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Dr. Lucas Cruz | OAB/CE nº 31.

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA __ VARA FEDERAL DO


JUIZADO ESPECIAL FEDERAL DA EM RIO BRANCO - AC.

AÇÃO DE RESTABELECIMENTO DE BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA.

FRANCISCO RIPARDO ROCHA, brasileiro, solteiro, aposentado, filho


de Genésia Maria Ripardo Rocha, com CPF nº 215.805.532-49 e RG
nº 67586, residente na rua Lua, bairro Adalberto Aragão, 207,
Rio Branco - Acre, CEP 69.900-000, vem através de seus advogados
in fine assinado, com endereço na nota de rodapé da exordial (no
qual recebe todas as intimações de estilo), perante Vossa
Excelência propor a presente AÇÃO DE RESTABELECIMENTO DE
BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA, em face do:

INSTUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS, Autarquia Federal,


Pessoa Jurídica de Direito Público, com Procuradoria Regional na
cidade do Crato-CE, à Rua Alvorada, 229 - Bosque, Rio Branco -
AC, 69909-380, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos:

I - DA JUSTIÇA GRATUITA

Prefacialmente, exora a Vossa Excelência que lhe conceda os


benefícios da gratuidade da justiça, eis que é pobre na forma da
Lei nº 1.060/50 c/c a Lei nº 7.115/83, não tendo condições
financeiras de custear as despesas processuais sem desfalque da
própria subsistência e de sua família.

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II - DOS FATOS

O requerente FRANCISCO RIPARDO ROCHA possui atualmente 72 anos


de idade e desde 20/01/2016 recebia o BPC (AMPARO SOCIAL AO
IDOSO - NB: 701.963.351-0), percebendo um valor de um salário-
mínimo.

Ocorre que em 01/10/2020 o benefício do idoso fora


repentinamente cessado sem que ele sequer entendesse o motivo.
Como estava em período pandêmico o beneficiário não teve a
oportunidade de ser atendido numa agência do INSS, tão pouco
dispõe de qualquer habilidade para manusear um computador e
acessar o sistema do Meu INSS. Também não foi possível
atendimento via telefone 135, pois o número aceita apenas
chamadas de telefone fixo, realidade que não faz parte da
maioria do público alcançado pelo benefício de amparo social.

Somente após buscar ajuda jurídica o Sr. FRANCISCO RIPARDO ROCHA


tomou conhecimento que seu benefício fora suspenso devido uma
apuração pela coordenação de monitoramento de benefícios. O INSS
apontou que, conforme informações do CRAS o beneficiário morava
junto com a genitora e com seu irmão JOSÉ RIPARDO ROCHA, e como
um deles já percebia um benefício a renda per capta familiar
ultrapassava a média estabelecida.

Ocorre que esta informação é totalmente improcedente. Até


porque, o requerente vive sozinho e, tanto sua mãe quanto seu
irmão já são falecidos, conforme certidões de óbito em anexo.

Inclusive o CADúnico (em anexo) do requerente está devidamente


atualizado e demonstra que o sr. FRANCISCO RIPARDO ROCHA reside
sozinho em sua residência, localizada na Rua Lua, bairro
Adalberto Aragão, nº 207, Rio Branco – Acre.

Resta provado que um equívoco ocasionou um transtorno


imensurável ao idoso que teve a sua única fonte de renda
cessada, gerando prejuízos sociais irreparáveis, posto que foram
diversas as necessidades básicas – entre ela a alimentação – que

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deixaram de ser atendidas, expondo o idoso a condição de total


miserabilidade, sem qualquer dignidade humana.

Ressalta-se que em nenhum momento foi dada a oportunidade para


que o beneficiário exercesse seu direito de defesa e
contraditório tendo em vista que o processo correu sem que ele
tivesse sido comunicado. Embora o INSS afirme que ele foi
devidamente notificado, conforme se observa no documento dos
Correios que o órgão junto ao processo informando da devolução
de correspondências por não localização do endereço conforme
pode ser verificado no anexo 001.

Por este motivo solicitamos que seja reanalisado o pedido de


reativação e análise da documentação de defesa e justificação.

III - DO DIREITO

A parte autora pretende o restabelecimento do benefício


assistencial de prestação continuada à pessoa idosa.

A Constituição Federal, em seu art. 203, inciso V, assim


expressa:

"Art. 203. A assistência social será prestada a


quem dela necessitar, independentemente de
contribuição à seguridade social, e tem por
objetivos:
V- a garantia de um salário mínimo de benefício
mensal à pessoa portadora de deficiência e ao
idoso que comprovem não possuir meios de prover
à própria manutenção ou de tê-la provida por
sua família, conforme dispuser a lei."

A Lei nº 8.742/93, que regulamenta o referido dispositivo


constitucional, prevê, por sua vez, nos seus artigos 20, in
verbis:

Art. 20. O benefício de prestação continuada é


a garantia de um salário-mínimo mensal à pessoa
com deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e
cinco) anos ou mais que comprovem não possuir
meios de prover a própria manutenção nem de tê-
la provida por sua família. (Redação dada pela

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Lei nº 12.435, de 2011) (Vide Lei nº


13.985, de 2020)
§ 1o Para os efeitos do disposto no caput, a
família é composta pelo requerente, o cônjuge
ou companheiro, os pais e, na ausência de um
deles, a madrasta ou o padrasto, os irmãos
solteiros, os filhos e enteados solteiros e os
menores tutelados, desde que vivam sob o mesmo
teto.
§ 2o Para efeito de concessão do benefício de
prestação continuada, considera-se pessoa com
deficiência aquela que tem impedimento de longo
prazo de natureza física, mental, intelectual
ou sensorial, o qual, em interação com uma ou
mais barreiras, pode obstruir sua participação
plena e efetiva na sociedade em igualdade de
condições com as demais pessoas. (Redação dada
pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
§ 3º Considera-se incapaz de prover a
manutenção da pessoa com deficiência ou idosa a
família cuja renda mensal per capita seja:
(Redação dada pela Lei nº 13.982, de 2020)
I - inferior a um quarto do salário mínimo;
(Redação dada pela Medida Provisória nº 1.023,
de 2020) Vigência
Afastada, portanto, a exigência de qualquer tipo de carência,
por tratar-se, no caso, de benefício assistencial, constituem
requisitos, em princípio, para a concessão do benefício: a
deficiência ou idade avançada (65 anos), sendo que aquela
acompanhada de incapacidade para o trabalho e a vida
independente, e a renda familiar per capita inferior a ¼ do
salário-mínimo.

O cerne da questão está em apreciar a é observar se a parte


autora preenche um dos requisitos da lei, ou seja, a renda per
capita é inferior a um quarto de salário-mínimo.

Vale ressaltar que o critério do § 3º, do art. 20, da Lei nº


8.742/93, isto é, a necessidade de a renda per capita ser
inferior a ¼ do salário-mínimo, não se constitui na forma única
de aferir a hipossuficiência do requerente do benefício. É
necessária a análise cuidadosa dos autos para verificar se o
núcleo familiar daquele que pretende a percepção do benefício
encontra-se em estado de miserabilidade, mesmo que o quantum

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eventualmente ultrapasse o valor estabelecido em lei.

Verifica-se, portanto, que referido critério não é suficiente


para indeferir o pedido do autor, visto que o STJ vem entendendo
que o parâmetro estabelecido na Lei 9.742/93, em relação à renda
per capita não é em si suficiente para comprovar a situação de
miserabilidade do requerente. Assim vejamos:

“PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO


CONTINUADA. ASSISTÊNCIA SOCIAL. PREVISÃO
CONSTITUCIONAL. BENEFÍCIO RECEBIDO POR PARENTE
DO AUTOR. CÔMPUTO DO VALOR PARA VERIFICAÇÃO DE
MISERABILIDADE. IMPOSSIBILIDADE. ART. 34 DA LEI
Nº 10.741/2003. INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA AO
BPC. ART. 20, § 3º, DA LEI Nº 8.742/93.
POSSIBILIDADE DE AFERIÇÃO DA MISERABILIDADE POR
OUTROS MEIOS. PRECEDENTES. RECURSO ESPECIAL
PROVIDO.
1. O benefício de prestação continuada é uma
garantia constitucional, de caráter
assistencial, previsto no art. 203, inciso V,
da Constituição Federal, e regulamentado pelo
art. 20 da Lei nº 8.742/93, que consiste no
pagamento de um salário-mínimo mensal aos
portadores de deficiência ou idosos que
comprovem não possuir meios de prover a própria
manutenção e nem de tê-la provida pelo núcleo
familiar.
2. O art. 34 da Lei nº 10.741/2003 veda o
cômputo do valor do benefício de prestação
continuada percebido por qualquer membro da
família no cálculo da renda per capita mensal.
3. A Terceira Seção deste Superior Tribunal
consolidou o entendimento de que o critério de
aferição da renda mensal previsto no § 3º do
art. 20 da Lei nº 8.742/93 deve ser tido como
um limite mínimo, um quantum considerado
insatisfatório à subsistência da pessoa
portadora de deficiência ou idosa, não
impedindo, contudo, que o julgador faça uso de
outros elementos probatórios, desde que aptos a
comprovar a condição de miserabilidade da parte
e de sua família.
4. Recurso especial a que se dá provimento
(REsp 841060 / SP Relator Ministra MARIA
THEREZA DE ASSIS MOURA – SEXTA TURMA. Data do
Julgamento 12/06/2007).”
Recentemente o Tribunal Regional Federal da
Quinta Região decidiu de forma idêntica e
acertadamente. Assim vejamos:
“AGTR. PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIO ASSISTENCIAL.

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CONCESSÃO. LEI 8.742/93. PORTADORA DE


DEFICIÊNCIA. MENTAL. INCAPACIDADE PARA OS ATOS
DA VIDA DIÁRIA. RENDA PER CAPITA FAMILIAR
INSUFICIENTE À SUBSISTÊNCIA DO PORTADOR
DEFICIENTE.
1. O cerne da questão está em apreciar a renda
per capita familiar, se suficiente ou não a
própria subsistência da parte
agravante ou de tê-la provida por sua família,
nos moldes da Lei nº 8.742/93.
2. O STJ vem entendendo que a renda per capita
familiar inferior a 1/4 do salário mínimo não é
o único critério válido para comprovar a
miserabilidade do pretenso beneficiário,
podendo o julgador utilizar-se de outros
fatores que comprovem a insuficiência de
subsistir com o salário recebido. (REsp
841060/SP.Relator Ministra MARIA THEREZA DE
ASSIS MOURA).
3. Não obstante venha entendendo pela
impossibilidade de concessão de benefício em
sede de tutela antecipada, por se apresentar
incabível na via estreita do agravo a valoração
de prova, no caso concreto, excepcionalmente,
em face da prova inequívoca acerca da doença da
agravante e da sua miserabilidade, admite-se o
deferimento, em caráter precário, de modo a não
comprometer a própria sobrevivência da parte.
4. Agravo provido.

Observa-se, prima facie, que a sobrevivência de forma digna da


parte autora se encontra prejudicada devido à sua condição, bem
como a impossibilidade de provimento pelos seus familiares.

É mister, portanto, que se utilize os critérios da razoabilidade


e proporcionalidade para ponderar a adequação das suas reais
necessidades com a renda eventualmente percebida.

Vale ressaltar por último que a inconstitucionalidade do artigo


20, § 3º, da LOAS foi arguida na ADIn nº 1.232-1, julgada
improcedente por maioria de votos pelo Plenário do Supremo
Tribunal Federal.

Entretanto, a decisão proferida na ADIn nº 1.232-1 não retirou a


possibilidade de aferição da necessidade por outros meios de
prova, que não a renda per capita familiar. A interpretação

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daquele decisium faz ver que esse preceito legal estabeleceu uma
presunção objetiva absoluta de miserabilidade, ou seja, a
família que recebe renda mensal per capita inferior a ¼ (um
quarto) do salário-mínimo encontra-se em estado de penúria,
configurando tal situação é prova incontestável de necessidade
do benefício, dispensando outros elementos probatórios. Daí que,
caso suplantado tal limite, outros meios de prova poderão ser
utilizados para a demonstração da condição de miserabilidade,
expressa na situação de absoluta carência de recursos para a
subsistência.

IV - DO PEDIDO

Ante o exposto, restando evidenciado o direito e interesse do


Requerente, requer-se:

1. Que Vossa Excelência receba a


presente ação, mandando citar o Instituto Nacional
do Seguro Social – INSS.

2. Julgar Procedente a ação em todos os


seus termos, condenando o INSS a assegurar o
restabelecimento do BPC em questão, devendo assim os
efeitos da sentença serem retroativos a data da
cessação do benefício administrativo, bem como a
pagar as diferenças vencidas e vincendas, acrescidas
de juros legais e moratórios.

3. A concessão do benefício da
assistência judiciária gratuita por ser a Autora
pobre na forma legal;

4. Protesta provar o alegado, por todos


os meios de provas em direito admitidos,
especialmente a documental, testemunhal, depoimento
pessoal, perícias etc.

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Dá-se a presente causa o valor de R$ 40.000,00, para


efeitos processuais.

Nestes termos,

Pede deferimento.

Rio Branco-AC, 07 de maio de 2022.

Lucas Coelho Cruz Paula Adriana Saraiva Diogenes

OAB/CE nº 31.070 OAB/AC nº 7.757

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