Disciplina: Teoria Geral dos Recursos

Professor: Eduardo Souza

Curso: Pós-Graduação em Advocacia Trabalhista e Previdenciária

Aluna: Enilça de Souza Campos Neves

Em determinada Reclamação Trabalhista, o Reclamante (estudante de direito, cursando o 5.º

semestre do curso), valendo do ius postulandi, na Inicial, requereu a condenação empresária no
pagamento das seguintes parcelas:
- diferença de adicional de insalubridade: o Reclamante já recebia a parcela em grau mínimo, mas
alega ter direito a recebê-la em grau máximo;
- equiparação salarial com o paradigma indicado na Exordial;
- horas extras, no que a jornada de trabalho extrapolar aas 8 horas diárias, 44 horas semanais.
Proferida sentença, os pedidos foram parcialmente julgados procedentes, tendo sido arbitrada à
condenação o valor de R$ 8.800,00 (oito mil e oitocentos reais). Dos 03 (três) pedidos, apenas o de
horas extras é que foi julgado improcedente.
Assim, o advogado da Reclamada, no 5.º dia do prazo, interpõe Recurso Ordinário, mas apenas
quanto ao pedido de equiparação salarial (ou seja, não recorreu quanto ao pedido de adicional de
insalubridade).
Juntou as guias comprobatórias dos recolhimentos das custas e do depósito recursal apenas no 8.º
dia do prazo recursal.
A seu turno, exatamente no 8.º dia do prazo, o Reclamante, ainda se valendo do ius postulandi,
interpôs o seu Recurso Ordinário, requerendo a reforma da sentença quanto ao pedido de horas
extras que, como dito, foi julgado improcedente.
A partir do caso hipotético narrado, responda:
A) Para fins de recolhimento do depósito recursal, e considerando que o recurso da empresa
foi interposto em março de 2022, qual é o valor que deveria ter sido recolhido? Fundamente a
sua resposta.
O valor do depósito recursal para o recurso ordinário em março de 2022, é de R$ 10.986,80 de
acordo com ATO.SEGJUD.GP, disponível no site do TST, os quais são atualizados anualmente, via
de regra, no mês de julho, com vigência a partir de 1º de agosto - Portal do Advogado/Guia
Recursais da JT/Valores de Depósitos Recursais/Valores vigentes.
Conforme o Tribunal Superior do Trabalho (TST), o Depósito Recursal é garantia de juízo e não se
trata de uma taxa de recurso. Logo, a sua finalidade é garantir a futura execução. Isso significa que,
após o trânsito em julgado, ele será levantado pela parte vencedora e, caso a condenação seja
favorável ao trabalhador, terá sua finalidade de garantia consumada.
Diante disso, no caso em tela, a Reclamada terá que efetuar depósito recursal, no valor de R$
8.800,00 (oito mil e oitocentos reais), haja vista que sua natureza jurídica é de garantia. Assim, não
tem sentido exigir garantia superior ao valor de condenação, razão pela qual se deve ter em mente
que o valor na tabela do TST é o limite a ser recolhido para cada recurso.

B) É possível se afirmar que o Recurso Ordinário da Reclamada é deserto, em razão da

juntada das guias comprobatórias dos recolhimentos das custas e do depósito recursal 03
(três) dias após a sua interposição? Fundamente a sua resposta.
O Recurso Ordinário da Reclamada não é deserto, pois o prazo para comprovação do depósito
recursal é idêntico ao prazo do recurso a que se vai interpor, ou seja 8 (oito) dias úteis para fins de
Recurso Ordinário. Na situação narrada é possível, portanto, a apresentação do comprovante do
depósito recursal até o último dia do prazo do recurso, mesmo ele tendo sido interposto 3 (três) dias
antes do recolhimento do depósito recursal.
De acordo com Súmula 245 do TST “O depósito recursal deve ser feito e comprovado no prazo
alusivo ao recurso. A interposição antecipada deste não prejudica a dilação legal.”

C) O Reclamante, no seu Recurso Ordinário, não juntou comprovantes de pagamento das

custas, nem do depósito recursal. É possível se afirmar que o seu recurso é deserto?
Fundamente a sua resposta.
O depósito recursal tem por objetivo de garantir o juízo, ou seja, objetiva possibilitar o sucesso,
ainda que em parte, de eventual execução proposta pelo empregado. Ademais, impede, ainda que
indiretamente, que os recursos sejam interpostos com o intuito de procrastinar o andamento
processual.
O depósito recursal só é exigível do empregador. O empregado, ainda que vencido em ação
ajuizada tanto por ele quanto pelo empregador, não estará obrigado a recolher o depósito que alude
o art. 899 da CLT.
Diante disso, o recurso do reclamante não é deserto, tendo em vista que, o Reclamante, via de regra,
é o trabalhador e o suposto credor em um processo judicial, em caso de improcedência do pedido
ele, obviamente, terá o interesse em recorrer.

D) Considerando que a partes foram intimadas a oferecerem suas contrarrazões aos recursos
interpostos, no prazo para resposta do recurso do Reclamante, seria possível que a Reclamada
interpusesse Recurso Ordinário Adesivo, para também tentar a reforma da sentença no que
se refere ao pedido de diferenças de adicional de insalubridade? Fundamente a sua resposta.
Recurso adesivo é o recurso interposto pela parte sucumbente no prazo para contrarrazões, ou seja,
no prazo para responder ao recurso interposto pela parte contrária. Desse modo, a parte sucumbente,
que poderia ter apresentado o seu recurso dentro do prazo fixado em lei, mas não o fez, passa a ter
uma nova oportunidade para recorrer, quando da abertura do prazo para responder o recurso
(independente/principal) interposto pelo adversário.
Somente havendo a interposição do recurso principal é que surge a oportunidade para a interposição
do recurso adesivo. Por consequência, o recurso adesivo fica subordinado ao recurso independente,
isso significa que o recurso adesivo só será analisado se aquele for conhecido. Deste modo, se o
recurso principal/independente não for conhecido por falta de preparo ou por intempestivo, o
recurso adesivo, automaticamente, também não o será. O recurso adesivo deve cumprir todos os
requisitos de admissibilidade previstos para o recurso principal.
No processo do trabalho, não há regra específica sobre o recurso adesivo, mas o TST permite a sua
aplicação, conforme posicionamento da Súmula 283: “O recurso adesivo é compatível com o
processo do trabalho, onde cabe, no prazo de oito dias, nas hipóteses de interposição de recurso
ordinário, de agravo de petição, de revista e de embargos, sendo desnecessário que a matéria nele
veiculada esteja relacionada com a do recurso interposto pela parte contrária.”
Sendo assim, é possível a reclamada interpor Recurso Ordinário Adesivo para tentar a reforma da
sentença no que refere ao pedido de adicional de insalubridade, tendo em vista que a reclamante
interpôs recurso ordinário e a reclamada está no prazo de contrarrazoar.
E) Após o julgamento do Recurso Ordinário interposto pelas partes, caso seja mantida a
sentença pelos seus próprios fundamentos, se o Reclamante vislumbrar contrariedade da
decisão com Súmula do TST, ainda se valendo do ius postulandi, poderia ele mesmo interpor
Recurso de Revista? Fundamente a sua resposta.
O reclamante não poderá se valer do ius postulandi para interpor Recurso de Revista, pois,
conforme entendimento consubstanciado na súmula 425 do TST, o ius postulandi na Justiça do
Trabalho não alcança os recursos de competência do Tribunal Superior do Trabalho.
Súmula 425 do TST “O jus postulandi das partes, estabelecido no art. 791 da CLT, limita-se às
Varas do Trabalho e aos Tribunais Regionais do Trabalho, não alcançando a ação rescisória, a ação
cautelar, o mandado de segurança e os recursos de competência do Tribunal Superior do Trabalho.”