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TEMPORADA E O PERTENCIMENTO NAS OBRAS DE ANDRÉ NOVAIS

Isadora Sousa

1 INTRODUÇÃO

André Novais Oliveira é um produtor executivo, diretor e roteirista de


cinema brasileiro de 38 anos. É conhecido por seus filmes de baixo orçamento
premiados pelo país. Dentre eles estão obras como Fantasmas (2010), Ela
Volta na Quinta (2014), Quintal (2015) e Temporada (2018), filme no qual foi
retirado o fotograma da análise.

Na obra em questão vemos a história Juliana. Ela está se mudando de


sua cidade natal, no interior, para Contagem, na região metropolitana de Belo
Horizonte, para trabalhar no combate às endemias. Em seu novo trabalho ela
conhece pessoas e vive situações pouco usuais que começam a mudar sua
vida. Ao mesmo tempo, ela enfrenta as adversidades no relacionamento com
seu marido, que também está prestes a se mudar para a cidade grande. A
partir dessa premissa, acompanhamos os conflitos e dificuldades que a mulher
vive para se adaptar à nova cidade na qual ela não conhece nada nem
ninguém.

2 FOTOGRAMA

O que de todas as obras de André têm em comum é a escolha por um


elenco majoritariamente não profissional, o que gera, consequentemente, uma
sensação de naturalidade nos diálogos que é quase incômoda, a ambientação
na cidade de Contagem e a utilização da casa de André para as filmagens.
Todos esses aspectos trazem uma estética de pertencimento por parte do
cineasta quanto a aquele universo. Em Temporada (2018) essa estética é
utilizada em um enredo que é, principalmente, sobre o conflito de não fazer
parte.
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Em primeiro lugar, é preciso destacar que a escolha de um fotograma só


para esse filme é muito difícil, no entanto, após mudar de frame muitas vezes,
decidi por esse, pois acredito que ele reflete muito bem a ideia do filme e é uma
síntese das obras de Novais. Trata-se de um plano geral que mostra a
cotidianidade de uma periferia de Contagem.

Fonte: Filme Temporada (2018)

A cena desse fotograma acontece da seguinte maneira: Juliana é uma


agente do combate a endemias, ao visitar a casa de um morador ela pede para
subir na laje para checar os focos de dengue no local. Nesse momento do filme
temos vários planos gerais da periferia, enquanto ela e o morador conversam
sobre o crescimento da cidade e rotina daquele lugar no fundo. A perspectiva
tem objetivo de lembrar uma subjetiva de Juliana, já que essa é a vista que a
personagem principal tem de cima da laje que está.

Reiterando, o fotograma é como a visão de Juliana, o filme,


propositalmente, nos coloca no lugar de descobrir aquela região e nos adaptar
com ela, assim como a personagem.

Cabe também comentar que André Novais cresceu em Contagem,


cidade onde o filme se passa. Então a grande quantidade de planos gerais
para mostrar os detalhes e belezas dessa região já são uma assinatura de
Novais em suas obras. Essa escolha de planos também pode ser vista em
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outros filmes, como no curta Fantasmas (2010), que se passa todo em uma
cena muito parecida com a desse fotograma: um plano geral, mostrando o
cotidiano de contagem enquanto ouvimos o diálogo dos personagens no fundo.
Visto isso, fica claro que a grande quantidade de P.G no filme não se deve
apenas à identificação do espectador com Juliana, mas, também, ao valor
emocional que aquele lugar tem para o cineasta.

Ademais, é interessante observar como André utiliza o azul, sobretudo o azul


bebê em suas produções, principalmente quando os personagens estão em
espaços de conforto. Para entender o uso da cor em Temporada (2018) é
preciso, primeiramente, reconhecer que ele é um filme sobre pertencimento, o
processo de Juliana para pertencer à esse novo lugar é o enredo principal do
filme. O azul aparece muito quando Juliana está em sua casa nova, sozinha,
pois esse é o único local daquela cidade em que ela se sente verdadeiramente
pertencente. Dito isso, nesse fotograma, observamos a casa do cunhado do
morador, um sutil espaço preenchido de azul bebê. Ao meu ver, a presença
dessa cor no cenário não é por acaso, ela representa o início da adaptação de
Juliana a Contagem e conforme Juliana se sente mais em casa, enxergamos
mais azul na tela, principalmente após o desaparecimento do marido, que
representa o rompimento de da personagem principal com sua antiga cidade.

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