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CAPILARIDADE

1. Introdução

Em simulações de reservatórios de petróleo estuda-se o escoamento simultâneo de duas ou


mais fases dentro de um meio poroso, por exemplo, água, óleo e gás. Considerando um
escoamento de duas fases imiscíveis, de modo que não ocorram transferências de massa entre
elas, tem-se que as fases, por exemplo água e óleo, não se misturam, permanecendo
separadas por uma interface.

O formato da interface que delimita a fronteira entre duas fases e a sua influência no
escoamento depende da escala que está sendo considerada. Na escala molecular, por exemplo,
uma interface é uma estreita zona tridimensional onde estão presentes moléculas de ambas as
fases. Já na escala do contínuo, uma interface pode ser interpretada como uma superfície de
descontinuidade das propriedades.

Em simulações na escala de reservatórios de petróleo, as interfaces se tornam um recurso


distribuído dentro do meio poroso e não precisam ser modeladas explicitamente. No entanto,
seu efeito deve ser levado em conta nas equações que modelam o fenômeno físico.

2. Tubos Capilares

Geralmente não existe uma interface nítida separando as fases, que podem ocupar o mesmo
ponto na descrição contínua. Em um escoamento bifásico de água (denotada pelo subíndice w,
de water) e óleo (denotado pelo subíndice o, de oil), tem-se que os dois fluidos preenchem
conjuntamente os vazios do meio poroso.

Devido à tensão interfacial, o fluido experimenta uma força de pressão conhecida como
pressão capilar, que faz com que o mesmo suba ou desça do nível de fluido livre através de
tubos capilares estreitos. A Figura 1 ilustra uma situação comum onde a água sobe por tubos
capilares de diferentes diâmetros.

Figura 1: Água subindo por tubos capilares de diferentes diâmetros.

Em um reservatório de petróleo existem inúmeros tubos capilares do próprio meio poroso, que
fazem com que esse fenômeno ocorra constantemente. Assim, em um meio poroso molhável à
água, os efeitos interfaciais forçam a água a preencher os tubos capilares de menor diâmetro,
enquanto que o óleo permanece em tubos capilares de maior diâmetro.

Em tubos com as mesmas propriedades, a pressão capilar é baixa para maiores diâmetros e
alta para menores diâmetros. Considerando o movimento do óleo em uma rocha porosa
molhável à água, a pressão necessária para forçar a primeira gota de óleo a entrar no espaço
vazio da rocha é chamada de pressão capilar de entrada. A partir desse movimento, aos poucos
o óleo vai ocupando espaços vazios de diâmetros cada vez menores, e assim sua saturação
aumenta, enquanto que a saturação da água diminui. Ou seja, existe uma relação entre a
pressão capilar e a saturação das fases, mais especificamente, a saturação da água.
3. Pressão Capilar

Em termos da interface entre dois fluidos, como óleo e água, a pressão capilar representa uma
descontinuidade na pressão dos mesmos, sendo definida por:

onde p₀ é a pressão do óleo e pᵥᵥ é a pressão da água. Ao definir uma fase referência k.

4. Relação com a saturação

Como mencionado anteriormente, existe uma relação entre a pressão capilar e a saturação da
água.

Uma modelagem clássica consiste na obtenção da pressão capilar por meio de interpolações
realizadas com dados tabelados da função J de Leverett.

Outros dois exemplos de modelos de pressão capilar são o de Brooks e Corey e Van Genuchten.

5. Exemplo de escoamento com capilaridade

A seguir é apresentado um exemplo de simulação numérica de um escoamento bifásico


simplificado considerando os efeitos da pressão capilar.

Considera-se a injeção de água na borda esquerda de um domínio unidimensional contendo


óleo. A água desloca o óleo, que será produzido na borda direita.

A curva de pressão capilar em função da saturação utilizada foi baseada em valores tabelados.

Comparações da evolução da frente de saturação de água no domínio para os casos com e sem
efeitos da pressão capilar são apresentadas nas Figuras 4 e 5, onde nota-se que o avanço da
saturação de água é mais rápido quando o efeito da pressão capilar é considerado.

Figura 4: Perfis de saturação de água com e sem efeitos da pressão capilar.

Figura 5: Detalhes das frentes de saturação de água.

Os resultados mostram que a pressão capilar causa efeitos importantes na frente de saturação
de água. Esses efeitos são extremamente complexos e significativos em escoamentos mais
sofisticados e realísticos.

6. Conclusão

As forças capilares podem ter um impacto significativo no escoamento, mudando a direção e


velocidade das frentes de saturação. Quando combinados com a heterogeneidade do meio
poroso, os efeitos capilares são geralmente difíceis de se prever sem o auxílio de simulações
detalhadas. Portanto, a modelagem numérica desses efeitos é um passo fundamental para as
simulações computacionais de escoamentos em reservatórios, que constituem uma ferramenta
importante na estimação da produção de petróleo.

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