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CARTA DE INTEÇÃO

Meu nome é Matheus da Silva Sousa, recentemente concluí o curso de Serviço


Social na Universidade de Brasília – UnB. Na academia desenvolvi trabalhos nas áreas
de Infância, Adolescência e Juventude e Assistência Social e Comunicação, porém foi
na área da Saúde, em especial, Saúde Mental que desenvolvi meu trabalho de conclusão
de curso intitulado “Saúde e população em situação de rua: Análise da produção
científica sobre a atenção à saúde em álcool e outras drogas à população em situação de
rua”, defendido em 2019. Também foi na área da saúde que tive a oportunidade de
atuar como estagiário da Secretaria de Saúde do Distrito Federal no Consultório na Rua
do Plano Piloto, que também faz parte da Rede de Atenção Psicossocial para população
especifica segundo a portaria 3.088/2011 do Ministério da Saúde. Neste espaço pude
acompanhar de perto a atuação profissional das/os Assistentes Sociais na política de
saúde, acompanhar a promoção à saúde, muitas vezes relacionadas às questões voltadas
a álcool e outras drogas e acompanhar trabalhos de articulação entre o Consultório na
rua e o Consultório e o CAPs AD III- Candango do Setor comercial Sul, em Brasília.
Em sala de aula cursei a disciplina Seguridade Social-Saúde, que é obrigatória do
currículo de Serviço Social da UnB, no primeiro semestre de 2016, e no segundo
semestre de 2018 fui monitor desta disciplina junto a Profa. Dra. Andréia Oliveira.
Também no segundo semestre de 2018 cursei a disciplina optativa Tópicos Especiais
em Serviço Social, onde sua ementa consistia nos estudos: A reflexão sobre a
construção sócio histórica da Saúde Mental no Brasil; Reforma Psiquiátrica; Luta
Antimanicomial; Política de saúde Mental brasileira atual; Clínica álcool e outras
drogas; e por fim o processo de trabalho dos Assistentes Sociais na Saúde Mental. Em
resumo, na minha vida acadêmica o tema saúde mental, em especial o recorte Álcool e
outras drogas foi o que mais me cativou e despertou interesse, e foi neste tema que
desenvolvi meu trabalho de conclusão de curso.

Os motivos que me levaram a candidatar-me ao Programa de Residência


Multiprofissional em Saúde Mental Álcool e outras drogas são tanto de ordem pessoal
como de ordem profissional. Os de ordem pessoal são meus questionamentos e fascínio
pelo tema, pela ambição de estudar as questões relacionadas ao consumo de Álcool e
outras drogas na sociedade capitalista contemporânea, bem como estas últimas como
expressão da questão social e seus recortes de raça, classe e gênero. De ordem
profissional é de qualificar-me na área, aprofundar os estudos que iniciei na graduação
de forma que eu possa ter um direcionamento específico tanto em minha trajetória
acadêmica como profissional. Estas também são minhas expectativas das contribuições
do programa na minha formação.

A Lei 8080/90 traz a perspectiva que a saúde passa a ser biopsicossocial, abrindo
espaço para atuação de outras profissões na saúde mental, entre elas o Serviço Social.
Portanto, a categoria de Assistentes Sociais tem muito a contribuir com o compromisso
da qualidade dos serviços prestados na saúde e constante aprimoramento profissional,
possibilitando também a participação efetiva da população usuária, empenho na
viabilização no direito à saúde previsto na Constituição Federal de 1988.

Segundo a Lei 8080/90, em seu artigo segundo, assim como na Constituição, a


Saúde é considerada um direito fundamental, e no inciso primeiro deste mesmo
parágrafo está presente que é dever do Estado garantir a formulação e execução de
políticas econômicas e sociais que assegurem acesso igualitário e universal à ela. Em
seguida, o parágrafo terceiro da lei supracitada afirma que as ações que se destinam a
garantir a coletividade de bem-estar físico, mental e social. Portanto a saúde, bem como
a saúde mental está amparada pela noção ampliada de saúde que envolve diversos
aspectos da vida humana como o lazer, o esporte, a convivência comunitária, o trabalho,
o transporte, alimentação, cultura, entre outros. Já a portaria 3.088/2011 que estabelece
a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) para pessoas com sofrimento ou transtorno
mental ou com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas no SUS
prevê que se constitui como uma das diretrizes da RAPS o reconhecimento das
determinantes sociais da saúde, ou seja, o reconhecimento dos fatores sociais,
econômicos, culturais, psicológicos que influenciam o processo de saúde- doença do
indivíduo, bem como os fatores de risco à população. Assim, a atenção ao cuidado em
saúde mental necessita de uma articulação intersetorial de políticas publicas capazes de
abarcas as necessidades da população e assegurar os direitos previstos na CF/88, na LEI
8080/90, e na portaria 3.088/2011. É imprescindível a articulação de políticas
intersetoriais na promoção do cuidado em saúde mental, e a articulação com outras
políticas como por exemplo o artigo quarto da portaria 3.088/2011 que prevê promover
cuidados em saúde especialmente para grupos mais vulneráveis, a exemplo é necessário
a articulação com a política de assistência social que busca garantir o atendimento às
necessidades básicas dos segmentos populacionais vulnerabilizados pela pobreza pela
exclusão social.
O atual contexto do SUS é resistência às atuais e históricas tentativas de
desmonte e desfinanciamento do mesmo, a mais emblemática foi a PEC/95 que foi
aprovada em 2016 e limita por vinte anos gastos públicos que atinge em cheio o
financiamento do SUS. Em relação à saúde mental, desde 2015 há tentativas de também
desfinanciar o SUS na área, redirecionar financiamento para comunidades terapêuticas,
revisão de procedimentos ambulatórios entre outros, tais ações estão presentes nas leis,
portarias e resoluções: Portaria N° 3.588, de 21 de dezembro de 2017; Resolução N° 32,
de 14 de dezembro de 2017; Lei Nº 13.840, de 5 de junho de 2019 e a Lei 9.761, de 11
de abril de 2019. Porém, existem sujeitos políticos, frentes parlamentares, e movimentos
sociais que lutam defendendo o SUS e o cuidado a saúde mental das ofensivas
neoliberais do atual governo Bolsonaro, como por exemplo a Frente Ampla em Defesa
da Saúde Mental, da reforma psiquiátrica e luta Antimanicomial.

Por fim, eu, como estudante, futuro Assistente Social, e sujeito político me
posiciono a favor da lógica humanista, desinstitucionalizada da atenção à saúde mental
e de acordo com os princípios da luta Antimanicomial e da reforma psiquiátrica
brasileira. Tenho profundo interesse em atuar na área, e tenho toda disponibilidade para
dedicar-me exclusivamente ao programa atuando nos municípios em torno do DF.

Brasília, 09 de Janeiro de 2021

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