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COLEÇÃO TEOLOGIA

ANTIGO TESTAMENTO II

LIVROS
HISTÓRICOS

Reinaldo Pinheiro
REINALDO PINHEIRO
____________________________________________________________________

COLEÇÃO TEOLOGIA

ANTIGO TESTAMENTO II

LIVROS
HISTÓRICOS

EDIÇÕES LDEL
Copyright © 2008 by Reinaldo Pinheiro
Capa, Diagramação e Designer: Jônatas Lima Lopes
Revisão gramatical: Ruth Yamamoto
Revisão: Zilma J. Lima Lopes
Supervisão editorial: Jamiel de O. Lopes

PINHEIRO, Reinaldo

Assunto: A Bíblia (Escrituras Sagradas do Judaismo


e do Cristianismo).
ISBN: 978-85-61103-13-2
CDD: 220

Publicado no Brasil com a devida autorização e com todos os


direitos reservados pela LDEL editora.

O conteúdo dessa obra é de inteira responsabilidade do autor.

IMPRESSÃO E ACABAMENTO: Gráfica Clarim

EDIÇÕES: Lopes Distribuidora e Editora Ltda.

FONE: (19) 3834 4160


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O ESTUDO DA DISCIPLINA
LIVROS HISTÓRICOS

Neste módulo você estudará a disciplina Antigo Testamento


II – Livros Históricos. Esta disciplina enfoca a história do povo de
Israel, contada de forma sistemática em doze preciosos livros. São
cerca de mil anos – 1446 a.C a 445 a.C – de história, iniciados no
livro de Josué e concluídos no livro de Neemias. Neste estudo
você saberá como a nação viveu na Terra Prometida; o período
dos juízes e dos reis; a divisão do reino; o pecado da nação, o exílio
e o retorno à Terra Prometida.
Nossos sinceros votos de sucesso em seu aprendizado e que
Deus enriqueça a sua vida com abundantes bênçãos espirituais.

O editor
SUMÁRIO

UNIDADE I: LIVRO DE JOSUÉ .................................. 13


I. Autor e Formação do Livro ............................................ 13
II. A Conquista da Terra de Canaã .................................... 18
ATIVIDADES DA UNIDADE I .......................................................... 33

UNIDADE II: LIVRO DE JUÍZES E RUTE


(UM PERÍODO DE ANARQUIA) .............................. 35
LIVRO DE JUÍZES ........................................................................... 35
I. Autor e Formação do Livro ............................................ 35
II. Esboço do Livro de Juízes .............................................. 36
III. Contexto do Livro de Juízes ......................................... 39
LIVRO DE RUTE ............................................................................. 55
I. Autor e Formação do Livro ............................................ 55
II. Esboço do Livro de Rute ................................................ 56
III. Teor do Livro .................................................................. 57
IV. Cronologia ...................................................................... 58
ATIVIDADES DA UNIDADE II ......................................................... 61

UNIDADE III: LIVRO DE I SAMUEL ......................... 63


PRIMEIRA PARTE - UM PERÍODO DE TRANSIÇÃO ....................... 63
I. Autor e Formação do Livro ............................................ 63

7
II. Esboço do Livro .............................................................. 65
SEGUNDA PARTE: O REINO UNIDO .............................................. 80
ATIVIDADES DA UNIDADE III ........................................................ 91

UNIDADE IV: LIVRO DE II SAMUEL (DAVI E O


INÍCIO DE UMA DINASTIA) .................................... 93
I. Autor e Formação do Livro ............................................ 93
II. Esboço de Segundo Samuel .......................................... 93
ATIVIDADES DA UNIDADE IV ........................................................ 107

UNIDADE V: O LIVRO DE I REIS .............................. 109


PRIMEIRA PARTE - A IDADE ÁUREA DE ISRAEL ............................ 109
I. Autor e Formação do Livro ............................................ 109
II. Esboço do Livro .............................................................. 110
SEGUNDA PARTE - A DIVISÃO DO REINO ..................................... 119
ATIVIDADES DA UNIDADE V ......................................................... 127

UNIDADE VI: I – LIVRO DE II REIS (QUEDA DOS


DOIS REINOS) .......................................................... 129
I. Autor e Formação do Livro ............................................ 129
II. Esboço de II Reis ............................................................ 130
ATIVIDADES DA UNIDADE VI ........................................................ 141

8
UNIDADE VII: LIVROS DE I E II CRÔNICAS
(O RETORNO DO CATIVEIRO BABILÔNICO) ....... 143
I. Autor e Formação do Livro de I Crônicas .................... 143
II. Esboço de I Crônica ........................................................ 145
III. Autor e Formação do Livro de 2 Crônicas ..................... 146
IV. Esboço de II Crônicas ................................................... 147
ATIVIDADES DA UNIDADE VII ....................................................... 151

UNIDADE VIII: ESDRAS, NEEMIAS E ESTER


(OS LIVROS PÓS-CATIVEIRO) ................................ 153
O LIVRO DE ESDRAS (Capítulos 1 – 6) .......................................... 153
I. Autor e Formação do Livro de Esdras ........................... 153
II. Esboço do Livro de Esdras (Capítulos 1-6) ................... 154
O LIVRO DE ESTER ........................................................................ 157
I. Autor e Formação do Livro de Ester .............................. 157
II. Esboço do Livro de Ester .............................................. 158
ESDRAS (CAPÍTULOS 7-10) ........................................................... 161
I. ESBOÇO DA SEGUNDA PARTE DE ESDRAS ..................... 162
O LIVRO DE NEEMIAS ................................................................... 164
I. Autor e Formação do Livro ............................................ 164
II. Esboço do Livro de Neemias ......................................... 164

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................... 171


AVALIAÇÃO FINAL ................................................... 173

9
INTRODUÇÃO

Os chamados livros históricos da Bíblia contam uma


história singular, pois não há, sobre a face da terra, uma nação
que possua uma história santa como Israel. Na história de Israel
não se observam acasos ou fatos que acontecem por manobras
geopolíticas ou diplomáticas, de forma desastrosa. Nota-se,
entretanto, em todos os fatos, a intervenção divina, para que
o Senhor concretize seu propósito, por intermédio do seu povo
Israel. Deus intervém na proteção e preservação de seu povo,
mas também na ação de forma punitiva, quando este pecou. Todo
o sofrimento de Israel não foi uma casualidade, mas ocorreu,
porque abandonaram ao Senhor (Dt 28.15). Assim também, todas
as bênçãos recebidas não foram motivadas pela sorte e sim, por
sua obediência ao Senhor (Dt 28.1). O mesmo Deus que permitiu
ao rei assírio Salmaneser V levar o reino do Norte, Israel, em
cativeiro, devido à sua desobediência e idolatria ( 2 Rs 17), foi
o que interveio no reino do Sul, Judá, quando Senaqueribe veio
contra ele; Deus mandou um anjo e matou cento e oitenta e cinco
mil soldados, pois este reino possuía um rei que temia a Deus ( 2
Rs 19.35-37).
Além disso, entender a história de Israel é necessário,
para que se possa aprender com os erros e acertos deles.
Observando os comportamentos deles, obter-se-á uma noção
de causa e efeito, para aplicação posterior ao nosso dia-a-dia.
Se determinado comportamento trouxe uma boa conseqüência,
deve-se praticá-lo. Entretanto, se determinado comportamento

11
teve conseqüências desastrosas sobre a vida do povo de Israel,
não se deve imitá-lo. Desta forma, como diz Paulo, ao falar sobre
Israel e seus erros no deserto, tudo ficou registrado para nos servir
de exemplo, para não cobiçar como Israel cobiçou; não cair na
idolatria ; não se prostituir ; não tentar ao Senhor; não murmurar
como alguns deles. Paulo conclui, dizendo que tudo isto foi escrito
como exemplo para aviso nosso (1 Co 10.6-11).
Haja, portanto, empenho em estudar os Livros Históricos,
para que se possa conhecer mais a este Deus que se envolve
com a história humana. Ele não é como o deus dos deístas, que
crêem ter ele criado o mundo e em seguida ter-se retirado. Não
se trata também como a idéia do ateu, que não crê em nenhuma
intervenção divina. O Deus da Bíblia é aquele que trabalha para
os que nele esperam (Is 64.4). Aprendamos como fazer, com os
acertos de Israel,e como não fazer, através de seus erros.

12
UNIDADE I
_________________

LIVRO DE
JOSUÉ

I - AUTOR E FORMAÇÃO DO LIVRO

1 - Escritor e data do livro

Há evidência de que o escritor possa ter sido o próprio


Josué. A própria tradição lhe atribui a autoria. Há, porém, vários
“acontecimentos mencionados que ocorreram após a sua morte:
a conquista de Hebrom por Calebe (14.6-15); a vitória de Otniel
(15.13-17) e a migração para Dã (19.47). É mais provável que o
livro tenha sido composto em sua forma final por um escriba ou
editor posterior, mas foi baseado em documentos escritos por
Josué”. (Bíblia Plenitude)

13
Antigo Testamento II - Livros Históricos

Sua morte também é registrada no capítulo final (24.29-32).


Para a maioria dos estudiosos, os fatos da história de Israel,
apresentados no livro, se deram próximo a 1400 e 1375 a.C.

2 - O livro de Josué e o Novo Testamento

Josué é um modelo de Cristo. Seu nome ”Jeová é Salvação” é


o equivalente hebraico do nome de Jesus no NT, em grego. Como
guia dos israelitas até a posse da Terra Prometida, ele tipifica ou
prefigura, no AT, Jesus, cuja obra é levar-nos à possessão eterna.

2.1 - Quem era Josué:


Josué era filho de Num, um israelita nascido no Egito,
pertencente à tribo de Efraim. Seu nome era Oséias “Salvação”
(Nm 13.8). Teve seu nome mudado por Moisés para Jesua ou
Josué- “Javé é Salvação” (Nm 13.16). Isto para enfatizar que Oséias
não seria a salvação, mas que esta viria tão somente do Senhor
Jeová. O nome Josué, quando transliterado, tem como equivalente
o termo Jesus. Por isso pode-se concluir que o nome Josué, no
hebraico, é o mesmo que Jesus, no grego. Josué foi escolhido
por Moisés, para que fosse seu auxiliar; este esteve de contínuo
servindo Moisés e esteve presente com ele na montanha, quando
seu líder recebia do Senhor Jeová a lei( Ex 24.13-18; 32.17,18). Ele
também servia como guardião da tenda da congregação, quando
Moisés ia se apresentar ao Senhor ( Ex 33.11).
Josué foi um grande líder militar, além de acompanhar
Moisés, quando este ia ter audiência com o Senhor, seja no templo

14
Unidade I
Livro de Josué

ou no monte; também liderava os exércitos de Israel em suas


guerras, em sua peregrinação no deserto. Ele esteve encarregado
da batalha contra os amalequitas no Sinai (Ex 17.9). Foi um dos
doze espias a ser enviado para espiar a terra de Canaã ( Nm 13.8).
Somente ele e Calebe se dispuseram a tomar a terra prometida,
pela fé, e por isso tiveram a promessa de Deus, confirmada por
suas vidas, de que seriam os únicos a herdar a terra prometida
(Nm 14.30). Além destes fatos, Josué presenciou todos os
dramas vividos por Moisés, como líder do povo de Israel, e todas
as conseqüências das desobediências do povo, o que ajudou a
formar o caráter ideal para o novo líder de Israel. Após a morte
de Moisés, este é escolhido para ser o novo líder e fazer com que
o povo de Israel herdasse a terra prometida.

3 - O Livro de Josué na Bíblia Hebraica

Em nossa Bíblia, o livro de Josué é classificado como um livro


histórico. Sua classificação, porém, na Bíblia hebraica é diferente
da nossa. Na Bíblia hebraica, este livro é classificado nos escritos
dos Profetas, que é dividido como profetas anteriores, e profetas
posteriores. Os profetas anteriores consistem em quatro livros,
que são: Josué, Juízes, Samuel (que em nossa Bíblia é 1 e 2 Samuel)
e Reis ( que em nossa Bíblia o livro é subdividido como 1 e 2 Reis).
O livro de Josué faz uma ponte com o livro de Deuteronômio,
a ponto de alguns estudiosos o classificarem como parte do
Pentateuco, formando assim um Hexateuco e não um Pentateuco.
Explica-se este acréscimo, porque a introdução de Josué forma

15
Antigo Testamento II - Livros Históricos

um excelente elo com a conclusão do livro de Deuteronômio.


Observa-se que, na conclusão de Deuteronômio, os Israelitas estão
nas campinas de Moabe, a leste do Jordão, esperando a ordem do
Senhor para marcharem em direção à conquista a oeste, do outro
lado do Jordão. Moisés, que havia liderado o povo até aquele
momento, não entraria na terra e passaria a liderança a Josué,
seu fiel discípulo (Dt 32.48-52; 34.9). E pouco depois de fazê-lo,
Moisés morre ( Dt 34.5). Após prantearem a morte de Moisés
por trinta dias ( Dt 34.8), o texto de Josué, capitulo primeiro, dá
sequência ao último capítulo de Deuteronômio: “Depois da morte
de Moisés, servo do Senhor, disse o Senhor a Josué...Moisés, meu
servo, é morto. Levanta-te agora, e passa este Jordão, tu e todo
este povo, à terra que eu dou aos filhos de Israel” (Js 1.1,2).

4 - Esboço do Livro de Josué

I- O CHAMADO DE JOSUÉ (1.1-9)


II - A ENTRADA NA TERRA (1.10-5.12)
1. Preparativos para a travessia do Jordão (1.10-18)
2. Os espias em Jericó (2.1-24)
3. A travessia do Jordão (3.1-4.18)
4. O acampamento em Gilgal (4.19-5.12)
III- A CONQUISTA DA TERRA ( 5.13-12.24)
1. O comandante do exército do Senhor ( 5.13-15)
2. A queda de Jericó (6.1-27)

16
Unidade I
Livro de Josué

3. A campanha contra Ai (7.1-8.29)


4. Altar construído em Ebal (8.30-35)
5. O tratado com os gibeonitas (9.1-27)
6. (A campanha no Sul) Os milagres trazem a
( 10.1-43)
liberação - Amorreus
7. A campanha no norte ( 11.1-23)
IV- A DIVISÃO DA TERRA (13.1-22.34)
1. A distribuição das tribos transjordanianas (13.1-33)
2. A parte de Calebe (14.1-15)
3. A parte de Judá (15.1-63)
4. A parte de José (16.1-17.18)
5. A parte das tribos restantes (18.1-19.51)
6. Uma parte para Josué (19.49-51)
7. Preocupações especiais (20.1-21.42)
• As cidades de refúgio ( 20.1-9)
• As cidades dos levitas ( 21.1-42)
V- OS ÚLTIMOS DIAS DE JOSUÉ (23.1-24.33)
O sepultamento de Josué, dos ossos de José
(24. 29-33)
e de Eleazar

17
Antigo Testamento II - Livros Históricos

II - A CONQUISTA DA TERRA DE CANAÃ

1 - Época da Conquista

Sabe-se que existe mais de uma data para o êxodo e, de


acordo com a data atribuída a este evento, também depende a da
conquista da terra, que ocorreu 40 anos após o êxodo.
Apesar de haver outras datas para o êxodo, prefere-se o
ano de 1446 a.C., porque, apesar desta ser uma data rejeitada
por alguns estudiosos, é a que melhor concilia as cronologias
subseqüentes.

2 - Que terras começaram a ser conquistadas

Muitos pensam que a conquista da terra começou com a


tomada de Jericó, após a travessia do Jordão. Mas a conquista se
iniciou a leste do Jordão, com a tomada da terra dos amorreus,
região hoje pertencente à Jordânia, estando ainda Moisés vivo.
Subindo Israel pelo leste do Jordão, depara-se com os edomitas,
descendentes de Esaú (Gn 36.1) e com os amonitas e moabitas,
descendentes de Ló, quando este teve relação incestuosa com
suas filhas (Gn 19.37,38). Mas o Senhor havia dito a Israel que
respeitasse a posse destes povos, pois ele havia dado a eles, e
eram seus parentes (Dt 2.1-9,19). Devido a essa ordem do Senhor,
Israel não atacou estes povos e continuou sua jornada a leste do
Jordão. Logo eles se encontram com Seom, rei dos amorreus.
Parece que a intenção dos Israelitas, a principio, não era guerrear

18
Unidade I
Livro de Josué

contra eles. Estes, porém, vieram a seu encontro para guerra


e o Senhor concedeu aos Israelitas a vitória. Israel matou a
Seom, rei dos amorreus, e se fez dono de boa parte das terras a
leste do Jordão, desde Arnom até Jazer ( Dt 2.26-37; Nm 21.21-
32). Ao norte do reino de Seom encontrava-se outro reino de
amorreus; seu rei era Ogue, rei de Basã. Seu território se estendia
desde Jazer, ao sul, até o extremo norte do Iarmuque, tendo o
Jordão a oeste e Amom ao oriente. Estas terras eram férteis e
bem irrigadas, possuindo terrenos cultiváveis. Esta terra era tão
boa que as tribos de Rubem, Gade e a meia tribo de Manassés
decidiram ficar aquém do Jordão. Após Israel haver conquistado
o reino de Seom, marcha contra o reino de Ogue que não pôde
resistir e acaba capitulando diante dos israelitas, que o matam
e tomam suas terras, como já haviam feito com o rei Seom (Nm
21.33-35). Agora Israel é dono de toda Transjordânia, desde o vale
de Arnom ao sul, até o monte Hermom ao norte: uma distância de
aproximadamente 241 quilômetros.

3 - Jericó, a conquista a oeste (Js 1)

Sendo Moisés morto (Dt 32.48-52), Josué assume a


responsabilidade de conduzir o povo à conquista da terra
prometida, a oeste do Jordão, Canaã (Dt 31.1-8).
Antes de tudo, Deus anima Josué e assume com ele o mesmo
compromisso que havia assumido com Moisés (Js 1.5). Havia, no
entanto, responsabilidades da parte de Josué, a promessa de que
onde ele colocasse a planta dos pés seria dele (Js .1.3),isto é, não

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Antigo Testamento II - Livros Históricos

era incondicional. Deus mostra as condições para o recebimento


destas promessas no versículo 8: “ Não se aparte da tua boca o
livro desta Lei; antes, medita nele dia e noite, para que tenhas
cuidado de fazer conforme tudo quanto nele está escrito; porque,
então, farás prosperar o teu caminho e, então, prudentemente te
conduzirás.”
Uma geração já havia morrido, tendo sido impedida de
entrar na terra prometida pela desobediência; desta restavam
os levitas Calebe e Josué (Nm 1.3, 47-50; 14.29,30). Sendo assim,
Josué sabia quais eram as conseqüências da desobediência, e é
por isso que ele foi tão duro com Acã, quando este pecou (Js 7.15).
Deus é amor, mas também é justiça; Ele é misericordioso, mas não
conivente com o pecado.
Observa-se que Deus também anima o líder Josué (Js 1.1-9)
que transmite este ânimo aos seus liderados. Narra-se o fato a
partir do versículo 10, onde Josué manda que estes se preparem
para a conquista da terra. Josué também adverte aos rubenitas,
gaditas e à meia tribo de Manassés que ajudem seus irmãos
na conquista além do Jordão, pois eles haviam assumido este
compromisso (Js 1.12-15; Nm 32.20-32).

4 - Os espias (Js 2)

Antes de entrar na cidade de Jericó para destruí-la, Josué


enviou dois espias para observarem a terra. Os espias entraram
na cidade, hospedaram-se na casa de Raabe a qual os escondeu,
protegendo-os das ameaças do rei de Jericó. Em reconhecimento

20
Unidade I
Livro de Josué

a este benefício, eles prometeram, sob juramento, que, ao


entrarem em Canaã para possuirem a terra, poupariam a ela e
à sua família. Para sinal desta aliança ela penduraria à janela um
cordão vermelho, a fim de que fosse reconhecida.

4.1 - Raabe, uma agraciada por Deus:


Observando a vida de Raabe, nota-se que ela levava uma
vida imoral na cidade de Jericó, pois era uma prostituta (Js 2.1).
Independente de sua situação, ela ouviu a voz de Deus e teve fé
suficiente para alcançar a salvação de Jeová. Além de seu nome
tornar-se comum entre os israelitas é uma das poucas mulheres
citada na genealogia de Cristo (Mt 1.5).

5 - A travessia do Jordão (Js 3)

“E o SENHOR disse a Josué: Este dia começarei a engrandecer-


te perante os olhos de todo o Israel, para que saibam que assim
como fui com Moisés assim serei contigo.” V.7.
Às vezes precisamos de uma intervenção divina, para que
sejam desfeitas as oposições; outras vezes, para que não venham
a ocorrer tais oposições como na vida de Josué. Seus desafios
foram tão grandes quanto os de Moisés. Porém, Deus já começou
com uma intervenção miraculosa, para que não viessem a ocorrer
futuras oposições. Observa-se que Josué passa o Jordão, sem
ouvir murmurações, algo que não ocorreu com Moisés, diante do
Mar Vermelho (Ex 14.10-14). Quando Israel foi derrotado em Ai, o
povo não foi contra Josué. Ao contrário, os anciãos se humilharam

21
Antigo Testamento II - Livros Históricos

juntamente com Josué (Js 7.5,6).


Como, então, Deus começaria a engrandecer Josué? Parando
as águas do Jordão que, por sinal, estava transbordando (Js 3.15).
Por este primeiro milagre, Josué começa a se firmar como líder da
conquista da terra prometida.

6 - Um memorial (Js 4)

Deus gosta de nos lembrar o que faz, através de memoriais,


justamente porque nossa memória é curta. Assim que Noé sai da
arca, Deus lhe deixa um memorial, para que ele lembrasse que a
terra nunca mais seria destruída com águas novamente (Gn 9.11-
17). Toda aliança entre Deus e o homem é acompanhada de um
memorial, para lembrar ao homem sua aliança com Deus. Foi assim
que Deus agiu com Abraão, ao estabelecer com ele a circuncisão
(Gn 17.9-13). Aos israelitas o Senhor também deixou a Páscoa,
para que lembrassem o livramento de Deus do Egito (Ex 12.14,24-
27). E quando os filhos de Israel estão atravessando o Jordão,
Deus estabelece mais um memorial: ele pede que levantem um
monumento de pedra, uma pedra para cada tribo; todos estavam
compromissados naquela aliança (Js 4.3,6,7). Essa questão do
memorial também se aplica à santa ceia (1 Co 11.24.25).

7 - A circuncisão em Gilgal (Js 5)

Deus mandou que Josué circuncidasse os filhos de Israel,


pois os que haviam saído do Egito e sido circuncidados, já haviam

22
Unidade I
Livro de Josué

morrido no deserto (v.6). E a nova geração que estava prestes a


entrar na terra prometida não havia sido circuncidada (v.5). Além
do mais, este ato de circuncisão era um ato de fé, pois os homens
ficariam impossibilitados de guerrear, devido à circuncisão,1 algo
que os tornaria presas fáceis para seus inimigos, por isso o fizeram
enquanto estavam acampados em Gilgal: “Tendo sido circuncidada
toda a nação, ficaram no seu lugar no arraial, até que sararam” (v.8).

8 - Cessou o Maná

O Maná foi a principal substância que alimentou os Israelitas


em sua peregrinação no deserto (Ex 16.35). Quando Israel havia se
queixado pela falta de alimento, Deus lhe forneceu o cereal do céu.
A cada manhã, após o desaparecimento do orvalho, os Israelitas
encontravam no chão uma coisa “pequena, arredondada,”
parecida com geada, esbranquiçada como semente de coentro e
bdélio. O maná, de acordo com as Escrituras, possuía gosto de mel.
Os israelitas o amassavam para cozer ou assar. Alguns acreditam
que a palavra “maná” vem do hebraico man e quer dizer “o quê
é”? Talvez devido à expressão que os israelitas usaram pela
primeira vez, quando viram. Segundo outros autores, maná vem

1. Essa foi a estratégia que os filhos de Jacó utilizaram para matar os


filhos de Hamor por terem desflorado Dina, eles exigiram que os filhos
de Hamor se circuncidassem. Pois só assim fariam aliança com eles e se
aparentariam. Porém, após a circuncisão dos filhos de Hamor, enquanto
se restabeleciam, eles foram mortos pelos filhos de Jacó (Gn 34.22-26).

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Antigo Testamento II - Livros Históricos

do hebraico: ‫“ ן ‏ ָמ‬man” e significa seiva de tamarisco.


Sendo o Maná a comida que Deus providenciou para a
peregrinação do povo de Israel no deserto, a Bíblia nos diz que, no
dia em que os filhos de Israel comeram do fruto da terra de Canaã,
cessou o Maná (Js 5.12). Com isso pode-se concluir novamente
que Deus fará por nós somente aquilo que não pudermos fazer.

9 - Uma Cristofania (Js 5.13-15).

O termo Cristofania é um termo teológico formado pela


justaposição de duas palavras Cristo + phania. Este último termo,
de origem grega, quer dizer manifestação. Ou seja, Cristofania
é uma manifestação visível de Cristo no Antigo Testamento.
Vemos que o personagem dessa passagem não é alguém comum.
Primeiro ele se identifica como príncipe dos exércitos do Senhor.
Ele não poderia ser um anjo, pois recebeu adoração de Josué
(v.14), algo que os anjos não permitem em hipótese alguma (Ap.
19.10;22.8,9). Sendo assim, pode-se concluir que isto só poderia
ser uma manifestação visível do Cristo. O propósito desta
manifestação seria encorajar Josué que estava prestes a enfrentar
muitas batalhas, e esse personagem se identificou como príncipe
dos exércitos do Senhor.

10 - Jericó é tomada (Js 6)

O significado do nome Jericó é um tanto incerto, podendo


significar “lugar perfumado” ou “cidade da lua”. Sendo este último

24
Unidade I
Livro de Josué

o significado do nome Jericó, alguns estudiosos nos dizem que


este nome foi dado em homenagem ao “deus-lua” dos semitas
ocidentais. Se assim fosse, seria talvez este o motivo de Deus ter
mandado que tudo que houvesse em Jericó fosse destruído, e
Josué amaldiçoa qualquer um que tentasse reconstruir a cidade
(Js 6.26,) pois o seu próprio nome era uma referência a um deus
pagão. Jericó, de acordo com os relatos bíblicos, seria uma cidade
fortificada que possuía muros, o que dificultaria sua tomada.
Flávio Josefo faz esta citação sobre a cidade: “encontrou-se nessa
poderosa cidade mui grande quantidade de ouro, prata...” (Josefo,
1990)
A tomada de Jericó aconteceria de forma milagrosa e pela
fé. Pois, de acordo com relatos históricos, Jericó seria uma cidade
murada, imponente, situava-se em um monte, bem íngreme,
desde um riacho adjacente, ao longo do qual subia a estrada que
iria até Bete-Horon (Js 10.10). Ela era até, relativamente, pequena
para os padrões de sua época, mas era facilmente defensável e
dificilmente invadida. E vemos que Josué teve fé para seguir a
ordem de Deus, porque o Senhor havia dito para que ele, os homens
de guerra e os sacerdotes rodeassem a cidade por sete dias,
tocando (Js 6.3,4). Possivelmente, ao final de cada volta, e de cada
dia, surgia uma pergunta no coração dos impacientes guerreiros
israelitas; Quando lutaremos? Mas o líder Josué sabia que ainda
não era a hora; só no sétimo dia, após sete voltas, as muralhas
caem e a cidade é conquistada (Js 6.15,16,20). Deus poderia ter
feito diferente? Sim. Porém Ele é soberano e queria provar a fé
de Josué e dos israelitas, e eles demonstraram paciência, não se
precipitando, esperaram o momento certo para agir.

25
Antigo Testamento II - Livros Históricos

11 - Uma difícil questão

No capítulo 6 de Josué e nos versículos 17 e 21, é dito que


toda a cidade seria condenada à morte. Somente Raabe e seus
familiares que estivessem em sua casa viveriam. Surge então um
ponto de interrogação: como Deus, um Deus de amor, daria uma
ordem dessas? E essa recomendação que já havia sido dada a
Moisés antes mesmo que entrassem na terra prometida (DT 7.1-
5). Há aqueles que ficam tão chocados com esta ordem, e por
possuírem um mau conhecimento dos atributos de Deus, acham
que o Deus do Antigo Testamento não é o mesmo do Novo, um
Deus de amor que deu seu filho em resgate de todos e consideram
que o Deus revelado no Antigo Testamento é um Deus vingativo.
Porém, os que assim pensam, esquecem-se de que Deus é
amor, mas é também justiça. Deus já havia dado a estes cananeus
quatrocentos anos, para que se arrependessem, o que eles não
fizeram (Gn 15.13.16). Assim como Deus também havia dado
cento e vinte anos para que os homens se arrependessem antes
do dilúvio (Gn 6.3).
Aqui vemos um relato do justo juízo divino contra um povo
que atingira um grau máximo de iniqüidade. Além disso, o Senhor
estava preservando Israel da influência maléfica que sofreriam
por parte dos cananeus, caso estes não fossem destruídos:
“Para que não vos ensinem a fazer conforme a todas as suas
abominações, que fizeram a seus deuses, e pequeis contra o SENHOR
vosso Deus (Dt 20.18). Infelizmente, Israel falhou em sua tarefa e
foi contaminado no período de Juízes, pois por não destruírem os

26
Unidade I
Livro de Josué

cananeus, estes os influenciaram para que servissem seus deuses


e caíssem na idolatria (Jz 3.5,6).

12 - À Beira de um fracasso: a destruição de Ai e o pecado


de Acã.

A próxima cidade a ser conquistada seria Ai. Ai vem do termo


hebraico “Ay” que quer dizer “monte de ruínas”. Talvez este nome
tenha sido dado devido ao estado em que a cidade se encontrou,
após ser conquistada pelos israelitas.
Josué, novamente, manda espias à terra. Estes trazem
informações sobre a fragilidade da cidade em relação a Jericó e
da inconveniência que seria deslocar toda a guarnição para lá.
Decidiram, então, que seria enviado cerca de três mil soldados
para que tomassem a terra. Estes, porém, foram derrotados
pelos habitantes de Ai. Esta derrota abalou a fé e a confiança dos
israelitas, havia algo de errado. Como Deus os havia ajudado a
vencer Jericó de forma milagrosa e eles perdem esta escaramuça
para uma cidade tão insignificante? Além disso, esta derrota
traria implicações enormes, definidas pelo próprio Josué: os
demais cananeus seriam fortalecidos por este fato e viriam sobre
os israelitas e os destruiriam. Enquanto este fato esmorecia os
israelitas, fortalecia os cananeus (Js 7.8,9).
Josué e os anciãos de Israel vão buscar em Deus a resposta:
o que estaria errado? E Deus lhes responde: Alguém tomou
daquilo que deveria ser destruído. Deus instruiu Josué, para que
este descobrisse onde estaria o transgressor. Era Acã e,assim , ele

27
Antigo Testamento II - Livros Históricos

e sua família foram destruídos. Os israelitas e Josué sabiam que


só seriam abençoados e teriam posse da terra, se obedecessem
de forma incondicional (Js 1.3,8). Além disso, estava vivo em suas
mentes o juízo aplicado em seus predecessores (Nm 14.26-31).
Após aplicarem o Juízo sobre Acã, voltaram suas atenções a Ai e a
conquistaram. Ou melhor, destruíram-na.

13 - Uma aliança desastrosa (Js 9)

Deus havia dito a Israel que poderia fazer aliança com outros
povos,menos com os cananeus, pois estes deveriam ser destruídos
(Dt 20.10-18). Entretanto, os habitantes de Gibeom, situada a
cerca de onze quilômetros de Betel, destruída junto com Ai (Js
8.17), vão ao encontro de Israel, buscando alianças diplomáticas.
Não sabemos bem o que os levou a se arriscarem tanto. Se eles
tinham conhecimento da permissão divina para alianças com
nações fora de Canaã, ou simplesmente se arriscaram, pois essa
era a única solução, a não ser lutar e morrer. Sabe-se apenas
que esta estratégia deu muito certo. Josué e os anciãos fizeram
aliança com eles, sem ao menos consultar ao Senhor (Js 9.14,15).
O não consultar ao Senhor demonstrou um excesso de confiança
e imprudência, porque essa aliança com este grupo de cananeus
impediu os israelitas de destruir, concedendo a eles o direito de
habitarem na terra que seria dos israelitas. Esta atitude abriu uma
brecha para a influência dos cananeus de forma que o povo de
Deus viesse a pecar.

28
Unidade I
Livro de Josué

14 - Os que deveriam ser destruídos, agora são protegidos

Os demais reis amorreus, ao saberem que Gibeom havia


feito aliança com Israel, passaram a atacá-los, pois Gibeom era
uma das cidades reais. Ao serem atacados pelos amorreus, os
gibeonitas pedem socorro para os israelitas que, em respeito à
aliança desastrosa que haviam feito, se sentiram obrigados a
socorrê-los. Israel marchou toda a noite e pela manhã, atacou
de surpresa. Deus fez com que os inimigos ficassem apavorados
e ao tentarem fugir do exército de Israel, uma chuva de granizo
caiu sobre eles. Então: “Josué falou ao Senhor no dia em que ele
entregou os amorreus nas mãos dos filhos de Israel, e disse em
presença dos israelitas: Sol, detém-te sobre Gabaon, e tu, ó lua,
sobre o vale de Ajalon.
E o sol parou, e a lua não se moveu até que o povo se vingou
de seus inimigos. Isto acha-se escrito no Livro do Justo. O sol parou
no meio do céu, e não se apressou a pôr-se pelo espaço de quase
um dia inteiro” (Js 10.12,13).2
Com essa batalha Josué aproveita para estender sua
conquista na direção sul, tomando as cidades de: Maqueda, Libna,

2. E O SOL SE DETEVE. “Não se sabe o método que Deus usou para prolongar
a luz do dia. Deus podia ter reduzido a rotação da terra, inclinando a terra
no seu eixo, como acontece nos pólos, onde o sol não se põe, ou produzido
uma refração nos raios solares. Seja qual tenha sido a opção empregada
por Deus, o prolongamento daquele dia foi uma resposta excepcional à
oração (VV. 12-14). O Deus que criou o mundo e os corpos celestes com suas
respectivas funções, pode também suspender seus movimentos naturais,
visando a seus próprios propósitos (conforme Isaías 38.7,8). Bíblia de
Estudos Pentecostal - CPAD.

29
Antigo Testamento II - Livros Históricos

Laquis, Eglon, Hebrom e DEbir. Assim, Israel feriu todas esta


cidades e seus reis, não havendo ninguém que sobrevivesse (Js
10.28-40).

15 - A campanha na direção norte

Josué havia acabado de conquistar as cidades localizadas na


região sul de Canaã; agora começa ele sua incursão na direção
norte da terra. Josué agiu de acordo com estratégia divina:
dividiu a terra, concentrando esforço por regiões, primeiro o sul,
depois o norte. Caso contrário, ele teria desfalecido com ataques
desorganizados.
Os habitantes da região norte, sabendo que o confronto
seria inevitável, começaram a organizar-se para resistir ao ataque
israelita. O líder desta aliança de resistência era Jabim, rei de
Hazor, situada a 32 quilômetros do mar da Galiléia e talvez a maior
cidade Cananéia. Josué os ataca de forma súbita e os cananeus
que conseguem sobreviver, fogem para a região da Fenícia.
Josué derrota,assim, parte dos cananeus que habitavam ao
sul e ao norte, na terra prometida. Israel, porém, não conseguiu
destruir todos os cananeus, o que, num futuro próximo, causaria
muitos problemas aos israelitas, pois eles seriam levados à idolatria
dos cananeus que habitavam entre eles (Js 15.63; 16.10; Jz 3.5,6).

30
Unidade I
Livro de Josué

16 - A divisão das terras

E Josué conquistou “toda aquela terra, as montanhas, e


todo o sul, e toda a terra de Gósen, e as planícies, e as campinas,
e as montanhas de Israel, e as suas planícies” (js 11.16); e muitas
outras terras.
E sendo Josué já velho e ainda tendo muita terra a ser
conquistada, o Senhor ordenou que as terras fossem repartidas
entre as tribos (Js 13-22).
Veja, a seguir, um mapa de como ficaram dividas as tribos e
seus respectivos quinhões na terra de Canaã:

fonte: www.compartilhandonaweb.com.br/imagens/Mapas/...

31
Antigo Testamento II - Livros Históricos

17 - Os últimos dias de Josué e sua morte

Antes de sua morte, Josué aconselha os líderes, 23.1-16.


E desafia o povo a servir ao Senhor: “Porém, se vos parece mal
aos vossos olhos servir ao SENHOR, escolhei hoje a quem sirvais; se
aos deuses a quem serviram vossos pais, que estavam além do rio, ou
aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais; porém eu e a minha
casa serviremos ao Senhor “(24.15).
Josué morre 24.29-33
Josué morreu deixando uma grande influência em Israel (Js
24:29-33).

32
Unidade I
Livro de Josué

ATIVIDADES DA UNIDADE I

1. Quem foi o autor e quando foi escrito o Livro de Josué?

2. Quem era Josué?

3. Qual é a classificação de Josué na Bíblia Hebraica?

4. Por onde Josué começou a conquista?

5. Qual o objetivo do Senhor ao pedir que Josué fizesse um


memorial de pedras?

6. Qual era a responsabilidade de Josué para que pudesse tomar


posse da terra?

7. Como Deus começaria a engrandecer Josué?

8. Por que Deus mandou Josué circuncidar os filhos de Israel?

9. O que é uma Cristofânia, e qual foi o propósito da manifestação


Cristofânica?

10. Por que Deus mandou que fossem mortos todos os cananeus?

11. Por que os israelitas foram tão duros com Acã?

33
UNIDADE II
_________________

LIVRO DE
JUÍZES E RUTE
UM PERÍODO DE ANARQUIA

LIVRO DE JUÍZES

I - AUTOR E FORMAÇÃO DO LIVRO

1 - Autor e data do livro

Apesar de não ser especificado quem seria o escritor deste


livro, a tradição judaica o atribui a Samuel. Há forte indício,
dentro do próprio livro, de que ele foi escrito depois dos fatos
ocorridos. Vemos isso em textos como “Naqueles dias não havia

35
Antigo Testamento II - Livros Históricos

rei em Israel” (Jz 17.6; 18.1;19.1;21.25). Assim, subentende-se que


o livro foi escrito em um período que era comum a monarquias
israelitas, ao escritor e seus leitores. Sendo assim, o livro deve ter
sido composto depois do período dos Juízes.

2 - A ação do Espírito Santo no livro de Juízes

Vê-se claramente retratada no livro de Juízes a atividade do


Espírito Santo, quando o Senhor usou grandemente aqueles que
estavam a seu serviço. Os atos heróicos de Otniel, Gideão, Jefté e
Sansã, são atribuídos ao Espírito de Deus.

3 - O livro de Juízes na Bíblia Hebraica

Assim como Josué, ele é classificado na segunda divisão da


Bíblia Hebraica, compondo a divisão dos profetas, e subdivisão
dos chamados profetas anteriores. Em nossa Bíblia cristã, apesar
de conter o mesmo assunto, ele é classificado como um dos livros
históricos.

II - ESBOÇO DO LIVRO DE JUÍZES

I - RESUMO DA CONQUISTA DE CANAÃ (1.1.-2.5)


1 - Judá e Simeão ( 1.1-21)
2 - Casa de José e Betel ( 1.22-26)

36
Unidade II
Livro de Juízes e Rute (Um período de anarquia)

3- O anjo de Javé em Boquim ( 2.1-5)


II- ISRAEL NO PERÍODO DOS JUÍZES ATÉ A
( 2.6-8.35)
MORTE DE GIDEÃO
1 - A nova geração após a morte de Josué (2.6-10)
2 - A razão de ser dos Juízes (2.11-19)
3- A razão para deixar os cananeus na terra (2.20-3.6)
4 - A opressão de Cusam-Risataim; o
( 3.7-11)
livramento sob Otniel
5 - A opressão de Eglom; o livramento sob
(3.12-30)
Eude
6 - A opressão de Jabim; o livramento sob
(4.1-24)
Débora e Baraque
7 - Cântico de Débora (5.1-31)
8 - A opressão de Midiã; o livramento sob
( 6.1-7.25)
Gideão
9 - Outros eventos envolvendo Gideão (8.4-21)
10 - O governo de Gideão em Israel ( 8. 22-32)
III - O BREVE REINADO DE ABIMELEQUE ( 8.33-9.6)
IV - O APÓLOGO DE JOTÃO (9.7-15)
V - ISRAEL NO PERÍODO DOS JUÍZES; O FINAL
(10.1- 12.15)
DO PERÍODO
1 - Tola e Jair, juízes de menor importância (10.1-5)
2 - O período de Jefté como líder (10.6-12.7)
3 - Ibsã, Elom e Abdom, juízes de menor
(12.8-15)
importância

37
Antigo Testamento II - Livros Históricos

VI - A OPRESSÃO DOS FILISTEUS E A


(13.1-16.31)
FAÇANHA DE SANSÃO
1 - Anúncio do nascimento de Sansão (13.1-25)
2 - Sansão e a mulher de Timna (14.1-15.20)
3 - Sansão e a prostituta de Gaza (16.1-3)
4 - Sansão e Dalila ( 16.4-31)
VII - OUTROS EVENTOS DO PERÍODO (17.1-21.25)
1 - Mica e seu sacerdote ( 17.1-13)
2 - A migração da tribo de Dã (18.1-31)
3 - O ultraje em Gibeá (19.1-30)
4 - A guerra entre Benjamim e Israel (20.1-48)
5 - A reconciliação das tribos (21.1-25).

4 - Quem eram os juízes

Eles não tinham função específica de julgar, pois isto cabia


aos anciãos, mas eram líderes militares e protetores. Seu trabalho
era o de proteger uma determinada tribo ou região; raros foram
os que tiveram expressão nacional. Eram homens escolhidos
pelo Senhor e ungidos com o seu Espírito, a fim de atender a uma
situação emergente. Seu cargo de juiz não era hereditário, isto é,
não passava a seus filhos como no caso de futuros reis de Israel.

38
Unidade II
Livro de Juízes e Rute (Um período de anarquia)

III - CONTEXTO DO LIVRO DOS JUÍZES

O período de juízes é classificado como um período de


anarquias, instabilidades, fragmentação das tribos, etc.o que não
ocorreu da noite para o dia, mas foi um processo e uma seqüência
de erros, que acabaram culminando no período negro dos Juízes.

1 - O porquê das anarquias

Vemos que o período de juízes é conhecido pela anarquia,


isto é, falta de governo. Este versículo é uma constante no livro
de Juízes: “Naqueles dias, não havia rei em Israel; cada qual fazia
o que parecia direito aos seus olhos” (Jz 17.6;18.1;19.1;21.25).
Esse período é conhecido pelos círculos viciosos que vivia Israel.
Esses círculos viciosos consistiam em: pecado, juízo divino,
arrependimento e livramento. O povo quebrava a aliança com o
Senhor, servindo deliberadamente a deuses estranhos. E assim
o Senhor os entregava nas mãos dos opressores. Quando Israel
clamava a Deus, ele levantava um juiz para libertar o seu povo. O
que levou o período de Juízes a ser tão sombrio assim?
Primeiro: eles não expulsaram ou destruíram os cananeus.
Ao contrário, além de deixar que vivessem entre eles, fizeram
alianças de casamentos com os cananeus, algo que já havia sido
terminantemente proibido por Deus. O Senhor já havia dito que
esta aliança os levaria a desviar-se de sua presença (Js 15.63; 16.10;
17.12; 23.12,13. Deus havia escolhido Israel para que fosse reino
sacerdotal e nação santa (Ex 19.6; Dt 7.1-5; 20.16-18; Jz 3.5,6).

39
Antigo Testamento II - Livros Históricos

Como segunda causa, menciona-se o fato de Josué não ter


feito um sucessor, como Moisés que preparou, por longo tempo,
Josué, fiel discípulo, para que o sucedesse no comando da nação;
no final da vida, Moisés consagra Josué e o apresenta publicamente
ao povo como seu sucessor (Dt 31.7; 34.9). Faltou a Josué a visão
de preparar um sucessor para liderar Israel.

2 - Um esboço do caos no período dos juízes

2.1 - Falta de liderança (Jz 17.6; 21.25):


Um dos problemas de Israel durante o período dos Juízes,
foi a falta de um líder que desse a direção e coerência às tribos,
solidificando-as como uma nação. Com Josué, a terra de Canaã foi
conquistada e ocupada por Israel, mas grandes áreas ainda ficaram
por conquistar pelas tribos, individualmente. Não havia ninguém
que direcionasse a nação, cada um fazia o que bem entendia.

2.2 - Falta de coesão entre as tribos por problemas


geográficos (Jz 5.15-17):
Outro problema enfrentado pelas tribos era a topografia
da terra prometida, cheia de montes e vales. Havia fronteiras
naturais, deixando tribos e cidades isoladas uma das outras.
Observa-se, desta forma, que muitas vezes algumas tribos ficavam
fragilizadas diante de um ataque inimigo, pois não podiam contar
com as outras distantes, separadas por vales e montes. O cântico
de Débora atesta este fato: ela nos diz que recebeu apoio da tribo
de Issacar, mas que Rubem “estava dividido, eles discutiram e não

40
Unidade II
Livro de Juízes e Rute (Um período de anarquia)

foram” (Nova Tradução na Linguagem de Hoje). Débora continua


seu discurso: “A tribo de Gade ficou a leste do rio Jordão, e a tribo
de Dã, nas pastagens. A tribo de Aser parou perto do mar e ficou
na beira das praias.” (Nova Tradução na Linguagem de Hoje).
Lê-se neste outro versículo que Gade, Dã e Aser não apoiaram
Débora em sua batalha contra Jabim, rei de Hazor. Já Zebulom e
Naftali apoiaram Débora nesta batalha. O próprio rio Jordão era
um problema para as tribos de Rubem, Gade e a meia tribo de
Manassés, pois se encontravam do outro lado do Jordão. Outro fato
interessante é que, devido às fronteiras geográficas, já começavam
a surgir dialetos locais; verifica-se este fato na estratégia de Jefté
para descobrir quem era habitante de Gileade (Leste do Jordão) e
quem era habitante de Efraim (Oeste do Jordão). Os habitantes de
Efraim pronunciavam “sibolete” ao invés de “chibolete” como os
habitantes de Gileade (Js 12.6).

2.3 - Tentações religiosas dos cananeus:


Israel passou a ter anos turbulentos durante o tempo de
Juízes, por terem abandonado ao Senhor e terem seguido os
deuses dos cananeus. O que levaria Israel a abandonar o Senhor
Jeová, para seguir os deuses dos cananeus? Havia vários fatores.
Primeiro: os cananeus tinham deuses relacionados à terra e a todas
as atividades da vida. Seus deuses eram divindades agrícolas. Os
israelitas haviam habitado por quarenta anos no deserto, tendo sido
sustentados pelo Senhor e, ao chegarem à terra prometida, viram
a necessidade de conhecer um pouco de agricultura. Até então,
eles não tinham precisado plantar e, mesmo que quisessem, não
tinham como, pois estavam no deserto e viviam de forma nômade,

41
Antigo Testamento II - Livros Históricos

isto é, peregrinando. Entraram no Egito como criadores de gado


(Gn 46.30-34), e, depois de algum tempo, no Egito, tornaram-se
escravos fazedores de tijolos (Ex 1.12-14). Pode-se concluir que
agricultura e lavoura nunca foram o forte do povo Israelita que,
ao entrar na terra, encontra um povo próspero, que há séculos
cultivava o solo e conhecia as estações próprias para cada cultura.
Como os cananeus tinham suas divindades voltadas à agricultura,
os israelitas acharam que eram os deuses deles os responsáveis
por uma boa lavoura, e não seu conhecimento da terra e do clima.
Sendo assim, os israelitas eram tentados a abandonar a adoração a
Jeová que, a seu ver, não lhes concedia uma boa lavoura, passando
a adorar os deuses cananeus que os ajudavam na agricultura. Os
cananeus acreditavam que a própria chuva era o sêmen de Baal
derramado sobre a terra. Além disso, havia as exigências morais
do Senhor Jeová, algo que não havia entre os cananeus; seus
deuses eram deuses sensuais, seus cultos eram verdadeiras orgias.
Havia sacerdotes e sacerdotisas nos templos dos cananeus e os
ofertantes tinham relações sexuais com os sacerdotes. Era disto
que Deus estava falando, quando disse aos filhos de Israel que não
trouxessem preço de prostituição ao templo (DT 23.17,18; veja
também: 1 Rs 14.24; 2 Rs 23.7; Os 4.14; Lv 17.7; 19.29,30). Este tipo
de culto era praticado pelos filhos de Eli, que mantinham relações
com mulheres, na porta do templo (1 Sm 2. 22). Portanto, devido
à ligação que os israelitas faziam entre os deuses dos cananeus e
sua prosperidade, e devido ao elevado padrão moral de Jeová, em
comparação com a libertinagem pregada por aqueles que serviam
aos deuses pagãos, Israel foi facilmente levado à idolatria, e foi
justamente isto que aconteceu no período dos Juízes, nem por

42
Unidade II
Livro de Juízes e Rute (Um período de anarquia)

uma nem duas vezes (Jz 3.5,6).

2.4 - Os ciclos pecaminosos:


Todos estes fatos, acima citados, geraram o desfecho trágico
do período dos Juízes, um período cíclico, isto é, Israel não tinha
uma progressão espiritual, mas sim uma vida cíclica. Vemos esta
descrição cíclica de Israel no período dos Juízes, por várias vezes:
pecado, castigo, arrependimento, libertação.

3 - Os juízes

3.1 - Otniel, o primeiro Juiz (Jz 3):


Vemos neste texto de juízes o claro registro da situação
cíclica do pecado de Israel:
Pecado: “E os filhos de Israel fizeram o que parecia mal
aos olhos do SENHOR, e se esqueceram do SENHOR, seu Deus, e
serviram aos baalins e a Astarote.” V.7.
Juízo de Deus: “Então, a ira do SENHOR se acendeu
contra Israel, e ele os vendeu em mão de Cusã-Risataim, rei da
Mesopotâmia; e os filhos de Israel serviram a Cusã-Risataim
durante oito anos.” v.8.
Arrependimento de Israel: “E os filhos de Israel clamaram ao
SENHOR...” (v.9ª).
Livramento divino: “e o SENHOR levantou aos filhos de Israel
um libertador, e os libertou: Otniel, filho de Quenaz, irmão de
Calebe, mais novo do que ele”(v.10) E veio sobre ele o Espírito do

43
Antigo Testamento II - Livros Históricos

SENHOR, e julgou a Israel e saiu à peleja; e o SENHOR deu na sua


mão a Cusã-Risataim, rei da Síria; e a sua mão prevaleceu contra
Cusã-Risataim.”

3.2 - Eúde e outra recaída de Israel:


Deus havia dito a Israel que destruísse todos os cananeus,
pois estes os fariam desviar-se dos caminhos do Senhor. Israel,
porém, não deu ouvidos e podemos ver nova:mente o ciclo vicioso
do pecado:
Pecado: “Porém os filhos de Israel tornaram a fazer o que
parecia mal aos olhos do SENHOR...” v.12 a.
Juízo de Deus: “então, o SENHOR esforçou a Eglom, rei dos
moabitas, contra Israel...” v.12b.
Arrependimento de Israel: “Então, os filhos de Israel
clamaram ao SENHOR...” (v.15ª).
Livramento divino: “e o SENHOR lhes levantou um libertador:
Eúde, filho de Gera, benjamita, homem canhoto...” (v.15b).

3.3 - Débora e Baraque (Jz 4):


Este capítulo começa narrando outro ciclo pecaminoso de
Israel. E tornaram a fazer o que era mau aos olhos do Senhor,
depois da morte de Eúde. Então Israel é atacado por Jabim, rei
de Hazor. Esta opressão durou cerca de vinte anos. Neste período
havia uma profetisa, Débora, que atendia na região montanhosa
entre Ramá e Betel. Diz-nos o texto que os filhos de Israel foram a
ela a juízo. Isto não quer dizer que eles foram para que ela julgasse
alguma causa deles, mas sim que ela os liderasse na batalha contra

44
Unidade II
Livro de Juízes e Rute (Um período de anarquia)

Jabim, rei de Hazor. Ela mandou que fosse Baraque, da tribo de


Naftali, quem liderasse o povo, pois Deus o havia chamado para
tal obra. Baraque, porém, não quis ir, a menos que Débora se
comprometesse a ir com ele. Sabe-se o que aconteceu: devido a
sua falta de fé, a honra que seria dele foi dada a uma mulher que
matou Sísera, o general do exército de Jabim. Vê-se, então, que
se arregimentam para a batalha e o texto bíblico nos relata que
“ o Senhor derrotou a Sísera, e todos os seus carros, e todo o seu
exército...” (v.15). Como sucedeu isto, se Sísera, na época, possuía
os instrumentos mais sofisticados e temidos pelos inimigos? Foi o
Senhor que lutou. Observe-se o relato extra-bíblico do historiador
Flávio Josefo, mostrando como Deus interveio de forma milagrosa,
salvando os israelitas das mãos de Jabim :
“Travou-se o combate: naquele momento viu-se cair uma
forte chuva de granizo, que o vento implicava com tanta violência
contra o rosto dos cananeus que seus arqueiros e fundibulários
não se podiam servir nem dos arcos nem das fundas, nem os que
estavam armados mais pesadamente podiam usar suas espadas,
tanto estavam enregelados pelo frio. Os Israelitas, ao contrário,
tendo a tempestade pelas costas, não somente não os incomodava,
mas redobrava-lhes a coragem, por ser um sinal visível do auxilio
de Deus” (Josefo, 1990)

3.4 - Gideão (Jz 6-8):


Os israelitas agora estavam sendo oprimidos, não por um
povo, e sim por uma organização de povos. A Bíblia classifica
como os amalequitas, midianitas, e os filhos do Oriente (v.3). A

45
Antigo Testamento II - Livros Históricos

Bíblia nos diz que eles eram tão numerosos que não se podiam
contar. Entravam na terra não para comer, mas para destruir (v.5).
A destruição realizada por este povo foi tão devastadora que os
vilarejos deixaram de existir; morava-se ou em uma cidade murada,
fortaleza ou em covas e cavernas (v.2). Os rebanhos e as lavouras
também eram consumidos pelos ataques destes povos. Eles não
queriam fazer de Israel um reino vassalo, isto é, tributário, mas,
somente saqueavam. Na verdade, enquanto o tributo era uma
quantidade fixa, o saque seria sem medida.
O Senhor, entretanto, levanta um libertador, Gideão, que
estava malhando o trigo no lagar. O lagar era o lugar onde se fazia
vinho e não lugar para malhar o trigo. Este era malhado na eira,
um lugar amplo, plano e espaçoso, como os antigos terreirões
de café. Por que, então, Gideão estava malhando trigo no lagar
e não na eira? Possivelmente, esta seria uma estratégia para
enganar os povos que os saqueavam. Se fosse época de grãos e
não de uvas os saqueadores iriam até a eira e não ao lagar. Sendo
assim, pode-se concluir que Gideão estava usando uma estratégia
com a finalidade de remediar a situação. Mas o Senhor tinha uma
solução definitiva para seu problema, a destruição e o livramento
completo dos seus opressores.

3.4.1 - O Anjo do Senhor:


Um anjo aparece a Gideão: não um anjo comum, mas
uma manifestação visível de Deus a qual os teólogos chamam
de Teofania. No relato deste fato, o termo Anjo do Senhor é
intercalado com o próprio nome do Senhor, que nos originais é

46
Unidade II
Livro de Juízes e Rute (Um período de anarquia)

IAHWEH (v.12, 14, 16).

3.4.2 - A Vitória de Gideão:


Gideão, ao convocar o povo, juntou cerca de trinta e dois
mil soldados que se prontificaram para a batalha. No entanto,
se eles vencessem, ficariam presunçosos; assim, Deus começa a
diminuir o número de soldados, de modo que, no fim, Gideão vai
à batalha com trezentos, e Deus livra o povo de Israel de forma
milagrosa. Apesar de Gideão ter demonstrado tanta fé para ir à
batalha com trezentos homens contra cerca de cento e trinta e
cinco mil homens, ele toma uma atitude triste: ao elaborar uma
estola sacerdotal com os despojos de guerra, acabou levando os
israelitas novamente para idolatria e práticas pagãs (Jz 8.24-27).
Com isso aprende-se que a vigilância nunca é demais, e que, talvez,
as coisas feitas de forma inocente podem causar conseqüências
desastrosas a longo prazo, como foi o caso de Gideão.

3.5 - Jefté (Jz 11-12):


Jefté, filho de Gileade, havia sido forçado ao exílio em
Tobe, por ser filho de uma prostituta, no interior do deserto de
Hauran. Logo se juntou a ele um grupo de marginais. Israel,porém,
começou a enfrentar a opressão dos amonitas, e os anciãos de
Israel que conheciam as virtudes de Jefté, foram pedir que ele os
defendesse, mas ele tendo sido rejeitado pelos israelitas, recusa a
oferta; os israelitas assumem o compromisso diante de Deus de
que, se Jefté conseguisse vencer seus opressores, seria seu chefe.
Por fim, Jefté aceita a proposta e vai à luta para proteger Israel das

47
Antigo Testamento II - Livros Históricos

mãos dos amonitas (Jz 11.1-11).

3.5.1 - Uma tentativa diplomática:


A primeira tentativa de Jefté não é pela guerra e sim pela
diplomacia. Ele argumenta que Amom não tinha direito sobre as
terras. Primeiro, elas haviam sido de Seom, rei dos amorreus, e
não deles. Israel havia conquistado a terra dos amorreus e não,
tomado dos amonitas. O segundo argumento de Jefté era que
Israel já havia habitado naquela terra por trezentos anos; por que
só agora Amom a reivindicaria, se a terra já havia pertencido antes
a eles (Jz 11.12-29)?

3.5.2 - Um voto impensado:


Amom não aceita as argumentações diplomáticas de Jefté e
só lhe resta a guerra. Mas, antes de ir à batalha, ele faz um voto
ao Senhor; se ele fosse e saísse vitorioso, aquele que primeiro lhe
saísse ao encontro, quando voltasse da batalha, seria oferecido
em holocausto (Jz 11.30,31). Indo à guerra, Jefté sai vitorioso.
Porém, quando retornava para casa, acontece algo que ele não
imaginou, sua filha é quem primeiro sai ao seu encontro. E agora o
que fazer? Ele havia comprometido diante de Deus a oferecer em
holocausto quem primeiro lhe saísse ao encontro. Sacrificaria ele
sua filha? Como seria isso, se Deus não aceita sacrifício humano?

48
Unidade II
Livro de Juízes e Rute (Um período de anarquia)

Sobre isto há dois pontos de vista:

a) Oferecimento, literalmente, em holocausto:


De acordo com esta versão, Jefté pode ter oferecido sua
filha literalmente em holocausto. Pois ele havia sido expulso do
meio de sua família, criado em meio a homens que não temiam a
Deus (Jz 11.1-3). O termo que utilizou em seu voto é holocausto,
que quer dizer queimar por inteiro (Jz 11.31). Diferente de Ana que
disse que daria, consagraria, que quer dizer separar para o serviço
do Senhor, a Samuel (1 Sm 1.11,27,28). Leia-se o que Flávio Josefo
comenta sobre este fato:

“Aquela generosa moça, em vez de se espantar com


estas palavras respondeu-lhe com maravilhosa firmeza
que uma morte, que tinha por motivo a vitória de seu
pai e a liberdade de seu país só poderia ser muito
agradável... ele (Jefté) sacrificou a vitima inocente,
que Deus não desejava dele e nenhuma lei obrigava a
oferecer-lhe” (Josefo, 1990)

Mas uma coisa é certa: se ele ofereceu sua filha em


holocausto, Deus não a recebeu, pois ele não aceita sacrifício
humano (Dt 18.10; 2 Rs 3.27).

b) Oferecimento para o serviço do templo:


A seguir, a interpretação mais tradicional: de acordo com
essa visão, Jefté ofereceu sua filha, como Ana ofereceu Samuel

49
Antigo Testamento II - Livros Históricos

para que servisse a Deus no templo (1 Sm 1.11,27,28). Assim, a


filha de Jefté, sendo filha única e virgem, ao oferecê-la para servir
no templo, Jefté acabou ficando sem descendência (Jz 11.34-40).
Leia-se o comentário da Bíblia Pentecostal:

“Tudo indica que Jefté não ofereceu fisicamente sua


filha em sacrifício (vv. 30,31) por duas razões, pelo
menos: (1) Ele certamente conhecia a lei de Deus que
proibia rigorosamente sacrifícios humanos, e por certo
sabia que Deus tinha tal ato como uma abominação
intolerável (Lv 18.21; 20.2-5; Dt 12.31; 18.10-12). (2)
A menção enfática de que “ela não conheceu varão”
(i.e., não se casou), deixa claro que ela foi apresentada
a Deus como um sacrifício vivo, dedicando toda sua
vida como virgem, e ao serviço do santuário nacional
de Israel” (Ex 38.8; I Sm 2.22)

Creio que este fato tenha sido relatado na Bíblia para que
haja vigilância com respeito aos votos. Que isto nos sirva de
exemplo. Pense bem antes de votar, porque é melhor não votar do
que votar e não cumprir, ou cumprir o voto com dor no coração,
como Jefté. (Ec 5.4,5).

3.5.3 - O ataque de Efraim a Jefté: um exemplo de


fragmentação das tribos:
Como já se disse na introdução, havia muita dificuldade para
que Israel viesse a ser uma nação coesa, na terra prometida. Uma

50
Unidade II
Livro de Juízes e Rute (Um período de anarquia)

delas era a própria configuração geográfica da terra prometida.


Sua topografia apresentava fronteiras naturais, tais como os
montes, os vales, o Jordão, o mar da Galiléia etc.
Na batalha entre Jefté e Amom percebe-se a fragmentação
das tribos, a ponto de guerrearem entre si duas tribos de Israel.
Observa-se também como a mesma tribo de Efraim se opôs a
Gideão que soube contornar a situação de forma diplomática
(Jz 8.1-3). Entretanto, Gileade e Efraim entraram num confronto
desastroso para a tribo de Efraim e para todo Israel, pois eram
irmãos. Neste confronto morreram quarenta e dois mil efraimitas
(Jz 12.6).
Este fato nos mostra claramente a fragmentação e o
desgoverno que havia no tempo dos Juízes. Mostra também
que os Juízes eram líderes tribais ou regionais, como no caso de
Jefté, que liderou a região de Gileade, a leste do Jordão, e não
teve influência a oeste, pois foi atacado por Efraim- uma tribo que
ficava a oeste do Jordão.

3.6 - Sansão (Jz 13):


Sansão foi um juiz local. Seu ministério se deu na tribo de Dã
que ficava a oeste do Mar Morto, mais ao sul da terra prometida,
no Vale de Sereque. Devido às fronteiras naturais, os juízes, em sua
grande maioria, eram líderes locais e foram raros os de influência
nacional.
Sansão foi contemporâneo de Jefté e Samuel. Tanto Sansão
como Jefté exerceram seu ministério concomitantemente. Sansão,
a oeste do Mar Morto na tribo de Dã, sofria com ataque de seus

51
Antigo Testamento II - Livros Históricos

vizinhos, os filisteus (Jz 13.1). E Jefté, na região de Gileade, a leste


do Jordão, e sofria com os ataques de seus vizinhos, os amonitas
(Jz 11.6).
Vemos que Sansão foi um juiz de vida instável e conturbada.
E, muitas vezes, surge uma pergunta: como Deus poderia usar um
homem tão instável como Sansão para que fosse juiz de Israel?
Como o Espírito de Deus poderia usar alguém como ele?
Antes de qualquer coisa, deve-se observar que o agir do
Espírito Santo no Antigo Testamento é diferente dos nossos dias.
Enquanto hoje temos o registro bíblico que somos templo do
Espírito Santo e que Ele habita em nós (1 Co 3.16,17; 6.19), no
Antigo Testamento, ou seja, na época de Sansão, o agir do Espírito
Santo era algo externo e não interno. As descrições no período
dos Juízes sobre o agir do Espírito Santo são: e veio sobre ele o
Espírito, e se apossou dele o Espírito, o Espírito o revestiu (Jz 3.10;
11.29;14.6,19;15.14).
Está certo que Sansão era um nazireu, do hebraico “Nazir”,
“separado”. Ele foi escolhido e separado por Deus para ser
o libertador de Israel. No contexto, porém, dos juízes isto não
implicava espiritualidade, como se pode notar pela própria vida de
Sansão que é um testemunho eloqüente da vida dos juízes; ele não
era alguém escolhido para ser exemplo de uma vida piedosa, mas
alguém escolhido por Deus para liderar Israel em suas batalhas
contra os ataques de seus inimigos. Observa-se,entretanto, que
Sansão não foi o melhor, nem o pior dos juízes de seu período.
Note-se que Gideão, após aquela excelente demonstração de fé,
ao vencer mais de cento e vinte mil com trezentos, faz uma estola
sacerdotal e povo passa a adorá-la (Jz 8.24-27). Jefté foi escolhido

52
Unidade II
Livro de Juízes e Rute (Um período de anarquia)

dentre os marginais, filho de uma prostituta, e pode até mesmo


ter oferecido sacrifico humano, devido às suas origens.
Pode-se concluir,assim, que os juízes eram homens
chamados para liderar e proteger Israel no tempo em que não
havia rei em Israel (Jz 17.6;18.1;19.1;21.25).

4. - Os últimos capítulos de Juízes (17-21)

4.1 - Cuidado com a cronologia:


Em questão de cronologia bíblica, deve-se ter cuidado com
a seqüência de relatos que nem sempre correspondem à ordem
dos fatos. Às vezes há fatos que parecem seqüenciais, mas são
concomitantes. Um exemplo disso ocorre com os juízes. Pois
Sansão e Jefté foram contemporâneos, mas os registros de sua
vida são seqüenciais.
Pode haver confusão, se se basear nas introduções dos
relatos da vida dos juízes. O relato do período de determinado juiz
costuma começar da seguinte forma: “E os filhos de Israel tornaram
a fazer o que parecia mal aos olhos do SENHOR...” (Jz 13.1). Esse
texto parece indicar uma seqüência entre Jefté e Sansão e não
uma contemporaneidade. No entanto, devemos atentar para o
sentido original da palavra “tornaram” nestes textos de Juízes.
Esta palavra deriva-se do hebraico “yasaph”, que poderia ser
traduzida como: os israelitas acrescentaram mais à sua maldade,
ou continuaram a fazer, ao invés de fazer novamente, como é o
sentido da palavra “tornaram” de nossas traduções.

53
Antigo Testamento II - Livros Históricos

Portanto, isto também vale para os demais textos onde


aparece a palavra “tornaram”, que em nosso idioma tem sentido
de seqüência, enquanto que nos originais tem sentido de
concomitância.
Com isso, deve-se observar que não é porque há uma
seqüência de capítulos ou assunto que se deve considerá-los como
fatos seqüenciais e isolados um do outro. Esta argumentação vale
para os últimos capítulos de Juízes. Apesar de estes fatos estarem
narrados no final do livro, eles ocorrem no início do período dos
juízes, por volta de 1400 a.C., e não no final do período dos juízes,
por volta de 1100 a.C.
Mas como comprovar que estes fatos são do final do período
dos juízes e não do início?
Primeiro, nestes capítulos finais é mencionada a tribo de Dã,
e esta ainda está em busca de terra. A conquista de terra pelas
tribos é algo que se dá no início do período dos Juízes e não no
final (Jz 18.1; 19.47). Segundo os capítulos 19 e 20 de Juízes, há
a narrativa do confronto que houve entre a tribo de Benjamim e
as demais tribos de Israel. Neste confronto a tribo de Benjamim
é dizimada, restando dela somente seiscentos homens apenas
(Jz 20.45-48; 21.16). Se este fato tivesse ocorrido no final do
período dos juízes, por vota de 1100 a.C., teríamos um problema.
Pois, será que Israel teria aceitado um rei da tribo de Benjamim,
que estava dizimada com apenas seiscentos homens, e tão mal
vista moralmente ? Note-se que Saul, o primeiro rei de Israel,
foi coroado no final do período dos juízes, por volta de 1051 a.C.
(1 Sm 9.1,2).

54
Unidade II
Livro de Juízes e Rute (Um período de anarquia)

Com isso, pode-se concluir que estes fatos nos evidenciam


que os últimos capítulos de Juízes não aconteceram no final
deste período, por volta de 1100 a.C., mas sim no início deste
período, próximo ao ano de 1400 aC. Trezentos anos depois,
a tribo de Benjamim já havia se recuperado tanto moral como
biologicamente, para que dela fosse escolhido o rei Saul.
Estes fatos devem nos servir de exemplo, para que haja
cautela na questão de cronologia bíblica.

LIVRO DE RUTE

I - AUTOR E FORMAÇÃO DO LIVRO

1 - Autor e data do livro

Assim como a maior parte dos escritos do Antigo Testamento,


o livro de Rute não identifica seu autor. O Talmude, porém,
aponta Samuel como seu escritor. Alguns, entretanto, acreditam
que ele possa ter sido escrito depois do tempo do rei Davi, devido
à citação de seu nome em Rute 4.17. De qualquer forma, porém,
não haveria problema, pois aqui Davi é chamado pelo nome, além
do mais, foi Samuel que ungiu Davi rei, e foi seu contemporâneo
(1 Sm 16.13).

55
Antigo Testamento II - Livros Históricos

2 - O Livro e sua localização na Bíblia Hebraica

O livro de Rute é catalogado em nossas bíblias, logo após o


livro de Juízes; é classificado como fazendo parte dos históricos.
Este livro, no entanto, é definido e catalogado de forma um tanto
diferente na Bíblia Hebraica. Ele é classificado nos Escritos, que é
a terceira seção do Cânon Judaico, enquanto que o livro de Josué
e Juízes encontram-se na subdivisão dos profetas, que são os
profetas anteriores. Esta secção, dos Escritos, tem seu nome do
hebraico “Ketubim”. Os pais da igreja, no entanto, passaram a usar
o termo grego “hagiographa”, que quer dizer “escritos sagrados”
para defini-los. As palavras do Senhor Jesus fazem referência a esta
divisão do Cânon, ao dizer: “...importava se cumprisse tudo o que
de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos”
(Lc 24.44). Ao referir-se ao último item “Salmos,” o Senhor estaria
referindo-se à ultima divisão da Bíblia hebraica - os Escritos, pois o
Salmos faz parte desta divisão, sendo a maior parte dela, e talvez
a primeira obra a ser inserida nesta divisão.

II - ESBOÇO DO LIVRO DE RUTE.

I - ADVERSIDADES DE NOEMI (1.1-5)


II - NOEMI E RUTE (1.6-22)
1- Noemi resolve sair de Moabe (1.6-13)
2- O amor inabalável de Rute (1.14-18)

56
Unidade II
Livro de Juízes e Rute (Um período de anarquia)

3- Noemi e Rute vão a Belém (1.19-22)


III - RUTE CONHECE A BOAZ NA SEARA (2.1-23)
1- A Providência divina na decisão de Rute (2.1-3)
2- A Provisão divina na decisão de Rute ( 2.4-16)
3- Rute informa a Noemi (2.17-23)
IV - RUTE E BOAZ NA EIRA ( 3.1-18)
1- Rute recebe instruções de Noemi sobre Boaz (3.1-5)
2- Rute pede a Boaz para ser seu remidor ( 3.6-9)
3- Rute recebe resposta favorável de Boaz (3.10-18)
V - BOAZ CASA COM RUTE (4.1-13)
1- Boaz e o contato com o parente remidor (4.1-12)
2- Casamento e nascimento de um filho (4.13)
VI - O CONTENTAMENTO DE NOEMI (4.14-17)
VII - A GENEALOGIA DE DAVI (4.18-22)

III - TEOR DO LIVRO

Vemos que o livro de Rute é uma descrição da graça de


Deus, pois ela era moabita (Rt 1.4) sendo, por isso, considerada
gentia. Apesar de os moabitas serem descendentes de Ló, não
eram herdeiros da promessa, feita a Abraão e transmitida a Isaque
e Jacó (Gn 19.36-38;12.1-3; 26.4; 28.14). Mas, apesar de tudo isso,
ela entrou no plano divino da redenção. Além disso, ela é uma das
poucas mulheres a ser citada na genealogia do nosso Senhor Jesus
(Mt 1.5).

57
Antigo Testamento II - Livros Históricos

Vemos no livro de Rute um grande exemplo da obra redentora


de Cristo. Rute representa a noiva gentia de Cristo, a igreja, e Boaz,
o parente remidor, tipifica Cristo, o nosso resgatador.

IV - CRONOLOGIA

Novamente um cuidado com a questão cronológica: apesar


de o livro de Rute ser citado depois do livro dos Juízes, os fatos
nele narrados ocorrem no período dos Juízes. O próprio livro de
Rute inicia a narrativa com um dado cronológico: “E sucedeu que,
nos dias em que os juízes julgavam” (Rt 1.1).

1 - Do sofrimento para glória

Devido a um período de fome em Israel, a família de Noemi


migra para Moabe, a leste de seu país. Chegando a Moabe, seu
filhos casam-se com mulheres moabitas, Rute e Orfa. Em um
determinado momento, Noemi fica viúva, seus dois filhos falecem,
ficando ela e sua duas noras, todas viúvas. Noemi resolve voltar a
sua terra natal, porém suas noras decidem acompanhá-la. Noemi
tenta convencê-las a ficar, mas somente Orfa decide não seguir
viagem. E, sendo assim, retornam as duas viúvas para a terra
natal de Noemi. As duas, agora sozinhas e desamparadas, ainda
enfrentavam o desprezo das pessoas que as consideravam como
mulheres que não estavam debaixo da bênção de Deus, pois, se
estivessem, não estariam vivenciando tamanho desamparo.

58
Unidade II
Livro de Juízes e Rute (Um período de anarquia)

Chegando a Belém, Rute foi conduzida pelo Senhor a


respigar grão, indo parar no campo de Boaz, homem rico e
piedoso (Rt 2.1). Ao encontrar-se com Rute, em sua lavoura, Boaz,
já sabendo do temor e da piedade da moça moabita, a louva por
seu comportamento em relação a sua sogra (Rt 2.11,12).
Ao chegar a casa, Rute relata tudo o que aconteceu: como
Deus havia providenciado para ela tamanha bênção naquele dia.
Quando Rute informa a Noemi que havia respigado no campo de
Boaz, sua sogra explica a Rute que Boaz poderia ser seu remidor.
Conforme a lei do levirato, o cunhado se casaria com a cunhada
cujo marido havia morrido, antes de ter filhos, e ela teria filhos
dele para suscitar descendência ao falecido (Dt 25.5-10; Gn 38).
Acontece que Rute não era viúva de Elimeleque, marido de
Noemi, nem Boaz, irmão de Elimeleque. Sendo assim, esta prática
pode melhor ser definida como “semelhante ao levirato” ou
casamento de parentesco. Boaz aceita ser o remidor de Rute, mas
havia alguém que possuía primazia em relação a Boaz. Oferecida
a proposta de redenção do campo e da moça ao parente mais
próximo, este rejeitou. Com isso o direito de remissão passou a
ser de Boaz que casa com Rute. Ela foi abençoada duas vezes, pois,
além de encontrar um remidor, passou a fazer parte da linhagem
da família de onde viria o Cristo (Mt 1.5). Deus abençoou,desta
forma, a Noemi e a fez feliz com sua nora:

“ Disseram então as mulheres a Noêmi: Bendito seja o


Senhor, que não te deixou hoje sem remidor; e torne-se
o seu nome afamado em Israel.

59
Antigo Testamento II - Livros Históricos

Ele será restaurador da tua vida, e consolador da tua


velhice, pois tua nora, que te ama, o deu à luz; ela te é
melhor do que sete filhos.
E Noêmi tomou o menino, pô-lo no seu regaço, e foi
sua ama”. (4.14,15)

60
Unidade II
Livro de Juízes e Rute (Um período de anarquia)

ATIVIDADES DA UNIDADE II

1. Quem foi o escritor do livro de Juízes?

2. Quem eram os juízes?

3. Qual a classificação do livro de Juízes na Bíblia Hebraica?

4. Por que este período é definido como uma anarquia?

5. Defina o motivo de falta de coesão das tribos.

6. O que levou os israelitas a abandonarem o Senhor e seguirem


aos deuses cananeus?

8. Como podemos definir os ciclos pecaminosos de Israel?

9. Quem era o anjo do Senhor que apareceu a Gideão?

10. Qual foi a primeira saída que Jefté tentou com os amonitas?

11. Qual foi o voto de Jefté?

12. O que vemos na luta entre Jefté e Efraim?

13. Defina, como Deus pode usar alguém tão instável como
Sansão para ser Juiz.

14. Em que período ocorreram os fatos do livro de Juízes 17-21.

15. Em que período ocorreram os fatos do livro de Rute.

61
UNIDADE III
_________________

O LIVRO DE 1
SAMUEL

PRIMEIRA PARTE - UM PERÍODO DE


TRANSIÇÃO

I - AUTOR E FORMAÇÃO DO LIVRO

1 - Autor e data do Livro de Samuel

Apesar de não haver indicação por escrito, o livro de Samuel


é atribuído por alguns, como sendo escrito pelo próprio Samuel, o

63
Antigo Testamento II - Livros Históricos

relato que vai de seu nascimento até a sua morte. Mas os demais
períodos do livro de 1 Samuel e 2 Samuel, possivelmente, foram
escritos pelos profetas Natã e Gade (1 Cr 29.29).

2 - Localização do livro na Bíblia Hebraica

O livro de 1 e 2 Samuel, diferente das nossas divisões,


formam um só livro na Bíblia hebraica. Além disso, ele não segue
a classificação das Bíblias Cristãs que o consideram como livro
histórico. Este livro está incluído na segunda divisão da Bíblia
Hebraica - nos chamados profetas (anteriores ).

3 - O Livro de 1 Samuel e o Novo Testamento

1 Samuel encerra prefigurações proféticas do ministério de


Jesus. Samuel acumulou os ofícios de profeta e sacerdote; Cristo é
profeta, sacerdote e rei.
Em Davi começa a linhagem terrena do rei messiânico de
Israel. Em Cristo, Deus vem como Rei e virá novamente como Rei
dos reis. Davi, o pequeno e humilde pastor, prefigura a Cristo, o
bom pastor. Jesus torna-se o Rei-pastor definitivo. O NT refere-se
a Cristo como “Filho de Davi” (Mt 1.1;9.27;21.9), a “descendência
de Davi segundo a carne” (Rm 1.3) e a “Raiz e a geração de Davi”
(Ap 22.16).

64
Unidade III
Livro de I Samuel

II - ESBOÇO DO LIVRO

I - PERÍODO ANTERIOR À MONARQUIA:


(caps. 1-7)
DEUS GOVERNA E RESGATA SEU POVO
1 - O nascimento de Samuel e o cântico de
(1.1-2.10)
ação de graças de Ana
2 - O homem de Deus: Samuel e Eli em Siló (caps.1-3)
3 - O crescimento de Samuel e a rejeição da
(2.11-36)
casa de Eli
4 - A iniciação de Samuel como profeta (cap. 3)
5 - A arca é capturada pelos filisteus (cap. 4)
6 - A morte de Eli (4.12-22)
7 - A arca é devolvida a Israel (6.1-71)
8 - Vitória de Deus: Samuel contra os filisteus
( 7.2-17)
em Mispa
II - INÍCIO DA MONARQUIA: O POVO EXIGE
(caps. 8-12)
UM REI
1 - Samuel ouve e atende ao pedido do povo (cap.8)
2 - Saul é ungido rei (9.1-10.16)
3 - Samuel promulga advertência sobre a
(cap. 12)
monarquia
III - O REINADO, AS GUERRAS DE SAUL E A
(caps.13-15)
SUA REJEIÇÃO
A - Saul contra os filisteus: a primeira
(caps. 13,14)
rejeição de Saul

65
Antigo Testamento II - Livros Históricos

B - Saul é rejeitado por Deus (15.1-35)


1 - Jônatas conduz o povo à vitória; Saul fica
(cap.14)
isolado
IV - ASCENSÃO DE DAVI E A QUEDA DE SAUL (caps 16-31)
A - A ascensão de Davi agrada a todos,
(caps. 16-18)
menos a Saul
1 - Davi é ungido por Samuel e apresentado
(cap. 16)
a Saul
2 - Davi e Golias (Cap.17)
B- Saul procura matar a Davi (cap. 19-23)
C - Davi refugia-se entre os filisteus; Saul
(caps. 27-31)
comete suicídio

1 - Quem era Samuel (1 Sm 1)

O texto bíblico nos diz que Samuel era filho de Elcana, filho
de Zufe efraimita. Sendo assim, surge uma pergunta: se Samuel era
filho de efraimitas, como poderia ele exercer o oficio sacerdotal?
O texto,porém, identifica Elcana, pai de Samuel, como
descendente de efraimita, por morar na tribo de Efraim. Mas ele,
com certeza, era descendente de levitas, pois é isto que nos relata
a genealogia de Samuel ( 1 Cr 6.33-35). Entretanto, como Elcana,
um descendente de Levi, moraria em Efraim? Ele, possivelmente,
moraria nas chamadas cidades de refúgio, distribuídas entre as
tribos, e dadas para habitação dos levitas (Js 21.5).

66
Unidade III
Livro de I Samuel

2 - A situação espiritual e política da época de Samuel

Samuel nasceu em um momento crítico da história de Israel,


no final do período dos juízes. Havia nesse período uma crise de
autoridade, porque cada um fazia o que queria (Jz 21.25). Além
de não haver um líder nacional como na época de Moisés e Josué,
pois os juízes, em sua grande maioria, foram líderes locais ou
regionais, as tribos estavam se autodestruindo. Percebe-se este
fato na primeira batalha entre a tribo de Benjamim e demais tribos,
onde Benjamim foi dizimada pelas demais tribos e só restaram
seiscentos homens. Nota-se isto também no cântico de Débora
(Jz 5), ao dizer que várias tribos não a apoiaram, quando lutou
contra Jabim. Observam-se efraimitas contendendo fortemente
com Gideão, que não os convidou, quando foi guerrear contra os
midianitas. Gideão ainda conseguiu contornar esta situação pela
diplomacia (Jz 8.1-3). Jefté que foi ameaçado de ser queimado
pelos efraimitas, ao ser acusado de não os ter convocado para a
guerra contra os filhos de Amom, apesar de tê-lo feito (Jz 12.1,2),
teve que lutar contra Efraim. Nesta batalha Jefté matou quarenta
e dois mil efraimitas.
Além desta situação geopolítica desalentadora havia ainda
um ambiente espiritual desesperador, pois os problemas políticos
nada mais eram que conseqüência dos problemas espirituais,isto
é, tinham abandonado ao Senhor.
No período do nascimento de Samuel, os filhos de Eli eram
sacerdotes, e há uma clara descrição da situação espiritual neste
texto bíblico: “a palavra do SENHOR era de muita valia naqueles

67
Antigo Testamento II - Livros Históricos

dias; não havia visão manifesta.” (1 Sm 3.1).

3 - Por que esta situação espiritual tão caótica?

Isto não foi algo que aconteceu da noite para o dia, mas foi
um processo longo de declínio espiritual, que começou logo após
a morte de Josué, cerca de trezentos anos antes. A Palavra nos
diz que morreu Josué e seus contemporâneos, e surgiu uma nova
geração que não conhecia ao Senhor, nem tão pouco a obra que
ele fizera a Israel (Jz 2.8-10). Se esta geração, subseqüente a Josué,
não conhecia ao Senhor, a falha na transmissão dos ensinamentos
ocorreu na geração de Josué,visto que o Senhor havia recomendado
aos filhos de Israel que deviam inculcar as Escrituras na cabeça
de seus filhos, andando, assentando, deitando e levantando (Dt
6.7,8).
A situação caótica dos dias de Samuel ocorreu por um único
fator desencadeante: o abandono dos mandamentos do Senhor..

4 - Eli e seus filhos, sacerdotes, rejeitados (1 Sm 2,3)

Samuel nasceu através de um milagre de Deus que concedeu


o desejo de sua mãe, uma mulher estéril. Esta havia feito um voto
de que, se o Senhor lhe desse um filho, este lhe seria consagrado,
para que O servisse durante todo tempo de sua vida (1 Sm 1.11). E
Deus concedeu. Nasce Samuel, é entregue no templo aos cuidados
de Eli, que atuava mais como supervisor dos serviços de seus filhos
(1 Sm 1.3;2.12,22;4.18), porquanto o exercício sacerdotal cabia

68
Unidade III
Livro de I Samuel

oficialmente aos seus filhos, os abomináveis, Hofni e Finéias (1 Sm


1.3). Estes não respeitavam a liturgia, pois a gordura do sacrifício
devia ser queimada ao Senhor, mas eles tomavam do sacrifício,
antes que a gordura fosse queimada (2 Sm 2.12-17; Lv 3.3-5,16,17).
Era assim a situação espiritual do povo: se os próprios sacerdotes
transgrediam os mandamentos, o que não faria o povo comum?
Além disso, os filhos de Eli haviam instituído rituais pagãos
no tabernáculo do Senhor, estabelecendo nele prostitutas
cultuais, e eles mesmos tinham relações com essa prostitutas,
algo que era praticado pelos pagãos e que Deus abominava (1 Sm
2.22; Dt 23.17,18). A Bíblia, porém, nos diz que Samuel não se
deixava influenciar pelos maus testemunhos dos filhos de Eli (1 Sm
2.18; 3.19-21).

Eli sabia do comportamento de seus filhos, mas tomava


medidas superficiais, não sendo enérgico com eles. Devido a
isto, o Senhor envia um homem de Deus, um profeta anônimo, a
Eli para transmitir seu veredicto ao sacerdote e seus filhos: Eli e
sua família seriam desarraigados do sacerdócio, porque, mesmo
sendo responsável pelo comportamento de seus filhos, não tomou
providências necessárias (1 Sm 2.23-25,29;3.12,13).

5 - Deus não se deixa escarnecer (1 Sm 4-6).

O primeiro fato que nos mostra Deus agindo, em nome de


sua santidade, é a morte de Hofni e Finéias.
Israel vai a Ebenezer para pelejar contra os filisteus e, em

69
Antigo Testamento II - Livros Históricos

sua primeira escaramuça, são derrotados pelos filisteus e morrem


cerca de quatro mil soldados israelitas. Então, os combatentes
israelitas chegam à conclusão de que, se fossem a Siló e trouxessem
a arca, sairiam vitoriosos, pois esta era o símbolo da presença de
Deus. Ao chegar a arca ao acampamento dos israelitas, há júbilo,
porém eles se esquecem de que de nada valeria a presença da arca,
em desobediência à Palavra de Deus. Israel sai à peleja, confiante
de que sairia vitorioso, mas acabam sendo derrotados e a arca
é levada e os dois filhos de Eli são mortos no combate. Eli, que
estava em Siló, ao receber a notícia da desastrosa empreitada dos
israelitas e seus filhos, cai da cadeira, quebra o pescoço e morre.
Sua nora entra em processo de parto e também morre. A criança
que nasce, neste trágico momento, toma o nome que traria duras
lembranças a Israel: Icabô ou “Iy-kabowd” , que significa sem
glória, foi-se a glória de Israel.
O segundo fato que se evidencia é que Deus não se deixa
escarnecer e vem o juízo de Deus sobre os filisteus, por seu
desrespeito para com a arca de Deus. Os filisteus, ao capturarem
a Arca, puseram-na como um troféu ou símbolo de supremacia de
Dagom sobre o Deus de Israel. Na cultura pagã acreditava-se que
o povo que ganhava uma batalha, possuía deuses superiores aos
dos derrotados. Sendo assim, quando os filisteus colocaram a Arca
diante de Dagom, queriam demonstrar que seu deus era superior
ao Deus de Israel, representado ali pela arca.
No entanto, eles se esqueceram de que o Senhor não se deixa
escarnecer. Na manhã seguinte quem estava prostrado diante da
arca era Dagom (1 Sm 5.1-3). Os filisteus levantam seu deus, que já
não parecia o todo- poderoso, prostrado diante da arca da aliança.

70
Unidade III
Livro de I Samuel

No dia seguinte está Dagom novamente prostrado diante da arca,


e ainda mais, estava com a cabeça e as mão cortadas (1 Sm 5.4).
O juízo divino,no entanto, não pára por aqui, pois os
cidadãos de Asdode começaram a sofrer com tumores. Então
eles começam a desconfiar que havia algo de errado com eles,
desde que a arca chegou ali, e que a mão do Deus de Israel era
sobre eles e seu deus Dagom. Os filisteus decidem mandar a arca
de Asdode a Gate. Os habitantes de Gate, porém, começam a
sofrer com as mesmas infecções dos habitantes de Asdode. Os
de Gate enviam-na para Ecrom, e se repete a mesma história.
Vê-se no clamor dos habitantes de Ecrom a seriedade do juízo
de Deus: “Transportaram para nós a arca do Deus de Israel, para
nos matarem, a nós e ao nosso povo.”(1 Sm 5.10). Ninguém mais
queria a arca que se tornara um pesadelo aos filisteus. A situação
dos filisteus é descrita de forma lúgubre: “E os homens que não
morriam eram tão feridos com tumores, que o clamor da cidade
subia até o céu.” (1 Sm 5.12). Deus não se deixa escarnecer e,
muito mais, diante de pagãos e seus deuses.
Enfim, os filisteus decidem devolver a arca, mas queriam
saber se, realmente, as doenças eram juízo do Deus de Israel ou
uma simples casualidade. Para isto eles tomaram vacas que não
possuíam o hábito de puxar carroças, mesmo sabendo que tinham
crias novas. Prender os animais na carroça já seria difícil para
a puxarem, visto que nunca tinham feito isto. Mas, além disso,
prenderam suas crias nos currais e tocaram-nas, para que elas
fossem sós. O desfecho foi o que parecia ser impossível: primeiro,
animais não domados puxarem a carroça, e ainda abandonarem
suas crias. Percebe-se que havia uma força maior que conduzia

71
Antigo Testamento II - Livros Históricos

os animais que iam berrando e chamando suas crias(1 Sm 6.7-12).


A arca sai da terra dos filisteus que haviam sofrido o juízo
divino, e vai para Bete-Semes. Mas Deus feriu o povo de Israel por
irreverência, pois tentaram olhar dentro da arca ( 1 Sm 6.19).
Há nestes três relatos o juízo divino sobre aqueles que
quiseram afrontar e difamar a santidade do Senhor Deus.

6 - A transição: de Teocracia para monarquia

Surge aqui uma pergunta: Por que Deus se irou contra Israel
que pediu um rei? Na teocracia, Deus chamava os líderes e juízes,
tais como Moisés e Josué e na monarquia, Deus não escolheria
os reis? ( 1 Sm 9.17; 16.12,13).Além do mais, Deus havia dito que
Israel possuiria reis ( Gn 17.6;49.10; Dt 17.14-20). Por que,então,
Deus ficou irado com Israel?
O primeiro problema era que Israel não queria somente um
rei, mas, com seu pedido, demonstravam que estavam rejeitando
o Senhor como seu rei (1 Sm 8.7), deixando claro seu desejo de
ser como as demais nações ( 1 Sm 8.20) e perdendo, assim, a
qualidade de nação única e exclusiva de Deus (Ex 19.6).

7 - Israel pede um rei (1 Sm 8)

Sendo Samuel velho, seus filhos que lhe sucederam,


passaram a dar escândalos; o texto bíblico nos diz que eram
avarentos e aceitavam subornos. Os israelitas passam a

72
Unidade III
Livro de I Samuel

argumentar, rejeitando a descendência de Samuel como juízes, e


passam a exigir que este lhes designe um rei. A questão central
não era a incompetência dos filhos de Samuel, pois houve juízes
e sacerdotes tão problemáticos quanto seus filhos, tais como os
filhos de Eli, Sansão, Gideão e estes não foram rejeitados pelos
filhos de Israel. A motivação de Israel não era pura e sim uma
perversão: ser como as demais nações e somente utilizaram este
deslize dos filhos de Samuel como subterfúgio.
Apesar de Samuel se entristecer pelo pedido feito pelos
israelitas, pois ele se sentia rejeitado pelo povo, apesar de tudo
que havia feito, Deus o conforta, dizendo que esta rejeição não
era de Samuel, mas os israelitas estavam rejeitando o próprio
Deus, para não reinar sobre eles (vs. 6,7).
Sendo assim, o Senhor diz a Samuel que daria rei a Israel.
Antes,porém, Samuel deveria deixar bem claro aos Israelitas
quais seriam os direitos deste rei: direitos pesadíssimos em
relação àquilo que o Senhor Jeová exigia deles: “Dizimará o vosso
rebanho, e vós lhe servireis de criados” (1 Sm 8.17). Mas, apesar
de tudo isto, o povo continuou exigindo um rei, para que fizesse
suas guerra (vs. 19,20).

8 - A escolha de Saul como rei (1 Sm 9;10)

Saul era da tribo de Benjamim, a menor de Israel, apesar


de sua beleza exterior (1 Sm 9.2). Esta havia sido dizimada, há
trezentos anos, a ponto de haverem restado somente seiscentos
homens ( Jz 20.42-47; 1 Sm 9.21).

73
Antigo Testamento II - Livros Históricos

Havendo as jumentas do pai de Saul se perdido, ele fica


incumbido de recuperá-las. Após um período de procura, porém,
sem sucesso, Saul e seu moço decidem consultar o profeta Samuel,
que neste texto é chamado de vidente (1 Sm 9.9). Havia dois tipos
de profetas veterotestamentário: os Roeh, que possuíam um
ministério mais receptivo, tais como Ezequiel, Daniel, Zacarias.
Estes possuíam um ministério mais voltado para visões do que
para a transmissão da Palavra. Havia ainda outra linhagem de
profetas: os Nabis, que possuíam um ministério mais transmissivo.
Tais como Isaias, Jeremias. Estes eram aqueles que usavam a
famosa frase: “assim diz o Senhor”( 1 RS 17.14), ou “veio a mim a
Palavra do Senhor” ( Jr 2.1). Não que não houvesse profetas tanto
receptivos quanto transmissivos, que recebiam e transmitiam a
Palavra do Senhor. Mas a ênfase de seus ministérios ou estava nas
visões ou transmissões da palavra .
Voltando ao incidente das jumentas, Saul vai até Samuel, mas,
ao chegar diante do profeta, este já havia recebido uma revelação
sobre quem seria o futuro rei ( 1 Sm 9.15,16 Assim que Saul é
ungido rei, Samuel diz que este passaria por três experiências e
que seria mudado num outro homem. Tudo aconteceu conforme
a palavra de Samuel..

9 - Saul e sua primeira vitória (1 Sm 11)

Naás, rei do amonitas, sobe e sitia Jabes-Gileade. Amom


ficava a leste do Jordão, assim como Jabes-Gileade. Os amonitas
já vinham tentando tomar esta terra desde a época de Jefté,

74
Unidade III
Livro de I Samuel

porém não tinham conseguido. Mas agora, sendo Samuel já velho,


possivelmente tentaram arriscar uma nova empreitada. Ao sitiar
Jabes, os moradores desta cidade fazem uma proposta de aliança.
Entretanto as exigências de Naás são muito altas: pede que seja
arrancado o olho direito dos habitantes de Jabes e os moradores
de Jabes pedem socorro às demais tribos de Israel. Vem então
Saul em socorro de Jabes e derrota os amonitas.
Neste capitulo onze alguns fatos nos chamam atenção. A
falta de entendimento entre as tribos ainda reinava. Pois, após
Naas haver proposto estes critérios tão macabros, para que a
aliança fosse concretizada, os anciãos de Jabes pediram sete dias
para tentar convencer as demais tribos a que viessem em seu
socorro. E se, ao final do período, não houvesse ninguém que os
socorresse, eles atenderiam as normas da aliança.
Outro fato que também nos chama a atenção é que o reino
de Israel ainda estava em formação, pois Saul já havia sido ungido
rei ( 1 Sm 10.1). No entanto nesta ocasião, ele vinha do campo, de
arar a terra com bois,e não do palácio (1 Sm 11.5).

10 - A oficialização de Saul como rei

Assim como Davi, que primeiro foi ungido rei, e somente


depois de um período foi oficializado como rei, Saul também o
foi. Parece que, a princípio, o pedido de um rei foi uma questão
momentânea e emotiva, pois, quando Saul é ungido rei, apenas
um grupo o acompanhou, e houve aqueles que murmuraram ( 1
Sm 10.26,27). Além disso, quando chega o pedido de socorro de

75
Antigo Testamento II - Livros Históricos

Jabes-Gileade, Saul estava vindo do trabalho de arar a terra ( 1Sm


11.5). Por isso, após a vitoria de Saul sobre os filhos de Amom,
Samuel procura renovar o reino em Gilgal ( 1 Sm 11.15). Diz-nos o
texto de 1 Samuel 11.15: “E todo o povo partiu para Gilgal, onde
proclamaram Saul seu rei, perante o Senhor”.

11 - A despedida de Samuel (1 Sm 12)

Neste ato de oficialização do reino de Saul, Samuel faz sua


despedida e diz que podia sair de cabeça erguida, pois nunca
havia lesado a ninguém (1 Sm 12.2-5). Faz um retrospecto, para
que os Israelitas reflitam que Deus sempre havia cuidado deles,
mas, mesmo assim, eles haviam pedido um rei em lugar do
Senhor ( 1 Sm 12.12). Samuel os adverte para não esperar que
um rei resolvesse todos seus problemas, porque, se eles não
obedecessem aos mandamentos do Senhor, de nada adiantaria
ter um rei (2 Sm 12.12-14). Ele conclui seu sermão de despedida,
dizendo que, apesar de Israel haver feito mal, ao pedir um rei,
demonstrando rejeição a Deus e a ele, não deixaria de orar por
eles ( 1 Sm 12.23).

12 - Saul e os filisteus (1 Sm 13)

Saul, motivado por sua vitória contra os amonitas ( 1 Sm 11)


e pela oficialização de seu reino em Gilgal (1 Sm 11.14), tenta uma
nova empreitada que é contra os filisteus. Ele, porém, primeiro
provoca os filisteus, atacando-os, para depois tentar buscar a

76
Unidade III
Livro de I Samuel

resposta do Senhor. Quando Saul resolve consultar ao Senhor


(1 Sm 13.8-13), ele já havia atacado os filisteus e causado sérios
problemas ao seus reino, uma vez que os filisteus haviam vindo
contra ele, com uma multidão como a areia na beira do mar. Josefo
nos diz que esta multidão seria composta de trezentos mil soldados
de infantaria, além de mais trinta mil carros de guerra, que eram
armas mortais de guerra,semelhantes aos tanques atuais, e seis
mil cavaleiros (1 Sm 13.5). Devido a estes ataques filisteus, os
israelitas se encontraram em tal opressão que se refugiavam onde
pudesse, seja em cavernas, montes, seja em penhascos, espinhais,
cisternas. A opressão foi tanta que aqueles que fugiram para leste,
chegaram a cruzar o Jordão,indo até a região de Jabes- Gileade (1
Sm 13.6-7).

Para Saul, entretanto, o desfecho deste fato foi pior do que


o começo, pois tomou a primeira atitude sem consultar ao Senhor:
as conseqüências foram tão catastróficas que ele diz que se sentiu
constrangido a oferecer sacrifício ao Senhor (1 Sm 13.12), função
que não devia ser dele e sim, do sacerdote, neste caso o profeta
Samuel. Assim que ele toma atitude e oferece o holocausto,
chega Samuel, desaprova a atitude do rei e pronuncia o juízo
divino sobre este: se houvesse obedecido ao Senhor, teria seu
reino confirmado para sempre, mas por causa da desobediência,
havia sido rejeitado e o Senhor buscou um homem “do tipo que
ele quer” (Nova Versão na Linguagem de Hoje).

77
Antigo Testamento II - Livros Históricos

13 - Saul falha novamente (1 Sm 15)

Deus, querendo mostrar a Saul e ao povo israelita o quanto


o rei era instável, mandou que este destruísse os amalequitas,
por sua maldade contra os filhos de Israel, pois se opuseram a
eles durante sua peregrinação no deserto. A ordem expressa era
destruira tudo o que tivesse fôlego, desde crianças de peito até
animais. Parece duro este mandamento, mas já se analisou um
fato semelhante, quando Deus deu ordem para que os cananeus
fossem destruídos. No entanto Saul obedeceu a esta ordem
parcialmente, e Deus não queria um rei parcial, e sim imparcial.
Saul, em lugar de destruir tudo, poupou o rei amalequita Agague
e o melhor das ovelhas e bois, os animais gordos. Vindo Samuel a
Saul, este se adianta ao profeta dizendo que havia realizado todo
o mandamento do Senhor. Observe, porém, a interrogação fria do
profeta : “Que balido, pois, de ovelhas é este nos meus ouvidos,
e o mugido de vacas que ouço?” ( 1Sm 15.14). Mas o rei atribui
a culpa aos soldados; foram eles que trouxeram para oferecer
ao Senhor (v.21). Samuel,porém, profere a dura sentença ao
rei: obedecer é melhor do que o sacrificar. Porquanto rejeitaste
a palavra do Senhor, ele também te rejeitou para que não sejas
rei (v.23). Enquanto no incidente com os filisteus Samuel diz que
Deus buscou um homem segundo seu coração (1Sm 13.14), agora
ele dá o veredito ao rei Saul : foste rejeitado. Saul parece que não
estava muito preocupado com sua relação com o Senhor, pois,
após a dura repreensão, ele reconhece que pecou, mas não deu a
devida importância, desde que Samuel viesse com ele e o honrasse
diante dos anciãos de Israel e do seu povo (v.30).

78
Unidade III
Livro de I Samuel

“E o SENHOR se arrependeu de que pusera a Saul rei sobre


Israel.” ( 1 Sm 15.35).
Este foi o triste desfecho desta história. A partir deste
momento, Samuel nunca mais viu a Saul, até o dia de sua morte
(1 Sm 15.35) e Deus se arrepende de ter posto Saul como rei de
Israel. Alguém poderia perguntar: a Bíblia não diz que Deus não se
arrepende (Nm 23.19)? Como diz o texto que Deus se arrependeu
de ter posto Saul como rei de Israel? Este arrependimento divino
não é como o humano, que é um sentimento de remorso por
ter errado, mas uma mudança de atitude de Deus em relação ao
homem, por causa do seu comportamento.Em outras palavras:
Deus não errou, Saul errou. Deus mudaria seu tratamento para
com Saul, porque este não se portara à altura de um rei que
representava o Senhor Jeová na terra. Sendo assim, a atitude de
Deus, que era de auxilio e proteção para com Saul, havia mudado,
devido ao comportamento deste; a partir de agora, Deus o
rejeitara e focalizava-se no homem segundo seu coração.

79
Antigo Testamento II - Livros Históricos

SEGUNDA PARTE: O REINO UNIDO

Veja-se o mapa que descreve a influência de cada reino.

fonte: www.leiturabiblica.com.br/index.php?menu=mapas

80
Unidade III
Livro de I Samuel

1 - O porquê do reino unido

Este termo não é usado de forma indiscriminada, porém


há uma causa para a divisão do reino de Israel, após a morte
de Salomão. Até Salomão, as doze tribos estão sob a direção de
um único monarca e, após a sua morte, como juízo divino pelo
seu mau comportamento, Deus divide o reino de Israel em dois
reinos. O norte, composto por dez tribos, passa a ser chamado
Israel, tendo uma de suas capitais Samaria. O sul passa a chamar-
se Judá, tendo duas tribos: Benjamim e Judá, apesar de Simeão
ter sido absorvido por Judá e estar dentro da tribo de Judá. Para
Deus, ele pertencia ao reino do norte.
Os reis que dominaram neste reino unido foram Saul, Davi e
Salomão. O tempo de reinado de cada um destes reis foi cerca de
quarenta anos.

2 - Davi, um homem segundo o coração de Deus

2.1 - Seu chamado (1 Sm 16):


Davi foi o segundo rei do período do reino unido. Ele foi
escolhido por Deus para liderar Israel, após a rejeição de Saul.
Samuel é orientado a ir até Belém, a casa de Jessé, para que
ungisse um rei. Samuel ainda relutava em consagrar outra pessoa
no lugar de Saul, se o Senhor já o havia rejeitado. Sendo assim, o
Senhor o envia à casa de Jessé, para ungir um rei, porém Samuel
temeu que Saul o matasse por esse fato. Mas Deus ordenou que
omitisse a consagração e não mentisse. Ele iria para sacrificar e

81
Antigo Testamento II - Livros Históricos

consagrar o novo rei, mas ele só comunicaria uma parte da missão,


para sua sobrevivência. Diz o profeta: vim para sacrificar.

3 - Cuidado com os paradigmas seus

Samuel possuía alguns paradigmas sobre quem deveria ser


o novo rei de Israel, com base nas características de Saul: homem
formoso e alto ( 1 Sm 9.2).Assim, ao chegar à casa de Jessé, ele vai
à procura de paradigmas externos. No entanto, Deus o adverte
para que não olhe para as aparências, pois o Senhor estava
interessado no coração (1 Sm 16.6,7). Samuel conheceu todos os
filhos de Jessé, mas Deus não havia apontado nenhum como rei.
Teria Samuel errado? seria uma revelação da carne? Não, pois o
homem que anda conforme a direção de Deus, tem convicção
do que está fazendo. Ainda restava um, e este estava esquecido,
cuidando dos animais, mas era ele a quem Deus escolhera. Manda
chamá-lo! Quando chega Davi, eis a revelação de Deus a Samuel:
unge, pois é este mesmo. E a Bíblia nos diz que daquele dia em
diante o Espírito de Deus se apoderou de Davi. Com relação a Saul:
o Espírito de Deus se retirou dele e eis que um espírito maligno o
atormentava (1 Sm 16.13,14).

3.1 - Saul e Davi:


Não há como traçar a vida de Davi, após sua unção, sem
relacionar com Saul, pois eles conviveram por um bom período. E,
apesar de Saul tentar matar a Davi, este o tinha em grande estima.

82
Unidade III
Livro de I Samuel

4 - Davi servindo a Saul

Davi, após a unção como rei de Israel, não tentou matar


Saul para tomar-lhe o trono, muito pelo contrário, ele voltou às
suas atividades normais, crendo que, se Deus o havia escolhido, no
momento certo se tornaria rei de Israel. Observe-se, porém, que,
no instante em que o Espírito de Deus se apoderou de Davi, retirou-
se de Saul, levando-o a uma situação calamitosa, pois um espírito
maligno da parte do Senhor o atormentava. Alguém, talvez, poderia
perguntar: teria Deus mandado um demônio para atormentar Saul?
Não! Quando neste texto é dito “ da parte de Deus”, refere-se à
soberania de Deus, pois nada pode acontecer sem que Deus permita
e, assim que o Espírito Santo se afastou de Saul, seu coração ficou
livre para a atuação de espíritos malignos (Lc 11.24-26). Os servos
de Saul o aconselham a buscar um músico, para que este tocasse
e desta forma se sentiria melhor, quando estivesse perturbado.
Alguém dentre seus servos lembra-se de que havia um rapaz, filho
de Jessé, forte, valente, homem de guerra, sisudo em palavras e de
boa aparência e o Senhor é com ele. Ao chegarem à casa de Jessé,
encontraram Davi, já ungido rei, apascentando as ovelhas (1 Sm
16.19). Isto deve servir de exemplo para aqueles que não sabem
esperar o tempo de Deus e se esquecem de que as promessas de
Deus são gradativas e processuais em nossa vida e não instantâneas.
Davi é trazido até Saul para ser escudeiro de Saul e passa a ter contato
com a corte. Isto tudo significava Deus trabalhando na vida do futuro
rei, para que tivesse experiência com a corte e com as estratégias de
guerra, pois precisaria disto como futuro rei de Israel.

83
Antigo Testamento II - Livros Históricos

5 - Davi luta com Golias

Possivelmente, após um período de tempo servindo Saul,


Davi volta à casa de seu pai e neste intervalo de tempo, os filisteus
tornam a guerrear contra Israel. Acampando- se os filisteus em
Azeca, no vale de Elá, cerca de trinta e dois quilômetros a sudoeste
de Jerusalém, Saul desce para o confronto,junto com os guerreiros,
mas são afrontados por um filisteu chamado Golias, gigante da
cidade de Gate, descendente dos antigos enaquins, que os espias
viram na terra de Canaã, e que emigraram de Hebrom para Gate,
após a ocupação dos Israelitas (Js 11.21,22). Este homem era um
guerreiro de aparência assombrosa, tanto pelo seu tamanho como
por sua força. Leia-se a descrição que é feita sobre ele na Nova
Tradução na Linguagem de Hoje: “Um homem chamado Golias.. Ele
tinha quase três metros de altura e usava um capacete de bronze
e uma armadura também de bronze, que pesava uns sessenta
quilos. As pernas estavam protegidas por caneleiras de bronze, e ele
carregava nos ombros um dardo, também de bronze. A lança dele
era enorme, muito grossa e pesada; a ponta era de ferro e pesava
mais ou menos sete quilos. Na frente dele ia um soldado carregando
o seu escudo.” ( 1 Sm 17.4-7). Desafiava os israelitas para escolherem
alguém para lutar contra ele. Saul e seus soldados, ao verem este
soldado filisteu, espantaram-se e temeram muito (1 Sm 17.11). Ele
afrontava Israel por um espaço de quarenta dias; Davi, porém, chega
ao acampamento e, ao ver a afronta deste filisteu, se dispõe a lutar
contra ele. O desfecho desta história todos sabem. Davi derrota
Golias e os israelita, os filisteus. Há, porém, um fato interessante,
isto é: a dúvida de Saul concernente a quem seria Davi: “de quem é

84
Unidade III
Livro de I Samuel

filho esse moço, Abner” ( 1 Sm 17.55)? Como poderia Saul ter esta
dúvida, se Davi havia sido seu músico e escudeiro e tocava quando
Saul estava atormentado pelo espírito mau? Veja uma excelente
explicação deste fato por Merrill:

“Primeiro, é impossível saber quanto tempo transcorreu


desde que Davi esteve com Saul. É bem conhecido o
fato de os adolescentes sofrerem rápidas mudanças
no aspecto físico dentro de um ou dois anos, sendo
perfeitamente possível que Davi (aqui ainda muito
jovem) tivesse amadurecido consideravelmente, desde
que tivesse servido Saul pela última vez. Além disso, o
estado mental e emocional de Saul, freqüentemente
irregular, certamente agravou-se durante este forte
período de estresse, talvez ao ponto de nem sequer
reconhecer um velho amigo”

6 - Davi perseguido por Saul (1 Sm 18)

Sendo Davi servo de Saul, o Senhor o fez prosperar, e diz a Bíblia


que Davi era benquisto por todos. Certo dia, ao retornar Saul com
seus soldados, entre eles Davi, as mulheres vieram recepcioná-los e
cantavam: Saul feriu os seus milhares, mas Davi os seus dez milhares.
Este fato muito desagradou ao rei que, daquele dia em diante, passou
a tê-lo sob suspeita. Certa ocasião, Saul tenta matar a Davi, mas
não consegue. Tentando fazer com que Davi perdesse influência na
corte, pois este era muito querido por todos (1 Sm 18.16), afastou-o,

85
Antigo Testamento II - Livros Históricos

colocando por chefe de mil soldados. Porém Deus era com Davi. Em
outra ocasião, querendo fazer com que Davi morresse nas mãos dos
filisteus, Saul lançou-lhe uma proposta: se este trouxesse o prepúcio
de cem filisteus, teria a mão de sua filha em casamento. Davi aceita
e cumpre a proposta com sobras. Sendo assim, Davi casa-se com
Mical, filha de Saul, e a Bíblia diz que ela amou a Davi. Já não bastasse
o apoio popular de Davi, agora o amor de Mical. Saul era perturbado
pelos espíritos malignos, e sua situação piorava ainda mais, pois
até mesmo Jônatas, possível sucessor ao trono (1 Sm 20.30,31), se
afeiçoou a Davi e passou a protegê-lo (1 Sm 19.1). Então Saul torna
clara sua antiga ambição, matar a Davi, e passa a persegui-lo. Davi
abandona o palácio e passa a viver errante, fugindo da presença de
Saul que buscava sua morte a todo custo. E muito pelo contrário,
Davi é que teve oportunidade de matar Saul por mais de uma vez, e
não o fez, pois ele sabia das conseqüências políticas e espirituais que
isto traria para ele e para seu futuro reino. Em sua fuga, Davi vai até
Nobe e mente ao sacerdote. Ele disse que havia vindo a mando do rei,
quando estava fugindo do mesmo (1 Sm 21.2;22.15). Toma a espada
que era de Golias e foge até a cidade filistéia de Gate. Chegando lá é
preso e levado ao rei, que possivelmente o mataria, mas Davi finge-
se de doido e o rei manda soltá-lo. Dali Davi foge para a caverna de
Adulão. A partir deste momento Davi passa a viver como um fora
da lei, perseguido pelo rei. Um homem que há pouco possuía tantas
glórias, mas que, em pouco tempo, vê o mundo desabar sobre sua
cabeça: perde esposa, cargo, amigos e relacionamentos familiares;
mente, perde a dignidade, fingindo-se de louco, e perde a moral,
pois se juntaram a ele um grupo de homens em busca de uma vida
mercenária e foi desta forma que Davi passou a viver. No entanto,

86
Unidade III
Livro de I Samuel

uma coisa ele não perdeu: sua confiança no Deus que havia feito
promessa e o havia ungido como Rei de Israel.

7 - Davi vive como um mercenário (1 Sm 25)

Após estes fatos, Davi passou a levar uma vida de soldados


mercenários, isto é, uma vida nômade e ganhava para proteger uma
determinada região. Foi isto que aconteceu com Davi. Após ele se
esconder na caverna de Adulão, se ajuntou a ele um grupo de homens
de má fama, amargurados de espírito, endividados. Era cerca de
quatrocentos homens. Dali Davi migra para Mispa de Moabe. Deixa
sua família com o rei de Moabe, pois sua bisavó Rute era moabita,
e segue sua jornada de fuga de Saul, pois ninguém queria acolher
Davi junto a si, porque esta atitude colocava em perigo a vida do
hospedeiro. Saul estava à sua procura e era capaz de matar qualquer
um que tentasse ajudá-lo, como já havia feito com os sacerdotes de
Nobe (1 Sm 22.17-19). E devido a isso, Davi é forçado a viver uma vida
errante e, para conseguir sobreviver, prestava serviço de segurança
patrimonial, isto é, protegia os rebanhos da região onde estava
acampado, em troca de alimento por parte dos proprietários da
terra. Foi por isto que Davi ficou irado com Nabal, pois ele não queria
saquear, mas sim uma paga pela proteção oferecida às suas posses.
Quando soube que Nabal estava a tosquiar as ovelhas, manda dez
moços seus até ele e lhe diz que, por um período de tempo, eles
protegeram suas ovelhas, estando agora Nabal desfrutando das
bênçãos, com que o próprio Davi contribuiu. Davi pede a Nabal
uma oferta de bom grado (1 Sm 25.5-8;14-17). Nabal, porém, ao

87
Antigo Testamento II - Livros Históricos

ouvir o pedido de Davi, acusa-o de ser um fora da lei, fugitivo de


seu senhor, e que ele não teria nenhuma obrigação para com Davi
e muito menos com seus homens. Informado da desfeita de Nabal,
Davi sobe a ele para atacá-lo, mas Abigail age sabiamente e apazigua
os ânimos. De volta a sua casa, Abigail relata o acontecido a Nabal,
que se encontrava embriagado e não deu muita atenção ao fato. No
dia seguinte, ao saber de tudo, ele cai em si e teve, ao que parece,
um infarto, vindo a falecer dez dias depois. Após este fato Abigail
torna-se mulher de Davi, que segue sua vida fugitiva, até o momento
em que seria oficializado como rei de Israel.

8 - Os anos finais da vida de Saul ( 1 Sm 28)

Novamente os filisteus se ajuntam para guerrear contra Israel.


Mas Saul, ao ver o acampamento deles, fica muito atemorizado.
Agora Samuel estava morto (1 Sm 28.3) e não tinha ninguém a quem
recorrer. Saul estava sofrendo pelas perturbações do espírito mau.
O que fazer então? Tenta obter resposta do Senhor, mas este não
lhe falou nem por sonhos, nem por Urim, nem por profetas. jJá que
Deus não tinha nada a dizer, ele foi ver se o diabo diria algo sobre
sua guerra- se ele poderia ir ou não à batalha. Saul bem sabia que
quem operava nos adivinhos eram os demônios e não Deus. Sendo
assim, o rei informa-se onde haveria uma necromante e vai até ela,
disfarçado, tentando obter uma orientação sobre a guerra.
Teria Samuel, verdadeiramente, vindo do outro lado
da existência para responder a Saul? Não! Pois Deus não iria
contradizer-se, ao deixar de falar com Saul por meios naturais para

88
Unidade III
Livro de I Samuel

falar-lhe através de uma necromante ( 1 Sm 28.6). O próprio Senhor


abominava a consulta aos mortos (Dt 18.9-14). Vemos que Saul não
viu Samuel, mas somente a necromante diz ter visto. Ela diria que
teria visto qualquer coisa que Saul pedisse, pois estava com medo de
ser morta por ele, porque Saul havia proibido a necromancia. Além
do mais a Bíblia diz que ele, entendendo que era Samuel, inclinou-se
com o rosto em terra (1 Sm 28.14). Ele não viu e, além disso, somente
imaginou que pudesse ser Samuel .
Por que a Bíblia nos relata um fato como este que pode causar
confusão na mente daqueles que não buscam orientação do Espírito
Santo? Ela deixa registrado como exemplo a todos, pois um homem
que começou pelo Espírito, profetizou, foi escolhido por Deus, no
final de sua vida acaba nesta miséria espiritual, por causa de sua
desobediência.

9 - A morte de Saul (1 Sm 31)

Os israelitas se posicionam a batalhar contra os filisteus nos


montes Gilboa. Eles, porém, fogem diante dos inimigos, e aqueles
que não fugiram diante dos filisteus acabaram sendo mortos,
inclusive os filhos de Saul. Este, vendo que a peleja era renhida e
que não teria nenhuma chance diante dos inimigos, pede que seu
escudeiro o mate, porém o moço se recusa a fazê-lo, assim, Saul
atira-se sobre sua espada e morre: um fim infeliz, pois os homicidas
não herdarão a vida eterna, e o suicídio é um homicídio praticado
contra si mesmo (Ap 21.8).

89
Unidade III
Livro de I Samuel

ATIVIDADES DA UNIDADE III


1. Quem escreveu os livros de 1 e 2 Samuel?

2. Quem era Samuel? Se era descendente de efraimitas, como


poderia exercer o sacerdócio?

3. Qual era situação política e espiritual da época de Samuel?

4. Qual foi o motivo do caos espiritual nos primeiros dias de


Samuel?

5. Como era o comportamento dos filhos de Eli para com a


liturgia?

6. Quais são os fatos de 1 Samuel capítulo 4-6 que demonstram


que Deus não se deixa escarnecer?

7. Porque Deus se irou com Israel quando esse pede um rei, se


Deus havia dito que um dia daria um rei a eles?

8. Quem foi o primeiro rei oficial de Israel?

9. Qual foi a aliança que Naas propôs aos moradores de Jabes?

10. Como estavam as tribos quando Saul foi ungido rei. Havia
coerência?

91
UNIDADE IV
_________________

O LIVRO DE 2
SAMUEL
DAVI E O INÍCIO DE UMA DINASTIA

I - AUTOR E FORMAÇÃO DO LIVRO.

Aplicam-se ao livro de segundo Samuel os mesmo detalhes


da introdução de primeiro Samuel. Visto que este livro na Bíblia
hebraica não é dividido, como em nossa Bíblia cristã.

II - ESBOÇO DE SEGUNDO SAMUEL

I - Deus eleva Davi ao trono sobre Judá e Israel (1.1-5.5)


1 - Davi vinga e lamenta a morte de Saul e Jônatas (cap. 1)

93
Antigo Testamento II - Livros Históricos

2- Davi é ungido rei sobre Judá (2.1-7)


B - Davi torna-se rei sobre todo o Israel ( 2.8-5.5)
II - Davi ganha uma cidade e uma promessa de
(5.6-10.19)
uma dinastia perpétua
A - Davi estabelece sua capital em Jerusalém (5.6-6.23)
2 - Davi traz a arca para Jerusalém (cap.6)
B - Deus promete a Davi uma aliança perpétua (cap.7)
C - As realizações do rei Davi (caps. 8-10)
III - Davi peca e sofre as conseqüências (caps.11-20)
1 - Bate - Seba e Urias (cap. 11)
O profeta Natã declara o pecado e castigo de Davi (cap. 12.1,14)
2 - Davi arrepende-se, mas seus pecados
(cap. 12.15)
acarretam conseqüências
B - Os filhos de Davi pecam, mas a reconciliação é
(caps.13-14)
incompleta
1 - Amnom comete pecado sexual e Absalão
( cap. 13)
comete assassinato
Absalão retorna a Jerusalém, mas não há
(cap.14)
reconciliação plena com Davi
Absalão revolta-se contra Davi e Davi foge de
(cap. 15)
Jerusalém
Simei amaldiçoa a Davi (cap. 16)
Husai confunde o conselho de guerra de Absalão (cap. 17)
Absalão é morto por Joabe e pranteado por Davi (cap. 18)

94
Unidade IV
Livro de II Samuel (Davi e o Início de uma Dinastia)

Deus restaura o reino de Davi (caps. 19-20)


IV - Epílogo: as últimas palavras sobre o reinado
(caps. 21-24)
de Davi
Davi canta os louvores de Deus (cap.22)
Outros agentes humanos do sucesso de Davi (23.8-39)

1 - Introdução

Desde o tempo em que Israel havia saído do Egito, ele nunca


havia conhecido uma dinastia. Isto é, o reino sendo transferido de
pai para filho. Em Davi começa uma dinastia e, além disso, dessa
dinastia Deus prometeu que surgiria um rei que reinaria para
sempre, o renovo de Davi (2 Sm 7.12,13,16; Jr 23.5,6). Por todo o
tempo de existência da nação de Israel, desde a saída do Egito até
agora, ela era governada por líderes provisórios: às vezes estes
líderes eram nacionais como Moisés, Josué e Samuel; às vezes
locais como Sansão e Jefté. Quando Israel escolhe Saul como seu
primeiro rei, este tinha como intenção estabelecer uma dinastia
(1 Sm 20.30,31). Porém, ele foi impedido, pois tanto ele como
seu filho, que podia lhe suceder, morreram na batalha contra os
filisteus (1 Sm 31.2). Só restou Is-Bosete a quem Abner fez rei em
lugar de Saul. No entanto, este só reinou dois anos e foi morto por
seus súditos (2 Sm 2.8-10).
Agora, através de Davi, a história israelita entra num novo
estágio. Isto é, um rei que conseguiria firmar sua dinastia, apesar
dos problemas posteriores; como a divisão do reino e o cativeiro.

95
Antigo Testamento II - Livros Históricos

2 - Uma questão cronológica.

Segue-se agora o estudo do segundo livro de Samuel que


contém o relato sobre o reinado de Davi. O livro de primeiro Samuel
falava do período de liderança deste profeta e do rei Saul. Há um
fato que deve ser salientado: o assunto de segundo Samuel, a vida
de Davi, possui um paralelismo no livro de Crônicas. As Crônicas
foram escritas aos judeus que voltavam do cativeiro por volta de
539 aC e estes livros de Crônicas abordam o assunto somente do
ponto de vista da linhagem de Davi e, em conseqüência disto, do
reino do Sul, que passou a se chamar Judá, após a divisão do reino.
As Crônicas pouco falam do reino do norte, que se chamava Israel,
e foi absorvido pelos gentios após o ataque Assírio em 722 aC.

3 - Um começo turbulento (2 Sm 2-4)

O começo do reinado de Davi foi um tanto turbulento.


Após a morte de Saul, Davi é reconhecido rei somente por parte
de Israel, isto é, pela tribo de Judá, na cidade de Hebrom (2 Sm
5.5). Ainda havia um descendente de Saul, a quem Abner, seu
comandante, fez rei do restante das tribos de Israel (2 Sm 2.8-10),
pois Judá seguia a Davi (2 Sm 2.4). Após a coroação de Is-Bosete,
começam a ocorrer confrontos entre os homens deste, liderados
por Abner, e os de Davi, liderados por Joabe. Sendo assim, dá-se
início a uma guerra civil ( 2 Sm 3.6) que, para Israel, não era algo
novo, pois nos tempos dos juízes já haviam ocorrido guerras entre
Efraim e Gileade (Jz 12.1-6), Benjamim e as demais tribos (Jz 20).

96
Unidade IV
Livro de II Samuel (Davi e o Início de uma Dinastia)

E esta guerra só foi encerrada após a morte de Abner, de forma


cruel, por intermédio de Joabe, e da morte de Is-Bosete, por meio
de seus súditos, não de forma menos covarde (2 Sm 3.27; 4.1-7).

4 - Davi, rei de todo o Israel (2 Sm 5)

Após a morte de Abner, alto comandante de Saul, e Is-


Bosete, filho de Saul, o único que restou em condições de liderar
a nação foi Davi. Porém, como sempre, Davi não correu atrás do
reino, mas deixou que o reino corresse atrás dele. Ele cria que
o Deus que o ungiu, o estabeleceria no devido lugar. Davi ficou
cerca de cinco anos reinando sozinho, em Hebrom, sem que fosse
reconhecido como rei de todo o Israel. Nem por isso ele tentou
tomar posse à força, mas esperou que todo o povo de Israel e os
anciãos viessem e o constituíssem como rei de todo o Israel ( 2 Sm
2.10;5.1-5).

5 - Deus promete a Davi um reino eterno (2 Sm 6-7)

Após ser estabelecido como rei de todo o Israel, Davi toma


Jerusalém dos Jebuseus e estabelece ali a capital da nação ( 2
Sm 5.6,7). Além de querer estabelecer ali o centro do comando
político, Davi também tinha a intenção de fazer dali o centro
religioso da nação. Para isto teria que trazer a Arca da Aliança,
o símbolo da presença de Deus, e nesta época ela se encontrava
na cidade de Quireate-Jearim, que em II Samuel 6.2 é chamada
de Baalim de Judá. Este era o antigo nome desta cidade, por ter

97
Antigo Testamento II - Livros Históricos

sido um centro cananeu de adoração a Baal, antes de Israel tomar


posse da terra. Esta cidade era conhecida como cidade de Baal.
Apesar de este fato estar relatado como se tivesse ocorrido no
início do reinado de Davi sobre todo Israel, ele deve ter ocorrido
mais no final do seu reino, porque essa atitude de centralização
político-religiosa era algo inovador. Com exceção de Samuel, os
líderes anteriores a Davi lideravam o povo e deixavam as questões
religiosas a cargo dos sacerdotes; é o caso de Moisés, Josué e Saul.
Este último, quando tentou oferecer sacrifício, foi rejeitado (1 Sm
13.8-14).
Davi é que conseguiu realizar esta proeza: a unificação
político-religiosa. Após Davi trazer a Arca a Jerusalém, ele dispõe
em seu coração edificar um templo, para que a abrigasse, pois,
até o presente momento, a Arca ou havia ficado no Tabernáculo
ou na casa de alguém (1 Sm 7.1). Nos dias de Davi, o Tabernáculo
estava em Gibeá e a Arca em Quireate-Jearim ( 2 Cr 1.3,4).
Trazendo Davi a Arca até Jerusalém, teve o desejo de construir
um templo para que pudesse abrigá-la. Antes,porém , de realizar
tão digno empreendimento, consulta o profeta Natã sobre o que
Deus achava disto. O profeta transmite sua opinião particular,
pois considerava a atitude do rei nobre. Disse ele: faze conforme
tudo que estiver em teu coração ( 2 Sm 7.3). Esta,entretanto, não
era a posição de Deus, que manda que ele retorne a Davi e diga o
que realmente Ele tinha planejado, isto é, Davi não edificaria um
templo ao Senhor, pois ele era um homem de guerra e suas mãos
haviam derramado muito sangue ( 1 Cr 22.7-9), mas seu sucessor
iria fazê-lo e dos sucessores de Davi, o Senhor estabeleceria um
reino eterno. Aqui se vê a relação entre Davi e o Messias, Cristo,

98
Unidade IV
Livro de II Samuel (Davi e o Início de uma Dinastia)

que nascera na cidade de Belém, cidade natal de Davi e sua família


( 2 Sm 7.12,13,16; Jr 23.5,6; Mq 5.2).

6 - Os perigos do poder (2 Sm 11)

Percebe-se que é muito mais fácil alguém não vigiar, quando


está no auge de seu ministério do que em baixa. Quando se está
no auge, corre-se o risco de achar que é senhor,o dono da nossa
vida e que não é preciso ouvir a ninguém.. Passando pelo vale,
é-se humilde e disposto a aceitar ajuda de todos, a refletir sobre
todos os conselhos dados, principalmente os que são vindos do
Espírito Santo. E foi justamente isso que aconteceu com Davi, o
veneno do poder, e ele, infelizmente, não vigiou. Enquanto Davi
não havia estabelecido seu reino, estava ativo, mas, após certo
período de estabilidade, ele se encontra no ócio. Veja-se o prólogo
do texto que fala sobre o pecado de Davi “E aconteceu que, tendo
decorrido um ano, no tempo em que os reis saem para a guerra,
enviou Davi a Joabe, e a seus servos com ele, e a todo o Israel, para
que destruíssem os filhos de Amom e cercassem Rabá; porém Davi
ficou em Jerusalém.” ( 2 Sm 11.1).
As conseqüência disto estão registradas no texto que diz
que Davi estava passeando por seu palácio e vê Bate-Seba a se
lavar. Davi busca informação sobre quem seria aquela bela mulher
e é informado que era mulher de Urias, o Heteu, um soldado seu,
que foi incluído na galeria dos valentes de Davi, apesar de ser um
heteu ( 2 Sm 23.8,39). Sendo assim, Davi não se envolveu com
ela de forma inocente; ele sabia que ela era casada, mas, mesmo

99
Antigo Testamento II - Livros Históricos

assim, Davi manda que a chamem e adultera com ela, e esta


concebe. Davi é informado da gestação de Bate-Seba. Mas, como
resolver esta situação conflitante? Urias estava na guerra e não
tinha relação com sua esposa há tempos e, quando ele retornasse
da guerra e a encontrasse gestante, saberia que ela adulterou. E o
pior, o filho era do rei de Israel. Como a um erro segue um outro,
Davi resolve chamar Urias, utilizando-se da desculpa de obter
informações sobre a guerra. Após isto, manda que Urias vá até a
sua casa e durma com sua esposa, para que tivesse relações com
ela e pensasse que o filho fosse dele. No entanto, Urias não foi
para casa e ficou no portão do palácio, com os guardas do rei.
O que fazer agora? Dar outro jeito, errado também. Matá-lo. Ou
melhor, usando de eufemismo, fazer com que ele morra. Davi
então manda pelas mãos do próprio Urias sua sentença de morte.
Nesta carta vai uma recomendação a Joabe, para que ele coloque
Urias na frente de batalha mais renhida, para que morra. E foi
justamente o que aconteceu.

7 - As conseqüências deste pecado (2 Sm 12-19)

Davi, ao ser informado da morte de Urias, toma sua viúva


como esposa. Deus, porém, que é justo e não se deixa escarnecer,
manda até o palácio um conhecido profeta, Natã. Este pede que o
rei julgue uma causa, mas ele conta o fato em forma de parábola,
levando a pessoa a uma reflexão. Ao término da história, Davi diz
que o aproveitador deveria ser morto, por sua injustiça. Assim, o
profeta revela quem são as personagens desta triste história: Davi

100
Unidade IV
Livro de II Samuel (Davi e o Início de uma Dinastia)

era o rico, Urias o pobre, e a cordeira era Bate-Seba. Mas ele diz
a Davi que não morreria e sim, a criança, fruto daquele adultério.
Deus pronuncia, a seguir, o julgamento de Davi que, devido a este
pecado,sofreria as consequências da espada sobre a sua casa (2
Sm 12.9,10).
Como disse certo escritor: “o pecado custa caro e exige
pagamento pontual”. Foi isto que aconteceu com Davi, após
seu pecado: primeiro morre o filho de Bate-Seba, fruto deste
relacionamento. Logos após este fato, Amnom, filho de Davi,
violenta sua meia-irmã Tamar. Absalão, irmão de Tamar e meio
irmão se Amnom, passou a odiá-lo por este fato, e em uma trama
mata Amnom. Davi, ao saber que Amnom havia sido morto por
Absalão, o exila (2 Sm 13.37-39;14.23,24). Em pouco tempo, o
que era paz, e dava ao rei Davi o direito de não ir à guerra, passa
a ser agora, guerra, devido ao seu pecado. E esta tinha que ser
batalhada dentro de sua própria casa.
Absalão recebe a permissão de Davi para que retorne do
exílio e, ao retornar, começa uma conspiração contra seu pai. Davi
acaba sendo forçado a fugir, devido a esta conspiração, movida
por Absalão, e, como já vinha se cumprindo a Palavra do Senhor,
ela continuou a cumprir-se. Bem que Natã havia dito: “Assim diz
o SENHOR: Eis que suscitarei da tua mesma casa o mal sobre ti,
e tomarei tuas mulheres perante os teus olhos, e as darei a teu
próximo, o qual se deitará com tuas mulheres perante este sol.” ( 2
Sm 12.11). E foi justamente o que Absalão fez com as concubinas
de seu pai (2 Sm 16.21,22). Este era um hábito comum entre
os soberanos da época, que ao tomar as concubinas de outro,
demonstrava transferência de poder. E foi por isso que Is-Bosete

101
Antigo Testamento II - Livros Históricos

ficou irritado com seu comandante Abner, pois este se deitou com
uma concubina de seu pai, o rei Saul (2 Sm 3.6-8). Este mesmo
fato irritou Salomão, quando Adonias pediu para si, como mulher,
um jovem que era considerada como concubina de Davi ( 1 Rs
2.19-24).
Absalão, após este fato, marcha contra Davi. Este manda
seus soldados sobre o comando de Joabe ao encontro Absalão.
Havia,porém, uma recomendação dada pelo rei: preservem a vida
de Absalão. Esta recomendação,entretanto, não foi atendida por
Joabe, que, ao saber que Absalão estava preso em um arbusto,
mata-o. Após a morte dele, a batalha acaba, e Davi é avisado
da morte de Absalão. Ele se põe a lamentar. Muitos soldados,
ao voltarem da batalha, não entendiam, pois devia ser motivo
de festa: os inimigos do rei foram derrotados, mas o rei está a
prantear? Davi chorava, pois sabia que toda aquela desordem,
desde a morte de Amnom até a morte de Absalão, era por culpa
de seu pecado com Bate-Seba.
Outra conseqüência do pecado neste texto foi que Davi ficou
sem autoridade diante de Joabe que sabia todo o fato entre Davi
e Urias,apesar de ser o rei de Israel;fora ele que recebeu a ordem
para que Urias fosse morto. Davi estava desmoralizado, em certo
sentido, diante de Joabe, o que o impedia de tomar alguma atitude
enérgica contra o comandante, porque este sabia do ponto fraco
do rei. As mãos de Davi estavam enfraquecidas diante de Joabe
neste fato, pois o rei havia ordenado que não matasse Absalão,
e Joabe o matou. Além disso, quando retornam da guerra, Joabe
repreende duramente o rei que chorava pela morte de seu filho.
Por estes dois erros graves de Joabe, dignos de morte, Davi não fez

102
Unidade IV
Livro de II Samuel (Davi e o Início de uma Dinastia)

nada. A reação comum de Davi diante de situações como esta seria


matar a Joabe, como ele fez com aqueles que foram acusados de
matar a Saul e Is-Bosete. Além disso, Joabe já havia desagradado
a Davi antes, ao matar Abner, comandante de Saul. Davi, devido
ao seu pecado, não tinha moral suficiente para decretar a morte
de Joabe. Ele deixou a recomendação desta tarefa para Salomão
( 2 Sm 18.5,12-14,32,33;19.1-8; 2 Sm 1.2-16;3.26-39 4.8-12; 1 Rs
2.5,6).
Pode-se concluir que o pecado, além de trazer conseqüências
drásticas, acaba com o poder de reação da pessoa que estará
psicologicamente fragilizada para corrigir o outro que sabe de seu
pecado, como foi no caso de Davi e Joabe.

8 - O censo (2 Sm 24)

Davi, após haver se estabelecido como rei, coloca em seu


coração contar o povo que pudesse ir à guerra. Esta atitude do
rei muito irou ao Senhor, não pelo fato de contar o povo, pois
o Senhor já havia ordenado a Israel que enumerasse o povo
em outras ocasiões Esta ordem de enumerar o povo não partia
do Senhor e sim de Davi, e a intenção do rei era má, pois eles
estavam enumerando os homens de guerra, para depositar sua
confiança mais em seus soldados do que no Senhor dos exércitos.
Parece que o rei há tempos não cantava o Salmos 20 que diz: uns
confiam em carros e outros em cavalos, mas nós faremos menção
do nome do Senhor(v.7). Pode ter composto este Salmo depois do
senso desastroso. Outro fato que nos chama atenção é o primeiro

103
Antigo Testamento II - Livros Históricos

versículo de Samuel 24, que diz “E a ira do SENHOR se tornou a


acender contra Israel, e ele incitou a Davi contra eles, dizendo: Vai,
numera a Israel e a Judá.” No texto de I Crônicas 21, paralelo a
este, vê-se este relato: “Então, Satanás se levantou contra Israel
e incitou Davi a numerar a Israel.” Como resolver esta questão?
De quem é a responsabilidade? de Deus ou do Diabo? Estes
textos,aparentemente, parecem conflitantes, mas não são. Pois o
Texto de Samuel aborda o assunto do ponto de vista da soberania
de Deus, ou seja, nada acontece sem que Deus permita. E o
texto de Crônicas aborda o assunto mostrando-nos o agente da
tentação, que não poderia ser Deus, porque a ninguém tenta (Tg
1.13). Sendo assim, I Samuel mostra que o orgulho de Davi fez com
que Deus permitisse que Satanás induzisse Davi a contar o povo.
Após nove meses de trabalho, Joabe traz os resultados do
censo: havia em todo o reino cerca de um milhão e trezentos mil
soldados ( 2 Sm 24.8,9). Mas este fato desagradou a Deus que envia
o profeta Gade até Davi e o manda escolher um dentre três juízos:
sete anos de fome, três meses sendo assolados pelos inimigos, ou
três dias de peste? Destas três, Davi escolheu cair nas mãos de
Deus, pois este era misericordioso. Assim Deus envia a peste sobre
Israel e morreram sete mil homens, mas a Bíblia diz que o Senhor
teve misericórdia e interveio para que o anjo não destruísse. Davi
oferece sacrifícios ao Senhor que teve misericórdia da terra e
cessa a praga. Este fato deve servir de alerta para que se confie
em Deus, ao invés de confiar em nossas próprias condições, pois,
caso contrário, a glória que deveria ser de Deus poderá ficar para
nós, e Ele não permite que sua glória seja dada a outro (Is 42.8).

104
Unidade IV
Livro de II Samuel (Davi e o Início de uma Dinastia)

9 - Davi e Saul

Deus, ao rejeitar Saul, diz que havia buscado para si um


homem segundo seu coração (1 Sm 13.14). Como Davi seria
um homem segundo o coração de Deus, se ele falhou tanto
quanto Saul? Ele adulterou, cometeu um homicídio, mesmo que
indiretamente, mandou contar o povo. Em que Davi era diferente
de Saul, a ponto de ser chamado um homem segundo o coração
de Deus? Ele era um homem sujeito às mesmas fraquezas de
todos os mortais. No entanto a diferença entre Davi e Saul era
que Davi reconhecia seu erro, ao passo que o rei Saul tentava
justificá-lo. Nota-se isto neste texto, onde Davi, ao ver que o povo
estava sendo morto, diz que ele é que deveria ser morto, pois era
ele quem havia pecado e não o povo (2 Sm 24.17). Saul,porém,
ao ser repreendido por Samuel por não ter ferido os amalequitas
como deveria, diz que pecou, mas não se arrependeu e pediu que
Samuel o honrasse diante do povo. Pensava ele que estar bem
com o povo era melhor que estar bem com Deus (1 Sm 15.30).

105
Unidade IV
Livro de II Samuel (Davi e o Início de uma Dinastia)

ATIVIDADES DA UNIDADE IV

1. Qual era cidade e tribo de Davi?

2. Qual era o paradigma, de rei, que Samuel possuía quando foi


ungir Davi?

3. Apesar de tudo que Saul fez a Davi, qual era sua consideração
para com ele?

4. Explique o porquê deste texto: um espírito maligno da parte


do Senhor atormentava Saul?

5. Para onde Davi vai após ser ungido rei?

6. A partir de que fato Saul começou a suspeitar de Davi?

7. Por que Davi passou a viver como se fosse um mercenário?

8. Defina quem realmente falou com Saul quando este consultou


a necromante?

107
UNIDADE V
_________________

O LIVRO DE
1 REIS

PRIMEIRA PARTE - A IDADE ÁUREA DE ISRAEL

I - AUTOR E FORMAÇÃO DO LIVRO

1 - Escritor e data do livro

A tradição judaica afirma que Jeremias escreveu 1 e 2 Reis,


Lamentações, além do livro com seu nome. Porém, o autor não é
identificado em nenhuma parte do livro, ficando sua identidade
realmente desconhecida, a não ser pelo que se sabe conforme a

109
Antigo Testamento II - Livros Históricos

tradição. A formação final do livro deve ter ocorrido durante o


cativeiro babilônico por volta de 560-550 a.C., visto que o livro de
2 Reis narra a destruição de Jerusalém que ocorreu em 586 a.C. O
escritor do livro não poderia ser uma testemunha ocular de todos
os fatos nele relatados, visto que os fatos de 1 e 2 Reis abrangem
um período de mais de quatrocentos anos. Sendo assim, ele
recorreu a várias fontes históricas, tais como o “Livro dos Atos de
Salomão” (1 Rs 11.41), o “ Livro das Crônicas dos Reis de Israel” (1
Rs 14.19), o “Livro das Crônicas dos Reis de Judá” (1 Rs 14.29), que
não é o livro de Crônicas das nossas Bíblias, pois foram escritos
depois do cativeiro e não durante.

2 - Localização do livro na Bíblia Hebraica

Este livro segue o mesmo esquema do livro de Samuel, isto


é, os dois livros de Reis constituem um todo na Bíblia hebraica,
e também fazem parte do grupo dos profetas, na subdivisão dos
profetas anteriores.

II - ESBOÇO DO LIVRO

I - O reinado de Salomão ( caps.1-11)


A - Salomão é estabelecido como
(caps. 1-4)
sucessor legítimo de Davi
1 - A ascensão de Salomão ao trono (1.1-2.11)

110
Unidade V
O Livro de I Reis

2 - A consolidação do poder de
(2.12-46)
Salomão

3 - O dom de Sabedoria (3.1-15)

B - Grandes realizações do reinado de


(caps.5-10)
Salomão
1 - Os preparativos para a construção
(cap.5)
do Templo
2 - A construção do palácio real (7.1-12)
3 - Oração e dedicação do Templo de
(cap.8)
Salomão
4 - A dupla resposta de Deus (9.1-9)
C - Declínio político e espiritual de
(caps.11)
Salomão
1 - Os pecados de Salomão (11.1-13)
2 - O castigo contra Salomão (11.14-25)
II - O reino dividido em sua fase inicial (caps. 12-16)
(1 Rs 17.1-2 Rs
III - Profetas e reis
1.18)
A - Os profetas e Acabe (17.1-22.40)
1 - Elias, o tisbita (cap.17)
B - Josafá ,de Judá (22.41-50)
C - Acazias, de Israel, desafia Elias (22.52-2Rs 1.18).

111
Antigo Testamento II - Livros Históricos

1 - Quem era Salomão

Salomão era filho de Davi com Bate-Seba. Ele nasceu após


a morte do primeiro filho. Seu nome significa paz. Vemos em Davi
uma demonstração de fé, pois após o seu pecado com Bate-Seba,
o Senhor havia dito que a espada não se afastaria da casa de Davi,
mas, em meio a todos estes desastres, Davi foi capaz de crer na
misericórdia do Senhor e dar o nome “paz”a seu próximo filho com
Bate-Seba. Salomão também foi chamado por Deus de Jedidias,
que significa “amado por Jeová”( 2 Sm 12.24,25 ). O nome que
acabou prevalecendo foi Salomão.

2 - Período de transição

Davi, como já havia tido problemas com Absalão, e vendo-


se vencido pelo cansaço, estabelece um período de co-regência
entre ele e Salomão, porque na linha sucessória, Salomão não
teria o direito, não sendo o primogênito; havia ainda Adonias, que
possuía mais diretos do que o Salomão e, além disso, Salomão
estava vinculado à relação escandalosa de Davi e Bate-Seba. O
Senhor já havia estabelecido que seu sucessor seria Salomão (1
Cr 22.9-10). Para que esta transição ocorresse da forma mais
tranqüila possível, ele faz uma coroação prévia de Salomão,
estabelecendo um período conhecido como co-regência. Este
período durou cerca de dois anos ( 1 Cr 23.1; 29.22-24).
Esta co-regência,entretanto, não amenizou os ânimos, pois
Adonias se auto-proclamou rei, e conseguiu alguns partidários

112
Unidade V
O Livro de I Reis

de peso, como o comandante do exército de Davi, Joabe, e o


sacerdote Abiatar. Esta revolta foi abortada e Salomão acaba
sendo oficializado como rei. Ao se tornar rei e sendo ameaçado
por seus opositores, trata de eliminá-los. Adonias é morto, ao
pedir que Bate-Seba interceda junto a Salomão que lhe desse
por mulher Abisague. Esta moça havia estado com Davi nos seus
últimos dias. Apesar de Davi não ter tido relações com ela, era
considerada como uma concubina do rei e, se Salomão a desse
por mulher a Adonias, seu reino estaria seriamente ameaçado,
porquanto era costume no Oriente, como sinal de transferência
de poder entre um soberano e outro, a tomada das mulheres, ou
do harém do soberano anterior. Sendo assim, o reino de Salomão
estaria seriamente ameaçado. Desta forma, além de ele não ser o
primogênito, daria aquela que era tida como concubina de Davi,
simbolizando assim a transferência de poder de Davi para Adonias.
Foi isto que irritou Salomão, ao ponto de dizer a sua mãe que só
faltava Adonias pedir o reino. Vendo Salomão que Adonias nunca
se conformaria com ele no trono e sempre estaria a tramar sua
derrubada, manda que Adonias seja morto (1 Rs 2.22,23). Nesta
ocasião, ele aproveita e realiza o pedido que Davi havia feito antes
de morrer, isto é, a morte de Joabe, pois este era um dos que
haviam apoiado Adonias, quando se denominou rei de Israel ( 1
Rs 2.5,6;28-34). Nesta mesma ocasião, ele também manda para
o exílio, em Anatote, Abiatar para que não fosse morto (1 Rs
2.26). Assim, Salomão acabou com todo foco de resistência que
havia contra seu reino. As Escritura nos relatam o epílogo deste
episódio: “assim foi confirmado o reino na mão de Salomão.” (1
Rs 2.46).

113
Antigo Testamento II - Livros Históricos

3 - Salomão pede sabedoria a Deus

Após estabelecer-se no reino, Salomão pede e recebe


de Deus o maior presente que um monarca ou um líder poder
receber: sabedoria. Esta sabedoria era reconhecida por todos que
o conheciam. Ele foi o escritor de quase todo o livro de Provérbios,o
livro de Eclesiastes, Cantares de Salomão, e ainda compôs alguns
Salmos. Teve sabedoria divina para que construísse o Templo e fez
com que Israel vivesse o seu tempo de maior glória.

4 - Nasce um império

Não podemos utilizar o termo império para designar uma


vasta expansão de terra, como tiveram os assírios, babilônios,
persas, gregos e romanos, mas sim como uma relativa expansão
territorial e domínio sobre países e povos vizinhos.
O que contribuiu para a elevação do estado israelita no
período de Salomão.

5 - Sua sabedoria

A sabedoria que Deus deu a Salomão levou-o a desenvolver


o estado israelita tanto espiritual como materialmente. Sua
administração sábia enriqueceu o estado de Israel. Os próprios
ornamentos do templo podem nos indicar isto com abundância
em madeira de melhor qualidade e ouro.

114
Unidade V
O Livro de I Reis

6 - A expansão territorial

Esta expansão do território de Israel não começou com


Salomão, mas, sim com Davi que preparou o ambiente para o
progresso de Salomão. Como definiu certo escritor: “Davi foi o
guerreiro perfeito, enquanto Salomão foi o construtor sábio e
perfeito” . O território de Salomão tocava no Eufrates a nordeste,
o ribeiro do Egito a sudoeste, o mar Mediterrâneo a oeste e o
deserto arábico a leste. Deve-se entender,no entanto, que não
estamos falando de império no sentido de uma vasta expansão
territorial, e sim em poder de subjugar nações vizinhas. O império
de Salomão, mesmo em seu maior tempo de glória, não foi maior
que o estado de São Paulo.

7 - Tratados internacionais

Salomão selou tratados com países grandes e humildes,


através de casamentos (1 Rs 11.1,2). Hirão de Tiro tornou-se seu
amigo, aquele que o ajudou a enriquecer rapidamente (1 Rs 5.1-
12).

8 - Programas de Construções

Ele construiu o Templo, seu esplêndido palácio, a casa na


floresta, no Líbano. Porém para levar a cabo seus empreendimentos
ele impôs ao povo uma alta taxa de impostos e trabalho escravo.
Isto, além de seus outros pecados, serviria de combustível para a

115
Antigo Testamento II - Livros Históricos

divisão do reino futuramente ( 1 Rs 5.13,14;12.18).

9 - Um sistema de mineração e refinamento de cobre

As famosas minas do rei Salomão realmente existiram e


não foram uma invenção cinematográfica. A arqueologia tem
descoberto a mineração de cobre em Eziom-Geber, cidade que
ficava na extremidade do Golfo de Acaba (1 Rs 9.26).

10 - O desenvolvimento cultural

Sabemos muito bem o quanto Salomão contribuiu para o


desenvolvimento cultural do povo de Israel, pois ele havia recebido
sabedoria divina. É fato que ele escreveu três mil provérbios e
mil e cinco canções. A Bíblia nos diz que Salomão superou todos
os estudiosos de sua época, e até mesmo a organização do seu
palácio era algo de assombrar qualquer monarca, pela sabedoria
com que eram realizados os trabalhos (1 Rs 10.4,5; 4.29-34;11.41).

11 - A queda de Salomão

Sempre surge uma pergunta: Salomão foi salvo ou não? Este


fato tem intrigado a muitos. Há ,entretanto, evidências bíblicas
de um possível arrependimento de Salomão. Isto pode ser notado
no livro de Eclesiastes. De acordo com estudiosos, Salomão
escreveuCcantares no início de seu reino, falando de sua amada.

116
Unidade V
O Livro de I Reis

Escreveu seus provérbios em sua meia idade e Eclesiastes no final


de sua vida. Ao que parece, com base no livro de Eclesiastes, pode-
se ter certeza de que ele escreveu no final de sua vida, pois ele faz
uma citação, velada, a Jeroboão, aquele que iria dividir o reino
(Ec 4.13-16). Salomão ficou sabendo desta divisão no final de sua
vida e, sendo assim, pode-se observar no epílogo de Eclesiastes
um sinal de arrependimento “De tudo o que se tem ouvido, o fim
é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque este é o
dever de todo homem.” (Ec 12.13).

12 - O Motivo da Queda de Salomão

A queda de Salomão, como acontece com qualquer outro,


não aconteceu da noite para o dia, mas isto se deu como um
processo. Muitas atitudes tomadas por Salomão trouxeram
progresso ao reino de Israel, mas, apesar de ter ocorrido um
progresso material, não aconteceu espiritualmente, pois suas
alianças políticas feitas com outros povos foram o motivo de sua
queda. Muitas destas alianças eram seladas com casamentos e as
mulheres que Salomão tomava para si como selo das aliança, lhe
corromperam o coração (1 Rs 11.1-3).
Salomão transgrediu os mandamentos que haviam sido
dados em Deuteronômio 17 para o rei. Estas recomendações
eram:

117
Antigo Testamento II - Livros Históricos

13 - Concernentes a cavalos

“porás, certamente, sobre ti como rei aquele que


escolher o SENHOR... Porém não multiplicará para
si cavalos, nem fará voltar o povo ao Egito, para
multiplicar cavalos; pois o SENHOR vos tem dito:
Nunca mais voltareis por este caminho.” (Dt 17.15,16).

E foi justamente isto que fez Salomão. Ele acumulou para si


cavalos, construiu cidades que eram celeiros. Procriava e ainda
comercializava cavalos. Ele importava cavalos do Egito, ao sul, e
os exportava para a Síria e para o reino Heteu, ao norte (1 Rs
10.28,29). Diz-nos um texto bíblico que ele possuía quarenta mil
cavaleiros ( 1 Rs 4.26; 2 Cr 9.25,28).

14 - Concernentes a mulheres

“Tampouco para si multiplicará mulheres, para que o


seu coração se não desvie.” (Dt 17.17).

Se o rei Salomão tivesse multiplicado mulheres israelitas,


já estaria transgredindo, pois aqui Deus condena o rei ter várias
mulheres, mesmo estas sendo israelitas. Mas Salomão fez pior:
teve cerca de mil e uma mulheres, contando a filha de Faraó,
mais setecentas mulheres princesas e as trezentas concubinas (1
Rs 11.1,3). Alguns podem argumentar que estas mulheres foram
contraídas por motivação política. Ou seja, Salomão recebia-as

118
Unidade V
O Livro de I Reis

suas mãos como selo de uma aliança que ele fazia com os países
que eram vizinhos. O Senhor, no entanto, havia advertido que
era terminantemente proibido a um israelita casar-se com uma
mulher gentia, pois esta o levaria a desviar-se (Dt 7.1-5; Jz 3.5,6),
e foi justamente o que aconteceu com Salomão, ao contrair
matrimônio com esta mulheres, pois a Bíblia nos diz que as muitas
mulheres de Salomão lhe corromperam o coração e levaram-no a
seguir seus deuses e abandonar ao Senhor Deus (1 Rs 11.3,4).

15 - Concernente a riquezas

“... nem prata nem ouro multiplicará muito para si.”


(Dt 17.17b).

Vemos que concernente a este mandamento, Salomão


também falhou, pois as Escrituras nos dizem o quanto ele
multiplicou sua riqueza ( 2 Cr 9.26,27). Sabemos também que ser
rico não é pecado, mas depositar o coração nas riquezas, sim.

SEGUNDA PARTE - A DIVISÃO DO REINO

1 - Introdução

Nada acontece de forma instantânea. A queda de alguém


é uma sucessão de erros, e foi justamente o que aconteceu
com Salomão. O pecado específico, que levou à divisão do

119
Antigo Testamento II - Livros Históricos

reino foi ele ter caído na idolatria, no final de sua vida, mas este
comportamento só se concretizou, porque ele, antes de pecar,
praticando a idolatria, tinha pecado quanto ao casamento: casou-
se com mulheres gentias, o que as Escrituras proibiam, e foram
elas que o influenciaram, levando-o à idolatria (1 Rs 11.1-8).Por
causa disso, Deus o adverte dizendo que rasgaria, ou seja, dividiria
seu reino, o que o Senhor não faria nos dias de Salomão, por amor
a Davi. Após a morte de Salomão, seu reino seria dividido e só
lhe restaria uma tribo (1 Rs 11.9-13). Na realidade ficaram cerca
de três tribos com Salomão, mas somente uma era significativa-
Judá. Simeão encontrava-se no território de Judá, mas para Deus
pertencia ao norte e Benjamim ,que era uma tribo sem muita
expressão, devido à destruição que ocorrera no final dos dias dos
juízes (Jz 20;21).

2 - Os motivos da divisão do reino

O motivo principal da divisão do reino foi a idolatria de


Salomão (1 Rs 11.9-13;30-33). O Senhor cumpriu o que havia dito:
dividir seu reino e dar parte dele ao seu servo Jeroboão.(1 Rs
11.11). Este, após receber a profecia de Aías, foge para o Egito(1
Rs 11.29-33), porque Salomão tentava matá-lo (1 Rs 11.40).
Após a morte de Salomão, seu filho Roboão assume o cargo
em seu lugar. Jeroboão, a quem a profecia se referia que teria
dez das doze tribos, ao saber que Salomão é morto, retorna do
Egito, onde estava exilado, para tentar tomar o que lhe havia
sido prometido. Jeroboão vai até o rei Roboão, para saber como

120
Unidade V
O Livro de I Reis

seria sua administração, visto que a de seu pai fora duríssima:


muitos impostos para alimentar o Estado criado. Roboão, filho de
Salomão, pede três dias para pensar qual seria a sua proposta para
o reino. Indo Roboão consultar com os conselheiros de seu pai,
estes lhe disseram que deveria responder de forma branda para
com o povo, pois eles sabiam que era um momento de transição.
Ao invés de Roboão acatar estes conselhos, vai consultar seus
amigos de infância, que haviam crescido com ele, e que não
possuíam nenhuma capacidade para aconselhar alguém em uma
hora tão crucial. Seus amigos o aconselharam que desse a seguinte
resposta ao povo:

“Meu dedo mínimo é mais grosso do que os lombos de


meu pai. Assim que, se meu pai vos carregou de um
jugo pesado, ainda eu aumentarei o vosso jugo; meu
pai vos castigou com açoites, porém eu vos castigarei
com escorpiões.” (1 Rs 12.11,12).

Assim que o povo ouviu esta resposta de Roboão, revoltou-


se e deixou de considerá-lo como rei de Israel. As dez tribos ao
norte passaram a pertencer ao reino do norte, que a partir de
agora se chamaria Israel e teria como seu primeiro rei Jeroboão,
que fixou sua capital em Siquem, região de Efraim. As outras duas
tribos restantes se chamariam Judá, conhecida como reino do sul,
e continuaria com a linhagem dinástica de Davi e seria a única que
sobreviveria aos ataques externos. Devido a sua sobrevivência,
surgiria o termo judeu, aplicado hoje aos israelenses. Judá, a partir

121
Antigo Testamento II - Livros Históricos

de agora, passaria a ser um reino distinto de Israel, e seria o único


que sobreviveria aos assédios das nações vizinhas.

3 - Situação Geográfica após a divisão do reino

122
Unidade V
O Livro de I Reis

4 - Período de Discórdia (1 Rs 12; 2 Cr 11)

Não se deve pensar que o início do reino dividido foi fácil.


Como em toda mudança há aqueles que aprovam e os que
desaprovam, e aqueles que se sentem lesados, assim, no início
do reino de Davi, houve uma batalha entre seus homens e os
homens da casa de Saul. Assim aconteceu entre Roboão, rei de
Judá e Jeroboão, rei de Israel. Roboão, ao tentar fazer com que
os israelitas do norte continuassem a realizar seus projetos,
tem um de seus servos mortos, e ele próprio só não é morto,
porque consegue fugir no seu carro. Porém, Ao chegar, porém, a
Jerusalém ele reúne um exército de cento e oitenta mil soldados,
das tribos de Benjamim e Judá, para irem contra os ficcionistas do
norte. Mas o Senhor usa o profeta Semaías o qual os adverte que
não deveriam lutar contra seus irmãos, pois este negócio vinha
da parte do Senhor. Eles, por fim, acatam as ordens do Senhor,
e a princípio não atacam Israel (1 Rs 12.18-24). As hostilidades
continuaram por um longo período. Veja uma definição de como
foi o tratamento entre os dois reinos: “Houve guerra entre Roboão
e Jeroboão, todos os seus dias” (1 Rs 14.30). Esta guerra entre
Israel e Judá continuou durante o período de Abias e Asa, reis de
Judá. Isto é demonstrado pelo texto que nos diz: “Houve guerra
entre Asa(Rei de Judá) e Baasa, rei de Israel, todos seus dias” (1 Rs
15.16).

123
Antigo Testamento II - Livros Históricos

5 - Jeroboão um início desastroso (1 Rs 12-14)

Apesar de Jeroboão ter sido usado pelo Senhor para


realizar seu plano, concernente ao juízo sobre a casa de Salomão
e a divisão do reino, não correspondeu à altura de seu chamado.
Como Jerusalém e consecutivamente o templo ficaram no reino do
sul, Jeroboão, temendo que o povo de seu reino fosse adorar em
Jerusalém e lá fosse persuadido a reunificar o reino, ele estabelece
um culto pagão em Israel. Para isto ele institui dois centros de
adoração pagã em seu reino: um no extremo norte, em Dã, e outro,
no extremo sul de seu reino, em Betel. Neste templo o objeto de
adoração eram os bezerros de ouro e Jeroboão utilizou o mesmo
argumento utilizado pelos israelitas que pecaram contra o Senhor,
quando Moisés estava a receber a lei: “Vês aqui teus deuses, ó Israel,
que te fizeram subir da terra do Egito.”( 1 Rs 12.29). Esta atitude de
Jeroboão foi tão desastrosa para o reino do norte, que este nunca
possuiu um rei que fosse capaz de aniquilar esta forma de adoração.
Até mesmo Jeú que extirpou o baalismo de Israel ( 2 Rs 10.28,29),
em seu período, permitiu esta forma de adoração. E devido a este
fato, muitos levitas e homens piedosos, que habitavam no reino
do norte migraram para o sul, Judá, pois estes eram perseguidos
por se oporem a esta forma de adoração. Além disso, a partir de
agora, faz-se necessário observar a quem o Senhor está falando.
Quando o Senhor está condenando os sacerdotes de Israel, o reino
do norte, ele está falando contra os sacerdotes que ministravam no
templo erigido por Jeroboão, e que sacrificavam aos bois, e eram
chamados de todas as gentes, não exclusivamente da tribo de Levi,
como mandava a Lei ( 1 Rs 12.31; Os 5.1).

124
Unidade V
O Livro de I Reis

6 - Josafá : o início de alianças entre Judá e Israel (1 Rs 22;


2 Cr 17-21)

Não havendo condições de detalhar a vida de todos os reis


do Sul e do Norte, serão estudados alguns reis que se destacaram
e cujas atitudes tiveram influências em seus reinos, ou para o
bem, ou para o mal. Um destes reis foi Josafá, o responsável pela
primeira relação diplomática entre o reino do Sul e do Norte.
Estas alianças,porém, entre Josafá, rei de Judá, e Israel, foram
catastróficas para a tribo de Judá, pois em Judá ainda houve alguns
reis piedosos, algo que não aconteceu com nenhum rei do norte.
Josafá parece que não conhecia a recomendação do Salmo 1: “não
andar segundo o conselho dos ímpios, não se deter no caminho
dos pecadores, não se assentar na roda dos escarnecedores, pois
foi justamente isso que ele fez, ao firmar aliança com o reino do
Norte. Esta aliança,porém, trouxe muitos problemas para Judá. O
Senhor expressou abertamente seu descontentamento com esta
atitude de Josafá, ao repreendê-lo por meio de seu profeta Jeú,
dizendo que Josafá ajudava o ímpio e amava aquele a quem o
Senhor odiava ( 2 Cr 19.2). De fato, Josafá havia feito aliança com
Acabe, que tinha por esposa uma fenícia ( descendente dos antigos
cananeus) chamada Jezabel, mulher responsável por implantar o
baalismo no reino do norte. Por causa desta aliança, o filho de
Josafá, Jorão, a quem seu pai deu por esposa a filha de Acabe,
começou a andar no caminho dos reis de Israel, isto é, praticar o
baalismo ( 1 Cr 21.5,6). Deve ser salientado que apesar desta infeliz
aliança entre Josafá e a família de Acabe, ele foi um excelente rei,
pois foi responsável por um avivamento em sua época. Mandava

125
Antigo Testamento II - Livros Históricos

de cidade em cidade seus príncipes, sacerdotes e levitas para que


ensinassem a lei ao seu povo (2 Cr 17.7-9).

126
Unidade V
O Livro de I Reis

ATIVIDADES DA UNIDADE V

1. Qual foi o primeiro rei a firmar uma dinastia?

2. Quem reinou em lugar de Saul?

3. Como era a situação política de Israel durante sete anos após


a morte de Saul.

4. Quantos anos Davi reinou sobre todo Israel?

5. Por que Davi foi impedido de construir o Templo?

6. O que Deus promete a Davi quando este se dispõe a construir


o Templo.

7. Qual foi o pecado que afetou profundamente o reinado de


Davi?

8. Quais foram às conseqüências do pecado de Davi com Bate-


Seba?

9. Por que Deus se desagradou quando Davi elaborou o censo?

10. Qual a diferença entre Davi e Saul?

127
UNIDADE VI
_________________

O LIVRO DE
2 REIS
QUEDA DOS DOIS REINOS

I - AUTOR E FORMAÇÃO DO LIVRO

Segue o mesmo formato de I Reis, visto que na Bíblia


hebraica eles não estão divididos, formando somente um livro.

129
Antigo Testamento II - Livros Históricos

II - ESBOÇO DE II REIS

I - O Reino Dividido: Israel e Judá (1.1-17.14)


A - Continuação do reinado de Acazias (1.1.-18; cf. 1 Rs
(Israel) 22.51-53)
B - Reinado de Jorão (Israel) (2.1-8.5)
1. Uma análise de Jorão (3.1-3)
2. O ministério milagroso de Eliseu (4.1-8.15)
C -Reinado de Jorão (Judá) (8.16-24)
D - Reinado de Acazias (Judá) ( 8.25-29)
E - Reinado de Jeú (Israel) (9.1-10.36)
F - O reinado de Atalia (Judá) (11.1-16)
G - Reinado de Joás (Judá) (11.17-12.21)
H - Reinado de Joacaz (Israel) (13.1-9)
I - Reinado de Jeoás (Israel ) (13.10-25)
J - Reinado de Amazias (Judá) (14.1-22)
K - Reinado de Jeroboão II (Israel) (14.23-29)
L - Reinado de Azarias (Judá) (15.1-7)
M - Reinado de Zacarias (Israel) (15.8-12)
N - Reinado de Salum (Israel) (15.13-15)
O - Reinado Manaém (Israel) (15.16-22)
P - Reinado de Pecaias (Israel) (15.23-26)
Q - Reinado de Peca (Israel) (15.27-31)
R - Reinado de Jotão (Judá ) (15.32-38)

130
Unidade VI
O Livro de II Reis (Queda dos Dois Reinos)

S - Reinado de Acaz (Judá) (16.1-20)


T - Reinado de Oséias (Israel ) (17.1-4)
1. Colapso final de Israel (17.5-23)
2- Cativeiro de Israel e repovoamento
(17.24-41)
da terra
II - O reino único: Judá depois do
(18.1-25.21)
colapso de Israel
A - Reinado de Ezequias (18.1-20.21)
B - Reinado de Manassés (21.1-18)
C - Reinado de Amom (21.19-26)
D - Reinado de Josias (21.1-23.30)
E - Reinado de Joacaz (23.31-33)
F - Reinado de Jeoaquim (23.34-24.7)
G - Reinado de Joaquim (24.8-16)
H - Reinado de Zedequias ( 24.17-25.21)
1 - Queda de Jerusalém (25.1-7)
2 - Destruição do templo e dos muros
(25.8-10,13,17)
da cidade
3 - Deportação final do povo para
(25.11-21)
Babilônia
III - Epílogo (25.22-30)

131
Antigo Testamento II - Livros Históricos

1 - Jeú, o rei que acabou com o baalismo (2 Rs 10)

Jéu era filho de Josafá, filho de Nissi, não do Josafá, rei de


Judá, que era filho de Asa ( 2 Rs 9.2; 1 Rs 15.24). Este era um dos
capitães do exército de Jorão, neto de Acabe, a quem o Senhor
havia dito a Elias que ungisse rei de Israel. Mas esta obra foi
concretizada por um moço seu sucessor, Eliseu ( 1 Rs19.15,16;
2 Rs 9.1,2). Ao ser ungido rei de Israel, Jeú retorna do campo de
batalha, em Ramote Gileade, a Jezreel onde o rei Jorão estava
acamado, curando-se das feridas desta guerra. Ao saber que Jeú
vinha, o rei Jorão vai até ele no campo de Nabote, o Jezreelita,
e neste campo Jeú mata o rei de Israel, Jorão, e fere Acasias rei
de Judá, que logo após vem a morrer em conseqüência deste
ferimento. Ao entrar Jeú em Jezreel, mata Jezabel, aquela que
implantou o baalismo em Israel. Jeú parte de Jezreel a Samaria
e lá chegando , mata a todos os da casa de Acabe que ainda
restavam, convoca uma assembléia solene de sacerdotes de
Baal, dizendo que ele seria muito mais fiel a Baal que Acabe, e se
algum sacerdote de Baal não viesse, esse seria morto. Estando
todos os sacerdotes de Baal reunidos no templo de Baal, Jeú dá
ordem aos seus homens que matam a todos; Jeú destrói a casa
de Baal, transformando-a em banheiro público ( 2 Rs 10.15-27).

2 - A queda do reino do Norte (2 Rs 17)

Apesar de todo zelo demonstrado por Jeú, pois extirpou o


culto prestado a Baal em Israel, este ainda continuou a aceitar

132
Unidade VI
O Livro de II Reis (Queda dos Dois Reinos)

o culto que foi instituído por Jeroaboão, no inicio do reino do


norte, isto é, a adoração aos bois sagrados ( 2 Rs 10.28,29).
Sendo assim, o reino do norte ficou livre do culto oficial a Baal,
mas nunca ficou livre da idolatria, e apesar terem existido
profetas poderosos no reino do norte, tais como Elias e Eliseu,
e profetizarem contra estas práticas, o povo não se arrependeu
e a mão do Senhor foi contra o reino do norte que ia de mal
a pior, e, conseqüentemente, partindo para sua destruição
preanunciada pelo Senhor.

3 - Implicações Teológicas

Talvez alguém pudesse dizer que a queda do reino do norte


foi motivada por erro na política e diplomacia de Israel, mas a
Bíblia é bem clara: eles foram destruídos por terem abandonado
o Senhor; em um período de mais de duzentos anos e dezenove
reis, nenhum deles foi capaz de voltar-se totalmente ao Senhor.
O que começou mal, terminou pior.
Alguém poderia dizer que Israel foi levado cativo, porque
deixou de pagar tributos a Assíria de quem era estado vassalo, e
porque buscou aliança do Egito para uma possível rebelião (2 Rs
17.3,4). Mas sabe-se que a verdadeira causa era o abandono do
Senhor, pois, se eles tivessem sido fiéis ao Senhor, teriam sido
libertos pelo Senhor, com o reino do Sul, Judá, que foi liberto
de forma milagrosa, alguns anos depois da destruição do reino
do norte ( 2 Rs 18.13;19.35,36). O texto bíblico que serve de
epílogo à destruição do reino do norte diz: “tudo isto aconteceu

133
Antigo Testamento II - Livros Históricos

porque os filhos de Israel haviam pecado contra o Senhor seu


Deus, que o fizera subir da terra do Egito, de debaixo do poder
de Faraó, rei do Egito. Eles temeram outros deuses.” ( 2 Rs 17.7).
A motivação da destruição do reino do norte foi a idolatria. No
entanto, eles não caíram sem serem avisados; o texto bíblico
nos diz que o Senhor advertiu Israel e Judá por meio de seus
profetas e videntes, mas eles não deram ouvidos, o que é pior,
endureceram seu coração contra o Senhor ( 2 Rs 17.13,14).

4 - Assíria, a vara de Deus para punir Israel

Deve-se tomar cuidado para não confundir a Assíria que se


situava a nordeste do reino de Israel, e que tinha como capital
Nínive, situada ao norte da Babilônia, com a Síria, ao norte de
Israel, tendo como capital Damasco.
Cada império teve seu auge. Houve o momento do Egito,
na época do Êxodo, e após este acontecimento nunca mais
o Egito foi o mesmo. É pela boca dos próprios príncipes de
Faraó, que, devido às pragas de Deus sobre o Egito, dizem a
Faraó para que mandasse os israelitas ao deserto, pois o Egito
estava arruinado, e quando o povo de Israel sai, leva para si
muitos despojos do Egito (Ex 12.35,36); depois disto, Faraó sai à
perseguição e perde todos os seus soldados no Mar Vermelho.
Com isso o Egito levou um duro golpe de que nunca mais se
recuperou definitivamente. Houve o momento glorioso de
Israel com Davi e Salomão, e agora era o momento da Assíria,
a máquina de fazer guerra. E esta foi a vara de Deus para o

134
Unidade VI
O Livro de II Reis (Queda dos Dois Reinos)

juízo sobre um contumaz Israel. No ano 725 a.C., Salmaneser


V ataca Israel e o sitia por três anos. Este, sendo tributário da
Assíria, tentou uma conspiração, ao enviar mensageiros ao Egito
e suspender o pagamento de tributo a Assíria ( 2 Rs 17.3,4). No
ano de 722 aC. o povo se rende. Esta é a data oficial para a
destruição do reino do norte, Israel.

5 - A política Assíria de deportação e a origem dos


samaritanos

A política Assíria de deportação era diferente das demais,


porém muito mais destrutiva. Enquanto os demais povos
levavam todos os cativos para seu país e estabeleciam ali
comunidades coerentes, como é o caso dos judeus que foram
para Babilônia, a Assíria miscigenava os seus cativos, pois ela
pegava povos de uma determinada região e misturava com os
de outra. Isto impedia qualquer sentimento de nacionalismo
ou atitude rebelde. E foi justamente isto que a Assíria fez com
relação a Israel: tomou parte dos israelitas e os deportou para
outras regiões e trouxe pessoas de outras regiões para que
habitassem nas terras do reino do norte. Foi assim que surgiram
os samaritanos. Eles eram uma mistura de israelitas do norte,
que restaram após a deportação da Assíria, com povos pagãos.
Seria uma raça mestiça de israelitas. E a tribo do sul, Judá, que
se manteve coesa, ao ser deportada para Babilônia, não aceitou
os samaritanos por não os considerar israelitas natos e sim
pagãos. Daqui decorre o problema que vai durar até os dias do

135
Antigo Testamento II - Livros Históricos

Senhor Jesus ( Jo 4.9). Este golpe dado pela Assíria sobre o reino
do norte foi fatal, pois nunca mais se restabeleceu como uma
nação coerente e deixou de existir como descendência de Israel.

6 - A decadência e queda do Reino do sul, Judá (2 Rs 23-


25)

Apesar de Judá ter sido poupada no período do ataque de


Salmanezer V, pois Acaz, rei de Judá, era vassalo da Assíria ( 2
Rs 16.7-10) e apesar de ter sobrevivido, de forma milagrosa, aos
ataques de Senaqueribe, rei Assírio, no período do rei Ezequias,
este reino só sobreviveu um pouco mais de cem anos, até que
fosse deportado para Babilônia, que derrotaria a Assíria e se
tornaria a nova potência mundial.
Apesar de Judá ter possuído alguns reis exemplares como
Josias e Ezequias, suas reformas religiosas não foram profundas
o suficiente para uma mudança de consciência nacional. Como
o Senhor diz pelo profeta Jeremias: “cura superficialmente a
ferida da filha do meu povo, dizendo: paz, paz, quando não há
paz.” (Jr 8.11). Havia uma mudança superficial, eles louvavam ao
Senhor com a boca, mas o coração estava longe dele (Is 29.13).
A conseqüência deste comportamento foi a decadência e
deportação do reino de Judá para Babilônia.

7 - Como e quando ocorreu a deportação

Após a morte de Josias, reinaram em seu lugar três filhos

136
Unidade VI
O Livro de II Reis (Queda dos Dois Reinos)

seus e um neto. Estes foram os últimos reis de Judá. Neste período


final, o reino de Judá passou um período sob o domínio egípcio
e finalmente caiu diante da Babilônia. Os Assírios, após sua
desastrosa campanha contra Judá, no período do rei Ezequias,
perderam cento e oitenta e cinco mil soldados e nunca mais
se restabeleceram. Em 612 aC. perdem Nínive para os Medos
e migram para oeste, a fim de fugirem de outra ameaça, a
Babilônia, que despontava como nova potência mundial. Enfim,
eles são derrotados por volta de 605 a.C. na famosa batalha de
Carquemis. Agora surge um novo império: a Babilônia.
A primeira leva de cativos 606 a.C.
Em 609 a.C. Faraó Neco sobe em socorro aos assírios
que estavam sendo atacados pelos babilônicos em Arã. Porém
Neco é interceptado por Josias, que era leal a Babilônia. No
entanto Neco mata Josias. Jeoacaz, filho de Josias, assume o
trono, mas só comanda a nação por noventa dias (2 Rs 23.31-
33), pois o Egito faz de Judá reino vassalo, colocando como rei
de Judá outro filho de Josias, Eliaquim, cujo nome Neco muda
para Jeoaquim, que reina por onze anos. Mas, após a derrota
ocorrida em Carquemis, a Babilônia vem e faz de Judá um reino
vassalo, tomando- o das mãos dos egípcios. Para que Judá
continuasse subserviente a Babilônia, leva para sua terra um
grupo de Judeus, pertencentes a elites de Judá, como cativos,
e dentre estes estava Daniel (Dn 1.1-3,7). No entanto, em 597
a.C. Jeoaquim se rebela contra a Babilônia que vem e sitia Judá.
Jeoaqum morre no cerco e seu filho Joaquim assume o trono
somente por três meses e dez dias. Neste segundo cerco é
levado o segundo grupo de cativos, também da elite de Israel,e

137
Antigo Testamento II - Livros Históricos

neste segundo grupo vai o profeta Ezequiel.

8 - A segunda leva de cativos

E em 597 a.C. Jeoaquim se rebela contra a Babilônia,


deixando de pagar tributos. Esta, porém, a princípio, não vem
com seu exército oficial, mas incita ataques de bandos caldeus
saqueadores, apoiados por moabitas, amonitas e siros. No
período em que Judá está sendo atacada por estes bandos,
Jeoaquim morre e seu filho, Joaquim, conhecido também pelo
nome de Conias ou Jeconias, assume o trono, mas somente
por três meses e dez dias. Em seguida Babilônia vem e toma
a cidade de Jerusalém novamente, e neste segundo cerco é
levado o segundo grupo de cativos, também da elite de Israel,
fazendo parte deste segundo grupo o profeta Ezequiel. Joaquim
e a rainha também vão como cativos a Babilônia, que coloca em
seu lugar o último dos reis de Judá, antes da queda, Matanias,
cujo nome Nabucodonosor mudou para Zedequias, também
filho de Josias.

9 - A terceira leva de Cativos

Em 594 a.C. Psamético assume o trono egípcio em lugar


de Neco. Ele começa a formação de uma liga de resistência a
Babilônia. A esta liga juntaram-se Edom, Moabe, Amom e a
Fenícia. Embora Zedequias não tenha se aliado em 594 aC., acabou
cedendo e juntando-se à liga em 588 aC. Em conseqüência disto

138
Unidade VI
O Livro de II Reis (Queda dos Dois Reinos)

Nabucodonosor vem e assedia Jerusalém, por cerca de dezoito


meses. A situação da cidade é calamitosa, e a fome tão grande,
devido ao cerco babilônico, que as pessoas confinadas dentro da
cidade de Jerusalém partem para o canibalismo (Lm 2.20; 4.10).
Este juízo,porém, que os levou a se devorarem uns aos outros,
mães devorando seus próprios filhos, já havia sido declarado
pelo Senhor, que advertiu os israelitas que isto aconteceria,
se eles lhe desobedecessem (Dt 28. 52-57). E em meio a esta
situação desesperadora Jerusalém é tomada e destruída em
586 aC. No verão de 586 aC. os babilônios entram na cidade
por uma brecha feita nas muralhas. O rei Zedequias foge, mas é
preso em Jericó, dali ele é levado a Ribla, onde seus filhos são
mortos e seus olhos vazados, sendo por fim levado em cadeias
para a Babilônia.

10 - Motivos da queda de Judá

Assim como aconteceu com o reino do norte, muitos


poderiam dizer que o motivo da queda foram manobras erradas,
na diplomacia, por parte dos reis de Judá. Mas o verdadeiro
motivo da queda, a própria Bíblia dá: a idolatria de Judá, que
se arrependeu só superficialmente. A Bíblia nos diz que a ira
do Senhor subiu tanto que não houve nenhum remédio. O
Senhor havia enviado seus mensageiros, mas eles zombaram e
desprezaram-nos (2 Cr 36.15,16). Encheu-se o cálice da ira de
Deus. Ele é misericordioso, porém não é conivente. Antes que a
sua bondade e misericórdia se tornem conivência com o pecado,

139
Antigo Testamento II - Livros Históricos

ele aplica a sua justiça. E foi justamente isto que aconteceu. O


cativeiro foi um amargo remédio, mas nunca mais eles cairiam
novamente na idolatria. Até mesmo no Novo Testamento não
vemos nenhuma crítica do Senhor concernente à idolatria; Ele
critica a hipocrisia religiosa, mas não a idolatria dos religiosos
contemporâneos seus.

140
Unidade VI
O Livro de II Reis (Queda dos Dois Reinos)

ATIVIDADES DA UNIDADE VI

1. Quem foi o escritor do livro de 1 Reis?

2. Qual é a sua classificação na Bíblia Hebraica?

3. Quem era Salomão?

4. O que Davi fez para que a transferência do reino a Salomão


ocorresse da forma mais tranqüila possível?

5. Qual foi o propósito da co-regência entre Davi e Salomão?

6. O que Salomão pediu a Deus para que pudesse governar?

7. Em que sentido Israel pode ser definido como um império no


período de Salomão.

8. O que contribuiu para a elevação do estado israelita no


período de Salomão?

9. Qual foi o motivo da queda de Salomão?

10. Qual foi a conseqüência da queda de Salomão?

141
UNIDADE VII
_________________

O LIVRO DE
1E2
CRÔNICAS
O RETORNO DO CATIVEIRO BABILÔNICO

I - AUTOR E FORMAÇÃO DO LIVRO DE 1


CRÔNICAS

1 - Autor do livro

A tradição judaica atribui a Esdras a composição do livro


de Crônicas. Pelo menos dois fatores tornam possível esta
identificação: o livro foi escrito depois do exílio babilônico dos

143
Antigo Testamento II - Livros Históricos

judeus, próximo da época do ministério de Esdras, e muitas


passagens de Crônicas compartilham das preocupações
sacerdotais de Esdras. O autor recorreu a numerosos registros já
existentes para compor o livro de Crônicas, é o que se percebe
nas referências a outros livros que não constam de nosso Cânon
(1 Cr 29.29; 2 Cr 9.29; 12.15; 20.34; 32.32)

2 - Formação do Livro

Talvez alguém que não tenha algum conhecimento


cronológico da Bíblia, não venha a entender o livro de Crônicas,
pois este,produzido antes do livro de Samuel, cita personagens
deste livro. Seriam estes personagens os mesmos dos livros de
Samuel e Reis?. Se forem, por que repetem a mesma história, já
que mais da metade do livro de Crônicas faz referências a algo que
já foi escrito anteriormente. Explica-se o fato com base no objetivo
e propósito para que o livro foi escrito. Este livro foi escrito para
os que retornavam do cativeiro babilônico e necessitavam ter sua
fé realçada em Deus. O escritor de Crônicas deixa de lado o reino
do norte, pois este já não existia mais, desde 722 a.C. quando foi
destruído pelos Assírios, e faz uma descrição da atividade divina,
somente do ponto de vista do reino do sul, com o objetivo de
realçar a fé daqueles que voltavam do exílio.

3 - Localização do livro na Bíblia Hebraica

A Bíblia Hebraica, ao contrário de nossa Bíblia Cristã,

144
Unidade VII
O Livro de I e II Crônicas (O retorno do cativeiro babilônico)

cataloga o livro de Crônicas no final do Antigo Testamento. Além


disso os dois livros formam um único conjuntoe estão catalogados
junto aos hagiógraphos, Escritos Sagrados.

II - ESBOÇO DE 1 CRÔNICA

I - Genealogias: Adão à restauração pós- (1.1-9.44)


exílica
A - Adão a Abraão (1.1-27)
B - Abraão a Jacó (1.28-54)
C - Jacó a Davi (2.1-55)
D - Davi ao Exílio Babilônico (3.1-24)
E - Genealogia das doze tribos (4.1-8.40)
F - Genealogia do remanescente (9.1-34)
1 - As tribos que retornaram (9.1-9)
2 - Os sacerdote que retornaram ( 9.10-13)
3 - Os levitas que retornaram (9.14-34)
G - Genealogia de Saul (9.35-44)
II - Davi: a importância perene do seu (10.1-9.30)
reinado
A - A morte de Saul e seus filhos (10.1-14)
B - A tomada de Jerusalém e os valentes de (11.1-2.40)
Davi

145
Antigo Testamento II - Livros Históricos

C - O retorno da Arca, a restauração do (13.1-6.43)


Culto e o estabelecimento do reino
D - O concerto de Deus com Davi (17.1-27)
E - Vitórias militares de Davi (18.1-20.8)
F - O censo pecaminoso de Davi (21.1-30)
G - Preparativos completos de Davi para a (22.1-19)
edificação do Templo
H - Davi organiza os levitas para o (23.1-6.32)
ministério do Templo
I - A organização administrativa de Davi (27.1-34)
J - Preparativos finais de Davi para a (28.1-9.20)
sucessão e o Templo
K - A coroação de Salomão e a morte de (29.21-30)
Davi

III - AUTOR E FORMAÇÃO DO LIVRO DE 2


CRÔNICAS

Podemos aplicar tudo que foi dito ao livro de 1 Crônica ao


segundo livro de Crônicas, visto que os dois não eram subdivididos
originalmente, formando um único registro.

146
Unidade VII
O Livro de I e II Crônicas (O retorno do cativeiro babilônico)

IV - ESBOÇO DE 2 CRÔNICAS

I - Salomão: contribuições relevantes de seu


(1.1-9.31).
reino
A - A instituição da liderança de Salomão (1.1-17)
B - A construção do Templo (2.1-5.1)
1 - A instalação da Arca (5.2-14)
2 - Discurso consagratório de Salomão (6.1-11)
3 - Oração consagratória de Salomão e a glória
(6.12-7.3)
de Deus
4 - Sacrifícios e festas consagratórias (7.4-11)
5 - A promessa e advertência de Deus (7.12-22)
D - A fama de Salomão ( 8.1-9.28)
3 - Riquezas de Salomão (9.13-28)
E - A morte de Salomão (9.29-31)
II - Os reis de Judá, de Roboão até o exílio (10.1-6.23)
A - A divisão e o reinado de Roboão (10.1-2.16)
B - Reinado de Abias e Asa (13.1-6.14)
C - Reinado de Josafá (17.1-0.37)
D - Reinado de Jorão, Acazias e Atalia (21.1-3.15)
E - Reinado de Joás (23.16-4.27)
F - Reinado de Amazias, Uzias e Jotão (25.1-27.29)
G - Reinado de Acaz (28.1-27)
H - Reinado e a reforma de Ezequias (29.1-32.33)

147
Antigo Testamento II - Livros Históricos

I - Reinado de Manassés e Amom (33.1-25)


J - Reinado e reforma de Josias (34.1-35.27)
K - Sucessores de Josias; o exílio (36.1-21)
L - O decreto de Ciro (36.22,23)

1 - O Porquê da Genealogia em Crônicas

Conforme o que foi visto, o reino do norte foi tomado pela


Assíria em 722 a.C. e nunca mais se restabeleceu, pois a política
da Assíria para com os cativos era a destruição de todo senso
de nacionalismo; ela capturava povos de uma região e mandava
para outra, para que estes fossem mesclados com os habitantes
dali. Devido a esta política, aplicada ao reino do norte, ele nunca
mais se estabeleceu como uma nação israelita, pois perdeu o
que para os judeus é mais importante: sua pureza genealógica.
Misturaram-se com outros povos e os que restaram na terra do
reino do norte, após esta miscigenação, passaram a ser chamados
Samaritanos. Isto,porém, não aconteceu com o reino de Judá,
porque os que foram levados para Babilônia conseguiram manter
sua pureza genealógica lá no cativeiro e, quando receberam o
edito de Dario para retornarem para sua terra, para a construção
do templo, estes possuíam informações genealógicas; aqueles que
não podiam encaixar-se na genealogia, eram recusados (Ed 2.61-
63). É este o motivo de as Crônicas iniciarem com genealogia.

148
Unidade VII
O Livro de I e II Crônicas (O retorno do cativeiro babilônico)

2 - A Queda da Babilônia

Para saber como e o porquê de os judeus retornarem para


sua terra natal, é preciso compreender a situação geopolítica a
partir do ano de 586 a.C. e explicar algo sobre a Babilônia, onde
o povo de Judá estava cativo. Após a morte de Nabucodonosor,
a Babilônia nunca mais foi a mesma. Pois este monarca havia
construído um império poderosíssimo. Babilônia, além de ser a
mais bela cidade da época, era a mais poderosa fortaleza existente,
uma cidade de tirar o fôlego de qualquer um. Mas, como tudo
passa, a glória da Babilônia começou a murchar depois da morte
de Nabucodonosor em 562 a.C. E, após a morte deste monarca,
foi substituído por seu filho Evil-Merodaque, também conhecido
como Avel-Marduque. Ele reinou dois anos: de 562 a 560 a.C. O
reinado deste monarca foi interrompido, quando foi morto por
Neriglissar, genro de Nabucodonosor. Este faleceu em 556 a.C. e
foi sucedido por seu filho Labasi-Marduque que reinou somente
um mês, porque foi assassinado. Após a morte deste, Nabonido,
um dos que participaram do homicídio de seu antecessor, assume
o trono. Este monarca, porém, que governou de 556-539 a.C,
era devoto da deusa-lua Sim, que possuía um templo em Harã,
a noroeste da Babilônia. Ele restabeleceu a adoração a esta
divindade em Harã e ficou tão envolvido nesta devoção, que
passou a negligenciar as divindades e os sacerdotes babilônicos.
Foi por este motivo- a insatisfação do povo e dos sacerdotes
babilônicos- que Dario, o medo, entrou na Babilônia, sem que
precisasse guerrear, e a tomou em 539 a.C. das mãos do filho de
Nabonido, Belsazar, que havia sido colocado como co-regente da

149
Antigo Testamento II - Livros Históricos

Babilônia, devido à continua ausência de seu pai.

3 - Pérsia, a nova potência

A Babilônia rende-se diante da Pérsia, porém não houve uma


batalha para se tomar esta cidade, pois a insatisfação da população
e dos sacerdotes abriu os portões e a cidade foi entregue nas
mãos dos Persas. Como os persas passaram a dominar a Babilônia,
tudo que pertencia ao domínio deste império, passa ao controle
dos persas, conseqüentemente, os judeus e sua terra passaram
ao domínio persa.
Uma nova política para os cativos.
Enquanto os assírios e babilônicos transportavam seu cativos
para terras estrangeiras, Ciro, o primeiro imperador persa, fez o
inverso: encorajou os desterrados a voltarem à sua terra natal e
a reconstruírem seus templos. Foi assim que, num dos editos de
Ciro, Judá volta do cativeiro na Babilônia, em 538 a.C.

150
Unidade VII
O Livro de I e II Crônicas (O retorno do cativeiro babilônico)

ATIVIDADES DA UNIDADE VII

1. Quem acabou com o baalismo no reino do norte.

2. Quem levou cativo o reino do norte e quando isto aconteceu?

3. Por que a política de deportação Assíria era mortal para uma


nação?

4. O que motivou o cativeiro do reino do norte?

5. Quem levou cativo o reino do Sul?

6. Diga quantas levas ocorreram no cativeiro do sul, e quando


ocorreu cada uma delas.

7. Quem era o rei da Babilônia quando esta deportou Judá?

8. Qual foi o motivo da queda do reino do Sul?

151
UNIDADE VIII
_________________

ESDRAS, NEEMIAS
E ESTER
OS LIVROS PÓS-CATIVEIRO

LIVRO DE ESDRAS

I - AUTOR E FORMAÇÃO DO LIVRO DE


ESDRAS

1 - Escritor e data do Livro

A tradição considera Esdras como sendo o autor deste livro


que toma por nome. Apesar de ele, possivelmente, não ter sido

153
Antigo Testamento II - Livros Históricos

testemunha ocular dos fatos ocorridos do capítulo 1 a 6, pois


passaram quase oitenta anos antes de seu regresso à terra da
Palestina, a ele é atribuída a composição deste Livro.

2 - Sua localização na Bíblia hebraica

O livro de Esdras faz parte da terceira divisão da bíblia


hebraica, nos chamados Hagiógrafos ou escritos sagrados. Na
Bíblia Cristã, apesar de ter o mesmo conteúdo que na Hebraica, é
colocado junto à seção de livros históricos. Esdras e Neemias no
Antigo Testamento hebraico formavam um só livro, diferente de
nossa divisão da Bíblia em português. Pela cronologia, embora os
fatos de Esdras tenham ocorrido depois dos de Crônicas, este livro
é catalogado antes de Crônicas que, na Bíblia hebraica, é o último
livro do Antigo Testamento.

II - ESBOÇO DO LIVRO DE ESDRAS


(CAPÍTULOS 1-6)

1 - Os primeiros regressos do cativeiro (Ed 1-6)

A data exata do retorno da primeira leva dos judeus não


é possível determinar, pois o edito de Ciro foi promulgado em
539 a.C. Sabe-se que, para organizar uma tarefa tão importante,
arriscada e difícil, não era algo a ser feito da noite para o dia.
Além disso, muitos judeus não quiseram retornar, pois se sentiam

154
Unidade VIII
Esdras, Neemias e Ester (Os livros pós-cativeiro)

confortáveis na Babilônia e teriam que abandonar suas posses,


seus bens e sua comodidade, construída durante setenta anos.
Apesar disso, a maioria dos estudiosos acredita que o primeiro
retorno tenha ocorrido por volta de 538 a.C.
Conseguiu-se obter registros bíblicos da historicidade deste
fato em Esdras, do capítulo 1 ao 6.

2 - Esboço

I- Retorno de Babilônia a Jerusalém (Ed 1.1-2.70)


a- O edito de Ciro (Ed 1.1-4)
b- A preparação (Ed 1.5-11)
c- A lista de emigrantes (Ed 2.1-70)
II- Instalação em Jerusalém (Ed 3.1-4.24)
a- Edificação do altar -retomada da adoração (Ed 3.1-3)
b- Observância da festa dos tabernáculos (Ed 3.4-7)
c- Lançado os alicerces do templo (Ed 3.8-13)
d- Cessação da edificação (Ed 4.1-24)
III- O novo templo. (Ed 5.1-6.22)
a- Os líderes são impelidos à ação (Ed 5.1,2)
b- Apelo a Dario (Ed 5.3-17)
c- O decreto real (Ed 6.1-12)
d- O templo é completado (Ed 6.13-15)
e -O templo é consagrado (Ed 6.16-18)

155
Antigo Testamento II - Livros Históricos

f- Festas instituídas (Ed 6.19-22)

Esta primeira leva de Judeus, que partiram da Babilônia,


por volta de 538 a.C, vieram sob o comando de Zorobabel, com o
intuito de reconstruir o templo em Jerusalém. Ao chegarem,porém,
passaram a sofrer com a perseguição por parte dos samaritanos.
Os oficiais de Samaria, ao ouvirem sobre a reconstrução do
templo, tentaram intervir, porque consideravam Judá como parte
da província deles. Além disso, diziam que adoravam o mesmo
Deus dos judeus, mas os judeus não aceitaram a parceria com os
samaritanos. Desta forma as hostilidades começam a aumentar,
pois os samaritanos enviaram cartas ao imperador que decreta
a interrupção da construção do templo. Esta construção ficou
paralisada até o segundo ano de Dario em 520 a C. Este,porém,
autoriza a continuidade das obras, vindo o templo a ser construído
no ano de 515 a C. Vale salientar que este novo templo, edificado
por Zorobabel, é bem inferior em relação ao glorioso templo de
Salomão. Nota-se pela expressão de choro dos exilados mais
antigos, que relembravam a glória do antigo templo e choravam,
e da frase de conforto expressada por Ageu “ a Glória desta última
casa será maior que a primeira” (Ag 2.9; Ed 4.12,13).

156
Unidade VIII
Esdras, Neemias e Ester (Os livros pós-cativeiro)

O LIVRO DE ESTER

I - AUTOR E FORMAÇÃO DO LIVRO DE ESTER

1 - Escritor e data do Livro.

Não se sabe exatamente quem possa ter escrito o livro


de Ester, pois, como muitos outros livros do Antigo Testamento,
este não traz o nome do escritor. Devia ser um judeu,devido ao
conhecimento dos costumes judaicos narrados no livro. Além
disso, deveria ser alguém que tivesse conhecimento de todas as
situações política e administrativa da Pérsia e do palácio, pela
riqueza de detalhes dos costumes persas.

2 - Sua localização na Bíblia Hebraica

Este livro faz parte dos hagiógrafos na Bíblia hebraica que é


a terceira divisão desta Bíblia. Apesar de conter o mesmo assunto
que em nossa Bíblia Cristã, sua localização é um tanto incerta,
aparecendo quase no final do Antigo Testamento Hebraico.

157
Antigo Testamento II - Livros Históricos

II - ESBOÇO DO LIVRO DE ESTER

I - A providência de Deus no provimento de


(1.1-2.18)
uma rainha
A - A deposição de Vasti como rainha (1.1-22)
1 - O banquete de Assuero (1.1-9)
2 - A recusa de Vasti (1.10-12)
3 - A destituição de Vasti como rainha (1.13-22)
B - Ester escolhida como rainha da Pérsia (2.1-18)
1 - A busca da parte de Assuero ( 2.1-4)
2 - Ester é preferida (2.5-11)
3 - A escolha de Ester como a nova rainha (22.12-18)
II - A providência de Deus no meio de uma
(2.19-4.17)
trama
A - Mardoqueu salva a vida do rei (2.19-23)
B - A soberba de Hamã e sua trama traiçoeira (3.1-15)
C - Mardoqueu convence Ester a interceder
(4.1-17)
junto ao rei
III - A providência de Deus no livramento de seu
(5.1-9.32)
povo
A - O primeiro banquete de Ester; um pedido
(5.1-8)
inicial
B - A evolução da trama de Hamã (5.9-14)
C - A providência da insônia do rei (6.1-14).

158
Unidade VIII
Esdras, Neemias e Ester (Os livros pós-cativeiro)

D - O segundo banquete de Ester: denunciada a


(7.1-10)
trama de Hamã
E - O decreto do rei e a vitória dos judeus (8.1-9.16)
F - A instituição da festa do Purim (9.17-32)
IV - A providência de Deus na elevação de
(10.1-3).
Mardoqueu

1 - Cronologia e detalhes do livro

Os fatos históricos do livro de Ester ocorreram no intervalo


de cerca de 58 anos, entre o capitulo 6 e 7 de Esdras. O rei persa
do capítulo 6.1 é Dario (522-586 a.C) e o rei persa do capítulo 7.1 é
Artaxerxes I Longímanus (465-423 a.C).
Este livro de Ester foi criticado por alguns por ser o único
livro bíblico que não menciona o nome do Senhor (Ihawéh) nem
ao menos o termo Deus (Elohim). Os fatos relatados neste livro
não aconteceram em Jerusalém, mas sim em Susã, a capital de
inverno da Pérsia.
A história de Ester, que tinha o nome hebraico Hadassa,
começa com um banquete oferecido por Assuero, nome hebraico
de Xerxes (grego), que reinou de 485 a 465 a.C. Após sete dias de
banquete, oferecido a todos os súditos do reino (Et 1.4,5), o rei,
já embriagado, manda que busquem a rainha Vasti, para que seja
apresentada diante de todos, visto que era muito formosa.
Esta, porém, recusa-se a atender ao pedido do rei e este,
pressionado pelo mau exemplo dado pela rainha, a depõe. Depois

159
Antigo Testamento II - Livros Históricos

disto o rei passa a buscar uma substituta para a rainha, e acha esta
pessoa em uma jovem órfã, judia, criada pelo primo Mordecai.
Esta jovem era Hadassa, que passou a ser conhecida pelos persas
como Ester.
Mordecai, primo de Ester, passa a ser perseguido por Hamã,
alto oficial do rei persa. O ódio que este nutria contra Mordecai,
leva a buscar não somente a destruição deste mas também de
todo seu povo, os judeus. Observa-se aqui a obra do diabo, pois, se
os judeus fossem destruídos nesta altura da história, de onde viria
o Cristo? onde estariam as promessas de Deus, feitas a Abraão, de
uma grande nação e as outras infinidades de promessas a Israel?
O Senhor teria passado por mentiroso. Pode-se ver que, apesar
do livro de Ester não fazer menção do nome de Deus, Ele está
a trabalhar nos bastidores. Hamã consegue um decreto real de
Xerxes, pelo qual todos os judeus deveriam ser exterminados no
dia 13 de Adar (décimo segundo mês). Mordecai, porém, pede
socorro a Ester, para que ela interceda junto ao rei Xerxes, pois
ela, sendo judia, também estava sujeita àquele decreto. Xerxes,
ao ser informado sobre a astúcia de Hamã, que intentava contra
o povo da rainha e, consecutivamente, contra a própria rainha,
manda que Hamã seja enforcado em uma forca que Hamã havia
preparado para Mordecai. Ainda havia um outro problema: o
edito do rei que, segundo as leis persas, selado com o anel do
rei, não poderia ser revogado. Foi o que aconteceu também
com Daniel, pois, mesmo o rei não querendo lançá-lo na cova,
teve que fazê-lo, pois seu decreto era superior ao seu próprio
desejo (Dn 6.8,14,15; Et 3.10,12). O que fazer, então, para livrar os
judeus deste massacre? Criou-se um novo decreto real, onde se

160
Unidade VIII
Esdras, Neemias e Ester (Os livros pós-cativeiro)

dava aos judeus todo o direito de tomar armas e defenderem-se.


Amparados por este decreto, os judeus puderam defender-se e
salvar-se deste extermínio (Et 8.7-9.16).
Por causa deste livramento, os judeus começaram a
comemorar a festa chamada Purim . Nesta festa, comemorada de
13 a 15 do mês deAdar, os judeus se alegram e trocam presentes..
Nesta ocasião o livro de Ester é lido e, tradicionalmente, a
congregação reunida na sinagoga vaia e grita, todas as vezes que é
mencionado o nome de Hamã.
O livro de Ester termina falando sobre a influência alcançada
por Mordecai, na corte persa, por volta de 445 a.C., o que
beneficiaria Neemias, pois observa-se a referência a ele como
copeiro do rei persa, um cargo de extrema confiança para os reis
da época (Et 10.1-3).

ESDRAS (caps.7-10)

Fez-se este hiato dentro do livro de Esdras para uma melhor


localização cronológica do livro de Ester. Vem, a seguir, o relato
dos fatos ocorridos no livro de Esdras.

161
Antigo Testamento II - Livros Históricos

I - ESBOÇO DA SEGUNDA PARTE DE ESDRAS

I - O regresso a Jerusalém da segunda leva


(7.1-10.44)
de repatriados, sob Esdras
A - A missão de Esdras autorizada por (7.1-28)
Artaxerxes
B - A viagem de Esdras e dos seus (8.1-36)
companheiros
(9.1-10.44)
C - As reformas de Esdras em Jerusalém

1 - Condenação de casamento com pagãos (9.1-4)


2 - Confissão de Esdras e sua oração (9.5-15).
intercessória pelo povo
3 - Arrependimento público e intercessão (10.1-44).

1 - O segundo grupo de regressos

1.1 - Esdras, o reformador:


Enquanto a primeira leva de regressos da Babilônia a
Jerusalém veio com o intuito de reedificar o templo, esta segunda
leva, cerca de 80 anos depois, sob a direção de Esdras, veio com a
finalidade de fazer uma reforma religiosa, um avivamento bíblico
aos que estavam em Jerusalém no ano de 458 a.C.
Esdras pertencia a uma família de sumos sacerdotes, era

162
Unidade VIII
Esdras, Neemias e Ester (Os livros pós-cativeiro)

alguém versado na lei de Moisés (Ed 7.1-6). Ele veio para começar
uma reforma religiosa, pois, devido ao tempo de cativeiro e à
influência do aramaico (língua dos babilônios entre os quais os
judeus estiveram, cerca de setenta anos; as demais vieram mais
de cem anos depois) na vida dos regressos, nem todos conheciam
o hebraico. Por isto, Esdras, sendo um escriba versado na lei de
Deus, vem para instruí-los. Leia-se em Neemias 8; “a todos que
podiam entender o que ouviam” v.2 “leu...desde a alva até o meio
dia...e os que podiam entender...” v.3; “Leram no livro da lei de
Deus, esclarecendo e explicando o sentido, de modo que o povo
pudesse entender o que se lia” v.8.
Podemos concluir que Esdras retorna no ano de 458 a.C,
com o segundo grupo de cativos, a Jerusalém, para realizar o
trabalho de reforma e avivamento. A prova disso é que ele fez
com que os judeus de Jerusalém, que haviam contraído casamento
misto, mandassem embora suas mulheres estrangeiras (Ed 7-10).
Também fez explanações concernentes à lei de Moisés, ensinando
e interpretando a lei ao povo (Ne 8.1- 10.39). O resultado desta
ação de Esdras foi um enorme avivamento na vida espiritual do
povo pós-exílio, livrando-os da influência pagã que os rodeava, e
de caírem nos mesmos erros de seus antepassados, influenciados
por casamentos mistos (Dt 7.1-4; Jz 3.5,6).

163
Antigo Testamento II - Livros Históricos

O LIVRO DE NEEMIAS

I - AUTOR E FORMAÇÃO DO LIVRO

1 - Autor e data do livro.

Este livro é atribuído a Esdras, admitindo, porém, um


possível auxílio do próprio Neemias em sua elaboração. A
historicidade deste livro é confirmada pelos Papiros de Elefantina
que mencionam Sambalate (2.19), Joanã (12.23), a substituição de
Neemias como governador em 410 a.C. O livro foi composto por
volta dos anos 430-420 a.C.

2 - Sua localização na Bíblia Hebraica

Este livro, assim como Esdras e Ester, faz parte da terceira


divisão da Bíblia Hebraica, chamada de Hagiógrafos. Seu conteúdo
na Bíblia hebraica é o mesmo que na Bíblia cristã, diferindo somente
na classificação, como histórico, e sua localização, constando mais
no final da Bíblia Hebraica.

II - ESBOÇO DO LIVRO DE NEEMIAS

I - A reconstrução dos muros de Jerusalém


(1.1-7.73)
dirigida por Neemias

164
Unidade VIII
Esdras, Neemias e Ester (Os livros pós-cativeiro)

A - Intercessão de Neemias por Jerusalém (1.1-2.8)


1 - O resultado da intercessão diante do rei
(2.1-8)
Artaxerxes
B - A viagem de Neemias a Jerusalém como
(2.9-20)
governador
C - Neemias dirige a reconstrução dos
(3.1-7.4)
muros
D - O regresso dos remanescentes (7.5-73)
II - Avivamento em Jerusalém liderado por
(8.1-10.39)
Esdras
A - Leitura pública da Palavra de Deus e
(8.1-18)
celebração da Festa dos Tabernáculos
B - Jejum e reconhecimento dos pecados
(9.1-37)
cometidos e sua confissão pública
C - Um concerto de obediência (9.38-10.39)
III - Neemias promove a reforma da Nação (11.1-13.31)
A - Distribuição habitacional dos
(11.1-12.26)
remanescentes
B - Dedicação dos muros (12.27-47)
C - Reformas no segundo mandato de
(13.1-31)
Neemias

165
Antigo Testamento II - Livros Históricos

1 - O terceiro grupo de regressos

1.1 - Neemias, o construtor das muralhas:


O primeiro grupo veio com Zorobabel com a finalidade de
construir o templo em 536 a.C. O segundo grupo de regressos
veio com Esdras, para promover a reforma religiosa com os judeus
em Jerusalém, em 458 a.C. O último grupo volta sob a direção de
Neemias para a reconstrução das muralhas de Jerusalém, em 445
a.C.
Neemias era copeiro do rei Artaxerxes I. Este cargo era de
extrema confiança do rei, pois era ele quem zelava pela vida do
rei, para que não fosse envenenado. Artaxerxes I reinou sobre a
Pérsia de 465 a 423 a.C., sendo ele sucessor de Xerxes, marido de
Ester. Com isso entende-se o porquê do prestígio de Neemias na
corte deste monarca persa.
Ao chegar a Jerusalém, Neemias se põe a vistoriar os muros
e os vê em estado lastimável. Logo ele se põe a reconstruir,
incentivando o povo nesta empreitada. Esta obra,porém, não
seria realizada sem a ferrenha oposição de seus velhos inimigos,
os samaritanos, que já haviam se oposto à construção do templo,
cerca de 90 anos antes (Ed 4,5), e agora se opunham à construção
dos muros (Ne 4; 6). No entanto, o momento era outro, e Neemias,
alguém de confiança do imperador, apesar de toda a oposição,
conseguiu concluir a obra de forma milagrosa e inacreditável, em
cinqüenta e dois dias (Ne 6.15).
Após a construção do muro, Neemias não ficou em Jerusalém
por um tempo indefinido. Ele nomeou seu irmão como governador

166
Unidade VIII
Esdras, Neemias e Ester (Os livros pós-cativeiro)

de Jerusalém e retornou a suas atividades na corte persa (Ne


7.2) Como nem tudo dura para sempre,há o risco de vacilar, sem
uma vida de vigilância, e os judeus de Jerusalém começaram a
se corromper novamente, forçando Neemias a pedir mais uma
licença na corte, para retornar a sua terra, a fim de pôr as coisas
em ordem.
Ao chegar, pela segunda vez, descobre que o sacerdote
Eliasibe havia colocado à disposição de Tobias, um amonita e
inimigo dos judeus, um dos aposentos do templo. Além disso, os
judeus em Jerusalém haviam deixado de guardar o sábado (Ne
13.15), de dar os dízimos (Ne 13.12), de prover o sustento dos
levitas (Ne 13.10) e havia aqueles que se casaram com mulheres
estrangeiras (Ne 13.23). Neemias sabia que, se eles continuassem
assim, não duraria por muito tempo seu princípio de autonomia.
Então ele retorna e coloca as coisas em sua devida ordem.
Após ter realizado a obra do Senhor com tanta dedicação,
Neemias termina seu registro com esta oração:

“Lembra-te de mim, Deus meu, para o meu bem” (Ne


13.31).

167
Unidade VIII
Esdras, Neemias e Ester (Os livros pós-cativeiro)

ATIVIDADES DA UNIDADE VIII

1. Quem foi o autor e quando foi escrito o livro de Esdras?

2. Qual a localização do livro de Esdras na Bíblia Hebraica?

3. Quando, e sob a liderança de quem, e com qual objetivo,


voltaram os primeiros cativos?

4. Quem foi o autor e qual a data em que foi escrito o livro de


Ester?

5. Qual a localização do livro de Ester na Bíblia Hebraica?

6. O que era a festa do Purim?

7. Quando, e sob a liderança de quem, e com qual objetivo,


voltaram o segundo grupo de cativos?

8. Quem foi o autor e quando foi escrito o livro de Neemias?

9. Qual a localização do livro de Neemias na Bíblia Hebraica?

10. Quando, e sob a liderança de quem, e com qual objetivo,


voltaram o terceiro grupo de cativos?

169
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Champlin, R.N, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia, 6


volumes, São Paulo, Hagnos, 2004.
Lasor, William; Introdução ao Antigo Testamento, São Paulo,
Vida Nova, 1999
Bíblia de Estudo Almeida, São Paulo, Sociedade Bíblica do
Brasil, 1999.
Josefo, Flávio; História dos Hebreus, Rio de Janeiro, CPAD,
1990.
Gilmer, Thomas L. Concordância Bíblica Exaustiva, São
Paulo, Vida, 1999.
Oliveira, Raimundo Ferreira, Seitas e Heresias, um sinal dos
tempos, Rio de Janeiro, CPAD, 1987.
Bíblia de Jerusalém, Paulos, São Paulo, 2000.
BÍBLIA DE ESTUDO PLENITUDE. Barueri.SP: Sociedade
Bíblica do Brasil, 2001
Bíblia Online, Módulo Avançado, São Paulo, Sociedade
Bíblica do Brasil, 2006.
Unger, Merril F; Arqueologia do Velho Testamento, São
Paulo, Batista Regular, 2002.
Schultz Samuel J.História de Israel no Antigo Testamento,
São Paulo, Vida Nova, 1990.
Merrill, Eugene H, História de Israel no Antigo Testamento,
Rio de Janeiro, CPAD, 2001.

171
Avaliação Final

AVALIAÇÃO FINAL
ANTIGO TESTAMENTO II
LIVROS HISTÓRICOS

PÓLO (CIDADE): _____________________________________

DATA: ____/____/________

NOME: ____________________________________________

I. Marque “C” para certo e “E” para errado.

Segundo a tradição judaica o escritor do livro de Josué


( )
foi Samuel.
O nome Josué “Javé Salva” foi dado a Oséias para
( )
enfatizar a salvação do Senhor.
Os dramas vividos por Moisés e presenciados por Josué
( )
ajudaram a formar o caráter deste novo líder.
Na Bíblia Hebraica o livro de Josué é classificado como
( )
livro histórico.
Sansão foi um exemplo de ética e moral agindo em
( )
conformidade com a lei de Deus.
O período dos juízes foi marcado pela coesão e união
( )
da tribos israelitas.

173
Antigo Testamento II - Livros Históricos

Débora demonstra em seu cântico a falta de coesão


( )
entre as tribos israelitas.
Devemos ter cuidado com a cronologia, pois, não
( ) é porque os relatos sejam sucessivos que os fatos
também o sejam.

II. Associe a coluna “A” de acordo com a coluna “B”.

Coluna “A” Coluna “B”


O responsável pela composição
(A) ( ) Josué
do livro de Juízes.
O responsável pela conquista
(B) ( ) Otiniel
da terra de Canaã.
O primeiro juiz de Israel na
(C) ( ) Samuel
terra prometida.
Nos seus dias Israel estava
(D) sendo oprimido por uma ( ) Gideão
confederação de povos
Passou a viver como um
(E) ( ) Jeú
mercenário após perder tudo
Responsável por acabar com o
(F) ( ) Davi
culto a Baal em Israel
Devido sua idolatria seu reino
(G) ( ) Roboão
seria dividido em dois
Primeiro rei de Judá após a
divisão do reino e que entrou
(H) ( ) Salomão
em conflito com o reino do
norte

174
Avaliação Final

III. Complete as frases.

1 - Na Bíblia hebraica o livro de Josué é classificado nos


___________________
2 - O Maná foi a principal substância que alimentou os israelitas
em sua __________________
3 - O livro dos Juízes é classificado na segunda divisão da Bíblia
Hebraica, compondo a divisão dos ___________________
4 - Não tinham a função específica de julgar, pois isto cabia
aos anciãos, eram líderes militares protetores, estes eram os
______________

IV - Assinale com um X a resposta certa.

1. Quem foi o líder responsável pela conquista de Canaã?


a) Moisés b) Saul c) Arão d) Josué.

2. Por que Deus mandou destruir todos os cananeus?


a) Porque Ele seria um Deus mau.
b) Porque eles tinham pecados.
c) Porque eles praticavam coisas abomináveis, eram idólatras,
e tiveram quatrocentos anos para se arrepender, e não fizeram.
d) Para que tivesse mais terra.

175
Antigo Testamento II - Livros Históricos

3. Por que os judeus caíram na idolatria?


a) Porque os deuses cananeus pareciam melhores em relação a
agricultura.
b) Porque os deuses cananeus não possuíam exigência morais
c) Porque deixaram de destruir os cananeus.
d) Todas as alternativas estão corretas.

4. Quando os amonitas atacaram Gileade qual foi à primeira


tentativa de Jefté?
a) A diplomacia.
b) Uma guerra traiçoeira.
c) Orar a Deus para que Ele expulsasse os amonitas.
d) A guerra.

5. A quem o Talmude atribui o livro de Rute?


a) Boas. b) Elimeleque. c) Aias. d) Samuel.

6. A situação, política, e espiritual na época do nascimento de


Samuel era desesperadora, pois:
a) havia uma crise de autoridade. b) os lideres eram locais.
c) os filhos de Eli eram abomináveis. d) Todas as alternativas
estão corretas.

176
Avaliação Final

7. Quem foi o primeiro rei a implantar uma dinastia em Israel?


a) Saul. b) Davi. c) Salomão. d) Jeú.

8. Davi teve um começo de reinado turbulento, pois:


a) só reinava em Hebrom. b) foi perseguido por Saul.
c) houve uma guerra civil. d) só reinava em Judá.

9. As conseqüências do pecado de Davi, foram:


a) Amnom ter violentado Tamar.
b) Absalão ter matado Amnom.
c) Absalão ter usurpado e trono de Davi e ter sido morto.
d) Todas as alternativas estão corretas.

10. Israel, no tempo de Salomão, pode ser considerado um


império, pois:
a) tinha um vasto território. b) tinha domínio sobre seus vizinhos.
c) tinha um rei sábio. d) tinha tratados internacionais.

11. Qual foi o motivo da divisão do reino.


a) a incapacidade administrativa de Salomão.
b) Seu abandono aos mandamentos dos Senhor e conseqüente
idolatria.
c) um erro na diplomacia.
d) sua falta de sabedoria.

177
Antigo Testamento II - Livros Históricos

12. Quais os reinos que surgiram após a divisão.


a) Judá e Benjamim. b) Judá e Efraim.
c) Benjamim e Israel. d) Judá e Israel.

13. Quem foi o primeiro rei do Norte.


a) Jeroboão. b) Roboão.
c) Acabe. d) Josafá.

14. Jeroboão foi um desastre para Israel, pois:


a) guerreou contra o reino do sul.
b) não pagou tributo aos vizinhos.
c) estabeleceu o culto aos bois, algo que acabou com a vida
espiritual da nação.
d) pois foi morto com o reino ainda em formação.

15. O reino do norte foi levado cativo, pois:


a) errou na diplomacia; b) não pagou tributo a Assíria.
c) desobedeceu ao Senhor caindo na idolatria.
d) aliou-se com nações fracas.

16. A política da Assíria para com seus cativos era:


a) a deportação para Nínive.
b) destruição de todos, como Israel deveria ter feito com os
cananeus.
c) a miscigenação entre os povos.

178
Avaliação Final

d) a beneficência, fazendo com que ficassem em suas terras.

17. Quem foi o responsável pela destruição do reino do norte em


722 a.C.
a) Síria. b)Assíria. c) Babilônia. d) Egito.

18. Quem levou cativo o reino do Sul em 606, 597, 586


a) Babilônia. b) Assíria.
c) Egito. d)Síria.

19. Qual foi o império que surgiu, e mudou o cativeiro de Israel,


permitindo seu retorno
a) Persa. b) Egípcio. c) Romano. d) Neo-Babilônico.

20. Com qual propósito retornaram os primeiros cativos.


a) Restaurar os muros.
b) Fazer um avivamento espiritual.
c) Reconstruir o Templo.
d) Cultivar a terra.

21. Qual foi o líder do último grupo de cativos.


a) Neemias.
b) Esdras.
c) Zorobabel.
d) Josué.

179

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