Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Enfermagem no
Centro
Obstétrico
Indaial – 2023
1a Edição
Elaboração:
Prof.ª Lara Louise Kloch
256p.
ISBN 978-65-5646-560-9
ISBN Digital 978-65-5646-558-6
“Graduação - EaD”.
1. Parto 2. Mulher 3. Gravidez
CDD 610.7
Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679
Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático de Assistência de Enfermagem
no Centro Obstétrico. O processo de parto e nascimento é um grande evento fisiológico,
um momento especial na vida da gestante parturiente, independentemente da forma de
nascimento escolhida – após o momento de “re(nascer)”, a vida da mulher e da família
envolvida nunca mais será a mesma.
Bons estudos!
ENADE
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.
REFERÊNCIAS........................................................................................................85
TÓPICO 1 — ABORTAMENTO.................................................................................. 91
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 91
2 TIPOS DE ABORTOS ...........................................................................................92
3 TRATAMENTOS ...................................................................................................95
RESUMO DO TÓPICO 1...........................................................................................99
AUTOATIVIDADE..................................................................................................100
REFERÊNCIAS...................................................................................................... 170
REFERÊNCIAS..................................................................................................... 253
UNIDADE 1 —
ASSISTÊNCIA DE
ENFERMAGEM NO PROCESSO
GRAVÍDICO PUERPERAL E NO
NASCIMENTO DENTRO DO
CENTRO OBSTÉTRICO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!
Acesse o
QR Code abaixo:
2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 —
FISIOLOGIA DO PARTO
1 INTRODUÇÃO
Aprender sobre a fisiologia do parto é a base para que os profissionais que
trabalham com parto e nascimento conheçam o funcionamento do corpo da parturiente e
como o enfermeiro pode realizar suas competências, refletindo, positivamente, para o
momento do trabalho de parto.
3
DICA
Acadêmico, sugerimos que busque mais ferramentas de atualização
acerca da assistência do enfermeiro durante o trabalho de parto, parto
e pós-parto.
2 CONTRATILIDADE UTERINA
O útero tem uma grande função no final da gravidez, que é expelir o feto e
os anexos (placenta e cordão), a partir das contrações uterinas. No entanto, antes de
tudo, é importante analisarmos a fisiologia do corpo do útero e o desencadeamento do
trabalho de parto.
4
aumento da contratilidade uterina, correspondendo à fase 2 ativa do trabalho de parto.
Como inibidores da conexina, é observada a relação de aumento da progesterona e dos
inibidores da síntese de prostaglandinas, ou seja, inibem a contractilidade uterina, que,
nesse caso, representaria a fase 0 – uma fase de quiescência uterina, conforme citado
anteriormente.
IMPORTANTE
Graça (2017) elenca três fatores primordiais de ativação da contração
uterina durante o trabalho de parto: a síntese de prostaglandinas, o
aumento de receptores de ocitocina e a formação de gap junctions.
Nené, Marques e Batista (2016) explicam que, como o orifício externo do colo
uterino é desprovido de musculatura, ele não irá contrair, o que pode contrair é o orifício
interno e, claro, o corpo uterino. Com a pressão vinda da tração no segmento inferior,
que atua diretamente no colo, consequentemente, isso propicia o amolecimento do
5
colo anteparto. Assim, o corpo uterino fica mais curto e espesso e o colo, mais fino e
dilatado. Normalmente, em primíparas, variam de 6 a 18 horas de trabalho de parto e, nas
multíparas, de 6 a 10 horas até a completa dilatação, sem contar o período expulsivo,
após a dilatação total de 10 cm.
3 MECANISMO DO PARTO
Para o nascimento acontecer, de fato, não são apenas as contrações que
fazem todo o trabalho; o feto e a estrutura materna também têm grande importância
para a progressão do parto. “Corresponde à sequência dos movimentos passivos da
apresentação fetal, que permitem a passagem através do canal do parto” (NENÉ;
MARQUES; BATISTA, 2016, p. 312). Essa adaptação, cujo objetivo, nesse caso, é o feto fazer
o trajeto no canal do parto, conta com mais elementos: a força das contrações uterinas
e o mecanismo que é o conjunto dos movimentos do feto na bacia (com articulações,
ligamento e músculos) (NENÉ; MARQUES; BATISTA, 2016).
ATENÇÃO
Há alguns aspectos da obstetrícia, acerca da anatomia, que é importante
lembrarmos, segundo Graça (2017), a pelve é constituída por quatro ossos:
o sacro, o cóccix e o par de ossos formados por íleo, ísquio e púbis.
6
• Apresentação: é a parte do feto que se situa no estreito superior
da pélvis. As principais apresentações são a cefálica, a de nádegas e
a de ombros.
• Ponto de Referência: é a parte fetal identificável pelo toque va-
ginal, usada para descrever a orientação da apresentação (posi-
ção e variedade). [...]
• Posição: é a relação do ponto de referência com a parte anterior,
posterior ou com as laterais da pélvis materna.
• Variedade: é a relação do ponto de referência fetal com os
pontos de referência da bacia materna (púbis, sacro [...] anterior
ou posterior).
7
DICA
O livro Guia Prático Belly Mapping: descobrindo a posição do bebê na
barriga pelo tato, de Gail Tully, oferece as explicações necessárias para
interpretar os movimentos e as partes do corpo do bebê e como ele
está dentro do útero. Sugerimos a sua leitura, pois é um livro diferente
de outros livros técnicos, mais prático e simples de compreender.
8
A insinuação é o primeiro movimento; é o encaixe do feto, que é a passagem da
maior circunferência da apresentação por meio do estreito superior, segundo Montenegro e
Rezende Junior (2016), conforme observado na Figura 2 (número 2). A descida consiste no
movimento descendente do feto no canal do parto, encontrando-se no estreito médio
do canal, conforme a Figura 2 (imagem de número 3).
Seguida da flexão do mento fetal sobre a face anterior do tórax, segundo Nené,
Marques e Batista (2016), flexão que oferece o menor diâmetro à passagem na pelve,
como pode ser observado na Figura 2 (imagens 2 e 3). A rotação interna fetal é outro
movimento que acontece continuadamente e é sobreposto aos outros; a rotação interna
é a deslocação do occípito no sentido da sínfise púbica, uma rotação de 45° nas anteriores
e 90° quando transversas, movimento que é essencial para a progressão do parto (Figura
2, imagem 4), quando a cabeça do bebê entra no assoalho pélvico (NENÉ; MARQUES;
BATISTA, 2016).
Por fim, a expulsão, quando o ombro anterior sai primeiro e depois o posterior,
depois da saída dos ombros, o resto do corpo do bebê sai com a força materna sem
dificuldade. Esse mecanismo explicado acima tem características únicas em cada
nascimento, pois pode variar de acordo com a apresentação fetal e também como tipo
de pelve materna.
4 FASES DO PARTO
Neste subtópico, emergiremos “nas ondas do mar”, pois é assim que muitos
dos profissionais, que trabalham com assistência ao parto, explicam à parturiente
como é o trabalho de parto: as contrações são como ondas do mar, que vêm e vão,
com uma intensidade progressiva e depois vão embora, sabendo que logo vão voltar. O
parto é uma trajetória cheia de emoções e, em cada etapa desse trajeto, há um tipo de
sentimento e experiência que a parturiente pode sentir, cabendo também ao enfermeiro
guiar essa mulher durante cada fase do parto.
9
10 minutos, com duração aproximada de 50 segundos a um minuto, devendo aumentar
de frequência. Ainda salientam que, em algumas mulheres multíparas, mesmo com
5 cm de dilatação, a fase ativa do parto pode não ter iniciado ainda. Para Zugaib e
Francisco (2016), o fenômeno mais importante são as contrações efetivas, que devem
ter frequência regular, sendo esperadas duas a cinco contrações em 10 minutos, com
intensidade de 20 a 60 mmHg, com média de 1 minuto de duração.
Esse primeiro período ainda é dividido por duas fases: a latente e a ativa do
trabalho de parto. A fase latente, conforme Nené, Marques e Batista (2016) explicam,
é a fase de apagamento do colo uterino e do início da dilatação (até 5 cm), podendo ser
uma fase mais lenta em primíparas, com duração de mais de 6 horas. Essa fase não
tem muito ritmo e pode ser bem variável. Já a fase ativa é considerada após os 5 cm de
dilatação até os 8 cm, quando começa a fase de transição (NENÉ; MARQUES; BATISTA,
2016). Nesse momento, é possível perceber melhor a relação feto-pélvica.
10
Figura 3 – Apagamento e dilatação do colo uterino
IMPORTANTE
A ruptura da bolsa de águas (amniotomia) ocorre em 80% dos
casos no final da dilatação ou no início da expulsão, de acordo
com Montenegro e Rezende Junior (2016). Pode acontecer
também de romper antes, sendo chamada de rutura prematura
de membranas, ou até ficar intacta, sem intervenções
desnecessárias até alguma justificativa criteriosa, segundo
Nené, Marques e Batista (2016), tipos de partos chamados
de empelicados. A amniotomia de rotina não é indicada para
acelerar o trabalho de parto, de acordo com muitos estudos e
conforme descrito em uma das recomendações da Organização
Mundial da Saúde (OMS) (WHO, 2018) de cuidados intrapartos
para experiências positivas de parto.
11
DICA
Antes de continuarmos com as fases do trabalho de parto, é de extrema
importância que você, acadêmico, futuro profissional enfermeiro, tenha
conhecimento do documento da OMS lançado em 2018, intitulado
Cuidados intraparto para experiências positivas de parto, que traz 56
recomendações, baseadas em evidências científicas, com o intuito de
estabelecer padrões mundiais de cuidados à mulher grávida, de forma
saudável, com menos intervenções desnecessárias.
Para saber mais sobre esse documento, acesse: http://twixar.me/1gQm.
12
Nesse período, o profissional deve encorajar a mulher a escolher a posição que
seja mais confortável para ela parir, conforme Figura 4. A vocalização também deve ser
apoiada, sem julgamentos e, claro, a orientação para o acompanhante estar presente, de
maneira agradável, dando o suporte que a parturiente, também necessário nesse período.
INTERESSANTE
Vários autores explanam sobre os benefícios da verticalização
da mulher no parto, como as recomendações da OMS. Nesse
sentido, segundo Nené, Marques e Batista (2016), posições
como cócoras, ajoelhada, de pé, sentada e de gatas têm
muitas vantagens, como melhora do fluxo uteroplacentário
e da ventilação pulmonar materna, melhoria da eficiência da
contratilidade uterina, melhora no alinhamento de feto e pelve
materna, aumento dos diâmetros da pelve, otimização do esforço
materno, ação da gravidade ao favor do nascimento, além de
fatores que se relacionam ao protagonismo da mulher no parto,
pois fazem com que a mulher tenha mais poder de escolha e
participação no nascimento do seu filho, facilitando a vinculação
e o aumento das experiências positivas de parto. Outro fator
importante é a diminuição dos partos instrumentalizados.
13
4.2 ASSISTÊNCIA NO TERCEIRO E NO QUARTO PERÍODO DO
PARTO
O terceiro período é designado quando a dequitadura da placenta acontece e,
segundo Nené, Marques e Batista (2016, p. 310), “decorre desde a expulsão do feto até
à expulsão da placenta”. Há uma diminuição das contrações uterinas, após a saída do
feto, e da área de implantação da placenta, fazendo com que ocorra uma tensão e
rutura das vilosidades, a formação de hematoma retroplacentar e aí o descolamento
da placenta e de sua expulsão. Essa saída da placenta tem dois tempos: a separação da
placenta da parede do útero e sua descida; e a saída dela até a vulva.
• Contrações uterinas.
• Mudança da forma discoide do útero para ovoide, à medida que a
placenta se descola para o segmento inferior.
• Saída súbita de sangue à vulva.
• Descida do cordão ou aumento aparente do cordão, à medida que
a placenta desce para o introito vaginal.
• Aumento do volume vaginal observável (NENÉ; MARQUES;
BATISTA, 2016, p. 311).
14
A placenta, sendo um órgão, gerado na gestação, para nutrir o bebê dentro do
útero, guarda um grande significado e, por isso, é interessante o enfermeiro dar a opção
para a mulher ver e conhecer a placenta. Além disso, é necessário que o enfermeiro
verifique se há a ausência de algum cotilédone na placenta, podendo serem evitados
restos placentários dentro do útero.
5 PARTO INSTRUMENTADO
É importante salientarmos que partos instrumentados podem acontecer, devido
a intercorrências obstétricas e distócias do parto, quando estas não são resolvidas
por outros meios, sem a necessidade de instrumentos como fórceps, extrator a vácuo
(ventosa obstétrica) e episiotomia (corte no períneo). A atualização de estudos, acerca
do uso dessas intervenções instrumentais, tem crescido, mostrando técnicas novas e
também indicações baseadas em evidências científicas para a uso de tal instrumentos.
15
Sendo um procedimento de competência do médico obstetra, o fórceps e o extrator a
vácuo precisam de um olhar menos rotineiro, bem como a episiotomia que faz parte
tanto da competência médica como de enfermeiros especialistas em obstetrícia.
O fórceps é um instrumento com dois ramos. Graça (2017) explana que há o lado
direito e o esquerdo do fórceps, formado por uma colher, que se adapta à cabeça do bebê
e ao canal do parto, e o cabo, para o médico poder manipular (Figura 6). Os dois ramos
ligam-se como uma articulação pelo cabo. Zugaib e Francisco (2016) ainda afirmam que
o uso do fórceps foi devidamente assegurado após estudos iniciais que mostravam a
sua segurança, quando na presença de uma equipe treinada para a realização desses
partos e um obstetra com mãos treinadas para uso desse instrumento.
Figura 6 – Fórceps
16
Indicações para a aplicação do fórceps, segundo Graça (2017) e Zugaib e Francisco
(2016):
17
Já as complicações da ventosa, segundo Graça (2017), são:
Figura 7 – Ventosa
ATENÇÃO
O uso, de forma rotineira, de intervenções no parto e instrumentalização
rotineira altera totalmente o curso fisiológico do parto normal e,
infelizmente, inicia o que é chamado de cascata de intervenções, em
que uma intervenção condiciona a outra sucessivamente, aumentando a
complexidade e o risco de desfecho desfavorável do parto.
18
Em 2018, a OMS determinou como uma prática não recomendada durante o
parto, explicando que:
Graça (2017, p. 580) ainda salienta que, “Portanto, à luz do conhecimento atual,
não existem critérios bem definidos nem uniformes para se realizar uma episiomia [...]
os dados que dispomos não apoiam a execução da episiotomia por rotina [...] por isso o
juízo clínico individual deve prevalecer”.
19
• Gravidez pós-termo, maior que 41 semanas de gestação.
• Rutura prematura de membranas.
• Comorbidades maternas, como diabetes e hipertensão.
• Situações de patologia associadas a hipertensão induzida pela gravidez, pré-eclâmpsia,
eclampsia e síndrome de HELLP.
• Estado fetal não tranquilizador.
• Feto morto ou anômalo.
Para isso, existe uma avaliação chamada de Índice de Bishop, que, segundo Nené,
Marques e Batista (2016), correlaciona dados da avaliação do colo uterino e a decisão do
método a ser utilizado. Nesse índice, são avaliados a dilatação do colo, a consistência, o
apagamento, a posição e a altura em relação às espinhas isquiáticas; a partir disso, se o
número final do índice de Bishop for igual ou inferior a 5, esse colo é desfavorável e deve
ser analisado, primeiramente, uma maturação do colo, ou seja, um amolecimento com
prostaglandinas. Acima de 7,0, já pode ser iniciada a indução com oxitocina.
• Mecânicos:
◦ Deslocamento digital das membranas é um método muito conhecido, utilizado
para estimular a produção de prostaglandinas, a partir de um toque vaginal, no
qual o profissional ultrapassa o orifício interno do colo para separar, com o dedo,
as membranas amnióticas da parte inferior do útero, teoricamente, pode desencadear
um trabalho de parto em 48 horas.
◦ Sonda Foley também é um método mecânico conhecido, em que a sonda é
colocada na parte interior do orifício do colo uterino, inflando o balão para fazer
pressão mecânica no colo uterino, de dentro para fora. A sonda é eliminada em 12
horas. Esse método pode ser utilizado em mulheres com cesariana prévia, visto
que mulheres com histórico de cesariana não devem utilizar a indução de parto
com prostaglandina misoprostol.
• Farmacológicos:
◦ Prostaglandinas (PGE1 e PGE2): utilizadas para maturação do colo uterino,
podendo ser de uso endocervical por via vaginal ou via oral. Deve seguir os
protocolos de cada instituição, respeitando os períodos entre os comprimidos
conforme a mg. As gestantes entram em trabalho de parto, geralmente, após 12
horas do uso da primeira prostaglandina. Essas prostaglandinas não devem ser
utilizadas concomitantemente com ocitocina, devendo aguardar um período de 4
horas para usar a ocitocina após prostaglandinas.
20
◦ Ocitocina: agente mais conhecido nas induções de parto. Sendo um uterotônico
sintético, realizado por via endovenosa, com controle de gotejamento, por meio
de bomba de infusão. Começa com doses iniciais e aumenta a dose conforme o
passar das horas, até obter contrações efetivas e regulares.
ATENÇÃO
É de extrema importância a avaliação da vitalidade fetal antes e
durante a indução de trabalho de parto, principalmente em uso de
métodos farmacológicos, devendo atentar para bradicardias fetais
ou acelerações fetais que não estabilizam.
21
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
22
AUTOATIVIDADE
1 Os estudos da fisiologia do parto mostram que a bioquímica, para o início do trabalho
de parto, é dividida em fases: a fase 0 da quiescência, com a ação da progesterona
evitando partos prematuros, seguida pela fase 1 de ativação miometral, pela fase 2 de
estimulação e contração uterina, e pela fase 3 de involução uterina no pós-parto. A
fase 2, das contrações efetivas, é precedida por uma preparação do útero e do colo,
indolor e irregular. Com base em como é conhecida essa fase, assinale a alternativa
CORRETA:
2 Considera-se que um falso trabalho de parto não tem contrações regulares nem
dilatação do colo do útero e muito menos a percepção da dor. Sobre a importância
de se reconhecer a diferença entre um falso trabalho de parto e um trabalho de parto
verdadeiro, analise as sentenças a seguir:
3 A indução do trabalho de parto é um procedimento que deve ser realizado com cautela
e apenas quando realmente necessário, conforme indicações clínicas baseadas em
evidências científicas. De acordo com as indicações para indução de trabalho de
parto, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
23
( ) Deve ser induzido o parto em caso de gravidez pós-termo, que corresponde ao período
após as 39 semanas de gestação.
( ) Situações como pré-eclâmpsia, eclâmpsia, hipertensão induzida pela gravidez,
síndrome de HELLP e diabetes são indicações para a indução do trabalho de parto.
( ) A indução do trabalho de parto é indicada apenas quando os benefícios para a mãe e o
feto são maiores do que se a gestação for mantida.
24
UNIDADE 1 TÓPICO 2 —
ATRIBUIÇÕES DA EQUIPE DE SAÚDE
NO CENTRO OBSTÉTRICO
1 INTRODUÇÃO
O parto é um evento único, em que a mulher, que está grávida, decide o ambiente
onde deseja realizar o parto e os profissionais que estarão com ela – isso não exclui os
profissionais que já devem estar presentes nesse momento, como no caso de um centro
obstétrico de uma instituição hospitalar, em que há as equipes capacitadas com cada
profissional especialista da área, sendo médico, enfermeiro, técnico de Enfermagem,
psicólogo, nutricionista, fisioterapeuta etc. Além desse suporte, não podemos nos
esquecer da presença de um acompanhante, que não pode ser substituído pela
presença da doula, e vice-versa.
25
2 EQUIPE MULTIDISCIPLINAR
Uma equipe multidisciplinar nada mais é do que um grupo de profissionais, cada
qual com sua especificidade, em grande maioria juntos por um objetivo geral comum –
no caso do centro obstétrico, o maior objetivo seria o bem-estar da tríade na vivência do
parto e do nascimento. Essa equipe especializada e capacitada traz maior segurança para
a mãe em um momento especial da vida dela, visto que há uma partilha de informações,
conhecimentos e também uma assistência de qualidade, promovendo, assim, uma
experiência mais positiva do parto e do nascimento.
Entretanto, percebe-se que ainda há fatores que não contribuem para o bem-
estar materno e fetal; atualmente, no Brasil e em outros países, um deles é a falta
assistência multidisciplinar, o trabalho em equipe. “Aponta-se, nessa perspectiva,
que uma grande parte das complicações que envolvem a saúde materna e perinatal
revela que a equipe não atua de forma conjunta devido à comunicação desarticulada e
deficiente” (BRAZ et al., 2019, p. 2).
É claro que esse problema, em potencial, não ocorre só por causa da falta de
articulação entre os profissionais, sendo, talvez, uma questão multifatorial.
26
IMPORTANTE
As Diretrizes nacionais de assistência ao parto normal, do Ministério
da Saúde (BRASIL, 2017a), trazem recomendações para os profis-
sionais seguirem uma assistência mais organizada, humanizada e
baseada em evidência científica durante o parto, relatando quais
profissionais devem estar envolvidos nessa assistência direta: mé-
dicos obstetras, pediatras, neonatologistas, anestesiologistas, ge-
neralistas, enfermeiros obstétricos, obstetrizes, enfermeiros assis-
tenciais e técnicos de Enfermagem, além de todos os profissionais
envolvidos indiretamente na assistência ao parto, como fisiotera-
peutas, psicólogos, nutricionistas, doulas e educadores perinatais.
27
NOTA
Segundo o Art. 8º, ao Enfermeiro incumbe:
I- privativamente:
[...]
h) prestação de assistência de enfermagem à gestante,
parturiente, puérpera e ao recém-nascido;
j) acompanhamento da evolução e do trabalho de parto;
l) execução e assistência obstétrica em situação de emergência
e execução do parto sem distocia (BRASIL, 1987).
28
4 O ENFERMEIRO ESPECIALISTA NO CENTRO OBSTÉTRICO
Diante das atribuições citadas no Art. 9º do Decreto nº 94.406/1987 (BRASIL,
1987), é importante relacionarmos essas competências com alguns dados observados
no portal do governo brasileiro de atenção às mulheres, o qual explica que, desde 1990,
observou-se os países que inseriram os enfermeiros obstétricos na assistência ao parto,
concluindo-se uma redução significativa da mortalidade materna de 2 a 5% no ano.
DICA
Para conhecer os detalhes das atribuições da Enfermagem, leia o Decreto
nº 94.406, de 8 de junho de 1987, que regulamenta a Lei nº 7.498, de 25
de junho de 1986, a qual dispõe sobre o exercício da enfermagem e dá
outras providências. Acesse: http://twixar.me/wgQm.
29
IMPORTANTE
Acadêmico, a atuação do enfermeiro obstetra, dentro do centro
obstétrico, é focada em atendimento de partos de baixo risco, que
seguem a fisiologia do parto normal; já os médicos obstetras têm
a sua atenção e assistência voltadas ao parto patológico e fora da
fisiologia normal. Entretanto, um não exclui o auxílio e a atenção do
outro em ambas as situações de partos (normais ou patológicos).
IMPORTANTE
Algumas atividades durante o trabalho de parto da enfermeira
obstétrica são: avaliação do bem-estar materno-fetal, realizando a
partir da ausculta cardíaca fetal e sinais vitais maternos, avaliação
da progressão do trabalho de parto, a partir do exame de
toque vaginal e observação do segmento da fisiologia do parto.
Já no parto, a condução do mesmo quando parto eutócico e a
realização de sutura se necessário. No que abrange o nascimento,
como atribuição, está o recebimento deste recém-nascido e
apresentação do mesmo para a mãe, realizando a promoção do
contato pele a pele.
30
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
31
AUTOATIVIDADE
1 O Decreto nº 94.406, de 8 de junho de 1987, regulamenta a Lei nº 7.498, de 25 de junho
de 1986, que dispõe sobre o exercício da Enfermagem e dá outras providências. Acerca
do exercício da atividade de Enfermagem na assistência ao parto e ao nascimento,
assinale a alternativa INCORRETA:
FONTE: BRASIL. Decreto nº 94.406, de 8 de junho de 1987. Regulamenta a Lei nº 7.498, de 25 de ju-
nho de 1986, que dispõe sobre o exercício da enfermagem, e dá outras providências. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1980-1989/d94406.htm. Acesso em: 16 set. 2022.
32
3 Segundo a Política Nacional da Humanização (PNH), do Ministério da Saúde, e as
recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) para uma vivência positiva de
parto, a humanização na assistência ao parto tem, como proposta principal, o respeito
à tríade e aos desejos da parturiente para o momento do parto e do nascimento, além
da promoção do trabalho em equipe, a fim de tornar o cuidado multidisciplinar. Diante
disso, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
5 Com o passar dos anos, a mulher perdeu o seu papel de agente ativo no nascimento
do filho e, por isso, atualmente, existe a necessidade do resgate do parto normal
humanizado, no qual a parturiente tem seus direitos e escolhas respeitados, diante de
um acompanhamento com profissionais qualificados, minimizando as intercorrências
durante do parto e trazendo maior segurança e qualidade ao atendimento. Diante
disso, por que a assistência multiprofissional deve ser observada como um trabalho de
saúde coletivo no processo de parturição?
33
34
UNIDADE 1 TÓPICO 3 —
ROTINAS DO CENTRO OBSTÉTRICO
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, abordaremos as rotinas do centro obstétrico, setor que, geralmente,
segue um fluxo de atendimento para gestantes, parturientes, puérperas, lactantes e
também, por vezes, o atendimento a mulheres com condições ginecológicas, relacionadas
à obstetrícia.
A organização do centro obstétrico conta com uma estrutura que deverá atender à
mulher e ao acompanhante, para dar suporte no período gravídico-puerperal, composto
por triagem para classificação de risco da mulher, o pré-parto e as salas de partos ou
salas PPP, que são as salas pré-parto, parto e pós-parto, podendo contar, também, com
uma sala cirúrgica e a sala de recuperação dentro do mesmo setor.
35
ESTUDOS FUTUROS
No Tópico 4, abordaremos as intercorrências em gestações de risco.
Fique atento às dicas de leitura, bem como aos pontos de interesse
sobre esse tópico.
2 TRIAGEM OBSTÉTRICA
As gestantes que chegam ao setor devem, primeiramente, ser avaliadas, passando
pela triagem obstétrica, verificando a queixa para, após isso, o profissional responsável do
plantão realizar a conduta necessária. Conhecido também como acolhimento da paciente,
é na triagem que o enfermeiro ouve as queixas da mulher, respeitando a Política Nacional
da Humanização, que diz:
36
A implantação do A&CR [Acolhimento e Classificação de Risco] passa
pela articulação dos seguintes movimentos de mudanças:
• Ampliação da responsabilização dos profissionais de saúde em
relação aos usuários e efetivação dos vínculos de confiança.
• Aperfeiçoamento do trabalho em equipe, com a integração e
complementaridade das atividades exercidas pelas categorias
profissionais que atuam nos serviços que assistem partos.
• Atendimento médico, do enfermeiro obstetra, ou de obstetriz
em tempo oportuno, fazendo com que a usuária seja assistida
de acordo com a sua gravidade clínica, abandonando a lógica do
atendimento por ordem de chegada.
• Otimização dos espaços para agilizar o atendimento, seguindo-se
os referenciais da ambiência.
• Informação à mulher e aos familiares/acompanhantes dos tempos
de espera previstos para atendimento (BRASIL, 2018, p. 15).
IMPORTANTE
Acadêmico, é importante que você, como futuro profissional da Enfer-
magem, compreenda todas as atribuições do enfermeiro envolvido em
A&CRO.
37
Além dessas atribuições, é importante que o ambiente esteja tranquilo e
organizado, de forma que a mulher/casal e a doula se sintam confortáveis e seguros.
Deve-se lembrar de ter uma cadeira a mais para o acompanhante, o que mostra o
interesse do profissional para que ele participe da triagem.
38
• Desmaio/mal estar geral.
• Dor abdominal/lombar/contrações uterinas.
• Dor de cabeça, tontura, vertigem.
• Falta de ar.
• Febre/sinais de infecção.
• Náuseas e vômitos.
• Perda de líquido vaginal/secreções.
• Perda de sangue via vaginal.
• Queixas urinárias.
• Parada/redução de movimentos fetais.
• Relato de convulsão.
• Outras queixas/situações (BRASIL, 2018, p. 37).
DICA
Acadêmico, você pode conferir os fluxogramas completos e esquema-
tizados no documento do Ministério da Saúde: Manual de Acolhimento
e Classificação de Risco em Obstetrícia (BRASIL, 2018), disponível em:
http://twixar.me/zgQm.
39
Além disso, é importante a realização de testes rápidos, como vírus da
imunodeficiência humana (HIV) e exame de VDRL, além de saber o tipo sanguíneo e o fator
Rh, para a profilaxia anti-D no pós-parto, se for o caso de Rh negativo. Ainda, é necessário
perceber também as queixas e os motivos da internação, como perda de líquido, dor em
baixo ventre, contrações etc.
ATENÇÃO
Acadêmico, o enfermeiro deve garantir a presença de um acompa-
nhante de escolha da parturiente durante toda a internação no centro
obstétrico; assim, a mulher se sentirá mais segura e confortável,
contribuindo com o desenvolvimento do trabalho de parto e a
vinculação da família.
3 PRÉ-PARTO
Na sala de pré-parto, ficam internadas as gestantes em trabalho de parto, em
indução de trabalho de parto ou casos de condução de aborto, que devem ficar em salas
isoladas e privativas.
ATENÇÃO
Os profissionais da equipe de Enfermagem envolvidos no pré-
parto são o enfermeiro chefe, o enfermeiro obstetra, o enfermeiro
assistencial e o técnico de enfermagem.
40
Segundo as Diretrizes nacionais de assistência ao parto normal, do Ministério
da Saúde (2017a), as mulheres durante o trabalho de parto devem ser tratadas pelos
profissionais da saúde com respeito e empatia, além da importância de serem munidas
de informações, baseadas em evidências científicas, e sempre serem envolvidas na
tomada de decisões. Informá-la sobre métodos de alívio da dor também é uma prática
que deve ser rotina no pré-parto, encorajá-la a se movimentar, fazer uso da ducha e
da bola suíça e deambulação, a fim de trazer inúmeros benefícios para a progressão do
trabalho de parto, além de auxiliar no alívio natural da dor.
IMPORTANTE
A avaliação do bem-estar fetal, durante o trabalho de parto, deve
ser realizada de forma adequada, para garantir uma assistência
de qualidade. A ausculta cardíaca fetal deve ser feita, de modo
intermitente, em gestantes de baixo risco, com Sonar Doppler ou
esteto de Pinard, a cada 30 minutos, por pelo menos 1 minuto,
devendo ser registrada, também, a presença de acelerações e
desacelerações, conforme as Diretrizes nacionais de assistência ao
parto normal, do Ministério da Saúde (BRASIL, 2017a). É importante
salientar que a OMS (WHO, 2018) não recomenda a monitoração
contínua com cardiotocografia durante o trabalho de parto de
baixo risco.
41
Para compreender melhor o parâmetro de monitoração cardíaca fetal, podemos
observar a Tabela 2. Resumidamente, conforme Graça (2017), em padrões normais,
devemos ter uma frequência cardíaca fetal basal entre 110 e 160 bpm, uma boa variabilidade
dessa frequência cardíaca fetal, acelerações esporádicas e ausências de desacelerações,
conforme mostra a Figura 9 em uma cardiotocografia intraparto normal.
42
Figura 9 – Frequência cardíaca fetal normal
IMPORTANTE
Acadêmico, diante dessas informações e dos parâmetros normais de
monitoração cardíaca fetal, você tem conhecimento para perceber e
identificar alterações durante a avaliação do bem-estar materno-fetal
no trabalho de parto, pois esse também é um cuidado importante
durante o trabalho de parto, tanto na fase latente como ativa.
43
Nesse momento, pode surgir a dúvida: como avaliar a progressão do trabalho
de parto da paciente e como saber se ela está em período latente, ativo ou expulsivo?
A resposta é clara: com observação, cuidados e assistência de qualidade. Assim, há
alguns meios de se avaliar a progressão de um trabalho de parto, como a partir do toque
vaginal, para perceber como está o colo uterino da parturiente e quantos centímetros
de dilatação ela apresenta.
44
Outra maneira que pode ser observada, a partir das alterações físicas e adaptações
ósseas da parturiente, é o quadrilátero de Michaelis, ou losango de Michaelis, localizado
no sacro, esse losango é uma projeção cutânea do sacro, conforme mostra Zugaib e
Francisco (2016). A partir disso, é possível observar, conforme a descida do feto na pelve,
essa protuberância do losango, sendo mais comum perto do período expulsivo.
IMPORTANTE
Acadêmico, além desses cuidados assistenciais, a implementação
da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), durante
trabalho de parto, parto, nascimento e recuperação, é uma
competência essencial, que deve seguir o referencial teórico
da instituição. É importante lembrarmos de alguns elementos,
como histórico de Enfermagem, diagnóstico de Enfermagem,
planejamento de Enfermagem, implementação de Enfermagem
e avaliação.
Segundo Fraga et al. (2018, p. 7), “O PE concomitante com a visão
holística do enfermeiro favorece uma assistência individualizada à
parturiente e baseada no conhecimento científico, oportunizando
lhe sentir-se parte de um processo natural, acompanhando o
ritmo do seu próprio corpo”.
DICA
Acadêmico, sugerimos a leitura e o conhecimento das Diretrizes da
Rede Cegonha, uma estratégia do Ministério da Saúde, com foco para a
implementação de cuidados para gestantes e puérperas, que garante o
planejamento familiar e a atenção segura, capacitada e humanizada na
gravidez, no parto e no puerpério. Atualmente, o Ministério da Saúde
também conta com a Rede de Acolhimento Materno-Infantil (Rami) em
todo o território nacional. Ambas as iniciativas têm o compromisso da
redução das mortalidades materna e infantil.
Saiba mais sobre as Diretrizes da Rede Cegonha acessando o link:
http://twixar.me/XgQm /.
45
4 SALA DE PARTOS
Em algumas instituições, há salas específicas para o período expulsivo, para a
assistência do parto em si. Já em outras instituições, é possível que se vejam salas PPP,
nas quais não há a necessidade de locomover a mulher para outra sala durante o período
final do parto, o que traz conforto e praticidade para a parturiente. De qualquer forma,
a sala em que nascerá o bebê deve estar preparada para recebê-lo, com temperatura,
no mínimo, em 26 °C, conforme a recomendação do Ministério da Saúde (BRASIL, 2014).
INTERESSANTE
Acadêmico, os profissionais habilitados, atualmente, para prestar
assistência direta ao parto são médico, obstetriz, parteira, enfermeiro e
enfermeiro obstetra. Cabe ressaltar que o enfermeiro apenas pode
realizar a assistência em casos de partos eutócicos, sem episiotomias e
sem episiorrafias.
ATENÇÃO
O enfermeiro jamais poderá realizar ou apoiar a realização da
pressão do fundo do útero, conhecida como manobra Kristeller,
não é uma prática recomendada pela OMS nem pelo Ministério
da Saúde. Trata-se de uma prática prejudicial e ineficaz, que
deve ser banida da obstetrícia, sem nenhuma evidência científica
que prove benefícios – pelo contrário, aumenta o risco de
morbidade materna e fetal. Ainda a plenária do Conselho Federal
de Enfermagem (Cofen) aprovou, por unanimidade, a decisão
95/2016 do Coren-RS, que proíbe a participação de profissionais
de Enfermagem na manobra de Kristeller.
46
A monitoração cardíaca fetal deve continuar, de acordo com as recomendações
da OMS (WHO, 2018), no período expulsivo, sendo realizada a cada 5 minutos, para
manter o bem-estar materno e fetal. Outras recomendações da OMS (WHO, 2018) são
quanto à posição do parto, sendo fundamental encorajar a mulher a escolher a posição
em que ela se sentir mais confortável para parir, incluindo posições verticalizadas, o que
também é válido para parturientes com analgesia epidural, que devem ter o auxílio de
profissionais para permanecer na posição desejada com segurança. A posição litotômica
não deve ser mais encorajada, ainda mais se não for o desejo da mulher; em parto de
baixo risco e eutócico, não há necessidade de sujeitar a mulher a tal desconforto, devido à
posição, segundo o Ministério da Saúde.
Zugaib e Francisco (2016) afirmam que pode ser feita pressão com a mão na
região perianal, sem episiotomia, para proteger o períneo de lacerações maiores, e
também o apoio ao polo cefálico do bebê na saída, para que seja lento o desprendimento
do polo cefálico. Nené, Marques e Batista (2016, p. 318) comentam que “a posição
de nascimento, as características tecidulares das mulheres e controle no período do
expulsivo são fundamentais”. A OMS recomenda que, de acordo com as preferências
e as opções disponíveis, podem ser utilizadas “técnicas para reduzir trauma perineal
e facilitar o parto espontâneo (incluindo massagem perineal, compressas quentes e
proteção ‘hands on’ do períneo)” (WHO, 2018, p. 5, tradução nossa). Já o Ministério da
Saúde (BRASIL, 2017a) não recomenda a massagem perineal durante o período expulsivo,
embora possam ser utilizadas compressas mornas no períneo, recomendando tanto a
técnica da mão sobre o períneo, para evitar saídas bruscas do feto, como a técnica de
mãos prontas, sem tocar o períneo.
IMPORTANTE
Acadêmico, pense como você gostaria de ser tratado em um
momento tão especial, como o nascimento de um filho. Com
respeito, carinho, ética, privacidade, integridade, humanização
e segurança, a pessoa se sente não só parte desse evento,
mas a protagonista dele. É dessa forma que devemos tratar as
parturientes, com muita empatia.
47
Após o nascimento, há a dequitação da placenta, período em que é preciso
manter o recém-nascido em contato, pele a pele, com a mãe, para promover a vinculação
e mantê-lo aquecido. O Ministério da Saúde (BRASIL, 2017a) recomenda dois tipos de
assistência nesse período:
5 SALA CIRÚRGICA
Quando o centro obstétrico disponibiliza uma sala cirúrgica especificamente
para o setor, o enfermeiro deve organizar essa sala de acordo com a demanda diária do
setor, como cirurgias de cesariana, suturas de lacerações de graus 2, 3 ou 4 de parto,
curetagens por aborto retido ou por retenção placentária, histerectomias realizadas por
emergências, drenagens de abscessos de mama ou vulva, entre outros procedimentos,
conforme a organização do setor e da instituição.
48
Romero et al. (2012) ainda citam que o circulante da sala deve ter alguns cuidados
durante o procedimento, como:
ATENÇÃO
Caro acadêmico, enfatiza-se o uso de uma Lista de Verificação
de Segurança Cirúrgica; a OMS (2009) desenvolveu uma lista que
preconiza a prevenção de infecção do local cirúrgico, a segurança
em anestesia, a melhora do trabalho em equipe, a comunicação
e, por fim, a mensuração do cuidado, por meio de indicadores de
processos e resultados da assistência.
De acordo com Gomes, Dutra e Pereira (2014, p. 8), “[...] o bom desempenho
do CC está diretamente condicionado ao bom gerenciamento e coordenação realizado
pelo enfermeiro, combinados ao bom estado de conservação dos materiais, instalações
físicas, equipe especializada e recursos tecnológicos”.
49
Figura 11 – Lista de Verificação de Segurança Cirúrgica
Nesse sentido, há sinais e sintomas que a puérpera sente que estão relacionados a
involução uterina e todo o processo fisiológico do corpo antes de fechar as seis semanas de
puerpério. É importante atenção, principalmente, no período do puerpério imediato, pois é
nas primeiras 24 horas que pode haver maior risco de hemorragias pós-parto.
50
• Lóquios hemáticos: compostos por restos, eritrócitos e restos de trofoblastos,
podendo vir em pedaços de coágulos do primeiro e segundo dia pós-parto.
• Lóquios sero-hemáticos: a partir do quarto ou quinto dia pós-parto, com aspecto de
sangue envelhecido.
• Lóquios serosos: presentes no 10º dia pós-parto, com aspecto de muco espesso,
podendo durar até seis semanas pós-parto.
ATENÇÃO
“A persistência de lóquios após quatro a seis semanas deverá fazer
suspeitar de uma infecção (endometrite), que apresenta em geral
cheiro desagradável/fétido” (NENÉ; MARQUES; BATISTA, 2016, p. 439).
51
Com relação a algumas diferenças de cuidados assistenciais que o Ministério
da Saúde traz em suas diretrizes (BRASIL, 2017a), podemos citar: perceber os lóquios
e contrações uterinas, perceber as perdas urinárias se estão bem-sucedidas; e alguns
cuidados com o períneo, em caso de lacerações ou episiotomia, conforme o grau da
laceração, sendo necessário explicar à mulher o que será realizado, no caso, a sutura, e
ofertar a analgesia adequada para a realização do procedimento, quando são importantes
uma boa iluminação para o profissional que realiza o reparo do trauma, assim como
informações para a puérpera sobre cuidados e higiene no períneo.
ATENÇÃO
Sinais de alarme no pós-parto, segundo Nené, Marques e Batista
(2016), são: temperatura > 38 °C, pressão arterial alterada, hipo ou
hipertensão, pulso alterado, taquicardia ou bradicardia acentuada;
dor súbita e persistente; cefaleias; pele descorada, fria e viscosa;
nas mamas, rubor e calor; no útero, mole à palpação e acima do
umbigo após 24 horas pós-parto; sobre a perda sanguínea, se
houver, maior que 500 mL com odor fétido; edema no períneo e
desconfortos acentuados após sutura; retenção urinária, diarreia,
sinais de infecção na sutura abdominal, em caso de cesariana; sinal
de tromboflebite nos membros inferiores; náuseas e vômitos; fadiga
extrema e incapacidade para dormir.
52
[...]
• A deambulação assistida deve ser estimulada logo após a retirada
da sonda vesical, caso houver, assim como o banho de aspersão. O
caminhar precoce, em geral, após 12 h do procedimento cirúrgico,
acelera a retomada das funções intestinais e diminui a distensão
abdominal, além de prevenir tromboembolismo.
[...]
• O curativo deve ser retirado 24 horas após a cirurgia [...] a tendência
atual é não cobrir a cicatriz após esse período (MONTENEGRO;
REZENDE JUNIOR, 2016, p. 991-993).
IMPORTANTE
Caro acadêmico, independentemente da via de parto, devemos
assegurar o alojamento conjunto entre mãe e bebê, quando
condições de saúde estáveis de ambos, devido à importância da
criação de vinculação e da amamentação nas primeiras horas, pois
fazem diferença na vida materna e infantil. É responsabilidade do
enfermeiro garantir que esse momento aconteça de forma saudável.
53
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
54
AUTOATIVIDADE
1 Acerca do acolhimento e da classificação de risco obstétrico, que tem como objetivo
priorizar os atendimentos com mais urgência, conforme sinais, sintomas e queixas
da mulher, e das rotinas do enfermeiro na triagem obstétrica, quando realizado o A&CR
obstétrico, assinale a alternativa INCORRETA:
Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Diretrizes Nacionais de Assistência ao Parto Normal. Brasília:
Secretaria de Ciências, Tecnologia e Insumos Estratégicos, 2017a. Disponível em: http://twixar.me/RgQm.
Acesso em: 10 jul. 2022.
55
3 Segundo as Diretrizes nacionais de assistência ao parto normal, do Ministério da
Saúde (BRASIL, 2017a), a vigilância do bem-estar materno fetal também se dá pela
avaliação da ausculta cardíaca fetal com o Sonar Doppler ou com o aparelho de
Pinard, sendo a monitoração da vitalidade fetal um dos cuidados principais nas salas
de partos, para garantir a saúde do feto. Diante disso, classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:
Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Diretrizes Nacionais de Assistência ao Parto Normal. Brasília:
Secretaria de Ciências, Tecnologia e Insumos Estratégicos, 2017a. Disponível em: http://twixar.me/RgQm.
Acesso em: 10 jul. 2022.
5 No puerpério imediato, deve-se ter uma grande atenção a todos e quaisquer sinais da
mulher que não estejam estáveis, em todos os sistemas corporais, evitando possíveis
riscos maternos desencadeados por hemorragias, infecções e entre outras condições
que levam ao risco da puérpera. A vigilância adequada em sala de recuperação pode
evitar morbidades maternas. Nesse contexto, disserte sobre os principais cuidados
do enfermeiro na sala de recuperação com uma puérpera de parto normal e de cesariana.
56
UNIDADE 1 TÓPICO 4 —
ASSISTÊNCIA IMEDIATA AO
RECÉM-NASCIDO
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, abordaremos temas importantes sobre a assistência imediata
feita ao recém-nascido, no centro obstétrico. Essa etapa é fundamental para aplicar
os cuidados adequados ao recém-nascido, para reduzir os índices de mortalidade infantil.
Segundo o Ministério da Saúde, a mortalidade neonatal é responsável por quase 70% das
mortes no primeiro ano de vida. Nesse sentido, revisitar, praticamente, o guia, elaborado
pelo Ministério da Saúde, para os profissionais da saúde, com o título na Atenção à
Saúde do Recém-Nascido (BRASIL, 2014) e as diretrizes da Sociedade Brasileira de
Pediatria (SBP) (ALMEIDA; GUINSBURG, 2022).
2 AVALIAÇÃO DO RECÉM-NASCIDO
Após o nascimento, a adaptação a vida extrauterina do recém-nascido deve
ser conduzida, de forma a minimizar traumas externos, podendo serem tomados alguns
cuidados para fazer dessa adaptação, ao mundo exterior, um período tranquilo e positivo
para o bebê e também para a família. O enfermeiro mostra-se um grande agente nesse
meio, sendo necessário o apoio e ter uma visão integral não apenas dos procedimentos
realizados, mas percebendo a real importância do cuidado com esse bebê e o impacto
que essa atenção e assistência humanizada terá para o seu desenvolvimento (NENÉ;
MARQUES; BATISTA, 2016).
57
A promoção do envolvimento dos pais, ainda em sala de parto, logo após o
nascimento, é essencial e, por isso, a flexibilização de alguns cuidados, realizados
pelo enfermeiro, pode ser importante nesse momento especial da primeira hora após
nascimento. Nené, Marques e Batista (2016) ainda explicam que permitir que essa
família olhe, cheire e ouça o bebê, e realize o contato pele a pele com a mãe, motivando
a presença do pai, promove uma boa relação futura entre essa família.
INTERESSANTE
Caro acadêmico, saiba que o tipo de assistência, já em sala
de parto, do profissional enfermeiro ao recém-nascido, pode
interferir, de forma positiva ou negativa, na criação de vínculo
com a família, principalmente com a mãe. Por isso, é necessário
prestar cuidados baseados em evidências científicas e que
tragam benefícios, tranquilidade e segurança para a adaptação
extrauterina desse bebê.
Para uma boa atuação nesse meio, o enfermeiro deve, primeiramente, validar
algumas informações sobre a gestação:
58
Um dos passos mais simples e também importantes, nesse período, é a anotação
da hora de nascimento e a identificação do recém-nascido com os dados importantes,
como data, hora do nascimento, nome da mãe e sexo do recém-nascido, o que irá
depender dos protocolos de cada instituição.
Sobre o contato pele a pele, é importante ressaltar que a OMS (WHO, 2018, p.
163) traz como recomendação que “Recém-nascidos sem complicações devem ser
mantidos em contato pele a pele (SSC) com suas mães durante a primeira hora após o
nascimento para prevenir a hipotermia e promover a amamentação”.
Além disso, de acordo com as evidências mostradas pela OMS (WHO, 2012), nas
recomendações para a gestão de condições comuns da infância, além do benefício
para a amamentação, o contato pele a pele entre recém-nascido e mãe está associado
a um aumento na sobrevida dos recém-nascidos, compactuando com a diminuição da
mortalidade neonatal.
59
Ainda relacionando as boas práticas do nascimento com as rotinas do centro
obstétrico, o clampeamento do cordão umbilical também é um momento significativo
para o bebê, além de ser especial quando o enfermeiro envolve o acompanhante nesse
momento, como, na realização do corte do cordão, ao ofertar ao pai que realize o corte, se
criança estiver estável após o nascimento.
IMPORTANTE
Acadêmico, saiba que vários estudos apontam o benefício do clam-
peamento em tempo oportuno do cordão umbilical, não devendo
ser realizado o clampeamento imediato após o nascimento, se
recém-nascido em bom estado geral.
60
ATENÇÃO
São pontos avaliados na Escala de Apgar: frequência cardíaca, respiração,
tônus muscular, cor e a irritabilidade reflexa.
61
Quadro 1 – Cuidados imediatos ao recém-nascido
Coletar informação.
Utilizar luvas de proteção para cuidar do recém-nascido.
Verificar a hora exata do nascimento.
Receber o recém-nascido em um campo, previamente aquecido, de preferência que seja
macio.
Proceder ao clampeamento definitivo do cordão umbilical, conforme recomendações.
Se a condição geral do recém-nascido não permitir, o clampeamento deve ser imediato.
Cortar o cordão com tesoura esterilizada.
Posicionar o recém-nascido no colo da mãe.
Secar o recém-nascido com movimentos suaves, com estimulação tátil, tendo o cuidado de
manter a cabeça coberta.
Dar banho com água corrente apenas em situações de suspeita ou confirmação de infecção
materna, conforme protocolo hospitalar.
62
Alguns cuidados específicos citado acima, ainda não expomos nos nossos
estudos, como a administração da vitamina K, 1 mg, intramuscular no recém-nascido,
ela serva para prevenção do sangramento por deficiência de vitamina K, é uma profilaxia
da doença hemorrágica do recém-nascido, e é recomendado pela OMS (2018), com
fortes evidências científicas mostrando o seu benefício quando realizada em sala de
partos, ainda há a possibilidade da aplicação enquanto o bebê segue no colo materno e
durante a amamentação, evitando maiores incômodos e traumas.
O Ministério da Saúde (BRASIL, 2014) frisa que o exame físico deverá ser
realizado após algumas horas, de preferência, antes de o recém-nascido completar 12
horas de vida e reforça a presença dos pais nesse momento, assim como a relação entre o
profissional da saúde e a família, para informar e esclarecer as dúvidas dos pais. “Como
regra, o RN como um todo ou em seus segmentos corporais admite um exame que vai do
externo para o interno e no sentido crânio-caudal. Inspeção, palpação e ausculta devem
ser aplicados nos diversos segmentos examinados” (BRASIL, 2014, p. 58).
63
INTERESSANTE
Acadêmico, saiba perceber as oportunidades, ao examinar o
recém-nascido, como a facilidade da verificação de sinais vitais
quando o recém-nascido está dormindo; por isso, é preciso ser
flexível nesse momento e aproveitar as oportunidades à medida
que elas surgem.
IMPORTANTE
Em geral, o recém-nascido apresenta uma atividade ativa, e choro
forte e variável é sinal positivo; a postura, normalmente, é simétrica
e fletida, igual à fetal. É importante estar atento a malformações,
sinais de angústia respiratória, assimetria postural, fraturas,
infecções, gemência e choro agudo.
64
O Ministério da Saúde (BRASIL, 2014) relata que alguns achados são comuns
na pele, como presença de milium, lanugo, vérnix e mancha mongólica, que não têm
repercussão clínica, devendo ser explicada a fisiologia da apresentação desses achados
aos familiares. O milium corresponde a pequenos pontos brancos, localizados na base
do nariz, no queixo e na fronte, isto é, pois acontece a obstrução de algumas glândulas
sebáceas, sem a necessidade de intervenções, pois desaparecem após semanas.
IMPORTANTE
A presença de icterícia no recém-nascido deve ser avaliada,
caracterizada pela pele amarelada, que decorre da impregnação
por bilirrubina. É comum observar a icterícia fisiológica entre 48 e
120 horas após o nascimento. Quando observada nas primeiras
24 horas, é necessário investigar, pois pode ficar intensa e ser
classificada como patológica.
65
Outra atenção, durante o exame físico, é o crânio, devendo-se observar e palpar as
fontanelas, para perceber abaulamentos que sugerem aumento da pressão intracraniana,
situação presente em casos de meningite, hidrocefalia, edema cerebral ou hemorragia
intracraniana, conforme as explicações do Ministério da Saúde (BRASIL, 2014). Há também
a presença ou não da bossa, que é um edema nas partes moles do crânio, decorrente
do parto e que é depressível e regride nos primeiros dias após o parto. Ainda no crânio, o
perímetro é importante em recém-nascido a termo e varia entre 33 e 37 cm.
ATENÇÃO
A inspeção do coto umbilical deve ser realizada nesse momento,
que, inicialmente, tem aspecto gelatinoso e se mumifica após o 4º
dia de vida, aproximadamente, caindo até o 15º dia de vida. Deve-
se observar a presença de secreções na base do coto e eritema da
pele ao redor da implantação, que são sinais de alerta. A presença
de duas artérias e uma veia também deve ser observada.
• Reflexo de sucção: manifesta-se quando os lábios da criança são tocados por alguma
coisa e, então, ocorre movimentos de sucção dos lábios e da língua do recém-
nascido.
• Reflexo de preensão: é a preensão palmoplantar, em que é realizada uma pressão na
palma da mão e abaixo dos dedos dos pés.
• Reflexo de marcha: onde se apoia a região plantar, segurando-se a criança pelas
axilas em pé, observando o movimento de extensão das pernas e também marcha
reflexa.
• Reflexo cutâneo-plantar: quando se faz o estímulo na planta do pé, a partir do
calcâneo até nos artelhos, e, então os dedos do recém-nascido fazem postura de
extensão.
66
• Reflexo de Moro: um dos reflexos mais importantes, pois a sua ausência pode indicar
lesões nervosas, musculares e ósseas. A partir de um estímulo brusco, como bater
palmas ou esticar bruscamente o lençol que o recém-nascido está deitado ou soltar os
braços semiesticados; a partir desse estímulo, é percebida uma resposta de extensão-
abdução dos membros superiores, em que os braços ficam estendidos e abertos, junto
aos dedos das mãos, e, após isso, ocorre um retorno dos braços à posição original.
• Reflexo de voracidade: é o reflexo de procura, geralmente, quando algo chega perto
da boca ou ao lado do recém-nascido, este procura para o mesmo sentido.
• Reflexo de fuga à asfixia: é avaliado com o recém-nascido em decúbito ventral no
leito, com a face voltada para o colchão; durante esses segundos, o recém-nascido
deve virar o rosto, liberando o nariz para respirar.
Há muitos outros reflexos, mas que são menos frequentes durante o exame físico
do recém-nascido, como o reflexo de Magnus e de Kleijn, o reflexo dos olhos de boneca,
o reflexo de Babkin e os reflexos tendinosos e patelares.
ATENÇÃO
Caro acadêmico, o registro no prontuário eletrônico ou manual
deve ser realizado, bem como o registro na caderneta da criança,
de forma adequada, contendo todas as medidas antropométricas,
peso, cuidados iniciais, hora e data do nascimento, nota Apgar,
realizados pelos profissionais presentes no parto, nos cuidados
iniciais e nos reflexos presentes.
3 REANIMAÇÃO NEONATAL
Acadêmico, você sabia que são os primeiros minutos que decidem a vida de
um recém-nascido? É um momento determinante para a avaliação imediata após o
nascimento, sendo essencial a observação para antecipar a necessidade de uma
reanimação neonatal – por isso, a importância da capacitação de toda a equipe. Nesse
contexto, o enfermeiro tem grande responsabilidade para o sucesso da reanimação do
bebê, reduzindo, assim, as taxas de mortalidade neonatal relacionadas a esses tipos de
eventos em sala de parto.
67
INTERESSANTE
“Ao nascimento, cerca de 2 RN [recém-nascidos] em cada 10 não
choram ou não respiram; 1 RN em cada 10 precisa de ventilação com
pressão positiva; 1-2 em cada 100 requerem intubação traqueal; e
1-3 RN em cada 1.000 necessitam de reanimação avançada, ou seja,
ventilação acompanhada de massagem cardíaca e/ou medicações
[...]” (ALMEIDA; GUINSBURG, 2022, p. 5).
DICA
Acadêmico, o documento da SBP é disponibilizado em meio
eletrônico e vale a pena realizar a sua leitura, visto a importância
de sempre estarmos atualizados em nossas práticas assistenciais
em sala de parto. Acesse: http://twixar.me/2gQm.
IMPORTANTE
Você sabe quantos profissionais são necessários para o suporte de
reanimação do recém-nascido em sala de parto? Segundo a SBP
(ALMEIDA; GUINSBURG, 2022), pelo menos dois ou três profissionais
capacitados e aptos a reanimar o recém-nascido, de forma ágil e
adequada, com um médico presente, de preferência pediatra, para
a realização da intubação orotraqueal, e também para indicar a
massagem e as medicações específicas.
68
Em todo parto de baixo risco, deve-se ter um profissional responsável pelo recém-
nascido, para avaliação inicial e que também esteja capacitado para reanimação imediata,
caso seja necessária. A SBP indica sempre a presença de um pediatra na sala de parto, em
todos os nascimentos, garantindo, assim, a qualidade da assistência ao recém-nascido.
Nené, Marques e Batista (2016) afirmam que existem alguns fatores, observados já no
pré-natal da mãe e também durante o parto, que podem conduzir a necessidade de uma
reanimação do recém-nascido, como pode ser observado no Quadro 2.
69
Quadro 3 – Materiais para reanimação do recém-nascido
70
Geralmente, os cuidados básicos prestados a todos os recém-nascidos em
sala de parto, segundo Nené, Marques e Batista (2016), já são suficientes para que não
haja complicações e uma possível reanimação: manter o bebê seco e aquecido, ou
pele a pele com a mãe com campo aquecido sobre eles, ou sob fonte de calor, deixar
a cabeça posicionada de forma que as vias áreas permaneçam abertas e limpar com
pano ou aspirar se caso for necessária a via área superior. Para a SBP, “A aspiração
de vias aéreas não deve ser realizada de rotina e, sim, reservada somente ao recém-
nascido com excesso de secreções nas vias áreas” (ALMEIDA; GUINSBURG, 2022, p. 8).
Esses cuidados já bastam, na maioria das vezes, para manter o recém-nascido saudável
durante seus primeiros minutos de vida.
ATENÇÃO
A fonte de calor é de extrema importância para o recém-nascido,
que necessita de estabilização, porém é necessário cuidado para
evitar hipertermia, uma temperatura maior que 37,5 °C, que pode
agravar a situação do bebê, em vez de melhorar.
71
pele a pele, e a assistência deve ser realizada quando o recém-nascido apresentar “apneia,
respiração irregular e/ou frequência cardíaca < 100 bpm, é fundamental iniciar a VPP
[ventilação com pressão positiva] com máscara facial e ar ambiente nos primeiros 60
segundos de vida” (ALMEIDA; GUINSBURG, 2022, p. 9).
IMPORTANTE
A frequência cardíaca define as manobras de reanimação e, por
isso, deve ser feita de forma rápida e confiável na sala de parto. A
palpação do cordão umbilical é um meio de avaliar a frequência
cardíaca, assim como a verificação do pulso pelo oxímetro, a
ausculta com estetoscópio ou a monitoração da atividade elétrica.
Entretanto, de todas essas opções, a SBP recomenda ser mais
fidedigno o uso do monitor cardíaco.
Futuro enfermeiro, considera-se adequada uma frequência
cardíaca maior ou igual a 100 bpm, visto que a bradicardia é definida
quando menor que 100 bpm.
72
ATENÇÃO
Acadêmico, se o bebê, após esses passos iniciais de estabilização,
mostrar frequência cardíaca menor que 100 bpm e respiração
irregular ou ausente, é necessário iniciar a ventilação com
pressão positiva (VPP). A monitoração cardíaca e a saturação são
sinais importante que devem ser avaliados nesse momento. Os
primeiros 60 segundos são conhecidos como “o minuto de ouro”.
73
A SBP expõe que a compressa cardíaca deve ser feita no terço inferior do esterno
do recém-nascido e pode-se utilizar os dois polegares ou dois dedos, sendo a dos dois
polegares mais eficiente, lembrando que o local é abaixo da linha intermamilar, e o
restante da mão circunda o tórax, conforme mostra a Figura 14 (ALMEIDA; GUINSBURG,
2022). A profundidade da compressão é de 1/3 da dimensão do tórax e, nesse sentido, a
ventilação e a massagem cardíaca são realizadas em sincronia, em uma relação de 3:1,
isto é, três movimentos de compressão cardíaca para um movimento de ventilação,
totalizando 120 eventos por minuto. Deve-se aplicar isso por 1 minuto e reavaliar a
frequência cardíaca; continuar se frequência cardíaca menor que 60 bpm e se, após
a continuação das correções, o recém-nascido mantiver frequência cardíaca menor
que 60 bpm, entra-se com a administração de adrenalina e, após isso, considera-se a
realização do cateterismo venoso umbilical de urgência.
74
“Quando não há reversão da bradicardia com a adrenalina endovenosa, assegurar
que a VPP e a massagem cardíaca estão adequadas, repetir a administração de
adrenalina a cada 3-5 minutos por via endovenosa e considerar o uso do expansor de
volume” (ALMEIDA; GUINSBURG, 2022, p. 24).
GIO
Acadêmico, a reavaliação em cada minuto é fundamental para
perceber a próxima etapa da reanimação, saber o passo a passo
e se capacitar para tal situação, garantindo uma qualidade na
assistência ao recém-nascido.
75
As equipes que trabalham em salas de parto devem ter capacitação e formações
continuadas sobre a reanimação do recém-nascido, visto a importância de uma equipe
bem treinada para evitar desfechos infelizes nesse momento. A familiarização com o
fluxograma, com as técnicas e com as medicações favorece a agilidade no momento
da emergência; o enfermeiro deve manter-se sempre atualizado, já que é uma de
suas competências fundamentais na sala de parto, além apoiar o desenvolvimento de
projetos e programas de atualização sobre esse assunto.
IMPORTANTE
Caro acadêmico, além da parte assistencial de uma reanimação
em sala de parto, é necessária a realização de registros e
anotações adequadas no sistema e no prontuário do paciente.
76
LEITURA
COMPLEMENTAR
FATORES ASSOCIADOS À REALIZAÇÃO DE EPISIOTOMIA
INTRODUÇÃO
77
Sabe-se que a episiotomia pode ampliar a extensão das lacerações perineais,
além de aumentar o risco de infecção para a mulher, hemorragia, disfunção do assoalho
pélvico, dispareunia, fístulas retovaginais, hematomas, dentre outras. Tais complicações
têm impactos negativos na qualidade de vida da parturiente e na relação materno-
fetal, além de relacionar-se com maiores gastos no sistema de saúde, o que aumenta o
tempo de permanência hospitalar.
DISCUSSÃO
Neste estudo, entre as mulheres que realizaram episiotomia, 40,79% não sabiam
que haviam sido submetidas a ela. Estudo recente mostrou que a maioria das mulheres
são submetidas à cesariana, episiotomia, indução do parto e exames vaginais sem o seu
consentimento. Esses resultados apontam que as intervenções desnecessárias durante
o trabalho de parto violam os direitos das mulheres e a sua autonomia no processo
de parir. Muitas vezes, determinadas condutas são decorrentes da impaciência em
aguardar o nascimento de forma fisiológica, desrespeitando a autonomia das mulheres
no processo de parturição. Além disso, a realização da episiotomia infringe os direitos
sexuais e reprodutivos das mulheres, pelo fato de submeter um corpo saudável a um
dano, sem se ter benefício estabelecido por evidência científica.
78
A realização de episiotomia pode aumentar a chance de hemorragias, infecção
e deiscência da ferida, formação de hematoma, dor perineal, rompimento estendido
no esfíncter anal e reto. Há, também, possíveis complicações no longo prazo, como:
dispareunia, disfunção anorretal e disfunção sexual. Ressalta-se que o uso de
boas práticas durante o trabalho de parto, recomendadas pela OMS, pode reduzir a
probabilidade de intervenções desnecessárias e ter efeitos positivos na experiência de
parto dessas mulheres.
79
posições durante o parto e maior probabilidade de se movimentarem, o que reduz a
chance de serem submetidas à episiotomia. Esse fato pode estar relacionado às ações
e incentivos realizados pelo Ministério da Saúde para a promoção do parto humanizado
e vaginal, por meio da divulgação de manuais, portarias, adaptação do ambiente e
qualificação dos profissionais envolvidos com o parto e nascimento.
Limitações do estudo
80
CONCLUSÃO
Fonte: adaptada de AGUIAR, B. M. et al. Fatores associados à realização de episiotomia. Rev Bras Enferm., v.
73, Suppl 4, e20190899, 2020. Disponível em: http://twixar.me/LwQm. Acesso em: 19 jul. 2022.
81
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu:
82
AUTOATIVIDADE
1 Na atuação direta do enfermeiro com recém-nascido na sala de parto, para realizar
as condutas de forma adequada e segura, é necessário o conhecimento antecipado
de algumas informações. Diante disso, assinale a alternativa INCORRETA:
83
3 Quando os cuidados básicos ao recém-nascido não o estabilizaram, provavelmente,
será necessário outro método de estabilização e/ou reanimação. Se o bebê tiver
nascido acima de 34 semanas, não demonstrar o choro ou movimentos respiratórios
regulares, não tiver tônus muscular e, em geral, não apresentar uma boa vitalidade,
deve ser conduzido para a sala de reanimação, para iniciar a estabilização desse
recém-nascido. De acordo com o fluxograma de reanimação neonatal do recém-
nascido maior que 34 semanas, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para
as falsas:
84
REFERÊNCIAS
AGUIAR, B. M. et al. Fatores associados à realização de episiotomia. Revista
Brasileira de Enfermagem REBEn, Minas Gerais, v. 73, n. 4, p. 1-6, 2020. Disponível
em: http://twixar.me/LwQm. Acesso em: 19 set. 2022.
85
BRASIL. Principais Questões sobre Atuação da Enfermagem Obstétrica na Equipe
Multidisciplinar. Portal de Boas Práticas em Saúde da Mulher, da Criança e do
Adolescente, fev. 2020. Disponível em: https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/
atencao-mulher/principais-questoes-sobre-atuacao-da-enfermagem-obstetrica-na-
equipe-multidisciplinar/. Acesso em: 19 set. 2022.
86
LEAL, M. do C. et al. Avanços na assistência ao parto no Brasil: resultados preliminares
de dois estudos avaliativos. Cad. Saúde Pública, v. 35, n. 7, e00223018. Disponível
em: https://doi.org/10.1590/0102-311X00223018. Acesso em: 16 set. 2022.
NARCHI, N. Z. et al. Utilização da “linha púrpura” como método clínico auxiliar para
avaliação da fase ativa do trabalho de parto. Revista Brasileira de Saúde Materno
Infantil, Recife, v. 11, n. 3, p. 313-322, 2011. Disponível em: https://www.scielo.br/j/
rbsmi/a/csCgj7XmPSJpVC3Zmfcw4rd/?lang=pt. Acesso em: 16 set. 2022.
87
SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA – SBP. Profilaxia da oftalmia neonatal
por transmissão vertical. Documento Científico: Departamento Científico de
Neonatologia (2019-2021). 2020. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/
user_upload/22851d-DC-Profilaxia_da_Oftalmia_Neonatal_TransmVert.pdf. Acesso
em: 20 jul. 2022.
ZUGAIB, M.; FRANCISCO, R. Zugaib Obstetrícia. 3. ed. São Paulo: Manole, 2016.
88
UNIDADE 2 —
ASSISTÊNCIA DE
ENFERMAGEM NOS
PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS
APLICADOS EM URGÊNCIAS E
EMERGÊNCIAS OBSTÉTRICAS E
GINECOLÓGICAS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – ABORTAMENTO
TÓPICO 2 – GRAVIDEZ ECTÓPICA
TÓPICO 3 – HEMORRAGIAS ANTEPARTO
TÓPICO 4 – EMERGÊNCIAS DE PARTO
TÓPICO 5 – HEMORRAGIA PÓS-PARTO
TÓPICO 6 – CESARIANA
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
89
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!
Acesse o
QR Code abaixo:
90
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
ABORTAMENTO
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, abordaremos os aspectos clínicos do abortamento, dividindo em
formas clínicas cada tipo de abortamento existente até o momento, bem como os aspectos
da humanização no abortamento, a fim de poder especificar como o profissional deve
conduzir, acolher e orientar a assistência a mulher em abortamento.
91
2 TIPOS DE ABORTOS
Muitas mulheres não sabem que estão grávidas quando, por acaso, ocorre
um sangramento no primeiro trimestre com cólicas e, nesses casos, Almeida e Reis
(2021) explicam que o abortamento é classificado como subclínico; porém, quando já
é conhecida e diagnosticada a gestação e, após isso, ocorre um abortamento, este é
classificado como clínico.
92
As sinéquias intrauterinas, conhecidas como aderências uterinas, que ocorrem
após a curetagem de abortos infectados, podem interferir no processo de implantação
ovular, segundo Zugaib e Francisco (2020), e, assim, levar a um abortamento. Outra
malformação uterina é o defeito da fusão dos ductos de Müller, como útero unicorno,
didelfo, septado, bicorno e arqueado, que pode causar o “abortamento habitual (tardio),
restrição de crescimento fetal, prematuridade, apresentações anômalas e hemorragia
pós-parto” (ZUGAIB; FRANCISCO, 2020, p. 573).
IMPORTANTE
Caro acadêmico, quanto às formas clínicas de abortamento espontâneo, temos as
seguintes:
• ameaça de abortamento;
• abortamento em curso/inevitável:
◦ completo;
◦ incompleto;
• aborto retido;
• aborto infectado ou séptico;
• aborto habitual ou recorrente.
93
• abortamento em curso/inevitável: Zugaib e Francisco (2020) explicam que o aborta-
mento em curso apresenta formas clínicas, como sangramento moderado a intenso
com dor abdominal, muitas vezes, intensa. A mulher pode apresentar anemia, taquicardia
e hipotensão arterial grave, associado à perda de sangue em grande quantidade. Esse
tipo clínico de abortamento resulta no abortamento completo ou incompleto.
◦ Abortamento completo: conforme o Ministério da Saúde (2011), geralmente, ocorre
até 8 semanas de gestação, e, como o nome já diz, o aborto foi completo, com
a expulsão espontânea total do produto, quando a mulher já não apresenta mais
dores ou sangramento intenso, e o seu útero já se encontra contraído e menor que
a idade gestacional, ao toque abdominal, e o colo uterino, quando observado pelo
espéculo, pode estar ainda aberto, porém fecha-se em poucas horas da expulsão do
produto. No exame de ultrassom, a cavidade uterina está vazia ou com coágulos.
◦ Abortamento incompleto: a mulher não expeliu completamente o feto e, por
isso, está diante de um aborto incompleto, em que os sinais são sangramento e
dores abdominais intensas, sendo diferente da ameaça de abortamento devido à
intensidade do sangramento e a dosagem da fração beta do hormônio gonadotrófico
coriônico (beta-hCG), que, nesse caso, apresenta declínio, de acordo com Almeida e
Reis (2021). Há, ainda, a dilatação cervical e o volume do útero é menor que o esperado
para a idade gestacional, com o exame de ultrassom mostrando descolamento
decidual, saco gestacional irregular e ausência de batimentos cardíacos.
• Abortamento retido: pode ocorrer sem nenhum sinal de ameaça, segundo o Ministério
da Saúde (2011), e segue com a regressão de sinais e sintomas da gravidez, com
colo uterino fechado, sem presença de sangramento vaginal, na maioria dos casos,
porém pode ocorrer como na ameaça de aborto em pequena quantidade e sem
dor abdominal. “O exame de ultrassom revela ausência de sinais de vitalidade ou a
presença de saco gestacional sem embrião (ovo anembrionado)” (BRASIL, 2011, p. 31).
• Abortamento infectado ou séptico: “Com muita frequência está associado a
manipulações da cavidade uterina pelo uso de técnicas inadequadas e inseguras.
Estas infecções são polimicrobianas e provocadas, geralmente, por bactérias da
flora vaginal” (BRASIL, 2011, p. 31). “Principalmente em países em que a lei proíbe a
interrupção da gestação, sendo sua prática realizada em condições inadequadas.
Cerca de 13% das mortes maternas que ocorrem no mundo são decorrentes do
abortamento induzido de forma clandestina” (ZUGAIB; FRANCISCO, 2020, p. 579). Para
o Ministério da Saúde (2011), os sinais e os sintomas mais comuns do abortamento
infectado são: febre, sangramento vaginal com odor fétido acompanhado de secreção
purulenta e dor abdominal. Ainda, segundo Almeida e Reis (2011), pode ser classificado
em três tipos, conforme o grau da infecção: o tipo I é limitado à cavidade uterina,
o tipo II abrange o peritônio pélvico e os órgãos anexos, e, no tipo III, a infecção é
generalizada, muitas vezes levando a choque séptico.
• Abortamento habitual ou recorrente: “Caracteriza-se pela perda espontânea e
consecutiva de três ou mais gestações antes da 22ª semana. É primário quando
a mulher jamais conseguiu levar a termo qualquer gestação, e secundário quando
houve uma gravidez a termo” (BRASIL, 2005, p. 24), podendo ter várias causas,
conforme descrito anteriormente.
94
Para melhor fixação dos tipos de abortamentos, a Tabela 1 apresenta as formas
clínicas, os sinais e os sintomas, assim como os aspectos do ultrassom, conforme
Zugaib e Francisco (2020).
3 TRATAMENTOS
Caro acadêmico, o tratamento dependerá do tipo de abortamento, visto que
a conduta é diferenciada, de acordo com os aspectos clínicos e ultrassonográficos,
podendo ser conduta expectante, tratamento medicamentoso ou tratamento cirúrgico,
conforme descrito a seguir:
95
têm mostrado, hoje, que a conduta expectante tem sido uma opção mais saudável
para a mulher, visto que há a eliminação completa do produto após o 3º dia (média)
em 79% dos casos; em outro estudo, foi verificada uma taxa de sucesso de 83% após
7 dias de conduta expectante, tendo 3% das mulheres complicações relacionadas a
infecções e 5% apresentando necessidade de cirurgia de emergência. Já no aborto
retido, a conduta expectante não é a melhor opção, segundo os estudos atuais, visto
que a taxa de sucesso é pequena e os níveis de complicações maiores. Esse tipo de
tratamento deve ser sempre discutido entre a mulher e o profissional.
• Tratamento medicamentoso: Zugaib e Francisco (2020) explicam que se torna uma
alternativa para mulheres que não desejam passar por procedimentos cirúrgicos para o
tratamento de abortamento.
◦ Misoprostol: tem efeito na contratilidade uterina e no amolecimento do colo uterino,
utilizado, muitas vezes, pré-curetagem, ou, em casos de óbito fetal, na indução de
parto e hemorragia pós-parto também. Utilizado em abortamento precoces com
alto grau de satisfação, efetivo e seguro, sendo preconizada a administração de
800 µg via vaginal a cada 24 horas, por até 2 dias.
• Tratamento cirúrgico:
◦ A curetagem uterina é o tratamento mais conhecido para abortamentos, segundo
Zugaib e Francisco (2020), tanto para o primeiro quanto para o segundo trimestre
da gestação. Indicada em casos de sangramento moderado a intenso, presença
de infecção e também no caso das mulheres que não querem esperar, de
forma espontânea/medicamentosa, a eliminação do produto. Há riscos como
em qualquer procedimento cirúrgico, sendo eles infeção, esvaziamento uterino
incompleto, laceração cervical, perfuração uterina, lesão de órgãos pélvicos e
hemorragias.
◦ Zugaib e Francisco (2020) também expõem a aspiração elétrica a vácuo e manual
em casos de abortamento no primeiro trimestre. Sendo um método de baixo
custo, constata-se diminuição de tempo de procedimento e da necessidade de
internação hospitalar, quando comparado à curetagem, além de alguns estudos
terem mostrado que a diminuição de hemoglobina, após o procedimento, é maior
no caso de curetagem uterina.
◦ Para evitar mais casos de abortamentos habituais/recorrentes, geralmente
causados por incompetência cervical, a realização da cerclagem do colo uterino
é recomendada em uma nova gestação, prevenindo a abertura prematura do
colo uterino, por meio de uma sutura circular no orifício cervical (Figura 1). Deve
ser realizada entre 12 e 14 semanas de gestação, segundo o Manual de atenção
humanizada ao abortamento (BRASIL, 2010 apud ALMEIDA; REIS, 2021). A remoção
da sutura deve ser feita com 37 semanas de gestação, para dar seguimento ao
parto vaginal.
96
Figura 1 – Cerclagem cervical
DICA
Acesse o manual de Atenção técnica para prevenção, avaliação e conduta
nos casos de abortamento, do Ministério da Saúde (BRASIL, 2022a), é
direcionado aos profissionais de saúde, aos serviços de saúde e aos
gestores públicos, pois apresenta as normas técnicas para atendimento
às mulheres em relação ao aborto: http://twixar.me/5wQm.
97
• Encaminhe a paciente ao banho e ofereça troca de roupa, se ela
desejar.
• Promova um acolhimento humanizado, permitindo que a mulher
expresse suas preocupações, medos e angústias.
• Ouça de modo a compreender os diversos significados do aborto
para a mulher e sua família.
• Reduza os estímulos ambientais perturbadores e mantenha a
paciente em repouso no leito.
• Explique a conduta de acordo com o tipo de aborto e internação.
• Oriente e prepare a mulher para o exame físico e ginecológico.
• Analise o volume, a coloração e o odor do sangramento vaginal.
• Monitore os sinais vitais e balanço hídrico da paciente de acordo
com a gravidade da situação.
• Explique sobre os medicamentos prescritos, a sua indicação e o
tempo de tratamento.
• Administre o medicamento prescrito. Além disso, verifique a
tipagem sanguínea da mulher, para que seja administrada, nos
casos necessários, a imunoglobulina anti-Rh para sensibilização;
além disso, confirme a realização do teste sorológico para sífilis e
pesquisa de infecção por vírus da imunodeficiência humana (HIV).
• Institua e oriente os cuidados perineais.
• Oriente a mulher observar, após a alta hospitalar, sangramentos
que durem mais de 8 a 10 dias ou sangramentos excessivos de
coloração vermelho-vivo, assim como sinais de infecção. Aconselhe
também a abstinência sexual por 1 a 2 semanas após a alta
hospitalar.
• Encaminhe-a para o atendimento psicológico, se necessário, e
agende retorno ambulatorial com a(o) enfermeira(o) para fins de
acompanhamento, inclusive para seguimento do Planejamento
Reprodutivo (ALMEIDA; REIS, 2021, p. 133).
Caro acadêmico, lembre-se que acolher e orientar são cuidados essenciais para
a mulher em fase de abortamento, assim como tratar, de forma digna e respeitosa, e
realizar uma escuta ativa são ações que ajudam a mulher se sentir mais segura e confiar
no profissional, para passar por esse momento tendo um sentimento de acolhimento e
aceitação por parte daquele que lhe está proporcionando cuidados nesse período.
98
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
• A avaliação e a escuta das queixas das mulheres são de grande importância para
classificar o tipo de abortamento e o tratamento específico, junto à realização da
ultrassonografia.
99
AUTOATIVIDADE
1 O aborto é um produto da concepção eliminado no processo de abortamento. Sobre a
definição de abortamento, especificamente sobre a idade gestacional da perda e as
classificações quanto a sua cronologia, com base no Ministério da Saúde (BRASIL,
2022a), assinale a alternativa CORRETA:
Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Ações
Programáticas e Estratégicas. Atenção técnica para prevenção, avaliação e conduta nos casos de
abortamento. Brasília, 2022a. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/atencao_avalia-
cao_conduta_abortamento_2ed.pdf. Acesso em: 28 ago. 2022.
100
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.
4 Para cada tipo clínico de abortamento, há uma conduta de tratamento que deve ser
adequada, de acordo com o desejo da mulher, junto à orientação e ao aconselhamento
médico e da equipe profissional envolvida no abortamento. Acerca dos tratamentos
para abortamentos, disserte sobre os tipos que existem e a eficácia deles para
determinado tipo clínico de abortamento.
101
102
UNIDADE 2 TÓPICO 2 —
GRAVIDEZ ECTÓPICA
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, abordaremos acerca da gravidez ectópica, complicação e emergência
na gestação considerada a principal causa de mortalidade materna no primeiro trimestre da
gravidez e que é uma questão de saúde pública em países desenvolvidos. Atualmente,
pode ser diagnosticada de maneira mais rápida, facilitando a conduta e o tratamento.
Entretanto, mesmo assim, o aumento da prevalência de gravidez ectópica é alto, devido,
também, à prevalência dos fatores de risco, conforme veremos no decorrer deste tópico.
2 ETIOLOGIA
“Define-se gravidez ectópica (GE) quando a implantação e o desenvolvimento do
blastocisto ocorrem fora da sede normal, ou seja, da grande cavidade corporal do útero,
como mostra a Figura 2. A localização mais frequente é a gravidez tubária (90% a 95%
dos casos)” (BRASIL, 2022b, p. 58). Para Zugaib e Francisco (2020), “a gravidez ectópica
geralmente se encontra associada a fatores de risco que causam lesão tubária ou alteração
no transporte ovular” (ZUGAIB; FRANCISCO, 2020, p. 588). Outros exemplos são (ZUGAIB;
FRANCISCO, 2020):
103
• Uso de dispositivo intrauterino (DIU): há a chance de usuárias de DIU terem maiores
risco, se o método falhar, de ocorrer uma gravidez ectópica, ainda que não esteja
firmada a exata causa, porém dados mostram que, na falha do DIU, o risco de gravidez
ectópica é de 1:2 gestações para DIU hormonal e de 1:16 gestações para DIU de cobre,
enquanto é de 1:50 gestações para mulheres que não usam métodos de anticoncepção,
conforme Zugaib e Francisco (2020).
• Cirurgias tubárias prévias: pacientes submetidas a salpingostomia, reanastomose,
fimbrioplastia e lise de aderências têm maior incidência de gravidez ectópica.
• Antecedente de gravidez ectópica: mulheres que já tiveram gravidez ectópica anterior
têm risco aumentando de seis a oito vezes de ter uma nova gravidez ectópica.
• Reprodução assistida: uma gravidez recorrente de uma reprodução assistida
apresenta risco de evoluir para uma gravidez ectópica, devido ao aumento do volume
sanguíneo de estrógeno, que interfere no transporte tubário, ou seja, na motilidade
das tubas, facilitando essa retenção do ovo na tuba uterina.
• Anticoncepção de emergência: a pílula do dia seguinte, levonorgestrel, aumenta a
probabilidade de uma gravidez ectópica, pois este altera a motilidade da tuba.
• Estilo de vida da mulher: início precoce de atividade sexual, múltiplos parceiros sexuais
e, também, tabagismo.
IMPORTANTE
“Com o aprimoramento dos exames subsidiários, como as dosagens
da fração beta do hormônio gonadotrófico coriônico (beta-hCG) e a
ultrassonografia transvaginal (USTV), o diagnóstico é realizado com
maior precisão e em uma fase mais inicial” (BRASIL, 2022b, p. 59).
104
Caro acadêmico, o diagnóstico da gravidez ectópica se dá por meio de alguns
fatores importantes, então, quanto antes ocorrer esse diagnóstico, melhor para o desfecho
materno. A associação das manifestações clínicas, os sinais, os sintomas com a presença
de algum fator de risco, a realização do exame físico e de exames subsidiários, como
beta-hCG e a ultrassonografia transvaginal (USTV), auxiliam para um diagnóstico precoce e
uma conduta emergente.
105
Figura 3 – Diagnóstico da gravidez ectópica
3 TRATAMENTO
Quanto ao tratamento da gravidez ectópica, deve-se seguir as recomendações
do Ministério da Saúde (BRASIL, 2022b), que traz como opções: tratamento cirúrgico,
podendo ser conservador ou radical, com as opções de salpingectomia ou salpingostomia
por via laparotômica ou laparoscópica; e, também, o tratamento clínico, podendo ser
decidido pela conduta expectante ou pelo tratamento medicamentoso com metotrexato.
106
estabelecidos, conforme o Ministério da Saúde (BRASIL, 2022b, p. 62): “Estabilidade
hemodinâmica, diâmetro da massa anexial < 3,5 cm, beta-hCG inicial < 5.000 mUI/mL,
ausência de dor abdominal, desejo de gravidez futura e termo de consentimento assinado”.
ATENÇÃO
O parâmetro mais importante para iniciar o tratamento com MTX é o beta-hCG:
107
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
• Mulher, em idade fértil, com vida sexual ativa, apresentando dor abdominal, sangramento
vaginal e atraso/irregularidade menstrual, deve ser avaliada para possibilidade ou não de
gravidez ectópica.
108
AUTOATIVIDADE
1 Com base no Manual de gestação de alto risco, do Ministério da Saúde (BRASIL,
2022b), a gravidez ectópica ocorre quando a implantação e o desenvolvimento do
blastocisto ocorrem fora do útero. Sobre essa área do conhecimento da emergência
obstétrica, assinale a alternativa CORRETA:
Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Ações
Programáticas. Manual de gestação de alto risco. Versão preliminar. Brasília, 2022b. Disponível em:
http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/manual_gestacao_alto_risco.pdf. Acesso em: 28
ago. 2022.
109
3 O enfermeiro tem suas responsabilidades diante da mulher com gravidez ectópica,
desde a triagem no centro obstétrico até o cuidado durante o procedimento e na
recuperação hospitalar. De acordo as intervenções do enfermeiro com a mulher
internada devido à gravidez ectópica, classifique V para as sentenças verdadeiras e F
para as falsas:
4 Um adequado exame físico pode fazer a diferença na conduta a ser tomada com
a paciente. Os achados podem variar de acordo com o estado hemodinâmico da
paciente. É importante identificar sinais e sintomas de gravidez ectópica e situações
de choque hipovolêmico já no exame físico, realizado na triagem do centro obstétrico.
Diante disso, quais os principais achados, sinais e sintomas durante o exame físico
com suspeita de gravidez ectópica?
5 Quando se opta pela evolução natural da gravidez ectópica, ou seja, pela conduta
expectante, é necessário que essa gravidez se encaixe em algumas condições
para poder seguir com maior tranquilidade a conduta escolhida. Quais são essas
circunstâncias?
110
UNIDADE 2 TÓPICO 3 —
HEMORRAGIAS ANTEPARTO
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, abordaremos acerca das hemorragias que antecedem o parto,
definidas, por alguns autores, como hemorragias após a 20ª semana e, por outros, após
a 28ª semana de gestação. O Ministério da Saúde classifica a idade gestacional para
hemorragias anteparto como após as 20 semanas, sendo que elas não têm relação
nenhuma com o trabalho de parto e podem ser conhecidas também como síndromes
hemorrágicas da segunda metade da gestação.
Complicações como choque materno, hipóxia fetal e óbito fetal estão presentes
quando não realizadas as condutas corretas e ágeis. É necessário não confundir
alguns sinais e sintomas maternos com as alterações fisiológicas da gravidez, como
hipovolemia, hipotensão e taquicardia. Por isso, a importância de uma assistência
baseada em evidências científicas, atuação de equipe multiprofissional, avaliação
minuciosa em exame físico, queixas e sinais vitais, e também familiarização com os
protocolos da instituição nos casos de hemorragias anteparto.
2 PLACENTA PRÉVIA
A placenta prévia, também conhecida como inserção viciosa de placenta,
é quando a placenta se implanta de forma anormal no inferior do útero. Segundo o
Ministério da Saúde (BRASIL, 2022b), a placenta prévia é classificada a partir da 22ª
semana de gestação. “A prevalência geral de placenta prévia é de 5,2 por 1.000 gestações
e tem aumentado com a maior realização de operações cesarianas. Apresenta risco
elevado de morbidade, [...] sendo responsável por índices elevados de prematuridade e
mortalidade materna” (BRASIL, 2022b, p. 81). Dessa forma, é caracterizada como uma
emergência obstétrica.
111
Zugaib e Francisco (2020) classificam a placenta prévia como total ou parcial e,
também placenta de inserção baixa. Na Figura 4, podemos observar primeiro a placenta
normalmente inserida, depois a placenta de inserção baixa, seguida da placenta prévia
parcial e, por fim, a placenta prévia total.
• Placenta prévia total: caso em que a placenta recobre totalmente o orifício interno do
colo uterino.
• Placenta prévia parcial: quando a placenta cobre parcialmente o orifício interno do
colo uterino.
• Placenta de inserção baixa: a placenta está inserida no segmento inferior do útero,
porém não chega a cobrir nenhuma parte do orifício interno do colo uterino.
IMPORTANTE
O quadro clínico, de acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2022),
da placenta prévia é: sangramento vermelho vivo de início súbito, sem
presença de dor, ocorrendo, em sua grande maioria, no segundo
trimestre.
112
ATENÇÃO
O exame de toque vaginal não deve ser realizado em caso de suspeita
de placenta prévia, conforme Zugaib e Francisco (2020), pois há o
risco de causar hemorragia abundante.
113
No caso da conduta expectante, a gestante deve permanecer em repouso e
realizar avaliação quinzenal até chegar no termo da gestação. Já nos casos de conduta
ativa, a realização da cesárea é indicada, o parto por via vaginal pode ser considerado
quando placenta de inserção baixa, porém, com controle rigoroso do sangramento e do
batimento cardíaco fetal, conforme as recomendações do Ministério da Saúde (BRASIL,
2022b).
114
levando à separação quase completa ou completa desta (separação
total). Pelo fato de a placenta separada não ser capaz de manter sua
função de troca de gases e nutrientes, o feto torna-se progressiva-
mente comprometido à medida que esse processo evolui (ZUGAIB;
FRANCISCO, 2020, p. 789).
Entre os fatores de risco para DPP, de acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL,
2022b), estão: idade materna maior que 35 anos e menor que 20 anos, multiparidade,
síndromes hipertensivas, traumas, distúrbios no líquido amniótico, placenta prévia, cesárea
anterior, DPP anterior e pré-eclâmpsia anterior.
115
IMPORTANTE
Acadêmico, após o diagnóstico clínico do DPP, é necessária a avaliação das
condições da mãe e do feto, principalmente a estabilização hemodinâmica
em casos de hemorragia severa, pois essa emergência obstétrica pode
ter desfecho com parto via vaginal ou cesariana, dependendo da conduta
médica.
Quando o feto está vivo e estável, a cesariana de emergência entra como conduta
imediata, se o parto normal não for iminente, segundo Zugaib e Francisco (2020), sendo
a agilidade nesse processo essencial para garantir um desfecho favorável. No caso de
feto morto e as condições das mães estarem preservadas, estimula-se o parto normal,
mas, se as condições maternas estiverem ruins, se deve recorrer à cesárea.
116
O enfermeiro tem papel relevante na conduta do DPP e nas suas intervenções,
conforme expõem Almeida e Reis (2021):
4 VASA PRÉVIA
Essa condição ocorre quando os vasos sanguíneos fetais correm, através das
membranas ovulares, sem estarem cobertos pela geleia de Wharton ou tecido placentário,
além de estarem perto do orifício interno do colo uterino. De acordo com o Ministério
da Saúde (BRASIL, 2022b), há dois tipos: “são a inserção do cordão umbilical distante
da massa placentária (inserção velamentosa) e a presença de conexões vasculares em
casos de placenta bilobulada” (BRASIL, 2022b, p. 92).
117
A vasa prévia é uma condição rara, tendo incidência baixa de acordo com os
dados mostrados pelo Ministério da Saúde. Entretanto, é importante entender essa
condição, pois se trata de uma emergência obstétrica, uma vez que, se houver ruptura
das membranas ovulares no trabalho de parto, há o risco de ruptura dos vasos fetais,
ou seja, a ruptura da vasa prévia pode acarretar choque hemorrágico fetal rapidamente,
levando ao óbito fetal.
118
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
119
AUTOATIVIDADE
1 Com base no Manual de gestação de alto risco, do Ministério da Saúde (BRASIL,
2022b), a placenta prévia é definida como a placenta que se implanta total ou
parcialmente na parte inferior do útero, obstruindo ou não o orifício interno do colo
uterino, podendo ser classificada de três formas. Sobre as classificações de placenta
prévia, assinale a alternativa CORRETA:
Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Ações Pro-
gramáticas. Manual de gestação de alto risco. Versão preliminar. Brasília, 2022b. Disponível em:
http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/manual_gestacao_alto_risco.pdf. Acesso em: 28 ago.
2022.
I- A paciente M. P. com 40 anos de idade, G3P1C1, tem maior risco para descolamento
prematuro de placenta que a paciente R. S. de 29 anos de idade, G1.
II- A paciente I. S., 28 anos de idade, G1, sofreu uma queda, ou seja, um trauma durante
sua atual gestação. Já a paciente M. K., de 28 anos de idade, G1, sofre de hipertensão
arterial e é tabagista. Ambas têm risco para descolamento prematuro de placenta.
III- A paciente A. R., 25 anos de idade, G2P1, diagnosticada com diabetes melito
gestacional na atual gestação, controlada com dieta e exercício físico, tem risco
elevado para descolamento prematuro de placenta.
120
3 Segundo o Manual de gestação de alto risco, do Ministério da Saúde (BRASIL,
2022b, p. 92), “Denomina-se vasa previa a condição em que vasos sanguíneos fetais
não cobertos por tecido placentário ou geleia de Warthon transcorrem através das
membranas ovulares a uma distância ≤ 2 cm do orifício cervical interno”. De acordo
com essa emergência hemorrágica anteparto, analise as sentenças a seguir:
Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Ações
Programáticas. Manual de gestação de alto risco. Versão preliminar. Brasília, 2022b. Disponível em:
http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/manual_gestacao_alto_risco.pdf. Acesso em: 28 ago.
2022.
121
122
UNIDADE 2 TÓPICO 4 —
EMERGÊNCIAS DE PARTO
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, abordaremos as emergências de parto mais relevantes, na prática
obstétrica, dentro da sala cirúrgica do centro obstétrico, mesmo que raras, podem
ocorrer, sendo que tanto o enfermeiro como toda a equipe necessitam estar dispostos
para um preparo, organização e, por fim, uma resolução adequada da emergência de
parto. Entre os temas abordados, estão a rotura uterina, a inversão uterina, a distócia de
ombros e o prolapso de cordão umbilical.
2 ROTURA UTERINA
Para Nené, Marques e Batista (2016), a rotura uterina manifesta-se com dor
abdominal intensa, hemorragia irregular e sinais de choque. Durante a palpação abdominal,
percebe-se a presença de uma rotura ou, até mesmo, é possível palpar o feto sob a parede
abdominal. É um acontecimento excepcional, que pode resultar na morte fetal e materna
se não for tratado como emergência grave imediata.
123
“Trata-se da rotura completa ou incompleta da parede uterina, que ocorre
sobretudo além da 28ª semana gestacional e durante o trabalho de parto, precedida, em
sua maioria, por quadro clínico de iminência de rotura uterina, o que facilita sua prevenção”
(BRASIL, 2000, p. 58). Montenegro e Rezende (2014) explicam que a rotura uterina pode
ser classificada como corporal, segmentária ou segmento-corporal. A Figura 9 mostra,
respectivamente, exemplos de rotura completa segmentária, rotura completa corporal e
rotura incompleta com hematoma distendido nos ligamentos largos.
124
IMPORTANTE
Futuro enfermeiro, é importante perceber que, na iminência da rotura
uterina, a parturiente fica agitada, refere dor extrema abdominal, espe-
cificamente hipogástrica, além da presença de taquissistolia. Notam-se
o sinal de Bandl, que é o relevo do anel que separa o corpo uterino do
segmento inferior, e o sinal de Frommel, que é a palpação dos ligamentos
redondos desviados para a face ventral do útero.
NOTA
Acadêmico, no caso de rotura uterina consumada, os sinais e
sintomas são: dor súbita em região hipogástrica, ausência de
contração uterina, presença de hemorragia discreta ou profusa,
estado de choque, dependendo da hemorragia. Observa-se o útero
em formato de ampulheta, na palpação abdominal, e, em caso de
ruptura completa, pode-se perceber o feto na cavidade abdominal.
• Profilático: em casos que não houve ainda a ruptura uterina, ou seja, quando se
percebe o aumento da atividade uterina, administram-se tocolíticos para diminuir a
taquissistolia.
• Curativo: é realizada a terapêutica do choque imediata ao acidente. Pode ser feita a
lavagem abdominal, além do desembaraço desta cavidade.
• Histerectomia ou histerorrafia: depende das paredes uterinas lesadas e do estado da
paciente.
3 INVERSÃO UTERINA
A inversão uterina, segundo Nené, Marques e Batista (2016), é quando o corpo
do útero se inverte, ou seja, o útero sai pelo colo uterino, após o parto imediato, até o
interior da vagina ou mesmo na abertura da vagina. É pouco frequente, mas, quando
ocorre, pode causar hemorragia intensa e, consequentemente, choque hipovolêmico
materno.
125
ATENÇÃO
Infelizmente, tal emergência obstétrica pode ocorrer quando há muita
pressão sobre o fundo uterino no parto ou quando é puxado o cordão
umbilical, muitas vezes, com muita pressão, durante a dequitação da
placenta que ainda não se descolou.
“Pode ser parcial ou completa (esta é visível pela saída do útero invertido pela
fenda vulvar), acometendo mais multíparas e mulheres com acretismo placentário,
quando se tenta tracionar demais o cordão, associado à compressão fúndica” (BRASIL,
2000, p. 61).
• administração de uterolíticos;
• manobra de Taxe (Figura 10);
• terapêutica cirúrgica.
126
4 DISTÓCIA DE OMBROS
A distócia de ombros, ou a distócia de biacromial, se dá quando a apresentação fetal
é cefálica, logo após o desprendimento do polo cefálico, e os ombros não se desprendem.
Segundo Graça (2017, p. 585), “é uma emergência obstétrica rara e imprevisível, que pode
resultar em graves complicações para o recém-nascido e para parturiente”.
Para Zugaib e Francisco (2020), tem incidência inferior a 1% dos partos, porém
essa porcentagem aumenta para 6% quando o feto tem peso superior a 4 kg, geralmente
associado a uma intercorrência materna da gravidez, como pós-datismo, obesidade
materna, diabetes melito gestacional e desproporção entre pelve e feto que pode ter
menos que 4 kg. Essa emergência pode causar, ainda, alguns riscos maternos, como
lacerações do canal de parto, atonia uterina e rotura uterina, e riscos fetais, como lesões
do plexo braquial, fratura de clavícula e úmero, óbito fetal intraparto ou neonatal.
Graça (2017) explica que essa emergência é definida como uma dificuldade da
extração do feto no nível dos ombros, ou seja, o não desprendimento dos ombros da
pelve materna, geralmente, está associado a macrossomia fetal.
IMPORTANTE
Acadêmico, perceba que há medidas de prevenção da distócia de
ombros e, mesmo sendo um tipo de emergência imprevisível, algu-
mas medidas podem ser tomadas para diminuir esse risco, como:
o controle de peso da mãe durante o pré-natal, o rastreamento
correto do diabetes gestacional e, se diagnosticada, devem ser re-
alizados os cuidados necessários para o controle da glicemia e a
identificação de macrossomia fetal durante o pré-natal. A indução
de trabalho de parto antes da data provável do parto, caso o feto
tenha peso acima de 4 kg ou tenha percentil acima de 90, também
é uma medida de prevenção.
127
Zugaib e Francisco (2020) explicam, detalhadamente, as manobras necessárias
para resolução da distócia de ombros:
ATENÇÃO
Acadêmico, é de extrema importância, em caso de emergência obstétrica
por distócia de ombros, haver a devida familiarização da assistência e
conduta para a resolução dessa intercorrência.
128
Figura 11 – Manobras de McRoberts e Rubin
Figura 12 – ALEERTA
129
Entretanto, Amorim et al. (2013) explanam um novo protocolo, considerando os
benefícios para partos em posição não supina e iniciado com medidas menos invasivas,
o mneumônico “A SAIDA” (Figura 13): “A: chamar ajuda, avisar parturiente, aumentar
agachamento; S = pressão suprapúbica; A: alterar posição para quatro apoios (manobra
de Gaskin); I: manobras internas (Rubin II, Wood, parafuso invertido); D: desprender ombro
posterior; A: avaliar manobras de resgate” (AMORIM et al., 2013, p. 115). Os autores ainda
salientam que, realizando as três primeiras manobras, é sucesso em 90% dos casos.
Figura 13 – A SAIDA
5 PROLAPSO DE CORDÃO
“Chama-se procidência ou procúbito a presença do cordão antes da apresentação,
estando o saco amniótico íntegro; e prolapso se o cordão se apresentar após a amniorrexe”
(REZENDE, 2014, p. 862). O prolapso de cordão é uma emergência obstétrica de grande risco
fetal, que se caracteriza com a presença do cordão umbilical à frente da apresentação
fetal, ou pode ser um prolapso oculto, quando está ao lado da apresentação fetal,
porém ainda mais perto do orifício do colo uterino. Na Figura 14, podemos observar
exemplos de laterocidência do cordão (quando a bolsa das águas está íntegra e o cordão
ao lado da apresentação fetal), procidência do cordão (quando a bolsa das águas está
íntegra e o cordão abaixo da apresentação fetal) e prolapso do cordão (quando é bolsa
rota com presença do cordão à frente da apresentação fetal, exteriorizando para o canal
vaginal).
130
Figura 14 – Prolapso de cordão umbilical
Montenegro e Rezende Filho (2014) ainda explicam a sua etiologia, sendo mais
comuns em: multíparas, rotura prematura da bolsa das águas, placenta baixa, inserção
velamentosa do cordão, polidrâmnio, gestação gemelar, cordão umbilical longo e
prematuridade.
131
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu:
• O conhecimento, por parte de toda a equipe de parto, das manobras para resolução
da distócia de ombros é imprescindível para um desfecho positivo. A adoção
do mneumônico “A SAIDA” deve ser feita quando a paciente estiver em posição
verticalizada, enquanto, para o “ALEERTA”, em posição de decúbito dorsal.
132
AUTOATIVIDADE
1 A parturiente M. S., G2P1, com idade gestacional de 38 semanas, obesa e diagnosticada
com diabetes melito gestacional, no exame da curva glicêmica realizado com 26
semanas de gestação, segue o controle de glicemia com uso de insulina, conforme
prescrição médica. Internada no centro obstétrico em trabalho de parto ativo, logo
apresenta puxos; ao exame de toque, é constatada dilatação completa. Durante o
período expulsivo, a paciente encontra-se na banqueta de parto, observa-se a saída
do polo cefálico do bebê, porém os ombros não se soltam, sendo observado pelo
profissional que assiste ao parto o “sinal de tartaruga”. Sobre a situação descrita,
assinale a alternativa CORRETA:
133
III- Quando há rotura uterina, são sinais e sintomas: dor súbita em região hipogástrica,
ausência de contração uterina, presença de hemorragia discreta ou profusa,
estado de choque, dependendo da hemorragia; observa-se o útero em formato
de ampulheta, na palpação abdominal, e, em caso de ruptura completa, pode-se
perceber o feto na cavidade abdominal.
3 Uma inversão uterina é uma emergência de parto rara, na qual o corpo uterino vira
pelo avesso, ou seja, inverte-se, protraindo-se através do colo do útero até o interior
da vagina ou além da abertura vaginal. Geralmente, está associada à hemorragia
intensa; por isso, as condutas devem ser realizadas, após o diagnóstico, de maneira
adequada e imediata. De acordo com essa emergência de parto, classifique V para as
sentenças verdadeiras e F para as falsas:
( ) A inversão uterina pode ocorrer quando há muita pressão sobre o fundo uterino no
parto ou quando é puxado o cordão umbilical, muitas vezes, com muita pressão,
durante a dequitação da placenta que ainda não se descolou.
( ) Os fatores de risco são: bebê PIG, cordão longo, uso prolongado de ocitocina sintética
ou sulfato de magnésio, primiparidade, anomalias uterinas, remoção manual da
placenta e acretismo placentário.
( ) Para a resolução da inversão uterina, devem ser realizadas: a manobra de Taxe,
que é a reposição correta do útero, de forma manual, com a mão do profissional; a
administração de uterolíticos; ou a medida terapêutica cirúrgica.
4 Uma emergência de parto que deve ter uma conduta rápida é o prolapso de cordão,
caracterizado pela saída do cordão à frente da apresentação, sendo que é possível
visualizar o cordão dentro do colo uterino ou na vagina, uma vez que traz grande risco
de complicações à saúde do feto e contribui para aumento da taxa de mortalidade
materna. Disserte sobre a conduta que deve ser tomada, no centro obstétrico, caso
o profissional de Enfermagem, durante uma avaliação de toque vaginal, perceba a
presença de prolapso de cordão.
134
5 Atualmente, há alguns algoritmos, propostos por diversos autores, para a resolução de
distócia de ombros com manobras específicas, para melhor facilidade e organização
da equipe nessa emergência. Considerando os benefícios associados aos partos em
posição vertical e a necessidade de iniciar a conduta das manobras menos para as
mais invasivas. O mnemônico “A SAIDA” tem mostrado sucesso na maioria dos casos de
distócia de ombros. Nesse contexto, disserte sobre o passo a passo da “A SAIDA” no
momento do diagnóstico de uma distócia de ombros.
135
136
UNIDADE 2 TÓPICO 5 —
HEMORRAGIA PÓS-PARTO
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, abordaremos a hemorragia pós-parto (HPP), uma emergência
obstétrica relacionada com altos índices de morte materna. Embora, segundo dados
fornecidos pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), em 2018, globalmente,
a morte materna por causa de HPP tenha diminuído 44% nos últimos 25 anos, o Brasil
não cumpriu a meta de diminuição de óbitos maternos em 2015; por isso, atualmente,
é necessária a implementação de estratégias que previnam a HPP, assim como
atualização/treinamento constante dos profissionais e das condutas a serem tomadas
em casos de HPP, diminuindo cada vez mais a mortalidade materna por HPP.
137
2 ATONIA UTERINA
“A atonia uterina é a principal causa de HPP e, portanto, deve ser tratada de forma
agressiva, mesmo casos que inicialmente pareçam pouco ameaçadores” (OPAS, 2018, p.
45). Almeida e Reis (2021) ainda salientam que a HPP que tem mais frequência é a atonia
uterina, responsável por 90% das HPPs, estando associada à falta de tonicidade dos
músculos uterinos, ocasionada pela exaustão da musculatura uterina no trabalho de parto
e no parto, ou, por vezes, pelo uso da anestesia geral. Infecções genitais, multiparidade,
macrossomia fetal e polidrâmnio também são fatores de risco para atonia uterina.
ATENÇÃO
Caro acadêmico, é importante lembrar que as medidas de
prevenção de qualquer tipo de HPP devem ser realizadas de rotina,
conforme as recomendações da OPAS/OMS. Algumas medidas
são: administração do uso universal da ocitocina sintética após o
parto (10 UI, intramuscular), clampeamento oportuno do cordão
umbilical (após 1 minuto), tração controlada do cordão umbilical,
vigilância/massagem uterina no pós-parto (massagem gentil
durante 5 minutos nas primeiras 2 horas) e estímulo do contato
pele a pele de mãe e filho.
ATENÇÃO
Algumas condutas devem ser evitadas para prevenir o risco de HPP,
como o uso excessivo e rotineiro de ocitocina durante o trabalho de
parto, a realização de episiotomias seletivas e a manobra de Kristeller
(manobra de pressão no fundo uterino).
138
Figura 15 – Massagem uterina bimanual
139
Figura 16 – Assistência na atonia uterina
IMPORTANTE
Geralmente, na atonia uterina ou em outro tipo de HPP como
traumas ou retenção de tecidos, o tratamento inicial é direcionado
para estimulação uterina com massagem manual externa em
fundo do útero, para o estímulo da contratilidade uterina e da
expulsão de coágulos sanguíneos que podem se formar ou até
algum fragmento de tecido retido. É importante evitar o choque
hipovolêmico, sendo a reposição de volemia essencial, bem como
os medicamentos conhecidos como ocitócicos. Não se deve
esquecer de checar as reservas de hemoderivados, caso haja
necessidade de estabilização hemorrágica.
140
3 TRAUMAS
A segunda maior cauda de HPP são os traumas, ou seja, lacerações de trajeto
e hematomas do canal de parto, que podem ter relação com episiotomia no parto,
instrumentação utilizada no parto (por exemplo, o uso de fórceps), sendo a multiparidade
também trazida como fator de risco, conforme Almeida e Reis (2021).
IMPORTANTE
“Sempre que se estiver diante de um sangramento, pense na possibilidade
de lacerações ou hematomas no canal do parto” (OPAS, 2018, p. 46).
141
Quando observada a origem do sangramento, se for de origem traumática,
deve-se, primeiramente, realizar a correção do trauma, seja ele uma sutura, por conta
de laceração no períneo, ou mais grave, como rotura uterina ou inversão uterina –
emergências de parto que necessitam de condutas específicas.
DICA
Sugerimos a leitura das Recomendações assistenciais para prevenção,
diagnóstico e tratamento da hemorragia obstétrica, da OPAS (2018),
disponível em: http://twixar.me/J9Qm.
4 RETENÇÃO PLACENTÁRIA
Classificada como hemorragia pós-parto secundária ou tardia, conforme Almeida
e Reis (2021), a retenção de restos placentários impede a involução uterina no período
do pós-parto. Sabemos que, após o descolamento completo e a expulsão da placenta,
a contração uterina realiza o fechamento dos vasos sanguíneos uterinos, onde estava
inserida a placenta. Quando a placenta não se descola completamente ou não é expulsa, o
útero não consegue realizar a contração para ocluir os vasos sanguíneos, ocorrendo a
hemorragia em virtude da retenção placentária ou de algum tecido fragmentado.
142
Acadêmico, é importante resumirmos e salientarmos que o tratamento de quais-
quer HPPs deve seguir, primeiramente, a sequência de atendimento da HPP, conforme
pode ser observado na Figura 18.
143
RESUMO DO TÓPICO 5
Neste tópico, você aprendeu:
• A hemorragia pós-parto (HPP) tem como principais causas a atonia uterina, a laceração
do canal de parto (traumas) e a retenção placentária ou de fragmentos, podendo
causar morte materna se não realizada a conduta correta.
• A observação da perda sanguínea por via vaginal é o principal sinal de alerta. A equipe
deve observar a origem do sangue e se preparar para assistência, de acordo com a
etiologia da HPP. O enfermeiro deve também estar atento à “hora de ouro”, bem como
às reservas hematológicas, se necessárias na emergência.
144
AUTOATIVIDADE
1 Com base nas Recomendações assistenciais para prevenção, diagnóstico e tratamento
da hemorragia obstétrica, da OPAS (2018), a estratégia 0MMxH foi criada para
prevenção da mortalidade materna por hemorragia pós-evento obstétrico e para
fortalecer as capacidades dos profissionais da área da saúde em habilidades
para controle das emergências obstétricas hemorrágicas, visto que profissionais
capacitados, treinados e atualizados atingem os objetivos, eliminando as barreiras de
acesso a qualidade da assistência durante a HPP. Sobre os conhecimentos e técnicas
de HPP, assinale a alternativa CORRETA:
145
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença I está correta.
3 Alguns autores consideram placenta retida quando o terceiro período não se completou
decorridos 30 minutos do parto fetal. Já a retenção de cotilédones pode ocorrer
no momento da extração manual da placenta, quando há zonas de acretização, e,
nesse caso, os fragmentos placentários impedem a oclusão dos vasos uterinos e sua
involução, ocasionando, assim, uma HPP por tecido. De acordo com a HPP por retenção
placentária, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
146
UNIDADE 2 TÓPICO 6 —
CESARIANA
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, abordaremos a cesariana, que é uma das cirurgias mais antigas da
história da medicina e que, atualmente, é o procedimento cirúrgico mais realizado nas
mulheres no mundo todo, cujas técnicas se aperfeiçoaram e a assistência com o uso
de tecnologias também se modernizou, além de novas condutas terem sido acionadas.
147
2 INDICAÇÕES PARA CESARIANA
Diante do aumento de taxas de cesariana no Brasil, as indicações dessa cirurgia
devem se manter em uma lista atualizada, baseada em evidência científica e com
indicações clínicas reais. Segundo Zugaib e Francisco (2020), há algumas explicações
para o aumento de cesarianas, sendo alguns fatores responsáveis por esse aumento:
a postergação da maternidade, ou seja, mulheres com idade materna avançada; o
uso da monitoração eletrônica intraparto contínua, que aumenta a probabilidade de
uma cesariana; os fetos pélvicos; as induções de parto; o uso da medicina defensiva
também se torna responsável por esse aumento significativo de cesarianas; as cesárias
agendadas por prevenção do assoalho pélvico, ou seja, a desinformação e o despreparo
das mulheres para o parto normal levam a esse pensamento; e, por fim, a cesariana por
pedido materno.
• Reais:
◦ Descolamento prematuro da placenta.
◦ Prolapso de cordão.
◦ Placenta prévia.
◦ Ruptura de vasa prévia.
◦ Apresentação córmica (podendo ser tentada a versão cefálica externa antes).
◦ Herpes genital com lesão ativa no dia do parto.
• Reais, que podem acontecer, porém devem ser diagnosticadas corretamente:
◦ Desproporção cefalopélvica (DCP) (diagnosticado intraparto).
◦ Sofrimento fetal agudo (frequência cardíaca fetal não tranquilizadora).
◦ Parada de progressão do parto (quando não se resolve com outras estratégias).
• Situações com condutas individualizadas:
◦ Apresentação pélvica (recomendada versão cefálica externa antes).
◦ Duas ou mais cesáreas anteriores (discutir sobre VBAC).
◦ Vírus da imunodeficiência humana (HIV) (dependendo de fatores como carga viral).
148
DICA
Recomendamos a leitura da Portaria nº 306, de 28 de março de
2016, elaborada pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2016), em parceria
com diversas instituições, como Conselho Federal de Medicina (CFM),
Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia
(Febrasgo), Associação Médica Brasileira (AMB) e Associação Brasileira
de Enfermeiros Obstetras e Obstetrizes (Abenfo), na qual são apro-
vadas as “Diretrizes de Atenção à Gestante: a operação cesariana”:
http://twixar.me/S9Qm.
ATENÇÃO
Acadêmico, você sabia que há muitas falsas indicações de
cesarianas e que, por isso, o índice de cesarianas é tão alto no
Brasil? Algumas situações/desculpas/condições são utilizadas
pelos profissionais para indicar uma cesariana sem necessidade,
como bacia muito estreita, baixa estatura materna, bebê
alto, bebê pequeno, bebê grande, circular de cordão, falta de
dilatação fora do trabalho de parto, placenta velha, entre outras
indicações sem base nenhuma em evidências científicas.
DICA
Sugerimos a leitura do texto Indicações reais e fictícias de cesariana, da
médica obstetra, PhD, pesquisadora e cientista, Melania Amorim, em
colaboração com a obstetriz Ana Cristina Duarte: http://twixar.me/X9Qm.
3 OPERAÇÃO CIRÚRGICA
A cesariana se dá por meio da retirada do feto por uma incisão cirúrgica abdominal,
conforme Zugaib e Francisco (2020), tendo, portanto, como conceito, uma laparotomia
com uma incisão uterina.
Já a sua classificação foi proposta por Robson, em 1996, segundo Graça (2017),
ao esclarecer, a partir de dez grupos exclusivos (Figura 19), a avaliação clínica da grávida,
em trabalho de parto ou não, a fim de podermos compreender as diferentes taxas de
cesarianas e em quais situações foram realizadas a cirurgia. Essa classificação usa cinco
parâmetros: história obstétrica, início do trabalho de parto, posição do feto, número de
fetos e idade gestacional.
149
É importante frisar que o uso da classificação de Robson é recomendado pela
OMS, pois permite a comparação/análise das taxas de cesáreas entre esses grupos,
podendo, assim, monitorar as taxas de cesarianas nas instituições hospitalares.
150
Para escolher a melhor técnica para a operação cirúrgica utilizada na cesariana,
segundo Zugaib e Francisco (2020), devem sempre ser considerados a segurança
materna e os custos envolvidos no procedimento, além do tempo, da perda de sangue
e dos riscos de infecção da ferida operatória.
151
3.1 ANESTESIAS INDICADAS
Para cesariana, a anestesia geral só é indicada em situações de contraindicação
das outras técnicas de anestesias. A anestesia mais usada é a técnica regional raquidiana
ou, também, a peridural. Segundo Zugaib e Francisco (2020), a escolha da técnica
depende das condições clínicas e do tempo estimado.
• Raquidiana: conhecida como punção lombar, a agulha chega no espaço onde circula
o líquido cefalorraquidiano. Essa técnica envolve menor volume de anestésico,
maior segurança materna, quando associada à questão de toxicidade anestésica
local e melhor condição operatória para o médico. Nesta técnica, há um bloqueio
lombossagrado e torácico. É importante a descompressão da veia cava inferior,
realizada com o desvio do útero para a esquerda, de forma manual, de preferência
até o início da incisão, pois melhora o retorno venoso materno (Figura 20).
• Peridural: é administrado anestésico local no espaço epidural. Indicada quando
existe um tempo cirúrgico prolongado, quando não há a contraindicação de bloqueio
simpático. O bloqueio é sensitivo e a duração é ilimitada, visto que pode ser realizada
em doses intermitentes. Entretanto, tem maior risco de toxicidade materna (Figura 20).
• Geral: como visto anteriormente, a anestesia geral deve sempre ser evitada, sendo
realizada em casos em que a grávida recusa a técnica regional ou que tenha alguma
contraindicação para a técnica regional, ou outras situações que necessitam de
antecipação rápida do parto, como em casos de hemorragia grave, pois o início dessa
anestesia é mais rápido do que as outras.
IMPORTANTE
Acadêmico, saiba que, antes de qualquer técnica para anestesia
de cesariana, a gestante deve estar com sinais vitais monitorados,
recebendo expansão volêmica, além de estar informada e consciente
do procedimento que será realizado.
152
4 COMPLICAÇÕES
Há riscos maternos da cesariana, que devem ser explicados à gestante antes
da sua realização. Como a cesariana é uma intervenção cirúrgica abdominal, “implica
sempre uma taxa de morbidade materna significativamente maior do que a observada no
parto vaginal” (GRAÇA, 2017, p. 577), havendo riscos hemorrágicos, riscos de mortalidade
materna, risco de atonia uterina, rotura uterina e, também, de lesão do trato urinário.
153
DICA
Recomendamos a leitura do documento Declaração da OMS sobre taxas
de cesáreas, emitido pela OMS (2015), no qual a organização frisa
que as cesáreas são efetivas para salvar vidas de mães e crianças,
quando bem indicadas e feitas em ambiente seguro, e fala, ainda,
dos riscos e a necessidade da adoção de uma classificação universal
para medição da taxa de cesárea, como a classificação de Robson.
Acesse: http://twixar.me/89Qm.
IMPORTANTE
O olhar integral para a grávida, é um ponto importante da assistência da
Enfermagem, fornecendo uma visão holística para suprir as necessidades
da grávida/casal. O casal geralmente está tenso, quando encaminhado
para uma cesariana, é necessário acalmar o casal e transmitir segurança.
154
Seguindo o Enhanced Recovery After Surgery (ERAS), que é um protocolo de
cuidados pré-operatórios em várias especialidades médicas, alguns cuidados pré-
operatórios devem ser estabelecidos, sendo parte da competência da Enfermagem
garantir a realização dessa etapa antes da cesariana. As diretrizes do ERAS baseiam-
se nas evidências da mais alta qualidade disponíveis, sendo algumas que seguem o
guideline para cuidados pré e perioperatórios em cesariana, conforme Caughey et al.
(2018):
ESTUDOS FUTUROS
A SAE será abordada, de forma mais detalhada, na Unidade 3.
155
Considerando o período de permanência do paciente em SRPA
como crítico, pois podem ocorrer complicações consequentes à
ação depressora das drogas anestésicas sobre o sistema nervoso e
ao próprio ato cirúrgico, é imprescindível que o enfermeiro sistematize
o registro das informações, oferecendo à equipe de Enfermagem
condições para atuar com o cliente de maneira efetiva, planejada e
segura (FISHER; BORGES, 2019, p. 67).
156
Dessa forma, a montagem da sala tem como objetivos: um ambiente organizado,
com disponibilidade de materiais cirúrgicos necessários para a cesariana, e também
materiais adjacentes necessários para o desenvolver da cirurgia.
• Realizar a higienização das mãos, entrar na sala com máscara e touca cirúrgica.
• Verificar limpeza da sala antes da montagem.
• Testar o funcionamento dos aparelhos: aspirador, eletrocautério, foco e monitores.
• Reunir os materiais necessários para a cesariana.
• Observar prazo de validade do material.
• Organizar materiais nas mesas (atenção para não os contaminar): na montagem da
mesa, uma pessoa abre os materiais e a outra organiza os materiais na mesa de
forma estéril.
• Organizar o saco plástico de coleta da placenta, e identificar com o nome da paciente.
• Identificar o tubo de coleta do sangue do cordão com nome da paciente.
• Identificar a pulseira da mãe-bebê.
• Registrar, no sistema, a cesariana, bem como livros, boletins ou checklist cirúrgica.
• Checar todos os instrumentos antes e após o término da cirurgia.
5.1.2 Materiais
Sobre os materiais necessários para a montagem da mesa cirúrgica, seguindo o
POP da UFRJ (BERNARDES; SILVA, 2020):
DICA
Acadêmico, assista ao seguinte vídeo, que mostra a montagem da mesa
de instrumentação cirúrgica (cesárea): https://youtu.be/94H09PM6pR4.
158
Geralmente, os materiais devem ser divididos em: instrumentos de diérese, que
é a etapa de incisão (por exemplo, os instrumentos como bisturi e tesouras ficam em um
lado juntos); os instrumentos que servem para hemostasia ficam separados também
(as pinças para conter sangramentos); já os afastadores, as pinças de pressão e outras
ficam separados em um lado auxiliar da mesa; e, por fim, os porta-agulhas, que serão
utilizados na finalização da cesariana.
ATENÇÃO
É importante que a sala cirúrgica do centro obstétrico esteja sempre
organizada, revisada e montada para uma cesariana de emergência.
Os materiais devem estar dispostos para facilitar a organização,
quando se faz necessária a agilidade de abertura deles.
159
LEITURA
COMPLEMENTAR
AVALIAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA HEMORRAGIA PÓS-PARTO
INTRODUÇÃO
Afirma-se, por alguns autores, que, durante o parto vaginal, diversos fatores
podem estar associados à HPP e, entre eles, estão o terceiro período de parto prolongado, o
impedimento da descida da apresentação fetal, a episiotomia, a macrossomia, o uso de
fórceps e de vácuo extrator, a indução e a condução do trabalho de parto, a hemorragia
pós-parto prévia e a nuliparidade.
160
Sabe-se que, no Brasil, a HPP é a segunda causa de mortalidade materna, ficando
atrás das doenças hipertensivas. Informa-se que, em um estudo realizado em Santa
Catarina, os resultados de mortalidade materna por HPP apresentaram taxas de 30,3%.
Identificou-se, em levantamento de dados do Sistema de Informação de Mortalidade e
Nascidos Vivos, do Ministério da Saúde do Brasil, que as HPP correspondem a 40,8% das
hemorragias obstétricas.
MÉTODO
161
RESULTADOS
162
trabalhando na unidade e a falta de tempo foi informada por um (16,66%) profissional
como uma das principais dificuldades. Deve-se enfatizar, todavia, que 27 (81,82%)
entrevistados não informaram dificuldades na prevenção e no controle da HPP.
DISCUSSÃO
Identificou-se, por meio desta pesquisa, que as causas de HPP mais conhecidas
pelos profissionais entrevistados eram: atonia, laceração, dificuldade de coagulação e
trabalho de parto prolongado. Corroboram-se estudos que apresentaram tais problemas
como as principais causas e os estudos também evidenciaram as anemias, a indução
163
do trabalho de parto, a retenção placentária e a episiotomia como possíveis riscos
relacionados com a HPP, apesar de não terem sido reconhecidos pelos profissionais.
Devem-se conhecer todas as causas possíveis, pelos profissionais que trabalham com
parto e puerpério, inclusive a associação dos seus fatores de risco. Devem-se, entretanto,
esses fatores ser diagnosticados e registrados ainda no acompanhamento pré-natal,
podendo ser classificados como pré-natais e intraparto. Acrescenta-se que fatores de
risco como a cesárea anterior, o polidrâmnio, a gestação gemelar, a macrossomia e a
pré-eclâmpsia não foram apontados pelos participantes como causas de HPP.
164
moderada), a massagem uterina (recomendação forte e evidência de qualidade baixa) e
o uso de cristaloides isotônicos para a reanimação hídrica intravenosa (recomendação
forte e evidência de qualidade baixa) como principais condutas para o tratamento
inicial da HPP. Aponta-se, no entanto, por estudos realizados, que a ocitocina tem
indicação mais efetiva para a utilização de forma profilática, ainda sem comprovação
científica para o uso como tratamento e, com relação ao misoprostol, estudos apontam
a ineficiência de sua utilização em conjunto com a ocitocina. No entanto, acrescenta-se
que outras formas de tratamento, como a compressão bimanual, a hidratação venosa
e a transfusão sanguínea, foram pouco identificadas pelos profissionais, apesar de
estudos atuais considerarem maior efetividade para o tratamento. Podem-se minimizar
as complicações, inclusive, prevenir o obtido materno, pelo reconhecimento precoce
desses sinais.
CONCLUSÃO
165
puérpera. Ressalta-se que é neste momento em que ocorre mais chances para a HPP e
essa realidade merece discussão devido à formação e à titulação encontradas, onde a
maioria possuía certificado de especialista na área de Ginecologia/Obstetrícia.
166
RESUMO DO TÓPICO 6
Neste tópico, você aprendeu:
• A cesárea é cirurgia efetiva, criada para salvar a vida do binômio mãe-bebê, porém
deve ser realizada apenas quando indicada por reais motivos médicos.
• O enfermeiro deve manter as salas cirúrgicas prontas no centro obstétrico, para cesaria-
nas de emergências. A organização dos materiais, a checagem de funcionamento e
a validade são fatores importantes e que devem ser observados diariamente.
167
AUTOATIVIDADE
1 Atualmente, as indicações de cesárea, na grande maioria dos casos, são indicações
obsoletas e sem base científica. Alguns fatores podem explicar o aumento na taxa
de cesarianas, como a medicina defensiva. Hoje, as indicações são divididas por
indicações de causa materna ou de causa fetal. Sobre as indicações para a cesárea,
assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) São indicações reais: prolapso de cordão, herpes genital sem lesão ativa no dia
do parto e pelve materna pequena.
b) ( ) São indicações reais, que podem ocorrer durante o trabalho de parto, mas que
devem ser diagnosticadas de forma correta e com atenção: DCP, sofrimento
fetal agudo e parada da progressão do parto.
c) ( ) O HIV e a apresentação fetal pélvica são indicações absolutas de cesariana, sem a
possibilidade de realizar alguma estratégia antes para viabilizar o parto normal.
d) ( ) Mulher que tem a pelve pequena, que seja muito magra ou se o bebê for muito
grande e a mulher obesa são fatores que já indicam a realização de cesariana.
Fonte: OMS. Declaração da OMS sobre Taxas de Cesáreas. Genève: OMS, 2015. Disponível em:
http://twixar.me/x9Qm. Acesso em: 8 set. 2022.
168
3 Sendo uma cirurgia bastante comum na área da obstetrícia, a técnica para a
operação da cesariana deve se basear em alguns fatores: a segurança da mulher, o
custo do procedimento, o tempo que irá levar, a perda de sangue e, também, o risco
de infecção na ferida cirúrgica. A equipe deve estar capacitada e familiarizada com
a técnica escolhida, para oferecer uma assistência de qualidade para a mulher. De
acordo com as técnicas de incisão para a realização de uma cesariana, classifique V
para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
169
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, L. P.; REIS, A. T. Enfermagem na prática materno-neonatal. 2. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.
170
BERNARDES, G.; SILVA, J. Procedimento Operacional Padrão: Preparo da Sala
Cirúrgica para Cesariana. Maternidade-escola da UFRJ. Rio de Janeiro: UFRJ, 2020.
Disponível em: http://www.me.ufrj.br/images/pdfs/protocolos/Enfermagem/2021rev/
pop_86_preparo_da_sala_cirurgica_para_cesariana.pdf. Acesso em: 8 set. 2022.
CAUGHEY, A.; WOOD, S.; MACONES, G.; GRAMLICH, L.; NELSON, G.; WILSON, D. Diretrizes
para cuidados intraoperatórios em cesariana: Recomendações da Sociedade de
Recuperação Aprimorada Após Cirurgia (Parte 2). American Journal of Obstetrics
& Gynecology, v. 219, p. 533-344, 2018. Disponível em: https://www.ajog.org/article/
S0002-9378(18)30658-6/fulltext#relatedArticles. Acesso em: 8 set .2022.
OMS. Declaração da OMS sobre Taxas de Cesáreas. Genève: OMS, 2015. Disponível
em: http://twixar.me/x9Qm. Acesso em: 8 set. 2022.
171
MONTENEGRO, C. A. B.; REZENDE FILHO, J. Rezende. Obstetrícia Fundamental. 13.
ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.
ZUGAIB, M.; FRANCISCO, P. V. Zugaib Obstetrícia. 4. ed. São Paulo: Manole, 2020.
172
UNIDADE 3 —
CUIDADO INTEGRAL DE
ENFERMAGEM NO PARTO
NORMAL E NA CESÁREA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de
reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
173
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 3!
Acesse o
QR Code abaixo:
174
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA
DE ENFERMAGEM (SAE) NO CENTRO
OBSTÉTRICO (CO)
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, abordaremos a Sistematização da Assistência de Enfermagem
(SAE), um processo que deve ser realizado em todos setores e áreas de serviço de
Enfermagem, trazendo como benefícios a organização do trabalho profissional e a
operacionalização do trabalho da Enfermagem.
175
2 SAE PARA GESTANTE/PUÉRPERA
“O profissional enfermeiro tem função importante nesse processo ao gerenciar o
cuidado de Enfermagem a estas mulheres. Gerenciar refere-se ao gerenciamento da
assistência de Enfermagem e tem a ver com prever e prover os recursos necessários
para que se efetive o cuidado” (CUNHA, 2011, p. 4 apud FRAGA, 2016, p. 25). Por isso,
antes de abordarmos a SAE da gestante e da puérpera, é fundamental frisarmos alguns
pontos importantes.
A maioria das mortes maternas e neonatais ocorre por causas evitáveis, o que
significa que, no pré-natal, na saúde primária ou em outro serviço de saúde em que
foi realizado o pré-natal da gestante, poderia ter sido detectada alguma condição ou
comorbidade possível de ser controlada, evitando um desfecho infeliz. Até mesmo
algumas condutas vistas como inadequadas, quando tomadas durante o parto e/ou
as primeiras horas de vida do recém-nascido, podem corroborar para morte materna
e neonatal. “A maior parte dos desfechos desfavoráveis que acontecem na gestação é um
problema de saúde pública. As preocupações com estas mulheres e com o recém-
nascido vêm crescendo cada vez mais” (FRAGA, 2016, p. 23).
DICA
Acadêmico, recomendamos a leitura dos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ONU, 2015) no site das Nações Unidas – Brasil. Acesse o
link, a seguir, e saiba mais sobre os trabalhos realizados para alcançar os
17 objetivos: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs.
176
Figura 1 – ODS
177
Diante disso, devemos relembrar da teoria das necessidades humanas básicas,
de Wanda de Aguiar Horta, que propôs a realização do processo de Enfermagem (PE), o
qual é composto por ações sistematizadas e relacionadas entre si, com o objetivo geral
de oferecer uma assistência de cuidados de Enfermagem ao paciente. Segundo Horta
(2011 apud FRAGA, 2016), as etapas do PE são: histórico de Enfermagem, diagnóstico
de Enfermagem, plano assistencial, plano de cuidados ou prescrição de Enfermagem,
evolução de Enfermagem e prognóstico de Enfermagem.
Autor Resumo
Propõe um protocolo para a SAE às parturientes no centro obstétrico.
Foram identificados sete diagnósticos de Enfermagem: contração uterina
normal, dor de trabalho de parto, medo do trabalho de parto, fadiga,
expulsão uterina fetal sem distócias ou intercorrências, laceração do pe-
ríneo ou vagina e corte na região médio-lateral do períneo. Na sequência,
Santos; Ramos foram definidos os resultados esperados e as intervenções de Enfer-
(2012) magem com base na literatura. Nas considerações finais, foi defendido
que um protocolo para a SAE às parturientes estimulará a atuação dos
enfermeiros obstetras no acompanhamento dessas mulheres, favore-
cendo uma assistência individualizada, fundamentada cientificamente
e respeitando o processo natural do trabalho de parto e parto, além de
consolidar a implementação da SAE
178
Trabalharam diagnósticos/resultados de Enfermagem para parturientes
e puérperas, utilizando a Classificação Internacional para a Prática de
Enfermagem (CIPE). A maioria desses diagnósticos/resultados foram
agrupados dentro das necessidades psicobiológicas, o que pode ser ex-
Silva; Nóbrega;
plicado pelas alterações orgânicas desencadeadas na mulher enquanto
Macedo
gestante, parturiente e puérpera, mas também em função da formação
(2012)
dos profissionais de saúde/Enfermagem, que prioriza a visão biológica do
ser humano. Essas alterações na mulher promovem necessidades que
são prioritárias na assistência de Enfermagem. No entanto, as necessi-
dades psicossociais e psicoespirituais não podem ser negligenciadas.
O objetivo foi identificar a presença dos indicadores clínicos da dor em
situação de parto e correlacionar a referência verbal de intensidade de
Mazoni; Carvalho; dor com as contrações uterinas. Foi evidenciada uma correlação entre
Santos referência verbal e evidência observada de contração uterina, que se
(2013) associaram ao aumento do escore de intensidade da dor à medida que
aumenta a pressão intrauterina. Frisando que a dor é um dos diagnósti-
cos mais frequentes nas parturientes.
Aborda a internação precoce da gestante, que ocasiona intervenções
obstétricas desnecessárias, que culmina com a indicação de cesariana.
Nesse contexto, surge o cuidado de Enfermagem cirúrgico que envolve
Terto et al. (2021)
desde o manejo clínico à execução de atividades educativas. Por meio
do uso da SAE, esses cuidados são ofertados de forma individualizada,
conferindo uma assistência integral e resolutiva.
Com o objetivo de propor um protocolo para a SAE para parturientes no
centro obstétrico. No pré-parto, a proposta de assistência à parturiente
consiste, inicialmente, em uma consulta de Enfermagem. O instrumento
para consulta de Enfermagem contempla os dados de identificação da
Santos; Ramos parturiente, os dados relacionados à gestação, o exame físico da partu-
(2012) riente, os exames laboratoriais e os dados do parto. A segunda etapa do
protocolo consiste na identificação dos diagnósticos de Enfermagem.
Para tanto, um formulário específico foi elaborado. O referido formulá-
rio contempla sete diagnósticos de Enfermagem com suas respectivas
intervenções e os resultados esperados.
179
Figura 2 – Formulário para histórico de Enfermagem
180
INTERESSANTE
Em 2016, um estudo realizado por Fraga em um centro obstétrico de um hospital do sul do
Brasil, do qual participaram 81 mulheres internadas em trabalho de parto, consideradas
gestantes de risco habitual, traz os diagnósticos de Enfermagem mais presentes, conforme
NANDA-I:
181
Quadro 2 – Planejamento da Assistência
Diagnóstico de Resultados
Intervenções de enfermagem
enfermagem esperados
182
Examinar o canal vaginal após o
delivramento fisiológico da placenta para
verificar presença de lacerações; realizar
Laceração do períneo Prevenção de contami-
correção de laceração após administração
ou vagina nação da laceração
de anestésico local; orientar sobre higiene
na região vulvoperineal e uso de roupas
limpas.
ATENÇÃO
Além da gestante, a SAE também deve ser realizada para a puérpera,
ou seja, a mulher no período pós-parto, visto que é um momento de
profundas modificações, tanto fisiológicas como psicológicas. Nesse
momento, a Enfermagem atua com a prevenção de complicações e a
promoção de conforto, do pós-parto imediato e mediato, enquanto
essa puérpera estiver internada na instituição hospitalar, conforme
demonstra o quadro a seguir.
Diagnósticos de
Resultados Intervenções Atividades
Enfermagem
Evitar interrupções
Privação de sono
desnecessárias e
caracterizada por
Nível de desconforto permitir períodos de
ansiedade, cansaço Promoção do
Indicadores: descanso; Determinar
e sonolência durante conforto físico:
ansiedade; dor. as origens do
o dia relacionada a controle do
Aumentar para: 5 desconforto, como
práticas maternas ambiente: conforto.
(nenhum). roupa de cama com
que não favorecem
rugas e irritantes
o sono.
ambientais.
183
Controle da dor
Indicadores:
descrição dos Assegurar que a
Dor aguda fatores causadores; paciente receba
caracterizada por uso de medidas cuidados precisos de
gestos protetores preventivas; uso analgesia; Informar
Promoção do
e relato verbal de de analgésicos sobre a dor, suas
conforto físico:
dor relacionada a conforme causas, duração
controle da dor.
agentes lesivos recomendação; e desconfortos
físicos (ferida relato de dor antecipados em
operatória). controlada. decorrência dos
Aumentar para: 5 procedimentos.
(consistentemente
demonstrado).
Usar abordagem
calma e
tranquilizadora,
escutando a paciente
com atenção; criar
Nível de desconforto ambiente calmo e
Conforto prejudicado
Indicadores: Promoção de sem interrupções,
caracterizado por
ansiedade; medo; conforto psicológico: com iluminação
ansiedade, medo e
estresse; dor. terapia de difusa e temperatura
relatos de sentir-se
Aumentar para: 5 relaxamento. confortável, sempre
desconfortável.
(nenhum). que possível; provocar
comportamentos que
sejam condicionados
a produzir
relaxamento, como
respiração profunda.
184
DICA
A criação de instrumentos, pelo enfermeiro, pode facilitar a SAE, dinami-
zando o cuidado e agilizando o tempo na realização do processo de En-
fermagem. Veja um exemplo de instrumento com uso de checklist feito
pelos autores Fialho et al. (2014), disponível em: http://twixar.me/DJQm.
185
DICA
Caro acadêmico, você já ouviu falar sobre a governança compartilhada
de Enfermagem? Basicamente, é um modelo de gestão que se baseia
em compartilhar as decisões em equipe, corresponsabilizando ações
e promovendo a autonomia profissional da equipe. Para saber mais,
acesse o estudo de Copelli et al. (2017): http://twixar.me/FJQm.
ATENÇÃO
Em um centro obstétrico de alto fluxo de atendimentos, o enfermeiro
responsável deve saber gerir a assistência da sua equipe desde a
triagem, no pré-parto, na sala de partos, na sala cirúrgica e na sala
de recuperação pós-anestésica. A fluidez do fluxo de atendimento
deve ser mantida, bem como a humanização dos profissionais com
as mulheres.
186
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu:
• A SAE para a puérpera também deve ser realizada com atenção, visto que a mulher no
período pós-parto passa por momentos de profundas modificações, tanto fisiológicas
como psicológicas. Nesse momento, a Enfermagem atua com a prevenção de
complicações e a promoção de conforto, do pós-parto imediato e mediato, enquanto
essa puérpera estiver internada na instituição hospitalar.
187
AUTOATIVIDADE
1 Com base na Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) no centro
obstétrico para gestantes e puérperas, é importante ressaltar a vasta opção de planos
de cuidados, de acordo com as reais necessidades da mulher. Por isso, a importância
da realização de uma boa anamnese, um exame físico e a formação do diagnóstico
de Enfermagem, para, então, planejar as ações, implementá-las e avaliá-las. Sobre a
SAE para a gestante e puérpera, assinale a alternativa INCORRETA:
188
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença III está correta.
c) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença I está correta.
3 Sendo a Enfermagem uma das profissões que tem um maior número de profissionais
e equipes dentro de uma instituição hospitalar, é importante a realização de um bom
gerenciamento. Dentro do centro obstétrico, a gestão deve trabalhar de modo facilitar
a assistência de Enfermagem oferecida à parturiente, ao bebê e aos familiares. Nesse
sentido, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
189
190
UNIDADE 3 TÓPICO 2 —
HUMANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA
DE ENFERMAGEM
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, abordaremos a humanização da assistência de Enfermagem no
ciclo gravídico-puerperal, mostrando que o enfermeiro é um agente importante para a
transformação do modelo obstétrico e a implementação de boas práticas obstétricas.
Afinal, o que são boas práticas de parto e nascimento? É sobre isso que
iremos abordar neste tópico. O enfermeiro, especialmente aquele que trabalha com
parto e nascimento, seja ele generalista ou especialista, é responsável por promover a
humanização do parto. Em algumas instituições, o sistema organizacional dos cuidados
em obstetrícia é cheio de protocolos com práticas obsoletas; para mudar a forma da
191
assistência, deixando-a mais humanizada e baseada em evidência científica, é necessário
dar voz a mulheres/casais e incentivar os estudantes e os profissionais já formados para
que tenham pensamentos mais crítico-reflexivos sobre as rotinas hospitalares que ainda se
verificam na área da obstetrícia.
192
ATENÇÃO
É importante lembrar que as boas práticas devem iniciar no pré-natal,
com cursos de preparação para parto e nascimento nas unidades básicas
de saúde (UBS). Outros exemplos são as rodas de conversas entre
gestantes, uma estratégia importante, e a promoção da participação
do(a) parceiro(a) nas consultas, que também deve ser estimulada. Essas
medidas devem ser realizadas, de preferência, por enfermeiros.
Uma mulher/família bem preparada para o parto chega ao centro obstétrico mais
confiante, ciente de como funciona o processo de parturição, quais são as condutas
tomadas em determinadas situações, quais são os seus direitos dentro de uma instituição
hospitalar, quais exercícios e medidas ela pode realizar em conjunto com o profissional
do parto para aliviar a dor do parto e auxiliar na evolução dele. Uma mulher informada e
empoderada é uma mulher ativa e que tem autonomia durante o trabalho de parto e o
parto. Por isso, a importância do enfermeiro em todo esse processo.
DICA
Acadêmico, fique por dentro das publicações e das diretrizes do
Ministério da Saúde, que promovem a humanização da assistência o
parto e puerpério: http://twixar.me/lJQm; http://twixar.me/RgQm.
INTERESSANTE
É importante saber que, em 2000, o Ministério da Saúde, a partir
da Portaria nº 569, de 1 de junho de 2000, instituiu o Programa de
Humanização no Pré-natal e Nascimento, no âmbito do Sistema
Único de Saúde (SUS), com o objetivo de desenvolvimento
de ações de promoção, prevenção e assistência à saúde de
gestantes e recém-nascidos, promovendo a ampliação do acesso
a essas ações, o incremento da qualidade e da capacidade
instalada da assistência obstétrica e neonatal, bem como sua
organização e regulação no âmbito do SUS. Acesse o conteúdo
na íntegra: http://twixar.me/bJQm.
194
Acadêmico, você pode se perguntar “mas, afinal, o que eu posso fazer, como
futuro profissional da Enfermagem, para pôr em prática essas boas práticas de parto
e nascimento?”. Nesse sentido, foi preparado um guia (Quadro 3) com recomendações para
uma adequada assistência de parto e nascimento, fundamentado e referenciado pelas
recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2018).
Cuidados Recomendação
Durante todo o parto e nascimento
Manter a dignidade da mulher, a privacidade, confidencialidade,
Respeito durante os
evitando maus-tratos e possibilitando escolhas informadas e
cuidados maternos
apoio contínuo durante o trabalho de parto e parto.
Realizar uma comunicação eficaz entre os profissionais, a
Comunicação efetiva
mulher e o(a) acompanhante durante todo o trabalho de parto.
Incentivar e promover a presença de um acompanhante de
Acompanhante
escolha da mulher durante o trabalho de parto e o parto.
Durante o primeiro estágio do trabalho de parto
Informar as mulheres sobre a relatividade do tempo de
Duração do primeiro estágio
duração da fase latente e da fase ativa.
Para trabalho de parto de início espontâneo, não é
recomendado relacionar o ritmo da dilatação cervical de
1 cm a cada 1 hora, visto que é um valor impreciso para
Progresso do primeiro identificar riscos.
estágio do trabalho de parto Não é recomendado o uso de intervenções para acelerar
o progresso do trabalho de parto antes de 5 cm,
quando condições fetais e maternas estão adequadas e
tranquilizadoras.
Adiar a admissão em sala de parto até a parturiente chegar
Admissão na sala de parto
na fase ativa do trabalho de parto.
Não é recomendada a cadiotocografia de rotina na
Avaliação rotineira do admissão do parto, quando gestantes saudáveis em
bem-estar fetal na admissão trabalho de parto espontâneo.
do parto Deve ser utilizado o Doppler ou Pinard para realizar a
ausculta cardíaca fetal na admissão.
Não é recomendada a realização de tricotomia antes do
Tricotomia
parto vaginal.
Não é recomendada a administração de enema antes do
Enema
parto.
195
É recomendado realizar o exame de toque vaginal com
Exame de toque vaginal intervalo mínimo de 4 horas, quando em fase ativa do
trabalho de parto em gestantes de baixo risco.
É recomendado o uso do sonar ou Pinard para ausculta
Ausculta fetal intermitente
cardíaca fetal durante o trabalho de parto, a cada
da frequência cardíaca fetal
15/30 minutos na fase ativa, quando gestantes saudáveis.
Analgesia epidural para alívio É recomendado o uso de analgesia epidural para gestantes
da dor saudáveis que a solicitam.
É recomendado o uso de opioides parenterais para
Analgesia opioide para alívio
gestantes saudáveis que solicitam alívio da dor por meio
da dor
farmacológico.
É recomendado o uso de técnicas de relaxamento, como
Técnicas de relaxamento relaxamento muscular, respiração, música, mindfulness
para alívio da dor e uso de banho de aspersão ou submersão, se assim a
mulher desejar.
É recomendado o uso de técnicas manuais, como
Técnicas manuais para
massagens, compressas quentes, rebozo, entre outras
controle da dor
técnicas alternativas, se assim a mulher desejar.
É recomendada, para gestantes de baixo risco, a ingestão
Alimentação e líquidos de alimentos e líquidos por via oral durante o trabalho de
parto.
Deve ser incentivada a adoção de posturas eretas e
Movimentação e posição mobilidade durante o trabalho de parto em gestantes de
materna baixo risco, com a intenção de auxiliar na progressão do
trabalho de parto.
Não é recomendada a realização de amniotomia isolada de
Amniotomia
rotina para prevenção de trabalho de parto prolongado.
Não são recomendados a realização de amniotomia
Amniotomia e ocitocina
precoce e o uso de ocitocina para prevenir trabalho de
precoce
parto prolongado.
Não é recomendado o uso de fluidos intravenosos com o
Fluidos intravenosos
objetivo de encurtar a duração do trabalho de parto.
Segundo estágio do trabalho de parto
Encorajar a adoção de posições de escolha da mulher,
Posição de nascimento
incluindo verticais.
Encorajar a mulher, em fase expulsiva, a empurrar seguindo
Método de empurrar o seu próprio impulso, exceto em mulheres com analgesia
epidural.
Recomendado realizar técnicas para reduzir trauma
Prevenção de trauma peri-
perineal, como aplicação de compressas mornas no
neal
períneo e proteção com a mão, se preferência da mulher.
Episiotomia Não é recomendado o uso rotineiro e liberal de episiotomia.
Não é recomendada a realização da pressão manual do
Manobra Kristeller
fundo uterino, com o objetivo de facilitar o parto.
196
Terceiro estágio do parto
Para prevenção de hemorragia pós-parto, deve ser
Uterotônicos profiláticos realizado 10 UI de ocitocina intramuscular/intravenosa em
todo pós-parto.
Clampeamento do cordão É recomendado aguardar pelo menos 1 minuto após o
umbilical nascimento do bebê, para clampeamento do cordão umbilical.
É recomendada a tração controlada do cordão umbilical
Tração do cordão após a saída do bebê, quando considerado importante para
redução de perda de sangue no terceiro estágio.
Não é recomendada a massagem uterina sustentada com
Massagem uterina intensão de prevenção de hemorragia, em mulheres que já
receberam ocitocina profilática.
Cuidados com o RN
Não é recomendada aspiração de rotina em RN, quando RN
Aspiração nasal ou oral
já respira por conta própria.
Deve ser realizado contato pele a pele do RN com sua mãe,
Contato pele a pele
quando ambos estiverem em bom estado.
Deve ser promovida a amamentação na primeira hora de
Amamentação
vida ou logo que possível após o nascimento, em RN estáveis.
Deve ser realizada a aplicação de vitamina K em todos
Profilaxia de doenças
os RN por via intramuscular após o nascimento, ou após
hemorrágicas do RN
primeira hora de vida.
O banho deve ser postergado para 24 horas após o
Banho do RN
nascimento.
Cuidados com a puérpera
Avaliação abdominal da contração uterina, no pós-parto
Avaliação do tônus uterino imediato e mediato, deve ser realizada para identificar
precocemente uma atonia uterina.
Deve ser realizada avaliação em todas as puérperas,
observando: intensidade do sangramento vaginal,
contração uterina, altura do fundo do útero, temperatura
Avaliação materna
materna e frequência cardíaca, durante as primeiras
24 horas após o parto.
Também devem ser observadas pressão arterial e eliminações.
197
de extrema importância passar segurança para a parturiente. O conhecimento da
fisiologia do parto e de seus mecanismos auxilia para uma assistência adequada, livre
de intervenções rotineiras e práticas obsoletas.
• Liberdade de opção pela posição que a mulher quiser parir – o enfermeiro pode e deve
orientar e encorajar a mulher a escolher uma posição confortável para o momento
do expulsivo, de preferência, posições a favor da gravidade, ou seja, verticalizadas,
de cócoras, de quatro apoios, em pé ou na banqueta de parto. “Alguns resultados de
trabalhos científicos apontam vantagens da posição verticalizada ou da inclinação
lateral sobre a posição dorsal, entre elas: menor desconforto e dificuldade de puxos,
dores menos intensas e menor risco de traumas vaginais ou perineais” (BRASIL, 2001,
p. 80).
• Ofertar técnicas de relaxamento para a mulher, como o uso do banho morno, massagens,
liberdade de movimentação e apoio contínuo de um acompanhante a escolha da
mulher.
• Se possível, garantir sala privativa para a parturiente durante o trabalho de parto e o
parto, respeitando o seu íntimo e a sua privacidade. Um exemplo disso é a “sala PPP,
ou seja, de pré-parto, parto e puerpério imediato. Essa estratégia tem se mostrado
efetiva na humanização do parto e no incentivo ao parto normal, com consequente
redução nos índices de cesárea” (BRASIL, 2001, p. 79).
• O partograma também deve ser realizado pelo enfermeiro responsável pelo parto,
sendo, geralmente, essa competência do enfermeiro obstetra do setor: “o partograma
é uma representação gráfica e objetiva da evolução do trabalho de parto, cujo uso
tornou-se obrigatório em todas as maternidades desde 1994, pela OMS” (ALMEIDA;
REIS, 2021), pois garante uma assistência de qualidade e uma interpretação prática e
rápida da progressão do trabalho de parto.
• O clampeamento tardio do cordão umbilical, visto os benefícios que essa prática traz
para o recém-nascido, de forma imediata e a longo prazo: “os bebês com clampeamento
imediato de cordão têm valores mais baixos de hematócrito e hemoglobina” (BRASIL,
2001, p. 83).
198
Quadro 4 – Práticas no parto normal que devem ser estimuladas
1.1 Planejamento individual determinando onde e por quem o parto será realizado.
1.8 Apoio emocional pelos prestadores de serviço durante o trabalho de parto e parto.
1.9 Respeito à escolha da mulher sobre seus acompanhantes durante o trabalho de parto.
Métodos não invasivos e não farmacológicos de alívio da dor, como massagens e técni-
1.11
cas de relaxamento, durante o trabalho de parto.
Contato cutâneo direto, precoce entre mãe e filho e apoio ao início da amamentação na
1.23
primeira hora após o parto.
199
1.24 Alojamento conjunto.
1.25 Suprimir a lactação em mães portadoras de HIV.
1.26 Exame rotineiro da placenta e membranas ovulares.
Uso rotineiro de ocitocina, tração controlada do cordão, ou sua combinação, durante o
1.27
terceiro estágio do parto.
2.13 Uso rotineiro de ergometrina por via parenteral no terceiro estágio do trabalho de parto.
200
Manobra de Kristeller ou similar, com pressões inadequadamente aplicadas ao fundo
2.18
uterino no período expulsivo.
201
Com as novas diretrizes de assistência ao parto normal do Ministério da Saúde,
as recomendações da OMS e os inúmeros estudos e pesquisas realizados sobre a
humanização do parto e as boas práticas de parto e nascimento, houve uma mudança
positiva, por mínima que seja, em alguns centros obstétricos e maternidades. A mudança
do cenário obstétrico está em andamento e a luta a favor da humanização do parto
também.
GIO
Acadêmico, você já “plantou” a semente da humanização hoje?
Com pequenas mudanças, é possível gerar grandes resultados. O
primeiro passo você já está dando, que é a aquisição de informação e
conhecimento baseados em evidências científicas. Parabéns!
202
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu:
203
AUTOATIVIDADE
1 Embora a tecnologia tenha sido um grande marco para a medicina, na área da
obstetrícia, ainda há um uso exagerado, quando sem necessidade, de forma a criar
um modelo tecnocrático de atendimento ao parto, em que há, consequentemente,
a institucionalização e a medicalização do parto, tornando-o, muitas vezes, uma
experiência negativa para as mulheres e cheia de intervenções, quando poderia ser, em
sua maioria, uma vivência positiva e natural. Sobre o movimento pela humanização do
parto e do nascimento, assinale a alternativa INCORRETA:
Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Diretrizes Nacionais de Assistência ao Parto Normal. Brasí-
lia: Secretaria de Ciências, Tecnologia e Insumos Estratégicos, 2017. Disponível em: http://twixar.me/RgQm.
Acesso em: 1 out. 2022.
204
I- Boas práticas de comunicação devem ser incentivadas e realizadas, como cum-
primentar a mulher com um sorriso e uma boa acolhida, apresentar-se e explicar
qual o seu papel nos cuidados, e indagar sobre as suas necessidades. Manter uma
abordagem calma e confiante e perguntar à mulher como ela está se sentindo e se
alguma coisa em particular a preocupa.
II- Uma mulher em trabalho de parto não deve ser deixada sozinha, exceto por curtos
períodos ou por sua solicitação. Dessa forma, todas as parturientes devem ter apoio
contínuo e individualizado durante o trabalho de parto e o parto, de preferência por
pessoal que não seja membro da equipe hospitalar e, por isso, o apoio por pessoal
de fora da equipe dispensa o oferecido pelo pessoal do hospital.
III- Mulheres em trabalho de parto podem ingerir líquidos, de preferência, soluções
isotônicas, em vez de apenas água. Além disso, as que não estiverem sob efeito
de opioides ou não apresentarem fatores de risco iminentes para anestesia geral
podem ingerir uma dieta leve.
Fonte: BRASIL. Portaria nº 569, de 1 de junho de 2000. Gabinete do Ministro, Ministro do Estado da
Saúde. Ministério da Saúde, 2000. Disponível em: http://twixar.me/bJQm. Acesso em: 10 jan. 2022.
205
4 No documento da OMS (2018) sobre as recomendações para cuidados durante o parto,
para uma experiência de parto positiva, há estudos que demonstram a proporção de
gestantes saudáveis que são submetidas a pelo menos uma intervenção durante o
parto desnecessariamente e que são potencialmente prejudiciais. Por isso, a favor do
parto normal fisiológico e menos intervencionista, a OMS emitiu as novas diretrizes
para todo o mundo, que incluiu 56 recomendações sobre o que é ou não necessário
durante o trabalho de parto, o parto, o pós-parto e, também, os cuidados com o
recém-nascido. Com base nessas recomendações, disserte sobre como o enfermeiro
pode pôr em prática a humanização do parto. Dê exemplos de boas práticas de parto
e nascimento.
Fonte: OMS – ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. WHO recommendations Intrapartum care for a
positive childbirth experience. Geneva, 2018. Disponível em: http://twixar.me/5JQm. Acesso em: 16 nov. 2022.
5 Percebe-se que as mulheres ainda sofrem por conta de práticas utilizadas de modo
inadequado no parto normal e, muitas vezes, desnecessárias. Isso acarreta experiências
negativas de partos, também pondo em risco a vida da mulher e do bebê. Com base no
documento Parto, aborto e puerpério: assistência humanizada à mulher, do Ministério da
Saúde (BRASIL, 2001), dê exemplos de práticas que são usadas de forma inadequada
no parto normal.
Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Parto, aborto e puerpério: assistência humanizada à mulher.
Ministério da Saúde, Secretaria de Políticas de Saúde, Área Técnica da Mulher. Brasília: Ministério da Saúde,
2001. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cd04_13.pdf. Acesso em: 1 out. 2022.
206
UNIDADE 3 TÓPICO 3 —
A DOR NA OBSTETRÍCIA
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, abordaremos o fator “dor” na obstetrícia, um assunto que, muitas
vezes, é relacionado, de forma cultural, com sofrimento para dar à luz. Entretanto, devemos
desvincular a palavra dor do parto da palavra sofrimento, porque um é diferente do outro.
207
2 MÉTODOS NÃO FARMACOLÓGICOS PARA ALÍVIO DA DOR
A dor é, muitas vezes, um grande motivo para as mulheres se preocuparem
quando optam por um parto normal. Sabemos que, para a sociedade em geral, a dor está
ligada à doença, ao sofrimento de algo ruim que ocorre com o corpo, e que, no momento
que em que a pessoa sente dor, ela deverá buscar pela cura, para que não sinta mais dor.
Zugaib e Francisco (2020) tratam da etiologia da dor do parto, a qual tem origem
em diferentes vias, que depende da fase do trabalho de parto da mulher:
208
Figura 3 – Respostas da dor do parto
ATENÇÃO
A utilização de escalas de dor, para avaliação do nível da dor, se faz
necessária no centro obstétrico, para proporcionar uma melhor
assistência. Vários são os métodos para avaliar e quantificar a dor:
escalas numéricas, de faces, qualitativa, analógica, entre outras. Não
se deve avaliar o nível de dor apenas no momento de estresse, devido
à dor do parto, mas, sim, em vários momentos desse processo.
209
INTERESSANTE
Alguns autores comentam que a dor do trabalho de parto serve
como um guia para a mulher, pois a dor acaba estimulando a
parturiente a assumir posições e movimentos diferentes, como
forma de buscar alívio, protegendo-a de posições inadequadas
para esse momento e, consequentemente, auxiliando na evolução
do parto. Isso é uma resposta fisiológica à dor.
Sabemos que, para que o trabalho de parto inicie, a mulher deve liberar ocitocina,
o hormônio que faz as contrações uterinas, ou, como conhecido: o hormônio do amor.
Nené, Marques e Batista (2016) explicam que, conforme as contrações aumentam,
irá aumentar também a produção de catecolaminas, obtendo ocitocina e endorfinas
ao mesmo tempo, levando à tolerância à dor. É necessário tomar cuidado para não
estagnar o parto devido à produção constante de catecolaminas (adrenalina), quando
a parturiente está muito tensa e não consegue relaxar durante o trabalho de parto,
podendo até causar uma reação no fluxo uteroplacentário, com hipóxia fetal e acidose.
Segundo Diniz e Duarte (2004), alguns fatores estão associados ao sentir menos
dor no parto, como não restringir a movimentação da mulher durante o trabalho de parto,
a não realização da ruptura artificial das membranas, o não uso de ocitocina sintética
para acelerar o parto, a não realização de episiotomia de rotina e a não realização de
manobra de Kristeller. Além dessas condutas, alguns cuidados podem ajudar a mulher a
sentir menos dor, como a presença de um acompanhante, seja pai, mãe, amiga ou doula,
e a opção de recursos disponíveis para aliviar a dor como o banho quente no chuveiro,
bola suíça, massagens, compressas, entre outros métodos naturais para aliviar a dor.
Métodos farmacológicos também podem servir para sentir menos dor, podendo ser a
melhor solução para algumas mulheres.
210
Há vários métodos, inclusive alguns alternativos, para lidar com a dor, de modo
a não modificar nem influenciar o controle do próprio corpo da mulher. A pesquisa do
Cochrane Pregnancy and Childbirth Group cita alguns métodos alterativos (NENÉ;
MARQUES; BATISTA, 2016):
Além das opções apresentadas para o alívio da dor do parto, Nené, Marques e
Batista (2016) ainda trazem o uso da verticalidade e da bola de parto no trabalho de parto,
explicando que a verticalização possibilita o aumento do fluxo sanguíneo para o útero,
diminuindo a dor, aumentando o aporte de oxigênio para o feto e também auxiliando na
dinâmica uterina, o que, consequentemente, reduz a duração da fase ativa do trabalho
de parto e também a necessidade de intervenções analgésicas.
Ainda, é importante que a grávida não fique restrita ao leito, e que adote posições
confortáveis e que estejam a favor da gravidade, como as verticalizadas. Outras opções
de posição para o parto são:
211
• No banco de nascimento (a grávida repousa principalmente sobre as
nádegas).
• De joelhos (o peso é aplicado principalmente sobre os joelhos).
• Ajoelhada/acocorada (o peso é exercido num joelho e num pé).
• Em pé.
• Acocorada, a grávida repousa principalmente nos seus pés, com
os joelhos fletidos. Esta posição é facilitada se existir um arco onde
a grávida se pode suspender, diminuindo a pressão exercida sobre
suas pernas.
• Sentada na bola de nascimento.
• Debruçada sobre a bolsa de nascimento (de joelhos no chão, usando
a bola como apoio ou de pé apoiada sobre a bola colocada em cima
da cama) (NENÉ; MARQUES; BATISTA, 2016, p. 420).
Figura 5 – Posição de pé
212
Figura 6 – Posição de cócoras sustentada
O uso da bola suíça, conforme mostra a figura 50, segundo Almeida e Reis
(2021) promove uma massagem no períneo, também alonga e fortalece as musculaturas
do assoalho pélvico. Isso auxilia na circulação e desfaz pontos de tensão muscular,
aliviando a dor. Além disso a bola suíça é uma ótima aliada para auxiliar no giro e na
descida do bebê na pelve materna. Os movimentos circulares na bola fazem com que
a mulher desfoque da dor da contração. O estímulo a movimentos de bamboleio da
pelve, também são indicados, para a evolução do parto e para alívio da dor, pois liberam
endorfinas e, também ativam o parto.
213
Um estudo quantitativo, descritivo, transversal, realizado em 2021 por Maffei et
al., na região Sul do Brasil, compôs-se a população por 344 mulheres que tiveram parto
normal, e teve como objetivo identificar a prevalência e descrever o uso dos métodos não
farmacológicos para o alívio da dor em parturientes durante o trabalho de parto em
maternidades públicas:
IMPORTANTE
Acadêmico, o apoio continuo é na maioria das vezes o método de
alívio da dor referido pelas parturientes como o que mais ajuda a
aliviar a percepção da dor do parto, conforme MAFFEI et al. (2021).
Sendo o apoio pelo acompanhante de preferência da mulher e
também apoio dos profissionais envolvidos no parto.
ATENÇÃO
Métodos não farmacológicos para alívio da dor do parto devem ser
sempre estimulados de acordo com a preferência da parturiente.
Assim, o trabalho de parto pode ser vivido sob uma nova forma de
olhar, com sentimentos positivos e experiências transformadoras,
que emanam sentimentos de acolhimento e conforto. Dessa forma, é
possível garantir uma experiência positiva de parto e nascimento para
as mulheres, sem ser preciso do uso de técnicas farmacológicas.
215
Almeida e Reis (2021) apresentam um modelo humanizado à desmedicalização
da assistência à mulher, que utiliza as Tecnologias não Invasivas de Cuidado pelas
Enfermeiras Obstétricas (TNICEO), o que é muito interessante, visto que, no Brasil, é
necessário romper com alguns paradigmas de parto e nascimento, e as enfermeiras
obstétricas são um grande aliado para que a mudança nesta área ocorra, bem como
a atuação dos enfermeiros generalistas como grandes agentes disseminadores de boas
práticas. O modelo da TNICEO pode ser visto na Figura 9.
Figura 9 – TNICEO
Promover ações de conforto, prazer e estímulos para sentir menos dor durante
o trabalho de parto, é promover também a humanização do parto. Por isso, deve-se
estudar os métodos naturais de alívio da dor do parto, para promover experiências
positivas a mulheres e casais.
216
3 ANALGESIA E ANESTESIA
Conhecidas também como métodos farmacológicos para ao alívio da dor do
parto, a analgesia e a anestesia, que são as técnicas utilizadas, atualmente, no Brasil,
atuam de forma regional, anestesiando a região da pélvis e as pernas da gestante,
deixando-a consciente durante o trabalho de parto.
De modo geral, conforme Diniz e Duarte (2004), há países que têm mais opções
de métodos farmacológicos para alívio da dor do parto, como o óxido nitroso, mais utilizado
na Europa. A analgesia regional é a mais conhecida mundialmente e tem três tipos:
peridural, raquidiana e uma combinação entra as duas.
217
Figura 10 – Analgesia combinada e peridural
É importante salientar que a mulher deve ser informada, também, dos possíveis
efeitos colaterais desses métodos e o que pode influenciar ou não na progressão do seu
trabalho de parto, além de mantê-la ciente de que esse tipo de intervenção aumenta a
probabilidade de realização de um parto instrumentado, entre outras intervenções.
218
Quadro 7 – Vantagens e desvantagens das analgesias
Peridural Combinada
• Só deve ser administrada na fase • Risco de hipotensão materna e
ativa do trabalho de parto. anomalias cardiotocográficas.
• Necessidade de monitoração • Risco de lombalgias no puerpério.
rigorosa dos sinais vitais na • Cefaleias na puérpera.
Desvantagem
primeira meia hora. • Monitoração rigorosa dos sinais
• Riscos de lombalgia no puerpério. vitais.
• Risco de punção acidental da
dura-máter.
• Analgesia completa sem • Analgesia completa sem sedação.
sedação. • Permanência do cateter permite
• Permanência do cateter permite doses subsequentes.
doses subsequentes. • Início rápido.
Vantagem
• Menos chances de hipotensão • Risco tóxico reduzido.
materna devido à início de ação • Pode ser administrada em fase
lento. latente ou fase ativa do trabalho
de parto.
ATENÇÃO
A escolha da técnica de bloqueio deve ser individualizada, observando
vários fatores, como a fase do trabalho de parto da mulher, o nível
da dor, a presença ou não de comorbidades maternas, os custos
envolvidos, bem como os recursos disponíveis.
219
Quadro 8 – Complicações da analgesia
Imediatas Tardias
• Hipotensão materna (sistólica inferior a • Cefaleia pós-punção.
100 mmHg). • Dor lombar transitória.
• Retenção urinária. • Meningite.
• Convulsões. • Abscesso peridural.
• Parada cardíaca. • Déficit neurológico permanente.
• Hematoma peridural.
• Infecção no espaço peridural.
• Lesões neurológicas persistentes e transitórias.
IMPORTANTE
O enfermeiro deve intervir na analgesia regional com os seguintes
cuidados: apoio a parturiente/casal, preparação do material, mo-
nitoração dos sinais vitais maternos e fetais, posicionamento da
grávida, esclarecimento das dúvidas do casal, monitoração da
dor, vigilância precoce de complicações e gestão da analgesia,
em conjunto com anestesista.
220
Critérios de inclusão: pacientes gestantes em trabalho de parto. Cri-
térios de Exclusão: recusa da paciente; Sepse; Infecção ou tumores
no local da punção, no caso dos bloqueios regionais (ex.: fungos, foli-
culites, acne, neurofibromatose etc.); coagulopatia/trombocitopenia
(plaquetas < 75.000); pressão Intracraniana elevada; alteração da
consciência; hemorragia/hipovolemia e/ou instabilidade cardiovascular;
alergia conhecida às drogas utilizadas (soluções anestésicas e opioi-
des) (BRASIL, 2021, p. 3).
DICA
Saiba mais sobre o Protocolo de analgesia de parto vaginal, criado pela
Comissão Permanente de Protocolos de Atenção à Saúde da Secretaria
de Estado de Saúde do Distrito Federal (DISTRITO FEDERAL, 2021), com
o objetivo de aperfeiçoar os serviços de anestesia obstétrica, para que o
atendimento à necessidade da analgesia/anestesia, durante o trabalho
de parto e o parto, seja feito com segurança e não se transforme em
mais um fator de risco materno fetal: http://twixar.me/NJQm.
Esse protocolo ainda refere outros métodos farmacológicos para alívio da dor,
além dos bloqueios regionais, como a analgesia inalatória com óxido nitroso e a analgesia
intramuscular e endovenosa com alguns tipos de opioides (por exemplo, petidina e
tramadol) (DISTRITO FEDERAL, 2021).
Diante de tantas opções para alívio da dor do parto, ainda salienta o uso, primeira-
mente, de métodos naturais, para, depois, partir para fármacos, se assim for o desejo e a
necessidade da parturiente. “Espera-se aumentar o nível de satisfação das gestantes em
seu atendimento perinatal, e seguir as recomendações do Ministério da Saúde quanto ao
estímulo ao parto vaginal, reduzindo a quantidade de partos cirúrgicos” (DISTRITO FEDERAL,
2021, p. 8).
221
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
• A dor do parto é composta por muitos fatores fisiológicos e psicossociais. Por isso, o
trabalho de uma equipe multiprofissional, desde o pré-natal até o momento do parto,
é importante para o sucesso de alívio da dor em obstetrícia.
222
AUTOATIVIDADE
1 Os métodos não farmacológicos para alívio da dor do trabalho de parto podem e
devem ser estimulados e ofertados para as parturientes em trabalho de parto, em
qualquer fase, a fim de diminuir o nível de estresse materno e, consequentemente,
também os riscos fetais. Proporcionar uma experiência de parto mais prazerosa,
na qual a mulher seja a protagonista desse evento, é um dos grandes objetivos do
cuidado na obstetrícia. Com base nos métodos naturais para alívio da dor do parto,
assinale a alternativa CORRETA:
2 A dor é subjetiva e cada mulher apresentará uma percepção de dor diferente durante
o trabalho de parto e o parto. Por vezes, a percepção da dor poderá ser física, mas,
em outras, psicológica, relacionada, também, a fatores externos ou internos.
Fisiologicamente, a dor do parto tem origem em diferentes vias, dependendo da fase
do trabalho de parto em que a mulher se encontra. Com base na etiologia fisiológica
da dor do parto, analise as sentenças a seguir:
223
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença I está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença II está correta.
224
5 A analgesia regional durante o trabalho de parto pode proporcionar alguns benefícios
em relação à percepção da dor na parturiente, diminuindo, significativamente, a
intensidade da contração e pressão do parto. Claro que esse método de alívio deve
ser ofertado apenas em casos em que a mulher não consegue suportar a dor do
parto mesmo com métodos alterativos. Assim, a monitoração pós-analgesia é muito
importante após a instalação do bloqueio, seja ele qual for, sendo preciso ter atenção
especial. Nesse contexto, com base no documento do Protocolo de analgesia de
parto vaginal (DISTRITO FEDERAL, 2021), responda quais são as condutas/cuidados
que o profissional de Enfermagem pode e deve realizar na pós-analgesia.
Fonte: DISTRITO FEDERAL. Protocolo de Analgesia de parto vaginal – Protocolo de Atenção à Saúde.
Portaria SES-DF nº 1123 de 05.11.2021, publicada no DODF nº 215 de 18.11.2021. Governo do Distrito
Federal, Secretaria de Estado de Saúde, Subsecretaria de Atenção Integral à Saúde, Comissão Permanente
de Protocolos de Atenção à Saúde, 2021. Disponível em: http://twixar.me/NJQm. Acesso em: 24 out. 2022.
225
226
UNIDADE 3 TÓPICO 4 —
ASPECTOS ÉTICOS
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, abordaremos alguns aspectos éticos dentro da assistência à
mulher nos períodos de gestação, parto e puerpério, assunto de extrema importância,
visto que a Enfermagem deve seguir com os cuidados munidos de ética, profissionalismo e
respeito ao outro. No caso da área da saúde, destacaremos, de forma sucinta, a bioética
e o biodireito, relembrando os conceitos de direitos humanos e a relação destes na área
da obstetrícia.
Por fim, outro tema abordado será as doulas, pois é direito da mulher ter uma
doula, se assim ela escolher e desejar, a qual pode entrar na maternidade na hora do parto,
visto que essa profissional dará suporte contínuo, tanto físico quanto psicológico, para
a parturiente. Há, ainda, certa relutância quanto à presença da doula nas maternidades,
porém, hoje, no Brasil, o movimento do parto humanizado tem trazido maior visibilidade a
esses importantes profissionais.
227
2 ÉTICA PROFISSIONAL DURANTE O CICLO GRAVÍDICO
PUERPERAL
Antes de iniciarmos, faz-se necessário citar a bioética, um estudo acerca da
conduta humana na área da saúde e da vida. “É preciso ter em mente que os valores
e princípios morais são elementos indispensáveis à bioética” (ZUGAIB; FRANCISCO,
2020, p. 1.318, grifo nosso).
Zugaib e Francisco (2020) também falam sobre o biodireito, uma temática que
aborda o direito na teoria, na legislação e na jurisprudência, relativamente a conduta
humana na área da vida e da saúde humana. É necessário se fazer conhecer os direitos
humanos, pois todos são iguais para todos os seres humanos, sem diferença e distinção.
Vale lembrarmos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, criada em 1948, que
traz à tona questões relativas aos direitos e às dignidades das pessoas, como direito à
saúde, à privacidade, à liberdade etc.
• Autonomia.
• Beneficiência.
• Não maleficiência.
• Justiça.
Zugaib e Francisco (2020), ainda, abordam alguns princípios que também devem
ser respeitados na área da obstetrícia:
228
• Princípio da justiça e da equidade: o que é correto e digno caracteriza justiça.
Equidade no sentido de, às vezes, para um, parece justo e, para outro, não; dessa
forma, o termo equidade torna-se necessário para respeitar os direitos de cada um,
com imparcialidade.
• Princípio da confidencialidade e da privacidade: o significado de um termo se
destaca por manter segredo de uma informação, e o outro, pela autonomia e proteção
da intimidade do indivíduo. Nesse sentido, destaca-se a assistência do enfermeiro em
um centro obstétrico, quando deve ser estabelecida uma confiança entre paciente e
profissional, respeitando a intimidade da mulher.
• Princípio da prudência: no sentido de prever complicações, o profissional deve
estar atento para evitar que algo comprometa a saúde da paciente. Agindo como
um profissional prudente, poderá permitir um bom aconselhamento sobre ações
referentes à saúde e ao bem-estar da paciente.
• casos de aborto (aborto legal, aborto criminoso e aborto por anomalia fetal);
• reprodução assistida, direitos sexuais e reprodutivos;
• utilização de células-tronco embrionárias;
• redução embrionária em gestação múltipla;
• doação de gametas e embriões;
• planejamento familiar, que abrange a escolha do método anticoncepcional;
• esterilização artificial;
• transfusão de sangue e a recusa na transfusão de sangue por motivo religioso;
• autonomia da gestante em recusar a transfusão;
• atendimento à gestante portadora do vírus da imunodeficiência humana (HIV),
abrangendo questões de confidencialidade e aconselhamento;
• transplantes de órgãos e tecidos humanos;
• aspectos éticos da cesárea a pedido;
• ética em medicina fetal;
• experimentação envolvendo seres humanos e pesquisas com gestantes.
Vários assuntos citados são polêmicos e geram, na maioria das vezes, conflitos
entre profissionais e pacientes, havendo opiniões variadas e diferentes formas de pensa-
mento, porém é necessário seguir, como profissionais, os princípios bioéticos e respeitar
também os direitos humanos.
229
IMPORTANTE
Acadêmico, é importante, nesse momento, discutirmos a objeção
de consciência, que é um direito de liberdade de qualquer
indivíduo, e que, na área da saúde, se revela em casos em que
o profissional não é obrigado a participar ou realizar qualquer
procedimento que viole suas convicções pessoais, porém a
recusa dessa ação não deve violar o direito do outro indivíduo,
além de ter disponível outro profissional para assumir o posto.
No entanto, é questionada a razoabilidade quando há a objeção
de consciência, ou seja, não deve ser aceita se algum padrão ético
não for seguido.
Nené, Marques e Batista (2016) levantam uma discussão pertinente sobre o uso
do consentimento informado para a realização de análise para HIV, salientando que as
grávidas devem ser informadas sobre a realização do teste rápido de sorologia, para
detecção de anticorpos anti-HIV no sangue, o que é importante para a saúde do bebê.
Não se deve coagir a mulher a aceitar a realização do teste, mas informar e comunicar,
de forma empática, para que a mulher compreenda a necessidade da realização do
teste. Entretanto, é direito da grávida recusar e não fazer o teste, mesmo no pré-natal
até na internação no centro obstétrico, à luz do princípio da autonomia.
230
um cuidado individualizado para a segurança. Por fim, quando o pro-
fissional valoriza a humanização, ele tende a reconhecer o sentido da
vitalidade do seu cuidado como essência vital para o outro. Reconhece-
-se, portanto, a mulher como sujeito com autonomia no ato de parir,
dentro dos seus direitos, e o cuidado como um valor em si mesmo,
validando, com isso, a segurança da parturiente e do recém-nascido
(RODRIGUES et al., 2022, p. 5-6).
DICA
Acadêmico, reflita sobre a seguinte afirmação: “Logo, considerar o va-
lor ético no processo da parturição é valorar o bem-estar do parto
e nascimento, uma atenção facilitadora de aberturas para as emo-
ções e sentimentos da mulher que vivencia o parto” (RODRIGUES et
al., 2022, p. 6). Leia mais sobre o artigo Parto humanizado: valores de
profissionais de saúde no cotidiano do cuidado obstétrico, de Rodrigues
et al. (2022): http://twixar.me/QJQm.
3 VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA
Para a OMS, a definição de violência é: “O uso intencional da força física ou
do poder, real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo
ou uma comunidade, que resulte ou tenha grande possibilidade de resultar em lesão, morte,
dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação” (KRUG et al., 2002, p. 5).
A violência obstétrica foi definida, pela Ley Orgánica Sobre El Derecho de Las
Mujeres a Una Vida Livre de Violencia, do Fundo de População das Nações Unidas
(UNFPA, 2007), na Venezuela, como:
231
Quando acontece a violência obstétrica contra a mulher nas instituições de
saúde, é observada a violação de alguns artigos constituintes na Declaração dos Direitos
Humanos (UNICEF, 1948), como o Art. 1º, que expõe que os humanos nascem livres e
iguais, devendo agir em espírito de fraternidade, e o Art. 5º, que enfatiza que ninguém
passará por torturas ou tratamentos cruéis e desumanos. No Quadro 9, podemos
observar quais tipos de violência estão englobados na violência obstétrica, conforme
Kloch (2021).
ATENÇÃO
No Brasil, a pesquisa Mulheres Brasileiras e gênero nos espaços público e
privado, realizada pela Fundação Perseu Abramo e SESC, de agosto
de 2010, mostra valores altos de violência durante o parto, em que
uma a cada quatro mulheres sofre de violência obstétrica no Brasil.
Para saber mais, acesse: http://twixar.me/fyQm.
Tipos Exemplos
• Agressão, maltrato e abuso físico.
Violência física • Intervenções sem consentimento informado.
• Práticas obstétricas obsoletas.
• Comentários ofensivos e humilhantes.
Violência verbal • Fala que impõe ou repreende.
• Ameaças.
Violência
• Ações que causam inferioridade, medo e instabilidade emocional.
psicológica
• Anular o exercício aos direitos sexuais e reprodutivos.
Violência sexual
• Conduta sexual não desejada.
• Difamação.
Violência moral • Injúria.
• Calúnia.
• Negar atendimento.
• Privação de assistência digna.
Negligência
• Omissão de informações.
• Privação do direito a acompanhante.
232
Alguns exemplos de violência obstétrica são: não uso do consentimento infor-
mado; uso de vocabulário agressivo e abusivo; culpalização da mulher; uso inadequado
de ocitócitos para apressar o trabalho de parto; indicações errôneas para realização de
cesariana; imobilização durante o trabalho de parto e parto; jejum intermitente durante
o trabalho de parto; realização rotineira de episiotomia (corte no períneo); realização da
manobra de Kristeller (compressão do fundo uterino); uso de força física, abuso psicológico,
sexual e moral contra a mulher; discriminação e negligência. As Figura 11 e 12 ilustram a
violência obstétrica em formato de relatos e dados.
233
Figura 12 – Dados da violência obstétrica
234
Algumas mudanças podem e devem ser realizadas para melhorar esse cenário:
235
ATENÇÃO
Acadêmico, saiba que o caminho é longo e a luta é árdua contra a
violência obstétrica, porém cada semente da humanização plantada
dentro da sua assistência com a grávida, com certeza, fará a diferença.
Lembre-se de que o enfermeiro é um agente importante para combater
esse tipo de abuso e maus-tratos contra a grávida.
DICA
Para aprofundar o seu conhecimento sobre a violência obstétrica,
sugerimos a leitura do artigo Violência obstétrica: a verdadeira dor do
parto, de Brandt et al. (2018), disponível em: http://twixar.me/nyQm.
Ainda, sobre as conquistas para garantir direitos à saúde da mulher, foi criado,
em 2011, o Guia dos direitos da gestante e do bebê, pelo Fundo das Nações Unidas
para a Infância (UNICEF, 2011) e pelo Ministério da Saúde, documento excepcional, parte de
236
uma das ações da Rede Cegonha do SUS, tendo como objetivo levar informação sobre
os direitos de gestantes, parturientes, puérperas e recém-nascido no Brasil. Nesse
documento, são citadas algumas políticas públicas que asseguram os direitos à gestante
e à criança:
237
Quadro 10 – Declaração de Barcelona sobre os Direitos da Mãe e do Recém-nascido
238
Quadro 11 – Leis e documentos vigentes sobre os direitos na gestação, parto e puerpério
239
Direito ao benefício variável à gestante e à
Lei nº 12.512, de 14 de outubro de 2011.
nutriz
Caderno de gestação de alto e baixo risco 2012.
Licença maternidade em caso de natimor- Instrução normativa nº 77, de 21 de janeiro de
to ou de óbito do bebê 2015.
Permite a mulher registrar ao nascimento
Lei nº 13.112, de 30 de março de 2015.
do filho
Política de Atenção Integral à Saúde da
Portaria nº 1.130, de 5 de agosto de 2015.
Criança
241
4.5 DIREITO EDUCACIONAL E ESTUDANTIL
• Estudantes gestantes, a partir do oitavo mês de gestação, durante 3 meses, poderão
entrar no regime estudantil domiciliar.
IMPORTANTE
“É importante que todos saibam que existem meios de garantir
o direito à gravidez saudável, ao parto seguro e à assistência de
qualidade para a gestante, a mãe e o bebê” (UNICEF, 2011, p. 69).
DICA
Acadêmico, veja mais sobre o tema no Guia dos direitos da gestante
e do bebê, criado pela UNICEF e pelo Ministério da Saúde, em 2011:
http://twixar.me/dyQm.
ATENÇÃO
Acadêmico, os profissionais envolvidos na assistência à grávida, à
parturiente e à puérpera devem estar conscientes dos direitos das
mulheres nesses períodos, para poder informar e orientar tanto
mulheres quanto casais grávidos, a fim de que eles possam exigir e
garantir que seus direitos sejam respeitados.
242
4.7 DOULAS NO BRASIL
Acadêmico, você conhece a profissional doula? A palavra doula tem origem
grega e significa “mulher que serve”, sendo, hoje, utilizada para se referir à mulher sem
experiência técnica na área da saúde, que orienta e assiste à nova mãe no parto e nos
cuidados com bebê.
ATENÇÃO
O trabalho da doula não pode ser confundido com a presença de
acompanhante nem com o trabalho dos outros profissionais da
saúde envolvidos no parto, como os de Enfermagem, medicina
ou as parteiras.
A mulher que deseja ser doula faz um curso de formação para se tornar
profissional e começar, então, a atuar de forma autônoma, diretamente com a grávida.
A doula não precisa ter outra formação, basta ser mulher e realizar o curso de formação
de doulas. “A inserção da doula é considerada uma das boas práticas incentivadas pela
Política Nacional de Atenção Obstétrica e Neonatal, estabelecida em 2005” (BARBOSA
et al., 2018, p. 421). Além disso, “as doulas contribuem para reduzir a violência obstétrica no
sistema público e no privado. A inserção da doula seria, portanto, fundamental para trazer à
tona a discussão do modelo de atenção obstétrica” (BARBOSA et al., 2018, p. 421).
A maioria dos profissionais não conhece a doula e muito menos o que uma
doula faz e, sobretudo, como ela pode ajudar no momento do parto. Atualmente os
movimentos a favor da humanização do parto conseguiram trazer maior visibilidade à
doula, mostrando que se trata de uma profissional que soma e faz parte do processo de
parturição, não devendo ser criticada por meio de juízos de valor por outros profissionais
da saúde.
243
IMPORTANTE
Acadêmico, dentro de um centro obstétrico, a presença de uma
doula, para a mulher grávida, faz muita diferença, podendo auxiliar na
progressão do trabalho de parto, além de deixar a mulher mais calma
para viver o momento do parto, bem como o seu acompanhante.
Por isso, é importante os profissionais da Enfermagem conhecerem e
apoiarem esse trabalho da doulagem nas maternidades brasileiras.
Fonte: a autora
NOTA
Acadêmico, chegamos ao fim de mais uma unidade. Esperamos
que o objetivo de partilhar informações e conhecimentos sobre a
atuação do enfermeiro no centro obstétrico tenha sido alcançado
de forma plena, e que, como futuro enfermeiro, você possa perceber
a importância de garantir os direitos da mulher no ciclo gravídico-
puerperal, assegurando-a de uma assistência de qualidade e com
humanização.
244
LEITURA
COMPLEMENTAR
O PAPEL DO ENFERMEIRO NA PROMOÇÃO DO PARTO HUMANIZADO
INTRODUÇÃO
245
Esta pesquisa justifica-se por se fazer necessário refletir qual o papel do enfermeiro
na assistência humanizada durante o processo de parturição. O seguinte estudo portanto
tem por objetivo: compreender o papel do enfermeiro na promoção do parto humanizado,
e contribuir de forma indireta na assistência e segurança de todo o processo parturitivo.
MATERIAL E MÉTODO
RESULTADOS
É certo que mais da metade das ações não farmacológicas trazem benefícios
e que a Enfermagem se utiliza dessas práticas com resultados positivos em quase
100% de todos os atendimentos. O acolhimento e a atenção oferecida pela equipe de
Enfermagem é de extrema importância para amenizar o tão temido medo do parto. A
assistência realizada com métodos não farmacológicos e não invasivos contribuem
positivamente para a efetivação do parto. A utilização do banho de chuveiro, da bola
suíça, do uso do cavalinho, das barras, da deambulação e das massagens são benéficos
para alívio das contrações e relaxamento da mulher, além de auxiliar na dilatação e
expulsão do recém-nascido.
247
ramento, trazendo segurança à parturiente, reduzindo seus medos e anseios e sensa-
ções físicas. Portanto, é determinante a participação das enfermeiros obstétricos na
assistência ao processo do trabalho de parto, assegurando que essas práticas sejam
empregadas e respeitadas.
Por outro lado, após a reflexão obtida também nos resultados de como a atuação
da Enfermagem ainda é tímida, modesta, muitas vezes tecnicista, esquecendo-se de
atender as necessidades psicológicas e emocionais da parturiente, faz-se necessário
buscar novos trajetos e aliados ao conhecimento científico e ao cuidado humanizado,
aprimorar a assistência à parturiente. O processo da parturição totaliza um dos
momentos mais importantes na vida da mulher e sua família. O enfermeiro, sobretudo o
especialista em obstetrícia, ocupa lugar de extrema importância na assistência, sendo
capaz de direcionar e sensibilizar a equipe multiprofissional para o cuidar humanizado
como forma de mudar o atual cenário da obstetrícia.
CONCLUSÃO
Espera-se que este artigo sirva de base para outros, melhorando assim,
indiretamente à assistência ao parto e nascimento. Considerado um tema recente,
sugere-se que novas pesquisas sobre a atuação do enfermeiro no processo de
parturição sejam realizadas. O conhecimento por parte dos profissionais sobre esse
tema, bem como dados alarmantes sobre o tema, podem claro, ajudar a contribuir para
uma melhor assistência ao trinômio mãe-bebê-família.
Fonte: adaptada de GOMES, M. C.; OLIVEIRA, M. P. S.; LUCENA, G. P. O papel do enfermeiro na promoção do
parto humanizado. Revista Recien., 2020, v. 10, n. 29, p. 180-188. Disponível em: https://www.recien.
com.br/index.php/Recien/article/view/256/260. Acesso em: 2 out. 2022.
248
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu:
• Por conta das novas políticas e leis em prol da promoção da saúde da mulher, existem
meios de garantir o direito à gravidez saudável, ao parto seguro e à assistência de
qualidade para a gestante, a mãe e o bebê.
249
AUTOATIVIDADE
1 O Guia dos direitos da gestante e do bebê, criado pelo Fundo das Nações Unidas
para a Infância (UNICEF, 2011) e pelo Ministério da Saúde, expõe sobre os direitos das
gestantes, parturientes, puérperas e recém-nascidos no Brasil. Atualmente, políticas
nacionais foram criadas para assegurar e garantir que os direitos das mulheres, nesse
período da vida, sejam respeitados. Assinale a alternativa CORRETA:
Fonte: UNICEF. Guia dos direitos da gestante e do bebê. São Paulo: Globo, 2011. Disponível em:
http://twixar.me/dyQm. Acesso em: 26 out. 2022.
Fonte: NENÉ, M.; MARQUES, R.; BATISTA, M. Enfermagem de saúde materna e obstétrica. Lisboa:
Lidel, 2016.
251
5 Como grande influenciador da humanização do parto, as doulas, atualmente, têm
ganhado mais visibilidade no Brasil, vistos os estudos que surgem e mostram os
benefícios de se ter uma doula durante os períodos de gestação, parto e pós-parto.
Trata-se de uma profissional que se dedica a auxiliar mulheres/casais que estão
grávidos, fornecendo suporte emocional, psicológico, fisiológico e educacional, não
apenas durante o parto, mas em todo o período de gestação e no pós-parto. Nesse
contexto, responda: qual é a diferença entre o trabalho da doula e do enfermeiro
durante a assistência do trabalho de parto e do parto?
252
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, L. P.; REIS, A. T. Enfermagem na Prática Materno-Neonatal. 2. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.
BALASKAS, J. Parto ativo. Guia prático para o parto natural (a história e a filosofia de
uma revolução). 3. ed. São Paulo: Aquariana/Ground, 2015.
DINIZ, S. G.; DUARTE, A. C. Parto Normal ou Cesárea? O que toda mulher deve saber
e todo homem também. São Paulo: Editora UNESP, 2004.
254
GOMES, M. C.; OLIVEIRA, M. P. S.; LUCENA, G. P. o papel do enfermeiro na promoção do
parto humanizado. Revista Recien, v. 10, n. 29, p. 180-188, 2020. Disponível em: https://
www.recien.com.br/index.php/Recien/article/view/256/260. Acesso em: 2 out. 2022.
INACIO, C. C. N.; CHAVES, E. M. C.; FREITAS, M. C.; SIEBRA E SILVA, A.; ALVES, A. R.;
MONTEIRO, A. R. Diagnósticos de Enfermagem em unidades de alojamento conjunto
Diagnósticos de Enfermagem em unidades de alojamento conjunto. Revista Brasileira
de Enfermagem, v. 63, n. 6, p. 894-899. Disponível em: https://www.scielo.br/j/reben/
a/8xXK5s93WRzzGZcNFxSTJTz/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 27 set. 2022.
MAFFEI, M. C. V.; ZANI, A. V.; BERNARDY, C. C. F.; SODRE, T. M.; PINTO, K. R. T. F. Uso de
métodos não farmacológicos durante o trabalho de parto. Rev. Enferm. UFPE online,
v. 15, e. 245001, p. 1-10, 2021. Disponível em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/
revistaEnfermagem/article/viewFile/245001/38104. Acesso em: 17 nov. 2022.
KRUG, E. G.; DAHLBERG, L. L.; MERCY, J. A.; ZWI, A. B.; LOZANO, R. (eds.). Relatório
mundial sobre violência e saúde. Geneva: OMS, 2002. Disponível em: http://
portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/wpcontent/uploads/2019/04/14142032-relatorio-
mundial-sobre-violencia-e-saude.pdf. Acesso em: 16 nov. 2022.
255
RODRIGUES, D. P. et al. Parto humanizado: valores de profissionais de saúde
no cotidiano do cuidado obstétrico. Revista Brasileira de Enfermagem,
v. 75, n. 2, p. 1-9, 2022. Disponível em: https://www.scielo.br/j/reben/a/
TfJgKJt9CsHHJyJpmrn93PN/?lang=pt&format=pdf. Acesso em: 25 out. 2023.
SOUSA, L. S.; SILVA, M. M.; SOUTO, R. E. M.; BRILHANTE, A. F.; ESTECHE, C. M. G. C. E.;
RODRIGUES, D. P. Liderança como competência gerencial na atuação da Enfermagem
obstétrica. In: XXII ENFERMAIO, Fortaleza, 2018. Anais [...] Universidade Estadual do
Ceará (Uece), 2018. Disponível em: https://www.uece.br/eventos/enfermaio/anais/
trabalhos_completos/405-22795-23042018-201439.docx. Acesso em: 10 jan. 2023.
UNICEF – FUNDO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A INFÂNCIA. Declaração dos Direitos
Humanos. Adotada e proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas
(resolução 217 A III) em 10 de dezembro 1948. Disponível em: https://www.unicef.org/
brazil/declaracao-universal-dos-direitos-humanos. Acesso em: 10 jan. 2022.
UNICEF. Guia dos Direitos da Gestante e do Bebê. São Paulo: Globo, 2011.
Disponível em: http://twixar.me/dyQm. Acesso em: 26 out. 2022.
URIO, A.; FERRO, L. M. T.; REIS, C. B.; TANJONI, A. D. M. Direitos no período gravídico
puerperal: revisão documental. Research, Society and Development, v. 10, n. 13, 2021.
Disponível em: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v10i13.21064. Acesso em: 26 out. 2023.
ZUGAIB, M.; FRANCISCO, P. V. Zugaib Obstetrícia. 4. ed. São Paulo: Manole, 2020.
256