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Questões Vestibular Inverno 2010/2

O texto abaixo refere-se às questões de 1 a 5.

A soberania da vírgula

A vírgula é, e não por acaso, o corpo e a alma da pontuação. Quem não a ama não
a domina, e quem não a domina não escreve direito. A bem da verdade, os outros sinais,
em sua maioria, têm comportamento burocrático, não sendo difícil aprender a empregá-
los.
O contrário ocorre com a vírgula, cuja variedade de emprego é um desafio
constante.
Já por isso, quando a tratam como parte igual do conjunto, não dando o devido
desenvolvimento a seu estudo, alguns autores pecam por omissão, pois, na verdade, o
conjunto é quase inteiramente ocupado pela vírgula.
Uma prova? Quantas vezes ela aparece no parágrafo acima? 14. E quantos pontos?
5. Não há dúvida: a vírgula, carro-chefe de todos os pontos, reina soberana em qualquer
texto.
Até mesmo os poemas em versos livres da fase revolucionária do Modernismo, que
tentaram prescindir da pontuação, jamais conseguiram eliminá-la.
Para que serve o ponto, mesmo? Para fechar período, fechar parágrafo, fechar
texto. E acabou. É apenas um assistente: quando a vírgula vai embora, o ponto fecha a
porta.
Para que serve o ponto de interrogação? Para marcar frases interrogativas. Mas o
pobre nem consegue distinguir interrogação total de interrogação parcial.
E para que serve a vírgula? Nem ela mesma, se pudesse responder, teria certeza
total de quantas funções pode exercer, sintáticas, lógicas, estilísticas. Uma enormidade.
Mais uma prova? Quantos livros existem dedicados ao ponto, ou ao ponto de
interrogação?
Nenhum, porque não há mais que dois ou três parágrafos a escrever sobre eles.
E sobre a vírgula? Artigos, capítulos de livros, livros inteiros.
Por isso, se ela pudesse falar, diria que um livro com um nome ao estilo de Manual
de Pontuação seria impróprio e incoerente: por mérito e justiça, deveria ser substituído
por Manual de Virgulação.
CHOCIAY, Rogério. A soberania da vírgula. Revista Língua Portuguesa. Disponível em:
< http://revistalingua.uol.com.br/textos.asp?codigo=11911>.

1) Com base no texto, podemos afirmar que:

a) O autor refuta a ideia de que a vírgula é um dos sinais de pontuação mais


importantes da Língua Portuguesa.
b) O autor explica a utilização de cada um dos sinais de pontuação da Língua
Portuguesa.
c) O autor argumenta sobre a importância da vírgula e enfatiza as diversas funções
que ela pode exercer.
d) O autor desafia o leitor, pois ao explicar sobre o uso da vírgula, evidencia que
qualquer um, rapidamente, pode aprender a usar esse sinal de pontuação.
e) O autor evidencia a importância que os sinais de pontuação têm na Língua
Portuguesa, especialmente a vírgula, a qual pode ser melhor compreendida por
meio do Manual de Virgulação.
2) No trecho “Por isso, se ela pudesse falar, diria que um livro com um nome ao estilo de
Manual de Pontuação seria impróprio e incoerente [...]”, as vírgulas foram utilizadas para:

a) Isolar aposto explicativo.


b) Destacar adjunto adverbial antecipado.
c) Isolar oração subordinada.
d) Destacar o vocativo.
e) Indicar elipse do verbo.

3) No trecho “O contrário ocorre com a vírgula, cuja variedade de emprego é um desafio


constante”, o pronome “cuja” é utilizado de acordo com o padrão culto da Língua
Portuguesa. Assinale a alternativa que não utiliza o pronome de forma adequada:

a) Simpatizei com o rapaz cuja namorada você conhece.


b) A árvore cujo os frutos são venenosos foi derrubada.
c) O artista cuja obra eu falara morreu ontem.
d) As pessoas cujas palavras acreditei estão presas.
e) A mãe cujo filho desapareceu há um ano.

4) No período “Já por isso, quando a tratam como parte igual do conjunto, não dando o
devido desenvolvimento a seu estudo, alguns autores pecam por omissão”, a conjunção
em destaque poderia ser substituída, sem prejuízo ao sentido do período, por:

a) Logo
b) Sempre que
c) À medida que
d) Assim que
e) No entanto

5) Num trecho do texto, o autor comenta sobre a “fase revolucionária do Modernismo”,


que, segundo ele, tentou abstrair a pontuação, mas jamais conseguiu eliminá-la. O autor
faz essa afirmação sobre o Modernismo no Brasil porque:

a) Refere-se à 1ª Fase do Modernismo, um movimento literário e artístico do início do


século XX, cujo objetivo era o rompimento com o tradicionalismo, a libertação
estética, a experimentação constante e, principalmente, a independência cultural
do país.
b) Refere-se à 1ª Fase do Modernismo, um movimento literário e artístico do início do
século XX, que se destaca no cenário brasileiro por retratar a realidade brasileira
por meio de poemas simbolistas e esteticamente tradicionalistas.
c) Refere-se à 2ª Fase do Modernismo, que é caracterizado pelo predomínio da prosa
de ficção. A partir deste período, os ideais difundidos em 1922 se espalham e se
normalizam o que permite uma redefinição da linguagem artística.
d) Refere-se à 2ª Fase do Modernismo, quando a prosa dá sequência às prosas
urbana, intimista e regionalista, provocando uma renovação formal.
e) Refere-se à 3ª Fase do Modernismo, que por alcançar uma maturidade literária,
não se preocupa com a pontuação gramatical.
O texto abaixo refere-se às questões de 6 a 10.

O gerúndio é só pretexto

Ele chegou furtivo, espalhou-se feito gripe e virou uma compulsão nacional. Em
menos de uma década, o gerundismo cavou pelas bordas seu lugar sob os holofotes do
país. É o Paulo Coelho da linguagem cotidiana. Nas filas de banco, em reuniões de
empresas, ao telefone, nas conversas formais, em e-mails e até nas salas de aula, há
sempre alguém que "vai estar passando" o nosso recado, "vai estar analisando" nosso
pedido ou "vai poder estar procurando" a chave do carro. É fenômeno democrático, sem
distinção de classe, profissão, sexo ou idade. O gerundismo já foi alvo de tantos e
calorosos debates, que mesmo a polêmica em torno dele pode estar virando uma espécie
de esporte de horas vagas, quase uma comichão a que poucos parecem indiferentes.
Embora não haja explicação única para a origem do fenômeno, sua popularidade chama
a atenção não só de especialistas da língua, mas de empresários e ouvidos sensíveis a
saraivadas repetidas do mesmo vício.
Principalmente porque, por trás da aparente certeza sintática, podemos estar diante
de um fenômeno com implicações semânticas e pragmáticas - seu sentido, alargado ao
dia-a-dia, pode dizer algo sobre a própria cultura brasileira, nem sempre lembrada quando
se discute o assunto.
O uso repetitivo do gerúndio tem nome próprio: endorréia. Sim, a palavra é parente
da diarréia, para alegria dos humoristas. Mas a vítima do gerundismo não é o gerúndio
isolado, in natura, é a estrutura "vou estar + gerúndio", uma perífrase (locução com duas
ou três palavras).
Em si, a locução "vou estar + gerúndio" é legítima quando comunica a idéia de uma
ação que ocorre no momento de outra. A sentença "vou estar dormindo na hora da
novela" é adequada ao sistema da língua, assim como quando há verbos que indiquem
ação ou processo duradouros e contínuos: "amanhã vai estar chovendo" ou "amanhã vou
estar trabalhando o dia todo", por exemplo.
Aquilo que se deu o nome de gerundismo se dá quando nós não queremos
comunicar essa idéia de eventos ou ações simultâneas, mas antes falar de uma ação
específica, pontual, em que a duração não é a preocupação dominante. A coisa piora
mesmo quando a idéia de continuidade nem deveria existir na frase. "Vou falar" narra algo
que vai ocorrer a partir de agora. "Vou estar falando" se refere a um futuro em andamento
- "estar" dá idéia de permanência no tempo. Nesses casos, o gerúndio é usado em
situações mais adequadas ao uso do infinitivo (aquele que não dá idéia de ação em
curso, mas de assertiva). É no mínimo forçado falar de uma ação isolada, que se
concluiria num ato, como se fosse contínua. Quando respondemos ao telefone "vou estar
passando o recado", forçamos a barra para que o recado, que potencialmente tem tudo
para ser dado, não tenha mais prazo de validade.
PEREIRA, Luiz Costa. O gerúndio é só pretexto. Revista Língua Portuguesa. Disponível em:
< http://revistalingua.uol.com.br/textos.asp?codigo=10887>.

6) Com base no texto, podemos afirmar que:

a) O autor defende a extinção do “gerúndio” da Língua Portuguesa.


b) O autor discorre sobre a propagação do “gerundismo”, que é o emprego do
gerúndio em desacordo com a norma gramatical.
c) O autor afirma que estamos diante de um fenômeno com implicações semânticas e
pragmáticas, por isso devemos aceitar o “gerundismo” e adaptá-lo a nossa
linguagem.
d) O autor afirma que a locução "vou estar + gerúndio" é legítima quando comunica a
ideia de uma ação que ocorre no momento de outra. Por isso a frase “Vou estar
lendo e estudando” está correta.
e) O autor defende que o “gerundismo” é um fenômeno democrático, sem distinção
de classe, profissão, sexo ou idade, por isso deve ser aceito pela sociedade.

7) No trecho “Principalmente porque, por trás da aparente certeza sintática, podemos


estar diante de um fenômeno com implicações semânticas e pragmáticas [...]” o vocábulo
“porque” é empregado de acordo com o padrão culto da língua. Indique a alternativa em
que o uso do porque foge às regras gramaticais:

a) Sei bem por que motivo permaneci neste lugar.


b) O porquê de não estar conversando é porque quer se concentrar nos estudos.
c) Andar cinco quilômetros, por quê? Vamos de carro.
d) Não sei porque não quis ficar até mais tarde.
e) Diga-me o porquê de sua contestação.

8) De acordo com as regras de acentuação da Língua Portuguesa, podemos afirmar que:

I. No texto, as palavras “diarréia”, “língua” e “vício” são acentuadas pelo mesmo motivo,
por serem palavras paroxítonas terminadas em ditongo.

II. No texto, as palavras “sintática”, “semântica” e “gerúndio” são acentuadas pelo mesmo
motivo, por serem palavras proparoxítonas.

III – No texto, a palavra “trás” não deveria ser acentuada, pois se trata de um monossílabo
tônico.

a) As afirmativas I e II estão corretas.


b) As afirmativas II e III estão corretas.
c) Apenas a afirmativa I e III estão corretas.
d) Todas as afirmativas estão corretadas.
e) Nenhuma afirmativa está correta.

9) No período “Quando respondemos ao telefone "vou estar passando o recado",


forçamos a barra para que o recado, que potencialmente tem tudo para ser dado, não
tenha mais prazo de validade” a expressão em destaque foi utilizada pelo autor num
sentido conotativo. Isso também acontece nas alternativas abaixo, exceto em:

a) A Praça da Sé fica no coração de São Paulo.


b) Ela completou vinte primaveras.
c) A tempestade já conspirava no ar.
d) Esse rapaz tem um coração de ouro.
e) Correu muito, mas não apanhou o frango carijó.

10) Na 3ª fase do Modernismo no Brasil, uma característica relevante foi o casamento da


poesia com a música popular, que acentuou o crescimento dos meios de comunicação de
massa e a produção mais industrializada da literatura. Surgiram músicos-poeta como
Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Milton Nascimento e outros, precedidos pela
excelência de Vinícius de Moraes.
Dentre as famosas canções produzidas na época, uma famosa canção de Caetano
Veloso, “Alegria, Alegria”, utiliza-se do gerúndio:

“Caminhando contra o vento, sem lenço sem documento


No sol de quase dezembro, eu vou [...]”

Podemos afirmar que:

a) Caetano usa o aspecto inacabado do gerúndio para exprimir a ideia de progressão


indefinida de um processo (o caminhar).
b) Caetano retoma o espírito tradicionalista da 1ª fase do Modernismo e reforça a
ideia do “caminhando, sempre”.
c) Caetano enfatiza o uso do gerúndio, por considerar esta forma nominal do verbo, a
mais adequada na composição de poemas e canções.
d) Caetano emprega o gerúndio com um substantivo antecedente para expressar a
qualificação dinâmica do “vento”.
e) Caetano expressa, no uso do gerúndio, a ação simultânea de “caminhar contra o
vento, sem lenço e sem documento”.

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