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Quando uma instituição opta por incluir filosofia em seu currículo ou quando
uma política educacional dispõe sobre a inclusão de filosofia nos currículos
escolares, isso se faz em nome de uma certa filosofia e em nome de certas
intenções para com a filosofia.(Gallo, 2013, p.27).
O ensino de Filosofia foi garantido pela Lei nº11684/08, que alterou o artigo 36
da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional para tornar obrigatória a oferta
da disciplina nos currículos do ensino médio. Entretanto, pode-se criticar o ensino de
filosofia no ensino básico no que diz respeito ao conteúdo e a didática empregada,
uma vez que se é ensinado, de forma geral, o conhecimento histórico da filosofia,
mantendo sempre uma visão eurocentrista e distante do cotidiano dos alunos.
Dizendo de outro modo, um ensino de filosofia vale pelos efeitos que pode
produzir. É certo que, no âmbito das grandes políticas, da educação maior,
planejam-se efeitos para a filosofia: fazer de todos cidadãos, mesmo que
por cidadãos entendam-se os consumidores no mercado global. Não deixa
de ser uma filosofia prática, alheia ao enciclopedismo. Mas, por outro lado,
uma filosofia criativa, voltada para os problemas vividos, visando
equacioná-los conceitualmente, pode ser potencialmente revolucionária.
Pode ser uma arma de produção de autonomia, mesmo no contexto de uma
sociedade de controle.(Gallo, 2013, p. 30).
Apenas com essa definição básica, já surgem conceitos que devem ser
trabalhados com alunos do ensino básico. Como funciona a federação? O que é uma
democracia? Qual o papel do Presidente da República? Dessa forma, se torna
necessário quantificar e explicitar quais conceitos devem ser levados à sala de aula
pelo professor. O livro “Dicionário de política” do autor Norberto Bobbio, com
colaboração de Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino e diversos outros autores,
publicado originalmente em 1976 e traduzido pela editora UNB em 1983, pode trazer
esclarecimentos quanto aos conceitos que podem ser trabalhados.
Portanto, “República Federativa do Brasil” diz que o país está sob o regime de
uma democracia nos moldes liberais. Esse entendimento expande a quantidade de
conceitos que devem ser explorados. Palavras como “democracia” e “liberalismo”
fazem parte do debate político no país, e são constantemente ouvidas e discutidas
nos mais diversos ambientes, mesmo que nem todos compreendam completamente
o que ambos termos se referem. Façamos então uma explicitação dos conceitos de
democracia e liberalismo.
Este ideal moderno surge num contexto das revoluções burguesas, e aparece
como uma solução contra a centralização do poder na mão de uma única pessoa. As
suas funções são bem separadas e cada poder age de forma autônoma sob o rigor
da constituição. Cabe ao poder legislativo, dividido de forma bicameral(o Congresso
e o Senado), o papel de criar as leis que regem o país, o poder judiciário cumpre a
obrigação de julgar delitos e demais instâncias dentro da nação e por fim, o
executivo deve agir em prol do cumprimento das decisões públicas. É o que
Matteucci evidencia:
No princípio da separação dos poderes vão desembocar essencialmente
duas soluções, que poderemos ilustrar melhor com uma referência ao
pensamento de Montesquieu e de Kant. Montesquieu iniciara o famoso
capítulo do Esprit des lois (1748) sobre a Constituição inglesa, separando os
poderes legislativo, executivo e judiciário. Afirmara ainda: "Tudo estaria
perdido se uma só pessoa, ou um só corpo de notáveis. de nobres ou de
povo, exercesse estes três poderes: o de fazer as leis, o de executar as
decisões públicas e o de punir os delitos ou contendas entre os
particulares". (Matteucci, 1976, p. 248)
Mas não seria sensato retirar a aprendizagem do aluno dessa equação, uma
vez que a mesma se torna um problema para o ensino. Essa dicotomia entre ensino
e aprendizagem é também um tópico abordado por Gallo, na qual o mesmo se
propõe a demonstrar como há uma diferença entre as duas “ações”, e não podemos
cair na noção simplória de que, tudo aquilo que for ensinado, será aprendido.
Entretanto, diferente de áreas do saber como a matemática ou a biologia, a filosofia
parece se apresentar em um ambiente especial, um espaço onde filosofar é, por si
mesmo, um ato de aprender. É o que nos mostra Silvio Gallo mais uma vez:
Assim, mais uma vez a filosofia política revela sua face útil para a
aprendizagem, uma vez que, ao apresentar para o discente uma discussão filosófica
que trata de assuntos e conceitos que batem com sua realidade e que o afeta
diretamente, o mesmo se verá representado no ato de filosofar. É a filosofia se
apresentando ao aluno, e não o inverso:
Por fim, fica claro como a aprendizagem dos conceitos dos fundamentos da
política brasileira pode servir a esse propósito. A reflexão acima das conceituações
é, em certa medida, dotada de potencial crítico e sua difusão é, sem dúvida, um ato
de “educação menor” aos olhos de Silvio Gallo, mas que não deve ser subestimada.
Referências Bibliográficas
GALLO, Sílvio. Metodologia do ensino de filosofia: Uma didática para o ensino médio. 7. ed.
[S. l.]: Editora Papirus, 2013. 174 p. ISBN 8530809513.
MATTEUCCI, Nicola. Verbete República. In: MATTEUCCI, Nicola. Dicionário de Política. 11. ed.
Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1983. p. 1107-1109. ISBN 8523003088.
BOBBIO, Norberto. Verbete Democracia. In: BOBBIO, Norberto. Dicionário de Política. 11. ed.
Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1983. p. 319-329. ISBN 8523003088.