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Química e Ciência

dos Materiais

• Professor:
• Diego Batista Valim

• E-mail:
diego.valim@kroton.com.br
SUMÁRIO

UNIDADE 3 – Estruturas cristalinas

• Estruturas cristalinas e sistemas cristalinos

• Imperfeições cristalinas

• Difusão

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Introdução

• As imperfeições nos sólidos são os defeitos presentes nas estruturas cristalinas dos
materiais sólidos.

• A presença das imperfeições/defeitos são importante no que diz respeito as propriedades


dos materiais. Se não existissem defeitos, os cristais não teriam cores, não existiriam os
dispositivos eletrônicos de estado sólido e alguns metais seriam tão resistentes que não
poderiam ser utilizados.

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Imperfeições cristalinas

• As estruturas cristalinas estudadas anteriormente são estruturas idealizadas e


simplificadas, de maneira que possam ser utilizadas para compreendermos muitos
princípios importantes que regem o comportamento de sólidos.

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Imperfeições cristalinas

• Em contraste, os cristais reais contêm um grande número de defeitos que variam desde a
quantidade de impurezas até a falta de átomos ou íons e que contribuem para as
propriedades dos materiais.

• É verdade que a palavra “defeito” nos remete a algo ruim ou indesejável, no entanto, nos
estudos sobre materiais, os defeitos são intencionalmente utilizados para manipular as
propriedades de um material.

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Imperfeições cristalinas
Por exemplo: a formulação de uma liga metálica.

• Uma liga metálica é composta no mínimo por dois elementos químicos diferentes:
o Solvente → em maior quantidade, é sempre um metal
o Soluto → em menor quantidade, pode ser um material metálico, cerâmico ou
polimérico.

• A adição do soluto, durante a formulação da liga metálica introduzirá defeitos na rede


cristalina do solvente, como por exemplo distorções nas células unitárias.

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Imperfeições cristalinas
• Há alguns tipos básicos de defeitos em um sólido cristalino: defeitos pontuais, defeitos
lineares, defeitos interfaciais e defeitos volumétricos.

Defeitos Pontuais

• Os defeitos pontuais são regiões em que há ausência de um átomo ou o átomo encontra-


se em uma região irregular na estrutura cristalina.

• Entre os defeitos pontuais incluem-se: lacunas, auto intersticial, impureza intersticial e


impureza substitucional.

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Imperfeições cristalinas
Lacuna

• A lacuna é o defeito mais simples e, como o próprio nome sugere, pode-se observar a
ausência de um átomo na rede cristalina.

• As lacunas são defeitos comuns, especialmente em altas temperaturas, quando os átomos


estão frequentemente em movimento e mudam de posições aleatoriamente, deixando
para trás sítios da rede vazios.

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Imperfeições cristalinas
• A difusão, movimento realizado pelo átomo (transporte de massa por movimento
atômico), ocorre devido à presença de lacunas nas estruturas cristalinas dos sólidos. É
possível determinar o número de lacunas em uma rede cristalina utilizando a Equação 1:

𝑄𝑙
𝑁𝑙 = 𝑁 𝑥 exp − (Equação 1)
𝐾𝑥𝑇
Onde:
𝑁 = é o número total de sítios atômicos 𝐾 = a constante de Boltzmann
𝑄𝑙 = é a energia necessária para a formação de uma lacuna 𝑒𝑉
8,62 𝑥 10−5
á𝑡𝑜𝑚𝑜 𝑥 𝐾
𝑇 = é a temperatura absoluta em Kelvin
𝐽
1,38 𝑥 10−23
á𝑡𝑜𝑚𝑜 𝑥 𝐾
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Imperfeições cristalinas
• O número total de sítios atômicos é calculado a partir da Equação 2:

𝑁𝐴 𝑥 𝜌
𝑁= (Equação 2)
𝐴

Onde:
á𝑡𝑜𝑚𝑜𝑠
𝑁𝐴 = é o número de Avogadro 6,023 𝑥 1023
𝑚𝑜𝑙
𝜌 = é a massa específica
𝐴 = é o peso atômico

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Imperfeições cristalinas
Exemplo: Vamos determinar o número de lacunas no ferro em 900 [°C], sabendo que a massa
específica do ferro é igual a 7,65 [g/cm³] , peso atômico igual a 55,85 [g/mol], e o número de
e a energia de formação de uma lacuna é 1,08 [eV/átomo].

𝑄𝑙 𝑁𝐴 𝑥 𝜌
𝑁𝑙 = 𝑁 𝑥 exp − 𝑁=
𝐾𝑥𝑇 𝐴
𝑒𝑉 𝑒𝑉
𝑄𝑙 = 1, 08 𝐾 = 8,62 𝑥 10−5 𝑇 = 900 °𝐶 → 1173 [𝐾]
á𝑡𝑜𝑚𝑜 á𝑡𝑜𝑚𝑜 𝑥 𝐾

á𝑡𝑜𝑚𝑜𝑠 𝑔 𝑔
23 𝜌 = 7,65 𝐴 = 55,85
𝑁𝐴 = 6,023 𝑥 10
𝑚𝑜𝑙 𝑐𝑚³ 𝑚𝑜𝑙

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Imperfeições cristalinas

𝑁𝐴 𝑥 𝜌 6,023 𝑥 1023 𝑥 7,65 22


á𝑡𝑜𝑚𝑜𝑠
𝑁= = → 𝑁 = 8,25 𝑥 10
𝐴 55,85 𝑐𝑚³

𝑄𝑙 22
1,08
𝑁𝑙 = 𝑁 𝑥 exp − = 8,25 𝑥 10 𝑥 exp −
𝐾𝑥𝑇 8,62 𝑥 10−5 𝑥 1173

á𝑡𝑜𝑚𝑜𝑠 𝑙𝑎𝑐𝑢𝑛𝑎𝑠
𝑁𝑙 = 1,9 𝑥 1018 = 1,9 𝑥 1018
𝑐𝑚³ 𝑐𝑚³

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Imperfeições cristalinas
Autointersticial

• O defeito pontual denominado como autointersticial, é


aquele no qual um átomo da rede cristalina se desloca e fica
comprimido em um sítio intersticial, em uma região que, sob
condições normais, não estaria ocupada.

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Imperfeições cristalinas
Impurezas

• As impurezas também são consideradas defeitos pontuais, podendo ser do tipo intersticial
ou substitucional.

o Impureza substitucional → um átomo, diferente daqueles que formam a rede


cristalina, substitui outro átomo da estrutura. Geralmente apresenta diferença de no
máximo 15% do raio do átomo da estrutura original. Um exemplo de átomos de
impureza substitucional são os átomos de zinco no latão, os quais têm raio igual a
0,133 [nm] e substituem alguns átomos do cobre que têm raio 0,128 [nm].

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Imperfeições cristalinas
o Impureza intersticial → este tipo de impureza os átomos são muito menores do que os
átomos da rede cristalina. Então, os átomos das impurezas intersticiais encaixam-se no
espaço vazio entre os átomos da estrutura cristalina.

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Imperfeições cristalinas

• É importante destacar que a adição de impurezas também pode resultar na formação de


uma solução sólida substitucional ou solução sólida intersticial.

• A solução sólida se forma quando a adição de soluto (elemento em menor quantidade) ao


solvente (elemento em maior quantidade) não provoca nenhuma mudança na estrutura
cristalina.

• Este fenômeno acontece quando o volume de soluto presente no solvente é menor que o
limite de solubilidade do soluto no solvente.

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Imperfeições cristalinas

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Imperfeições cristalinas
Defeitos Lineares

• As discordâncias são defeitos em que alguns átomos se encontram fora da sua posição na
estrutura cristalina, ele é um defeito linear ou unidimensional em torno do qual alguns
átomos estão desalinhados.

• As discordâncias também participam do crescimento dos cristais e das estruturas de


interfaces entre eles e são geradas e movidas quando uma tensão é aplicada.

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Imperfeições cristalinas
• Existem dois tipos básicos de discordâncias: a discordância de aresta e a discordância em
espiral.

o Na verdade, a maioria das discordâncias é, provavelmente, um híbrido das formas


de aresta e espiral.

• A discordância de aresta pode ser facilmente visualizada como um semiplano extra de


átomos em uma estrutura cristalina. Muitas vezes esses semiplanos são chamados de
linhas da discordância devido ao alinhamento dos átomos estarem presentes ao longo de
uma linha. Na discordância em aresta as ligações interatômicas são significativamente
distorcidas nas imediações da linha de discordância.
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Imperfeições cristalinas

TEM de uma liga de titânio,


ampliada 50.000.

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Imperfeições cristalinas
• A discordância do tipo espiral é um pouco mais difícil de visualizar. A natureza de uma
discordância é definida pelas orientações relativas da linha da discordância e do vetor de
Burgers. Em uma discordância de aresta elas são perpendiculares, enquanto em uma
discordância espiral elas são paralelas.

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Imperfeições cristalinas

• Compreender o movimento de uma discordância é fundamental para entender a


deformação plástica nos materiais, que corresponde ao movimento de grandes números
de discordâncias.

• Na microestrutura, a dificuldade com que ocorre os movimento das discordâncias, está


diretamente relacionado a resistência ao escoamento e a subsequente deformação
plástica dos sólidos cristalinos (para temperaturas abaixo do ponto de fusão).

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Imperfeições cristalinas
• A discordância se move de forma semelhante a uma lagarta, em uma pequena quantidade
por vez.

• A discordância na metade superior do cristal está deslizando plano por plano, da esquerda
para a direita, iniciando na posição A, passando por B até formar uma unidade de distância
interatômica à direita do cristal. Assim, uma pequena fração das ligações interatômicas são
quebradas durante o movimento da discordância.

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Imperfeições cristalinas

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Imperfeições cristalinas
• A magnitude e a direção da distorção de rede associada a uma discordância são expressas

em termos de um vetor de Burgers representado por 𝑏.

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Imperfeições cristalinas
Defeitos Interfaciais

• Os defeitos interfaciais são defeitos bidimensionais que aparecem em cristais em que


normalmente o material apresenta estruturas cristalinas ou orientações cristalográficas
diferentes.

• Esses defeitos podem ser divididos em: superfícies externas, contornos de grão, contornos
de fase e macla.

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Imperfeições cristalinas
Defeitos de superfície externa

• Nos defeitos de superfície externa, cada átomo na superfície já não apresenta o número de
coordenação adequado e as ligações atômicas já se encontram rompidas, de modo que os
átomos encontram-se em estado de maior energia.

Contornos de grãos

• Outro tipo de defeito interfacial é o contorno de grão, que é o limite onde termina e
começa outro grão.

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Imperfeições cristalinas
• Os sólidos são geralmente constituídos por um número de grãos
que podem variar em comprimento e na transição de suas
orientações cristalinas em relação a um grão adjacente.

• Quando a diferença entre as orientações cristalinas dos grãos é


pequena, utiliza-se o termo contorno de grão de baixo ângulo, e
quando esse desajuste de orientação é grande, utiliza-se o termo
contorno de grão de alto ângulo

Análise de EBSD, para verificar orientação cristalográfica de uma


material metálico
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Imperfeições cristalinas

• O tamanho dos grãos pode ser controlado pela taxa de resfriamento quando um material é
fundido ou tratado termicamente.

o Geralmente um resfriamento rápido produz grãos menores, enquanto um


resfriamento lento produz grãos maiores.

• O tamanho do grão pode ser determinado utilizando o método desenvolvido pela


Sociedade Americana para Testes e Materiais (ASTM – American Society of Testing and
Materials).

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Imperfeições cristalinas

• Outro tipo de defeito interfacial é a macla. A macla é


um tipo especial de contorno de grão.

• Nesse defeito existe uma específica simetria em


espelho da rede cristalina, onde os átomos em um
dos lados do contorno estão localizados em
posições de imagem em espelho em relação aos
átomos do outro lado do contorno.

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Imperfeições cristalinas
Contorno de fases

• Por fim, os defeitos denominados contornos de fase são aqueles nos quais existe uma fase
distinta em cada lado do contorno, em que cada uma das fases constituintes tem suas
próprias características físicas e/ou químicas distintas.

Alumínio

Silício
Ferrita
Austenit
a
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Imperfeições cristalinas
Defeitos Volumétricos

• Geralmente eles são divididos em quatro classes, que se baseiam na combinação do


tamanho e do efeito da partícula.

a) Precipitados: são pequenas partículas introduzidas na matriz de uma reação no estado


sólido. Elas podem aumentar a resistência das ligas, contudo podem ser prejudicial
formando locais de concentração de tensão e ou de pilhas.

b) Dispersantes: são partículas maiores que se comportam como uma segunda fase e que
adicionalmente influenciam o comportamento da fase primária.

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Imperfeições cristalinas
c) Inclusões: são geralmente constituintes indesejáveis na microestrutura.

d) Vazios (ou poros): são causadas por gases que ficaram presos durante a solidificação, ou
por condensação vaga no estado sólido, e são quase sempre defeitos indesejáveis.

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