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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

LICEU LITERÁRIO PORTUGUÊS

RESENHA DE PÓS-CONCEITO LINGUÍSTICO E CORREÇÃO IDIOMÁTICA: A


NORMA EM CURTO, DE TEREZINHA BITTENCOURT

Daiane Rosa Rocha

Rio de janeiro
2º 2023
O artigo Pós-conceito linguístico e correção idiomática: a norma em curto, de
Terezinha Bittencourt, tem como propósito provocar reflexões acerca do conceito de
correção idiomática, partindo do contexto político sócio-histórico da década de 60. A
autora é professora emérita da Universidade Federal Fluminense, atuante nos cursos de
graduação e pós-graduação em Letras, além de ser membro da Academia Brasileira de
Filologia.
A obra tem início com a contextualização do cenário revolucionário que se
estabelecia na época, e aponta as manifestações estudantis como pioneiras do
movimento subversivo instaurado. Elas surgem como uma voz dissonante que ecoa de
forma generalizada contra tudo que representa tradição e erudição, desencadeia-se
então, um conflito de geração e uma repulsa aos padrões vigentes, às normas
conservadoras, e por conseguinte, à língua.
As concepções linguísticas enunciadas por Coseriu constituem a principal base
teórica de sua tese, além de referenciar textos e autores diversos. A fim de esclarecer seu
ponto de vista, Bittencourt nos adverte para a importância da distinção entre o saber
linguístico e o saber metalinguístico. O primeiro está relacionado ao falante tratando-se
de um conhecimento idiomático e empírico onde não há reflexões sobre a língua, apenas
um saber internalizado sobre a mesma. O segundo está voltado para o linguista que
procura descrever como a língua funciona (dimensão ôntica) e prescrever a norma de
prestígio (dimensão deôntica), direcionando esta informação aos falantes.
É diante deste panorama que se constitui o cerne da questão: o linguista não
pode deixar de cumprir o seu papel como especialista da área sob o jugo de agir apenas
como falante ingênuo. A esse respeito menciona Bagno, que enquanto linguista defende
um uso diferente do prescrito na gramática normativa com a justificativa das mudanças
ocorridas na interpretação de uma determinada situação. No entanto, na hora de
expressar-se, o falante Bagno opta pela regência prescrita pela norma “o que diz em sua
reflexão como linguista não usa em seu próprio texto”.
Ao problematizar a predominância de ideologias decorrentes da polarização
política no pós guerra, somos convidados a uma reflexão sobre duas instâncias que
parecem se contrapor. Para tanto, a autora define e diferencia os conceitos de ideologia e
ciência, ressaltando a importância de compreender cada qual em sua jurisdição. Desta
forma, não cabe aos estudiosos agirem guiados por ideologias, mas por teses que podem
ser discutidas, verificadas e atestadas. É diante deste cenário e da premissa da
contestação das produções da geração anterior que a Linguística se estabelece nas
universidades brasileiras.
A autora expõe uma série de inconsistências a respeito desses movimentos
subversivos, trazendo como aparato diversos exemplos e situações de outras áreas e
profissões numa espécie de metáfora para atestar seus argumentos. Assim como em
outros campos sociais, busca-se como ideal de perfeição o profissional especialista da
área, não obstante, de forma semelhante ocorre na língua. Além disso, mostra-se cada
vez mais latente o anseio do falante para que respondam na dimensão deôntica da
linguagem a pergunta: Como deve ser? Sendo assim, defende-se a ideia de que é dever
do profissional da área de Letras possibilitar ao aluno o acesso e domínio da variante de
prestígio.
Vale mencionar ainda que as diferenças entre as modalidades oral e escrita da
língua são expostas, evidenciando a relação mais estreita das regras prescritivas com a
língua escrita.
Nas partes finais do livro, a professora coloca-se em defesa dos gramáticos que
foram criticados pela não utilização de textos, para corpus de estudos, de uma classe
ainda inexistente e nos alerta sobre a realidade financeira e dedicação aos estudos dos
mesmos.
O artigo é pertinente aos estudiosos do ramo não só por contemplar e provocar
reflexões acerca de uma questão que é recorrente entre os professores da área: Qual
deve ser o objeto de estudo das aulas de língua portuguesa? mas também, por esclarecer
de forma muito bem fundamentada o papel do especialista. A autora preocupa-se em
constantemente trazer exemplos que atestam a tese defendida e ao mesmo tempo
entrelaçam todo o texto. Pode-se dizer que o vocabulário erudito utilizado é reflexo do
estilo culto da mesma.
As citações trazidas em língua estrangeira sem a devida tradução, no entanto,
impediram a fluidez da leitura, além da necessidade de um tradutor, o texto traduzido
poderia não ser fidedigno o que compromete o sentido objetivado. Vale mencionar
ainda, que a referência bibliográfica não expõe todos os autores mencionados na obra,
como é o caso do autor Bagno.
BITTENCOURT, Terezinha. "Pós-conceito linguístico e correção idiomática: a norma
em curto". Revista da Academia Brasileira de Filologia. Rio de Janeiro: ABRAFIL, n.
XIII, 2013, 2.º semestre, p. 178-194.

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