. Esse dispositivo decorre tanto do
e, portanto, não pode ser imposta aos herdeiros. direito à segurança como do direito à vida.

Art. 5º [...] Art. 5º [...]


XLVI - a lei regulará a individualização da pena XLIX - é assegurado aos presos o respeito à inte-
e adotará, entre outras, as seguintes: gridade física e moral;

8 Art. 15 (CPM) O tempo de guerra, para os efeitos da aplicação da lei penal militar, começa com a declaração ou o reconhecimento do estado
de guerra, ou com o decreto de mobilização se nele estiver compreendido aquele reconhecimento; e termina quando ordenada a cessação das
hostilidades.
9 Art. 355 Tomar o nacional armas contra o Brasil ou Estado aliado, ou prestar serviço nas forças armadas de nação em guerra contra o Brasil:
Pena - morte, grau máximo; reclusão, de vinte anos, grau mínimo. 171
O inciso XLIX estabelece outro princípio relativo Ainda há o crime de opinião, que é aquele que se con-
à execução da pena privativa de liberdade: a pro- figura com o abuso da liberdade de expressão ou de
teção à integridade física e moral do preso. Busca-se, pensamento, como, por exemplo, nos casos dos crimes
portanto, proteger os indivíduos da força do Estado. contra a honra.
Trata-se, também, de um dos desdobramentos do
direito à segurança, por envolver garantias proces- Art. 5º [...]
suais; e do direito à vida, por envolver a integridade LIII - ninguém será processado nem sentencia-
do indivíduo. do senão pela autoridade competente;

Art. 5º [...] O princípio do juiz natural ou do juiz competen-


L - às presidiárias serão asseguradas condições te encontra-se disciplinado no inciso LIII. Trata-se da
para que possam permanecer com seus filhos garantia de que nenhuma pessoa será processada ou
durante o período de amamentação; julgada por uma autoridade especialmente designada
para o caso. Deste modo, as regras de competência
O inciso L traz um princípio relativo à execução devem estar restabelecidas no ordenamento jurídico,
da pena privativa de liberdade. Trata-se do direito de forma a assegurar que o julgamento seja realizado
dos filhos de permanecerem com suas mães e serem por um juiz independente e imparcial.
amamentados por elas durante a execução da pena.
Vale destacar que o art. 89, da Lei nº 7.210, de 1984 Art. 5º [...]
(Lei de Execução Penal), estabelece que a penitenciá- LIV - ninguém será privado da liberdade ou de
ria de mulheres terá uma seção para gestantes e par- seus bens sem o devido processo legal;
turientes e uma creche para abrigar crianças entre 6
(seis) meses e 7 (sete) anos. O princípio do devido processo legal está disci-
plinado no inciso LIV. Trata-se do desdobramento do
Art. 5º [...] direito à segurança, de modo a garantir que os indi-
LI - nenhum brasileiro será extraditado, sal- víduos não sejam presos nem percam seus bens por
vo o naturalizado, em caso de crime comum, atuação arbitrária do poder do Estado. Assim sendo,
praticado antes da naturalização, ou de com- deverá existir um processo com todas as etapas pre-
provado envolvimento em tráfico ilícito de vistas em lei e com todas as garantias constitucionais.
entorpecentes e drogas afins, na forma da lei; Se tais regras não forem observadas, o processo é pas-
sível de nulidade.
A proibição de extradição de brasileiro encon-
tra-se disciplinada no inciso LI. Extradição é uma Art. 5º [...]
medida de cooperação internacional em que um Esta- LV - aos litigantes, em processo judicial ou admi-
do entrega a outro Estado, a pedido deste, indivíduo nistrativo, e aos acusados em geral são assegu-
que deva responder a processo penal ou cumprir rados o contraditório e ampla defesa, com os
pena. De acordo com a Norma Constitucional, o Brasil meios e recursos a ela inerentes;
não entrega brasileiro para responder processo penal
ou cumprir pena em outro país. O inciso LV traz o princípio do contraditório e da
É possível, no entanto, a entrega de brasileiro ampla defesa. Tal princípio objetiva garantir a igual-
naturalizado, ou seja, que tenha adquirido a nacio- dade das partes de uma relação processual, bem como
nalidade brasileira por outro motivo que não vincu- a segurança processual. Assim sendo, a parte contrá-
lado ao nascimento (filiação ou local do nascimento), ria necessita ser ouvida (audiatur et altera pars), pois
desde que seja por crime comum e que este tenha não podem ser atribuídas a uma parte vantagens de
sido praticado antes de sua naturalização e, portanto, que a outra não disponha.
quando o agente tinha outra nacionalidade. Também Como consequência, as partes têm acesso a tudo
é possível a extradição de brasileiro naturalizado por que consta dos autos, como, por exemplo, todas as
comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entor- provas produzidas pela outra parte, podendo mani-
pecentes e drogas afins, praticado antes ou depois da festar-se ou não. Além disso, a defesa pode ser exerci-
naturalização. da de forma ampla, como, por exemplo, é possível ao
indivíduo optar pela autodefesa (quando permitido)
Art. 5º [...] ou pela defesa técnica. Assim, a ampla defesa garan-
LII - não será concedida extradição de estrangei- te ao agente a possibilidade de se defender sem qual-
ro por crime político ou de opinião; quer impedimento aos seus direitos constitucionais.
Ademais, destaca-se o conteúdo da Súmula Vincu-
No que se refere à extradição de estrangeiro, o lante nº 14, a qual dispõe sobre o acesso a procedi-
inciso LII veda a entrega por crime político ou de mento investigatório por defensor do investigado.
opinião. Considera-se um crime como político se ele
envolver ações ou omissões que prejudicam os inte- Súmula Vinculante nº 14 É direito do defensor,
resses do país, do governo ou do sistema político. no interesse do representado, ter acesso amplo aos
O crime político pode ser de dois tipos: próprio e elementos de prova que, já documentados em pro-
impróprio. Crime político próprio é aquele capaz de cedimento investigatório realizado por órgão com
ameaçar a ordem institucional ou o sistema vigente. competência de polícia judiciária, digam respeito
Já o crime político impróprio é aquele crime comum ao exercício do direito de defesa.
quando conexo ao crime político, de modo a ter
natureza comum, mas conotação político-ideológica, Observe que os documentos referentes às diligên-
como, por exemplo, a extorsão mediante sequestro cias em curso não são de apresentação obrigatória,
172 para obter fundos para determinado grupo político. tendo em vista a possibilidade de frustrá-las.
Imagine, por exemplo, que em determinada inves- Cumpre esclarecer que a Lei nº 12.037, de 2009,
tigação tenha sido deferida, pelo Poder Judiciário, a disciplina o inciso e estabelece quais documentos ser-
interceptação telefônica de determinado investigado. vem para a identificação civil. Ainda, a regra da não
Ora, é óbvio que o acesso, pelo advogado do investi- identificação criminal não é absoluta e abarca exce-
gado, comprometeria a diligência, já que este poderia ções. No entanto, tais exceções devem estar discipli-
avisar seu cliente da medida. nadas em lei.10

Art. 5º [...] Art. 5º [...]


LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas LIX - será admitida ação privada nos crimes de
obtidas por meios ilícitos; ação pública, se esta não for intentada no prazo
legal;
A proibição de prova ilícita encontra-se estabele-
cida no inciso LVI. As provas obtidas de forma ilícita O inciso LIX traz a possibilidade de ação penal pri-
são absolutamente nulas, não podendo gerar qual- vada subsidiária à ação penal pública. Assim, nos
quer efeito no convencimento do juiz. casos em que o representante do Ministério Público
não ofereceu a denúncia, não requereu diligências ou
z Prova ilícita é aquela que viola direito material. não ordenou o arquivamento do Inquérito Policial, no
Exemplos: confissão mediante tortura e intercep- prazo legal, admite-se o oferecimento da queixa crime.
tação telefônica sem autorização judicial; A CF, de 1988, não estabeleceu hipótese de restri-
z Prova ilegítima é aquela que viola direito proces- ção quanto à aplicação da ação penal privada subsi-
sual. Exemplo: confissão do acusado em juízo sem diária da pública nos processos relativos aos delitos
a presença do advogado. previstos na legislação especial, como, por exemplo,
nas ações em que se apuram crimes eleitorais.
O Supremo Tribunal Federal, adequadamente,
adotou, por maioria de votos, a denominada teoria Art. 5º [...]
fruits of poisonous tree (frutos da árvore envenenada). LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos
São nulas tanto as provas produzidas de forma ilícita atos processuais quando a defesa da intimida-
como também as derivadas (surgidas em decorrência de ou o interesse social o exigirem;
da prova ilícita), ainda que obtidas de forma regular.
Há contaminação do vício original, com exclusão Como regra, todo processo é público, ou seja, é
da prova ilícita, bem como de suas derivações. permitido o acesso aos atos. No entanto, em alguns
casos, tais como ações de divórcio, guarda, entre
Art. 5º [...] outros, essa publicidade é restrita às partes e seus pro-
LVII - ninguém será considerado culpado até o trân- curadores, com o objetivo de resguardar a intimidade
sito em julgado de sentença penal condenatória; dos envolvidos.
Também é possível restringir a publicidade quan-
O inciso LVII traz o princípio da presunção de ino- do o interesse da sociedade exigir, como, por exem-
cência ou da presunção de culpabilidade. Assim, antes plo, em determinados crimes ou atos, envolvendo
da condenação definitiva em um processo criminal, crianças e adolescentes. É importante mencionar, no
as pessoas ainda não são consideradas culpadas. Isso entanto, que a restrição da publicidade dos atos pro-
ocorre porque quem possui o ônus de provar a culpa é cessuais não poderá prejudicar o interesse público à
o Ministério Público, como órgão titular da ação penal
informação.
pública e da vítima, no caso de ação penal privada. Des-
te modo, não compete ao acusado provar sua inocência,
mas ao Ministério Público ou à vítima comprovar a res-
ponsabilidade do réu até a última instância.
Importante!
A restrição da publicidade é popularmente
Art. 5º [...] conhecida como segredo de Justiça.
LVIII - o civilmente identificado não será subme-
tido a identificação criminal, salvo nas hipóteses
previstas em lei; Art. 5º [...]
LXI - ninguém será preso senão em flagrante
A proibição da identificação criminal da pes- delito ou por ordem escrita e fundamentada de
soa já civilmente identificada encontra-se no inciso autoridade judiciária competente, salvo nos casos
LVIII. Entende-se, por identificação, o processo utili- de transgressão militar ou crime propriamen-
DIREITO CONSTITUCIONAL

zado para se estabelecer a identidade de pessoas ou te militar, definidos em lei;


coisas. Assim, se o indivíduo apresenta documento de
identidade civil válido e sem qualquer suspeita funda- Pelo inciso LXI, depreende-se que a liberdade
da de falsidade, ele não poderá ser identificado crimi- é a regra e a prisão é a exceção. Por essa razão, o
nalmente, ou seja, por meio do processo datiloscópico. dispositivo fixa as hipóteses em que o indivíduo será
O objetivo do dispositivo é evitar o constrangimento preso. Assim, a CF, de 1988, protege os indivíduos da
pessoal de pessoas já identificadas civilmente. força do Estado, uma vez que veda a prisão arbitrária
10 Art. 3º (Lei nº 12.037, de 2009) Embora apresentado documento de identificação, poderá ocorrer identificação criminal quando: I - o docu-
mento apresentar rasura ou tiver indício de falsificação; II - o documento apresentado for insuficiente para identificar cabalmente o indiciado;
III - o indiciado portar documentos de identidade distintos, com informações conflitantes entre si; IV - a identificação criminal for essencial às
investigações policiais, segundo despacho da autoridade judiciária competente, que decidirá de ofício ou mediante representação da autorida-
de policial, do Ministério Público ou da defesa; V - constar de registros policiais o uso de outros nomes ou diferentes qualificações; VI - o esta-
do de conservação ou a distância temporal ou da localidade da expedição do documento apresentado impossibilite a completa identificação dos
caracteres essenciais. Parágrafo único. As cópias dos documentos apresentados deverão ser juntadas aos autos do inquérito, ou outra forma
de investigação, ainda que consideradas insuficientes para identificar o indiciado. 173
ou abusiva e estabelece que a restrição da liberdade O silêncio do preso é apenas silêncio e não poderá
só será legítima quando respeitados os parâmetros ser utilizado de forma contrária. O acusado não é obri-
legais. Trata-se de um dos desdobramentos do direito gado a produzir provas contra si mesmo. Ao se calar,
à segurança, por envolver garantias processuais. esse silêncio não pode ser considerado como prova.
Em termos de processo penal, existem dois tipos Além disso, o dispositivo também estabelece a
de prisão. A prisão pena que é aquela decorrente de assistência da família e do advogado, garantindo tan-
sentença penal condenatória transitada em julgado, to o apoio pessoal como a assistência técnica que lhe
ou seja, o processo foi finalizado, a pessoa condena- é devida.
da e não cabe mais recurso, ingressando na fase de
execução penal. Além disso, há a prisão processual, Art. 5º [...]
que tem função acautelatória e é aquela que ocorre LXIV - o preso tem direito à identificação dos
durante a fase de investigação, instrução e antes do responsáveis por sua prisão ou por seu interro-
julgamento definitivo, como a prisão em flagrante, a gatório policial;
prisão temporária e a prisão preventiva.
Portanto, durante o curso do processo, o indiví- O inciso LXIV também decorre do direito à segurança,
duo somente será preso se estiver em flagrante delito uma vez que busca prevenir a prisão arbitrária. Assim, é
(estiver cometendo o delito, acabou de cometê-lo, foi assegurada ao indivíduo a identificação dos responsá-
perseguido logo após ou foi encontrado logo depois, veis por sua prisão e interrogatório, uma vez que lhe é
com algo que faça presumir ser o autor da infração)11 garantido questionar a competência ou atribuição dessas
ou se for determinado pelo juiz nos demais casos das autoridades em conformidade com a norma vigente e os
prisões acautelatórias. princípios constitucionais e de direitos humanos.
Observa-se, ainda, que o inciso traz exceções, quais
sejam: transgressão militar ou crime propriamen- Art. 5º [...]
te militar, definido em lei. Quanto às transgressões, LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxa-
estas estão previstas nos regulamentos disciplinares, da pela autoridade judiciária;
tanto das Forças Armadas como das Forças Auxiliares.
A elas é aplicado procedimento de apuração especí- O inciso LXV traz mais um dos desdobramentos
fico, também garantindo o contraditório e a ampla do direito à segurança ao prever o relaxamento da
defesa. Já os crimes militares encontram-se previstos prisão ilegal. Assim, se o magistrado constatar que a
no Código Penal Militar, porém esse diploma não defi- prisão foi ilegal, ele deverá colocar o preso em liber-
ne quais são os crimes propriamente militares. dade de forma imediata e sem condições. Exemplo: o
indivíduo foi preso em flagrante, porém não se enqua-
Art. 5º [...] drava nas hipóteses de flagrância do art. 302, do CPP.
LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se Relaxa-se prisão ilegal e revoga-se as demais pri-
encontre serão comunicados imediatamente ao sões cautelares, uma vez que estas necessitam de
juiz competente e à família do preso ou à pessoa requisitos para serem decretadas e não estão estes
por ele indicada; presentes. O magistrado deve revogar a prisão ou
substituí-la por medidas cautelares diversas.
Como a prisão em flagrante é a única modalida-
de de prisão acautelatória que não conta com ordem Art. 5º [...]
judicial prévia, visto que é imposta no momento em LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela
que a infração penal é praticada ou em momentos mantido, quando a lei admitir a liberdade provi-
após, faz-se necessária sua comunicação imediata ao sória, com ou sem fiança;
juiz, para que este possa efetuar o controle de legali-
dade da prisão. O inciso LXVI reforça que a regra é a liberdade e
A CF, de 1988, não fixa o prazo da comunicação, sua supressão é apenas medida excepcional e somente
porém o art. 306, do Código de Processo Penal, estabe- deve ser decretada nos casos em que a norma autorizar.
lece que a comunicação será imediata e os autos reme-
tidos em até 24 (vinte e quatro) horas após a prisão. Art. 5º [...]
Além da comunicação ao juiz, a CF, de 1988, prevê a LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo
comunicação à família do preso ou pessoa por ele indi- a do responsável pelo inadimplemento voluntário
cada, com o escopo não só de dar notícia de seu para- e inescusável de obrigação alimentícia e a do
deiro, como também de prestar-lhe a assistência devida. depositário infiel;

Art. 5º [...] O inciso LXVII trata da prisão civil por dívida.


LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre Considera-se prisão civil a medida privativa da liber-
os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegu- dade que não possui caráter de pena e que tem como
rada a assistência da família e de advogado; finalidade compelir o devedor a satisfazer uma obri-
gação. Atualmente, a única hipótese de prisão por
Considerando que a liberdade é a regra e a sua dívidas é a de caráter alimentar, ou seja, o indivíduo
restrição só é legítima quando efetuada nos estritos deixou de pagar a pensão alimentícia devida.
limites legais, o inciso LXIII estabelece que o preso Por se tratar de uma norma constitucional de efi-
em flagrante deve ser comunicado dos seus direitos. cácia contida, a prisão do depositário infiel, prevista
Entre esses direitos, encontra-se o de permanecer em na CF, de 1988, embora constitucional, tornou-se ilíci-
silêncio. ta em razão das seguintes Súmulas:
11 Art. 302 (CPP) Considera-se em flagrante delito quem: I -está cometendo a infração penal; II - acaba de cometê-la; III - é perseguido, logo
após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração; IV - é encontrado, logo depois,
174 com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração.
Súmula Vinculante nº 25 (STF) É ilícita a prisão O inciso LXIX traz outro remédio constitucional: o
civil de depositário infiel, qualquer que seja a moda- mandado de segurança (MS). Se o HC tutela a liberdade
lidade do depósito. de locomoção e o habeas data, o acesso e a retificação de
dados, o MS é cabível para os demais direitos, sendo que
Súmula nº 419 (STJ) Descabe a prisão civil do depo- seu objetivo e alcance é feito por exclusão. Cabe destacar
sitário judicial infiel. que a lei que disciplina o MS é a Lei nº 12.016, de 2009.
O MS é cabível quando houver direito líquido e
Art. 5º [...] certo, ou seja, direito que pode ser comprovado de
LXVIII - conceder-se-á habeas-corpus sempre que plano e que se apresenta de forma manifesta. Deste
alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer
modo, a prova deve ser toda pré-constituída, sendo
violência ou coação em sua liberdade de loco-
que os documentos comprobatórios do direito devem
moção, por ilegalidade ou abuso de poder;
acompanhar a própria petição inicial, salvo se estes
estiverem em repartição ou em poder de autoridade
O inciso LXVIII traz um dos remédios constitucio-
que se recuse a fornecê-los por certidão. Consequen-
nais: o habeas corpus (HC). Remédios constitucio-
temente, no MS, não há fase instrutória
nais são as ações constitucionais previstas na própria
O MS pode ser de duas espécies:
Constituição com a finalidade de reclamar o restabele-
cimento de direitos fundamentais violados.
O HC é uma dessas ações constitucionais, sendo z Mandado de segurança repressivo, cuja ordem
utilizado para a tutela da liberdade de locomoção de segurança objetiva cessar constrangimento ile-
sempre que alguém estiver sofrendo ou na iminência gal já existente;
de sofrer constrangimento ilegal do seu direito de ir z Mandado de segurança preventivo, cuja ordem
e vir. Tal ação pode ser utilizada tanto em questões de segurança busca pôr fim à iminência de cons-
penais como em questões civis, desde que haja cons- trangimento ilegal a direito líquido e certo.
trangimento ilegal efetivo ou potencial ao direito de ir
e vir. Exemplo: prisão por débitos alimentares. Não cabe MS contra:
Existem três modalidades de HC, quais sejam:
z Ato do qual caiba recurso com efeito suspensivo,
z Habeas Corpus liberatório ou repressivo, em independentemente de caução;
que a ordem é concedida para fazer cessar o cons- z Decisão judicial da qual caiba recurso com efeito
trangimento à liberdade de locomoção quando já suspensivo;
existente; z Decisão judicial transitada em julgado.
z Habeas Corpus preventivo, em que a ordem é
concedida quando houver ameaça ao direito de ir Por fim, seu prazo (decadencial) de impetração
e vir, de modo a impedir que uma pessoa venha a é de 120 (cento e vinte) dias, contados da ciência do
ter restringido seu direito; interessado do ato impugnado.
z Habeas Corpus de ofício, em que a ordem é
concedida pela autoridade judicial sem pedido, Art. 5º [...]
quando esta verificar, no curso de um proces- LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser
so, que alguém está sofrendo ou na iminência de impetrado por:
sofrer constrangimento ilegal em sua liberdade de a) partido político com representação no Con-
locomoção. gresso Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou
associação legalmente constituída e em funciona-
Não cabe HC nos seguintes casos:
mento há pelo menos um ano, em defesa dos inte-
resses de seus membros ou associados;
z Perda de patente;
z Perda de cargo;
Do mesmo modo que o MS individual, é possível
z Pena de multa;
ingressar com mandado de segurança coletivo nos
z Bens apreendidos (Obs.: no caso do passaporte, o
casos de direitos coletivos, assim entendidos como
STJ diz que caberá o HC. Já o STF diz que não cabe);
os transindividuais, cuja natureza for indivisível, ou
z Pena extinta.
seja, de que sejam titulares grupos ou categorias de
pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por
De acordo com o § 2º, do art. 142, não caberá habeas
uma relação jurídica básica, e direitos individuais
corpus em relação a punições disciplinares militares.
homogêneos, assim entendidos como aqueles decor-
DIREITO CONSTITUCIONAL

Além dos militares das Forças Armadas, essa disposi-


rentes de origem comum e de atividade ou situação
ção é estendida aos membros das Polícias Militares e
específica da totalidade ou de parte dos associados ou
dos Corpos de Bombeiros Militares (art. 42, CF, de 1988).
membros do impetrante.
No entanto, é cabível o HC se a sanção militar tiver
Trata-se de inovação da CF, de 1988, para a tute-
sido aplicada de forma ilegal por autoridade incompe-
la de direitos coletivos líquidos e certos, também não
tente ou em desacordo com as formalidades legais ou
amparados por HC ou habeas data, quando o respon-
além dos limites fixados em lei.
sável pela ilegalidade for autoridade pública ou agen-
Art. 5º [...]
te de pessoa jurídica no exercício de atribuições do
LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para Poder Público.
proteger direito líquido e certo, não amparado O MS coletivo segue as mesmas regras do individual.
por habeas-corpus ou habeas-data, quando o Para partidos políticos, exige-se representação no
responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for Congresso Nacional (pelo menos, um deputado ou
autoridade pública ou agente de pessoa jurídi- senador do partido). Para associação, exige-se que ela
ca no exercício de atribuições do Poder Público; tenha sido constituída há, pelo menos, um ano. 175
Art. 5º [...] ao meio ambiente e ao patrimônio histórico
LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sem- e cultural, ficando o autor, salvo comprovada
pre que a falta de norma regulamentadora tor- má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da
ne inviável o exercício dos direitos e liberdades sucumbência;
constitucionais e das prerrogativas inerentes à
nacionalidade, à soberania e à cidadania; O inciso LXXIII traz outro remédio constitucional:
a ação popular. Trata-se da ação constitucional colo-
O inciso LXXI traz o mandado de injunção (MI),
cada à disposição de qualquer cidadão para fiscalizar
ação constitucional para a tutela dos direitos previs-
o Poder Público. Cabe esclarecer que cidadão é aque-
tos na CF, de 1988, inerentes à nacionalidade, à sobe-
le que possui capacidade eleitoral ativa, ou seja, que
rania e à cidadania, os quais não podem ser exercidos
pode votar. Portanto, a ação popular é cabível para os
em razão da falta de norma regulamentadora. Portan-
maiores de 16 (dezesseis) anos se eleitores.
to, são pressupostos para o MI:
Atenção! Não há necessidade de os menores de 18
z Existência de um direito constitucionalmente pre- (dezoito) anos serem assistidos, pois consiste em um
visto com relação à nacionalidade, soberania e direito político. Ademais, quanto aos estrangeiros, é
cidadania; possível o ajuizamento da ação popular pelo portu-
z A não autoaplicabilidade desse direito; guês em situação de equiparação com brasileiro.
z Falta de norma infraconstitucional regulamenta- Em regra, a ação popular é gratuita. O motivo da
dora que inviabilize o exercício do direito previsto gratuidade é permitir o acesso ao Poder Judiciário de
na CF, de 1988. todos os cidadãos para a defesa dos atos lesivos do
Poder Público. No entanto, o inciso LXXIII estabelece
Cabe lembrar que a lei que disciplina o MI é a Lei uma exceção: haverá custas e sucumbência caso o autor
nº 13.300, de 2016. ingresse com a ação com má-fé e esta seja comprovada.
A omissão normativa decorrente da não elabora-
ção de ato legislativo ou administrativo permite ao
indivíduo, ao Ministério Público e à Defensoria públi- Importante!
ca ingressarem com o MI.
Atualmente, adota-se a Teoria Concretista, ou A má-fé deve ser sempre provada, enquanto a
seja, o magistrado resolve o caso concreto (sentença boa-fé é sempre presumida.
normativa) e não mais comunica o Poder Legislativo
para suprir a omissão.
Art. 5º [...]
Art. 5º [...] LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica
LXXII - conceder-se-á habeas-data: integral e gratuita aos que comprovarem insufi-
a) para assegurar o conhecimento de informa- ciência de recursos;
ções relativas à pessoa do impetrante, constan-
tes de registros ou bancos de dados de entidades O inciso LXXIV garante o acesso à Justiça a todas
governamentais ou de caráter público; as pessoas. Assim sendo, o Estado brasileiro deve-
b) para a retificação de dados, quando não se rá prestar a assistência jurídica de forma integral e
prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou gratuita àqueles que comprovarem insuficiência de
administrativo; recursos financeiros. Esse direito instrumentaliza-se
por meio da Defensoria Pública ou por meio do convê-
O habeas data (HD) é o remédio constitucional nio com a Defensoria Pública/Ordem dos Advogados
para a tutela do direito de informação e de intimida-
do Brasil através da nomeação de advogado dativo.
de do indivíduo, de modo a garantir ao impetrante
o conhecimento de informações pessoais constantes
Art. 5º [...]
de banco de dados de entidades governamentais ou LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro
abertas ao público, bem como o direito de retificação judiciário, assim como o que ficar preso além do
dessas informações quando errôneas. tempo fixado na sentença;
Cumpre salientar que a lei,ntamentos do interes-
sado, de contestação ou explicação sobre dado verdadei-
O inciso LXXV visa evitar abusos por parte do
ro mas justificável e que esteja sob pendência judicial ou
Poder Público ao prever a responsabilidade civil do
amigável.
Estado nos casos de erro do Poder Judiciário e prisão
Ademais, a informação, a retificação ou a anotação
por tempo além do fixado em sentença.
foram negadas pela Administração Pública (entidades
A responsabilidade civil do Estado será estudada
governamentais da Administração direta ou indireta)
posteriormente.
ou particular (pessoas jurídicas de direito privado)
que mantenham banco de dados aberto ao público.
Art. 5º [...]
O HD pode ser impetrado por qualquer pessoa,
LXXVI - são gratuitos para os reconhecidamente
física ou jurídica, brasileira ou estrangeira, desde que
pobres, na forma da lei:
as informações solicitadas digam respeito ao próprio
a) o registro civil de nascimento;
indivíduo. Além disso, o HD não é instrumento jurídi- b) a certidão de óbito;
co adequado para se ter acesso aos autos do processo
administrativo disciplinar (PAD).
Ao garantir a gratuidade das certidões de nasci-
Art. 5º [...] mento e óbito, a CF, de 1988, assegura que as pessoas
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para possam ser registradas e possam usufruir dos direitos
propor ação popular que vise a anular ato lesi- personalíssimos decorrentes, como, por exemplo, os
vo ao patrimônio público ou de entidade de que o direitos de possuir um nome, de poder ser matricula-
176 Estado participe, à moralidade administrativa, do em uma escola, entre outros. Assim, a CF, de 1988,
garante que a falta de recursos financeiros não seja O § 3º estabelece as regras para a incorporação do
considerada um obstáculo para o exercício de tais tratado internacional que verse sobre direitos huma-
direitos. nos. Via de regra, o tratado internacional, após a sua
celebração e assinatura pelo Presidente da República,
Art. 5º [...] passa por referendo parlamentar para sua incorpora-
LXXVII - são gratuitas as ações de habeas-cor- ção. Assim, o Poder Legislativo o aprova, por meio de um
pus e habeas-data, e, na forma da lei, os atos Decreto Legislativo, e o remete ao Presidente da Repúbli-
necessários ao exercício da cidadania. ca para sua ratificação, por meio de Decreto. O Decreto
do Executivo é, por sua vez, promulgado e publicado em
O inciso LXXVII trata da gratuidade dos remédios Diário Oficial da União e passa a ter força de lei.
constitucionais de habeas corpus e habeas data. A No caso de tratado sobre direitos humanos, a CF, de
finalidade do dispositivo é garantir o acesso de todas 1988, disciplinou a possibilidade de sua incorporação,
as pessoas a esses remédios constitucionais. seguindo os mesmos procedimentos cabíveis para as
Emendas Constitucionais, ou seja, dois turnos em cada
Art. 5º [...] Casa do Congresso Nacional e aprovação por 3/5 dos votos.
LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrati- Deste modo, o tratado passa a ser incorporado, no orde-
vo, são assegurados a razoável duração do pro- namento jurídico, com força de norma constitucional.
cesso e os meios que garantam a celeridade de sua O § 3º, do art. 5º, da CF, de 1988, foi incluído pela
tramitação.
Emenda Constitucional nº 45, de 2004. Portanto, apenas
os tratados incorporados após essa Emenda e seguindo
Este inciso trata o princípio da celeridade pro- os parâmetros do dispositivo possuem força de norma
cessual. Desta forma, a CF, de 1988, assegura a todos, constitucional. Para os incorporados anteriormente,
quer no âmbito judicial, quer no âmbito administra- caso se refiram aos direitos humanos, são considerados
tivo, a duração razoável do processo, bem como dos supralegais. Para todos os demais tratados, força legal.
meios que garantam a celeridade de sua tramitação.
Art. 5º [...]
Art. 5º [...] § 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal
§ 1º As normas definidoras dos direitos e garantias Penal Internacional a cuja criação tenha mani-
fundamentais têm aplicação imediata. festado adesão.
LXXIX - é assegurado, nos termos da lei, o direito à pro-
teção dos dados pessoais, inclusive nos meios digitais.
Esse parágrafo também foi incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004. O Tribunal Penal Inter-
Por fim, em recentíssima alteração constitucional,
nacional (TPI) encontra-se disciplinado no Estatuto de
a Emenda Constitucional nº 115, de 10 de Fevereiro de
Roma e tem como finalidade julgar os crimes de genocí-
2022, adicionou o inciso LXXIX ao art. 5º da CF, o qual
dio, crimes de guerra, crimes contra a humanidade e cri-
busca incluir a proteção de dados pessoais entre os
mes de agressão.
direitos e garantias fundamentais. Ademais, embora
Atenção! Não confundir o TPI com a Corte Internacio-
não seja objeto de estudo deste tópico, cabe ressaltar
nal de Justiça, também conhecida como Tribunal de Haia,
que a competência para legislar sobre a proteção e
que é o órgão jurídico da Organização das Nações Unidas.
tratamento de dados pessoais é de privativa da União.
De acordo com o § 1º, os direitos e garantias indi-
DIREITOS SOCIAIS
viduais e coletivos previstos no art. 5º estão prontos
para serem aplicados e exigidos, uma vez que não
Os direitos sociais estão disciplinados nos arts. 6º a
dependem da existência de qualquer outra norma
11, da CF, de 1988. Esses direitos se dividem em direi-
para produzir efeitos.
tos sociais propriamente ditos (art. 6º), direitos tra-
Atenção! Não confundir aplicação imediata com a
balhistas (art. 7º) e direitos sindicais (arts. 8º a 11).
aplicabilidade da norma constitucional (norma cons-
Vejamos cada um deles:
titucional de eficácia plena, contida e limitada).
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a
Art. 5º [...]
alimentação, o trabalho, a moradia, o transpor-
§ 2º Os direitos e garantias expressos nesta Consti-
te, o lazer, a segurança, a previdência social, a
tuição não excluem outros decorrentes do regime
proteção à maternidade e à infância, a assistência
e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados
aos desamparados, na forma desta Constituição.
internacionais em que a República Federativa do
DIREITO CONSTITUCIONAL

Brasil seja parte.


Os direitos sociais encontram-se estabelecidos no
O § 2º estabelece que o rol de direitos e deveres art. 6º, da CF, de 1988. Trata-se dos direitos ligados à
disposto no art. 5º é exemplificativo e não taxativo. concepção de que é dever do Estado garantir igualdade
Portanto, podem existir outros direitos em outros dis- de oportunidades a todos através de políticas públicas.
positivos da CF, de 1988, em outros diplomas legais, O dispositivo assegura alguns dos direitos denomina-
em tratados internacionais, entre outros. dos de segunda geração/dimensão, tais como o direito à
educação, trazendo a ideia de que a instrução é o meio
Art. 5º [...] adequado para que o indivíduo possa exercer outros
§ 3º Os tratados e convenções internacionais direitos, tais como a liberdade de expressão, a liberda-
sobre direitos humanos que forem aprovados, de de associação, os direitos políticos, entre outros.
em cada Casa do Congresso Nacional, em dois Garante, também, o acesso dos indivíduos a um
turnos, por três quintos dos votos dos respec- sistema de saúde, além da assistência e proteção eco-
tivos membros, serão equivalentes às emendas nômica em determinados momentos, tais como incapa-
constitucionais. cidade temporária ou definitiva, velhice, entre outros. 177
Trata-se, pois, de um programa de proteção social para Art. 7º [...]
amparar as pessoas em determinados eventos, assim, II - seguro-desemprego, em caso de desemprego
classifica-se tal norma como de eficácia limitada, mais involuntário;
especificamente de princípio programático.
Do art. 6º é que advém a ideia de reserva do possí- O inciso II trata do seguro-desemprego, que tem
vel, pois o Estado deve garantir os direitos em confor- como finalidade assegurar assistência financeira, de
midade com seus recursos. Esse dispositivo traz a ideia modo temporário, ao trabalhador que foi dispensado
de mínimo existencial, ou seja, de um padrão mínimo involuntariamente, ou seja, sem justa causa.
de condições materiais aceitáveis para uma vida com
dignidade, consoante se depreende do parágrafo único. Art. 7º [...]
III - fundo de garantia do tempo de serviço;
Art. 6º [...] O FGTS encontra-se estabelecido no inciso III. Seu obje-
Parágrafo único. Todo brasileiro em situação de
tivo é resguardar o trabalhador nos casos de desemprego
vulnerabilidade social terá direito a uma renda
involuntário, aposentadoria, entre outras situações, de
básica familiar, garantida pelo poder público em pro-
modo que o trabalhador possa sacar esses valores.
grama permanente de transferência de renda, cujas
normas e requisitos de acesso serão determinados De acordo com a atual orientação do STF, o prazo pres-
em lei, observada a legislação fiscal e orçamentária. cricional para o trabalhador reclamar valores do FGTS é
de cinco anos (prescrição quinquenal), tendo, como base,
Neste sentido, o Estado deve assegurar que a quan- o princípio da segurança jurídica (ARE nº 709.212, STF).
tidade de alimento seja suficiente para o indivíduo e
sua família, que ele possa se vestir, ter moradia, acesso Art. 7º [...]
IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmen-
aos serviços médicos e sociais e segurança em casos de
te unificado, capaz de atender a suas necessidades
imprevistos, tais como desemprego, incapacidade, velhi- vitais básicas e às de sua família com moradia, ali-
ce, entre outros. Além disso, devem-se assegurar os cui- mentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higie-
dados e assistência devidos à maternidade e à infância. ne, transporte e previdência social, com reajustes
O referido artigo assegura, ainda, o direito ao tra- periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo,
balho. Para tanto, o art. 7º estipula as condições neces- sendo vedada sua vinculação para qualquer fim;
sárias para a realização do trabalho e adota medidas
de proteção ao trabalhador nos seguintes termos: O inciso IV estabelece a existência de uma remu-
neração mínima, justa e suficiente para assegurar ao
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos trabalhador e a sua família uma vida digna. Assim, o
e rurais, além de outros que visem à melhoria de salário mínimo deve ter a capacidade de atender às
sua condição social necessidades tanto do trabalhador como de sua famí-
lia. Cumpre mencionar que o valor deve ser fixado
Observa-se que esse dispositivo trata tanto dos em lei, ou seja, faz-se necessária a edição de lei para a
trabalhadores urbanos como dos rurais e funda-se no fixação do valor do salário mínimo.
princípio da igualdade. Por essa razão, a CF, de 1988, Vale destacar que o STF entende não ser necessá-
veda, por exemplo, a diferenciação de salários, o exer- rio que o percentual de reajuste seja fixado em lei (em
cício de funções e critério de admissão que tenham sentido estrito), podendo a definição de tais valores
como base a idade, o sexo ou o estado civil, entre ser feita por meio de decreto presidencial. Sobre o
outros. Vejamos as proteções trazidas nele: tema, existem quatro Súmulas Vinculantes importan-
tes, as quais é relevante conhecer:
Art. 7º [...]
I - relação de emprego protegida contra despedida Súmula Vinculante nº 4 Salvo nos casos previs-
arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei tos na Constituição, o salário mínimo não pode ser
complementar, que preverá indenização compen- usado como indexador de base de cálculo de vanta-
satória, dentre outros direitos; gem de servidor público ou de empregado, nem ser
substituído por decisão judicial.
A CF, de 1988, do mesmo modo que estipula as Súmula Vinculante nº 6 Não há violação à CF no
condições necessárias para a realização do trabalho, estabelecimento de remuneração inferior ao míni-
adota medidas de proteção ao trabalhador contra a mo em relação ao soldo dos recrutas, prestadores
despedida arbitrária ou sem justa causa, com o obje- do serviço militar inicial.
tivo de resguardar o trabalhador contra as incerte-
zas do mercado de trabalho. Assim, o inciso I prevê Súmula Vinculante nº 15 O cálculo de gratifica-
que uma lei complementar estabelecerá indenização ções e outras vantagens do servidor público não
compensatória, dentre outros direitos. incide sobre o abono utilizado para se atingir o
salário mínimo.

Súmula Vinculante nº 16 Os artigos 7º, IV, e 39,


Importante! § 3º (redação da EC n. 19/1998), da Constituição
referem-se ao total da remuneração percebida pelo
Ainda não foi elaborada lei complementar disci-
servidor público.
plinando o assunto. Por essa razão, aplica-se o
disposto no art. 10, do Ato das Disposições Consti- Prosseguindo nossa análise dos incisos do art. 7º,
tucionais Transitórias, que fixa como indenização da CF, temos:
o valor de 40% do depositado no Fundo de Garan-
tia do Tempo de Serviço (FGTS) como a quantia Art. 7º [...]
devida a título de indenização compensatória. V - piso salarial proporcional à extensão e à com-
178 plexidade do trabalho;
O inciso V assegura contraprestação mínima aos o adicional é de, pelo menos, 20% sobre a hora diurna.
trabalhadores pertencentes à mesma categoria pro- Além disso, o cômputo da hora também é realizado de
fissional, como, por exemplo, professores, metalúrgi- forma diferente, uma vez que cada hora noturna pos-
cos, farmacêuticos, entre outros. O piso deve levar em sui cinquenta e dois minutos e trinta segundos.
consideração a extensão e a complexidade do trabalho Com relação ao trabalho rural, na lavoura, consi-
e não pode ser fixado em múltiplos do salário mínimo. dera-se noturno o trabalho executado entre 21h de
Diferentemente do salário mínimo, que é nacional- um dia e 5h do dia seguinte. Já na pecuária, inicia-se
mente unificado, é possível que os Estados e o Distrito às 20h de um dia e encerra-se às 4h do dia posterior.
Federal instituam piso salarial estadual diferente do nacio- Acresce que o adicional é de 25% e que não há previ-
nal, em conformidade com o parágrafo único, do art. 22, da são de cômputo diferenciado para a hora noturna.
CF, de 1988, e Lei Complementar nº 103, de 2000.
Art. 7º [...]
Art. 7º [...] X - proteção do salário na forma da lei, consti-
VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em tuindo crime sua retenção dolosa;
convenção ou acordo coletivo;
O inciso X estabelece a criminalização da con-
O inciso VI traz a regra de que o salário do traba- duta de retenção do salário como uma das formas
lhador não pode ser reduzido. A redução somente é de proteção ao trabalhador. Salienta-se que a con-
admitida por meio de negociação coletiva com a par- duta somente será considerada como crime se hou-
ticipação obrigatória do sindicato. ver dolo, ou seja, quando o empregador não paga
A Medida Provisória (MP) nº 936, de 2020, que foi porque não quer. Cumpre esclarecer que esse inciso
editada em razão da pandemia da COVID-19, passou a possui eficácia constitucional limitada e carece de lei
permitir a redução salarial por meio de acordo indivi- regulamentadora.
dual firmado entre o empregador e o empregado, ou
seja, sem a participação do sindicato. Art. 7º [...]
Considerando que o texto constitucional estabelece XI - participação nos lucros, ou resultados, desvin-
culada da remuneração, e, excepcionalmente,
que o acordo seja coletivo, a MP foi submetida ao STF,
participação na gestão da empresa, conforme defi-
que manteve a eficácia da regra (acordo individual)
nido em lei;
de redução temporária do salário por, no máximo, 90
(noventa) dias, sob o fundamento de que se trata de
A participação nos lucros ou resultados, em
momento excepcional e que o acordo individual seria
caráter excepcional, na gestão da empresa encon-
razoável por preservar o vínculo de emprego duran-
tra-se prevista no inciso XI. Trata-se de um valor des-
te o período, bem como que a atuação do sindicato
vinculado da remuneração e definido em lei. Esse
demandaria demora, gerando insegurança jurídica e
inciso também possui eficácia limitada, porém é regu-
aumentando o risco de desemprego.
lamentado pela Lei nº 10.101, de 2000.
Art. 7º [...]
Art. 7º [...]
VII - garantia de salário, nunca inferior ao mínimo,
XII - salário-família pago em razão do depen-
para os que percebem remuneração variável;
dente do trabalhador de baixa renda nos termos
da lei;
O inciso VII é um desdobramento do inciso IV ao
estabelecer que todo trabalhador tem o direito a rece- O inciso XII estabelece o salário-família. Trata-se
ber uma remuneração justa e satisfatória que lhe asse- de um benefício regulamentado pelos arts. 65 a 70, da
gure existência compatível com a dignidade humana. Lei nº 8.213, de 1991, concedido aos trabalhadores que
possuem filhos ou equiparados de até 14 anos, ou com
Art. 7º [...] algum tipo de deficiência. Para ter direito ao valor, o
VIII - décimo terceiro salário com base na remu- trabalhador deve enquadrar-se no limite máximo de
neração integral ou no valor da aposentadoria;
renda estipulado pela Administração Pública.
Até a Emenda Constitucional nº 20, de 1998, o bene-
O inciso VIII estabelece o décimo terceiro salá- fício era pago a todos os trabalhadores. Após sua edição,
rio ou gratificação de Natal aos trabalhadores. Para o salário-família ficou restrito ao trabalhador de baixa
os servidores públicos, a gratificação recebe o nome renda. Para o ano de 2021, a tabela do Governo Federal
de adicional natalino. Tal gratificação foi introduzida fixou o valor do salário-família em R$ 51,27 e limitou o
pela Lei nº 4.090, de 1962, garantindo ao trabalhador
DIREITO CONSTITUCIONAL

benefício aos trabalhadores que recebem até R$ 1.503,25.


formal e com carteira assinada o correspondente a
1/12 de sua remuneração ou aposentadoria. Art. 7º [...]
XIII - duração do trabalho normal não superior
Art. 7º [...] a oito horas diárias e quarenta e quatro sema-
IX - remuneração do trabalho noturno superior nais, facultada a compensação de horários e a
à do diurno; redução da jornada, mediante acordo ou conven-
ção coletiva de trabalho;
O inciso IX trata do trabalho noturno. De acordo
com o dispositivo, a remuneração deve ser superior O inciso XIII fixa a jornada de trabalho diária
ao trabalho no período diurno. em até 8 horas e a semanal em 44 horas, permitida,
A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), ao porém, a compensação de horários e a redução da jor-
regular a matéria, estabelece, no art. 73, como período nada, por meio de acordos ou convenção coletiva de
noturno, o trabalho desenvolvido entre as 22h de um trabalho. Trata-se dos denominados bancos de horas
dia e as 5h do dia seguinte. Assim, durante esse período, e as escalas de revezamento. 179
No Brasil, são admitidas as jornadas inglesa e espa- ou adotados de permanecerem com suas genitoras no
nhola. Na jornada inglesa, existe uma diluição de 4 momento inicial de sua vida ou na casa da adotante,
horas no intervalo entre segunda e sexta-feira, de da nova vida, com o objetivo de desenvolver víncu-
modo a possibilitar que o trabalhador cumpra jornada los de afeto e cuidados necessários para o desenvolvi-
de 9 ou 8 horas durante esses dias, de modo a totalizar mento saudável da criança.
44 horas. Na jornada espanhola, há uma alternância na Constitucionalmente, o prazo de duração é de 120
prestação de 48 horas em uma semana e 40 horas em dias, porém a Lei nº 11.770, de 2008, estendeu, para deter-
outra, como, por exemplo, trabalhando sábados alter- minados casos, esse período de licença para 180 dias.
nados. Assim, haveria uma média de 44 horas sema- A Lei nº 12.010, de 2009 (Lei da Adoção), estendeu
nais, o que evitaria o pagamento de hora extra. às adotantes o mesmo prazo de licença das gestantes,
passando a ser de, no mínimo, 120 dias. Antes, a dura-
Art. 7º [...] ção da licença variava conforme a idade do filho.
XIV - jornada de seis horas para o trabalho reali-
zado em turnos ininterruptos de revezamento, Art. 7º [...]
salvo negociação coletiva; XIX - licença-paternidade, nos termos fixados em
lei;
Assim como o inciso anterior, o inciso XIV tam-
bém prevê limite para a jornada de trabalho. Esse O inciso XIX trata da licença-paternidade, que, ao
dispositivo se aplica aos casos de jornada de trabalho contrário do que ocorre com a licença à gestante, não
com turnos ininterruptos e de revezamento, ou seja, possui prazo fixado pela CF, de 1988. Refere-se, tam-
aqueles locais que funcionam 24 horas por dia. Nesses bém, ao direito do filho de ter o genitor ao seu lado no
casos, o empregado não poderá trabalhar mais de 6 momento inicial de sua vida.
horas. Ressalta-se, por fim, a possibilidade de nego-
ciação coletiva para aumentar a jornada. Art. 7º [...]
XX - proteção do mercado de trabalho da
Art. 7º [...] mulher, mediante incentivos específicos, nos ter-
XV - repouso semanal remunerado, preferencial- mos da lei;
mente aos domingos;
O inciso XX estabelece a criação, por meio de lei,
O inciso XV garante o descanso do trabalhador. de normas de proteção do mercado de trabalho da
Trata-se do repouso semanal remunerado, também mulher. O dispositivo tem por objetivo proporcionar
denominado descanso semanal remunerado (DSR), a efetiva igualdade entre homens e mulheres. Tais
que é a possibilidade de o trabalhador ausentar-se de regras foram introduzidas pela CLT e tratam de temas
seu trabalho por 24 (vinte e quatro) horas, manten- como a duração e condições de trabalho, a discrimi-
do-se a remuneração respectiva. Para o descanso e nação, o trabalho noturno, a proteção à maternidade,
recomposição do empregado, a CF, de 1988, estabele- entre outros.
ce, como preferência, os domingos.
Art. 7º [...]
Art. 7º [...] XXI - aviso prévio proporcional ao tempo de
XVI - remuneração do serviço extraordinário serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos ter-
superior, no mínimo, em cinquenta por cento à do mos da lei;
normal;
O aviso prévio está estabelecido no inciso XXI.
O pagamento de horas extras encontra-se previs- Trata-se do direito que tem o trabalhador de não ser
to no inciso XVI. A CF, de 1988, além de fixar a duração surpreendido com o seu desligamento e poder pro-
da jornada de trabalho, com o objetivo de evitar abu- gramar-se para voltar a enfrentar a concorrência do
sos por parte do empregador, garante ao trabalhador mercado de trabalho. Por esse motivo, o aviso prévio
que os serviços prestados que excedam a jornada nor- é proporcional, ou seja, quanto maior o tempo de ser-
mal de trabalho sejam considerados extraordinários viço prestado à empresa, maior a sua permanência
e pagos com o valor de, no mínimo, 50% a mais que o antes do desligamento. O prazo mínimo previsto na
valor normal. CF, de 1988, é de 30 (trinta) dias.
De acordo com o STF, o inciso XXI é uma norma
Art. 7º [...] constitucional híbrida, uma vez que possui uma parte
XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, de eficácia plena (mínimo de 30 dias) e outra limita-
pelo menos, um terço a mais do que o salário da (nos termos da lei). Segundo os termos da Lei nº
normal; 12.506, de 2011, a esses 30 dias serão acrescidos três
dias por ano de serviço prestado na mesma empresa
O inciso XVII estabelece o direito às férias. Tra- até o total de 60 dias. Portanto, a duração máxima do
ta-se do descanso anual do trabalhador, que deve ser aviso prévio é de 90 dias (30 dias assegurados pela CF,
remunerado e acrescido de, pelo menos, 1/3 a mais do de 1988 e outros 60 previstos na lei).
que o salário normal.
Art. 7º [...]
Art. 7º [...] XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho,
XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do empre- por meio de normas de saúde, higiene e segurança;
go e do salário, com a duração de cento e vinte
dias; O inciso XXII traz a obrigação do empregador de pre-
servar a saúde do trabalhador por meio da adoção de
A licença à gestante encontra-se prevista no inci- medidas, quer individuais quer coletivas, que o previ-
180 so XVIII. Trata-se do direito dos filhos recém-nascidos nam e o protejam dos riscos ambientais do trabalho.
Art. 7º [...] do trabalhador que perdeu seu posto de trabalho para
XXIII - adicional de remuneração para as atividades a automação, ou seja, pela máquina, de modo que a lei
penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei; possa criar meios, tais como cursos e treinamentos, que
possibilitem sua recolocação no mercado de trabalho.
O inciso XXIII estabelece os adicionais de ativida-
des penosas, insalubres e perigosas. Atividade peno- Art. 7º [...]
sa é aquela exercida em zonas de fronteira ou aquela XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a
que exige, para a sua realização, esforços físicos repe- cargo do empregador, sem excluir a indenização
titivos e intensos, de modo a causar esgotamento ou a que este está obrigado, quando incorrer em dolo
desgaste excessivo. Nessa atividade, não há um dano ou culpa;
efetivo à saúde do trabalhador, mas exige um maior
grau de atenção ou sacrifício físico ou mental, como, O seguro contra acidentes de trabalho encontra-
por exemplo, serviços industriais em que o trabalha- -se previsto no inciso XXVIII. O seguro é de competência
dor é submetido a uma altura superior a três metros. do empregador e não exclui a indenização a que este
Por outro lado, na atividade insalubre, há um com- está obrigado no caso de incorrer em dolo ou culpa.
prometimento à saúde do trabalhador devido a seu
ambiente de trabalho, como, por exemplo, o traba- Súmula Vinculante nº 22 A Justiça do Trabalho
lhador que é submetido a calor ou a frio intenso ou é competente para processar e julgar as ações
a ruído contínuo e intermitente. Por fim, atividade de indenização por danos morais e patrimoniais
perigosa é aquela que pode ameaçar a vida do traba- decorrentes de acidente de trabalho propostas por
lhador, como, por exemplo, a exercida em instalações empregado contra empregador, inclusive aquelas
que ainda não possuíam sentença de mérito em
elétricas de grandes voltagens.
primeiro grau quando da promulgação da Emenda
Constitucional 45/2004.

Importante! Prosseguimos com o inciso XXIX, do art. 7º, da CF:


De acordo com o TST, não é possível a percep-
ção cumulativa dos adicionais de insalubridade Art. 7º [...]
e periculosidade. XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das
relações de trabalho, com prazo prescricional
de cinco anos para os trabalhadores urbanos e
Art. 7º [...] rurais, até o limite de dois anos após a extinção
XXIV - aposentadoria; do contrato de trabalho;

A aposentadoria está estabelecida no inciso XXIV, O inciso XXIX trata da prescrição das verbas tra-
de modo a assegurar ao trabalhador o afastamento de balhistas. O prazo para que o trabalhador ingresse
suas atividades após o cumprimento dos requisitos com ação trabalhista é de 2 (dois) anos contados da
previstos em lei, tais como idade e tempo de contri- extinção do contrato de trabalho. Já com relação aos
buição, bem como por motivo de incapacidade. créditos, a prescrição é de 5 (cinco) anos. Exemplo:
trabalhador que exerceu atividade na empresa entre
Art. 7º [...] os períodos de 2010 a 2020. Ele terá até 2022 (dois anos
XXV - assistência gratuita aos filhos e dependen- da extinção do contrato de trabalho) para promover a
tes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de ida- ação e poderá cobrar os créditos dos últimos 5 anos,
de em creches e pré-escolas; ou seja, se ingressou em 2020, poderá pleitear os cré-
ditos de 2015 em diante.
O inciso XXV trata da assistência em creche e pré- Quanto às nomenclaturas “prescrição relativa” e
-escola devida aos filhos e dependentes dos trabalha- “prescrição total”, é importante distinguir que pres-
dores desde o nascimento até os 5 anos. crição relativa é a interna, ou seja, aquela que ocorre
Com a Emenda Constitucional nº 53, de 2006, o pri- dentro do contrato de trabalho, tendo como prazo 5
meiro ano do ensino fundamental passou a ser cursa- anos. Já a prescrição total é aquela que ocorre após o
do a partir dos 6 anos de idade. É por essa razão que fim do contrato de trabalho, ou seja, de 2 anos.
o auxílio creche ou auxílio pré-escola é devido até os
5 anos (cessa ao completar 6 anos quando pode fre- Art. 7º [...]
XXX - proibição de diferença de salários, de
quentar a escola).
exercício de funções e de critério de admissão por
DIREITO CONSTITUCIONAL

motivo de sexo, idade, cor ou estado civil;


Art. 7º [...]
XXVI - reconhecimento das convenções e acordos O inciso XXX decorre do princípio da igualdade e
coletivos de trabalho; foi tratado anteriormente quando explanado acerca
do salário.
O inciso XXVI ressalta a importância das entidades sin-
dicais nas negociações coletivas, de modo a permitir que Art. 7º [...]
se incrementem as condições sociais dos trabalhadores. XXXI - proibição de qualquer discriminação no
tocante a salário e critérios de admissão do traba-
Art. 7º [...] lhador portador de deficiência;
XXVII - proteção em face da automação, na forma
da lei; Também decorrente do princípio da igualdade,
a CF, de 1988, veda qualquer tipo de discriminação
A proteção em face da automação é assegurada do trabalhador com deficiência. A proibição de dis-
no inciso XXVII. Trata-se de um mecanismo de proteção criminação estende-se desde a sua admissão. Assim 181
sendo, o fato de o trabalhador possuir uma limitação, lei e observada a simplificação do cumprimento
quer física, psíquica ou intelectual, não tem o condão das obrigações tributárias, principais e acessórias,
de permitir que o empregador pague uma contrapres- decorrentes da relação de trabalho e suas peculiari-
tação diversa dos demais funcionários por exemplo. dades, os previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV
e XXVIII, bem como a sua integração à previdência
Art. 7º [...] social.
XXXII - proibição de distinção entre trabalho
manual, técnico e intelectual ou entre os profis- Por fim, o parágrafo único trata dos direitos dos
sionais respectivos; trabalhadores domésticos. Considera-se doméstico
o trabalhador que presta serviços de natureza contí-
Mais um dispositivo que decorre do princípio nua e de finalidade não lucrativa à pessoa ou à famí-
da igualdade e veda a distinção entre as atividades lia no âmbito residencial destas, como, por exemplo,
desempenhadas, ou seja, a atividade manual não cozinheiro residencial, jardineiro, babá, entre outros.
poderá ser tida como mais ou menos importante que O dispositivo remete a determinados incisos, ressal-
a intelectual por exemplo. tando que parte desse direito depende de regulamen-
tação legal, como no caso do FGTS.
Art. 7º [...] Os direitos sindicais encontram-se disciplinados
XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso nos arts. 8º a 11. Vejamos cada um deles:
ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer
trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na Art. 8º É livre a associação profissional ou sin-
condição de aprendiz, a partir de quatorze anos; dical, observado o seguinte:
I - a lei não poderá exigir autorização do Esta-
O inciso XXXIII estabelece os limites etários para do para a fundação de sindicato, ressalvado o
o desempenho do trabalho. Aos menores de 16 anos registro no órgão competente, vedadas ao Poder
não é possível o desempenho da atividade laboral, Público a interferência e a intervenção na organi-
exceto no caso de aprendiz, que poderá desenvolver zação sindical;
a atividade entre 14 e 24 anos.
Atenção! Aprendiz não se confunde com estagiá- O inciso I, do art. 8º, traz o princípio da liberda-
rio. Aprendiz é o jovem contratado por entes de coo- de sindical. Pelo dispositivo, é possível observar duas
peração governamental, como, por exemplo, o SENAC situações distintas. A primeira refere-se à relação
e o SENAI, para aprender uma profissão, ou seja, a entre o Estado e o sindicato. Já a segunda, entre o sin-
formação profissional é desenvolvida no ofício. Por dicato e o sindicalizado. Portanto, essa liberdade de
outro lado, estagiário é o estudante que complemen- associação sindical possui dupla dimensão, de modo
ta, por meio do trabalho, o ensino do curso que está a assegurar o direito dos trabalhadores em geral de
desenvolvendo. Estagiário não é empregado nem está criarem entidades sindicais, como também a liberda-
submetido a limite de idade. de de aderirem ou não ao sindicato, assim como se
Além disso, o dispositivo veda o trabalho noturno, desfiliarem conforme sua vontade.
perigoso ou insalubre aos maiores de 16 e menores De acordo com o STF, para que um sindicato possa
de 18 anos, por se tratarem de pessoas em formação. defender a categoria, não é preciso estar registrado no
órgão competente (Ministério do Trabalho), bastando o
registro no Cartório de Registro das Pessoas Jurídicas.
Importante!
Art. 8º [...]
Não há previsão expressa do trabalho penoso II - é vedada a criação de mais de uma organi-
aos menores de 18 anos. zação sindical, em qualquer grau, representativa
de categoria profissional ou econômica, na mesma
base territorial, que será definida pelos trabalha-
Art. 7º [...] dores ou empregadores interessados, não podendo
XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalha- ser inferior à área de um Município;
dor com vínculo empregatício permanente e o
trabalhador avulso O inciso II traz o princípio da unicidade sindical,
ou seja, a regra pela qual é vedada a criação de mais
O inciso XXXIV também decorre do princípio da de uma organização sindical na mesma base territo-
igualdade. Por ele, depreende-se a igualdade de direitos rial. Por essa razão, a CF, de 1988, definiu a base ter-
entre os trabalhadores com vínculo empregatício e os ritorial mínima, ou seja, o Município. No entanto, não
trabalhadores avulsos. Entende-se por trabalhador avul- especificou a base máxima, de modo que pode haver
so aquele que, de forma sindicalizada ou não, presta um sindicato para a defesa da categoria no âmbito
serviços tanto de natureza urbana como rural, sem pos- estadual ou nacional.
suir vínculo empregatício, e a diversas empresas, com
intermediação obrigatória do sindicato da categoria ou, Art. 8º [...]
quando se tratar de atividade portuária, com interme- III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e inte-
diação do Órgão Gestor de Mão de Obra (OGMO). resses coletivos ou individuais da categoria,
inclusive em questões judiciais ou administrativas;
Art. 7º [...]
Parágrafo único. São assegurados à categoria dos A representação e substituição do sindicato na
trabalhadores domésticos os direitos previstos defesa dos direitos e interesses de seus membros está
nos incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, disciplinada no inciso III. Atente-se ao fato de o sindi-
XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e cato poder atuar não somente em questões judiciais,
182 XXXIII e, atendidas as condições estabelecidas em mas também em questões administrativas.
Art. 8º [...] Observa-se, no entanto, que a estabilidade não é
IV - a assembleia geral fixará a contribuição que, absoluta, uma vez que é possível a demissão em caso
em se tratando de categoria profissional, será des- de cometimento de falta grave. Ainda, cabe destacar
contada em folha, para custeio do sistema con- que, de acordo com a alínea “a”, do inciso II, do art.
federativo da representação sindical respectiva, 10, do ADCT, os membros da Comissão Interna para
independentemente da contribuição prevista em lei;
Prevenção de Acidentes (CIPA) eleitos pelos trabalha-
dores também possuem estabilidade; já os indicados
O inciso IV trata da contribuição confederativa pelo empregador não a possuem.
sindical. Cumpre esclarecer, no entanto, que nenhu- A estabilidade conferida pelo inciso VIII já foi obje-
ma das contribuições relativas à atividade sindical to de prova no que tange a sua destinação. Cumpre
é obrigatória, de modo a depender de autorização
ressaltar que esse benefício não é destinado à pessoa
expressa e prévia do destinatário. Portanto, somente
do empregado (intuitu personae), mas sim à represen-
quem é filiado ao respectivo sindicato deve pagar a
tação sindical.
contribuição confederativa prevista nesse dispositivo.
Art. 8º [...]
Art. 579 (CLT) O desconto da contribuição sindical
Parágrafo único. As disposições deste artigo apli-
está condicionado à autorização prévia e expressa
cam-se à organização de sindicatos rurais e de
dos que participem de uma determinada categoria
colônias de pescadores, atendidas as condições
econômica ou profissional, ou de uma profissão
que a lei estabelecer.
liberal, em favor do sindicato representativo da
mesma categoria.
Por fim, o parágrafo único estabelece que essas
Súmula Vinculante nº 40 A contribuição confede- regras também são aplicadas aos sindicatos rurais e
rativa de que trata o art. 8º, IV, da Constituição Fede- de pescadores.
ral, só é exigível dos filiados ao sindicato respectivo.
Art. 9º É assegurado o direito de greve, competin-
do aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade
Continuamos com o inciso V, do art. 8º, da CF: de exercê-lo e sobre os interesses que devam por
meio dele defender.
Art. 8º [...]
V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a man- O direito de greve dos trabalhadores encontra-se
ter-se filiado a sindicato; assegurado no art. 9º, da CF, de 1988. Inicialmente, há
de se esclarecer que a expressão “trabalhadores” se
O inciso V é um desdobramento do direito à liber- refere aos empregados da iniciativa privada, geral-
dade de associação prevista no art. 5º, da CF, de 1988. mente regidos pela CLT. Em síntese, greve é a suspen-
são temporária das atividades laborais desenvolvidas
Art. 8º [...] e tem como causa o interesse dos trabalhadores.
VI - é obrigatória a participação dos sindicatos Ademais, salienta-se, conforme já cobrado em
nas negociações coletivas de trabalho; prova, que a greve, apesar de ser um direito social
conferido ao trabalhador, não depende de específica
As entidades sindicais possuem a denominada prestação estatal para que seja exercida.
função negocial. Assim, com o objetivo de assegurar
melhores condições e direitos aos trabalhadores, o Art. 9º [...]
inciso IV estabelece como obrigatória a participação § 1º A lei definirá os serviços ou atividades essen-
dos sindicatos nas negociações coletivas. ciais e disporá sobre o atendimento das necessida-
des inadiáveis da comunidade.
Art. 8º [...] § 2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis
VII - o aposentado filiado tem direito a votar e às penas da lei.
ser votado nas organizações sindicais;
No que se refere aos serviços essenciais, tais como
O inciso VII cuida do direito de votar e ser votado transporte público, serviços de fornecimento de luz,
do aposentado filiado à entidade sindical. água, entre outros, o direito de greve é assegurado, mas
sofre restrições. A lei que disciplina a greve dos traba-
Art. 8º [...] lhadores dos serviços essenciais é a Lei nº 7.783, de 1989.
VIII - é vedada a dispensa do empregado sin-
dicalizado a partir do registro da candidatura Art. 10 É assegurada a participação dos trabalha-
DIREITO CONSTITUCIONAL

a cargo de direção ou representação sindical dores e empregadores nos colegiados dos órgãos
e, se eleito, ainda que suplente, até um ano após o públicos em que seus interesses profissionais ou pre-
final do mandato, salvo se cometer falta grave videnciários sejam objeto de discussão e deliberação.
nos termos da lei.
O art. 10 decorre do direito a uma gestão
A estabilidade do dirigente sindical encontra-se democrática, ou seja, de participação junto aos
prevista no inciso VIII. Seu objetivo é permitir que colegiados dos órgãos públicos que gerenciam os inte-
seus dirigentes atuem sem medo de represálias, ou resses profissionais ou os valores aplicados nos fun-
seja, de serem desligados do emprego devido à atua- dos previdenciários.
ção. Trata-se, portanto, da regra que proíbe a dispen-
sa do empregado sindicalizado a partir do registro da Art. 11 Nas empresas de mais de duzentos
candidatura a cargo de direção ou representação sin- empregados, é assegurada a eleição de um
dical. No caso dos eleitos, mesmo que na condição de representante destes com a finalidade exclusiva
suplentes, a estabilidade perdura até um ano após o de promover-lhes o entendimento direto com os
final do mandato. empregadores. 183
Por fim, o art. 11 estabelece, como mecanismo de de pais brasileiros como estrangeiros, desde que estes
promover o entendimento e facilitar o diálogo entre não estejam a serviço de seus países.
empregados e empregador em empresas maiores Atente-se ao fato de para que a criança não seja
(com mais de 200 funcionários), a formação de uma considerada brasileira, algum dos pais estrangeiros
comissão de representação. deve estar a serviço de seu país de origem; ressalta-
Atenção! Os representantes não se confundem -se este ponto pois os examinadores implementaram
com os dirigentes sindicais. as cobranças acerca dessa temática.
Por exemplo, o casal Bob e Mary é residente da
DIREITOS DE NACIONALIDADE cidade de Bruxelas, na Bélgica. Bob é natural da Bél-
gica, já Mary possui nacionalidade alemã. Mary, após
O direito à nacionalidade é a garantia de ter um alguns anos morando na Bélgica, conquista um cargo
vínculo político-jurídico com um país, uma vez que público neste país. Em razão do cargo que ocupa, Mary
todas as pessoas têm direito de se vincular a um Esta- foi convocada para tratar de assuntos internacionais
do soberano para que este possa assegurar a proteção no Brasil, a serviço da Bélgica e, durante a sua estadia
dos seus direitos fundamentais. no Brasil, entrou em trabalho de parto, dando à luz a
A ausência de vínculo enseja a condição de apátri- Peter, fruto do seu relacionamento com Bob. No caso
da e impede que o indivíduo pleiteie proteção jurídica em tela, Peter terá nacionalidade brasileira nata, tendo
básica por não estar vinculado a nenhum Estado. Des- em vista que sua mãe, embora a serviço da Bélgica, não
te modo, ter uma nacionalidade significa ter direito à estava à serviço do seu país de origem (Alemanha).
proteção jurídica e política por parte de um Estado. Outro exemplo que pode ser cobrança de alguma
A nacionalidade pode ser originária ou derivada. questão mais elaborada é o caso de criança nasci-
Vejamos: da em território nacional, sendo que um dos pais é
estrangeiro a serviço de seu país e o outro é brasileiro;
z Nacionalidade originária é aquela que decor- neste caso, devido ao fato de ser filho de brasileiro,
re do nascimento e, a depender do Estado, pode será, a criança, considerada brasileira nata.
seguir o critério de vínculo biológico (jus sangui- Já a alínea “b” adota o critério sanguíneo aliado
nis), ou o critério do local do nascimento (jus solis), ao trabalho, ao considerar brasileiro aquele que nas-
ou os dois. Nesse tipo de nacionalidade, é possível ceu fora do solo brasileiro, porém possuindo pai ou
a coexistência de mais de uma nacionalidade (ex.: mãe brasileiros e um destes esteja a serviço do Bra-
filho de italiano nascido no Brasil é italiano por sil, como, por exemplo, filho de diplomata brasileiro a
sangue e brasileiro por solo); serviço no Japão.
z Nacionalidade derivada é aquela que decorre de Por fim, a alínea “c” adota o critério sanguíneo
qualquer outro fator que não seja o nascimento, aliado à opção ou registro do nascimento em repar-
como, por exemplo, passar a residir em um país tição competente, considerando como brasileiro aque-
ou casar-se com um estrangeiro e adquirir a nacio- le que nasceu fora do território brasileiro, sendo filho
nalidade deste (essa hipótese não existe no direito de pai ou mãe brasileiros sem que qualquer um deles
brasileiro, pois o casamento com brasileiro, por estivesse a serviço do Brasil, e foi registrado na reparti-
si só, não dá o direito à nacionalidade brasileira). ção brasileira competente no exterior (Consulado).
Para adquirir a nacionalidade derivada, é necessá- Também é considerado brasileiro nato por essa
rio um procedimento chamado de naturalização e, alínea aquele que nasceu fora do território brasileiro,
em regra, ao se adquirir uma nova nacionalidade, sendo filho de pai ou mãe brasileiros sem que qualquer
por ser esta voluntária, perde-se a nacionalidade um deles estivesse a serviço do Brasil, e veio a residir no
anterior (direito de opção). Brasil, tendo optado pela nacionalidade brasileira após
atingida a maioridade. Exemplo: filha de alemã com
Os direitos de nacionalidade estão disciplinados nos brasileiro nascida na Alemanha, mas que se mudou
arts. 12 e 13, da CF, de 1988. Vejamos cada um deles: para o Brasil e, tendo completado 18 (dezoito) anos,
tenha optado pela nacionalidade brasileira; a esta últi-
Art. 12 São brasileiros: ma forma se dá o nome de nacionalidade potestativa.
I - natos:
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, Art. 12 [...]
ainda que de pais estrangeiros, desde que estes II - naturalizados:
não estejam a serviço de seu país; a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionali-
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro dade brasileira, exigidas aos originários de países
ou mãe brasileira, desde que qualquer deles este- de língua portuguesa apenas residência por um
ja a serviço da República Federativa do Brasil; ano ininterrupto e idoneidade moral;
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasilei- b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade,
ro ou de mãe brasileira, desde que sejam regis- residentes na República Federativa do Brasil há
trados em repartição brasileira competente mais de quinze anos ininterruptos e sem con-
ou venham a residir na República Federativa do denação penal, desde que requeiram a nacionali-
Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atin- dade brasileira.
gida a maioridade, pela nacionalidade brasileira;
Conforme vimos, a naturalização é o meio pelo
No que se refere à nacionalidade originária, a CF, qual se adquire a nacionalidade por outro motivo que
de 1988 adota, no inciso I, do art. 12, um sistema misto não o nascimento. Trata-se do ato pelo qual um país
de definição da nacionalidade, uma vez que os dois concede a um estrangeiro a qualidade de nacional
critérios estão inseridos em seu dispositivo para defi- desse Estado. A naturalização pressupõe pedido da
nir brasileiro nato. parte interessada.
A alínea “a” adota o critério territorial ao con- O inciso II estabelece, como critério para que se
184 siderar brasileiro o nascido em solo brasileiro, tanto adquira a naturalização, o lapso temporal. No caso dos
estrangeiros originários de países de língua portugue- referem ao Chefe de Estado e àqueles que estão em
sa, tais como Portugal, Cabo Verde, Moçambique, entre sua ordem sucessória. O inciso V refere-se àqueles
outros, a Norma Constitucional prevê residência de ape- que irão representar o Estado brasileiro no exterior,
nas um ano ininterrupta e idoneidade moral. Já para os enquanto os incisos VI e VII têm relação com a segu-
demais estrangeiros, faz-se necessário residir por mais rança nacional.
de 15 (quinze) anos e não possuir condenação penal. Vale destacar que o brasileiro naturalizado poderá
Note que, além do prazo de residência, enquan- ser senador ou deputado, só não poderá ser presiden-
to, para um, basta a idoneidade, para os demais, não te das casas.
deve existir condenação penal.
Dica
REQUISITOS
Para memorizar o rol elencado no § 3º, utiliza-se
Nacionalidade
Nacionalidade Ordinária o mnemônico MP3.COM
Extraordinária
M — Ministro do STF
� Ser estrangeiro P — Presidente e Vice
originário de país de � Ser estrangeiro de
qualquer nacionalidade
P — Presidente da Câmara
língua portuguesa P — Presidente do Senado
� Residência no Brasil por � Residência, ininterrupta,
no Brasil por mais de 15 C — Carreira diplomática
1 ano ininterrupto
anos O — Oficial das Forças Armadas
� Idoneidade moral
� Ausência de M — Ministro da Defesa
Obs.: Aqui a condenação penal
nacionalidade se dará � Requerimento por parte Art. 12 [...]
por ato discricionário do do interessado § 4º Será declarada a perda da nacionalidade do
Presidente brasileiro que:
I - tiver cancelada sua naturalização, por senten-
ça judicial, em virtude de atividade nociva ao
Art. 12 [...]
interesse nacional;
§ 1º Aos portugueses com residência permanente
II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos
no País, se houver reciprocidade em favor de brasi-
casos:
leiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao bra-
a) de reconhecimento de nacionalidade originária
sileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição.
pela lei estrangeira;
b) de imposição de naturalização, pela norma
O § 1º estabelece a possibilidade de reciprocidade estrangeira, ao brasileiro residente em estado
para os portugueses residentes de forma permanente estrangeiro, como condição para permanência em
no Brasil. Trata-se de benefícios decorrentes do Esta- seu território ou para o exercício de direitos civis;
tuto da Igualdade no que se refere aos direitos e obri-
gações civis e políticos sem a perda da nacionalidade Por fim, o § 4º traz as hipóteses de perda da nacio-
originária. Esse Estatuto encontra respaldo no Decreto nalidade. A primeira possibilidade é a perda da nacio-
nº 3.927, de 2001, que promulgou o Tratado de Amiza- nalidade derivada, ou seja, aquela adquirida pela
de, Cooperação e Consulta entre Brasil e Portugal. naturalização quando houver sentença judicial deter-
minando seu cancelamento, em decorrência de ativi-
Art. 12 [...] dade nociva praticada pelo naturalizado. A segunda
§ 2º A lei não poderá estabelecer distinção entre possibilidade decorre do denominado princípio da
brasileiros natos e naturalizados, salvo nos
vassalagem, isto é, a aquisição de nacionalidade deri-
casos previstos nesta Constituição.
vada implica a perda da nacionalidade de origem.
A perda da nacionalidade comporta duas exceções
De acordo com o § 2º, independentemente de a
que não decorrem da vontade do indivíduo, são elas:
nacionalidade ter sido adquirida de modo originário
ou derivado, todos os brasileiros são iguais em direi-
z Reconhecimento da nacionalidade por lei
tos e obrigações. Trata-se, portanto, de um desdobra-
estrangeira. É o caso, por exemplo, de uma crian-
mento do direito à igualdade.
ça que nasceu no Brasil e possui pais italianos.
Como nenhum direito é absoluto, a CF, de 1988,
Nessa situação, o indivíduo terá dupla naciona-
pode estabelecer tratamento diferente aos natos e
lidade, tendo em vista ter nascido no Brasil (país
naturalizados, mas tão somente a CF. Como exemplo
que adota, nesse caso, o critério territorial) e ser
DIREITO CONSTITUCIONAL

tem-se o parágrafo a seguir:


filho de pais italianos (país este que adota o crité-
rio sanguíneo). Desta forma, será atribuída dupla
Art. 12 [...]
nacionalidade à criança;
§ 3º São privativos de brasileiro nato os cargos:
I - de Presidente e Vice-Presidente da República; z Imposição de nacionalidade como condição
II - de Presidente da Câmara dos Deputados; para permanência em território estrangeiro
III - de Presidente do Senado Federal; ou para exercício de direitos civis. É o caso, por
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal; exemplo, de jogador de futebol brasileiro que é
V - da carreira diplomática; contratado por determinado clube de país estran-
VI - de oficial das Forças Armadas. geiro, onde é obrigatório a aquisição da nacionali-
VII - de Ministro de Estado da Defesa. dade para permanecer em seu território.

Os cargos elencados no § 3º não podem ser preen- O brasileiro que perdeu sua nacionalidade por ter
chidos por brasileiros naturalizados, nem por estran- se naturalizado poderá readquirir a nacionalidade
geiros. Observa-se que os quatro primeiros incisos se brasileira ou ter revogado o ato que declarou a sua 185
perda, retornando à condição de brasileiro nato por determinado assunto (ato administrativo ou lei).
expressa previsão da Lei nº 13.445, de 2017 (Lei de A principal diferença entre eles está atrelada ao
Migração). Exemplo: brasileira que se casa com ale- momento da consulta.
mão e naturaliza-se alemã, porém se divorcia de seu No plebiscito, a consulta é prévia, ou seja, antes da
marido e volta ao Brasil. criação do ato administrativo ou da lei, convocam-se
os cidadãos para responderem à consulta. Ao passo
Art. 13 A língua portuguesa é o idioma oficial que, no referendo, primeiro cria-se o ato administra-
da República Federativa do Brasil. tivo ou a lei, e depois se autoriza a consulta ao povo.
§ 1º São símbolos da República Federativa do Brasil
a bandeira, o hino, as armas e o selo nacionais.
§ 2º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
Dica
poderão ter símbolos próprios. Para ajudar na memorização da diferença entre
o plebiscito e o referendo, associe:
O art. 13 não é um direito de nacionalidade, mas Plebiscito com PREbiscito: o termo pre remete para
estabelece regras com relação ao Estado brasileiro. A pri- algo que ocorre previamente/antes/anterior, tal
meira regra diz respeito ao idioma oficial, que é a lín- como o plebiscito que a consulta popular é prévia.
gua portuguesa. Trata-se, portanto, da língua que toda a
Referendo com REFERIR: o termo referir remete
população brasileira deve utilizar em suas ações oficiais,
para algo que “diz respeito” ou “que tem relação”,
ou seja, nas suas relações com as instituições do Estado. A
ou seja, que já aconteceu/falou/fez/existe, tal
outra regra diz respeito aos símbolos do Brasil.
como no referendo que a consulta é posterior à
criação do ato administrativo ou da lei.
Dica
Para memorizar os símbolos, utilize o mnemôni- A Iniciativa Popular é um instrumento de demo-
co BAHIAS: cracia direta que permite aos cidadãos a apresentação
Bandeira de proposta de lei, desde que preenchidos os seguintes
Hino requisitos previstos no § 2º, do art. 61, da CF:
Armas
Art. 61 [...]
Selo nacional
§ 2º A iniciativa popular pode ser exercida pela
apresentação à Câmara dos Deputados de projeto
A última regra diz respeito ao fato de os Estados de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do
membros, Distrito Federal e Municípios possuírem eleitorado nacional, distribuído pelo menos por
símbolos próprios. Alguns Estados membros possuem cinco Estados, com não menos de três décimos por
símbolos diferentes, como, por exemplo, o Estado de cento dos eleitores de cada um deles.
São Paulo, que, de acordo com o art. 7º, de sua Consti-
tuição Estadual, tem, como símbolos, a bandeira, o bra- Da leitura do dispositivo acima, extrai-se os seguin-
são de armas e o hino. Não constam o selo e as armas, tes pontos:
estando, portanto, de forma diversa da CF, de 1988.
z Deve ser proposto na Câmara de Deputados;
DIREITOS POLÍTICOS z É necessário a assinatura de, no mínimo, 1% (um
por cento) do eleitores brasileiros;
Os direitos políticos encontram-se disciplinados z Este 1% (um por cento) deve ser composto de elei-
nos arts. 14 a 16 da Constituição Federal. São direi- tores de, pelos menos, 05 (cinco) Estados-membros;
tos relacionados com a participação popular, funda- z Cada um dos Estados-membros referidos acima
dos na ideia de que os cidadãos possuem o direito de deve possuir no mínimo 0,3% (três décimos) do seu
influenciar as decisões do Estado, bem como de influir próprio eleitorado estadual.
na formação da vontade deste.
Direitos Políticos Ativos
Os direitos políticos conferidos à população brasi-
leira são exercidos através do sufrágio universal, que É o que confere ao cidadão a capacidade de votar,
é compreendido pela: participar de plebiscitos ou referendos, subscrever
projeto de iniciativa popular, bem como de propor
z Capacidade eleitoral ativa: direito de votar; ação popular para anular ato lesivo ao patrimônio
z Capacidade eleitoral passiva: direito de ser votado. público ou de entidade de que o Estado participe ou,
ainda, acautelar a moralidade administrativa, o meio
De acordo com o art. 14 da CF, a soberania popular ambiente e patrimônio histórico e cultural brasileiro.
será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto dire- Essa capacidade é conferida ao cidadão por meio
to e secreto, mediante: do alistamento eleitoral. São inalistáveis os estran-
geiros e os conscritos (durante serviço militar obriga-
z Plebiscito; tório, ou seja, aqueles que se alistaram no exército e
z Referendo; foram convocados a prestar serviço militar).
z Iniciativa popular.
Alistamento Eleitoral e o Voto
Antes de prosseguir no estudo dos direitos políticos, Nos termos do § 1º, do art. 14, da Constituição
faz-se importante conceituar e diferenciar os meca- Federal, o alistamento eleitoral e do voto são:
nismos de democracia direta elencados acima, quais
sejam: o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular. z Obrigatórios
Tanto o plebiscito quanto o referendo são instru-
186 mentos que se destinam à consulta popular sobre „ Para os maiores de dezoito anos;
z Facultativos com os Governadores de Estado e do Distrito Federal
e com os Prefeitos, ou com quem os haja substituído
„ Os analfabetos; dentro dos seis meses anteriores ao pleito.
„ Os maiores de setenta anos;
„ Os maiores de dezesseis e menores de dezoito Art. 14 [...]
§ 7º São inelegíveis, no território de jurisdição do
anos.
titular, o cônjuge e os parentes consanguíneos ou
afins, até o segundo grau ou por adoção, do Pre-
Condições de Elegibilidade sidente da República, de Governador de Estado ou
Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de
Conforme § 3°, do art. 14, da CF, são condições de quem os haja substituído dentro dos seis meses
elegibilidade, isto é, condições para se eleger a deter- anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato
minado cargo político: eletivo e candidato à reeleição.

Acerca do assunto, é importante conhecer o texto


z Nacionalidade brasileira
da Súmula nº 6 do TSE:
z O pleno exercício de direitos
políticos Súmula 6, TSE: São inelegíveis para o cargo de
Elegibilidade z Alistamento eleitoral chefe do Executivo o cônjuge e os parentes, indica-
z Domicilio eleitoral na circuns- dos no § 7º do art. 14 da Constituição Federal, do
crição correspondente titular do mandato, salvo se este, reelegível, tenha
z Filiação partidária falecido, renunciado ou se afastado definitivamente
do cargo até seis meses antes do pleito.:

A constituição também define a idade mínima que Na mesma temática, veja a redação da Súmula Vin-
cada candidato deve ter, a depender do cargo que culante nº 18 do STF (de observância obrigatória):
deseja se eleger:
Súmula vinculante 18-STF: A dissolução da socie-
z Presidente e Vice-Presidente da República e Sena- dade ou do vínculo conjugal, no curso do mandato,
dor: 35 anos; não afasta a inelegibilidade prevista no § 7º do arti-
z Governador e Vice-Governador dos Estados-mem- go 14 da Constituição Federal.
bros e do Distrito Federal : 30 anos; Todo inalistável é inelegível, mas nem todo inele-
z Deputado Federal, Deputador Estadual ou Distri- gível é inalistável. Assim, quem não pode votar, como
tal, Prefeito e Vice-Prefeito e Juiz de Paz: 21 anos; os estrangeiros e os conscritos durante serviço mili-
z Vereador: 18 anos. tar obrigatório, não pode ser votado, assim como os
analfabetos. No entanto, isso não significa que os que
A condição de nacional é um pressuposto para a de não podem ser votados, necessariamente, não possam
cidadão. A cidadania em sentido estrito é o status de votar. Ex.: o analfabeto é inelegível, mas não é inalistá-
nacional acrescido dos direitos políticos, isto é, o poder vel, logo, pode votar, embora seu voto não seja obriga-
participar do processo governamental, sobretudo pelo tório, mas não pode ser votado.
voto. Assim, a nacionalidade é condição necessária, Quanto à reeleição e desincompatibilização, a
mas não suficiente para o exercício da cidadania. Emenda Constitucional nº 16 trouxe a possibilidade
de reeleição para o chefe dos Poderes Executivos fede-
Dica ral, estadual, distrital e municipal. Ao contrário do sis-
tema americano de reeleição, que permite apenas a
Nacional é diferente de cidadão, logo cidadania é recondução por um período somente, no Brasil, após
diferente de nacionalidade! o período de um mandato, o governante pode voltar a
se candidatar para o posto.
Inelegibilidades
Art. 14 [...]
A Constituição não menciona exaustivamente § 5º O Presidente da República, os Governadores de Esta-
todas as hipóteses de inelegibilidade, apenas fixa do e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver
algumas, deixando reservado que lei complementar sucedido, ou substituído no curso dos mandatos pode-
poderá estabelecer outros casos de inelegibilidade. rão ser reeleitos para um único período subsequente.
§ 6º Para concorrerem a outros cargos, o Presidente
Art. 14 [...] da República, os Governadores de Estado e do Distri-
DIREITO CONSTITUCIONAL

§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de to Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respec-
inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim tivos mandatos até seis meses antes do pleito.
de proteger a probidade administrativa, a morali-
dade para exercício de mandato considerada vida Por sua vez, o militar é elegível, se cumpridos
pregressa do candidato, e a normalidade e legitimi- alguns requisitos:
dade das eleições contra a influência do poder eco-
nômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou
Art. 14 [...]
emprego na administração direta ou indireta.
§ 8º O militar alistável é elegível, atendidas as
Em regra: seguintes condições:
I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá
Art. 14 [...] afastar-se da atividade;
§ 4º São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos. II - se contar mais de dez anos de serviço, será agre-
gado pela autoridade superior e, se eleito, passará
Há também a inelegibilidade derivada do casamen- automaticamente, no ato da diplomação, para a
to ou do parentesco com o Presidente da República, inatividade. 187
O Mandato eletivo pode ser impugnado: PARTIDOS POLÍTICOS

Art. 14 [...] Os partidos políticos encontram-se disciplinados


§ 10 O mandato eletivo poderá ser impugnado ante no Título II da Constituição Federal, de 1988, que trata
a Justiça Eleitoral no prazo de quinze dias conta- sobre os direitos e garantias fundamentais.
dos da diplomação, instruída a ação com provas de Depreende-se por partidos políticos a pessoa jurí-
abuso do poder econômico, corrupção ou fraude; dica de direito privado que tem por objetivo assegurar
§ 11 A ação de impugnação de mandato tramitará
e defender os direitos de uma determinada parcela da
em segredo de justiça, respondendo o autor, na for-
população. Em síntese, partido político é aquele for-
ma da lei, se temerária ou de manifesta má-fé.
mado por diversas pessoas unidas em prol de ideali-
zações políticas e sociais comuns.
Perda e Suspensão dos Direitos Políticos
Vejamos o que estabelece a CF, de 1988:
A perda e a suspensão dos direitos políticos
Art. 17 É livre a criação, fusão, incorporação
podem se dar, respectivamente, de forma definitiva
e extinção de partidos políticos, resguardados a
ou temporária. soberania nacional, o regime democrático, o
Ocorrerá a perda quando: houver cancelamento pluripartidarismo, os direitos fundamentais da
da naturalização por sentença transitada em julga- pessoa humana e observados os seguintes preceitos:
do e no caso de recusa de cumprir obrigação a todos I - caráter nacional;
imposta ou prestação alternativa (é o caso do serviço II - proibição de recebimento de recursos finan-
militar obrigatório). ceiros de entidade ou governo estrangeiros ou de
Já a suspensão ocorre enquanto persistirem os subordinação a estes;
motivos desta, ou seja, enquanto o indivíduo não o III - prestação de contas à Justiça Eleitoral;
retomar a capacidade civil ele terá seus direitos políti- IV - funcionamento parlamentar de acordo com
cos suspensos. Readquirindo-a, alcançará, novamente a lei.
o status de cidadão. Também são passíveis de suspen-
são os condenados criminalmente (com sentença tran- O art. 17 correlaciona a importância dos partidos
sitado em julgado). Cumprida a pena, readquirem os políticos à soberania nacional, ou seja, ao poder do
direitos políticos; no caso de improbidade administra- Estado de, como uma unidade de decisão em um terri-
tiva, a suspensão será, da mesma forma, temporária. tório, estabelecer o que é de sua competência e o que
não lhe cabe decidir.
Art. 15 É vedada a cassação de direitos políticos,
cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:
Dica
I - cancelamento da naturalização por sentença
transitada em julgado; A soberania pode ser concebida sob duas óti-
II - incapacidade civil absoluta; cas: a soberania interna representa o poder do
III - condenação criminal transitada em julgado, Estado em relação às pessoas e coisas em seu
enquanto durarem seus efeitos;
interior (pode-se dizer o direito de impor suas
IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta
ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII; regras dentro do seu território). Já a soberania
V - improbidade administrativa, nos termos do art. externa representa a igualdade jurídica conferida
37, § 4º. aos Estados (todos os países são juridicamente
iguais e possuem direitos e obrigações).
Acerca da suspensão de direitos políticos importa
destacar o seguinte: O art. 17 também diz respeito ao regime democrá-
tico, que tem como o povo a única fonte de legitimi-
Súmula 9, do TSE: A suspensão de direitos políti- dade do poder, ou seja, de onde emana todo poder.
cos decorrente de condenação criminal transitada O regime democrático pode ser exercido de três formas:
em julgado cessa com o cumprimento ou a extinção
da pena, independendo de reabilitação ou de prova z De forma direta – pelo próprio povo;
de reparação dos danos. z De forma indireta – pelos representantes do povo;
z De forma semidireta ou participativa – pela combi-
Ainda, acerca da suspensão de direitos políticos, o nação os dois critérios.
Supremo Tribunal Federal manifesta:
O regime democrático brasileiro possui caracte-
A suspensão de direitos políticos prevista no art. rísticas da forma indireta e da forma direta. A demo-
15, III, da Constituição Federal, aplica-se no caso
cracia indireta é exercida pelo voto, haja vista que o
de substituição da pena privativa de liberdade pela
povo é o titular do poder de sufrágio. O voto possui
restritiva de direitos. STF. Plenário. RE 601182/MG,
Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexan- caráter universal, ou seja, todos podem votar, além
dre de Moraes, julgado em 8/5/2019 (repercussão de ser direto e secreto, com igual valor, na localida-
geral) (Info 939). de do domicílio eleitoral. O povo participa da esco-
lha dos representantes políticos federais, estaduais e
Por fim, concluindo o assunto de direitos políticos, municipais (Poder Executivo e Legislativo).
veja o que dispõe o art. 16 da CF: A democracia direta é exercida por plebiscito,
referendo e iniciativa popular (art. 14, I, II e III da
Art. 16 A lei que alterar o processo eleitoral entra- CF, de 1988), bem como por iniciativa compartilhada
rá em vigor na data de sua publicação, não se apli- (arts. 5º, XXXVIII e LXXIII; 29, XII e XIII; 37, § 3º; 74, §
cando à eleição que ocorra até um ano da data de 2º; 187; 194, parágrafo único, VII; 204, II; 206, VI e 224
188 sua vigência. da CF, de 1988).
A diferença entre o plebiscito e o referendo é que Lei nº 9.096, de 1995
no plebiscito a população é chamada para se mani- Art. 13 Tem direito a funcionamento parlamentar,
festar antes de o Estado elaborar a lei. Exemplo: o em todas as Casas Legislativas para as quais tenha
plebiscito de 1993 em que a população escolheu entre elegido representante, o partido que, em cada elei-
monarquia e república e entre parlamentarismo e ção para a Câmara dos Deputados obtenha o apoio
presidencialismo. Por outro lado, no referendo o de, no mínimo, cinco por cento dos votos apurados,
Estado faz a legislação e depois a submete à popula- não computados os brancos e os nulos, distribuí-
dos em, pelo menos, um terço dos Estados, com um
ção. Exemplo: Estatuto do Desarmamento.
mínimo de dois por cento do total de cada um deles.
Outro ponto importante refere-se ao pluriparti-
darismo, que é um dos fundamentos da República No entanto, em dezembro de 2006, o Supremo Tri-
Federativa do Brasil (art. 1°, V, CF, de 1988). Assim, bunal Federal (STF), na Ação Direta de Inconstitucio-
para assegurar o regime democrático e a representa- nalidade (ADI) n° 1.351, considerou que o art. 13 da
tividade na defesa dos direitos fundamentais, devem Lei n° 9.096, de 1995, era inconstitucional por violar
coexistir diversas entidades formadas pela livre asso- o fundamento do pluralismo político, uma vez que
ciação de pessoas e com ideologias comuns. o artigo 17 assegurava a liberdade para criação dos
Como consequência, a defesa dos direitos fun- partidos políticos de forma igualitária, ou seja, todos
damentais pode ser efetivada por poderem coexistir os partidos eram iguais, independentemente do tama-
diversos pensamentos e posicionamentos. nho e ideologia, de modo a não existir partidos de 1ª
Importante mencionar que o caput do art. 17 tra- e 2ª categoria.
ta da liberdade na criação, fusão, incorporação e Ainda no ano de 2006, foi acrescentado pela EC n°
extinção, ou seja, o partido é livre para definir sua 52, de 2006, o parágrafo 1° ao art. 17, trazendo o fim
criação, fusão, incorporação e extinção. No entanto, da verticalização, ou seja, de que nas candidaturas
existem preceitos a serem observados como o caráter federais, estaduais e municipais, os partidos sejam
nacional do partido político (não é possível a existên- obrigados a se unirem ou se enfrentarem. Portanto, se
cias de partidos regionais ou locais), a proibição de dois partidos decidiram se enfrentar no plano federal,
recebimento de recursos financeiros de entidade ou nada impede que no âmbito estadual, eles possam se
governo estrangeiros ou de subordinação a estes (o unir. Trata-se da necessidade de maior liberdade das
partido político trata de interesse nacional, de modo agremiações políticas.
que não pode possuir qualquer vínculo com outro Pouco mais de dez anos após a inclusão do pará-
Estado), prestação de contas à Justiça Eleitoral (que grafo 1°, a Emenda Constitucional (EC) n° 97, de 2017,
traça suas regras) e funcionamento parlamentar de alterou o dispositivo e acrescentou a ele a cláusula de
acordo com a lei. barreira, que era apenas uma previsão legal (decla-
Lembre-se: a Lei que disciplina os Partidos Políti- rada como inconstitucional), para a Constituição
cos é a Lei nº 9.096, de 1995. Federal, trazendo, assim, a possibilidade de sua imple-
Observa-se, entretanto, que embora a CF, de 1988 mentação. Trata-se do denominado ativismo congres-
tenha assegurado a livre criação, fusão e incorpora- sual ou efeito backlash.
ção de partidos políticos, esta não é absoluta, visto que A cláusula de barreira estabeleceu, por exemplo,
se encontra condicionada aos princípios do sistema novas normas de acesso dos partidos políticos aos
democrático-representativo e do pluripartidarismo. recursos do Fundo Partidário, bem como ao tempo de
Como consequência são consideradas constitucionais propaganda eleitoral gratuita no rádio e televisão. Tal
as normas que fortalecem o controle quantitativo desempenho eleitoral exigido às legendas partidárias
e qualitativo dos partidos, se não houver afronta ao será aplicado de forma gradual até ser concretizado
princípio da igualdade ou cause qualquer ingerência nas eleições de 2030, nos termos da EC nº 97, de 2017.
em seu funcionamento interno. Há de se mencionar, ainda, a vedação à celebração
de coligações nas eleições proporcionais prevista no
Art. 17 [...] parágrafo 1° ao art. 17 e que esta, nos termos da EC n°
§ 1º É assegurada aos partidos políticos auto- 97, de 2017, começou a ser aplicada a partir das elei-
nomia para definir sua estrutura interna e ções de 2020.
estabelecer regras sobre escolha, formação A EC nº 97, de 2017 gerou, ainda, o fim das coliga-
e duração de seus órgãos permanentes e pro- ções nas eleições proporcionais a partir das eleições
visórios e sobre sua organização e funciona- de 2020. Consequentemente, somente é possível haver
mento e para adotar os critérios de escolha e o
coligações nas eleições majoritárias, ou seja, para os
regime de suas coligações nas eleições majori-
cargos de Presidente, Governador, Prefeito e Senador.
tárias, vedada a sua celebração nas eleições
DIREITO CONSTITUCIONAL

proporcionais, sem obrigatoriedade de vincu- Art. 17 [...]


lação entre as candidaturas em âmbito nacio- § 2º Os partidos políticos, após adquirirem perso-
nal, estadual, distrital ou municipal, devendo nalidade jurídica, na forma da lei civil, regis-
seus estatutos estabelecer normas de disciplina e trarão seus estatutos no Tribunal Superior
fidelidade partidária. Eleitoral.

Se o caput do art. 17 assegura a liberdade para Por serem pessoas jurídicas de direito privado, os
criação dos partidos políticos, o parágrafo 1° traz a partidos políticos adquirem sua personalidade jurí-
cláusula de barreira, também chamada de cláusu- dica com seu registro em cartório de registros civis,
la de desempenho, que se refere à necessidade de nos termos do parágrafo 2° do art. 17.
desempenho mínimo do partido para que ele conti- A natureza de pessoa jurídica de direito privado
nue existindo. também consta do art. 1° da Lei n° 9.096, de 1995.
Neste ponto, são necessárias algumas observações. Assim, o partido político será criado de acordo com
A princípio, o art. 13 da Lei n° 9.096, de 1995, disci- a lei civil, ou seja, Código Civil e Lei n° 6.015, de 1973
plinava a cláusula de barreira nos seguintes termos: (Lei de Registros Públicos) 189
Verifica-se, ainda, a necessidade de registro do II - 95% (noventa e cinco por cento) serão distribuí-
estatuto no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas dos aos partidos na proporção dos votos obtidos na
atenção: o registro no TSE não constitui o partido, última eleição geral para a Câmara dos Deputados.
pois sua natureza é apenas administrativa. Parágrafo único. Para efeito do disposto no inciso
Os requisitos para fundação de partidos políticos II, serão desconsideradas as mudanças de filiação
encontram-se disciplinados na Lei nº 9.096, de 1995 e partidária em quaisquer hipóteses.
na Resolução do TSE nº 23.465, de 2015.
Outro ponto importante é a vedação de doação a
campanhas por pessoas jurídicas. Assim, passou a
ser proibida que empresas doassem quantidades de
Importante! dinheiro ou bens para patrocinar a campanha política
O art. 7° da Lei n° 9.096, de 1995 repetiu o pará- dos pretensos candidatos.
grafo 2° no que se refere à aquisição da perso- Se a doação de pessoas jurídicas a campanha é
proibida, o STF entendeu que esta vedação não se
nalidade jurídica. No entanto, o parágrafo 1° do
estende as pessoas físicas, desde que identificadas.
artigo 7° foi alterado pela Lei n° 13.107, de 2015, Ressalta-se, todavia, que o Congresso Nacional criou,
de modo a trazer regra de limitações quanto às então, a figura do doador oculto, que, por sua vez,
assinaturas e tempo mínimo para fusão partidá- também foi proibida pelo STF.
ria. Como consequência, foi ajuizada no STF a Importante mencionar, ainda, as regras nos deba-
ADI n° 5311. O STF considerou que a norma era tes eleitorais e a possibilidade de convite por emis-
constitucional e que fortalecia o controle quanti- soras. Antes, prevalecia a regra de que os partidos
tativo e qualitativo dos partidos. Posteriormen- que não possuíam o número mínimo de representan-
te a Lei n° 13.165, de 2015, alterou o parágrafo, tes na Câmara dos Deputados, mas possuíam um can-
de modo a incluir a necessidade para a criação didato forte e que estivesse bem colocado na disputa
de partidos políticos de assinaturas diferentes, eleitoral, este somente poderia participar dos debates
se todos os outros candidatos concordassem. Ocorre,
como mecanismo de evitar que se conseguis-
porém, que o STF relativizou a regra e permitiu que o
se a quantidade necessária para criação de um convite de participação nos debates poderia partir das
partido político e, posteriormente, as mesmas próprias emissoras.
pessoas criassem outros partidos decorrentes No que se refere à representação, o STF entende
deste primeiro. que o tempo a ser considerado é o da representação
do partido na Câmara dos Deputados as vésperas da
eleição e não o resultado da última eleição. Exemplo: o
Art. 17 [...] DEM elegeu muitos deputados federais em 2014, mas
§ 3º Somente terão direito a recursos do fundo muitos deles migraram para o PSD, que não existia
partidário e acesso gratuito ao rádio e à tele- nesta eleição. Assim, se prevalecesse a tese da eleição
visão, na forma da lei, os partidos políticos que anterior, o DEM teria muito tempo de rádio, enquanto
alternativamente: o PSD não teria nenhum.
I - obtiverem, nas eleições para a Câmara dos
É importante lembrar que as sátiras e crônicas
Deputados, no mínimo, 3% (três por cento) dos
envolvendo os políticos, de acordo com o STF, são
votos válidos, distribuídos em pelo menos um
possíveis por decorrerem do direito à liberdade de
terço das unidades da Federação, com um míni-
expressão.
mo de 2% (dois por cento) dos votos válidos em
cada uma delas; ou Art. 17 [...]
II - tiverem elegido pelo menos quinze Deputa- § 4º É vedada a utilização pelos partidos políti-
dos Federais distribuídos em pelo menos um ter- cos de organização paramilitar.
ço das unidades da Federação.
O parágrafo 4°, do art. 17, veda a utilização pelos
O parágrafo 3° do art. 17 disciplina a forma de dis- partidos políticos de organização paramilitar. O
tribuição dos recursos do fundo partidário e direito objetivo do dispositivo é impedir que o poder políti-
de antena. De acordo com o dispositivo, a distribui- co seja adquirido pela força e não pelas ideologias e
ção do dinheiro proveniente do fundo partidário e a posicionamentos, de modo a garantir que as regras
divisão de tempo de rádio e TV leva em consideração democráticas sejam respeitadas.
a representação do partido na Câmara dos Deputados. Complementando este parágrafo, o art. 6° da Lei n°
O Fundo Partidário é um Fundo Especial de Assis- 9.096, de 1995 assim estabelece:
tência Financeira aos Partidos Políticos que tenham
Art. 6º É vedado ao partido político ministrar ins-
seu estatuto registrado no TSE, bem como a prestação
trução militar ou paramilitar, utilizar-se de organi-
de contas regular perante a Justiça Eleitoral. Ele, que é
zação da mesma natureza e adotar uniforme para
a principal fonte de verbas dos partidos, é constituído seus membros.
por dotações orçamentárias da União, multas, penali-
dades, doações e outros recursos financeiros estabele- Portanto, ao regulamentar esse dispositivo consti-
cidos no art. 38 da Lei n° 9.096, de 1995. Estes valores tucional, Lei n° 9.096, de 1995, também proibiu que
são repassados aos partidos políticos por meio do art. partido político ministrasse instrução militar ou para-
41-A da Lei n° 9.096, de 1995, que assim estabelece: militar, bem como utilizasse de organização da mesma
natureza ou adotasse uniforme para seus membros.
Lei nº 9.096, de 1995
Art. 41-A Do total do Fundo Partidário: Art. 17 [...]
I - 5% (cinco por cento) serão destacados para § 5º Ao eleito por partido que não preencher
entrega, em partes iguais, a todos os partidos que os requisitos previstos no § 3º deste artigo é asse-
atendam aos requisitos constitucionais de acesso gurado o mandato e facultada a filiação, sem
190 aos recursos do Fundo Partidário; e perda do mandato, a outro partido que os
tenha atingido, não sendo essa filiação considera- entendeu que, quando Clodovil trocou de partido, ele
da para fins de distribuição dos recursos do fundo não perdeu o mandato, uma vez que foi reconhecida a
partidário e de acesso gratuito ao tempo de rádio e grave perseguição. No entanto, após o seu falecimen-
de televisão. to, o STF fixou o posicionamento de que a vaga não
seria do partido que o recebeu, mas sim, do partido
Neste ponto, importante tratar da fidelidade par- que o elegeu. Já o deputado Alexandre Frota foi expul-
tidária. A parte final do § 1°, art. 17, da CF, de 1988 dá so do partido pelo qual foi eleito, porém a expulsão
autonomia aos partidos políticos para estabelecerem não acarretou a perda do mandato e o deputado man-
normas a respeito da fidelidade e disciplina partidá- teve-se no cargo em outro partido.
rias. Em síntese, considera-se infidelidade partidária
quando alguém muda de partido sem motivo justifica-
do. Tal transferência de legenda pode ou não ensejar
na perda o cargo eletivo.
ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-
Dica ADMINISTRATIVA DO ESTADO
Puxados de votos ESTADO FEDERAL BRASILEIRO, UNIÃO, ESTADOS,
O STF posiciona-se no sentido de que é possí- DISTRITO FEDERAL, MUNICÍPIOS E TERRITÓRIOS
vel existir o fenômeno dos “puxadores de votos”
(candidato que, em razão do quociente eleitoral Federação
para as eleições proporcionais, recebe número
de votos suficiente para eleger outros candida- Federação é a organização política, administrativa
tos), porém os candidatos a serem “puxados” e jurídica formada por uma população em um territó-
devem demonstrar um mínimo de desempenho, rio determinado. O Estado federado é constituído por
ou seja, devem demonstrar o mínimo de 1/10 do um conjunto de Estados membros autônomos unidos
quociente eleitoral. por uma Constituição, mas somente a Federação como
um todo é considerada soberana, bem como, cada
Art. 17 [...] Estado membro é considerado uma unidade federati-
§ 6º Os Deputados Federais, os Deputados va que possui poder político descentralizado.
Estaduais, os Deputados Distritais e os Verea- Sendo assim, são componentes da República Federati-
dores que se desligarem do partido pelo qual va: a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios.
tenham sido eleitos perderão o mandato, salvo A descentralização é basicamente quando as fun-
nos casos de anuência do partido ou de outras ções atribuídas a um só poder passam a ser reparti-
hipóteses de justa causa estabelecidas em lei, das, por exemplo, com a delegação das competências.
não computada, em qualquer caso, a migração de Conforme § 1°, art. 18 da CF, atualmente Brasília é
partido para fins de distribuição de recursos do
a Capital Federal, trata-se de uma inovação do legis-
fundo partidário ou de outros fundos públicos e de
lador constituinte de 1988. Conforme preleciona José
acesso gratuito ao rádio e à televisão.
Afonso da Silva (2017) Brasília tem uma posição jurí-
dica específica no conceito de cidade até porque não
Por fim, o parágrafo 6° trata das hipóteses de perda
se enquadra no conceito geral de cidade pelo fato de
de mandato. A princípio, o STF adotava o posiciona-
não ser sede de um Município12.
mento de que o mandato pertencia ao partido políti-
co, ou seja, se o político saísse do partido pelo qual foi
eleito, o seu mandato seria perdido. Posteriormente, o União
STF mudou de entendimento no que se refere às elei-
ções majoritárias (presidente, governador, prefeito e A União é a entidade federativa autônoma e exer-
senador), uma vez que os eleitores votam no político ce as atribuições de soberania do Estado brasileiro.
e não no partido. Como consequência, a fidelidade Conforme preleciona Pedro Lenza (2020) a União
partidária passou a ser aplicada somente nas eleições possui “dupla personalidade” assumindo um papel
proporcionais (deputados federais, estaduais, distri- internamente como pessoa de direito público interno,
tais e vereadores). componente da Federação e detentor de autonomia
Complementando o dispositivo, o art. 26 da Lei n° financeira, administrativa e política e um papel inter-
9.096, de 1995 estabelece: nacionalmente sendo que representa a República
Federativa do Brasil13.
DIREITO CONSTITUCIONAL

Art. 26 Perde automaticamente a função ou car- A União representa o Estado brasileiro nas rela-
go que exerça, na respectiva Casa Legislativa, em ções internacionais, perante os Estados estrangeiros
virtude da proporção partidária, o parlamentar a ela rege-se pelo princípio da independência nacio-
que deixar o partido sob cuja legenda tenha nal, prevalência dos direitos humanos, autodetermi-
sido eleito. nação dos povos, não-intervenção, igualdade entre os
Estados, defesa da paz, solução pacífica dos conflitos,
Importante é trazer alguns exemplos de exceções repúdio ao terrorismo e ao racismo, cooperação entre
à perda do mandato. O ex-Deputado Clodovil Her- os povos para o progresso da humanidade e concessão
nandes foi eleito por um partido. No entanto, durante de asilo político (art. 4º, CF, de 1988).
seu mandato, sofreu situação de grave perseguição As competências da União estão elencadas no texto
pessoal devido à sua orientação sexual. Por esta razão, constitucional, organizadas pelo legislador originário
Clodovil migrou de partido. Analisando o caso, o STF com base no chamado princípio da predominância
12 SILVA, op. cit, p. 476.
13 LENZA, Pedro; Direito Constitucional Esquematizado. 24ª ed. São Paulo, 2020, p. 497. 191
do interesse público pelo particular. Neste sentido, as compreende o leito e o subsolo das áreas submari-
atribuições de interesse nacional são de competência nas que se estendem além do seu mar territorial, é
da União, por exemplo: declarar guerra e celebrar paz. uma importante área de exploração e pesquisa de
As competências da União são classificadas como petróleo (art. 11 da Lei nº 8617, de 1993).
competência administrativa e legislativa, a primei-
ra que se relaciona com as funções de organização do Entenda melhor na ilustração a seguir:
Estado e a segunda que é a competência de legislar.
Vejamos os exemplos:

z Competência administrativa: é competência de


a União elaborar e executar planos nacionais e
regionais de ordenação do território e de desen-
volvimento econômico e social;
z Competência legislativa: é competência de a
União legislar sobre nacionalidade, cidadania e
naturalização.

O estudo das competências será abordado de for-


ma mais aprofundada em tópico específico na sequên-
cia deste material.
Cuidado para não confundir União com República
Federativa do Brasil:

z A República Federativa do Brasil é um Estado


Federado, ou seja, é constituído por um conjunto
de Estados-Membros. Vale ressaltar que os Esta-
dos-Membros são autônomos, pois são dotados de
autonomia e autogoverno, por outro lado, não são
soberanos, uma vez que a soberana é somente a
Federação como um todo. No nosso pacto federativo,
o poder é descentralizado, pois a Constituição prevê Vejamos o art. 20 do texto constitucional que enu-
núcleos de poder e concede autonomia para os seus mera os bens da União:
entes (União, Estados, Municípios e Distrito Federal);
z A União é uma entidade federativa, pessoa jurídica Art. 20 [...]
de direito público interno que integra a República I - os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vie-
Federativa do Brasil, é através da União que o país rem a ser atribuídos;
é representado nas relações internacionais.
Exemplo: as ilhas, rios, mar territorial, entre
Os bens da União estão enumerados no art. 20 da
outros, com exceção das terras de aldeamentos extin-
Constituição Federal, que compreende:
tos, ainda que ocupadas por indígenas em passado
remoto, conforme dispõe a Súmula nº 650 do STF.
z Terrenos de marinha: são os terrenos situa-
dos nas margens dos rios e lagoas, até onde haja
Art. 20 [...]
influência das marés (vão de 1831 até 33 metros
II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das
para a parte da terra), além destes são também os
fronteiras, das fortificações e construções milita-
que contornam as ilhas situadas em zona onde se
res, das vias federais de comunicação e à preserva-
faça sentir a influência das marés;
ção ambiental, definidas em lei;
z Terreno acrescido de marinha: são terrenos acres-
cidos de marinha os que se tiverem formado, natu-
ral ou artificialmente, para o lado do mar ou dos As terras devolutas são terras que não tem destina-
rios e lagoas, em seguimento nos terrenos de mari- ção pública e também não integram o patrimônio de
nha (art. 2 da Lei nº 3.438, de 1941); um particular. Exemplo: as terras devolutas situadas
z Mar territorial: é a faixa de doze milhas náuticas na Amazônia.
de largura, medidas a partir da linha de baixa-mar
do litoral continental e insular, no Brasil a costa é Art. 20 [...]
banhada pelo oceano Atlântico; III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em
z Zona contígua: é a faixa do mar que se estende terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de
das doze às vinte e quatro milhas marítimas, con- um Estado, sirvam de limites com outros países, ou
tadas a partir das linhas de base que servem para se estendam a território estrangeiro ou dele prove-
medir a largura do mar territorial; nham, bem como os terrenos marginais e as praias
z Zona econômica exclusiva: compreende uma faixa fluviais;
que se estende das doze às duzentas milhas marítimas,
contadas a partir das linhas de base que servem para Exemplo: o Rio Uruguai, que banha o estado de
medir a largura do mar territorial, é a faixa territorial Santa Catarina e o estado do Rio Grande do Sul.
do Atlântico. O Brasil tem soberania para fins de explo-
ração e aproveitamento, conservação e gestão dos Art. 20 [...]
recursos naturais, vivos ou não vivos, das águas sobre- IV - as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limí-
jacentes ao leito do mar, do leito do mar e seu subsolo; trofes com outros países; as praias marítimas; as
z Plataforma continental: é a faixa de terra do fundo ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas,
192 do mar, que vai até 200m de profundidade, ou seja, as que contenham a sede de Municípios, exceto
aquelas áreas afetadas ao serviço público e a uni- determina que a sua ocupação e utilização devem ser
dade ambiental federal, e as referidas no art. 26, II; reguladas em lei. (§ 2°, art. 20).

Exemplo: a ilha do Bananal, situada no estado de Estados


Tocantins, considerada a maior ilha fluvial do Brasil,
com 25.000 km². Os estados possuem autonomia para se organiza-
rem (auto-organização) caracterizado por um auto-
Art. 20 [...] governo, autoadministração e autolegislação, onde o
V - os recursos naturais da plataforma continental povo que escolhe diretamente os seus representantes
e da zona econômica exclusiva; no poder legislativo e executivo local, sem que haja
subordinação por parte da União (arts. 27, 28 e 125
Exemplo: recursos minerais, como petróleo, extraí- da CF).
do da plataforma continental.
z Autogoverno: autonomia política para eleger seus
Art. 20 [...] representantes, por exemplo, eleição de Governa-
VI - o mar territorial; dor (art.27 e 28 da CF, de 1988);
z Autoadministração: decorre das competências
Exemplo: os navios estrangeiros no mar territorial administrativas conferidas aos Estados, por exem-
brasileiro estão sujeitos aos regulamentos estabeleci- plo, os estados poderão, mediante lei complementar,
dos pelo Brasil. instituir regiões metropolitanas, aglomerações urba-
nas e microrregiões, constituídas por agrupamentos
Art. 20 [...] de municípios limítrofes, para integrar a organiza-
VII - os terrenos de marinha e seus acrescidos; ção, o planejamento e a execução de funções públi-
cas de interesse comum (§ 3°, art. 25 da CF);
Exemplo: os imóveis situados à beira-mar (até 33 z Autolegislação: tem competência de elaborar
metros para a parte da terra). sua própria Constituição, ou seja, cada estado tem
autonomia de criar a sua própria constituição esta-
Art. 20 [...] dual, entretanto esta deve sempre obedecer à lei
VIII - os potenciais de energia hidráulica; maior (CF, de 1988).

Para efeito de exploração, os potencias hidráuli- Os estados organizam-se e regem-se pelas Consti-
cos dos rios pertencem à União, por exemplo a Usina tuições e leis que adotarem. O art. 25 da CF consagra
Hidrelétrica de Santo Antônio, localizada na cidade de aos Estados federados autonomia política e adminis-
Porto Velho, estado de Rondônia. trativa, com capacidade de elaborar suas próprias
Constituições estaduais, obedecendo às diretrizes da
Art. 20 [...] Constituição Federal 1988.
IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo;

Exemplo: ferro, ouro, cobre etc. AUTOGOVERNO

Art. 20 [...]
X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios
arqueológicos e pré-históricos;

Exemplo: Sítio Arqueológico, Parque Nacional do


Catimbau, localizado no estado de Pernambuco. LEGISLATIVO EXECUTIVO JUDICIÁRIO
Assembleia Legislativa Governador do Estado Tribunais e Juízes
Art. 20 [...]
XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos
índios. Formação de Novos Estados

Exemplo: a terra tradicionalmente ocupada pelos Na forma prevista do art. 18 e inciso VI do art. 48
indígenas no oeste de Santa Catarina, localizado entre da CF, de 1988 a estrutura territorial do Brasil pode-
os rios Chapecó e Chapecósinho, a 70 km de Chapecó, rá ser modificada por meio de alteração dos limites
DIREITO CONSTITUCIONAL

denominada como terra indígena Xapecó. territoriais dos diferentes entes federados existentes.
Ainda, a redação do § 1º do mencionado dispositi- Por exemplo, em 1988 o norte do estado de Goiás foi
vo foi modificada pela Emenda Constitucional nº 102, desmembrado, formando o estado de Tocantins.
de 2019, conforme a atual redação a Constituição pre-
Art. 18 A organização político-administrativa
vê possibilidade da participação da União, dos Esta-
da República Federativa do Brasil compreende a
dos, do Distrito Federal e dos Municípios no resultado
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municí-
da exploração de petróleo ou gás natural, de recursos pios, todos autônomos, nos termos desta Constitui-
hídricos para fins de geração de energia elétrica e de ção. [...]
outros recursos minerais. § 3º Os Estados podem incorporar-se entre si, sub-
Por conseguinte, a Constituição consagra a terra dividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a
designada como faixa de fronteira, sendo esta a fai- outros, ou formarem novos Estados ou Territórios
xa de até cento e cinquenta quilômetros de largura, Federais, mediante aprovação da população direta-
ao longo das fronteiras terrestres, considerada fun- mente interessada, através de plebiscito, e do Con-
damental para defesa do território nacional, ainda gresso Nacional, por lei complementar. 193
INCORPORAÇÃO SUBDIVISÃO DESMEMBRAMENTO FAVORÁVEL
Separar uma ou mais
Fusão Cisão
partes de um estado 1º 2º

Art. 48 Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção Plebiscito Propositura de projeto de lei
do Presidente da República, não exigida esta para complementar
o especificado nos arts. 49, 51 e 52, dispor sobre Consulta prévias às popula-
ções diretamente interessadas. Caso a população seja favorável
todas as matérias de competência da União, espe-
(Expressão da vontade e da no plebiscito, será proposto pro-
cialmente sobre: [...] opinião do povo, demonstrada jeto de lei complementar perante
VI - Incorporação, subdivisão ou desmembramento através de votação) qualquer uma das casas do Con-
de áreas de Territórios ou Estados, ouvidas as res- Atenção! O plebiscito é condição gresso Nacional
prévia, caso não houver aprova-
pectivas Assembleias Legislativas; ção, não passará para a próxima
fase
Ainda, conforme o art. 235 da Constituição, nos dez
primeiros anos de sua criação a Assembleia Legislati-
va será composta de dezessete Deputados se a popula- 3º 4º
ção do Estado for inferior a seiscentos mil habitantes,
e de vinte e quatro, se igual ou superior a esse núme- Oitiva da assembleia Lei complementar
ro, até um milhão e quinhentos mil, o Governo terá no Oitiva das assembleias legislati- Aprovação de lei complementar
máximo dez Secretarias, o Tribunal de Contas terá três vas dos estados interessados pelo Congresso Nacional
membros, nomeados, pelo Governador eleito, den- Atenção! Mesmo que a assem- Congresso Nacional não é obri-
bleia seja desfavorável, pode gado a aprovar, mas caso assim
tre brasileiros de comprovada idoneidade e notório
continuar o processo de for- decida deverá ser conforme
saber, o Tribunal de Justiça terá sete Desembargado- mação do novo estado, não é determina art. 69 da CF, de 1988,
res, os primeiros Desembargadores serão nomeados vinculativo pelo quórum de absoluta
pelo Governador eleito, escolhidos conforme dispõe o
inciso V do mencionado dispositivo: Obs.: Abordamos o tema sanção e veto presiden-
cial em título específico no tópico que estudamos o
Art. 235 [...] processo legislativo mais adiante neste material.
a) cinco dentre os magistrados com mais de trinta
e cinco anos de idade, em exercício na área do novo MUNICÍPIOS
Estado ou do Estado originário;
b) dois dentre promotores, nas mesmas condições, No Brasil, não só os Estados membros, mas tam-
e advogados de comprovada idoneidade e saber bém os Municípios têm autonomia política, ou seja, o
jurídico, com dez anos, no mínimo, de exercício nosso pacto federativo é formado pela União, Estados,
profissional, obedecido o procedimento fixado na Distrito Federal e Municípios. Tal autonomia está pre-
Constituição; vista no caput do art. 18 da CF, de 1988, vejamos.

Caso o novo estado seja proveniente de Território Art. 18 A organização político-administrativa da


Federal, os cinco primeiros Desembargadores pode- República Federativa do Brasil compreende a União,
rão ser escolhidos dentre juízes de direito de qualquer os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos
parte do País e em cada Comarca, o primeiro Juiz de autônomos, nos termos desta Constituição.
Direito, Promotor de Justiça e Defensor Público serão
nomeados pelo Governador eleito após concurso Como exemplo da autonomia municipal, podemos
público de provas e títulos. citar a capacidade de normatização, que consiste na
É possível a incorporação, subdivisão e o desmem- capacidade do município de elaborar a sua própria lei
bramento de estado, vejamos: orgânica e demais legislações municipais.
Conforme art. 30 do texto constitucional, os muni-
z Incorporação: quando dois ou mais estados se cípios tem competência legislativa local, ou seja,
unem com outro nome, perdendo sua personali- podem legislar sobre assuntos de interesse local e
dade por integrarem um novo estado. Por exem- suplementando a legislação federal e estadual no que
couber, por exemplo, é de competência do município
plo, como se houvesse a incorporação do estado de
a fixação do horário de funcionamento do comércio
Santa Catarina e Rio Grande do sul, passando a ser
local (Súmula 645 do STF).
um só estado;
Ainda, os Municípios também tem autonomia polí-
z Subdivisão: quando um estado se divide em novos
tica, por exemplo, têm a capacidade de eleger Prefeito,
vários estados, todos estes com personalidades Vice-Prefeito e vereadores sem a intervenção do esta-
diferentes. Por exemplo, o estado do Rio Grande do do ou da União. Além de autonomia administrativa, ou
Sul deixa de existir, ou seja, o estado foi dividido seja, tem capacidade de atuar sobre assuntos de inte-
em dois ou mais estados, cada um com personali- resse local, por exemplo, cabe ao município promover
dades distintas; a proteção do patrimônio histórico cultural local.
z Desmembramento: já na hipótese de separar uma
ou mais partes de um estado sem que este perca Formação de Novos Municípios
sua identidade. Por exemplo, como ocorreu com o
estado de Goiás, formando o estado de Tocantins. Os municípios também tem autorização constitu-
cional para criação, incorporação, fusão e desmem-
Vejamos os requisitos e procedimento para a incor- bramento de municípios. Vejamos os requisitos e
poração, a subdivisão e o desmembramento do estado procedimento para a incorporação, a subdivisão e o
194 (§ 3°, art. 18 da CF): desmembramento de município (§ 4°, art. 18 da CF):
art. 18 da CF há uma autorização constitucional para
1º 2º sua criação, a qual deve ser regulada em lei comple-
mentar, vejamos.
Lei Complementar Plebiscito + Estudo de
viabilidade Art. 18 A organização político-administrativa da
Aprovação de lei complemen- República Federativa do Brasil compreende a União,
tar, fixando o período dentro Consulta prévia, mediante plebis- os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos
do qual poderá ocorrer a cria- cito às populações dos municí- autônomos, nos termos desta Constituição.
ção, incorporação, fusão e o pios envolvidos, após divulgação
desmembramento dos estudos de viabilidade muni-
§ 1º Brasília é a Capital Federal.
cipal, apresentados e publicados § 2º Os Territórios Federais integram a União, e sua
na forma da lei criação, transformação em Estado ou reintegração
ao Estado de origem serão reguladas em lei comple-
mentar. (grifo nosso)

Lei Estadual REPARTIÇÃO DAS COMPETÊNCIAS

Aprovação de lei ordinária estadual formalizando a criação, incorpora- A repartição das competências são atribuições que
ção, fusão, ou desmembramento do município
a Constituição dá aos Entes federados, de natureza
administrativa e legislativa. O legislador se preocupou
DISTRITO FEDERAL em dividir essas atribuições (competências) com base
no chamado princípio da predominância do interes-
A Constituição Federal 1988 conferiu ao Distrito se, ou seja, as atribuições de interesse nacional são
Federal natureza de ente federativo autônomo, com de competência da União (exemplo: declarar guerra
capacidade de auto-organização, autogoverno e autoad- e celebrar paz), já as atribuições de interesse Estadual
ministração, sendo proibida a possibilidade de subdi- são de competência dos estados (exemplo: exploração
visão em Municípios (caput, art. 32), como exemplo de de serviço de transporte de passageiros intermunici-
autonomia do Distrito Federal podemos citar a capacida- pal) e atribuições de interesse local de competência
de do Distrito Federal para criar a sua lei orgânica, bem dos municípios (exemplo: expedição de alvará de esta-
como na capacidade de eleger seu Governador e Vice- belecimento comercial).
-Governador, sem interferência da União nas eleições. Não existe hierarquia entre os Entes da Federação.
A sede do governo do Distrito Federal é Brasília, A divisão de competências é basicamente por dois
conforme consagra a Lei Orgânica do DF, art. 6º. modelos, modelo horizontal, quando a Constituição
Conforme § 1°, art. 32 da CF, ao Distrito Federal são dá atribuição a um único ente (exclusiva e privativa),
atribuídas as competências legislativas reservadas por exemplo, art. 21 da CF que consagra a competên-
aos Estados e Municípios, cumulativamente. Entre- cia exclusiva da União. Bem como, pelo modelo verti-
tanto, conforme o § 4º do dispositivo em comento a cal, que atribui a mais de um ente a competência, por
lei federal disporá sobre a utilização pelo Governo do exemplo, é o caso da competência legislativa concor-
DF, da polícia civil, da polícia penal, da polícia mili- rente da União, do Estado e do Distrito Federal previs-
tar e do corpo de bombeiros militar, ou seja, estes são ta no art. 24 da CF.
mantidos diretamente pela União.
z Espécies de competências
TERRITÓRIOS FEDERAIS
Na nossa Carta Magna a repartição das compe-
Os Territórios Federais são divisões administra- tências tem previsão nos arts. 21, 22, 23 e 24 e tem o
tivas da União, sem pertencer a qualquer Estado; objetivo de partilhar entre os entes federados as ati-
podem surgir da divisão de um Estado membro ou vidades do Estado, classificada como competência
desmembramento, existindo autonomia administrati- administrativa e competência legislativa.
va, mas não política, ou seja, os Estados podem subdi-
vidir-se ou desmembrar-se para formarem Territórios „ Competência administrativa
Federais, mediante aprovação da população direta-
mente interessada, por meio de plebiscito e do Con- A competência administrativa também pode ser
gresso Nacional, por intermédio de lei complementar. chamada de competência material, pois trata-se da
Entretanto, no caso de criação de um Território o organização do Estado para efetuar tarefas e realização
texto constitucional não exige a realização de plebisci- de atividades referente às matérias nela relacionadas,
DIREITO CONSTITUCIONAL

to, porém nada impede que possa ocorrer. podem ser classificadas como competência exclusiva da
Sendo que os Territórios a partir da CF, de 1988 União e competência comum entre os Entes Federados.
não são considerados entes federativos, servem para
que a União administre áreas que não possuem um COMPETÊNCIA ADMINISTRATIVA
governo estadual, ou seja, trata-se apenas de uma GERENCIAL OU MATERIAL
mera autarquia em regime especial que é designada
para administrar parcela de território do país. Art. 21 da CF Art. 23 da CF
Atualmente não existem mais Territórios Federais
no Brasil, inclusive a própria Constituição Federal EXCLUSIVA DA UNIÃO COMUM
1988 no Ato das Disposições Gerais Transitórias art. INDELEGÁVEL
14 transformou os Territórios Federais de Roraima e Entes federados.União, Es-
do Amapá em Estados Federados. Como memorizar? tados, DF e Municípios
Como vimos, atualmente no Brasil não existem Os incisos fazem menção
mais Territórios Federais, entretanto conforme § 2°, à atuação e ação 195
Competência exclusiva da União é indelegável, ou seja, XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia
não pode ser delegada a outro ente federativo, prevista penal, a polícia militar e o corpo de bombeiros mili-
no art. 21 da CF. Perceba que os incisos fazem menção a tar do Distrito Federal, bem como prestar assistên-
atuação e ação, vejamos: cia financeira ao Distrito Federal para a execução
de serviços públicos, por meio de fundo próprio;
XV - organizar e manter os serviços oficiais de estatísti-
Atenção! Colocamos o art. 21 da CF na íntegra,
ca, geografia, geologia e cartografia de âmbito nacional;
pois é muito cobrado em provas, recomenda-se a XVI - exercer a classificação, para efeito indicativo,
leitura do dispositivo reiteradas vezes! de diversões públicas e de programas de rádio e
televisão;
Art. 21 Compete à União: XVII - conceder anistia;
I - manter relações com Estados estrangeiros e par- XVIII - planejar e promover a defesa permanente
ticipar de organizações internacionais; contra as calamidades públicas, especialmente as
II - declarar a guerra e celebrar a paz; secas e as inundações;
III - assegurar a defesa nacional; XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento
IV - permitir, nos casos previstos em lei complemen- de recursos hídricos e definir critérios de outorga
tar, que forças estrangeiras transitem pelo território de direitos de seu uso
nacional ou nele permaneçam temporariamente; XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento
V - decretar o estado de sítio, o estado de defesa e a urbano, inclusive habitação, saneamento básico e
intervenção federal; transportes urbanos;
XXI - estabelecer princípios e diretrizes para o siste-
Exemplo: Em 2018 foi decretada a intervenção ma nacional de viação;
federal no estado do Rio de Janeiro (Decreto nº 9.288 XXII - executar os serviços de polícia marítima,
de 2018), uma medida excepcional de natureza mili- aeroportuária e de fronteiras;
tar com o objetivo de restabelecer a ordem pública e XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares
resolver algumas questões de segurança pública prin- de qualquer natureza e exercer monopólio estatal
cipalmente nas comunidades. sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e repro-
cessamento, a industrialização e o comércio de
minérios nucleares e seus derivados, atendidos os
Art. 21 [...]
seguintes princípios e condições:
VI - autorizar e fiscalizar a produção e o comércio
a) toda atividade nuclear em território nacional
de material bélico;
somente será admitida para fins pacíficos e median-
VII - emitir moeda;
te aprovação do Congresso Nacional;
VIII - administrar as reservas cambiais do País e fis-
b) sob regime de permissão, são autorizadas a
calizar as operações de natureza financeira, espe-
comercialização e a utilização de radioisótopos para
cialmente as de crédito, câmbio e capitalização,
a pesquisa e usos médicos, agrícolas e industriais;
bem como as de seguros e de previdência privada;
c) sob regime de permissão, são autorizadas a pro-
dução, comercialização e utilização de radioisóto-
Exemplo: Compete a União administrar os ativos pos de meia-vida igual ou inferior a duas horas;
financeiros em moeda estrangeira, ou seja, são as reser- d) a responsabilidade civil por danos nucleares
vas internacionais, denominadas como reservas cam- independe da existência de culpa;
biais, é como um ativo do Banco Central do Brasil, assim XXIV - organizar, manter e executar a inspeção do
cabe à União optar por vender esses ativos ou não. trabalho;
XXV - estabelecer as áreas e as condições para o
Art. 21 [...] exercício da atividade de garimpagem, em forma
IX - elaborar e executar planos nacionais e regio- associativa.
nais de ordenação do território e de desenvolvimen-
to econômico e social; No que tange à competência comum, que também
X - manter o serviço postal e o correio aéreo nacional; pode ser chamada de competência paralela, concor-
XI - explorar, diretamente ou mediante autoriza- rente ou cumulativa, todos os Entes podem agir de for-
ção, concessão ou permissão, os serviços de teleco-
ma independente, é a competência comum da União,
municações, nos termos da lei, que disporá sobre a
Estados, Distrito Federal e Municípios, consagrada no
organização dos serviços, a criação de um órgão
regulador e outros aspectos institucionais; art. 23 da CF, vejamos:
XII - explorar, diretamente ou mediante autoriza-
ção, concessão ou permissão: Art. 23 É competência comum da União, dos Esta-
a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e dos, do Distrito Federal e dos Municípios:
imagens; I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das
b) os serviços e instalações de energia elétrica e instituições democráticas e conservar o patrimônio
o aproveitamento energético dos cursos de água, público;
em articulação com os Estados onde se situam os II - cuidar da saúde e assistência pública, da
potenciais hidroenergéticos; proteção e garantia das pessoas portadoras de
c) a navegação aérea, aeroespacial e a infra-estru- deficiência;
tura aeroportuária; III - proteger os documentos, as obras e outros bens
d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário de valor histórico, artístico e cultural, os monu-
entre portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou mentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios
que transponham os limites de Estado ou Território; arqueológicos;
e) os serviços de transporte rodoviário interesta- IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracte-
dual e internacional de passageiros; rização de obras de arte e de outros bens de valor
f) os portos marítimos, fluviais e lacustres; histórico, artístico ou cultural;
XIII - organizar e manter o Poder Judiciário, o V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à
Ministério Público do Distrito Federal e dos Territó- educação, à ciência, à tecnologia, à pesquisa e à
196 rios e a Defensoria Pública dos Territórios; inovação;
VI - proteger o meio ambiente e combater a polui- VIII - comércio exterior e interestadual;
ção em qualquer de suas formas; IX - diretrizes da política nacional de transportes;
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora; X - regime dos portos, navegação lacustre, fluvial,
VIII - fomentar a produção agropecuária e organi- marítima, aérea e aeroespacial;
zar o abastecimento alimentar; XI - trânsito e transporte;
IX - promover programas de construção de mora- XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e
dias e a melhoria das condições habitacionais e de metalurgia;
saneamento básico; XIII - nacionalidade, cidadania e naturalização;
X - combater as causas da pobreza e os fatores de XIV - populações indígenas;
marginalização, promovendo a integração social XV - emigração e imigração, entrada, extradição e
dos setores desfavorecidos; expulsão de estrangeiros;
XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as conces- XVI - organização do sistema nacional de emprego
sões de direitos de pesquisa e exploração de recur- e condições para o exercício de profissões;
sos hídricos e minerais em seus territórios;
XVII - organização judiciária, do Ministério Público
XII - estabelecer e implantar política de educação
do Distrito Federal e dos Territórios e da Defenso-
para a segurança do trânsito.
ria Pública dos Territórios, bem como organização
administrativa destes;
Ainda, o parágrafo único do mencionado dispositivo XVIII - sistema estatístico, sistema cartográfico e de
estabelece que tendo em vista o equilíbrio do desenvol- geologia nacionais;
vimento e do bem-estar em âmbito nacional as leis com- XIX - sistemas de poupança, captação e garantia da
plementares fixarão normas para a cooperação entre a poupança popular;
União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. XX - sistemas de consórcios e sorteios; (grifo
nosso)
„ Competência legislativa: A competência legis-
lativa como o próprio nome já nos remete é a Veja Súmula Vinculante nº 2:
competência para elaborar leis, classificada em
É inconstitucional a lei ou ato normativo Estadual
competência privativa, concorrente, residual e
ou Distrital que disponha sobre sistemas de consór-
local, são atribuições que tratam da edição de
normas gerais e abstratas; cios e sorteios, inclusive bingos e loterias.
„ Competência privativa: é a competência da
União para legislar sobre determinados assun- Art. 22 [...]
tos de interesse nacional, com a edição de nor- XXI - normas gerais de organização, efetivos, mate-
mas de interesse processual, normas de direito rial bélico, garantias, convocação, mobilização,
material e administrativo. inatividades e pensões das polícias militares e dos
corpos de bombeiros militares;
XXII - competência da polícia federal e das polícias
PROCESSUAL rodoviária e ferroviária federais;
XXIII - seguridade social;
Normas de processo civil, processo penal e processo XXIV - diretrizes e bases da educação nacional;
do trabalho XXV - registros públicos;
XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza;
MATERIAL XXVII - normas gerais de licitação e contratação,
em todas as modalidades, para as administrações
Normas de direito civil, comercial, penal, político-elei-
públicas diretas, autárquicas e fundacionais da
toral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do
União, Estados, Distrito Federal e Municípios, obe-
trabalho
decido o disposto no art. 37, XXI, e para as empre-
ADMINISTRATIVO sas públicas e sociedades de economia mista, nos
termos do art. 173, § 1°, III;
Demais matérias, como requisições civis e militares, XXVIII - defesa territorial, defesa aeroespacial, defe-
tempo de guerra, trânsito, transporte etc. sa marítima, defesa civil e mobilização nacional;
XXIX - propaganda comercial.
Parágrafo único. Lei complementar poderá
Privativa da União: Como memorizar?
autorizar os Estados a legislar sobre questões
Os incisos do art. 22 da CF fazem menção a legislar,
específicas das matérias relacionadas neste arti-
privativa e delegável.
go. (grifo nosso)
Fique atento! Cabe delegação aos Estados e DF, me-
diante lei complementar sobre questões específicas.
Delegável: Deve ocorrer por lei complementar
DIREITO CONSTITUCIONAL

federal, editada pelo Congresso Nacional. Obs.: Tam-


Art. 22 Compete privativamente à União legislar
sobre: bém contempla o Distrito Federal. (§ 1°, art. 32 da CF.)
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleito- Não confunda a competência exclusiva da União
ral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do com a competência privativa da União:
trabalho;
II - desapropriação;
EXCLUSIVA ART. 21 PRIVATIVA ART. 22
III - requisições civis e militares, em caso de iminen-
te perigo e em tempo de guerra; DA CF DA CF
IV - águas, energia, informática, telecomunicações Administrativa Legislativa
e radiodifusão;
Indelegável Delegável
V - serviço postal;
VI - sistema monetário e de medidas, títulos e
garantias dos metais; „ Competência concorrente: tem fundamen-
VII - política de crédito, câmbio, seguros e transfe- to no art. 24 da CF, dispõe que a União (que se
rência de valores; limita a estabelecer normas gerais), os Estados 197
e o Distrito Federal (normas suplementares) de 2020 – autoria do Governo Federal, que dispõe
podem legislar concorrentemente. sobre medidas para o enfrentamento da emergência
de saúde pública decorrente do coronavírus 2020.
Atente-se: Os legitimados da ADI sustentaram que a redis-
Os Municípios não foram contemplados com essa tribuição de poderes de polícia sanitária introduzida
possibilidade. pela MP na Lei Federal 13.979, de 2020 interferiu no
Em relação ao art. 24, da CF, considere, concorren- regime de cooperação entre os entes federativos. Ain-
te entre: da, alegaram que essa centralização de competên-
cia esvazia a responsabilidade constitucional de
estados e municípios para cuidar da saúde, dirigir
z União: normas gerais;
o Sistema Único de Saúde e executar ações de vigi-
z Estados/DF: normas suplementares.
lância sanitária e epidemiológica.
Assim, ao apreciar o caso em tela, o Ministro Mar-
Art. 24 Compete à União, aos Estados e ao Distrito co Aurélio, em decisão monocrática, considerou que
Federal legislar concorrentemente sobre:
a redistribuição de atribuições pela MP 926, de 2020
I - direito tributário, financeiro, penitenciário, eco-
não afasta a competência concorrente dos entes
nômico e urbanístico;
federativos, ou seja, entendeu que a distribuição de
II - orçamento;
atribuições prevista na Medida Provisória não contra-
III - juntas comerciais;
ria a Constituição Federal, pois as providências não
IV - custas dos serviços forenses;
afastaram atos a serem praticados pelos demais entes
V - produção e consumo;
federativos no âmbito da competência comum para
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da
legislar sobre saúde pública (inciso II, art. 23 da CF).
natureza, defesa do solo e dos recursos naturais,
proteção do meio ambiente e controle da poluição;
VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, SAÚDE – CRISE – CORONAVÍRUS – MEDIDA
artístico, turístico e paisagístico; PROVISÓRIA – PROVIDÊNCIAS – LEGITIMAÇÃO
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, CONCORRENTE
ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico,
estético, histórico, turístico e paisagístico; Surgem atendidos os requisitos de urgência e neces-
IX - educação, cultura, ensino, desporto, ciência, sidade, no que medida provisória dispõe sobre pro-
tecnologia, pesquisa, desenvolvimento e inovação; vidências no campo da saúde pública nacional, sem
X - criação, funcionamento e processo do juizado de prejuízo da legitimação concorrente dos Estados, do Dis-
pequenas causas; trito Federal e dos Municípios. (ADI 6341, rel. Min. Mar-
XI - procedimentos em matéria processual; co Aurélio, decisão em 24.03.2020, DJe em 26.03.2020)
XII - previdência social, proteção e defesa da saúde; Entenda o caso: Considerou o Ministro do STF que
XIII - assistência jurídica e Defensoria pública; com fundamento no inciso II, art. 23 da CF que dispõe da
XIV - proteção e integração social das pessoas por- competência de todos os entes cuidarem da saúde e assis-
tadoras de deficiência;
tência pública. É oportuno mencionar também o inciso
XV - proteção à infância e à juventude;
I, art. 198 da CF. Vejamos os dispositivos mencionados.
XVI - organização, garantias, direitos e deveres das
polícias civis.
§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competên- Art. 23 É competência comum da União, dos
cia da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais. Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
§ 2º A competência da União para legislar sobre [...]
normas gerais não exclui a competência suplemen- II - cuidar da saúde e assistência pública, da
proteção e garantia das pessoas portadoras de
tar dos Estados.
deficiência;
§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os
Art. 198 As ações e serviços públicos de saúde
Estados exercerão a competência legislativa plena,
integram uma rede regionalizada e hierarquizada e
para atender a suas peculiaridades.
constituem um sistema único, organizado de acor-
§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas
do com as seguintes diretrizes:
gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que
I - descentralização, com direção única em cada
lhe for contrário.
esfera de governo;
As regras de aplicação da competência concorrente
estão relacionadas no § 1º ao 4º do mencionado disposi- Por exemplo, em 11 de maio de 2020 o Presidente da
tivo, que determina que a União limitar-se-á a estabele- República definiu como serviço essencial as academias,
cer normas gerais, entretanto não exclui a competência salões de beleza e barbearias. Entretanto, com base no
suplementar dos Estados. Ainda, inexistindo lei federal entendimento do STF e o art. 23 da CF explicado acima,
sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência cada estado poderá optar por receber e implantar as regras
legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. Por contidas no Decreto do Presidente, ou seja, cada Governa-
conseguinte, consagra o texto constitucional que a super- dor poderá entender por não receber este decreto e
veniência de lei federal sobre normas gerais suspende a decidir por não aplicá-lo em seu estado, sempre obser-
eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário. vando o princípio da proporcionalidade e o princípio da
supremacia do interesse público sobre o particular14.
REPARTIÇÃO DAS COMPETÊNCIAS E AS DECISÕES
FRENTE AO CORONAVÍRUS – ADI 926, DE 2020 z Competência residual

Em março de 2020, determinado partido político A competência residual é a competência dos Esta-
ajuizou Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI dos membros para se organizarem, consagrada art. 25
6341) para questionar a Medida Provisória (MP) 926, da CF.
198 14 Decreto Nº 10.344, de 11 de Maio de 2020
Em relação ao art. 25, da CF, considere: § 1º Ao Distrito Federal são atribuídas as com-
petências legislativas reservadas aos Estados e
„ Competência Residual: Estados organizam-se Municípios.
e regem-se, assim fazendo a sua própria consti- § 2º A eleição do Governador e do Vice-Governador,
tuição estadual e leis observando os princípios observadas as regras do art. 77, e dos Deputados Dis-
tritais coincidirá com a dos Governadores e Deputa-
da CF, de 1988.
dos Estaduais, para mandato de igual duração.
§ 3º Aos Deputados Distritais e à Câmara Legislati-
Art. 25 Os Estados organizam-se e regem-se pelas
va aplica-se o disposto no art. 27.
Constituições e leis que adotarem, observados os
§ 4º Lei federal disporá sobre a utilização, pelo
princípios desta Constituição.
Governo do Distrito Federal, da polícia civil, da
[...]
polícia penal, da polícia militar e do corpo de bom-
§ 1º São reservadas aos Estados as competências beiros militar.
que não lhes sejam vedadas por esta Constituição.
§ 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou
z A superveniência de lei federal sobre normas
mediante concessão, os serviços locais de gás cana-
gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que
lizado, na forma da lei, vedada a edição de medida
lhe for contrária;
provisória para a sua regulamentação.
z Regulamento de Uber (exemplo) deve ser fei-
§ 3º Os Estados poderão, mediante lei complemen-
to através de lei federal, mas quem fiscaliza é o
tar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações
município, ora, compete à lei federal regulamentar
urbanas e microrregiões, constituídas por agrupa-
transporte de pessoas que utilizam o aplicativo15;
mentos de municípios limítrofes, para integrar a
z STF considerou que lei estadual não pode isentar
organização, o planejamento e a execução de fun-
cobrança de estacionamento de estabelecimen-
ções públicas de interesse comum.
tos comerciais16. Da mesma forma considerou que
lei estadual não pode alterar data de vencimento
z Competência local das mensalidades escolares17;
z STF também já considerou que compete aos muni-
É a competência atribuída aos Municípios consa- cípios legislar sobre tempo de fila em banco.
grada no art. 30 da CF. Os municípios podem legislar Tema de Repercussão Geral nº 27218.
sobre temas da competência legislativa concorrente,
desde que seja no interesse local e suplementando a Por fim, vejamos algumas Súmulas vinculantes19
legislação federal e estadual no que couber. importantes sobre o tema abordado:
Ex.: O município pode legislar sobre o tema de Pes-
ca se atividade econômica pescaria for predominan- Súmula Vinculante 2: É inconstitucional a lei ou
te no município, conforme os incisos I e II, do art. 30 ato normativo Estadual ou Distrital que disponha
combinado com § 2°, art. 24 da CF. sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive
Em relação ao Art. 30, da CF, considere: bingos e loterias.
Súmula Vinculante 38: É competente o Município
„ Competência Legislativa Local: Temas de para fixar o horário de funcionamento de estabele-
competência legislativa concorrentes desde cimento comercial.
que seja de interesse local. Súmula Vinculante 39: Compete privativamente
à União legislar sobre vencimentos dos membros
das polícias civil e militar e do corpo de bombeiros
Art. 30 Compete aos Municípios:
militar do Distrito Federal.
I - legislar sobre assuntos de interesse local;
Súmula Vinculante 46: A definição dos crimes de
II - suplementar a legislação federal e a estadual no
responsabilidade e o estabelecimento das respecti-
que couber;
vas normas de processo e julgamento são de com-
Art. 24 Compete à União, aos Estados e ao Distrito
petência legislativa privativa da União.
Federal legislar concorrentemente sobre:
[...] § 2º A competência da União para legislar sobre
normas gerais não exclui a competência suplemen-
tar dos Estados.
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
É sempre bom lembrar que no art. 32 da CF, o legis-
lador dispõe sobre o Distrito Federal, o qual o mesmo DISPOSIÇÕES GERAIS
tem competência cumulativa, ou seja, a Lei Distrital
DIREITO CONSTITUCIONAL

pode ter conteúdo estadual e municipal. (§ 1°, art. 32, A Administração Pública tem suas regras discipli-
art. 147 e 155 da CF). nadas nos arts. 37 a 41, da CF, de 1988.

Art. 32 O Distrito Federal, vedada sua divisão em Art. 37 A administração pública direta e indi-
Municípios, reger-se-á por lei orgânica, votada em reta de qualquer dos Poderes da União, dos Esta-
dois turnos com interstício mínimo de dez dias, e dos, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá
aprovada por dois terços da Câmara Legislativa, aos princípios de legalidade, impessoalidade,
que a promulgará, atendidos os princípios estabe- moralidade, publicidade e eficiência e, também,
lecidos nesta Constituição. ao seguinte:

15 Lei 13.640 de 26 de março de 2018.


16 ADI 4862/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18.08.2016, DOU 07.02.2017.
17 ADI 1007/PE, Rel. Min. Eros Grau, julgado em 31.08.2005, DOU 16.03.2016.
18 RE 610221RG, rel. Min. Ellen Gracie, julgado em 29.04.2010, DOU 20.08.2010.
19 Súmula Vinculante é decisão editada pelo STF, por reiteradas decisões em matéria constitucional. 199
Conforme se observa do caput, do art. 37, a Admi- trata dos cargos não privativos de brasileiros natos,
nistração Pública divide-se em Administração uma vez que os cargos privativos de brasileiro nato
Pública Direta, que é composta pelos quatro entes constam expressamente no § 3º, art. 12, da CF, de 1988.
federativos (União, Estados, Municípios e Distrito Observa-se que os cargos não privativos de brasilei-
Federal), e Administração Pública Indireta, compos- ros natos podem ser preenchidos por brasileiros (natos
ta pelas autarquias, fundações públicas, sociedades de ou naturalizados) de forma ampla. Vale frisar que pode
economia mista e empresas públicas. a lei estabelecer requisitos limitadores, tais como for-
Via de regra, a Administração Pública submete-se mação escolar, idade, entre outros. Em contrapartida,
a um regime jurídico de direito público, ou seja, a sua para que o estrangeiro possa ter acesso a tais cargos,
atuação independe da concordância dos administra- a lei deve especificar as hipóteses de admissibilidade.
dos, pois se funda na própria soberania estatal. Há que se fazer, aqui, duas observações quanto à
O regime jurídico de direito público faz com que a aplicabilidade da norma. Com relação aos brasileiros, a
norma constitucional é de eficácia contida, ou seja, todos
Administração se sujeite a limites, que, por vezes, são
os brasileiros têm acesso aos cargos, empregos e funções
mais estritos do que aqueles a que estão submetidos
públicas. A norma infraconstitucional pode conter tais
os particulares. Como exemplo, pode-se citar o dever
efeitos, estabelecendo critérios diferenciados. Portanto,
de observância da finalidade pública. todos os brasileiros têm acesso a todos os cargos, empre-
Esse regime de prerrogativas e sujeições para a gos e funções desde que a norma não restrinja.
Administração Pública encontra-se expresso em for- Já para os estrangeiros, a norma constitucional é
ma de princípios. De acordo com o dispositivo, são de eficácia limitada, ou seja, para que o estrangeiro
princípios que regem a Administração Pública direta tenha acesso, faz-se necessária norma infraconstitu-
e indireta: legalidade, impessoalidade, moralidade, cional regulando a hipótese. Deste modo, os estran-
publicidade e eficiência. geiros têm acesso somente aos cargos, empregos e
O Princípio da Legalidade estabelece a sujeição funções públicos que a lei autorizar.
da Administração Pública aos mandamentos da lei.
A legalidade traduz o sentido de que a Administra- Art. 37 [...]
ção Pública somente pode fazer o que a lei manda ou II - a investidura em cargo ou emprego públi-
permite, bem como somente pode proibir o que a lei co depende de aprovação prévia em concurso
expressamente proíbe. público de provas ou de provas e títulos, de
O Princípio da Impessoalidade traz a neutrali- acordo com a natureza e a complexidade do cargo
dade necessária para o exercício da atividade admi- ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas
nistrativa. Destinado tanto ao administrador como ao as nomeações para cargo em comissão declarado
administrado, esse princípio impõe a objetividade e a em lei de livre nomeação e exoneração;
isonomia da conduta administrativa.
O Princípio da Moralidade diz respeito à moral O inciso II estabelece a necessidade de procedi-
administrativa. Segundo ele, os atos da administra- mento administrativo destinado à seleção das pessoas
que irão ocupar empregos públicos ou cargos públicos
ção pública devem ser balizados nas matrizes éticas
de provimento efetivo ou vitalício. Trata-se, portanto,
dominantes. A finalidade do princípio é fixar limites
de uma forma de escolha para atender aos princípios
à atuação da Administração, evitando, por exemplo, o
da igualdade e da moralidade administrativa, evitan-
excesso de poder ou desvio de finalidade. do-se, com isso, que o ingresso no serviço público se dê
O Princípio da Publicidade exige a divulgação dos por critérios de favorecimento pessoal ou nepotismo.
atos da Administração Pública com o objetivo de per- Os concursos públicos devem ser abertos a todos
mitir o conhecimento e o controle por toda a sociedade, os interessados. Portanto, não se admite que a seleção
pois ao administrador compete agir com transparência. ocorra de forma interna (concursos internos).
Por fim, o Princípio da Eficiência impõe à Adminis- Cabe consignar que os concursos públicos podem
tração a obrigação de realizar suas atribuições com rapi- ser de provas ou de provas e títulos. Deste modo,
dez, perfeição e rendimento, pois quem administra gere não se admite concurso apenas de títulos nem admis-
algo que pertence à sociedade. Assim, cabe ao administra- são sem concurso público. Observa-se, no entanto,
dor zelar pelos interesses públicos com plena satisfação que existem exceções à regra relativa aos concur-
do administrado e com o menor custo para a sociedade. sos públicos para os seguintes casos:

z Cargos de mandato eletivo;


Dica z Cargo comissionado;
Para memorizar os princípios, utilize o mnemô- z Contratação temporária por excepcional interesse
nico LIMPE: público;
z Ex-combatente que tenha efetivamente participa-
Legalidade
do de operações bélicas durante a Segunda Guerra
Impessoalidade Mundial (inciso I, art. 53, ADCT);
Moralidade z Outras hipóteses: Ministros ou Conselheiros dos
Publicidade Tribunais de Contas; Ministros do STF, do STJ, TSE,
Eficiência TST e STM; integrantes do quinto Constitucional
dos Tribunais Judiciários.
Art. 37 [...]
I - os cargos, empregos e funções públicas são Art. 37 [...]
acessíveis aos brasileiros que preencham os III - o prazo de validade do concurso público será
requisitos estabelecidos em lei, assim como aos de até dois anos, prorrogável uma vez, por
estrangeiros, na forma da lei; igual período;

No que se refere à forma de acesso por brasileiro O inciso III traz o prazo de validade do concurso
200 naturalizado, há de se esclarecer, inicialmente, que se público, que é de até 2 (dois) anos. Assim sendo, cabe
ao edital definir qual o prazo do concurso, não poden- Constitucional nº 32, de 2001, possibilitou a extinção
do, no entanto, ser superior a 2 (dois) anos. por meio de decreto do Presidente da República. Com
Além disso, é possível a prorrogação do prazo de vali- relação aos Governadores e Prefeitos, a extinção do
dade por uma única vez e por igual período, ou seja, se o cargo vago é possível se houver semelhante previsão
prazo de validade do edital é de 1 (um) ano, ele somente nas respectivas Constituições Estaduais ou Leis Orgâ-
poderá ser prorrogado por 1 (um) ano. Aqui, cabe uma nicas (princípio da simetria).
observação importante: a prorrogação só é possível ser No que se refere às garantias e características
feita enquanto não expirado o prazo inicial. especiais, os cargos podem ser classificados em vitalí-
O candidato que for aprovado em concurso público cios, efetivos e comissionados:
dentro do número de vagas previstas no edital, estando
tal concurso dentro do prazo de validade, possui o direi- z Cargo vitalício é aquele com a maior garantia em
to subjetivo de ser nomeado, assim como a prioridade relação à permanência. Trata-se daquele destina-
na nomeação. Em contrapartida, o candidato aprovado do a receber o ocupante em caráter permanente,
fora do número de vagas possui mera expectativa de como no caso dos magistrados (inciso I, art. 95, CF,
direito à nomeação, devendo submeter-se ao juízo de de 1988), os de membros do Ministério Público (alí-
conveniência e oportunidade da Administração. nea “a”, inciso I, § 5º, art. 128, da CF, de 1988) e os
de ministros do Tribunal de Contas (§ 3º, art. 73, CF,
Art. 37 [...] de 1988). A vitaliciedade é adquirida após 2 (dois)
IV - durante o prazo improrrogável previsto no edi- anos de efetivo exercício no cargo e tais servido-
tal de convocação, aquele aprovado em concurso
res só poderão ser demitidos por sentença judicial
público de provas ou de provas e títulos será con-
vocado com prioridade sobre novos concursa-
transitada em julgado;
dos para assumir cargo ou emprego, na carreira; z Cargo efetivo é aquele provido por concurso
público, cujos integrantes possuem a estabilida-
O inciso IV regula a hipótese de novo concurso de, ou seja, após 3 (três) anos de efetivo exercí-
para o mesmo cargo enquanto os candidatos aprova- cio, só poderão ser demitidos por decisão judicial
dos em certame anterior e com prazo de validade não transitada em julgado, processo administrativo
expirado ainda não foram convocados. Assim, estabe- disciplinar ou processo de avaliação periódica de
lece a prioridade de convocação destes em face dos desempenho;
novos aprovados. z Cargo em comissão é aquele preenchido de acor-
do com a confiança. Como regra, ele deve ser
preenchido preferencialmente por servidores de
Importante! carreira. Portanto, para os demais casos (pessoal
de fora da Administração), a nomeação deve ser
Segundo entendimento do STF, para gozar da prio- exceção.
ridade na nomeação, não basta ao candidato a
mera aprovação, sendo necessário que ele tenha Além disso, é importante frisar que a nomeação
sido classificado dentro do número de vagas dis- aos cargos em comissão somente é possível para os
ponibilizadas no concurso, ou seja, se o edital pre- cargos de chefia, direção ou assessoramento. Portan-
viu uma vaga e foram aprovados dois candidatos, to, para as atribuições de execução e, não, para as
somente o primeiro tem prioridade de nomeação. atribuições técnicas e operacionais. Exemplo: cabe a
nomeação para cargo em comissão de Secretário de
Transportes, por demandar conhecimento específico
Art. 37 [...] e confiança. Já para o motorista, isso não é cabível,
V - as funções de confiança, exercidas exclusivamen- pois, diferentemente do Secretário, sua atribuição é
te por servidores ocupantes de cargo efetivo, e os meramente operacional e não demanda a relação de
cargos em comissão, a serem preenchidos por servi-
confiança.
dores de carreira nos casos, condições e percentuais
mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às atri-
Como regra, os cargos em comissão são de livre
buições de direção, chefia e assessoramento; nomeação e exoneração (ad nutum). A exceção a essa
regra é o que se intitula nepotismo (favorecimento
O inciso V trata de duas situações distintas: a fun- de parentes em detrimento de pessoas mais qualifi-
ção de confiança e o cargo de confiança (em comissão). cadas). Importante salientar que essa prática também
Cargo público é a unidade estrutural e funcional em pode ocorrer de forma cruzada. Por exemplo: quando
que o servidor exerce suas atribuições e responsabili- autoridades, a fim de omitir o nepotismo, nomeiam
para determinado cargo parentes um do outro de
DIREITO CONSTITUCIONAL

dades, ou seja, é o local dentro da estrutura organiza-


cional que deve ser atribuído a um servidor. Já função maneira recíproca.
pública é a própria atribuição e responsabilidade. Vejamos, a seguir, o texto da Súmula Vinculante nº
Em regra, os cargos públicos somente podem ser 13, do STF, relativa ao tema:
criados, transformados ou extintos por lei. Assim,
Súmula Vinculante nº 13 A nomeação de cônju-
cabe ao Poder Legislativo, com a sanção do chefe do
ge, companheiro, ou parente, em linha reta, cola-
Poder Executivo, dispor sobre a criação, transforma-
teral ou por afinidade, até o 3º grau, inclusive, da
ção e extinção de cargos, empregos e funções públicas. autoridade nomeante ou de servidor da mesma pes-
A iniciativa da lei que cria, extingue ou transforma soa jurídica, investido em cargo de direção, chefia
cargos, varia conforme o caso. Por exemplo, no caso ou assessoramento, para o exercício de cargo em
dos cargos do Poder Judiciário, dos Tribunais de Con- comissão ou de confiança, ou, ainda, de função gra-
tas e do Ministério Público, a lei será de iniciativa dos tificada na administração pública direta e indireta,
respectivos Tribunais ou Procuradores-Gerais. em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Excepciona a regra quando os cargos ou fun- Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o
ções se encontrarem vagos, uma vez que a Emenda ajuste mediante designações recíprocas, viola a CF. 201
A Súmula Vinculante nº 13 aplica-se apenas aos O inciso VIII estabelece a reserva de vagas para
cargos de natureza administrativa, estando de fora do pessoas com deficiência. Trata-se de uma norma
seu âmbito as nomeações para cargos políticos. Exem- constitucional de eficácia limitada, ou seja, que depen-
plo: o STF considerou válida a nomeação para o cargo de de da edição de lei infraconstitucional para poder
Secretário Estadual de Transportes de irmão de Gover- gerar os efeitos.
nador de Estado sob a alegação de que o cargo em ques- Com relação à reserva, cumpre salientar que as
tão possuía natureza política (Rcl 6.650-MC-AgR). atribuições do cargo devem ser compatíveis com a
Por fim, para o exercício da função de confiança, deficiência. Ainda, a reserva é de até 20% (vinte por
o pressuposto é que o nomeado já exerça cargo na cento) das vagas oferecidas no concurso, isto é, a CF,
Administração. Exemplo: um escrevente técnico é de 1988, fixou apenas o limite máximo (teto) do núme-
nomeado para a função de assessor do juiz. ro a ser reservado.
O § 1º, art. 37, do Decreto nº 3.298, de 1999, esta-
belece o percentual mínimo de 5% das vagas e, no
Importante! caso de o número obtido ser fracionado, o número de
vagas será elevado até o primeiro número inteiro sub-
� Função de confiança: deve ser agente público; sequente, ou seja, arredondado para cima.
� Cargo em confiança: pode ou não ser agente
público. Art. 37 [...]
IX - a lei estabelecerá os casos de contratação por
tempo determinado para atender a necessidade
Art. 37 [...] temporária de excepcional interesse público;
VI - é garantido ao servidor público civil o direito à
livre associação sindical;
O servidor temporário encontra-se disciplinado
no inciso IX. Trata-se de uma categoria à parte, uma
O inciso VI decorre do direito à liberdade do art. 5º,
vez que não titulariza cargo público nem possui
da CF, de 1988. Lembrem-se: ninguém é obrigado a se
qualquer vínculo trabalhista regido pela CLT, sendo
associar ou a se manter associado.
regida por regime especial veiculado por meio de lei
específica de cada ente da federação.
Art. 37 [...]
O servidor público exerce funções públicas sem
VII - o direito de greve será exercido nos termos e
nos limites definidos em lei específica;
ocupar cargos ou empregos públicos e sua contra-
tação é por tempo determinado e para atender
necessidade temporária de excepcional interesse
O direito de greve dos servidores públicos é dife-
rente do direito dos demais trabalhadores da inicia- público. Por exemplo: agente sanitário em caso de
tiva privada. Enquanto estes podem interromper surto de dengue.
completamente suas atividades, o servidor público
precisa garantir que os serviços sejam mantidos e em Art. 37 [...]
percentual que possa atender à população. Trata-se X - a remuneração dos servidores públicos e
da aplicação do princípio da continuidade, uma vez o subsídio de que trata o § 4º do art. 39 somente
que não é possível a interrupção total das atividades poderão ser fixados ou alterados por lei especí-
prestadas pela Administração à população por serem fica, observada a iniciativa privativa em cada caso,
estas essenciais e necessárias à coletividade. Para tan- assegurada revisão geral anual, sempre na mesma
data e sem distinção de índices;
to, a Norma Constitucional prevê que os termos e limi-
tes devem ser estabelecidos em lei.
Ainda não foi elaborada lei para dar aplicabilidade O inciso X trata da remuneração dos servidores
ao inciso VII. Por essa razão, o STF proferiu a seguinte públicos. Cumpre esclarecer, no entanto, que remu-
decisão nos autos do Mandado de Injunção 670-ES: neração é o gênero, do qual salário, vencimentos e
subsídios são espécies. Salário é a contraprestação
STF, MI 670-ES: Mandado de injunção. Garantia pecuniária paga aos empregados públicos, regidos
fundamental (CF, Art. 5º, inciso LXXI). Direito de pela CLT. Vencimento é a modalidade remunerató-
greve dos servidores públicos civis (CF, Art. 37, ria da maioria dos servidores submetidos a regime
inciso VII). Evolução do tema na jurisprudência jurídico estatutário, englobando o vencimento-base e
do Supremo Tribunal Federal (STF). Definição dos as vantagens pecuniárias. Já subsídio é uma parcela
parâmetros de competência constitucional para única, sem qualquer acréscimo, obrigatória para as
apreciação no âmbito da justiça federal e da jus- seguintes categorias:
tiça estadual até a edição da legislação específica
pertinente, nos termos do art. 37, VII, da CF. Em
z Membros de Poder (chefes dos Poderes Executivos,
observância aos ditames da segurança jurídica e à
senadores, deputados, vereadores, magistrados),
evolução jurisprudencial na interpretação da omis-
são legislativa sobre o direito de greve dos servido- detentores de mandato eletivo, Ministros de Esta-
res públicos civis, fixação do prazo de 60 (sessenta) do e Secretários Estaduais e Municipais;
dias para que o Congresso Nacional legisle sobre a z Ministros ou Conselheiros dos Tribunais de Contas;
matéria. Mandado de injunção deferido para deter- z Membros do Ministério Público;
minar a aplicação das Leis 7.701/1988 e 7.783/1989. z Integrantes das carreiras pertencentes à Advocacia
Geral da União, à Procuradoria-Geral da Fazenda
Seguimos com os incisos do art. 37, da CF, de 1988: Nacional, às Procuradorias dos Estados e do Dis-
trito Federal e às Defensorias Públicas da União,
Art. 37 [...] DF e Territórios e Defensorias Públicas Estaduais
VIII - a lei reservará percentual dos cargos e empre- (art. 135, CF);
gos públicos para as pessoas portadoras de defi- z Servidores policiais integrantes da Polícia Fede-
202 ciência e definirá os critérios de sua admissão; ral, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Ferroviária
Federal, Polícias Civis, Polícias Militares e Corpos É importante o texto da Súmula Vinculante nº 37,
de Bombeiros Militares. do STF:

Vejamos, a seguir, o texto da Súmula nº 679, do STF: Súmula Vinculante nº 37 Não cabe ao Poder Judi-
ciário, que não tem função legislativa, aumentar
Súmula 679 (STF) A fixação de vencimentos dos vencimentos de servidores públicos sob fundamen-
servidores públicos não pode ser objeto de conven- to de isonomia.
ção coletiva.

No que se refere à revisão, o dispositivo trata apenas Art. 37 [...]


XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de
da revisão geral, ou seja, do reajuste anual genérico, que
quaisquer espécies remuneratórias para o efeito
tem por objetivo repor as perdas inflacionárias do perío-
de remuneração de pessoal do serviço público;
do, sendo aplicável a todos os servidores. Portanto, não a
confunda com reajuste específico, que é aquele aplicado
A vedação à vinculação e à equiparação de
apenas a alguns cargos ou carreiras funcionais, com a
remunerações encontra-se prevista no inciso XIII.
finalidade de evitar a defasagem remuneratória.
Sobre isso, vejamos o texto da Súmula nº 681:
Art. 37 [...]
XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de Súmula nº 681 (STF) É inconstitucional a vincula-
cargos, funções e empregos públicos da administra- ção do reajuste de vencimentos de servidores esta-
ção direta, autárquica e fundacional, dos membros duais ou municipais a índices federais de correção
de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do monetária.
Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de
mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os Atenção! Há duas exceções à regra de não vincu-
proventos, pensões ou outra espécie remuneratória, lação, quais sejam:
percebidos cumulativamente ou não, incluídas as
vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza,
z A equiparação de vencimentos e vantagens entre
não poderão exceder o subsídio mensal, em
os Ministros do TCU e do STJ (§ 3º, art. 73, CF, de
espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal
Federal, aplicando-se como limite, nos Municípios, 1988);
o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no Dis- z A vinculação entre o subsídio dos Ministros dos
trito Federal, o subsídio mensal do Governador Tribunais Superiores e o subsídio mensal fixado
no âmbito do Poder Executivo, o subsídio dos para os Ministros do STF (inciso V, art. 93, da CF).
Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do
Poder Legislativo e o subsídio dos Desembarga- Art. 37 [...]
dores do Tribunal de Justiça, limitado a noventa XIV - os acréscimos pecuniários percebidos por
inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do sub- servidor público não serão computados nem
sídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo acumulados para fins de concessão de acréscimos
Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário, apli- ulteriores;
cável este limite aos membros do Ministério Público,
aos Procuradores e aos Defensores Públicos; O inciso XIV trata da vedação ao efeito repicão ou
efeito cascata, ou seja, veda-se que a mesma vanta-
Com relação ao teto do funcionalismo público, a
gem seja repetidamente computada para o cálculo das
CF, de 1988, estabeleceu duas regras. A primeira é a
demais vantagens. A finalidade do dispositivo é evitar
do teto geral, ou seja, o limite máximo de remune-
que, na base de cálculo de uma vantagem remunera-
ração, que é o valor dos subsídios dos Ministros do
Supremo Tribunal Federal. Já a segunda regra trata tória, seja acrescida outra vantagem. Por exemplo: se
do denominado subteto, ou seja, o teto para os Esta- o servidor faz jus e recebe um adicional por tempo
dos, Municípios e Distrito Federal. de serviço, não é possível inseri-lo na base de cálcu-
Vale destacar que o dispositivo previu duas hipóte- lo para a concessão de outra gratificação, como, por
ses de subtetos: o teto único e o teto por Poder. O teto exemplo, uma gratificação de produtividade.
único tem, como base, a fixação de um valor máximo
estabelecido para fins remuneratórios. Já o teto por Art. 37 [...]
Poderes faz com que cada ente político adote um sub- XV - o subsídio e os vencimentos dos ocupantes de
teto próprio para a fixação dos subsídios. cargos e empregos públicos são irredutíveis, ressal-
O Executivo tem, como subteto, os subsídios do vado o disposto nos incisos XI e XIV deste artigo e nos
arts. 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I;
Governador. O Legislativo tem, como subteto, os sub-
sídios dos deputados estaduais, que, por sua vez, não
DIREITO CONSTITUCIONAL

poderão exceder 75% dos subsídios dos deputados fede- A irredutibilidade dos subsídios e dos venci-
rais. Por fim, o Judiciário adota, como subteto, o valor de mentos dos ocupantes de cargos, funções e empregos
90,25% dos subsídios do Supremo Tribunal Federal, res- públicos encontra-se estabelecida no inciso XV. Trata-
saltando que esse subteto se aplica tão somente aos seus -se da impossibilidade de redução do valor nominal,
servidores e, não, aos membros da Magistratura, pois a ou seja, se a remuneração é de R$ 5.000,00, não pode-
estes é aplicado o teto do Supremo Tribunal Federal. rá reduzi-lo para valor inferior. No entanto, é possível
que ocorra a redução real, ou seja, que o poder aquisi-
Art. 37 [...] tivo desse valor seja atingido pela inflação.
XII - os vencimentos dos cargos do Poder Legis-
lativo e do Poder Judiciário não poderão ser Art. 37 [...]
superiores aos pagos pelo Poder Executivo; XVI - é vedada a acumulação remunerada de
cargos públicos, exceto, quando houver compa-
A isonomia dos vencimentos dos servidores dos tibilidade de horários, observado em qualquer
três Poderes está disciplinada no inciso XII. Sua finali- caso o disposto no inciso XI:
dade é manter a paridade. a) a de dois cargos de professor; 203
b) a de um cargo de professor com outro técni- competência e jurisdição, precedência sobre os
co ou científico; demais setores administrativos, na forma da lei;
c) a de dois cargos ou empregos privativos de pro-
fissionais de saúde, com profissões regulamentadas; O inciso XVIII trata da precedência da Administra-
ção Fazendária e seus servidores fiscais aos demais
O inciso XVI trata da vedação de acumulação de setores administrativos. Isso significa dizer que, den-
cargos. Como regra, é vedada a acumulação remu- tro da estrutura da Administração Pública, esta deverá
nerada de cargos públicos. No entanto, é possível a dar prioridade para os serviços atinentes à arrecada-
acumulação se houver compatibilidade de horários ção dos tributos, por se tratar dos recursos essenciais
entre os cargos e somente em três hipóteses. ao seu funcionamento.
A primeira refere-se ao magistério e traz a pos-
sibilidade de acumular dois cargos de professor Art. 37 [...]
(ex.: cargo de professor da rede municipal no perío- XIX - somente por lei específica poderá ser criada
do matutino e cargo de professor da rede estadual no autarquia e autorizada a instituição de empre-
período noturno). sa pública, de sociedade de economia mista e
A segunda hipótese é a acumulação de um cargo de fundação, cabendo à lei complementar, neste
de professor com outro técnico ou científico (ex.: último caso, definir as áreas de sua atuação;
cargo técnico em enfermagem em hospital estadual
com carga horária compatível com cargo de professor Para que uma autarquia seja criada, faz-se neces-
de ensino médio estadual). sária a autorização legislativa (lei específica), de modo
Por fim, é possível a acumulação de dois cargos a adquirir a personalidade jurídica com a própria lei.
privativos de profissionais da saúde, com profissões Em contrapartida, é preciso lei que autorize a criação
regulamentadas (ex.: cargo de dentista, em um muni- das empresas públicas, sociedades de economia mista
cípio, durante o período matutino, com outro cargo de e fundações, devendo, posteriormente, ser registra-
dentista, em outro município, no período vespertino). das, a fim de adquirirem a personalidade jurídica.
Ressalta-se, por fim, que, para as fundações, uma lei
complementar deve definir as áreas de sua atuação.
Importante!
Cargos burocráticos não são considerados como LEI ESPECÍFICA LEI COMPLEMENTAR
técnicos. Para ser enquadrado como cargo téc- � Cria as autarquias e as
nico passível de acumulação, é necessária for- fundações públicas de direito
público (já que estas últimas
mação específica na área de atuação. Portanto,
são equiparadas a autarquias)
cargo técnico é aquele que requer conhecimento � Autoriza a criação das demais
� Especifica a área de
específico na área de atuação do profissional, atuação das fundações
entidades (empresa pública,
com habilitação específica de grau universitário sociedade de economia mista
ou profissionalizante (ensino médio). e fundações públicas de
direito privado)

Em síntese: Art. 37 [...]


XX - depende de autorização legislativa, em
z Regra: Não acumulação de cargos públicos cada caso, a criação de subsidiárias das enti-
remunerados; dades mencionadas no inciso anterior, assim
z Exceção: Acumulação de cargos públicos remune- como a participação de qualquer delas em empresa
rados, quando há compatibilidade de horários e privada;
nas seguintes hipóteses:
Veja que em relação às subsidiárias e à participa-
„ Dois cargos de professor; ção em empresa privada há a necessidade de autori-
„ Um cargo de professor com outro técnico ou zação legislativa, independente da vinculação, ou seja,
científico; não importa se é vinculada à entidade que é criada
„ Dois cargos privativos de profissionais de saú- por lei. Para exemplificar, imaginemos uma subsidiá-
de, com profissões regulamentadas. ria XY da autarquia X. A autarquia foi criada por lei, e
sua subsidiária foi criada por autorização legislativa.
Art. 37 [...]
XVII - a proibição de acumular estende-se a empre- Art. 37 [...]
gos e funções e abrange autarquias, fundações, XXI - ressalvados os casos especificados na legisla-
empresas públicas, sociedades de economia mis- ção, as obras, serviços, compras e alienações
ta, suas subsidiárias, e sociedades controladas, serão contratados mediante processo de licitação
direta ou indiretamente, pelo poder público; pública que assegure igualdade de condições a
todos os concorrentes, com cláusulas que esta-
O inciso XVII estende a regra da não acumulação beleçam obrigações de pagamento, mantidas as
para a Administração Indireta. Portanto, a proibição condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o
aplica-se às autarquias, fundações e empresas públi- qual somente permitirá as exigências de qualifica-
cas, sociedades de economia mista, bem como às suas ção técnica e econômica indispensáveis à garantia
subsidiárias, além das sociedades controladas direta do cumprimento das obrigações.
ou indiretamente pelo poder público.
Outra regra contida na Constituição é a exigência
Art. 37 [...] de licitação pública para contratação de obras, ser-
XVIII - a administração fazendária e seus ser- viços, compras e alienações, ressalvados os casos
204 vidores fiscais terão, dentro de suas áreas de de dispensa e inexigibilidade previstos em lei.
Vale frisar, aqui, que é assegurada a todos a igual- III - a disciplina da representação contra o exercí-
dade de condições, com cláusulas que estabeleçam cio negligente ou abusivo de cargo, emprego ou fun-
obrigações de pagamento, mantidas as condições efe- ção na administração pública.
tivas da proposta, nos termos da lei, a qual somente
permitirá as exigências de qualificação técnica e eco- O § 3º remete à preocupação do legislador para que
nômica indispensáveis à garantia do cumprimento haja um controle social, de modo a estabelecer meios
das obrigações. para que qualquer pessoa comunique as irregularida-
des ou ilegalidades praticadas pelos agentes públicos.
Art. 37 [...] Trata-se, portanto, da possibilidade de controle para
XXII - as administrações tributárias da União, evitar os atos de improbidade administrativa, ou seja,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, de condutas ilegais, desonestas, abusivas e incorretas.
atividades essenciais ao funcionamento do Estado,
exercidas por servidores de carreiras específicas, Art. 37 [...]
terão recursos prioritários para a realização § 4º Os atos de improbidade administrativa impor-
de suas atividades e atuarão de forma integrada, tarão a suspensão dos direitos políticos, a perda
inclusive com o compartilhamento de cadastros e da função pública, a indisponibilidade dos bens
de informações fiscais, na forma da lei ou convênio. e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação
previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.
O inciso XXII traz mais uma regra de prioridade da
parte fiscal e de arrecadação. Assim, a Administração De acordo com o § 4º, as penalidades para os atos
tributária de qualquer dos entes da federação possui de improbidade são as seguintes: suspensão dos
recurso prioritário para a realização de suas atividades. direitos políticos; perda de função pública; indispo-
nibilidade dos bens e ressarcimento ao erário, sem
Art. 37 [...] prejuízo da ação penal cabível, ou seja, aplica-se a
§ 1º A publicidade dos atos, programas, obras, penalidade administrativa cumulativamente com a
serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá sanção penal (se o fato constituir crime).
ter caráter educativo, informativo ou de orien-
tação social, dela não podendo constar nomes,
símbolos ou imagens que caracterizem promoção Dica
pessoal de autoridades ou servidores públicos. Para decorar os atos de improbidade administra-
tiva, memorize o mnemônico PARIS:
O § 1º trata das regras de publicidade dos atos, Perda de função pública
programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos
Ação penal cabível (se for o caso)
públicos. Esse dispositivo é consequência direta do
Ressarcimento ao erário
princípio da impessoalidade, pois tal publicidade deve
ser de caráter informativo, educativo ou de orienta-
Indisponibilidade de bens
ção social, ou seja, a propaganda pública não pode ser Suspensão dos direitos políticos
um meio para promoção pessoal.
É por esse motivo que não é permitido ao Governa- Art. 37 [...]
§ 5º A lei estabelecerá os prazos de prescrição
dor ou ao Prefeito, por exemplo, continuar a utilizar
para ilícitos praticados por qualquer agente,
o slogan de campanha após ser eleito, uma vez que
servidor ou não, que causem prejuízos ao erário,
vincularia aquela atividade pública a sua pessoa.
ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento.
Art. 37 [...]
Nos termos do § 5º, os prazos prescricionais e as
§ 2º A não observância do disposto nos incisos II
e III implicará a nulidade do ato e a punição da
ações de ressarcimento serão disciplinadas em lei.
autoridade responsável, nos termos da lei. Vale lembrar que a lei que disciplina as regras apli-
cáveis aos agentes públicos nos casos de improbidade
O § 2º traz a responsabilidade do agente público administrativa é a Lei nº 8.429, de 1992.
pela não observância da regra de que, para contratação
de pessoal, o concurso público é indispensável. Conse- Art. 37 [...]
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e
quentemente, se houver ingresso de pessoal sem o devi-
as de direito privado prestadoras de serviços
do processo de seleção, haverá nulidade da nomeação,
públicos responderão pelos danos que seus
devendo a autoridade sofrer as punições em conformi- agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros,
dade com a norma infraconstitucional. Além disso, o
DIREITO CONSTITUCIONAL

assegurado o direito de regresso contra o respon-


prazo de validade do concurso também implica em nuli- sável nos casos de dolo ou culpa.
dade da nomeação e responsabilidade do agente.
O § 6º trata da responsabilidade civil objetiva
Art. 37 [...] do Estado, o que significa que o Estado é responsável
§ 3º A lei disciplinará as formas de participação
civilmente pelos atos praticados por seus agentes ou
do usuário na administração pública direta e
pelos prestadores de serviço público de forma obje-
indireta, regulando especialmente:
I - as reclamações relativas à prestação dos servi-
tiva, isto é, independentemente de culpa. Trata-se da
ços públicos em geral, asseguradas a manutenção chamada Teoria do Risco Administrativo.
de serviços de atendimento ao usuário e a avalia- Portanto, o Estado é responsável quando um de
ção periódica, externa e interna, da qualidade dos seus agentes, no desempenho da função, gera dano a
serviços; um terceiro, independentemente da comprovação
II - o acesso dos usuários a registros administrati- de dolo ou culpa, sendo necessário, apenas, demons-
vos e a informações sobre atos de governo, obser- trar o nexo causal da atividade do agente e o dano
vado o disposto no art. 5º, X e XXXIII; de terceiro. 205
Cumpre mencionar, por necessário, que é pos- Entende-se por contrato de gestão o contrato admi-
sível ao Estado ingressar com ação regressiva para nistrativo firmado pelo Poder Público na condição de
cobrar do agente o valor que pagou a esse terceiro. contratante e entidade privada ou da Administração
No entanto, ao contrário do que ocorre com o Esta- Indireta, no qual é instrumentalizada parceria.
do, a responsabilidade do agente é subjetiva, ou seja,
para que ele seja responsabilizado civilmente, é pre- Art. 37 [...]
ciso demonstrar que houve dolo ou culpa. Em relação § 9º O disposto no inciso XI aplica-se às empre-
a isso, vejamos, de forma simples o exposto no fluxo- sas públicas e às sociedades de economia mis-
grama a seguir: ta, e suas subsidiárias, que receberem recursos
da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos
Municípios para pagamento de despesas de pes-
Agente causa dano a soal ou de custeio em geral.
um terceiro por dolo ou
culpa As regras com relação ao teto e subteto da remu-
neração são estendidas aos empregados das empresas
públicas e sociedades de economia mista, bem como
às suas subsidiárias. No entanto, conforme o dispos-
Estado pleiteia o to no § 9º, incidirá sobre as remunerações de direto-
ressarcimento em Terceiro entra com ação res de empresas estatais que receberem recursos dos
decorrência do fato contra o Estado entes da federação para pagamento de despesas de
praticado pelo terceiro pessoal ou de custeio em geral, como, por exemplo,
nos casos da EMBRAPA e da Radiobras.
O modo pelo qual a Lei Complementar nº 101, de
2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal) denomina as
Estado indeniza o empresas públicas e sociedades de economia mis-
terceiro lesado ta encaixa-se como “empresa estatal dependente”,
expressão disposta no § 9º.

Art. 37 [...]
Entende-se por pessoa jurídica de direito privado
§ 10 É vedada a percepção simultânea de pro-
prestadora de serviços públicos as empresas públicas,
ventos de aposentadoria decorrentes do art. 40
sociedades de economia mista e as concessionárias e ou dos arts. 42 e 142 com a remuneração de car-
permissionárias, isto é, aquelas empresas seleciona- go, emprego ou função pública, ressalvados os
das por procedimento licitatório para desempenhar cargos acumuláveis na forma desta Constitui-
serviço público. Por exemplo: serviço de transporte ção, os cargos eletivos e os cargos em comissão
público urbano. declarados em lei de livre nomeação e exoneração.

Art. 37 [...] O § 10 veda a percepção simultânea de proventos


§ 7º A lei disporá sobre os requisitos e as restri- de aposentadoria com remuneração de cargo, empre-
ções ao ocupante de cargo ou emprego da adminis- go ou função pública, ressalvada a hipótese de cargos
tração direta e indireta que possibilite o acesso a
acumuláveis, na forma da Constituição, cargos eleti-
informações privilegiadas.
vos e cargos em comissão. Esse dispositivo foi acres-
centado pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998,
O § 7º pressupõe a existência de regras éticas de
que também resguardou o direito daqueles servidores
conduta das autoridades da Administração Pública,
aposentados que, até a data da promulgação da Emen-
de modo a tentar minimizar a possibilidade de con-
da, retornaram à atividade antes da proibição.
flito entre o interesse privado e o dever funcional.
Ainda, objetiva-se a criação de mecanismos, a fim de
regulamentar o acesso às informações.
Importante!
Art. 37 [...] A proibição aplica-se aos servidores públicos
§ 8º A autonomia gerencial, orçamentária e efetivos e aos militares, tanto das Forças Arma-
financeira dos órgãos e entidades da admi- das como das Polícias Militares e Corpos de
nistração direta e indireta poderá ser amplia-
Bombeiros Militares.
da mediante contrato, a ser firmado entre seus
administradores e o poder público, que tenha por
objeto a fixação de metas de desempenho para o
Vejamos a repercussão geral reconhecida com
órgão ou entidade, cabendo à lei dispor sobre:
mérito julgado pelo STF:
I - o prazo de duração do contrato;
II - os controles e critérios de avaliação de desem-
Há remansosa jurisprudência desta Corte nesse senti-
penho, direitos, obrigações e responsabilidade dos
do, afirmando a impossibilidade da acumulação trípli-
dirigentes;
ce de cargos públicos, ainda que os provimentos nestes
III - a remuneração do pessoal.
tenham ocorrido antes da vigência da EC 20/1998. [...] o
art. 11 da EC 20/1998 possibilita a acumulação, apenas,
O § 8º busca alcançar melhores resultados na de um provento de aposentadoria com a remuneração
Administração Pública por meio da criação de novos de um cargo na ativa, no qual se tenha ingressado por
instrumentos no âmbito do Direito Público, de modo concurso público antes da edição da referida emenda,
a conferir maior autonomia ou estabelecer parcerias ainda que inacumuláveis os cargos. Em qualquer hipó-
com entidades privadas sem fins lucrativos. Dessas tese, é vedada a acumulação tríplice de remunerações,
206 medidas, atente-se para o contrato de gestão. sejam proventos, sejam vencimentos. (ARE 848.993 RG)
Art. 37 [...] O § 14 disciplina o rompimento do vínculo quan-
§ 11 Não serão computadas, para efeito dos limi- do o agente público solicita aposentadoria e utiliza-se
tes remuneratórios de que trata o inciso XI do do tempo de contribuição decorrente daquele cargo,
caput deste artigo, as parcelas de caráter inde- emprego ou função pública. Assim, o servidor será
nizatório previstas em lei. desligado da Administração Pública.
Neste sentido, o agente público que pretende se apo-
O § 11 traz uma regra com relação ao teto e subte- sentar não poderá mais continuar a trabalhar no local em
to do funcionalismo público. Trata-se do não cômputo que utilizou o tempo para comprovação de contribuição.
das verbas indenizatórias, tais como diárias, ajuda de
custo, entre outras, no limite remuneratório. Art. 37 [...]
§ 15 É vedada a complementação de aposentado-
Art. 37 [...] rias de servidores públicos e de pensões por morte
§ 12 Para os fins do disposto no inciso XI do caput deste a seus dependentes que não seja decorrente do disposto
artigo, fica facultado aos Estados e ao Distrito Federal nos §§ 14 a 16 do art. 40 ou que não seja prevista em lei
fixar, em seu âmbito, mediante emenda às respectivas que extinga regime próprio de previdência social.
Constituições e Lei Orgânica, como limite único, o sub-
sídio mensal dos Desembargadores do respectivo Tribu- O § 15 proíbe toda espécie de complementação que
nal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco não seja aquela decorrente de Regime de Previdência
centésimos por cento do subsídio mensal dos Ministros Complementar, como, por exemplo, as complementa-
do Supremo Tribunal Federal, não se aplicando o dis- ções com base na Lei Estadual (São Paulo) nº 200, de
posto neste parágrafo aos subsídios dos Deputados 1974, pagas a ex-empregados e a seus dependentes da
Estaduais e Distritais e dos Vereadores. Nossa Caixa, BANESPA, SABESP, VASP e FEPASA.

O dispositivo regulamenta a possibilidade de fixa- Art. 37 [...]


ção do subteto de forma única. Nesse caso, o valor § 16 Os órgãos e entidades da administração públi-
máximo da remuneração para todo e qualquer servi- ca, individual ou conjuntamente, devem realizar
dor corresponderá ao subsídio dos desembargadores avaliação das políticas públicas, inclusive com
do Tribunal de Justiça, ficando de fora desse subteto divulgação do objeto a ser avaliado e dos resulta-
apenas o subsídio dos deputados e dos vereadores. dos alcançados, na forma da lei.
Vejamos a decisão do STF no julgamento da ADI
O § 16 foi acrescido pela Emenda Constitucional nº 109,
6.221 MC:
de 2021, e tem como objetivo aprimorar o mecanismo de
participação da sociedade na Administração Pública.
A faculdade conferida aos Estados para a regulação
do teto aplicável a seus servidores (art. 37, § 12, da Art. 38 Ao servidor público da administração dire-
CF) não permite que a regulamentação editada com ta, autárquica e fundacional, no exercício de manda-
fundamento nesse permissivo inove no tratamento to eletivo, aplicam-se as seguintes disposições:
do teto dos servidores municipais, para quem o art. I - tratando-se de mandato eletivo federal, estadual
37, XI, da CF, já estabelece um teto único. ou distrital, ficará afastado de seu cargo, emprego
ou função;
Art. 37 [...] II - investido no mandato de Prefeito, será afastado
§ 13 O servidor público titular de cargo efetivo do cargo, emprego ou função, sendo-lhe facultado
poderá ser readaptado para exercício de cargo optar pela sua remuneração;
cujas atribuições e responsabilidades sejam com- III - investido no mandato de Vereador, havendo com-
patíveis com a limitação que tenha sofrido em sua patibilidade de horários, perceberá as vantagens de
capacidade física ou mental, enquanto permanecer seu cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remu-
nesta condição, desde que possua a habilitação e neração do cargo eletivo, e, não havendo compatibili-
o nível de escolaridade exigidos para o cargo de dade, será aplicada a norma do inciso anterior;
destino, mantida a remuneração do cargo de origem. IV - em qualquer caso que exija o afastamento para
o exercício de mandato eletivo, seu tempo de servi-
O § 13 trata da possibilidade de readaptação do ço será contado para todos os efeitos legais, exceto
servidor público. A readaptação é o provimento deri- para promoção por merecimento;
vado que consiste na investidura do servidor em cargo V - na hipótese de ser segurado de regime próprio
de atribuições e responsabilidades compatíveis com de previdência social, permanecerá filiado a esse
a limitação que tenha sofrido em sua capacida- regime, no ente federativo de origem.
de física ou mental verificada em inspeção médica.
O art. 38 estabelece regras relativas ao servidor
DIREITO CONSTITUCIONAL

Deste modo, o servidor será efetivado em cargo com


público da Administração direta, autárquica e funda-
atribuições semelhantes, respeitando-se a habilitação
cional que passar a desempenhar cargo eletivo, ou
exigida, assim como o nível de escolaridade e a equi-
seja, for eleito para o Poder Executivo ou Legislativo.
valência de vencimentos.
Ao servidor público estadual, quando eleito para
No caso de inexistir cargo vago, o servidor exercerá
cargo eletivo federal, estadual e distrital, aplica-se
suas atribuições como excedente, permanecendo nessa
a seguinte regra: afastamento do cargo público esta-
situação até a ocorrência de vaga no cargo compatível.
dual para se dedicar exclusivamente ao mandato,
Art. 37 [...]
recebendo obrigatoriamente a remuneração do
§ 14 A aposentadoria concedida com a utiliza- cargo para o qual foi eleito. Em contrapartida, quan-
ção de tempo de contribuição decorrente de do o servidor público estadual é eleito para cargo eleti-
cargo, emprego ou função pública, inclusive do vo municipal, podem ocorrer duas situações distintas.
Regime Geral de Previdência Social, acarretará o Se o cargo é de prefeito, ele será afastado para dedi-
rompimento do vínculo que gerou o referido cação exclusiva do cargo e pode escolher entre a
tempo de contribuição. remuneração do cargo público ou do cargo eletivo. 207
Já se o cargo é de vereador, é necessário saber qualquer vínculo trabalhista regido pela CLT, como
se há ou não compatibilidade de horário. Se houver os empregados públicos. São contratados por tem-
compatibilidade de horários, ele não precisa se po determinado para atender à necessidade tem-
afastar, podendo exercer as duas atividades ao mes- porária de excepcional interesse público por meio
mo tempo, recebendo pelos dois. Se não houver com- de um processo de seleção simplificado. Exercem
patibilidade, aplica-se a mesma regra do prefeito, funções públicas sem ocupar cargos ou empregos
ou seja, será afastado para dedicação exclusiva do públicos e são regidos por regime especial, veicu-
cargo, podendo escolher entre a remuneração do lado por meio de lei específica.
cargo público ou do cargo eletivo.
Os servidores da Administração Pública direta, das
SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL autarquias e das fundações públicas estão sujeitos ao
regime jurídico de direito público administrativo, ins-
Eleito para cargo federal,
estadual ou distrital
Eleito para cargo municipal tituído em lei, a qual também instituirá planos de carrei-
ra. O regime adotado é o estatutário. Não obstante, lei
Prefeito Vereador assegurará aos servidores isonomia de vencimentos para
cargos de atribuições iguais ou assemelhadas do mesmo
� Com compatibilidade
Afastamento do cargo
Afastamento
de horário: não se Poder ou entre servidores dos Poderes Executivo, Legisla-
do cargo e
público e remuneração do
opção entre a
afasta do cargo tivo e Judiciário, excetuadas as vantagens de caráter indi-
cargo eletivo � Sem compatibilidade vidual e as relativas à natureza ou ao local de trabalho.
remuneração
eletiva ou do de horário: aplica-se
cargo a mesma regra do
prefeito SERVIDORES PÚBLICOS

A partir do art. 39, da CF, de 1988, inicia-se o tema


Para que a Administração Pública possa desem- quanto às regras aplicadas aos servidores públicos.
penhar suas atividades, ela necessita de pessoas que Vejamos o que dispõem esses artigos:
exerçam as atribuições dos órgãos públicos, ou seja, de
agentes públicos. A expressão agente público é utiliza- Art. 39 A União, os Estados, o Distrito Federal e os
da como gênero, designando toda e qualquer pessoa que Municípios instituirão conselho de política de admi-
exerça uma função pública, quer de forma remunerada nistração e remuneração de pessoal, integrado por
ou gratuita, quer de natureza política ou administrativa, servidores designados pelos respectivos Poderes.
quer com investidura definitiva ou transitória. § 1º A fixação dos padrões de vencimento e dos
Os agentes públicos dividem-se em quatro catego- demais componentes do sistema remuneratório
rias, quais sejam: observará:
I - a natureza, o grau de responsabilidade e a com-
plexidade dos cargos componentes de cada carreira;
Agentes políticos II - os requisitos para a investidura;
III - as peculiaridades dos cargos.
§ 2º A União, os Estados e o Distrito Federal man-
Servidores públicos terão escolas de governo para a formação e
AGENTES o aperfeiçoamento dos servidores públicos,
PÚBLICOS constituindo-se a participação nos cursos um
Particulares em
público dos requisitos para a promoção na carreira,
facultada, para isso, a celebração de convênios ou
contratos entre os entes federados.
Militares § 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de car-
go público o disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX,
XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX,
Os agentes políticos são aqueles que exercem as podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados
típicas atividades de governo, ou seja, são responsá- de admissão quando a natureza do cargo o exigir.
veis por fixar as metas e diretrizes políticas do Estado, § 4º O membro de Poder, o detentor de manda-
tais como os chefes do Poder Executivo (Presidente, to eletivo, os Ministros de Estado e os Secretá-
Governador e Prefeito e seus vices) e seus auxiliares rios Estaduais e Municipais serão remunerados
diretos (Ministros e Secretários) e os membros do exclusivamente por subsídio fixado em parcela
Poder Legislativo (Senadores, Deputados federais, única, vedado o acréscimo de qualquer gratifica-
Deputados estaduais e Vereadores). ção, adicional, abono, prêmio, verba de representa-
Os particulares em colaboração com o Poder ção ou outra espécie remuneratória, obedecido, em
Público são aqueles que prestam serviços ao Estado, qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI.
porém sem vínculo estatutário ou celetista de trabalho, § 5º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios poderá estabelecer a relação entre
podendo ou não ter remuneração. Exemplo: jurados,
a maior e a menor remuneração dos servidores
mesários, notários e registradores (serviços notariais).
públicos, obedecido, em qualquer caso, o disposto no
Os servidores públicos civis dividem-se em:
art. 37, XI.
§ 6º Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário
z Servidores públicos estatutários: exercem cargo publicarão anualmente os valores do subsídio e
público (vitalício, efetivo ou comissionado) e estão da remuneração dos cargos e empregos públicos.
vinculados a um estatuto; § 7º Lei da União, dos Estados, do Distrito Federal e
z Empregados públicos: possuem emprego público dos Municípios disciplinará a aplicação de recur-
e vinculam-se às regras da Consolidação das Leis sos orçamentários provenientes da economia com
do Trabalho (CLT); despesas correntes em cada órgão, autarquia e fun-
z Servidores temporários: categoria à parte, por- dação, para aplicação no desenvolvimento de pro-
208 que não titularizam cargo público nem possuem gramas de qualidade e produtividade, treinamento
e desenvolvimento, modernização, reaparelhamento caráter contributivo e solidário, mediante contri-
e racionalização do serviço público, inclusive sob a buição do respectivo ente federativo, de servidores
forma de adicional ou prêmio de produtividade. ativos, de aposentados e de pensionistas, observa-
§ 8º A remuneração dos servidores públicos organiza- dos critérios que preservem o equilíbrio financeiro
dos em carreira poderá ser fixada nos termos do § 4º. e atuarial.
§ 9º É vedada a incorporação de vantagens de § 1º O servidor abrangido por regime próprio de
caráter temporário ou vinculadas ao exercício previdência social será aposentado:
de função de confiança ou de cargo em comis- I - por incapacidade permanente para o tra-
são à remuneração do cargo efetivo. balho, no cargo em que estiver investido, quando
insuscetível de readaptação, hipótese em que será
No que tange ao art. 39, a primeira observação a obrigatória a realização de avaliações periódicas
ser feita é que o caput foi alterado pela Emenda Cons- para verificação da continuidade das condições que
titucional nº 19, de 1998. No entanto, como sua eficá- ensejaram a concessão da aposentadoria, na forma
cia se encontra suspensa devido à decisão do STF na de lei do respectivo ente federativo;
ADI nº 2.135-4, é a redação original que se encontra II - compulsoriamente, com proventos propor-
em vigor. Vejamos: cionais ao tempo de contribuição, aos 70 (setenta)
anos de idade, ou aos 75 (setenta e cinco) anos de
Art. 39 A União, os Estados, o Distrito Federal e os idade, na forma de lei complementar;
Municípios instituirão, no âmbito de sua competên- III - no âmbito da União, aos 62 (sessenta e dois)
cia, regime jurídico único e planos de carreira para anos de idade, se mulher, e aos 65 (sessenta e
os servidores da administração pública direta, das cinco) anos de idade, se homem, e, no âmbito
autarquias e das fundações públicas. dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
na idade mínima estabelecida mediante emenda às
A CF, de 1988, estabelece regras para a fixação dos respectivas Constituições e Leis Orgânicas, obser-
vados o tempo de contribuição e os demais
padrões de vencimento e dos demais componentes do
requisitos estabelecidos em lei complementar do
sistema remuneratório, que deverá observar: a natu-
respectivo ente federativo.
reza, o grau de responsabilidade e a complexidade
§ 2º Os proventos de aposentadoria não poderão
dos cargos que compõem cada carreira; os requisitos
ser inferiores ao valor mínimo a que se refere o §
para a investidura nos cargos e as demais peculiari- 2º do art. 201 ou superiores ao limite máximo esta-
dades dos cargos. Tais requisitos poderão influenciar belecido para o Regime Geral de Previdência Social,
na fixação dos vencimentos e dependem de aprovação observado o disposto nos §§ 14 a 16.
de lei específica, assim como para o seu aumento, altera- § 3º As regras para cálculo de proventos de
ção ou criação de nova vantagem pecuniária. aposentadoria serão disciplinadas em lei do res-
Por lei, também serão estabelecidos os reajustes pectivo ente federativo.
diferenciados para corrigir equívocos, como no caso § 4º É vedada a adoção de requisitos ou crité-
de servidores que desempenham atividades seme- rios diferenciados para concessão de benefícios
lhantes, mas percebem valores muito diferentes. em regime próprio de previdência social, ressalva-
Salienta-se que a revisão geral da remuneração dos do o disposto nos §§ 4º-A, 4º-B, 4º-C e 5º.
servidores públicos, sem distinção de índices entre § 4º-A Poderão ser estabelecidos por lei comple-
civis e militares, será feita. mentar do respectivo ente federativo idade e tempo
Com objetivo de garantir o aperfeiçoamento do de contribuição diferenciados para aposentadoria
profissional, o dispositivo estabelece a realização de de servidores com deficiência, previamente sub-
cursos oficiais como requisito obrigatório para promo- metidos a avaliação biopsicossocial realizada por
ção na carreira, sendo facultada, para tanto, a celebra- equipe multiprofissional e interdisciplinar.
ção de convênios com os demais entes da federação. § 4º-B Poderão ser estabelecidos por lei comple-
Outra regra de extrema importância é a que assegu- mentar do respectivo ente federativo idade e tempo
ra ao servidor público civil da Administração Pública de contribuição diferenciados para aposentadoria
direta, autárquica e fundacional os direitos previstos de ocupantes do cargo de agente penitenciário, de
nos incisos IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, agente socioeducativo ou de policial dos órgãos de
XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, art. 7º, da CF, de 1988, e que tratam o inciso IV do caput do art. 51, o inciso
aos direitos que, nos termos da lei, visem à melhoria XIII do caput do art. 52 e os incisos I a IV do caput
de sua condição social e da produtividade e da efi- do art. 144.
§ 4º-C Poderão ser estabelecidos por lei comple-
ciência no serviço público, em especial o prêmio por
mentar do respectivo ente federativo idade e tempo
produtividade e o adicional de desempenho.
de contribuição diferenciados para aposentadoria
Atente-se aos limites de remuneração de servidores:
de servidores cujas atividades sejam exercidas com
DIREITO CONSTITUCIONAL

efetiva exposição a agentes químicos, físicos e bio-


z Mínimo: salário mínimo; lógicos prejudiciais à saúde, ou associação desses
z Máximo: vide inciso XI, art. 37, da CF (EC 41, de agentes, vedada a caracterização por categoria
2003). profissional ou ocupação.
§ 5º Os ocupantes do cargo de professor terão ida-
É importante conhecer o texto da Súmula Vincu- de mínima reduzida em 5 (cinco) anos em relação
lante nº 6 do STF: às idades decorrentes da aplicação do disposto
no inciso III do § 1º, desde que comprovem tempo
Súmula Vinculante nº 6 Não viola a Constituição de efetivo exercício das funções de magistério na
o estabelecimento de remuneração inferior ao salá- educação infantil e no ensino fundamental e médio
rio mínimo para as praças prestadoras de serviço fixado em lei complementar do respectivo ente
militar inicial. federativo.
§ 6º Ressalvadas as aposentadorias decorrentes dos
Art. 40 O regime próprio de previdência social cargos acumuláveis na forma desta Constituição, é
dos servidores titulares de cargos efetivos terá vedada a percepção de mais de uma aposentadoria 209
à conta de regime próprio de previdência social, § 19 Observados critérios a serem estabelecidos em
aplicando-se outras vedações, regras e condições lei do respectivo ente federativo, o servidor titular
para a acumulação de benefícios previdenciários de cargo efetivo que tenha completado as exigên-
estabelecidas no Regime Geral de Previdência cias para a aposentadoria voluntária e que opte
Social. por permanecer em atividade poderá fazer jus a um
§ 7º Observado o disposto no § 2º do art. 201, quan- abono de permanência equivalente, no máximo, ao
do se tratar da única fonte de renda formal auferida valor da sua contribuição previdenciária, até com-
pelo dependente, o benefício de pensão por morte pletar a idade para aposentadoria compulsória.
será concedido nos termos de lei do respectivo ente § 20 É vedada a existência de mais de um regime
federativo, a qual tratará de forma diferenciada a próprio de previdência social e de mais de um órgão
hipótese de morte dos servidores de que trata o § ou entidade gestora desse regime em cada ente
4º-B decorrente de agressão sofrida no exercício ou federativo, abrangidos todos os poderes, órgãos e
em razão da função. entidades autárquicas e fundacionais, que serão
§ 8º É assegurado o reajustamento dos benefí- responsáveis pelo seu financiamento, observados
cios para preservar-lhes, em caráter permanente, o os critérios, os parâmetros e a natureza jurídica
valor real, conforme critérios estabelecidos em lei. definidos na lei complementar de que trata o § 22.
§ 9º O tempo de contribuição federal, estadual, § 21 (Revogado).
distrital ou municipal será contado para fins § 22 Vedada a instituição de novos regimes pró-
de aposentadoria, observado o disposto nos §§ 9º prios de previdência social, lei complementar
e 9º-A do art. 201, e o tempo de serviço correspon- federal estabelecerá, para os que já existam, nor-
dente será contado para fins de disponibilidade. mas gerais de organização, de funcionamento e de
§ 10 A lei não poderá estabelecer qualquer forma responsabilidade em sua gestão, dispondo, entre
de contagem de tempo de contribuição fictício. outros aspectos, sobre:
§ 11 Aplica-se o limite fixado no art. 37, XI, à soma I - requisitos para sua extinção e consequente
total dos proventos de inatividade, inclusive quando migração para o Regime Geral de Previdência
decorrentes da acumulação de cargos ou empregos Social;
públicos, bem como de outras atividades sujeitas II - modelo de arrecadação, de aplicação e de utili-
a contribuição para o regime geral de previdência zação dos recursos;
social, e ao montante resultante da adição de pro- III - fiscalização pela União e controle externo e
ventos de inatividade com remuneração de cargo social;
acumulável na forma desta Constituição, cargo em IV - definição de equilíbrio financeiro e atuarial;
comissão declarado em lei de livre nomeação e exo- V - condições para instituição do fundo com finali-
neração, e de cargo eletivo. dade previdenciária de que trata o art. 249 e para
§ 12 Além do disposto neste artigo, serão observa- vinculação a ele dos recursos provenientes de con-
dos, em regime próprio de previdência social, no tribuições e dos bens, direitos e ativos de qualquer
que couber, os requisitos e critérios fixados para o natureza;
Regime Geral de Previdência Social. VI - mecanismos de equacionamento do deficit
§ 13 Aplica-se ao agente público ocupante, exclusi- atuarial;
vamente, de cargo em comissão declarado em lei de VII - estruturação do órgão ou entidade gestora do
livre nomeação e exoneração, de outro cargo tem- regime, observados os princípios relacionados com
porário, inclusive mandato eletivo, ou de emprego governança, controle interno e transparência;
público, o Regime Geral de Previdência Social. VIII - condições e hipóteses para responsabilização
§ 14 A União, os Estados, o Distrito Federal e os daqueles que desempenhem atribuições relacio-
Municípios instituirão, por lei de iniciativa do res- nadas, direta ou indiretamente, com a gestão do
pectivo Poder Executivo, regime de previdência regime;
complementar para servidores públicos ocupantes IX - condições para adesão a consórcio público;
de cargo efetivo, observado o limite máximo dos X - parâmetros para apuração da base de cálculo e
benefícios do Regime Geral de Previdência Social definição de alíquota de contribuições ordinárias e
para o valor das aposentadorias e das pensões em extraordinárias.
regime próprio de previdência social, ressalvado o
disposto no § 16. O art. 40, da CF, de 1988, regulamenta o Regime
§ 15 O regime de previdência complementar de que Previdenciário Próprio de Previdência Social. Em
trata o § 14 oferecerá plano de benefícios somente síntese, o sistema previdenciário do servidor públi-
na modalidade contribuição definida, observará o co foi alterado com a EC nº 103, de 2019, da seguinte
disposto no art. 202 e será efetivado por intermédio forma:
de entidade fechada de previdência complementar
ou de entidade aberta de previdência complementar. z Desconstitucionalização das regras de previdência,
§ 16 Somente mediante sua prévia e expressa opção, de modo que vários regramentos sobre aposenta-
o disposto nos §§ 14 e 15 poderá ser aplicado ao doria e pensão passaram a ser de competência de
servidor que tiver ingressado no serviço público até
lei infraconstitucional;
a data da publicação do ato de instituição do cor-
z Nova mudança no cálculo da pensão;
respondente regime de previdência complementar.
z Maior aproximação do RGPS e RPPS;
§ 17 Todos os valores de remuneração considera-
dos para o cálculo do benefício previsto no § 3º
z Modificações no abono de permanência;
serão devidamente atualizados, na forma da lei. z Previsão de readaptação antes de aposentadoria
§ 18 Incidirá contribuição sobre os proventos de por incapacidade permanente;
aposentadorias e pensões concedidas pelo regime z Inclusão dos agentes políticos ocupantes de man-
de que trata este artigo que superem o limite máxi- dato eletivo nas regras do RGPS;
mo estabelecido para os benefícios do regime geral z Exclusão da aposentadoria apenas por tempo de
de previdência social de que trata o art. 201, com contribuição;
percentual igual ao estabelecido para os servidores z Regras especiais para carreiras policiais previstas
210 titulares de cargos efetivos. na CF.
No que tange à aposentadoria, suas modalidades III - mediante procedimento de avaliação perió-
são: dica de desempenho, na forma de lei complemen-
tar, assegurada ampla defesa.
z Voluntária: quando se dá por livre e espontânea § 2º Invalidada por sentença judicial a demissão
vontade, desde que cumpridos os requisitos dis- do servidor estável, será ele reintegrado, e o eventual
ocupante da vaga, se estável, reconduzido ao cargo
postos a seguir:
de origem, sem direito a indenização, aproveitado em
outro cargo ou posto em disponibilidade com remune-
HOMEM MULHER ração proporcional ao tempo de serviço.
§ 3º Extinto o cargo ou declarada a sua desne-
IDADE 65 anos 62 anos
cessidade, o servidor estável ficará em disponi-
TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO 25 anos 25 anos bilidade, com remuneração proporcional ao
tempo de serviço, até seu adequado aproveita-
TEMPO NO SERVIÇO PÚBLICO 10 anos 10 anos mento em outro cargo.
§ 4º Como condição para a aquisição da estabili-
TEMPO NA CARREIRA 5 anos 5 anos
dade, é obrigatória a avaliação especial de desem-
penho por comissão instituída para essa finalidade.
No caso dos professores dos ensinos infantil, fun-
damental e médio, conta-se com a redução de 5 anos Por fim, o art. 41, da CF, de 1988, trata da estabi-
do requisito etário, ou seja, 60 anos para os homens e lidade, que prevê a regra de que a estabilidade é
57 anos para as mulheres. Atenção! Essa regra não se adquirida após três anos de efetivo exercício. Tra-
aplica aos professores do ensino superior. ta-se de uma garantia constitucional de permanência
Vejamos o texto da Súmula nº 726, do STF: no serviço público outorgada ao servidor aprovado
em concurso público e nomeado a cargo de provimen-
Súmula nº 726 Para efeito de aposentadoria espe- to efetivo que tenha transposto o período de estágio
cial de professores, não se computa o tempo de ser- probatório e sido aprovado na avaliação especial de
viço prestado fora da sala de aula. desempenho. Uma vez efetivo, o servidor só perderá
o cargo em três hipóteses: sentença judicial transi-
z Involuntária: quando se dá independentemente tada em julgado; processo administrativo e procedi-
da vontade do servidor, em virtude de: mento de avaliação periódica de desempenho.
Explicando melhor, para a contratação de pessoal
„ Incapacidade permanente, sendo necessário na Administração Pública, é realizado concurso públi-
que se proceda à readaptação do servidor antes co para preenchimento de cargos públicos. Com isso,
do procedimento para a aposentadoria; a pessoa que foi aprovada dentro do número de vagas
„ Adimplemento de idade limite (aposentadoria previstas no certame tem o direito de ser nomeada
compulsória aos 70 ou aos 75 anos de idade, na para o cargo público. Com a nomeação, essa pessoa
forma da Lei Complementar nº 152, de 2015). assina o termo de posse e pode, a partir de então, exer-
cer efetivamente o cargo público.
Nos primeiros três anos de exercício, esse servidor
A CF, de 1988, estabelece, ainda, o direito de uti-
passa por um período de avaliação. Trata-se do estágio
lizar, para fins de aposentadoria, o tempo de servi-
probatório, ou seja, um período durante o qual será ana-
ço desempenhado em outro ente da Federação ou
lisado seu desempenho funcional. Completados três anos
na iniciativa privada. Por exemplo: uma pessoa que
de serviço público e tendo sido aprovado no estágio pro-
trabalhou 8 (oito) anos em uma empresa antes de ser
batório, o servidor adquire a denominada estabilidade.
aprovada em concurso público estadual pode consi-
O dispositivo estabelece, ainda, a possibilidade de
derar esse tempo no cálculo final do tempo de serviço.
reintegração, ou seja, o retorno, por meio de decisão
judicial, do servidor público ilegalmente desligado
z Regra: Veda-se a aposentadoria especial;
ao cargo de origem ou ao cargo resultante de sua
z Exceção: vide §§ 4º-A, 4º-B, 4º-C e 5º, art. 40. Em transformação. Salienta-se que ele fará jus ao rece-
síntese: bimento de todas as vantagens que teria auferido no
período em que ficou desligado, inclusive das promo-
„ Servidores com deficiência; ções por antiguidade que teria conquistado.
„ Agente penitenciário;
„ Agente socioeducativo;
„ Policial das carreiras do art. 144 (Segurança Importante!
DIREITO CONSTITUCIONAL

Pública) e policiais da Câmara e do Senado


Federal; É possível, também, que decisão administrativa
„ Atividades que prejudiquem à saúde (aquelas invalide a demissão.
exercidas com efetiva exposição a agentes quí-
micos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde,
ou associação desses agentes). No caso de o cargo anteriormente ocupado pelo
servidor ter sido extinto, ele será reintegrado ao ser-
Art. 41 São estáveis após três anos de efetivo viço público, porém ficará em disponibilidade remu-
exercício os servidores nomeados para cargo de nerada até seu adequado aproveitamento em outro
provimento efetivo em virtude de concurso público. cargo. Já no caso de o cargo provido ter sido ocupado
§ 1º O servidor público estável só perderá o cargo: por outro servidor, o ocupante será reconduzido ao
I - em virtude de sentença judicial transitada cargo de origem, sem direito à indenização, ou apro-
em julgado; veitado em outro cargo, ou, ainda, posto em disponi-
II - mediante processo administrativo em que lhe bilidade enquanto o servidor reintegrado voltará a
seja assegurada ampla defesa; exercer o seu cargo. 211
Art. 14 A soberania popular será exercida pelo sufrá-
PODERES DO ESTADO: NOÇÕES gio universal e pelo voto direto e secreto, com valor
igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:
GERAIS § 3º São condições de elegibilidade, na forma da lei:
I - a nacionalidade brasileira;
Conforme abordado brevemente no início deste II - o pleno exercício dos direitos políticos;
material, a teoria criada por Montesquieu determina a III - o alistamento eleitoral;
composição e divisão do Estado. Ela objetiva que cada IV - o domicílio eleitoral na circunscrição;
poder seja independente e harmônico entre si, como V - a filiação partidária;
forma de dividir as funções do Estado, entre poder exe- VI - a idade mínima de:
cutivo, poder legislativo e poder judiciário, a esse enten- a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-
dimento chamamos de Teoria da Separação dos Poderes. -Presidente da República e Senador; (grifo nosso)
O poder legislativo tem o poder de fazer emendas,
alterar e revogar leis, já o poder executivo, função de A Constituição consolidou o direito do povo para
administrar o Estado, e por fim, o poder judiciário é eleger seus representantes, pelo sufrágio universal e
quem tem a função jurisdicional, por exemplo, a apli- voto secreto.
cação do Direito em um caso concreto, através de um Por conseguinte, ainda se tratando do art. 14, esse
processo judicial. consagra que é possível uma reeleição para um perío-
do subsequente. Entretanto, atualmente não é mais
possível um terceiro mandato seguido. Sobre esse
LEGISLATIVO EXECUTIVO JUDICIÁRIO
aspecto, é importante frisar que a reeleição não é uma
Administra o cláusula pétrea, podendo ser retirada da Constituição.
Elabora as leis Aplica as leis
Estado
Presidente da Art. 14 [...]
Senadores e Deputados Supremo § 5º O Presidente da República, os Governadores de
República
Federais Tribunal Federal
Governadores Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os
Deputados Estaduais Tribunais
do Estado houver sucedido, ou substituído no curso dos man-
Vereadores Juízes
Prefeitos datos poderão ser reeleitos para um único perío-
do subsequente.
A seguir iniciaremos o estudo específico de cada
um dos poderes. O art. 12, § 3°da CF relaciona os cargos privativos
de brasileiro nato:
PODER EXECUTIVO
Art. 14 [...]
O poder executivo está consagrado no art. 76 a 91 § 3º São privativos de brasileiro nato os cargos:
da Constituição e tem como função a solução e admi- I - de Presidente e Vice-Presidente da República;
nistração de casos concretos e individualizados, de II - de Presidente da Câmara dos Deputados;
acordo com as leis gerais e abstratas elaboradas pelo III - de Presidente do Senado Federal;
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
legislativo, ou seja, tem a função típica de adminis-
V - da carreira diplomática;
trar e gerenciar o Estado. Entretanto, também pode
VI - de oficial das Forças Armadas.
exercer funções legislativas através das medidas pro-
VII - de Ministro de Estado da Defesa.
visórias e leis delegadas.
Estadual e Distrital
Federal
No âmbito estadual, o chefe do Executivo é o
Conforme já abordado anteriormente, o nosso país Governador do respectivo Estado membro, com man-
é regido pelo sistema presidencialista, em que as fun- dato de quatro anos, também eleito pelo sistema
ções de chefe de Estado estão na figura do Presidente majoritário absoluto, e tem como auxiliar direto os
da República, conforme o art. 76 da CF. No âmbito Fede- secretários estaduais e, no Distrito Federal, os secre-
ral, o Poder Executivo é representado pelo Presidente tários distritais.
da República com o auxílio dos Ministros de Estado. O Governador de estado deve ser cidadão brasilei-
ro, com idade mínima de 30 anos, conforme determi-
Art. 76 O Poder Executivo é exercido pelo Presi-
na o art. 14, § 3º, VI, b da CF, de 1988.
dente da República, auxiliado pelos Ministros de
Estado.
Art. 14 [...]
VI - a idade mínima de:
O Presidente da República e seu vice têm um man- b) trinta anos para Governador e Vice-Governador
dato de quatro anos e são eleitos pelo sistema majori- de Estado e do Distrito Federal;
tário absoluto.
Majoritário absoluto: ganha a eleição o candida- Municipal
to que conseguir a maioria de votos (o primeiro núme-
ro inteiro, depois da metade do total) avaliados em 1° No âmbito municipal, o Poder Executivo é coman-
ou em 2° turno. dado pelo Prefeito, o qual deve ser cidadão brasileiro e,
1° Turno: realizado no 1° domingo de outubro; conforme art. 14 § 3°, VI, da CF, deve ter idade mínima
2° Turno: último domingo de outubro. de 21 anos. O mandato é de quatro anos, contando com
Bem como, conforme art.14, § 3° VI, a da CF, de o auxílio dos secretários municipais. Eleito pelo siste-
1988, o Presidente da República deve ter a idade míni- ma majoritário absoluto, para município com mais de
ma de 35 anos e ser brasileiro nato (art. 12 § 3°, I da 200 mil eleitores, e sistema majoritário simples ou
212 CF, de 1988). relativo, para municípios com até 200 mil eleitores.
Majoritário simples ou relativo: ganha a eleição o Importante atentar que o dispositivo em comento
candidato que conseguir a maioria dos votos válidos, ou só é aplicado se não houver definitivamente Presiden-
seja, ganha o mais votado em um só turno. te e nem Vice-Presidente.
Exemplo: 100.000 votos válidos. Linha do tempo da sucessão Presidencial:
Realizado no 1° domingo de outubro.
Cuidado! Se houver empate, ganha o mais idoso.
Sistema também usado para eleição de Senadores. ELEIÇÃO DIRETA ELEIÇÃO INDIRETA
Primeiros 2 ANOS Últimos 2 ANOS
Município com mais de Município com até 200 mil
200 mil eleitores eleitores
Sistema de eleição majori- Sistema de eleição majori- Eleição direta até 90 dias da Eleição Indireta feita pelo
tário absoluto tário simples ou relativo última vaga Congresso Nacional, em até 30
dias da última vaga

PODER EXEUTIVO Nos dois casos, serão eleitos novo Presidente e


FEDERAL ESTADUAL MUNICIPAL novo Vice-Presidente para completar o mandato, cha-
mado como mandato tampão.
Prefeito + Vice =
Mandato de quatro
É possível eleição indireta nas demais esferas fede-
anos. rativas (ex.: Governador - Prefeito)
Governador do Esta-
Auxiliar direto: Se-
do + Vice = Mandato
Presidente da Repú-
de quatro anos
cretários Municipais Crimes de Responsabilidade
blica + Vice = Manda- Sistema de eleição
Auxiliar direto: Es-
to de quatro anos majoritário absoluto, Os crimes de responsabilidade têm previsão nos
tados - Secretários
Auxiliar direto: Minis- para município com
tros do Estado
Estaduais.
mais de 200 mil
arts. 85 e 52 da CF, bem como na Lei 1079, de 1950,
Distrito Federal: Se- que define os crimes de responsabilidade e regula o
Sistema de eleição eleitores
cretários Distritais
majoritário absoluto
Sistema de eleição
Sistema de eleição respectivo processo de julgamento, por exemplo, o
majoritário simples ou Presidente da República cometeu improbidade admi-
majoritário absoluto
relativo, para municí-
pio com até 200 mil
nistrativa ou não obedeceu a decisão do STF.
eleitores A lei 1079, de 1950 foi recepcionada pela ADPF 378
(estudaremos o que é uma ADPF no tópico Controle de
Ordem de Substituição ou Sucessão Presidencial Constitucionalidade).
ADPF 378: teve por objeto central analisar a com-
O Presidente será eleito com um Vice-Presidente, patibilidade do rito de impeachment de Presidente
da República, previsto na Lei nº 1.079, de 1950 com a
companheiro de chapa. A eleição do Presidente impli-
Constituição de 1988.
ca na eleição do Vice com ele registrado.
O crime de responsabilidade trata-se de um ilícito
O Vice-Presidente tem função de auxiliar o Presidente
político administrativo definido em lei especial federal,
sempre que convocado para missões especiais, bem como,
que podem ser cometidos no desempenho de suas fun-
no caso de impedimento, o substituirá (art. 79 da CF).
ções, e como consequência pode resultar no impedimento
Ainda, conforme determina o art. 80 da CF, em caso
para o exercício de suas funções públicas. Trata-se de um
de impedimento concomitante do Presidente e do Vice,
resultado obtido através do processo de impeachment.
ou vacância dos respectivos cargos, serão chamados ao
O art. 85 da CF dispõe sobre crimes de responsabi-
exercício da Presidência o Presidente da Câmara dos
lidade, ou seja, os atos do Presidente da República que
Deputados, o do Senado Federal e o do Supremo Tribu-
atentem contra a Constituição Federal e, especialmente,
nal Federal, sucessivamente, nessa ordem. contra a existência da União, livre exercício do Minis-
tério Público e dos Poderes constitucionais dos Estados
ORDEM DE SUBSTITUIÇÃO OU SUCESSÃO PRESIDENCIAL
e DF, direitos políticos, individuais e sociais, segurança
interna do país, probidade na administração, lei orça-
mentária, cumprimento das leis e decisões judiciais.
Qualquer cidadão é legitimado ativo para pro-
Temporário Definitivo por a acusação contra o Presidente da República
na Câmara dos Deputados pela prática de crime de
responsabilidade.
DIREITO CONSTITUCIONAL

Art. 85 São crimes de responsabilidade os atos


Presidente da Câmara dos do Presidente da República que atentem contra a
Deputados Vice-Presidente Constituição Federal e, especialmente, contra:
Presidente do Senado Definitivamente ou I - a existência da União;
Federal temporário - interinamente II - o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder
Presidente do STF Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes
constitucionais das unidades da Federação;
III - o exercício dos direitos políticos, individuais e
sociais;
Conforme consagra o art. 81 da CF, vagando os car-
IV - a segurança interna do País;
gos de Presidente e Vice, far-se-á eleição noventa dias
V - a probidade na administração;
para complementar o mandato, depois de aberta a VI - a lei orçamentária;
última vaga. Ainda, caso ocorra à vacância nos últi- VII - o cumprimento das leis e das decisões judiciais.
mos dois anos do período presidencial, a eleição Parágrafo único. Esses crimes serão definidos em
para ambos os cargos será feita em trinta dias depois lei especial, que estabelecerá as normas de proces-
da última vaga, pelo Congresso Nacional. so e julgamento. 213
Crimes Comuns Cometidos pelo Presidente da Para ficar mais fácil a compreensão, vejamos na
República tabela a seguir o esquema de memorização referente
aos crimes cometidos pelo Presidente da República,
Os crimes comuns cometidos pelo Presidente da conforme dispõe o art. 86 da CF.
República abrangem todas as infrações penais, por
exemplo, caso o Presidente da República venha a Art. 86 Admitida a acusação contra o Presidente
cometer crime de homicídio. da República, por dois terços da Câmara dos Depu-
Sendo que, dependerá de autorização pela Câmara tados, será ele submetido a julgamento perante o
Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais
dos Deputados, que aprovará o recebimento ou não
comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes
da denúncia pelo Supremo Tribunal Federal. de responsabilidade.
Importante lembrar que o Presidente não dispõe § 1º O Presidente ficará suspenso de suas funções:
da imunidade material, a qual somente se estende I - nas infrações penais comuns, se recebida à denún-
aos membros do Poder Legislativo, ou seja, o Presi- cia ou queixa-crime pelo Supremo Tribunal Federal;
dente não é inviolável por suas palavras e opiniões, II - nos crimes de responsabilidade, após a instau-
mesmo que no exercício de suas funções. ração do processo pelo Senado Federal.
§ 2º Se, decorrido o prazo de cento e oitenta dias, o
Processo de Impeachment julgamento não estiver concluído, cessará o afasta-
mento do Presidente, sem prejuízo do regular pros-
seguimento do processo.
O processo de impeachment é previsto na Consti- § 3º Enquanto não sobrevier sentença condenató-
tuição Federal nos arts. 86, 52 e na Lei nº 1079, de 1950, ria, nas infrações comuns, o Presidente da Repúbli-
que define os crimes de responsabilidade e regula o ca não estará sujeito a prisão.
respectivo processo de julgamento. § 4º O Presidente da República, na vigência de seu
O processo de impeachment tem duas fases: a pri- mandato, não pode ser responsabilizado por atos
meira fase é o chamado juízo de admissibilidade e a estranhos ao exercício de suas funções.
segunda fase é o julgamento, vejamos:
CRIME DE
1º Fase – Juízo de Admissibilidade CRIME COMUM
RESPONSABILIDADE
Caso seja ação penal
z Acusação: Significa estabelecer autoria e materia- DENÚNCIA Qualquer cidadão
pública, será o PGR
lidade – Quem fez o que?
Dois terços da Dois terços da
QUEM
Câmara dos Câmara dos
Exemplo: Presidente da República cometeu crime RECEBE
Deputados Deputados
de responsabilidade ao realizar a improbidade admi-
nistrativa/pedaladas fiscais, ou o Presidente da Repú- JULGAMENTO Senado Federal STF
blica cometeu improbidade administrativa ao não
obedecer à decisão do STF. PODER LEGISLATIVO

z Recebimento: Câmara dos Deputados por dois É o poder de fazer, emendar, alterar e revogar leis,
terços dos membros (Dois terços = 63% = 342 consagrado no art. 44 a 75 da Constituição. Assim, a fun-
Deputados). ção típica do Poder Legislativo é legislar, ou seja, tem a
função de elaborar as normas jurídicas gerais e abstratas,
2º Fase - Julgamento: bem como, tem como função atípica administrar e julgar.

Julgamento é feito pelo Senado Federal, por dois z Exemplo de função atípica: Controle de contas
terços dos membros (Dois terços = 64 Senadores). públicas, autorização para instauração de proces-
Recebida a acusação, inicia a segunda fase (julga- sos contra certas autoridades, julgamento de cri-
mento): o Presidente da República fica suspenso por mes de responsabilidade e etc.
180 dias de suas funções.
O julgamento é presidido pelo Presidente do Fiscalização contábil conta com o auxílio do Tribu-
Supremo Tribunal Federal e caso decorra o prazo de nal de Contas da União (art. 70 a 74 CF).
180 dias, e o julgamento não estiver concluído, cessará Tribunal de contas nos Estados e Distrito Federal
o afastamento do Presidente, sem prejuízo do regular (art. 75 da CF, de 1988).
prosseguimento do processo.
Condenado, o Presidente perderá o cargo e fica- Federal
rá inabilitado por oito anos para exercício de função
pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais No âmbito nacional temos o Congresso Nacional que é
cabíveis (art. 52, parágrafo único da CF). denominado bicameral, pois é composto pelas duas casas,
Condenado o Presidente, nem função honorífica a Câmara dos Deputados e Senado Federal, também cha-
pode exercer, por exemplo, mesário de eleições e jura- mado de bicameralismo federativo, pois é composto por
do de júri. representantes dos estados e do Distrito Federal.

1º FASE Início da fase Câmara dos Deputados


2º FASE
ADMISSIBILIDADE de criação
JULGAMENTO
e instalação Composto por representantes do povo, eleitos
Recebimento da de comissão pelo sistema proporcional para mandatos de quatro
Plenário do
denúncia pelo especial para anos, permitindo sucessivas reeleições.
Senado Federal
Presidente da analisar a
para votação Sistema proporcional: o eleitor escolhe ser repre-
Câmara denúncia
214 sentado por determinado partido e preferencialmente
pelo candidato escolhido. Entretanto, caso o candida- I - inaugurar a sessão legislativa;
to escolhido não seja eleito, o voto será somado aos II - elaborar o regimento comum e regular a criação
demais votos da legenda, compondo a votação do par- de serviços comuns às duas Casas;
tido ou coligação. III - receber o compromisso do Presidente e do Vice-
-Presidente da República; (grifo nosso)
Cada estado será representado de acordo com a
IV - conhecer do veto e sobre ele deliberar.
sua população, ou seja, quanto mais populoso, maior
será o número de representantes do ente federado
Em relação ao Art. 57, § 3º, inciso III, guarde que: a ses-
nesta casa. Ainda, conforme art. 45, § 1° da CF, nenhu-
são acontece no primeiro ano do mandato do Presidente
ma unidade da federação terá menos de oito ou mais
de setenta deputados, exceção territórios (que atual-
z Mesas do Congresso Nacional
mente não existem mais, mas se voltarem a existir)
poderão eleger quatro Deputados Federais.
As mesas são os órgãos diretivos da Câmara dos
Deputados, do Senado Federal e do Congresso Nacio-
Senado Federal
nal. As mesas têm responsabilidade de administrar
sua casa, eleitos pelos próprios parlamentares.
Composto por representantes dos Estados e Distrito A composição da mesa do Congresso Nacional
Federal, eleitos pelo sistema majoritário simples. Cada pode ser alterada por regimentos, com mandato de
Estado e o Distrito Federal elege o número fixo de três dois anos, devendo ser presidida pelo Presidente do
Senadores, com mandato de oito anos. Ainda, cada Sena- Senado e os demais cargos serão exercidos, alterna-
dor será eleito com dois suplementes (art. 46 da CF). damente, pelos ocupantes de cargos equivalentes na
Cada Estado elege o número fixo de três Senadores. Câmara dos Deputados e no Senado Federal, confor-
Cada Senador terá dois Suplentes. me determina o art. 57§ 5º da CF. Ainda, a presidência
é exercida pelo presidente do Senado. Vejamos as atri-
z Funcionamento do Congresso Nacional buições para as mesas nos seguintes artigos, art. 50 §
1° e § 2° CF, art. 55§ 2 e § 3° e art. 103, II e III CF.
Conforme art. 57 da CF, o Congresso Nacional reu-
nir-se-á na Capital Federal de 2 de fevereiro a 17 de Art. 50 A Câmara dos Deputados e o Senado Fede-
julho e de 1º de agosto a 22 de dezembro, período ral, ou qualquer de suas Comissões, poderão con-
denominado como sessão legislativa, ou seja, é o vocar Ministro de Estado ou quaisquer titulares
período em que o congresso se reúne anualmente. de órgãos diretamente subordinados à Presidência
Entenda: Período denominado sessão legislativa da República para prestarem, pessoalmente, infor-
é o período em que o congresso se reúne para ativida- mações sobre assunto previamente determinado,
des anualmente. importando crime de responsabilidade a ausência
Sessão legislativa sem justificação adequada.
02 de fevereiro a 17 de julho § 1º Os Ministros de Estado poderão comparecer
01 de agosto a 22 de dezembro ao Senado Federal, à Câmara dos Deputados,
Sessão legislativa ordinária: período de atividade ou a qualquer de suas Comissões, por sua ini-
normal do Congresso (mencionado acima). ciativa e mediante entendimentos com a Mesa
respectiva, para expor assunto de relevância de
Sessão legislativa extraordinária: trabalho realizado
seu Ministério.
durante o recesso parlamentar, mediante convocação. § 2º As Mesas da Câmara dos Deputados e do
Recesso Senado Federal poderão encaminhar pedidos
18 de julho a 31 de julho escritos de informações a Ministros de Estado
23 de dezembro a 01 de fevereiro ou a qualquer das pessoas referidas no caput
Não confundir sessão legislativa com legislatu- deste artigo, importando em crime de responsabi-
ra: legislatura é o período de quatro anos de execução lidade a recusa, ou o não - atendimento, no prazo de
das atividades do Congresso Nacional. Vide artigo 44, trinta dias, bem como a prestação de informações
parágrafo único da CF. falsas. (grifo nosso)
Art. 55 Perderá o mandato o Deputado ou Senador:
Art. 44 O Poder Legislativo é exercido pelo Con- I - que infringir qualquer das proibições esta-
gresso Nacional, que se compõe da Câmara dos belecidas no artigo anterior;
Deputados e do Senado Federal. II - cujo procedimento for declarado incompa-
Parágrafo único. Cada legislatura terá a duração tível com o decoro parlamentar;
de quatro anos. III - que deixar de comparecer, em cada sessão
legislativa, à terça parte das sessões ordiná-
Cuidado com o art. 57, § 3º da CF, que dispõe sobre rias da Casa a que pertencer, salvo licença ou
DIREITO CONSTITUCIONAL

as reuniões – referente à sessão Conjunta, o qual ocor- missão por esta autorizada;
rerá em quatro casos, vejamos. IV - que perder ou tiver suspensos os direitos políticos;
V - quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos
Art. 57 O Congresso Nacional reunir-se-á, anual- casos previstos nesta Constituição;
mente, na Capital Federal, de 2 de fevereiro a 17 de VI - que sofrer condenação criminal em sentença
julho e de 1º de agosto a 22 de dezembro. transitada em julgado.
§ 1º As reuniões marcadas para essas datas serão § 1º É incompatível com o decoro parlamentar, além
transferidas para o primeiro dia útil subsequente, dos casos definidos no regimento interno, o abuso das
quando recaírem em sábados, domingos ou feriados. prerrogativas asseguradas a membro do Congresso
§ 2º A sessão legislativa não será interrompida Nacional ou a percepção de vantagens indevidas.
sem a aprovação do projeto de lei de diretrizes § 2º Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do
orçamentárias. mandato será decidida pela Câmara dos Deputa-
§ 3º Além de outros casos previstos nesta Constitui- dos ou pelo Senado Federal, por maioria absoluta,
ção, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal mediante provocação da respectiva Mesa ou de
reunir-se-ão em sessão conjunta para: partido político representado no Congresso Nacio-
I - inaugurar a sessão legislativa; nal, assegurada ampla defesa. 215
§ 3º Nos casos previstos nos incisos III a V, a A imunidade é uma espécie de proteção aos par-
perda será declarada pela Mesa da Casa res- lamentares no exercício de suas funções, para que
pectiva, de ofício ou mediante provocação de estes tenham ampla liberdade de expressão e debate
qualquer de seus membros, ou de partido político de ideias nas questões de interesse de seus represen-
representado no Congresso Nacional, assegurada tados. Ainda, a imunidade material é absoluta, sen-
ampla defesa. (grifo nosso) do que as palavras e opiniões do parlamentar ficam
Art. 103 Podem propor a ação direta de incons- excluídas de ação condenatória.
titucionalidade e a ação declaratória de Por exemplo, determinado Senador, ao discutir
constitucionalidade:
temas políticos com outro parlamentar, profere pala-
I - o Presidente da República;
vras de injuria e acusa o parlamentar de praticar
II - a Mesa do Senado Federal;
III - a Mesa da Câmara dos Deputados; (grifo
fatos definidos como crime. Nesse caso, o parlamentar
nosso) ofendido não pode mover processo contra o Senador,
pois as ofensas proferidas estão relacionadas ao exer-
cício da atividade parlamentar.
O Presidente da mesa é o Presidente da sua res-
Parlamentar não pode renunciar à imunidade par-
pectiva casa, cabe a este declarar a perda de mandato
lamentar e abrir mão do foro privilegiado.
(art. 55 da CF).
Conforme o art. 29, VIII da CF, de 1988, os vereado-
res tem essa proteção, mas somente na circunscrição
Estadual e Distrital
do Município.
O âmbito Estadual e Distrital é composto pela
Art. 29 O Município reger-se-á por lei orgânica, votada
Assembleia Legislativa, através dos Deputados esta- em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias,
duais, eleitos pelo sistema proporcional (26 Deputados e aprovada por dois terços dos membros da Câmara
por Estado), com mandato de quatro anos, aplicando Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios
as regras desta Constituição sobre sistema eleitoral, estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do
inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda respectivo Estado e os seguintes preceitos: [...]
de mandato, licença, impedimentos e incorporação VIII - inviolabilidade dos Vereadores por suas opi-
às Forças Armadas. Ainda, o subsídio dos Deputados niões, palavras e votos no exercício do mandato e
Estaduais será fixado por lei de iniciativa da Assem- na circunscrição do Município;
bleia Legislativa (art. 27 da CF).
Imunidade Formal: Relativa propriamente dita.
Municipal Na imunidade formal, há a possibilidade de sus-
pensão da prisão e do processo para a maioria abso-
Na esfera municipal temos os Vereadores eleitos luta dos membros da respectiva casa, consiste no
pelo sistema proporcional, com mandato de quatro julgamento pelo STF, desde a expedição do Diploma.
anos – Unicameral. O número de vereadores que ocu- Note que os vereadores não podem ser presos, salvo
pam a Câmara Municipal é definido de acordo com o em flagrante de crime inafiançável.
número de habitantes da respectiva cidade, conforme A diplomação ocorre antes da posse, é um ato que
art. 29, IV da CF. comprova que o candidato foi eleito e está apto para
Os vereadores apenas gozam da imunidade material. tomar a posse no respectivo cargo. É neste ato que ocorre
a entrega do documento (diploma) pela justiça eleitoral.
Imunidade Parlamentar
Art.53 Os Deputados e Senadores são invioláveis,
A imunidade parlamentar é também conheci- civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões,
palavras e votos.
da como imunidade legislativa, pode ser imunidade
§ 3º Recebida à denúncia contra o Senador ou
material ou imunidade formal, vejamos: Imunidade
Deputado, por crime ocorrido após a diploma-
Material: absoluta inviolabilidade. ção, o Supremo Tribunal Federal dará ciência
Parlamentares são imunes civil e penalmente para à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido
suas opiniões, palavras e votos, desde que no exer- político nela representado e pelo voto da maioria de
cício da atividade parlamentar. Sendo que, não seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o
cometem no exercício da atividade parlamentar: inju- andamento da ação.
ria calúnia e difamação. Todos os parlamentares pos- § 4º O pedido de sustação será apreciado pela Casa
suem essa imunidade. respectiva no prazo improrrogável de quarenta e
A imunidade material está consagrada no art. 53 do cinco dias do seu recebimento pela Mesa Diretora.
texto constitucional, que prevê que Deputados e Sena- § 5º A sustação do processo suspende a prescrição,
dores são invioláveis civis e penalmente, vejamos. enquanto durar o mandato.
§ 6º Os Deputados e Senadores não serão obrigados a
Art. 53 Os Deputados e Senadores são invioláveis, testemunhar sobre informações recebidas ou prestadas
civil e penalmente, por quaisquer de suas opi- em razão do exercício do mandato, nem sobre as pessoas
niões, palavras e votos. que lhes confiaram ou deles receberam informações.
§ 1º Os Deputados e Senadores, desde a expedi- § 7º A incorporação às Forças Armadas de Deputados
ção do diploma, serão submetidos a julgamento e Senadores, embora militares e ainda que em tempo de
perante o Supremo Tribunal Federal. guerra, dependerá de prévia licença da Casa respectiva.
§ 2º Desde a expedição do diploma, os membros § 8º As imunidades de Deputados ou Senadores
do Congresso Nacional não poderão ser pre- subsistirão durante o estado de sítio, só podendo
sos, salvo em flagrante de crime inafiançável. ser suspensas mediante o voto de dois terços dos
Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vin- membros da Casa respectiva, nos casos de atos pra-
te e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo ticados fora do recinto do Congresso Nacional, que
voto da maioria de seus membros, resolva sobre a sejam incompatíveis com a execução da medida.
216 prisão. (grifo nosso) (grifo nosso)
Caso seja determinada a prisão de algum Depu- suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao
tado ou Senador após a diplomação, os autos serão Ministério Público, para que promova a responsabi-
enviados para a respectiva casa, para que, pelo voto lidade civil ou criminal dos infratores. (grifo nosso)
da maioria de seus membros, a casa resolva sobre
a prisão, a qual poderá determinada a sustação do A seguir, organizamos um quadro explicativo refe-
andamento da ação até o final do mandato (Neste rente ao que pode e o que não pode ser realizado pela CPI.
caso, fica suspensa a prescrição).
CPI Pode
Comissões
z Convocar ministro de Estado;
Comissões são os grupos de parlamentares reuni- z Tomar depoimento de autoridade federal, estadual
dos para discutir sobre diversos assuntos, por exem- ou municipal;
plo, cabe às comissões convocar Ministros de Estado z Ouvir suspeitos (que têm direito ao silêncio para
para prestar informações sobre assuntos inerentes a não se auto incriminar) e testemunhas (que têm o
compromisso de dizer a verdade e são obrigadas a
suas atribuições. Vejamos o art. 58 da CF.
comparecer);
z Ir a qualquer ponto do território nacional para
Art. 58 O Congresso Nacional e suas Casas terão
investigações e audiências públicas;
comissões permanentes e temporárias, constituí-
z Prender em flagrante delito;
das na forma e com as atribuições previstas no respec-
z Requisitar informações e documentos de reparti-
tivo regimento ou no ato de que resultar sua criação.
ções públicas e autárquicas;
§ 1º Na constituição das Mesas e de cada Comissão,
é assegurada, tanto quanto possível, a representa-
z Requisitar funcionários de qualquer poder para
ção proporcional dos partidos ou dos blocos parla- ajudar nas investigações, inclusive policiais;
mentares que participam da respectiva Casa. z Pedir perícias, exames e vistorias, inclusive busca
§ 2º Às comissões, em razão da matéria de sua com- e apreensão (vetada em domicílio);
petência, cabe: z Determinar ao Tribunal de Contas da União (TCU)
I - discutir e votar projeto de lei que dispensar, a realização de inspeções e auditorias;
na forma do regimento, a competência do Plenário, z Quebrar sigilo bancário, fiscal e de dados (inclusi-
salvo se houver recurso de um décimo dos mem- ve telefônico, ou seja, extrato de conta e não escuta
bros da Casa; ou grampo).
II - realizar audiências públicas com entidades
da sociedade civil; CPI Não Pode
III - convocar Ministros de Estado para prestar infor-
mações sobre assuntos inerentes a suas atribuições; z Não pode condenar;
IV - receber petições, reclamações, representa- z Não pode determinar medida cautelar, como pri-
ções ou queixas de qualquer pessoa contra atos ou sões, indisponibilidade de bens, arresto, sequestro;
omissões das autoridades ou entidades públicas; z Não pode determinar interceptação telefônica e
V - solicitar depoimento de qualquer autoridade quebra de sigilo de correspondência;
ou cidadão; z Não pode impedir que o cidadão deixe o território
VI - apreciar programas de obras, planos nacio- nacional e determinar apreensão de passaporte;
nais, regionais e setoriais de desenvolvimento e z Não pode expedir mandado de busca e apreensão
sobre eles emitir parecer. (grifo nosso) domiciliar;
z Não pode impedir a presença de advogado do
Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI
depoente na reunião (advogado pode: ter acesso a
É uma investigação conduzida pelo poder legislati- documentos da CPI; falar para esclarecer equívo-
vo, que serve para ouvir depoimentos e esclarecimentos co ou dúvida; opor a ato arbitrário ou abusivo; ter
sobre fatos relevantes da vida pública, também pode manifestações analisadas pela CPI até para impug-
ocorrer durante o recesso parlamentar, ou seja, apura nar prova ilícita).
fato certo por prazo determinado. A CPI tem prazo de
duração de 120 dias, se for o caso, pode ser prorrogado Sobre a admissibilidade da instauração de CPI, em
por até 60 dias mediante deliberação do Plenário. 2020 determinado deputado federal insurgiu contra ato,
Para criação tem que ter um terço dos votos (ou por meio do qual o Presidente da Câmara dos Deputa-
seja, pelo voto favorável de pelo menos 171 Deputa- dos indeferiu pedido de instauração de CPI destinada
dos Federais ou de 27 Senadores) dos Deputados ou a investigar a metodologia de elaboração e divulgação de
Senadores, em conjunto ou separadamente. Depois de pesquisas e os reflexos no resultado das eleições. Assim, ao
DIREITO CONSTITUCIONAL

encerrado, se for o caso, é enviado para o Ministério analisar o Mandado de Segurança, o STF considerou que:
Público para que promova a responsabilização civil e
criminal dos infratores. É atribuição do Presidente da Câmara aferir o
Conforme art. 58, § 3º da CF, as comissões terão preenchimento dos requisitos atinentes à ins-
poderes de investigação próprios das autoridades tauração de comissão parlamentar de inquérito
judiciais, vejamos: (MS 33.521, rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
15.05.2020, Dje em 24.06.2020).
Art. 58 [...]
§ 3º As comissões parlamentares de inquérito, que
Tribunais de Conta
terão poderes de investigação próprios das
autoridades judiciais, além de outros previstos
nos regimentos das respectivas Casas, serão criadas O Tribunal de contas da União tem como função
pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, auxiliar o Congresso Nacional no controle externo,
em conjunto ou separadamente, mediante requeri- referente à fiscalização. É um órgão independente,
mento de um terço de seus membros, para a apu- composto por nove ministros, aos quais competem as
ração de fato determinado e por prazo certo, sendo seguintes funções (art. 71 da CF): 217
z Apreciar as contas prestadas anualmente pelo Pre- Nacional sobre as irregularidades e abusos apura-
sidente da República. dos para que, se for o caso, anule o contrato admi-
É função do TCU, mediante parecer prévio (deve ser nistrativo ou a licitação.
elaborado no prazo de 60 dias), analisar as contas
anuais do Presidente da República, por exemplo, Do Processo Legislativo
análise das demonstrações contábeis consolidadas
da União (também chamados de balanços gerais É o conjunto de atos a serem observados para a
da União); produção, criação, modificação ou revogação de nor-
z Julgar as contas dos administradores e demais res- mas, realizado pelos órgãos competentes.
ponsáveis por dinheiros, bens e valores públicos A iniciativa pode ser parlamentar (quando outor-
da administração direta e indireta. Exemplo: é fun- gada aos Membros do Congresso Nacional – Câmara
ção do TCU julgar as contas das autarquias; dos Deputados ou Senado Federal) ou extraparlamen-
z Apreciar, para fins de registro, a legalidade dos tar (quando conferida aos demais órgãos ou pessoas
atos de admissão de pessoal, a qualquer título, na que não integram o Congresso Nacional, por exemplo,
administração direta e indireta. Exemplo: apreciar através da iniciativa popular).
a legalidade de ato de admissão da empresa brasi- No processo legislativo de elaboração e criação de
leira de Correios, mediante a prorrogação de con- normas, o Senado Federal só será a casa iniciadora,
curso público; se o projeto for apresentado por Senadores ou suas
� Realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos comissões.
Deputados, do Senado Federal, de Comissão téc-
nica ou de inquérito, inspeções e auditorias de z Medida provisória: tem iniciativa na Câmara dos
natureza contábil, financeira, orçamentária, ope- Deputados, art. 62 § 8° da CF;
racional e patrimonial, nas unidades administrati- z Iniciativa popular: a CF exige a subscrição de no
vas dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário; mínimo 1% do eleitorado, nacional, distribuído
Exemplo: apurar denúncias referente à legalidade por pelo menos cinco estados, com não menos de
de atos administrativos; 0,3% dos eleitores, cada um deles, e será apresen-
� Fiscalizar as contas nacionais das empresas supra- tado perante a Câmara dos Deputados, art. 61, § 2°
nacionais de cujo capital social a União participe; da CF. A tramitação é a mesma do projeto de lei
Exemplo: o Brasil tem acordo realizado com o Gover- ordinária. Exemplo de iniciativa popular para lei
no do Iraque, nesse sentido, a União participa do complementar – lei da ficha limpa.
denominado Banco Brasileiro Iraquiano S. A (BBI);
� Fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repas- Os projetos de lei começam a tramitar na Câmara
sados pela União mediante convênio, acordo, ajus- dos Deputados, com exceção de quando são apresen-
te ou outros instrumentos congêneres, a Estado, ao tados por Senador ou comissão do senado, nesses
Distrito Federal ou a Município. Exemplo: fiscaliza- dois casos, começam pelo Senado. Caso o projeto seja
ção do repasse dos recursos Federais transferidos aprovado por uma Casa, ele será revisto pela outra,
aos Estados; em um só turno de discussão e votação (em cada casa).
� Prestar as informações solicitadas pelo Congresso
Nacional. Exemplo: emitir pronunciamento con- z Se tiver iniciado a tramitação na Câmara (regra),
clusivo sobre os projetos de lei relativos ao plano o projeto segue para o Senado, onde será analisa-
plurianual, diretrizes orçamentárias e ao orça- do e votado. Se for alterado, volta para a Câmara,
mento anual; que analisa apenas as alterações, podendo mantê-
� Aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade -las ou recuperar o texto original;
de despesa ou irregularidade de contas, as sanções z Em seguida, vai para sanção ou veto do presidente
previstas em lei. Exemplo: Verificada fraude com- da República.
provada à licitação, o Tribunal poderá proibir o
sancionado de participar de licitação na Adminis- Atenção! Se tiver vindo do Senado (exceção) e for
tração pública Federal por até cinco anos; aprovado sem alterações, segue para sanção ou veto
� Assinar prazo para que o órgão ou entidade adote do presidente da República.
as providências necessárias ao exato cumprimento
da lei, se verificada ilegalidade. Exemplo: Verificada z Se for alterado, volta para o Senado, que analisa as
a ilegalidade de uma licitação, o Tribunal determi- mudanças da Câmara, podendo mantê-las ou recu-
na o prazo de quinze dias para que o responsável perar o texto original;
adote as providências necessárias (alegações de z Em seguida, vai para sanção ou veto do Presidente
da República.
defesa ou, se for o caso, adequar o contrato a lei);
� Sustar se não atendido, a execução do ato impugnado,
comunicando a decisão à Câmara dos Deputados e ao Entenda: Na casa revisora, o projeto pode ser rejei-
tado (arquivado), se aprovado (depois de ser enviado
Senado Federal. Exemplo: caso verificada a ilegalida-
para o Presidente dar a sanção ou veto), ou emendado.
de de uma licitação e o responsável não responder no
prazo as alegações de sua defesa ou, se for o caso, não
adequar o contrato a lei, o TCU pode sustar a exe-
cução ato impugnado, entretanto, o TCU não tem
poder para anular contrato administrativo, mas,
se for o caso, pode comunicar a autoridade adminis-
trativa para que anule o contrato ou a licitação;
� Representar ao Poder competente sobre irregula-
ridades ou abusos apurados. Exemplo: Conforme
abordado acima, o TCU comunica ao Congresso
218
INICIATIVA Art. 66 A Casa na qual tenha sido concluída a vota-
ção enviará o projeto de lei ao Presidente da Repú-
blica, que, aquiescendo, o sancionará.
§ 1º Se o Presidente da República considerar o
Casa iniciadora
projeto, no todo ou em parte, inconstitucional ou
CÂMARA DOS contrário ao interesse público, vetá-lo-á total ou
DEPUTADOS parcialmente, no prazo de quinze dias úteis, conta-
dos da data do recebimento, e comunicará, dentro
de quarenta e oito horas, ao Presidente do Senado
Aprovado Federal os motivos do veto.
Aprovado § 2º O veto parcial somente abrangerá texto inte-
PRESIDENTE DA
Casa revisora
REPÚBLICA gral de artigo, de parágrafo, de inciso ou de alínea.
§ 3º Decorrido o prazo de quinze dias, o silêncio do
SENADO FEDERAL
15 dias Presidente da República importará sanção.

Veto pode ser derrubado:


Art. 66 da CF
Alterado
Art. 66 [...]
Volta para Câmara SANÇÃO VETO § 4º O veto será apreciado em sessão conjunta, den-
tro de trinta dias a contar de seu recebimento, só
Analisa apenas as 48 horas
podendo ser rejeitado pelo voto da maioria abso-
alterações:
Pode mantê-las ou recu- Pode ser luta dos Deputados e Senadores. (grifo nosso)
perar o texto original. Em Promulgação derrubado pela § 5º Se o veto não for mantido, será o projeto envia-
e posterior Câmara dos
seguida, vai para sanção do, para promulgação, ao Presidente da República.
ou veto publicação Deputados e
Senado Federal § 6º Esgotado sem deliberação o prazo estabelecido
no § 4º, o veto será colocado na ordem do dia da
sessão imediata, sobrestadas as demais proposi-
Lei ordinária: a votação para aprovação será por ções, até sua votação final.
maioria simples; § 7º Se a lei não for promulgada dentro de quarenta
Lei Complementar: a votação para aprovação e oito horas pelo Presidente da República, nos casos
será por maioria absoluta; dos § 3º e § 5º, o Presidente do Senado a promulga-
Emenda Constitucional: a votação para aprova- rá, e, se este não o fizer em igual prazo, caberá ao
ção será por três quintos dos membros. Vice-Presidente do Senado fazê-lo.

Deliberação O veto pode ser “derrubado” pelo Congresso


Nacional, em sessão conjunta, no prazo de 30 dias, só
A deliberação é a competência exclusiva do Pre- podendo ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta
sidente da República, após concluída a votação. dos Deputados e Senadores, após, o projeto será reen-
Ocorre apenas no processo das leis ordinárias e viado ao presidente para a promulgação.
complementares.
VETO
z Sanção: concordância com o projeto de lei apre-
sentado, podendo ser expressa (assinatura) ou
tácita (quando o Presidente não se manifesta sobre PRESIDENTE SENADO FEDERAL
no prazo de 15 dias). Vide Art. 66 § 1º da CF;
z Sanção expressa: se ocorrer a subscrição do pro- 30 dias
jeto de lei. Ou seja, quando o Presidente da Repú- Sessão Conjunta
blica manifestar concordância ao Projeto de Lei
aprovado pelo Congresso Nacional, no prazo de 15
dias úteis; Deputado Federal
z Sanção tácita: caso não ocorra veto (discordância) +
no prazo de 15 dias. Ou seja, o Presidente não se Senadores
manifestou dentro do prazo, inerte, entende pela
sua concordância com o Projeto de Lei aprovado.
O Congresso Nacional deve apreciar o veto dentro do
DIREITO CONSTITUCIONAL

Veto: é a discordância do Presidente com o projeto prazo máximo de 30 dias em sessão conjunta, poden-
de lei aprovado, este deve ser manifestado obrigato- do rejeitá-lo pelo voto secreto da maioria absoluta dos
riamente de maneira expressa (diferente da sanção Deputados e Senadores
tácita que ocorre com a inércia do Presidente dentro Congresso Nacional decide não manter o Veto – Envia
do prazo de 15 dias), pode ser total ou parcial. Tem novamente o texto ao Presidente
prazo de 15 dias para se apresentar, ainda, deve no
prazo de 48 horas comunicar os motivos do veto ao Promulgação e Publicação
Presidente do Senado Federal.
z Promulgação: Competência do Presidente da
z Veto será expresso, motivado, formalizado, supe- República, deve ser realizado no prazo de 48 horas
rável e supressivo. após a sanção ou depois de derrubado o veto;
z Publicação: realizada no Diário Oficial, o qual é
O veto pode ser total, que atinge todo o projeto, ou obrigatório para levar a conhecimento geral a
parcial, que atinge somente alguns dispositivos. existência da lei. 219
Espécies Normativas considerando-se aprovada se obtiver, em ambos,
três quintos dos votos dos respectivos membros.
Agora, vamos ao estudo de cada uma das espécies § 3º A emenda à Constituição será promulgada
normativas enumeradas no art. 59 da Constituição pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado
Federal. Federal, com o respectivo número de ordem.
§ 4º Não será objeto de deliberação a proposta de
I - Emenda Constitucional emenda tendente a abolir
I - a forma federativa de Estado;
Conforme art. 60 da CF, de 1988, a emenda consti- II - o voto direto, secreto, universal e periódico;
tucional é um mecanismo para alteração da Constitui- III - a separação dos Poderes;
ção. Assim, as emendas possuem a mesma hierarquia IV - os direitos e garantias individuais.
que a Constituição Federal, sendo que as emendas são § 5º A matéria constante de proposta de emen-
a única maneira de modificar a Constituição. da rejeitada ou havida por prejudicada não pode
Bem como, o § 1º do mencionado dispositivo deter- ser objeto de nova proposta na mesma sessão
mina que a Constituição não poderá ser emendada na legislativa.
vigência de intervenção federal, de estado de defesa
ou de estado de sítio. As Cláusulas Pétreas a seguir são direitos que não
Ainda, não pode ser objeto de deliberação as pro- podem ser alterados.
posta de emenda constitucional que objetivem abolir
as denominadas cláusulas pétreas, consagradas no Art. 60 [...]
art. 60, § 4º da CF, de 1988, vejamos. I - a forma federativa de Estado;
II - o voto direto, secreto, universal e periódico;
Art. 60 [...] III - a separação dos Poderes;
4º Não será objeto de deliberação a proposta de IV - os direitos e garantias individuais.
emenda tendente a abolir
I - a forma federativa de Estado; A emenda constitucional é um mecanismo para
II - o voto direto, secreto, universal e periódico; alteração da Constituição. Sendo que, as emendas pos-
III - a separação dos Poderes;
suem a mesma hierarquia que a Constituição Federal
IV - os direitos e garantias individuais.
no ordenamento jurídico e necessitam de um proce-
dimento especial para aprovação, até porque a CF, de
Conforme estudamos no início deste material,
no tópico poder constituinte derivado de reforma, a 1988 é de difícil mudança, ou seja, também classifica-
matéria constante de proposta de emenda rejeitada da como uma constituição rígida.
ou havida por prejudicada não pode ser objeto de Conforme o art. 60 da CF, de 1988, a Constituição
nova proposta na mesma sessão legislativa. poderá ser emendada mediante proposta de um terço,
Para entender melhor, vamos relembrar o que no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados
estudamos sobre sessão legislativa: ou do Senado Federal, do Presidente da República e
Período denominado sessão legislativa é o perío- de mais da metade das Assembleias Legislativas das
do anual em que o congresso se reúne para suas unidades da Federação, manifestando-se, cada uma
atividades. delas, pela maioria relativa de seus membros.
Sessão legislativa No que tange à votação da emenda constitucio-
02 de fevereiro a 17 de julho nal, o art. 60 § 2º da CF dispõe que para a norma ter
01 de agosto a 22 de dezembro status de emenda constitucional (consequentemente
Sessão legislativa ordinária: período de ativida- obter hierarquia das demais normas e estar ao lado
de normal do Congresso (mencionado acima). da Constituição) é necessário um procedimento de
Sessão legislativa extraordinária: trabalho votação junto ao Congresso Nacional, nesse caso, cada
realizado durante o recesso parlamentar, mediante casa vai votar e deve ter um número mínimo de par-
convocação. lamentares que aprovem a emenda.
Recesso
18 de julho a 31 de julho Art. 60 [...]
23 de dezembro a 01 de fevereiro § 2º A proposta será discutida e votada em cada
Note que, este assunto é muito cobrado em provas, Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, con-
siderando-se aprovada se obtiver, em ambos, três
pelo fato do art. 60 da CF, de 1988 determinar os crité-
quintos dos votos dos respectivos membros.
rios de elaboração e votação de uma emenda consti-
tucional. Também é nesse artigo que estão localizadas
O Congresso Nacional é composto por duas casas: a
as chamadas cláusulas pétreas, vejamos:
Câmara dos Deputados e o Senado Federal.
Art. 60 A Constituição poderá ser emendada
mediante proposta: Câmara dos Deputados:
I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câma- Composição: 513
ra dos Deputados ou do Senado Federal; Deputados
II - do Presidente da República; CONGRESSO
III - de mais da metade das Assembleias Legisla- NACIONAL
tivas das unidades da Federação, manifestando- Senado Federal:
-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus Composição: 81
membros. Senadores
§ 1º A Constituição não poderá ser emendada na
vigência de intervenção federal, de estado de defesa
ou de estado de sítio. Ou seja, se a Câmara dos Deputados é composta
§ 2º A proposta será discutida e votada em cada por 513 Deputados, para fins de resultado de vota-
220 Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, ção, quando a Constituição menciona 3/5 dos votos,
entenda se refere ao voto de 308 deputados. Já o III - Lei Ordinária
Senado Federal, como é composto por 81 Senadores,
logo 3/5 se refere ao voto de 49 senadores. É um ato normativo relativo às normas gerais e
tem incidência quando não há previsão específica.
Trata sobre matéria não abrangida pela lei comple-
CÂMARA DOS
SENADO FEDERAL mentar, sua aprovação se dá por maioria simples, ora,
DEPUTADOS maioria dos votos de cada casa, em um turno de vota-
1º Turno de votação 1º Turno de votação ção, presente a maioria dos seus membros.
3/5 = 60% dos votos: 3/5 = 60% dos votos: A apresentação do projeto de lei, qual seja, a inicia-
308 Deputados 49 Senadores tiva pode ser reservada ou geral, devidamente funda-
mentado e justificado.
2° Turno de votação 2° Turno de votação
Projeto de iniciativa geral, como por exemplo a
3/5 = 60% dos votos: 3/5 = 60% dos votos:
iniciativa popular, é uma matéria não reservada a
308 Deputados 49 Senadores
órgãos (autoridades).
Projeto de iniciativa reservada é o projeto apre-
Entenda: sentado por determinadas autoridades, como por
3/5 é o mesmo que 60% dos votos. exemplo, o art. 61, § 1° da CF, a qual dispõe as leis que
3/5 em dois turnos = duas votações na Câmara dos serão de iniciativa do Presidente da República.
Deputados e duas votações no Senado Federal.
Duas casas = votação no Senado e na Câmara. IV - Medida Provisória
Por fim, a emenda à Constituição será promulgada
pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Espécie normativa com força de lei. No caso de
Federal, com o respectivo número de ordem. relevância e urgência, o Presidente da República
Conforme art. 67 da CF, de 1988 “A matéria constan- poderá editar, sendo editadas com o prazo máximo de
te de projeto de lei rejeitado somente poderá constituir 60 dias (prorrogando uma vez só pelo mesmo prazo
objeto de novo projeto, na mesma sessão legislativa, + 60 dias), de acordo com o art. 62 da CF e EC 32, de
mediante proposta da maioria absoluta dos membros 2001.
de qualquer das Casas do Congresso Nacional”. O Congresso Nacional poderá aprovar com ou sem
alteração do texto, rejeição expressa ou rejeição tácita
Iniciativa Da PEC (rejeitado perde seu efeito). Deve ser apreciada pela
Câmara dos Deputados em 45 dias. Caso não seja apre-
z 1/3 da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal; ciada dentro do prazo, entra em regime de urgência.
z Presidente da República;
z Mais da metade das Assembleias Legislativas das
Aprovado tem prazo determinado de 60 dias,
unidades da Federação, manifestando-se a maioria
podendo prorrogar uma vez + 60 dias
relativa de seus membros.

Câmara dos Senado Câmara dos Se não for


Deputados Federal
Editada pelo Deputados apreciada em
Aprovada
Presidente deve apreciar 45 dias, entra
Votação em dois turnos, Votação em dois turnos,
necessária aprovação de 3/5 necessário aprovação de da República no máximo em regime de
dos membros. 3/5 dos membros. em 45 dias urgência.

Não cabe medida provisória de matéria reservada


à lei complementar. Ainda, há um rol de matérias que
PEC Rejeitada
PEC Aprovada não podem ser objeto de edição de medida provisória,
Se rejeitada, será conforme o § 1º do art. 62 da CF, vejamos:
Segue para promulgação
arquivada e não poderá
pela Mesa da Câmara Art. 62 Em caso de relevância e urgência, o Pre-
ser objeto de nova
dos Deputados e Senado
proposta na mesma sidente da República poderá adotar medidas pro-
Federal.
sessão legislativa. visórias, com força de lei, devendo submetê-las de
imediato ao Congresso Nacional.
§ 1º É vedada a edição de medidas provisórias
II - Lei Complementar sobre matéria:
DIREITO CONSTITUCIONAL

I - relativa a:
É a lei criada para complementar as normas cons- a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, par-
titucionais, as hipóteses de regulamentação estão tidos políticos e direito eleitoral;
taxativamente previstas na Constituição Federal. b) direito penal, processual penal e processual civil;
Aprovadas por maioria absoluta, em apenas um tur- c) organização do Poder Judiciário e do Ministério
no de votação nas duas casas do Congresso Nacional. Público, a carreira e a garantia de seus membros;
Conforme o art. 69 da CF. d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias,
orçamento e créditos adicionais e suplementares,
Art. 69 As leis complementares serão aprovadas ressalvado o previsto no art. 167, § 3º;
por maioria absoluta. II - que vise à detenção ou sequestro de bens, de pou-
pança popular ou qualquer outro ativo financeiro;
Dica III - reservada a lei complementar;
IV - já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo
A Lei complementar só vai existir quando já for Congresso Nacional e pendente de sanção ou veto
autorizada pela Constituição Federal. do Presidente da República. 221
V - Lei Delegada I - A da CF, incluído pela emenda Constitucional nº 45,
de 2004, criando como órgão do poder judiciário tam-
O Presidente da República solicita ao Congresso bém o “Conselho Nacional de Justiça”.
Nacional delegação para legislar sobre determina-
do tema, a qual se dará por resolução do Congresso Art. 92 São órgãos do Poder Judiciário:
Nacional. Tal resolução fixará os limites, por exemplo, I-A o Conselho Nacional de Justiça
a lei nº 13, de 1992, que institui gratificações de ativi-
dade para os servidores civis do Poder Executivo. De acordo com a Constituição Federal, compete ao
CNJ zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo
Entenda: quando se fala em solicitar delegação ao
cumprimento do Estatuto da Magistratura, definir os
Congresso Nacional, isso significa que o Presidente da
planos, metas e programas de avaliação institucional
República pede autorização ao Congresso Nacional
do Poder Judiciário, receber reclamações, petições
para legislar sobre determinados assuntos. eletrônicas e representações contra membros ou
Não serão delegados os atos de competência exclu- órgãos do Judiciário, julgar processos disciplinares
siva do Congresso Nacional e os de Competência pri- e melhorar práticas e celeridade, publicando semes-
vativa da Câmara dos Deputados e Senado Federal, tralmente relatórios estatísticos referentes à atividade
pois é matéria reservada a Lei Complementar. Veja- jurisdicional em todo o país20, composto por membros
mos art. 68 § 1º da CF. do Ministério Público, Advogados e representantes da
sociedade civil. O Poder judiciário é dividido em duas
Art. 68 As leis delegadas serão elaboradas pelo Pre- esferas: Justiça Federal e a Justiça Estadual.
sidente da República, que deverá solicitar a delega-
ção ao Congresso Nacional.
§ 1º Não serão objeto de delegação os atos de PODER JUDICIÁRIO
competência exclusiva do Congresso Nacional,
os de competência privativa da Câmara dos Depu-
tados ou do Senado Federal, a matéria reservada
à lei complementar, nem a legislação sobre:
I - organização do Poder Judiciário e do Ministério JUSTIÇA FEDERAL JUSTIÇA ESTADUAL
Público, a carreira e a garantia de seus membros;
II - nacionalidade, cidadania, direitos individuais,
políticos e eleitorais;
III - planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e
orçamentos. (grifo nosso) COMUM
ESPECIALIZADA
Art. 109 da CF
VI - Decreto Legislativo

Matérias de competência exclusiva do Congresso


Nacional, como por exemplo, resolver sobre tratados, TRABALHO ELEITORAL MILITAR
acordos ou atos internacionais que acarretem encar- JUIZADOS ESPECIAIS
Art. 111 Art. 118 Art. 124
Art. 98, inciso I e II
gos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacio- Autorização cons-
nal. Vide art. 62, § 3º da CF. titucional para a
criação dos Juizados
Especiais e a Justiça
Art. 62 Em caso de relevância e urgência, o Pre-
de paz
sidente da República poderá adotar medidas pro-
visórias, com força de lei, devendo submetê-las de
imediato ao Congresso Nacional.
§ 3º As medidas provisórias, ressalvado o dispos- Órgãos do Poder Judiciário
to nos § § 11 e 12 perderão eficácia, desde a edição,
se não forem convertidas em lei no prazo de sessen- Como previsão no art. 92 da CF, de 1988, vejamos
ta dias, prorrogável, nos termos do § 7º, uma vez os órgãos que compõem o Poder Judiciário:
por igual período, devendo o Congresso Nacional
disciplinar, por decreto legislativo, as relações STF. Supremo Tribunal Federal
jurídicas delas decorrentes. (grifo nosso) CNJ. Conselho Nacional de Justiça
STJ. Superior Tribunal de Justiça
VII - Resolução TJ. Tribunal de Justiça (Estados)
TRF. Tribunal Regional Federal (Justiça Federal)
Trata-se das competências privativas de cada casa TST. Tribunal Superior do Trabalho
do Congresso Nacional. É importante ressaltar que TRT. Tribunal Regional do Trabalho
esta não está sujeita a sanção ou veto, sendo promul- TSE. Tribunal Superior Eleitoral
gada pela própria Mesa da Casa que a editou. TRE. Tribunal Regional Eleitoral
STM. Superior Tribunal Militar
PODEER JUDICIÁRIO

O poder judiciário está consagrado no texto consti-


tucional do art. 92 ao 126 da CF, tem o objetivo de exer-
cer a jurisdição (administrar justiça, aplicar o direito
com o objetivo de solucionar conflito de interesses),
bem como, no âmbito de sua função atípica adminis-
trativa, como exemplo, podemos citar o art. 92, inciso

222 20 Disponível em <http://www.cnj.jus.br/sobre-o-cnj>. Acesso em 20 set. 2020.


Órgãos do poder judiciário Garantias Constitucionais dos Magistrados

STF CNJ A Constituição Federal em seu art. 95 assegura aos


magistrados as garantias da vitaliciedade, inamovibi-
lidade e irredutibilidade de subsídios.
JUSTIÇA COMUM Vitaliciedade: só pode ser demitido depois do
trânsito em julgado da decisão judicial.
STF JUSTIÇA ESPECIALIZADA
z No primeiro grau de jurisdição somente é adquiri-
ESTADUAL FEDERAL TST TSE STM da depois de dois anos de estágio probatório, que
se inicia com o efetivo exercício da posse;
z No segundo grau de jurisdição, este benefício se dá
TJ TRF TRT TRE JUÍZES
MILITARES com o efetivo exercício (quando nome deste Magis-
trado já está no quinto constitucional).
Juízes Juízes Juízes do Juiz
Estaduais Federais Trabalho Eleitoral Inamovibilidade: proibição de remoção do ma-
gistrado de um cargo para outro, salvo por motivo de
Conforme dispõe o art. 93 da CF, o ingresso na interesse público, mediante voto da maioria absoluta
carreira da magistratura é feito através de concurso do respectivo tribunal, assegurada ampla defesa.
público de provas e títulos, inicialmente no cargo de Irredutibilidade de subsídios: Assegura que o
juiz substituto, a qual exige do Bacharel em Direito no magistrado não tenha diminuído o valor de seus sub-
mínimo três anos de atividade jurídica. sídios, salvo imposição constitucional.
Sendo que, tais garantias são asseguradas também
aos membros do Ministério Público e Conselheiros e
Importante! Ministros dos Tribunais de Contas.
Cabe ressaltar que os magistrados também tem
CNJ não tem competência jurisdicional. foro especial por prerrogativa de função, sendo julga-
dos originalmente por tribunais indicados na Consti-
tuição Federal. Vejamos:
Quinto Constitucional

Conforme art. 94 da CF, um quinto dos lugares dos ÓRGÃO


AUTORIDADE INFRAÇÃO
Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais dos Esta- JULGADOR
dos, e do Distrito Federal e Territórios são compostos Juízes Estaduais Comum/ TJ
de membros do Ministério Público e Advogados. Com- e do DF responsabilidade Art. 96, III
posto por membros:
Juízes Fede-
rais, bem como TRF
Comum/
TJ Ministério Público: Juízes da Jus- Art. 108, inciso
com + 10 anos de carreira responsabilidade
1/5 tiça Militar e do I, “a”
TRF Trabalho.

JUSTIÇA ESPECIALIZADA ADVOGADOS:


notório saber jurídico e reputação Membros: STJ
Comum/
ilibada + 10 anos de efetiva atividade TJ, TRF, TER e Art. 105, inciso
responsabilidade
jurídica TRT I, “a”

Como é feita a indicação destes profissionais: Membros


Através de indicações dos nomes feitas através de dos Tribunais STF
Comum/
uma lista (lista sêxtupla) pelos órgãos de represen- Superiores: Art. 102, inciso
responsabilidade
tação das respectivas classes. Enviada esta lista para STJ, TST, TSE e I, “c”
STM.
o Tribunal, este escolherá três nomes (lista tríplice)
de sua preferência, e enviará ao Poder Executivo. ÓRGÃO
AUTORIDADE INFRAÇÃO
DIREITO CONSTITUCIONAL

Entenda: JULGADOR
STF
Chefe do Poder Ministros STF Comum Art. 102, Inciso
Lista Tríplice
Lista Sêxtupla Executivo decide I, “b”
qual dos três
Tribunal Escolhe
OAB indica nomes será Senado Federal
três nomes e Ministros STF Responsabilidade
seis nomes
exclui os demais
escolhido no prazo Art. 52, II
de 20 dias

O foro especial por prerrogativa de função não se


A Emenda Constitucional 45, de 2004 inseriu o estende a magistrados aposentados21. Conforme Súmu-
quinto constitucional na Justiça do Trabalho, nos Tri- la nº 451 do STF, a competência especial por prerroga-
bunais Regionais do trabalho (art. 115, I da CF) e no tiva de função não se estende ao crime cometido após
Tribunal Superior de Justiça (art. 111-A da CF). a cessação definitiva do exercício funcional.
21 RE 549.560, rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 22.3.2012, DJe 30.5.2014. 223
O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas Contas da União e os chefes de missão diplomática
aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e de caráter permanente;
relacionados às funções desempenhadas. d) o habeas corpus , sendo paciente qualquer das
Note que, após o final da instrução processual, com pessoas referidas nas alíneas anteriores; o man-
a publicação do despacho de intimação para apresen- dado de segurança e o habeas data contra atos
tação de alegações finais, a competência para proces- do Presidente da República, das Mesas da Câmara
sar e julgar ações penais não será mais afetada em dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de
razão de o agente público vir a ocupar outro cargo ou Contas da União, do Procurador-Geral da Repúbli-
deixar o cargo que ocupava por qualquer que seja o ca e do próprio Supremo Tribunal Federal;
e) o litígio entre Estado estrangeiro ou orga-
motivo22.
nismo internacional e a União, o Estado, o Dis-
trito Federal ou o Território;
Supremo Tribunal Federal f) as causas e os conflitos entre a União e os
Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre
Órgão máximo do Poder Judiciário, também deno- uns e outros, inclusive as respectivas entidades da
minado como guardião da Constituição. Composto por administração indireta;
onze membros, nomeados pelo Presidente da Repúbli- g) a extradição solicitada por Estado estrangeiro;
ca, conforme o art. 101, parágrafo único, da CF, após i) o habeas corpus , quando o coator for Tribu-
aprovação por maioria absoluta do Senado Federal. nal Superior ou quando o coator ou o paciente for
Composto por onze Ministros do Supremo Tribunal autoridade ou funcionário cujos atos estejam
Federal, os quais devem ser brasileiros natos, com ida- sujeitos diretamente à jurisdição do Supremo Tri-
de entre 35 e 65 anos, cidadão em pleno gozo dos direi- bunal Federal, ou se trate de crime sujeito à mesma
tos e possuir notável saber jurídico e reputação ilibada. jurisdição em uma única instância;
j) a revisão criminal e a ação rescisória de seus
Art. 101 O Supremo Tribunal Federal compõe-se de julgados;
onze Ministros, escolhidos dentre cidadãos com mais l) a reclamação para a preservação de sua compe-
de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de tência e garantia da autoridade de suas decisões;
idade, de notável saber jurídico e reputação ilibada. m) a execução de sentença nas causas de sua
Parágrafo único. Os Ministros do Supremo Tribu- competência originária, facultada a delegação de
nal Federal serão nomeados pelo Presidente da atribuições para a prática de atos processuais;
República, depois de aprovada a escolha pela maio- n) a ação em que todos os membros da magistra-
ria absoluta do Senado Federal. tura sejam direta ou indiretamente interessados,
e aquela em que mais da metade dos membros do
Dica para memorizar: lembre-se que 11 ministros tribunal de origem estejam impedidos ou sejam
é o mesmo nº de jogadores de um time de futebol. direta ou indiretamente interessados;
o) os conflitos de competência entre o Superior
Tribunal de Justiça e quaisquer tribunais, entre
Competência do Supremo Tribunal Federal
Tribunais Superiores, ou entre estes e qualquer
outro tribunal;
A competência está prevista nos arts. 102 e 103 p) o pedido de medida cautelar das ações dire-
da Constituição, sendo dividida em competência ori- tas de inconstitucionalidade;
ginária e competência recursal, sendo que, na com- q) o mandado de injunção, quando a elabora-
petência originária, o STF processa e julga em única ção da norma regulamentadora for atribuição
instância, e na competência recursal, o STF aprecia do Presidente da República, do Congresso Nacional,
a matéria a ele chegada por meio de recurso ordinário da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, das
ou extraordinário. Mesas de uma dessas Casas Legislativas, do Tribu-
A seguir será exposto o art. 102 da CF. nal de Contas da União, de um dos Tribunais Supe-
Observe que os incisos destacados são os mais riores, ou do próprio Supremo Tribunal Federal;
cobrados em provas, bem como, observe os demais r) as ações contra o Conselho Nacional de Justiça e
grifos com aspectos importantes para memoriza- contra o Conselho Nacional do Ministério Público;
ção. É de suma importância a leitura deste artigo para II - julgar, em recurso ordinário:
auxiliar na memorização. a) o habeas corpus , o mandado de segurança,
o habeas data e o mandado de injunção decidi-
Art. 102 Compete ao Supremo Tribunal Fede- dos em única instância pelos Tribunais Superiores,
ral, precipuamente, a guarda da Constituição, se denegatória a decisão;
cabendo-lhe: b) o crime político;
I - processar e julgar, originariamente: III - julgar, mediante recurso extraordinário,
a) a ação direta de inconstitucionalidade de as causas decididas em única ou última ins-
lei ou ato normativo federal ou estadual e a tância, quando a decisão recorrida:
ação declaratória de constitucionalidade de a) contrariar dispositivo desta Constituição;
lei ou ato normativo federal; b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou
b) nas infrações penais comuns, o Presidente da lei federal;
República, o Vice-Presidente, os membros do Con- c) julgar válida lei ou ato de governo local contesta-
gresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procu- do em face desta Constituição.
rador-Geral da República; d) julgar válida lei local contestada em face de
c) nas infrações penais comuns e nos crimes de lei federal.
responsabilidade, os Ministros de Estado e os § 1º A arguição de descumprimento de preceito
Comandantes da Marinha, do Exército e da Aero- fundamental, decorrente desta Constituição, será
náutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os mem- apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, na for-
bros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de ma da lei

224 22 AP 937 QO, rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 03.05.2018, DJe 11.12.2018.
§ 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas caberá reclamação ao Supremo Tribunal Fede-
pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de ral, sem prejuízo dos recursos ou outros meios
inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de admissíveis de impugnação. (grifo nosso)
constitucionalidade produzirão eficácia contra todos
e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos Ainda, podem propor (fazer a proposta e não o
do Poder Judiciário e à administração pública direta julgamento) aprovação, revisão ou cancelamento dos
e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal. legitimados previstos no art. 3º da lei 11.417, de 2006.
§ 3º No recurso extraordinário o recorrente deve-
rá demonstrar a repercussão geral das questões Art. 3º São legitimados a propor a edição, a revi-
constitucionais discutidas no caso, nos termos da são ou o cancelamento de enunciado de súmula
lei, a fim de que o Tribunal examine a admissão do
vinculante:
recurso, somente podendo recusá-lo pela manifesta-
I - o Presidente da República;
ção de dois terços de seus membros. (grifos nosso)
II - a Mesa do Senado Federal;
III – a Mesa da Câmara dos Deputados;
Súmula Vinculante IV – o Procurador-Geral da República;
V - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do
A súmula vinculante é um instrumento que rela- Brasil;
ciona as principais e reiteradas decisões do Supremo VI - o Defensor Público-Geral da União;
Tribunal Federal em matéria constitucional, tem pre- VII – partido político com representação no Con-
visão no art. 103-A da CF (incluído pela EC 45, de 2004) gresso Nacional;
e na Lei 11.417, de 2006. Vejamos o que dispõe a Cons- VIII – confederação sindical ou entidade de classe
tituição sobre o tema: de âmbito nacional;
IX – a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câma-
Art. 103-A O Supremo Tribunal Federal poderá, de ra Legislativa do Distrito Federal;
ofício ou por provocação, mediante decisão de dois X - o Governador de Estado ou do Distrito Federal;
terços dos seus membros, após reiteradas deci- XI - os Tribunais Superiores, os Tribunais de Justiça
sões sobre matéria constitucional, aprovar súmu- de Estados ou do Distrito Federal e Territórios, os
la que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, Tribunais Regionais Federais, os Tribunais Regio-
terá efeito vinculante em relação aos demais nais do Trabalho, os Tribunais Regionais Eleitorais
órgãos do Poder Judiciário e à administração e os Tribunais Militares.
pública direta e indireta, nas esferas federal, esta- § 1º O Município poderá propor, incidentalmente ao
dual e municipal, bem como proceder à sua revisão curso de processo em que seja parte, a edição, a revi-
ou cancelamento, na forma estabelecida em lei. são ou o cancelamento de enunciado de súmula vin-
§ 1º A súmula terá por objetivo a validade, a inter- culante, o que não autoriza a suspensão do processo.
pretação e a eficácia de normas determinadas, acer-
ca das quais haja controvérsia atual entre órgãos Existem órgãos que podem descumprir a Súmula
judiciários ou entre esses e a administração pública Vinculante sem sofrer penalidades. São os seguintes:
que acarrete grave insegurança jurídica e relevante
multiplicação de processos sobre questão idêntica.
z STF de oficio para rever ou cancelar;
§ 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em
lei, a aprovação, revisão ou cancelamento de súmu- z Processo legislativo – na sua função típica, ou seja,
la poderá ser provocada por aqueles que podem ao legislar.
propor a ação direta de inconstitucionalidade
§ 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que Cuidado: Na sua função atípica, que seria admi-
contrariar a súmula aplicável ou que indevidamen- nistrar e julgar, deve respeitar a súmula vinculante:
te a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribu-
nal Federal que, julgando-a procedente, anulará o z Presidente da República pode editar Medida Pro-
ato administrativo ou cassará a decisão judicial visória contrária à súmula vinculante (pois, neste
reclamada, e determinará que outra seja proferi- caso, ele estaria legislando).
da com ou sem a aplicação da súmula, conforme o
caso. (grifos nosso)
Superior Tribunal de Justiça
Note que a revisão, edição e cancelamento depen-
O STJ é composto por no mínimo 33 Ministros,
de da decisão de (dois terços) dos membros do Supre-
nomeados pelo Presidente da República, sendo estes
mo Tribunal Federal, em sessão plenária. Art. 2º § 3º
brasileiros com mais de 35 anos e menos de 65 anos, de
da Lei 11.417, de 2006.
notável saber jurídico e reputação ilibada, depois da
DIREITO CONSTITUCIONAL

O art. 103-A é uma norma constitucional de eficá-


aprovação pela maioria absoluta do Senado Federal.
cia limitada (normas cuja aplicabilidade é mediata,
indireta e reduzida).
Art. 104 O Superior Tribunal de Justiça compõe-
A Súmula terá efeito vinculante em relação aos
-se de, no mínimo, trinta e três Ministros.
demais órgãos do Poder Judiciário e à administração Parágrafo único. Os Ministros do Superior Tribunal
pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual de Justiça serão nomeados pelo Presidente da
e municipal, bem como proceder à sua revisão ou can- República, dentre brasileiros com mais de trinta
celamento, na forma estabelecida em lei. e cinco e menos de sessenta e cinco anos, de
Caso haja descumprimento de Súmula Vinculante, notável saber jurídico e reputação ilibada, depois
o recurso cabível é Reclamação ao STF, conforme art. de aprovada a escolha pela maioria absoluta do
7º da lei 11.417, de 2006. Senado Federal, sendo:
I - um terço dentre juízes dos Tribunais Regio-
Art. 7º Da decisão judicial ou do ato administrativo nais Federais e um terço dentre desembarga-
que contrariar enunciado de súmula vinculan- dores dos Tribunais de Justiça, indicados em
te, negar-lhe vigência ou aplicá-lo indevidamente lista tríplice elaborada pelo próprio Tribunal; 225
II - um terço, em partes iguais, dentre advoga- STJ
dos e membros do Ministério Público Federal, ART. 105 DA CF
Estadual, do Distrito Federal e Territórios,
alternadamente, indicados na forma do art. 94. ADI, ADC e ADPF*
Art. 94. Um quinto dos lugares dos Tribunais Crime comum:
Regionais Federais, dos Tribunais dos Estados, e
Governador de Estado e DF
do Distrito Federal e Territórios será composto de
membros, do Ministério Público, com mais de dez Crimes comuns e de responsabilidade:
anos de carreira, e de advogados de notório saber Desembargadores do TJ (Estados e DF), membros do TCE e
jurídico e de reputação ilibada, com mais de dez TCDF, dos TRF, TER e TRT, dos conselhos do TCU e do MPU;*
HC quando coator ou paciente for pessoas acima menciona-
anos de efetiva atividade profissional, indicados em
das, ou quando for Tribunal sujeito a sua jurisdição, Ministro
lista sêxtupla pelos órgãos de representação das
de Estado ou Comandante do Exército, Marinha e Aeronáutica,
respectivas classes. salvo competência da Justiça Eleitoral
Parágrafo único. Recebidas as indicações, o tribu-
nal formará lista tríplice, enviando-a ao Poder Exe- Mandado de Segurança e Habeas Data contra ato de Ministro
cutivo, que, nos vinte dias subsequentes, escolherá de Estado, Comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica,
um de seus integrantes para nomeação. ou Ministros do STJ
Conflito de competência entre os Tribunais (salvo art. 102, I “o”
– conflito entre STJ x Tribunais)
Requisitos para escolha dos Ministros: Revisão Criminal e Ação Rescisória de seus julgados
Reclamação – preservação de sua competência
z Idade entre 35 e 65 anos; Conflito entre autoridades administrativas e judiciárias da
z Possuir notável saber jurídico e reputação ilibada. União, entre autoridades judiciárias de um Estado e administra-
tivas de outro ou do DF, ou entre esses e a União
„ 1/3 de juízes dos Tribunais Regionais Federais Mandado de Injunção quando a elaboração da norma for atri-
– TRF; buição de autoridade Federal, salvo casos de competência do
„ 1/3 de desembargadores dos tribunais de Justi- STF, Justiça Militar, Eleitoral e do Trabalho
ça estaduais – TJ; Competência em recurso Ordinário:
„ 1/3 divididos desta forma: 1/6 de advogados; Habeas Corpus decidido em única ou última instância pelos
TRF ou TJ dos Estados e DF quando denegatória
„ 1/6 de membros MP, estaduais e do DF;
„ Indicados na forma do art. 94 da CF, de 1988 – Mandado de Segurança: decidido em única instância pelo
quinto constitucional. TRF ou TJ dos Estados e DF, também quando denegatória a
decisão. Causas em que forem partes Estado estrangeiro ou
organismo Internacional de um lado, e, de outro, Município ou
Competência STF X STJ pessoa residente ou domiciliada no país
Competência em Recurso Especial: causas decididas em úni-
A seguir, organizamos dois quadros das competên- ca ou ultima instância pelo TRF ou TJ dos Estados ou DF, quan-
cias do STF e STJ, com fundamento nos arts. 102 e 105 do decisão recorrida contrariar Lei Federal
da CF. Pedimos atenção especial nesses artigos, pois
são de extrema importância. Cuidado para não con- *Muito cobrado em provas
fundir as competências de cada órgão.

STF
ART. 102 DA CF ORDEM ECONÔMICA E FINANCEIRA
ADI, ADC e ADPF*
PRINCÍPIOS GERAIS DA ATIVIDADE ECONÔMICA
Crime comum:
Presidente República + Vice Conforme a Constituição Federal, os princípios da
Membros Congresso Nacional, Ministros e o PGR atividade econômica são fundados na valorização do
Crime de comum e responsabilidade: trabalho humano e na livre iniciativa, ou seja, é um
Ministros estado, Comandante Marinha, Exército e Aeronáu- conjunto de regras que regulam as atividades econô-
tica, membros Tribunais Superiores, TCU e Chefes de missão micas e estão relacionados no art. 170, vejamos.
diplomática
HC quando coator for Tribunal Superior e o paciente for auto- Art. 170 A ordem econômica, fundada na valoriza-
ridade/funcionários quando atos estejam sujeitos jurisdição ção do trabalho humano e na livre iniciativa, tem
STF por fim assegurar a todos existência digna, con-
MS e HD contra atos do Presidente República, Mesa da Câmara forme os ditames da justiça social, observados os
dos Deputados e Senadores seguintes princípios:
Extradição [...]
Litigio entre Estado estrangeiro e a União, o Estado, o Distrito I - soberania nacional;
Federal ou o Território* II - propriedade privada;
Ações contra CNJ e CNMP (Conselho Nacional do Ministério III - função social da propriedade;
Público) IV - livre concorrência;
Extradição solicitada por estado estrangeiro V - defesa do consumidor;
Revisão criminal e ação rescisória de seus julgados VI - defesa do meio ambiente, inclusive median-
Reclamação – preservação de sua competência te tratamento diferenciado conforme o impacto
Ações contra CNJ e o CNMP ambiental dos produtos e serviços e de seus proces-
Competência em recurso Ordinário: habeas corpus, mandado sos de elaboração e prestação;
de segurança, habeas data e mandado de injunção, decididos VII - redução das desigualdades regionais e sociais;
em única instância pelos Tribunais Superiores VIII - busca do pleno emprego;
Competência em Recurso Extraordinário: IX - tratamento favorecido para as empresas de
Causas decididas em única ou última instância, caso decisão pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e
recorrida contrariar dispositivo da Constituição Federal
226 que tenham sua sede e administração no País.
Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exer- traduz conceito amplo e abrangente das noções de
cício de qualquer atividade econômica, independen- meio ambiente natural, de meio ambiente cultural,
temente de autorização de órgãos públicos, salvo de meio ambiente artificial (espaço urbano) e de
nos casos previstos em lei. meio ambiente laboral. Doutrina. Os instrumentos
jurídicos de caráter legal e de natureza constitu-
A soberania é um dos fundamentos da República cional objetivam viabilizar a tutela efetiva do meio
ambiente, para que não se alterem as propriedades
Federativa do Brasil, refere-se a um poder supremo e
e os atributos que lhe são inerentes, o que provo-
independente, é a capacidade de editar suas próprias caria inaceitável comprometimento da saúde, segu-
normas, de forma em que qualquer outra lei só possa rança, cultura, trabalho e bem-estar da população,
existir caso respeite as normas norteadoras definidas além de causar graves danos ecológicos ao patri-
na Constituição. O legislador ao relacionar a sobera- mônio ambiental, considerado este em seu aspecto
nia como princípio da ordem econômica determina físico ou natural. (STF. ADI 3.540 MC, rel. min. Celso
a não subordinação do Estado brasileiro perante os de Mello, j. 1º-9-2005, P, DJ de 3-2-2006.)
Estados estrangeiros.
A propriedade privada é um direito e garantia A redução das desigualdades é também um dos obje-
fundamental, mencionado nos incisos XXII e XXIII do tivos da República Federativa do Brasil (art. 3º, III da CF),
art. 5º, da Constituição Federal. Ao estudar o instituto que determina a possibilidade de uma igualdade de con-
da desapropriação, nota-se nitidamente a influência dições para todos os cidadãos, objetivando a erradicação
do estado social, especificamente quando se analisa a da pobreza. Sendo que, na prática deve trazer melhoria
para áreas como educação, saúde e emprego, dando às
função social da propriedade, delimitando o conteúdo
classes mais pobres maiores possibilidades.
da propriedade, visando solucionar as complicações Por fim, determina a Constituição como princípio
mais frequentes na vida moderna. da ordem econômica o tratamento favorecido para as
Já o Título VII da CF disciplina sobre a propriedade empresas de pequeno porte, constituídas sob as leis bra-
privada no âmbito da política urbana, política e fun- sileiras e que tenham sua sede e administração no País,
diária, será este analisado mais adiante. apoiando assim, as pequenas empresas que são uma
A livre concorrência é a ideia de que seja assegu- boa parcela da geração de renda e empregos no país.
rada a todos uma existência digna, ou seja, evitando
a dominação de mercados, lucros arbitrários ou até
concentração de renda.
Entenda de forma prática: os municípios tem HORA DE PRATICAR!
competência para ordenar a ocupação do solo urba-
no (art. 30, VIII da CF). Assim, alguns municípios 1. (FGV — 2022) Após uma revolução que culminou com
fundados nesta autorização constitucional editaram a derrubada do regime anterior, o grupo político domi-
leis municipais com o objetivo de proibir instalação nante do País Alfa resolveu solicitar que uma comissão
de estabelecimentos comerciais do mesmo ramo em de notáveis elaborasse um projeto de Constituição,
determinada área, pela simples justificativa de já exis- submetendo-o, ato contínuo, a referendo popular. A
tir outro estabelecimento ali naquele local. Constituição assim elaborada buscou conciliar inúme-
Como por exemplo: a lei municipal proibia abertu- ras correntes políticas aparentemente opostas entre
ra de um novo restaurante em local que já houvesse si e direcionar as políticas públicas a serem adotadas
outro restaurante instalado. Então, o STF se posicio- para a implementação dos direitos sociais, além de ter
nou sobre e determinou que não pode proibir, pois é
exigido um procedimento qualificado para a reforma
uma violação ao princípio da livre concorrência, veja-
mos a súmula editada sobre o tema. de parte de seus comandos, considerados material-
mente constitucionais, enquanto a outra parte poderia
Súmula vinculante nº 49 Ofende o princípio da ser alterada com observância do mesmo procedimen-
livre concorrência lei municipal que impede a ins- to afeto à lei ordinária. Por fim, observa-se que essa
talação de estabelecimentos comerciais do mesmo Constituição era demasiado extensa.
ramo em determinada área.
A Constituição assim descrita é classificada como
A defesa do consumidor está baseada diretamente à
existência digna relacionada no caput do art. 170 da CF, a) bonapartista, compromissória, de garantia, rígida e
pelo fato de que o consumidor é a parte mais vulnerável sintética.
em uma relação de consumo no cunho econômico. Assim, b) cesarista, compromissória, dirigente, semirrígida e analítica.
o art. 5º, inciso XXXII da CF determina que o estado deve c) bonapartista, ortodoxa, dirigente, semirrígida e analítica.
promover, na forma da lei, a defesa do consumidor. d) cesarista, pragmática, dirigente, semirrígida e sintética.
DIREITO CONSTITUCIONAL

A defesa do meio ambiente busca a proteção


e) outorgada, eclética, de garantia, flexível e analítica.
ambiental, sendo vedada a busca pelas riquezas a
qualquer custo, também é consagrado no título VIII
da Constituição. 2. (FGV — 2022) João nasceu em território brasileiro
quando seus pais, de nacionalidade francesa, aqui tra-
A atividade econômica não pode ser exercida balhavam a serviço do governo francês, na respecti-
em desarmonia com os princípios destinados va embaixada. Poucos meses após o nascimento, foi
a tornar efetiva a proteção ao meio ambien- levado para a França e jamais retornou ao Brasil. Trinta
te. A incolumidade do meio ambiente não pode ser anos depois, casou, no território francês, com Maria,
comprometida por interesses empresariais nem brasileira nata. Dessa União advieram filhos, todos
ficar dependente de motivações de índole mera- nascidos na França, sendo adquiridos bens imóveis
mente econômica, ainda mais se tiver presente que naquele País e no Brasil.
a atividade econômica, considerada a disciplina
constitucional que a rege, está subordinada, den-
tre outros princípios gerais, àquele que privilegia
a “defesa do meio ambiente” (CF, art. 170, VI), que 227
Com o falecimento de João, Maria e seus filhos procu- À luz da sistemática constitucional, o Brasil:
raram um advogado e o questionaram a respeito da lei
aplicável na sucessão dos bens situados no território a) não pode deferir a extradição em hipótese alguma,
brasileiro. pois Mariah é brasileira nata;
b) pode deferir a extradição, salvo se Mariah tiver feito
O advogado respondeu corretamente que, de acordo a opção pela nacionalidade brasileira quando comple-
com a ordem constitucional, tou 21 anos de idade;
c) pode deferir a extradição, salvo se o caso versar sobre
a) João era brasileiro nato, logo, a sucessão será regula- crime político ou de opinião, já que Mariah não tem a
da pela lei brasileira. nacionalidade brasileira;
b) João era estrangeiro, mas a sucessão será regulada d) não pode deferir a extradição, salvo se Mariah, brasi-
pela lei brasileira em benefício de Maria e seus filhos, leira nata, for acusada da prática de tráfico ilícito de
caso lhes seja mais favorável. substâncias entorpecentes e drogas afins;
c) João era brasileiro nato, logo, a sucessão será regula- e) pode deferir a extradição, pois, caso Mariah tenha a
da pela lei brasileira, desde que seja mais favorável a naturalização brasileira deferida, isso não obsta a
Maria e aos filhos que a lei francesa. extradição em razão de crimes praticados em momen-
d) João era estrangeiro, mas a sucessão será regulada to anterior.
pela lei brasileira em benefício de Maria, mas não
em benefício de seus filhos, que têm nacionalidade 5. (FGV — 2022) Joana pretendia concorrer ao cargo ele-
francesa. tivo de deputada estadual. Ao reunir os documentos
e) João era estrangeiro, mas a sucessão será regulada necessários, constatou que fora condenada, em sen-
pela lei brasileira em benefício de Maria e seus filhos, tença transitada em julgado, à sanção de suspensão
quer lhes seja mais favorável que a lei pessoal do de dos direitos políticos por oito anos, pela prática de ato
cujus, quer não. de improbidade administrativa.

3. (FGV — 2022) Maria, servidora ocupante de cargo em Na medida em que o referido período de 8 (oito) anos
comissão no Município Delta, adotou João Pedro, de ainda estava em curso, é correto afirmar que Joana
11 anos de idade. Ato contínuo, consultou o regime
jurídico único dos servidores públicos municipais e a) pode concorrer ao cargo eletivo pretendido, desde que
constatou que a licença parental básica, reconhecida o faça em Estado diverso daquele em que foi proferida
aos servidores adotantes, era de noventa dias, perío- a sua condenação.
do reduzido para trinta dias quando o adotado tivesse
mais de 10 anos de idade, isso sem qualquer consi- b) pode concorrer ao cargo eletivo pretendido, já que a
deração em relação a possíveis períodos de prorroga- suspensão dos direitos políticos não acarretou a sua
ção. No entanto, somente faziam jus a essa licença os inelegibilidade.
servidores ocupantes de cargos de provimento efeti- c) não pode concorrer ao cargo eletivo pretendido, já que
vo, não aqueles livremente demissíveis pela autorida- os seus direitos políticos passivos foram suspensos,
de competente. mas não há óbice a que vote nas eleições.
d) não pode concorrer ao cargo eletivo pretendido ou
À luz da sistemática constitucional, o regime jurídico mesmo votar na eleição, já que sua condição de cida-
único dos servidores públicos do Município Delta: dã foi suspensa em razão da referida condenação.
e) pode concorrer ao cargo eletivo pretendido, salvo se a
a) é inconstitucional na parte que restringe a fruição da condenação expressamente a impediu de participar da
licença aos ocupantes de cargos de provimento efe- representação popular, que é um direito fundamental.
tivo e estabelece períodos de fruição inferiores ao da
licença gestante; 6. (FGV — 2022) Um grande número de eleitores, com
b) é inconstitucional apenas na parte em que estabelece elevado prestígio junto à sociedade civil, decidiu criar
o período de fruição de trinta dias quando o adotado o Partido Político WW. Esse partido teria caráter regio-
tiver mais de 10 anos de idade; nal, atuando apenas na região norte do país.
c) não apresenta qualquer vício de inconstitucionalidade
em relação aos servidores que podem fruir a licença e À luz da sistemática constitucional, é correto afirmar
aos respectivos períodos de fruição; é inconstitucional que o objetivo almejado é
apenas na parte que restringe a fruição da licença aos
servidores ocupantes de cargos de provimento efetivo; a) inconstitucional, pois os partidos políticos não podem
d) é inconstitucional apenas na parte em que estabelece ter caráter regional.
períodos de fruição inferiores ao da licença gestante. b) constitucional, pois os partidos políticos podem ter
caráter regional, atuando em apenas uma região.
4. (FGV — 2022) Mariah nasceu no território brasileiro c) inconstitucional, pois os partidos políticos, embora
quando seus pais, de nacionalidade búlgara, aqui se possam ter caráter regional, devem estar vinculados a
encontravam a trabalho em uma sociedade empresá- ao menos três regiões.
ria da área de cosméticos. Poucos meses depois do d) inconstitucional, pois os partidos políticos, embora
nascimento, a família deixou o país e passou a morar possam ter caráter regional, devem estar vinculados a
em caráter definitivo na Bulgária. Quando completou ao menos duas regiões.
25 anos de idade, Mariah foi acusada da prática de cri- e) constitucional, desde que o partido político tenha o
me, teve sua prisão decretada e fugiu para o Brasil. A seu caráter regional previamente autorizado pelo Tri-
Bulgária requereu a sua extradição. bunal Superior Eleitoral

228
7. (FGV — 2022) Maria, Deputada Federal, almejava 9. (FGV — 2022) Determinado grupo político defendia
apresentar projeto de lei em determinada matéria de que o aperfeiçoamento da Federação passava pela
competência legislativa concorrente entre a União, os adoção de medidas administrativas visando ao apri-
Estados e o Distrito Federal. moramento da situação dos Territórios Federais, que
teriam tido sua importância minimizada pela Consti-
Para tanto, solicitou que sua assessoria esclarecesse tuição de 1988.
os balizamentos a serem observados nessa espécie
de competência, tendo sido respondido corretamente Um grupo de oposição respondeu, corretamente, que
que esses entes

a) a União apenas pode suplementar a lei estadual ou a) têm as mesmas competências legislativas dos Esta-
distrital, direcionada ao atendimento das especificida- dos e do Distrito Federal, logo, não há o que aprimorar.
des locais. b) têm as mesmas competências legislativas dos Muni-
b) todos os entes federativos podem legislar livremen- cípios, logo, não há o que aprimorar.
te sobre a matéria, prevalecendo sempre as normas c) não integram a Federação brasileira.
nacionais em detrimento das locais. d) caso estejam constituídos na atualidade, somente
c) todos os entes federativos podem legislar livremen- podem ter a sua situação alterada por lei complementar.
te sobre a matéria, prevalecendo sempre as normas e) não podem ter a sua situação jurídica alterada, sob
locais em detrimento das nacionais. pena de afronta ao pacto federativo, que é uma cláu-
d) a União deve se limitar ao estabelecimento de normas sula pétrea.
gerais, as quais suspendem a eficácia da lei estadual
ou distrital, editada em momento anterior, no que for 10. (FGV — 2022) A Lei nº XX, do Estado Alfa, impôs
contrário. amplas alterações na sistemática remuneratória dos
e) a União deve se limitar ao estabelecimento de normas servidores públicos estaduais, alterando gratificações
gerais e, no caso de colidência com a lei estadual ou até então recebidas. Em normas transitórias, dispôs
distrital, a última, em razão da especificidade do inte- que as alterações promovidas seriam aplicadas àque-
resse, prevalecerá. les que já se encontravam no serviço público à época
da sua entrada em vigor, bem como que as gratifica-
8. (FGV — 2022) Após ampla investigação da Procurado- ções até então recebidas deveriam ser adequadas aos
ria-Geral da República, concluiu-se que o governador novos patamares legais, ainda que isso acarretasse a
do Estado Alfa praticara infração penal, consistente redução do total dos vencimentos recebidos.
no desvio de recursos oriundos da União, em razão
da celebração de convênio, cuja persecução penal O sindicato dos servidores questionou o seu advogado
deveria ser iniciada mediante ação penal pública a respeito da constitucionalidade das normas transitó-
incondicionada. rias da Lei nº XX, sendo-lhe respondido, corretamente,
que elas eram:
Nesse caso, o foro competente para o processo e jul-
gamento dessa autoridade é o: a) inconstitucionais, por violarem a legítima expectati-
va de direito dos servidores que já ocupavam cargos
a) Superior Tribunal de Justiça, que deve solicitar autori- públicos, os quais não podem ser alcançados por leis
zação à respectiva Assembleia Legislativa, ainda que posteriores que alterem a sistemática remuneratória;
a Constituição Estadual não o exija, por se tratar de b) inconstitucionais, por violarem o direito adquirido dos
norma de reprodução obrigatória, sendo o governa- servidores que já ocupavam cargos públicos, os quais
dor automaticamente afastado caso a denúncia seja não podem ser alcançados por leis posteriores que
recebida; alterem a sistemática remuneratória;
b) Superior Tribunal de Justiça, que não depende de auto- c) parcialmente inconstitucionais, apenas na parte em
rização da Assembleia Legislativa, pois a Constituição que foi permitida a redução do total dos vencimentos
Estadual não pode exigi-lo, e, com o recebimento da recebidos pelo servidor, em razão da alteração da sis-
denúncia, o afastamento do chefe do Poder Executivo temática afeta às gratificações;
não é automático; d) constitucionais, em razão da necessária linearidade
c) Superior Tribunal de Justiça, que deve solicitar auto- que deve reger a sistemática remuneratória dos servi-
rização à respectiva Assembleia Legislativa, caso a dores públicos, o que é incompatível com a quebra da
Constituição Estadual o exija, sendo que o governador igualdade formal entre esses agentes;
somente será afastado se a denúncia for recebida e o e) constitucionais, pois a alteração da sistemática remu-
DIREITO CONSTITUCIONAL

Tribunal assim deliberar; neratória dos servidores públicos estaduais não afe-
d) Tribunal Regional Federal, que não depende de autori- tava as garantias do ato jurídico perfeito e do direito
zação da Assembleia Legislativa, pois a Constituição adquirido.
Estadual não pode exigi-lo, e, com o recebimento da
denúncia, o afastamento do chefe do Poder Executivo 11. (FGV — 2022) João foi condenado à pena de reclu-
não é automático; são, em sentença penal transitada em julgado, pela
e) Supremo Tribunal Federal, que deve solicitar auto- prática do crime de tráfico ilícito de substâncias
rização à respectiva Assembleia Legislativa, caso entorpecentes.
a Constituição Estadual o exija, sendo o governador
automaticamente afastado caso a denúncia seja Em razão do longo período em que permaneceu encar-
recebida. cerado, ao que se somava o seu precário estado de
saúde, além da divulgação de diversas ações humani-
tárias praticadas no decorrer da sua vida, levantou-se
um grande clamor popular em prol de sua libertação. 229
À luz desse quadro, os familiares de João procuraram b) apenas como emenda constitucional, norma suprale-
um(a) advogado(a) e o(a) questionaram sobre a possi- gal ou lei ordinária;
bilidade de João ser anistiado, sendo-lhes respondido c) apenas como emenda constitucional ou norma
corretamente que a concessão desse benefício supralegal;
d) apenas como emenda constitucional;
a) é ato do Congresso Nacional, com a sanção do Presi- e) apenas como norma supralegal.
dente da República, mas que não pode vir a beneficiar
João. 14. (FGV — 2022) O órgão competente da União expediu
b) é ato complexo, de necessária iniciativa do Presidente o ato de concessão da aposentadoria voluntária de
da República, com a aprovação do Congresso Nacio- João, servidor público ocupante de cargo de provi-
nal, mas que não pode vir a beneficiar João. mento efetivo.
c) é ato privativo do Congresso Nacional, sem o concur- Logo depois, o ato foi submetido a registro perante
so do Presidente da República, sujeito à sua livre valo- o Tribunal de Contas da União, sendo certo que esse
ração política, podendo vir a beneficiar João. órgão:
d) é ato privativo do Presidente da República, sem o con-
curso do Congresso Nacional, sujeito à sua livre valo- a) não está sujeito a limites temporais para a apreciação
ração política, podendo vir a beneficiar João. da legalidade do ato de concessão inicial da aposen-
e) é ato privativo do Presidente da República, sujeito à tadoria de João;
sua livre valoração política, que pode ser suspenso b) está sujeito ao prazo de cinco anos para a apreciação
pelo Congresso Nacional e pode vir a beneficiar João. da legalidade do ato de concessão inicial da aposenta-
doria de João, que se inicia a contar da sua publicação;
12. (FGV — 2022) Para permitir a ingerência do Poder c) está sujeito ao prazo de cinco anos para a apreciação
Legislativo na escolha dos titulares dos cargos que da legalidade do ato de concessão inicial da aposenta-
integram os órgãos de cúpula de determinadas autar- doria de João, que se inicia a contar da comunicação
quias especiais, foi aprovada a Lei federal nº XX. ao Tribunal de Contas;
d) não está sujeito a limites temporais para a apreciação
De acordo com esse diploma normativo, o Senado da legalidade do ato de concessão inicial da aposenta-
Federal deveria aprovar previamente a escolha des- doria de João, mas, ultrapassados cinco anos, devem
ses agentes, que seria realizada pelo Presidente da ser assegurados o contraditório e a ampla defesa;
República. e) não está sujeito a limites temporais para a apreciação
da legalidade do ato de concessão inicial da aposen-
A Lei federal nº XX é tadoria de João, mas, se da análise puder resultar
alteração do ato inicial, devem ser assegurados o con-
a) constitucional, pois a lei ordinária pode dispor sobre traditório e a ampla defesa.
os cargos cujos titulares devem ser previamente apro-
vados pela referida Casa Legislativa. 15. (FGV — 2022) O Presidente e o Vice-Presidente da
b) inconstitucional, pois somente a lei complementar República se encontravam em missão oficial no exte-
pode dispor sobre os cargos cujos titulares devem ser rior, daí decorrendo a necessidade de que outra autori-
previamente aprovados pela referida Casa Legislativa. dade assumisse o exercício da Presidência.
c) inconstitucional, pois, embora a lei ordinária possa
dispor sobre a matéria, a competência para aprovar a À luz da sistemática constitucional, a autoridade refe-
escolha desses agentes é do Congresso Nacional, não rida na narrativa será
de uma de suas Casas.
d) inconstitucional, por afronta à separação dos pode- a) aquela que venha a ser livremente escolhida pelo Pre-
res, pois, com exceção das situações expressamente sidente da República.
previstas na ordem constitucional, compete privativa- b) aquela escolhida pelo Presidente da República entre
mente ao Presidente da República realizar as nomea- os Presidentes do Supremo Tribunal Federal, da Câma-
ções, sem prévia aprovação. ra dos Deputados e do Senado Federal.
e) constitucional, pois a Lei federal nº XX tão somente c) o Presidente da Câmara dos Deputados, o do Sena-
reproduziu, em parte, a Constituição de 1988, já que do Federal ou o do Supremo Tribunal Federal, nes-
qualquer nomeação para órgãos de cúpula da admi- sa ordem, que serão chamados ao exercício da
nistração indireta deve ser previamente aprovada pelo Presidência.
Senado Federal. d) aquela que venha a ser livremente escolhida pelo Pre-
sidente da República, entre os Presidentes do Supre-
13. (FGV — 2022) A República Federativa do Brasil cele- mo Tribunal Federal, da Câmara dos Deputados e do
brou tratado internacional, direcionado à proteção de Senado Federal.
determinado grupo minoritário. Nesse ajuste, os Esta- e) o Presidente do Congresso Nacional, o da Câmara dos
dos-partes assumiram a obrigação de adotar medidas Deputados, o do Senado Federal ou o do Supremo Tri-
internas voltadas ao reconhecimento de direitos de bunal Federal, nessa ordem, que serão chamados ao
liberdade e de direitos prestacionais. exercício da Presidência.

À luz da sistemática vigente, mais especificamente 16. (FGV — 2022) Maria, juíza federal, pela quinta vez
do entendimento do Supremo Tribunal Federal, esse alternada, faz parte da lista tríplice para promoção por
tratado internacional, após a aprovação do Congresso merecimento a um dado Tribunal Regional Federal.
Nacional, pode ser incorporado à ordem interna: Ao receber a lista, o presidente da República consultou
sua assessoria a respeito de uma possível preferência
a) como norma constitucional, emenda constitucional, de Maria em relação aos dois outros integrantes da
230 norma supralegal ou lei ordinária; lista, sendo-lhe corretamente informado que:
a) não há preferência no caso descrito, pois Maria figu- não foram detectados quaisquer vícios no processo
rou cinco vezes, de modo alternado, na lista para pro- disciplinar.
moção por merecimento;
b) Maria deve ser obrigatoriamente promovida, por ter À luz dessa narrativa, caso Maria decida ingressar
figurado cinco vezes alternadas na lista para promo- com ação judicial para anular a condenação, é correto
ção por merecimento; afirmar que
c) há preferência, mas o chefe do Poder Executivo pode
deixar de promover Maria mediante ato devidamente a) o foro competente será o Supremo Tribunal Federal.
fundamentado; b) isto será feito perante o órgão competente da Justiça
d) não há preferência, na situação narrada, na promoção do Estado Alfa.
de instância, pois só há preferência na promoção para c) isto dependerá de prévia autorização do próprio Con-
uma entrância superior; selho Nacional de Justiça.
e) não há preferência, pois a competência constitucional d) isto será feito perante o Tribunal Regional Federal da
do chefe do Poder Executivo somente observa baliza- região em que está inserido o Estado Alfa.
mentos nas situações expressamente indicadas. e) isto não será possível, já que as decisões do Conselho
Nacional de Justiça não podem ser revistas.
17. (FGV — 2022) Maria e Antônia, estudantes de direi-
to, travaram intenso debate a respeito do alcance da 20. (FGV — 2022) Sensível às longas filas que se forma-
garantia da vitaliciedade. Ao final, concluíram que vam nos supermercados do Estado, postergando em
essa garantia: muito o atendimento daqueles que compareciam a
esses locais para a aquisição de gêneros em geral, o
1. é adquirida após três anos de exercício; governador do Estado Gama apresentou projeto de lei
2. permite que o agente ocupe o cargo até que decida para determinar que esses estabelecimentos passas-
dele se desligar ou venha a falecer; sem a acondicionar ou embalar as compras. O projeto
3. exige sentença judicial transitada em julgado para que assim apresentado resultou na Lei estadual nº XX.
seja decretada a perda do cargo; e
4. assegura a permanência do agente no órgão que ocu- À luz da ordem constitucional vigente, a Lei estadual
pa, salvo decisão do órgão colegiado competente do nº XX é:
Ministério Público, por motivo de interesse público.
À luz da sistemática constitucional, está correto ape- a) materialmente inconstitucional, por afronta à livre
nas o que se conclui em iniciativa;
b) materialmente constitucional, pois a medida determi-
a) 3. nada é direcionada à proteção do consumidor;
b) 1. c) formalmente inconstitucional, pois compete privativa-
c) 1 e 4. mente à União legislar sobre direito do consumidor;
d) 1, 2 e 3. d) materialmente constitucional, pois o dever de emba-
e) 2, 3 e 4. lar os gêneros se integra ao ciclo de produção e de
comércio;
18. (FGV — 2022) Após sofrer uma sanção disciplinar apli- e) formalmente inconstitucional, pois compete privativa-
cada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Maria, mente aos municípios legislar sobre assuntos de inte-
Juíza Federal, decidiu ingressar com uma ação visan- resse local.
do à anulação da respectiva decisão, a qual, ao se ver,
teria afrontado diversos direitos fundamentais.
9 GABARITO
À luz dessa narrativa, o foro competente é
1 B
a) um Juiz Federal, mas apenas se Maria interpuser man-
dado de segurança. 2 B
b) o Supremo Tribunal Federal, mas apenas se Maria 3 A
interpuser mandado de segurança.
c) um Juiz Federal, qualquer que seja a ação proposta 4 A
por Maria, incluindo eventual ação declaratória de nuli-
dade ajuizada em face da União. 5 D
d) o Supremo Tribunal Federal, qualquer que seja a ação
DIREITO CONSTITUCIONAL

6 A
ajuizada por Maria, incluindo eventual ação declarató-
ria de nulidade ajuizada em face da União. 7 D
e) o Superior Tribunal de Justiça, que, por imposição
constitucional, deve apreciar as ações ajuizadas em 8 B
detrimento das decisões disciplinares proferidas pelo 9 C
CNJ.
10 C
19. (FGV — 2022) Maria, Juíza de Direito, sofreu sanção
disciplinar no âmbito do Tribunal de Justiça do Esta- 11 A
do Alfa. Irresignada, requereu que o Conselho Nacio- 12 A
nal de Justiça anulasse o processo administrativo,
em razão da presença de alegados vícios formais. O 13 C
requerimento foi indeferido sob o argumento de que
14 C
231
15 C

16 B

17 A

18 D

19 B

20 A

ANOTAÇÕES

232
A questão da nomenclatura é técnica, porém, em
nada interfere ao fato de que estes direitos devem ser
garantidos a todos os cidadãos. Nacionais ou estran-
geiros, que estejam ou não no território de sua terra
natal, isto em nada interfere à obrigação dos Estados
DIREITOS HUMANOS de respeitarem os direitos humanos de cada um.
Recomendo para aprofundamento sobre a história da
ONU e para informações mais detalhadas, a respeito do
marco inicial dos direitos humanos, o acesso à página da
ONU no endereço <https://nacoesunidas.org/conheca/>.
CONCEITO E FUNDAMENTAÇÃO
Estabelecer um conceito de direitos humanos, embo-
ra pareça simples, exige que se faça uma análise his- Importante!
tórica para compreensão de como surgiu a definição. Direitos humanos são os direitos de cada indi-
Embora todos saibam mencionar quais são estes direi- víduo reconhecidos em seu país e em âmbito
tos, há que se entender como se chegou a um conceito.
internacional.
Como dito, o conceito de direitos humanos foi
construído ao longo dos tempos, razão pela qual se
torna necessário abordar alguns aspectos referentes NOÇÕES GERAIS, DIFERENÇAS E CONVERGÊNCIAS
à sua evolução histórica. DAS TRÊS VERTENTES JURÍDICAS DOS DIREITOS
À princípio, é possível dizer que os direitos huma- HUMANOS NO PLANO INTERNACIONAL
nos, tamanha sua importância, decorrem da dignida-
de inerente a cada ser humano. Porém, em verdade, As vertentes constituem uma divisão dos direitos
estes direitos não foram desde o início efetivamente humanos relacionada ao âmbito de proteção pretendido
previstos e protegidos. pelos diversos tratados que foram assinados pelas nações.
A preocupação em se estabelecer um conceito aos A doutrina reconhece a existência de três verten-
direitos humanos decorreu do período pós II Guerra tes: direito internacional dos direitos humanos; direi-
Mundial. Tal evento de total relevância para a história to humanitário e o direito dos refugiados.
mundial, encerrou-se em setembro de 1945. Segue abaixo uma tabela importante para sua
Em decorrência deste fato histórico, em 24 de memorização, em que são demonstradas as três ver-
outubro de 1945 foi criada a Organização das Nações tentes e suas principais características:
Unidas (ONU) por meio da Carta da ONU. A ONU se
estruturou a partir da união de países de diferentes
VERTENTES CARACTERÍSTICAS
continentes que tinham um único objetivo: a promo-
ção da paz em todo o mundo e a proteção dos Estados, Garantir a todos as pessoas
de forma que pudessem se reestruturar no pós-guerra. independentemente de sua raça,
O ano de 1948 é um marco histórico para a defesa dos cor, religião, nacionalidade ou
Direito Internacional
direitos humanos, tendo em vista ter havido a proclama- gênero, que possa ter uma vida
dos Direitos
ção da Declaração Universal dos Direitos Humanos. digna, em razão de sua con-
É válido lembrar de que os dois importantes Humanos
dição humana e que também
momentos para os direitos humanos foram a Carta da tenha garantido seu direito de
ONU e a Declaração Universal dos Direitos Humanos. liberdade
Também é importante esclarecer que não se pode
dizer que os direitos humanos surgiram a partir da Origem no período pós-guerra
definição de um conceito. Isto porque, é possível defen- em que se tornou necessário
der que se tratam de direitos inerentes à condição o cuidado e respeito com o
Direito Humanitário
humana, segundo a doutrina, são direitos naturais. próximo
No entanto, seu reconhecimento, porém, decor- Está vinculada à Convenção de
re de fato da positivação. A positivação se refere ao Genebra de 1949
momento em que um direito é reconhecido, sendo Consequência do pós-guerra.
escrito por meio de uma lei que tramita em um pro- Diversas pessoas precisaram
cesso legislativo e a partir de sua aprovação passa a Direito dos deslocar-se de suas regiões de
ser de observância obrigatória a todos. Refugiados origem em virtude da devasta-
Preste atenção na informação a seguir, pois é muito ção e destruição resultantes do
importante para sua aprovação: é possível dizer que conflito bélico mundial
os direitos humanos são inerentes à condição huma-
na dos indivíduos. São os chamados direitos naturais.
Quando estes mesmos direitos passam a ser previstos Como visto, os direitos humanos foram assim concei-
tuados e entendidos a partir da Declaração Universal dos
DIREITOS HUMANOS

em uma lei escrita devidamente aprovada por meio


do processo legislativo de cada Estado, dizemos que Direitos Humanos. Desde então, a garantia de preserva-
tais direitos estão positivados. ção dos direitos humanos é uma preocupação internacio-
Quando se fala em direitos humanos, estamos nal especialmente das nações que compõe a ONU.
mencionando um rol de direitos pertencentes ao indi- É possível fazer uma breve síntese, de forma que se
víduo. São reconhecidos internacionalmente, mas identifique o Direito Internacional Humanitário como o
também constam nas normas de direito interno dos ramo do Direito Internacional Público dedicado à pro-
Estados. Dentre estes direitos, temos: o direito à vida; teção do ser humano, civil ou militar, em contexto de
à liberdade; à educação; à saúde. No Brasil, tais direi- conflito armado e identificado pelo grupo das chamadas
tos estão elencados na Constituição Federal. São os “quatro correntes”: O “Direito de Genebra”, o “Direito de
direitos fundamentais e sociais. Haia”, o “Direito de Nova York” e o “Direito de Roma”1.
1 Silvio Beltramelli Neto. Silvio Beltramelli Neto. (Direitos Humanos. Coleção Concursos Públicos, p. 211) 233
Fica evidente que, nesta vertente, a preocupação [...] uma predileção da doutrina especializada pelo
é com o ser humano independentemente de qual- uso da expressão “dimensões” em substituição à
quer condição ou posição em que esteja inserido na ideia de “gerações”, de modo a escapar às falsas
sociedade. ideias acima mencionadas, buscando-se destacar, a
Silvio Beltramelli Neto afirma que o Direito dos bem da concretização, que os direitos humanos são
Refugiados: “mira a proteção da pessoa do refugiado”. (I) decorrentes de um processo de acumulação; (II)
Em razão disto, em 28 de julho de 1951, a ONU interrelacionados; (III) interdependentes (Direitos
Humanos. Coleção Concursos Públicos, p. 89).
promulgou a Convenção conhecida como Estatuto
dos Refugiados. O objetivo é que as nações se com-
prometam a auxiliar as pessoas que tenham saído Desta forma, são reconhecidas como três as gera-
de seu local em busca de uma vida digna em outra ções ou dimensões dos direitos humanos. Ao final,
região. Assim, o país que receber este refugiado deve- atente-se para um esquema que deixo para facilitar
rá garantir que seus direitos a uma vida digna sejam seus estudos sobre as gerações e suas características.
respeitados, independentemente de sua raça, origem, A primeira delas é caracterizada como a dimen-
nacionalidade, religião ou convicções políticas. Ou são dos direitos individuais. O contexto histórico
seja, a pessoa em situação de refugiada não poderá desta dimensão decorre do período pós-Revolução
ser vítima de qualquer discriminação. Por outro lado, Francesa.
o refugiado deverá respeitar às leis do país em que Assim, tratam-se dos direitos que reconhecem ao
ingressou. indivíduo, a liberdade para poder agir e viver con-
Porém, esta Convenção mostrou-se deficiente, pois forme suas convicções e poder manifestar-se, sem a
trazia limitações aos refugiados de determinados paí- influência do Estado.
ses, destinando-se primordialmente àqueles que pro- Portanto, aqui consagra-se o valor da liberdade.
vinham dos países europeus e também de conflitos Na Constituição Federal Brasileira, mais especifica-
ocorridos antes de 1º de janeiro de 1951. mente no art. 5°, a liberdade é definida como indis-
Assim, como forma de afastar esta lacuna, que cer- pensável ao indivíduo, como por exemplo:
tamente gerava discriminações aos refugiados e afastar
Art. 5° [...]
qualquer limite geográfico, foi aprovado, em 1967, um
II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de
Protocolo adicional ao Estatuto, que passou então a
fazer alguma coisa senão em virtude de lei;
proteger de forma ampla aqueles que precisaram sair
IV–é livre a manifestação do pensamento, sendo
de seus territórios em virtude de conflitos armados. vedado o anonimato;
No ordenamento jurídico brasileiro, o Estatuto dos
Refugiados foi regulamentado pela Lei nº 9.474, de 1997.
Ademais, o mesmo dispositivo constitucional traz
Atualmente, com a situação de alguns países em
meios pelos quais o indivíduo poderá buscar a tutela
situação de guerra, diversas pessoas saíram de sua
estatal caso sofra qualquer interferência indevida em
região de origem em busca de condições dignas em
seu direito de liberdade, como o acesso ao Poder Judi-
outros países, especialmente na Europa e também
ciário previsto no art. 5º, XXXV:
aqui no Brasil.
Houve grande discussão, pois algumas nações
Art. 5° [...]
não se mostraram dispostas a acolher os refugiados, XXXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder
embora esta seja uma das vertentes dos direitos Judiciário lesão ou ameaça a direito;
humanos.
Já em relação ao valor da igualdade, podemos rela-
Dica cioná-lo à segunda dimensão dos direitos humanos.
Após as conquistas decorrentes dos direitos e
As vertentes de direitos humanos são: direi-
garantias individuais, a igualdade, tornou-se um
to internacional dos direitos humanos; direito
anseio social, de forma que todos pudessem ter acesso
humanitário e o direito dos refugiados. a direitos sociais, econômicos e culturais. O objeti-
vo, portanto, era a superação de desigualdades e que
GERAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS o Estado pudesse, de fato, oferecer oportunidades e
garantir direitos iguais para todos.
Quando se fala em direitos humanos há sempre O contexto histórico da segunda dimensão é a Revo-
que se entender em que contexto histórico determina- lução Industrial e os movimentos populares que eclodi-
do direito foi considerado como indispensável para a ram pelo mundo na primeira metade do século XIX.
proteção do homem. Um marco importante também relacionado a esta
A doutrina ensina que o jurista tcheco chamado dimensão é a Constituição de Weimar. Trata-se da
Karel Vasak dividiu os direitos humanos de acordo Constituição Alemã que trouxe em seu texto direitos
com o contexto histórico vivenciado no momento de sociais e econômicos, dentre outros.
seu reconhecimento. Esta divisão é conhecida como E, finalmente, a terceira dimensão é conhecida
Teoria das Gerações de Direitos Humanos. pela solidariedade. Nesta dimensão, que se verifica é
Contudo, a doutrina recente entende que o termo uma preocupação mundial com o coletivo. Passada a
gerações não se mostra adequado, pois traria uma fase em que se buscavam as garantias individuais vin-
ideia de superação, sucessão, o que não corresponde culadas à liberdade e os direitos sociais, relacionados
à realidade, visto que os direitos humanos, embora à igualdade, nesta fase, a preocupação se volta para
reconhecidos em diferentes períodos, não se suce- o todo.
dem, mas sim se complementam, formando um
todo indispensável para a proteção do ser humano.
Neste sentido, Silvio Beltramelli Neto ensina que
234 existe:
PRIMEIRA SEGUNDA TERCEIRA A declaração foi ratificada pelo Brasil, por meio do
DIMENSÃO DIMENSÃO DIMENSÃO Decreto nº 19.841, de 22 de outubro de 1945 (BRASIL
(1)). Nele, reconhece-se a dignidade de todos os seres
Característica: Característica: humanos, reafirma-se o valor de qualquer pessoa
Característica: e impõe-se igualdade nos direitos e liberdades dos
liberdade solidariedade
igualdade seres, independente de diferenças entre eles.
Direitos Direitos
Direitos sociais No art. 3º, da Declaração, afirma-se que todo o ser
individuais coletivos
humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pes-
soal. No corpo da Declaração, vai-se estendendo o que se
Após um período em que as pessoas passaram
entende da expressão de tais garantias (BRASIL (1)).
a viver em busca de seus anseios, sem uma preocu-
Além disso, o Brasil é signatário de vários tratados
pação com o ambiente que lhes cercava, tornou-se
em prol da disseminação e proteção dos direitos huma-
necessidade urgente voltar-se para o meio ambiente nos e da diversidade humana, derivados das Nações
que sofreu grandes degradações, bem como buscar a Unidas ou de outras organizações internacionais.
paz depois de terem passado por duas guerras mun- É importante destacar outra organização que o
diais, especialmente pela devastação que decorreu da Brasil faz parte: Organização dos Estados Americanos.
Segunda Guerra Mundial. Essa é a organização regional mais antiga do mundo,
Apenas à título ilustrativo, para complementar que data sua fundação em 1948, diante da Conferência
seus estudos, alguns doutrinadores da área dos direi- Internacional Americana, que foi realizada na cidade
tos humanos defendem a existência de uma quarta de Washington/DC (Estados Unidos da América).
geração ou dimensão, que estaria relacionada à glo- A organização foi fundada por meio da Carta de
balização e às questões políticas, como democracia, Organização dos Estados Americanos, que traz a natu-
direito à informação e pluralismo político. reza e os propósitos da instituição, dos direitos e deve-
res fundamentais dos Estados-parte e aspectos sobre a
Dica segurança coletiva dos países das Américas.
Por meio dessa organização, também se escreveu a
Primeira dimensão = direitos de liberdade; Carta Democrática Interamericana, que representa um
Segunda dimensão = direitos de igualdade; manifesto de afirmação da democracia representativa
Terceira dimensão = direitos de solidariedade. para os povos das Américas. O documento simboliza um
compromisso coletivo de mantimento e fortalecimento da
democracia e seus mecanismos regionais para esse fim
(ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS, 1948, p. 2)
Nesse sentido, o Brasil tem o dever internacional
DIREITOS HUMANOS E de ensinar direitos humanos e não reter esforços para
RESPONSABILIDADE DO ESTADO que sejam preservados, com medidas internas e exter-
nas dos países e órgãos internacionais.
Os direitos humanos são conceitos criados para De maneira nacional, temos direitos fundamentais
definir o que seria básico para a vida digna de qual- que são baseados nos direitos universais da Declaração
quer indivíduo no mundo, criando uma espécie de Universal dos Direitos Humanos, reafirmados com a volta
cidadão universal, que detém garantias e deveres da democracia no Brasil, no período Pós-Ditadura Militar
perante o território em que reside. (1964-1985), com a escrita da nova Constituição do país.
A disseminação de conteúdos sobre direitos huma- A Constituição da República Federativa do Brasil
nos tem se tornado cada vez mais comum em todo foi ratificada no ano de 1988, gerando efeitos a partir
de 1989. Ela possui um extenso dispositivo que trata
o mundo, em principal nos territórios membros da
da maior parte dos direitos fundamentais de todos os
Organização das Nações Unidas.
cidadãos brasileiros: o art. 5º.
Veja uma conceituação possível para os direitos
Portanto, para entender a responsabilidade do
humanos e suas características principais (BRASIL (2)):
Estado brasileiro na disseminação dos direitos huma-
nos, vamos analisar os seguintes documentos:
z Os direitos humanos são os direitos e liberdades
básicas de todos os seres humanos; z Carta das Nações Unidas (1945);
z Esses direitos são inerentes a todos os seres huma- z Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948);
nos, independentemente de raça, sexo, naciona- z Carta da Organização dos Estados Americanos (1948);
lidade, etnia, idioma, religião ou qualquer outra z Carta Democrática Interamericana (1948);
condição de diversidade. Todos merecem esses z Constituição da República Federativa do Brasil (1988).
direitos, sem discriminação;
z Os direitos humanos incluirão: o direito à vida e à CARTA DAS NAÇÕES UNIDAS
liberdade, à liberdade de opinião e de expressão, o
DIREITOS HUMANOS

direito ao trabalho e à educação, entre muitos outros. A Carta das Nações Unidas (United Nations Char-
ter) é o documento que funda a Organização das
Os Estados-membros da ONU devem estar em con- Nações Unidas (ONU ou UN) e, ao mesmo passo, um
sonância com a Carta das Nações Unidas (que fundou instrumento de direito internacional.
a organização e deu o tom de suas ações), a qual dita O documento foi assinado em 26 de junho de 1945,
as condições de igualdade de todos os indivíduos, na cidade São Francisco (Estados Unidos da América),
independente de suas diferenças. na conclusão da Conferência das Nações Unidas sobre
Em consequência, esses Estados-membros das Organização Internacional, e entrou em vigor em 24
Nações Unidas são signatários de uma declaração de outubro de 1945.
de direitos universais, vista como a principal de seu A Carta descreve os princípios das relações internacio-
gênero. Estamos falando da Declaração Universal dos nais, como a igualdade soberana dos Estados nacionais e
Direitos Humanos. a proibição do uso da força nas relações internacionais. 235
Por sua vez, a Organização das Nações Unidas Mundial, em 1948, que continha cenário de destrui-
(ONU) ou United Nations (UN) é o órgão internacional ção em diversos países e territórios, por conta do uso
de cooperação de países em prol da paz mundial. Ela de bombas atômicas e armas de diversas naturezas.
foi criada em 1945, logo após o fim da Segunda Guerra A Declaração Universal dos Direitos Humanos é
Mundial, buscando o fim dos conflitos mundiais em um documento elaborado por diversos representan-
função da diplomacia (UNITED NATIONS (5)). tes de nações de diferentes culturas e bagagens jurídi-
Para fazer parte das Nações Unidas, o país ou cas em prol de uma norma comum para proteção dos
nação deve estar compromissado com a paz, estando direitos universais a ser alcançada por todos os seres
aptos e dispostos a cumprirem com as obrigações da humanos em todos os territórios.
Carta das Nações Unidas. O documento foi proclamado por meio da Assem-
Os membros que, por ventura, vierem a descumprir bleia Geral das Nações Unidas (Organização das
reiteradamente as normas contidas no documento de Nações Unidas, ONU/UN) em seu escritório de Paris,
criação da organização, podem ser expulsos mediante em 10 de dezembro de 1948, por meio da Resolução
recomendação do órgão Conselho de Segurança, um 217 A (III) da Assembleia Geral (UNITED NATIONS (1)).
dos mais importantes na questão decisória da ONU. Como vimos, os direitos humanos são conceitos cria-
O Conselho de Segurança da ONU é o órgão que dos para definir o que seria básico para a vida digna de
possui responsabilidade pela segurança e paz mun- qualquer indivíduo no mundo, criando uma espécie de
diais. Possui 15 membros, sendo 5 deles permanentes: cidadão universal, que detém garantias e deveres.
Estados Unidos da América, Rússia, China, França e No texto do Preâmbulo, é citada por diversas vezes
Reino Unido. Os membros não permanentes são elei- a Carta das Nações Unidas, documento que inaugura a
tos a cada dois anos (art. 23, do Decreto nº 19.841, de Organização das Nações Unidas em 1945 (BRASIL (2)).
22 de outubro de 1945). Veja o texto na íntegra a seguir:
É por meio do Conselho de Segurança que se defi-
ne se uma situação de conflito ameaça a paz mundial Preâmbulo
e é o órgão que determina a existência de uma amea- Considerando que o reconhecimento da dignidade
ça à paz ou ato de agressão. Também é o conselho inerente a todos os membros da família humana e dos
que media controvérsias entre nações para adoção de seus direitos iguais e inalienáveis constitui o funda-
métodos pacíficos de resolução de conflitos. mento da liberdade, da justiça e da paz no mundo;
Em alguns casos, o conselho pode autorizar o uso Considerando que o desconhecimento e o desprezo
de força para manter ou restaurar a paz e segurança dos direitos do Homem conduziram a atos de bar-
internacionais. bárie que revoltam a consciência da Humanidade e
Portanto, se a nação tem o interesse em participar que o advento de um mundo em que os seres huma-
dessas decisões de diretos internacionais, deve man- nos sejam livres de falar e de crer, libertos do terror
ter-se íntegra à Carta das Nações Unidas. e da miséria, foi proclamado como a mais alta ins-
Por fim, confira os objetivos e princípios da Carta, piração do Homem;
aos quais o Brasil e os outros 192 países signatários da Considerando que é essencial a proteção dos direi-
Carta se sujeitam: tos do Homem através de um regime de direito,
para que o Homem não seja compelido, em supremo
z Manter a paz e a segurança internacionais (1, art. 1º); recurso, à revolta contra a tirania e a opressão;
z Fomentar a estabilidade nas relações interna- Considerando que é essencial encorajar o desenvol-
cionais, contando com a autodeterminação dos vimento de relações amistosas entre as nações;
povos (2, art. 1º); Considerando que, na Carta, os povos das Nações
z Desenvolver uma cooperação internacional entre Unidas proclamam, de novo, a sua fé nos direitos
países em prol da paz (3, art. 1º); fundamentais do Homem, na dignidade e no valor da
z Ser um ponto de referência para resolução de con- pessoa humana, na igualdade de direitos dos homens
flitos mundiais (4, art. 1º); e das mulheres e se declaram resolvidos a favorecer o
z Aplica-se o princípio da igualdade aos seus mem- progresso social e a instaurar melhores condições de
bros (1, art. 2º); vida dentro de uma liberdade mais ampla;
Considerando que os Estados membros se com-
z Os membros devem agir com boa-fé com as obriga-
prometeram a promover, em cooperação com
ções assumidas na Carta (2, art. 2º);
a Organização das Nações Unidas, o respeito
z Os membros devem resolver suas controvérsias
universal e efetivo dos direitos do Homem e
internacionais de maneira pacífica (3, art. 2º);
das liberdades fundamentais;
z Os membros devem evitar o uso de ameaça ou for- Considerando que uma concepção comum destes
ça com outras nações; direitos e liberdades é da mais alta importância
z Os membros devem dar assistência em qualquer para dar plena satisfação a tal compromisso:
ação das Nações Unidas e devem se abster de dar A Assembleia Geral proclama a presente
apoio a nações que forem contra as Nações Unidas; Declaração Universal dos Direitos Humanos
z A ONU irá fazer tudo o que for necessário para que como ideal comum a atingir por todos os povos
outros Estados não membros cumpram o estado de e todas as nações, a fim de que todos os indiví-
manutenção da paz e segurança internacionais; duos e todos os órgãos da sociedade, tendo-a cons-
z A Carta não autoriza as Nações Unidas a intervi- tantemente no espírito, se esforcem, pelo ensino e
rem em assuntos que dependam essencialmente pela educação, por desenvolver o respeito desses
da jurisdição nacional nem obrigará membros a se direitos e liberdades e por promover, por medidas
submeterem a solução nos termos escritos, porém progressivas de ordem nacional e internacional, o
isso não prejudicará a aplicação de medidas coer- seu reconhecimento e a sua aplicação universais
citivas pelas Nações Unidas. e efetivos tanto entre as populações dos próprios
Estados membros como entre as dos territórios
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DE DIREITOS HUMANOS colocados sob a sua jurisdição (UNITED NATIONS).

A Declaração Universal dos Direitos Humanos Desde 1945, o Brasil ratificou a Carta e tornou-se
236 foi redigida em um contexto Pós-Segunda Guerra parte das Nações Unidas. Dessa forma, a resolução
que cria a Declaração reafirma o que a Carta das RESOLVERAM
Nações Unidas traz, com testamentos em prol da paz e Assinar a seguinte
da segurança internacionais (BRASIL (2). Carta da Organização dos Estados Americanos
(ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS, 1948).

Importante! É transparente a essência da Organização, em con-


sonância com a proteção dos Direitos Humanos, com
Recomenda-se ao aluno a leitura da Declaração fomento da resolução de conflitos por meio da diplo-
Universal dos Direitos Humanos na íntegra, por macia e com um compromisso especial de cooperação
meio de busca simples na web do nome do ins- entre os Estados Americanos.
trumento legal. Em seu preâmbulo, vemos a confirmação, tam-
bém, dos ideais das Nações Unidas, assim como uma
reafirmação dos direitos universais como “direitos
A inovação principal da Declaração é no fortale- essenciais dos Homens” (ORGANIZAÇÃO DOS ESTA-
cimento da rede de proteção dos direitos humanos, DOS AMERICANOS, 1948).
por meio de um instrumento jurídico que baseie as Além disso, é característica da Organização que se
medidas internas dos países com um objetivo comum: defenda a democracia por meio da eleição representa-
manter a dignidade humana. tiva de líderes executivos. Assim, esse regime deve ser
CARTA DA ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS respeitado e defendido pelo Estado.
AMERICANOS Veja as consequências de deposição de governo
democrático para membros da Organização dos Esta-
A Carta da Organização dos Estados Americanos, dos Americanos:
de 1948, cria a Organização dos Estados Americanos,
uma organização regional das Américas, a qual desen- Art. 9 Um membro da Organização, cujo governo
volveu seus sistemas próprios de promoção da paz e democraticamente constituído seja deposto
dos Direitos Humanos em todo o continente. pela força, poderá ser suspenso do exercício do
A Carta traz a natureza, os propósitos, princípios, direito de participação nas sessões da Assembleia
além dos direitos e deveres dos Estados-membros. Geral, da Reunião de Consulta, dos Conselhos da
O Brasil também é um signatário original (desde Organização e das Conferências Especializadas,
sua fundação) da Carta da Organização dos Estados bem como das comissões, grupos de trabalho e
Americanos e, por essa razão, sujeita-se às suas defi- demais órgãos que tenham sido criados (ORGANI-
nições de cooperação internacional em prol da paz, ZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS, 1948).
diplomacia e Direitos Humanos.
Vejamos o seu preâmbulo: Agora, confira as consequências de violação de
nações terceiras em seus territórios por meio de ocu-
EM NOME DOS SEUS POVOS, OS ESTADOS REPRE- pação militar:
SENTADOS NA NONA CONFERÊNCIA INTERNA-
CIONAL AMERICANA, Art. 21 O território de um Estado é inviolável; não
Convencidos de que a missão histórica da América é ofe- pode ser objeto de ocupação militar, nem de outras
recer ao Homem uma terra de liberdade e um ambiente medidas de força tomadas por outro Estado, dire-
favorável ao desenvolvimento de sua personalida- ta ou indiretamente, qualquer que seja o motivo,
de e à realização de suas justas aspirações; embora de maneira temporária. Não se reconhece-
Conscientes de que esta missão já inspirou nume- rão as aquisições territoriais ou as vantagens espe-
rosos convênios e acordos cuja virtude essencial se ciais obtidas pela força ou por qualquer outro meio
origina do seu desejo de conviver em paz e de pro- de coação (ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERI-
mover, mediante sua mútua compreensão e seu CANOS, 1948).
respeito pela soberania de cada um, o melho-
ramento de todos na independência, na igual-
No site da Organização, temos a seguinte definição
dade e no direito;
Seguros de que a democracia representativa é sobre sua fundação:
condição indispensável para a estabilidade, a paz e
o desenvolvimento da região; Embora alguns estudiosos remontem os antece-
Certos de que o verdadeiro sentido da solidariedade dentes do Sistema Interamericano ao Congresso do
americana e da boa vizinhança não pode ser outro Panamá, convocado por Simón Bolívar em 1826, o
senão o de consolidar neste Continente, dentro do fato é que somente em 1889 os Estados americanos
quadro das instituições democráticas, um regime decidiram se reunir periodicamente e criar um sis-
de liberdade individual e de justiça social, funda- tema compartilhado de normas e instituições. Nes-
do no respeito dos direitos essenciais do Homem; se ínterim, realizaram-se conferências e reuniões
DIREITOS HUMANOS

Persuadidos de que o bem-estar de todos eles, para gerar o sistema, mas foi somente a convite do
assim como sua contribuição ao progresso e à Governo dos Estados Unidos que teve início o pro-
civilização do mundo exigirá, cada vez mais, uma cesso que se desenrola ininterruptamente até hoje.
intensa cooperação continental; A Primeira Conferência Internacional Americana
Resolvidos a perseverar na nobre empresa que a foi realizada em Washington, D.C., de outubro de
Humanidade confiou às Nações Unidas, cujos 1889 a abril de 1890, “com o objetivo de discutir
princípios e propósitos reafirmam solenemente; e recomendar para adoção dos respectivos gover-
Convencidos de que a organização jurídica é uma nos um plano de arbitragem para a solução de
condição necessária à segurança e à paz, baseadas controvérsias e disputas que possam surgir entre
na ordem moral e na justiça; eles, para considerar questões relativas ao melho-
e De acordo com a Resolução IX da Conferência ramento do intercâmbio comercial e dos meios de
sobre Problemas da Guerra e da Paz, reunida na comunicação direta entre esses países, e incentivar
cidade do México, relações comerciais recíprocas que sejam benéficas 237
para todos e assegurem mercados mais amplos Direito, a celebração de eleições periódicas, livres,
para os produtos de cada um desses países” (ORGA- justas e baseadas no sufrágio universal e secreto
NIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS (2)). como expressão da soberania do povo, o regime
pluralista de partidos e organizações políticas, e
No seu art. 2, temos os seus princípios que definem a separação e independência dos poderes públicos
objetivamente em quais assuntos a Organização dos (ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS (3)).
Estados Americanos se envolvem.
Vejamos: No art. 9, temos reafirmados os direitos humanos
para indígenas, migrantes e para indivíduos com dife-
a) Garantir a paz e a segurança continentais; renças culturais, étnicas, raciais e de gênero:
b) Promover e consolidar a democracia represen-
tativa, respeitado o princípio da não-intervenção; Art. 9 A eliminação de toda forma de discrimi-
c) Prevenir as possíveis causas de dificuldades e nação, especialmente a discriminação de gênero,
assegurar a solução pacífica das controvérsias que étnica e racial, e das diversas formas de intolerân-
surjam entre seus membros; cia, bem como a promoção e proteção dos direitos
d) Organizar a ação solidária destes em caso de humanos dos povos indígenas e dos migrantes, e o
agressão; respeito à diversidade étnica, cultural e religiosa
e) Procurar a solução dos problemas políticos, jurí- nas Américas contribuem para o fortalecimento da
dicos e econômicos que surgirem entre os Estados democracia e a participação do cidadão. (ORGANI-
membros; ZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS (3)).
f) Promover, por meio da ação cooperativa, seu
desenvolvimento econômico, social e cultural; Assim, esses compromissos internacionais do
g) Erradicar a pobreza crítica, que constitui um Estado em prol dos Direitos Humanos são reafirma-
obstáculo ao pleno desenvolvimento democrático dos pela Organização das Nações Unidas e sua Carta
dos povos do Hemisfério; e Democrática Interamericana.
h) Alcançar uma efetiva limitação de armamentos
convencionais que permita dedicar a maior soma CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO
de recursos ao desenvolvimento econômico-social BRASIL
dos Estados membros.
A Constituição da República Federativa do Brasil
Assim, todas as nações signatárias devem estar de acor- ou simplesmente Constituição Federal Brasileira (CF)
do com essas relações. Sua rejeição ou desrespeito aos dis- foi escrita no período Pós-Ditadura Militar e reafir-
mou a igualdade de todos os indivíduos perante a lei.
positivos da Carta da Organização dos Estados Americanos
Por sua vez, os direitos humanos são interpretados
pode levar o país à expulsão do órgão e aos seus processos
na lei como direitos fundamentais, os quais se concen-
de sanções internacionais dos seus tratados.
tram, principalmente, em um artigo: o famoso art. 5º,
da Constituição Federal.
CARTA DEMOCRÁTICA INTERAMERICANA Para a CF, os direitos humanos ou fundamentais
são um conjunto de garantias e valores universais que
A fim de reafirmar os ideais de defesa do sistema tem o objetivo de assegurar a dignidade na vida de
democrático representativo nas Américas, houve a todas as pessoas, sem distinção de cor, gênero, reli-
aprovação da Carta Democrática Interamericana. gião ou opinião política.
A Carta Democrática é um compromisso coletivo das Vejamos o art. 5º, nos seus pontos principais:
Américas para manter e fortalecer a democracia e define
mecanismos regionais para a realização desse objetivo. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção
Portanto, a Carta é um instrumento normativo de de qualquer natureza, garantindo-se aos brasilei-
direito internacional, pois propõe medidas de eficácia ros e aos estrangeiros residentes no País a inviola-
material para as nações executarem seus compromissos. bilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade,
à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
A Carta Democrática não só se limita em defender
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obri-
a democracia como forma de eleição de governo de gações, nos termos desta Constituição;
maiorias, mas, ao mesmo tempo, a identifica no con- II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de
junto de valores e direitos elencados, incluindo o res- fazer alguma coisa senão em virtude de lei;
peito aos Direitos Humanos e liberdades fundamentais III - ninguém será submetido a tortura nem a trata-
(ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS (3), p. 2). mento desumano ou degradante;
A Carta define ser essencial para uma democracia IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo
a separação e igualdade dos poderes públicos, assim vedado o anonimato; [...]
como sua transparência de atuação; defesa à liberda- VIII - ninguém será privado de direitos por moti-
de de imprensa e a livre expressão; o respeito pelas vo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou
diferenças étnicas, raciais e culturais; e evidencia a política, salvo se as invocar para eximir-se de obri-
importância da igualdade de gênero em todo esse pro- gação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir
prestação alternativa, fixada em lei;
cesso de igualdade democrática (ORGANIZAÇÃO DOS
IX - é livre a expressão da atividade intelectual,
ESTADOS AMERICANOS (3), p. 3).
artística, científica e de comunicação, independen-
Podemos conferir no art. 3, da Carta Democrática temente de censura ou licença;
Interamericana, a adoção dos conceitos de Direitos X - são invioláveis a intimidade, a vida privada,
Humanos e sua defesa universal: a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
direito a indenização pelo dano material ou moral
Art. 3 São elementos essenciais da democracia decorrente de sua violação; [...]
representativa, entre outros, o respeito aos direitos XIV - é assegurado a todos o acesso à informação
humanos e às liberdades fundamentais, o acesso e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário
238 ao poder e seu exercício com sujeição ao Estado de ao exercício profissional; [...]
XXII - é garantido o direito de propriedade; BRASIL (2), Governo Federal. Decreto n° 19.841,
XIII - a propriedade atenderá a sua função social; de 22 de outubro de 1945. Promulga a Carta das
[...] Nações Unidas, da qual faz parte integrante o ane-
XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção; xo Estatuto da Corte Internacional de Justiça, assi-
[...]
nada em São Francisco, a 26 de junho de 1945, por
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina,
nem pena sem prévia cominação legal; (Princípio ocasião da Conferência de Organização Interna-
da Legalidade) cional das Nações Unidas. Disponível em: <http://
XL - a lei penal não retroagirá, salvo para benefi- www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1930-1949/
ciar o réu; (Princípio da Irretroatividade da Lei) d19841.htm>. Acesso em: 18 fev. 2022.
XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentató- BRASIL (3), Governo Federal. Decreto n° 19.841,
ria dos direitos e liberdades fundamentais; de 22 de outubro de 1945. Promulga a Carta das
XLII - a prática do racismo constitui crime inafian- Nações Unidas, da qual faz parte integrante o ane-
çável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, xo Estatuto da Corte Internacional de Justiça, assi-
nos termos da lei; [...]
nada em São Francisco, a 26 de junho de 1945, por
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus
ocasião da Conferência de Organização Interna-
bens sem o devido processo legal; [...]
cional das Nações Unidas. Disponível em: <http://
A Constituição Federal de 1988 é a principal nor- www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1930-1949/
matividade brasileira, à qual todas as outras devem se d19841.htm>. Acesso em: 18 fev. 2022.
sujeitar. Leis e dispositivos que vão de encontro com ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS (2).
aos direitos descritos na carta constitucional podem e Nossa história. Disponível em: <https://www.oas.
devem sofrer processos de inconstitucionalidade para org/pt/sobre/nossa_historia.asp>. Acesso em: 3
que o sistema jurídico nacional esteja em harmonia. mai. 2022.
Dessa forma, é necessário que todas as leis e decre- ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS (3).
tos nacionais passem pelo crivo constitucional de pro- Carta Democrática Interamericana. Disponível
teção dos direitos fundamentais. em: <https://www.oas.org/pt/democratic-charter/
Portanto, nacionalmente, a defesa dos direitos pdf/demcharter_pt.pdf>. Acesso em: 2 mai. 2022.
humanos deve ser fomentada para que as políticas do ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Car-
Estado sirvam para reconhecer e legitimar a força dos ta Da Organização Dos Estados Americanos.
dispositivos democráticos constitucionais. 1948. Disponível em: <http://www.oas.org/dil/
CONSIDERAÇÕES FINAIS port/tratados_A-41_Carta_da_Organiza%C3%A7%-
C3%A3o_dos_Estados_Americanos.pdf>. Acesso
Diante da leitura deste material, é possível per- em: 6 maio 2022.
ceber que desde o final da Segunda Guerra Mundial, ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Car-
tornou-se foco mundial a busca pela paz, segurança e ta Democrática Interamericana. Disponível em:
defesa dos Direitos Humanos. <https://www.oas.org/pt/democratic-charter/pdf/
Em 1945, era criada a Organização das Nações Uni- demcharter_pt.pdf>. Acesso em: 04 mai. 2022.
das com esse objetivo, a qual desenvolveu a Declara- STERMAN, Maria Silvia Gomes. O Duplo Grau de Juris-
ção dos Direitos Humanos de 1948, que foi o primeiro dição – Uma Reflexão. 2017. Disponível em: <https://
marco legal internacional de descrição desses direitos. www.tjsp.jus.br/download/EPM/Publicacoes/Obras-
Em 1948, escreve-se a Declaração Universal dos Juridicas/i%207.pdf?d=636680440128651243>. Aces-
Direitos Humanos pela Organização das Nações Unidas
so em: 13 abr. 2022.
(ONU), à qual todos os seus Estados-membro se sujeitam.
UNITED NATIONS (1). Declaração Universal dos
No mesmo ano de 1948, é criada a Organização dos
Estados Americanos (OAS, sigla em inglês), que defi- Direitos Humanos. Disponível em: <https://brasil.
ne um Sistema Interamericano de Defesa dos Direitos un.org/pt-br/91601-declaracao-universal-dos-di-
Humanos, por meio de marcos normativos, como a reitos-humanos>. Acesso em: 9 abr. 2022.
sua Carta da Organização dos Estados Americanos e UNITED NATIONS (2). UN Milestone. Disponível
com a Carta Democrática Interamericana. em: <https://www.un.org/en/about-us/history-of-
Em 1988, é promulgada a Constituição da Repúbli- -the-un/1941-1950>. Acesso em: 10 mar. 2022.
ca Federativa do Brasil, que reafirma com compromis-
sos internacionais já assumidos pelo Estado brasileiro,
com os direitos fundamentais.
Independentemente da denominação dada, os
direitos humanos, direitos universais ou até direitos DIREITOS HUMANOS NA CRFB, DE
fundamentais são a base da sociedade moderna, que 1988
pauta seus Estados em modelos democráticos, que
DIREITOS HUMANOS

contam com menos conflitos armados em prol de Com a promulgação da Constituição Federal de
diplomacia e negociações. 1988, o Brasil foi definido como um Estado Democráti-
Todo o mundo sofreu com os conflitos mundiais e, co de Direito. Em razão disso, é certo que a Constituição
depois de períodos de exceção, na esfera internacional trouxe importantes direitos e garantias. No artigo 5º, os
e nacional, seguiram-se anos de ouro para o restabele- direitos fundamentais; nos artigos 6º ao 11, os direitos
cimento de Estados nacionais legítimos e democráticos.
sociais e, nos artigos 14 e 15, os direitos políticos.
REFERÊNCIAS A inserção desses direitos em nosso ordenamento
jurídico decorre de o Brasil ter aderido a tratados e
BRASIL (1), Governo Federal. Declaração Uni- convenções internacionais, como a Declaração Uni-
versal dos Direitos Humanos. Disponível em: versal dos Direitos Humanos, o Pacto de Direitos Civil
<https://www.unicef.org/brazil/declaracao-univer- e Políticos da ONU e o Pacto dos Direitos Econômicos,
sal-dos-direitos-humanos>. Acesso em: 9 abr. 2022. Sociais e Culturais. 239
O direito à vida e a preservação à integridade quintos dos votos dos seus membros – serão aprovados
física e moral, bem como à liberdade e à igualdade, e terão equivalência a uma emenda constitucional.
à propriedade e à segurança constituem os direitos e Lembre-se: 2; 2; 3/5: ou seja, duas casas, sendo
garantias fundamentais que estão previstos no artigo necessária a votação em dois turnos com a necessida-
5º, caput da Constituição Federal. de de três quintos de votos (3/5) para sua aprovação.
Esses direitos e garantias constitucionais corres- Daí, vê-se a importância que se atribuiu aos direi-
pondem aos direitos humanos previstos em pactos tos humanos, pois, tendo havido a adesão pelo Brasil
dos quais o Brasil tornou-se signatário. Diante disso, a qualquer convenção ou tratado que trate de uma
tornou-se necessária a inclusão desses direitos em matéria relativa aos direitos humanos, essa regra pas-
nosso ordenamento jurídico, o que ocorreu pela Cons- sa a valer com força de emenda constitucional.
tituição Federal de 1988. Está claro que, com isso, os tratados e convenções
É importante dizer que, assim como os direitos de direitos humanos, quando ratificados pelo Brasil,
humanos, os direitos fundamentais mencionados pos- ganham a mesma relevância das normas previstas na
suem algumas características: Constituição Federal, razão pela qual devem ser cum-
pridos e observados por todos.
São direitos garantidos
a todos que estejam sob Dica
a égide, ou seja, vivendo
UNIVERSALIDADE Tratados de direitos humanos ratificados pelo
no território brasileiro e,
portanto, sob a vigência da Brasil terão valor de norma constitucional, quan-
Constituição Federal do obedecido o critério previsto no § 3º do artigo
5ºda Constituição Federal.
O titular dos direitos e
garantias fundamentais POSIÇÕES DOUTRINÁRIAS
não pode deles renunciar.
IRRENUNCIÁVEL
Poderá, contudo, não exer- A posição do Supremo Tribunal Federal
cer o direito, mas jamais
dele abrir mão
Até então, o que vigorava em relação aos tratados
Ainda como consequência era o § 2º do artigo 5º da Constituição Federal, que
da característica acima, o determina o seguinte:
titular de um direito funda-
mental também não pode- Art. 5º [...]
INALIENABILIDADE rá aliená-lo, ou seja, não § 2º Os direitos e garantias expressos nesta Cons-
pode realizar qualquer tipo tituição não excluem outros decorrentes do regime
de transação abrindo mão e dos princípios por ele adotados, ou dos tratados
de seu direito, pois não há internacionais em que a República Federativa do
conteúdo econômico Brasil seja parte.

Esses direitos são impres- Não restam dúvidas que a partir desse dispositi-
critíveis. Diante disso, a vo já estava expresso na Constituição que os tratados
qualquer tempo, aquele vigoram sem qualquer problema no ordenamento
que sofrer lesão a um de jurídico. Mas havia certa discussão se teriam ou não
seus direitos ou garantias status de uma norma constitucional ou infraconstitu-
fundamentais, poderá bus- cional, ou seja, que não está prevista no texto constitu-
IMPRESCRITIBILIDADE car a reparação diante do cional. Entretanto, após a emenda acima mencionada,
Poder Judiciário. Assim, a questão está pacificada.
o lapso temporal não terá Os tratados que tratem de matérias relacionadas
o condão de impedir que aos Direitos Humanos, quando aprovados nos mes-
a pessoa lesada busque mos trâmites das emendas constitucionais, gozam
exigir a proteção de seu desse status.
direito Nesse sentido, é importante mencionar a conclu-
são de Ricardo Castilho:
A NATUREZA JURÍDICA DA INCORPORAÇÃO DE
“Em síntese, os tratados internacionais de direitos
NORMAS INTERNACIONAIS SOBRE DIREITOS
humanos, por força do art. 5º, § 2º, possuirão sem-
HUMANOS AO DIREITO INTERNO BRASILEIRO
pre status jurídico de norma constitucional. São
materialmente constitucionais, não importando se
Diante da grandiosidade e importância dos trata- foram ratificados antes ou depois da Emenda Cons-
dos que versam sobre direitos humanos, uma impor- titucional n. 45. A inovação trazida pelo § 3º do
tante inovação foi trazida em 2004, com a Emenda dispositivo mencionado diz respeito apenas à pos-
Constitucional 45 inserida na Constituição Federal sibilidade de atribuição de um status formalmente
Brasileira. Este é um assunto muito importante, por constitucional aos tratados, visto que equiparados
isso, atente-se à informação a seguir: em sua formação às emendas constitucionais.”
Foi acrescentado ao artigo 5º da Constituição Fede- (Direitos Humanos. Sinopses Jurídicas – 5 ed. São
ral o § 3º, que passou a prever que os tratados e conven- Paulo: Saraiva, 2015).
ções internacionais que versem sobre direitos humanos
e fossem votados pelo Congresso Nacional – em cada Há ainda que se mencionar que o Supremo Tribu-
240 uma das Casas, em dois turnos e que obtivessem três nal Federal firmou jurisprudência no sentido de que os
tratados que versem sobre direitos humanos que foram Portanto, se o poder emana do povo, resta claro
incorporados ao ordenamento jurídico brasileiro antes que, por ser detentor desse poder, cabe a cada um dos
da Emenda Constitucional n.º 45, de 2004 (ou seja, sem brasileiros o exercício da cidadania. Ou seja, deverá
observar o disposto no § 3º do artigo 5ºda Constituição fazer valer seus direitos, bem como deve agir diaria-
Federal) terão status supralegal ou infraconstitucional. mente de forma comprometida com sua nação.
Importa dizer que a doutrina divergiu sobre o É possível dizer, então, que a relação entre direitos
assunto. Uma primeira corrente defendeu o que foi humanos e cidadania ocorre quando a pessoa age em
mencionado acima, ou seja, que embora esses tratados observância às leis do país em que vive e também bus-
tenham sido ratificados antes da Emenda Constitucio- ca que seus direitos sejam cumpridos.
nal n.º 45, de 2004, deveriam ser recepcionados como O cidadão é assim definido como aquele que pro-
normas equivalentes às emendas constitucionais. tege o meio ambiente em que vive e também exige de
Por sua vez, uma segunda corrente doutrinária ado- seus governantes a efetivação de políticas públicas
tou posicionamento pelo qual não poderia um tratado por meio de medidas práticas que protejam reservas
de direitos humanos aprovado por quórum de lei ordi- ambientais, promovam a limpeza de rios, proteção da
nária, ser incorporado como emenda constitucional. fauna e da flora, por exemplo.
Finalmente, uma última corrente entendeu que A cidadania também é exercida quando a popula-
seria possível a transformação dessa lei ordinária em ção exerce seu direito ao voto para a escolha dos seus
norma de status constitucional, podendo ser reapre- governantes, e também quando sai às ruas em mani-
ciado em consonância com o parágrafo 3º do artigo 5º. festações pacíficas contra corrupção.
Atualmente, no Brasil, os tratados de direitos humanos Percebe-se, portanto, que o exercício da cidada-
que forem aprovados em cada Casa do Congresso Nacio- nia está intimamente ligado aos direitos humanos. É
nal, em dois turnos, por três quintos dos votos de seus o meio pelo qual a pessoa dispõe para fazer com que
membros, terão equivalência a emenda constitucional. seus direitos fundamentais sejam observados. O cida-
dão, portanto, é o sujeito que goza de direitos políticos
DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA no Estado em que vive.
Como visto, a cidadania é um dos fundamentos da
Mostra-se necessário verificar a relação entre os República. Dessa forma, todo aquele que vive em territó-
direitos humanos e a cidadania, sendo que ambos rio brasileiro tem assegurada sua cidadania. Já vimos a
devem caminhar de forma harmônica e conjunta. A origem dela e também como pode ser, de fato, exercida.
cidadania é um dos fundamentos da República Fede- Quando falamos em direitos da cidadania, pode-
rativa do Brasil, assim como a dignidade da pessoa mos falar nos direitos fundamentais previstos na
humana. Está assim prevista no inciso II do artigo 1º Constituição Federal e já mencionados, como o direito
da Constituição Federal. à igualdade, à manifestação do pensamento, à liber-
Mas, afinal, o que é cidadania? Sua origem históri- dade de consciência e de crença e à inviolabilidade
ca remonta à Grécia Antiga. Tratava-se do reconheci- do domicílio. Lembre-se que o rol de direitos é muito
mento atribuído àqueles detentores de direitos e que mais extenso e está previsto no artigo 5º da Constitui-
participavam das decisões políticas da polis (palavra ção Federal.
de origem grega que se refere a um modelo de cida- Também de grande importância para a cidada-
de antiga) em que habitavam. Porém, tratava-se de um nia são os direitos políticos. É por meio deles que o
atributo apenas daqueles que possuíam propriedades cidadão tem em suas mãos o poder para a escolha de
e, portanto, detinham poder para participação política. seus governantes, bem como o de se manifestar sobre
O conceito de cidadania e sua concretização tam- questões relevantes para a nação.
bém é atribuído à Revoluções Inglesas, no século XVII, e Quanto aos deveres do cidadão, incluem-se aí o
à Revolução Francesa, no ano de 1789. Trata-se do reco- respeito às leis e também ao próximo. Isso porque,
nhecimento do indivíduo como membro integrante de para que uma pessoa faça parte de uma nação como
uma nação, detentor de direitos e deveres para a vida um cidadão, deverá também respeitar os demais, não
em sociedade. É aquele que goza de direitos políticos. agindo de forma que sua liberdade possa tolher a dos
O exercício da cidadania, portanto, é a vivência outros. A cidadania é um fundamento da República
experimentada por todos nós, cumprindo deveres de Federativa do Brasil.
respeito às leis e ao próximo, bem como a exigência
de ver nossos direitos efetivados e de participar dos CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988: DOS
rumos do país por meio de seus direitos políticos. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS
No Brasil, a cidadania apareceu de forma muito
tímida ao prever o direito de voto universal na Consti- Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos
tuição de 1891 – embora com exceções àqueles que de
fato podiam votar – e na de 1934, que trouxe o direito Como já vimos anteriormente, os direitos e garan-
DIREITOS HUMANOS

de voto à mulher. tias fundamentais estão previstos no artigo 5º da


Porém, é de fato pela Constituição Federal (CF) de Constituição Federal, que traz a seguinte redação:
1988 que a cidadania passou a ser efetivamente um
valor prezado pelo ordenamento jurídico. Ela defi- Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção
ne que o Brasil constitui um Estado Democrático de de qualquer natureza, garantindo-se aos brasilei-
Direito. Em razão disso, o parágrafo único do artigo 1º ros e aos estrangeiros residentes no País a inviola-
da CF define o seguinte: bilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade,
à segurança e à propriedade, nos seguintes termos.
Art. 1º [...]
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que É necessário verificar as particularidades e des-
exerce por meio de representantes eleitos ou direta- dobramentos de alguns destes direitos e garantias
mente, nos termos desta Constituição. fundamentais. 241
z Direito à vida: É possível dizer que o direito à vida Nos tempos atuais, as redes sociais também se tor-
garante à pessoa o direito de preservação de sua nam um importante meio de possíveis violações. Diaria-
vida, bem como o de poder viver de forma digna. mente, internautas se envolvem em situações que podem
Como desdobramento desse direito, é possível constituir possíveis danos aos direitos fundamentais da
mencionar a vedação à pena de morte, exceto em pessoa. É o caso dos chamados haters, pessoas que aces-
situação de guerra declarada. sam a rede com o exclusivo intuito de ofender o outro,
expondo seu nome, imagem e intimidade.
Inclusive, importa frisar que, por se tratar de uma Essas situações certamente constituem violações que
decorrência do direito à vida, referida proibição cons- serão levadas ao Poder Judiciário para a responsabiliza-
titui cláusula pétrea, ou seja, assim como os demais ção dos ofensores e reparação de danos (indenização
direitos e garantias fundamentais, não poderá ser por dano material e moral). Lembre-se sempre que isso
objeto de alteração ou supressão. decorre da garantia constitucional de preservação da
Além disso, em razão desse direito, é garantido a integridade física e moral a que todos fazem jus.
todos viver de forma digna, ou seja, ter acesso a serviços
de saúde, saneamento básico, medicamentos e também, z Direito à igualdade: O direito à igualdade está
a garantia de um valor mínimo para sua sobrevivência previsto também no caput do artigo 5º da Consti-
(como o benefício decorrente da Lei Orgânica da Assis- tuição Federal. Assim, é definido:
tência Social, conhecido popularmente como LOAS).
Também se relaciona ao direito à vida a previsão Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
do aborto como um crime. Assim, é certo que, com qualquer natureza [...]
exceção dos casos previstos no Código Penal, a inter-
rupção de uma gestação é considerada um crime. Há Trata-se da igualdade formal, ou seja, a garantia,
grande controvérsia em torno do assunto atualmente. prevista na Lei (Constituição Federal) de que todas as
Porém, a previsão do aborto como uma conduta cri- pessoas, independentemente de raça, gênero ou qual-
minosa decorre do direito ora estudado. quer outra característica física ou comportamental,
são iguais, tendo os mesmos direitos e garantias asse-
z Preservação da integridade física e moral (hon- gurados pela Constituição Federal.
ra, imagem, nome, intimidade e vida privada): Porém, a igualdade também é analisada sobre outro
o inciso X do artigo 5º da Constituição Federal pre- aspecto: o material. Por igualdade material, temos que a
ceitua o seguinte: lei deve tratar os iguais de forma igual e os desiguais, de
forma desigual, na medida de sua desigualdade.
Art. 5º [...] Em um primeiro momento, isso parece bastante
X- são invioláveis a intimidade, a vida privada, a confuso. Mas, vamos entender como todos são iguais,
honra, a imagem das pessoas, assegurado o direito mas podem ser tratados de forma desigual quando
a indenização pelo dano material ou moral decor- houver uma desigualdade que isso justifique.
rente de sua violação. A Constituição Federal traz alguns exemplos de situa-
ções que são tratadas de forma desigual, pois há uma
Em razão disso, todos terão a garantia de que sua desigualdade que justifique: por exemplo, a licença-ma-
integridade física e moral será respeitada. Porém, caso o ternidade e licença-paternidade, previstas, respectiva-
indivíduo sofra qualquer forma de violação, poderá bus- mente, nos incisos XVIII e XIX do artigo 7º da Constituição
car reparação, tendo garantido o direito a ser indenizado Federal, ou ainda, o serviço militar obrigatório, que isenta
pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. as mulheres e os eclesiásticos (artigo 143, § 2º).
Assim, aquele que tenha sua honra, imagem, nome, Percebe-se assim que, embora esses sejam exemplos
intimidade e vida privada expostos de qualquer for- de possíveis direitos desiguais, eles se justificam em razão
ma, sem que tenha havido sua autorização para tanto, da desigualdade que envolve os detentores dos direitos.
terá direito a buscar, junto ao Poder Judiciário, inde- Também podemos falar sobre o direito à igualdade
nização pelos danos sofridos. Isso porque tal proteção no tocante às cotas previstas para ingresso nas univer-
decorre da garantia fundamental de que todos gozam sidades. Atualmente, os vestibulares para ingresso nas
de ter preservada sua integridade, física ou moral. universidades estabelecem cotas específicas para pessoas
Caso ocorra qualquer violação, a pessoa ofendida egressas do ensino público. Justifica-se porque, ao longo
terá garantido seu direito a ingressar em juízo e obter dos tempos, verificou-se que os alunos que frequentaram
indenização pelos prejuízos materiais (econômicos) escolas de ensino público apresentaram maiores dificul-
que tenham decorrido dessa ofensa, bem como morais. dades para ingresso em universidades públicas do que
Por dano moral, entende-se qualquer violação que aqueles que frequentaram o ensino privado.
uma pessoa sofra que lhe cause mágoa, tristeza, inten- Além disso, hoje também é comum que existam
so sofrimento, desgosto, vergonha, enfim, que seja cotas nos editais de concursos públicos para negros.
capaz de gerar sentimentos extremamente negativos. Isso se justifica porque os negros, em virtude do pre-
Portanto, ninguém poderá expor o nome, a honra, a conceito perpetrado na sociedade, encontram, ainda
imagem, a intimidade e a vida privada do outro, sem hoje, diversas barreiras que impedem o acesso aos
que haja a devida autorização da pessoa envolvida. estudos e, posteriormente, ao mercado de trabalho
Essa situação pode ser exemplificada quando lembra- em igualdade de condições com pessoas brancas.
mos de certos quadros veiculados em programas televisi- Trata-se das chamadas ações afirmativas, que são
vos conhecidos popularmente como “pegadinhas”. medidas pontuais e que serão adotadas por certo perío-
A pessoa exposta àquela situação autorizou a do de tempo com o objetivo de amenizar ou mesmo
veiculação daquelas imagens. Se não o tivesse feito, cessar as diferenças históricas havidas entre os indiví-
certamente poderia buscar, diante de um juiz, indeni- duos. Vale dizer que as ações afirmativas estão previs-
zação por danos materiais e morais que teriam surgi- tas no Estatuto da Igualdade Racial (Lei nº 12.288 de 20
242 do daquela situação. de julho de 2010), em seu inciso VI do artigo 1º:
Art. 1º Esta Lei institui o Estatuto da Igualdade Assim, também decorrem da liberdade o direito de
Racial, destinado a garantir à população negra a manifestação do pensamento e de qualquer atividade
efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa intelectual, artística, científica e de comunicação. Por-
dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos tanto, não pode ser estabelecida qualquer forma de
e o combate à discriminação e às demais formas de censura pelo Poder Público. Ademais, todos os indiví-
intolerância étnica. duos podem expor sua atividade intelectual ou artísti-
ca de forma livre, sem necessitar de eventual aval dos
Também são previstos nos editais de concursos públi-
governantes. Destaca-se que é em razão disso que são
cos vagas destinadas exclusivamente para pessoas que
tenham alguma deficiência. Ou seja, em razão de uma livres quaisquer manifestações.
desigualdade em relação aos demais ocasionada pela Ainda sobre o direito à liberdade, cabe mencionar,
deficiência, aquele que pleitear uma vaga em concurso ainda que brevemente, um fato notório ocorrido a
público, deverá concorrer conforme suas condições. pouco tempo atrás. Atente-se, pois há grande chance
Diante disso, verifica-se que a igualdade está pre- deste assunto ser cobrado em sua prova:
sente ainda que em situações que aparentam uma Uma associação de artistas ingressou com uma ação
possível desigualdade, pois, em verdade, deve ser no Supremo Tribunal Federal (STF) com o objetivo de
observado todo o contexto ao redor desses direitos, de impedir que fossem publicadas biografias não auto-
forma a garantir efetivamente que todos sejam trata- rizadas. A alegação deles era de que essas biografias
dos da mesma forma perante a lei, consoante prevê o ofendiam a integridade moral dos biografados, visto
artigo 5º da Constituição Federal. que expunham fatos desconhecidos pelas pessoas ou
mesmo situações que poderiam causar-lhes constran-
z Direito à liberdade: A liberdade também é uma gimentos se viessem ao conhecimento público.
decorrência do direito à vida. Contudo, a Corte entendeu que eles não tinham
razão pois, ao necessitar de autorização para a publi-
O direito à liberdade, previsto no artigo 5º, se mani- cação das biografias, os escritores teriam violado seu
festa em diversos pontos da Constituição Federal, e direito à liberdade de manifestação e à liberdade inte-
em muitos aspectos: liberdade de locomoção (inciso lectual e artística.
XV); liberdade de pensamento (inciso IV); liberdade Finalmente, é necessário dizer que, diante da
de expressão (inciso IX); liberdade de associação (inci- garantia de liberdade, o indivíduo apenas poderá ser
so XVII); liberdade religiosa (inciso VI), liberdade de preso em situação de flagrante delito ou por meio de
exercício de trabalho (inciso XIII). ordem escrita e fundamentada da autoridade compe-
Alguns aspectos devem ser destacados em relação tente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime
à liberdade: propriamente militar, conforme estabelece o inciso
Pela liberdade de locomoção: LXI do artigo 5º:
Art. 5º [...]
Art. 5º [...]
XV - é livre a locomoção no território nacional em tem-
LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito
pos de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da
ou por ordem escrita e fundamentada de autorida-
lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens.
de judiciária competente, salvo nos casos de trans-
gressão militar ou crime propriamente militar,
Assim, em decorrência da liberdade, também é
definidos em lei.
garantido pela Constituição Federal que todos vivam
conforme suas convicções, seguindo a crença religiosa
que melhor lhe convier, bem como tendo respeitado z Direito à propriedade: O direito à propriedade,
seu pensamento em relação à política ou convicções embora previsto na Constituição Federal, não é
filosóficas. Isso está previsto no inciso VIII do artigo 5º: absoluto, em primeiro lugar, porque o direito está
condicionado ao atendimento da função social.
Art. 5º [...]
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo A Constituição Federal, em dois dispositivos, § 2º,
de crença religiosa ou convicção filosófica ou políti- artigo 182 e artigo 186, fala sobre o tema:
ca, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação
legal a todos imposta e recusar-se a cumprir pres- Art. 182 A política de desenvolvimento urbano,
tação alternativa, fixada em lei. executada pelo Poder Público municipal, confor-
me diretrizes gerais fixadas em lei, tem por obje-
Assim, é certo que cabe a cada indivíduo fazer tivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções
suas escolhas de vida e manter seus pensamentos, não sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus
podendo o Estado criar qualquer óbice ou punir aque- habitantes. [...]
les que pensem de forma diversa. § 2º A propriedade urbana cumpre sua função
Também merece ser mencionado o inciso IV do
DIREITOS HUMANOS

social quando atende às exigências fundamentais


mesmo artigo: da ordenação da cidade expressas no plano diretor.
Art. 186 A função social é cumprida quando a pro-
Art. 5º [...] priedade rural atende, simultaneamente, segundo
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei,
vedado o anonimato. aos seguintes requisitos:
I- aproveitamento racional e adequado;
E, ainda, o inciso IX: II- utilização adequada dos recursos naturais dis-
poníveis e preservação do meio ambiente;
Art. 5º [...] III- observância das disposições que regulam as
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, relações de trabalho;
artística, científica e de comunicação, independen- IV- exploração que favoreça o bem-estar dos pro-
temente de censura ou licença; prietários e dos trabalhadores. 243
Segundo previsto nesses dois dispositivos, em rela- Art. 196 Constituição Federal. A saúde é direito de
ção à propriedade urbana, a função social é cumprida todos e dever do Estado, garantido mediante polí-
quando as exigências de ordenação da cidade cons- ticas sociais e econômicas que visem à redução do
tante no plano diretor estiverem sendo observadas. risco de doença e de outros agravos e ao acesso
Quanto à propriedade rural, a função social será universal e igualitário às ações e serviços para sua
preenchida quando os seguintes requisitos estiverem promoção, proteção e recuperação.
sendo cumpridos: aproveitamento racional e adequa-
do da área; utilização adequada dos recursos naturais Ou seja, a obrigação do Estado com a população,
disponíveis e preservação do meio ambiente; obser- em princípio, é de manter políticas públicas que
vância das disposições que regulam as relações de previnam e protejam de doenças. Em um segundo
trabalho, ou seja, daqueles que estiverem prestando momento, se a pessoa já apresenta uma doença, cabe
serviços na propriedade; exploração que favoreça o ao Estado prestar-lhe atendimento médico e fornecer
bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. medicamentos para a recuperação de sua saúde.
Assim, embora o direito de propriedade seja É necessário dizer que todos os direitos sociais são
garantido na Constituição Federal, ele não é absoluto. universais. Portanto, caberá ao Poder Público imple-
Como visto, a função social deve ser atendida. Enten- mentá-los sem qualquer distinção. Assim, mesmo que
de-se por função social, como visto acima, no caso da a pessoa não apresente uma situação de vulnerabili-
propriedade urbana, que sejam atendidas e respeita- dade econômica, poderá buscar atendimento hospi-
das as determinações do plano diretor. Em síntese, o talar público ou mesmo matricular-se em uma escola
plano diretor é um documento que deve ser elaborado estadual ou municipal.
por cada município para o ordenamento das cidades.
No caso da propriedade rural, para que seja efe- Dica
tivamente aproveitada, é necessário que sejam uti-
lizados os recursos naturais de forma consciente e Direitos sociais são universais.
adequada, sem desperdício e depredação ambiental.
Ademais, a função social também inclui um impor- Direitos Políticos
tante elemento subjetivo daqueles que estão relacio-
nados à propriedade, qual seja: devem ser respeitadas Os direitos políticos estão previstos nos artigos 14
as relações trabalhistas daqueles que trabalham na a 16 da Constituição Federal, em seu Capítulo IV, no
propriedade, bem como seu bem-estar, além do bem- Título II. São os meios efetivos pelos quais a pessoa
-estar do proprietário. exerce sua cidadania, pois é por meio desses direitos
Finalmente, o direito de propriedade pode ser rela- que a pessoa vota e também pode ser votada.
tivizado pela desapropriação. Prevista no inciso XXIV O artigo 14 preceitua o seguinte:
do artigo 5º, a desapropriação poderá ser ordenada
pelo Poder Público em razão de necessidade, utilidade Art. 14 A soberania popular será exercida pelo
pública e interesse social. Nesses casos, será determi- sufrágio universal e pelo voto direto e secreto,
nada a perda da propriedade da pessoa em favor do com valor igual para todos, e, nos termos da lei,
mediante:
Poder Público mediante o pagamento de uma indeni-
I – plebiscito;
zação justa e prévia, que deverá ser paga em dinheiro.
II– referendo;
III – iniciativa popular.
Art. 5º [...]
XXIV- a lei estabelecerá o procedimento para desa-
propriação por necessidade ou utilidade pública,
Assim, dentre os direitos políticos, o mais conheci-
ou por interesse social, mediante justa e prévia do deles é o sufrágio universal que nada mais é do que
indenização em dinheiro, ressalvados os casos pre- o voto, estabelecido como direto e secreto e também o
vistos nesta Constituição. direito de ser votado.
Percebe-se o que o voto de todos tem o mesmo
Dos Direitos Sociais valor, superada a questão que já permeou em consti-
tuições anteriores em que o voto tinha valor diverso
O artigo 6º da Constituição Federal preceitua os dependendo da posição social de seu titular.
direitos sociais. Por sua vez, plebiscito e referendo referem-se a
formas por meio das quais o cidadão é instado a se
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a manifestar sobre algum assunto de grande relevância
alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, para o país. Assim, por meio de decretos legislativos,
o lazer, a segurança, a previdência social, a prote- as pessoas são convocadas para expressar sua opinião
ção à maternidade e à infância, a assistência aos sobre determinado tema colocado em pauta. Diver-
desamparados, na forma desta Constituição. gem no seguinte: enquanto o plebiscito é estabelecido
de forma prévia e a população se manifesta a favor ou
Conforme verifica-se, tratam-se dos direitos míni- contrária a um tema que lhe é apresentado, o referen-
mos necessários para que a pessoa viva com dignida- do é convocado posteriormente sobre um assunto que
de em um Estado de Direito. Esses direitos constituem já faz parte do dia-a-dia dos cidadãos, cabendo a eles
prestações positivas que o Estado deve garantir a ratificá-lo ou rejeitá-lo.
todos os cidadãos. Terão eficácia imediata, à medida Na história recente brasileira, houve um plebisci-
que não podem depender de outra norma para sua to em 21 de abril de 1993 em que os cidadãos foram
implementação pelo Poder Público. chamados a manifestarem-se sobre a forma e sistema
Destaca-se o direito à saúde, por meio do qual o de governo. Foram colocadas as opções de forma de
Poder Público deverá promover ações de promoção, governo: monarquia ou república, e sistema de gover-
244 proteção e recuperação da saúde: no: presidencialismo ou parlamentarismo. Prevaleceu
que a forma deveria ser mantida como república e o Estado, fazendo com que esse indivíduo passe a inte-
sistema, presidencialista. grar o povo daquele Estado e, por consequência, des-
Já, como exemplo de referendo, temos o ocorrido em frute de direitos e submeta-se a obrigações”.
23 de outubro de 2005, quando a população foi instada Diante disso, temos que um sujeito pode ser bra-
a posicionar-se sobre a seguinte questão: “O comércio sileiro nato ou naturalizado. O brasileiro nato, con-
de armas de fogo e munição deve ser proibido no Bra- forme preceitua a letra “a” do inciso I do artigo 12 da
sil?”. Importa destacar que estava vigente desde 2003 o Constituição Federal, é qualquer pessoa cujo nasci-
Estatuto do Desarmamento, no qual já havia sido proi- mento ocorreu em território brasileiro. Assim, perce-
bido o comércio de armas de fogo e munições. Contudo, be-se que a regra adotada no país é do jus solis.
havia previsão legal de que, para entrar em vigor, seria É necessário ressalvar, porém, o caso da pessoa
necessária a ratificação da população por meio de um que nasceu no Brasil, mas é filho de pais estrangeiros
referendo, podendo, é claro, também rejeitar o disposi- e que estejam à serviço de seu país. Esse sujeito não
tivo que, então, não vigoraria. será brasileiro. Isso porque a Constituição Federal,
A maioria dos cidadãos votou pela ratificação do dis- ainda na letra “a” do inciso I do art. 12, é clara ao dizer
positivo, respondendo “não” à questão formulada men- que também será brasileiro aquele que tiver nascido
cionada acima o que fez com que vigorasse o artigo que aqui, mesmo filho de estrangeiros, desde que os pais
proibia o comércio de armas de fogo e munições no Brasil. não estejam a serviço do seu país. Também será con-
Outro direito político que deve ser mencionado é a siderado brasileiro aquele que tem pai ou mãe bra-
iniciativa popular. Trata-se da iniciativa que garante a sileiros, mas nasceu no estrangeiro quando um deles
todo cidadão o direito de apresentar um projeto de lei. estava no exterior a serviço do Brasil.
Esse direito está regulamentado pelo § 2º do artigo 61 É necessário que apenas um dos genitores seja bra-
da Constituição Federal, cabendo, para tanto, serem sileiro, situação definida na letra “b”, inciso I, artigo 12.
preenchidos os requisitos ali previstos. Finalmente, a letra “c” também desse dispositi-
vo define que será brasileiro nato aquele nascido no
Art. 61 [...] estrangeiro, filho de pai ou mãe brasileiros quando:
§ 2º. A iniciativa popular pode ser exercida pela
apresentação à Câmara dos Deputados de projeto
z For registrado em repartição brasileira competente,
de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do
ou seja, quando do nascimento, seus pais o registra-
eleitorado nacional, distribuído pelo menos por
cinco Estados, com não menos de três décimos por
ram perante consulado brasileiro no exterior;
cento dos eleitores de cada um deles. z Venha a residir no Brasil e, após atingida a maiori-
dade, opte pela nacionalidade brasileira.
Importa dizer que os direitos políticos são dividi-
dos entre capacidade eleitoral ativa e capacidade elei- Nessa última hipótese, mesmo que a pessoa tenha
toral passiva. A capacidade eleitoral ativa se refere ao nascido no exterior e lá tenha sido registrada, se seu
direito de votar. Já a capacidade eleitoral passiva se pai ou sua mãe forem brasileiros e o sujeito tenha
refere ao direito de ser votado. Assim, em regra, todos vindo morar no Brasil, poderá, após completar dezoi-
os brasileiros podem votar e ser votados. to anos, optar pela nacionalidade. Vale ressaltar que
O artigo 15 da Constituição Federal estabelece que deve-se atingir a maioridade para fazer essa escolha,
é vedada a cassação de direitos políticos. Porém, é pos- tendo em vista ser esse o momento em que se alcança
sível que uma pessoa sofra a perda ou suspensão de a capacidade jurídica plena.
seus direitos políticos. Isso pode ocorrer nas seguintes Ademais, o sujeito poderá ser brasileiro naturali-
situações previstas no artigo 15: zado. Será naturalizado, conforme determina o inciso
II do artigo 12:
z Por meio do cancelamento da naturalização por
sentença transitada em julgado (inciso I); z A pessoa nascida em país cujo idioma seja a língua
z Incapacidade civil absoluta, ou seja, aquele que portuguesa, tendo, para tanto, que comprovar a resi-
tenha sua incapacidade reconhecida terá seus dência em solo brasileiro por um ano ininterrupto e
direitos suspensos (inciso II); idoneidade moral (letra “a” do inciso II do artigo 12);
z Condenação criminal transitada em julgado z A pessoa nascida em qualquer país, desde que resi-
enquanto durarem seus efeitos (inciso III); dente no Brasil há mais de quinze anos ininterrup-
z Recusa de cumprimento de obrigação a todos tos e sem condenação penal (letra “b” do inciso III
imposta ou prestação alternativa, nos termos do do artigo 12).
artigo 5º, VIII (vide também inciso IV);
z Improbidade administrativa, nos termos do inciso Assim, a pessoa poderá requerer a naturalização
V, § 4º do artigo 37. brasileira, desde que se enquadre em alguma das
DIREITOS HUMANOS

situações acima e preencha os requisitos determina-


Dica dos pela Constituição Federal.
Ademais, existe uma situação peculiar em relação
Não podem ser cassados os direitos políticos de ao cidadão português:
uma pessoa; porém, poderão ser suspensos em Conforme preceitua o § 1º do artigo 12 da Consti-
situações previstas na lei. tuição Federal, o português terá os mesmos direitos
do brasileiro, desde que tenha residência permanente
Nacionalidade no Brasil e se houver reciprocidade de Portugal em
relação aos brasileiros, ou seja, se no país europeu o
Nacionalidade, conforme bem nos define o juris- brasileiro gozar do mesmo privilégio.
ta Pedro Lenza “[...] pode ser definida como o vínculo O § 4º do artigo 12 define que o brasileiro perderá
jurídico-político que liga um indivíduo a determinado a nacionalidade nas seguintes situações: 245
z O inciso I traz a situação daquele que tiver cance- obrigada a aceitar as atividades alternativas que lhe
lada sua naturalização por sentença judicial moti- forem ofertadas.
vada por atividade nociva ao interesse nacional;
z O inciso II define que deixará de ser brasileiro o 2. (FGV — 2022) O Brasil aderiu ao Estatuto de Roma (ER),
sujeito que adquirir outra nacionalidade, exceto se internalizando-o por meio do Decreto nº 4.388, de 25
houver o reconhecimento de nacionalidade origi- de setembro de 2002. Para eliminar ou ao menos para
nária (brasileira) pela lei estrangeira ou, ainda, se a atenuar as incompatibilidades entre o ER e a Consti-
pessoa tiver que se naturalizar, em virtude de nor- tuição da República de 1988 (CRFB/1988), a Emenda
ma estrangeira, como condição para permanência Constitucional nº 45, de 2004, inseriu o §4º, no Art.
em seu território ou exercício de direitos civis. 5º, dispondo que o Brasil se submete à jurisdição de
Tribunal Penal Internacional (TPI) a cuja criação tenha
Finalmente, é necessário dizer que a lei, não pode- manifestado adesão.
rá fazer qualquer distinção entre o brasileiro nato e o
naturalizado. A Constituição Federal, no § 2º do artigo Um exemplo de incompatibilidade entre o ER e a
12, porém, determina que alguns cargos são privativos CRFB/1988 é a previsão de:
de brasileiros natos, quais sejam: Presidente e Vice-
-presidente da República; Presidente da Câmara dos a) pena de prisão perpétua no ER, ao passo que a
Deputados; Presidente do Senado Federal; Ministro do CRFB/1988 veda pena de caráter perpétuo;
Supremo Tribunal Federal; carreira diplomática; oficial b) prescritibilidade para todos os crimes pelo ER, ao
das Forças Armadas e Ministro do Estado de Defesa. passo que a CRFB/1988 especifica alguns crimes
imprescritíveis;
c) retroatividade da lei mais gravosa para prejudicar o réu
pelo ER, ao passo que a CRFB/1988 veda a aplicação
HORA DE PRATICAR! da lei mais severa superveniente para agravar a situa-
ção do réu;
1. (FGV — 2022) Maria foi nomeada e empossada no car- d) vedação de estabelecimento, pelo TPI, de princípios
go de professora municipal, após aprovação em con- aplicáveis às formas de reparação às vítimas pelo ER,
curso público. Durante seu estágio probatório, Maria ao passo que a CRFB/1988 fomenta a indenização às
foi designada para lecionar em diversas turmas, uma vítimas.
delas com aula em dia e horário em que sua crença
religiosa a impedia de trabalhar. Maria comunicou 3. (FGV — 2022) Defensores públicos do Núcleo de Direi-
formalmente o fato à direção da escola e à Secretaria tos Humanos da Defensoria Pública do Estado Alfa
Municipal de Educação que, além de não lhe oportuni- realizaram vistoria em certa Cadeia Pública estadual
zarem atividade diversa, alegaram violação do dever e constataram uma série de violações ao Art. 5º, XLIX,
funcional de assiduidade e determinaram a instaura- da Constituição da República de 1988, que dispõe que
ção de processo administrativo disciplinar (PAD), que é assegurado aos presos o respeito à integridade físi-
foi determinante para a reprovação da servidora no ca e moral. Além da superlotação da unidade prisional,
estágio probatório. os defensores constataram irregularidades sanitárias,
Inconformada, Maria buscou assistência jurídica na ambientais e nas instalações físicas do prédio, como
Defensoria Pública, que impetrou mandado de segu- pane da rede elétrica, com risco de incêndio, rachadu-
rança, alegando que, com base no Pacto de São José ras em paredes e tetos, falta de circulação de ar etc.
da Costa Rica e na jurisprudência do Supremo Tribunal Após tentativa frustrada de solução consensual com a
Federal, é possível a Administração Pública estabele- Secretaria Estadual de Administração Penitenciária, a
cer critérios alternativos para o regular exercício dos Defensoria Pública ajuizou ação civil pública em face
deveres funcionais inerentes aos cargos públicos, em do Estado Alfa, ressaltando na inicial que, conforme
face de servidores que invoquem escusa de consciên- entendimento do Supremo Tribunal Federal e previsão
cia por motivos de crença religiosa: na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, é
lícito ao Judiciário impor à Administração Pública obri-
a) para eximir-se de obrigação legal imposta a todos gação de fazer, consistente na promoção de medidas
servidores, podendo Maria recusar-se a cumprir pres- ou na execução de obras emergenciais em estabele-
tação alternativa, para evitar violação ao princípio da cimentos prisionais para dar efetividade ao postula-
isonomia com os demais servidores aprovados no do da dignidade da pessoa humana e assegurar aos
mesmo concurso; detentos o respeito à sua integridade física e moral,
b) desde que presente a razoabilidade da alteração, nos termos do que preceitua o Art. 5º, XLIX, da Consti-
não se caracterize o desvirtuamento no exercício de tuição da República de 1988:
suas funções e não acarrete ônus desproporcional à
Administração Pública, que deverá decidir de maneira a) não sendo oponível à decisão o argumento da reserva
fundamentada; do possível nem o princípio da separação dos pode-
c) desde que o servidor já tenha adquirido a estabilida- res, no entanto, não se decidirá com base em valores
de após estágio probatório, mas que, no caso em tela, jurídicos abstratos sem considerar as consequências
Maria não pode ser duplamente sancionada pelo mes- práticas da decisão;
mo fato, devendo incidir somente falta funcional leve, b) sendo oponível à decisão o argumento da reserva do
e não reprovação no estágio probatório; possível e o princípio da separação dos poderes, mas
d) pois o princípio da laicidade se confunde com laicis- deverá o Judiciário privilegiar a dignidade da pessoa
mo, de maneira que, em ponderação de interesses, humana, sem adentrar as consequências adminis-
o direito à liberdade religiosa deve prevalecer sobre trativas práticas da decisão, que é matéria de mérito
o princípio da laicidade estatal, e Maria não está administrativo;
246
c) sendo oponível à decisão o argumento da reserva do e) uma faculdade jurídica contemplada em norma inter-
possível e o princípio da separação dos poderes, mas nacional, que deve ser implementada em conjunto
deverá o Judiciário decidir com base principiológica e pelos Estados-partes, de modo que possam alcançar
levando em conta valores jurídicos abstratos, sem juí- padrões universais uniformes de proteção às pessoas
zo de valor sobre consequências práticas da decisão, com deficiência.
que é matéria de mérito administrativo;
d) não sendo oponível à decisão o argumento da reserva 6. (FGV — 2022) Após amplas investigações, as autori-
do possível nem o princípio da separação dos pode- dades competentes lograram êxito em prender João,
res, e deverá o Judiciário decidir com base em valores criminoso contumaz e que praticava inúmeros atos de
jurídicos abstratos sem necessidade de considerar as violência contra suas vítimas, incluindo crianças. Ape-
consequências práticas da decisão, desde que haja a sar dessa prisão, os comparsas de João, conhecidos
devida fundamentação principiológica. como Pedro e Maria, continuavam a praticar crimes.
Em razão da dificuldade na localização de Pedro e
4. (FGV — 2019) Em março de 2018, o Brasil sofreu Maria, embora fosse sabido que João sabia do escon-
uma condenação na Corte Interamericana de Direitos derijo que utilizavam, um agente levou a seus superio-
Humanos porque o Estado brasileiro atuou de forma res a sugestão de que João fosse torturado para que
lenta e inadequada na demarcação da terra do povo fornecesse as informações almejadas.
indígena Xukuru, em Pernambuco.
A responsabilidade do Brasil em realizar as repara- A sugestão apresentada
ções determinadas pela Corte, com base na Conven-
ção Americana de Direitos Humanos, recai sobre: a) pode ser acolhida apenas mediante supervisão
judicial.
a) o Governo do Estado de Pernambuco, uma vez que é b) pode ser acolhida apenas porque crianças foram
nesse estado que está situado o povo Xukuru; vitimadas.
b) o Congresso Nacional brasileiro, por ser responsabili- c) não pode ser acolhida, já que incompatível com a
dade dele a demarcação de terras indígenas; ordem constitucional.
c) o Governo Federal do Brasil – União – pois, como Esta- d) somente pode ser acolhida caso João, previamente
do Parte, cabe a ele assumir a responsabilidade pela informado de que será torturado, mantenha o silêncio.
Convenção; e) pode ser acolhida, independente de supervisão judi-
d) a Justiça Federal brasileira, que deverá homologar cial, desde que a tortura não ultrapasse o limite do
a decisão da Corte e, depois, dar sequência à sua necessário.
execução;
e) a sociedade civil organizada do Brasil, que contará 7. (FGV — 2022) Determinado Batalhão da Polícia Militar
com um aporte de recursos vindos diretamente da no Estado do Rio de Janeiro, por seu comando, iniciou
Organização dos Estados Americanos. a análise dos aspectos afetos à criminalidade em cer-
ta comunidade carente, com o objetivo de deliberar
5. (FGV — 2022) Maria, presidente da Associação das pela realização, ou não, de uma operação policial no
Pessoas com Deficiência do Estado Alfa, travou inten- local, durante a epidemia de COVID-19.
so debate com um representante do governo federal
a respeito da existência de uma faculdade ou de um À luz das determinações exaradas pelo Supremo Tri-
dever jurídico na promoção de medidas de conscien- bunal Federal na ADPF nº 635, essas operações poli-
tização da sociedade a respeito dessa camada da ciais, podem ser realizadas
população, estimulando a observância aos seus direi-
tos, combatendo estereótipos e ressaltando suas con- a) durante o horário escolar, quaisquer que sejam as cir-
tribuições e capacidades. cunstâncias fáticas.
b) desde que haja prévia autorização do Ministério
Ao final, concluíram corretamente que se está perante Público Estadual, independentemente de apreciação
judicial.
a) um dever jurídico previsto em norma internacional e c) em situações absolutamente excepcionais, desde que
que foi incorporado à ordem jurídica interna com o haja prévia autorização do Ministério Público Estadual.
status de norma legal, incluindo ainda o dever de lan- d) em situações absolutamente excepcionais, com a
çar e dar continuidade a campanhas publicitárias de comunicação imediata ao Ministério Público Estadual.
conscientização. e) em situações absolutamente excepcionais, com pré-
b) um dever jurídico previsto em norma internacional e via oitiva do Ministério Público Estadual e correlata
que foi incorporado à ordem jurídica interna com o sta- autorização judicial.
tus de norma constitucional, incluindo ainda o dever
DIREITOS HUMANOS

de fomentar o respeito a essas pessoas em todos os 8. (FGV — 2021) Determinado tratado de proteção aos
níveis de educação. Direitos Humanos foi assinado pelo Estado brasilei-
c) um dever jurídico previsto em norma internacional e ro e, a partir desse momento, iniciou-se um intenso
que foi incorporado à ordem jurídica interna com o movimento, capitaneado pelas entidades de proteção
status de norma supralegal, mas infraconstitucional, aos Direitos Humanos, para que fosse incorporado,
incluindo ainda o dever de favorecer atitudes recepti- à ordem interna, com eficácia jurídica equivalente às
vas em relação a essas pessoas. emendas constitucionais.
d) uma faculdade jurídica sujeita à avaliação política das
maiorias ocasionais, que não decorre de compromis- Para que isto ocorra, é preciso que seja aprovado
sos internacionais assumidos pelo Estado brasileiro,
mas, sim, da necessidade mais ampla de proteção da a) em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos,
dignidade humana. pelo voto de três quintos dos respectivos membros. 247
b) em cada Casa do Congresso Nacional, em turno único,
pelo voto de três quintos dos respectivos membros.
ANOTAÇÕES
c) pelas duas Casas do Congresso Nacional, em reunião
conjunta, pelo voto de dois terços dos respectivos
membros.
d) em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos,
pelo voto de dois terços dos respectivos membros,
com a sanção do Presidente da República.
e) pelas duas Casas do Congresso Nacional, em reunião
conjunta, pelo voto de três quintos dos respectivos
membros, com a sanção do Presidente da República.

9. (FGV — 2019) A Constituição Federal de 1988 reco-


nheceu a dignidade da pessoa humana e os direitos
ampliados da cidadania (civis, políticos, econômicos,
sociais, culturais e ambientais) como fundamentos do
Estado Democrático de Direito.

Esse reconhecimento se relaciona a um processo


mais amplo, que remonta à Declaração Universal dos
Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas
(ONU), de 1948.

A esse respeito, analise as afirmativas a seguir.

I. Essas mudanças no comportamento social estão liga-


das à compreensão de que os Direitos Humanos são
um patrimônio universal.
II. Essas mudanças no comportamento social estão liga-
das à defesa de um modelo escolar nacionalista pau-
tado pelo ensino moral e cívico.
III. Essas mudanças no comportamento social estão liga-
das à produção de mecanismos que garantem uma
educação inclusiva e tolerante.

Está correto o que se afirma em

a) II, apenas.
b) I e II, apenas.
c) I e III, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.

9 GABARITO

1 B

2 A

3 A

4 C

5 B

6 C

7 D

8 A

9 C

248
A Personalidade Civil

Em sequência, o art. 2º aborda mais um atribu-


to da pessoa humana: a personalidade civil. Assim,

DIREITO CIVIL I
analisemos:

Art. 2º A personalidade civil da pessoa começa do


nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a
concepção, os direitos do nascituro.
PESSOAS NATURAIS
Retornando o foco à pessoa natural, percebe-se
CONCEITO E INÍCIO DA PESSOA NATURAL que tem personalidade quem é pessoa e que nas-
ce com vida. O nascimento com vida é constatado a
O Código Civil de 2002 trouxe o ser humano para partir da constatação do batimento cardíaco e da
o centro do ordenamento jurídico, isto é, ele passou respiração – comprovados pelo exame de docimasia
a ter como principal preocupação a pessoa humana. hidrostática de Galeno (guarde o nome deste exame
Isso pode soar um tanto quanto óbvio, mas o Código para a prova!).
Civil anterior, do ano de 1916, girava em torno das Ressalta-se que a Lei de Registros Públicos (Lei
questões patrimoniais em detrimento das próprias 6015, de 1973) no § 2°, do art. 53, também utiliza a res-
pessoas. piração como critério para constatação da vida.
Afinal, as relações privadas reguladas pelo Direito O conceito da personalidade civil, porém, ficou a
Civil, embora também tratem dos bens, das obriga- cargo da doutrina jurídica, a qual afirma que “perso-
ções, dos contratos e da propriedade, não se reduzem nalidade jurídica é a aptidão genérica para titularizar
a estas. As relações existenciais – corpo, imagem, hon- direitos e contrair obrigações [...]”1 À medida que pro-
ra – não só passaram a ter especial tratamento pelo gredirmos no estudo dos artigos seguintes do Código,
Código atual e a orientar sua interpretação e aplica- observaremos que a composição da personalidade
ção, como também a inaugurar sua parte geral. compreende:
Estas mudanças são explicadas também pelos
novos princípios basilares do Código Civil de 2002, z O seu corpo físico e psíquico (art. 14);
a saber: eticidade (reconhecimento de valores éti- z A vida (art. 15);
cos em detrimento de formalidades); socialidade z O nome (art. 16);
(superação do individualismo, busca do respeito aos z A imagem (art. 20);
interesses coletivos e à função social dos contratos); z A intimidade (art. 21).
operabilidade (facilitação da interpretação e aplica-
ção dos institutos nele previstos);
Ainda, o artigo acima dispõe, em sua segunda par-
te, acerca da proteção, desde a concepção, dos direitos
A PERSONALIDADE JURÍDICA
do nascituro – objeto de grande discussão ao longo
dos anos, principalmente no tocante a este ter ou não
A Pessoa Humana
personalidade devido aos direitos assegurados. O nas-
cituro é quem foi concebido, está no ventre da mãe,
Como exposto, o estudo do Código Civil inicia-se
mas ainda não nasceu.
pelo exame da pessoa natural e de seus atributos. A
pessoa natural para o Código Civil é toda ser humano. Da primeira leitura do Código Civil, poderíamos
Vejamos: responder que se adquire personalidade somente ao
nascer com vida (teoria natalista) e que esta visão
Art. 1º Toda pessoa é capaz de direitos e deveres tradicional do nosso ordenamento ainda seria a pre-
na ordem civil. dominante. Porém, outras, como a concepcionista
(explicada a seguir), têm ganhado força na jurispru-
Logo, mesmo os seres que não possuem forma dência nacional.
humana como fetos anencéfalos e bebês com anoma- Embora a teoria natalista ainda seja o entendimen-
lias craniofaciais são considerados pessoas porque to adotado por muitas bancas de concursos, é necessá-
são da espécie humana (homo sapiens). Não são con- rio ter conhecimento de todas as correntes existentes,
sideradas pessoas, porém, os entes despersonalizados, pois, ao cobrar o tema a banca pode dar pistas de qual
tais quais: é o seu posicionamento ou sobre qual teoria pretende
como resposta. Veja com atenção cada uma das três
z Os embriões excedentários, concebidos in vitro e teorias existentes e seus defensores:
ainda não implantados em útero.
DIREITO CIVIL I

z Teoria natalista (Caio Mario e Silvio Venosa): só


há personalidade se houver nascimento com vida.
Importante! O nascituro não teria personalidade, nem seria
O tema “pessoa natural, personalidade e capaci- pessoa (ente despersonalizado). Como consequên-
dade” é recorrente nas provas de escrivão. cia: não há proteção completa àqueles não nasci-
dos, a teoria serve de escusa ao aborto, vez que o
feto não seria pessoa, mas coisa e o ser não nascido
não pode ser titular de patrimônio;
1 (GAGLIANO, Pablo Stolze; FILHO, Rodolfo Pamplona. Manual de Direito Civil. 3 ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019, p. 71). 249
z Teoria da personalidade condicionada (Washi- morte, não sendo plausível obrigar a mãe a carregar
gton de Barros, Serpa Lopes e Bevilaqua): o nas- um filho morto. Conforme se extrai do julgamento:
cituro só tem personalidade, podendo adquirir “uma mulher não pode ser obrigada a assistir, durante
direitos patrimoniais e existenciais, após o nasci- 9 meses, à missa de sétimo dia de um filho acometido
mento com vida (condição). Como consequência: de uma doença que o levará à morte, com grave sofri-
o nascituro tem direitos eventuais. Se nascer com mento físico e moral para a gestante”. (STF – ADPF:
vida, tais direitos se concretizarão com efeitos ex 54 DF, Relator: Min. MARCO AURÉLIO, Data de Julga-
tunc (retroativo). Finalmente, o nascituro pode mento: 1204, de 2012, Tribunal Pleno, Data de Publica-
ser titular de patrimônio se nascer com vida ção: acórdão eletrônico DJe-080 DIVULG 29-04-2013
(Condição); PUBLIC 30-04-2013).
z Teoria concepcionista (Pablo Stolze, Rosenvald, No Habeas Corpus nº 124.306/RJ, por sua vez, julga-
Maria Helena Diniz): o nascituro tem personalida- do em novembro de 2016, o STF se manifestou no sen-
de plena desde a concepção. Como consequência, o tido de que a interrupção voluntária da gravidez no
nascituro é pessoa, pois se tende a conferir o máxi- primeiro trimestre da gestação não é crime. Argumen-
mo de direitos possível ao nascituro. O nascimento tos usados pelo relator Ministro Luís Roberto Barroso:
com vida apenas consolida eventual direito patri-
monial. Exemplos: art. 542 A doação feita ao nas- (a) a criminalização fere os direitos sexuais e repro-
cituro valerá, sendo aceita pelo seu representante dutivos da mulher que não pode ser obrigada pelo
legal. Art. 1.798 Legitimam-se a suceder as pessoas Estado a manter uma gravidez indesejada; (b) a cri-
nascidas ou já concebidas no momento da abertu- minalização viola a integridade física e psíquica da
ra da sucessão. gestante; (c) a criminalização viola o direito à igual-
dade, já que homens não engravidam e, portanto, a
Independente da teoria utilizada é certo que o nas- equiparação plena de gênero depende de se respei-
cituro já possui alguns direitos como o direito à vida, à tar a vontade da mulher; (d) a criminalização fere
herança e aos alimentos. Por exemplo, a Lei 11.804, de o princípio da proporcionalidade pelos seguintes
2008 (lei dos alimentos gravídicos) prevê ao nascituro motivos: (d.1) constitui medida duvidosa da prote-
ção do bem jurídico – nascituro – por não produzir
o direito à pensão alimentícia que deve ser pleiteada
impacto relevante sobre o número de abortos pra-
pela mãe em face do suposto pai.
ticados no país; (d.2) o Estado pode evitar a ocor-
Como visto, embora o legislador aparente a opção,
rência de aborto por meios mais eficazes, como a
em um primeiro momento, pela teoria natalista ou, ao educação sexual e o amparo à mulher que deseja ter
menos, não seja explícito em considerar o nascituro o filho, mas se encontra em situação adversa; (d.3)
uma pessoa, diversos tribunais do país têm proferido a criminalização gera custos sociais (mortes e gas-
decisões a favor da teoria concepcionista, formando tos com curetagem); (e) nenhum país democrático
uma jurisprudência neste sentido. Como se prova pelo e desenvolvido trata a interrupção da gravidez no
próprio julgamento do Superior Tribunal de Justiça: primeiro trimestre como crime, a exemplo dos EUA,
Itália, Alemanha, Canadá, França, Espanha, Portu-
O Ministro Relator afirmou expressamente que, em gal, Holanda, Bélgica e Austrália. (STF – HC: 124.306
sua opinião, “o ordenamento jurídico como um todo RJ – RIO DE JANEIRO 9998493 – 51.2014.1.00.0000,
– e não apenas o Código Civil de 2002 – alinhou-se Relator: Min. MARCO AURÉLIO, Data de Julgamen-
mais à teoria concepcionista para a construção da to: 09/08/2016, Primeira Turma, Data de Publicação:
situação jurídica do nascituro, conclusão enfatica- DJe-052 17-03-2017).
mente sufragada pela majoritária doutrina contem-
porânea”. (STJ. 4ª Turma. REsp 1.415.727-SC, Rel. Min.
Luis Felipe Salomão, julgado em 4/9/2014 (Info 547). Importante!
Corroborando este entendimento, o STJ já conce- É necessário observar a tendência da banca de
deu danos morais a nascituro pela morte do pai por seu concurso, bem como as informações trazi-
atropelamento diante da violação de seu direito de das pela questão.
ter conhecido o pai. (STJ – Resp: 399.028/SP, Relator:
Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, Data de
Julgamento: 26/02/2002, T4 – QUARTA TURMA, Data Finalmente, quanto ao natimorto (aquele que nas-
de publicação: Julgado em 15/04/2002, DJ 15/04/2002 p. ce morto), o Enunciado 1 do Conselho da Justiça Fede-
232 RSTJ vol. 161 p. 395 RT vol. 803 p. 193). Igualmente, ral (discussões doutrinárias formada por reunião de
o STJ já decidiu que uma gestante que se envolve em 5 ministros do STJ e do Centro de Estudos Judiciários)
acidente de carro e, em virtude disso, sofre um aborto, diz que: “a proteção que o Código defere ao nascitu-
ela terá direito de receber a indenização por morte ro alcança também o natimorto no que concerne aos
do DPVAT. (STJ. 4ª Turma. REsp 1.415.727-SC, Rel. Min. direitos da personalidade, tais como nome, imagem e
Luis Felipe Salomão, julgado em 4/9/2014 (Info 547). sepultura”.2
Noutro giro, embora a jurisprudência defenda a
teoria concepcionista, nos últimos anos houve deci- PERSONALIDADE E CAPACIDADE
sões no tocante ao aborto, em especial quanto ao feto
anencéfalo e ao aborto no primeiro trimestre de vida, Para fins didáticos, no início do estudo do Código
afastando a aplicação da teoria concepcionista. Civil, antes de prosseguirmos no estudo dos atributos
No julgamento da ADPF nº 54 de 2012, o Supre- da pessoa natural, pulamos alguns artigos para apro-
mo Tribunal Federal (STF) entendeu que a ausên- fundamos na análise dos direitos da personalidade.
cia de atividade cerebral de um ser configura a sua Agora, retornaremos ao art. 1º do Código Civil, o qual
2 (Conselho da Justiça Federal. Jornadas de direito civil I, III, IV e V: enunciados aprovados. Coordenador científico: Ministro Ruy Rosado de
250 Aguiar Júnior. Brasília: Conselho da Justiça Federal, Centro de Estudos Judiciários, 2012).
afirma que “Toda pessoa é capaz [...]”. Isso significa de forma pessoal, necessitando de representação
que a pessoa, ao nascer com vida, possui não somente legal. Do contrário, atos praticados por eles pessoal-
o direito à personalidade, como também a capacida- mente serão nulos.
de – “[...] de exercer direitos e deveres na ordem civil”. Segundo o inciso VII, do art. 1634, do Código Civil,
Porém, assim como ocorre com a personalidade e os cabe aos pais (ou tutor) a representação dos filhos até
inúmeros direitos expostos decorrentes destas, a pes- os 16 anos – primeiramente aos pais e, na ausência
soa ao nascer sofrerá algumas limitações no exercício destes, ao tutor (art. 1728, Código Civil).
de sua capacidade até mesmo porque o recém-nasci- Todavia, embora não possa exercer pessoalmente
do não consegue exercer pessoalmente seus direitos e os atos da vida civil, a criança tem direito de escolha
deveres na ordem civil. ou ao menos de influenciar as decisões que digam res-
Assim, temos que a capacidade é a medida da per- peito a sua própria vida. Isso porque o art. 16 do ECA
sonalidade, isto é, ela define até onde uma pessoa (Lei 8.069, de 1990) prediz que a criança e o adoles-
pode exercer sua personalidade. As espécies de capa- cente têm direito à opinião, expressão, liberdade de
cidade, portanto, podem ser subdividas em: crença e culto, participação da vida familiar. Ademais,
os § 2° do art. 45, e § 2° do art. 28 do ECA preveem,
z Capacidade de direito (capacidade jurídica ou inclusive, o consentimento do adotado (criança ou
de gozo): que é a aptidão com a qual todos nas- adolescente).
cem para adquirir direitos e contrair obrigações. Logo, conclui-se que, embora o menor de 16 anos
Porém, ela não é plena, pois seu titular apresen- seja incapaz, ele possui discernimento reconhecido
ta limitações de forma que não pode exercer seus para algumas situações.
direitos pessoalmente. Exemplo: Pessoa que nasce
e logo depois morre: houve capacidade jurídica, Os Relativamente Incapazes
com aquisição de direitos (ex.: herança, doação)
menor de idade, o qual depende de acompanha- Como já explicado, os relativamente incapazes são
mento dos pais na vida civil para realizar negócios aqueles que já podem praticar determinados atos da
jurídicos, como um contrato; vida civil pessoalmente, mas para alguns ainda preci-
z Capacidade de fato (capacidade de exercício ou sam de um assistente. O Código Civil apresenta um rol
de agir): é a aptidão adquirida pela pessoa que (taxativo) um pouco maior para estes:
já pode exercer os direitos e cumprir as obriga-
ções pessoalmente, sem a ajuda, representação Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos
ou assistência legal de terceiros. Exemplo: A pes- ou à maneira de os exercer:
soa maior de idade e sem impedimentos legais ao I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito
contratar. anos;
II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico;
Por sua vez, quem não possui capacidade plena é III - aqueles que, por causa transitória ou perma-
denominado incapaz, sendo todos os casos de inca- nente, não puderem exprimir sua vontade;
pacidade taxativamente previstos em lei. A regra, IV - os pródigos
portanto, é todas pessoas serem capazes, havendo Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será
exceções previstas no Código Civil – analisadas a regulada por legislação especial.
seguir. A incapacidade poderá ser:
Os maiores de 16 e menores de 18 anos serão assis-
z Incapacidade relativa: não impede a pessoa tidos pelos pais, ou na ausência deles, por um tutor. O
de realizar os atos da vida civil, mas estes ficam menor manifestará a vontade e esta deverá ser confir-
dependendo da confirmação do chamado assis- mada pelo assistente. Quando houver conflito entre a
tente (estes incapazes são assistidos). É o caso dos vontade do assistente e do menor poderá o juiz dar o
maiores de 16 anos e menores de 18 anos; consentimento se entender que a recusa do assistente
z Incapacidade absoluta: impede que a pessoa é injustificada. Exemplo: art. 1517 c/c art. 1519.
exerça qualquer de seus direitos pessoalmente, Porém, alguns atos podem ser realizados pelo
sendo necessário um representante legal (estes maior de 16 anos sem assistência:
incapazes são representados). É o caso dos meno-
res de 16 anos. z Pode ser testemunha (art. 228, I);
z Mandatário – representante com procuração (art. 666);
Os Absolutamente Incapazes z Pode redigir testamento (art. 1860, p. único);
z Podem votar (Art. 14, II, c, CF).
De acordo com o Código Civil somente os menores
de 16 anos são absolutamente incapazes: O caso dos ébrios habituais (alcóolatras) e dos
viciados em tóxicos afeta apenas aqueles que pos-
Art. 3° São absolutamente incapazes de exercer suem o vício incontrolável a ponto de gerar trans-
DIREITO CIVIL I

pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 tornos mentais. Para tornarem-se relativamente
(dezesseis) anos. incapazes, porém, deverão ser submetidos a um pro-
cesso judicial de curatela (art. 1.767, III) cuja sentença
Nesta faixa etária encontram-se crianças e ado- determinará um curador. Somente com a interdição
lescentes, pois o Estatuto da Criança e do Adolescente os viciados dependerão de assistência de um curador
(ECA) considera criança até os 12 anos e adolescente para praticar determinados atos da vida civil.
até os 18 (art. 2º). Desta forma, os absolutamente inca- Também serão considerados relativamente incapa-
pazes, isto é, os menores de 16 anos, apesar de terem zes aqueles que, por causa transitória ou permanente,
a capacidade de direito, não possuem a capacidade de não puderem exprimir sua vontade. Trata-se de com-
fato, de forma que não poderão exercer seus direitos prometimento das faculdades mentais, sendo que a 251
pessoa não possui uma correta percepção da realidade. z A deficiência com tomada de decisão apoiada:
Quem definirá a ausência do discernimento será o juiz, situação em que o deficiente possui um discerni-
através do procedimento da curatela (art.1.767, I). mento precário, mas não inexistente, devendo o
É interessante observar que, com o Estatuto da Pes- deficiente eleger duas pessoas para ajudá-lo nas
soa com Deficiência, houve mudança no tratamento decisões.
dado às pessoas com enfermidade ou doença mental e
àquelas que por causa transitória ou permanente não Consequências:
possam exprimir sua vontade, pois antes todos estes
eram considerados absolutamente incapazes. Porém z Os curatelados serão relativamente incapazes;
a Lei 13.146, de 2015 revogou os incisos I ao II do art. z Os únicos absolutamente incapazes serão os meno-
3º do Código Civil. Ademais, até mesmo a constatação res de 16 anos;
de incapacidade relativa destas pessoas deverá ser z A curatela só servirá para a proteção do patrimô-
constatada pelo procedimento de curatela, não sendo nio do curatelado, podendo este realizar atos exis-
uma condição verificada automaticamente pela exis- tenciais pessoalmente, como escolher a própria
tência de alguma deficiência. religião, reconhecer filho, casar etc;
Finalmente, a última hipótese prevista de incapa-
cidade relativa refere-se aos pródigos. Estes são aque- Os Índios
les que dilapidam o próprio patrimônio, em prejuízo
próprio. Porém, enquanto não forem submetidos ao O parágrafo único do art. 4º do Código Civil deter-
processo de curatela (art. 1.767, V, Código Civil) eles mina que os índios (ou silvícolas) terão sua capacida-
ainda serão considerados absolutamente capazes de de regulada pela legislação especial - a Lei 6.001 de
praticar todos os atos da vida civil. No entanto, após 1973. A FUNAI (Fundação Nacional dos Índios) é o
a sentença judicial que declarar o estado de prodiga- ente que promove a plena proteção do índio.
lidade o pródigo será privado dos atos relativos a seu O índio não integrado à sociedade deverá ser sem-
patrimônio (art. 1.782): emprestar, negociar, pagar, pre representado pela FUNAI. O índio não integrado
vender, hipotecar e praticar atos gerais de gestão ao é aquele que não fala o português, nem tem contato
seu patrimônio. Logo, fora as hipóteses do art. 1782, o com a sociedade urbana. Portanto, ante a ausência de
pródigo poderá agir sem curador. representação do índio não integrado (art. 8º da Lei
Como se observa, em nenhuma das hipóteses 6.001) o ato será nulo.
acima há menção da incapacidade relacionada ao Os índios integrados se submetem às regras do
envelhecimento. Isso porque a senilidade, a idade Código Civil (art. 8º, parágrafo único da Lei 6.001) e
avançada por si só, não compromete o discernimento praticam pessoalmente os atos da vida civil sendo
da pessoa, sendo necessária a comprovação judicial plenamente capazes.
da incapacidade.
Em todas as hipóteses referentes à incapacidade A Cessação da Incapacidade
relativa à consequência de agir sem assistência (art.
171, I) é de o ato ser anulável (não ter validade, mas o Neste estudo, ao tratar de questões de represen-
ato poderá ser sanado). tação legal e assistência vimos acerca da curatela e
é comum haver dúvida das diferenças entre poder
A Mudança da Teoria das Incapacidades em familiar, tutela e curatela. Atente-se às características
Conformidade à Lei 13.146, de 2015 de cada um:

O Brasil assinou a Convenção Internacional dos z Poder familiar: é o conjunto de deveres atribuí-
Direitos da Pessoa com Deficiência (CDPD), em vigor dos aos pais em benefício dos filhos menores;
desde 25/08/2009. Inclusive a Lei n. 13.146, de 2015 de z Tutela: É uma das formas de colocação da criança
7 de julho, o Estatuto da Pessoa com Deficiência, foi ou do adolescente em família substituta (art. 28,
baseada na CDPD: trata da proteção às pessoas com ECA). O objeto da tutela é apenas menores inca-
deficiência e entrou em vigor em 7 de janeiro de 2016. pazes. É o instituto de direito criado para haver
O que se entende por deficiência? A pessoa com representação ou assistência de menores nos casos
deficiência é aquela que tem impedimento de longo em que o menor não estiver mais sobre o poder
prazo de natureza física, mental, intelectual ou senso- familiar (art.1728): com o falecimento dos pais ou
rial. Veja-se a previsão do estatuto: no caso de perda ou suspensão do poder familiar
(art. 1637 e 1638);
Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela z Curatela: O objeto da curatela é direcionado à
que tem impedimento de longo prazo de natureza assistência nos atos civis de maiores incapazes.
física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em A partir dos 18 anos, o sujeito já é considerado
interação com uma ou mais barreiras, pode obs- automaticamente capaz (existe uma presunção
truir sua participação plena e efetiva na sociedade legal – art. 5º). Para romper com a presunção legal,
em igualdade de condições com as demais pessoas. é necessário que se proceda com a curatela do
maior, a fim de provar sua incapacidade. Uma vez
Existirão Três Tipos de Deficiência: comprovada a sua incapacidade no procedimento
da curatela, o sujeito ganhará um curador.
z A deficiência sem curatela, podendo desfrutar de
todos os seus direitos pessoalmente; De acordo com o Código Civil, não havendo qual-
z A deficiência com curatela, em que haverá uma quer das hipóteses do art. 4º, aos dezoito anos, quando
proteção mais densa àquele que não consegue se o sujeito atinge a maioridade civil, ele também adqui-
252 autodeterminar; re a capacidade plena. Vejamos:
Art. 5º A menoridade cessa aos dezoito anos com- Importante!
pletos, quando a pessoa fica habilitada à prática de
todos os atos da vida civil. O tema “capacidade” é recorrente nas provas de
escrivão.
Como consequência ele poderá realizar todos os
atos da vida civil sem representação ou assistência,
não se submeterá ao poder familiar, responderá pes- Conforme o parágrafo único do 5º (acima) são
soalmente por seus atos, passará a responder penal- espécies de emancipação:
mente pelos crimes cometidos.
z Emancipação voluntária: esta ocorre pela con-
A Responsabilidade Civil dos Pais pelos Atos do cessão dos pais, ou de um deles na falta do outro
Emancipado (entende-se por morto ou não registrado), median-
te instrumento público. Este tipo de emancipação
Não restam dúvidas que os pais são civilmente res- possui como requisitos, portanto: o menor possuir
ponsáveis, de forma objetiva (mesmo sem o elemento 16 anos completos e o ato ser realizado por meio
do dolo ou da culpa) pelos atos civis de seus filhos (art. de instrumento público (lavrado em cartório);
928, CC), sendo subsidiária a responsabilidade destes. z Emancipação judicial: esta ocorre por sentença
judicial, após ser ouvido o tutor. Será realizada
E Quanto ao Menor Emancipado? esta modalidade de emancipação, através de pro-
cesso judicial, caso de um menor tutelado (veja
Como o menor emancipado pratica seus atos sem o Quadro comparativo Poder Familiar x Tutela x
representação ou assistência, a princípio o mais lógi- Curatela) e em caso de recusa injustificável dos
co seria que não houvesse responsabilidade dos pais pais (ou de um deles) em conceder a emancipação
por seus atos. Porém, o STJ tem o entendimento que (art. 1.690, parágrafo único). No caso de o menor
em se tratando de emancipação voluntária (analisada ser tutelado deverá ocorrer a oitiva do tutor (quer-
a seguir) a emancipação por outorga dos pais não -se evitar que o tutor se desonere do múnus por
afasta a responsabilidade pelos atos do menor, isto capricho). A emancipação será registrada no car-
é, os pais responderão de forma solidária pelos atos tório de pessoas naturais (art. 9º, II e art. 29, IV da
do menor: “A emancipação voluntária, diversamente Lei 6.015 de 1973);
da operada por força de lei, não exclui a responsabili-
z Emancipação legal: se dá em razão de um deter-
dade civil dos pais pelos atos praticados por seus filhos
minado acontecimento somado ao de ter 16 anos
menores”. (STJ – AgRg no Ag: 1239557 RJ 2009/0195859
completos. Também deverá ser registrada no car-
– 0, Relator: Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, Data
tório de pessoas naturais (art. 91, parágrafo único
de Julgamento: 09/10/2012, T4, QUARTA TURMA, Data
de publicação: DJe 17/10/2012). da Lei 6015 de 1973). São estes acontecimentos: o
Todavia, o parágrafo único do art. 5º supracitado casamento, o exercício de emprego público efetivo,
também prevê situações nas quais a incapacidade ces- pela colação de grau em curso de ensino superior,
sará antes mesmo de atingida a maioridade: pela existência de estabelecimento civil ou comer-
cial, ou pela existência de relação de emprego, des-
Art. 5° [...] de que, em função deles, o menor com dezesseis
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a anos completos tenha economia própria.
incapacidade:
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na fal- Quanto à emancipação legal por casamento, tem-
ta do outro, mediante instrumento público, inde- -se que a idade núbil, isto é, a idade em que se pode
pendentemente de homologação judicial, ou por casar é a partir dos 16 anos. Porém, o casamento antes
sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dos 16 anos era praticado apenas para evitar imposi-
dezesseis anos completos; ção de pena criminal ou em caso de gravidez. A pri-
II - pelo casamento; meira hipótese restou prejudicada após a Lei 11.106,
III - pelo exercício de emprego público efetivo;
de 2011 que, por sua vez, revogou os incisos VII e VIII
IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;
do art. 107 do CP que previa a extinção de punibilida-
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela
existência de relação de emprego, desde que, em de pelo casamento da vítima com o culpado. Agora,
função deles, o menor com dezesseis anos comple- com a Lei 13.811, de 2019 ficou vedado em qualquer
tos tenha economia própria. caso o casamento de quem não atingiu a idade núbil.
Por tratar-se de uma alteração recente, redobre
A cessação da incapacidade antes mesmo de atin- sua atenção, pois pode ser objeto de sua prova!
gida a maioridade é denominada emancipação. Este Algumas breves considerações devem ser feitas
é o ato pelo qual o menor adquire capacidade plena, ainda quanto às hipóteses de emancipação legal. Pri-
podendo realizar pessoalmente seus atos, sem repre- meiramente, o divórcio não devolve a incapacidade
DIREITO CIVIL I

sentação ou assistência. Como consequência, o eman- ao menor. Segundo a hipótese de emancipação pelo
cipado poderá realizar todos os atos da vida civil sem exercício de emprego público efetivo parece inviá-
representação ou assistência, não se submeterá ao vel, pois depende de lei que expressamente autorize
poder familiar, responderá (em regra) pessoalmente o menor ser investido em cargo público. No entanto,
por seus atos (as mesmas consequências da maiorida- a Lei federal dos servidores públicos (art. 5º, V da Lei
de), mas o sujeito continua sendo menor, isto é, ainda 8112 de 1990 - GERAL) estabelece a idade mínima de
se sujeita ao ECA e continua sendo inimputável – 18 anos como requisito para a investidura.
não responderá penalmente pelos crimes cometidos. É importante notar que a lei trata como espécie
Ademais, a emancipação, em regra, é definitiva e de emancipação legal o exercício no cargo público e
irrevogável. não apenas a posse (aceitação expressa do cargo). Isso 253
significa que a emancipação só ocorre quando o inca- II - se alguém, desaparecido em campanha (guer-
paz inicia suas atividades na Administração Pública. ra) ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois
Em relação à colação de grau em curso de ensi- anos após o término da guerra.
no superior, mesmo sendo difícil em razão da longa Parágrafo único. A declaração da morte presumida,
duração dos cursos de ensino fundamental e médio, a nesses casos, somente poderá ser requerida depois
Lei de Diretrizes Básicas da Educação Brasileira - LDB de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a
(Lei n° 9394 de 1996) admite a abreviação da duração sentença fixar a data provável do falecimento.
de cursos dos alunos extraordinários e não existe ida-
de mínima prevista para esta conclusão abreviada. O inciso I refere-se a casos envolvendo naufrágio,
Finalmente quanto à última hipótese, entende-se inundação, incêndio, terremoto ou qualquer outra
por economia própria aquela que atende a subsis- catástrofe e o II aos desaparecidos em campanha de
tência do sujeito e de seus dependentes. Segundo o guerra ou feito de prisioneiros, como o caso de jorna-
art. 974, o menor incapaz poderá exercer atividade listas que ficam anos desaparecidos ao serem presos
de empresa (estabelecimento próprio) apenas sendo por terroristas.
representado. Assim, a ideia de estabelecimento civil Ademais, a declaração de morte só será possível
ou comercial deve ser compreendida nas hipóteses depois de esgotados todos os meios de busca e será
em que o menor age como profissional liberal (ex.: necessária sentença judicial que decrete a morte. Esta
eletricista, professor, cantor etc.). A relação de empre- morte presumida, como dito, poderá ocorrer com ou
go poderá existir a partir dos 16 anos quando se pode sem decretação de ausência.
estabelecer contrato regular (art. 403 da CLT). A ausência é o desaparecimento da pessoa natural,
sem dela se ter notícias. Veja o que prevê o Código:
A MORTE DA PESSOA NATURAL
Art. 22 Desaparecendo uma pessoa do seu domi-
De acordo com o Código Civil, a extinção da pes- cílio sem dela haver notícia, se não houver dei-
soa natural e da personalidade civil ocorrerá com a xado representante ou procurador a quem caiba
morte: administrar-lhe os bens, o juiz, a requerimento
de qualquer interessado ou do Ministério Público,
Art. 6° A existência da pessoa natural termina com declarará a ausência, e nomear-lhe-á curador.
a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos
casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão Conforme se observa da leitura do art. 22 e seguin-
definitiva. tes, são requisitos para ser decretada a ausência:

A morte ocorrerá com o fim da atividade cerebral z Desaparecimento da pessoa de seu domicílio;
(art. 3º da Lei 9434 de 1997), sendo necessário o laudo z Duração de tempo consideravelmente longo (caso
médico para confecção do atestado de óbito. Confor- concreto);
me o art. 77 da Lei 6.015 de 1973 (LRP) exige-se o ates- z Carência de notícias;
tado de óbito para a realização do sepultamento. z Não houver deixado representante ou procurador;
A morte terá como consequências: z Se o procurador não quiser ou não puder exercer o
mandato, será declarada a ausência (art. 23);
z Por fim a alguns direitos da personalidade do morto; z Se o desaparecido houver nomeado procurador,
z Extinção das relações obrigacionais; mas continuar sumido por mais de 3 anos, será
z Extinção da sociedade conjugal; declarada sua ausência (art.26).
z Saisine iuris: é a transmissão automática dos bens
aos herdeiros. O procedimento de decretação da morte presumi-
da com decretação de ausência ocorrerá em três fases:
A morte pode também ser subdividida em espé-
cies, pois haverá a: z 1ª fase: arrecadação de bens. Será necessária sen-
tença judicial que nomeie um curador e declara
z Morte real: aquela constatada com a presença de a ausência (art. 24). Será legítimo curador: o côn-
um cadáver; juge do ausente, desde que não separado de fato
z Morte presumida: aquela em que não há consta- há mais de dois anos (art. 25, caput). Na falta do
tação de cadáver, não há um corpo, podendo ser cônjuge (§ 1º): a curadoria caberá aos pais ou des-
com ou sem decretação de ausência. cendentes (os mais próximos precedem os mais
remotos, § 2º). Na falta de parentes (§ 3º): compete
Vejamos como o Código aborda o assunto: ao juiz a escolha do curador;
z 2ª fase: sucessão provisória. A sucessão é a trans-
Art. 7° Pode ser declarada a morte presumida, sem missão de bens a terceiro. Após um ano da arreca-
decretação de ausência: dação dos bens, poderá ser dado início à abertura
provisória da sucessão. Vejamos:
A morte presumida é a situação, portanto, em que
o sujeito desaparece, deixando indícios de que está Art. 2º Decorrido um ano da arrecadação dos bens
morto. Os incisos do art. 7º trazem as hipóteses em do ausente, ou, se ele deixou representante ou pro-
que haverá esta presunção. Veja as situações: curador, em se passando três anos, poderão os inte-
ressados requerer que se declare a ausência e se
Art. 7° [...] abra provisoriamente a sucessão.
I - se for extremamente provável a morte de quem
254 estava em perigo de vida;
Porém, o prazo acima será de três anos se o ausente DIREITOS DA PERSONALIDADE
houver deixado representante (tutor, curador) ou pro-
curador. O prazo será contado a partir do desapare- Os direitos da personalidade são aqueles não
cimento. Poderão requerer a declaração de ausência: patrimoniais inerentes à pessoa humana, compreen-
didos no núcleo essencial de sua dignidade. São exem-
Art. 27 são considerados interessados para reque- plos de direito da personalidade: o direito ao corpo,
rer a declaração de ausência: o direito à vida, o direito à honra, o direito ao nome,
I - o cônjuge; o direito à imagem. O art. 11 do Código Civil traz as
II - os herdeiros; características do direito de personalidade:
III - os credores.
Art. 28 o juiz irá abrir a sucessão por sentença e, Art. 11 Com exceção dos casos previstos em lei, os
180 dias após todos os recursos, deverá ser instau- direitos da personalidade são intransmissíveis e
rado o inventário e a partilha. irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer
limitação voluntária.
A partir da abertura da sucessão provisória já
poderá ocorrer a venda dos imóveis do ausente (art. Em seguida vamos analisar melhor cada uma
31) desde que com autorização do juiz, para evitar a delas:
ruína. Igualmente, bens móveis poderão ser alienados
e se estiverem sujeitos à deterioração, o juiz poderá z Intransmissível: os direitos da personalidade não
convertê-los em bens imóveis (art. 29). podem ser transmitidos a terceiros (seja por causa
Ressalta-se que, quanto aos efeitos (art. 33), os her- mortis, seja por ato intervivos). Exceções: alguns
deiros, nessa fase, são apenas possuidores e não proprie- direitos podem ser transferidos temporariamente,
tários dos bens do ausente. Logo, serão dos sucessores como a cessão do uso de imagem para comerciais,
provisórios todos os frutos e rendimentos que a coisa propagandas;
produzir, como, por exemplo, o aluguel, os animais nas- z Irrenunciável: os direitos da personalidade não
cidos de um rebanho, as frutas de uma árvore etc. podem ser renunciados. O titular não pode abrir
Caso haja o reaparecimento do ausente ou se for mão deles de forma definitiva. Observação: dife-
dado por existente (art. 36): extingue-se a posse pro- rente da característica anterior em que se transmi-
visória, não podendo mais os sucessores colher seus te a alguém, a renúncia seria abrir mão do direito,
rendimentos. sem destiná-lo a outrem. Exemplo: não se pode
renunciar ao direito de ter-se um nome. Exceções:
z 3ª fase: sucessão definitiva: Finalmente, com a alguns direitos podem ser renunciados tempora-
sucessão definitiva e se declara a morte presumi- riamente, como em reality shows – os participan-
da (art. 6º). Após dez anos da sentença que conce- tes abrem mão, temporariamente, da privacidade;
de a sucessão provisória, poderão os interessados z Autolimitação: o legislador não permite que, por
pedir a sucessão definitiva (art. 37). Poderá haver vontade própria, o titular renuncie ou transmita
redução do prazo, para cinco anos, desde que o seus direitos da personalidade. Trata-se de tute-
ausente contasse com, no mínimo, 75 anos quando la excessiva e sem justificativa. Porém, segundo
do seu desaparecimento (art. 38). Com a sucessão o Enunciado nº 4 da I Jornada de Direito Civil:
definitiva, os herdeiros serão tidos como verdadei- “o exercício dos direitos da personalidade pode
ros proprietários, podendo usar, gozar e dispor do sofrer limitação voluntária, desde que não seja
bem conforme quiserem. Caso haja o retorno do permanente, nem geral”. O titular pode dispor do
ausente em até dez anos da sucessão definitiva, ele exercício dos seus direitos (a utilização deles),
terá direito apenas aos bens existentes no estado mas não do direito em si.
em que se acharem (art. 39). Sobre os bens aliena-
dos terá direito o ausente aos bens adquiridos em É importante saber que, embora os direitos da per-
seu lugar (sub-rogados) ou ao preço recebido. sonalidade sejam intransmissíveis, seus efeitos patri-
moniais podem ser transmitidos e, inclusive, objeto de
E quando dois sujeitos falecem na mesma ocasião negociação.
como definir quem morreu primeiro? Este dilema Além das características expressas no Código,
trata de um assunto muito cobrado em concursos é Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona (2019, p. 97-98)
quanto à comoriência – muito importante na análise acrescentam outras:
do direito das sucessões. Veja a previsão do Código:
z Absolutos: no sentido de serem oponíveis erga
Art. 8° Se dois ou mais indivíduos falecerem na omnes, isto é, todos terão o dever de respeitá-los;
mesma ocasião, não se podendo averiguar se z Gerais ou necessários: no sentido de todas as pes-
algum dos comorientes precedeu aos outros, presu- soas serem titulares;
mir-se-ão simultaneamente mortos. z Extrapatrimoniais: não são medidos financeira-
DIREITO CIVIL I

mente, estão na esfera da proteção existencial do


Logo, a comoriência é a presunção de morte simul- indivíduo;
tânea de dois sujeitos quando não for possível preci- z Indisponíveis: a titularidade destes direitos não
sar qual morreu primeiro, por exemplo, quando da pode ser alterada, o que, segundo os autores abar-
ocorrência de um acidente de avião. ca as características mencionadas da irrenunciabi-
Como efeito não há transmissão de bens entre os lidade e da intransmissibilidade;
comorientes, caso eles tenham relação de parentesco. z Imprescritíveis: não se perdem pelo não uso;
Exemplo: Ana e Beto são casados e morrem simulta- z Impenhoráveis: não podem ser penhorados;
neamente – nenhum herda do outro, de sorte que seus z Vitalícios: os direitos personalíssimos acompa-
respectivos herdeiros receberão os bens do falecido. nham a pessoa por toda a sua à vida à sua morte e, 255
alguns, até mesmo após a morte, como é o caso da Código Civil prevê direitos personalíssimos, porém, de
proteção do cadáver do falecido, de sua honra e de forma não exaustiva (apenas exemplificativa).
sua imagem.
Do Direito à Vida e à Integridade Física x
Outra característica interessante dos direitos de Intervenções Médicas e Cirúrgicas
personalidade é acerca de sua tutela. Vejamos o que
dispõe o art. 12: A Constituição Federal de 1988 trata todos os direi-
tos fundamentais no mesmo patamar, isto é, embora
Art. 12 Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a seja dos direitos mais importantes ao ser humanos,
lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas nem mesmo o direito à vida é supremo e superior aos
e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas demais. Vejamos:
em lei.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção
Portanto, depreende-se primeiramente do preceito de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros
acima que na defesa do direito personalíssimo apenas e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilida-
o titular pode, em um primeiro momento, proteger os de do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segu-
seus direitos da personalidade. Nesse sentido, a tutela rança e à propriedade, nos termos seguintes: [...]
do direito poderá, a depender do que visa, ser:
Nesse sentido, o Código Civil prevê ao paciente
z Tutela inibitória: contra as ameaças, para evitar de tratamento médico ou de intervenção cirúrgica a
o dano. Exemplo: quando uma pessoa descobre opção entre fazer o procedimento ou não em casos em
que um jornal pretende veicular sua imagem a que sua morte seja provável em decorrência do ato
uma reportagem. Pode-se buscar, por vias judi- médico. Veja-se:
ciais, impedir a exposição da imagem;
z Tutela repressiva: para cessar o dano. Exemplo: a Art. 15 Ninguém pode ser constrangido a subme-
ter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a
imagem da pessoa acima é veiculada a uma repor-
intervenção cirúrgica.
tagem. Podem-se buscar as vias judiciais para reti-
rar a imagem de circulação;
O risco de vida será verificado quando há grande
z Perdas e danos: é o direito de se pleitear indeniza-
probabilidade de morte. Podemos citar, como exem-
ção ante uma lesão.
plo, o tratamento para retirada de um tumor, o pro-
cedimento delicado que pode levar o paciente a óbito.
Ainda, é de ressaltar-se que existem direitos da
Por outro lado, quando há ausência de risco de vida o
personalidade post mortem. Com a morte, alguns
paciente será obrigado a se submeter ao procedimen-
direitos da personalidade se mantêm como ao corpo,
to ou à intervenção cirúrgica, como na hipótese de
à imagem, ao nome. É o que assegura o parágrafo úni-
amputação de uma perna (não existe risco de vida no
co, do art. 12 do Código Civil:
procedimento, mas, se não amputar o paciente poderá
morrer pelo alastramento do tecido morto).
Art. 12 Parágrafo único. Em se tratando de morto,
Caberá ao médico, portanto, recolher o consenti-
terá legitimação para requerer a medida prevista
mento informado de seu paciente, isto é, o médico,
neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer
seguindo a ética, deverá informar de forma mais
parente em linha reta, ou colateral até o quarto
ampla ao paciente acerca de todos os riscos da sua
grau.
intervenção para que este possa exercer seu direito
de decisão quanto a realizar ou não o procedimento.
Conforme o Enunciado 400 do CJF - V jornada de
Nesta temática, e considerando o disposto no Códi-
direito civil: “Arts. 12, parágrafo único, e 20, parágrafo
go Civil, a resposta imediata a uma discussão que tem
único: Os parágrafos únicos dos arts. 12 e 20 assegu-
sido levantada ao longo dos anos, quanto à negativa
ram legitimidade, por direito próprio aos parentes,
de realização de transfusão de sangue pelos seguido-
cônjuge ou companheiro para a tutela contra lesão res da religião “testemunhas de Jeová” seria: ante a
perpetrada post mortem”.3 manifestação expressa da vontade, a recusa à trans-
Logo, as indenizações cabíveis serão pagas para os fusão de sangue deverá ser levada em consideração
herdeiros e não para o morto. Exemplo é o caso Gar- pelo médico.
rincha: Em 1995, Ruy Castro publicou a obra Estrela Contudo a Resolução 1021 de 1980 do Conselho
Solitária – um brasileiro chamado Garrincha, sem Federal de Medicina (CFM) contraria a autonomia e
prévia autorização dos familiares do astro. Suas filhas, o direito exposto no Código ao prever: “se houver imi-
em defesa da honra, imagem e privacidade, deman- nente perigo de vida, o médico praticará a transfusão
daram contra a editora, pleiteando danos morais. O de sangue, independentemente de consentimento do
STJ (REsp 521697/RJ) conferiu os danos às filhas (dano paciente ou de seus responsáveis”.
indireto ou dano em ricochete). Todavia, tal resolução não merece aplicação irres-
trita, por contrariar a CF (direito à liberdade religiosa)
Espécies de Direito da Personalidade e, diante disso, o Conselho da Justiça Federal em 2011
editou o enunciado 403, segundo o qual:
Primeiramente, vale lembrar que assim como a
Constituição de 1988 previu vários direitos fundamen- Enunciado 403 CJF - O Direito à inviolabilidade de
tais em rol exemplificativo, como à vida, à liberdade, consciência e de crença, previsto no art. 5º, VI, da
à honra, à intimidade, dentre outros, assim também o Constituição Federal, aplica-se também à pessoa

3 (Conselho da Justiça Federal. Jornadas de direito civil I, III, IV e V: enunciados aprovados. Coordenador científico: Ministro Ruy Rosado de
256 Aguiar Júnior. Brasília: Conselho da Justiça Federal, Centro de Estudos Judiciários, 2012).
que se nega a tratamento médico, inclusive trans- Outros pontos importantes é que não se poderão
fusão de sangue, com ou sem risco de morte, em contrariar os bons costumes, ou seja, tudo aquilo que
razão do tratamento ou da falta dele, desde que desvirtua os padrões habituais de comportamento.
observados os seguintes critérios: Trata-se de cláusula geral, a ser preenchida conforme
a - capacidade civil plena, excluído o suprimento análise da cultura e do caso exposto.
pelo representante ou assistente;
Exemplos curiosos são os casos Voronoff e do
b - manifestação de vontade livre, consciente e
homem lagarto Erik Sprague.
informada; e
c - oposição que diga respeito exclusivamente à O primeiro era um cirurgião russo o qual entre
própria pessoa do declarante. (Conselho da Justiça os anos 1920 e 1930 realizava diversas operações de
Federal. Jornadas de direito civil I, III, IV e V: enun- rejuvenescimento masculino, retirando os testículos e
ciados aprovados. Coordenador científico: Ministro implantando testículos de macaco. Havia livre mani-
Ruy Rosado de Aguiar Júnior. Brasília: Conselho festação de vontade dos pacientes. Porém, podemos
da Justiça Federal, Centro de Estudos Judiciários, concluir que tal procedimento em nosso ordenamento
2012). seria vedado, não somente por ir contra os costumes
sociais como também por alterar de forma permanen-
Portanto, pelo entendimento do enunciado aci- te partes do corpo. O segundo exemplo, trata do Body
ma a recusa ao tratamento é individual, não poden- Modification, o homem-lagarto, Erik Sprague, o qual
do ser oferecida e substituída pela manifestação de realizou intervenções para se assemelhar a um lagar-
outros (como de um representante legal no caso de to. Sua intenção era promover a arte.
incapazes), mas somente pela própria pessoa que será Finalmente, havendo exigência médica, poder-se-á
submetida ao tratamento. Ainda, esta deve ser plena- haver a disposição permanente do corpo nos casos em
mente capaz e não pode estar sendo objeto de coação que há laudo médico que autorize. Exemplo: amputa-
ou de qualquer constrangimento. ção de perna para evitar a necrose; retirada de parte
Nesse contexto, é interessante conhecer o nome de de um órgão como tratamento de câncer etc.
procedimentos médicos possíveis com pacientes em É importante ressaltar que o art. 13 não protege as
leito de morte: partes temporárias, nem as invasões que não causem
diminuição, a não ser que afronte os bons costumes.
z Eutanásia: é tratada como homicídio na sua forma
Como Consequências: pode-se fazer a barba, cortar o
comissiva (envolvem atos médicos no sentido de
cabelo, depilar.
retirar a vida);
z Distanásia: é o prolongamento artificial da vida
z O caso dos transexuais
do paciente que não possui chances de cura ou de
recuperação;
Neste posto é importante analisarmos o caso do
z Ortotanásia: é a aceitação natural da morte, sem
transexual.
apressá-la (eutanásia) ou retardá-la (distanásia).
É tratada como homicídio na sua forma passiva
É o indivíduo que possui a convicção inalterável
(ausência de atuação, quando poderia ter se evita-
de pertencer ao sexo oposto ao constante em seu
do certos efeitos);
Registro de Nascimento, reprovando veementemen-
z Suicídio assistido: quando terceiro colabora com
te seus órgãos sexuais externos, dos quais deseja se
o suicídio, prestando informações ou colocado à
livrar por meio de cirurgia.4
disposição do paciente meios necessários para a
prática.
Em 1997, o Conselho Federal de Medicina, por
meio da Resolução 1482, de 1997 autorizou as cirur-
O Direito ao Corpo
gias de transgenitalização, em caráter experimental.
Em interpretação do art. 13, no Enunciado 6 do
Em continuidade, os arts. 13 e 14 do Código dis-
CJF/IJDC, o Conselho da Justiça Federal expressou:
põem acerca do direito ao próprio corpo, estando ele
vivo ou não. Veja:
Art. 13 a expressão “exigência médica”, contida no
art.13, refere-se tanto ao bem-estar físico quanto ao
Art. 13 Salvo por exigência médica, é defeso o ato
bem-estar psíquico do disponente.
de disposição do próprio corpo, quando importar
diminuição permanente da integridade física, ou
contrariar os bons costumes. Logo, por ser enquadrado como doença, um laudo
médico poderá suprir o requisito da “exigência médi-
Portanto, a regra é a de não se poder dispor do ca” apontado pelo art. 13 porém, existem condições
próprio corpo (retirar parte do corpo ou alterá-lo) de para realização da cirurgia (resolução 1955 de 2010):
forma permanente e importando diminuição perma-
DIREITO CIVIL I

nente (são as partes não regeneráveis. São exemplos „ Avaliação de equipe multidisciplinar: médicos,
de partes regeneráveis: cabelo, pele, unhas). Isto é, psicólogos, assistentes sociais, pelo período de
poderá haver disposição transitória, se não contrariar dois anos;
os bons costumes. Exceção: se houver exigência médi- „ Ser maior de 21 anos;
ca, poderá haver disposição permanente ou transitó- „ Cirurgias realizadas apenas em hospitais uni-
ria do corpo. versitários ou hospitais públicos adequados à
pesquisa.
4 VIEIRA, Tereza Rodrigues. Adequação de Sexo do Transexual: Aspectos Psicológicos, Médicos e Jurídicos. In: Psicologia: Teoria e Prática,
Brasília, 2 (2): 88-102. 2000. Disponível em: http://editorarevistas.mackenzie.br/index.php/ptp/article/view/1113 257
Finalmente, a portaria n° 1.707, de 2008 (Ministé- Porém, no caso em que o falecido deixou em vida a
rio da Saúde), incluiu o Processo Transexualizador no instrução para doar órgãos, mas, quando da sua morte
âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). os parentes não concordam, aplica-se o art. 14 do Código
Civil: valerá a vontade manifestada do falecido antes da
z A doação de órgãos morte. Logo, aplica-se o art. 4º da Lei 9.434, de 1997 ape-
nas nos casos em que o paciente não manifestar vontade.
Embora seja a regra a impossibilidade de disposi- Ressalte-se que, se o doador especificar em testa-
ção do próprio corpo, o art. 14 do Código Civil permite mento a quem ele pretende beneficiar, como no caso
a disposição do próprio corpo para fins altruísticos ou de necessidade na família, este testamento será inváli-
científicos, para depois da morte. do. Isto é, valerá a lista única de espera, para os casos
de doação após a morte.
Art. 14 É válida, com objetivo científico, ou altruís-
tico, a disposição gratuita do próprio corpo, no O Direito ao Nome
todo ou em parte, para depois da morte.
Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livre-
mente revogado a qualquer tempo. O direito ao nome é um direito-dever, pois a Lei de
Registros Públicos (Lei 6.015 de 1973) prevê a obriga-
Ademais, o próprio código incentiva a disposição toriedade de constar o nome no registro de nascimen-
dos órgãos para fins de transplante, vejamos: to. Veja:

Art. 13 Parágrafo único. O ato previsto neste artigo Art. 50 Todo nascimento que ocorrer no território
será admitido para fins de transplante, na forma nacional deverá ser dado a registro, no lugar em
estabelecida em lei especial que tiver ocorrido o parto ou no lugar da residência
dos pais, dentro do prazo de quinze dias, que será
Conforme o art. 9º, da Lei n° 9434, de 1997, será ampliado em até três meses para os lugares distan-
possível a doação de órgãos do corpo vivo: tes mais de trinta quilômetros da sede do cartório.
[...]
Art. 9º É permitida à pessoa juridicamente capaz Art. 54 O assento do nascimento deverá conter:
dispor gratuitamente de tecidos, órgãos e partes do o nome e o prenome, que forem postos à criança;
próprio corpo vivo, para fins terapêuticos (trata-
mento médico) ou para transplantes em cônjuge ou Todavia, mais que um direito – dever, trata de um
parentes consanguíneos até o quarto grau, inclusi- direito da personalidade, dos mais importantes, que
ve, na forma do § 4o deste artigo, ou em qualquer identifica cada indivíduo na sociedade enquanto ser
outra pessoa, mediante autorização judicial, dis- particular e enquanto membro de uma família. Logo,
pensada esta em relação à medula óssea. o nome tem dois aspectos: (i) individual; (ii) social –
como a pessoa é conhecida na sociedade. Como não
Logo, poderá ser doador em vida qualquer sujei- poderia deixar de ser, o art. 16 do Código Civil mencio-
to capaz (art. 9º, Lei 9434, de 1997). O incapaz poderá na este direito da seguinte forma:
doar desde que (art. 9º, §6º):
Art. 16 Toda pessoa tem direito ao nome, nele com-
Art. 9º [...] preendidos o prenome e o sobrenome.
I- apenas medula óssea;
II- mediante representação dos pais ou tutor;
Ressalte-se, pois, a partir da leitura do artigo cita-
III- ausência de risco para sua saúde.
do, a composição do nome:
Ainda, poderá ser destinatário da doação de órgãos,
z Prenome: é o primeiro nome, que indica quem é
segundo as alterações da Lei 10.211, de 2001, apenas o
o indivíduo. Pode ser simples (Filipe) ou composto
cônjuge ou parentes consanguíneos até o quarto grau
(pais, irmãos, filhos, avós, tios e primos). Porém, esta (Luiz Filipe);
restrição poderá ser excetuada por autorização judi- z Sobrenome (patronímico): é o indicativo da famí-
cial, a fim de ser feita doação a quem não é parente, lia. Geralmente tem-se o sobrenome materno e, em
porém para doação de medula óssea não será preciso seguida, o paterno. Inexiste obrigatoriedade legal
de autorização judicial. No caso da doação em vida nesse sentido;
poderão ser doados: o rim, por ser órgão duplo, parte z Partículas: de, dos, de. Ex.: Daiane dos Santos.
do fígado ou do pulmão e a medula óssea. Contudo, a z Agnome: visa perpetuar um nome anterior (ex.:
doação pode ser revogada a qualquer momento, até o Júnior, Filho, Neto).
momento da concretização.
Nos casos, porém, de doação de órgãos após a morte, Em regra, o nome é caracterizado por sua imuta-
primeiramente, haverá necessidade do diagnóstico da bilidade. Isso se justifica pela proteção à segurança
morte cerebral, mediante utilização de critérios clínicos. jurídica. Portanto, a regra é a de que o nome não pode
O art. 4º da lei 9.434, de 1997 adotou o sistema ser alterado. Todavia, admitem-se algumas hipóteses,
do consentimento presumido, tomando a premissa previstas no art. 56 da Lei de Registros Públicos:
de que todos são doadores de órgãos e tecidos, salvo
manifestação em contrário. Caso o doador não tenha Art. 56 O interessado, no primeiro ano após ter
deixado expresso a sua vontade, o art. 4º pela Lei atingido a maioridade civil, poderá, pessoalmente
10.211, de 2001 adotou a orientação de que os paren- ou por procurador bastante, alterar o nome, desde
tes ou o cônjuge decidirão sobre o transplante de que não prejudique os apelidos de família, averban-
258 órgãos do falecido. do-se a alteração que será publicada pela imprensa.
Logo, a possibilidade de modificar o nome ocorre- Art. 17 O nome da pessoa não pode ser empregado
rá dentro dos limites abaixo: por outrem em publicações ou representações que a
exponham ao desprezo público, ainda quando não
z Após completar 18 anos, no prazo máximo de haja intenção difamatória.
1(um) ano. Inclusive, não será necessário advoga-
do. O interessado solicitará no cartório de registro É certo que as pessoas públicas, em razão do direi-
civil e este enviará o pedido diretamente ao juiz. to à informação, acabam sendo alvo das publicações
Contudo existem cartórios que só alteram o nome vexatórias. Porém, mesmo em relação a elas, há limite
do sujeito no primeiro ano da maioridade se hou- para o uso do nome: apenas quanto ao pertinente ao
ver, primeiro, uma sentença judicial. Assim por- interesse social, sem violar a intimidade da pessoa.
que a Lei 6.015, em seu art. 109, diz que só haverá Exemplo: crime cometido por um político.
mudança de nome com determinação judicial; Ademais, também é vedado pelo Código o uso do
z Nome que exponha a pessoa ao ridículo (art. nome de uma pessoa para fins publicitários sem sua
55, parágrafo único), como exemplo alguém que permissão. É necessário o consentimento do sujei-
possua nomes vexatórios como: Sum Tim Am, to para que seu nome seja veiculado a propaganda
Madeinusa, Primeira Delícia do Casal Oliveira, comercial:
Aides, Abrilina Décima Nona Caçapava Piratinin-
ga de Almeida, Agrícola Beterraba Almeida, Anto- Art. 18 Sem autorização, não se pode usar o nome
nio Manso Pacífico de Oliveira Sossegado, Bispo alheio em propaganda comercial.
de Paris, Caius Marcius Africanus, Deus é Infini-
tamente Misericordioso, João Pensa Bem, Maria Exemplo disso foi a vinculação do nome do apre-
Privada de Jesus. Nessa hipótese também os tran- sentador de televisão Luciano Huck a uma publicida-
sexuais, inclusive antes da cirurgia; de de lançamento imobiliário de alto luxo.
z Proteção de testemunha coagida ou ameaçada A empresa responsável citou o nome do apresen-
por ter colaborado em apuração de crime (art. 57, tador como um dos moradores da rua. Em razão dis-
§ 7º, LRP); so houve condenação da construtora ao pagamento
z Inserção do sobrenome do padrasto ou madras- de indenização pelo Tribunal de Justiça de São Paulo
ta, desde que estes concordem (art. 57, § 8º, LRP); (TJSP) em razão do uso indevido do nome e confir-
z Erros de fácil constatação (ex.: Cráudia): segundo mação da condenação pelo STJ. (STJ - REsp: 1645614
o art. 110 da LRP, tal erro pode ser corrigido pelo SP 2015/0325698-0, Relator: Ministro PAULO DE TAR-
próprio oficial do CRPN, sem necessidade de sen- SO SANSEVERINO, Data de Julgamento: 26/06/2018,
tença judicial; T3 – TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe
z Introdução do nome do nubente (art. 1565, CC); 29/06/2018).
z Retorno ao nome de solteiro após divórcio (art. Todavia, deve-se estender a proteção ao uso do
1578, CC); nome de uma pessoa para situações além da pro-
z Exclusão do sobrenome do pai que nunca conhe- paganda comercial de forma a sempre buscar-se a
ceu (REsp 66.643); autorização do titular. Exemplo: atribuir a alguém a
z Alteração para colocar apelidos públicos e notó- filiação de um partido político ou a uma religião.
rios (art. 58, LRP); Tanto é que a proteção se estende também ao pseu-
z Exclusão dos sobrenomes paternos em razão do dônimo – criação intelectual usada pelo sujeito para o
abandono pelo genitor. seu reconhecimento social. São exemplos: Agenor de
Miranda (Cazuza), Paulo César Batista (Paulinho da
O STJ já decidiu que pode haver a retirada do Viola).
sobrenome paterno quando o pai abandona o filho Aplica-se, pois, a mesma proteção dada aos nomes
de pouca idade. Isso porque o registro do sobrenome aos pseudônimos já estabelecidos no meio social a fim
é capaz de despertar lembranças negativas e angus- de coibir sua usurpação. Em caso de homônimos, pro-
tiantes decorrentes do abandono. (STJ. 3ª Turma. REsp tege-se aquele que está mais fortemente estabelecido
1.304.718-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, jul- no meio social.
gado em 18/12/2014, DJe 5/2/2015 (Info 555). Observe como o Código dispõe a respeito:
Nesse sentido, o procedimento para a alteração do
nome seguirá as seguintes etapas (exceto para a situa- Art. 19 O pseudônimo adotado para atividades líci-
ção do sujeito no primeiro ano da maioridade) (art. tas goza da proteção que se dá ao nome.
57, Lei n° 6.015 de 1973):
Algumas observações acerca da proteção do nome
z Petição judicial, apontando o motivo para alteração; ainda devem ser consideradas:
z Manifestação do Ministério Público;
z Sentença judicial; z Qualquer outro motivo para se alterar o nome
DIREITO CIVIL I

z Publicação em jornal local. poderá ser levado ao Judiciário que fará a devida
apreciação. Exemplo: inserir outros sobrenomes,
A proteção ao nome alcança também a limitação alterar nome não vexatório etc.;
do uso do nome por terceiros, havendo proibição, z Quanto aos transexuais, poderão fazer a alteração
pelo Código Civil, de seu uso em publicações que expo- do nome e do gênero mesmo antes da cirurgia de
nham à pessoa ao desprezo público como – situação correção do sexo, conforme atual entendimento
em que a violação do nome também afeta a honra da dos tribunais. Chegou-se a cogitar na criação de
pessoa. Veja: um terceiro gênero a ser atribuído aos transexuais,
mas tal ideia não foi recepcionada por se tratar de
meio discriminatório. 259
O Direito à Imagem Ademais, segundo entendimento do STJ, a ofensa
ao direito à imagem materializa-se com a mera uti-
A Imagem corresponde a qualquer representação lização da imagem sem autorização, ainda que não
audiovisual ou tátil da pessoa humana alcançada por tenha caráter vexatório ou que não viole a honra ou a
instrumentos técnicos de captação, como filmes, tele- intimidade da pessoa, e desde que o conteúdo exibido
jornais, computadores, bem como pela ação artística seja capaz de individualizar o ofendido:
da criatividade humana nas telas da pintura, escultu-
ra ou qualquer tipo de artesanato. Logo, são espécies A obrigação de reparação decorre do próprio uso
de imagem: indevido do direito personalíssimo, não sendo devi-
do exigir-se a prova da existência de prejuízo ou
z Imagem-retrato: é o aspecto fisionômico, a forma dano. O dano é a própria utilização indevida da
plástica do sujeito; imagem. (STJ. REsp 794.586/RJ, Rel. Min. Raul Araú-
z Imagem-atributo: é o conjunto de características que jo, Quarta Turma, julgado em 15/09/2012 (Info 493
decorrem do comportamento do indivíduo, represen- STJ).
tando-o socialmente, como o jeito de andar, o timbre
da voz, um “tique-nervoso”, uma expressão facial. Logo, em uma breve síntese, podemos elencar
como efeitos da violação à imagem, ficando sob o ônus
O direito à imagem é previsto pelo Código em seu do prejudicado pleitear através de ação judicial:
art. 20:
z A retirada da imagem de circulação;
Art. 20 Salvo se autorizadas, ou se necessárias à admi- z A retratação daquele que utilizou a imagem de for-
nistração da justiça ou à manutenção da ordem públi- ma indevida;
ca, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, z Indenização por danos materiais e morais.
ou a publicação, a exposição ou a utilização da ima-
gem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu reque- Direito à Imagem Versus Direito à Informação
rimento e sem prejuízo da indenização que couber, se
lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilida- É inequívoco que deve haver (como há) a prote-
de, ou se destinarem a fins comerciais. ção ao uso da imagem. Todavia, a Constituição de 1988
Parágrafo único. Em se tratando de morto ou assegura também o amplo direito à informação e à
de ausente, são partes legítimas para requerer manifestação do pensamento sem qualquer restrição:
essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os
descendentes. Art. 220 A manifestação do pensamento, a criação,
a expressão e a informação, sob qualquer forma,
Igualmente trata-se de direito fundamental previs- processo ou veículo não sofrerão qualquer restri-
ção, observado o disposto nesta Constituição.
to constitucionalmente no art. 5º:
§ 1º Nenhuma lei conterá dispositivo que pos-
sa constituir embaraço à plena liberdade de
Art. 5º [...]
informação jornalística em qualquer veículo de
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada,
comunicação social, observado o disposto no
a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV.
direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação;
Nestes casos, porém, quando há o conflito entre o
direito personalíssimo e fundamental à imagem de
A proteção da imagem segundo o Código Civil um lado e, de outro, o direito à informação, são utili-
ocorre nas seguintes situações: zados critérios pela atual jurisprudência:

z Se o uso da imagem atingir a honra, a boa fama ou z Lugar público: há a ideia de que a imagem colhida
a respeitabilidade: há preocupação com a reper- em lugar público implica em consentimento tácito
cussão social da imagem. Contudo, a Constituição de utilização pelo seu titular. Tal critério merece
de 1988 traz uma proteção mais ampla que a civi- ser melhor analisado casuisticamente, conforme o
lista, sem condicionar a imagem a uma repercus- contexto. Pense em dois casos: no primeiro há a
são social; imagem que retrata banhistas em uma praia cario-
z Se houver uso da imagem destinado a fins comer- ca no verão; no outro, há uma imagem que mostra
ciais. Todavia, é criticável só existir proteção quan- uma garota fazendo topless em uma praia carioca
do a imagem estiver vinculada a fins comerciais. no verão. Não resta dúvida que, no segundo caso, a
Deixa-se de fora a tutela de uso da imagem em exposição da garota é desnecessária;
qualquer outro contexto. z Pessoa pública: é a pessoa que vive sob os holofo-
tes da mídia, tais como artistas e políticos. Tal crité-
rio merece ser melhor analisado casuisticamente,
Noutro giro, não haverá proteção da imagem
conforme o contexto. Pense nos dois casos a seguir:
quando:
no primeiro é reproduzida a imagem de uma artis-
ta acenando para seus fãs da janela de um hotel;
z Houver autorização do titular para seu uso; no segundo temos o caso Cicarelli, a qual foi flagra-
z Resguardar a ordem pública e a administração da da em cenas íntimas com seu namorado em uma
justiça; praia da Espanha. Não resta dúvida que, no segun-
do caso, a exposição da atriz foi desnecessária.
Tais exceções estão ligadas ao direito à informa-
ção – também previsto constitucionalmente. Como é Os critérios apresentados também podem ser
o caso da divulgação do nome de foragidos da polícia, substituídos por outros que melhor atendam a tutela
260 de nomes de políticos envolvidos em escândalos etc. da imagem:
z O grau de utilidade para o público informado; Art. 1.557 Considera-se erro essencial sobre a pes-
z O grau de atualidade da imagem (caso Xuxa); soa do outro cônjuge:
z O grau de necessidade da veiculação; I - o que diz respeito à sua identidade, sua honra e
z O grau de preservação do contexto original onde a boa fama, sendo esse erro tal que o seu conhecimen-
imagem foi obtida; to ulterior torne insuportável a vida em comum ao
z O grau de consciência do titular da imagem sobre cônjuge enganado;
a captação da imagem;
z O grau de identificação do titular da imagem; O inciso III, art. 557, do Código também previu a
z Existem meios de se contornar a identificação revogação de doação por ingratidão do donatário que
como a distorção da imagem por borrões ou as tar- injuriou ou caluniou gravemente o doador:
jas pretas.
z A amplitude de exposição do titular da imagem Art. 557 Podem ser revogadas por ingratidão as
(tutela da privacidade); doações:
z A repercussão da imagem no meio social. III - se o injuriou gravemente ou o caluniou;

Todavia, é certo que não se proíbe aos jornalistas Aliás, o mesmo poderá ocorrer no caso do herdeiro
tratar em sua matéria sobre uma pessoa notória, prin- indigno. Veja-se:
cipalmente se encontrar apoio em outras matérias já
publicadas e se a reportagem tiver cunho investiga- Art. 1.814 São excluídos da sucessão os herdeiros
tivo, sem caráter sensacionalista. Veja que o entendi- ou legatários:
mento do STJ é nesse sentido: II - que houverem acusado caluniosamente em juízo
o autor da herança ou incorrerem em crime contra
Não constitui ato ilícito apto à produção de danos a sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro;
morais a matéria jornalística sobre pessoa notória a
qual, além de encontrar apoio em matérias anterior-
Ainda, além da indenização pelos danos à honra,
mente publicadas por outros meios de comunicação,
tenha cunho meramente investigativo, revestindo-se,
existem outras formas de compensação não pecuniá-
ainda, de interesse público, sem nenhum sensaciona- ria do dano à honra. A seguir:
lismo ou intromissão na privacidade do autor. (STJ.
3ª Turma. REsp 1.330.028-DF, Rel. Min. Ricardo Vil- z Publicação em jornais da sentença que condenou
las Bôas Cueva, julgado em 6/11/2012 (Info 508 STJ). o pagamento à indenização pelo dano à honra.
Publicação das partes mais importantes e em lin-
O Direito à Honra guagem acessível;
z Afixar, no lugar do dano, retratação pública pela
O direito à honra tutela o respeito, a considera- lesão causada;
ção, a boa fama e a estima que a pessoa desfruta nas z Conceder o direito de resposta à vítima, a ser publi-
relações sociais, a qual pode ser violada, por exemplo, cada em veículos de ampla circulação.
quando uma pessoa é xingada em local público. Ela é
protegida como direito personalíssimo juntamente ao Direito à Informação Versus Direito à Honra
direito da imagem (art. 20) e do nome (art. 17). Ade-
mais, também recebe proteção constitucional, isto é, é Assim como no caso do nome e da imagem, a honra
um direito fundamental: não poder ser usada como pretexto de informação. O
direito à informação não justifica os exageros e a vio-
Art. 5º [...] lação da intimidade do sujeito. Deve-se buscar sempre
X - São invioláveis a intimidade, a vida privada, a hon- a melhor forma de se informar sem colocar em risco a
ra e a imagem. honra da pessoa envolvida. Exemplo é em uma repor-
tagem sobre motéis que mostrasse a imagem de um
São suas espécies: casal entrando – haveria violação à imagem e à honra.

z Honra objetiva: é a reputação de que goza a pes- z Sátira versus direito à honra
soa no meio social;
z Honra subjetiva: é o sentimento da própria pes- A sátira é a manifestação legítima da liberdade de
soa que pode se refletir em vergonha, humilhação, expressão artística e intelectual em que se ridiculari-
constrangimento etc. za determinado objeto (geralmente pessoa) como for-
ma de provocar uma reflexão.
Como efeitos da violação da honra temos a injúria, Observe o Caso do Castelo de Itaipava (RESP
difamação ou calúnia e, inclusive, pela leitura do art. 736.015/RJ): a revista Bundas elegeu o castelo de
953 do Código Civil, caberá indenização em razão dos Itaipava como “Castelo de Bundas”, afirmando que
danos resultantes à vítima. A injúria significa ofender o dono do castelo, já falecido, teria feito sua fortuna
DIREITO CIVIL I

a dignidade ou decoro de alguém (honra subjetiva); a com lucros advindos de uma fábrica de papel higiêni-
calúnia é o ato de imputar falso crime; e a difamação co. Os herdeiros, diante da matéria, pleitearam danos
ocorre ao imputar fato ofensivo à reputação, ainda morais em defesa da honra do falecido (art. 12, pará-
que verdadeiro. grafo único, Código Civil).
Ressaltam-se ainda, outros efeitos relacionados à A ministra Nancy Andrighi, relatora, entendeu
honra, para além da indenização dos danos morais. que não houve ofensa à honra, pois a reportagem era
De acordo com o inciso I, art. 1.557, do Código, o casa- satírica e visava comparar o Castelo de Bundas com
mento poderá ser anulado se a honra da pessoa era o Castelo de Caras (BRASIL, 2005, p. 88). Lado outro,
desconhecida, isto é, se o/a nubente se casou sob erro o Ministro Castro Filho entendeu que houve dano à
essencial a este respeito. Veja: honra em razão do humorismo deselegante, ofensivo 261
e vulgar, causando constrangimento à família do mor- z Criar mecanismos de fiscalização dos dados pes-
to. Porém este foi voto vencido, julgando-se no voto soais: a Constituição Federal, por exemplo, criou o
vencedor que não houve ofensa pessoal ao antepassa- Habeas Data.
do dos autores da ação, mas sim uma sátira com costu-
mes modernos. (STJ – Resp: 736015 RJ 2005/0048150-7, Art. 5º [...]
Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de Julga- LXXII - conceder-se-á “habeas-data”:
mento: 16/06/2005, T3 – TERCEIRA TURMA, Data de a - para assegurar o conhecimento de informações
Publicação: DJ 01/07/2005 p. 533 RDR vol. 39 p. 300 relativas à pessoa do impetrante, constantes de
RSTJ vol. 194 p. 406). registros ou bancos de dados de entidades governa-
Nestes casos, em que há por um lado o direito à mentais ou de caráter público;
liberdade de expressão e, do outro, o direito à hon- b - para a retificação de dados, quando não se
ra, pondera-se o direito à sátira e o direito à honra da prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou
seguinte forma: administrativo;

z Analisa-se a finalidade do veículo que propaga a Porém, um ponto falho no Habeas Data é que ele
sátira: se o veículo é próprio para sátiras, sabe-se não serve para a proteção de dados inseridos em
que a possibilidade de qualquer notícia ser levada entidades particulares, ou seja, ele não serve para
a sério é ínfima; criar mecanismos para a retirada de dados dos ban-
z Veracidade do fato: se o fato reproduzido é verí- cos, estabelecendo o que se conhece por direito ao
dico, tende a servir como informação ao público; esquecimento.
z O propósito da sátira: foi fazer rir ou diminuir o Em relação ao direito ao esquecimento, este é o
sujeito, causando-lhe constrangimento? direito de impedir que todas as pegadas deixadas na
vida venham a seguir seu autor implacavelmente, em
O Direito à Privacidade cada momento de sua existência. Neste caso, a pessoa
pode requerer, como exemplo, a retirada de alguma
O direito à privacidade também é um direito per- informação indesejada sobre ela que circule na rede
sonalíssimo e trata do direito de estar só. A ideia de mundial de computadores. Foi o caso de uma garota
não se ter invadida a propriedade alheia, de não ter acusada de ter colado em um concurso, ela solicitou a
a intimidade familiar violada é fruto da influência retirada de seu nome veiculado a esse fato das buscas
do direito de propriedade, contendo uma concepção do Google através de ação judicial no TJRJ.
negativa (dever de abstenção) e uma concepção bur- Quanto às pessoas públicas, ressalta-se: estas mere-
guesa (só tem privacidade quem tem propriedade). cem ter protegida a privacidade, especialmente quanto
Veja-se: aos fatos que não dizem respeito ao interesse social.
Igualmente, os fatos que ocorrem em local público não
Art. 21 A vida privada da pessoa natural é inviolá- afastam a proteção da privacidade, pois esta não se
vel, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará configura apenas em recintos fechados ou privados.
as providências necessárias para impedir ou fazer
cessar ato contrário a esta norma. Biografias não Autorizadas

Porém, com o desenvolvimento tecnológico e o Ao longo dos anos tem sido objeto de debates e de
intenso fluxo de dados, há uma mudança de concep- julgamentos o conflito entre o direito de liberdade de
ção: não se trata apenas de “estar só”, mas de ter con- expressão e o direito à intimidade em especial nas bio-
trole sobre os próprios dados. Logo, existe um novo grafias não autorizadas. Muito se discute se haveria
conceito sobre o direito de privacidade: é o direito ao censura na limitação destas obras ou haveria prima-
controle da coleta e da utilização dos próprios dados zia da proteção à privacidade. O limite da biografia,
pessoais. porém, seria a utilidade das informações à sociedade.
Noções sobre dados pessoais: são dados que trazem Em 2016, o STF decidiu que a autorização prévia
informações sobre a pessoa, tais como, suas opiniões, do biografado ou de pessoas mencionadas na biogra-
suas escolhas, sua carga genética, sua filiação política fia seria dispensada. Assim porque essa prévia autori-
etc. Os dados sensíveis, por sua vez, são os dados pes- zação configuraria uma forma de censura, afrontando
soais que podem gerar discriminação em determinadas a liberdade de expressão prevista na Constituição
circunstâncias. Exemplos: orientação sexual, escolha Federal. As exatas palavras do STF foram as seguintes:
religiosa ou política, ser portador de doença etc. Tais
dados devem ser tutelados da melhor forma possível, É inexigível o consentimento de pessoa biografada
impedindo a sua livre circulação. relativamenteaobrasbiográficasliteráriasou audiovi-
Dados integrados: são aqueles que, sozinhos, suais,sendoporigualdesnecessáriaa autorização de
não oferecem risco ao titular, mas, uma vez unidos, pessoas retratadas como coadjuvantes ou de familia-
podem oferecer um perfil detalhado sobre a pes- res, em caso de pessoas falecidas ou ausentes. (STF.
soa. Exemplo é a utilização para a criação de perfis: Plenário. ADI 4815/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julga-
empresa que quer pesquisar sobre seus candidatos à do em 10/6/2015 (Info 789)).
emprego, colhendo informações sobre empregos pas-
sados, familiares, informações no facebook etc. Porém, isso não afasta o direito do biografado ou
Dentre os caminhos para proteger os dados pes- de qualquer retratado de pedir eventual indenização
soais, temos: posterior. Isso se ficar demonstrado o abuso na for-
ma de divulgação dos fatos. Outras formas de repara-
z Consentimento informado do titular: o titular deve ção também podem ser cogitadas, como a publicação
estar ciente acerca da destinação dos seus dados, de uma ressalva, uma nova edição com correção e o
262 podendo limitar o seu uso; direito de resposta.
Ressalta-se, como parâmetros a serem analisados para ponderação do interesse público e da privacidade:

z A repercussão emocional do fato sobre o biografado;


z A importância dos fatos para a construção da história do biografado;
z O formato de apresentação (sensacionalista ou não);
z Os riscos de se afetar outros direitos da personalidade como a honra.

Direito ao Conhecimento da Origem Biológica

Finalmente, é fundamental apresentar o direito ao conhecimento da origem biológica. Mesmo no caso de ano-
nimato do doador do sêmen para os casos de inseminação artificial poderá ser exercido o direito ao conhecimento
da origem biológica versus privacidade.
Em 2010, no julgamento do RESP 807.849/RJ, o STJ entendeu-se que é um direito da personalidade ter o conhe-
cimento de seus antepassados. Porém, nos casos de origem biológica decorrente de doação de sêmen, as conse-
quências da quebra do anonimato serão:

z Permite-se apenas o conhecimento de quem é o dono do sêmen doado;


z Não cria relação de parentesco entre o filho e o doador;
z Não gera para o doador de sêmen a obrigação de pagar alimentos;
z Não há direito de herança do filho em relação ao doador de sêmen.

No caso de recusa da realização do DNA, o direito ao conhecimento genético prepondera diante do direito à
privacidade, assim, o Código Civil prevê:

Art. 231 Aquele que se nega a submeter-se a exame médico necessário não poderá aproveitar-se de sua recusa.
Art. 232 A recusa à perícia médica ordenada pelo juiz poderá suprir a prova que se pretendia obter com o exame.

DOMICÍLIO

Primeiras Definições

O domicílio é mais um dos atributos que definem a pessoa natural. Seu conceito se encontra no art. 70, do CC:

Art. 70 O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo.

Logo, é o local de sua residência com a intenção de ali permanecer. Em outras palavras, o domicílio é a sede
da pessoa natural, portanto, pode abranger o País, o Estado, a Cidade ou o logradouro. Por ânimo definitivo enten-
de-se a intenção de residir por tempo indeterminado neste local e de ali desenvolver suas principais atividades.
Nesse sentido, de acordo com o art. 72, do CC, o domicílio também é o local de atividade profissional da pessoa
natural. Vejamos:

Art. 72 É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o lugar onde esta é
exercida.

Mas, qual a importância da definição do domicílio?

z Determinar o local onde a pessoa exercerá direitos e cumprirá obrigações (art. 327, do CC);
z Determinar onde será proposta a ação (art. 46, do CPC), por exemplo.

É de ressaltar, porém, as diferenças entre os conceitos de residência, domicílio e morada para não serem con-
fundidos. Observe o quadro:

RESIDÊNCIA DOMICÍLIO MORADA OU ESTADIA


É o lugar onde a pessoa se estabelece É a residência onde a pessoa habita É o local onde a pessoa se estabele-
habitualmente. Exemplo: uma casa de com caráter de permanência, realizan- ce provisoriamente. Exemplo: estadia
campo onde se passam os finais de do os atos principais da vida privada. por seis meses em São Paulo para fa-
DIREITO CIVIL I

semana Obs.: o domicílio abrange a residência zer um curso de aperfeiçoamento

Domicílio Múltiplo, Ocasional ou Aparente e Mudança de Domicílio

Em relação ao domicílio, deve-se estar atento a algumas situações que envolvem o tema. Dessa maneira:

z Domicílio Múltiplo (art. 71 do CC): quando a pessoa mantém várias residências onde vive alternadamente.
Neste caso, será considerado como domicílio dessa pessoa qualquer um dos domicílios. É o que prevê o art.
71, do CC: 263
Art. 71 Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio
seu qualquer delas.

z Domicílio Ocasional ou Aparente (art. 73, do CC): ocorre quando a pessoa não tem residência habitual. Logo,
será considerado seu domicílio aquele onde for encontrada. Exemplo: nômades, ciganos, artistas circenses.

Art. 73 Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha residência habitual, o lugar onde for encontrada.

z Mudança de Domicílio (art. 74, do CC): é a transferência de residência com a intenção manifesta de mudar
seu domicílio de forma definitiva:

Art. 74 Muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a intenção manifesta de o mudar.

Como provar o ânimo definitivo? Por meio dos atos praticados pela pessoa, como comunicação a terceiros,
pela alteração de correspondências, contratos, aquisição de bens, etc. É o que se depreende do parágrafo único,
do art. 74, do CC:

Art. 74 [...]
[...] Parágrafo único. A prova da intenção resultará do que declarar a pessoa às municipalidades dos lugares,
que deixa, e para onde vai, ou, se tais declarações não fizer, da própria mudança, com as circunstâncias que a
acompanharem.

Modalidades de Domicílio

Existem três formas de domicílio: o voluntário, o necessário, determinado pela lei e o profissional. Vejamos as
definições:

z Domicílio Voluntário: é aquele escolhido livremente pela pessoa. Trata-se de exercício de liberdade, sendo a
regra;
z Domicílio Necessário ou Legal: é aquele determinado pela Lei para algumas pessoas específicas, nos termos
do parágrafo único do art. 76 do Código Civil. As hipóteses indicam sujeitos que, necessariamente, deverão ser
encontrados em certo local. Vejamos:

Art. 76 Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o marítimo e o preso.
Parágrafo único. O domicílio do incapaz é o do seu representante ou assistente; o do servidor público, o lugar em que
exercer permanentemente suas funções; o do militar, onde servir, e, sendo da Marinha ou da Aeronáutica, a sede do
comando a que se encontrar imediatamente subordinado; o do marítimo, onde o navio estiver matriculado; e o do
preso, o lugar em que cumprir a sentença.

z Domicílio Profissional (art. 72, do CC): quanto às atividades referentes à profissão, será considerado domi-
cílio o lugar onde a pessoa a exerce. Havendo multiplicidade de domicílios profissionais, será considerado
domiciliado em cada um deles, para efeitos de se dirimir conflitos referentes às respectivas atividades.

Art. 72 É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o lugar onde esta é
exercida.
Parágrafo único. Se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada um deles constituirá domicílio para as
relações que lhe corresponderem.

z Domicílio especial ou foro de eleição (art. 78, do CC): é o domicílio escolhido por contratantes para cumpri-
rem as obrigações do contrato assinado:

Art. 78 Nos contratos escritos, poderão os contratantes especificar domicílio onde se exercitem e cumpram os direi-
tos e obrigações deles resultantes.

Domicílio do incapaz O mesmo domicílio do seu representante ou assistente


Domicílio do servidor público O lugar em que exercer permanentemente suas funções
O local onde servir
Domicílio do militar
Se for da Marinha ou da Aeronáutica, será a sede do comando
Domicílio do marítimo O local onde o navio estiver matriculado (registrado)
Domicílio do preso O local em que cumprir a sentença

Por fim, o art. 77 menciona a hipótese do agente diplomático que alega extraterritorialidade, mas não indica,
264 no país, o seu domicílio.
Art. 77 O agente diplomático do Brasil, que, cita- V - os partidos políticos.
do no estrangeiro, alegar extraterritorialidade sem VI - as empresas individuais de responsabilidade
designar onde tem, no país, o seu domicílio, poderá limitada.
ser demandado no Distrito Federal ou no último § 1º São livres a criação, a organização, a estrutu-
ponto do território brasileiro onde o teve. ração interna e o funcionamento das organizações
religiosas, sendo vedado ao poder público negar-lhes
Segundo Daniel Carnacchioni, o agente diplomáti- reconhecimento ou registro dos atos constitutivos e
co goza de imunidade de jurisdição e, por isso, con- necessários ao seu funcionamento.
sidera-se que são domiciliados em seus respectivos §2º As disposições concernentes às associações
países (CARNACCHIONI, 2020, p. 314). Assim, se o aplicam-se subsidiariamente às sociedades que são
agente for citado no exterior e alegar que não deve se objeto do Livro II da Parte Especial deste Código.
§3º Os partidos políticos serão organizados e fun-
submeter às regras da jurisdição daquele Estado em
cionarão conforme o disposto em lei específica.
razão da sua imunidade, deverá indicar seu domicílio.
Art. 45 Começa a existência legal das pessoas
Do contrário, ele poderá ser demandado (encon- jurídicas de direito privado com a inscrição do
trado para fins processuais) no Distrito Federal ou no ato constitutivo no respectivo registro, precedida,
último ponto do território brasileiro onde esteve. quando necessário, de autorização ou aprovação
do Poder Executivo, averbando-se no registro todas
as alterações por que passar o ato constitutivo.
Parágrafo único. Decai em três anos o direito de
PESSOAS JURÍDICAS anular a constituição das pessoas jurídicas de direi-
to privado, por defeito do ato respectivo, contado o
prazo da publicação de sua inscrição no registro.
DISPOSIÇÕES GERAIS, CONSTITUIÇÃO, EXTINÇÃO,
SOCIEDADES DE FATO, ASSOCIAÇÕES E
Começa a existência legal das pessoas jurídicas de
FUNDAÇÕES
direito privado com o registro, precedendo, quando
necessária, a autorização do Poder Executivo. Decai em
Quanto à Pessoa Jurídica, o ordenamento jurídico
03 anos o direito de anular sua constituição.
brasileiro a considerada uma ficção legal, com iden-
A novidade legislativa foi esclarecer e reafirmar que
tidade própria (“teoria da realidade técnica”). São
a pessoa jurídica não se confunde com os seus sócios,
pessoas jurídicas de direito privado as associações,
exaltando a autonomia patrimonial (art. 49-A). Todavia,
sociedades, fundações, organizações religiosas, parti-
em caso de abuso da personalidade (art. 50), caracteri-
dos políticos e empresa individuais de responsabilida-
zado pelo desvio da finalidade ou da confusão patrimo-
de limitada (EIRELI). As pessoas jurídicas de direito
nial, o Juiz pode, mediante requerimento da parte ou
público interno são consideradas: a União, os Estados,
do MP, desconsiderar a personalidade jurídica para que
o Distrito Federal, os Territórios, os Municípios, as
os efeitos e relações obrigacionais sejam estendidos aos
Autarquias, as Associações Públicas e demais entida-
bens particulares dos sócios (vice e versa).
des de caráter público criadas por lei. Já as pessoas
O desvio de finalidade é conceituado pela lei como
jurídicas de direito público externo são os Estados
a utilização da personalidade jurídica com o propósito
estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo
de lesar credores, bem como praticar atos ilícitos. Por
direito internacional público.
seu turno, a confusão patrimonial é descrita como a
ausência de separação de fato entre os patrimônios da
Art. 40 As pessoas jurídicas são de direito público,
pessoa física e da pessoa jurídica.
interno ou externo, e de direito privado.
Não é considerado abuso de personalidade a mera
Art. 41 São pessoas jurídicas de direito público
interno: existência de grupo econômico, nem a mera expan-
I - a União; são ou alteração da finalidade original da atividade
II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios; econômica.
III - os Municípios; Não é possível pessoa jurídica de direito públi-
IV - as autarquias, inclusive as associações públicas; co pleitear, contra particular, indenização por dano
V - as demais entidades de caráter público criadas moral relacionado à violação da honra ou da imagem.
por lei. As associações são a união de pessoas que se organi-
Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, as zam para fins não econômicos. Não há entre os associa-
pessoas jurídicas de direito público, a que se tenha dos direitos e obrigações recíprocos. Todavia, o estatuto
dado estrutura de direito privado, regem-se, no que pode instituir categorias com vantagens especiais.
couber, quanto ao seu funcionamento, pelas nor- Em regra, a qualidade de associado é intransmissível.
mas deste Código. Ademais, a exclusão do associado é admissível havendo
Art. 42 São pessoas jurídicas de direito público justa causa, reconhecida em procedimento que asse-
externo os Estados estrangeiros e todas as pessoas gure o direito de defesa. É necessária a convocação em
que forem regidas pelo direito internacional público.
assembleia para destituir administradores e alterar o
Art. 43 As pessoas jurídicas de direito público
DIREITO CIVIL I

estatuto. Tal convocação é garantida a ⅕ dos associados.


interno são civilmente responsáveis por atos dos
Dissolvida a associação, o remanescente de seu
seus agentes que nessa qualidade causem danos a
terceiros, ressalvado direito regressivo contra os patrimônio será destinado a entidade de fins não-
causadores do dano, se houver, por parte destes, -econômicos designada no estatuto. Caso omisso o
culpa ou dolo. estatuto, pode ser decidido o seu encaminhamento
Art. 44 São pessoas jurídicas de direito privado: à instituição municipal, estadual ou federal de fins
I - as associações; idênticos ou semelhantes. Os associados podem rece-
II - as sociedades; ber em restituição o valor das contribuições que pres-
III - as fundações. taram. Caso não exista nenhuma instituição apta a
IV - as organizações religiosas; receber o remanescente, este irá para a Fazenda. 265
As fundações, instituídas por escritura pública ou Art. 55 Os associados devem ter iguais direitos,
testamento, consistem em bens arrecadados e perso- mas o estatuto poderá instituir categorias com van-
nificados em atenção a um determinado fim. Quando tagens especiais.
insuficientes para constituir uma fundação, os bens a Art. 56 A qualidade de associado é intransmissível,
se o estatuto não dispuser o contrário.
ela destinados serão incorporados em outra fundação
Parágrafo único. Se o associado for titular de quo-
que se proponha a fim igual ou semelhante. ta ou fração ideal do patrimônio da associação, a
O estatuto da fundação precisa ser submetido à transferência daquela não importará, de per si , na
aprovação de autoridade competente. Se o estatuto atribuição da qualidade de associado ao adquirente
não for elaborado no prazo assinalado pelo institui- ou ao herdeiro, salvo disposição diversa do estatuto.
dor, ou, não havendo prazo, em 180 dias, caberá ao Art. 57 A exclusão do associado só é admissível
Ministério Público a confecção. Inclusive, o MP sem- havendo justa causa, assim reconhecida em proce-
pre velará pelas fundações de direito privado. dimento que assegure direito de defesa e de recurso,
Para alterar o estatuto, é necessária a deliberação nos termos previstos no estatuto.
Art. 58 Nenhum associado poderá ser impedido de
de ⅔ dos dirigentes, que não poderão contrariar o fim
exercer direito ou função que lhe tenha sido legiti-
da fundação, devendo tal alteração ser também apro- mamente conferido, a não ser nos casos e pela for-
vada pelo Ministério Público em 45 dias, admitido o ma previstos na lei ou no estatuto.
suprimento judicial. Art. 59 Compete privativamente à assembléia geral:
Quando a alteração não houver sido aprovada por I – destituir os administradores;
votação unânime, os administradores da fundação, ao II – alterar o estatuto.
submeterem o estatuto ao órgão do Ministério Públi- Parágrafo único. Para as deliberações a que se
co, requererão que se dê ciência à minoria vencida referem os incisos I e II deste artigo é exigido deli-
para impugná-la, se quiser, em dez dias. beração da assembléia especialmente convocada
para esse fim, cujo quorum será o estabelecido
A extinção da fundação conduz à incorporação
no estatuto, bem como os critérios de eleição dos
de seu patrimônio a outra fundação com fim igual ou administradores.
semelhante. Art. 60 A convocação dos órgãos deliberativos
É importante, para finalizar o assunto, conhecer far-se-á na forma do estatuto, garantido a 1/5 (um
os últimos entendimentos sobre o assunto vindos do quinto) dos associados o direito de promovê-la.
STF/STJ: Art. 61 Dissolvida a associação, o remanescente
do seu patrimônio líquido, depois de deduzidas, se
z É possível a exclusão do patronímico do ex-padrasto; for o caso, as quotas ou frações ideais referidas no
z É possível a exclusão dos sobrenomes paternos em parágrafo único do art. 56, será destinado à entida-
de de fins não econômicos designada no estatuto,
razão do abandono pelo genitor;
ou, omisso este, por deliberação dos associados, à
z Possibilidade de voltar o nome de solteira após a instituição municipal, estadual ou federal, de fins
morte do marido; idênticos ou semelhantes.
z Transgênero pode alterar seu prenome e gênero no §1º Por cláusula do estatuto ou, no seu silêncio, por
registro civil mesmo sem fazer cirurgia de transge- deliberação dos associados, podem estes, antes da
nitalização e mesmo sem autorização judicial; destinação do remanescente referida neste artigo,
z A depender do caso concreto admite-se o direito de receber em restituição, atualizado o respectivo
esquecimento; valor, as contribuições que tiverem prestado ao
z Necessidade de nomear curador especial ao inter- patrimônio da associação.
ditando mesmo que o MP esteja atuando como fis- §2º Não existindo no Município, no Estado, no Distri-
cal da ordem jurídica; to Federal ou no Território, em que a associação tiver
sede, instituição nas condições indicadas neste artigo,
z Os direitos de personalidade podem ser objeto de
o que remanescer do seu patrimônio se devolverá à
disposição voluntária, desde que não permanente
Fazenda do Estado, do Distrito Federal ou da União.
nem geral;
z Na avaliação e na partilha de bens em processo de
dissolução de sociedade de advogados, não podem Já quando tratamos de Fundação, o texto legal
ser levados em consideração elementos típicos de assim dispõe:
sociedade empresária.
Art. 62 Para criar uma fundação, o seu instituidor fará,
No texto legal, a respeito de Associação, temos: por escritura pública ou testamento, dotação especial
de bens livres, especificando o fim a que se destina, e
declarando, se quiser, a maneira de administrá-la.
Art. 53 Constituem-se as associações pela união de
Parágrafo único. A fundação somente poderá cons-
pessoas que se organizem para fins não econômicos.
tituir-se para fins de:
Parágrafo único. Não há, entre os associados, direi-
tos e obrigações recíprocos. I – assistência social;
Art. 54 Sob pena de nulidade, o estatuto das asso- II – cultura, defesa e conservação do patrimônio
ciações conterá: histórico e artístico;
I - a denominação, os fins e a sede da associação; III – educação;
II - os requisitos para a admissão, demissão e exclu- IV – saúde;
são dos associados; V – segurança alimentar e nutricional;
III - os direitos e deveres dos associados; VI – defesa, preservação e conservação do meio
IV - as fontes de recursos para sua manutenção; ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável;
V – o modo de constituição e de funcionamento dos VII – pesquisa científica, desenvolvimento de tec-
órgãos deliberativos; nologias alternativas, modernização de sistemas
VI - as condições para a alteração das disposições de gestão, produção e divulgação de informações e
estatutárias e para a dissolução. conhecimentos técnicos e científicos;
VII – a forma de gestão administrativa e de aprova- VIII – promoção da ética, da cidadania, da demo-
266 ção das respectivas contas. cracia e dos direitos humanos;
IX – atividades religiosas; e Partindo desse entendimento, importa esclarecer
X – (VETADO). que os administradores, por força do art. 48, do CC,
Art. 63 Quando insuficientes para constituir a funda- tomarão decisões a partir do voto da maioria dos pre-
ção, os bens a ela destinados serão, se de outro modo sentes nas assembleias (reuniões para decisões). O
não dispuser o instituidor, incorporados em outra quórum poderá ser outro, se assim o ato constitutivo
fundação que se proponha a fim igual ou semelhante. prever.
Art. 64 Constituída a fundação por negócio jurídico O parágrafo único, do art. 48, do CC menciona,
entre vivos, o instituidor é obrigado a transferir-lhe ainda, que é possível anular as decisões tomadas nas
a propriedade, ou outro direito real, sobre os bens assembleias se estas violarem a lei, o próprio ato cons-
dotados, e, se não o fizer, serão registrados, em titutivo, ou se ficar constatado algum defeito na mani-
nome dela, por mandado judicial. festação de vontade da maioria (erro, dolo, simulação
Art. 65 Aqueles a quem o instituidor cometer a apli- ou fraude). O prazo para anular é decadencial e finda
cação do patrimônio, em tendo ciência do encargo, em 3 anos a partir da decisão:
formularão logo, de acordo com as suas bases (art.
62), o estatuto da fundação projetada, submetendo- Art. 48 Se a pessoa jurídica tiver administração
-o, em seguida, à aprovação da autoridade compe- coletiva, as decisões se tomarão pela maioria de
tente, com recurso ao juiz. votos dos presentes, salvo se o ato constitutivo dis-
Parágrafo único. Se o estatuto não for elaborado puser de modo diverso.
no prazo assinado pelo instituidor, ou, não haven- Parágrafo único. Decai em três anos o direito de
do prazo, em cento e oitenta dias, a incumbência anular as decisões a que se refere este artigo, quan-
caberá ao Ministério Público. do violarem a lei ou estatuto, ou forem eivadas de
Art. 66 Velará pelas fundações o Ministério Público erro, dolo, simulação ou fraude.
do Estado onde situadas.
§ 1° Se funcionarem no Distrito Federal ou em Ter- O art. 49, do CC, traz que, se a administração vier
ritório, caberá o encargo ao Ministério Público do a faltar, como, por exemplo, diante da morte ou
Distrito Federal e Territórios. ausência dos administradores, o juiz deverá nomear
§ 2º Se estenderem a atividade por mais de um Esta- um administrador provisório a pedido de qualquer
do, caberá o encargo, em cada um deles, ao respec- interessado:
tivo Ministério Público.
Art. 67 Para que se possa alterar o estatuto da fun- Art. 49 Se a administração da pessoa jurídica vier a
dação é mister que a reforma: faltar, o juiz, a requerimento de qualquer interessa-
I - seja deliberada por dois terços dos competentes do, nomear-lhe-á administrador provisório.
para gerir e representar a fundação;
II - não contrarie ou desvirtue o fim desta; Embora a pessoa jurídica seja composta de pessoas,
III – seja aprovada pelo órgão do Ministério Público estas não se confundem com a própria pessoa jurídi-
no prazo máximo de 45 (quarenta e cinco) dias, findo ca. Isso significa que pessoa jurídica e pessoa natural
o qual ou no caso de o Ministério Público a denegar, possuem personalidade e patrimônio próprios. Daí
poderá o juiz supri-la, a requerimento do interessado. dizer que quem responde pelos atos da pessoa jurídi-
Art. 68 Quando a alteração não houver sido aprovada ca em caso de danos é a própria pessoa jurídica, com
por votação unânime, os administradores da funda- seu patrimônio. Veja o que diz o art. 49-A, do CC:
ção, ao submeterem o estatuto ao órgão do Ministério
Público, requererão que se dê ciência à minoria venci-
Art. 49-A A pessoa jurídica não se confunde com
da para impugná-la, se quiser, em dez dias. os seus sócios, associados, instituidores ou admi-
Art. 69 Tornando-se ilícita, impossível ou inútil a nistradores. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
finalidade a que visa a fundação, ou vencido o pra- Parágrafo único. A autonomia patrimonial das pes-
zo de sua existência, o órgão do Ministério Público, soas jurídicas é um instrumento lícito de alocação
ou qualquer interessado, lhe promoverá a extinção, e segregação de riscos, estabelecido pela lei com a
incorporando-se o seu patrimônio, salvo disposição finalidade de estimular empreendimentos, para a
em contrário no ato constitutivo, ou no estatuto, geração de empregos, tributo, renda e inovação em
em outra fundação, designada pelo juiz, que se pro- benefício de todos.
ponha a fim igual ou semelhante.
A partir da leitura do referido artigo, percebe-se
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE uma regra: o patrimônio dos membros da pessoa jurí-
JURÍDICA dica ficam blindados em relação aos danos causados
pelos seus representantes. Por isso, um terceiro lesa-
do pela atividade da pessoa jurídica deverá, em regra,
O art. 47, do CC, sugere que os atos dos adminis-
demandar contra a própria pessoa jurídica e não con-
tradores vincularão a pessoa jurídica. E não poderia
tra seus sócios, associados ou membros.
ser diferente, visto que quem age em nome da pessoa
É certo que essa regra comporta exceções. Uma
jurídica são seus representantes legais. Obviamente, dessas exceções está prevista no art. 50, do CC, conhe-
DIREITO CIVIL I

eles deverão agir sempre em prol da atividade desem- cida como desconsideração da personalidade da
penhada pela pessoa jurídica, respeitando os limites pessoa jurídica. Melhor explicando: em alguns casos,
dos poderes que lhes foram dados pelo próprio ato a lei civil autoriza que o patrimônio particular dos
constitutivo. É importante a leitura do referido artigo: sócios, associados ou membros, seja afetado para a
reparação dos danos causados a terceiros. Vejamos o
Art. 47 Obrigam a pessoa jurídica os atos dos admi- caput do art. 50:
nistradores, exercidos nos limites de seus poderes
definidos no ato constitutivo. Art. 50 Em caso de abuso da personalidade jurídi-
ca, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela
confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento 267
da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para que os efeitos de cer-
tas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares de administradores ou de sócios
da pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso. (Redação dada pela Lei nº 13.874, de 2019)

É possível perceber que a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica só ocorrerá em casos específi-
cos, a partir dos elementos enumerados anteriormente.

Importante!
Segundo o art. 50, do Código Civil, será possível atribuir responsabilidade patrimonial aos membros da pes-
soa jurídica se presentes os seguintes requisitos:
� Configuração do desvio de finalidade ou confusão patrimonial;
� Mediante requerimento da parte interessada ou do Ministério Público;
� Decisão judicial que autorize estender a responsabilidade aos bens particulares dos membros da pessoa
jurídica.

Os parágrafos 1º e 2º, do art. 50, contribuem com os conceitos de desvio de finalidade e confusão patrimonial.
Essas duas ideias denotam a ocorrência do abuso do direito. A leitura é importante:

Art. 50 [...]
§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade é a utilização da pessoa jurídica com o propósito
de lesar credores e para a prática de atos ilícitos de qualquer natureza.
§ 2º Entende-se por confusão patrimonial a ausência de separação de fato entre os patrimônios, caracteri-
zada por:
I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do administrador ou vice-versa;
II - transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto os de valor proporcionalmente
insignificante; e
III - outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial.

Para facilitar a compreensão das duas figuras que podem representar o abuso da personalidade da pessoa
jurídica, visualize o quadro a seguir:

DESVIO DE FINALIDADE CONFUSÃO PATRIMONIAL


O patrimônio dos membros se confunde com o patrimônio
da pessoa jurídica por meio dos seguintes atos:
� A pessoa jurídica cumpre obrigações dos membros ou
A pessoa jurídica é usada com o propósito de lesar credo- vice-versa
res e praticar atos ilícitos de qualquer natureza � A pessoa jurídica transfere valores para os membros e
vice-versa sem qualquer causa jurídica
� Outros atos que poderão ser percebidos melhor pela
análise judicial

A dúvida que resta é: será que todos os membros/sócios/administradores serão afetados pela desconsideração
da personalidade jurídica? Ou apenas aqueles que realizaram o desvio de finalidade ou confusão patrimonial?
Nesse sentido, o Enunciado 7, da I Jornada de Direito Civil, anuncia que:

Só se aplica a desconsideração da personalidade jurídica quando houver a prática de ato irregular e, limitadamente,
aos administradores ou sócios que nela hajam incorrido.

Percebe-se, então, que o patrimônio particular dos membros só será alcançado quando estes estiverem dire-
tamente envolvidos no desvio ou na confusão patrimonial. Aqueles que estiverem de boa-fé terão seu patrimônio
particular preservado.
O § 3º, do art. 50, menciona a hipótese da desconsideração inversa. Essa situação ocorre quando os mem-
bros/sócios/administradores escondem seus bens particulares no patrimônio da pessoa jurídica. Basta imaginar o
exemplo de um sujeito casado que, no curso do casamento, adquire uma casa com os esforços comuns da esposa,
mas registra o imóvel em nome da própria empresa. Nesses casos, fica autorizada a retomada dos bens ocultados:

Art. 50 [...]
§ 3º O disposto no caput e nos §§ 1º e 2º deste artigo também se aplica à extensão das obrigações de sócios ou de
administradores à pessoa jurídica.

Por fim, os parágrafos 4º e 5º, do art. 50, mencionam situações que não significam, por si só, abuso da perso-
nalidade jurídica:

268
Art. 50 [...]
§ 4º A mera existência de grupo econômico sem a presença dos requisitos de que trata o caput deste artigo não
autoriza a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica.
§ 5ºNão constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a alteração da finalidade original da atividade
econômica específica da pessoa jurídica.

Importante!
O STJ já decidiu que o simples encerramento das atividades da pessoa jurídica de forma irregular não é causa
suficiente para desconsideração da personalidade da pessoa jurídica. Significa que os requisitos do caput
do art. 50, do CC, devem estar presentes (desvio de finalidade ou confusão patrimonial). Nesse sentido foi o
Recurso Especial nº 1.306.553/SC.

BENS IMÓVEIS, MÓVEIS E PÚBLICOS


DISPOSIÇÕES GERAIS

Conceito

Os bens são todas as utilidades que podem ser objeto de um direito subjetivo e de relações jurídicas, é tudo
o que é suscetível de apreciação econômica e engloba a possibilidade de constituição de direitos corpóreos e
incorpóreos. Ademais, para constituir um negócio jurídico válido, é necessário o bem ter o caráter idôneo - lícito,
possível, determinado ou determinável. Vale relembrar o art. 104, do CC:

Art. 104 A validade do negócio jurídico requer:


I - agente capaz;
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III - forma prescrita ou não defesa em lei.

Existe diferença entre “coisa” e “bem”. A coisa é tudo o que existe objetivamente (com exclusão do homem),
além de ser sempre corpórea e espécie do gênero “bem”, e, este compreende a constituição de direitos corpóreos
e incorpóreos. Igualmente, o “patrimônio” trata de um conceito mais amplo, pois é o complexo de relações jurí-
dicas apreciáveis economicamente de uma determinada pessoa. Ele compreende direitos, créditos, coisas, bens,
obrigações e débitos e pode ser ativo (créditos) e passivo (débito), porém não compreende os direitos de família e
os direitos da personalidade (extrapatrimoniais).

Classificação dos Bens

Conforme o Código Civil, os bens possuem as seguintes classificações: corpóreos e incorpóreos; móveis e imó-
veis; fungíveis e infungíveis; consumíveis e inconsumíveis; bens divisíveis e indivisíveis; bens singulares e coleti-
vos; bens reciprocamente considerados. Vejamos:

z Corpóreos × Incorpóreos:

„ Os corpóreos são aqueles que possuem existência material, perceptível pelos sentidos humanos. Exemplo:
casa, livro, relógio;
„ Os incorpóreos são aqueles que não têm existência material, sendo abstratos e de visualização ideal. Exem-
plo: direito autoral; direitos da personalidade, direito à sucessão, marca, patente, criação artística (coreo-
grafia, por exemplo).

z Móveis e Imóveis: O art. 79, do CC inaugura a sessão com a classificação de bens imóveis:
DIREITO CIVIL I

Art. 79 São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente.
Art. 80 Consideram-se imóveis para os efeitos legais:
I - os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram;
II - o direito à sucessão aberta.

Logo, sobre os bens imóveis podemos perceber que se referem àqueles que não podem ser removidos ou trans-
portados sem a sua deterioração ou destruição. Os bens imóveis (art. 79), assim, o são por natureza, por acessão
física artificial ou por disposição da lei, de acordo com o art. 80, do CC: 269
NATUREZA DOS BENS IMÓVEIS
Imóveis por natureza Imóveis por acessão física artificial Imóveis por disposição legal
Bens imóveis por determinação da lei
Bens formados pelo solo e por tudo Bens formados por tudo o que o ho-
para melhor proteção jurídica (art. 80).
quanto se lhe incorporar de forma mem incorporar permanentemente
Exemplos: sucessão aberta (é o direito
natural (ex.: árvore que cresce na- ao solo, sem poder remover causan-
de receber os bens por herança); direi-
turalmente). Abrangem: superfície, do destruição ou deterioração. São as
tos reais sobre imóveis (hipoteca, por
subsolo e espaço aéreo construções e plantações
exemplo)

Ainda, o art. 81, do CC nos traz situações em que partes retiradas do bem móvel ou separadas não perdem o
caráter de imóveis (art. 81): Art. 81 Não perdem o caráter de imóveis:

I - as edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem removidas para outro local;
II - os materiais provisoriamente separados de um prédio para nele se reempregarem.

Logo, são exemplos do art. 81, I, do CC a casa de madeira, galpão que, mesmo separados do solo, não perdem a
qualidade de imóvel quando forem removidos para outro local. Exemplos do art. 81, II, do CC são os materiais
provisoriamente separados de um prédio, como instalações metálicas, portas desde que sejam reempregados
novamente no prédio. Isso porque se em ambas as situações as partes destacadas forem resultado de uma demo-
lição os bens serão móveis, por não terem mais serventia ao imóvel. No entanto, se forem usados para reconstruir
o imóvel, serão imóveis também (art. 84).
Os bens móveis, por sua vez, têm sua definição delineada pelo art. 82, do CC:

Art. 82 São móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força alheia, sem alteração da
substância ou da destinação econômico-social.

Estes bens móveis podem ser semoventes, móveis pela própria natureza, por disposição legal, além dos mate-
riais destinados a alguma construção, enquanto não forem empregados. Veja-se:

NATUREZA DOS BENS MÓVEIS


Materiais destinados a al-
Semovente Móveis pela própria natureza Por disposição legal
guma construção
Art. 83, do CC: energia com valor
O bem pode ser remo- Deslocam-se de um lugar para
econômico, direitos reais sobre Conforme o art. 84, do CC.
vido de um lugar a ou- outro mediante emprego de for-
móveis (exemplo: penhor), direi- Enquanto não forem em-
tro por força própria. É ça alheia, como navios, aerona-
tos pessoais de caráter patrimo- pregados na construção
o caso dos animais ves e automóveis
nial (exemplo: crédito)

z Bens Fungíveis e Infungíveis: O art. 85, do CC traz outra classificação quanto a bens fungíveis, que são os que
podem ser substituídos por outro da mesma espécie, qualidade e quantidade (equivalência):

Art. 85 São fungíveis os móveis que podem substituir-se por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade.

Por outro lado, os infungíveis não podem ser substituídos por outro equivalente. Possuem valor especial, como
um quadro de Picasso. Todavia, através da manifestação de vontade poderá ser dada infungibilidade a um bem
fungível. Exemplos são determinadas flores a serem usadas para ornamentação de um cerimonial.

z Bens Divisíveis e Indivisíveis: Segundo o art. 87, do CC são os que podem ser fracionados sem alteração da
substância e sem diminuição econômica. Ex.: saca de cereais, quantia pecuniária.

Art. 87 Bens divisíveis são os que se podem fracionar sem alteração na sua substância, diminuição considerável de
valor, ou prejuízo do uso a que se destinam.

Os indivisíveis são os que não podem ser fracionados, sob pena de perda das qualidades essenciais. Ainda, os
bens divisíveis podem tornar-se indivisíveis por vontade das partes ou da lei.

Art. 88 Os bens naturalmente divisíveis podem tornar-se indivisíveis por determinação da lei ou por vontade das
partes.

z Bens Consumíveis e Inconsumíveis: De acordo com o art. 86, do CC são consumíveis os bens cujo uso importa
destruição imediata, bem como aqueles destinados à alienação:

Art. 86 São consumíveis os bens móveis cujo uso importa destruição imediata da própria substância, sendo também
270 considerados tais os destinados à alienação.
Ele pode ser consumível sobre o critério fático diferenciá-los, lembre-se que o bem acessório foi feito
(consuntibilidade fática): sofre destruição imediata em razão do bem principal. Logo, são bens acessórios:
(ex.: comer uma maçã); ou poderá ser consumível os frutos, os produtos, as pertenças e benfeitorias.
sobre o critério jurídico (consuntibilidade jurídica): Vamos abordar brevemente cada um deles?
pode ser alienado.
Por sua vez, os bens inconsumíveis proporcionam „ Frutos: Os frutos têm origem no bem principal
reiteradas utilizações, bem como aqueles inalienáveis. e são produzidos periodicamente por este. A
Estes serão inconsumíveis sobre critério jurídico: não retirada dos frutos não altera a substância ou
pode ser alienado (ex.: uma garrafa de vinho gravada integridade do principal. Os frutos podem ser
por testamento com cláusula de inalienabilidade ou naturais, industriais, civis, pendentes, percebi-
um bem público); ou sob o critério fático: não sofre dos, estantes, percipiendos, consumidos. Veja-
destruição imediata com o uso (ex.: um carro). mos cada um deles:

z Bens Singulares e Bens Coletivos: A definição de Decorrem da essência da coi-


bens singulares ou individuais é abordada pelo Frutos Naturais sa principal, como as frutas da
art. 89, do CC: árvore
Decorrem de uma atividade hu-
Art. 89 São singulares os bens que embora reuni-
Frutos Industriais mana. É o caso de um material
dos, podem ser considerados de per si, independen-
produzido pela fábrica
te dos demais.
São os rendimentos. É o caso
Podem ser simples, quando as suas partes inte- Frutos Civis dos valores de aluguel de um
grantes se encontram ligadas naturalmente (árvore, imóvel, ou dos juros
cavalo) ou podem ser compostas, quando a coesão de Os que ainda não foram colhi-
seus elementos decorre de engenho humano (avião, Frutos Pendentes dos. É o exemplo de maçãs na
relógio). macieira
São aqueles já colhidos e sepa-
z Bens Coletivos ou Universais: são aqueles que Frutos Percebidos
rados do principal
se encontram agregados em um todo. São consti-
tuídos por vários bens singulares. A união desses São os colhidos e armazenados.
bens pode ser fática ou jurídica. A universalida- Frutos Estantes É o exemplo de maçãs colhidas e
de de fato refere-se aos bens unidos pela vontade colocadas em um armazém
humana, com objetivo de destinação unitária (art. Aqueles que deveriam ter sido
90, do CC). Veja-se: colhidos, mas não foram. É o
Frutos Percipiendos exemplo de maçãs que deve-
Art. 90 Constitui universalidade de fato a plurali- riam ter sido colhidas, mas estão
dade de bens singulares que, pertinentes à mesma apodrecendo
pessoa, tenham destinação unitária.
Aqueles que não existem mais.
Frutos Consumidos
Ex.: maçãs colhidas e vendidas
Logo, são exemplos: biblioteca (vários livros);
boiada (vários bois); pinacoteca (quadros); estabele-
cimento comercial. A universalidade de direito (art. „ Produtos: são os bens que saem da coisa prin-
91, do CC) trata da unidade dada pela lei, configuran- cipal, diminuindo a sua quantidade e substân-
do um complexo de relações jurídicas de uma pessoa cia. Exemplo: pepita de ouro retirada da mina.
apreciável economicamente. Exemplos: patrimônio, Ressalta-se, de acordo com o art. 95, do CC, que
espólio, a massa falida, o condomínio, a meação. os frutos e produtos podem ser objeto de negó-
cio jurídico apesar de ainda não separados do
Art. 91 Constitui universalidade de direito o com- bem principal. Apesar de desnecessária esta
plexo de relações jurídicas, de uma pessoa, dotadas previsão, essa resulta do fato de que, quando
de valor econômico. separados do objeto principal, os frutos e pro-
dutos adquirem existência autônoma podendo
z Bens Principais e Bens Acessórios: Uma classi- ser objeto de negocio jurídico;
ficação muito importante e que abrange diver- „ Pertenças: são bens destinados a servir ao bem
sos outros conceitos são a dos bens principais e principal, por vontade ou trabalho intelectual
acessórios. São bens principais os que existem de do proprietário. Eles se destinam, de modo dura-
maneira autônoma e independente. Sua função douro, ao uso, serviço ou aformoseamento de
não depende de qualquer outro objeto. Por outro outro bem, conforme a previsão do art. 93, CC:
lado, os acessórios são bens cuja existência e finali-
DIREITO CIVIL I

dade depende de outro bem, o chamado principal. Art. 93 São pertenças os bens que, não constituin-
Veja-se: do partes integrantes, se destinam, de modo dura-
douro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de
Art. 92 Principal é o bem que existe sobre si, abs- outro.
trata ou concretamente; acessório, aquele cuja
existência supõe a do principal. As pertenças, sem qualquer incorporação, vincu-
lam-se ao bem principal para atingir a finalidade. Des-
É um princípio do direito civil que o bem aces- tarte, o art. 94, do CC trata a respeito dos efeitos dos
sório segue o principal. Assim, quem for proprie- negócios jurídicos em torno do bem principal sobre
tário do principal também será do acessório. Para as pertenças: 271
Art. 94 Os negócios jurídicos que dizem respeito ao z Bens Particulares e Bens Públicos: Os bens ainda
bem principal não abrangem as pertenças, salvo se podem ser classificados como públicos ou particu-
o contrário resultar da lei, da manifestação de von- lares. Estes são o que atendem ao interesse exclu-
tade, ou das circunstâncias do caso. sivo do seu proprietário (art. 98). Os bens públicos
ou do Estado são os bens que pertencem a uma
Se for um bem essencial ao principal, acompanha- entidade de direito público (art. 99, do CC). Os arts.
rá o bem principal nos negócios jurídicos que tiver o 98 ao 103, do CC tratam acerca dos bens públicos e
principal como objeto (leitura amenizada do art. 94, de suas espécies.
do CC). Exemplo: o piano em um conservatório musi-
cal é um bem essencial, pois a pessoa que compra o BENS PÚBLICOS
conservatório também deseja o piano. Em contrapar-
tida, se o bem não for essencial ao principal, na rea- Para este concurso nos importa especialmente a
lização do negócio jurídico relativo ao bem principal, classificação dos bens públicos. Veja-se o que dispõe
aquele não abrangerá as pertenças. Exemplo: na ven- o art. 98, do CC:
da de um imóvel (principal), o piano (pertença) exis-
tente na casa não é essencial, não seguindo, portanto, Art. 98 São públicos os bens do domínio nacional
pertencentes às pessoas jurídicas de direito público
o bem imóvel principal na alienação do bem.
interno; todos os outros são particulares, seja qual
for a pessoa a que pertencerem.
„ Benfeitorias: são bens incorporados em um
bem móvel ou imóvel, visando a sua conser- Desta forma, esta classificação leva em conta os
vação, utilidade ou embelezamento (art. 96, do titulares do domínio. Todavia, não se trata de um rol
CC). Contudo, as benfeitorias não aumentam taxativo, podendo, por exemplo, um bem particular
o tamanho do bem (se isso ocorrer, fala-se em afetado a finalidade pública ser considerado bem
acessão). Veja-se a previsão do art. 96, do CC e público, conforme o Enunciado n. 287 da IV Jornada
parágrafos: de Direito Civil do CJF:

Art. 96 As benfeitorias podem ser voluptuárias, O critério da classificação de bens indicado no art.
úteis ou necessárias. 98 do Código Civil não exaure a enumeração dos
§ 1º São voluptuárias as de mero deleite ou recreio, bens públicos, podendo ainda ser classificado como
que não aumentam o uso habitual do bem, ainda que tal o bem pertencente a pessoa jurídica de direito
o tornem mais agradável ou sejam de elevado valor. privado que esteja afetado à prestação de serviços
públicos. (Conselho da Justiça Federal. Jornadas
§ 2º São úteis as que aumentam ou facilitam o uso
de direito civil I, III, IV e V: enunciados aprovados.
do bem.
Coordenador científico: Ministro Ruy Rosado de
§ 3º São necessárias as que têm por fim conservar o Aguiar Júnior. Brasília: Conselho da Justiça Fede-
bem ou evitar que se deteriore. ral, Centro de Estudos Judiciários, 2012).

Nota-se que as benfeitorias são classificadas como: Todavia, as bancas costumam reproduzir a litera-
necessárias, úteis e voluptuárias. lidade dos arts. 98 ao 103, do CC na cobrança deste
tema. Vejamos as espécies dos bens públicos:
São as de mero luxo, tornando o bem
mais agradável. As benfeitorias volup- Art. 99 São bens públicos:
Benfeitorias
tuárias acrescentam novidades ao bem, I - os de uso comum do povo, tais como rios, mares,
Voluptuárias (art.
trazendo maior comodidade estética, estradas, ruas e praças;
96, § 1º, do CC)
como a construção de uma piscina ou II - os de uso especial, tais como edifícios ou ter-
de um jardim de inverno renos destinados a serviço ou estabelecimento da
São aquelas que aumentam ou facilitam administração federal, estadual, territorial ou
o uso da coisa. As benfeitorias úteis municipal, inclusive os de suas autarquias;
Benfeitorias acrescentam novidades ao bem, suge- III - os dominicais, que constituem o patrimônio
Úteis (art. 96, § 2º, rindo uma maior comodidade, promo- das pessoas jurídicas de direito público, como obje-
do CC) vendo um maior uso ou aumentando a to de direito pessoal, ou real, de cada uma dessas
segurança do bem, como a instalação entidades.
de portão eletrônico na casa Parágrafo único. Não dispondo a lei em contrário,
Têm por fim conservar a coisa ou evi- consideram-se dominicais os bens pertencentes às
tar que o bem principal se deteriore. As pessoas jurídicas de direito público a que se tenha
Benfeitorias benfeitorias necessárias não acrescen- dado estrutura de direito privado.
Necessárias (art. tam nenhuma novidade ao bem, servin-
96, § 3º, do CC) do apenas para conservar o seu estado Os bens de Uso Geral ou Comum do Povo (Art. 99,
original e a sua funcionalidade. Exem-
plo: reforma no telhado da casa
I, do CC): destinados à utilização do público em geral,
sem necessidade de permissão. Continuarão sendo
bens de uso geral, mesmo se o Estado regulamentar
a utilização de maneira onerosa. Exemplos: praças,
Importante! praias, museus, teatros. É de ressaltar que o art. 103
prevê de forma expressa à Administração Pública que
De acordo com a finalidade do acessório no até mesmo cobrar pela utilização de bens públicos.
principal, a classificação poderá variar. Exemplo: Eles são inalienáveis (art. 100, do CC).
uma piscina na casa de um deficiente físico; uma
272 piscina em um clube etc.
Art. 100 Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto conservarem a sua
qualificação, na forma que a lei determinar.
[...]
Art. 103 O uso comum dos bens públicos pode ser gratuito ou retribuído, conforme for estabelecido legalmente pela
entidade a cuja administração pertencerem.

Os Bens de Uso Especial (Art. 99, II, do CC): são edifícios usados pelo próprio Estado para execução de serviços
públicos com destinação especial (afetação). Eles são inalienáveis (art. 100, do CC). Exemplo: a sede da prefeitura
e o tribunal de justiça;
Os Bens Dominicais ou Dominiais (Art. 99, III, do CC): são os bens públicos disponíveis e alienáveis (art. 100,
do CC); Exemplo: as estradas de ferro, as ilhas formadas em rios navegáveis, os terrenos de marinha (são aqueles
situados na faixa de terra banhada pelo mar, lagoas ou rios, de 33 metros para dentro da terra e que sofram a
influência das águas), as faixas de fronteira (é a área de 150 km de largura, paralela à linha divisória terrestre do
território nacional, considerada indispensável à segurança nacional).
Como se observa, a alienação dos bens públicos é prevista somente para os bens dominiais, sabe por quê?
Porque eles são desafetados, enquanto para os bens afetados a regra é a inalienabilidade. Entenda melhor estes
conceitos no quadro:

BEM AFETADO BEM DESAFETADO AFETAÇÃO DESAFETAÇÃO

Atribuição expressa (por lei) Procedimento de retirada da


Bem de uso comum ou
Bem dominial ou tácita de destinação es- destinação pública de um deter-
bem de uso especial
pecifica ao bem público minado bem

Logo, pelo quadro anterior, percebe-se também que os bens de uso comum ou especial podem ser desafeta-
dos, tornando bens dominicais. Os dominicais, por sua vez, podem ser afetados, tornando-se de uso especial. Em
seguida, destacam-se mais algumas características essenciais dos bens públicos:

CARACTERÍSTICAS DOS BENS PÚBLICOS

Inalienabilidade Impenhorabilidade Imprescritibilidade

Regra relativa. A alienabilidade depende de


É vedada a constrição judicial de Os bens públicos não estão su-
o bem público estar destinado a um fim es-
bens públicos em processo de jeitos a usucapião. (Art. 102, do
pecífico (afetação). Logo, os dominiais são
execução (art. 833, I, do CPC) CC5)
alienáveis

Ressalta-se que a característica da impenhorabilidade tem sido relativizada com a possibilidade de bloqueio
de valores nas contas públicas para garantir o cumprimento de decisões judiciais de cumprimento de obrigações
relativas ao direito à saúde, pagamento de honorários de advogados dativos, por exemplo.

FATO JURÍDICO
O Livro III do Código Civil trata dos fatos jurídicos e, mais especificamente, no título I, dos negócios jurídicos.
Para iniciarmos o estudo deste assunto, observemos primeiro o quadro esquemático a seguir e logo abaixo as
explicações pertinentes:

FATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO


Fatos Naturais Fatos Humanos
Ato jurídico em sentido
DIREITO CIVIL I

z
amplo
Ordinários Extraordinários z Ato jurídico em sentido z Ato ilícito
estrito
z Negócio jurídico

Inicialmente, é importante ter em mente o conceito de fato. Fato é qualquer ocorrência, fenômeno, situação
que se apresenta, um acontecimento, um evento. Os fatos podem ser jurídicos ou não jurídicos conforme tenham
ou não consequências jurídicas relevantes. Assim temos que:
5 Art. 102. Os bens públicos não estão sujeitos a usucapião. 273
z Fatos não jurídicos: são aqueles que não interes-
sam ao estudo do direito. Exemplo: a respiração de NEGÓCIO JURÍDICO
uma formiga;
z Fatos jurídicos: são os acontecimentos com reper- DISPOSIÇÕES GERAIS
cussão no direito cujas consequências interessam
ao mundo jurídico. Exemplo: um animal que atra- O Código Civil confere especial atenção ao negócio
vessa a pista e causa acidente de trânsito. jurídico, tanto é que trata a respeito de forma extensa
dos arts. 104 a 184 do Código. Logo, não será possível
Como conclui-se com o quadro acima, os fatos transcrever todos os artigos, mas esteja com a lei ao
jurídicos em sentido amplo subdividem-se em fatos lado para, a cada menção, fazer sua leitura integral.
naturais e fatos humanos. Os fatos naturais são Somada à leitura da lei, atente-se à teoria da apostila,
aqueles sem interferência humana (exemplos: chuva, pois esta parte é bastante conceitual.
deslizamento de terra, avalanche) e, por sua vez, pos- O negócio jurídico é um ato jurídico lato sensu rea-
suem duas espécies: lizado a partir da manifestação de vontade de um ou
mais sujeitos. Os efeitos da manifestação dessa vonta-
z Fatos naturais ordinários: Evento natural comum, de são previstos pelos próprios envolvidos na inten-
esperado, como a morte, o nascimento (com vida ou ção de criar, manter, modificar ou extinguir direitos e
sem vida), a contagem de prazos. É de ressaltar que obrigações. Isto é, estes têm o poder de fazer escolhas
os fatos ordinários sofrem influência do tempo; dentro dos parâmetros legais (princípio da autonomia
z Fatos naturais extraordinários: Eventos naturais privada).
incomuns. São exemplos o caso fortuito e a força Ademais, o negócio jurídico envolve escolhas que
maior. O caso fortuito é o evento imprevisível e podem ser existenciais ou patrimoniais. As existen-
inevitável (exemplo: um terremoto no Brasil), ciais envolvem pacto de convivência, plano de parto
enquanto a força maior é o evento previsível, mas e testamento vital; já as patrimoniais englobam todo
inevitável (exemplo: uma enchente em São Paulo); tipo de contrato, testamento e ofertas.
z Os fatos humanos, por outro lado, relacionam-se
com a vontade humana e podem ser atos jurídicos Classificação Dos Negócios Jurídicos
em sentido amplo (lato sensu) ou atos ilícitos.
A classificação dos negócios jurídicos pode ser feita
Vejamos: em relação aos sujeitos envolvidos, às vantagens obti-
das, aos efeitos no tempo, às formalidades, à depen-
z Atos jurídicos em sentido amplo (lato sensu): dência e ao momento de aperfeiçoamento.
Atos voluntários, queridos, buscados. Contêm três
subespécies – ato jurídico em sentido estrito, negó- z Conforme os sujeitos envolvidos:
cio jurídico e ato fato:
„ Unilateral: A vontade emana de uma única
„ Ato jurídico em sentido estrito: Atos cujos pessoa. Exemplos: testamento, renúncia de um
efeitos da manifestação da vontade humana crédito, promessa de recompensa, oferta;
são buscados na lei. Exemplo: a vontade de „ Bilateral: Duas manifestações de vontade.
reconhecer um filho traz, ao pai, a obrigação Exemplo: contrato e casamento;
de prestar alimentos, a obrigação de responder „ Plurilateral: Envolvem mais de duas mani-
pelos atos do menor, obrigação de assistência e festações de vontade. Exemplo: convenção de
cuidado etc.; condomínio, contrato de sociedade, contrato de
„ Negócio Jurídico: Os efeitos da vontade huma- consórcio.
na são regulamentados pelo próprio sujeito.
Trata-se da liberdade negocial e da autonomia z Conforme as vantagens obtidas:
privada, pois o sujeito de direito tem liberda-
de, por exemplo, para escrever um testamento, „ Gratuitos: Negócios que beneficiam apenas
redigir um contrato de compra e venda, fazer um dos envolvidos, com sacrifício patrimonial
uma doação; ao outro. Exemplos: doação, empréstimo;
„ Ato-fato jurídico: “é aquele em que a hipóte- „ Onerosos: Envolvem sacrifícios e vantagens
se de incidência pressupõe um ato humano, patrimoniais para todas as partes do negócio.
porém, os seus efeitos decorrem por conta da Exemplos: compra e venda, locação, seguro;
norma, pouco interessando se houver ou não „ Bifrontes: Podem ser gratuitos ou onerosos,
vontade em prática”6. O ato-fato jurídico envol- a depender da intenção das partes. Exemplos:
ve os chamados atos reais, porque só interessa mandato e depósito.
o externo (conduta) e não o interno (vontade),
isto é, a vontade não é consciente. Exemplo: uma z Conforme os efeitos no tempo:
criança que compra um doce; encontrar um
tesouro que não está sendo procurado; „ Inter vivos: Efeitos produzidos desde logo;
„ Atos ilícitos: Condutas em desacordo com as „ Causa mortis: Efeitos produzidos após a mor-
leis. O ilícito pode ser civil, penal ou adminis- te. Exemplo: testamento.
trativo. O ato ilícito faz gerar a responsabilida-
de civil se causar dano a alguém.
274 6 FARIAS, C. C. de; ROSENVALD, N. Curso de Direito Civil. Salvador: Juspodivm, Vol. 1, 2012, p. 579.
z Conforme as formalidades: (ou agentes), a vontade (manifestação de algum inte-
resse jurídico), o objeto e a forma. Como consequên-
„ Formais ou solenes: Precisam de uma forma cia, na falta de algum desses elementos, fala-se em
ou solenidade específica. Exemplos: testamen- negócio jurídico nulo.
tos só podem ser escritos, casamento (habilita- Para memorizar de forma mais esquematizada,
ção, cerimônia etc.), art. 108 (negócio jurídico observe a imagem com elementos do plano de exis-
envolvendo bem imóvel de valor superior a 30
tência de um negócio jurídico:
salários mínimos);
„ Informais ou não solenes: admitem forma
livre. Exemplo: contrato de locação e prestação
de serviço.
Agente
z Conforme a dependência:

„ Principal: Sua existência não depende de


nenhum outro negócio. Exemplo: locação;
„ Acessório: A existência está subordinada a
outro negócio. Exemplos: fiança em relação à
locação, penhor em relação ao empréstimo. PLANO DA
Forma Vontade
EXISTÊNCIA
z Conforme o momento de aperfeiçoamento:

„ Consensuais: Geram efeitos com a mera mani-


festação de vontade. Exemplo: compra e venda;
„ Reais: Dependem da entrega do bem para
gerar efeitos. Exemplo: empréstimo, depósito.
Objeto
Escada Ponteana

Os negócios jurídicos devem ser analisados sob


três perspectivas: existência, validade e eficácia. z O plano da validade dos negócios jurídicos
Pontes de Miranda concebeu essa estrutura a partir
de uma escada ficou conhecida no Direito Civil como
O plano de validade do negócio jurídico (art. 104
Escada Ponteana. Veja:
do CC) refere-se a dados adjetivos aos elementos de
Escada Ponteana (Pontes de Miranda) existência: agente capaz, objeto lícito, possível, deter-
minado, determinável, forma prescrita ou não defe-
z Plano de Eficácia: sa em lei. Assim, temos:

„ Condição;
„ Termo;
„ Encargo. Agente Capaz

z Plano de Validade:

„ Agencia Capaz;
„ Vontade Livre;
„ Objeto Lícito Possível, Determinado Ou Determinável; Forma
„ Forma Prevista Ou Não Defesa Em Lei. Prescrita Vontade
PLANO DA
ou Não em Livre e Sem
VALIDADE
z Plano de Existência: Defesa da Vícios
Lei
„ Agencia;
„ Vontade;
„ Objeto;
„ Forma.
Objeto Lícito
DIREITO CIVIL I

A escada ponteana é a ideia de que os negócios


jurídicos devem ser analisados dentro de uma estru-
tura de três planos, começando pelos requisitos de
existência, depois validade e, por último, eficácia.
„ Capacidade do agente
z O plano da existência dos negócios jurídicos
O primeiro aspecto da validade refere-se à capaci-
Refere-se àquele plano substancial de todo negócio dade das partes (caso você ainda tenha dúvidas, retor-
jurídico, isto é, que qualquer um deve apresentar, pois ne ao primeiro assunto estudado). Como já sabemos,
compreende os elementos mais essenciais: as partes para um negócio jurídico ser válido é preciso haver 275
capacidade de fato ou plena (quando as partes podem Os parâmetros para verificar a vontade são (art.
agir sem representação ou assistência). 133 – alterado pela Lei de Liberdade Econômica de
Porém, também existem situações em que haverá 2019):
incapacidade relativa ou absoluta, quando, então, o
sujeito só poderá agir por seu assistente ou represen- „ Analisar o comportamento das partes, além do
tante, respectivamente. que foi escrito;
Logo, o negócio jurídico que for celebrado por „ Analisar os costumes e práticas de mercado;
incapaz (exceto aqueles negócios comuns e tolerados „ Respeitar a boa-fé;
pelo direito, como a compra em uma padaria) será „ Analisar o acordo como um todo, buscando
nulo. Se for praticado por relativamente incapaz, sempre um fim comum.
será anulável. Isso significa que, no último caso, seus
assistentes poderão ratificar. z Objeto lícito, possível, determinado ou determinável
Ademais, é de salientar as disposições do art. 180 e
105 do Código Civil, que proíbem ao menor que cele- O objeto é o bem ou serviço em torno do qual as
bra negócio jurídico ou do sujeito capaz que celebra partes manifestam sua vontade. Destarte, ele deverá
negócio com um relativamente incapaz de invocarem ser:
a incapacidade para a própria torpeza nas condições
estabelecidas pela lei. Vejamos: „ Lícito: Deve estar dentro dos contornos da lei,
da boa-fé, dos bons costumes e da ordem públi-
Art. 180 O menor, entre dezesseis e dezoito anos, ca. Exemplo: o transporte de entorpecentes é
não pode, para eximir-se de uma obrigação, invo- ilícito;
car a sua idade se dolosamente a ocultou quando „ Possível: Deve estar ao alcance humano e ter
inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar- a permissão da lei. Essa possibilidade deverá
-se, declarou-se maior. ser tanto fática (concretizado no mundo natu-
ral; por exemplo: não é possível a venda de um
Art. 105 A incapacidade relativa de uma das partes terreno nos céus) quanto jurídica (consunti-
não pode ser invocada pela outra em benefício pró- bilidade jurídica): não se pode negociar bens
prio, nem aproveita aos cointeressados capazes,
públicos, bens com cláusula de inalienabilida-
salvo se, neste caso, for indivisível o objeto do direi-
de e bens de terceiros;
to ou da obrigação comum.
„ Determinado ou determinável: Determina-
do é o objeto certo, que não deixa margem para
Logo, conforme a disposição acima, o menor que
dúvidas; é indicado pela quantidade, gênero
agiu dolosamente, ocultando sua idade ou declaran-
e qualidade. Determinável é o objeto incerto,
do que era maior no ato da celebração do negócio,
que deixa em aberto a qualidade; é indicado
não poderá invocar proteção legal. Ademais, é de
pelo gênero e quantidade.
ressaltar que a apresentação de exceção (defesa) da
incapacidade relativa só poderá ser apresentada pelo
z Forma prescrita ou não defesa em lei
próprio incapaz (quando não configurada a hipótese
do art.180, CC), pois é pessoal.
A regra dos negócios jurídicos é princípio da
Consequentemente, o capaz que realiza negócio
liberdade das formas – desde que a lei não proíba, os
jurídico com o menor não poderá invocar a anulabili-
negócios são informais e não carecem de formas espe-
dade ou nulidade do negócio com base nessa exceção
cíficas (art. 107). Porém, para alguns casos, a lei exige
da incapacidade, a não ser que o objeto desse negócio
certa formalidade, como forma prescrita, a exemplo
seja indivisível e haja cointeressados, quando, então,
dos arts. 108 e 541:
a invocação se aproveitará ao agente capaz do negó-
cio e aos cointeressados.
Art. 108 Não dispondo a lei em contrário, a escritura
Ademais, em alguns casos, a lei pode exigir tam-
pública é essencial à validade dos negócios jurídicos
bém a legitimação do agente/ sujeito, isto é, requisi- que visem à constituição, transferência, modifica-
tos especiais para que uma determinada pessoa possa ção ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de
celebrar um negócio. valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo
Alguns exemplos são a necessidade de anuência vigente no País.
da esposa quando o marido deseja vender um imó-
vel (art. 1647, CC) e a necessidade de consentimento Art. 541 A doação far-se-á por escritura pública ou
do cônjuge e dos filhos na venda de ascendente para instrumento particular.
descendente (art. 496, CC). Como consequência, em Parágrafo único. A doação verbal será válida, se,
ambos os casos, os atos praticados sem as anuências versando sobre bens móveis e de pequeno valor, se
obrigatórias serão anuláveis. lhe seguir incontinenti a tradição.

z Vontade ou consentimento livre e sem vícios z O plano da eficácia dos negócios jurídicos

Haver vontade livre significa que ela ocorreu de No plano da eficácia, estão os negócios jurídicos
forma espontânea, sem erro ou dúvida no ato da cele- que já geram efeitos no mundo jurídico ou aqueles
bração do negócio jurídico. A ausência ou mácula deste cujos efeitos estão pendentes. Trata-se dos elemen-
requisito terá como consequência os defeitos do negó- tos acidentais, adicionados ao negócio jurídico para
cio jurídico, adiante analisados. modificar suas consequências. Esses elementos são:
276 condição, termo ou encargo.
„ A condição Também invalidarão o negócio (nulidade absoluta):
Condição suspensiva que seja impossível. Exem-
O Código Civil traz o seguinte conceito acerca do plo: Dou-te a minha casa se minha mãe ressuscitar;
elemento condicional da condição: Condição ilícita. Exemplo: Vendo-te esse quadro
se você criar uma cópia falsificada para mim;
Art. 121 Considera-se condição a cláusula que, deri- Condições incompreensíveis ou contraditórias.
vando exclusivamente da vontade das partes, subor- Exemplo: Quando você se casar, te darei uma casa se
dina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e você ainda estiver solteira.
incerto. Ademais, veja o que dispõe o Código Civil a respeito:

Logo, para ser condição ela precisa não somente Art. 123 Invalidam os negócios jurídicos que lhes
tratar de evento futuro e incerto, mas também ser são subordinados:
fruto da vontade das partes. Ademais, a condição terá I - as condições física ou juridicamente impossíveis,
classificações conforme o modo de atuação e a partici- quando suspensivas;
pação da vontade dos sujeitos: II - as condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita;
III - as condições incompreensíveis ou contraditórias.
Art. 124 Têm-se por inexistentes as condições impossíveis,
Ao modo de atuação:
quando resolutivas, e as de não fazer coisa impossível.

Condição suspensiva (art. 125, CC): Condição que


„ Termo (art. 131)
suspende o início do negócio, condicionando-o a um
evento futuro e incerto. Exemplo: O sujeito A venderá
Trata de um evento futuro e certo e possui como
sua moto ao sujeito B se mudar de cidade.
espécies:
Condição resolutiva (art. 126, CC): Condição que
Termo inicial (dies a quo): Marca o início do exer-
interrompe o direito que foi adquirido pelo negócio cício do direito. Exemplo: te darei a casa no dia 12 de
jurídico diante da ocorrência de um evento futuro e abril.
incerto. Exemplo: O sujeito A emprestará o livro ao Termo final (dies ad quem): Marca o fim do exer-
sujeito B quando este estiver na faculdade. cício do direito. Exemplo: te emprestarei minha casa
Observe a disposição do Código Civil a respeito, res- até o dia 12 de abril.
pectivamente, da condição suspensiva e da resolutiva: Todavia, o termo não necessariamente precisará
de uma data determinada, logo, pode ser indetermi-
Art. 125 Subordinando-se a eficácia do negócio jurí- nado. Exemplo: quando você morrer; quando parar
dico à condição suspensiva, enquanto esta se não de chover; quando amanhecer.
verificar, não se terá adquirido o direito, a que ele
Finalmente, será denominado de prazo o tempo
visa.
que corre entre o termo inicial e o termo final: conta-
Art. 126 Se alguém dispuser de uma coisa sob con-
gem dos prazos (art. 132, CC).
dição suspensiva, e, pendente esta, fizer quanto
Agora, observe a diferença entre a condição sus-
àquela novas disposições, estas não terão valor, rea-
pensiva e o termo inicial. Atenção para não confundir:
lizada a condição, se com ela forem incompatíveis.

Quanto à participação da vontade dos sujeitos: CONDIÇÃO SUSPENSIVA TERMO INICIAL


Evento futuro e incerto Evento futuro e certo
Condição causal: Condição que dependerá de um Suspende o direito (só existe Suspende o exercício do di-
caso fortuito ou força maior. Exemplo: O sujeito A se expectativa) e o exercício do reito, mas esse já existe (já
compromete a emprestar o carro ao sujeito B caso direito foi adquirido).
chova amanhã.
Condição puramente potestativa: Condição que „ Encargo ou modo (art. 136, CC)
depende de puro arbítrio (vontade) de uma das partes
(art. 122, CC). Exemplo: Darei a você esse veículo se eu O encargo traz um ônus ao sujeito beneficiado
quiser. Esta condição é considera ilícita e, portanto, em um negócio jurídico gratuito. Ou seja, exige-se
invalida o negócio jurídico. um comportamento específico de quem cumprirá o
Condição simplesmente potestativa: Difere das encargo. Como consequência, o encargo não suspende
condições simplesmente potestativas, pois não está o direito. O sujeito poderá ter direito e exercê-lo den-
atrelada unicamente à vontade de uma das partes, tro do que foi acordado. No entanto, para manter o
dependendo de um evento futuro e incerto posterior. seu direito, deverá realizar o encargo. Exemplos: Vou
Exemplo: Darei a você essa medalha se você tirar a te dar um carro, desde que você leve meu filho todos
melhor nota da turma. os dias para a escola; vou te dar uma fazenda, para
Condição mista: Condição que depende da vontade que você construa nela uma capela.
DIREITO CIVIL I

não só das partes, como também de um terceiro. O descumprimento do encargo ensejará a exe-
Exemplo: Darei a você esse apartamento se você se cução forçada. A legitimidade para exigir o cumpri-
casar com Maria. mento é do interessado (se o interesse for coletivo: o
Condição promíscua: Condição inicialmente potes- Ministério Público). Porém, pode-se evitar o cumpri-
tativa e que, por fato superveniente, dificulte o cum- mento com a renúncia ao direito. Não havendo o cum-
primento. Exemplo: Prometer dar um prêmio a um primento, desfaz-se o negócio. Exemplo: revogação da
maratonista se ele vencer a próxima maratona, mas ele doação (art. 555, CC).
acabar lesionando o joelho de modo a não participar É importante observar que o encargo não suspen-
da maratona. se o negócio, salvo quando houver expressa conven-
ção (e, nesse caso, haverá condição suspensiva). Logo, 277
ele se diferencia da condição suspensiva justamente Logo, o negócio jurídico praticado com erro somen-
porque o encargo não suspende a aquisição nem o te será passível de anulabilidade se for real (produzir
exercício do direito. um prejuízo / dano ao declarante) e substancial, isto é,
Para fixar o conteúdo e as principais diferenças, confi- recair sobre aspectos determinantes do negócio jurídi-
ra a tabela a seguir acerca de condição, termo e encargo: co, sendo a causa essencial do negócio. O Código Civil
prevê as espécies de erro substancial (art. 139, CC):
CONDIÇÃO DE EFICÁCIA
Art. 139 O erro é substancial quando:
Condição Termo Encargo I - interessa à natureza do negócio, ao objeto prin-
Inicial: imediata cipal da declaração, ou a alguma das qualidades a
Suspensiva: im- aquisição de di- ele essenciais;
pede a aquisição reito, mas obsta II - concerne à identidade ou à qualidade essencial
do direito e de seu o seu exercício. O da pessoa a quem se refira a declaração de vontade,
exercício. Existe exercício do direito Ocorre imediata desde que tenha influído nesta de modo relevante;
apenas uma ex- fica suspenso aquisição direito e III - sendo de direito e não implicando recusa à apli-
pectativa do direito aguardando o de seu exercício. cação da lei, for o motivo único ou principal do negó-
termo Dependerá de um cio jurídico.
Resolutiva: ime- ato específico a
diata aquisição Final: imediata ser concretizado
pelo beneficiário Assim, o erro substancial poderá ser:
de direito e de seu aquisição de
exercício. Existe a direito e de seu do direito
possibilidade de o exercício. Ao final „ Error in negotio: Envolve a natureza do negócio;
direito ser perdido, do prazo, o titular é o desconhecimento dos elementos do negócio.
caso o evento perde o direito Exemplo: alguém que recebe um livro empresta-
incerto aconteça do, acreditando ter sido doação;
„ Error in corpore: Envolve o objeto principal
DEFEITOS do negócio. Exemplo: alguém que compra uma
fazenda em Viçosa (Alagoas) acreditando que
São falhas na manifestação de vontade que preju- comprava em Viçosa (Minas Gerais);
dicam a validade do negócio. Podem se apresentar sob „ Error in persona: Envolve a identidade ou
duas formas: qualidade de uma das partes do negócio. Exem-
plos: João faz testamento, deixando seus bens
Vícios do consentimento: Hipótese em que ocorre
para André, que acredita ser seu filho, quando,
divergência entre a vontade declarada e a real vonta-
na verdade, ele é filho de seu irmão. Inclusive,
de do declarante. São vícios do consentimento: erro,
o STJ tem entendimento de que, não haven-
dolo, coação, lesão e estado de perigo. do vínculo socioafetivo, é possível ao pai que
Vício social: Hipótese em que a vontade interna registrou um filho em erro (sem saber que na
e externa coincide, mas a intenção é de prejudicar verdade não se tratava de filho biológico) pro-
terceiro ou burlar a lei. É vício social a fraude contra mover a anulação de registro civil;
credores e simulação. „ Error in quantitate: Envolve a quantidade
Em uma visão geral, os defeitos ou vícios são: dos objetos negociados. Exemplo: o coleciona-
dor que adquire uma coleção de 35 relógios,
Erro descobrindo depois que, originalmente, a cole-
ção possuía 40 relógios;
Dolo
VÍCIOS DE „ Erro de direito: Falso conhecimento do direi-
Coação to aplicável ou de sua interpretação. Exemplo:
CONSENTIMENTO
Lesão adquirir loteamento para construção em área
impedida pelo Município. Exemplo: a pessoa
Estado de perigo
compra o imóvel, desconhecendo que tinha
Simulação sobre ele o direito de usucapião.
VÍCIOS SOCIAIS
Fraude contra credores
Quanto ao erro de direito, é importante observar
Vícios de Consentimento que a Lei de Introdução às Normas de Direito Brasi-
leiro, no art. 3º, traz que ninguém pode alegar desco-
nhecimento da lei justificando seu descumprimento.
z Erro ou ignorância
Ocorre que o inciso III, art. 139, do CC de 2002, é lei
especial e deve ser aplicada no caso em questão, desde
É o resultado de uma falsa percepção, noção, ou
que se trate de erro substancial e que não implique em
mesmo falta de percepção sobre a pessoa, objeto ou o pretensão de descumprir a lei.
próprio negócio que se pratica. Ademais, há ausência Se o objeto for ilícito (efeitos penais), não haverá
de terceiro neste erro, isto é: no erro, o agente enga- escusabilidade. O negócio será tido por inexistente.
na-se sozinho sobre determinado aspecto do negócio Anteriormente, falava-se que era elemento do
jurídico. Veja como prevê o Código Civil: erro a escusabilidade, porém, não importa mais se
o declarante agiu com desídia e isso contribuiu para
Art. 138 São anuláveis os negócios jurídicos, quan- o vício. Inclusive, o Conselho da Justiça Federal pro-
do as declarações de vontade emanarem de erro nunciou-se neste sentido, elaborando o enunciado 12
substancial que poderia ser percebido por pessoa do CJF: “Na sistemática do art. 138, é irrelevante ser
de diligência normal, em face das circunstâncias do ou não escusável o erro, porque o dispositivo adota o
278 negócio. princípio da confiança”.
Finalmente, para a configuração do erro é necessá- e danos do declarante. Exemplo: o vendedor de uma
rio que o contratante que recebeu a manifestação de bicicleta que mente sobre sua procedência.
vontade perceba (conheça) o erro (cognoscibilidade). São espécies de dolo:
O destinatário permite que o declarante se engane
mesmo não havendo a intenção de enganar, embora „ Dolo positivo (comissivo): Ação perpetrada
ele se aproveite do autoengano cometido pelo outro, pelo agente. Exemplo: vender um carro, dizen-
isto é, percebeu o erro e se calou. Porém, observe, é do que ele tem airbag, quando, na verdade, não
diferente quando o negociante se cala para induzir o tem;
erro. „ Dolo negativo (omissivo): Omissão caracteriza-
O Código Civil ainda traz hipóteses de erros que da pelo silêncio intencional de uma das partes
não invalidaram o negócio jurídico: (art. 147), sem o qual o negócio jurídico não se
teria realizado. Exemplo: venda de apartamen-
Art. 142 O erro de indicação da pessoa ou da coi-
to mobiliado em que não se anuncia ao com-
sa, a que se referir a declaração de vontade, não
viciará o negócio quando, por seu contexto e pelas
prador que os móveis são feitos sob medida;
circunstâncias, se puder identificar a coisa ou pes- „ Dolu bonus: É tolerado, visto que se trata de
soa cogitada. exageros de vendedor, para valorizar o objeto
Art. 143 O erro de cálculo apenas autoriza a retifi- alienado. Exemplo: vendo o melhor carro do
cação da declaração de vontade. mundo; o melhor professor de inglês da região.
Art. 144 O erro não prejudica a validade do negócio Na relação de consumo, é proibido o exagero
jurídico quando a pessoa, a quem a manifestação que induza o consumidor a erro (§ 1º do art. 37
de vontade se dirige, se oferecer para executá-la na do Código de Defesa do Consumidor);
conformidade da vontade real do manifestante. „ Dolu malus: Consiste em ações maliciosas. Não
é tolerado, visto que induz o declarante a erro;
Vejamos cada um deles: „ Dolo advindo de conduta de terceiro (art.
148): Terceiro é aquele que intervém direta
„ Erro acidental (art.142): Recai sobre qualidades
ou indiretamente no negócio. Exemplo: André
secundárias do negócio. Esse erro não produz
se faz passar por João para vender uma casa
os mesmos efeitos do erro substancial. Exem-
a Ana. O negócio é anulável se a parte benefi-
plo: doar uma casa para alguém, acreditando
ciada (aquela que recebe os frutos do negócio
que este era casado, quando, na verdade, não
era. Deixar em testamento um bem para o filho jurídico em razão do dolo) pelo dolo tivesse
Antônio, mas, na verdade, queria escrever filha conhecimento ou tivesse meios para conhecer.
Antônia. É um erro fácil de ser identificado e cor- No entanto, se a parte beneficiada não tiver
rigido. Inclusive, é nesse sentido o art. 142 do CC; conhecimento, o dolo será acidental. Assim, o
„ Falso motivo (art. 140): Só anula o negócio ludibriado terá direito de pedir indenização ao
se for expressamente declarado como razão terceiro, mas o negócio continuará válido. Con-
determinante. Exemplo: Presentear-te com um tudo, havendo uma parte de boa-fé, o negócio
carro porque você passou na OAB (e a pessoa só é mantido.
passou na primeira fase);
„ Erro de cálculo (art. 143): Não anula o negócio Ressalta-se que o art. 148 do CC trata a respeito do
jurídico, apenas gera a retificação; dolo praticado pelo representante, sendo que caso o
„ Possibilidade de conservação do negócio jurí- dolo seja praticado por representante legal, o repre-
dico (art. 144): O erro não prejudica o negócio se sentado somente responderá civilmente até o valor do
o receptor da vontade se dispuser a conformar a proveito econômico que teve.
vontade do negociante. Exemplo: a pessoa com- Porém, caso se trate de representante convencio-
prou uma coleção de carrinhos, acreditando que nal, a responsabilidade do representante e do repre-
vinham todos, mas só recebeu 70% da coleção. O sentado será solidária. Ainda, de acordo com o art.150
vendedor se compromete a entregar o restante. do CC, caso ambas as partes tenham atuado com
dolo, nenhuma poderá alegar o vício ou pretender
z Dolo indenização.
Veja o quadro comparativo para não confundir o
É o vício através do qual o agente é induzido a se dolo com o vício do erro:
equivocar em razão de manobras astuciosas, ardilosas
e maliciosas perpetradas por outrem. É desnecessá-
ERRO
ria a caracterização do prejuízo tido pelo declarante.
Porém, na forma do art. 145, do CC, o dolo deve ter O receptor da vontade percebe que o declarante está en-
ganado e ele permite que o negócio aconteça ainda assim
DIREITO CIVIL I

sido a causa para a realização do negócio jurídico:


Exemplo: Uma pessoa entra na loja e diz “nossa, esse qua-
Art. 145 São os negócios jurídicos anuláveis por dro que veio da Índia está muito barato!”. O vendedor per-
dolo, quando este for a sua causa. cebe o equívoco (o quadro não veio da Índia), mas deixa a
pessoa comprar com engano
Logo, o dolo deve ser essencial, ou seja, determinan- DOLO
te para causar o negócio jurídico e assim este poder ser
anulado. Se o negócio ocorreria mesmo sem o dolo, este O sujeito manipula a vontade do declarante, seja escon-
será chamado acidental (como denominado pelo art. dendo informação, seja dando informação falsa. Aqui,
146, do CC) e gerará apenas indenização pelas perdas existe uma intenção de enganar a pessoa 279
ERRO jurídico, vez que se beneficiará. Caso o beneficia-
do esteja de boa-fé, o negócio será mantido, mas o
Exemplo: Em uma loja de artigos indianos, o vendedor apre-
coacto poderá ser ressarcido dos prejuízos sofridos
senta um quadro brasileiro para o comprador, fazendo-o
(art. 155). Observação: no CC, de 2016, a violência
crer que a origem também seria indiana
sempre viciava o negócio, independente da ciência
do beneficiado.
z Coação
z Lesão
A coação é toda pressão física ou moral exerci-
da contra alguém, de modo a forçá-lo à prática de
Prejuízo resultante da desproporção existente
um determinado negócio jurídico, contra a sua von-
entre as prestações de um negócio jurídico, em face
tade, tornando defeituoso o negócio. Logo, a coação
do abuso da inexperiência, necessidade econômica
é um fator externo que impede a vontade livre do
ou leviandade de um dos declarantes. (GAGLIANO;
declarante.
FILHO, 2019, p. 175). A presença deste vício de consen-
Ela se manifesta sob duas formas:
timento terá como efeito a anulabilidade do negócio
jurídico.
„ Coação física (vis absoluta): pressão exter-
São, pois, requisitos (cumulativos):
na capaz de tolher por completo a manifesta-
ção de vontade da vítima e os movimentos do
„ Elemento objetivo: Manifesta desproporção
agente. Exemplos: vendedor espancado para
das prestações. Deve-se tomar como parâmetro
assinar um contrato. Não é a hipótese do art.
151 do Código Civil que traz como elemento a o negócio jurídico praticado no mercado. Os
ameaça de um dano. Efeito desta coação abso- juros de banco não configuram manifesta des-
luta é que, como não há vontade, o negócio será proporção. Esta é critério indefinido pelo legis-
inexistente; lador, devendo ser detectado pelo juiz;
„ Coação moral (vis compulsiva): caracteriza-se „ Elemento subjetivo: Premente (urgente) neces-
pela existência de uma ameaça séria e idônea. sidade ou a inexperiência do declarante. A
Logo, o declarante teme um dano a ser causa- premente necessidade significa que o sujeito se
do a si mesmo ou a pessoa próxima. Exemplo: sente impedido de recusar o negócio, em razão
alguém que aceita vender sua casa, sob ameaça do Poder Econômico da outra parte e da situação
de serem revelados seus segredos pessoais ou de inferioridade em que se encontra. Exemplo:
sob ameaça de ser espancado, ou sob ameaça comprar geladeira (bem de utilidade essencial)
de ter a casa incendiada. Como efeito o negócio em prestações com juros excessivamente altos.
é anulável. A inexperiência será avaliada na condição do
declarante, tal como situação cultural, social
O art. 151 do CC, prevê o seguinte quanto ao tema: educacional (idoso, analfabeto etc.). Não é neces-
sária a ciência do beneficiado da necessidade ou
Art. 151 A coação, para viciar a declaração da von- inexperiência do declarante.
tade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado
temor de dano iminente e considerável à sua pes- A este respeito, o Código Civil prevê no art. 157
soa, à sua família, ou aos seus bens. que:

Portanto, são requisitos da coação: Art. 157 Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob
premente necessidade, ou por inexperiência, se
z Ameaça de dano sério à vítima ou a terceiro a obriga a prestação manifestamente desproporcio-
quem se vincule afetivamente. Exemplo: matar nal ao valor da prestação oposta.
um parente; sequestrar a filha; incendiar a casa;
z Iminência (está para acontecer) do dano. Con- A partir da leitura do art. acima, temos que o
sequentemente, a ameaça que produz efeito em momento da lesão deve ser detectado no instante da
futuro distante não se mostra suficiente para coa- declaração das vontades. Se a desproporção for super-
gir alguém (exemplo: se você não me vender essa veniente, haverá a possibilidade de revisão e não de
casa, não te contemplarei em meu testamento); anulação.
z Deverão, ainda, serem analisadas circunstâncias Porém, haverá conservação do negócio jurídico
objetivas da vítima (art. 152, CC) tais como idade, (parágrafo 2º do art. 157 do CC) se a parte favorecida
formação intelectual, sexo, temperamento, saúde oferecer complemento ou concordar com a redução
etc. do proveito, isto é, se promover o retorno ao equilí-
brio negocial.
Porém, não será coação: Segundo Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona (2019,
p. 178) este vício foi consagrado pelo Código Civil de
z Ameaça de exercício regular de direito não ense- 2002 e revela a grande mudança principiológica pela
ja coação. Exemplo: se você não me pagar, vou qual passou o Código Civil ao limitar a autonomia
colocar seu nome no SPC; individual da vontade.
z Temor reverencial, sem que haja ameaça. Exem-
plo: medo de contrariar o pai, o patrão, o sacerdote; � Estado de perigo
z Coação por terceiro: só é anulada se o beneficiado
soubesse ou tivesse como saber dos danos causa- Igualmente ao vício anterior, este vício é uma inovação
dos à vítima pela coação (o que é difícil provar). do Código atual. O estado de perigo ocorre quando alguém,
280 O terceiro, nesses casos, estará ciente do negócio com o intuito de salvar a si mesmo ou pessoa de sua família,
assume obrigação onerosamente excessiva, sendo o perigo „ Simulação relativa: Existe ocultação de outro
de conhecimento da outra parte (art. 156, CC). negócio (que fica dissimulado). Na essência,
Podemos citar como exemplo o doente que, que- quer-se outro negócio jurídico. Exemplo 1:
rendo salvar-se de moléstia, aceita pagar honorários simular a venda de um imóvel para a amante,
médicos excessivos; o hospital que exige caução para quando, na verdade, há doação (vedada por
procedimento médico de paciente de urgência; o pai lei). Art. 550, CC; Exemplo 2: simular uma pres-
que oferece toda sua fortuna para quem retirar seu tação de serviços, quando, na verdade, há rela-
filho de um prédio em chamas. ção de emprego, para evitar o pagamento das
São requisitos para verificação do estado de verbas trabalhistas.
necessidade:
Consequentemente, a simulação absoluta será
„ Elementos objetivos: Assumir obrigação exces- nula. De outro lado, a simulação relativa será nula
sivamente onerosa, com base na normalidade quanto ao ato aparente (simulado) e válida quanto ao
do mercado; ato camuflado (dissimulado, isso se não ofender a lei,
� Elementos subjetivos: É necessário que a outra nem prejudicar terceiros).
parte conheça a situação de perigo que atinge o No caso da doação, por exemplo, feita à amante,
declarante, como a intenção do declarante em esse negócio jurídico será nulo, mas valerá o contra-
salvar a si mesmo ou a pessoa da família, ou to de compra e venda. Quanto a nulidade ou anula-
o temor de dano grave atual (acontecendo) ou bilidade do negócio simulado, segue-se a previsão do
iminente (prestes a acontecer). código:

Quanto a salvar familiar, o legislador permitiu a Art. 167 É nulo o negócio jurídico simulado, mas
extensão a terceiro não pertencente à família, conforme subsistirá o que se dissimulou, se válido for na
circunstâncias do caso (art. 156, parágrafo único, CC). substância e na forma.
Todavia, à semelhança do vício anterior, haverá
possibilidade de conservação do negócio jurídico e, ao Além disso, o § 1º do art. 167 assume que haverá
invés de anular o negócio jurídico assumido em esta- simulação quando (rol não taxativo):
do de perigo, o juiz reduzir equitativamente o valor
(interpretação analógica do parágrafo 2º do art. 157 „ Negócio jurídico que transmite direito a pessoas
do CC), se a parte concordar com a redução do provei- diversas daquelas previstas. Há interposição fic-
to ou oferecer suplemento suficiente. tícia de pessoa (testas de ferro, laranjas). Exem-
plo 1: fazer doação ao irmão da amante, porque
ela não pode receber a doação. Exemplo 2: con-
DIFERENCIAÇÃO DO ESTADO DE PERIGO DE
tratar plano telefônico em nome da empresa
INSTITUTOS SEMELHANTES
para uso particular;
No estado de perigo „ Se o contrato tiver declaração, confissão, condi-
� Não há coação, visto que ausente a violência da outra ção ou cláusula não verdadeira. Exemplo: opor
parte (o perigo não foi criado por ela) cláusula de aluguel, quando, na verdade, há
� Não é lesão porque comodato;
� há necessidade de a outra parte conhecer o perigo „ Falsidade da data afirmada no negócio jurídi-
� na lesão, a necessidade é mais abrangente do que no co. Exemplo: datar o contrato celebrado após a
estado de perigo em que há risco de vida insolvência para antes da insolvência.

z Fraude contra credores


Vícios Sociais
O Código Civil traz a seguinte definição da fraude
z Simulação (art. 167) contra credores:

Simular é o ato de fazer parecer real, imitar, fin- Art. 158 Os negócios de transmissão gratuita de
gir, aparentar. É um vício social, na medida em que bens ou remissão de dívida, se os praticar o deve-
as partes buscam enganar terceiros. Porém, neste ato, dor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvên-
as duas partes contratantes objetivam iludir terceiros, cia, ainda quando o ignore, poderão ser anulados
não sendo necessário que o dano a terceiro venha a pelos credores quirografários, como lesivos dos
ocorrer, basta que este seja ludibriado. seus direitos.
Segundo Stolze e Pamplona (2019, p. 181)
Portanto, constituirá fraude contra credores o ato
[...] na simulação celebra-se um negócio jurídico de alienar ou agravar bens e de perdoar dívidas do
que tem aparência normal, mas que, na verdade, devedor que esteja insolvente. A insolvência é o esta-
DIREITO CIVIL I

não pretende atingir o efeito que juridicamente do que acomete o devedor quando ele não possui mais
devia produzir. bens que podem ser executados. Seu passivo supera o
ativo.
Na forma do Código Civil, a simulação poderá ser: Trata-se de uma espécie de vício social, pois a von-
tade do devedor é prejudicar terceiros, sendo sua con-
„ Simulação absoluta: O ato negocial é pratica- duta danosa à sociedade. Ele possui como requisitos:
do para não gerar efeitos. Não há, na prática,
nenhum negócio jurídico. Exemplo: o locador „ Elemento objetivo: eventus damni – disposição
celebra falso contrato de compra e venda para do patrimônio do devedor para prejudicar cre-
possibilitar uma ação de despejo; dores. O dano aparece quando a diminuição do 281
patrimônio compromete o direito do credor, ou Negócio Nulo
seja, quando se configurar a insolvência;
„ Elemento subjetivo: intenção de prejudicar Cabe ação declaratória de nulidade (imprescritível):
credores (consilium fraudis). Pode ser praticada
isoladamente (sem ajuda de terceiros). Exem- z Não pode ser suprido nem sanado;
plo: renunciar herança. Também pode ser pra- z Cabe intervenção do Ministério Público;
ticada com ajuda do adquirente; z Cabe decretação de ofício pelo juiz;
„ Na fraude contra credores, o ato praticado por z Sentença com efeitos erga omnes e ex tunc.
si só, diferentemente do vício anterior, já lesa o
credor. Logo, há uma presunção de consilium Art. 169 O negócio jurídico nulo não é suscetível
fraudis (conluio fraudulento); basta provar o de confirmação, nem convalesce pelo decurso do
eventus damni (dano), com: tempo.
Art. 170 Se, porém, o negócio jurídico nulo conti-
Transmissão gratuita de bens (doações); ver os requisitos de outro, subsistirá este quando
Remissão (perdão) de dívidas; o fim a que visavam as partes permitir supor que o
Perante o adquirente: insolvência notória (títulos teriam querido, se houvessem previsto a nulidade.
protestados, por exemplo) ou quando o terceiro tinha
motivos para conhecer a insolvência (venda a preço Negócio Anulável
vil, parentesco com o devedor etc.).
A anulabilidade do negócio jurídico ocorrerá atra- Ação anulatória (com prazos decadenciais);
vés do ajuizamento da ação pauliana com base:
Negócios de transmissão gratuita de bens (art. 158, z Cabível convalidação;
caput, CC); z Não cabe decretação de ofício;
Remissão de dívida (art. 158, caput, CC); z Efeitos entre as partes.
Contratos onerosos do devedor insolvente (art.
159, CC); Art. 171 Além dos casos expressamente declarados
Antecipação de pagamento a um credor quirogra- na lei, é anulável o negócio jurídico:
fário em detrimento dos demais (art. 162, CC); I - por incapacidade relativa do agente;
Garantias de dívidas que o devedor insolvente II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado
tiver dado a algum credor em detrimento dos demais de perigo, lesão ou fraude contra credores.
(art. 163, CC). Art. 172 O negócio anulável pode ser confirmado
pelas partes, salvo direito de terceiro.
De acordo com o art. 158 do CC, terá legitimidade
Art. 173 O ato de confirmação deve conter a subs-
para ajuizar esta ação o credor quirografário, isto é,
tância do negócio celebrado e a vontade expressa
aquele que não possui garantia. Como efeito da sen-
de mantê-lo.
tença desta ação, haverá a anulação do negócio jurí-
Art. 174 É escusada a confirmação expressa, quan-
dico fraudulento e, consequentemente, como prevê o do o negócio já foi cumprido em parte pelo devedor,
art. 165 do CC: ciente do vício que o inquinava.
Art. 175 A confirmação expressa, ou a execução
Art. 165 Anulados os negócios fraudulentos, a voluntária de negócio anulável, nos termos dos arts.
vantagem resultante reverterá em proveito do 172 a 174, importa a extinção de todas as ações, ou
acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de exceções, de que contra ele dispusesse o devedor.
credores. Art. 176 Quando a anulabilidade do ato resultar da
Parágrafo único. Se esses negócios tinham por úni- falta de autorização de terceiro, será validado se
co objeto atribuir direitos preferenciais, median- este a der posteriormente.
te hipoteca, penhor ou anticrese, sua invalidade Art. 177 A anulabilidade não tem efeito antes de
importará somente na anulação da preferência julgada por sentença, nem se pronuncia de ofício;
ajustada. só os interessados a podem alegar, e aproveita
exclusivamente aos que a alegarem, salvo o caso de
INVALIDADE solidariedade ou indivisibilidade.
Art. 178 É de quatro anos o prazo de decadência para
O negócio jurídico pode ser inexistente; possuir pleitear-se a anulação do negócio jurídico, contado:
nulidade absoluta; nulidade relativa. Como já dito, I - no caso de coação, do dia em que ela cessar;
o negócio jurídico é considerado inexistente quando II - no de erro, dolo, fraude contra credores, esta-
não preenche os requisitos mínimos constantes do do de perigo ou lesão, do dia em que se realizou o
negócio jurídico;
plano de existência (partes, vontade, objeto, forma).
III - no de atos de incapazes, do dia em que cessar
Não é necessária a declaração da invalidade por deci-
a incapacidade.
são judicial, porque jamais chegou a existir.
Art. 179 Quando a lei dispuser que determinado
O negócio jurídico será nulo quando celebrado por ato é anulável, sem estabelecer prazo para pleitear-
absolutamente incapaz, sem a devida representação; -se a anulação, será este de dois anos, a contar da
o objeto for ilícito, impossível, indeterminado ou inde- data da conclusão do ato.
terminável; o motivo de ambas das partes for ilícito; Art. 180 O menor, entre dezesseis e dezoito anos,
descumprir forma exigida; o objetivo do negócio for a não pode, para eximir-se de uma obrigação, invo-
fraude a lei; quando a lei prever ou proibir o ato sem car a sua idade se dolosamente a ocultou quando
cominar a sanção; negócio simulado; coação física. inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-
O negócio jurídico é anulável se for celebrado por -se, declarou-se maior.
relativamente incapaz sem assistência; erro; dolo; Art. 181 Ninguém pode reclamar o que, por uma obri-
coação moral; estado de perigo; lesão; fraude contra gação anulada, pagou a um incapaz, se não provar
282 credores; quando a lei prever a anulabilidade. que reverteu em proveito dele a importância paga.
Art. 182 Anulado o negócio jurídico, restituir-se-ão z Causar um dano: se o ato ilícito não causar dano,
as partes ao estado em que antes dele se achavam, não há repercussão no direito civil.
e, não sendo possível restituí-las, serão indenizadas
com o equivalente. Como efeito da prática de um ato ilícito, nasce a
Art. 183 A invalidade do instrumento não induz a responsabilidade civil, que pode ser considerada o
do negócio jurídico sempre que este puder provar- dever de reparar o dano gerado.
-se por outro meio.
Art. 184 Respeitada a intenção das partes, a inva-
lidade parcial de um negócio jurídico não o pre- Dica
judicará na parte válida, se esta for separável; a A responsabilidade civil pode se apresentar de
invalidade da obrigação principal implica a das
duas formas:
obrigações acessórias, mas a destas não induz a da
obrigação principal. � Responsabilidade civil subjetiva: aplicada nas
situações em que a vítima do dano deverá pro-
Vale lembrar que, nos casos de representação, a var a culpa do ofensor. Essa é a regra do Código
manifestação de vontade pelo representante produz Civil.
efeitos em relação ao representado (art. 116). Os pode- � Responsabilidade civil objetiva: aplicada nas
res de representação vêm da lei ou são conferidos situações em que a própria lei dispensa a prova
pelo interessado. da culpa do ofensor, dispensando da vítima esse
É anulável o negócio jurídico que o representante, ônus.
no seu interesse ou por conta de outrem, celebrar con-
sigo mesmo. Exceção: quando o representado ou a lei O art. 187, do Código Civil, equipara ao ato ilícito
permitir (art. 117). Por exemplo, o representante só os comportamentos excessivos que podem gerar
pode comprar uma casa que está vendendo em nome danos. Nessas situações, o titular de um direito age de
do representado, se ele autorizar. forma abusiva. É o chamado abuso do direito:
É anulável o negócio concluído pelo representante
em conflito de interesses com o representado, se tal Art. 187 Também comete ato ilícito o titular de um
fato era ou devia ser do conhecimento de quem com direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os
aquele tratou. O prazo decadencial, neste caso, é de limites impostos pelo seu fim econômico ou social,
180 dias, contados da conclusão do negócio ou da ces- pela boa-fé ou pelos bons costumes.
sação da incapacidade (art. 119).
O representante é obrigado a provar às pessoas, com Percebe-se que existe um limite para exercer o
quem tratar em nome do representado, a sua qualidade próprio direito. Fazê-lo de forma a violar a função
e a extensão de seus poderes, sob pena de, não o fazendo, social, a boa-fé e os bons costumes é agir contra o pró-
responder pelos atos que a estes excederem (art. 118). prio Ordenamento. A premissa é: ninguém pode exer-
cer o próprio direito, violando o interesse de outras
pessoas.
Exemplo da aplicação do abuso do direito foi o
reconhecimento da prática comercial abusiva que
ATOS ILÍCITOS implica em enviar cartão de crédito sem a expressa e
prévia solicitação do consumidor. Essa importunação
Ao estudar os efeitos das ações humanas (fatos é considerada abusiva e enseja multa administrativa.
jurídicos voluntários), a doutrina civilista (GAGLIANO Nesse sentido é a Súmula 532, do STJ:
E PAMPLONA FILHO, 2016) divide estas ações entre
ato jurídico lícito e ato jurídico ilícito. Súmula 532 do STJ: Constitui prática comercial
abusiva o envio de cartão de crédito sem prévia e
Sobre os atos jurídicos lícitos, o Código Civil orien-
expressa solicitação do consumidor, configurando-
ta que são aplicadas as mesmas regras dos negócios -se ato ilícito indenizável e sujeito à aplicação de
jurídicos, no que couber: multa administrativa.

Art. 185 Aos atos jurídicos lícitos, que não sejam O abuso do direito, assim como o ato ilícito, gera res-
negócios jurídicos, aplicam-se, no que couber, as ponsabilidade civil. Implica dizer que o prejudicado pode-
disposições do Título anterior. rá buscar a reparação dos seus danos. A doutrina civilista
pondera que a responsabilidade pelo abuso do direito é
Em relação aos atos ilícitos, o art. 186 mostra que objetiva. Ou seja, o prejudicado não precisará compro-
estes são atos que, em razão de uma ação ou omis- var a culpa do ofensor. Esse entendimento, inclusive, foi
são, por negligência ou imprudência, causam dano expresso no enunciado 37, da I Jornada de Direito Civil:
a terceiros:
A responsabilidade civil decorrente do abuso do
Art. 186 Aquele que, por ação ou omissão volun- direito independe de culpa e fundamenta-se somen-
te no critério objetivo-finalístico.
DIREITO CIVIL I

tária, negligência ou imprudência, violar direito e


causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito. Finalizando o estudo do tema, o art. 188, do Código
Civil, apresenta algumas situações que não serão con-
A partir da leitura do art. 186, pode-se perceber sideradas atos ilícitos:
quais são os requisitos de configuração do ato ilícito:
Art. 188 Não constituem atos ilícitos:
I - os praticados em legítima defesa ou no exercício
� Conduta culposa (omissiva ou comissiva); regular de um direito reconhecido;
z Violação de um direito: o agente, necessariamente, II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou
deve afrontar a lei; a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente. 283
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será dever jurídico. Com a violação do Direito Subjetivo
legítimo somente quando as circunstâncias o tor- (exemplos: invasão de propriedade, crédito não pago,
narem absolutamente necessário, não excedendo os ato ilícito), surge para uma das partes a “pretensão”
limites do indispensável para a remoção do perigo.
de exigir judicialmente a prestação através do direito
de ação ou de defesa.
O inciso I do artigo mencionado traz que a legíti-
ma defesa é ato permitido, assim como o exercício Todavia, esse direito não é exercido indefinida-
regular de um direito reconhecido. Conceitua-se a mente. A prescrição é uma sanção à inércia do titular
legítima defesa como a reação proporcional a uma do direito subjetivo patrimonial violado. Isto é: pelo
injusta agressão, atual ou iminente a partir de meios não exercício do direito no prazo legal, extinguem-se
moderados postos à disposição do ofendido (GAGLIA- tanto a pretensão (direito de exigir o direito pela via
NO e PAMPLONA FILHO, 2016, p. 527). Assim, se “A” judicial) quanto a exceção (direito de defesa). Vejamos:
tenta acertar “B” com chutes e pontapés, e “B” acaba
se valendo de uma cadeira que estava por perto a fim Art. 189 Violado o direito, nasce para o titular a
de repelir a agressão, sua conduta será amparada pelo pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos
Direito. Vale dizer que o excesso na defesa implica no prazos a que aludem os arts. 205 e 206.
dever de indenizar, caso haja danos. Art. 190 A exceção prescreve no mesmo prazo em
Sobre o exercício regular de um direito reconheci- que a pretensão.
do, tem-se que o titular poderá usar de meios jurídicos
possíveis para a proteção do seu direito. Assim, ima-
gine que João deva a Carlos a quantia de mil reais. Se A prescrição, porém, não acarretará a perda do
Carlos não receber a quantia esperada, poderá mover direito material, somente do processual, isto é, do
uma ação judicial, pedindo a execução forçada da exercício do direito de ação e de defesa. Logo, o direi-
obrigação. Esse ato é legítimo, ainda que a execução to continua existindo e o próprio devedor pode abrir
forçada signifique ter que vender um bem de proprie- mão de arguir a prescrição (de forma expressa ou táci-
dade de João por um preço mais baixo do valor de ta). Exemplo: pagar dívida prescrita, quando não terá
mercado para salvar o crédito de Carlos. direito à restituição do pagamento (art. 882 do CC):
O inciso II, do art. 188, retrata o cenário do esta-
do de necessidade. Isso ocorre quando determinado Art. 191 A renúncia da prescrição pode ser expres-
sujeito percebe que está prestes a sofrer um dano e, sa ou tácita, e só valerá, sendo feita, sem prejuízo
a fim de removê-lo ou evitá-lo, sacrifica coisa alheia. de terceiro, depois que a prescrição se consumar;
Por exemplo: imagine que o apartamento de Ana está
tácita é a renúncia quando se presume de fatos do
pegando fogo e, para se salvar, ela precisa acessar o
interessado, incompatíveis com a prescrição.
apartamento do vizinho a fim de descer o lance de
escadas não ocupado pelo fogo. Se Ana precisar que-
brar a porta de entrada do vizinho para acessar as Acerca da renúncia, destaca-se que ela será irre-
escadas, estará causando dano a um bem alheio, em vogável, somente poderá ser exercida com a consu-
estado de necessidade. mação da prescrição e não se admite que as partes
estendam ou encurtam um prazo prescricional, por
entender-se como modalidade de renúncia antecipa-
Importante! da, a qual é vedada. Qualquer cláusula nesse sentido
será nula, pois a prescrição jamais será convencional
Qualquer excesso na prática da legítima defesa,
e sempre legal. Tanto é que:
exercício de um direito ou estado de necessida-
de deve ser indenizado. Embora o parágrafo úni- Art. 192 Os prazos de prescrição não podem ser
co, do art. 188, faça alusão apenas ao inciso II, alterados por acordo das partes.
a mesma ideia deve ser aplicada ao inciso I. Em
outras palavras: se a vítima agir de forma des- Em se tratando de lesão a bem jurídico extra-
proporcional e desarrazoada, deverá indenizar o patrimonial (direito de personalidade, honra, ima-
dano que causou em razão do excesso. gem, privacidade), poderá exigir-se que a lesão cesse
a qualquer instante. Contudo, o prazo prescricional
atingirá a pretensão indenizatória.
Atente-se ao fato de o instituto em análise trata da
prescrição extintiva, a qual põe fim ao exercício (pro-
PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA: NOÇÕES cessual) de um direito, o que não se confunde com a
GERAIS prescrição aquisitiva, cujo prazo faz nascer o direito
da usucapião!
Os institutos da prescrição e decadência existem Um ponto importante é: quando a prescrição
em razão de um direito não poder ficar pendente de poderá ser alegada? A resposta nos é dada pelo art.
forma indefinida no tempo, devendo o seu exercício 193 do CC:
sujeitar-se a um prazo determinado. Seus fundamen-
tos são a pacificação social e a segurança. Art. 193 A prescrição pode ser alegada em qualquer
grau de jurisdição, pela parte a quem aproveita.
PRESCRIÇÃO: DISPOSIÇÕES GERAIS
Em outras palavras, a prescrição poderá ser alega-
O Direito Subjetivo trata de direitos reais e pes- da em qualquer fase do processo desde a contestação,
soais, os quais geram uma relação jurídica entre sujei- audiência, razões finais, até os recursos. Todavia, não
tos (devedor x credor), tendo em vista um objeto ou é admitida sua arguição em recurso especial (perante
284 prestação, de forma a haver para uma das partes um STJ) e recurso extraordinário (perante STF) se não foi
suscitada nas instâncias inferiores em razão da falta de sociedade anônima, contado da publicação da
de prequestionamento7. ata da assembléia que aprovar o laudo;
Apesar da revogação do art. 194 do CC, que deter- V - a pretensão dos credores não pagos contra os
minava como dever do juiz alegar de ofício a prescri- sócios ou acionistas e os liquidantes, contado o pra-
ção, ele ainda pode reconhecer a prescrição de ofício, zo da publicação da ata de encerramento da liqui-
dação da sociedade.
isto é, sem manifestação das partes, pela previsão do
§ 2º Em dois anos, a pretensão para haver pres-
§ 1º do art. 332 do CPC: O juiz também poderá julgar
tações alimentares, a partir da data em que se
liminarmente improcedente o pedido se verificar, des- vencerem.
de logo, a ocorrência de decadência ou de prescrição. § 3º Em três anos:
Tanto é que os enunciados 295 e 581 das Jornadas de I - a pretensão relativa a aluguéis de prédios urba-
Direito Civil explicaram que: nos ou rústicos;
II - a pretensão para receber prestações vencidas de
z Apesar da referida revogação, o devedor pode con- rendas temporárias ou vitalícias;
tinuar exercendo a renúncia; III - a pretensão para haver juros, dividendos ou
z A decretação de prescrição de ofício deve ser pre- quaisquer prestações acessórias, pagáveis, em
cedida de oitiva das partes. períodos não maiores de um ano, com capitaliza-
ção ou sem ela;
Quanto aos relativamente incapazes privados de IV - a pretensão de ressarcimento de enriquecimen-
to sem causa;
administrar os próprios bens, o Código (isso porque
V - a pretensão de reparação civil;
em relação aos absolutamente incapazes não corre
VI - a pretensão de restituição dos lucros ou divi-
prazo prescricional: inciso I do art. 198 do CC) asse- dendos recebidos de má-fé, correndo o prazo da
gura o direito de ação regressiva aos representantes data em que foi deliberada a distribuição;
ou assistentes legais que derem causa à prescrição de VII - a pretensão contra as pessoas em seguida indi-
seus direitos subjetivos: cadas por violação da lei ou do estatuto, contado
o prazo:
Art. 195 Os relativamente incapazes e as pessoas a) para os fundadores, da publicação dos atos cons-
jurídicas têm ação contra os seus assistentes ou titutivos da sociedade anônima;
representantes legais, que derem causa à prescri- b) para os administradores, ou fiscais, da apresen-
ção, ou não a alegarem oportunamente. tação, aos sócios, do balanço referente ao exercí-
cio em que a violação tenha sido praticada, ou da
Percebe-se ainda que a morte não interrompe a reunião ou assembléia geral que dela deva tomar
prescrição, a não ser que haja alguma causa suspensi- conhecimento;
va (arts. 197 e 198 do CC): c) para os liquidantes, da primeira assembléia
semestral posterior à violação;
VIII - a pretensão para haver o pagamento de título
Art. 196 A prescrição iniciada contra uma pessoa
de crédito, a contar do vencimento, ressalvadas as
continua a correr contra o seu sucessor
disposições de lei especial;
IX - a pretensão do beneficiário contra o segurador,
Por último, vale dizer que os prazos prescricionais e a do terceiro prejudicado, no caso de seguro de
variam conforme o direito material envolvido. Esses responsabilidade civil obrigatório.
prazos podem ser de 1, 2, 3, 4 ou 5 anos, segundo as § 4º Em quatro anos, a pretensão relativa à tutela, a
regras específicas do art. 206 do Código Civil. Se a contar da data da aprovação das contas.
hipótese concreta não couber em nenhuma previsão § 5º Em cinco anos:
do artigo, será aplicado o prazo geral de 10 anos, con- I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas cons-
forme indica o art. 205 do mesmo diploma. tantes de instrumento público ou particular;
II - a pretensão dos profissionais liberais em geral,
Art. 205 A prescrição ocorre em dez anos, quando procuradores judiciais, curadores e professores
a lei não lhe haja fixado prazo menor. pelos seus honorários, contado o prazo da conclu-
Art. 206 Prescreve: são dos serviços, da cessação dos respectivos con-
§ 1º Em um ano: tratos ou mandato;
I - a pretensão dos hospedeiros ou fornecedores de III - a pretensão do vencedor para haver do vencido
víveres destinados a consumo no próprio estabele- o que despendeu em juízo.
cimento, para o pagamento da hospedagem ou dos
alimentos; DECADÊNCIA
II - a pretensão do segurado contra o segurador, ou
a deste contra aquele, contado o prazo: No estudo da decadência, importa-nos entender,
a) para o segurado, no caso de seguro de responsa- primeiramente, o conceito de direito potestativo.
bilidade civil, da data em que é citado para respon- Ele é uma manifestação unilateral de vontade que
der à ação de indenização proposta pelo terceiro atribui ao titular o poder de constituir, modificar ou
extinguir uma situação que envolva terceiro, devendo
DIREITO CIVIL I

prejudicado, ou da data que a este indeniza, com a


anuência do segurador; este sujeitar-se aos efeitos. Observe a seguir algumas
b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato características importantes:
gerador da pretensão;
III - a pretensão dos tabeliães, auxiliares da justiça, z Os direitos potestativos são insusceptíveis de vio-
serventuários judiciais, árbitros e peritos, pela per- lação, já que a eles não se opõe um dever de quem
cepção de emolumentos, custas e honorários; quer que seja;
IV - a pretensão contra os peritos, pela avaliação z O direito potestativo faz gerar um estado de sujei-
dos bens que entraram para a formação do capital ção da outra parte;
7 (STJ, EDcl no AgRg no AResp 145050 SP 2012/0028988, data de publicação: 21/11/2012). 285
z O exercício dos direitos potestativos depende apenas da vontade de seu titular;
z Exemplos: exercício da preferência da coisa imóvel (art. 516), pedir a redibição ou abatimento do preço da
coisa viciada (art. 445), exigir a anulação do negócio jurídico (art. 179).

Nesse sentido, ao direito potestativo aplica-se a decadência, que é a perda do próprio direito material por meio
da extinção não somente do direito de ação e de defesa, como também do direito potestativo, quando houver
prazo legal para seu exercício.
Contudo, não havendo prazo em lei para o exercício de determinado direito potestativo, ele não estará sujeito
à extinção e não se submeterá à decadência.
Em regra, o prazo decadencial não sofre efeitos de interrupção, suspensão ou impedimento, havendo uma
única exceção a fim de proteger os absolutamente incapazes, pois, nesta hipótese, o prazo não correrá:

Art. 207 Salvo disposição legal em contrário, não se aplicam à decadência as normas que impedem, suspendem ou
interrompem a prescrição.
Art. 208 Aplica-se à decadência o disposto nos arts. 195 e 198, inciso I.

Diferentemente da prescrição, a decadência poderá ser, não somente legal, como também definida por con-
venção. Logo, as espécies de decadência são:

z Decadência legal: Advém da lei. Um exemplo de decadência legal é o prazo previsto no art. 178 do CC para
anulação de negócio jurídico que tenha sido praticado com algum vício de consentimento, por exemplo, ou por
incapaz. Além de a decadência legal ser irrenunciável (art. 209 do CC), o juiz deverá reconhecê-la de ofício (art.
210 do CC). Vejamos:

Art. 209 É nula a renúncia à decadência fixada em lei.


Art. 210 Deve o juiz, de ofício, conhecer da decadência, quando estabelecida por lei.

z Decadência convencional: Originada da previsão entre as partes, sendo renunciável. Alguns apontamentos
importantes acerca da decadência celebrada entre as partes são:

„ Não pode ser reconhecida pelo juiz de ofício;


„ Primeiro, há o transcurso da decadência voluntária e, só depois, da decadência legal. Exemplo: A e B cele-
braram contrato de compra e venda. O vendedor concede o prazo de 1 ano para B alegar qualquer vício.
Findo o prazo contratual, passa a correr o prazo legal (este sendo irrenunciável);
„ A decadência convencional poderá sofrer interrupção e suspensão;
„ Entende-se também que a propositura da ação interrompe a decadência.

À semelhança da prescrição, a decadência também pode ser arguida em qualquer fase do processo, desde a
contestação até o recurso. Todavia, nos tribunais superiores somente poderá ser alegada caso já tenha sido defen-
dida nas instâncias inferiores (prequestionamento). Veja-se:

Art. 211 Se a decadência for convencional, a parte a quem aproveita pode alegá-la em qualquer grau de jurisdição,
mas o juiz não pode suprir a alegação.

Distinções entre Prescrição e Decadência

Para consolidarmos o aprendizado, fique atento às distinções entre prescrição e decadência:

PRESCRIÇÃO DECADÊNCIA
A prescrição extingue a pretensão A prescrição extingue a pretensão
Pelo Objeto
(Direito Processual de ação e defesa) (Direito Processual de ação e defesa)
A prescrição pode ser interrompida e A decadência legal não sofre interrup-
Quanto à Interrupção e Suspensão
suspensa ção nem suspensão
A decadência pode vir da lei ou de con-
Quanto à Fonte A prescrição deriva apenas de lei
venção entre as partes
Os prazos prescricionais são indicados Os prazos da decadência são indicados
Prazo
em anos em dias, meses ou anos

PROVA
Segundo Daniel Carnachioni, a teoria da prova no Código Civil está restrita à demonstração de um fato jurídico
(2020, p. 576). O art. 212, do mencionado diploma, expõe os tipos de prova:

Art. 212 Salvo o negócio a que se impõe forma especial, o fato jurídico pode ser provado mediante:
286 I - confissão;
II - documento; V - referência ao cumprimento das exigências legais
III - testemunha; e fiscais inerentes à legitimidade do ato;
IV - presunção; VI - declaração de ter sido lida na presença das
V - perícia. partes e demais comparecentes, ou de que todos a
leram;
Tipos de Prova VII - assinatura das partes e dos demais compare-
centes, bem como a do tabelião ou seu substituto
legal, encerrando o ato.
Confissão Documento Testemunha
§ 2º Se algum comparecente não puder ou não sou-
ber escrever, outra pessoa capaz assinará por ele,
Presunção Perícia a seu rogo.
§ 3º A escritura será redigida na língua nacional.
§ 4º Se qualquer dos comparecentes não souber a
O primeiro meio de prova citado é a confissão. No
língua nacional e o tabelião não entender o idio-
art. 213, o legislador associou a eficácia da confissão ma em que se expressa, deverá comparecer tra-
à capacidade civil. Por consequência, só será aceita a dutor público para servir de intérprete, ou, não o
confissão de quem tem a sua capacidade civil plena. havendo na localidade, outra pessoa capaz que, a
O parágrafo único admite a possibilidade de a juízo do tabelião, tenha idoneidade e conhecimento
confissão ser realizada pelo representante (legal ou bastantes.
convencional). Sendo a representação legal, o repre- § 5º Se algum dos comparecentes não for conhecido
sentante estará adstrito aos ditames da lei no que diz do tabelião, nem puder identificar-se por documen-
respeito à proteção do incapaz. Sendo o caso de repre- to, deverão participar do ato pelo menos duas teste-
sentação convencional, o representante deverá se munhas que o conheçam e atestem sua identidade.
submeter aos limites estabelecidos no mandato:
Como se percebe da leitura, algumas característi-
Art. 213 Não tem eficácia a confissão se provém de cas da escritura pública merecem ser evidenciadas:
quem não é capaz de dispor do direito a que se refe-
rem os fatos confessados.
z É permitida a assinatura a rogo (em substituição)
Parágrafo único. Se feita a confissão por um repre-
sentante, somente é eficaz nos limites em que este de quem não puder ou não souber escrever;
pode vincular o representado. z A escritura, por ser um documento público, deve
ser redigida em língua nacional, ou seja, em ver-
Ainda sobre a confissão, o art. 214 prevê a sua irre- náculo português;
vogabilidade como regra. Admite-se, porém, a des- z Se os interessados não conhecerem a língua nacio-
constituição da confissão se comprovados o erro ou a nal e o tabelião não compreender o idioma no qual
coação, que são vícios do consentimento. Esses vícios eles se expressam, ficará autorizada a tradução
maculam a vontade e comprometem a espontaneida- por um tradutor público. Não havendo na região,
de do sujeito que realiza a confissão, cabendo a invali- o tradutor poderá ser qualquer pessoa capaz com
dade do ato. Vejamos o artigo: conhecimento e idoneidade;
z Os interessados na escritura deverão se identi-
Art. 214 A confissão é irrevogável, mas pode ser ficar por documento. Não sendo possível e não
anulada se decorreu de erro de fato ou de coação. sendo um deles reconhecido pelo tabelião, este
deverá chamar duas testemunhas que atestem sua
Outro meio de prova é o documento. Sua disciplina identidade.
está entre os arts. 215 e 226, do Código Civil. O art. 215
menciona a escritura pública como documento con- Os arts. 216 e 217, do Código Civil, atestam que as
feccionado em cartório (tabelionado de notas). Esse certidões e cópias extraídas ou subscritas por autori-
documento presume-se veraz por ter sido elaborado dades competentes possuem a mesma força que os
por uma autoridade pública. originais:
Os incisos do § 1º, do art. 215, mencionam os requi-
sitos necessários da escritura pública, além daqueles Art. 216 Farão a mesma prova que os originais as
que podem ser exigidos por leis especiais. Vejamos: certidões textuais de qualquer peça judicial, do proto-
colo das audiências, ou de outro qualquer livro a car-
Art. 215 A escritura pública, lavrada em notas de go do escrivão, sendo extraídas por ele, ou sob a sua
tabelião, é documento dotado de fé pública, fazendo vigilância, e por ele subscritas, assim como os trasla-
prova plena. dos de autos, quando por outro escrivão consertados.
§ 1º Salvo quando exigidos por lei outros requisitos, Art. 217 Terão a mesma força probante os trasla-
a escritura pública deve conter: dos e as certidões, extraídos por tabelião ou oficial
I - data e local de sua realização; de registro, de instrumentos ou documentos lança-
II - reconhecimento da identidade e capacidade
DIREITO CIVIL I

dos em suas notas.


das partes e de quantos hajam comparecido ao
ato, por si, como representantes, intervenientes ou
Nesse mesmo sentido, o art. 218, do Código Civil,
testemunhas;
III - nome, nacionalidade, estado civil, profissão, reforça que as cópias e certidões serão considerados
domicílio e residência das partes e demais compa- instrumentos públicos quando seus originais forem
recentes, com a indicação, quando necessário, do produzidos em juízo.
regime de bens do casamento, nome do outro côn-
juge e filiação; Art. 218 Os traslados e as certidões considerar-se-
IV - manifestação clara da vontade das partes e dos -ão instrumentos públicos, se os originais se houve-
intervenientes; rem produzido em juízo como prova de algum ato. 287
Dica obrigações convencionais de qualquer valor; mas
os seus efeitos, bem como os da cessão, não se ope-
O Enunciado 297, da IV Jornada de Direito Civil, ram, a respeito de terceiros, antes de registrado no
trouxe um importante entendimento acerca dos registro público.
documentos eletrônicos, realidade pertinente Parágrafo único. A prova do instrumento particu-
aos processos eletrônicos: “O documento ele- lar pode suprir-se pelas outras de caráter legal.
trônico tem valor probante, desde que seja apto
a conservar a integridade de seu conteúdo e O parágrafo único, do art. 221, como se percebe,
idôneo a apontar a sua autoria, independente- autoriza outras provas de caráter legal a suprirem
mente da tecnologia empregada”. a prova que deveria ser realizada pelo documento
particular.
Acerca dos documentos particulares, ou seja, aque- Dando continuidade ao meio de prova documen-
les realizados apenas entre as partes, sem a presença tal, o art. 222 é específico acerca do telegrama. Pon-
de autoridade pública, o art. 219, do Código Civil, traz dera que, sendo sua veracidade contestada, deve ser
que as declarações ali feitas são presumidamente conferido com o original assinado:
verdadeiras em relação aos assinantes:
Art. 222 O telegrama, quando lhe for contestada a
Art. 219 As declarações constantes de documentos autenticidade, faz prova mediante conferência com
assinados presumem-se verdadeiras em relação o original assinado.
aos signatários.
Parágrafo único. Não tendo relação direta, porém, Acerca da cópia de documento particular, quando
com as disposições principais ou com a legitimi- conferida pelo tabelião de notas, terá validade como
dade das partes, as declarações enunciativas não meio de prova. Todavia, prevê o art. 223, da lei civil,
eximem os interessados em sua veracidade do ônus que, caso sua autenticidade seja questionada, deverá
de prová-las. ser exibido o original:

Em algumas situações, a validade de um ato fica Art. 223 A cópia fotográfica de documento, confe-
condicionada à anuência de terceiro. Reza o art. 220, rida por tabelião de notas, valerá como prova de
do Código Civil, que a autorização deve vir no próprio declaração da vontade, mas, impugnada sua auten-
documento: ticidade, deverá ser exibido o original.
Parágrafo único. A prova não supre a ausência do
Art. 220 A anuência ou a autorização de outrem, título de crédito, ou do original, nos casos em que a
necessária à validade de um ato, provar-se-á do lei ou as circunstâncias condicionarem o exercício
mesmo modo que este, e constará, sempre que se do direito à sua exibição.
possa, do próprio instrumento.
O parágrafo único, do artigo acima mencionado,
É o que ocorre, por exemplo, com os cônjuges ao valendo-se do princípio da cartularidade do direito
realizar transações envolvendo bens imóveis. Esses cambiário, lembra que o título de crédito é imprescin-
negócios ficam condicionados à autorização do outro dível para os casos em que a lei ou as circunstâncias
cônjuge (exceto se o casamento se der sob o regime de condicionam o direito de crédito a sua exibição. Desse
separação absoluta de bens), nos termos do art. 1.647, modo, a simples cópia não será suficiente para o exer-
do Código Civil: cício da pretensão.
O art. 224, do Código Civil, volta a mencionar a
Art. 1.647 Ressalvado o disposto no art. 1.648, importância de os documentos estarem redigidos em
nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do
língua pátria. O artigo aplica-se aos documentos par-
outro, exceto no regime da separação absoluta:
ticulares e pondera que, se o documento for redigido
I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;
em língua estrangeira, deverá ser traduzido em portu-
II - pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens
ou direitos; guês para surtir efeitos legais:
III - prestar fiança ou aval;
IV - fazer doação, não sendo remuneratória, de Art. 224 Os documentos redigidos em língua estran-
bens comuns, ou dos que possam integrar futura geira serão traduzidos para o português para ter
meação. efeitos legais no País.
Parágrafo único. São válidas as doações nupciais
feitas aos filhos quando casarem ou estabelecerem Documentos eletrônicos ou mecânicos foram men-
economia separada. cionados no art. 225, do Código em estudo. O disposi-
tivo retrata que esses documentos possuem validade
O art. 221, do Código Civil, mostra que o documen- como meio de prova, mas não afasta a possibilidade
to particular feito e assinado por quem tem capacida- de a parte contrária impugnar a exatidão do conteúdo:
de civil é apto a provar as obrigações ali assumidas.
Ou seja, não é necessário que haja confirma- Art. 225 As reproduções fotográficas, cinematográficas,
ção de testemunhas para o ato. Vale esclarecer que, os registros fonográficos e, em geral, quaisquer outras
caso as partes interessadas queiram dar publicidade reproduções mecânicas ou eletrônicas de fatos ou de
ao documento, este deve ser registrado no cartório coisas fazem prova plena destes, se a parte, contra quem
competente: forem exibidos, não lhes impugnar a exatidão.

Art. 221 O instrumento particular, feito e assina- No âmbito empresarial, a Lei Civil faz menção
do, ou somente assinado por quem esteja na livre aos livros e às fichas dos empresários e sociedades,
288 disposição e administração de seus bens, prova as e salienta que tais documentos são meios de prova
contra e a favor dos seus membros, desde que não Em atendimento à lei de inclusão dos portadores
apresentem vícios: de deficiência (Lei 13.146, de 2015), o parágrafo segun-
do, do art. 228, do Código Civil, deixa claro que a pes-
Art. 226 Os livros e fichas dos empresários e socieda- soa com deficiência poderá testemunhar nas mesmas
des provam contra as pessoas a que pertencem, e, em condições que as demais pessoas, afastando qualquer
seu favor, quando, escriturados sem vício extrínseco
tratamento discriminatório:
ou intrínseco, forem confirmados por outros subsídios.
Parágrafo único. A prova resultante dos livros e
fichas não é bastante nos casos em que a lei exige § 2º A pessoa com deficiência poderá testemunhar
escritura pública, ou escrito particular revestido de em igualdade de condições com as demais pessoas,
requisitos especiais, e pode ser ilidida pela compro- sendo-lhe assegurados todos os recursos de tec-
vação da falsidade ou inexatidão dos lançamentos. nologia assistiva. (Incluído pela Lei nº 13.146, de
2015) (Vigência)
Finalizados os artigos correspondentes aos docu-
mentos como meio de prova, o art. 227 evidencia a Finalizando os dispositivos correspondentes aos
prova testemunhal. Cumpre dizer que o caput do refe- tipos de prova, os arts. 231 e 232 tratam da prova peri-
rido artigo foi revogado pelo Código de Processo Civil cial. Antes, cumpre esclarecer que os arts. 229 e 230,
(Lei 13.105, de 2015), restando apenas a previsão de sobre presunções, foram revogados pelo Código de
que a prova testemunhal serve como prova subsidiá- Processo Civil (Lei 13.105, de 2015). Vejamos os arts.
ria ou complementar dos negócios jurídicos escritos. 231 e 232:
Em outras palavras, para se provar a existência
de um negócio (qualquer que seja seu valor), a prova Art. 231 Aquele que se nega a submeter-se a exame
exclusivamente testemunhal não é suficiente, deven- médico necessário não poderá aproveitar-se de sua
do vir acompanhada de prova escrita: recusa.
Art. 232 A recusa à perícia médica ordenada pelo
Art. 227 (Revogado pela Lei n º 13.105, de 2015)
juiz poderá suprir a prova que se pretendia obter
(Vigência)
com o exame.
Parágrafo único. Qualquer que seja o valor do negó-
cio jurídico, a prova testemunhal é admissível como
subsidiária ou complementar da prova por escrito. Significa dizer que o sujeito, ao se negar a realizar
prova médica pericial, não pode se valer da escusa
No sentido do parágrafo único, do art. 227, do Códi- para afastar qualquer responsabilidade que lhe caiba.
go Civil, vale lembrar o conteúdo da Súmula 149, do A recusa é legítima, em atendimento à tutela da perso-
STJ: “A prova exclusivamente testemunhal não basta nalidade e dignidade da pessoa natural.
à comprovação da atividade rurícola, para efeito da Importa dizer que a negativa da realização do
obtenção de benefício previdenciário”. exame não gera, automaticamente, nenhuma presun-
O Código deixa claro quais as pessoas que não ção de responsabilidade. Antes, o juiz deverá avaliar
poderão ser testemunhas. Vejamos: a recusa juntamente com outras provas produzidas
pelo interessado (CARNACCHIONI, 2020, p. 583).
Art. 228 Não podem ser admitidos como testemunhas:
I - os menores de dezesseis anos;
II - (Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.146, Dica
de 2015) (Vigência)
O art. 232, do Código Civil, deu origem ao enun-
III - (Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.146,
de 2015) (Vigência) ciado 301 da Súmula do STJ: “Em ação investi-
IV - o interessado no litígio, o amigo íntimo ou o gatória, a recusa do suposto pai a submeter-se
inimigo capital das partes; ao exame de DNA induz presunção juris tantum
V - os cônjuges, os ascendentes, os descendentes de paternidade”.
e os colaterais, até o terceiro grau de alguma das
partes, por consangüinidade, ou afinidade.
Em finalização, é importante lembrar que o Código
de Processo Civil (CPC) também traz dispositivos espe-
Sobre os sujeitos mencionados, vale dizer que os
cíficos sobre provas aplicadas ao processo. Portanto,
menores de 16 anos, sendo absolutamente incapazes,
não têm a sua vontade reconhecida pelo Direito Civil. caso o leitor queira se aprofundar na temática, reco-
Já aqueles expostos nos incisos IV e V foram excluídos mendamos a leitura dos arts. 369 a 484, do CPC.
em razão de uma possível parcialidade que possam
apresentar pelo envolvimento com o interessado na REFERÊNCIAS
prova. No entanto, o parágrafo primeiro, do mesmo
artigo, flexibiliza a participação dessas pessoas que, CARNACHIONI, Daniel. Manual de Direito Civil:
DIREITO CIVIL I

em regra, não poderiam ser aceitas como testemunha: volume único. 3 ed. rev., ampl., e atual. Salvador:
Editora JusPodivm, 2020.
§ 1º Para a prova de fatos que só elas conheçam, FIUZA, César. Direito Civil: curso completo. 18 ed.
pode o juiz admitir o depoimento das pessoas a rev., atual., e ampl. São Paulo: Editora Revista dos
que se refere este artigo. (Redação dada pela Lei nº Tribunais, 2015.
13.146, de 2015) (Vigência)
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Ro-
dolfo. Novo curso de Direito Civil: parte geral. 18
Significa que, em casos excepcionais, quando ape-
nas as pessoas mencionadas no art. 228 souberem dos ed.,ver., ampl., e atual. São Paulo: Saraiva: 2016.
fatos, o juiz poderá admitir seus depoimentos. 289
z Objeto da obrigação: o objeto também é tratado
OBRIGAÇÕES pela expressão “prestação”. Pode ser entendido
como uma conduta humana (ação ou omissão)
CARACTERÍSTICAS que gera a obrigação para o devedor, classificada
em ato de dar, fazer ou não fazer. Nesse caso, o
A matéria de obrigações, à primeira vista, pode pare- objeto é a obrigação que poderá ser cobrada pelo
cer de difícil compreensão, mas não se deixe levar pelo credor e devida pelo devedor;
estigma de que o direito civil apresenta conteúdos com- z Vínculo jurídico: é a relação existente entre cre-
plexos. Pelo contrário, é nessa disciplina que vemos a dor e devedor, o que possibilita que o credor cobre
organização de diversos institutos do nosso cotidiano. do devedor a prestação da obrigação. É composto
Pense na estrutura econômica, nas negociações que por dois elementos: débito e responsabilidade civil.
permeiam nosso mercado. Pense na compra e venda de
Sobre o débito, podemos entendê-lo como “vínculo
produtos, imóveis, entre outros processos comuns para
imaterial”, é o dever que temos, social e legalmente,
o bom funcionamento estrutural e financeiro da nossa
de cumprir com a obrigação. Já a responsabilida-
sociedade. É justamente sobre isso que iremos tratar no
de civil é o “vínculo material” e pode ser entendida
direito das obrigações.
como possibilidade de o credor cobrar judicialmente
Nesse contexto, pensemos nas obrigações como a
o cumprimento da obrigação pelo devedor.
matéria que visa disciplinar as relações jurídicas esta-
belecidas entre pessoas nas quais o objeto acordado pos-
sua viés econômico. Nas palavras do doutrinador Carlos Vamos trabalhar de maneira aprofundada a situa-
Roberto Gonçalves, temos que as obrigações são: ção. Imagine o seguinte:
Márcio é dono de uma loja de eletrodomésticos e
[...] o vínculo jurídico que confere ao credor (sujeito eletrônicos. Certo dia, Pedro decide ir até a loja com o
ativo) o direito de exigir do devedor (sujeito passivo) interesse em adquirir um celular de última geração,
o cumprimento de determinada prestação. Corres- avaliado em R$ 4.500,00. Após analisar o produto,
ponde a uma relação de natureza pessoal, de crédi- Pedro decide pela compra. Márcio, por sua vez, é res-
to e débito, de caráter transitório (extingue-se pelo ponsável por separar o produto do estoque, embru-
cumprimento), cujo objeto consiste numa prestação lhar e entregar a Pedro. Assim que Márcio entrega
economicamente aferível8. o aparelho, Pedro se obriga a pagar pelo produto,
entregando a Márcio o valor cobrado.
Para que a explicação não seja dificultada, vamos
esclarecer alguns termos utilizados acima. Entenda Vínculo Jurídico — ocorreu
“vínculo jurídico” como uma ligação ou relação — com a entrega do celular de
nesse caso, entre pessoas — que se orienta pelas leis Márcio para Pedro
e normas vigentes. Justamente por ser uma relação Credor — Márcio Devedor — Pedro
entre pessoas o autor dispõe que as obrigações pos-
suem natureza pessoal.
Já o crédito e o débito são existentes por envol-
verem questões econômicas nessa relação jurídica,
o que o autor novamente trabalha quando se refere
ao fato de o objeto da obrigação ser economicamen-
te aferível; ou seja, o que está sendo acordado possui
um preço, um valor econômico envolvido, não é algo
totalmente abstrato. Prestação ou objeto
Sobre o caráter transitório, podemos entendê-lo da obrigação —
Pagamento do celular
como um aspecto que não foi feito para durar para
sempre, pelo contrário, é esperado pelas partes que a
obrigação seja extinta quando ambas cumprirem com Nesse caso, Márcio é o credor. Ou seja, é o polo
seus papéis. ativo da relação, é ao credor que o devedor promete a
Por essa breve exposição, notamos os elementos prestação. Veja que, no exemplo acima, Pedro prome-
constitutivos das obrigações, quais sejam: te a Márcio o pagamento do celular.
Dessa forma, é evidente que, se Márcio é o credor,
z Sujeito Ativo e Sujeito Passivo: são os credores Pedro só poderá ser o devedor. O devedor é o polo
e os devedores, ou seja, as partes que estão envol- passivo da relação obrigacional, é sobre ele que recai
vidas na obrigação. É importante acrescentar que a obrigação de cumprir a prestação que foi acorda-
o sujeito ativo pode ser pessoa física ou jurídica, da — no caso de Pedro, a prestação, ou seja, o obje-
capaz ou incapaz. É certo que, no caso dos incapa- to da obrigação é o pagamento do aparelho celular
zes, eles deverão ser representados ou assistidos (modalidade de dar).
por seu representante legal; Outro ponto para o qual chamamos sua atenção é
para o vínculo estabelecido entre Márcio e Pedro. Aci-
Dica ma pontuamos que o objeto da obrigação deveria ser
economicamente aferível. Veja que, no exemplo, rapi-
Sobre os sujeitos absolutamente ou relativamen- damente identificamos que o celular negociado pos-
te incapazes para o direito civil, é recomendada sui um valor de compra. Assim, quando Pedro decide
a leitura dos arts. 3º e 4º, do Código Civil. São ficar com o produto, ele se compromete a pagar o
pontos recorrentes em provas de concurso e valor referido, ou seja, o valor do aparelho torna-se o
merecem atenção. valor da prestação.
290 8 GONÇALVES, C. R. Direito civil brasileiro. v. 2. São Paulo: Saraiva Jur, 2019.
Assim, guarde que os elementos constitutivos das Dos dispositivos acima mencionados, devemos
obrigações são: fazer algumas pontuações. O principal interessado no
adimplemento da obrigação é o devedor. Contudo, o
z Sujeitos (credor e devedor); Código Civil, no art. 304, traz a figura do interessado e
z Objeto da obrigação; do terceiro não interessado.
z Vínculo jurídico. O interessado, juridicamente falando, é a pessoa
que está ligada à obrigação estabelecida entre o deve-
Além dos pontos já destacados, é importante tra- dor e o credor e que, dependendo do objeto da obriga-
tar de alguns aspectos acerca do objeto das obriga- ção, pode sofrer impactos em seu próprio patrimônio
ções. Como já explicamos, o objeto das obrigações é a
caso o devedor não seja adimplente. No caso dos inte-
prestação debitória do devedor em relação ao credor.
Mas, para que tenhamos uma relação jurídica válida, ressados, podemos citar figuras como o fiador, o hipo-
alguns requisitos deverão ser cumpridos no que tange tecário, o herdeiro etc.
ao objeto tratado entre as partes. O terceiro não interessado, por sua vez, é o indi-
O objeto deve ser lícito, possível, determinado víduo que, ainda que não possua vínculo direto com
ou determinável. a obrigação, decide pela sua extinção por questões
Lícito é o objeto que não contraria as disposições diversas do interesse jurídico. Como exemplo, pode-
legais, ou seja, está em conformidade com a lei. mos citar o caso do pai que decide quitar a dívida do
No que se refere à possibilidade do objeto, temos filho por questões éticas e morais.
que ela pode ser averiguada no campo material ou Ainda sobre quem poderá pagar a dívida, temos o
jurídico. Um clássico exemplo de objeto impossível é art. 305, que deixa evidente que só haverá a possibi-
a negociação de um pedaço da Lua.
lidade de reembolso para os casos em que o terceiro
Sobre a determinação do objeto, temos aqueles
não interessado faça o pagamento em seu nome. O
objetos que serão específicos, por exemplo, um imóvel
com o registro X, situado na cidade Y. terceiro não interessado, como visto na leitura do art.
Já outros objetos poderão ser determináveis, ou 305, não poderá onerar a posição do devedor pagando
seja, não são únicos, como o imóvel, mas possuem suas valor superior ao devido ou em data anterior ao ven-
peculiaridades, como o celular citado no exemplo aci- cimento da obrigação. O valor a ser pago quando do
ma. Certamente, há mais celulares do mesmo modelo reembolso estará limitado ao valor do débito e apenas
adquirido por Pedro. A determinação é importante para poderá ser cobrado na data do vencimento.
que haja segurança jurídica nas relações e negociações. Por outro lado, o art. 306 dispõe que a obrigação
quitada por terceiro com desconhecimento ou opo-
ADIMPLEMENTO PELO PAGAMENTO sição do devedor não enseja ao terceiro que pagou a
dívida o direito a perceber reembolso pelo que gastou,
O adimplemento das obrigações pelo pagamento caso o devedor tenhas recursos para ilidir a ação.
está previsto no Código Civil dos arts.304 ao 333. Acer- Portanto, na hipótese em que o devedor possui
ca do termo “adimplemento”, temos que é utilizado condições de quitar integralmente a dívida e, ainda
no mundo jurídico como sendo o cumprimento de
assim, um terceiro paga a obrigação — mesmo que
uma obrigação, ou de uma determinação.
Conforme já mencionado, as obrigações possuem contrária à vontade do devedor — não haverá obriga-
caráter transitório, ou seja, é esperado que deixem de ção sobre o reembolso.
existir em algum momento. Nesse sentido, uma das O art. 307, por sua vez, refere-se à possibilidade de
formas de extinção da obrigação é pelo seu cumpri- o pagamento não ser feito em dinheiro, mas, sim, em
mento. Neste tópico abordaremos o cumprimento da transmissão de propriedade de outro bem móvel ou
obrigação pelo pagamento, é o que ocorre nos casos imóvel. No caso da transmissão de imóvel, o legislador
de compra e venda, por exemplo. deixou claro que a transmissão só poderá ser feita por
Os arts. 304 a 307 discorrem sobre quem poderá quem detém o título real sobre o bem imóvel.
fazer o adimplemento da obrigação, vejamos: Acerca do parágrafo único, podemos considerá-lo
como uma exceção, pois dispõe da possibilidade de
Art. 304 Qualquer interessado na extinção da dívi- entregar um objeto fungível para o adimplemento
da pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos da obrigação. Bem fungível é aquele que se consome,
meios conducentes à exoneração do devedor.
porém existe a possibilidade de ser substituído por
Parágrafo único. Igual direito cabe ao terceiro não
outro de mesma espécie, qualidade ou quantidade.
interessado, se o fizer em nome e à conta do deve-
dor, salvo oposição deste. Vamos pensar na hipótese de o objeto da obrigação
Art. 305 O terceiro não interessado, que paga a ser um celular; há a possibilidade de ser dado outro
dívida em seu próprio nome, tem direito a reem- celular para o credor. Nessa situação deverão ser ana-
bolsar-se do que pagar; mas não se sub-roga nos lisados alguns pontos:
direitos do credor.
Parágrafo único. Se pagar antes de vencida a dívi- z Se o devedor agiu de boa-fé, ou seja, se não entre-
da, só terá direito ao reembolso no vencimento. gou outro objeto com a intenção de prejudicar o
Art. 306 O pagamento feito por terceiro, com des-
DIREITO CIVIL I

credor;
conhecimento ou oposição do devedor, não obriga z E se o credor também aceitou de boa-fé essa forma
a reembolsar aquele que pagou, se o devedor tinha de adimplemento. Caso tenha sido, haverá a extin-
meios para ilidir a ação.
ção da ação, ou seja, o seu cumprimento.
Art. 307 Só terá eficácia o pagamento que impor-
tar transmissão da propriedade, quando feito por
quem possa alienar o objeto em que ele consistiu. Agora que já falamos sobre o devedor, os arts. 308
Parágrafo único. Se se der em pagamento coisa fun- a 312 trazem hipóteses acerca dos credores, o polo ati-
gível, não se poderá mais reclamar do credor que, vo da obrigação. Vejamos:
de boa-fé, a recebeu e consumiu, ainda que o solven-
te não tivesse o direito de aliená-la. 291
Art. 308 O pagamento deve ser feito ao credor ou a moeda nacional, excetuados os casos previstos na
quem de direito o represente, sob pena de só valer legislação especial.
depois de por ele ratificado, ou tanto quanto rever- Art. 319 O devedor que paga tem direito a quitação
ter em seu proveito. regular, e pode reter o pagamento, enquanto não
Art. 309 O pagamento feito de boa-fé ao credor lhe seja dada.
putativo é válido, ainda provado depois que não Art. 320 A quitação, que sempre poderá ser dada por
era credor. instrumento particular, designará o valor e a espécie
Art. 310 Não vale o pagamento cientemente feito da dívida quitada, o nome do devedor, ou quem por
ao credor incapaz de quitar, se o devedor não pro- este pagou, o tempo e o lugar do pagamento, com a
var que em benefício dele efetivamente reverteu. assinatura do credor, ou do seu representante.
Art. 311 Considera-se autorizado a receber o paga- Parágrafo único. Ainda sem os requisitos estabelecidos
mento o portador da quitação, salvo se as circuns- neste artigo valerá a quitação, se de seus termos ou
tâncias contrariarem a presunção daí resultante. das circunstâncias resultar haver sido paga a dívida.
Art. 312 Se o devedor pagar ao credor, apesar de Art. 321 Nos débitos, cuja quitação consista na
intimado da penhora feita sobre o crédito, ou da devolução do título, perdido este, poderá o devedor
impugnação a ele oposta por terceiros, o pagamen- exigir, retendo o pagamento, declaração do credor
to não valerá contra estes, que poderão constranger que inutilize o título desaparecido.
o devedor a pagar de novo, ficando-lhe ressalvado o Art. 322 Quando o pagamento for em quotas perió-
regresso contra o credor. dicas, a quitação da última estabelece, até prova
em contrário, a presunção de estarem solvidas as
Quando pensamos em credor, pensamos naque- anteriores.
le que originalmente detém o crédito da obrigação, Art. 323 Sendo a quitação do capital sem reserva
no caso, a pessoa que estabeleceu a obrigação com o dos juros, estes presumem-se pagos.
Art. 324 A entrega do título ao devedor firma a pre-
devedor. No entanto, o art. 308 traz a possibilidade de
sunção do pagamento.
o adimplemento ser pago aos representantes do cre-
Parágrafo único. Ficará sem efeito a quitação assim
dor, como, por exemplo, os assistentes dos incapazes, operada se o credor provar, em sessenta dias, a fal-
os herdeiros, os procuradores especiais etc. ta do pagamento.
É interessante observar a figura do credor putati- Art. 325 Presumem-se a cargo do devedor as des-
vo, apresentada no art. 309, do Código Civil. O credor pesas com o pagamento e a quitação; se ocorrer
putativo é aquele que se apresenta a todos como cre- aumento por fato do credor, suportará este a des-
dor legítimo da dívida. Nesse caso, o devedor acredita pesa acrescida.
que o credor seja uma pessoa, quando, na verdade, é Art. 326 Se o pagamento se houver de fazer por
outra e efetua de boa-fé o pagamento da obrigação. O medida, ou peso, entender-se-á, no silêncio das par-
pagamento será válido, ainda que posteriormente se tes, que aceitaram os do lugar da execução.
comprove que não era o credor.
No entanto, no caso em que o devedor estiver Acerca das informações trazidas nos dispositivos
ciente de que o credor não é capaz pela quitação da acima suscitados, temos que compreender que as
obrigação, o pagamento só será considerado válido na obrigações ocorrem diante da anuência e convenção
hipótese em que o devedor comprove que os benefí- entre as partes (credor e devedor). Dessa forma, o seu
cios do pagamento foram direcionados ao credor, nos pagamento e a prova desse pagamento deverão seguir
moldes do que alude o art. 310, do Código Civil. o que foi convencionado.
Podemos pensar, nessa hipótese, no caso dos rela- Para facilitar a sua compreensão e memorização
tivamente incapazes (art. 4º, do Código Civil), uma vez do conteúdo, pense em um contrato entre credor e
que o pagamento feito a absolutamente incapaz — devedor. Agora, apresentaremos quais são as cláusu-
menores de 16 anos — é considerado nulo, tendo em las principais desse “contrato”:
vista a ausência de capacidade nas relações jurídicas.
Sobre o objeto e a prova do pagamento, temos os z O credor não é obrigado a aceitar o pagamento da
arts. 313 a 326, que expressam o seguinte: obrigação com outro bem, mesmo que esse bem
seja mais valioso que o que foi retratado nesse
Art. 313 O credor não é obrigado a receber pres- contrato. Pense na hipótese em que o objeto da
tação diversa da que lhe é devida, ainda que mais obrigação era um computador e o devedor queria
valiosa. que o credor aceitasse um carro. O credor não é
Art. 314 Ainda que a obrigação tenha por objeto obrigado a aceitar;
prestação divisível, não pode o credor ser obriga- z O pagamento deve ser feito como foi acordado
do a receber, nem o devedor a pagar, por partes, se entre as partes e, por isso, tanto o credor quanto
assim não se ajustou. o devedor não estão obrigados a receber ou pagar
Art. 315 As dívidas em dinheiro deverão ser pagas a dívida de forma dividida. Ou seja, a ideia de qui-
no vencimento, em moeda corrente e pelo valor tar a obrigação em “suaves prestações” depende
nominal, salvo o disposto nos artigos subseqüentes.
da anuência das partes. Pode ser que não tenha
Art. 316 É lícito convencionar o aumento progres-
sido convencionado no contrato, mas se as partes
sivo de prestações sucessivas.
Art. 317 Quando, por motivos imprevisíveis,
quiserem aceitar, será válido. Se uma das partes se
sobrevier desproporção manifesta entre o valor recusar, não será obrigada a ceder;
da prestação devida e o do momento de sua execu- z Além da possibilidade de dividir em prestações,
ção, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de na convenção entre credor e devedor também
modo que assegure, quanto possível, o valor real da pode estar prevista a possibilidade de aumentar
prestação. progressivamente o valor das prestações. E, caso
Art. 318 São nulas as convenções de pagamento haja uma desproporção entre o valor negociado
em ouro ou em moeda estrangeira, bem como para e o valor que será pago, o juiz poderá efetuar um
292 compensar a diferença entre o valor desta e o da reajuste;
z Não é válido o pagamento feito em ouro ou moeda Via de regra, o pagamento ocorre no domicílio
estrangeira. O legislador ainda deixa claro que as do devedor. Por domicílio do devedor, entende-se
dívidas em dinheiro deverão ser pagas: o local em que ele estabelece residência com ânimo
definitivo. Pode ser convencionado que o pagamen-
„ No seu vencimento; to seja feito na cidade em que o devedor esteja resi-
„ Em moeda nacional; dindo, ou em seu escritório profissional, entre outras
„ Pelo valor nominal. possibilidades.
No caso de as partes elegerem mais de um local
Pode ser que as partes cheguem a um acordo pos- para a quitação, o credor será o responsável por esco-
terior para que o pagamento ocorra de outra forma e lher em qual local deseja receber, nos termos do que
não haverá impedimento, mas se for feito em dinhei- alude o parágrafo único, do art. 327, do Código Civil.
ro, deve-se seguir esse parâmetro; Em situações que envolvam a transferência de pro-
priedade de imóveis, o local para a quitação é aquele
z O devedor, ao quitar a dívida, tem o direito de rece- em que o bem se encontra. Essa regra é comum no
ber um documento que alegue a quitação, ou seja, direito; vale a pena a sua memorização.
um recibo que comprove que adimpliu com a obri- O motivo grave citado no art. 329 pode ser inter-
gação. Caso o credor se recuse a fazê-lo, o devedor pretado de diversas formas, já que o legislador não
poderá “segurar”/reter o pagamento da dívida; deixou explícito quais hipóteses ele entenderia como
z No documento de quitação devem estar presentes motivo grave para a mudança do local da quitação.
algumas informações, como: Dessa forma, podemos entender como grave tudo
aquilo que pode gerar risco para as partes ou que
„ Nome do devedor; impossibilite a adequada adimplência da obrigação.
„ Data em que foi paga a dívida; Pensemos no caso de alagamentos, guerras civis ou,
„ Valor recebido; ainda, o fato de o devedor estar hospitalizado.
„ Tempo; Ainda que não esteja convencionado outro local, se o
„ Lugar em que foi recebido; devedor oferecer o pagamento por mais de uma vez em
„ Assinatura do credor. local diferente e o credor aceitar, presume-se que o local
acordado na convenção entre as partes está revogado.
Pense na hipótese de o credor e o devedor terem acor-
No entanto, o legislador não restringiu apenas a
dado o pagamento na Biblioteca Central da cidade de
essa forma. Caso haja documento de quitação (recibo)
Manga. No entanto, o devedor decide efetuar o pagamen-
com outros dados, será considerada válida, desde que
to de uma parte da obrigação na praça central da cidade
se possa conferir a adimplência do devedor.
e faz isso mais de uma vez; todas elas são aceitas pelo cre-
Ressaltamos que os tópicos trabalhados acima são
dor. Logo, pode-se presumir que a Biblioteca Central não
referentes aos artigos que consideramos mais impor-
é mais o local para quitação da dívida.
tante acerca do objeto de pagamento da dívida e sua
prova. No entanto, não fixe o seu conhecimento ape-
nas no que foi explicado. A leitura e a compreensão Dica
de todos os artigos desse bloco são muito importantes, Pense na convenção entre as partes como um
uma vez que eles podem ser cobrados em prova. acordo necessário para direcionar o adimplemen-
Para falar sobre o lugar do pagamento, o legisla- to da obrigação. Contudo, deve-se ter em mente
dor reservou os arts. 327 a 330, vejamos: que a extinção da obrigação é o foco da relação,
o que contribui para a flexibilidade das condutas.
Art. 327 Efetuar-se-á o pagamento no domicílio do
devedor, salvo se as partes convencionarem diver-
No que diz respeito ao tempo do pagamento,
samente, ou se o contrário resultar da lei, da natu-
reza da obrigação ou das circunstâncias.
temos os arts. 331 a 333, que estão expressos a seguir:
Parágrafo único. Designados dois ou mais lugares,
cabe ao credor escolher entre eles. Art. 331 Salvo disposição legal em contrário, não
Art. 328 Se o pagamento consistir na tradição de tendo sido ajustada época para o pagamento, pode
um imóvel, ou em prestações relativas a imóvel, o credor exigi-lo imediatamente.
far-se-á no lugar onde situado o bem. Art. 332 As obrigações condicionais cumprem-se
Art. 329 Ocorrendo motivo grave para que se não na data do implemento da condição, cabendo ao
credor a prova de que deste teve ciência o devedor.
efetue o pagamento no lugar determinado, poderá
Art. 333 Ao credor assistirá o direito de cobrar a
o devedor fazê-lo em outro, sem prejuízo para o
dívida antes de vencido o prazo estipulado no con-
credor.
trato ou marcado neste Código:
Art. 330 O pagamento reiteradamente feito em
I - No caso de falência do devedor, ou de concurso
outro local faz presumir renúncia do credor relati-
de credores;
DIREITO CIVIL I

vamente ao previsto no contrato.


II - Se os bens, hipotecados ou empenhados, forem
penhorados em execução por outro credor;
A convenção acerca do lugar do pagamento da III - Se cessarem, ou se se tornarem insuficientes,
dívida é muito importante para a organização das as garantias do débito, fidejussórias, ou reais, e o
obrigações. Nem o devedor nem o credor poderão devedor, intimado, se negar a reforçá-las.
exigir que a quitação ocorra em local distinto do que Parágrafo único. Nos casos deste artigo, se houver,
foi convencionado. Pode ocorrer que as partes entrem no débito, solidariedade passiva, não se reputará
em um acordo e escolham um local diferente? Pode, e, vencido quanto aos outros devedores solventes.
nesse caso, será válido.
293
Além de saber a forma e onde a obrigação será Art. 389 Não cumprida a obrigação, responde o
adimplida, o tempo também é um fator importan- devedor por perdas e danos, mais juros e atuali-
te para as obrigações. É de interesse tanto do credor zação monetária segundo índices oficiais regular-
quanto do devedor saber quando a obrigação será mente estabelecidos, e honorários de advogado.
extinta. Art. 390 Nas obrigações negativas o devedor é
Dessa forma, caso não fique convencionado pra- havido por inadimplente desde o dia em que execu-
zo e não haja disposição legal que determine tempo tou o ato de que se devia abster.
Art. 391 Pelo inadimplemento das obrigações res-
específico para o adimplemento da obrigação, o cre-
pondem todos os bens do devedor.
dor pode cobrá-la imediatamente (obrigações puras).
Art. 392 Nos contratos benéficos, responde por
Por outro lado, as obrigações impuras ou a termo são
simples culpa o contratante, a quem o contrato
aquelas com prazo fixado. aproveite, e por dolo aquele a quem não favoreça.
O art. 332 trata das obrigações condicionais que Nos contratos onerosos, responde cada uma das
tem seu cumprimento condicionado a evento futuro partes por culpa, salvo as exceções previstas em lei.
e incerto, ou seja, a obrigação apenas é implementada Art. 393 O devedor não responde pelos prejuízos
se cumprida a condição, por exemplo, pais prometem resultantes de caso fortuito ou força maior, se expres-
viagem ao filho caso este seja aprovado em vestibular. samente não se houver por eles responsabilizado.
A obrigação condicional pode ser suspensiva ou Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior
resolutiva. No primeiro caso, a eficácia do negócio jurí- verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não
dico fica suspensa até que seja cumprida a condição. eram possíveis evitar ou impedir.
Já no segundo caso, o evento da condição resolutiva
tem o condão de extinguir o direito após a ocorrência O art. 389 trabalha acerca do inadimplemento
de evento futuro e incerto, por exemplo, quando o pai absoluto, ou seja, aquele em que o devedor não cum-
diz ao filho que, quando ele conseguir emprego, não pre com o que foi convencionado. O legislador deixa
continuará a receber mesada. evidente que as consequências do ato do devedor
O art. 333 elenca hipóteses em que o legislador lis- seguirão no pagamento dos danos que causar, sejam
tou em um rol taxativo as possibilidades em que o cre- eles morais ou materiais, bem como, juros, atualiza-
dor pode cobrar o adimplemento pelo devedor antes ção do débito e o pagamento dos honorários advoca-
da data estipulada no contrato. Recomendamos a lei- tícios. Além disso, todos os bens do devedor poderão
tura e memorização das hipóteses trabalhadas nesse ser executados para que se cumpra com a obrigação
dispositivo. existente (art. 391).
O fato de o objeto da obrigação ser economicamen-
INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES: te aferível tem grande relevância para calcular e apli-
DISPOSIÇÕES GERAIS E MORA car até mesmo as consequências do inadimplemento.
Sobre a obrigação negativa exposta no art. 390,
Via de regra, as negociações e os acordos entre as precisamos entendê-la como ato de não fazer. Assim,
partes devem ser cumpridos. Espera-se que após a sua o seu inadimplemento ocorre quando o devedor pra-
convenção as obrigações sejam, rapidamente, satisfei- tica, ou seja, age de forma contrária ao que deveria
tas e extintas, tendo em vista seu caráter transitório. fazer (que seria o não agir).
Contudo, quando não há o cumprimento dessa obri- Para facilitar a sua compreensão pense na seguin-
gação temos a situação excepcional que chamamos de te situação:
inadimplemento. Ex.: Maria é proprietária de um imóvel e o alugou
A matéria acerca do inadimplemento está expres- para Joana. No contrato de locação Maria deixou claro
sa no Código Civil a partir do art. 389. Um aspecto bas- que era expressamente proibido obras “desnecessá-
tante trabalhado quanto ao inadimplemento é a culpa rias” no imóvel que fossem promovidas pelo locatá-
do devedor abrangendo as condutas de imprudência, rio sem a sua permissão. O contrato foi assinado pelas
negligência e imperícia, mas também poderá estar partes e Joana tinha ciência dessa cláusula.
vinculada ao dolo do agente quanto ao não cumpri- Certo dia, a locatária (Joana) acordou disposta
mento da obrigação. a colocar uma piscina no jardim do imóvel, com o
Exemplo de inadimplemento é o caso do locatário intuito de se refrescar, chamar os amigos e também
que deixa de pagar o aluguel ao locador, ou do indi- porque achava que a piscina daria um toque espe-
víduo que efetua uma compra e não quita o débito. cial no lugar. Sem consultar a locadora Maria, Joana
Veja que há uma quebra de expectativa na relação contratou pedreiros, empresa de piscina e tudo que
entre as partes, podendo ocorrer de forma absoluta era necessário para a sua instalação. Veja que Joana
ou relativa. inadimpliu com a sua obrigação no momento em que
O inadimplemento absoluto é aquele em que o agiu para colocar a piscina. Joana até então tinha uma
devedor não cumpre com nada do que foi acordado, obrigação negativa que contava com o seu não fazer
enquanto o inadimplemento relativo diz respeito ao para a adimplência obrigacional.
cumprimento imperfeito da obrigação. Observe que Outra hipótese tratada nos artigos supramencio-
em ambas as situações o devedor responderá pelas nados é do inadimplemento por motivos de caso for-
perdas e danos em face dos prejuízos causados ao tuito ou força maior. Nesses casos não há a culpa do
credor. Dessa forma, a regulamentação do inadimple- devedor, portanto, também não será devida a sua res-
mento é matéria importante para que se direcione a ponsabilidade. A culpa, nesses casos, fugirá da alçada
exceção no cumprimento das obrigações. de perspectiva do devedor em que os seus efeitos não
Do art. 389 a 393 o legislador dispôs de pontos eram possíveis de impedir.
iniciais cruciais para o entendimento da disciplina,
294 vejamos:
Mora OBRIGAÇÃO

A mora é o inadimplemento relativo, ou seja, a


Caso Fortuito ou
ocorrência de cumprimento de forma imperfeita não Morosidade (presença
Força Maior
de culpa do devedor)
seguindo o local e a forma de pagamento que ficou
convencionado entre as partes. A mora pode ser tanto Morosidade
do devedor (mora solvendi, debitoris ou debendi) quan- Caso Fortuito ou (proporcionada sem
Força Maior culpa do devedor)
to do credor (mora accipiend, creditoris ou credendi).
O instituto da mora se encontra regulamentado Não há
Responsabilidade
pelos arts. 394 a 401, do Código Civil, vejamos: do devedor responsabilidade do
devedor
Art. 394 Considera-se em mora o devedor que não
efetuar o pagamento e o credor que não quiser rece- E se o credor for o responsável pela mora? É justa-
bê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a conven- mente essa possibilidade que o art. 400 traz. No caso
ção estabelecer.
em que o credor der causa a mora e que o devedor não
Art. 395 Responde o devedor pelos prejuízos a que
tenha agido com dolo, ele não será responsabilizado
sua mora der causa, mais juros, atualização dos
pelo atraso do adimplemento ou pela sua execução
valores monetários segundo índices oficiais regu-
larmente estabelecidos, e honorários de advogado.
imperfeita. Nesse caso, o credor ainda será responsá-
Parágrafo único. Se a prestação, devido à mora, se vel pelo pagamento dos gastos que o devedor tenha
tornar inútil ao credor, este poderá enjeitá-la, e exi- tido para preservar o bem. O devedor também poderá
gir a satisfação das perdas e danos. se desobrigar da obrigação por meio da consignação
Art. 396 Não havendo fato ou omissão imputável em pagamento.
ao devedor, não incorre este em mora. Além disso, caso haja alteração no valor do adim-
Art. 397 O inadimplemento da obrigação, positiva plemento entre o dia proposto para o pagamento e o
e líquida, no seu termo, constitui de pleno direito dia da execução, deverá ser recebido pelo credor o
em mora o devedor. valor que seja mais benéfico ao devedor. Assim, há
Parágrafo único. Não havendo termo, a mora se cons- uma relação justa.
titui mediante interpelação judicial ou extrajudicial. Pense na seguinte hipótese:
Art. 398 Nas obrigações provenientes de ato ilícito, Ex.: Há entre João e Maria um acordo de que em
considera-se o devedor em mora, desde que o praticou. fevereiro Maria entregará um veículo para João.
Art. 399 O devedor em mora responde pela impossi- Maria segue todas as disposições contratuais e na data
bilidade da prestação, embora essa impossibilidade marcada comunica João que entregará o veículo. João,
resulte de caso fortuito ou de força maior, se estes ocor-
por sua vez, não parece seguir o que foi acordado, e
rerem durante o atraso; salvo se provar isenção de cul-
por sua negligência, causa morosidade na entrega do
pa, ou que o dano sobreviria ainda quando a obrigação
bem por Maria. Por estar sempre viajando, não res-
fosse oportunamente desempenhada.
Art. 400 A mora do credor subtrai o devedor isento ponde as mensagens da devedora, entre outras atitu-
de dolo à responsabilidade pela conservação da coisa, des que impedem a entrega do bem por meses.
obriga o credor a ressarcir as despesas empregadas em Por conta das atitudes de João, Maria só consegue
conservá-la, e sujeita-o a recebê-la pela estimação mais entregar o veículo 2 meses após o acordado e, durante
favorável ao devedor, se o seu valor oscilar entre o dia esse tempo, houve não só a desvalorização do auto-
estabelecido para o pagamento e o da sua efetivação. móvel, como despesas para sua conservação – estacio-
Art. 401 Purga-se a mora: namento, gasolina, limpeza – que foram arcadas por
I - Por parte do devedor, oferecendo este a presta- Maria. Dessa forma, haverá um ressarcimento do cre-
ção mais a importância dos prejuízos decorrentes dor (João) em face da devedora (Maria), a fim de que
do dia da oferta; torne justa a relação estabelecida.
II - Por parte do credor, oferecendo-se este a receber Por fim, o art. 401 traz as possibilidades de purgar
o pagamento e sujeitando-se aos efeitos da mora a mora, ou seja, neutralizar os seus efeitos. A pur-
até a mesma data. gação do devedor ocorre com o pagamento da obri-
gação devida somado aos encargos decorrentes da
Os arts. 394 e 395 trabalham sobre o conceito de mora (juros, correção, danos morais e materiais). Já
mora, bem como suas consequências, que se asseme- a purgação do credor se dará nos casos em que acei-
lham às consequências gerais do inadimplemento, tar receber o pagamento, que antes havia sido recu-
quais sejam: o pagamento de danos morais e mate- sado e ressarcir o devedor das despesas e encargos
riais, atualização de valores, juros, entre outros pre- que a sua conduta (sua demora em receber o bem) o
juízos que a mora causar. proporcionou.
Para a configuração da mora é necessário que o
devedor tenha agido com culpa (negligência, impru-
dência ou imperícia) ou dolo (vontade de prejudicar o
CONTRATOS
DIREITO CIVIL I

cumprimento da obrigação).
Caso fique comprovado que a demora no adimple-
mento ou a sua ocorrência de forma incompleta se PRINCÍPIOS, CONTRATOS EM GERAL E
deu por caso fortuito, força maior, ou até mesmo por DISPOSIÇÕES GERAIS
culpa do credor, não haverá que se falar em mora.
Contudo, um fato merece a nossa atenção, se o Os contratos possuem grande importância na vida
caso fortuito ou força maior ocorrerem no período de em sociedade, pois, a partir deles, podemos ter a cria-
mora do devedor, e a morosidade se der a título de ção de direitos, modificação de situação jurídica, esta-
culpa, haverá a responsabilidade por parte do deve- belecimento de normas e condutas entre partes. Se
dor. Veja de forma simplificada abaixo: formos pelo lado sociológico podemos entender toda a 295
sistemática social como um contrato, em que as partes legais. Pode-se entender os princípios como fontes
(cidadãos e Estados), entraram em um consenso acer- basilares do direito. No mundo dos contratos, temos
ca de suas condutas e limites de poder. diversos princípios que regulam as relações e as nego-
No entanto, não é bem do contrato social que ciações, há princípios mais antigos e aqueles que são
iremos falar aqui. A matéria de contratos no Direito mais modernos, advindos posteriormente, diante da
Civil versa sobre uma das fontes de obrigação e se necessidade emergente das novas formas de relação.
encontra disciplinada a partir do art. 421, do Código Dentre a diversidade existente chamo sua atenção
Civil. Isso ocorre porque a existência de um acordo para os seguintes princípios:
firmado entre pessoas gera uma obrigação entre elas
(polo ativo e passivo). Dessa forma, as relações contra- z Função Social dos Contratos: a função social é
tuais e de obrigação acabam se esbarrando em certos um dos princípios mais importantes do meio con-
momentos. tratual. Pode-se dizer que a função social é a base
Podemos entender os contratos como negócios para os princípios modernos contratuais. Assim,
jurídicos que necessitam de, pelo menos, duas pes- entende-se que o Código Civil atual visa a acolher
soas para que possam ser estabelecidos e para que a prevalência dos princípios sociais sobre os indi-
gerem direitos. Podemos entender por negócio jurí- viduais, prezando, no entanto, os valores da vida
dico o ato praticado que produz efeitos e alterações individual. De acordo com o civilista Caio Mário,
na esfera jurídica, ou seja, são os atos que possuem as concepções da função social do contrato ser-
relevância jurídica. vem como limitadores da autonomia da vontade,
Exemplo disso é a compra e venda de um bem. O como se direcionassem o âmbito das vontades a
ato de comprar e vender gera transferência de proprie- uma qualidade maior: a coletividade. Ou seja, os
dade, direito de posse, alteração no patrimônio, entre contratos não devem ser vistos como instrumentos
outros efeitos que possuem regulamentação judicial. de satisfação de interesses individuais. Há, tam-
Voltando ao conceito de contrato, temos o enten- bém, a necessidade das negociações e execuções
dimento do Doutrinador Caio Mário, que expressa o agregarem a ordem social, de forma a beneficiar
seguinte: “Contrato é um acordo de vontades, na confor- a coletividade;
midade da lei, e com a finalidade de adquirir, resguardar, z Autonomia de Vontade: é o princípio que versa
transferir, conservar, modificar ou extinguir direitos.” sobre a liberdade contratual das partes, esse prin-
Veja que, para o contrato ser válido, ele deve cípio visa a garantir que as partes são livres para
seguir alguns requisitos, como a vontade das partes, acordarem sobre o que quiserem, com o que qui-
ou seja, um consenso mútuo sobre determinada maté- serem e definir o modo como tudo será feito. Há,
ria ou objeto, mas sempre em conformidade com a lei. portanto, uma autonomia para conduzir os atos da
Além disso, é necessário se atentar para a finalidade negociação e a formalidade da contratação. Ain-
dos contratos, que é resguardar, transferir, conser- da pela autonomia da vontade, é permitido que a
var, modificar ou extinguir direitos. De forma mais parte decida se realmente quer negociar e acordar
sucinta, temos que os contratos alteram e garantem ou se não aceita a negociação. É um princípio que
direitos na ordem jurídica. Sendo assim, podemos reflete sobre o poder de escolha das partes.
destacar três grupos de requisitos contratuais:
Contudo, deve-se atentar ao fato de que a liberda-
z Requisitos Subjetivos: por subjetividade, pode- de contratual deve respeitar a função social, ou seja,
mos entender que os requisitos se referem às con- deve-se pautar e seguir a finalidade da negociação,
dições das partes. Ou seja, é necessário que haja não sendo válido seu desvio ou extrapolação. É o
consenso, capacidade para contratar e manifes- que expressa o art. 421, do Código Civil: “A liberdade
tação de vontades das partes; contratual será exercida nos limites da função social
z Requisito Objetivo: lembre-se que objetivo diz do contrato.” Dessa maneira, caso as provas tratem a
respeito ao objeto. Nesse caso, os requisitos retra- autonomia de vontade como liberdade ilimitada, sai-
tados versam sobre o que está sendo acordado ba que está incorreta a proposição, uma vez que seus
pelas partes, por exemplo, bens ou condições de limites são pautados pela própria função contratual.
direito. Nesse caso, o objeto deve ser lícito, pos-
sível e determinável, conforme dispõe o art. 104, z Consensualismo Contratual: trata-se do princí-
do Código Civil; pio que prevê o aperfeiçoamento dos contratos de
z Requisitos Formais: dizem respeito à forma como maneira simples, sendo necessário o consenso das
será negociado o objeto, é o modo como será abar- partes. Esse princípio é contrário à burocracia con-
cada a relação contratual. No Brasil, a forma con- tratual, ou seja, o contrato firmado com base em
tratual, normalmente, é livre, ficando a critério simbolismos, morosidade e complexidade. Exem-
das partes estabelecer a disposição e a montagem plo clássico do princípio consensual é o contrato
do documento. No entanto, há alguns contratos de compra e venda de bem móvel, pois não há tan-
que exigem a forma solene, ou seja, uma série de tas formalidades, há a vontade de uma das partes
ritos obrigatórios. Nesses casos, as partes deverão em adquirir o bem e a vontade da outra parte em
seguir os critérios e as formas definidas em lei ou concedê-lo.
dispostas em outro texto.
Pense na compra e venda de veículo, que é um
PRINCÍPIOS CONTRATUAIS bem móvel com um valor elevado. No entanto, o con-
trato de compra e venda é bem simples uma vez que
Os princípios são orientações existentes no direito. a venda se torna válida quando as partes encontram
São eles que corroboram para o entendimento e apli- o consenso sobre o valor do bem e forma de paga-
cação de algumas condutas existentes no mundo jurí- mento. Sua execução é simples, corresponde a entre-
296 dico e que são estipuladas antes mesmo das normas ga do bem a parte interessada e, consequentemente
o pagamento pelo objeto. É importante destacar que, Temos a classificação quanto o efeito do contrato,
aqui, somente mencionamos o processo de compra e que se divide em: unilateral, bilateral e plurilateral.
venda e não o processo de documentação formal. Essa classificação diz respeito às partes do contrato.
Na hipótese unilateral, a anuência (a concordância) é
z Relatividade dos Contratos: em regra, esse prin- feita por apenas uma parte, enquanto a outra, possui
cípio trata da extensão dos efeitos contratuais e a obrigação. É o caso da doação; uma pessoa efetua
expressa que as normas, consequências e efeitos a doação e a outra parte apenas aceita o bem doado.
firmados no contrato devem permanecer entre as A hipótese bilateral, é o contrato feito nos “moldes
partes, a fim de que não atinjam direitos de tercei- tradicionais”, por assim dizer. Há duas pessoas conven-
ros. Diante dessa visão, o professor Carlos Roberto cionando o contrato, sendo certo que ambas possuem
Gonçalves chama atenção para as modificações direitos e obrigações estabelecidos. Já o efeito plurilate-
advindas das novas formas de contratação. Ante- ral, como o próprio nome já induz, abarca uma plurali-
riormente, a relatividade dos contratos era intensa dade nos polos da contratação, ocorre muitas vezes em
e se pautava em uma visão clássica acerca da maté-
contratos coletivos em que há mais de uma pessoa figu-
ria contratual, era como se as partes tivessem que
rando como sujeito ativo ou passivo nos trâmites.
isolar os efeitos do restante da sociedade e do orde-
Outra forma de classificação processual é onerosida-
namento. O contrato era visto como um mero ins-
de, ou seja, pela possibilidade de se atribuir gastos aos
trumento para satisfação das vontades individuais.
contratos. Nessa classificação, temos as seguintes hipóte-
ses: gratuito, oneroso comutativo, oneroso aleatório por
Contudo, com a modernização da matéria contra-
tual e da necessidade de os contratos atingirem um natureza, oneroso aleatório por vontade das partes.
fim social, houve uma atenuação nos efeitos desse No caso do contrato gratuito, uma das partes será
princípio, uma vez que, agora, os efeitos do contrato beneficiada e obterá a vantagem da execução contra-
podem influir e atingir terceiros e interessados. Pense, tual. Normalmente, envolvem questões simples e de
por exemplo, na figura do fiador ou do herdeiro, eles pouca complexidade. É o caso de um contrato de alu-
necessitam interagir e participar dos desdobramentos guel, por exemplo.
contratuais diante da obrigação que foi gerada. Ao se falar em oneroso comutativo, temos a hipó-
tese em que a prestação é mútua, sendo as responsa-
z Boa-fé contratual: acerca do princípio da boa-fé, bilidades de ambas as partes predeterminadas. Assim,
temos o art. 422, do Código Civil, que expressa o quando não cumprido o predeterminado, isso poderá
seguinte: “Os contratantes são obrigados a guar- acarretar consequências.
dar, assim na conclusão do contrato, como em sua O contrato oneroso aleatório por natureza está presen-
execução, os princípios de probidade e boa-fé.” te em relações negociais abstratas em que há a dependên-
cia de que um fato incerto ocorra para que gere o efeito
O princípio da boa-fé e o princípio da probidade ver- contratado. Um exemplo que podemos citar é o caso dos
sam sobre o comportamento das partes, que deverão contratos de seguro de veículo e de seguro de vida.
prezar pela conduta correta e transparente, não só nas A onerosidade aleatória por vontade das partes
tratativas e negociações, como também no cumprimen- também possui ocorrência diante de um fato futuro e
to do contrato. A boa-fé, expressa no art. 422, é a objeti- incerto. A diferença é que a onerosidade, nesse caso,
va, que será analisada independentemente de dolo ou é acordada pelas partes e não pela espécie contratual.
culpa, de forma que orientará a responsabilidade civil Além das classificações supramencionadas, deve-
dos contratantes, a fim de que mantenham a postura mos nos atentar às que tangem aos agentes e aos
de lealdade, comprometimento e honestidade, evitando objetivos dos contratos. Quanto aos agentes, eles se
que se beneficiem da própria torpeza. subdividem em: personalíssimo, impessoal individual
Vale ressaltar que há outros tantos princípios que e impessoal coletivo.
regulam as matérias contratuais, porém, nesse bloco, Personalíssimo é o contrato que admite que ape-
situamos e apontamos aqueles que possuem maior peso
nas uma determinada pessoa cumpra o que foi estabe-
e incidência em provas. No entanto, vale aprofundar
lecido e acordado. É o tipo de contrato que não admite
seus estudos nesse tópico, a fim de entender melhor as
intervenção de terceiros.
bases contratuais e, consequentemente, conseguir com-
Já o impessoal individual é o contrato que possui
preender melhor a matéria como um todo.
uma pessoa em cada polo da relação contratual, mas que
admite a intervenção de interessados, como, por exem-
Autonomia
entre plo, herdeiros, fiadores, entre outras figuras. Nesse caso
as partes não há a necessidade de que o cumprimento da obriga-
Boa-fé Relatividade ção se dê exclusivamente por um indivíduo específico.
objetiva dos contratos O impessoal coletivo segue a mesma possibilida-
Função de do impessoal individual, pois admite a participa-
social
DIREITO CIVIL I

ção de interessados, não sendo necessária a execução


contratual de forma personalíssima. A diferença se
CONTRATOS EM GERAL encontra no polo da ação, em que há uma pluralidade
de agentes. Podemos citar as convenções coletivas de
Ainda sobre os contratos, são necessários alguns trabalho, os contratos e propostas sindicais.
apontamentos. De maneira geral, os contratos são sub- No que tange à classificação acerca do objetivo,
classificações, além de serem estabelecidos em espécies, temos a seguinte classificação: contrato de aquisição,
de acordo com o objeto negociado. Diante disso, algu- contrato de uso, contrato de prestação de serviço e o
mas classificações necessitam do seu entendimento. contrato associativo.
297
O contrato de aquisição versa sobre o acordo entre as e se trata de um contrato impessoal, podendo ser
partes para transferência definitiva do bem. É o contrato executado por interessado. Apesar de ser pouco
de compra e venda, por exemplo, em que há o interesse, comum, tendo em vista que atualmente as rela-
disposição e a transferência da propriedade do bem. ções negociais giram em torno da compra e venda
O contrato de uso, diferentemente do contrato de o contrato de troca existe.
aquisição, não gera a transferência da propriedade,
mas concede a possibilidade de estar em posse do bem Como exemplo, podemos pensar na situação em
por um determinado período. Podemos citar os con- que uma determinada pessoa deseja trocar o seu auto-
tratos de aluguel, seja de imóveis ou de veículos. móvel pelo automóvel de seu amigo. Ambos entram
Os contratos de prestação de serviço são aqueles em acordo e a troca é feita.
em que uma das partes se obriga a prestar algum tipo
de trabalho necessário, seja pessoalmente ou median- z Contrato Estimatório: encontra-se previsto nos
te terceiro em favor da outra parte que atua no con- arts. 534 a 537. Nessa hipótese uma das partes
trato. Podemos pensar nos contratos com pedreiros, recebe os bens e fica autorizado a vendê-los, há
empresas de construção entre outros. a obrigação de vender por um preço estimado
Por fim, o contrato associativo é aquele realizado ou estipulado. Essa hipótese é também conhecida
entre duas ou mais pessoas, cuja finalidade seja atingir como venda por consignação. Diferente da compra
um só objetivo. Há uma cooperação entre as partes para e venda não há a transferência de propriedade dos
que se alcance o resultado pretendido, podemos citar bens entre as partes, o que ocorre é a transferência
como exemplo os contratos feitos entre associações. de domínio do bem para que seja feita a venda.
Após trabalhar as principais classificações con-
tratuais, temos a necessidade de explicar as espécies É comum nesse tipo de contrato a figura do consig-
existentes de contrato. Veja: nante, que é o responsável pela entrega dos bens. O
consignante segue sendo proprietário dos bens, cede
Compra e Venda apenas o domínio. E consignatário é quem irá rece-
Troca e Permuta ber as coisas para vender. Essa espécie contratual só
Contrato Estimatório é possível sobre bens móveis. Além disso, os bens con-
signados não podem sofrer penhora pelos credores do
Doação
consignatário, uma vez que ele não é proprietário dos
ESPÉCIES
Locação bens.
CONTRATUAIS
Comodato
Mútuo
z Doação: o contrato de doação é um dos mais cobra-
dos em provas. Encontra-se expresso nos arts. 538
Prestação de Serviço a 564 do Código Civil. A doação ocorre quando
Depósito uma pessoa, por sua livre e espontânea vontade,
decide transferir seus patrimônios ou benefícios
z Compra e venda: o contrato de compra e venda a outra pessoa que, por sua vez, aceita o que está
se encontra previsto nos arts. 481 a 532 do Código sendo oferecido. É um contrato unilateral e gra-
Civil. É um contrato comum, em que os contratan- tuito, não gera ônus entre as partes e, além disso,
tes se obrigam a transferir a propriedade do bem, apenas uma parte se obriga a entregar um bem ou
ressalta-se que o contrato em si não gera a transfe- valor, a outra parte assume apenas o encargo de
rência do bem, apenas gera a obrigação de trans- aceitar a doação.
ferir. É um contrato oneroso, bilateral, ou seja, as
duas partes possuem obrigações e direitos. Nor- A doação apesar de se tratar de um processo con-
malmente não carece de solenidade, podendo ser sensual, ou seja, que envolve as vontades e acordos
realizado da maneira como as partes convencio- entre as partes, traz como necessidade a solenidade
narem. Quando houver necessidade a solenidade que é o registro da doação em documento público. É
será exigida expressamente em lei. uma forma de resguardar a veracidade e o interesse
entre os envolvidos, gerando, consequentemente, a
Fique atento, pois os ascendentes não poderão segurança jurídica. Além disso, é válido ressaltar que
vender aos descendentes, bens sem que haja a anuên- a doação é um contrato entre pessoas vivas. Não sen-
cia dos demais descendentes. Ex.: Pai não pode ven- do possível a doação pós morte.
der ao primogênito o apartamento na praia da família Sobre as doações deve ser considerado que os
sem que os demais irmãos concordem com a venda. incapazes não podem doar seus patrimônios e os seus
Outro ponto é a hipótese dos cônjuges em que a benefícios, nem mesmo por meio de seus represen-
venda ou a implicação de onerosidade ao patrimô- tantes legais. Contudo, podem aceitar doações que
nio necessita da concordância um do outro. Ou seja, não gere encargos, ou seja, aquelas que apenas acres-
o esposo não pode vender ou alugar um imóvel per- centem ao patrimônio do incapaz.
tencente ao patrimônio do casal sem que a sua esposa Lembre-se de que os incapazes estão inscritos nos
esteja e comprove que está ciente da negociação. arts. 3º e 4º, do Direito Civil. Esses são artigos de extre-
ma importância para a realização de sua prova.
z Contrato de Troca ou de Permuta: nessa espécie Além do fato dos incapazes, outro ponto que pode
de contrato as partes se obrigam a dar um deter- ser cobrado em prova é a (im)possibilidade do côn-
minado bem a fim de receberem outro. Não há, juge adúltero — aquele(a) que não foi fiel — fazer
nesse caso, o pagamento feito em dinheiro. A per- doação ao seu ou sua cúmplice, caso seja feita será
muta é bilateral, onerosa, comutativa (que possui considerada nula. É uma discussão que merece aten-
298 objeto determinado), não necessita de solenidade ção, tendo em vista que recentemente foi discutido
sobre o direito de herança pelos (as) amantes ou cúm- Paulo se compromete a posteriormente entregar a
plices, conforme abordado pelo legislador. João uma outra saca de café, com o mesmo peso, mes-
A doação pode ser revogada pelo não cumprimen- ma qualidade de grãos e no mesmo valor de mercado.
to de algum encargo imposto ou ainda pela ingrati-
dão. Atente-se para a hipótese de revogação pela z Contrato de Prestação de Serviço: o contrato de
ingratidão, nesse caso, é um ato que deve ser feito prestação de serviço é aquele em que uma das par-
exclusivamente pelo doador, ou seja, é um ato perso- tes se compromete a desenvolver uma atividade
nalíssimo e cabível nas hipóteses em que donatário laboral enquanto a outra se obriga ao pagamento
(pessoa a quem se destina a doação) atente contra a do trabalho feito. É um dos contratos mais comuns
vida do doador, caso cometa ofensa física ou moral, atualmente. Trata-se de um contrato bilateral,
como calúnia e difamação. O doador tem o prazo de comutativo, oneroso, consensual e possui forma
um ano, contado do conhecimento do fato, para revo- livre para ser convencionado. Está previsto nos
gar a doação. arts. 593 a 609, do Código Civil.

z Contrato de Locação de Coisas: previsto nos arts. Nesse tipo de contrato, as partes devem acor-
565 a 578 do Código Civil. Traz a hipótese de que dar acerca do valor da remuneração, o prazo para o
uma das partes se obriga a ceder um bem por tempo desenvolvimento das atividades, além de estabelecer
determinado à outra parte, mediante o pagamento
métodos e formas em que deverão ser prestados os
pelo uso daquele bem. Não há diferenciação nas
serviços. O exemplo mais comum de prestação de
normas jurídicas acerca da terminologia “arren-
serviço é aquele firmado entre o proprietário de um
damento”, que também pode ser utilizada para
imóvel e o pedreiro, onde é estabelecido as formas de
falar sobre essa espécie contratual. É um contrato
trabalho, os horários das atividades, prazo de entrega
bilateral, oneroso, que possui objeto certo e deter-
de cada etapa do projeto, bem como o valor devido ao
minado entre as partes, ou seja, comutativo. Além
trabalhador.
disso, a locação pode recair sobre bens móveis ou
imóveis (apartamentos ou carros), bens fungíveis A extinção pode ocorrer pelo término da prestação
ou infungíveis. Sendo certo que os bens fungíveis do serviço, pelo vencimento do prazo, rescisão contra-
são aqueles que podem ser substituídos por outro tual ou ainda pela morte do prestador de serviço.
que seja idêntico, é o caso dos aluguéis de arranjos
de festas ou de roupas de gala. z Depósito: o contrato de depósito está expresso nos
z Contrato de Comodato: expresso nos arts. 579 a arts. 627 a 652, do Código Civil. Refere-se à hipótese
585 do Código Civil. É o contrato entre comodante, em que uma das partes entrega determinado bem
ou seja, o proprietário do bem, e o comodatário ou valor a outra parte para que seja guardado por
que será o indivíduo a quem o bem será entregue. ela. Nesse caso, não há o uso do bem, apenas a sua
No comodato há a entrega de um bem a uma das guarda. E é justamente esse aspecto que difere o
partes (comodatário), de maneira que o bem esteja depósito do comodato.
em sua posse de forma temporária e gratuita, para
que ele possa usar e gozar do que lhe foi cedido. É dessa situação que surge a famosa figura do
Vejamos o que diz o art. 579, do Código Civil: depositário infiel. Em regra, é um contrato unilateral,
pois apenas uma das partes se encarrega a guardar
Art. 579 O comodato é o empréstimo gratuito de e cuidar do bem. É gratuito, temporário e decorre da
coisas não fungíveis. Perfaz-se com a tradição do confiança entre as partes.
objeto. Um exemplo desse tipo de contrato, são as malas
e os pertences deixados em hotéis e pensões. Há uma
O contrato de comodato é uma das modalidades confiança entre as partes de que aquele local é um
de empréstimo que pode ser realizada entre as partes. local seguro para se deixar os pertences. Assim, na
Não haverá onerosidade nessa contratação, sendo que ausência do proprietário, o estabelecimento é res-
o bem é entregue de forma gratuita. Contudo, não há ponsável por cuidar dos bens. Devendo, inclusive,
a transferência da propriedade entre as partes. Tan- ser responsabilizado em caso de furto ou danos aos
to o comodante como o comodatário terão direitos e pertences.
deveres nessa relação, é um contrato bilateral e pos- Você também pode pensar na figura do depositário
sui objeto certo e determinado. Tradição é a entrega como sendo uma pessoa de confiança. Há essa possi-
de fato do bem. bilidade. O exemplo do hotel é apenas para abrir seus
horizontes e seu conhecimento com relação à maté-
z Contrato de Mútuo: o contrato de mútuo está ria, é importante explorar hipóteses não convencio-
recepcionado no Código Civil nos arts. 586 a 592.
nais, pois elas podem ser cobradas em provas.
Trata-se do empréstimo de bem fungível a uma
Neste tópico, foram abordadas as principais clas-
das partes. O mutuário (quem recebeu o bem) é
sificações e as principais espécies contratuais, res-
DIREITO CIVIL I

obrigado a restituir ao mutuante (quem empres-


saltamos que há mais algumas delas que não foram
tou o bem) o que dele recebeu, devendo ser algo do
trabalhadas aqui, pela baixíssima cobrança em provas
mesmo gênero, qualidade e quantidade. Esse tipo
e concursos. Contudo, apesar de não serem comuns,
de contrato pode ser tanto oneroso quanto gratui-
to, depende do que for acordado entre as partes. alertamos para que estude todas as hipóteses e pro-
Caso seja oneroso necessitará de solenidade. cure identificar as características principais de cada
uma delas, como foi feito nesse bloco. Dessa forma,
Pense no contrato de mútuo como o empréstimo de caso o seu concurso aborde uma espécie contratual
uma saca de café de João para Paulo. A saca empres- não muito comum, você não será prejudicado.
tada certamente será utilizada por Paulo. Nesse caso, 299
Para guardar e não confundir negligência com
RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA E imprudência, lembre-se:
SUBJETIVA O imprudente é o homem afoito.
O negligente é o homem distraído.
OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR E DANO MATERIAL A culpa possui, também, outras classificações:

A responsabilidade civil divide-se em contratual e z Culpa contratual: decorre do descumprimento de


extracontratual. A primeira surge do descumprimen- uma relação jurídica obrigacional;
to obrigacional, desobediência de uma regra contra- z Culpa extracontratual: decorre do dever vio-
tual. Já a segunda ocorre quando uma pessoa deixa de lado previsto no art. 186 do Código Civil: Aquele
observar um preceito normativo que regula a vida, e que, por ação ou omissão voluntária, negligência
o seu fundamento é o ato ilícito. ou imprudência, violar direito e causar dano a
Em outras palavras, a responsabilidade civil extra- outrem, ainda que exclusivamente moral, comete
contratual é aquela que surge sem que haja nenhu- ato ilícito;
ma espécie de negócio jurídico preexistente entre as z Culpa in eligendo: advém da má escolha do repre-
partes envolvidas, tal como ocorre nos acidentes de sentante ou preposto;
trânsito, nos danos causados por animais etc. z Culpa in vigilando: decorre da ausência de fisca-
Já a responsabilidade civil contratual é embasada lização sobre pessoa que se encontra sob a respon-
sabilidade ou guarda;
em regras preestabelecidas entre as partes, em uma
z Culpa in custodiendo: vem da falta de cuidados
relação obrigacional, de fundo contratual. Nos negó-
na guarda de algum animal ou objeto;
cios jurídicos é comum que exista responsabilidade
z Culpa exclusiva: ocorre quando o dano ou evento
civil pelo inadimplemento total ou parcial das cláusu-
danoso acontece por culpa da vítima, não haven-
las pactuadas.
do responsabilidade do agente. Não há relação de
Em regra, a responsabilidade civil é subjetiva.
causa e efeito entre o ato e o prejuízo da vítima;
Isso significa dizer que o dever de indenizar pressu-
z Culpa concorrente: existe quando a vítima e o
põe uma conduta humana, dolo ou culpa, nexo de cau-
autor contribuem, ao mesmo tempo, para o fato
salidade e dano.
danoso. A culpa de um não extingue a do outro e
ambas as condutas são analisadas. A responsabili-
Art. 927 Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187),
dade pode ser dividida de acordo com a culpa de
causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
cada um.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o
dano, independentemente de culpa, nos casos espe-
cificados em lei, ou quando a atividade normalmen-
te desenvolvida pelo autor do dano implicar, por Importante!
sua natureza, risco para os direitos de outrem. Nos casos em que a vítima tiver concorrido cul-
Art. 186 Aquele que, por ação ou omissão volun- posamente para o evento danoso, a sua indeni-
tária, negligência ou imprudência, violar direito e
zação será fixada tendo-se em conta a gravidade
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
de sua culpa em confronto com a do autor do
moral, comete ato ilícito.
Art. 187 Também comete ato ilícito o titular de um dano.
direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os
limites impostos pelo seu fim econômico ou social,
A lei estabelece presunções de culpa para facilitar
pela boa-fé ou pelos bons costumes
a prova da culpa e do ato ilícito. Nesses casos ocorre
a inversão do ônus da prova. A vítima precisa provar
A conduta consiste em uma ação ou omissão do
apenas o dano e a relação de causalidade. Quem causa
agente. O dano é o prejuízo causado em virtude da
o dano é quem precisa provar a inexistência de culpa.
ação ou omissão do indivíduo. Deve haver uma liga-
A responsabilidade civil objetiva é aquela que não
ção entre a conduta e o dano, de forma que o prejuízo exige culpa nem dolo para se concretizar. A respon-
seja fruto da conduta do agente. Essa relação é deno- sabilidade civil será objetiva nos casos especifica-
minada de nexo de causalidade. dos em lei, ou se a atividade, por sua natureza, for
Diante da vontade temos o dolo, e na ausência des- dotada de risco.
te tem-se uma conduta culposa que se exterioriza em A título de exemplo, no Direito Ambiental, a lei
três sentidos: expressamente diz que a responsabilização pelo dano
independe de dolo ou culpa. Portanto, trata-se de res-
z Imprudência: é agir de forma precipitada ou sem ponsabilidade objetiva.
cautela, isto é, falta de cuidado em uma ação. Ex.: Algumas atividades, por si só, são perigosas, pas-
atropelar uma pessoa por dirigir com pressa; síveis de ocasionar dano. Dessa forma, a responsa-
z Imperícia: falta de habilidade ou incapacidade bilidade civil, também, será objetiva. O exemplo que
técnica para praticar certo ato. Ex.: médico que sempre é explorado nos concursos é das atividades
não tem capacidade técnica para realizar determi- nucleares.
nado procedimento; Assim, tem-se que a obrigação de indenizar é uma
z Negligência: falta de cuidado em casos de omis- consequência da responsabilidade civil, tendo em
são, é não agir com atenção, capacidade, solicitude vista que o dever de indenizar nasce com o dano ao
e discernimento. Ex.: não observar que tem uma patrimônio jurídico de outrem.
pessoa na sua frente e acabar tropeçando nela. Na responsabilidade civil por ato próprio, a res-
ponsabilidade insurge sobre o próprio cometedor do
300 ato lesivo, isto é, aquele que diretamente causa o dano
passa a ser obrigado a repará-lo ou compensá-lo, con- Por esta razão, a responsabilização deste profissio-
forme o caso. nal assemelha-se a dos médicos, porquanto é necessá-
Por outro lado, o Código Civil atribui responsabili- rio se comprovar que o mesmo agiu com culpa.
dade subsidiária ao incapaz pelos prejuízos que cau- O mesmo ato ou a mesma conduta pode constituir
sar, isto é, caso as pessoas por ele responsáveis não crime e ato ilícito passível de indenização. Assim, para
tiverem a obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de o mesmo fato ou ato podem ocorrer concomitante-
meios suficientes. mente à persecução criminal e a ação de ressarcimen-
to (art. 935).
Art. 928 O incapaz responde pelos prejuízos que Quem participou nos produtos do crime, será res-
causar, se as pessoas por ele responsáveis não ponsabilizado pela respectiva quantia. A responsabi-
tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de lidade civil independe da esfera criminal, porém se
meios suficientes. no âmbito penal ficar decidido sobre a existência ou
Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo,
inexistência do fato, bem como sobre sua autoria,
que deverá ser equitativa, não terá lugar se privar do
necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem.
a responsabilidade civil ficará vinculada à decisão
criminal.
As empresas respondem de maneira objetiva pelos A composição dos danos civis, reduzida a escrito
seus funcionários, mas possuem o direito de regresso e homologada pelo juiz criminal mediante sentença
caso estes agirem com dolo ou culpa no exercício de irrecorrível terá eficácia de título a ser executado no
suas funções. As empresas também respondem, inde- juízo cível competente.
pendente de culpa, pelos danos causados por seus O dano pode ser patrimonial, material, moral, esté-
produtos postos em circulação. tico, de maneira isolada ou cumulativa. A indenização
A responsabilidade civil indireta (art. 932) é pró- é medida pela extensão do dano, porém o parágra-
pria do agente que não pratica o ato causador do fo único do art. 944 dispõe que, se houver excessiva
dano, mas tem o dever jurídico de se responsabilizar desproporção entre a gravidade da culpa e o dano,
por quem o praticou. o Juiz ficará autorizado a reduzir equitativamente a
indenização.
RESPONDEM PELOS Os danos morais têm em mira indenizar ofensas
Os pais
FILHOS MENORES aos direitos de personalidade. Indeniza-se por dores
mais agudas, como a morte, mas também quando a
RESPONDEM
dignidade do ser humano é perturbada com incômo-
PELOS PUPILOS E O tutor e o curador
CURATELADOS dos anormais na vida em sociedade.
A ilicitude não reside apenas na violação de uma nor-
RESPONDEM POR ma ou do ordenamento em geral, mas principalmente na
SEUS EMPREGADOS, ofensa ao direito de outrem, em desacordo com a regra
SERVIÇAIS E
Empregador ou comitente geral pela qual ninguém deve prejudicar o próximo.
PREPOSTOS NO
EXERCÍCIO DO
TRABALHO
Importante!
RESPONDEM PELOS
Donos de hotéis, hospeda- Neminem Laedere significa não prejudicar o
SEUS HOSPEDES,
rias, casas ou estabeleci- próximo.
MORADORES E
mento onde albergue
EDUCANDOS

O Código Civil especifica alguns casos corriqueiros


O direito de regresso (art. 934) ocorre sempre que de responsabilidade civil. O dono/detentor do animal
o responsável pela reparação não for aquele que cau- terá que ressarcir o dano causado pelo seu animal,
sou o dano, com exceção dos descendentes (filhos ressalvadas hipóteses de força maior e culpa exclusiva
absoluta ou relativamente incapazes).
da vítima. O dono de edifício responderá pelos danos
O art. 933 do Código Civil não faz distinção se hou-
resultantes da ruína do local, se tal deterioração ocor-
ve culpa in eligendo ou in vigilando, dispondo que
todas as pessoas mencionadas no art. 932, ainda que rer por falta de reparos. Os habitantes de prédios res-
sem culpa, responderão pelos atos praticados pelos ponderão pelos danos que ocasionarem o lançamento
terreiros referidos. de objetos ou coisas que acidentalmente caírem dele.
A responsabilidade dos médicos é subjetiva, ou Neste último caso, a doutrina e a jurisprudência são
seja, é necessário que se persiga e comprove a culpa pacíficas no sentido de, quando não puder saber de
do profissional, uma vez que o mesmo, ao exercer qual apartamento caiu o objeto, o condomínio é quem
suas funções, assume obrigação de meio e não de será responsabilizado.
resultado. No caso dos cirurgiões plásticos a situação
DIREITO CIVIL I

é diferente, pois, segundo a jurisprudência assente do Art. 936 O dono, ou detentor, do animal ressarcirá
Superior Tribunal de Justiça a obrigação assumida o dano por este causado, se não provar culpa da
por este profissional é de resultado e, por esta razão, vítima ou força maior.
caso não alcance o que prometeu ao paciente, respon- Art. 937 O dono de edifício ou construção respon-
derá por meio da presunção de culpa, cabendo-lhe, de pelos danos que resultarem de sua ruína, se esta
para elidir sua responsabilização, comprovar culpa provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse
do paciente ou a intervenção de fator imprevisível. manifesta.
O contrato de prestação de serviços advocatícios Art. 938 Aquele que habitar prédio, ou parte dele,
firmado com os advogados pressupõe uma obrigação responde pelo dano proveniente das coisas que dele
legal de meio. caírem ou forem lançadas em lugar indevido. 301
Uma nova categoria de dano, que vem aparecendo Nos casos de estado de necessidade ou de remo-
nos tribunais pátrios, é o denominado dano por per- ção de perigo iminente, se o dono do bem não tiver
da de uma chance, que estará caracterizado quando causado o perigo, deve ser indenizado por quem o
uma pessoa tiver frustrada sua expectativa, pois, den- removeu. Todavia, se o perigo foi causado pelo dono
tro da lógica do razoável, teria uma oportunidade se do bem, quem removeu o perigo não precisará indeni-
as coisas seguissem seu curso normal. A chance deve zar o dono do bem. Na primeira hipótese, aquele que
ser séria e real, pautada dentro de critérios objetivos, removeu o perigo, apesar de indenizar, terá direito à
e a indenização deve ser compatível com a chance ação de regresso.
perdida. Para casos de legítima defesa a vítima está dian-
Na perda de uma chance o que se analisa é a poten- te de uma situação atual ou iminente de agressão,
cialidade da perda. que não é obrigada a suportar, devendo utilizar, com
O exemplo clássico de perda de uma chance é o moderação, os meios de defesa, sob pena de configu-
advogado que perde o prazo para interpor recurso. rar excesso. Se o ato foi praticado contra o agressor,
Outro exemplo é do atleta profissional que se torna em legítima defesa, quem o praticou não pode ser res-
incapacitado para o esporte por ato culposo de outrem. ponsabilizado de forma civil pelos danos provocados.
Não se deve admitir a concessão de indenizações Se o agente atua exercendo regularmente um
por prejuízos hipotéticos, vagos ou muito gerais. A direito, não haverá responsabilidade civil. Porém, se
ultrapassar os limites do exercício regular, configura-
chance deve ser avaliada quando há um prognóstico
-se o abuso de direito. Também está ligado ao abuso
de certeza. O julgador deve estabelecer se a possibili-
de direito a excludente do estrito cumprimento do
dade perdida constitui uma probabilidade concreta.
dever legal, pois quem cumpre exatamente sua obri-
Essa apreciação não se funda no ganho ou perda, por-
gação imposta pela lei, não pode ser responsabilizado
que a frustração é aspecto próprio e caracterizador da por isso. O excesso configura-se como abuso de direito
chance. Por exemplo, o advogado deixa de recorrer no e cabe indenização.
prazo legal. Se o dano ocorre por culpa exclusiva da vítima, a res-
A indenização deverá ser da chance e não do ponsabilidade do agente desaparece, pois não há a exis-
ganho perdido. tência de causa entre o ato e o efeito (prejuízo). Não há
O direito de exigir reparação de danos transmite- causalidade entre o ato do agente e o prejuízo da vítima.
-se aos sucessores do causador do dano (art. 943). A Quando o autor e vítima contribuem, ao mesmo
vítima de homicídio deve ser indenizada por todas tempo para o evento danoso, a culpa é concorrente,
as despesas de tratamento, funeral, luto da família, havendo repartição de responsabilidade. Ex.: os dois
inclusive, prestação de alimentos aos dependentes do estavam distraídos, o que gerou uma colisão entre
morto, levando-se em consideração a provável dura- seus carros.
ção da vida da vítima. Em casos de lesão corporal, o Na responsabilidade civil, o princípio predominan-
ofensor precisa indenizar o ofendido pelas despesas te é da obrigatoriedade de quem causou diretamente
de tratamento com a sua saúde e dos lucros cessan- o dano, repará-lo. Todavia, o ordenamento jurídico
tes (aquilo que deixou de receber em função de seu excepciona essa regra e traz a possibilidade de mover
estado de saúde debilitado), até que convalesça. Se da ação regressiva contra o terceiro que criou a situação
ofensa resultar prejuízos ao trabalho, o ofendido terá de perigo e que deu causa ao dano.
direito a pensão equivalente ao trabalho para qual se Em outras palavras, a solução em caso de fato de ter-
inabilitou ou a depreciação que sofreu. ceiro é o ajuizamento da ação regressiva contra o terceiro
Em caso de pensão, o prejudicado pode exigir que que criou a situação de perigo, para haver a importância
despendida no ressarcimento ao dono do bem.
a indenização seja paga de uma só vez (art. 950, pará-
Se o ato do terceiro foi a causa exclusiva do dano,
grafo único.
exclui-se a relação de causalidade entre ação ou omis-
São excludentes do dever de indenizar: legítima
são do agente e o dano. Ex.: o terceiro empurrou a víti-
defesa, estado de necessidade ou remoção de perigo
ma na frente do carro, o que gerou o atropelamento
iminente, exercício regular de direito, culpa exclusiva dela.
da vítima, culpa exclusiva de terceiro, caso fortuito ou O caso fortuito ou de força maior verifica-se no
de força maior. fato necessário, cujo efeito não era possível evitar, ou
impedir. Varia o entendimento sobre o conceito de
Art. 188 Não constituem atos ilícitos: cada instituto, todavia, os concursos vêm cobrando o
I - os praticados em legítima defesa ou no exercício caso fortuito como decorrente de fato ou ato alheio à
regular de um direito reconhecido; vontade das partes, e a força maior como advinda de
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou acontecimentos naturais.
a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente. A inevitabilidade exclui a responsabilidade pois
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será rompe a relação de causalidade entre o ato do agente
legítimo somente quando as circunstâncias o tor- e o dano sofrido pela vítima. Ex.: a vítima de qualquer
narem absolutamente necessário, não excedendo os forma sofreria o dano.
limites do indispensável para a remoção do perigo. Quanto às eventuais cláusulas de não indenizar
postas em contratos, sua validade ficará restrita aos
Em uma situação de agressão a um direito alheio, casos estritamente contratuais que envolvam contra-
para remover um perigo iminente e diante das cir- tos civis paritários e discutidos pelas partes.
cunstâncias não houver outra forma de atuação, o Vale classificar as formas de danos que vêm sendo
agente precisa atuar nos limites indispensáveis para cobradas em concursos públicos:
a remoção do perigo, se ultrapassá-lo, terá a obriga-
ção de indenizar. Aliás, mesmo que o ato praticado em z Dano emergente: é o efetivo prejuízo experi-
estado de necessidade não seja ato ilícito, não significa mentado pela vítima. Em outras palavras, é o que
que quem o praticou não tem o dever de reparar o perdeu. Neste caso, existe a possibilidade de esta-
302 prejuízo. belecer com precisão o prejuízo, pois é a diferença
entre o patrimônio que a vítima tinha antes do uma redução do seu patrimônio com o ato lesivo do
dano e o que passou a ter depois do dano. Ex.: a autor do fato.
vítima gastou R$ 1.000,00 em despesas médicas; O ideal de justiça é que a reparação de dano seja
z Lucros cessantes: é o que a vítima, razoavelmen- feita de molde que a situação anterior seja reconsti-
te, deixou de ganhar, ou deixou de lucrar em razão tuída. Uma vez ocorrido o dano, os transtornos à víti-
do dano. Existe uma frustração da expectativa ma são inevitáveis, ainda que obtenha indenização in
do lucro, perda do ganho esperado. Ex.: a vítima natura ou in pecúnia. A indenização em dinheiro, na
é profissional autônoma e deixou de receber R$ verdade, é mero lenitivo.
4.000,00 no mês que não conseguiu trabalhar; O dano deve ser real, atual e certo. Não se indeniza
z Dano moral: o dano atinge outros bens da vítima, dano hipotético ou incerto.
de cunho personalíssimo, diferentes dos patrimo- A gradação da culpa (levíssima, leve, grave) é irre-
niais. Em outras palavras, é o prejuízo ou lesão de levante para o dever de indenizar, porém pode servir
direitos, em que o conteúdo não é pecuniário, nem de base para o valor da indenização:
redutível a dinheiro, como o direito à vida, à inte-
gridade física, integridade psíquica e integridade Art. 944 A indenização mede-se pela extensão do dano.
moral. O dano moral é qualificado em razão da Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção
subjetividade, do valor da pessoa na sociedade que entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz
atinge a intimidade e consideração pessoal, além reduzir, equitativamente, a indenização.
da reputação ou consideração social. Ex.: a vítima
ficou traumatizada com o ocorrido. Sobre o ônus da prova, se a responsabilidade for
contratual, o credor está obrigado a demonstrar que
Súmula 37 STJ: São cumuláveis as indenizações a prestação foi descumprida. Incumbe-lhe o ônus da
por dano material e dano moral oriundos do mes- prova. Quando a responsabilidade for extracontra-
mo fato. tual, (art. 186 do CC), o autor da ação é que fica com o
ônus de provar que o fato se deu por culpa do agente.
z Dano Reflexo ou em Ricochete: prejuízo que atin- Todavia, tal regra não é absoluta, excepcionada em
ge de forma reflexa, pessoa próxima, que está liga- casos específicos, a depender da lei.
da à vítima direta que sofreu o dano decorrente do
ato ilícito. Ex. os filhos da vítima foram prejudica- REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
dos com a sua morte;
z Dano por abuso de direito: o abuso de direito TARTUCE, F. Manual de Direito Civil: volume úni-
ocorre quando o agente, atuando dentro das prer- co – 9 ed. São Paulo: Método, 2019.
rogativas que o ordenamento jurídico lhe concede,
deixa de considerar a finalidade social do direito
subjetivo e, ao utilizá-lo, causa dano a outrem.
Aquele que exorbita no exercício de seu direito,
causando prejuízo a outrem, pratica ato ilícito,
HORA DE PRATICAR!
ficando obrigado a reparar. Ex. o vizinho que não
1. (FGV — 2021) Jane dá aula de inglês para três estu-
respeita o direito de vizinhança;
dantes: Cristiano, 16 anos, emancipado voluntaria-
z Dano por rompimento de noivado: a jurispru-
mente por seus pais; Haroldo, 17 anos, universitário;
dência tem autorizado a reparação por dano
e Andressa, 19 anos, parcialmente interditada e sob
material e moral relativamente ao rompimento de
curatela porque dilapidava descontroladamente todo
noivado às vésperas do casamento sem que haja
o seu patrimônio.
motivo justificado para tal, pois, além de ter-se
despendido diversos gastos materialmente mensu-
De acordo com o Código Civil, entre os estudantes,
ráveis, com esta atitude, o outro que teve a expec-
são relativamente incapazes:
tativa quebrada sofre sérios abalos em seu íntimo.
a) Cristiano, Haroldo e Andressa;
Pessoa Jurídica sofre dano moral.
b) Haroldo e Andressa;
Em se tratando de pessoa jurídica, o dano moral de
c) Cristiano e Haroldo;
que é vítima atinge seu nome e tradição de mercado e
d) Cristiano e Andressa;
terá sempre repercussão econômica, ainda que indireta.
e) somente Cristiano.
A honra subjetiva diz respeito à conduta humana,
sua autoestima. Já a honra externa (objetiva) reflete-
2. (FGV — 2022) Justina, casada há 25 anos, substituiu,
-se na reputação, no renome e na imagem social. Para
por ocasião do casamento civil com Eduardo, um dos
as pessoas jurídica é essencial a honra objetiva.
seus patronímicos pelo do marido.
Em suma, o dano pode ser compreendido como
toda ofensa e diminuição de patrimônio. O dano que
interessa à responsabilidade civil é o indenizável, que Ocorre que o sobrenome adotado passou a ser o
DIREITO CIVIL I

se traduz em prejuízo. Todo prejuízo resultante da protagonista de seu nome civil, em prejuízo do patro-
perda, deterioração ou depreciação de um bem é pas- nímico de solteira, o que passou a lhe causar inten-
sível de indenização. so sofrimento, uma vez que sempre fora conhecida
Para que ocorra o dever de indenizar não bastam pelo sobrenome de seu pai. Tal fato lhe trouxe danos
um ato ou conduta ilícita e o nexo causal, é necessário psicológicos, especialmente agora que os últimos
que tenha havido decorrente repercussão patrimo- familiares que ainda usam o seu sobrenome familiar
nial negativa material ou moral no acervo de bens e encontram-se gravemente doentes. Por essas razões,
no patrimônio de quem reclama. Ex.: a vítima sofreu Justina requereu a modificação do seu patronímico,
ainda durante a constância da sociedade conjugal, de
forma a voltar a utilizar o sobrenome da sua família. 303
O pedido deve ser julgado: e) aprovada pelo órgão do Ministério Público, expressa
ou tacitamente (pelo decurso dentro do prazo legal
a) improcedente, em virtude do princípio da inalterabili- sem manifestação), sendo cabível suprimento judicial
dade do nome ser considerado absoluto na constân- somente no caso de denegação.
cia da sociedade conjugal;
b) procedente, pois a autonomia privada é uma das exce- 5. (FGV — 2022) Pedro e Ariel, sócios em um pequeno
ções à inalterabilidade do nome previstas na Lei de empreendimento no ramo de entretenimento, a Sex-
Registros Públicos; tou, viram sua empresa enfrentar sérias dificuldades
c) procedente, pela interpretação histórico-evolutiva da financeiras em razão da suspensão das atividades, em
inalterabilidade, da preservação da herança familiar, consequência da pandemia da Covid-19.
da autonomia privada e da ausência de prejuízo a Em razão disso, deixaram de adimplir algumas obriga-
terceiros; ções contratuais, incluindo as três últimas parcelas de
d) improcedente, em razão da modificação do nome civil um contrato de empreitada que haviam celebrado com
ser qualificada como excepcional, tendo em vista a a sociedade empresária Construir para reforma de um
consideração à segurança de terceiros; espaço destinado a eventos.
e) improcedente, em virtude da proteção à estabilidade Diante do inadimplemento da Sextou, a sociedade
do vínculo conjugal e aos interesses do outro côn- empresária Construir promove ação judicial com o
juge, ao menos durante a constância da sociedade intuito de receber as parcelas vencidas e não pagas da
conjugal. obra, que havia sido finalizada 20 dias antes da decre-
tação da pandemia.
3. (FGV — 2021) Renato, Luana, Celso e Bárbara se uni- A sociedade empresária Construir, tendo conhecimen-
ram para constituir uma pessoa jurídica de direito pri- to da situação financeira da Sextou, bem como da
vado para o exercício de atividade com finalidade não interrupção das atividades sem previsão de retorno,
econômica. requer a instauração do incidente de desconsideração
da personalidade jurídica, com o intuito de alcançar o
Nesse caso, é correto afirmar que: patrimônio pessoal dos sócios para a satisfação do
seu crédito.
a) haverá, entre os quatro, direitos e obrigações recíprocos;
b) o estatuto poderá instituir categorias pelas quais Diante da hipótese narrada e de acordo com o dis-
alguns deles tenham vantagens especiais; posto no Art. 50 do Código Civil, assinale a afirmativa
c) sua participação na pessoa jurídica será transmiti- correta.
da aos seus herdeiros, se o estatuto não dispuser o
contrário; a) O inadimplemento da Sextou, somado à suspensão
d) competirá exclusivamente à assembleia geral alterar o das suas atividades, é causa justificadora para o defe-
estatuto; rimento do pedido de desconsideração da personali-
e) sob pena de anulação, o estatuto deve conter, entre dade jurídica.
outros elementos, a denominação, os fins e a sede da b) A interrupção das atividades comerciais da Sextou
pessoa jurídica. configura abuso da personalidade jurídica, ensejando
a desconsideração.
4. (FGV — 2022) Adauto instituiu por testamento fun- c) O inadimplemento, por si só, não configura abuso
dação com fins de promoção de educação de jovens da personalidade, não sendo causa justificadora
carentes de São Paulo e, para tal, realizou a dotação para a desconsideração da personalidade jurídica da
de bens livres com a parte disponível de sua herança. empresa.
Quando ele faleceu, o estatuto foi elaborado, aprova- d) As obrigações da Sextou serão estendidas aos sócios
do pelo Ministério Público e inscrito no órgão compe- se ficar comprovado que ambos possuem patrimô-
tente. A fundação começou a funcionar, mas agora, nio pessoal suficiente para arcar com tais obrigações
depois de um ano de funcionamento, precisará reali- sem comprometimento da subsistência individual e
zar alterações no seu estatuto. familiar.
e) A interrupção das atividades da Sextou configura des-
A reforma, além de deliberada por dois terços dos com- vio de finalidade, independente da demonstração do
petentes para gerir e representar a fundação e não con- propósito de lesar os credores.
trariar ou desvirtuar o fim da fundação, deve ser:
6. (FGV — 2022) Após ser salvo de uma situação grave
a) aprovada expressamente pelo órgão do Ministério de perigo, Roberto, 40 anos, decidiu mudar de vida. Em
Público dentro do prazo legal, descabido o suprimen- primeiro lugar, elaborou um testamento para estipular
to judicial em caso de denegação ou ausência de um percentual de sua herança em benefício do seu
manifestação; salvador. Além disso, perfilhou seu filho, Antônio. Na
b) aprovada pelo órgão do Ministério Público, expressa sequência, doou sua casa em Cuiabá ao seu amigo de
ou tacitamente (pelo decurso dentro do prazo legal infância, Josias, e mudou de endereço, fixando domi-
sem manifestação), descabido o suprimento judicial; cílio em uma cidade do interior.
c) aprovada pelo órgão do Ministério Público e, se ele
denegar ou não se manifestar no prazo legal, poderá o Tais atos podem ser classificados, respectivamente,
juiz supri-la a requerimento do interessado; como:
d) aprovada expressamente pelo órgão do Ministério
Público, sendo cabível suprimento judicial somente no a) ato jurídico não negocial, ato jurídico não negocial,
caso de ele não se manifestar no prazo legal; negócio jurídico bilateral e negócio jurídico unilateral;
b) negócio jurídico bilateral, negócio jurídico unilateral,
304 ato jurídico não negocial e ato jurídico não negocial;
c) ato jurídico não negocial, negócio jurídico unilateral, tratamento. Diagnosticou-se, na triagem, que o pacien-
ato jurídico não negocial e negócio jurídico unilateral; te deveria ser imediatamente internado, pois corre
d) negócio jurídico unilateral, ato jurídico não negocial, risco de morte. Na recepção do hospital, Ângelo é sur-
negócio jurídico bilateral e ato jurídico não negocial; preendido com a cobrança da diária de internação em
e) negócio jurídico unilateral, negócio jurídico bilateral, altíssimo valor, mas, para salvar seu filho, não hesita
negócio jurídico unilateral e negócio jurídico bilateral. e assina autorização de internação, obrigando-se ao
pagamento. Posteriormente, Ângelo descobre que a
7. (FGV — 2022) Após habitar por três anos um imóvel diária cobrada, na ocasião, estava dez vezes superior
rural com sua família, Marta decidiu alienar o “direito à média dos hospitais daquele porte e naquela época.
e ação” que possui sobre o bem, apesar de não ser a
titular do direito real de propriedade, que pertence a A respeito dos direitos de Ângelo, é correto afirmar
Tiago, desconhecido na região. Roberto se interessa que:
pelo imóvel e ajusta com Marta o preço de cem mil
reais. a) por ter sido praticado sob premente necessidade, o
negócio jurídico é nulo, desde seu nascedouro, poden-
Acerca desse negócio jurídico, é correto afirmar que do a nulidade ser suscitada por qualquer interessado
ou pelo Ministério Público, quando lhe couber intervir;
a) a forma pública é necessária, ante o valor convencio- b) Ângelo, em situação imprevisível e inevitável, obrigou-
nado entre as partes. -se a prestação manifestamente desproporcional ao
b) o instrumento pode ser particular, tendo em vista que valor da prestação oposta, podendo suscitar a anula-
o “direito e ação” se trata de uma detenção. bilidade do negócio em até cinco anos a contar de sua
c) a alienação do “direito e ação” deve ser por instrumen- celebração;
to público, ante a ocorrência de usucapião. c) Ângelo, sob premente necessidade, obrigou-se a
d) Tiago deve anuir com a alienação, independentemente prestação manifestamente desproporcional ao valor
da forma do negócio jurídico. da prestação oposta, podendo suscitar a anulabili-
e) a posse de que Marta é titular pode ser cedida por ins- dade do negócio em até quatro anos a contar de sua
trumento particular. celebração;
d) Ângelo, por ser médico, tem experiência e conheci-
8. (FGV — 2021) Leandro, solteiro, 17 anos, bacharel em mento das regras de mercado e teria condições ple-
química, celebrou contrato de compra e venda de um nas de avaliar, consciente e livremente, as condições
carro usado com Natália no valor de R$ 35.000,00. no momento da contratação, não podendo reclamar
Após o pagamento, a propriedade do carro foi transmi- indenização posterior;
tida a Leandro. e) Ângelo e o hospital não podem, em razão da anula-
Nesse caso, o contrato celebrado por Leandro e Natá- bilidade que recai sobre o negócio, celebrar acordo
lia é: posterior para confirmar o conteúdo do negócio, nos
seus termos iniciais, limitando-se a autonomia privada
a) inexistente; das partes para essa transação, em razão de norma de
b) válido; ordem pública.
c) nulo;
d) anulável; 11. (FGV — 2021) Ademir queria doar um de seus terrenos
e) inexigível. a seu sobrinho João, mas sabia que sua esposa Del-
ma não concordaria com isso. Assim, doou o terreno
9. (FGV — 2022) Quando sua mãe passou muito mal, para seu amigo Cleber que, após alguns meses, repas-
Bruno a levou à emergência mais próxima, onde foi sou o imóvel a João, conforme previamente acertado
indicada a necessidade de sua internação imediata entre Ademir e Cleber.
numa Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), sob ris-
co de morte. Bruno encontrou vaga em um hospital na Nesse caso, ocorreu:
região, mas não tendo conseguido a autorização do
plano de saúde para a transferência da mãe, celebrou a) dolo;
contrato com o hospital pelo qual se comprometeu b) fraude contra credores;
a pagar pelo serviço preço bastante superior ao seu c) lesão;
valor de mercado. d) simulação;
e) erro.
Diante disso, o contrato entre Bruno e o hospital é
viciado por: 12. (FGV — 2021) A ZW Empreendimentos Ltda. comprou
da ZTC Ltda. um apartamento na cidade de Londrina
a) estado de necessidade; pelo preço de R$ 800.000,00. O contrato foi celebrado
b) dolo; mediante instrumento particular. Perante o Registro
DIREITO CIVIL I

c) coação; de Imóveis, houve a exigência do instrumento público.


d) fraude;
e) estado de perigo. Diante disso:

10. (FGV — 2021) Ângelo, médico, pai de Fernando, vê-se a) o Cartório do Registro de Imóveis deve aceitar o ins-
em uma emergência médica com seu filho, que sofreu trumento particular porque no ordenamento jurídico
grave acidente doméstico. Imediatamente leva seu brasileiro vige o princípio da liberdade de forma;
filho ao pronto- atendimento de unidade hospita- b) é possível ao Poder Judiciário converter o contrato em
lar particular. Fernando não possui plano de saúde promessa de compra e venda, pelo princípio da con-
e Ângelo vai arcar diretamente com as despesas do servação dos negócios jurídicos; 305
c) o negócio jurídico não produzirá efeitos por se tratar d) a entrega do material deve ser realizada mensalmen-
de imóvel de valor superior a dez salários mínimos, te no domicílio da VIC, se o contrário não decorrer da
configurando exceção ao princípio da liberdade de convenção, da lei, da natureza da obrigação ou das
forma; circunstâncias;
d) o contrato poderá produzir efeitos se ultrapassado o e) se houver no contrato previsão de local específico
prazo para arguição de seu vício, operando-se a deca- para realização das entregas, esse local não poderá
dência do direito à sua impugnação; ser modificado sem o consentimento de ambas as
e) a compra e venda de imóvel no valor estipulado é repu- partes, ainda que a VIC reiteradamente aceite que a
tada inexistente ante à violação da forma prescrita em entrega seja feita em outro local.
lei para transferência de direitos reais sobre imóveis.
16. (FGV — 2022) A Siderúrgica S/A foi contratada em
13. (FGV — 2021) Em 15 de janeiro de 2020, André com- 2019 para construir um protótipo de aço para a Auto-
pletou 12 anos de idade. Enquanto passeava com seu motiva Ltda., que deveria ser entregue até o final
pai para celebrar a ocasião, André foi atingido por um daquele ano. Entretanto, a Siderúrgica S/A não conse-
cinzeiro caído de um edifício particular. guiu concluir a construção no prazo, por inadequado
planejamento de sua parte. Quando estava prestes a
André pode pretender a reparação civil dos danos concluí-lo, em março de 2020, adveio determinação
sofridos até: do poder público no sentido do fechamento da fábri-
ca e suspensão temporária das suas atividades, com
a) 15 de janeiro de 2023; base na calamidade pública decorrente da pandemia,
b) 15 de janeiro de 2024; o que inviabilizou definitivamente o cumprimento da
c) 15 de janeiro de 2026; obrigação.
d) 15 de janeiro de 2027;
e) 15 de janeiro de 2029. Essa determinação de suspensão das atividades da
fábrica:
14. (FGV — 2021) Jurema comprou um carro de seu vizi-
nho Clóvis pelo valor de R$ 40.000,00, a serem pagos a) configura força maior e libera a Siderúrgica S/A da res-
dali a uma semana. Ocorre que no dia do pagamento, ponsabilidade pelo inadimplemento;
Jurema disse a Clóvis que sofreu um imprevisto e não b) não isenta a Siderúrgica S/A dos efeitos do inadimple-
tinha condições de pagar o dinheiro prometido. Jure- mento, por ter ocorrido quando já estava em mora;
ma então ofereceu a Clóvis, em lugar da prestação ori- c) caracteriza fato do príncipe, de modo a suspender a
ginal, um colar de pérolas. Clóvis aceitou a proposta e exigibilidade da prestação enquanto persistirem seus
recebeu o colar naquele mesmo momento, entregan- efeitos;
do-lhe o automóvel. d) pode ser qualificada como impossibilidade superve-
niente do objeto, extinguindo a relação obrigacional de
No caso, houve: pleno direito;
e) é causa de onerosidade excessiva, em razão de sua
a) dação em pagamento; imprevisibilidade, autorizando a resolução do contrato.
b) novação;
c) compensação; 17. (FGV — 2022) XX S/A ajuizou ação para a rescisão do
d) remissão; contrato atípico que celebrara com a YY Ltda., em vir-
e) confusão. tude de esta ter descumprido o avençado, mas a YY
alega que, embora ela tenha dado execução normal
15. (FGV — 2022) A BX Ltda. foi contratada para fornecer ao contrato durante anos, ele não chegou a se cons-
mensalmente material de escritório para a VIC S/A tituir de forma válida, porque o instrumento não foi
pelo prazo de cinco anos. O material deve ser entregue assinado.
até o quinto dia útil de cada mês, sob pena de juros
e multa. Renato e Almir figuraram como fiadores das Com base no exposto, sua alegação:
obrigações da BX. Em troca, ficou avençado que a VIC
depositará na conta-corrente da BX a quantia de dois a) deve ser acolhida, pois os contratos devem ser forma-
mil reais em até três dias após a entrega. lizados por escrito, sob pena de nulidade;
b) é respaldada pela função social do contrato, tendo em
Sobre o caso, é correto afirmar que: vista o interesse coletivo na segurança jurídica;
c) baseia-se no princípio da intervenção mínima e na
a) Almir pode realizar o cumprimento da obrigação de excepcionalidade da revisão contratual;
entregar o material, mas não tem legitimidade para d) contraria a boa-fé objetiva, por se contradizer com a
realizar a consignação do pagamento se a VIC se opu- legítima expectativa criada pela execução voluntária
ser a receber dele; do negócio;
b) será considerado pagamento eficaz a entrega do e) deve ser rejeitada, porque a alocação de riscos defini-
material realizada a qualquer portador da quitação da pelas partes deve ser respeitada e observada.
emitida pela VIC, mesmo que as circunstâncias con-
trariem a presunção de ele estar autorizado a receber; 18. (FGV — 2022) “Boa fé objetiva” e “autonomia privada”
c) salvo disposição em contrário, o preço a ser depo- são importantes conceitos no Direito Civil contempo-
sitado pela VIC no vencimento não será corrigido râneo. Sobre eles, assinale a afirmativa correta.
monetariamente, ressalvada eventual revisão judicial
decorrente de desproporção manifesta por motivos a) A “boa-fé objetiva” é a observância de critérios rígidos
imprevisíveis; de conduta, estabelecidos na legislação para as varia-
306 das relações jurídicas.
b) “Autonomia privada” sendo uma acepção mais ampla
4 C
do que “autonomia da vontade”, ao Poder Judiciá-
rio é vedado rever cláusulas de contratos civis e 5 C
empresariais.
c) O exame da “boa-fé objetiva” limita-se às fases de 6 D
preparação e celebração do contrato, não sendo mais
possível, como ocorria antes 7 E
d) A “autonomia privada” não exclui a “função social do 8 B
contrato”.
9 E
19. (FGV — 2022) Jurema, ao conduzir o seu veículo por
10 C
uma estrada de mão dupla, é surpreendida com um
carro na contramão e em alta velocidade dirigido por 11 D
Maurício. Para se esquivar de uma possível colisão,
Jurema realiza manobra vindo a atropelar Bento, que 12 B
estava na calçada e sofreu um corte no rosto, o que o
impediu de realizar um ensaio fotográfico como mode- 13 D
lo profissional. 14 A

Considerando a situação hipotética, é correto afirmar 15 C


que Jurema:
16 B
a) praticou ato ilícito e deverá indenizar Bento; 17 D
b) agiu em estado de necessidade e não deverá indenizar
Bento, pois o ato é lícito; 18 D
c) agiu em estado de necessidade e deverá indenizar
19 C
Bento, apesar do ato ser lícito;
d) e Maurício devem indenizar Bento, pois praticaram 20 C
atos ilícitos;
e) praticou ato ilícito e deve indenizar Bento, mas não
poderá ingressar com ação de regresso em face de
Maurício.
ANOTAÇÕES
20. (FGV — 2021) Afonso ajuizou ação de indenização por
danos materiais e morais contra Paulo, que, diante do
incêndio que acidentalmente havia se iniciado no edi-
fício vizinho, arrombou as portas da portaria do prédio
e do apartamento de Afonso, a fim de retirá-lo às pres-
sas do local.

Por conta do arrombamento, Afonso diz que teve que


desocupar o local por três dias, o que lhe causou pre-
juízos materiais. Pleiteia o ressarcimento dos danos
sofridos com a invasão abrupta de sua residência e,
ainda, compensação pelo dano moral.

Diante dos fatos narrados, assinale a afirmativa correta.

a) Afonso não faz jus à indenização, pois, como morador


do edifício, presume-se sua culpa no evento.
b) Paulo não responde pela destruição dos bens, pois
agiu em estado de necessidade.
c) Paulo deve indenizar, pois Afonso não foi culpado pela
situação de perigo.
d) Afonso faz jus à indenização, porque Paulo praticou
ato ilícito.
e) Paulo deverá indenizar Afonso na medida da concor-
rência de culpa de ambos.
DIREITO CIVIL I

9 GABARITO

1 B

2 C

3 B

307
ANOTAÇÕES

308
O regime jurídico empresarial é o responsável por
regulamentar a prática de atividade mercantil, tor-
nando-a legal.
Com a adoção da Teoria da Empresa, o empresário

DIREITO EMPRESARIAL I
não pode ser mais chamado de comerciante, sendo
definido como aquele profissional que exerce ativida-
de econômica organizada para a produção e circula-
ção de bens ou de serviços.
O conceito de empresário estabelecido pelo Códi-
go Civil traz componentes imprescindíveis para que
EMPRESA E EMPRESÁRIO
se possa identificar o empresário e/ou a sociedade
empresária, sendo eles:
O direito empresarial foi incorporado no direi-
to brasileiro com o advento do Código Civil de 2002
(Livro II — Parte Especial — arts. 966 e seguintes) sob z Profissionalismo: atividade econômica habitual
amparo da Teoria da Empresa. (não eventual);
Antes da vigência do Código Civil de 2002 e sob égi- z Organização: atividade econômica lícita e idônea
de da Teoria dos Atos de Comércio (Código Comercial exercida de forma organizada (mão de obra, capi-
de 1850), somente quem praticava ato de mercancia tal, insumos e tecnologia);
era considerado comerciante. z Atuação em nome próprio: atividade econômica
Nas palavras de Fran Martins1, “atos de comércio exercida por sua conta e em seu nome;
serão atos praticados pelos comerciantes, no exercício z Objetivo de lucro: busca o lucro.
de sua profissão, e como tais ficam sempre sujeitos à lei
comercial”. O parágrafo único, do art. 966, estabelece quem
Segundo Bruno Mattos Silva2, com a adoção da não é considerado empresário, deixando claro que
Teoria da Empresa, apenas quem se desenvolver sob a forma de empre-
sa será considerado empresário, caso contrário, fica
[...] o âmbito da parte geral do direito comercial, excluído do regime jurídico empresarial.
antes centrado nas figuras do comerciante e dos O art. 967, do Código Civil, determina a obrigato-
atos de comércio, para a figura do empresário e da riedade de inscrição do empresário no Registro Públi-
empresa, entendida esta como a atividade econômi- co de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes
ca organizada e realizada de forma habitual. do início de sua atividade:

Destaca-se que o Código Civil de 2002 não revogou Art. 967 É obrigatória a inscrição do empresário
por completo o Código Comercial de 1850, que era no Registro Público de Empresas Mercantis da res-
constituído por três partes: pectiva sede, antes do início de sua atividade.

z Comerciante e Sociedades Comerciais — revogado O § 3º, do art. 968, do Código Civil, permite que o
pelo Código Civil; empresário individual, caso venha a admitir sócios,
z Comércio Marítimo — vigente; solicite ao Registro Público de Empresas Mercantis
z Lei de Quebras — revogada pela antiga Lei de a transformação de seu registro de empresário para
Falência e Concordata (Decreto nº 7.661, de 1945) registro de sociedade empresária:
que foi revogada pela atual Lei de Falência e Recu-
peração de Empresas (Lei nº 11.101, de 2005). Art. 968 [...]
§ 3º Caso venha a admitir sócios, o empresário
Nos termos do art. 966, do Código Civil: individual poderá solicitar ao Registro Público
de Empresas Mercantis a transformação de seu
Art. 966 Considera-se empresário quem exerce registro de empresário para registro de sociedade
profissionalmente atividade econômica organiza- empresária, observado, no que couber, o disposto
da para a produção ou a circulação de bens ou de nos arts. 1.113 a 1.115 deste Código. (Incluído pela
serviços. Lei Complementar nº 128, de 2008)
Parágrafo único. Não se considera empresário
quem exerce profissão intelectual, de natureza cien- O art. 971, do Código Civil, aduz que quando efe-
tífica, literária ou artística, ainda com o concurso tuar o registro de sua atividade econômica na Jun-
de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício ta Comercial, o produtor rural será equiparado ao
DIREITO EMPRESARIAL I

da profissão constituir elemento de empresa. empresário:

É imprescindível que o empresário atenda aos Art. 971 O empresário, cuja atividade rural cons-
conjuntos de regras específicas (regime jurídico titua sua principal profissão, pode, observadas as
empresarial) ao qual está submetido para que possa formalidades de que tratam o art. 968 e seus pará-
exercer sua atividade de forma regular. Assim, caso grafos, requerer inscrição no Registro Público
o empresário não siga as normas determinadas, será de Empresas Mercantis da respectiva sede, caso
considerado irregular, não podendo se beneficiar do em que, depois de inscrito, ficará equiparado, para
regime de execução especial em caso de insolvência, todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro.
assim como não poderá requerer a recuperação judi-
cial ou extrajudicial, por exemplo.
1 MARTINS, F. Curso de Direito Comercial. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1977, p. 92.
2 SILVA, B. M. Direito de empresa. São Paulo: Atlas, 2007, p. 28. 309
O empresário pode ser pessoa física ou jurídica. Se Destaca-se que o art. 977, do Código Civil, traz restri-
pessoa física, será denominado empresário indivi- ções quanto à possibilidade de estabelecimento de socie-
dual. Já se pessoa jurídica, será denominado socie- dade empresária entre cônjuges ou com terceiros, desde
dade empresária. que o regime de comunhão de casamento não seja comu-
Fábio Ulhoa Coelho3 destaca que desde logo deve- nhão universal ou separação obrigatória de bens.
mos acentuar que os sócios da sociedade empresária
não são empresários, e, sim, empreendedores (além Art. 977 Faculta-se aos cônjuges contratar socieda-
de capital, são administradores) ou investidores de, entre si ou com terceiros, desde que não tenham
(aportam capital), dependendo da colaboração dada casado no regime da comunhão universal de bens,
à sociedade. Assim, as regras que são aplicáveis aos ou no da separação obrigatória.
empresários individuais não se aplicam aos sócios da
sociedade empresária. EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE
LIMITADA
CAPACIDADE PARA SER EMPRESÁRIO
A Eireli (empresa individual de responsabilidade
Os arts. 972 a 980, do Código Civil, dispõem sobre limitada) compreendia uma sociedade constituída por
as regras referentes à capacidade para ser empresário apenas um sócio.
individual (e não sociedade). O art. 980-A, do Código Civil — revogado pela Lei
Nos termos do art. 972: nº 14.382, de 2022 — trazia o rol de requisitos que
deveriam ser atendidos pelo sujeito que pretendia
Art. 972 Podem exercer a atividade de empresário integrar a Eireli. No entanto, a Lei nº 14.195, de 2021,
os que estiverem em pleno gozo da capacidade civil determinou o fim da Eireli em seu art. 41:
e não forem legalmente impedidos.
Art. 41 As empresas individuais de responsabi-
lidade limitada existentes na data da entrada em
São legalmente impedidos de exercer atividade
vigor desta Lei serão transformadas em socie-
empresária, por exemplo: funcionários públicos; fali-
dades limitadas unipessoais independentemen-
do (não reabilitado); devedores do INSS, cônsul (salvo te de qualquer alteração em seu ato constitutivo.
o não remunerado); militares da ativa (marinha, exér- Parágrafo único. Ato do Drei disciplinará a trans-
cito e aeronáutica). formação referida neste artigo.
O art. 973, do Código Civil, dispõe que caso a pessoa
legalmente impedida exercer a atividade empresária Até 2021, enquanto tinha previsão legal, a empre-
a exerça, responderá pelas obrigações contraídas, ou sa individual de responsabilidade limitada (Eireli) era
seja, os atos realizados não serão considerados nulos considerada um ente jurídico personalizado próprio
ou anuláveis: (não se confundia com a sociedade empresária nem
com o empresário individual), tendo personalidade
Art. 973 A pessoa legalmente impedida de exercer jurídica própria após a sua regular criação, sendo titu-
atividade própria de empresário, se a exercer, res- larizada por uma só pessoa (natural ou jurídica).
ponderá pelas obrigações contraídas.
MICROEMPRESA E EMPRESA DE PEQUENO PORTE
Nos termos do art. 974, do Código Civil:
O art. 179, da Constituição Federal, estabelece que
Art. 974 Poderá o incapaz, por meio de repre- o Poder Público dispensará tratamento diferenciado
sentante ou devidamente assistido, continuar às microempresas e às empresas de pequeno porte,
a empresa antes exercida por ele enquanto simplificando o atendimento às obrigações adminis-
capaz, por seus pais ou pelo autor de herança. trativas, tributárias, previdenciárias e creditícias,
§ 1º Nos casos deste artigo, precederá autoriza-
podendo a lei reduzir ou eliminar tais obrigações:
ção judicial, após exame das circunstâncias e dos
riscos da empresa, bem como da conveniência em
Art. 179 A União, os Estados, o Distrito Federal e
continuá-la, podendo a autorização ser revoga-
os Municípios dispensarão às microempresas e às
da pelo juiz, ouvidos os pais, tutores ou represen-
empresas de pequeno porte, assim definidas em lei,
tantes legais do menor ou do interdito, sem prejuízo
tratamento jurídico diferenciado, visando a incenti-
dos direitos adquiridos por terceiros.
vá-las pela simplificação de suas obrigações adminis-
§ 2º Não ficam sujeitos ao resultado da empresa os
trativas, tributárias, previdenciárias e creditícias, ou
bens que o incapaz já possuía, ao tempo da suces-
pela eliminação ou redução destas por meio de lei.
são ou da interdição, desde que estranhos ao acer-
vo daquela, devendo tais fatos constar do alvará
que conceder a autorização. A Lei Complementar nº 123, de 2006 — Estatuto Nacio-
§ 3º O Registro Público de Empresas Mercantis a nal da Microempresa e Empresa de Pequeno Porte, em
cargo das Juntas Comerciais deverá registrar con- seu art. 3º, define microempresa e empresa de pequeno
tratos ou alterações contratuais de sociedade que porte em razão do valor de sua receita bruta anual:
envolva sócio incapaz, desde que atendidos, de for-
ma conjunta, os seguintes pressupostos: Art. 3º Para os efeitos desta Lei Complementar,
I - o sócio incapaz não pode exercer a administra- consideram-se microempresas ou empresas de
ção da sociedade; pequeno porte, a sociedade empresária, a socie-
II - o capital social deve ser totalmente integralizado; dade simples, a empresa individual de responsa-
III - o sócio relativamente incapaz deve ser assisti- bilidade limitada e o empresário a que se refere o
do e o absolutamente incapaz deve ser representa- art. 966 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002
do por seus representantes legais. (Código Civil), devidamente registrados no Registro

310 3 COELHO, F. U. Manual de Direito Comercial. 20 ed. São Paulo, 2008, p. 20.
de Empresas Mercantis ou no Registro Civil de Pes- O estabelecimento pode ser dividido, sem perder
soas Jurídicas, conforme o caso, desde que: a sua unidade, em:
I - no caso da microempresa, aufira, em cada ano-
-calendário, receita bruta igual ou inferior a z Matriz: estabelecimento principal — centro diretivo;
R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais); e z Sucursal: possui certa autonomia administrativa;
II - no caso de empresa de pequeno porte, z Filial: sem autonomia administrativa.
aufira, em cada ano-calendário, receita bruta
superior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta Entende-se como aviamento o valor comercial
mil reais) e igual ou inferior a R$ 4.800.000,00 do estabelecimento, levando-se em consideração sua
(quatro milhões e oitocentos mil reais). (Reda- maior ou menor capacidade de gerar lucro, refletindo
ção dada pela Lei Complementar nº 155, de 2016) o prestígio e a confiança que ela goza no meio social.
Já a clientela consiste no conjunto de pessoas que
Fábio Ulhoa Coelho ensina: se relacionam com o estabelecimento continuamente.
Fábio Ulhoa Coelho (pp. 12 e 57) trata com precisão
No cômputo da receita bruta anual, que é conceito as diferenças das expressões empresa e estabeleci-
e sinônimo de faturamento, considera-se a soma de mento empresarial, sendo a primeira a atividade de
todos os ingressos derivados do exercício da ati- produção ou circulação de bens ou serviços, e a segun-
vidade comercial ou econômica a que se dedica o da o local em que a atividade é desenvolvida, incluindo
empresário4. a reunião dos demais bens corpóreos e incorpóreos.
Para que seja feita a alienação do estabelecimen-
Os empresários individuais, as sociedades empre- to empresarial (através do contrato de trespasse),
sariais e simples que atenderem aos limites estabeleci- certos requisitos determinados por lei precisam ser
dos pela lei devem acrescer ao seu nome empresarial respeitados.
as expressões “Microempresa” ou “Empresa de Peque- O contrato de alienação do estabelecimento (tres-
no Porte”, ou as abreviaturas ME ou EPP. passe), para ter eficácia perante terceiros, deve ser
O Estatuto supracitado criou o “Regime Especial averbado à margem da inscrição do empresário ou
sociedade empresária na Junta Comercial e publicado
Unificado de Arrecadação de Tributos e Contribuições
no Diário Oficial.
devidos pelas Microempresas e Empresas de Pequeno
O art. 1145, do Código Civil, dispõe sobre a aliena-
Porte”: o Simples Nacional, que consiste em um regi-
ção do estabelecimento, assim como sobre a responsa-
me tributário simplificado que pode ser aderido pelas
bilidade do alienante e adquirente:
microempresas e empresas de pequeno porte. Através
de um único recolhimento mensal, os optantes pelo Art. 1.145 Se ao alienante não restarem bens sufi-
Simples recolhem diversos tributos, de forma propor- cientes para solver o seu passivo, a eficácia da alie-
cional ao seu faturamento. nação do estabelecimento depende do pagamento
de todos os credores, ou do consentimento destes,
ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL de modo expresso ou tácito, em trinta dias a partir
de sua notificação.
Segundo Rubens Requião, o estabelecimento
empresarial “é o instrumento da atividade do empre- Assim, quando o passivo for maior que o ativo, a
sário” 5. alienação depende do consentimento ou pagamento
Nos termos do art. 1.142, do Código Civil: dos credores. Destaca-se que a alienação do estabe-
lecimento sem deixar bens suficientes para saldar o
passivo caracteriza um dos atos de falência previstos
Art. 1.142 Considera-se estabelecimento todo
no inciso III, art. 94, da Lei nº 11.101, de 2005.
complexo de bens organizado, para exercício da
O art. 1146, do Código Civil, dispõe sobre a respon-
empresa, por empresário, ou por sociedade empre-
sabilidade dos débitos anteriores à alienação, vejamos:
sária. (Vide Lei nº 14.195, de 2021)
§ 1º O estabelecimento não se confunde com o
Art. 1.146 O adquirente do estabelecimento res-
local onde se exerce a atividade empresarial, que
ponde pelo pagamento dos débitos anteriores à
poderá ser físico ou virtual. (Incluído pela Lei nº
transferência, desde que regularmente conta-
14.382, de 2022) bilizados, continuando o devedor primitivo soli-
§ 2º Quando o local onde se exerce a atividade dariamente obrigado pelo prazo de um ano, a
empresarial for virtual, o endereço informado partir, quanto aos créditos vencidos, da publicação,
para fins de registro poderá ser, conforme o caso, o e, quanto aos outros, da data do vencimento.
DIREITO EMPRESARIAL I

endereço do empresário individual ou o de um dos


sócios da sociedade empresária. (Incluído pela Lei O art. 1.147, do Código Civil, estabelece que o alie-
nº 14.382, de 2022) nante, via de regra, fica impedido de se restabelecer
§ 3º Quando o local onde se exerce a atividade concorrencialmente com o adquirente, pelo perío-
empresarial for físico, a fixação do horário de fun- do de 5 (cinco) anos contados da transferência do
cionamento competirá ao Município, observada a estabelecimento:
regra geral prevista no inciso II do caput do art. 3º
da Lei nº 13.874, de 20 de setembro de 2019. (Incluí- Art. 1.147 Não havendo autorização expressa,
do pela Lei nº 14.382, de 2022) o alienante do estabelecimento não pode fazer
concorrência ao adquirente, nos cinco anos sub-
sequentes à transferência.

4 COELHO, 2008, p. 65.


5 REQUIÃO, R. Curso de Direito Comercial. 22 ed. v. 1. São Paulo: Saraiva, 1995, p. 197. 311
Parágrafo único. No caso de arrendamento ou § 2º Nas locações de espaço em shopping centers, o
usufruto do estabelecimento, a proibição pre- locador não poderá recusar a renovação do contra-
vista neste artigo persistirá durante o prazo do to com fundamento no inciso II deste artigo.
contrato. § 3º O locatário terá direito a indenização para res-
sarcimento dos prejuízos e dos lucros cessantes que
A lei de locação de bens imóveis (residencial e não tiver que arcar com mudança, perda do lugar e des-
residencial — Lei nº 8.245, de 1991 — arts. 51 e seguin- valorização do fundo de comércio, se a renovação
tes) dispõe sobre regras que possibilitam a ação reno- não ocorrer em razão de proposta de terceiro, em
vatória do ponto empresarial em que o empresário ou melhores condições, ou se o locador, no prazo de
a sociedade empresária desenvolva suas atividades três meses da entrega do imóvel, não der o destino
econômicas, com o intuito de propiciar ao locatário de alegado ou não iniciar as obras determinadas pelo
imóvel não residencial sua permanência no mesmo Poder Público ou que declarou pretender realizar.
local por outro período contratual, desde que preen-
chidos os requisitos legais. RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS

Art. 51 Nas locações de imóveis destinados A responsabilidade dos sócios em relação às obri-
ao comércio, o locatário terá direito a renova- gações sociais pode ser:
ção do contrato, por igual prazo, desde que,
cumulativamente: z Sociedade de responsabilidade limitada: todos
I - o contrato a renovar tenha sido celebrado por os sócios têm responsabilidade limitada, obri-
escrito e com prazo determinado; gando-se somente pelo valor da sua contribuição
II - o prazo mínimo do contrato a renovar ou a ou, em algumas circunstâncias, do capital social
soma dos prazos ininterruptos dos contratos integral. Abarca a sociedade limitada, a socieda-
escritos seja de cinco anos; de anônima e, eventualmente, a cooperativa (esta
III - o locatário esteja explorando seu comércio, somente se adotar a forma de responsabilidade
no mesmo ramo, pelo prazo mínimo e ininterrup-
limitada — art. 11, da Lei nº 5.764, de 1971);
to de três anos.
z Sociedade de responsabilidade ilimitada: todos
§ 1º O direito assegurado neste artigo poderá ser
os sócios respondem ilimitadamente (de forma
exercido pelos cessionários ou sucessores da
locação; no caso de sublocação total do imóvel, o subsidiária) pelas obrigações sociais. Serão os
direito a renovação somente poderá ser exercido casos da sociedade em nome coletivo, da sociedade
pelo sublocatário. em comum, da sociedade simples pura e, eventual-
§ 2º Quando o contrato autorizar que o locatário mente, da cooperativa (esta somente se adotar a
utilize o imóvel para as atividades de sociedade de forma de responsabilidade ilimitada — art. 12, da
que faça parte e que a esta passe a pertencer o fun- Lei nº 5.764, de 1971);
do de comércio, o direito a renovação poderá ser z Sociedade de responsabilidade mista: a respon-
exercido pelo locatário ou pela sociedade. sabilidade é variável em relação aos sócios, alguns
§ 3º Dissolvida a sociedade comercial por morte de respondendo de forma ilimitada e, outros, de forma
um dos sócios, o sócio sobrevivente fica sub-roga- limitada. Representam essa espécie a sociedade em
do no direito a renovação, desde que continue no comandita simples, sociedade em comandita por
mesmo ramo. ações e sociedade em conta de participação. Mes-
§ 4º O direito a renovação do contrato estende-
mo no caso em que a responsabilidade do sócio é
-se às locações celebradas por indústrias e socie-
ilimitada, ou seja, na hipótese de o patrimônio pes-
dades civis com fim lucrativo, regularmente
soal responder por obrigações sociais, lembramos
constituídas, desde que ocorrentes os pressupostos
previstos neste artigo. que tal responsabilidade será subsidiária. Dessa
§ 5º Do direito a renovação decai aquele que não pro- forma, primeiro tem que ser esgotado o patrimô-
puser a ação no interregno de um ano, no máximo, nio social, para a partir daí, direcionar a execução
até seis meses, no mínimo, anteriores à data da para o patrimônio particular dos sócios. É o que o
finalização do prazo do contrato em vigor. Código Civil chama de benefício de ordem. Esgo-
tado o patrimônio social, os sócios serão demanda-
O art. 52, da Lei nº 8.245, de 1991, determina quan- dos de forma solidária.
do o locador não estará obrigado a renovar a locação:
Nesse sentido, vejamos o art. 1.024, do Código Civil,
Art. 52 O locador não estará obrigado a reno- e o art. 795, do Código de Processo Civil:
var o contrato se:
I - por determinação do Poder Público, tiver que Código Civil (CC)
realizar no imóvel obras que importarem na sua Art. 1.024 Os bens particulares dos sócios não
radical transformação; ou para fazer modificações podem ser executados por dívidas da sociedade,
de tal natureza que aumente o valor do negócio ou senão depois de executados os bens sociais.
da propriedade;
II - o imóvel vier a ser utilizado por ele próprio ou Código de Processo Civil (CPC)
para transferência de fundo de comércio existen- Art. 795 Os bens particulares dos sócios não res-
te há mais de um ano, sendo detentor da maioria pondem pelas dívidas da sociedade, senão nos
do capital o locador, seu cônjuge, ascendente ou casos previstos em lei.
descendente. § 1º O sócio réu, quando responsável pelo pagamen-
§ 1º Na hipótese do inciso II, o imóvel não poderá to da dívida da sociedade, tem o direito de exigir
ser destinado ao uso do mesmo ramo do locatário, que primeiro sejam excutidos os bens da sociedade.
salvo se a locação também envolvia o fundo de § 2º Incumbe ao sócio que alegar o benefício do §
312 comércio, com as instalações e pertences. 1º nomear quantos bens da sociedade situados na
mesma comarca, livres e desembargados, bastem A sociedade é o sujeito de direito. A empresa é o
para pagar o débito. objeto de direito.
[...] A sociedade devidamente constituída adquire per-
sonalidade jurídica, tornando-se sujeito de direitos e
O art. 990, do Código Civil, traz uma exceção na obrigações.
parte final, estabelecendo responsabilidade solidária A sociedade empresarial é empresária, não empre-
para aquele que contratou pela sociedade em comum: sa. A empresa é a própria atividade. Assim, pode exis-
tir sociedade sem existência da empresa, como, por
Art. 990 Todos os sócios respondem solidária e ili- exemplo, quando o contrato está formado e registrado
mitadamente pelas obrigações sociais, excluído do na junta comercial, porém continua inativo, existindo
benefício de ordem, previsto no art. 1.024, aquele somente a sociedade.
que contratou pela sociedade. Arnaldo Rizzardo6 afirma que o conteúdo da pala-
vra empresa corresponde ao elemento de produção
econômica organizada e, quando esta produção se dá
por uma sociedade, tem-se a sociedade empresária.
DIREITO SOCIETÁRIO As demais sociedades, que não visam a atividade eco-
nômica organizada, enquadram-se como sociedade
SOCIEDADES EMPRESÁRIAS E SIMPLES simples.
A teoria da empresa permite a divisão das socieda-
des em empresárias e simples. Observe:
Nos termos do art. 981, do Código Civil:

Art. 981 Celebram contrato de sociedade as pes- z Empresárias: destinadas à atividade econômica
soas que reciprocamente se obrigam a contribuir, organizada para a produção e circulação de bens
com bens ou serviços, para o exercício de atividade ou serviços. Por determinação legal — S/A e
econômica e a partilha, entre si, dos resultados. Comandita por Ações;
Parágrafo único. A atividade pode restringir-se à z Simples: não tem como objeto a produção ou cir-
realização de um ou mais negócios determinados. culação de bens ou serviços. Desenvolvem ativida-
de econômica não organizada. Por determinação
Assim, como regra, o Código Civil adota a plurali- legal — Simples e Cooperativa.
dade de pessoas para existência de sociedade, não per-
mitindo a chamada sociedade unipessoal. No entanto, As sociedades empresárias, nos termos do art. 983,
há situações legais nas quais se permite a existência do Código Civil, devem ser constituídas em confor-
desta. midade com os seguintes tipos societários: sociedade
Destaca-se que somente a inscrição no registro em nome coletivo, sociedade em comandita simples,
próprio concede personalidade jurídica à sociedade, sociedade limitada, sociedade anônima e sociedade
conforme disposto no art. 985, do Código Civil: em comandita por ações. Observemos:

Art. 985 A sociedade adquire personalidade Art. 983 A sociedade empresária deve constituir-
jurídica com a inscrição, no registro próprio e -se segundo um dos tipos regulados nos arts. 1.039
na forma da lei, dos seus atos constitutivos (arts. a 1.092; a sociedade simples pode constituir-se de
45 e 1.150). conformidade com um desses tipos, e, não o fazen-
Art. 45 Começa a existência legal das pessoas do, subordina-se às normas que lhe são próprias.
jurídicas de direito privado com a inscrição Parágrafo único. Ressalvam-se as disposições con-
do ato constitutivo no respectivo registro, cernentes à sociedade em conta de participação
precedida, quando necessário, de autorização ou e à cooperativa, bem como as constantes de leis
aprovação do Poder Executivo, averbando-se no especiais que, para o exercício de certas atividades,
registro todas as alterações por que passar o ato imponham a constituição da sociedade segundo
constitutivo. determinado tipo.
Parágrafo único. Decai em três anos o direito de
anular a constituição das pessoas jurídicas de direi- No caso destas não serem constituídas em confor-
to privado, por defeito do ato respectivo, contado o midade com os tipos previstos nos arts. 1.039 a 1.092,
prazo da publicação de sua inscrição no registro. as sociedades simples ficarão subordinadas as regras
Art. 1.150 O empresário e a sociedade empresá- que lhes são próprias, previstas nos arts. 997 e seguin-
ria vinculam-se ao Registro Público de Empre- tes, do Código Civil.
sas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais, e a A sociedade empresária difere da simples no que
DIREITO EMPRESARIAL I

sociedade simples ao Registro Civil das Pessoas diz respeito ao seu objeto, não ao seu fim lucrativo. A
Jurídicas, o qual deverá obedecer às normas fixa- primeira tem, como objetivo, a exploração do objeto
das para aquele registro, se a sociedade simples social com empresarialidade (capital, insumos, mão
adotar um dos tipos de sociedade empresária. de obra e tecnologia).
A segunda, por sua vez, é criada para quaisquer
Dica finalidades que não a empresa, embora possa ter fins
econômicos e obter lucro, estes denominados segundo
Empresário e Sociedade Empresária —> Regis- a sua atuação.
tro Público de Empresas Mercantis (a cargo das Via de regra, os sócios respondem pelas dívidas
Juntas Comerciais da sociedade em comum de forma subsidiária em
Sociedade Simples —> Registro Civil das Pes- relação a terceiros (primeiro tem que ser alcançado
soas Jurídicas o patrimônio afetado à atividade social). Os sócios
6 RIZZARDO, A. Direito de empresa. 3 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2009, p.21. 313
podem se valer do “benefício de ordem” para indicar bens da sociedade que possam responder pelas obrigações.
Caso tal patrimônio de afetação não baste, os sócios responderão, ilimitadamente, com os seus bens e de forma
solidária entre si.
As sociedades podem ser divididas em: Personificadas e Não Personificadas. Observe a tabela a seguir:

PERSONIFICADAS NÃO PERSONIFICADAS

Não possuem registro de seu ato constitutivo


Destaca-se que a sociedade em conta de participação
será sempre não personificada por determinação legal,
Possuem registro de seu ato constitutivo na Junta
conforme dispõe o art. 973, do Código Civil
Comercial ou Cartório de Registro Civil de Pessoas
Jurídicas
(arts. 997 a 1.141, do Código Civil)
Sociedade Simples
(arts. 986 a 996 do Código Civil)
Sociedade em Nome Coletivo
Sociedade em Comandita Simples
Sociedade em Comum
Sociedade Limitada
Sociedade em Conta em Participação
Sociedade Anônima
Sociedade em Comandita por Ações
Sociedade Cooperativa

O Código Civil, nos arts. 1150 a 1154, estabelece regras, em dois grupos, para o registro das atividades econômica:

z Empresários e Sociedade Empresária: registro Público das Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais;
z Sociedade Simples (não empresária): Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas.

O art. 1154, do Código Civil, fixa o princípio da publicidade dos atos sujeitos a registro. Somente após a sua
efetivação é que estes poderão ser opostos perante terceiros, que não poderão alegar sua ignorância. Analisemos:

Art. 1.154 O ato sujeito a registro, ressalvadas disposições especiais da lei, não pode, antes do cumprimento das
respectivas formalidades, ser oposto a terceiro, salvo prova de que este o conhecia.
Parágrafo único. O terceiro não pode alegar ignorância, desde que cumpridas as referidas formalidades.

Os requisitos para a constituição de sociedade se dividem em: gerais e específicos.

z Requisitos Gerais: são aplicados, às sociedades contratuais, as regras comuns dos contratos em geral, cuja
validade requer: agente capaz, objeto lícito, possível, determinado ou determinável, forma prescrita ou não
defesa em lei (art. 104, do Código Civil);
z Requisitos Específicos: são aplicados a todas as sociedades, e se encontram previstos no art. 981 e seguintes,
do Código Civil: pluralidade de sócios (regra geral), constituição do capital social, affectio societatis, co-partici-
pação dos lucros e perdas, cláusulas essenciais, cláusulas acidentais.

SOCIEDADE DE PESSOAS X SOCIEDADE DE CAPITAIS

Alguns efeitos decorrem dessa classificação em relação à constituição e ao funcionamento da sociedade,


observemos:

z Entrada de novos sócios: será rigorosa na sociedade de pessoas, ao passo que, na de capitais, será livre;
z Administração: ficará concentrada nos sócios na primeira, sendo admitido o exercício por terceiros (notada-
mente profissionais) na segunda;
z Morte ou incapacidade de sócios: poderá ensejar a dissolução parcial ou total na sociedade de pessoas, tendo
pouca, ou nenhuma, influência na sociedade de capitais;
z Nome empresarial: a sociedade de pessoas usará como regra a “firma”, ao passo que a sociedade de capitais
usará, necessariamente, “denominação social” (de caráter mais impessoal);
z Affectio societatis: a quebra da affectio societatis poderá ensejar a exclusão do sócio na sociedade de pessoas.

SOCIEDADES NÃO PERSONIFICADAS

Sociedade em Comum

As Sociedades em Comum configuram-se como aquelas cujos atos constitutivos ainda não foram inscritos em
um dos órgãos de Registro Público. Estas também são denominadas sociedades irregulares ou de fato.
Neste sentido, vejamos o previsto no art. 986, do Código Civil:

Art. 986 Enquanto não inscritos os atos constitutivos, reger-se-á a sociedade, exceto por ações em organização, pelo
disposto neste Capítulo, observadas, subsidiariamente e no que com ele forem compatíveis, as normas da sociedade
314 simples.
Jurisprudência — IV Jornada de Direito Civil Jurisprudência - III Jornada de Direito Civil
Enunciado nº 383 A falta de registro do contrato Enunciado nº 212
social (irregularidade originária, art. 998) ou de Art. 990 Embora a sociedade em comum não tenha
alteração contratual versando sobre matéria refe- personalidade jurídica, o sócio que tem seus bens
rida no art. 997 (irregularidade superveniente, art. constritos por dívida contraída em favor da socie-
999, parágrafo único) configuram a sociedade em dade, e não participou do ato por meio do qual foi
comum (art. 986). contraída a obrigação, tem o direito de indicar bens
afetados às atividades empresariais para substituir
Para provar a existência desta modalidade socie- a constrição.
tária, deve ser observado o disposto no art. 987, do
Código Civil: Destaca-se duas modalidades de sócios quanto ao
alcance de seus bens pessoais:
Art. 987 Os sócios, nas relações entre si ou com ter-
ceiros, somente por escrito podem provar a existên- z Sócio que contratou pela Sociedade: não pode
cia da sociedade, mas os terceiros podem prová-la arguir benefício de ordem e responde, solidaria-
de qualquer modo. mente, com os bens sociais;
z Sócio que não contratou pela Sociedade: pode
Observe a seguinte tabela: arguir benefício de ordem (art. 1024, do Código
Civil), exigindo que, somente após esgotamento dos
RELAÇÕES DOS RELAÇÕES DOS bens sociais, sejam atingidos seus bem pessoais.
SÓCIOS ENTRE SI OU TERCEIROS PARA COM
COM TERCEIROS A SOCIEDADE Sociedade em Conta de Participação

Qualquer meio de prova Nas palavras de Marcelo M. Bertoldi7, a socieda-


Somente o contrato es-
em direito admitida pode de em conta de participação se caracteriza por um
crito prova a existência
provar a existência da contrato, não necessariamente escrito, no qual duas,
da sociedade
sociedade
ou mais, pessoas acordam em explorar um mesmo
empreendimento empresarial em proveito comum,
Até que seja definitivamente constituída a socieda- sob o nome e a responsabilidade de um ou alguns
de, seus bens são considerados patrimônio especial, sócios, a quem cabe a administração da sociedade.
conforme dispõem os arts. 988 e 989, do Código Civil: Nessa classe de sociedade, há dois tipos de sócios:
ostensivo e participante (oculto).
Art. 988 Os bens e dívidas sociais constituem patrimô-
nio especial, do qual os sócios são titulares em comum.
z Sócio Ostensivo: exerce, unicamente, a atividade
constitutiva do objeto social, em seu nome indivi-
Assim, essa modalidade societária, por ausência de dual e sob sua própria e exclusiva responsabilida-
pessoa jurídica constituída, não possui capital social,
de (art. 991, caput do CC);
formando apenas um patrimônio especial, composto
z Sócios Participantes (ou ocultos): apenas parti-
pela contribuição dos sócios para o desenvolvimento
cipam dos resultados sociais correspondentes (art.
de uma atividade econômica.
991, caput do CC).
Confira o que diz o Enunciado 210, da III Jornada
de Direito Civil:
A Sociedade interna existente ocorre apenas entre
o ostensivo e o oculto, e não aparece na relação nego-
Jurisprudência — III Jornada de Direito Civil
Enunciado nº 210 O patrimônio especial a que se cial com terceiros. Estes, no que lhes diz respeito, ape-
refere o art. 988 é aquele afetado ao exercício da nas se relacionam com o ostensivo. O último, por sua
atividade, garantidor de terceiro, e de titularidade vez, exerce a atividade regular.
dos sócios em comum, em face da ausência de per- Nos termos do art. 991, do Código Civil:
sonalidade jurídica.
Art. 991 Na sociedade em conta de participação, a ativi-
O Código Civil permite pacto expresso limitativo dade constitutiva do objeto social é exercida unicamente
de poderes, tendo eficácia somente contra terceiros pelo sócio ostensivo, em seu nome individual e sob sua
envolvidos, caso conheçam ou devam conhecê-los: própria e exclusiva responsabilidade, participando os
demais dos resultados correspondentes.
DIREITO EMPRESARIAL I

Art. 989 Os bens sociais respondem pelos atos de ges- Parágrafo único. Obriga-se perante terceiro tão-somen-
tão praticados por qualquer dos sócios, salvo pacto te o sócio ostensivo; e, exclusivamente perante este, o
expresso limitativo de poderes, que somente terá eficá- sócio participante, nos termos do contrato social.
cia contra o terceiro que o conheça ou deva conhecer.
Por não possuir personalidade jurídica própria, a
Conforme o exposto no art. 990, do Código Civil: sua constituição independe de qualquer formalidade,
podendo ser provada por todos os meios, conforme
Art. 990 Todos os sócios respondem solidária e dispõe o art. 992, do Código Civil:
ilimitadamente pelas obrigações sociais, excluído
do benefício de ordem, previsto no art. 1.024, aquele Art. 992 A constituição da sociedade em conta de
que contratou pela sociedade. participação independe de qualquer formalidade e
pode provar-se por todos os meios de direito.

7 BERTOLDI, M. M. Curso Avançando de Direito Comercial. 3° ed. São Paulo: RT. 2006, p. 177. 315
Quanto aos efeitos do contrato social, o art. 993, do adquirida com a inscrição de seu ato constitutivo no
Código Civil, dispõe: registro competente.
As sociedades personificadas são disciplinadas no
Art. 993 O contrato social produz efeito somente subtítulo II (da Sociedade Personificada, inserto no
entre os sócios, e a eventual inscrição de seu instru- Título II — Da Sociedade), do Código Civil, e podem se
mento em qualquer registro não confere personali- revestir dos seguintes tipos:
dade jurídica à sociedade.
Parágrafo único. Sem prejuízo do direito de fiscalizar z Sociedade simples: (Capítulo I);
a gestão dos negócios sociais, o sócio participante z Sociedade em nome coletivo: (Capítulo II);
não pode tomar parte nas relações do sócio osten-
z Sociedade em comandita simples: (Capítulo III);
sivo com terceiros, sob pena de responder solidaria-
z Sociedade limitada: (Capítulo IV);
mente com este pelas obrigações em que intervier.
z Sociedade anônima: (Capítulo V — sendo regula-
da especificamente pela LSA);
O art. 994, do Código Civil, discorre a respeito da
z Sociedade em comandita por ações: (Capítulo VI
contribuição do sócio participante:
— sendo regulada especificamente pela LSA);
z Sociedade cooperativa: (Capítulo VII — sendo
Art. 994 A contribuição do sócio participante
constitui, com a do sócio ostensivo, patrimônio regulada especificamente pela Lei 5.764, de 1971).
especial, objeto da conta de participação relativa
aos negócios sociais. As sociedades personificadas se dividem em dois
§ 1º A especialização patrimonial somente produz grupos:
efeitos em relação aos sócios.
§ 2º A falência do sócio ostensivo acarreta a dis- z Sociedades não empresárias: sociedades simples;
solução da sociedade e a liquidação da respectiva z Sociedade Empresárias: sociedade em nome
conta, cujo saldo constituirá crédito quirografário. coletivo, sociedade em comandita simples, socie-
§ 3º Falindo o sócio participante, o contrato social dade limitada, sociedade em comandita por
fica sujeito às normas que regulam os efeitos da ações e sociedade anônima.
falência nos contratos bilaterais do falido.
A sociedade não empresária, ou simples, está refe-
Nos termos do art. 995, do Código Civil: rida nos arts. 997 a 1038, do Código Civil. Tais arts. são
um roteiro básico, e servem de norte para todos os
Art. 995 Salvo estipulação em contrário, o sócio tipos societários (empresárias ou não) no que não for
ostensivo não pode admitir novo sócio sem o específico, sendo aplicados subsidiariamente.
consentimento expresso dos demais.
Jurisprudência - I Jornada de Direito Civil
Nesse tipo de sociedade, aplicam-se subsidiaria-
Enunciado 57 A opção pelo tipo empresarial não
mente, quando couber, as normas que regem a socie-
afasta a natureza simples da sociedade.
dade simples, conforme art. 996, do Código Civil:
Jurisprudência - V Jornada de Direito Civil
Art. 996 Aplica-se à sociedade em conta de partici-
Enunciado 477 O art. 983 do Código Civil permite
pação, subsidiariamente e no que com ela for com-
que a sociedade simples opte por um dos tipos empre-
patível, o disposto para a sociedade simples, e a sua
sariais dos arts. 1.039 a 1.092 do Código Civil. Adota-
liquidação rege-se pelas normas relativas à presta-
da a forma de sociedade anônima ou de comandita
ção de contas, na forma da lei processual.
por ações, porém ela será considerada empresária.
Parágrafo único. Havendo mais de um sócio osten-
sivo, as respectivas contas serão prestadas e julga-
A sociedade simples será constituída por meio
das no mesmo processo.
de contrato escrito, particular ou público (caput,
Observe, com atenção, o fluxograma abaixo: art. 997, do CC), e deverá requerer a sua inscrição no
Registro Civil das Pessoas Jurídicas (e não na Junta
Constituição por Comercial, como as sociedades empresárias) do local
contrato não de sua sede nos trinta dias subsequentes à sua
necessariamen- constituição (caput, art. 998, do CC).
te escrito
A sociedade simples pura sempre irá requerer a
CARACTERÍSTICAS sua inscrição no Registro Civil das Pessoas Jurídi-
Não tem
PRINCIPAIS
personalidade cas. Contudo, se a sociedade simples adotar o modelo
DA SOCIEDADE de cooperativa, o seu registro deverá ser feito na Jun-
jurídica (mesmo
EM CONSTA DE
PARTICIPAÇÃO
se registrado) ta Comercial, por força do § 6º, art. 18, da Lei nº 5.764,
de 1971:
Sócio
2 tipos de sócio:
Ostensivo tem
ostensivo e Art. 18 [...]
responsabilidade
oculto § 6º Arquivados os documentos na Junta Comer-
ilimitada
cial e feita a respectiva publicação, a cooperativa
adquire personalidade jurídica, tornando-se apta a
SOCIEDADES PERSONIFICADAS funcionar.

A sociedade personificada é aquela que possui


316 personalidade jurídica. A personalidade jurídica é
Vejamos o disposto nos arts. 997 a 1.000, do Código Art. 1.004 Os sócios são obrigados, na forma e pra-
Civil zo previstos, às contribuições estabelecidas no con-
trato social, e aquele que deixar de fazê-lo, nos trinta
Art. 997 A sociedade constitui-se mediante contra- dias seguintes ao da notificação pela sociedade, res-
to escrito, particular ou público, que, além de cláu- ponderá perante esta pelo dano emergente da mora.
sulas estipuladas pelas partes, mencionará: Parágrafo único. Verificada a mora, poderá a maio-
I - nome, nacionalidade, estado civil, profissão e ria dos demais sócios preferir, à indenização, a
residência dos sócios, se pessoas naturais, e a firma exclusão do sócio remisso, ou reduzir-lhe a quota
ou a denominação, nacionalidade e sede dos sócios, ao montante já realizado, aplicando-se, em ambos
se jurídicas; os casos, o disposto no § 1º do art. 1.031.
II - denominação, objeto, sede e prazo da sociedade;
III - capital da sociedade, expresso em moeda cor- A sociedade simples permite a presença de sócio
rente, podendo compreender qualquer espécie de que ingressa com o trabalho, fazendo restrição quan-
bens, suscetíveis de avaliação pecuniária; to a possibilidade de empregar-se em atividades estra-
IV - a quota de cada sócio no capital social, e o nhas à sociedade.
modo de realizá-la;
V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja con-
Art. 1.006 O sócio, cuja contribuição consista em
tribuição consista em serviços;
serviços, não pode, salvo convenção em contrário,
VI - as pessoas naturais incumbidas da administra-
empregar-se em atividade estranha à sociedade, sob
ção da sociedade, e seus poderes e atribuições;
pena de ser privado de seus lucros e dela excluído.
VII - a participação de cada sócio nos lucros e nas
perdas;
VIII - se os sócios respondem, ou não, subsidiaria- Deverá constar, expressamente no contrato, se os
mente, pelas obrigações sociais. sócios respondem, ou não, pelas obrigações sociais.
Parágrafo único. É ineficaz em relação a terceiros Em caso positivo, serão aplicados os arts. 1023 e 1024,
qualquer pacto separado, contrário ao disposto no do Código Civil:
instrumento do contrato.
Art. 998 Nos trinta dias subsequentes à sua consti- Art. 1.023 Se os bens da sociedade não lhe cobri-
tuição, a sociedade deverá requerer a inscrição do rem as dívidas, respondem os sócios pelo saldo, na
contrato social no Registro Civil das Pessoas Jurídi- proporção em que participem das perdas sociais,
cas do local de sua sede. salvo cláusula de responsabilidade solidária.
§ 1º O pedido de inscrição será acompanhado do ins- Art. 1.024 Os bens particulares dos sócios não
trumento autenticado do contrato, e, se algum sócio podem ser executados por dívidas da sociedade,
nele houver sido representado por procurador, o da senão depois de executados os bens sociais.
respectiva procuração, bem como, se for o caso, da
prova de autorização da autoridade competente. Nos arts. 1.028 a 1.032, o Código Civil dispõe sobre
§ 2º Com todas as indicações enumeradas no artigo a resolução da sociedade em relação a um sócio:
antecedente, será a inscrição tomada por termo no
livro de registro próprio, e obedecerá a número de
Art. 1.028 No caso de morte de sócio, liquidar-se-
ordem contínua para todas as sociedades inscritas.
-á sua quota, salvo:
Art. 999 As modificações do contrato social, que
I - se o contrato dispuser diferentemente;
tenham por objeto matéria indicada no art. 997,
II - se os sócios remanescentes optarem pela disso-
dependem do consentimento de todos os sócios; as
lução da sociedade;
demais podem ser decididas por maioria absoluta
III - se, por acordo com os herdeiros, regular-se a
de votos, se o contrato não determinar a necessida-
substituição do sócio falecido.
de de deliberação unânime.
Art. 1.029 Além dos casos previstos na lei ou no
Parágrafo único. Qualquer modificação do contra-
contrato, qualquer sócio pode retirar-se da socie-
to social será averbada, cumprindo-se as formali-
dades previstas no artigo antecedente. dade; se de prazo indeterminado, mediante notifi-
Art. 1.000 A sociedade simples que instituir sucursal, cação aos demais sócios, com antecedência mínima
filial ou agência na circunscrição de outro Registro de sessenta dias; se de prazo determinado, provan-
Civil das Pessoas Jurídicas, neste deverá também ins- do judicialmente justa causa.
crevê-la, com a prova da inscrição originária. Parágrafo único. Nos trinta dias subsequentes à
Parágrafo único. Em qualquer caso, a constituição notificação, podem os demais sócios optar pela dis-
da sucursal, filial ou agência deverá ser averbada solução da sociedade.
no Registro Civil da respectiva sede. Art. 1.030 Ressalvado o disposto no art. 1.004 e seu
parágrafo único, pode o sócio ser excluído judicialmen-
te, mediante iniciativa da maioria dos demais sócios,
DIREITO EMPRESARIAL I

O registro do instrumento constitutivo da sociedade


por falta grave no cumprimento de suas obrigações,
simples deve ser efetuado junto ao Cartório de Regis-
ou, ainda, por incapacidade superveniente.
tro Civil das Pessoas Jurídicas no prazo de trinta dias,
Parágrafo único. Será de pleno direito excluído da
no local de sua sede, e, se estabelecer sucursal, filial ou
sociedade o sócio declarado falido, ou aquele cuja quo-
agência, também deverá fazê-lo na circunscrição cor- ta tenha sido liquidada nos termos do parágrafo único
respondente, averbando no registro civil da sede. do art. 1.026.
Tanto pessoas físicas como jurídicas podem ser Art. 1.031 Nos casos em que a sociedade se resolver em
sócias da sociedade simples, no entanto, apenas pes- relação a um sócio, o valor da sua quota, considerada
soas naturais podem figurar como administradoras, pelo montante efetivamente realizado, liquidar-se-á,
independentemente de serem sócias ou não. salvo disposição contratual em contrário, com base na
O sócio remisso consiste naquele que descumpre situação patrimonial da sociedade, à data da resolu-
o dever de integralizar total, ou parcialmente, sua ção, verificada em balanço especialmente levantado.
cota, no prazo legal de trinta dias. Nos termos do art. § 1º O capital social sofrerá a correspondente redução,
1004, do Código Civil: salvo se os demais sócios suprirem o valor da quota. 317
§ 2º A quota liquidada será paga em dinheiro, no SOCIEDADE LIMITADA
prazo de noventa dias, a partir da liquidação, salvo
acordo, ou estipulação contratual em contrário. É o tipo societário mais utilizado no Brasil, uma
Art. 1.032 A retirada, exclusão ou morte do sócio, vez que permite, aos sócios, a limitação de sua respon-
não o exime, ou a seus herdeiros, da responsabili- sabilidade ao capital integralizado da sociedade. Suas
dade pelas obrigações sociais anteriores, até dois principais características são a limitação da responsa-
anos após averbada a resolução da sociedade; nem bilidade dos sócios e a contratualidade.
nos dois primeiros casos, pelas posteriores e em A contratualidade da sociedade limitada permite
igual prazo, enquanto não se requerer a averbação. aos sócios maior liberdade para estruturá-la de acor-
do com seus interesses, diferindo-se da instituciona-
Os arts. 1033 a 1038, do Código Civil, dispõem sobre lidade das sociedades por ações, que são mais rígidas
a dissolução da sociedade. Vejamos: por natureza, em razão do grande detalhamento da
estruturação imposta pela LSA.
Art. 1.033 Dissolve-se a sociedade quando Nos termos do art. 1.052, do Código Civil:
ocorrer:
I - o vencimento do prazo de duração, salvo se,
Art. 1.052 Na sociedade limitada, a responsabili-
vencido este e sem oposição de sócio, não entrar a
dade de cada sócio é restrita ao valor de suas
sociedade em liquidação, caso em que se prorroga-
quotas, mas todos respondem solidariamente pela
rá por tempo indeterminado;
integralização do capital social.
II - o consenso unânime dos sócios;
§ 1º A sociedade limitada pode ser constituída
III - a deliberação dos sócios, por maioria absoluta,
por 1 (uma) ou mais pessoas. (Incluído pela Lei
na sociedade de prazo indeterminado;
nº 13.874, de 2019)
IV - (Revogado pela Lei nº 14.195, de 2021)
§ 2º Se for unipessoal, aplicar-se-ão ao documento
V - a extinção, na forma da lei, de autorização para
de constituição do sócio único, no que couber, as
funcionar.
disposições sobre o contrato social. (Incluído pela
Parágrafo único. (Revogado pela Lei nº 14.195, de
Lei nº 13.874, de 2019)
2021)
Art. 1.034 A sociedade pode ser dissolvida judicial-
mente, a requerimento de qualquer dos sócios, quando: A responsabilidade de cada sócio é restrita ao
I - anulada a sua constituição; valor de suas quotas, mas todos respondem, solidaria-
II - exaurido o fim social, ou verificada a sua mente, pela integralização do capital social (art. 1.052,
inexequibilidade. do CC). Ou seja, até a total integralização do capital
Art. 1.035 O contrato pode prever outras causas de social, todos os sócios são, solidariamente, responsá-
dissolução, a serem verificadas judicialmente quan- veis pela integral realização do capital social. A partir
do contestadas. daí, a responsabilidade dos sócios passa a ser limitada
Art. 1.036 Ocorrida a dissolução, cumpre aos admi- ao valor das suas quotas sociais.
nistradores providenciar imediatamente a inves- Quanto a natureza jurídica, Bruno Mattos e Silva
tidura do liquidante, e restringir a gestão própria ensina que:
aos negócios inadiáveis, vedadas novas operações,
pelas quais responderão solidária e ilimitadamente.
[...] sociedade limitada é uma sociedade personifica-
Parágrafo único. Dissolvida de pleno direito a
da, que decorre de um contrato social, que deverá ser
sociedade, pode o sócio requerer, desde logo, a liqui-
registrado na Junta Comercial. Pelo fato da relação
dação judicial.
societária surgir por meio de um contrato, classifica-se
Art. 1.037 Ocorrendo a hipótese prevista no inciso
a sociedade limitada como uma sociedade contratual8.
V do art. 1.033, o Ministério Público, tão logo lhe
comunique a autoridade competente, promoverá a
liquidação judicial da sociedade, se os administra- A sociedade limitada pode ser unipessoal (único
dores não o tiverem feito nos trinta dias seguintes sócio), ou pluripessoal (dois ou mais sócios).
à perda da autorização, ou se o sócio não houver A partir da Lei 13.874, de 2019 (Lei da Liberdade
exercido a faculdade assegurada no parágrafo úni- Econômica), o §1º do art. 1.052, passou a prever a pos-
co do artigo antecedente. sibilidade de a sociedade limitada ser constituída por
Parágrafo único. Caso o Ministério Público não pro- somente uma pessoa.
mova a liquidação judicial da sociedade nos quinze A Sociedade Limitada Unipessoal não se con-
dias subsequentes ao recebimento da comunicação, funde com a Empresa Individual de Responsabilida-
a autoridade competente para conceder a autoriza- de Limitada (EIRELI), hoje em extinção por conta da
ção nomeará interventor com poderes para reque- revogação do art. 980-A, do CC, pela Medida Provisória
rer a medida e administrar a sociedade até que seja 1.085, de 2021. A EIRELI era considerada uma nova
nomeado o liquidante. espécie de pessoa jurídica, diversa tanto da sociedade
Art. 1.038 Se não estiver designado no contrato empresária como do empresário individual.
social, o liquidante será eleito por deliberação dos
Muito se questionou no que a sociedade limitada
sócios, podendo a escolha recair em pessoa estra-
unipessoal se diferia da Eireli (que também consistia
nha à sociedade.
§ 1º O liquidante pode ser destituído, a todo tempo: em uma pessoa jurídica de responsabilidade limita-
I - se eleito pela forma prevista neste artigo, median- da). A diferença primordial entre as duas era que, de
te deliberação dos sócios; acordo com o disposto no Código Civil, para constitui-
II - em qualquer caso, por via judicial, a requeri- ção de Eireli, fazia-se necessária a integralização de
mento de um ou mais sócios, ocorrendo justa causa. um capital social de 100 salários-mínimos. A socieda-
§ 2º A liquidação da sociedade se processa de confor- de limitada unipessoal, por sua vez, não exige capital
midade com o disposto no Capítulo IX, deste Subtítulo. social mínimo para sua criação.
318 8 SILVA, B. M. e. Direito de empresa. São Paulo: Atlas, 2007, p. 350.
A sociedade limitada pode ser classificada como de supletiva do capítulo do Código Civil referente às
pessoas ou de capital, dependendo das cláusulas contra- limitadas). Contratual, a limitada obedece, nesses
tuais pactuadas entre os sócios. Esta pode, também, adotar temas, unicamente ao disposto nos arts. 1.033,
firma ou denominação em seu nome social, ambas, inte- 1.044 e 1.087 do CC10.
gradas pela palavra final “limitada” ou sua abreviatura.
A sociedade será dissolvida pelos mesmos motivos O capital social da sociedade limitada é dividido
da sociedade simples. em cotas iguais ou desiguais, conforme o pactuado
De forma majoritária, entende-se que a socieda- entre os sócios no contrato.
de limitada é uma sociedade híbrida, podendo ser Na sociedade limitada, não é permitido o ingresso
“de pessoas” (caráter mais personalíssimo) ou “de do sócio com trabalho.
capitais” (o valor aportado pelo sócio é o mais rele- O Código Civil estabeleceu normas para a cessão
vante), a depender das disposições constantes em seu das cotas, seja para outro sócio ou para terceiros, exi-
contrato social. Confira a lição de Fábio Ulhoa Coelho: gindo que o ato de cessão seja averbado no órgão com-
petente para que tenha eficácia.
A sociedade limitada pode ser de pessoas ou de A Omissão no Contrato Social poderá ocorrer das
capital, de acordo com a vontade dos sócios. O con- seguintes formas:
trato social define a natureza de cada limitada9.
z Cessão para outro sócio: poderá ser feita livremen-
A sociedade limitada possui dois subtipos: te, sem a necessidade de anuência dos demais inte-
grantes da sociedade;
z Sociedades limitadas sujeitas ao regime de regên- z Cessão para terceiro: somente terá eficácia entre a
cia supletiva das sociedades simples; sociedade e os demais sócios se não houver oposi-
z Sociedades limitadas sujeitas ao regime de regên- ção de titulares de mais de ¼ do capital social.
cia supletiva das sociedades anônimas.
Veja o disposto sobre o capital social nos arts. 1.055
Nos termos do art. 1.053, do Código Civil, em caso a 1.059, do Código Civil:
de omissão, a fonte subsidiaria da sociedade limita-
da será as regras da sociedade simples, no entanto, o Art. 1.055 O capital social divide-se em quotas,
contrato poderá designar expressamente a Lei de S/A iguais ou desiguais, cabendo uma ou diversas a
como fonte supletiva: cada sócio.
§ 1º Pela exata estimação de bens conferidos ao
Art. 1.053 A sociedade limitada rege-se, nas omissões capital social respondem solidariamente todos os
deste Capítulo, pelas normas da sociedade simples. sócios, até o prazo de cinco anos da data do regis-
Parágrafo único. O contrato social poderá prever a tro da sociedade.
regência supletiva da sociedade limitada pelas nor- § 2º É vedada contribuição que consista em
mas da sociedade anônima. prestação de serviços.
Art. 1.054 O contrato mencionará, no que couber, as Art. 1.056 A quota é indivisível em relação à
indicações do art. 997, e, se for o caso, a firma social. sociedade, salvo para efeito de transferência, caso
em que se observará o disposto no artigo seguinte.
§ 1º No caso de condomínio de quota, os direitos
O contrato social será elaborado nos moldes do
a ela inerentes somente podem ser exercidos pelo
art. 997, do Código Civil, no que for compatível com condômino representante, ou pelo inventariante do
as regas da limitada, podendo o nome empresarial espólio de sócio falecido.
adotar firma (razão social) ou determinação, sempre § 2º Sem prejuízo do disposto no art. 1.052, os condô-
acrescido, no final, da expressão limitada por extenso minos de quota indivisa respondem solidariamente
ou abreviada. pelas prestações necessárias à sua integralização.
Conforme leciona Fábio Ulhoa Coelho: Art. 1.057 Na omissão do contrato, o sócio pode
ceder sua quota, total ou parcialmente, a quem
Destaco, nesse contexto, dois temas em que a limi- seja sócio, independentemente de audiência dos
tada não se regula pela Lei das Sociedades Anô- outros, ou a estranho, se não houver oposição de
nimas: a constituição e a dissolução total. Cabe titulares de mais de um quarto do capital social.
relembrar que a classificação das sociedades por Parágrafo único. A cessão terá eficácia quanto à socie-
ações no tocante a esse tema é diversa da das limi- dade e terceiros, inclusive para os fins do parágrafo
tadas: institucionais aquelas, contratuais estas. único do art. 1.003, a partir da averbação do respecti-
Desse modo, são antagônicas as regras sobre cons- vo instrumento, subscrito pelos sócios anuentes.
tituição previstas na lei do anonimato e a classifica- Art. 1.058 Não integralizada a quota de sócio
DIREITO EMPRESARIAL I

ção das limitadas. O segundo aspecto a considerar remisso, os outros sócios podem, sem prejuízo do
diz respeito ao regime dissolutório, que deve ser o disposto no art. 1.004 e seu parágrafo único, tomá-
correspondente ao da constituição. Se são contra- -la para si ou transferi-la a terceiros, excluindo o
tuais os vínculos constituintes da sociedade, o seu primitivo titular e devolvendo-lhe o que houver
desfazimento por completo pode guiar-se por nor- pago, deduzidos os juros da mora, as prestações
mas e princípios inspirados no direito contratual; estabelecidas no contrato mais as despesas.
se institucionais, não. Em suma, quando se trata Art. 1.059 Os sócios serão obrigados à reposição
de discutir a constituição da sociedade limitada dos lucros e das quantias retiradas, a qualquer títu-
ou a sua extinção, não se justifica invocar a Lei lo, ainda que autorizados pelo contrato, quando
das Sociedades Anônimas, em nenhuma hipótese tais lucros ou quantia se distribuírem com prejuízo
(nem mesmo se prevista no contrato social como do capital.

9 COELHO, F. U. Curso de direito comercial. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. v. 2, p. 371.
10 Ibid., p. 367. 319
O sócio que não integralizar as suas quotas, nos § 1º Tratando-se de sócio nomeado administrador
termos pactuados no contrato social, é chamado de no contrato, sua destituição somente se opera pela
sócio remisso, podendo ser executado pelo valor aprovação de titulares de quotas correspondentes
faltante (art. 1.004 do, CC), ou retirado da sociedade a mais da metade do capital social, salvo disposi-
(art. 1.058 do, CC). Nesse último caso, optando-se pela ção contratual diversa. (Redação dada pela Lei nº
exclusão do sócio remisso, essa se operará de pleno 13.792, de 2019)
direito (ou seja, não há necessidade de previsão no § 2º A cessação do exercício do cargo de adminis-
trador deve ser averbada no registro competente,
contrato social ou ação judicial), sendo que os demais
mediante requerimento apresentado nos dez dias
sócios terão três alternativas:
seguintes ao da ocorrência.
§ 3º A renúncia de administrador torna-se eficaz,
z Tomar para si as quotas, repartindo-as entre os em relação à sociedade, desde o momento em que
sócios remanescentes; esta toma conhecimento da comunicação escrita
z Transferi-las a terceiros, excluindo o primitivo do renunciante; e, em relação a terceiros, após a
titular e devolvendo-lhe o que houver pagado, averbação e publicação.
deduzidos os juros da mora, as prestações estabe- Art. 1.064 O uso da firma ou denominação social
lecidas no contrato mais as despesas; é privativo dos administradores que tenham os
z Deliberar por reduzir o capital social. necessários poderes.
Art. 1.065 Ao término de cada exercício social, pro-
O art. 1.060 permite a administração da sociedade ceder-se-á à elaboração do inventário, do balanço
limitada a sócio ou não sócio. No entanto, a nomea- patrimonial e do balanço de resultado econômico.
ção de estranho ao quadro social, para as funções de
administrador, deve observar o disposto no art. 1.061: A renúncia gera efeitos concomitantemente ao
conhecimento do ato pela sociedade. No entanto, é
Art. 1.060 A sociedade limitada é administrada por imprescindível a averbação e publicação dela para
uma ou mais pessoas designadas no contrato social gerar efeitos perante terceiros.
ou em ato separado. A sociedade limitada pode constituir Conselho Fis-
Parágrafo único. A administração atribuída no cal, órgão com o condão de dar maior transparência a
contrato a todos os sócios não se estende de ple- atividade econômica desenvolvida pela sociedade, pas-
no direito aos que posteriormente adquiram essa sando maior segurança aos sócios. Neste sentido veja-
qualidade. mos o disposto nos arts. 1.066 a 1.070, do Código Civil:
Art. 1.061 A designação de administradores não
sócios dependerá de aprovação da unanimidade Art. 1.066 Sem prejuízo dos poderes da assembleia
dos sócios, enquanto o capital não estiver integra- dos sócios, pode o contrato instituir conselho fiscal
lizado, e de 2/3 (dois terços), no mínimo, após a composto de três ou mais membros e respectivos
integralização. suplentes, sócios ou não, residentes no País, eleitos
na assembleia anual prevista no art. 1.078.
Há discussão se o art. 1.060, do Código Civil, abre § 1º Não podem fazer parte do conselho fiscal,
a possibilidade de pessoa jurídica figurar como admi- além dos inelegíveis enumerados no § 1 o do art.
nistradora da sociedade limitada. Essa discussão se 1.011, os membros dos demais órgãos da sociedade
divide, geralmente, duas correntes: ou de outra por ela controlada, os empregados de
quaisquer delas ou dos respectivos administrado-
z 1° corrente: entende que a ausência de vedação res, o cônjuge ou parente destes até o terceiro grau.
expressa no art. 1060, do Código Civil, autorizaria § 2º É assegurado aos sócios minoritários, que
a pessoa jurídica figurar como administradora; representarem pelo menos um quinto do capital
z 2° corrente: entende que apenas a pessoa natu- social, o direito de eleger, separadamente, um dos
membros do conselho fiscal e o respectivo suplente.
ral, sócia ou não, poderá administrar a sociedade,
Art. 1.067 O membro ou suplente eleito, assinando
tanto que o §2°, do art. 1062, do Código Civil, exige
termo de posse lavrado no livro de atas e pareceres
a qualificação do administrador que seja mencio- do conselho fiscal, em que se mencione o seu nome,
nado seu estado civil. Fato este que, implicitamen- nacionalidade, estado civil, residência e a data da
te, vedaria a existência de administrador pessoa escolha, ficará investido nas suas funções, que exer-
jurídica. cerá, salvo cessação anterior, até a subsequente
assembleia anual.
Vejamos as demais disposições sobre o tema: Parágrafo único. Se o termo não for assinado nos
trinta dias seguintes ao da eleição, esta se tornará
Art. 1.062 O administrador designado em ato sepa- sem efeito.
rado investir-se-á no cargo mediante termo de pos- Art. 1.068 A remuneração dos membros do conse-
se no livro de atas da administração. lho fiscal será fixada, anualmente, pela assembleia
§ 1º Se o termo não for assinado nos trinta dias dos sócios que os eleger.
seguintes à designação, esta se tornará sem efeito. Art. 1.069 Além de outras atribuições determina-
§ 2º Nos dez dias seguintes ao da investidura, das na lei ou no contrato social, aos membros do
deve o administrador requerer seja averbada sua conselho fiscal incumbem, individual ou conjunta-
nomeação no registro competente, mencionando o mente, os deveres seguintes:
seu nome, nacionalidade, estado civil, residência, I - examinar, pelo menos trimestralmente, os livros
com exibição de documento de identidade, o ato e a e papéis da sociedade e o estado da caixa e da car-
data da nomeação e o prazo de gestão. teira, devendo os administradores ou liquidantes
Art. 1.063 O exercício do cargo de administrador prestar-lhes as informações solicitadas;
cessa pela destituição, em qualquer tempo, do titu- II - lavrar no livro de atas e pareceres do conselho
lar, ou pelo término do prazo se, fixado no contrato fiscal o resultado dos exames referidos no inciso I
320 ou em ato separado, não houver recondução. deste artigo;
III - exarar no mesmo livro e apresentar à assem- sócios comparecerem ou se declararem, por escri-
bleia anual dos sócios parecer sobre os negócios e to, cientes do local, data, hora e ordem do dia.
as operações sociais do exercício em que servirem, § 3º A reunião ou a assembleia tornam-se dispensá-
tomando por base o balanço patrimonial e o de veis quando todos os sócios decidirem, por escrito,
resultado econômico; sobre a matéria que seria objeto delas.
IV - denunciar os erros, fraudes ou crimes que des- § 4º No caso do inciso VIII do artigo antecedente,
cobrirem, sugerindo providências úteis à sociedade; os administradores, se houver urgência e com auto-
V - convocar a assembleia dos sócios se a diretoria rização de titulares de mais da metade do capital
retardar por mais de trinta dias a sua convocação social, podem requerer concordata preventiva.
anual, ou sempre que ocorram motivos graves e § 5º As deliberações tomadas de conformidade com
urgentes; a lei e o contrato vinculam todos os sócios, ainda
VI - praticar, durante o período da liquidação da que ausentes ou dissidentes.
sociedade, os atos a que se refere este artigo, tendo § 6º Aplica-se às reuniões dos sócios, nos casos
em vista as disposições especiais reguladoras da omissos no contrato, o disposto na presente Seção
liquidação. sobre a assembleia.
Art. 1.070 As atribuições e poderes conferidos pela Art. 1.073 A reunião ou a assembleia podem tam-
lei ao conselho fiscal não podem ser outorgados bém ser convocadas:
a outro órgão da sociedade, e a responsabilidade I - por sócio, quando os administradores retarda-
de seus membros obedece à regra que define a dos rem a convocação, por mais de sessenta dias, nos
administradores (art. 1.016). casos previstos em lei ou no contrato, ou por titu-
Parágrafo único. O conselho fiscal poderá escolher lares de mais de um quinto do capital, quando não
para assisti-lo no exame dos livros, dos balanços atendido, no prazo de oito dias, pedido de convoca-
e das contas, contabilista legalmente habilitado,
ção fundamentado, com indicação das matérias a
mediante remuneração aprovada pela assembleia
serem tratadas;
dos sócios.
II - pelo conselho fiscal, se houver, nos casos a que
se refere o inciso V do art. 1.069.
A responsabilidade dos membros do Conselho Fis- Art. 1.074 A assembleia dos sócios instala-se com
cal segue as regras do disposto no art. 1.016, do Código a presença, em primeira convocação, de titulares
Civil: de no mínimo três quartos do capital social, e, em
segunda, com qualquer número.
Art. 1.016 Os administradores respondem solida- § 1º O sócio pode ser representado na assembleia
riamente perante a sociedade e os terceiros preju- por outro sócio, ou por advogado, mediante outor-
dicados, por culpa no desempenho de suas funções. ga de mandato com especificação dos atos autori-
zados, devendo o instrumento ser levado a registro,
Os rumos que a sociedade deverá tomar são os des- juntamente com a ata.
critos no contrato social, porém, no decorrer da ativi- § 2º Nenhum sócio, por si ou na condição de man-
dade econômica, muitas vezes, será necessário que os datário, pode votar matéria que lhe diga respeito
sócios adotem determinadas decisões, fixadas em reu- diretamente.
nião, ou assembleia, regularmente convocada para Art. 1.075 A assembleia será presidida e secretaria-
deliberar sobre os mais diversos assuntos de interesse da por sócios escolhidos entre os presentes.
geral da sociedade. § 1º Dos trabalhos e deliberações será lavrada, no
As deliberações dos sócios serão tomadas em reunião livro de atas da assembleia, ata assinada pelos
ou assembleia, devendo prevalecer a segunda quando a membros da mesa e por sócios participantes da
sociedade for constituía por mais de dez sócios. reunião, quantos bastem à validade das delibera-
Os arts. 1.071 e seguintes tratam sobre as delibera- ções, mas sem prejuízo dos que queiram assiná-la.
ções dos sócios: § 2º Cópia da ata autenticada pelos administra-
dores, ou pela mesa, será, nos vinte dias sub-
sequentes à reunião, apresentada ao Registro
Art. 1.071 Dependem da deliberação dos sócios,
Público de Empresas Mercantis para arquivamento
além de outras matérias indicadas na lei ou no
contrato: e averbação.
I - a aprovação das contas da administração; § 3º Ao sócio, que a solicitar, será entregue cópia
II - a designação dos administradores, quando feita autenticada da ata.
em ato separado; Art. 1.076 Ressalvado o disposto no art. 1.061, as
III - a destituição dos administradores; deliberações dos sócios serão tomadas (Redação
IV - o modo de sua remuneração, quando não esta- dada pela Lei nº 13.792, de 2019)
belecido no contrato; I - pelos votos correspondentes, no mínimo, a três
V - a modificação do contrato social; quartos do capital social, nos casos previstos nos
DIREITO EMPRESARIAL I

VI - a incorporação, a fusão e a dissolução da socie- incisos V e VI do art. 1.071;


dade, ou a cessação do estado de liquidação; II - pelos votos correspondentes a mais de metade
VII - a nomeação e destituição dos liquidantes e o do capital social, nos casos previstos nos incisos II,
julgamento das suas contas; III, IV e VIII do art. 1.071;
VIII - o pedido de concordata. III - pela maioria de votos dos presentes, nos demais
Art. 1.072 As deliberações dos sócios, obedecido o casos previstos na lei ou no contrato, se este não
disposto no art. 1.010, serão tomadas em reunião exigir maioria mais elevada.
ou em assembleia, conforme previsto no contrato Art. 1.077 Quando houver modificação do con-
social, devendo ser convocadas pelos administrado- trato, fusão da sociedade, incorporação de
res nos casos previstos em lei ou no contrato. outra, ou dela por outra, terá o sócio que dissentiu
§ 1º A deliberação em assembleia será obrigatória o direito de retirar-se da sociedade, nos trinta dias
se o número dos sócios for superior a dez. subsequentes à reunião, aplicando-se, no silêncio
§ 2º Dispensam-se as formalidades de convocação do contrato social antes vigente, o disposto no art.
previstas no § 3 o do art. 1.152, quando todos os 1.031. 321
Art. 1.078 A assembleia dos sócios deve realizar- Registro Público de Empresas Mercantis, da ata da
-se ao menos uma vez por ano, nos quatro meses assembleia que a tenha aprovado.
seguintes à ao término do exercício social, com o Art. 1.084 No caso do inciso II do art. 1.082, a redu-
objetivo de: ção do capital será feita restituindo-se parte do valor
I - tomar as contas dos administradores e delibe- das quotas aos sócios, ou dispensando-se as presta-
rar sobre o balanço patrimonial e o de resultado ções ainda devidas, com diminuição proporcional,
econômico; em ambos os casos, do valor nominal das quotas.
II - designar administradores, quando for o caso; § 1º No prazo de noventa dias, contado da data
III - tratar de qualquer outro assunto constante da da publicação da ata da assembleia que aprovar a
ordem do dia. redução, o credor quirografário, por título líquido
§ 1º Até trinta dias antes da data marcada para anterior a essa data, poderá opor-se ao deliberado.
a assembleia, os documentos referidos no inciso I § 2º A redução somente se tornará eficaz se, no pra-
deste artigo devem ser postos, por escrito, e com a zo estabelecido no parágrafo antecedente, não for
prova do respectivo recebimento, à disposição dos impugnada, ou se provado o pagamento da dívida
sócios que não exerçam a administração. ou o depósito judicial do respectivo valor.
§ 2º Instalada a assembleia, proceder-se-á à leitu- § 3º Satisfeitas as condições estabelecidas no pará-
ra dos documentos referidos no parágrafo antece- grafo antecedente, proceder-se-á à averbação, no
dente, os quais serão submetidos, pelo presidente, Registro Público de Empresas Mercantis, da ata que
a discussão e votação, nesta não podendo tomar tenha aprovado a redução.
parte os membros da administração e, se houver,
os do conselho fiscal.
§ 3º A aprovação, sem reserva, do balanço patri-
A resolução da sociedade em relação ao sócio
monial e do de resultado econômico, salvo erro, minoritário está prevista no art. 1.085, do Código
dolo ou simulação, exonera de responsabilidade os Civil. Destaca-se que ausente cláusula autorizadora da
membros da administração e, se houver, os do con- exclusão de sócio por justa causa, mediante simples
selho fiscal. alteração contratual, somente será possível determi-
§ 4º Extingue-se em dois anos o direito de anular a nar sua saída mediante procedimento judicial:
aprovação a que se refere o parágrafo antecedente.
Art. 1.079 Aplica-se às reuniões dos sócios, nos Art. 1.085 Ressalvado o disposto no art. 1.030,
casos omissos no contrato, o estabelecido nesta quando a maioria dos sócios, representativa de
Seção sobre a assembleia, obedecido o disposto no mais da metade do capital social, entender que um
§ 1º do art. 1.072. ou mais sócios estão pondo em risco a continuidade
Art. 1.080 As deliberações infringentes do contrato da empresa, em virtude de atos de inegável gravida-
ou da lei tornam ilimitada a responsabilidade dos de, poderá excluí-los da sociedade, mediante altera-
que expressamente as aprovaram. ção do contrato social, desde que prevista neste a
Art. 1.080-A O sócio poderá participar e votar a exclusão por justa causa.
distância em reunião ou em assembleia, nos termos Parágrafo único. Ressalvado o caso em que haja
do regulamento do órgão competente do Poder Exe- apenas dois sócios na sociedade, a exclusão de um
cutivo federal. (Incluído pela Lei nº 14.030, de 2020) sócio somente poderá ser determinada em reunião
Parágrafo único. A reunião ou a assembleia pode- ou assembleia especialmente convocada para esse
rá ser realizada de forma digital, respeitados os fim, ciente o acusado em tempo hábil para permi-
direitos legalmente previstos de participação e de tir seu comparecimento e o exercício do direito de
manifestação dos sócios e os demais requisitos
defesa. (Redação dada pela Lei nº 13.792, de 2019)
regulamentares. (Incluído pela Lei nº 14.030, de
2020)
A dissolução da sociedade limitada ocorre nas
hipóteses previstas no art. 1.044, do Código Civil:
O Código Civil estabeleceu parâmetros para o
aumento e a redução do capital nos arts. 1.081 a
Art. 1.044 A sociedade se dissolve de pleno direi-
1.084:
to por qualquer das causas enumeradas no art.
1.033 e, se empresária, também pela declaração da
Art. 1.081 Ressalvado o disposto em lei especial, inte-
falência.
gralizadas as quotas, pode ser o capital aumenta-
do, com a correspondente modificação do contrato.
§ 1º Até trinta dias após a deliberação, terão os Após a dissolução com fim de liquidação da socieda-
sócios preferência para participar do aumento, na de, é imprescindível que o registro do distrato seja efe-
proporção das quotas de que sejam titulares. tivado, gerando a extinção da pessoa jurídica. No caso
§ 2º À cessão do direito de preferência, aplica-se de dissolução judicial, o Juízo comunicará ao órgão
o disposto no caput do art. 1.057. competente, para que se proceda a baixa do registro.
§ 3º Decorrido o prazo da preferência, e assumi-
da pelos sócios, ou por terceiros, a totalidade do Sociedades Limitadas de Grande Porte
aumento, haverá reunião ou assembleia dos sócios,
para que seja aprovada a modificação do contrato. Nos termos do art. 3°, da Lei 11638, de 2007, a socie-
Art. 1.082 Pode a sociedade reduzir o capital,
dade empresária é classificada como “de grande por-
mediante a correspondente modificação do contrato:
te” quando possui ativo superior a R$ 240.000.000,00
I - depois de integralizado, se houver perdas
irreparáveis; (duzentos e quarenta milhões de reais) ou receita
II - se excessivo em relação ao objeto da sociedade. bruta anual superior a R$ 300.000.000,00 (trezentos
Art. 1.083 No caso do inciso I do artigo antece- milhões de reais). Nesse caso, ficará sujeita às nor-
dente, a redução do capital será realizada com a mas que a lei fixa para a sociedade anônima, em rela-
diminuição proporcional do valor nominal das quo- ção a escrituração e elaboração das demonstrações
322 tas, tornando-se efetiva a partir da averbação, no financeiras.
Art. 3º Aplicam-se às sociedades de grande por- § 3º O diretor destituído ou exonerado continua,
te, ainda que não constituídas sob a forma de socie- durante dois anos, responsável pelas obrigações
dades por ações, as disposições da Lei nº 6.404, de sociais contraídas sob sua administração.
15 de dezembro de 1976, sobre escrituração e ela- Art. 1.092 A assembléia geral não pode, sem o con-
boração de demonstrações financeiras e a obriga- sentimento dos diretores, mudar o objeto essencial
toriedade de auditoria independente por auditor da sociedade, prorrogar-lhe o prazo de duração,
registrado na Comissão de Valores Mobiliários. aumentar ou diminuir o capital social, criar debên-
Parágrafo único. Considera-se de grande porte, tures, ou partes beneficiárias.
para os fins exclusivos desta Lei, a sociedade ou
conjunto de sociedades sob controle comum que Sociedade Anônima (Arts. 1.088 A 1.089, Do Código
tiver, no exercício social anterior, ativo total supe- Civil/Lei Nº 6.404, De 1976)
rior a R$ 240.000.000,00 (duzentos e quarenta
milhões de reais) ou receita bruta anual superior a
Conforme ensina Miranda Valverde,
R$ 300.000.000,00 (trezentos milhões de reais).
A sociedade anônima é uma pessoa jurídica de
Nenhuma outra exigência reservada pela lei, às
direito privado, de natureza mercantil em que todo
sociedades anônimas, estende-se às limitadas de gran- o capital se divide em ações, que limitam a respon-
de porte. sabilidade dos participantes, sócios ou acionis-
tas ao montante das ações, por eles subscritas ou
Sociedade de Pessoas adquiridas, as quais facilitam, por sua circulação, a
substituição de todos os sócios ou acionistas11.

Responsabilidade limitada ao
capital constante na última O Código Civil dispõe que a Sociedade Anônima
Características
alteração contratual opera sob denominação integrada pelas expressões
da Sociedade
Limitada “sociedade anônima” ou “companhia”, observemos:

Nome empresarial por razão Art. 1.160 A sociedade anônima opera sob deno-
social
minação integrada pelas expressões ‘sociedade
(firma) ou denominação
anônima’ ou ‘companhia’, por extenso ou abre-
viadamente, facultada a designação do objeto
social. (Redação dada pela Lei nº 14.382, de 2022)
SOCIEDADES POR AÇÕES Parágrafo único. Pode constar da denominação
o nome do fundador, acionista, ou pessoa que
Ações, Debêntures, Partes Beneficiárias, haja concorrido para o bom êxito da formação da
Administradores, Diretores, Assembleia Geral e empresa.
Conselho de Administração e Conselho Fiscal
A sociedade anônima é uma sociedade de capital,
As sociedades por ações são duas: Sociedade Anô- sendo livre o acesso de terceiros estranhos ao qua-
nima e Sociedade em Comandita por Ações dro societário, por meio de integralização do valor
A sociedade anônima está sujeita as regras da das ações. Assim, nenhum acionista pode impedir o
Lei nº 6.404, de 1976 (Lei das Sociedades por Ações — ingresso de terceiros no quadro associativo, sendo,
LSA), sendo o Código Civil aplicável, quando houver inclusive, permitida a penhora das ações do acionista
omissão desta (art. 1089): por dívidas trabalhistas.
O art. 1.088, do Código Civil dispõe:
Art. 1.089 A sociedade anônima rege-se por lei
especial, aplicando-se-lhe, nos casos omissos, as Art. 1.088 Na sociedade anônima ou companhia, o
disposições deste Código. capital divide-se em ações, obrigando-se cada sócio
ou acionista somente pelo preço de emissão das
A sociedade em comandita por ações é referida ações que subscrever ou adquirir.
nos arts. 1.090 a 1.092, do Código Civil, sujeitando-se à
LSA apenas em caso de omissão dessas normas. Veja- É obrigatório que a sociedade anônima tenha fim
mos as disposições: lucrativo e natureza empresária, sendo a responsa-
bilidade dos sócios limitada ao preço da emissão das
Art. 1.090 A sociedade em comandita por ações ações que subscrever, conforme disposto no art. 1°, da
tem o capital dividido em ações, regendo-se pelas
LSA (Lei nº 6.404, de 1976):
DIREITO EMPRESARIAL I

normas relativas à sociedade anônima, sem pre-


juízo das modificações constantes deste Capítulo, e
Art. 1º A companhia ou sociedade anônima terá
opera sob firma ou denominação.
o capital dividido em ações, e a responsabili-
Art. 1.091 Somente o acionista tem qualidade para
dade dos sócios ou acionistas será limitada
administrar a sociedade e, como diretor, responde sub-
ao preço de emissão das ações subscritas ou
sidiária e ilimitadamente pelas obrigações da sociedade.
adquiridas.
§ 1º Se houver mais de um diretor, serão solidariamen-
te responsáveis, depois de esgotados os bens sociais.
§ 2º Os diretores serão nomeados no ato constituti- A sociedade anônima sempre será considerada
vo da sociedade, sem limitação de tempo, e somente empresária, independente do seu objeto, conforme
poderão ser destituídos por deliberação de acionis- dispõe o art. 982, do Código Civil, e o art. 2º, da LSA:
tas que representem no mínimo dois terços do capi-
tal social.

11 VALVERDE, M. Manual das sociedades comerciais. Amador Paes de Almeida. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 173. 323
Código Civil z Bônus de Subscrição (art. 75, LSA):
Art. 982 Salvo as exceções expressas, considera-
-se empresária a sociedade que tem por objeto o Art. 75 A companhia poderá emitir, dentro do limite
exercício de atividade própria de empresário sujei- de aumento de capital autorizado no estatuto (arti-
to a registro (art. 967); e, simples, as demais. go 168), títulos negociáveis denominados “Bônus de
Parágrafo único. Independentemente de seu Subscrição”.
objeto, considera-se empresária a sociedade por Parágrafo único. Os bônus de subscrição conferi-
ações; e, simples, a cooperativa. rão aos seus titulares, nas condições constantes do
certificado, direito de subscrever ações do capital
Lei nº 6.404, de 15 de Dezembro de 1976 (Lsa)
social, que será exercido mediante apresentação do
Art. 2º Pode ser objeto da companhia qualquer
título à companhia e pagamento do preço de emis-
empresa de fim lucrativo, não contrário à lei, à
são das ações.
ordem pública e aos bons costumes.
§ 1º Qualquer que seja o objeto, a companhia é
mercantil e se rege pelas leis e usos do comércio. z Notas promissórias / commercial paper (In 134,
§ 2º O estatuto social definirá o objeto de modo pre- de 1990, da CVM):
ciso e completo.
§ 3º A companhia pode ter por objeto participar As partes beneficiárias, os bônus de subscrição e a
de outras sociedades; ainda que não prevista no nota promissória só podem assumir a forma nomina-
estatuto, a participação é facultada como meio de tiva. Já as ações e as debêntures podem ser nominati-
realizar o objeto social, ou para beneficiar-se de vas ou escriturais. Observe a tabela abaixo.
incentivos fiscais.

No que diz respeito ao capital social, nas palavras de CARACTERÍSTICAS DA SOCIEDADE ANÔNIMA
Amador Paes de Almeida (2014), é a parte em dinheiro
Responsabilidade limitada dos acionistas
ou bens com que se constituí o fundo essencial de uma
sociedade e que não se confunde com o patrimônio desta, Fracionamento do capital em ações
que é a totalidade de bens de uma empresa. Neste sentido
vejamos o disposto nos arts. 5º ao 7º, da LSA: Sociedade de capital

Sempre empresária
Art. 5º O estatuto da companhia fixará o valor do
capital social, expresso em moeda nacional. Adota denominação na composição de seu nome
Parágrafo único. A expressão monetária do valor empresarial
do capital social realizado será corrigida anual-
mente (artigo 167).
Art. 6º O capital social somente poderá ser modifi- As sociedades anônimas podem ser abertas ou
cado com observância dos preceitos desta Lei e do fechadas, conforme dispõe o art. 4º, da LSA:
estatuto social (artigos 166 a 174).
Art. 7º O capital social poderá ser formado com con- Art. 4º Para os efeitos desta Lei, a companhia é
tribuições em dinheiro ou em qualquer espécie de aberta ou fechada conforme os valores mobiliá-
bens suscetíveis de avaliação em dinheiro. rios de sua emissão estejam ou não admitidos à
negociação no mercado de valores mobiliários.
A sociedade anônima poderá emitir valores mobiliá-
rios com o intuito de obter recursos necessários para o z Sociedades anônimas abertas: admitidas a nego-
desenvolvimento de suas atividades, sendo eles: ciação no “mercado de valores mobiliários (MVM)”
das ações e valores mobiliários de sua emissão;
z Ações; z Sociedades anônimas fechadas: não podem ter
z Partes beneficiárias (art. 46, LSA): suas ações negociadas no MVM.

Art. 46 A companhia pode criar, a qualquer tempo, títu- Os termos “aberta” e “fechada” consistem na pos-
los negociáveis, sem valor nominal e estranhos ao capi- sibilidade, ou não, de suas ações serem negociadas na
tal social, denominados “partes beneficiárias”.
Bolsa de Valores ou no Mercado de Balcão.
§ 1º As partes beneficiárias conferirão aos seus titulares
Amador Paes de Almeida (2014, pág. 189) ensina
direito de crédito eventual contra a companhia, consis-
tente na participação nos lucros anuais (artigo 190). que a companhia aberta
§ 2º A participação atribuída às partes beneficiárias,
inclusive para formação de reserva para resgate, se [...] é a companhia que procura captar recursos jun-
houver, não ultrapassará 0,1 (um décimo) dos lucros. to ao público, seja com a emissão de ações, debên-
§ 3º É vedado conferir às partes beneficiárias qualquer tures, partes beneficiárias ou bônus de subscrição,
direito privativo de acionista, salvo o de fiscalizar, nos ou ainda admitindo valores mobiliários, e que, por
termos desta Lei, os atos dos administradores. isso mesmo, tenha admitido tais valores à nego-
§ 4º É proibida a criação de mais de uma classe ou ciação em Bolsa ou Mercado de Balcão”. O ilustre
série de partes beneficiárias. doutrinador (página 194) ensina que a companhia
fechada “é a companhia que não formula apelo à
z Debêntures (art. 52, LSA): poupança pública, obtendo recursos entre os pró-
prios acionistas ou terceiros subscritores. É a rigor,
Art. 52 A companhia poderá emitir debêntures a sociedade anônima tradicional, restrita a família
que conferirão aos seus titulares direito de crédito ou grupos e que, por isso, dispensa a tutela estatal.
contra ela, nas condições constantes da escritura Tal companhia não oferece ao público suas ações
324 de emissão e, se houver, do certificado. ou outros valores mobiliários.
Para que a sociedade anônima possa ter seus valo- § 1º Se a forma escolhida for a de assembleia-geral,
res mobiliários admitidos à negociação no MVM, é observar-se-á o disposto nos artigos 86 e 87, deven-
imprescindível prévia autorização do Governo Fede- do ser entregues à assembleia o projeto do estatu-
ral, concedida pela Comissão de Valores Mobiliários, to, assinado em duplicata por todos os subscritores
CVM. do capital, e as listas ou boletins de subscrição de
todas as ações.
Os arts. 80 e seguintes, da LSA, dispõem sobre a consti-
§ 2º Preferida a escritura pública, será ela assinada
tuição da companhia, sendo dividida em três etapas:
por todos os subscritores, e conterá:
a) a qualificação dos subscritores, nos termos do
z Requisitos Preliminares (artigos 80 e 81, LSA): artigo 85;
b) o estatuto da companhia;
Art. 80 A constituição da companhia depende do c) a relação das ações tomadas pelos subscritores e
cumprimento dos seguintes requisitos preliminares: a importância das entradas pagas;
I - subscrição, pelo menos por 2 (duas) pessoas, d) a transcrição do recibo do depósito referido no
de todas as ações em que se divide o capital social número III do artigo 80;
fixado no estatuto; e) a transcrição do laudo de avaliação dos peritos,
II - realização, como entrada, de 10% (dez por caso tenha havido subscrição do capital social em
cento), no mínimo, do preço de emissão das ações bens (artigo 8°);
subscritas em dinheiro; f) a nomeação dos primeiros administradores e,
III - depósito, no Banco do Brasil S/A., ou em outro quando for o caso, dos fiscais.
estabelecimento bancário autorizado pela Comis-
são de Valores Mobiliários, da parte do capital rea- z Providências Complementares (arts. 94 a 99,
lizado em dinheiro. LSA):
Parágrafo único. O disposto no número II não se
aplica às companhias para as quais a lei exige rea- Os atos constitutivos da companhia devem ser
lização inicial de parte maior do capital social. registrados e publicados.
Art. 81 O depósito referido no número III do arti-
go 80 deverá ser feito pelo fundador, no prazo de 5 Art. 94 Nenhuma companhia poderá funcionar
(cinco) dias contados do recebimento das quantias, sem que sejam arquivados e publicados seus atos
em nome do subscritor e a favor da sociedade em constitutivos.
organização, que só poderá levantá-lo após haver […]
adquirido personalidade jurídica. Art. 99 Os primeiros administradores são solidaria-
Parágrafo único. Caso a companhia não se consti- mente responsáveis perante a companhia pelos pre-
tua dentro de 6 (seis) meses da data do depósito, juízos causados pela demora no cumprimento das
o banco restituirá as quantias depositadas direta- formalidades complementares à sua constituição.
mente aos subscritores. Parágrafo único. A companhia não responde pelos
atos ou operações praticados pelos primeiros admi-
z Modalidades de Constituição (arts. 82 a 93, LSA): nistradores antes de cumpridas as formalidades de
constituição, mas a assembleia-geral poderá delibe-
„ I: constituição por subscrição pública (suces- rar em contrário.
siva), na qual os fundadores se preocupam em
buscar recursos para a constituição da socieda- A sociedade anônima é composta por quatro órgãos
de junto aos investidores; sociais, os quais encontram-se dispostos abaixo.
„ I: constituição por subscrição particular
(simultânea), na qual não há a mesma preocu- Assembleia Geral (art. 121, LSA)
pação por parte dos investidores.
A Assembleia Geral é o órgão máximo da sociedade
Art. 82 A constituição de companhia por subscri- anônima, possui caráter exclusivamente deliberativo e é
ção pública depende do prévio registro da emissão formada por todos os acionistas, podendo ser ordinária
na Comissão de Valores Mobiliários, e a subscrição ou extraordinária. Observe o que dispõe a lei:
somente poderá ser efetuada com a intermediação
de instituição financeira. Art. 121 A assembleia-geral, convocada e instalada
§ 1º O pedido de registro de emissão obedecerá às de acordo com a lei e o estatuto, tem poderes para
normas expedidas pela Comissão de Valores Mobi- decidir todos os negócios relativos ao objeto da
liários e será instruído com: companhia e tomar as resoluções que julgar conve-
a) o estudo de viabilidade econômica e financeira nientes à sua defesa e desenvolvimento.
DIREITO EMPRESARIAL I

do empreendimento; Parágrafo único. Nas companhias, abertas e fecha-


b) o projeto do estatuto social; das, o acionista poderá participar e votar a distância
c) o prospecto, organizado e assinado pelos funda- em assembleia geral, nos termos do regulamento da
dores e pela instituição financeira intermediária. Comissão de Valores Mobiliários e do órgão compe-
§ 2º A Comissão de Valores Mobiliários poderá tente do Poder Executivo federal, respectivamente.
condicionar o registro a modificações no estatuto (Redação dada pela Lei nº 14.030, de 2020).
ou no prospecto e denegá-lo por inviabilidade ou
temeridade do empreendimento, ou inidoneidade Nos termos do art. 132 da LSA, a Assembleia Geral
dos fundadores. Ordinária deve ser realizada anualmente, nos quatro
Art. 88 A constituição da companhia por subscri- meses seguintes ao fim do exercício social:
ção particular do capital pode fazer-se por deli-
beração dos subscritores em assembleia-geral ou Art. 132 Anualmente, nos 4 (quatro) primeiros
por escritura pública, considerando-se fundadores meses seguintes ao término do exercício social,
todos os subscritores. deverá haver 1 (uma) assembleia-geral para: 325
I - tomar as contas dos administradores, examinar, assembleia geral, e o estatuto estabelecerá: (Redação
discutir e votar as demonstrações financeiras; dada pela Lei Complementar nº 182, de 2021)
II - deliberar sobre a destinação do lucro líquido do I - o número de diretores, ou o máximo e o mínimo
exercício e a distribuição de dividendos; permitidos;
III - eleger os administradores e os membros do II - o modo de sua substituição;
conselho fiscal, quando for o caso; III - o prazo de gestão, que não será superior a 3
IV - aprovar a correção da expressão monetária do (três) anos, permitida a reeleição;
capital social (artigo 167). IV - as atribuições e poderes de cada diretor.
§ 1º Os membros do conselho de administração,
Os temas que não se encontram no rol do art. 132, até o máximo de 1/3 (um terço), poderão ser eleitos
da LSA, serão apreciados em assembleia extraordiná- para cargos de diretores.
§ 2º O estatuto pode estabelecer que determina-
ria, conforme dispõe o art. 131 da LSA:
das decisões, de competência dos diretores, sejam
tomadas em reunião da diretoria.
Art. 131 A assembleia-geral é ordinária quando
tem por objeto as matérias previstas no artigo 132,
e extraordinária nos demais casos. Conselho Fiscal (art. 161, LSA)
Parágrafo único. A assembleia-geral ordinária e
a assembleia-geral extraordinária poderão ser, Órgão de existência obrigatória e funcionamento
cumulativamente, convocadas e realizadas no facultativo, possui o objetivo de controlar, fiscalizar
mesmo local, data e hora, instrumentadas em os órgãos de administração, tutelando os interesses da
ata única. companhia e acionistas.

Conselho de Administração (§ 1º, 1ª parte, art. 138, Art. 161 A companhia terá um conselho fiscal e o
LSA) estatuto disporá sobre seu funcionamento, de modo
permanente ou nos exercícios sociais em que for
instalado a pedido de acionistas.
Via de regra, consiste em órgão facultativo de cará-
§ 1º O conselho fiscal será composto de, no míni-
ter deliberativo, com intuito de agilizar a tomada de
mo, 3 (três) e, no máximo, 5 (cinco) membros, e
decisões de interesse da sociedade anônima, sendo suplentes em igual número, acionistas ou não, elei-
somente obrigatório nas sociedades anônimas aber- tos pela assembleia-geral.
tas, nas de capital autorizado e nas de economia mista. § 2º O conselho fiscal, quando o funcionamento não
for permanente, será instalado pela assembleia-
Art. 138 A administração da companhia competi- -geral a pedido de acionistas que representem, no
rá, conforme dispuser o estatuto, ao conselho de mínimo, 0,1 (um décimo) das ações com direito a
administração e à diretoria, ou somente à diretoria. voto, ou 5% (cinco por cento) das ações sem direito
§ 1º O conselho de administração é órgão de a voto, e cada período de seu funcionamento termi-
deliberação colegiada, sendo a representação da nará na primeira assembleia-geral ordinária após
companhia privativa dos diretores. a sua instalação.
§ 2º As companhias abertas e as de capital § 3º O pedido de funcionamento do conselho fiscal,
autorizado terão, obrigatoriamente, conselho ainda que a matéria não conste do anúncio de con-
de administração. vocação, poderá ser formulado em qualquer assem-
§ 3º É vedada, nas companhias abertas, a acumu- bleia-geral, que elegerá os seus membros.
lação do cargo de presidente do conselho de admi- § 4º Na constituição do conselho fiscal serão
nistração e do cargo de diretor-presidente ou de observadas as seguintes normas:
principal executivo da companhia. a) os titulares de ações preferenciais sem direito a
§ 4º A Comissão de Valores Mobiliários poderá edi- voto, ou com voto restrito, terão direito de eleger,
tar ato normativo que excepcione as companhias em votação em separado, 1 (um) membro e res-
de menor porte previstas no art. 294-B desta Lei da pectivo suplente; igual direito terão os acionistas
vedação de que trata o § 3º deste artigo. minoritários, desde que representem, em conjunto,
Art. 239 As companhias de economia mista 10% (dez por cento) ou mais das ações com direito
terão obrigatoriamente Conselho de Adminis- a voto;
tração, assegurado à minoria o direito de eleger b) ressalvado o disposto na alínea anterior, os
um dos conselheiros, se maior número não lhes demais acionistas com direito a voto poderão ele-
couber pelo processo de voto múltiplo. ger os membros efetivos e suplentes que, em qual-
Parágrafo único. Os deveres e responsabilidades quer caso, serão em número igual ao dos eleitos nos
dos administradores das companhias de econo- termos da alínea a, mais um.
mia mista são os mesmos dos administradores das § 5º Os membros do conselho fiscal e seus suplentes
companhias abertas. exercerão seus cargos até a primeira assembleia-
-geral ordinária que se realizar após a sua eleição,
Diretoria (§ 1º, 2ª parte, art. 138, LSA) e poderão ser reeleitos.
§ 6º Os membros do conselho fiscal e seus suplentes
exercerão seus cargos até a primeira assembleia-
Órgão que possui como função principal a repre- -geral ordinária que se realizar após a sua eleição,
sentação legal da sociedade anônima, assim como a e poderão ser reeleitos.
execução das deliberações tomada pela assembleia § 7º A função de membro do conselho fiscal é
geral e pelo conselho de administração. Nos termos indelegável.
do art. 143, da LSA: […]
Art. 163 Compete ao conselho fiscal:
Art. 143 A Diretoria será composta por 1 (um) ou mais I - fiscalizar, por qualquer de seus membros, os atos
membros eleitos e destituíveis a qualquer tempo pelo dos administradores e verificar o cumprimento dos
326 conselho de administração ou, se inexistente, pela seus deveres legais e estatutários;
II - opinar sobre o relatório anual da administra- a serem respondidas por perito e solicitar à dire-
ção, fazendo constar do seu parecer as informações toria que indique, para esse fim, no prazo máximo
complementares que julgar necessárias ou úteis à de trinta dias, três peritos, que podem ser pessoas
deliberação da assembleia-geral; físicas ou jurídicas, de notório conhecimento na
III - opinar sobre as propostas dos órgãos da admi- área em questão, entre os quais o conselho fiscal
nistração, a serem submetidas à assembleia-geral, escolherá um, cujos honorários serão pagos pela
relativas a modificação do capital social, emissão companhia.
de debêntures ou bônus de subscrição, planos de
investimento ou orçamentos de capital, distribui- De acordo com o art. 106, da LSA, o acionista é
ção de dividendos, transformação, incorporação,
obrigado a pagar o preço da emissão das ações que
fusão ou cisão;
subscrever:
IV - denunciar, por qualquer de seus membros, aos
órgãos de administração e, se estes não tomarem
as providências necessárias para a proteção dos Art. 106 O acionista é obrigado a realizar, nas
interesses da companhia, à assembleia-geral, os condições previstas no estatuto ou no boletim de
erros, fraudes ou crimes que descobrirem, e sugerir subscrição, a prestação correspondente às ações
providências úteis à companhia; subscritas ou adquiridas.
V - convocar a assembleia-geral ordinária, se os § 1º Se o estatuto e o boletim forem omissos quan-
órgãos da administração retardarem por mais de to ao montante da prestação e ao prazo ou data do
1 (um) mês essa convocação, e a extraordinária, pagamento, caberá aos órgãos da administração
sempre que ocorrerem motivos graves ou urgentes, efetuar chamada, mediante avisos publicados na
incluindo na agenda das assembleias as matérias imprensa, por 3 (três) vezes, no mínimo, fixando pra-
que considerarem necessárias; zo, não inferior a 30 (trinta) dias, para o pagamento.
VI - analisar, ao menos trimestralmente, o balance- § 2º O acionista que não fizer o pagamento nas con-
te e demais demonstrações financeiras elaboradas dições previstas no estatuto ou boletim, ou na cha-
periodicamente pela companhia; mada, ficará de pleno direito constituído em mora,
VII - examinar as demonstrações financeiras do sujeitando-se ao pagamento dos juros, da correção
exercício social e sobre elas opinar; monetária e da multa que o estatuto determinar,
VIII - exercer essas atribuições, durante a liquida- esta não superior a 10% (dez por cento) do valor
ção, tendo em vista as disposições especiais que a da prestação.
regulam. Art. 107 Verificada a mora do acionista, a com-
§ 1º Os órgãos de administração são obrigados, panhia pode, à sua escolha:
através de comunicação por escrito, a colocar à I - promover contra o acionista, e os que com ele
disposição dos membros em exercício do conse- forem solidariamente responsáveis (artigo 108),
lho fiscal, dentro de 10 (dez) dias, cópias das atas processo de execução para cobrar as importâncias
de suas reuniões e, dentro de 15 (quinze) dias do devidas, servindo o boletim de subscrição e o aviso
seu recebimento, cópias dos balancetes e demais de chamada como título extrajudicial nos termos
demonstrações financeiras elaboradas periodica- do Código de Processo Civil; ou
mente e, quando houver, dos relatórios de execução II - mandar vender as ações em bolsa de valores,
de orçamentos. por conta e risco do acionista.
§ 2º O conselho fiscal, a pedido de qualquer dos seus § 1º Será havida como não escrita, relativamente à
membros, solicitará aos órgãos de administração companhia, qualquer estipulação do estatuto ou do
esclarecimentos ou informações, desde que relati- boletim de subscrição que exclua ou limite o exercício
vas à sua função fiscalizadora, assim como a elabo- da opção prevista neste artigo, mas o subscritor de
ração de demonstrações financeiras ou contábeis boa-fé terá ação, contra os responsáveis pela estipula-
especiais. ção, para haver perdas e danos sofridos, sem prejuízo
§ 3º Os membros do conselho fiscal assistirão às
da responsabilidade penal que no caso couber.
reuniões do conselho de administração, se houver,
§ 2º A venda será feita em leilão especial na bolsa de
ou da diretoria, em que se deliberar sobre os assun-
valores do lugar da sede social, ou, se não houver,
tos em que devam opinar (ns. II, III e VII).
na mais próxima, depois de publicado aviso, por 3
§ 4º Se a companhia tiver auditores independen-
(três) vezes, com antecedência mínima de 3 (três)
tes, o conselho fiscal, a pedido de qualquer de seus
dias. Do produto da venda serão deduzidos as des-
membros, poderá solicitar-lhes esclarecimentos ou
pesas com a operação e, se previstos no estatuto, os
informações, e a apuração de fatos específicos.
§ 5º Se a companhia não tiver auditores indepen- juros, correção monetária e multa, ficando o saldo
dentes, o conselho fiscal poderá, para melhor à disposição do ex-acionista, na sede da sociedade.
desempenho das suas funções, escolher contador § 3º É facultado à companhia, mesmo após iniciada
ou firma de auditoria e fixar-lhes os honorários, a cobrança judicial, mandar vender a ação em bol-
DIREITO EMPRESARIAL I

dentro de níveis razoáveis, vigentes na praça e com- sa de valores; a companhia poderá também promo-
patíveis com a dimensão econômica da companhia, ver a cobrança judicial se as ações oferecidas em
os quais serão pagos por esta. bolsa não encontrarem tomador, ou se o preço apu-
§ 6º O conselho fiscal deverá fornecer ao acionista, rado não bastar para pagar os débitos do acionista.
ou grupo de acionistas que representem, no míni- § 4º Se a companhia não conseguir, por qualquer
mo 5% (cinco por cento) do capital social, sempre dos meios previstos neste artigo, a integraliza-
que solicitadas, informações sobre matérias de sua ção das ações, poderá declará-las caducas e fazer
competência. suas as entradas realizadas, integralizando-as
§ 7º As atribuições e poderes conferidos pela lei ao com lucros ou reservas, exceto a legal; se não tiver
conselho fiscal não podem ser outorgados a outro lucros e reservas suficientes, terá o prazo de 1 (um)
órgão da companhia. ano para colocar as ações caídas em comisso, fin-
§ 8º O conselho fiscal poderá, para apurar fato cujo do o qual, não tendo sido encontrado comprador,
esclarecimento seja necessário ao desempenho de a assembleia-geral deliberará sobre a redução do
suas funções, formular, com justificativa, questões capital em importância correspondente. 327
O art. 109, da LSA, dispõe sobre os direitos essen- § 1º São modalidades de exercício abusivo de
ciais do acionista: poder:
a) orientar a companhia para fim estranho ao obje-
Art. 109 Nem o estatuto social nem a assembleia- to social ou lesivo ao interesse nacional, ou levá-la
-geral poderão privar o acionista dos direitos de: a favorecer outra sociedade, brasileira ou estran-
I - participar dos lucros sociais; geira, em prejuízo da participação dos acionistas
II - participar do acervo da companhia, em minoritários nos lucros ou no acervo da compa-
caso de liquidação; nhia, ou da economia nacional;
b) promover a liquidação de companhia próspe-
III - fiscalizar, na forma prevista nesta Lei, a
ra, ou a transformação, incorporação, fusão ou
gestão dos negócios sociais;
cisão da companhia, com o fim de obter, para si ou
IV - preferência para a subscrição de ações,
para outrem, vantagem indevida, em prejuízo dos
partes beneficiárias conversíveis em ações,
demais acionistas, dos que trabalham na empresa
debêntures conversíveis em ações e bônus de
ou dos investidores em valores mobiliários emiti-
subscrição, observado o disposto nos artigos 171
dos pela companhia;
e 172; (Vide Lei nº 12.838, de 2013) c) promover alteração estatutária, emissão de valo-
V - retirar-se da sociedade nos casos previstos res mobiliários ou adoção de políticas ou decisões
nesta Lei. que não tenham por fim o interesse da companhia e
§ 1º As ações de cada classe conferirão iguais direi- visem a causar prejuízo a acionistas minoritários,
tos aos seus titulares. aos que trabalham na empresa ou aos investidores
§ 2º Os meios, processos ou ações que a lei con- em valores mobiliários emitidos pela companhia;
fere ao acionista para assegurar os seus direi- d) eleger administrador ou fiscal que sabe inapto,
tos não podem ser elididos pelo estatuto ou pela moral ou tecnicamente;
assembleia-geral. e) induzir, ou tentar induzir, administrador ou fiscal a
§ 3º O estatuto da sociedade pode estabelecer que praticar ato ilegal, ou, descumprindo seus deveres defi-
as divergências entre os acionistas e a companhia, nidos nesta Lei e no estatuto, promover, contra o interes-
ou entre os acionistas controladores e os acionistas se da companhia, sua ratificação pela assembleia-geral;
minoritários, poderão ser solucionadas mediante f) contratar com a companhia, diretamente ou através
arbitragem, nos termos em que especificar. (Incluí- de outrem, ou de sociedade na qual tenha interesse, em
do pela Lei nº 10.303, de 2001) condições de favorecimento ou não equitativas;
g) aprovar ou fazer aprovar contas irregulares de
Observa-se que o direito ao voto não é um direi- administradores, por favorecimento pessoal, ou
to essencial, uma vez que há ações que não possuem deixar de apurar denúncia que saiba ou devesse
essa característica. saber procedente, ou que justifique fundada suspei-
ta de irregularidade.
O art. 116 e seguintes, da LSA, dispõem sobre o
h) subscrever ações, para os fins do disposto no art.
acionista controlador: 170, com a realização em bens estranhos ao objeto
social da companhia.
Art. 116 Entende-se por acionista controlador a § 2º No caso da alínea e do § 1º, o administrador ou
pessoa, natural ou jurídica, ou o grupo de pessoas fiscal que praticar o ato ilegal responde solidaria-
vinculadas por acordo de voto, ou sob controle mente com o acionista controlador.
comum, que: § 3º O acionista controlador que exerce cargo de
a) é titular de direitos de sócio que lhe assegurem, administrador ou fiscal tem também os deveres e
de modo permanente, a maioria dos votos nas deli- responsabilidades próprios do cargo.
berações da assembleia-geral e o poder de eleger a
maioria dos administradores da companhia; e As ações são frações em que se subdivide o capital
b) usa efetivamente seu poder para dirigir as ati- da sociedade. Conforme ensina Roberto Papiniação:
vidades sociais e orientar o funcionamento dos
órgãos da companhia. [...] é o título representativo do valor da fração em
Parágrafo único. O acionista controlador deve usar que é dividido o capital social e do qual resulta,
o poder com o fim de fazer a companhia realizar o para o seu titular, o direito de participar da vida
seu objeto e cumprir sua função social, e tem deve- social da companhia. Tal participação processa-se
res e responsabilidades para com os demais acio- patrimonialmente, mediante a percepção periódica
nistas da empresa, os que nela trabalham e para de dividendos, e pessoalmente ou politicamente,
com a comunidade em que atua, cujos direitos e através de fiscalização dos negócios e influência
interesses deve lealmente respeitar e atender. nas deliberações sociais através do voto12.
Art. 116-A O acionista controlador da companhia
aberta e os acionistas, ou grupo de acionistas, que Nos termos do art. 15, da LSA, as ações podem ser:
elegerem membro do conselho de administração ou
membro do conselho fiscal, deverão informar ime- Art. 15 As ações, conforme a natureza dos direi-
diatamente as modificações em sua posição acioná- tos ou vantagens que confiram a seus titulares, são
ria na companhia à Comissão de Valores Mobiliários ordinárias, preferenciais, ou de fruição.
e às Bolsas de Valores ou entidades do mercado de § 1º As ações ordinárias e preferenciais poderão
balcão organizado nas quais os valores mobiliários ser de uma ou mais classes, observado, no caso das
de emissão da companhia estejam admitidos à nego- ordinárias, o disposto nos arts. 16, 16-A e 110-A des-
ciação, nas condições e na forma determinadas pela ta Lei. (Redação dada pela Lei nº 14.195, de 2021)
Comissão de Valores Mobiliários. § 2º O número de ações preferenciais sem direi-
Art. 117 O acionista controlador responde pelos to a voto, ou sujeitas a restrição no exercício des-
danos causados por atos praticados com abuso se direito, não pode ultrapassar 50% (cinquenta
de poder. por cento) do total das ações emitidas.

328 12 PAPINI, R. Sociedade Anônima e mercado de valores mobiliários, 4 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 59.
z Ordinárias: ações comuns, de emissão obrigatória, § 7º Nas companhias objeto de desestatização pode-
conferem direitos de caráter político (votar e ser vota- rá ser criada ação preferencial de classe especial, de
do) e patrimonial (receber dividendos e participar dos propriedade exclusiva do ente desestatizante, à qual
acertos finais na liquidação da companhia); o estatuto social poderá conferir os poderes que
z Preferenciais: conferem direitos especiais, de especificar, inclusive o poder de veto às deliberações
caráter patrimonial, aos acionistas, podendo, ou da assembleia-geral nas matérias que especificar.
não, conferir o direito de voto, conforme dispõe o
art. 17, da LSA: z De fruição: resultante da amortização integral de
ações ordinárias ou preferenciais. O acionista pas-
Art. 17 As preferências ou vantagens das ações sa a figurar como titular de uma ação de fruição,
preferenciais podem consistir: sujeitando-se às mesmas restrições e vantagens
I - em prioridade na distribuição de dividendo, fixo da ação amortizada. Ressalta-se que o estatuto ou
ou mínimo; a assembleia-geral que autorizar a amortização
II - em prioridade no reembolso do capital, com prê- poderá estabelecer limitações de modo diverso.
mio ou sem ele; ou
III - na acumulação das preferências e vantagens de Com relação à forma, as ações podem ser nomina-
que tratam os incisos I e II. tivas ou escriturais. De acordo com Amador Paes de
§ 1º Independentemente do direito de receber ou Almeida (2014, p. 219), as ações nominativas são “aque-
não o valor de reembolso do capital com prêmio ou las cuja propriedade se estabelece pela inscrição do nome
sem ele, as ações preferenciais sem direito de voto do titular no livro de registro de ações nominativas” e as
ou com restrição ao exercício deste direito, somente ações escriturais são aquelas que “não se cristalizam
serão admitidas à negociação no mercado de valo- materialmente, não constituindo, a rigor, um título de cré-
res mobiliários se a elas for atribuída pelo menos
dito, já que se mantém em contas de depósitos em institui-
uma das seguintes preferências ou vantagens:
ções financeiras, sem emissão de certificados.”
I - direito de participar do dividendo a ser distri-
O critério de diferenciação se dá pela maneira que
buído, correspondente a, pelo menos, 25% (vinte
e cinco por cento) do lucro líquido do exercício, são transmitidas:
calculado na forma do art. 202, de acordo com o
seguinte critério: z Nominativas: circulam mediante registro no livro
a) prioridade no recebimento dos dividendos men- próprio da sociedade emissão (Livro de Transfe-
cionados neste inciso correspondente a, no mínimo, rência de Ações Nominativas;
3% (três por cento) do valor do patrimônio líquido z Escriturais: por autorização ou determinação do
da ação; e estatuto, são mantidas em contas de depósitos em
b) direito de participar dos lucros distribuídos em nome de seu titular.
igualdade de condições com as ordinárias, depois
de a estas assegurado dividendo igual ao mínimo Nos termos do art. 34, da LSA:
prioritário estabelecido em conformidade com a
alínea a; ou Art. 34 O estatuto da companhia pode autorizar ou
II - direito ao recebimento de dividendo, por ação estabelecer que todas as ações da companhia, ou
preferencial, pelo menos 10% (dez por cento) maior uma ou mais classes delas, sejam mantidas em con-
do que o atribuído a cada ação ordinária; ou tas de depósito, em nome de seus titulares, na insti-
III - direito de serem incluídas na oferta pública tuição que designar, sem emissão de certificados.
de alienação de controle, nas condições previstas
no art. 254-A, assegurado o dividendo pelo menos
Destaca-se que as companhias fechadas poderão
igual ao das ações ordinárias.
estabelecer limitações à circulação de suas ações,
§ 2º Deverão constar do estatuto, com precisão
enquanto as companhias abertas não poderão deter-
e minúcia, outras preferências ou vantagens que
sejam atribuídas aos acionistas sem direito a voto, minar qualquer restrição.
ou com voto restrito, além das previstas neste artigo. Vejamos o art. 36, da LSA:
§ 3º Os dividendos, ainda que fixos ou cumulativos,
não poderão ser distribuídos em prejuízo do capi- Art. 36 O estatuto da companhia fechada pode
tal social, salvo quando, em caso de liquidação da impor limitações à circulação das ações nominati-
companhia, essa vantagem tiver sido expressamen- vas, contanto que regule minuciosamente tais limi-
te assegurada. tações e não impeça a negociação, nem sujeite o
§ 4º Salvo disposição em contrário no estatuto, o acionista ao arbítrio dos órgãos de administração
dividendo prioritário não é cumulativo, a ação com da companhia ou da maioria dos acionistas.
dividendo fixo não participa dos lucros remanes- Parágrafo único. A limitação à circulação criada
DIREITO EMPRESARIAL I

centes e a ação com dividendo mínimo participa por alteração estatutária somente se aplicará às
dos lucros distribuídos em igualdade de condições ações cujos titulares com ela expressamente con-
com as ordinárias, depois de a estas assegurado cordarem, mediante pedido de averbação no livro
dividendo igual ao mínimo. de “Registro de Ações Nominativas”.
§ 5º Salvo no caso de ações com dividendo fixo, o
estatuto não pode excluir ou restringir o direito das Quanto aos certificados das ações, vale destacar o
ações preferenciais de participar dos aumentos de disposto no art. 24, da LSA:
capital decorrentes da capitalização de reservas ou
lucros (art. 169). Art. 24 Os certificados das ações serão escritos
§ 6º O estatuto pode conferir às ações preferenciais em vernáculo e conterão as seguintes declarações:
com prioridade na distribuição de dividendo cumu- I - denominação da companhia, sua sede e prazo
lativo, o direito de recebê-lo, no exercício em que o de duração;
lucro for insuficiente, à conta das reservas de capi- II - o valor do capital social, a data do ato que o
tal de que trata o § 1º do art. 182. tiver fixado, o número de ações em que se divide e 329
o valor nominal das ações, ou a declaração de que o debenturista o mutuante. Ademais, provém de um
não têm valor nominal; empréstimo contraído junto ao público pela socieda-
III - nas companhias com capital autorizado, o limi- de emitente, representando um direito de crédito do
te da autorização, em número de ações ou valor do seu possuidor. O art. 54, da LSA dispõe:
capital social;
IV - o número de ações ordinárias e preferenciais Art. 54 A debênture terá valor nominal expresso
das diversas classes, se houver, as vantagens ou em moeda nacional, salvo nos casos de obrigação
preferências conferidas a cada classe e as limita- que, nos termos da legislação em vigor, possa ter o
ções ou restrições a que as ações estiverem sujeitas;
pagamento estipulado em moeda estrangeira.
V - o número de ordem do certificado e da ação, e a
§ 1º A debênture poderá conter cláusula de corre-
espécie e classe a que pertence;
ção monetária, com base nos coeficientes fixados
VI - os direitos conferidos às partes beneficiárias,
para correção de títulos da dívida pública, na varia-
se houver;
ção da taxa cambial ou em outros referenciais não
VII - a época e o lugar da reunião da assembleia-ge-
expressamente vedados em lei.
ral ordinária;
§ 2º A escritura de debênture poderá assegurar ao
VIII - a data da constituição da companhia e
debenturista a opção de escolher receber o paga-
do arquivamento e publicação de seus atos
mento do principal e acessórios, quando do venci-
constitutivos;
mento, amortização ou resgate, em moeda ou em
IX - o nome do acionista;
bens avaliados nos termos do art. 8º.
X - o débito do acionista e a época e o lugar de seu
pagamento, se a ação não estiver integralizada
XI - a data da emissão do certificado e as assinatu- Nos termos do art. 59, da LSA:
ras de dois diretores, ou do agente emissor de cer-
tificados (art. 27). Art. 59 A deliberação sobre emissão de debêntu-
§ 1º A omissão de qualquer dessas declarações dá res é da competência privativa da assembleia-ge-
ao acionista direito à indenização por perdas e ral, que deverá fixar, observado o que a respeito
danos contra a companhia e os diretores na gestão dispuser o estatuto:
dos quais os certificados tenham sido emitidos. I - o valor da emissão ou os critérios de determinação
§ 2º Os certificados de ações emitidas por compa- do seu limite, e a sua divisão em séries, se for o caso;
nhias abertas podem ser assinados por dois man- II - o número e o valor nominal das debêntures;
datários com poderes especiais, ou autenticados III - as garantias reais ou a garantia flutuante, se houver;
por chancela mecânica, observadas as normas IV - as condições da correção monetária, se houver;
expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários. V - a conversibilidade ou não em ações e as condi-
ções a serem observadas na conversão;
De acordo com Roberto Papini (2004), as partes VI - a época e as condições de vencimento, amorti-
beneficiárias configuram-se como títulos negociá- zação ou resgate;
veis, com valor nominal ausente, estranhos ao capital VII - a época e as condições do pagamento dos
social (uma vez que não apresentam qualquer contri- juros, da participação nos lucros e do prêmio de
buição para este) e que conferem, aos seus titulares, o reembolso, se houver;
direito de crédito eventual contra a companhia, con- VIII - o modo de subscrição ou colocação, e o tipo
das debêntures.
sistente na participação dos lucros anuais.
§ 1º Na companhia aberta, o conselho de adminis-
Destaca-se que os titulares de partes beneficiárias
tração pode deliberar sobre a emissão de debên-
não são sócios, mas meros participantes dos lucros.
tures não conversíveis em ações, salvo disposição
Nos termos dos arts. 47 e 48, da LSA: estatutária em contrário
§ 2º O estatuto da companhia aberta poderá autori-
Art. 47 As partes beneficiárias poderão ser aliena- zar o conselho de administração a, dentro dos limi-
das pela companhia, nas condições determinadas tes do capital autorizado, deliberar sobre a emissão
pelo estatuto ou pela assembleia-geral, ou atribuí- de debêntures conversíveis em ações, especificando
das a fundadores, acionistas ou terceiros, como o limite do aumento de capital decorrente da con-
remuneração de serviços prestados à companhia. versão das debêntures, em valor do capital social
Parágrafo único. É vedado às companhias abertas ou em número de ações, e as espécies e classes das
emitir partes beneficiárias.
ações que poderão ser emitidas.
Art. 48 O estatuto fixará o prazo de duração das
§ 3º A assembleia geral pode deliberar que a emis-
partes beneficiárias e, sempre que estipular resga-
são terá valor e número de série indeterminados,
te, deverá criar reserva especial para esse fim.
dentro dos limites por ela fixados.
§ 1º O prazo de duração das partes beneficiárias atri-
§ 4º Nos casos não previstos nos §§ 1º e 2º, a assem-
buídas gratuitamente, salvo as destinadas a socie-
bleia geral pode delegar ao conselho de administra-
dades ou fundações beneficentes dos empregados da
ção a deliberação sobre as condições de que tratam
companhia, não poderá ultrapassar 10 (dez) anos.
os incisos VI a VIII do caput e sobre a oportunidade
§ 2º O estatuto poderá prever a conversão das
da emissão.
partes beneficiárias em ações, mediante capi-
talização de reserva criada para esse fim.
§ 3º No caso de liquidação da companhia, solvido o pas- Abaixo, seguem as diferenças entre as debêntures
sivo exigível, os titulares das partes beneficiárias terão e as ações:
direito de preferência sobre o que restar do ativo até
a importância da reserva para resgate ou conversão. z Debêntures:

As debêntures, no que lhes diz respeito, são títu- „ Direito de crédito contra a sociedade emitente;
los emitidos pela sociedade anônima e pela socieda- „ Títulos emitidos por sociedades anônimas e
de em comandita por ações. Estas representam um sociedades em comandita por ações;
330 contrato mútuo, no qual a companhia é a mutuária e „ Renda fixa, pagando juros e correção monetária.
z Ações: II - por decisão judicial:
a) quando anulada a sua constituição, em ação pro-
„ Direito de participação na sociedade posta por qualquer acionista;
„ Emitidas, exclusivamente, por sociedades b) quando provado que não pode preencher o seu
anônimas; fim, em ação proposta por acionistas que represen-
„ Renda variável, pagando dividendos. tem 5% (cinco por cento) ou mais do capital social;
c) em caso de falência, na forma prevista na res-
pectiva lei;
No que diz respeito ao bônus de subscrição, Ama-
III - por decisão de autoridade administrativa
dor Paes de Almeida (2016, p. 243) destaca que, sendo
competente, nos casos e na forma previstos em lei
especial.
[...] privativo da S/A de capital autorizado, pode o
bônus de subscrição ser conceituado como título ou
valor mobiliário que confere ao titular o direito à Importante observar o disposto no, § 1º, art. 213,
subscrição de novas ações, na hipótese de aumento da LSA:
do capital, assumindo, pois, as feições de verdadei-
ra opção de compra de ações. Art. 213 O liquidante convocará a assembleia-ge-
ral cada 6 (seis) meses, para prestar-lhe contas dos
Nos termos dos arts. 76 a 78, da LSA: atos e operações praticados no semestre e apresen-
tar-lhe o relatório e o balanço do estado da liqui-
Art. 76 A deliberação sobre emissão de bônus de dação; a assembleia-geral pode fixar, para essas
subscrição compete à assembleia-geral, se o esta- prestações de contas, períodos menores ou maio-
tuto não a atribuir ao conselho de administração. res que, em qualquer caso, não serão inferiores a 3
Art. 77 Os bônus de subscrição serão alienados (três) nem superiores a 12 (doze) meses.
pela companhia ou por ela atribuídos, como vanta- § 1º Nas assembleias-gerais da companhia
gem adicional, aos subscritos de emissões de suas em liquidação todas as ações gozam de igual
ações ou debêntures. direito de voto, tornando-se ineficazes as res-
Parágrafo único. Os acionistas da companhia goza- trições ou limitações porventura existentes em
rão, nos termos dos artigos 171 e 172, de preferên- relação às ações ordinárias ou preferenciais;
cia para subscrever a emissão de bônus. cessando o estado de liquidação, restaura-se a
Art. 78 Os bônus de subscrição terão a forma eficácia das restrições ou limitações relativas
nominativa. (Redação dada pela Lei nº 9.457, de ao direito de voto.
1997) § 2º No curso da liquidação judicial, as assembleias-
Parágrafo único. Aplica-se aos bônus de subscri- -gerais necessárias para deliberar sobre os interes-
ção, no que couber, o disposto nas Seções V a VII ses da liquidação serão convocadas por ordem do
do Capítulo III. juiz, a quem compete presidi-las e resolver, suma-
riamente, as dúvidas e litígios que forem susci-
A emissão de notas promissórias pela sociedade anô- tados. As atas das assembleias-gerais serão, por
nima não está prevista na lei. A CVM, por meio da Ins- cópias autênticas, apensadas ao processo judicial.
trução 134, de 1990, disciplinou e autorizou a emissão
desse título pela sociedade, só podendo circular median- Sociedade em Comandita por Ações (arts. 1.090 a
te endosso em preto e com cláusula sem garantia. 1.092, do Código Civil)
O art. 219 da Lei nº 6.404, de 1976, dispõe sobre a
extinção da companhia: Segundo Amador Paes Leme (2016, p. 156), a socie-
dade em comandita por ações
Art. 219 Extingue-se a companhia:
I - pelo encerramento da liquidação; [...] é aquela em que o capital, tal como nas socieda-
II - pela incorporação ou fusão, e pela cisão com des anônimas, se divide em ações, respondendo os
versão de todo o patrimônio em outras sociedades. acionistas apenas pelo preço das ações subscritas ou
adquiridas, assumindo os diretores responsabilida-
Assim, com a dissolução total, surge a necessidade de solidária e ilimitada pelas obrigações sociais.
de realização da liquidação e da partilha. Nesse senti-
do, veja o art. 207, da LSA: A sociedade em comandita por ações, conforme
disposto Código Civil, tem o capital social dividido em
Art. 207 A companhia dissolvida conserva a perso- ações e rege-se pelas normas da Lei de S/A.
nalidade jurídica, até a extinção, com o fim de pro- Nos termos dos arts. 280 a 284, da LSA:
ceder à liquidação.
DIREITO EMPRESARIAL I

Art. 280 A sociedade em comandita por ações


Conforme dispõe o art. 206, da LSA: terá o capital dividido em ações e reger-se-á pelas
normas relativas às companhias ou sociedades
Art. 206 Dissolve-se a companhia: anônimas, sem prejuízo das modificações constan-
I - de pleno direito: tes deste Capítulo.
a) pelo término do prazo de duração; Art. 281 A sociedade poderá comerciar sob firma
b) nos casos previstos no estatuto; ou razão social, da qual só farão parte os nomes
c) por deliberação da assembléia-geral (art. 136, X); dos sócios-diretores ou gerentes. Ficam ilimitada e
d) pela existência de 1 (um) único acionista, veri- solidariamente responsáveis, nos termos desta Lei,
ficada em assembleia-geral ordinária, se o míni- pelas obrigações sociais, os que, por seus nomes,
mo de 2 (dois) não for reconstituído até à do ano figurarem na firma ou razão social.
seguinte, ressalvado o disposto no artigo 251; Parágrafo único. A denominação ou a firma deve
e) pela extinção, na forma da lei, da autorização ser seguida das palavras “Comandita por Ações”,
para funcionar. por extenso ou abreviadamente. 331
Art. 282 Apenas o sócio ou acionista tem qualidade Na lição de Ascarelli, que se mantém atual:
para administrar ou gerir a sociedade, e, como dire-
tor ou gerente, responde, subsidiária mas ilimitada A respeito, parece-me possível afirmar, em geral,
e solidariamente, pelas obrigações da sociedade. que a existência de uma sociedade não pode servir
§ 1º Os diretores ou gerentes serão nomeados, sem para alcançar um escopo ilícito e, portanto, que: a
limitação de tempo, no estatuto da sociedade, e existência de uma sociedade não pode servir para
somente poderão ser destituídos por deliberação burlar as normas e as obrigações que dizem respei-
de acionistas que representem 2/3 (dois terços), no
to aos seus sócios; a existência de uma coligação de
mínimo, do capital social.
sociedades não pode servir para burlar as normas
§ 2º O diretor ou gerente que for destituído ou se
e as obrigações que dizem respeito a uma das socie-
exonerar continuará responsável pelas obrigações
dades coligadas [...] Mas a coligação entre socieda-
sociais contraídas sob sua administração.
Art. 283 A assembleia-geral não pode, sem o con- des pode facultar fraudes que afetem os direitos de
sentimento dos diretores ou gerentes, mudar o obje- terceiros credores, seja por meio de típicos atos de
to essencial da sociedade, prorrogar-lhe o prazo de fraude contra credores – sujeitos, portanto, às nor-
duração, aumentar ou diminuir o capital social, mas da ação pauliana – seja por meio do recurso à
emitir debêntures ou criar partes beneficiárias nem distinção jurídica entre as várias sociedades, para
aprovar a participação em grupo de sociedade. ilidir a observância de determinados compromissos
Art. 284 Não se aplica à sociedade em comandita – e, então, neste caso, à vista, da fraude, cumprirá
por ações o disposto nesta Lei sobre voto plural, atender à existência da coligação e à consequente
sobre conselho de administração, sobre autoriza- unidade econômica das sociedades coligadas14.
ção estatutária de aumento de capital e sobre emis-
são de bônus de subscrição. Nos termos do art. 1.097, do Código Civil, em seu
Capítulo VIII:
Veja o disposto no Código Civil, no que diz respeito
à sociedade em comandita por ações: Art. 1.097 Consideram-se coligadas as sociedades
que, em suas relações de capital, são controladas,
Art. 1.090 A sociedade em comandita por ações filiadas, ou de simples participação, na forma
tem o capital dividido em ações, regendo-se pelas dos artigos seguintes.
normas relativas à sociedade anônima, sem pre-
juízo das modificações constantes deste Capítulo, e
O art. 1.098, do Código Civil, traz a definição de
opera sob firma ou denominação.
Art. 1.091 Somente o acionista tem qualidade para sociedade controlada. Veja:
administrar a sociedade e, como diretor, responde
subsidiária e ilimitadamente pelas obrigações da Art. 1.098 É controlada:
sociedade. I - a sociedade de cujo capital outra sociedade pos-
§ 1º Se houver mais de um diretor, serão solidaria- sua a maioria dos votos nas deliberações dos quo-
mente responsáveis, depois de esgotados os bens tistas ou da assembleia geral e o poder de eleger a
sociais. maioria dos administradores;
§ 2º Os diretores serão nomeados no ato constituti- II - a sociedade cujo controle, referido no inciso
vo da sociedade, sem limitação de tempo, e somente antecedente, esteja em poder de outra, mediante
poderão ser destituídos por deliberação de acionis- ações ou quotas possuídas por sociedades ou socie-
tas que representem no mínimo dois terços do capi- dades por esta já controladas.
tal social.
§ 3º O diretor destituído ou exonerado continua, Nos termos do art. 1.099, do Código Civil, a socieda-
durante dois anos, responsável pelas obrigações
de coligada ou filiada:
sociais contraídas sob sua administração.
Art. 1.092 A assembleia geral não pode, sem o con-
sentimento dos diretores, mudar o objeto essencial Art. 1.099 Diz-se coligada ou filiada a sociedade de
da sociedade, prorrogar-lhe o prazo de duração, cujo capital outra sociedade participa com dez por
aumentar ou diminuir o capital social, criar debên- cento ou mais, do capital da outra, sem controlá-la.
tures, ou partes beneficiárias.
O art. 1.100, do Código Civil, por sua vez, define, da
SOCIEDADES COLIGADAS seguinte forma, a sociedade de simples participação:

As Sociedades Coligadas configuram-se como um Art. 1.100 É de simples participação a sociedade


tipo de relação entre empresários que preservam sua de cujo capital outra sociedade possua menos de
autonomia jurídica e patrimonial, pela participação dez por cento do capital com direito de voto.
de uma sociedade em outra, pela formação de grupos
de sociedades ou pela concepção de consórcios. A LSA também disciplina a matéria no Capítulo XX
Arnoldo Wald13, ensina que a expressão “coliga- (Sociedades Coligadas, Controladoras e Controladas).
ção” é, em sentido lato, reservada ao mecanismo de Veja:
formação dos grupos societários que mantêm a inte-
gridade patrimonial das sociedades e a autonomia de Art. 243 O relatório anual da administração deve
suas personalidades jurídicas. Nas palavras do autor, relacionar os investimentos da companhia em
a coligação é o gênero que possui, classicamente, duas sociedades coligadas e controladas e mencionar as
espécies: o controle e a coligação em sentido estrito. modificações ocorridas durante o exercício.

13 WALD, A. Livro II — Do Direito de Empresa. Arts. 966 a 1.195. Comentários ao Novo Código Civil. Sálvio de Figueiredo Teixeira (coord.). Rio de
Janeiro: Editora Forense, 2005. Volume 14.
332 14 ASCARELLI, T. Problemas das sociedades anônimas e direito comparado. São Paulo: Saraiva, 1969.
§ 1º São coligadas as sociedades nas quais a inves- b) a qualquer acionista, desde que preste caução
tidora tenha influência significativa. (Redação dada pelas custas e honorários de advogado devidos no
pela Lei nº 11.941, de 2009) caso de vir a ação ser julgada improcedente.
§ 2º Considera-se controlada a sociedade na qual § 2º A sociedade controladora, se condenada, além
a controladora, diretamente ou através de outras de reparar o dano e arcar com as custas, pagará
controladas, é titular de direitos de sócio que lhe honorários de advogado de 20% (vinte por cento)
assegurem, de modo permanente, preponderância e prêmio de 5% (cinco por cento) ao autor da ação,
nas deliberações sociais e o poder de eleger a maio- calculados sobre o valor da indenização.
ria dos administradores. Art. 247 As notas explicativas dos investimentos
§ 3º A companhia aberta divulgará as informações a que se refere o art. 248 desta Lei devem conter
adicionais, sobre coligadas e controladas, que forem informações precisas sobre as sociedades coligadas
exigidas pela Comissão de Valores Mobiliários. e controladas e suas relações com a companhia,
§ 4º Considera-se que há influência significativa indicando: (Redação dada pela Lei nº 11.941, de
quando a investidora detém ou exerce o poder de 2009)
participar nas decisões das políticas financeira ou I - a denominação da sociedade, seu capital social e
operacional da investida, sem controlá-la. (Incluído patrimônio líquido;
pela Lei nº 11.941, de 2009) II - o número, espécies e classes das ações ou quotas
§ 5º É presumida influência significativa quando a de propriedade da companhia, e o preço de merca-
investidora for titular de 20% (vinte por cento) ou do das ações, se houver;
mais dos votos conferidos pelo capital da investida, III - o lucro líquido do exercício;
sem controlá-la. (Redação dada pela Lei nº 14.195, IV - os créditos e obrigações entre a companhia e as
de 2021) sociedades coligadas e controladas;
Art. 244 É vedada a participação recíproca entre a V - o montante das receitas e despesas em opera-
companhia e suas coligadas ou controladas. ções entre a companhia e as sociedades coligadas
§ 1º O disposto neste artigo não se aplica ao caso e controladas.
em que ao menos uma das sociedades participa de Parágrafo único. Considera-se relevante o
outra com observância das condições em que a lei investimento:
autoriza a aquisição das próprias ações (artigo 30, a) em cada sociedade coligada ou controlada, se
§ 1º, alínea b). o valor contábil é igual ou superior a 10% (dez
por cento) do valor do patrimônio líquido da
§ 2º As ações do capital da controladora, de proprie-
companhia;
dade da controlada, terão suspenso o direito de voto.
b) no conjunto das sociedades coligadas e contro-
§ 3º O disposto no § 2º do artigo 30, aplica-se à
ladas, se o valor contábil é igual ou superior a 15%
aquisição de ações da companhia aberta por suas
(quinze por cento) do valor do patrimônio líquido
coligadas e controladas.
da companhia.
§ 4º No caso do § 1º, a sociedade deverá alienar,
Art. 248 No balanço patrimonial da companhia,
dentro de 6 (seis) meses, as ações ou quotas que
os investimentos em coligadas ou em controladas
excederem do valor dos lucros ou reservas, sempre
e em outras sociedades que façam parte de um mes-
que esses sofrerem redução.
mo grupo ou estejam sob controle comum serão
§ 5º A participação recíproca, quando ocorrer em
avaliados pelo método da equivalência patrimo-
virtude de incorporação, fusão ou cisão, ou da aqui-
nial, de acordo com as seguintes normas: (Redação
sição, pela companhia, do controle de sociedade,
dada pela Lei nº 11.941, de 2009)
deverá ser mencionada nos relatórios e demons- I - o valor do patrimônio líquido da coligada ou da
trações financeiras de ambas as sociedades, e será controlada será determinado com base em balanço
eliminada no prazo máximo de 1 (um) ano; no caso patrimonial ou balancete de verificação levantado,
de coligadas, salvo acordo em contrário, deverão com observância das normas desta Lei, na mesma
ser alienadas as ações ou quotas de aquisição mais data, ou até 60 (sessenta) dias, no máximo, antes da
recente ou, se da mesma data, que representem data do balanço da companhia; no valor de patri-
menor porcentagem do capital social. mônio líquido não serão computados os resultados
§ 6º A aquisição de ações ou quotas de que resulte não realizados decorrentes de negócios com a com-
participação recíproca com violação ao disposto panhia, ou com outras sociedades coligadas à com-
neste artigo importa responsabilidade civil soli- panhia, ou por ela controladas;
dária dos administradores da sociedade, equipa- II - o valor do investimento será determinado
rando-se, para efeitos penais, à compra ilegal das mediante a aplicação, sobre o valor de patrimônio
próprias ações. líquido referido no número anterior, da porcen-
Art. 245 Os administradores não podem, em pre- tagem de participação no capital da coligada ou
juízo da companhia, favorecer sociedade coligada, controlada;
DIREITO EMPRESARIAL I

controladora ou controlada, cumprindo-lhes zelar III - a diferença entre o valor do investimento, de


para que as operações entre as sociedades, se hou- acordo com o número II, e o custo de aquisição cor-
ver, observem condições estritamente comutativas, rigido monetariamente; somente será registrada
ou com pagamento compensatório adequado; e res- como resultado do exercício:
pondem perante a companhia pelas perdas e danos a) se decorrer de lucro ou prejuízo apurado na coli-
resultantes de atos praticados com infração ao dis- gada ou controlada;
posto neste artigo. b) se corresponder, comprovadamente, a ganhos ou
Art. 246 A sociedade controladora será obriga- perdas efetivos;
da a reparar os danos que causar à companhia por c) no caso de companhia aberta, com observância
atos praticados com infração ao disposto nos arti- das normas expedidas pela Comissão de Valores
gos 116 e 117. Mobiliários.
§ 1º A ação para haver reparação cabe: § 1º Para efeito de determinar a relevância do
a) a acionistas que representem 5% (cinco por cen- investimento, nos casos deste artigo, serão compu-
to) ou mais do capital social; tados como parte do custo de aquisição os saldos 333
de créditos da companhia contra as coligadas e As regras sobre transformação, incorporação,
controladas. fusão e cisão das sociedades dispostas no Código Civil
§ 2º A sociedade coligada, sempre que solicita- são aplicáveis a todas as sociedades, exceto a socie-
da pela companhia, deverá elaborar e fornecer o dade anônima, regida pela Lei nº 6.404, de 1976. No
balanço ou balancete de verificação previsto no caso de omissão do Código Civil, a LSA é aplicada sub-
número I. sidiariamente a todas as sociedades.
Art. 249 A companhia aberta que tiver mais de 30% Destaca-se que, sempre que a reorganização das
(trinta por cento) do valor do seu patrimônio líqui- empresas envolver uma sociedade anônima, é impres-
do representado por investimentos em sociedades
cindível que se sujeitem a LSA.
controladas deverá elaborar e divulgar, juntamente
As alterações societárias podem ocorrer entre
com suas demonstrações financeiras, demonstra-
todos os tipos de sociedades e não há necessidade de
ções consolidadas nos termos do artigo 250.
que sejam de tipos idênticos.
Parágrafo único. A Comissão de Valores Mobiliá-
rios poderá expedir normas sobre as sociedades
cujas demonstrações devam ser abrangidas na con- Transformação
solidação, e:
a) determinar a inclusão de sociedades que, embora Nos termos do art. 1113 do Código Civil:
não controladas, sejam financeira ou administrati-
vamente dependentes da companhia; Art. 1.113 O ato de transformação independe de
b) autorizar, em casos especiais, a exclusão de uma dissolução ou liquidação da sociedade, e obedecerá
ou mais sociedades controladas. aos preceitos reguladores da constituição e inscri-
Art. 250 Das demonstrações financeiras consolida- ção próprios do tipo em que vai converter-se.
das serão excluídas:
I - as participações de uma sociedade em outra; A transformação não extingue a pessoa jurí-
II - os saldos de quaisquer contas entre as dica, assim como não cria uma pessoa jurídica. O
sociedades; mesmo sujeito de direito anterior à transformação,
III - as parcelas dos resultados do exercício, dos permanece.
lucros ou prejuízos acumulados e do custo de esto- Destaca-se que não há que se falar em transfor-
ques ou do ativo não circulante que corresponde- mação, se uma sociedade simples pretender assumir
rem a resultados, ainda não realizados, de negócios uma das formas de sociedade empresária. Nesse caso,
entre as sociedades. (Redação dada pela Lei nº a personalidade jurídica anterior deixará de existir,
11.941, de 2009) sendo criada uma nova.
§ 1º A participação dos acionistas não controlado-
Observe o disposto no art. 220, da LSA:
res no patrimônio líquido e no lucro do exercício
será destacada, respectivamente, no balanço patri-
Art. 220 A transformação é a operação pela qual a
monial e na demonstração do resultado do exercí-
sociedade passa, independentemente de dissolução
cio. (Redação dada pela Lei nº 9.457, de 1997)
e liquidação, de um tipo para outro.
§ 2º A parcela do custo de aquisição do investimen-
Parágrafo único. A transformação obedecerá aos
to em controlada, que não for absorvida na consoli-
preceitos que regulam a constituição e o registro do
dação, deverá ser mantida no ativo não circulante,
tipo a ser adotado pela sociedade.
com dedução da provisão adequada para perdas
já comprovadas, e será objeto de nota explicativa.
Nos termos do art. 1.114, do Código Civil:
(Redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009)
§ 3º O valor da participação que exceder do cus-
to de aquisição constituirá parcela destacada dos Art. 1.114 A transformação depende do consenti-
resultados de exercícios futuros até que fique com- mento de todos os sócios, salvo se prevista no ato
provada a existência de ganho efetivo. constitutivo, caso em que o dissidente poderá retirar-
§ 4º Para fins deste artigo, as sociedades contro- -se da sociedade, aplicando-se, no silêncio do estatuto
ladas, cujo exercício social termine mais de 60 ou do contrato social, o disposto no art. 1.031.
(sessenta) dias antes da data do encerramento do
exercício da companhia, elaborarão, com obser- Neste sentido, veja o disposto no art. 221 da LSA:
vância das normas desta Lei, demonstrações finan-
ceiras extraordinárias em data compreendida Art. 221 A transformação exige o consentimento
nesse prazo. unânime dos sócios ou acionistas, salvo se previs-
ta no estatuto ou no contrato social, caso em que
Caso haja a participação de alguma sociedade anô- o sócio dissidente terá o direito de retirar-se da
sociedade.
nima na coligação, deverá ser aplicada a LSA, por ser
mais específica. Caso não tenha, aplicam-se as regras
gerais do Código Civil. A transformação consiste na modificação do tipo
societário. Exemplo: uma sociedade anônima é trans-
formada em uma sociedade limitada.
TRANSFORMAÇÃO, FUSÃO, INCORPORAÇÃO E
Nos termos do art. 115, do Código Civil:
CISÃO
Art. 1.115 A transformação não modificará nem
Independentemente de liquidação ou dissolução, é prejudicará, em qualquer caso, os direitos dos
possível que as sociedades se reorganizem, passando credores.
por mudanças em sua estrutura inicial, a fim de que Parágrafo único. A falência da sociedade transfor-
se tornem mais eficientes em todos os âmbitos. No mada somente produzirá efeitos em relação aos
entanto, tais alterações não podem prejudicar o direi- sócios que, no tipo anterior, a eles estariam sujei-
to dos credores. tos, se o pedirem os titulares de créditos anteriores
334 à transformação, e somente a estes beneficiará.
Incorporação LSA
Art. 228 A fusão é a operação pela qual se unem
Nos termos do art. 1.116, do Código Civil e do art. duas ou mais sociedades para formar socieda-
227, da LSA: de nova, que lhes sucederá em todos os direitos e
obrigações.
Código Civil § 1º A assembleia-geral de cada companhia, se
Art. 1.116 Na incorporação, uma ou várias socie- aprovar o protocolo de fusão, deverá nomear os
dades são absorvidas por outra, que lhes suce- peritos que avaliarão os patrimônios líquidos das
de em todos os direitos e obrigações, devendo todas demais sociedades.
aprová-la, na forma estabelecida para os respecti- § 2º Apresentados os laudos, os administradores
vos tipos. convocarão os sócios ou acionistas das socieda-
des para uma assembleia-geral, que deles toma-
LSA rá conhecimento e resolverá sobre a constituição
Art. 227 A incorporação é a operação pela qual definitiva da nova sociedade, vedado aos sócios ou
uma ou mais sociedades são absorvidas por outra, acionistas votar o laudo de avaliação do patrimô-
que lhes sucede em todos os direitos e obrigações. nio líquido da sociedade de que fazem parte.
§ 1º A assembleia-geral da companhia incorpora- § 3º Constituída a nova companhia, incumbirá aos
dora, se aprovar o protocolo da operação, deverá primeiros administradores promover o arquiva-
autorizar o aumento de capital a ser subscrito e mento e a publicação dos atos da fusão.
realizado pela incorporada mediante versão do
seu patrimônio líquido, e nomear os peritos que o A Fusão se define como a concentração de empre-
avaliarão. sas, e resulta em uma nova sociedade, extinguindo
§ 2º A sociedade que houver de ser incorporada, se todas as demais envolvidas.
aprovar o protocolo da operação, autorizará seus Veja o disposto nos arts. 1.120 e 1.121, do Código
administradores a praticarem os atos necessários
Civil:
à incorporação, inclusive a subscrição do aumento
de capital da incorporadora.
Art. 1.120 A fusão será decidida, na forma estabele-
§ 3º Aprovados pela assembleia-geral da incor-
cida para os respectivos tipos, pelas sociedades que
poradora o laudo de avaliação e a incorporação,
pretendam unir-se.
extingue-se a incorporada, competindo à primeira
§ 1º Em reunião ou assembleia dos sócios de cada
promover o arquivamento e a publicação dos atos
sociedade, deliberada a fusão e aprovado o projeto
da incorporação.
do ato constitutivo da nova sociedade, bem como
o plano de distribuição do capital social, serão
Na incorporação, uma sociedade absorve outra(s), nomeados os peritos para a avaliação do patrimô-
que deixa(m) de existir. A incorporação não cria uma nio da sociedade.
sociedade, apenas absorve e sucede uma, ou mais, § 2º Apresentados os laudos, os administradores
sociedades. Destaca-se que, na incorporação, há a convocarão reunião ou assembleia dos sócios para
agregação do patrimônio da incorporada ao patrimô- tomar conhecimento deles, decidindo sobre a cons-
nio da incorporadora, sucedendo todos os direitos e tituição definitiva da nova sociedade.
obrigações. § 3º É vedado aos sócios votar o laudo de avaliação
Veja o disposto nos arts. 1.117 e 1.118, do Código do patrimônio da sociedade de que façam parte.
Civil: Art. 1.121 Constituída a nova sociedade, aos admi-
nistradores incumbe fazer inscrever, no registro
Art. 1.117 A deliberação dos sócios da sociedade próprio da sede, os atos relativos à fusão.
incorporada deverá aprovar as bases da operação
e o projeto de reforma do ato constitutivo. Cisão
§ 1º A sociedade que houver de ser incorporada
tomará conhecimento desse ato, e, se o aprovar, Nos termos do art. 229, da LSA:
autorizará os administradores a praticar o neces-
sário à incorporação, inclusive a subscrição em Art. 229 A cisão é a operação pela qual a com-
bens pelo valor da diferença que se verificar entre o panhia transfere parcelas do seu patrimônio
ativo e o passivo. para uma ou mais sociedades, constituídas para
§ 2º A deliberação dos sócios da sociedade incorpo- esse fim ou já existentes, extinguindo-se a com-
radora compreenderá a nomeação dos peritos para panhia cindida, se houver versão de todo o seu
a avaliação do patrimônio líquido da sociedade, patrimônio, ou dividindo-se o seu capital, se par-
que tenha de ser incorporada. cial a versão.
DIREITO EMPRESARIAL I

Art. 1.118 Aprovados os atos da incorporação, a § 1º Sem prejuízo do disposto no artigo 233, a
incorporadora declarará extinta a incorporada, sociedade que absorver parcela do patrimônio da
e promoverá a respectiva averbação no registro companhia cindida sucede a esta nos direitos e
próprio. obrigações relacionados no ato da cisão; no caso
de cisão com extinção, as sociedades que absorve-
Fusão rem parcelas do patrimônio da companhia cindida
sucederão a esta, na proporção dos patrimônios
Nos termos do art. 1.119, do Código Civil e do art. líquidos transferidos, nos direitos e obrigações não
228, da LSA: relacionados.
§ 2º Na cisão com versão de parcela do patrimô-
Art. 1.119 A fusão determina a extinção das socie- nio em sociedade nova, a operação será delibera-
dades que se unem, para formar sociedade da pela assembleia-geral da companhia à vista de
nova, que a elas sucederá nos direitos e obrigações. justificação que incluirá as informações de que tra-
tam os números do artigo 224; a assembleia, se a 335
aprovar, nomeará os peritos que avaliarão a parcela do patrimônio a ser transferida, e funcionará como assembleia
de constituição da nova companhia.
§ 3º A cisão com versão de parcela de patrimônio em sociedade já existente obedecerá às disposições sobre incorpo-
ração (artigo 227).
§ 4º Efetivada a cisão com extinção da companhia cindida, caberá aos administradores das sociedades que tiverem
absorvido parcelas do seu patrimônio promover o arquivamento e publicação dos atos da operação; na cisão com
versão parcial do patrimônio, esse dever caberá aos administradores da companhia cindida e da que absorver par-
cela do seu patrimônio.
§ 5º As ações integralizadas com parcelas de patrimônio da companhia cindida serão atribuídas a seus titulares, em
substituição às extintas, na proporção das que possuíam; a atribuição em proporção diferente requer aprovação de
todos os titulares, inclusive das ações sem direito a voto.

Nas palavras de Bruno Mattos e Silva (2007, p. 510) a cisão

[...] não se confunde com a simples transferência da propriedade de patrimônio entre sociedades. É preciso que
exista um processo de cisão, no qual se inserem a realização de assembleias e emissão de ações para os sócios da
sociedade cindida, isto é, da sociedade que transferir seu patrimônio, que será decorrente ou da constituição de
sociedade nova, ou do aumento do capital de sociedade já existente que receber o patrimônio da sociedade cindida.

Para facilitar a visualização, veja a tabela a seguir:

TRANSFORMAÇÃO INCORPORAÇÃO FUSÃO CISÃO

Transferência de parcelas
União de duas ou mais
Uma sociedade absorve do patrimônio social para
sociedades para que
Mudança de tipo societário a outra(s), que deixam de uma ou mais sociedades
nasça uma nova pes-
existir já existentes ou constituí-
soa jurídica
das na oportunidade

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

Conforme dito, a sociedade adquire a personalidade jurídica com a inscrição do ato constitutivo. Com a perso-
nalidade jurídica, todas as garantias e atributos da pessoa jurídica são atribuídos à sociedade, inclusive a respon-
sabilidade patrimonial limitada dos sócios.
Luiz Guilhermo Loureiro15 estabelece:

Não pode a pessoa jurídica ser utilizada como escudo para que o sócio possa, impunemente, causar danos a outrem,
fugir da responsabilidade por ato ilícito ou agir contra finalidades objetivadas pela norma jurídica. Sempre que isso
ocorrer, deve o juiz desconhecer ou desconsiderar a existência da pessoa jurídica, para que o sócio, por meio de seu
patrimônio particular, seja diretamente responsabilizado pela fraude ou abuso de direito.

Assim, a partir da desconsideração da personalidade jurídica, o sócio responde com todo o seu patrimônio,
ou seja, a sua responsabilidade limitada não fica restrita as suas respectivas quotas sociais. A desconsideração da
personalidade jurídica é exceção, sendo regra a autonomia patrimonial e limitação da responsabilidade, quando
se tratar de sociedades limitadas e anônimas.
Nos termos do art. 50, do Código Civil:

Art. 50 Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão
patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no proces-
so, desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens
particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso.
(Redação dada pela Lei nº 13.874, de 2019)
§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade é a utilização da pessoa jurídica com o propósito
de lesar credores e para a prática de atos ilícitos de qualquer natureza. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
§ 2º Entende-se por confusão patrimonial a ausência de separação de fato entre os patrimônios, caracteri-
zada por: (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
I - Cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do administrador ou vice-versa; (Incluído pela
Lei nº 13.874, de 2019)
II - transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto os de valor proporcionalmente insig-
nificante; e (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
III - outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
§ 3º O disposto no caput e nos §§ 1º e 2º deste artigo também se aplica à extensão das obrigações de sócios ou de
administradores à pessoa jurídica. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
§ 4º A mera existência de grupo econômico sem a presença dos requisitos de que trata o caput deste artigo não
autoriza a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
§ 5º Não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a alteração da finalidade original da atividade econô-
mica específica da pessoa jurídica. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

336 15 Loureiro, L. G. Curso completo de Direito Civil. 2°ed. São Paulo: Método, 2009, p. 154.
Esse artigo só se aplica quando houver a prática Atenção: há entendimento semelhante ao do CTN,
de ato irregular, tornando a responsabilidade pelas no sentido de que não seria hipótese de desconsidera-
obrigações decorrentes ilimitada, tingindo somente ção propriamente, mas de responsabilização solidária
aqueles que o praticaram. Destaca-se que, embora o patrimônio dos sócios
O pressuposto da desconsideração é a ocorrência seja alcançado a partir da desconsideração da perso-
de fraude praticada com o uso da autonomia patrimo- nalidade jurídica da sociedade da qual fazem parte, de
nial da pessoa jurídica. modo algum colocará fim à existência da sociedade.
A desconsideração da personalidade jurídica tam- De outro modo, a desconsideração da personalidade
bém é mencionada no art. 28, do Código do Consumi- jurídica não implica na sua dissolução ou liquidação.
dor, no art. 34, da Lei Antitruste, e no art. 4º, da Lei nº Os efeitos da desconsideração são provisórios e se res-
9.605, de 1998: tringem ao caso para o qual for decretada. Somente
os sócios que, efetivamente, contribuíram ou se bene-
Código de Defesa do Consumidor ficiaram, de alguma forma, para a ocorrência de um
Art. 28 O juiz poderá desconsiderar a persona- abuso da personalidade jurídica da sociedade terão o
lidade jurídica da sociedade quando, em detri- seu patrimônio atingido.
mento do consumidor, houver abuso de direito, A lei também permite a desconsideração inversa.
excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito A desconsideração inversa ocorre quando, para
ou violação dos estatutos ou contrato social. satisfazer dívida de algum sócio ou administrador, o
credor direciona sua ação para atingir o patrimônio
Lei Antitruste da pessoa jurídica, conforme disposto no § 3º, art. 50,
Art. 34 A personalidade jurídica do responsável por do Código Civil.
infração da ordem econômica poderá ser descon-
siderada quando houver da parte deste abuso de
Art. 50 […]
direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato
§ 3º O disposto no caput e nos §§ 1º e 2º deste arti-
ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social.
go também se aplica à extensão das obrigações de
sócios ou de administradores à pessoa jurídica.
Lei 9.605, de 1998
Art. 4º Poderá ser desconsiderada a pessoa jurí-
dica sempre que sua personalidade for obstáculo RELAÇÕES ENTRE SOCIEDADES
ao ressarcimento de prejuízos causados à qualida-
de do meio ambiente. Controladoras, Controladas, Coligadas e Consórcios

O Código Tributário Nacional (CTN) e a Consolida- A fim de ofertar um material de estudos o mais
ção das Leis do Trabalho (CLT) também dispõem sobre didático e organizado possível, optou-se por não inse-
a desconsideração da personalidade jurídica ou das rir um assunto dedicado especificamente a “Relações
hipóteses de responsabilização direta dos sócios: Entre Sociedades”. Contudo, não há com o que se
preocupar, uma vez que este conteúdo foi amplamen-
Código Tributário Nacional (CTN): te abordado em “Sociedades por Ações”.
Art. 135 São pessoalmente responsáveis pelos cré-
ditos correspondentes a obrigações tributárias resul- RESPONSABILIZAÇÃO OBJETIVA E SUBJETIVA DE
tantes de atos praticados com excesso de poderes PESSOA JURÍDICA
ou infração de lei, contrato social ou estatutos:
I - as pessoas referidas no artigo anterior; A Lei nº 12.846, de 2013, Lei Anticorrupção (LAC),
II - os mandatários, prepostos e empregados; dispõe sobre a responsabilização administrativa e
III - os diretores, gerentes ou representantes de pes- civil de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a
soas jurídicas de direito privado. administração pública, nacional ou estrangeira, e dá
outras providências.
Atenção: muitos entendem que, nesse caso, o que Veja o disposto nos arts. 1º a 4º, da LAC:
há é responsabilidade pessoal do sócio.
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a responsabilização
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) objetiva administrativa e civil de pessoas jurí-
Art. 2º Considera-se empregador a empresa, indi- dicas pela prática de atos contra a administração
vidual ou coletiva, que, assumindo os riscos da pública, nacional ou estrangeira.
atividade econômica, admite, assalaria e dirige a Parágrafo único. Aplica-se o disposto nesta Lei às
prestação pessoal de serviço. sociedades empresárias e às sociedades simples,
[...] personificadas ou não, independentemente da for-
DIREITO EMPRESARIAL I

§ 2º Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embo- ma de organização ou modelo societário adotado,
ra, cada uma delas, personalidade jurídica própria, bem como a quaisquer fundações, associações de
estiverem sob a direção, controle ou administração entidades ou pessoas, ou sociedades estrangeiras,
de outra, ou ainda quando, mesmo guardando cada que tenham sede, filial ou representação no terri-
uma sua autonomia, integrem grupo econômico, tório brasileiro, constituídas de fato ou de direito,
serão responsáveis solidariamente pelas obrigações ainda que temporariamente.
decorrentes da relação de emprego. (Redação dada Art. 2º As pessoas jurídicas serão responsabiliza-
pela Lei nº 13.467, de 2017) (Vigência) das objetivamente, nos âmbitos administrativo e
[…] civil, pelos atos lesivos previstos nesta Lei pratica-
Art. 855-A Aplica-se ao processo do trabalho o inci- dos em seu interesse ou benefício, exclusivo ou não.
dente de desconsideração da personalidade jurídi- Art. 3º A responsabilização da pessoa jurídica não
ca previsto nos arts. 133 a 137 da Lei nº 13.105, exclui a responsabilidade individual de seus diri-
de 16 de março de 2015 - Código de Processo Civil. gentes ou administradores ou de qualquer pessoa
(Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017) natural, autora, coautora ou partícipe do ato ilícito. 337
§ 1º A pessoa jurídica será responsabilizada inde- A responsabilização da pessoa jurídica e a res-
pendentemente da responsabilização individual ponsabilização pessoal do autor da conduta são
das pessoas naturais referidas no caput. independentes.
§ 2º Os dirigentes ou administradores somente
serão responsabilizados por atos ilícitos na medida
da sua culpabilidade.
Art. 4º Subsiste a responsabilidade da pessoa HORA DE PRATICAR!
jurídica na hipótese de alteração contratual, trans-
formação, incorporação, fusão ou cisão societária. 1. (FGV — 2022) No curso de uma investigação instau-
§ 1º Nas hipóteses de fusão e incorporação, a res- rada pela CGU para apuração da prática de atos de
ponsabilidade da sucessora será restrita à obriga- corrupção ativa em prejuízo da administração pública,
ção de pagamento de multa e reparação integral do o auditor verificou provas documentais que indicam a
dano causado, até o limite do patrimônio transfe-
formação de uma sociedade em conta de participação
rido, não lhe sendo aplicáveis as demais sanções
entre três sociedades empresárias em conjunto com
previstas nesta Lei decorrentes de atos e fatos
uma quarta, que atuava em nome próprio e no interes-
ocorridos antes da data da fusão ou incorporação,
se comum, utilizando-se de interposta pessoa física
exceto no caso de simulação ou evidente intuito de
para ocultar a identidade dos beneficiários dos atos
fraude, devidamente comprovados.
praticados.
§ 2º As sociedades controladoras, controladas,
coligadas ou, no âmbito do respectivo contrato,
as consorciadas serão solidariamente respon- Considerando a narrativa e os aspectos que caracteri-
sáveis pela prática dos atos previstos nesta Lei, zam a sociedade em conta de participação, analise as
restringindo-se tal responsabilidade à obrigação de afirmativas a seguir.
pagamento de multa e reparação integral do dano
causado. I. Trata-se de pessoa jurídica de direito privado, com
registro do contrato na Junta Comercial, atuando seja
Nos termos da LAC, a Administração Pública é o na pessoa do sócio ostensivo seja nas dos sócios par-
sujeito passivo. Já o sujeito ativo poderá ser: ticipantes, que poderão ou não tomar parte nos negó-
cios do sócio ostensivo.
Sociedades empresárias e simples, personificadas II. Trata-se de sociedade não personificada cuja atua-
ou não, independentemente da forma de organi- ção ocorre sem a utilização de firma ou denominação
zação ou modelo societário adotado; Fundações, social, pois quem se obriga perante terceiros e em
associações de entidades ou pessoas, ou sociedades nome próprio é o sócio ostensivo.
estrangeiras que tenham sede, filial ou representa- III. Trata-se de sociedade em comum que se estabelece
ção no território brasileiro, constituídas de fato sem observância das formalidades prescritas para as
ou de direito, ainda que temporariamente. demais sociedades, respondendo todos os sócios de
maneira solidária e subsidiária pelas obrigações sociais.
A LAC prevê responsabilidade objetiva, tanto civil
quanto administrativa, das pessoas jurídicas pelos Está correto o que se afirma em:
atos lesivos praticados em seu interesse ou benefício,
exclusivo ou não. a) somente II;
A responsabilidade civil consiste no dever do b) somente III;
agente de reparar um dano causado, sendo tutelada c) somente I e II;
pelo Poder Judiciário da esfera cível. d) somente I e III;
A responsabilidade administrativa consis- e) I, II e III.
te no dever de responder por infringir as normas
2. (FGV — 2022) Investigações do órgão federal de con-
administrativas.
trole comprovaram a participação de sociedades na
A responsabilidade civil não exclui a responsabili-
prática de atos de corrupção de agentes públicos
dade administrativa e vice-versa, podendo um único
através da oferta ou promessa de oferta de pecúnia
ato dar ênfase a um processo cível e administrativo
para auferimento de vantagens em aquisições de bens
simultaneamente.
para a administração pública, sobretudo em casos de
As condutas que podem resultar em sanção são as
dispensa de licitação. Os atos praticados por uma das
que têm o intuito de interesse e/ou benefício da pes- sociedades envolvidas no esquema corruptor eram,
soa jurídica, bastando apenas a pretensão. comprovadamente, subvencionados por outra, que se
Tais condutas têm como consequência a responsa- utilizava de uma terceira pessoa jurídica para ocultar
bilidade objetiva das pessoas jurídicas. Em outras seus reais interesses (“empresa de fachada”). A inves-
palavras, caso haja dano e nexo causal, a pessoa jurí- tigação das ligações societárias entre as três socieda-
dica será responsabilizada, independentemente da des revelou que a sociedade considerada “empresa de
comprovação de seu dolo ou culpa. fachada” tinha influência significativa nas outras duas.
A responsabilidade subjetiva, por sua vez, não Nesse contexto, é correto afirmar que a influência
dispensa a existência de dolo ou culpa para que haja a significativa:
responsabilização pelo ilícito.
Nos termos da LAC, a pessoa física que praticar a) tem relação com o poder de controle de uma socie-
a conduta poderá responder individualmente pelo dade em outra(s), de modo que a sociedade controla-
dano causado, é o que chamamos de responsabilida- dora e suas controladas responderão solidariamente
de pessoal (subjetiva), sendo imprescindível que o e objetivamente pelos atos lesivos à Administração
338 dolo e a culpa sejam comprovados. Pública;
b) tem relação com a participação recíproca no capital de Em relação a essa omissão e considerando as dispo-
sociedades que integram grupo econômico, de modo sições da Lei de Sociedades por Ações, é correto afir-
que a prática de ato lesivo à Administração Pública por mar que a ausência da participação de conselheiros
qualquer das sociedades implica a responsabilidade independentes:
de todas pela reparação do dano, até o limite da parti-
cipação recíproca; a) não revela, por si só, falha nos mecanismos de integri-
c) tem relação com a caracterização de coligação entre dade da sociedade, haja vista que a obrigatoriedade
as sociedades, que respondem solidariamente pelos de conselheiros independentes se aplica às compa-
atos lesivos à Administração Pública praticados por nhias abertas;
qualquer delas quanto à obrigação de pagamento de b) revela, por si só, falha nos mecanismos de integridade
multa e reparação integral do dano causado; da sociedade, porque a participação de conselheiros
d) revela a participação das sociedades em acordo independentes é obrigatória em qualquer sociedade
de acionistas de comando, em que a “empresa de anônima, seja aberta ou fechada;
fachada” tem o poder de participar nas decisões das c) não revela, por si só, falha nos mecanismos de integri-
políticas financeira ou operacional das demais, oca- dade da sociedade, haja vista que a obrigatoriedade
sionando, por conseguinte, a responsabilidade objeti- de conselheiros independentes é restrita às compa-
va e solidária de todas pelos atos ilícitos; nhias abertas de economia mista;
e) revela a existência de um consórcio vertical entre as d) revela, por si só, falha nos mecanismos de integridade
sociedades, em que uma delas é responsável pela prá- da sociedade, uma vez que é vedada a constituição de
tica de atos de corrupção, custeada por uma segunda, Conselho de Administração em companhias fechadas;
que se oculta na atuação da terceira. No tocante às e) não revela, por si só, falha nos mecanismos de integri-
sanções civis pela prática de atos lesivos à Adminis- dade da sociedade, uma vez que tal exigência é restri-
tração Pública, deve ser promovida a dissolução com- ta às sociedades com participação de pessoa jurídica
pulsória de todas. de direito público no capital.

3. (FGV — 2022) No curso de uma investigação para 4. (FGV — 2022) A companhia fechada Careiro da Várzea
apurar denúncias de atos de corrupção de agentes Fertilizantes S/A, por meio de seu conselho de admi-
públicos e seus corruptores, verificou-se que a docu- nistração, aprovou o contrato de consórcio formada
mentação da sociedade empresária indicava fraude pela companhia com cinco outras sociedades, lidera-
na sua constituição em razão de falsificação de docu- do pela Tratores Audazes S/A.
mentos relativos ao ato constitutivo, falsidade ideoló- O documento de constituição do consórcio, dentre
gica e irregularidade de seu funcionamento. Uma das outras estipulações, definiu as obrigações e res-
evidências mais importantes é que o número do CNPJ ponsabilidade de cada sociedade consorciada, das
da sociedade corresponde à denominação de outra prestações específicas para a realização do empreen-
sociedade e não consta na Junta Comercial do Estado dimento comum, sem solidariedade entre elas.
onde ela informa ser o de sua sede nenhum registro. Um dos acionistas de Careiro da Várzea Fertilizantes
S/A suscitou a ilegalidade da deliberação por faltar
Diante dos fatos narrados, é correto afirmar que a competência ao Conselho de Administração para a
sociedade retratada no contrato é considerada: aprovação do contrato, diante da omissão do estatuto
social.
a) em comum, sem personalidade jurídica, fato que não
impede a responsabilização objetiva perante a Admi- Considerados estes fatos, assinale a afirmativa correta.
nistração Pública em face da constituição de fato da
sociedade; a) O acionista tem razão porque a competência para
b) em dissolução, em razão da irregularidade de sua aprovar o contrato de consórcio, nas companhias
constituição e pela falta de um registro válido na Jun- fechadas, é da Assembleia Geral e, nas companhias
ta Comercial, inviabilizando sua responsabilização abertas, é do Conselho de Administração.
perante a Administração Pública; b) O acionista não tem razão porque o Conselho de
c) de propósito específico, o que não impede a responsa- Administração é competente para aprovar o contra-
bilização objetiva da pessoa jurídica perante a Admi- to de consórcio haja vista que esse contrato não cria
nistração Pública a despeito de sua irregularidade; uma nova pessoa jurídica.
d) em conta de participação, pois este tipo de sociedade c) O acionista tem razão quanto à ilegalidade, porém o argu-
não tem de observar as prescrições de regularidade mento correto é a dispensa de aprovação do contrato de
para as demais sociedades, porém ela pode ser res- consórcio por qualquer órgão da sociedade anônima.
ponsabilizada objetivamente perante a Administração d) O acionista não tem razão porque o Conselho de
DIREITO EMPRESARIAL I

Pública; Administração é competente para aprovar o contrato,


e) em organização, pois ainda não adquiriu personali- pois cabe a ele autorizar a alienação de bens do ativo
dade jurídica e, enquanto não regularizar seu registro não circulante, diante da omissão do estatuto.
na Junta Comercial, não pode ser responsabilizada e) O acionista tem razão porque o Conselho de Adminis-
perante a Administração Pública por não ser pessoa tração invadiu a competência privativa da Assembleia
jurídica. Geral, que deve, em qualquer sociedade anônima, deli-
berar sobre a aprovação do contrato de consórcio.
4. (FGV — 2022) Na análise do programa de integridade
de uma companhia fechada, sem participação de pes- 6. (FGV — 2022) Gabriel Tefé e Paulo de Olivença são
soa jurídica de direito público no quadro acionário, foi sócios minoritários da sociedade Hotelaria Maués
constatada a ausência de disposição sobre a partici- Ltda., possuindo, juntos, 23% (vinte e três por cento)
pação de conselheiros independentes no Conselho de do capital social. A sócia Isabel Amarutá é titular de
Administração. quotas que representam o restante do capital. 339
Em reunião com a presença de todos os sócios foi (sete) vogais mais antigos e o secretário-geral da junta
aprovada, com o voto contrário de Gabriel Tefé e Paulo comercial .
de Olivença, a inserção no contrato de cláusula esta- b) A análise das atas de assembleias ordinárias e extraor-
belecendo a dissolução da sociedade em caso de fale- dinárias de sociedades por ações para fins de arquiva-
cimento ou incapacidade da sócia Isabel Amarutá. mento está sujeita ao regime de decisão colegiada.
Você foi consultado(a) sobre a validade da delibera- c) Os atos sujeitos ao regime de decisão singular, como
ção quanto ao quórum obtido e quanto à cláusula de o ato de constituição de uma sociedade limitada, com-
dissolução. petem ao vogal mais antigo ou a um servidor da Junta
Comercial, designados pelo Plenário.
Assinale a opção que indica a resposta correta à d) Os pedidos de arquivamento sujeitos ao regime de
consulta. decisão colegiada serão decididos no prazo de 72
(setenta e duas) horas; aqueles sujeitos ao regime de
a) A deliberação não foi regular quanto ao quórum, eis decisão singular serão decididos no prazo de 24 (vinte
que a deliberação deveria ter sido aprovada pela una- e quatro) horas.
nimidade dos sócios; já quanto a inserção da cláusu- e) O arquivamento dos atos referentes à fusão de duas
la houve legalidade, porque o contrato pode prever ou mais sociedades limitadas sujeita-se ao regime de
outras causas de dissolução. decisão colegiada.
b) A deliberação foi regular apenas quanto ao quórum,
eis que superou 3/4 (três quartos) do capital social; 9. (FGV — 2018) Sobre sociedade limitada, analise as
já em relação à inserção da cláusula inserida houve afirmativas a seguir.
ilegalidade, porque a sociedade limitada somente se
dissolve pelas causas legais ou de pleno direito. I. O uso do nome empresarial é privativo dos sócios e
c) A deliberação foi regular tanto quanto ao quórum, eis administradores originários, não se estendendo aos
que superou ¾ (três quartos) do capital social, como sócios e administradores que posteriormente adqui-
em relação à cláusula inserida, porque o contrato pode ram essas qualidades.
prever outras causas de dissolução. II. O direito do sócio de anular a aprovação decai em dois
d) A deliberação não foi regular nem quanto ao quó- anos, sem reserva, do balanço patrimonial e do resul-
rum, eis que não foi atingido o mínimo de 4/5 (quatro tado econômico.
quintos) do capital social, nem em relação à cláusula III. A assembleia torna-se dispensável quando a maioria
inserida, porque o falecimento da sócia acarretaria a dos sócios decidir, por escrito, sobre a matéria que
resolução da sociedade em relação a ela e não sua seria objeto dela.
dissolução.
e) A deliberação foi regular quanto ao quórum, eis que Está correto o que se afirma em
esse superou a maioria absoluta do capital social;
em relação à inserção da cláusula houve ilegalidade, a) II, apenas.
porque seu teor fere o princípio da preservação da b) I e II, apenas.
empresa, privilegiando a dissolução em detrimento da c) I e III, apenas.
resolução da sociedade. d) II e III, apenas.
e) I, II e III.
7. (FGV — 2022) A sociedade empresária pode sofrer
alterações em sua estrutura, desde a simples mudan- 10. (FGV — 2022) João, acionista da Companhia de Miné-
ça do tipo, chegando até mesmo a ser extinta pela rio Cutias, ajuizou ação para anular deliberação da
versão total ou parcial do patrimônio em outra(s) assembleia geral, sob argumento de ilegalidade da
sociedades(s). aprovação de aquisição de debêntures de emissão
Das operações de reorganização societária apresenta- da própria companhia e por valor inferior ao nominal.
das a seguir, assinale a opção que apresenta aquelas Também constou do pedido a invalidação de outra
em que não há possibilidade de criação de sociedade deliberação, tomada na mesma assembleia, em que
nova ao final da operação. foi aprovada nova emissão de debêntures cujo venci-
mento somente ocorra em caso de inadimplência da
a) Fusão, incorporação e cisão. obrigação da companhia de pagar juros.
b) Transformação e incorporação. Provados os fatos narrados, cabe ao juiz da causa,
c) Fusão e incorporação. observando a legislação pertinente, decidir, quanto ao
d) Transformação e cisão. mérito, que:
e) Transformação, fusão e cisão.
a) o pedido de anulação da deliberação pela autorização
8. (FGV — 2022) Quando um documento é submetido ao de aquisição de debêntures pela companhia é proce-
Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades dente, pois somente as ações podem ser adquiridas
Afins, a cargo das Juntas Comerciais, antes de ser pela companhia dessa forma; o pedido de emissão de
arquivado, é preciso analisar sua conformidade com debêntures sob condição suspensiva é improcedente,
as prescrições legais e administrativas. Para tanto, pois a companhia pode emitir debêntures perpétuas,
o processo decisório pode ser realizado por decisão ou seja, cujo vencimento somente ocorra em caso de
colegiada ou por decisão singular. inadimplemento do pagamento de juros;
b) ambos os pedidos são improcedentes, pois é facul-
Sobre este tema, assinale a afirmativa correta. tado à companhia adquirir debêntures de sua própria
emissão, ainda que por valor inferior ao nominal, bem
a) O processo decisório colegiado é realizado pelo Pre- como emitir debêntures perpétuas, ou seja, cujo ven-
sidente da Junta Comercial em conjunto com os 7 cimento somente ocorra em caso de inadimplemento
340 do pagamento de juros;
c) o pedido de anulação da deliberação pela autorização o Código Civil contém disposições aplicáveis a socie-
de aquisição de debêntures pela companhia é improce- dades do tipo limitada que não tenham previsão em
dente, pois é facultado à companhia adquirir debêntu- seus contratos de aplicação supletiva das normas da
res de sua própria emissão, ainda que por valor inferior sociedade anônima.
ao nominal; o pedido de emissão de debêntures sob
condição suspensiva é procedente, pois a companhia Sobre o tema, analise as afirmativas a seguir.
não pode emitir debêntures perpétuas, devendo a data
de vencimento ser certa; I. Ocorrendo, no prazo de noventa dias após a publica-
d) ambos os pedidos são procedentes, pois é vedado à ção dos atos relativos à incorporação, a falência da
companhia adquirir debêntures de sua própria emis- sociedade incorporadora, qualquer credor anterior terá
são, seja por valor inferior ou superior ao nominal, bem direito a pedir a separação dos patrimônios da incor-
como a companhia não pode emitir debêntures perpé- poradora e da incorporada.
tuas, devendo a data de vencimento ser certa; II. A deliberação dos sócios da sociedade incorporadora
e) ambos os pedidos são procedentes, pois a compe- compreenderá a nomeação dos peritos para a avalia-
tência para aprovar a aquisição de debêntures pela ção do patrimônio líquido da sociedade que tenha de
própria companhia é do Conselho de Administração, ser incorporada.
cabendo à assembleia autorizar apenas a emissão; III. Até noventa dias após a publicação dos atos relativos
somente companhias autorizadas a funcionar como à incorporação, o credor anterior, prejudicado pela
instituições financeiras ou seguradoras podem emitir operação, poderá promover judicialmente a anulação
debêntures perpétuas, não sendo o caso da Compa- dos atos referentes a ela.
nhia de Minério Cutias.
Está correto o que se afirma em:
11. (FGV — 2022) O contrato de transferência ou trespas-
se do estabelecimento empresarial da sociedade Jari a) somente I;
do Laranjal Lanifício Ltda. estabeleceu a sub-rogação b) somente II;
do adquirente nos contratos firmados pela alienante c) somente III;
para sua exploração, sem, contudo, fixar prazo para d) somente I e III;
que terceiros pudessem pleitear a extinção, por justa e) I, II e III.
causa, dos contratos que tinham com a sociedade. No
dia 11 de agosto de 2021 foi publicado o contrato de 13. (FGV — 2022) Clara e Francisco abriram um cursinho
transferência do estabelecimento na imprensa oficial preparatório para concursos públicos em uma paca-
e, no dia 19 de novembro do mesmo ano, Ana inter- ta cidade do interior de Minas Gerais. Clara não quis
pelou extrajudicialmente a alienante e o adquirente, se envolver na atividade constitutiva do objeto social,
apresentando razões relevantes para a extinção do obrigando-se apenas perante Francisco nos moldes
contrato. do contrato social. Já Francisco, por se tratar de figura
notória e de conceituada família, optou por contribuir
Considerando-se as informações e datas acima, é cor- ativamente e ser reconhecido perante terceiros como
reto afirmar que: “o dono do negócio” exercendo a atividade constituti-
va do objeto social em seu nome individual e sob sua
a) haverá sub-rogação para o adquirente das obrigações própria e exclusiva responsabilidade. Efetivadas as
da alienante, inclusive em relação a Ana, pois não hou- negociações, foi elaborado um contrato social com as
ve manifestação tempestiva por parte dela no prazo normas, direitos e deveres das partes, o qual foi regis-
de noventa dias da data da publicação do contrato; trado regularmente no órgão competente.
b) não haverá sub-rogação para o adquirente das obriga-
ções da alienante em relação a Ana, pois houve mani- Sobre a situação apresentada, assinale a afirmativa
festação tempestiva por parte dela no prazo de cento correta.
e vinte dias da data da publicação do contrato;
c) haverá sub-rogação para o adquirente das obrigações a) Falindo Francisco, o contrato social fica sujeito às nor-
da alienante, inclusive em relação a Ana, pois houve a mas que regulam os efeitos da falência nos contratos
publicação do contrato na imprensa oficial, acarretan- bilaterais do falido.
do a eficácia erga omnes dos efeitos da transferência, b) A falência de Francisco acarreta a dissolução da
ou seja, tanto entre os contratantes quanto perante sociedade e a liquidação da respectiva conta, cujo sal-
terceiros; do constituirá crédito quirografário.
d) não haverá sub-rogação para o adquirente das obriga- c) O contrato social produz efeito somente entre os
ções da alienante, pois a estipulação contratual não sócios, e a inscrição de seu instrumento em qualquer
DIREITO EMPRESARIAL I

pode produzir efeitos em relação a terceiros, sendo registro confere personalidade jurídica à sociedade.
desnecessária qualquer manifestação formal de Ana, d) Clara, sem prejuízo do direito de fiscalizar a gestão
haja ou não publicação da transferência; dos negócios sociais, pode tomar parte nas relações
e) haverá sub-rogação para o adquirente das obrigações de Francisco com terceiros, sem com ele responder
da alienante, inclusive em relação a Ana, em razão da solidariamente pelas obrigações em que intervier.
estipulação contratual e da eficácia erga omnes da
publicação, sendo intempestiva qualquer oposição a 14. (FGV — 2022) Com relação ao estabelecimento e os
partir da publicação. institutos complementares da atividade empresarial,
analise as afirmativas a seguir e assinale (V) para a
12. (FGV — 2022) A incorporação de uma sociedade por verdadeira e (F) para a falsa.
outra segue regras legais que devem ser observadas
tanto para a proteção dos sócios da incorporada quan- ( ) O adquirente do estabelecimento responde pelo paga-
to para os credores da pessoa jurídica. Nesse sentido, mento dos débitos anteriores à transferência, desde 341
que regularmente contabilizados, continuando o deve- poderá promover judicialmente a anulação deles, e
dor primitivo solidariamente obrigado pelo prazo nem mesmo a consignação em pagamento prejudica-
de 2 (dois) anos, a partir, quanto aos créditos venci- rá a anulação pleiteada.
dos, da publicação, e, quanto aos outros, da data do c) A transformação depende do consentimento da
vencimento. maioria dos sócios, salvo se prevista no ato consti-
( ) O estabelecimento não se confunde com o local onde tutivo, caso em que o dissidente poderá retirar-se da
se exerce a atividade empresarial, que poderá ser físi- sociedade.
co ou virtual. d) Até 90 (noventa) dias após publicados os atos relati-
( ) O nome empresarial não pode ser objeto de alienação. vos à incorporação, o credor anterior, por ela prejudica-
O adquirente de estabelecimento, por ato entre vivos, do, poderá promover judicialmente a anulação deles.
pode, se o contrato o permitir, usar o nome do alienan- Sendo líquida a dívida, a sociedade poderá garantir-lhe
te, precedido do seu próprio, com a qualificação de a execução, suspendendo-se o processo de anulação.
sucessor.
17. (FGV — 2022) Sobre as ações e demais valores mobi-
As afirmativas são, na ordem apresentada, respectivamente: liários emitidos pelas sociedades anônimas, assinale
a afirmativa correta.
a) F – V – F.
b) F – V – V. a) A deliberação sobre emissão de debêntures é de com-
c) V – F – F. petência privativa do conselho de administração. Na
d) F – F – V. companhia aberta, o conselho de administração pode
deliberar sobre a emissão de debêntures não con-
15. (FGV — 2022) Uma sociedade empresária limitada versíveis em ações, salvo disposição estatutária em
composta por 16 (dezesseis) sócios reuniu-se em contrário.
assembleia para designar administradores em ato b) A companhia poderá emitir, dentro do limite de aumen-
separado e o modo de sua remuneração. Todos os to de capital autorizado no estatuto, títulos negociáveis
sócios se declararam cientes do local, data, hora e denominados “Bônus de Subscrição” que conferirão
ordem do dia. aos seus titulares, direito de subscrever ações do
capital social, que será exercido mediante apresenta-
Acerca das deliberações dos sócios, assinale a afirma- ção do título à companhia e pagamento do preço de
tiva correta. emissão das ações. Somente a assembleia-geral pode
deliberar sobre a emissão de bônus de subscrição.
a) Para aprovação da matéria indicada - designação de c) A companhia pode criar, a qualquer tempo, títulos
administradores por ato em separado e o modo de sua negociáveis, sem valor nominal e estranhos ao capital
remuneração quando não estabelecidos no contrato - social, denominadas “partes beneficiárias”, que con-
serão necessários votos correspondentes a mais de ferirão aos seus titulares direito de crédito eventual
metade do capital social. contra a companhia, consistente na participação nos
b) As deliberações tomadas de conformidade com a lei e lucros anuais. As partes beneficiárias poderão ser de
o contrato vinculam todos os sócios, exceto os ausen- mais de uma classe ou série e poderão ser alienadas
tes ou dissidentes. pela companhia, nas condições determinadas pelo
c) O administrador designado em ato separado investir- estatuto ou pela assembleia-geral, ou atribuídas a fun-
-se-á no cargo mediante termo de posse no livro de dadores, acionistas ou terceiros, como remuneração
atas da administração. Se o termo não for assinado de serviços prestados à companhia.
nos 10 (dez) dias seguintes à designação, esta se tor- d) As ações, conforme a natureza dos direitos ou van-
nará sem efeito. tagens que confiram a seus titulares, são ordinárias,
d) É imprescindível que se faça o anúncio de convocação preferenciais, ou de fruição. O número de ações pre-
da assembleia de sócios o qual será publicado por 3 ferenciais sem direito a voto, ou sujeitas a restrição
(três) vezes, ao menos, devendo mediar, entre a data no exercício desse direito, não pode ultrapassar 50%
da primeira inserção e a da realização da assembleia, (cinquenta por cento) do total das ações emitidas.
o prazo mínimo de 8 (oito) dias, para a primeira convo- As ações da companhia aberta somente poderão ser
cação, e de 5 (cinco) dias, para as posteriores. negociadas depois de realizados 30% (trinta por cen-
to) do preço de emissão.
16. (FGV — 2022) A sociedade empresária ABC – Comér-
cio e Indústria Ltda. foi transformada em uma socie- 18. (FGV — 2021) Três sociedades empresárias constituíram
dade anônima, ABC- Comércio e Indústria S/A. Ato uma sociedade em conta de participação designando a
contínuo, incorporou a sociedade empresária XK – primeira como sócio ostensivo. Os sócios elaboraram
Empreendimentos Ltda., lhe sucedendo em todos os instrumento particular de constituição e o submeteram,
direitos e obrigações. para sua conservação, ao oficial do Registro de Títulos e
Documentos (RTD). Em atenção à disciplina legal do tipo
Sobre as operações indicadas, assinale a afirmativa societário em tela, é correto afirmar que:
correta.
a) é vedada a inscrição ou transcrição do contrato de
a) A falência da sociedade transformada somente produ- sociedade em conta de participação em qualquer
zirá efeitos em relação aos sócios que, no tipo ante- registro, sendo ilegal a pretensão dos sócios;
rior, a eles estariam sujeitos, se o pedirem os titulares b) a inscrição ou transcrição do ato de constituição de
de créditos anteriores à transformação, e somente a uma sociedade em conta de participação no RTD
estes, beneficiará. lhe confere personalidade jurídica, mesmo estando
b) Até 90 (noventa) dias após publicados os atos relativos dispensada das formalidades aplicáveis aos demais
à incorporação, o credor anterior, por ela prejudicado, tipos societários;
342
c) é permitida a eventual inscrição ou transcrição do ins-
7 B
trumento contratual em qualquer registro, porém tal
ato não confere personalidade jurídica à sociedade; 8 E
d) é incompetente o oficial do RTD para o ato pretendido
pelos sócios, porque o instrumento público é essen- 9 A
cial para a validade da constituição da sociedade em
conta de participação; 10 B
e) o ato constitutivo da sociedade em conta de partici- 11 A
pação deve ser arquivado na Junta Comercial diante
da qualidade de sociedade empresária do sócio osten- 12 E
sivo, sob pena de se caracterizar uma sociedade em
comum. 13 B

14 B
19. (FGV — 2021) A prática de atos jurídicos por parte de
uma sociedade empresária deve estar pautada na legi- 15 A
timidade da atuação de seu órgão de administração e
nos poderes que lhe forem atribuídos pelo contrato ou 16 A
ato separado, inclusive perante os tabeliães e oficiais 17 D
de registro.
18 C
No tocante às sociedades limitadas, o uso do nome
19 E
empresarial, de modo a obrigar a pessoa jurídica, é:
20 C
a) uma faculdade dos atuais sócios, sejam ou não admi-
nistradores da sociedade;
b) uma faculdade apenas do administrador ou do sócio
majoritário no capital, administrador ou não;
c) uma faculdade de todos os sócios, atuais e futuros, ANOTAÇÕES
pois a administração se estende de pleno direito a
novos sócios;
d) privativo dos administradores que tenham os neces-
sários poderes e não pode ser delegado a sócio não
administrador ou a terceiro, nem mesmo como man-
datário da sociedade;
e) privativo dos administradores que tenham os neces-
sários poderes, todavia, é possível a constituição de
mandatários da sociedade pelo administrador nos
limites de seus poderes.

20. (FGV — 2018) Jorge, Felipe e Marcela pretendem exer-


cer, conjuntamente, atividade econômica voltada para
prestação de serviços de barbearia, por meio da qual
buscarão distribuir lucros para o sustento de suas
famílias.

Para tanto, pretendem constituir uma pessoa jurídica,


sendo-lhes adequado o tipo:

a) fundação;
b) associação;
c) sociedade;
d) organização religiosa;
e) empresa individual de responsabilidade limitada.

9 GABARITO
DIREITO EMPRESARIAL I

1 A

2 C

3 A

4 A

5 D

6 C

343
ANOTAÇÕES

344
Art. 1º (CP) Não há crime sem lei anterior que o
defina. Não há pena sem prévia cominação legal.

Ou seja, por força deste princípio, não há crime


(nem contravenção) sem prévia determinação
DIREITO PENAL legal, assim como não há pena sem prévia comina-
ção (imposição, prescrição) feita em lei.

Importante!
APLICAÇÃO DA LEI PENAL
Não confunda o princípio da legalidade, previsto
Vamos, agora, responder a três perguntas sobre a no inciso II, art. 5º da CF, segundo o qual “nin-
lei penal: guém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa senão em virtude de lei” (legalida-
z Quando ela se aplica? de em sentido amplo), com o princípio da legali-
z Onde ela se aplica? dade criminal que, conforme vimos, se encontra
z Em face de quem ela se aplica (ou não se aplica)? no inciso XXXIX, art. 5º, da CF, e art. 1º, do CP,
segundo o qual não há crime sem lei (legalidade
Ou seja, o nosso estudo da eficácia da lei penal se em sentido estrito).
dará sob três aspectos:

z Ao tempo (a lei penal não tem eficácia permanen- O princípio da legalidade tem quatro funções
te; entra em vigor em determinado momento e não fundamentais:
é eterna);
z Ao espaço (não vige em tudo o mundo; não é z Proibir a retroatividade da lei penal (nullum cri-
universal); men nulla poena sine lege praevia);
z Às funções exercidas por certas e determinadas z Proibir a criação de crimes e penas pelo costu-
pessoas (muito embora o ordenamento jurídico me (nullum crimen nulla poena sine lege scripta);
afirme que todos são iguais perante a lei, existem z Proibir o emprego da analogia para criar cri-
determinadas funções que concedem prerrogati- mes, fundamentar ou agravar penas (nullum cri-
vas a determinadas pessoas frente à aplicação da men nulla poena sine lege stricta);
lei penal, como, por exemplo, os parlamentares, z Proibir incriminações vagas e indeterminadas
conforme veremos mais adiante). (nullum crimen nulla poena sine lege certa).

Assim sendo, nossos próximos passos serão estu- O princípio da legalidade criminal apresenta,
dar a eficácia da lei penal no tempo e no espaço. Nas atualmente, várias esferas de garantia. Dentre estas,
próximas páginas, conheceremos os princípios que as mais relevantes são os princípios da reserva legal
regem a aplicação da lei penal nestas duas dimen- e da anterioridade.
sões: quanto ao lugar (espaço), veremos que se aplica
o princípio da ubiquidade, e, em relação ao tempo, o Princípio da Anterioridade
princípio da atividade.
Um mnemônico que resume os dois princípios que Previsto também no inciso XXXIX, art. 5º, da CF, e
iremos estudar é: L. U. T. A. (Lugar, Ubiquidade, Tem- art. 1º, do CP, o princípio da anterioridade determi-
po, Atividade). na que, antes da prática do crime, deve haver prévia
definição em lei (estabelecendo, ainda, a pena cabí-
PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE E DA ANTERIORIDADE vel). Quem pratica a conduta criminosa deve saber de
antemão que o ato se trata de conduta criminosa e sua
Princípio da Legalidade consequência. Em outras palavras, a lei penal nova
deve entrar em vigor antes do fato criminoso e se apli-
Previsto no inciso XXIX, art. 5º, da Constituição, ca apenas para os fatos ocorridos após sua vigência.
com redação semelhante à do art. 1º, do CP, o princípio
da legalidade é a mais importante garantia do cidadão LEI PENAL NO TEMPO
frente ao poder punitivo do Estado, sendo o mais rele-
vante princípio penal. Vamos, agora, responder a três perguntas sobre a
Compare o princípio conforme exposto na Consti- lei penal:
tuição (art. 5º) e no Código Penal (art. 1º):
DIREITO PENAL

z Quando ela se aplica?


Art. 5º (CF, de 1988) Todos são iguais perante a z Onde ela se aplica?
lei, sem distinção de qualquer natureza, garantin- z Em face de quem ela se aplica (ou não se aplica)?
do-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liber- Ou seja, o nosso estudo da eficácia da lei penal se
dade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos dará sob três aspectos:
termos seguintes:
[...] z Ao tempo (a lei penal não tem eficácia permanen-
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, te; entra em vigor em determinado momento e não
nem pena sem prévia cominação legal; é eterna); 345
z Ao espaço (não vige em tudo o mundo; não é Importante: A regra é a atividade da lei penal, ou
universal); seja, sua aplicação se dá somente durante seu período
z Às funções exercidas por certas e determinadas de vigência. Como exceção, temos a extratividade da
pessoas (muito embora o ordenamento jurídico lei penal mais benéfica, ou seja, sua aplicação é para
afirme que todos são iguais perante a lei, existem regular situações passadas (retroatividade) ou futu-
determinadas funções que concedem prerrogati-
ras (ultratividade)
vas a determinadas pessoas frente à aplicação da
lei penal, como, por exemplo, os parlamentares,
conforme veremos mais adiante). z Retroatividade

Assim sendo, nossos próximos passos serão estu- Observe o art. 2º, do Código Penal:
dar a eficácia da lei penal no tempo e no espaço. Nas
próximas páginas, conheceremos os princípios que Art. 2º Ninguém pode ser punido por fato que
regem a aplicação da lei penal nestas duas dimen- lei posterior deixa de considerar crime, cessan-
sões: quanto ao lugar (espaço), veremos que se aplica do em virtude dela a execução e os efeitos penais da
o princípio da ubiquidade, e, em relação ao tempo, o sentença condenatória.
princípio da atividade. Parágrafo único. A lei posterior, que de qualquer
Lembre-se do mnemônico L. U. T. A. (Lugar, Ubi- modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos
quidade, Tempo, Atividade). anteriores, ainda que decididos por sentença
condenatória transitada em julgado.
Eficácia da Lei Penal no Tempo
O art. 2º refere-se apenas à retroatividade, uma vez
Uma lei penal ingressa no ordenamento jurídico que está analisando a aplicação da lei penal tomando por
quando o seu processo legislativo é completo e perfei- base a data do fato delituoso. Assim, temos duas situações:
to, e assim passa a vigorar até que, então, outra norma,
de igual natureza, a revogue. Em outras palavras, a lei
z Ou se aplica a regra do tempus regit actum, se for
penal nasce (é sancionada, promulgada e publicada),
tem seu tempo de vida (vigência) e morre (é revogada). mais benéfico;
A revogação de uma lei pode ser expressa (quan- z Ou se aplica a lei posterior (aquela que entra em
do lei posterior textualmente afirma que a lei ante- vigor após outra) se esta for mais benigna (retroa-
rior não mais produz efeitos) ou tácita (quando não tividade). A lei posterior mais benéfica é chamada
há revogação expressa, mas a nova lei é incompatível também de lex mitior.
com a anterior ou regula totalmente a matéria que
constava na lei mais antiga). Deste modo, em casos de edição de lei nova que seja
Podemos falar ainda em revogação parcial ou mais benéfica ao acusado, esta deverá retroagir, de modo
global. A revogação parcial dá-se quando parte dos que alcance os fatos praticados antes da sua vigência.
dispositivos deixam de ser aplicáveis. Já a revogação
Observe as duas situações no fluxograma a seguir:
global ocorre quando a lei regula a matéria em sua
totalidade ou a lei penal passa a não ser mais aplicável
RETROATIVIDADE BENÉFICA
de modo algum.

z Regra Geral Nova lei em


Fato Sentença
vigor
A regra geral é que a lei regula todas as situações
ocorridas entre a sua entrada em vigor e sua revoga-
ção (tempus regit actum). Esse fenômeno jurídico é LEI “A”
LEI “B”
chamado de atividade. Se esta for mais bené-
Se esta for mais favo-
Cabe salientar ainda que a regra geral decorre dos fica, adota-se a regra
rável, usa-se Retroati-
da Atividade
princípios da legalidade e da anterioridade, ou seja, a (tempus regit actum)
vidade Benéfica
lei penal somente será aplicada quando já era vigen-
te antes do cometimento do crime, e ainda é vigente
quando ocorrer o julgamento do fato. É o que define o Vejamos um exemplo para melhor fixar o expos-
art. 1º, do Código Penal: to anteriormente: imagine que um indivíduo pratica
um fato delituoso em 10 de fevereiro de 2021. Naquela
Art. 1º Não há crime sem lei anterior que o defina. data, encontra-se em vigor a Lei “A”, que prevê a pena
Não há pena sem prévia cominação legal. mínima de 4 anos de reclusão para o crime. No entan-
to, em 10 de março do mesmo ano, entra em vigor a
Se, excepcionalmente, a lei regula situações fora Lei “B”, que comina a pena mínima de 2 anos de reclu-
de seu período de vigência, teremos o fenômeno da são para o mesmo delito.
extratividade.
Qual delas deve o juiz utilizar ao proferir a senten-
ça? Neste caso, o magistrado deve aplicar a Lei “B”,
z Extratividade da lei penal
por ser mais favorável ao réu (a Lei “B”, embora não
A extratividade dá-se de duas formas: quando a estivesse em vigor na data do fato, volta no tempo,
lei regula situações ocorridas antes de sua vigên- retroagindo para beneficiar o agente).
cia (passado), neste caso, chamamos a extratividade Observe que, no exemplo dado, a lei posterior
de retroatividade; e quando, por outro lado, a lei se (Lei “B” é mais favorável ao agente). No entanto, a lei
aplica mesmo depois de cessada sua vigência (futu- posterior pode entrar em conflito com a anterior de
346 ro), teremos a ultratividade. maneiras diferentes, gerando situações diversas.
Para solucionar cada uma delas, o CP aponta algu- Estatuto: “Os possuidores e proprietários de arma de
mas regras que são aplicadas conjuntamente com os fogo poderão entregá-la […] e, presumindo-se de boa-fé,
princípios constitucionais que vimos anteriormente. serão indenizados […], ficando extinta a punibilidade
São quatro diferentes situações:
de eventual posse irregular da referida arma.”
z Abolitio criminis ou Novatio Legis ou Lei „ Novatio legis in mellius: é a lei nova (nova-
supressiva de incriminações
tio legis) que, sem excluir a incriminação, ou
A abolitio criminis é uma lei nova que revoga a seja, sem constituir abolitio criminis, é mais
norma incriminadora e torna o fato antes criminoso, favorável ao agente (in mellius). Por exem-
um fato atípico. Esse instituto encontra previsão no plo, quando comina pena mais branda, inclui
art. 2º, do CP, nos termos: “ninguém pode ser punido atenuantes, permite a obtenção de benefícios
por fato que lei posterior deixa de considerar crime”. como a sursis e o livramento condicional, entre
A abolitio criminis alcança os fatos praticados com
outros. De acordo com o inciso XL, art. 5º, CF, e
ou sem julgamento final, podendo ocorrer: curso do
processo, no curso da execução da pena e após cum- caput do art. 2º, CP, retroage para favorecer o
prida a pena. Na hipótese de ocorrer no curso do pro- agente, aplicando-se aos fatos anteriores “ain-
cesso ou na execução da pena, estes deverão cessar, da que decididos por sentença condenatória
tendo em vista que o fato deixou de ser considerado transitada em julgado”. A lei mais benéfica
criminoso. Já no caso de ocorrer após o cumprimento recebe o nome de lex mitor;
da pena, os efeitos que da pena decorram deverão ser
„ Novatio legis in pejus: Ocorre quando a lei
cessados (não caracterizará reincidência e maus ante-
cedentes, por exemplo). posterior, sem criar novo tipo incriminador, de
Cabe destacar, ainda, que somente os efeitos penais qualquer modo agrava a situação do agente (in
da sentença condenatória serão atingidos, ou seja, não pejus). Por exemplo, aumenta a pena, ou impõe
cessam os efeitos civis e administrativos (quanto aos uma forma de execução mais severa (hipoteti-
efeitos, veremos mais adiante quando tratarmos de camente instituindo o mesmo rigor inicial da
efeitos da condenação.)
reclusão ao cumprimento dos crimes apenados
„ Consequências da abolitio criminis: por for- com detenção).
ça da retroatividade (inciso XL, art. 5º, CF, e
Nesta hipótese, a lei melhor (lex mitior) passa a ser
caput do art. 2º, CP), aplica-se a lei nova. Ocorre
a extinção da punibilidade (é, pois, causa extin- a lei anterior. A lei mais severa recebe o nome de lex
tiva da punibilidade, conforme o inciso III, art. gravior (lei mais grave). Tem como consequências: em
107, CP). Os agentes que estiverem sendo pro- relação à lei nova, aplica-se os princípios da irretroa-
cessados terão seus processos extintos, já os tividade da lei mais severa. Quanto à lei antiga, mais
que ainda não tiverem sido denunciados terão benéfica, aplica-se a ultratividade;
seus inquéritos trancados.
„ Novatio legis incriminadora: dá-se quando
Dica a lei nova cria um tipo incriminador, conside-
Para que haja a abolitio criminis, é necessário rando infração uma conduta considerada irre-
que ocorra a revogação total do tipo formal e a levante pela lei anterior. Por exemplo, a Lei nº
supressão material do fato criminoso. A condu- 10.224, de 2001, introduziu no Código Penal o
ta típica não pode mais existir no ordenamento art. 216-A, e criou o tipo de assédio sexual no
jurídico. ordenamento jurídico brasileiro. Tem como
Atenção: Não confunda abolitio criminis com o consequências: a nova lei gravosa é irretroati-
princípio da continuidade normativa-típica. Nes-
va (art. 1º, CP).
te, após a revogação do tipo penal, ocorre um
deslocamento do crime para outro dispositivo. z Ultratividade
Como exemplo do princípio da continuidade nor-
mativa-típica, podemos citar o antigo crime do Veja que o texto do Código Penal não menciona a
art. 214, do CP (crime de atentado violento ao ultratividade, ou seja, a possibilidade de o juiz apli-
pudor), que teve sua conduta realocada para o car uma lei já revogada. No entanto, essa aplicação
art. 213, do CP (crime de estupro). Neste caso,
pode ocorrer na sentença, se esta for mais benéfica e
não ocorreu a descriminalização da conduta,
vigente à época do fato criminoso.
apenas um deslocamento do tipo penal.
Veja o seguinte exemplo: em 10 de fevereiro de
DIREITO PENAL

Existe também a possibilidade de que a descrimi- 2021, encontra-se em vigor a Lei “A”, que prevê a pena
nalização de uma conduta penal seja de modo transi- mínima de 2 anos de reclusão para determinado cri-
tório, é a chamada abolitio criminis temporalis. me; em 10 de março do mesmo ano, entra em vigor a
Esta hipótese teve destaque com a Lei nº 10.826, Lei “B”, que comina a pena mínima de 4 anos de reclu-
de 2003 (Estatuto do Desarmamento), que autorizou
são para o mesmo delito. Em 10 de agosto, ao senten-
a extinção da punibilidade para os crimes de posse e
porte ilegal de arma de fogo, para aqueles que rea- ciar, o juiz deve utilizar a Lei “A”, já revogada, pois,
lizassem a entrega voluntária das armas dentro dos por se tratar de lei mais benéfica, torna-se ultrativa.
prazos estabelecidos na lei. É o que dispõe o art. 32, do Observe tal fenômeno no fluxograma a seguir: 347
março de 2018 em razão dos ferimentos. Neste caso,
tendo em vista que o CP adota a teoria da atividade,
o tempo do crime será determinado no instante da
ação (momento dos tiros) e não no momento do resul-
tado. Tendo isso em vista, como o agente era, à época
da ação, menor de 18 anos, ainda que a vítima mor-
10/02/2021 Prática do fato 10/03/2021 Sentença 10/08 ra depois do atirador ter completado a maioridade
Lei “A” Lei “B” Aplica-se a lei “A” por penal, ele não poderá responder criminalmente pelo
Pena: 2 anos Pena: 4 anos ser mais benéfica ato, e sim responderá pela prática de ato infracional.
Veja o esquema a seguir, como exemplo:
De quem é a competência para aplicar a lei poste-
rior favorável? Antes de o juiz proferir a sentença, não Considera-se
há dificuldade: cabe ao juiz de 1º grau sua aplicação; praticado o
crime no tempo
em grau de recurso, a competência é do Tribunal; e se da conduta
já transitada em julgado a sentença, a competência é (Teoria da
Atividade, Art.
do juiz da execução penal, de acordo com o inciso I, 4º)
art. 66, da Lei de Execução Penal (LEP). Este é o posi-
cionamento majoritário da doutrina e jurisprudência
(Súmula 611, do STF). Conduta Resultado
Todas as situações que vimos acima podem ser
resolvidas pela seguinte regra: A Lei só retroage Prática do fato Vítima Maioridade do Morte da vítima
para beneficiar o sujeito. No entanto, como saber (ação) Hospitalizada autor 21/03/2018
qual das leis em conflito é a mais favorável ao agente?
19/03/2018 20/03/2018
Para avaliar a mais benéfica, o juiz deve sempre apre-
ciar o caso concreto sob a eficácia de cada uma das
leis em conflito, comparando o resultado: o que mais
favorecer o agente deve prevalecer.
Importante!
A teoria adotada pelo CP, em relação ao tempo
TEMPO DO CRIME do crime, é a teoria da atividade. Leva-se em con-
ta, pois, o momento da conduta (ação ou omis-
Como vimos anteriormente, logo em seus primei- são), pouco importando o instante do resultado.
ros artigos, o Código Penal se preocupa em tratar da
aplicação da lei penal no tempo. Mas qual a importân-
cia de se conhecer o tempo do crime? É na data da conduta, portanto, que:
Determinar o tempo do crime é essencial, em
primeiro lugar, para saber qual lei será aplicada z Se verifica a imputabilidade penal: no nosso
no caso concreto. Da mesma forma, é imprescindí- exemplo, o fato de ser o autor, maior ou menor de
vel para verificar a imputabilidade do agente (que 18 anos;
pode ser menor de 18 no momento da conduta), fixar z Se fixam as circunstâncias do crime: qualifica-
as circunstâncias do tipo penal, verificar a prescri- doras, causas de aumento ou diminuição de pena,
ção, dentre outros aspectos. agravantes ou atenuantes (como, por exemplo, ser
Existem três teorias que podem ser consideradas a vítima criança ou maior de 60 anos, que contam
para se determinar o tempo do crime: como agravantes; ou ser o autor menor de 21 anos,
o que vai servir como atenuante).
TEORIA DA Considera-se praticado o crime no momento
ATIVIDADE da conduta Tempo do Crime nas Infrações Permanentes e
Continuadas
TEORIA DO Considera-se praticado o crime no momento
RESULTADO do resultado
Nestes casos, será aplicada regra especial, que
Considera-se praticado o crime tanto no consta na Súmula 711, do STF.
TEORIA MISTA OU
momento da conduta quanto no momento
DA UBIQUIDADE
do resultado
Súmula 711 (STF) A lei penal mais grave apli-
ca-se ao crime continuado ou ao crime perma-
O Direito Penal brasileiro adotou, em relação nente, se a sua vigência é anterior à cessação
ao tempo do crime, a teoria da Atividade, por isso, da continuidade ou da permanência.
considera-se praticado o crime no momento da
conduta (ação ou omissão), ainda que outro seja o Crime permanente é aquele cuja consumação se
momento do resultado (art. 4º, CP). prolonga no tempo pela vontade do sujeito ativo, como
ocorre no caso de um sequestro. Neste caso, é considera-
Art. 4º Considera-se praticado o crime no momen- do tempo do crime todo o período em que se desenrolar
to da ação ou omissão, ainda que outro seja o a atividade criminosa. Assim sendo, se um sequestrador,
momento do resultado. menor de 18 anos quando do início da prática do crime,
atinge a maioridade ainda com o delito em curso, é con-
Ilustrando: imagine que determinada pessoa, nas- siderado imputável para os fins penais.
cida em 20 de março de 2000, tenha entrado em dis- Por sua vez, crime continuado é uma ficção jurí-
cussão com seu nefasto e realizado disparos de arma dica criada para beneficiar o réu, prevista no art. 71,
de fogo contra ele no dia 19 de março de 2018, vin- do CP, e será estudado mais adiante. Por enquanto,
348 do a vítima a ser hospitalizada e falecer no dia 21 de basta saber que o crime continuado ocorre quando o
agente pratica dois ou mais crimes da mesma espé- Como regra, o Brasil adota o princípio da territo-
cie, mediante duas ou mais condutas, sendo que, pelas rialidade temperada e 4 outros princípios como exce-
condições de tempo, lugar, modo de execução, são ção. Vejamos tais princípios:
tidos uns como continuação dos outros.
Por exemplo, um empregado de uma loja de fer- z Real, de proteção ou da defesa: inciso I, § 3º, art.
ramentas, visando subtrair um kit de ferramentas do 7º, do CP (exceção: extraterritorialidade). A lei
estabelecimento, resolve furtar uma ferramenta por penal leva em conta a nacionalidade do bem jurí-
dia, até ter em suas mãos o kit completo. Sessenta dias dico lesado pelo delito, sem se importar com local
depois, o sujeito vai conseguir completar o conjunto e de sua prática ou da nacionalidade do sujeito ativo;
vai ter cometido 60 furtos. z Justiça penal universal ou princípio universal
Não fosse a regra benéfica do art. 71, do CP, a pena ou da universalidade da justiça cosmopolita,
mínima neste caso somaria 120 anos de reclusão. ou da jurisdição mundial ou da repressão uni-
Reconhecendo-se a ocorrência de crime continuado, versal ou da universalidade do direito de punir:
ocorrerá a chamada exasperação: no nosso exemplo alínea “a”, inciso II, art. 7º (exceção: extraterrito-
específico, será aplicada ao agente a pena de um só rialidade). Cada Estado tem o poder de punir qual-
dos furtos aumentadas de 1/6 até 2/3. No entanto, não quer crime, independentemente da nacionalidade
nos interessa, neste momento, ingressar no tema do do autor ou da vítima ou, ainda, do local da sua
crime continuado, basta-nos apenas a noção do fenô- prática. Basta que o criminoso esteja dentro do ter-
meno para que possamos discutir a questão do tempo ritório do país;
do crime quando de sua ocorrência. z Nacionalidade ativa ou princípio da perso-
Assim sendo, temos que a mesma regra aplicá- nalidade: alínea “b”, inciso II, art. 7º (exceção:
vel ao crime permanente (Súmula 711, do STF) deve extraterritorialidade). Segundo o princípio da
ser aplicada ao crime continuado, com uma ressalva nacionalidade, a lei penal do Estado se aplica a
quanto às condutas praticadas pelos menores de 18 seus cidadãos onde quer que se encontrem. O Bra-
anos, por força do art. 228, da CF, que determina sua sil adota a nacionalidade ativa, que impõe a apli-
inimputabilidade: na hipótese de um sujeito cometer cação da lei nacional ao cidadão que comete crime
quatro furtos, possuindo 17 anos quando do come-
no estrangeiro não importando a nacionalidade da
timento dos dois primeiros, e já 18, no momento da
vítima;
prática dos dois últimos, somente estes dois é que ser-
z Representação ou pavilhão ou bandeira: alí-
virão para constituir o crime continuado.
nea “c”, inciso II, art. 7º (exceção: extraterritoria-
lidade). Ficam sujeitos à lei do Brasil os delitos
LEI PENAL NO ESPAÇO
cometidos em aeronaves e embarcações privadas,
quando ocorridos no estrangeiro e não forem jul-
Ao estudar, nos arts. 5º a 8º, do CP, a aplicação da
gados por eles.
lei penal no espaço, vamos tratar do lugar de inci-
dência da legislação penal brasileira, ou seja, onde ela
Território Nacional
é aplicada. Não veremos, portanto, neste momento,
regras de competência, que se encontram nos arts. 70
O texto do art. 5º fala em território. O território que
e seguintes, do Código de Processo Penal (CPP).
nos interessa é o território jurídico, ou seja, o espaço
em que o Estado exerce sua soberania, portanto, o
Territorialidade
território nacional. Ele é composto pelas seguintes
partes:
O princípio adotado para tratar do âmbito da apli-
cação da lei penal brasileira é o princípio da Terri-
torialidade, que se encontra disposto no art. 5º, do CP: z O solo;
z O subsolo;
Art. 5º Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de z O espaço aéreo correspondente;
convenções, tratados e regras de direito internacio- z Os cursos d’água internos (rios, lagos, mares
nal, ao crime cometido no território nacional. interiores);
z O mar territorial, assim entendido como a faixa
O princípio da territorialidade significa que a lei de mar exterior que compreende as 12 milhas
penal de um país só é aplicável no território do Estado marítimas medidas a partir da linha do baixa-mar
que a editou, sem se preocupar com a nacionalidade do litoral continental e insular brasileiro, de acor-
do sujeito ativo (autor) ou passivo (vítima). do com as referências contidas nas cartas náuticas
O princípio da territorialidade pode se dar de duas brasileiras (art. 1º, da Lei nº 8.617, de 1993).
formas:
Em relação aos rios internacionais que constituem
z De forma absoluta (princípio da territorialidade limites entre dois países, normalmente existe tratado
DIREITO PENAL

absoluta), quando somente a lei penal do país é sobre o tema que ou determina que a divisa se encon-
aplicável aos crimes cometidos em seu território tra na linha mediana do leito do rio ou que a divisa
nacional; acompanhe a linha de maior profundidade da cor-
z De forma temperada, relativizada ou mitigada rente. Se o rio não for divisa, mas sucessivo, como o
(princípio da territorialidade temperada) quan- Amazonas, é indiviso, e cada Estado exerce soberania
do a lei penal nacional é aplicada via de regra ao sobre ele.
crime cometido no território nacional, mas, excep- No caso dos lagos, salvo acordo em contrário, o
cionalmente, por força de tratados e convenções limite é fixado pela linha da meia distância entre as
internacionais, a lei estrangeira é aplicável a deli- margens do lago ou lagoa, que separa dois ou mais
tos praticados em território nacional. Estados. 349
Por se relacionarem aos assuntos que estamos Dica
vendo, vale a pena estudar as hipóteses de não inci-
As bancas examinadoras gostam muito de con-
dência da lei a fatos cometidos no Brasil:
fundir as teorias adotadas quanto ao tempo e
lugar do crime. Como vimos anteriormente, o CP
z As imunidades diplomáticas;
adota a teoria da atividade para definir o tempo
z As imunidades parlamentares;
do crime, e a teoria da ubiquidade para definir
z A inviolabilidade do advogado.
o local do crime. Deste modo, para facilitar seu
estudo, formamos o mnemônico LUTA:
Esses assuntos são tratados em Direito Constitucio-
nal, Direito Processual Penal e no estudo do Estatuto
Lugar
da Ordem dos Advogados do Brasil. Ubiquidade
Tempo
Território por Extensão Atividade

Art. 5º […] Vamos exemplificar: na divisa Brasil-Paraguai, um


§ 1º Para os efeitos penais, consideram-se como cidadão brasileiro, que se encontra em Foz do Igua-
extensão do território nacional as embarcações e çu, atira em uma pessoa, que se encontra no Paraguai,
aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a ser- vindo esta a falecer. Ou ainda, um indivíduo envia
viço do governo brasileiro onde quer que se encon- uma carta-bomba do Chile para o Brasil, que ao ser
trem, bem como as aeronaves e as embarcações aberta em São Paulo, mata a vítima. Quem vai punir
brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, os autores?
que se achem, respectivamente, no espaço aéreo Para solucionar tais situações, existem três teorias:
correspondente ou em alto-mar. a Extraterritorialidade Condicionada, a Incondiciona-
da e a Pena cumprida no estrangeiro.
De acordo com o § 1º, do art. 5º, do Código Penal,
para fins penais, são consideradas território por Extraterritorialidade da Lei Penal
extensão:
Extraterritorialidade é a aplicação da lei brasilei-
z As embarcações e aeronaves brasileiras, de ra aos crimes cometidos fora do Brasil. Sua sistema-
natureza pública ou a serviço do governo brasilei- tização se encontra nos arts. 7º e 8º, do CP. Vejamos
ro onde quer que se encontrem; neste momento a disposição na íntegra do art. 7º:
z As aeronaves e as embarcações brasileiras, mer-
cantes ou de propriedade privada, que se achem, Art. 7º Ficam sujeitos à lei brasileira, embora
cometidos no estrangeiro:
respectivamente, no espaço aéreo corresponden-
I - os crimes:
te ou em alto-mar.
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da
República;
As embaixadas são consideradas território do país b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do
em que estejam localizadas, ou seja, as embaixadas Distrito Federal, de Estado, de Território, de Muni-
de outros países que estejam sediadas no Brasil são cípio, de empresa pública, sociedade de economia
consideradas território brasileiro — salvo a incidên- mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder
cia de convenção, tratado ou regra de direito interna- Público;
cional (crimes praticados por agentes diplomáticos c) contra a administração pública, por quem está a
estrangeiros nestes locais, por exemplo, não se sujei- seu serviço;
tam à aplicação da lei penal brasileira). Deste modo, d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou
as embaixadas do Brasil que se situam em território domiciliado no Brasil;
II - os crimes:
estrangeiro não são consideradas território brasileiro
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obri-
por extensão. gou a reprimir;
b) praticados por brasileiro;
LUGAR DO CRIME c) praticados em aeronaves ou embarcações bra-
sileiras, mercantes ou de propriedade privada,
O CP trata do lugar do crime no art. 6º: quando em território estrangeiro e aí não sejam
julgados.
Art. 6º Considera-se praticado o crime no lugar § 1º Nos casos do inciso I, o agente é punido segun-
em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou do a lei brasileira, ainda que absolvido ou condena-
em parte, bem como onde se produziu ou deve- do no estrangeiro.
ria produzir-se o resultado. § 2º Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasi-
leira depende do concurso das seguintes condições:
Conforme já vimos antes, não se trata de fixar nor- a) entrar o agente no território nacional;
mas de competência (medida de jurisdição), uma vez b) ser o fato punível também no país em que foi
praticado;
que tais normas são cuidadas pelos arts. 70 e seguin-
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a
tes do CPP. O disposto no art. 6º, do CP, destina-se aos lei brasileira autoriza a extradição;
chamados crimes à distância, isto é, aqueles delitos d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou
em que a ação ou a omissão ocorre em um país e o não ter aí cumprido a pena;
resultado, em outro. Em relação ao local do crime, o e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro
CP adota o Princípio da Ubiquidade. ou, por outro motivo, não estar extinta a punibili-
350 dade, segundo a lei mais favorável.
§ 3º A lei brasileira aplica-se também ao crime
cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do CRIME
Brasil, se, reunidas as condições previstas no pará-
grafo anterior: CONCEITO E TEORIAS DO CRIME
a) não foi pedida ou foi negada a extradição;
b) houve requisição do Ministro da Justiça. Nomenclatura

Tal fenômeno se justifica por dois motivos: A doutrina brasileira utiliza o termo infração de
forma genérica, para englobar os crimes ou delitos e
z Para proteger certos bens jurídicos (como, por as contravenções.
exemplo, o patrimônio público); O Código Penal não utiliza em seu texto a expres-
z Para impedir que certos delitos fiquem sem res- são “delito”, optando por utilizar as expressões infra-
posta da lei penal. Não se aplica a extraterrito- ção, crime e contravenção, sendo que estas duas
rialidade a todas as infrações penais (crimes e últimas estão incluídas na primeira.
contravenções): de acordo com o art. 2º, da Lei No Código de Processo Penal há certa confusão:
de Contravenções Penais, não se aplica a lei algumas vezes usa-se o termo infração, de forma
brasileira às contravenções ocorridas fora do genérica, incluindo os crimes (ou delitos) e as contra-
território nacional. Ou seja, não há extraterrito- venções (veja, por exemplo, os arts. 70, 72, 74, 76, 77
rialidade de contravenção. etc.). Em outras situações, emprega a expressão deli-
tos como sinônimo de Infração (por exemplo, confor-
me consta nos arts. 301 e 302, CPP).
Dica Para os fins do nosso estudo temos, então que
O art. 7º, do Código Penal, aponta somente os Infração Penal pode significar crime (ou delito) e
contravenção penal.
crimes e não as infrações penais, logo, não se
As diferenças entre crime e contravenção serão
aplica às contravenções penais.
vistas mais adiante.
A aplicação da lei brasileira no estrangeiro pode
Conceito de Crime
se dar sem que seja necessária qualquer condi-
ção, recebendo o nome de extraterritorialidade
O conceito de crime não é natural e sim algo arti-
incondicionada: ficial, criado pelo legislador tendo em vista os interes-
ses da sociedade. Mas o que é crime?
z Hipóteses do inciso I, art. 7, do CP: Podemos responder essa pergunta de três formas
diferentes, olhando para o crime sob diferentes aspec-
Art. 7º Ficam sujeitos à lei brasileira, embora tos: material, formal e analítico.
cometidos no estrangeiro Veremos o conceito de crime de acordo com cada
I - os crimes: um desses pontos de vista:
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da
República;
z Aspecto material: é o juízo, a visão que a socie-
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União,
dade tem sobre o que pode e deve ser proibido
do Distrito Federal, de Estado, de Território, de
por meio da aplicação de sanção penal. Sob esse
Município, de empresa pública, sociedade de eco-
aspecto, o conceito material de crime consiste
nomia mista, autarquia ou fundação instituída pelo
na conduta que ofende um bem juridicamen-
Poder Público;
te tutelado (bem juridicamente considerado
c) contra a administração pública, por quem
essencial para a existência da própria sociedade e
está a seu serviço;
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou
manutenção da paz social);
domiciliado no Brasil;
z Aspecto formal: é a concepção sob a ótica do direi-
to. Assim, o conceito formal de crime constitui
uma conduta proibida por lei, que se realizada,
Nestes casos, aplica-se a lei penal brasileira ainda
resulta na aplicação de uma pena. Considera-se
que o crime tenha sido julgado no estrangeiro e
crime, dessa forma, o que o legislador apontar
independentemente de o agente entrar no Brasil.
como tal;
Se preenchidas certas condições indicadas na lei,
z Por fim, o conceito que interessa aos nossos estu-
teremos a extraterritorialidade condicionada: dos: sob o aspecto analítico, procura-se apontar,
estabelecer os elementos estruturais do crime.
z Hipóteses do inciso II, art. 7, do CP: Vejamos:

„ Alíneas “a” e “b”, inciso II, art. 7º + requisitos Conceito Analítico de Crime
DIREITO PENAL

do § 2º, art. 7º;


„ Alínea “c”, inciso II, art. 7º, do CP + requisitos do Do ponto de vista analítico, diferentes doutrinado-
§ 2º, art. 7º, + alínea “c”, inciso II, art. 7º, in fine res enxergam o crime de formas diferentes. Existem
(não ter sido julgado no estrangeiro); várias correntes, mas as principais são duas:
„ § 3º, art. 7º, do CP + requisitos do § 2º, art.
7º+ requisitos do § 3º (não ter sido pedida ou z A que entende que o crime é Fato Típico + Antijurí-
ter sido negada a extradição) + requisição do dico (concepção bipartida), sendo a culpabilidade
Ministro da Justiça. pressuposto de aplicação da pena (entre eles René
Ariel Dotti, Fernando Capez, Damásio de Jesus,
Julio Fabrini Mirabete, Cleber Masson); 351
z A que concebe o crime como um Fato Típico+ Assim, segundo a teoria finalista, o conceito analí-
Antijurídico + Culpável (concepção tripartida tico de crime é composto pelos seguintes elementos:
ou tripartite) e que é majoritária tanto no Brasil
quanto no exterior. Entre seus adeptos estão tanto z Fato Típico
aqueles que adotam a teoria da conduta finalista
(como Heleno Fragoso, Eugenio Raúl Zaffaroni, „ Conduta;
Luiz Regis Prado, Rogério Greco, entre outros) ou „ Resultado;
causalista (Nélson Hungria, Frederico Marques, „ Nexo causal;
Aníbal Bruno e Magalhães Noronha). „ Tipicidade.

Diferença entre Crime e Contravenção z Antijurídico (ou ilícito)

Antes de prosseguir com o estudo do crime, é inte- „ Contrariedade ao ordenamento jurídico.


ressante fazer a distinção entre crime e contravenção
penal (também chamada de crime anão, delito Lilipu- z Culpabilidade: Juízo de reprobabilidade formado
tiano, crime vagabundo ou delitti nani). pela:
Existem países que utilizam a classificação tripar-
„ Imputabilidade;
tida de infrações penais: delitos, crimes e contraven-
„ Exigibilidade de conduta diversa;
ções. O Brasil adota, como já vimos, a classificação
„ Potencial consciência da ilicitude.
bipartida, que divide as infrações entre crimes (ou
delitos) e contravenções. Estudaremos agora os elementos do crime, de for-
Não existe um dado único que faça a distinção ma separada, assim como suas causas de exclusão.
entre os dois tipos de infração penal. Tanto os crimes
quanto as contravenções configuram comportamen- CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES
tos que violam mandamentos legais que possuem
como sanção a aplicação de uma pena. A grande dis- Qualificação é o nome que se dá ao fato ou a infra-
tinção é a maior ou menor gravidade com que a lei vê ção, seja pela doutrina ou pela lei. Assim, temos:
tais condutas.
No entanto, existem outros elementos que ajudam z É o nome que a lei dá (nomen juris). Por exemplo,
na distinção. “ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem”
Em relação às penas: os crimes são punidos com é chamada pelo art. 129, CP, de “lesão corporal”;
penas privativas de liberdade (reclusão ou detenção), z São os nomes dados pela doutrina aos fatos crimi-
restritivas de direitos e multa; já as contravenções são nosos. Por exemplo: crime de mera conduta, crime
punidas com prisão simples e/ou multa. permanente, crime próprio etc.);
Com relação ao elemento subjetivo: no crime é o z É o nome dado à modalidade a que o fato pertence:
dolo ou a culpa; na contravenção é a voluntariedade. crime ou contravenção. Por exemplo, “homicídio” é
Por último, é possível a tentativa nos crimes, crime, enquanto o “jogo do bicho” é contravenção.
enquanto ela é incabível nas contravenções.
A classificação doutrinária dos crimes serve para
Sistemas Penais facilitar o estudo e o entendimento dos tipos penais
incriminadores. No entanto, existem muitos nomes,
O conceito analítico de crime, que é o que nos inte- ficando difícil fazer uma classificação definitiva, uma
ressa no presente estudo, apresenta várias concepções vez que os estudiosos do Direito Penal, ao sistematiza-
diferentes sobre sua estrutura, elementos e maneira rem a matéria, acabam por criar novas nomenclaturas.
como esses elementos interagem entre si. As principais são:
Dentre essas diferentes teorias, o Código Penal
adotou a teoria finalista, de modo que, conforme z Crimes Comuns e Especiais: São os definidos no
veremos a seguir, é imprescindível a presença do Direito Penal Comum; os especiais são os descri-
dolo ou da culpa a fim de que se configure uma tos no Direito Penal Especial;
conduta penalmente relevante. z Crimes Comuns (quanto ao agente) e Próprios:
Concebida nos anos 1930 por Hans Welzel, um Crime comum é aquele que pode ser praticado por
alemão jurista e filósofo do direito, foi adotada no
qualquer pessoa (furto, homicídio etc.). Crime pró-
Brasil por doutrinadores como Damásio E. De Jesus,
prio é o que só pode ser cometido por um agente
Júlio Fabrinni Mirabete e Miguel Reale Júnior, dentre
com qualidades especiais (uma condição jurídica,
outros penalistas.
como ser funcionário público; de parentesco, como
Para a teoria finalista, também chamada de “teo-
ria final”, “finalismo penal”, “teoria finalista da ação” mãe, filho; profissional, como médico; ou natural,
ou, ainda, “teoria da ação finalista”, o crime é fato como no caso da gestante.
típico (seus elementos são: conduta, dolosa ou cul-
posa; resultado naturalístico; relação de causalidade Dentro do contexto dos crimes próprios há uma
ou nexo causal; e tipicidade), ilícito (antijurídico) e categoria chamada crimes de mão própria ou de
culpável (imputabilidade; exigibilidade de conduta atuação pessoal, que são os que só podem ser cometi-
diversa e potencial consciência da ilicitude). dos pelo agente em pessoa, de forma direta, como, por
Fator importante a ser lembrado quando se fala nes- exemplo, no caso de falso testemunho (a testemunha
ta teoria é que o dolo e a culpa integram o fato típico. não pode mentir por meio de outro sujeito). O crime de
352 mão própria admite participação, mas não coautoria;
z Crimes de Dano e de Perigo: Crime de dano é o que apenas se consuma quando ocorre a efetiva lesão ao bem
jurídico (como no homicídio, nas lesões corporais). Crime de perigo é o que se consuma com a mera possibili-
dade do dano (como, por exemplo, na rixa, art. 137, CP, e no incêndio, art. 250, CP).

Os crimes de perigo, por sua vez, subdividem-se em:

„ Crime de perigo presumido (ou abstrato) e crime de perigo concreto: No presumido ou abstrato o perigo
é presumido pela lei. Basta a ação ou omissão (exemplo, art. 135, CP; art. 306, CTB, e arts. 14 ao 16, do Esta-
tuto do Desarmamento). Já o concreto depende de prova efetiva de perigo (exemplo, no crime de exposição
ou abandono de recém-nascido, art. 134, CP);
„ Crime de perigo individual e crime de perigo comum (coletivo). Perigo individual é o que coloca em risco
de dano o bem jurídico de uma só pessoa ou de grupo determinado de pessoas (por exemplo, perigo de
contágio venéreo, art. 130, CP). Já no perigo comum ou coletivo o risco atinge um número indeterminado
de pessoas (como no delito de incêndio, art. 250, CP).

z Crimes Comissivos e Omissivos: Crime comissivo é aquele que implica em uma ação, um fazer do sujeito; já
o crime omissivo, caracteriza-se por um não-fazer.

Dividem-se nas seguintes modalidades:

„ Omissivos próprios ou puros: são os descritos por uma conduta negativa (conduta de não fazer). É uma
conduta tipificada que descreve um comportamento negativo no núcleo do tipo penal. Não é possível a ten-
tativa. Exemplos de crimes omissivos próprios: comete crimes omissivos puros aqueles que não prestam
assistência à pessoa ferida (omissão de socorro), comete crime também o funcionário que deixa de respon-
sabilizar seu subordinado quando este cometeu alguma infração no exercício do cargo (condescendência
criminosa);
„ Omissivos impróprios ou Comissivos por omissão: são os delitos de ação, praticado de forma excepcio-
nal por omissão (nos casos em que o agente tem o dever jurídico de impedir o resultado e não o faz — § 2º,
art. 13 CP).

Art. 13 […]
§ 2º A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir
incumbe a quem:
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.

„ Omissivos por comissão: trata-se de uma prática rara na doutrina brasileira. Os crimes omissivos por
comissão são aqueles em que um indivíduo age com o fim de impedir que alguém pratique um ato que
salvaria o bem jurídico, ou seja, causa dolosamente a omissão de terceiro.

z Crimes Instantâneos, Permanentes e Instantâneos de Efeitos Permanentes

„ Crime instantâneo é aquele que se consuma imediatamente, em momento determinado, sem prolonga-
mento (Ex.: furto);
„ Crime permanente é aquele no qual a consumação prolonga-se no tempo (Ex.: extorsão mediante
sequestro);
„ Crime instantâneo de efeitos permanentes é aquele em que a consumação também ocorre em momento
determinado, mas os efeitos da consumação têm efeitos duradouros (Ex.: homicídio, aborto).

Existe uma série de outras classificações, como crime continuado e delito putativo, por exemplo, que serão
vistas ao tratar de outros temas mais à frente.

DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ

A desistência voluntária e o arrependimento eficaz encontram-se previstos no art. 15, do CP.

Art. 15 O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se
produza, só responde pelos atos já praticados.
DIREITO PENAL

A desistência voluntária é uma forma de tentativa inacabada e se configura quando o sujeito inicia o proces-
so executório, mas desiste voluntariamente de nele prosseguir, evitando a consumação. Neste caso, tem-se
uma conduta negativa, ou seja, o agente tem a possibilidade de prosseguir com a execução, mas, por vontade
própria, desiste e evita que o crime se consume.
Podemos citar o caso em que o sujeito ingressa na casa da vítima e, voluntariamente, desiste da subtração que
pretendia efetuar. Veja que, no caso do exemplo, se o sujeito desiste do furto pelo risco de ser surpreendido em fla-
grante diante do funcionamento do sistema de alarme, não se fala em desistência, mas sim em tentativa punível.
Já o arrependimento eficaz é uma forma de tentativa acabada e se dá após esgotado o processo executó-
rio imaginado, mas o sujeito resolve voluntariamente atuar para evitar, com sucesso, a consumação. 353
Nos dois casos, conforme art. 15, do CP, a consequência é que o sujeito deve responder apenas pelos resultados
já produzidos.
Esses dois institutos são incompatíveis com os crimes culposos, pela sua própria natureza, salvo na culpa
imprópria.

ANTES DE ESGOTAR DEPOIS DE ESGOTAR


CONSEQUÊNCIA JURÍDICA
A EXECUÇÃO A EXECUÇÃO

Responde pela tentativa: pena do


MOTIVOS ALHEIOS À Tentativa imperfeita Tentativa perfeita ou
crime consumado reduzida de 1/3
VONTADE DO AGENTE ou inacabada acabada ou crime falho
(um terço) a 2/3 (dois terços)

MODIFICAÇÃO DA
Desistência Voluntária Arrependimento eficaz Só responde pelos atos já praticados
VONTADE DO AGENTE

ARREPENDIMENTO POSTERIOR

Já o arrependimento posterior é uma causa obrigatória de diminuição de pena para os crimes praticados
sem violência ou grave ameaça dolosa à pessoa, nos quais o prejuízo é reparado por ato voluntário do infrator até
o momento do recebimento da denúncia ou queixa.
O art. 16, do CP, estabelece redução de um a dois terços, e prevalece que a redução será tanto maior quando
mais célere a reparação.

Art. 16 Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa,
até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços.

Casos Excepcionais de Arrependimento Posterior no Código Penal

A reparação do dano no crime de estelionato por meio de cheque, até o recebimento da denúncia, tem efeito
diverso.
No peculato culposo (§ 2º, art. 312, do CP), a reparação do dano até a sentença definitiva extingue a punibilida-
de e, se posterior, ainda reduz a pena em metade (§ 3º, art. 312, do CP).

DOLO E CULPA

Não importa a posição adotada, bipartite (Crime = Fato Típico + Antijurídico) ou tripartite (Crime = Fato Típico
+ Antijurídico + Culpável) o primeiro elemento (requisito, característica) do conceito analítico de crime é o fato
típico.
O fato típico possui 4 elementos:

z Conduta dolosa ou culposa;


z Nexo de causalidade (exceto nos crimes de mera conduta e nos formais);
z Resultado (salvo nos crimes de mera conduta);
z Tipicidade.

Dos 4 elementos do fato típico, 2 deles, a conduta e a tipicidade, são obrigatórios. Em alguns casos, não são
necessários o nexo de causalidade e o resultado.
No caso dos crimes materiais (como já vimos, que é aquele que descreve uma conduta + um resultado natu-
ralístico e, para que o crime ocorra, é preciso que aconteça o resultado descrito na norma), são necessários os 4
elementos para que se configure o crime, como, por exemplo, no caso do homicídio:

CONDUTA
Uma facada NEXO CAUSAL
(por exemplo) Relação RESULTADO
de causa e TIPICIDADE
Sendo crime
efeito entre a material, Adequação
facada (ação) requer o entre o fato
e o resultado resultado, no praticado e a
(morte) caso a morte previsão legal:
Art. 121, CP
(Matar alguém)

No entanto, em alguns casos, vão bastar apenas a conduta e a tipicidade. Isso ocorre nos crimes formais (que
dispensam a ocorrência do resultado, que é mero exaurimento; ou ainda, nem o preveem, fazendo com que seja
354 desnecessário verificar o nexo causal), como no exemplo a seguir:
No dolo direito (ou imediato ou determinado)
CONDUTA existe a intenção do agente de ofender o bem jurídi-
Exigir que NEXO CAUSAL co. Exemplo: querendo a morte da vítima, o atirador
se assine Não é RESULTADO desfere um tiro fatal.
um contrato necessário TIPICIDADE Já no dolo indireto ou eventual, o sujeito assume
Não é
favorável ao necessário
autor, sob
Adequação o risco de produzir o resultado.
entre o fato A diferença relevante está entre o dolo direito e o
ameaça
praticado e a
previsão legal: eventual. Mas existem outras classificações de dolo,
Art. 158, CP sem muita utilidade. Dentre essas, cabe mencionar o
(Extorsão) dolo alternativo, que pode aparecer em algum enun-
ciado de questão.
Conduta Dolo alternativo configura-se quando o agente
age com indiferença, buscando um resultado ou outro
A conduta é toda ação ou omissão humana, cons- (não se trata de uma forma independente de dolo).
ciente e voluntária, dirigida a determinada finalidade. Exemplo de dolo alternativo é o do agente que encon-
tra uma carteira em um banco de praça e a leva para
A conduta pode se realizar:
casa, pouco se importando se alguém a esqueceu ali
ou é de alguém que se encontra brincado com o filho
z Por uma ação (um fazer, um comportamento
no parque que fica dentro da praça. Neste caso, pode
positivo);
ter praticado o crime de furto (art. 155, CP) ou de apro-
z Por uma omissão (um não fazer, uma abstenção).
priação de coisa achada (inciso II, art. 169, CP).
São elementos do dolo:
Existem várias teorias que tratam da definição
da conduta criminosa; é essencial conhecer a Teoria
z Consciência da conduta e do resultado;
Finalista da Conduta, elaborada por Hans Welzel e
z Consciência da relação causal objetiva entre a
sobre a qual já mencionamos. Para a teoria finalista,
conduta e o resultado;
adotada pelo CP, como vimos, a conduta precisa ser
z Vontade de realizar a conduta e de produzir o
ou dolosa ou culposa, ou seja, dolo e culpa, integram
resultado.
o Fato Típico (estão dentro da conduta, que é um de
seus elementos). Culpa
Mas o que são dolo e culpa?
Ainda dentro do estudo da conduta, vamos estabe- A culpa, por sua vez, não exige a intenção do agen-
lecer os conceitos de dolo e de culpa, essenciais para te de agredir a norma, mas ele acaba agindo de forma
o entendimento do próprio conceito de crime. Vamos, descuidada para com o bem jurídico.
em primeiro lugar, ao Código Penal verificar o que No crime culposo, o resultado ilícito não é deseja-
está disposto sobre o dolo e a culpa. do, mas é previsível e poderia ter sido evitado. Deste
modo, o agente não deseja o resultado, nem assume
Art. 18 Diz-se o crime: o risco de produzi-lo, mas não age com a responsabi-
Crime doloso lidade necessária ao caso. Tal descuido se concretiza
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou
por meio da imprudência, negligência ou imperícia
assumiu o risco de produzi-lo;
(espécies de culpa, conforme o inciso II, art. 18, CP):
Crime culposo
II - culposo, quando o agente deu causa ao
z Imprudência: é a forma ativa (positiva) de culpa,
resultado por imprudência, negligência ou
em que o agente executa um comportamento sem
imperícia.
Parágrafo único. Salvo os casos expressos em lei, cautela (de forma precipitada ou com insensatez).
ninguém pode ser punido por fato previsto como Ex.: o sujeito que dirige em alta velocidade dentro
crime, senão quando o pratica dolosamente. da cidade, onde há pedestres por todos os lados;
z Negligência: é a forma passiva (negativa) de cul-
Veremos, agora de forma separada, o dolo e a cul- pa, em que o agente deixa de agir, fica inerte, por
pa, que são os elementos subjetivos da conduta. descuido ou desatenção, quando era necessário
agir de modo contrário. Ex.: não acionar o freio de
mão ao estacionar o veículo em uma ladeira;
Importante! z Imperícia: consiste na imprudência no campo
técnico, pressupondo a falta de cautela relativa ao
Não existe crime sem dolo ou culpa (princípio da exercício de uma arte, um ofício ou uma profissão.
responsabilidade subjetiva). Ex.: caso do médico que deixa de tomar os cuida-
DIREITO PENAL

Os crimes, em geral, são dolosos e, excepcional- dos necessários quanto à assepsia antes de uma
mente, culposos (apenas quando a lei, de forma cirurgia, o que acaba por causar uma infecção que
expressa, determinar). provoca a morte do paciente.

Sempre nas questões que envolvem o dolo even-


Dolo tual e culpa consciente, se fizermos uma leitura
rápida, podemos ficar com dúvida. Portanto, vamos
Podemos definir dolo como sendo a vontade de fazer a segunda leitura da questão e identificar as
produzir o resultado típico. palavras que diferenciam o dolo eventual da culpa
consciente. 355
DOLO EVENTUAL CULPA CONSCIENTE causas de extinção da punibilidade estão espalhadas
no ordenamento jurídico brasileiro.
Prevê o resultado Prevê o resultado Dispõe o Código Penal:
Assume o risco do Acredita poder evitar o
Art. 107 Extingue-se a punibilidade:
resultado resultado I - pela morte do agente;
“Dane-se” “Danou-se” II - pela anistia, graça ou indulto;
III - pela retroatividade de lei que não mais conside-
ra o fato como criminoso;
Crime Preterdoloso ou Preterintencional IV - pela prescrição, decadência ou perempção;
V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo per-
Trata-se de uma espécie de crime qualificado pelo dão aceito, nos crimes de ação privada;
resultado. Neste caso, o agente quer causar um deter- [...]
minado resultado (possui dolo quanto a este resulta- IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei.
do), mas acaba causando outro resultado, de forma
culposa. PRESCRIÇÃO

Dica De modo geral prescrição significa a perda de uma


pretensão, pelo decurso do tempo. Assim sendo, no
Crime preterdoloso: dolo no antecedente (con- campo do Direito Penal a prescrição pode ser con-
duta) — culpa no consequente (resultado). ceituada como a perda da pretensão punitiva estatal,
pelo decurso de determinado lapso temporal previs-
Ocorre, por exemplo, na lesão corporal seguida to em lei. Basileu Garcia (2012) definiu a prescrição
de morte, quando o agente quer lesionar (dolo) mas como a renúncia do Estado a punir a infração, em face
acaba matando (por culpa). Neste caso, a conduta sub- do decurso do tempo.
sequente (morte) vai servir como um evento qualifica- Sob um aspecto amplo, decadência significa a per-
dor (vai responder pelo crime na forma mais grave). da de um direito potestativo, pelo decurso de um pra-
zo fixado em lei ou convencionado entre as partes. No
Resultado Direito Penal, em seu sentido mais estrito, decadên-
cia traduz o perecimento do direito da ação penal de
O segundo elemento do fato típico é o resultado, exercício privado, ou do direito de representação nos
que é a consequência provocada pela conduta do casos de ação penal pública de exercício condiciona-
agente. O resultado pode ser dividido em jurídico ou do, pelo decurso do prazo de seis meses (art. 103, do
naturalístico. Código Penal).
O resultado jurídico (normativo) é a lesão ou peri- Por derradeiro, a perempção é definida por Juarez
go de lesão provocada no bem jurídico tutelado (prin- Cirino dos Santos (2007) como: fenômeno processual
cípio da lesividade). extintivo da punibilidade em ações penais de iniciati-
O resultado naturalístico nada mais é do que a va privada, caracterizado pela inatividade, pela omis-
modificação do mundo exterior causada pela conduta são ou pela negligência do autor na realização de atos
(aplicação da teoria naturalística). processuais específicos.
No entanto, nem todo crime tem resultado (natu- Para se dar a prescrição é necessário que:
ralístico), como no caso dos crimes de mera conduta
(conforme já vimos, que são aqueles em que a lei des- z Exista o direito material da parte a uma prestação
creve apenas uma conduta e não um resultado, con- a ser cumprida, a seu tempo, por meio de ação ou
sumando-se no momento da prática da conduta, como omissão do devedor;
no caso do delito de invasão de domicílio). z Ocorra a violação desse direito material por parte
do obrigado, configurando o inadimplemento da
prestação devida;
z Surja, então, a pretensão, como consequência da
PRESCRIÇÃO violação do direito subjetivo, isto é, nasça o poder de
exigir a prestação pelas vias judiciais; e, finalmente;
Punibilidade é a possibilidade subjetiva do Estado z Se verifique a inércia do titular da pretensão em
punir o autor de um Crime. Não se deve confundir fazê-la exercitar durante o prazo extintivo fixado
Punibilidade, que é uma situação ou característica em lei.
que produz efeito posterior ao crime consumado e
reconhecido, característica que impede que o autor Espécies de prescrição.
seja punido; com a Culpabilidade, que é um pressu- O Código Penal ao tratar do tema divide a prescri-
posto de Autoria (direito penal), pressuposto sem a ção em duas espécies:
qual, mesmo já estando efetivado o crime, não se reco-
nhece a sua autoria pois o agente não possui culpa, Art. 109 A prescrição, antes de transitar em julga-
não pode ser responsabilizado por seus atos. do a sentença […]
Art. 110 A prescrição depois de transitar em julga-
Extinção da Punibilidade do sentença final condenatória […]

A extinção da punibilidade é a perda do direito do Doutrinariamente, a prescrição é dividida em


Estado de punir o agente autor de fato típico e ilícito, prescrição da pretensão punitiva e prescrição da pre-
356 ou seja, é a perda do direito de impor sanção penal. As tensão executória.
A prescrição da pretensão punitiva desdobra-se Prescrição Antecipada, Projetada, Virtual ou
em: prescrição da pretensão punitiva propriamente Retroativa em Perspectiva
dita; prescrição superveniente ou intercorrente; pres-
crição retroativa; e prescrição antecipada, projetada, Esta espécie de prescrição não encontra previsão
virtual ou retroativa em perspectiva. legal, sendo uma construção doutrinária e jurispru-
dencial, tendo como fundamentos a economia e falta
Prescrição da Pretensão Punitiva Propriamente Dita de interesse processual. Ela seria verificada ainda em
sede de inquérito policial, ou seja, antecipadamente,
Esta espécie tem lugar antes de transitar em jul- sendo regulada pela provável pena em concreto que
gado a sentença penal, devendo ser regulada pelo seria estabelecida pelo magistrado por ocasião da
máximo da pena privativa de liberdade ao crime. Os condenação.
prazos em que é verificada são os constantes no rol do Como assinalou Juarez Cirino dos Santos (2008),
a prescrição pela pena virtual seria outra generosa
art. 109, do CP.
invenção da jurisprudência brasileira, amplamente
Regra geral, o termo inicial da prescrição da pre-
empregada por segmentos liberais do Ministério Públi-
tensão punitiva propriamente dita deve ser contado
co e da Magistratura nacionais.
a partir do dia da consumação do delito (inciso I, art.
O Superior Tribunal de Justiça se posicionou con-
111, do CP). Este dispositivo legal traz outros marcos
trário a esta criação jurisprudencial ao editar a Súmu-
iniciais para fins de contagem de prazo prescricional:
la nº 438: é inadmissível a extinção da punibilidade pela
prescrição da pretensão punitiva com fundamento em
Art. 111 […]
pena hipotética, independentemente da existência ou
II - no caso de tentativa, do dia em que cessou a
atividade criminosa; sorte do processo penal.
III - nos crimes permanentes, do dia em que cessou
a permanência; Prescrição da Pretensão Executória
IV - nos de bigamia e nos de falsificação ou altera-
ção de assentamento do registro civil, da data em A prescrição da pretensão executória é aquela que
que o fato se tornou conhecido. implica na perda da possibilidade de aplicação da san-
[…] ção penal, em face do decurso do tempo. Ela deve ser
regulada pela pena fixada na sentença condenatória
Segundo o Superior Tribunal de Justiça, a pres- ou acórdão. Neste sentido dispõe a Súmula 604, do
crição penal é aplicável nas medidas socioeducativas STF: A prescrição pela pena em concreto é somente da
(Súmula nº 338). pretensão executória da pena privativa de liberdade.
Segundo o CP, começa a correr a prescrição da pre-
Prescrição Superveniente ou Intercorrente tensão executória:

Pode ser conceituada como aquela que ocorre Art. 112 […]
entre a data da publicação da sentença penal con- I - do dia em que transita em julgado a sentença
denatória e o trânsito em julgado para a acusação. A condenatória, para a acusação, ou a que revoga
a suspensão condicional da pena ou o livramento
prescrição superveniente ou intercorrente é regida
condicional;
pela pena aplicada, tendo como marco inicial a publi-
II - do dia em que se interrompe a execução, salvo
cação da sentença penal condenatória. quando o tempo da interrupção deva computar-se
Envolvendo o tema, Basileu Garcia (2007) comen- na pena.
tou que: a proibição legal de reformatio in pejus, asse-
gurando a impraticabilidade da exacerbação da pena A prescrição no caso de evasão do condenado ou
sem recurso do acusador, permite basear a prescrição de revogação do livramento condicional é regulada
na quantidade fixada na sentença. pelo tempo que resta da pena.

Prescrição Retroativa Redução e Aumento dos Prazos de Prescrição

A prescrição retroativa é a espécie de prescrição Os prazos de prescrição são reduzidos à metade


que determina a recontagem dos prazos anteriores à quando o criminoso era:
sentença penal com trânsito em julgado para a acusa-
ção, ou depois de improvido seu recurso. A prescrição Art. 115 […] ao tempo do crime, menor de 21 (vinte
retroativa é igualmente regulada pela pena aplicada, e um) anos, ou, na data da sentença, maior de 70
tendo como marco inicial a publicação da sentença (setenta) anos.
penal condenatória.
A prescrição, depois da sentença condenatória Sobre o disposto, Juarez Cirino dos Santos (2008)
DIREITO PENAL

com trânsito em julgado para a acusação ou depois ensina que a definição legal da capacidade civil aos
de improvido seu recurso, regula-se pela pena apli- 18 anos (art. 5º, caput, do CC), não exclui a redução
cada, não podendo, em nenhuma hipótese, ter por dos prazos de prescrição para agentes menores de
termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa. 21 anos: a redução dos prazos prescricionais tem por
Com esta modificação, a prescrição retroativa somen- fundamento idade inferior a 21 anos — não a inca-
te ocorre entre o recebimento da denúncia ou queixa pacidade civil do agente na data do fato. Além disso,
e a publicação da sentença condenatória. Ressalta-se decisões do legislador civil não podem invalidar cri-
que a nova lei, que se mostra menos benéfica ao réu, térios do legislador penal — e qualquer outra inter-
somente pode ser aplicada a fatos posteriores à data pretação representaria analogia in malam partem,
de sua publicação. proibida pelo princípio da legalidade penal. 357
Na forma do art. 1º, da Lei nº 10.741, de 2003 (Esta- O CP estabelece, portanto, que não corre a
tuto do Idoso), o limite etário de 70 (setenta) anos (na prescrição:
data da sentença), como fundamento para redução
dos prazos prescricionais, deve ser alterado para 60 Art. 116 […]
(sessenta) anos, pela mesma razão que determinou a I - enquanto não resolvida, em outro processo,
fixação desse marco etário para definir o cidadão ido- questão de que dependa o reconhecimento da exis-
so, alterando expressamente a circunstância agravan- tência do crime;
te da alínea “h”, do art. 61, do CP, na hipótese de ser
II - enquanto o agente cumpre pena no exterior.
vítima de crime: a analogia in bonam partem é auto-
[…]
rizada pelo princípio da legalidade penal e, portanto,
constitui direito do réu.
Caso o condenado seja reincidente, o prazo pres- Sobre a matéria, a Súmula 415 do Superior Tribu-
cricional da pretensão executória deverá ser amplia- nal de Justiça orienta que:
do em um terço. Frisa-se que a predita ampliação de
prazo só tem lugar na prescrição da pretensão execu- Súmula 415, do STJ: O período de suspensão do
tória, conforme se extrai da Súmula 220, do STJ: prazo prescricional é regulado pelo máximo da
pena cominada.
Súmula 220, do STJ: A reincidência não influi no
prazo da prescrição da pretensão punitiva. Causas Interruptivas da Prescrição

Prescrição das Penas Restritivas de Direito As causas interruptivas da prescrição são (confor-
me o CP):
Os prazos prescricionais das penas restritivas de
direito seguem a sorte dos prazos prescricionais das
Art. 117 […]
penas privativas de liberdade, conforme se verifica
I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa;
pelo disposto no parágrafo único, do art. 109, aplicam-
-se às penas restritivas de direito os mesmos prazos II - pela pronúncia;
previstos para as privativas de liberdade. III - pela decisão confirmatória da pronúncia;
IV - pela publicação da sentença ou acórdão conde-
Prescrição da Pena de Multa natórios recorríveis;
V - pelo início ou continuação do cumprimento da
A prescrição da pretensão punitiva da pena de pena;
multa ocorrerá: VI - pela reincidência.

Art. 114 […] A Súmula 191, do Superior Tribunal de Justiça,


I - em 2 (dois) anos, quando a multa for a única enunciou que:
cominada ou aplicada;
II - no mesmo prazo estabelecido para prescrição
Súmula 191, do STJ: A pronúncia é causa inter-
da pena privativa de liberdade, quando a multa
for alternativa ou cumulativamente cominada ou ruptiva da prescrição, ainda que o Tribunal do Júri
cumulativamente aplicada. venha a desclassificar o crime.

Nestas hipóteses são aplicadas as mesmas causas As causas interruptivas da prescrição fazem o pra-
suspensivas e interruptivas da prescrição de pena pri- zo voltar a correr do início, ou seja, possuem o condão
vativa de liberdade. de determinar o reinício da contagem do prazo pres-
Em relação à prescrição da pretensão executória cricional, vertendo em sua integralidade a partir do
da pena de multa, convém lembrar que, com o adven- dia da interrupção. No caso de continuação do cum-
to da Lei nº 9.268, de 1996, que passou a considerar a
primento de pena, há uma exceção à regra geral, uma
pena pecuniária como dívida de valor, seu prazo pas-
vez que a prescrição deverá ser regulada pelo tempo
sou a ser de cinco anos, e são aplicadas as causas sus-
pensivas e interruptivas da legislação tributária para restante da pena.
a hipótese. A interrupção da prescrição produz efeitos relati-
vamente a todos os autores do crime, salvo nos casos
Prazos de início e continuação da pena e reincidência. Por
fim, nos crimes conexos, que sejam objeto do mesmo
O prazo prescricional sempre dependerá da pena processo, estende-se aos demais a interrupção relati-
abstrata ou da que foi aplicada. Em geral, deverá va a qualquer deles.
observar os intervalos do art. 109, do CP. Entretanto, Segundo o Superior Tribunal de Justiça, a senten-
algumas legislações especiais preveem prazos pró-
ça concessiva de perdão judicial não tem o condão de
prios para suas matérias.
interromper a prescrição, uma vez que ela é apenas
Causas Impeditivas ou Suspensivas da Prescrição declaratória de extinção da punibilidade. Veja:

Enquanto o impedimento da prescrição inibe o iní- Súmula 18, do STJ: Sentença concessiva do perdão
cio do curso do prazo prescricional, a suspensão leva judicial e declaratória da extinção da punibilidade,
à paralisação do prazo já em curso. As causas impedi- não subsistindo qualquer efeito condenatório.
tivas ou suspensivas dizem respeito à prescrição da
358 pretensão punitiva propriamente dita.
§ 5º Equipara-se a atividade comercial, para os fins
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA do inciso III do § 1º, qualquer forma de comércio
irregular ou clandestino, inclusive o exercido em
FALSIDADE DE TÍTULOS E OUTROS PAPÉIS vias, praças ou outros logradouros públicos e em
PÚBLICOS residências.

Falsificação de Papéis Públicos O tipo penal do crime de falsificação de papéis


públicos apresenta três modalidades em que a pena
Art. 293 Falsificar, fabricando-os ou alterando-os: será mais branda se comparada ao tipo penal prin-
I - selo destinado a controle tributário, papel cipal e às formas equiparadas, que têm como pena a
selado ou qualquer papel de emissão legal destina- reclusão de dois a oito anos e multa:
do à arrecadação de tributo;
II - papel de crédito público que não seja moeda z Aquele que suprimir, em qualquer dos papéis vis-
de curso legal; tos anteriormente, quando legítimos, com o fim de
III - vale postal; torná-los novamente utilizáveis, carimbo ou sinal
IV - cautela de penhor, caderneta de depósito indicativo de sua inutilização, incorrerá na pena
de caixa econômica ou de outro estabelecimento de reclusão de um a quatro anos e multa;
mantido por entidade de direito público; z Aquele que usar os papéis, depois de alterados
V - talão, recibo, guia, alvará ou qualquer outro (após a supressão de carimbo ou sinal indicativo
documento relativo a arrecadação de rendas de inutilização, quando legítimos, com o fim de
públicas ou a depósito ou caução por que o torná-los utilizáveis), incorrerá na pena de reclu-
poder público seja responsável; são de um a quatro anos e multa;
VI - bilhete, passe ou conhecimento de empresa de z Aquele que usar ou restituir à circulação, embora
transporte administrada pela União, por Estado ou recebido de boa-fé, qualquer dos papéis falsifica-
por Município: dos ou alterados, depois de conhecer a falsidade
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. ou alteração, incorrerá na pena de detenção, de
seis meses a dois anos, ou multa.
O tipo penal do caput poderá ser praticado com a
falsificação de quaisquer um dos documentos vistos Qualquer forma de
acima, de duas formas: fabricando-os (neste caso, o comércio irregular ou
agente cria um documento) ou alterando-os (o agente Equipara-se clandestino, inclusive
altera documento já existente). à atividade o exercido em vias,
Existem formas equiparadas ao crime de falsifica- comercial praças ou outros
ção de papéis públicos, incorrendo o agente nas mes- logradouros públicos e
mas penas deste. em residências

Art. 293 [...] Sobre o crime de falsificação de papéis públicos, é


§ 1º Incorre na mesma pena quem: importante levar em consideração o seguinte:
I - usa, guarda, possui ou detém qualquer dos papéis
falsificados a que se refere este artigo; z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
II - importa, exporta, adquire, vende, troca, cede,
quer pessoa;
empresta, guarda, fornece ou restitui à circulação
z Só admite a modalidade dolosa — não pode ser
selo falsificado destinado a controle tributário;
praticado culposamente;
III - importa, exporta, adquire, vende, expõe à
z Caso a falsificação seja grosseira, haverá a atipici-
venda, mantém em depósito, guarda, troca, cede,
dade deste crime;
empresta, fornece, porta ou, de qualquer forma,
z Admite a tentativa;
utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício
z Se o papel for de emissão da União, será processa-
de atividade comercial ou industrial, produto ou
mercadoria:
do e julgado pela Justiça Federal;
a) em que tenha sido aplicado selo que se destine a z Será de competência do Juizado Especial Criminal
controle tributário, falsificado; Federal nas hipóteses de crime privilegiado, defi-
b) sem selo oficial, nos casos em que a legislação nido no § 4º, art. 293, do CP.
tributária determina a obrigatoriedade de sua
aplicação. Petrechos de Falsificação
§ 2º Suprimir, em qualquer desses papéis, quan-
do legítimos, com o fim de torná-los novamente Art. 294 Fabricar, adquirir, fornecer, possuir ou
utilizáveis, carimbo ou sinal indicativo de sua guardar objeto especialmente destinado à falsifi-
inutilização: cação de qualquer dos papéis referidos no artigo
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. anterior:
DIREITO PENAL

§ 3º Incorre na mesma pena quem usa, depois de Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
alterado, qualquer dos papéis a que se refere o
parágrafo anterior. Sobre o crime de petrechos de falsificação, é impor-
§ 4º Quem usa ou restitui à circulação, embora tante que você saiba, para a sua prova, as seguintes
recibo de boa-fé, qualquer dos papéis falsificados informações:
ou alterados, a que se referem este artigo e o seu
§ 2º, depois de conhecer a falsidade ou alteração, z É crime de ação múltipla, que poderá ser praticado
incorre na pena de detenção, de seis meses a dois mediante a execução de qualquer um dos verbos
anos, ou multa. previstos no tipo penal: fabricar, adquirir, forne-
cer, possuir ou guardar; 359
z É crime comum, que poderá ser praticado por qualquer agente;
z Entretanto, caso o crime seja praticado por funcionário público, prevalecendo-se este do cargo, a pena será
aumentada da sexta parte (1/6).

Art. 295 Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena de sexta
parte.

A pena do crime de petrechos de falsificação será aumentada de 1/6 (um sexto) se o agente é funcionário públi-
co e comete o crime prevalecendo-se do cargo.

z Assim como o crime de petrecho para falsificação de moeda, o objeto deve ser destinado especialmente para
falsificar os papéis previstos no art. 293; caso o objeto tenha outras finalidades (tem outras utilidades e tam-
bém serve para falsificar papéis), não há que se falar na prática deste tipo penal;
z Só poderá ser praticado dolosamente;
z Admite a modalidade tentada;
z No verbo guardar, trata-se de crime permanente, protraindo-se a conduta no tempo.

FALSIDADE DOCUMENTAL

De acordo com o art. 232, do CPP, documentos são quaisquer escritos, instrumentos ou papéis públicos ou
particulares.
O CPP estabelece requisitos para que um papel seja considerado documento: forma escrita, autor certo, pos-
suir conteúdo de relevância jurídica e valor probatório.
Vejamos os crimes deste capítulo:

Falsificação do Selo ou Sinal Público

Art. 296 Falsificar, fabricando-os ou alterando-os:


I - selo público destinado a autenticar atos oficiais da União, de Estado ou de Município;
II - selo ou sinal atribuído por lei a entidade de direito público, ou a autoridade, ou sinal público de tabelião:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
§ 1º Incorre nas mesmas penas:
I - quem faz uso do selo ou sinal falsificado;
II - quem utiliza indevidamente o selo ou sinal verdadeiro em prejuízo de outrem ou em proveito próprio
ou alheio.
III - quem altera, falsifica ou faz uso indevido de marcas, logotipos, siglas ou quaisquer outros símbolos utiliza-
dos ou identificadores de órgãos ou entidades da Administração Pública.
§ 2º Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena de sexta
parte.

FALSIFICAÇÃO DE SELO OU SINAL PÚBLICO

Falsificar (fabricando ou alterando)

Selo público destinado a autenticar atos oficiais da Selo ou sinal atribuído por lei a entidade de direito públi-
União, de Estado ou de Município co, ou a autoridade, ou sinal público de tabelião

Sobre este crime, é importante que você leve em consideração as seguintes disposições:

z É crime comum, que pode ser praticado por qualquer pessoa;


z Caso o crime seja praticado por funcionário público, prevalecendo-se do cargo, a pena será aumentada da
sexta parte (aumento de 1/6);
z Só pode ser praticado dolosamente;
z Admite a modalidade tentada, já que se trata de crime plurissubsistente, quando o delito, para ser praticado,
necessita de vários atos para atingir o resultado;
z A falsificação pode dar-se de 2 (duas formas): com a fabricação (o agente cria o selo ou sinal) ou com a altera-
ção (o agente modifica o selo ou sinal).

Trata-se de crime de forma livre, que pode ser praticado de qualquer modo pelo agente.

Falsificação de Documento Público

Art. 297 Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público verdadeiro:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
§ 1º Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena de sexta parte.
§ 2º Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado de entidade paraestatal, o título ao por-
tador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento particular.
360 § 3º Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz inserir:
I - na folha de pagamento ou em documento de informações que seja destinado a fazer prova perante a previdência
social, pessoa que não possua a qualidade de segurado obrigatório;
II - na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em documento que deva produzir efeito perante a
previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter sido escrita;
III - em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado com as obrigações da empresa perante a
previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter constado.
§ 4º Nas mesmas penas incorre quem omite, nos documentos mencionados no § 3º, nome do segurado e seus dados
pessoais, a remuneração, a vigência do contrato de trabalho ou de prestação de serviços.

A sua conduta típica é: falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público
verdadeiro.
O crime pode ser praticado das seguintes formas:

Falsificar, total
Alterar documento
ou parcialmente,
público verdadeiro
documento público

Aqui, o agente cria Aqui, o agente


um documento modifica o
público que não documento público
existia que já existia

Trata-se de falsidade material, na qual o agente cria um documento público falso ou modifica o documento
público verdadeiro, tornando-se falsos em seu aspecto material, podendo o conteúdo ser verdadeiro ou não.
São condutas equiparadas ao crime de falsificação de documento público, incorrendo nas mesmas penas o
agente que insere ou faz inserir, as que estão descritas nos incisos do § 3º, do art. 297, do CP.

Importante!
Cleber Masson (2018) destaca que se a falsidade lançada na Carteira de Trabalho e Previdência Social rela-
cionar-se com os direitos trabalhistas do empregado, incidirá o crime definido no art. 49, do Decreto-lei 5.452,
de 1943. Por seu turno, se a falsidade atingir a Previdência Social, estará caracterizado o crime tipificado no
inciso II, § 3º, art. 297, do CP.

É de suma importância você saber que não se pode confundir a falsidade material com a falsidade ideológica.

FALSIDADE MATERIAL FALSIDADE IDEOLÓGICA


O agente cria um documento falso ou modifica um docu- O agente falsifica a declaração que deveria constar no do-
mento verdadeiro cumento público ou privado, que é verdadeiro
O documento é materialmente falso O documento é materialmente verdadeiro, com o conteúdo
Altera-se o aspecto formal do documento, podendo o con- falso
teúdo ser verdadeiro ou não Altera-se o conteúdo do documento, mas o aspecto formal
Crimes: falsificação de documento público ou particular continua intacto
Por exemplo, criar uma certidão de nascimento Crime: falsidade ideológica
Por exemplo, alterar data de nascimento em certidão de
nascimento

Sobre o crime de falsificação de documento público, é importante que você leve em consideração as seguintes
informações:

z O crime é comum, que pode ser praticado por qualquer pessoa;


DIREITO PENAL

z Na hipótese de o agente ser funcionário público e, ainda, se prevaleça do cargo para praticar o delito, a pena
será aumentada em um sexto;
z O delito é doloso, não exige fim especial;
z Não admite a modalidade culposa;
z Admite a tentativa;
z O objeto material do crime é o documento público.

É muito importante que você saiba o que é documento público, para fins de configuração deste crime, já que
existe, também, o crime de falsificação de documento particular, já que eles são apenados de formas diferentes,
sendo aquele mais grave do que este. 361
Para fins de concurso público, pode-se conceituar A conduta é muito semelhante ao crime de falsifi-
documento público como aquele emitido por funcio- cação de documento público, sendo diferente no que
nário público, no exercício de suas funções, a serviço se refere ao objeto material do crime. Estes crimes
da União, estados-membros, Distrito Federal ou muni- também se diferenciam em relação à pena cominada.
cípios (emitido por órgãos ou entidades públicas).
Porém, o Código Penal equipara alguns outros
Falsificação de documento Falsificação de documento
documentos, embora emitidos por particulares, a público particular
documento público.
Objeto Material: documento Objeto material: documento
público particular
z Falsificação total: criação de todo o material
escrito que representa o documento. Pena: Reclusão, de dois a seis Pena: Reclusão, de um a cinco
z Falsificação parcial: há uma criação de uma par- anos, e multa anos, e multa
te falsa do documento público verdadeiro, a qual
pode dele ser individualizada.
Já estudamos o documento público e agora esta-
z Alteração de documento público: inserir ou
mos compreendendo o particular. Mas, o que é docu-
suprimir falsamente informações escritas no pró-
prio corpo do documento verdadeiro, após a sua mento particular?
criação. Documento particular é aquele que não é docu-
mento público, nem equiparado a documento públi-
ALTERAÇÃO FALSIFICAÇÃO PARCIAL co, por exemplo, cartão de identificação de veículo de
moradores de condomínio residencial.
A falsidade diz respeito Parte do documento, que Neste delito, a falsidade também pode ser mate-
às informações falsa- dele pode ser individuali- rial, alterando-se a forma estrutural do documento,
mente inseridas ou re- zada, é criada falsamente podendo o conteúdo ser verdadeiro ou não.
tiradas do papel, o que
É importante destacar sobre o crime de falsifica-
ocorre posteriormente
ção de documento particular o seguinte:
à criação do documento

z É crime comum;
O título ao portador é documento de crédito que z Admite a tentativa;
não informa o seu beneficiário, a exemplo do cheque z É delito doloso, sem a necessidade de exigir espe-
no valor de até R$ 100,00 (cem reais). O endosso é uma cial fim;
forma de transferir a propriedade de um título (do
z Aplica-se a Súmula 17, do STJ: Quando o falso se
endossante para o endossatário), como os cheques em
exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesi-
geral e as notas promissórias, que constituem exem-
va, é por este absorvido;
plos de títulos transmissíveis por endosso.
z Na hipótese de a falsificação ser grosseira, não irá
Falsificação de Documento Público X Estelionato: se configurar este crime, mas poderá se configurar
outro tipo penal.
Súmula 17 (STJ) Quando o falso se exaure no este-
lionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este Para fins de aplicação deste crime, equipara-se a
absorvido. documento particular o cartão de crédito ou de débito.

Esta súmula se refere à aplicação do princípio da Falsificação de Cartão


consunção ou absorção. Quando o crime de falsifica-
ção de documento público for meio para praticar o Art. 298 [...]
crime de estelionato, será por este absorvido. Parágrafo único. Para fins do disposto no caput,
Por exemplo, agente que, para obter ilícita van- equipara-se a documento particular o cartão de
tagem em prejuízo de terceiro, altera sua carteira de crédito ou débito.
identidade verdadeira, responderá apenas pelo crime
de estelionato caso a potencialidade lesiva da falsifica-
Falsidade Ideológica
ção fique exaurida com a prática do estelionato.
Caso a falsificação ou alteração sejam grosseiras,
Art. 299 Omitir, em documento público ou par-
haverá atipicidade deste crime, podendo configurar
ticular, declaração que dele devia constar, ou
outra infração penal.
nele inserir ou fazer inserir declaração falsa
ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de
Falsificação de Documento Particular
prejudicar direito, criar obrigação ou alterar
Art. 298 Falsificar, no todo ou em parte, docu- a verdade sobre fato juridicamente relevante:
mento particular ou alterar documento particular Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o
verdadeiro: documento é público, e reclusão de um a três anos,
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa. e multa, de quinhentos mil réis a cinco contos de
réis, se o documento é particular.
O crime de falsificação de documento particular Parágrafo único. Se o agente é funcionário públi-
é praticado quando o agente age de acordo com o co, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, ou
núcleo do tipo, ou seja, falsifica, no todo ou em parte, se a falsificação ou alteração é de assentamento de
documento particular ou altera (segundo núcleo do registro civil, aumenta-se a pena de sexta parte.
362 tipo) documento particular verdadeiro.
A FALSIDADE IDEOLÓGICA CONFIGURA-SE DAS A pena do crime será distinta conforme a natureza
SEGUINTES FORMAS: do documento:
Omitir, em documento Inserir ou fazer inserir, em do-
z Se documento público: Reclusão de um a cinco
público ou particular, cumento público ou particular,
declaração que dele declaração falsa ou diversa anos, e multa;
devia constar da que devia constar z Se documento privado: Reclusão de um a três
anos, e multa.

A falsidade ideológica pode ser praticada tanto em Sobre o crime de falso reconhecimento de firma ou
documento público quanto em documento particular, letra, você deve ficar atento ao seguinte:
tendo, como distinção, tão somente a pena, vejamos:
z É crime próprio, que só poderá ser praticado pelo
z Documento público: reclusão, de um a cinco anos, funcionário público que possui como atribuição
e multa; reconhecer firma ou letra (ex.: tabeliães);
z Documento particular: reclusão, de um a três z Admite a participação de particular, desde que
anos, e multa. conheça a condição de funcionário público do
agente;
Em relação ao crime de falsidade ideológica, é z Só poderá ser praticado dolosamente;
importante que você leve em consideração as seguin- z Não exige fim especial de agir (dolo específico);
tes informações: z Segundo posicionamento que prevalece, trata-se
de crime plurissubsistente, que admite, portanto,
z Não admite a modalidade culposa — só pode ser a tentativa;
praticado dolosamente; z A ação penal será pública incondicionada;
z Exige-se dolo específico (especial fim de agir): fim z Para diferenciar o crime de falso conhecimento de
de prejudicar direito, criar, obrigação ou alterar a firma ou letra, do crime de falsa perícia, devemos
verdade sobre fato juridicamente relevante; nos atentar ao contexto em que o agente está inse-
z É crime comum; rido. No primeiro crime, o agente possui atribui-
z Caso a conduta seja praticada sem uma das finali- ção para reconhecer firma ou letra, já no segundo,
dades específicas (dolo específico) vistas acima, o o agente é o perito que falseia a perícia e pode
crime não irá se configurar; envolver a análise de letra (exame grafotécnico).
z Admite a modalidade tentada nas condutas comis-
sivas, mas não admite, segundo posicionamen- Certidão ou Atestado Ideologicamente Falso
to doutrinário majoritário, na conduta omissiva
(omitir); Art. 301 Atestar ou certificar falsamente, em razão
de função pública, fato ou circunstância que habi-
z Neste crime, a forma do documento segue intacta;
lite alguém a obter cargo público, isenção de ônus
o que se falsifica é o conteúdo das informações con-
ou de serviço de caráter público, ou qualquer outra
tidas no documento público ou particular (com a vantagem:
omissão de declaração ou com a declaração falsa). Pena - detenção, de dois meses a um ano.

Causas de aumento de pena (aumento da sexta Conduta típica: atestar ou certificar falsamente,
parte — 1/6): em razão de função pública, fato ou circunstância que
habilite alguém a obter cargo público, isenção de ônus
z Se o agente é funcionário público, e comete o cri- ou de serviço de caráter público, ou qualquer outra
me prevalecendo-se do cargo. Não basta que seja vantagem.
praticado por funcionário público, para se aplicar Sobre este crime, é importante levar em conside-
a causa de aumento da pena, mas, também, que ele ração o seguinte:
se prevaleça do cargo para praticar o crime;
z Se a falsificação ou alteração é de assentamento de z Trata-se de crime próprio, que só pode ser prati-
registro civil. cado por funcionário público, em razão da função
pública;
Falso Reconhecimento de Firma ou Letra z Admite o concurso de pessoas com particulares,
desde que estes conheçam sobre a situação de fun-
Art. 300 Reconhecer, como verdadeira, no exer- cionário público;
cício de função pública, firma ou letra que o não z Não admite a modalidade culposa;
seja: z Admite a forma tentada;
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o z É crime de ação múltipla, que pode se configurar
DIREITO PENAL

documento é público; e de um a três anos, e multa, com a prática de quaisquer um dos verbos previs-
se o documento é particular. tos no tipo penal: atestar ou certificar;
z Para a configuração deste crime, exige-se que a
Este crime se configura com a prática da seguinte certificação ou o atestado se deem para as finali-
conduta típica: reconhecer, como verdadeira, no exer- dades previstas no tipo penal: habilitar alguém a
cício de função pública, firma ou letra que o não seja. obter cargo público; isentar de ônus ou de serviço
Entenda da seguinte forma: de caráter público, ou qualquer outra vantagem;
z Caso o crime tenha como finalidade a obtenção de
z Firma: assinatura; lucro (finalidade específica), será aplicada, além
z Letra: manuscrito daquele que assina. da pena privativa de liberdade, a pena de multa. 363
Falsidade Material de Atestado ou Certidão z Não admite a forma culposa — deve ser praticado
dolosamente;
Art. 301 [...] z Não exige fim especial de agir (dolo específico), sal-
§ 1º Falsificar, no todo ou em parte, atestado ou vo no caso de obtenção de lucro;
certidão, ou alterar o teor de certidão ou de atesta-
z Admite a tentativa;
do verdadeiro, para prova de fato ou circunstância
z Caso o médico pratique a conduta com finalidade
que habilite alguém a obter cargo público, isenção
de obter lucro (dolo específico), será aplicada a ele,
de ônus ou de serviço de caráter público, ou qual-
quer outra vantagem:
além da pena privativa de liberdade, a pena de
Pena - detenção, de três meses a dois anos. multa;
§ 2º Se o crime é praticado com o fim de lucro, apli- z Exige-se que a conduta praticada pelo médico se
ca-se, além da pena privativa de liberdade, a de dê no exercício da função.
multa.
Se o médico fornece o atestado no exercício de fun-
Ainda no § 1º, art. 301, do CP, temos um outro tipo ção pública (médico que trabalha em hospital público
penal: Certidão ou Atestado Ideologicamente Falso. — funcionário público), cometerá o crime previsto no
Sobre este crime, é importante levar em conside- art. 301 (certidão ou atestado ideologicamente falso).
ração o seguinte: Se o médico, funcionário público, aufere vanta-
gem para emissão de atestado falso, será constatado
z É crime comum, que poderá ser praticado por o crime de corrupção passiva, presente no capítulo
qualquer pessoa; “Crimes contra a Administração Pública”, do Código
Penal.
„ O crime previsto no caput deste artigo é crime É importante ressaltar também que, caso o falso
próprio (só pode ser praticado por funcionário atestado médico seja destinado à pratica de outro cri-
público autorizado a emitir atestados ou certi- me, tendo o médico ciência desta circunstância, será
dões), ao passo em que o crime do § 1º é crime este responsabilizado como partícipe pelo crime mais
comum. grave (princípio da consunção), restando absorvido o
crime do art. 302.
z Só pode ser praticado dolosamente — não admite
a forma culposa; Reprodução ou Adulteração de Selo ou Peça
Filatélica
„ É crime não transeunte (deixa vestígios mate-
riais), ou seja, é necessária a comprovação da Art. 303 Reproduzir ou alterar selo ou peça filaté-
materialidade do delito por meio de perícia; lica que tenha valor para coleção, salvo quando a
reprodução ou a alteração está visivelmente anota-
da na face ou no verso do selo ou peça:
z Admite a modalidade tentada;
Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
z É crime de ação múltipla, que pode ser pratica-
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem,
do mediante a execução de quaisquer uma das para fins de comércio, faz uso do selo ou peça
seguintes condutas: filatélica.

„ Falsificar, no todo ou em parte, atestado ou O crime tipificado neste artigo foi tacitamente
certidão; revogado pelo art. 39, da Lei nº 6.538, de 1978.
„ Alterar o teor de certidão ou atestado
verdadeiro. Uso de Documento Falso

Art. 304 Fazer uso de qualquer dos papéis falsifi-


Importante! cados ou alterados, a que se referem os arts. 297
Caso o crime tenha como finalidade a obtenção a 302:
Pena - a cominada à falsificação ou à alteração.
de lucro (finalidade específica), será aplicada,
também, a pena de multa.
Vamos recordar quais são os tipos penais previstos
entre os arts. 297 e 302, do Código Penal:
Falsidade de Atestado Médico
z Falsificação de documento público;
Art. 302 Dar o médico, no exercício da sua profis- z Falsificação de documento particular e Falsifica-
são, atestado falso: ção de cartão;
Pena - detenção, de um mês a um ano. z Falsidade ideológica;
Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim z Falso reconhecimento de firma ou letra;
de lucro, aplica-se também multa. z Certidão ou atestado ideologicamente falso;
z Falsidade material de atestado ou certidão;
Este crime tem como figura típica a seguinte con- z Falsidade de atestado médico.
duta: dar o médico, no exercício da sua profissão, ates-
tado falso. O uso de qualquer um dos documentos previstos
Sobre este crime, é importante levar em consideração: acima configura o crime de uso de documento falso,
respondendo o agente com a mesma pena correspon-
z É crime próprio, que só poderá ser praticado por dente à falsificação ou alteração.
364 médico;
Por exemplo, caso um agente seja surpreendido o expediu), mas sim o órgão ou entidade ao qual foi
utilizando um documento público falso, será respon- apresentado o documento.
sabilizado com a pena de reclusão de dois a seis anos, Caso o agente apresente o documento falso a um
e multa, mesma pena aplicada ao crime de falsificação órgão ou entidade federais, a exemplo da Polícia Rodo-
de documento público. viária Federal e do INSS, a competência para processo
Se o agente que fez uso do documento falso for o e julgamento será da Justiça Federal. Se o documento
mesmo que o falsificou, ele será responsabilizado de falso for apresentado a órgão ou entidade estaduais, a
que forma? exemplo das polícias civis ou da SANEAGO, o processo
Segundo entendimento que predomina no STJ, e julgamento será de competência da Justiça Estadual.
neste caso, deverá o agente responder apenas por fal-
sificação de documento público. Supressão de Documento
Assim, caso o agente falsifique e use o documento
falso, deverá responder apenas por aquele. Art. 305 Destruir, suprimir ou ocultar, em benefício
De acordo com o entendimento jurisprudencial próprio ou de outrem, ou em prejuízo alheio, docu-
do STF e STJ, o crime de uso, quando cometido pelo mento público ou particular verdadeiro, de que não
próprio agente que falsificou o documento, configura podia dispor:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa, se o
“post factum” não punível, vale dizer, é mero exauri-
documento é público, e reclusão, de um a cinco
mento do crime de falso. Há impossibilidade de con-
anos, e multa, se o documento é particular.
denação pelo crime previsto no art. 304, do Código
Penal.1
Trata-se de crime de ação múltipla, que poderá ser
Sobre este crime, é importante saber:
praticado com a execução das seguintes condutas:
z Para caracterização deste crime, não basta o mero
z Destruir, Suprimir e Ocultar: Documento públi-
porte do documento falso, exigindo-se que o agen-
co ou particular verdadeiro, de que não podia dis-
te o use efetivamente, apresentando-o a alguém;
por, em benefício próprio ou de outrem, ou em
z É crime comum, que pode ser praticado por qual- prejuízo alheio.
quer pessoa;
z É crime formal;
A pena do crime será diferente, a depender da
z Não admite a modalidade culposa — só pode ser natureza do documento destruído, suprimido ou
praticado dolosamente; ocultado.
z Não exige fim especial de agir (dolo específico);
z Caso o agente desconheça a falsidade do documen-
z Documento público: Reclusão, de dois a seis
to e o utilize, não há que se falar na configuração anos, e multa;
deste tipo penal, já que, como visto acima, o ele- z Documento particular: Reclusão, de um a cinco
mento subjetivo é somente o dolo; anos, e multa.
z Prevalece o entendimento de que não admite a
modalidade tentada, já que se trata de crime unis- Em relação aos tipos penais que apresentam penas
subsistente, perfazendo-se mediante a execução como visto acima, você deve ter um cuidado redobra-
de um único ato (ou o agente usa o documento e do ao analisar o tipo penal e possíveis questões de pro-
pratica o crime; ou o agente não usa o documento va sobre o tema.
e o fato será atípico); Sobre este crime, faz-se necessário ficar atento às
z Segundo o STJ, se o documento usado for grosseira- seguintes informações:
mente falsificado, perceptível aos olhos do homem
comum, não irá se configurar o crime de uso de z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
documento falso. quer agente;
z Não admite a modalidade culposa;
A Súmula 522, do STJ, diz respeito ao uso de docu- z É necessário que o agente pratique as condutas des-
mento falso e o instituto da autodefesa. Vejamos: critas no tipo penal em benefício próprio ou alheio
ou em prejuízo alheio (finalidade específica);
Súmula 522 (STJ) A conduta de atribuir-se falsa z Exige-se, para configuração deste tipo penal, que o
identidade perante autoridade policial é típica, ain- agente não possa dispor do documento público ou
da que em situação de alegada autodefesa. particular;
z Admite a tentativa.
A respeito da competência para processar e julgar
o crime de uso de documento falso, vejamos: FRAUDES EM CERTAMES DE INTERESSE PÚBLICO

Súmula 546 (STJ) A competência para processar Fraudes em Certames de Interesse Público
e julgar o crime de uso de documento falso é fir-
DIREITO PENAL

mada em razão da entidade ou órgão ao qual foi


Art. 311-A Utilizar ou divulgar, indevidamente,
apresentado o documento público, não importando
com o fim de beneficiar a si ou a outrem, ou de com-
a qualificação do órgão expedidor. prometer a credibilidade do certame, conteúdo sigi-
loso de:
Assim, caso o agente utilize uma carteira de iden- I - concurso público;
tidade falsa, não será relevante para fins de análise II - avaliação ou exame públicos;
de competência para processo e julgamento o órgão III - processo seletivo para ingresso no ensino supe-
expedidor do documento (unidade da federação que rior; ou

1 (STF — AP 530 — Rel. Min. Rosa Weber — Rel. p/ Acórdão: Min. Roberto Barroso — 1ª Turma — julgado em 9-9-2014). 365
IV - exame ou processo seletivo previstos em lei: z É crime comum, que pode ser praticado por qual-
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. quer pessoa.
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem permite ou
facilita, por qualquer meio, o acesso de pessoas não É comum acharem que se trata de crime próprio,
autorizadas às informações mencionadas no caput. que só pode ser praticado por funcionário público.
§ 2º Se da ação ou omissão resulta dano à adminis- Contudo, não é crime próprio. Na verdade, para este
tração pública: crime, a condição de funcionário público não é ele-
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. mentar, constituindo, contudo, causa de aumento de
§ 3º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o fato é pena de 1/3 (um terço).
cometido por funcionário público.
Vejamos os pontos importantes deste crime:
Este tipo penal foi editado para proteger a lisura z Não admite a modalidade culposa — só pode ser
dos certames de interesse público. praticado dolosamente;
Este crime tem como figura típica a prática da z Exige fim especial de agir (dolo específico): fim de
seguinte conduta: utilizar ou divulgar, indevidamen- beneficiar a si ou a outrem, ou de comprometer a
te, com o fim de beneficiar a si ou a outrem, ou de credibilidade do certame;
comprometer a credibilidade do certame, conteúdo z Trata-se de crime formal, que se consuma com a
sigiloso de: mera divulgação ou utilização das informações
sigilosas, ainda que o agente não consiga benefi-
z Concurso público (segundo Sanches, instrumento ciar a si ou a terceiro ou não consiga comprometer
de acesso a cargos e empregos públicos); a credibilidade do certame público;
z Avaliação ou exame públicos (segundo Sanches, z Admite a forma tentada;
abrange, por exemplo, os exames psicotécnicos); z Caso o agente promova a utilização ou divulgação
z Processo seletivo para ingresso no ensino superior das informações sigilosas devidamente (com justa
(conforme Sanches, engloba vestibulares e outras causa), não há que se falar na prática deste crime.
formas de avaliação para ingresso no ensino supe-
rior, a exemplo do ENEM); REFERÊNCIAS
z Exame ou processo seletivo previstos em lei (con-
forme ensina Rogério Sanches, a exemplo do exa- CAPEZ, F. Curso de Direito Penal. Vol. 1, 19. ed.
me da OAB). São Paulo: Saraiva, 2016.
CUNHA, R. S. Pacote Anticrimes — Lei 13.964, de
FRAUDES EM CERTAMES DE INTERESSE PÚBLICO 2019: Comentários às Alterações no CP, CPP e LEP.
Salvador: Juspodium, 2020.
Conduta: utilizar ou divulgar, indevidamente, com o GONÇALVES, V. E. R. Direito penal esquematiza-
fim de beneficiar a si ou a outrem, ou comprometer a do: parte especial. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.
credibilidade do certame, conteúdo sigiloso de : JESUS, D. Código Penal Anotado. 22. ed. São Paulo:
Saraiva, 2017.
Processo Exame ou
MASSON, C. Código Penal Comentado. 2. ed. São
Concurso Avaliação ou seletivo para processo Paulo: Método, 2019.
público exame públicos ingresso no seletivo previsto
ensino superior em lei

O crime de fraude em certames de interesse públi- CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO


ca apresenta uma forma equiparada, uma forma PÚBLICA
qualificada e uma forma majorada (com aumento de
pena): CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO
E POR PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃO
z Forma equiparada: incorre nas mesmas penas o PÚBLICA
agente que permite ou facilita, por qualquer meio,
o acesso de pessoas não autorizadas às informa- Nos crimes contra a Administração Pública, o bem
ções sigilosas relacionadas a concurso público; jurídico genericamente tutelado é a moralidade ou
avaliação ou exame públicos; processo seletivo probidade administrativa.
para ingresso no ensino superior; ou exame ou Tratam-se de crimes próprios, que exigem uma
processo seletivo previstos em lei; condição especial do sujeito ativo: ser funcionário
z Forma qualificada: se da ação ou omissão resultar público.
dano à administração pública; Os crimes praticados por funcionário público con-
z Forma majorada: a pena será aumentada de 1/3 tra a administração em geral são chamados de crimes
(um terço) se o fato é cometido por funcionário funcionais. Os crimes funcionais são aqueles prati-
público. cados contra a Administração Pública por indivíduo
que se encontra investido em uma função pública. São
Sobre este crime, é importante ficar atento às divididos em funcionais próprios, ou puros, e funcio-
seguintes informações: nais impróprios, ou impuros.
Os crimes funcionais próprios são aqueles que
z Este crime se aplica a certames de interesse públi- serão atípicos caso não sejam praticados por funcio-
co de maneira geral, e não apenas a concursos nários públicos. Segundo a doutrina, neste caso, ocor-
366 públicos em sentido estrito; rerá uma hipótese de atipicidade absoluta.
Os crimes funcionais impróprios são aqueles que Governador de Estado, escreventes, Prefeitos,
serão desclassificados para outras infrações penais vereadores, faxineiros do fórum etc.).
caso não sejam praticados por funcionários públicos.
Segundo a doutrina, neste caso, ocorrerá uma hipóte- Além dos dispositivos legais, é importante termos
se de atipicidade relativa. ciência de alguns julgados que estabelecem que são
Já a conduta que define o crime de peculato-furto, considerados funcionários públicos para fins penais:
praticada por meio do verbo subtrair, será desclassi-
ficada para o crime de furto, caso não seja praticada z Diretor de organização social;2
por um funcionário público. z Administrador de Loteria;3
O Código Penal, em seu art. 327, define o que é fun- z Advogados dativos;4
cionário público. Vejamos: z Médico de hospital particular credenciado/conve-
niado ao SUS;5
Art. 327 Considera-se funcionário público, para os z Estagiário de órgão ou entidade públicos;6
efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou
sem remuneração, exerce cargo, emprego ou fun- Nestes termos, não são considerados funcionários
ção pública. públicos para fins penais os depositários judiciais.7
§ 1º Equipara-se a funcionário público quem exerce No § 2º, do art. 327, o Código Penal apresenta uma
cargo, emprego ou função em entidade paraestatal,
causa de aumento de pena aplicável a todos os crimes
e quem trabalha para empresa prestadora de ser-
praticados por funcionário público contra a adminis-
viço contratada ou conveniada para a execução de
atividade típica da Administração Pública.
tração em geral. Observe:
§ 2º A pena será aumentada da terça parte quan- A pena será aumentada de 1/3 (terça parte) quan-
do os autores dos crimes previstos neste Capítu- do os autores dos crimes praticados por funcionário
lo forem ocupantes de cargos em comissão ou de público contra a administração em geral forem ocu-
função de direção ou assessoramento de órgão da pantes de cargos em comissão ou de função de direção
administração direta, sociedade de economia mis- ou assessoramento de órgão da administração direta,
ta, empresa pública ou fundação instituída pelo sociedade de economia mista, empresa pública ou fun-
poder público. dação instituída pelo poder público.
É importante saber que a pena não será aumen-
tada caso o funcionário público ocupe cargo em
Importante! comissão ou função de direção ou assessoramento em
autarquias, por falta de previsão legal. Lembre-se de
Para o Direito Penal, funcionário público é aquele que o nosso ordenamento jurídico não admite a ana-
que, embora transitoriamente ou sem remunera- logia para prejudicar o agente.
ção, exerce cargo, emprego ou função pública. Não podemos deixar de tratar do concurso de pes-
Como é possível de se observar, o conceito de soas nos crimes funcionais.
funcionário público é bastante amplo. No § 1º, Os crimes funcionais são crimes próprios, à medi-
art. 327, o Código Penal equipara a funcionário da que o autor deve ser funcionário público e, em
público quem exerce cargo, emprego ou função regra, não podem serem praticados por qualquer pes-
em entidade paraestatal, e quem trabalha para soa. Todavia, admitem a participação e a coautoria,
empresa prestadora de serviço contratada ou bem como a autoria mediata.
conveniada para a execução de atividade típica Os crimes funcionais são próprios, porém admi-
da Administração Pública. tem a coautoria de particular, sendo possível que este
venha a ser responsabilizado por delito funcional
contra a Administração Pública, desde que pratique a
O art. 327, do CP, faz menção a cargo público, infração penal em concurso com funcionário público
emprego público e função pública. Vamos distinguir: e que tenha conhecimento desta qualidade.
Isso é decorrente da teoria monista ou unitária da
z Cargo público é o criado por lei, com nomencla- ação, prevista nos arts. 29 e 30, do CP, segundo a qual
tura e número certo, junto à administração direta; todo aquele que concorre para o crime responde para
z Emprego público, por sua vez, é a função pública o mesmo crime.
exercida em caráter temporário ou extraordinário Vamos exemplificar: José, funcionário público,
(por exemplo, diarista que presta serviço de faxi- convida seu amigo de infância, Jonas, para juntos
na em uma repartição pública). Assim, obtém-se subtraírem um computador na repartição pública em
por exclusão o conceito de emprego público como que aquele trabalha. O funcionário público obteria
sendo todo aquele que não se classifica como cargo facilidades para praticar o crime, já que havia ficado
público; com a chave da repartição naquele período. No dia
z Função pública é toda e qualquer atividade que determinado, os agentes vão ao local e subtraem o
realiza os fins próprios do Estado (por exemplo, computador.
DIREITO PENAL

perito judicial, estagiário do Ministério Público ou No exemplo apresentado, tanto José quanto Jonas
da Defensoria Pública ou de qualquer outro órgão responderão pelo crime de peculato (vamos estudar
público, juiz de direito, Presidente da República, suas características a seguir), já que praticaram a
2 STF. 1ª Turma. HC 138484/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 11/9/2018 (Info 915).
3 STJ. 5ª Turma. AREsp 679.651/RJ, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 11/09/2018.
4 STJ. 5ª Turma. HC 264.459- SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 10/3/2016 (Info 579).
5 STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1101423/RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 06/11/2012.
6 STJ. 6ª Turma. REsp 1303748/AC, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 25/06/2012.
7 STJ. 6ª Turma. HC 402949-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 13/03/2018 (Info 623). 367
conduta em concurso de pessoas e a condição de cará- patrimônio do próprio funcionário público ou de ter-
ter pessoal (ser funcionário público) comunica-se aos ceiros, não se configurando o tipo penal caso ocorra
demais agentes (é necessário que eles conheçam a mero desvio de finalidade.
condição). Uma parte minoritária da doutrina defende que,
Vejamos agora cada um dos crimes funcionais: para que se configure o peculato-desvio, não é neces-
sária a intenção de assenhoramento (apoderar-se) por
Peculato parte do funcionário público, podendo se configurar
com o mero uso irregular da coisa pública, em provei-
Art. 312 Apropriar-se o funcionário público de to próprio ou alheio.
dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, Com base no que foi exposto acima, é importante
público ou particular, de que tem a posse em mencionar que o peculato de uso, em regra, é conside-
razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito pró- rado figura atípica.
prio ou alheio: Segundo Cleber Masson, o uso momentâneo de coi-
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
sa infungível, sem a intenção de incorporá-la ao patri-
§ 1º Aplica-se a mesma pena, se o funcionário públi-
mônio pessoal ou de terceiro, seguido da sua integral
co, embora não tendo a posse do dinheiro, valor
ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja
restituição a quem de direito, é atípico.
subtraído, em proveito próprio ou alheio, valen- É necessário sabermos o que significa infungível.
do-se de facilidade que lhe proporciona a qua- O art. 85, do CC, dispõe que são fungíveis os móveis
lidade de funcionário. que podem substituir-se por outros da mesma espécie,
qualidade e quantidade.
O crime de peculato, previsto no art. 312, do CP, é O Código Civil não define os bens infungíveis,
dividido doutrinariamente da seguinte forma: mas podemos compreender que são os bens que não
podem ser substituídos por outros da mesma espécie,
z Peculato próprio: quantidade e qualidade.
É importante mencionar que é necessário, para
„ Peculato-apropriação; que não seja típica a conduta do peculato de uso, que
„ Peculato-desvio. o bem seja infungível e não consumível, a exemplo de
um carro oficial ou de um computador.
z Peculato impróprio: Caso o bem seja fungível e consumível, a exemplo
do dinheiro, a conduta será típica.
„ Peculato-furto. Se a conduta relacionada ao peculato de uso for
praticada por Prefeito, o fato será típico, independen-
z Peculato culposo; temente da natureza do bem, por expressa previsão
z Peculato mediante erro de outrem (peculato legal no inciso II, art. 1º, do Decreto-Lei nº 201, de 1967.
estelionato).

O peculato-apropriação configurar-se-á quando Importante!


o funcionário público se apropriar de dinheiro, valor O administrador que desconta valores da folha
ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de pagamento dos servidores públicos para
de que tem a posse em razão do cargo; por exemplo,
quitação de empréstimo consignado e não os
vereador que se apropria de bens (aparelho de celu-
repassa à instituição financeira pratica pecula-
lar, notebook) do qual tem posse em razão do cargo
(eletivo) que ocupa.
to-desvio, sendo desnecessária a demonstra-
É muito importante que você fique atento, em rela- ção de obtenção de proveito próprio ou alheio,
ção ao peculato-apropriação, ao seguinte: bastando a mera vontade de realizar o núcleo do
tipo.8 Deste modo, podemos constatar que bas-
z Para que se configure, é necessário que o agente ta a destinação diversa daquela que deveria ter
tenha a posse do bem em razão do seu cargo; o bem para que se consume o crime de pecu-
z O bem pode ser público ou particular (imagine um lato-desvio. A obtenção de vantagem indevida é
objeto particular — notebook — apreendido em mero exaurimento do crime. Trata-se de crime
uma delegacia de polícia); formal.
z O sujeito passivo é a Administração Pública; con-
tudo, no caso de bem particular, o dono do bem
também será sujeito passivo do delito. O peculato-furto configurar-se-á quando o funcio-
nário público, embora não tendo a posse do dinheiro,
O peculato-desvio ocorrerá quando o funcioná- valor ou bem, subtrai-lo, ou concorrer para que ele
rio público desviar, em proveito próprio ou alheio, seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valen-
dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, públi- do-se de facilidade proporcionada pela qualidade de
co ou particular. O funcionário público dá destinação funcionário.
diversa ao bem que está sob sua responsabilidade; O peculato-furto pode ser praticado de duas
esse desvio será necessariamente em proveito próprio formas:
ou alheio. Segundo posicionamento majoritário (ape-
sar de algumas posições jurisprudenciais em sentido z Subtraindo o dinheiro, valor ou bem;
contrário), para que se configure o peculato-desvio, é z Concorrendo para que seja subtraído o dinheiro,
necessário que o bem seja desviado para integrar o valor ou bem.
8 APn 814-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Rel. Acd. Min. João Otávio de Noronha, Corte Especial, por maioria, julgado em 06/11/2019,
368 DJe 04/02/2020.
É importante mencionar que: Neste sentido, Damásio ensina que no peculato
culposo podem ocorrer as seguintes situações:
z Para que se configure este crime, é necessário que
o funcionário público não tenha a posse da coisa; z Um funcionário, por culpa, concorre para que
z O primeiro é o verbo “subtrair”, que é o fato de o bem outro funcionário cometa peculato (caput ou § 1º);
ser arrebatado pelo próprio funcionário público; z Um funcionário, por culpa, concorre para que
z O segundo é o verbo “concorrer”, que significa outro funcionário ou um particular cometam o
induzir, instigar ou auxiliar uma outra pessoa a fato;
realizar a subtração (por exemplo, o funcionário z Um funcionário, por culpa, concorre para que um
público distrai os demais para que o seu amigo, particular cometa o fato (furto etc.).
que é ladrão, ingresse na repartição para surru-
piar os bens); Vejamos: José, agente de polícia legislativa, esque-
z Para que se configure o peculato-furto, é necessá- ce, por omissão, já que queria assistir a um jogo de
rio que o ato seja doloso; futebol, de trancar uma porta da Câmara Legislativa
z A qualidade de funcionário público deve acarretar do Distrito Federal, ao qual somente ele tem acesso.
alguma facilidade para a subtração da coisa. Caso No ambiente em que a porta se encontra, há vários
não haja facilidade, o agente responderá por furto objetos de valor considerável para o Poder Legislativo
normalmente. distrital. Simba, também policial legislativo, aprovei-
tando-se do fato de a porta estar aberta, ingressa no
Vamos trazer dois exemplos: local e subtrai uma câmera fotográfica.
Exemplo 1: Carlos é funcionário público. Certo Neste exemplo, José poderá ser responsabiliza-
dia, na hora de sair, valendo-se do fato de estar sozi- do criminalmente pelo crime de peculato culposo, já
nho na repartição, Carlos subtrai um notebook do que concorreu culposamente para o crime de outrem
órgão público. Está certamente configurado o crime
(peculato-furto de Simba). O agente foi omisso ao dei-
de peculato-furto, já que a condição de funcionário
xar de trancar a porta, fator que contribuiu para a
público de Carlos foi uma facilidade para que ele sub-
prática da subtração.
traísse o bem.
Exemplo 2: Michele é funcionária pública de Tri-
Art. 312 […]
bunal Federal. Certo dia, ao passar em frente a uma
§ 3º No caso do parágrafo anterior, a reparação do
escola que se encontra próxima a sua casa, Michele dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a
percebe que o vigilante esqueceu a porta dos fundos punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a
aberta, estando próximo um aparelho celular da esco- pena imposta.
la. Michele entra pela porta e subtrai o aparelho. Não
há que se falar em peculato-furto, já que a qualidade Sobre o peculato culposo, é importante saber que o
de funcionária pública de Michele em nada contri- § 3º, do art. 312, do CP, dispõe que:
buiu para a prática da subtração, podendo qualquer
pessoa, na mesma situação, praticar a conduta deli-
z Se a reparação do dano resultante do peculato cul-
tuosa apresentada pelo exemplo. Michele responderá
poso ocorrer antes de a sentença transitar em jul-
pelo crime de furto.
gado, extingue a punibilidade;
Observe que:
z Se a reparação do dano resultante do peculato cul-
poso ocorrer após a sentença transitar em julgado,
z Admite a modalidade tentada, já que se trata de a pena será reduzida da metade.
crime plurissubsistente (atos múltiplos, ou seja, o
autor entra no local, o autor subtrai a coisa); Art. 313 Apropriar-se de dinheiro ou qualquer uti-
z O bem subtraído pode ser público ou particular; lidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro
z O sujeito passivo é a administração pública. Caso de outrem:
o bem seja particular, também será sujeito passivo Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
da infração penal o dono do bem;
z É crime material. O peculato mediante erro de outrem está previs-
to no art. 313, do CP, configurando-se quando o funcio-
Peculato Culposo nário público se apropriar de dinheiro ou qualquer
utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro
Art. 312 […] de outrem.
§ 2º Se o funcionário concorre culposamente Parte da doutrina chama esta modalidade de
para o crime de outrem: peculato-estelionato.
Pena - detenção, de três meses a um ano. Sujeito ativo é o funcionário público que, por erro
de outrem, toma posse de um bem móvel, em razão
DIREITO PENAL

O peculato culposo, previsto no § 2º, art. 312, con- da função, apropriando-se do mesmo. O terceiro que
figura-se quando o funcionário público concorre cul- induz o funcionário a apropriar-se do bem que rece-
posamente para o crime de outrem. beu por erro será partícipe deste delito de peculato
Dos crimes praticados por funcionário público mediante erro.
contra a administração em geral, o peculato é o úni- O elemento subjetivo do tipo é o dolo subsequente,
co que prevê expressamente a possibilidade de ser isto é, posterior ao recebimento da coisa.
cometido na modalidade culposa. Em um primeiro momento, o funcionário público
No peculato culposo, o funcionário público não toma posse do bem de boa-fé, sem constatar o erro
tem intenção em praticar o crime, contudo, por culpa, alheio, mas, posteriormente, após detectar o erro,
acaba concorrendo para a subtração da coisa. apropria-se da coisa. 369
É importante levar em consideração as seguintes É necessário, para a tipificação do delito, que as
características do crime de peculato mediante erro de condutas acima sejam realizadas em sistema informa-
outrem: tizado (computador) ou bancos de dados (fichários,
livros ou outro meio físico) da Administração Pública.
z É crime material, que se consuma quando o agen- Objeto material:
te inverte a propriedade do dinheiro ou outra uti-
lidade, sabendo que eles chegaram ao seu poder z Sistemas informatizados ou bancos de dados da
por erro de outra pessoa, passando a agir como se Administração Pública
dono fosse;
z Segundo a doutrina majoritária, admite a modali-
Finalidade (dolo específico):
dade tentada;
z O funcionário público deve receber a coisa em
razão do cargo que exerce; z Obter vantagem indevida para si ou para outrem;
z O sujeito passivo é a Administração Pública. Caso z Causar dano.
o bem seja particular, também será sujeito passivo
o dono do bem; O elemento subjetivo do tipo é o dolo específico,
z Parte da doutrina entende que se a pessoa for que consiste no fim de obter vantagem indevida para
induzida a erro, configurar-se-á o crime de estelio- si ou para outrem ou causar dano à Administração
nato, previsto no art. 171, do CP, sendo necessário, Pública ou a uma terceira pessoa.
para caracterização do crime de peculato median- Sem esta finalidade de obter vantagem ou causar
te erro de outrem, que a vítima entregue a coisa dano, haverá o crime do art. 313-B, do CP.
por erro próprio. O crime consuma-se com a conduta, independen-
temente do resultado. Trata-se de crime formal, que
Inserção de Dados Falsos em Sistemas de se caracteriza ainda que a vantagem ou o dano alme-
Informação jado não se verifique.
Admite-se a tentativa na hipótese de o agente ser
O crime de inserção de dados falsos em sistemas
surpreendido antes de ultimar a conduta, por exem-
de informação está previsto no art. 313-A, do CP:
plo, agente é flagrado quando iniciava a supressão dos
Art. 313-A Inserir ou facilitar, o funcionário autori- dados corretos.
zado, a inserção de dados falsos, alterar ou excluir
indevidamente dados corretos nos sistemas infor- Modificação ou Alteração Não Autorizada de
matizados ou bancos de dados da Administração Sistemas de Informação
Pública com o fim de obter vantagem indevida para
si ou para outrem ou para causar dano: O crime de modificação ou alteração não autori-
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e zada de sistemas de informação está previsto no art.
multa.
313-B, do Código Penal.

Dica Art. 313-B Modificar ou alterar, o funcionário,


“Inserção de dados falsos em sistemas de sistema de informações ou programa de infor-
informação” é também chamado de peculato mática sem autorização ou solicitação de autori-
eletrônico. dade competente:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos,
e multa.
Sujeito ativo é apenas o funcionário público auto-
Parágrafo único. As penas são aumentadas de
rizado a inserir ou excluir dados do sistema. Outros
um terço até a metade se da modificação ou altera-
funcionários que não dispõem desta competência res-
ção resulta dano para a Administração Públi-
pondem pelo crime do art. 313-B, do CP. Trata-se de
ca ou para o administrado.
crime próprio.
A fraude no sistema informatizado ou em bancos
Trata-se de crime próprio, sendo praticado somen-
de dados pelo funcionário competente, para obter
te por funcionário público, qualquer que seja a sua
vantagem para si ou para outrem, caracteriza o delito
função, estando autorizado ou não a manipular sis-
em análise, sendo que o estelionato, por ser um crime
menos grave, é absorvido. temas de informações ou programas de informática.
Para que este crime se configure, é necessário que A consumação deste crime se dá com a modifica-
as condutas descritas no tipo penal sejam praticadas ção ou alteração não autorizada do sistema. Não é
por funcionário público autorizado a operar os siste- necessário um especial fim de agir.
mas informatizados ou bancos de dados da Adminis- Caso o funcionário público seja autorizado ou pra-
tração Pública. tique a conduta por solicitação da autoridade compe-
Trata-se de crime plurinuclear, já que o tipo penal tente, o fato será atípico.
descreve vários verbos que podem ser praticados A pena deste crime será aumentada de 1/3 (um
para a sua configuração. terço) até metade caso da modificação ou alteração
Condutas: resulte dano para a Administração Pública ou para o
administrado.
z Inserir dados falsos; Fique atento às diferenças entre os tipos penais
z Facilitar a inserção de dados falsos; do crime de inserção de dados falsos em sistemas de
z Alterar dados corretos; informação e do crime de modificação ou alteração
370 z Excluir indevidamente dados corretos. não autorizada de sistemas de informação:
MODIFICAÇÃO OU AL- Exige que o emprego irregular aconteça em bene-
INSERÇÃO DE DADOS fício da própria Administração Pública, contrariando
TERAÇÃO NÃO AUTO-
FALSOS EM SISTEMAS a legislação, não podendo o agente desviar as verbas
RIZADA DE SISTEMAS
DE INFORMAÇÃO ou rendas em benefício próprio, sob pena de respon-
DE INFORMAÇÃO
der por outro crime.
Verbos: Inserir, facilitar a Verbos: modificar ou alterar Vamos exemplificar: a Câmara Legislativa do
inserção, alterar, excluir Se praticado por funcio- Município XYZ aprova a utilização de um milhão de
indevidamente nário autorizado, será fato reais para construção de uma passarela. A autoridade
Deve ser praticado por atípico pública competente utiliza a verba mencionada para
funcionário autorizado Não exige dolo específico a construção de uma escola.
Exige dolo específico de Pronto, configurou-se o crime de emprego irregu-
obter vantagem indevida lar de verbas ou rendas públicas. O agente deu às ver-
ou de causar dano bas públicas destinação diversa daquela estabelecida
em lei.
Extravio, Sonegação ou Inutilização de Livro ou Observe que a destinação da verba ocorreu no inte-
Documento resse da administração, já que, caso se dê em benefí-
cio próprio, o agente responderá por outro crime.
Está previsto no art. 314, do Código Penal. É importante mencionar a aplicação da excludente
de ilicitude do estado de necessidade: caso o empre-
Art. 314 Extraviar livro oficial ou qualquer docu- go se dê devido a uma situação de perigo iminente
mento, de que tem a guarda em razão do cargo; (utilizou-se verba pública destinada ao esporte para
sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente: se construir um abrigo durante perigo de chuvas que
Pena - reclusão, de um a quatro anos, se o fato não desabrigaram grande parte da população), o fato será
constitui crime mais grave. típico, mas não será antijurídico.
Sobre o emprego irregular de verbas ou rendas
Os núcleos do tipo são os verbos extraviar (fazer públicas, é importante mencionar:
desaparecer), sonegar (não apresentar) e inutilizar
(tornar imprestável). z Este crime será praticado pelo funcionário público
Sobre este crime, é importante que você saiba: que tem poder de decisão sobre as verbas ou ren-
das públicas, podendo delas dispor;
z Trata-se de crime subsidiário (o crime fica absorvi- z Não exige nenhum fim específico;
do quando o fato constitui crime mais grave), res- z Não admite a modalidade culposa;
pondendo por ele, o funcionário público, apenas se z Admite a tentativa;
não se configurar crime mais grave; z Não exige a ocorrência de dano pela Administra-
z Não admite a modalidade culposa; ção Pública para a sua configuração.
z Admite tentativa;
z O extravio, a sonegação e inutilização podem ser Concussão
parciais ou totais.
Art. 316 Exigir, para si ou para outrem, direta
Sujeito ativo é apenas o funcionário público res- ou indiretamente, ainda que fora da função ou
ponsável pela guarda do livro oficial ou documen- antes de assumi-la, mas em razão dela, vanta-
to. Se a conduta for praticada por outro funcionário gem indevida:
público, o crime será o previsto no art. 337, do CP. Caso Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
seja praticado por advogado ou procurador, que inu-
tiliza documento ou objeto do processo, o enquadra- No crime de concussão, o funcionário público,
mento será no art. 356, do CP. valendo-se de sua autoridade, exige (conduta mais
O delito em estudo é subsidiário, pois só será apli- forte do que apenas pedir) o pagamento de vanta-
cado se não houver outro crime mais grave. gem não devida pela pessoa. O particular, por temer
Assim, o funcionário público que recebe dinheiro qualquer represália por parte do funcionário público,
para destruir livro ou documento responderá apenas pode ou não pagar a vantagem indevida.
pelo crime de corrupção passiva, que é mais grave. Vamos exemplificar: funcionário público, agen-
Por fim, quando se tratar de livros ou documentos te de trânsito, exige de particular a quantia de R$
relativos a tributos, o funcionário que tinha a guar- 2.000,00 para que libere o seu veículo, sob pena de
da e praticou uma das condutas acima responderá levá-lo indevidamente ao pátio do Detran.
pelo crime do inciso I, art. 3º, da Lei nº 8.137, de 1990, A vantagem indevida, segundo posicionamento
quando o fato acarretar pagamento indevido ou ine- majoritário, não necessita ser patrimonial, podendo
xato de tributo. ser qualquer outra vantagem.
DIREITO PENAL

É importante mencionar que a concussão ocorrerá


Emprego Irregular de Verbas ou Rendas Públicas em razão da função do agente público, não se exigindo
que o fato seja praticado no efetivo desempenho das
Art. 315 Dar às verbas ou rendas públicas aplica- atribuições do cargo. Sendo assim, este crime pode ser
ção diversa da estabelecida em lei: cometido por funcionário público de férias e, segundo
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. a doutrina dominante, nomeado, mas não empossado
(antes de assumir).
Este crime não se aplica ao Prefeito Municipal, res- A violência ou grave ameaça (morte, prisão) não
pondendo este pelo crime previsto em lei específica, o são elementos integrantes do crime de concussão.
Decreto nº 201, de 1967. 371
Se o funcionário público exigir o pagamento de O núcleo do tipo é o verbo exigir que, diferente-
vantagem indevida, mediante violência ou grave mente do crime de concussão, não significa uma
ameaça, estará cometendo o crime de extorsão, pre- ameaça, mas sim a simples cobrança indevida.
visto no art. 158, do Código Penal. A cobrança é indevida quando o tributo ou a con-
Sobre a concussão, é importante que você conheça tribuição social não existe ou então já foi pago, bem
as seguintes informações, frequentemente cobradas como na hipótese em que a cobrança é excessiva, em
em prova: valor maior que o devido.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo, que consiste
z Não pode ser praticada na modalidade culposa; no fato de o agente ter consciência, ou dúvida, de que
z Trata-se de crime formal, que se consuma com a se trata de uma cobrança indevida.
prática da exigência, sendo o recebimento da van- Na segunda modalidade criminosa, cobrança
tagem mero exaurimento do crime; vexatória ou gravosa, o tributo ou contribuição social
z O particular, de quem se exigiu a vantagem inde- é devido. O problema reside no “modus operandi” da
vida, é sujeito passivo secundário deste crime. A cobrança, que é feita de forma vexatória, humilhante,
Administração Pública é o sujeito passivo primário; ou gravosa, vale dizer, com a imposição de medidas
z Em regra, não admite a tentativa, salvo quando totalmente desnecessárias.
for possível fracionar o iter criminis, a exemplo da Neste caso, o crime consuma-se com a simples
concussão praticada mediante carta endereçada à cobrança vexatória ou gravosa, independentemente
vítima; do recebimento.
z É possível praticar a concussão indiretamente, Admite-se a tentativa quando a cobrança vexató-
quando, por exemplo, o funcionário público exi- ria ou gravosa é realizada por escrito, mas, por cir-
ge a vantagem indevida por intermédio de outra cunstâncias alheias à vontade do agente, é descoberta
pessoa. antes que a vítima tomasse conhecimento.
Vejamos: José, funcionário público da prefeitu-
É importante diferenciar concussão e corrupção ra do Município de Simplicidade, sabendo que seu
passiva: vizinho, Márcio, deve dez mil reais em tributo, para
cobrá-lo, coloca uma faixa enorme na entrada da rua,
Tem no núcleo do tipo o verbo “exi- com a seguinte frase escrita: “Márcio, deixe de ser
gir” — há um caráter intimidativo na irresponsável e pague os dez mil reais que você deve
CONCUSSÃO de tributo à prefeitura”.
conduta
O ato de exigir é algo impositivo No exemplo, José cobrou imposto devido, fazendo
uso de meio vexatório, não autorizado por lei, confi-
Tem os verbos “solicitar ou receber, gurando-se, assim, o excesso de exação.
ou aceitar” Sobre o excesso de exação, é importante
Solicitar é pedir, o que, portanto, não mencionar:
CORRUPÇÃO pressupõe intimidação
PASSIVA Receber e aceitar pressupõem uma z Não admite a modalidade culposa, pois a expres-
conduta ativa do particular, ou seja, são “que sabe” é dolo direto, e a expressão “devia
além de não ocorrer intimidação, há saber” é dolo eventual;
uma conduta inicial do terceiro z Admite a tentativa quando for possível fracionar o
iter criminis, a exemplo do excesso de exação prati-
Excesso de Exação cado mediante carta endereçada à vítima.

O excesso de exação, previsto no § 1º, art. 316, do Art. 316 […]


CP, é uma forma de concussão. Configura-se quando § 2º Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou
o funcionário público exige tributo ou contribuição de outrem, o que recebeu indevidamente para reco-
lher aos cofres públicos:
social, que sabe ou deveria saber indevido, ou, quan-
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.
do devido, emprega na cobrança meio vexatório ou
gravoso, que a lei não autoriza.
Se o funcionário desviar, em proveito próprio ou
Art. 316 [...]
de outrem, o que recebeu indevidamente para reco-
§ 1º Se o funcionário exige tributo ou contribui- lher aos cofres públicos, responderá por excesso de
ção social que sabe ou deveria saber indevido, exação na modalidade qualificada.
ou, quando devido, emprega na cobrança meio Quando observamos a forma qualificada do exces-
vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza: so de exação, é possível compreender que o tipo penal
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. não exige que o funcionário público tenha a intenção
de ficar para si ou para outro aquilo que recebeu. Caso
Exação significa correção, exatidão. o faça, responderá pelo crime na forma qualificada.
Na concussão propriamente dita, exige-se que o fun-
cionário público pratique a conduta visando obter a
Importante! vantagem indevida para si ou para outrem, constituin-
do-se, assim, elemento de distinção entre os tipos penais.
São duas as formas de cometer este delito:
� Exigência indevida de tributo ou contribuição Corrupção Passiva
social;
� Cobrança devida de tributo ou contribuição Art. 317 Solicitar ou receber, para si ou para
social, mas de forma vexatória ou gravosa. outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora
372 da função ou antes de assumi-la, mas em razão
dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa z É possível praticar a corrupção passiva indireta-
de tal vantagem: mente, quando, por exemplo, o funcionário públi-
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e co exige a vantagem indevida por meio de outra
multa. pessoa.

A corrupção passiva, prevista no art. 317, do Códi- É importante realizar um breve paralelo com o cri-
go Penal, configurar-se-á quando o funcionário públi- me de corrupção ativa, que será estudado no tópico
co solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta dos crimes cometidos por particulares contra a admi-
ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes nistração em geral, que é aquela em que o particular
de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, oferece ou promete vantagem indevida a funcionário
ou aceitar promessa de tal vantagem. público.
A doutrina classifica a corrupção passiva em pró- Atenção! Na corrupção passiva, o particular que
pria ou imprópria, antecedente ou subsequente:
paga a vantagem indevida solicitada pelo funcio-
nário público não pratica crime algum, por falta de
z Própria: Quando o funcionário público pratica os
tipicidade penal.
verbos do tipo penal para praticar ato ilícito (por
O crime de corrupção, seja ativa ou passiva, é unila-
exemplo, oficial de justiça recebe dinheiro para
teral e formal — são independentes em si. A compro-
retardar o cumprimento do mandado de citação);
vação de um dos crimes não pressupõe a do outro.
z Imprópria: Quando o funcionário público pratica
A corrupção passiva possui uma forma privilegiada.
os verbos do tipo penal para praticar ato lícito (por
exemplo, escrevente solicita dinheiro para que a
Art. 317 […]
certidão seja expedida dentro do prazo);
§ 2º Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou
z Antecedente: Quando a vantagem indevida é
retarda ato de ofício, com infração de dever funcio-
entregue ao funcionário público antes de sua ação nal, cedendo a pedido ou influência de outrem:
ou omissão (por exemplo, juiz recebe vantagem Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
indevida para prolatar sentença absolutória);
z Subsequente: Quando a vantagem indevida é Observe que na corrupção passiva privilegiada
entregue ao funcionário público depois de sua o agente pratica a conduta não com a finalidade de
ação ou omissão (por exemplo, após retardar o conseguir alguma vantagem indevida, mas sim com
processo até levá-lo à prescrição, o juiz solicita
a finalidade de ceder a pedido ou influência de outro.
vantagem indevida ao réu).
Trata-se de crime material e consuma-se quando
o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda o
Observe que a corrupção passiva pode ser direita
ato de ofício.
ou indireta:
Por outro lado, a pena da corrupção passiva será
aumentada de 1/3 (um terço) se, em consequência
z Direta: quando é o próprio funcionário público
da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou
que solicita, recebe ou aceita promessa de vanta-
deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica
gem indevida;
infringindo dever funcional.
z Indireta: quando uma interposta pessoa, em con-
luio com o funcionário público, solicita, recebe
Art. 317 […]
ou aceita promessa de vantagem indevida. Nesse
§ 1º A pena é aumentada de um terço, se, em con-
caso, tanto o “testa de ferro” quanto o funcionário
sequência da vantagem ou promessa, o funcionário
público responderão por corrupção passiva.
retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício
ou o pratica infringindo dever funcional.
Entende a doutrina majoritária que o mero presen-
te recebido pelo funcionário público, por gratidão ou
amizade (por exemplo, uma lembrancinha de natal) Importante!
não configura o crime de corrupção passiva.
A vantagem indevida, segundo posicionamento Não seja surpreendido por pegadinhas em pro-
majoritário, não necessita ser patrimonial, podendo va: a corrupção passiva e a concussão diferen-
ser qualquer outra vantagem. ciam-se nos verbos que configuram o tipo penal
Sobre a corrupção passiva, leve em consideração incriminador.
que: � Corrupção passiva: solicitar, receber ou aceitar
promessa;
z Não pode ser praticada na modalidade culposa; � Concussão: exigir.
z Trata-se de crime formal, quando praticada por
DIREITO PENAL

meio dos verbos solicitar e aceitar promessa, que


se consuma com a conduta, sendo o efetivo recebi- Facilitação de Contrabando ou Descaminho
mento da vantagem mero exaurimento do crime.
Quando praticada por meio do verbo receber, é O crime de facilitação de contrabando ou descami-
crime material, que exige o efetivo recebimento nho está previsto no art. 318, do CP.
para se consumar (§ 2º, art. 317, do CP);
z Em regra, não admite a tentativa, salvo quando Art. 318 Facilitar, com infração de dever funcio-
for possível fracionar o iter criminis, a exemplo da nal, a prática de contrabando ou descaminho
corrupção passiva praticada mediante emprego de (art. 334):
carta; Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. 373
Configurar-se-á quando o funcionário público faci- O crime de prevaricação é dividido em:
litar, com infração de dever funcional, a prática de
contrabando ou descaminho. z Própria: prevista no art. 319, do Código Penal;
Contrabando é a exportação ou a importação do z Imprópria: prevista no art. 319-A, do Código Penal.
território nacional de uma mercadoria proibida.
Descaminho é a exportação ou importação do terri- A prevaricação própria configurar-se-á quando o
tório nacional de uma mercadoria lícita, mas median- funcionário público retardar ou deixar de praticar,
te sonegação dos direitos ou impostos devidos. indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra dis-
O núcleo do tipo é o verbo facilitar, que signifi- posição expressa de lei, para satisfazer interesse ou
ca viabilizar, tornar mais simples o contrabando ou sentimento pessoal.
descaminho. O crime em estudo não se confunde com a corrup-
O elemento subjetivo é o dolo que pode ser direto ção passiva privilegiada, em que o agente age ou deixa
ou eventual. de agir cedendo a pedido ou influência de outrem.
Relembrando: Na prevaricação não existe esse pedido ou influên-
cia. O agente toma a iniciativa de agir ou se omitir para
z Dolo direto (determinado): ocorre quando o agen- satisfazer interesse ou sentimento pessoal. Assim, se
te prevê determinado resultado, dirigindo sua con- um fiscal flagra um desconhecido cometendo irregula-
duta na busca de realizar esse mesmo resultado; ridade e deixa de autuá-lo em razão de insistentes pedi-
z Dolo eventual: o agente prevê pluralidade de dos deste, há corrupção passiva privilegiada, mas, se o
resultados, porém dirige sua conduta na realiza- fiscal deixa de autuar porque percebe que a pessoa é
ção de um deles. Quer um resultado, mas aceita o um antigo amigo, configura-se a prevaricação.
outro resultado. A prevaricação poderá ser praticada de três for-
mas diferentes:
Observa-se que o crime se consuma com a primei-
ra conduta que facilita o contrabando ou descaminho, z Retardar indevidamente a prática de ato de ofício;
ainda que não haja efetivamente a entrada ou saída z Deixar de praticar indevidamente ato de ofício;
da mercadoria do território nacional. z Praticar ato de ofício contra disposição expressa
Trata-se de crime formal, pois se consuma com a de lei.
conduta, independentemente da ocorrência do con-
trabando ou descaminho. O crime de prevaricação exige um fim específico
Admite-se a tentativa quando o agente se empenha de agir: satisfazer interesse ou sentimento pessoal.
para realizar a conduta de facilitar o contrabando ou Não confundir com o crime de corrupção passiva pri-
descaminho, mas é surpreendido antes de concluí-la. vilegiada (estudado anteriormente). Vejamos a tabela
É possível extrair da leitura do tipo penal que o cri- a seguir para facilitar seu entendimento:
me será praticado pelo funcionário público que tem o
dever funcional de evitar a prática dos crimes de con- CORRUPÇÃO PASSIVA
trabando e descaminho. PREVARICAÇÃO
PRIVILEGIADA
A doutrina dominante entende que, caso o funcio-
nário público não tenha o dever funcional de evitar Praticar, deixar de praticar Retardar ou deixar de
a prática do contrabando ou descaminho, responderá ou retardar ato de ofício praticar ato de ofício
como partícipe do crime de contrabando ou do crime
de descaminho. Para satisfazer interesse
Sobre este crime, é pertinente saber: Cedendo a pedido ou ou sentimento pessoal
influência de outrem (não há atuação de
z Pode ser praticado de forma comissiva (quando o terceiro)
funcionário indica uma forma de o contrabandista
desviar-se da fiscalização), ou omissiva (quando o Você pode entender interesse ou sentimento pes-
funcionário, ciente de que há produto de descami- soal de diversas formas: vingança, compaixão, ódio,
nho em um compartimento, não o inspeciona, libe- amizade, preguiça, entre outros.
rando as mercadorias);
z Não admite a modalidade culposa;
z É crime formal, que se consuma com a facilitação,
Dica
independente ou não de o agente conseguir prati- Sobre a prevaricação, leve para a sua prova:
car o contrabando ou o descaminho; � Não admite a forma culposa;
z Admite a tentativa somente na forma comissiva, � Pode ser praticado de forma omissiva (retardar
quando o funcionário público indica o método ou deixar de praticar) ou comissiva (praticar);
de se desviar da fiscalização, mas outro servidor
� Admite tentativa apenas quando praticado de
impede o desvio;
z A competência é da Justiça Federal.
forma comissiva.
Tentativa na prevaricação:
Prevaricação
� Retardar ou deixar de praticar, indevidamente,
Art. 319 Retardar ou deixar de praticar, indevida- ato de ofício: não admite tentativa;
mente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição
� Praticar ato de ofício contra disposição expres-
expressa de lei, para satisfazer interesse ou senti-
mento pessoal: sa de lei: admite tentativa.
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

374
Art. 319-A Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu dever de vedar ao preso o
acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o
ambiente externo:
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.

A prevaricação imprópria configurar-se-á quando o diretor de penitenciária e/ou agente público deixar de cumprir
seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros
presos ou com o ambiente externo.
Trata-se de crime próprio, só podendo ser praticado pelo diretor de penitenciária ou pelo funcionário público
que tem o dever funcional de impedir que o preso tenha acesso a aparelho de comunicação com outros presos ou
com o ambiente externo.
Sobre a prevaricação imprópria, é importante ressaltar:

z Não admite a forma culposa;


z Não admite tentativa.

Condescendência Criminosa

A condescendência criminosa está prevista no art. 320, do Código Penal:

Art. 320 Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu infração no exer-
cício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade competente:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.

Este crime pode ser praticado de duas formas:

z Quando o funcionário público, por indulgência, deixa de responsabilizar o subordinado que cometeu infração
no exercício do cargo;
z Quando o funcionário público, que não é competente para responsabilizar aquele que cometeu infração no
exercício do cargo, por indulgência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade competente.

A doutrina majoritária entende que o crime de condescendência criminosa só pode ser praticado por superior
hierárquico, que dolosamente, se omite. O funcionário que foi beneficiado não responde pelo delito em tela.
Você pode entender indulgência como compaixão, pena, piedade, clemência.
Há um requisito que deve ser cumprido para a prática da condescendência criminosa: uma infração funcional
(que pode ser uma violação administrativa ou penal) praticada por subordinado no exercício das atribuições do
seu cargo.
A consumação dá-se quando o superior toma conhecimento da infração e não providencia imediatamente a
responsabilização do infrator ou não comunica o fato à autoridade competente.
Sobre a condescendência criminosa, fique atento:

z Não admite a forma culposa;


z É crime omissivo;
z Não admite tentativa.

Como é possível observar, os crimes de corrupção passiva privilegiada, prevaricação e condescendência crimi-
nosa possuem características similares. Vejamos as diferenças:

CORRUPÇÃO PASSIVA
PREVARICAÇÃO CONDESCENDÊNCIA CRIMINOSA
PRIVILEGIADA

O agente deixa de praticar ato de ofí- O agente deixa de praticar ato de O agente deixa de praticar ato de ofí-
cio cedendo a pedido ou influência ofício para satisfazer sentimento ou cio (responsabilizar o subalterno) por
de outrem interesse pessoal indulgência

Advocacia Administrativa

O crime de advocacia administrativa, previsto no art. 321, do Código Penal, pode ser praticado na modalidade
DIREITO PENAL

simples ou qualificada.

Art. 321 Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública, valendo-se da
qualidade de funcionário
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa
Parágrafo único. Se o interesse é ilegítimo:
Pena - detenção, de três meses a um ano, além da multa.

Modalidade simples: configura-se quando o funcionário público patrocinar, direta ou indiretamente, interes-
se privado perante a Administração Pública, valendo-se da qualidade de funcionário. 375
É necessário que a condição de funcionário públi- Abandono de Função
co proporcione alguma facilidade ao sujeito ativo, que
patrocina interesse de terceiro, pessoa privada; caso O crime de abandono de função está tipificado no
não haja facilidade alguma proporcionada pelo cargo, art. 323, do CP.
o fato será atípico.
O agente pode praticar este crime de diversas Art. 323 Abandonar cargo público, fora dos casos
maneiras, como, por exemplo, fazendo uma petição, permitidos em lei:
solicitando um benefício. Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
Modalidade qualificada: o crime de advocacia § 1º Se do fato resulta prejuízo público:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
administrativa será qualificado caso o interesse pri-
§ 2º Se o fato ocorre em lugar compreendido na fai-
vado seja ilegítimo.
xa de fronteira:
Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
z Forma simples: interesse privado legítimo;
z Forma qualificada: interesse privado ilegítimo.
A conduta típica é: abandonar cargo público, fora
dos casos permitidos em lei.
Sobre a advocacia administrativa, fique atento em
O nome do crime é abandono de função, porém,
sua prova:
o tipo penal fala em abandono de cargo público. É
importante que você saiba que o conceito de função
z Não admite a modalidade culposa;
pública é mais amplo que o de cargo público (não há
z É crime formal, que se consuma com a conduta,
cargo sem função, mas há função sem cargo).
não se exigindo que se atinja o interesse privado
Sendo assim, não haverá crime se ocorrer mero
pleiteado;
abandono de função pública (apesar do nome) ou de
z Segundo doutrina majoritária, admite tentativa
emprego público, mas tão somente no caso de aban-
quando for possível se fracionar o iter criminis;
dono de cargo público (não se admite a analogia in
z É desnecessário que o fato ocorra na própria repar-
malam partem).
tição em que trabalha o agente. Este pode usar da
Trata-se de um crime de mão própria, ou seja, só
sua qualidade de funcionário para pleitear favores
pode ser praticado pelo funcionário público ocupante
em qualquer esfera da Administração.
do cargo que foi abandonado. Este abandono deve ser
por tempo juridicamente relevante.
Violência Arbitrária
De acordo com posicionamento doutrinário majoritá-
rio, as hipóteses de greve não configuram este tipo penal.
Art. 322 Praticar violência, no exercício de função
As hipóteses em que o agente abandona o cargo
ou a pretexto de exercê-la.
Pena - detenção, de seis meses a três anos, além da público, admitidas em lei, não configuram o crime de
pena correspondente à violência. abandono de função.
O crime de abandono de função tem circunstân-
Este delito encontrava divergência quanto a sua cias que o qualificam:
aplicação, tendo em vista as edições realizadas pela
Lei de Abuso de Autoridade (Lei nº 13.869, de 2019). z Se o fato resulta prejuízo público;
Esta discussão não mais possui fundamento, sendo z Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa
que esta lei não tipificou o crime de violência arbi- de fronteira.
trária. Sendo assim, o delito ainda esse encontra em
vigor. Cabe destacar qualificadora do § 2º no que diz res-
A prática da violência deve dar-se em razão da peito à faixa de fronteira. Essa qualificadora é uma
função pública, não havendo a exigência de que seja norma penal em branco, visto que a definição da fai-
praticado no efetivo desempenho das funções do car- xa de fronteira é fornecida pela Lei nº 6.634, de 1979,
go, podendo, portanto, ser praticada, por exemplo, compreendendo um raio de 150 (cento e cinquenta)
por um funcionário público que se encontre de folga. quilômetros ao longo das fronteiras nacionais.
Sobre esse crime, leve em consideração os seguin- O fundamento desta qualificadora é a proteção à
tes pontos: soberania nacional que, nas fronteiras, torna-se mais
vulnerável.
z A violência arbitrária não admite a forma culposa, Exige-se que o abandono se dê por um prazo rele-
devendo ser praticada dolosamente; vante, apesar de o Código Penal não fixar prazo determi-
z Admite tentativa; nado. Entende a doutrina que o prazo será fixado pelo
z Segundo Rogério Greco, o objeto material será o estatuto a que estiver submetido o funcionário público.
administrado contra o qual é praticada a violência Em regra: o prazo será de 30 (trinta) dias — pra-
arbitrária; zo previsto na maioria dos estatutos de servidores
z A violência tem que ser praticada arbitrariamente, públicos.
não se enquadrando neste tipo penal as hipóteses
de uso necessário e progressivo da força, admiti- Dica
das em lei;
z O crime aperfeiçoa-se ainda que as vítimas da Sobre o crime de abandono de função, leve para
agressão não sofram lesões; a sua prova:
z Caso alguma das vítimas sofra lesão ou morra, o � É crime omissivo;
agente responderá por este crime e pelo crime cor- � Não admite tentativa;
respondente à violência praticada (lesões corpo- � Só pode ser praticado dolosamente — não
376 rais ou homicídio). admite a culpa.
Exercício Funcional Ilegalmente Antecipado ou a sistemas de informações ou banco de dados da
Prolongado Administração Pública;
II - se utiliza, indevidamente, do acesso restrito.
Este crime está previsto no art. 324, do CP. § 2º Se da ação ou omissão resulta dano à Adminis-
tração Pública ou a outrem:
Art. 324 Entrar no exercício de função pública Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.
antes de satisfeitas as exigências legais, ou conti-
nuar a exercê-la, sem autorização, depois de saber Este delito irá se configurar quando o agente públi-
oficialmente que foi exonerado, removido, substi- co revelar fato de que tem ciência em razão do cargo
tuído ou suspenso: e que deva permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa. revelação.
Este crime pode ser praticado de duas formas:
Tutela-se a Administração Pública, no tocante ao
seu normal funcionamento, pois o exercício ilegal de z Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo
função pública afeta a prestação de serviços públicos. e que deva permanecer em segredo;
Conduta típica: entrar no exercício de função z Facilitar a revelação de fato de que tem ciência em
pública antes de satisfeitas as exigências legais, ou razão do cargo e que deva permanecer em segredo.
continuar a exercê-la, sem autorização, depois de
saber oficialmente que foi exonerado, removido, É importante mencionar que o agente toma conhe-
substituído ou suspenso: cimento do fato em relação ao qual deve permanecer
Este crime pode ser praticado de duas formas: em segredo em razão do cargo que ocupa, não se exi-
gindo que tenha sido no efetivo desempenho das atri-
z Entrar no exercício de função pública antes de buições do cargo.
satisfeitas as exigências legais; Logo, o crime pode ser praticado no caso de o
z Continuar a exercer a função pública, sem autori- agente tomar conhecimento do fato durante período
zação, depois de saber oficialmente que foi exone- de licença, mas em razão do cargo.
rado, removido, substituído ou suspenso. É exigido O Código Penal apresenta duas formas equipara-
que o funcionário público tenha sido oficialmente das do crime de violação de sigilo funcional. Observe:
comunicado sobre sua exoneração, remoção, subs-
Incorrerá nas mesmas penas o funcionário público
tituição ou suspensão. Neste aspecto, ressalta-se
que:
que o crime é instantâneo e prescinde de habitua-
lidade da conduta para sua consumação.
z Permite ou facilita, mediante atribuição, forneci-
mento e empréstimo de senha ou qualquer outra
Observe que o exercício funcional ilegalmente
forma, o acesso de pessoas não autorizadas a siste-
antecipado ou prolongado somente pode ser prati-
mas de informações ou banco de dados da Admi-
cado por funcionário público já nomeado, mas ainda
nistração Pública;
sem ter cumprido todas as exigências legais (1ª parte),
z Utiliza-se, indevidamente, do acesso restrito.
ou então pelo indivíduo que era funcionário público,
porém deixou de sê-lo em razão de ter sido oficial-
Forma qualificada: se da ação ou omissão resulta
mente exonerado, removido, substituído ou suspenso
dano à Administração Pública ou a outrem.
(parte final).
Sobre este crime, fique atento:
Em ambas as hipóteses, o crime é de mão própria,
de atuação pessoal ou de conduta infungível, pois
z Só será praticado dolosamente — não admite for-
somente pode ser cometido pela pessoa expressamen-
ma culposa;
te indicada no tipo penal.
z Em regra, não admite tentativa, salvo casos excep-
Se um particular entrar no exercício da função
cionais, a exemplo de ser praticado na forma
pública, a ele deverá ser imputado o crime de usurpa-
escrita.
ção de função pública (art. 328 do CP).
Sobre o tipo penal em comento, é importante
saber: Violação de Sigilo de Proposta de Concorrência

z Não admite a forma culposa; Este tipo penal era previsto no art. 326, e foi revo-
z Admite tentativa. gado pelo art. 337-J também do Código Penal.

Art. 326 Devassar o sigilo de proposta de concor-


Violação de Sigilo Funcional
rência pública, ou proporcionar a terceiro o ensejo
de devassá-lo:
O crime de violação de sigilo funcional encontra-se
Pena - Detenção, de três meses a um ano, e multa.
previsto no art. 325, do Código Penal:
DIREITO PENAL

CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA


Art. 325 Revelar fato de que tem ciência em razão
A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
do cargo e que deva permanecer em segredo, ou
facilitar-lhe a revelação:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou mul- Os crimes praticados por particular contra a Admi-
ta, se o fato não constitui crime mais grave. nistração Pública estão previstos entre os arts. 328 e
§ 1º Nas mesmas penas deste artigo incorre quem: 337-A, do Código Penal.
I - permite ou facilita, mediante atribuição, for- Tratam-se de crimes comuns, que não exigem
necimento e empréstimo de senha ou qualquer nenhuma condição ou qualidade especial do sujeito
outra forma, o acesso de pessoas não autorizadas ativo, podendo ser praticados por qualquer pessoa. 377
Usurpação de Função Pública Há uma forma qualificada do crime de usurpação
de função pública:
O crime de usurpação de função pública configu-
rar-se-á quando o agente usurpar o exercício de fun- Art. 328 [...]
ção pública. Parágrafo único. Se do fato o agente aufere
vantagem:
Art. 328 Usurpar o exercício de função pública: Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa.
Ocorre se, do fato, o agente auferir vantagem
Usurpar significa apoderar-se, tomar algo pela for- (qualquer tipo de vantagem e não necessariamente
ça ou sem direito. financeira).
Inicialmente, é importante que você não confunda Sobre o crime de usurpação de função pública, é
o usurpador de função com o funcionário ou agente importante que você leve em consideração:
público de fato (assunto bastante cobrado, tanto na
disciplina Direito Penal, quanto na disciplina Direito z Não admite a modalidade culposa;
Administrativo): z Admite tentativa;
z Pode ser praticado por funcionário público, segun-
z Usurpação de função pública: o agente exerce a do posicionamento que prevalece, mas a função
função sem nenhum tipo de investidura, apode- usurpada deve ser totalmente alheia à função dele
rando-se dela. É crime; (sendo ele considerado particular);
z Funcionário ou agente de fato: o agente exerce a z É crime formal, não se exigindo para a sua configu-
função pública, por ter ocorrido alguma irregula- ração prejuízo ou dano à Administração Pública;
ridade. Não é crime. z Ação penal pública incondicionada.

Segundo posicionamento doutrinário majoritário, Resistência


é necessário, para fins de consumação, que o agente
execute algum ato inerente ao exercício da função, O crime de resistência está previsto no art. 329, do
não configurando o crime a mera apresentação a ter- Código Penal:
ceiros como funcionário público.
Vamos exemplificar: Art. 329 Opor-se à execução de ato legal, mediante
violência ou ameaça a funcionário competente para
z Exemplo 1: Antônio apresenta-se como policial executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio:
militar para seus conhecidos como forma de se Pena - detenção, de dois meses a dois anos.
autovalorizar. Não há que se falar em configura- § 1º Se o ato, em razão da resistência, não se
ção do crime de usurpação de função pública, já executa:
que o agente não praticou nenhum ato inerente ao Pena - reclusão, de um a três anos.
exercício da função policial militar, podendo, con- § 2º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuí-
forme o caso, configurar outra infração penal. zo das correspondentes à violência.
z Exemplo 2: Antônio adquire, fraudulentamente,
uma farda da polícia militar. Em determinado dia, A conduta típica deste crime é opor-se à execução
ele promove uma falsa barreira e passa a abordar de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcio-
as pessoas que nela passam. Há a prática do crime nário competente para executá-lo ou a quem lhe este-
de usurpação de função pública, já que o agente ja prestando auxílio.
praticou ato inerente ao exercício da função poli- Sobre a conduta típica, as seguintes informações
cial militar. são muito importantes:

Não confunda o crime de usurpação de função z Exige-se que o ato praticado pelo funcionário
pública com o crime exercício funcional ilegalmente público seja legal;
antecipado ou prolongado: z Se o ato praticado por funcionário público for ile-
gal, não há que se falar em resistência;
z Exige-se que o funcionário público seja competen-
EXERCÍCIO FUNCIONAL
te para executar o ato;
USURPAÇÃO DE ILEGALMENTE
z Não se exige que a violência ou ameaça seja empre-
FUNÇÃO PÚBLICA: ANTECIPADO OU
gada diretamente contra o funcionário competen-
PROLONGADO:
te, podendo ser empregada contra o terceiro que
O agente não possui víncu- O agente possui algum esteja auxiliando o funcionário.
lo algum com a Adminis- tipo de vínculo com a Ad-
tração Pública (em relação ministração Pública Sobre a resistência, é importante que você leve em
à função usurpada) É crime praticado por fun- consideração:
É crime praticado por par- cionário público contra a
ticular contra a Adminis- Administração Pública z Deve ser praticada dolosamente;
tração Pública z A oposição constitui um ato positivo, devendo o
agente empregar violência ou grave ameaça;
z O emprego de violência ou ameaça contra dois ou
mais funcionários públicos, em uma situação fáti-
ca, configura crime único.9

378 9 (TJSP — Rel. Onei Raphael — RT 577/342).


O direito brasileiro não pune a resistência passiva, Desacato
que é aquela em que o agente resiste ao ato sem o uso
de violência ou ameaça, a exemplo daquele que, ao O crime de desacato, previsto no art. 331, do Código
ser preso, deita-se no chão para impedir o ato. Penal, tem como conduta típica desacatar funcionário
A violência ou ameaça deve ser empregada contra público no exercício da função ou em razão dela.
pessoa, não constituindo o crime se empregada contra
coisa (posição dominante). Art. 331 Desacatar funcionário público no exercí-
É crime formal, que se consuma com a prática da cio da função ou em razão dela:
violência ou ameaça. Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
Admite tentativa, nas hipóteses de fracionamento
do iter criminis. Desacatar = ofender, faltar com respeito.
Não se exige que o funcionário público esteja no
z Resistência qualificada: se, em razão da resistên- efetivo desempenho das atribuições do seu cargo para
cia, o ato não se executa. caracterização do crime de desacato, mas sim que a
ofensa se dê em razão da função pública.
Por fim, leve para a sua prova: o agente responde-
rá pela resistência e pela violência empregada. z Exemplo 1: Diego Souza xinga Cássio, policial civil,
Vejamos: se, para se opor à execução de ato legal que estava no exercício de sua função, de “poli-
praticado por funcionário competente, o particular cialzinho de merda”, quando este estava prestes a
usa de violência, causando lesão corporal de nature- prender aquele.
za grave, responderá pelos dois crimes: resistência e z Exemplo 2: Diego Souza xinga Cássio, policial
lesão grave. civil, em um restaurante em Porto Seguro, durante
as férias deles, de “policialzinho de merda”, pelo
Desobediência fato de Cássio tê-lo prendido no passado.
z Exemplo 3: Diego Souza xinga Cássio, policial civil,
Este crime está previsto no art. 330, do Código de “babaca sem noção”, em uma partida de fute-
Penal. Configurar-se-á quando o agente desobedecer bol, pelo fato deste ter pegado um pênalti daquele.
à ordem legal de funcionário público.
Nos exemplos 1 e 2, configura-se o crime de desa-
Art. 330 Desobedecer a ordem legal de funcionário cato, já que a ofensa proferida pelo agente se deu em
público:
razão da função exercida pelo funcionário público.
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e
No exemplo 3, não há que se falar em desacato.
multa.
Embora Cássio seja funcionário público, a ofensa pro-
ferida pelo agente em nada tem a ver com a função
Vitor Eduardo Rios Gonçalves destaca que:
pública.
Sobre o desacato, é importante que você fique
z Deve haver uma ordem: significa determinação,
mandamento. O não atendimento de mero pedido atento às seguintes considerações:
ou solicitação não caracteriza o crime;
z A ordem deve ser legal: material e formalmente. z O desacato pode dar-se por qualquer meio: insul-
Pode até ser injusta, só não pode ser ilegal; tos, vias de fato, gestos, entre outros;
z Deve ser emanada de funcionário público com- z O desacato deve ser praticado contra funcionário
petente para proferi-la. Ex.: delegado de polícia público, não caracterizando este tipo penal a críti-
requisita informação bancária e o gerente do ban- ca ou ofensa à repartição pública;
co não atende. Não há crime, pois o gerente só está z É crime formal, que se consuma com a prática da
obrigado a fornecer a informação se houver deter- conduta descrita no tipo penal, independentemen-
minação judicial; te de o funcionário público se considerar ofendido
z É necessário que o destinatário tenha o dever jurí- ou não;
dico de cumprir a ordem. Além disso, não haverá z Só pode ser praticado dolosamente;
crime se a recusa se der por motivo de força maior z Deve ser praticado na presença do funcionário
ou por ser impossível por algum motivo o seu público — doutrina dominante.
cumprimento.

A ordem deve ser legal. Caso de trate de ordem Importante!


ilegal, não há que se falar na configuração deste tipo
penal.
Não se confunde o crime de desacato com os
Sobre a desobediência, é importante que você leve crimes contra a honra. No desacato, a ofensa é
dirigida à figura do funcionário público e não à
DIREITO PENAL

em consideração:
pessoa em si. Deste modo, a doutrina majoritária
z Não admite a culpa; entende que o crime de desacato deve ser prati-
z Pode ser praticada tanto na forma omissiva quan- cado na presença do funcionário público, ao pas-
to na forma comissiva; so que, caso a ofensa seja irrogada na ausência
z Na forma omissiva, não admite tentativa, na forma física do funcionário, será caracterizado crime
comissiva, admite; contra a honra.
z Deve haver ordem emanada por funcionário
público, não caracterizando este crime a mera
solicitação. 379
Em dezembro de 2016, a 5ª turma do STJ decidiu pela descriminalização do crime de desacato, por entender
que este crime viola a liberdade de expressão do indivíduo, em julgamento de habeas corpus.
Contudo, a 3ª seção do STJ pacificou posicionamento do tribunal no sentido de que o desacato continua sendo
crime, pois isso não viola a liberdade de expressão.

Tráfico de Influência

O crime de tráfico de influência está previsto no art. 332, do Código Penal:

Art. 332 Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto
de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada da metade, se o agente alega ou insinua que a vantagem é também destinada
ao funcionário.

Conduta típica: solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem,
a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função.
Trata-se de crime plurinuclear, que pode ser praticado com o exercício de qualquer um dos verbos previstos
no tipo penal:

z Solicitar;
z Exigir;
z Cobrar;
z Obter.

O agente não tem influência sobre o funcionário público, mas passa a impressão de que a tem, com a finalida-
de de obter vantagem ou promessa de vantagem.
Caso o agente realmente tenha poder de influência sobre o funcionário público que praticará o ato, não há que
se falar em tráfico de influência, podendo, no entanto, configurar-se outro crime.
Sobre o tráfico de influência, é importante que você tome cuidado com as seguintes informações:

z A pessoa que paga a vantagem pratica indiferente penal, por falta de previsão legal desta conduta;
z Em regra, é crime formal, consumando-se com a solicitação, exigência ou cobrança.
z No caso do verbo obter, o crime é material;
z Só pode ser praticado dolosamente;
z Exige um especial fim de agir: obter vantagem ou promessa de vantagem para si ou para outrem.

A pena do crime de tráfico de influência será aumentada de metade se o agente alega ou insinua que a vanta-
gem é também destinada ao funcionário.

Corrupção Ativa

O crime de corrupção ativa, previsto no art. 333, do Código Penal, é um dos tipos penais mais cobrados em
relação aos crimes contra a administração pública.

Art. 333 Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou
retardar ato de ofício.
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada de um terço, se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou
omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional.

Conduta típica: oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar,
omitir ou retardar ato de ofício.

CORRUPÇÃO PASSIVA CORRUPÇÃO ATIVA

Solicitar
Oferecer
Receber

Aceitar Prometer

Fique atento às informações a seguir, muito importantes em relação à corrupção ativa:

z Trata-se de crime plurinuclear, já que o tipo penal prevê mais de um verbo para sua prática: oferecer e prome-
ter. Por exemplo, João oferece uma quantia em dinheiro ao policial rodoviário federal para não ser multado
pela prática de infração de trânsito. Pedro promete entregar uma quantia em dinheiro ao guarda municipal
380 quando retornar ao seu veículo que está estacionado em local proibido;
z É crime formal, que se consuma com a prática da conduta delituosa, não se exigindo que o funcionário público
aceite a vantagem ou promessa de vantagem;
z Não admite a forma culposa;
z Exige-se dolo específico: a intenção de determinar o funcionário público a praticar, omitir ou retardar ato de
ofício;
z Caso o particular ceda à solicitação (corrupção passiva) ou à exigência (concussão), e entregue vantagem inde-
vida, seja em pagamento ou dando algo, a sua conduta será atípica, conforme posicionamento jurisprudencial
majoritário;
z A pena da corrupção ativa será aumentada de 1/3 (um terço) se em razão da vantagem ou promessa, o funcio-
nário público retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional

Não confunda os crimes de corrupção ativa, corrupção passiva e concussão:

CORRUPÇÃO ATIVA CORRUPÇÃO PASSIVA CONCUSSÃO


Verbos: oferecer e prometer Verbos: solicitar, receber e aceitar Verbo: exigir
Praticado por particular contra a Admi- promessa
nistração Pública Crime praticado por funcionário públi-
É crime quando o agente, com oferta Quando se tratar de corrupção passi- co contra a Administração Pública
ou promessa de vantagem, quer que o va privilegiada, quando o funcionário
funcionário público retarde ato de ofí- público “dá o jeitinho” e não pratica O agente exige, para si ou para outrem,
cio, omita ato de ofício ou pratique ato o ato que deveria, o particular figu- vantagem indevida, direta ou indireta,
de ofício ra como partícipe por ter praticado o ainda que fora da sua função pública,
Quando a corrupção ativa é para obter induzimento ou antes de assumi-la, mas em razão
voto, o crime será o tipificado no art. dela
229, do Código Eleitoral
Se o agente se limitar a pedidos como
“dar um jeitinho” ou “quebrar o galho”,
não se configura crime de corrupção
ativa por falta de elementares

Descaminho e Contrabando

Os crimes de descaminho e contrabando, previstos nos arts. 334 e 334-A, respectivamente, do Código Penal,
constituem práticas distintas, que devem ser observadas. Vamos simplificar estes crimes:

z Descaminho: consiste em não pagar direito ou imposto devido pela entrada, saída ou consumo de mercadoria.
z Contrabando: consiste na importação ou exportação de mercadoria proibida.

No descaminho, a mercadoria não tem a comercialização proibida no território brasileiro, já no contrabando,


sim.
No passado, os dois tipos penais estavam previstos no mesmo dispositivo. Contudo, houve alteração e, no
momento, cada um destes crimes integra um tipo penal distinto.
Vejamos cada um deles:

z Descaminho

Art. 334 Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou
pelo consumo de mercadoria.
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
§ 1º Incorre na mesma pena quem:
I - pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em lei;
II - pratica fato assimilado, em lei especial, a descaminho;
III - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no
exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira que introduziu clandes-
DIREITO PENAL

tinamente no País ou importou fraudulentamente ou que sabe ser produto de introdução clandestina no território
nacional ou de importação fraudulenta por parte de outrem;
IV - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mer-
cadoria de procedência estrangeira, desacompanhada de documentação legal ou acompanhada de documentos que
sabe serem falsos.
§ 2º Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio irregular ou
clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências.
§ 3º A pena aplica-se em dobro se o crime de descaminho é praticado em transporte aéreo, marítimo ou fluvial.

381
Sobre o crime de descaminho, é importante que Sobre o crime de contrabando, é importante que
você leve em consideração o seguinte: você leve o seguinte para a sua prova:

„ Trata-se de crime comum, que pode ser pratica- „ Trata-se de crime comum, que pode ser pratica-
do por qualquer pessoa; do por qualquer pessoa;
„ Trata-se de crime tributário formal, ou seja, „ Não admite a modalidade culposa;
não é necessária a prévia constituição definiti- „ Admite tentativa;
va do crédito tributário; „ Não admite a aplicação do princípio da
„ Admite a forma tentada, quando, no caso de insignificância.
exportação, o crime é tentado se a mercadoria
não chega a sair do país; É importante mencionar que, no caso de produ-
„ A fraude utilizada pelo agente para iludir o tos específicos, a exemplo de armas de fogo ou subs-
pagamento de imposto pode se dar tanto em tâncias entorpecentes, prevalecerá a aplicação da
relação à quantidade quanto em relação à qua- legislação especial, aplicando-se, respectivamente, o
lidade do produto; Estatuto do Desarmamento (Lei nº 10.826, de 2003) e a
„ Não admite a modalidade culposa; Lei de Drogas (Lei nº 11.343, de 2006).
„ O crime consuma-se com a simples conduta de De acordo com a Súmula 151, do STJ:
iludir o Estado quanto ao pagamento dos tribu-
tos devidos; Súmula 151 (STJ) A competência para o processo
„ Admite a aplicação do princípio da insignifi- e julgamento por crime de contrabando ou desca-
cância, nos casos em que o valor seja inferior minho define-se pela prevenção do Juízo Federal do
lugar da apreensão dos bens.
àquele considerado irrelevante para fins de
execução fiscal;
Impedimento, Perturbação ou Fraude de
Concorrência
Importante!
O crime previsto no art. 335 foi revogado pelos art.
Tanto para o STF quanto para o STJ, atualmente, 337-I e 337-K, do Código Penal.
poderá ser aplicado o princípio da insignificância
ao crime de descaminho que não exceda o valor Art. 335 Impedir, perturbar ou fraudar concorrên-
de R$ 20.000,00 (vinte mil reais). cia pública ou venda em hasta pública, promovida
pela administração federal, estadual ou municipal,
ou por entidade paraestatal; afastar ou procurar
„ O pagamento integral da dívida tributá- afastar concorrente ou licitante, por meio de vio-
ria não extingue a punibilidade do crime de lência, grave ameaça, fraude ou oferecimento de
descaminho.10 vantagem:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou mul-
ta, além da pena correspondente à violência.
z Contrabando
Parágrafo único - Incorre na mesma pena quem se
abstém de concorrer ou licitar, em razão da vanta-
Art. 334-A Importar ou exportar mercadoria gem oferecida.
proibida:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 ( cinco) anos.
Inutilização de Edital ou de Sinal
§ 1º Incorre na mesma pena quem:
I - pratica fato assimilado, em lei especial, a
Art. 336 Rasgar ou, de qualquer forma, inutilizar
contrabando;
ou conspurcar edital afixado por ordem de fun-
II - importa ou exporta clandestinamente merca-
cionário público; violar ou inutilizar selo ou sinal
doria que dependa de registro, análise ou auto-
empregado, por determinação legal ou por ordem
rização de órgão público competente;
de funcionário público, para identificar ou cerrar
III - reinsere no território nacional mercadoria
qualquer objeto:
brasileira destinada à exportação;
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
IV - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou,
de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou
Conduta típica: rasgar ou, de qualquer forma,
alheio, no exercício de atividade comercial ou
industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira;
inutilizar ou conspurcar edital afixado por ordem de
V - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio funcionário público; violar ou inutilizar selo ou sinal
ou alheio, no exercício de atividade comercial ou empregado, por determinação legal ou por ordem de
industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira. funcionário público, para identificar ou cerrar qual-
§ 2º Equipara-se às atividades comerciais, para os quer objeto.
efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio O crime de inutilização de edital ou de sinal, pre-
irregular ou clandestino de mercadorias estrangei- visto no art. 336, do Código Penal, é de ação múltipla,
ras, inclusive o exercido em residências. podendo ser praticado da seguinte forma:
§ 3º A pena aplica-se em dobro se o crime de con-
trabando é praticado em transporte aéreo, marí- z Rasgar ou, de qualquer forma, inutilizar ou cons-
timo ou fluvial. purcar (manchar ou tornar sujo, de forma que não
possa ser utilizado) edital afixado por ordem de
funcionário público;
10 STJ. 5ª Turma. RHC 43558-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 5/2/2015 (Info 555). STJ. 6ª Turma. HC 271650/PE, Rel. Min. Reynaldo Soa-
382 res da Fonseca, julgado em 03/03/2016.
z Violar ou inutilizar selo ou sinal empregado, por Sobre o este tipo penal, é importante ficar atento
determinação legal ou por ordem de funcionário ao seguinte:
público, para identificar ou cerrar (encobrir) qual-
quer objeto. z É crime comum;
z Admite tentativa;
Sobre o crime de inutilização de edital ou de sinal, z É crime subsidiário, respondendo o agente por ele
leve em consideração: apenas caso não se configure um crime mais grave;
z Na hipótese de o documento destinar-se a fazer
z É crime comum; prova de relação jurídica, e o agente visar bene-
z Admite tentativa; ficiar a si próprio ou a terceiro, o fato constituirá
z Segundo posicionamento doutrinário dominante, mais grave;
caso a conduta seja praticada quando não mais z Somente será praticado na modalidade dolosa.
produz efeito o edital (fora do seu prazo de vali-
dade, por exemplo), não se configurará este tipo Sonegação de Contribuição Previdenciária
penal;
O crime de sonegação de contribuição previden-
Subtração ou Inutilização de Livro ou Documento ciária está previsto no art. 337-A, do Código Penal:

O crime de subtração ou inutilização de livro ou Art. 337-A Suprimir ou reduzir contribuição social
documento está previsto no art. 337, do CP. previdenciária e qualquer acessório, mediante as
seguintes condutas:
Art. 337 Subtrair, ou inutilizar, total ou parcial- I - omitir de folha de pagamento da empresa ou de
mente, livro oficial, processo ou documento confia- documento de informações previsto pela legislação
do à custódia de funcionário, em razão de ofício, ou previdenciária segurados empregado, empresário,
de particular em serviço público: trabalhador avulso ou trabalhador autônomo ou a
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, se o fato não este equiparado que lhe prestem serviços;
constitui crime mais grave. II - deixar de lançar mensalmente nos títulos pró-
prios da contabilidade da empresa as quantias
Tutela-se a Administração Pública, relativamente descontadas dos segurados ou as devidas pelo
empregador ou pelo tomador de serviços;
ao normal funcionamento da atividade administrativa.
III - omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros
Cabe destacar que o livro oficial, processo ou docu-
auferidos, remunerações pagas ou creditadas e
mento (público ou particular) é confiado à custódia de
demais fatos geradores de contribuições sociais
funcionário, em razão de ofício, ou de particular em previdenciárias:
serviço público. Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
Por isso, é dever que seja confiada a custódia a § 1º É extinta a punibilidade se o agente, espon-
funcionário, em razão de ofício, não se verificando taneamente, declara e confessa as contribuições,
este crime quando alguém subtrai ou inutiliza, total importâncias ou valores e presta as informações
ou parcialmente, um livro oficial, processo ou docu- devidas à previdência social, na forma definida em
mento de quem não o guarda por conta da sua função. lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal.
É importante analisar que, na parte final do precei- § 2º É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou
to primário do dispositivo em estudo, há a expressão aplicar somente a de multa se o agente for primário
“ou de particular em serviço público”, pois existem, e de bons antecedentes, desde que:
em certas hipóteses excepcionais, particulares que I - (vetado)
desempenham funções públicas (por exemplo, mesá- II - o valor das contribuições devidas, inclusive
rio nas eleições). Observe que se alguém subtrair ou acessórios, seja igual ou inferior àquele estabele-
inutilizar, total ou parcialmente, algum documento cido pela previdência social, administrativamente,
como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas
confiado a essas pessoas, a ele será imputado o crime
execuções fiscais.
de subtração ou inutilização de livro ou documento.
§ 3º Se o empregador não é pessoa jurídica e sua
Sobre o núcleo do tipo:
folha de pagamento mensal não ultrapassa R$
1.510,00 (um mil, quinhentos e dez reais), o juiz
z Subtrair: retirar o livro oficial, processo ou docu- poderá reduzir a pena de um terço até a metade ou
mento do local em que se encontra, dele se apode- aplicar apenas a de multa.
rando o agente. § 4º O valor a que se refere o parágrafo anterior
z Inutilizar: tornar imprestável o livro oficial, pro- será reajustado nas mesmas datas e nos mesmos
cesso ou documento, total ou parcialmente. Não se índices do reajuste dos benefícios da previdência
reclama sua efetiva destruição. social.
DIREITO PENAL

Consuma-se o crime em estudo no instante em que Extinção da punibilidade: caso o agente, de for-
o livro oficial, processo ou documento é subtraído, ma espontânea, declare ou confesse as contribuições,
mediante seu apoderamento pelo agente, seguido da importâncias ou valores e preste as informações devi-
inversão da sua posse e sua consequente retirada da das à previdência social, na forma definida em lei ou
esfera de vigilância da vítima, ou então inutilizado, regulamento, antes do início da ação fiscal (não se exi-
total ou parcialmente. ge o pagamento do tributo sonegado).
Observe que se o documento se destina a fazer A declaração ou confissão e a prestação das infor-
prova de relação jurídica, e o agente visa beneficiar a mações deverão ocorrer antes do início da ação fiscal.
si próprio ou a terceiro, o fato constituirá crime mais Sobre o crime de sonegação de contribuição previ-
grave. denciária, é importante ficar atento ao seguinte: 383
z Não admite a modalidade culposa; CRIMES PRATICADOS POR PARTICULARES
z De acordo com o art. 34, da Lei nº 9.249, de 1995, CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA
confirmado pela doutrina majoritária, o pagamen-
Art. 1º Constitui crime contra a ordem tributária
to integral do tributo ou contribuição social, após a
suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição
ação fiscal, mas antes do recebimento da denúncia,
social e qualquer acessório, mediante as seguin-
também acarretará a extinção da punibilidade: tes condutas:

Art. 34 (Lei 9.249, de 1995) Extingue-se a punibi- São dois os núcleos do tipo (verbos): suprimir
lidade dos crimes definidos na Lei 8.137, de 27 de (não pagar tributo) e reduzir (pagar menos do que o
dezembro de 1990, e na Lei 4.729, de 14 de julho de
devido).
1965, quando o agente promover o pagamento do
O crime se consuma com o não pagamento ou o
tributo ou contribuição social, inclusive acessórios,
pagamento a menos.
antes do recebimento da denúncia.
O conceito tributo se encontra no art. 3º do Código
Tributário Nacional (CTN):
Será extinta a punibilidade se o agente, espon-
taneamente, declarar e confessar as contribuições, Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária com-
importâncias ou valores e prestar as informações pulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa
devidas à previdência social, na forma definida em lei exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito,
ou regulamento, antes do início da ação fiscal. instituída em lei e cobrada mediante atividade
O termo final para o pagamento é o início da ação administrativa plenamente vinculada.
fiscal.
Se o agente for beneficiado pela concessão do par- São espécies de tributos: os impostos, as taxas,
celamento dos valores devidos a título de contribui- e a contribuição de melhoria, decorrente de obras
ção social previdenciária, ou qualquer acessório, o públicas
pagamento integral do débito importará na extinção Já as contribuições sociais são espécies tributárias,
da punibilidade (§ 4º, art. 83, da Lei nº 9.430, de 1996). chamadas de parafiscais, que servem para financiar
O Supremo Tribunal Federal entende, com amparo a concretização de direitos sociais; estão previstas no
no art. 69, da Lei nº 11.941, de 2009, que o pagamento art. 149 da Constituição.
integral do débito fiscal acarreta na extinção da puni- Acessórios são as penalidades: multa ou juros de
mora.
bilidade do agente, ainda que efetuado após o julga-
A supressão ou redução se dão por meio das con-
mento da ação penal, desde que antes do trânsito em
dutas estabelecidas no incisos.
julgado da condenação.
Destaca-se: Art. 1º [...]
I - omitir informação, ou prestar declaração
z A competência para julgar o crime de sonegação de falsa às autoridades fazendárias;
contribuição previdenciária é da Justiça Federal;
z Admite a forma tentada; Omitir é não prestar a informação, não declarar
z É crime material; (crime omissivo; somente se configura o crime se o
z Este tipo penal admite a aplicação do princípio da contribuinte tiver o dever de prestar a informação);
insignificância, excluindo-se, assim, a tipicidade prestar declaração falsa significa fornecer informa-
material do crime; ção que não reflita a verdade.
z Se o empregador não é pessoa jurídica e sua folha
de pagamento mensal não ultrapassa R$ 1.510,00 Art. 1º [...]
(um mil, quinhentos e dez reais), o juiz poderá II - fraudar a fiscalização tributária, inserin-
reduzir a pena de um terço até a metade ou aplicar do elementos inexatos, ou omitindo operação de
apenas a de multa. qualquer natureza, em documento ou livro exigi-
do pela lei fiscal;

Fraudar é burlar, enganar, lesar. A fraude se dá


por meio da inserção de informações inexatas ou da
LEI FEDERAL Nº 8.137, DE 1990 E SUAS omissão de operações na escrituração de documentos
ALTERAÇÕES (CRIMES CONTRA A fiscais.
ORDEM TRIBUTÁRIA) Art. 1º [...]
III - falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, dupli-
O bem jurídico tutelado pela Lei nº 8.137, de 1990 é cata, nota de venda, ou qualquer outro documen-
a ordem tributária, ou seja, a atividade estatal dirigida to relativo à operação tributável;
à arrecadação de tributos e sua aplicação em benefí-
cio da sociedade. Trata-se de uma das mais importan- Falsificar é criar, no todo ou em parte, um docu-
tes atividades estatais, uma vez que garante os meios mento falso (no caso, um documento fiscal); alterar é
necessários para que o Estado possa atender suas modificar um documento verdadeiro.
prestações sociais.
Os crimes contra a ordem tributária, previstos na Art. 1º [...]
Lei nº 8.137, de 1990, são espécies de crimes contra a IV - elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou
ordem econômica e financeira. utilizar documento que saiba ou deva saber
384 falso ou inexato;
No inciso IV estão elencadas várias condutas liga- omissão de renda para que se configure o crime, puní-
das à criação, circulação ou utilização de documento vel nos termos do inciso I do art. 2°.
falso ou inexato.

Art. 1º [...] Importante!


V - negar ou deixar de fornecer, quando obri-
gatório, nota fiscal ou documento equivalente, Lembre-se que todos esses crimes dos arts. 1º e
relativa à venda de mercadoria ou prestação de 2º somente admitem a modalidade dolosa.
serviço, efetivamente realizada, ou fornecê-la em
desacordo com a legislação.
II - deixar de recolher, no prazo legal, valor
O verbo negar significa recusar (quando solicita- de tributo ou de contribuição social, descon-
tado ou cobrado, na qualidade de sujeito passivo
do). Os núcleos estão ligados à não emissão de nota
de obrigação e que deveria recolher aos cofres
fiscal ou documento equivalente ou a sua emissão em
públicos;
desacordo com a lei.
A conduta do inciso II do art. 2° se consuma quan-
Art. 1º [...]
Pena - reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e do o sujeito não recolhe, no prazo legal tributo que
multa. descontou ou recolheu de terceiro (assemelha-se a
uma apropriação indébita) são, na verdade prepara-
Todas as condutas acima são apenadas com reclu- tórias para a conduta prevista no inciso I do art. 1° e
são de 2 a 5 anos, mais multa.
III - exigir, pagar ou receber, para si ou para
Art. 1º [...] o contribuinte beneficiário, qualquer percen-
Parágrafo único. A falta de atendimento da exi- tagem sobre a parcela dedutível ou deduzida
gência da autoridade, no prazo de 10 (dez) de imposto ou de contribuição como incentivo
dias, que poderá ser convertido em horas em razão fiscal;
da maior ou menor complexidade da matéria ou da
dificuldade quanto ao atendimento da exigên- Incentivos ficais são benefícios tributários
cia, caracteriza a infração prevista no inciso (cobrança menor ou não cobrança de impostos ou
V. contribuições) que se concedem à certas empresas,
com a finalidade de estimular alguma área ou ativida-
O parágrafo único do art. 1º apresenta uma forma de econômica. No inciso III o beneficiário arrecada,
de conduta equiparada à conduta do inciso V, que pre- para si ou para terceiro, valores correspondentes a
vê o crime de negativa ou ausência de fornecimento esses incentivos.
de nota fiscal ou fornecimento em desacordo com a
legislação, que se caracteriza quando o contribuinte, IV - deixar de aplicar, ou aplicar em desacor-
ao final do prazo estabelecido pela fiscalização, não do com o estatuído, incentivo fiscal ou parcelas
coloca à disposição todos os documentos fiscais relati- de imposto liberadas por órgão ou entidade de
vos à venda ou prestação de serviços. desenvolvimento;
É importante saber que alguns dos crimes previs-
tos nos incisos do art. 1º somente se consumam após No inciso IV a Lei busca punir quem burla as regras
a conclusão do processo administrativo fiscal (PAF), relativas aos incentivos fiscais, deixando de aplicar ou
que é quando ocorre o lançamento do crédito tribu- aplicando de forma irregular valores que deveriam
tário. Uma vez finalizado o PAF, a autoridade fiscal ser usados em áreas específicas.
comunica o MP ou a polícia, por meio da representa-
ção fiscal; somente após recebida a representação é V - utilizar ou divulgar programa de processamento
que pode instaurar o inquérito policial ou se deflagar de dados que permita ao sujeito passivo da obriga-
a ação penal. ção tributária possuir informação contábil diversa
daquela que é, por lei, fornecida à Fazenda Pública.
Art. 2° Constitui crime da mesma natureza
O inciso V coíbe a utilização e a divulgação de pro-
O art. 2º apresenta outras formas de crime tributá- gramas de computador que possam fraudar informa-
rio (menos graves): ções contábeis.

I - fazer declaração falsa ou omitir declara- Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois)
ção sobre rendas, bens ou fatos, ou empregar anos, e multa
outra fraude, para eximir-se, total ou parcial-
DIREITO PENAL

mente, de pagamento de tributo; A pena para os crimes do art. 2º é menor do que


para os delitos do art. 1º.
As condutas do inciso I do art. 2° são, na verda-
de preparatórias para a conduta prevista no inciso I CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA
do art. 1°, e que também são consideradas crime (os PRATICADOS POR FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS
atos preparatórios são os realizados antes do início
da execução do crime; tais atos somente são puníveis Art. 3° Constitui crime funcional contra a
excepcionalmente). Ou seja, se houver a supressão ordem tributária, além dos previstos no Decre-
(não pagamento do tributo), vai ser aplicado o inciso to-Lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código
I do art. 1°; no entanto, basta a declaração falsa ou a Penal (Título XI, Capítulo I): 385
O art. 3º traz formas especiais de crimes funcio- Os art. 5º e 6º previam outros tipos penais, mas
nais, previstos no Código Penal, caracterizados por foram revogados.
atentar contra a ordem tributária.
CRIMES CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO
I - extraviar livro oficial, processo fiscal ou
qualquer documento, de que tenha a guarda em Art. 7° Constitui crime contra as relações de
razão da função; sonegá-lo, ou inutilizá-lo, total consumo:
I - favorecer ou preferir, sem justa causa, com-
ou parcialmente, acarretando pagamento indevido
prador ou freguês, ressalvados os sistemas de
ou inexato de tributo ou contribuição social;
entrega ao consumo por intermédio de distribuido-
res ou revendedores;
Apresenta tipo especial em relação ao crime de II - vender ou expor à venda mercadoria cuja
extravio, sonegação ou inutilização de livro ou docu- embalagem, tipo, especificação, peso ou compo-
mento, previsto no art. 314 do CP. Será o crime do sição esteja em desacordo com as prescrições
inciso I do art. 3° da Lei nº 8.137, de 1990 quando a legais, ou que não corresponda à respectiva clas-
conduta recair sobre documento fiscal. sificação oficial;
III - misturar gêneros e mercadorias de espé-
cies diferentes, para vendê-los ou expô-los à
II - exigir, solicitar ou receber, para si ou para
venda como puros; misturar gêneros e mercado-
outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da rias de qualidades desiguais para vendê-los ou
função ou antes de iniciar seu exercício, mas em expô-los à venda por preço estabelecido para os
razão dela, vantagem indevida; ou aceitar pro- demais mais alto custo;
messa de tal vantagem, para deixar de lançar IV - fraudar preços por meio de:
ou cobrar tributo ou contribuição social, ou a) alteração, sem modificação essencial ou de qua-
cobrá-los parcialmente. lidade, de elementos tais como denominação, sinal
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. externo, marca, embalagem, especificação técnica,
descrição, volume, peso, pintura ou acabamento de
bem ou serviço;
O inciso II engloba formas especiais de concussão
b) divisão em partes de bem ou serviço, habitual-
(art. 316, CP) e de corrupção passiva (art. 317, CP). mente oferecido à venda em conjunto;
c) junção de bens ou serviços, comumente ofereci-
III - patrocinar, direta ou indiretamente, interes- dos à venda em separado;
se privado perante a administração fazendá- d) aviso de inclusão de insumo não empregado na
ria, valendo-se da qualidade de funcionário produção do bem ou na prestação dos serviços;
público. V - elevar o valor cobrado nas vendas a pra-
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. zo de bens ou serviços, mediante a exigência de
comissão ou de taxa de juros ilegais;
VI - sonegar insumos ou bens, recusando-se a
Trata-se de uma forma especial de advocacia admi-
vendê-los a quem pretenda comprá-los nas condi-
nistrativa, prevista no art. 321 do CP. ções publicamente ofertadas, ou retê-los para o fim
de especulação;
CRIMES CONTRA A ORDEM ECONÔMICA VII - induzir o consumidor ou usuário a erro,
por via de indicação ou afirmação falsa ou engano-
Art. 4° Constitui crime contra a ordem sa sobre a natureza, qualidade do bem ou serviço,
econômica: utilizando-se de qualquer meio, inclusive a veicula-
I - abusar do poder econômico, dominando o ção ou divulgação publicitária;
mercado ou eliminando, total ou parcialmen- VIII - destruir, inutilizar ou danificar matéria-
te, a concorrência mediante qualquer forma -prima ou mercadoria, com o fim de provocar
alta de preço, em proveito próprio ou de terceiros;
de ajuste ou acordo de empresas;
IX - vender, ter em depósito para vender ou expor
II - formar acordo, convênio, ajuste ou aliança à venda ou, de qualquer forma, entregar matéria-
entre ofertantes, visando: -prima ou mercadoria, em condições impró-
a) à fixação artificial de preços ou quantidades prias ao consumo;
vendidas ou produzidas; Pena - detenção, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, ou
b) ao controle regionalizado do mercado por multa.
empresa ou grupo de empresas;
c) ao controle, em detrimento da concorrência, O art. 7º apresenta várias condutas que configu-
de rede de distribuição ou de fornecedores. ram atentados contra as relações de consumo. No
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos e multa. entanto, o destaque fica para o seu parágrafo único,
que prevê a punição na modalidade culposa, em algu-
O art. 4º, que trata dos crimes contra ordem econô- mas hipóteses.
mica, sofreu grandes modificações pela Lei nº 12.529,
de 2011. Pune, basicamente, a concorrência desleal, Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II, III e
IX pune-se a modalidade culposa, reduzindo-se
no inciso I (o dumping é um exemplo de prática des-
a pena e a detenção de 1/3 (um terço) ou a de
leal que consiste em vender produtos abaixo do cus- multa à quinta parte.
to, levando os concorrentes menores à “quebra”). No
inciso II, pune a formação de cartel (um exemplo da De acordo com o parágrafo único do art. 7º, existem
prática de cartel bem conhecida é a combinação de três hipóteses de crimes incisos II, III e IX do art. 7º.
preços de combustíveis pelos donos de postos). Como guardar essas condutas em meio a tantos inci-
386 sos? Fácil, basta guardar os verbos vender ou expor.
CRIMES DA LEI Nº 8.137, DE 1990 Importante!
A redação do art. 339 do Código Penal foi nova-
CRIMES DA LEI
N° 8.137, DE mente alterada:
1990 Art. 339 Dar causa à instauração de inquérito
policial, de procedimento investigatório crimi-
nal, de processo judicial, de processo adminis-
Contra a ordem Contra as relações
Contra a ordem
econômica (art. de consumo (art. trativo disciplinar, de inquérito civil ou de ação
tributária
4°) 7°) de improbidade administrativa contra alguém,
imputando-lhe crime, infração ético-disciplinar
Praticados por
ou ato ímprobo de que o sabe inocente: (Reda-
particulares (arts. ção dada pela Lei nº 14.110, de 2020)
1° e 2°) Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
§ 1º A pena é aumentada de sexta parte, se o
Praticado por agente se serve de anonimato ou de nome
funcionários suposto.
públicos (art. 3°) § 2º A pena é diminuída de metade, se a imputa-
ção é de prática de contravenção.
CAUSAS DE AUMENTO DE PENA

Art. 12 São circunstâncias que podem agravar de


Art. 2o O Título XI do Decreto-Lei no 2.848, de
1/3 (um terço) até a metade as penas previstas
1940, passa a vigorar acrescido do seguinte capí-
nos arts. 1°, 2° e 4° a 7°: tulo e artigos:
I - ocasionar grave dano à coletividade;
II - ser o crime cometido por servidor público “CRIMES CONTRA AS FINANÇAS PÚBLICAS
no exercício de suas funções;
III - ser o crime praticado em relação à prestação Os crimes contra as finanças públicas foram acres-
de serviços ou ao comércio de bens essenciais cidos ao Código Penal, em capítulo próprio dos crimes
à vida ou à saúde. contra a Administração Pública, no ano 2000.
Estão previstos do art. 359-A ao art. 359-H.
O art. 12 estabelece três hipóteses de causas de
aumento de pena, que se aplicam a todos os crimes Dica
previstos na Lei.
Os crimes contra as finanças públicas são pró-
prios, praticados por funcionário público (crimes
funcionais), exigindo-se que este funcionário
possa dispor sobre as finanças públicas.
LEI FEDERAL Nº 10.028, DE 2000
(CRIMES CONTRA AS FINANÇAS Parte considerável da doutrina entende ser possí-
PÚBLICAS) vel que o particular seja sujeito ativo dos crimes con-
tra as finanças públicas, desde que, por força de lei,
Altera o Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de tenha disponibilidade sobre elas. Entretanto, tal pos-
1940 – Código Penal, a Lei no 1.079, de 10 de abril sibilidade é caso extremamente excepcional.
de 1950, e o Decreto-Lei no 201, de 27 de fevereiro Todos os crimes contra as finanças públi-
de 1967. cas são processados mediante ação penal pública
incondicionada.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o
Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguin- Contratação de Operação de Crédito
te Lei:
Este crime se encontra previsto no art. 359-A, do
Art. 1º O art. 339 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de CP:
dezembro de 1940, passa a vigorar com a seguinte
redação: Art. 359-A Ordenar, autorizar ou realizar operação
de crédito, interno ou externo, sem prévia autoriza-
“Art. 339. Dar causa à instauração de investigação
DIREITO PENAL

ção legislativa:
policial, de processo judicial, instauração de inves-
Pena – reclusão, de 1 (um) a 2 (dois) anos.
tigação administrativa, inquérito civil ou ação de
Parágrafo único. Incide na mesma pena quem orde-
improbidade administrativa contra alguém, impu-
na, autoriza ou realiza operação de crédito, interno
tando-lhe crime de que o sabe inocente:” (NR) ou externo:
“Pena ............................................................. I - com inobservância de limite, condição ou mon-
“§ 1º ............................................................” tante estabelecido em lei ou em resolução do Sena-
“§ 2º............................................................” do Federal;
II - quando o montante da dívida consolidada ultra-
passa o limite máximo autorizado por lei. 387
Conduta típica: ordenar, autorizar ou realizar ope- z Inscreve em restos a pagar despesas que não foram
ração de crédito, interno ou externo, sem prévia auto- previamente empenhadas;
rização legislativa. z Inscreve em restos a pagar despesas previamente
Trata-se de crime de ação múltipla, que poderá ser empenhadas, mas com excesso aos limites legais.
praticado mediante a execução de qualquer um dos
verbos previstos no tipo penal. Responde por este cri- Quanto ao sujeito ativo, somente pode ser pra-
me aquele que praticar a conduta típica. ticado pelo agente público dotado da atribuição de
Há formas equiparadas do crime de contratação ordenar ou autorizar a inscrição da despesa. Se o fun-
de operação de crédito, incorrendo nas mesmas penas cionário público praticar o ato sem atribuição legal
aquele que ordena, autoriza ou realiza, operação de para tanto, este será passível de anulação pelo próprio
crédito, interno ou externo: Poder Público, tornando atípica a conduta.
O sujeito passivo é a União, os estados, os municí-
z Com inobservância de limite, condição ou montan- pios ou o Distrito Federal, dependendo do ente federa-
te estabelecido em lei ou em resolução do Senado tivo afetado pela conduta criminosa, e, mediatamente,
Federal; a coletividade, em face do prejuízo causado pelo abalo
z Quando o montante da dívida consolidada ultra- nas finanças públicas.
passa o limite máximo autorizado por lei. Consuma-se no momento da prática da conduta
legalmente descrita (ordenar ou autorizar a inscrição
Sobre este crime, é importante levar em conside- em restos a pagar), independentemente da lesão ao
ração que: erário.
Sobre este crime, é importante levar em
z Não admite a modalidade culposa; consideração:
z Caso o agente pratique as condutas com autoriza-
ção legislativa prévia, o fato será atípico, mas, se z Não admite a modalidade culposa;
ultrapassar os limites da lei, o fato será típico; z Trata-se de crime de ação múltipla.
z Nos verbos ordenar e autorizar, o crime é formal;
z No verbo realizar, o crime é material. Assunção de Obrigação no Último Ano do Mandato
ou Legislatura
Inscrição de Despesas Não Empenhadas em Restos
a Pagar Art. 359-C Ordenar ou autorizar a assunção de
obrigação, nos dois últimos quadrimestres do últi-
Este crime está previsto no art. 359-B, do CP. mo ano do mandato ou legislatura, cuja despesa
não possa ser paga no mesmo exercício financei-
Art. 359-B Ordenar ou autorizar a inscrição em ro ou, caso reste parcela a ser paga no exercício
restos a pagar, de despesa que não tenha sido pre- seguinte, que não tenha contrapartida suficiente de
viamente empenhada ou que exceda limite estabe- disponibilidade de caixa:
lecido em lei: Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
O objeto material do crime é a obrigação assumi-
Configurar-se-á quando o agente ordenar ou auto- da nos dois últimos quadrimestres do último ano do
rizar a inscrição em restos a pagar de despesa que não mandato ou legislatura.
tenha sido previamente empenhada ou que exceda Pode ser praticado de duas formas:
limite estabelecido em lei.
Pode ser praticado de duas formas: z Ordenar ou autorizar a assunção de obrigação,
nos dois últimos quadrimestres do último ano do
z Ordenar ou autorizar a inscrição em restos a mandato ou legislatura, cuja despesa não possa ser
pagar de despesa que não tenha sido previamente paga no mesmo exercício financeiro;
empenhada; z Ordenar ou autorizar a assunção de obrigação, nos
z Ordenar ou autorizar a inscrição em restos a pagar dois últimos quadrimestres do último ano do man-
de despesa que exceda limite estabelecido em lei. dato ou legislatura, se restar parcela a ser paga no
exercício seguinte, que não tenha contrapartida
Faz-se necessário compreender o que significa suficiente de disponibilidade de caixa.
empenho, liquidação e ordem de pagamento:
A prática do crime não está apenas relacionada ao
z Empenho: ato emanado de autoridade competen- mantado eletivo, mas também ao mandato decorrente
te que cria para o Estado obrigação de pagamento de indicação.
pendente ou não de implemento de condição; Trata-se de crime próprio ou especial, por isso,
z Liquidação: consiste na verificação do direito somente agentes públicos titulares de mandato ou
adquirido pelo credor, tendo por base os títulos e legislatura, representantes dos órgãos e entidades
documentos comprobatórios do respectivo crédito; indicados no art. 20 da Lei Complementar nº 101, de
z Ordem de pagamento: despacho exarado por 2000, Lei de Responsabilidade Fiscal, podem ser o
autoridade competente, determinando que a des- sujeito ativo, pois apenas tais pessoas têm atribuição
pesa seja paga. para assunção de obrigações.
O sujeito passivo é a União, os estados, os municí-
Sobre os restos a pagar, trata-se das despesas pios ou o Distrito Federal, dependendo do ente federa-
empenhadas, mas não pagas até o dia 31 de dezem- tivo afetado pela conduta criminosa, e, mediatamente,
bro. Dessa forma, o tipo penal pune o administrador a coletividade, em face do prejuízo causado pelo abalo
388 que: nas finanças públicas.
Consuma-se quando o sujeito ativo ordena ou auto- O tipo penal pune a conduta do funcionário públi-
riza a assunção de obrigação, nos últimos oito meses co que presta garantia sem a observância do requisito
do mandato ou legislatura, cuja despesa não possa legal.
ser paga naquele exercício financeiro ou reste parte Quanto aos requisitos legais, devemos entender
a ser paga no exercício seguinte, sem contrapartida que “prestar” tem o sentido de conceder ou autorizar
suficiente para tanto, independentemente da compro- garantia, e isso está em conformidade com o inciso IV,
vação de prejuízo aos cofres públicos. art. 29, da Lei Complementar nº 101, de 2000, Lei de
Sobre este crime, é importante ficar atento às Responsabilidade Fiscal, que afirma que concessão de
seguintes disposições: garantia é o compromisso de adimplência de obrigação
financeira ou contratual assumida por algum ente da
z Só pode ser praticado dolosamente; Federação ou entidade a ele vinculada.
z Este crime só se configura se as condutas típicas As condições para a concessão de garantia encon-
forem praticadas nos dois últimos quadrimestres tram-se no art. 40, da citada lei. Destaca-se entre elas
(oito meses anteriores ao término do mandato) do o oferecimento de contragarantia, em valor igual ou
último ano do mandato ou legislatura; superior ao da garantia a ser concedida, visando ao
z É crime de ação múltipla; equilíbrio das finanças públicas.
z Admite a modalidade tentada, apesar de ser de Sobre este crime, fique atento:
difícil comprovação, segundo posicionamento
doutrinário majoritário. z Este crime não admite a modalidade culposa;
z Não basta que seja constituída a contragarantia,
Ordenação de Despesa não Autorizada exige-se que ela seja igual ou superior ao valor da
garantia prestada;
O crime de ordenação de despesa não autorizada z Caso a contragarantia seja inferior ou não seja
prestada, este crime estará configurado.
está previsto no art. 359-D, do CP:

Art. 359-D Ordenar despesa não autorizada por lei:


Não Cancelamento de Restos a Pagar
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
Art. 359-F Deixar de ordenar, de autorizar ou de pro-
mover o cancelamento do montante de restos a pagar
Ordenar tem o sentido de mandar, determinar que
inscrito em valor superior ao permitido em lei:
se realize a despesa pública, a qual compreende os Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
desembolsos efetuados pelo Estado para fazer frente
às suas diversas responsabilidades junto à sociedade. Deixar de ordenar é não determinar a terceiro que
Sobre o sujeito ativo, trata-se de crime próprio ou algo seja feito.
especial, pois somente pode ser cometido pelo funcio- Deixar de autorizar é não permitir que terceira
nário público com atribuição para ordenar despesas, pessoa faça algo.
conhecido como “ordenador de despesas”. Deixar de promover equivale a não realizar direta-
O tipo penal não alcança o “realizador de despesas”, mente alguma coisa.
compreendido como a pessoa que se limita a cumprir O administrador público que se depara com restos
ou executar a ordem expedida pelo ordenador. a pagar inscritos em valor superior ao limite permiti-
O sujeito passivo é a União, os estados, os muni- do em lei tem o dever legal de autorizar, ordenar ou
cípios ou o Distrito Federal, dependendo do ente promover o seu cancelamento, sob pena de incorrer
federativo prejudicado pela conduta criminosa, e, no crime de não cancelamento de restos a pagar.
secundariamente, a coletividade, em decorrência dos O sujeito ativo é o funcionário público com atribui-
prejuízos causados pela ordenação de despesas públi- ção para ordenar, autorizar ou promover o cancela-
cas não autorizadas em lei. mento do montante de restos a pagar indevidamente
Consuma-se o crime quando o funcionário público inscritos. Trata-se de crime próprio ou especial. Com
ordena a realização da despesa sem autorização legal, isso, o funcionário público que deixa o cargo será res-
independentemente da comprovação de efetiva lesão ponsabilizado pela “inscrição de despesas não empe-
ao erário. nhadas em restos a pagar” (art. 359-B), ao passo que
Sobre este tipo penal, é importante mencionar que: o funcionário público que assume o cargo deverá ser
responsabilizado por não ter determinado o “cance-
z Não admite a forma culposa; lamento do montante de restos a pagar” (art. 359-F),
z É crime de ação simples; inscrito em valor superior ao legalmente permitido.
z Caso a despesa seja ordenada com autorização Os dois agentes contribuem para o mesmo resul-
legislativa, o fato será atípico; tado, mas a eles serão imputados crimes diversos, em
z É crime formal, segundo Nucci. face do especial tratamento conferido pela lei penal.
DIREITO PENAL

O sujeito passivo é a União, os estados, os municí-


Prestação de Garantia Graciosa pios ou o Distrito Federal, dependendo do ente federa-
tivo afetado pela conduta criminosa, e, mediatamente,
Está prevista no art. 359-E, do CP: a coletividade, em razão dos prejuízos causados pelo
não cancelamento de restos a pagar.
Art. 359-E Prestar garantia em operação de crédito O crime consuma-se quando o sujeito ativo deixa
sem que tenha sido constituída contragarantia em de ordenar, de autorizar ou de promover o cancela-
valor igual ou superior ao valor da garantia pres- mento do montante de restos a pagar inscrito inde-
tada, na forma da lei: vidamente, independentemente de comprovação de
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. lesão patrimonial ao erário. 389
A omissão que não ultrapassa os limites de restos a z Para sua configuração, deve ser praticado nos 180
pagar não configura este crime. dias que antecedem o fim do mandato ou legisla-
Sobre este crime, fique atento ao seguinte: tura. Caso realizado em outro período, não irá se
configurar;
z Só pode ser praticado dolosamente; z Admite tentativa.
z É crime omissivo;
z Não admite tentativa. Oferta Pública ou Colocação de Títulos no Mercado

Aumento de Despesa Total com Pessoal no Último Este crime se encontra previsto no art. 359-H, do CP:
Ano do Mandato ou Legislatura
Art. 359-H Ordenar, autorizar ou promover a ofer-
Art. 359-G Ordenar, autorizar ou executar ato que ta pública ou a colocação no mercado financeiro
acarrete aumento de despesa total com pessoal, de títulos da dívida pública sem que tenham sido
nos cento e oitenta dias anteriores ao final do man- criados por lei ou sem que estejam registrados em
dato ou da legislatura: sistema centralizado de liquidação e de custódia:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.

Ordenar é determinar alguma coisa. Ordenar é determinar.


Autorizar significa permitir que algo seja feito. Autorizar equivale a permitir que algo seja feito.
Executar traz a ideia de realizar ou concretizar Promover traz a ideia de realizar, concretizar a
algo. oferta pública ou colocação de títulos no mercado.
Este crime tem como finalidade evitar que se O objeto material do crime são os títulos da dívida
aumente as despesas totais com pessoal, concedendo pública. Nos termos do inciso II, art. 29, da Lei Com-
aumentos, contratando, fazendo alterações na carrei- plementar nº 101, de 2000, Lei de Responsabilidade
ra, entre outras formas, nos últimos dias do mandato Fiscal, considera-se dívida pública mobiliária aquela
ou legislatura, deixando para outro funcionário públi- representada por títulos emitidos pela União, inclusive
co a responsabilidade de arcar com os compromissos. os do Banco Central do Brasil, Estados e Municípios.
A diferença entre o art. 359-G e o art. 359-C, do O sujeito ativo somente pode ser praticado pelo
CP, é que o crime em estudo não se relaciona com a funcionário público dotado da atribuição para orde-
infração penal tipificada no art. 359-C, do CP, porque nar, autorizar ou promover oferta pública ou colo-
na assunção de obrigação no último ano do manda- cação no mercado financeiro de títulos da dívida
to ou legislatura levam-se em conta despesas que não pública.
podem ser pagas no mesmo exercício, ficando a obri- O sujeito passivo é a União, os estados, os muni-
gação de pagamento ao sucessor, sem ter disponibili-
cípios ou o Distrito Federal, dependendo do ente
dade orçamentária para tanto.
federativo atingido pela conduta criminosa, e, media-
No art. 359-G, do CP, o aumento de despesa com pes-
tamente, a pessoa física ou jurídica prejudicada pela
soal é permanente, ou seja, ultrapassará o exercício
compra de títulos irregularmente emitidos.
financeiro, atingindo anos futuros. Consequentemen-
Consuma-se o crime em estudo no momento em
te, o orçamento do ente federativo ou órgão público
que o agente público ordena, autoriza ou promove a
ficará inevitavelmente comprometido, deixando de
oferta pública ou a colocação no mercado financeiro
propiciar ao administrador público futuro condições
de títulos da dívida pública sem que tenham sido cria-
para gerir adequadamente a máquina estatal.
dos por lei ou sem que estejam registrados em sistema
Destaca-se que o elemento temporal do art. 359-G, do
centralizado de liquidação e de custódia, independen-
CP, está consubstanciado na expressão “nos cento e oiten-
ta dias anteriores ao final do mandato ou da legislatura”. temente de efetivo prejuízo ao erário.
Assim, fora do período legalmente indicado, não Sobre este crime, é importante mencionar:
há que se falar na prática do delito, ainda que exista
ilegal aumento da despesa total com pessoal. z Só pode ser praticado dolosamente;
O sujeito ativo somente pode ser praticado pelo z É crime de ação múltipla;
funcionário público com atribuição para ordenar, z Caso os títulos da dívida pública tenham sido cria-
autorizar ou executar ato que acarrete aumento de dos por lei ou estejam registrados no sistema cen-
despesa total com pessoal, nos últimos 180 dias do tralizado de liquidação e de custódia, a prática da
mandato ou legislatura. conduta prevista no tipo penal será atípica.”
O sujeito passivo é a União, os estados, os municí-
pios ou o Distrito Federal, dependendo do ente federa- Dando continuidade ao estudo da Lei 10.028, de
tivo afetado pela conduta criminosa, e, mediatamente, 2020:
a coletividade, em razão dos prejuízos causados pelo
aumento de despesa total com pessoal no último ano Art. 3º A Lei nº 1.079, de 10 de abril de 1950, passa
do mandato ou legislatura. a vigorar com as seguintes alterações:
Consuma-se quando o agente público ordena, “Art. 10. ........................................................
autoriza ou executa o ato de aumento de despesa com .......................................................................”
pessoal, nos últimos 180 dias de mandato ou legislatu- “5) deixar de ordenar a redução do montante da
ra, independentemente da comprovação de prejuízo dívida consolidada, nos prazos estabelecidos em
econômico ao erário. lei, quando o montante ultrapassar o valor resul-
tante da aplicação do limite máximo fixado pelo
Sobre este crime, leve em consideração o seguinte:
Senado Federal;” (AC)
“6) ordenar ou autorizar a abertura de crédito em
z Só pode ser praticado dolosamente;
desacordo com os limites estabelecidos pelo Senado
390 z É crime de ação múltipla; Federal, sem fundamento na lei orçamentária ou na
de crédito adicional ou com inobservância de pres- “Art. 1 .........................................................
crição legal;” (AC) ...............................................................................”
“7) deixar de promover ou de ordenar na forma da “XVI - deixar de ordenar a redução do montante da
lei, o cancelamento, a amortização ou a constitui- dívida consolidada, nos prazos estabelecidos em
ção de reserva para anular os efeitos de operação lei, quando o montante ultrapassar o valor resul-
de crédito realizada com inobservância de limite, tante da aplicação do limite máximo fixado pelo
condição ou montante estabelecido em lei;” (AC) Senado Federal;” (AC)
“8) deixar de promover ou de ordenar a liquidação “XVII - ordenar ou autorizar a abertura de crédi-
integral de operação de crédito por antecipação de to em desacordo com os limites estabelecidos pelo
receita orçamentária, inclusive os respectivos juros Senado Federal, sem fundamento na lei orçamentá-
e demais encargos, até o encerramento do exercício ria ou na de crédito adicional ou com inobservân-
financeiro;” (AC) cia de prescrição legal;” (AC)
“9) ordenar ou autorizar, em desacordo com a lei, “XVIII - deixar de promover ou de ordenar, na for-
a realização de operação de crédito com qualquer ma da lei, o cancelamento, a amortização ou a
um dos demais entes da Federação, inclusive suas constituição de reserva para anular os efeitos de
entidades da administração indireta, ainda que na operação de crédito realizada com inobservância
forma de novação, refinanciamento ou postergação de limite, condição ou montante estabelecido em
de dívida contraída anteriormente;” (AC) lei;” (AC)
“10) captar recursos a título de antecipação de “XIX - deixar de promover ou de ordenar a liquida-
receita de tributo ou contribuição cujo fato gerador ção integral de operação de crédito por antecipação
ainda não tenha ocorrido;” (AC) de receita orçamentária, inclusive os respectivos
“11) ordenar ou autorizar a destinação de recursos juros e demais encargos, até o encerramento do
provenientes da emissão de títulos para finalidade exercício financeiro;” (AC)
diversa da prevista na lei que a autorizou;” (AC) “XX - ordenar ou autorizar, em desacordo com a lei,
“12) realizar ou receber transferência voluntária a realização de operação de crédito com qualquer
em desacordo com limite ou condição estabelecida um dos demais entes da Federação, inclusive suas
em lei.” (AC) entidades da administração indireta, ainda que na
“Art. 39-A. Constituem, também, crimes de res- forma de novação, refinanciamento ou postergação
ponsabilidade do Presidente do Supremo Tribunal de dívida contraída anteriormente;” (AC)
Federal ou de seu substituto quando no exercício da “XXI - captar recursos a título de antecipação de
Presidência, as condutas previstas no art. 10 des- receita de tributo ou contribuição cujo fato gerador
ta Lei, quando por eles ordenadas ou praticadas.” ainda não tenha ocorrido;” (AC)
(AC) “XXII - ordenar ou autorizar a destinação de recur-
“Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se sos provenientes da emissão de títulos para finali-
aos Presidentes, e respectivos substitutos quando dade diversa da prevista na lei que a autorizou;”
no exercício da Presidência, dos Tribunais Supe- (AC)
riores, dos Tribunais de Contas, dos Tribunais “XXIII - realizar ou receber transferência voluntá-
Regionais Federais, do Trabalho e Eleitorais, dos ria em desacordo com limite ou condição estabele-
Tribunais de Justiça e de Alçada dos Estados e do cida em lei.” (AC)
Distrito Federal, e aos Juízes Diretores de Foro ou “......................................................................”
função equivalente no primeiro grau de jurisdição.” Art. 5º Constitui infração administrativa contra as
(AC) leis de finanças públicas:
“Art. 40-A. Constituem, também, crimes de respon- I - deixar de divulgar ou de enviar ao Poder Legis-
sabilidade do Procurador-Geral da República, ou lativo e ao Tribunal de Contas o relatório de gestão
de seu substituto quando no exercício da chefia do fiscal, nos prazos e condições estabelecidos em lei;
Ministério Público da União, as condutas previstas II - propor lei de diretrizes orçamentárias anual
no art. 10 desta Lei, quando por eles ordenadas ou que não contenha as metas fiscais na forma da lei;
praticadas.” (AC) III - deixar de expedir ato determinando limitação
“Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica- de empenho e movimentação financeira, nos casos
-se:” (AC) e condições estabelecidos em lei;
“I - ao Advogado-Geral da União;” (AC) IV - deixar de ordenar ou de promover, na forma
“II - aos Procuradores-Gerais do Trabalho, Eleitoral e nos prazos da lei, a execução de medida para a
e Militar, aos Procuradores-Gerais de Justiça dos redução do montante da despesa total com pessoal
Estados e do Distrito Federal, aos Procuradores-Ge- que houver excedido a repartição por Poder do
rais dos Estados e do Distrito Federal, e aos mem- limite máximo.
bros do Ministério Público da União e dos Estados, § 1º A infração prevista neste artigo é punida com
da Advocacia-Geral da União, das Procuradorias multa de trinta por cento dos vencimentos anuais
dos Estados e do Distrito Federal, quando no exer- do agente que lhe der causa, sendo o pagamento da
cício de função de chefia das unidades regionais ou multa de sua responsabilidade pessoal.
locais das respectivas instituições.” (AC) § 2º A infração a que se refere este artigo será
“Art. 41-A. Respeitada a prerrogativa de foro que processada e julgada pelo Tribunal de Contas a
assiste às autoridades a que se referem o parágrafo que competir a fiscalização contábil, financeira e
DIREITO PENAL

único do art. 39-A e o inciso II do parágrafo único orçamentária da pessoa jurídica de direito público
do art. 40-A, as ações penais contra elas ajuiza- envolvida.
das pela prática dos crimes de responsabilidade Art. 6º Esta Lei entra em vigor na data de sua
previstos no art. 10 desta Lei serão processadas e publicação.
julgadas de acordo com o rito instituído pela Lei Brasília, 19 de outubro de 2000; 179o da Indepen-
no 8.038, de 28 de maio de 1990, permitido, a todo dência e 112o da República.
cidadão, o oferecimento da denúncia.” (AC)
Art. 4º O art. 1º do Decreto-Lei no 201, de 27 de FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
fevereiro de 1967, passa a vigorar com a seguinte José Gregori
redação: 391
4. (FGV – 2021) O conceito analítico de crime exige a rea-
HORA DE PRATICAR! lização de um comportamento humano.
Um comportamento humano que pode ensejar inte-
1. (FGV – 2022) A Lei nº 4.729/1965 criminalizava a resse jurídico-penal e responsabilização do agente
sonegação fiscal, cominando pena de detenção de 6 que o desempenha é:
(seis) meses a 2 (dois) anos, além de multa de duas
a cinco vezes o valor do tributo. Essa Lei veio a ser a) ação por coação física irresistível;
revogada pela Lei nº 8.137/1990, cujo Art. 1º aumen- b) atos reflexos;
tou a pena para 2 (dois) a 5 (cinco) anos de reclusão e c) condutas culposas;
multa. d) perda brusca de consciência;
Em relação à essa mudança legislativa, assinale a afir- e) atos automatizados.
mativa correta.
5. (FGV – 2022) Determinado agente pretende matar
a) O Art. 1º da Lei nº 8.137/1990 não pode ser aplicado uma vítima por asfixia e, achando equivocadamente
às condutas praticadas antes da sua vigência. que ela estaria morta, joga o corpo no rio, causando a
b) O Art. 1º da Lei nº 8.137/1990 pode ser aplicado às morte por afogamento.
condutas praticadas antes da sua vigência. Em tal cenário, o agente responderá por:
c) O Art. 1º da Lei nº 8.137/1990 pode ou não ser apli-
cado às condutas praticadas antes da sua vigência, a a) crime culposo;
b) crime preterdoloso;
critério do Juiz.
c) dolo genérico;
d) O Art. 1º da Lei nº 8.137/1990, por ser lei penal excep-
d) dolo de perigo;
cional, embora decorrido o período de sua duração ou
e) dolo geral.
cessadas as circunstâncias que a determinaram, apli-
ca-se aos fatos praticados durante sua vigência.
6. (FGV – 2020) Jorge ingressou em uma loja de con-
e) O Art. 1º da Lei nº 8.137/1990, por ser lei penal tem-
veniência de determinado posto de gasolina com a
porária, embora decorrido o período de sua duração intenção de praticar um crime de roubo, portando um
ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, simulacro de arma de fogo. Após ingressar no local
aplica-se aos fatos praticados durante sua vigência. e anunciar o assalto, verifica que a única pessoa pre-
sente e que estava responsável pelo caixa era o ado-
2. (FGV – 2022) Insatisfeito com uma disputa acirrada lescente Caio, de 16 anos de idade, que ajudava seu
num jogo de futebol, Ares, que contava com 17 anos pai idoso, verdadeiro proprietário do estabelecimento.
e 11 meses de vida, aguarda a saída de Príapo de um Lamentando o fato de o adolescente estar trabalhan-
curso preparatório, efetuando cinco disparos com do, Jorge retira-se do local sem subtrair qualquer bem.
revólver adquirido com aquela finalidade. Tendo alve- Os fatos são descobertos pela autoridade policial
jado seu alvo e sem munição extra, Ares deixa o local, após divulgação das imagens da câmera de seguran-
tomando rumo ignorado. Príapo é socorrido por tran- ça, mas Caio e seu pai optam por não comparecer em
seuntes e levado ao hospital, onde permanece inter- sede policial por não terem interesse em ver Jorge
nado por dois meses, quando, então, vem a óbito, em responsabilizado, diante da decisão do autor de não
razão exclusiva dos ferimentos sofridos. subtrair bens durante a execução do delito.
De acordo com o Código Penal, Ares deverá: Com base nas informações expostas, é correto afir-
mar que a conduta de Jorge configura:
a) responder pelo crime, em razão da teoria do resultado;
b) responder pelo crime, em razão da teoria mista; a) conduta atípica, em razão do arrependimento eficaz e
c) responder pelo crime, em razão da teoria da ação; do desinteresse de Caio e seu representante em verem
d) não responder por crime, em razão da teoria da ubiqui- o autor do fato responsabilizado pelo delito residual;
dade; b) conduta atípica, em razão da desistência voluntária e
e) não responder por crime, em razão da teoria da ativi- do desinteresse de Caio e seu representante em verem
o autor do fato responsabilizado pelo delito residual;
dade.
c) crime de roubo simples, devendo ser reconhecida a
causa de diminuição de pena em razão do arrependi-
3. (FGV – 2022) Insatisfeito com uma disputa acirrada mento posterior;
num jogo de futebol, Ares, que contava com 17 anos d) crime de roubo majorado pelo emprego de arma de
e 11 meses de vida, aguarda a saída de Príapo de fogo, com causa de redução de pena da tentativa;
um curso preparatório, sequestrando seu desafeto, e) crime de roubo simples, com causa de redução de
mantendo-o em cárcere privado por dois meses, quan- pena da tentativa.
do o cativeiro é descoberto pela polícia e a vítima é
resgatada. 7. (FGV – 2022) Insatisfeito com o término da sua rela-
De acordo com o Código Penal, Ares deverá: ção amorosa, Hélios passa a monitorar as atividades
de Atena, vindo a descobrir que, em curto espaço
a) responder pelo crime, em razão da teoria do resultado; de tempo, ela assumiu um novo relacionamento com
b) responder pelo crime, em razão da teoria mista; Eros. Após elaborar uma emboscada, de posse de
c) responder pelo crime, em razão da teoria da ação; uma faca de cozinha, Hélios surpreende o casal numa
d) não responder por crime, em razão da teoria da praça pública, atentando contra a vida de Eros, desfe-
ubiquidade; rindo três facadas. Com a vítima já caída ao solo, Atena
e) não responder por crime, em razão da teoria da ativi- passa a suplicar pela interrupção da ação, prometen-
dade. do reatar o romance com Hélios, que, satisfeito com o
que ouviu, cessa os golpes e providencia o transporte
de Eros até o hospital. Em que pese a gravidade das
392
lesões, a vítima é salva, retomando suas ocupações b) a reparação integral do dano em crime de roubo, de
habituais após trinta dias de internação. maneira espontânea, antes do recebimento da denún-
O caso narrado retrata hipótese de: cia, poderá funcionar como atenuante da pena, mas
não como causa de diminuição do arrependimento
a) desistência voluntária; posterior;
b) arrependimento eficaz; c) a agravante da reincidência nunca poderá ser com-
c) arrependimento posterior; pensada com atenuante da confissão, já que aquela é
d) crime tentado; preponderante;
e) crime consumado. d) o não pagamento da multa aplicada como pena prin-
cipal importará em conversão em pena privativa de
8. (FGV – 2022) A causa de diminuição do Art. 16 do
liberdade;
Código Penal, referente ao arrependimento posterior,
e) a embriaguez culposa afasta a culpabilidade, enquan-
somente tem aplicação se houver:
to a preordenada funciona como agravante de pena.
a) a restituição da coisa antes do recebimento da denún-
cia, não possibilitada sua reparação, variando o índi- 11. (FGV – 2022) Otávio, conhecido criminoso, é encon-
ce de redução da pena em função da maior ou menor trado, durante cumprimento de Mandado de Busca e
celeridade no ressarcimento do prejuízo à vítima; Apreensão em sua residência, de posse de 10 folhas
b) a integral reparação do dano ou a restituição da coisa de cheque falsificadas, todas em nome do BANCO
antes do recebimento da denúncia, variando o índice AZUL, sendo certo que todas foram feitas em sua
de redução da pena em função da maior ou menor casa, a partir de seu computador pessoal.
celeridade no ressarcimento do prejuízo à vítima; Com relação à conduta criminosa de Otávio é correto
c) a restituição da coisa antes do recebimento da denún- afirmar que responderá pelo crime de
cia, não possibilitada sua reparação, variando o índice
de redução da pena em função da integralidade e pre- a) falsificação de documento particular.
servação do bem restituído; b) falsificação de documento público.
d) a integral reparação do dano ou a restituição da coisa c) falsidade ideológica.
antes do recebimento da denúncia, variando o índice d) uso de documento falso.
de redução da pena em função da integralidade do e) reprodução ou adulteração de selo ou peça filatélica.
bem restituído;
e) a restituição da coisa antes do oferecimento da denún- 12. (FGV – 2022) Tiago foi denunciado pelo Ministério
cia, não possibilitada sua reparação, variando o índice
Público pelos crimes de falsificação de documento
de redução da pena em função da integralidade e pre-
particular (Art. 298 do Código Penal) e estelionato
servação do bem restituído.
(Art. 171 do Código Penal), em concurso material (Art.
69 do Código Penal), por ter protocolizado pedido de
9. (FGV – 2022) Sobre os institutos da desistência volun-
tária, do arrependimento eficaz e do arrependimento restituição e declaração de compensação de tributos
posterior, é correto afirmar que: junto à Administração Fazendária, buscando aufe-
rir saldo de compensação de créditos inexistentes,
a) a não consumação, por circunstâncias alheias à cujo valor seria superior àquele dos débitos de sua
vontade do agente, é compatível com a desistência empresa.
voluntária; Nesse caso, com relação ao crime de falsificação de
b) o reconhecimento da desistência voluntária dispensa documento particular imputado, é correto afirmar que
o exame do iter criminis;
c) as circunstâncias inerentes à vontade do agente a) trata-se de um crime autônomo que é sempre punível.
são irrelevantes para a configuração da desistência b) trata-se de um crime-fim que é sempre punível.
voluntária; c) trata-se de um crime-meio que é sempre punível.
d) o arrependimento eficaz e a desistência voluntária d) trata-se de um crime-meio, que é punível se o crime-
somente são aplicáveis a delito que não tenha sido -fim também o for.
consumado; e) trata-se de um crime-meio, que é punível se ele não se
e) o reconhecimento da desistência voluntária dispensa exaurir no crime-fim, não sendo por este absorvido.
o exame do elemento subjetivo da conduta.
13. (FGV – 2022) Quanto ao crime de falsidade ideológica,
10. (FGV – 2021) A sanção penal é a principal consequên- assinale a afirmativa correta.
cia do reconhecimento da prática de um fato típico,
ilícito e culpável. Como regra, em sendo punível o cri-
a) O elemento “devia constar” é elemento normativo do
me praticado, surge para o Estado o direito de exercer
tipo, que pode converter-se em lei penal em branco se
o poder de punir. O Código Penal prevê sanções penais
o dever for legal.
DIREITO PENAL

de diferentes espécies, além de diversas regras para


sua aplicação. b) Não é possível a configuração do delito na modalidade
Sobre o tema, de acordo com as previsões do Código crime omissivo.
Penal, é correto afirmar que: c) Na inserção indireta, a terceira pessoa deve ter conhe-
cimento de que confecciona o documento de maneira
a) a pena restritiva de direitos de prestação de serviços à falsa.
comunidade, quando descumprida injustificadamente, d) No caso de concurso de pessoas, é possível que um
poderá levar à conversão em pena privativa de liberda- agente responda por inserir e, outro, por fazer inserir.
de, não sendo deduzido o tempo de pena restritiva de e) O delito é despido de especial de agir, bastando a
direito cumprido; declaração de conteúdo falso. 393
14. (FGV – 2021) No que pertine ao delito de adulteração É correto afirmar que essa conduta caracteriza crime
de sinal identificador de veículo automotor (Art. 311 de
do CP), é correto afirmar que:
a) apropriação indébita previdenciária.
a) o delito se consuma quando a adulteração ou remar- b) sonegação de contribuição previdenciária.
cação de sinal identificador do veículo afeta o poder c) crime contra a ordem tributária.
de polícia ou de fiscalização do Estado; d) descaminho.
b) a tutela penal não alcança a adulteração ou remarca- e) falsificação de documento público.
ção de sinal identificador de componente ou equipa-
mento de veículo automotor; 18. (FGV – 2022) Em relação aos crimes contra a ordem
c) não se exige que a conduta do agente seja dirigida a tributária tipificados nos artigos 1º e 2º da Lei nº
uma finalidade específica, bastando que modifique 8.137/1990, é correto afirmar que o contribuinte pode
qualquer sinal identificador de veículo automotor; ser punido
d) a ação material de modificar qualquer sinal identifica-
dor de veículo automotor deve ser dirigida a uma fina-
a) só se ele quiser o resultado da supressão ou de redu-
lidade específica para a configuração do delito;
ção do tributo.
e) a configuração do delito depende da efetiva utilização
b) só se ele assumir o risco de produzir o resultado da
do veículo automotor com sinal identificador alterado.
supressão ou de redução do tributo.
c) se ele quiser ou assumir o risco de produzir o resulta-
15. (FGV – 2022) Com base no Código Penal e na juris-
do da supressão ou de redução do tributo.
prudência atualizada dos Tribunais Superiores acer-
ca do crime de desacato, analise as afirmativas a d) só se ele der causa ao resultado por impudência, negli-
seguir e assinale (V) para a verdadeira e (F) para a gência ou imperícia.
falsa. e) se ele, de qualquer forma, der causa ao resultado da
supressão ou redução do tributo, independentemente
( ) O tabelião pode ser sujeito passivo primário do crime da sua vontade.
de desacato.
( ) O crime de desacato foi recepcionado pela Constitui- 19. (FGV – 2022) Antônio teve auto de infração lavrado em
ção da República de 1988. seu desfavor pela omissão do recolhimento de tributo,
( ) Se o réu, que comete o crime de desacato, for reinci- por ter prestado declarações falsas sobre seus rendi-
dente em crime doloso e portador de maus antece- mentos tributáveis às autoridades fazendárias, na sua
dentes, o juiz, na sentença condenatória, pode fixar o declaração anual de ajuste do Imposto sobre a Renda
regime fechado para cumprimento da pena. – Pessoa Física. Nesse mesmo ensejo, foi confeccio-
( ) Considerando as circunstâncias do caso, o juiz pode nada representação fiscal para fins penais, que veio a
deixar de aplicar a pena privativa de liberdade e con- ser apensada ao precitado auto de infração.
denar o réu, que cometeu o crime de desacato, ape- Antônio interpôs recurso administrativo dessa autua-
nas ao pagamento de multa pela prática do delito. ção, ora pendente de julgamento.
A esse respeito, assinale a afirmativa correta.
As afirmativas são, na ordem apresentada, respectiva-
mente, a) Antônio pode ser denunciado pelo Ministério Público a
qualquer tempo.
a) V – F – F – V. b) Antônio pode ser denunciado pelo Ministério Público
b) F – V – V – F. só quando este receber a representação fiscal para
c) F – V – F – V. fins penais.
d) V – F – V – V. c) Antônio pode ser denunciado pelo Ministério Público
só quando houver lançamento definitivo do tributo.
16. (FGV – 2022) Quanto ao crime de descaminho, assina-
d) Antônio pode ser denunciado pelo Ministério Público
le a afirmativa correta.
mesmo se os tributos e acessórios forem pagos.
e) Antônio pode ser denunciado pelo Ministério Público
a) Cuidando-se de crime material, mostra-se irrelevante o
mesmo se o crédito tributário for extinto por decisão
parcelamento do tributo.
judicial.
b) Cuidando-se de crime material, mostra-se irrelevante o
pagamento do tributo.
c) Cuidando-se de crime formal, mostra-se irrelevante o 20. (FGV – 2022) Em relação à infração administrativa fis-
pagamento do tributo. cal, assinale a afirmativa correta.
d) Cuidando-se de crime formal, a consumação do crime
depende da constituição definitiva do crédito. a) Toda infração administrativa fiscal implica necessaria-
e) Cuidando-se de crime material, a consumação do cri- mente prática de crime contra a Ordem Tributária.
me depende da constituição definitiva do crédito. b) A infração administrativa fiscal sempre decorre do
descumprimento de obrigação tributária principal.
17. (FGV – 2022) João dos Santos é empresário e supri- c) A infração administrativa fiscal não pode decorrer de
miu contribuição previdenciária, ao omitir receitas responsabilidade objetiva do contribuinte.
auferidas e demais fatos geradores de contribuições d) A infração administrativa fiscal sempre decorre do
sociais previdenciárias nos documentos comerciais e descumprimento de obrigação tributária acessória.
tributários da sua empresa. e) Todo crime contra a Ordem Tributária implica neces-
394 sariamente prática de infração administrativa fiscal.
9 GABARITO

1 A

2 E

3 C

4 C

5 E

6 B

7 D

8 B

9 D

10 B

11 B

12 E

13 A

14 C

15 C

16 C

17 B

18 C

19 C

20 E

ANOTAÇÕES

DIREITO PENAL

395
ANOTAÇÕES

396
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios a compe-
tência para que estes criem os impostos, as taxas e as
contribuições de melhoria.
Memorize:

SISTEMA TRIBUTÁRIO IMPOSTOS

NACIONAL NA
Não estão ligados a uma contraprestação estatal (não
são vinculados a algo oferecido pela Administração Pú-
blica). Exemplo: paga-se Imposto sobre a Propriedade
CONSTITUIÇÃO FEDERAL de Veículos Automotores (IPVA) devido a existência do
bem e não para manutenção das vias públicas. Incidem,
DE 1988 via de regra, sobre o patrimônio, renda e consumo
TAXAS
Estão ligados a uma contraprestação estatal devido à
prestação de um serviço público específico, como, por
DOS PRINCÍPIOS GERAIS exemplo, no caso de emissão de documento de veículos
CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA
A CF, de 1988, diferentemente do Código Tributário
Estão vinculados a uma contraprestação estatal decor-
Nacional (CTN), não conceitua tributo. Na realidade,
rente da execução de uma obra pública que gere um
a norma constitucional estabelece de quem é a com-
benefício direto ao contribuinte, como, por exemplo, no
petência para instituir os tributos e quais são estes.
caso de via asfaltada que gere valorização ao imóvel do
A definição de tributo e suas espécies encontram-
contribuinte
-se disciplinadas nos arts. 3º e 5º, do CTN:

Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária com- Além disso, o artigo estabelece duas regras com
pulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa relação a dois desses tributos. O parágrafo 1º traz a
exprimir, que não constitua sanção de ato ilíci- regra de que, sempre que possível, os impostos pos-
to, instituída em lei e cobrada mediante atividade suem caráter pessoal, ou seja, devem ser fixados
administrativa plenamente vinculada. levando em consideração as características pes-
[...] soais do contribuinte e sua capacidade econômica,
Art. 5º Os tributos são impostos, taxas e contri- como no caso, por exemplo, do Imposto de Renda e
buições de melhoria. proventos de qualquer natureza (IR).
Já o parágrafo 2º dispõe que a base de cálculo, isto
Deste modo, os arts. 145 a 149-A, da CF, de 1988, é, o valor sobre o qual se aplica a alíquota para calcu-
apresentam os tributos a partir da definição de quem

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988


lar a quantia a ser paga pelo contribuinte, não deve
é o ente federativo competente para instituí-los, ou ser a mesma para calcular a taxa e os impostos. É
seja, quem são os entes responsáveis por instituir os por essa razão, por exemplo, que o Imposto sobre a
impostos, taxas e contribuições de melhoria. Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) tem
Os arts. 145 a 149-A tratam do instituto da compe- como base de cálculo para cobrança o valor venal do
tência tributária, ou seja, como a tributação é inicia- imóvel, e a Taxa de coleta de lixo, o custo anual da
da. Vejamos os dispositivos: Prefeitura para a coleta e a destinação dos resíduos.

Art. 145 A União, os Estados, o Distrito Fede- Art. 146 Cabe à lei complementar:
ral e os Municípios poderão instituir os seguintes I - dispor sobre conflitos de competência, em
tributos: matéria tributária, entre a União, os Estados, o Dis-
I - impostos; trito Federal e os Municípios;
II - taxas, em razão do exercício do poder de polícia II - regular as limitações constitucionais ao
ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços poder de tributar;
públicos específicos e divisíveis, prestados ao con- III - estabelecer normas gerais em matéria de
tribuinte ou postos a sua disposição; legislação tributária, especialmente sobre:
III - contribuição de melhoria, decorrente de a) definição de tributos e de suas espécies, bem
obras públicas. como, em relação aos impostos discriminados nes-
§ 1º Sempre que possível, os impostos terão cará- ta Constituição, a dos respectivos fatos geradores,
ter pessoal e serão graduados segundo a capa- bases de cálculo e contribuintes;
cidade econômica do contribuinte, facultado b) obrigação, lançamento, crédito, prescrição
à administração tributária, especialmente para e decadência tributários;
conferir efetividade a esses objetivos, identificar, c) adequado tratamento tributário ao ato coope-
respeitados os direitos individuais e nos termos da rativo praticado pelas sociedades cooperativas.
lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades d) definição de tratamento diferenciado e favo-
econômicas do contribuinte. recido para as microempresas e para as empre-
§ 2º As taxas não poderão ter base de cálculo sas de pequeno porte, inclusive regimes especiais
própria de impostos. ou simplificados no caso do imposto previsto no
art. 155, II, das contribuições previstas no art. 195,
O art. 145 estabelece competência tributária a I e §§ 12 e 13, e da contribuição a que se refere o
todos os entes da federação. Observa-se do dispo- art. 239.
sitivo que, embora a CF, de 1988, não crie tributos, Parágrafo único. A lei complementar de que
ela retoma as três espécies previstas no CTN e suas trata o inciso III, d, também poderá instituir um
características gerais, de modo a atribuir à União, aos regime único de arrecadação dos impostos e 397
contribuições da União, dos Estados, do Distrito Por estarem vinculados à União, a tributação dos
Federal e dos Municípios, observado que: Territórios Federais é de competência da própria
I - será opcional para o contribuinte; União, tanto dos impostos estaduais como dos muni-
II - poderão ser estabelecidas condições de enqua- cipais, no caso do Território não ser dividido em
dramento diferenciadas por Estado; Município. No entanto, se no Território houverem
III - o recolhimento será unificado e centralizado Municípios, cabe à União a tributação estadual e aos
e a distribuição da parcela de recursos pertencen- Municípios deste a tributação municipal.
tes aos respectivos entes federados será imediata, Atualmente, não existem Territórios Federais. Os
vedada qualquer retenção ou condicionamento; três últimos deixaram de existir em 1988. Roraima e
IV - a arrecadação, a fiscalização e a cobrança
Amapá tornaram-se Estados-membros e Fernando de
poderão ser compartilhadas pelos entes federados,
Noronha foi transformado em Distrito Estadual de
adotado cadastro nacional único de contribuintes.
Pernambuco.
Como regra, os tributos são criados por lei ordi- Art. 148 A União, mediante lei complementar,
nária. Todavia, em alguns casos, a criação somente poderá instituir empréstimos compulsórios:
pode ser feita por lei complementar. É o que estabe- I - para atender a despesas extraordinárias, decor-
lece o art. 146, da CF, de 1988. rentes de calamidade pública, de guerra exter-
Importante mencionar que a alínea “d”, do inciso na ou sua iminência;
III, bem como o parágrafo único, estabeleceram um II - no caso de investimento público de cará-
regime de arrecadação única de tributos e con- ter urgente e de relevante interesse nacional,
tribuições federais, estaduais e municipais. Trata-se observado o disposto no art. 150, III, “b”.
do chamado Simples Nacional, um sistema especial, Parágrafo único. A aplicação dos recursos prove-
diferenciado, simplificado, favorecido, unificado e nientes de empréstimo compulsório será vinculada
opcional aplicável às microempresas e empresas de à despesa que fundamentou sua instituição.
pequeno porte.
Além das três modalidades de tributos disciplina-
Art. 146-A Lei complementar poderá estabelecer das no CTN, a CF, de 1988, apresenta em seu art. 149
critérios especiais de tributação, com o objeti- mais uma modalidade: o empréstimo compulsório.
vo de prevenir desequilíbrios da concorrência, Trata-se de um tributo que somente pode ser instituí-
sem prejuízo da competência de a União, por lei, do pela União.
estabelecer normas de igual objetivo. O empréstimo compulsório é um tributo de arre-
cadação vinculada, que tem como objetivo gerar
O art. 146-A tem como objetivo servir como ins- recursos para situações de calamidade pública,
trumento para corrigir as distorções no merca- guerra externa ou para investimento nacional
do econômico, de modo a concretizar os princípios relevante e urgente.
constitucionais orientadores da ordem econômica, da O empréstimo compulsório somente pode ser cria-
existência digna e da justiça social. Trata-se da possi- do por lei complementar específica, de modo que não
bilidade de o legislador, através de lei complementar, é possível sua instituição por outras espécies norma-
estabelecer critérios especiais de tributação para pre- tivas, tais como lei ordinária, lei delegada ou medida
venir desequilíbrios de concorrência. Ressalta-se que provisória.
o dispositivo permite, ainda, que o legislador federal O que distingue o empréstimo compulsório das
estabeleça tais normas por meio de lei ordinária. demais espécies tributárias é a promessa de devolu-
ção, uma vez que cabe ao Poder Público o dever de
Art. 147 Competem à União, em Território Fede- restituir o valor arrecadado.
ral, os impostos estaduais e, se o Território não
for dividido em Municípios, cumulativamente, Art. 149 Compete exclusivamente à União ins-
os impostos municipais; ao Distrito Federal tituir contribuições sociais, de intervenção no
cabem os impostos municipais. domínio econômico e de interesse das cate-
gorias profissionais ou econômicas, como ins-
O art. 147 traz a regra de competência para cria- trumento de sua atuação nas respectivas áreas,
ção e cobrança de tributos no Distrito Federal (DF) e observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III,
nos Territórios Federais. Como ente da federação, o e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º, relati-
DF possui atribuições tanto regionais como locais. Por vamente às contribuições a que alude o dispositivo.
§ 1º A União, os Estados, o Distrito Federal e os
essa razão, ao DF compete, além dos impostos distri-
Municípios instituirão, por meio de lei, contribui-
tais, que são os mesmos que os estaduais, a instituição
ções para custeio de regime próprio de previ-
dos impostos municipais.
dência social, cobradas dos servidores ativos,
dos aposentados e dos pensionistas, que poderão
Dica ter alíquotas progressivas de acordo com o valor
da base de contribuição ou dos proventos de apo-
Embora possua competências locais, o DF, por
sentadoria e de pensões.
expressa disposição da CF, de 1988, não pode § 1º-A Quando houver deficit atuarial, a contribuição
ser dividido em municípios. ordinária dos aposentados e pensionistas poderá
incidir sobre o valor dos proventos de aposentado-
Os Territórios Federais, por sua vez, não são entes ria e de pensões que supere o salário-mínimo.
da federação, mas decentralizações administrativas- § 1º-B Demonstrada a insuficiência da medida pre-
-territoriais pertencentes à União com o objetivo de vista no § 1º-A para equacionar o deficit atuarial,
estimular a ocupação de uma determinada área de é facultada a instituição de contribuição extraordi-
pouca densidade demográfica e verificar sua viabili- nária, no âmbito da União, dos servidores públicos
398 dade para se tornar um Estado-membro. ativos, dos aposentados e dos pensionistas.
§ 1º-C A contribuição extraordinária de que trata o Parágrafo único. É facultada a cobrança da contri-
§ 1º-B deverá ser instituída simultaneamente com buição a que se refere o caput, na fatura de consu-
outras medidas para equacionamento do deficit e mo de energia elétrica.
vigorará por período determinado, contado da data
de sua instituição. Por fim, o art. 149-A estabelece a contribuição para
§ 2º As contribuições sociais e de intervenção no custeio do serviço de iluminação pública, de compe-
domínio econômico de que trata o caput deste tência do DF e dos Municípios. Memorize:
artigo:
I - não incidirão sobre as receitas decorrentes de
exportação; TRIBUTOS DA CF, DE 1988 TRIBUTOS DO CTN
II - poderão incidir sobre a importação de petróleo
e seus derivados, gás natural e seus derivados e
álcool combustível;
Impostos Impostos
II - incidirão também sobre a importação de produ-
tos estrangeiros ou serviços;
III - poderão ter alíquotas: Taxas Taxas
a) ad valorem, tendo por base o faturamento, a
receita bruta ou o valor da operação e, no caso de
importação, o valor aduaneiro; Contribuição de Contribuição de
b) específica, tendo por base a unidade de medida melhoria melhoria
adotada.
§ 3º A pessoa natural destinatária das operações de Empréstimos
compulsórios
importação poderá ser equiparada a pessoa jurídi-
ca, na forma da lei.
§ 4º A lei definirá as hipóteses em que as contribui- Contribuições
ções incidirão uma única vez.

Outro tributo não previsto no CTN, mas contido na


CF, são as contribuições.
No campo social, têm-se as contribuições sociais,
TRIBUTO E SUAS ESPÉCIES
com o objetivo de viabilizar a ação do Estado brasilei-
ro na prestação de segurança social. (IMPOSTOS, TAXAS, CONTRIBUIÇÕES
Já no campo econômico, têm-se as contribuições DE MELHORIA, EMPRÉSTIMOS
interventivas no domínio econômico (CIDE), como COMPULSÓRIOS E CONTRIBUIÇÕES
mecanismo derivado de recursos para prevenir as dis-
torções do mercado econômico, ou seja, para promo- DIVERSAS)

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988


ver as ações interventivas no domínio econômico.
Agora vamos analisar as cinco espécies tributárias
Por fim, no campo profissional, têm-se as contri-
existentes, reforçando e aprofundando os conheci-
buições de interesse das categorias profissionais
mentos anteriormente abordados. Vejamos:
ou econômicas ou contribuições corporativas, que
são os tributos instituídos em favor das entidades que
z Impostos (art. 16 do CTN e inciso I do art. 145 da
representam categorias profissionais (trabalhadores)
CF);
ou econômicas (empregadores), tendo como objetivo z Taxas (art. 77 do CTN e inciso II do art. 145 da CF);
arrecadação para o custeio das atividades e fiscaliza- z Contribuições de Melhoria (art. 81 do CTN e inciso
ção da conduta ética dos profissionais submetidos ao III do art. 145 da CF);
seu controle. z Empréstimos Compulsórios (art. 15 do CTN e art.
148 da CF);
z Contribuições Especiais (arts. 149 e 149-A da CF).
Importante!
Veremos a seguir cada um deles.
O caput do art. 149 atribui à União a exclusivida-
de para instituição de contribuições sociais, de Impostos
intervenção no domínio econômico e de interes-
A Constituição Federal determinou a necessidade
se das categorias profissionais e econômicas.
de lei Complementar Federal para designar fatos gera-
No entanto, tal regra comporta duas exceções:
dores, bases de cálculo e contribuintes dos Impostos,
uma contida no parágrafo 1º, do art. 149, que tra- conforme previsão do inciso III do art. 146 da CF. Isso
ta da contribuição para o regime próprio de pre- impede que os diversos entes federativos adotem dife-
vidência dos servidores públicos, que pode ser rentes elementos nas especificações dos impostos sobre
instituída pelos quatro entes federativos, e outra sua competência, havendo uma aplicação nacional.
no art. 149-A, que se refere à contribuição de
iluminação pública, de competência dos Municí- z Fato Gerador: situações predeterminadas que dão
pios e do DF. motivo para cobrança do imposto. É a ocorrência
fática que determina a situação jurídica que a lei
vincula, dando origem a uma possível obrigação
Art. 149-A Os Municípios e o Distrito Federal tributária. Ex: IPTU – Fato gerador é a proprieda-
poderão instituir contribuição, na forma das respec- de, o domínio útil ou a posse de bem imóvel por
tivas leis, para o custeio do serviço de iluminação natureza ou por acessão física, como definido na
pública, observado o disposto no art. 150, I e III. lei civil, localizado na zona urbana do Município; 399
z Base de Cálculo: grandeza econômica sobre a Taxas
qual será calculada a quantia a pagar. Ex: IPTU –
Base de Cálculo é o valor venal (valor de venda) As taxas são um tributo previsto no ordenamento
dos imóveis; jurídico no art. 77 do CTN assim como no inciso II do
z Contribuinte: sujeito que comete o fato gerador, art. 145 da CF.
sendo aquele que manifesta direta e pessoalmente
a riqueza que será utilizada como base de cálculo. z Fato gerador:
Ex: IPTU – Contribuinte é o proprietário do imóvel,
o titular do seu domínio útil, ou o seu possuidor a „ Exercício regular do poder de polícia;
qualquer título. „ Prestação, efetiva ou potencial, do serviço
público específico e divisível.

Importante! A competência para instituição das taxas é comum


a todos os entes federativos, cabendo à União, aos
Os impostos são tributos não vinculados à Estados, ao Distrito Federal e aos municípios. As taxas
contraprestação específica por parte do Poder têm a receita vinculada a uma contraprestação esta-
Público, portanto, sendo livres para aplicar a tal, uma vez que o Poder Público apenas poderá exi-
arrecadação naquilo que se entender necessário gir do contribuinte se realizar uma atividade em seu
no momento social e político (inciso IV do art. favor.
167 da CF).
z Taxa de Polícia

z Competência Para Instituir Impostos A Taxa de Polícia é utilizada para financiar o exer-
cício do Poder de Polícia, poder inerente à atividade da
A competência para instituição dos impostos está administração pública de limitar as ações individuais
dividida entre os entes federativos: União, Estado, Dis- em prol da coletividade. Serão arrecadados através da
trito Federal e Municípios. taxa de polícia os valores necessários para o desempe-
nho e manutenção da estrutura administrativa.
IMPOSTOS IMPOSTOS IMPOSTOS
FEDERAIS ESTADUAIS MUNICIPAIS
(ART. 153 (ART. 155 (ART. 156
„ Fato Gerador da Taxa de Polícia: exercício do
DA CF) DA CF) DA CF) poder de polícia efetivo da administração públi-
ca, sendo este a atuação que limita as liberda-
des individuais em benefício da coletividade.
IE, II, IR, IPI, ITCMD, IPTU, ITBI e
IOF, ITR, IGF ICMS, IPVA ISSQN Art. 78 do CTN Considera-se poder de polícia ati-
vidade da administração pública que, limitando ou
disciplinando direito, interesse ou liberdade, regu-
la a prática de ato ou abstenção de fato, em razão
Ainda federais:
de interesse público concernente à segurança, à
Impostos higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da
residuais
produção e do mercado, ao exercício de atividades
Impostos econômicas dependentes de concessão ou autoriza-
extraordinários
de guerra
ção do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao
respeito à propriedade e aos direitos individuais ou
Territórios
federais
coletivos.

Conforme disposto no parágrafo único do art. 78


Com relação aos Impostos Residuais, é importante do CTN, a administração pública deve exercer o poder
analisarmos o disposto no inciso I do art. 154 da CF: de polícia de forma regular, respeitando os limites da
lei e do devido processo legal, sem abuso ou desvio de
Art. 154 da CF A União poderá instituir: finalidade. É importante salientar que não é possível a
I - mediante lei complementar, impostos não previs- cobrança de taxa sobre a prestação potencial do poder
tos no artigo anterior, desde que sejam não cumula- de polícia (colocando à disposição), apenas cabendo
tivos e não tenham fato gerador ou base de cálculo ao efetivo exercício da atividade regulamentadora.
próprios dos discriminados nesta Constituição; Porém, através da evolução constante dos enten-
dimentos jurisprudenciais, o STF entendeu constitu-
São chamados de Impostos Residuais aqueles que cional a cobrança da Taxa de Controle e Fiscalização
ainda não foram criados, mas que poderão ser a qual- Ambiental (TCFA), instituída pela União através da Lei
quer tempo. Sua criação é de competência da União, 10.165, de 2000. Essa taxa tem o objetivo de arrecadar
através de lei complementar (aprovado por maioria verba para os custos do IBAMA, nas atividades de fis-
absoluta) e não pode ter fato gerador ou base de cál- calização das indústrias poluidoras.
culo iguais aos de outros impostos, uma vez que se Apesar de a maioria das indústrias não receberem
caracterizaria como bitributação, ou seja, cobrança qualquer tipo de exercício do poder de polícia em seus
dupla para o mesmo objeto. Eles também não podem estabelecimentos, o STF defende que basta a mera
ser cumulativos, portanto, não pode ser atribuído a existência do órgão, dotado de agentes com compe-
eles o direito de compensação com outros impostos já tência de fiscalização, ou seja, o exercício presumido
400 existentes. do poder de polícia.
z Taxas de Serviços Públicos

A Taxa de Polícia é utilizada para financiar a prestação de serviço público. A prestação dos serviços públicos
deve ser encarada como direito de todos e dever do Estado, pois a criação da estrutura administrativa pública
objetiva, exatamente, gerir e colaborar com a manutenção da vida social. Todos têm direito à prestação de servi-
ços públicos de qualidade. Parcela considerável desses serviços públicos serão prestados de forma indistinta para
toda a população. Entretanto, algumas outras espécies de serviços públicos serão prestadas de forma individuali-
zada e especificada, mostrando-se possível a identificação de cada usuário. Serão sobre esses últimos serviços que
incidirá a Taxa de Serviços Públicos.

z Fato Gerador: a prestação, efetiva ou potencial, do serviço público específico e divisível.

Os serviços públicos devem ser prestados à toda população de forma indistinta, normalmente não sendo pos-
sível mensurar individualmente quem se beneficiou dessa prestação. A esses serviços gerais, chamados de uti uni-
versi, não é possível cobrar taxas, uma vez que não são específicos e nem divisíveis. São Exemplos de serviços uti
universi os serviços de segurança pública, iluminação pública e limpeza pública das vias e lougradouros públicos.
Entretanto, algumas espécies de serviço público que são prestados de forma individualizada e especificada,
mostrando-se possível a identificação de cada usuário. Esses serviços são chamados de uti singuli, pois são presta-
dos para apenas uma parcela da população, e não para a coletividade de forma indistinta, podendo nesses casos
ser cobrada taxas. São exemplos de serviços uti singuli os serviços de emissão de passaporte, serviço de coleta de
lixo domiciliar, taxa de esgoto e taxa judiciária.

Art. 79 do CTN Os serviços públicos a que se refere o artigo 77 consideram-se:


I - Utilizados pelo contribuinte:
a) Efetivamente, quando por ele usufruídos a qualquer título;
b) Potencialmente, quando, sendo de utilização compulsória, sejam postos à sua disposição mediante atividade
administrativa em efetivo funcionamento;
II - Específicos, quando possam ser destacados em unidades autônomas de intervenção, de utilidade, ou de necessi-
dades públicas;
III - Divisíveis, quando suscetíveis de utilização, separadamente, por parte de cada um dos seus usuários.

„ Base de Cálculo: corresponde ao valor necessário nessa contraprestação de custas à administração públi-
ca, referente ao exercício do poder de polícia e a prestação de serviços públicos específicos e divisíveis.
Importa salientar que a base de cálculo ou o fato gerador não podem ser idênticos aos próprios de impos-
tos, e nem serem calculados em função do capital das empresas.

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988


Porém, apesar das taxas não poderem ter base de cálculo idêntica aos impostos, é possível que elas tenham
um ou mais elementos da base de cálculo própria de determinado imposto. Um exemplo disso é a taxa de coleta
domiciliar do lixo, instituída e cobrada por alguns municípios, levando em consideração o tamanho do imóvel
como base de cálculo, o que demonstra uma semelhança com a base de cálculo do IPTU. Porém, a base de cálculo
do IPTU é o valor venal do imóvel; o metro quadrado do imóvel é apenas um dos seus elementos do valor venal,
inexistindo integral identidade.

Súmula Vinculante 19 – A taxa cobrada exclusivamente em razão dos serviços públicos de coleta, remoção e trata-
mento ou destinação de lixo ou resíduos provenientes de imóveis não viola o artigo 145, II, da Constituição Federal.
Súmula Vinculante 29 – É constitucional a adoção, no cálculo do valor de taxa, de um ou mais elementos da base
de cálculo própria de determinado imposto, desde que não haja integral identidade entre uma base e outra.
Súmula Vinculante 41 – O serviço de iluminação pública não pode ser remunerado mediante taxa.

z Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental (TCFA)

A Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental está prevista no art. 17-B da Lei Federal nº 6.938, de 1981 (Política
Nacional de Meio Ambiente) e foi regulamentada pela Instrução Normativa IBAMA 17, de 2011. É uma taxa insti-
tuída para controlar e fiscalizar atividades potencialmente poluidoras e utilizadoras de recursos naturais.
O contribuinte, dono de empreendimento ou atividade potencialmente poluidores, deve se inscrever no Cadas-
tro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras e Utilizadoras de Recursos Ambientais (CTF/APP), e
lá prestar as informações necessárias sobre a sua atividade ou empreendimento.
No Anexo VIII da Lei Federal nº 6.938, de 1981, há uma lista exemplificativa de atividades efetiva ou poten-
cialmente poluidoras que devem ser cadastradas no CTF/APP e consequentemente pagar a TCFA. O valor da taxa
levará em consideração dois critérios: porte econômico e Potencial Poluidor e Utilizador de Recursos Naturais
(PPGU). O valor da taxa será calculado de acordo com os dados declarados no CTF/APP, e ela é devida a partir da
data de início da atividade, sendo esta trimestral.

401
VALORES DA TCFA – ANEXO IX DA LEI FEDERAL 6.938, DE 1981
ATUALIZADO PELA PORTARIA INTERMINISTERIAL Nº812, DE 2015
A PARTIR DO 4º TRIMESTRE DE 2015
Porte PPGU Pessoa Física Pessoa Jurídica Empresa Empresa Empresa
Pequeno Porte Médio Porte Grande Porte
Pequeno Isento Isento R$289,84 R$579,67 R$1.159,35
Médio Isento Isento R$463,74 R$927,48 R$2.318,69
Alto Isento R$128,80 R$579,67 R$1.159,35 R$5.796,73

Contribuições de Melhoria

As Contribuições de Melhoria são instituídas quando uma obra pública denota uma valorização imobiliária
em seu entorno. Origina-se da máxima de “proibição ao enriquecimento sem causa”, evitando que o particular
experimente aumento patrimonial às custas de receitas do Poder Público. O acréscimo de riqueza alcançado pela
valorização do imóvel em decorrência da obra pública desenvolverá o dever de ressarcimento aos cofres públicos
dos custos efetivados.

z Fato Gerador: realização de obras públicas que ocasionam valorização nos imóveis dos contribuintes.

A competência para instituir e cobrar contribuições de melhoria é comum a todos os entes federativos, sendo
eles União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Portanto, qualquer um deles pode realizar obras públicas e
cobrar contribuição de melhoria aos imóveis que foram valorizados pela referida obra, conforme previsão do
inciso III do art. Como já vimos anteriormente a da CF.

Art. 81 do CTN A contribuição de melhoria cobrada pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Muni-
cípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, é instituída para fazer face ao custo de obras públicas de que
decorra valorização imobiliária, tendo como limite total a despesa realizada e como limite individual o acréscimo
de valor que da obra resultar para cada imóvel beneficiado.

z Base de Cálculo: é obtida através da diferença entre o valor do imóvel antes da realização da obra pública e
o seu preço atual com a valorização. Essa diferença na valorização do imóvel é a base de cálculo. Porém, para
a identificação correta da base de cálculo da contribuição de melhoria, é necessário levar em consideração os
limites total e individual da referida obra pública.

„ Limite total: é aquilo gasto na realização da obra pública, estabelecendo uma espécie de teto para a
cobrança dessa contribuição;
„ Limite individual: é a valorização que cada imóvel obteve individualmente.

Exemplo:

GASTO TOTAL
Valorização Base de
600.000
individual cálculo
TETO
50.000 50.000
MÁXIMO

De acordo com o princípio da transparência (que determina que deve haver uma disponibilidade de dados de
forma clara e acessível a toda sociedade), o Poder Público deve fazer uma publicação prévia (antes da cobrança)
em forma de edital, demonstrando alguns elementos necessários, previstos no inciso I do art. 82 do CTN.
Essa é uma forma do contribuinte saber no que consiste a atividade pública a ser desenvolvida. Os contribuin-
tes podem impugnar administrativamente discordando dos elementos divulgados pelo poder público, em prazo
não inferior a 30 dias, conforme os incisos II e III do art. 82 do CTN.

Art. 82 do CTN [...]


§ 2º Por ocasião do respectivo lançamento, cada contribuinte deverá ser notificado do montante da contribuição, da
forma e dos prazos de seu pagamento e dos elementos que integram o respectivo cálculo.

Empréstimos Compulsórios

Os Empréstimos Compulsórios são semelhantes a qualquer outro empréstimo contratado no setor privado,
caracterizando-se pela necessidade de posterior devolução do valor arrecadada para aqueles que lhe custearam.
A diferença é que não se está firmando contrato com uma empresa privada, no qual se tem livre arbítrio e, sim,
emprestando dinheiro de forma compulsória – sem possibilidade de escolha – com a União. Transcorrido certo
prazo e respeitando condições previstas na lei instituidora, os contribuintes resgatarão os valores entregues à
402 União, relacionados a essa espécie tributária.
z Fato Gerador: os empréstimos compulsórios não regra a competência da União para Contribuições Espe-
têm fato gerador predeterminadas, o que têm são ciais Sociais, de Intervenção do Domínio Econômico e
situações autorizadoras da sua instituição. Caso ocor- Corporativas. Porém, há duas exceções a essa regra:
ra alguma das situações descritas a seguir, a União
poderá ou não instituir o empréstimo compulsório. z Contribuição Social Previdenciária: o regime previ-
O fato gerador, a base de cálculo, os contribuintes e o denciário dos servidores públicos será custeado pelo
momento da sua devolução (a partir do exaurimento respectivo ente político em que estiver vinculado;
do motivo ensejador da cobrança) serão determina- z Contribuição para Custeio de Serviço de Ilumi-
dos no momento da instituição do tributo. nação Pública (COSIP): essa competência perten-
ce aos Municípios e ao Distrito Federal em prestar
serviços públicos de interesse local.
Cabimento dos Empréstimos Compulsórios
z Contribuições Sociais
z Atender a despesas extraordinárias decorrentes
de calamidade pública;
Objetivam a busca do bem-estar social através do
z Atender a despesas extraordinárias decorrentes
investimento em direitos sociais, como educação, saú-
de guerra externa ou sua iminência; de, alimentação, trabalho, moradia, transporte, lazer,
z No caso de investimento público de carácter urgen- segurança, previdência social, proteção à maternida-
te e de relevante interesse social. de e à infância e assistência aos desamparados, con-
forme art. 6 da CF.
Os empréstimos compulsórios têm previsão nos
incisos II e III do art. 148 da CF e a competência para „ Contribuições da seguridade social: essa con-
sua instituição é exclusiva da União. O empréstimo tribuição tem finalidade de arrecadar recursos
compulsório é um empréstimo feito pela União que
para manutenção da previdência, assistência e
deverá ser devolvido para os contribuintes que o
saúde, sendo instituídas por lei ordinária tendo
custearam.
como fontes de custeio:
Para que a União institua o empréstimo compulsó-
rio, é necessária a edição de lei complementar, com a
aprovação de maioria absoluta conforme art. 69 da CF, Empregados, empresa ou entidade equiparada (inci-
não cabendo a utilização de medida provisória, con- so I do art. 195 da CF);
forme o inciso III § 1º do art. 62 da CF. Trabalhador e demais segurados (inciso II da art.
Exemplo: Empréstimo Compulsório criado em 195 da CF);
1962 em favor da Eletrobras, como hipótese de inves- Concurso de prognósticos (inciso III do art. 195 da
timento público de caráter urgente e de relevante CF);
interesse nacional. Importador (inciso IV do art. 195 da CF).

z Destinação da arrecadação: conforme previsão z Contribuições de Intervenção do Domínio Eco-

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988


do parágrafo único do art. 148 da CF, a aplicação dos nômico (Cide)
recursos provenientes de empréstimo compulsório
será vinculada à despesa que fundamentou sua Essa contribuição é de competência exclusiva da
instituição. Portanto, todos os valores arrecadados
União, prevista de forma genérica no art. 149 da CF, e
estão previamente vinculados àquele motivo que
serve de mecanismo de intervenção na área econômi-
deu ensejo a criação do empréstimo compulsório;
z Princípio da Anterioridade: para que um tributo ca e social, incentivando ou reprimido alguns setores
possa ser cobrado, é necessário observar o princí- importantes para a política nacional. Portanto, sua
pio da anterioridade, que visa evitar que o contri- finalidade é predominantemente extrafiscal.
buinte seja surpreendido com a cobrança de um Características:
tributo recém-criado.
z Incidência sobre importação de produtos ou
„ Anterioridade do Exercício Financeiro Seguin- serviços estrangeiros: o intuito é equiparar com
te: quando um tributo só poderá ser cobrado no a carga tributária nacional, incentivando o uso de
ano seguinte da sua criação; produtos e serviços nacionais;
„ Anterioridade Nonagesimal: requer o aguar- z Não incidência sobre as receitas provenientes
do de no mínimo 90 dias para a sua cobrança. de exportação: aplicação do benefício fiscal da
imunidade sobre os valores adquiridos através de
z Empréstimos Compulsórios em casos de guerra ou produtos e serviços exportados. É uma forma de
sua iminência e calamidade pública: não é neces- incentivar o crescimento da exportação;
sário respeitar nenhuma das duas anterioridades, z Podem ter dois tipos de alíquotas: ad valorem
podendo ser exigido a partir do momento da publi- (tendo por base o faturamento, a receita bruta ou
cação da lei que instituir;
o valor da operação) ou específica (tendo por base
z Empréstimos Compulsórios em caso de investi-
a unidade de medida adotada).
mento público de caráter urgente e relevan-
te interesse nacional: será necessário respeitar
ambas as anterioridades. „ Cide-Combustíveis

Contribuições Especiais A Contribuição de Intervenção do Domínio Eco-


nômico no setor de combustíveis, CIDE-Combustíveis,
Contribuições especiais são afetadas a objetivos tem o objetivo e a maior preocupação de proteção do
previamente determinados, para manutenção e inter- elemento social e econômico, em detrimento da arre-
venção em áreas econômicas e sociais da população. cadação em si, incentivando ou reprimindo o referi-
Estão previstas nos arts. 149 e 149-A da CF, tendo como do setor. A CIDE-Combustíveis incide sobre gasolina, 403
diesel e derivados, querosene de aviação e derivativos, óleos combustíveis (fuel-oil), gás liquefeito de petróleo
(GLP), inclusive o derivado de gás natural e de nafta, e álcool etílico combustível etc.
Fato Gerador: importação e comercialização de combustíveis em geral.
Sobre esses produtos, incidiam apenas ICMS, II e IE, e existia uma proibição constitucional que vedava a cria-
ção e incidência de outros tributos. Porém, a Emenda Constitucional 33, de 2001 modificou a redação do § 3º art.
155 da CF, trocando “tributos” por “impostos”. Dessa forma, foi criada a CIDE-Combustíveis, que ainda ganhou
autorização expressa no § 4º do art. 177 da CF, trazendo regras como a vinculação do produto de arrecadação para
subsidiar o preço do transporte desses combustíveis, programas de infraestrutura e projetos ambientais, bem
como alíquotas diferenciadas por produto ou uso, podendo sofrer redução e restabelecimento por ato do poder
executivo, sem respeito à anterioridade anual.

z Contribuições Corporativas

As contribuições corporativas (art. 149 da CF), também chamadas de contribuições profissionais, são de com-
petência da União, de acordo com o interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de
sua atuação. Apesar da União criar essa contribuição, cabe as categorias representativas o papel de fiscalizar, exe-
cutar e arrecadar, deixando claro a sua finalidade parafiscal. O intuito dessa contribuição é a busca das melhorias
nas relações profissionais e a fiscalização do exercício de suas próprias atividades.
Modalidades de Contribuições Corporativas:

„ Contribuição Sindical: arrecadação para a atuação protetiva e fiscalizadora dos sindicatos, em busca de
melhorias na relação laboral. Com o advento da Lei 13.467, de 2017, que reformou a legislação trabalhista,
o pagamento dessa contribuição passou a facultativa, condicionada à prévia e expressa autorização do
integrante da categoria econômica ou profissional (arts. 578 e 579 da CLT), perdendo o caráter compulsório,
necessário para ser considerado de natureza tributária;
„ Contribuição Anuidade: arrecadação de natureza tributária, para manutenção das entidades de repre-
sentação e fiscalização de profissões regulamentadas, pagas aos respectivos conselhos profissionais.

Importante!
O STF entende que a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) é autarquia Sui Generis e que os valores pagos
a título de anuidade não têm natureza tributária. Sui Generis significa que não há comparativo com qualquer
outra autarquia pela sua natureza peculiar.

z Contribuição para o Custeio da Serviço de Iluminação Pública (Cosip)

A princípio, o serviço de iluminação pública era custeado através de taxas. Porém, para que uma taxa possa
ser instituída e cobrada, o serviço público deve ser específico e divisível. A iluminação pública não obedecia a
esses requisitos, pois não é possível identificar a especificidade do serviço e muito menos seus usuários, sendo
toda a coletividade beneficiada. Portanto, a Taxa de Iluminação Pública (TIP) foi considerada inconstitucional.
A Emenda Constitucional 39, de 2000 acrescentou na Constituição Federal o art. 149-A, trazendo a Contribuição
para o custeio do Serviço de Iluminação Pública:

Art. 149-A da CF Os Municípios e o Distrito Federal poderão instituir contribuição, na forma das respectivas leis,
para o custeio do serviço de iluminação pública, observado o disposto no art. 150, I e III.

Como já vimos anteriormente, competência para a instituição da Cosip é dos Municípios e do Distrito Federal,
em observância do Princípio da Legalidade. Toda arrecadação será vinculada à manutenção do serviço de ilumi-
nação pública, podendo ser cobrada junto à conta de energia elétrica.

CLASSIFICAÇÕES DOS TRIBUTOS

VINCULADOS
O Poder Público deve realizar uma contraprestação em troca Ex: Taxas e Contribuições de melhoria
do pagamento do tributo
NÃO VINCULADOS
O Poder Público não necessita realizar contraprestação ao Ex: Impostos
contribuinte
COMPETÊNCIA PRIVATIVA
Tributos que só podem ser instituídos por determinados en- Ex: Impostos, Empréstimo Compulsório, COSIP
tes federativos
COMPETÊNCIA COMUM
Tributos que podem ser instituídos por todos os entes Ex: Contribuição de Melhoria e Taxas
404 federativos
COMPETÊNCIA CUMULATIVA
Atribuída ao Distrito Federal para instituir tributos estaduais Ex: Tributos municipais e estaduais
e municipais
COMPETÊNCIA RESIDUAL
Atribuída à União para criação de novos tributos Ex: Impostos residuais e Contribuições de seguridade so-
cial residual
DIREITOS
O mesmo sujeito que pratica o fato gerador também supor- Ex: IPVA, IPTU etc.
tará o seu pagamento
INDIRETOS
O sujeito que pratica o fato gerador repassa indiretamente o Ex: IPI e ICMS
pagamento do tributo para um terceiro
REAIS
Apenas leva em consideração os bens sem analisar os Ex: IPVA, ISS, Taxas, Contribuição de Melhoria etc.
contribuintes
PESSOAIS
Leva em consideração aspectos subjetivos do contribuinte Ex: Imposto de Renda
SELETIVOS
Analisa a essencialidade de bens e serviços ao ser humano Ex: IPI
PROPORCIONAL
Variação da base de cálculo de acordo com a riqueza mani- Ex: IPVA
festada, com alíquotas fixas
PROGRESSIVO
Variação de alíquota e base de cálculo Ex: Imposto de renda

DAS LIMITAÇÕES DO PODER DE TRIBUTAR

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988


Após tratar da prerrogativa que os entes federativos têm de instituir o tributo e dar início à dinâmica da tri-
butação (competência tributária), os arts. 150 a 152 estabelecem os limites a serem observados. Tratam-se dos
parâmetros principiológicos e dos limites valorativos, ou seja, dos princípios constitucionais tributários e das
imunidades tributárias.

Princípios Constitucionais Tributários

Os princípios constitucionais tributários referem-se à delimitação da forma como o tributo é instituído e cobra-
do, ou seja, às regras disciplinadoras da definição e do exercício da competência tributária. Em síntese, são os
parâmetros constitucionais capazes de proteger os contribuintes de eventuais excessos e arbitragens praticados
pelo ente tributante e pelo Fisco, de modo que haja a compatibilização da arrecadação com o respeito à liberdade
e ao patrimônio dos contribuintes.
Vejamos os princípios que servem de baliza para a tributação:

Art. 150 Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios:
I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça;
II - instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qual-
quer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação
jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos;
III - cobrar tributos:
a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou
aumentado;
b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou;
c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou,
observado o disposto na alínea b;
IV - utilizar tributo com efeito de confisco;
V - estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais,
ressalvada a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Poder Público;
VI - instituir impostos sobre:
a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros;
b) templos de qualquer culto; 405
c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos tra-
balhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei;
d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão.
e) fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no Brasil contendo obras musicais ou literomusicais de
autores brasileiros e/ou obras em geral interpretadas por artistas brasileiros bem como os suportes materiais ou
arquivos digitais que os contenham, salvo na etapa de replicação industrial de mídias ópticas de leitura a laser.
§ 1º A vedação do inciso III, b, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, IV e V; e 154, II; e a
vedação do inciso III, c, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, III e V; e 154, II, nem à fixação
da base de cálculo dos impostos previstos nos arts. 155, III, e 156, I.
§ 2º A vedação do inciso VI, “a”, é extensiva às autarquias e às fundações instituídas e mantidas pelo Poder Públi-
co, no que se refere ao patrimônio, à renda e aos serviços, vinculados a suas finalidades essenciais ou às delas
decorrentes.
§ 3º As vedações do inciso VI, “a”, e do parágrafo anterior não se aplicam ao patrimônio, à renda e aos serviços,
relacionados com exploração de atividades econômicas regidas pelas normas aplicáveis a empreendimentos priva-
dos, ou em que haja contraprestação ou pagamento de preços ou tarifas pelo usuário, nem exonera o promitente
comprador da obrigação de pagar imposto relativamente ao bem imóvel.
§ 4º As vedações expressas no inciso VI, alíneas “b” e “c”, compreendem somente o patrimônio, a renda e os serviços,
relacionados com as finalidades essenciais das entidades nelas mencionadas.
§ 5º A lei determinará medidas para que os consumidores sejam esclarecidos acerca dos impostos que incidam sobre
mercadorias e serviços.
§ 6º Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo, concessão de crédito presumido, anistia ou remissão,
relativos a impostos, taxas ou contribuições, só poderá ser concedido mediante lei específica, federal, estadual ou
municipal, que regule exclusivamente as matérias acima enumeradas ou o correspondente tributo ou contribuição,
sem prejuízo do disposto no art. 155, § 2.º, XII, g.
§ 7º A lei poderá atribuir a sujeito passivo de obrigação tributária a condição de responsável pelo pagamento de
imposto ou contribuição, cujo fato gerador deva ocorrer posteriormente, assegurada a imediata e preferencial res-
tituição da quantia paga, caso não se realize o fato gerador presumido.

O primeiro princípio previsto no art. 150 é o princípio da legalidade (inciso I), que vincula a instituição,
desoneração e majoração de tributos à existência de lei, ou seja, ao crivo da representatividade política (Poder
Legislativo). Assim, somente lei em sentido estrito (ato legislativo emanado do Poder Legislativo) pode criar, exi-
gir e aumentar tributos.
O segundo princípio é o princípio da isonomia tributária (inciso II), estando atrelado à ideia de justiça tribu-
tária, uma vez que veda tratamento desigual entre os contribuintes que se encontrem em situação equivalente,
além de proibir qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independen-
temente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos.

Dica
O princípio da isonomia tributária não impede a denominada “discriminação positiva”, que tem como objetivo
alcançar a equidade, isto é, um resultado materialmente isonômico.

O terceiro princípio estabelecido no art. 150 é o princípio da irretroatividade (inciso III). Tal princípio refor-
ça a garantia da legalidade com a exigência de que a lei seja anterior à criação ou ao aumento do tributo. Em
outras palavras: a instituição ou majoração do tributo tem natureza prospectiva, ou seja, não se admite nenhum
tipo de retroatividade, nem mínima nem máxima.
Do mesmo modo que não se tributa sem lei formal, só se tributa a partir da vigência e eficácia desta. Portanto, a
tributação não retroage para alcançar fatos anteriores. Não fosse só, a CF, de 1988, estabelece garantias adicio-
nais, ou seja, intervalos mínimos entre a publicação da lei tributária impositiva mais onerosa e o início da sua inci-
dência (eficácia). Trata-se da anterioridade de exercício ou anterioridade anual e anterioridade nonagesimal.
Assim, a norma constitucional modula os efeitos da incidência ou aumento do tributo, estabelecendo um prazo para
que os contribuintes possam se preparar para receber a tributação.

EXCEÇÕES À ANTERIORIDADE ANUAL EXCEÇÕES À ANTERIORIDADE NONAGESIMAL


Imposto de Importação (II) Imposto de Importação (II)
Imposto de Exportação (IE) Imposto de Exportação (IE)
Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) Imposto de Renda (IR)
Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) Imposto sobre Operações Financeiras (IOF)
Imposto Extraordinário (de Guerra) (IEG) Imposto Extraordinário (de Guerra) (IEG)
Empréstimo Compulsório para Calamidade Pública ou Empréstimo Compulsório para Calamidade Pública ou
para Guerra Externa (EC-CALA/GUE) para Guerra Externa (EC-CALA/GUE)
CIDE-Combustível e ICMS-Combustível (previstos na EC nº Alterações na base de cálculo do IPTU e do IPVA
33, de 2001)

O quarto princípio estabelecido é o princípio da vedação ao confisco (inciso IV), que tem como objetivo proteger
o contribuinte e traçar um limite para a atuação arrecadatória do Estado, de modo a garantir o mínimo existencial
da sociedade e sua atividade econômica, além de não inviabilizar a continuidade do pagamento dos tributos.
O quinto princípio é o princípio da proibição de limitações ao tráfego por meio de tributos interestaduais e
406 intermunicipais (inciso V). Trata-se do princípio constitucional que impede a criação de tributos de passagem,
bem como de tributos de importação ou de exporta- discriminado da União, diante da igualdade material,
ção interestaduais ou intermunicipais, ressalvada como, por exemplo, a necessidade de proporcionar
expressamente a cobrança de pedágio pelo uso de desenvolvimento a determinadas regiões, como a
rodovia conservada pelo poder público. Zona Franca de Manaus (ZFM), em que há regime da
O inciso VI, por sua vez, cuida das imunidades isenção.
com relação aos impostos, ou seja, do impedimento da Complementando o princípio federativo, o inciso
tributação. II impede que a União se imponha aos demais entes
Atenção: a imunidade é para os impostos e não federados mediante tributação privilegiada em detri-
para outras espécies tributárias. mento dos demais interesses.
Observe que a CF, de 1988, estabelece o poder de Por fim, o inciso III trata da vedação das isenções
tributar, ou seja, capacidade dos entes federativos heterônomas, ou seja, lei federal não pode conceder
de tributarem por meio do exercício da competência isenções de tributos estaduais e municipais, assim
tributária. No entanto, a norma constitucional não só como não pode isentar a própria União e suas autar-
diz o que pode ser tributado, mas também o que não quias de taxas estaduais, como, por exemplo, as custas
pode ser tributado. Assim, do mesmo modo que dá judiciais.
ao ente o poder para tributar, retira deste a compe-
tência por meio das imunidades. Portanto, a norma Art. 152 É vedado aos Estados, ao Distrito
que estabelece a imunidade fixa um não fazer ou uma Federal e aos Municípios estabelecer diferença
norma de incompetência, como, por exemplo, a não tributária entre bens e serviços, de qualquer
tributação da renda dos Estados, do Distrito Federal natureza, em razão de sua procedência ou destino.
e dos Municípios, por força da imunidade tributária
recíproca. O art. 152 traz uma regra de vedação direcionada
aos Estados-membros, ao DF e aos Municípios. Trata-se
da vedação à discriminação tributária de natureza
Importante! espacial, em que há a fixação de reserva de mercado
a prestadores domiciliados em determinado Estado
Se a imunidade é a norma constitucional que fixa
como requisito para usufruir de um regime tributário
um não fazer ou uma incompetência, a isenção
favorecido e de acesso a investimentos públicos.
é a norma infraconstitucional, veiculada por lei
complementar ou ordinária, que contém a avalia-
ção da capacidade contributiva, da conveniência
e da justiça tributária em concreto.
DOS IMPOSTOS DA UNIÃO; DOS
IMPOSTOS DOS ESTADOS E DO
Por fim, no que tange aos parágrafos do art. 150,
eles disciplinam regras específicas com relação aos DISTRITO FEDERAL E DOS IMPOSTOS

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988


princípios e às imunidades tributárias, ou seja, a inci- DOS MUNICÍPIOS
dência ou não em relação a alguns tributos.
IMPOSTOS DA UNIÃO
Art. 151 É vedado à União:
I - instituir tributo que não seja uniforme em Os arts. 153 e 154 disciplinam os impostos de com-
todo o território nacional ou que implique dis-
petência da União Federal.
tinção ou preferência em relação a Estado, ao
Distrito Federal ou a Município, em detrimento de
Art. 153 Compete à União instituir impostos
outro, admitida a concessão de incentivos fiscais
sobre:
destinados a promover o equilíbrio do desenvolvi-
I - importação de produtos estrangeiros;
mento sócio-econômico entre as diferentes regiões
II - exportação, para o exterior, de produtos nacio-
do País;
nais ou nacionalizados;
II - tributar a renda das obrigações da dívi- III - renda e proventos de qualquer natureza;
da pública dos Estados, do Distrito Federal e dos IV - produtos industrializados;
Municípios, bem como a remuneração e os pro- V - operações de crédito, câmbio e seguro, ou
ventos dos respectivos agentes públicos, em relativas a títulos ou valores mobiliários;
níveis superiores aos que fixar para suas obriga- VI - propriedade territorial rural;
ções e para seus agentes; VII - grandes fortunas, nos termos de lei comple-
III - instituir isenções de tributos da competên- mentar.
cia dos Estados, do Distrito Federal ou dos § 1º É facultado ao Poder Executivo, atendidas as
Municípios. condições e os limites estabelecidos em lei, alterar
as alíquotas dos impostos enumerados nos incisos
O art. 151, da CF, de 1988, traz princípios tribu- I, II, IV e V.
tários de proteção federativa, caracterizando-se em § 2º O imposto previsto no inciso III:
limitações ao poder de tributar da União decorrente I - será informado pelos critérios da generalidade,
da uniformidade geográfica, da vedação da tributa- da universalidade e da progressividade, na forma
ção diferenciada da renda das obrigações das dívidas da lei;
§ 3º O imposto previsto no inciso IV:
públicas e da remuneração dos servidores e da veda-
I - será seletivo, em função da essencialidade do
ção das isenções heterônomas. produto;
Importante: A uniformidade geográfica discipli- II - será não-cumulativo, compensando-se o que for
nada no inciso I visa a garantir que a União aja com devido em cada operação com o montante cobrado
isonomia fiscal com relação aos entes da federação e nas anteriores;
não apenas em relação aos contribuintes. Tal isono- III - não incidirá sobre produtos industrializados
mia pode ser excetuada no caso que justifique o agir destinados ao exterior. 407
IV - terá reduzido seu impacto sobre a aquisição O sexto imposto é o imposto sobre a propriedade
de bens de capital pelo contribuinte do imposto, na territorial rural (ITR), que incide sobre a proprieda-
forma da lei. de, o domínio útil ou a posse de imóvel por natureza,
§ 4º O imposto previsto no inciso VI do caput: localizado fora da zona urbana do município. O ITR
I - será progressivo e terá suas alíquotas fixadas de
forma a desestimular a manutenção de proprieda-
possui caráter extrafiscal e se submete aos princípios
des improdutivas; da legalidade, da anterioridade de exercício e da ante-
II - não incidirá sobre pequenas glebas rurais, defi- rioridade nonagesimal.
nidas em lei, quando as explore o proprietário que Por fim, o imposto sobre grandes fortunas (IGF)
não possua outro imóvel; é o sétimo imposto de competência da União. No
III - será fiscalizado e cobrado pelos Municípios entanto, embora previsto na CF, de 1988, o IGF ainda
que assim optarem, na forma da lei, desde que não não foi instituído.
implique redução do imposto ou qualquer outra
forma de renúncia fiscal.
Art. 154 A União poderá instituir:
§ 5º O ouro, quando definido em lei como ati-
vo financeiro ou instrumento cambial, sujeita-se I - mediante lei complementar, impostos não
exclusivamente à incidência do imposto de que previstos no artigo anterior, desde que sejam
trata o inciso V do «caput» deste artigo, devido na não-cumulativos e não tenham fato gerador ou
operação de origem; a alíquota mínima será de um base de cálculo próprios dos discriminados nesta
por cento, assegurada a transferência do montante Constituição;
da arrecadação nos seguintes termos: II - na iminência ou no caso de guerra externa,
I - trinta por cento para o Estado, o Distrito Federal impostos extraordinários, compreendidos ou
ou o Território, conforme a origem; não em sua competência tributária, os quais serão
II - setenta por cento para o Município de origem. suprimidos, gradativamente, cessadas as causas de
sua criação.
De acordo com o art. 153, da CF, de 1988, a União
possui competência para instituir sete impostos. O art. 154, da CF, de 1988, estabelece a competên-
O primeiro imposto é o imposto de importação cia residual e extraordinária da União para insti-
(II), que é um dos tributos que incidem sobre o comér- tuir determinados impostos, como, por exemplo, o
cio exterior (importação de produto estrangeiro). Ele imposto extraordinário para o caso de guerra externa.
possui função extrafiscal predominante, além de não
se submeter aos princípios da anterioridade de exer-
IMPOSTOS DOS ESTADOS E DO DISTRITO FEDERAL
cício, anterioridade nonagesimal e legalidade no que
diz respeito às alíquotas.
O segundo imposto de competência da União é o O art. 155 estabelece os impostos de competência
imposto sobre a exportação (IE). Trata-se também de dos Estados-membros e do Distrito Federal.
um dos tributos que incide sobre o comércio exterior
(exportação de produto nacional), com caráter de extra- Art. 155 Compete aos Estados e ao Distrito Fede-
fiscalidade e que também não se submete aos princípios ral instituir impostos sobre:
da anterioridade de exercício, anterioridade nonagesi- I - transmissão causa mortis e doação, de quais-
mal e legalidade no que diz respeito às alíquotas. quer bens ou direitos;
O terceiro imposto é o imposto de renda e pro- II - operações relativas à circulação de mer-
ventos de qualquer natureza (IR), um imposto mar- cadorias e sobre prestações de serviços de
transporte interestadual e intermunicipal e de
cadamente fiscal, mas com algumas características de
comunicação, ainda que as operações e as presta-
extrafiscalidade. Ele incide sobre a renda, que pode
ções se iniciem no exterior;
ser decorrente do trabalho, do capital ou de ambos, e
III - propriedade de veículos automotores.
sobre os proventos. Outra característica importante é § 1º O imposto previsto no inciso I:
a incidência do critério da progressividade (gradação I - relativamente a bens imóveis e respectivos direi-
da alíquota). O IR submete-se aos princípios da ante- tos, compete ao Estado da situação do bem, ou ao
rioridade de exercício e da legalidade, porém, a ele não Distrito Federal
se aplica o princípio da anterioridade nonagesimal. II - relativamente a bens móveis, títulos e créditos,
O quarto princípio é o imposto sobre produtos compete ao Estado onde se processar o inventário
industrializados (IPI), cuja incidência é dada em ou arrolamento, ou tiver domicílio o doador, ou ao
três situações: a importação, momento do desemba- Distrito Federal;
raço aduaneiro do produto industrializado; a saída III - terá competência para sua instituição regulada
do estabelecimento industrial ou comercial e a sua por lei complementar:
arrematação em leilão. O IPI é um tributo com caráter a) se o doador tiver domicilio ou residência no
de extrafiscalidade, pois o aumento ou a diminuição exterior;
de sua alíquota gera reflexos importantes na atuação b) se o de cujus possuía bens, era residente ou
do contribuinte. Possui ainda caráter fiscal, sendo o domiciliado ou teve o seu inventário processado no
exterior;
segundo imposto federal com maior arrecadação. O
IV - terá suas alíquotas máximas fixadas pelo Sena-
IR não se submete aos princípios da anterioridade
do Federal;
de exercício e da legalidade com relação às alíquotas,
§ 2º O imposto previsto no inciso II atenderá ao
porém, a ele é aplicado o princípio da anterioridade seguinte:
nonagesimal. I - será não-cumulativo, compensando-se o que for
O quinto imposto é o imposto sobre as operações devido em cada operação relativa à circulação de
de crédito, câmbio e seguro ou relativas a títulos ou mercadorias ou prestação de serviços com o mon-
valores mobiliários (IOF). O IOF é tributo de caráter tante cobrado nas anteriores pelo mesmo ou outro
de extrafiscalidade que não se submete aos princípios Estado ou pelo Distrito Federal;
da anterioridade de exercício, anterioridade nonage- II - a isenção ou não-incidência, salvo determinação
408 simal e legalidade no que diz respeito às alíquotas. em contrário da legislação:
a) não implicará crédito para compensação com e relativa a produto destinado à industrialização ou
o montante devido nas operações ou prestações à comercialização, configure fato gerador dos dois
seguintes; impostos;
b) acarretará a anulação do crédito relativo às ope- XII - cabe à lei complementar:
rações anteriores; a) definir seus contribuintes;
III - poderá ser seletivo, em função da essencialida- b) dispor sobre substituição tributária;
de das mercadorias e dos serviços; c) disciplinar o regime de compensação do imposto;
IV - resolução do Senado Federal, de iniciativa do d) fixar, para efeito de sua cobrança e definição do
Presidente da República ou de um terço dos Sena- estabelecimento responsável, o local das operações
dores, aprovada pela maioria absoluta de seus relativas à circulação de mercadorias e das presta-
membros, estabelecerá as alíquotas aplicáveis ções de serviços;
às operações e prestações, interestaduais e de e) excluir da incidência do imposto, nas exporta-
exportação; ções para o exterior, serviços e outros produtos
V - é facultado ao Senado Federal: além dos mencionados no inciso X, “a”
a) estabelecer alíquotas mínimas nas operações inter- f) prever casos de manutenção de crédito, relativa-
nas, mediante resolução de iniciativa de um terço e mente à remessa para outro Estado e exportação
aprovada pela maioria absoluta de seus membros; para o exterior, de serviços e de mercadorias;
b) fixar alíquotas máximas nas mesmas operações g) regular a forma como, mediante deliberação dos
para resolver conflito específico que envolva inte- Estados e do Distrito Federal, isenções, incentivos
resse de Estados, mediante resolução de iniciativa e benefícios fiscais serão concedidos e revogados.
da maioria absoluta e aprovada por dois terços de h) definir os combustíveis e lubrificantes sobre os
seus membros; quais o imposto incidirá uma única vez, qualquer
VI - salvo deliberação em contrário dos Estados e que seja a sua finalidade, hipótese em que não se
do Distrito Federal, nos termos do disposto no inci- aplicará o disposto no inciso X, b;
so XII, “g”, as alíquotas internas, nas operações i) fixar a base de cálculo, de modo que o montan-
relativas à circulação de mercadorias e nas pres- te do imposto a integre, também na importação do
tações de serviços, não poderão ser inferiores às exterior de bem, mercadoria ou serviço.
previstas para as operações interestaduais; § 3º À exceção dos impostos de que tratam o inciso
VII - nas operações e prestações que destinem bens II do caput deste artigo e o art. 153, I e II, nenhum
e serviços a consumidor final, contribuinte ou não outro imposto poderá incidir sobre operações
do imposto, localizado em outro Estado, adotar-se-
relativas a energia elétrica, serviços de telecomu-
-á a alíquota interestadual e caberá ao Estado de
nicações, derivados de petróleo, combustíveis e
localização do destinatário o imposto correspon-
minerais do País.
dente à diferença entre a alíquota interna do Estado
§ 4º Na hipótese do inciso XII, h, observar-se-á o
destinatário e a alíquota interestadual;
seguinte:
VIII - a responsabilidade pelo recolhimento do
I - nas operações com os lubrificantes e combus-
imposto correspondente à diferença entre a alíquo-
tíveis derivados de petróleo, o imposto caberá ao
ta interna e a interestadual de que trata o inciso VII

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988


Estado onde ocorrer o consumo;
será atribuída:
II - nas operações interestaduais, entre contribuin-
a) ao destinatário, quando este for contribuinte do
tes, com gás natural e seus derivados, e lubrifican-
imposto;
tes e combustíveis não incluídos no inciso I deste
b) ao remetente, quando o destinatário não for con-
tribuinte do imposto; parágrafo, o imposto será repartido entre os Esta-
IX - incidirá também: dos de origem e de destino, mantendo-se a mesma
a) sobre a entrada de bem ou mercadoria importa- proporcionalidade que ocorre nas operações com
dos do exterior por pessoa física ou jurídica, ain- as demais mercadorias;
da que não seja contribuinte habitual do imposto, III - nas operações interestaduais com gás natural
qualquer que seja a sua finalidade, assim como e seus derivados, e lubrificantes e combustíveis não
sobre o serviço prestado no exterior, cabendo o incluídos no inciso I deste parágrafo, destinadas a não
imposto ao Estado onde estiver situado o domicílio contribuinte, o imposto caberá ao Estado de origem;
ou o estabelecimento do destinatário da mercado- IV - as alíquotas do imposto serão definidas median-
ria, bem ou serviço; te deliberação dos Estados e Distrito Federal, nos
b) sobre o valor total da operação, quando mercado- termos do § 2º, XII, g, observando-se o seguinte:
rias forem fornecidas com serviços não compreen- a) serão uniformes em todo o território nacional,
didos na competência tributária dos Municípios; podendo ser diferenciadas por produto;
X - não incidirá: b) poderão ser específicas, por unidade de medida
a) sobre operações que destinem mercadorias para adotada, ou ad valorem , incidindo sobre o valor
o exterior, nem sobre serviços prestados a destina- da operação ou sobre o preço que o produto ou seu
tários no exterior, assegurada a manutenção e o similar alcançaria em uma venda em condições de
aproveitamento do montante do imposto cobrado livre concorrência;
nas operações e prestações anteriores; c) poderão ser reduzidas e restabelecidas, não se
b) sobre operações que destinem a outros Estados lhes aplicando o disposto no art. 150, III, b.
petróleo, inclusive lubrificantes, combustíveis líqui- § 5º As regras necessárias à aplicação do disposto
dos e gasosos dele derivados, e energia elétrica; no § 4º, inclusive as relativas à apuração e à des-
c) sobre o ouro, nas hipóteses definidas no art. 153, tinação do imposto, serão estabelecidas mediante
§ 5º; deliberação dos Estados e do Distrito Federal, nos
d) nas prestações de serviço de comunicação nas termos do § 2º, XII, g.
modalidades de radiodifusão sonora e de sons e § 6º O imposto previsto no inciso III:
imagens de recepção livre e gratuita; I - terá alíquotas mínimas fixadas pelo Senado
XI - não compreenderá, em sua base de cálculo, o Federal;
montante do imposto sobre produtos industrializa- II - poderá ter alíquotas diferenciadas em função do
dos, quando a operação, realizada entre contribuintes tipo e utilização. 409
São três os impostos estaduais/distritais. O primei- III - regular a forma e as condições como isenções,
ro imposto é o imposto de transmissão causa mortis e incentivos e benefícios fiscais serão concedidos e
doação (ITCMD). Trata-se de um tributo que incide quan- revogados.
do há a transmissão de patrimônio em decorrência da São três os impostos municipais.
morte do indivíduo que era proprietário dos bens ou em O primeiro imposto é o imposto sobre a proprieda-
decorrência de transmissões não onerosas e voluntárias de predial e territorial urbana (IPTU), ou seja, aquele
de bens do patrimônio do doador para o donatário. que incide sobre a propriedade de imóvel localizado
nos municípios e no DF. Trata-se, portanto, de um tri-
buto não vinculado que respeita todos os princípios
Importante constitucionais tributários, com exceção do princípio
da anterioridade nonagesimal com relação à majora-
Se for transmissão gratuita (doação), incide o ção de sua base de cálculo. Importante esclarecer que
ITCMD. o IPTU possui tanto característica fiscal (valor venal do
Se for transmissão onerosa, incide o ITBI, que é imóvel) como extrafiscal (progressividade da alíquota).
de competência municipal. O segundo imposto municipal é o imposto sobre
transmissão inter vivos, a qualquer título, por ato
oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão
O segundo imposto estadual é o imposto sobre física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de
operações relativas à circulação de mercadorias e garantia, bem como cessão de direitos a sua aqui-
sobre prestações de serviços de transporte interes- sição (ITBI). O ITBI deve observar todos os princípios
tadual e intermunicipal e de comunicação (ICMS). constitucionais tributários. Quem tem a titularidade
Trata-se de uma espécie tributária não vinculada, ou para a cobrança é o município em que tiver localiza-
do o imóvel. Cumpre mencionar, ainda, a existência de
seja, que incide sobre um fato do contribuinte e não
imunidade na transmissão de bens ou direitos incorpo-
sobre um fato do Estado.
rados ao patrimônio de pessoa jurídica em realização
O terceiro e último imposto estadual é o impos- de capital e na transmissão de bens ou direitos decor-
to sobre a propriedade de veículos automotores rentes de fusão, incorporação, cisão ou extinção da
(IPVA). Trata-se de um tributo não vinculado e de pessoa jurídica, com exceção nas atividades de venda e
arrecadação também não vinculada, que incide sobre compra, locação ou arrendamento mercantil.
a propriedade de veículos automotores (basta ter a O terceiro e último imposto municipal é o imposto
propriedade). sobre serviços de qualquer natureza (ISS). A insti-
tuição do ISS deve respeitar todos os princípios cons-
IMPOSTOS DOS MUNICÍPIOS titucionais tributários, cabendo à lei complementar
a definição das alíquotas mínimas e máximas, assim
O art. 156 estabelece os impostos de competência como as formas e condições para os benefícios fiscais.
Ressalta-se, por necessário, que o ISS não incide sobre
dos Municípios. O disposto também se aplica ao Dis-
transportes intermunicipais e interestaduais e sobre
trito Federal.
a comunicação.
Art. 156 Compete aos Municípios instituir impos-
tos sobre:
I - propriedade predial e territorial urbana; DA REPARTIÇÃO DAS RECEITAS
II - transmissão “inter vivos”, a qualquer títu-
lo, por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza TRIBUTÁRIAS
ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis,
exceto os de garantia, bem como cessão de direitos Os arts. 157 a 162, da CF, de 1988, estabelecem as
a sua aquisição; regras de repartição de receitas tributárias. Por repar-
III - serviços de qualquer natureza, não compreen- tição de receitas tributárias depreende-se a repar-
didos no art. 155, II, definidos em lei complementar. tição do produto arrecadado de alguns tributos
§ 1º Sem prejuízo da progressividade no tempo a instituídos e cobrados pelos entes federativos. Veja-
que se refere o art. 182, § 4º, inciso II, o imposto mos os dispositivos:
previsto no inciso I poderá:
I - ser progressivo em razão do valor do imóvel; e Art. 157 Pertencem aos Estados e ao Distrito Federal:
II - ter alíquotas diferentes de acordo com a locali- I - o produto da arrecadação do imposto da União
zação e o uso do imóvel. sobre renda e proventos de qualquer natureza,
§ 2º O imposto previsto no inciso II: incidente na fonte, sobre rendimentos pagos, a
I - não incide sobre a transmissão de bens ou direi- qualquer título, por eles, suas autarquias e pelas
tos incorporados ao patrimônio de pessoa jurídica fundações que instituírem e mantiverem;
em realização de capital, nem sobre a transmissão II - vinte por cento do produto da arrecadação do
de bens ou direitos decorrente de fusão, incorpo- imposto que a União instituir no exercício da com-
petência que lhe é atribuída pelo art. 154, I.
ração, cisão ou extinção de pessoa jurídica, sal-
vo se, nesses casos, a atividade preponderante do
adquirente for a compra e venda desses bens ou A CF, de 1988, traz quatro formas de repartir
direitos, locação de bens imóveis ou arrendamento as receitas entre os entes da Federação. A primeira
mercantil; encontra-se no art. 157 e é denominada transferência
II - compete ao Município da situação do bem. direta. Nela, a União repassa diretamente orçamento
§ 3º Em relação ao imposto previsto no inciso III do para os Estados e Distrito Federal. Nesta hipótese,
caput deste artigo, cabe à lei complementar: é repassada a arrecadação de rendas e proventos de
I - fixar as suas alíquotas máximas e mínimas; qualquer natureza, sobre qualquer título, entre os Esta-
II - excluir da sua incidência exportações de servi- dos e ao Distrito Federal, bem como repassados os tri-
410 ços para o exterior. butos instituídos sob a natureza de imposto residual.
Transferência Direta Art. 159 A União entregará:
I - do produto da arrecadação dos impostos sobre
renda e proventos de qualquer natureza e sobre
IR retido em fonte: 100% produtos industrializados, 50% (cinquenta por cen-
União Estados e DF Imposto instituído com base to), da seguinte forma:
na competência Residual: 20% a) vinte e um inteiros e cinco décimos por cento ao
Fundo de Participação dos Estados e do Distrito
Federal;
b) vinte e dois inteiros e cinco décimos por cento ao
Art. 158 Pertencem aos Municípios:
Fundo de Participação dos Municípios;
I - o produto da arrecadação do imposto da União
c) três por cento, para aplicação em programas de
sobre renda e proventos de qualquer natureza,
financiamento ao setor produtivo das Regiões Nor-
incidente na fonte, sobre rendimentos pagos, a
te, Nordeste e Centro-Oeste, através de suas insti-
qualquer título, por eles, suas autarquias e pelas
tuições financeiras de caráter regional, de acordo
fundações que instituírem e mantiverem;
com os planos regionais de desenvolvimento, fican-
II - cinqüenta por cento do produto da arrecadação
do assegurada ao semi-árido do Nordeste a metade
do imposto da União sobre a propriedade territo-
dos recursos destinados à Região, na forma que a
rial rural, relativamente aos imóveis neles situa-
lei estabelecer;
dos, cabendo a totalidade na hipótese da opção a
d) um por cento ao Fundo de Participação dos
que se refere o art. 153, § 4º, III;
Municípios, que será entregue no primeiro decên-
III - cinqüenta por cento do produto da arrecadação
dio do mês de dezembro de cada ano;
do imposto do Estado sobre a propriedade de veícu-
e) 1% (um por cento) ao Fundo de Participação dos
los automotores licenciados em seus territórios;
Municípios, que será entregue no primeiro decên-
IV - vinte e cinco por cento do produto da arrecada-
dio do mês de julho de cada ano;
ção do imposto do Estado sobre operações relativas
f) 1% (um por cento) ao Fundo de Participação dos
à circulação de mercadorias e sobre prestações de
Municípios, que será entregue no primeiro decên-
serviços de transporte interestadual e intermunici-
dio do mês de setembro de cada ano;
pal e de comunicação.
II - do produto da arrecadação do imposto sobre
Parágrafo único. As parcelas de receita pertencen-
produtos industrializados, dez por cento aos Esta-
tes aos Municípios, mencionadas no inciso IV, serão dos e ao Distrito Federal, proporcionalmente ao
creditadas conforme os seguintes critérios: valor das respectivas exportações de produtos
I - 65% (sessenta e cinco por cento), no mínimo, na industrializados.
proporção do valor adicionado nas operações rela- III - do produto da arrecadação da contribuição de
tivas à circulação de mercadorias e nas prestações intervenção no domínio econômico prevista no art.
de serviços, realizadas em seus territórios; 177, § 4º, 29% (vinte e nove por cento) para os Esta-
II - até 35% (trinta e cinco por cento), de acordo dos e o Distrito Federal, distribuídos na forma da
com o que dispuser lei estadual, observada, obri- lei, observada a destinação a que se refere o inciso
gatoriamente, a distribuição de, no mínimo, 10 II, c, do referido parágrafo.

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988


(dez) pontos percentuais com base em indicadores § 1º Para efeito de cálculo da entrega a ser efetuada
de melhoria nos resultados de aprendizagem e de de acordo com o previsto no inciso I, excluir-se-á
aumento da equidade, considerado o nível socioe- a parcela da arrecadação do imposto de renda e
conômico dos educandos. proventos de qualquer natureza pertencente aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, nos
A segunda forma de repartição de receitas está termos do disposto nos arts. 157, I, e 158, I.
prevista no art. 158 e também é denominada transfe- § 2º A nenhuma unidade federada poderá ser
rência direta, por envolver o repasse da União dire- destinada parcela superior a vinte por cento do
tamente aos Municípios. Essa modalidade engloba montante a que se refere o inciso II, devendo o
todos os impostos sobre renda e proventos de qual- eventual excedente ser distribuído entre os demais
quer natureza que devem ser repassados pela União participantes, mantido, em relação a esses, o crité-
aos Municípios e a distribuição da arrecadação do ITR. rio de partilha nele estabelecido.
§ 3º Os Estados entregarão aos respectivos Municí-
pios vinte e cinco por cento dos recursos que recebe-
IR retido em fonte: 100%
rem nos termos do inciso II, observados os critérios
estabelecidos no art. 158, parágrafo único, I e II.
União Municípios ITR fiscalizado e cobrado pela União: 50%
§ 4º Do montante de recursos de que trata o inciso
ITR fiscalizado e cobrado pelo Município: 100%
III que cabe a cada Estado, vinte e cinco por cento
serão destinados aos seus Municípios, na forma da
lei a que se refere o mencionado inciso.
O dispositivo contém, ainda, a terceira forma de
repartição de receitas, que se dá por meio da transfe- Por fim, a quarta forma de repartição de receitas é
rência direta dos Estados aos Municípios, envolven- a transferência indireta prevista no art. 159, da CF, de
do o repasse de cinquenta por cento da arrecadação de 1988. Nesta hipótese, são utilizados Fundos Especiais
IPVA e de vinte e cinco por cento do ICMS arrecadado. para que haja o repasse do valor arrecadado da tribu-
tação aos entes da federação. Memorize:

IPVA: 50% z IR (exceto IR retido em fonte) + IPI:


Estados Municípios
ICMS: 25%
„ 21, 5% para o Fundo de Participação dos Esta-
dos e DF;
„ 22,5% para o Fundo de Participação dos
Municípios; 411
„ 3% para programas de financiamento do Parágrafo único. Os dados divulgados pela União
setor produtivo das regiões Norte, Nordeste e serão discriminados por Estado e por Município; os
Centro-Oeste; dos Estados, por Município.
„ 1% para o Fundo de Participação dos Municí-
pios, entregue no primeiro decênio de dezem- Finalizando o tema, o art. 162, que decorre do prin-
bro de cada ano; cípio da publicidade, estabelece os prazos de divulga-
„ 1% para o Fundo de Participação dos Municípios, ção dos valores arrecadados e recebidos pelos entes
entregue no primeiro decênio de julho de cada por meio da repartição de receitas tributárias.
ano.
DAS FINANÇAS PÚBLICAS
z IPI
Os arts. 163 a 169, da CF, de 1988, tratam das finan-
„ 10% distribuídos proporcionalmente aos Esta- ças públicas. Em síntese, é por meio das finanças
dos e DF (de acordo com a exportação de pro- públicas que o Estado brasileiro busca planejar, orga-
dutos industrializados); nizar, dirigir, controlar e tomar as decisões relativas à
„ 25% aos Municípios do que for repassado aos obtenção e aplicação de recursos para o custeio dos
Estados. serviços públicos e para o atendimento das neces-
sidades sociais.
Observe que as finanças públicas devem englobar
z CIDE-Combustível
as seguintes atividades:
„ 29% distribuídos aos Estados e DF;
Por meio do orçamento e
„ 25% aos Municípios do que for repassado aos Gestão
planejamento
Estados.
Obtenção De receita
Art. 160 É vedada a retenção ou qualquer restri- Gasto De despesas
ção à entrega e ao emprego dos recursos atribuí-
dos, nesta seção, aos Estados, ao Distrito Federal e Criação De crédito
aos Municípios, neles compreendidos adicionais e
acréscimos relativos a impostos. Por conseguinte, o objeto do estudo é a atividade
Parágrafo único. A vedação prevista neste artigo fiscal. Leia os artigos com atenção:
não impede a União e os Estados de condicionarem
a entrega de recursos: Art. 163 Lei complementar disporá sobre:
I - ao pagamento de seus créditos, inclusive de suas I - finanças públicas;
autarquias; II - dívida pública externa e interna, incluída a das
II - ao cumprimento do disposto no art. 198, § 2º, autarquias, fundações e demais entidades controla-
incisos II e III. das pelo Poder Público;
III - concessão de garantias pelas entidades
Cumpre mencionar que o art. 160 traça regras de públicas;
vedação à retenção ou restrição de entrega ou empre- IV - emissão e resgate de títulos da dívida pública;
go dos recursos. V - fiscalização financeira da administração públi-
ca direta e indireta;
Art. 161 Cabe à lei complementar: VI - operações de câmbio realizadas por órgãos e
I - definir valor adicionado para fins do disposto no entidades da União, dos Estados, do Distrito Fede-
art. 158, parágrafo único, I; ral e dos Municípios;
VII - compatibilização das funções das instituições
II - estabelecer normas sobre a entrega dos recur-
oficiais de crédito da União, resguardadas as carac-
sos de que trata o art. 159, especialmente sobre os
terísticas e condições operacionais plenas das vol-
critérios de rateio dos fundos previstos em seu inci-
tadas ao desenvolvimento regional.
so I, objetivando promover o equilíbrio sócio-eco-
VIII - sustentabilidade da dívida, especificando:
nômico entre Estados e entre Municípios; a) indicadores de sua apuração;
III - dispor sobre o acompanhamento, pelos bene- b) níveis de compatibilidade dos resultados fiscais
ficiários, do cálculo das quotas e da liberação das com a trajetória da dívida;
participações previstas nos arts. 157, 158 e 159. c) trajetória de convergência do montante da dívida
Parágrafo único. O Tribunal de Contas da União com os limites definidos em legislação;
efetuará o cálculo das quotas referentes aos fundos d) medidas de ajuste, suspensões e vedações;
de participação a que alude o inciso II. e) planejamento de alienação de ativos com vistas à
redução do montante da dívida. Parágrafo único. A
O art. 161, da CF, de 1988, atribui a lei complementar a lei complementar de que trata o inciso VIII do caput
competência tanto de definir o valor adicionado para fins deste artigo pode autorizar a aplicação das veda-
da transferência direta como para estabelecer as normas ções previstas no art. 167-A desta Constituição.
da transferência indireta. Assim dispõe o dispositivo:
Observe que a CF, de 1988, exige lei complementar
Art. 162 A União, os Estados, o Distrito Federal e os para tratar de exercício financeiro e dos instrumentos
Municípios divulgarão, até o último dia do mês sub- do Plano Plurianual (PPA), da Lei de Diretrizes Orça-
seqüente ao da arrecadação, os montantes de cada mentárias (LDO) e da Lei Orçamentária Anual (LOA).
um dos tributos arrecadados, os recursos recebi- No entanto, a lei que regulamenta a atividade finan-
dos, os valores de origem tributária entregues e a ceira é a Lei nº 4.320, de 1964, uma lei formalmente
entregar e a expressão numérica dos critérios de ordinária, porém materialmente complementar (lei
412 rateio. recepcionada como complementar).
Art. 163-A A União, os Estados, o Distrito Federal e elaborados em consonância com o plano pluria-
os Municípios disponibilizarão suas informações e nual e apreciados pelo Congresso Nacional.
dados contábeis, orçamentários e fiscais, conforme § 5º A lei orçamentária anual compreenderá:
periodicidade, formato e sistema estabelecidos pelo I - o orçamento fiscal referente aos Poderes da
órgão central de contabilidade da União, de forma União, seus fundos, órgãos e entidades da adminis-
a garantir a rastreabilidade, a comparabilidade e a tração direta e indireta, inclusive fundações insti-
publicidade dos dados coletados, os quais deverão tuídas e mantidas pelo Poder Público;
ser divulgados em meio eletrônico de amplo acesso II - o orçamento de investimento das empresas em
público. que a União, direta ou indiretamente, detenha a
maioria do capital social com direito a voto;
O art. 163-A decorre do princípio da publicidade III - o orçamento da seguridade social, abrangen-
dos atos da Administração Pública. do todas as entidades e órgãos a ela vinculados, da
administração direta ou indireta, bem como os fun-
Art. 164 A competência da União para emitir dos e fundações instituídos e mantidos pelo Poder
moeda será exercida exclusivamente pelo banco Público.
central. § 6º O projeto de lei orçamentária será acompanha-
§ 1º É vedado ao banco central conceder, direta ou do de demonstrativo regionalizado do efeito, sobre
indiretamente, empréstimos ao Tesouro Nacional e as receitas e despesas, decorrente de isenções, anis-
a qualquer órgão ou entidade que não seja institui- tias, remissões, subsídios e benefícios de natureza
ção financeira. financeira, tributária e creditícia.
§ 2º O banco central poderá comprar e vender títulos § 7º Os orçamentos previstos no § 5º, I e II, deste
de emissão do Tesouro Nacional, com o objetivo de artigo, compatibilizados com o plano plurianual,
regular a oferta de moeda ou a taxa de juros. terão entre suas funções a de reduzir desigualdades
§ 3º As disponibilidades de caixa da União serão inter-regionais, segundo critério populacional.
depositadas no banco central; as dos Estados, do § 8º A lei orçamentária anual não conterá dispo-
Distrito Federal, dos Municípios e dos órgãos ou sitivo estranho à previsão da receita e à fixação
entidades do Poder Público e das empresas por ele da despesa, não se incluindo na proibição a auto-
controladas, em instituições financeiras oficiais, rização para abertura de créditos suplementares e
ressalvados os casos previstos em lei. contratação de operações de crédito, ainda que por
antecipação de receita, nos termos da lei.
De acordo com o art. 164, compete ao Banco Cen- § 9º Cabe à lei complementar:
tral a competência de emissão de moeda. I - dispor sobre o exercício financeiro, a vigência,
os prazos, a elaboração e a organização do plano
Art. 164-A A União, os Estados, o Distrito Federal e plurianual, da lei de diretrizes orçamentárias e da
os Municípios devem conduzir suas políticas fiscais lei orçamentária anual;
de forma a manter a dívida pública em níveis sus- II - estabelecer normas de gestão financeira e patri-
tentáveis, na forma da lei complementar referida no monial da administração direta e indireta bem

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988


inciso VIII do caput do art. 163 desta Constituição. como condições para a instituição e funcionamento
Parágrafo único. A elaboração e a execução de pla- de fundos.
nos e orçamentos devem refletir a compatibilidade III - dispor sobre critérios para a execução equita-
dos indicadores fiscais com a sustentabilidade da tiva, além de procedimentos que serão adotados
dívida. quando houver impedimentos legais e técnicos,
cumprimento de restos a pagar e limitação das pro-
O art. 164-A decorre do princípio da eficiência da gramações de caráter obrigatório, para a realiza-
Administração Pública. ção do disposto nos §§ 11 e 12 do art. 166.
§ 10 A administração tem o dever de executar as
Art. 165 Leis de iniciativa do Poder Executivo programações orçamentárias, adotando os meios e
estabelecerão: as medidas necessários, com o propósito de garan-
I - o plano plurianual; tir a efetiva entrega de bens e serviços à sociedade.
II - as diretrizes orçamentárias; § 11 O disposto no § 10 deste artigo, nos termos da
III - os orçamentos anuais. lei de diretrizes orçamentárias:
§ 1º A lei que instituir o plano plurianual estabele- I - subordina-se ao cumprimento de dispositivos
cerá, de forma regionalizada, as diretrizes, objeti- constitucionais e legais que estabeleçam metas fis-
vos e metas da administração pública federal para cais ou limites de despesas e não impede o cancela-
as despesas de capital e outras delas decorrentes mento necessário à abertura de créditos adicionais;
e para as relativas aos programas de duração II - não se aplica nos casos de impedimentos de
continuada. ordem técnica devidamente justificados;
§ 2º A lei de diretrizes orçamentárias compreende- III - aplica-se exclusivamente às despesas primá-
rá as metas e prioridades da administração pública rias discricionárias.
federal, estabelecerá as diretrizes de política fiscal § 12 Integrará a lei de diretrizes orçamentárias,
e respectivas metas, em consonância com trajetória para o exercício a que se refere e, pelo menos, para
sustentável da dívida pública, orientará a elabora- os 2 (dois) exercícios subsequentes, anexo com pre-
ção da lei orçamentária anual, disporá sobre as visão de agregados fiscais e a proporção dos recur-
alterações na legislação tributária e estabelecerá a sos para investimentos que serão alocados na lei
política de aplicação das agências financeiras ofi- orçamentária anual para a continuidade daqueles
ciais de fomento. em andamento.
§ 3º O Poder Executivo publicará, até trinta dias § 13 O disposto no inciso III do § 9º e nos §§ 10,
após o encerramento de cada bimestre, relatório 11 e 12 deste artigo aplica-se exclusivamente aos
resumido da execução orçamentária. orçamentos fiscal e da seguridade social da União.
§ 4º Os planos e programas nacionais, regionais § 14 A lei orçamentária anual poderá conter pre-
e setoriais previstos nesta Constituição serão visões de despesas para exercícios seguintes, com 413
a especificação dos investimentos plurianuais e § 7º Aplicam-se aos projetos mencionados neste arti-
daquele s em andamento. go, no que não contrariar o disposto nesta seção, as
§ 15 A União organizará e manterá registro centra- demais normas relativas ao processo legislativo.
lizado de projetos de investimento contendo, por § 8º Os recursos que, em decorrência de veto, emen-
Estado ou Distrito Federal, pelo menos, análises da ou rejeição do projeto de lei orçamentária anual,
de viabilidade, estimativas de custos e informações ficarem sem despesas correspondentes poderão
sobre a execução física e financeira. ser utilizados, conforme o caso, mediante créditos
§ 16 As leis de que trata este artigo devem observar, especiais ou suplementares, com prévia e específica
no que couber, os resultados do monitoramento e autorização legislativa.
da avaliação das políticas públicas previstos no § § 9º As emendas individuais ao projeto de lei orça-
16 do art. 37 desta Constituição. mentária serão aprovadas no limite de 1,2% (um
inteiro e dois décimos por cento) da receita corren-
Para a realização da atividade financeira do Esta- te líquida prevista no projeto encaminhado pelo
do, faz-se necessário, portanto, obter recursos (recei- Poder Executivo, sendo que a metade deste percen-
ta pública), para poder gastá-los (despesas públicas). tual será destinada a ações e serviços públicos de
Como nem sempre os recursos obtidos são suficientes, saúde.
o Poder Público pode criá-los (créditos públicos) para § 10 A execução do montante destinado a ações e
que sejam capazes de atender aos gastos. Toda essa ati- serviços públicos de saúde previsto no § 9º, inclu-
vidade é gerenciada pelo orçamento público. De acor- sive custeio, será computada para fins do cum-
do com o art. 165, o orçamento público é traçado pelo primento do inciso I do § 2º do art. 198, vedada a
Plano Plurianual (PPA), pela Lei de Diretrizes Orça- destinação para pagamento de pessoal ou encargos
sociais.
mentárias (LDO) e pela Lei Orçamentária Anual (LOA).
§ 11 É obrigatória a execução orçamentária e finan-
ceira das programações a que se refere o § 9º deste
Art. 166 Os projetos de lei relativos ao plano
artigo, em montante correspondente a 1,2% (um
plurianual, às diretrizes orçamentárias, ao
inteiro e dois décimos por cento) da receita corren-
orçamento anual e aos créditos adicionais
te líquida realizada no exercício anterior, conforme
serão apreciados pelas duas Casas do Congresso
os critérios para a execução equitativa da progra-
Nacional, na forma do regimento comum.
mação definidos na lei complementar prevista no §
§ 1º Caberá a uma Comissão mista permanente de
9º do art. 165.
Senadores e Deputados:
§ 12 A garantia de execução de que trata o § 11 des-
I - examinar e emitir parecer sobre os projetos refe-
te artigo aplica-se também às programações incluí-
ridos neste artigo e sobre as contas apresentadas
das por todas as emendas de iniciativa de bancada
anualmente pelo Presidente da República;
de parlamentares de Estado ou do Distrito Federal,
II - examinar e emitir parecer sobre os planos e pro-
gramas nacionais, regionais e setoriais previstos no montante de até 1% (um por cento) da receita
nesta Constituição e exercer o acompanhamento e corrente líquida realizada no exercício anterior.
a fiscalização orçamentária, sem prejuízo da atua- § 13 As programações orçamentárias previstas
ção das demais comissões do Congresso Nacional nos §§ 11 e 12 deste artigo não serão de execução
e de suas Casas, criadas de acordo com o art. 58. obrigatória nos casos dos impedimentos de ordem
§ 2º As emendas serão apresentadas na Comissão técnica.
mista, que sobre elas emitirá parecer, e apreciadas, § 14 Para fins de cumprimento do disposto nos §§
na forma regimental, pelo Plenário das duas Casas 11 e 12 deste artigo, os órgãos de execução deve-
do Congresso Nacional. rão observar, nos termos da lei de diretrizes orça-
§ 3º As emendas ao projeto de lei do orçamento mentárias, cronograma para análise e verificação
anual ou aos projetos que o modifiquem somente de eventuais impedimentos das programações e
podem ser aprovadas caso: demais procedimentos necessários à viabilização
I - sejam compatíveis com o plano plurianual e com da execução dos respectivos montantes.
a lei de diretrizes orçamentárias; § 15 (Revogado)
II - indiquem os recursos necessários, admitidos § 16 Quando a transferência obrigatória da União
apenas os provenientes de anulação de despesa, para a execução da programação prevista nos §§
excluídas as que incidam sobre: 11 e 12 deste artigo for destinada a Estados, ao
a) dotações para pessoal e seus encargos; Distrito Federal e a Municípios, independerá da
b) serviço da dívida; adimplência do ente federativo destinatário e não
c) transferências tributárias constitucionais para integrará a base de cálculo da receita corrente
Estados, Municípios e Distrito Federal; ou líquida para fins de aplicação dos limites de despe-
III - sejam relacionadas: sa de pessoal de que trata o caput do art. 169.
a) com a correção de erros ou omissões; ou § 17 Os restos a pagar provenientes das programa-
b) com os dispositivos do texto do projeto de lei. ções orçamentárias previstas nos §§ 11 e 12 pode-
§ 4º As emendas ao projeto de lei de diretrizes rão ser considerados para fins de cumprimento
orçamentárias não poderão ser aprovadas quando da execução financeira até o limite de 0,6% (seis
incompatíveis com o plano plurianual. décimos por cento) da receita corrente líquida rea-
§ 5º O Presidente da República poderá enviar men- lizada no exercício anterior, para as programações
sagem ao Congresso Nacional para propor modi- das emendas individuais, e até o limite de 0,5% (cin-
ficação nos projetos a que se refere este artigo co décimos por cento), para as programações das
enquanto não iniciada a votação, na Comissão mis- emendas de iniciativa de bancada de parlamenta-
ta, da parte cuja alteração é proposta. res de Estado ou do Distrito Federal.
§ 6º Os projetos de lei do plano plurianual, das dire- § 18 Se for verificado que a reestimativa da receita e
trizes orçamentárias e do orçamento anual serão da despesa poderá resultar no não cumprimento da
enviados pelo Presidente da República ao Congres- meta de resultado fiscal estabelecida na lei de dire-
so Nacional, nos termos da lei complementar a que trizes orçamentárias, os montantes previstos nos
414 se refere o art. 165, § 9º. §§ 11 e 12 deste artigo poderão ser reduzidos em até
a mesma proporção da limitação incidente sobre o Já o art. 167, da CF, de 1988, estabelece as seguintes
conjunto das demais despesas discricionárias. vedações ao estabelecimento do orçamento público:
§ 19 Considera-se equitativa a execução das pro-
gramações de caráter obrigatório que observe cri- Art. 167 São vedados:
térios objetivos e imparciais e que atenda de forma I - o início de programas ou projetos não incluídos
igualitária e impessoal às emendas apresentadas, na lei orçamentária anual;
independentemente da autoria. II - a realização de despesas ou a assunção de obri-
§ 20 As programações de que trata o § 12 deste gações diretas que excedam os créditos orçamentá-
artigo, quando versarem sobre o início de investi- rios ou adicionais;
mentos com duração de mais de 1 (um) exercício III - a realização de operações de créditos que
financeiro ou cuja execução já tenha sido iniciada, excedam o montante das despesas de capital,
deverão ser objeto de emenda pela mesma bancada ressalvadas as autorizadas mediante créditos
estadual, a cada exercício, até a conclusão da obra suplementares ou especiais com finalidade preci-
ou do empreendimento. sa, aprovados pelo Poder Legislativo por maioria
absoluta;
IV - a vinculação de receita de impostos a órgão,
O art. 166 estabelece as regras para a elaboração
fundo ou despesa, ressalvadas a repartição do pro-
do PPA, da LDO e da LOA. duto da arrecadação dos impostos a que se referem
os arts. 158 e 159, a destinação de recursos para as
Art. 166-A As emendas individuais impositivas ações e serviços públicos de saúde, para manuten-
apresentadas ao projeto de lei orçamentária anual ção e desenvolvimento do ensino e para realização
poderão alocar recursos a Estados, ao Distrito de atividades da administração tributária, como
Federal e a Municípios por meio de: determinado, respectivamente, pelos arts. 198, § 2º,
I - transferência especial; ou 212 e 37, XXII, e a prestação de garantias às opera-
II - transferência com finalidade definida. ções de crédito por antecipação de receita, previs-
§ 1º Os recursos transferidos na forma do caput tas no art. 165, § 8º, bem como o disposto no § 4º
deste artigo não integrarão a receita do Estado, deste artigo;
do Distrito Federal e dos Municípios para fins de V - a abertura de crédito suplementar ou especial
repartição e para o cálculo dos limites da despesa sem prévia autorização legislativa e sem indicação
com pessoal ativo e inativo, nos termos do § 16 do dos recursos correspondentes;
art. 166, e de endividamento do ente federado, veda- VI - a transposição, o remanejamento ou a trans-
da, em qualquer caso, a aplicação dos recursos a ferência de recursos de uma categoria de progra-
que se refere o caput deste artigo no pagamento de: mação para outra ou de um órgão para outro, sem
I - despesas com pessoal e encargos sociais relati- prévia autorização legislativa;
vas a ativos e inativos, e com pensionistas; e VII - a concessão ou utilização de créditos ilimitados;
II - encargos referentes ao serviço da dívida. VIII - a utilização, sem autorização legislativa espe-
§ 2º Na transferência especial a que se refere o inci- cífica, de recursos dos orçamentos fiscal e da segu-
ridade social para suprir necessidade ou cobrir

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988


so I do caput deste artigo, os recursos:
déficit de empresas, fundações e fundos, inclusive
I - serão repassados diretamente ao ente federado
dos mencionados no art. 165, § 5º;
beneficiado, independentemente de celebração de
IX - a instituição de fundos de qualquer natureza,
convênio ou de instrumento congênere;
sem prévia autorização legislativa.
II - pertencerão ao ente federado no ato da efetiva
X - a transferência voluntária de recursos e a con-
transferência financeira; e cessão de empréstimos, inclusive por antecipação
III - serão aplicadas em programações finalísticas de receita, pelos Governos Federal e Estaduais e
das áreas de competência do Poder Executivo do suas instituições financeiras, para pagamento de
ente federado beneficiado, observado o disposto no despesas com pessoal ativo, inativo e pensionista,
§ 5º deste artigo. dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
§ 3º O ente federado beneficiado da transferência XI - a utilização dos recursos provenientes das con-
especial a que se refere o inciso I do caput deste tribuições sociais de que trata o art. 195, I, a, e II,
artigo poderá firmar contratos de cooperação téc- para a realização de despesas distintas do paga-
nica para fins de subsidiar o acompanhamento da mento de benefícios do regime geral de previdência
execução orçamentária na aplicação dos recursos. social de que trata o art. 201.
§ 4º Na transferência com finalidade definida a que XII - na forma estabelecida na lei complementar de
se refere o inciso II do caput deste artigo, os recur- que trata o § 22 do art. 40, a utilização de recur-
sos serão: sos de regime próprio de previdência social, incluí-
I - vinculados à programação estabelecida na emen- dos os valores integrantes dos fundos previstos no
da parlamentar; e art. 249, para a realização de despesas distintas
II - aplicados nas áreas de competência constitucio- do pagamento dos benefícios previdenciários do
nal da União. respectivo fundo vinculado àquele regime e das
§ 5º Pelo menos 70% (setenta por cento) das trans- despesas necessárias à sua organização e ao seu
ferências especiais de que trata o inciso I do caput funcionamento;
deste artigo deverão ser aplicadas em despesas de XIII - a transferência voluntária de recursos, a con-
capital, observada a restrição a que se refere o inci- cessão de avais, as garantias e as subvenções pela
so II do § 1º deste artigo. União e a concessão de empréstimos e de financia-
mentos por instituições financeiras federais aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios na
O art. 166-A disciplina a transferência especial e a hipótese de descumprimento das regras gerais de
transferência com finalidade definida, que são meios organização e de funcionamento de regime próprio
de alocação de recursos aos Estados, ao Distrito Fede- de previdência social.
ral e aos Municípios por meio de emendas individuais. XIV - a criação de fundo público, quando seus objeti-
vos puderem ser alcançados mediante a vinculação 415
de receitas orçamentárias específicas ou mediante c) as contratações temporárias de que trata o inci-
a execução direta por programação orçamentária so IX do caput do art. 37 desta Constituição; e
e financeira de órgão ou entidade da administração d) as reposições de temporários para prestação de
pública. serviço militar e de alunos de órgãos de formação
§ 1º Nenhum investimento cuja execução ultra- de militares;
passe um exercício financeiro poderá ser iniciado V - realização de concurso público, exceto para as
sem prévia inclusão no plano plurianual, ou sem reposições de vacâncias previstas no inciso IV deste
lei que autorize a inclusão, sob pena de crime de caput;
responsabilidade. VI - criação ou majoração de auxílios, vantagens,
§ 2º Os créditos especiais e extraordinários terão bônus, abonos, verbas de representação ou bene-
vigência no exercício financeiro em que forem auto- fícios de qualquer natureza, inclusive os de cunho
rizados, salvo se o ato de autorização for promul- indenizatório, em favor de membros de Poder, do
gado nos últimos quatro meses daquele exercício, Ministério Público ou da Defensoria Pública e de
caso em que, reabertos nos limites de seus saldos, servidores e empregados públicos e de militares, ou
serão incorporados ao orçamento do exercício ainda de seus dependentes, exceto quando deriva-
financeiro subseqüente. dos de sentença judicial transitada em julgado ou
§ 3º A abertura de crédito extraordinário somen- de determinação legal anterior ao início da aplica-
te será admitida para atender a despesas imprevi- ção das medidas de que trata este artigo;
síveis e urgentes, como as decorrentes de guerra, VII - criação de despesa obrigatória;
comoção interna ou calamidade pública, observado VIII - adoção de medida que implique reajuste de
o disposto no art. 62. despesa obrigatória acima da variação da infla-
§ 4º É permitida a vinculação das receitas a que ção, observada a preservação do poder aquisiti-
se referem os arts. 155, 156, 157, 158 e as alíneas vo referida no inciso IV do caput do art. 7º desta
«a», «b», «d» e «e» do inciso I e o inciso II do caput Constituição;
do art. 159 desta Constituição para pagamento de IX - criação ou expansão de programas e linhas
débitos com a União e para prestar-lhe garantia ou de financiamento, bem como remissão, renego-
contragarantia. ciação ou refinanciamento de dívidas que impli-
§ 5º A transposição, o remanejamento ou a transfe- quem ampliação das despesas com subsídios e
rência de recursos de uma categoria de programa- subvenções;
ção para outra poderão ser admitidos, no âmbito X - concessão ou ampliação de incentivo ou benefí-
das atividades de ciência, tecnologia e inovação, cio de natureza tributária.
com o objetivo de viabilizar os resultados de proje- § 1º Apurado que a despesa corrente supera 85%
tos restritos a essas funções, mediante ato do Poder
(oitenta e cinco por cento) da receita corrente, sem
Executivo, sem necessidade da prévia autorização
exceder o percentual mencionado no caput deste
legislativa prevista no inciso VI deste artigo.
artigo, as medidas nele indicadas podem ser, no
§ 6º Para fins da apuração ao término do exercício
todo ou em parte, implementadas por atos do Chefe
financeiro do cumprimento do limite de que trata o
do Poder Executivo com vigência imediata, faculta-
inciso III do caput deste artigo, as receitas das ope-
do aos demais Poderes e órgãos autônomos imple-
rações de crédito efetuadas no contexto da gestão
mentá-las em seus respectivos âmbitos.
da dívida pública mobiliária federal somente serão
§ 2º O ato de que trata o § 1º deste artigo deve ser
consideradas no exercício financeiro em que for
submetido, em regime de urgência, à apreciação do
realizada a respectiva despesa.
Poder Legislativo.
§ 3º O ato perde a eficácia, reconhecida a validade
Em decorrência da pandemia da Covid-19, foram dos atos praticados na sua vigência, quando:
incluídos os arts. 167-A ao 167-G, que assim estabelecem: I - rejeitado pelo Poder Legislativo;
II - transcorrido o prazo de 180 (cento e oitenta)
Art. 167-A Apurado que, no período de 12 (doze) dias sem que se ultime a sua apreciação; ou
meses, a relação entre despesas correntes e recei- III - apurado que não mais se verifica a hipótese
tas correntes supera 95% (noventa e cinco por cen- prevista no § 1º deste artigo, mesmo após a sua
to), no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e aprovação pelo Poder Legislativo.
dos Municípios, é facultado aos Poderes Executivo, § 4º A apuração referida neste artigo deve ser reali-
Legislativo e Judiciário, ao Ministério Público, ao zada bimestralmente.
Tribunal de Contas e à Defensoria Pública do ente, § 5º As disposições de que trata este artigo:
enquanto permanecer a situação, aplicar o meca- I - não constituem obrigação de pagamento futuro
nismo de ajuste fiscal de vedação da: pelo ente da Federação ou direitos de outrem sobre
I - concessão, a qualquer título, de vantagem, o erário;
aumento, reajuste ou adequação de remuneração II - não revogam, dispensam ou suspendem o cum-
de membros de Poder ou de órgão, de servidores primento de dispositivos constitucionais e legais
e empregados públicos e de militares, exceto dos que disponham sobre metas fiscais ou limites máxi-
derivados de sentença judicial transitada em julga- mos de despesas.
do ou de determinação legal anterior ao início da § 6º Ocorrendo a hipótese de que trata o caput
aplicação das medidas de que trata este artigo; deste artigo, até que todas as medidas nele previs-
II - criação de cargo, emprego ou função que impli- tas tenham sido adotadas por todos os Poderes e
que aumento de despesa; órgãos nele mencionados, de acordo com declara-
III - alteração de estrutura de carreira que implique ção do respectivo Tribunal de Contas, é vedada:
aumento de despesa; I - a concessão, por qualquer outro ente da Federa-
IV - admissão ou contratação de pessoal, a qual- ção, de garantias ao ente envolvido;
quer título, ressalvadas: II - a tomada de operação de crédito por parte do
a) as reposições de cargos de chefia e de direção que ente envolvido com outro ente da Federação, dire-
não acarretem aumento de despesa; tamente ou por intermédio de seus fundos, autar-
b) as reposições decorrentes de vacâncias de cargos quias, fundações ou empresas estatais dependentes,
416 efetivos ou vitalícios; ainda que sob a forma de novação, refinanciamento
ou postergação de dívida contraída anteriormente, III - destinadas ao registro de receitas oriundas
ressalvados os financiamentos destinados a proje- da arrecadação de doações ou de empréstimos
tos específicos celebrados na forma de operações compulsórios, de transferências recebidas para o
típicas das agências financeiras oficiais de fomento. atendimento de finalidades determinadas ou das
Art. 167-B Durante a vigência de estado de cala- receitas de capital produto de operações de finan-
midade pública de âmbito nacional, decretado pelo ciamento celebradas com finalidades contratual-
Congresso Nacional por iniciativa privativa do Pre- mente determinadas.
sidente da República, a União deve adotar regime Art. 167-G Na hipótese de que trata o art. 167-B,
extraordinário fiscal, financeiro e de contratações aplicam-se à União, até o término da calamidade
para atender às necessidades dele decorrentes, pública, as vedações previstas no art. 167-A desta
somente naquilo em que a urgência for incompa- Constituição.
tível com o regime regular, nos termos definidos § 1º Na hipótese de medidas de combate à calami-
nos arts. 167-C, 167-D, 167-E, 167-F e 167-G desta dade pública cuja vigência e efeitos não ultrapas-
Constituição. sem a sua duração, não se aplicam as vedações
Art. 167-C Com o propósito exclusivo de enfren- referidas nos incisos II, IV, VII, IX e X do caput do
tamento da calamidade pública e de seus efeitos art. 167-A desta Constituição.
sociais e econômicos, no seu período de duração, § 2º Na hipótese de que trata o art. 167-B, não se
o Poder Executivo federal pode adotar processos aplica a alínea «c» do inciso I do caput do art. 159
simplificados de contratação de pessoal, em cará- desta Constituição, devendo a transferência a que
ter temporário e emergencial, e de obras, serviços e se refere aquele dispositivo ser efetuada nos mes-
compras que assegurem, quando possível, competi- mos montantes transferidos no exercício anterior à
ção e igualdade de condições a todos os concorren- decretação da calamidade.
tes, dispensada a observância do § 1º do art. 169 § 3º É facultada aos Estados, ao Distrito Federal
na contratação de que trata o inciso IX do caput do e aos Municípios a aplicação das vedações referi-
art. 37 desta Constituição, limitada a dispensa às das no caput, nos termos deste artigo, e, até que as
situações de que trata o referido inciso, sem prejuí- tenham adotado na integralidade, estarão submeti-
zo do controle dos órgãos competentes. dos às restrições do § 6º do art. 167-A desta Cons-
Art. 167-D As proposições legislativas e os atos do tituição, enquanto perdurarem seus efeitos para a
Poder Executivo com propósito exclusivo de enfren- União.
tar a calamidade e suas consequências sociais e
econômicas, com vigência e efeitos restritos à sua O art. 168 trata dos recursos das dotações orça-
duração, desde que não impliquem despesa obriga- mentárias. Observe o dispositivo:
tória de caráter continuado, ficam dispensados da
observância das limitações legais quanto à criação,
Art. 168 Os recursos correspondentes às dota-
à expansão ou ao aperfeiçoamento de ação gover-
ções orçamentárias, compreendidos os créditos
namental que acarrete aumento de despesa e à con-
suplementares e especiais, destinados aos órgãos
cessão ou à ampliação de incentivo ou benefício de
dos Poderes Legislativo e Judiciário, do Ministério
natureza tributária da qual decorra renúncia de

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988


Público e da Defensoria Pública, ser-lhes-ão entre-
receita.
gues até o dia 20 de cada mês, em duodécimos, na
Parágrafo único. Durante a vigência da calamidade
forma da lei complementar a que se refere o art.
pública de âmbito nacional de que trata o art. 167-
165, § 9º.
B, não se aplica o disposto no § 3º do art. 195 desta
§ 1º É vedada a transferência a fundos de recursos
Constituição.
financeiros oriundos de repasses duodecimais.
Art. 167-E Fica dispensada, durante a integralida-
§ 2º O saldo financeiro decorrente dos recursos
de do exercício financeiro em que vigore a calami-
entregues na forma do caput deste artigo deve ser
dade pública de âmbito nacional, a observância do restituído ao caixa único do Tesouro do ente federa-
inciso III do caput do art. 167 desta Constituição. tivo, ou terá seu valor deduzido das primeiras par-
Art. 167-F Durante a vigência da calamidade públi- celas duodecimais do exercício seguinte.
ca de âmbito nacional de que trata o art. 167-B des-
ta Constituição:
Por fim, o art. 169 estabelece as regras relativas à
I - são dispensados, durante a integralidade do
limitação dos gastos com relação às despesas com pes-
exercício financeiro em que vigore a calamidade
pública, os limites, as condições e demais restrições
soal da Administração Pública.
aplicáveis à União para a contratação de operações
de crédito, bem como sua verificação; Art. 169 A despesa com pessoal ativo e inativo e
II - o superávit financeiro apurado em 31 de dezem- pensionistas da União, dos Estados, do Distrito
bro do ano imediatamente anterior ao reconheci- Federal e dos Municípios não pode exceder os limi-
mento pode ser destinado à cobertura de despesas tes estabelecidos em lei complementar.
oriundas das medidas de combate à calamidade § 1º A concessão de qualquer vantagem ou aumen-
to de remuneração, a criação de cargos, empregos
pública de âmbito nacional e ao pagamento da dívi-
e funções ou alteração de estrutura de carreiras,
da pública.
bem como a admissão ou contratação de pessoal, a
§ 1º Lei complementar pode definir outras suspen-
qualquer título, pelos órgãos e entidades da admi-
sões, dispensas e afastamentos aplicáveis durante a
nistração direta ou indireta, inclusive fundações
vigência do estado de calamidade pública de âmbi-
instituídas e mantidas pelo poder público, só pode-
to nacional.
rão ser feitas:
§ 2º O disposto no inciso II do caput deste artigo
I - se houver prévia dotação orçamentária suficien-
não se aplica às fontes de recursos:
te para atender às projeções de despesa de pessoal
I - decorrentes de repartição de receitas a Estados,
e aos acréscimos dela decorrentes;
ao Distrito Federal e a Municípios;
II - se houver autorização específica na lei de dire-
II - decorrentes das vinculações estabelecidas trizes orçamentárias, ressalvadas as empresas
pelos arts. 195, 198, 201, 212, 212-A e 239 desta públicas e as sociedades de economia mista.
Constituição; 417
§ 2º Decorrido o prazo estabelecido na lei com- 2. (FGV – 2021) Casa de Amparo ao Ser Humano, enti-
plementar referida neste artigo para a adaptação dade regularmente reconhecida como beneficente de
aos parâmetros ali previstos, serão imediatamen- assistência social, requereu, junto ao Município X, o
te suspensos todos os repasses de verbas federais reconhecimento de imunidade de IPTU e da taxa
ou estaduais aos Estados, ao Distrito Federal e municipal de coleta domiciliar de lixo referentes a
aos Municípios que não observarem os referidos seu imóvel-sede, onde realiza suas atividades essen-
limites. ciais. Neste Município, ambos os tributos são cobra-
§ 3º Para o cumprimento dos limites estabelecidos dos conjuntamente por meio do carnê de IPTU.
com base neste artigo, durante o prazo fixado na lei À luz da Constituição Federal, tal requerimento admi-
complementar referida no caput, a União, os Esta- nistrativo deverá ser
dos, o Distrito Federal e os Municípios adotarão as
seguintes providências:
a) deferido quanto a ambos os pedidos, pois tal imunida-
I - redução em pelo menos vinte por cento das
de abrange os dois tributos.
despesas com cargos em comissão e funções de
confiança; b) deferido apenas quanto ao pedido de imunidade de
II - exoneração dos servidores não estáveis. IPTU, pois tal imunidade não abrange a taxa municipal
§ 4º Se as medidas adotadas com base no parágra- de coleta domiciliar de lixo proveniente de imóveis.
fo anterior não forem suficientes para assegurar o c) deferido apenas quanto ao pedido de imunidade da
cumprimento da determinação da lei complemen- taxa municipal de coleta domiciliar de lixo proveniente
tar referida neste artigo, o servidor estável poderá de imóveis, pois tal imunidade não abrange o IPTU.
perder o cargo, desde que ato normativo motivado d) indeferido quanto a ambos os pedidos, pois esta enti-
de cada um dos Poderes especifique a atividade fun- dade não faz jus a tal imunidade.
cional, o órgão ou unidade administrativa objeto e) indeferido quanto a ambos os pedidos, porque só é
da redução de pessoal. possível requerer tal reconhecimento judicialmente.
§ 5º O servidor que perder o cargo na forma do
parágrafo anterior fará jus a indenização corres- 3. (FGV – 2021) A sociedade empresária Locação 100%
pondente a um mês de remuneração por ano de Ltda., ativa no setor de locação de bens imóveis,
serviço. seus e de terceiros, foi incorporada, em operação de
§ 6º O cargo objeto da redução prevista nos pará-
alguns milhões de reais, pela sociedade empresária
grafos anteriores será considerado extinto, vedada
Locações Especiais Ltda., atuante no mesmo ramo
a criação de cargo, emprego ou função com atribui-
ções iguais ou assemelhadas pelo prazo de quatro
de atividade. À luz da Constituição Federal, sobre a
anos. transmissão de bens imóveis da sociedade empre-
§ 7º Lei federal disporá sobre as normas gerais a sária Locação 100% Ltda. para a sociedade Locações
serem obedecidas na efetivação do disposto no § 4º. Especiais Ltda. decorrente da incorporação,

a) incide ITBI, por ser a locação de imóveis a atividade


preponderante da incorporadora.
HORA DE PRATICAR! b) incide ITCMD, por ser qualificada tal transmissão
como doação.
1. (FGV – 2021) O Estado Alfa editou a Lei nº XX/2020, c) incide ITCMD, por ocorrer tal transmissão entre duas
disciplinando a cobrança do imposto sobre transmis- pessoas jurídicas.
são causa mortis, nas hipóteses em que o de cujus d) não incide ITBI, por ser transmissão de imóveis decor-
possuía bens no exterior. rente de mera incorporação societária.
Ao ser notificado do lançamento tributário, o inventa- e) não incide ITBI, por se tratar de mera integralização de
capital social.
riante insurgiu-se contra a cobrança, com o argumen-
to de que a União ainda não editara lei complementar
regulando a matéria, o que era verdadeiro. 4. (FGV – 2021) Nova lei complementar nacional, publi-
cada em agosto de 2020 e determinando que entrava
A Lei nº XX/2020 é formalmente
em vigor imediatamente, ampliou a lista de serviços
tributáveis pelo ISS.
a) inconstitucional, porque, apesar de o Estado Alfa
O Município X publicou, em 1º de janeiro de 2021,
poder dispor sobre a matéria, tal deveria ser feito com
nova lei ordinária municipal para adequar sua lista de
a edição de lei complementar.
serviços sobre os quais incide o ISS à nova lei com-
b) inconstitucional, porque a ausência de lei complemen-
plementar nacional. Os novos serviços foram inseri-
tar da União, disciplinando a competência tributária, dos na lei complementar municipal que originalmente
impede que o Estado Alfa legisle sobre a matéria. instituiu o ISS no Município X.
c) constitucional, porque a ausência de lei complementar Diante desse cenário e à luz da Constituição Federal,
da União não pode obstar o exercício de nenhuma com-
petência tributária pelos demais entes federativos. a) a nova lei complementar nacional violou o princípio da
d) constitucional, porque a ausência de normas gerais anterioridade tributária ao determinar que entrava em
editadas pela União, em matéria de legislação tribu- vigor imediatamente.
tária, permite que o Estado Alfa exerça a competência b) a nova lei ordinária municipal violou a reserva de lei
legislativa plena. complementar acerca do ISS prevista na Constituição.
e) constitucional, porque os balizamentos para a cobran- c) a nova lei ordinária municipal poderia inserir os novos
ça do referido imposto estão integralmente previstos serviços previstos em nova lei complementar nacional
na ordem constitucional, logo, o Estado Alfa limitou-se no texto da lei complementar municipal instituidora do
a repeti-los. ISS.

418
d) sendo a nova lei complementar nacional publicada em ( ) A taxa arrecadada pela Companhia Municipal de
agosto de 2020, a cobrança efetiva de ISS sobre tais Limpeza Urbana será cobrada judicialmente por
novos serviços pelo Município X pode se dar desde 1º meio de execução fiscal.
de janeiro de 2021. ( ) Tal delegação das funções de fiscalizar e arreca-
e) a lei complementar municipal instituidora do ISS dar em favor da Companhia Municipal de Limpeza
somente pode ser alterada por outra lei complementar Urbana é tradicionalmente chamada de delegação
municipal. de capacidade tributária ativa.

5. (FGV – 2022) José recebeu carnê de pagamento de A sequência correta é:


contribuição de melhoria do Município Alfa referente
à obra pública municipal que valorizou seu imóvel a) V - V - F;
rural. Verificou que, no carnê, havia também a dis- b) V - F - V;
criminação de pequeno valor de cobrança de taxa c) F - F - V;
relativa ao custo de expedição do carnê, nos termos d) F - V - F;
de nova lei municipal criadora dessa taxa. e) F - V - V.
A respeito desse cenário e à luz do entendimento
dominante do Supremo Tribunal Federal, é correto afir- 8. (FGV – 2021) Lei do Município Alfa de agosto de 2021
mar que: instituiu a Taxa de Aprovação de Projetos de Cons-
trução, tendo por fato gerador a análise de projetos
a) a expedição de carnê de pagamento de tal tributo não de sistemas de prevenção contra incêndio e pânico,
pode ser remunerada por taxa; serviço prestado pelo Corpo de Bombeiros Estadual
b) a expedição de carnê de pagamento de tal tributo Militar. João, prestes a iniciar construção em terreno
pode ser remunerada por taxa, em razão de configurar de sua propriedade, foi informado pelo engenheiro res-
serviço público específico e divisível; ponsável pela obra que teria de recolher o valor dessa
c) a expedição de carnê de pagamento de tal tributo taxa. Diante desse cenário, a cobrança é:
pode ser remunerada por taxa, em razão de configurar
exercício do poder de polícia; a) indevida, pois o serviço prestado não é específico e
d) o Município Alfa não detém competência tributária divisível;
para instituir tal contribuição de melhoria; b) indevida, pois o serviço público por ela financiado é de
e) o Município Alfa não pode instituir tal contribuição de competência estadual;
melhoria referente a imóvel localizado em área rural. c) indevida, pois tal serviço não pode ser prestado pelo
Corpo de Bombeiros Estadual Militar;
d) devida, por se tratar de serviço de precípuo interesse
6. (FGV – 2022) O Município X, para custeio do servi-
local;
ço público coletivo e geral de iluminação das vias
e) devida, pois o serviço prestado é específico e divisível.
públicas, instituiu por lei municipal ordinária a taxa
de iluminação pública. Também instituiu, por outra lei
9. (FGV – 2022) Determinado município aprovou uma

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988


municipal ordinária, uma taxa de coleta domiciliar de
lei para passar a cobrar um tributo dos moradores
lixo, pelo serviço público de retirada de lixo de cada
dos bairros próximos às novas estações de metrô,
imóvel individualmente considerado.
para custear as obras e considerando a valorização
Diante desse cenário, assinale a afirmativa correta.
dos imóveis neles situados.
Assinale a opção que o indica.
a) Ambos os serviços públicos indicados no enunciado
podem ser remunerados mediante taxa.
b) O serviço público de iluminação das vias públicas a) Contribuição Social.
necessita de lei complementar para instituição de sua b) CIDE – Contribuição de Intervenção no Domínio
taxa remuneratória. Econômico.
c) O serviço público de iluminação de vias públicas não c) Imposto sobre Grandes Fortunas.
pode ser remunerado mediante taxa. d) Empréstimo Compulsório.
d) O serviço público de retirada de lixo de cada imóvel e) Contribuição de Melhoria.
individualmente considerado não pode ser remunera-
do mediante taxa. 10. (FGV – 2021) A Assembleia Legislativa do Estado
e) Nenhum dos serviços públicos indicados no enuncia- Alfa, castigado por chuvas torrenciais que causaram
do pode ser remunerado mediante taxa. graves enchentes, aprovou lei complementar esta-
dual de iniciativa parlamentar que instituiu emprés-
7. (FGV – 2021) A Companhia Municipal de Limpeza timo compulsório sobre a aquisição de veículos
Urbana, empresa pública municipal responsável pela automotores no território estadual, vinculando os
remoção e coleta do lixo domiciliar no Município X, recursos obtidos ao combate dos efeitos das
recebeu delegação para fiscalizar e arrecadar a taxa enchentes.
de coleta de lixo domiciliar, sendo a arrecadação volta- Diante desse cenário, assinale a afirmativa correta.
da para o custeio de suas próprias atividades.
Diante desse cenário e à luz do entendimento do a) A iniciativa da lei que instituiu o empréstimo compul-
Superior Tribunal de Justiça, analise as afirmativas a sório é privativa do chefe do Poder Executivo.
seguir, assinalando V para a(s) verdadeira(s) e F para b) O empréstimo compulsório necessita de lei comple-
a(s) falsa(s). mentar estadual para sua instituição.
c) O Estado não pode instituir empréstimos compulsórios.
( ) Pessoas jurídicas de direito privado, integrantes ou d) A vinculação da receita de empréstimos compulsórios
não da Administração Pública, podem receber dele- é inconstitucional.
gação para fiscalizar e arrecadar tributos.

419
11. (FGV – 2021) Projeto de lei ordinária federal pretende c) A arrecadação do IRPJ é toda da União e a da CSLL é
criar empréstimo compulsório para fazer frente aos dividida com os Estados e os Municípios para estrutu-
vultosos gastos decorrentes do estado de calami- rar a seguridade dos servidores destes entes.
dade pública causado pela Covid-19. Dada a urgên- d) A arrecadação do IRPJ é repartida entre os Estados e
cia da captação de recursos, o projeto prevê que tal os Municípios e, a da CSLL, só com os Estados.
empréstimo compulsório será devido desde a data da e) As sociedades empresárias que pagam um tributo não
publicação da lei. precisam pagar o outro, para evitar bis in idem.
Diante desse cenário, tal empréstimo compulsório:
15. (FGV – 2022) Sobre a contribuição do trabalhador e
a) deveria ser veiculado por lei complementar; dos demais segurados da Previdência Social, previs-
b) deveria obedecer ao princípio da anterioridade anual; ta no Artigo 195, inciso II, da Constituição Federal de
c) deveria obedecer ao princípio da anterioridade nona- 1988, assinale a afirmativa correta.
gesimal;
d) deveria obedecer ao princípio da anterioridade anual e a) A contribuição previdenciária custeia unicamente a
nonagesimal; Previdência Social.
e) poderia ser instituído por Medida Provisória, em razão b) A contribuição previdenciária custeia apenas a Previ-
da situação de grande relevância e urgência. dência e a Assistência Social.
c) A contribuição previdenciária é cobrada sobre aposen-
12. (FGV – 2022) Determinado Estado da Federação, tadorias e pensões.
preocupado com a falta de moradias populares, que d) A contribuição previdenciária custeia a Seguridade
geram grande favelização, criou contribuição social Social, que engloba Saúde, Previdência Social e Assis-
num valor fixo mensal de R$500,00 (quinhentos tência Social.
reais) por imóvel, das pessoas que tenham mais de e) A contribuição previdenciária, ao contrário da que
dois imóveis registrados em seus nomes. é paga pelos servidores públicos, não tem alíquotas
A criação de tal tributo progressivas.

a) é possível, desde que não incida sobre os dois primei- 16. (FGV – 2022) O Estado Alfa reteve o produto da arreca-
ros imóveis da pessoa. dação do imposto da União sobre a renda e proventos
b) não é possível, por ser um bis in idem com o IPTU. de qualquer natureza, incidente na fonte (IRRF), sobre
c) não é possível, pela vedação ao confisco. rendimentos pagos a seus servidores estaduais. Con-
d) é possível para a criação de casas populares ou aqui- tudo, insurgiu-se contra o fato de que a União, ao fazer
sição de imóveis, apenas para pessoas de baixa renda. a entrega de recursos ao Fundo de Participação dos
e) não é possível, pois os Estados não podem criar con- Estados e do Distrito Federal (FPE), excluiu do cál-
tribuições sociais. culo a parcela da arrecadação do IRRF pertencen-
te a Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios
13. (FGV – 2022) A Seguridade Social é financiada por sobre rendimentos pagos, a qualquer título, por eles,
tributos específicos. Assinale a opção que indica as suas autarquias e pelas fundações que instituírem e
contribuições sociais destinadas ao custeio da Segu- mantiverem.
ridade Social. Diante desse cenário, analise as afirmativas a seguir:

a) A Contribuição sobre o Lucro Líquido (CSLL), a contri- I. O Estado Alfa poderia reter para si o produto da arre-
buição sobre a receita de concurso de prognósticos e cadação do IRRF sobre rendimentos pagos a seus ser-
a contribuição do trabalhador e dos demais segurados vidores estaduais, sem transferi-los para a União.
da Previdência Social. II. O Estado Alfa não tem razão em se insurgir contra a
b) a COFINS, as Contribuições de Intervenção no Domí- entrega de recursos ao FPE com exclusão da parce-
nio Econômico (CIDES) e a COFINS Importação. la da arrecadação do IRRF pertencente a Estados, ao
c) A Contribuição sobre o Lucro Líquido (CSLL), as contri- Distrito Federal e aos Municípios sobre rendimentos
buições de melhoria e a COFINS. pagos, a qualquer título, por eles, suas autarquias e
d) A contribuição da empresa sobre a folha de salários, pelas fundações que instituírem e mantiverem.
a contribuição de iluminação pública e a COFINS III. O Estado Alfa deve entregar a seus Municípios parcela
Importação. dos recursos a ele distribuídas pelo FPE.
e) as Contribuições de Intervenção no Domínio Econô-
mico (CIDES), a Contribuição sobre o Lucro Líquido Está correto o que se afirma em
(CSLL) e a COFINS.
a) I, apenas.
14. (FGV – 2022) O Imposto sobre a Renda das Pessoas b) I e II, apenas.
Jurídicas – IRPJ, e a Contribuição Social sobre o Lucro c) I e III, apenas
Líquido – CSLL, são tributos muito semelhantes, inclu- d) II e III, apenas.
sive sendo tratados na mesma lei (Lei nº 9430/1996). e) I, II e III.
Assinale a opção que apresenta uma diferença entre
eles. 17. (FGV – 2022) A repartição de receitas tributárias é
um instituto presente no nosso ordenamento jurídi-
a) O IRPJ pode ser sobre o lucro real e o lucro presumido, co visando a auxiliar o financiamento das despesas
já a CSLL só sobre o lucro real. dos entes federativos, principalmente em tributos que
b) A destinação da CSLL é para a Seguridade Social, guardem relação com mais de um ente, por exemplo,
enquanto a do IRPJ pode ser utilizada para qualquer União e Estados.
despesa do Fisco, após a repartição com Estados e Os Estados estão obrigados a repartir a arrecadação
420 Municípios. tributária dos seguintes tributos:
a) IPVA, na proporção de 20% dos veículos licenciados os municípios do respectivo estado, de acordo com
no seu território e ICMS, na proporção de 50% do que os seguintes percentuais, respectivamente:
for arrecadado.
b) IPVA, na proporção de 50% dos veículos licenciados a) 25% e 25%;
no seu território, e ICMS, na proporção de 30% do que b) 25% e 50%;
for arrecadado. c) 25% e 75%;
c) IPVA, na proporção de 50% dos veículos licenciados d) 50% e 25%;
no seu território, e ICMS, na proporção de 25% do que e) 50% e 50%.
for arrecadado.
d) IPVA, na proporção de 30% dos veículos licenciados 9 GABARITO
no seu território, e ICMS, na proporção de 50% do que
for arrecadado.
e) IPVA, na proporção de 25% dos veículos licenciados 1 B
no seu território, e ICMS, na proporção de 50% do que
for arrecadado. 2 B

3 A
18. (FGV – 2022) O Governo Federal sempre que fala em
reduzir as alíquotas do Imposto sobre Produtos Indus- 4 C
trializados sofre críticas, especialmente de Estados e
Municípios. 5 A
Sobre a razão legal ou constitucional para estas críti- 6 C
cas, assinale a afirmativa correta.
7 B
a) A União não pode agir assim por se tratar de tributo
8 B
dos Estados.
b) Pela repartição de receitas tributárias, só os Estados 9 E
têm razão em reclamar por perderem 25,5 % da arre-
cadação do IPI, que é destinado ao Fundo de Participa- 10 C
ção dos Estados e do Distrito Federal.
c) O tributo é da União e não há razão legal ou constitu- 11 A
cional para estas críticas. 12 E
d) Pela repartição das receitas tributárias, o Fundo de
Participação dos Estados perde 21,5 % e o dos Municí- 13 A
pios 25,5% da arrecadação do IPI, tendo imediato efei-
to para ambos. 14 B
e) Pela repartição de receitas tributárias, só os Municí- 15 A

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988


pios têm razão em reclamar por perderem 25,5 % da
arrecadação do IPI, que é destinado ao Fundo de Par- 16 B
ticipação dos Municípios.
17 C
19. (FGV – 2022) O Imposto sobre a Renda é um tributo de 18 D
arrecadação essencial para o Fisco, tanto pelo mon-
tante arrecadado como pela fiscalização decorrente 19 B
dele.
O produto da arrecadação do Imposto sobre a Renda 20 B

será

a) repartido pela União com os Estados e Distrito Federal


no percentual de 22% (vinte e dois por cento). ANOTAÇÕES
b) repartido pela União no percentual de 25,5% (vinte e
cinco inteiros e cinco décimos por cento) com o Fundo
de Participação dos Municípios.
c) repartido pela União no percentual de 50% (cinquen-
ta por cento) apenas com os Estados, o Distrito
Federal e os municípios por meio de seus Fundos de
Participação.
d) repartido pela União com os Municípios no percentual
de 50% (cinquenta por cento).
e) Exclusivamente da União.

20. (FGV – 2021) O montante da arrecadação dos entes


estaduais está sujeito às regras constitucionais de
repartição das receitas tributárias.
De acordo com essas regras, os dois principais tri-
butos de competência estadual – imposto sobre
operações relativas à circulação de mercadorias e
serviços (ICMS) e imposto sobre a propriedade de
veículos automotores (IPVA) – são repartidos com 421
ANOTAÇÕES

422
Os tributos têm funções que podem ser classifica-
das como: função fiscal; função extrafiscal e função
parafiscal.
Quando a função do tributo é apenas arrecadar, com
o intuito de garantir recursos financeiros para o pleno
SISTEMA TRIBUTÁRIO funcionamento dos Estados, há a chamada função fiscal.
Quando há o objetivo de intervir em determinada
NACIONAL NO CÓDIGO situação social ou econômica, estamos falando da fun-
ção extrafiscal.
TRIBUTÁRIO NACIONAL De outro modo, a arrecadação tem com a fina-
lidade o custeio de atividades que não integram as
funções do Estado, ou seja, tem-se a função parafis-
cal. Geralmente, essas são cobradas por autarquias,
órgãos paraestatais ou sociais, a fim de patrocinar seu
TRIBUTO próprio funcionamento.

CONCEITO E ESPÉCIES (IMPOSTOS, TAXAS E Arrecadar Recursos


CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA) FISCAL (ICMS, IPTU, IR, ISS)

Intervenção no
A fim de ofertar um material de estudos o mais Domínio Econômico
didático e organizado possível, optou-se por não inse- ou Social
rir um assunto dedicado especificamente a “Tributo: (Imposto de
conceito e espécies (Impostos, Taxas e Contribuição de FUNÇÕES DOS EXTRAFISCAL Importação e
TRIBUTOS Exportação; IOF;
Melhoria)”. Contudo, não há com o que se preocupar,
IPI; ITR; CIDE
uma vez que este conteúdo já foi amplamente aborda- COMBUSTÍVEIS; ICMS
do no estudo da matéria “Sistema Tributário Nacional COMBUSTÍVEIS)
na Constituição Federal de 1988”.
Arrecadação para
custear atividades
ESPÉCIES TRIBUTÁRIAS PARAFISCAL
que não são próprias
dos estados
Tributo é gênero, e o art. 5°, do CTN, traz como
espécies de tributos: impostos, taxas e contribui- Veja o que dispõe o texto legal do CTN:
ções de melhoria. No entanto, a jurisprudência e
doutrina são pacíficas no sentido de que além das Art. 16 O imposto é o tributo cuja obrigação tem como
espécies mencionadas no CTN, são tributos também: fato gerador uma situação independente de qualquer
os empréstimos compulsórios e as contribuições atividade estatal específica, relativa ao contribuinte.

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL NO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL


(sociais e especiais).
Com base no julgamento da ADI 447, pelo STF — Por essa razão, é classificado como tributo não-vin-
DJ, de 05/03/1993, são espécies tributárias: culado. Os fatos geradores dos impostos estão previstos
na Constituição Federal e são situações como: ser pro-
ESPÉCIES TRIBUTÁRIAS prietário de algo (ITR, IPTU, IPVA); transferir um bem
(ITCMD, ITBI), prestar serviços ou circular mercadorias
z IMPOSTOS (ISS, ICMS), entre outras. Vê-se que tais situações não
Inciso I, art. 145, da CF, de 1998 dizem respeito a uma atividade estatal especifica voltada
art. 16, do CTN ao contribuinte.
De acordo com o § 1°, do art. 145, da Constituição
z TAXAS Federal:
Inciso II, art. 145, da CF, de 1988;art. 77, do CTN
Art. 145 […]
z CONTRIBUIÇÕES DE MELHORIA § 1º Sempre que possível, os impostos terão caráter
Inciso II, art. 145, da CF, de 1988; pessoal e serão graduados segundo a capacidade eco-
art. 81, do CTN nômica do contribuinte, facultado à administração tri-
butária, especialmente para conferir efetividade a esses
z EMPRÉSTIMOS COMPULSÓRIOS objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais
e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as
Art. 148, da CF
atividades econômicas do contribuinte.
z CONTRIBUIÇÕES ESPECIAIS
O termo “caráter pessoal” consiste no fato de ser
„ Sociais: possível que o montante do imposto reflita as caracte-
De seguridade social: § 4°, art. 195, da CF, de 1988; rísticas pessoais do contribuinte, de modo a garantir
Salário educação: § 5°, art. 212, da CF, de 1988 o princípio da isonomia, ou seja, tratando igualmente
os iguais e diferentemente os diferentes, na medida de
„ Especiais: suas desigualdades.
De intervenção no domínio econômico: art. 149, da O termo “graduados segundo a capacidade eco-
CF, de 1988 nômica do contribuinte” trata da progressividade,
De interesse de categorias profissionais ou econômi- ou seja, significa alíquotas progressivas, sendo maio-
cas: art. 149, da CF, de 1988 res conforme maior for a base de cálculos do imposto.
O art. 67, da Constituição Federal, veda:
423
Art. 67 [...] O Supremo Tribunal Federal (STF) já conside-
IV - a vinculação de receita de impostos a órgão, fun- rou inconstitucional as taxas de conservação de vias
do ou despesa, ressalvadas a repartição do produto públicas, de limpeza urbana e de iluminação pública
da arrecadação dos impostos a que se referem os arts. (Súmula 41), com fundamento de que apenas serviços
158 e 159, a destinação de recursos para as ações e públicos específicos e divisíveis são passíveis de tribu-
serviços públicos de saúde, para manutenção e desen- tação por meio de taxa.
volvimento do ensino e para realização de atividades Serviços não específicos e indivisíveis, geralmente,
da administração tributária, como determinado, res- são desfrutados por toda a coletividade, sendo impossí-
pectivamente, pelos arts. 198, § 2º, 212 e 37, XXII, e vel distinguir a quantidade utilizada individualmente.
a prestação de garantias às operações de crédito por Por essa razão, não podem ser remunerados por taxa.
antecipação de receita, previstas no art. 165, § 8º, bem O § 2°, art. 145, da Constituição Federal, estabelece
como o disposto no § 4º deste artigo. que “as taxas não poderão ter base de cálculo própria
de impostos.” Porém, a Súmula Vinculante 29 dispõe:
Assim, além de o imposto não ser vinculado à ati-
vidade estatal específica, também não pode ter sua É constitucional a adoção, no cálculo do valor de
receita vinculada a órgão, fundo ou despesa. taxa, de um ou mais elementos da base de cálcu-
Diferente do imposto que tem por fato gerador uma lo própria de determinado imposto, desde que não
situação desvinculada de qualquer atividade estatal vol- haja integral identidade entre uma base e outra.
tada ao contribuinte, o fato gerador da taxa é sempre a
Observe a tabela abaixo:
prestação de um serviço público ou o exercício do poder
de polícia pelo Estado, sendo, portanto, tributo vinculado.
Conforme o art. 77, do Código Tributário Nacional, IMPOSTO TAXA
as taxas têm como fato gerador o exercício regular do
Vinculado a uma atividade
poder de polícia, ou a utilização efetiva ou potencial, Desvinculado da
estatal voltada ao
de serviço público específico e divisível, prestado ao atividade estatal voltada
contribuinte (fiscalização
contribuinte ou posto a sua disposição. Da leitura do ao contribuinte
ou prestação de serviços)
art. 77 extraímos dois tipos de taxa: taxas de polícia
(fiscalização) e taxas de serviço público específico e Base de cálculo não
divisível. A taxa de polícia é cobrada quando há o exer- Base de cálculo quantifica
quantifica qualquer
cício do poder de polícia (poder de fiscalização), como, a atividade estatal voltada
atividade estatal voltada
por exemplo, as taxas de licença e funcionamento. ao contribuinte
ao contribuinte
Nos termos do art. 78, do Código Tributário Nacional:

Art. 78 Considera-se poder de polícia atividade da Os preços públicos não são tributos, embora sirvam
administração pública que, limitando ou discipli- para remunerar serviços prestados pela administração,
nando direito, interesse ou liberdade, regula a práti- serviços esses de utilização absolutamente facultativa.
ca de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse Assim, como a taxa, o preço público pode ser exigido
público concernente à segurança, à higiene, à ordem, em razão de serviço público específico e divisível.
aos costumes, à disciplina da produção e do merca- A Súmula 545 do STF dispõe que:
do, ao exercício de atividades econômicas dependen-
tes de concessão ou autorização do Poder Público, à Preços de serviços públicos e taxas não se confundem,
tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e porque estas, diferentemente daqueles, são compulsó-
aos direitos individuais ou coletivos. rias e têm sua cobrança condicionada à prévia autori-
zação orçamentária, em relação à lei que as instituiu.
A taxa de serviço pode ser cobrada toda vez que
o Estado prestar serviço público específico e divisível PREÇO PÚBLICO /
ao contribuinte diretamente. Vale ressaltar que os TAXA
TARIFA
serviços postos à disposição do contribuinte também
podem ser remunerados pela cobrança de taxas. Nos Direito Público Direito Privado
termos do art. 79. do Código Tributário Nacional: (tributário) (consumidor-contratual)

Art. 79 Os serviços públicos a que se refere o artigo Natureza Jurídica


Natureza Jurídica
77 consideram-se: Tributária
I - utilizados pelo contribuinte:
Contratual
(espécie tributária)
a) efetivamente, quando por ele usufruídos a qual-
quer título; Receita derivada Receita originária
b) potencialmente, quando, sendo de utilização com-
pulsória, sejam postos à sua disposição mediante Serviços Públicos:
Serviços Públicos:
atividade administrativa em efetivo funcionamento; Específicos e divisí-
Específicos e divisíveis,
II - específicos, quando possam ser destacados em veis, de uso efetivo ou
apenas de uso efetivo
unidades autônomas de intervenção, de utilidade, potencial
ou de necessidades públicas;
III - divisíveis, quando suscetíveis de utilização, sepa- Serviços Públicos: Serviços Públicos:
radamente, por parte de cada um dos seus usuários. Essenciais ao interesse Não essenciais o interes-
público se público
Os serviços públicos, que são custeados pela taxa, Propriamente estatais Via de regra, delegáveis
são aqueles em que não há facultatividade na utiliza-
ção e que aproveitam especificamente a cada um dos Cobrança Compulsória Cobrança Voluntária
contribuintes, sendo possível a determinação do apro- Decorre da vontade das
veitamento por eles. Havendo a opção de se utilizar do Decorre de LEI
partes
424 serviço ou não, não há o que se falar em taxa.
Com base no art. 81, do Código Tributário Nacional: z Investimento público de caráter urgente e relevan-
te interesse nacional. Ressalta-se que os Estados,
Art. 81 A contribuição de melhoria cobrada pela Distrito Federal e Municípios nunca poderão criar
União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos e cobrar empréstimos compulsórios.
Municípios, no âmbito de suas respectivas atribui-
ções, é instituída para fazer face ao custo de obras A lei complementar definirá o fato gerador do
públicas de que decorra valorização imobiliária, empréstimo compulsório.
tendo como limite total a despesa realizada e como Em qualquer dos casos, os valores cobrados a títu-
limite individual o acréscimo de valor que da obra lo de empréstimo compulsório devem ser utilizados
resultar para cada imóvel beneficiado. pela União no combate à calamidade, nas despesas de
guerra externa ou no investimento público.
A contribuição de melhoria consiste na cobrança Os empréstimos compulsórios criados para aten-
de cada proprietário de imóvel pela valorização pro- der despesa extraordinária de calamidade e/ou guer-
veniente de uma obra pública. Assim, uma vez que ra podem ser cobrados imediatamente, uma vez que
haja a junção de obra pública e valorização imobiliá- não se subordinam aos princípios da anterioridade
ria, será possível cobrar contribuição de melhoria. Se do exercício e nonagesimal. De outro modo, o emprés-
somente houver obra pública, sem qualquer valoriza- timo compulsório criado para atender investimen-
ção imobiliária, não há fato gerador, assim, não há o to público de caráter urgente e relevante interesse
que se falar em cobrança de contribuição de melhoria. nacional deve respeitar tanto a anterioridade do exer-
Da mesma forma, não é possível cobrar contribuição cício como a nonagesimal.
de melhoria quando a obra pública resulta em desva- Por ser tratar de “empréstimo”, os valores recolhi-
lorização dos imóveis. dos pela União devem ser, posteriormente, devolvidos
No que diz respeito à base de cálculo, o STJ enten- aos contribuintes, devendo a lei complementar que o
de que consistirá: instituir indicar como e quando a União irá restituir
os valores cobrados, na forma do art. 15, do Código
[…] na efetiva valorização patrimonial imobiliária, Tributário Nacional.
a qual é aferida mediante diferença entre o valor do
imóvel antes do início da obra e após a sua conclu- Art. 15 Somente a União, nos seguintes casos excep-
são, sendo o inadmissível a sua cobrança com base cionais, pode instituir empréstimos compulsórios:
somente no custo da obra realizada (REsp. 1.076.948- I - guerra externa, ou sua iminência;
RS, Rel.Min.Luiz Fux, julgado em 04/11/2010). II - calamidade pública que exija auxílio federal
impossível de atender com os recursos orçamentá-
O valor cobrado deve respeitar dois limites rios disponíveis;
cumulativamente: III - conjuntura que exija a absorção temporária de
poder aquisitivo.
z Limite total: corresponde à quantidade gasta efe- Parágrafo único. A lei fixará obrigatoriamente o
tivamente em uma obra; prazo do empréstimo e as condições de seu resgate,
z Limite individual: corresponde à quantidade observando, no que for aplicável, o disposto nesta Lei.

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL NO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL


valorizada, de fato, para cada contribuinte. Assim,
As contribuições especiais estão previstas nos arts.
em nenhuma hipótese, poderá ser arrecadado um 149 e 149-A, da Constituição Federal. São tributos de
valor global superior ao custo da obra. receita vinculada, via de regra, instituídos e cobrados
exclusivamente pela União.
O art. 82, do Código Tributário Nacional, traz uma
A União poderá instituir e majorar as contribuições:
lista de requisitos mínimos para a cobrança da contri-
buição de melhoria: z Sociais;
z Intervenção no domínio público;
Art. 82 A lei relativa à contribuição de melhoria z De interesse de categorias profissionais ou econômicas.
observará os seguintes requisitos mínimos:
I - publicação prévia dos seguintes elementos: Excepcionalmente, os Estados, o Distrito Federal e
a) memorial descritivo do projeto; os Municípios poderão instituir e cobrar: contribuições
b) orçamento do custo da obra;
em benefícios dos seus servidores quando possuírem
c) determinação da parcela do custo da obra a ser
Regime Próprio de Previdência Social (§ 1°, art. 149, c/c
financiada pela contribuição;
art. 40, da CF). Frisa-se que somente as contribuições
d) delimitação da zona beneficiada;
previdenciárias do servidor público são de competên-
e) determinação do fator de absorção do benefício
da valorização para toda a zona ou para cada uma
cia dos Estados, Distrito Federal e Municípios, qualquer
das áreas diferenciadas, nela contidas; outra contribuição do servidor público é de competên-
II - fixação de prazo não inferior a 30 (trinta) dias, cia exclusiva da União. Os Municípios e Distrito Federal
para impugnação pelos interessados, de qualquer poderão instituir e majorar também Contribuição de
dos elementos referidos no inciso anterior; Iluminação Pública (art. 149-A, da CF). Vale ressaltar
III - regulamentação do processo administrativo de ins- que os Estados não possuem competência para criar
trução e julgamento da impugnação a que se refere o Contribuição de Iluminação Pública.
inciso anterior, sem prejuízo da sua apreciação judicial. As contribuições sociais servem para financiar a
seguridade social, nos termos do art. 195, da CF. No
Os Empréstimos Compulsórios são tributos cobra- RE 138.284, o STF classificou as contribuições sociais
dos exclusivamente pela União, mediante Lei Comple- como gerais ou específicas, sendo as específicas
mentar em duas hipóteses: aquelas descritas no art. 195, da CF. Ou seja, a mate-
rialidade foi definida pelo legislador constituinte. De
z Despesa extraordinária decorrente de calamidade outro modo, as gerais são todas as outras contribui-
pública ou guerra externa; ções que se referem a direitos sociais, mas não estão 425
demarcadas dentro do art. 195, logo, não financiam a
seguridade social. São aquelas que podem ser criadas COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA
com base no art. 149, da CF, tendo o legislador deixado
a materialidade dessas contribuições em aberto. A competência tributária remete ao poder dos
As contribuições de intervenção no domínio eco- entes federativos (União, Estados, Distrito Federal e
nômico (CIDE) servem à atuação do governo federal Municípios) na instituição de tributos, sendo o Prin-
no mercado, intervindo na oferta de bens e serviços cípio do Federalismo (inciso I, § 4°, art. 60, CF) seu
de acordo com o interesse público. Caracterizam-se principal fundamento.
pela finalidade interventiva. É importante ressaltar que a Constituição Federal
São exemplos de CIDEs: não cria tributos, apenas concede poderes para os
entes políticos. Assim, a competência tributária con-
z CIDE-Combustível; siste na atribuição do poder de criar, majorar e insti-
z Contribuição para o Fundo de Universalização de tuir tributos aos entes políticos.
Serviços de Telecomunicações (FUST);
z Contribuição ao Fundo de Desenvolvimento Tec- UNIÃO
nológico das Telecomunicações (Funttel);
z Contribuição para o Financiamento do Programa
Estímulo à Interação Universidade-Empresa; ESTADOS
CONSTITUIÇÃO
z Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria FEDERAL
Cinematográfica Nacional (Condecine). DISTRITO
FEDERAL

As contribuições de interesse de categorias profissio-


MUNICÍPIOS
nais ou econômicas (contribuições profissionais ou cor-
porativas) servem ao financiamento de entidades que
regulam, fiscalizam e representam determinados setores Conforme os ensinamentos de Santos Júnior (2010,
da economia, sendo vinculadas às entidades representa- p.11) a tributação legal, no estágio atual do Estado
tivas. São exemplos: CRM, CRC, CREA, CRO, entre outras. Social, serve de anteparo para resolução de proble-
Vale frisar que, em relação aos valores cobrados mas gerais: seguridade social, educação, transporte,
pela OAB, há entendimento que não se trata apenas moradia, dentre outros. E ainda, segundo o autor:
de um conselho de fiscalização da profissão, uma vez
que possui, também, finalidade institucional prevista [...] para que o Estado Social tenha condições de
constitucionalmente. enfrentar e resolver tais finalidades precisa do poder
de tributar, porque é por meio da arrecadação de
tributos que o Estado obtém o maior leque de suas
Fato gerador é situação desvinculada de receitas.
Impostos atuação estatal específica, relativa ao
contribuinte
Logo, a Competência Tributária nada mais é do que a
Fato gerador é: outorga de poder concedida pela Constituição Federal aos
Exercício de poder de polícia entes federativos para criar ou majorar tributos. Somente
Taxas
Utilização efetiva ou potencial de serviços os entes federativos detêm competência tributária.
públicos específicos e divisíveis Percebe-se que habitualmente a competência tri-
Contribuições Fato gerador é a valorização imobiliária butária se confunde com competência para legislar
de Melhoria decorrente de obra pública sobre Direito Tributário. Nos termos do art. 6° do CTN,
Por meio de lei complementar, pode ser apenas os entes políticos (que podem legislar) são titu-
instituída exclusivamente pela União, lares dessa prerrogativa. Ao definir a competência de
somente se ocorrer uma das seguintes determinado tributo para que ocorra a tributação de
situações: fato é necessário que cada ente federativo exerça a
Empréstimos competência deferida pela Constituição, instituindo
Atender despesa extraordinária
Compulsórios o tributo por meio de lei. Somente com a publicação
decorrente de calamidade pública, de
guerra externa ou sua iminência da lei, aprovada nos moldes e limites da competência
Investimento público e caráter urgente e fixada é que se fala em instituição do tributo.
de relevante interesse nacional De acordo com o inciso I, do art. 24, da Constitui-
Sociais: ção, compete à União, aos Estados e ao DF, a competên-
Competência exclusiva da União — cia concorrente para legislar sobre Direito Tributário:
finalidade: custear a seguridade social
De intervenção no domínio econômico Art. 24 Compete à União, aos Estados e ao Distrito
(CIDE): competência exclusiva da União — Federal legislar concorrentemente sobre:
finalidade: a que o nome indicar I – direito tributário, financeiro, penitenciário, eco-
De interesse de categorias profissionais nômico e urbanístico;
Contribuições [...]
ou econômicas: competência da União
Especiais § 1º No âmbito da legislação concorrente, a competên-
— finalidade: gerar recursos para os
órgãos de controle e/ou representação de cia da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais.
categorias § 2º A competência da União para legislar sobre nor-
Para custeio do serviço de iluminação mas gerais não exclui a competência suplementar
pública: competência exclusiva dos dos Estados.
Municípios e Distrito Federal — finalidade: § 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os
custeio do serviço de iluminação pública Estados exercerão a competência legislativa plena,
para atender a suas peculiaridades.
426
§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.

COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA COMPETÊNCIA PARA LEGISLAR SOBRE DIREITO TRIBUTÁRIO

Criar normas para reger as obrigações decorrentes dos tributos que


Criação e Majoração de tributos
forem criados/majorados

Existe, também, uma diferença entre a Competência Tributária e a Capacidade Tributária Ativa (arts. 7° e 8°,
CTN). A primeira se refere a criar e majorar tributo, tal como fiscalizar e cobrar. Já a capacidade tributária ativa
consiste apenas na atribuição da atividade de arrecadar e fiscalizar tributos. A competência tem natureza política,
enquanto a capacidade tem natureza administrativa.
O art. 7° permite que o ente competente atribua a outra pessoa jurídica de direito público as funções de arrecadar e
fiscalizar tributos, ou de executar leis, serviços, atos ou decisões administrativas em matéria tributária.

COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA CAPACIDADE ATIVA TRIBUTÁRIA

Criar e Majorar tributos Arrecadar, Fiscalizar, Executar

CLASSIFICAÇÃO DAS COMPETÊNCIAS

Em relação aos tributos a seguinte classificação pode ser concebida:

z Competência Privativa (arts. 148, 149, 149ª, 153, 155, 156 e 147, CF): refere-se aos impostos, já que a Cons-
tituição faz referência a cada um dos impostos de competência exclusiva da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, de modo que os entes não poderão instituir qualquer outro imposto, a não ser os
delimitados pela CF;
z Competência Comum (arts. 77 a 81, CTN): refere-se às taxas e contribuições de melhoria que podem ser instituí-
das e cobradas por qualquer ente político;
z Competência Cumulativa (arts. 147, CF): refere-se aos impostos em Território Federal. Tratando-se de impos-
tos estaduais, a competência é da União e se, o Território não for dividido em Municípios, cumulativamente, os
impostos municipais. Ao Distrito Federal cabem os impostos municipais. Atualmente, não existem territórios
no Brasil;
z Competência Especial (art. 148 e 149, CF): refere-se aos empréstimos compulsórios e as contribuições sociais. Ape-
nas a União tem competência para instituir empréstimos compulsórios e contribuições sociais, ressalvada a compe-
tência dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, para instituírem a cobrança de contribuição previdenciária
dos seus servidores, tal como do Distrito Federal e dos Municípios, a Contribuição de Iluminação Pública (art. 149 A,

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL NO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL


CF);
z Competência Residual (inciso I, art. 154, e § 4°, art. 195, CF): embora a competência privativa delimite de forma
taxativa o poder dos entes instituírem impostos, sendo apenas aqueles previstos pela Constituição Federal, há previ-
são de que a União pode criar outros impostos além dos descritos no art. 153, da CF. Assim, apenas a União poderá,
por lei complementar, instituir novos impostos, desde que não sejam cumulativos e não tenham fato gerador ou base
de cálculo dos impostos já discriminados pela CF. Igualmente, a CF prevê que novas contribuições sociais poderão ser
criadas pela União;
z Competência Extraordinária (inciso II, art. 154, c/c art. 76, CTN): em caso de guerra externa ou sua iminência,
a União poderá criar um imposto novo, não previsto na Constituição Federal, instituindo-o e cobrando-o, por
simples lei ordinária. Esses impostos devem ser suprimidos, gradativamente, cessadas as causas da sua criação.

UNIÃO ESTADOS DISTRITO FEDERAL MUNICÍPIOS


Art. 153,154 – CF Art. 155 – CF Art. 155,156 – CF Art. 156 – CF
z IPI – Imposto sobre z IPVA – Imposto sobre a z IPVA – Imposto sobre a z IPTU – Imposto Predial
Produtos Industrializados propriedade de veículo propriedade de veículo Territorial Urbano
z IE – Imposto Exportação automotor automotor z ISS – Imposto sobre serviços
z IR – Imposto de Renda z ICMS – Imposto sobre a z ICMS – Imposto sobre a de qualquer natureza
z II – Imposto Importação circulação de mercadorias circulação de mercadorias z ITBI – Imposto sobre
z ITR – Imposto Territorial e prestações de serviços e prestações de serviços a transmissão de bens
Rural de transporte interestadual de transporte interesta- imóveis
z IOF – Imposto sobre e intermunicipal e de dual e intermunicipal e de
Operações Financeiras Comunicação Comunicação
z IGF – Imposto sobre z ITCMD – Imposto sobre z ITCMD – Imposto sobre
Grandes Fortunas transmissão causa mortis e transmissão causa mortis e
z Imposto Extraordinário doação de quaisquer bens ou doação de quaisquer bens
Guerra direitos ou direitos
z Imposto Residual z IPTU – Imposto Predial
Territorial Urbano
z ISS – Imposto sobre servi-
ços de qualquer natureza
z ITBI – Imposto sobre
a transmissão de bens
imóveis
427
UNIÃO ESTADOS DISTRITO FEDERAL MUNICÍPIOS
Art. 145, inciso II – CF Art. 145, inciso II – CF Art. 145, inciso II – CF Art. 145, inciso II – CF
Taxas Taxas Taxas Taxas

Art. 145, inciso III – CF Art. 145, inciso III – CF Art. 145, inciso III – CF Art. 145, inciso III – CF
Contribuições de Melhoria Contribuições de Melhoria Contribuições de Melhoria Contribuições de Melhoria

Art. 148 – CF – – –
Empréstimos Compulsórios

Art. 149, 149 A – CF Art. 149, 149 A – CF Art. 149, 149 A – CF Art. 149, 149 A – CF
z Contribuições Previ- z Contribuições Previdenciá- z Contribuições Previdenciá- z Contribuições Previ-
denciárias do Servidor rias do Servidor Público rias do Servidor Público denciárias do Servidor
Público z Contribuição de Iluminação Público
z Contribuições Sociais Pública z Contribuição de Ilumi-
z CIDE nação Pública
z Categoria Profissional ou
Econômica

CARACTERÍSTICAS DA COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA

Indelegável / Intransferível

Cada ente federativo recebeu sua respectiva faixa de competência tributária da constituição, não podendo, em
hipótese alguma, delegá-la para outro ente. Os entes podem deixar de exercê-las, mas não lhes foi dado consentir com
que outra pessoa o faça. É possível que um município, por exemplo, firme um convênio com outros municípios para
a fiscalização mútua do Imposto Sobre Serviços (ISS), sem que isso fira a inelegibilidade da competência tributária.
Frisa-se que o simples cometimento a pessoas de direito privado do encargo ou função de arrecadar tributos, nos
termos do § 3°, art. 7°, do CTN, não configura delegação de competência. As atribuições de arrecadar, fiscalizar e executar
poderão ser revogadas, a qualquer tempo, por ato unilateral da pessoa jurídica de direito público que a tenha conferido.

Facultativa

Os titulares das competências tributárias não são obrigados a exercê-las. A Constituição apenas possibilita a
tributação (dá competência), não a impõe.
Vale ressaltar que a Lei de Responsabilidade Fiscal (LC 101/2000), em seu art. 11, pretende obrigar os entes fede-
rativos a exercerem as competências tributárias outorgadas pela Constituição Federal sendo assim eivada de cons-
titucionalidade. No entanto a ADI 1138 considerou constitucional o parágrafo único do art. 11, da LC 101, de 2000,
que se refere às receitas voluntárias.

LC 101/2000
Art. 11 Constituem requisitos essenciais da responsabilidade na gestão fiscal a instituição, previsão e efetiva arre-
cadação de todos os tributos da competência constitucional do ente da federação.
Parágrafo único. é vedada a realização de transferências voluntárias para o ente que não observe o disposto no
caput, no que se refere aos impostos.

O repasse da receita obrigatória está previsto no § 5°, art. 153, e arts. 157 a 159, da CF. Em regra, a receita tribu-
tária auferida fica com o ente competente para instituir o tributo. No entanto, a Constituição prevê hipóteses em
que os entes terão que repassar uma porcentagem do que arrecadaram para outros entes.
Assim, por exemplo, embora o imposto seja de competência da União, parcela do produto arrecadado por ela será
transferida aos Estados, Distrito Federal e aos Municípios, por meio dos fundos de participação. O ente que não utilizar
o dinheiro para a saúde ou tiver dívidas com o ente e/ou suas autarquias não terá direito ao repasse da receita obriga-
tória previsto na Constituição.

Constituição Federal de 1988


Art. 158 Pertencem aos Municípios: [...]
[...]
ii - cinquenta por cento do produto da arrecadação do imposto da união sobre a propriedade territorial rural, relativa-
mente aos imóveis neles situados, cabendo a totalidade na hipótese da opção a que se refere o art. 153, § 4º, iii; (redação
dada pela emenda constitucional nº 42, de 19.12.2003) (regulamento)
iii - cinquenta por cento do produto da arrecadação do imposto do estado sobre a propriedade de veículos automotores
licenciados em seus territórios;

A repartição das receitas obrigatórias tem como objetivo minorar o desequilíbrio existente dos entes federati-
vos no que diz respeito aos impostos sob suas competências tributárias.

428
Incaducável
BITRIBUTAÇÃO BIS IN IDEM
As competências tributárias não perecem com o
decurso do tempo, ainda que não exercitadas. Mais de uma pessoa Mesma pessoa
cobrando tributo sobre o cobrando tributo sobre o
Inalterável por Lei Infraconstitucional mesmo fato gerador mesmo fato gerador

É vedado aos entes políticos modificar os termos


e condições das competências tributárias que lhes
foram outorgadas, uma vez que se trata de matéria
infraconstitucional. Há a possibilidade de serem alte- LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA
radas por emenda constitucional, como por exemplo a (CONSTITUIÇÃO, EMENDAS
Contribuição de Iluminação Pública (COSIP/CIP). À CONSTITUIÇÃO, LEIS
Irrenunciável COMPLEMENTARES, LEIS
ORDINÁRIAS, MEDIDAS PROVISÓRIAS,
Assim como os entes da federação não podem dele-
gar suas faixas de competência, também não podem
LEIS DELEGADAS, DECRETOS
recusar a competência que lhes foi dada, nem delas LEGISLATIVOS, RESOLUÇÕES DO
abrir mão, no todo ou em parte. SENADO FEDERAL, DECRETOS E
EXERCÍCIO DA COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA NORMAS COMPLEMENTARES)
A expressão legislação tributária é utilizada pelo
Como os Entes vão Criar os Tributos?
Código Tributário Nacional em seu art. 96 para se
referir aos instrumentos pelos quais as normas tribu-
Como já vimos, os tributos devem ser criados por
tárias são veiculadas. Assim, todo ato normativo que
meio de Lei. Via de regra, Lei Ordinária. No entanto, disponha sobre Direito Tributário faz parte da “legis-
existem quatro tributos que só podem ser criados lação tributária”.
através de Lei Complementar, são eles:
Art. 96 A expressão “legislação tributária” com-
z Empréstimo Compulsório (art. 148, CF); preende as leis, os tratados e as convenções inter-
z Contribuição Social Residual (§ 4°, art. 195, CF); nacionais, os decretos e as normas complementares
z Imposto Sobre Grandes Fortunas — IGF (inciso que versem, no todo ou em parte, sobre tributos e
VIII, art. 153, CF); relações jurídicas a eles pertinentes.
z Imposto Residual (inciso I, art. 154, CF).
O sistema tributário brasileiro é regido pela Cons-
tituição Federal, onde se encontram as normas bási-

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL NO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL


Em nosso ordenamento jurídico ainda não há inci-
dência do imposto sobre grandes fortunas, uma vez cas de tributação. A Constituição é a Lei Maior que
que até o presente momento, o imposto não foi insti- dispõe as normas definidoras da competência tribu-
tuído pela União por meio de lei complementar. tária e determina as características básicas de todos
os tributos, orientando a criação, modificação e extin-
Nos termos do § 2°, do art. 62, da Constituição:
ção das demais normas, tendo toda interpretação da
legislação tributária que estar em consonância com o
Art. 62 [...]
disposto da Constituição.
§ 2º Medida provisória que implique instituição
O Congresso Nacional possui competência para
ou majoração de impostos, exceto os previstos nos
alterar a Constituição mediante quórum qualificado,
arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos
na forma do art. 60 da Constituição, ressalvadas as
no exercício financeiro seguinte se houver sido con-
chamadas cláusulas pétreas previstas no § 4° desse
vertida em lei até o último dia daquele em que foi
artigo.
editada.
A fonte da legislação tributária mais importante é
a lei. As leis consistem em ato do Poder Legislativo,
CONFLITO DE COMPETÊNCIA
sendo veículos básicos de instituição, modificação e
extinção de tributos.
Quando dois entes pretendem tributar o mesmo O art. 97 do Código Tributário Nacional elenca o
fato gerador, ocorre a chamada Bitributação. Tal rol de matérias reservadas à lei:
situação é vedada pelo ordenamento jurídico brasi-
leiro, com exceção do inciso II, art. 154, da Constitui- Art. 97 Somente a lei pode estabelecer:
ção, que dá à União a possibilidade de criar imposto I - a instituição de tributos, ou a sua extinção;
extraordinário nos casos de guerra externa ou sua II - a majoração de tributos, ou sua redução, ressal-
iminência, permitindo a invasão da competência tri- vado o disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65;
butária de outro ente federado. III - a definição do fato gerador da obrigação tribu-
Já bis in idem é permitido em nosso ordenamen- tária principal, ressalvado o disposto no inciso I do
§ 3º do artigo 52, e do seu sujeito passivo;
to jurídico e ocorre quando o mesmo ente tributante
IV - a fixação de alíquota do tributo e da sua base
pretende exigir mais de uma exação pelo mesmo fato
de cálculo, ressalvado o disposto nos artigos 21, 26,
gerador, como por exemplo, PIS/COFINS que incide 39, 57 e 65;
sobre a receita ou faturamento das pessoas jurídicas, V - a cominação de penalidades para as ações ou
porém ambos são instituídos e cobrados pela União. omissões contrárias a seus dispositivos, ou para
outras infrações nela definidas; 429
VI - as hipóteses de exclusão, suspensão e extinção A lei delegada está prevista no art. 68 da Constituição
de créditos tributários, ou de dispensa ou redução Federal como espécie de lei, editada pelo Presidente da
de penalidades. República depois de devidamente autorizada pelo Poder
§ 1º Equipara-se à majoração do tributo a modifica- Legislativo. Referida autorização pode ser compreendi-
ção da sua base de cálculo, que importe em torná-lo da como delegação. O Código Tributário Nacional dispõe
mais oneroso. que as leis fazem parte da “legislação tributária”.
§ 2º Não constitui majoração de tributo, para os fins A maioria dos assuntos tributários são objeto de lei
do disposto no inciso II deste artigo, a atualização ordinária. Assim, podem ser objeto de lei delegada, não
do valor monetário da respectiva base de cálculo.
esquecendo que aquilo que for obrigatoriamente pre-
visto em lei complementar não poderá ser objeto de lei
As leis ordinárias e complementares se diferen- delegada, em atenção ao disposto no § 1°, do art. 68:
ciam em razão da forma e da matéria. Via de regra,
basta lei ordinária para tratar de matérias tributárias; Art. 68 As leis delegadas serão elaboradas pelo Pre-
no entanto, a Constituição traz exceções nas quais exi- sidente da República, que deverá solicitar a delega-
ge que determinada matéria seja tratada por intermé- ção ao Congresso Nacional.
dio de Lei Complementar. O STF entende que não há § 1º Não serão objeto de delegação os atos de com-
hierarquia entre elas. petência exclusiva do Congresso Nacional, os de
Assim, caso uma lei complementar seja aprovada competência privativa da Câmara dos Deputados
sobre matéria de lei ordinária, poderá ser modificada ou do Senado Federal, a matéria reservada à lei
por lei ordinária. No entanto, caso uma lei ordinária complementar, nem a legislação sobre:
venha tratar de conteúdo reservado a lei complemen- I - organização do Poder Judiciário e do Ministério
tar, será considerada inconstitucional. Público, a carreira e a garantia de seus membros;
II - nacionalidade, cidadania, direitos individuais,
políticos e eleitorais;
FORMA MATÉRIA III - planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e
orçamentos.
Não tem § 2º A delegação ao Presidente da República terá a
matéria forma de resolução do Congresso Nacional, que espe-
Exige maioria
reservada na cificará seu conteúdo e os termos de seu exercício.
LEI ORDINÁRIA simples para
CF, possui § 3º Se a resolução determinar a apreciação do pro-
sua aprovação
caráter jeto pelo Congresso Nacional, este a fará em vota-
residual ção única, vedada qualquer emenda.

É expressa ou
Exige maioria A medida provisória (MP) é espécie normativa
LEI implicitamente
absoluta para que tem força de lei e é editada pelo Presidente da
COMPLEMENTAR delimitada na
sua aprovação República em caso de relevância e urgência, nos ter-
CF
mos do art. 62 da Constituição. Compõe a legislação
tributária e tem o condão de dispor sobre as matérias,
As funções da lei complementar, enquanto norma objeto do art. 97, do Código Tributário Nacional, exce-
nacional, estão relacionadas nos arts. 146 e 146-A da to quanto às hipóteses que forem obrigatoriamente
Constituição: previstas em Lei Complementar, conforme disposição
da Constituição. Assim, se existe a possibilidade de a
Art. 146 Cabe à lei complementar: disposição se dar por lei ordinária, a medida provisó-
I - dispor sobre conflitos de competência, em maté- ria também poderá ser utilizada.
ria tributária, entre a União, os Estados, o Distrito
Destaca-se o § 2º, do art. 62, da Constituição:
Federal e os Municípios;
II - regular as limitações constitucionais ao poder
Art. 62 Em caso de relevância e urgência, o Pre-
de tributar;
sidente da República poderá adotar medidas pro-
III - estabelecer normas gerais em matéria de legis-
visórias, com força de lei, devendo submetê-las de
lação tributária, especialmente sobre:
imediato ao Congresso Nacional. [...]
a) definição de tributos e de suas espécies, bem
§ 2º Medida provisória que implique instituição ou
como, em relação aos impostos discriminados nes-
majoração de impostos, exceto os previstos nos arts.
ta Constituição, a dos respectivos fatos geradores, 153, I, II, IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos no exer-
bases de cálculo e contribuintes; cício financeiro seguinte se houver sido convertida
b) obrigação, lançamento, crédito, prescrição e em lei até o último dia daquele em que foi editada.
decadência tributários;
c) adequado tratamento tributário ao ato coopera-
A regra do § 2°, do art. 62, não se aplica aos seguin-
tivo praticado pelas sociedades cooperativas.
tes impostos:
d) definição de tratamento diferenciado e favoreci-
do para as microempresas e para as empresas de
pequeno porte, inclusive regimes especiais ou sim- z Imposto sobre a Importação — II;
plificados no caso do imposto previsto no art. 155, z Imposto sobre a Exportação — IE;
II, das contribuições previstas no art. 195, I e §§ 12 z Imposto sobre Produtos Industrializados — IPI;
e 13, e da contribuição a que se refere o art. 239. z Imposto sobre as Operações de Crédito, Câmbio e
Art. 146-A Lei complementar poderá estabelecer Seguro, ou relativas a Títulos ou Valores Mobiliá-
critérios especiais de tributação, com o objetivo de rios — IOF;
prevenir desequilíbrios da concorrência, sem pre- z Impostos Extraordinários de Guerra — IEG.
juízo da competência de a União, por lei, estabele-
430 cer normas de igual objetivo.
Assim, se o Presidente da República editou uma Art. 99 O conteúdo e o alcance dos decretos res-
MP criando ou aumentando o Imposto sobre a Renda, tringem-se aos das leis em função das quais sejam
por exemplo, em agosto de 2021, o referido imposto expedidos, determinados com observância das
só será aumentado efetivamente em 2022, se, até 31 regras de interpretação estabelecidas nesta Lei.
de dezembro de 2021, a MP tiver sido convertida em
lei. Não havendo a conversão, não há qualquer efeito. O decreto é uma espécie normativa que compõe a
No entanto, nos impostos acima ressalvados, para “legislação tributária”, de competência do Presiden-
que uma MP que crie ou aumente um tributo produza te da República, que não tem o condão de inovar na
efeitos, não é necessária sua conversão até o fim do ordem jurídica, mas tão somente regular situações
exercício financeiro seguinte, devendo, somente, ser conforme disposição legal, nos termos do inciso IV,
respeitado o Princípio da Anterioridade aplicável à art. 84, da Constituição.
determinada espécie. Assim, é possível afirmar que: decretos não podem
Antes da Constituição Federal de 1988, era possível criar, alterar ou suprimir direitos e obrigações, ape-
a edição de decreto-lei pelo Presidente da República nas regulamentar a matéria veiculada pela lei tribu-
para dispor sobre determinados assuntos, de modo tária. Decreto que regulamenta a lei que versa sobre
que o referido decreto tinha força de lei, assim como a tributo deve guardar estreita relação de compatibili-
medida provisória. Atualmente, entende-se que hou- dade com a referida lei.
ve recepção de alguns, inclusive que tratam sobre No ordenamento jurídico brasileiro, há duas espé-
Direito Tributário. cies de decretos que podem ser editados pelo Presi-
A resolução é uma espécie normativa com força dente da República: o autônomo e o regulamentar. Em
de lei a ser considerada uma das “leis” que compõem matéria tributária, não se admite decreto autônomo.
a “legislação tributária”, que tem o poder de inovar no O art. 212 do Código Tributário Nacional dispõe
mundo jurídico. A resolução é ato normativo emana- que cada ente federativo publicará anualmente decre-
do pelo Poder Legislativo que prescinde de autoriza- to consolidando sua legislação tributária.
ção do Poder Executivo para que produza seus efeitos
no ordenamento jurídico brasileiro. Art. 212 Os Poderes Executivos federal, estaduais
No sistema tributário nacional, o Senado Federal, e municipais expedirão, por decreto, dentro de 90
além de participar da elaboração das leis federais (ordi- (noventa) dias da entrada em vigor desta Lei, a
nárias e complementares) compondo o Congresso Nacio- consolidação, em texto único, da legislação vigente,
nal com a Câmara dos Deputados, expede resoluções relativa a cada um dos tributos, repetindo-se esta
providência até o dia 31 de janeiro de cada ano.
que possuem força de norma nacional, aplicando-se a
toda federação. Cabe ao Senado, por resolução, fixar alí-
quotas máximas do ITCMD (inciso IV, § 1°, art. 155, CF), As normas complementares (art. 100 do Código
definir alíquotas interestaduais, mínimas e máximas de Tributário Nacional) destinam-se a complementar o
ICMS (incisos IV e V, § 2°, art. 155, CF) e definir alíquota texto de leis, dos tratados e convenções internacionais
mínima do IPVA (inciso I, § 6°, art. 155, CF). e decretos. Não se confundem com lei complementar
e não podem inovar o texto que complementam.

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL NO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL


Os tratados e convenções internacionais (art. 98
do CTN) são fontes formais primárias do Direito Tributá-
Art. 100 São normas complementares das leis, dos
rio e ingressam no nosso ordenamento jurídico através
tratados e das convenções internacionais e dos
de decreto legislativo. Após sua incorporação ao sistema
decretos:
interno, têm força de lei. Assim, trata-se de acordo bila-
I - os atos normativos expedidos pelas autoridades
teral ou multilateral firmado com Estados Soberanos ou administrativas;
com organismos internacionais, que somente são intro- II - as decisões dos órgãos singulares ou coletivos
duzidos e considerados vigentes no ordenamento jurí- de jurisdição administrativa, a que a lei atribua efi-
dico brasileiro após aprovação do parlamento por meio cácia normativa;
de decreto legislativo. Nos termos do art. 98, os tratados III - as práticas reiteradamente observadas pelas
prevalecem sobre a legislação tributária, suspendendo a autoridades administrativas;
eficácia da legislação no que for conflitante. IV - os convênios que entre si celebrem a União, os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios.
Art. 98 Os tratados e as convenções internacionais Parágrafo único. A observância das normas referi-
revogam ou modificam a legislação tributária inter- das neste artigo exclui a imposição de penalidades,
na, e serão observados pela que lhes sobrevenha. a cobrança de juros de mora e a atualização do
valor monetário da base de cálculo do tributo.
Os tratados e convenções, segundo entendimento
do STF, têm paridade normativa com as leis ordinárias Os convênios previstos no art. 100 do CTN, consi-
federais produzidas pelo Brasil, podendo uma lei ordi- derados como norma complementar que compõem a
nária federal posterior revogá-los. Essa é a regra geral. “legislação tributária”, representam os acordos firma-
Os tratados possuem status de lei ordinária, não poden- dos entre os entes políticos nos seguintes casos:
do adentrar em matéria reservada à lei complementar.
A Constituição traz exceções nos casos de trata- z I — extraterritorialidade da legislação tributária
dos e convenções internacionais que versem sobre (art. 102, CTN);
direitos humanos aprovados pelo Congresso Nacional z II — assistência mútua para fiscalização dos tribu-
como Emendas Constitucionais (§ 3°, art. 5°). tos e permuta de informações (art. 199, CTN);
A competência para resolver definitivamente sobre z III — uniformização de procedimentos.
internalização dos tratados e convenções internacionais
é exclusiva do Congresso Nacional (inciso I, art. 49, CF). Ressalta-se que tais convênios não são aqueles pre-
No que diz respeito aos decretos, o art. 99 do Códi- vistos na Constituição, que têm o poder de inovar na
go Tributário Nacional afirma: ordem jurídica, e dispor, por exemplo, sobre isenções 431
e benefícios fiscais quanto ao ICMS. Os convênios men- Art. 1º Salvo disposição contrária, a lei começa a
cionados são os que os entes firmam entre si para com- vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois
partilhamento de informações fiscais, por exemplo. de oficialmente publicada.

A eficácia da norma quando se referir a criação e


Leis majoração de tributos, via de regra, deve observar o
(art. 97 CTN
Princípio da Anterioridade Tributária.
Nos termos do art. 102 do Código Tributário Nacio-
Tratados e Atos Normativos
Convenções nal vigora o Princípio da Extraterritorialidade:
administrativos
Internacionais (Portarias, instruções,
Legislação
(artigo 98 CTN) Resoluções etc.) Art. 102 A legislação tributária dos Estados, do
Tributária Distrito Federal e dos Municípios vigora, no País,
Decretos Decisões fora dos respectivos territórios, nos limites em que
(art. 99 CTN) administrativas lhe reconheçam extraterritorialidade os convênios
com eficácia de que participem, ou do que disponham esta ou
Normas
normativa outras leis de normas gerais expedidas pela União.
Complementares
Práticas
(art. 100 CTN) Já quanto às normas complementares, o CTN, em
reiteradas
(costumes) seu art. 103, destaca prazos específicos, que prevale-
cerão sobre aqueles previstos na LINDB:
Convênios Art. 103 Salvo disposição em contrário, entram em
vigor:
I - os atos administrativos a que se refere o inciso I
O Código Tributário Nacional, nos arts. 101, 103 e do artigo 100, na data da sua publicação;
104, prevê quando a legislação tributária será consi- II - as decisões a que se refere o inciso II do artigo
derada vigente, ou seja, apta a gerar efeitos no mundo 100, quanto a seus efeitos normativos, 30 (trinta)
jurídico (vigência temporal). A vigência da lei tributá- dias após a data da sua publicação;
ria é estudada em relação ao espaço e ao tempo. Para III - os convênios a que se refere o inciso IV do arti-
go 100, na data neles prevista.
que uma norma seja criada e aplicada ela deve:
O art. 104 do Código Tributário Nacional traz regra
z Ser proposta pelas pessoas autorizadas pela Cons-
especial de vigência:
tituição Federal, conforme espécie normativa —
fase iniciativa;
Art. 104 Entram em vigor no primeiro dia do exer-
z Ter o seu teor discutido, votado e aprovado pelos órgãos
cício seguinte àquele em que ocorra a sua publi-
do Poder Legislativo — deliberação parlamentar; cação os dispositivos de lei, referentes a impostos
z Ser sancionada ou vetada pelo Chefe do Poder Exe- sobre o patrimônio ou a renda:
cutivo — deliberação executiva; I - que instituem ou majoram tais impostos;
z Em caso de veto, ser o veto rejeitado ou mantido II - que definem novas hipóteses de incidência;
pelo Poder Legislativo; III - que extinguem ou reduzem isenções, salvo se
z Se sancionado pelo Chefe do Executivo ou rejeita- a lei dispuser de maneira mais favorável ao contri-
do o veto pelo Poder Legislativo, o Projeto de Lei buinte, e observado o disposto no artigo 178.
é encaminhado para o Chefe do Poder Executivo
promulgá-lo e publicá-lo. No que diz respeito à aplicação da legislação tribu-
tária, os arts. 105 e 106 do Código Tributário dispõem:
Assim, após a ocorrência devida das fases descri-
tas e a publicação da lei, tem-se a sua validade. Uma Art. 105 A legislação tributária aplica-se imediata-
lei válida pode não estar vigente, surgindo o período mente aos fatos geradores futuros e aos pendentes,
chamado “vacatio legis”, que diz respeito ao lapso assim entendidos aqueles cuja ocorrência tenha
temporal existente entre a publicação da lei e o dia tido início mas não esteja completa nos termos do
em que entra em vigor para produzir os seus efeitos. artigo 116.
Art. 106 A lei aplica-se a ato ou fato pretérito:
No âmbito tributário, com base nos Princípios da
I - em qualquer caso, quando seja expressamente
Anterioridade do Exercício e da Anterioridade Nona-
interpretativa, excluída a aplicação de penalidade
gesimal, há a possibilidade de uma lei estar vigente, à infração dos dispositivos interpretados;
mas não ser eficaz. Como regra geral, as leis respei- II - tratando-se de ato não definitivamente julgado:
tarão a Lei de Introdução às Normas de Direito Brasil a) quando deixe de defini-lo como infração;
— LINDB, de modo que nas hipóteses de Direito Tribu- b) quando deixe de tratá-lo como contrário a qual-
tário, havendo disposição específica, esta prevalecerá. quer exigência de ação ou omissão, desde que não
Nos termos do art. 101 do Código Tributário Nacional: tenha sido fraudulento e não tenha implicado em
falta de pagamento de tributo;
Art. 101 A vigência, no espaço e no tempo, da legis- c) quando lhe comine penalidade menos severa que
lação tributária rege-se pelas disposições legais a prevista na lei vigente ao tempo da sua prática.
aplicáveis às normas jurídicas em geral, ressalvado
o previsto neste Capítulo. Assim, a lei tributária só é aplicada retroativa-
mente em duas hipóteses: quando for expressamen-
A LINDB, em seu art. 1º, afirma, como regra, que te interpretativa ou quando for mais benéfica. A
salvo disposição em contrário, a lei entrará em vigor expressão “definitivamente julgados” diz respeito ao
432 45 dias após a publicação: trânsito em julgado, ou seja, enquanto não extinto o
processo na sua plenitude a lei nova mais benéfica INTERPRETAÇÃO
poderá retroagir. Frisa-se que a retroatividade ocorre INTEGRAÇÃO DA LE-
DA LEGISLAÇÃO
apenas nas hipóteses de redução de penalidades, não GISLAÇÃO TRIBUTÁRIA
TRIBUTÁRIA
alcançando o que diz respeito aos tributos
Ao falar de interpretação da legislação tributária, Os critérios não obe-
Os critérios obedecem a
o Código Tributário Nacional se refere à busca de decem a ordem de
ordem sucessiva
comando jurídico, que interpretado, produza uma aplicação
norma capaz de resolver o litígio. Interpretar uma lei
Analogia
é traduzir o que almeja o legislador perante os desti-
*não pode resultar na
natários da norma diante da sua elaboração e vigên- Analogia
exigência de tributo não
cia. Já a integração da legislação tributária consiste previsto em lei
em preencher lacunas, sendo a legislação aplicada
com ajuda de critérios que supram situações que a lei Princípios Gerais de Di-
Costumes
deixou em branco. reito Tributário
A interpretação das normas vigentes que o regem,
segundo previsão do art. 107 do Código Tributário Princípios Gerais de Di- Princípios Gerais de
reito Público Direito
Nacional, deve dar-se conforme os arts. 108 a 112, que
tratam especificamente sobre a interpretação e a inte- Equidade
gração da legislação tributária. *não poderá resultar em
-
dispensa do pagamento
Art. 107 A legislação tributária será interpretada de tributo devido
conforme o disposto neste Capítulo.
Art. 108 Na ausência de disposição expressa, a auto-
SIMPLES NACIONAL
ridade competente para aplicar a legislação tributá-
ria utilizará sucessivamente, na ordem indicada:
I - a analogia; O regime de tributação do Simples Nacional cons-
II - os princípios gerais de direito tributário; titui exigência de diversos editais, assim, é recomen-
III - os princípios gerais de direito público; dada a leitura da Lei Complementar n° 123, de 2006.
IV - a equidade. O Simples Nacional é um regime compartilhado
§ 1º O emprego da analogia não poderá resultar na de arrecadação, cobrança e fiscalização de tributos
exigência de tributo não previsto em lei. aplicável às Microempresas e Empresas de Pequeno
§ 2º O emprego da equidade não poderá resultar na Porte, previsto na Lei Complementar nº 123, de 14
dispensa do pagamento de tributo devido. de dezembro de 2006, e abrange os seguintes tribu-
Art. 109 Os princípios gerais de direito privado utili- tos: IRPJ, CSLL, PIS/Pasep, COFINS, IPI, ICMS, ISS e a
zam-se para pesquisa da definição, do conteúdo e do Contribuição para a Seguridade Social destinada à
alcance de seus institutos, conceitos e formas, mas Previdência Social a cargo da pessoa jurídica (CPP).

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL NO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL


não para definição dos respectivos efeitos tributários. Compreende a participação da União, dos Estados, do
Art. 110 A lei tributária não pode alterar a defini- Distrito Federal e dos Municípios.
ção, o conteúdo e o alcance de institutos, conceitos De acordo com a alínea “d”, inciso III, art. 146, da
e formas de direito privado, utilizados, expressa ou Constituição Federal:
implicitamente, pela Constituição Federal, pelas
Constituições dos Estados, ou pelas Leis Orgânicas Art. 146 Cabe à lei complementar:
do Distrito Federal ou dos Municípios, para definir [...]
ou limitar competências tributárias. III- estabelecer normas gerais em matéria de legis-
Art. 111 Interpreta-se literalmente a legislação tri- lação tributária, especialmente sobre:
butária que disponha sobre: [...]
I - suspensão ou exclusão do crédito tributário; d) definição de tratamento diferenciado e favoreci-
II - outorga de isenção; do para as microempresas e para as empresas de
III - dispensa do cumprimento de obrigações tribu- pequeno porte, inclusive regimes especiais ou sim-
tárias acessórias. plificados no caso do imposto previsto no art. 155,
Art. 112 A lei tributária que define infrações, ou lhe II, das contribuições previstas no art. 195, I e §§ 12
comina penalidades, interpreta-se da maneira mais e 13, e da contribuição a que se refere o art. 239.
favorável ao acusado, em caso de dúvida quanto:
I - à capitulação legal do fato; O parágrafo único do art. 146 prevê a instituição,
II - à natureza ou às circunstâncias materiais do por lei complementar, de regime único de arrecada-
fato, ou à natureza ou extensão dos seus efeitos; ção de tributos federais, estaduais e municipais, em
III - à autoria, imputabilidade, ou punibilidade; benefício das microempresas e empresas de pequeno
IV - à natureza da penalidade aplicável, ou à sua porte: Simples Nacional.
graduação. Os incisos desse dispositivo delineiam as caracte-
rísticas desse regime único de arrecadação, que será
opcional para contribuintes e poderá estabelecer con-
INTERPRETAÇÃO
INTEGRAÇÃO DA LE- dições de enquadramento diferenciadas por Estados.
DA LEGISLAÇÃO
GISLAÇÃO TRIBUTÁRIA
TRIBUTÁRIA
[...]
Art. 4º da Lei de Introdu- Parágrafo único. A lei complementar de que trata
ção às Normas do Direito o inciso III, d, também poderá instituir um regime
Art. 108 do CTN único de arrecadação dos impostos e contribuições
Brasileiro (Decreto-Lei
4.657/42) da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, observado que: 433
I - será opcional para o contribuinte; operações em conta alheia, não incluída as vendas
II - poderão ser estabelecidas condições de enqua- canceladas e os descontos incondicionais concedidos.
dramento diferenciadas por Estado; No caso de início das atividades, a receita bruta é
III - o recolhimento será unificado e centralizado proporcional ao número de meses de atividade. Além
e a distribuição da parcela de recursos pertencen- de preencher os requisitos gerais do Estatuto, para se
tes aos respectivos entes federados será imediata, enquadrar no Simples, as microempresas e empre-
vedada qualquer retenção ou condicionamento; sas de pequeno porte não poderão estar em uma das
IV - a arrecadação, a fiscalização e a cobrança
exclusões específicas previstas no art. 17 da Lei Com-
poderão ser compartilhadas pelos entes federados,
plementar 123, de 2006:
adotado cadastro nacional único de contribuintes.
Art. 17 Não poderão recolher os impostos e contri-
Em resumo, trata-se de um recolhimento unificado e buições na forma do Simples Nacional a microem-
centralizado da maioria dos tributos atualmente inciden- presa ou empresa de pequeno porte
tes sobre atividades empresariais. Em regra, os micros I - que explore atividade de prestação cumulativa e
e pequenos empresários que optam pelo Simples, não contínua de serviços de assessoria creditícia, ges-
recolhem tributos e contribuições separadamente para tão de crédito, seleção e riscos, administração de
cada sujeito ativo. Trata-se de uma tributação unificada, contas a pagar e a receber, gerenciamento de ativos
em que o empresário calcula e recolhe um único valor, (asset management) ou compra de direitos credi-
com base nas características de sua atividade, conforme tórios resultantes de vendas mercantis a prazo ou
as delimitações da lei complementar. de prestação de serviços (factoring) ou que execu-
Para fins de cálculo do tributo, a empresa deve se te operações de empréstimo, de financiamento e
enquadrar nas tabelas anexas à lei complementar que defi- de desconto de títulos de crédito, exclusivamente
nem as alíquotas incidentes sobre a receita bruta mensal, com recursos próprios, tendo como contrapartes
conforme natureza da atividade desenvolvida e o porte. microempreendedores individuais, microempresas
A lei complementar n° 123, de 2006, não trata e empresas de pequeno porte, inclusive sob a forma
de empresa simples de crédito;
apenas do Simples Nacional, é uma lei mais ampla,
II - que tenha sócio domiciliado no exterior;
chamada de Estatuto Nacional da Microempresa e
III - de cujo capital participe entidade da adminis-
Empresa de Pequeno Porte, que fixa tratamento privi-
tração pública, direta ou indireta, federal, estadual
legiado também nas áreas trabalhistas e de acesso ao ou municipal;
crédito e a mercados. IV - (REVOGADO)
Há critérios para a empresa se qualificar como V - que possua débito com o Instituto Nacional do
microempresa ou empresa de pequeno porte e outros Seguro Social - INSS, ou com as Fazendas Públicas
critérios para que possam se enquadrar no Sim- Federal, Estadual ou Municipal, cuja exigibilidade
ples Nacional. Assim, nem todas as microempresas não esteja suspensa;
e empresas de pequeno porte podem aderir ao Sim- VI - que preste serviço de transporte intermunici-
ples Nacional. Toda empresa que adere ao Simples pal e interestadual de passageiros, exceto quando
é microempresa ou empresa de pequeno porte, mas na modalidade fluvial ou quando possuir carac-
nem toda microempresa ou empresa de pequeno por- terísticas de transporte urbano ou metropolitano
te pode aderir ao Simples Nacional. ou realizar-se sob fretamento contínuo em área
metropolitana para o transporte de estudantes ou
Art. 3º (LC 123/2006) Para os efeitos desta Lei trabalhadores;
Complementar, consideram-se microempresas ou VII - que seja geradora, transmissora, distribuidora
empresas de pequeno porte, a sociedade empresária, ou comercializadora de energia elétrica;
a sociedade simples, a empresa individual de respon- VIII - que exerça atividade de importação ou fabri-
sabilidade limitada e o empresário a que se refere cação de automóveis e motocicletas;
o art. 966 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 IX - que exerça atividade de importação de combustíveis;
(Código Civil), devidamente registrados no Registro X - que exerça atividade de produção ou venda no
de Empresas Mercantis ou no Registro Civil de Pes- atacado de:
soas Jurídicas, conforme o caso, desde que: a) cigarros, cigarrilhas, charutos, filtros para cigar-
I - no caso da microempresa, aufira, em cada ano- ros, armas de fogo, munições e pólvoras, explosivos
-calendário, receita bruta igual ou inferior a R$ e detonantes;
360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais); e b) bebidas não alcoólicas a seguir descritas
II - no caso de empresa de pequeno porte, aufi- 2 - refrigerantes, inclusive águas saborizadas
ra, em cada ano-calendário, receita bruta supe- gaseificadas;
rior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil 3 - preparações compostas, não alcoólicas (extratos
reais) e igual ou inferior a R$ 4.800.000,00 concentrados ou sabores concentrados), para ela-
(quatro milhões e oitocentos mil reais). boração de bebida refrigerante, com capacidade de
diluição de até 10 (dez) partes da bebida para cada
parte do concentrado;
Para o ingresso no Simples Nacional, é necessário o
4 - cervejas sem álcool;
cumprimento das seguintes condições: enquadrar-se na
c) bebidas alcoólicas, exceto aquelas produzi-
definição de microempresa ou de empresa de peque- das ou vendidas no atacado por:
no porte; cumprir os requisitos previstos na legisla- 1. micro e pequenas cervejarias;
ção; e formalizar a opção pelo Simples Nacional. 2. micro e pequenas vinícolas;
O enquadramento das microempresas ou empre- 3. produtores de licores;
sas de pequeno porte é baseado na receita bruta de 4. micro e pequenas destilarias;
cada ano-calendário, considerado como tal o pro- XI - (Revogado);
duto de venda de bens, nas operações de conta pró- XII - que realize cessão ou locação de mão-de-obra;
434 pria, o preço dos serviços prestados e o resultado nas XIII - (Revogado);
XIV - que se dedique ao loteamento e à incorpora- CARACTERÍSTICAS DO SIMPLES NACIONAL
ção de imóveis.
XV - que realize atividade de locação de imóveis Facultativo
próprios, exceto quando se referir a prestação de
serviços tributados pelo ISS. Possibilidade de os estados adotarem sublimites para
XVI - com ausência de inscrição ou com irregulari- EPP em função da respectiva participação no PIB
dade em cadastro fiscal federal, municipal ou esta-
Prazo para recolhimento até o dia 20 do mês
dual, quando exigível.
subsequente àquele em que houver sido auferida a
§ 1º As vedações relativas a exercício de atividades
receita bruta
previstas no caput deste artigo não se aplicam às
pessoas jurídicas que se dediquem exclusivamente Apresentação de declaração única e simplificada de
às atividades referidas nos §§ 5°-B a 5°-E do art. 18 informações socioeconômicas e fiscais
desta Lei Complementar, ou as exerçam em conjun-
to com outras atividades que não tenham sido obje- Disponibilização às ME/EPP de sistema eletrônico
to de vedação no caput deste artigo. para a realização do cálculo do valor mensal devido,
geração para constituição do crédito tributário
Destacam-se as alterações definidas pela Lei Com- Recolhimento dos tributos abrangidos mediante
plementar n° 155, de 2016, sendo as principais: documento único de arrecadação

z Novo limite de receita bruta anual para Empresas Abrange: IRPJ, CSLL, PIS/PASEP, COFINS, IPI, ICMS,
de Pequeno Porte (EPP): aumento de R$3.600.000,00 ISS e a contribuição para a seguridade social
para R$4.800.000,00 a partir de 2018 — OBS: destinada à previdência social a cargo da pessoa
R$3.600.000,00 para R$4.800.000,00 o recolhimento jurídica (CPP)
unificado ficará restrito aos tributos federais do Sim- Irretratável para todo o ano-calendário
ples Nacional (IRPJ, IPI, PIS/PASEP, CONFINS e Con-
tribuição Previdenciária Patronal — CPP), ficando
VIGÊNCIA
excluídos dessa faixa, o ICMS dos Estados e o ISS dos
Municípios, impostos que serão apurados e recolhidos
O termo ‘’legislação’’, no direito tributário, tem o
pelos respectivos regimes normais;
significado de lei em sentido amplo, ou seja, tem o sig-
z Novo limite de receita bruta anual para
nificado abrangente, conforme se observa o art. 96, do
Microempreendedores Individuais (MEI):
Código Tributário Nacional. Vejamos:
aumento de R$60.000,00 para R$81.000,00;
z Inclusão das atividades de produção e comércio
Art. 96 A expressão “legislação tributária” com-
atacadista de bebidas alcoólicas: o recolhimento
preende as leis, os tratados e as convenções inter-
de impostos e contribuições pelo Simples antes era nacionais, os decretos e as normas complementares

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL NO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL


totalmente proibido as empresas que exercessem que versem, no todo ou em parte, sobre tributos e
a produção ou venda no atacado de bebidas alcoó- relações jurídicas a eles pertinentes.
licas. Com a inclusão, passa a ser permitido:
Vigência é aquela qualidade da lei que lhe atribui
„ Micro e pequenas cervejarias; plena disponibilidade para sua aplicação.
„ Micro e pequenas vinícolas; A lei vigente está tendente a produzir efeitos sobre o fato
„ Produtores de licores; que regular, porém, embora vigente, a lei pode não possuir
„ Micro e pequenas destilarias. eficácia, ou seja, sua incidência se torna prejudicada.
A eficácia da lei vigente poderá ser deferida para
z Novas tabelas de alíquotas e faixas de receita momento futuro, uma vez que obedece ao princípio
bruta anual: cinco tabelas de alíquotas e seis fai- da anterioridade tributária.
xas de receita bruta anual; Portanto, podemos asseverar que há vigência sem
z Nova sistemática de cálculo de tributo: o valor eficácia, porém, não há esta sem aquela.
devido mensalmente no âmbito Simples Nacional A vigência da lei pode se interromper por duas for-
passa a ser calculado pela aplicação sobre a base de mas, a revogação e a derrogação. Na revogação, há a
cálculo das alíquotas efetivas, calculadas a partir de cessação total dos efeitos da lei e na derrogação, tem-
alíquotas nominais constantes das novas tabelas (ane- -se a cessação parcial dos efeitos da lei.
xos I a V) e determinadas utilizando-se a receita bruta
acumulada nos doze meses anteriores ao período de A Vigência da Legislação Tributária no Tempo
apuração — a fórmula de cálculo de alíquota efetiva
está definida na LC n° 123, de 2006, § 1°-A, art. 18; Sobre a vigência no tempo, ficam mantidas as dis-
z Parcelamento de débitos vencidos até maio de posições legais que descrevem a vigência das normas
2016 em até cento e vinte meses, com parcela jurídicas em geral. Significa dizer que se aplica, à
mínima de R$300,00 e incidência de juros SELIC legislação tributária, a Lei de Introdução às Normas
por ocasião do pagamento de cada parcela: o pedi- do Direito Brasileiro (LNDB), ou seja, o instrumento
do de parcelamento implica desistência compulsória normativo que institui as regras de vigência das leis
e definitiva de parcelamento anterior, sem restabe- em geral. Em sua regra, art. 1º, da LNDB:
lecimento dos parcelamentos rescindidos caso não
seja efetuado o pagamento da primeira prestação. Art. 1º Salvo disposição em contrário, a lei começa
a vigorar em todo país quarenta e cinco dias depois
de oficialmente publicada”. 435
Do artigo em destaque, conclui-se que a própria lei Observe que a regra do artigo citado acima impõe
pode trazer em seu teor a data de início de sua vigên- um preceito constitucional (alínea “a”, inciso III, art. 150,
cia. Ou seja, a lei entra em vigor 45 dias depois de da CF), que veda o efeito retroativo da lei tributária.
publicada, quando não apresentar a data de vigência Observemos os dispositivos:
de forma expressa em seu texto. Portanto, no espaço
de tempo decorrente entre a publicação da lei e sua LEI Nº 5.172, DE 25 DE OUTUBRO DE 1966 (CTN)
vigência, há um período em que a lei existe, tem vali- Art. 105 A legislação tributária aplica-se ime-
dade, mas não está, ainda, dotada de eficácia. É a cha- diatamente aos fatos geradores futuros e aos
mada vacatio legis. pendentes, assim entendidos aqueles cuja ocorrên-
cia tenha tido início, mas não esteja completa nos
A Vigência e o Princípio da Anterioridade Tributária termos do artigo 116. [...]
Art. 116 Salvo disposição de lei em contrário, con-
sidera-se ocorrido o fato gerador e existentes
O princípio da anterioridade tributária está dis-
os seus efeitos:
posto nas alíneas “b” e “c”, inciso III, art. 150, da Cons-
I - tratando-se de situação de fato, desde o momen-
tituição Federal, e está vinculada à eficácia da lei.
to em que se verifiquem as circunstâncias materiais
necessárias a que produza os efeitos que normal-
Art. 150 Sem prejuízo de outras garantias assegu-
mente lhe são próprios;
radas ao contribuinte, é vedado à União, aos Esta-
II - tratando-se da situação jurídica, desde o momen-
dos, ao Distrito Federal e aos Municípios:
to em que esteja definitivamente constituída, nos
[...]
termos de direito aplicável. Parágrafo único. A
III - cobrar tributos:
autoridade administrativa poderá desconsiderar
[...]
atos ou negócios jurídicos praticados com a finali-
b) no mesmo exercício financeiro em que
dade de dissimular a ocorrência do fato gerador do
haja sido publicada a lei que os instituiu ou
tributo ou a natureza dos elementos constitutivos
aumentou;
da obrigação tributária, observados os procedi-
c) antes de decorridos noventa dias da data
mentos a serem estabelecidos em lei ordinária. [...]
em que haja sido publicada a lei que os insti-
CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988
tuiu ou aumentou, observado o disposto na
Art. 150 Sem prejuízo de outras garantias assegu-
alínea b;
radas ao contribuinte, é vedado à União, aos Esta-
dos, ao Distrito Federal e aos Municípios: [...]
O princípio da anterioridade informa que a lei tri- III - cobrar tributos:
butária publicada e vigente nas mesmas datas terá efi- a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do
cácia no exercício financeiro seguinte, ou 90 dias após. início da vigência da lei que os houver instituído ou
Importante salientar que, caso a lei tributária não aumentado;
disponha sobre a data de sua entrada em vigor, apli-
ca-se normalmente o previsto no art. 1º, da LNDB, con- Sendo assim, os fatos geradores pendentes são
forme dito no item anterior. aqueles cuja conclusão sugere uma sequência de atos,
sequência essa que já teve início, mas ainda não se
A Vigência da Legislação no Espaço completou quando a lei começou a vigorar: a primeira
parte foi exercida sob a égide da lei velha, e a segunda
Todo ordenamento jurídico é criado para viger em parte se completará sob o manto da lei nova.
determinado território: as leis de um país só prevalecem A lei tributária só se aplica efetivamente a fatos
dentro daquela nação; as leis estaduais são aplicáveis no geradores futuros, pois o fato gerador pendente não é
território daquele Estado; as leis municipais só são apro- tão somente uma possibilidade jurídica. Se tal condi-
veitadas dentro do respectivo território municipal. ção jamais vier a ocorrer, não tem o que falar em fato
A legislação tributária, espacialmente, está subme- gerador.
tida ao princípio da territorialidade. Logo, a legislação Já o art. 106, do CTN, aponta que existem duas
tributária vale, em princípio, nos limites do território exceções à regra geral de irretroatividade da aplica-
da pessoa jurídica que edita a norma. Todavia, a nor- ção da legislação tributária:
ma pode, excepcionalmente, abranger contribuintes
para além do campo territorial limitado à União, ao z No caso de lei interpretativa;
Município, ao Distrito Federal ou ao Estado, como pre- z No caso de lei mais benéfica.
visto no art. 102, do CTN.
Vejamos:
Art. 102 A legislação tributária dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios vigora, no País,
Art. 106 A lei aplica-se a ato ou fato pretérito:
fora dos respectivos territórios, nos limites em que
I - em qualquer caso, quando seja expressamente
lhe reconheçam extraterritorialidade os convênios
interpretativa, excluída a aplicação de penalida-
de que participem, ou do que disponham esta ou
de à infração dos dispositivos interpretados;
outras leis de normas gerais expedidas pela União.
II - tratando-se de ato não definitivamente julgado:
a) quando deixe de defini-lo como infração;
APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA b) quando deixe de tratá-lo como contrário a qual-
quer exigência de ação ou omissão, desde que não
Conforme dispõe o art. 105, do CTN, a legislação nova tenha sido fraudulento e não tenha implicado em
aplica-se aos fatos geradores pendentes, ou seja, fatos que falta de pagamento de tributo;
se iniciam na vigência de uma legislação e se finalizam na c) quando lhe comine penalidade menos severa
vigência de outra legislação. que a prevista na lei vigente ao tempo da sua
436 prática.
A lei expressamente interpretativa, normalmente, INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO DA LEGISLAÇÃO
interpreta outra lei, vigente antes da ocorrência do TRIBUTÁRIA
fato gerador. O objetivo da lei interpretativa é a nor-
ma confusa, que envolve uma análise mais explícita, Interpretar a lei versa em procurar explanar o pen-
no intuito de que o seu sentido se torne claro. samento do legislador, a fim de encontrar a finalidade
Portanto, a lei interpretativa não irá inovar, mas da lei e nomear os casos que se estende a sua aplicação.
A interpretação das normas jurídicas pode ser uti-
somente interpretar uma norma já existente, tirando
lizada, como busca de uma saída para um determina-
a dúvida proveniente de legislação anterior.
do caso concreto, ou na busca do real significado da
Conforme dispõe o inciso II, art. 106, do CTN, a
norma em si.
retroatividade da lei tributária tem, por objetivo,
O intérprete ao se valer das diversas formas e técni-
beneficiar o contribuinte, até porque a retroação
cas de interpretação, não cria nem altera direito, mas
que prejudique o contribuinte é constitucionalmente
sim, restringe-se a compreender a norma, é a busca do
vedada (inciso XXXVI, art. 5º, da CF).
seu sentido, seja pelo uso de um dos meios de integra-
ção ou pela aplicação de uma norma mais geral.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção
A interpretação de uma lei pode ser alcançada de diver-
de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros
sas maneiras, partindo de diferentes métodos para tal.
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilida-
O art. 107 do Código Tributário Nacional dispõe
de do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segu-
que a legislação tributária será interpretada confor-
rança e à propriedade, nos termos seguintes: [...]
me os enunciados prescritivos do Código Tributário
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adqui-
Nacional.
rido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;

Art. 107 A legislação tributária será interpretada


As alíneas “a” e “b”, do inciso II, do art. 106, do CTN,
conforme o disposto neste Capítulo.
são parecidas. Quanto à alínea “c”, ocorre a retroação
benéfica da multa ou aplicação do princípio da benig- O art. 110 do CTN dispõe sobre o atendimento pelo
nidade, pelo qual fica admitida a aplicação retroativa intérprete da hierarquia das leis, não sendo da com-
de uma lei a um fato gerador anterior, se a multa pre- petência do legislador ordinário a modificação de um
vista na lei nova for inferior àquela prevista na lei do conceito advindo da Constituição. Deste modo, se a
momento do fato gerador. Constituição Federal cita “serviços de qualquer natu-
reza”, ao descrever a competência dos Municípios e
Art. 144 O lançamento reporta-se à data da ocor- Distrito Federal para criar e exigir o ISS, o conceito de
rência do fato gerador da obrigação e rege-se pela serviços não poderá ser alterado com o fito de burlar a
lei então vigente, ainda que posteriormente modifi- regra constitucional da competência tributária.
cada ou revogada.
§ 1º Aplica-se ao lançamento a legislação que, pos- Art. 110 A lei tributária não pode alterar a defini-

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL NO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL


teriormente à ocorrência do fato gerador da obri- ção, o conteúdo e o alcance de institutos, conceitos
gação, tenha instituído novos critérios de apuração e formas de direito privado, utilizados, expressa ou
ou processos de fiscalização, ampliado os poderes implicitamente, pela Constituição Federal, pelas
de investigação das autoridades administrativas, Constituições dos Estados, ou pelas Leis Orgânicas
ou outorgado ao crédito maiores garantias ou pri- do Distrito Federal ou dos Municípios, para definir
vilégios, exceto, neste último caso, para o efeito de ou limitar competências tributárias.
atribuir responsabilidade tributária a terceiros.
§ 2º O disposto neste artigo não se aplica aos impos- O art. 111 do CTN estabelece que deve ser inter-
tos lançados por períodos certos de tempo, desde pretada de forma literal a legislação, assim sendo, nos
que a respectiva lei fixe expressamente a data em remete à uma interpretação restritiva.
que o fato gerador se considera ocorrido.
Art. 111 Interpreta-se literalmente a legislação
A irretroatividade tributária, com amparo consti- tributária que disponha sobre:
tucional, encontra abrigo no art. 144, do CTN. Entre- I - suspensão ou exclusão do crédito tributário;
tanto, a lei nova que trata de formalidades ou aspectos II - outorga de isenção;
formais, inábil a modificar, instituir ou extinguir III - dispensa do cumprimento de obrigações tribu-
direitos materiais, será aplicada retroativamente, tárias acessórias.
afastando-se do art. 144, do CTN, conforme o disposto
no § 1º desse mesmo artigo. Por fim, o art. 112 do CTN conduz à regra de inter-
Já o § 2º externa que, à semelhança do parágra- pretação das leis de infrações e sanções tributárias,
fo anterior, separada estará a aplicação do caput do definindo que devem ser interpretadas em favor do
comando em tela, isto é, o próprio princípio da irre- acusado, caso haja dúvida.
troatividade tributária. Trata-se da situação limitada
aos gravames lançados por período certo de tempo Art. 112 A lei tributária que define infrações, ou lhe
comina penalidades, interpreta-se da maneira mais
ou com fatos geradores periódicos como, por exem-
favorável ao acusado, em caso de dúvida quanto:
plo, IPTU, IPVA e o ITR. Para tais tributos, a lei pode
I - à capitulação legal do fato;
definir um momento específico de ocorrência do fato II - à natureza ou às circunstâncias materiais do
gerador, devendo ser aplicada a legislação corrente fato, ou à natureza ou extensão dos seus efeitos;
naquele tempo predeterminado, e não aquela vigente III - à autoria, imputabilidade ou punibilidade;
no momento da ocorrência do fato gerador. IV - à natureza da penalidade aplicável, ou à sua
graduação. 437
A integração está contida dentro da interpretação. Art. 108 [...]
É a segunda fase do processo interpretativo. O intér- § 2º O emprego da equidade não poderá resultar na
prete tratará, desde logo, de localizar o significado do dispensa do pagamento de tributo devido.
comando; contudo, não podendo encontrá-lo de pla-
no, pela existência de lacuna, praticará, então, as for-
mas previstas de integração.
A integração é utilizada quando há omissão da OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA
legislação, em face de uma lacuna existente, para
supri-la, posto que o judiciário não possa abster-se de PRINCIPAL E ACESSÓRIA
apreciar nenhuma demanda que seja intentada.
O art. 108 do CTN versa sobre as hipóteses de inte- A obrigação tributária consiste no vínculo jurídico que
gração da legislação tributária. É evidente que o papel
une o sujeito passivo (contribuinte ou responsável) e o
do intérprete não fica restrito ao de explicar a norma
sujeito ativo em razão de uma prestação tributária, na qual
jurídica, sobretudo em momentos em que ela inexiste,
o sujeito ativo tem o direito de exigir do sujeito passivo.
no âmbito de uma situação lacunosa. Nesse caso, deve
A obrigação tributária pode ser principal ou aces-
o intérprete se valer da integração da norma, para
sória. A principal corresponde à obrigação de dar,
fins de preenchimento do vazio legal existente.
enquanto a acessória corresponde à obrigação de
Art. 108 Na ausência de disposição expressa, a auto-
fazer ou não fazer. Diferentemente do que ocorre no
ridade competente para aplicar a legislação tributá- direito civil, o direito tributário não possibilita afir-
ria utilizará sucessivamente, na ordem indicada: mar que o acessório segue o principal.
I - a analogia; A obrigação principal tem como objeto o dever de
II - os princípios gerais de direito tributário; pagamento do tributo ou penalidade pecuniária (mul-
III - os princípios gerais de direito público; ta). A acessória, por sua vez, torna exigível ao sujeito
IV - a equidade. passivo um fazer ou não fazer, ou seja, corresponde
a deveres procedimentais que auxiliam o sujeito ati-
A analogia é uma forma de integração legal por vo na fiscalização e arrecadação. A obrigação princi-
comparação entre casos similares ou análogos, ou pal decorre de lei, e a obrigação acessória decorre de
seja, aplica-se o método analógico pela paridade de legislação tributária.
situações. A analogia objetiva proteger as lacunas Para melhor compreender essas afirmações,
legais, na tentativa de regular, de maneira semelhan- observe a tabela:
te, os fatos semelhantes.
O uso da analogia não pode resultar na exigência
de tributo não previsto em lei, em detrimento do prin- OBRIGAÇÃO
OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA
cípio da legalidade da tributação. TRIBUTÁRIA
ACESSÓRIA
Tem-se, assim, como limite à integração analógica, PRINCIPAL
a proibição de que, do seu emprego, resulte a exigên- Natureza: de
cia de tributo não previsto em lei. Natureza: de fazer ou não fazer
dar

Art. 108 [...] Objeto: prestações positivas ou


§ 1º O emprego da analogia não poderá resultar na negativas por parte do sujeito
exigência de tributo não previsto em lei. Objeto: pagar passivo que interessem à
tributo ou arrecadação e a fiscalização de
Os princípios gerais de Direito Tributário e de multa tributos (declaração de ajuste de
Direito Público, não devem ser hierarquizados, uma Imposto de Renda, emissão de
vez que no Direito o princípio matriz é o da igualdade notas fiscais, escrituração fiscal)
e da boa-fé constitucional, logo é desnecessário o tra-
Prevista na Legislação Tributária
tamento hierárquico previsto no art. 108 do CTN. Prevista em lei
(decretos, portarias, entre outros)
Não há impedimento ao interprete de utilizar um
princípio mais específico do Direito Tributário ao Inobservância pelo contribuinte
invés de um princípio do Direito Público. Isto por- —
converte-se em obrigação principal
que os princípios do Direito Público são considerados
auxiliadores na integração da norma tributária. Nos termos do art. 113, do Código Tributário
Quanto a equidade, ela ocorre no caso da omissão Nacional, a obrigação tributária principal nasce com
da lei e não tendo sido localizado nenhum modo de
a ocorrência do fato gerador, extinguindo-se quando
solução para o caso na analogia, nos princípios gerais
verificadas as hipóteses de extinção do crédito tribu-
de Direito Tributário, nem nos princípios gerais de
tário (art. 156, do CTN):
Direito Público, a resolução da questão passará pelo
caminho mais benevolente, mais humano, mais suave. Art. 113 A obrigação tributária é principal ou acessória.
A solução há de ser definida pela equidade, buscando- § 1º A obrigação principal surge com a ocorrência
-se retificar as distorções decorrentes da generalidade do fato gerador, tem por objeto o pagamento de tri-
e da abstração das leis. buto ou penalidade pecuniária e extingue-se junta-
A utilização da equidade não pode, de forma mente com o crédito dela decorrente.
nenhuma, implicar dispensa do tributo (§ 2º, art. 108, § 2º A obrigação acessória decorre da legislação
do CTN). tributária e tem por objeto as prestações, positivas
ou negativas, nela previstas no interesse da arreca-
438 dação ou da fiscalização dos tributos.
§ 3º A obrigação acessória, pelo simples fato da sua Art. 149 O lançamento é efetuado e revisto de ofício
inobservância, converte-se em obrigação principal pela autoridade administrativa nos seguintes casos:
relativamente à penalidade pecuniária. I - quando a lei assim o determine;
II - quando a declaração não seja prestada, por quem
O fato gerador corresponde à realização concre- de direito, no prazo e na forma da legislação tributária;
ta de evento previsto na lei. Assim, ele é a origem da III - quando a pessoa legalmente obrigada, embo-
obrigação tributária. ra tenha prestado declaração nos termos do inciso
O crédito tributário é constituído pelo lançamen- anterior, deixe de atender, no prazo e na forma da
to e decorre da obrigação principal. Para que o fisco legislação tributária, a pedido de esclarecimento
possa exigir o tributo do sujeito passivo, é necessária formulado pela autoridade administrativa, recuse-
-se a prestá-lo ou não o preste satisfatoriamente, a
a constituição do crédito tributário por meio de lan-
juízo daquela autoridade;
çamento. O lançamento corresponde à verificação da
IV - quando se comprove falsidade, erro ou omissão
ocorrência do fato gerador pela pessoa competente a
quanto a qualquer elemento definido na legislação
sua liquidação. Observe o que diz o art. 138, do Código tributária como sendo de declaração obrigatória;
Tributário Nacional: V - quando se comprove omissão ou inexatidão, por
parte da pessoa legalmente obrigada, no exercício
Art. 139 O crédito tributário decorre da obrigação
da atividade a que se refere o artigo seguinte;
principal e tem a mesma natureza desta.
VI - quando se comprove ação ou omissão do sujei-
to passivo, ou de terceiro legalmente obrigado, que
Segundo os arts. 140 e 141, também do CTN:
dê lugar à aplicação de penalidade pecuniária;
Art. 140 As circunstâncias que modificam o crédi- VII - quando se comprove que o sujeito passivo, ou
to tributário, sua extensão ou seus efeitos, ou as terceiro em benefício daquele, agiu com dolo, frau-
garantias ou os privilégios a ele atribuídos, ou que de ou simulação;
excluem sua exigibilidade não afetam a obrigação VIII - quando deva ser apreciado fato não conhecido
tributária que lhe deu origem. ou não provado por ocasião do lançamento anterior;
IX - quando se comprove que, no lançamento ante-
Art. 141 O crédito tributário regularmente constituído
rior, ocorreu fraude ou falta funcional da auto-
somente se modifica ou extingue, ou tem sua exigibili-
ridade que o efetuou, ou omissão, pela mesma
dade suspensa ou excluída, nos casos previstos nesta
autoridade, de ato ou formalidade especial.
Lei, fora dos quais não podem ser dispensadas, sob
Parágrafo único. A revisão do lançamento só pode
pena de responsabilidade funcional na forma da lei, a
ser iniciada enquanto não extinto o direito da Fazen-
sua efetivação ou as respectivas garantias.
da Pública.
A competência para constituir o crédito tributário
pelo lançamento é privativa da autoridade adminis- São três modalidades de lançamento tributário,
trativa, inexistindo qualquer disposição legal que per- observe:
mita sua delegação (art. 142, do CTN).

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL NO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL


z De ofício (ou direito);
O lançamento, após a notificação do sujeito pas- z Por declaração (ou misto);
sivo, somente pode ser alterado nas hipóteses do art. z Por homologação.
145, do Código Tributário Nacional:
O lançamento de ofício é aquele em que o próprio
Art. 145 O lançamento regularmente notificado ao fisco apura o montante devido e notifica o sujeito passi-
sujeito passivo só pode ser alterado em virtude de: vo para que pague. Não há participação do contribuin-
I - impugnação do sujeito passivo; te na prestação de informações para a constituição do
II - recurso de ofício; crédito tributário, por exemplo, o IPVA e o IPTU.
III - iniciativa de ofício da autoridade administrati- O lançamento por declaração ou misto é aquele
va, nos casos previstos no artigo 149. em que há participação do sujeito passivo prestando
Art. 146 A modificação introduzida, de ofício ou informações ao fisco. Com base na declaração, o fisco
em consequência de decisão administrativa ou atua o lançamento. É uma ação conjugada entre o fis-
judicial, nos critérios jurídicos adotados pela auto- co e contribuinte. Cita-se como exemplo a declaração
ridade administrativa no exercício do lançamento
de bagagem acompanhada.
somente pode ser efetivada, em relação a um mes-
O lançamento por homologação ou autolança-
mo sujeito passivo, quanto a fato gerador ocorrido
mento é aquele onde o sujeito passivo age de manei-
posteriormente à sua introdução.
ra preponderante ou exclusiva, cabendo à Fazenda
Pública efetuar a homologação. Cita-se como exemplo
Após a constituição do crédito e a notificação do
o Imposto de Renda de Pessoa Física.
sujeito passivo, há a oportunidade de se contestar a
obrigação tributária exigida e seu respectivo montan- HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA E FATO GERADOR DA
te, podendo dar-se por meio de recurso administrativo OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA
ou ação judicial.
Nos termos do art. 149, do Código Tributário Nacio- A obrigação tributária surge com o fato gerador.
nal, tem-se a possibilidade de o lançamento ser altera- Trata-se da materialização da descrição prévia e nor-
do de ofício. São hipóteses que correspondem a erros mativa. É uma situação prevista em lei que, ao ocorrer
de fato, fraudes, simulações, entre outros. É importante na prática, dá origem a uma obrigação tributária.
frisar que, nos casos de erro de direito, isto é, modifi- De acordo com Carla Aparecida Mantaia, quando
cação interpretativa da legislação tributária, não será o fato se encontra à hipótese, à luz do fenômeno da
possível alterar o lançamento já realizado, conforme incidência tributária, temos o nascimento do elo que
dispõe o art. 146, do Código Tributário Nacional. unirá credor ao devedor do tributo. 439
A autora também leciona que o fato gerador é objeto norma de outro ramo do direito, conferindo-
considerado a situação de fato, previsto na lei tri- -lhe efeitos jurídicos.
butária de forma genérica e abstrata e, ao ocorrer em Por sua vez, o fato gerador é definido com base em
uma situação concreta, viabiliza a materialização do uma situação de fato quando, antes de sua previsão
direito, ocorrendo, assim, o nascimento da obriga- pelo direito tributário, ela só tinha importância eco-
ção tributária, como principal ou acessória, conforme nômica, mas não era definida em qualquer ramo do
os arts. 114 e 115 do Código Tributário Nacional (CTN). direito como elaboradora de efeitos jurídicos.
Essa distinção é importante para a compreensão
Art. 114 Fato gerador da obrigação principal é a do momento em que se considera ocorrido o fato gera-
situação definida em lei como necessária e suficien- dor de um tributo, o que se extrai do disposto nos inci-
te à sua ocorrência. sos I e II, art. 116, do CTN:
Art. 115 Fato gerador da obrigação acessória é
qualquer situação que, na forma da legislação apli- Art. 116 Salvo disposição de lei em contrário, con-
cável, impõe a prática ou a abstenção de ato que sidera-se ocorrido o fato gerador e existentes os
não configure obrigação principal. seus efeitos:
I - Tratando-se de situação de fato, desde o momen-
Em outras palavras, podemos definir o fato gera- to em que o se verifiquem as circunstâncias mate-
dor como a ocorrência de situações da vida real que riais necessárias a que produza os efeitos que
traz à tona a exigência da obrigação tributária para o normalmente lhe são próprios;
contribuinte. Portanto, fato gerador é a situação que II - Tratando-se de situação jurídica, desde o
tornou obrigatório pagar um tributo ou prestar uma momento em que esteja definitivamente constituí-
obrigação acessória. da, nos termos de direito aplicável.
Há, ainda, princípios básicos que devem ser
observados: A título de exemplo de uma situação de fato,
estampada no inciso I, art. 116, do CTN, podemos citar
z Legalidade: refere-se à exigibilidade do cumpri- o fato gerador do imposto de importação (II), que
mento do princípio constitucional da legalidade; ocorre com a entrada de produtos estrangeiros no
z Economicidade: refere-se ao fenômeno econô- território nacional. Supondo que José da Silva, pessoa
mico do fato tributário, abrangendo, via de regra, física, compre uma bolsa térmica, por meio de um site
base de cálculo e alíquota do tributo, bem como a de determinada loja localizada na China. O fato gera-
dor do II não ocorrerá quando o produto sair da loja
capacidade contributiva do sujeito passivo;
na China, mas, sim, quando entrar no Brasil. Sobre
z Causalidade: obedece ao consequente nascimento
a situação jurídica, um bom exemplo para explicitar
da obrigação tributária, por meio do efeito caracte-
o disposto no inciso II, art. 116, do CTN, seria o fato
rizado pelo fato gerador.
gerador do ITBI, que se dá, em regra, na efetiva trans-
ferência da propriedade imobiliária, mediante con-
Segue alguns exemplos práticos, para melhor
trato de compra e venda, junto ao cartório de registro
entendimento do que é um fato gerador de tributos:
imobiliário.
Se Antônio Carlos aluga uma casa de Maria das
z No comércio, a venda de um produto/mercado-
Dores, por meio de um contrato de aluguel, não é
ria é o fato gerador da obrigação principal que é
caso de fato gerador do ITBI, pois não há a transfe-
pagar o tributo correspondente, no caso o ICMS e o
rência efetiva do imóvel. Nesse caso, somente é dado
fato gerador da obrigação acessória, que, aqui, é a
uma posse provisória do imóvel mediante contrato.
emissão da nota fiscal;
Contudo, se Antônio Carlos compra a casa de Maria
z O fato gerador do imposto de renda (IR) é a renda
das Dores e, de posse do contrato de compra e venda,
gerada, podendo ser da pessoa física ou da pessoa
Antônio Carlos leva esse contrato ao Cartório de imó-
jurídica; veis, quando houver a efetiva transferência da posse
z O fato gerador do IOF (Imposto sobre Operações do imóvel, ocorrerá o fato gerador do ITBI.
de Crédito, Câmbio e Seguro, ou Relativas a Títulos
ou Valores Mobiliários), quanto às operações de
FATO GERADOR DA OBRIGAÇÃO PRINCIPAL
crédito, é a entrega do montante que constitua o
objeto da obrigação;
De acordo com o art. 114 do CTN, o fato gerador da
z No que se refere ao Imposto Sobre Serviços de
obrigação principal é a situação definida em lei como
Qualquer Natureza (ISS), o fato gerador ocorre
necessária e suficiente à sua ocorrência.
com a execução de uma prestação de serviço. São necessárias todas as situações que precisam
estar presentes para a configuração do fato, a exem-
MOMENTO DE OCORRÊNCIA DO FATO GERADOR plo da saída de uma mercadoria do território nacional,
situação imprescindível para a ocorrência do fato gera-
O CTN divide os fatos geradores em dois grupos: dor do imposto de exportação. No entanto, isso basta?
aqueles definidos com base em situações de fato e Não! Como dito, a situação que enseja o fato gerador da
aqueles definidos com base em situações jurídicas. obrigação tributária tem que ser não somente necessá-
A diferença está no fato de determinada situação ria, mas também suficiente para a sua ocorrência.
já ser ou não objeto de outro ramo jurídico quando De acordo com o exemplo exposto, é preciso, ain-
da definição, pelo direito tributário, daquela situação da, que a mercadoria seja nacional para que o fato
como fato gerador de um tributo. Ou seja, o fato gera- gerador do tributo reste configurado.
dor é definido com base em uma situação jurídica, O CTN expõe duas classificações para definir o
quando essa, antes mesmo de ser prevista como fato momento em que o fato gerador se reputa perfeito
440 gerador de um tributo pelo direito tributário, já era e acabado.
Vejamos:
SUJEIÇÃO ATIVA E PASSIVA E
Art. 117 Para os efeitos do inciso II do artigo ante- CONTRIBUINTE
rior e salvo disposição de lei em contrário, os atos
ou negócios jurídicos condicionais reputam-se O objetivo da tributação é arrecadar tributos, o que
perfeitos e acabados: necessita do estabelecimento de relações jurídicas de
I – sendo suspensiva a condição, desde o momento naturezas distintas. Esse fato abrange contribuintes
de seu implemento; — obrigados ao pagamento de tributos e ao cumpri-
II – sendo resolutória a condição, desde o momen- mento de deveres formais — e não contribuintes —
to da prática do ato ou da celebração do negócio. que devem facilitar a fiscalização e podem, também,
incorrer em sanções no caso do descumprimento de
z Suspensivas: aquelas que suspendem a eficácia obrigação.
do negócio jurídico a que foram apostas, de forma A tributação origina, portanto, sujeito ativo, de um
que a eficácia unicamente surgirá com o imple- lado, e sujeito passivo, de outro.
mento da condição, conforme inciso I, art. 117, do
CTN; SUJEITO ATIVO
z Resolutórias (ou resolutivas): quando seu imple-
Conforme preconiza o art. 119, do Código Tributá-
mento tem por efeito resolver (desmanchar, desfa-
rio Nacional (CTN), sujeito ativo da obrigação tribu-
zer, dissolver) o negócio jurídico que foi celebrado.
tária é a pessoa jurídica de direito público titular da
Lógico que, nessa situação, não há que se pensar
competência para exigir o seu cumprimento. Ou seja,
que o fato gerador ocorre com o implemento da o sujeito ativo do IPTU é o município respectivo ou o
condição, pois este, ao contrário, retira efeito do DF, assim como o sujeito ativo do IOF é a União.
ato que foi praticado, de acordo com o inciso II, art.
117, do CTN. Art. 119 Sujeito ativo da obrigação é a pessoa jurí-
dica de direito público titular da competência para
FATO GERADOR DA OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA exigir o seu cumprimento.

O art. 115 do CTN assim é definido: fato gerador da Aqui, é importante ficar alerta para a distinção
obrigação acessória é qualquer situação que, na forma entre competência tributária e capacidade tributária
da legislação aplicável, impõe a prática ou a absten- ativa. Vejamos as diferenças:
ção de ato que não configure obrigação principal.
Como o próprio dispositivo legal deixa evidente, o z Competência tributária: é a competência para
instituir tributo e, portanto, só pode ser exercida
fato gerador da obrigação acessória é qualquer situa-
por pessoa jurídica de direito público, sem possibi-
ção a que se encontre o sujeito passivo, que imponha a
lidade de delegação (caput, art. 7º, CTN);

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL NO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL


esse uma obrigação de fazer ou não fazer, que não se
z Capacidade tributária ativa: é a possibilidade de
configure como obrigação principal (pois esta é uma figurar no polo ativo da relação jurídico-tributária;
obrigação de dar, com conteúdo pecuniário). Exem- refere-se às funções de arrecadar e fiscalizar tribu-
plo: escrituração das operações de circulação de mer- tos (§ 3º, art. 7º, CTN), a qual é passível de delegação
cadoria (notas fiscais), sujeitas ao ICMS, e apuração do de uma pessoa jurídica de direito público a outra.
respectivo saldo devedor (ou credor) nos livros fiscais.
Deve ser observado que, independentemente de Art. 7º A competência tributária é indelegável, sal-
ser exigido ou não o cumprimento de obrigação prin- vo atribuição das funções de arrecadar ou fiscali-
cipal, o sujeito passivo é sempre obrigado a cumprir a zar tributos, ou de executar leis, serviços, atos ou
obrigação acessória. decisões administrativas em matéria tributária,
conferida por uma pessoa jurídica de direito públi-
Cite-se o caso, por exemplo, de uma venda estar
co a outra, nos termos do § 3º do art. 18 da Consti-
isenta do ICMS, mas de esse fato não desobrigar o tuição. [...]
comerciante a emissão da respectiva Nota Fiscal, aco- § 3º Não constitui delegação de competência o
bertando a operação da venda ou de se apurar saldo cometimento, a pessoas de direito privado, do
credor do ICMS (saldo a favor do sujeito passivo, em encargo ou da função de arrecadar tributos.
que não haverá recolhimento do imposto).
Sendo assim, verifica-se que o CTN adotou um cri- O art. 120, do CTN, trata do caso de um ente federa-
tério residual para conceituar o fato gerador da obri- tivo ser desmembrado e o que ocorre com a cobrança
gação acessória, de modo que é toda situação que não de seus tributos.
configure obrigação principal e imponha a prática ou
Art. 120 Salvo disposição de lei em contrário, a
abstenção de ato pelo sujeito passivo.
pessoa jurídica de direito público, que se constituir
pelo desmembramento territorial de outra, sub-ro-
Obrigação Exemplo: Pagar ga-se nos direitos desta, cuja legislação tributária
Principal o ISS aplicará até que entre em vigor a sua própria.

FATO A fim de elucidar tal artigo, vamos imaginar que


GERADOR
um município chamado “Flores do Cerrado” se sub-
divida em “Cerrado do Sul” e “Flores do Norte”. Com
Obrigação Exemplo: Emitir a
Acessória nota fiscal
a subdivisão, o município Flores do Cerrado não exis-
tirá mais. O termo “subrogar-se”, nesse caso, trata do 441
recebimento pelos municípios sucessores (Cerrado do z Sujeito passivo de obrigação acessória: é a pes-
Sul e Flores do Oeste) dos direitos que o município Flo- soa obrigada a cumprir as prestações de fazer ou
res do Cerrado tinha, até que suas próprias leis sejam não fazer.
capazes de produzir efeitos.
O art. 123, do CTN, não admite que convenções
particulares sejam utilizadas perante o fisco para a
Importante!
alteração da definição legal de sujeito passivo.
Competência Tributária ≠ Capacidade Tributária.
Art. 123 Salvo disposições de lei em contrário, as
convenções particulares, relativas à responsabili-
SUJEITO PASSIVO dade pelo pagamento de tributos, não podem ser
opostas à Fazenda Pública, para modificar a defini-
De acordo com o que dispõe o art. 121, do Código ção legal do sujeito passivo das obrigações tributá-
Tributário Nacional (CTN), o sujeito passivo da obriga- rias correspondentes.
ção tributária principal é a pessoa obrigada a pagar o
tributo ou a penalidade pecuniária, de modo que, na SOLIDARIEDADE
obrigação acessória, o sujeito passivo é a pessoa obri-
gada às prestações de fazer ou não fazer, que consti- Quando o polo passivo da relação jurídico-tribu-
tuem seu objeto (art. 122, CTN). tária é ocupado por mais de um sujeito, ocorre uma
Ocorre que as pessoas em geral costumam deno- obrigação solidária, que comporta ao fisco a cobrança
minar o sujeito passivo de “contribuinte”, indistinta- integral da multa de um só devedor solidário, ou seja,
mente, quando na verdade o sujeito passivo de uma há mais de um credor, ou mais de um devedor concor-
obrigação tributária pode ser tanto um contribuinte rendo à obrigação, inclusive sendo responsáveis por
(sujeito passivo direto) como um responsável tributá- receber ou por pagar a dívida toda. Considera-se, nos
rio (sujeito passivo indireto). termos do art. 264, do Código Civil:
Quanto ao sujeito passivo direto, é correto dizer
que este é o contribuinte, vez que possui relação pes- z Solidariedade ativa: quando, no polo ativo da
soal e direta com a situação do fato gerador. obrigação, existe mais de um credor com direito a
Já quanto ao sujeito passivo indireto, é importante receber a dívida toda;
ressaltar que este não possui relação direta e pessoal z Solidariedade passiva: quando, no polo passivo
com o fato gerador, e, sim, possui vinculação em decor- da obrigação, existe mais de um devedor com a
rência da lei e relação indireta com o fato gerador. obrigação de pagar toda a dívida.

Art. 121 Sujeito passivo da obrigação principal Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil)
é a pessoa obrigada ao pagamento de tributo
ou penalidade pecuniária. Art. 264 Há solidariedade, quando na mesma obriga-
Parágrafo único. O sujeito passivo da obrigação ção concorre mais de um credor, ou mais de um deve-
principal diz-se: dor, cada um com direito, ou obrigado, à dívida toda.
I - contribuinte, quando tenha relação pessoal e dire-
ta com a situação que constitua o respectivo fato
Assim sendo, na solidariedade do direito civil, o
gerador;
II - responsável, quando, sem revestir a condição de
devedor solidário pode indicar bens do devedor prin-
contribuinte, sua obrigação decorra de disposição cipal para que sejam primeiro executados; isso se
expressa de lei. denomina benefício de ordem, isto é, o direito de se
Art. 122 Sujeito passivo da obrigação acessória exigir que a cobrança da dívida seja feita com obser-
é a pessoa obrigada às prestações que consti- vância de uma sequência. Porém, na solidariedade tri-
tuam o seu objeto. butária, não se admite o benefício de ordem.
No CTN, a disciplina da solidariedade se dispõe da
No mais, é importante ficar alerta para a diferencia- seguinte maneira:
ção, no caso de tributos indiretos (a exemplo do ICMS),
entre contribuinte de fato e contribuinte de direito. Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 (Código
Contribuinte de fato é aquele que sofre efetiva- Tributário Nacional)
mente a incidência econômica do tributo, ainda que Art. 124 São solidariamente obrigadas:
formalmente não integre a relação jurídico-tributária, I - as pessoas que tenham interesse comum na
a exemplo do consumidor final que compra uma mer- situação que constitua o fato gerador da obri-
cadoria qualquer de um comerciante. gação principal;
Por sua vez, o contribuinte de direito é aquele II - as pessoas expressamente designadas por lei.
que deve efetivamente recolher o tributo e que ocupa Parágrafo único. A solidariedade referida neste
o polo passivo da relação jurídico-tributária. Podemos artigo não comporta benefício de ordem.
dar como exemplo o comerciante que vende o produ- Art. 125 Salvo disposição de lei em contrário, são
to ao consumidor final. os seguintes os efeitos da solidariedade:
Simplificando, as modalidades de sujeição passiva I - o pagamento efetuado por um dos obrigados
podem ser dispostas assim: aproveita aos demais;
II - a isenção ou remissão de crédito exonera
z Sujeito passivo de obrigação principal: caso pos- todos os obrigados, salvo se outorgada pes-
sua relação pessoal e direta com o fato gerador, soalmente a um deles, subsistindo, nesse caso, a
trata-se de contribuinte (sujeito passivo direto); solidariedade quanto aos demais pelo saldo;
caso contrário, trata-se de responsável (sujeito
442 passivo indireto);
Portanto, são considerados efeitos da solidariedade:

z O pagamento efetuado por um dos obrigados aproveita aos demais;


z A isenção ou remissão de crédito exonera todos os obrigados, salvo se outorgada pessoalmente a um deles,
subsistindo, nesse caso, a solidariedade quanto aos demais pelo saldo;
z A interrupção da prescrição, em favor ou contra um dos obrigados, favorece ou prejudica os demais.

CAPACIDADE TRIBUTÁRIA

Capacidade tributária passiva é a aptidão para ser sujeito passivo da relação jurídico-tributária. Portanto, para
que alguém seja considerado sujeito passivo no direito tributário, basta que a lei o defina como tal e que ocorra o
fato gerador da respectiva obrigação, sendo irrelevantes as regras sobre capacidade segundo o direito civil.

Vejamos o disposto no art. 126, do CTN:

Art. 126 A capacidade tributária passiva independe:


I - da capacidade civil das pessoas naturais;
II - de achar-se a pessoa natural sujeita a medidas que importem privação ou limitação do exercício de ativida-
des civis, comerciais ou profissionais, ou da administração direta de seus bens ou negócios;
III - de estar a pessoa jurídica regularmente constituída, bastando que configure uma unidade econômica ou
profissional.

Dessa forma, verifica-se que as regras sobre capacidade civil previstas no Código Civil brasileiro não influen-
ciam na definição do sujeito passivo do direito tributário, de forma que até uma criança menor de idade (conside-
rada absolutamente incapaz pelo Código Civil) pode ser sujeito passivo do IPTU, por exemplo, bastando que seja
a proprietária do imóvel.
Entretanto, não há qualquer relevância em eventual impedimento ao exercício de atividades por pessoa sujei-
ta à obrigação tributária. Alguém que seja proibido de exercer a medicina, por exemplo, se exercê-la, deverá
pagar o Imposto de Renda sobre os rendimentos que receber.
Finalizando, o fato de uma pessoa jurídica não estar regularmente constituída (sem registro no órgão compe-
tente) não a libera do pagamento de tributos devidos pela atividade exercida nesse período, de modo que, após
alcançado o registro constitutivo da pessoa jurídica, serão obrigatórias tais dívidas tributárias.

DOMICÍLIO TRIBUTÁRIO

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL NO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL


O domicílio, no direito tributário, é o lugar onde o sujeito passivo é chamado a cumprir seus deveres de ordem
tributária, sejam eles obrigações principais ou acessórias.
De acordo com o disposto no art. 127, do CTN, podemos deduzir que a regra geral do domicílio tributário é a
utilização do domicílio de eleição, ou seja, o próprio contribuinte elege o local de sua preferência. Se, por ventura,
o contribuinte não o eleger, haverá uma sequência dos domicílios subsidiários e alternativos. Os incisos I, II e III,
do art. 128, deverão ser aplicados na busca da solução deste caso. Vejamos:

Art. 127 Na falta de eleição, pelo contribuinte ou responsável, de domicílio tributário, na forma da legislação
aplicável, considera-se como tal:
I - quanto às pessoas naturais, a sua residência habitual, ou, sendo esta incerta ou desconhecida, o centro
habitual de sua atividade;
II - quanto às pessoas jurídicas de direito privado ou às firmas individuais, o lugar da sua sede, ou, em relação
aos atos ou fatos que derem origem à obrigação, o de cada estabelecimento;
III - quanto às pessoas jurídicas de direito público, qualquer de suas repartições no território da entidade
tributante.
§ 1º Quando não couber a aplicação das regras fixadas em qualquer dos incisos deste artigo, considerar-se-á como
domicílio tributário do contribuinte ou responsável o lugar da situação dos bens ou da ocorrência dos
atos ou fatos que deram origem à obrigação.

Em caso de impossibilidade de aplicação dos incisos citados, ou na hipótese de a Administração recusar, fun-
damentadamente, o domicílio de eleição, o § 1º, do art. 127, deverá ser aplicado. Tal dispositivo sugere que será
nomeado, como domicílio, o lugar da situação dos bens ou da ocorrência dos atos ou fatos que originaram a
obrigação.

Art. 127 […]


§ 2º A autoridade administrativa pode recusar o domicílio eleito, quando impossibilite ou dificulte a arrecada-
ção ou a fiscalização do tributo, aplicando-se então a regra do parágrafo anterior.

Visto o § 2º, do art. 127, caso o fisco entenda que o domicílio eleito dificulta ou impossibilita a arrecadação ou
fiscalização do tributo, este poderá recursar o domicílio eleito e, assim, aplicará a regra do § 1º, que determina
como domicílio o lugar da situação dos bens ou da ocorrência dos atos ou fatos que deram origem à obrigação. 443
ELEIÇÃO
DOMICÍLIO REGRAS RECUSADO
art. 127

Aplica - se § 1°, do
art. 127

Aplica - se os Impossibilidade
Não houve incisos do de aplicações dos
eleição art. 127 incisos

RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA
CONCEITO E SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA

A obrigação tributária possui um polo ativo, que corresponde ao credor, aquele que é o detentor da compe-
tência tributária e tem o direito de cobrar o tributo (sujeito ativo, de acordo com o art. 119, do CTN), e um polo
passivo, que corresponde ao devedor, aquele que tem o dever de pagar tributo ou penalidade pecuniária, sendo,
portanto, o sujeito passivo tributário.
O sujeito ativo, credor, na obrigação tributária, é a pessoa jurídica de direito público, titular da competência
para exigir seu cumprimento. Vale lembrar que, nos termos do art. 7º, do Código Tributário Nacional, a capaci-
dade ativa tributária (arrecadar, fiscalizar, executar) é delegável, podendo ser conferida por uma pessoa jurídica
de direito público a outra ou, até mesmo, a pessoa jurídica de direito privado. A capacidade tributária passiva
independe da capacidade civil das pessoas naturais (inciso I, art. 126, do CTN).
O Código Tributário Nacional prevê duas espécies de sujeito passivo: o contribuinte (sujeito passivo direto) e o
responsável tributário (sujeito passivo indireto).

Art. 121 Sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa obrigada ao pagamento de tributo ou penalidade
pecuniária.
Parágrafo único. O sujeito passivo da obrigação principal diz-se:
I - contribuinte, quando tenha relação pessoal e direta com a situação que constitua o respectivo fato gerador;
II - responsável, quando, sem revestir a condição de contribuinte, sua obrigação decorra de disposição expressa de
lei.
Art. 122 Sujeito passivo da obrigação acessória é a pessoa obrigada às prestações que constituam o seu objeto.

O inciso II, art. 121, do Código Tributário Nacional, determina a responsabilidade tributária como segunda espécie
de sujeição passiva. Assim, aquele que for expressamente definido pela lei como sujeito passivo e não for contribuinte,
ou seja, não tiver relação pessoal e direta com o fato gerador, é responsável tributário. Para ser responsável tributário
é necessário que a pessoa eleita para esse papel esteja, de alguma forma, vinculada ao fato gerador da obrigação, ainda
que indiretamente.
Nos termos do art. 123, do Código Tributário Nacional, salvo disposição de lei em contrário, a definição legal
do sujeito passivo não pode ser alterada por convenções coletivas, ou seja, um contrato entre as partes não pode
ser oposto à Fazenda Pública com intuito de eximir o sujeito passivo de sua responsabilidade, de forma a impô-la
a outro.

Art. 128 Sem prejuízo do disposto neste capítulo, a lei pode atribuir de modo expresso a responsabilidade pelo cré-
dito tributário a terceira pessoa, vinculada ao fato gerador da respectiva obrigação, excluindo a responsabilidade
do contribuinte ou atribuindo-a a este em caráter supletivo do cumprimento total ou parcial da referida obrigação.

A responsabilidade tributária pode ser total (excluindo por completo o dever do contribuinte) ou parcial (o dever
do contribuinte é mantido em caráter supletivo). A responsabilidade também pode ser subsidiária, na qual o respon-
sável somente responde pelo débito tributário em caso de inadimplência do contribuinte.
A doutrina classifica a responsabilidade como “por substituição” ou “por transferência”, da seguinte forma:

RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA
Substituição Para trás e para frente

Por sucessão (arts. 130 a 133, do CTN)


Transferência Por solidariedade (arts. 124 e 125, do CTN)
De terceiros (arts. 134 e 135, do CTN)
444
Na responsabilidade por substituição, a lei, de ime- Art. 125 Salvo disposição de lei em contrário, são
diato, indica um terceiro para figurar o polo passivo os seguintes os efeitos da solidariedade:
em substituição ao contribuinte que naturalmente I - o pagamento efetuado por um dos obrigados
deveria ocupá-lo. Cabe ressaltar que a substituição aproveita aos demais;
tributária, nos termos do § 7º, art. 150, da Constitui- II - a isenção ou remissão de crédito exonera todos
os obrigados, salvo se outorgada pessoalmente a
ção, pode existir mesmo antes da ocorrência do fato
um deles, subsistindo, nesse caso, a solidariedade
gerador, é o que se chama de responsabilidade tri-
quanto aos demais pelo saldo;
butária para frente. Há um adiantamento no recolhi- III - a interrupção da prescrição, em favor ou contra
mento antes da ocorrência do fato gerador. um dos obrigados, favorece ou prejudica aos demais.
Frisa-se que o fato de o responsável tributário
pagar antecipadamente o tributo não exclui a respon- É importante a leitura do art. 127, do Código Tribu-
sabilidade do contribuinte de cumprir as obrigações tário Nacional:
acessórias exigidas por lei, como emitir a nota fiscal.
Art. 127 Na falta de eleição, pelo contribuinte ou
Art. 150 [...] responsável, de domicílio tributário, na forma da
§ 7º A lei poderá atribuir a sujeito passivo de obri- legislação aplicável, considera-se como tal:
gação tributária a condição de responsável pelo I - quanto às pessoas naturais, a sua residência
pagamento de imposto ou contribuição, cujo fato habitual, ou, sendo esta incerta ou desconhecida, o
gerador deva ocorrer posteriormente, assegurada centro habitual de sua atividade;
a imediata e preferencial restituição da quantia II - quanto às pessoas jurídicas de direito privado
paga, caso não se realize o fato gerador presumido. ou às firmas individuais, o lugar da sua sede, ou,
em relação aos atos ou fatos que derem origem à
Na responsabilidade tributária por transferência, obrigação, o de cada estabelecimento;
a obrigação tributária nasce em face do contribuinte, III - quanto às pessoas jurídicas de direito público,
sendo transferida a um terceiro em razão de um even- qualquer de suas repartições no território da enti-
to futuro. É o caso do herdeiro que, em decorrência da dade tributante.
§ 1º Quando não couber a aplicação das regras fixadas
morte do contribuinte, passa a ser o sujeito passivo
em qualquer dos incisos deste artigo, considerar-se-á
dos tributos devidos pelo falecido.
como domicílio tributário do contribuinte ou responsá-
Segundo o Código Tributário Nacional, os tipos de vel o lugar da situação dos bens ou da ocorrência dos
responsabilidades tributárias são: atos ou fatos que deram origem à obrigação.
§ 2º A autoridade administrativa pode recusar o
z Responsabilidade dos sucessores (arts. 129 a 133, domicílio eleito, quando impossibilite ou dificulte a
do CTN); arrecadação ou a fiscalização do tributo, aplican-
z Responsabilidade de terceiros (arts. 134 e 135, do do-se então a regra do parágrafo anterior.
CTN);
z Responsabilidade por infrações (arts. 136 a 138, do RESPONSABILIDADES DOS SUCESSORES

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL NO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL


CTN).
A responsabilidade dos sucessores é uma espécie de
SOLIDARIEDADE responsabilidade por transferência e está prevista nos
arts. 129 a 133, do Código Tributário Nacional. Refere-se
De acordo com o Código Tributário Nacional: aos créditos tributários oriundos de obrigações tributá-
rias que surjam até determinado evento, como a morte
Art. 124 São solidariamente obrigadas: ou a alienação, ou seja, casos em que um patrimônio é
I - as pessoas que tenham interesse comum na situação transferido de uma pessoa para outra. Com o evento,
que constitua o fato gerador da obrigação principal; há mudança do polo passivo da relação jurídico-tribu-
II - as pessoas expressamente designadas por lei. tária. Na responsabilidade dos sucessores, os tributos
Parágrafo único. A solidariedade referida neste que se sujeitam a esse instituto são aqueles relativos a
artigo não comporta benefício de ordem. fatos geradores ocorridos antes da sucessão.
O art. 130, do Código Tributário Nacional, refere-se a
Os casos de solidariedade passiva são aqueles em que tributos relacionados aos bens imóveis, definindo os tri-
mais de uma pessoa ocupa o polo passiva da relação obri- butos que são devidos pelo adquirente do imóvel, salvo
gacional tributária, respondendo igualmente pelo débito. se houver prova anterior da quitação. Ressalta que, no
O direito tributário não admite a solidariedade ativa. caso de arrematação de imóvel, o pagamento do impos-
O inciso I, art. 124, dispõe da solidariedade natural to eventualmente devido será suportado pelo montante
(quando mais de uma pessoa tem interesse comum na pago pelo arrematante e não há responsabilidade.
situação que configura o fato gerador) e no inciso II, da
solidariedade legal (quando a lei expressamente prevê Art. 130 Os créditos tributários relativos a impostos
a solidariedade). Em qualquer das situações, pode o fis- cujo fato gerador seja a propriedade, o domínio útil
co exigir o cumprimento integral da obrigação de qual- ou a posse de bens imóveis, e bem assim os relativos a
taxas pela prestação de serviços referentes a tais bens,
quer dos coobrigados, não cabendo àquele de quem for
ou a contribuições de melhoria, subrogam-se na pes-
exigida a obrigação o direito de pleitear que a cobrança
soa dos respectivos adquirentes, salvo quando conste
seja tentada contra o(s) outro(s), uma vez que não exis- do título a prova de sua quitação.
te de benefício de ordem, nem disposição legal que lhe Parágrafo único. No caso de arrematação em hasta
seja cobrada somente sua cota-parte do tributo. pública, a sub-rogação ocorre sobre o respectivo preço.
O art. 125, por sua vez, traz os efeitos da solidarie- Art. 131 São pessoalmente responsáveis:
dade que somente não se aplicam caso haja lei dispon- I - o adquirente ou remitente, pelos tributos relati-
do em contrário: vos aos bens adquiridos ou remidos; 445
isolada permanecerá em conta de depósito à dispo-
sição do juízo de falência pelo prazo de 1 (um) ano,
II - o sucessor a qualquer título e o cônjuge meeiro, contado da data de alienação, somente podendo ser
pelos tributos devidos pelo de cujus até a data da par- utilizado para o pagamento de créditos extracon-
tilha ou adjudicação, limitada esta responsabilidade cursais ou de créditos que preferem ao tributário.
ao montante do quinhão do legado ou da meação;
III - o espólio, pelos tributos devidos pelo de cujus
RESPONSABILIDADE DE TERCEIROS
até a data da abertura da sucessão.

A responsabilidade de terceiros está prevista nos arts.


O inciso I, art. 131, do Código Tributário Nacional,
134 e 135, do Código Tributário Nacional, e ocorre quan-
traz a extensão que abrange não só os bens imóveis,
do o contribuinte não cumpre a obrigação tributária.
mas, também, todas as espécies, sem limitar qualquer
O art. 134 trata da responsabilidade daqueles que
valor. Já o inciso II limita o valor ao recebido pelo
intervieram ou se omitiram com relação à obrigação
sucessor e/ou meeira (o). O espólio responde até suas
de contribuintes sob seus cuidados. A responsabilida-
próprias forças, como dispõe o inciso III. É importante
ressaltar que o cônjuge meeiro não é herdeiro. de, prevista nesse artigo, aproxima-se de uma sanção
O art. 132, do Código Tributário Nacional, refere-se aos pais, responsáveis, inventariantes, síndicos, tabe-
à extinção da sociedade anterior (alterações societá- liães, entre outros, que deixaram de cumprir deveres a
rias), respondendo a nova empresa, ou a resultante, eles impostos pela lei, quanto ao pagamento do tributo
integralmente pelos débitos tributários daquela, nos pelo contribuinte. Somente em caso de impossibilidade
casos de fusão, transformação e incorporação. Já no é que os responsáveis listados passam a responder pelo
caso de cisão, entende-se que há solidariedade entre tributo e multas moratórias, tendo o fisco o dever de
as empresas resultantes. receber, primeiramente, o tributo e a penalidade pecu-
niária do contribuinte, havendo, assim, subsidiarieda-
Art. 132 A pessoa jurídica de direito privado que de, embora o artigo use o termo “solidariedade”.
resultar de fusão, transformação ou incorporação de
outra ou em outra é responsável pelos tributos devi- Art. 134 Nos casos de impossibilidade de exigência
dos até à data do ato pelas pessoas jurídicas de direito do cumprimento da obrigação principal pelo con-
privado fusionadas, transformadas ou incorporadas. tribuinte, respondem solidariamente com este nos
Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica- atos em que intervierem ou pelas omissões de que
-se aos casos de extinção de pessoas jurídicas de forem responsáveis:
direito privado, quando a exploração da respectiva I - os pais, pelos tributos devidos por seus filhos menores;
atividade seja continuada por qualquer sócio rema- II - os tutores e curadores, pelos tributos devidos
nescente, ou seu espólio, sob a mesma ou outra por seus tutelados ou curatelados;
razão social, ou sob firma individual. III - os administradores de bens de terceiros, pelos
tributos devidos por estes;
O art. 133, do Código Tributário Nacional, refere-se IV - o inventariante, pelos tributos devidos pelo
à sucessão empresarial: espólio;
V - o síndico e o comissário, pelos tributos devidos
pela massa falida ou pelo concordatário;
Art. 133 A pessoa natural ou jurídica de direito
VI - os tabeliães, escrivães e demais serventuários de
privado que adquirir de outra, por qualquer título,
fundo de comércio ou estabelecimento comercial, ofício, pelos tributos devidos sobre os atos pratica-
industrial ou profissional, e continuar a respectiva dos por eles, ou perante eles, em razão do seu ofício;
exploração, sob a mesma ou outra razão social ou VII - os sócios, no caso de liquidação de sociedade
sob firma ou nome individual, responde pelos tribu- de pessoas.
tos, relativos ao fundo ou estabelecimento adquiri- Parágrafo único. O disposto neste artigo só se aplica,
do, devidos até à data do ato: em matéria de penalidades, às de caráter moratório.
I - integralmente, se o alienante cessar a exploração
do comércio, indústria ou atividade; A responsabilidade de retenções tributárias é atribuí-
II - subsidiariamente com o alienante, se este prosse- da à pessoa jurídica pagante, conforme o tributo: Imposto
guir na exploração ou iniciar dentro de seis meses a de Renda, art. 647, do Regulamento do Imposto de Ren-
contar da data da alienação, nova atividade no mesmo da; PIS, COFINS e CSLL — Lei nº 10.833, de 2003; ISS, Lei
ou em outro ramo de comércio, indústria ou profissão. Complementar nº 116, de 2003; ICMS, regime da substi-
§ 1º O disposto no caput deste artigo não se aplica tuição tributária, cabendo ao sujeito passivo da operação
na hipótese de alienação judicial: efetuar de forma antecipada o recolhimento do tributo
I - em processo de falência; antes mesmo da realização da operação futura.
II - de filial ou unidade produtiva isolada, em pro- Embora os arts. 134 e 135, do Código Tributário
cesso de recuperação judicial.
Nacional, tratem da responsabilidade de terceiros,
§ 2º Não se aplica o disposto no § 1odeste artigo
nos casos do art. 134, o terceiro atua de forma regu-
quando o adquirente for:
I - sócio da sociedade falida ou em recuperação
lar, enquanto nos casos do art. 135, o terceiro age irre-
judicial, ou sociedade controlada pelo devedor fali- gularmente. Quanto à responsabilidade de terceiros
do ou em recuperação judicial; prevista no art. 135, é pessoal e exclusiva das pessoas
II - parente, em linha reta ou colateral até o 4º (quarto) listadas no dispositivo, caso ajam com abuso de poder
grau, consanguíneo ou afim, do devedor falido ou em e contra a lei, o contrato ou o estatuto.
recuperação judicial ou de qualquer de seus sócios; ou
III - identificado como agente do falido ou do deve- Art. 135 São pessoalmente responsáveis pelos
dor em recuperação judicial com o objetivo de frau- créditos correspondentes a obrigações tributárias
dar a sucessão tributária. resultantes de atos praticados com excesso de pode-
§ 3º Em processo da falência, o produto da aliena- res ou infração de lei, contrato social ou estatutos:
446 ção judicial de empresa, filial ou unidade produtiva I - as pessoas referidas no artigo anterior;
II - os mandatários, prepostos e empregados; Art. 137 A responsabilidade é pessoal ao agente:
III - os diretores, gerentes ou representantes de pes- I - quanto às infrações conceituadas por lei como
soas jurídicas de direito privado. crimes ou contravenções, salvo quando praticadas
no exercício regular de administração, mandato,
ART. 134, CTN ART. 135, CTN função, cargo ou emprego, ou no cumprimento de
ordem expressa emitida por quem de direito;
Responsabilidade Responsabilidade
II - quanto às infrações em cuja definição o dolo
subsidiária pessoal
específico do agente seja elementar;
Não depende da III - quanto às infrações que decorram direta e
Depende da insolvência do
insolvência do exclusivamente de dolo específico:
contribuinte
contribuinte a) das pessoas referidas no artigo 134, contra aque-
Parte da doutrina entende las por quem respondem;
Responsabilidade por
ser responsabilidade por b) dos mandatários, prepostos ou empregados, con-
transferência
substituição tra seus mandantes, preponentes ou empregadores;
O responsável age c) dos diretores, gerentes ou representantes de pes-
O responsável incorre em soas jurídicas de direito privado, contra estas.
com dolo (excesso de
omissão (culpa), ausente
poder ou infração de lei,
o dolo O art. 138 trata da denúncia espontânea (confissão)
contrato ou estatutos)
que exclui a responsabilidade por infrações. Destaca-se
Destaca-se que o simples inadimplemento (não que a denúncia espontânea não extingue a obrigação
pagamento) do tributo nas respectivas datas de venci- tributária de adimplir o tributo, mas somente a multa,
mento não é considerado infração à lei para que sur- não vedando a aplicação dos juros de mora e correção
ja a obrigação dos sócios e/ou administradores pelos monetária. Para que ocorra a denúncia espontânea, faz-
débitos da pessoa jurídica. -se necessário que o sujeito passivo se antecipe a qual-
No entanto, a dissolução irregular da socieda- quer medida fiscalizatória e que ocorra o pagamento do
de, sem regularização junto ao fisco e aos registros tributo acrescido da correção e juros moratórios ou a
comerciais, é considerada infração à lei que gera res-
importância arbitrada em caso de apuração necessária.
ponsabilidade dos sócios e/ou administradores. O STJ
O sujeito passivo busca o fisco e confessa o come-
consolidou que a dissolução irregular da sociedade
timento de infrações e a sua condição de devedor tri-
acarreta a responsabilidade pessoal do sócio gerente
pelos débitos da empresa, implicando o redireciona- butário perante ela. Caso a Fazenda já tenha iniciado
mento da execução fiscal a ele (REsp 1.009.997/SC). o processo fiscalizatório, não haverá possibilidade
O STJ entende que os casos de o fisco não localizar o de denúncia espontânea. No entanto, o fato de haver
contribuinte no endereço constante em seus registros um procedimento fiscalizatório sobre um tributo não
empresariais e fiscais presume de forma relativa à impede o contribuinte de denunciar espontaneamen-

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL NO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL


dissolução irregular e, consequentemente, a respon- te outro tributo, ou tributo relativo a período diferen-
sabilidade dos sócios e/ou administradores. te. A denúncia espontânea afasta a multa, desde que
haja pagamento integral do tributo com juros. No caso
RESPONSABILIDADES POR INFRAÇÕES de denúncia espontânea, nenhuma multa é devida,
sejam elas moratórias ou punitivas, uma vez que o art.
A responsabilidade por infração cometida pelo 138 não faz distinção entre as multas.
sujeito passivo está prevista nos arts. 136 a 138, do
Código Tributário Nacional, e acarreta a cobrança de Art. 138 A responsabilidade é excluída pela denún-
multa ao infrator, ou aplicação de outra penalidade. cia espontânea da infração, acompanhada, se for o
caso, do pagamento do tributo devido e dos juros
Art. 136 Salvo disposição de lei em contrário, a res- de mora, ou do depósito da importância arbitrada
ponsabilidade por infrações da legislação tributária
pela autoridade administrativa, quando o montan-
independe da intenção do agente ou do responsável e
te do tributo dependa de apuração.
da efetividade, natureza e extensão dos efeitos do ato.
Parágrafo único. Não se considera espontânea a
denúncia apresentada após o início de qualquer
A responsabilidade por infrações à legislação tri-
procedimento administrativo ou medida de fiscali-
butária independe da intenção do agente ou do res-
zação, relacionados com a infração.
ponsável e da efetividade, natureza e extensão dos
efeitos do ato, salvo disposição de lei em contrário,
podendo indicar o dolo como elemento para configu- A Súmula 360, do STJ, dispõe que os tributos sujeitos a
ração de determinado ilícito tributário. Mesmo que o lançamento por homologação, já declarados, não podem
agente em nada prejudique o fisco, será devida pena- ser objeto de denúncia espontânea. O STJ entende que não
lidade pecuniária imposta pela lei. faz sentido o contribuinte declarar o tributo, confessar ao
A regra é pela irrelevância da comprovação de fisco a sua dívida tributária, não pagar no prazo legal e
dolo para a configuração de ilícito tributário, havendo ainda se beneficiar do instituto da denúncia espontânea.
casos excepcionais em que a vontade do agente é rele-
vante, implicando sua responsabilidade pessoal. Súmula 360 (STJ) O benefício da denúncia espontâ-
Os incisos do art. 137 evidenciam o dolo do agen- nea não se aplica aos tributos sujeitos a lançamen-
te infrator, excluídas as infrações em que suas ações to por homologação regularmente declarados, mas
sejam praticadas com anuência da pessoa em nome pagos a destempo.
de quem o agente atuou: 447
CRÉDITO TRIBUTÁRIO
CONCEITO

Entende-se por crédito tributário a prestação de moeda ou valor que se possa exprimir, em que o sujeito ativo
da obrigação tributária (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) pode exigir do sujeito passivo, contribuin-
te, a partir da ocorrência de um fato gerador.
Conforme disposto no art. 139 do nosso CTN, o crédito tributário decorre da obrigação principal (pagamento
do tributo ou da penalidade pecuniária) e tem a mesma natureza desta.

Art. 139 O crédito tributário decorre da obrigação principal e tem a mesma natureza desta.

O crédito tributário é a própria obrigação tributária já lançada. O crédito tributário nasce da obrigação e é
consequência desta, dentro de uma exclusiva relação jurídica.
O crédito tributário é a determinação quantitativa do tributo.
O crédito tributário não pode ser confundido com a obrigação tributária, embora ambos tenham a mesma
natureza. A Fazenda Pública não possui meios para cobrar obrigações tributárias, mas dispõe de ações para rece-
ber os créditos tributários, que são líquidos, certos e exigíveis. Caso ocorra a alteração no crédito tributário, ainda
assim a obrigação existirá. Porém, se a obrigação for extinta, também será eliminado o crédito.

Hipótese de
Incidência

Obrigação
Lançamento Crédito Tributário
Tributária

Fato Gerador

Declara a Obrigação Tributária e constitui o Crédito Tributário

REFERÊNCIA

CREDITO TRIBUTARIO. Portal Tributário. Disponível em: <http://www.portaltributario.com.br/tributario/cre-


ditostributarios.htm>. Acesso em: 04 jan. 2022.

CONSTITUIÇÃO

O Código Tributário Nacional (CTN) expressa, de forma objetiva, que a competência para constituir o crédito
tributário é privativa da autoridade administrativa, que o faz por meio de lançamento, assim entendido o procedi-
mento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar
a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo o caso, propor a
aplicação da penalidade cabível, consoante dispõe o art. 142, do CTN.
É nítido que o lançamento tributário é imprescindível para se cobrar qualquer tributo, seja qual for, imposto,
taxa ou contribuição de melhoria. No mais, é importante destacar que qualquer tributo surge obrigatoriamente
com o fato gerador. Uma vez praticado o fato gerador, nasce a obrigação tributária, por meio da qual o sujeito
passivo, contribuinte, fica sujeito ao pagamento de tributos ao fisco.1
Vejamos o que dispõe o art. 142, do CTN:

Art. 142 Compete privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito tributário pelo lan-
çamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador
da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido,
identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível.
Parágrafo único. A atividade administrativa de lançamento é vinculada e obrigatória, sob pena de responsabili-
dade funcional.

Dica
O lançamento tem como objetivos (VDCIP):
� Verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente;
� Determinar a matéria tributável;
� Calcular o montante do tributo devido;
� Identificar o sujeito passivo;
� Propor a aplicação da penalidade cabível (se for o caso).
1 FAVERI, Fernanda Cristina Weirich. Formas de Constituição do Crédito Tributário. JusBrasil, 2018. Disponível em: <https://jus.com.br/
448 artigos/64069/formas-de-constituicao-do-credito-tributario>. Acesso em: 17 fev. 2022.
Importante destacar que a principal função, por- Seguindo o preconizado no § 2º, art. 144, do CTN,
tanto, do lançamento é conferir o caráter líquido e da mesma forma que no parágrafo anterior, será afas-
certo da obrigação tributária. tado o disposto do caput do art. 144, ou seja, não será
A atividade de lançamento é considerada obri- aplicado o princípio da irretroatividade tributária. O
gatória e vinculada (nos termos do art. 142), sendo parágrafo refere-se a casos restritos aos tributos lan-
concluída com a notificação do resultado ao sujeito çados por período certo de tempo ou com fatos gera-
passivo, quando então se opera a constituição defini- dores periódicos. Podemos citar, como exemplo, o
tiva do crédito tributário. Cabe ressaltar que, uma vez IPTU, o IPVA e o ITR. Em tais tributos, a lei pode definir
constituído o crédito tributário, este só pode ser modi- um momento específico da ocorrência do fato gera-
ficado ou extinto, ou ter sua exigibilidade suspensa ou dor. Sendo assim, a legislação aplicável será aquela
excluída, nos casos previstos no art. 141, do CTN. vigente na data preestabelecida, sem precisar obser-
var a premissa da “lei do momento do fato gerador”.
Art. 141 O crédito tributário regularmente constituí-
do somente se modifica ou extingue, ou tem sua exi- Art. 144 [...]
gibilidade suspensa ou excluída, nos casos previstos § 2º O disposto neste artigo não se aplica aos impos-
nesta Lei, fora dos quais não podem ser dispensadas, tos lançados por períodos certos de tempo, desde
sob pena de responsabilidade funcional na forma da que a respectiva lei fixe expressamente a data em
lei, a sua efetivação ou as respectivas garantias. que o fato gerador se considera ocorrido.

Há casos em que o valor da base de cálculo do tribu- Ademais, cabe ressaltar que o princípio da irre-
to vem transcrito em moeda estrangeira, tornando-se troatividade tributária possui duas exceções previstas
imprescindível a sua conversão em moeda nacional. A no art. 106, do CTN. Vejamos:
oscilação do câmbio obriga que haja, assim, a fixação
da taxa a ser empregada. Os preceitos do art. 143, do Art. 106 A lei aplica-se a ato ou fato pretérito:
CTN, indicam que sua utilização será no momento do I - em qualquer caso, quando seja expressamente
fato gerador. Portanto, a conversão da base de cálculo interpretativa, excluída a aplicação de penalidade
em relação à taxa de câmbio será no dia da ocorrência à infração dos dispositivos interpretados;
do fato tributável. II - tratando-se de ato não definitivamente julgado:
a) quando deixe de defini-lo como infração;
Art. 143 Salvo disposição de lei em contrário, quan- b) quando deixe de tratá-lo como contrário a qual-
do o valor tributário esteja expresso em moeda quer exigência de ação ou omissão, desde que não
estrangeira, no lançamento far-se-á sua conversão tenha sido fraudulento e não tenha implicado em
em moeda nacional ao câmbio do dia da ocorrên- falta de pagamento de tributo;
cia do fato gerador da obrigação. c) quando lhe comine penalidade menos severa que
a prevista na lei vigente ao tempo da sua prática.
O art. 144, do CTN, acolhe o princípio da irretroa-
tividade tributária, mediante o apoio da Constituição O inciso I aponta que a lei tributária retroagirá

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL NO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL


Federal disposto na alínea “a”, inciso III, do art. 150. quando for interpretativa, ou seja, aquela promulga-
O princípio da irretroatividade tributária estabele- da para explicar uma lei anterior.
ce que a lei deve compreender somente os fatos gera- O inciso II, por sua vez, aponta que a lei tributá-
dores posteriores à sua edição. A lei não pode, assim, ria retroagirá quando for mais benéfica para o con-
regressar com a finalidade de envolver situações pre- tribuinte em matéria de infração, desde que o ato
téritas, com o risco de se verificar uma retroativida- não tenha sido definitivamente julgado. Já o art. 145,
de. Deve ser aplicada, deste modo, a lei vigente no do CTN, traz o termo “regularmente notificado”, que
momento do fato gerador. deve ser entendido como a comunicação oficial. Sendo
assim, o lançamento traz a presunção de completude,
Art. 144 O lançamento reporta-se à data da ocor- após a notificação dirigida ao sujeito passivo ser efe-
rência do fato gerador da obrigação e rege-se pela tivada. Contudo, os incisos do referido artigo trazem
lei então vigente, ainda que posteriormente modifi- casos que são exceções à norma anunciada. São eles:
cada ou revogada.
z Impugnação do sujeito passivo: ocorre quando o
Diante do exposto, o lançamento confirma a ocor- sujeito passivo discorda parcial ou totalmente com
rência do fato gerador, abarcado pela lei ora em vigor o lançamento efetuado. Ou seja, é uma defesa ou
no momento do fato, ou seja, não retroage. Porém, de reclamação, apresentada na esfera administrati-
acordo com o § 1º, do art. 144, a lei nova que tenha ins- va, provocando a instauração de fase litigiosa do
tituído novos critérios de apuração ou fiscalização do procedimento;
tributo deverá ser aplicada retroativamente, pois eles
z Recurso de ofício: termo utilizado no processo
não influem decisivamente a ponto de afastarem a lei
civil, conhecido como “reexame necessário”, que
vigente na época do lançamento. Vejamos:
traz a possibilidade de alteração da decisão de pri-
meira instância que acarretar situações favoráveis
Art. 144 [...]
ao sujeito passivo;
§ 1º Aplica-se ao lançamento a legislação que, pos-
teriormente à ocorrência do fato gerador da obri-
z Iniciativa de ofício da autoridade administra-
gação, tenha instituído novos critérios de apuração tiva: trata-se da possibilidade de os lançamentos
ou processos de fiscalização, ampliado os poderes serem revistos quando a alteração se basear nos
de investigação das autoridades administrativas, preceitos do art. 149, do CTN, que apresenta lista
ou outorgado ao crédito maiores garantias ou pri- taxativa de normas que restringem a competência
vilégios, exceto, neste último caso, para o efeito de tributária, e quando o crédito não estiver extinto
atribuir responsabilidade tributária a terceiros. pela decadência. 449
Art. 145 O lançamento regularmente notificado ao lançamento, essa deve ser feita pautada em compro-
sujeito passivo só pode ser alterado em virtude de: vação do erro, ou seja, com documentos que funda-
I - impugnação do sujeito passivo; mentem o erro cometido para eventual correção.
II - recurso de ofício; A correção deve ser notificada à parte administra-
III - iniciativa de ofício da autoridade administrati- tiva ainda antes do lançamento, já que, ainda que o
va, nos casos previstos no artigo 149. sujeito passivo forneça as informações do fato gera-
dor, é a parte administrativa que realiza o lançamento.
Conforme dispõe o art. 146, do CTN, a modificação Como exemplo de lançamento tributário por
do critério jurídico de interpretação só pode ser apli- declaração, pode-se citar o Imposto sobre Transmis-
cada, em relação a um mesmo contribuinte, quanto a são Causa mortis e Doação (ITCD) e o Imposto sobre
fato gerador ocorrido após essa alteração. Transmissão de Bens Imóveis (ITBI).

Art. 146 A modificação introduzida, de ofício ou Lançamento por Homologação


em consequência de decisão administrativa ou
judicial, nos critérios jurídicos adotados pela auto- Nesse tipo de lançamento tributário, é o devedor
ridade administrativa no exercício do lançamento quem indica os fatos geradores, para que o órgão do
somente pode ser efetivada, em relação a um mes- governo consiga calcular o valor do crédito tributário.
mo sujeito passivo, quanto a fato gerador ocorrido A parte administrativa, nesse caso, é responsável pela
posteriormente à sua introdução. homologação da quantia declarada.
Essencialmente, o sujeito passivo pode realizar toda
LANÇAMENTO (MODALIDADES DE LANÇAMENTO) a operação sem conhecimento prévio do fisco. O lança-
mento por homologação está disposto no art. 150, do CTN:
Conceito e Modalidades de Lançamento
Art. 150 O lançamento por homologação, que ocor-
O fisco possui três formas de constituição do cré- re quanto aos tributos cuja legislação atribua ao
dito tributário, quais sejam: o lançamento por decla- sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento
ração (art. 147, CTN), o lançamento por homologação sem prévio exame da autoridade administrati-
(art. 150, CTN) e o lançamento de ofício (inciso I, art. va, opera-se pelo ato em que a referida autoridade,
tomando conhecimento da atividade assim exerci-
149, do CTN).
da pelo obrigado, expressamente a homologa.
§ 1º O pagamento antecipado pelo obrigado nos ter-
Declaração — mos deste artigo extingue o crédito, sob condição
Art. 147, Ctn resolutória da ulterior homologação ao lançamento.
§ 2º Não influem sobre a obrigação tributária
quaisquer atos anteriores à homologação, pratica-
LANÇAMENTO Homologação — dos pelo sujeito passivo ou por terceiro, visando à
MODALIDADES Art. 150, CTN extinção total ou parcial do crédito.
§ 3º Os atos a que se refere o parágrafo anterior
serão, porém, considerados na apuração do saldo
Ofício —
porventura devido e, sendo o caso, na imposição de
Art. 149, CTN
penalidade, ou sua graduação.
§ 4º Se a lei não fixar prazo a homologação, será ele
Lançamento por Declaração de cinco anos, a contar da ocorrência do fato gerador;
expirado esse prazo sem que a Fazenda Pública se
tenha pronunciado, considera-se homologado o lança-
O lançamento tributário por declaração, também
mento e definitivamente extinto o crédito, salvo se com-
chamado de misto, abrange ambas as partes envolvi-
provada a ocorrência de dolo, fraude ou simulação.
das na cobrança: o fisco e o sujeito passivo. Está dis-
posto no art. 147, do CTN: Um exemplo de imposto por homologação é o
Imposto de Renda, pois os sujeitos passivos são
Art. 147 O lançamento é efetuado com base na responsáveis por declarar seus bens e seus valores,
declaração do sujeito passivo ou de terceiros, enquanto o fisco (Receita Federal) é responsável ape-
quando um ou outro, na forma da legislação tri- nas por realizar a conferência dos valores e emitir a
butária, presta à autoridade administrativa infor-
cobrança, se houver.
mações sobre matéria de fato, indispensáveis
No caso exemplificado, o valor é pago antes mes-
à sua efetivação.
§ 1º A retificação da declaração por iniciativa do mo da homologação do fisco, que pode discordar pos-
próprio declarante, quando vise a reduzir ou a teriormente e aplicar multa ou restituir valores. Isso
excluir tributo, só é admissível mediante compro- acontece porque ele tem um prazo maior para homo-
vação do erro em que se funde, e antes de notifica- logação dos pagamentos.
do o lançamento. O lançamento tributário por homologação pode
§ 2º Os erros contidos na declaração e apuráveis pelo ser pago antes mesmo de o fisco ser notificado; por
seu exame serão retificados de ofício pela autorida- isso, muitos chamam esse procedimento de “autolan-
de administrativa a que competir a revisão daquela. çamento”. O fisco tem um prazo de 5 anos para homo-
logar o lançamento.
Nesse caso, o sujeito passivo deve informar ao fis- Portanto, o fisco pode, por direito, levar até 5 anos
co os dados sobre o fato gerador da cobrança. Ou seja, após a data de emissão do fato gerador para conferir
os dados para lançamento do crédito tributário são se há irregularidades no lançamento. Caso não haja
fornecidos por quem pagará o tributo. nenhuma irregularidade no crédito tributário nem no
Esse tipo de lançamento tem, ainda, uma cláusu- pagamento, o lançamento entra em decadência e não
450 la sobre retificação. No caso de correção de dados no há com o que se preocupar.
Do contrário, caso haja diferença entre o crédito ocorrência de um fato gerador, define os elementos
tributário gerado pelo sujeito passivo e o que o fisco materiais da obrigação tributária, apura o valor devi-
julgar ser o correto em análise, um outro lançamento do ao Fisco, bem como identifica o sujeito passivo do
— dessa vez, de ofício — é emitido para que o sujeito tributo.
passivo acerte essa diferença de valor.
Art. 145 O lançamento regularmente notificado ao
Lançamento de Ofício sujeito passivo só pode ser alterado em virtude de:
I - impugnação do sujeito passivo;
O lançamento tributário de ofício, também chama- II - recurso de ofício;
do “direto”, disposto no art. 149, CTN, é aquele que é III - iniciativa de ofício da autoridade administrati-
emitido exclusivamente pelo fisco. O envolvimento va, nos casos previstos no artigo 149.
do sujeito passivo é mínimo, por isso, chama-se essa
modalidade de ofício, uma vez que a Administração Em suma, é o lançamento que constitui o crédito
Pública unicamente envia a cobrança para o contri- tributário. Apesar de não estar estampado expressa-
buinte pagar. mente no aludido artigo, é nele que reside o princípio
São exemplos de lançamento de ofício o IPVA e da imutabilidade do lançamento, que pode ser extraí-
IPTU, já que o Fisco, nesse caso, emite a cobrança e do do caput do art. 142, especialmente nos dizeres “só
apenas notifica o sujeito passivo da data de pagamen- pode ser alterado em virtude de”.
to, sem maior envolvimento entre as partes.
O fato gerador, nesse caso, é possuir veículos e As hipóteses de alteração do lançamento tributário
imóveis em seu nome, permitindo o lançamento tri- são, assim:
butário (e a cobrança) dos impostos de IPVA e IPTU,
respectivamente. z Quando houver a impugnação do sujeito passivo;
Este tipo de lançamento também pode se referir z Quando houver recurso de ofício;
a qualquer tributo obrigatório, sendo emitido sempre z Ou, ainda, quando houver iniciativa de ofício da
que o contribuinte não cumprir com a sua obrigação. autoridade administrativa, nos casos dispostos no
art. 149.
Art. 149 O lançamento é efetuado e revisto de ofí-
cio pela autoridade administrativa nos seguintes Com relação à primeira hipótese, caso seja questio-
casos: nado o crédito tributário e a impugnação for acolhida
I - quando a lei assim o determine; pelo Fisco, poderá resultar, por óbvio, na alteração do
II - quando a declaração não seja prestada, por lançamento.
quem de direito, no prazo e na forma da legislação
No tocante à segunda hipótese, para compreendê-
tributária;
-la, torna-se essencial a leitura do art. 34, do Decreto
III - quando a pessoa legalmente obrigada, embo-
ra tenha prestado declaração nos termos do inciso
nº 70.235, de 6 de março de 1972, que trata do proces-
anterior, deixe de atender, no prazo e na forma da so administrativo fiscal.

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL NO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL


legislação tributária, a pedido de esclarecimento
formulado pela autoridade administrativa, recuse- Art. 34 A autoridade de primeira instância recorre-
-se a prestá-lo ou não o preste satisfatoriamente, a rá de ofício sempre que a decisão:
juízo daquela autoridade; I - exonerar o sujeito passivo do pagamento de tri-
IV - quando se comprove falsidade, erro ou omissão buto e encargos de multa de valor total (lançamen-
quanto a qualquer elemento definido na legislação to principal e decorrentes) a ser fixado em ato do
tributária como sendo de declaração obrigatória; Ministro de Estado da Fazenda.
V - quando se comprove omissão ou inexatidão, por II - deixar de aplicar pena de perda de mercadorias
parte da pessoa legalmente obrigada, no exercício ou outros bens cominada à infração denunciada na
da atividade a que se refere o artigo seguinte; formalização da exigência.
VI - quando se comprove ação ou omissão do sujei- § 1º O recurso será interposto mediante declaração
to passivo, ou de terceiro legalmente obrigado, que na própria decisão.
dê lugar à aplicação de penalidade pecuniária; § 2° Não sendo interposto o recurso, o servidor que
VII - quando se comprove que o sujeito passivo, ou verificar o fato representará à autoridade julgado-
terceiro em benefício daquele, agiu com dolo, frau- ra, por intermédio de seu chefe imediato, no sentido
de ou simulação; de que seja observada aquela formalidade.
VIII - quando deva ser apreciado fato não conhe-
cido ou não provado por ocasião do lançamento Mas o que é um recurso de ofício? O recurso de ofí-
anterior; cio nada mais é do que uma espécie de recurso auto-
IX - quando se comprove que, no lançamento ante- mático, por meio da qual a lei obriga ao Fisco que este
rior, ocorreu fraude ou falta funcional da auto- recorra da decisão — independentemente de qual-
ridade que o efetuou, ou omissão, pela mesma quer motivo. Assim, caso seja apresentado tal recurso
autoridade, de ato ou formalidade essencial.
e este seja julgado procedente, poderá também, por
Parágrafo único. A revisão do lançamento só pode
óbvio, resultar na alteração do lançamento tributário.
ser iniciada enquanto não extinto o direito da
Por fim, com relação à terceira hipótese, como pre-
Fazenda Pública.
leciona o próprio inciso III, do art. 145, do CTN, são
aquelas que estão elencadas no art. 149. Cuja leitura
HIPÓTESE DE ALTERAÇÃO DO LANÇAMENTO)
na íntegra é de suma relevância. Vejamos:
Para melhor compreensão do assunto, primei- Art. 149 O lançamento é efetuado e revisto de ofí-
ramente, faz-se necessário conceituar o que se cio pela autoridade administrativa nos seguintes
entende por lançamento tributário. Ele consiste no casos:
procedimento que declara — de maneira formal — a I - quando a lei assim o determine; 451
II - quando a declaração não seja prestada, por quem de direito, no prazo e na forma da legislação tributária;
III - quando a pessoa legalmente obrigada, embora tenha prestado declaração nos termos do inciso anterior, deixe
de atender, no prazo e na forma da legislação tributária, a pedido de esclarecimento formulado pela autoridade
administrativa, recuse-se a prestá-lo ou não o preste satisfatoriamente, a juízo daquela autoridade;
IV - quando se comprove falsidade, erro ou omissão quanto a qualquer elemento definido na legislação tributária
como sendo de declaração obrigatória;
V - quando se comprove omissão ou inexatidão, por parte da pessoa legalmente obrigada, no exercício da atividade
a que se refere o artigo seguinte;
VI - quando se comprove ação ou omissão do sujeito passivo, ou de terceiro legalmente obrigado, que dê lugar à
aplicação de penalidade pecuniária;
VII - quando se comprove que o sujeito passivo, ou terceiro em benefício daquele, agiu com dolo, fraude ou simulação;
VIII - quando deva ser apreciado fato não conhecido ou não provado por ocasião do lançamento anterior;
IX - quando se comprove que, no lançamento anterior, ocorreu fraude ou falta funcional da autoridade que o efetuou,
ou omissão, pela mesma autoridade, de ato ou formalidade especial.
Parágrafo único. A revisão do lançamento só pode ser iniciada enquanto não extinto o direito da Fazenda Pública.

Conforme visto, o art. 149 traz diversas hipóteses que possuem o condão de influir na alteração do lançamento.
Em razão disso, recomenda-se a leitura atenta, minuciosa e pormenorizada, pois ela será sua melhor companhei-
ra no almejado certame.

SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE E SUAS MODALIDADES

O crédito tributário é o valor em pecúnia que o contribuinte (pessoa que realiza o fato gerador) deve ao Fisco
para o pagamento de um tributo. Dessa forma, quando o sujeito passivo promove o fato gerador de um tributo e
houver o devido lançamento dele, está se constituindo um crédito tributário.
Após a sua constituição, deverá se identificar a qual ente da federação esse tributo será devido, pois, conforme o local
em que seja praticado o fato gerador, o crédito pode ser de competência da União, dos Estados ou, ainda, dos Municípios.
Uma vez constituído o crédito tributário, tem-se o início da fase de cobranças por parte do Fisco, e caso não haja o
pagamento dos tributos pelo contribuinte, o Fisco inscreverá o contribuinte na dívida ativa, que posteriormente pode-
rá resultar em uma execução fiscal.
Contudo, há causas que suspendem qualquer possibilidade de cobrança de determinado tributo por parte do
Estado. Porém, é importante salientar que a suspensão da exigibilidade do crédito tributário não dispensa, de
forma alguma, o cumprimento das obrigações acessórias que resultem ou dependam da obrigação principal, cujo
crédito seja suspenso, uma vez que os acessórios no direito tributário não acompanham o bem principal.

As hipóteses estão estabelecidas no art. 151, do CTN. São as seguintes:

Art. 151 […]


I – moratória;
II - depósito do seu montante integral;
III - as reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras do processo tributário administrativo;
IV - a concessão de medida liminar em mandado de segurança;
V - a concessão de medida liminar ou de tutela antecipada, em outras espécies de ação judicial;
VI - o parcelamento.

Moratória

Depósito do montante integral

SUSPENSÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO


MODALIDADES Reclamações e recursos
administrativos
Art. 151, CTN

Concessão de medida liminar em


mandado de segurança

Parcelamento

O surgimento de qualquer das hipóteses de suspensão do crédito tributário impossibilita ao Fisco a execução e
quaisquer atos de cobrança, enquanto sua exigibilidade estiver suspensa, não obstando, entretanto, o lançamento.

MORATÓRIA

O termo moratória significa a prorrogação de prazo para pagamento de tributos, podendo ser outorgada em
452 caráter geral ou em caráter individual.
A moratória é deliberada em caráter geral por lei de efetuar o pagamento antecipado do tributo, nas
tanto pela pessoa jurídica de direito público compe- situações em que a exigência é legal. Não será neces-
tente para instituir o tributo (moratória autônoma), sário, nesse caso, a proposição de ação cautelar.
quanto pela União, em relação a tributos de compe- Uma vez procedido o depósito integral, o Estado,
tência dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municí- através do Fisco, fica impedido de exigir o crédito tri-
pios — quando concomitantemente concedida quanto butário. É importante lembrar que o depósito será o
aos tributos de jurisdição federal e às obrigações de valor cobrado pelo Fisco e não o valor que o contri-
direito privado (moratória heterônoma). buinte acha como devido. Sobre este valor, deverão
No caso de a moratória ser concedida em caráter ser incluídos as multas e os juros caso tenha ocorrido
geral, a lei estenderá o prazo para o pagamento do o lançamento.
tributo, favorecendo todos os sujeitos passivos, sem O depósito do montante integral poderá ser rea-
precisar da anuência do Fisco. lizado tanto pela via administrativa, como, também,
Porém, a moratória em caráter individual somen- pela via judicial.
te será concedida por despacho da autoridade admi- Uma vez realizado pela esfera administrati-
nistrativa competente, desde que autorizada por lei, va, o depósito serve, apenas, como tática para afas-
que restrinja a abrangência do benefício às pessoas tar a cobrança das multas e penalidades moratórias
que completem determinados requisitos. Esse tipo de enquanto se discute o crédito, uma vez que a proposi-
moratória depende de requerimento formulado ao Fis- tura de recurso administrativo impede a cobrança do
co em que se comprove o cumprimento das condições crédito tributário ora cobrado.
e requisitos imprescindíveis ao direito do benefício. Na outra vertente, havendo o ingresso na esfera
Mediante as informações e a comprovação documen- judicial, a cobrança do crédito tributário será suspen-
tal fornecida, a autoridade fiscal reconhece ou não, por sa, impedindo, assim, a execução fiscal, e, ao final do
meio de despacho fundamentado, o direito à moratória. processo judicial, o depósito será devolvido ao impe-
Importante salientar que a permissão da morató- trante, caso a decisão lhe seja favorável, ou convertido
ria em caráter individual não origina direito adqui- em renda, quando favorável ao Fisco.
rido e será anulada de ofício, caso seja verificado que
o favorecido não atendia, ou deixou de atender, as RECLAMAÇÕES E RECURSOS NO PROCESSO
condições, ou não cumpriu, ou deixou de cumprir, as ADMINISTRATIVO FISCAL
condições para a permissão do favor, cobrando-se o
crédito adicionado de juros de mora, com imposição Quando há a interposição de reclamações ou recur-
da penalidade (multa de ofício) admissível, nos casos sos administrativos, até a sua apreciação final, fica
de dolo ou simulação do beneficiado, ou de terceiros suspensa a cobrança do crédito tributário formaliza-
em benefício daquele e, sem obrigação de penalidade, do pelo seu lançamento. Caso não ocorra impugnação
caso não exista dolo ou simulação. do lançamento tributário, dentro do prazo legal, fica o
No caso de revogação da moratória em caráter Fisco autorizado a propor ação cabível.
individual, por dolo ou simulação, o período decorri- Havendo o lançamento tributário em face do sujei-

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL NO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL


do entre a concessão e a revogação da moratória não to passivo, este poderá propor o recurso administrati-
será calculado para efeito de prescrição do direito à vo e, uma vez a seu favor, o Fisco deverá recorrer, de
cobrança do crédito. Sendo assim, o prazo prescricio- ofício, de sua decisão.
nal deverá ficar suspenso. Se não for evidenciado dolo No entanto, se decisão for contrária, em parte, ao
ou simulação, a revogação só poderá acontecer antes Fisco, mas menor que o montante determinado em
de prescrito o citado direito. lei, para que se possa entrar com o recurso de ofício,
A norma legal que conferir moratória em caráter será notificado o sujeito passivo para que proceda ao
geral ou possibilitar a sua concessão em caráter indi- pagamento do montante final devido.
vidual determinará o prazo de duração, as condições Apurado o montante final devido pelo sujeito pas-
da concessão em caráter individual e, dependendo do sivo, caso ele seja decorrente de decisão parcialmente
caso, os tributos a que se aplica, o número de presta- procedente e desde que o valor mantido seja autoriza-
ções e seus vencimentos, podendo conferir a fixação do por lei, o sujeito passivo poderá impetrar recurso
de uns e de outros à autoridade fiscal, para cada caso em 2ª instância administrativa.
de concessão em caráter individual, afora das garan-
tias que devem ser providenciadas pelo favorecido, CONCESSÃO DE MEDIDA LIMINAR EM MANDADO
no caso de concessão em caráter individual. DE SEGURANÇA
O sujeito passivo deverá ficar vigilante, uma vez
que a moratória não aproveita aos casos de dolo, frau- O inciso V, do art. 151, do CTN, permite a concessão
de ou simulação do sujeito passivo ou do terceiro em liminar e a antecipação de tutela em mandado de segu-
benefício daquele e, salvo expressa disposição de lei rança como forma de suspensão do crédito tributário.
adversa, apenas abrange os créditos absolutamente
constituídos à data da lei ou do despacho que a conceder, Art. 151 Suspendem a exigibilidade do crédito
ou cujo lançamento já tenha sido iniciado àquela data, tributário:
por ato devidamente comunicado ao sujeito passivo. [...]
IV - a concessão de medida liminar em mandado de
DEPÓSITO DO MONTANTE INTEGRAL segurança.

Trata-se de um direito de o contribuinte/respon- O mandado de segurança é remédio constitucio-


sável proceder ao depósito do montante integral do nal que resguarda direito líquido e certo contra atos
lançamento realizado, inclusive a autuação fiscal, abusivos de autoridade, no caso, a entidade fiscal. O
quando haja a pretensão de se suspender a exigibili- sujeito passivo, chamado impetrante, ao alegar que
dade do crédito tributário ou na hipótese de obrigação pode ser prejudicado pela demora no provimento 453
jurisdicional final, deverá comprovar o perigo da Salvo disposição de lei em contrário, não haverá
demora e fundamentar legalmente o pedido. Assim exclusão da incidência de juros e multas, aplicando-se
sendo, poderá o juiz conceder a liminar suspendendo a essa hipótese, subsidiariamente, as regras referen-
o crédito tributário contestado. tes à moratória.
Para melhor compreensão, a liminar é a represen- Convém salientar que há uma diferença entre a
tação da medida de urgência, de natureza provisó- moratória e o parcelamento. Na primeira, deve ser
ria, cujo lapso temporal pode ser para prevenir que excluída a aplicação das multas e até mesmo dos
ocorra algo de difícil reparação durante o processo. juros; no segundo, isso não ocorre, em regra, não
Devem, para tanto, estar presentes, como pressupos- exclui a incidência de juros e multas. Parcela-se todo o
tos, fomus boni iuris (“fumaça do bom direito”: signifi- crédito (com juros e multa vencidos, se for o caso) e no
ca que há indícios de que quem está pedindo a liminar valor das prestações, são acrescentados os juros legais
tem direito ao que está pedindo) e periculum in mora (juros relativos ao período do parcelamento).
(“perigo na demora”: quer dizer que se o magistrado
não conceder a liminar imediatamente, mais tarde EXTINÇÃO E SUAS MODALIDADES
será muito tarde, ou seja, o direito da pessoa já terá
sido danificado de forma irreparável). Mediante a ocorrência do fato gerador e da cons-
A tutela antecipada ocorrerá quando houver pro- tituição do crédito tributário, são postas à disposição
va inequívoca do direito alegado, além do fundado do sujeito passivo diversas modalidades de extinção
receio de dano irreparável ou de difícil reparação. No do crédito tributário.
mais, poderá ser concedida quando ficar demonstra-
Dessa forma, com a extinção do crédito tributário,
do o abuso do direito de defesa ou o claro propósito
ocorre a extinção da respectiva obrigação tributária,
protelatório do réu, no caso, o Fisco.
havendo o desaparecimento deste crédito.
A concessão de tutela antecipada, em desfavor do
A relação jurídica tributária não exsurge para
Fisco, só poderá ser concedida se todos os requisitos
durar de forma eterna: sua vocação, como qualquer
legais forem atendidos. Para exemplificar, pode-se citar
relação jurídica, é desaparecer. Seja pelo seu caminho
a ação declaratória proposta contra a Fazenda Pública,
natural e axiologicamente pretendido pelo direito, que
em que poderá ocorrer a antecipação de tutela.
é o pagamento, seja pelo acontecimento de outra situa-
ção, o fato que é a relação tributária há de ser extinta.
CONCESSÃO DE MEDIDA LIMINAR OU DE TUTELA
ANTECIPADA EM OUTRAS ESPÉCIES DE AÇÃO As principais causas extintivas encontram-se enu-
JUDICIAL meradas no art. 156, do CTN. Vejamos:

Art. 156 Extinguem o crédito tributário:


Quando não for possível, ao sujeito passivo, pro-
I - o pagamento;
teger seu direito, através do mandado de segurança,
II - a compensação;
seja pela falta de pressupostos constitucionais da
III - a transação;
ação (liquidez e certeza do direito), seja pela perda do
IV - remissão;
prazo decadencial de 120 (cento e vinte) dias para a
V - a prescrição e a decadência;
impetração, poderá solicitar, através da via judicial,
VI - a conversão de depósito em renda;
o pedido de concessão de medida liminar ou de tutela VII - o pagamento antecipado e a homologação do
antecipada em outras espécies de ação judicial. lançamento nos termos do disposto no art. 150 e
seus §§ 1º e 4º;
PARCELAMENTO VIII - a consignação em pagamento, nos termos do
disposto no § 2º do art. 164;
Somente a entidade tributante, através de lei espe- IX - a decisão administrativa irreformável, assim
cífica, poderá promover o parcelamento. Uma vez entendida a definitiva na órbita administrativa, que
deferido o parcelamento, haverá o impedimento da não mais possa ser objeto de ação anulatória;
cobrança do crédito parcelado, enquanto o sujeito X - a decisão judicial passada em julgado.
passivo estiver cumprindo-o. XI - a dação em pagamento em bens imóveis, na for-
O art. 155-A, do CTN, disciplina a suspensão do cré- ma e condições estabelecidas em lei.
dito tributário através do parcelamento. Parágrafo único. A lei disporá quanto aos efeitos da
extinção total ou parcial do crédito sobre a ulterior
Art. 155-A O parcelamento será concedido na for- verificação da irregularidade da sua constituição,
ma e condição estabelecidas em lei específica. observado o disposto nos arts. 144 e 149.
§ 1º Salvo disposição de lei em contrário, o parcela-
mento do crédito tributário não exclui a incidência As causas extintivas têm o poder de libertar o con-
de juros e multas. tribuinte da relação de sujeição que possui com o fis-
§ 2º Aplicam-se, subsidiariamente, ao parcelamen- co. A obrigação tributária não se conserva no tempo,
to as disposições desta Lei, relativas à moratória.
não é eterna.
§ 3º Lei específica disporá sobre as condições de
parcelamento dos créditos tributários do devedor
em recuperação judicial. Dica
§ 4º A inexistência da lei específica a que se refe-
Existe divergência doutrinária quanto à taxativi-
re o § 3o deste artigo importa na aplicação das
leis gerais de parcelamento do ente da Federação
dade do art. 156, porém, para concursos públi-
ao devedor em recuperação judicial, não podendo, cos, atrele-se à literalidade do CTN, ou seja,
neste caso, ser o prazo de parcelamento inferior ao trata-se de um rol taxativo de extinção do crédito
454 concedido pela lei federal específica. tributário.
de quaisquer medidas de garantia previstas nesta
Pagamento
Lei ou em lei tributária.
§ 1º Se a lei não dispuser de modo diverso, os juros
Compensação de mora são calculados à taxa de 1% (um por cen-
to) ao mês.
Transação § 2º O disposto neste artigo não se aplica na pen-
dência de consulta formulada pelo devedor dentro
Remissão do prazo legal para pagamento do crédito.

Prescrição e decadência COMPENSAÇÃO


EXTINÇÃO
DO CRÉDITO
Pagamento antecipado e a homologação Conforme dispõem os arts. 368 a 380, do Código
TRIBUTÁRIO
do lançamento
MODALIDADES Civil, nas situações em que duas pessoas forem ao mes-
ART. 156, CTN mo tempo credora e devedora uma da outra, ambas as
Conversão de depósito em renda
obrigações se extinguem, até onde se compensarem. A
Consignação em pagamento compensação é possível em dívidas líquidas, vencidas
e de coisas fungíveis.
Decisão administrativa irreformável
Ainda que incorporado pelo CTN, não se trata de
direito subjetivo do sujeito passivo, mas sim de facul-
dade que pode ser concedida, por lei, pelo Estado.
Decisão judicial transitada em julgado
Também, igualmente se distanciando do direito pri-
vado, o parágrafo único, do art. 170, do CTN, aceita a
Dação em pagamento em bens imóveis
compensação com dívidas vincendas.

Art. 170 A lei pode, nas condições e sob as garan-


PAGAMENTO tias que estipular, ou cuja estipulação em cada caso
atribuir à autoridade administrativa, autorizar a
Disposto nos arts. 158 e seguintes, do CTN, o paga- compensação de créditos tributários com créditos
mento é a extinção do crédito tributário com a líquidos e certos, vencidos ou vincendos, do sujeito
liquidação integral do valor devido feita ao fisco, passivo contra a Fazenda Pública.
e esta deve ocorrer na repartição pública do domicí- Parágrafo único. Sendo vincendo o crédito do
lio do sujeito passivo, se a lei não dispuser de modo sujeito passivo, a lei determinará, para os efeitos
diverso. Vejamos a literalidade dos artigos: deste artigo, a apuração do seu montante, não
podendo, porém, cominar redução maior que a cor-
Art. 158 O pagamento de um crédito não importa respondente ao juro de 1% (um por cento) ao mês
em presunção de pagamento: pelo tempo a decorrer entre a data da compensação

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL NO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL


I - quando parcial, das prestações em que se e a do vencimento.
decomponha;
II - quando total, de outros créditos referentes ao A LC nº 104, de 2001, incluiu o art. 170-A no CTN,
mesmo ou a outros tributos. passando a exigir o trânsito em julgado da sentença
Art. 159 Quando a legislação tributária não dispu- autorizativa de compensação para a sua efetivação
ser a respeito, o pagamento é efetuado na reparti-
pelo sujeito passivo.
ção competente do domicílio do sujeito passivo.
Art. 170-A É vedada a compensação mediante o
Em relação ao prazo para pagamento, não estando aproveitamento de tributo, objeto de contestação
este previsto na legislação, deve-se considerar a data judicial pelo sujeito passivo, antes do trânsito em
até 30 dias após a notificação fiscal de lançamento, julgado da respectiva decisão judicial.
sob pena do pagamento de juros e demais penalidades
pecuniárias cabíveis. Importante ressaltar que os arts. 170 e 170-A, do
CTN, somente se aplicam à compensação do indébi-
Art. 160 Quando a legislação tributária não fixar o
to tributário. Portanto, nos casos de compensação de
tempo do pagamento, o vencimento do crédito ocor-
créditos escriturais de tributos não cumulativos, essas
re 30 (trinta) dias depois da data em que se conside-
ra o sujeito passivo notificado do lançamento.
regras não são aplicáveis. A compensação, nesses
casos, não é modalidade extintiva do crédito tributá-
O sujeito passivo somente não incorrerá em mora: rio, mas mera forma de cálculo do quantum debeatur.

z Quando for realizado o valor do depósito integral; TRANSAÇÃO


z Quando o contribuinte busca a suspensão da cons-
tituição do crédito a fim de impedir a execução Transação é a modalidade de negócio jurídico em
fiscal; que as partes, mediante concessões mútuas, extin-
z Quando resta pendente resposta à consulta feita à guem obrigações, prevenindo ou terminando litígios,
Administração Pública (§ 2º, art. 161, do CTN). conforme o art. 840, do Código Civil.
Além do art. 840, do Código Civil, a transação encon-
Art. 161 O crédito não integralmente pago no ven- tra seu respaldo no art. 171, do CTN, e nada mais é que
cimento é acrescido de juros de mora, seja qual for um acordo feito entre o sujeito passivo e o fisco nos
o motivo determinante da falta, sem prejuízo da casos em que há previsão legal para tanto. Ainda, a
imposição das penalidades cabíveis e da aplicação transação poderá ocorrer de forma total ou parcial. 455
Art. 171 A lei pode facultar, nas condições que A doutrina classifica a remissão em pessoal, mate-
estabeleça, aos sujeitos ativo e passivo da obriga- rial, mista, geral e individual.
ção tributária celebrar transação que, mediante A remissão pessoal poderá ocorrer em virtude das
concessões mútuas, importe em determinação de condições pessoais do sujeito passivo devedor, não
litígio e consequente extinção de crédito tributário. necessitando de outras considerações relacionadas ao
Parágrafo único. A lei indicará a autoridade com-
crédito tributário ou à dívida, como disposto no inciso
petente para autorizar a transação em cada caso.
I, art. 172, do CTN, que são concedidas devido “à situa-
ção econômica do sujeito passivo”, ou, conforme dispõe
Destaca-se, assim, a necessidade de disposição
o inciso II, art. 172, do CTN, a “erro ou ignorância escu-
em lei para que seja admitida a transação em maté-
sáveis do sujeito passivo, quanto a matéria de fato”.
ria tributária, uma vez que deve ser observado o
A remissão material trata da dívida do contri-
Princípio da Indisponibilidade do Patrimônio Público.
buinte em função da sua natureza ou do seu valor
econômico, não levando em consideração a condição
REMISSÃO
do contribuinte devedor, como no caso da concedida
em virtude da “diminuta importância do crédito tri-
A palavra remissão significa perdoar, renunciar,
butário”, de pequeno valor (III, art. 172, do CTN), ou,
desistir, absolver, e tem sua legitimidade condiciona-
conforme dispõe o inciso V, art. 172, do CTN, de “con-
da à capacidade jurídica do agente que a concede, por
dições peculiares à determinada região do território da
tratar-se de ato de disposição patrimonial.
entidade tributante”.
A remissão é conceituada, nos arts. 385 a 388, do
A terceira subdivisão da remissão é a mista, na
Código Civil, como condição extintiva da obrigação
qual se utilizam os dois critérios expostos anterior-
mediante liberação gratuita de uma dívida pelo credor.
Difere-se da renúncia ao crédito, uma vez que o remido mente, ou seja, as condições pessoais do contribuinte
não é obrigado a aceitar o perdão da dívida. Portanto, a e a dívida. Procura acolher “considerações de equida-
aceitação do devedor, como requisito formal para a sua de, em relação com as características pessoais ou mate-
consumação, evita que se conceitue o instituto como ato riais do caso”, conforme disposto no inciso IV, art. 172,
unilateral, sem contar o fato de que, desta aceitação, não do CTN. A título de exemplo, citamos a remissão do
decorre qualquer ônus para o devedor remido. IPVA para o proprietário de um único veículo cujo
São, assim, características essenciais da remissão: valor dos débitos não seja superior a R$ 1.000,00 (um
mil reais). Portanto, no caso apresentado, há a junção
z A existência de uma dívida a ser extinta no todo da condição pessoal de ser proprietário de um único
ou em parte; veículo com o valor da dívida.
z A voluntariedade e a graciosidade do ato extintivo; Com relação à remissão geral, é a conferida, de
z A ausência de ônus para o favorecido. forma incondicional, a todos os sujeitos passivos, sem
necessidade de qualquer requerimento ou atendi-
No CTN, a remissão é hipótese de extinção do crédito mento de requisitos. A extinção do débito é feita de
tributário e refere-se a um perdão total ou parcial do cré- maneira direta e automática pelo fisco.
dito. Tal instituto encontra amparo no art. 172, do CTN: Por fim, a emissão individual envolve determi-
nada pessoa ou contribuinte e é conferida, de acor-
Art. 172 A lei pode autorizar a autoridade admi- do com o caso, mediante despacho fundamentado da
nistrativa a conceder, por despacho fundamentado, autoridade competente, conforme expõe o art. 172, do
remissão total ou parcial do crédito tributá- CTN. Tal despacho da autoridade não gera, de forma
rio, atendendo: alguma, direito adquirido, e poderá ser revogado de
I - à situação econômica do sujeito passivo; ofício, sempre que se verifique que o sujeito passivo
II - ao erro ou ignorância escusáveis do sujeito pas- beneficiário não atendia ou deixou de atender às con-
sivo, quanto a matéria de fato; dições ou não preenchia ou deixou de preencher os
III - à diminuta importância do crédito tributário; requisitos para a concessão do favor, cobrando-se, de
IV - a considerações de equidade, em relação com acordo com o parágrafo único, art. 172, do CTN, o cré-
as características pessoais ou materiais do caso;
dito acrescido de juros de mora. Convém lembrar que
V - a condições peculiares a determinada região do
a remissão individual poderá ser revogada no caso de
território da entidade tributante.
Parágrafo único. O despacho referido neste artigo dolo ou simulação do beneficiado, ou de terceiros em
não gera direito adquirido, aplicando-se, quando benefício daquele, aplicando-se, neste caso, além dos
cabível, o disposto no artigo 155. juros de mora, também multa com efeito punitivo.

Dica PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA

Não confunda: sendo o perdão relativo apenas à A decadência e a prescrição são, no direito tributá-
multa e/ou aos juros, não se terá remissão, mas rio, institutos de direito material, pois tratam da per-
sim anistia, que o CTN dispõe, juntamente com da de direitos subjetivos.
a isenção, como forma de “exclusão” do crédito No caso da decadência, ocorrerá o perecimen-
tributário. to do direito ao crédito tributário, tanto ele devido
ao fisco em razão da ocorrência do fato gerador no
A remissão pressupõe o perdão da obrigação prin- mundo fático, quanto ele devido ao sujeito passivo,
cipal e, por consequência, das obrigações acessórias por ter direito a crédito indevido já pago, por falta de
(juros e multa). A remissão pode ser operada em cará- ocorrência do fato gerador (crédito já pago ou pago a
ter geral, diretamente pela lei, e em caráter indivi- maior). Trata-se da perda efetiva de um direito que
dual, por ato da autoridade administrativa legalmente não foi requerido no prazo legal.
456 autorizada, tal como ocorre com a transação.
No caso da prescrição, o direito que expira é o de II - da data em que se tornar definitiva a decisão
agir, porque a nossa Constituição Federal garante a que houver anulado, por vício formal, o lançamen-
todos o direito de solicitar ao Poder Judiciário o que to anteriormente efetuado.
lhe é devido, sempre observando os prazos fixados em Parágrafo único. O direito a que se refere este arti-
lei, uma vez que “o direito não socorre aos que dor- go extingue-se definitivamente com o decurso do
mem”. Trata-se da perda da pretensão da reparação prazo nele previsto, contado da data em que tenha
do direito violado por inércia (perda do prazo legal). sido iniciada a constituição do crédito tributário
pela notificação, ao sujeito passivo, de qualquer
O § 4º, do art. 150, e o art. 173, ambos do CTN, apontam
medida preparatória indispensável ao lançamento.
sobre a decadência do direito de efetuar o lançamento:
Art. 150 O lançamento por homologação, que ocor-
Art. 150 O lançamento por homologação, que ocor- re quanto aos tributos cuja legislação atribua ao
re quanto aos tributos cuja legislação atribua ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento
sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa,
sem prévio exame da autoridade administrativa, opera-se pelo ato em que a referida autoridade,
opera-se pelo ato em que a referida autoridade, tomando conhecimento da atividade assim exerci-
tomando conhecimento da atividade assim exerci- da pelo obrigado, expressamente a homologa. [...]
da pelo obrigado, expressamente a homologa. [...] § 4º Se a lei não fixar prazo à homologação, será ele
§ 4º Se a lei não fixar prazo à homologação, será de 5 (cinco) anos, a contar da ocorrência do fato
ele de 5 (cinco) anos, a contar da ocorrência do fato gerador; expirado esse prazo sem que a Fazen-
gerador; expirado esse prazo sem que a Fazenda da Pública se tenha pronunciado, considera-se
Pública se tenha pronunciado, considera-se homo- homologado o lançamento e definitivamente
logado o lançamento e definitivamente extinto o extinto o crédito, salvo se comprovada a ocorrên-
crédito, salvo se comprovada a ocorrência de dolo, cia de dolo, fraude ou simulação.
fraude ou simulação.[…]
No inciso I, art. 173, do CTN, deparamo-nos com a
Art. 173 O direito de a Fazenda Pública constituir
o crédito tributário extingue-se após 5 (cinco)
previsão do dies a quo como o primeiro dia do exercí-
anos, contados: cio seguinte àquele em que o lançamento poderia ter
I - do primeiro dia do exercício seguinte àquele sido efetuado. Nesta situação, o lançamento poderá
em que o lançamento poderia ter sido efetuado; ser realizado no próprio exercício em que ocorrer o
II - da data em que se tornar definitiva a deci- fato gerador, garantindo prazo um pouco maior que
são que houver anulado, por vício formal, o aquele previsto no § 4º, art. 150, do CTN, o que conce-
lançamento anteriormente efetuado. de ao fisco uma maior possibilidade para lançar.
Parágrafo único. O direito a que se refere este arti- Já o § 4º, art. 150, do CTN, aponta o marco inicial da
go extingue-se definitivamente com o decurso do decadência como a data do fato gerador. Importante
prazo nele previsto, contado da data em que tenha salientar que o decurso do quinquênio decadencial,
sido iniciada a constituição do crédito tributário sem que haja análise, gerará a homologação tácita do
pela notificação, ao sujeito passivo, de qualquer lançamento, perdendo a Fazenda Pública o direito de
medida preparatória indispensável ao lançamento. lançar, de modo suplementar, uma eventual diferen-

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL NO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL


ça. Caberá a ressalva quanto à aplicação do § 4º, art.
O art. 174, do CTN, dispõe sobre a prescrição da
150, do CTN, nos seguintes casos:
ação de cobrança do crédito tributário devidamente
constituído pelo lançamento: z Se a lei não fixar outro prazo para a homologa-
ção, o que só poderá fazer para menos, conforme
Art. 174 A ação para a cobrança do crédito tri-
butário prescreve em 5 (cinco) anos, contados
entendimento majoritário da doutrina;
da data da sua constituição definitiva. z Se houver prova da ocorrência de dolo, fraude ou
Parágrafo único. A prescrição se interrompe: simulação, pois, nessas situações, será aplicado o
I - pelo despacho do juiz que ordenar a citação em inciso I, art. 173, do CTN.
execução fiscal;
II - pelo protesto judicial; Segundo o entendimento do Superior Tribunal de
III - por qualquer ato judicial que constitua em Justiça (STJ), para os lançamentos por homologação, o
mora o devedor; § 4º, art. 150, do CTN, será aplicado nos casos típicos de
IV - por qualquer ato inequívoco ainda que extra- antecipação de pagamento, e, nos casos de ausência de
judicial, que importe em reconhecimento do débito antecipação, será utilizado o inciso I, art. 173, do CTN.
pelo devedor. O inciso II, art. 173, do CTN, aponta que, ocorrido o
trânsito em julgado da decisão que anular, por vício for-
Antes do lançamento, pode ocorrer a decadência; mal, o lançamento originário, o prazo de decadência de
após o lançamento, pode ocorrer a prescrição. Ambos cinco anos será reaberto para que se faça novo lança-
os institutos importam na extinção do crédito tributá- mento. A doutrina tem o entendimento que tal decisão
rio (inciso V, art. 156, do CTN). pode ser tanto na esfera administrativa como judicial.
É de suma importância destacar que o dispositivo
Decadência se refere a vício formal, que é aquele inerente ao pro-
cedimento do lançamento, e não a vícios materiais, ou
A regra do art. 173 é aplicada para tributos que são
seja, aqueles fortemente unidos ao cerne da obrigação
lançados de ofício ou por declaração. Já o preceito do
tributária, tais como a inexistência de fato gerador, a
§ 4º, do art. 150, é aplicado para tributos que são lan-
atribuição ilegal de responsabilidade, as situações de
çados por homologação.
imunidade etc.
Art. 173 O direito de a Fazenda Pública constituir o cré- O parágrafo único, do art. 173, do CTN, vislumbra
dito tributário extingue-se após 5 (cinco) anos, contados: uma antecipação do termo inicial do prazo decaden-
I - do primeiro dia do exercício seguinte àquele em cial, ou seja, o dies a quo é alterado, antecipadamente,
que o lançamento poderia ter sido efetuado; do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que 457
o lançamento poderia ter sido efetuado para a data da Vale dizer, conforme disposição legal, que não é o
medida preparatória do lançamento. Se o prazo deca- pagamento em si que extingue o crédito, mas a soma
dencial já tiver sido iniciado em virtude do inciso I, deste com a sua homologação, que ocorre de forma
art. 173, do CTN, ficará impossibilitada a aplicação do tácita após um lustro contado do fato gerador ou, caso
dispositivo, provocando alteração no prazo decaden- o contribuinte tenha agido com dolo, fraude, simula-
cial já iniciado. ção ou não tenha pago nada a título de tributo, do pri-
Observe que a lei é que baliza a data em que o meiro dia do exercício seguinte ao que o lançamento
lançamento será efetuado. Por exemplo: o Imposto poderia ter sido efetuado.
de Renda (IR) é lançado no ano seguinte ao do fato
imponível. O IR, ano base 2014, deveria ser lançado CONVERSÃO DE DEPÓSITO EM RENDA
em 2015. Se não foi lançado naquele ano, o fisco tem
até o dia 31 de dezembro de 2020 para efetuar o lança- O depósito, nos termos do art. 151, do CTN, uma
mento (cinco anos contados de 1º de janeiro de 2016). vez efetuado, suspende a exigibilidade do tributo até
Anulado o primitivo lançamento por vício formal, sua final discussão.
seja pela Administração ou pelo Judiciário, dessa data
se conta o prazo de 5 (cinco) anos. Art. 151 Suspendem a exigibilidade do crédito tri-
butário: […]
Prescrição II - o depósito do seu montante integral;

A prescrição é a perda do direito de ação de se exi- Decidido o litígio, sendo a parte vencedora total ou
gir o crédito tributário em razão da fluência do lapso parcialmente, é feita a conversão de tal importância
temporal previsto no direito positivo sem o exercício em renda ao fisco.
de tal direito. A fluência do lapso prescricional, dife- Estando disponível para os cofres públicos a quan-
rentemente do que ocorre com a decadência, pode ser tia referida, satisfazendo integralmente a dívida, ope-
suspensa ou interrompida. ra-se a extinção definitiva do débito.
Dentre as ocorrências que podem declarar a pres-
crição, segundo a doutrina, podemos citar:
Importante!
z Existência de uma ação exercitável; Poderia a inércia do fisco em lavrar o lançamen-
z Inércia do titular dessa ação; to de ofício, uma vez procedido pelo contribuinte
z Prolongamento dessa inércia durante certo lapso; o depósito judicial, acarretar eventual decadên-
z Ausência de qualquer ato ou fato ao qual a lei atri- cia? O Superior Tribunal de Justiça (STJ) entende
bua o efeito de impedir, suspender ou interromper que o depósito judicial equivale a um pagamento
a fluência prescricional.
antecipado do tributo, nos moldes do lançamen-
to por homologação, de tal modo que implicaria
De acordo com o art. 174, do CTN, a prescrição da
a constituição do crédito tributário, tal como se
ação de cobrança do crédito tributário opera-se em
depreende de julgados como o REsp 1637092/
5 (cinco) anos, contados da data de sua constituição
definitiva.
RS, AgInt no AREsp 939440/SP, proferidos pela
Para a execução da dívida tributária, deve o fisco Segunda Turma da referida Corte Superior.
inscrever, no livro próprio, a dívida do contribuinte
inadimplente, extrair certidão de dívida ativa e ajui- CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO
zar a execução fiscal, como ação judicial propriamen-
te dita. A ação de consignação em pagamento extingue
A partir da inscrição da dívida no livro próprio, o crédito tributário existente para o sujeito passivo.
suspende-se o prazo prescricional. Essa medida é empregada em situações em que não
É de suma importância destacar o que dispõe o se consegue efetuar o pagamento, já que o fisco não
parágrafo único, art. 174, do CTN, que prevê as causas aceita outras formas de recebimento.
interruptivas do lapso prescricional. Vejamos: A consignação só pode abordar sobre o crédito o
sujeito passivo que se propõe pagar. Isso porque o
Art. 174 […] pagamento do crédito é obrigatório, conforme obser-
Parágrafo único. A prescrição se interrompe:
vado no art. 164, do CTN:
I - pelo despacho do juiz que ordena a citação;
II - pelo protesto judicial;
Art. 164 A importância do crédito tributário pode
III - por qualquer ato judicial que constitua em
ser consignada judicialmente pelo sujeito passivo,
mora o devedor;
nos casos:
IV - por qualquer ato inequívoco, ainda que extra-
I - de recusa de recebimento, ou subordinação deste
judicial, que importe em reconhecimento do débito
ao pagamento de outro tributo ou de penalidade, ou
pelo devedor.
ao cumprimento de obrigação acessória;
II - de subordinação do recebimento ao cumprimen-
PAGAMENTO ANTECIPADO E A HOMOLOGAÇÃO DO to de exigências administrativas sem fundamento
LANÇAMENTO legal;
III - de exigência, por mais de uma pessoa jurídi-
Trata-se de hipótese de lançamento por homologa- ca de direito público, de tributo idêntico sobre um
ção, pela qual, uma vez constituído o crédito tributá- mesmo fato gerador.
rio e decorrido ao pagamento, ter-se-á a extinção do
458 crédito tributário, por meio da futura homologação.
No caso de consignação em pagamento, se for jul- Dica
gada procedente a ação, acontece a extinção do cré- Não confunda: a dação em pagamento ocorre
dito. Porém, se a ação não é julgada, cobra-se todo o
com bens imóveis. Não há que se falar em dação
crédito, acrescido de juros.
em pagamento de bens móveis.
DECISÃO ADMINISTRATIVA IRREFORMÁVEL PAGAMENTO INDEVIDO

O inciso IX, art. 156, do CTN, dispõe sobre a extinção Disposto nos arts. 165 ao 169, do CTN, o pagamen-
do crédito tributário pela decisão administrativa irrefor- to indevido acontecerá quando houver cobrança ou
mável, assim entendida a definitiva na esfera adminis- pagamento de tributo indevido ou maior que o devi-
trativa que não mais possa ser objeto de ação anulatória. do, em duplicidade, ou crédito tributário que sofreu
decadência ou prescrição.
Art. 156 Extinguem o crédito tributário: […]
IX - a decisão administrativa irreformável, assim Art. 165 O sujeito passivo tem direito, indepen-
entendida a definitiva na órbita administrativa, que dentemente de prévio protesto, à restituição total
não mais possa ser objeto de ação anulatória; ou parcial do tributo, seja qual for a modalidade
do seu pagamento, ressalvado o disposto no § 4º do
Duas ressalvas devem ser observadas: artigo 162, nos seguintes casos:
I - cobrança ou pagamento espontâneo de tributo
z Sendo a anulação por vício de forma do lança- indevido ou maior que o devido em face da legis-
mento, a obrigação tributária subsistirá e have- lação tributária aplicável, ou da natureza ou cir-
cunstâncias materiais do fato gerador efetivamente
rá possibilidade de novo ato de lançamento pela
ocorrido;
Administração Tributária; II - erro na edificação do sujeito passivo, na deter-
z Refere-se à impossibilidade de a Fazenda Pública minação da alíquota aplicável, no cálculo do mon-
insurgir-se judicialmente contra a decisão defini- tante do débito ou na elaboração ou conferência de
tiva em favor do contribuinte, porquanto fruto da qualquer documento relativo ao pagamento;
autotutela vinculada do próprio ente tributante. III - reforma, anulação, revogação ou rescisão de
decisão condenatória.
DECISÃO JUDICIAL TRANSITADA EM JULGADO Art. 166 A restituição de tributos que compor-
tem, por sua natureza, transferência do respectivo
A decisão judicial transitada em julgado que decida encargo financeiro somente será feita a quem prove
haver assumido o referido encargo, ou, no caso de
pela invalidade do lançamento extingue o crédito tri-
tê-lo transferido a terceiro, estar por este expressa-
butário. Anula o lançamento já feito ou em elaboração.
mente autorizado a recebê-la.
Esse tipo de extinção do crédito tributário é corri- Art. 167 A restituição total ou parcial do tributo

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL NO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL


queiro, mas também requer a aprovação de um juiz dá lugar à restituição, na mesma proporção, dos
para que seja realizada. juros de mora e das penalidades pecuniárias, salvo
Nesse caso, extingue-se apenas o crédito, como as referentes a infrações de caráter formal não pre-
realidade formal, considerando-se inexistente a obri- judicadas pela causa da restituição.
gação. Entretanto, caso a anulação aconteça por vício Parágrafo único. A restituição vence juros não capi-
formal, haverá novo lançamento. talizáveis, a partir do trânsito em julgado da deci-
são definitiva que a determinar.
Art. 168 O direito de pleitear a restituição
DAÇÃO EM PAGAMENTO EM BENS IMÓVEIS
extingue-se com o decurso do prazo de 5 (cinco)
anos, contados:
Dação em pagamento é o ato pelo qual o devedor I - nas hipótese dos incisos I e II do artigo 165, da
adimple sua dívida mediante a entrega de bens ao credor. data da extinção do crédito tributário; (Vide
Nesse disposto, o inciso XI, art. 156, do CTN, prevê art 3 da LCp nº 118, de 2005)
a chance de a lei prever a possibilidade de extinção II - na hipótese do inciso III do artigo 165, da data
do crédito tributário mediante a dação em pagamento em que se tornar definitiva a decisão adminis-
em bens imóveis. trativa ou passar em julgado a decisão judi-
cial que tenha reformado, anulado, revogado ou
Art. 156 Extinguem o crédito tributário: […] rescindido a decisão condenatória.
XI - a dação em pagamento em bens imóveis, na for-
ma e condições estabelecidas em lei Da data do pagamento (termo inicial) do tributo, o
sujeito passivo tem o prazo de 5 anos para fazer pedi-
Caberá à lei de cada ente tributante estabelecer tal do de restituição (administrativo ou judicial).
modalidade de extinção do crédito tributário. Se a decisão administrativa for desfavorável o
Convém lembrar que, para cumprir a obrigação sujeito passivo poderá judicializar litígio através de
uma ação de repetição de indébito.
dos créditos com essa causa, os bens devem estar
livres e desembaraçados de quaisquer tipos de ônus.
Súmula 625 – STJ: O pedido administrativo de
Para isso, devem ser avaliados previamente para que compensação ou de restituição não interrompe o
possam ser aceitos. A dação deverá abranger a tota- prazo prescricional para a ação de repetição de
lidade dos débitos que se pretende liquidar, devida- indébito tributário de que trata o art. 168 do CTN
mente atualizados e sem qualquer espécie de redução. nem o da execução de título judicial contra a Fazen-
da Pública. 459
Ou seja, se o poder público demorar para analisar Art. 176 (CTN) A isenção, ainda quando previs-
e o prazo esgotar 5 (cinco) anos, poderá o sujeito pas- ta em contrato, é sempre decorrente de lei que
sivo ingressar com ação anulatória da decisão admi- especifique as condições e requisitos exigidos
nistrativa que indeferiu a restituição com pedido de para a sua concessão, os tributos a que se aplica
restituição no prazo de 2 anos (art. 169, CTN). e, sendo caso, o prazo de sua duração.
Parágrafo único. A isenção pode ser restrita a
determinada região do território da entidade tribu-
Art. 169 Prescreve em dois anos a ação anulató-
tante, em função de condições a ela peculiares.
ria da decisão administrativa que denegar a
restituição. Art. 150 (CF, de 1988) […]
Parágrafo único. O prazo de prescrição é interrom- § 6º Qualquer subsídio ou isenção, redução de base
pido pelo início da ação judicial, recomeçando o de cálculo, concessão de crédito presumido, anistia
seu curso, por metade, a partir da data da intima- ou remissão, relativos a impostos, taxas ou contri-
ção validamente feita ao representante judicial da buições, só poderá ser concedido mediante lei espe-
Fazenda Pública interessada cífica, federal, estadual ou municipal, que regule
exclusivamente as matérias acima enumeradas ou
o correspondente tributo ou contribuição, sem pre-
EXCLUSÃO E SUAS MODALIDADES
juízo do disposto no art. 155, § 2.º, XII, g.

Exclusão do crédito tributário é o impedimento do


Geralmente, a isenção diz respeito apenas a impostos,
lançamento do tributo, quebrando a linha do tempo excluindo-se as taxas e as contribuições de melhoria de
do fenômeno jurídico tributário, o que evita, assim, o tal benefício, conforme prevê o inciso I, art. 177, do CTN.
nascimento do crédito e, por conseguinte, a obrigação O inciso II, art. 177, do CTN, denota a impossibili-
do pagamento. dade de concessão da isenção aos tributos que ainda
Há duas formas de excluir o crédito tributário, não foram instituídos no momento da concessão. Des-
quais sejam: a isenção e a anistia, conforme enumera- te modo, não se pode isentar, por exemplo, o Imposto
do no art. 175, do CTN: sobre Grandes Fortunas (IGF) — VII, art. 153, da CF
—, uma vez que a competência tributária para a sua
Art. 175 Excluem o crédito tributário: instituição ainda não foi exercida pela União.
I - a isenção;
II - a anistia. Art. 177 Salvo disposição de lei em contrário, a
Parágrafo único. A exclusão do crédito tributário isenção não é extensiva:
não dispensa o cumprimento das obrigações aces- I - às taxas e às contribuições de melhoria;
sórias, dependentes da obrigação principal cujo II - aos tributos instituídos posteriormente à sua
crédito seja excluído, ou dela consequente. concessão.

Conforme dispõe o parágrafo único, do art. 175, do A isenção poderá ser revogada a qualquer momen-
CTN, mesmo dispensado legalmente o pagamento do to, exceto a concedida por prazo determinado e por
tributo ou multa, não se dispensa o cumprimento das certas condições onerosas. Ou seja, a isenção que não
obrigações acessórias dependentes da obrigação prin- estiver condicionada a determinadas obrigações ou
cipal cujo crédito seja excluído, ou dela consequentes. encargos para o beneficiário poderá ser suprimida a
A título de exemplo, podemos citar a concessão da qualquer tempo. Assim dispõe o art. 178, do CTN:
anistia da multa na entrega em atraso da declaração
do imposto de renda, que não implica dispensa da Art. 178 A isenção, salvo se concedida por prazo
entrega da própria declaração. certo e em função de determinadas condições,
Ou seja, tão somente a obrigação principal pode- pode ser revogada ou modificada por lei, a qualquer
rá ser interferida pelos institutos da isenção ou anis- tempo, observado o disposto no inciso III do art. 104.
tia, impedindo o lançamento do crédito tributário e,
sucessivamente, a obrigação de pagar. A isenção poderá possuir caráter geral ou específico.
A geral procede diretamente da lei, independentemen-
ISENÇÃO te de requerimento ou de despacho administrativo. Já
a específica também decorre de lei, mas é efetivada
através de despacho da autoridade administrativa, em
Isenção tributária é um benefício dado ao sujeito
requerimento através do qual o interessado faça prova
passivo, previsto em lei, desde que ele atinja as con-
do preenchimento das condições estabelecidas em lei,
dições necessárias para obtê-lo. É importante lembrar
conforme exposto no art. 179, do CTN:
que a isenção tributária não é causa de não incidência
tributária, já que será realizada a obrigação tributá- Art. 179 A isenção, quando não concedida em cará-
ria, entretanto, serão excluídos o lançamento e a cons- ter geral, é efetivada, em cada caso, por despacho
tituição de crédito. da autoridade administrativa, em requerimento
Sendo revogada, a sua cobrança será exigida no mes- com o qual o interessado faça prova do preenchi-
mo exercício financeiro. Constitui-se, assim, em uma mento das condições e do cumprimento dos requisi-
tos previstos em lei ou contrato para sua concessão.
exceção instituída por lei à regra jurídica da tributação.
O art. 176, do CTN, prevê que a isenção depende de ANISTIA
lei; devido a isso, o princípio da legalidade tributária é
bastante importante ao tratar das isenções. A lei que con- A anistia é o “perdão” do crédito tributário relativo
cederá a isenção deverá ser a lei ordinária, mais estrita- a penalidades pecuniárias. Esta, ao extinguir a punibi-
mente a “lei específica”, conforme predispõe o § 6º, art. lidade do infrator, impede a constituição do respecti-
150, da CF. Veja a seguir os dispositivos mencionados: vo crédito tributário. Necessita tão somente abranger
as penalidades previstas na legislação em vigor; por
460 conseguinte, não alcança situações futuras.
O art. 180, do CTN, prevê que a anistia abrange, Os privilégios fazem referência à posição de supe-
exclusivamente, as infrações cometidas anteriormen- rioridade desfrutada pelo crédito tributário, quando
te à vigência da lei que a concede, e que ela não se confrontado com os demais créditos.
aplica em algumas situações. Vejamos: O rol das garantias constantes do art. 183, do
CTN, não é exaustivo. Outras mais podem ser pos-
Art. 180 A anistia abrange exclusivamente as tas por meio de leis ordinárias federais, estaduais e
infrações cometidas anteriormente à vigência municipais.
da lei que a concede, não se aplicando: Porém, isso não significa que a lei ordinária pos-
I - aos atos qualificados em lei como crimes ou con- sa contrariar as disposições previstas pelo CTN. As
travenções e aos que, mesmo sem essa qualificação, normas introduzidas por esse diploma legislativo são
sejam praticados com dolo, fraude ou simulação pelo gerais e imperiosas. O que a lei ordinária pode fazer
sujeito passivo ou por terceiro em benefício daquele; é tão somente instituir outras garantias ou privilégios
II - salvo disposição em contrário, às infrações
que com elas sejam compatíveis.
resultantes de conluio entre duas ou mais pessoas
naturais ou jurídicas.
Art. 183 A enumeração das garantias atribuídas
neste Capítulo ao crédito tributário não exclui
O art. 181, do CTN, prevê que a anistia pode ser
outras que sejam expressamente previstas em lei,
concedida em caráter geral ou de modo limitado. A
em função da natureza ou das características do
concessão de modo limitado prevê algumas situações. tributo a que se refiram.
Vejamos:

Art. 181 A anistia pode ser concedida: O parágrafo único, do art. 183, do CTN, estabelece
I - em caráter geral; que o caso de o devedor ter garantido a execução fis-
II - limitadamente: cal com uma fiança, por exemplo, não altera a nature-
a) às infrações da legislação relativa a determinado za do crédito tributário.
tributo;
b) às infrações punidas com penalidades pecuniá- Art. 183 […]
rias até determinado montante, conjugadas ou não Parágrafo único. A natureza das garantias atribuí-
com penalidades de outra natureza; das ao crédito tributário não altera a natureza des-
c) a determinada região do território da entidade te nem a da obrigação tributária a que corresponda.
tributante, em função de condições a ela peculiares;
d) sob condição do pagamento de tributo no pra- Respondem pelo crédito tributário todos os bens
zo fixado pela lei que a conceder, ou cuja fixa- do sujeito passivo, inclusive os gravados por ônus real
ção seja atribuída pela mesma lei à autoridade ou cláusula de inalienabilidade ou impenhorabilida-
administrativa. de, com exceção tão somente dos bens e rendas que
a lei declare absolutamente impenhoráveis, conforme
É de suma importância ressaltar que o art. 182, do prevê o art. 184, do CTN:
CTN, impõe que, no caso da anistia concedida limitada-

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL NO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL


mente, esta deverá ser reconhecida em cada caso real Art. 184 Sem prejuízo dos privilégios especiais
através de despacho da autoridade administrativa. sobre determinados bens, que sejam previstos em
lei, responde pelo pagamento do crédito tributário
Art. 182 A anistia, quando não concedida em a totalidade dos bens e das rendas, de qualquer
caráter geral, é efetivada, em cada caso, por des- origem ou natureza, do sujeito passivo, seu espó-
pacho da autoridade administrativa, em reque- lio ou sua massa falida, inclusive os gravados por
rimento com a qual o interessado faça prova do ônus real ou cláusula de inalienabilidade ou impe-
preenchimento das condições e do cumprimento nhorabilidade, seja qual for a data da constituição
dos requisitos previstos em lei para sua concessão. do ônus ou da cláusula, excetuados unicamente
os bens e rendas que a lei declare absolutamente
Por fim, conforme dispõe o parágrafo único, do art. impenhoráveis.
182, c/c o art. 155, ambos do CTN, a anistia não gera
direito adquirido. Poderá ser anulada se não houver a É irrelevante, por exemplo, que o imóvel do sujei-
satisfação das condições, não se calculando, para fins to passivo esteja hipotecado por uma dívida bancária
de prescrição, o tempo decorrido entre a concessão da (gravado por ônus real), porque isso não evita que ele
anistia e a sua revogação, caso tenha ocorrido dolo, seja executado para satisfação do crédito tributário.
fraude ou simulação. Portanto, tão somente não podem ser penhora-
dos os bens e rendas que a lei declare absolutamente
Art. 182 [...] impenhoráveis, por exemplo, os dispostos no art. 833,
Parágrafo único. O despacho referido neste artigo do CPC, e o bem de família, estampado no art. 1º, da
não gera direito adquirido, aplicando-se, quando Lei 8.009, de 1990. Acompanhe a seguir os dispositivos
cabível, o disposto no artigo 155. citados:

Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 — Código


de Processo Civil (CPC)
GARANTIAS E PRIVILÉGIOS DO
Art. 833 São impenhoráveis:
CRÉDITO TRIBUTÁRIO I - os bens inalienáveis e os declarados, por ato
voluntário, não sujeitos à execução;
As garantias são os meios jurídicos assecuratórios II - os móveis, os pertences e as utilidades domés-
que podem ser empregados pelo Estado para que ele ticas que guarnecem a residência do executado,
receba a prestação do tributo. salvo os de elevado valor ou os que ultrapassem as 461
necessidades comuns correspondentes a um médio Art. 185-A Na hipótese de o devedor tributário,
padrão de vida; devidamente citado, não pagar nem apresen-
III - os vestuários, bem como os pertences de uso tar bens à penhora no prazo legal e não forem
pessoal do executado, salvo se de elevado valor; encontrados bens penhoráveis, o juiz deter-
IV - os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salá- minará a indisponibilidade de seus bens e
rios, as remunerações, os proventos de aposenta- direitos, comunicando a decisão, preferencial-
doria, as pensões, os pecúlios e os montepios, bem mente por meio eletrônico, aos órgãos e entidades
como as quantias recebidas por liberalidade de ter- que promovem registros de transferência de bens,
ceiro e destinadas ao sustento do devedor e de sua especialmente ao registro público de imóveis e às
família, os ganhos de trabalhador autônomo e os autoridades supervisoras do mercado bancário e
honorários de profissional liberal, ressalvado o § 2º; do mercado de capitais, a fim de que, no âmbito de
V - os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensí- suas atribuições, façam cumprir a ordem judicial:
lios, os instrumentos ou outros bens móveis necessá- § 1º A indisponibilidade de que trata o caput deste arti-
rios ou úteis ao exercício da profissão do executado; go limitar-se-á ao valor total exigível, devendo o juiz
VI - o seguro de vida; determinar o imediato levantamento da indisponibi-
VII - os materiais necessários para obras em anda- lidade dos bens ou valores que excederem esse limite.
mento, salvo se essas forem penhoradas; § 2º Os órgãos e entidades aos quais se fizer a comuni-
VIII - a pequena propriedade rural, assim definida cação de que trata o caput desde artigo enviarão ime-
em lei, desde que trabalhada pela família; diatamente ao juízo a relação discriminada dos bens e
IX - os recursos públicos recebidos por instituições direitos cuja indisponibilidade houverem promovido.
privadas para aplicação compulsória em educação,
saúde ou assistência social; As duas primeiras situações não apresentam difi-
X - a quantia depositada em caderneta de poupan- culdades, sendo decorrência do próprio procedimen-
ça, até o limite de 40 (quarenta) salários-mínimos; to adotado pela Lei de Execuções Fiscais.
XI - os recursos públicos do fundo partidário recebi- Já a terceira hipótese causa maior debate, porque
dos por partido político, nos termos da lei; a lei não estabelece quando que se deve entender que
XII - os créditos oriundos de alienação de unidades não foram encontrados bens pelo credor. Seria neces-
imobiliárias, sob regime de incorporação imobiliá- sário o esgotamento das diligências por parte do fisco
ria, vinculados à execução da obra. ou bastaria que a penhora sobre conta corrente não
obtivesse êxito?
Lei nº 8.009, de 29 de março de 1990
A Súmula 560, do STJ, solucionou essa dúvida:
Art. 1º O imóvel residencial próprio do casal, ou da
entidade familiar, é impenhorável e não responderá Súmula 560 (STJ) A decretação da indisponibili-
por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, dade de bens e direitos, na forma do art. 185-A do
previdenciária ou de outra natureza, contraída CTN, pressupõe o exaurimento das diligências na
pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam busca por bens penhoráveis, o qual fica caracteri-
seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóte- zado quando infrutíferos o pedido de constrição
ses previstas nesta lei. sobre ativos financeiros e a expedição de ofícios
Parágrafo único. A impenhorabilidade compreende o aos registros públicos do domicílio do executado,
imóvel sobre o qual se assentam a construção, as plan- ao Denatran ou Detran.
tações, as benfeitorias de qualquer natureza e todos
os equipamentos, inclusive os de uso profissional, ou O CTN estabelece o grau de preferência atribuído
móveis que guarnecem a casa, desde que quitados. ao crédito tributário quando confrontado com os cré-
ditos provenientes de outras fontes, como de relações
O art. 185, do CTN, estabelece que a caracterização trabalhistas ou contratuais. A regra geral que discipli-
da fraude à execução é a inscrição do crédito em dívi- na o tema se encontra inserida no caput do art. 186, do
da ativa, que ocorre antes mesmo do ajuizamento da CTN, que assim dispõe:
ação de execução fiscal.
Art. 186 O crédito tributário prefere a qual-
Art. 185 Presume-se fraudulenta a alienação ou quer outro, seja qual for sua natureza ou o tem-
oneração de bens ou rendas, ou seu começo, por po de sua constituição, ressalvados os créditos
sujeito passivo em débito para com a Fazenda decorrentes da legislação do trabalho ou do
Pública, por crédito tributário regulamente inscrito acidente de trabalho.
como dívida ativa.
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se Logo, como regra geral, o crédito tributário prefe-
aplica na hipótese de terem sido reservados, pelo re a qualquer outro, independentemente da natureza
devedor, bens ou rendas suficientes ao total paga- ou do tempo da sua constituição, devendo ser obser-
mento da dívida inscrita.
vados apenas os créditos decorrentes da legislação do
trabalho ou do acidente de trabalho, que terão prefe-
Como explica o parágrafo único, do art. 185, do rência inclusive sob os créditos tributários.
CTN, não é toda alienação após a inscrição em dívida Ainda que essa seja a regra sobre a preferência do
ativa que se constitui em fraude à execução, mas uni- crédito tributário, há exceções, constantes do parágra-
camente aquelas que sejam concretizadas sem que o fo único, do art. 186, que disciplina a ordem de prefe-
devedor tenha reservado bens para o pagamento da rência no caso de falência:
dívida inscrita.
Já o art. 185-A, do CTN, traz três hipóteses que são os Art. 186 [...]
requisitos para que a indisponibilidade possa ser decre- Parágrafo único. Na falência:
tada: citação do devedor; ausência de pagamento ou de I - o crédito tributário não prefere aos créditos
indicação de bens à penhora pelo devedor; não terem extra concursais ou às importâncias passíveis de
462 sido encontrados bens penhoráveis pela Fazenda Pública. restituição, nos termos da lei falimentar, nem aos
créditos com garantia real, no limite do valor do Os créditos tributários poderão ser interpreta-
bem gravado; dos como extraconcursais se o fato gerador ocorrer
II - a lei poderá estabelecer limites e condições para durante o processo de falência.
a preferência dos créditos decorrentes da legislação De acordo com a Lei de Falências, o crédito tri-
do trabalho; e butário tem preferência sobre os créditos com pri-
III - a multa tributária prefere apenas aos créditos vilégio especial, privilégio geral, quirografários e
subordinados. subordinados.
Os arts. 191 a 192, do CTN, disciplinam que alguns
Ao ser decretada a falência da empresa, o crédi- atos só podem ser praticados após a prova de quitação
to tributário não terá preferência, inclusive sobre os de todos os tributos.
créditos extracontratuais, sobre as importâncias pas-
síveis de restituição e sobre os créditos com garantia Art. 191 A extinção das obrigações do falido requer
real, até o limite do valor do bem gravado2. prova de quitação de todos os tributos.
Créditos extraconcursais são os que decorrem de Art. 191-A A concessão de recuperação judicial
negócios celebrados por empresas já em processo de depende da apresentação da prova de quitação de
recuperação judicial, tais como remunerações devi- todos os tributos, observado o disposto nos arts.
das ao administrador judicial, despesas com arreca- 151, 205 e 206 desta Lei.
dação, administração, custas etc. Art. 192 Nenhuma sentença de julgamento de par-
A cobrança do crédito tributário não estará sujeita a tilha ou adjudicação será proferida sem prova da
quitação de todos os tributos relativos aos bens do
concurso de credores ou habilitação em falência, recu-
espólio, ou às suas rendas.
peração judicial ou extrajudicial, inventário ou arro-
lamento. A preferência será considerada apenas em
relação às pessoas jurídicas de direito público interno.
O concurso de preferência, disposto no art. 187,
do CTN, em consonância com o parágrafo único, do ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA
art. 29, da Lei de Execução Fiscal, apenas será utili-
zado nas hipóteses de falência do comerciante e de CARACTERÍSTICAS, PRERROGATIVAS E
execução coletiva do devedor civil insolvente. Em tais FISCALIZAÇÃO
hipóteses, tanto o fisco federal quanto o estadual e
municipal pode requerer execuções individuais sem O termo “administração tributária” significa a par-
estar sujeito ao concurso universal.3 te da Administração Pública que se preocupa com a
obtenção da receita tributária de forma geral. Porém,
Art. 187 A cobrança judicial do crédito tributário o termo engloba não só a atividade de arrecadar o tri-
não é sujeita a concurso de credores ou habilita- buto, mas também as fases de constituição do crédi-
ção em falência, recuperação judicial, concordata, to tributário (lançamento), de controle, arrecadação,
inventário ou arrolamento. bem como a de julgamento dos processos fiscais, entre

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL NO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL


Parágrafo único. O concurso de preferência somen- outras tarefas.
te se verifica entre pessoas jurídicas de direito A administração tributária é realizada por servi-
público, na seguinte ordem: dores públicos na busca da aplicação da lei aos fatos
I - União; nela previstos e no reconhecimento dos direitos emer-
II - Estados, Distrito Federal e Territórios, conjunta- gentes, abrangendo, inclusive, tarefas diferentes da
mente e pro rata; fiscalização tributária, da constituição do crédito tri-
III - Municípios, conjuntamente e pro rata. butário ou da arrecadação dos tributos.
Estão abrangidas no conceito de administração tri-
Essa regra coloca a União em superioridade em butária as tarefas de orientação ao contribuinte e de
relação aos outros entes federativos, de modo que a treinamento do próprio pessoal administrativo, uma
doutrina não admite a constitucionalidade deste arti- vez que a legislação tributária deve ser observada
go, tendo em vista que fere o princípio federativo. tanto pelo contribuinte quanto pelo Poder Público.
Esta questão foi definida na ADPF 357, e o STF A “administração tributária” está descrita no CTN
declarou inconstitucional os dispositivos legais que no Título IV, dividido em três capítulos:
privilegiam a União em recebimento de dívidas em
que mais de um estado, município ou o Distrito Fede- z Capítulo I - Fiscalização;
ral figurem como credores. Além da declaração de z Capítulo II - Dívida Ativa;
inconstitucionalidade do parágrafo único, do art. 187, z Capítulo III - Certidões Negativas.
a Súmula 563 foi cancelada, vez que esta declarava tal
artigo como compatível com a CF. FISCALIZAÇÃO
No art. 188, do CTN, há a previsão de que crédi-
tos extraconcursais são os créditos tributários criados Fiscalizar é observar se o sujeito passivo (con-
após a abertura do processo de falência e terão prefe- tribuinte ou responsável) está cumprindo com suas
rência para recebimento. obrigações tributárias, principalmente a obrigação tri-
butária principal, ou seja, aquela que decorre do fato
Art. 188 São extraconcursais os créditos tributá- gerador. Tem por objeto o pagamento do tributo ou da
rios decorrentes de fatos geradores ocorridos no penalidade pecuniária e extingue-se juntamente com o
curso do processo de falência. […] crédito dela decorrente. Ou seja, fiscalizar é verificar
2 HARADA, Kiyoshi. Prefêrencias do crédito tributário. Âmbito Jurídico, 2007. Disponível em: <https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-tri-
butario/preferencias-do-credito-tributario/>. Acesso em: 16 fev. 2022.
3 Ibid. 463
se o contribuinte está pagando o tributo de forma cor- fazendárias façam as averiguações necessárias e veri-
reta. A atividade de fiscalizar e arrecadar tributos é a fiquem se os contribuintes estão cumprindo com suas
mais importante atividade-meio do Estado, pois dos obrigações tributárias.
recursos dela advindos dependem todas as ativida-
des-fim do Estado, como a prestação de serviços de Art. 195 (CTN) Para os efeitos da legislação tri-
saúde, educação e segurança. butária, não têm aplicação quaisquer disposições
A Emenda Constitucional 42, de 2003, expressou legais excludentes ou limitativas do direito de exa-
no Texto Constitucional que as atividades tributárias minar mercadorias, livros, arquivos, documentos,
dos diversos entes federados são atividades essenciais papéis e efeitos comerciais ou fiscais, dos comer-
ao funcionamento do Estado, exercidas por servido- ciantes industriais ou produtores, ou da obrigação
res de carreiras, com recursos para realização de suas destes de exibi-los.
atividades. Parágrafo único. Os livros obrigatórios de escri-
turação comercial e fiscal e os comprovantes dos
Competência e Poderes das Autoridades Fiscais lançamentos neles efetuados serão conservados
até que ocorra a prescrição dos créditos tri-
butários decorrentes das operações a que se
O caput do art. 194, do CTN, traz que a legislação
refiram.
tributária regulará, em caráter geral ou especifica-
mente, em função da natureza do tributo, a compe-
A principal função da escrituração está no sentido
tência e os poderes das autoridades fazendárias em
de atender ao fisco para, quando solicitado, o contri-
matéria de fiscalização. Nesse sentido, considerando
buinte poder provar que cumpre tanto as obrigações
o caráter geral, a legislação tributária pode regular a
atividade de fiscalização estabelecendo regras, prin- tributárias principais como as acessórias.
cípios e/ou limites que valham para todos os impos- O contribuinte está sujeitado a escriturar e manter
tos e/ou contribuições. Quanto ao caráter específico, os livros fiscais obrigatórios. Quanto aos livros opcio-
lembremos que existem tributos diferentes entre si, nais, o contribuinte não é obrigado a mantê-los ou
o que justifica a necessidade de um disciplinamento apresentá-los quando solicitado por autoridades fis-
específico de poderes e competências especiais para cais. Entretanto, caso o contribuinte mantenha livros
as autoridades responsáveis por sua fiscalização. opcionais e a autoridade fiscal os veja, esse contri-
buinte não poderá se negar a apresentá-los, sob pena
Art. 194 (CTN) A legislação tributária, observado o de configuração de embaraço à fiscalização.
disposto nesta Lei, regulará, em caráter geral, ou
especificamente em função da natureza do tributo O STF posicionou-se, através da Súmula 439, sobre
de que se tratar, a competência e os poderes das os objetos sujeitos à fiscalização:
autoridades administrativas em matéria de
fiscalização da sua aplicação. Súmula 439 (STF) Estão sujeitos à fiscalização
tributária ou previdenciária quaisquer livros
Conforme o parágrafo único, do art. 194, do CTN, comerciais, limitado o exame aos pontos objeto da
todas as pessoas, sejam elas, físicas ou jurídicas, con- investigação.
tribuintes ou não, poderão sofrer fiscalização.
Procedimentos das Autoridades Fiscais
Art. 194 (CTN) [...]
Parágrafo único. A legislação a que se refere este O art. 196, do CTN, indica que a autoridade fiscal
artigo aplica-se às pessoas naturais ou jurídicas, deverá documentar o início do procedimento através
contribuintes ou não, inclusive às que gozem de do Termo de Início de Ação/Verificação Fiscal. Esse
imunidade tributária ou de isenção de caráter termo deverá ser lavrado sempre que possível em um
pessoal.
livro fiscal exibido. Se for lavrado em separado, deve-
rá ser entregue à pessoa que sofre a fiscalização cópia
Nada impede, portanto, a fiscalização de uma igre- autenticada do termo.
ja ou um partido político, pois o fato de a pessoa (físi-
ca ou jurídica) usufruir determinado benefício fiscal, Art. 196 A autoridade administrativa que proceder
que a colocaria, a princípio, na posição de não estar ou presidir a quaisquer diligências de fiscalização
sujeita ao pagamento de determinado tributo, não a lavrará os termos necessários para que se docu-
afasta de sujeitar-se ao procedimento de fiscalização. mente o início do procedimento, na forma da legis-
O fato de o fisco abdicar da cobrança do imposto de lação aplicável, que fixará prazo máximo para a
um partido político, por exemplo, não lhe dá o direito conclusão daquelas.
de não o fiscalizar (averiguar, examinar, auditar etc.), Parágrafo único. Os termos a que se refere este arti-
pois é dever verificar se ele está cumprindo os requisi- go serão lavrados, sempre que possível, em um dos
tos legais estabelecidos para usufruir do determinado livros fiscais exibidos; quando lavrados em sepa-
benefício. rado deles se entregará, à pessoa sujeita à fiscali-
zação, cópia autenticada pela autoridade a que se
Apresentação de Livros Fiscais/Contábeis refere este artigo.

Conforme disposto no art. 195, do CTN, verifica- Com a lavratura do termo, de acordo com o art.
-se que todos os contribuintes estão obrigados a sub- 138, do CTN, a pessoa que sofre a fiscalização perde a
meterem-se ao procedimento de fiscalização e, para espontaneidade quanto às infrações que tenham rela-
tanto, têm o dever de entregarem aos agentes do fisco ção com o objeto fiscalizado.
os livros e demais documentos de sua escrituração,
464 tais como notas fiscais, a fim de que as autoridades
Art. 138 A responsabilidade é excluída pela com o objetivo de investigar o sujeito passivo a que
denúncia espontânea da infração, acompanha- se refere a informação, por prática de infração
da, se for o caso, do pagamento do tributo devido e administrativa.
dos juros de mora, ou do depósito da importância § 2º O intercâmbio de informação sigilosa, no
arbitrada pela autoridade administrativa, quando âmbito da Administração Pública, será realizado
o montante do tributo dependa de apuração. mediante processo regularmente instaurado, e a
Parágrafo único. Não se considera espontânea a entrega será feita pessoalmente à autoridade solici-
denúncia apresentada após o início de qualquer
tante, mediante recibo, que formalize a transferên-
procedimento administrativo ou medida de fiscali-
cia e assegure a preservação do sigilo.
zação, relacionados com a infração.
§ 3º Não é vedada a divulgação de informações
relativas a:
Na lavratura do termo de início da ação/verifica-
I - representações fiscais para fins penais;
ção fiscal, a autoridade fiscal deverá apor o prazo ini-
II - inscrições na Dívida Ativa da Fazenda Pública;
cial para o término do procedimento.
III - parcelamento ou moratória.
Concluídos os trabalhos, a autoridade fiscal deve-
IV - incentivo, renúncia, benefício ou imunidade de
rá lavrar Termo de Encerramento de Ação/Verifica-
natureza tributária cujo beneficiário seja pessoa
ção Fiscal, no qual deve circunstanciar sobre o que
jurídica.
foi verificado e apurado, sobretudo discriminando o
valor do crédito tributário constituído por meio do ato
administrativo de lançamento. Essa proibição, no entanto, comporta exceções,
conforme dispõem as regras do § 1º, do art. 198, e art.
Pessoas, Entidades ou Instituições que Deverão 199, do CTN. Além dessas, de acordo com os §§ 2º e 3º,
Prestar Informações do art. 198, serão exceções as hipóteses em que essas
informações forem de interesse de outros órgãos da
No art. 197, do CTN, algumas pessoas, entidades Administração Pública, desde que se assegure a pre-
ou instituições, além de terem que cumprir com suas servação do sigilo, bem como as informações transi-
obrigações tributárias próprias, têm também, em tem de uma repartição pública à outra sob um rito
razão de seu cargo, ofício, função, ministério, ativi- próprio, não sendo vedada a divulgação de informa-
dade ou profissão, desde que designadas por lei, que ções relativas a:
prestar informações, mediante intimação, sobre a
situação econômico-financeira de terceiros de interes- z Representação fiscal para fins penais;
se do fisco. Vejamos o que dispõe o artigo: z Inscrição em Dívida Ativa da Fazenda Pública;
z Parcelamento ou moratória;
Art. 197 Mediante intimação escrita, são obriga-
z Incentivo, renúncia, benefício ou imunidade de natu-
dos a prestar à autoridade administrativa todas
as informações de que disponham com relação aos reza tributária cujo beneficiário seja pessoa jurídica.
bens, negócios ou atividades de terceiros:

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL NO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL


I - os tabeliães, escrivães e demais serventuários de Art. 199 A Fazenda Pública da União e as dos Esta-
ofício; dos, do Distrito Federal e dos Municípios prestar-
II - os bancos, casas bancárias, Caixas Econômicas -se-ão mutuamente assistência para a fiscalização
e demais instituições financeiras; dos tributos respectivos e permuta de informações,
III - as empresas de administração de bens; na forma estabelecida, em caráter geral ou específi-
IV - os corretores, leiloeiros e despachantes oficiais; co, por lei ou convênio.
V - os inventariantes; Parágrafo único. A Fazenda Pública da União, na
VI - os síndicos, comissários e liquidatários; forma estabelecida em tratados, acordos ou convê-
VII - quaisquer outras entidades ou pessoas que a nios, poderá permutar informações com Estados
lei designe, em razão de seu cargo, ofício, função,
estrangeiros no interesse da arrecadação e da fis-
ministério, atividade ou profissão.
calização de tributos.
As autoridades fiscais têm a obrigação de man-
Requisição de Força Pública
ter sigilo sobre as informações obtidas no exercício
de suas funções, sob pena de responsabilidade admi-
nistrativa, cível e criminal, conforme disposto no art. Para garantir que a ação fiscal não tenha obstácu-
198, do CTN. los por parte do contribuinte que, mesmo sob o dever
de se submeter à fiscalização, se negue a fazê-lo, faz-se
Art. 198 Sem prejuízo do disposto na legislação necessário que a autoridade fiscal execute sua tare-
criminal, é vedada a divulgação, por parte da fa sem empecilhos e, quando vítima de embaraço ou
Fazenda Pública ou de seus servidores, de desacato, possa requisitar o auxílio da força pública
informação obtida em razão do ofício sobre federal, estadual ou municipal, conforme prevê o art.
a situação econômica ou financeira do sujeito 200, do CTN.
passivo ou de terceiros e sobre a natureza e o
estado de seus negócios ou atividades.
Art. 200 As autoridades administrativas federais
§ 1º Excetuam-se do disposto neste artigo, além
dos casos previstos no art. 199, os seguintes: poderão requisitar o auxílio da força pública
I - requisição de autoridade judiciária no interesse federal, estadual ou municipal, e reciprocamente,
da justiça; quando vítimas de embaraço ou desacato no
II - solicitações de autoridade administrativa no exercício de suas funções, ou quando necessá-
interesse da Administração Pública, desde que rio à efetivação dê medida prevista na legis-
seja comprovada a instauração regular de processo lação tributária, ainda que não se configure fato
administrativo, no órgão ou na entidade respectiva, definido em lei como crime ou contravenção. 465
O poder de requisitar a força policial é da autori- certidão nula, devolvido ao sujeito passivo, acusa-
dade fiscal que preside a diligência, ou seja, ela não do ou interessado o prazo para defesa, que somente
precisa de autorização do seu superior. poderá versar sobre a parte modificada.
Em regra, as autoridades federais fazem suas
requisições junto à Polícia Federal e as autoridades A Fazenda Pública, ao inscrever o sujeito passivo
estaduais e municipais, à Polícia Militar. Entretanto, na dívida ativa, cria um documento que dá presunção
nada impede, de acordo com o art. 200, do CTN, que de liquidez e certeza de exigência do débito. Porém,
haja requisições de esferas administrativas diferentes. esta presunção é relativa, admitindo, assim, prova
em contrário, conforme prevê o art. 204, do CTN.
DÍVIDA ATIVA
Art. 204 A dívida regularmente inscrita goza da
A partir do momento em que o contribuinte é cien- presunção de certeza e liquidez e tem o efeito de
tificado da exigência fiscal e, no prazo estipulado, não prova pré-constituída.
faz o pagamento ou não o contesta, o débito é enviado Parágrafo único. A presunção a que se refere este
para a dívida ativa, conforme prevê o art. 201, do CTN. artigo é relativa e pode ser ilidida por prova ine-
Também será enviado para a dívida ativa quando quívoca, a cargo do sujeito passivo ou do terceiro a
que aproveite.
houver a contestação mediante processo regular (1ª
ou 2ª instância) e for mantida a exigência tributária.
CERTIDÕES NEGATIVAS
Art. 201 Constitui dívida ativa tributária a provenien-
te de crédito dessa natureza, regularmente inscrita A certidão negativa é o documento em que o contri-
na repartição administrativa competente, depois de buinte prova a inexistência de débito de determinado
esgotado o prazo fixado, para pagamento, pela lei ou tributo ou determinado período. O CTN, através do art.
por decisão final proferida em processo regular. 205, expõe os procedimentos quanto à certidão negativa:

O objetivo principal de inscrever em dívida ativa é Art. 205 A lei poderá exigir que a prova da quitação
possibilitar uma futura execução fiscal. de determinado tributo, quando exigível, seja feita
O contribuinte, a partir do momento que utiliza por certidão negativa, expedida à vista de requeri-
uma das formas do art. 156, do CTN (formas de extin- mento do interessado, que contenha todas as infor-
ção do crédito tributário), não poderá ser inscrito em mações necessárias à identificação de sua pessoa,
dívida ativa. domicílio fiscal e ramo de negócio ou atividade e
O art. 202, do CTN, enumera todos os requisitos indique o período a que se refere o pedido.
Parágrafo único. A certidão negativa será sempre
que deverão obrigatoriamente estar presentes no
expedida nos termos em que tenha sido requerida
termo de inscrição da dívida ativa, autenticado pela
e será fornecida dentro de 10 (dez) dias da data da
autoridade competente:
entrada do requerimento na repartição.
Art. 202 O termo de inscrição da dívida ativa, Muitas vezes, o contribuinte, embora tenha débitos
autenticado pela autoridade competente, indicará fiscais, encontra-se em situação regular perante o fis-
obrigatoriamente: co. Mediante isso, ao solicitar uma certidão, ele rece-
I - o nome do devedor e, sendo caso, o dos co-res-
berá uma certidão positiva com efeito de negativa.
ponsáveis, bem como, sempre que possível o domi-
Existem três situações para obtenção dessa certi-
cílio ou a residência de um e de outros;
II - a quantia devida e a maneira de calcular os dão, conforme prevê o art. 206, do CTN:
juros de mora acrescidos;
z Os créditos não estão vencidos;
III - a origem e natureza do crédito, mencionada espe-
cificamente a disposição da lei em que seja fundado;
z Os créditos estão em curso de cobrança executiva
IV - a data em que foi inscrita; em que tenha sido efetivada a penhora;
V - sendo caso, o número do processo administrati- z Os créditos estão com a exigibilidade suspensa.
vo de que se originar o crédito.
Art. 206 Tem os mesmos efeitos previstos no arti-
Parágrafo único. A certidão conterá, além dos requi-
go anterior a certidão de que conste a existência de
sitos deste artigo, a indicação do livro e da folha da
créditos não vencidos, em curso de cobrança execu-
inscrição.
tiva em que tenha sido efetivada a penhora, ou cuja
exigibilidade esteja suspensa.
O título executivo que dará embasamento a uma futu-
ra ação de execução fiscal é a certidão de dívida ativa. Em situações bastante específicas, em que se evita a
A falta de quaisquer dos dados exigidos pelo art. caducidade de um direito qualquer (ou seja, quando se
202 é causa de nulidade do processo de inscrição; tratar de prática de ato indispensável para evitar a cadu-
entretanto, a Fazenda Pública poderá sanar a nulida- cidade do direito), não se exige a quitação de tributos,
de antes da decisão de primeira instância. Se isso ocor- ressalvando, porém, a responsabilidade dos envolvidos
rer, o sujeito passivo terá novo prazo para a defesa, no na prática do ato, conforme prevê o art. 207, do CTN.
que se refere à parte modificada, conforme determina
o art. 203, do CTN. Art. 207 Independentemente de disposição legal per-
missiva, será dispensada a prova de quitação de
Art. 203 A omissão de quaisquer dos requisitos tributos, ou o seu suprimento, quando se tratar de
previstos no artigo anterior, ou o erro a eles rela- prática de ato indispensável para evitar a cadu-
tivo, são causas de nulidade da inscrição e do cidade de direito, respondendo, porém, todos os par-
processo de cobrança dela decorrente, mas a ticipantes no ato pelo tributo porventura devido, juros
nulidade poderá ser sanada até a decisão de de mora e penalidades cabíveis, exceto as relativas a
466 primeira instância, mediante substituição da infrações cuja responsabilidade seja pessoal ao infrator.
Um bom exemplo é ter o contribuinte urgência em obter uma certidão negativa para fins de licitação, mas a
repartição pública se encontrar de greve. O contribuinte não pode ser penalizado por um fato alheio a sua von-
tade. Nesse caso, o contribuinte poderá participar da licitação sem o documento. Porém, caso haja débito fiscal, o
contribuinte não se exonera da obrigação de pagá-lo juntamente com juros de mora e penalidades cabíveis.
O funcionário que expedir certidão negativa com dolo ou fraude, contendo erro contra a Fazenda Pública,
será pessoalmente responsável pelo crédito tributário e pelos juros de mora, não se excluindo a responsabilidade
criminal e funcional do ato, conforme dispõe o art. 208, do CTN.

Art. 208 A certidão negativa expedida com dolo ou fraude, que contenha erro contra a Fazenda Pública, responsa-
biliza pessoalmente o funcionário que a expedir, pelo crédito tributário e juros de mora acrescidos.
Parágrafo único. O disposto neste artigo não exclui a responsabilidade criminal e funcional que no caso couber.

O dolo concretiza-se quando o funcionário, sabendo do erro que compromete a certidão, a expede assim mes-
mo. Quanto à fraude, ela se concretizará quando o funcionário alterar, simular, inserir dados falsos na certidão
que será expedida.

NOÇÕES DA FUNÇÃO SOCIAL DO TRIBUTO

A União poderá instituir e majorar as contribuições:

z Sociais;
z De intervenção no domínio público;
z De interesse de categorias profissionais ou econômicas.

Excepcionalmente, os estados, o Distrito Federal e os municípios poderão instituir e cobrar contribuições em


benefícios dos seus servidores quando possuírem Regime Próprio de Previdência Social (§ 1º, art. 149 c/c art. 40,
da CF).
Nos termos do art. 149, da Constituição Federal:

Art. 149 Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e
de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas,
observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º, relativamente às
contribuições a que alude o dispositivo.

No que diz respeito às contribuições sociais, de acordo com Kiyoshi Harada:

[…] a contribuição social é espécie tributária vinculada à atuação indireta do Estado. Tem como fato gerador uma

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL NO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL


atuação indireta do Poder Público mediatamente referida ao sujeito passivo da obrigação tributária.4

Segundo o STF, entende-se como contribuições sociais:

z Contribuições sociais gerais (não destinadas à seguridade);


z Contribuições de seguridade social (especiais);
z Outras contribuições sociais.

Para auxiliar na compreensão, observe a tabela a seguir:

CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS

Contribuições Sociais Gerais Contribuições de Seguridade Social Outras Contribuições

(Salário Educação, FGTS e Contri- (Contribuições nominadas nos incisos I ao (Contribuições residuais cons-
buições do Sistema “S”) IV, art. 195, da CF) tantes no § 4º, art. 195, da CF)

CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS GERAIS

As contribuições sociais gerais são concebidas com intuito de promover a educação, a cultura, o desporto, a
família e os índios, de acordo com o disposto nos arts. 205, 215, 217, 218, 225, 226 e 231, da Constituição Federal.
Há três espécies de contribuições sociais gerais:

z Contribuição do “Salário-Educação”;
z Contribuição do FGTS;
z Contribuições dos Serviços Sociais Autônomos.

A contribuição ao salário-educação (§ 5º, art. 212, da CF) foi criada para financiar, como adicional, o ensino
fundamental público, como prestação subsidiária da empresa ao dever constitucional do Estado de manter o
ensino primário gratuito de seus empregados e dependentes. Foi concebida pelo art. 178, da EC, nº 1, de 1969, e
4 HARADA, K. Direito Financeiro e Tributário. São Paulo: Atlas, 2019, p. 259. 467
recepcionada pela Constituição Federal, de 1988, em c) o lucro;
função do § 5º, art. 212, da CF. Nesse sentido, destaca- II - do trabalhador e dos demais segurados da pre-
-se a Súmula 732, do STF: vidência social, podendo ser adotadas alíquotas
progressivas de acordo com o valor do salário de
Súmula 732 (STF) É constitucional a cobrança da contribuição, não incidindo contribuição sobre
contribuição do salário-educação, seja sob a carta aposentadoria e pensão concedidas pelo Regime
de 1969, seja sob a constituição federal de 1988, e Geral de Previdência Social;
no regime da lei 9424/1996. III - sobre a receita de concursos de prognósticos.
IV - do importador de bens ou serviços do exterior,
ou de quem a lei a ele equiparar.
A contribuição do FGTS foi criada pela Lei Com-
§ 1º As receitas dos Estados, do Distrito Federal e
plementar 110, de 2001, devida pelos empregadores
dos Municípios destinadas à seguridade social cons-
em caso de despedida de empregado sem justa causa,
tarão dos respectivos orçamentos, não integrando o
a título de multa, com alíquota de 10% sobre o mon- orçamento da União.
tante de todos os depósitos devidos referente ao Fundo, § 2º A proposta de orçamento da seguridade social será
durante a vigência do contrato de trabalho acrescido elaborada de forma integrada pelos órgãos responsá-
das remunerações aplicáveis às contas vinculadas, a veis pela saúde, previdência social e assistência social,
partir de 29 de setembro de 2001. Também foi criada tendo em vista as metas e prioridades estabelecidas na
contribuição à alíquota de 0,5% sobre a remuneração lei de diretrizes orçamentárias, assegurada a cada área
devida, passando de 8% para 8,5%, pelo prazo de ses- a gestão de seus recursos.
senta meses, até novembro de 2006. § 3º A pessoa jurídica em débito com o sistema da
As contribuições destinadas aos Serviços Sociais seguridade social, como estabelecido em lei, não
Autônomos (Sistema “S”) são destinadas às entidades poderá contratar com o Poder Público nem dele rece-
privadas de serviços sociais autônomos e de formação ber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios.
profissional, vinculadas ao sistema sindical, tais como § 4º A lei poderá instituir outras fontes destinadas a
SENAI, SESI, SESC, SEST, SENAT, SEBRAE, SENAC, entre garantir a manutenção ou expansão da seguridade
outras, pertencentes ao chamado Sistema “S”, que se social, obedecido o disposto no art. 154, I.
dedicam ao ensino fundamental profissionalizante e § 5º Nenhum benefício ou serviço da seguridade
social poderá ser criado, majorado ou estendido
à prestação de serviços no âmbito social e econômico.
sem a correspondente fonte de custeio total.
As contribuições de Serviços Sociais Autônomos estão
§ 6º As contribuições sociais de que trata este arti-
fundamentadas no art. 240, da Constituição Federal: go só poderão ser exigidas após decorridos noven-
ta dias da data da publicação da lei que as houver
Art. 240 Ficam ressalvadas do disposto no art. 195 instituído ou modificado, não se lhes aplicando o
as atuais contribuições compulsórias dos empre- disposto no art. 150, III, «b».
gadores sobre a folha de salários, destinadas às § 7º São isentas de contribuição para a seguridade
entidades privadas de serviço social e de formação social as entidades beneficentes de assistência social
profissional vinculadas ao sistema sindical. que atendam às exigências estabelecidas em lei.
§ 8º O produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário
Destaca-se a Súmula 499 do STJ: rurais e o pescador artesanal, bem como os respecti-
vos cônjuges, que exerçam suas atividades em regime
Súmula 499 (STJ) As empresas prestadoras de de economia familiar, sem empregados permanentes,
serviços estão sujeitas às contribuições ao Sesc e contribuirão para a seguridade social mediante a apli-
Senac, salvo se integradas noutro serviço social. cação de uma alíquota sobre o resultado da comer-
cialização da produção e farão jus aos benefícios nos
CONTRIBUIÇÕES DE SEGURIDADE SOCIAL termos da lei.
§ 9º As contribuições sociais previstas no inciso I do
As contribuições de seguridade social consti- caput deste artigo poderão ter alíquotas diferencia-
tuem modalidade de tributo vinculado, uma vez que das em razão da atividade econômica, da utiliza-
objetivam custear a previdência social. ção intensiva de mão de obra, do porte da empresa
ou da condição estrutural do mercado de trabalho,
O orçamento da seguridade social é composto de
sendo também autorizada a adoção de bases de cál-
receitas oriundas de recursos dos entes públicos e
culo diferenciadas apenas no caso das alíneas «b» e
de receitas absorvidas das contribuições específicas. «c» do inciso I do caput.
Assim, toda a sociedade, seja de forma direta ou indi- § 10 A lei definirá os critérios de transferência de recur-
reta, financia a seguridade social, concretizando o sos para o sistema único de saúde e ações de assistência
princípio da solidariedade. social da União para os Estados, o Distrito Federal e os
As contribuições de seguridade social têm como Municípios, e dos Estados para os Municípios, observa-
base os arts. 149 e 195, da Constituição Federal. Acom- da a respectiva contrapartida de recursos.
panhe a seguir o art. 195: § 11 São vedados a moratória e o parcelamento em
prazo superior a 60 (sessenta) meses e, na forma de
Art. 195 A seguridade social será financiada por toda lei complementar, a remissão e a anistia das contri-
a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da buições sociais de que tratam a alínea «a» do inciso
lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos I e o inciso II do caput.
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Muni- § 12 A lei definirá os setores de atividade econômica
cípios, e das seguintes contribuições sociais: para os quais as contribuições incidentes na forma
I - do empregador, da empresa e da entidade a ela dos incisos I, b; e IV do capu t, serão não-cumulativas.
equiparada na forma da lei, incidentes sobre § 13 (Revogado).
a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho § 14 O segurado somente terá reconhecida como
pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física tempo de contribuição ao Regime Geral de Previ-
que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício; dência Social a competência cuja contribuição seja
468 b) a receita ou o faturamento; igual ou superior à contribuição mínima mensal
exigida para sua categoria, assegurado o agrupa- alíquotas ou base de cálculos diferenciadas, em razão
mento de contribuições. da atividade econômica, da utilização intensiva de mão
de obra, do porte da empresa ou da condição estrutu-
ral do mercado de trabalho, avocando-lhes, portanto,
Fonte de Custeio a aplicação do princípio da capacidade contributiva (§
Importador 9º, art. 195 c/c § 1º, art. 145, da CF).
(IV, art. 195, CF) Contribuição
Social Patronal A contribuição social patronal sobre a folha de
sobre a pagamento visa custear o Regime Geral de Previdên-
Fonte de Folha de cia Social — RGPS.
Custeio: Pagamento Acompanhe o que diz o art. 239, da Constituição
Receita de
Loterias (III, art.
Federal, acerca das contribuições ao PIS/PASEP:
CONTRIBUIÇÕES
195, CF) Contribuição ao
DE
PIS/PASEP
Art. 239 A arrecadação decorrente das contribui-
SEGURIDADE
SOCIAL ções para o Programa de Integração Social, criado
Fonte de Custeio: pela Lei Complementar nº 7, de 7 de setembro de
Trabalhador
1970, e para o Programa de Formação do Patri-
(II, art. 195, CF) Contribuição mônio do Servidor Público, criado pela Lei Com-
sobre o Lucro
plementar nº 8, de 3 de dezembro de 1970, passa, a
Líquido
Fonte de Custeio: (CSLL)
partir da promulgação desta Constituição, a finan-
Empregador ciar, nos termos que a lei dispuser, o programa do
e Empresa seguro-desemprego, outras ações da previdência
Contribuição
(I, art. 195, CF) para social e o abono de que trata o § 3º deste artigo.
Financiamento § 1º Dos recursos mencionados no caput, no míni-
da Seguridade mo 28% (vinte e oito por cento) serão destinados
Social (COFINS) para o financiamento de programas de desenvolvi-
mento econômico, por meio do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social, com critérios
Nos termos do inciso I, § 2º, art. 149, da Constituição:
de remuneração que preservem o seu valor.
§ 2º Os patrimônios acumulados do Programa de Inte-
§ 2º As contribuições sociais e de intervenção no gração Social e do Programa de Formação do Patrimô-
domínio econômico de que trata o caput deste artigo: nio do Servidor Público são preservados, mantendo-se
I - não incidirão sobre as receitas decorrentes de os critérios de saque nas situações previstas nas leis
exportação; específicas, com exceção da retirada por motivo de
casamento, ficando vedada a distribuição da arrecada-
Evidencia-se a possibilidade de criação de contri- ção de que trata o “caput” deste artigo, para depósito
buição para seguridade social alcançando a importa- nas contas individuais dos participantes.
ção de produtos e serviços estrangeiros, conforme o § 3º Aos empregados que percebam de empregado-

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL NO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL


inciso II, § 2º, art. 149, da Constituição: res que contribuem para o Programa de Integração
Social ou para o Programa de Formação do Patrimô-
II - incidirão também sobre a importação de produ- nio do Servidor Público, até dois salários mínimos de
tos estrangeiros ou serviços; remuneração mensal, é assegurado o pagamento de
um salário mínimo anual, computado neste valor o
Assim, as contribuições poderão ter alíquotas e rendimento das contas individuais, no caso daqueles
que já participavam dos referidos programas, até a
poderão ser ad valorem ou específicas, nos termos do
data da promulgação desta Constituição.
inciso III, do § 2º, art. 149, da Constituição:
§ 4º O financiamento do seguro-desemprego rece-
berá uma contribuição adicional da empresa cujo
III - poderão ter alíquotas: índice de rotatividade da força de trabalho superar
a) ad valorem, tendo por base o faturamento, a o índice médio da rotatividade do setor, na forma
receita bruta ou o valor da operação e, no caso de estabelecida por lei.
importação, o valor aduaneiro; § 5º Os programas de desenvolvimento econômi-
b) específica, tendo por base a unidade de medida co financiados na forma do § 1º e seus resultados
adotada. serão anualmente avaliados e divulgados em meio
de comunicação social eletrônico e apresentados
As contribuições que têm como fonte de custeio a em reunião da comissão mista permanente de que
receita das loterias incidem sobre a receita de concur- trata o § 1º do art. 166.
sos de prognósticos (“jogos de azar”), isto é, de todo e
qualquer concurso de sorteio de números ou outros A Contribuição sobre o Lucro Líquido (CSLL),
símbolos, loterias e apostas nos âmbitos federal, esta- como o próprio nome sugere, incide sobre o lucro
dual, distrital ou municipal, promovidos por órgãos do líquido das pessoas jurídicas domiciliadas no Brasil
Poder Público ou por sociedades comerciais ou civis. ou a elas equiparadas. Aplicam-se à CSLL as mesmas
As contribuições que têm como fonte de custeio o normas de apuração e de pagamento estabelecidas
trabalhador são recolhidas pelo próprio trabalhador, para o Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas (IRPJ).
usufruindo esse mesmo trabalhador diretamente dos A Contribuição para Financiamento da Seguridade
benefícios previdenciários quando em necessidade. Social, denominada COFINS, foi instituída pela Lei Com-
As contribuições que têm como fonte de custeio o plementar 70, de 30/12/1991, sendo atualmente regida
empregador e a empresa incidem sobre a folha de paga- pela Lei 9.718, de 1998, com as alterações subsequentes.
mento e rendimentos do trabalho, pagos ou creditados O PIS e a COFINS incidem sob os regimes cumulativos,
à pessoa física que lhe preste serviço; a receita ou fatu- não cumulativos, de substituição tributária, monofásicos,
ramento; o lucro. Importante ressaltar que poderão ter alíquotas zero, por volume, sobre importação, entre outros. 469
REGIME CUMULATIVO
REGIME
NÃO-CUMULATIVO
HORA DE PRATICAR!
LC 7/70 — PIS LC 10.637/02 — PIS 1. (FGV – 2021) No Estado X, uma lei estadual conferiu
LC 70/91 — COFINS LC 10.833/03 — COFINS poderes à autarquia estadual gestora do regime pró-
Lei nº 9.718, de 1998 Lei nº 10.865, de 2004 prio de previdência dos servidores estaduais para
— PIS/COFINS — Importação fiscalizar, arrecadar e inclusive cobrar judicialmente a
contribuição previdenciária dos servidores.
Base de cálculo: Diante desse cenário, assinale a afirmativa correta.
Base de cálculo: receita
faturamento
PIS: 1,65%
PIS: 0,65% a) A lei estadual pode delegar a chamada capacidade tri-
COFINS: 7,6%
COFINS: 3% butária ativa à autarquia.
b) A autarquia estadual, por ser integrante da Administra-
Vale destacar a Súmula 423, do STJ: ção Indireta, não pode arrecadar tributos.
c) A lei estadual viola a competência tributária do Estado
Súmula 423 (STJ) A Contribuição para Financia- X, conforme estabelecida na Constituição.
mento da Seguridade Social – COFINS incide sobre d) A lei estadual viola a competência tributária do Esta-
as receitas provenientes das operações de locação do X, conforme estabelecida no Código Tributário
de bens móveis. Nacional.
e) A fiscalização e a arrecadação podem ser feitas pela
Por fim, recomenda-se a leitura do art. 76, do Ato autarquia, mas a cobrança judicial de tributos é ato pri-
das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), vativo da Administração Direta do ente federado.
da Constituição Federal, de 1988:
2. (FGV – 2022) Resolução do Secretário de Fazenda do
Art. 76 São desvinculados de órgão, fundo ou despesa, Estado Alfa, publicada em 20/09/2021, determinou
até 31 de dezembro de 2023, 30% (trinta por cento) da que a declaração do Imposto sobre a Transmissão
arrecadação da União relativa às contribuições sociais, Causa Mortis e Doação de quaisquer bens ou direitos
sem prejuízo do pagamento das despesas do Regime (ITCMD) deveria ser entregue pelo sujeito passivo por
Geral da Previdência Social, às contribuições de inter- meio de novo formulário aprovado em anexo a esta
venção no domínio econômico e às taxas, já instituídas Resolução. A Resolução também afirmou que produzi-
ou que vierem a ser criadas até a referida data. rá efeitos 60 dias após sua publicação.
Diante desse cenário, assinale a afirmativa correta.
DEMAIS CONTRIBUIÇÕES

Via de regra, as contribuições são de competência a) A Resolução pode determinar a entrega da declaração
da União, havendo uma única exceção, a trazida pelo em formulário próprio.
§ 1º, do art. 149, da Constituição: b) A Resolução violou o princípio tributário da anteriori-
dade anual.
§ 1º A União, os Estados, o Distrito Federal e os c) A Resolução violou o princípio tributário da anteriori-
Municípios instituirão, por meio de lei, contribuições dade nonagesimal.
para custeio de regime próprio de previdência social, d) A Resolução violou o princípio tributário da legalidade.
cobradas dos servidores ativos, dos aposentados e e) Somente Decreto do Governador do Estado poderia
dos pensionistas, que poderão ter alíquotas progres- alterar a sistemática de entrega de declaração do
sivas de acordo com o valor da base de contribuição ITCMD.
ou dos proventos de aposentadoria e de pensões.
3. (FGV – 2022) Determinado Estado da Federação pas-
Assim, quando se tratar de contribuição previdenciá- sou a cobrar IPVA dos donos de bicicletas elétricas
ria do servidor público, deve-se observar a qual ente esse por uma decisão administrativa, sob o argumento
servidor pertence para saber de quem é competência. de que são devedoras do tributo por analogia às
A contribuição residual, de competência da União,
motocicletas.
nos termos do § 4º, art. 195, da Constituição, deverá
Sobre esta cobrança, assinale a afirmativa correta.
obedecer ao disposto no inciso I, art. 154, devendo ser
instituída por meio de Lei Complementar (vedando-se
a utilização de medida provisória), respeitar o princí- a) Sim, pois a fiscalização é a mesma que a das
pio da não cumulatividade, e não deve ter base de cál- motocicletas.
culo e/ou fato gerador idênticos a outras contribuições: b) Não, pois seria necessário decreto que estabelecesse
tal cobrança.
Art. 154 A União poderá instituir: c) Sim, pois a analogia pode ser utilizada na falta de dis-
I - mediante lei complementar, impostos não previs- posição expressa.
tos no artigo anterior, desde que sejam não-cumula- d) Não, pois o emprego da analogia não poderá resultar
tivos e não tenham fato gerador ou base de cálculo na exigência de tributo não previsto em lei.
próprios dos discriminados nesta Constituição; e) Não, por se tratar de equidade e não de analogia.

Frisa-se que a competência residual pode estar 4. (FGV – 2022) Na ausência de disposição expres-
associada a impostos ou a contribuições para seguri- sa, a autoridade competente, para aplicar a legisla-
dade social, sempre no bojo de lei complementar. ção tributária utilizará, segundo a ordem indicada,
sucessivamente,

a) analogia, equidade, princípios gerais de Direito Público


470 e princípios gerais de Direito Tributário.
b) princípios gerais de Direito Tributário, analogia, princí- Sobre a posição da sociedade empresária Beta, assi-
pios gerais de Direito Público e equidade. nale a afirmativa correta.
c) analogia, princípios gerais de Direito Público, princí-
pios gerais de Direito Tributário e equidade. a) Assiste razão à sociedade empresária, pois a Receita
d) equidade, analogia, princípios gerais de Direito Tributá- Estadual não pode discriminar a sede da empresa.
rio e princípios gerais de Direito Público. b) A Receita Estadual só pode mandar as autuações para
e) analogia, princípios gerais de Direito Tributário, princí- outros endereços, após 3 tentativas de encontrar os
pios gerais de Direito Público e equidade.
responsáveis pela sociedade empresária.
c) A Receita Estadual está errada, não podendo atribuir à
5. (FGV – 2022) Uma loja de roupas femininas estava
sociedade empresária, sua falta de estrutura.
transportando produtos de uma de suas filias para
d) Não assiste razão à sociedade empresária, pois a
outra, tendo sido autuada e multada pela Receita
Estadual pela ausência de nota fiscal. Receita Estadual pode, ao seu arbítrio, escolher qual o
Sobre a cobrança da multa, assinale a afirmativa domicilio tributário da sociedade empresária.
correta. e) Não assiste razão à sociedade empresária, pois a
autoridade administrativa pode recusar o domicílio
a) Não está correta, por não incidir ICMS na transferên- eleito, quando impossibilite ou dificulte a arrecadação
cia de mercadorias entre estabelecimentos do mesmo ou a fiscalização do tributo.
titular.
b) Está correta por se tratar de obrigação acessória, que 9. (FGV – 2022) Farmácia do Povo Ltda. é uma sociedade
pode acarretar multa em caso de descumprimento. empresária limitada composta por 4 (quatro) sócios;
c) Não está correta, pois a atitude correta seria a apreen- A, B, C e D. O sócio B é administrador. No exercício
são das mercadorias. regular de suas atividades, o administrador da pes-
d) Não está correta, pois não é necessária nota fiscal soa jurídica deixou dolosamente de pagar o PIS nos
para tal transferência. anos 2017, 2018, 2019 e 2020, razão pela qual, após
e) Só seria possível se houvesse cobrança de ICMS. todas as medidas administrativas de fiscalização, e
esgotadas as formas de recebimento dos valores em
6. (FGV – 2022) Mário emprestou gratuitamente a seu aberto, foi ajuizada a competente ação de Execução
irmão Mateus o automóvel de sua propriedade, devi- Fiscal.
damente registrado em seu nome, firmando com ele Sobre a situação apresentada, assinale a afirmativa
contrato em que Mateus se responsabilizava pelo
correta.
pagamento do Imposto sobre a Propriedade de Veícu-
los Automotores (IPVA).
Passados três anos do empréstimo e estando o auto- a) A responsabilidade é pessoal ao agente quanto às
móvel ainda na posse de Mateus, este não pagou infrações conceituadas por lei como crimes ou con-
nenhuma vez o IPVA. O Fisco Estadual então iniciou a travenções, quando praticadas no exercício regular de
cobrança dos valores atrasados contra Mário. administração, ou no cumprimento de ordem expressa
Diante desse cenário e à luz do Código Tributário emitida por quem de direito.
b) A responsabilidade é pessoal ao agente quanto às

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL NO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL


Nacional
infrações que decorram direta e exclusivamente de
a) Mário é o contribuinte do IPVA, mas Mateus é respon- culpa.
sável tributário solidariamente pela dívida. c) A responsabilidade é excluída pela denúncia espontâ-
b) Mário é o contribuinte do IPVA, mas Mateus é respon- nea da infração apresentada após o início de qualquer
sável tributário subsidiariamente pela dívida. procedimento administrativo ou medida de fiscaliza-
c) tanto Mário como Mateus são contribuintes do IPVA. ção, relacionados com a infração.
d) Mário responde sozinho perante o Fisco pela dívida. d) A responsabilidade por infrações da legislação tributá-
e) Mário, em razão de seu contrato com Mateus, pode exigir ria, salvo disposição de lei em contrário, independe da
do Fisco que cobre a dívida integralmente de Mateus. intenção do agente ou do responsável e da efetivida-
de, natureza e extensão dos efeitos do ato.
7. (FGV – 2022) Alexandre Peres, com 14 anos, pas-
sou a receber valores a título de propaganda no seu
10. (FGV – 2022) 321 Vestuário Ltda., atuante no comér-
canal de Youtube, com receita superior à isenção do
cio varejista de roupas, sonegou o Imposto Estadual
Imposto sobre a Renda das Pessoas Físicas. Assinale
a opção que indica a situação de Alexandre, por ele ser sobre a Circulação de Mercadorias (ICMS), omitin-
menor, diante do IRPF. do dolosamente do Fisco Estadual suas operações
comerciais com o fim de evitar o pagamento do tributo
a) Só pode ser contribuinte se for emancipado. devido.
b) Não, o contribuinte será um dos seus pais. Diante desse cenário, o Fisco Estadual, a fim de poder
c) Não há incidência de IRPF para menores. cobrar administrativamente tais valores, terá necessa-
d) Por auferir renda, pode ser contribuinte. riamente de realizar
e) Seus pais serão solidariamente responsáveis, mesmo
que seja possível cobrar do menor. a) um lançamento por declaração.
b) um lançamento de ofício.
8. (FGV – 2022) A sociedade empresária Beta alterou sua c) um lançamento por homologação.
sede para uma cidade extremamente distante a qual d) uma notificação prévia ao lançamento para compare-
só é possível chegar de barco e gastando mais de um cimento do sujeito passivo perante autoridade fiscal
dia de viagem, mas deixou filiais na Capital do Esta- estadual.
do. A sociedade empresária impugnou autuações e) uma notificação prévia ao lançamento à autoridade
recebidas nas filiais em que ocorreram os fatos que policial acerca dos indícios de crime de sonegação
deram origem à obrigação, por não ser o seu domici- fiscal.
lio tributário.
471
11. (FGV – 2021) A sociedade empresária Construções d) O prazo é prescricional de 5 anos, admitindo uma
100% Ltda., prestadora de serviços de construção, interrupção.
conservação e reforma a terceiros, deixou de declarar e) O prazo é prescricional e de 2 anos.
e de pagar ISS, tributo sujeito a lançamento por homo-
logação, relativo a um período de 3 meses. 14.(FGV – 2021) Um tabelião deixou de declarar e reco-
A respeito desse cenário e à luz do Código Tributário lher, na modalidade de lançamento por homologação,
Nacional, o Fisco Municipal poderá exercer seu direito ISS incidente sobre serviços notariais por ele presta-
de constituir o crédito tributário por meio de dos de abril a agosto de 2014. Em fevereiro de 2020,
o Fisco do município X efetua o lançamento de ofício
a) autolançamento, extinguindo-se tal direito após 5
dos tributos não declarados nem pagos, notificando
anos contados da ocorrência do fato gerador.
o tabelião para pagamento em trinta dias. O tabelião
b) lançamento por declaração, extinguindo-se tal direito
então adere a um parcelamento de tais débitos em
após 5 anos contados do primeiro dia do exercício
seis prestações. Concluído o pagamento, é advertido
seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido
por seu advogado de que este teria sido indevido, pois
efetuado.
o crédito tributário parcelado já teria decaído.
c) lançamento por declaração, extinguindo-se tal direito
Diante desse cenário, na data da constituição do crédi-
após 5 anos contados da ocorrência do fato gerador.
to tributário, o prazo decadencial:
d) lançamento de ofício, extinguindo-se tal direito após 5
anos contados da ocorrência do fato gerador.
a) ainda não havia se completado, sendo tal pagamento
e) lançamento de ofício, extinguindo-se tal direito após 5
devido;
anos contados do primeiro dia do exercício seguinte
b) já havia se completado, mas não o prazo prescricional,
àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado.
sendo tal pagamento devido;
c) já havia se completado, configurando hipótese de
12. (FGV – 2022) João, em dezembro de 2021, possuidor
extinção do crédito tributário, sendo tal pagamento
com animus domini desde janeiro de 2018 de imóvel
indevido;
de propriedade de Maria, deseja dela comprar o refe-
d) já havia se completado, mas o pagamento voluntário
rido bem. Ao emitir certidão de quitação de IPTU, per-
de dívida tributária alcançada pela decadência não
cebe que há valores desse tributo, referentes aos anos
permite a restituição;
de 2013 e 2014, que não foram pagos nem impugna-
e) já havia se completado, mas a confissão da dívida
dos. Na escritura pública de compra e venda, Maria
pelo parcelamento operou uma novação do débito,
concede a João desconto no preço de aquisição, con-
sendo tal pagamento devido.
dicionado a que ele realize o pagamento da dívida de
IPTU. João adere a parcelamento tributário da dívida e
15. (FGV – 2022) A pessoa jurídica Espectro, em processo
efetua o pagamento da 1ª parcela, levando a escritura
de falência, foi alienada judicialmente para a socieda-
pública a registro.
de empresária Ômega, que manteve o mesmo nome e
À luz da literalidade do Código Tributário Nacional e
as mesmas lojas daquela.
do entendimento dominante do Superior Tribunal de
Em relação aos tributos devidos, a empresa Ômega
Justiça, é correto afirmar que:
a) responderá integralmente, por ter adquirido o fundo de
a) João, na condição de possuidor com animus domini,
comércio e os estabelecimentos.
não pode ser contribuinte de IPTU;
b) Responderá subsidiariamente com o alienante.
b) o desconto no valor da compra e venda concedido por
c) Só responderá se o alienante não continuar no mesmo
Maria impede João de discutir judicialmente tal dívida
ramo de comércio.
de IPTU;
d) Não responderá, por ter havido alienação judicial em
c) é possível cobrar de João essa dívida de IPTU, por ser
processo de falência.
ele o adquirente do imóvel;
e) Não responderá, mesmo que um de seus sócios seja
d) a cláusula do contrato de compra e venda que trans-
sócio da sociedade empresária Espectro.
fere a responsabilidade pelo pagamento da dívida de
IPTU a João é oponível ao Fisco;
e) o pagamento parcelado do tributo foi indevido, pois a 16. (FGV – 2021) A sociedade empresária ABC Serviços
dívida já se encontrava prescrita. de Informática Ltda. teve sua falência decretada, ten-
do ainda dívidas referentes a obrigações principais de
ISS.
13. (FGV – 2022) A empresa Alpha requereu na Receita
A massa falida possui, também, entre seus débitos, as
Estadual a restituição de ICMS referente aos últimos 5
seguintes dívidas:
anos, valores que entende terem sido recolhidos além
dos devidos, e este requerimento foi indeferido na sea-
ra administrativa. I. Créditos com garantia real;
Assinale a opção que indica o prazo para a ação judi- II. Créditos quirografários;
cial que visa anular este indeferimento. III. Créditos extraconcursais;
IV. Créditos decorrentes da legislação do trabalho;
V. Créditos decorrentes de acidentes de trabalho.
a) O prazo decadencial é de 5 anos, a partir do indeferi-
mento administrativo.
b) O prazo é prescricional de 3 anos, admitindo uma À luz do Código Tributário Nacional, na falência, os
interrupção. créditos tributários referentes a obrigações principais
c) O prazo é decadencial de 3 anos, não admitindo de ISS têm preferência sobre os créditos
interrupção.
a) com garantia real, no limite do valor do bem gravado.
b) quirografários.
472 c) extraconcursais.
d) decorrentes da legislação do trabalho, nos limites e d) suspende a exigibilidade do crédito tributário e a
condições estabelecidos em lei. certidão a ser emitida será Positiva com Efeitos de
e) decorrentes de acidentes de trabalho. Negativa.
e) suspende a exigibilidade do crédito tributário e a certi-
17. (FGV – 2022) Em 2022, a Secretaria de Fazenda do dão a ser emitida será Negativa.
Estado Alfa passará a divulgar, em seu sítio eletrônico,
algumas informações sobre sujeitos passivos de tri- 20. (FGV – 2021) Um contribuinte recebeu notificação
butos estaduais. para pagamento de um tributo com prazo de 30
Acerca desse cenário e à luz do Código Tributário dias. No 20º dia após receber a notificação, ainda
Nacional, avalie se poderão ser divulgadas no sítio ele- não o tendo pagado (por não estar vencido o prazo
trônico, sem que haja quebra indevida de sigilo fiscal, de pagamento), precisou emitir uma certidão de quita-
informações relativas a ção de débito referente àquele tributo.
À luz do Código Tributário Nacional, a certidão de qui-
I. Representações fiscais para fins penais. tação de débitos a ser emitida deverá ser uma certidão
II. Inscrições na Dívida Ativa da Fazenda Pública.
III. Incentivo, renúncia, benefício ou imunidade de nature- a) positiva.
za tributária cujo beneficiário seja pessoa jurídica. b) negativa.
c) positiva com efeito de negativa.
Está correto o que se afirma em d) negativa com efeito de positiva.
e) negativa de dívida ativa.
a) I e II, apenas.
b) II e III, apenas. 9 GABARITO
c) I, II e III.
d) II, apenas.
e) III, apenas. 1 A

2 A
18. (FGV – 2021) Lei ordinária do Estado X, visando a
uma maior transparência na Administração Tribu- 3 D
tária, determinou que fossem divulgadas, publica-
mente, no sítio eletrônico da Secretaria Estadual de 4 E
Fazenda, as seguintes informações referentes aos
5 B
contribuintes:
6 D
I. Representações fiscais para fins penais;
II. Inscrições na Dívida Ativa da Fazenda Pública; 7 D
III. Parcelamento ou moratória. 8 E

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL NO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL


Diante desse cenário e à luz do Código Tributário 9 D
Nacional, assinale a afirmativa correta.
10 B
a) A divulgação de representações fiscais para fins 11 E
penais viola o sigilo fiscal.
b) A divulgação de inscrições na Dívida Ativa da Fazenda 12 E
Pública viola o sigilo fiscal.
c) A divulgação de parcelamento ou moratória viola o 13 E
sigilo fiscal. 14 C
d) A divulgação de representações fiscais para fins
penais e de parcelamento ou moratória viola o sigilo 15 D
fiscal.
e) As informações divulgadas não violam o sigilo fiscal. 16 B

17 C
19. (FGV – 2021) Mário está com o pagamento do IPVA
de seu automóvel atrasado referente aos últimos 3 18 E
anos. Como não tem recursos para quitar o débito
tributário de uma única vez, adere a um parcelamen- 19 D
to estadual em 12 parcelas. Ao pagar a 4ª parcela, 20 C
teve de requerer uma certidão de quitação de tributos
estaduais.
Diante desse cenário, é correto afirmar que o parcela-
mento
ANOTAÇÕES
a) extingue o crédito tributário e a certidão a ser emitida
será Positiva com Efeitos de Negativa.
b) extingue o crédito tributário e a certidão a ser emitida
será Negativa.
c) exclui o crédito tributário e a certidão a ser emitida
será Negativa.
473
ANOTAÇÕES

474
O equilíbrio pode ser estável ou instável, par-
cial ou geral. Será estável, se houver uma tendência
para que o equilíbrio original se restaure, mesmo que
haja ligeiras perturbações no preço ou na quantidade

ECONOMIA
produzida. No entanto, se uma perturbação aciden-
tal (dos preços ou das quantidades produzidas) não
gerar tais tendências, diz-se que o equilíbrio é instá-
vel. Em outros termos, quando a vertente da curva da
oferta for mais acentuada que a vertente da curva da
NOÇÕES DE ECONOMIA DO SETOR demanda, ocorrerá uma situação de equilíbrio está-
vel, em contrapartida, se a vertente da curva da oferta
PÚBLICO for menos acentuada do que a vertente da curva da
demanda, ocorrerá um equilíbrio instável.
POLÍTICAS DE COMANDO E CONTROLE:
O equilíbrio parcial se refere a dados restritos,
REGULAMENTAÇÃO1
como, por exemplo, a análise da evolução no preço de
um produto, enquanto os outros se mantêm constan-
O governo pode solucionar uma externalidade tor-
tes. Esse conceito foi estudado pelo economista Alfred
nando obrigatórios, ou proibidos, determinados tipos
Marshall. O equilíbrio geral supõe a análise de todas
de comportamentos, por exemplo, transformar em
as variáveis relevantes para o problema em estudo,
crime o ato jogar produtos químicos tóxicos nos reser-
como, por exemplo, a produção e preços de todos os
vatórios de água. Nesse caso, os custos externos para
a sociedade superam, em muito, os benefícios para o setores industriais. ‘’Esse conceito, por sua vez, foi
poluidor. Por isso, o governo institui uma política de estudado pelo economista León Walras’’ (SANDRONI,
comando e controle que proíbe totalmente esse tipo 1989, p. 105).
de ação (MANKIW, 2009, p. 201). A eficiência econômica é a relação entre o valor
comercial de um produto e o custo unitário de sua
POLÍTICA BASEADA NO MERCADO: TAXAS produção. Portanto, a eficiência econômica aumenta
CORRETIVAS E SUBSÍDIOS2 quando aumenta a relação entre o valor de um pro-
duto em relação ao seu custo unitário, mantendo-se
Em vez de regulamentar o comportamento em as qualidades que satisfaçam às normas técnicas. Um
resposta a uma externalidade, o governo pode inter- mercado competitivo é eficiente porque maximiza o
nalizar a externalidade, tributando atividades que excedente do consumidor e o excedente do produtor.
causem externalidades negativas ou, ainda, subsidian- Para examinar o conceito de eficiência econômi-
do atividades que tragam externalidades positivas. Os ca, vamos analisar, em uma economia de trocas, o
economistas costumam, como maneira de lidar com a comportamento de dois consumidores que podem
poluição, por exemplo, preferir os impostos corretivos negociar livremente entre si. (Essa análise também se
à regulamentação. Os primeiros aumentam a arreca- aplica ao comércio entre dois países). Observe o exem-
dação do governo e, também por isso, aumentam a efi- plo abaixo:
ciência econômica (cf. MANKIW, 2009, p. 202).
Suponhamos que duas mercadorias estejam no iní-
EQUILÍBRIO COMPETITIVO E EFICIÊNCIA cio alocadas de tal forma que ambos os consumido-
ECONÔMICA res possam ter um aumento de bem-estar se fizerem
trocas entre si. Isso significa que a distribuição ini-
O Conceito de Ótimo de Pareto cial das mercadorias é economicamente ineficiente.
(PINDYCK; RUBINFELD, 2006, p. 502).
O equilíbrio é uma condição hipotética do mer-
cado, na qual a oferta é igual à procura. O conceito Em uma distribuição eficiente de mercadorias,
expressa a estabilidade do sistema das forças que ninguém consegue aumentar seu próprio bem-estar
atuam na circulação e troca de mercadorias e títulos. sem reduzir o bem-estar de alguma outra pessoa.
Um sistema econômico é considerado em equilíbrio Usa-se como sinônimo, às vezes, a expressão ótimo
quando todas as variáveis permanecem imutáveis em de Pareto, “em homenagem ao economista italiano Vil-
determinado período. fredo Pareto, que desenvolveu o conceito de eficiência
Se as condições de oferta e demanda permanecem nas trocas.’’ (PINDYCK; RUBINFELD, 2006, p. 502).
inalteradas, os preços tendem, também, a permanecer
estáveis. Frequentemente, condições externas (políticas, REFERÊNCIAS
sociais) atuam sobre o equilíbrio de preços. Se os preços
sobem, os produtos permanecem estocados (ou os capi- MANKIW, G. Introdução à Economia. 5 ed. São
tais não negociados) e os preços tendem a cair. Portanto, Paulo: Cengage Learning, 2009.
somente ao preço de equilíbrio, a oferta e a demanda PINDYCK, R.; RUBINFELD, D. Microeconomia. 6
ECONOMIA

seriam iguais, na medida em que as preferências dos ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006.
compradores se adequariam às dos vendedores. SANDRONI, P. Dicionário de Economia. 2 ed. São
Paulo: Editora Nova Cultural, 1989.

1 Este tópico tem por base o tópico “Políticas de comando e controle: regulamentação”, presente em: MANKIW, G. Intro-
dução à Economia. 5 ed. São Paulo: Cengage Learning, 2009.
2 Este tópico tem por base o tópico “Política baseada no mercado 1: impostos corretivos e subsídios”, presente em: MAN-
KIW, Gregory. Introdução à Economia. 5 ed. São Paulo: Cengage Learning, 2009. 475
Enquanto a visão igualitária, explicitamente,
NOÇÕES SOBRE TEOREMAS DE requer igualdade de alocações, a visão rawlsiana
BEM-ESTAR enfatiza a igualdade (pois, de outra forma, algu-
mas pessoas estariam em situação bem pior do que
outras). A visão utilitarista, por sua vez, “tende a impli-
Em economia, frequentemente, utilizamos uma
car alguma diferença entre os membros mais ricos e os
função de bem-estar social para descrever os pesos
mais pobres de uma sociedade. Por fim, a última visão,
específicos atribuídos à utilidade de cada pessoa na
a orientada para o mercado, pode levar a uma subs-
determinação do que é socialmente desejável.
tancial desigualdade na alocação de bens e serviços.”
A função de bem-estar social utilitarista, por
(PINDYCK; RUBINFELD, 2006, p. 513).
exemplo, dá pesos iguais à utilidade de cada pessoa
Observemos, agora, os Teoremas do Bem-estar:
e, consequentemente, propõe que se deve maximizar
a utilidade total de todos os membros da sociedade.
As diferentes funções de bem-estar social podem z Primeiro Teorema do Bem-Estar: se todos fize-
ser associadas a pontos de vista específicos a respeito rem transações em um mercado competitivo,
do que seria equidade. Entretanto, há pontos de vista todas as transações mutuamente vantajosas serão
que não ponderam, explicitamente, as utilidades de realizadas, e o equilíbrio na alocação dos recursos
cada pessoa e, portanto, rejeitam que se possa cons- será economicamente eficiente.
truir uma função de bem-estar social.
Exemplo: uma visão orientada para o mercado Não é fácil obter uma alocação eficiente de merca-
argumenta que o resultado alcançado pelo processo dorias quando há muitos consumidores (e muitos pro-
de mercado é equitativo, pois recompensa os mais dutores). Esta pode ser alcançada, entretanto, se todos
capazes e os que trabalham com maior afinco. Se, por os mercados são totalmente competitivos.
exemplo, X representar a alocação do equilíbrio com- Contudo, resultados eficientes também podem
petitivo, X deve ser considerado mais equitativo do ser obtidos por outros meios, como, por exemplo,
que F, embora as mercadorias sejam alocadas menos mediante um sistema centralizado no qual o governo
igualmente. aloca todos os bens e serviços. Geralmente, prefere-se
Quando mais de duas pessoas estão envolvidas, o a solução competitiva, porque ela aloca os recursos
significado da palavra equidade se torna ainda mais com um mínimo de informações.
complexo. A visão rawlsiana imagina um mundo no
qual os indivíduos não sabem qual será sua fortuna. À Todos os consumidores devem conhecer suas próprias
preferências e os preços que têm diante de si, mas não
vista disso, Rawls argumenta que, diante de um mun-
necessitam saber o que está sendo produzido, ou quais
do em que não sabemos qual será nosso próprio “des-
são as demandas dos demais consumidores. Outros
tino”, optaríamos por um sistema que assegurasse um métodos de alocação requerem maiores informações
tratamento razoável para o indivíduo de menor poder e, por isso, tornam-se demasiadamente difíceis e custo-
aquisitivo da sociedade. sos para serem administrados (PINDYCK; RUBINFELD,
Assim, de acordo com Rawls, a alocação mais 2006, p. 511).
equitativa maximiza a utilidade do indivíduo de
menor poder aquisitivo da sociedade. A perspectiva z Segundo Teorema do Bem-Estar: a redistribui-
rawlsiana pode ser igualitária, envolvendo o mesmo ção não precisa entrar em conflito com a eficiência
nível de alocação de mercadorias entre todos os mem- econômica.
bros da sociedade, mas isso não é regra. Observe:
Suponhamos que, ao recompensar mais as pessoas Esse teorema nos diz que qualquer equilíbrio tido
mais produtivas, fosse possível conseguir que elas traba- como equitativo pode ser alcançado por meio de uma
lhassem com maior afinco. Isso poderia resultar na pro- possível distribuição de recursos entre os indivíduos.
dução de um número maior de bens e serviços, alguns Além disso, o mesmo nos informa, também, que tal dis-
dos quais poderiam ser realocados para melhorar o tribuição não gerará, necessariamente, ineficiências.
bem-estar dos membros mais pobres da sociedade. Infelizmente, todos os programas que redistribuem
Na tabela a seguir, são apresentadas as quatro renda na sociedade são dispendiosos. Impostos podem
visões sobre equidade, de forma decrescente no que estimular as pessoas a trabalhar menos, ou, então, fazer
diz respeito à igualdade3: com que as empresas invistam recursos para evitar
pagar impostos, em vez de investi-los na produção.
QUATRO VISÕES DE EQUIDADE Portanto, em termos práticos, há escolhas que se
excluem entre os objetivos de equidade e de eficiência,
Igualitária — todos os membros da sociedade rece- de tal modo que se enfrentam opções difíceis. Por fim,
bem iguais quantidades de mercadorias
A economia do bem-estar, que se baseia no primei-
Rawlsiana — maximiza a utilidade da pessoa de me- ro e no segundo teoremas, proporciona uma estrutura
nor posse útil para debater questões normativas que envolvem
aspectos de equidade-eficiência no que tange à políti-
Utilitária — maximiza a utilidade total de todos os
ca pública (PINDYCK; RUBINFELD, 2006, p. 511).
membros da sociedade

Orientada para o mercado — o resultado alcançado REFERÊNCIAS


pelo mercado é considerado o mais equitativo
PINDYCK, R.; RUBINFELD, D. Microeconomia. 6
ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006.

476 3 PINDYCK, R.; RUBINFELD, D. Microeconomia. 6 ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006.
Pv é o preço líquido que os vendedores recebem após
INCIDÊNCIA DE IMPOSTOS E a incidência do imposto. Observe que Pc-Pv=t, o que
SUBSÍDIOS deixa o governo satisfeito.
De que maneira poderemos determinar qual será a
INCIDÊNCIA DE IMPOSTOS4 quantidade no mercado após esse imposto entrar em vigor?
Que parcela dessa carga fiscal recairá, respectivamente,
O que ocorreria com o preço de um produto se o sobre compradores e vendedores? Em primeiro lugar,
governo criasse um imposto de 1 real por unidade ven- lembre-se de que o que interessa aos compradores é o pre-
dida? Muitas pessoas poderiam responder que seu pre- ço que deverão pagar: Pc. A quantidade que será adquirida
ço aumentaria em 1 real, com os consumidores tendo de pelos consumidores é dada pela curva da demanda. Assim,
pagar por unidade 1 real a mais do que pagariam caso trata-se da quantidade que podemos observar a partir da
não houvesse imposto. Mas essa resposta estaria errada. curva da demanda que corresponde ao preço Pc. Do mes-
Considere a seguinte questão. O governo deseja criar mo modo, o que importa aos vendedores é o preço líquido
um imposto sobre a gasolina, cobrado à base de 50 centa- que receberão, Pv. Com base em Pv, a quantidade que pro-
vos por galão, e está estudando duas possíveis alternati- duzirão e venderão pode ser obtida a partir da curva da
vas de cobrança desse imposto. De acordo com o método oferta. Por fim, sabemos que a quantidade é comprada e
1, o proprietário de cada posto de gasolina depositaria vendida. A solução, portanto, é descobrir a quantidade que
o valor correspondente ao imposto (50 centavos vezes corresponde ao preço Pc, conforme a curva da demanda,
o número de galões vendidos) em uma caixa trancada, e ao preço Pv, conforme a curva da oferta, de tal modo que
a ser posteriormente coletado por um agente do gover- a diferença Pc-Pv seja igual ao imposto t. Na figura abaixo
no. De acordo com o método 2, o comprador pagaria o essa quantidade é representada por Q1.
imposto (50 centavos vezes o número de galões adqui- Sobre quem estará recaindo a carga fiscal? Na figura,
ridos) diretamente ao governo. Qual dos dois métodos essa carga é compartilhada aproximadamente em partes
apresentaria maior custo para os compradores? Mui- iguais por compradores e vendedores. O preço de merca-
tas pessoas poderiam responder que seria o método 2, do (preço a ser pago pelos compradores) apresenta uma
entretanto essa resposta também estaria errada. elevação aproximadamente igual à metade do valor do
A carga fiscal (ou o benefício do subsídio) recai imposto, e o preço que os vendedores recebem apresenta
parcialmente sobre o consumidor e parcialmente uma redução aproximadamente igual à metade do valor
sobre o produtor. Além disso, na realidade, não faz a do imposto.
menor diferença quem coloca o dinheiro na caixa (ou
envia o cheque para o governo), pois os métodos 1 e 2 Preço
custam ao consumidor a mesma quantia. Como pode-
remos ver, a parcela de um imposto que recai sobre
S
os consumidores dependerá do formato das curvas
de demanda e da oferta e, em particular, das elasti-
cidades da oferta e da demanda. Quanto à primeira
questão, um imposto de 1 real sobre um produto real-
mente faria com que seu preço aumentasse. Entre-
tanto, tal aumento seria, geralmente, inferior a 1 real. Pc
Para compreender isso, vamos utilizar as curvas da
A
oferta e da demanda para visualizar de que maneira P0 t B
os consumidores e os produtores são afetados quando D C
é criado um imposto sobre determinado produto, e o
Pv
que ocorre com seu preço e sua quantidade.
Para simplificar, vamos considerar um imposto
específico - isto é, uma determinada quantia cobrada
por unidade vendida. Esse tipo de imposto é diferen-
te do imposto ad valorem (que é proporcional ao valor
do produto), como é o caso do imposto estadual sobre
vendas (a análise do problema para um imposto ad D
valorem é aproximadamente igual e leva aos mesmos
resultados em termos qualitativos). Entre os exemplos Q1 Q0 Quantidade
de impostos específicos se incluem os impostos federais
e estaduais que incidem sobre a gasolina e os cigarros. Fonte: PINDYCK, R.; RUBINFELD, D. Microeconomia. 6 ed. São Paulo:
Suponhamos que o governo criasse um imposto de Pearson Prentice Hall, 2006.
t centavos por unidade de produto. Presumindo que
todos cumpram a lei, o governo deverá então passar Pc é o preço (incluindo o imposto) pago pelos com-
a receber t centavos para cada bem desse tipo ven- pradores. Pv é o preço que os vendedores recebem
dido. Isso significa que o preço a ser pago pelo com- menos o imposto. Aqui, a carga fiscal é repartida entre
ECONOMIA

prador deverá exceder em t centavos o preço líquido compradores e vendedores. Os compradores perdem
recebido pelo vendedor. A figura abaixo ilustra essa A+B e os vendedores perdem D+C, enquanto o gover-
simples relação contábil - assim como suas implica- no arrecada A+D. O peso morto é B+C.
ções. Nela, P0 e Q0 representam, respectivamente, o Como é demonstrado na figura, o equilíbrio de
preço e a quantidade de mercado antes da incidência mercado exige que quatro condições sejam satisfeitas
do imposto. Pc é o preço que os compradores pagam e após a implementação do imposto:
4 Este tópico tem por base o capítulo “Impacto de um imposto ou de um subsídio”, presente em: PINDYCK, R.; RUBINFELD, D. Microeconomia. 6
ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006. 477
z 1. A quantidade vendida e o preço pago pelo comprador, Pc, devem estar situados sobre a curva da demanda
(porque os consumidores estão interessados apenas no preço que terão de pagar).
z 2. A quantidade vendida e o preço (líquido) recebido pelo vendedor, Pv, devem estar situados sobre a curva da
oferta (porque os vendedores estão interessados apenas no valor líquido de imposto que receberão).
z 3. A quantidade demandada deve ser igual à quantidade ofertada (Q1 na figura).
z 4. A diferença entre o preço que o comprador paga e o preço que o vendedor recebe deve ser igual ao imposto, t.

Essas condições podem ser resumidas pelas quatro equações seguintes:

Qd=Qd (Pc)
Qs=Qs (Pv)
Qd=Qs
Pc-Pv=t

Dispondo da curva da demanda, Qd (Pc), da curva da oferta, Qs (Pv), e do valor do imposto, t, poderemos
resolver essas equações, obtendo o preço pago pelos compradores, Pc, o preço recebido pelos vendedores, Pv,
e a quantidade demandada e ofertada. A figura também demonstra que o imposto resulta em um peso morto.
Pelo fato de os compradores pagarem um preço mais elevado, ocorre uma variação de excedente do consumidor
expressa por:
Variação do Excedente Consumidor=-A-B

Como os vendedores agora estão recebendo um preço mais baixo, ocorre também uma variação do excedente
do produtor expressa por:
Variação do Excedente Produtor=-C-D

A receita fiscal do governo é tQ1, representada pela soma dos triângulos A e D. A variação total do bem-estar,
a variação do excedente consumidor mais a variação do excedente produtor mais a receita fiscal do governo, é,
portanto: -A-B-C-D+A+D=-B-C. A soma dos triângulos B e C representa o peso morto decorrente do imposto.
Na figura, a carga fiscal é compartilhada quase igualmente por compradores e vendedores, mas isso nem sem-
pre ocorre. Se a demanda for relativamente inelástica e a oferta relativamente elástica, a carga fiscal recairá qua-
se totalmente sobre os compradores. A figura (a) mostra a razão desse fato: é necessário que exista um aumento
relativamente grande no preço para reduzir a quantidade demandada, até mesmo em uma pequena proporção,
ao passo que basta uma pequena diminuição de preço para que ocorra uma redução na quantidade ofertada. Por
exemplo, pelo fato de os cigarros criarem dependência, a elasticidade de sua demanda é pequena (aproximada-
mente -0,4) e, assim, os impostos federais e estaduais que incidem sobre o cigarro recaem principalmente sobre
os compradores. A figura (b) mostra o oposto: se a demanda for relativamente elástica e a oferta relativamente
inelástica, a carga fiscal recairá principalmente sobre os vendedores.
Portanto, mesmo que tenhamos estimativas para as elasticidades de demanda e oferta apenas um ponto ou
então para uma pequena faixa de preços e quantidades, em vez de termos as curvas completas da demanda e da
oferta, ainda assim poderemos determinar aproximadamente sobre quem recairá a maior parte da carga fiscal
decorrente de determinado imposto (quer esse imposto já esteja em vigor, quer esteja apenas sendo discutido
como uma dentre as várias opções de políticas disponíveis). Em geral, um imposto recai principalmente sobre
o comprador se o valor de Ed/Es for baixo, e recai principalmente sobre o vendedor se o valor de Ed/Es for alto.
Na verdade, por meio da utilização da seguinte fórmula de “transferência”, podemos calcular a porcentagem
da carga fiscal que recai sobre os consumidores:
Transferência=Es/(Es-Ed)

Preço D Preço S

Pc

t S
P0 Pc
Pv P0
D
t

Pv

Q1 Q0 Quantidade Q1 Q0 Quantidade
(a) (b)

Fonte: PINDYCK, R.; RUBINFELD, D. Microeconomia. 6 ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006.

478
(a) Se a demanda for muito inelástica em relação à Um subsídio pode ser interpretado como um
oferta, a carga fiscal recairá principalmente sobre os imposto negativo. De maneira análoga ao caso do
compradores. imposto, o benefício de um subsídio é dividido entre
(b) Se a demanda for muito elástica em relação à compradores e vendedores, dependendo das elasti-
oferta, a carga fiscal incidirá principalmente sobre os cidades relativas da oferta e da demanda (PINDYCK;
vendedores. RUBINFELD, 2006, p. 278-279).
Essa fórmula nos diz qual fração do imposto é REFERÊNCIAS
transferida para os consumidores na forma de pre-
ços mais elevados. Por exemplo, quando a demanda é PINDYCK, R.; RUBINFELD, D. Microeconomia. 6
totalmente inelástica, de tal modo que Ed seja igual a ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006.
0, a fração de transferência é igual a 1, o que significa
que o imposto recai sobre os consumidores. Quando a
demanda é totalmente elástica, a fração de transferên-
BENS PÚBLICOS
cia é igual a zero, o que significa que o imposto recai
totalmente sobre os produtores. A fração de imposto
Ao se pensar nos diversos tipos de bens existen-
que recai sobre os produtores é dada por -Ed/(Es-Ed).
tes na economia, podemos agrupá-los a partir de duas
(PINDYCK; RUBINFELD, 2006, p. 275-278).
características:
INCIDÊNCIA DE SUBSÍDIOS5
z O bem é excludente? As pessoas podem ser impe-
Um subsídio pode ser analisado da mesma manei- didas de usar?
ra que o imposto — de fato, você pode pensar no sub- z O bem é rival? Uma pessoa utilizar aquele bem
sídio como um imposto negativo. Existindo subsídio, reduz a possibilidade de mais alguém utilizar?
o preço líquido recebido pelo vendedor excede o pre-
ço pago pelo comprador, e a diferença entre os dois Sendo assim, bens públicos não são nem exclu-
é igual ao valor do subsídio. Como seria de esperar, dentes nem rivais. Ou seja, as pessoas não podem ser
o efeito do subsídio sobre a quantidade produzida é impedidas de usar um bem público, e, quando uma
exatamente o oposto do efeito de um imposto, ou seja, pessoa utiliza esse bem, isso não reduz a possibilidade
a quantidade aumenta. A figura a seguir ilustra esse dele ser utilizado por outras pessoas sem prejuízo de
fato. Ao preço de mercado P0, anterior à implementa- nenhuma das partes. Acompanhe o seguinte exemplo:
ção do subsídio, as elasticidades da oferta e da deman-
da eram quase iguais. Consequentemente, o benefício […] uma sirene de tornado de uma pequena cidade é
do subsídio era compartilhado quase igualmente por um bem público. Quando a sirene soa, é impossível
compradores e vendedores. No caso dos impostos, isso impedir que alguém a ouça (então não é excludente).
nem sempre ocorre. Em geral, o benefício de um subs- E, quando alguém recebe o benefício do sinal de peri-
tituto recai principalmente sobre compradores se o go, isso não reduz o benefício conferido aos demais
valor Ed/Ed for baixo e recai principalmente sobre os habitantes (não é rival). (MANKIW, 2009, p. 216)
vendedores se o valor de Ed/Es for alto.
Como também ocorre no caso do imposto, se Existem muitos exemplos de bens públicos. Consi-
conhecemos a curva da oferta, a curva da demanda deraremos aqui três dos mais importantes.
e o valor do subsídio, s, poderemos resolver as equa-
ções e obter o preço e a quantidade resultantes. As z Defesa nacional: a defesa do país de agressores
mesmas quatro condições necessárias ao balancea- externos é um exemplo clássico de bem público.
mento do mercado no caso do imposto se aplicam ao Uma vez que o país está defendido, é impossível
subsídio com a seguinte distinção: a diferença entre o impedir qualquer pessoa de desfrutar o benefício
preço dos vendedores e o preço dos compradores será proporcionado às demais pessoas. Assim, a defesa
igual ao subsídio. Mais uma vez, podemos expressar nacional não é nem excludente nem rival (MAN-
tais condições algebricamente como: KIW, 2009, p. 218);
z Pesquisa de base: o conhecimento é produzido por
Qd=Qd (Pc) meio da pesquisa. Ao avaliarmos as políticas públi-
Qs=Qs (Pv) cas adequadas sobre criação de conhecimento, é
Qd=Qs importante fazer a distinção entre conhecimento
Pv-Pc=s geral e conhecimento tecnológico específico:
Preço

S „ o conhecimento tecnológico específico pode


ser considerado como a invenção de uma bate-
ria de longa duração, um microchip menor ou
Pv um aparelho de música digital de melhor qua-
P0 S lidade, que possa ser patenteado. A patente
Pc dá ao inventor o direito exclusivo ao conheci-
ECONOMIA

mento que criou por determinado período de


tempo. Qualquer pessoa que desejar usar essa
D
informação precisa pagar ao inventor pelo
Q0 Q1 Quantidade direito de uso. Em outras palavras, a patente
Fonte: PINDYCK, R.; RUBINFELD, D. Microeconomia. 6 ed. São Paulo: torna excludente o conhecimento criado pelo
Pearson Prentice Hall, 2006. inventor;
5 Este tópico tem por base o subcapítulo “Os efeitos de um subsídio”, presente em: PINDYCK, R.; RUBINFELD, D. Microeconomia. 6 ed. São Pau-
lo: Pearson Prentice Hall, 2006. 479
„ em contraste, o conhecimento geral é um Mais adiante apresentaremos um gráfico no qual
bem público. Por exemplo, um matemático não podemos ver o custo social da produção de alumínio.
pode patentear um teorema. Uma vez prova- A curva de custo social se localiza acima da curva de
do, o conhecimento não é excludente, ele entra oferta porque leva em consideração os custos exter-
para o conjunto geral de conhecimento que nos impostos à sociedade pelos produtores de alumí-
todos podem usar gratuitamente. O teorema nio. A diferença entre as duas curvas reflete o custo da
também não é rival, pois, ao usá-lo, uma pes- poluição emitida.
soa não impede que todas as outras também o Que quantidade de alumínio se deve produzir?
façam (MANKIW, 2009, p. 219); Para responder a essa pergunta, deve-se considerar
novamente o que faria um planejador social bene-
z Luta contra a pobreza: muitos programas gover- volente. O planejador quer maximizar o excedente
namentais têm por objetivo ajudar os pobres. Os total originado no mercado, o valor do alumínio para
economistas divergem entre si quanto ao papel os consumidores menos o custo de produção dele. O
que o governo deve representar na luta contra planejador entende, porém, que o custo de produção
a pobreza. Os defensores de programas contra a inclui os custos externos da poluição.
pobreza alegam que a luta contra esse problema é O nível de produção escolhido seria o que apre-
um bem público. Mesmo que todos prefiram viver senta uma curva de demanda que cruza a curva de
em uma sociedade sem pobreza, a luta contra ela custo social. Do ponto de vista da sociedade como um
não é um “bem” que ações privadas fornecerão de todo, essa interseção determina a quantidade ótima
forma adequada (MANKIW, 2009, p. 219). de alumínio produzida. O nível é medido pela altura
da curva de custo social. O planejador não produz
REFERÊNCIAS mais do que esse nível porque o custo social da pro-
dução adicional de alumínio ultrapassa o valor para
MANKIW, G. Introdução à Economia. 5ª ed. São os consumidores.
Paulo: Cengage Learning, 2009.
Observe que a quantidade de equilíbrio de alumínio,
Qmercado, é maior do que a quantidade socialmen-
te ótima, Qótima. Essa ineficiência ocorre porque
EXTERNALIDADES o equilíbrio de mercado reflete apenas os custos
privados de produção. No equilíbrio do mercado, o
De acordo com Mankiw (2013), consumidor marginal atribui ao alumínio um valor
inferior ao custo social de produção. Ou seja, em
Uma externalidade surge quando uma pessoa se Qmercado, a curva de demanda está abaixo da cur-
dedica a uma ação que provoca impacto no bem- va de custo social. Com isso, reduzir a produção e o
-estar de um terceiro que não participa dessa ação, consumo de alumínio deixando-os abaixo do nível
sem pagar nem receber nenhuma compensação de equilíbrio de mercado eleva o bem-estar econô-
por esse impacto. Se o impacto sobre o terceiro é mico total. (MANKIW, 2013, p. 186).
adverso, é denominado externalidade negativa.
Se é benefício, é chamado externalidade positiva. Como pode, o planejador social, atingir o resultado
Quando há externalidades, o interesse da sociedade ótimo? Uma meio possível seria tributar os produto-
em um resultado de mercado vai além do bem-estar res de alumínio por tonelada vendida. O imposto des-
dos compradores e dos vendedores que participam locaria a curva de oferta de alumínio para cima no
do mercado; passa a incluir também o bem-estar de montante do imposto. Se o imposto refletisse o custo
terceiros que são indiretamente afetados. Como os externo da fumaça lançada na atmosfera, em sua tota-
compradores e vendedores desconsideram os efei- lidade, a nova curva de oferta coincidiria com a cur-
tos externos de suas ações quando decidem quanto
va de custo social. No novo equilíbrio de mercado, os
demandar ou ofertar, o equilíbrio de mercado não é
produtores de alumínio fariam a quantidade social-
eficiente quando há externalidades. Ou seja, o equi-
líbrio não maximiza o benefício total para a socie-
mente ótima de alumínio.
dade como um todo. (MANKIW, 2013, p. 184).
O uso de um imposto como esse é chamado inter-
nalização de uma externalidade porque dá aos
EXTERNALIDADES NEGATIVAS
compradores e vendedores de um mercado um
incentivo para que levem em conta os efeitos exter-
Usaremos como exemplo as fábricas de alumínio nos de suas ações. Essencialmente, os produtores
que emitem poluição: para cada unidade de alumínio de alumínio considerariam os custos da poluição
produzida, uma determinada quantidade de fumaça ao decidirem quanto alumínio ofertar, uma vez que
entra na atmosfera. Como a fumaça cria um risco para o imposto faria com que eles pagassem por esses
a saúde de quem respira esse ar, é uma externalidade custos externos. E, como o preço de mercado refle-
negativa. Como essa externalidade afeta a eficiência tiria esse imposto nos produtores, os consumidores
do resultado de mercado? de alumínio teriam um incentivo para usar menor
quantidade (MANKIW, 2013, p. 187).
Por causa da externalidade, o custo da produção de
alumínio para a sociedade é maior do que o custo Veja, a seguir, sobre a Poluição e Ótimo Social:
para os produtores de alumínio. Para cada unida-
de de alumínio produzida, o custo social inclui os z Na presença de uma externalidade negativa, como
custos privados para os produtores mais os custos a poluição, o custo social do bem excede seu custo
das pessoas afetadas adversamente pela poluição. privado. A quantidade ótima, Qótima, é portanto,
(MANKIW, 2013, p. 186) menor que a quantidade de equilíbrio, Qmercado.
480
Preço Custo social
do (custo privado
e custo externo)
alumínio

Oferta
Custo externo (custo
privado)

Ótimo

Equilíbrio

Qótima Qmercado Quantidade de alumínio

EXTERNALIDADES POSITIVAS

Veja o que diz Mankiw (2013) sobre o assunto:

Embora algumas atividades imponham custos a terceiros, outras geram benefícios. Considere a educação, por exem-
plo. Em grande escala, o benefício da educação é privado: o consumidor da educação se torna um trabalhador mais
produtivo e recebe grande parte do benefício na forma de salários mais altos. Além desses benefícios privados, entre-
tanto, a educação também gera externalidades positivas. Primeiro, uma população mais instruída produz eleitores
mais bem-informados, o que significa um governo melhor para todos. Segundo, tende a diminuir a taxa de crimina-
lidade e terceiro, pode encorajar o desenvolvimento e a disseminação de avanços tecnológicos, aumentando o nível
de produtividade e salários para todos. Em virtude destas três externalidades positivas, uma pessoa pode preferir
ter vizinhos bem instruídos. (MANKIW, 2013, p. 187)

A análise das externalidades positivas é semelhante à análise de externalidades negativas. A curva de deman-
da não reflete o valor do bem para a sociedade. “Como o valor social é maior que o valor privado, a curva de valor
social fica acima da curva de demanda.” (MANKIW, 2013, p. 187). A quantidade ótima encontra-se onde a curva de
valor social e a curva de oferta (que representa os custos) se interceptam. Por isso, a quantidade social ótima é
maior que a quantidade determinada pelo setor privado.

Mais uma vez, o governo pode corrigir as falhas de mercado induzindo os participantes a internalizar a externali-
dade. A resposta apropriada, no caso de externalidades positivas, é exatamente o oposto ao caso das externalidades
negativas. Para deslocarem o equilíbrio de mercado social ótimo, as externalidades positivas requerem um subsídio.
Na verdade, essa é exatamente a política que o governo adota: a educação é altamente subsidiada por meio de esco-
las públicas e bolsas concedidas pelo governo.
Resumindo: as externalidades negativas fazem com que os mercados produzam uma quantidade maior do que a
socialmente desejável. Por sua vez, as externalidades positivas fazem com que os mercados produzam uma quan-
tidade menor do que a socialmente desejável. Para solucionar esse problema, o governo pode internalizar a exter-
nalidade tributando bens que carregam externalidades negativas e subsidiando os bens que trazem externalidades
positivas (MANKIW, 2013, p. 219).

REFERÊNCIAS

MANKIW, G. Introdução à Economia. 6ª ed. São Paulo: Cengage Learning, 2013.

HORA DE PRATICAR!
1. (FGV – 2022) Dentre as características de um bem público, é possível mencionar o fato de que
ECONOMIA

a) o seu consumo reduz a quantidade disponível para outro consumidor.


b) o custo necessário para excluir seu acesso por parte de quem não possui não é impeditivo.
c) apresentam baixa rivalidade e baixo custo de exclusão.
d) é não-rival e não-excludente.
e) é sujeito à “Tragédia dos Comuns”.

481
2. (FGV – 2022) Dos exemplos a seguir, assinale o que a) será igual ao benefício privado;
não pode ser considerado bem público. b) será igual ao custo marginal privado;
c) não tem relação significativa com o custo marginal
a) O ar que respiramos. privado;
b) A defesa sobre a soberania nacional provida pelas for- d) ficará aquém do custo marginal privado;
ças armadas. e) excederá o custo marginal privado.
c) Uma estrada que acabou de ser inaugurada, sem trân-
sito e sem pedágio. 7. (FGV – 2022 ) Ao determinar o modelo regulatório
d) A educação provida pelas escolas públicas e privadas. mais adequado, uma restrição surge quando as firmas
e) Uma praça recém-inaugurada ainda sem visitas. a serem reguladas declaram custos excessivos não
observáveis pelo regulador com o objetivo de obter
3. (FGV – 2021) A produção eficiente de um bem público preços regulados maiores do que seus custos
requer que: reais, ou quando o regulador pode subestimar
os custos reais das firmas ou calcular equivoca-
a) os indivíduos paguem por tais bens de acordo com os damente a elasticidade-preço da demanda por seus
benefícios recebidos; produtos.
b) a taxa marginal de substituição de todos os indivíduos Nesse caso, o regulador está diante do(a):
seja igual;
c) os governos produzam no ponto mais baixo da curva a) desregulação, em que o regulador mantém seu contro-
de custo médio para o bem público; le pelas atividades da firma;
d) a soma das taxas marginais de substituição dos indi- b) presença de externalidades, em que o regulador deve
víduos seja igual à taxa marginal de transformação de implementar um imposto pigouviano sobre a produ-
bens públicos para bens privados; ção da firma;
e) a taxa marginal de substituição de cada indivíduo seja c) problema de perigo moral (moral hazard), em que o
igual à taxa marginal de transformação de bens públi- regulador evitaria assegurar a recuperação dos custos
cos para bens privados. e fornecer renda informacional;
d) provisão ineficiente de um bem público, em que a
4. (FGV – 2022) A existência de falhas de mercado apon- implementação prática da solução de Lindahl pelo
ta que a alocação de mercado não é eficiente no sen- regulador impede a existência de caronas;
tido de Pareto. e) problema da seleção adversa, em que o regulador pre-
Dentre os exemplos de falhas de mercado e suas cisa desenhar mecanismos para que as firmas reve-
características, não é possível apontar lem informações sobre suas estruturas de custos.

a) a assimetria de informações, quando uma das partes 8. (FGV – 2022) Dentre os possíveis papeis do governo
envolvidas na transação detém dados não observados em uma economia para promover seu desenvolvimen-
pela outra parte. to, não é possível afirmar que
b) a existência de bens públicos, visto que o setor priva-
do não poderia impedir o consumo por parte de free a) a regulação de mercados visando o abuso de poder,
riders. como ocorre em formação de cartéis.
c) externalidades negativas, quando a ação de um agen- b) a produção de bens que gerem externalidades positi-
te afeta negativamente outro agente. vas, como educação e saúde.
d) a existência de monopólio, gerando abuso de poder de c) a provisão de bens cujo custo fixo seja elevado, como
mercado e preços elevados do bem ofertado. em casos de monopólios naturais.
e) mercados com número suficientemente grande de d) a padronização de produtos, com o objetivo de reduzir
empresas, sendo que nenhuma isoladamente conse- assimetria informacional e promover o bem-estar dos
gue influenciar o preço. consumidores.
e) a interferência em preços de mercados perfeitamente
5. (FGV – 2022) A existência de externalidades justifica competitivos, visando promover acesso universal ao
a intervenção do Estado nas seguintes situações, à bem.
exceção de uma. Assinale-a.
9. (FGV – 2022) A função alocativa do governo visa a
a) regulação de monopólios naturais, como forma de evi- complementar a ação do mercado em relação à alo-
tar cobrança abusiva de preços aos consumidores. cação de recursos na economia.
b) provisão de educação pública que gera benefícios Dentre suas características, não é possível mencionar
para toda sociedade.
c) imposição de multas para desestimular a poluição de a) a provisão de bens e serviços que gerem externalidade
fábricas. positiva para a sociedade.
d) concessão de subsídios ao setor privado para estimu- b) a regulação de um mercado visando evitar o sobrepre-
lar a provisão de energia no setor rural gerando benefí- ço praticado por monopólio natural.
cios sociais. c) a oferta de bens públicos que, por sua natureza, não
e) aplicação de multas de trânsito por excesso de veloci- são ofertados pelo setor privado.
dade, como forma de reduzir o número de acidentes. d) a estatização de uma empresa privada que atua como
monopolista natural, evitando a extração de exceden-
6. (FGV – 2021) Considere uma situação caracterizada tes dos consumidores.
pela presença de uma externalidade negativa. e) a arrecadação progressiva de impostos, visando realo-
Nesse contexto, tem-se que o custo marginal social: car recursos para determinada classe social ou região.

482
10. (FGV – 2022) A aplicação de políticas econômico-finan- d) a implantação do imposto único sobre valor adiciona-
ceiras a fim de ajustar o controle da inflação, melhorar o do é um importante instrumento do federalismo fiscal
nível de emprego e promover o crescimento econômico, por aumentar a eficiência e a integração vertical e pro-
mediante instrumentos de política monetária, cambial e mover a equidade horizontal e a progressividade, con-
fiscal ou outras medidas capazes de aumentar ou dimi- tudo, dificulta a política de isenção tributária dos bens
nuir o nível da demanda agregada, é denominada função de produção por parte dos entes federativos;
e) o princípio do benefício está de acordo com as previ-
a) social. sões do modelo de Tiebout, pois a tributação propor-
b) alocativa. cional ao uso leva o governo a oferecer bens e serviços
c) igualitária. compatíveis com os tributos cobrados (“votação com
d) distributiva. os pés”), além de atender a um dos objetivos mais
e) estabilizadora. relevantes da tributação, que é a distribuição de renda.

11. (FGV – 2022) Assinale a opção que indica um objetivo 15. (FGV – 2021) Dentre as características da curva de
direto da função distributiva do Governo. Laffer, é INCORRETO afirmar que:

a) Combate de desequilíbrios sociais e regionais. a) há uma relação positiva ou negativa entre a alíquota
b) Correção dos efeitos negativos de externalidades. de impostos e a arrecadação, a depender do nível da
c) Correção de imperfeições no sistema de mercado. primeira;
d) Oferecimento de bens e serviços públicos eficientes. b) existe uma única alíquota tributária que maximiza a
e) Criação de condições para que bens privados sejam arrecadação tributária;
oferecidos no mercado pelos produtores. c) aumentos excessivos da carga tributária podem elevar
a evasão fiscal;
12. (FGV – 2022) As finanças públicas tratam da gestão d) níveis elevados da alíquota tributária podem estimular
dos recursos públicos. Por meio da política fiscal, bus- a informalidade;
ca-se uma gestão equilibrada dos recursos públicos, e) existe uma única alíquota tributária que minimiza a
de modo a contribuir para arrecadação tributária.

a) a expansão e a internacionalização. 16. (FGV – 2022) Em relação à curva de Laffer, não é pos-
b) a conformidade e a padronização. sível afirmar que
c) a estabilidade e o crescimento.
d) a governança e a responsabilidade.
a) quanto maior a alíquota tributária, maior a arrecada-
e) a transparência e a prestação de contas.
ção até o ponto ótimo.
b) a receita tributária marginal é decrescente, até o ponto
13. (FGV – 2022) A política fiscal reflete o conjunto de
de máximo arrecadação.
medidas pelas quais o Governo arrecada receitas e
c) um aumento na taxa de impostos implica em menor
realiza despesas de modo a cumprir as suas funções.
retorno de cada hora adicional de trabalho.
O fornecimento eficiente de bens e serviços públicos,
d) alíquotas tributárias acima do ponto ótimo, podem
de modo a compensar as falhas de mercado, corres-
induzir à sonegação e informalidade do trabalho.
ponde à função
e) a receita tributária será nula apenas quando a taxa de
impostos também for nula.
a) alocativa.
b) igualitária.
17. (FGV – 2022) Considere a seguinte relação entre recei-
c) estabilizadora.
d) redistributiva. ta tributária e carga tributária:
e) conservadora.

14. (FGV – 2022) Com base nos tipos de tributos e nos prin-
cípios teóricos da tributação, é correto afirmar que:

a) em uma economia inicialmente em equilíbrio eficiente


de Pareto, a implementação de um imposto específico
sobre as vendas de mercadorias causa distorção alo-
cativa e o ônus tributário é repassado integralmente Obs.: A indica o ponto máximo de arrecadação
aos consumidores, independentemente da elasticida- tributária.
de- preço da demanda; O trecho 0A é a parte crescente da curva (entre o ponto
b) a baixa participação da tributação da renda e do patri- 0 e o ponto A).
mônio e a excessiva participação dos tributos sobre O trecho A100 é a parte decrescente da curva (entre o
bens e serviços em relação à carga tributária total de ponto A e o ponto 100).
um país tendem a provocar alto grau de regressividade Considerando essas informações, a evasão tributária
do sistema tributário ao onerar a parcela da população
ECONOMIA

e a taxa de formalização do emprego igual a 100%


com menor rendimento; ocorrem respectivamente
c) em situações de desequilíbrio econômico, o imposto
de renda regressivo torna-se um importante instru-
a) no trecho 0A e no trecho A100.
mento automático de estabilização e de justiça fiscal,
b) no trecho 0100 e no ponto A.
desde que o governo consiga minimizar a defasa-
c) no trecho A100 e no ponto 0.
gem entre o recebimento da renda e o pagamento do
d) no ponto 100 e no trecho A100.
imposto, beneficiando inequivocamente a eficiência
e) no ponto A e no ponto 100.
econômica; 483
18. (FGV – 2022) Considere as seguintes nomenclaturas:
10 E
z NFSP = Necessidade de Financiamento do Setor 11 A
Público;
z cn (subscrito) = conceito nominal; 12 C
z co (subscrito) = conceito operacional;
13 A
z G = Gastos públicos não financeiros;
z T = Arrecadação não financeira; 14 B
z B = Estoque da dívida pública;
z i = taxa nominal de juros; 15 E
z r = taxa real de juros = i – π;
16 E
z π = inflação.
17 C
NFSPco é igual a
18 A
a) NFSPcn – πB.
19 D
b) G – T.
c) G – T + iB. 20 B
d) G – T + (r+ π)B.
e) Déficit Primário – NFSPcn – πB

19. (FGV – 2022) Considerando que a inflação seja nula,


se o governo apresentar déficit então ANOTAÇÕES
a) a sua poupança deve ser negativa.
b) a sua poupança supera o seu nível de investimento.
c) a soma dos juros da dívida e dos investimentos deve
ser maior do que a arrecadação.
d) a diferença entre seu investimento e sua receita tribu-
tária, adicionado de seu consumo e juros da dívida,
deve ser positiva.
e) a soma do seu consumo e investimento deve ser
maior do que a receita com impostos.

20. (FGV – 2021) Um aumento da necessidade de finan-


ciamento do setor público no conceito operacional:

a) reduz o déficit nominal, quando a inflação se mantém


constante;
b) eleva o déficit primário, quando receitas e despesas
financeiras se mantêm constantes;
c) pode decorrer de um aumento da arrecadação não
financeira, ceteris paribus;
d) pode decorrer de uma expansão da base monetária
compensada por redução da dívida pública nas mãos
do setor privado;
e) pode decorrer de uma redução dos investimentos
governamentais, mantida a poupança do governo
constante.

9 GABARITO

1 D

2 D

3 D

4 E

5 A

6 E

7 E

8 A

9 E
484
MATEMÁTICA FINANCEIRA

JUROS SIMPLES, JUROS COMPOSTOS E MONTANTE


JUROS SIMPLES

Alguns conceitos são importantes para o bom entendimento da Matemática Financeira. Assim, tem-se o con-
ceito de juros (J) que é a remuneração do capital emprestado, podendo ser entendido, de forma simplificada,
como sendo o aluguel pago pelo uso do dinheiro, ou seja, é o rendimento pelo uso do capital financeiro em um
determinado tempo a uma dada taxa. Outro conceito é o de valor presente ou capital (PV) que é qualquer valor
expresso em moeda corrente e disponível em determinada época; valor atual, valor de aquisição, valor na data
zero, valor do empréstimo, valor financiado, capital, ou seja, valor do capital inicial.
Além dos juros, temos também a taxa de juros (i) que é a razão entre os juros recebidos (ou pagos) no final
de certo período de tempo e o valor inicialmente aplicado (ou emprestado). Estas se referem sempre a uma uni-
dade de tempo (mês, semestre, ano, etc.). As taxas podem ser representadas percentualmente ou em decimal (por
exemplo: 10%=0,10). O tempo – número de períodos, quantidade de prestações, é chamado de prazo (n) e deverá
sempre estar compatível com a periodicidade da taxa de juros. Assim, n=0 é a data atual (hoje) ou início do 1º
período, já n=1 é o final do 1º período. De modo geral, o mercado trabalha com o ano comercial de 360 dias e o
ano civil de 365 dias.
O valor futuro ou montante (FV) é um valor nominal de um título, valor residual de um bem, valor do capi-
tal acrescido de seus rendimentos. Ou seja, é o valor acumulado ao final de n períodos de capitalização à taxa de
juros i. O pagamento (PMT) é o valor de cada parcela, prestação ou depósito. Normalmente é utilizado quando
trabalhamos com série de pagamentos. A data focal é a data que se considera como base de comparação para
valores referidos a datas diferentes.
O diagrama de fluxo de caixa, Figura 19, é de grande utilidade na Matemática Financeira, permitindo que se
visualize no tempo o que ocorre com o capital (PV). Fluxo de caixa são movimentos monetários que são identifi-
cados temporalmente através de um conjunto de entradas e saídas de caixa.

1000 1000 1000 1000 1000 1000 1000 1000 1000

0 1
2 3 4 5 6 7 8 9 10

2000

3000
Figura 19. Exemplo de diagrama de fluxo de caixa.

Os critérios de capitalização de juros demonstram como os juros são formados e sucessivamente incor-
porados ao capital no decorrer do tempo. São dois os regimes: simples (ou linear) e composto (ou exponencial).
Começaremos a falar do Juro simples e posteriormente do Juro Composto.
No regime de capitalização simples, os juros crescem de forma linear ao longo do tempo. Neste critério, os
juros incidem somente sobre o capital inicial (PV) da operação, não se registrando juros sobre o saldo dos juros
MATEMÁTICA FINANCEIRA

acumulados. Na utilização da capitalização simples, definimos os Juros (J) em função do valor presente (PV), da
taxa de juro (i) e prazo (n):

J = PV · i · n

O valor futuro ou montante (FV) a ser pago então é dado pela soma do valor presente com o juro no período:

FV = PV + J

Substituindo J em FV temos:

FV = PV + J = PV + PV · i · n = PV · (1 + in)
FV = PV · (1 + in)
485
No caso do regime de capitalização simples, o cál- juros no período seguinte formando um novo mon-
culo dos juros é feito apenas sobre o Principal. Neste tante (constituído do capital inicial, dos juros acumu-
caso os juros serão sempre constantes, pois são calcu- lados e dos juros sobre os juros formados em períodos
lados sobre a mesma base de cálculo (capital inicial anteriores), e assim por diante.
ou Valor Presente). Assim, não há acúmulo de juros Na utilização da capitalização composta, devemos
ao capital para o cálculo dos novos juros dos perío- utilizar a seguinte fórmula para o valor futuro:
dos seguintes, por isso, dizemos que o crescimento do
capital é linear (Figura 20). FV = PV · (1 + i)n

1
Sendo (1 + i)n o fator de capitalização e o
fator de atualização. (1 + i)n
Neste caso, note que o crescimento da capitalização
composta não é linear como na capitalização simples,
como pode ser observado na Figura 21, o crescimento
é exponencial.

Figura 20. Capitalização simples, com PV = R$2000,00 e i = 10% ao


mês, por 10 meses.

Assim, para encontrar os resultados da Figura 20,


utilizamos a fórmula do Montante (FV) anterior e
obtemos os valores mensais a serem pagos em cada
mês à taxa de juros de 10%.

PV = 2000; i = 0,10; n = {0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10}


FV = PV · (1 + in)
n = 0 → FV = 2000 · (1 + 0,1 · 0) = 2000 · 1 = 2000
n = 1 → FV = 2000 · (1 + 0,1 · 1) = 2000 · 1,1 = 2200
n = 2 → FV = 2000 · (1 + 0,1 · 2) = 2000 · 1,2 = 2400
Figura 21. Capitalização composta, com PV=R$2000,00 e i=10% ao
n = 3 → FV = 2000 · (1 + 0,1 · 3) = 2000 · 1,3 = 2600 mês, por 10 meses.
n = 4 → FV = 2000 · (1 + 0,1 · 4) = 2000 · 1,4 = 2800
Assim, para encontrar os resultados da Figura 21,
n = 5 → FV = 2000 · (1 + 0,1 · 5) = 2000 · 1,5 = 3000 utilizamos a fórmula do Montante (FV) anterior e
n = 6 → FV = 2000 · (1 + 0,1 · 6) = 2000 · 1,6 = 3200 obtemos os valores mensais a serem pagos em cada
mês à taxa de juro de 10%, com correção composta,
n = 7 → FV = 2000 · (1 + 0,1 · 7) = 2000 · 1,7 = 3400 ou seja, juro do tempo j em relação ao montante j – 1.
n = 8 → FV = 2000 · (1 + 0,1 · 8) = 2000 · 1,8 = 3600
PV = 2000; i = 0,10; n = {0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10}
n = 9 → FV = 2000 · (1 + 0,1 · 9) = 2000 · 1,9 = 3800
FV = PV · (1 + i)n
n = 10 → FV = 2000 · (1 + 0,1 · 10) = 2000 · 2 = 4000
n = 0 → FV = 2000 · (1 + 0,1)0 = 2000 · 1 = 2000
No juro simples o valor de incremento mensal n = 1 → FV = 2000 · (1 + 0,1)1 = 2000 · 1,1 = 2200
referente à taxa de juro é constante, ou seja, mês a
n = 2 → FV = 2000 · (1 + 0,1)2 = 2000 · 1,21 = 2420
mês, o valor de aumento é o mesmo, basta fazer a dife-
rença entre os montantes de um mês com o anterior, n = 3 → FV = 2000 · (1 + 0,1)3 = 2000 · 1,331 = 2662
FVj – FVj-1.
n = 4 → FV = 2000 · (1 + 0,1)4 = 2000 · 1,464 = 2928,2
O regime de capitalização simples é muito utiliza-
do por países com baixo índice de inflação. No entan- n = 5 → FV = 2000 · (1 + 0,1)5 = 2000 · 1,6105 = 3221,02
to, em países com alto índice de inflação, a exemplo do
n = 6 → FV = 2000 · (1 + 0,1)6 = 2000 · 1,7716 = 3543,122
Brasil, a sua utilização só faz sentido para curto prazo.
n = 7 → FV = 2000 · (1 + 0,1)7 = 2000 · 1,9487 = 3897,434
JUROS COMPOSTOS
n = 8 → FV = 2000 · (1 + 0,1)8 = 2000 · 2,1463 = 4287,178
O regime de juros compostos considera que os n = 9 → FV = 2000 · (1 + 0,1)9 = 2000 · 2,3579 = 4715,895
juros formados em cada período são acrescidos ao
n = 10 → FV = 2000 · (1 + 0,1)10 = 2000 · 2,5937 = 5187,485
capital formando o montante (capital mais juros) do
486 período. Este montante, por sua vez, passará a render
O regime de capitalização composta é amplamen- M = FV = PV · (1 + in)
te adotado por todo mercado financeiro e de capitais.
14000 = 12500 · (1 + 0,015n)
Sua importância é fundamental para o entendimento
de praticamente todas as operações financeiras que 14000 = 12500 + 12500 · 0,015n
são realizadas. Cabe destacar que, em comparação
14000 – 12500 = 187,5n
com o regime de capitalização simples, para o primei-
ro período de capitalização indifere a escolha de juros
1500
simples ou compostos, pois ambos os juros produzi- n= = 8 meses
dos se igualam. 187,5

MONTANTE Resposta: Letra D.

Vejamos as fórmulas para o cálculo dos montantes 3. (FCC – 2016) Uma pessoa deseja investir em um imo-
de juros simples e de juros compostos. bilizado para a sua loja e o fornecedor lhe ofereceu as
Montante para juros simples: seguintes condições:

M = FV = PV · (1 + in) z Preço à vista = R$1.800,00;


z Preço a prazo = entrada de R$300,00 e R$ 1.650,00 em
60 dias.
Montante para juros compostos:
A taxa de juros simples mensal cobrada pelo fornece-
M = FV = PV · (1 + i)n
dor, na venda a prazo foi de:
A seguir, revise seus conhecimentos com algumas
a) 5,5% a.m.
questões comentadas.
b) 4,88% a.m.
c) 4,17% a.m.
1. (FCC – 2019) Um barril, quando está 20% vazio, con-
d) 5,00% a.m.
tém 48 litros a mais do que quando está 60% cheio. A
e) 8,33% a.m.
capacidade desse barril, em litros, é:
Sabe-se que o montante (FV) é de R$1650,00 reais,
a) 240.
como empréstimo, o capital (PV) é de R$1500,00
b) 180.
reais, pois, ele pagou R$300,00 reais de entrada, o
c) 320.
prazo foi de 2 meses (n=2), assim, a taxa de juro (i)
d) 360.
é dada por:
e) 120.
M = FV = PV · (1 + in)
Deseja-se saber o volume do barril em litros, sendo
1650 = 1500 · (1 + 2i)
que quando ele está 20% vazio significa estar 80%
=100%-20%=0,8 cheio, se x é o volume do tanque 1650 = 1500 + 3000i
100% cheio, assim temos:
1650 – 1500 = 3000i
0,8x = 48 + 0,6x → 0,8x – 0,6x = 48 → 0,2x = 48
150
48 i= = 0,05 = 5,00% a.m
x= → x = 240 3000
0,2
Resposta: Letra D.
Resposta: Letra A.
4. (FCC – 2018) A Cia. Endividada tinha que liquidar uma
2. (FCC – 2019) Em uma determinada data, Henrique dívida no valor de R$ 200.000,00 em determinada
recebeu, por serviços prestados a uma empresa, o data, porém precisou negociar a prorrogação do pra-
valor de R$ 20.000,00. Gastou 37,5% dessa quantia e o zo de pagamento por não dispor de liquidez. O credor
restante aplicou a juros simples, a uma taxa de 18% ao aceitou prorrogar o pagamento por 90 dias e negociou
ano. Se no final do período de aplicação ele resgatou a remuneração com uma taxa de juros compostos de
o montante correspondente de R$ 14.000,00, significa 2% ao mês. O valor devido pela Cia. Endividada, no
MATEMÁTICA FINANCEIRA

que o período dessa aplicação foi de: final do prazo de prorrogação, foi, em reais:

a) 1 trimestre. a) 216.486,43.
b) 10 meses. b) 212.000,00.
c) 1 semestre. c) 212.241,60.
d) 8 meses. d) 208.080,00.
e) 1 ano e 2 meses. e) 216.000,00.

Sabe-se que o montante (FV) é de R$14000,00 reais, Sabe-se que o capital (PV) foi de R$200.000,00 reais,
o capital (PV) é de R$12500,00 reais, pois, se ele rece- o prazo foi de 90 dias, em meses é 3 (n=3), a taxa de
beu R$20000,00 reais e gastou 37,5%, significa que juro composto foi de 2%=0,02 ao mês, assim, o mon-
sobrou (20000 * (1-0,375) = 20000 * 0,625 = 12500), o tante (FV) é dado por:
juro de 18% ao ano, ao mês basta dividir por 12 e irá M = FV = PV · (1 + i)n
dar 1,5% ao mês, o prazo (n) é dado por: FV = 200000 · (1 + 0,02)3 487
FV = 200000 · (1,02)3 ir = 0,17
FV = 200000 · 1,06121 ir = 17%
FV = 212.241,60 Resposta: Letra C.
Perceba que a taxa real reflete, com maior preci-
5. (FCC – 2017) Um empréstimo com juros compostos são, o ganho real de um investimento, por considerar
de 1,2% ao mês corresponde a uma taxa anual de: a perda com a desvalorização causada pela inflação
do período.
a) (1,1212 − 1) × 100%.
b) (1,10212 − 1) × 100%. Efetiva
c) (1,01212 − 1) × 100%.
d) (1,001212 − 1) × 100%. A taxa de juros efetiva é aquela em que a unidade
e) (1,1001212 − 1) × 100%. de tempo é igual à unidade de tempo dos períodos de
capitalização.
Sabe-se que a taxa de juro mensal é de Veja alguns exemplos para facilitar o entendimento:
i=1,2%=1,2/100=0,012, com prazo de 1 ano temos
n=12 meses. Assim sabemos que o juro é dado por J z 4% ao mês capitalizados mensalmente;
= FV – PV e por ser composto temos também: z 2% ao bimestre capitalizados bimestralmente;
FV = PV · (1 + i)n → FV = PV · (1 + 0,012)12 → FV = PV z 5% ao ano capitalizados anualmente.
· (1,012)12
então: Perceba que, nesses exemplos, é possível simples-
J = FV – PV mente dizer 4% ao mês, 2% ao bimestre, 5% ao ano etc.
J = PV · (1,012)12 – PV Podemos conceituar a taxa efetiva, ainda, como o
J = PV · (1, 01212 –1) período de formação e incorporação dos juros ao
Assim, a taxa anual é dada por (1,01212 –1) · 100%. capital coincidente com o período em que a taxa é
Resposta: Letra C. referida.
Vale lembrar que devemos saber a diferença entre
REFERÊNCIAS a taxa efetiva e a taxa nominal para trabalharmos
dentro da matemática financeira. Veja agora alguns
DANTE, L. R. Matemática: contexto e aplicações. detalhes sobre taxas nominais.
3. ed. São Paulo: Ática, 2016. 3 v. As taxas aparentes, também chamadas de taxas
IEZZI, G. et al. Fundamentos de Matemática Ele- nominais, são aquelas divulgadas pelo mercado.
mentar. 3. ed. São Paulo: Atual, 1977. 10 v. Imagine uma propaganda sobre uma aplicação
IEZZI, G. et al. Matemática: ciência e aplicações. financeira a respeito de um CDB com prazo de aplica-
9. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. 3 v. ção de 2 anos e rendimento de 10% ao bimestre, capi-
LEONARDO, F. M. de et al. Conexões com a Mate- talizados mensalmente. Esse período corresponde à
mática. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2016. 3 v. taxa aparente ou nominal. Note que se trata de uma
PAIVA, M. R. Matemática. 2. ed. São Paulo: Moder- taxa de juros em que a unidade de tempo da taxa (ao
na, 2010. 3 v. bimestre) não é coincidente com a unidade de tempo
SOUZA, J. R. de; GARCIA, J. da S. R. #Contato Mate- do período de capitalização (mensal).
mática. 1. ed. São Paulo: FTD, 2016. 3 v.
Dica
TAXA REAL E TAXA EFETIVA
Nas fórmulas matemáticas de juros compostos,
Real não se pode utilizar a taxa nominal ou aparente.

A Taxa Real representa a remuneração do capital Cálculo da Taxa Efetiva


em unidades de poder aquisitivo, ou seja, ela repre-
senta as taxas que despontam após ser efetuado o des- Podemos calcular a taxa efetiva de juros através
conto da inflação. da fórmula:
Para calcular a taxa real, usamos a fórmula:
Te = (1+i)n – 1
(1 + ia) = (1 + ir) + (1 + ii)
Onde,
Onde,
Te = taxa efetiva
z ia = taxa aparente i = taxa nominal na mesma periodicidade
z ir = taxa real n = tempo (período)
z ii = inflação
Vamos resolver alguns exemplos sobre taxa de juros
Exemplo prático: Após 12 (doze) meses, um inves- efetiva. Atente-se aos detalhes das questões apresentadas.
tidor teve 25% de rendimento. Sabendo que, nesse
período, a inflação foi de 7%, calcule a taxa real do Exemplo 1:
investimento.
Para empréstimos a clientes comuns, uma financeira
(1 + 0,25) = (1 + ir) x (1 + 0,07) cobra taxa nominal de juros de 84% ao ano com capi-
(1 + ir) = 1,25/1,07 talização mensal. Para um empréstimo de dois meses,
488 ir = 1,17 – 1 a taxa efetiva de juros é, aproximadamente, de:
a) 14,1% TAXAS EQUIVALENTES
b) 14,3%
c) 14,5% Equivalentes
d) 14,7%
e) 14,9% Taxas Equivalentes são as taxas de juros com uni-
dades de tempo diferentes que, aplicadas sob o regi-
Sabendo que a taxa nominal é de 84% a.a., a taxa me de juros compostos por um mesmo período e a um
mensal será de: mesmo capital, produzem o mesmo montante e, por
84/12 = 7% = 0,07 consequência, o mesmo juro.
Calculando a taxa efetiva para um período de 2 Exemplo prático: Qual seria a Taxa composta
bimestral Equivalente a 6% ao mês? A Taxa mensal de
meses:
6% capitalizada por 2 meses (1 bimestre) será igual a
Te = (1+i)n – 1
que Taxa Equivalente bimestral?
Te = (1+0,07)2 – 1
Te = (1,07)2 – 1
(1 + imensal)2 = (1 + ibimestral)
Te = 1,1449 – 1 (1 + 0,06)2 = (1 + ibimestral)
Te = 0,1449  0,1449 · 100 = 14,49% = 14,5% 1,062 = 1 + ibimestral
aproximadamente. 1,1236 = 1 + ibimestral
Resposta: Letra C. ibimestral = 1,1236 − 1 → ibimestral = 0,1236 ou 12,36%

Exemplo 2: Logo, 6% ao mês é equivalente a 12,36% ao


bimestre.
O tipo de taxa em que o período de formação e incor- Diferentemente do que ocorre no Regime de Capi-
poração dos juros ao capital coincide com o período talização Simples, em Juros Compostos, as Taxas Equi-
em que a taxa é referida e o tipo de taxa corrigida pela valentes não são proporcionais.
taxa inflacionária do período da operação são denomi-
nadas, respectivamente, taxas: Proporcionais

a) Real e Inflacionária. Taxas Proporcionais são taxas de juros que apre-


b) Nominal e de inflação. sentam unidades diferentes de tempo que, quando
c) Constante e nominal. aplicadas sobre o mesmo capital, produzirão igual
d) Equivalente e real. montante em regime de juros simples.
e) Efetiva e Real. Exemplo prático: Uma taxa bimestral de 6% terá
sua Taxa de Juros mensal igual a:
Vimos na parte teórica que a taxa efetiva poder ser Pode-se realizar esse cálculo por meio de uma
regra de três simples. Vejamos:
entendida como o período de formação e incorpo-
ração dos juros ao capital coincidente com o perío-
2 meses -------- 6%
do em que a taxa é referida. Apenas sabendo dessa
1 mês ------------ x%
informação já podemos chegar ao nosso gabarito,
2x = 6
pois somente a alternativa E tem como opção a taxa x = 6/2 = 3% ao mês.
efetiva. Resposta: Letra E.
A taxa de juros, em regime de capitalização sim-
Exemplo 3: ples, comporta-se de maneira linear em relação ao
tempo. Sendo assim, para calcular a taxa proporcio-
Qual o valor aproximado de uma taxa efetiva anual nal, basta fazer uma simples regra de três.
equivalente a uma taxa nominal de 40% ao ano, capita- Perceba que, nesse regime, a Taxa Equivalente é
lizada trimestralmente? igual à Taxa Proporcional.

a) 4%.
b) 22%.
c) 36%. CAPITAIS EQUIVALENTES —
MATEMÁTICA FINANCEIRA

d) 46%.
e) 64%
CAPITALIZAÇÃO CONTÍNUA
CAPITAIS EQUIVALENTES EM JUROS SIMPLES
Primeiro, vamos encontrar a taxa trimestral
1 ano = 4 trimestres
No dia a dia, é comum precisarmos antecipar, ou
40/4 = 10% a.t
prorrogar, títulos e obrigações. Além disso, é comum,
Agora, vamos calcular a taxa efetiva: também, que precisemos substituir um título por
Te = (1+i)n – 1 outro, ou por vários. Além disso, pode acontecer, tam-
Te = (1+0,10)4 – 1 bém, de querermos substituir vários títulos por ape-
Te = (1,10)4 – 1 nas um. Esses procedimentos podem ser calculados a
Te = 1,4641 – 1 partir de determinada taxa de juros, de maneira que
Te = 0,4641  0,4641 · 100 = 46,41% = 46%. o resultado atenda todas às partes envolvidas, isto é,
Resposta: Letra D. o devedor e o credor. Entretanto, para tal, precisamos
conhecer o conceito de Data Focal. 489
Por Data Focal se entende a data considerada base de comparação dos valores referidos a datas diferentes, ou
seja, a data para a qual serão transportados os valores de entrada e saída de dinheiro, com o intuito de avaliação.
Esta também pode ser nomeada “data de avaliação” ou “data de referência”. Diante do exposto, vamos à Equiva-
lência de Capitais.

Capitais Equivalentes

Dois, ou mais, capitais serão equivalentes se, resgatados em datas distintas e levados para determinada data
focal, à mesma taxa de juros, resultarem em valores iguais.
Consideremos os seguintes capitais cujos valores e respectivas datas de resgate estão a seguir representados:

Equivalência de Capitais em Juros Simples

C4
C3
C2
Data Focal
C1

—1 0 1 2 3 4 5
1 — (—1) = 2 3—1=2

4—1=3

5—1=4

Figura 4: Livro: Matemática financeira para concurso. Penido, Eduardo. São Paulo: Atlas, 2007. Pág.51.

No regime de juros simples, e considerando a taxa de juros i, estes capitais serão equivalentes na data focal 1
se:

C2 C3 C4
C1 · (1 + i · 2) = = = =
1+i·2 1+ i·3 1+i·4
Note que não há novas fórmulas:

z Quando o capital se referir a uma data anterior à data focal, ele será capitalizado, utilizando a fórmula para
cálculo do montante em juros simples;
z Quando o capital se referir a uma data posterior à data focal, ele será atualizado (ou descontado), utilizando a
fórmula para cálculo do valor atual no desconto racional simples (a ser visto mais à frente).

Realize o exercício a seguir para verificar sua compreensão do conteúdo:

1. (VUNESP — 2021) Um produto à vista custa R$ 31.824,00. Esse produto pode ser parcelado em duas vezes, sendo uma
parcela no ato e a outra três meses depois. O valor da segunda parcela é igual ao saldo devedor acrescido de 4%. Esse
produto foi vendido em duas vezes de maneira que as duas parcelas tivessem o mesmo valor. O valor de cada parcela
foi

a) R$ 15.912,00.
b) R$ 15.972,00.
c) R$ 16.048,00.
d) R$ 16.224,00.
e) R$ 16.548,00.

Note que, embora o enunciado mencione um número de meses decorridos após o primeiro pagamento, não há
nenhuma referência a uma taxa de juros. Não precisamos, portanto, considerar o valor do dinheiro no tempo
além do que o enunciado já nos traz.
Chamando de P o valor de cada parcela, temos que (31.824—P) corresponde ao saldo devedor após o pagamento
da primeira parcela. Como a segunda é igual a essa quantia acrescida de 4%, temos:

P = 1,04 · (31.824 — P)
P = 33.096,96 — 1,04P
(1 + 1,04) P = 33.096,96

490
33.096, 96 cálculo de um título de crédito do mesmo: o desconto
P=
2, 04 racional e o desconto comercial. Vejamos a seguir:
P = 16.224
Desconto Racional Simples (Por Dentro)
Assim, cada parcela é igual a R$ 16.224,00.
Resposta: Letra D. Tratando-se de operações de desconto racional
simples, a relação entre o valor nominal (N), o valor
atual (A), a taxa de desconto (D) e o prazo de antecipa-
ção do resgate do título (T) é dada por:
DESCONTOS: SIMPLES E COMPOSTO
N = A · (1 + d · t)
DESCONTO RACIONAL E DESCONTO COMERCIAL
Observe que essa fórmula é semelhante à do Mon-
No mercado financeiro, a realização de negó- tante em Juros Simples (M = C · (1 + in)). Ora, basta
cios, baseada em um valor futuro predeterminado, é substituir o montante pelo valor nominal (N), o capital
comum. Esse é o caso, por exemplo, das notas promis- pelo valor atual (A), a taxa de juros pela taxa de des-
sórias, dos cheques pré-datados, das letras de câmbio conto (D) e tempo (N) pelo tempo (T).
e de outros títulos. Tradicionalmente, nos cálculos de desconto, par-
Nesses casos, se o aplicador necessitar do capital timos do valor nominal do título, já conhecido, para,
antes do vencimento do prazo da aplicação, ou do título, então, chegarmos ao valor atual (descontado).
o mesmo deve antecipar o prazo e analisar os efeitos dos Logo, valem as duas formas:
juros. A essas operações, dá-se o nome de descontos.
Inicialmente, vejamos alguns conceitos fundamentais: N = A · (1 + d · t)
N
A=
Valor Nominal – N ou VF 1+ d ·t
Vamos usar a letra t para designar o prazo de ante-
Por Valor Nominal N, também conhecido como
cipação de resgate do título, no lugar de n, na fórmula,
Valor Futuro, entende-se o valor ‘’de face’’ de um
para não confundir com o valor N referente ao Valor
título, ou compromisso, cujo vencimento encontra-se
Nominal.
numa data futura (valor futuro determinado).
Em questões de prova, se o problema pedir o valor
Observação: o Valor Nominal é análogo ao Mon-
do desconto D, basta aplicar a definição D = N – A
tante M.
(válida para todos os descontos).
Substituindo o valor de A na definição de desconto,
Valor Atual – V, A ou VP
obtém-se o desconto racional simples em função de N:
Como Dd = N – A ⇒
O Valor Anual A, análogo ao Capital C, por sua
vez, é o valor, anterior à data do vencimento, de um N
título ou compromisso. De outra forma, é o valor DD = N —
1+d·t
nominal descontado. Ainda, pode-se dizer que é o
valor do título na data de operação do desconto. Deixando tudo com o denominador 1 + d · t, temos
Lembre-se: o Valor Atual também é conhecido a fórmula do desconto comercial simples, ou desconto
como Valor Presente, Valor Líquido ou Valor Descon- “por dentro”:
tado do Título.
N ·d·t
DD = N —
Desconto – D 1+d·t
A taxa de juros no desconto racional simples é a
O Desconto, no que lhe concerne, é o valor deduzi-
taxa efetiva ief da operação, pois é aplicada sobre o
do do título, ou compromisso, a partir da antecipação
valor atual para se chegar ao valor nominal.
do seu vencimento. Com outras palavras, o desconto é
Vejamos como essa questão aparece em provas:
a diferença entre o valor nominal N e o valor atual
(descontado) A de um título saldado antes do seu
1. (FGV — 2021) Um título de crédito cujo valor de face
vencimento. Observe:
era R$ 53.280,00 foi descontado 4 meses antes do seu
MATEMÁTICA FINANCEIRA

vencimento, segundo as regras do desconto racional,


D=N–A
à taxa simples de desconto de 2,75% ao mês.
Ou seja:
O valor descontado desse título foi:
D = VF – VP
a) R$ 5.280,00;
b) R$ 5.860,80;
Atenção: Note que o DESCONTO é análogo ao JURO J .
c) R$ 6.850,00;
d) R$ 47.419,20;
DESCONTO SIMPLES
e) R$ 48.000,00.
O Desconto Simples, também conhecido como des-
Questão que trata do desconto racional simples
conto ‘’por dentro’’, corresponde ao regime de Juros Sim-
(desconto por dentro). Ele é equivalente ao juro que
ples. Além disso, existem duas formas principais para o
491
um capital produziria se aplicado na mesma taxa e a) 7,2
no mesmo tempo do desconto! b) 6,0
Logo, dizer que o valor de face do título ou valor c) 10,8
nominal é igual a R$ 53.280,00 é o mesmo que dizer d) 9,6
que no dia do vencimento, esse título valerá N = R$ e) 7,5
53.280,00. E, perguntar qual é o valor descontado,
é o mesmo que perguntar o valor atual, ou seja, o O valor do desconto comercial simples (por fora) é
valor do título no dia do desconto. calculado da seguinte forma:
Agora, para sabermos qual é o valor descontado (A)
desse título, devemos utilizar a seguinte fórmula: DF = N · d · t

N Agora, como o valor nominal (valor no vencimen-


A=
1+ d ·t to) da duplicata era N=R$ 20.000,00 e, pelo desconto
antecipado, a empresa recebeu R$ 19.520,00, então
Onde, d = taxa de desconto (sempre em decimais) o valor do desconto foi DF = 20.000 — 19.520 = 480.
Substituindo os valores, teremos:
2, 75
2,75 % = = 0,0275;
100
480 = 20.000 · d · 3
t = 4 é o período de antecipação 480
d=
60.000
53.280
A= d = 0,008
1 + 0, 275 · 4
53.280 Multiplicando-se um decimal por 100%, teremos o
A=
1 + 0, 11 seu valor em porcentagem! Então:
53.280
A= d = 0,008 · 100%
1, 11
d = 0,8% a.m.
A = 48.000
Como o desconto é simples, a taxa anual desse des-
Resposta: Letra E. conto será:

Desconto Comercial Simples (Por Fora) da = dm · 12


da = 0,8% · 12
O desconto comercial simples DF, também conhe-
cido como desconto simples “por fora”, é obtido mul- da = 9,6% a.a.
tiplicando-se o valor nominal pela taxa de desconto
e pelo prazo entre o vencimento do título e a data de Resposta: Letra D.
antecipação, dentro do regime de juros simples.
Logo, a fórmula é, por definição: 2. (VUNESP — 2019) Um empresário possui 4 duplica-
tas, vencíveis em 30, 60, 90 e 120 dias, nos valores
DF = N · d · t de R$ 10.000,00, R$ 15.000,00, R$ 20.0000,00 e R$
20.000,00, respectivamente. Ele pretende receber
A partir da definição D = N - A (válida para todos antecipadamente esses quatro valores pagando a
os descontos), obtemos o valor atual ou descontado: taxa de desconto comercial de 5% ao mês. O Banco
A = N — DF propõe a troca desses quatro títulos por um único títu-
Como: lo no valor de R$ 64.000,00 a vencer em certo prazo
n. Então, para que seja indiferente ao empresário, ou
A = N — DF → A = N — (N · d · t) seja, para que haja equivalência de capitais, à taxa
de desconto comercial de 5% ao mês, este prazo n,
A = N · (1 — d ·t)
deverá ser de, aproximadamente e arredondado para
número inteiro:
Importante! a) 55 dias.
A taxa de juros d, no desconto comercial sim- b) 50 dias.
ples, não é a taxa efetiva da operação, pois é c) 65 dias.
aplicada sobre o valor nominal. d) 75 dias.
e) 35 dias.

Vejamos como isso pode aparecer nas provas. Como a questão não mencionou o regime a ser abor-
dado nos cálculos, vamos resolver sob o desconto
1. (FCC— 2021) Uma empresa desconta uma duplica- comercial simples.
ta em um banco 3 meses antes de seu vencimento, No desconto comercial simples, temos a relação:
recebendo na data do desconto o valor total de R$
19.520,00. Sabendo-se que utilizou a operação de A = N · (1 — d · t)
desconto comercial simples e que o valor nominal da
duplicata é de R$ 20.000,00, tem-se que a taxa anual Para taxa de 5% ao mês e duplicatas vencíveis
de desconto foi, em porcentagem, em 30, 60, 90 e 120 dias (t = 1, 2, 3 e 4 meses), nos
492
valores respectivos de R$ 10.000,00, R$ 15.000,00, z Valor Descontado (vale para todos):
R$ 20.0000,00 e R$ 20.000,00, teremos:
D=N–A
A1 = 10.000 (1-0,05×1) = 9.500 D = VF – VP
A2 = 15.000 (1-0,05×2) = 13.500
A3 = 20.000 (1-0,05×3) = 17.000 z Desconto Comercial Simples (por fora): DF:
A4 = 20.000 (1-0,05×4) = 16.000
DF = N · d · t
Somando os valores presentes dos quatro títulos,
A = N · (1 — d · t)
temos um total de R$ 56.000,00. Logo, o valor do
Atenção: A taxa de juros d no desconto comer-
desconto foi de R$ 8.000,00.
cial simples não é a taxa efetiva da operação, pois é
Para que houvesse equivalência de capitais entre
aplicada sobre o valor nominal.
esses valores e o título de R$ 64.000,00 vencível após
um prazo de t meses, teríamos que usa agora a rela-
ção de desconto racional por fora: DF = N · d · t: z Relação entre os descontos por dentro e por fora:

DF = N · d · t DF = DD · (1 + d · t)

8.000 = 64.000 · 0,5 · t z Na qual:


8.000
t= = 2,5 meses „ N ou VF: Valor Nominal;
32.000
t = 75 dias „ V, A ou VP: Valor atual ou Valor Descontado;
„ d: taxa de desconto;
„ t: prazo de antecipação de resgate do título;
Reposta: Letra D.
„ Desconto por dentro;
„ Desconto por fora;
Considerações Adicionais „ D: valor do Desconto.

Para não esquecer: Considerações sobre as Taxas

z Em descontos comerciais, utiliza-se, como base de z Taxa Efetiva da Operação (Regime Simples)
cálculo, o valor nominal, isto é, o valor que está
por fora do título, o valor de face; „ corresponde à taxa de juros simples;
z O desconto comercial também é conhecido como „ corresponde também à taxa do desconto racional
desconto bancário, por ser típico de operações simples.
efetuadas pelos bancos;
z O desconto racional usa, como base de cálculo, Quanto ao desconto comercial, a taxa nele presen-
o valor atual, que não se encontra explícito no te não é igual à taxa efetiva. Desse modo, o que as
documento, mas por dentro de seu valor nominal. questões de prova irão fazer? Elas darão uma opera-
ção de desconto comercial simples, e perguntarão a
A fórmula abaixo, quando aplicada a mesma taxa taxa efetiva da operação.
de desconto (D), relaciona o desconto por fora com o
por dentro, observe: Ex.: Um título no valor de R$ 1.000,00 é desconta-
do dois meses antes de seu vencimento, segundo uma
DF = DD · (1 + d · t) taxa de desconto comercial simples de 10% ao mês.
Calcule a taxa efetiva da operação.
Dica
Resolução: No desconto comercial simples, temos:
Se, na questão da sua prova, não for mencionado
que o desconto a ser aplicado é racional, utilize o DF = N · dF · t
desconto comercial/bancário/por fora.
Onde DF é o desconto comercial “por fora”, “N” é o
Encontram-se, abaixo resumidas, as fórmulas de valor nominal, dF é a taxa de desconto comercial e “t”
Desconto Simples: é o número de períodos.
MATEMÁTICA FINANCEIRA

z Desconto Racional Simples (por dentro): DD: DF = 1.000 · 0,1 · 2 = 200

N = A · (1 + d · t) O valor atual (A) será igual a (partindo da fórmula


N do valor descontado):
A=
1+d·t
D=N—A
z Desconto Racional Simples em função de N:
A=N—D
N·d·t A = 1.000 — 200 = 800
DD =
1+d·t
Observação: A taxa de juros no desconto racional Como a taxa aplicada no desconto comercial não cor-
simples é a taxa efetiva da operação, pois é aplicada responde à taxa efetiva, então precisamos calculá-la.
sobre o valor atual para se chegar ao valor nominal. 493
Assim, uma das formas de resolver é trabalhar com uma operação de juros simples. A taxa efetiva é aquela
que incide sobre um capital igual ao valor atual (R$ 800,00) e produz um montante igual ao valor nominal (R$
1.000,00). Assim:
M = C · (1 + ief · t)
1.000 = 800 · (1 + 2 · ief)
1.000
= (1 + 2 ·ief)
800
1,25 = 1 + 2 · ief
2 · ief = 1,25 — 1
2 · ief = 0,25
0, 25
ief =
2
ief = 0,125
ief = 12,5% a.m.

Enfim, note que a taxa efetiva de desconto ief = 12,5% a.m. é maior que a taxa de desconto comercial simples
de 10% ao mês dada no enunciado do exemplo.
A taxa efetiva é aquela praticada na operação de desconto racional simples. Também é aquela praticada na
operação de juros simples

1. (FGV — 2022) João contraiu um empréstimo de R$10.000,00 a uma taxa de juros de 2% ao mês sobre o saldo devedor.
Ele pretende pagar R$5.000,00 ao final do primeiro mês e quitar a dívida ao final do segundo mês.

Assim, ele terá de pagar, ao final do segundo mês, a quantia de

a) R$5.304,00.
b) R$5.352,00.
c) R$5.408,00.
d) R$5.422,00.
e) R$5.452,00.

O empréstimo contraído foi de R$ 10 mil. Ao final do primeiro mês, calculamos 2% sobre o valor do empréstimo,
e teremos o seguinte saldo devedor:
1,02 · 10.000 = 10.200 reais;

Subtraindo o pagamento de R$ 5 mil, restarão R$ 5.200,00. Por fim, calculamos novamente 2% sobre essa quan-
tia. O resultado será o saldo devedor ao final do segundo mês:
1,02 · 5.200 = 5.304 reais

Reposta: Letra A.

DESCONTO COMPOSTO

O autor Penido, em seu livro ‘’Matemática financeira para concurso’’ (2007, pág. 104) discorre que:

Em descontos compostos, as convenções adotadas são exatamente as mesmas dos descontos simples. A diferença
fundamental entre os descontos compostos e os descontos simples refere-se à forma de capitalização do desconto.

Vejamos uma figura, trazida pelo autor, em sua obra, que retrata bem as relações entre os descontos:

CONVENÇÃO EM DESCONTO

DESCONTO D VALOR
N NOMINAL

VALOR ATUAL
nº de períodos para
OU
VALOR V cálculo (NN — NY)
DESCONTADO

0 1 2 3 n—1 n
data anterior ao vencimento do
vencimento (nV) título (nN)

Figura 1: Matemática financeira para concurso. Penido, Eduardo. São Paulo: Atlas, 2007. Pág. 104.
494
z Nos Descontos Simples, não há capitalização do A taxa de juros, no desconto racional composto,
desconto para cálculo do período seguinte; é a taxa efetiva da operação, pois é aplicada sobre o
z Nos Descontos Compostos, conforme veremos a valor atual para se chegar ao valor nominal.
seguir, o desconto é capitalizado para cálculo do Agora, vejamos uma questão de prova:
período seguinte.
1. (FGV — 2021) Um título de valor nominal R$
Desconto Racional Composto (Por Dentro) 5.305,00 é descontado 3 meses antes do seu venci-
mento. Sabendo-se que foi aplicado um desconto
O Desconto Racional Composto, também conhecido racional composto com taxa de desconto de 2% ao
como Desconto Composto “por dentro”, é obtido apli- mês, o valor resgatado foi:
cando-se a taxa de desconto ao valor atual (descon-
tado) do título. Desta forma, usamos a mesma fórmula Dados: 1,023 = 1,061
para cálculo do montante em juros compostos, que é 0,983 = 0,941
apenas adaptada para as convenções de desconto:
a) R$ 4.800,00;
N = A · (1 + d)t b) R$ 4.992,00;
c) R$ 5.000,00;
Novamente, se a questão pedir o valor do descon- d) R$ 5.628,61;
to, esse é dado por D = N – A. e) R$ 5.637,62.
Você se lembra da fórmula do Montante em Juros
Compostos: Então, basta substituir o montante M pelo Quando diz que o valor nominal de um título é R$
valor nominal (N), o capital C pelo valor atual (A), a 5.305,00 quer dizer que na data do vencimento, ele
taxa de juros i pela taxa de desconto (d) e o tempo n vale, exatamente, R$ 5.305,00. Caso ele seja resgatado
pelo tempo (t). antes do vencimento, ele sofre um desconto, ou seja,
Assim, nos cálculos de desconto, normalmente ele é resgatado por uma valor menor que seu valor
partimos do valor nominal do título, que é conhecido, nominal! Nesse caso, o título foi resgatado 3 meses
para se chegar ao valor atual (descontado). antes do vencimento e foi aplicado um desconto racio-
Desta forma, temos as seguintes relações: nal composto, no resgate. Então, utilizando a fórmula
do desconto racional composto, teremos:
N = A · (1 + d)t
N
N A= t
A= (1 + d)
(1 + d) T
Substituindo os valores, teremos:
Substituindo o valor de A na definição de desconto,
obtém-se o desconto racional composto em função 5.305
de N: A= 3
(1 + , 02)
Partindo do fato de que: D = N – A, e chamando o
desconto racional composto de DRC, temos: A=
5.305
3
(1, 02)
DRC = N — A Ora, mas foi dado no enunciado que 1,023 = 1,061,
logo, é só substituir:
Substituindo o valor A, que acabamos de ver
acima: 5.305
A=
1, 061
N
DRC = N — t
A = 5.000 reais
(1 + d)
t
N (1 + d) N Resposta: Letra C.
DRC = t — t
(1 + d) (1 + d)
t Desconto Comercial Composto (Por Fora)
N · [(1 + d) —1]
DRC = t ou
(1 + d) O Desconto Comercial Composto DCC, conhecido
[(1 + d) —1
t como Desconto Composto por Fora, é obtido a partir
MATEMÁTICA FINANCEIRA

DRC = N · t da aplicação da taxa de desconto ao valor nominal,


(1 + d)
levando em consideração o prazo entre o vencimento
Substituindo o valor de N na definição de descon- do título e a data de antecipação, dentro do regime de
to, obtém-se o desconto racional composto em função juros compostos.
de A: Assim, a fórmula para obter o valor atual A no DCC é:
Partindo, novamente de D = N – A, temos: DRC = N — A
A = N · (1 — d)t
t
DRC = A · (1 + d) — A
14444244443 Percebeu algo semelhante? Note que a fórmula do
N
Deixando em função de A: valor Nominal no Desconto Comercial Simples: A = N
· (1 — d · t) é bem parecida, certo? Veja que é fácil se
DRC = A · [(1 + d)t — 1 lembrar de ambas: no desconto comercial compos-
to, t é um expoente, e no desconto comercial simples,
t é um multiplicador.
495
Novamente, partindo da definição D = N – A (váli- 1
=1—i
da para todos os descontos) e substituindo o valor 4
atual pela sua fórmula que acabamos de ver, obtemos 1
i=1—
o valor do DCC em função do valor nominal: 4
i = 0,75
DCC = N · [1 — (1 d)t]
Multiplicando-se um decimal por 100%, teremos o
A taxa de juros, no desconto comercial compos- seu valor em porcentagem. Assim:
to, não é a taxa efetiva da operação, pois é aplicada
sobre o valor nominal. i = 0,75 · 100% = 75% a.b.
Para se lembrar da relação entre os termos “por
dentro” e “por fora” e dos descontos racional e comer- Portanto, a taxa desse empréstimo corresponde a
cial, respectivamente, observe: uma taxa de desconto simples bancário (por fora)
de 75% a.b.
z O desconto comercial usa o valor nominal como Resposta: Letra B.
base de cálculo, ou seja, o valor que está “por fora”
do título, também chamado de valor “de face”; Encontram-se, abaixo resumidas, as fórmulas de
z O desconto racional usa o valor atual como base de Desconto Composto:
cálculo, valor este que não está explícito no docu-
mento, mas sim “por dentro” de seu valor nominal. z Desconto Racional Composto (por dentro):

1. (FGV — 2021) Um empréstimo, por dois meses, a juros N = A · (1 + d)t


compostos de 600% ao semestre capitalizados men- N
salmente, equivale à taxa de desconto efetuado por A= t
(1 + d)
uma operação de desconto simples bancário, ou seja,
por uma operação de desconto simples por fora, de Atenção: A taxa de juros no desconto racional
composto é a taxa efetiva da operação, pois é aplica-
a) 37,5% ao bimestre. da sobre o valor atual para se chegar ao valor nominal.
b) 75% ao bimestre.
c) 100% ao bimestre. z Desconto Racional Composto em função de N:
d) 150% ao bimestre.
t
e) 200% ao bimestre. N · [(1 + d) —1]
DRC = t
(1 + d)
Perceba que uma taxa de juros compostos de 600%
ao semestre, corresponde a uma taxa de 100% ao ou
mês, capitalizada mensalmente! t
Agora, utilizando a fórmula do montante para juros [(1 + d) —1]
DRC = N ·
compostos vamos descobrir o valor do montante (1 + d)
t

desse empréstimo após dois meses com essa taxa


z Valor Descontado (vale para todos):
mensal. Então:
D=N—A
M = C · (1 + i)t
z Desconto Comercial Composto (por fora): DF
Partindo do fato de que a taxa dada de i = 100% a.m.
= 100/100 = 1 e que o tempo do empréstimo é t = 2
meses, temos que: DCC = N · [1 — (1 — d)t

M = C · (1 + 1)2 Lembre-se: A taxa de juros no desconto comer-


cial composto não é a taxa efetiva da operação, pois
M = C · (2)2 é aplicada sobre o valor nominal.
M = 4C
z N ou VF: Valor Nominal;
z V, A ou VP: Valor atual ou Valor Descontado;
Agora, temos que aplicar um desconto que, pelo
z d: taxa de desconto;
mesmo período (2 meses) reduza esse montante (4C)
z t: prazo de antecipação de resgate do título;
para o valor inicial emprestado (C). Então, como
z DRC Desconto Racional Composto “por dentro’’;
será aplicado um desconto simples bancário (por
z DCC Desconto Comercial Composto “por fora’’;
fora), teremos:
z D: Valor do Desconto.
A = N · (1 — d · t)
REFERÊNCIAS
Agora, note que, nas alternativas, a taxa foi dada
PENIDO, E. Matemática Financeira para Concur-
ao bimestre. Como 2 meses = 1 bimestre, então t = 1.
so Público. São Paulo: Atlas, 2007.
Dessa forma, substituindo, teremos:

C = 4C · (1 — i · 1)
C
=1—i
496 4C
Analise, a seguir, uma questão de prova sobre este
AMORTIZAÇÕES assunto.

Um sistema de amortização é uma forma de pagar- 1. (CEBRASPE-CESPE — 2017) Situação hipotética: Uma
mos uma dívida. Cada sistema de amortização corres- instituição financeira emprestou a uma empresa R$
ponde a uma forma de cálculo que determinará qual o 100.000, quantia entregue no ato, sem prazo de carên-
valor (ou quais os valores) das prestações periódicas, cia, a ser paga em cinco prestações anuais iguais,
que permitirão quitar a dívida ao final do prazo do consecutivas, pelo sistema francês de amortização. A
empréstimo. taxa de juros contratada para o empréstimo foi de 10%
Em relação ao reembolso de um empréstimo ou de ao ano, e a primeira prestação deverá ser paga um ano
um financiamento, trata-se do pagamento de presta- após a tomada do empréstimo.
ções em datas predeterminadas. Estas prestações são
compostas de duas partes: Assertiva: Se o valor das prestações for de R$ 26.380,
a soma total dos juros que deverão ser pagos pela
z Amortizações: devoluções do principal empresta- empresa, incluídos nas cinco parcelas do financia-
do, isto é, a parte da prestação que está abatendo mento, é inferior a R$ 31.500.
o valor inicial tomado sem o cômputo dos juros;
z Juros: parte da prestação que remunera o “dono ( ) CERTO ( ) ERRADO
do dinheiro” pelo empréstimo, ou seja, é o que se
cobra pelo “aluguel” do dinheiro. São calculados Da mesma forma que, para cada prestação, vale a
sobre o saldo devedor do período anterior. relação: P = A + J, também podemos dizer que: soma
das prestações P = soma das amortizações A + soma
Contextualizando: Contratando-se um financia- dos juros J.
mento junto a uma instituição financeira, uma forma Se cada uma das 5 prestações teve o valor de 26.380
de quitação da dívida é estabelecida, isto é, para amor- reais, então o valor total pago foi de 5 · 26.380 =
tizar a sua dívida. Com a palavra “forma”, estamos 131.900 reais. Esta é a soma das prestações.
nos referindo ao estabelecimento de prazos, taxas de O valor total amortizado é de 100.000 reais, afinal
juros e composição das prestações. Existem diversas este era o valor da dívida. Assim:
formas, entre elas a que o pagamento pode ser rea- 131.900 = 100.000 + soma dos juros J
lizado em parcelas iguais (como ocorre ao comprar soma dos juros J = 131.900 – 100.000
uma geladeira em alguma loja específica), em pres- soma dos juros J = 31.900 reais
tações decrescentes (típico caso do financiamento de Portanto a assertiva está errada.
imóveis); ou até mesmo através de um pagamento só, Resposta: Errado.
ao final de um prazo estabelecido (comum em algu-
mas aplicações financeiras, como o CDB). Agora vamos destrinchar cada um dos sistemas de
Cada forma é um “sistema de amortização” dife- amortização, começando pelo mais cobrado: o Siste-
rente. Os principais são: o Sistema de Amortizações ma Francês de Amortização.
Constantes (SAC) e o Sistema Francês (Tabela Price).
No decorrer dos próximos tópicos veremos cada um SISTEMA FRANCÊS (TABELA PRICE)
destes sistemas em detalhe, além do sistema misto
(SAM), que une o francês e o SAC, bem como os siste-
No Sistema Francês de Amortização, todas as par-
mas de amortizações variáveis desses.
celas possuem o mesmo valor e em sequência, efetua-
Atente-se, pois, seja qual for o sistema de financia-
das a intervalos de tempo iguais.
mento, é necessário saber que cada prestação (P) a ser
Segundo Penido (2007, p. 137), para o cálculo de
paga é composta de duas partes: os juros (J) incorridos
dados baseados no Sistema Francês, temos a seguintes
no período, e a amortização (A) do saldo devedor, ou
etapas a serem calculadas:
seja:
z 1ª etapa — Carência: se houver o período de
Prestação ( P ) = Amortização ( A ) + Juros ( J )
carência, efetuar os cálculos conforme dados do
problema;
A parcela da amortização (A) é a única que efeti- z 2ª etapa — Prestações (P): pela própria definição
vamente reduz o valor da dívida, isto é, reduz o saldo do Sistema Francês, as prestações são iguais e cal-
devedor (SD). culadas pelo método das rendas certas;
Por exemplo: se temos um saldo devedor SD = 100
MATEMÁTICA FINANCEIRA

z 3ª etapa — Juros (J) e Amortizações (A): os juros


reais em um mês, e amortizamos 10 reais (A = 10), o sal- são calculados, a cada prestação, sobre o saldo
do devedor do mês seguinte será SD = 100 – 10 = 90 reais. devedor do período anterior:
Já quanto à parcela dos juros, ela serve simples-
mente para remunerar a instituição que emprestou
J = SDa · i
o dinheiro. É essencial lembrar que os juros de um
período na parcela de juros são calculados sobre o sal-
„ As amortizações são o resultado da prestação
do devedor do início daquele período.
menos os juros do período:
Exemplo: se estamos devendo SD = 100 reais, e a
taxa de juros é de 3% ao mês, então a parcela de juros A=P–J
incorrida naquele primeiro mês é de 3% multiplica-
z 4ª etapa — Saldo Devedor (SD): a cada período, é
do por 100, totalizando 3 reais. Se, no mês seguinte, o
o resultado da seguinte operação:
saldo devedor tiver se reduzido para SD = 90 reais (ou
seja, foram amortizados 10 reais), a próxima parcela
SD = SDa + J + P
de juros será de 3% · 90 = 2,70 reais, e não mais 3. 497
Fórmula para o Cálculo da Prestação Uma pessoa possui uma dívida de R$ 100.000,00
que será amortizada pelo Sistema de Amortização
Chamando de VP o preço à vista (ou valor presen- Constante – SAC, em 40 meses.
te) do seu produto, “j” a taxa de juros do financiamen- Após a quitação da 12ª parcela, a instituição credo-
to, e “n” o número de parcelas, podemos calcular o ra oferece financiar o restante da dívida utilizando
valor de cada parcela P da seguinte forma: o Sistema Francês (Price) com juros compostos de
2,5% ao mês.
j· (1 + j)
n
Agora, para calcularmos o valor da prestação no
P = VP ·
(1 + j) — 1 Sistema Francês, precisamos saber de quanto é esse
n

“restante da dívida”.
A princípio, essa fórmula é difícil de memorizar,
Como a dívida estava sendo paga pelo SAC, a amor-
por isso é importante anotá-la em um post it para con-
tização é constante e seu valor era:
sultar várias vezes ao longo do seu estudo e treino de
questões. 100.000
j· (1 + j)
n
A=
Apesar de o cálculo da fórmula: P = VP · 40
(1 + j) — 1
n
A = 2.500
ser mais complicado de resolver, podemos nos valer
de um fato que facilita muito os cálculos, chamando a Mas, como já haviam sido pagas 12 parcelas, o
j· (1 + j)
n
valor amortizado era:
parte fracionada da fórmula de fator de
(1 + j) — 1
n

recuperação de capital (FRC), podemos dizer que: V = 12 · 2.500


V = 30.000
P = VP · FRC
E, o saldo devedor, ou seja, o “restante da dívida”, a
Isso é muito útil, pois, muitas vezes a banca for- partir da 13ª parcela era:
nece uma tabela com valores de FRC para diferentes
valores da taxa de juros (j) e do número de parcelas SD = 100.000 — 30.000
(n). SD = 70.000
Em outros casos, ao invés de ser fornecido o fator
de recuperação de capital, é fornecido o “fator de Como, no Sistema Francês, o valor da Prestação é
valor atual de uma série de pagamentos iguais” (an—j), constante, temos que:
cuja fórmula é:
j· (1 + j)
n

P = VP ·
(1 + j) — 1
n
(1 + j) — 1
n
an—j
j · (1 + j)
n
onde:
Perceba que este fator é o inverso de FRC. Portan- j = Taxa de juros: i = 2,5% a.m. = 2,5/100=0,025;
to, temos que: n = Tempo n = 40 – 12 = 28 meses;
Substituindo os valores, teremos:
VP
P=
an—j 0,025 · (1 + 0,025)28
P = 70.000 ·
Vejamos outra questão. (1 + 0,025)28 — 1

1. (FGV — 2021) Uma dívida de R$100.000,00 é amorti- 70.000 · 0,025 · (1 + 0,025)28


P=
zada pelo Sistema de Amortização Constante – SAC, (1 + 0,025)28 — 1
com pagamento postecipado, juros de 24% ao ano
capitalizados mensalmente, em 40 meses. Após a qui- 70.000 · 0,025 · 2
tação da 12ª parcela, a instituição credora procura o P=
devedor e oferece financiar o restante da dívida, com 2—1
juros compostos de 2,5% ao mês a partir da 13ª parce-
la, utilizando o Sistema Francês. O cliente fica em dúvi- P = 70.000 · 0,05
da se a oferta seria vantajosa, mas o credor explica
que os valores das prestações iniciais do novo finan- P = 3.500
ciamento seriam inferiores às pactuadas no contrato
vigente. Se o devedor aceitar a proposta de financia- Como a prestação é constante, independentemente
mento do restante da dívida, a penúltima parcela a ser da parcela (primeira ou última), logo, o valor da
paga pelo Sistema Francês será de, aproximadamente, penúltima prestação é sempre o mesmo: P39 = 3.500
Resposta: Letra B.
Obs.: utilize a aproximação (1,02528 = 2).
SISTEMA DE AMORTIZAÇÃO CONSTANTE (SAC)
a) R$ 3.700,00
b) R$ 3.500,00 No Sistema de Amortização Constante (SAC),
c) R$ 2.600,00 conforme o próprio nome diz, as amortizações são
d) R$ 2.500,00 todas iguais, ou seja, a amortização é uma constante
e) R$ 1.800,00 fixa, não varia de acordo com o tempo nem a parcela
de pagamento.

498
Segundo Penido (2007, p. 145), existem três moda- a) R$ 307,00.
lidades do SAC, e em todas elas o cálculo é feito por b) R$ 347,00.
etapas da seguinte forma: c) R$ 361,00.
d) R$ 390,00.
z 1ª etapa — Carência: se houver o período de e) R$ 399,00
carência, efetuar os cálculos conforme dados do
problema; Primeiramente, vamos calcular a amortização da
z 2ª etapa — Amortizações (A): o valor de cada primeira parcela pelo sistema Price. Podemos obtê-
amortização é o resultado da divisão do valor do -la pela diferença entre a primeira prestação e os
empréstimo (E) pelo número de prestações (np): juros incidentes. Sabemos que a primeira prestação
é de R$ 534,00, que os juros são de 1% ao mês e que
E o valor total do financiamento é de R$ 24.000,00.
A= Assim, para a primeira prestação, haverá juros de
np
1% sobre o saldo devedor:
z 3ª etapa — Juros (J) e Prestações (R): os juros são
calculados, a cada prestação, sobre o saldo deve- 0,01 · 24.000,00 = 240,00
dor do período anterior:
Logo, a primeira amortização no sistema Price será
J = SDa · i dada por:

„ As prestações são o resultado da amortização 534,00 — 240,00 = 294,00


mais os juros do período: PPRICE = 294,00

P=A+J Para o sistema SAC, obtemos o valor da amortiza-


ção dividindo o valor total do financiamento pelo
„ Tanto as prestações quanto os juros são número de meses:
decrescentes;
24.000, 00
z 4ª etapa — Saldo Devedor (SD): a cada período, é = 400,00
60
o resultado da seguinte operação: PSAC = 400,00

SD = SDa + J — P Por fim, o valor da primeira amortização no siste-


ma misto será dado pela média aritmética entre as
SISTEMA DE AMORTIZAÇÃO MISTO (SAM) primeiras amortizações do Price e do SAC:

No Sistema de Amortização Misto (SAM), as presta- PPRICE + PSAC 294, 00 + 400, 00


ções correspondem à média aritmética das prestações PSAM = =
2 2
calculadas pelos sistemas Francês e SAC, nas mesmas
694
condições de financiamento. PSAM =
Assim, as prestações no Sistema Misto seriam obti- 2
das da seguinte forma: PSAM = 347,00

PPRICE + PSAC Resposta: Letra B.


PSAM =
2
Desse modo, para obter a parcela no SAM, bas- REFERÊNCIAS
ta calcular o valor de cada parcela em cada um dos
outros sistemas de amortização (Price e SAC) e depois PENIDO, E. Matemática financeira para concurso.
calcular a média aritmética simples entre eles. Por São Paulo: Atlas, 2007.
essa razão, esse sistema é chamado de misto.
Assim como a prestação no sistema misto é um
valor médio entre os sistemas SAC e Price, analoga-
mente a amortização no sistema misto também é a FLUXO DE CAIXA
média entre os dois outros sistemas.
MATEMÁTICA FINANCEIRA

Acompanhe a questão a seguir. Segundo Penido (2007, p. 163), o Fluxo de Caixa


é definido como uma sucessão de pagamentos e/ou
1. (VUNESP — 2018) Se um financiamento imobiliário no de recebimentos ao longo do tempo, representados,
valor total de R$ 24.000,00 for contratado para amor- graficamente, com as seguintes convenções:
tizações segundo o Sistema Francês ou Tabela Price
em 60 prestações mensais, com taxa efetiva de juros z O eixo horizontal representa o tempo, e deve
compostos mensais de 1% ao mês, então a primeira estar dividido em períodos de tal forma que, a par-
prestação será de R$ 534,00. Considere agora que tir do momento atual (instante “0”), o futuro estará
esse mesmo financiamento seja contratado para ser no sentido da direita;
amortizado segundo o Sistema de Amortização Misto z Os recebimentos (entradas de caixa) são repre-
– SAM (composição entre a Tabela Price e o Sistema sentados como setas perpendiculares para cima;
de Amortização Constante). Nesse caso, o valor da z Os pagamentos (saídas de caixa) são representa-
amortização que compõe a primeira prestação calcu- dos como setas perpendiculares para baixo.
lada segundo o SAM será de
499
Vejamos um exemplo que o próprio autor traz em sua obra:

Exemplo: uma empresa pretende adquirir uma máquina que custa $100.000,00, sendo que esta máquina lhe
dará um retorno anual de $ 30.000,00 nos próximos 6 anos, que é a sua vida útil. Monte o fluxo de caixa deste
investimento.

RETORNOS ANUAIS
R$ 30.000,00

0 1 2 3 4 5 6 anos

INVESTIMENTO :
R$ 100.000,00

Figura 1: Matemática financeira para concurso. Penido, Eduardo. São Paulo: Atlas, 2007. Pág. 163.

REFERÊNCIAS

PENIDO, E. Matemática financeira para concurso. São Paulo: Atlas, 2007.

VALOR ATUAL
Quando estudamos Juros Composto, a fórmula para encontrar o capital, a partir do montante, é dada por:
M = C · (1 + i)n
Deixando o Capital C em evidência:
M
C=
(1 + i) n
Ou ainda:
1
C=M·
(1 + i) n

O fator (1 + i)n é chamado de fator de acumulação de capital, de fator de juros compostos ou, ainda, de
fator de capitalização, e é representado por:
an = (1 + i)n

Esse fator é importante e pode aparecer em sua prova, conjuntamente com a tabela abaixo, na qual constam
alguns valores:
TABELA I FATOR DE ACUMULAÇÃO DE CAPITAL — an(1 + i)n

N/I 1% 2% 3% 4% 5% 6% 7% 8% 9% 10% 12% 15% 18%


1 1,010000 1,020000 1,030000 1,040000 1,050000 1,060000 1,070000 1,08000 1,09000 1,100000 1,120000 1,150000 1,180000
2 1,020100 1,040400 1,060900 1,081600 1,102500 1,102500 1,144900 1,166400 1,188100 1,210000 1,254400 1,32250 1,392400
3 1,030301 1,061208 1,092727 1,124864 1,157625 1,157625 1,225043 1,259712 1,295029 1,331000 1,404928 1,520875 1,643032
4 1,040604 1,082432 1,125508 1,169858 1,215506 1,215506 1,310796 1,360488 1,411581 1,464100 1,573519 1,749006 1,938777
5 1,051010 1,104081 1,159274 1,216652 1,276281 1,276281 1,402552 1,469329 1,538624 1,610510 1,762341 2,011357 2,287758
6 1,061520 1,126162 1,194052 1,265319 1,340095 1,340095 1,500730 1,586874 1,677100 1,771561 1,973822 2,313061 2,699554
7 1,072135 1,148685 1,229873 1,315931 1,407100 1,407100 1,605781 1,713824 1,828039 1,948717 2,210681 2,660020 3,185474
8 1,082856 1,171659 1,266770 1,368569 1,477455 1,477455 1,718186 1,850930 1,992562 2,143588 2,475963 3,059023 3,758859
9 1,093685 1,195092 1,304773 1,423311 1,551328 1,551328 1,838459 1,999004 2,171893 2,357947 2,773078 3,517876 4,435454
10 1,104622 1,218994 1,343916 1,480244 1,628894 1,628894 1,967151 2,158925 2,367363 2,593742 3,105848 4,045558 5,233835
11 1,115668 1,243374 1,384233 1,539454 1,710339 1,710339 2,104852 2,331639 2,580426 2,853116 3,478549 4,652391 6,175926
12 1,126825 1,268242 1,425760 1,601032 1,795856 1,795856 2,252191 2,518170 2,812665 3,138428 3,895975 5,350250 7,287592
13 1,138093 1,293606 1,468533 1,665073 1,885649 1,885649 2,409845 2,719623 3,065804 3,452271 4,363493 6,152787 8,599359
14 1,149474 1,319479 1,512589 1,731676 1,979931 1,979931 2,578534 2,937193 3,341727 3,797498 4,887112 7,075706 10,147244
15 1,160969 1,345868 1,557967 1,800943 2,078928 2,078928 2,759031 3,172169 3,642482 4,177248 5,473565 8,137061 11,973748
16 1,172578 1,372786 1,604706 1,872981 2,182874 2,182874 2,952164 3,425942 3,970306 4,594972 6,130393 9,354621 14,129022
17 1,184304 1,400241 1,652847 1,947900 2,292018 2,292018 3,158815 3,700018 4,327633 5,054470 6,866040 10,761264 16,672246
18 1,196147 1,428246 1,702433 2,025816 2,406619 2,406619 3,379932 3,996019 4,717120 5,559917 7,689966 12,375453 19,673251

Fonte: Aprenda Matemática


500
A função principal de uma tabela financeira é dei- Quando a questão pede o preço à vista, precisamos
xar disponíveis valores numéricos que seriam compli- calcular o Valor Atual. Fazemos isso, através da
cados de serem calculados à mão, já que contas em seguinte fórmula:
juros compostos envolvem, sempre, exponenciação. É
fácil a interpretação da tabela, basta procurarmos a VF
VP = n
linha que corresponde ao prazo e que cruza a coluna (1 + i)
da respectiva taxa de juros que buscamos. Ali, achare-
VF = Valor nominal (valor da prestação na data do
mos um determinado número, ou, mais acuradamen-
pagamento);
te, um fator.
i = Taxa de juros: 4%=4/100=0,04;
Note que a primeira célula ta tabela, no canto
n = Tempo (período de antecipação);
superior esquerdo é: n/i. Ou seja, na primeira coluna à
Agora, trazendo essas prestações a valor atual,
esquerda (1, 2, 3, 4, ..., 18) temos os respectivos perío-
vamos saber o valor à vista do televisor!
dos n.
Note que, quanto aos períodos de antecipação,
Já na primeira linha, temos as respectivas taxas
teremos:
em percentual (1%, 2%, ...18%). Mas, também, temos
• como a primeira prestação foi paga no ato da
um outro fator que é uma derivação do fator anterior:
compra→n=0;
1 1
Nós chamamos de = n o Fator De • como a segunda prestação é paga 1 mês após a
compra →n=1;
an (1 + i)
Atualização De Capital, ou de Fator De Desconto • como a terceira prestação é paga 2 meses após a
compra →n=2;
Composto. Alguns de seus valores podem ser dados
Agora, trazemos cada prestação para o seu valor
no enunciado, ou apresentados em uma tabela. atual da seguinte forma:
Podemos sintetizar, também a seguinte relação:
2.704 2.704 2.704
VP = 0 + 1 + 2
z Fator de Recuperação de Capital = 1/ fator de (1 + 0, 04) (1 + 0, 04) (1 + 0, 04)
valor atual 2.704 2.704 2.704
VP = 0 + 1 + 2
(1, 04) (1, 04) (1, 04)
Assim, tendo em vista esses fatos, podemos adap- 2.704 2.704 2.704
tar as variáveis para o nosso propósito de calcular o VP =
1 + 1, 04
+ 1, 0816
Valor Atual (ou Presente) de qualquer quantia.
Ademais, chamando o Capital C de VP (Valor Pre- VP = 2.704 + 2.600 + 2.500
sente ou Valor Atual), percebe-se que o Montante M
representa o Valor Futuro (VF). Por isso, aquele será VP = 7.804
chamado, agora, de VF. Desse modo, temos a nossa fór-
mula pronta para calcular o Valor Atual: Portanto, o valor do televisor foi de R$ 7.804,00.
Resposta: Letra E
VF
VP = n
(1 + i)
Ou ainda, TAXA INTERNA DE RETORNO — TIR
VF = VP · (1 + i)n Segundo Penido (2007, p. 167), a Taxa Interna de
Retorno (TIR) é definida como a taxa que iguala a
Assim, não importa se temos o valor atual VP e zero o VPL de um projeto de investimento. Observe a
precisamos encontrar o VF, se temos o valor futuro VF seguinte fórmula:
e precisamos encontrar o VP, ou, ainda, se queremos
encontrar a taxa i ou o nº de períodos. As duas fórmu- i=TIR→VPL=0
las acima (uma decorrente da outra) podem ser utili-
zadas em todos os casos. De outro modo, a TIR é a taxa de juros que faz com
Vejamos uma questão de prova: que o valor presente líquido seja nulo. Nesse aspecto,
quanto maior a taxa, maior a rentabilidade.
1. (FGV — 2021) Um televisor pode ser adquirido à vista Portanto, o método para cálculo da TIR é, basica-
ou por meio de 3 prestações mensais, iguais e con- mente, realizar o cálculo do VPL — Valor Presente
MATEMÁTICA FINANCEIRA

secutivas, no valor de R$ 2.704,00, sendo a primeira Líquido. A única diferença é que, nesse caso, o VPL
delas paga no ato da compra. tem que ser igual a zero.
Vejamos como esse assunto aparece em provas.
Se o vendedor cobra juros de 4% a.m. nas transações
a prazo, o valor à vista do televisor é: 1. (VUNESP — 2021) Considere os dois fluxos de caixa
abaixo correspondentes, respectivamente, a dois pro-
a) R$ 7.800,00; jetos (X e Y), mutuamente excludentes, que apresen-
b) R$ 7.801,00; tam o mesmo desembolso (D) na época 0.
c) R$ 7.802,00;
d) R$ 7.803,00;
e) R$ 7.804,00.

501
d) R$ 63,00.
ANO PROJETO X (R$) PROJETO Y (R$)
e) R$ 61,25.
0 –D –D
3. (FGV – 2021) Em 01/01/X0, uma pessoa realizou uma
1 12.100,00 0,00 aplicação com taxa de R$4% ao mês, a juros simples.
Os juros são recebidos no final do prazo, junto com
2 13.310,00 m
a aplicação. Depois de 10 meses, a aplicação tinha
rendido R$ 6.000 em juros.
A taxa interna de retorno positiva do projeto X é Assinale a opção que indica o montante total do inves-
igual a 10% ao ano. Considerando que a taxa interna timento, em 31/10/X0.
de retorno positiva do projeto Y também é igual a 10%
ao ano, está correto afirmar que o valor de m é de a) R$ 10.054.
(Dado: 1,102 = 1,21) b) R$ 12.000.
c) R$ 12.500.
a) 24.200,00. d) R$ 18.500.
b) 24.805,00. e) R$ 21.000.
c) 25.410,00.
d) 26.620,00. 4. (FGV – 2022) Um comerciante contraiu duas dívidas,
e) 27.951,00. uma no valor de R$ 10.000 com vencimento para 3
meses, e outra no valor de R$ X com vencimento de
A Taxa Interna de Retorno (TIR) é a taxa hipotéti- 5 meses. Ambas as dívidas têm juros efetivos de 5%
ca de desconto que anula o VPL do projeto. Como ao mês.
temos TIR = 10% ao ano, o fluxo do projeto X fica: Se o comerciante pagou R$ 30.500 pelas duas dívidas
4 meses após contrair as dívidas, o valor de X em reais
12.100 12.100 é
0 = —D + 1 + 2
(1 + 0, 1) (1 + 0, 1)
D = 11.000 + 11.00 = 22.000 a) 11.025.
b) 19.000.
A TIR do projeto Y também é de 10% ao ano. Assim, c) 21.000.
teremos: d) 23.000.
e) 32.025.
0 m
22.000 = 1 + 2 5. (FGV – 2021) Um título de crédito cujo valor de face
(1 + 0, 1) (1 + 0, 1)
era R$ 53.280,00 foi descontado 4 meses antes
m = 22.000 · 1,21 = 26.620 do seu vencimento, segundo as regras do descon-
to racional, à taxa simples de desconto de 2,75% ao
Resposta: Letra D. mês.
O valor descontado desse título foi:
REFERÊNCIAS
a) R$ 5.280,00;
PENIDO, E. Matemática financeira para concur- b) R$ 5.860,80;
so. São Paulo: Atlas, 2007. c) R$ 6.850,00;
d) R$ 47.419,20;
e) R$ 48.000,00.

HORA DE PRATICAR! 6. (FGV – 2022) João contraiu um empréstimo de


R$10.000,00 a uma taxa de juros de 2% ao mês sobre
1. (FGV – 2022) Marlene comprou uma mercadoria que o saldo devedor. Ele pretende pagar R$5.000,00 ao
custava R$ 400,00 e pagou em duas parcelas: R$ final do primeiro mês e quitar a dívida ao final do
200,00 no ato da compra e R$ 280,00 um mês após a segundo mês.
compra. Assim, ele terá de pagar, ao final do segundo mês, a
A taxa de juro mensal paga por Marlene foi de quantia de

a) 40%. a) R$5.304,00.
b) 30%. b) R$5.352,00.
c) 25%. c) R$5.408,00.
d) 20%. d) R$5.422,00.
e) 15%. e) R$5.452,00.

2. (FGV – 2022) Rubinho pagou com juros uma conta 7. (FGV – 2022) Um cliente de um banco fez um investi-
já vencida. O valor total pago por Rubinho foi de R$ mento inicial de R$ 5.000. Ao final de 3 anos tinha um
483,00. montante de R$ 8.640.
Sabendo que Rubinho pagou 15% de juros sobre o Sabendo que ∛1, 728 = 1, 2 e supondo que a taxa de
valor inicial da conta, o valor dos juros foi de juros utilizada pelo banco é composta e que não
se alterou ao longo do tempo, a taxa de juros anual
a) R$ 75,15. aplicada ao investimento foi de
b) R$ 72,45.
502 c) R$ 68,00.
a) 0,2%. 12. (FGV – 2021) Um empréstimo, por dois meses, a
b) 2%. juros compostos de 600% ao semestre capitalizados
c) 10%. mensalmente, equivale à taxa de desconto efetuado
d) 20%. por uma operação de desconto simples bancário, ou
e) 50%. seja, por uma operação de desconto simples por fora,
de
8. (FGV – 2021) Juliana fez uma compra no valor de R$
420,00 e pagou em duas parcelas iguais, juros incluí- a) 37,5% ao bimestre.
dos, sendo uma no ato da compra e a outra um mês b) 75% ao bimestre.
após. c) 100% ao bimestre.
A loja onde Juliana fez a compra cobra juros de 10% ao d) 150% ao bimestre.
mês sobre o saldo devedor nas compras parceladas. e) 200% ao bimestre.
O valor de cada parcela paga por Juliana foi de
13. (FGV – 2022 ) Um empréstimo será amortizado em
a) R$ 210,00. um ano com pagamentos mensais à taxa de juros
b) R$ 220,00. compostos de 48% ao ano capitalizados mensalmen-
c) R$ 231,00. te. Descontadas as tarifas bancárias, que são efetiva-
d) R$ 240,00. das no momento da contratação do empréstimo, no
e) R$ 242,00. valor de 5%, o tomador do empréstimo receberá líqui-
dos R$ 10.450,00. Sabe-se que as parcelas mensais
9. (FGV – 2022) Use o texto a seguir para responder a aumentam 2,7% ao mês e que o primeiro pagamento
questão. será realizado um mês após efetuada a operação.
Suponha que um banco concedeu um empréstimo O valor aproximado da menor parcela, em reais, é de:
de R$50.000,00 a um cliente, por um prazo de um Utilize a aproximação: (1,027)12 =1,4 e (1,04)12 = 1,6
ano, e que, ao final desse período, o cliente tenha se
comprometido a pagar R$65.000,00 pelo empréstimo. a) 879;
Suponha ainda que a inflação no período tenha sido de b) 1.144;
8%. c) 1.886;
A taxa nominal de juros desse empréstimo foi de d) 1.976;
e) 2.089.
a) 22%.
b) 25%. 14. (FGV – 2021) Uma sociedade empresária, cuja
c) 28%. taxa mínima de atratividade é 10% ao ano, preten-
d) 30%. de expandir seus negócios atuando em um novo
e) 35%. empreendimento. Após análise do projeto original,
decidiu-se por não investir no empreendimento por-
10. (FGV – 2022) Use o texto a seguir para responder a que o valor atual do fluxo de caixa restou negativo em
questão. 25,47 mil reais.
Suponha que um banco concedeu um empréstimo
de R$50.000,00 a um cliente, por um prazo de um
ano, e que, ao final desse período, o cliente tenha se
comprometido a pagar R$65.000,00 pelo empréstimo.
Suponha ainda que a inflação no período tenha sido de
8%.
A taxa real de juros desse empréstimo foi aproximada- Diante da referida constatação, foram realizadas
mente de algumas alterações no projeto, a saber: o investimen-
to inicial foi reduzido pela metade; as entradas, do
a) 10%. segundo até o último ano, foram reduzidas em 12,1
b) 13%. mil reais; e a entrada ao fim do primeiro ano permane-
c) 18%. ceu inalterada.
d) 20%. O novo fluxo do projeto está representado a seguir:
e) 25%.

11. (FGV – 2021) Um título de valor nominal R$ 5.305,00 é


MATEMÁTICA FINANCEIRA

descontado 3 meses antes do seu vencimento.


Sabendo-se que foi aplicado um desconto racional
composto com taxa de desconto de 2% ao mês, o
valor resgatado foi: O valor atual do fluxo revisado é, em mil reais, de (Utilize a
Dados: 1,023 = 1,061 aproximação: 1,1-11 = 0,35)
0,983 = 0,941
a) 3,03.
a) R$ 4.800,00; b) 12,1.
b) R$ 4.992,00; c) 18,03.
c) R$ 5.000,00; d) 28,55.
d) R$ 5.628,61; e) 71,45.
e) R$ 5.637,62.

503
15. (FGV – 2022 ) Um empréstimo de uma unidade mone- Em contrapartida, o credor exige que o devedor
tária é concedido nas seguintes condições: efetue depósitos anuais de parcelas iguais, consti-
tuindo, assim, um fundo de reserva cujo montan-
I. Juros compostos de 5% ao mês; te amortizará o principal ao final do período de 5
II. Taxa de abertura de crédito de 5% sobre o valor finan- anos. Esse fundo rende à taxa de juros compostos
ciado, sendo o pagamento no ato; de 5% ao ano, e os depósitos são efetuados conco-
III. Amortizações mensais constantes; mitantemente aos pagamentos dos juros anuais do
IV. Prazo total de 2 meses. capital emprestado. Desse modo, tanto o pagamento
dos juros quanto os depósitos do fundo de reserva são
A taxa positiva que representa o custo efetivo total postecipados.
mensal desse empréstimo é, aproximadamente, de: Diante do exposto, é possível concluir que a taxa anual
Utilize a aproximação: (2,2975)0,5 = 1,52 de juros efetivamente paga pelo devedor (i) está no
intervalo:
a) 9%; Utilize os dados aproximados a seguir. (1,05)5 = 1,28
b) 8%; Resultados de (1 (1 + i)-n) / i
c) 7%;
d) 6%;
e) 5%.

16. (FGV – 2021) Uma dívida de R$100.000,00 é amortiza-


da pelo Sistema de Amortização Constante SAC, com a) 8% ≤ i <9%;
pagamento postecipado, juros de 24% ao ano capitali- b) 9% ≤ i < 10%;
zados mensalmente, em 40 meses. c) 10% ≤ i < 11%;
Após a quitação da 12ª parcela, a instituição credora d) 11% ≤ i < 12%;
procura o devedor e oferece financiar o restante da e) 12% ≤ i < 13%.
dívida, com juros compostos de 2,5% ao mês a partir
da 13ª parcela, utilizando o Sistema Francês.
19. (FGV – 2022 ) Uma sociedade empresária possui
O cliente fica em dúvida se a oferta seria vantajosa,
duas alternativas de investimento, mutuamente
mas o credor explica que os valores das prestações
iniciais do novo financiamento seriam inferiores às excludentes (não podem ocorrer simultaneamente),
pactuadas no contrato vigente. X e Y, ambas com a mesma duração e com valor
Se o devedor aceitar a proposta de financiamento do presente líquido positivo.
restante da dívida, a penúltima parcela a ser paga pelo A taxa interna de retorno (TIR) para o projeto X é de
Sistema Francês será de, aproximadamente, 15%; para o projeto Y, de 13%; e para o projeto diferen-
Obs.: utilize a aproximação (1,02528 = 2). cial Y-X, de 11%. O projeto X é preferível ao Y somente
para taxas mínimas de atratividade da empresa:
a) R$ 3.700,00
b) R$ 3.500,00 a) menores que 11%;
c) R$ 2.600,00 b) menores que 13%;
d) R$ 2.500,00 c) maiores que 11% e menores que 13%;
e) R$ 1.800,00 d) maiores que 11% e menores que 15%;
e) maiores que 13%.
17. (FGV – 2021) Em relação às características do méto-
do de financiamento Price, analise as afirmativas a 20. (FGV – 2022) Considere o seguinte fluxo de caixa de
seguir. um projeto de investimento:

I. As amortizações sobre o valor principal remanescen- ANO DESPESA (-) E RECEITA


te são constantes ao longo do tempo.
II. Os montantes de pagamento de juros diminuem ao 0 - 100
longo do tempo. 1 0
III. As parcelas de pagamento, feitas ao longo do tempo, 2 144
são fixas.

Está correto o que se afirma em A taxa interna de retorno desse projeto será igual a

a) I, somente. a) 0%.
b) III, somente. b) 10%.
c) I e II, somente. c) 15%.
d) II e III, somente. d) 20%.
e) I, II e III. e) 25%.

18. (FGV – 2022 ) Um montante de R$ 50.400,00 é finan-


ciado, em 5 anos, à taxa de juros compostos de 10%
9 GABARITO
ao ano. Durante todo o período do financiamento, o
devedor arca apenas com o pagamento dos juros 1 A
anuais do capital emprestado, ou seja, o tomador
do empréstimo paga somente o valor dos juros que 2 D
incidem sobre o valor original da dívida. Ao final do
período de 5 anos, a dívida é amortizada de uma só 3 E
504 vez, com a quitação integral do débito.
4 C

5 E

6 A

7 D

8 B

9 D

10 D

11 C

12 B

13 B

14 A

15 A

16 B

17 D

18 E

19 D

20 D

ANOTAÇÕES

MATEMÁTICA FINANCEIRA

505
ANOTAÇÕES

506

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