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Apontamentos Teste de Diplomática

Diplomática - objeto, objetivos e método:


Nas suas origens a diplomática tinha uma estreita relação à prática e ao direito, devido à
necessidade dos tribunais apurarem se os documentos eram autênticos ou falsos, este era o
objetivo inicial da diplomática.
Como o passar do tempo, ligou-se à arquivística e à história. Sendo diferente em cada área e,
consequentemente, tendo objetivos diferentes.

Objeto da diplomática:

Objeto da diplomática é, fundamentalmente, os documentos jurídicos (documentos emitidos


pelas chancelarias, documentos notariais e jurídicos), estes eram os únicos documentos aceites
no tribunal nos séculos XIII-XVI. Para a arquivística o objeto da diplomática é mais largo, uma vez
que para a mesma no século XIX, não era importante se o documento era falso ou não, mas sim,
como se inseria com os outros documentos.
O que a diplomática estudava no século XVII não é necessariamente igual ao que se estudava no
século XX e, o que se estuda em França também não é necessariamente igual ao que se estuda
na Alemanha.

O objetivo da diplomática:

O objetivo da diplomática é apurar a autenticidade de um documento. Um documento autêntico


na diplomática é aquele que, uma vez analisado, é exatamente aquilo que diz ser. E, tem meios
próprios de validação e componentes formais que estão corretas. Um documento falso não
cumpre estes requisitos.
A partir do século XVII, os profissionais aperceberam-se que era preciso
conhecer/estudar/analisar as instituições que emitiam os documentos e analisar outros
documentos emitidos pelas mesmas instituições, para poder apurar se um documento é falso ou
não. Atualmente, a diplomática está mas ligada à história, ou seja, estuda o funcionamento das
instituições que emitem documentos, (chancelarias, notários e tribunais). Para um arquivista o
que importa é saber como um arquivo funciona.

O objeto e o objetivo da diplomática estão ligados desde o século XVII, quando a diplomática se
constituiu como ciência.
Nos finais do século XVII, surge a primeira obra diplomática "Seis livros acerca dos assuntos da
diplomática", escritos por Jean Mabillon. O objetivo desta obra era refutar as acusações e
justificar títulos de propriedade postas em causa por outra ordem re ligiosa e, criar uma doutrina
que ajuda-se a analisar criticamente os documentos. É a partir desta obra que surge a
diplomática.

O método da diplomática:

A diplomática alcança os seus objetivos através do estudo e da análise dos documentos. Os


documentos têm atributos materiais e atributos imateriais e, é através da análise destes atributos
que se apura a autenticidade de um documento.
Quais os principais atributos materiais de um documento?

O suporte do documento - o material em que foi escrito, normalmente, é um suporte flexível, os


mais comuns são: o pergaminho, o papiro, as tabuinhas enceradas e o papel.
A tinta - o material com que o documento foi escrito, está ligada à caligrafia.
Os selos - estudamos o material do selo.
As linhas - por vezes eram feitas linhas que auxiliavam a escrita. Estudamos os materiais de
regramento, (o material responsável pelas linhas de apoio), esse material pode ser: ponta seca,
chumbo, grafite, etc.
O material de branqueamento - por vezes, o pergaminho pode ser branqueado.
Quais os principais atributos imateriais de um documento?

A caligrafia - a tinta é material e a caligrafia é imaterial. A caligrafia é uma das características mais
importantes. O idioma em que o documento foi escrito.

O discurso diplomático - sequência do discurso, a sequência da redação é previamente definida.


Nalguns casos o discurso já está previamente escrito e só se altera pontos específicos da
situação.

Suportes de escrita (suportes jurídicos):


Os textos jurídicos foram encontrados, sobretudo, em quatro suportes: Papiro, pergaminho,
papel e tabuinhas enceradas.

Papiro: A matéria prima do papiro é proveniente de uma planta. É uma planta da família das
ciperáceas. Esta planta tem o caule carnudo, que era cortado e a parte exterior era retirada. O
seu interior era cortado em tiras, que eram coladas umas em cima das outras, uma camada tinha
as tiras verticais e outra horizontais. As tiras colavam-se umas às outras através da cola presente
no caule da planta.
A sua origem é egípcia e foi usado até o período bizantino.

O papiro é um suporte bastante frágil e macio. Escrevia-se com pincéis ou um cálamo devido à
sua fragilidade.
O documento mais recente em papiro data do século XI. O seu uso começou a decrescer dando
lugar ao pergaminho.
Os livros em papiro eram rolos, as folhas eram coladas nas suas extremidades e, eram guardadas
em caixas. Estes livros não chegaram até nós, só fragmentos.

Pergaminho: É feito com matéria prima animal, pele de mamíferos. Era necessário ter em
atenção o porte do animal e a sua gordura, por norma e idealmente, eram usadas as peles de
pequenos ruminantes, como caprídeos e bovinos. Depois da pele ser removida era introduzida
num banho de caldo, que facilitava a raspagem e, consequentemente, a retirada dos pel os e da
gordura. Já pronta a pele era cortada no tamanho de duas páginas, várias páginas eram cosidas,
originando um caderno.
O pergaminho é um suporte muito resistente, por isso, havia a possibilidade de coser as páginas
e, também é um suporte que se conserva muito bem.

O pergaminho podia ainda ser branqueado, com pó de gesso, depois eram feitas as linhas de
regramento e só depois se escrevi-a, era um processo demorado.
Raramente se escrevia com pincéis no pergaminho, usavam-se os cálamos e as penas de aves. As
penas das aves eram cortadas ao meio e tinham que ser endurecidas, para isso, eram colocadas
em areia quente e, uma vez endurecidas, cortava-se-lhe a ponta e estava pronta a ser usada. Os
destros só usavam penas da assa direita e os canhotos só usavam penas da assa esquerda. As
penas das aves foram utilizadas até ao século XVIII.
Não sabemos quando foi inventado mas no século VI d.C. começou a ser comum o seu uso. O
pergaminho é o material de excelência da época medieval. No século XIII é muito us ado e, no
século XV o papel já faz concorrência ao pergaminho e, no século XVI já não é comum o seu uso.
Mas existem documentos em pergaminho do século XIX.
Papel: O papel foi desenvolvido na China e viajou pelas rotas da ceda, chegando a novas
civilizações. O papel entrou na Europa pela Península Ibérica.
O papel era obtido através da reciclagem de resíduos têxteis.

A partir do século XV a produção do papel torna-se mais comum e a qualidade do papel aumenta.
O papel perdeu o seu valor e a sua qualidade baixou no século XIX, porque a sua procura era
enorme e também devido à industrialização.
O papel que temos atualmente é de altíssima qualidade.

Tabuinhas enceradas: As tabuinhas eram feitas de madeira e, a sua superfície era escavada e
nessa cavidade era colocada cera e, era sobre a cera que se escrevia.
É um suporte altamente portátil e provisório, o documento definitivo não eram as tabuinhas
enceradas.

As tabuinhas eram usadas até à exaustão. Quando a cera era pouca colocava-se mais e quando
as tabuinhas se partiam iam para a lareira, por isso, não chegaram muitas até nós.

O estilete eram o instrumento usado para a escrita, com a ponta pontiaguda escrevia-se e, com
a ponta em forma de espátula apagava se.
As tabuinhas foram utilizadas até ao século XVII

Existiam ainda tabuinhas pintadas, em vez de usarem o estilete usavam o pincel e, neste caso, as
tabuinhas eram o documento definitivo.

A génese do ato jurídico - de uma chancelaria régia:

Um documento jurídico exprime a vontade de uma entidade.


O documento jurídico tem dois autores: o autor jurídico, neste caso, é o rei e, o autor diplomático,
neste caso é o redator e o escrivão.
O autor jurídico é quem tem o poder jurídico, o rei, e o autor diplomático é quem está encarregue
do documento, o redator, e quem o escreve, o escrivão, neste caso.
O documento jurídico é um negócio e, ao mesmo tempo, a documentação desse negócio.
O ato jurídico divide-se em duas fases: A ação, onde o protagonista é o autor jurídico e que
termina, neste caso de um documento da chancelaria régia, com a decisão do rei; e a
documentação da ação, protagonizada pelo autor diplomático e que termina quando a
documentação é entregue ao requerente (destinatário).

Ação:

A primeira fase da ação é a petição, a petição é um pedido ao autor jurídico.


A petição é respondida pelo autor jurídico e tem três opções de resposta: sim, não ou sim com
condições.

Antes do autor jurídico dar a sua decisão podem existir outras etapas.

A segunda etapa, facultativa, é a intercessão, a intercessão diz respeito à ação de uma pessoa,
com certo poder, intervir no processo de chegada à resposta, de modo a que esta seja positiva.
Esta ação não era ilegal e vinha expressa no documento final, quando usada. Neste caso da
chancelaria régia, seria um elemento da corte real a intervir na resposta do rei.
A terceira etapa, obrigatória dependendo do caso, é a intervenção, a intervenção acontece
quando o autor jurídico tem de ouvir a opinião de uma figura também ela importante. Num
documento da chancelaria régia esta etapa seria obrigatória, por exemplo, quando o rei estaria
a tomar uma decisão importante que afetaria uma cidade, que não aquela onde ele se encontra
e é a figura máxima, tendo neste caso de falar com o responsável por essa cidade.
A quarta e última etapa da ação é a ordem, que consiste em o autor jurídico dar ordem para o
autor diplomático começar a escrever o documento, segundo a sua decisão. Aqui passa-se da
ação para a documentação da ação.

Documentação (Conscriptio):

A primeira etapa da documentação é a minuta, a minuta é um documento provisório feito pelo


redator. A minuta não tem validade jurídica, uma vez que se trata só da junção da informação da
petição e da decisão do autor jurídico, não tem as fórmulas de publi cação nem a autenticação. A
minuta pode ser alterada pelo autor jurídico e tem de ser aprovada por ele.
A segunda etapa é a munduem, após a minuta ser aprovada pelo autor jurídico, é passada a limpo
e são adicionadas as fórmulas de publicação, chegando-se assim ao documento final, que ainda
não está validado.
A terceira etapa é facultativa, é o reconhecimento, o reconhecimento é a assinatura do redator,
que é quem é responsável pelo documento, mas pode dar-se o caso que, em vez de ser o redator
a assinar, ser o seu superior hierárquico, neste caso o chanceler.
A quarta etapa é fundamental, é a validação, que é a assinatura do autor jurídico e/ou a selagem,
neste caso seria a assinatura do rei e o selo real.

A quinta e última etapa é a expedição, que é a entrega do documento ao requerente.

O autor diplomático escreve o documento com base num modelo pré-definido.


Se um documento da chancelaria régia for usado como prova no tribunal, é o redator que se tem
de apresentar, uma vez que é ele o responsável pel o documento e não o autor jurídico.

Discurso ou Teor Diplomático - exemplo da chancelaria régia


portuguesa:
A génese de um documento jurídico reflete-se na sua estrutura, o discurso diplomático é a
estrutura do documento, que é o esqueleto formal do mesmo.
À semelhança dos documentos de outras chancelarias (nomeadamente, a imperial e a pontifícia),
os documentos emitidos em nome dos reis de Portugal e validados com o selo da chancelaria
régia portuguesa tinham uma estrutura formal que obedecia a uma sequência rígida.
Essa estrutura dividia-se em três grandes partes:

Protocolo → é acrescentado pelo escrivão, faz parte das fórmulas de publicação;

Texto → é a parte do documento escrita pelo redator e é onde se encontra a informação sobre
o negócio jurídico;

Escatocolo → É acrescentado pelo escrivão, faz parte das fórmulas de publicação.


Protocolo:

O protocolo divide-se em 4 etapas:

1. Invocatio (invocação) -pode ser figurativa ou verbal. Exemplo: "em nome de deus amen"
ou símbolo com letras gregas sobrepostas que significam cristo. A invocação abre o
documento, nos documentos mais antigos até desaparecer.
2. Subscriptio + Intitulatio - (nome e títulos do autor jurídico). Exemplo: "Dom Denis pela
graça de deus rei de Portugal e do Algarve"
3. nscriptio (endereço)- pode ser universal, sem um destinatário expressamente indicado,
ou, individual, com um destinatário expressamente indicado. Exemplo: "a quantos esta
carta virem".
4. Salutatio (saudação)- nem sempre aparece, mas quando aparece é onde acaba o
protocolo. Exemplo: "saúde".

Discurso diplomático- É o esqueleto do documento.

Texto:

O texto divide-se em 4/5 etapas:

1. Arenga ou preâmbulo (introdução)- é o enquadramento geral, ideológico ou moral do


dispositivo, são considerações prévias para contextualizar a decisão do rei, normalmente,
vêm acompanhado com uma passagem bíblica. Não é muito comum em documentos da
chancelaria régia portuguesa.
2. Promulgatio (notificação)- começa o texto das cartas régias portuguesas, normalmente.
Exemplo: "Sabede que".
3. Narratio ou Expositio (narrativa)- exposição dos motivos que conduziram à decisão do
autor jurídico (fundamentação jurídica), e faz referências à petição.
4. Dispositio (dispositivo)- é a componente central do documento, é aqui que encontramos
a decisão do autor jurídico e os termos/causas dessa decisão. Aqui podemos encontrar
referências à ação. Exemplo: "Mando/ordeno/dou/concedo/doo/estabeleço que, etc.
5. Sanctio (sanções), é a etapa do documento onde aparecem as penalizações se a decisão
não for cumprida. A partir do século XIII é só uma formalidade, mas no século XII era muito
extensa. Exemplo: "Unde al nom façades" → para que outra coisa não façais.

Escatocolo:

O escatocolo divide-se em 2 partes:

Datatio (datação- data, local de emissão), (é o local e a cronologia da emissão da carta). Exemplo:
"Dada em Lisboa, 23 dias de abril [...] era de mil trezentos e quarenta e três anos".
Jussio do autor jurídico + identificação do autor diplomático (nome do redator (rei) e do escrivão).
Exemplo: "El rei o mandou + por Afonso Esteves do seu desembargo, João Eanes a fez".

Transmissão Diplomática (Traditio):

Recordando as fases da génese do documento jurídico, importa ao diplomatista saber em que


etapa evolutiva chegou até si o documento cuja autenticidade pretende provar: minuta/nota
(texto preliminar, incompleto); original (texto perfeito, definitivo); cópia.

Primeira etapa:

Minuta: A minuta tem tudo aquilo que importa em termos de conteúdo, mas não tem as
fórmulas de publicação e, também não é autenticada.
Nota: É o equivalente à minuta num documento notarial.

É o primeiro texto relativo ao negócio jurídico, é um texto simples, sem as fórmulas de


publicação.
A nota é assinada pelas partes do negócio jurídico e, também pode ser assinada pelas
testemunhas. Depois da nota ser assinada é feito o documento final. (Minuta referendada)
Mesmo a nota sendo assinada pelas partes e até testemunhas não é um documento válido. O
documento só é valido se o tabelião assinar e desenhar o seu símbolo de tabelião e, isso só
acontece no documento final.
Segunda etapa:
Original: O original é o documento perfeito, está completo, tanto em termos de conteúdo como
de forma.
É o documento que mais vale no tribunal, o original emitido - o documento perfeito, até ao século
XVI. A partir do século XVI é mais valorizado o registo das chancelarias que o documento emitido.
O original pode ser múltiplo e não único. Podiam ser emitidos vários documentos de um negócio
jurídico, normalmente, isto acontecia quando o negócio jurídico envolvia várias partes. O facto
de existirem vários documentos de um só negócio jurídico pode levantar problemas.
Também existem documentos interpolados, significa que alguma coisa se intrometeu entre o
original e o que chegou até nós, normalmente, é um original parcialmente falsificado, mas por
isso, já não é um documento autêntico, mas sim, falso.
Os elementos mais sensíveis podem ser falsificados, como a data, que é o elemento mais
falsificado; o valor pago; eliminação de cláusulas.

Terceira etapa:

Cópias:

Sempre foram feitas cópias dos originais.

As cópias são documentos falsos diplomáticos, a não ser, que sejam cópias autênticas.
Tipos de cópias:

Cópia simples: o escrivão copiava o documento, normalmente, na integra, à exceção dos


elementos de autenticação.
Cópia figurativa ou figurada: o documento é copiado até ao mais ínfimo detalhe, o tipo de papel
é copiado, os meios de autenticação não materiais, o texto, etc., é uma cópia completa. Suspeita-
se que estas cópias eram feitas por razões estéticas.
Cópias parciais (inserções): temos uma cópia parcial quando pedaços de um texto são inseridos
noutro texto, pode ser uma forma de falsificação de um original.
Cópia parafraseada: é quando o documento é citado, mas não com as palavras originais. Uma
referência a um texto sem o imitar ou transcrever.
Cópias autênticas: são documentos autênticos. É, normalmente, um documento feito por uma
entidade diferente daquela que emitiu o documento original. Os traslados em pública forma são
as forma de cópias autênticas mais comuns e, outra forma são os "vidimos".

Cronologia Diplomática: Eras e Calendário


Disciplina que se ocupa do estudo dos sistemas de contagem do tempo utilizados nos
documentos, para determinar a data (a data é um dos elementos chaves para identificar a
autenticidade de um documento), verificar a autenticidade do documento e, caso necessário,
converter essa data ao sistema atual.
Eras - sistemas de contagem dos anos.

Calendário - sistemas de contagem dos meses do ano e dos dias do mês.

Eras:

Cíclicas: anos contados em ciclos (regulares ou irregulares).

Lineares: anos contados a partir de um ponto de referência. São as mais utilizada e as mais
importantes.
Exemplos de eras cíclicas:
Era olímpica ou era dos jogos olímpicos: é a mais antiga da nossa zona geopolítica. Data de 776
a.C., os primeiros jogos olímpicos. Os anos nesta era eram contados por ciclos de 4 anos, uma vez
que os jogos aconteciam de 4 em 4 anos - era uma era cíclica regular. O tempo contava-se da
seguinte forma: 1ª olimpíada; 2ª olimpíada, etc.
Era da Indicção: era um ciclo de 15 anos do tempo do Imperador Constantino do Império
Romano, primeiro quartel do século IV. Era uma era cíclica regular. O Império Romano lança um
imposto fiscal que é cobrado de 15 em 15 anos. O tempo contava-se da seguinte forma: 1ª
indicção; 2ª indicção; 3º ano da 3ª indicção. Na cúria pontifical no século XII ainda era usado esta
era cíclica, que durou até à Idade Média.
Em Portugal os anos dos reinados eram uma era cíclica irregular. Contava-se o tempo da seguinte
forma: no reinado de D. Afonso - não nos é dada uma data específica, mas sim, um
enquadramento no tempo e espaço.
As eras cíclicas irregulares são mais comuns que as regulares.
Exemplos de eras lineares: Os sistemas de contagem dos anos utilizados em Roma foram,
sobretudo, eras lineares:
Era da fundação da cidade de Roma: AUC = AB URBE CONDITA → desde da fundação da cidade
(784 a.C.) Século III d.C. até ao fim do século IV foi usado um sistema de contagem que contava
os anos através das grandes perseguições ocorridas no Império de Diocleciano.

Nos princípios do século VI d.C. um monge que vivia em Roma recuou a era de Diocleciano para
achar o ano do nascimento de Cristo. É a ele que é atribuída a Era de Cristo, enquanto método
de contagem dos anos.
Era da criação do mundo: Em Bizâncio, no Império Bizantino, o sistema de datação preferido era
uma era linear que coloca o início do ano 0 a 1 de setembro de 5509.
Era do pós-consulado: Marcava o tempo a partir do fim do último cônsul, quando os cônsules
pararam de exercer o poder.
Era muçulmana: Os anos são contados a partir da partida de Maomé de Meca. O ano de 622 a.C.
é o ano 0.
Era de Euclisiano: No século III, foi marcada pelas perseguições aos cristãos que se recusam a
prestar culto ao Imperador (era dos mártires)
Era hispânica: Desde o século IX em Portugal e na Península Ibérica desde o século VIII, era usada
a era hispânica até 1422. Esta era está 38 anos adiantada à era de cristo, a nossa era atualmente.
Era de Cristo: Só existe depois do século VI.

É um sistema desenvolvido 500 anos depois da vida de Cristo.


É um sistema muito complexo com vários subsistemas, que se chamam estilos.
Estilos mais importantes:

Encarnação: É o estilo mais antigo. Faz começar o ano a 25 de março. Quando este estilo foi
adotado por Pisa e Florença houve duas interpretações diferentes (modo). No modo Pisano, o
ano começa a contar a partir do 25 de março do ano anterior, ou seja, se estamos no ano 1915 o
ano de referência deste modo é 1914. Todos os documentos datados entre 25 de março a 31 de
dezembro estão 1 ano adiantados. No modo Florentino, o ano começa a contar a partir do 25 de
março do próximo ano. Os documentos datados entre 1 de janeiro e 24 de março estão 1 ano
atrasados. Se não for possível identificar o modo do sistema de datação temos de lhe atribuir um
intervalo cronológico crítico, em que indicamos o intervalo de anos possível.

Natividade: Faz o ano começar a 25 de dezembro. Em 1422 D. João I manda que os documentos
da Chancelaria Régia deixem de ser datados pela era hispânica e passem para a era de Cristo -
estilo da Natividade. Nos documentos não era indicado explicitamente a era que estava a ser
usada e muitos tabeliões não seguiram a ordem do rei.
Ressurreição: Faz o ano começar no domingo de páscoa. Este estilo foi utilizado no reino de
França.

Circuncisão: Faz começar o ano a 1 de janeiro, é o estilo que utilizamos. Em 1582, o Papa Gregório
XIII emite regras das datas e uma delas era meter o ano a começar a 1 de janeiro. É uma ficção
criada em alternativa aos outros estilos.

Calendários:
Calendário lunar: meses correspondem aos ciclos lunares. Os mundos Muçulmanos e chineses
ainda usam estes sistemas. Os anos têm 354 ou 355 dias no calendário Muçulmano; os anos com
354 dias são anos comuns e, os anos com 355 são anos intercalares; em cada conjunto de 30
anos, há 19 anos comuns e 11 anos intercalares. O calendário muçulmano existe desde o século
VII. As sociedades antigas começaram a observar os céus e aperce beram-se dos ciclos lunares e,
foi assim que surgiu este calendário.
Calendário solar: o ano é dividido de maneira a corresponder ao ciclo solar completo, isto é, ao
movimento de translação da terra em torno do sol. Este calendário é uma novidade relativa,
apesar de já ter mais de 2000 anos e, é o resultado da iniciativa do Júlio César no final do seu
mandato, no ano 45 a.C. O primeiro calendário solar é aquele que ainda usamos hoje em dia.
Calendário Juliano (46-45 a.C.): O pontífice era o regulador do tempo civil no Império Romano e,
Júlio César também tinha esse poder. Júlio César reforma a regulação do tempo, encomenda à
escola de Alexandria, mais concretamente a Sosígenes, que foi o cientista responsável de fazer
coincidir a duração do movimento de translação da Terra em torno do sol, (o ciclo solar), com o
ciclo civil. Júlio César pretendia um calendário civil que coincida com as estações do ano, para
que o ano civil e o ano solar coincidissem. Sosígenes apresenta que o ano solar tem 365 dias 5
horas e 30 e tal minutos; com não dava jeito as 5 horas e 30 e tal minutos a solução encontrada
foi arredondar as 5 horas e 30 e tal minutos para 6 horas e, assim, o ano civil tem a duração de
365 dias e de 4 em 4 anos acrescenta-se um dia, (6 horas x 4 = 24 horas), o ano tem 366 dias,
chamando-se ano bissexto. Neste calendário o ano começa a 1 de janeiro, antes desta reforma
começava a 1 de março. Como o número de dias do ano aumentaram houve uma distribuição de
dias pelos meses, não foi uma distribuição equilibrada; fevereiro foi o único mês que não recebeu
mais nenhum dia, uma vez que era o último mês do ano no calendário anterior.
Ao longo dos anos começou-se a notar um desfasamento entre o ano civil em relação ao ano
solar, o ano civil adianta-se. E, foram introduzidas correções, mas não sabemos quais foram as
correções introduzidas.
Esse calendário foi usado ao longo no tempo e no século XVI, a seguir ao Concílio de Trento, é
nomeada uma comissão para o calendário, uma vez que, no terceiro quartel do sécul o XVI era
evidente que o ano civil estava desfasado do ano solar.

Reforma do Calendário Juliano (1582)- O papa Gregório XIII promulga conclusões da comissão
de diplomática encarregada de corrigir desfasamentos entre o ano civil e o ano solar; sendo elas
a anulação dos estilos da era de cristo e, decide que a era de cristo que passa a vigorar é a era da
circuncisão - onde o ano começa a 1 de janeiro; a passagem do dia 4 para o dia 15 de outubro de
1582, de forma a eliminar o desfasamento existente, que já era de 11 dias e, a adoção sucessiva
da reforma. Este não é o Calendário Gregoriano, mas sim, a reforma do Calendário Juliano, o papa
Gregório XIII não criou um novo calendário, simplesmente, reformou o calendário que já existia.
O papa manda que os anos seculares, 1600, 1700, etc., só fossem bissextos se fossem divisíveis
por 400 - medida para evitar futuros desfasamentos. Hoje em dia não existe qualquer
desfasamento entre o ano civil e o ano solar e, por isso, o calendário juliano continua em vigor.
Em Washington existe um conjunto de relógios atómicos que corrigem ao segundo os
desfasamentos que possam existir. Esta reforma não foi acolhida e adotada de igual forma pelos
países da cristandade. Os países católicos da comunidade europeia em 1582 eram todos aqueles
que estavam sujeitos ao Império Espanhol -Portugal, Espanha, Norte de Itália, Sardenha, Cecília
e algumas possessões que ficavam no Sul da Grécia), Reino de França e os príncipes católicos da
Alemanha ainda estavam debaixo da tutelar papal, o acolhi mento dos países católicos foi
imediato. Na Inglaterra, país protestante, só em 1745 é que adotaram a reforma e, em vez de
saltarem 11 dias para a frente saltam 15 dias porque o desfasamento aumentou. Em 1745 toda
a Europa ocidental usava o mesmo calendário. A Europa Oriental - cristandade Ortodoxa - não
adotou a reforma, continuando-se a guiar pelo Calendário Juliano antigo, mas no século XX, a
União Soviética impõe à força o Calendário Juliano Reformado, uma vez que, a igreja ortodoxa
opunha-se fortemente aos novos regimes comunistas. Com a extinção da antiga União Soviética,
a igreja ortodoxa voltou a usar o calendário não reformado mas usam-se os dois calendários.

Os meses do ano e os dias do mês:

No ciclo lunar os anos terminavam em fevereiro e começavam em março.


Os nomes dos meses não se alteraram ao longo do tempo, mas os dias da semana sim. Só
Portugal, na cristandade do ocidente, seguiu as ordens de alterar os nomes dos dias da semana.
Nos restantes países da Europa, os dias da semana continuam a fazer menção a deuses.
O mais importante não é o nome dos dias, mas sim, a forma como são contados. Até o reinado
de D. Dinis, até o princípio do século XIV, os dias do mês eram contados à maneira dos romanos.

Nós hoje em dia, fazemos uma contagem dos dias do mês retrospetiva. Ou seja, o nosso ponto
de referência é o 1º dia do mês, contamos os dias a partir desse dia (o dia 24 de fevereiro significa
que já passaram 24 dias desde o início do mês de fevereiro).

Dias do mês no Calendário Romano:

Contagem futurista (prospetiva) dos dias do mês: dias contados relativamente a três pontos de
referência futuros.
Kalendas - dia 1 do mês, dia das kalendas- Ex: O dia 1 de março era o dia das kalendas de março.
Nonas - dias 5 ou dia 7 nos meses de março, maio, julho e outubro.
Idus - dia 13 ou 15 nos meses de março, maio, julho e outubro.
Os dias eram contados da seguinte forma: "falta x dias para aquele ponto de referência", o nosso
dia 29 de junho seria para eles o "dia 3 das Kalendas de julho". Eles contam sempre com o próprio
dia e o dia de referência. O nosso dia 24 de fevereiro era para os romanos o sexto dia das Kalendas
de março".
Exemplo:

Evolução do Alfabeto Latino - do século III a.C. ao advento da Imprensa,


no século XV:
A Caligrafia é um bom elemento para a validação da data e autenticidade de um documento. E,
permite localizar os documentos no tempo e espaço, sendo por isso importante para a
Diplomática.
O alfabeto latino tem origem (é uma variante tardia) num alfabeto grego ocidental , e passou a
ser utilizada a partir do séc. IV a.C.
O alfabeto latino tem originalmente 21 caracteres. Os restantes que conhecemos foram
introduzidos mais tarde - no último século antes de cristo. Esses últimos carateres foram
introduzidos para acomodarem a introdução de palavras de origem grega.
A escrita cursiva é uma escrita corrida, rápida.

Escrita caligráfica é a escrita dos livros, a escrita bela e desenhada.

Quanto mais cursiva (e a letras tiverem mais ligadas umas às outras - através de nexos) mais difícil
é de se entender.

Jean Mallon:

Escrita dos livros: Capital (maiúscula); minúscula primitiva (esta escrita é quase desconhecida).
Cursiva:
- Cursiva romana antiga (derivada na capital da escrita dos livros)

- Cursiva recente (derivada na minúscula primitiva da escrita dos livros)

Período Romano (século III a.C. - século V d.C.):

Em Roma, só a partir do século III a.C. é que o alfabeto latino começa a ter uma existência visível
nas fontes.
Nos seus primórdios o alfabeto latino não se escrevia só da esquerda para a direita, mas sim,
alternadamente, ou seja, uma linha da esquerda para a direita e outra da direita para a esquerda,
sucessivamente → busprofedon.
Encontramos 2 tipos de maiúscula romana - dois alfabetos maiúsculos:

- A capital quadrada (as letras percebem-se perfeitamente, uma vez que ainda é a variante do
alfabeto maiúsculo que utilizamos) - As letras podem-se inscrever num quadro perfeito. As letras
eram gravadas tão perfeitamente porque antes de gravarem as letras pintavam uma quadra
sobre a pedra. A altura e largura das letras são sensivelmente iguais. É a matriz do nosso alfabeto
maiúsculo.
- A capital rústica - A altura e a largura não são semelhantes, as letras são duas vezes mais altas
que largas. Este alfabeto é mais difícil de ler, porque já não o utilizamos.

A cursiva romana antiga é muito difícil de ler porque é escrita em maiúsculas, normalmente a
letras corrida é escrita em minúsculas. É um alfabeto maiúsculo cursivo.
A capital rústica e a cursiva romana antiga desaparecem no século II a.C.
A cursiva recente já mistura carateres maiúsculos e minúsculos. As letras são muito encostadas
umas às outras.

Escrita uncial, o que diferencia esta escrita é que as letras são maioritariamente arredondadas. É
o alfabeto maiúsculo mais utilizado, depois do século VI até ao século XV. O alfabeto maiúsculo
uncial é o mais usado nas inscrições das lápides tumulares a partir do século XI -XII. É fácil ler esta
escrita. Foi sendo adaptada ao longo dos séculos.

Mallon – Revolução do século II d.C.:


▪ Desaparecimento da Capital Rústica;
▪ Aparecimento das famílias do alfabeto das unciais;
▪ Desaparecimento da cursiva romana antiga, e aparecimento da cursiva romana recente.
Ou seja, a escrita passa de ser inclinada para a esquerda, para ser inclinada para a direita.

Período das escritas dos conventos (século VI-VIII)


Encontram-se no cartório dos antigos conventos cristãos. É o período de particularismo gráfico.
Cada convento tem a sua escrita. Sendo um período de dispersão e fragmentação política.

Existe uma grande variedade de escritas - alfabetos minúsculos, maioritariamente, muito


diferentes entre si, mas todos variantes do alfabeto latino.

Estes alfabetos derivam do alfabeto uncial, que era o alfabeto dominante na Idade Média.
Existem alfabetos cursivos, maiúsculos e minúsculos.

Nesta fase, era comum se dar o nome dos países ao tipo de escrita.

Ex: Escrita Visigótica – Escrita da Península Ibérica até o século XI.


Escrita Carolina (século IX-XI)

No Império Cornalinjo, um império de curta duração que abrangia um grande território como a
Alemanha, ocorre o aparecimento da escrita carolina. Este tipo de escrita coincide com a
evolução política do centro europeu, verificado a partir do século IX.
É um alfabeto minúsculo caligráfico. As letras são escritas uma a uma, sem uma ligação entre si -
nexos - com espaço entre as letras. O que a torna totalmente legível.
Na origem desta escrita está a necessidade de comunicar através de uma escrita que todos
percebam, pois era um império gigantesco que necessitava de afirmar a sua administração, tendo
utilizado a escrita como meio para o alcançar.
É neste alfabeto que encontramos a matriz do nosso alfabeto minúsculo, e será passado para a
escrita de imprensa.

Escrita Gótica (século XII-XIV)

A(s) escrita(s) gótica(s) tiveram a sua origem nas cruzadas, em meados do séc. XI. Existem muitos
estudos relacionados com este tipo de escrita.

A escrita gótica é um estilo de escrita do alfabeto latino, e durou, (utilizada manualmente), até
ao século XX.

A gótica não é uma variante espontânea, é uma variante da escrita carolina.

É caracterizada como tendo uma escrita lenta, e muito homogénea (muito junta), o que a tornava
extremamente difícil ser lida.

A gótica não é uma variante espontânea, é uma variante da escrita carolina.


Na Alemanha a escrita gótica foi usada nas escolas até ao século XX e, os livros também eram
impressos na escrita gótica.
As características mais distintivas da escrita gótica é que cada traço de cada letra é "fraturado",
as letras são angulosas e compactas e, são mais altas que largas.
As maiúsculas eram maioritariamente unciais. E a minúscula tem três níveis.
▪ Minúscula caligráfica solene:

- É muito difícil ler e distinguir as letras umas das outras porque são muito semelhantes.
- Quanto mais solene é a escrita maior é a discrepância entre altura e largura.
▪ Minúscula caligráfica semi solene:
- É mais apertada e mais alta.

▪ Minúscula caligráfica comum:

-Não existe qualquer desproporção entre a altura e a largura. E, existe menos angulosidade nas
letras.
Minúscula cursiva comum (fronteira entre a cursiva comum e a caligráfica comum):
Na escrita cursiva a angulosidade característica da escrita gótica perde-se.

As letras começam a interligarem-se, partilhando traços construtivos.

Escrita bastarda: No século XIV, surge uma moda de fabricar livros de luxo - livros de oras -, com
a escrita gótica, com os caracteres inclinados para a direita, isto dá a ideia que se trata de uma
letra cursiva, mas não é, simplesmente, é uma letra caligráfica solene inclinada para a direita.

Minúscula caligráfica solene proveniente de Itália (é a gótica italiana): Os italianos não gostavam
da estética gótica do norte da Europa.
Esta escrita não apresenta a angulosidade da escrita gótica, é até, bastante redonda. A rejeição
da angulosidade extrema leva os italianos a buscar o redondo.
A partir do século XIII, a Itália busca uma estética da idade do ouro, (época greco-latina),
procuram os códices da época.

Escritas humanísticas (século XV)

O período anterior ao aparecimento da imprensa.

As escritas humanísticas são todas altamente legíveis, têm a sua base na escrita carolina, que era
a usada nos códices que encontraram. Pensavam que a escrita carolina era do tempo dos
romanos, por isso, é que a tiveram como base.

É a escrita carolina remodelada pelos humanistas italianos, tendo sofrido as suas alterações.

Escrita humanística redonda (ou caligráfica):

Poggio Bracciolini é o inventor, utilizando-a na sua empresa de copia de livros.

Modernização da escrita carolina, já que Poggio pensava que esta era tinha origem romana, mas
na verdade só fez com que a escrita carolina renascesse.

É altamente e totalmente legível, e é considerada a base do nosso alfabeto minúsculo.

Escrita humanística cursiva (Itálico):

Esta letra parece cursiva, mas não é, as letras estão todas separadas umas das outras. É o itálico,
a letras apresentam uma inclinada à direita que dá a sensação de cursividade.
Foi inventado pelo Niccolò Niccoli.

Escrita de Imprensa

A maiúscula que passa à imprensa é a capital quadrada e a minúscula é a humanística redonda e


o itálico. A letra gótica também passa à imprensa na Alemanha.

Conclusão: O alfabeto latino, sendo por estes estilos gráficos, continua em constante evolução.

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