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Assistência de

Enfermagem no
Centro
Obstétrico

Prof.ª Lara Louise Kloch

Indaial – 2023
1a Edição
Elaboração:
Prof.ª Lara Louise Kloch

Copyright © UNIASSELVI 2023

Revisão, Diagramação e Produção:


Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI.


Núcleo de Educação a Distância. KLOCH, Lara Louise.

Assistência de Enfermagem no Centro Obstétrico. Lara Louise Kloch.


Indaial - SC: Arqué, 2023.

256p.

ISBN 978-65-5646-560-9
ISBN Digital 978-65-5646-558-6

“Graduação - EaD”.
1. Parto 2. Mulher 3. Gravidez

CDD 610.7
Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679

Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático de Assistência de Enfermagem
no Centro Obstétrico. O processo de parto e nascimento é um grande evento fisiológico,
um momento especial na vida da gestante parturiente, independentemente da forma de
nascimento escolhida – após o momento de “re(nascer)”, a vida da mulher e da família
envolvida nunca mais será a mesma.

Quando é permitida a parturiente uma experiência positiva de parto e


nascimento, automaticamente, oferecemos a ela uma assistência digna e de qualidade,
mantendo a sua integridade física e psicológica, respeitando as escolhas e os desejos
dela e do acompanhante nesse evento único. O enfermeiro é um profissional essencial
dentro da equipe multiprofissional, pois deve acolher essa família e colaborar para que
a vivência do parto e do nascimento seja positiva e segura, colocando em prática suas
competências específicas no setor do centro obstétrico.

Diante disso, na Unidade 1, abordaremos as práticas e os estudos que englobam a


assistência de Enfermagem no processo gravídico, puerperal e no nascimento dentro do
centro obstétrico, primeiramente, relacionados à fisiologia do parto eutócico, envolvendo
a contratilidade uterina que conduz à dilatação do colo uterino, os mecanismos que
acarretam a progressão do feto no canal de parto e as fases do parto, que caracterizam
os períodos do trabalho de parto da parturiente. Ainda, faz-se importante estudarmos o
parto instrumentado e as práticas baseadas em evidências científicas acerca do uso
desses métodos e utensílios na hora do parto. O fenômeno que envolve o parto induzido
também será um tópico importante, por ser uma condição realizada para a resolução
do parto e, por isso, o enfermeiro deve conhecer os métodos utilizados durante uma
indução de parto, bem como os cuidados necessários durante a assistência a esse
procedimento.

A atuação e as competências dos enfermeiros generalista e especialista também


serão detalhadas, em conjunto com uma visão da equipe multiprofissional que atua
no centro obstétrico. Visto que a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE)
deve ocorrer também no centro obstétrico, o conhecimento das rotinas do setor se
torna imprescindível às práticas realizadas, desde o acolhimento da gestante na triagem
obstétrica, a internação no pré-parto, a assistência dentro da sala de partos e na sala
cirúrgica aos cuidados na sala de recuperação anestésica.

Ainda na Unidade 1, abordaremos os aspectos que abrangem o nascimento, os


cuidados imediatos ao recém-nascido e a reanimação neonatal, que também regem as
competências do enfermeiro dentro do centro obstétrico.
Já na Unidade 2, abordaremos questões relativas à assistência de Enfermagem
nos procedimentos cirúrgicos aplicados nas urgências e nas emergências obstétricas
e ginecológicas, desde casos de abortamento, gravidez ectópica e hemorragias
no anteparto, até as emergências de parto e pós-parto, vemos a importância do
reconhecimento dessas urgências e emergências no setor e também a identificação
do papel do enfermeiro nesses procedimentos. Além disso, serão discutidos alguns
aspectos importantes sobre a cesariana, uma intervenção cirúrgica realizada para salvar a
vida da mãe e/ou do bebê, quando realmente necessário.

Vale ressaltar que é necessário seguir um modelo de assistência, em que a mulher


seja a protagonista do parto e os profissionais, os coadjuvantes que apoiam, auxiliam
e prezam pelo bem-estar materno-fetal, assim como avaliam a necessidade ou não
de intervenções. A cultura acerca do parto normal tem sido desmitificada com as
novas pesquisas científicas, e isso mostra a importância da disseminação da Medicina
baseada em evidências nesse cenário. Diante disso, na Unidade 3, abordaremos sobre
assuntos que abrangem o cuidado integral de Enfermagem no parto normal e cesárea,
na qual a humanização e as boas práticas de parto e nascimento serão discutidas sob
a perceptiva atual, de acordo com as novas recomendações da Organização Mundial
da Saúde (OMS). Além de aprofundarmos na dor em obstetrícia, fator, culturalmente,
ligado à doença, associando o parto a sofrimento. Logo, é importante a discussão
sobre a dimensão da dor fisiológica do parto, uma dor subjetiva para cada parturiente e
influenciada conforme a cultura de cada uma. Por isso, o enfermeiro deve conhecer os
métodos não farmacológicos para o alívio da dor, assim como os métodos farmacológicos,
abrangendo a analgesia e a anestesia, realizados no centro obstétrico.

Ainda, na Unidade 3, veremos como relacionar a SAE dentro do centro obstétrico,


tanto para a gestante quanto para o recém-nascido, bem como questões de gestão
da Enfermagem no setor. Por fim, serão salientados os aspectos éticos que permeiam
o profissional de Enfermagem durante o ciclo gravídico-puerperal e também situações
relacionadas aos direitos da mulher nesse período da vida, discutindo o consentimento
informado para a realização de determinados procedimentos e condutas dentro do
centro obstétrico.

Acadêmico, esperamos que você esteja motivado para aquisição de novos


saberes e aprendizados, para que, como futuro profissional enfermeiro, possa seguir,
com segurança, destreza e humanização, as competências que regem a assistência e a
gerência dentro do centro obstétrico.

Bons estudos!

Prof.ª Lara Louise Kloch


GIO
Olá, eu sou a Gio!

No livro didático, você encontrará blocos com informações


adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento
acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender
melhor o que são essas informações adicionais e por que você
poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações
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assunto estudado em questão.

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verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses
ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos
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Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


SUMÁRIO
UNIDADE 1 — ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NO PROCESSO GRAVÍDICO
PUERPERAL E NO NASCIMENTO DENTRO DO CENTRO
OBSTÉTRICO......................................................................................1

TÓPICO 1 — FISIOLOGIA DO PARTO........................................................................ 3


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................... 3
2 CONTRATILIDADE UTERINA................................................................................4
3 MECANISMO DO PARTO........................................................................................ 6
4 FASES DO PARTO ................................................................................................. 9
4.1 ASSISTÊNCIA NO PRIMEIRO E NO SEGUNDO PERÍODO DO PARTO........................10
4.2 ASSISTÊNCIA NO TERCEIRO E NO QUARTO PERÍODO DO PARTO..........................14
5 PARTO INSTRUMENTADO.................................................................................. 15
6 INDUÇÃO DO TRABALHO DE PARTO................................................................. 19
RESUMO DO TÓPICO 1...........................................................................................22
AUTOATIVIDADE....................................................................................................23

TÓPICO 2 — ATRIBUIÇÕES DA EQUIPE DE SAÚDE NO CENTRO OBSTÉTRICO.......25


1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................25
2 EQUIPE MULTIDISCIPLINAR ..............................................................................26
3 O ENFERMEIRO GENERALISTA NO CENTRO OBSTÉTRICO.............................. 27
4 O ENFERMEIRO ESPECIALISTA NO CENTRO OBSTÉTRICO.............................29
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................... 31
AUTOATIVIDADE....................................................................................................32

TÓPICO 3 — ROTINAS DO CENTRO OBSTÉTRICO................................................35


1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................35
2 TRIAGEM OBSTÉTRICA......................................................................................36
3 PRÉ-PARTO........................................................................................................ 40
4 SALA DE PARTOS................................................................................................46
5 SALA CIRÚRGICA .............................................................................................. 48
6 SALA DE RECUPERAÇÃO ANESTÉSICA ...........................................................50
RESUMO DO TÓPICO 3...........................................................................................54
AUTOATIVIDADE....................................................................................................55

TÓPICO 4 — ASSISTÊNCIA IMEDIATA AO RECÉM-NASCIDO............................... 57


1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 57
2 AVALIAÇÃO DO RECÉM-NASCIDO..................................................................... 57
2.1 OS CUIDADOS INICIAIS AO RÉCEM-NASCIDO ............................................................58
2.2 O EXAME FÍSICO DO RECÉM-NASCIDO........................................................................ 63
2.3 OS REFLEXOS PRIMITIVOS ............................................................................................. 66
3 REANIMAÇÃO NEONATAL .................................................................................. 67
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................... 77
RESUMO DO TÓPICO 4...........................................................................................82
AUTOATIVIDADE....................................................................................................83

REFERÊNCIAS........................................................................................................85

UNIDADE 2 — ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NOS PROCEDIMENTOS


CIRÚRGICOS APLICADOS EM URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS
OBSTÉTRICAS E GINECOLÓGICAS................................................89

TÓPICO 1 — ABORTAMENTO.................................................................................. 91
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 91
2 TIPOS DE ABORTOS ...........................................................................................92
3 TRATAMENTOS ...................................................................................................95
RESUMO DO TÓPICO 1...........................................................................................99
AUTOATIVIDADE..................................................................................................100

TÓPICO 2 — GRAVIDEZ ECTÓPICA......................................................................103


1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................103
2 ETIOLOGIA ........................................................................................................103
3 TRATAMENTO....................................................................................................106
RESUMO DO TÓPICO 2.........................................................................................108
AUTOATIVIDADE..................................................................................................109

TÓPICO 3 — HEMORRAGIAS ANTEPARTO........................................................... 111


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 111
2 PLACENTA PRÉVIA ........................................................................................... 111
3 DESCOLAMENTO PREMATURO DE PLACENTA NORMALMENTE INSERIDA...... 114
4 VASA PRÉVIA ....................................................................................................117
RESUMO DO TÓPICO 3..........................................................................................119
AUTOATIVIDADE..................................................................................................120

TÓPICO 4 — EMERGÊNCIAS DE PARTO.............................................................. 123


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 123
2 ROTURA UTERINA ............................................................................................ 123
3 INVERSÃO UTERINA......................................................................................... 125
4 DISTÓCIA DE OMBROS..................................................................................... 127
5 PROLAPSO DE CORDÃO ..................................................................................130
RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................... 132
AUTOATIVIDADE.................................................................................................. 133

TÓPICO 5 — HEMORRAGIA PÓS-PARTO............................................................. 137


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 137
2 ATONIA UTERINA .............................................................................................138
3 TRAUMAS.......................................................................................................... 141
4 RETENÇÃO PLACENTÁRIA ..............................................................................142
RESUMO DO TÓPICO 5.........................................................................................144
AUTOATIVIDADE..................................................................................................145

TÓPICO 6 — CESARIANA...................................................................................... 147


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 147
2 INDICAÇÕES PARA CESARIANA......................................................................148
3 OPERAÇÃO CIRÚRGICA ................................................................................... 149
3.1 ANESTESIAS INDICADAS.................................................................................................152
4 COMPLICAÇÕES............................................................................................... 153
5 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA CESARIANA .........................................154
5.1 MONTAGEM DE SALA....................................................................................................... 156
5.1.2 Materiais......................................................................................................................157
LEITURA COMPLEMENTAR.................................................................................160
RESUMO DO TÓPICO 6......................................................................................... 167
AUTOATIVIDADE..................................................................................................168

REFERÊNCIAS...................................................................................................... 170

UNIDADE 3 — CUIDADO INTEGRAL DE ENFERMAGEM NO PARTO NORMAL E


NA CESÁREA................................................................................. 173

TÓPICO 1 — SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM (SAE)


NO CENTRO OBSTÉTRICO (CO)....................................................... 175
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 175
2 SAE PARA GESTANTE/PUÉRPERA.................................................................. 176
3 GESTÃO DE ENFERMAGEM NO CENTRO OBSTÉTRICO .................................185
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................... 187
AUTOATIVIDADE..................................................................................................188

TÓPICO 2 — HUMANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM....................191


1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................191
2 BOAS PRÁTICAS DE PARTO E NASCIMENTO.................................................. 192
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................ 203
AUTOATIVIDADE................................................................................................. 204

TÓPICO 3 — A DOR NA OBSTETRÍCIA.................................................................207


1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................207
2 MÉTODOS NÃO FARMACOLÓGICOS PARA ALÍVIO DA DOR........................... 208
3 ANALGESIA E ANESTESIA ............................................................................... 217
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................ 222
AUTOATIVIDADE................................................................................................. 223
TÓPICO 4 — ASPECTOS ÉTICOS.........................................................................227
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................227
2 ÉTICA PROFISSIONAL DURANTE O CICLO GRAVÍDICO PUERPERAL........... 228
3 VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA................................................................................. 231
4 DIREITOS DA MULHER NO CICLO GRAVÍDICO PUERPERAL ........................ 236
4.1 DIREITOS DA GESTANTE.................................................................................................240
4.2 DIREITOS NO PRÉ-NATAL .............................................................................................240
4.3 DIREITOS NO PARTO........................................................................................................241
4.4 DIREITOS TRABALHISTAS...............................................................................................241
4.5 DIREITO EDUCACIONAL E ESTUDANTIL.....................................................................242
4.6 DIREITOS SOCIAIS...........................................................................................................242
4.7 DOULAS NO BRASIL........................................................................................................243
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................ 245
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................ 249
AUTOATIVIDADE................................................................................................. 250

REFERÊNCIAS..................................................................................................... 253
UNIDADE 1 —

ASSISTÊNCIA DE
ENFERMAGEM NO PROCESSO
GRAVÍDICO PUERPERAL E NO
NASCIMENTO DENTRO DO
CENTRO OBSTÉTRICO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• reconhecer os estágios do parto durante a assistência ao parto e ao nascimento;

• analisar as condições da saúde materno-fetal durante a assistência ao parto;

• identificar as competências do enfermeiro dentro do centro obstétrico, de acordo


com a rotina do setor;

• identificar as ações do enfermeiro na assistência imediata ao recém-nascido.

PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – FISIOLOGIA DO PARTO


TÓPICO 2 – ATRIBUIÇÕES DA EQUIPE DE SAÚDE NO CENTRO OBSTÉTRICO
TÓPICO 3 – ROTINAS DO CENTRO OBSTÉTRICO
TÓPICO 4 – ASSISTÊNCIA IMEDIATA AO RECÉM-NASCIDO

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!

Acesse o
QR Code abaixo:

2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 —
FISIOLOGIA DO PARTO

1 INTRODUÇÃO
Aprender sobre a fisiologia do parto é a base para que os profissionais que
trabalham com parto e nascimento conheçam o funcionamento do corpo da parturiente e
como o enfermeiro pode realizar suas competências, refletindo, positivamente, para o
momento do trabalho de parto.

O parto normal é um processo fisiológico, mas também um evento social,


interagindo com a vida daquela família em formação, e, portanto, uma experiência
positiva desse momento trará grandes benefícios para a família e a comunidade. Além
disso, é importante salientar que os profissionais da saúde, envolvidos no parto, são
coadjuvantes desse evento, sendo a mulher a protagonista – mas por que devemos
olhar dessa forma? A resposta é clara: porque o parto é da mulher, e o profissional
desempenha um papel importante, que é observar e avaliar o bem-estar materno-
fetal e colocar em prática os seus conhecimentos em momentos necessários, críticos,
assegurando a saúde da mãe e do bebê, o que é uma grande responsabilidade.

Neste tópico, abordaremos o processo fisiológico do parto, desde a contratilidade


do útero, que leva ao apagamento e à dilatação do colo do útero, ao mecanismo do
parto, para a expulsão do feto, até o nascimento da placenta. Descreveremos cada fase
do parto, que pode ser dividida em dilatação, período expulsivo e dequitadura, para
que fique claro o tipo de assistência que o enfermeiro pode oferecer em cada período
do parto. Além disso, abordaremos o parto instrumentado e a necessidade desse tipo
de intervenção, a utilização do fórceps ou ventosa e a realização de episiotomia. Por
fim, ainda estudaremos as induções de parto, que são condutas importantes durante a
gravidez nas situações em que se faz necessário adiantar o nascimento do feto.

Salienta-se a necessidade de práticas baseadas em evidências científicas, por


isso a aquisição de novos saberes deve ser fornecida a partir de uma ferramenta atual
e adequada. Os conhecimentos da área da saúde estão em constantes atualizações; a
obstetrícia é uma área que precisa de profissionais capacitados para o parto normal,
que pode ser eutócico (parto normal sem necessidade de intervenções) ou distócico (parto
com necessidade de intervenções).

3
DICA
Acadêmico, sugerimos que busque mais ferramentas de atualização
acerca da assistência do enfermeiro durante o trabalho de parto, parto
e pós-parto.

2 CONTRATILIDADE UTERINA
O útero tem uma grande função no final da gravidez, que é expelir o feto e
os anexos (placenta e cordão), a partir das contrações uterinas. No entanto, antes de
tudo, é importante analisarmos a fisiologia do corpo do útero e o desencadeamento do
trabalho de parto.

Segundo Graça (2017), o útero, anatomicamente, é divido pelo fundo uterino


e pelo colo uterino, e sua estrutura é, praticamente, tecido muscular liso, células
musculares que estão ligadas entre si, para promover as contrações durante o trabalho de
parto. Além disso, podem ser percebidas várias fases que correspondem a diferentes
situações fisiológicas do útero durante a gravidez e o parto:

Na fase 0, que corresponde à maior parte da gravidez, o corpo do


útero permanece em quiescência e pouco reativo aos estímulos
contrácteis e o colo mantém-se formado e fechado. Na fase 1,
de preparação para o parto, um conjunto de fatores mecânicos,
endócrinos e parácrinos prepara o tecido muscular liso do útero e do
tecido conjuntivo do colo para aumento progressivo da capacidade
contráctil uterina e da distensibilidade do colo. A fase 2 corresponde
à fase ativa do trabalho de parto (TP) e, finalmente, a fase 3 à de
involução uterina (GRAÇA, 2017, p. 216).

Como a contração uterina depende da interação de alguns fatores e componentes


proteicos que interagem entre si, Zugaib; Francisco (2016) explica que essa interação
proteica é modulada pela miosina, que, resumidamente, quando ativada, possibilita
a contração local do miômetro. Somando várias interações, as células musculares se
ligam umas às outras, por meio de conexões proteicas, nomeadas conexinas (gap
junctions): “[...] a formação de gap junctions, conexões intercelulares entre as células
musculares lisas do útero, possibilita a coordenação, transmissão e otimização da
formação contráctil” (GRAÇA, 2017, p. 217).

Durante a gravidez, as conexinas são praticamente ausentes, evitando as


contrações uterinas e, possivelmente, um aborto ou trabalho de parto prematuro.
Graça (2017) ainda explica que elas aumentam significativamente no termo da gestação
(37 a 41 semanas), e o aumento da relação do estrógeno e da síntese/degradação de
prostaglandinas é um estímulo que forma a conexina. A ocitocina tem papel essencial;
os estrogênios aumentam também os receptores de ocitocina, que tem efeito no

4
aumento da contratilidade uterina, correspondendo à fase 2 ativa do trabalho de parto.
Como inibidores da conexina, é observada a relação de aumento da progesterona e dos
inibidores da síntese de prostaglandinas, ou seja, inibem a contractilidade uterina, que,
nesse caso, representaria a fase 0 – uma fase de quiescência uterina, conforme citado
anteriormente.

IMPORTANTE
Graça (2017) elenca três fatores primordiais de ativação da contração
uterina durante o trabalho de parto: a síntese de prostaglandinas, o
aumento de receptores de ocitocina e a formação de gap junctions.

O estudo sobre a contratilidade uterina está presente em algumas situações,


além do trabalho de parto: durante uma indução de trabalho de parto, durante a inibição
da contração, quando trabalho de parto prematuro e também na involução uterina do pós-
parto. Além disso, durante a gravidez, há a presença das contrações de Braxton-Hicks,
conhecidas como contrações de treinamento, que “ocorre, com frequência, após as 28
semanas de gestação, com uma intensidade de 10 mmHg, podendo chegar a 20 mmHg,
que se difundem de forma parcial ou total pelo útero” (ZUGAIB; FRANCISCO, 2016, p.
318). No período termo da gestação, as frequências das contrações de treinamento
aumentam e, quando inicia o trabalho de parto, essas contrações já ficam diferentes,
tanto a intensidade como a duração.

No decurso do TP, as contrações uterinas provocam o aumento da


pressão hidrostática intra-amniótica, a qual se transmite ao colo
e segmento inferior enquanto as membranas estiverem intactas,
após a rotura das membranas, é a apresentação fetal que exerce
diretamente pressão sobre estas estruturas. Em ambos os casos,
a pressão exercida constitui um contributo essencial para o
apagamento e dilatação do colo (GRAÇA, 2017, p. 221).

As contrações uterinas são involuntárias e dolorosas durante o trabalho de


parto, de acordo com Montenegro e Rezende Junior (2016), sendo percebidas a partir da
palpação abdominal, durante a fase de dilatação, com intensidade de 30 a 40 mmHg e
frequência de três contrações em 10 minutos, podendo chegar a cinco contrações em
10 minutos. Têm ritmo e são regulares na fase ativa do trabalho de parto (após 5 cm de
dilatação); já na fase latente (fase inicial da dilatação), as contrações são irregulares e sem
ritmo. Sobre as fases do trabalho de parto, abordaremos mais à frente.

Nené, Marques e Batista (2016) explicam que, como o orifício externo do colo
uterino é desprovido de musculatura, ele não irá contrair, o que pode contrair é o orifício
interno e, claro, o corpo uterino. Com a pressão vinda da tração no segmento inferior,
que atua diretamente no colo, consequentemente, isso propicia o amolecimento do

5
colo anteparto. Assim, o corpo uterino fica mais curto e espesso e o colo, mais fino e
dilatado. Normalmente, em primíparas, variam de 6 a 18 horas de trabalho de parto e, nas
multíparas, de 6 a 10 horas até a completa dilatação, sem contar o período expulsivo,
após a dilatação total de 10 cm.

Após o parto, Montenegro e Rezende Junior (2016) comentam que as contrações


diminuem até atingir uma em cada 10 minutos, até 12h de puerpério; nesse momento,
elas são responsáveis para a involução uterina, um fator interessante é que, quando
o bebê suga o peito materno, pode haver aumento dessa atividade uterina, devido aos
estímulos hormonais

3 MECANISMO DO PARTO
Para o nascimento acontecer, de fato, não são apenas as contrações que
fazem todo o trabalho; o feto e a estrutura materna também têm grande importância
para a progressão do parto. “Corresponde à sequência dos movimentos passivos da
apresentação fetal, que permitem a passagem através do canal do parto” (NENÉ;
MARQUES; BATISTA, 2016, p. 312). Essa adaptação, cujo objetivo, nesse caso, é o feto fazer
o trajeto no canal do parto, conta com mais elementos: a força das contrações uterinas
e o mecanismo que é o conjunto dos movimentos do feto na bacia (com articulações,
ligamento e músculos) (NENÉ; MARQUES; BATISTA, 2016).

ATENÇÃO
Há alguns aspectos da obstetrícia, acerca da anatomia, que é importante
lembrarmos, segundo Graça (2017), a pelve é constituída por quatro ossos:
o sacro, o cóccix e o par de ossos formados por íleo, ísquio e púbis.

Há algumas nomenclaturas e descrições que definem a relação do objeto


móvel (o feto) com o organismo materno (eixo uterino), facilitando o entendimento dos
profissionais que estão assistindo ao parto, melhorando a comunicação com termos
técnicos e entendimento dos acontecimentos. Por isso, citaremos essas nomenclaturas, de
forma sucinta, antes de seguir com os movimentos cardinais do feto:

• Atitude: é a relação das partes fetais entre si, sendo estas de


flexão ou de extensão. A mais comum é a de flexão em que o
mento se aproxima do tórax, os membros dobrados na frente do
corpo e o dorso ligeiramente curvado para a frente. • Situação:
é a relação entre o maior eixo materno e fetal. Essas estão
agrupadas em situações longitudinais, transversas ou oblíquas.
As longitudinais podem ser classificadas em cefálicas ou pélvicas.
[...]

6
• Apresentação: é a parte do feto que se situa no estreito superior
da pélvis. As principais apresentações são a cefálica, a de nádegas e
a de ombros.
• Ponto de Referência: é a parte fetal identificável pelo toque va-
ginal, usada para descrever a orientação da apresentação (posi-
ção e variedade). [...]
• Posição: é a relação do ponto de referência com a parte anterior,
posterior ou com as laterais da pélvis materna.
• Variedade: é a relação do ponto de referência fetal com os
pontos de referência da bacia materna (púbis, sacro [...] anterior
ou posterior).

É possível perceber algumas das apresentações de um feto de termo na Figura 1,


podendo ser diferenciada a posição cefálica fletida (A) e a defletida (B), apresentações
pélvicas (E e F) e córmicas (G e H).

Figura 1 – Apresentações fetais

Fonte: Zugaib; Francisco (2016, p. 340)

É importante sabermos a posição do feto dentro do útero da mãe no trabalho


de parto, com base em alguns fatores, como a atitude e a posição importam muito para
uma boa progressão do parto. Graça (2017) explana que, em 96% das gestações, o bebê
está em uma situação longitudinal, cefálica (com a cabeça para baixo) e fletido. Além
disso, é possível sentir, a partir da manobra de Leopold (palpação abdominal) e também
pelo toque vaginal, a apresentação e a variedade do feto.

7
DICA
O livro Guia Prático Belly Mapping: descobrindo a posição do bebê na
barriga pelo tato, de Gail Tully, oferece as explicações necessárias para
interpretar os movimentos e as partes do corpo do bebê e como ele
está dentro do útero. Sugerimos a sua leitura, pois é um livro diferente
de outros livros técnicos, mais prático e simples de compreender.

Nesse momento, podemos abordar os movimentos cardinais do feto, isto é, os


movimentos do mecanismo de parto que ocorrem em adaptação aos diâmetros estreitos
do canal do parto, os quais se dividem em seis momentos. Zugaib e Francisco (2016)
salientam que essa divisão é apenas para fins didáticos, já que, no momento real de
uma assistência ao parto, esses momentos acontecem continuadamente sobrepondo um
ao outro. Para uma melhor compreensão dos movimentos cardinais do feto, a Figura 2
expressa os mecanismos do parto em apresentação de vértice.

Figura 2 – Movimentos cardinais do parto

Fonte: Graça (2017, p. 225)

8
A insinuação é o primeiro movimento; é o encaixe do feto, que é a passagem da
maior circunferência da apresentação por meio do estreito superior, segundo Montenegro e
Rezende Junior (2016), conforme observado na Figura 2 (número 2). A descida consiste no
movimento descendente do feto no canal do parto, encontrando-se no estreito médio
do canal, conforme a Figura 2 (imagem de número 3).

Seguida da flexão do mento fetal sobre a face anterior do tórax, segundo Nené,
Marques e Batista (2016), flexão que oferece o menor diâmetro à passagem na pelve,
como pode ser observado na Figura 2 (imagens 2 e 3). A rotação interna fetal é outro
movimento que acontece continuadamente e é sobreposto aos outros; a rotação interna
é a deslocação do occípito no sentido da sínfise púbica, uma rotação de 45° nas anteriores
e 90° quando transversas, movimento que é essencial para a progressão do parto (Figura
2, imagem 4), quando a cabeça do bebê entra no assoalho pélvico (NENÉ; MARQUES;
BATISTA, 2016).

A extensão completa pode ser observada na imagem 5 da Figura 2, em que o


polo cefálico atinge a vulva, como consequência das contrações e forças, seguindo,
nesse momento, a coroação, quando o feto é exteriorizado. Em seguida, há a rotação
externa, observada na imagem 6, quando o polo cefálico retoma a atitude anterior à
rotação interna inicial, acompanhada pela rotação do tronco, para ajuste do diâmetro
dos ombros.

Por fim, a expulsão, quando o ombro anterior sai primeiro e depois o posterior,
depois da saída dos ombros, o resto do corpo do bebê sai com a força materna sem
dificuldade. Esse mecanismo explicado acima tem características únicas em cada
nascimento, pois pode variar de acordo com a apresentação fetal e também como tipo
de pelve materna.

4 FASES DO PARTO
Neste subtópico, emergiremos “nas ondas do mar”, pois é assim que muitos
dos profissionais, que trabalham com assistência ao parto, explicam à parturiente
como é o trabalho de parto: as contrações são como ondas do mar, que vêm e vão,
com uma intensidade progressiva e depois vão embora, sabendo que logo vão voltar. O
parto é uma trajetória cheia de emoções e, em cada etapa desse trajeto, há um tipo de
sentimento e experiência que a parturiente pode sentir, cabendo também ao enfermeiro
guiar essa mulher durante cada fase do parto.

Nené, Marques e Batista (2016) afirmam que o início do trabalho de parto se dá


quando começam as contrações uterinas regulares e dolorosas, e, consequentemente,
ocorre a dilatação do colo uterino. Montenegro e Rezende Junior (2016) explicam que não é
tão fácil perceber o início do trabalho de parto real, visto que é necessário um conjunto
de acontecimentos, como contrações dolorosas, começando com duas contrações em

9
10 minutos, com duração aproximada de 50 segundos a um minuto, devendo aumentar
de frequência. Ainda salientam que, em algumas mulheres multíparas, mesmo com
5 cm de dilatação, a fase ativa do parto pode não ter iniciado ainda. Para Zugaib e
Francisco (2016), o fenômeno mais importante são as contrações efetivas, que devem
ter frequência regular, sendo esperadas duas a cinco contrações em 10 minutos, com
intensidade de 20 a 60 mmHg, com média de 1 minuto de duração.

A partir de muitos estudos, dividiu-se o trabalho de parto em períodos, para


autores brasileiros, ou estádios, para os autores portugueses. Essa divisão clínica
decorre desde o início das contrações uterinas regulares até o puerpério imediato.
Estudaremos cada período e nos aprofundaremos na assistência que o enfermeiro pode e
deve oferecer a mulher/casal/família.

4.1 ASSISTÊNCIA NO PRIMEIRO E NO SEGUNDO PERÍODO


DO PARTO
O primeiro período é nomeado como o período da dilatação, do apagamento
do colo. “Esse período começa com as primeiras modificações cervicais e termina com
a dilatação completa do colo uterino (10 cm), de modo a permitir a passagem fetal”
(ZUGAIB; FRANCISCO, 2016, p. 326).

Esse primeiro período ainda é dividido por duas fases: a latente e a ativa do
trabalho de parto. A fase latente, conforme Nené, Marques e Batista (2016) explicam,
é a fase de apagamento do colo uterino e do início da dilatação (até 5 cm), podendo ser
uma fase mais lenta em primíparas, com duração de mais de 6 horas. Essa fase não
tem muito ritmo e pode ser bem variável. Já a fase ativa é considerada após os 5 cm de
dilatação até os 8 cm, quando começa a fase de transição (NENÉ; MARQUES; BATISTA,
2016). Nesse momento, é possível perceber melhor a relação feto-pélvica.

A fase ativa é caracterizada por maior ritmo de contrações e dilatação mais


avançada e pode durar também, em média, 6 horas em primíparas. É considerada
dilatação total quando atinge os 10 cm, quando não é mais possível tocar o tecido do
colo na parte anterior da apresentação fetal. Na Figura 3, podemos observar o processo
do primeiro período, a dilatação de uma nulípara (1 a 4) e uma multípara (5 a 8).

10
Figura 3 – Apagamento e dilatação do colo uterino

Fonte: Montenegro; Rezende Junior (2016, p. 308)

IMPORTANTE
A ruptura da bolsa de águas (amniotomia) ocorre em 80% dos
casos no final da dilatação ou no início da expulsão, de acordo
com Montenegro e Rezende Junior (2016). Pode acontecer
também de romper antes, sendo chamada de rutura prematura
de membranas, ou até ficar intacta, sem intervenções
desnecessárias até alguma justificativa criteriosa, segundo
Nené, Marques e Batista (2016), tipos de partos chamados
de empelicados. A amniotomia de rotina não é indicada para
acelerar o trabalho de parto, de acordo com muitos estudos e
conforme descrito em uma das recomendações da Organização
Mundial da Saúde (OMS) (WHO, 2018) de cuidados intrapartos
para experiências positivas de parto.

11
DICA
Antes de continuarmos com as fases do trabalho de parto, é de extrema
importância que você, acadêmico, futuro profissional enfermeiro, tenha
conhecimento do documento da OMS lançado em 2018, intitulado
Cuidados intraparto para experiências positivas de parto, que traz 56
recomendações, baseadas em evidências científicas, com o intuito de
estabelecer padrões mundiais de cuidados à mulher grávida, de forma
saudável, com menos intervenções desnecessárias.
Para saber mais sobre esse documento, acesse: http://twixar.me/1gQm.

Nomeadamente sobre a assistência do enfermeiro no primeiro período, é


imprescindível informar às gestantes sobre a singularidade de cada parto para cada
mulher, a intensidade da dor e o tempo do parto, que pode ser diferente para cada
parturiente. O incentivo para que a parturiente adote posições que facilitem a progressão
do trabalho de parto também faz parte do papel do enfermeiro, como a verticalização,
a deambulação e a movimentação da pélvis. A utilização da bola suíça, durante essa
fase, traz muitos benefícios, como a descida do bebê pelos estreitos da pélvis. Nené,
Marques e Batista (2016) ainda afirmam que a utilização do chuveiro também deve ser
encorajada, bem como a realização de massagens, a musicoterapia e outros métodos
que transmitam segurança e calma.

Além de envolver o casal na tomada de decisão e a mulher como protagonista


desse momento, promover um ambiente calmo e tranquilo, livre de barulhos e
distrações, também é necessário esclarecer todos os procedimentos realizados, tendo
uma comunicação clara e adequada para esse momento. O enfermeiro deve também
lembrar a gestante de urinar com uma certa regularidade, para evitar a distensão vesical,
pois isso pode se tornar uma barreira para a descida do feto no canal do parto.

A monitoração cardíaca fetal também deve ser realizada durante o primeiro


período do parto, visto a importância do bem-estar materno-fetal. Conforme as reco-
mendações da OMS (WHO, 2018), realiza-se a ausculta cardíaca fetal intermitente, com
Doppler móvel, Sonar ou Pinard de estetoscópio. A verificação dos sinais vitais maternos
no período também faz parte da assistência de Enfermagem.

Já o segundo período do parto, chamado de período expulsivo, o qual se


inicia com a dilatação completa e se encerra com a saída total do feto (MONTENEGRO;
REZENDE JUNIOR, 2016), há a presença da descida do feto pelo canal vaginal e as
contrações voluntárias da parede abdominal, que vêm do termo “vontade de empurrar”
ou os “puxos”; aos poucos, a vulva se abre com a apresentação fetal e, logo em seguida,
o desprendimento total. Esse período, segundo Nené, Marques e Batista (2016), pode
durar alguns minutos ou até 3 horas, sendo necessário saber a fisiologia do parto, para,
nesse momento, evitar intervenções desnecessárias, visto que é um momento em que a
paciência é uma virtude.

12
Nesse período, o profissional deve encorajar a mulher a escolher a posição que
seja mais confortável para ela parir, conforme Figura 4. A vocalização também deve ser
apoiada, sem julgamentos e, claro, a orientação para o acompanhante estar presente, de
maneira agradável, dando o suporte que a parturiente, também necessário nesse período.

INTERESSANTE
Vários autores explanam sobre os benefícios da verticalização
da mulher no parto, como as recomendações da OMS. Nesse
sentido, segundo Nené, Marques e Batista (2016), posições
como cócoras, ajoelhada, de pé, sentada e de gatas têm
muitas vantagens, como melhora do fluxo uteroplacentário
e da ventilação pulmonar materna, melhoria da eficiência da
contratilidade uterina, melhora no alinhamento de feto e pelve
materna, aumento dos diâmetros da pelve, otimização do esforço
materno, ação da gravidade ao favor do nascimento, além de
fatores que se relacionam ao protagonismo da mulher no parto,
pois fazem com que a mulher tenha mais poder de escolha e
participação no nascimento do seu filho, facilitando a vinculação
e o aumento das experiências positivas de parto. Outro fator
importante é a diminuição dos partos instrumentalizados.

Figura 4 – Posição de cócoras sustentada

Fonte: Nené, Marques e Batista (2016, p. 345)

Para finalizar as abordagens assistenciais desse período específico, Nené,


Marques e Batista (2016) ainda ressaltam que o profissional deve estar atento a sinais de
alerta, como desacelerações fetais tardias e que demoram para se recuperar, ou que
se mantêm em desacelerações – nesses casos, pode ser necessário suporte de oxigênio,
conforme solicitação médica.

13
4.2 ASSISTÊNCIA NO TERCEIRO E NO QUARTO PERÍODO DO
PARTO
O terceiro período é designado quando a dequitadura da placenta acontece e,
segundo Nené, Marques e Batista (2016, p. 310), “decorre desde a expulsão do feto até
à expulsão da placenta”. Há uma diminuição das contrações uterinas, após a saída do
feto, e da área de implantação da placenta, fazendo com que ocorra uma tensão e
rutura das vilosidades, a formação de hematoma retroplacentar e aí o descolamento
da placenta e de sua expulsão. Essa saída da placenta tem dois tempos: a separação da
placenta da parede do útero e sua descida; e a saída dela até a vulva.

A placenta pode sair apresentando a face lisa (conhecido como mecanismo de


Schultze) ou a face rugosa (conhecido como mecanismo de Duncan), como mostra a
Figura 5, demonstrando dois tipos de dequitação da placenta: a imagem “A” retrata o
mecanismo de Schultze, sendo mais comum (em 75% dos casos), e a imagem “B”, o
mecanismo de Duncan.

Figura 5 – Dequitação da placenta

Fonte: Zugaib; Francisco (2016, p. 329)

Nené, Marques e Batista (2016) ainda destacam os sinais do terceiro período:

• Contrações uterinas.
• Mudança da forma discoide do útero para ovoide, à medida que a
placenta se descola para o segmento inferior.
• Saída súbita de sangue à vulva.
• Descida do cordão ou aumento aparente do cordão, à medida que
a placenta desce para o introito vaginal.
• Aumento do volume vaginal observável (NENÉ; MARQUES;
BATISTA, 2016, p. 311).

O tempo da dequitadura é variável, podendo variar de minutos até ser aguardado


45 minutos a 1 hora após a expulsão do feto, segundo Nené, Marques e Batista (2016).
Já para Zugaib e Francisco (2016, p. 329), em “80% dos partos a dequitação se dá nos
primeiros 10 minutos”.

14
A placenta, sendo um órgão, gerado na gestação, para nutrir o bebê dentro do
útero, guarda um grande significado e, por isso, é interessante o enfermeiro dar a opção
para a mulher ver e conhecer a placenta. Além disso, é necessário que o enfermeiro
verifique se há a ausência de algum cotilédone na placenta, podendo serem evitados
restos placentários dentro do útero.

A assistência do profissional, nesse momento, também é diminuir a hemorragia


pós-parto. A OMS (WHO, 2018) traz como recomendação a tração controlada do cordão
umbilical, para a saída da placenta, apenas quando considerada uma perda de sangue
significativa e uma prolongação do terceiro período do trabalho de parto. Assim, essa
manobra não deve ser feita rotineiramente. A administração de uterotônicos também é
uma atitude ativa do profissional, conforme as recomendações para evitar hemorragias
no pós-parto imediato.

No quarto período, conhecido como puerpério imediato, ou período de


Greenberg, correspondente à primeira hora após o parto. Nené, Marques e Batista (2016)
salientam que esse momento é fundamental, nos processos hemostáticos, para impedir o
sangramento em excesso. Visto a grande probabilidade de hemorragias nesse período,
a assistência, a vigília e a observação da puérpera são essenciais.

A verificação do globo de segurança de Pinard também é mencionado por Nené,


Marques e Batista (2016), o qual corresponde à avaliação da contratilidade uterina, a
partir da palpação do útero pelo abdome da mulher, verificando, assim, a ausência de uma
atonia uterina. Na primeira hora, o útero deve se manter sempre contraído, completando
o mecanismo de hemostasia. Zugaib e Francisco (2016) demonstram os fenômenos de
miotamponamento, que se refere à contração do útero e, consequentemente, à oclusão
dos vasos miometriais, conhecido como globo vivo de Pinard, e o trombotamponamento,
que diz respeito à formação de trombos nos vasos uteroplacentários e, posteriormente,
aos coágulos intrauterinos – ambos são fenômenos importantes de defesa do corpo
uterino contra uma hemorragia.

Para a assistência de Enfermagem, nesse momento, é de grande importância


priorizar as queixas maternas, manter estáveis os sinais vitais da puérpera e a vigília de
perdas sanguíneas, que evitam desfechos infelizes.

5 PARTO INSTRUMENTADO
É importante salientarmos que partos instrumentados podem acontecer, devido
a intercorrências obstétricas e distócias do parto, quando estas não são resolvidas
por outros meios, sem a necessidade de instrumentos como fórceps, extrator a vácuo
(ventosa obstétrica) e episiotomia (corte no períneo). A atualização de estudos, acerca
do uso dessas intervenções instrumentais, tem crescido, mostrando técnicas novas e
também indicações baseadas em evidências científicas para a uso de tal instrumentos.

15
Sendo um procedimento de competência do médico obstetra, o fórceps e o extrator a
vácuo precisam de um olhar menos rotineiro, bem como a episiotomia que faz parte
tanto da competência médica como de enfermeiros especialistas em obstetrícia.

Para iniciarmos essa abordagem, é interessante saber que o pH do sangue fetal


tende a diminuir no terceiro período, que é o período expulsivo, Zugaib e Francisco (2016)
ainda explicam que faz parte da fisiologia do parto o desenvolvimento de uma moderada
acidose. Entretanto, quando o feto apresenta uma desaceleração tardia, na qual esta
faz com que o oxigênio caia a níveis menores ou iguais a 18 mmHg, há uma suspeita de
sofrimento fetal que deve ser avaliada, e é indicada a abreviação do período expulsivo.

O fórceps é um instrumento com dois ramos. Graça (2017) explana que há o lado
direito e o esquerdo do fórceps, formado por uma colher, que se adapta à cabeça do bebê
e ao canal do parto, e o cabo, para o médico poder manipular (Figura 6). Os dois ramos
ligam-se como uma articulação pelo cabo. Zugaib e Francisco (2016) ainda afirmam que
o uso do fórceps foi devidamente assegurado após estudos iniciais que mostravam a
sua segurança, quando na presença de uma equipe treinada para a realização desses
partos e um obstetra com mãos treinadas para uso desse instrumento.

Para evitar a compreensão desequilibrada e excessiva da cabeça


fetal, é de extrema importância que as colheres do fórceps sejam
perfeitamente simétricas e que a distância entre si no ponto de maior
afastamento se adapte ao diâmetro biparietal do feto de termo [...]
o operador nunca deve forçar demasiadamente a junção dos cabos
(GRAÇA, 2017, p. 559).

Figura 6 – Fórceps

Fonte: Zugaib; Francisco (2016, p. 419)

16
Indicações para a aplicação do fórceps, segundo Graça (2017) e Zugaib e Francisco
(2016):

• período expulsivo prolongado e exaustão materna;


• necessidade obstétrica de abreviar o período expulsivo, quando há risco materno-
fetal;
• traços cardíacos suspeitos de hipóxia fetal (sofrimento fetal).

Entre as condições maternas e fetais para aplicação do fórceps, segundo Graça


(2017) e Zugaib e Francisco (2016), estão:

• dilatação completa (10 cm) do colo uterino;


• bolsa de água rota;
• feto vivo;
• apresentação fetal cefálica e encravada;
• compatibilidade feto-pélvica;
• anestesia local, dos nervos pudendos, ou quando necessária epidural.

São contraindicações para o uso do fórceps, segundo Graça (2017), o não


cumprimento das condições maternas e fetais citadas anteriormente, e a não familiarização
do médico obstetra com o uso do fórceps.

Já a ventosa obstétrica, ou o extrator a vácuo, é outra proposta de instrumento


para extração do feto, quando se faz necessária. Atualmente, consiste em um instrumento
de silicone ou plástico, com um mecanismo manual ou elétrico de bomba a vácuo,
conforme mostra a Figura 7. Graça (2017, p. 568) explica que se baseia em uma técnica
de “força externa de tração ao escalpe fetal através do vácuo”, salientando que a essa
tração, associada ao esforço materno e contrações uterinas do período expulsivo,
facilita a passagem do feto. Além disso, Graça (2017) defende que o vácuo é aplicado
sob o tecido do escalpe fetal, fazendo com que este forme um edema e penetre na
concavidade da ventosa. Um ponto importante que vários autores trazem é que só pode
ser utilizada a ventosa com um manômetro, para poder saber a precisão da pressão.

Entre as indicações para o uso da ventosa, segundo Graça (2017), estão:

• apenas em apresentações de vértice;


• sinais de sofrimento fetal no expulsivo;
• abreviação do período expulsivo.

17
Já as complicações da ventosa, segundo Graça (2017), são:

• caput, pigmentação da pele do escalpe do bebê;


• traumatismo pequenos como erosão do escalpe, céfalo-hematoma e hemorragia
retiniana;
• esões traumáticas maiores: lacerações do escalpe, hematoma subaponevrótico,
hemorragia intracraniana e fratura craniana;
• lesões indiretas, como paralisias e fraturas de membros superiores e ombros.

Figura 7 – Ventosa

Fonte: Graça (2017, p. 568)

ATENÇÃO
O uso, de forma rotineira, de intervenções no parto e instrumentalização
rotineira altera totalmente o curso fisiológico do parto normal e,
infelizmente, inicia o que é chamado de cascata de intervenções, em
que uma intervenção condiciona a outra sucessivamente, aumentando a
complexidade e o risco de desfecho desfavorável do parto.

O corte no períneo, conhecido como episiotomia, segundo Graça (2017), não


é necessário ser realizado antes da aplicação do fórceps. O autor ainda salienta que
a episiotomia é considerada uma lesão perineal de 2º grau, realizada com o intuito de
facilitar o segundo período do trabalho de parto e melhorar o desfecho materno fetal.
Entretanto, é necessário discutirmos as controvérsias quanto à realização de episiotomia,
pois não há evidências científicas que mostram que esse procedimento evita lacerações
graves, muitos autores referem que previne riscos maiores de lacerações graves,
incontinência urinária e fecal sem ter comprovação científica para tal. “O uso rotineiro
ou liberal da episiotomia não é recomendado para mulheres submetidas a parto vaginal
espontâneo” (LEAL et al., 2019, p. 9).

18
Em 2018, a OMS determinou como uma prática não recomendada durante o
parto, explicando que:

Embora a evidência da revisão sobre os efeitos comparativos das


políticas de episiotomia tenha sido apresentada como uso seletivo/
restritivo versus uso rotineiro/liberal da episiotomia, devido aos
efeitos benéficos da episiotomia seletiva/restritiva em comparação
com a política de episiotomia de rotina/liberal, a falta de evidências
sobre a eficácia de episiotomia em geral, e a necessidade de
desencorajar o uso excessivo de episiotomia de rotina em todos os
locais, o Grupo de Desenvolvimento de Diretrizes (GDG) sentiu que era
importante enfatizar que o uso rotineiro/liberal da episiotomia “não
é recomendado”, ao invés de recomendar o uso seletivo/restritivo da
episiotomia. O GDD reconheceu que, no momento, não há evidências
que corroborem a necessidade de qualquer episiotomia em cuidados
de rotina, e uma taxa “aceitável” de episiotomia é difícil de determinar.
O papel de episiotomia em emergências obstétricas, como sofrimento
fetal com necessidade de parto vaginal instrumental, continua a ser
estabelecido. Se uma episiotomia for realizada, anestesia local eficaz
e o consentimento informado da mulher são essencial. A técnica
preferida é a incisão médio-lateral, pois as incisões na linha média
estão associadas a um maior risco de lesão obstétrica complexa do
esfíncter anal (OASI) (WHO, 2018, p. 150, tradução nossa).

Graça (2017, p. 580) ainda salienta que, “Portanto, à luz do conhecimento atual,
não existem critérios bem definidos nem uniformes para se realizar uma episiomia [...]
os dados que dispomos não apoiam a execução da episiotomia por rotina [...] por isso o
juízo clínico individual deve prevalecer”.

Após a realização de uma episiotomia, é necessário realizar uma episiorafia, que


é o reparo dos tecidos com sutura, optando por suturas monofilamentares, para evitar
risco infeccioso, competências estas do obstetra, do enfermeiro obstetra, da obstetriz
e da parteira.

6 INDUÇÃO DO TRABALHO DE PARTO


A indução do trabalho de parto é induzir, artificialmente, a contratilidade uterina,
para iniciar o trabalho de parto, antes de iniciado espontaneamente. Graça (2017) afirma
que é “indicada quando os benefícios para a mãe e para o feto são maiores do que
os de deixar prosseguir a gravidez, pelo que deve restringir-se aos casos em que há
indicações clínicas formais”.

A indução de um parto deve ser realizada apenas quando há real necessidade,


para evitar, assim, a medicalização do parto. Por isso, as indicações para indução de
trabalho de parto, segundo Graça (2017), Nené, Marques e Batista (2016), e Zugaib e
Francisco (2016), são:

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• Gravidez pós-termo, maior que 41 semanas de gestação.
• Rutura prematura de membranas.
• Comorbidades maternas, como diabetes e hipertensão.
• Situações de patologia associadas a hipertensão induzida pela gravidez, pré-eclâmpsia,
eclampsia e síndrome de HELLP.
• Estado fetal não tranquilizador.
• Feto morto ou anômalo.

Para iniciar uma indução de parto, é preciso saber as opções disponíveis, os


métodos para indução, relacionando sempre com a avaliação do cérvix, ou seja, de
como o colo uterino está.

Para isso, existe uma avaliação chamada de Índice de Bishop, que, segundo Nené,
Marques e Batista (2016), correlaciona dados da avaliação do colo uterino e a decisão do
método a ser utilizado. Nesse índice, são avaliados a dilatação do colo, a consistência, o
apagamento, a posição e a altura em relação às espinhas isquiáticas; a partir disso, se o
número final do índice de Bishop for igual ou inferior a 5, esse colo é desfavorável e deve
ser analisado, primeiramente, uma maturação do colo, ou seja, um amolecimento com
prostaglandinas. Acima de 7,0, já pode ser iniciada a indução com oxitocina.

Zugaib e Francisco (2016) e Graça (2017) trazem os métodos de indução do


trabalho de parto, divididos em mecânicos e farmacológicos, podendo ser abordados
como:

• Mecânicos:
◦ Deslocamento digital das membranas é um método muito conhecido, utilizado
para estimular a produção de prostaglandinas, a partir de um toque vaginal, no
qual o profissional ultrapassa o orifício interno do colo para separar, com o dedo,
as membranas amnióticas da parte inferior do útero, teoricamente, pode desencadear
um trabalho de parto em 48 horas.
◦ Sonda Foley também é um método mecânico conhecido, em que a sonda é
colocada na parte interior do orifício do colo uterino, inflando o balão para fazer
pressão mecânica no colo uterino, de dentro para fora. A sonda é eliminada em 12
horas. Esse método pode ser utilizado em mulheres com cesariana prévia, visto
que mulheres com histórico de cesariana não devem utilizar a indução de parto
com prostaglandina misoprostol.

• Farmacológicos:
◦ Prostaglandinas (PGE1 e PGE2): utilizadas para maturação do colo uterino,
podendo ser de uso endocervical por via vaginal ou via oral. Deve seguir os
protocolos de cada instituição, respeitando os períodos entre os comprimidos
conforme a mg. As gestantes entram em trabalho de parto, geralmente, após 12
horas do uso da primeira prostaglandina. Essas prostaglandinas não devem ser
utilizadas concomitantemente com ocitocina, devendo aguardar um período de 4
horas para usar a ocitocina após prostaglandinas.

20
◦ Ocitocina: agente mais conhecido nas induções de parto. Sendo um uterotônico
sintético, realizado por via endovenosa, com controle de gotejamento, por meio
de bomba de infusão. Começa com doses iniciais e aumenta a dose conforme o
passar das horas, até obter contrações efetivas e regulares.

ATENÇÃO
É de extrema importância a avaliação da vitalidade fetal antes e
durante a indução de trabalho de parto, principalmente em uso de
métodos farmacológicos, devendo atentar para bradicardias fetais
ou acelerações fetais que não estabilizam.

Outra técnica que é observada a sua utilização nos centros obstétricos é a


amniotomia, utilizada para acelerar o trabalho de parto em curso, e de forma rara para
indução do trabalho de parto. A OMS (WHO, 2018, p. 117, tradução nossa) recomenda: “O
uso de amniotomia isoladamente para prevenção de atraso no trabalho de parto não é
recomendado [...] O uso de amniotomia precoce com aumento precoce de ocitocina para
prevenção de atraso no trabalho de parto não é recomendado”.

Para finalizar, é necessário discutirmos que, atualmente, não apenas no Brasil,


mas em grande parte do mundo, há uma alta taxa de indução de partos, muitas vezes
desnecessárias, com aumento também da taxa de cesarianas por distócias funcionais
do parto e sofrimento fetal. Esses mecanismos de indução devem ser realizados apenas
quando bem indicados, conforme citado no início deste subtópico. O enfermeiro, como
profissional importante da equipe no centro obstétrico, pode e deve informar à parturiente
essas indicações, baseadas em evidências científicas e, quando realizadas, ele deve
praticar o cuidado e a vigília materno-fetal durante todo o período da indução do parto.

21
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:

• Para uma contração uterina acontecer, é necessária a formação de gap junctions,


além da síntese de prostaglandinas e do aumento de receptores de ocitocina.

• O trabalho de parto é diagnosticado pela presença de contrações regulares e efetivas,


iniciando com duas contrações em 10 minutos, podendo chegar a cinco contrações
em 10 minutos, com duração de 50 segundos a 1 minuto.

• Conhecer o mecanismo do parto é fundamental para uma assistência de qualidade


durante o parto e o nascimento, sendo as apresentações cefálicas fletidas mais
comuns, com mais facilidade no encravamento e na expulsão fetal.

• As fases do trabalho de parto podem ser divididas em quatro períodos: o primeiro


caracterizado pela dilatação do colo do útero, passando pela fase latente, pela fase
ativa, pela fase de transição até os 10 cm de dilatação; o segundo período, pela
expulsão do feto; o terceiro período, pela dequitadura da placenta; e, por fim, o quarto
período sendo o puerpério imediato.

• O quarto período, ou período de Greenberg, é a primeira hora após a expulsão da


placenta, quando ocorrem dois fenômenos conhecidos como miotamponamento e
trombotamponamento, responsáveis pela estabilização de hemorragia uterina no
pós-parto imediato.

• A assistência do enfermeiro, em cada período do trabalho de parto, vai muito além da


parte técnica, devendo ser vista com humanização e cuidado integral da parturiente
e da família.

• Um parto instrumentado deve ter assistência de uma equipe preparada, segura e


ágil, bem como de um profissional condutor capacitado e familiarizado com tais
procedimentos, a fim de evitar desfechos infelizes.

• A ocitocina é um método de indução farmacológica, uma das principais formas


utilizadas em induções de trabalho de parto, que necessita, frequentemente, de
monitoração cardíaca fetal.

22
AUTOATIVIDADE
1 Os estudos da fisiologia do parto mostram que a bioquímica, para o início do trabalho
de parto, é dividida em fases: a fase 0 da quiescência, com a ação da progesterona
evitando partos prematuros, seguida pela fase 1 de ativação miometral, pela fase 2 de
estimulação e contração uterina, e pela fase 3 de involução uterina no pós-parto. A
fase 2, das contrações efetivas, é precedida por uma preparação do útero e do colo,
indolor e irregular. Com base em como é conhecida essa fase, assinale a alternativa
CORRETA:

a) ( ) Preparação de quiescência, conhecidas como preparação para o parto.


b) ( ) Contrações de Braxton-Hicks, conhecidas como as contrações de treinamento.
c) ( ) Contrações de Partos-Hicks, conhecidas como as contrações de treinamento.
d) ( ) Contrações de ativação miometral, conhecida como preparação para o parto.

2 Considera-se que um falso trabalho de parto não tem contrações regulares nem
dilatação do colo do útero e muito menos a percepção da dor. Sobre a importância
de se reconhecer a diferença entre um falso trabalho de parto e um trabalho de parto
verdadeiro, analise as sentenças a seguir:

I- O trabalho de parto verdadeiro tem a presença de contrações uterinas regulares,


com intervalos cada vez menores, chegando apenas até duas contrações em 10
minutos.
II- A percepção da dor de uma contração pode ocorrer tanto na lombar da parturiente
como na região de baixo ventre.
III- É possível identificar a presença de uma contração quando se sente o útero
endurecido à palpação abdominal, além da valorização da queixa da parturiente
sobre a dor da contração.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 A indução do trabalho de parto é um procedimento que deve ser realizado com cautela
e apenas quando realmente necessário, conforme indicações clínicas baseadas em
evidências científicas. De acordo com as indicações para indução de trabalho de
parto, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

23
( ) Deve ser induzido o parto em caso de gravidez pós-termo, que corresponde ao período
após as 39 semanas de gestação.
( ) Situações como pré-eclâmpsia, eclâmpsia, hipertensão induzida pela gravidez,
síndrome de HELLP e diabetes são indicações para a indução do trabalho de parto.
( ) A indução do trabalho de parto é indicada apenas quando os benefícios para a mãe e o
feto são maiores do que se a gestação for mantida.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) F – V – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) V – F – V.

4 O trabalho de parto é um evento fisiológico, um conjunto de fenômenos espontâneos


que conduz a dilatação do colo uterino e a expulsão do feto. O parto eutócico acontece
quando não há intervenções, seguindo-se todos os períodos de forma definida e sem
intercorrências. Diante disso, disserte sobre as fases do trabalho de parto e alguns
pontos importantes para a assistência do enfermeiro nos períodos elencados.

5 Acerca do parto instrumentado, ou parto distócico, percebe-se que, atualmente, são


utilizadas práticas rotineiras de uso de instrumentos durante o período expulsivo, com a
justificativa de apressar o parto e ajudar a parturiente. Nesse contexto, disserte sobre a
utilização desses instrumentos e quando realmente eles se fazem necessários.

24
UNIDADE 1 TÓPICO 2 —
ATRIBUIÇÕES DA EQUIPE DE SAÚDE
NO CENTRO OBSTÉTRICO

1 INTRODUÇÃO
O parto é um evento único, em que a mulher, que está grávida, decide o ambiente
onde deseja realizar o parto e os profissionais que estarão com ela – isso não exclui os
profissionais que já devem estar presentes nesse momento, como no caso de um centro
obstétrico de uma instituição hospitalar, em que há as equipes capacitadas com cada
profissional especialista da área, sendo médico, enfermeiro, técnico de Enfermagem,
psicólogo, nutricionista, fisioterapeuta etc. Além desse suporte, não podemos nos
esquecer da presença de um acompanhante, que não pode ser substituído pela
presença da doula, e vice-versa.

Antigamente, os profissionais envolvidos no parto eram apenas as parteiras


e suas auxiliares, não sendo um ato médico, mas, sim, pertencente a esse grupo de
mulheres envolvidas no parto e no nascimento. Com o passar do tempo e com o aumento do
uso de tecnologias, o estudo da medicina evoluiu e os usos de intervenções no parto,
consequentemente, aumentaram, deixando a parteira de ser a profissional envolvida no
parto para dar lugar ao médico. Infelizmente, percebeu-se que a autonomia da mulher
no parto acabou sendo ofuscada com a figura desse novo agente, assim como o respeito
a seu corpo e suas escolhas.

Diante de muitas manifestações e dados sobre o aumento da mortalidade


materno-fetal, os agentes de saúde iniciaram mudanças para melhorar a assistência
ao parto e inserir boas práticas de parto e nascimento. Um dos fatores indicados foi a
inserção da equipe multidisciplinar, que, hoje, é percebida como de grande importância
para gestação, organização, agilidade, qualidade de humanização da assistência à
parturiente. Com isso, o enfermeiro ganhou muito mais autonomia nesse cenário, junto
à mulher, e a Enfermagem obstétrica mostrou-se, e ainda se mostra, capaz de trazer
grandes contributos, quando inserida no cuidado à parturiente.

Dessa forma, neste tópico, abordaremos, um pouco mais, as atribuições desses


profissionais envolvidos no parto e no nascimento dentro do centro obstétrico, para, em
seguida, nos aprofundarmos nas rotinas desse setor.

25
2 EQUIPE MULTIDISCIPLINAR
Uma equipe multidisciplinar nada mais é do que um grupo de profissionais, cada
qual com sua especificidade, em grande maioria juntos por um objetivo geral comum –
no caso do centro obstétrico, o maior objetivo seria o bem-estar da tríade na vivência do
parto e do nascimento. Essa equipe especializada e capacitada traz maior segurança para
a mãe em um momento especial da vida dela, visto que há uma partilha de informações,
conhecimentos e também uma assistência de qualidade, promovendo, assim, uma
experiência mais positiva do parto e do nascimento.

É importante salientar que, além da assistência técnica de cada profissional,


a humanização no cuidado à parturiente é um dos fatores mais importantes nesse
meio. Evangelista et al. (2016) comentam essas iniciativas, salientando que deve ser
promovida a humanização na equipe multidisciplinar.

Entretanto, percebe-se que ainda há fatores que não contribuem para o bem-
estar materno e fetal; atualmente, no Brasil e em outros países, um deles é a falta
assistência multidisciplinar, o trabalho em equipe. “Aponta-se, nessa perspectiva,
que uma grande parte das complicações que envolvem a saúde materna e perinatal
revela que a equipe não atua de forma conjunta devido à comunicação desarticulada e
deficiente” (BRAZ et al., 2019, p. 2).

É claro que esse problema, em potencial, não ocorre só por causa da falta de
articulação entre os profissionais, sendo, talvez, uma questão multifatorial.

Verificou-se outra vertente sobre a compreensão de que este é um


processo complexo que envolve a articulação dos distintos níveis
de atenção, a gestão das instituições de saúde e boas condições de
infraestrutura e recursos humanos. Os autores também enfatizaram
que é necessário que haja condições favoráveis para os profissionais
de saúde desenvolverem seu trabalho, além de estímulo, qualificação
e aperfeiçoamentos, subsídios fundamentais para a efetivação
de práticas que busquem atender às necessidades das usuárias
(BARROS; MORAES, 2020, p. 89).

Nesse sentido, devemos encarar que a assistência multiprofissional deve ser


observada como um trabalho de saúde coletivo, “embora, entre as diferentes categorias,
ainda predomine a tendência de se satisfazer aspirações profissionais e criar hegemonias,
a interdisciplinaridade assume uma grande importância, uma vez que identifica e nomeia
uma mediação possível entre os saberes e competências” (BRAZ et al., 2019, p. 7).

26
IMPORTANTE
As Diretrizes nacionais de assistência ao parto normal, do Ministério
da Saúde (BRASIL, 2017a), trazem recomendações para os profis-
sionais seguirem uma assistência mais organizada, humanizada e
baseada em evidência científica durante o parto, relatando quais
profissionais devem estar envolvidos nessa assistência direta: mé-
dicos obstetras, pediatras, neonatologistas, anestesiologistas, ge-
neralistas, enfermeiros obstétricos, obstetrizes, enfermeiros assis-
tenciais e técnicos de Enfermagem, além de todos os profissionais
envolvidos indiretamente na assistência ao parto, como fisiotera-
peutas, psicólogos, nutricionistas, doulas e educadores perinatais.

O hospital, muitas vezes, é considerado, pela parturiente, um local diferente do


comum, que ainda traz a lembrança de “doenças”; dessa forma, para a família, deve ser
ofertado um ambiente adequado para o parto, além de profissionais capacitados, uma
equipe especializada e que acolha a mulher nesse momento especial, que é a vinda de
um novo ser. De acordo com Carraro et al. (2008), quando ocorre uma comunicação
adequada, um acolhimento, uma escuta ativa e que traz a sensação de conforto e
segurança para a mulher, nesse momento, há uma solidificação do cuidado integral à
saúde dessa parturiente, com apoio emocional e físico, promovendo a participação ativa
dessa agente principal do parto, a mulher.

3 O ENFERMEIRO GENERALISTA NO CENTRO OBSTÉTRICO


É importante salientar a grande importância das atribuições do enfermeiro
generalista dentro desse setor, visto que ele se insere na equipe interdisciplinar e sabe
da sua importância para um cuidado de qualidade às parturientes, escutando, de forma
ativa, as necessidades delas.

Verifica-se que essa é uma realidade observada em outro trabalho,


realizado com enfermeiros obstetras na região sul de Santa Catarina,
que destacou a importância do apoio da equipe multiprofissional para o
fortalecimento da autonomia do enfermeiro e, consequentemente, a
melhoria da assistência como um todo (BRAZ et al., 2019, p. 6).

Nesse sentido, é importante destacarmos as competências do profissional


inserido nesse meio, segundo o Decreto nº 94.406, de 8 de junho de 1987 (BRASIL, 1987).

27
NOTA
Segundo o Art. 8º, ao Enfermeiro incumbe:

I- privativamente:
[...]
h) prestação de assistência de enfermagem à gestante,
parturiente, puérpera e ao recém-nascido;
j) acompanhamento da evolução e do trabalho de parto;
l) execução e assistência obstétrica em situação de emergência
e execução do parto sem distocia (BRASIL, 1987).

Nota-se que, além das competências generalistas, em vários estudos, a visão


holística e desmedicalizada do enfermeiro na assistência ao parto se destaca entre os
outros profissionais. “Pontua-se que, para tanto, a sua autonomia profissional deve ser
preservada e os profissionais de saúde devem atuar em conformidade com a legislação
brasileira e, também, com as resoluções e pareceres normativos dos conselhos e
categorias em que se inserem” (BRAZ et al., 2019, p. 7).

O Enfermeiro sem as titulações [...] poderá realizar, como integrante


da equipe de saúde, o acompanhamento do trabalho de parto
normal, realizar dinâmica uterina e toque vaginal, entretanto, o
conteúdo abordado na graduação não o capacita integralmente para
a realização de parto normal sem distocia. Não compete ao Auxiliar
e Técnico de Enfermagem a realização de dinâmica uterina e toque
vaginal (COREN-SP, 2013, p. 5).

O enfermeiro, nesse cenário, contribui para uma assistência humanizada,


possibilitando um espaço de conforto à mulher, observando queixas, necessidades e
medos da parturiente, informando a parturiente sobre procedimentos e condutas do
setor, colocando em prática o consentimento informado e a estimulando a se tornar a
protagonista do seu parto, ao promover a presença do acompanhante e também realizar
métodos naturais de alívio da dor no momento das contrações; além disso, o enfermeiro
se mostra como o principal agente que valoriza a cultura, a crença, as necessidades e
os desejos da parturiente durante o parto, ou seja, é um profissional “chave” dentro do
centro obstétrico. “Desse modo, é necessário que na gestão da assistência relaciona-
se a um processo social e humano envolvendo a motivação, liderança, participação,
comunicação, colaboração e influência interpessoal” (AMORIM; BACKES, 2020 apud
SILVA et al., 2020, p. 180).

28
4 O ENFERMEIRO ESPECIALISTA NO CENTRO OBSTÉTRICO
Diante das atribuições citadas no Art. 9º do Decreto nº 94.406/1987 (BRASIL,
1987), é importante relacionarmos essas competências com alguns dados observados
no portal do governo brasileiro de atenção às mulheres, o qual explica que, desde 1990,
observou-se os países que inseriram os enfermeiros obstétricos na assistência ao parto,
concluindo-se uma redução significativa da mortalidade materna de 2 a 5% no ano.

Art. 9º Às profissionais titulares de diploma ou certificados de


Obstetriz ou de Enfermeira Obstétrica, além das atividades de que
trata o artigo precedente, incumbe:
I- prestação de assistência à parturiente e ao parto normal;
II- identificação das distocias obstétricas e tomada de providência
até a chegada do médico;
III- realização de episiotomia e episiorrafia, com aplicação de
anestesia local, quando necessária (BRASIL, 1987).

Essa prática de atuação dos enfermeiros especialistas em obstetrícia e


ginecologia é reconhecida pela OMS, e, ainda, vários estudos têm verificado que a
inserção desse profissional no parto melhora o cuidado a parturiente. Segundo dados
obtidos do portal do governo brasileiro, “Pesquisas apontam que 83% dos óbitos
maternos e fetais poderiam ser evitados com o cuidado da enfermagem obstétrica,
incluindo o planejamento familiar” (BRASIL, 2020).

Considera-se inegável a importância da Enfermagem Obstétrica na


equipe multidisciplinar durante o cuidado à parturiente, todavia, para
que essa assistência tenha sucesso, faz-se necessária uma interação
entre a equipe multiprofissional, como preconizam as políticas públicas
de Humanização do Parto e Nascimento do Ministério da Saúde do
Brasil, atendendo às recomendações emanadas pela Organização
Mundial de Saúde (BRAZ et al., 2019, p. 6).

DICA
Para conhecer os detalhes das atribuições da Enfermagem, leia o Decreto
nº 94.406, de 8 de junho de 1987, que regulamenta a Lei nº 7.498, de 25
de junho de 1986, a qual dispõe sobre o exercício da enfermagem e dá
outras providências. Acesse: http://twixar.me/wgQm.

29
IMPORTANTE
Acadêmico, a atuação do enfermeiro obstetra, dentro do centro
obstétrico, é focada em atendimento de partos de baixo risco, que
seguem a fisiologia do parto normal; já os médicos obstetras têm
a sua atenção e assistência voltadas ao parto patológico e fora da
fisiologia normal. Entretanto, um não exclui o auxílio e a atenção do
outro em ambas as situações de partos (normais ou patológicos).

Segundo Silva A. et al. (2018), o enfermeiro obstetra, além de estar atento às


queixas dessa parturiente, deve observar sinais que indicam algum tipo de intercorrência,
para saber qual conduta tomar diante de uma possível emergência. A informação à
gestante sobre a evolução do trabalho de parto e as condutas tomadas também devem
fazer parte do cuidado integral do enfermeiro obstetra. Observar e monitorar cada
período do trabalho de parto, diagnosticar e auxiliar durante as fases do trabalho de
parto fazem parte da assistência.

Percebeu-se ainda as várias finalidades do enfermeiro obstetra, desde


a prática do favorecimento para um ambiente propício a redução da
ansiedade e o medo nas mulheres em trabalho de parto, além da
oferta e aplicabilidade de técnicas para amenizar as dores e possíveis
complicações nos períodos do parto (SILVA, A. et al., 2018, p. 92).

IMPORTANTE
Algumas atividades durante o trabalho de parto da enfermeira
obstétrica são: avaliação do bem-estar materno-fetal, realizando a
partir da ausculta cardíaca fetal e sinais vitais maternos, avaliação
da progressão do trabalho de parto, a partir do exame de
toque vaginal e observação do segmento da fisiologia do parto.
Já no parto, a condução do mesmo quando parto eutócico e a
realização de sutura se necessário. No que abrange o nascimento,
como atribuição, está o recebimento deste recém-nascido e
apresentação do mesmo para a mãe, realizando a promoção do
contato pele a pele.

30
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:

• A equipe multiprofissional tem grande importância no processo de parturição, uma vez


que cada profissional com sua competência e atribuição dentro do centro obstétrico.

• A humanização da assistência no período do parto e do nascimento também se


mostra um fator relevante, quando associada à inserção de profissionais capacitados
na área materna e obstétrica.

• Médico obstetra, anestesista, pediatra, enfermeiro generalista, enfermeiro obstetra


e técnico de Enfermagem são os profissionais em linha direta com a assistência ao
parto. Fisioterapeuta, nutricionista, psicólogo e doulas seguem, de forma indireta,
tornando a assistência do parto mais humana e multidisciplinar.

• O enfermeiro generalista pode atuar no acompanhamento do trabalho de parto e parto


de forma legal, tendo como seus maiores contributos a desmedicalização do parto,
auxílio com métodos naturais de alívio da dor e suporte técnico para a parturiente.

• O enfermeiro obstetra tem grande autonomia profissional dentro do centro obstétrico,


visto que suas competências abrangem, além do acompanhamento do trabalho de
parto, a condução desse procedimento, quando de baixo risco, cabendo, ainda, a
avaliação de eventuais riscos e emergências, realizando o cuidado necessário para a
parturiente dentro de suas atribuições.

31
AUTOATIVIDADE
1 O Decreto nº 94.406, de 8 de junho de 1987, regulamenta a Lei nº 7.498, de 25 de junho
de 1986, que dispõe sobre o exercício da Enfermagem e dá outras providências. Acerca
do exercício da atividade de Enfermagem na assistência ao parto e ao nascimento,
assinale a alternativa INCORRETA:

FONTE: BRASIL. Decreto nº 94.406, de 8 de junho de 1987. Regulamenta a Lei nº 7.498, de 25 de ju-
nho de 1986, que dispõe sobre o exercício da enfermagem, e dá outras providências. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1980-1989/d94406.htm. Acesso em: 16 set. 2022.

a) ( ) Ao enfermeiro generalista incube, privativamente, a prestação de assistência


de Enfermagem à gestante, à parturiente, à puérpera e ao recém-nascido, o
acompanhamento da evolução e do trabalho de parto, bem como a sua execução.
b) ( ) Ao enfermeiro generalista incube, privativamente, a assistência obstétrica em
situação de emergência e a execução do parto com ou sem distócia.
c) ( ) Ao enfermeiro obstetra incube a prestação de assistência à parturiente e ao parto
normal e a realização de episiotomia e episiorrafia, com aplicação de anestesia
local, quando necessário.
d) ( ) Ao enfermeiro obstetra incube a identificação das distócias obstétricas e a
tomada de providência até a chegada do médico.

2 O enfermeiro tem grandes contribuições para o período clínico do parto, podendo


ser ressaltadas a valorização do desejo da mulher, a comunicação entre equipe e
paciente, e a promoção da escuta ativa durante o período do parto, valorizando
crenças, histórias e necessidades físicas e emocionais dela. Com base nas atribuições
específicas do enfermeiro obstetra, que se mostra de grande importância no meio do
processo de parturição, analise as sentenças a seguir:

I- É de responsabilidade do enfermeiro a avaliação do bem-estar materno e fetal,


sendo um dos cuidados para garantir a saúde da mãe-feto a realização da ausculta
cardíaca fetal e dos sinais vitais maternos.
II- A avaliação da progressão do trabalho de parto pode ser feita a partir do exame do
toque vaginal, no qual se verifica a consistência do cérvix, a posição do bebê e a
dilatação cervical.
III- Uma das atribuições que traz grande autonomia para o enfermeiro obstetra é o
acompanhamento e a execução do parto normal eutócico.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Todas as sentenças estão corretas.

32
3 Segundo a Política Nacional da Humanização (PNH), do Ministério da Saúde, e as
recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) para uma vivência positiva de
parto, a humanização na assistência ao parto tem, como proposta principal, o respeito
à tríade e aos desejos da parturiente para o momento do parto e do nascimento, além
da promoção do trabalho em equipe, a fim de tornar o cuidado multidisciplinar. Diante
disso, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) O resgate a autonomia da mulher é um fator determinante da humanização do


parto, o qual deve ser praticado por todos os profissionais que trabalham direta ou
indiretamente com o processo de parturição.
( ) O enfermeiro não necessita estar atento às queixas da parturiente sempre, visto que
esse não é um fator importante para a avaliação de possíveis riscos e intervenções.
( ) A escuta ativa deve ser promovida por todos os profissionais, tanto médicos quanto
enfermeiros, a fim de promover maior segurança e conforto ao casal.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 A inserção do enfermeiro obstetra, dentro da equipe multidisciplinar, simplifica a


forma de atendimento mais humanizado e também diminui os níveis de intervenções
irrelevantes no parto, fazendo com que a mulher tenha mais autonomia e protagonismo
no momento do nascimento do seu filho. Diante disso, discorra sobre as principais
atribuições do enfermeiro obstetra dentro do centro obstétrico.

5 Com o passar dos anos, a mulher perdeu o seu papel de agente ativo no nascimento
do filho e, por isso, atualmente, existe a necessidade do resgate do parto normal
humanizado, no qual a parturiente tem seus direitos e escolhas respeitados, diante de
um acompanhamento com profissionais qualificados, minimizando as intercorrências
durante do parto e trazendo maior segurança e qualidade ao atendimento. Diante
disso, por que a assistência multiprofissional deve ser observada como um trabalho de
saúde coletivo no processo de parturição?

33
34
UNIDADE 1 TÓPICO 3 —
ROTINAS DO CENTRO OBSTÉTRICO

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, abordaremos as rotinas do centro obstétrico, setor que, geralmente,
segue um fluxo de atendimento para gestantes, parturientes, puérperas, lactantes e
também, por vezes, o atendimento a mulheres com condições ginecológicas, relacionadas
à obstetrícia.

É importante conhecermos o fluxo de atendimento desse setor, visto que


o profissional enfermeiro deve exercer as competências específicas para o centro
obstétrico, além das competências gerais do enfermeiro. Entre tais competências,
estão o acolhimento e a realização da anamnese da mulher, no momento que ela entra
na triagem obstétrica, os cuidados assistenciais de rotina durante o trabalho de parto,
parto e pós-parto imediato no pré-parto e na sala de parto, bem como a assistência de
rotina na sala cirúrgica, que pode estar dentro do próprio centro obstétrico, destinado
a procedimentos obstétricos e ginecológicos, ou na sala cirúrgica do centro cirúrgico,
a qual deve estar ao lado do centro obstétrico, para suprir a demanda de intercorrências,
dependendo da organização da instituição hospitalar. Por fim, cuidar das rotinas da sala
de recuperação, onde estão as mulheres que passaram por um parto normal ou as que
passaram por cesariana, como os cuidados pós-anestésicos.

É importante salientar que cada instituição tem a sua estrutura e divisão de


setores, as rotinas e os cuidados prestados devem seguir um padrão durante a assistência,
porém os manuais e protocolos podem se diferenciar de uma instituição para outra. Assim,
abordaremos, de maneira simplificada, de acordo com autores e diretrizes do Ministério
da Saúde, os cuidados e as rotinas assistenciais, bem como a implementação do processo de
Enfermagem dentro do setor do centro obstétrico.

A organização do centro obstétrico conta com uma estrutura que deverá atender à
mulher e ao acompanhante, para dar suporte no período gravídico-puerperal, composto
por triagem para classificação de risco da mulher, o pré-parto e as salas de partos ou
salas PPP, que são as salas pré-parto, parto e pós-parto, podendo contar, também, com
uma sala cirúrgica e a sala de recuperação dentro do mesmo setor.

Neste tópico, em geral, veremos os cuidados destinados a gestantes de baixo


risco, em que há uma evolução normal do trabalho de parto e parto.

35
ESTUDOS FUTUROS
No Tópico 4, abordaremos as intercorrências em gestações de risco.
Fique atento às dicas de leitura, bem como aos pontos de interesse
sobre esse tópico.

2 TRIAGEM OBSTÉTRICA
As gestantes que chegam ao setor devem, primeiramente, ser avaliadas, passando
pela triagem obstétrica, verificando a queixa para, após isso, o profissional responsável do
plantão realizar a conduta necessária. Conhecido também como acolhimento da paciente,
é na triagem que o enfermeiro ouve as queixas da mulher, respeitando a Política Nacional
da Humanização, que diz:

A palavra “acolher”, em seus vários sentidos, expressa “dar acolhida,


admitir, aceitar, dar ouvidos, dar crédito a, agasalhar, receber,
atender, admitir” [...]. O acolhimento como ato ou efeito de acolher
expressa uma ação de aproximação, um “estar com” e “perto de”,
ou seja, uma atitude de inclusão, de estar em relação com algo ou
alguém. É exatamente no sentido da ação de “estar com” ou “próximo
de” que queremos afirmar o acolhimento como uma das diretrizes
de maior relevância política, ética e estética da Política Nacional de
Humanização da Atenção e Gestão do SUS (BRASIL, 2009, p. 10-11).

O Manual de Acolhimento e Classificação de Risco em Obstetrícia, do Ministério


da Saúde (BRASIL, 2018), salienta que esse momento é essencial para a mulher/casal que
procuram a instituição, muitas vezes, com maior frequência do que deveria, devido a
dúvidas e queixas que poderiam ter sido explicadas e informadas com mais clareza. Esse
acolhimento tem também um objetivo especial de criação de vínculo entre o enfermeiro
e o casal, o depósito de confiança no profissional da saúde faz com que essa mulher
se sinta mais protagonista da gestação e parto. Ainda, em algumas queixas comuns,
pode estar oculta alguma situação que requeira solução mais rápida, como algumas
emergências obstétricas. Nesse sentido, a importância de uma escuta qualificada,
treinada e capacitada é necessária para perceber situações clínicas urgentes.

A classificação de risco também deve ser associada a esse acolhimento, visto


que o atendimento por ordem de chegada é falho nos casos em que há a priorização de
urgências clínicas. Ainda, segundo o Manual do Acolhimento de Classificação de Risco
em Obstetrícia (BRASIL, 2018), deve ser realizada essa classificação de risco em todas
as portas de entrada de maternidades e centros obstétricos, organizando e facilitando o
atendimento de prioridade:

36
A implantação do A&CR [Acolhimento e Classificação de Risco] passa
pela articulação dos seguintes movimentos de mudanças:
• Ampliação da responsabilização dos profissionais de saúde em
relação aos usuários e efetivação dos vínculos de confiança.
• Aperfeiçoamento do trabalho em equipe, com a integração e
complementaridade das atividades exercidas pelas categorias
profissionais que atuam nos serviços que assistem partos.
• Atendimento médico, do enfermeiro obstetra, ou de obstetriz
em tempo oportuno, fazendo com que a usuária seja assistida
de acordo com a sua gravidade clínica, abandonando a lógica do
atendimento por ordem de chegada.
• Otimização dos espaços para agilizar o atendimento, seguindo-se
os referenciais da ambiência.
• Informação à mulher e aos familiares/acompanhantes dos tempos
de espera previstos para atendimento (BRASIL, 2018, p. 15).

Entre as atribuições do enfermeiro envolvido em Acolhimento e Classificação de


Risco em Obstetrícia (A&CRO) estão:

• Receber as fichas de atendimento, avaliando de forma ágil e responsável a prioridade


da mulher, de acordo com a queixa apresentada.
• Chamar a mulher pelo nome, solicitando também a presença de um acompanhante,
caso seja desejo da usuária.
• Acolher a mulher e o acompanhante, de forma cordial e responsável.
• Classificar o risco com rapidez e eficiência, seguindo o protocolo adotado.
• Anexar a ficha de “notificação de violência”, quando houver suspeita ou confirmação
de caso.
• Registrar dados da classificação na ficha de atendimento, sinalizando, por meio de
cores, a classificação da mulher.
• Registrar a classificação no mapa do A&CR.
• Orientar a mulher, de forma clara, quanto a sua situação e ao tempo de espera do
atendimento.
• Entregar a ficha de atendimento ao técnico, para que seja colocada nos consultórios.
• Reclassificar as usuárias sempre que forem identificadas alterações pela equipe.
• Estar integrado com a equipe multiprofissional do centro obstétrico/maternidade,
buscando melhor resolutividade da atenção.
• Supervisionar o trabalho do técnico/auxiliar de Enfermagem e estagiário, orientando
corretamente, quando necessário.
• Realizar passagem de plantão regularmente, não sendo permitido abandonar o
plantão sem que outro funcionário o assuma.
• Registrar, em livro próprio, as ocorrências do setor.

IMPORTANTE
Acadêmico, é importante que você, como futuro profissional da Enfer-
magem, compreenda todas as atribuições do enfermeiro envolvido em
A&CRO.

37
Além dessas atribuições, é importante que o ambiente esteja tranquilo e
organizado, de forma que a mulher/casal e a doula se sintam confortáveis e seguros.
Deve-se lembrar de ter uma cadeira a mais para o acompanhante, o que mostra o
interesse do profissional para que ele participe da triagem.

Para o início da triagem, a verificação dos sinais vitais da gestante, em conjunto


com a escala de nível de dor (Figura 8), e a ausculta do batimento cardíaco fetal (BCF)
são cuidados essenciais nesse momento, assim como a anotação desses parâmetros no
prontuário da paciente.

Figura 8 – Escala de dor

Fonte: Brasil (2018, p. 36)

A Tabela 1 apresenta os parâmetros de pressão arterial e frequência cardíaca da


gestante e da puérpera, com os níveis estáveis dos parâmetros e os níveis alterados.

Tabela 1 – Parâmetros de avaliação de pressão arterial e frequência cardíaca da gestante e puérpera

Pressão arterial sistólica Pressão arterial diastólica Frequência cardíaca


Inaudível ou abaixo de 80 ≥ 140 ou ≤ 59 bpm, em pa-
*********
mmHg ciente sintomática
≥ 140 ou ≤ 50 bpm, em pa-
≥ 160 mmHg ≥ 110 mmHg
ciente assintomática
≥ 140 mmHg a 159 mmHg, ≥ 90 a 109 mmHg, com sin-
91 a 139 bpm
com sintomas tomas
< 139 mmHg < 89 mmHg 60 a 90 bpm

Fonte: Brasil (2017b, p. 35)

Para a classificação de risco obstétrico, a A&CRO traz, como referências,


fluxogramas de classificação de risco, criados por multiprofissionais, baseados em
evidências científicas, que têm como objetivos avaliar a gravidade e o potencial de
agravamento de situações e a necessidade ou não de assistência imediata. Esses
fluxogramas abrangem os seguintes fenômenos:

38
• Desmaio/mal estar geral.
• Dor abdominal/lombar/contrações uterinas.
• Dor de cabeça, tontura, vertigem.
• Falta de ar.
• Febre/sinais de infecção.
• Náuseas e vômitos.
• Perda de líquido vaginal/secreções.
• Perda de sangue via vaginal.
• Queixas urinárias.
• Parada/redução de movimentos fetais.
• Relato de convulsão.
• Outras queixas/situações (BRASIL, 2018, p. 37).

DICA
Acadêmico, você pode conferir os fluxogramas completos e esquema-
tizados no documento do Ministério da Saúde: Manual de Acolhimento
e Classificação de Risco em Obstetrícia (BRASIL, 2018), disponível em:
http://twixar.me/zgQm.

Após a classificação de risco, deve ser sinalizada, na pulseira de identificação da


paciente, a cor que irá definir o tempo de espera (vermelho, laranja, amarelo, verde ou
azul). As pacientes que estiverem com pulseira vermelha são de atendimento imediato,
devendo ser levadas à sala de emergência, pois têm risco de morte e necessitam de
atendimento médico imediato (BRASIL, 2018). As de pulseira laranja devem ser atendidas
em até 15 minutos no consultório médico do centro obstétrico. A pulseira amarela indica
um atendimento em até 30 minutos, sendo a paciente atendida também em consultório
médico. A pulseira verde significa que o atendimento será em até 120 minutos, sem risco
grave, podendo ser atendida por ordem de chegada. Por fim, a pulseira azul corresponde
ao atendimento não prioritário ou encaminhamento, conforme pactuação (BRASIL, 2018).

Segundo as Diretrizes nacionais de assistência ao parto normal (BRASIL, 2017a),


se a parturiente estiver com trabalho de parto estabelecido, ou seja, com mais de 4
cm de dilatação e contrações efetivas, já poderá ser admitida para internação. Após a
admissão, essa paciente passará por outra linha de assistência. Montenegro et al. (2014),
no livro de Protocolos de medicina materno-fetal, organizam os tópicos de cuidados
prestados na admissão da parturiente:

• Avaliação da temperatura axilar/auricular;


• Avaliação da PA no braço direito com grávida sentada –
esfingomanômetro de Hg nas grávidas com antecedentes de
hipertensão, medidos automático nas restantes;
• Avaliação da proteinúria (exceto nos casos de rotura de
membranas);
• Informação à parturiente e família dos regulamentos do bloco de
partos (MONTENEGRO et al., 2014, p. 209).

39
Além disso, é importante a realização de testes rápidos, como vírus da
imunodeficiência humana (HIV) e exame de VDRL, além de saber o tipo sanguíneo e o fator
Rh, para a profilaxia anti-D no pós-parto, se for o caso de Rh negativo. Ainda, é necessário
perceber também as queixas e os motivos da internação, como perda de líquido, dor em
baixo ventre, contrações etc.

Montenegro e Rezende Junior (2016) salientam que o enema intestinal e a


tricotomia do monte de Vênus não são mais recomendados, pois não têm evidências
científicas que mostram o benefício dessas práticas para a diminuição de infecções
maternas. A OMS (WHO, 2018) também não recomenda mais esse tipo de procedimento
nos centros obstétricos.

ATENÇÃO
Acadêmico, o enfermeiro deve garantir a presença de um acompa-
nhante de escolha da parturiente durante toda a internação no centro
obstétrico; assim, a mulher se sentirá mais segura e confortável,
contribuindo com o desenvolvimento do trabalho de parto e a
vinculação da família.

Além disso, no momento da internação, o enfermeiro deve perguntar se há um


plano de parto, o qual deve ser discutido com a equipe e o casal, além de arquivado
em prontuário da paciente. Esse documento é importante para a equipe entender as
expectativas da grávida: “A grávida deve entender que o seu plano de parto, tal como
ela própria, é alvo de atenção individualizada e de respeito. Mas que, porque se trata
disso mesmo, de um plano, poderá ser necessário mudar a atuação em função de
determinadas circunstâncias” (NENÉ; MARQUES; BATISTA, 2016, p. 363).

3 PRÉ-PARTO
Na sala de pré-parto, ficam internadas as gestantes em trabalho de parto, em
indução de trabalho de parto ou casos de condução de aborto, que devem ficar em salas
isoladas e privativas.

ATENÇÃO
Os profissionais da equipe de Enfermagem envolvidos no pré-
parto são o enfermeiro chefe, o enfermeiro obstetra, o enfermeiro
assistencial e o técnico de enfermagem.

40
Segundo as Diretrizes nacionais de assistência ao parto normal, do Ministério
da Saúde (2017a), as mulheres durante o trabalho de parto devem ser tratadas pelos
profissionais da saúde com respeito e empatia, além da importância de serem munidas
de informações, baseadas em evidências científicas, e sempre serem envolvidas na
tomada de decisões. Informá-la sobre métodos de alívio da dor também é uma prática
que deve ser rotina no pré-parto, encorajá-la a se movimentar, fazer uso da ducha e
da bola suíça e deambulação, a fim de trazer inúmeros benefícios para a progressão do
trabalho de parto, além de auxiliar no alívio natural da dor.

O apoio físico e emocional também é imprescindível, além de uma dieta livre,


quando não estiverem em efeito de opioides ou riscos para anestesia, e o estímulo à
ingesta de líquidos também são importantes, visto que a paciente precisa de energia
para todo o período do trabalho de parto. Ainda, é salientado o profissional assegurar as
medidas assépticas durante o acompanhamento do trabalho de parto, sendo necessária a
limpeza das mãos antes de procedimentos.

Um dos pontos importantes sobre o cuidado das necessidades da parturiente,


segundo Nené, Marques e Batista (2016), é a nutrição da parturiente, uma vez que,
atualmente, o jejum em parturientes de baixo risco não é recomendado por rotina e que
o consumo de líquidos isotônicos, durante o trabalho de parto, auxilia para que não ocorra
uma cetose. O jejum pode levar à desidratação e à acidose, por isso a necessidade de uma
alimentação livre e hidratação, para que a parturiente mantenha seu nível de energia
alta, minimizando a sua exaustão na hora do expulsivo.

Outro fator importante, ainda englobando os cuidados das necessidades da


parturiente, segundo Nené, Marques e Batista (2016), é o estímulo à deambulação, uma
das atividades que o enfermeiro deve apoiar e auxiliar a parturiente a realizar, pois diminui
a intensidade da dor, ajuda na circulação materna, reduz a duração do trabalho de parto,
ajuda na descida do feto na pelve e reduz as taxas de cesarianas.

IMPORTANTE
A avaliação do bem-estar fetal, durante o trabalho de parto, deve
ser realizada de forma adequada, para garantir uma assistência
de qualidade. A ausculta cardíaca fetal deve ser feita, de modo
intermitente, em gestantes de baixo risco, com Sonar Doppler ou
esteto de Pinard, a cada 30 minutos, por pelo menos 1 minuto,
devendo ser registrada, também, a presença de acelerações e
desacelerações, conforme as Diretrizes nacionais de assistência ao
parto normal, do Ministério da Saúde (BRASIL, 2017a). É importante
salientar que a OMS (WHO, 2018) não recomenda a monitoração
contínua com cardiotocografia durante o trabalho de parto de
baixo risco.

41
Para compreender melhor o parâmetro de monitoração cardíaca fetal, podemos
observar a Tabela 2. Resumidamente, conforme Graça (2017), em padrões normais,
devemos ter uma frequência cardíaca fetal basal entre 110 e 160 bpm, uma boa variabilidade
dessa frequência cardíaca fetal, acelerações esporádicas e ausências de desacelerações,
conforme mostra a Figura 9 em uma cardiotocografia intraparto normal.

Tabela 2 – Parâmetros, interpretação e abordagem da monitoração cardíaca fetal

Normal Suspeito Patológico


Ausente, pelo
menos, uma das
características
Linha de base 110-160 bpm < 100 bpm
de normalidade,
mas sem padrões
patológicos.
Ausente, pelo
Variabilidade
menos, uma das
reduzida (< 5 bpm)
características
Variabilidade 5-25 bpm ou aumentada (>
de normalidade,
25 bpm); padrão
mas sem padrões
sinusoidal.
patológicos.
Desacelerações
tardias ou
prolongadas
Ausente, pelo
repetitivas durante
menos, uma das
Ausência de > 30 minutos
características
Desacelerações desacelerações (ou 20 minutos
de normalidade,
repetitivas se variabilidade
mas sem padrões
reduzida ou uma
patológicos.
desaceleração
prolongada com > 5
minutos.
Feto com baixa Feto com alta
Feto sem hipóxia/
Interpretação probabilidade de probabilidade de
acidose
hipóxia/acidose. hipóxia/acidose.
Ação imediata para
Atuação para corrigir corrigir causas
as causas reversíveis reversíveis, métodos
(se identificadas), adicionais para avaliar
Intervenção
Abordagem clínica estreita vigilância ou a oxigenação fetal ou,
desnecessária
métodos adicionais se tal não for possível,
para avaliar a parto imediato. Em
oxigenação fetal. situações agudas [...],
parto imediato.

Fonte: Graça (2017, p. 245)

42
Figura 9 – Frequência cardíaca fetal normal

Fonte: Graça (2017, p. 246)

IMPORTANTE
Acadêmico, diante dessas informações e dos parâmetros normais de
monitoração cardíaca fetal, você tem conhecimento para perceber e
identificar alterações durante a avaliação do bem-estar materno-fetal
no trabalho de parto, pois esse também é um cuidado importante
durante o trabalho de parto, tanto na fase latente como ativa.

Na fase latente, Montenegro et al. (2014) trazem como cuidados de rotina:

• Avaliação da temperatura axilar/auricular, pulso radial e PA de 4


em 4 horas;
• Exame toxicológico de 2/2h se ocorrerem contrações rítmicas;
• Exame toxicológico imediato após suspeita de rutura de membranas;
• Avaliação cardiotocográfica durante 30 minutos em cada 2 horas,
se não tiver havido recentemente utilização de ocitocina e/ou
prostaglandinas (se a parturiente não pretender monitorização fetal
apenas com auscultação intermitente) [...];
• Nas parturientes sem rotura de membranas e que ainda não foram
submetidas à analgesia epidural, não se preconiza a restrição da
mobilização se não estiverem a realizar cardiotocografia;
• Registro no partograma de todos os dados recolhidos; [...]
• Não se preconiza a administração por rotina de soros (MONTENEGRO
et al., 2014, p. 209).

Na fase ativa, também são destacados os cuidados de rotina


nesse período:

• Avaliação da temperatura axilar/auricular, pulso radial e PA de 4/4


horas;
• Exame toxicológico de hora em hora, se nada ocorrer que justifique
exame imediato;
• Monitorização cardíaca fetal;
• Registro no partograma de todos os dados recolhidos;
• Não se preconiza o decúbito obrigatório [...]. Deve ser evitado o
decúbito dorsal prolongado (MONTENEGRO et al., 2014, p. 210).

43
Nesse momento, pode surgir a dúvida: como avaliar a progressão do trabalho
de parto da paciente e como saber se ela está em período latente, ativo ou expulsivo?
A resposta é clara: com observação, cuidados e assistência de qualidade. Assim, há
alguns meios de se avaliar a progressão de um trabalho de parto, como a partir do toque
vaginal, para perceber como está o colo uterino da parturiente e quantos centímetros
de dilatação ela apresenta.

Montenegro e Rezende Junior (2016) explicam que o profissional capacitado


deve realizar, antes de tudo, a assepsia das mãos, pedir autorização para a paciente,
inserir o dedo indicador e médio, utilizando algum lubrificante, até chegar ao colo uterino; a
intenção é sentir o apagamento, a dilatação, a orientação e a consistência, se há ou não
a bolsa das águas íntegras e a apresentação do feto.

Entretanto, toques frequentes sem intenção técnica são traumáticos e desne-


cessários para a parturiente. A OMS (WHO, 2018) recomenda que a avaliação por toque
vaginal tenha intervalo de, pelo menos, 4 horas, evitando possíveis infecções maternas por
agentes externos, salienta ainda a importância da comunicação com a mulher antes,
durante e após o procedimento, para não haver constrangimentos.

A linha púrpura também pode ser um meio de avaliação da progressão do


trabalho de parto (Figura 10). Narchi et al. (2011, p. 314) explica que “a ‘linha púrpura’ é
uma mancha de coloração arroxeada que se inicia na região perianal das mulheres em
trabalho de parto e que, à medida que a dilatação cervical progride, avança no sentido
ascendente pela fissura interglútea em direção à junção sacrococcígea”. Pode ser usada
como um método auxiliar para avaliação da progressão do trabalho de parto, pois,
quanto mais perto da junção sacrococcígea a linha arroxeada estiver, mais evoluído o
trabalho de parto pode estar.

Figura 10 – Direção da linha púrpura

Fonte: Hobbs (1998 apud NARCHI et al., 2011, p. 314)

44
Outra maneira que pode ser observada, a partir das alterações físicas e adaptações
ósseas da parturiente, é o quadrilátero de Michaelis, ou losango de Michaelis, localizado
no sacro, esse losango é uma projeção cutânea do sacro, conforme mostra Zugaib e
Francisco (2016). A partir disso, é possível observar, conforme a descida do feto na pelve,
essa protuberância do losango, sendo mais comum perto do período expulsivo.

Além desses fatores interessantes, é possível perceber que a mulher, quando


entra em um período ativo do trabalho de parto, fica mais introspectiva, não conversa
muito com os outros, pois quer se concentrar durante as contrações; a respiração fica
mais intensa e pesada, e a necessidade de se movimentar aumenta conforme a evolução
do trabalho de parto. Por fim, outro meio de perceber a evolução do trabalho de parto é
seguir a localização da ausculta cardíaca fetal com o sonar, que, conforme se centraliza
e desce, é sinal de que o feto já está girando e realizando sua descida na pelve materna.

IMPORTANTE
Acadêmico, além desses cuidados assistenciais, a implementação
da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), durante
trabalho de parto, parto, nascimento e recuperação, é uma
competência essencial, que deve seguir o referencial teórico
da instituição. É importante lembrarmos de alguns elementos,
como histórico de Enfermagem, diagnóstico de Enfermagem,
planejamento de Enfermagem, implementação de Enfermagem
e avaliação.
Segundo Fraga et al. (2018, p. 7), “O PE concomitante com a visão
holística do enfermeiro favorece uma assistência individualizada à
parturiente e baseada no conhecimento científico, oportunizando
lhe sentir-se parte de um processo natural, acompanhando o
ritmo do seu próprio corpo”.

Fonte: FRAGA, T. et al. Processo de enfermagem em centro obstétrico:


perspectivas dos enfermeiros. Texto Contexto Enfermagem, v. 27,
n. 3, p. 1-10, 2018.

DICA
Acadêmico, sugerimos a leitura e o conhecimento das Diretrizes da
Rede Cegonha, uma estratégia do Ministério da Saúde, com foco para a
implementação de cuidados para gestantes e puérperas, que garante o
planejamento familiar e a atenção segura, capacitada e humanizada na
gravidez, no parto e no puerpério. Atualmente, o Ministério da Saúde
também conta com a Rede de Acolhimento Materno-Infantil (Rami) em
todo o território nacional. Ambas as iniciativas têm o compromisso da
redução das mortalidades materna e infantil.
Saiba mais sobre as Diretrizes da Rede Cegonha acessando o link:
http://twixar.me/XgQm /.

45
4 SALA DE PARTOS
Em algumas instituições, há salas específicas para o período expulsivo, para a
assistência do parto em si. Já em outras instituições, é possível que se vejam salas PPP,
nas quais não há a necessidade de locomover a mulher para outra sala durante o período
final do parto, o que traz conforto e praticidade para a parturiente. De qualquer forma,
a sala em que nascerá o bebê deve estar preparada para recebê-lo, com temperatura,
no mínimo, em 26 °C, conforme a recomendação do Ministério da Saúde (BRASIL, 2014).

INTERESSANTE
Acadêmico, os profissionais habilitados, atualmente, para prestar
assistência direta ao parto são médico, obstetriz, parteira, enfermeiro e
enfermeiro obstetra. Cabe ressaltar que o enfermeiro apenas pode
realizar a assistência em casos de partos eutócicos, sem episiotomias e
sem episiorrafias.

No momento do período expulsivo, a parturiente pode ficar mais agitada e, segundo


Montenegro e Rezende Junior (2016), a maioria sente vontade de defecar, devido à pressão
intestinal por conta da descida do feto na pelve e da passagem no canal do parto.

As contrações ficam mais intensas, para auxiliar na expulsão do feto, e os “puxos”,


conhecidos como esforços expulsivos, são desencadeados espontaneamente, segundo
Zugaib e Francisco (2016). Nesse momento, conforme as recomendações do Ministério
da Saúde (BRASIL, 2017a), deve ser apoiada a realização de puxos espontâneos e não
induzidos, e, quando for percebido que o puxo espontâneo não está sendo eficaz, deve ser
oferecido à parturiente outras estratégias, como a mudança de posição, o encorajamento
e também o esvaziamento da bexiga. Contudo, em mulheres com analgesia epidural, é
necessário incentivar a paciente a realizar os puxos conforme a presença das contrações,
quando da dilatação completa.

ATENÇÃO
O enfermeiro jamais poderá realizar ou apoiar a realização da
pressão do fundo do útero, conhecida como manobra Kristeller,
não é uma prática recomendada pela OMS nem pelo Ministério
da Saúde. Trata-se de uma prática prejudicial e ineficaz, que
deve ser banida da obstetrícia, sem nenhuma evidência científica
que prove benefícios – pelo contrário, aumenta o risco de
morbidade materna e fetal. Ainda a plenária do Conselho Federal
de Enfermagem (Cofen) aprovou, por unanimidade, a decisão
95/2016 do Coren-RS, que proíbe a participação de profissionais
de Enfermagem na manobra de Kristeller.

46
A monitoração cardíaca fetal deve continuar, de acordo com as recomendações
da OMS (WHO, 2018), no período expulsivo, sendo realizada a cada 5 minutos, para
manter o bem-estar materno e fetal. Outras recomendações da OMS (WHO, 2018) são
quanto à posição do parto, sendo fundamental encorajar a mulher a escolher a posição
em que ela se sentir mais confortável para parir, incluindo posições verticalizadas, o que
também é válido para parturientes com analgesia epidural, que devem ter o auxílio de
profissionais para permanecer na posição desejada com segurança. A posição litotômica
não deve ser mais encorajada, ainda mais se não for o desejo da mulher; em parto de
baixo risco e eutócico, não há necessidade de sujeitar a mulher a tal desconforto, devido à
posição, segundo o Ministério da Saúde.

A proteção do períneo também é um assunto muito discutido na Obstetrícia, no


qual há autores que trazem os benefícios da técnica “hands on” e outros da “hands off”,
que abrangem o conceito de tocar ou não com as mãos no períneo da mulher; assim,
um parto conduzido com “hands on” é um parto em que há intervenção com as mãos
no período expulsivo, enquanto o “hands off” é sem intervenções no períneo da mulher,
sem tração do períneo no momento do expulsivo.

Zugaib e Francisco (2016) afirmam que pode ser feita pressão com a mão na
região perianal, sem episiotomia, para proteger o períneo de lacerações maiores, e
também o apoio ao polo cefálico do bebê na saída, para que seja lento o desprendimento
do polo cefálico. Nené, Marques e Batista (2016, p. 318) comentam que “a posição
de nascimento, as características tecidulares das mulheres e controle no período do
expulsivo são fundamentais”. A OMS recomenda que, de acordo com as preferências
e as opções disponíveis, podem ser utilizadas “técnicas para reduzir trauma perineal
e facilitar o parto espontâneo (incluindo massagem perineal, compressas quentes e
proteção ‘hands on’ do períneo)” (WHO, 2018, p. 5, tradução nossa). Já o Ministério da
Saúde (BRASIL, 2017a) não recomenda a massagem perineal durante o período expulsivo,
embora possam ser utilizadas compressas mornas no períneo, recomendando tanto a
técnica da mão sobre o períneo, para evitar saídas bruscas do feto, como a técnica de
mãos prontas, sem tocar o períneo.

IMPORTANTE
Acadêmico, pense como você gostaria de ser tratado em um
momento tão especial, como o nascimento de um filho. Com
respeito, carinho, ética, privacidade, integridade, humanização
e segurança, a pessoa se sente não só parte desse evento,
mas a protagonista dele. É dessa forma que devemos tratar as
parturientes, com muita empatia.

47
Após o nascimento, há a dequitação da placenta, período em que é preciso
manter o recém-nascido em contato, pele a pele, com a mãe, para promover a vinculação
e mantê-lo aquecido. O Ministério da Saúde (BRASIL, 2017a) recomenda dois tipos de
assistência nesse período:

• A conduta ativa, que engloba um conjunto de medidas, como o uso de medicamentos


uterotônicos, conforme recomendação da OMS (WHO, 2018), 10 UI de ocitocina
intramuscular ou endovenosa, que corresponde a duas ampolas, como primeira linha de
uterotônico no pós-parto imediato; o clampeamento precoce do cordão umbilical; e
a tração controlada do cordão após o sinal de separação placentária.
• A conduta fisiológica, que envolve o clampeamento tardio do cordão, a expulsão da
placenta sem tração controlada e sem uso de medicação uterotônica. De qualquer
forma, a OMS (WHO, 2018) recomenda o uso das 10 UI de ocitocina, para evitar
hemorragias maternas.

Nesse momento, é importante ficarmos atentos a sinais de hemorragias e retenção


placentária. Por isso, em caso de uma conduta fisiológica e de a mulher apresentar
hemorragia ou a placenta demorar mais de 1 hora, após a expulsão do feto, para dequitar,
muda-se a conduta para ativa.

5 SALA CIRÚRGICA
Quando o centro obstétrico disponibiliza uma sala cirúrgica especificamente
para o setor, o enfermeiro deve organizar essa sala de acordo com a demanda diária do
setor, como cirurgias de cesariana, suturas de lacerações de graus 2, 3 ou 4 de parto,
curetagens por aborto retido ou por retenção placentária, histerectomias realizadas por
emergências, drenagens de abscessos de mama ou vulva, entre outros procedimentos,
conforme a organização do setor e da instituição.

A montagem da sala e a organização ficam sob responsabilidade do enfermeiro


circulante do plantão; para isso, há protocolos para a montagem da sala nas instituições,
os quais devem ser seguidos conforme recomendações. Como exemplo, podemos nos
basear em um Manual de Rotinas de Enfermagem do Centro Cirúrgico, Recuperação e
Central de Maternal (ROMERO et al., 2012), que apresenta algumas etapas:

• Ler o pedido de cirurgia, certificando-se do tipo de cirurgia, idade


da paciente, aparelhos e solicitações especiais;
• Verificar as condições de limpeza da sala antes de montá-las;
• Testas o funcionamento dos aparelhos, tais como: aspiradores, bis-
turi elétrico, mesa cirúrgica, focos e todos que houver necessidade;
• Revisar o carro de anestesia;
• Revistas e repor quando necessário, os materiais descartáveis;
• Checar os lavabos e repor material para degermação das mãos da
equipe cirúrgica;
• Repor os pacotes de aventais e campos esterilizados, caixas de ins-
trumentos e outros materiais específicos para a cirurgia ou parto a ser
realizado (ROMERO et al., 2012, p. 35-36).

48
Romero et al. (2012) ainda citam que o circulante da sala deve ter alguns cuidados
durante o procedimento, como:

• a conferência da identificação do paciente;


• o auxílio ao paciente durante anestesia, se for o caso;
• auxiliar também na monitoração;
• adaptar a placa de bisturi elétrico;
• auxiliar a equipe na paramentação;
• abrir o material estéril;
• abrir as compressas, se necessário, lembrando-se de pedir ao profissional responsável
para as contar e, após o uso, é necessário checá-las e contá-las;
• realizar também a degermação, conforme a rotina da instituição;
• após finalização da cirurgia, contar os materiais e as peças e realizar a anotação de
Enfermagem;
• o circulante deve sempre permanecer em sala cirúrgica.

ATENÇÃO
Caro acadêmico, enfatiza-se o uso de uma Lista de Verificação
de Segurança Cirúrgica; a OMS (2009) desenvolveu uma lista que
preconiza a prevenção de infecção do local cirúrgico, a segurança
em anestesia, a melhora do trabalho em equipe, a comunicação
e, por fim, a mensuração do cuidado, por meio de indicadores de
processos e resultados da assistência.

Diante de Procedimentos Operacionais Padrões (POPs) de cada instituição, o


enfermeiro guiará a sua assistência e sua competência no setor, principalmente na
sala cirúrgica. O enfermeiro deve priorizar o atendimento de cirurgias de urgência ou
emergência, agendando, em seguida, as eletivas, em acordo com toda a equipe clínica
cirúrgica envolvida. A gestão faz parte das competências do enfermeiro também e não
deve passar despercebida. Checar o preparo pré-operatório e providenciar a vaga para a
sala de recuperação, antes da cirurgia, são pontos importantes.

De acordo com Gomes, Dutra e Pereira (2014, p. 8), “[...] o bom desempenho
do CC está diretamente condicionado ao bom gerenciamento e coordenação realizado
pelo enfermeiro, combinados ao bom estado de conservação dos materiais, instalações
físicas, equipe especializada e recursos tecnológicos”.

A Figura 11 apresenta uma sugestão de checklist para a cirurgia segura,


conforme a OMS (2009).

49
Figura 11 – Lista de Verificação de Segurança Cirúrgica

Fonte: OMS (2009, p. 1)

6 SALA DE RECUPERAÇÃO ANESTÉSICA


Na sala de recuperação, estão as mulheres que passaram por parto normal ou
cesariana, ou que estão em recuperação de outros procedimentos realizados no centro
obstétrico, e que necessitam de vigilância da Enfermagem nas primeiras horas.

Abrangendo o puerpério fisiológico de um parto normal, segundo Nené, Marques


e Batista (2016), há o regresso das alterações do útero ao fim de seis semanas após o
parto e, por isso, existem classificações do puerpério para melhorar a assistência em cada
estágio: o puerpério imediato, que conta do primeiro período entre o nascimento do bebê
até as primeiras 24 horas; o puerpério precoce, que é o tempo que decorre até o final da
primeira semana; e o puerpério tardio, que termina no final da sexta semana pós-parto.

Nesse sentido, há sinais e sintomas que a puérpera sente que estão relacionados a
involução uterina e todo o processo fisiológico do corpo antes de fechar as seis semanas de
puerpério. É importante atenção, principalmente, no período do puerpério imediato, pois é
nas primeiras 24 horas que pode haver maior risco de hemorragias pós-parto.

As contrações do útero no pós-parto fazem ele regressar ao que era antes e


permanecer contraído, evitando atonias uterinas e colaborando para a recuperação da
puérpera. Nené, Marques e Batista (2016) explicam que o útero expulsa conteúdos:

50
• Lóquios hemáticos: compostos por restos, eritrócitos e restos de trofoblastos,
podendo vir em pedaços de coágulos do primeiro e segundo dia pós-parto.
• Lóquios sero-hemáticos: a partir do quarto ou quinto dia pós-parto, com aspecto de
sangue envelhecido.
• Lóquios serosos: presentes no 10º dia pós-parto, com aspecto de muco espesso,
podendo durar até seis semanas pós-parto.

A avaliação dos lóquios pelo enfermeiro, na sala de recuperação, é de extrema


importância, no sentido de perceber a presença ou não dos coágulos que podem se formar
devido aos lóquios hemáticos, o cheiro, se há a ausência de odor fétido, descartando
possíveis infecções, e a intensidade desse sangramento.

ATENÇÃO
“A persistência de lóquios após quatro a seis semanas deverá fazer
suspeitar de uma infecção (endometrite), que apresenta em geral
cheiro desagradável/fétido” (NENÉ; MARQUES; BATISTA, 2016, p. 439).

Acerca dos cuidados de rotina no pós-parto imediato, Montenegro et al. (2014)


apresentam alguns:

• Colheita do sangue do cordão umbilical de acordo com protocolos


de incompatibilidade Rh e ABO;
Início imediato (antes da dequitadura) de perfusão ocitocina com
10 UI em 500 mL de soro polieletrolítico [...] se a grávida estiver
sem soros 10 UI de ocitocina IM;
• Aguardar até 1 hora após o nascimento pela dequitadura
espontânea, desde que a hemorragia seja escassa e exista
estabilidade hemodinâmica;
[...]
• Avaliação da formação do globo segurança e da hemorragia genital
cada 15 minutos nas primeiras 2h;
• Avaliação do pulso radial e PA cada 15 minutos com medidor
automático, nas primeiras 2h;
[...]
• Colocação do recém-nascido junto da mãe e início da amamentação
logo que possível (exceto se contraindicada);
• Remoção do cateter epidural 2h após o parto;
• Remoção do cateter de perfusão EV 2h após o parto, se não houver
prescrição de medicamentos por via EV;
• Passagem ao setor de puerpério 2 h após o parto (MONTENEGRO
et al., 2014, p. 211).

51
Com relação a algumas diferenças de cuidados assistenciais que o Ministério
da Saúde traz em suas diretrizes (BRASIL, 2017a), podemos citar: perceber os lóquios
e contrações uterinas, perceber as perdas urinárias se estão bem-sucedidas; e alguns
cuidados com o períneo, em caso de lacerações ou episiotomia, conforme o grau da
laceração, sendo necessário explicar à mulher o que será realizado, no caso, a sutura, e
ofertar a analgesia adequada para a realização do procedimento, quando são importantes
uma boa iluminação para o profissional que realiza o reparo do trauma, assim como
informações para a puérpera sobre cuidados e higiene no períneo.

ATENÇÃO
Sinais de alarme no pós-parto, segundo Nené, Marques e Batista
(2016), são: temperatura > 38 °C, pressão arterial alterada, hipo ou
hipertensão, pulso alterado, taquicardia ou bradicardia acentuada;
dor súbita e persistente; cefaleias; pele descorada, fria e viscosa;
nas mamas, rubor e calor; no útero, mole à palpação e acima do
umbigo após 24 horas pós-parto; sobre a perda sanguínea, se
houver, maior que 500 mL com odor fétido; edema no períneo e
desconfortos acentuados após sutura; retenção urinária, diarreia,
sinais de infecção na sutura abdominal, em caso de cesariana; sinal
de tromboflebite nos membros inferiores; náuseas e vômitos; fadiga
extrema e incapacidade para dormir.

No caso de recuperação de cesariana, será necessária maior atenção à puérpera,


visto que esta estará impossibilitada de se levantar do leito, devido ao tempo anestésico
após a cirurgia. Alguns cuidados de rotina no pós-parto cirúrgico são:

• Durante 4 primeiras horas após-cesariana, os sinais vitais devem


ser observados e registrados a cada 30 minutos, a seguir, a cada
hora e até 8h pós-cirurgia, quando então a avaliação passa a
ser feita de 4/4h, principalmente nas pacientes submetidas à
administração de morfina no bloqueio anestésico, pelo maior risco
de insuficiência respiratória.
• Durante as primeiras 12 horas pós-cesariana deve-se manter
hidratação venosa, generosa, mínimo de 2.000. Esta, além de
necessária para repor as perdas hidreletrolíticas, é uma medida
profilática da cefaleia pós-raque, conjuntamente com a utilização
de agulha finas para o bloqueio anestésico.
• Deve-se manter infusão venosa de ocitocina junto com a hidratação,
5 a 10 UI em cada soro, a fim de assegurar a contração uterina eficaz
e, consequentemente, diminuir o sangramento uterino.
• É frequente a incidência de enjoos, que costumam ser controlados
com bromoprida ou ondansetrona administrada por via venosa.
• A diurese é um ponto importante de observação, e tanto o
volume quanto a característica da urina (coloração) devem ser
rigorosamente observados. Com essa avaliação, é possível fazer
o balanço hídrico da paciente, e hematúria maciça pode indicar
lesão vesical.

52
[...]
• A deambulação assistida deve ser estimulada logo após a retirada
da sonda vesical, caso houver, assim como o banho de aspersão. O
caminhar precoce, em geral, após 12 h do procedimento cirúrgico,
acelera a retomada das funções intestinais e diminui a distensão
abdominal, além de prevenir tromboembolismo.
[...]
• O curativo deve ser retirado 24 horas após a cirurgia [...] a tendência
atual é não cobrir a cicatriz após esse período (MONTENEGRO;
REZENDE JUNIOR, 2016, p. 991-993).

IMPORTANTE
Caro acadêmico, independentemente da via de parto, devemos
assegurar o alojamento conjunto entre mãe e bebê, quando
condições de saúde estáveis de ambos, devido à importância da
criação de vinculação e da amamentação nas primeiras horas, pois
fazem diferença na vida materna e infantil. É responsabilidade do
enfermeiro garantir que esse momento aconteça de forma saudável.

53
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:

• O enfermeiro, na triagem obstétrica, tem como competências de rotina o acolhimento


mulher/casal e a realização da classificação de risco obstétrico, além de escutar as
queixas acerca do motivo da procura da instituição, aferir os sinais vitais, observar
sinais e sintomas específicos, e garantir a presença do acompanhante de escolha da
mulher após a internação.

• No pré-parto, o enfermeiro cuidará da assistência à mulher em trabalho de parto,


tanto na fase latente como na fase ativa, sendo de sua responsabilidade informar
a mulher/casal sobre métodos que auxiliam no alívio da dor e também na progressão
do trabalho de parto. A ausculta cardíaca fetal é um cuidado importante, que deve
ser realizado com Sonar Doppler a cada 30 minutos durante 1 minuto, no decorrer de
todo o trabalho de parto, devendo permanecer nos parâmetros normais entre 110 e
160 bpm, para garantir o bem-estar materno e fetal.

• Os cuidados de rotina, prestados na sala de partos pelo enfermeiro, devem ser


baseados em evidências científicas, sendo a ausculta cardíaca fetal, nesse momento,
de 5 em 5 minutos, visto que, no período expulsivo, há a compressão do polo cefálico
do feto. Deve haver também o encorajamento da parturiente para escolher a posição
que mais lhe agradar para o nascimento.

• O uso de Procedimentos Operacionais Padrões (POPs) e da Lista de Verificação de


Segurança Cirúrgica, dentro da sala cirúrgica, é necessário para uma assistência de
Enfermagem de qualidade, segurança e padronização do cuidado. Garantir a realização
de um procedimento ou cirurgia, conforme prioridades e emergências do momento
dentro do centro obstétrico, também é encargo do enfermeiro e da equipe clínica.

• É de extrema importância a vigília no pós-parto e pós-cesariana em sala de recuperação,


sendo cuidados de rotina desse local a observação da perda de sangue, os lóquios, o
globo de segurança de Pinard e os sinais vitais maternos.

54
AUTOATIVIDADE
1 Acerca do acolhimento e da classificação de risco obstétrico, que tem como objetivo
priorizar os atendimentos com mais urgência, conforme sinais, sintomas e queixas
da mulher, e das rotinas do enfermeiro na triagem obstétrica, quando realizado o A&CR
obstétrico, assinale a alternativa INCORRETA:

a) ( ) Chamar a mulher pelo nome, solicitando também a presença de um acompa-


nhante, caso seja desejo da paciente.
b) ( ) Registrar dados da classificação na ficha de atendimento, sinalizando, por meio
de cores, a classificação da mulher.
b) ( ) Não devem ser reclassificadas as pacientes quando forem identificadas
alterações pela equipe.
d) ( ) Supervisionar o trabalho do técnico/auxiliar de Enfermagem e do estagiário,
orientando corretamente quando necessário.

2 Considera-se que, segundo as Diretrizes nacionais de assistência ao parto normal


(BRASIL, 2017a), se a parturiente estiver com trabalho de parto estabelecido, ou seja,
com mais de 4 cm de dilatação e contrações efetivas, já pode ser admitida para
internação. Com base nas rotinas assistenciais de admissão da gestante, analise as
sentenças a seguir:

Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Diretrizes Nacionais de Assistência ao Parto Normal. Brasília:
Secretaria de Ciências, Tecnologia e Insumos Estratégicos, 2017a. Disponível em: http://twixar.me/RgQm.
Acesso em: 10 jul. 2022.

I- Deve-se perguntar sobre o plano de parto, se houver, sendo importante realizar


a leitura para saber expectativas e desejos do casal sobre o parto, registrar no
prontuário e informar à equipe.
II- A realização dos testes rápidos de HIV e VDRL é rotina na admissão no centro
obstétrico, bem como saber o tipo sanguíneo e o fator Rh materno, para casos de
profilaxia anti-D no pós-parto.
III- O procedimento de enema (limpeza intestinal) deve ser realizado em todas as
gestantes na admissão, junto à tricotomia (corte dos pelos pubianos), para evitar
possíveis infecções.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

55
3 Segundo as Diretrizes nacionais de assistência ao parto normal, do Ministério da
Saúde (BRASIL, 2017a), a vigilância do bem-estar materno fetal também se dá pela
avaliação da ausculta cardíaca fetal com o Sonar Doppler ou com o aparelho de
Pinard, sendo a monitoração da vitalidade fetal um dos cuidados principais nas salas
de partos, para garantir a saúde do feto. Diante disso, classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:

Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Diretrizes Nacionais de Assistência ao Parto Normal. Brasília:
Secretaria de Ciências, Tecnologia e Insumos Estratégicos, 2017a. Disponível em: http://twixar.me/RgQm.
Acesso em: 10 jul. 2022.

( ) É recomendada a cardiotocografia contínua durante todo o período do trabalho de


parto em gestantes de alto e baixo risco.
( ) O parâmetro normal, para a frequência cardíaca fetal, é de 110 a 160 bpm, sendo
alguns sinais de aceleração positivos, porém sinais de desacelerações devem ser
observados com alerta.
( ) A ausculta cardíaca fetal pode ser vista de 30 em 30 minutos no período expulsivo,
conforme as recomendações.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 A organização da sala cirúrgica é de responsabilidade do enfermeiro do setor, sendo


importante lembrar que as competências da Enfermagem vão além da assistência;
a gerência também faz parte do cuidado de rotina, assim como, por exemplo, a
provisão, a previsão e o controle de materiais na sala cirúrgica são cuidados de rotina
gerenciais que o enfermeiro deve ter. Diante disso, disserte sobre outras rotinas que
o enfermeiro deve realizar na sala cirúrgica obstétrica.

5 No puerpério imediato, deve-se ter uma grande atenção a todos e quaisquer sinais da
mulher que não estejam estáveis, em todos os sistemas corporais, evitando possíveis
riscos maternos desencadeados por hemorragias, infecções e entre outras condições
que levam ao risco da puérpera. A vigilância adequada em sala de recuperação pode
evitar morbidades maternas. Nesse contexto, disserte sobre os principais cuidados
do enfermeiro na sala de recuperação com uma puérpera de parto normal e de cesariana.

56
UNIDADE 1 TÓPICO 4 —
ASSISTÊNCIA IMEDIATA AO
RECÉM-NASCIDO

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, abordaremos temas importantes sobre a assistência imediata
feita ao recém-nascido, no centro obstétrico. Essa etapa é fundamental para aplicar
os cuidados adequados ao recém-nascido, para reduzir os índices de mortalidade infantil.
Segundo o Ministério da Saúde, a mortalidade neonatal é responsável por quase 70% das
mortes no primeiro ano de vida. Nesse sentido, revisitar, praticamente, o guia, elaborado
pelo Ministério da Saúde, para os profissionais da saúde, com o título na Atenção à
Saúde do Recém-Nascido (BRASIL, 2014) e as diretrizes da Sociedade Brasileira de
Pediatria (SBP) (ALMEIDA; GUINSBURG, 2022).

Veremos a importância do profissional da Enfermagem no momento do pós-


parto imediato, quando se inicia o atendimento ao recém-nascido, para que ele nasça
sem intercorrências. O atendimento humanizado, ainda na primeira hora de vida, pode ser
realizado com atividades simples, como o clampeamento tardio do cordão, a colocação do
recém-nascido em contato, pele a pele, com a mãe e o estímulo ao aleitamento materno.

Compreenderemos a relevância da avaliação das condições do nascimento e,


nesse sentido, falaremos sobre a Escala de Apgar, cuja aferição permite avaliar a resposta
do recém-nascido ao nascer. Embora a maioria dos recém-nascidos nasça com boa
vitalidade, manobras de reanimação podem ser necessárias, de maneira inesperada.
Assim, são essenciais os conhecimentos e a habilidade em reanimação e, por isso,
abordaremos também a reanimação neonatal em sala de parto.

2 AVALIAÇÃO DO RECÉM-NASCIDO
Após o nascimento, a adaptação a vida extrauterina do recém-nascido deve
ser conduzida, de forma a minimizar traumas externos, podendo serem tomados alguns
cuidados para fazer dessa adaptação, ao mundo exterior, um período tranquilo e positivo
para o bebê e também para a família. O enfermeiro mostra-se um grande agente nesse
meio, sendo necessário o apoio e ter uma visão integral não apenas dos procedimentos
realizados, mas percebendo a real importância do cuidado com esse bebê e o impacto
que essa atenção e assistência humanizada terá para o seu desenvolvimento (NENÉ;
MARQUES; BATISTA, 2016).

57
A promoção do envolvimento dos pais, ainda em sala de parto, logo após o
nascimento, é essencial e, por isso, a flexibilização de alguns cuidados, realizados
pelo enfermeiro, pode ser importante nesse momento especial da primeira hora após
nascimento. Nené, Marques e Batista (2016) ainda explicam que permitir que essa
família olhe, cheire e ouça o bebê, e realize o contato pele a pele com a mãe, motivando
a presença do pai, promove uma boa relação futura entre essa família.

INTERESSANTE
Caro acadêmico, saiba que o tipo de assistência, já em sala
de parto, do profissional enfermeiro ao recém-nascido, pode
interferir, de forma positiva ou negativa, na criação de vínculo
com a família, principalmente com a mãe. Por isso, é necessário
prestar cuidados baseados em evidências científicas e que
tragam benefícios, tranquilidade e segurança para a adaptação
extrauterina desse bebê.

Para uma boa atuação nesse meio, o enfermeiro deve, primeiramente, validar
algumas informações sobre a gestação:

• Vigilância pré-natal (consultas e exames).


• História da gravidez (evolução, doenças, medicação, drogas
usadas).
• Aspectos psicossociais do parto (preparação para o parto, suporte
emocional durante o trabalho de parto, o envolvimento familiar, a
comunicação estabelecida entre a equipe de saúde, a parturiente e
o acompanhante durante o parto).
• Antecedentes materno e paternos (do recém-nascido) (NENÉ;
MARQUES; BATISTA, 2016, p. 486).

Com essas informações o enfermeiro ficará mais seguro, antecipando determi-


nadas situações de acordo com as informações ante natais.

2.1 OS CUIDADOS INICIAIS AO RÉCEM-NASCIDO


Assim que o parto acontece, como vimos nos tópicos anteriores, após a expulsão
do bebê, este deve vir para o colo da mãe, realizar o contato pele a pele e manter a
temperatura e o calor corporal, evitando possível hipotermia neonatal. Isso acontece,
concomitantemente, com a avaliação inicial do pediatra que está em sala de parto ou o
profissional de plantão, responsável, no momento, pelo cuidado e pela vigília ao recém-
nascido. Essa avaliação inicial pode, inclusive, ser realizada no colo da mãe.

58
Um dos passos mais simples e também importantes, nesse período, é a anotação
da hora de nascimento e a identificação do recém-nascido com os dados importantes,
como data, hora do nascimento, nome da mãe e sexo do recém-nascido, o que irá
depender dos protocolos de cada instituição.

Sobre o contato pele a pele, é importante ressaltar que a OMS (WHO, 2018, p.
163) traz como recomendação que “Recém-nascidos sem complicações devem ser
mantidos em contato pele a pele (SSC) com suas mães durante a primeira hora após o
nascimento para prevenir a hipotermia e promover a amamentação”.

Além disso, de acordo com as evidências mostradas pela OMS (WHO, 2012), nas
recomendações para a gestão de condições comuns da infância, além do benefício
para a amamentação, o contato pele a pele entre recém-nascido e mãe está associado
a um aumento na sobrevida dos recém-nascidos, compactuando com a diminuição da
mortalidade neonatal.

A primeira hora de vida do recém-nascido é um período sensível,


chamado na literatura como “hora sagrada”, ou “hora de ouro”, onde
o mesmo encontra-se tranquilo, com os olhos abertos e receptivo
ao meio externo, ideal para iniciar a interação com a mãe. Ao ser
colocado no tórax materno imediatamente após o parto, o recém-
nascido, por meio de reflexos e estímulos olfativos é capaz de localizar
o mamilo da mãe e iniciar o processo do aleitamento. Estes estímulos
sensoriais, como o toque e o odor, promovem a liberação de ocitocina
materna, que além de auxiliar na prevenção de hemorragias, estimula
o instinto materno de proteção ao recém-nascido e contribui para a
ejeção do colostro (HOLZTRATTNER et al., 2021, p. 2).

A amamentação, na primeira hora de vida, é uma prática recomendada pela


OMS (WHO, 2022), que ainda salienta a necessidade de auxiliar esse estímulo também
com os bebês com baixo peso ao nascer, vistos os inúmeros benefícios do aleitamento
materno para o recém-nascido e também para a mãe. Isso deve ser realizado quando
ambos estiverem clinicamente estáveis.

Alguns autores, como Silva et al. (2018), trazem os benefícios da amamentação


na sala de parto, que são: melhora da adaptação do bebê a vida extrauterina, regulação
da glicemia, regulação do sistema cardiorrespiratório e também térmico. A mãe também
se beneficia quando o bebê suga, por ser estimulada a produção de ocitocina e prolactina,
além de auxiliar na contração uterina mantendo o globo de segurança, produzindo ainda
mais leite no organismo, favorecendo a continuidade de um aleitamento materno saudável.

Mundialmente, existe um projeto chamado “Hospital amigo da criança”, criado


pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância, em parceria com a OMS, que tem como
objetivo recomendar os dez passos para o sucesso da prática do aleitamento materno. Um
desses passos é colocar o recém-nascido em contato imediato, após o parto, no colo de
sua mãe por, no mínimo, 1 hora, até que sejam necessárias as primeiras avaliações do
bebê dentro do centro obstétrico.

59
Ainda relacionando as boas práticas do nascimento com as rotinas do centro
obstétrico, o clampeamento do cordão umbilical também é um momento significativo
para o bebê, além de ser especial quando o enfermeiro envolve o acompanhante nesse
momento, como, na realização do corte do cordão, ao ofertar ao pai que realize o corte, se
criança estiver estável após o nascimento.

IMPORTANTE
Acadêmico, saiba que vários estudos apontam o benefício do clam-
peamento em tempo oportuno do cordão umbilical, não devendo
ser realizado o clampeamento imediato após o nascimento, se
recém-nascido em bom estado geral.

A OMS (WHO, 2018) recomenda o clampeamento do cordão umbilical não


menos do que um minuto após o parto. A SBP (ALMEIDA; GUINSBURG, 2022) explica
que, na literatura, há várias definições de tempo, mas o mínimo seriam 60 segundos
até alguns minutos após parar de pulsar. Isso facilita a transição cardiorrespiratória
do recém-nascido após o parto, além da concentração de hemoglobina e ferritina do
recém-nascido, podendo reduzir anemia do lactente. Essa recomendação é vedada
caso o recém-nascido não comece a respirar logo após o nascimento, sendo necessário
clampeamento imediato para a realização de uma assistência de reanimação. O
Ministério da Saúde (BRASIL, 2014) recomenda que, após esse clampeamento do cordão,
o recém-nascido deve ficar sobre o abdome no colo materno.

Nesse tempo, é importante salientar que o profissional responsável, podendo


ser pediatra ou quem assiste/realiza o parto, deve avaliar a vitalidade do recém-nascido
ao nascer, para a aplicação da Escala de Apgar (Figura 12), que, segundo Nené, Marques
e Batista (2016), é uma forma de sistematizar o período de transição do recém-nascido
e indicar a necessidade de cuidados para esse bebê, sendo o valor mínimo da escala
0 e o máximo 10. Assim, se o escore estiver entre 7 e 10, é sinal de que não houve
dificuldade do recém-nascido para se adaptar à vida extrauterina; se o escore for de 4 a
6, demonstra que houve um grau moderado; e, se for 0 a 3, é grave.

O boletim de Apgar é determinado no 1º e 5º minutos após a extração


completa do produto conceptual do corpo da mãe, mas não é
utilizado para indicar procedimentos na reanimação neonatal. Sua
aplicação permite avaliar retrospectivamente a resposta do paciente às
manobras realizadas. Se o Apgar é <7 no 5º minuto, recomenda-se
realizá-lo a cada cinco minutos, até 20 minutos de vida. É necessário
documentar o escore de Apgar de maneira concomitante à dos
procedimentos de reanimação executados (ALMEIDA; GUINSBURG,
2022, p. 11).

60
ATENÇÃO
São pontos avaliados na Escala de Apgar: frequência cardíaca, respiração,
tônus muscular, cor e a irritabilidade reflexa.

Figura 12 – Escala de Apgar ampliada

Fonte: Almeida; Guinsburg (2022, p. 38)

Nené, Marques e Batista (2016) apresentam orientações quanto à execução dos


cuidados imediatos que devem ser prestados na sala de parto, após o nascimento do
bebê, nas duas primeiras horas que seguem o parto. O Quadro 1 resume, para melhor
fixação, esses cuidados direcionados à Enfermagem.

61
Quadro 1 – Cuidados imediatos ao recém-nascido

Orientações de cuidados imediatos após expulsão do recém-nascido

Preparar e verificar o material necessário para a apresentação de cuidados imediatos ao


recém-nascido.

Coletar informação.
Utilizar luvas de proteção para cuidar do recém-nascido.
Verificar a hora exata do nascimento.
Receber o recém-nascido em um campo, previamente aquecido, de preferência que seja
macio.
Proceder ao clampeamento definitivo do cordão umbilical, conforme recomendações.
Se a condição geral do recém-nascido não permitir, o clampeamento deve ser imediato.
Cortar o cordão com tesoura esterilizada.
Posicionar o recém-nascido no colo da mãe.

Secar o recém-nascido com movimentos suaves, com estimulação tátil, tendo o cuidado de
manter a cabeça coberta.

Substituir o campo por panos novos e aquecidos.


Avaliar o índice de Apgar.
Identificar o recém-nascido, conforme protocolo da instituição.
Fomentar o processo de vinculação através do contato pele a pele, quando recém-nascido
estável.
Após recomendações do período de contato pele a pele, transportar o recém-nascido para o
posto de cuidados o bebê, colocá-lo sob fonte de calor.
Posicionar o recém-nascido em decúbito dorsal.
Aspiração, somente se necessário, conforme recomendações e avaliações clínicas.
Realizar a observação inicial, para detectar malformações externas ou outros indicadores
passíveis de influenciar a evolução neonatal.
Administrar 1 mg de vitamina K, por via intramuscular, no terço médio do músculo vasto lateral
da coxa esquerda.
Administrar método Credé em região ocular.
Pesar e realizar as medidas antropométricas.

Dar banho com água corrente apenas em situações de suspeita ou confirmação de infecção
materna, conforme protocolo hospitalar.

Colocar fralda. Manter o coto umbilical exterior a fralda.


Vestir o recém-nascido com roupa previamente aquecida.
Envolver o recém-nascido numa manta quente.
Estimular a amamentação.
Registrar todos os procedimentos.

Fonte: adaptado de Nené; Marques; Batista (2016)

62
Alguns cuidados específicos citado acima, ainda não expomos nos nossos
estudos, como a administração da vitamina K, 1 mg, intramuscular no recém-nascido,
ela serva para prevenção do sangramento por deficiência de vitamina K, é uma profilaxia
da doença hemorrágica do recém-nascido, e é recomendado pela OMS (2018), com
fortes evidências científicas mostrando o seu benefício quando realizada em sala de
partos, ainda há a possibilidade da aplicação enquanto o bebê segue no colo materno e
durante a amamentação, evitando maiores incômodos e traumas.

A administração do método Credé, conhecido como prevenção de oftalmia do


recém-nascido, é realizada com nitrato de prata, conforme as diretrizes do Ministério da
Saúde (BRASIL, 2014) ou com Iodopovidona (PVPI), com ação antisséptica, na qual deve
ser aplicada 1 gota em cada globo ocular. “A conjuntivite neonatal ou oftalmia neonatal
é definida como uma conjuntivite purulenta do recém-nascido (RN), nas primeiras quatro
semanas de vida (28 dias), usualmente adquirida durante o seu nascimento, a partir do
contato com secreções genitais maternas contaminadas” (SBP, 2020, p. 1). Portanto,
apenas deveria ser administrado em gestantes com infecção genital de gonorreia.

Essa prática, de forma rotineira, está sendo questionada em países de renda


alta, segundo a SBP (2020), devido ao nível alto de assistência pré-natal e ao acesso
a testes rápidos, porém, no Brasil, não existem dados oficiais de ocorrência da conjuntivite
neonatal. Entretanto, ainda há estudos que comprovam a alta prevalência de mulheres
brasileiras com infecção genital por Chlamydia trachomatis e gestantes com Neisseria
gonorrhoeae, a grande maioria sem sintomas. Nesse sentido, a profilaxia neonatal, no
Brasil, é ainda recomendada pelo Ministério da Saúde e pelo Departamento Científico de
Neonatologia da SBP.

2.2 O EXAME FÍSICO DO RECÉM-NASCIDO


A observação física inicial do recém-nascido deve ser feita de forma cuidadosa
e com respeito, devendo o profissional manter comunicação com o recém-nascido e
com o acompanhante: “a avaliação implica uma revisão dos vários sistemas, mas a
inspeção visual é concomitante à prestação de cuidados e à execução das técnicas de
auscultação do tórax, palpação e manipulação do recém-nascido” (NENÉ; MARQUES;
BATISTA, 2016, p. 488).

O Ministério da Saúde (BRASIL, 2014) frisa que o exame físico deverá ser
realizado após algumas horas, de preferência, antes de o recém-nascido completar 12
horas de vida e reforça a presença dos pais nesse momento, assim como a relação entre o
profissional da saúde e a família, para informar e esclarecer as dúvidas dos pais. “Como
regra, o RN como um todo ou em seus segmentos corporais admite um exame que vai do
externo para o interno e no sentido crânio-caudal. Inspeção, palpação e ausculta devem
ser aplicados nos diversos segmentos examinados” (BRASIL, 2014, p. 58).

63
INTERESSANTE
Acadêmico, saiba perceber as oportunidades, ao examinar o
recém-nascido, como a facilidade da verificação de sinais vitais
quando o recém-nascido está dormindo; por isso, é preciso ser
flexível nesse momento e aproveitar as oportunidades à medida
que elas surgem.

IMPORTANTE
Em geral, o recém-nascido apresenta uma atividade ativa, e choro
forte e variável é sinal positivo; a postura, normalmente, é simétrica
e fletida, igual à fetal. É importante estar atento a malformações,
sinais de angústia respiratória, assimetria postural, fraturas,
infecções, gemência e choro agudo.

Nené, Marques e Batista (2016) trazem o exame físico inicial do recém-nascido


dividido em sistemas:

• Sistema sensitivo: observação dos olhos, do palato, da permeabi-


lidade nasal.
• Sistema neurológico: avaliação da atividade global, validando
o movimento das extremidades e a sua simetria; verificação do
tónus muscular, dos reflexos se sucção, rotação, moro e preensão
palpação da fontanela anterior e posterior.
• Sistema cardiorrespiratório: auscultação do ápex cardíaco para
avaliar a frequência cardíaca (120 a 160pbm), ritmo, tons cardíacos
e presença de sons anómalos; avaliação dos pulsos bilateralmente;
avaliação das características da respiração (predominantemente
abdominal), FR (40-60 ciclos respiratórios por minuto), verifica, na
auscultação, a simetria dos sons respiratórios, observar a simetria
da expansão torácica.
• Sistema gastrointestinal: observação das características do abdo-
me, e a ausência de anomalias, auscultação dos sonos intestinais;
verificação do número de vãos do cordão umbilical (duas artérias
e uma veia).
• Sistema geniturinário: observação das características sexuais
externas do recém-nascido e qualquer anomalia da genitália;
verificação da perfuração do ânus.
• Pele: observação da coloração da pele e das suas características
(descamação ou falta de gordura subcutânea como indicador da
maturidade), observação da presença de manchas de mecónio
no cordão umbilical, na pele e unhas das mãos; observação do
cumprimento das unhas e as pregas plantares; validação da
integridade cutânea (NENÉ; MARQUES; BATISTA, 2016, p. 488).

64
O Ministério da Saúde (BRASIL, 2014) relata que alguns achados são comuns
na pele, como presença de milium, lanugo, vérnix e mancha mongólica, que não têm
repercussão clínica, devendo ser explicada a fisiologia da apresentação desses achados
aos familiares. O milium corresponde a pequenos pontos brancos, localizados na base
do nariz, no queixo e na fronte, isto é, pois acontece a obstrução de algumas glândulas
sebáceas, sem a necessidade de intervenções, pois desaparecem após semanas.

O lanugo é a presença de pelos pequenos e finos, que, geralmente, estão


na região dos ombros e das escápulas, e, quando o recém-nascido é prematuro, é
observado em grande quantidade, também caindo e desaparecendo em poucos dias.
O vérnix é aquela camada de gordura esbranquiçada na pele do recém-nascido e, por
vezes, em prematuros, observa-se a presença do vérnix caseoso em grande quantidade,
cujo objetivo é a proteção da pele e o isolamento térmico, podendo ser observado mais
nas dobras dos recém-nascidos a termo, não havendo a necessidade de limpá-lo, pois
a própria pele do recém-nascido o absorve com o tempo. Já a mancha mongólica
são manchas azuis acinzentadas, que estão localizadas no dorso e na região glútea
e lombossacral, sendo um sinal de imaturidade da pele na migração dos melanócitos,
também estando associados à raça do recém-nascido, comuns em raças negras.

IMPORTANTE
A presença de icterícia no recém-nascido deve ser avaliada,
caracterizada pela pele amarelada, que decorre da impregnação
por bilirrubina. É comum observar a icterícia fisiológica entre 48 e
120 horas após o nascimento. Quando observada nas primeiras
24 horas, é necessário investigar, pois pode ficar intensa e ser
classificada como patológica.

Durante o exame físico de ossos e articulações, existe uma manobra muito


realizada pelos pediatras, chamada de manobra de Ortolani. Segundo o Ministério da
Saúde (BRASIL, 2014), essa manobra é realizada para perceber a articulação coxofemoral,
se há ou não presença de displasia do desenvolvimento do quadril. A criança é colocada
em decúbito dorsal, seguram-se os membros inferiores com joelhos, dobras e quadris
fletidos, para, a partir disso, fazer uma abdução das coxas com leve pressão nos joelhos,
repetindo a manobra para os dois lados e percebendo se há um clique, visto que, quando
existe uma instabilidade coxofemoral, durante essa manobra, o clique se faz presente,
pois a cabeça do fêmur se encaixa no fundo do acetábulo.

65
Outra atenção, durante o exame físico, é o crânio, devendo-se observar e palpar as
fontanelas, para perceber abaulamentos que sugerem aumento da pressão intracraniana,
situação presente em casos de meningite, hidrocefalia, edema cerebral ou hemorragia
intracraniana, conforme as explicações do Ministério da Saúde (BRASIL, 2014). Há também
a presença ou não da bossa, que é um edema nas partes moles do crânio, decorrente
do parto e que é depressível e regride nos primeiros dias após o parto. Ainda no crânio, o
perímetro é importante em recém-nascido a termo e varia entre 33 e 37 cm.

ATENÇÃO
A inspeção do coto umbilical deve ser realizada nesse momento,
que, inicialmente, tem aspecto gelatinoso e se mumifica após o 4º
dia de vida, aproximadamente, caindo até o 15º dia de vida. Deve-
se observar a presença de secreções na base do coto e eritema da
pele ao redor da implantação, que são sinais de alerta. A presença
de duas artérias e uma veia também deve ser observada.

2.3 OS REFLEXOS PRIMITIVOS


Habitualmente, deve ser percebida a presença dos reflexos do recém-nascido.
Os reflexos primitivos trazem informações importantes de como está a saúde do bebê,
sendo uma resposta motora involuntária a um estímulo externo. A palavra primitiva
é usada por que esses reflexos estão presentes desde antes do nascimento e ficam
presentes até 6 meses de vida, segundo as informações do Ministério da Saúde (BRASIL,
2014). Não há a necessidade de avaliar todos esses reflexos no exame físico, porém,
como enfermeiro do centro obstétrico, é importante conhecer a sua existência, para
perceber se o recém-nascido segue em bom estado de saúde na sala de partos.

Em seguida, abordaremos alguns deles, conforme mostrado na cartilha de


Atenção à Saúde do Recém-Nascido, do Ministério da Saúde (BRASIL, 2014):

• Reflexo de sucção: manifesta-se quando os lábios da criança são tocados por alguma
coisa e, então, ocorre movimentos de sucção dos lábios e da língua do recém-
nascido.
• Reflexo de preensão: é a preensão palmoplantar, em que é realizada uma pressão na
palma da mão e abaixo dos dedos dos pés.
• Reflexo de marcha: onde se apoia a região plantar, segurando-se a criança pelas
axilas em pé, observando o movimento de extensão das pernas e também marcha
reflexa.
• Reflexo cutâneo-plantar: quando se faz o estímulo na planta do pé, a partir do
calcâneo até nos artelhos, e, então os dedos do recém-nascido fazem postura de
extensão.

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• Reflexo de Moro: um dos reflexos mais importantes, pois a sua ausência pode indicar
lesões nervosas, musculares e ósseas. A partir de um estímulo brusco, como bater
palmas ou esticar bruscamente o lençol que o recém-nascido está deitado ou soltar os
braços semiesticados; a partir desse estímulo, é percebida uma resposta de extensão-
abdução dos membros superiores, em que os braços ficam estendidos e abertos, junto
aos dedos das mãos, e, após isso, ocorre um retorno dos braços à posição original.
• Reflexo de voracidade: é o reflexo de procura, geralmente, quando algo chega perto
da boca ou ao lado do recém-nascido, este procura para o mesmo sentido.
• Reflexo de fuga à asfixia: é avaliado com o recém-nascido em decúbito ventral no
leito, com a face voltada para o colchão; durante esses segundos, o recém-nascido
deve virar o rosto, liberando o nariz para respirar.

Há muitos outros reflexos, mas que são menos frequentes durante o exame físico
do recém-nascido, como o reflexo de Magnus e de Kleijn, o reflexo dos olhos de boneca,
o reflexo de Babkin e os reflexos tendinosos e patelares.

ATENÇÃO
Caro acadêmico, o registro no prontuário eletrônico ou manual
deve ser realizado, bem como o registro na caderneta da criança,
de forma adequada, contendo todas as medidas antropométricas,
peso, cuidados iniciais, hora e data do nascimento, nota Apgar,
realizados pelos profissionais presentes no parto, nos cuidados
iniciais e nos reflexos presentes.

3 REANIMAÇÃO NEONATAL
Acadêmico, você sabia que são os primeiros minutos que decidem a vida de
um recém-nascido? É um momento determinante para a avaliação imediata após o
nascimento, sendo essencial a observação para antecipar a necessidade de uma
reanimação neonatal – por isso, a importância da capacitação de toda a equipe. Nesse
contexto, o enfermeiro tem grande responsabilidade para o sucesso da reanimação do
bebê, reduzindo, assim, as taxas de mortalidade neonatal relacionadas a esses tipos de
eventos em sala de parto.

67
INTERESSANTE
“Ao nascimento, cerca de 2 RN [recém-nascidos] em cada 10 não
choram ou não respiram; 1 RN em cada 10 precisa de ventilação com
pressão positiva; 1-2 em cada 100 requerem intubação traqueal; e
1-3 RN em cada 1.000 necessitam de reanimação avançada, ou seja,
ventilação acompanhada de massagem cardíaca e/ou medicações
[...]” (ALMEIDA; GUINSBURG, 2022, p. 5).

De acordo com os dados expostos pela SBP (ALMEIDA; GUINSBURG, 2022, p.


5), “Estima-se que, no Brasil, a cada ano, ao redor de 500.000 crianças necessitem
de ajuda para iniciar e manter a respiração ao nascer”, isto é, um valor alto comparado
aos outros países em desenvolvimento. Nesse sentido, a SBP publicou as diretrizes
de Reanimação do recém-nascido ≥ 34 semanas em sala de parto, cujas práticas de
reanimação se baseiam no International Liaison Committee on Resuscitation (ILCOR) –
Neonatal Life Support Task Force, em que neonatologistas do mundo inteiro realizaram
revisões sistemáticas sobre o tema, para garantir práticas atualizadas e baseadas em
evidências científicas (ALMEIDA; GUINSBURG, 2022).

DICA
Acadêmico, o documento da SBP é disponibilizado em meio
eletrônico e vale a pena realizar a sua leitura, visto a importância
de sempre estarmos atualizados em nossas práticas assistenciais
em sala de parto. Acesse: http://twixar.me/2gQm.

IMPORTANTE
Você sabe quantos profissionais são necessários para o suporte de
reanimação do recém-nascido em sala de parto? Segundo a SBP
(ALMEIDA; GUINSBURG, 2022), pelo menos dois ou três profissionais
capacitados e aptos a reanimar o recém-nascido, de forma ágil e
adequada, com um médico presente, de preferência pediatra, para
a realização da intubação orotraqueal, e também para indicar a
massagem e as medicações específicas.

68
Em todo parto de baixo risco, deve-se ter um profissional responsável pelo recém-
nascido, para avaliação inicial e que também esteja capacitado para reanimação imediata,
caso seja necessária. A SBP indica sempre a presença de um pediatra na sala de parto, em
todos os nascimentos, garantindo, assim, a qualidade da assistência ao recém-nascido.
Nené, Marques e Batista (2016) afirmam que existem alguns fatores, observados já no
pré-natal da mãe e também durante o parto, que podem conduzir a necessidade de uma
reanimação do recém-nascido, como pode ser observado no Quadro 2.

Quadro 2 – Condições associadas à necessidade de reanimação do recém-nascido

Fatores pré-natais Fatores do parto


• Idade < 16 anos ou > 35 anos. • Parto cesáreo.
• Diabetes. • Uso de fórcipe ou extração a vácuo.
• Síndromes hipertensivas. • Apresentação não cefálica.
• Doenças maternas. • Trabalho de parto prematuro.
• Infecção materna. • Parto taquitócico.
• Aloimunização ou anemia fetal. • Corioamnionite.
• Uso de medicações. • Rotura de membranas > 18 horas.
• Uso de drogas ilícitas. • Trabalho de parto > 24 horas.
• Óbito fetal ou neonatal anterior. • Segundo estágio do parto > 2 horas.
• Ausência de cuidados pré-natal. • Padrão anormal de frequência cardíaca
• Idade gestacional < 39 ou > 41 semanas. fetal.
• Gestação múltipla. • Anestesia geral.
• Rotura prematura das membranas. • Hipertonia uterina.
• Polidrâmnio ou oligoâmnio. • Líquido amniótico meconial.
• Diminuição da atividade fetal. • Prolapso ou rotura ou nó verdadeiro de
• Sangramento no 2º ou 3º trimestre. cordão.
• Discrepância de idade gestacional e peso. • Terapia materna com sulfato de magnésio.
• Hidropsia fetal. • Uso de opioides 4 horas anteriores ao
• Malformação fetal. parto.
• Descolamento prematuro de placenta.
• Placenta prévia.
• Sangramento intraparto significativo.

Fonte: Almeida; Guinsburg (2022, p. 6)

Antes do atendimento, é ainda indicada a realização de um “briefing” da equipe,


para organizar os passos e as responsabilidades de cada um durante a reanimação.
Nesse briefing, a SBP (ALMEIDA; GUINSBURG, 2022) explica que há algumas ações que
devem ser organizadas, como a preparação do material necessário para reanimação
e, inclusive, o teste de funcionalidade de todos, estando disponíveis para fácil acesso
instrumentos durante a reanimação.

Caro acadêmico, é de extrema importância que todos os materiais estejam


disponíveis para a reanimação. No Quadro 3, é possível perceber, de maneira mais clara, a
relação dos materiais necessários para a reanimação do recém-nascido em sala de parto.

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Quadro 3 – Materiais para reanimação do recém-nascido

Sala com temperatura 23-25 °C.


Mesa de reanimação com acesso por três lados.
Na sala de Fonte de oxigênio umidificado com fluxômetro e fonte de ar comprimido.
reanimação Blender para mistura oxigênio/ar.
Aspirador a vácuo com manômetro.
Relógio de parede com ponteiro de segundos.
Fonte de calor radiante.
Termômetro ambiente digital.
Material para Campo cirúrgico e compressas de algodão estéreis.
manutenção de Saco de polietileno de 30 × 50 cm para prematuro.
temperatura Touca de lã ou algodão.
Colchão térmico químico 25 × 40 cm para prematuro < 1.000 g.
Termômetro clínico digital.
Estetoscópio neonatal.
Material para Oxímetro de pulso com sensor neonatal.
avaliação Monitor cardíaco de três vias com eletrodos.
Bandagem elástica para fixar o sensor do oxímetro e os eletrodos.
Sondas: traqueais nº 6 e 8 e gástricas curtas nº 6 e 8.
Material para Conexão de látex ou silicone para conectar sonda ao aspirador.
aspiração Dispositivo para aspiração de mecônio.
Seringas de 10 mL.
Reanimador manual neonatal (balão auto inflável com volume ao redor
de 240 mL, reservatório de O2 e válvula de escape com limite de 30-40
cmH2O e/ou manômetro).
Material para
Ventilador mecânico manual com peça T com circuitos próprios.
ventilação
Máscaras redondas com coxim para recém-nascido de termo, prematuro
e prematuro extremo.
Máscara laríngea para recém-nascido nº 1.
Laringoscópio infantil com lâmina reta nº 00, 0 e 1.
Cânulas traqueais sem balonete, de diâmetro interno uniforme 2,5/3,0/3,5
Material para
e 4,0 mm.
intubação
Material para fixação da cânula: fita adesiva e algodão com soro fisiológico.
traqueal
Pilhas e lâmpadas sobressalentes para laringoscópio.
Detector colorimétrico de CO2 expirado.
Adrenalina diluída a 1mg/10 mL em uma seringa de 5,0 mL para
administração única endotraqueal.
Medicações Adrenalina diluída a 1mg/10 mL em uma seringa de 1,0 mL para
administração endovenosa.
Expansor de volume (soro fisiológico) em duas seringas de 20 mL.
Campo esterilizado, cadarço de algodão e gaze.
Pinça tipo Kelly reta de 14 cm e cabo de bisturi com lâmina nº 21.
Material para
Porta agulha de 11cm e fio agulhado mononylon 4.0
cateterismo
Cateter umbilical 3,5F e 5F de PVC ou poliuretano de lúmen único.
umbilical
Torneira de três vias e seringa de 10 mL.
Soro fisiológico para preencher o cateter antes de sua inserção.
Luvas e óculos de proteção individual para os profissionais de saúde.
Gazes esterilizadas de algodão, álcool etílico/solução antisséptica.
Outros Cabo e lâmina de bisturi.
Tesoura de ponta romba e clampeador de cordão umbilical.
Agulhas para preparo da medicação.

Fonte: Almeida; Guinsburg (2022, p. 36)

70
Geralmente, os cuidados básicos prestados a todos os recém-nascidos em
sala de parto, segundo Nené, Marques e Batista (2016), já são suficientes para que não
haja complicações e uma possível reanimação: manter o bebê seco e aquecido, ou
pele a pele com a mãe com campo aquecido sobre eles, ou sob fonte de calor, deixar
a cabeça posicionada de forma que as vias áreas permaneçam abertas e limpar com
pano ou aspirar se caso for necessária a via área superior. Para a SBP, “A aspiração
de vias aéreas não deve ser realizada de rotina e, sim, reservada somente ao recém-
nascido com excesso de secreções nas vias áreas” (ALMEIDA; GUINSBURG, 2022, p. 8).
Esses cuidados já bastam, na maioria das vezes, para manter o recém-nascido saudável
durante seus primeiros minutos de vida.

Quando esses cuidados básicos ao recém-nascido não o estabilizarem, prova-


velmente, será necessário um outro método de estabilização e/ou reanimação. A SBP
(ALMEIDA; GUINSBURG, 2022) explica que o recém-nascido, acima de 34 semanas, não
demonstra choro ou movimentos respiratórios regulares, não tem tônus muscular e, em
geral, não apresenta uma boa vitalidade, devendo ser conduzido para a sala de reanimação,
para iniciar a estabilização desse recém-nascido. Essa estabilização engloba a manutenção
da temperatura, para diminuir a perda de calor, ligando as fontes de calor radiante, e
esse bebê não deve ser transportado até a sala de reanimação sem campos aquecidos
em volta dele. Deve ser posicionado em decúbito dorsal, com a cabeça voltada para o
profissional, e realizada a secagem adequada do bebê, a qual já proporciona certo estímulo
tátil e pode ajudar na transição da respiração.

ATENÇÃO
A fonte de calor é de extrema importância para o recém-nascido,
que necessita de estabilização, porém é necessário cuidado para
evitar hipertermia, uma temperatura maior que 37,5 °C, que pode
agravar a situação do bebê, em vez de melhorar.

Ainda, para manter a estabilização, há a necessidade de assegurar as vias áreas


pérvias. Segundo a SBP (ALMEIDA; GUINSBURG, 2022), o pescoço deve ficar estendido
para as vias áreas estarem pérvias, devendo haver cuidado para evitar a hiperextensão
do pescoço, e o uso do coxim pode ser benéfico nesse momento. É necessário avaliar a
necessidade ou não de aspiração, conforme já citado anteriormente, e reservar apenas
para os casos de recém-nascidos com obstrução das vias áreas por muita secreção.

Além disso, é importante perceber se há ou não a presença de líquido amniótico


meconial, pois isso aumenta o risco de reanimação e, nesse caso específico, indepen-
dentemente da espessura e da viscosidade, não deve ser realizada a aspiração, que
pode agravar o caso clínico. É importante ressaltar que a presença de líquido meconial,
mesmo se o bebê apresentar boa vitalidade, este pode permanecer com a mãe, em contato

71
pele a pele, e a assistência deve ser realizada quando o recém-nascido apresentar “apneia,
respiração irregular e/ou frequência cardíaca < 100 bpm, é fundamental iniciar a VPP
[ventilação com pressão positiva] com máscara facial e ar ambiente nos primeiros 60
segundos de vida” (ALMEIDA; GUINSBURG, 2022, p. 9).

Simultaneamente a esses cuidados, é importante a verificação dos sinais vitais


do recém-nascido; as próximas decisões e condutas de estabilização do bebê serão
baseadas a partir da verificação da frequência cardíaca e da respiração.

IMPORTANTE
A frequência cardíaca define as manobras de reanimação e, por
isso, deve ser feita de forma rápida e confiável na sala de parto. A
palpação do cordão umbilical é um meio de avaliar a frequência
cardíaca, assim como a verificação do pulso pelo oxímetro, a
ausculta com estetoscópio ou a monitoração da atividade elétrica.
Entretanto, de todas essas opções, a SBP recomenda ser mais
fidedigno o uso do monitor cardíaco.
Futuro enfermeiro, considera-se adequada uma frequência
cardíaca maior ou igual a 100 bpm, visto que a bradicardia é definida
quando menor que 100 bpm.

Já a avaliação da respiração é feita a partir da observação. Segundo a SBP


(ALMEIDA; GUINSBURG, 2022), deve-se observar a expansão torácica ou o choro. Se
houver presença de apneia no recém-nascido ou percepção de irregularidade nos
movimentos respiratórios, a respiração está inadequada. Além disso, a saturação é
outro sinal vital importante, que decide, muitas vezes, o manejo ventilatório do bebê
e, por isso, a leitura confiável da saturação é importante. É fundamental perceber que,
após alguns minutos do nascimento, a saturação aumenta; em bebês que não precisam
de reanimação, a saturação pode demorar 5 minutos ou mais, após o nascimento, até
alcançar 90%.

Se, após esses procedimentos de estabilização, o recém-nascido mantiver


frequência cardíaca > 100 bpm e respiração regular espontânea, a SBP recomenda
que o recém-nascido deve voltar para a sala de parto, junto à mãe, de preferência, em
contato, pele a pele, com a parturiente, coberta com tecido quente; em seguida, deve-se
apoiar o estímulo à amamentação (ALMEIDA; GUINSBURG, 2022).

72
ATENÇÃO
Acadêmico, se o bebê, após esses passos iniciais de estabilização,
mostrar frequência cardíaca menor que 100 bpm e respiração
irregular ou ausente, é necessário iniciar a ventilação com
pressão positiva (VPP). A monitoração cardíaca e a saturação são
sinais importante que devem ser avaliados nesse momento. Os
primeiros 60 segundos são conhecidos como “o minuto de ouro”.

Na técnica de ventilação com máscara facial, inicialmente, de acordo com a


SBB (ALMEIDA; GUINSBURG, 2022), utiliza-se a ventilação com o balão autoinflável ou
o ventilador mecânico manual com peça T. É importante envolver as bordas da máscara
com os dedos indicador e polegar, formando a letra “C”, conforme mostra a Figura 13,
para que fique fixa e corretamente posicionada nas vias áreas do recém-nascido. Após
isso, a ventilação deve ser iniciada de 40-60 movimentos/minuto, com base na regra
“aperta/solta/solta”, nos primeiros 15 segundos, se ventilação efetiva, podendo-se
perceber aumento da frequência cardíaca. Se, após 30 segundos de VPP, o recém-
nascido apresentar frequência cardíaca maior que 100 bpm e respiração regular, pode-se
parar o procedimento, observando-o e reavaliando-o.

Se, porventura, não melhorar, é necessário realizar algumas condutas corretivas,


e, mesmo se com essas condutas ainda permanecer em menos que 100 bpm e com
movimentos respiratórios irregulares, deve-se considerar o uso de máscara laríngea
com interface para a VPP ou cânula traqueal. E, se acaso, mesmo com essa troca de
método de ventilação, a frequência cardíaca for menor que 60 bpm, deve ser iniciada a
massagem cardíaca coordenada com a ventilação.

Figura 13 – Posição correta dos dedos na máscara

Fonte: http://twixar.me/dwQm. Acesso em: 16 set. 2022.

73
A SBP expõe que a compressa cardíaca deve ser feita no terço inferior do esterno
do recém-nascido e pode-se utilizar os dois polegares ou dois dedos, sendo a dos dois
polegares mais eficiente, lembrando que o local é abaixo da linha intermamilar, e o
restante da mão circunda o tórax, conforme mostra a Figura 14 (ALMEIDA; GUINSBURG,
2022). A profundidade da compressão é de 1/3 da dimensão do tórax e, nesse sentido, a
ventilação e a massagem cardíaca são realizadas em sincronia, em uma relação de 3:1,
isto é, três movimentos de compressão cardíaca para um movimento de ventilação,
totalizando 120 eventos por minuto. Deve-se aplicar isso por 1 minuto e reavaliar a
frequência cardíaca; continuar se frequência cardíaca menor que 60 bpm e se, após
a continuação das correções, o recém-nascido mantiver frequência cardíaca menor
que 60 bpm, entra-se com a administração de adrenalina e, após isso, considera-se a
realização do cateterismo venoso umbilical de urgência.

Figura 14 – Compressão torácica

Fonte: http://twixar.me/0wQm. Acesso em: 16 set. 2022.

Quando verificada a necessidade de adrenalina, o enfermeiro deve estar atento


para que o seu preparo esteja pronto para administração, conforme apresentado no
Quadro 4.

Quadro 4 – Preparo de adrenalina para reanimação do recém-nascido

Adrenalina endotraqueal 1 mg/


Adrenalina endovenosa 1mg/mL
mL
1 mL de adrenalina 1 mg/mL em 9 1 mL de adrenalina 1 mg/mL em 9
Diluição
mL de SF 0,9% mL de SF 0,9%
Seringa Seringa de 1 mL Seringa de 5 mL
Dose 0,2 mL/kg 1,0 mL/kg
Peso ao Se 2 kg = 0,4 mL Se 2 kg = 2,0 mL
nascer x dose Se 3 kg = 0,6 mL Se 3 kg = 3,0 mL
Se 4 kg = 0,8 mL Se 4 kg = 4,0 mL
Infusão rápida seguida por flush de 3 Infusão no interior da cânula traqueal
Velocidade
mL de SF 0,9% seguido de ventilação – uso único.

Fonte: Almeida; Guinsburg (2022, p. 24)

74
“Quando não há reversão da bradicardia com a adrenalina endovenosa, assegurar
que a VPP e a massagem cardíaca estão adequadas, repetir a administração de
adrenalina a cada 3-5 minutos por via endovenosa e considerar o uso do expansor de
volume” (ALMEIDA; GUINSBURG, 2022, p. 24).

GIO
Acadêmico, a reavaliação em cada minuto é fundamental para
perceber a próxima etapa da reanimação, saber o passo a passo
e se capacitar para tal situação, garantindo uma qualidade na
assistência ao recém-nascido.

“Vale lembrar que apenas um RN em cada mil requer procedimentos avançados de


reanimação [...] quando a ventilação com pressão positiva é aplicada de maneira rápida e
efetiva no RN que tem dificuldades na transição da vida intra para a extrauterina” (BRASIL,
2014, p. 46). Diante disso, é importante conhecer o fluxograma de reanimação neonatal do
recém-nascido maior que 34 semanas da SBP (Figura 15) (ALMEIDA; GUINSBURG, 2022).

Figura 15 – Fluxograma de reanimação neonatal, recém-nascido ≥ 34 semanas

Fonte: Almeida; Guinsburg (2022, p. 35)

75
As equipes que trabalham em salas de parto devem ter capacitação e formações
continuadas sobre a reanimação do recém-nascido, visto a importância de uma equipe
bem treinada para evitar desfechos infelizes nesse momento. A familiarização com o
fluxograma, com as técnicas e com as medicações favorece a agilidade no momento
da emergência; o enfermeiro deve manter-se sempre atualizado, já que é uma de
suas competências fundamentais na sala de parto, além apoiar o desenvolvimento de
projetos e programas de atualização sobre esse assunto.

IMPORTANTE
Caro acadêmico, além da parte assistencial de uma reanimação
em sala de parto, é necessária a realização de registros e
anotações adequadas no sistema e no prontuário do paciente.

76
LEITURA
COMPLEMENTAR
FATORES ASSOCIADOS À REALIZAÇÃO DE EPISIOTOMIA

Bruna Menezes Aguiar


Thales Philipe Rodrigues da Silva
Samire Lopes Pereira
Ana Maria Magalhães Sousa
Roberta Barbosa Guerra
Kleyde Ventura de Souza
Fernanda Penido Matozinhos

INTRODUÇÃO

O processo de parir, durante muito tempo, foi considerado natural e privativo da


mulher, compartilhado com outras mulheres, seus familiares e parteiras ou comadres.
Com o passar dos anos, foi substituído por um modelo de atenção obstétrico, baseado
na hospitalização do parto e do nascimento, fomentando um conjunto de práticas
obstétricas intervencionistas.

Essas medidas tornaram o cenário obstétrico mundial, muitas vezes, violento.


Quando realizadas sem indicação clínica, podem aumentar o risco de complicações no
pós-parto. Uma das práticas obstétricas consideradas intervencionistas é a episiotomia,
uma das intervenções obstétricas mais comuns no mundo e, em alguns países, é
considerada um procedimento de rotina. Consiste na ampliação da abertura vaginal por
meio de uma incisão cirúrgica no períneo e pode ser realizada por médicos e enfermeiros
obstétricos. As taxas de episiotomia aumentaram substancialmente durante a primeira
metade do século XX, decorrente do processo de medicalização do ato de parir e como
justificativa para os partos por via vaginal ocorrerem sem complicações.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a taxa de episiotomia


em uma instituição não ultrapasse 10%. Há uma variação nesses índices de acordo
com o país estudado: por exemplo, na França, ela foi realizada em 19,9% dos partos.
Já na Colômbia e na Espanha, a taxa foi de 30,48% e 50%, respectivamente. Revisão
sistemática de 2018, que avaliou tendências da prática de episiotomia, observou
variação de 5% na Dinamarca até mais de 90% em alguns países asiáticos. No Brasil,
foi de 16%, variando de acordo com a paridade: 27,40% nas primíparas e 3,40% nas
multíparas. Segundo estudo nacional realizado com dados da pesquisa da avaliação
da Rede Cegonha, a proporção de episiotomia foi de 27,7% em hospitais públicos, mas
com dados autorreferidos pela parturiente. No cenário brasileiro, esse procedimento é
realizado em 27,7% das mulheres em instituições públicas e 39,4% no setor privado.

77
Sabe-se que a episiotomia pode ampliar a extensão das lacerações perineais,
além de aumentar o risco de infecção para a mulher, hemorragia, disfunção do assoalho
pélvico, dispareunia, fístulas retovaginais, hematomas, dentre outras. Tais complicações
têm impactos negativos na qualidade de vida da parturiente e na relação materno-
fetal, além de relacionar-se com maiores gastos no sistema de saúde, o que aumenta o
tempo de permanência hospitalar.

Ressalta-se que, atualmente, não há evidências que corroborem a necessidade


de episiotomia nos cuidados de rotina. Contudo, alguns fatores predispõem a mulher
ao maior risco de ser submetida a esse procedimento, como: ser primigesta, além da
prematuridade, peso e vitalidade do recém-nascido. O uso de analgesia peridural, parto
instrumental e aplicação de ocitocina sintética para a indução do trabalho de parto (TP) e
partos acima de 41 semanas também apresentam maior possibilidade de realização de
episiotomia.

Esta pesquisa avança, portanto, em relação aos estudos existentes no contexto


brasileiro acerca da temática.

DISCUSSÃO

Os resultados deste estudo evidenciaram que a episiotomia foi realizada em


26,34% das parturientes; e, destas, 59,21% sabiam que haviam sido submetidas a
esse procedimento. Quanto aos fatores associados à realização desse procedimento,
constatou-se que mulheres mais jovens, primigestas, mulheres assistidas por profissional
que não o enfermeiro obstetra e mulheres que tiveram seus bebês em hospital privado
apresentam aumento na chance de serem submetidas a ele.

No que tange à realização da episiotomia, a OMS lançou recomendações


sobre padrões de tratamento e cuidados relacionados às parturientes. Essas foram,
posteriormente, ratificadas pelo Ministério da Saúde, sendo denominadas como boas
práticas na atenção ao parto normal. Visam orientar a conduta do profissional e são
classificadas como: práticas claramente úteis e que devem ser estimuladas; práticas
claramente prejudiciais ou ineficazes e que devem ser eliminadas; e práticas usadas de
modo inapropriado no momento de TP e parto, em cuja categoria se insere a episiotomia.

Neste estudo, entre as mulheres que realizaram episiotomia, 40,79% não sabiam
que haviam sido submetidas a ela. Estudo recente mostrou que a maioria das mulheres
são submetidas à cesariana, episiotomia, indução do parto e exames vaginais sem o seu
consentimento. Esses resultados apontam que as intervenções desnecessárias durante
o trabalho de parto violam os direitos das mulheres e a sua autonomia no processo
de parir. Muitas vezes, determinadas condutas são decorrentes da impaciência em
aguardar o nascimento de forma fisiológica, desrespeitando a autonomia das mulheres
no processo de parturição. Além disso, a realização da episiotomia infringe os direitos
sexuais e reprodutivos das mulheres, pelo fato de submeter um corpo saudável a um
dano, sem se ter benefício estabelecido por evidência científica.

78
A realização de episiotomia pode aumentar a chance de hemorragias, infecção
e deiscência da ferida, formação de hematoma, dor perineal, rompimento estendido
no esfíncter anal e reto. Há, também, possíveis complicações no longo prazo, como:
dispareunia, disfunção anorretal e disfunção sexual. Ressalta-se que o uso de
boas práticas durante o trabalho de parto, recomendadas pela OMS, pode reduzir a
probabilidade de intervenções desnecessárias e ter efeitos positivos na experiência de
parto dessas mulheres.

Os resultados deste estudo mostraram que mulheres mais jovens e primigestas


apresentaram maior chance de serem submetidas à episiotomia. Revisão sistemática
de 2019 confirma esses achados. A realização desse procedimento em primigestas
está associada com maiores chances de lesões obstétricas do esfíncter anal. Autores
demonstram que os principais argumentos por parte dos profissionais que fazem o
uso inapropriado da episiotomia relacionam-se à rigidez perineal, (justificando-se que
poderia levar ao prolongamento do período de desprendimento do polo cefálico), bem
como à inexperiência da mulher com o trabalho de parto. Reforça-se que tais argumentos
não são embasados em evidências científicas, pois o modelo de assistência ao parto,
com uso excessivo de intervenções, não encontra respaldo em diretrizes ou estudos
internacionais. A aplicação das práticas claramente úteis e que devem ser estimuladas,
como a livre movimentação da parturiente, uso do partograma e realização de métodos
não farmacológicos para alívio da dor, podem solucionar as referidas justificativas.

Neste trabalho, parturientes assistidas por enfermeiros(as) obstétricos(as)


apresentaram menores chances de sofrer episiotomia. Outros estudos ratificam esse
achado, além de ressaltarem maiores índices de períneo íntegro e, consequentemente,
menor ocorrência de ruptura esfincteriana. Ainda nesse sentido, metanálise realizada
com 17.674 participantes evidenciou que as mulheres assistidas por um modelo “Midwife-
led continuity” apresentam redução na razão de risco de passar por tal procedimento,
com média de 0,84 (IC95% 0,77–0,92). Outro estudo, realizado com 480 prontuários
de partos vaginais do Rio de Janeiro, evidenciou que parturientes acompanhadas por
enfermeiras(os) apresentaram índice inferior de receber episiotomia.

Enfermeiras(os) obstétricas(os) utilizam diversas técnicas que contribuem


para o relaxamento da parturiente e proteção perineal, como exercícios respiratórios,
movimentos pélvicos e banho morno. A restrição ao número de prestadores da
assistência, a redução do número de exames vaginais e a livre escolha de posição, pela
mulher, durante o trabalho de parto e parto, determinam a qualidade da assistência ao
parto, sendo cuidados estimulados por enfermeiros(as).

Por fim, verificou-se, nesta pesquisa, que a chance de ocorrência de episiotomia


foi maior em instituições privadas. Esse resultado corrobora dados da revisão sistemática
de 2019, os quais mostram que o financiamento do hospital pode ser um fator de
risco para a realização dessa incisão cirúrgica. De modo geral, mulheres atendidas
em hospitais públicos possuem mais acesso às boas práticas de atenção ao parto e
nascimento, tais como métodos não farmacológicos de alívio da dor, livre escolha de

79
posições durante o parto e maior probabilidade de se movimentarem, o que reduz a
chance de serem submetidas à episiotomia. Esse fato pode estar relacionado às ações
e incentivos realizados pelo Ministério da Saúde para a promoção do parto humanizado
e vaginal, por meio da divulgação de manuais, portarias, adaptação do ambiente e
qualificação dos profissionais envolvidos com o parto e nascimento.

Estudo realizado em uma maternidade pública de Londrina, Paraná, demonstrou


proporção de realização de episiotomia de 7,3%, inferior ao recomendado pela OMS.
Outro trabalho revelou taxas de intervenção obstétrica mais altas entre as mulheres que
pariram em hospitais particulares (47%), quando comparadas aos índices dos hospitais
públicos (29%). Ressalta-se que a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS)
estabeleceu algumas medidas para o incentivo do parto normal, como o uso obrigatório
do partograma e do cartão da gestante.

A episiotomia impacta, também, os custos da atenção hospitalar, como demons-


trado por um estudo que avaliou duas maternidades públicas do Rio de Janeiro e uma
filantrópica de Belo Horizonte. Verificou-se que a última instituição possuía índices de
episiotomia menores (3,1%), repercutindo em menores custos de insumos utilizados,
devido à frequência reduzida de práticas invasivas, podendo-se relacionar, ainda, à
assistência prestada – 80% dos partos vaginais foram assistidos por enfermeiros obstétricos.

Limitações do estudo

Por fim, torna-se relevante o reconhecimento de algumas limitações nesta


pesquisa. Primeiro, trata-se de um estudo de delineamento transversal, o que
impossibilita identificar a temporalidade das associações. Ressalta-se, também, a perda
de alguns dados, intrínseca ao fato de a coleta de dados ter sido efetuada, também,
em prontuários. Contudo, foram realizadas as análises de sensibilidade de forma
comparativa entre a amostra final (de 577 parturientes) e as 23 mulheres excluídas –
por ausência de informação no prontuário. Demonstrou-se que as perdas ocorreram de
forma aleatória, não afetando as estimativas deste estudo.

Contribuições para a área da Enfermagem

Muitos são os avanços deste trabalho para a área da saúde e da enfermagem,


pois os resultados fornecem informações epidemiológicas importantes, ressaltando
que, em instituições públicas e com enfermagem obstétrica, atuante na assistência
ao trabalho de parto e parto, há melhores perspectivas em comparação às instituições
privadas e com ênfase em uma assistência mais intervencionista. Assim, a garantia de
um cuidado humanizado pode, indubitavelmente, contribuir para a redução das taxas
de episiotomia.

80
CONCLUSÃO

A episiotomia foi realizada em 26,34% das mulheres; e, destas, 59,21% sabiam


que haviam sido submetidas a ela. Observou-se que mulheres mais jovens, primigestas,
mulheres assistidas por profissional que não o enfermeiro obstetra e mulheres que
tiveram seus bebês em hospital privado apresentam aumento na chance de serem
submetidas a esse procedimento.

Os resultados deste estudo suscitam reflexão sobre a importância de fomentar


ações de cuidado e planejamento de atenção à saúde direcionadas a mulheres com
perfil apontado nos resultados deste estudo, estimulando modelos de atendimento mais
humanizados e holísticos, que considerem a singularidade de cada mulher e respeitem a
sua autonomia. Ademais, considerando-se as taxas do uso da episiotomia, este estudo
destaca a necessidade de contraindicação absoluta de sua realização indiscriminada.

Fonte: adaptada de AGUIAR, B. M. et al. Fatores associados à realização de episiotomia. Rev Bras Enferm., v.
73, Suppl 4, e20190899, 2020. Disponível em: http://twixar.me/LwQm. Acesso em: 19 jul. 2022.

81
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu:

• A adaptação do recém-nascido à vida extrauterina é um momento que requer alguns


cuidados, e o enfermeiro pode auxiliar de diversas formas, como no contato, pele a
pele, após o nascimento, manter o recém-nascido aquecido no colo da mãe, estimular
o aleitamento materno na primeira hora de vida, realizar o clampeamento do cordão
umbilical pelo menos após 1 minuto do nascimento.

• A Escala de Apgar deve ser realizada, principalmente, no primeiro e no quinto minutos


de vida do bebê, avaliando-se a frequência cardíaca, a respiração, o tônus muscular,
a cor e a irritabilidade reflexa. É utilizada para avaliar o estado geral do recém-nascido
e a sua adaptação à vida extrauterina.

• A estabilização do recém-nascido se dá, primeiramente, com a manutenção das vias


aéreas permeáveis, a termorregulação eficaz e a prevenção de infecções. A avaliação
inicial deve ser realizada concomitantemente aos cuidados prestados pelo enfermeiro,
permitindo uma assistência de qualidade. Os cuidados básicos são: aquecer e secar,
posicionar a cabeça de forma a abrir as vias áreas e limpar a via aérea superior.

• No procedimento de reanimação do recém-nascido, é importante primeiro garantir


a ventilação com máscara, se frequência cardíaca abaixo de 100 bpm; após isso,
as compressões cardíacas, se frequência cardíaca abaixo de 60 bpm, devem ser
realizadas em conjunto com a ventilação de pressão positiva, com esquema de 3:1, e,
se necessário, administrar adrenalina e expansão de volume, conforme protocolos.

• O enfermeiro tem a responsabilidade de manter os materiais disponíveis, organizados


e funcionantes antes do procedimento de suporte a vida do recém-nascido, sendo
imprescindível estar capacitado e familiarizado com protocolos e práticas de
reanimação ao recém-nascido.

82
AUTOATIVIDADE
1 Na atuação direta do enfermeiro com recém-nascido na sala de parto, para realizar
as condutas de forma adequada e segura, é necessário o conhecimento antecipado
de algumas informações. Diante disso, assinale a alternativa INCORRETA:

a) ( ) É necessário ter conhecimento sobre a vigilância pré-natal, as consultas e os


exames da gestante antes do atendimento ao recém-nascido.
b) ( ) Saber da história da gravidez, a evolução, as doenças, as medicações de uso e
as drogas usadas na gestação são outros fatores importantes para um cuidado
adequado ao recém-nascido.
c) ( ) Os antecedentes maternos e paternos do recém-nascido não são informações
relevantes.
d) ( ) Aspectos psicossociais do parto também são importantes, como saber se houve
a preparação para o parto, se a gestante teve suporte emocional durante o
trabalho de parto e o envolvimento familiar nesse evento.

2 A Escala de Apgar é considerada uma forma importante de sistematizar e avaliar o


período em que o bebê se adapta à vida extrauterina, pois os primeiros minutos são
essenciais e, por isso, deve-se avaliar as necessidades do recém-nascido, a partir
de uma boa observação dos sinais que ele apresenta. Com base na Escala de Apgar,
analise as sentenças a seguir:

I- O valor mínimo da Escala de Apgar é 0 e o máximo, 10 e, a partir da avaliação, se dá


o escore final.
II- Se, por acaso, o escore for de 0 a 3, o recém-nascido está em boas condições de
saúde e pode permanecer no colo da mãe.
III- Deve ser determinado o escore no primeiro e no quinto minuto de vida, não sendo
utilizado para indicar procedimentos na reanimação neonatal, pois permite avaliar a
resposta neonatal às manobras realizadas.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

83
3 Quando os cuidados básicos ao recém-nascido não o estabilizaram, provavelmente,
será necessário outro método de estabilização e/ou reanimação. Se o bebê tiver
nascido acima de 34 semanas, não demonstrar o choro ou movimentos respiratórios
regulares, não tiver tônus muscular e, em geral, não apresentar uma boa vitalidade,
deve ser conduzido para a sala de reanimação, para iniciar a estabilização desse
recém-nascido. De acordo com o fluxograma de reanimação neonatal do recém-
nascido maior que 34 semanas, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para
as falsas:

( ) O minuto de ouro é caracterizado pelos primeiros 60 segundos de vida do recém-


nascido. Nesse primeiro minuto, a equipe deve realizar o briefing, verificar material,
realizar anamnese materna, se perguntar se a gestação é a termo, se o recém-
nascido está chorando ou respirando, se tem tônus – se essas respostas forem
negativas, deve ser realizado o clampeamento imediato do cordão umbilical e o
recém-nascido deve ser levado para estabilização.
( ) Se frequência cardíaca for menor que 100 bpm e respiração irregular ou apneia,
deve-se iniciar ventilação com pressão positiva, com oxigênio a 100%, e monitoração.
( ) Se a frequência cardíaca for menor que 60 bpm, deve-se iniciar a ventilação com
cânula traqueal, oxigênio a 100%, massagem cardíaca coordenada com ventilação, 3:1.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 Os cuidados com o recém-nascido abrangem muito mais que as técnicas assistenciais


e gerenciais, como a promoção da vinculação da tríade mãe-bebê-pai. O enfermeiro
pode realizar algumas condutas para promover e melhorar a vinculação, além de
auxiliar na adaptação da vida extrauterina. Disserte sobre as condutas e as medidas
que o enfermeiro pode promover para a família.

5 O enfermeiro é o profissional responsável pelos cuidados imediatos após a expulsão do


recém-nascido, que devem ser realizados de forma correta visando ao bem-estar do
bebê, sempre importante também o registro, posteriormente, de tudo na caderneta
da criança. Quais são esses cuidados imediatos realizados pelo enfermeiro ainda na
sala de parto?

84
REFERÊNCIAS
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Brasileira de Enfermagem REBEn, Minas Gerais, v. 73, n. 4, p. 1-6, 2020. Disponível
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postnatal experience. Geneva: World Health Organization; 2022. Licence: CC BY-NC-
SA 3.0 IGO. Disponível em: https://apps.who.int/iris/rest/bitstreams/1415406/retrieve.
Acesso em: 19 set. 2022.

ZUGAIB, M.; FRANCISCO, R. Zugaib Obstetrícia. 3. ed. São Paulo: Manole, 2016.

88
UNIDADE 2 —

ASSISTÊNCIA DE
ENFERMAGEM NOS
PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS
APLICADOS EM URGÊNCIAS E
EMERGÊNCIAS OBSTÉTRICAS E
GINECOLÓGICAS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• reconhecer as urgências e as emergências obstétricas e ginecológicas;


• identificar o papel do enfermeiro durante os procedimentos aplicados em urgências
e emergências obstétricas e ginecológicas;
• aplicar a prática assistencial de Enfermagem de forma adequada diante de cada
situação de urgências e emergências;
• identificar quais as indicações de cesariana, bem como a assistência de Enfermagem
nessa cirurgia.

PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – ABORTAMENTO
TÓPICO 2 – GRAVIDEZ ECTÓPICA
TÓPICO 3 – HEMORRAGIAS ANTEPARTO
TÓPICO 4 – EMERGÊNCIAS DE PARTO
TÓPICO 5 – HEMORRAGIA PÓS-PARTO
TÓPICO 6 – CESARIANA

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

89
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!

Acesse o
QR Code abaixo:

90
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
ABORTAMENTO

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, abordaremos os aspectos clínicos do abortamento, dividindo em
formas clínicas cada tipo de abortamento existente até o momento, bem como os aspectos
da humanização no abortamento, a fim de poder especificar como o profissional deve
conduzir, acolher e orientar a assistência a mulher em abortamento.

Embora a gravidez seja um evento biológico e fisiológico para a maioria das


grávidas, algumas mulheres podem desencadear fatores complexos no período
gestacional, os quais aumentam o índice de mortalidade materna, quando agravados
ou negligenciados. Por isso, a assistência prestada pela equipe profissional de saúde é
importante desde o período de pré-concepção até as consultas de pré-natal e durante
o parto e o pós-parto, ou, ainda, durante o período de abortamento.

No Brasil, o abortamento é um problema de saúde pública, além de, em outros


países em desenvolvimento, ser a maior causa de morte materna no mundo, quando
falamos de abortamentos sem assistência. É importante ressaltar que, no Brasil, atualmente
o abortamento induzido ou provocado é permitido, conforme o Código Brasileiro, desde
1940, apenas nas situações com doenças graves para a gestação, que podem acarretar
risco de vida a mulher, nos casos de pós-estupros e de anencefalia fetal.

Quando falamos de abortamentos, estamos nos referindo a situações de san-


gramentos no período gestacional, especificamente na primeira metade da gestação. O
sangramento sempre deve ser investigado e tratado para diminuir riscos maternos e fetais.
O aborto espontâneo é uma recorrência, relativamente, frequente nos centros obstétricos
e, por isso, os enfermeiros devem estar capacitados, familiarizados e orientados quanto
à conduta adequada e humanizada dessas situações, garantindo, assim, um desfecho
com riscos mínimos para a mãe, tanto no contexto físico quando psicológico.

É imprescindível que o enfermeiro preste uma assistência independente de


seus preceitos morais e religiosos; faz-se necessário estar munido de ética para garantir
os direitos da mulher nesse momento frágil, que é o processo de um abortamento.

91
2 TIPOS DE ABORTOS
Muitas mulheres não sabem que estão grávidas quando, por acaso, ocorre
um sangramento no primeiro trimestre com cólicas e, nesses casos, Almeida e Reis
(2021) explicam que o abortamento é classificado como subclínico; porém, quando já
é conhecida e diagnosticada a gestação e, após isso, ocorre um abortamento, este é
classificado como clínico.

Zugaib e Francisco (2020) apresentam dados sobre a indecência de abortamentos


clínicos entre 15 e 20% das gestações, enquanto os abortamentos subclínicos podem
atingir 60% das gestações: “aproximadamente uma em cada quatro mulheres terá um
abortamento espontâneo durante sua vida reprodutiva” (ZUGAIB; FRANCISCO, 2020, p. 568).

Sobre a definição de abortamento, a “OMS, na CID-11, define aborto como a


interrupção da gestação com menos de 20 semanas ou com produto da concepção
(embrião o feto) pesando menos de 500 g” (ZUGAIB; FRANCISCO, 2020, p. 568). Para
o Ministério da Saúde, “O aborto espontâneo é definido como gestação intrauterina não
viável de até 20-22 semanas ou peso fetal de 500 g” (BRASIL, 2022a, p. 37).

Ainda, Zugaib e Francisco (2020) classificam quanto à cronologia, sendo o


abortamento precoce a perda até 12 semanas e o abortamento tardio entre 12 e 20
semanas de gestação. Por ser também classificado quanto à intenção, isto é, o
abortamento espontâneo, sem ação de qualquer natureza, ou o abortamento induzido
ou provado, por exemplo, em casos de interrupção da gravidez com interferência
intencional.

Quanto à etiologia do abortamento, a causa mais comum, segundo Almeida e


Reis (2021), são as alterações cromossômicas, ou seja, as anormalidades cromossômicas,
chegando a 50% dos abortamentos espontâneos, isto é, fertilização de gametas defeituosos
ou irregularidade na divisão dos embrionária.

A segunda causa mais comum são alterações anatômicas ou alterações


uterinas, como a incompetência istmocervical, que se caracteriza pela insuficiência
do colo uterino em manter-se fechado. Segundo Zugaib e Francisco (2020), ela é
responsável por até 20% dos abortamentos de repetição, e, geralmente, ocorre devido a
traumas passados, como laceração do colo uterino decorrente de parto traumático, ou
pós-curetagem, amputação e conização do colo uterino.

Também pode ocorrer em decorrência de origens congênitas com: alterações


do nível de colágeno ou exposição intrauterina ao dietilestilbestrol. Outro exemplo
de malformação anatômica são os miomas. Os miomas submucosos que surgem
na cavidade uterina estão relacionados a casos de abortamento, pois prejudicam o
desenvolvimento do embrião, além de provocar contrações uterinas.

92
As sinéquias intrauterinas, conhecidas como aderências uterinas, que ocorrem
após a curetagem de abortos infectados, podem interferir no processo de implantação
ovular, segundo Zugaib e Francisco (2020), e, assim, levar a um abortamento. Outra
malformação uterina é o defeito da fusão dos ductos de Müller, como útero unicorno,
didelfo, septado, bicorno e arqueado, que pode causar o “abortamento habitual (tardio),
restrição de crescimento fetal, prematuridade, apresentações anômalas e hemorragia
pós-parto” (ZUGAIB; FRANCISCO, 2020, p. 573).

Existem outras causas de abortamento, como as alterações endócrinas,


Zugaib e Francisco (2020) expõem que nesta causa estão incluídos apenas algumas
alterações, que atualmente estudos mostraram a sua real relação com o abortamento,
que são: diabetes melito tipo 1 quando não controlada no início da gravidez e a síndrome
de ovários policísticos. Além dessas alterações o autor ainda salienta que, algumas
infecções maternas também podem ser a causa dos abortamentos, como infecções
bacterianas ou virais, por exemplo: Chlamydia trachomatis, Neisseria gonorrhoeae,
Listeria monocytogenes, Streptococcus agalactiae, citomegalovírus e herpes-vírus.

Alguns fatores imunológicos de causa autoimunes e aloimunes também podem


estar relacionados à possível perda do embrião-feto, o que é salientado por Zugaib e
Francisco (2020), bem como as trombofilias hereditárias e, obviamente, o uso de drogas
e agentes nocivos, como tabagismo, álcool e cafeína. Ainda, é importante salientar que
traumas externos são frequentemente associados a ocorrências de abortos, tendo
traumas graves maior probabilidade de levar a consequências fatais.

IMPORTANTE
Caro acadêmico, quanto às formas clínicas de abortamento espontâneo, temos as
seguintes:

• ameaça de abortamento;
• abortamento em curso/inevitável:
◦ completo;
◦ incompleto;
• aborto retido;
• aborto infectado ou séptico;
• aborto habitual ou recorrente.

• Ameaça de abortamento: segundo o Ministério da Saúde (2011), a mulher apresenta


sangramento vaginal pequeno ou moderado, podendo ou não sentir dores em baixo
ventre. O colo uterino da mulher encontra-se fechado e o tamanho do útero, muitas
vezes, normal ao da idade gestacional. Nesse caso, no ultrassom, mostra-se o feto
vivo, porém com um descolamento ovular pequeno, causando este sangramento.

93
• abortamento em curso/inevitável: Zugaib e Francisco (2020) explicam que o aborta-
mento em curso apresenta formas clínicas, como sangramento moderado a intenso
com dor abdominal, muitas vezes, intensa. A mulher pode apresentar anemia, taquicardia
e hipotensão arterial grave, associado à perda de sangue em grande quantidade. Esse
tipo clínico de abortamento resulta no abortamento completo ou incompleto.
◦ Abortamento completo: conforme o Ministério da Saúde (2011), geralmente, ocorre
até 8 semanas de gestação, e, como o nome já diz, o aborto foi completo, com
a expulsão espontânea total do produto, quando a mulher já não apresenta mais
dores ou sangramento intenso, e o seu útero já se encontra contraído e menor que
a idade gestacional, ao toque abdominal, e o colo uterino, quando observado pelo
espéculo, pode estar ainda aberto, porém fecha-se em poucas horas da expulsão do
produto. No exame de ultrassom, a cavidade uterina está vazia ou com coágulos.
◦ Abortamento incompleto: a mulher não expeliu completamente o feto e, por
isso, está diante de um aborto incompleto, em que os sinais são sangramento e
dores abdominais intensas, sendo diferente da ameaça de abortamento devido à
intensidade do sangramento e a dosagem da fração beta do hormônio gonadotrófico
coriônico (beta-hCG), que, nesse caso, apresenta declínio, de acordo com Almeida e
Reis (2021). Há, ainda, a dilatação cervical e o volume do útero é menor que o esperado
para a idade gestacional, com o exame de ultrassom mostrando descolamento
decidual, saco gestacional irregular e ausência de batimentos cardíacos.
• Abortamento retido: pode ocorrer sem nenhum sinal de ameaça, segundo o Ministério
da Saúde (2011), e segue com a regressão de sinais e sintomas da gravidez, com
colo uterino fechado, sem presença de sangramento vaginal, na maioria dos casos,
porém pode ocorrer como na ameaça de aborto em pequena quantidade e sem
dor abdominal. “O exame de ultrassom revela ausência de sinais de vitalidade ou a
presença de saco gestacional sem embrião (ovo anembrionado)” (BRASIL, 2011, p. 31).
• Abortamento infectado ou séptico: “Com muita frequência está associado a
manipulações da cavidade uterina pelo uso de técnicas inadequadas e inseguras.
Estas infecções são polimicrobianas e provocadas, geralmente, por bactérias da
flora vaginal” (BRASIL, 2011, p. 31). “Principalmente em países em que a lei proíbe a
interrupção da gestação, sendo sua prática realizada em condições inadequadas.
Cerca de 13% das mortes maternas que ocorrem no mundo são decorrentes do
abortamento induzido de forma clandestina” (ZUGAIB; FRANCISCO, 2020, p. 579). Para
o Ministério da Saúde (2011), os sinais e os sintomas mais comuns do abortamento
infectado são: febre, sangramento vaginal com odor fétido acompanhado de secreção
purulenta e dor abdominal. Ainda, segundo Almeida e Reis (2011), pode ser classificado
em três tipos, conforme o grau da infecção: o tipo I é limitado à cavidade uterina,
o tipo II abrange o peritônio pélvico e os órgãos anexos, e, no tipo III, a infecção é
generalizada, muitas vezes levando a choque séptico.
• Abortamento habitual ou recorrente: “Caracteriza-se pela perda espontânea e
consecutiva de três ou mais gestações antes da 22ª semana. É primário quando
a mulher jamais conseguiu levar a termo qualquer gestação, e secundário quando
houve uma gravidez a termo” (BRASIL, 2005, p. 24), podendo ter várias causas,
conforme descrito anteriormente.

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Para melhor fixação dos tipos de abortamentos, a Tabela 1 apresenta as formas
clínicas, os sinais e os sintomas, assim como os aspectos do ultrassom, conforme
Zugaib e Francisco (2020).

Tabela 1 – Formas clínicas de abortamento

Tipo Sinais e sintomas Aspectos ultrassonográficos


Saco gestacional regular;
embrião com atividade cardíaca
Sangramento vaginal leve;
compatível com o comprimento
ausência de cólicas abdominais
Ameaça de abortamento cabeça-nádegas; presença
ou presença de cólicas leves;
ou ausência de hematoma
orifício interno do colo fechado.
subcoriônico (descolamento
ovular).
História de sangramento; Endométrio linear, ou espessura
Abortamento completo orifício interno do colo fechado endometrial maior ou igual a
ou se fechando. 15 mm.
Sangramento vaginal
Ecos intrauterinos agrupados;
importante ou intermitente;
eco endometrial irregular;
Abortamento incompleto cólicas intensas; orifício interno
espessura endometrial maior
do colo entreaberto e saída de
que 15 mm.
restos ovulares.
Sangramento vaginal variável
e até mesmo ausente; cessão
Embrião com comprimento
de sintomas de gravidez; útero
Aborto retido cabeça-nádegas maior que
do tamanho menor do que o
7 mm sem atividade cardíaca.
esperado e orifício interno do
colo fechado.
Quadro clínico depende do grau
(febre, taquicardia, anemia, Retenção dos produtos da
Aborto infectado abdome doloroso, secreção concepção; endométrio
purulenta e fétida do colo uterino, espesso e irregular.
colo uterino entreaberto).

3 TRATAMENTOS
Caro acadêmico, o tratamento dependerá do tipo de abortamento, visto que
a conduta é diferenciada, de acordo com os aspectos clínicos e ultrassonográficos,
podendo ser conduta expectante, tratamento medicamentoso ou tratamento cirúrgico,
conforme descrito a seguir:

• Conduta expectante: atualmente, percebe-se que há interesse, entre os profissionais,


e também das mulheres, de buscar métodos não cirúrgicos para tratamentos de
abortamentos, sobretudo em abortamentos precoces, segundo Zugaib e Francisco
(2020). Dependendo do tipo de abortamento, a conduta expectante pode ser
considerada a mais segura, em termos de recuperação. Quando, por exemplo, há um
abortamento incompleto, Zugaib e Francisco (2020) expõem que diversos estudos

95
têm mostrado, hoje, que a conduta expectante tem sido uma opção mais saudável
para a mulher, visto que há a eliminação completa do produto após o 3º dia (média)
em 79% dos casos; em outro estudo, foi verificada uma taxa de sucesso de 83% após
7 dias de conduta expectante, tendo 3% das mulheres complicações relacionadas a
infecções e 5% apresentando necessidade de cirurgia de emergência. Já no aborto
retido, a conduta expectante não é a melhor opção, segundo os estudos atuais, visto
que a taxa de sucesso é pequena e os níveis de complicações maiores. Esse tipo de
tratamento deve ser sempre discutido entre a mulher e o profissional.
• Tratamento medicamentoso: Zugaib e Francisco (2020) explicam que se torna uma
alternativa para mulheres que não desejam passar por procedimentos cirúrgicos para o
tratamento de abortamento.
◦ Misoprostol: tem efeito na contratilidade uterina e no amolecimento do colo uterino,
utilizado, muitas vezes, pré-curetagem, ou, em casos de óbito fetal, na indução de
parto e hemorragia pós-parto também. Utilizado em abortamento precoces com
alto grau de satisfação, efetivo e seguro, sendo preconizada a administração de
800 µg via vaginal a cada 24 horas, por até 2 dias.
• Tratamento cirúrgico:
◦ A curetagem uterina é o tratamento mais conhecido para abortamentos, segundo
Zugaib e Francisco (2020), tanto para o primeiro quanto para o segundo trimestre
da gestação. Indicada em casos de sangramento moderado a intenso, presença
de infecção e também no caso das mulheres que não querem esperar, de
forma espontânea/medicamentosa, a eliminação do produto. Há riscos como
em qualquer procedimento cirúrgico, sendo eles infeção, esvaziamento uterino
incompleto, laceração cervical, perfuração uterina, lesão de órgãos pélvicos e
hemorragias.
◦ Zugaib e Francisco (2020) também expõem a aspiração elétrica a vácuo e manual
em casos de abortamento no primeiro trimestre. Sendo um método de baixo
custo, constata-se diminuição de tempo de procedimento e da necessidade de
internação hospitalar, quando comparado à curetagem, além de alguns estudos
terem mostrado que a diminuição de hemoglobina, após o procedimento, é maior
no caso de curetagem uterina.
◦ Para evitar mais casos de abortamentos habituais/recorrentes, geralmente
causados por incompetência cervical, a realização da cerclagem do colo uterino
é recomendada em uma nova gestação, prevenindo a abertura prematura do
colo uterino, por meio de uma sutura circular no orifício cervical (Figura 1). Deve
ser realizada entre 12 e 14 semanas de gestação, segundo o Manual de atenção
humanizada ao abortamento (BRASIL, 2010 apud ALMEIDA; REIS, 2021). A remoção
da sutura deve ser feita com 37 semanas de gestação, para dar seguimento ao
parto vaginal.

96
Figura 1 – Cerclagem cervical

Fonte: Almeida; Reis (2021, p. 132)

DICA
Acesse o manual de Atenção técnica para prevenção, avaliação e conduta
nos casos de abortamento, do Ministério da Saúde (BRASIL, 2022a), é
direcionado aos profissionais de saúde, aos serviços de saúde e aos
gestores públicos, pois apresenta as normas técnicas para atendimento
às mulheres em relação ao aborto: http://twixar.me/5wQm.

O manual de Atenção técnica para prevenção, avaliação e conduta nos casos de


abortamento, do Ministério da Saúde (BRASIL, 2022a), traz como elementos essenciais:

• Acolhimento e orientação para responder às necessidades de saúde


mental, social e física das mulheres, além de outras preocupações
que possam surgir.
• Atenção clínica adequada ao abortamento e suas complicações,
segundo referenciais éticos, legais e bioéticos.
• Oferecimento de serviços de planejamento familiar às mulheres
pós-abortamento, inclusive orientações para aquelas que desejem
nova gestação.
• Integração com outros serviços de promoção à saúde da mulher e
de inclusão social às mulheres (BRASIL, 2022a, p. 9).

Caro acadêmico, é importante salientar a humanização no atendimento da


Enfermagem em quaisquer casos de abortamento, além do seguimento das intervenções
de Enfermagem durante a internação hospitalar. Sobre as condutas do enfermeiro, Almeida
e Reis (2021) frisam alguns cuidados de Enfermagem nos casos de abortamento quando
hospitalizados:

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• Encaminhe a paciente ao banho e ofereça troca de roupa, se ela
desejar.
• Promova um acolhimento humanizado, permitindo que a mulher
expresse suas preocupações, medos e angústias.
• Ouça de modo a compreender os diversos significados do aborto
para a mulher e sua família.
• Reduza os estímulos ambientais perturbadores e mantenha a
paciente em repouso no leito.
• Explique a conduta de acordo com o tipo de aborto e internação.
• Oriente e prepare a mulher para o exame físico e ginecológico.
• Analise o volume, a coloração e o odor do sangramento vaginal.
• Monitore os sinais vitais e balanço hídrico da paciente de acordo
com a gravidade da situação.
• Explique sobre os medicamentos prescritos, a sua indicação e o
tempo de tratamento.
• Administre o medicamento prescrito. Além disso, verifique a
tipagem sanguínea da mulher, para que seja administrada, nos
casos necessários, a imunoglobulina anti-Rh para sensibilização;
além disso, confirme a realização do teste sorológico para sífilis e
pesquisa de infecção por vírus da imunodeficiência humana (HIV).
• Institua e oriente os cuidados perineais.
• Oriente a mulher observar, após a alta hospitalar, sangramentos
que durem mais de 8 a 10 dias ou sangramentos excessivos de
coloração vermelho-vivo, assim como sinais de infecção. Aconselhe
também a abstinência sexual por 1 a 2 semanas após a alta
hospitalar.
• Encaminhe-a para o atendimento psicológico, se necessário, e
agende retorno ambulatorial com a(o) enfermeira(o) para fins de
acompanhamento, inclusive para seguimento do Planejamento
Reprodutivo (ALMEIDA; REIS, 2021, p. 133).

Caro acadêmico, lembre-se que acolher e orientar são cuidados essenciais para
a mulher em fase de abortamento, assim como tratar, de forma digna e respeitosa, e
realizar uma escuta ativa são ações que ajudam a mulher se sentir mais segura e confiar
no profissional, para passar por esse momento tendo um sentimento de acolhimento e
aceitação por parte daquele que lhe está proporcionando cuidados nesse período.

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RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:

• O abortamento é uma intercorrência frequente no centro obstétrico e, quando não


cuidado, tratado e orientado, pode virar uma emergência obstétrica e fatalidade
materna.

• A maioria dos abortamentos ocorre no primeiro trimestre, sendo chamados de


abortamentos precoces, enquanto os casos entre 12 e 20 semanas de gestação são
classificados como abortamentos tardios. Em sua maioria, as causas são alterações
cromossômicas.

• A avaliação e a escuta das queixas das mulheres são de grande importância para
classificar o tipo de abortamento e o tratamento específico, junto à realização da
ultrassonografia.

• O tratamento mais comum é a curetagem uterina, porém tem-se mostrado eficiente,


também, a conduta expectante em alguns casos e o tratamento medicamentoso
com misoprostol.a

99
AUTOATIVIDADE
1 O aborto é um produto da concepção eliminado no processo de abortamento. Sobre a
definição de abortamento, especificamente sobre a idade gestacional da perda e as
classificações quanto a sua cronologia, com base no Ministério da Saúde (BRASIL,
2022a), assinale a alternativa CORRETA:

Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Ações
Programáticas e Estratégicas. Atenção técnica para prevenção, avaliação e conduta nos casos de
abortamento. Brasília, 2022a. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/atencao_avalia-
cao_conduta_abortamento_2ed.pdf. Acesso em: 28 ago. 2022.

a) ( ) Interrupção da gravidez até a 20ª ou a 22ª semana e com o produto da concepção


pesando menos de 500 g, podendo ser abortamento precoce, se ocorrer até 12
semanas, e tardio, se ocorrer entre 12 e 20 semanas de gestação.
b) ( ) Interrupção da gravidez até a 12ª ou a 20ª semana e com o produto da concepção
pesando menos de 500 g, podendo ser abortamento precoce, se ocorrer até 12
semanas, e tardio, se ocorrer entre 20 e 22 semanas de gestação.
c) ( ) Interrupção da gravidez até a 20ª ou a 22ª semana e com o produto da concepção
pesando menos de 600 g, podendo ser abortamento precoce, se ocorrer até 10
semanas, e tardio, se ocorrer entre 12 e 22 semanas de gestação.
d) ( ) Interrupção da gravidez até a 12ª ou a 20ª semana e com o produto da concepção
pesando menos de 600 g, podendo ser abortamento precoce, se ocorrer até 12
semanas, e tardio, se ocorrer entre 12 e 20 semanas de gestação.

2 Considera-se, de acordo com Almeida e Reis (2021), que o abortamento tem


fatores de risco relacionados diretamente com: idade materna avançada, múltiplos
abortamentos provocados, abortamento espontâneo prévio, nova gestação 3 a 6
meses após o parto, uso de drogas lícitas e ilícitas, excesso de cafeína, procedimentos
que envolvam a administração de gás anestésico e, também, o uso de medicações
como o misoprostol. Mesmo sem esses fatores de risco, muitas mulheres em idade
fértil poderão ter algum caso de abortamento em sua vida reprodutiva. Com base na
etiologia do abortamento, analise as sentenças a seguir:

I- As anormalidades cromossômicas são as causas mais comuns de abortamento,


em geral, a trissomia autossômica é a alteração mais frequente, seguida pela
monossomia do cromossomo X, a triploidia, tetraploidia e, também a aneuploidia.
II- As causas uterinas mais frequentes são: miomas uterinos, sinéquias uterinas
(síndrome de Asherman), incompetência cervical e malformações uterinas,
especificamente defeitos da fusão dos ductos de Leopold.
III- O uso de agentes nocivos, como tabagismo, álcool, cafeína e drogas, também fazem
parte da etiologia dos abortamentos.

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Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 O abortamento pode ser classificado como de forma espontânea ou induzida, sendo


o produto da concepção com menos de 22 semanas de gestação. O abortamento
espontâneo ocorre sem ação deliberada de qualquer pessoa, enquanto os
abortamentos provocados ou induzidos são aqueles que interrompem a gravidez
antes de atingir a viabilidade fetal. De acordo com as formas clínicas de abortamento,
classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) Na ameaça de abortamento, o sangramento vaginal é intenso, o orifício do colo


uterino está aberto e há a ausência de cólicas abdominais.
( ) Em casos de abortamento em curso, há dois tipos: completo e incompleto. O
completo já houve a eliminação do produto da concepção, enquanto o incompleto
o produto da concepção ainda está em processo de eliminação, apresentando
sangramento vaginal intermitente e importante.
( ) No aborto infectado ou séptico, a mulher, na maioria das vezes, apresenta febre,
taquicardia, anemia, abdome doloroso, secreção purulenta e fétida proveniente do
colo uterino. Não há a retenção de produtos da concepção.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 Para cada tipo clínico de abortamento, há uma conduta de tratamento que deve ser
adequada, de acordo com o desejo da mulher, junto à orientação e ao aconselhamento
médico e da equipe profissional envolvida no abortamento. Acerca dos tratamentos
para abortamentos, disserte sobre os tipos que existem e a eficácia deles para
determinado tipo clínico de abortamento.

5 Sabe-se que o profissional de Enfermagem, no período em que a mulher estiver


hospitalizada em casos de abortamento, sendo espontâneo ou induzido, é essencial
para manter o cuidado integral à saúde da mulher. Acerca disso, o que o enfermeiro
deve prezar no cuidado à mulher em processo de abortamento, além das intervenções
de Enfermagem?

101
102
UNIDADE 2 TÓPICO 2 —
GRAVIDEZ ECTÓPICA

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, abordaremos acerca da gravidez ectópica, complicação e emergência
na gestação considerada a principal causa de mortalidade materna no primeiro trimestre da
gravidez e que é uma questão de saúde pública em países desenvolvidos. Atualmente,
pode ser diagnosticada de maneira mais rápida, facilitando a conduta e o tratamento.
Entretanto, mesmo assim, o aumento da prevalência de gravidez ectópica é alto, devido,
também, à prevalência dos fatores de risco, conforme veremos no decorrer deste tópico.

Caro acadêmico, para esclarecimentos, a gravidez ectópica é uma gestação cuja


implantação do ovo ocorreu fora do útero, podendo esta implantação e desenvolvimento
acontecer na tuba uterina, nos ovários, no abdome, no cérvix uterino e, também, na
cicatriz de cesariana anterior. Por isso, será abordada a etiologia, ou seja, as causas
mais comuns da gravidez ectópica e os tratamentos, além de referenciar o papel do
enfermeiro nessa emergência obstétrica.

A realização de uma boa anamnese, um exame físico e uma escuta qualificada


das queixas da mulher é de extrema importância para formação do diagnóstico, em
conjunto com os exames laboratoriais e de imagem realizados pelo médico. O enfermeiro
pode e deve perceber essa emergência, quando de evolução aguda, já no exame físico
da triagem no centro obstétrico, a partir da inspeção e da palpação abdominal, que se
fazem de grande importância nesse momento.

2 ETIOLOGIA
“Define-se gravidez ectópica (GE) quando a implantação e o desenvolvimento do
blastocisto ocorrem fora da sede normal, ou seja, da grande cavidade corporal do útero,
como mostra a Figura 2. A localização mais frequente é a gravidez tubária (90% a 95%
dos casos)” (BRASIL, 2022b, p. 58). Para Zugaib e Francisco (2020), “a gravidez ectópica
geralmente se encontra associada a fatores de risco que causam lesão tubária ou alteração
no transporte ovular” (ZUGAIB; FRANCISCO, 2020, p. 588). Outros exemplos são (ZUGAIB;
FRANCISCO, 2020):

• Doença inflamatória pélvica: infecções genitais, causadas principalmente por


Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae, em que ocorre uma alteração grave
nas tubas, podendo até obstrui-las, diminuindo o movimento ciliar e o estreitamento
do diâmetro da tuba e, consequentemente, causando um aumento da incidência da
gravidez ectópica.

103
• Uso de dispositivo intrauterino (DIU): há a chance de usuárias de DIU terem maiores
risco, se o método falhar, de ocorrer uma gravidez ectópica, ainda que não esteja
firmada a exata causa, porém dados mostram que, na falha do DIU, o risco de gravidez
ectópica é de 1:2 gestações para DIU hormonal e de 1:16 gestações para DIU de cobre,
enquanto é de 1:50 gestações para mulheres que não usam métodos de anticoncepção,
conforme Zugaib e Francisco (2020).
• Cirurgias tubárias prévias: pacientes submetidas a salpingostomia, reanastomose,
fimbrioplastia e lise de aderências têm maior incidência de gravidez ectópica.
• Antecedente de gravidez ectópica: mulheres que já tiveram gravidez ectópica anterior
têm risco aumentando de seis a oito vezes de ter uma nova gravidez ectópica.
• Reprodução assistida: uma gravidez recorrente de uma reprodução assistida
apresenta risco de evoluir para uma gravidez ectópica, devido ao aumento do volume
sanguíneo de estrógeno, que interfere no transporte tubário, ou seja, na motilidade
das tubas, facilitando essa retenção do ovo na tuba uterina.
• Anticoncepção de emergência: a pílula do dia seguinte, levonorgestrel, aumenta a
probabilidade de uma gravidez ectópica, pois este altera a motilidade da tuba.
• Estilo de vida da mulher: início precoce de atividade sexual, múltiplos parceiros sexuais
e, também, tabagismo.

Figura 2 – Gravidez ectópica

Fonte: Zugaib (2020, p. 588)

IMPORTANTE
“Com o aprimoramento dos exames subsidiários, como as dosagens
da fração beta do hormônio gonadotrófico coriônico (beta-hCG) e a
ultrassonografia transvaginal (USTV), o diagnóstico é realizado com
maior precisão e em uma fase mais inicial” (BRASIL, 2022b, p. 59).

104
Caro acadêmico, o diagnóstico da gravidez ectópica se dá por meio de alguns
fatores importantes, então, quanto antes ocorrer esse diagnóstico, melhor para o desfecho
materno. A associação das manifestações clínicas, os sinais, os sintomas com a presença
de algum fator de risco, a realização do exame físico e de exames subsidiários, como
beta-hCG e a ultrassonografia transvaginal (USTV), auxiliam para um diagnóstico precoce e
uma conduta emergente.

Para evitar que a paciente evolua para quadro grave de abdome


agudo hemorrágico devido à ruptura tubária, é preciso atentar-se
para a realização do diagnóstico precoce, ou seja, de gestação tubária
íntegra. Nessas situações, a história clínica é pouco esclarecedora,
podendo, às vezes, cursar com a tríade clássica de dor abdominal,
atraso menstrual e sangramento genital. O exame clínico, muitas
vezes, não é elucidativo. Deve-se lançar mão de exames subsidiários,
como a dosagem da beta-hCG e a USTV (BRASIL, 2022b, p. 59).

Como citado, na anamnese, realizada na triagem do centro obstétrico, o enfermeiro


deve prestar atenção à tríade clássica de sinais e sintomas de gravidez ectópica: dor
abdominal, sangramento vaginal e atraso ou irregularidade menstrual, praticamente um
deles estará presente nos casos de gravidez ectópica. Ainda é importante esclarecer,
segundo Almeida e Reis (2021), que existem duas formas de gravidez ectópica: a aguda
(ruptura tubária) e subaguda (abortamento tubário).

No caso de gravidez tubária íntegra, a mulher referirá cólica contínua em baixo


ventre e sangramento vaginal em pequena quantidade; já na gravidez tubária rota, a
paciente tem dor intensa, comparada a pontadas em baixo ventre, que podem estar
associadas a casos de choque, com presença de sudorese e angústia. Sinais como o
de Blumberg (descompressão brusca dolorosa) e o de Cullen (equimose periumbilical)
caracterizam hemorragia abdominal grave, devido à gravidez ectópica rota. Em casos
de gravidez ectópica, geralmente, não há modificação da temperatura corporal, apenas
subfebril, porém, quando é evidente o choque hemorrágico, percebe-se hipotermia.

Os exames subsidiários, segundo o que preconiza o Ministério da Saúde


(BRASIL, 2022b), devem ser realizados para comprovar o diagnóstico clínico, como o
exame de beta-hCG associado à USTV. No caso da USTV, analisa-se a cavidade uterina,
se há presença de saco gestacional no útero ou não e, se não, avalia-se a presença de
massa anexial extraovariana. Já no exame de beta-hCG quantitativo, o valor sérico, em
casos de gestação ectópica, é menor do que o observado na gestação tópica de mesma
idade gestacional, mas deve ser realizada a dosagem seriada da beta-hCG, pois, em
uma gravidez tópica (normal e viável), o nível de evolução do beta-hCG aumenta entre
1,4 e 3,5 dias. Quando referir valor maior ou igual a 3.500 mUI e houver ausência do saco
gestacional tópico (uterino), isso sugere uma gravidez inviável ou gravidez ectópica.
Para melhor entendimento desse diagnóstico, podemos observar a Figura 3.

105
Figura 3 – Diagnóstico da gravidez ectópica

Fonte: Elito Júnior et al. (2008 apud BRASIL, 2022b, p. 61)

3 TRATAMENTO
Quanto ao tratamento da gravidez ectópica, deve-se seguir as recomendações
do Ministério da Saúde (BRASIL, 2022b), que traz como opções: tratamento cirúrgico,
podendo ser conservador ou radical, com as opções de salpingectomia ou salpingostomia
por via laparotômica ou laparoscópica; e, também, o tratamento clínico, podendo ser
decidido pela conduta expectante ou pelo tratamento medicamentoso com metotrexato.

• Tratamento cirúrgico: muitas vezes necessário, este tipo de tratamento é importante


na maioria dos casos de gravidez ectópica, podendo ser radical (salpingectomia –
remoção das tubas uterinas) ou conservadora (salpingostomia – abertura artificial
na trompa para drenagem) no caso de mulheres que querem preservar a fertilidade.
“A laparotomia deve ser realizada nos casos de ruptura tubária com instabilidade
hemodinâmica; nas demais situações, a via preferencial é a laparoscópica” (BRASIL,
2022b, p. 62)
• Conduta expectante: apenas nos casos em que não haja instabilidade hemodinâmica
da mulher, nos quais se observa um declínio do beta-hCG no intervalo de 24 a 48
horas, com beta-hCG < 2.000 mUI/mL, e com USTV mostrando ausência de embrião
com vitalidade, uma massa tubária inferior a 5 cm e, também, desejo de gravidez
futura. No caso da conduta expectante, espera-se que se torne abortamento tubário ou
uma reabsorção completa do tecido trofoblástico. Geralmente, é indicado a pacientes
que apresentam gravidez ectópica de pequeno tamanho e com nível baixo de beta-
hCG, como < 1.000 mUI/mL.
• Tratamento medicamentoso: o uso do metotrexato (MTX) é reconhecido por sua
atividade antitrofoblástica, sendo um tratamento quimioterápico antimetabólico
antagonista do ácido fólico. Para utilizar o MTX, são necessários alguns critérios

106
estabelecidos, conforme o Ministério da Saúde (BRASIL, 2022b, p. 62): “Estabilidade
hemodinâmica, diâmetro da massa anexial < 3,5 cm, beta-hCG inicial < 5.000 mUI/mL,
ausência de dor abdominal, desejo de gravidez futura e termo de consentimento assinado”.

ATENÇÃO
O parâmetro mais importante para iniciar o tratamento com MTX é o beta-hCG:

Os preditores de insucesso da terapia medicamentosa são:


atividade cardíaca embrionária, massa maior que 4 cm,
concentração inicial de beta-hCG maior que 5.000 mUI/mL,
presença de sangue na cavidade peritoneal, aumento do
beta-hCG acima de 50% nas 48 horas que antecedem o uso
do MTX, aumento rápido e contínuo do beta-hCG durante o
uso do MTX (BRASIL, 2022b, p. 63, grifo nosso).

Nesse sentido, há o protocolo de dose única de MTX, por via intramuscular,


o protocolo de múltiplas doses intramuscular e o protocolo de duas doses no dia 1 e
no dia 4. A vantagem de seguir o protocolo de dose única é que o tratamento é mais
simples e com menos efeitos colaterais, pois é administrada uma dose de 50 mg/m2,
via intramuscular, acompanhando a dosagem do beta-hCG, no quarto e no sétimo dia
após a administração do MTX, para perceber se houve redução do nível, devendo ser
acompanhado com dosagens semanais até se igualar aos níveis pré-gravídicos.

O enfermeiro deve estar atento às intervenções de Enfermagem durante


a internação hospitalar da mulher com gravidez ectópica, bem como durante o
procedimento dentro do centro obstétrico. Alguns cuidados importantes são:

Providenciar ambiente calmo, com menos estímulos perturbadores


para a mulher; manter a paciente em repouso no leito, atente para
a data da última menstruação e para a idade gestacional. Monitore
os sinais vitais e o balanço hídrico da paciente de acordo com
a gravidade da situação; avalie a intensidade da dor; administre
analgésicos e antibióticos, conforme prescrição médica; observe
as características da perda sanguínea por via vaginal e atente para
sinais de choque hipovolêmico; oriente a mulher quando instituído
o uso de MTX ao tratamento da GE, informando sobre os possíveis
efeitos colaterais, tais como: dor e flatos (orientar a evitar alimentos
que “formam gases”), estomatite, gastrite, diarreia e úlceras orais,
assim como os efeitos mais raros: dermatite, alopecia e pleurite
(ALMEIDA; REIS, 2020, p. 134).

Acadêmico, veja que é de extrema importância que o enfermeiro saiba gerenciar


os casos de gravidez ectópica dentro do centro obstétrico, a partir dos conhecimentos
específicos de diagnóstico, condutas, tratamentos e recuperação, garantindo conforto,
segurança e humanização da assistência para a mulher que chega ao setor com essa
emergência obstétrica, que é a gravidez ectópica.

107
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:

• Mulher, em idade fértil, com vida sexual ativa, apresentando dor abdominal, sangramento
vaginal e atraso/irregularidade menstrual, deve ser avaliada para possibilidade ou não de
gravidez ectópica.

• O padrão para o diagnóstico da gravidez ectópica, e conjunto com a realização de


anamnese e exame físico adequado e minucioso, é a dosagem sérica quantitativa do
beta-hCG e a realização de USTV.

• O tratamento para gravidez ectópica, na maioria das vezes, é cirúrgico, de preferência


por laparoscopia, realização da salpingectomia ou salpingostomia, sendo estes
classificados, respectivamente, como tratamento cirúrgico radical ou conservador.

• Quando a gestação é recente e a gravidez ectópica é pequena, há a possibilidade do


tratamento medicamentoso, com o uso de metotrexato, via intramuscular. A gravidez
ectópica não pode ser rota para fazer esse tipo de tratamento.

108
AUTOATIVIDADE
1 Com base no Manual de gestação de alto risco, do Ministério da Saúde (BRASIL,
2022b), a gravidez ectópica ocorre quando a implantação e o desenvolvimento do
blastocisto ocorrem fora do útero. Sobre essa área do conhecimento da emergência
obstétrica, assinale a alternativa CORRETA:

Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Ações
Programáticas. Manual de gestação de alto risco. Versão preliminar. Brasília, 2022b. Disponível em:
http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/manual_gestacao_alto_risco.pdf. Acesso em: 28
ago. 2022.

a) ( ) A localização mais frequente da gravidez ectópica é a gravidez ovariana. No


entanto, a gestação ectópica pode ocorrer também na porção intersticial da tuba,
na cérvix, na cicatriz da cesárea e na cavidade abdominal, quando denominamos
de gravidez não tubária.
b) ( ) A gravidez ectópica é considerada a principal causa de mortalidade materna no
primeiro trimestre da gravidez.
c) ( ) Com as dosagens da fração beta do hormônio gonadotrófico coriônico (beta-
hCG) e a ultrassonografia abdominal, o diagnóstico é realizado com maior
precisão e em uma fase mais inicial.
d) ( ) Para evitar que a paciente evolua para quadro grave de abdome agudo
hemorrágico devido à ruptura tubária, é preciso atentar-se para a realização do
diagnóstico tardio, ou seja, de gestação tubária íntegra.

2 Considera-se que a gravidez ectópica, geralmente, se encontra associada a fatores


de risco que causam lesão tubária ou alteração no transporte ovular. Com base nos
fatores de risco para gravidez ectópica, analise as sentenças a seguir:

I- A doença inflamatória pélvica ocorre por infecções genitais causadas, principalmente,


por Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae, que alteram as tubas, podendo
obstruí-las, diminuir o movimento ciliar e o estreitamento, aumentando, assim, a
possibilidade de gravidez ectópica.
II- Apenas o uso do DIU de cobre pode aumentar a chance de gravidez ectópica.
III- Uma gravidez recorrente de uma reprodução assistida apresenta risco de evoluir
para uma gravidez ectópica, devido ao aumento do volume sanguíneo de ocitocina.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença I está correta.
c) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
d) ( ) Todas as sentenças estão incorretas.

109
3 O enfermeiro tem suas responsabilidades diante da mulher com gravidez ectópica,
desde a triagem no centro obstétrico até o cuidado durante o procedimento e na
recuperação hospitalar. De acordo as intervenções do enfermeiro com a mulher
internada devido à gravidez ectópica, classifique V para as sentenças verdadeiras e F
para as falsas:

( ) O enfermeiro deve monitorar os sinais vitais, mas não há necessidade de realizar o


balanço hídrico da paciente com gravidez ectópica grave.
( ) É preciso avaliar e observar a perda sanguínea por via vaginal da mulher, pois é
necessário ficar atento aos sinais de choque hipovolêmico.
( ) Durante o tratamento de gravidez ectópica, quando medicamentoso com metotrexato,
o enfermeiro deve sempre informar os efeitos colaterais à mulher, assim como, quando
for cirúrgico, deve informar sobre o procedimento e também sobre os cuidados pós-
procedimento.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) F – V – V.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) V – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 Um adequado exame físico pode fazer a diferença na conduta a ser tomada com
a paciente. Os achados podem variar de acordo com o estado hemodinâmico da
paciente. É importante identificar sinais e sintomas de gravidez ectópica e situações
de choque hipovolêmico já no exame físico, realizado na triagem do centro obstétrico.
Diante disso, quais os principais achados, sinais e sintomas durante o exame físico
com suspeita de gravidez ectópica?

5 Quando se opta pela evolução natural da gravidez ectópica, ou seja, pela conduta
expectante, é necessário que essa gravidez se encaixe em algumas condições
para poder seguir com maior tranquilidade a conduta escolhida. Quais são essas
circunstâncias?

110
UNIDADE 2 TÓPICO 3 —
HEMORRAGIAS ANTEPARTO

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, abordaremos acerca das hemorragias que antecedem o parto,
definidas, por alguns autores, como hemorragias após a 20ª semana e, por outros, após
a 28ª semana de gestação. O Ministério da Saúde classifica a idade gestacional para
hemorragias anteparto como após as 20 semanas, sendo que elas não têm relação
nenhuma com o trabalho de parto e podem ser conhecidas também como síndromes
hemorrágicas da segunda metade da gestação.

A hemorragia obstétrica grave é uma causa comum de morbidade e mortalidade


materna, e, por isso, algumas causas importantes dessas hemorragias que iremos
abordar são: placenta prévia, descolamento prematuro da placenta e vasa prévia. Por
vezes, o diagnóstico clínico é complexo, visto que a hemorragia também pode estar
oculta. Quando não avaliada corretamente, ou passado despercebida alguma condição
clínica importante para o diagnóstico de alguma condição, coloca-se em risco a vida da
mãe e do feto.

Complicações como choque materno, hipóxia fetal e óbito fetal estão presentes
quando não realizadas as condutas corretas e ágeis. É necessário não confundir
alguns sinais e sintomas maternos com as alterações fisiológicas da gravidez, como
hipovolemia, hipotensão e taquicardia. Por isso, a importância de uma assistência
baseada em evidências científicas, atuação de equipe multiprofissional, avaliação
minuciosa em exame físico, queixas e sinais vitais, e também familiarização com os
protocolos da instituição nos casos de hemorragias anteparto.

2 PLACENTA PRÉVIA
A placenta prévia, também conhecida como inserção viciosa de placenta,
é quando a placenta se implanta de forma anormal no inferior do útero. Segundo o
Ministério da Saúde (BRASIL, 2022b), a placenta prévia é classificada a partir da 22ª
semana de gestação. “A prevalência geral de placenta prévia é de 5,2 por 1.000 gestações
e tem aumentado com a maior realização de operações cesarianas. Apresenta risco
elevado de morbidade, [...] sendo responsável por índices elevados de prematuridade e
mortalidade materna” (BRASIL, 2022b, p. 81). Dessa forma, é caracterizada como uma
emergência obstétrica.

111
Zugaib e Francisco (2020) classificam a placenta prévia como total ou parcial e,
também placenta de inserção baixa. Na Figura 4, podemos observar primeiro a placenta
normalmente inserida, depois a placenta de inserção baixa, seguida da placenta prévia
parcial e, por fim, a placenta prévia total.

• Placenta prévia total: caso em que a placenta recobre totalmente o orifício interno do
colo uterino.
• Placenta prévia parcial: quando a placenta cobre parcialmente o orifício interno do
colo uterino.
• Placenta de inserção baixa: a placenta está inserida no segmento inferior do útero,
porém não chega a cobrir nenhuma parte do orifício interno do colo uterino.

Figura 4 – Placenta prévia

Fonte: Cerqueira (2021, p. 1.705)

Sobre os fatores de riscos e a incidência, a placenta prévia, de acordo com


Almeida e Reis (2021), é associada à paridade, sendo que as multíparas correm um
risco 5 vezes maior, porque o relaxamento uterino favorece a má inserção da placenta.
Cesariana anterior também é um fator de risco e, segundo Zugaib e Francisco (2020),
o risco de placenta prévia aumenta conforme a quantidade de cesarianas anteriores. A
idade materna avançada também se associa a um fator de risco; as gestações múltiplas
podem chegar a uma frequência de 40% para desenvolvimento de placenta prévia. Além
disso, Zugaib e Francisco (2020) ainda trazem os números de curetagens, tabagismo,
uso de drogas ilícitas e cirurgias uterinas anteriores.

IMPORTANTE
O quadro clínico, de acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2022),
da placenta prévia é: sangramento vermelho vivo de início súbito, sem
presença de dor, ocorrendo, em sua grande maioria, no segundo
trimestre.

112
ATENÇÃO
O exame de toque vaginal não deve ser realizado em caso de suspeita
de placenta prévia, conforme Zugaib e Francisco (2020), pois há o
risco de causar hemorragia abundante.

O diagnóstico é realizado a partir da associação dos sinais e dos sintomas da


gestante, podendo ser realizada a ultrassonografia para complementar um diagnóstico
preciso. “Quanto mais tarde for feito o diagnóstico de placenta prévia, maior será a
probabilidade de sua persistência no momento do parto” (ZUGAIB; FRANCISCO, 2020,
p. 776).

Quanto à conduta, há dois tipos: a conduta expectante e a conduta ativa,


que variam conforme a intensidade do sangramento, segundo o Ministério da Saúde
(BRASIL, 2022b), antes de decidir qual das condutas deve ser tomada, quando há
sangramento ativo, é necessária, de imediato, a realização de dois acessos venosos
calibrosos, para repor volume e evitar choque hipovolêmico, além de avaliar os sinais
vitais frequentemente e reservar bolsa de sangue, caso haja a necessidade de reposição
sanguínea. “Nos casos de hemorragia grave, a interrupção imediata da gestação é
obrigatória, independentemente da idade gestacional, pelo elevado risco materno e
fetal” (BRASIL, 2022b, p. 85).

Após estabilização hemodinâmica, a avaliação de conduta se baseia em: “gravidade


da hemorragia, estimativa da maturidade fetal, condição fetal e presença ou não de trabalho
de parto” (BRASIL, 2022b, p. 83), conforme pode ser observado na Figura 5.

Figura 5 – Conduta obstétrica

Fonte: Brasil (2022, p. 84)

113
No caso da conduta expectante, a gestante deve permanecer em repouso e
realizar avaliação quinzenal até chegar no termo da gestação. Já nos casos de conduta
ativa, a realização da cesárea é indicada, o parto por via vaginal pode ser considerado
quando placenta de inserção baixa, porém, com controle rigoroso do sangramento e do
batimento cardíaco fetal, conforme as recomendações do Ministério da Saúde (BRASIL,
2022b).

Alguns cuidados de Enfermagem, no caso de placenta prévia, de acordo com


Almeida e Reis (2021) são:

• estabelecer repouso absoluto, de acordo com conduta obstétrica;


• humanização no atendimento com a mulher;
• minimizar angústias e medos da mulher;
• monitorar sinais vitais e realizar balanço hídrico;
• controlar a perda de sangue por via vaginal;
• avaliar condição fetal a partir da ausculta cardíaca fetal e movimentação fetal;
• manter acesso venoso periférico calibroso;
• administrar líquidos e hemoderivados, conforme prescrição;
• administrar oxigênio por máscara, conforme prescrição;
• verificar fator Rh da gestante; se Rh negativo, administrar imunoglobulina anti-D.

3 DESCOLAMENTO PREMATURO DE PLACENTA


NORMALMENTE INSERIDA
O descolamento prematuro de placenta (DPP) é a separação da placenta, que
está normalmente inserida, do útero antes da expulsão do feto, podendo ser parcial ou
completo, em gestação de 20 semanas ou mais, assim classificada pelo Ministério da
Saúde (BRASIL, 2022b) e por Zugaib e Francisco (2020). Além disso, é “uma das principais
emergências obstétricas hemorrágicas, sendo mundialmente reconhecida como uma
situação ameaçadora à vida e com capacidade de evolução rápida para situações de
‘near miss’, assim como para óbitos materno e fetal” (BRASIL, 2022b, p. 86).

A causa da DPP ainda está sem esclarecimentos precisos, porém algumas


condições podem ser associadas, como as síndromes hipertensivas, os fatores mecânicos
e traumáticos e os fatores placentários (por exemplo, tabagismo e uso de drogas ilícitas, que
causam a má perfusão placentária, além da anemia e do consumo de álcool, estando
este associado à necrose da decídua basal) (ALMEIDA; REIS, 2021).

A rotura de vasos maternos na decídua basal está implicada como


causa imediata dessa separação [...] o sangue acumulado separa a
placenta da decídua inicialmente por meio de uma fina camada. Esse
hematoma resultante pode ser pequeno e autolimitado (separação
parcial), ou pode continuar a dissecar a interface placenta-decídua,

114
levando à separação quase completa ou completa desta (separação
total). Pelo fato de a placenta separada não ser capaz de manter sua
função de troca de gases e nutrientes, o feto torna-se progressiva-
mente comprometido à medida que esse processo evolui (ZUGAIB;
FRANCISCO, 2020, p. 789).

Na Figura 6, é possível perceber como ocorre o DPP com hemorragia externa.

Figura 6 – DPP com hemorragia externa

Fonte: Zugaib (2020, p. 789)

Entre os fatores de risco para DPP, de acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL,
2022b), estão: idade materna maior que 35 anos e menor que 20 anos, multiparidade,
síndromes hipertensivas, traumas, distúrbios no líquido amniótico, placenta prévia, cesárea
anterior, DPP anterior e pré-eclâmpsia anterior.

Acadêmico, acerca do diagnóstico, é basicamente clínico, podendo ser realizada


ultrassonografia como exame complementar do diagnóstico, se houver necessidade.

Dor abdominal súbita e intensa no abdome, sangramento vaginal, taquissistolia


ou hipertonia também podem estar presentes em casos de DPP; em casos de hemorragia
interna ou oculta, o sangramento nem sempre está presente (ZUGAIB; FRANCISCO,
2020), podendo ocorrer em 20% dos casos de DPP. Outro fator importante, observado
no exame físico materno, é a pressão arterial com convergência tensional; o estado de
pré-choque ou choque hipovolêmico também podem estar presentes.

115
IMPORTANTE
Acadêmico, após o diagnóstico clínico do DPP, é necessária a avaliação das
condições da mãe e do feto, principalmente a estabilização hemodinâmica
em casos de hemorragia severa, pois essa emergência obstétrica pode
ter desfecho com parto via vaginal ou cesariana, dependendo da conduta
médica.

Quando o feto está vivo e estável, a cesariana de emergência entra como conduta
imediata, se o parto normal não for iminente, segundo Zugaib e Francisco (2020), sendo
a agilidade nesse processo essencial para garantir um desfecho favorável. No caso de
feto morto e as condições das mães estarem preservadas, estimula-se o parto normal,
mas, se as condições maternas estiverem ruins, se deve recorrer à cesárea.

Para melhor compreensão da conduta no DPP, o Ministério da Saúde (BRASIL,


2022b) traz um fluxograma (Figura 7).

Figura 7 – Conduta no DPP

Fonte: Brasil (2022b, p. 88)

116
O enfermeiro tem papel relevante na conduta do DPP e nas suas intervenções,
conforme expõem Almeida e Reis (2021):

• Manter acesso venoso periférico calibroso.


• Administrar reposição de volume e hemoderivado, conforme prescrição médica.
• Realizar sondagem vesical de demora para monitorar balanço hídrico.
• Controlar a perda de sangue via vaginal.
• Avaliar condição materno-fetal, observar variabilidade dos batimentos cardíacos
fetais e movimentação fetal.
• Observar dinâmica uterina, quando parto normal.
• Coletar material laboratorial, para exame hematológico.

4 VASA PRÉVIA
Essa condição ocorre quando os vasos sanguíneos fetais correm, através das
membranas ovulares, sem estarem cobertos pela geleia de Wharton ou tecido placentário,
além de estarem perto do orifício interno do colo uterino. De acordo com o Ministério
da Saúde (BRASIL, 2022b), há dois tipos: “são a inserção do cordão umbilical distante
da massa placentária (inserção velamentosa) e a presença de conexões vasculares em
casos de placenta bilobulada” (BRASIL, 2022b, p. 92).

Figura 8 – Vasa prévia

Fonte: http://twixar.me/T9Qm. Acesso em: 5 jan. 2023.

117
A vasa prévia é uma condição rara, tendo incidência baixa de acordo com os
dados mostrados pelo Ministério da Saúde. Entretanto, é importante entender essa
condição, pois se trata de uma emergência obstétrica, uma vez que, se houver ruptura
das membranas ovulares no trabalho de parto, há o risco de ruptura dos vasos fetais,
ou seja, a ruptura da vasa prévia pode acarretar choque hemorrágico fetal rapidamente,
levando ao óbito fetal.

O diagnóstico pode se dar em três situações:

Diagnóstico após a ruptura de vasa previa. Trata-se de situação


dramática. Após a ruptura da bolsa das águas, ocorre desaceleração
grave e sustentada da frequência cardíaca fetal, obrigando ao parto
de emergência para salvar a vida do feto. A taxa de mortalidade
perinatal nessa situação é superior a 50%. Diagnóstico incidental de
vasa previa íntegra durante o trabalho de parto. O obstetra, ao realizar
o toque vaginal para avaliar a evolução do trabalho de parto, percebe
uma estrutura semelhante a uma corda fazendo relevo na superfície
das membranas. Se o vaso for arterial, identifica pulsações síncronas
com a frequência cardíaca fetal. O diagnóstico pode ser confirmado
por meio da amnioscopia ou, idealmente, da ecografia transvaginal
com Doppler. Dada a importância desse diagnóstico, recomenda-se
que, ao realizar o toque vaginal no trabalho de parto, o obstetra atente
sempre para a regularidade da superfície das membranas, sobretudo
se pretende realizar amniotomia. Diagnóstico durante a gestação, por
ultrassonografia, antes do terceiro trimestre. Esse é, sem dúvida, o
momento ideal para o diagnóstico, pois determina melhora drástica
no prognóstico perinatal. A taxa de sobrevida neonatal é de 95%
(BRASIL, 2022b, p. 93).

Já quanto à conduta para evitar o risco de ruptura da vasa prévia, quando


diagnosticada a tempo, é recomendada a realização da cesariana. Se o feto não estiver
no termo gestacional, deve-se, conforme recomendações do Ministério da Saúde
(BRASIL, 2022b), internar a paciente, observar sinais e sintomas, e realizar a maturação
pulmonar do feto, até alcançar maturidade fetal adequada para nascimento via cesariana.
Durante o nascimento, especificamente após a saída do bebê, devem ser realizados
o clampeamento e o corte do cordão umbilical de maneira rápida, evitando, assim,
hemorragia fetal pelos vasos.

118
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:

• A hemorragia obstétrica grave é uma causa comum de morbidade e mortalidade


materna. Algumas causas importantes dessas hemorragias são: descolamento
prematuro de placenta normalmente inserida, placenta prévia e vasa prévia.

• A forma clínica comum da placenta prévia é sangramento vaginal indolor, entre o


segundo e o terceiro trimestre de gestação, podendo haver contrações uterinas.
Pode ser classificada como placenta prévia total, parcial e placenta de baixa inserção.

• No descolamento prematuro de placenta normalmente inserida, em casos graves, o


profissional deve estar atento ao estado hemodinâmico da mulher, a fim de evitar o
risco de choque hipovolêmico.

• As hemorragias anteparto devem ser analisadas de forma individualizada, e o


acompanhamento do enfermeiro antes, durante e após a emergência é essencial. A
avaliação materno-fetal se mostra indispensável, bem como a observação dos sinais e
dos sintomas que a mulher apresenta em cada caso. Na maioria dos casos graves, a
cesariana de emergência é recomendada.

119
AUTOATIVIDADE
1 Com base no Manual de gestação de alto risco, do Ministério da Saúde (BRASIL,
2022b), a placenta prévia é definida como a placenta que se implanta total ou
parcialmente na parte inferior do útero, obstruindo ou não o orifício interno do colo
uterino, podendo ser classificada de três formas. Sobre as classificações de placenta
prévia, assinale a alternativa CORRETA:

Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Ações Pro-
gramáticas. Manual de gestação de alto risco. Versão preliminar. Brasília, 2022b. Disponível em:
http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/manual_gestacao_alto_risco.pdf. Acesso em: 28 ago.
2022.

a) ( ) A placenta prévia parcial atinge o orifício interno do colo uterino, cobrindo-o


completamente.
b) ( ) A placenta prévia total recobre totalmente o orifício interno do colo uterino.
c) ( ) A placenta prévia total recobre parcialmente o orifício interno do colo uterino.
d) ( ) A placenta de baixa inserção está localizada próximo ao colo uterino, cobrindo-o
completamente.

2 Considera-se que o descolamento prematuro de placenta (DPP) consiste na separação


da placenta, normalmente inserida, antes da expulsão do feto, em gestação de 20
semanas ou mais. De acordo com os fatores de riscos associados a DPP, analise as
sentenças de casos clínicos a seguir:

I- A paciente M. P. com 40 anos de idade, G3P1C1, tem maior risco para descolamento
prematuro de placenta que a paciente R. S. de 29 anos de idade, G1.
II- A paciente I. S., 28 anos de idade, G1, sofreu uma queda, ou seja, um trauma durante
sua atual gestação. Já a paciente M. K., de 28 anos de idade, G1, sofre de hipertensão
arterial e é tabagista. Ambas têm risco para descolamento prematuro de placenta.
III- A paciente A. R., 25 anos de idade, G2P1, diagnosticada com diabetes melito
gestacional na atual gestação, controlada com dieta e exercício físico, tem risco
elevado para descolamento prematuro de placenta.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

120
3 Segundo o Manual de gestação de alto risco, do Ministério da Saúde (BRASIL,
2022b, p. 92), “Denomina-se vasa previa a condição em que vasos sanguíneos fetais
não cobertos por tecido placentário ou geleia de Warthon transcorrem através das
membranas ovulares a uma distância ≤ 2 cm do orifício cervical interno”. De acordo
com essa emergência hemorrágica anteparto, analise as sentenças a seguir:

Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Ações
Programáticas. Manual de gestação de alto risco. Versão preliminar. Brasília, 2022b. Disponível em:
http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/manual_gestacao_alto_risco.pdf. Acesso em: 28 ago.
2022.

( ) A ruptura de vasa prévia é rara, porém, quando ocorre, é considerada emergência


grave, com alto risco de morte perinatal. Após a ruptura da bolsa das águas,
ocorre desaceleração grave e sustentada da frequência cardíaca fetal, obrigando à
realização de parto de emergência para salvar a vida do feto.
( ) Quando a vasa prévia está íntegra, no exame do toque vaginal para avaliação do
trabalho de parto, o profissional percebe uma estrutura, parecida como uma corda,
fazendo relevo nas membranas. Nesse momento, a conduta ideal é a amniotomia,
ou seja, o rompimento artificial da bolsa das águas.
( ) Cabe ao enfermeiro realizar boa anamnese e exame físico completo, escutando, de
forma ativa, as queixas da gestante. Para perceber e diagnosticar a presença de
vasa prévia, o enfermeiro deve tomar a frente da conduta clínica dessa emergência.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 Sabe-se que o índice de descolamento prematuro de placenta (DPP) normalmente


inserida tem aumentado nos últimos anos, o que pode estar associado às mudanças
nos fatores de riscos a que as gestantes são expostas na atualidade. Felizmente,
a escuta ativa, o exame físico e as tecnologias obstétricas contribuem para o
diagnóstico precoce do DPP. Algumas consequências dessa emergência são: óbito
fetal, trabalho de parto prematuro, restrição de crescimento intrauterino, óbito
materno, coagulopatias, histerectomia e infecções puerperais. Diante disso, disserte
sobre a importância da atuação do enfermeiro nos casos de DPP.

5 Considerada uma emergência obstétrica frequente, a placenta prévia pode ocasionar


prematuridade, baixo peso ao nascer, distúrbios respiratórios do recém-nascido e
óbitos perinatais. Estudos mostram que mulheres multíparas, com idade avançada,
com cesárea prévia e também curetagem uterina prévia têm maior risco de placenta
prévia. Diante disso, responda quais as medidas essenciais da Enfermagem para uma
gestante com suspeita de placenta prévia?

121
122
UNIDADE 2 TÓPICO 4 —
EMERGÊNCIAS DE PARTO

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, abordaremos as emergências de parto mais relevantes, na prática
obstétrica, dentro da sala cirúrgica do centro obstétrico, mesmo que raras, podem
ocorrer, sendo que tanto o enfermeiro como toda a equipe necessitam estar dispostos
para um preparo, organização e, por fim, uma resolução adequada da emergência de
parto. Entre os temas abordados, estão a rotura uterina, a inversão uterina, a distócia de
ombros e o prolapso de cordão umbilical.

É importante frisar que o enfermeiro é agente ativo em cada uma dessas


emergências de parto, visto que o diagnóstico precoce pode ser realizado na sala de
triagem, por exemplo, ou durante a assistência de trabalho de parto; dessa forma, a
escuta ativa das queixas maternas deve ocorrer de maneira adequada, bem como a
inspeção e a palpação devem estar presentes no exame físico da parturiente. Quando
há a ocorrência de uma das emergências citadas anteriormente, é o enfermeiro que
fica responsável pela organização da equipe de Enfermagem, pela preparação da sala
cirúrgica e pela assistência imediata à parturiente, garantindo que ocorra uma resolução
imediata e baseada em evidências científicas.

A atualização constante, sobre as condutas e as medidas de resolução das


emergências citadas, é essencial, visto que, a cada ano, há novas evidências científicas
e novas propostas de condutas que melhoram a qualidade na assistência e diminuem o
índice de mortalidade materna e fetal.

2 ROTURA UTERINA
Para Nené, Marques e Batista (2016), a rotura uterina manifesta-se com dor
abdominal intensa, hemorragia irregular e sinais de choque. Durante a palpação abdominal,
percebe-se a presença de uma rotura ou, até mesmo, é possível palpar o feto sob a parede
abdominal. É um acontecimento excepcional, que pode resultar na morte fetal e materna
se não for tratado como emergência grave imediata.

O’Reilly, Bottomley e Rymer (2005) comentam que é um evento extremamente


raro de hemorragia vaginal que ocorre durante o trabalho de parto e o parto, geralmente
em mulheres com antecedentes de cirurgia uterina. Ressalta-se que a dor pode ser
mascarada se a mulher estiver com analgesia epidural. Outro sinal é a cessação súbita
das contrações uterinas, e a percepção de anomalias no batimento cardíaco fetal. Sinais
de choque, como a taquicardia, estão presentes, além de hematúria.

123
“Trata-se da rotura completa ou incompleta da parede uterina, que ocorre
sobretudo além da 28ª semana gestacional e durante o trabalho de parto, precedida, em
sua maioria, por quadro clínico de iminência de rotura uterina, o que facilita sua prevenção”
(BRASIL, 2000, p. 58). Montenegro e Rezende (2014) explicam que a rotura uterina pode
ser classificada como corporal, segmentária ou segmento-corporal. A Figura 9 mostra,
respectivamente, exemplos de rotura completa segmentária, rotura completa corporal e
rotura incompleta com hematoma distendido nos ligamentos largos.

“A etiologia principal da ruptura uterina nos países desenvolvidos é a pós-cesárea;


no mundo em desenvolvimento, é o parto obstruído. Outros fatores de risco incluem
grande multiparidade, uso de uterotônicos, traumatismo, placenta percreta, versão
interna e grande extração” (MONTENEGRO, REZENDE FILHO, 2014, p. 869). Quanto a sua
etiopatogenia, podem ser rupturas espontâneas e provocadas, sendo que a ruptura uterina
espontânea ocorre sem a intervenção/interferência de algum profissional, enquanto
a ruptura provocada, ou traumática, decorre de versão interna, extração podal, uso de
fórceps, entre outros, além da presença de taquissistolia e do aumento da contratilidade
uterina pela administração excessiva de ocitócicos.

Figura 9 – Tipos de roturas uterinas

Fonte: Montenegro; Rezende Filho (2014, p. 871)

124
IMPORTANTE
Futuro enfermeiro, é importante perceber que, na iminência da rotura
uterina, a parturiente fica agitada, refere dor extrema abdominal, espe-
cificamente hipogástrica, além da presença de taquissistolia. Notam-se
o sinal de Bandl, que é o relevo do anel que separa o corpo uterino do
segmento inferior, e o sinal de Frommel, que é a palpação dos ligamentos
redondos desviados para a face ventral do útero.

NOTA
Acadêmico, no caso de rotura uterina consumada, os sinais e
sintomas são: dor súbita em região hipogástrica, ausência de
contração uterina, presença de hemorragia discreta ou profusa,
estado de choque, dependendo da hemorragia. Observa-se o útero
em formato de ampulheta, na palpação abdominal, e, em caso de
ruptura completa, pode-se perceber o feto na cavidade abdominal.

Nesse caso, os tratamentos, segundo Montenegro e Rezende Filho (2014),


podem ser:

• Profilático: em casos que não houve ainda a ruptura uterina, ou seja, quando se
percebe o aumento da atividade uterina, administram-se tocolíticos para diminuir a
taquissistolia.
• Curativo: é realizada a terapêutica do choque imediata ao acidente. Pode ser feita a
lavagem abdominal, além do desembaraço desta cavidade.
• Histerectomia ou histerorrafia: depende das paredes uterinas lesadas e do estado da
paciente.

3 INVERSÃO UTERINA
A inversão uterina, segundo Nené, Marques e Batista (2016), é quando o corpo
do útero se inverte, ou seja, o útero sai pelo colo uterino, após o parto imediato, até o
interior da vagina ou mesmo na abertura da vagina. É pouco frequente, mas, quando
ocorre, pode causar hemorragia intensa e, consequentemente, choque hipovolêmico
materno.

125
ATENÇÃO
Infelizmente, tal emergência obstétrica pode ocorrer quando há muita
pressão sobre o fundo uterino no parto ou quando é puxado o cordão
umbilical, muitas vezes, com muita pressão, durante a dequitação da
placenta que ainda não se descolou.

“Pode ser parcial ou completa (esta é visível pela saída do útero invertido pela
fenda vulvar), acometendo mais multíparas e mulheres com acretismo placentário,
quando se tenta tracionar demais o cordão, associado à compressão fúndica” (BRASIL,
2000, p. 61).

Zugaib e Francisco (2020) expõem que a sua incidência é variada, menor do


que uma em 6 mil partos vaginais. Os fatores de risco são: macrossomia, cordão curto,
uso prolongado de ocitocina sintética ou sulfato de magnésio, primiparidade, anomalias
uterinas, remoção manual da placenta e acretismo placentário. Para o diagnóstico
clínico, é observado ou palpado o útero no canal vaginal ou no períneo (este último nos
casos de inversão completa), podendo ocorrer hemorragia intensa e hipotensão.

O tratamento pode ser realizado, conforme Zugaib e Francisco (2020), por:

• administração de uterolíticos;
• manobra de Taxe (Figura 10);
• terapêutica cirúrgica.

Figura 10 – Manobra de Taxe para reverter a inversão uterina

Fonte: Zugaib; Francisco (2020, p. 485)

Acadêmico, saiba que, nessa emergência, após a solução da inversão uterina


ser realizada com sucesso, a administração de uterotônicos deve ser feita para prevenir a
reinversão uterina e diminuir a perda de sangue materna.

126
4 DISTÓCIA DE OMBROS
A distócia de ombros, ou a distócia de biacromial, se dá quando a apresentação fetal
é cefálica, logo após o desprendimento do polo cefálico, e os ombros não se desprendem.
Segundo Graça (2017, p. 585), “é uma emergência obstétrica rara e imprevisível, que pode
resultar em graves complicações para o recém-nascido e para parturiente”.

Para Zugaib e Francisco (2020), tem incidência inferior a 1% dos partos, porém
essa porcentagem aumenta para 6% quando o feto tem peso superior a 4 kg, geralmente
associado a uma intercorrência materna da gravidez, como pós-datismo, obesidade
materna, diabetes melito gestacional e desproporção entre pelve e feto que pode ter
menos que 4 kg. Essa emergência pode causar, ainda, alguns riscos maternos, como
lacerações do canal de parto, atonia uterina e rotura uterina, e riscos fetais, como lesões
do plexo braquial, fratura de clavícula e úmero, óbito fetal intraparto ou neonatal.

Graça (2017) explica que essa emergência é definida como uma dificuldade da
extração do feto no nível dos ombros, ou seja, o não desprendimento dos ombros da
pelve materna, geralmente, está associado a macrossomia fetal.

IMPORTANTE
Acadêmico, perceba que há medidas de prevenção da distócia de
ombros e, mesmo sendo um tipo de emergência imprevisível, algu-
mas medidas podem ser tomadas para diminuir esse risco, como:
o controle de peso da mãe durante o pré-natal, o rastreamento
correto do diabetes gestacional e, se diagnosticada, devem ser re-
alizados os cuidados necessários para o controle da glicemia e a
identificação de macrossomia fetal durante o pré-natal. A indução
de trabalho de parto antes da data provável do parto, caso o feto
tenha peso acima de 4 kg ou tenha percentil acima de 90, também
é uma medida de prevenção.

De acordo com Graça (2017), é possível perceber alguns sinais evidentes da


distócia de ombros, como a retração da cabeça fetal após a sua expulsão, conhecida
como “sinal de tartaruga”. Feito o diagnóstico, deve ser posta, em prática, uma série
de medidas, como, primeiramente, pedir que a parturiente pare de empurrar, além
do profissional que está assistindo ao parto pedir ajuda para outros profissionais para
realização das manobras de distócia de ombros.

127
Zugaib e Francisco (2020) explicam, detalhadamente, as manobras necessárias
para resolução da distócia de ombros:

• Não tracionar a cabeça: essa atitude pode levar à distensão do plexo


braquial ou do bulbo, com graves complicações neurológicas.
• [...]Realizar a manobra de McRoberts, que consiste na hiperflexão
e abdução das coxas, com consequente deslocamento cranial
da sínfise púbica e retificação da lordose lombar, liberando-
se o ombro impactado. São necessários dois auxiliares para a
execução dessa manobra.
• Realizar pressão suprapúbica (manobra de Rubin), com pressão
contínua sobre o ombro anterior do feto, que desliza sob a sínfise
púbica.
• Tentar girar os ombros fetais do diâmetro sagital para o diâmetro
obliquo. Dessa maneira, o ombro posterior e o anterior poderão
ser desprendidos respectivamente do sacro e do púbis.
• Para desprender o ombro posterior, pode-se utilizar a manobra
de Jacquemier. Após suspender o polo cefálico, introduz-se
a mão pela concavidade do sacro, apreende-se o antebraço e,
por deslizamento, este é retirado pela face anterior do tórax. Em
seguida abaixa-se o tronco, que liberará o ombro anterior. Se
houver dificuldade em liberar o ombro anterior, deve-se segurar
o polo cefálico com uma das mãos e o braço posterior com outra,
enquanto um auxiliar desloca o dorso do feto para o lado e roda o
feto em 180°, para o lado do dorso, a fim de transformar o braço
posterior em anterior (manobras de Ahlfed e Barnum).
• Outra opção é manobra de Woods. O obstetra deve girar o tronco
em 180°, em sentido horário. Após o ombro posterior ser liberado,
roda-se o tronco em sentido anti-horário, 180°, soltando-se o
outro ombro.
• Como alternativa, pode-se utilizar a manobra de Matthes. A
paciente deve adotar a posição genupeitoral. Nessa posição, o
ombro posterior torna-se anterior, permitindo que o braço seja
facilmente apreendido e trazido para fora da vagina pela mão
do obstetra. Se o dorso do feto está à direita, introduz-se a mão
direita; se estiver à esquerda, a mão esquerda. Retirando o braço
sacral, promove-se uma rotação de 180°, levando-o para o púbis.
Desprende-se o ombro anterior, agora sacral, retira-se o braço e
finaliza-se o parto (ZUGAIB; FRANCISCO, 2020, p. 399-400).

ATENÇÃO
Acadêmico, é de extrema importância, em caso de emergência obstétrica
por distócia de ombros, haver a devida familiarização da assistência e
conduta para a resolução dessa intercorrência.

A Figura 11 demonstra as manobras iniciais para distocia de ombros.

128
Figura 11 – Manobras de McRoberts e Rubin

Fonte: Zugaib; Francisco (2020, p. 399)

Atualmente, há alguns algoritmos, propostos por diversos autores, para resolução da


distócia de ombros a partir da realização de manobras específicas, para melhor facilidade
e organização da equipe nessa emergência, quando a parturiente se encontrar em
posição tradicional, deitada em decúbito dorsal. O mnemônico, proposto pelo Advanced
Life Support of Obstetrics (ALSO), sob o acrônimo HELPERR (em inglês), traduzido como
ALEERTA (Figura 12), é composto pelas manobras detalhadas anteriormente por Zugaib e
Francisco (2020).

Figura 12 – ALEERTA

Fonte: Amorim et al. (2013, p. 119)

129
Entretanto, Amorim et al. (2013) explanam um novo protocolo, considerando os
benefícios para partos em posição não supina e iniciado com medidas menos invasivas,
o mneumônico “A SAIDA” (Figura 13): “A: chamar ajuda, avisar parturiente, aumentar
agachamento; S = pressão suprapúbica; A: alterar posição para quatro apoios (manobra
de Gaskin); I: manobras internas (Rubin II, Wood, parafuso invertido); D: desprender ombro
posterior; A: avaliar manobras de resgate” (AMORIM et al., 2013, p. 115). Os autores ainda
salientam que, realizando as três primeiras manobras, é sucesso em 90% dos casos.

Figura 13 – A SAIDA

Fonte: Amorim et al. (2013, p. 119)

5 PROLAPSO DE CORDÃO
“Chama-se procidência ou procúbito a presença do cordão antes da apresentação,
estando o saco amniótico íntegro; e prolapso se o cordão se apresentar após a amniorrexe”
(REZENDE, 2014, p. 862). O prolapso de cordão é uma emergência obstétrica de grande risco
fetal, que se caracteriza com a presença do cordão umbilical à frente da apresentação
fetal, ou pode ser um prolapso oculto, quando está ao lado da apresentação fetal,
porém ainda mais perto do orifício do colo uterino. Na Figura 14, podemos observar
exemplos de laterocidência do cordão (quando a bolsa das águas está íntegra e o cordão
ao lado da apresentação fetal), procidência do cordão (quando a bolsa das águas está
íntegra e o cordão abaixo da apresentação fetal) e prolapso do cordão (quando é bolsa
rota com presença do cordão à frente da apresentação fetal, exteriorizando para o canal
vaginal).

130
Figura 14 – Prolapso de cordão umbilical

Fonte: Montenegro; Rezende Filho (2014, p. 863)

Montenegro e Rezende Filho (2014) ainda explicam a sua etiologia, sendo mais
comuns em: multíparas, rotura prematura da bolsa das águas, placenta baixa, inserção
velamentosa do cordão, polidrâmnio, gestação gemelar, cordão umbilical longo e
prematuridade.

O deslocamento do cordão para baixo da apresentação durante


ou após a rotura da membrana faz com que ele fique exposto à
compressão, dessecação ou morte reflexa, o que afeta diretamente o
prognóstico do feto. A morte fetal poderá ocorrer como resultado da
asfixia parcial ou completa do cordão umbilical ao lado ou à frente da
parte fetal (SILVA et al., 2019, p. 25).

A compreensão do cordão umbilical é uma das grandes consequências dessa


emergência, causando dificuldade de troca gasosa para o feto. Dessa forma, a conduta
deve ser imediata de quem observou e diagnosticou o prolapso de cordão umbilical.
Para Montenegro e Rezende Filho (2014), é indicada, como norma, a cesariana imediata,
enquanto o dedo que fez a avaliação deve permanecer na vagina da mulher até o último
minuto, quando estiver tudo preparado e a paciente, anestesiada e operada. Se possível
até organização da sala cirúrgica, a paciente deve ser mantida em posição genupeitoral ou
decúbito dorsal, acentuado cefalodeclive, e o profissional que estiver com os dedos na
vagina deve fazer uma pressão do polo de apresentação, evitando piora da condição
fetal. Tudo isso não deve demorar mais que 5 a 10 minutos até o nascimento por cesariana.

131
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu:

• No caso de rotura uterina, é importante o enfermeiro notar os sinais de iminência,


evitando que chegue a ocorrer, de fato, a rotura uterina. Alguns sinais importantes
são: dor extrema hipogástrica, taquissistolia, sinal de Bandl e sinal de Frommel.

• A inversão uterina pode ocorrer devido à realização de pressão do fundo uterino


no parto ou quando é puxado, excessivamente, o cordão umbilical sem aguardar o
descolamento da placenta. As condutas para resolução são: manobra de Taxe ou
terapêutica cirúrgica e sempre administração de uterolíticos.

• O conhecimento, por parte de toda a equipe de parto, das manobras para resolução
da distócia de ombros é imprescindível para um desfecho positivo. A adoção
do mneumônico “A SAIDA” deve ser feita quando a paciente estiver em posição
verticalizada, enquanto, para o “ALEERTA”, em posição de decúbito dorsal.

• É fundamental que, em casos de prolapso de cordão umbilical, os profissionais


envolvidos estejam preparados para organização da sala cirúrgica de forma rápida,
de 5 a 10 minutos até a realização de cesariana, visto que, quanto maior a demora,
maior será o risco de hipóxia fetal e danos neurológicos para o bebê.

132
AUTOATIVIDADE
1 A parturiente M. S., G2P1, com idade gestacional de 38 semanas, obesa e diagnosticada
com diabetes melito gestacional, no exame da curva glicêmica realizado com 26
semanas de gestação, segue o controle de glicemia com uso de insulina, conforme
prescrição médica. Internada no centro obstétrico em trabalho de parto ativo, logo
apresenta puxos; ao exame de toque, é constatada dilatação completa. Durante o
período expulsivo, a paciente encontra-se na banqueta de parto, observa-se a saída
do polo cefálico do bebê, porém os ombros não se soltam, sendo observado pelo
profissional que assiste ao parto o “sinal de tartaruga”. Sobre a situação descrita,
assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Trata-se de uma emergência obstétrica, nomeada de rotura uterina. Nesse caso,


iniciam-se as manobras seguindo o acrônimo “ALEERTA”.
b) ( ) Associados os fatores de risco materno e os sinais observados durante o período
expulsivo, trata-se de uma distócia de ombros. Nesse caso, diante da posição em
que a parturiente se encontra, iniciam-se as manobras seguindo o mneumônico
“A SAIDA”.
c) ( ) Associados os fatores de risco materno e os sinais observados durante o período
expulsivo, trata-se de uma distócia de ombros. Nesse caso, diante da posição
em que a parturiente se encontra, iniciam-se as manobras seguindo o acrônimo
“ALEERTA”.
d) ( ) Trata-se de uma emergência obstétrica, nomeada de rotura uterina. A conduta é
a cesariana imediata entre 5 e 10 minutos até o nascimento do bebê, garantindo
a sobrevida fetal.

2 Considera-se que a rotura uterina é um evento extremamente raro de hemorragia


vaginal, que ocorre durante o trabalho de parto e o parto, geralmente em mulheres
com antecedentes de cirurgia uterina, caracterizada como um rompimento total
ou parcial do miométrio (camada do útero), juntando a cavidade uterina à cavidade
abdominal. Com base nessa emergência obstétrica de parto, analise as sentenças a
seguir:

I- Trata-se da rotura completa ou incompleta da parede uterina, que ocorre, sobretudo,


além da 12ª semana gestacional e durante o trabalho de parto, precedida, em
sua maioria, por quadro clínico de iminência de rotura uterina, o que facilita a sua
prevenção.
II- Os fatores de risco incluem: multiparidade, uso de uterotônicos em excesso, trau-
matismo, placenta percreta, versão interna e grande extração.

133
III- Quando há rotura uterina, são sinais e sintomas: dor súbita em região hipogástrica,
ausência de contração uterina, presença de hemorragia discreta ou profusa,
estado de choque, dependendo da hemorragia; observa-se o útero em formato
de ampulheta, na palpação abdominal, e, em caso de ruptura completa, pode-se
perceber o feto na cavidade abdominal.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 Uma inversão uterina é uma emergência de parto rara, na qual o corpo uterino vira
pelo avesso, ou seja, inverte-se, protraindo-se através do colo do útero até o interior
da vagina ou além da abertura vaginal. Geralmente, está associada à hemorragia
intensa; por isso, as condutas devem ser realizadas, após o diagnóstico, de maneira
adequada e imediata. De acordo com essa emergência de parto, classifique V para as
sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) A inversão uterina pode ocorrer quando há muita pressão sobre o fundo uterino no
parto ou quando é puxado o cordão umbilical, muitas vezes, com muita pressão,
durante a dequitação da placenta que ainda não se descolou.
( ) Os fatores de risco são: bebê PIG, cordão longo, uso prolongado de ocitocina sintética
ou sulfato de magnésio, primiparidade, anomalias uterinas, remoção manual da
placenta e acretismo placentário.
( ) Para a resolução da inversão uterina, devem ser realizadas: a manobra de Taxe,
que é a reposição correta do útero, de forma manual, com a mão do profissional; a
administração de uterolíticos; ou a medida terapêutica cirúrgica.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 Uma emergência de parto que deve ter uma conduta rápida é o prolapso de cordão,
caracterizado pela saída do cordão à frente da apresentação, sendo que é possível
visualizar o cordão dentro do colo uterino ou na vagina, uma vez que traz grande risco
de complicações à saúde do feto e contribui para aumento da taxa de mortalidade
materna. Disserte sobre a conduta que deve ser tomada, no centro obstétrico, caso
o profissional de Enfermagem, durante uma avaliação de toque vaginal, perceba a
presença de prolapso de cordão.

134
5 Atualmente, há alguns algoritmos, propostos por diversos autores, para a resolução de
distócia de ombros com manobras específicas, para melhor facilidade e organização
da equipe nessa emergência. Considerando os benefícios associados aos partos em
posição vertical e a necessidade de iniciar a conduta das manobras menos para as
mais invasivas. O mnemônico “A SAIDA” tem mostrado sucesso na maioria dos casos de
distócia de ombros. Nesse contexto, disserte sobre o passo a passo da “A SAIDA” no
momento do diagnóstico de uma distócia de ombros.

135
136
UNIDADE 2 TÓPICO 5 —
HEMORRAGIA PÓS-PARTO

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, abordaremos a hemorragia pós-parto (HPP), uma emergência
obstétrica relacionada com altos índices de morte materna. Embora, segundo dados
fornecidos pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), em 2018, globalmente,
a morte materna por causa de HPP tenha diminuído 44% nos últimos 25 anos, o Brasil
não cumpriu a meta de diminuição de óbitos maternos em 2015; por isso, atualmente,
é necessária a implementação de estratégias que previnam a HPP, assim como
atualização/treinamento constante dos profissionais e das condutas a serem tomadas
em casos de HPP, diminuindo cada vez mais a mortalidade materna por HPP.

Diante disso, a OPAS/Organização Mundial da Saúde (OMS), junto ao Ministério


da Saúde, criaram uma estratégia chamada de “Zero Morte Materna por Hemorragia
– 0MMxH”, dedicada à prevenção da mortalidade materna por hemorragia pós-evento
obstétrico.

Antes de adentrarmos em cada tipo de HPP, é importante definir, conforme a


OPAS (2018), que a hemorragia pós-parto é caracterizada pela perda sanguínea acima
de 500 mL, quando parto normal vaginal, ou acima de 1.000 mL, quando cesariana
nas primeiras 24 horas. Já a hemorragia pós-parto maciça, que, nas primeiras 24
horas do pós-parto, independentemente se vaginal ou cesariana, é caracterizada pela
perda sanguínea maior que 2.000 mL ou quando a puérpera necessita de transfusão
de 1.200 mL ou mais de hemácias, ou quando há uma queda de hemoglobina ou um
distúrbio de coagulação. Além de poder ser primária, nessas primeiras 24 horas pós-
parto, ou secundária, quando passa das 24 horas pós-parto até 6 semanas depois.

Nesse sentido, existem os “4Ts”, que definem as principais causas de HPP:


tônus, em que grande parte das HPPs está relacionada; trauma, possivelmente do
canal do parto por alguma laceração; tecido, podendo ser relacionado a um pedaço de
placenta que fica retido; e trombina, que remete a coagulopatias.

É imprescindível o conhecimento das HPPs, que abrange: atonia uterina, traumas


e retenção placentária, que são as causas mais comuns de HPP observadas dentro do
centro obstétrico. Nesse processo, o enfermeiro tem papel fundamental, percebendo,
desde o exame físico da puérpera, se há alguma alteração na fisiologia do puerpério
normal ou não, além de perceber os sinais e os sintomas específicos de cada emergência
de HPP. Atentar para a “hora de ouro”, para controle do sangramento puerperal, evitando
atrasos e desfechos maternos infelizes.

137
2 ATONIA UTERINA
“A atonia uterina é a principal causa de HPP e, portanto, deve ser tratada de forma
agressiva, mesmo casos que inicialmente pareçam pouco ameaçadores” (OPAS, 2018, p.
45). Almeida e Reis (2021) ainda salientam que a HPP que tem mais frequência é a atonia
uterina, responsável por 90% das HPPs, estando associada à falta de tonicidade dos
músculos uterinos, ocasionada pela exaustão da musculatura uterina no trabalho de parto
e no parto, ou, por vezes, pelo uso da anestesia geral. Infecções genitais, multiparidade,
macrossomia fetal e polidrâmnio também são fatores de risco para atonia uterina.

ATENÇÃO
Caro acadêmico, é importante lembrar que as medidas de
prevenção de qualquer tipo de HPP devem ser realizadas de rotina,
conforme as recomendações da OPAS/OMS. Algumas medidas
são: administração do uso universal da ocitocina sintética após o
parto (10 UI, intramuscular), clampeamento oportuno do cordão
umbilical (após 1 minuto), tração controlada do cordão umbilical,
vigilância/massagem uterina no pós-parto (massagem gentil
durante 5 minutos nas primeiras 2 horas) e estímulo do contato
pele a pele de mãe e filho.

ATENÇÃO
Algumas condutas devem ser evitadas para prevenir o risco de HPP,
como o uso excessivo e rotineiro de ocitocina durante o trabalho de
parto, a realização de episiotomias seletivas e a manobra de Kristeller
(manobra de pressão no fundo uterino).

Para uma assistência eficaz e correta da emergência de HPP, especificamente


por atonia uterina, basicamente, são necessárias algumas medidas para reverter a
atonia uterina, primeiramente a massagem uterina abdominal, e, se caso esta não for
efetiva, deve ser realizada a massagem uterina bimanual, conhecida como Manobra de
Hamilton, segundo a OPAS (2018), como mostra a Figura 15.

138
Figura 15 – Massagem uterina bimanual

Fonte: OPAS (2018, p. 31)

A realização de um acesso venoso calibroso para administração de líquidos,


sangue e medicações, se necessário, segundo Zugaib e Francisco (2020), deve ser
realizada em todas as HPPs, independentemente do seu tipo.

Deve-se administrar ocitocina 5 UI lenta, durante 3 minutos, como dose de


manutenção, seguida de soro fisiológico (SF) 0,9% de 500 mL com 20-40 UI de ocitocina,
dose conforme prescrição médica, em 250 mL/h, assim como mostra a Figura 16
do fluxograma da OPAS (2018) da assistência em caso de atonia uterina. Se acaso a
ocitocina não realizar o efeito desejado na contratilidade uterina, a metilergometrina é
indicada e, se esta, também não responder, o misoprostol via retal é indicado; o ácido
tranexâmico, se disponível, também pode ser administrado concomitantemente com o
uterotônico, para obter o resultado desejado.

Como últimos recursos para reversão da atonia uterina, caso a medicação


falhar, é indicada a realização do balão de tamponamento intrauterino ou a laparotomia
como tratamento cirúrgico.

139
Figura 16 – Assistência na atonia uterina

Fonte: OPAS (2018, p. 46)

IMPORTANTE
Geralmente, na atonia uterina ou em outro tipo de HPP como
traumas ou retenção de tecidos, o tratamento inicial é direcionado
para estimulação uterina com massagem manual externa em
fundo do útero, para o estímulo da contratilidade uterina e da
expulsão de coágulos sanguíneos que podem se formar ou até
algum fragmento de tecido retido. É importante evitar o choque
hipovolêmico, sendo a reposição de volemia essencial, bem como
os medicamentos conhecidos como ocitócicos. Não se deve
esquecer de checar as reservas de hemoderivados, caso haja
necessidade de estabilização hemorrágica.

A avaliação dos sinais vitais materno é um cuidado essencial e básico nessa


emergência obstétrica, de modo que, pelo menos, a cada 15 minutos, devem ser aferidos
os sinais da puérpera, avaliando junto ao quadro neurológico materno.

140
3 TRAUMAS
A segunda maior cauda de HPP são os traumas, ou seja, lacerações de trajeto
e hematomas do canal de parto, que podem ter relação com episiotomia no parto,
instrumentação utilizada no parto (por exemplo, o uso de fórceps), sendo a multiparidade
também trazida como fator de risco, conforme Almeida e Reis (2021).

IMPORTANTE
“Sempre que se estiver diante de um sangramento, pense na possibilidade
de lacerações ou hematomas no canal do parto” (OPAS, 2018, p. 46).

A revisão do canal de parto é importante assim que ocorre a dequitação da


placenta, pois é possível perceber alguma laceração, hematoma e sangramento
excessivo por causa traumática no trajeto de parto. OPAS (2018) ainda ressalta que
suturas e drenagem de hematomas devem ser realizados quando houver necessidade.
Pode, também, ocorrer a rotura ou a inversão uterina, conforme discutido anteriormente,
classificadas como traumas importantes. A Figura 17 apresenta a sequência do atendimento
em caso de HPP por traumas.

Figura 17 – Assistência em lesão do canal do parto

Fonte: OPAS (2018, p. 47)

141
Quando observada a origem do sangramento, se for de origem traumática,
deve-se, primeiramente, realizar a correção do trauma, seja ele uma sutura, por conta
de laceração no períneo, ou mais grave, como rotura uterina ou inversão uterina –
emergências de parto que necessitam de condutas específicas.

DICA
Sugerimos a leitura das Recomendações assistenciais para prevenção,
diagnóstico e tratamento da hemorragia obstétrica, da OPAS (2018),
disponível em: http://twixar.me/J9Qm.

4 RETENÇÃO PLACENTÁRIA
Classificada como hemorragia pós-parto secundária ou tardia, conforme Almeida
e Reis (2021), a retenção de restos placentários impede a involução uterina no período
do pós-parto. Sabemos que, após o descolamento completo e a expulsão da placenta,
a contração uterina realiza o fechamento dos vasos sanguíneos uterinos, onde estava
inserida a placenta. Quando a placenta não se descola completamente ou não é expulsa, o
útero não consegue realizar a contração para ocluir os vasos sanguíneos, ocorrendo a
hemorragia em virtude da retenção placentária ou de algum tecido fragmentado.

“Atualmente, tem sido crescentes os casos de hemorragia por retenção placentária,


especialmente em função do aumento das cesarianas e, por conseguinte, dos casos
de acretismo placentário” (OPAS, 2018, p. 47). Zugaib e Francisco (2020) explicam que,
para um diagnóstico preciso, se deve observar a dequitação espontânea da placenta por
completo e, após a sua expulsão, a presença inteira dos cotilédones. Além disso, mulheres
não tenham cirurgias uterinas prévias têm menores chances de retenção de restos
placentários. A ultrassonografia também se mostra um exame auxiliar para o diagnóstico.

De acordo com a OPAS (2018), existem situações em que a placenta não se


desprende do útero no tempo esperado, necessitando de extração manual ou curetagem.
Quando há a retenção de restos placentários, é indicada a realização de curetagem,
quando estes não saem com a massagem externa abdominal; já nos casos de acretismo
placentário, não é recomendado remover a placenta, devendo ser discutido entre a
equipe médica e a paciente as opções por histerectomia ou conduta conservadora. A
OPAS (2018) ainda comenta a importância de um atendimento especializado, durante
o parto, para gestantes com placenta prévia ou acretismo placentário, pois há maior
chance de HPP por retenção placentária.

142
Acadêmico, é importante resumirmos e salientarmos que o tratamento de quais-
quer HPPs deve seguir, primeiramente, a sequência de atendimento da HPP, conforme
pode ser observado na Figura 18.

Figura 18 – Sequenciamento do atendimento de HPP

Fonte: OPAS (2018, p. 60)

143
RESUMO DO TÓPICO 5
Neste tópico, você aprendeu:

• A hemorragia pós-parto (HPP) tem como principais causas a atonia uterina, a laceração
do canal de parto (traumas) e a retenção placentária ou de fragmentos, podendo
causar morte materna se não realizada a conduta correta.

• A observação da perda sanguínea por via vaginal é o principal sinal de alerta. A equipe
deve observar a origem do sangue e se preparar para assistência, de acordo com a
etiologia da HPP. O enfermeiro deve também estar atento à “hora de ouro”, bem como
às reservas hematológicas, se necessárias na emergência.

• A utilização de ocitocina sintética (10 UI, intramuscular) no pós-parto imediato


é obrigatória em todas as instituições e assistências pós-parto, promovendo a
contratilidade uterina e prevenindo, assim, hemorragias. Quando diagnosticada
a HPP, algumas medidas devem ser tomadas, como massagem uterina bimanual,
administração de ocitócicos, reposição de volemia, além da revisão do canal de parto
ou da presença de restos placentários.

• A avaliação do tônus uterino e altura do fundo uterino e a observação do volume de


perdas sanguíneas são competências do enfermeiro durante o período puerperal e
quando há suspeita de HPP.\

144
AUTOATIVIDADE
1 Com base nas Recomendações assistenciais para prevenção, diagnóstico e tratamento
da hemorragia obstétrica, da OPAS (2018), a estratégia 0MMxH foi criada para
prevenção da mortalidade materna por hemorragia pós-evento obstétrico e para
fortalecer as capacidades dos profissionais da área da saúde em habilidades
para controle das emergências obstétricas hemorrágicas, visto que profissionais
capacitados, treinados e atualizados atingem os objetivos, eliminando as barreiras de
acesso a qualidade da assistência durante a HPP. Sobre os conhecimentos e técnicas
de HPP, assinale a alternativa CORRETA:

Fonte: OPAS – ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. Recomendações assistenciais para pre-


venção, diagnóstico e tratamento da hemorragia obstétrica. Brasília: OPAS, 2018. Disponível em:
http://twixar.me/y9Qm. Acesso em: 8 set. 2022.

a) ( ) Define-se hemorragia pós-parto quando há a perda sanguínea acima de 500 mL


após cesariana ou acima de 1.000 mL após parto normal nas primeiras 24 horas.
b) ( ) Uma das definições da hemorragia pós-parto maciça é o sangramento, após 24
horas do parto vaginal, superior a 2.000 mL.
c) ( ) A classificação de hemorragia pós-parto primária é, basicamente, aquela que
ocorre nas primeiras 24 horas após o parto.
d) ( ) Entre as causas específicas da hemorragia pós-parto primária, estão: atonia
uterina, trauma no canal do parto, infecção puerperal e doença trofoblástica
gestacional.

2 As condutas ativa e de prevenção de HPP, após o parto, no período de dequitação da


placenta, são intervenções dirigidas para facilitar a saída da placenta pelo aumento
da contratilidade uterina e para evitar a hemorragia pós-parto por uma atonia uterina.
Com base nas medidas de prevenção da HPP que devem ser incorporadas na rotina
de todos os profissionais do parto, analise as sentenças a seguir:

I- O uso universal da ocitocina após o parto é recomendado, sendo administrada 10 UI,


via intramuscular, em todos os partos, logo após o nascimento.
II- O clampeamento oportuno do cordão umbilical também é uma medida de prevenção
da HPP, sendo recomendado o clampeamento nos primeiros 30 segundos após o
nascimento do bebê.
III- A tração controlada do cordão umbilical, realizando, em conjunto com manobras
específicas para estabilização uterina, é uma medida que pode ajudar para evitar
HPP, sendo que qualquer profissional pode realizar essa medida, não sendo
necessário o conhecimento prévio.

145
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença I está correta.

3 Alguns autores consideram placenta retida quando o terceiro período não se completou
decorridos 30 minutos do parto fetal. Já a retenção de cotilédones pode ocorrer
no momento da extração manual da placenta, quando há zonas de acretização, e,
nesse caso, os fragmentos placentários impedem a oclusão dos vasos uterinos e sua
involução, ocasionando, assim, uma HPP por tecido. De acordo com a HPP por retenção
placentária, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) Os casos de cesarianas e de acretismo placentário são fatores que aumentam o


risco de uma HPP por retenção placentária.
( ) Quando a placenta não se desprende do útero no tempo adequado, pode ser
necessária a extração manual da placenta.
( ) Quando há restos de tecidos placentários, pedaços de cotilédones, que ficaram
retidos no útero, a abordagem adequada seria a realização de curetagem.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – V – F.
b) ( ) V – V – V.
c) ( ) F – V – V.
d) ( ) V – F – V.

4 A existência do mnemônico “4Ts” mostra as quatro principais causas de hemorragia


pós-parto, uma vez que há a possibilidade de existir mais do que um fator causador da
HPP. A “hora de ouro” foi adotada para evitar atrasos no diagnóstico da HPP, bem como
as condutas que devem ser tomadas imediatamente para controle de sangramento,
diante da origem dele. Descreva quais são os “4Ts” e as causas específicas de HPP.

5 Segundo a OPAS (2018, p. 9), “O diagnóstico precoce e a execução das ações de


controle do sangramento, de forma sequenciada, consciente, correta e sem perda de
tempo, devem ser objetivos da abordagem de um quadro de HPP”. Nesse contexto,
o enfermeiro pode identificar os fatores de risco para HPP? Quais são as ações que
devem ser realizadas para conter a HPP?

Fonte: OPAS – ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. Recomendações assistenciais para


prevenção, diagnóstico e tratamento da hemorragia obstétrica. Brasília: OPAS, 2018. Disponível
em:http://twixar.me/y9Qm. Acesso em: 8 set. 2022.

146
UNIDADE 2 TÓPICO 6 —
CESARIANA

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, abordaremos a cesariana, que é uma das cirurgias mais antigas da
história da medicina e que, atualmente, é o procedimento cirúrgico mais realizado nas
mulheres no mundo todo, cujas técnicas se aperfeiçoaram e a assistência com o uso
de tecnologias também se modernizou, além de novas condutas terem sido acionadas.

Entretanto, infelizmente, o que se tem visto é o aumento nas taxas de cesarianas


no mundo todo, com vários estudos mostrando que isso aumenta significativamente as
taxas de morbidade materna e perinatal, quando sem indicação. Contudo, mesmo assim,
ainda são realizadas cesarianas sem indicações baseadas em evidências científicas.

Em 2015, a OMS, em sua declaração sobre as taxas de cesarianas, comenta


que, desde 1985, a taxa ideal de cesariana é considerada entre 10% e 15%, porém, em
muitos países, não é isso que acontece. No Brasil, por exemplo, vive-se uma epidemia
de cesarianas, chegando a 56% nos serviços públicos e 85% nos privados, conforme
dados do Ministério da Saúde. Por isso, a OMS traz recomendações para a diminuição de
cesarianas e salienta que a cesárea é uma intervenção efetiva para salvar a vida da mãe
e do bebê, quando indicada por motivo médico, não devendo passar de 10%, devido às
complicações significativas que esse procedimento pode trazer.

Dessa forma, é importante a atuação do enfermeiro nesse meio, para que


sejam estimuladas a conversa e a troca de informações entre profissional e gestante/
casal sobre as indicações de cesarianas e suas complicações. Quando bem indicada, a
cesariana deve ser feita por uma equipe médica capacitada para tal, junto à equipe de
Enfermagem, para garantir uma assistência de qualidade e segurança durante a cirurgia.

Nesse sentido, estudaremos as indicações de cesariana, detalhando as técnicas


utilizadas para essa operação, bem como os tipos de anestesia, as complicações e, por
fim, a atuação da assistência do enfermeiro na cesariana, especificando os cuidados, a
montagem da sala cirúrgica e dos instrumentos da caixa de cesárea.

147
2 INDICAÇÕES PARA CESARIANA
Diante do aumento de taxas de cesariana no Brasil, as indicações dessa cirurgia
devem se manter em uma lista atualizada, baseada em evidência científica e com
indicações clínicas reais. Segundo Zugaib e Francisco (2020), há algumas explicações
para o aumento de cesarianas, sendo alguns fatores responsáveis por esse aumento:
a postergação da maternidade, ou seja, mulheres com idade materna avançada; o
uso da monitoração eletrônica intraparto contínua, que aumenta a probabilidade de
uma cesariana; os fetos pélvicos; as induções de parto; o uso da medicina defensiva
também se torna responsável por esse aumento significativo de cesarianas; as cesárias
agendadas por prevenção do assoalho pélvico, ou seja, a desinformação e o despreparo
das mulheres para o parto normal levam a esse pensamento; e, por fim, a cesariana por
pedido materno.

Nas revisões da literatura em busca das melhores evidências disponíveis sobre


indicações de cesariana, Amorim, Souza e Porto (2010a; 2010b) analisaram as principais
indicações de cesariana, na tentativa de reduzir a incidência de cesarianas, oferecendo
recomendações baseadas em evidências para indicações de cesarianas eletivas e
intraparto ou de urgência, expondo como indicações, associadas com as “Diretrizes de
Atenção à Gestante: a operação cesariana”, do Ministério da Saúde (BRASIL, 2016):

• Reais:
◦ Descolamento prematuro da placenta.
◦ Prolapso de cordão.
◦ Placenta prévia.
◦ Ruptura de vasa prévia.
◦ Apresentação córmica (podendo ser tentada a versão cefálica externa antes).
◦ Herpes genital com lesão ativa no dia do parto.
• Reais, que podem acontecer, porém devem ser diagnosticadas corretamente:
◦ Desproporção cefalopélvica (DCP) (diagnosticado intraparto).
◦ Sofrimento fetal agudo (frequência cardíaca fetal não tranquilizadora).
◦ Parada de progressão do parto (quando não se resolve com outras estratégias).
• Situações com condutas individualizadas:
◦ Apresentação pélvica (recomendada versão cefálica externa antes).
◦ Duas ou mais cesáreas anteriores (discutir sobre VBAC).
◦ Vírus da imunodeficiência humana (HIV) (dependendo de fatores como carga viral).

148
DICA
Recomendamos a leitura da Portaria nº 306, de 28 de março de
2016, elaborada pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2016), em parceria
com diversas instituições, como Conselho Federal de Medicina (CFM),
Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia
(Febrasgo), Associação Médica Brasileira (AMB) e Associação Brasileira
de Enfermeiros Obstetras e Obstetrizes (Abenfo), na qual são apro-
vadas as “Diretrizes de Atenção à Gestante: a operação cesariana”:
http://twixar.me/S9Qm.

ATENÇÃO
Acadêmico, você sabia que há muitas falsas indicações de
cesarianas e que, por isso, o índice de cesarianas é tão alto no
Brasil? Algumas situações/desculpas/condições são utilizadas
pelos profissionais para indicar uma cesariana sem necessidade,
como bacia muito estreita, baixa estatura materna, bebê
alto, bebê pequeno, bebê grande, circular de cordão, falta de
dilatação fora do trabalho de parto, placenta velha, entre outras
indicações sem base nenhuma em evidências científicas.

DICA
Sugerimos a leitura do texto Indicações reais e fictícias de cesariana, da
médica obstetra, PhD, pesquisadora e cientista, Melania Amorim, em
colaboração com a obstetriz Ana Cristina Duarte: http://twixar.me/X9Qm.

3 OPERAÇÃO CIRÚRGICA
A cesariana se dá por meio da retirada do feto por uma incisão cirúrgica abdominal,
conforme Zugaib e Francisco (2020), tendo, portanto, como conceito, uma laparotomia
com uma incisão uterina.

Já a sua classificação foi proposta por Robson, em 1996, segundo Graça (2017),
ao esclarecer, a partir de dez grupos exclusivos (Figura 19), a avaliação clínica da grávida,
em trabalho de parto ou não, a fim de podermos compreender as diferentes taxas de
cesarianas e em quais situações foram realizadas a cirurgia. Essa classificação usa cinco
parâmetros: história obstétrica, início do trabalho de parto, posição do feto, número de
fetos e idade gestacional.

149
É importante frisar que o uso da classificação de Robson é recomendado pela
OMS, pois permite a comparação/análise das taxas de cesáreas entre esses grupos,
podendo, assim, monitorar as taxas de cesarianas nas instituições hospitalares.

Figura 19 – Classificação de Robson

Fonte: OMS (2015, p. 6)

150
Para escolher a melhor técnica para a operação cirúrgica utilizada na cesariana,
segundo Zugaib e Francisco (2020), devem sempre ser considerados a segurança
materna e os custos envolvidos no procedimento, além do tempo, da perda de sangue
e dos riscos de infecção da ferida operatória.

As medidas pré-operatórias, citadas por Zugaib e Francisco (2020) como essenciais,


são: manter o bem-estar materno e fetal até no nascimento; manter o equilíbrio
hemodinâmico da gestante antes mesmo do início da operação; manter o jejum materno,
quando cesarianas eletivas; avaliação pré-anestésica; e rotinas como a sondagem
vesical e degermação da pele na região abdominal.

A profilaxia de infecções deve ser realizada para diminuir riscos de morbidade


infecciosa materna e, por isso, a associação da antissepsia e da antibioticoproflaxia
deve ser adotada rotineiramente. “Em ambiente cirúrgico, após a antissepsia e a fixação
dos campos, a grávida é colocada em posição de Trendelenburg moderada, inclinando-
se o seu tronco e as pernas de 35° a 45°, o que deve ser rigorosamente observado”
(REZENDE, 2014, p. 974).

Quanto à incisão abdominal, deve ser escolhida conforme a situação materno-


fetal, priorizando a minimização da morbidade materna, o efeito estético e a facilidade de
acesso cirúrgico, podendo ser feita incisão vertical ou transversal (dividida em alguns
tipos de incisão).

Zugaib e Francisco (2020) e Graça (2017) explicam cada uma delas:

• Incisão vertical: um corte longitudinal, realizado de forma rápida, conhecido como


a antiga e clássica cesariana, realizada raramente nos dias atuais, pois, quando
comparada com a cesariana transversal, duplica a chance de transfusão sanguínea
e a alta probabilidade de acontecer uma disfunção da zona cicatricial na próxima
gravidez. Geralmente, é indicada quando há a necessidade de rapidez na extração
fetal, como em caso de anestesia geral ou mulheres com distúrbios de coagulação
e também em casos como o acretismo placentário, que necessita de uma incisão na
região corporal alta.
• Incisão transversal: há alguns tipos de incisão transversal, sendo a incisão de
Pfannenstiel a mais utilizada atualmente, por trazer maior conforto para a mulher,
sobretudo na respiração, além de diminuir o risco de hérnias e aderências. As únicas
desvantagens são: a parestesia prolongada dos nervos sensitivos superficiais
e a predisposição a hematomas subaponeuróticos. Nessa técnica, a incisão é
suprapúbica, levemente arciforme com concavidade superior e extensão de 10 a
12 cm. Após a extração do feto e da placenta, é realizada a sutura, a histerorrafia, com
pontos separados ou contínuos, e a pele, preferencialmente, é fechada com sutura
contínua intradérmica.

151
3.1 ANESTESIAS INDICADAS
Para cesariana, a anestesia geral só é indicada em situações de contraindicação
das outras técnicas de anestesias. A anestesia mais usada é a técnica regional raquidiana
ou, também, a peridural. Segundo Zugaib e Francisco (2020), a escolha da técnica
depende das condições clínicas e do tempo estimado.

• Raquidiana: conhecida como punção lombar, a agulha chega no espaço onde circula
o líquido cefalorraquidiano. Essa técnica envolve menor volume de anestésico,
maior segurança materna, quando associada à questão de toxicidade anestésica
local e melhor condição operatória para o médico. Nesta técnica, há um bloqueio
lombossagrado e torácico. É importante a descompressão da veia cava inferior,
realizada com o desvio do útero para a esquerda, de forma manual, de preferência
até o início da incisão, pois melhora o retorno venoso materno (Figura 20).
• Peridural: é administrado anestésico local no espaço epidural. Indicada quando
existe um tempo cirúrgico prolongado, quando não há a contraindicação de bloqueio
simpático. O bloqueio é sensitivo e a duração é ilimitada, visto que pode ser realizada
em doses intermitentes. Entretanto, tem maior risco de toxicidade materna (Figura 20).
• Geral: como visto anteriormente, a anestesia geral deve sempre ser evitada, sendo
realizada em casos em que a grávida recusa a técnica regional ou que tenha alguma
contraindicação para a técnica regional, ou outras situações que necessitam de
antecipação rápida do parto, como em casos de hemorragia grave, pois o início dessa
anestesia é mais rápido do que as outras.

IMPORTANTE
Acadêmico, saiba que, antes de qualquer técnica para anestesia
de cesariana, a gestante deve estar com sinais vitais monitorados,
recebendo expansão volêmica, além de estar informada e consciente
do procedimento que será realizado.

Figura 20 – Anestesias regionais

Fonte: http://twixar.me/t9Qm. Acesso em: 5 jan. 2023.

152
4 COMPLICAÇÕES
Há riscos maternos da cesariana, que devem ser explicados à gestante antes
da sua realização. Como a cesariana é uma intervenção cirúrgica abdominal, “implica
sempre uma taxa de morbidade materna significativamente maior do que a observada no
parto vaginal” (GRAÇA, 2017, p. 577), havendo riscos hemorrágicos, riscos de mortalidade
materna, risco de atonia uterina, rotura uterina e, também, de lesão do trato urinário.

Atualmente, as principais complicações são percebidas no período intraope-


ratório e puerperal e nas gestações sequenciais, sendo que Zugaib e Francisco (2020)
salientam como principais complicações:

• Acretismo placentário: mais incidente quando gestante com cesarianas anteriores,


sendo que as possíveis complicações durante a cesariana, quando descoberto o
acretismo placentário, são: hemorragia intensa, coagulação intravascular dissemina-
da, necessidade de histerectomia, lesão de bexiga, síndrome de angústia respiratória
no adulto, tromboflebite pélvica, morte materna, entre outras.
• Placenta prévia: mais incidente quando gestante com cesarianas anteriores.
• Lesões urológicas: podem acontecer em cirurgias ginecológicas e nas cesarianas,
visto a localização próxima da bexiga e ureteres.
• Rotura uterina: é a complicação mais temida nas parturientes que tenham cesarianas
anteriores.
• Dor pélvica: pacientes submetidas a cesarianas apresentam maior probabilidade de
dor pélvica crônica.
• Mortalidade materna e morbidade materna.
• Transfusão sanguínea.
• Deiscência da cicatriz uterina.
• Infecção da ferida operatória.
• Tromboembolismo: uma das complicações pós-operatórias mais graves, quando a
cesariana é realizada durante o trabalho de parto.
• Endometrite puerperal.

A OMS (2015, p. 1) conclui que “A cesárea pode causar complicações significativas


e, às vezes, permanentes, assim como sequelas ou mortes, especialmente em locais
sem infraestrutura e/ou capacidade de realizar cirurgias de forma segura e de tratar
complicações pós-operatórias [...]”.

153
DICA
Recomendamos a leitura do documento Declaração da OMS sobre taxas
de cesáreas, emitido pela OMS (2015), no qual a organização frisa
que as cesáreas são efetivas para salvar vidas de mães e crianças,
quando bem indicadas e feitas em ambiente seguro, e fala, ainda,
dos riscos e a necessidade da adoção de uma classificação universal
para medição da taxa de cesárea, como a classificação de Robson.
Acesse: http://twixar.me/89Qm.

5 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA CESARIANA


A assistência prestada pelo Enfermeiro, sendo generalista ou especialista, na
cesariana abrange desde medidas como preparação física da grávida para a cirurgia,
considerando, também, quatro importantes aspectos (NENÉ; MARQUES; BATISTA, 2016):

• Consentimento livre e informado, com documento assinado e consentido pela


mulher, quando ela estiver fora de situações de stress e medo.
• Garantir que a cesariana é realizada por uma indicação clínica baseada em evidência
científica.
• Oferecer apoio emocional para mulher diante da indicação da cirurgia.
• Aceitação dos próprios sentimentos como profissional, devido à desilusão de
incapacidade profissional pelo não desfecho de parto vaginal.

O enfermeiro, em conjunto com o médico anestesista, tem a responsabilidade


de informar, orientar e tirar as dúvidas da gestante do tipo de anestesia a ser utilizado
para a cesariana. Nesse sentido, uma das competências técnicas do enfermeiro é a
preparação do material da anestesia, bem como a colaboração durante a técnica
anestésica dentro da sala cirúrgica do centro obstétrico. Nené, Marques e Batista
(2016) salientam a importância do trabalho em equipe para o sucesso na anestesia na
cesariana.

IMPORTANTE
O olhar integral para a grávida, é um ponto importante da assistência da
Enfermagem, fornecendo uma visão holística para suprir as necessidades
da grávida/casal. O casal geralmente está tenso, quando encaminhado
para uma cesariana, é necessário acalmar o casal e transmitir segurança.

154
Seguindo o Enhanced Recovery After Surgery (ERAS), que é um protocolo de
cuidados pré-operatórios em várias especialidades médicas, alguns cuidados pré-
operatórios devem ser estabelecidos, sendo parte da competência da Enfermagem
garantir a realização dessa etapa antes da cesariana. As diretrizes do ERAS baseiam-
se nas evidências da mais alta qualidade disponíveis, sendo algumas que seguem o
guideline para cuidados pré e perioperatórios em cesariana, conforme Caughey et al.
(2018):

• Educação à paciente: informar sobre o procedimento, as indicações, os riscos e a


recuperação.
• Administração dos medicamentos anestésicos: conforme prescrição médica.
• Preparo intestinal: não está mais recomendado, antes da realização da cesariana, devido
ao alto desconforto materno.
• Jejum: estudos atuais mostram que não há aumento de complicações devido ao jejum
curto e, por isso, encoraja-se que as gestantes ingiram líquidos claros, com um tempo
mínimo de 2 horas antes da cesariana, e realizem refeições leves até 6 horas antes.
• Antibióticoterapia profilática: administrada 30 a 60 minutos antes de cesariana,
conforme prescrição médica.
• Preparo da pele: utilizar solução de clorexidina alcoólica na região da cirurgia.
• Monitoração dos sinais vitais: em monitor de sinais vitais, bem como controle da
temperatura.
• Manejo de fluidos: manter a reposição de volemia, conforme prescrição médica.

Acerca das estratégias de vinculação mãe/bebê e da promoção do aleitamento


materno, o enfermeiro deve permitir que a mãe tenha contato com a criança logo após
o nascimento, se a criança e a mãe estiverem em boas condições clínicas, devendo ser
estimulado o contato pele a pele, de maneira a não contaminar o campo cirúrgico.

Uma das assistências importantes da Enfermagem é na sala de recuperação pós-


anestésica (SRPA), em que a puérpera deve ser vigiada e monitorada constantemente
pela equipe de Enfermagem, garantindo uma recuperação com riscos maternos
mínimos. Mesmo sendo um período complexo e no qual pode ocorrer complicações
clínicas, é papel do enfermeiro garantir qualidade na assistência.

A realização da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) faz parte


do conjunto da assistência de qualidade da Enfermagem.

ESTUDOS FUTUROS
A SAE será abordada, de forma mais detalhada, na Unidade 3.

155
Considerando o período de permanência do paciente em SRPA
como crítico, pois podem ocorrer complicações consequentes à
ação depressora das drogas anestésicas sobre o sistema nervoso e
ao próprio ato cirúrgico, é imprescindível que o enfermeiro sistematize
o registro das informações, oferecendo à equipe de Enfermagem
condições para atuar com o cliente de maneira efetiva, planejada e
segura (FISHER; BORGES, 2019, p. 67).

Fisher e Borges (2019) ainda comentam sobre a necessidade de criação de um


instrumento, para que os profissionais tenham facilidade de anotar e gerir um plano de ação
de cuidados de Enfermagem para a parturiente em sala de recuperação pós-anestésica:

O instrumento reserva uma parte para o momento de recepção da


puérpera no CC, bem como para o momento intra­operatório. Dentre as
anotações pertinentes estão: horário de entrada na SO, tipo de infusão,
sinais vitais, tipo de anestesia, horário do término da cesariana, e se
houve alguma intercorrência. Especificamente para o período de
recuperação anestésica, o instrumento contém: horário de recepção
na SRPA, horário da alta, exame físico do paciente (considerando
controle dos sinais vitais, avaliando necessidades neurológicas, cardior-
respiratória, gastrointestinais, renais e tegumentares), infusões,
eliminações, escala de Aldrete e Kroulik, controle da dor, medicações
administradas, diagnóstico, prescrição, intervenção e evolução de
Enfermagem [...]. Por fim, destina-se um espaço no instrumento para
que os profissionais de Enfermagem que assumirão a puérpera na
unidade de internação possam manter os registros da paciente. Nes-
te local destinam-­se: sinais vitais, administração de medicamentos,
orientações, diagnóstico, prescrição, intervenção e evolução de En-
fermagem (FISHER; BORGES, 2019, p. 68).

O conhecimento teórico-científico deve ser base para as estratégias de cuidados


de Enfermagem para a gestante/parturiente/puérpera que realizou uma cesariana, pois a
prática de técnicas corretas, a gestão da equipe na sala cirúrgica, os cuidados e a vigília
no pós-operatório são competências básicas e essenciais para o manejo adequado de
uma cesariana, em contexto da equipe de Enfermagem.

A seguir, abordaremos a montagem da sala para cesariana e os materiais neces-


sários para a realização dessa cirurgia, que é mais uma responsabilidade do enfermeiro na
cesariana.

5.1 MONTAGEM DE SALA


A montagem da sala cirúrgica para a cesariana, dentro do centro obstétrico, deve
seguir as normas protocolares da instituição, os famosos procedimentos operacionais
padrões (POPs), específicos para a cirurgia cesariana. Nesse sentido, utilizaremos, como
base, o POP da maternidade-escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),
Preparo da Sala Cirúrgica para Cesariana com área de Aplicação: Centro Obstétrico,
revisado em 2020, para a execução por parte das equipes de Enfermagem (BERNARDES;
SILVA, 2020).

156
Dessa forma, a montagem da sala tem como objetivos: um ambiente organizado,
com disponibilidade de materiais cirúrgicos necessários para a cesariana, e também
materiais adjacentes necessários para o desenvolver da cirurgia.

Logo, faz-se necessária a disponibilidade de uma mesa principal com os ins-


trumentos cirúrgicos, assim como uma mesa auxiliar grande para outros materiais estéreis,
além da mesa auxiliar pequena para o anestesista e outra mesa auxiliar pequena para
casos de realização de procedimentos como a sondagem vesical e o preparo de medica-
mentos. A mesa cirúrgica deve ficar no centro da sala, para melhor fluxo dos profissionais em
casos de emergências cirúrgicas durante a cesariana.

Alguns cuidados e atividades devem ser desenvolvidos na montagem da sala,


segundo o POP da UFRJ (BERNARDES; SILVA, 2020) são:

• Realizar a higienização das mãos, entrar na sala com máscara e touca cirúrgica.
• Verificar limpeza da sala antes da montagem.
• Testar o funcionamento dos aparelhos: aspirador, eletrocautério, foco e monitores.
• Reunir os materiais necessários para a cesariana.
• Observar prazo de validade do material.
• Organizar materiais nas mesas (atenção para não os contaminar): na montagem da
mesa, uma pessoa abre os materiais e a outra organiza os materiais na mesa de
forma estéril.
• Organizar o saco plástico de coleta da placenta, e identificar com o nome da paciente.
• Identificar o tubo de coleta do sangue do cordão com nome da paciente.
• Identificar a pulseira da mãe-bebê.
• Registrar, no sistema, a cesariana, bem como livros, boletins ou checklist cirúrgica.
• Checar todos os instrumentos antes e após o término da cirurgia.

5.1.2 Materiais
Sobre os materiais necessários para a montagem da mesa cirúrgica, seguindo o
POP da UFRJ (BERNARDES; SILVA, 2020):

• bandeja de cesárea com instrumentais;


• lâmina para o bisturi;
• caneta do eletrocautério;
• luva estéril para os participantes da cirurgia;
• capote estéril para os participantes da cirurgia;
• cuba rim e pinça de antissepsia;
• bacia estéril;
• campos cirúrgicos descartáveis para: cobertura da paciente, cobertura das mesas e
para o recém-nascido;
• compressas cirúrgicas (que devem ser contadas no início e no final da cesariana);
• gaze estéril;
157
• clorexidina alcoólica 0,5%;
• seringa 20 mL;
• agulha 40×12;
• fios de sutura necessários;
• bandeja peridural para anestesia com compressas, gaze, seringas, agulhas e álcool
70%;
• luvas de procedimento, máscaras cirúrgicas, saco plástico, tubos de ensaio para
coleta de sangue e pulseiras de identificação.

DICA
Acadêmico, assista ao seguinte vídeo, que mostra a montagem da mesa
de instrumentação cirúrgica (cesárea): https://youtu.be/94H09PM6pR4.

Os materiais da mesa principal e da mesa auxiliar devem ser organizados conforme


a sequência lógica de uso de cada material, obtendo, assim, mais praticidade no manuseio
do instrumentador durante a cesariana (Figuras 21 e 22).

Figura 21 – Instrumentos na mesa principal

Fonte: Zugaib (2020, p. 445)

Figura 22 – Instrumentos na mesa auxiliar

Fonte: Zugaib (2020, p. 445)

158
Geralmente, os materiais devem ser divididos em: instrumentos de diérese, que
é a etapa de incisão (por exemplo, os instrumentos como bisturi e tesouras ficam em um
lado juntos); os instrumentos que servem para hemostasia ficam separados também
(as pinças para conter sangramentos); já os afastadores, as pinças de pressão e outras
ficam separados em um lado auxiliar da mesa; e, por fim, os porta-agulhas, que serão
utilizados na finalização da cesariana.

Assim, a caixa de cesariana deve conter:

• afastador Farabeuf médio e afastador Farabeuf grande;


• cabo de bisturi;
• cúpula média;
• seis pinças Allis 16 cm;
• uma pinça anatômica 16 cm e 18 cm;
• cinco pinças Backhaus;
• uma pinça Cheron 25 cm;
• uma pinça dente de rato 16 cm e 18 cm;
• seis pinças Kelly curva 16 cm e quatro pinças Kelly retas 18 cm;
• duas pinças Kocher retas 16 cm e duas pinças Kocher curvas 16 cm;
• um porta agulha Mayo-Hegar 16 cm e 18 cm;
• uma supra púbica;
• uma tesoura Mayo-Hegar curva 17 cm e uma tesoura Mayo-Hegar reta 17 cm;
• uma tesoura Metzembaum curva 18 cm;
• uma válvula Doyen médio.

Acadêmico, é importante saber desde os instrumentos da caixa da cesárea até a


montagem completa da sala cirúrgica para cesariana, visto que é de responsabilidade do
enfermeiro a realização, também, de instrumentação cirúrgica, se necessário, durante
a cesariana.

ATENÇÃO
É importante que a sala cirúrgica do centro obstétrico esteja sempre
organizada, revisada e montada para uma cesariana de emergência.
Os materiais devem estar dispostos para facilitar a organização,
quando se faz necessária a agilidade de abertura deles.

159
LEITURA
COMPLEMENTAR
AVALIAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA HEMORRAGIA PÓS-PARTO

Solana Nunes Vieira


Brenda Alice Andrade Vidigal
Antônio Sávio Inácio
Andréa de Souza do Norte
Milaine Nunes Gomes Vasconcelos

INTRODUÇÃO

Caracteriza-se um quadro de hemorragia pós-parto (HPP) quando se apresenta


perda sanguínea em valores superiores a 500 mL nas 24 horas iniciais após o parto.
Alerta-se, no entanto, que as perdas acima de 1.000 mL são mais inquietantes por
resultarem, na maioria das vezes, em alterações fisiopatológicas que podem levar à
instabilidade hemodinâmica.

Podem-se classificar as HPPs como imediata e tardia. Associa-se a primeira,


geralmente, à atonia uterina, que ocorre após o processo de dequitação nas primeiras
horas do pós-parto, e a segunda, entre 24 horas e 6 semanas depois do nascimento do
bebê, tendo, como principais causas, produtos provenientes da concepção dos quais sua
retirada completa não foi efetiva e/ou infecções. Associam-se, também, outros fatores,
como a ruptura uterina, o traumatismo do trato genital (lacerações vaginais e cervicais)
ou os distúrbios de coagulação materna.

Afirma-se, por alguns autores, que, durante o parto vaginal, diversos fatores
podem estar associados à HPP e, entre eles, estão o terceiro período de parto prolongado, o
impedimento da descida da apresentação fetal, a episiotomia, a macrossomia, o uso de
fórceps e de vácuo extrator, a indução e a condução do trabalho de parto, a hemorragia
pós-parto prévia e a nuliparidade.

Visa-se, pela quinta meta dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, da


Organização Mundial da Saúde (OMS), à redução de ¾ da mortalidade materna no período
de 1990-2015 e, para que esse objetivo seja alcançado, é necessário que ocorra a redução
da mortalidade materna por HPP. Reafirma-se, diante disso, pela OMS, que, para que
essa meta seja atingida, será necessário que todos estejam preparados, qualificados e
com um aprimoramento cuidadoso voltado à saúde das mulheres por meio de políticas e
programas estratégicos que garantam intervenções eficazes para a redução da HPP.

160
Sabe-se que, no Brasil, a HPP é a segunda causa de mortalidade materna, ficando
atrás das doenças hipertensivas. Informa-se que, em um estudo realizado em Santa
Catarina, os resultados de mortalidade materna por HPP apresentaram taxas de 30,3%.
Identificou-se, em levantamento de dados do Sistema de Informação de Mortalidade e
Nascidos Vivos, do Ministério da Saúde do Brasil, que as HPP correspondem a 40,8% das
hemorragias obstétricas.

Entende-se, a partir da constatação do alto índice de morbimortalidade


materna associado à HPP, que é imprescindível conhecer quais as principais condutas
de Enfermagem utilizadas para o controle dessa complicação obstétrica. Deve-se o
enfermeiro, como responsável pela assistência à mulher, ser dotado de conhecimento
técnico e científico acerca das complicações obstétricas e, assim, oferecer à puérpera
intervenções de Enfermagem eficazes para o restabelecimento do bem-estar e do controle
da hemorragia pós-parto. Acredita-se que a pesquisa contribuirá para a discussão que
norteará as condutas a serem seguidas nas HPP e, também, permitirá conhecer quais as
principais ações sistematizadas são utilizadas pelos enfermeiros envolvidos na assistência.

MÉTODO

Trata-se de quantitativo, descritivo e exploratório. Elegeu-se, como local de


estudo, uma maternidade na cidade de Manaus (AM), Brasil, que é centro de referência
obstétrica ambulatorial e hospitalar para gestantes de alto risco.

Compôs-se a população da pesquisa por enfermeiros plantonistas dos setores de


assistência às puérperas (Centro de Parto Normal Intra-hospitalar – CPNIH; Pré-Parto,
Parto e Pós-parto – PPP; Centro Cirúrgico Obstétrico – CCO – e Alojamento Conjunto –
ALCON). Elencaram-se os seguintes critérios de inclusão: ser enfermeiro da maternidade
e atuar nos setores de assistência à puérpera. Excluíram-se os enfermeiros que se
encontram de férias ou em licença e, dos 40 enfermeiros, foram excluídos sete, que se
recusaram a participar da pesquisa, sendo a amostra composta por 33 participantes.

Coletaram-se os dados por meio da aplicação de questionário do tipo fechado


desenvolvido pelas pesquisadoras. Referem-se as perguntas às características demo-
gráficas, às características da formação profissional, aos aspectos profissionais e de
titulação, às medidas preventivas e de controle de HPP, às capacitações, dificuldades e
necessidades no atendimento à HPP. Realizou-se a coleta na própria unidade durante
o plantão dos enfermeiros. Obtiveram-se os dados tabulados por meio do Programa
Microsoft Excel 2016, analisados estatisticamente por meio das frequências absolutas e
relativas e apresentados por meio de tabelas.

161
RESULTADOS

Mostra-se que, dos 33 enfermeiros participantes, 17 (51,52%) eram da faixa etária


de 31 a 40 anos, seguidos de oito (24,24%) de faixa etária menor ou igual a 30 anos e oito
(24,24%) com faixa etária de 41 a 60 anos. Informa-se que houve uma prevalência do
gênero feminino, com 31 (93,94%) participantes, e 15 (45,45%) declararam-se casados,
14 (42,42%), solteiros e quatro (12,12%) divorciados.

Acrescenta-se, no que se refere à formação acadêmica dos indivíduos da pesquisa,


que os dados mostraram que 19 (57,58%) enfermeiros apresentavam tempo de formação
menor ou igual a 5 anos, seguidos por dez (30,30%), com 6 a 10 anos e quatro (12,12%)
com mais de 11 anos de formados, mostrando que 87,88% dos profissionais possuíam
menos de 10 anos de formação. Constatou-se, quanto ao tempo de serviço no setor,
que 31 (93,93%) enfermeiros possuíam até 5 anos de serviço na instituição hospitalar e
dois (6,06%) não informaram o tempo de serviço.

Verificou-se, em relação às titulações dos profissionais de Enfermagem, que


a grande maioria possuía pós-graduação lato sensu, sendo a área de destaque a
Ginecologia e/ou a Obstetrícia e nenhum participante possuía pós-graduação stricto
sensu.

Averiguou-se, quanto ao conhecimento dos profissionais sobre as causas,


o controle e a prevenção da HPP, que 28 (84,85%) enfermeiros conheciam quais as
causas, 23 (69,70%) referiram ter conhecimento sobre as medidas preventivas e 24
(72,73%) conheciam as de controle, porém, 20 (60,61%) enfermeiros responderam que
nunca atenderam algum caso de HPP. Apurou-se, ainda, que 18 (54,55%) profissionais
afirmaram saber o que seria uma ação sistematizada de prevenção de HPP, contudo, 18
(54,55%) afirmaram que não há, na instituição, uma ação sistematizada de prevenção,
embora 15 (45,45%) afirmam haver e, dentre os entrevistados, 28 (84,84%) afirmaram
conhecer as principais causas, medidas de prevenção e de controle de HPP.

Levantaram-se, por este estudo, informações sobre as capacitações, as


dificuldades e as necessidades de melhorias nos atendimentos dos enfermeiros na
sistematização do atendimento da HPP. Constatou-se, diante disso, que 28 (84,85%)
enfermeiros não possuíam nenhuma capacitação em prevenção e controle de HPP e,
do total de entrevistados, 27 (81,82%) não relataram dificuldade para aplicar as ações
de prevenção e controle de HPP, porém, 21 (63,64%) citaram que há a necessidade de
melhoria no atendimento aos casos de HPP. Destaca-se, entre os participantes, que
cinco (15,15%) referiram ter feito capacitação e atuavam nos setores de PPP e CPNIH.

Acrescenta-se, em relação às principais dificuldades encontradas pelos


enfermeiros na assistência durante a prevenção e o controle da HPP, que seis (18,18%)
enfermeiros responderam e, destes, quatro (66,66%) informaram quanto à falta de
materiais adequados, quatro (66,66%) relataram a falta de profissionais capacitados
para desenvolver as atividades, três (50%) citaram o número insuficiente de profissionais

162
trabalhando na unidade e a falta de tempo foi informada por um (16,66%) profissional
como uma das principais dificuldades. Deve-se enfatizar, todavia, que 27 (81,82%)
entrevistados não informaram dificuldades na prevenção e no controle da HPP.

Infere-se, sobre a necessidade de melhoria no atendimento aos casos de HPP,


que 20 (60,60%) entrevistados citaram que há necessidades de melhoria e dentre essas
melhorias estão: a atualização nas medidas de controle de HPP (14 = 70%); acesso
dos medicamentos uterotócicos (10 = 50%) e a organização ou a obtenção do kit de
emergência da HPP (10 = 50%).

DISCUSSÃO

Demonstrou-se, por este estudo, que os enfermeiros atuantes na assistência ao


parto eram predominantemente jovens no serviço e do sexo feminino. Afirmou-se, pela
maioria, ter conhecimento sobre as causas, as medidas de prevenção e controle, embora
parte dos entrevistados nunca tivesse assistido pacientes em tal estado. Detalha-se que,
dos entrevistados, 30 possuíam titulação de especialista em Enfermagem obstétrica, fator
importante por se tratar de um serviço em maternidade. Evidenciou-se, assim, que os
profissionais deveriam possuir o conhecimento das principais causas de HPP, sendo este
um ponto determinante para uma assistência rápida, eficiente e resolutiva diminuindo-se,
assim, possíveis complicações do agravo que leva muitas mulheres ao óbito.

Constatou-se, ainda, que grande parte dos profissionais possuía menos de


cinco anos dentro do serviço e, embora quase a totalidade dos entrevistados fosse
especialista nas áreas de Ginecologia/Obstetrícia, mais da metade afirmou nunca ter
tido contato com pacientes em quadro de HPP, fator determinante para a qualidade
do serviço. Entende-se que a prática clínica é a principal responsável pelo acúmulo de
conhecimentos e habilidades e tal qualificação não necessariamente vem com o tempo
de serviço em um determinado setor, nem com a idade e, sim, com a experiência clínica
com determinadas situações.

Faz-se necessária a qualificação dos profissionais para a prestação da


assistência por se tratar de um público altamente específico. Comprovou-se, nesse
sentido, que os entrevistados estavam dentro do que seria preconizado para a realização
de suas atividades, pois, quanto mais qualificado e preparado está o profissional, maior
será a chance de êxito na realização de suas atividades, e o aprimoramento de suas
habilidades é essencial para a execução de seu papel junto ao paciente. Acredita-se que
o conhecimento é a base para uma assistência de qualidade, e o estudo demonstrou
que os profissionais possuíam o conhecimento teórico, embora não possuam uma
vivência maior na prática.

Identificou-se, por meio desta pesquisa, que as causas de HPP mais conhecidas
pelos profissionais entrevistados eram: atonia, laceração, dificuldade de coagulação e
trabalho de parto prolongado. Corroboram-se estudos que apresentaram tais problemas
como as principais causas e os estudos também evidenciaram as anemias, a indução

163
do trabalho de parto, a retenção placentária e a episiotomia como possíveis riscos
relacionados com a HPP, apesar de não terem sido reconhecidos pelos profissionais.
Devem-se conhecer todas as causas possíveis, pelos profissionais que trabalham com
parto e puerpério, inclusive a associação dos seus fatores de risco. Devem-se, entretanto,
esses fatores ser diagnosticados e registrados ainda no acompanhamento pré-natal,
podendo ser classificados como pré-natais e intraparto. Acrescenta-se que fatores de
risco como a cesárea anterior, o polidrâmnio, a gestação gemelar, a macrossomia e a
pré-eclâmpsia não foram apontados pelos participantes como causas de HPP.

Pode-se prevenir a HPP por medidas importantes que diminuem a mortalidade


materna e, para isso, a assistência do enfermeiro obstetra é fundamental e baseia-se
na avaliação clínica da puérpera considerando-se os seguintes aspectos: estado geral;
sinais vitais; presença do globo de segurança de Pinard, que representa a contratilidade
uterina e a hemóstase do sítio de inserção placentária e sangramento vaginal/lóquios.
Verificou-se, porém, que somente a administração de ocitocina foi devidamente
reconhecida como medida preventiva pela maior parte dos profissionais.

Referiu-se o conhecimento das medidas preventivas da HPP, pela maioria


dos profissionais, como ações utilizadas logo após o parto para evitar a hemorragia.
Recomenda-se, pelas Diretrizes do Ministério da Saúde (MS), que a avaliação materna
seja feita imediatamente após o parto como a revisão sistemática da placenta e anexos, a
aferição dos sinais vitais a cada 15 minutos na primeira hora pós-parto e a verificação da
contratilidade uterina por meio da palpação abdominal para a certificação da presença
do globo de segurança de Pinard. Salienta-se, conforme citado anteriormente, que as
medidas preventivas descritas neste estudo foram a administração de ocitocina e a
massagem uterina, o que evidenciou uma necessidade de esclarecimento entre medidas
preventivas e medidas de controle, pois os cuidados básicos de monitoramento vital e o
exame clínico obstétrico não foram citados quando se refere às medidas de prevenção.
Admite-se que a falta do conhecimento sobre as medidas preventivas da HPP pelos
enfermeiros da unidade e a ausência da avaliação clínica podem repercutir diretamente
na qualidade do serviço prestado, fato que pede uma reflexão sobre a qualidade do
acompanhamento dessas mulheres em sua “hora dourada” e como a prevenção da HPP
está sendo trabalhada pela equipe.

Tornam-se de suma importância a vigilância constante das puérperas e os


registros das avaliações clínicas para a detecção precoce de alterações que possam levar à
hemorragia para, assim, assegurar o restabelecimento do equilíbrio para uma evolução
sadia do puerpério. Demonstra-se, em pesquisas, que os óbitos por HPP ocorrem nas
primeiras 24 horas e são causados pela dificuldade em identificar o problema, além de
uma infraestrutura inadequada na assistência.

Inicia-se, após a identificação precoce de sinais de HPP, a fase de controle


onde a maioria dos enfermeiros referiu ter conhecimento de práticas adequadas
corroborando as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), que cita a
administração de ocitocina intravenosa (recomendação forte e evidência de qualidade

164
moderada), a massagem uterina (recomendação forte e evidência de qualidade baixa) e
o uso de cristaloides isotônicos para a reanimação hídrica intravenosa (recomendação
forte e evidência de qualidade baixa) como principais condutas para o tratamento
inicial da HPP. Aponta-se, no entanto, por estudos realizados, que a ocitocina tem
indicação mais efetiva para a utilização de forma profilática, ainda sem comprovação
científica para o uso como tratamento e, com relação ao misoprostol, estudos apontam
a ineficiência de sua utilização em conjunto com a ocitocina. No entanto, acrescenta-se
que outras formas de tratamento, como a compressão bimanual, a hidratação venosa
e a transfusão sanguínea, foram pouco identificadas pelos profissionais, apesar de
estudos atuais considerarem maior efetividade para o tratamento. Podem-se minimizar
as complicações, inclusive, prevenir o obtido materno, pelo reconhecimento precoce
desses sinais.

Descreveu-se, apesar dos profissionais afirmarem possuir um conhecimento


acerca da temática, que a falta de capacitação profissional é uma dificuldade que
influencia na assistência à HPP. Adquire-se tal capacitação com a oferta e a realização
de curso de atualização baseado em evidência científica que, em conjunto com as
políticas de saúde, proporciona um atendimento sistematizado. Torna-se a ausência
de capacitação preocupante, pois irá remeter a um atendimento deficiente para
a emergência obstétrica e o diagnóstico feito de forma tardia e culmina em uma
inabilidade para o tratamento e cuidados necessários. Entende-se, assim, que é de
responsabilidade da maternidade o estímulo à atualização constante.

Reconheceu-se, neste estudo, pela maioria dos enfermeiros obstetras, a


necessidade de melhorias no que se refere ao atendimento à HPP seja em nível de
atualizações, seja por meio de acesso de medicações, refletindo na organização do
serviço. Mostra-se que o setor mais destacado pelo interesse em melhorias foi o CPNI, e
os que menos referiram necessidade de melhorias foram o CCO e o ALCON. Indica-se,
porém, que o setor ALCON apresentou profissionais com pouco conhecimento sobre as
causas, as medidas preventivas e de controle para as HPP, merecendo reflexão, pois é um
setor que recebe a mulher em seu pós-parto, período este que exige, dos profissionais
deste setor, o conhecimento, a habilidade e a prontidão aos sinais de hemorragias.

Limitou-se esta pesquisa pela resistência dos enfermeiros em responder o


instrumento de pesquisa devido a medos internos de cunho profissional por instabilidade
empregatícia, porém, a amostra foi satisfatória para a realização do estudo.

CONCLUSÃO

Observou-se que, embora alguns profissionais apresentassem um certo


conhecimento sobre a HPP, prevaleceu uma deficiência quanto ao conhecimento das
causas e dos fatores de risco, como medidas preventivas e de controle para o agravo,
refletindo em falhas no acompanhamento das puérperas, principalmente nas primeiras,
dificultando a identificação de complicações e o restabelecimento do bem-estar da

165
puérpera. Ressalta-se que é neste momento em que ocorre mais chances para a HPP e
essa realidade merece discussão devido à formação e à titulação encontradas, onde a
maioria possuía certificado de especialista na área de Ginecologia/Obstetrícia.

Detalha-se que a dificuldade referida por alguns profissionais, em aplicar as


ações de prevenção e controle da HPP, foi representada pela falta de material no serviço
e falta de profissional capacitado para esse tipo de ocorrência. Passa esse dado a ser
relevante mesmo sem representatividade, em termos estatísticos, quando mostra que
há profissionais especialistas atuando, porém, sem capacidade técnica adequada, sem
capacitações e/ou atualizações para o atendimento dessa complicação. Necessita-
se, por isso, que o enfermeiro obstetra esteja em constante processo de atualização
e capacitações, adquirindo novos conhecimentos relacionados à assistência de
Enfermagem, principalmente em situações que contribuem para as altas taxas de
mortalidade materna. Torna-se necessário que as instituições ofertem condições para
que seus profissionais possam se atualizar visando à melhoria da qualificação e da
assistência no atendimento à prevenção e controle da HPP.

Conclui-se, diante desses resultados, que há a necessidade de estabelecer as


seguintes propostas para a melhoria da assistência de Enfermagem na HPP: realizar
capacitação para os enfermeiros com o propósito de atualizar os conhecimentos acerca
de assistência da HPP e estabelecer um protocolo a ser instituído e seguido pelos
enfermeiros durante a assistência à puérpera em HPP.

Fonte: VIEIRA, S. N. et al. Avaliação da assistência de Enfermagem na hemorragia pós-parto. Revista de


Enfermagem, v. 12, n. 12, p. 3247-3253, 2018. Disponível em: http://twixar.me/Q9Qm. Acesso em: 8 set. 2022.

166
RESUMO DO TÓPICO 6
Neste tópico, você aprendeu:

• A cesárea é cirurgia efetiva, criada para salvar a vida do binômio mãe-bebê, porém
deve ser realizada apenas quando indicada por reais motivos médicos.

• Atualmente, os riscos maternos e perinatais são menores durante a cesariana, quando


comparados à antigamente, graças à realização de uma técnica cirúrgica adequada,
com antissepsia, preparo correto dos materiais cirúrgicos, profilaxia materna com
antibiótico, asism como capacitação dos profissionais envolvidos.

• Atualmente, a técnica utilizada para realização de cesariana é a incisão segmentar


transversal, conhecida como incisão de Pfannenstiel, muitas vezes, associada à
anestesia raquidiana, trazendo menores riscos maternos e fetais.

• As complicações maternas mais importantes associadas à realização de cesarianas


são a ruptura uterina, a placenta prévia e o acretismo placentário.

• O enfermeiro deve manter as salas cirúrgicas prontas no centro obstétrico, para cesaria-
nas de emergências. A organização dos materiais, a checagem de funcionamento e
a validade são fatores importantes e que devem ser observados diariamente.

167
AUTOATIVIDADE
1 Atualmente, as indicações de cesárea, na grande maioria dos casos, são indicações
obsoletas e sem base científica. Alguns fatores podem explicar o aumento na taxa
de cesarianas, como a medicina defensiva. Hoje, as indicações são divididas por
indicações de causa materna ou de causa fetal. Sobre as indicações para a cesárea,
assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) São indicações reais: prolapso de cordão, herpes genital sem lesão ativa no dia
do parto e pelve materna pequena.
b) ( ) São indicações reais, que podem ocorrer durante o trabalho de parto, mas que
devem ser diagnosticadas de forma correta e com atenção: DCP, sofrimento
fetal agudo e parada da progressão do parto.
c) ( ) O HIV e a apresentação fetal pélvica são indicações absolutas de cesariana, sem a
possibilidade de realizar alguma estratégia antes para viabilizar o parto normal.
d) ( ) Mulher que tem a pelve pequena, que seja muito magra ou se o bebê for muito
grande e a mulher obesa são fatores que já indicam a realização de cesariana.

2 Sobre as taxas de cesarianas, é salientado que “a cesárea pode causar complicações


significativas e às vezes permanentes, assim como sequelas ou morte, especialmente
em locais sem infraestrutura e/ou capacidade de realizar cirurgias de forma segura e de
tratar complicações pós-operatórias” (OMS, 2015, p. 1). Com base nas complicações
da cesariana, analise as sentenças a seguir:

Fonte: OMS. Declaração da OMS sobre Taxas de Cesáreas. Genève: OMS, 2015. Disponível em:
http://twixar.me/x9Qm. Acesso em: 8 set. 2022.

I- A complicação mais incidente, durante a cesariana, e que aumenta os riscos quando


a gestante tem cesarianas anteriores é o acretismo placentário.
II- As lesões pulmonares podem acontecer com frequência nas cirurgias ginecológicas,
especificamente com maior risco na cesariana.
III- A temida rotura uterina é uma complicação que pode ocorrer durante a cesariana e
que aumenta o risco quando a gestante tem cesarianas prévias.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença I está correta.
c) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

168
3 Sendo uma cirurgia bastante comum na área da obstetrícia, a técnica para a
operação da cesariana deve se basear em alguns fatores: a segurança da mulher, o
custo do procedimento, o tempo que irá levar, a perda de sangue e, também, o risco
de infecção na ferida cirúrgica. A equipe deve estar capacitada e familiarizada com
a técnica escolhida, para oferecer uma assistência de qualidade para a mulher. De
acordo com as técnicas de incisão para a realização de uma cesariana, classifique V
para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) Atualmente, a técnica mais utilizada é a incisão longitudinal, vertical infraumbilical.


( ) A incisão de Pfannenstiel, conhecida como a incisão transversa, é a técnica de
preferência entre os obstetras, sendo considerada, atualmente, a mais segura e
confortável para a mulher.
( ) Após a extração do feto e da placenta, é realizada a sutura e a histerectomia, com
pontos separados ou contínuos, sendo a pele, preferencialmente, fechada com
sutura contínua intradérmica.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 O uso da classificação de Robson é recomendado pela OMS, pois permite a


comparação/análise das taxas de cesáreas entre esses grupos, podendo, assim,
monitorar as taxas de cesarianas nas instituições hospitalares. Diante disso, quais
são as características dos grupos observados na classificação de Robson e como
esta classificação deve ser realizada?

5 Alguns aspectos são imprescindíveis na assistência prestada pelo enfermeiro na


cesariana, como o consentimento livre e informado da mulher, a garantia de indicação
clínica da cesariana e também a oferta de apoio emocional para a mulher. Disserte
sobre os cuidados técnicos específicos da assistência do enfermeiro nos períodos
pré e pós-operatório da cirurgia de cesariana.

169
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, L. P.; REIS, A. T. Enfermagem na prática materno-neonatal. 2. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.

AMORIM, M. M. R.; DUARTE, A. C.; ANDREUCCI, C. B.; KNOBEL, R.; TAKEMOTO, M. L.


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posições não supinas. Revista Femina, v. 41, n. 3, p. 115-124, 2013. Disponível em:
http://files.bvs.br/upload/S/01007254/2013/v41n3/a4499.pdf. Acesso em: 7 set. 2022.

AMORIM, M. M. R.; SOUZA, A. S. R.; PORTO, A. M. F. Indicações de cesariana baseadas


em evidências: parte I. Revista Femina, v. 38, n. 9, p. 459-468, 2010a.

AMORIM, M. M. R.; SOUZA, A. S. R.; PORTO, A. M. F. Indicações de cesariana baseadas


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BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações


Programáticas Estratégicas. Atenção humanizada ao abortamento. Norma Técnica.
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de março de 2016. Aprova as Diretrizes de Atenção à Gestante: a operação cesariana.
Disponível em: http://twixar.me/S9Qm. Acesso em: 8 set. 2022.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento


de Ações Programáticas e Estratégicas. Atenção técnica para prevenção,
avaliação e conduta nos casos de abortamento. Brasília: Ministério da Saúde,
2022a. Disponível em: http://twixar.me/5wQm. Acesso em: 28 ago. 2022.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento


de Ações Programáticas. Manual de gestação de alto risco. Versão preliminar.
Brasília: Ministério da Saúde, 2022b. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/
portaldab/publicacoes/manual_gestacao_alto_risco.pdf. Acesso em: 28 ago. 2022.

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BERNARDES, G.; SILVA, J. Procedimento Operacional Padrão: Preparo da Sala
Cirúrgica para Cesariana. Maternidade-escola da UFRJ. Rio de Janeiro: UFRJ, 2020.
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CAUGHEY, A.; WOOD, S.; MACONES, G.; GRAMLICH, L.; NELSON, G.; WILSON, D. Diretrizes
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CERQUEIRA, D. C. O. Riscos de hemorragia na gestação e no parto e as opções


terapêuticas sem hemotransfusões. In: VII CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO
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FISHER, L.; BORGES, N. Sistematização da assistência de Enfermagem na sala de


recuperação pós anestésica de um hospital maternidade filantrópico. Saúde em Redes,
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GRAÇA, L. Medicina materno fetal. 5. ed. Lisboa: Lidel, 2017.

MONTENEGRO, C.; FILHO, J. Rezende Obstetrícia Fundamental. 13. ed. Rio de


Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.

MONTENEGRO, N.; RODRIGUES, T.; RAMALHO, C.; CAMPOS, D. Protocolos de


medicina materno-fetal. 3. ed. Lisboa: Lidel, 2014.

NENÉ, M.; MARQUES, R.; BATISTA, M. Enfermagem de saúde materna e obstétrica.


Lisboa: Lidel, 2016.

OMS. Declaração da OMS sobre Taxas de Cesáreas. Genève: OMS, 2015. Disponível
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OPAS – ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. Recomendações assistenciais


para prevenção, diagnóstico e tratamento da hemorragia obstétrica. Brasília:
OPAS, 2018. Disponível em: http://twixar.me/y9Qm. Acesso em: 8 set. 2022.

O’REILLY, B.; BOTTOMLEY, C.; RYMER, J. Livro de bolso de Ginecologia e


Obstetrícia. Loures: Lusodidacta, 2005.

PINHEIRO, P. Cefaleia pós-raquianestesia (pós-punção lombar). MD.SAÚDE, maio


2022. Disponível em: https://www.mdsaude.com/cirurgia/cefaleia-pos-raqui/. Acesso
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171
MONTENEGRO, C. A. B.; REZENDE FILHO, J. Rezende. Obstetrícia Fundamental. 13.
ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.

SILVA, W. C. et al. Assistência a uma parturiente com prolapso do cordão umbilical:


um relato de experiência. Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research,
v. 26, n. 1, p. 24-27, 2019. Disponível em: https://www.mastereditora.com.br/
periodico/20190306_115256.pdf. Acesso em: 7 set. 2022.

ZUGAIB, M.; FRANCISCO, P. V. Zugaib Obstetrícia. 4. ed. São Paulo: Manole, 2020.

172
UNIDADE 3 —

CUIDADO INTEGRAL DE
ENFERMAGEM NO PARTO
NORMAL E NA CESÁREA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• relacionar o cuidado integral no parto com a Sistematização da Assistência de


Enfermagem (SAE) e a gestão de Enfermagem no centro obstétrico (CO);

• identificar as boas práticas de parto e nascimento;

• reconhecer os métodos de alívio da dor para a parturiente durante o trabalho de parto


e o parto;

• identificar a violência obstétrica e reconhecer os direitos da mulher no ciclo gravídico-


puerperal.

PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM (SAE) NO CENTRO


OBSTÉTRICO (CO)
TÓPICO 2 – HUMANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM
TÓPICO 3 – A DOR NA OBSTETRÍCIA
TÓPICO 4 – ASPECTOS ÉTICOS

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

173
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 3!

Acesse o
QR Code abaixo:

174
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA
DE ENFERMAGEM (SAE) NO CENTRO
OBSTÉTRICO (CO)

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, abordaremos a Sistematização da Assistência de Enfermagem
(SAE), um processo que deve ser realizado em todos setores e áreas de serviço de
Enfermagem, trazendo como benefícios a organização do trabalho profissional e a
operacionalização do trabalho da Enfermagem.

A Resolução do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) nº 358/2009 dispõe


sobre a SAE e a implementação do processo de Enfermagem em ambientes, públicos
ou privados, em que ocorre o cuidado profissional de Enfermagem, explicando que o
processo de Enfermagem se divide nas etapas de histórico de Enfermagem, diagnóstico
de Enfermagem, planejamento de Enfermagem, implementação e avaliação de
Enfermagem. Todo esse processo deve ser baseado em suporte teórico, para consulta
e construção de cada etapa.

Sobre a execução, na prática, deve-se registrar cada etapa realizada, sendo


necessário conter: o resumo dos dados coletados sobre o paciente, o diagnóstico, as
ações que serão realizadas a partir do diagnóstico, e os resultados alcançados a partir
dessas intervenções. Cada registro efetuado é um meio de respaldo técnico e científico
para a equipe de Enfermagem

Anotações/registros de Enfermagem sobre os cuidados prestados ao paciente


devem ser realizados constantemente. Dentro do centro obstétrico, essa sistematização
é feita a partir da observação dos seguintes agentes: gestantes, puérperas e recém-
nascidos.

A gestão da Enfermagem dentro do centro obstétrico será outro tópico abordado,


visto que a SAE já se trata de um instrumento de gerência e organização de responsa-
bilidade do enfermeiro. Nesse sentido, alguns fatores também permeiam a gerência de
Enfermagem nesse setor, como a liderança, a tomada de decisões, a gestão da equipe e
de estratégias para melhorar o ambiente de trabalho, consequentemente, oferecendo uma
assistência de qualidade para a gestante, a puérpera e o recém-nascido.

175
2 SAE PARA GESTANTE/PUÉRPERA
“O profissional enfermeiro tem função importante nesse processo ao gerenciar o
cuidado de Enfermagem a estas mulheres. Gerenciar refere-se ao gerenciamento da
assistência de Enfermagem e tem a ver com prever e prover os recursos necessários
para que se efetive o cuidado” (CUNHA, 2011, p. 4 apud FRAGA, 2016, p. 25). Por isso,
antes de abordarmos a SAE da gestante e da puérpera, é fundamental frisarmos alguns
pontos importantes.

A maioria das mortes maternas e neonatais ocorre por causas evitáveis, o que
significa que, no pré-natal, na saúde primária ou em outro serviço de saúde em que
foi realizado o pré-natal da gestante, poderia ter sido detectada alguma condição ou
comorbidade possível de ser controlada, evitando um desfecho infeliz. Até mesmo
algumas condutas vistas como inadequadas, quando tomadas durante o parto e/ou
as primeiras horas de vida do recém-nascido, podem corroborar para morte materna
e neonatal. “A maior parte dos desfechos desfavoráveis que acontecem na gestação é um
problema de saúde pública. As preocupações com estas mulheres e com o recém-
nascido vêm crescendo cada vez mais” (FRAGA, 2016, p. 23).

Diante disso, a Organização das Nações Unidas (ONU), em conjunto com


centenas de líderes, estabeleceu, em 2015, ao analisar os maiores problemas mundiais, os
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), com 17 objetivos e 169 metas (Figura
1). Nesse sentido, no objetivo 3 de saúde e bem-estar, o qual estabelece que se deve
garantir o acesso à saúde de qualidade e promover o bem-estar para todos, em todas
as idades, são especificadas algumas metas, embora nosso interesse seja, de maneira
mais focada, na gestação e neonatos:

3.1 Até 2030, reduzir a taxa de mortalidade materna global para


menos de 70 mortes por 100.000 nascidos vivos.
3.2 Até 2030, acabar com as mortes evitáveis de recém-nascidos e
crianças menores de 5 anos, com todos os países objetivando reduzir
a mortalidade neonatal para pelo menos 12 por 1.000 nascidos vivos
e a mortalidade de crianças menores de 5 anos para pelo menos 25 por
1.000 nascidos vivos (ONU, 2015, p. 21).

DICA
Acadêmico, recomendamos a leitura dos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ONU, 2015) no site das Nações Unidas – Brasil. Acesse o
link, a seguir, e saiba mais sobre os trabalhos realizados para alcançar os
17 objetivos: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs.

176
Figura 1 – ODS

Fonte: http://twixar.me/GJQmAcesso em: 10 jan. 2023.

Acadêmico, nesse momento, você pode se perguntar “o que os Objetivos do


Desenvolvimento do Milênio têm a ver com a SAE?”. O tipo de acompanhamento de uma
gestante no pré-natal, durante o trabalho de parto, no parto e no puerpério determina
e define o desfecho da saúde materna. Portanto, um bom acompanhamento, de
qualidade, com profissionais capacitados e que tenham conhecimento técnico, científico
e de gestão do cuidado garante desfechos favoráveis para a mulher durante o seu ciclo
gravídico-puerperal. A realização da SAE entra como um grande agente estrategista,
para melhorar e garantir uma assistência segura para essa mulher.

Infelizmente, percebe-se que ainda há falta de planejamento e organização no


cuidado durante a realização da SAE.

Na maioria das vezes, o enfermeiro presta uma assistência descontex-


tualizada, tendo em vista que suas ações são voltadas apenas para
o procedimento em si e não para a mulher, limitando-se apenas à
prescrição médica para prestar assistência à parturiente. Além disso,
no dia a dia do enfermeiro, existe o excesso de atividades burocrá-
ticas voltadas para o controle de material, gerenciamento do pessoal
de Enfermagem, registros e relatórios escritos de forma não sistema-
tizada, caracterizando a execução de tarefas rotineiras, e revelando,
assim, a falta de disponibilidade com a assistência (SANTOS; RAMOS,
2012, p. 14).

É importante ter em mente que “O conhecimento científico respalda a ação


prática. Suas bases de sustentação são indicadores do desenvolvimento de uma profissão,
além de constituírem marco importante na evolução da prática assistencial” (SILVA et
al., 2011 apud FRAGA, 2016, p. 28).

177
Diante disso, devemos relembrar da teoria das necessidades humanas básicas,
de Wanda de Aguiar Horta, que propôs a realização do processo de Enfermagem (PE), o
qual é composto por ações sistematizadas e relacionadas entre si, com o objetivo geral
de oferecer uma assistência de cuidados de Enfermagem ao paciente. Segundo Horta
(2011 apud FRAGA, 2016), as etapas do PE são: histórico de Enfermagem, diagnóstico
de Enfermagem, plano assistencial, plano de cuidados ou prescrição de Enfermagem,
evolução de Enfermagem e prognóstico de Enfermagem.

Para uma padronização de terminologias nos cuidados de Enfermagem e na


formação do diagnóstico de Enfermagem, mundialmente, temos o NANDA-I e II (acrônimo
para North American Nursing Diagnosis Association), que utiliza várias taxonomias e é
considerado o mais variável e estável para consultas, conforme Fraga (2016).

Outros sistemas de classificação que facilitam a realização da SAE são:

a Classificação das Intervenções de Enfermagem (NIC); a Classificação


dos Resultados de Enfermagem (NOC); o sistema de OMAHA
(classificação para a saúde comunitária); o Sistema de Classificação
de Cuidados Clínicos (CCC); e a Classificação Internacional para a
Prática de Enfermagem (CIPE®), que foi desenvolvida com a unificação
de vocabulários da Enfermagem, como a NANDA, NIC, NOC, e sistema
da OMAHA, entre outros (SANTOS; RAMOS, 2012, p. 14).

Acadêmico, para melhor percepção da aplicação da SAE no centro obstétrico,


especificamente para gestantes e parturientes, o Quadro 1 apresenta alguns resultados
de estudos acerca da temática.

Quadro 1 – Estudos sobre SAE no centro obstétrico

Autor Resumo
Propõe um protocolo para a SAE às parturientes no centro obstétrico.
Foram identificados sete diagnósticos de Enfermagem: contração uterina
normal, dor de trabalho de parto, medo do trabalho de parto, fadiga,
expulsão uterina fetal sem distócias ou intercorrências, laceração do pe-
ríneo ou vagina e corte na região médio-lateral do períneo. Na sequência,
Santos; Ramos foram definidos os resultados esperados e as intervenções de Enfer-
(2012) magem com base na literatura. Nas considerações finais, foi defendido
que um protocolo para a SAE às parturientes estimulará a atuação dos
enfermeiros obstetras no acompanhamento dessas mulheres, favore-
cendo uma assistência individualizada, fundamentada cientificamente
e respeitando o processo natural do trabalho de parto e parto, além de
consolidar a implementação da SAE

178
Trabalharam diagnósticos/resultados de Enfermagem para parturientes
e puérperas, utilizando a Classificação Internacional para a Prática de
Enfermagem (CIPE). A maioria desses diagnósticos/resultados foram
agrupados dentro das necessidades psicobiológicas, o que pode ser ex-
Silva; Nóbrega;
plicado pelas alterações orgânicas desencadeadas na mulher enquanto
Macedo
gestante, parturiente e puérpera, mas também em função da formação
(2012)
dos profissionais de saúde/Enfermagem, que prioriza a visão biológica do
ser humano. Essas alterações na mulher promovem necessidades que
são prioritárias na assistência de Enfermagem. No entanto, as necessi-
dades psicossociais e psicoespirituais não podem ser negligenciadas.
O objetivo foi identificar a presença dos indicadores clínicos da dor em
situação de parto e correlacionar a referência verbal de intensidade de
Mazoni; Carvalho; dor com as contrações uterinas. Foi evidenciada uma correlação entre
Santos referência verbal e evidência observada de contração uterina, que se
(2013) associaram ao aumento do escore de intensidade da dor à medida que
aumenta a pressão intrauterina. Frisando que a dor é um dos diagnósti-
cos mais frequentes nas parturientes.
Aborda a internação precoce da gestante, que ocasiona intervenções
obstétricas desnecessárias, que culmina com a indicação de cesariana.
Nesse contexto, surge o cuidado de Enfermagem cirúrgico que envolve
Terto et al. (2021)
desde o manejo clínico à execução de atividades educativas. Por meio
do uso da SAE, esses cuidados são ofertados de forma individualizada,
conferindo uma assistência integral e resolutiva.
Com o objetivo de propor um protocolo para a SAE para parturientes no
centro obstétrico. No pré-parto, a proposta de assistência à parturiente
consiste, inicialmente, em uma consulta de Enfermagem. O instrumento
para consulta de Enfermagem contempla os dados de identificação da
Santos; Ramos parturiente, os dados relacionados à gestação, o exame físico da partu-
(2012) riente, os exames laboratoriais e os dados do parto. A segunda etapa do
protocolo consiste na identificação dos diagnósticos de Enfermagem.
Para tanto, um formulário específico foi elaborado. O referido formulá-
rio contempla sete diagnósticos de Enfermagem com suas respectivas
intervenções e os resultados esperados.

Fonte: Araújo et al. (2022); Fraga (2016); Santos; Ramos (2012)

A primeira etapa da SAE realizada na gestante ou puérpera é coletar os dados,


fazer uma anamnese e um histórico de Enfermagem. Diante disso, utilizaremos, como
exemplo, o formulário de elaboração do histórico de Enfermagem com a gestante/
parturiente (Figura 2) (SANTOS; RAMOS, 2012), para uso durante a consulta de Enfermagem
no pré-parto do centro obstétrico ou, até mesmo, na sala de parto.

179
Figura 2 – Formulário para histórico de Enfermagem

Fonte: Santos; Ramos (2012, p. 15)

A segunda etapa, após a percepção das necessidades da gestante/parturiente,


observadas durante a consulta e a anamnese, é a etapa da elaboração dos diagnósticos
de Enfermagem.

180
INTERESSANTE
Em 2016, um estudo realizado por Fraga em um centro obstétrico de um hospital do sul do
Brasil, do qual participaram 81 mulheres internadas em trabalho de parto, consideradas
gestantes de risco habitual, traz os diagnósticos de Enfermagem mais presentes, conforme
NANDA-I:

• dor no trabalho de parto;


• nutrição desequilibrada: menos do que as necessidades corporais;
• risco de volume de líquidos deficiente;
• insônia;
• mobilidade física prejudicada;
• fadiga;
• disposição para conforto melhorado;
• conforto prejudicado;
• conhecimento deficiente;
• disposição para conhecimento melhorado;
• controle emocional instável;
• ansiedade;
• enfrentamento ineficaz;
• disposição para enfrentamento melhorado;
• medo;
• risco de infecção;
• risco de integridade da pele prejudicada;
• risco de integridade tissular prejudicada;
• risco de quedas;
• risco de sangramento;
• risco de contaminação.

A terceira etapa é o planejamento de ações de Enfermagem. Santos e Ramos


(2012) esquematizaram um outro formulário que pode auxiliar na organização dessa
etapa, melhorando o planejamento da assistência (Quadro 2).

“A visão holística do enfermeiro obstetra associada ao Processo de Enfermagem,


favorece uma assistência individualizada à parturiente, fundamentada no conhecimento
científico, fazendo com que ela se sinta parte de um processo natural, acompanhando o
ritmo do seu próprio corpo” (SANTOS; RAMOS, 2012, p. 17).

181
Quadro 2 – Planejamento da Assistência

Diagnóstico de Resultados
Intervenções de enfermagem
enfermagem esperados

Avaliar a dinâmica uterina registrando


sua frequência, duração e intensidade;
Monitorar o batimento cardíaco fetal (BCF)
Contração uterina Contração uterina em antes, durante e após as contrações para
normal progressão identificar presença de desacelerações
intrapélvicas; informar ao profissional
médico alterações no BCF e/ou nas
contrações uterinas.

Encorajar a deambulação durante o


trabalho de parto; incentivar as posições
verticais; ensinar técnicas de respiração e
Dor de trabalho de Dor de trabalho de
relaxamento; promover banho de chuveiro
parto parto diminuída
morno e massagem lombossacral; e
registrar a evolução do trabalho de parto
em partograma.

Conversar usando uma abordagem


calma e segura; explicar o processo de
trabalho de parto e parto esclarecendo
suas dúvidas; permitir presença de
Medo do trabalho de acompanhante conforme desejo da
Medo diminuído
parto parturiente; implementar o toque
afetivo para acalmá-la realizado pelo
enfermeiro ou acompanhante escolhido
pela parturiente; e oferecer terapia com
música.

Orientar a parturiente quanto à forma de


Fadiga Fadiga melhorada fazer relaxamento muscular para que ela
descanse entre uma contração e outra.

Deixar passar lentamente a cabeça


do feto; proteger o períneo durante o
nascimento; clampear e cortar o cordão
Expulsão uterina fetal
Expulsão uterina rea- umbilical após o término das pulsações;
sem distócias ou inter-
lizada verificar integridade da placenta após
corrências
delivramento; colocar o recém-nascido
junto ao seio materno para estimular o
aleitamento e a liberação de ocitocina.

182
Examinar o canal vaginal após o
delivramento fisiológico da placenta para
verificar presença de lacerações; realizar
Laceração do períneo Prevenção de contami-
correção de laceração após administração
ou vagina nação da laceração
de anestésico local; orientar sobre higiene
na região vulvoperineal e uso de roupas
limpas.

Fazer infiltração de anestésico local,


se necessário; fazer corte na região
Prevenção de conta-
médio-lateral do períneo (episiotomia),
Corte na região médio- minação do corte na
se necessário; realizar episiorrafia; fazer
-lateral do períneo região médio-lateral do
toque retal para garantir a integridade
períneo
tissular; orientar sobre higiene na região
vulvoperineal e uso de roupas limpas.

Fonte: Santos; Ramos (2012, p. 16)

ATENÇÃO
Além da gestante, a SAE também deve ser realizada para a puérpera,
ou seja, a mulher no período pós-parto, visto que é um momento de
profundas modificações, tanto fisiológicas como psicológicas. Nesse
momento, a Enfermagem atua com a prevenção de complicações e a
promoção de conforto, do pós-parto imediato e mediato, enquanto
essa puérpera estiver internada na instituição hospitalar, conforme
demonstra o quadro a seguir.

Quadro – SAE na puérpera

Diagnósticos de
Resultados Intervenções Atividades
Enfermagem

Mobilidade Indica- Investigar com a


Intolerância dores: desempenho paciente os fatores
à atividade no posicionamento que aliviam/pioram
Promoção do
caracterizada por do corpo; andar; movi- a dor; reduzir ou
conforto físico:
desconforto aos mentos realizados eliminar fatores
controle da dor.
esforços, relacionada com facilidade. Au- que precipitam
à dor. mentar para: 5 (não ou aumentam a
comprometido). experiência de dor.

Evitar interrupções
Privação de sono
desnecessárias e
caracterizada por
Nível de desconforto permitir períodos de
ansiedade, cansaço Promoção do
Indicadores: descanso; Determinar
e sonolência durante conforto físico:
ansiedade; dor. as origens do
o dia relacionada a controle do
Aumentar para: 5 desconforto, como
práticas maternas ambiente: conforto.
(nenhum). roupa de cama com
que não favorecem
rugas e irritantes
o sono.
ambientais.

183
Controle da dor
Indicadores:
descrição dos Assegurar que a
Dor aguda fatores causadores; paciente receba
caracterizada por uso de medidas cuidados precisos de
gestos protetores preventivas; uso analgesia; Informar
Promoção do
e relato verbal de de analgésicos sobre a dor, suas
conforto físico:
dor relacionada a conforme causas, duração
controle da dor.
agentes lesivos recomendação; e desconfortos
físicos (ferida relato de dor antecipados em
operatória). controlada. decorrência dos
Aumentar para: 5 procedimentos.
(consistentemente
demonstrado).
Usar abordagem
calma e
tranquilizadora,
escutando a paciente
com atenção; criar
Nível de desconforto ambiente calmo e
Conforto prejudicado
Indicadores: Promoção de sem interrupções,
caracterizado por
ansiedade; medo; conforto psicológico: com iluminação
ansiedade, medo e
estresse; dor. terapia de difusa e temperatura
relatos de sentir-se
Aumentar para: 5 relaxamento. confortável, sempre
desconfortável.
(nenhum). que possível; provocar
comportamentos que
sejam condicionados
a produzir
relaxamento, como
respiração profunda.

Fonte: Barbosa et al. (2014, p. 847)

Algumas ações/prescrições da Enfermagem, para as puérperas em período de


pós-parto imediato dentro do centro obstétrico, devem ser realizadas conforme o diag-
nóstico de Enfermagem:

• monitorar os sinais vitais a cada 4 horas;


• avaliação da altura uterina e massagem uterina de a cada 2 horas;
• avaliação dos lóquios a cada 2 horas;
• estimular a deambulação após 2 horas do parto;
• avaliar a dieta nutricional, de acordo com a prescrição médica;
• orientar sobre amamentação em todos os períodos do dia;
• orientar sobre autocuidado materno, uma vez.

Caro acadêmico, é importante estabelecer um roteiro da SAE, a partir da


construção de protocolos, formulários e tabelas, como apresentado ao longo deste tópico.
Isso fornece melhor organização para a implementação de cada etapa do processo de
Enfermagem, fomentando uma assistência de qualidade e com segurança, provida de
conhecimento técnico-científico, para as gestantes e puérperas do centro obstétrico.

184
DICA
A criação de instrumentos, pelo enfermeiro, pode facilitar a SAE, dinami-
zando o cuidado e agilizando o tempo na realização do processo de En-
fermagem. Veja um exemplo de instrumento com uso de checklist feito
pelos autores Fialho et al. (2014), disponível em: http://twixar.me/DJQm.

3 GESTÃO DE ENFERMAGEM NO CENTRO OBSTÉTRICO


Dentro do centro obstétrico, há algumas responsabilidades do enfermeiro,
principalmente do especialista em obstetrícia, como a gestão do local de trabalho, da
equipe, dos materiais, de tomada de decisões e do cuidado prestado. A organização
desse serviço resultará em maiores índices de satisfação do paciente atendido.

Na maternidade, o enfermeiro gerencia o cuidado de modo a facilitar


a assistência de Enfermagem oferecida à parturiente, ao bebê e
aos familiares. Tanto nesse contexto como nas demais unidades
de cuidado, utiliza-se ferramentas gerenciais que são capazes de
auxiliar na organização, planejamento, coordenação, delegação ou
prestação dos cuidados, supervisão, previsão e provisão de recursos,
capacitação da equipe, desenvolvimento de medidas educativas
com a família, interação com outros profissionais, além de ocupar
espaços de articulação e negociação, permitindo a implementação
de melhorias do cuidado (COPELLI et al., 2017, p. 1348).

Em primeiro lugar, o enfermeiro do turno, responsável pelo setor, deve estar


sempre atualizado e capacitado, para poder prestar uma assistência de qualidade para
parturientes, puérperas e recém-nascido, e uma das grandes competências é a liderança.
Dentro do cenário multiprofissional, esta é uma ferramenta essencial e indispensável para
o enfermeiro.

No cenário de atuação da maternidade em estudo, a liderança


acontece por meio das estratégias planejadas em reuniões de
colegiado gestor, do processo de tomada de decisão compartilhada,
da educação permanente.
Além disso, a pesquisa baseada em evidências científicas faz parte do
cotidiano desses profissionais e também possui papel relevante para
demonstrar os impactos das ações desenvolvidas. Pesquisadores
afirmam que a prática baseada em evidências é uma tecnologia em-
preendedora no âmbito da saúde materno infantil, pois as evidências
científicas devem nortear a prática clínica (ZAMBERLAN; ROCHA;
BACKES, 2017 apud SOUSA et al., 2018, p. 2).

185
DICA
Caro acadêmico, você já ouviu falar sobre a governança compartilhada
de Enfermagem? Basicamente, é um modelo de gestão que se baseia
em compartilhar as decisões em equipe, corresponsabilizando ações
e promovendo a autonomia profissional da equipe. Para saber mais,
acesse o estudo de Copelli et al. (2017): http://twixar.me/FJQm.

A capacitação da equipe de Enfermagem deve ser promovida, por meio da


realização de cursos de aprimoramento, promovendo a educação continuada dentro
do centro obstétrico. Quebrar paradigmas e práticas obsoletas da obstetrícia, para os
profissionais ofertarem uma assistência de qualidade, atualizada e, principalmente,
baseada em evidências científicas é essencial. Nesse sentido, o enfermeiro responsável
pode trazer assuntos, para a equipe, sobre humanização da assistência ao parto, boas
práticas, métodos de alívio da dor, medidas de segurança, entre outras temáticas
pertinentes ao setor da obstetrícia e que irão trazer benefícios para a parturiente e a
puérpera que usufruem do serviço obstétrico e materno.

Entende-se que a gestão em Enfermagem seja um conjunto de


atividades gerenciais e assistenciais, caracterizadas pelo exercício
da liderança, de tal modo que a influência atinja todos os liderados.
Isto ocorre desde a realização dos procedimentos técnicos, na
elaboração de critérios de qualidade nas principais decisões tomadas
(RUTHES; FELDMAN; CUNHA, 2010 apud HOFFMANN; PETTENON;
ROMAN, 2019, p. 3).

É importante que essa atividade não afaste o enfermeiro responsável das


gestantes, parturientes e puérperas, mas, pelo contrário, aproximar ainda mais, visto
que o objetivo é melhorar o cuidado de Enfermagem realizado para essas mulheres, a
partir de fatores que influenciam diretamente esse “cuidar”.

ATENÇÃO
Em um centro obstétrico de alto fluxo de atendimentos, o enfermeiro
responsável deve saber gerir a assistência da sua equipe desde a
triagem, no pré-parto, na sala de partos, na sala cirúrgica e na sala
de recuperação pós-anestésica. A fluidez do fluxo de atendimento
deve ser mantida, bem como a humanização dos profissionais com
as mulheres.

186
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:

• A realização da SAE entra como um grande agente estrategista, para melhorar e


garantir uma assistência segura para a mulher, um acompanhamento seguro e de
qualidade, com profissionais capacitados, que têm conhecimento técnico, científico e
de gestão do cuidado, garantindo desfechos favoráveis para a mulher durante o seu
ciclo gravídico-puerperal.

• Construir e utilizar instrumentos que facilitam a coleta de dados da gestante/puérpera


pode auxiliar e agilizar o primeiro passo do processo de Enfermagem. Os diagnósticos
de Enfermagem também podem seguir algum instrumento, como uma checklist, e as
ações dos enfermeiros devem ser realizadas a partir dos diagnósticos estabelecidos.

• A SAE para a puérpera também deve ser realizada com atenção, visto que a mulher no
período pós-parto passa por momentos de profundas modificações, tanto fisiológicas
como psicológicas. Nesse momento, a Enfermagem atua com a prevenção de
complicações e a promoção de conforto, do pós-parto imediato e mediato, enquanto
essa puérpera estiver internada na instituição hospitalar.

• O enfermeiro deve saber gerir a sua equipe de Enfermagem, de maneira a mantê-la


capacitada e informada. Além disso, a tomada de decisão, como líder de equipe, é vista
como grande fator dentro do centro obstétrico, uma vez que é preciso agilidade no
atendimento. Manter os materiais e os instrumentos necessários sempre disponíveis e
o setor organizado também são responsabilidades do enfermeiro.

187
AUTOATIVIDADE
1 Com base na Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) no centro
obstétrico para gestantes e puérperas, é importante ressaltar a vasta opção de planos
de cuidados, de acordo com as reais necessidades da mulher. Por isso, a importância
da realização de uma boa anamnese, um exame físico e a formação do diagnóstico
de Enfermagem, para, então, planejar as ações, implementá-las e avaliá-las. Sobre a
SAE para a gestante e puérpera, assinale a alternativa INCORRETA:

a) ( ) Podem ser identificados alguns diagnósticos de Enfermagem no centro obstétrico,


como contração uterina normal, dor de trabalho de parto, medo do trabalho de
parto, fadiga, expulsão uterina fetal sem distócias ou intercorrências, laceração
do períneo ou vagina e corte na região médio-lateral do períneo.
b) ( ) As alterações orgânicas desencadeadas na mulher, enquanto gestante, parturiente
e puérpera, promovem necessidades que são prioritárias na assistência de
Enfermagem. Nesse sentido, as necessidades psicossociais e psicoespirituais
podem ser negligenciadas.
c) ( ) Dentro do centro obstétrico, quando avaliado, na parturiente, o fator “dor” é um
dos diagnósticos mais frequentes nas mulheres em trabalho de parto.
d) ( ) O primeiro passo no pré-parto é a realização do exame físico e da anamnese da
gestante; para facilitar essa etapa, pode ser utilizado um instrumento de coleta
de dados.

2 O planejamento de ações, a partir do diagnóstico de Enfermagem, para a gestante


e a parturiente, faz parte da SAE. O enfermeiro deve estar atento às taxonomias,
aos resultados esperados e às intervenções que irá prescrever para a equipe de
Enfermagem pôr em prática. Diante disso, analise as sentenças a seguir:

I- Para o diagnóstico de Enfermagem de contração uterina normal, algumas intervenções


de Enfermagem são: avaliar a dinâmica uterina da gestante, descartando alterações
como taquissistolia ou hipertonia uterina, monitorar o batimento cardíaco fetal durante
e fora das contrações.
II- Para o diagnóstico de Enfermagem de medo do trabalho de parto, algumas interven-
ções de Enfermagem são: conversar com a gestante usando uma abordagem calma
e segura, explicar os mecanismos do parto, permitir a presença do acompanhante
durante o processo de parturição e oferecer terapias alternativas, para auxiliar no
relaxamento e na autoconfiança materna.
III- Para o diagnóstico de Enfermagem de laceração do períneo, algumas intervenções
de Enfermagem são: avaliar o canal de parto antes da expulsão da placenta, realizar
a sutura da laceração, sem a necessidade de anestésico local, e orientar sobre a
higiene da vulva.

188
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença III está correta.
c) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença I está correta.

3 Sendo a Enfermagem uma das profissões que tem um maior número de profissionais
e equipes dentro de uma instituição hospitalar, é importante a realização de um bom
gerenciamento. Dentro do centro obstétrico, a gestão deve trabalhar de modo facilitar
a assistência de Enfermagem oferecida à parturiente, ao bebê e aos familiares. Nesse
sentido, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) Utilizam-se ferramentas gerenciais, capazes de auxiliar na organização, no planeja-


mento, na coordenação, na delegação ou na prestação dos cuidados e da supervisão.
( ) A previsão e a provisão de recursos e a capacitação da equipe também são
ferramentas indispensáveis na gestão.
( ) O desenvolvimento de medidas educativas com a família e a interação com outros
profissionais são ações necessárias para que o funcionamento do setor ocorra de
maneira fluida, tanto para os profissionais como para o paciente.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) V – V – V.

4 A primeira etapa da SAE, para a gestante ou a puérpera, é coletar os dados e realizar


uma anamnese, ou seja, um histórico de Enfermagem. Nesse momento, é estimulada
a criação de formulários de elaboração do histórico de Enfermagem com a gestante/
parturiente, facilitando, assim, o atendimento, a organização e a agilidade dessa
etapa. Sobre a primeira etapa da SAE, em gestantes ou puérpera, quais são os
principais dados que devem conter nesse instrumento?

5 A gestão é uma das principais atribuições do enfermeiro, sendo algumas


responsabilidades: manter o setor em plena organização e fluidez, prever materiais,
delegar funções, integrar os profissionais, enquanto equipe, assegurar a qualificação
e o aperfeiçoamento do indivíduo, visando a oferecer uma assistência com qualidade
e segura ao paciente. Nesse contexto, disserte sobre a importância da liderança do
enfermeiro no centro obstétrico.

189
190
UNIDADE 3 TÓPICO 2 —
HUMANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA
DE ENFERMAGEM

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, abordaremos a humanização da assistência de Enfermagem no
ciclo gravídico-puerperal, mostrando que o enfermeiro é um agente importante para a
transformação do modelo obstétrico e a implementação de boas práticas obstétricas.

Ao longo dos anos, a assistência a mulher durante o período do parto sofreu


mudanças. Sabemos que, antigamente, o cuidado com o processo de parturição era,
muitas vezes, realizado por parteiras em domicílio, o que mudou após a chegada da
medicina moderna, quando houve uma institucionalização e medicalização do parto
e do nascimento, devido aos avanças da tecnologia. Isso foi bom para auxiliar em
emergências, quando há o risco de morte materno-fetal, porém, para auxiliar no processo
fisiológico em partos de baixo risco, esse modelo tecnocrático colocou a mulher como
sujeita passiva, além de aumentar o índice de intervenções desnecessárias.

Observa-se que, atualmente, durante a assistência à parturiente, ainda é prevalente


uma rotina da medicalização do parto, como o uso de ocitócitos combinado com amniotomia
precoce, usados para acelerar o trabalho de parto. A falta de paciência de alguns profissionais,
infelizmente, causa partos cada vez mais intervencionistas, medicalizados e que não
contribuem para uma experiência positiva de parto da mulher/família.

Essa cultura intervencionista do parto passou de geração a geração, tornando-


se aceitável e normal entre os profissionais e também entre algumas mulheres. Hoje,
percebe-se que o movimento pela humanização do parto ganha forças no nosso país
e no mundo todo, e há uma busca, pelas mulheres, por partos menos intervencionais e
mais naturais.

A medicalização do parto é um fruto dessa cultura que se enraizou, na qual o


modelo biomédico prevalece. Então, o simples fato de omitir essas boas práticas de
parto e nascimento e tirar o protagonismo da mulher e a autonomia dela durante o parto
mostra o motivo de as mulheres procurarem por partos humanizados.

Afinal, o que são boas práticas de parto e nascimento? É sobre isso que
iremos abordar neste tópico. O enfermeiro, especialmente aquele que trabalha com
parto e nascimento, seja ele generalista ou especialista, é responsável por promover a
humanização do parto. Em algumas instituições, o sistema organizacional dos cuidados
em obstetrícia é cheio de protocolos com práticas obsoletas; para mudar a forma da

191
assistência, deixando-a mais humanizada e baseada em evidência científica, é necessário
dar voz a mulheres/casais e incentivar os estudantes e os profissionais já formados para
que tenham pensamentos mais crítico-reflexivos sobre as rotinas hospitalares que ainda se
verificam na área da obstetrícia.

2 BOAS PRÁTICAS DE PARTO E NASCIMENTO


Com base na Rede pela Humanização do Parto e Nascimento (REHUNA), o
termo humanizar faz referência:

a uma atenção que parte do reconhecimento dos direitos


fundamentais de mães e crianças e do direito à tecnologia
apropriada na assistência. Esse conjunto de demandas incluiria o
direito à escolha de local, pessoas e formas de assistência no parto;
a preservação da integridade corporal de mães e crianças; o respeito
ao parto como experiência altamente pessoal, sexual e familiar; a
assistência à saúde e o apoio emocional, social e material no ciclo
gravídico-puerperal; a proteção contra abuso e negligência (DINIZ,
2001, p. 35 apud BOURGUIGNON; GRISOTTI, 2018, p. 1.238).

O nascimento de um filho é um momento único da vida de uma mulher, e deve ser


tratado de forma única pelos profissionais envolvidos também. As Diretrizes Nacionais
de Assistência ao Parto Normal (2017) enfatizam que, quando as mulheres buscam
atendimento e ajuda para cuidar de seus bebês, mesmo que ainda dentro da barriga,
elas procuram também compreensão total quanto à situação ocorrida, abrangendo não
só o cuidado físico, mas também o lado emocional, uma vez que, em uma gravidez,
as alterações hormonais fazem com que a mulher passe por fortes emoções, além de
haver várias dúvidas sobre parto e nascimento. As experiências que essa mulher/família
passa, tanto na gravidez quanto no parto e no puerpério, deixarão marcas para o resto
da vida – nós, como enfermeiros, devemos garantir que sejam marcas positivas.

No parto, é importante que a mulher seja tratada como protagonista desse


momento. “A mulher deve receber a atenção que merece como ser, com respeito e
não apenas como mera parideira” (BALASKAS, 2015, p. 10). As Diretrizes Nacionais de
Assistência ao Parto Normal (2017), novamente, trazem que a mulher, em todo o período
do ciclo gravídico-puerperal, deve ser informada de todo o processo em andamento, com
informações baseadas em evidências científicas, e não achismos, devendo ser incluída
na tomada de decisões, sendo importante perguntar os desejos e as expectativas dela
para esse momento especial, que é o nascimento do seu bebê.

“O enfermeiro deve refletir sobre a sua atuação no parto humanizado, focando


na capacitação e na inclusão de boas práticas, proporcionando assim uma assistência
qualificada” (GOMES; OLIVEIRA; LUCENA, 2020, p. 186). A importância do enfermeiro,
nesse âmbito, é evidente em muitos estudos. A atuação do enfermeiro no processo
de parturição causa experiências positivas para as mulheres/famílias, visto que esses
profissionais estão mais focados no processo fisiológico do parto não intervencionista.

192
ATENÇÃO
É importante lembrar que as boas práticas devem iniciar no pré-natal,
com cursos de preparação para parto e nascimento nas unidades básicas
de saúde (UBS). Outros exemplos são as rodas de conversas entre
gestantes, uma estratégia importante, e a promoção da participação
do(a) parceiro(a) nas consultas, que também deve ser estimulada. Essas
medidas devem ser realizadas, de preferência, por enfermeiros.

Para melhor compreensão, no documento Parto, aborto e puerpério: assistência


humanizada à mulher, do Ministério da Saúde (BRASIL, 2001), em parceria com a
Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e a
Associação Brasileira de Enfermeiros Obstetras e Obstetrizes (Abenfo), foram elencadas
algumas medidas para os profissionais envolvidos com o pré-natal na atenção básica
realizarem com mulheres/família, para promover a humanização do atendimento desde
a gestação:

• manter o diálogo com a mulher e seu acompanhante, durante


qualquer procedimento realizado na consulta pré-natal, incenti-
vando-os, orientando-os e esclarecendo-lhes as dúvidas e seus
temores em relação à gestação, trabalho de parto, parto e puerpério;
• informar sobre as rotinas e procedimentos a serem desenvolvidos
no momento do trabalho de parto e parto, a fim de obter colaboração
por parte da parturiente e de seu acompanhante;
• promover visitas das gestantes e acompanhantes às unidades de
referência para o parto, no sentido de desmistificar e minimizar o
estresse do processo de internação no momento do parto;
• informar as etapas de todo o processo do trabalho de parto e parto,
esclarecendo sobre as possíveis alterações;
• adotar medidas para o estabelecimento do vínculo afetivo mãe-
filho e o início do aleitamento materno logo após o nascimento;
• dar à gestante e seu acompanhante o direito de participar das
decisões sobre o nascimento, desde que não coloque em risco
a evolução do trabalho de parto e a segurança da mulher e do
recém-nascido (BRASIL, 2001, p. 28).

Uma mulher/família bem preparada para o parto chega ao centro obstétrico mais
confiante, ciente de como funciona o processo de parturição, quais são as condutas
tomadas em determinadas situações, quais são os seus direitos dentro de uma instituição
hospitalar, quais exercícios e medidas ela pode realizar em conjunto com o profissional
do parto para aliviar a dor do parto e auxiliar na evolução dele. Uma mulher informada e
empoderada é uma mulher ativa e que tem autonomia durante o trabalho de parto e o
parto. Por isso, a importância do enfermeiro em todo esse processo.

No momento do parto, quando a mulher é internada no centro obstétrico,


“enfermeiro como cuidador direto tem grandes desafios para a efetivação desta visão
holística por parte da equipe envolvida neste momento importante na vida da mulher”
(GOMES; OLIVEIRA; LUCENA, 2020, p. 186).
193
Esse modelo assistencial caracteriza-se pela conexão entre mente
e corpo e a concepção do corpo como um organismo, os aspectos
culturais, sociais e psicológicos da mulher impactam nos mecanismos
de produção e inibição do trabalho de parto, por isso, o cuidado é
voltado para atender a mulher em sua integralidade (DAVIS-FLOYD,
2001, p. 10-15 apud BOURGUIGNON; GRISOTTI, 2020, p. 492).

DICA
Acadêmico, fique por dentro das publicações e das diretrizes do
Ministério da Saúde, que promovem a humanização da assistência o
parto e puerpério: http://twixar.me/lJQm; http://twixar.me/RgQm.

INTERESSANTE
É importante saber que, em 2000, o Ministério da Saúde, a partir
da Portaria nº 569, de 1 de junho de 2000, instituiu o Programa de
Humanização no Pré-natal e Nascimento, no âmbito do Sistema
Único de Saúde (SUS), com o objetivo de desenvolvimento
de ações de promoção, prevenção e assistência à saúde de
gestantes e recém-nascidos, promovendo a ampliação do acesso
a essas ações, o incremento da qualidade e da capacidade
instalada da assistência obstétrica e neonatal, bem como sua
organização e regulação no âmbito do SUS. Acesse o conteúdo
na íntegra: http://twixar.me/bJQm.

A Portaria nº 569/2000 (BRASIL, 2000) traz princípios do Programa de Humani-


zação no Pré-Natal e Nascimento:

a) toda gestante tem direito ao acesso a atendimento digno e de


qualidade no decorrer da gestação, parto e puerpério;
b) toda gestante tem direito ao acompanhamento pré-natal
adequado de acordo com os princípios gerais e condições
estabelecidas na Portaria;
c) toda gestante tem direito de saber e ter assegurado o acesso à
maternidade em que será atendida no momento do parto;
d) toda gestante tem direito à assistência ao parto e ao puerpério e
que esta seja realizada de forma humanizada e segura;
e) todo recém-nascido tem direito à adequada assistência neonatal;
f) as autoridades sanitárias dos âmbitos federal, estadual e municipal
são responsáveis pela garantia dos direitos enunciados (BRASIL,
2000, s. p.).

194
Acadêmico, você pode se perguntar “mas, afinal, o que eu posso fazer, como
futuro profissional da Enfermagem, para pôr em prática essas boas práticas de parto
e nascimento?”. Nesse sentido, foi preparado um guia (Quadro 3) com recomendações para
uma adequada assistência de parto e nascimento, fundamentado e referenciado pelas
recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2018).

No novo documento da OMS (2018), há estudos que demonstram a proporção


de gestantes saudáveis submetidas a pelo menos uma intervenção, durante o parto,
desnecessariamente e que são potencialmente prejudiciais. Por isso, a favor do parto
normal fisiológico e menos intervencionista, a OMS emitiu as novas diretrizes para todo
o mundo, que inclui 56 recomendações sobre o que é ou não necessário durante o
trabalho de parto, o parto, o pós-parto e, também, os cuidados com o recém-nascido.

Quadro 3 – Recomendações de parto e nascimento

Cuidados Recomendação
Durante todo o parto e nascimento
Manter a dignidade da mulher, a privacidade, confidencialidade,
Respeito durante os
evitando maus-tratos e possibilitando escolhas informadas e
cuidados maternos
apoio contínuo durante o trabalho de parto e parto.
Realizar uma comunicação eficaz entre os profissionais, a
Comunicação efetiva
mulher e o(a) acompanhante durante todo o trabalho de parto.
Incentivar e promover a presença de um acompanhante de
Acompanhante
escolha da mulher durante o trabalho de parto e o parto.
Durante o primeiro estágio do trabalho de parto
Informar as mulheres sobre a relatividade do tempo de
Duração do primeiro estágio
duração da fase latente e da fase ativa.
Para trabalho de parto de início espontâneo, não é
recomendado relacionar o ritmo da dilatação cervical de
1 cm a cada 1 hora, visto que é um valor impreciso para
Progresso do primeiro identificar riscos.
estágio do trabalho de parto Não é recomendado o uso de intervenções para acelerar
o progresso do trabalho de parto antes de 5 cm,
quando condições fetais e maternas estão adequadas e
tranquilizadoras.
Adiar a admissão em sala de parto até a parturiente chegar
Admissão na sala de parto
na fase ativa do trabalho de parto.
Não é recomendada a cadiotocografia de rotina na
Avaliação rotineira do admissão do parto, quando gestantes saudáveis em
bem-estar fetal na admissão trabalho de parto espontâneo.
do parto Deve ser utilizado o Doppler ou Pinard para realizar a
ausculta cardíaca fetal na admissão.
Não é recomendada a realização de tricotomia antes do
Tricotomia
parto vaginal.
Não é recomendada a administração de enema antes do
Enema
parto.

195
É recomendado realizar o exame de toque vaginal com
Exame de toque vaginal intervalo mínimo de 4 horas, quando em fase ativa do
trabalho de parto em gestantes de baixo risco.
É recomendado o uso do sonar ou Pinard para ausculta
Ausculta fetal intermitente
cardíaca fetal durante o trabalho de parto, a cada
da frequência cardíaca fetal
15/30 minutos na fase ativa, quando gestantes saudáveis.
Analgesia epidural para alívio É recomendado o uso de analgesia epidural para gestantes
da dor saudáveis que a solicitam.
É recomendado o uso de opioides parenterais para
Analgesia opioide para alívio
gestantes saudáveis que solicitam alívio da dor por meio
da dor
farmacológico.
É recomendado o uso de técnicas de relaxamento, como
Técnicas de relaxamento relaxamento muscular, respiração, música, mindfulness
para alívio da dor e uso de banho de aspersão ou submersão, se assim a
mulher desejar.
É recomendado o uso de técnicas manuais, como
Técnicas manuais para
massagens, compressas quentes, rebozo, entre outras
controle da dor
técnicas alternativas, se assim a mulher desejar.
É recomendada, para gestantes de baixo risco, a ingestão
Alimentação e líquidos de alimentos e líquidos por via oral durante o trabalho de
parto.
Deve ser incentivada a adoção de posturas eretas e
Movimentação e posição mobilidade durante o trabalho de parto em gestantes de
materna baixo risco, com a intenção de auxiliar na progressão do
trabalho de parto.
Não é recomendada a realização de amniotomia isolada de
Amniotomia
rotina para prevenção de trabalho de parto prolongado.
Não são recomendados a realização de amniotomia
Amniotomia e ocitocina
precoce e o uso de ocitocina para prevenir trabalho de
precoce
parto prolongado.
Não é recomendado o uso de fluidos intravenosos com o
Fluidos intravenosos
objetivo de encurtar a duração do trabalho de parto.
Segundo estágio do trabalho de parto
Encorajar a adoção de posições de escolha da mulher,
Posição de nascimento
incluindo verticais.
Encorajar a mulher, em fase expulsiva, a empurrar seguindo
Método de empurrar o seu próprio impulso, exceto em mulheres com analgesia
epidural.
Recomendado realizar técnicas para reduzir trauma
Prevenção de trauma peri-
perineal, como aplicação de compressas mornas no
neal
períneo e proteção com a mão, se preferência da mulher.
Episiotomia Não é recomendado o uso rotineiro e liberal de episiotomia.
Não é recomendada a realização da pressão manual do
Manobra Kristeller
fundo uterino, com o objetivo de facilitar o parto.

196
Terceiro estágio do parto
Para prevenção de hemorragia pós-parto, deve ser
Uterotônicos profiláticos realizado 10 UI de ocitocina intramuscular/intravenosa em
todo pós-parto.
Clampeamento do cordão É recomendado aguardar pelo menos 1 minuto após o
umbilical nascimento do bebê, para clampeamento do cordão umbilical.
É recomendada a tração controlada do cordão umbilical
Tração do cordão após a saída do bebê, quando considerado importante para
redução de perda de sangue no terceiro estágio.
Não é recomendada a massagem uterina sustentada com
Massagem uterina intensão de prevenção de hemorragia, em mulheres que já
receberam ocitocina profilática.
Cuidados com o RN
Não é recomendada aspiração de rotina em RN, quando RN
Aspiração nasal ou oral
já respira por conta própria.
Deve ser realizado contato pele a pele do RN com sua mãe,
Contato pele a pele
quando ambos estiverem em bom estado.
Deve ser promovida a amamentação na primeira hora de
Amamentação
vida ou logo que possível após o nascimento, em RN estáveis.
Deve ser realizada a aplicação de vitamina K em todos
Profilaxia de doenças
os RN por via intramuscular após o nascimento, ou após
hemorrágicas do RN
primeira hora de vida.
O banho deve ser postergado para 24 horas após o
Banho do RN
nascimento.
Cuidados com a puérpera
Avaliação abdominal da contração uterina, no pós-parto
Avaliação do tônus uterino imediato e mediato, deve ser realizada para identificar
precocemente uma atonia uterina.
Deve ser realizada avaliação em todas as puérperas,
observando: intensidade do sangramento vaginal,
contração uterina, altura do fundo do útero, temperatura
Avaliação materna
materna e frequência cardíaca, durante as primeiras
24 horas após o parto.
Também devem ser observadas pressão arterial e eliminações.

Fonte: adaptado de OMS (2018)

Alguns pontos são essenciais para fortalecer a humanização da assistência ao


parto, como:

• Garantir a autonomia da mulher durante o trabalho de parto e o parto, e informar


sobre suas opções, encorajando-a a escolher cada detalhe do seu trabalho de parto,
conforme os seus desejos. É importante lembrar que o parto é da mulher, e não do
profissional que irá a assistir. O profissional que está responsável por conduzir o parto
deve dar a assistência necessária, conforme as práticas baseadas em evidências
científicas, garantindo que ele seja o sujeito passivo desse evento, e não o ativo. É

197
de extrema importância passar segurança para a parturiente. O conhecimento da
fisiologia do parto e de seus mecanismos auxilia para uma assistência adequada, livre
de intervenções rotineiras e práticas obsoletas.
• Liberdade de opção pela posição que a mulher quiser parir – o enfermeiro pode e deve
orientar e encorajar a mulher a escolher uma posição confortável para o momento
do expulsivo, de preferência, posições a favor da gravidade, ou seja, verticalizadas,
de cócoras, de quatro apoios, em pé ou na banqueta de parto. “Alguns resultados de
trabalhos científicos apontam vantagens da posição verticalizada ou da inclinação
lateral sobre a posição dorsal, entre elas: menor desconforto e dificuldade de puxos,
dores menos intensas e menor risco de traumas vaginais ou perineais” (BRASIL, 2001,
p. 80).
• Ofertar técnicas de relaxamento para a mulher, como o uso do banho morno, massagens,
liberdade de movimentação e apoio contínuo de um acompanhante a escolha da
mulher.
• Se possível, garantir sala privativa para a parturiente durante o trabalho de parto e o
parto, respeitando o seu íntimo e a sua privacidade. Um exemplo disso é a “sala PPP,
ou seja, de pré-parto, parto e puerpério imediato. Essa estratégia tem se mostrado
efetiva na humanização do parto e no incentivo ao parto normal, com consequente
redução nos índices de cesárea” (BRASIL, 2001, p. 79).
• O partograma também deve ser realizado pelo enfermeiro responsável pelo parto,
sendo, geralmente, essa competência do enfermeiro obstetra do setor: “o partograma
é uma representação gráfica e objetiva da evolução do trabalho de parto, cujo uso
tornou-se obrigatório em todas as maternidades desde 1994, pela OMS” (ALMEIDA;
REIS, 2021), pois garante uma assistência de qualidade e uma interpretação prática e
rápida da progressão do trabalho de parto.
• O clampeamento tardio do cordão umbilical, visto os benefícios que essa prática traz
para o recém-nascido, de forma imediata e a longo prazo: “os bebês com clampeamento
imediato de cordão têm valores mais baixos de hematócrito e hemoglobina” (BRASIL,
2001, p. 83).

Para melhor fixação, o Quadro 4 reúne, resumidamente, as práticas no parto


normal demonstradamente úteis e que devem ser estimuladas, segundo o Ministério da
Saúde (BRASIL, 2001).

198
Quadro 4 – Práticas no parto normal que devem ser estimuladas

Práticas no parto normal demonstradamente úteis e que devem ser estimula-


1
das

1.1 Planejamento individual determinando onde e por quem o parto será realizado.

Avaliação de risco durante o pré-natal, reavaliado a cada contato e no momento do


1.2
trabalho de parto.

1.3 Monitoramento do bem-estar físico e emocional da mulher durante o trabalho de parto.

1.4 Oferecimento de líquido por via oral durante o trabalho de parto.


1.5 Respeito à escolha da mulher sobre o local do parto.
Fornecimento de assistência obstétrica no nível mais periférico onde o parto for segu-
1.6
ro.
1.7 Respeito ao direito da mulher à privacidade no local do parto.

1.8 Apoio emocional pelos prestadores de serviço durante o trabalho de parto e parto.

1.9 Respeito à escolha da mulher sobre seus acompanhantes durante o trabalho de parto.

1.10 Fornecimento às mulheres de todas as informações e explicações que desejarem.

Métodos não invasivos e não farmacológicos de alívio da dor, como massagens e técni-
1.11
cas de relaxamento, durante o trabalho de parto.

Monitoramento fetal por meio de ausculta intermitente e vigilância das contrações


1.12
uterinas por palpação abdominal.

1.13 Uso de materiais descartáveis e descontaminação adequada de reutilizáveis.

1.14 Uso de luvas no exame vaginal, no parto e no manuseio da placenta.

1.15 Liberdade de posição e movimento durante o trabalho de parto.


1.16 Estímulo a posições não supinas durante o trabalho de parto.

1.17 Monitoramento cuidadoso do progresso do trabalho de parto, uso do partograma.

Administração profilática de ocitocina no terceiro estágio do parto em mulheres com


1.18
risco de hemorragia pós-parto.
1.19 Condições estéreis ao cortar o cordão.
1.20 Prevenção da hipotermia do bebe.
1.21 Prevenção da hemorragia neonatal com o uso do vitamina K.

1.22 Prevenção da oftalmia gonocócica com o uso de nitrato de prata ou tetraciclina.

Contato cutâneo direto, precoce entre mãe e filho e apoio ao início da amamentação na
1.23
primeira hora após o parto.

199
1.24 Alojamento conjunto.
1.25 Suprimir a lactação em mães portadoras de HIV.
1.26 Exame rotineiro da placenta e membranas ovulares.
Uso rotineiro de ocitocina, tração controlada do cordão, ou sua combinação, durante o
1.27
terceiro estágio do parto.

Fonte: Brasil (2001, p. 187)

No Quadro 5, são demonstradas as práticas no parto normal que claramente são


prejudiciais ou ineficazes e que devem ser eliminadas. Como essas recomendações são
de 2001, infelizmente, muitas dessas práticas ainda são realizadas em instituições de
maternidade, por falta de novos protocolos, capacitação profissional e mudança cultural
da visão do parto normal.

Quadro 5 – Práticas no parto normal que devem ser eliminadas

Práticas no parto normal claramente prejudiciais ou ineficazes e que devem ser


2
eliminadas
2.1 Uso rotineiro do enema.
2.2 Uso rotineiro da tricotomia.
2.3 Infusão intravenosa de rotina no trabalho de parto.
2.4 Cateterização venosa profilática de rotina.
2.5 Uso rotineiro da posição supina durante o trabalho de parto.
2.6 Exame retal.
2.7 Uso de pelvimetria por raios X.
Administração de ocitócicos antes do parto de um modo que não se permita controlar
2.8
seus efeitos.
2.9 Uso rotineiro da posição de litotomia.
Esforços de puxos prolongados e dirigidos (manobra de Valsalva) durante o segundo
2.10
estágio do trabalho de parto.

2.11 Massagem e distensão do períneo durante o segundo estágio do trabalho de parto.

Uso de comprimidos orais de ergometrina no terceiro estágio do trabalho de parto com


2.12
o objetivo de evitar hemorragia.

2.13 Uso rotineiro de ergometrina por via parenteral no terceiro estágio do trabalho de parto.

2.14 Lavagem uterina rotineira após o parto.


2.15 Revisão (exploração manual) rotineira do útero após o parto.
2.16 Uso liberal ou rotineiro da episiotomia.
2.17 Toques vaginais frequentes e por mais de um examinador.

200
Manobra de Kristeller ou similar, com pressões inadequadamente aplicadas ao fundo
2.18
uterino no período expulsivo.

2.19 Prática liberal de cesariana.


2.20 Aspiração nasofaríngea de rotina em recém-nascidos normais.

2.21 Manutenção artificial de ar frio na sala de parto durante o nascimento.

Fonte: BRASIL (2001, p. 188)

No Quadro 6, são expostas as práticas utilizadas de modo inadequado no parto


normal. “A classificação tomada como base foi a desenvolvida pelo grupo de trabalho
sobre o Parto Normal que a OMS convocou no ano 1996, e modificada pelas novas
evidências científicas atualmente disponíveis” (BRASIL, 2001, p. 186).

Quadro 6 – Práticas utilizadas de modo inadequado

4 Práticas no parto normal frequentemente utilizadas de modo inadequado

4.1 Restrição hídrica e alimentar durante o trabalho de parto.


4.2 Controle da dor por agentes sistêmicos.
4.3 Controle do dor por analgesia peridural.
4.4 Monitoramento eletrônico fetal.

4.5 Uso de máscara e aventais estéreis durante a assistência ao trabalho de parto.

Exames vaginais repetidos ou frequentes, especialmente por mais de um prestador de


4.6
serviço.
4.7 Correção do dinâmica uterina com a utilização de ocitocina.
4.8 Amniotomia precoce de rotina no primeiro estágio do parto.
Transferência rotineira do parturiente para outra sala no início do segundo estágio do
4.9
trabalho de parto.
4.10 Caracterização do bexiga.
Estímulo para o puxo quando se diagnostica dilatação cervical completa, antes que a
4.11
própria mulher sinta o puxo.

Adesão rígida a uma duração estipulada do segundo estágio do trabalho de parto, se as


4.12
condições da mãe e do feto forem boas e se houver progressão do trabalho de parto.

4.13 Parto operatório.


4.14 Exploração manual do útero após o parto.

Fonte: BRASIL (2001, p. 189)

201
Com as novas diretrizes de assistência ao parto normal do Ministério da Saúde,
as recomendações da OMS e os inúmeros estudos e pesquisas realizados sobre a
humanização do parto e as boas práticas de parto e nascimento, houve uma mudança
positiva, por mínima que seja, em alguns centros obstétricos e maternidades. A mudança
do cenário obstétrico está em andamento e a luta a favor da humanização do parto
também.

GIO
Acadêmico, você já “plantou” a semente da humanização hoje?
Com pequenas mudanças, é possível gerar grandes resultados. O
primeiro passo você já está dando, que é a aquisição de informação e
conhecimento baseados em evidências científicas. Parabéns!

202
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:

• Os profissionais devem realizar uma assistência que contemple as boas práticas de


parto e nascimento, divulgando e defendendo um modelo obstétrico humanizado, no
qual sejam respeitadas as escolhas da mulher e a sua autonomia no parto, tornando-a
sujeito ativo desse evento.

• A humanização do parto deve começar desde o pré-natal, quando o profissional


responsável pelas consultas gestacionais deve informar à mulher todo o mecanismo do
trabalho de parto, as condutas realizadas em cada situação, além de realizar grupos
de gestantes, rodas de conversas que tenham como temática os direitos da mulher
nesse período, e, ainda, incluir o(a) seu(sua) acompanhante em todos os momentos.

• O estímulo ao parto normal, a movimentação durante o trabalho de parto, a ingesta de


alimentos e a hidratação durante todo o período do parto, o estímulo para que a mulher
escolha a posição que mais lhe agradar para dar à luz, a não realização de episiotomia
de rotina, o clampeamento tardio do cordão umbilical e a realização do contato pele a
pele são alguns exemplos de práticas que devem ser seguidas durante o cuidado com a
parturiente.

• A atualização profissional é necessária para que as práticas obstétricas obsoletas


e sem base científica parem de ser aplicadas de forma rotineira e sem indicação.
Estudantes de cursos de técnico de Enfermagem e acadêmicos de graduação em
Enfermagem devem ser encorajados a terem pensamentos críticos-reflexivos, que
os levarão a questionar práticas e rotinas que não são mais indicadas e a sugerir
e praticar as novas recomendações da OMS e do Ministério da Saúde. Assim, será
possível tornar a experiência de parto mais positiva para mulher e sua família.

203
AUTOATIVIDADE
1 Embora a tecnologia tenha sido um grande marco para a medicina, na área da
obstetrícia, ainda há um uso exagerado, quando sem necessidade, de forma a criar
um modelo tecnocrático de atendimento ao parto, em que há, consequentemente,
a institucionalização e a medicalização do parto, tornando-o, muitas vezes, uma
experiência negativa para as mulheres e cheia de intervenções, quando poderia ser, em
sua maioria, uma vivência positiva e natural. Sobre o movimento pela humanização do
parto e do nascimento, assinale a alternativa INCORRETA:

a) ( ) A omissão de boas práticas de parto e nascimento, e a negação do protagonismo


das mulheres e sua autonomia durante o parto, muitas vezes, são o motivo de as
mulheres procurarem por partos humanizados.
b) ( ) Humanização no parto é o reconhecimento dos direitos fundamentais de mães
e crianças e do direito à tecnologia apropriada na assistência, o que inclui: o direito
à escolha de local, pessoas e formas de assistência no parto; a preservação da
integridade corporal de mães e crianças; o respeito ao parto como experiência
altamente pessoal, sexual e familiar; a assistência à saúde e o apoio emocional, social
e material no ciclo gravídico-puerperal; e a proteção contra abuso e negligência.
c) ( ) O enfermeiro se torna um agente importante para a promoção da humanização
do parto e do nascimento, visto que tal profissional presta o cuidado à mulher
em todo o período do ciclo gravídico-puerperal. Entretanto, não é de sua
competência realizar um pré-natal informando as mulheres sobre seus direitos
ou mesmo realizar a preparação para o parto e o nascimento.
d) ( ) O enfermeiro se torna um agente importante para a promoção da humanização
do parto e nascimento, visto que tal profissional presta o cuidado à mulher em
todo o período do ciclo gravídico-puerperal. Dessa forma, é de sua competência
realizar um pré-natal informando as mulheres sobre seus direitos, além de
realizar a preparação para o parto e o nascimento.

2 Segundo as Diretrizes Nacionais de Assistência ao Parto Normal (BRASIL, 2017), a mulher,


em todo o período do ciclo gravídico-puerperal, deve ser informada de todo o processo
em andamento, com base em evidências científicas, e não em achismos, além de ser
incluída na tomada de decisões, perguntando sobre os desejos e as expectativas dela
para esse momento especial, que é o nascimento de seu bebê. Com base em alguns
cuidados gerais durante o trabalho de parto, conforme as Diretrizes Nacionais de
Assistência ao Parto Normal (BRASIL, 2017), analise as sentenças a seguir:

Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Diretrizes Nacionais de Assistência ao Parto Normal. Brasí-
lia: Secretaria de Ciências, Tecnologia e Insumos Estratégicos, 2017. Disponível em: http://twixar.me/RgQm.
Acesso em: 1 out. 2022.

204
I- Boas práticas de comunicação devem ser incentivadas e realizadas, como cum-
primentar a mulher com um sorriso e uma boa acolhida, apresentar-se e explicar
qual o seu papel nos cuidados, e indagar sobre as suas necessidades. Manter uma
abordagem calma e confiante e perguntar à mulher como ela está se sentindo e se
alguma coisa em particular a preocupa.
II- Uma mulher em trabalho de parto não deve ser deixada sozinha, exceto por curtos
períodos ou por sua solicitação. Dessa forma, todas as parturientes devem ter apoio
contínuo e individualizado durante o trabalho de parto e o parto, de preferência por
pessoal que não seja membro da equipe hospitalar e, por isso, o apoio por pessoal
de fora da equipe dispensa o oferecido pelo pessoal do hospital.
III- Mulheres em trabalho de parto podem ingerir líquidos, de preferência, soluções
isotônicas, em vez de apenas água. Além disso, as que não estiverem sob efeito
de opioides ou não apresentarem fatores de risco iminentes para anestesia geral
podem ingerir uma dieta leve.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença I está correta.
c) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 A Portaria nº 569/2000 institui o Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento,


no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) (BRASIL, 2000), com o objetivo de de-
senvolvimento de ações de promoção, prevenção e assistência à saúde de gestantes
e recém-nascidos, promovendo a ampliação do acesso a essas ações, o incremento
da qualidade e da capacidade instalada da assistência obstétrica e neonatal, bem
como sua organização e sua regulação no âmbito do SUS. Sobre os seus princípios,
classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

Fonte: BRASIL. Portaria nº 569, de 1 de junho de 2000. Gabinete do Ministro, Ministro do Estado da
Saúde. Ministério da Saúde, 2000. Disponível em: http://twixar.me/bJQm. Acesso em: 10 jan. 2022.

( ) Toda gestante tem direito ao acesso a um atendimento digno e de qualidade no


decorrer da gestação, no parto e no puerpério.
( ) Toda gestante tem direito à assistência ao parto e ao puerpério, realizada de
forma humanizada e segura, se houver profissionais que saibam lidar com partos
humanizados.
( ) Toda gestante tem direito de saber e ter assegurado o acesso à maternidade em que
será atendida no momento do parto.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – V – V.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) V – V – F.
d) ( ) F – F – V.

205
4 No documento da OMS (2018) sobre as recomendações para cuidados durante o parto,
para uma experiência de parto positiva, há estudos que demonstram a proporção de
gestantes saudáveis que são submetidas a pelo menos uma intervenção durante o
parto desnecessariamente e que são potencialmente prejudiciais. Por isso, a favor do
parto normal fisiológico e menos intervencionista, a OMS emitiu as novas diretrizes
para todo o mundo, que incluiu 56 recomendações sobre o que é ou não necessário
durante o trabalho de parto, o parto, o pós-parto e, também, os cuidados com o
recém-nascido. Com base nessas recomendações, disserte sobre como o enfermeiro
pode pôr em prática a humanização do parto. Dê exemplos de boas práticas de parto
e nascimento.

Fonte: OMS – ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. WHO recommendations Intrapartum care for a
positive childbirth experience. Geneva, 2018. Disponível em: http://twixar.me/5JQm. Acesso em: 16 nov. 2022.

5 Percebe-se que as mulheres ainda sofrem por conta de práticas utilizadas de modo
inadequado no parto normal e, muitas vezes, desnecessárias. Isso acarreta experiências
negativas de partos, também pondo em risco a vida da mulher e do bebê. Com base no
documento Parto, aborto e puerpério: assistência humanizada à mulher, do Ministério da
Saúde (BRASIL, 2001), dê exemplos de práticas que são usadas de forma inadequada
no parto normal.

Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Parto, aborto e puerpério: assistência humanizada à mulher.
Ministério da Saúde, Secretaria de Políticas de Saúde, Área Técnica da Mulher. Brasília: Ministério da Saúde,
2001. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cd04_13.pdf. Acesso em: 1 out. 2022.

206
UNIDADE 3 TÓPICO 3 —
A DOR NA OBSTETRÍCIA

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, abordaremos o fator “dor” na obstetrícia, um assunto que, muitas
vezes, é relacionado, de forma cultural, com sofrimento para dar à luz. Entretanto, devemos
desvincular a palavra dor do parto da palavra sofrimento, porque um é diferente do outro.

Na Unidade 1, estudamos a contração muscular do útero e a distensão de várias


estruturas do corpo materno, especificamente no canal de parto, e vimos que a dor do
parto, quando percebida de forma física, é resultado desses mecanismos de contração
e distensão. Essa dor pode variar de intensidade, duração e localização durante as fases
do trabalho de parto, até no período do puerpério – nesse caso, lidando com a dor da
recuperação do parto.

É importante lembrarmos de que é a dor que representa o ritmo do trabalho de


parto, sendo um guia para a mulher de que ela precisa seguir os seus instintos, procurar
assistência e ouvir o próprio corpo. Embora algumas mulheres relatem sentir pouca dor e
raras não sintam nada, a grande maioria considera a dor do parto uma dor insuportável;
mesmo assim, todas elas precisam suportar e passar pela dor até a hora da chegada do
bebê. Às vezes, nessa trajetória, a mulher pede ajuda, e o profissional envolvido no processo
deve prestar suporte e apoio nesse momento.

O enfermeiro entra como um importante a gente cuidador para a parturiente,


podendo ofertar métodos de alívio da dor do parto, de preferência, métodos naturais. A
percepção da dor da parturiente, muitas vezes, estará ligada a agentes externos e que
interferem e estimulam a mulher, como o ambiente em que ela se encontra, o jeito que a
tratam, o tipo de comunicação que usam com ela, e também o apoio que lhe é ofertado
nesse momento ou a falta deste. A expectativa da mulher quanto à assistência do parto
e à experiência que ela quer ter no parto influencia na intensidade da dor que ela poderá
sentir e, por isso, o preparo antes do parto também se torna importante.

Atualmente, há a disponibilidade de algumas medidas naturais de alívio da dor.


Além das medidas não farmacológicas, os fármacos podem ser necessários, de acordo
com a intensidade da dor e também a solicitação materna, como analgesia sistêmica,
analgesia regional e as anestesias regional e local. A seguir, abordaremos cada uma
delas, e o papel do enfermeiro durante o cuidado à parturiente com dor.

207
2 MÉTODOS NÃO FARMACOLÓGICOS PARA ALÍVIO DA DOR
A dor é, muitas vezes, um grande motivo para as mulheres se preocuparem
quando optam por um parto normal. Sabemos que, para a sociedade em geral, a dor está
ligada à doença, ao sofrimento de algo ruim que ocorre com o corpo, e que, no momento
que em que a pessoa sente dor, ela deverá buscar pela cura, para que não sinta mais dor.

Nené, Marques e Batista (2016) explicam que a dor na obstetrícia é subjetiva,


influenciada e vivida de acordo com a cultura da mulher, suas individualidades, suas
crenças e seus valores. Ainda, a dor não deve ser apenas referenciada à dor do trabalho
de parto e do parto, mas, durante a gravidez, a mulher também tem desconfortos, que se
prolongam para o puerpério. Claro que a dor do parto é a que traz mais receio para as
mulheres, e que pode influenciar em uma experiência positiva ou negativa do parto. Por
isso, a preparação para o parto durante o pré-natal se faz tão importante; conhecer os
mecanismos da dor do parto e as medidas que aliviam essa dor são temas que devem ser
discutidos na gestação.

Zugaib e Francisco (2020) tratam da etiologia da dor do parto, a qual tem origem
em diferentes vias, que depende da fase do trabalho de parto da mulher:

• Primeiro estágio do trabalho de parto: período da dilatação. A dor é originada pela


contração uterina (conforme vimos na Unidade 1), pelo apagamento e pela dilatação
do colo uterino. Essa dor alcança o sistema nervoso central no nível da lombar L1
até a T10, podendo estender-se até à região infraumbilical, quando mais intensa, e
também a região sacral S2 a S4, no período ativo do primeiro estágio.
• Segundo estágio do trabalho de parto: período expulsivo. A contratilidade e a
distensão continuam, porém, há uma dor localizada no períneo, devido à compressão
da apresentação fetal e à distensão do assoalho pélvico, ou seja, os estímulos são
transportados para o nervo pudendo entre a S2 e S4 da medula, caracterizando uma
dor aguda localizada.
• Terceiro e quarto estágios do trabalho de parto: dequitação da placenta e involução
uterina. Com a diminuição da intensidade da dor, os tecidos se recuperam, e a dor
é relacionada à contratilidade uterina, devido à involução do útero, e pode ser sentida
se houver algum tipo de laceração vaginal, e também dores musculares e ósseas,
decorrentes do processo do parto.

É importante salientar, conforme Zugaib e Francisco (2020), que a dor do parto,


muitas vezes, aumenta a ansiedade da mulher, aumentando, consequentemente, o nível
de estresse, o que gera o aumento de níveis de catecolaminas circulantes (Figura 3),
fator que diminui o fluxo sanguíneo uterino e descoordena as contrações uterinas. Além
disso, aumenta a frequência respiratória da mulher, podendo levar a uma hipocapnia e
à alcalose respiratória. Por isso, percebe-se que a intensidade da dor do parto e suas
consequências estão altamente ligadas a fatores de vivência materna, fatores biológicos
e estado emocional, assim como ao ambiente em que ela está e o apoio que recebe
nesse momento.

208
Figura 3 – Respostas da dor do parto

Fonte: Zugaib; Francisco (2020, p. 406)

ATENÇÃO
A utilização de escalas de dor, para avaliação do nível da dor, se faz
necessária no centro obstétrico, para proporcionar uma melhor
assistência. Vários são os métodos para avaliar e quantificar a dor:
escalas numéricas, de faces, qualitativa, analógica, entre outras. Não
se deve avaliar o nível de dor apenas no momento de estresse, devido
à dor do parto, mas, sim, em vários momentos desse processo.

“A experiência da dor, em partos normais, inclui dois componentes: um relaciona-se


às condições e expectativas da mulher, e outro, à assistência” (DINIZ; DUARTE, 2004, p. 27).

Muitas mulheres relatam que têm medo do desconhecido e de perder o controle,


algo que ocorre quando criam expectativas de que a dor será insuportável e que irão
precisar de uma analgesia (DINIZ; DUARTE, 2004); infelizmente, essa visão da dor do
parto e de como encará-la é cultural. Durante o trabalho de parto, o corpo tenta produzir
endorfinas para tentar sedar a dor, e isso auxilia a mulher, de alguma forma, a passar
pelo trabalho de parto com menos desconforto – a chamada “partolândia”. Contudo, as
endorfinas serão liberadas quando a mulher se sentir segura, acolhida, em um ambiente
calmo e privado, e, quando isso não acontece, as endorfinas são bloqueadas, ou seja, em
situações de medo, presença de pessoas estranhas, falta de privacidade, estímulos visuais
exagerados, intervenções rotineiras, entre outros, consequentemente, a dor será maior.

209
INTERESSANTE
Alguns autores comentam que a dor do trabalho de parto serve
como um guia para a mulher, pois a dor acaba estimulando a
parturiente a assumir posições e movimentos diferentes, como
forma de buscar alívio, protegendo-a de posições inadequadas
para esse momento e, consequentemente, auxiliando na evolução
do parto. Isso é uma resposta fisiológica à dor.

Sabemos que, para que o trabalho de parto inicie, a mulher deve liberar ocitocina,
o hormônio que faz as contrações uterinas, ou, como conhecido: o hormônio do amor.
Nené, Marques e Batista (2016) explicam que, conforme as contrações aumentam,
irá aumentar também a produção de catecolaminas, obtendo ocitocina e endorfinas
ao mesmo tempo, levando à tolerância à dor. É necessário tomar cuidado para não
estagnar o parto devido à produção constante de catecolaminas (adrenalina), quando
a parturiente está muito tensa e não consegue relaxar durante o trabalho de parto,
podendo até causar uma reação no fluxo uteroplacentário, com hipóxia fetal e acidose.

Desse modo, podemos perceber o quão importante é o papel da dor no


trabalho de parto, e a forma como a mulher reage a essa dor também deve ser. Por
isso, a assistência a parturiente deve alcançar também o nível psicológico, e não ficar
apenas no cuidado físico. “A dor no trabalho de parto é um elemento frequentemente
indesejado, mas fundamental para a sua progressão. A dor ativa sentida pela parturiente
leva-a a rentabilizar seus recursos, fortalecendo-a e preparando-a para o vínculo com o
recém-nascido” (NENÉ; MARQUES; BATISTA, 2016, p. 415).

Segundo Diniz e Duarte (2004), alguns fatores estão associados ao sentir menos
dor no parto, como não restringir a movimentação da mulher durante o trabalho de parto,
a não realização da ruptura artificial das membranas, o não uso de ocitocina sintética
para acelerar o parto, a não realização de episiotomia de rotina e a não realização de
manobra de Kristeller. Além dessas condutas, alguns cuidados podem ajudar a mulher a
sentir menos dor, como a presença de um acompanhante, seja pai, mãe, amiga ou doula,
e a opção de recursos disponíveis para aliviar a dor como o banho quente no chuveiro,
bola suíça, massagens, compressas, entre outros métodos naturais para aliviar a dor.
Métodos farmacológicos também podem servir para sentir menos dor, podendo ser a
melhor solução para algumas mulheres.

Atualmente, existem métodos não farmacológicos e métodos farmacológicos,


para alívio da dor do parto. É importante salientar que é necessário gerir o controle da
dor de forma individual, adaptado para cada parturiente, visto que cada mulher terá
percepções, intensidades e formas diferentes de sentir e lidar com a dor. Logo, não é por
que o banho de aspersão com água morna/quente ajudou uma mulher que, para outra,
também irá traduzir uma experiência satisfatória.

210
Há vários métodos, inclusive alguns alternativos, para lidar com a dor, de modo
a não modificar nem influenciar o controle do próprio corpo da mulher. A pesquisa do
Cochrane Pregnancy and Childbirth Group cita alguns métodos alterativos (NENÉ;
MARQUES; BATISTA, 2016):

• Hipnose: existe há muitos anos e é um estado de consciência alterado, que envolve


o foco de atenção, para reduzir a percepção do ambiente, diminuindo a ansiedade, a
atividade neural e, consequentemente, a percepção da dor.
• Biofeedback.
• Injeção subcutânea ou intradérmica de água estéril.
• Hidroterapia: técnica que se destaca por vários meios, a imersão em água morna a
quente ou apenas o banho por aspersão servem como relaxamento para a parturiente.
Muitos estudos mostram os benefícios, inclusive, de partos na água.
• Aromaterapia: a utilização de óleos essenciais, retirados de plantas, flores e raízes
de árvores, é uma técnica que traz inúmeros benefícios para lidar com a dor do
parto. Como trabalha o sentido do olfato, pode ser utilizada por meio de evaporação,
aplicação direita em massagem, banhos de imersão e também em compressas para
a parturiente cheirar. Para cada fase do trabalho de parto, existem aromas indicados,
que relaxam, estimulam e liberam memórias e emoções na parturiente. Por exemplo:
a sálvia serve como analgésico e estimulante das contrações uterinas, enquanto a
camomila, como sedativo e calmante.
• Técnicas de relaxamento, que incluem musicoterapia e yoga: a música traz harmonia
para o corpo e a mente, reduzindo o estresse e as emoções negativas. A música
influencia na rede cerebral, pelo sistema límbico, ajudando a liberar as endorfinas
para auxiliar na dor.
• Acupuntura ou acupressão: ambas as técnicas estimulam o sistema nervoso,
modificando a percepção da dor, visto que estimulam a produção de endorfinas.
Criada pela medicina Ocidental, há pontos específicos que podem ser estimulados
durante o trabalho de parto, por agulhas ou por pressão nesses pontos.
• Massagem e reflexologia.
• Estimulação neurológica transcutânea, conhecida como TENS.

“Nota-se que a combinação de métodos proporciona conforto e diminui o estresse


e o medo, proporcionando uma assistência humanizada” (MAFFEI et al., 2021, p. 6).

Além das opções apresentadas para o alívio da dor do parto, Nené, Marques e
Batista (2016) ainda trazem o uso da verticalidade e da bola de parto no trabalho de parto,
explicando que a verticalização possibilita o aumento do fluxo sanguíneo para o útero,
diminuindo a dor, aumentando o aporte de oxigênio para o feto e também auxiliando na
dinâmica uterina, o que, consequentemente, reduz a duração da fase ativa do trabalho
de parto e também a necessidade de intervenções analgésicas.

Ainda, é importante que a grávida não fique restrita ao leito, e que adote posições
confortáveis e que estejam a favor da gravidade, como as verticalizadas. Outras opções
de posição para o parto são:

211
• No banco de nascimento (a grávida repousa principalmente sobre as
nádegas).
• De joelhos (o peso é aplicado principalmente sobre os joelhos).
• Ajoelhada/acocorada (o peso é exercido num joelho e num pé).
• Em pé.
• Acocorada, a grávida repousa principalmente nos seus pés, com
os joelhos fletidos. Esta posição é facilitada se existir um arco onde
a grávida se pode suspender, diminuindo a pressão exercida sobre
suas pernas.
• Sentada na bola de nascimento.
• Debruçada sobre a bolsa de nascimento (de joelhos no chão, usando
a bola como apoio ou de pé apoiada sobre a bola colocada em cima
da cama) (NENÉ; MARQUES; BATISTA, 2016, p. 420).

Figura 4 – Posição de quatro apoios

Fonte: Almeida; Reis (2021, p. 95)

Figura 5 – Posição de pé

Fonte: Almeida; Reis (2021, p. 95)

212
Figura 6 – Posição de cócoras sustentada

Fonte: Almeida; Reis (2021, p. 94)

Figura 7 – Posição de cócoras

Fonte: Almeida; Reis (2021, p. 93)

O uso da bola suíça, conforme mostra a figura 50, segundo Almeida e Reis
(2021) promove uma massagem no períneo, também alonga e fortalece as musculaturas
do assoalho pélvico. Isso auxilia na circulação e desfaz pontos de tensão muscular,
aliviando a dor. Além disso a bola suíça é uma ótima aliada para auxiliar no giro e na
descida do bebê na pelve materna. Os movimentos circulares na bola fazem com que
a mulher desfoque da dor da contração. O estímulo a movimentos de bamboleio da
pelve, também são indicados, para a evolução do parto e para alívio da dor, pois liberam
endorfinas e, também ativam o parto.

213
Um estudo quantitativo, descritivo, transversal, realizado em 2021 por Maffei et
al., na região Sul do Brasil, compôs-se a população por 344 mulheres que tiveram parto
normal, e teve como objetivo identificar a prevalência e descrever o uso dos métodos não
farmacológicos para o alívio da dor em parturientes durante o trabalho de parto em
maternidades públicas:

Verificou-se que o uso da bola associada ao banho de aspersão


contribuiu significativamente para a redução do escore de dor, di-
minuindo, dessa forma, o estresse e a ansiedade da parturiente [...].
Constata-se que a bola suíça é um recurso bem aceito pelas gestantes
durante o trabalho de parto, contribuindo para a sua participação ativa,
auxiliando no conforto e alívio da dor e favorecendo a descida do feto
pela adoção da posição vertical (MAFFEI et al., 2021, p. 6).

Figura 8 – Uso da bola suíça no trabalho de parto

Fonte: http://twixar.me/PJQm. Acesso em: 16 nov. 2022.

Zugaib e Francisco (2020) salientam um método não farmacológico para alívio


da dor, muito importante, e que deve ser estimulado em todas as gestantes já no
pré-natal, que é a educação antenatal, que consiste na realização de uma orientação
individual durante o pré-natal ou em grupo de gestantes e seus acompanhantes. O
enfermeiro deve informar sobre o processo do parto, as práticas e condutas comuns
durante o parto, os cuidados no pós-parto e sobre a maternidade e paternidade.

Um casal bem-informado está mais empoderado para vivenciar este evento


único em suas vidas, que é o parto e nascimento. Quanto mais orientados, menor as
chances de ansiedade, medo e insegurança no dia do parto, e uma maior chance de
terem uma experiência positiva de parto e nascimento. Quando a parturiente já sabe
como que as contrações vêm e como lidar, de maneira natural, com elas, mais leve
ficará para esta mulher lidar com todos estes fatores, e as possibilidade de pedir uma
analgesia ou algum método farmacológico diminuem.

A técnica de respiração, método trazido por Zugaib e Francisco (2020), se mostra


essencial para a parturiente praticar durante o trabalho de parto, pois evita hiperventilação, pois
a hiperventilação materna pode causar menos liberação de oxigênio para o feto. Diante
disso, a técnica correta da respiração da parturiente é que ela inspire profundamente e
expira lentamente, podendo também vocalizar, para fornecer uma troca gasosa adequada
214
para o feto. A técnica de respiração rápida e superficial não é mais recomendada. É
importante lembrar para a gestante que a respiração é um recurso de conforto, por isso
é essencial saber respirar durante o parto. “Enfatiza-se que a orientação de técnicas
de respiração diminui a sensação de dor e a duração do trabalho de parto. Aponta-se,
entretanto, maior efetividade quando realizada no período expulsivo, em que a parturiente,
pelo domínio da sua respiração, promove o relaxamento” (MAFFEI et al., 2021, p. 6).

IMPORTANTE
Acadêmico, o apoio continuo é na maioria das vezes o método de
alívio da dor referido pelas parturientes como o que mais ajuda a
aliviar a percepção da dor do parto, conforme MAFFEI et al. (2021).
Sendo o apoio pelo acompanhante de preferência da mulher e
também apoio dos profissionais envolvidos no parto.

A promoção de um ambiente tranquilo e acolhedor é um fator importante, que


também favorece a sensação de segurança, bem-estar e tranquilidade da grávida.
Zugaib e Francisco (2020) comentam a oportunidade de quartos privativos para a
parturiente, de locais para ela caminhar e se movimentar, bem como um banheiro com
chuveiro e disponibilidade de água morna e quente. Salienta que, partos realizados em
Centros de Partos Normais são relacionados a assistências menos intervencionistas e
medicamentosas.

A massagem também se mostra como um grande método não farmacológico


para o alívio da dor, uma massagem terapêutica simples associada com respiração correta
da parturiente pode auxiliar muito no alívio da dor do parto, segundo Zugaib e Francisco
(2020). Almeida e Reis (2021) também comentam que, a massagem pode ser realizada
com as mãos ou algum tipo de aparelho de massagem, nas áreas dolorosas do corpo,
que geralmente são: lombar, ombros, cervical e outros pontos que sejam relaxantes
para a mulher. Essa massagem pode ser realizada pelo acompanhante, enfermeiro que
está acompanhando essa mulher em trabalho de parto e também a doula, podendo ser
utilizado óleos vegetais e essenciais para proporcionar maior relaxamento.

ATENÇÃO
Métodos não farmacológicos para alívio da dor do parto devem ser
sempre estimulados de acordo com a preferência da parturiente.
Assim, o trabalho de parto pode ser vivido sob uma nova forma de
olhar, com sentimentos positivos e experiências transformadoras,
que emanam sentimentos de acolhimento e conforto. Dessa forma, é
possível garantir uma experiência positiva de parto e nascimento para
as mulheres, sem ser preciso do uso de técnicas farmacológicas.

215
Almeida e Reis (2021) apresentam um modelo humanizado à desmedicalização
da assistência à mulher, que utiliza as Tecnologias não Invasivas de Cuidado pelas
Enfermeiras Obstétricas (TNICEO), o que é muito interessante, visto que, no Brasil, é
necessário romper com alguns paradigmas de parto e nascimento, e as enfermeiras
obstétricas são um grande aliado para que a mudança nesta área ocorra, bem como
a atuação dos enfermeiros generalistas como grandes agentes disseminadores de boas
práticas. O modelo da TNICEO pode ser visto na Figura 9.

Figura 9 – TNICEO

Fonte: Almeida; Reis (2021, p. 91)

Promover ações de conforto, prazer e estímulos para sentir menos dor durante
o trabalho de parto, é promover também a humanização do parto. Por isso, deve-se
estudar os métodos naturais de alívio da dor do parto, para promover experiências
positivas a mulheres e casais.

216
3 ANALGESIA E ANESTESIA
Conhecidas também como métodos farmacológicos para ao alívio da dor do
parto, a analgesia e a anestesia, que são as técnicas utilizadas, atualmente, no Brasil,
atuam de forma regional, anestesiando a região da pélvis e as pernas da gestante,
deixando-a consciente durante o trabalho de parto.

De modo geral, conforme Diniz e Duarte (2004), há países que têm mais opções
de métodos farmacológicos para alívio da dor do parto, como o óxido nitroso, mais utilizado
na Europa. A analgesia regional é a mais conhecida mundialmente e tem três tipos:
peridural, raquidiana e uma combinação entra as duas.

No Brasil, para o parto normal, utiliza-se mais a peridural e a combinação entre


peridural e raquidiana, podendo eliminar por completo (ou não) a sensação da dor do
parto, o que varia de mulher para mulher. Ainda, há o problema de acesso a esse recurso
no nosso país, visto que depende do tipo atendimento, particular, público ou conveniado
a alguma agência de saúde. Na maioria das regiões do país, o SUS não cobre esse tipo
de analgesia durante o parto.

Sobre as técnicas mais utilizadas, segundo Nené, Marques e Batista (2016), e


Zugaib e Francisco (2020), a Figura 10 exemplifica como é realizada a aplicação dessas
analgesias regionais.

• Analgesia de bloqueio combinado raquiperidural, ou analgesia sequencial: utilizada


na fase latente ou ativa do trabalho de parto, é uma técnica que combina um
opioide no espaço subaracnoide e subsequente associação de analgesia peridural
em um cateter no espaço epidural para, posteriormente, administrar as doses de
manutenção necessárias. A técnica utilizada nesse bloqueio é a dupla punção, ou
seja, agulha através de agulha, no nível lombar, sendo que, no final da técnica, fica
apenas um cateter no espaço epidural para administração das manutenções. Essa
analgesia combinada tem início de ação rápido e imediato, não causando dificuldade
na mobilidade da parturiente.
• Analgesia regional epidural ou peridural: tem início e ação mais lenta, quando comparada
com a técnica combinada, e, por isso, tem menor risco de hipotensão da parturiente.
Normalmente, é utilizada na fase ativa do trabalho de parto, pois, se administrada na
fase latente, pode prolongar a duração do parto, bem como aumentar as chances
de parto instrumentado. A técnica consiste em uma punção no espaço epidural, na
lombar da parturiente, sendo administrada uma mistura analgésica, ficando o cateter
disponível para instilação contínua ou intermitente de do analgésico. Essa técnica
também pode ter efeitos colaterais, bem como a técnica combinada.

217
Figura 10 – Analgesia combinada e peridural

Fonte: Zugaib; Francisco (2020, p. 411)

É importante salientar que a mulher deve ser informada, também, dos possíveis
efeitos colaterais desses métodos e o que pode influenciar ou não na progressão do seu
trabalho de parto, além de mantê-la ciente de que esse tipo de intervenção aumenta a
probabilidade de realização de um parto instrumentado, entre outras intervenções.

Para melhor visualização quanto às vantagens e às desvantagens das analgesias,


podemos observar o Quadro 7.

218
Quadro 7 – Vantagens e desvantagens das analgesias

Peridural Combinada
• Só deve ser administrada na fase • Risco de hipotensão materna e
ativa do trabalho de parto. anomalias cardiotocográficas.
• Necessidade de monitoração • Risco de lombalgias no puerpério.
rigorosa dos sinais vitais na • Cefaleias na puérpera.
Desvantagem
primeira meia hora. • Monitoração rigorosa dos sinais
• Riscos de lombalgia no puerpério. vitais.
• Risco de punção acidental da
dura-máter.
• Analgesia completa sem • Analgesia completa sem sedação.
sedação. • Permanência do cateter permite
• Permanência do cateter permite doses subsequentes.
doses subsequentes. • Início rápido.
Vantagem
• Menos chances de hipotensão • Risco tóxico reduzido.
materna devido à início de ação • Pode ser administrada em fase
lento. latente ou fase ativa do trabalho
de parto.

Fonte: Nené; Marques; Batista (2016, p. 428)

“As técnicas de bloqueio regional de condução são consideradas o padrão-ouro


para o alívio da dor do parto” (ZUGAIB; FRANCISCO, 2020, p. 411). Desde 1970, a peridural
é aplicada e aperfeiçoada na obstetrícia; atualmente, os aperfeiçoamentos permitiram
diminuir significativamente as doses anestésicas, além de melhorar a mobilidade das
parturientes. Percebe-se, também, que a associação do aumento de realização de
cesáreas e do uso da peridural ocorria quando realizadas doses altas de anestésicos
locais e em momentos inoportunos do trabalho de parto.

ATENÇÃO
A escolha da técnica de bloqueio deve ser individualizada, observando
vários fatores, como a fase do trabalho de parto da mulher, o nível
da dor, a presença ou não de comorbidades maternas, os custos
envolvidos, bem como os recursos disponíveis.

É importante salientar, também, os riscos da analgesia regional durante o trabalho


de parto, conhecidos como complicações imediatas ou tardias (Quadro 8).

219
Quadro 8 – Complicações da analgesia

Imediatas Tardias
• Hipotensão materna (sistólica inferior a • Cefaleia pós-punção.
100 mmHg). • Dor lombar transitória.
• Retenção urinária. • Meningite.
• Convulsões. • Abscesso peridural.
• Parada cardíaca. • Déficit neurológico permanente.
• Hematoma peridural.
• Infecção no espaço peridural.
• Lesões neurológicas persistentes e transitórias.

Fonte: Zugaib; Francisco (2020, p. 413)

A monitoração pós-analgesia é muito importante, após a instalação do bloqueio,


seja ele qual for, sendo preciso ter atenção especial em alguns pontos, conforme Zugaib
e Francisco (2020), como na verificação da pressão arterial sistémica e da frequência
cardíaca materna e fetal, mesmo com expansão de volêmica prévia. A posição
supina deve ser evitada, pois pode comprometer o estado hemodinâmico, e, quando
a parturiente decidir deambular, deve estar acompanhada e ser verificada a pressão
arterial antes de ela se levantar, bem como seu equilíbrio e seu bloqueio motor. Sobre
o feto, a monitoração contínua é recomendada após o bloqueio, sobretudo se houver
alguma alteração cardiotocográfica ou comorbidades maternas, devendo-se atentar a
padrões fetais não tranquilizadores. A verificação da progressão do trabalho de parto
também deve ser monitorizada pelos profissionais envolvidos no parto.

IMPORTANTE
O enfermeiro deve intervir na analgesia regional com os seguintes
cuidados: apoio a parturiente/casal, preparação do material, mo-
nitoração dos sinais vitais maternos e fetais, posicionamento da
grávida, esclarecimento das dúvidas do casal, monitoração da
dor, vigilância precoce de complicações e gestão da analgesia,
em conjunto com anestesista.

Segundo o Protocolo de analgesia de parto vaginal, da Comissão Permanente


de Protocolos de Atenção à Saúde da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal
(DISTRITO FEDERAL, 2021), mesmo ofertando os métodos não farmacológicos de alívio da
dor para a parturiente, algumas pacientes não são capazes de suportar a dor do trabalho
de parto. Diante disso, há alguns critérios de inclusão e exclusão para realização de
analgesia de parto:

220
Critérios de inclusão: pacientes gestantes em trabalho de parto. Cri-
térios de Exclusão: recusa da paciente; Sepse; Infecção ou tumores
no local da punção, no caso dos bloqueios regionais (ex.: fungos, foli-
culites, acne, neurofibromatose etc.); coagulopatia/trombocitopenia
(plaquetas < 75.000); pressão Intracraniana elevada; alteração da
consciência; hemorragia/hipovolemia e/ou instabilidade cardiovascular;
alergia conhecida às drogas utilizadas (soluções anestésicas e opioi-
des) (BRASIL, 2021, p. 3).

DICA
Saiba mais sobre o Protocolo de analgesia de parto vaginal, criado pela
Comissão Permanente de Protocolos de Atenção à Saúde da Secretaria
de Estado de Saúde do Distrito Federal (DISTRITO FEDERAL, 2021), com
o objetivo de aperfeiçoar os serviços de anestesia obstétrica, para que o
atendimento à necessidade da analgesia/anestesia, durante o trabalho
de parto e o parto, seja feito com segurança e não se transforme em
mais um fator de risco materno fetal: http://twixar.me/NJQm.

Esse protocolo ainda refere outros métodos farmacológicos para alívio da dor,
além dos bloqueios regionais, como a analgesia inalatória com óxido nitroso e a analgesia
intramuscular e endovenosa com alguns tipos de opioides (por exemplo, petidina e
tramadol) (DISTRITO FEDERAL, 2021).

Diante de tantas opções para alívio da dor do parto, ainda salienta o uso, primeira-
mente, de métodos naturais, para, depois, partir para fármacos, se assim for o desejo e a
necessidade da parturiente. “Espera-se aumentar o nível de satisfação das gestantes em
seu atendimento perinatal, e seguir as recomendações do Ministério da Saúde quanto ao
estímulo ao parto vaginal, reduzindo a quantidade de partos cirúrgicos” (DISTRITO FEDERAL,
2021, p. 8).

221
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:

• A dor do parto é composta por muitos fatores fisiológicos e psicossociais. Por isso, o
trabalho de uma equipe multiprofissional, desde o pré-natal até o momento do parto,
é importante para o sucesso de alívio da dor em obstetrícia.

• Primeiramente, o profissional deve oferecer os métodos não farmacológicos para


alívio da dor no trabalho de parto e parto, conforme a disponibilidade da instituição,
podendo ser combinados entre si e também com métodos farmacológicos.

• Quando disponíveis as analgesias regionais, e se a parturiente solicitar, devem ser


analisadas e indicadas conforme a intensidade da dor e o período do trabalho de
parto da parturiente, sendo fundamental excluir todas as contraindicações para a
realização de determinado bloqueio regional.

• Um adequado alívio da dor pode trazer experiências positivas de parto e nascimento


para a mulher. Assim, uma assistência adequada de toda a equipe é fundamental
para que o resultado seja efetivo.

222
AUTOATIVIDADE
1 Os métodos não farmacológicos para alívio da dor do trabalho de parto podem e
devem ser estimulados e ofertados para as parturientes em trabalho de parto, em
qualquer fase, a fim de diminuir o nível de estresse materno e, consequentemente,
também os riscos fetais. Proporcionar uma experiência de parto mais prazerosa,
na qual a mulher seja a protagonista desse evento, é um dos grandes objetivos do
cuidado na obstetrícia. Com base nos métodos naturais para alívio da dor do parto,
assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O uso da hidroterapia ou água morna, durante o trabalho de parto, produz um


efeito positivo, visto que proporciona conforto para a parturiente, pois promove
relaxamento muscular, facilitando a dilatação, diminuindo a sensação de dor e
aumentando a “entrega” da parturiente no momento do parto.
b) ( ) O uso da bola suíça, ou bola de pilates, deve ser estimulado no trabalho de parto, pois
auxilia na descida e no giro do feto na pelve materna, porém, não deve ser usada em
mulheres com comorbidades como diabetes melito gestacional e hipertensão.
c) ( ) A aromaterapia é um método alternativo para alívio da dor do parto, pois trabalha
com diferentes tipos de estímulos de cores e luzes – cada luz corresponde a um
sentimento e uma sensação, que podem ser estimulados durante o parto.
d) ( ) A cromoterapia é um método alternativo para alívio da dor do parto, que trabalha
com diferentes tipos de estímulos de aromas, pelo olfato, sendo que cada aroma
corresponde a uma sensação que pode ser estimulada durante o parto.

2 A dor é subjetiva e cada mulher apresentará uma percepção de dor diferente durante
o trabalho de parto e o parto. Por vezes, a percepção da dor poderá ser física, mas,
em outras, psicológica, relacionada, também, a fatores externos ou internos.
Fisiologicamente, a dor do parto tem origem em diferentes vias, dependendo da fase
do trabalho de parto em que a mulher se encontra. Com base na etiologia fisiológica
da dor do parto, analise as sentenças a seguir:

I- No primeiro estágio do trabalho de parto, considerado o período da dilatação, a


dor é originada pela contração uterina, pelo apagamento e pela dilatação do colo
uterino. Essa dor alcança o sistema nervoso central no nível da lombar, na região
infraumbilical e também na região sacral.
II- No segundo estágio do trabalho de parto, o período expulsivo, a contratilidade e a
distensão continuam com uma dor localizada no períneo, devido à compressão da
placenta, caracterizando uma dor aguda localizada.
III- No terceiro e no quarto estágios do trabalho de parto, ocorrem a dequitação da
placenta e a involução uterina. Há a diminuição da intensidade da dor, os tecidos se
recuperam e a dor está relacionada à contratilidade intestinal, devido à limpeza do
intestino.

223
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença I está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença II está correta.

3 Atualmente, no Brasil, para o parto normal, quando solicitado, utiliza-se mais a


analgesia peridural e a combinação entre peridural mais raquidiana, podendo eliminar
por completo (ou não) a sensação da dor do parto. É importante salientar que a
mulher deve ser informada também dos possíveis efeitos colaterais desses métodos
e o que pode influenciar ou não na progressão do seu trabalho de parto, além de
mantê-la ciente de que esse tipo de intervenção aumenta também a probabilidade
de realização de um parto instrumentado, entre outras intervenções. Classifique V
para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) São complicações imediatas da analgesia regional: hipotensão materna (quando


sistólica menor que 120 mmHg), retenção urinária, convulsões e parada cardíaca.
( ) São algumas vantagens da analgesia combinada: início rápido, risco tóxico reduzido,
pode ser administrada em fase latente ou fase ativa do trabalho de parto.
( ) São algumas desvantagens da analgesia peridural: risco de lombalgia no puerpério e
risco de punção acidental da dura-máter.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – V – V.

4 O enfermeiro, durante o processo de parto, entra como um agente cuidador importante


para a parturiente, podendo, além de cuidar da parte assistencial/técnica, ofertar
métodos de alívio da dor do parto, de preferência, métodos naturais. A percepção da
dor da parturiente, muitas vezes, estará ligada a agentes externos e que interferem e
estimulam a mulher, como o ambiente em que ela se encontra, o jeito que a tratam, o
tipo de comunicação que usam com ela e, também, o apoio ou não que lhe é ofertado
nesse momento. Disserte sobre quais medidas e condutas os enfermeiros podem
realizar para auxiliar na diminuição da dor da parturiente.

224
5 A analgesia regional durante o trabalho de parto pode proporcionar alguns benefícios
em relação à percepção da dor na parturiente, diminuindo, significativamente, a
intensidade da contração e pressão do parto. Claro que esse método de alívio deve
ser ofertado apenas em casos em que a mulher não consegue suportar a dor do
parto mesmo com métodos alterativos. Assim, a monitoração pós-analgesia é muito
importante após a instalação do bloqueio, seja ele qual for, sendo preciso ter atenção
especial. Nesse contexto, com base no documento do Protocolo de analgesia de
parto vaginal (DISTRITO FEDERAL, 2021), responda quais são as condutas/cuidados
que o profissional de Enfermagem pode e deve realizar na pós-analgesia.

Fonte: DISTRITO FEDERAL. Protocolo de Analgesia de parto vaginal – Protocolo de Atenção à Saúde.
Portaria SES-DF nº 1123 de 05.11.2021, publicada no DODF nº 215 de 18.11.2021. Governo do Distrito
Federal, Secretaria de Estado de Saúde, Subsecretaria de Atenção Integral à Saúde, Comissão Permanente
de Protocolos de Atenção à Saúde, 2021. Disponível em: http://twixar.me/NJQm. Acesso em: 24 out. 2022.

225
226
UNIDADE 3 TÓPICO 4 —
ASPECTOS ÉTICOS

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, abordaremos alguns aspectos éticos dentro da assistência à
mulher nos períodos de gestação, parto e puerpério, assunto de extrema importância,
visto que a Enfermagem deve seguir com os cuidados munidos de ética, profissionalismo e
respeito ao outro. No caso da área da saúde, destacaremos, de forma sucinta, a bioética
e o biodireito, relembrando os conceitos de direitos humanos e a relação destes na área
da obstetrícia.

Também veremos a violência obstétrica, que, no Brasil, ocorre em uma a cada


quatro mulheres. Atualmente, percebe-se que a cultura intervencionista, no modelo
obstétrico, está muito enraizada nos modelos de assistência à saúde e consegue
influenciar os profissionais mais novos, que acabam por perpetuar a prática de
procedimentos sem base científica atual, mas validada e apoiada pelos profissionais
mais experientes. Esse tipo de violência permeia grande parte dos países, no mundo
todo. Felizmente, a voz das mulheres e dos profissionais de saúde, para combater os
abusos e maus-tratos durante o parto, e promover uma assistência com mais qualidade e
humanização, tem ganhado força.

Garantir os direitos das mulheres desde o planejamento familiar, pré-natal,


trabalho de parto, parto, pós-parto e, também, ao recém-nascido é essencial. O enfermeiro
é um agente que pode fazer a intersecção desses pontos, garantindo que tanto a grávida
como o casal conheçam dos seus direitos, caso percebam que, em algum momento, um
desses direitos foi ferido, para que possam exigir e assegurar os seus direitos, uma vez
que o casal estará consciente e munido de informações. Por isso, citaremos políticas e
leis que promovem e asseguram os direitos da grávida.

Por fim, outro tema abordado será as doulas, pois é direito da mulher ter uma
doula, se assim ela escolher e desejar, a qual pode entrar na maternidade na hora do parto,
visto que essa profissional dará suporte contínuo, tanto físico quanto psicológico, para
a parturiente. Há, ainda, certa relutância quanto à presença da doula nas maternidades,
porém, hoje, no Brasil, o movimento do parto humanizado tem trazido maior visibilidade a
esses importantes profissionais.

227
2 ÉTICA PROFISSIONAL DURANTE O CICLO GRAVÍDICO
PUERPERAL
Antes de iniciarmos, faz-se necessário citar a bioética, um estudo acerca da
conduta humana na área da saúde e da vida. “É preciso ter em mente que os valores
e princípios morais são elementos indispensáveis à bioética” (ZUGAIB; FRANCISCO,
2020, p. 1.318, grifo nosso).

Zugaib e Francisco (2020) também falam sobre o biodireito, uma temática que
aborda o direito na teoria, na legislação e na jurisprudência, relativamente a conduta
humana na área da vida e da saúde humana. É necessário se fazer conhecer os direitos
humanos, pois todos são iguais para todos os seres humanos, sem diferença e distinção.
Vale lembrarmos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, criada em 1948, que
traz à tona questões relativas aos direitos e às dignidades das pessoas, como direito à
saúde, à privacidade, à liberdade etc.

Ambas as expressões, bioética e biodireito, andam juntas e têm em comum


o respeito à dignidade humana. Contudo, o que essas palavras fazem na vida de um
profissional da saúde, de um enfermeiro? A bioética expressa limites da atuação, por
exemplo, de um profissional da saúde, e salvaguarda as intervenções e os procedimentos
realizados, segundo Zugaib e Francisco (2020). É importante conhecermos, também, os
quatro princípios da bioética:

• Autonomia.
• Beneficiência.
• Não maleficiência.
• Justiça.

Zugaib e Francisco (2020), ainda, abordam alguns princípios que também devem
ser respeitados na área da obstetrícia:

• Princípio do respeito à vida: estabelece, praticamente, a necessidade de proteção


da vida de forma individual, direta e indiretamente. O respeito à vida, que, ainda,
engloba os direitos à privacidade, à integridade física e moral e à existência.
• Princípio da beneficência e da não maleficência: a promoção do bem-estar,
a promoção da qualidade de vida, de fazer o bem, isto é, a beneficência. Já a não
maleficência traz a ideia de não realizar o mal de forma intencional ao outro, ou, neste
caso, ao paciente; todas as condutas tomadas devem ser realizadas também para
evitar o prejuízo à saúde ou algum efeito indesejado.
• Princípio da autonomia: trata de liberdade de ação, ter capacidade de tomar suas
próprias escolhas, respeito à vontade do paciente, valores e crenças também. Na
obstetrícia, este princípio é de grande importância, visto que a mulher deve ter voz
e vez de consentir ou recusar determinados procedimentos e condutas, após ter sido
devidamente informada.

228
• Princípio da justiça e da equidade: o que é correto e digno caracteriza justiça.
Equidade no sentido de, às vezes, para um, parece justo e, para outro, não; dessa
forma, o termo equidade torna-se necessário para respeitar os direitos de cada um,
com imparcialidade.
• Princípio da confidencialidade e da privacidade: o significado de um termo se
destaca por manter segredo de uma informação, e o outro, pela autonomia e proteção
da intimidade do indivíduo. Nesse sentido, destaca-se a assistência do enfermeiro em
um centro obstétrico, quando deve ser estabelecida uma confiança entre paciente e
profissional, respeitando a intimidade da mulher.
• Princípio da prudência: no sentido de prever complicações, o profissional deve
estar atento para evitar que algo comprometa a saúde da paciente. Agindo como
um profissional prudente, poderá permitir um bom aconselhamento sobre ações
referentes à saúde e ao bem-estar da paciente.

A ética do profissional, durante o ciclo gravídico puerperal, abrange muitos


fatores, segundo Zugaib e Francisco (2020). Alguns pontos específicos na obstetrícia
que necessitam de reflexão são:

• casos de aborto (aborto legal, aborto criminoso e aborto por anomalia fetal);
• reprodução assistida, direitos sexuais e reprodutivos;
• utilização de células-tronco embrionárias;
• redução embrionária em gestação múltipla;
• doação de gametas e embriões;
• planejamento familiar, que abrange a escolha do método anticoncepcional;
• esterilização artificial;
• transfusão de sangue e a recusa na transfusão de sangue por motivo religioso;
• autonomia da gestante em recusar a transfusão;
• atendimento à gestante portadora do vírus da imunodeficiência humana (HIV),
abrangendo questões de confidencialidade e aconselhamento;
• transplantes de órgãos e tecidos humanos;
• aspectos éticos da cesárea a pedido;
• ética em medicina fetal;
• experimentação envolvendo seres humanos e pesquisas com gestantes.

Vários assuntos citados são polêmicos e geram, na maioria das vezes, conflitos
entre profissionais e pacientes, havendo opiniões variadas e diferentes formas de pensa-
mento, porém é necessário seguir, como profissionais, os princípios bioéticos e respeitar
também os direitos humanos.

229
IMPORTANTE
Acadêmico, é importante, nesse momento, discutirmos a objeção
de consciência, que é um direito de liberdade de qualquer
indivíduo, e que, na área da saúde, se revela em casos em que
o profissional não é obrigado a participar ou realizar qualquer
procedimento que viole suas convicções pessoais, porém a
recusa dessa ação não deve violar o direito do outro indivíduo,
além de ter disponível outro profissional para assumir o posto.
No entanto, é questionada a razoabilidade quando há a objeção
de consciência, ou seja, não deve ser aceita se algum padrão ético
não for seguido.

O consentimento esclarecido, com a parturiente, deve ser estimulado e realizado,


visto que é um acordo entre paciente e profissional, que diz se aceita/respeita ou não
determinado procedimento/diagnóstico, devendo ser assinado por ambas as partes –
antes dessa assinatura, o profissional deve informar o paciente sobre todos os aspectos
relevantes, como benefícios, riscos e alternativas para que possa ser consentido ou
não, de forma livre e esclarecida. Em emergências, esse termo não se faz necessário,
sendo que a decisão do profissional prevalece. Trata-se de um instrumento que também
oferece uma defesa para o profissional.

Nené, Marques e Batista (2016) levantam uma discussão pertinente sobre o uso
do consentimento informado para a realização de análise para HIV, salientando que as
grávidas devem ser informadas sobre a realização do teste rápido de sorologia, para
detecção de anticorpos anti-HIV no sangue, o que é importante para a saúde do bebê.
Não se deve coagir a mulher a aceitar a realização do teste, mas informar e comunicar,
de forma empática, para que a mulher compreenda a necessidade da realização do
teste. Entretanto, é direito da grávida recusar e não fazer o teste, mesmo no pré-natal
até na internação no centro obstétrico, à luz do princípio da autonomia.

Dessa forma, o consentimento informado para a realização dos testes rápidos


para HIV deve ser construído, tendo como base uma troca de informação entre profissional
e paciente, “respeitando, dessa forma, o princípio da beneficência, da autonomia e da
justiça, alancado no imperativo ético de respeito pela verdade” (NENÉ; MARQUES; BATISTA,
2016, p. 514).

Rodrigues et al. (2022) trazem reflexões importantes sobre a mudança do


modelo obstétrico atual e os valores vitais-éticos no cuidado obstétrico humanizado:

Os valores vitais são inerentes à dignidade humana, na autonomia na


forma de parir, com o respeito às suas escolhas, alinhando-as ao valor
da justiça e do direito à vida [...] esse reconhecimento também se
consolida na valorização da ciência para garantir um cuidado qualifi-
cado, pois, quando os profissionais de saúde sustentam sua atuação
pelas recomendações científicas, se perpetua o valor à vida, garantindo

230
um cuidado individualizado para a segurança. Por fim, quando o pro-
fissional valoriza a humanização, ele tende a reconhecer o sentido da
vitalidade do seu cuidado como essência vital para o outro. Reconhece-
-se, portanto, a mulher como sujeito com autonomia no ato de parir,
dentro dos seus direitos, e o cuidado como um valor em si mesmo,
validando, com isso, a segurança da parturiente e do recém-nascido
(RODRIGUES et al., 2022, p. 5-6).

DICA
Acadêmico, reflita sobre a seguinte afirmação: “Logo, considerar o va-
lor ético no processo da parturição é valorar o bem-estar do parto
e nascimento, uma atenção facilitadora de aberturas para as emo-
ções e sentimentos da mulher que vivencia o parto” (RODRIGUES et
al., 2022, p. 6). Leia mais sobre o artigo Parto humanizado: valores de
profissionais de saúde no cotidiano do cuidado obstétrico, de Rodrigues
et al. (2022): http://twixar.me/QJQm.

Uma das situações, na prática hospitalar, que ferem os direitos humanos e


também a ética profissional dos enfermeiros é a vivência de situações de violência
obstétrica, corroborando para o surgimento de sofrimento moral, devido à falta de
resolução e discussão sobre esse tipo de negligência, abuso ou maus-tratos, conforme
discutiremos a seguir.

3 VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA
Para a OMS, a definição de violência é: “O uso intencional da força física ou
do poder, real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo
ou uma comunidade, que resulte ou tenha grande possibilidade de resultar em lesão, morte,
dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação” (KRUG et al., 2002, p. 5).

A violência obstétrica foi definida, pela Ley Orgánica Sobre El Derecho de Las
Mujeres a Una Vida Livre de Violencia, do Fundo de População das Nações Unidas
(UNFPA, 2007), na Venezuela, como:

a apropriação do corpo das mulheres quando em processos


reprodutivos, por profissionais da saúde, que prestam assistência
desumana, com uso excessivo de medicalização e intervenções
iatrogênicas em processos naturais, que implicam na perda de
autonomia e capacidade de decidir livremente sobre seus corpos e
sexualidade, impactando negativamente na qualidade de vida das
mulheres (UNFPA, 2007, p. 30, tradução nossa).

231
Quando acontece a violência obstétrica contra a mulher nas instituições de
saúde, é observada a violação de alguns artigos constituintes na Declaração dos Direitos
Humanos (UNICEF, 1948), como o Art. 1º, que expõe que os humanos nascem livres e
iguais, devendo agir em espírito de fraternidade, e o Art. 5º, que enfatiza que ninguém
passará por torturas ou tratamentos cruéis e desumanos. No Quadro 9, podemos
observar quais tipos de violência estão englobados na violência obstétrica, conforme
Kloch (2021).

A declaração Prevenção e eliminação de abusos e maus-tratos durante o parto


em instituições de saúde, da OMS (2014), explana a ligação entre a violência obstétrica e
a violação dos direitos humanos, como abusos, maus-tratos, negligência e desrespeito
durante o parto, afirmando que ferem os direitos humanos fundamentais das mulheres e,
ainda, que todas as mulheres têm o direito de estar livres da violência e da discriminação
e de receber uma assistência de saúde de qualidade, digna e respeitosa durante toda a
gravidez e parto.

ATENÇÃO
No Brasil, a pesquisa Mulheres Brasileiras e gênero nos espaços público e
privado, realizada pela Fundação Perseu Abramo e SESC, de agosto
de 2010, mostra valores altos de violência durante o parto, em que
uma a cada quatro mulheres sofre de violência obstétrica no Brasil.
Para saber mais, acesse: http://twixar.me/fyQm.

Quadro 9 – Tipos de violência obstétrica

Tipos Exemplos
• Agressão, maltrato e abuso físico.
Violência física • Intervenções sem consentimento informado.
• Práticas obstétricas obsoletas.
• Comentários ofensivos e humilhantes.
Violência verbal • Fala que impõe ou repreende.
• Ameaças.
Violência
• Ações que causam inferioridade, medo e instabilidade emocional.
psicológica
• Anular o exercício aos direitos sexuais e reprodutivos.
Violência sexual
• Conduta sexual não desejada.
• Difamação.
Violência moral • Injúria.
• Calúnia.
• Negar atendimento.
• Privação de assistência digna.
Negligência
• Omissão de informações.
• Privação do direito a acompanhante.

Fonte: Kloch (2021, p. 70)

232
Alguns exemplos de violência obstétrica são: não uso do consentimento infor-
mado; uso de vocabulário agressivo e abusivo; culpalização da mulher; uso inadequado
de ocitócitos para apressar o trabalho de parto; indicações errôneas para realização de
cesariana; imobilização durante o trabalho de parto e parto; jejum intermitente durante
o trabalho de parto; realização rotineira de episiotomia (corte no períneo); realização da
manobra de Kristeller (compressão do fundo uterino); uso de força física, abuso psicológico,
sexual e moral contra a mulher; discriminação e negligência. As Figura 11 e 12 ilustram a
violência obstétrica em formato de relatos e dados.

Figura 11 – Retratos da violência obstétrica

Fonte: http://twixar.me/3yQm. Acesso em: 16 nov. 2022.

233
Figura 12 – Dados da violência obstétrica

Fonte: http://twixar.me/KyQm. Acesso em: 16 nov. 2022.

É evidente que a violência obstétrica é um evento que ocorre com mulheres do


mundo todo, visto que a visão do processo do parto, pela sociedade, ainda se baseia
muito no modelo tecnicista, sexista e intervencionista. É necessário informar e mudar
essa realidade, não só com os profissionais, mas também com as mulheres.

Ainda, podemos perceber que há uma cultura de aceitação desse tipo de


tratamento durante a gestação, parto e pós-parto. Kloch (2021), em seu estudo sobre a
percepção das mulheres sobre a violência obstétrica, realizado com mulheres que pariram
em Portugal, concluiu que mais da metade relatou ter sofrido violência obstétrica no
período grávido-puerperal, conseguindo relatar, detalhadamente, as práticas que sofreram
e abusos ocorridos com elas. Entretanto, foi constatado que há uma normalização de
certas práticas e condutas obsoletas, e isso evidencia que é necessário informar mais
a sociedade sobre a violência obstétrica, além de capacitar e atualizar os profissionais
sobre boas práticas de parto e nascimento, para que a violência obstétrica não seja mais
encarada como normal e aceitável.

234
Algumas mudanças podem e devem ser realizadas para melhorar esse cenário:

Adequar a prática assistencial de acordo com as recomendações da


OMS (2018), através de um trabalho de análise e reflexão sobre o mo-
delo assistencial vigente em cada instituição, é o primeiro passo para a
mudança. Esta mudança deve também ser estendida para os cursos
de graduação e pós-graduação na área de obstetrícia, e também nos
cursos de atualização profissional ou formação contínua dos profis-
sionais. Inserir mais enfermeiros obstetras/parteiras, na assistência
ao parto de baixo risco [...]. O fornecimento de mais informação para
as mulheres, acerca do parto e nascimento, e também sobre seus
direitos, é um fator imprescindível que deve ser abordado desde o
início do pré-natal, e está nas mãos dos profissionais promoverem a
autonomia e empoderamento das mulheres. Reconhece-se a impor-
tância da investigação em Enfermagem na temática da VO [violência
obstétrica], para aprofundamento de estratégias e ações que possam
ser realizadas para combater as más práticas. Dar a visibilidade à VO
também é importante, apoiar e orientar a realização de denúncias
nestes casos, para este assunto ser conhecido e discutido (KLOCH,
2021, p. 99).

Há algumas mudanças em andamento, na atualidade, no modelo obstétrico, que


podem auxiliar no movimento contra a violência obstétrica e a favor da humanização
do parto no nosso país. “Por intermédio da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do
Ministério da Saúde (MS), a atenção ao parto vem se transformando ao longo dos anos
no cenário mundial e no Brasil” (RODRIGUES et al., 2022, p. 2).

No Brasil, a Diretriz Nacional de Assistência ao Parto Normal, criada pelo Ministério


da Saúde (2016), proíbe a realização da manobra Kristeller, que é a pressão do fundo do
útero, com o intuito de auxiliar na descida do bebê no período expulsivo. Essa diretriz
reconhece a falta de evidência científica para realização da manobra no segundo período
do trabalho de parto.

Há, também, leis estaduais, no Brasil, contra a violência obstétrica, como


a Lei nº 17.097, de 17 de janeiro de 2017, que dispõe sobre a implantação de medidas
de informação e proteção à gestante e parturiente contra a violência obstétrica no
Estado de Santa Catarina (SANTA CATARINA, 2017). Também vale citar a Lei nº 18.322,
de 5 de janeiro de 2022, que consolida as leis que dispõem sobre Políticas Públicas de
Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres e abrange, no seu Capítulo V, o tema da
violência durante a gestação e o parto (SANTA CATARINA, 2022).

A criação de políticas públicas, como o Programa de Humanização do Pré-natal


e Nascimento, a Política Nacional de Humanização, a Estratégia Rede Cegonha, além
das novas Diretrizes Nacionais da Assistência ao Parto Normal, do Ministério da Saúde,
conseguiu alcançar uma visibilidade no movimento da humanização do parto, colaborando
contra a violência obstétrica.

235
ATENÇÃO
Acadêmico, saiba que o caminho é longo e a luta é árdua contra a
violência obstétrica, porém cada semente da humanização plantada
dentro da sua assistência com a grávida, com certeza, fará a diferença.
Lembre-se de que o enfermeiro é um agente importante para combater
esse tipo de abuso e maus-tratos contra a grávida.

DICA
Para aprofundar o seu conhecimento sobre a violência obstétrica,
sugerimos a leitura do artigo Violência obstétrica: a verdadeira dor do
parto, de Brandt et al. (2018), disponível em: http://twixar.me/nyQm.

4 DIREITOS DA MULHER NO CICLO GRAVÍDICO PUERPERAL


Sabemos que o direito à saúde é garantido pela Constituição Federal, porém,
também, podemos perceber uma violação desses direitos, muitas vezes, quando o acesso
à saúde é prejudicado ou até negligenciado, devido a um sistema que pode estar falho
e também ao desconhecimento das pessoas sobre os seus próprios direitos e, por isso,
“O profissional de saúde é elemento essencial na disseminação desse conhecimento”
(ZUGAIB; FRANCISCO, 2020, p. 1.378).

É fato que, ao longo da história, a mulher construiu e conquistou os seus direitos,


visto que, há alguns anos, elas ainda eram excluídas de muitas questões sociais, como
estudos, voto, trabalhos, aquisição de bens, entre outros. Urio et al. (2021) explicam
que, na saúde, a luta era sobre ter acesso a uma assistência integral voltada à saúde da
mulher e à saúde sexual e reprodutiva sem preconceitos e limitações.

Em 1984, foi criado o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher, que,


depois, se tornou uma política, um passo importante para garantir os direitos à saúde
voltados especificamente à mulher. Após isso, foram implantados mais programas no
nosso país que davam a devida atenção ao planejamento familiar, como o Programa
de Humanização do Pré-natal e Nascimento, em 2002, que assegurou um pré-natal de
qualidade, além da assistência no parto e no puerpério, junto ao recém-nascido.

Ainda, sobre as conquistas para garantir direitos à saúde da mulher, foi criado,
em 2011, o Guia dos direitos da gestante e do bebê, pelo Fundo das Nações Unidas
para a Infância (UNICEF, 2011) e pelo Ministério da Saúde, documento excepcional, parte de

236
uma das ações da Rede Cegonha do SUS, tendo como objetivo levar informação sobre
os direitos de gestantes, parturientes, puérperas e recém-nascido no Brasil. Nesse
documento, são citadas algumas políticas públicas que asseguram os direitos à gestante
e à criança:

• Política Nacional de Atenção Obstétrica e Neonatal: desenvolve ações de prevenção


e assistência a gestante, parturiente e recém-nascido, para garantir o acesso e
qualidade no atendimento.
• Política Nacional de Atenção Integral à Mulher: desenvolve ações que promovem
o atendimento ginecológico, de planejamento reprodutivo e de pré-natal, além de
abranger as mulheres e as adolescentes em situação de violência doméstica e sexual.
• Política de Atenção Integral à Saúde da Criança: desenvolve ações para promover,
proteger e apoiar o aleitamento materno e reduzir a mortalidade infantil.

Por meio das políticas públicas, os seguintes direitos são assegurados


à gestante: o direito à saúde na gravidez com a realização de um pré-
natal, um parto e um pós-parto de qualidade; os direitos trabalhistas,
direitos que regulamentam o vínculo de trabalho da gestante com
o patrão ou com a empresa em que está empregada, garantindo
a manutenção do emprego; os direitos sociais: atendimento em
caixas especiais (em lojas, farmácias e supermercados, por exemplo),
prioridade na fila de bancos, acesso à porta da frente de lotações e
assento preferencial. Além disso, as grávidas têm direito ao Cartão da
Gestante (UNICEF, 2011, p. 9).

Nesse sentido, também é importante citarmos alguns direitos dos bebês:

ser registrado gratuitamente; receber a Caderneta de Saúde da


Criança; realizar gratuitamente o teste do pezinho (o ideal é que seja
feito entre o terceiro e o sétimo dia de vida); realizar gratuitamente o
teste da orelhinha; ter acesso a serviços de saúde de qualidade; receber
gratuitamente as vacinas indicadas no calendário básico de vacinação;
mamar exclusivamente no peito durante os primeiros 6 meses de
vida; ser acompanhado pela família e pelos profissionais de saúde em
seu crescimento e desenvolvimento; ser acompanhado pelos pais
durante a internação em hospitais; ter uma família e convivência com
a comunidade; viver num lugar limpo, ensolarado e arejado; viver em
ambiente afetuoso e sem violência (UNICEF, 2011, p. 12).

Nesse momento, faz-se relevante ter conhecimento sobre a Declaração de


Barcelona. Em 2001, foi realizado um Congresso Mundial de Medicina Perinatal, em
Barcelona, com o objetivo de criar normas para defender e promover os direitos da
mulher e do recém-nascido, surgindo a Declaração de Barcelona sobre os Direitos da
Mãe e do Recém-nascido, com colaborações nacionais e internacionais, a fim de ser
possível garantir, em qualquer parte do mundo, que o processo reprodutivo humano
seja realizado com qualidade. No Quadro 10, são apresentados alguns pontos dessa
declaração.

237
Quadro 10 – Declaração de Barcelona sobre os Direitos da Mãe e do Recém-nascido

A maternidade deve ser de livre eleição.


Toda mulher tem direito a receber educação e informação sobre saúde reprodutiva, gravidez,
parto, lactação e cuidados neonatais.
Todas as mulheres têm direito em qualquer país do mundo a que os governos garantam assis-
tência sanitária correta, com eliminação de riscos desnecessários.
Toda mulher tem direito a receber informação adequada sobre os procedimentos e avanços
tecnológicos, tanto diagnósticos quanto terapêuticos, utilizados durante a gravidez e o parto.
Toda mulher tem direito à nutrição adequada durante a gravidez.
Toda mulher assalariada tem direito a não ser marginalizada por causa de uma gravidez.
Nenhuma mulher sofrerá discriminação, nem será submetida à marginalização social, por cau-
sa de uma interrupção voluntária de sua gravidez.
O direito à maternidade não pode ser limitado pelos poderes públicos com base em critérios
demográficos ou sociais.
Toda mulher tem direito e dever de compartilhar as decisões do processo reprodutivo com o
companheiro.
Toda mulher tem direito a ser informada dos benefícios da lactação materna com início ime-
diatamente após o parto.
Toda mulher tem direito a participar do processo de decisão (diagnóstico e/ou terapêutico)
que afete tanto a ela como a seu filho.
As mulheres que dão à luz em determinada instituição tem direito a decidir sobre a vestimenta
(própria e do recém-nascido) destino da placenta e outras práticas culturalmente importantes
para cada pessoa.
As mulheres grávidas usuárias de drogas, afetadas pela AIDS ou outros problemas médicos ou
sociais, tem direito à ajuda em programas específicos.
Toda mulher tem direito à sua intimidade, e os profissionais devem respeitá-la. Os profissionais
de saúde e a sociedade em geral, não devem aceitar a falta de recursos como escusa para o
não cumprimento dos direitos de saúde reprodutiva das mulheres.

Fonte: Febrasgo (2002, p. 151)

Um estudo de revisão documental da literatura, realizado em 2021, por autores


brasileiros, reuniu todas as leis e documentos vigentes encontrados sobre os direitos na
gestação, parto e puerpério, com os 34 dados obtidos, como mostra o Quadro 11.

238
Quadro 11 – Leis e documentos vigentes sobre os direitos na gestação, parto e puerpério

Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940.


Portaria nº 1.508/GM/MS, de 1º de setembro de
Direito à interrupção da gestação
2005.
Portaria nº 2.282, de 27 de agosto de 2020.
Direitos Trabalhistas – Proteção à
Decreto-lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943.
maternidade
Lei nº 10.421, de 15 de abril de 2002
Direito a Licença e salário Maternidade
Lei nº 11.770, de 9 de setembro de 2008.
Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943.
Licença Paternidade
Constituição Federal, 1988.
Direitos da estudante gestante Lei nº 6.202, de 17 de abril de 1975.
Estatuto da Criança e do Adolescente
Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990.
(ECA)
Direito ao alojamento conjunto Portaria nº 1.016, de 26 de agosto de 1993.
Direito ao planejamento familiar Lei nº 9.263, de 12 de janeiro de 1996.
Certidão de Nascimento Lei nº 9.534, de 10 de dezembro de 1997.
Direito a mudar de função ou setor no
Lei nº 9.799, de 26 de maio de 1999.
trabalho
Programa de Humanização do Pré-natal e
Portaria nº 569, de 1 de junho de 2000.
Nascimento
Lei nº 10.048, de 08 de novembro de 2000.
Direito ao atendimento prioritário
Decreto nº 5.296 de 2 de dezembro de 2004.
Teste do pezinho Portaria nº 822, de 6 de junho de 2001.
Projeto Nascer-Maternidades Portaria nº 2.104, de 19 de novembro de 2002.
Política Nacional de Atenção Integral à
2004.
Mulher
Lei do acompanhante Lei nº 11.108, de 7 de abril de 2005.
Política Nacional de Atenção Obstétrica e
Portaria nº. 1.067, de 4 de julho de 2005.
Neonatal
Disponibilização gratuita da Caderneta de
Portaria nº 1058, de 4 de julho de 2005.
Saúde da Criança
Vinculação prévia a maternidade Lei nº 11.634, de 27 de dezembro de 2007.
Direito das mães privadas de liberdade Lei nº 11.942, de 28 de maio de 2009.
Direito à entrega voluntária para adoção Lei nº 12.010, de 3 de agosto de 2009.
Comitê de Mortalidade Materna e Infantil 2009
Teste da Orelhinha Lei nº 12.303, de 2 de agosto de 2010.
Rede Cegonha Portaria nº 1.459, de 24 de junho de 2011.
Guia de direitos da Gestante e do Bebê 2011.

239
Direito ao benefício variável à gestante e à
Lei nº 12.512, de 14 de outubro de 2011.
nutriz
Caderno de gestação de alto e baixo risco 2012.
Licença maternidade em caso de natimor- Instrução normativa nº 77, de 21 de janeiro de
to ou de óbito do bebê 2015.
Permite a mulher registrar ao nascimento
Lei nº 13.112, de 30 de março de 2015.
do filho
Política de Atenção Integral à Saúde da
Portaria nº 1.130, de 5 de agosto de 2015.
Criança

Fonte: Urio et al. (2021, p. 4)

De forma geral, é importante discutirmos alguns dos principais direitos nesse


período. Para melhor entendimento sobre os direitos no ciclo grávido-puerperal, serão
apresentados os direitos da gestante, os direitos no pré-natal e no parto, os direitos
trabalhistas, os direitos educacionais e estudantis e, por fim, os direitos sociais, conforme
Zugaib e Francisco (2020).

4.1 DIREITOS DA GESTANTE


• Atendimento de cuidado à saúde sem distinção de raça, idade, sexo, posição socioe-
conômica, nacionalidade, política, religião ou portador de doenças.
• Serviço gratuito, quando atendimento pelo SUS.
• Direito a acompanhante nas consultas.
• Informação sobre condição de saúde durante as consultas.
• Direito a verificar próprio prontuário, exames, evoluções e condutas.
• Segurança e integridade física da gestante devem ser asseguradas durante consultas
e internações.
• Direitos à alimentação, à higiene e ao conforto, quando internada ou enquanto
aguarda atendimento durante a gestação.
• Fornecimento da Declaração de nascimento, com informações do parto e do recém-
nascido, pela maternidade.
• Direito a sigilo profissional.
• Direito a medicamentos e equipamentos básicos, fornecidos pelo sistema público.

4.2 DIREITOS NO PRÉ-NATAL


• Atendimento pré-natal do início da gestação até no parto, com especialistas se ne-
cessário.
• Direito a informação e conhecimentos sobre diagnósticos durante o pré-natal,
exames solicitados, procedimentos e tratamentos, principalmente dos exames de
prevenção do HIV e sífilis.
• Direito à vacinação atualizada.
240
• Acesso ao cartão pré-natal, com preenchimento adequado e atualizado.
• Direito de visita antecipada do local do parto, garantido por lei, quando assistida pelo
SUS.
• Direito a acompanhante durante o pré-natal e promoção da participação da família
nos assuntos relacionados à gestação, ao parto e ao pós-parto.
• Informação sobre mudanças fisiológicas na gestação, hábitos saudáveis na gestação,
tipos de parto, aleitamento materno e cuidados com o recém-nascido.

4.3 DIREITOS NO PARTO


• Direito a acompanhante no parto, assegurado pela Lei nº 11.108, de 7 de abril de 2005,
criada para garantir às parturientes o direito à presença de acompanhante durante o
trabalho de parto, o parto e i pós-parto imediato, no âmbito do SUS.
• Tem direito a ter, além do acompanhante, uma doula em hospitais e maternidades
que permitem sua presença. Um exemplo é a Lei Estadual de Santa Catarina – Lei nº
16.869, de 15 de janeiro de 2016.
• Presença de pediatra na hora do parto.
• Direito à assistência à parturiente e ao feto, de maneira adequada e humanizada,
durante o parto.
• Respeito à opção de local de parir, com assistência adequada para tal.
• Ser escutada e ter as suas dúvidas esclarecidas, expressar os seus sentimentos e as
suas reações.
• Direito a escolher a melhor posição durante o trabalho de parto e para o parto.
• Direito a métodos de alívio da dor do parto.
• Respeito ao corpo da mulher no parto.
• Após o parto, mãe, filho e acompanhante têm direito de ficar em alojamento conjunto.

4.4 DIREITOS TRABALHISTAS


• Proteção do trabalho e estabilidade durante a gestação, pelas Leis do Trabalho.
• A empresa não pode rescindir o contrato de trabalho pelo motivo de gravidez da
funcionária.
• Direitos de modificar a função atual, devido à gravidez, voltando para função anterior
após retomada do trabalho.
• Dispensa do horário de trabalho, para consultas médicas e exames complementares.
• Após nascimento e até os seis meses de vida do bebê, a mulher tem direito à dispensa do
trabalho todos os dias, por dois períodos de meia hora, para amamentação.
• Direito à licença maternidade com duração de 120 dias.
• Direito à licença paternidade com duração de 5 dias.

241
4.5 DIREITO EDUCACIONAL E ESTUDANTIL
• Estudantes gestantes, a partir do oitavo mês de gestação, durante 3 meses, poderão
entrar no regime estudantil domiciliar.

4.6 DIREITOS SOCIAIS


• Assento preferencial nos transportes coletivos.
• Acesso à porta da frente de lotações.
• Atendimento preferencial em caixas.
• Prioridade em filas de bancos e supermercados.
• Atendimento prioritário em serviços públicos.
• Transporte público gratuito às gestantes para comparecimento em consultas.

IMPORTANTE
“É importante que todos saibam que existem meios de garantir
o direito à gravidez saudável, ao parto seguro e à assistência de
qualidade para a gestante, a mãe e o bebê” (UNICEF, 2011, p. 69).

DICA
Acadêmico, veja mais sobre o tema no Guia dos direitos da gestante
e do bebê, criado pela UNICEF e pelo Ministério da Saúde, em 2011:
http://twixar.me/dyQm.

Apesar de termos legislações, portarias e diretrizes voltados à proteção dos


direitos da mulher no ciclo gravídico-puerperal, ainda se percebe que, em muitos locais
e situações, alguns desses direitos não são assegurados. Barreiras culturais são grandes
obstáculos que devem ser estrategicamente solucionados, para não interferir mais nos
direitos da mulher nesse momento tão importante e especial da vida dela.

ATENÇÃO
Acadêmico, os profissionais envolvidos na assistência à grávida, à
parturiente e à puérpera devem estar conscientes dos direitos das
mulheres nesses períodos, para poder informar e orientar tanto
mulheres quanto casais grávidos, a fim de que eles possam exigir e
garantir que seus direitos sejam respeitados.

242
4.7 DOULAS NO BRASIL
Acadêmico, você conhece a profissional doula? A palavra doula tem origem
grega e significa “mulher que serve”, sendo, hoje, utilizada para se referir à mulher sem
experiência técnica na área da saúde, que orienta e assiste à nova mãe no parto e nos
cuidados com bebê.

É uma profissional que se dedica a auxiliar mulheres/casais que estão grávidos,


fornecendo suporte emocional, psicológico, fisiológico e educacional, não apenas
durante o parto, mas em todo o período de gestação e no pós-parto, focando no preparo
da mente e do corpo da mulher para o parto.

As atividades das doulas no apoio intraparto compreendem: oferecer


suporte emocional, encorajando e tranquilizando a gestante; adotar
medidas que tragam conforto físico e alívio da dor, como massagens
e banhos mornos; disponibilizar informações, dando instruções e
conselhos; e estabelecer um vínculo entre a equipe de saúde e
a mulher, explicando-lhe o que vai acontecendo e manifestando
as necessidades e os desejos da mulher para a equipe de saúde
(BARBOSA et al., 2018, p. 421).

ATENÇÃO
O trabalho da doula não pode ser confundido com a presença de
acompanhante nem com o trabalho dos outros profissionais da
saúde envolvidos no parto, como os de Enfermagem, medicina
ou as parteiras.

A mulher que deseja ser doula faz um curso de formação para se tornar
profissional e começar, então, a atuar de forma autônoma, diretamente com a grávida.
A doula não precisa ter outra formação, basta ser mulher e realizar o curso de formação
de doulas. “A inserção da doula é considerada uma das boas práticas incentivadas pela
Política Nacional de Atenção Obstétrica e Neonatal, estabelecida em 2005” (BARBOSA
et al., 2018, p. 421). Além disso, “as doulas contribuem para reduzir a violência obstétrica no
sistema público e no privado. A inserção da doula seria, portanto, fundamental para trazer à
tona a discussão do modelo de atenção obstétrica” (BARBOSA et al., 2018, p. 421).

A maioria dos profissionais não conhece a doula e muito menos o que uma
doula faz e, sobretudo, como ela pode ajudar no momento do parto. Atualmente os
movimentos a favor da humanização do parto conseguiram trazer maior visibilidade à
doula, mostrando que se trata de uma profissional que soma e faz parte do processo de
parturição, não devendo ser criticada por meio de juízos de valor por outros profissionais
da saúde.

243
IMPORTANTE
Acadêmico, dentro de um centro obstétrico, a presença de uma
doula, para a mulher grávida, faz muita diferença, podendo auxiliar na
progressão do trabalho de parto, além de deixar a mulher mais calma
para viver o momento do parto, bem como o seu acompanhante.
Por isso, é importante os profissionais da Enfermagem conhecerem e
apoiarem esse trabalho da doulagem nas maternidades brasileiras.

Faz-se necessário conhecer as competências dessa profissional e, por isso, o


Quadro 12 mostra, de forma simplificada, o que uma doula pode e não pode fazer.

Quadro 12 – Competências da doula

Doula pode fazer Doula não pode fazer


Medidas de conforto físico, por meio de
A doula não realiza qualquer procedimento
massagens, relaxamentos, técnicas de
médico ou clínico, como aferir pressão,
respiração, banhos e sugestão de posições e
toques vaginais, monitoração de batimentos
movimentações que auxiliem o progresso do
cardíacos fetais, administração de
trabalho de parto e a diminuição da dor e do
medicamentos.
desconforto.
Oferece suporte informativo, explicando
Não substitui o acompanhante escolhido pela
os termos médicos e os procedimentos
parturiente.
hospitalares.
Antes do parto, orienta o casal sobre o que Não é sua função discutir procedimentos com
esperar do parto e pós-parto. a equipe ou questionar decisões.
Auxilia na vinculação pós-parto entre mãe e
Não substitui outros profissionais do parto.
bebê e apoia a amamentação.

Fonte: a autora

NOTA
Acadêmico, chegamos ao fim de mais uma unidade. Esperamos
que o objetivo de partilhar informações e conhecimentos sobre a
atuação do enfermeiro no centro obstétrico tenha sido alcançado
de forma plena, e que, como futuro enfermeiro, você possa perceber
a importância de garantir os direitos da mulher no ciclo gravídico-
puerperal, assegurando-a de uma assistência de qualidade e com
humanização.

244
LEITURA
COMPLEMENTAR
O PAPEL DO ENFERMEIRO NA PROMOÇÃO DO PARTO HUMANIZADO

Cleidiana Moreira Gomes


Marilucia Priscilla Silva Oliveira
Glaucia Pereira de Lucena

INTRODUÇÃO

Humanizar a assistência ao parto e ao nascimento implica em mudança


de atitudes e de condutas, por meio de uma assistência que garanta o respeito e a
sensibilidade com o trinômio mulher-criança-família. A humanização precisa ir além
de tratar bem as pessoas, envolvendo a valorização dos sujeitos e o respeito às suas
singularidades. Compreender o significado da humanização do parto e suas implicações
positivas na vida da mulher é ter um posicionamento voltado para a atenção aos
usuários. Nesse sentido, para que o profissional de saúde possa oferecer um parto e
nascimento humanizados, em primeiro lugar, faz-se necessário dar voz às parturientes,
ouvir suas queixas, seus anseios, suas dúvidas e expectativas e, a partir disso, delinear
as mudanças necessárias na cena do parto.

A atenção adequada à mulher no momento do parto representa um passo


indispensável, a fim de garantir que ela possa exercer a maternidade com confiança,
segurança e bem-estar, o qual é um direito fundamental de toda mulher. A equipe de
saúde deve estar preparada para acolher a gestante, seu companheiro e sua família,
em especial o profissional enfermeiro, o qual deveria respeitar todos os significados desse
momento e acrescentar confiança e segurança. Entre as atividades do enfermeiro, este
deveria também minimizar a dor, ficar ao lado, dar conforto, esclarecer, orientar, enfim,
ajudar a parir e a nascer.

O Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), relata que o enfermeiro possui


autonomia para assistência integral às gestantes, parturientes, puérperas e recém
nascidos. Sendo assim a assistência ao parto e nascimento de baixo risco que se
mantenha dentro dos limites da normalidade pode ser realizada tanto por médico
obstetra quanto por enfermeiro obstetra e obstetriz; desta forma, é recomendado que
os gestores de saúde proporcionem condições para a implementação de modelo de
assistência que inclua o enfermeiro obstetra e obstetrizes na assistência ao parto de
baixo risco por apresentar vantagens em relação à redução de intervenções e maior
satisfação das mulheres.

245
Esta pesquisa justifica-se por se fazer necessário refletir qual o papel do enfermeiro
na assistência humanizada durante o processo de parturição. O seguinte estudo portanto
tem por objetivo: compreender o papel do enfermeiro na promoção do parto humanizado,
e contribuir de forma indireta na assistência e segurança de todo o processo parturitivo.

MATERIAL E MÉTODO

Trata-se de estudo de revisão integrativa, o qual consiste em um método


específico que resume o passado da literatura empírica ou teórica para fornecer uma
compreensão mais abrangente de um fenômeno particular. Dessa forma, a revisão
integrativa possibilita a síntese de vários estudos já publicados e permite a geração
de novos conhecimentos pautados nos resultados apresentados pelas pesquisas
anteriores. Para a construção de pesquisa de revisão integrativa, uma das propostas é
percorrer 6 etapas distintas sobre as quais este estudo se pauta. São elas: (1) formulação
da questão de pesquisa e definição de um problema para elaboração da revisão; (2)
seleção de critérios para inclusão e exclusão de estudos; (3) definição das informações
a serem extraídas dos estudos selecionados durante a coleta de informações; (4)
análise crítica dos estudos resultantes da pesquisa; (5) comparação e interpretação
dos estudos para discussão dos resultados; (6) apresentação da revisão de maneira
detalhada e de fácil compreensão.

A revisão da literatura científica da presente pesquisa foi realizada com


os Descritores em Ciências da Saúde: parto humanizado, Enfermagem obstétrica
e parturiente. A busca dos artigos incluídos na revisão foi realizada em importantes
bases de dados nacionais, sendo: Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Google
Acadêmico. O tempo de busca foi de fevereiro a maio de 2019. Os critérios de inclusão foram
definidos com base nos objetivos, sendo incluídos apenas artigos recentes, publicados
nos últimos 5 anos (entre 2015 e 2019), estudos centrados na temática proposta em
língua portuguesa, disponíveis na íntegra e gratuitamente em meio eletrônico. Os
artigos que não atenderam esses critérios foram excluídos da pesquisa como teses,
dissertações, relatórios, trabalhos de conclusão de curso, relatos de experiências etc.
Após o levantamento das publicações, 35 artigos foram selecionados inicialmente e os
resumos lidos e analisados. Depois dessa análise inicial, foram eleitos os estudos que
abordaram assistência do profissional enfermeiro nos partos humanizados. Segundo os
critérios de inclusão/exclusão estabelecidos, 13 pesquisas foram selecionadas, lidas na
íntegra e analisadas em profundidade. Posteriormente, procedeu-se sua sistematização
em forma de quadro, de modo a dar visibilidade às principais características de cada
produção (autor, título, objetivo, metodologia e resultados) e manter a autenticidade das
ideias, conceito e definições dos autores.

RESULTADOS

O levantamento bibliográfico foi realizado utilizando mecanismos de buscas da


internet onde foram selecionados 35 publicações relacionadas ao tema nos últimos 5
anos e, após minuciosa triagem respeitando os critérios de inclusão e exclusão, foram
destacados 13 estudos.
246
DISCUSSÃO

Nas Diretrizes Nacionais de Assistência ao Parto Normal, mulheres em trabalho


de parto devem ser tratadas com respeito, ter acesso às informações baseadas em
evidências e serem incluídas na tomada de decisões. Para isso, os profissionais que as
atendem deverão estabelecer uma relação de confiança, perguntando-lhes sobre seus
desejos e expectativas, devendo, também, estarem conscientes da importância de sua
atitude, do tom de voz e das próprias palavras usadas, bem como a forma como os
cuidados são prestado, utilizando uma nova visão e uma nova linguagem. A humanização
consiste em proporcionar à parturiente por meio do cuidado, uma passagem de um
momento emocional para outro, com segurança, equilíbrio e harmonia.

A incorporação ativa de enfermeiros obstetras, obstetrizes, educadores


perinatais, psicólogos, doulas, entre outros, na equipe assistencial deve ser promovida,
proporcionado uma assistência integral, de acordo com as necessidades da mulher e
de sua família. Dessa forma, as potencialidades de cada membro da equipe podem ser
utilizadas plenamente, de acordo com suas capacidades técnica e legal, em benefício
da mulher e da criança. Com tudo isso, é fácil constatar claramente a gratificação das
mulheres pelos enfermeiros ao final do trabalho de parto.

O enfermeiro deve refletir sobre a sua atuação no parto humanizado, focando


na capacitação e na inclusão de boas práticas, proporcionando assim uma assistência
qualificada. Há relatos que as ações realizadas pelo enfermeiro são adequadas para o
processo de humanização do parto. É evidente que as impressões das parturientes frente
ao desempenho da Enfermagem reflete em resultados positivos. Os enfermeiros têm
uma apreciação positiva dada pelas parturientes, com relação a assistência prestada.
O enfermeiro como cuidador direto tem grandes desafios para a efetivação desta visão
holística por parte da equipe envolvida neste momento importante na vida da mulher.

É certo que mais da metade das ações não farmacológicas trazem benefícios
e que a Enfermagem se utiliza dessas práticas com resultados positivos em quase
100% de todos os atendimentos. O acolhimento e a atenção oferecida pela equipe de
Enfermagem é de extrema importância para amenizar o tão temido medo do parto. A
assistência realizada com métodos não farmacológicos e não invasivos contribuem
positivamente para a efetivação do parto. A utilização do banho de chuveiro, da bola
suíça, do uso do cavalinho, das barras, da deambulação e das massagens são benéficos
para alívio das contrações e relaxamento da mulher, além de auxiliar na dilatação e
expulsão do recém-nascido.

Entender e empregar as boas práticas de assistência, vem proporcionar ao


processo de parturição uma assistência, com um número reduzido de intervenções,
auxiliando no estímulo, respeito e na segurança do binômio mãe-filho na diminuição
da morbimortalidade materna e neonatal. Os enfermeiros têm conhecimento científico
sobre as práticas de humanização do parto, sobre proporcionar autonomia e empode-

247
ramento, trazendo segurança à parturiente, reduzindo seus medos e anseios e sensa-
ções físicas. Portanto, é determinante a participação das enfermeiros obstétricos na
assistência ao processo do trabalho de parto, assegurando que essas práticas sejam
empregadas e respeitadas.

Por outro lado, após a reflexão obtida também nos resultados de como a atuação
da Enfermagem ainda é tímida, modesta, muitas vezes tecnicista, esquecendo-se de
atender as necessidades psicológicas e emocionais da parturiente, faz-se necessário
buscar novos trajetos e aliados ao conhecimento científico e ao cuidado humanizado,
aprimorar a assistência à parturiente. O processo da parturição totaliza um dos
momentos mais importantes na vida da mulher e sua família. O enfermeiro, sobretudo o
especialista em obstetrícia, ocupa lugar de extrema importância na assistência, sendo
capaz de direcionar e sensibilizar a equipe multiprofissional para o cuidar humanizado
como forma de mudar o atual cenário da obstetrícia.

Cabe destacar que este artigo apresenta algumas limitações. A perda de


estudos indexados em bases de dados diferentes das examinadas e a amostra incluindo
apenas artigos na língua portuguesa, disponíveis na íntegra, publicados em periódicos
científicos gratuitos, pode ter resultado na exclusão inadvertida de alguns estudos.

CONCLUSÃO

O processo de humanização do parto possibilita a inserção do profissional en-


fermeiro, a fim de promover um ambiente mais familiar e acolhedor para parturiente
conseguindo, assim, a participação ativa das parturientes garantindo, seu empodera-
mento em todas as etapas do processo do trabalho de parto, diminuição da ansiedade
e aumento da segurança.

Conclui-se que o enfermeiro possui um papel muito relevante no processo de


parturição. Este possui, entre outras competências, o papel de resguardar e garantir que
as boas práticas sejam usadas, devendo também cuidar e orientar a parturiente durante
todo o processo, permitindo que ela decida o que deseja para si e para seu filho, a favor
de um momento humanizado e de felicidade plena à parturiente.

Espera-se que este artigo sirva de base para outros, melhorando assim,
indiretamente à assistência ao parto e nascimento. Considerado um tema recente,
sugere-se que novas pesquisas sobre a atuação do enfermeiro no processo de
parturição sejam realizadas. O conhecimento por parte dos profissionais sobre esse
tema, bem como dados alarmantes sobre o tema, podem claro, ajudar a contribuir para
uma melhor assistência ao trinômio mãe-bebê-família.

Fonte: adaptada de GOMES, M. C.; OLIVEIRA, M. P. S.; LUCENA, G. P. O papel do enfermeiro na promoção do
parto humanizado. Revista Recien., 2020, v. 10, n. 29, p. 180-188. Disponível em: https://www.recien.
com.br/index.php/Recien/article/view/256/260. Acesso em: 2 out. 2022.

248
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu:

• Para garantir uma assistência a mulher/casal, de forma respeitosa e digna, o


profissional enfermeiro, dentro do centro obstétrico, deve seguir alguns princípios
como: respeito à vida; beneficência e não maleficiência; autonomia do paciente e
profissional; justiça e equidade; confidencialidade e privacidade; e, por fim, princípio da
prudência.

• Diversas situações, no decorrer do ciclo gravídico-puerperal, podem ocorrer e, diante


disso, há opiniões variadas e cada pessoa pensa de uma forma, porém é necessário
seguir, como profissionais da Enfermagem, os princípios bioéticos e respeitar também
os direitos humanos.

• A violência obstétrica é um tipo de violência que ocorre com mulheres do mundo


todo, visto que a visão do processo do parto, pela sociedade, ainda se baseia muito no
modelo tecnicista, sexista e intervencionista. O enfermeiro é um grande agente para
combater a violência obstétrica, sendo necessário informar e mudar essa realidade,
não só com os profissionais, mas também com as mulheres.

• Por conta das novas políticas e leis em prol da promoção da saúde da mulher, existem
meios de garantir o direito à gravidez saudável, ao parto seguro e à assistência de
qualidade para a gestante, a mãe e o bebê.

• A doula é uma profissional capacitada para auxiliar a mulher no processo de gestação,


parto e pós-parto, oferecendo suporte físico e emocional. Os profissionais da saúde,
dentro do centro obstétrico, devem promover a presença da doula, se esse for o
desejo da parturiente.

249
AUTOATIVIDADE
1 O Guia dos direitos da gestante e do bebê, criado pelo Fundo das Nações Unidas
para a Infância (UNICEF, 2011) e pelo Ministério da Saúde, expõe sobre os direitos das
gestantes, parturientes, puérperas e recém-nascidos no Brasil. Atualmente, políticas
nacionais foram criadas para assegurar e garantir que os direitos das mulheres, nesse
período da vida, sejam respeitados. Assinale a alternativa CORRETA:

Fonte: UNICEF. Guia dos direitos da gestante e do bebê. São Paulo: Globo, 2011. Disponível em:
http://twixar.me/dyQm. Acesso em: 26 out. 2022.

a) ( ) A Política Nacional de Atenção Obstétrica e Neonatal desenvolve ações de


prevenção e assistência à gestante, assistência ao acompanhante e a toda a
família, e também à criança acima de 1 ano de idade, garantindo o acesso e a
qualidade no atendimento.
b) ( ) A Política de Atenção Integral à Saúde da Criança desenvolve ações para
promover, proteger e apoiar o aleitamento materno, sem priorizar a diminuição
da mortalidade infantil.
c) ( ) Por meio das políticas públicas, os seguintes direitos são assegurados à gestante:
o direito à saúde na gravidez, com a realização de um pré-natal, um parto e um
pós-parto de qualidade; os direitos trabalhistas; e os direitos sociais. Além disso,
as grávidas têm direito ao Cartão da Gestante.
d) ( ) A Política Nacional de Atenção Integral à Mulher desenvolve ações que promovem
o atendimento ginecológico, de planejamento reprodutivo, excluindo o de pré-
natal, além de abranger as mulheres e as adolescentes em situação de violência
doméstica e sexual.

2 A utilização do consentimento informado, para a realização dos testes rápidos para


HIV, deve ser construída e incentivada, tendo como base uma troca de informação
entre profissional e paciente, “respeitando, dessa forma, o princípio da beneficência,
da autonomia e da justiça, alancado no imperativo ético de respeito pela verdade”
(NENÉ; MARQUES; BATISTA, 2016, p. 514). Nesse contexto, analise as sentenças a
seguir:

Fonte: NENÉ, M.; MARQUES, R.; BATISTA, M. Enfermagem de saúde materna e obstétrica. Lisboa:
Lidel, 2016.

I- O consentimento esclarecido/informado deve ser estimulado e realizado com a


parturiente. Este documento diz se a paciente aceita/respeita ou não determinado
procedimento/diagnóstico, devendo ser assinado por ambas as partes; antes
da assinatura, o profissional deve informar a paciente sobre todos os aspectos
relevantes, como benefícios, riscos e alternativas, para que possa ser consentido
ou não, de forma livre e esclarecida.
250
II- As grávidas devem ser informadas quanto à realização do teste rápido de sorologia,
para detecção de anticorpos anti-HIV no sangue. O próprio profissional deve coagir a
mulher a aceitar a realização do teste, visto a importância para a saúde do bebê.
III- É direito da grávida recusar e não fazer o teste de anticorpos anti-HIV, mesmo no
pré-natal e até na internação no centro obstétrico, à luz do princípio da autonomia.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 É indispensável que o enfermeiro, que trabalha dentro do centro obstétrico, com a


assistência à saúde da gestante e da parturiente, conheça e assegure os direitos da
mulher no parto. Estes direitos são conquistas, a partir das políticas criadas ao longo
dos anos, e devem continuar direcionando as práticas de cuidado, para melhorar cada
vez mais os indicadores de saúde das mulheres e de recém-nascidos. De acordo com
os direitos da mulher no parto, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as
falsas:

( ) A Lei nº 11.108, de 7 de abril de 2005, é conhecida como lei do acompanhante, tendo


sido criada para garantir às parturientes o direito à presença de acompanhante
durante o trabalho de parto, o parto e o pós-parto imediato, no âmbito do SUS.
( ) É direito da mulher optar pelo local onde ela vai parir e receber assistência adequada
para tal.
( ) Embora seja direito da mulher escolher a posição que ela quer parir, o profissional
que assiste ao parto deve direcioná-la sempre para a posição litotômica.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – V – F.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 O modelo intervencionista, que se estabeleceu na obstetrícia, atinge muitas mulheres,


em todo o mundo, tendo como características a falta de paciência, a medicalização
do parto e a falta de protagonismo da mulher, que trazem, como consequência, a
prática de abuso e maus-tratos nas mulheres durante o ciclo gravídico-puerperal. A
chamada violência obstétrica, reconhecida pela OMS, é uma realidade que não deve
ser naturalizada e muito menos aceita pelas mulheres nem pelos profissionais que
prestam assistência ao período da gestação, do parto e do pós-parto. Discorra sobre
quais são os tipos de violência obstétrica e cite exemplos de condutas violentas que
não devem ser promovidas na obstetrícia.

251
5 Como grande influenciador da humanização do parto, as doulas, atualmente, têm
ganhado mais visibilidade no Brasil, vistos os estudos que surgem e mostram os
benefícios de se ter uma doula durante os períodos de gestação, parto e pós-parto.
Trata-se de uma profissional que se dedica a auxiliar mulheres/casais que estão
grávidos, fornecendo suporte emocional, psicológico, fisiológico e educacional, não
apenas durante o parto, mas em todo o período de gestação e no pós-parto. Nesse
contexto, responda: qual é a diferença entre o trabalho da doula e do enfermeiro
durante a assistência do trabalho de parto e do parto?

252
REFERÊNCIAS
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