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Definição e objectivos dos stocks

Stock é a existência de qualquer artigo ou recurso usado numa organização. Os stocks


de fabrico são classificados em matérias-primas, produtos acabados, componentes,
abastecimento ou trabalho em curso. Os stocks apresentam várias vantagens como
conservar a independência das operações, satisfazer as variações da procura do produto,
possibilitar a flexibilidade na programação da produção, garantir matéria-prima caso
existam variações no tempo de aprovisionamento e permitir benefícios económicos de
uma ordem de compra. No entanto, os stocks têm inconvenientes como ocupar muito
espaço, imobilizar meios financeiros importantes e aumentar o prazo médio de
produção. O papel dos stocks é bastante ambíguo, estes podem disfarçar a ineficiência
de uma empresa. Os stocks são uma forma confortável de camuflar certos problemas
comuns numa empresa, como o mau planeamento ou má manutenção de máquinas.
Desta forma, os stocks devem ser bem geridos para que se encontre um ponto óptimo
entre um desempenho positivo e o mínimo custo.

Custos de stocks

Os custos de stock podem ser custos de manutenção, de preparação, de encomenda e de


falhas de stock. Os custos de manutenção incluem custos das instalações de
armazenamento, de manuseamento e de desgaste do stock, entre outros. Os custos de
preparação correspondem aos custos de mudança de produção, que incluem custos de
organização de equipamentos e de atribuição de materiais e de tempo. Os custos de
encomenda referem-se aos custos de gestão e administrativos para preparar uma ordem
de compra ou de produção. Custos de falhas de stocks correspondem a custos de rotura
de stock, estes custos correspondem a custos tangíveis, como perda de encomenda ou
pagamento de multas, e a custos intangíveis, como perda de imagem e de clientes.

Definição de conceitos

Existe um conjunto de conceitos relacionados com a gestão de stocks, abordados ao


longo do relatório, que são definidos de seguida:
 Ponto de encomenda: nível de stock que desencadeia uma nova encomenda, ou
seja, é o nível se stock necessário para cobrir as necessidades durante o tempo de
aprovisionamento;
 Quantidade de encomenda: quantidade de produtos a encomendar que minimiza
os custos totais de encomenda e de movimentação de stock;
 Stock de segurança: stock mantido de forma a assegurar que o nível de serviço
pretendido seja satisfeito. Este tipo de stock é utilizado para proteger o sistema
contra os custos associados aos erros de previsão;
 Nível de serviço: número de unidades que podem ser fornecidas no momento a
partir do stock disponível;
 Stock máximo: nível de stock para o qual a empresa tem capacidade.
 Tempo de aprovisionamento: tempo desde que é colocada uma encomenda até a
sua recepção.

Sistemas de stocks

Um sistema de stocks é um conjunto de políticas e controlos que examinam os níveis de


stocks e definem a sua dimensão, ou seja, proporcionam a estrutura organizacional para
manter e controlar os produtos a armazenar. O sistema é responsável pela encomenda e
pelo seu acompanhamento bem como pela recepção dos produtos. Existem dois tipos de
sistemas de stock, sistemas de stock para procura dependente e sistemas de stock para
procura independente. A procura dependente de um artigo ocorre sempre que a
necessidade do artigo é resultado directo da necessidade de outro artigo, designada por
necessidade dependente. Na procura independente, as procuras de vários artigos não
estão relacionadas entre si e as quantidades necessárias para cada um, ou necessidades
independentes, têm que ser determinadas separadamente.

Sistemas de stocks para procura independente

Os sistemas de stocks para procura independente podem ser de dois tipos: modelos de
quantidade fixa de encomenda ou modelos de período fixo de encomenda. Os modelos
de quantidade fixa de encomenda, também designados por quantidade económica de
encomenda, são “accionados por um acontecimento”, ou seja, este modelo inicia uma
encomenda sempre que o nível de stock mínimo é atingido. Os modelos de período fixo
de encomenda, sistemas de intervalo fixo de encomenda ou de revisão periódica, são
“accionados pelo tempo”, isto é, coloca encomendas ao fim de um intervalo de tempo
fixo e predeterminado. Estes dois tipos de modelos são comparados na tabela seguinte:

Características Modelo de quantidade fixa Modelo de período fixo


Quantidade a encomendar. Constante, a quantidade a Variável de encomenda
Quando encomendar. encomendar é sempre a mesma. para encomenda.
Manutenção dos ficheiros. Quando for atingido o nível Quando chegar o período
Dimensão dos stocks. mínimo. de revisão.
Tempo de manutenção. Sempre que é feita uma adição No período de revisão.
Tipo de artigos. ou subtracção. Maior, porque tem que se
Menor. proteger contra roturas de
Elevada, devido aos registos stock durante o período
perpétuos. de revisão
Artigos de preço mais elevado,
críticos ou mais importantes.

Modelos de quantidade fixa de encomenda

Os modelos de quantidade fixa de encomenda pretendem determinar qual a quantidade


mínima em stock que origina uma encomenda e a dimensão dessa encomenda. A
quantidade óptima de encomenda corresponde à quantidade de produtos que origina um
custo mínimo, desta forma, é necessário analisar os custos de encomenda para se
determinar a quantidade óptima de encomenda.

Os custos de encomenda são dados pela expressão: CustoAnualTotal =


CustoAnualCompra + CustoAnualEncomendas + CustoAnualPosse

D Q
TC = DC + *S+ *H
Q 2

Onde:

TC é o custo anual total;

D é a procura anual;

C é o custo por unidade;


Q é a quantidade a encomendar;

S é o custo de colocar uma encomenda;

R é o ponto da nova encomenda;

L é o tempo de aprovisionamento;

H é o custo anual de posse e de armazenamento.

Para um custo mínimo, a quantidade óptima de encomenda é dada por:

dTC
dQ
−D
( H
)
=0+ 2 ∗S + =0 ⇒ Q opt
Q 2
2 DS
H √
Como este modelo assume uma procura e tempo de aprovisionamento constantes não é
necessário stock de segurança. Desta forma, o ponto da nova encomenda é:

R = dL

Onde:

d é a procura média diária;

L é o tempo de aprovisionamento em dias.

Modelos de quantidade fixa de encomenda com nível de serviço especificado

Os sistemas de quantidade fixa de encomenda controlam o nível de stock e originam


uma nova encomenda sempre que o nível de stock atinge determinado nível. Existe
perigo de rotura de stock no período em que é colocada uma encomenda e esta é
recebida, ou seja, durante o tempo de aprovisionamento. Para garantir que não exista
uma situação de perigo de rotura de stock, é necessário manter um stock de segurança.

Nos modelos de quantidade fixa de encomenda com nível de serviço especificado a


quantidade a ser encomendada é calculada como nos modelos sem nível de serviço
especificado. No entanto, nestes modelos o ponto da nova encomenda é definido de
forma a cobrir a procura prevista no tempo de aprovisionamento mais um stock de
segurança determinado pelo nível de serviço desejado. Assim, o ponto de nova
encomenda é dado pela expressão: L R = dL + zσ
Onde:

R é o ponto da nova encomenda em unidades;

d é a procura média diária;

L é o tempo de aprovisionamento em dias;

z é o número de desvios padrão para um nível de serviço específico;

σL é o desvio padrão da utilização durante o tempo de aprovisionamento;

zσL é a quantidade do stock de segurança.

Determinar d , σL e z

A procura média diária - d - durante o tempo de aprovisionamento é uma previsão ou


estimativa, por isso, para se calcular este parâmetro tem que se aplicar os métodos de
previsão. Seguindo uma premissa estatística que diz que o desvio padrão de uma série
de ocorrências independentes é igual à raiz quadrada da soma das variações, pode-se
afirmar que o desvio padrão da utilização durante o tempo de aprovisionamento - σL – é
definido como a raiz quadrada da soma das variações diárias:

σL = √ σ + σ +…+ σ i
Para calcular z é necessário calcular E(z), o número de unidades em falta que satisfaz o
nível de serviço desejado e determinar o valor de z tabelado. Este valor pode ser
determinado pela expressão:

( 1−P ) Q
E(z) =
σL

Onde:

P é o nível de serviço desejado;

(1-P) é a procura não satisfeita;

D é a procura anual;
σL é o desvio padrão da utilização durante o tempo de aprovisionamento;

Q é a quantidade económica de encomenda;

E(z) é o número previsto de unidades em falta de uma tabela normalizada onde a média
é igual a zero e σ = 1.

Modelos de período fixo com nível de serviço

Nos modelos de período fixo, o stock é contado e as encomendas são colocadas em


determinados momentos. Estes modelos geram quantidades de encomenda que variam
de período para período e que dependem dos índices de utilização. Além disso, nestes
casos os stocks são contados apenas no momento de revisão, desta forma é possível
estar-se em rotura de stock ao longo do período de revisão e durante o tempo de
aprovisionamento da encomenda, como se representa na figura 3.6. Por isso, o stock de
segurança tem que garantir protecção contra as roturas de stock no período de revisão e
no tempo de aprovisionamento.

Nestes modelos, as encomendas são colocadas no momento de revisão T e o stock de


segurança tem que ser encomendado de novo segundo a expressão:

StockSegurança = zσT+L

A quantidade a encomendar, q, é definida por:

QuantidadeEncomenda = procuraMédia + StockSegurança − StockDisponível

q = d(T+L) + ZσT+L - 1

Onde: q é a quantidade a encomendar;

T é o número de dias entre revisões;

L é o tempo de aprovisionamento em dias;

d é a previsão da procura média diária;

z é o número de desvios padrão para um nível de serviço especificado;

σT+L é o desvio padrão da procura durante o período de revisão e o tempo de


aprovisionamento; I é o nível de stock actual.
O valor de z é determinado consoante o valor de E(z) correspondente da tabela. E(z) é
dado segundo a expressão:

dT ( 1−P ) Q
E(z) =
σ T+L

Onde: E(z) é o número previsto de unidades em falta de uma tabela normalizada onde a
média é igual a zero e σ = 1; P é o nível de serviço desejado; dT é a procura durante o
período de revisão;

σT+L é o desvio padrão da procura durante o período de revisão e o tempo de


aprovisionamento.

Sistemas de stocks para procura dependente

Na gestão de produção moderna os métodos de gestão de stocks apresentados


anteriormente possuem um domínio de aplicação reduzido. As limitações destes
métodos estão associadas as hipóteses de partida que raramente são verificadas na
prática. Com efeito, considerar que não existe rotura de stock, que existe uma procura
regular e que os custos de armazenagem, encomenda e lançamento são constantes
tornam estes métodos inadequados para a gestão de produção dos nossos dias. Na gestão
tradicional de stocks, a ligação entre a procura do cliente e a necessidade de
componentes é-nos dada por dados históricos dos consumos médios. Em caso de um
aumento significativo do consumo, os métodos expostos anteriormente conduzem a uma
rotura de stock, porque as encomendas recebidas não intervêm nas ordens de compra. O
MRP (Material Requirements Planning - Planeamento das Necessidades Materiais)
surge como um método que associa os pedidos de encomendas às ordens de compras de
uma forma estruturada. Este método foi o principal desenvolvimento dos anos 70 e
surgiu com progressos espectaculares na redução do tempo e do custo das mudanças em
série. Foi nos Estados Unidos que começou o desenvolvimento deste conceito de gestão
de produção que permitiu antecipar as necessidades e a sua distribuição no tempo. No
entanto, neste método os pontos de encomenda são colocados por antecipação levando a
excessos de stocks. As evoluções permitiram chegar ao conceito do MRP II
(Manufacturing Resource Planning - Planeamento dos Recursos de Produção). O MRP
II constitui um conceito muito mais abrangente e permite gerir a produção a curto e a
longo prazo.

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